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Processo Penal - Daiane e Fernanda-1

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROJETO CONCEITOS BÁSICOS


Olá Amigos,
Este trabalho consiste em uma formulação de Conceitos e respostas utilizados
principalmente para fins de prova oral e discursivas. Também útil para objetivas, tendo
em vista a importância de um conhecimento amplo em qualquer fase de concurso.
Inicialmente foi realizado no ano de 2019, sob a coordenação de Andrea Tonin. Um
pequeno grupo de pessoas se dispôs a atualizar a edição, pois alguns estão procedendo a
sua gravação em áudio em nosso grupo de estudos. Após a ideia da gravação (da colega
Bonfilia) surgiu a iniciativa de atualizar o precioso trabalho. A atualização se deu durante
os meses de outubro e novembro de 2021, com fechamento em DEZEMBRO. Cada
membro ficou responsável pela revisão da matéria ou ponto da matéria escolhido.
Agradeço a todos que participaram e que seja um estudo proveitoso a todos.
Beatriz Barros
05/12/2021

Participaram da Edição de ATUALIZAÇÃO:


Ana Paula Rodrigues Jéssica Lima
Beatriz Barros Juliana Figueiredo
Carla Rodrigues Kellen Baltha
Daiane Medino Paulo Henrique Cunha
Dayane Marangoni Rafael Borba
Diego Góes Reili Sampaio
Fernanda Neotti Renata Abreu
Francisco Schieber Renata Chamma
Igor Gadelha Yohana Guimarães

Sumário
1
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
PONTO 1 - PROCESSO PENAL EM GERAL. FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL. SISTEMAS
PROCESSUAIS. 7
1. O QUE É PRETENSÃO PUNITIVA? 7
2. QUAIS OS SISTEMAS PROCESSUAIS EXISTENTES? 7
3. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO MODELO INQUISITORIAL? 7
4. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO MODELO ACUSATÓRIO? 7
5. COMO SE DÁ A GESTÃO DA PROVA NO MODELO ACUSATÓRIO? 7
6. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO MODELO MISTO OU FRANCÊS? 8
7. QUAL O SISTEMA PROCESSUAL ADOTADO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO? 8
8. QUAIS AS FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL? 8
9. EXPLIQUE AS FONTES DE PRODUÇÃO OU MATERIAIS. 9
10. EXPLIQUE AS FONTES DE COGNIÇÃO OU FORMAIS. 9
11. QUAIS OS PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS PREVISTOS NA CF/88? 9
12. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA? 9
13. QUAL O LIMITE TEMPORAL DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA? 10
14. O RÉU QUE FOI CONDENADO E RECORREU, PODE SER PRESO ? 11
15. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DO ‘NEMOTENETUR SE DETEGERE’? 12
16. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS ELEMENTOS DO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO? 12
19. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA? 13
20. É PRECISO OBSERVAR A DEFESA TÉCNICA NO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR? 13
21. E NA FASE DE EXECUÇÃO PENAL? 14
22. NO QUE CONSISTE O PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E QUAIS OS SEUS PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS? 14
23. DISCORRA SOBRE O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE NO PROCESSO PENAL. 14
24. ONDE ESTÁ PREVISTO O PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO À PROVA ILÍCITA E NO QUE CONSISTE TAL PRINCÍPIO? 15
25. O QUE É UMA PROVA ILÍCITA ? 15
26. O QUE É TEORIA DA PROPORCIONALIDADE/ TEORIA DA RAZOABILIDADE/ TEORIA DO SACRIFÍCIO ? 15
27. O QUE É TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA/TEORIA DOS FRUITS OF THE POISONUS TREE/ TEORIA DA PROVA ILÍCITA POR

DERIVAÇÃO? 15
28. O QUE É TEORIA DA DESCOBERTA INEVITÁVEL? 16
29. O QUE É TEORIA DA PROVA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE? 16
30. O QUE É TEORIA DO ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS/ TEORIA DA DESCOBERTA CASUAL? 17
PONTO 2 - NORMA PROCESSUAL PENAL. INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO, APLICAÇÃO E EFICÁCIA TEMPORAL, ESPACIAL E
SUBJETIVA DA LEI PROCESSUAL PENAL. 17
31. PARA A DOUTRINA MAJORITÁRIA QUAL PRINCÍPIO GUIA A APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO? 18
32. DISTINGA LEIS PENAIS PURAS DE LEIS PROCESSUAIS PENAIS PURAS. 18
1. CONCEITUE LEIS PROCESSUAIS PENAIS MISTAS/ LEIS PENAIS PROCESSUAIS 18
33. QUAL PRINCÍPIO REGE A APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO? 18
34. NO QUE CONSISTEM AS NORMAS PROCESSUAIS HETEROTÓPICAS? 19
2
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
35. ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL, CONCEITUE COSTUMES E PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO. 19
36. ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL, CONCEITUE ANALOGIA. 19
37. ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL, DIFERENCIE ANALOGIA DE INTEPRETAÇÃO ANALÓGICA. ESTA ÚLTIMA É PERMITIDA NO DIREITO

PROCESSUAL PENAL? 19
38. O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL PODE SER APLICADO NO PROCESSO PENAL? 20
39. CITE UM EXEMPLO DE PREVISÃO EXPRESSA DA APLICAÇÃO DO CPC AO CPP. 20
40. A CONTAGEM DOS PRAZOS EM DIAS ÚTEIS COMO PREVISTA NO NCPC É APLICADA AO CPP? 20
41. O NCPC NÃO TROUXE PREVISÃO DO PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. ELE CONTINUA SENDO APLICADO AO CPP? 21
42. E EM RELAÇÃO AOS EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE, QUE TAMBÉM FOI EXTINTO COM O NCPC? 21
PONTO 3 - INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. SISTEMAS DE INVESTIGAÇÃO, PODERES, DEVERES, METODOLOGIAS E ATOS
INVESTIGATÓRIOS. A POLÍCIA JUDICIÁRIA. O INQUÉRITO POLICIAL. 21
43. QUAIS OS TIPOS DE SISTEMA DE INVESTIGAÇÃO EXISTENTES E QUAL FOI O ADOTADO PELO BRASIL? 21
44. O QUE É INVESTIGAÇÃO CRIMINAL? 22
45. O MP É DOTADO DE PODERES INVESTIGATÓRIOS CRIMINAIS NO ÂMBITO CONSTITUCIONAL? 22
46. QUAL O CONCEITO E AS CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL? 22
47. O QUE É INDICIAMENTO? 23
48. COMO FUNCIONA A INDICAÇÃO DE DEFENSOR DE INDICIADO SERVIDOR VINCULADO AS INSTITUIÇÕES DO ART. 144 DA CF? 23
49. O QUE É ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL? 24
50. QUANDO NÃO SE APLICA O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL? 24
51. O ARQUIVAMENTO DO IP PRODUZ COISA JULGADA MATERIAL? 25
52. O QUE É INQUÉRITO POLICIAL? 25
53. QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO? 26
54. O QUE É TERMO CIRCUNSTANCIADO DE FATO? 27
55. O QUE É JUIZ DAS GARANTIAS? 27
56. CITE ALGUMAS COMPETÊNCIAS INERENTES AO JUIZ DAS GARANTIAS? 28
PONTO 4 - AÇÃO PENAL. AÇÃO CIVIL EXDELICTO. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA. SUJEITOS PROCESSUAIS. 29
57. QUAL O CONCEITO DE AÇÃO PENAL? 29
58. QUAL A CLASSIFICAÇÃO SUBJETIVA DA AÇÃO PENAL? 29
59. QUAIS OS PRINCÍPIOS REGEM A AÇÃO PENAL PÚBLICA? 30
60. QUAIS OS PRINCÍPIOS REGEM A AÇÃO PENAL PRIVADA? 30
61. EXISTE AÇÃO PENAL POPULAR? 30
62. QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL? 31
63. O QUE É A DENÚNCIA E A QUEIXA, QUAL O SEU PRAZO E QUAIS OS SEUS REQUISITOS? 31
64. O QUE É A REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO? 32
65. O QUE É AÇÃO CIVIL EXDELICTO? 32
66. QUAIS SÃO OS SISTEMAS DE APURAÇÃO DE CULPA? 32
67. QUAL O CONCEITO DE COMPETÊNCIA E SUAS ESPÉCIES? 33
68. QUAL A COMPETÊNCIA DO CRIME DE ESTELIONATO PRATICADO MEDIANTE DEPOSITO DE CHEQUE SEM FUNDOS? 34
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
69. NAS AÇÕES DE CRIMES CONTRA DIGNIDADE SEXUAL, QUAIS AÇÕES SÃO VEDADAS PARA GARANTIR A INTEGRIDADE FÍSICA E PSICOLÓGICA DA

VITIMA? 34
70. QUAIS SÃO AS REGRAS DE COMPETÊNCIA TERRITORIAL? 34
71. O QUE É PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA, CONEXÃO E CONTINÊNCIA? 35
72. O QUE É FORO PREVALENTE E QUAIS SUAS REGRAS? 35
73. O QUE É PERPETUATIO JURISDITIONIS? 35
74. O QUE É AVOCAÇÃO? 36
75. QUEM SÃO OS SUJEITOS PRINCIPAIS E SECUNDÁRIOS DO PROCESSO PENAL? 36
76. QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE CAUSAS DE IMPEDIMENTO E CAUSAS DE SUSPEIÇÃO? 36
PONTO 5 - MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS. PRISÃO. LIBERDADE PROVISÓRIA. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. MEDIDAS
CAUTELARES REAIS. QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES. PRISÃO ESPECIAL. 36
77. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE MEDIDAS CAUTELARES? 36
78. O QUE É A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA? 37
79. O QUE É A PRISÃO E QUAIS SUAS MODALIDADES? 38
80. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE FLAGRANTE? 38
81. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA? 38
82. QUANDO NÃO SE CONSIDERA FUNDAMENTADA A DECISÃO DA PRISÃO PREVENTIVA ? 39
83. QUAIS SÃO OS PRESSUPOSTOS DA PRISÃO TEMPORÁRIA? 39
84. QUAL O CONCEITO DE LIBERDADE PROVISÓRIA E QUAIS AS SUAS MODALIDADES? 40
85. QUANDO É CABÍVEL A PRISÃO ESPECIAL? 40
86. QUAIS SÃO AS MEDIDAS CAUTELARES REAIS? 41
87. O QUE É QUESTÃO PREJUDICIAL? 41
88. O QUE SÃO OS PROCEDIMENTOS INCIDENTAIS? 41
89. OS BENS APREENDIDOS OU SEQUESTRADOS PODEM SER UTILIZADOS ANTES DO TRANSITO EM JUGADO? 42
PONTO 6 - COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS. AS PROVAS NO DIREITO PROCESSUAL PENAL. PRAZOS
PROCESSUAIS. DEFEITOS PROCESSUAIS. NULIDADES. 42
90. QUAL O CONCEITO DE INTIMAÇÃO E DE CITAÇÃO E SUAS ESPÉCIES? 42
91. QUAL O CONCEITO, A NATUREZA JURÍDICA E O OBJETO DA PROVA? 43
92. QUAIS AS CLASSIFICAÇÕES DA PROVA? 43
93. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS RELACIONADOS A ATIVIDADE PROBATÓRIA? 43
94. QUAIS SÃO OS SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE PROVAS? 44
95. O QUE É ÔNUS DA PROVA? 44
96. O QUE É PROVA EMPRESTADA? 44
97. EM QUAIS HIPÓTESES AS PROVAS ILÍCITAS SÃO VÁLIDAS? 44
98. O QUE É SERENDIPIDADE? 45
99. QUAL O CONCEITO DE PROVA PERICIAL? 45
100. O QUE É CADEIA DE CUSTODIA? 45
101. O QUE É O INTERROGATÓRIO E QUAL SUA NATUREZA? 47
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102. QUAIS AS HIPÓTESES PARA QUE O INTERROGATÓRIO POSSA SER REALIZADO POR VIDEOCONFERÊNCIA? 47
103. O QUE É O DEPOIMENTO SEM DANO? 47
104. EM QUE CONSISTE O SISTEMA DO DIRECTEXAMINATION E DO CROSSEXAMINATION? 47
105. EM QUE CONSISTE A BUSCA E APREENSÃO? 48
106. O QUE SÃO NULIDADES? 48
107. QUAL A DIFERENÇA ENTRE ATOS IRREGULARES, ATOS NULOS E ATOS INEXISTENTES? 48
108. QUAIS AS ESPÉCIES DE NULIDADE? 48
109. QUAIS OS PRINCÍPIOS REGENTES DAS NULIDADES? 48
PONTO 7 - ATOS JURISDICIONAIS. DESPACHOS. DECISÕES. SENTENÇAS. ACÓRDÃOS. DECISÕESMONOCRÁTICAS.
TRÂNSITO EM JULGADO. COISA JULGADA. 49
110. O QUE SÃO ATOS JURISDICIONAIS? 49
111. COMO O CPP CLASSIFICA OS PROVIMENTOS JUDICIAIS? 49
112. O QUE SÃO DESPACHOS DE MERO EXPEDIENTE? 49
113. O QUE SÃO DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS? COMO O CPP AS CLASSIFICA? 50
114. O QUE SÃO DECISÕES DEFINITIVAS? COMO SE SUBDIVIDEM? 50
115. O QUE SÃO SENTENÇAS, ACÓRDÃOS E ARESTOS? 50
116. O QUE SÃO DECISÕES MONOCRÁTICAS? 51
117. O QUE É EMENDATIOLIBELLI? 51
118. O QUE É MUTATIOLIBELLI? 51
119. DIFERENCIE ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS. 51
120. O QUE SÃO TRÂNSITO EM JULGADO E COISA JULGADA? DIFERENCIE COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL. 51
PONTO 8 - RECURSOS EM GERAL. REMÉDIOSAUTÔNOMOS. HABEAS CORPUS. REVISÃO CRIMINAL. MANDADO DE
SEGURANÇA CRIMINAL. RECLAMAÇÃO. CORREIÇÃO PARCIAL. 52
121. DEFINA RECURSO. 52
122. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DOS RECURSOS? 52
123. DO QUE SE TRATA O REEXAME NECESSÁRIO? 52
124. O QUE É JUÍZO DE PRELIBAÇÃO? 52
125. QUAIS OS EFEITOS DOS RECURSOS E NO QUE CONSISTEM? 53
126. O QUE É RECURSO EM SENTIDO ESTRITO? 53
127. NO QUE CONSISTE A APELAÇÃO? 53
128. O QUE SÃO EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE? 53
129. O QUE SÃO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO? 54
130. O QUE É AGRAVO DE EXECUÇÃO? 54
131. DEFINA CARTA TESTEMUNHÁVEL. 54
132. O QUE SÃO REMÉDIOS AUTÔNOMOS? DIFERENCIE-OS DOS RECURSOS. 54
133. NO QUE CONSISTE O HABEAS CORPUS? 54
134. O QUE É REVISÃO CRIMINAL? 54
135. DIFERENCIE JUÍZO RESCINDENTE E JUÍZO RESCISÓRIO. 55
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136. NO QUE CONSISTE O MANDADO DE SEGURANÇA? 55
137. O QUE É RECLAMAÇÃO? 55
138. O QUE É CORREIÇÃO PARCIAL? 55
139. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DA CORREIÇÃO PARCIAL? 55
PONTO 9 - PROCESSOS E PROCEDIMENTOS EM ESPÉCIE, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. DISPOSIC ̧ÕES PROCESSUAIS
PENAIS DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO. 56
140. DIFERENCIE PROCESSO E PROCEDIMENTO. 56
141. INDIQUE A CLASSIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS PENAIS E O CRITÉRIO DE APLICAÇÃO. 56
142. COMO O PROCEDIMENTO COMUM SE SUBDIVIDE? QUAL O CRITÉRIO DE DEFINIÇÃO? 56
143. COMO AS SEGUINTES SITUAÇÕES INFLUENCIAM NA DEFINIÇÃO DO PROCEDIMENTO APLICÁVEL: CONCURSO DE CRIMES, QUALIFICADORAS,

PRIVILÉGIOS, CAUSAS DE AUMENTO E DE DIMINUIÇÃO, AGRAVANTES E ATENUANTES? 56


144. HAVENDO PERSECUÇÃO PENAL DE CRIMES CONEXOS E/OU CONTINENTES SUJEITOS A PROCEDIMENTOS DISTINTOS, QUAL APLICAR? 57
145. QUAL O MOMENTO DO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA PEÇA ACUSATÓRIA? 57
146. DISCORRA ACERCA DA REJEIÇÃO DA PEÇA ACUSATÓRIA. 57
147. É NECESSÁRIO FUNDAMENTAR O RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA? 57
148. QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA? 58
149. QUAL A DIFERENÇA ENTRE DEFESA PRELIMINAR E RESPOSTA À ACUSAÇÃO? 58
150. QUANDO SE DÁ A REVELIA NO PROCESSO PENAL? QUAIS AS SUAS CONSEQUÊNCIAS? 58
151. DISCORRA ACERCA DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA NO PROCEDIMENTO COMUM. 58
152. QUAL A DEFINIÇÃO DE ALEGAÇÕES ORAIS? 59
153. O QUE É TRIBUNAL DO JÚRI? 59
154. NO QUE CONSISTE A PLENITUDE DE DEFESA? 59
155. NO QUE CONSISTE A IMPRONÚNCIA? 59
156. O QUE É PROVA NOVA? 59
157. O QUE É DESPRONÚNCIA? 59
158. O QUE É DESCLASSIFICAÇÃO? 59
159. O QUE É DESQUALIFICAÇÃO? 60
160. O QUE É ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DO JÚRI? 60
161. O QUE É PRONÚNCIA? 60
162. O QUE É ELOQUÊNCIA ACUSATÓRIA? 60
163. O QUE É DESAFORAMENTO? 60
164. O QUE É REAFORAMENTO? 60
165. QUANDO SE DÁ O ESTOURO DE URNA? 61
166. O QUE SÃO QUESITOS? 61
167. CONTEÚDO DA DECISÃO DE PRONÚNCIA? 61
168. PROIBIÇÕES NA DECISÃO DE PRONÚNCIA? 61

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PONTO 1 - PROCESSO PENAL EM GERAL. FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL


PENAL. SISTEMAS PROCESSUAIS.

1. O QUE É PRETENSÃO PUNITIVA?


O conceito de pretensão punitiva deve ser compreendido como um poder-dever do Estado, isto é, de
sujeitar o autor do delito ao cumprimento daquela pena, seja ela pena privativa de liberdade, restritiva de
direitos ou multa.
Assim, a pretensão punitiva consiste no poder do Estado de exigir de quem comete um delito a
submissão à sanção penal, tornando efetivo o jus puniendi estatal.

2. QUAIS OS SISTEMAS PROCESSUAIS EXISTENTES?


A doutrina aponta dois modelos: o inquisitorial e o acusatório. Há, ainda, alguns doutrinadores que
incluem o sistema misto ou francês.

3. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO MODELO INQUISITORIAL?


De acordo com esse modelo, as funções de acusar, defender e julgar encontram-se concentradas em
única pessoa, que as vestes de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor.
No mais, trata-se de um modelo em que:

✔ Não há contraditório, ante a ausência de partes em posições antagônicas;

✔ O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo liberdade para determinar de

ofício a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no processo penal,
independentemente de sua proposição pela acusação ou pelo acusado;

✔ Trabalha-se com a ideia da verdade real e, não por outro motivo, admite-se a tortura, a utilização

de provas ilícitas. O acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado como mero objeto do
processo, daí por que se admite, inclusive, a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.

4. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO MODELO ACUSATÓRIO?


Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de
condições, e a ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma separação das
funções de acusar, defender e julgar.

5. COMO SE DÁ A GESTÃO DA PROVA NO MODELO ACUSATÓRIO?


A doutrina diverge nesse ponto.
Alguns doutrinadores, dentre eles, Geraldo Prado, afirmam que num sistema acusatório puro o juiz não
pode produzir nenhuma prova de ofício, seja na fase investigatória, seja na fase processual. Outra vertente
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doutrinária, que acaba sendo a majoritária e acompanhada pela jurisprudência brasileira entende que o juiz
pode produzir prova de ofício , apenas fase processual.
Nesses termos, prevalece que a gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase
investigatória, o juiz só deve intervir quando provocado e desde que haja necessidade de intervenção judicial .
Durante a instrução processual, prevalece o entendimento de que o juiz tem certa iniciativa probatória,
podendo determinar a produção de provas de ofício, desde que o faça de maneira subsidiária.

6. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO MODELO MISTO OU FRANCÊS?


Nesse modelo, o processo se desdobra em duas fases distintas: a primeira fase é tipicamente
inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se
apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador
apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.

7. QUAL O SISTEMA PROCESSUAL ADOTADO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO?


Nos termos do art. 129, inciso I, da Constituição Federal, bem como art. 3-A do CPP, tem-se que
adotamos o sistema acusatório.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
Isto porque, a partir do exato momento em que Constituição Federal outorga ao Ministério Público a
titularidade da ação penal pública, está dizendo que a função de acusar deve ser exercida nos casos de ação
penal pública pelo MP. Então, claramente o juiz não pode exercer essa função. É também a posição majoritária
da doutrina.
Entretanto, quando o CPP entrou em vigor, prevalecia o entendimento de que o sistema nele previsto era
misto. A fase inicial da persecução penal, caracterizada pelo inquérito policial, era inquisitorial. Porém, uma vez
iniciado o processo, tínhamos uma fase acusatória. Todavia, com o advento da Constituição Federal, que prevê
de maneira expressa a separação das funções de acusar, defender e julgar, estando assegurado o contraditório e
a ampla defesa, além do princípio da presunção de não culpabilidade, certo que estamos diante de um sistema
acusatório.
E o art. 3-A do CPP trouxe expressamente tal previsão.

8. QUAIS AS FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL?


Estudar as fontes do Direito significa estudar a sua própria origem. No âmbito do Direito Processual Penal
é possível apontar as fontes de produção ou materiais e as fontes de cognição ou formais.

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9. EXPLIQUE AS FONTES DE PRODUÇÃO OU MATERIAIS.
As fontes de produção ou materiais referem-se ao ente federativo responsável pela elaboração da norma.
Nesses termos, o Direito Processual Penal é matéria que deve ser legislada privativamente pela União, na forma
do art. 22, I da CRFB/88. De outro lado, a competência para legislar sobre direito penitenciário (organização e
funcionamento dos estabelecimentos prisionais), custas e serviços forenses (preços de fotocópias e custas na
ação penal privada), criação e funcionamento dos juizados especiais criminais e procedimentos é concorrente da
União, dos Estados e do DF (art. 24, I, IV, X e XI da CRFB/88). Os Estados só excepcionalmente poderão criar leis
que tratem de questões específicas de processo penal, desde haja autorização da União por meio de Lei
Complementar, na forma do art. 22 p.ú. da CRFB/88. Por fim, ao Presidente é possível por meio de Decreto
legislar sobre indulto (art. 84, XII da CRFB/88), sendo vedada a edição de medidas provisórias sobre o Direito
Processual Penal, na forma do art. 62 § 1º, I, ‘b’ da CRFB/88.

10. EXPLIQUE AS FONTES DE COGNIÇÃO OU FORMAIS.


As fontes de cognição ou formais referem-se ao meio pelo qual as normas jurídicas se revelam no
ordenamento jurídico, sendo divididas em fontes primárias/imediatas e secundárias/mediatas.
As fontes primárias são aquelas aplicadas imediatamente, quais sejam: a lei (art. 22, I da CRFB/88) e os
tratados e convenções e regras do Direito Internacional (art. 1º, I do CPP e art. 5º p. 3º da CRFB/88).
As fontes secundárias são aquelas aplicadas na ausência das fontes primárias, nos termos do art. 4º da
LINDB, quais sejam: costumes, princípios gerais do direito e analogia.

11. QUAIS OS PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS PREVISTOS NA CF/88?


Vários são os princípios processuais penais previstos na Constituição Federal, dentre eles, pode-se citar
como principais:

✔ Presunção de inocência;

✔ Nemo tenetur se detegere(ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo);

✔ Contraditório;

✔ Ampla Defesa;

✔ Juiz natural;

✔ Publicidade.

12. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA


PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
Com previsão na CF/88 (art. 5º, LVII) e na Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 8º, §2º),
consiste no direito de não ser declarado culpado senão após trânsito em julgado de sentença penal
condenatória (ou, na visão do STF – HC 126.292 e ADC’s 43 e 44 e ARE 964.246 RG/SP - , após a prolação do
acórdão condenatório por Tribunal de Segunda Instância), ao término do devido processo legal, em que o
acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para sua defesa (ampla defesa) e para a
destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação (contraditório).
Tal princípio atua em duas dimensões:
a) Dimensão interna ao processo:
1) Regra Probatória (In dubio pro reo)
Recai sobre a acusação o ônus de comprovar a culpabilidade do acusado, além de qualquer dúvida
razoável, e não deste de provar sua inocência.
2) Regra de tratamento
A regra é que o acusado permaneça em liberdade durante o processo;a imposição de medidas
cautelares pessoais (v.g., prisão preventiva ou cautelares diversas da prisão) é a exceção.
b) Dimensão externa ao processo:
A divulgação de uma informação pela imprensa deve ter o cuidado para respeitar o tal princípio.
Assim, o princípio da presunção da inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade e
privacidade demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado,
funcionando como limite democrático à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do próprio
processo judicial. (Pode-se citar a Operação Lava Jato)

13. QUAL O LIMITE TEMPORAL DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA?


Tema bastante em voga.
De acordo com a Jurisprudência, a partir do HC 126292/SP – Informativo 814 – STF, era possível a
execução provisória da pena. Os argumentos utilizados para sustentar a compatibilidade da execução provisória
da pena com o princípio da presunção da inocência eram que os recursos extraordinários (STF) e especial (STJ)
não possuem efeito suspensivo, sendo assim, tendo sido proferido acórdão condenatório em segundo grau de
jurisdição, era possível o início do cumprimento da pena. Outro forte argumento, era que o exame de provas é
realizado apenas no âmbito de primeira e segunda instâncias.
Havia o entendimento do STF que a partir do momento em que um acórdão for proferido por um tribunal
de segunda instância a pena já pode ser executada. Essa pena executada não é uma prisão cautelar ou
preventiva ou processual, mas sim uma prisão penal (HC 126.292).
Fundamentos do Relator:

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1) Deve ser buscado o necessário equilíbrio entre o princípio da presunção da inocência e a efetividade da
função jurisdicional penal, que deve atender a valores caros não apenas aos acusados, mas também à
sociedade.

2) É no âmbito das instâncias ordinárias que se exaure a possibilidade de exame de fatos e provas e, sob
esse aspecto, a própria fixação da responsabilidade criminal do acusado. É dizer, os recursos de natureza
extraordinária não configuram desdobramentos do duplo grau de jurisdição, porquanto não são recurso
de ampla devolutividade, já que não se prestam ao debate da matéria fática probatória.

3) Se houve, em segundo grau, um juízo de incriminação do acusado, fundado em fatos e provas


insuscetíveis de reexame pela instância extraordinária, parece inteiramente justificável a relativização e
até mesmo a própria inversão, para o caso concreto, do princípio da presunção de inocência até então
observado.

4) A Lei da Ficha Limpa (LC 135/10) expressamente consagra como causa de inelegibilidade a existência de
sentença condenatória por crimes nela relacionados quando proferidas por órgão colegiado.

5) Em nenhum país do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma
condenação fica suspensa, aguardando referendo da Corte Suprema.

6) A jurisprudência que assegurava a presunção de inocência até o trânsito em julgado da sentença


condenatória vinha permitindo a indevida e excessiva interposição de recursos da mais variada espécie,
com indisfarçados propósitos protelatórios, visando, não raro, à configuração da prescrição da pretensão
punitiva ou executória, já que o último marco interruptivo do prazo prescricional antes do início do
cumprimento da pena é a publicação da sentença ou do acórdão recorríveis (art. 117, IV, CP).

Contudo, o atual entendimento do STF firmado no julgamento das ADCs 43, 44 e 54, nas quais a Suprema
Corte, em modificação de tese fixada em 2016, passou a considerar que deve prevalecer a presunção de
inocência até o trânsito em julgado da ação penal, nos termos do artigo 283 do Código de Processo Penal e do
artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal.
Assim, atualmente, não é mais possível a execução provisória da pena. O STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e
54, no ano de 2019, afirmou que a pena só pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Também
não é possível a execução provisória das penas restritivas de direitos previstas no artigo 44 do CP. A prisão
preventiva e temporária, se presentes os requisitos previstos no artigo 312 do CPP, continuam válidas.
Os Tratados Internacionais trazem previsões e garantias mínimas que podem ser ampliadas, assim, a
previsão contida no art. 5º, LVII da CF, que assegura a presunção de inocência até o trânsito em julgado da
sentença condenatória e o artigo 283 do CPP foram declarados constitucionais pelo STF.

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14. O RÉU QUE FOI CONDENADO E RECORREU, PODE SER PRESO?

Sim, mas não como um efeito automático da condenação. Se o juiz ou o Tribunal for decretar a prisão do
condenado, ele terá que demonstrar que, naquele caso concreto, estão presentes os requisitos da prisão
preventiva, previstos no art. 312 do CPP, em sua redação atual
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Vale ressaltar algumas considerações sobre a alteração do artigo 312 do CPP. Antes do pacote anticrime
tínhamos quatro hipóteses da prisão preventiva, desde que houvesse prova da existência do crime e indícios de
autoria. A nova redação resolveu colocar o periculum libertatis, que já era entendido na doutrina e
jurisprudência como uma das condições para o decreto da prisão preventiva. Agora, está de forma expressa no
CPP, que significa: perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. Era equivalente ao periculum in
mora da teoria geral das medidas cautelares, aplicada à prisão preventiva (a prisão preventiva é uma medida
cautelar).

15. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DO


‘NEMOTENETUR SE DETEGERE’?
Está previsto na CF/88, em seu art. 5º, inciso LVIII, e traduz a ideia de que ninguém é obrigado a produzir
prova contra a si mesmo.
Tem como principais desdobramentos:

✔ Direito a não autoincriminação;

✔ Advertência quanto ao direito de não produzir prova contra si mesmo (Aviso de Miranda);

Aprofundamento! O Miranda rights ou Miranda warnings têm origem no famoso julgamento


Miranda versus Arizona (1966), em que a Suprema Corte americana firmou o entendimento de que
nenhuma validade pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que
antes ela tenha sido claramente informada de: 1) que tem o direito de não responder; 2) que tudo o
que disser pode vir a ser utilizado contra ele; 3) que tem o direito à assistência de defensor
escolhido ou nomeado.

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✔ Direito ao silêncio ou de permanecer calado;

✔ Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo;

✔ Direito de não permitir a prática de prova invasiva.

16. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS ELEMENTOS DO PRINCÍPIO DO


CONTRADITÓRIO?
O princípio do contraditório está previsto na CF/88, art. 5º, inciso LV.
De acordo com corrente clássica, o contraditório é a ciência dos atos processuais e a possibilidade
contrariá-los (Direito à ciência + Possibilidade de Reação).
Tem como principais elementos:
17. Direito de informação; e
18. Direito de Participação.
A doutrina moderna traz a ideia de contraditório efetivo e equilibrado, enfatizando que o direito à reação
deve ser concreto e efetivo, isto é, substancial (paridade de armas). Assim, atualmente, com base no princípio da
isonomia, prevalece a ideia de que a isonomia não é apenas formal, mas também substancial; o contraditório
deve ser efetivo. Por isso que ele deve ser exigido por parte do magistrado caso não seja respeitado.

19. QUAL O CONCEITO E PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA


AMPLA DEFESA?
Em verdade, o princípio da ampla defesa é decorrência do princípio do contraditório.
Previsto no art. 5º, inciso LV, da CF/88, de acordo com a ampla defesa às partes deve ser dado o direito
tanto à autodefesa (material ou genérica) quanto à defesa técnica (processual ou específica).
Defesa técnica é aquela exercida por um profissional da advocacia, dotado de capacidade postulatória,
seja ele advogado constituído, nomeado, ou defensor público.
Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.
Autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo.
Diferencia-se da defesa técnica porque, embora não possa ser desprezada pelo juiz, é renunciável e
disponível, já que não há como se compelir o acusado a exercer seu direito ao interrogatório nem tampouco a
acompanhar os atos da instrução processual.
A autodefesa se manifesta no processo penal se desdobra em três:
a) direito de audiência (direito que o acusado tem de apresentar ao juiz da causa a sua defesa,
pessoalmente, que se materializa com o interrogatório);
b) direito de presença (direito que o acusado possui de acompanhar os atos da instrução probatória);

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c) capacidade postulatória autônoma (em determinados atos, o acusado pode agir independentemente
do seu advogado, tais como: acusado pode interpor recursos (CPP, art. 577, caput), impetrar habeas corpus
(CPP, art. 654, caput), ajuizar revisão criminal (CPP, art. 623), assim como provocar incidentes relativos à
execução da pena (LEP, art. 195, caput)).

20. É PRECISO OBSERVAR A DEFESA TÉCNICA NO PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR?
De acordo com o STF, não. É o teor da súmula vinculante nº 5: “A falta de defesa técnica por advogado no
processo administrativo disciplinar não ofende a constituição”.

21. E NA FASE DE EXECUÇÃO PENAL?


Para STJ f az-se necessária a defesa técnica , nos moldes da súmula 533 do STJ: “Para o reconhecimento
da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por
advogado constituído ou defensor público nomeado”.
Atenção: a Súmula 533 do STJ está superada (DIZER O DIREITO) – apesar de não formalmente cancelada. O
prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) agora é prescindível para aplicar sanção por falta grave, bastando
a realização da audiência de justificação, na presença do defensor e do Ministério Público.

22. NO QUE CONSISTE O PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E QUAIS OS SEUS


PRINCIPAIS DESDOBRAMENTOS?
Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade jurisdicional que
irá processar e julgá-lo caso venha a praticar um fato delituoso. É uma ideia ligada à imparcialidade.
Pode ser extraído, segundo a doutrina, do art. 5º, incisos XXXVII (não haverá juízo ou tribunal de exceção)
e LIII (ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente), da CF.
Assim, como principais desdobramentos do princípio do juiz natural, tem-se que:

✔ Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;

✔ Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;

✔ Entre os Juízos pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer

alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja: A distribuição da competência


deve ser dada com base em critérios objetivos.

23. DISCORRA SOBRE O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE NO PROCESSO PENAL.


É um princípio relacionado ao caráter democrático. A ideia-base é que ela vai proporcionar o controle da
sociedade (controle externo) sobre a atividade jurisdicional. Tem previsão constitucional no art. 93, inciso IX.
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Segundo Luigi Ferrajoli, cuida-se de garantia de segundo grau, ou garantia de garantia. Isso porque,
segundo o autor, para que seja possível o controle da observância das garantias primárias da contestação da
acusação, da motivação das decisões judiciais, do ônus da prova e do contraditório com a defesa, é indispensável
que o processo se desenvolva em público.
A publicidade pode ser ampla, geral ou irrestrita (regra) ou restrita, de forma excepcional (como nos
casos de segredo de justiça).
A publicidade pode sofrer limitação de seu controle externo (do controle interno nunca), para: a)
preservação da intimidade; b) preservação do interesse social do sigilo, desde que não prejudique o interesse
público à informação.

24. ONDE ESTÁ PREVISTO O PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO À PROVA ILÍCITA E NO


QUE CONSISTE TAL PRINCÍPIO?
Trata-se de uma limitação de natureza constitucional (art. 5º, inciso LVI) ao sistema do livre
consentimento estabelecido no art. 155 do CPP, segundo o qual o juiz formará sua convicção pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial.

25. O QUE É UMA PROVA ILÍCITA ?

Nos termos do art. 157 do CPP, provas ilícitas podem ser definidas como aquelas obtidas mediante
violação a normas constitucionais ou legais.
A doutrina diferencia prova ilícita da prova ilegítima. A primeira diz respeito àquelas realizadas com
afronta ao texto constitucional, enquanto a prova ilegítima é aquela que viola as normas legais. Contudo, o art.
157 do CPP não trouxe tal distinção.
Para Ada Pellegrini, adotando a doutrina francesa do Pietro Nuvolone, o gênero é a prova VEDADA OU
PROIBIDA, do qual fazem parte as seguintes espécies.
i) Prova ilícita: é aquela que viola do dto material (CP, legislação penal especial ou pr. constitucionais
penais). Ex: confissão mediante tortura.
ii) Prova ilegítima: é aquela que ofende dto processual penal (CPP, legislação processual especial ou pr.
constitucionais processuais). Ex: laudo subscrito por apenas 1 perito não oficial.

26. O QUE É TEORIA DA PROPORCIONALIDADE/ TEORIA DA RAZOABILIDADE/


TEORIA DO SACRIFÍCIO ?
Teoria da proporcionalidade/ teoria da razoabilidade/ teoria do sacrifício: na ponderação entre bens
jurídicos relevantes, deve o interprete dar preferência ao de maior importância. Logo, a prova ilícita pode ser
empregada em favor do imputado.
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Obs: para Fernando Capez, a prova ilícita pode ser utilizada em desfavor do réu, notadamente ao
combate ao crime organizado, ressalvada a tortura (posição minoritária)
Obs2: origem: tem surgimento na Alemanha do pós 2ª Guerra mundial, foi incorporada nos EUA com o
rótulo de razoabilidade e trazida ao Brasil pelo STF.
Proporcionalidade para justificar prova ilícita pró-réu. Pró-acusação é minoritário.

27. O QUE É TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA/TEORIA DOS


FRUITS OF THE POISONUS TREE/ TEORIA DA PROVA ILÍCITA POR
DERIVAÇÃO?
Teoria dos frutos da árvore envenenada/teoria dos fruits of the poisonus tree/ teoria da prova ilícita por
derivação:causa e efeito
As provas que derivam de uma prova ilícita estão contaminadas por desdobramento lógico.
Conclusão: a prova derivada formalmente pode ser perfeita. Todavia a contaminação é de ordem
material, em razão de sua origem.
Conclusão: a origem é na suprema corte norte-americana. Foi introduzida no Brasil pelo STF e atualmente
é regulada no §1 do art. 157 do CPP.
Advertência: a CF no art. 5º, LVI não trata do tema.
A contaminação da prova derivada é material, não presta (pq fruto de uma prova ruim), mesmo se
formalmente perfeita.
CPP que trouxe que a prova derivada da ilícita está contaminada. A CF não fala nada da prova derivada, só
vedou à ilícita.

28. O QUE É TEORIA DA DESCOBERTA INEVITÁVEL?


Teoria da descoberta inevitável:uma prova derivada de outra ilícita não necessariamente estará
contaminada, desde que fique demonstrado que ela inevitavelmente seria descoberta por outra fonte
autônoma.
Obs: origem: ela tem origem na suprema corte norte-americana, e foi incorporada no §1, parte final do
art. 157 do CPP. (STJ, HC 52.995)
A prova derivada da ilícita pode não estar contaminada se ficar demonstrada que inevitavelmente seria
descoberta por outra fonte autônoma.
Caso: perícia realizada proveniente da confissão mediante tortura (prova ilícita). Mas chegariam aos
vestígios no local do crime e descobririam o autor do crime naquele mesmo dia.

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29. O QUE É TEORIA DA PROVA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE?
PAI (teoria da prova absolutamente independente): a existência de uma prova ilícita nos autos não
necessariamente contamina o processo. Logo, tendo OUTRAS PROVAS absolutamente independentes, o
processo será preservado.
Conclusão: a prova declarada como ilícita será desentranhada e destruída na presença facultativa das
partes (§3 do art. 157 do CPP).
Obs: origem: ela tem nascimento na suprema corte norte-americana, e foi incorporada no §1 do art. 157
do CPP, em sua 2ª parte.
Conclusão3: o §5 do art. 157 do CPP indica que o juiz que tem contato com a prova ilícita está impedido
de julgar a causa. Tal previsão está suspensa por deliberação do STF.
iii e iv se adotadas, fazem cair por terra a ii.

30. O QUE É TEORIA DO ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS/ TEORIA DA


DESCOBERTA CASUAL?
Teoria do encontro fortuito de provas/ teoria da descoberta casual: quando a diligência revelar elementos
até então desconhecidos todos devem ser aproveitados, pressupondo o respeito da lei e que inexista desvio de
finalidade.
Conclusão: é o que LFG rotula de SERENDIPIDADE.
Diligência probatória prospectar elemento desconhecimento, valerá e tudo será aproveitado, desde que
não ocorra desvio de finalidade e os protocolos legais sejam respeitados. “atirou no que viu e acertou o que não
viu”. LFG apelidou de serendipidade (descoberta do que não era percebido, descoberta casual).
Obs: regra especial da interceptação telefônica:
i) descoberta fortuita de novos infratores: em tal hipótese a interceptação vale como prova em face de
todos (serendipidade subjetiva).
i) descoberta fortuita de novas infrações: se o crime acidentalmente descoberto é conexo com delito
originalmente apurado, a interceptação vale como prova em face de todos (serendipidade objetiva de 1º grau).
Conclusão: para STJ, mesmo que o crime acidentalmente descoberto seja apenado com detenção, a
interceptação valerá como prova para todos.
Conclusão 2: a captação ambiental é admitida para crimes com pena máxima superior a 4 anos e
infrações conexas (art. 8 da lei 9296/96). Se revelar um conexo, vale como prova tb.
ii.2 se crime acidentalmente descoberto não é conexo, a interceptação valerá como mera notícia crime,
permitindo a instauração de IP (serendipidade objetiva de 2 grau).
se conexos, a interceptação vale como prova em face de todos os crimes

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se crimes não conexos, a interceptação não valerá como prova, mas servirá como notícia crime,
permitindo que a polícia instaure IP, para apurar o crime acidentalmente revelado, mas não conexo
(serendipidade objetiva de 2 grau)

PONTO 2 - NORMA PROCESSUAL PENAL. INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO, APLICAÇÃO E


EFICÁCIA TEMPORAL, ESPACIAL E SUBJETIVA DA LEI PROCESSUAL PENAL.

31. PARA A DOUTRINA MAJORITÁRIA QUAL PRINCÍPIO GUIA A APLICAÇÃO DA


LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO?
Ensina a doutrina tradicional que o processo penal é guiado pelo princípio da imediatidade (art. 2º do
CPP), de modo que as normas processuais penais teriam aplicação imediata, independentemente de serem
benéficas ou prejudiciais ao réu, tão logo passasse a vacatio legis sem prejudicar, contudo, os atos já praticados,
eis que não retroagiriam jamais.

32. DISTINGA LEIS PENAIS PURAS DE LEIS PROCESSUAIS PENAIS PURAS.


A lei penal pura é aquela que disciplina o poder punitivo estatal, dispondo sobre o conteúdo material do
processo, isto é, o Direito Penal. Diz respeito à tipificação de delitos, pena máxima e mínima, regime de
cumprimento, etc. Para elas, valem as regras do Direito Penal: retroatividade da lei penal mais benigna e
irretroatividade da lei mais gravosa.
A lei processual penal pura regula o inicio, desenvolvimento ou fim do processo e os diferentes institutos
processuais. Ex. perícias, rol de testemunhas, forma de realizar atos processuais, ritos, etc. Nestas, valem o
principio da imediatidade, onde a lei será aplicada a partir dali, sem efeito retroativo e sem que se questione se
mais gravosa ou não ao réu.

1. CONCEITUE LEIS PROCESSUAIS PENAIS MISTAS/ LEIS PENAIS PROCESSUAIS.


As leis mistas (leis penais processuais) são aquelas que possuem caracteres penais e processuais. Para
estas aplica-se a regra de direito penal, ou seja, a lei mais benigna é retroativa e a mais gravosa não. Ex. normas
que regulam a representação, a ação penal, a queixa-crime, perdão, renúncia, perempção. Assim, se alguém
comete um delito hoje, em que a ação penal é pública incondicionada e, posteriormente passa a ser
condicionada à representação, o juiz deverá abrir prazo para a vítima, em querendo, represente, sob pena de
extinção da punibilidade.
Foi o que aconteceu com a Lei 9099/95 e a representação nos delitos de lesões leves e culposas. Os
processos que não tinham transitado em julgado baixaram para a vítima representar, sob pena de extinção da
punibilidade. De outro lado, se quando o crime é cometido exista lei dizendo que a ação penal é privada e,
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
posteriormente, seja publicada outra lei dizendo que a ação penal é publica incondicionada, a ação continuará
sendo privada porque isso é melhor para o réu (ultra-atividade da lei mais benigna).

33. QUAL PRINCÍPIO REGE A APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO


ESPAÇO?
Ao contrário do que ocorre no Direito Penal em que se travam discussões acaloradas sobre a
extraterritorialidade da lei penal, no processo penal vige o princípio da territorialidade. As normas processuais
penais brasileiras só se aplicam no território nacional, não tendo qualquer possibilidade de eficácia
extraterritorial. Relaciona-se ao fato de a jurisdição constituir um exercício de poder, de modo que o poder
jurisdicional brasileiro somente pode ser exercido no território nacional.

34. NO QUE CONSISTEM AS NORMAS PROCESSUAIS HETEROTÓPICAS?


Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas processuais penais, possuem conteúdo
material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras, no entanto, inseridas em leis materiais, são
dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério da aplicação imediata (tempus regitactum). É aí
que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja, situação em que, apesar de o conteúdo da norma
conferir-lhe uma determinada natureza, encontra-se ela prevista em diploma de natureza distinta.
Tais normas não se confundem com as normas processuais materiais. Enquanto a heterotópica possui
uma determinada natureza (material ou processual), em que pese estar incorporada a diploma de caráter
distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla natureza, vale dizer, material em uma
determinada parte e processual em outra.

35. ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL, CONCEITUE COSTUMES E


PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.
Costumes são regras de conduta praticadas de modo geral, constante e uniforme (elemento interno) com
consciência de sua obrigatoriedade (elemento externo). Ressalte-se que não tem o condão de revogar
dispositivos legais.
Os princípios gerais do direito são premissas éticas extraídas da legislação e do ordenamento jurídico em
geral, sendo sua aplicação permitida expressamente pelo art. 3º do CPP.

36. ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL, CONCEITUE ANALOGIA.


A analogia é uma forma de autointegração da lei. Na lacuna involuntária desta, aplica-se ao fato não
regulado expressamente um dispositivo que disciplina hipótese semelhante. A sua aplicação no Processo Penal
também é permitida pelo art. 3º do CPP, devendo-se registrar que este dispositivo legal se refere à aplicação
analógica como sinônimo de analogia e não de intepretação analógica.
A analogia se subdivide em: a) analogia legis: apela-se a uma situação prevista em lei; b) analogia iuris:
apela-se a uma situação prevista pelos princípios jurídicos extraídos do ordenamento. Menciona-se que a

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analogia pode ser feita ainda in bonam partem (em beneficio do agente) ou in malam partem (em prejuízo do
agente). No Direito Penal, somente é admitida a analogia in bonam partem, mas para a doutrina processual
penal majoritária, ambas poderão ser realizadas no âmbito processual.

37. ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL, DIFERENCIE ANALOGIA DE


INTEPRETAÇÃO ANALÓGICA. ESTA ÚLTIMA É PERMITIDA NO DIREITO
PROCESSUAL PENAL?
Na intepretação analógica a própria lei autoriza o seu complemento, já prevendo hipótese de
preenchimento, geralmente por meio de uma intepretação genérica, que resume situações casuísticas
precedentes. Diferentemente da analogia que é uma forma de autointegração do direito, a intepretação
analógica é meio de intepretação da norma processual penal e a doutrina majoritária admite a sua utilização.

38. O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL PODE SER APLICADO NO PROCESSO


PENAL?
Sim. Em que pese o art. 15 do NCPC não mencionar expressamente o CPP, entende-se que as normas que
regem o processo civil podem ser aplicadas de forma subsidiária e supletiva ao processo penal. Isto porque, de
acordo com a doutrina, o art. 15 do NCPC disse menos do que deveria.
Não obstante, o art. 3º do CPP permite a utilização de aplicação analógica, pelo que é possível se utilizar
das regras processuais civis analogicamente.

Art. 3o do CPP - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Contudo, para a aplicação do NCPC ao CPP tem-se que partir de duas premissas:
Premissa 01: verificar o silêncio por parte da legislação processual penal.
Premissa 02: havendo disposição expressa sobre o tema no CPP não é permitida a utilização do NCPC.

39. CITE UM EXEMPLO DE PREVISÃO EXPRESSA DA APLICAÇÃO DO CPC AO CPP.


O art. 362 do CPP, que trata da citação por hora certa.

Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça
certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos
arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil (arts.
252 a 254 NCPC) (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer,
ser-lhe-á nomeado defensor dativo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
40. A CONTAGEM DOS PRAZOS EM DIAS ÚTEIS COMO PREVISTA NO NCPC É
APLICADA AO CPP?
Não, uma vez que o CPP traz previsão expressa acerca da contagem do prazo no processo penal, verbis:
Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não
se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
§ 1o Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.
§ 2o A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém,
considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia
em que começou a correr.
§ 3o O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o
dia útil imediato.
§ 4o Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo
judicial oposto pela parte contrária.
§ 5o Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a
parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou
despacho.

41. O NCPC NÃO TROUXE PREVISÃO DO PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO


JUIZ. ELE CONTINUA SENDO APLICADO AO CPP?
Sim, porquanto o art. 399, §2º do CPP prevê expressamente tal princípio.
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o
poder público providenciar sua apresentação. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

42. E EM RELAÇÃO AOS EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE, QUE


TAMBÉM FOI EXTINTO COM O NCPC?
Os embargos infringentes e de nulidade, da mesma forma que o princípio da identidade física do juiz,
possuem previsão expressa no CPP e, sendo assim, devem ser aplicados normalmente no processo penal.
Art. 609. Os recursos, apelações e embargos serão julgados pelos Tribunais de Justiça,
câmaras ou turmas criminais, de acordo com a competência estabelecida nas leis de
organização judiciária. (Redação dada pela Lei nº 1.720-B, de 3.11.1952)
Parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável
ao réu, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos
dentro de 10 (dez) dias, a contar da publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o
desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência.
(Incluído pela Lei nº 1.720-B, de 3.11.1952)

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL

PONTO 3 - INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. SISTEMAS DE INVESTIGAÇÃO, PODERES, DEVERES,


METODOLOGIAS E ATOS INVESTIGATÓRIOS. A POLÍCIA JUDICIÁRIA. O INQUÉRITO POLICIAL.

43. QUAIS OS TIPOS DE SISTEMA DE INVESTIGAÇÃO EXISTENTES E QUAL FOI O


ADOTADO PELO BRASIL?
Os sistemas de investigação são o inquisitivo, o acusatório e o misto. No sistema inquisitivo há a
concentração dos poderes de acusar e de julgar nas mãos de um único órgão do Estado. No sistema acusatório
há nítida separação entre o acusador e o julgador, que é imparcial. No sistema misto há uma fase de instrução
preliminar com elementos do sistema inquisitivo (procedimento secreto, escrito e sem contraditório) e a fase de
julgamento com predominância do sistema acusatório (oralidade, publicidade, contraditório, livre apreciação das
provas). Doutrina majoritária entende que o Brasil adotou o sistema acusatório com base nos princípios
constitucionais e legais, apesar de haver inúmeros dispositivos do CPP de índole inquisitiva tendo em vista que o
mesmo é de 1941. Nucci entende que o Brasil adotou o sistema misto.

44. O QUE É INVESTIGAÇÃO CRIMINAL?


Investigação criminal é a atividade de caráter persecutório desenvolvida por órgãos do Estado com o
objetivo de apurar autoria e materialidade de infrações penais. É dividida em dois grupos, a investigação penal
originária (vocacionada a apurar infrações penais como o inquérito policial, o termo circunstanciado e o
procedimento investigatório criminal) e a investigação penal incidental (tem outra finalidade mas pode trazer
subsídio para a ação penal, como a sindicância e o processo administrativo). A polícia judiciária é aquela voltada
para a investigação criminal, com caráter repressivo, pois atua após a prática da infração penal, apurando autoria
e materialidade. No âmbito estadual é a polícia civil e no âmbito federal a Polícia Federal. É o órgão responsável
pela presidência do IP, com acompanhamento do MP no exercício do controle externo da atividade policial. Ela
pode atuar de forma atípica no controle preventivo, como ocorre com a Polícia Federal nos aeroportos.

45. O MP É DOTADO DE PODERES INVESTIGATÓRIOS CRIMINAIS NO ÂMBITO


CONSTITUCIONAL?
Há duas correntes. A primeira entende que não pois o art. 144 da CF atribui à polícia, com exclusividade a
tarefa de realizar investigação penal. A segunda entende que este artigo trata de polícia judiciária, que é espécie,
e não de investigação penal, que é gênero. Além disso, há a Teoria dos Poderes implícitos (quem atribui o fim dá
os meios),sim, se a CF atribui ao MP o exercício da ação penal (fim), lhe conferiu implicitamente o poder de
realizar investigações (meios). O STF (plenário) entende que o MP possui poderes investigatórios criminais, com
limitações formais apenas (sem limitações materiais, como, por exemplo, apenas para investigar policiais, MP ou
os casos em que a polícia não tomou providência): procedimento com regras análogas ao IP (hoje é o
procedimento investigatório criminal – PIC – regulamentado pela Res 13/2006 CNMP), supervisão do PJ, respeito
aos direitos fundamentais do investigado (SV 14 acesso às provas documentadas), respeito às prerrogativas dos
advogados.

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Como a CF conferiu ao MP o poder-dever de processar (art. 129, I, CF), implicitamente investe o
MP com todas as ferramentas para cumprir seu papel (Caso MC Culoock x Maryland, 1819).

46. QUAL O CONCEITO E AS CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL?


O inquérito policial é um procedimento administrativo, instaurado e presidido pela autoridade policial,
com a finalidade de apurar materialidade e autoria de infrações penais de médio e maior potencial ofensivo.
Também tem objetivo de embasar prisões provisórias. O prazo geral para sua conclusão é de 30 dias se indiciado
solto e 10 dias se indiciado preso. Na lei de drogas o prazo é de 90 e 30 dias respectivamente. Se houver prisão
temporária tem que ser concluído no prazo da prisão. O delegado não pode instaurar IP contra Juiz e promotor,
devendo remeter ao PGJ ou PGR no caso de promotor, ou ao Tribunal, no caso de juiz. A denúncia anônima
apenas pode embasar a instauração de IP se acompanhada de outros indícios.
As características do IP são: inquisitoriedade (não há contraditório, este é diferido), obrigatoriedade
(presentes os requisitos legais a autoridade policial é obrigada a instaurar), indisponibilidade (vedado a
autoridade policial arquivar IP), dispensabilidade (havendo prova da materialidade e indícios de autoria),
oficialidade (só por delegado de polícia bacharel em direito e aprovado em concurso público), predomínio da
forma escrita, sigiloso (para preservar as pessoas envolvidas).

47. O QUE É INDICIAMENTO?


É o ato privativo da autoridade policial em que se reconhece que os indícios de autoria recaem sobre
determinado suspeito. Deve ser fundamentado. As providências no indiciamento são a identificação (como regra
o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal), o interrogatório e o pregressamento.
Algumas pessoas não podem ser indiciadas como Presidente da República, portador de imunidade diplomática,
juiz, promotor e menores de 18 anos.

48. COMO FUNCIONA A INDICAÇÃO DE DEFENSOR DE INDICIADO SERVIDOR


VINCULADO AS INSTITUIÇÕES DO ART. 144 DA CF?
Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição
Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais
procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados
no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração do
procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do
recebimento da citação.

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Caso esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor pelo
investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o
investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique
defensor para a representação do investigado.
Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2º deste artigo, a defesa caberá
preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da
Federação correspondente à respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá
disponibilizar profissional para acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa
administrativa do investigado
A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo deverá ser precedida de manifestação de
que não existe defensor público lotado na área territorial onde tramita o inquérito e com atribuição para nele
atuar, hipótese em que poderá ser indicado profissional que não integre os quadros próprios da Administração§
5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio dos interesses dos investigados
nos procedimentos de que trata este artigo correrão por conta do orçamento próprio da instituição a que este
esteja vinculado à época da ocorrência dos fatos investigados.

49. O QUE É ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL?


O acordo de não persecução penal pode ser conceituado como instituto de caráter pré-processual, de
direito negocial entre o representante do Ministério Público e o investigado, ou seja, trata-se de negócio
bilateral, o que quer dizer que o investigado não está obrigado a aceitar as condições impostas, principalmente
quando excessivas.
De toda forma, o acordo de não persecução penal poderá ser proposto pelo representante do Ministério
Público, ou pelo acusado, quando o delito em questão for a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, como por exemplo, furto, estelionato, posse irregular e
porte ilegal de arma de fogo de uso permitido etc. Isso posto, não restam dúvidas de que o instituto do acordo
de não persecução penal pode se apresentar como uma boa opção ao infrator da lei, como veremos adiante.
Antes, porém, vejamos a aplicação do instituto processual no tempo.
Ou seja, Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente
a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o
Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; II - renunciar
voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do
crime; III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima

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cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma
do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV - pagar prestação pecuniária,
a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a
entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente,
como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou V-
cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e
compatível com a infração penal imputada.

50. QUANDO NÃO SE APLICA O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL?


O acordo de não persecução penal não se aplica nas seguintes hipóteses: I - se for cabível transação
penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; III - ter sido o agente
beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal,
transação penal ou suspensão condicional do processo; e
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher
por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

51. O ARQUIVAMENTO DO IP PRODUZ COISA JULGADA MATERIAL?


O arquivamento é ato complexo, antes do pacote anticrime envolvia o requerimento do MP e posterior
decisão do juízo, que não concordando com o MP enviará ao PGJ que decidirá pelo arquivamento ou pelo
oferecimento da denúncia por outro membro do MP (longa manus do PGJ) ou por ele próprio.
Com a nova redação do art. 28 do CPP (após o pacote anticrime) ainda suspensa por deliberação do STF
(caput suspenso) cabe ao MP ordenar o arquivamento comunicando ao delegado, ao ofendido e ao investigado.
(arquivamento dentro do MP).
O arquivamento é submetido a homologação por uma instância de revisão. (provavelmente o próprio PG,
cada unidade federativa irá reformular).
O ofendido poderá impugnar o arquivamento provocando a instância revisional, dispondo do prazo de 30
dias, contado do momento em que o ofendido é comunicado.
Quando a U, E ou M são atingidos pela conduta criminosa, a chefia do ente jurídico responsável por sua
representação poderá provocar a instância revisional.
Em regra, o arquivamento não produz coisa julgada material, podendo ser reaberto caso surjam provas
novas, que são as substancialmente inovadoras. Excepcionalmente produzirá coisa julgada material no caso de

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atipicidade e inexistência material do fato e ainda no caso de causa excludente de ilicitude (para o STJ, pois STF
entendeu em um caso que pode desarquivar nesse caso).

52. O QUE É INQUÉRITO POLICIAL?

O IP é enquadrado como procedimento administrativo preliminar de caráter informativo.


CONCEITO:
é um procedimento administrativo preliminar, e caráter informativo, presidido pela Autoridade Policial.
Inquisitivo temos concentração de poder em autoridade única. Logo, usualmente, afastamos o
contraditório e a ampla defesa.

OBS1: Prerrogativa do advogado: é direito do advogado acompanhar o cliente no momento em que é


ouvido perante qualquer autoridade investigante (art. 7º, XXI, da Lei 8906/94 - EOAB).
Conclusão1:o advogado pode apresentar razões e formular quesitos.
Conclusão2:se o suspeito comparecer sozinho será ouvido normalmente (até porque o IP é inquisitivo).
Conclusão3:na fase processual o interrogatório sem advogado é ato NULO– nulidade absoluta, isto é,
prejuízo presumido (art. 185, CPP e súmula 523 STF).
Conclusão4: se o Delegado impedir o acesso do advogado o ato é NULO, assim como todos os demais que
dele decorrem (Princípio da Consequencialidade).
OBS2: Pacote Anticrime:traz uma mitigação à inquisitoriedade – De acordo com o art. 14-A, CPP, deve o
Delegado “citar” (atecnia, leia-se “notificiar”) o investigado que integra as forças policiais e que empregou força
letal no desempenho de suas funções para que constitua advogado no prazo de 48 horas. Diante da omissão, a
qual ele pertencia à época do fato será intimada para constituir advogado no prazo de 48 horas.
ADVERTÊNCIA:a mesma prerrogativa é aplicada aos membros das Forças Armadas que empreguem força
letal no desempenho de suas funções durante as operações GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
OBS3: Havendo desejo político, é possível a regulação de IP com contraditório e ampla defesa, a exemplo
do IP para expulsão do estrangeiro, regulado na Lei de Migração (Lei n. 13.455/17, art. 58).
Discricionário: o Delegado preside a investigação da forma que entender mais estratégico, adequando o
IP a realidade do crime apurado.
Procedimento Indisponível: O Delegado NUNCA poderá arquivar o IP.
Cabe ao Delegado a presidência do IP (art. 2º, §1º, Lei 12.830/13). IP só é presidido por DELEGADO, por
mais NINGUÉM, embora existam outros procedimentos de investigação presididos por outras autoridades.
Tem por objetivo apurar autoria, materialidade e circunstância da infração

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Procedimento Inquisitivo: temos concentração de poder em autoridade única. Logo, usualmente,
afastamos o contraditório e a ampla defesa.

53. QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO?


O De acordo com a sumula 524 do STF o arquivamento do inquérito não é apto a imutabilidade pela
coisa julgada material. Logo, surgindo NOVAS PROVAS antes da extinção da punibilidade caberá o oferecimento
da denúncia.
O arquivamento segue a clausula “rebus sic standibus”, (como as coisas estão).
O arquivamento faz mera coisa julgada formal.  (arquivamento não inocenta ninguém). Arquivamento é
de qualquer peça de informação.
Citério utilizado é quanto a titularidade da ação penal.
ARQUIVAMENTO INDIRETO: integrante do MP estadual e juiz estadual. A polícia investigou tráfico de
drogas e MP entende que é tráfico internacional e requer que o juiz remeta os autos ao juiz federal. Se juiz
discorda, por entender que é tráfico estadual, como fazer? Juiz não pode obrigar MP a oferecer denuncia. MP
não pode obrigar juiz a remeter. Daí o STF, em 1984, deu a solução: se juiz discordar em remeter os autos à outra
esfera, por analogia do art. 28, vai remeter os autos ao PG (STF apelidou isso de arquivamento indireto,
endossado por Claudio Fonteles, ex PGR). Obs: se o art. 28 mudar, juiz não poderá mais invocar o Procurador
Geral, desaparece.
ARQUIVAMENTO TÁCITO/ IMPLÍCITO: surgiu na doutrina (cito Afrânio Silva Jardim). Se promotor oferece
a denúncia e não contempla todos os elementos abordados no relatório do inquérito,o juiz confrontando a
denuncia com o inquérito, se perceber quea denuncia não abordou o juiz vai considerar que a omissão é
arquivamento (daí chamaram de arquivamento implícito).
Com isso juiz provoca o PG para que resolva o problema, já que a denúncia não conglobou todos os
elementos do IP. Ativismo do juiz. Não ecoa majoritariamente na doutrina.

54. O QUE É TERMO CIRCUNSTANCIADO DE FATO?


É a investigação simplificada na apuração das infrações de menor potencial ofensivo (pena máxima de até
2 anos e contravenção penal)
Eventualmente vamos instaurar inquérito para apurar inquérito para apurar infração de menor potencial
ofensivo. ex: quando a autoria da infração é desconhecida.
A doutrina diverge quanto à legitimidade para presidência da lavratura do TCO, em visão estrita do
delegado, e em posição ampla, incluindo a PM e secretaria do juizado.

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55. O QUE É JUIZ DAS GARANTIAS?
O juiz das garantias é uma função exercida no processo criminal por um juiz de direito, encarregado de
atuar como garantidor da eficácia do sistema de direitos e garantias fundamentais do acusado no processo penal
e, especialmente de dispor sobre a prisão provisória de uma pessoa investigada e seus respectivos pedidos
de liberdade provisória. Também é responsável por analisar os pedidos de medidas cautelares formulados
durante o inquérito. Também dispõe sobre pedidos de prorrogação de internação psiquiátrica compulsória. É
adotado em países como França, Itália, Panamá e, recentemente, previsto por lei para ser instituído no Brasil.
Na França, o juiz das garantias é chamado juiz das liberdades e da detenção (em francês, Le juge des
libertés et de la détention , ou JLD ) e analisa os pedidos formulados pelo juiz de instrução, autoriza o Ministério
Público a praticar alguns atos em certos tipos de inquéritos e também dispõe sobre a retenção administrativa de
estrangeiros.
No Brasil, essa função foi instituída pela lei número 13.964, de 24 de dezembro de 2019, como um juiz
controlador do inquérito policial e necessariamente distinto do juiz que instrui e sentencia o processo, tendo
causado polêmica. A sua instituição foi, após alguns dias, impugnada perante o Supremo Tribunal Federal (STF)
por várias entidades. No dia 15 de janeiro de 2020, Dias Toffoli por liminar prorrogou a implementação do Juiz
das Garantias denegando as ADIs 6298, 6299 e 6300, que pediam a declaração de inconstitucionalidade da
norma, cabendo recurso ao relator assim que o Supremo retornasse do recesso. Mas em 22 de Janeiro
atendendo à ADI 6305, Luiz Fux derrubou a a decisão de Toffoli e suspendeu por tempo indeterminado a Lei. O
mesmo ministro é relator das ADIs citadas.
A ideia é que esse magistrado atue na fase de inquérito policial, em todas as infrações penais que não
sejam de menor potencial ofensivo. Ele deve ser responsável pelo controle da legalidade da investigação e pela
garantia dos direitos individuais, até o recebimento da denúncia.

56. CITE ALGUMAS COMPETÊNCIAS INERENTES AO JUIZ DAS GARANTIAS?


O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda
dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-
lhe especialmente:
I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da
Constituição Federal;
II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no
art. 310 deste Código;
III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua
presença, a qualquer tempo;

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IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal; V - decidir sobre o
requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, observado o disposto no § 1º deste artigo;
VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las,
assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto
neste Código ou em legislação especial pertinente;
VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não
repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;
VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das razões
apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo;
IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua
instauração ou prosseguimento;
X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da
investigação;
XI - decidir sobre os requerimentos de:
a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de
outras formas de comunicação;
b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico;
c) busca e apreensão domiciliar;
d) acesso a informações sigilosas;
e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado;
XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia;
XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental;
XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código;
XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu
defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação criminal,
salvo no que concerne, estritamente, às diligências em andamento;
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia;
XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração premiada,
quando formalizados durante a investigação;
XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo.

PONTO 4 - AÇÃO PENAL. AÇÃO CIVIL EXDELICTO. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA. SUJEITOS


PROCESSUAIS.

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57. QUAL O CONCEITO DE AÇÃO PENAL?
A ação penal consiste no direito público subjetivo de exigir do Estado-Juiz a aplicação do direito penal
objetivo a um fato concreto. Ele tem fundamento constitucional, constituindo-se em direito fundamental, pois o
art. 5º, inciso XXXV estatui que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, o
que consagra o princípio da inafastabilidade da jurisdição e esta deve ser provocada pelo direito de ação.

58. QUAL A CLASSIFICAÇÃO SUBJETIVA DA AÇÃO PENAL?


O critério utilizado é quanto a titularidade da ação penal. A ação penal divide-se em pública (titular da
ação penal é o MP em caráter privativo) e privada (titular da ação penal é o ofendido ou seu representante legal
e na sua falta o CADI. Há legitimação extraordinária por substituição processual, a vítima tem titularidade do
direito de ação, mas o direito material não lhe pertence pois o direito de punir pertence ao Estado). No silêncio
da lei ou quando o crime for contra a União, Estados DF ou Municípios a ação penal será incondicionada. A ação
penal pública se subdivide em incondicionada (não depende de autorização de um terceiro) ou condicionada a
representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça. A ação penal privada se subdivide em
exclusivamente privada, personalíssima (apenas pode ser ajuizada pelo ofendido, art. 236 CP) ou subsidiária da
pública (no caso da inércia do MP).

59. QUAIS OS PRINCÍPIOS REGEM A AÇÃO PENAL PÚBLICA?


A ação penal pública é regida pelos seguintes princípios: obrigatoriedade (com exceção da lei 9.099/95 no
caso da transação penal e da lei 12850/13 no caso da colaboração premiada onde o MP pode deixar de oferecer
denúncia, se aplicando a oportunidade regrada), indisponibilidade ou indesistibilidade, pois o MP não pode
desistir da ação penal e nem do recurso interposto (com exceção da Lei 9.99/95 no caso da suspensão
condicional do processo), oficialidade (órgão encarregado de exercer a ação penal pertence aos quadros do
Estado, é um órgão oficial), intranscendência (a ação penal só pode ser ajuizada em face dos supostos sujeitos
ativos da infração, nunca contra os seus sucessores, pelo princípio da personalidade da pena) e indivisibilidade (o
MP não pode escolher quem vai processar, havendo indícios em face de todos os suspeitos, todos deverão ser
denunciados). STF E STJ FALAM EM PRINCÍPIO DA DIVISIBILIDADE, MAS O RACIOCÍNIO É O MESMO.

60. QUAIS OS PRINCÍPIOS REGEM A AÇÃO PENAL PRIVADA?


A ação penal privada é regida pelos seguintes princípios: oportunidade (o querelante tem a faculdade de
propor a queixa), disponibilidade (o querelante pode a qualquer tempo desistir da ação ajuizada ou do recurso
interposto), intranscendência (a ação penal só pode ser ajuizada em face dos supostos sujeitos ativos da
infração, nunca contra os seus sucessores, pelo princípio da personalidade da pena), indivisibilidade (o
querelante é obrigado a propor a queixa em face de todos os agentes conhecidos. A renúncia em face de um
estende-se a todos e o MP deve zelar por este princípio, mas ele não pode aditar a queixa para incluir outras

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pessoas no polo passivo, apenas pode requerer a notificação do querelante para incluir dentro do prazo
decadencial, sob pena de renúncia e consequente extinção da punibilidade).

61. EXISTE AÇÃO PENAL POPULAR?


E a ação penal que pode ser ajuizada por qualquer cidadão. Na lei 1079/50 tem o processo por crime de
responsabilidade ou impeachment, a ser deflagrado por qualquer cidadão. Assim, parcela minoritária da doutrina
entende que essa seria uma ação penal popular. Entretanto, majoritariamente, esse não é um exemplo de ação
penal popular tendo em vista que os ilícitos dessa lei não se tratam de infração penal, mas infração político-
administrativa. Assim, a única ação penal popular, porém sem natureza condenatória, seria o habeas corpus, em
razão de sua ampla legitimidade.

62. QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL?


Estão previstos no art. 395 do CPP, sendo os requisitos mínimos indispensáveis ao julgamento do mérito
da causa. Pela teoria da asserção, a análise das condições da ação deve ser feita de acordo com o que foi narrado
na peça inicial, na admissibilidade da inicial. As condições da ação podem ser genéricas ou específicas. As
condições da ação genéricas são: possibilidade jurídica do pedido (o fato narrado na denúncia seja considerado
infração penal), interesse de agir (necessidade, que é sempre presumida, pois não há aplicação da pena sem o
devido processo legal; adequação, a ação deve ser promovida pelo procedimento do CPP com base em prova
pré-constituída; utilidade, a ação deve ser útil para a realização da pretensão punitiva, por isso entendendo a
doutrina que no caso de prescrição virtual ou antecipada não há utilidade da ação, devendo ser extinta a
punibilidade do réu, o que não é aceito pelos STF e STJ), legitimidade de parte e justa causa (envolve o suporte
probatório mínimo, o somatório de indícios suficientes de autoria com a prova da materialidade do delito. Justa
causa duplicada é no caso da ação penal no crime de lavagem de capitais, onde o MP deve demonstrar o suporte
probatório mínimo em relação ao crime de lavagem em sim e também em relação ao crime antecedente). As
condições da ação específicas são as condições de procedibilidade, que vinculam o exercício da ação penal, a
representação do ofendido e a requisição do Ministro da Justiça, nos crimes de ação pública condicionada. Há
ainda as condições objetivas de punibilidade, que estão no plano do direito material, que são exteriores ao crime
, não integrantes do tipo, de acontecimento futuro e incerto, como a sentença que dcreta a falência nos crimes
falimentares ou a sentença anulatória do casamento, no crime do art. 236 CP.

63. O QUE É A DENÚNCIA E A QUEIXA, QUAL O SEU PRAZO E QUAIS OS SEUS


REQUISITOS?
A denúncia é a petição inicial dos crimes de ação pública, é peça privativa do MP. O prazo geral para
indiciado solto é de 15 dias e de indiciado prezo de 5 dias. Na lei de drogas e no caso de crimes eleitorais o prazo
é de 10 dias. Se o prazo não for observado haverá relaxamento da prisão, com início do prazo para a queixa
subsidiária e caracterização de falta funcional se o atraso for injustificado. A queixa é a petição inicial no caso dos

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crimes de ação privada. O prazo para o oferecimento da queixa é de 6 meses, contados a partir do conhecimento
da autoria, não se interrompendo, suspendendo ou prorrogando. No crime continuado conta-se esse prazo
individualmente para cada crime. Os requisitos da denúncia e da queixa são os mesmos, estão previstos no art.
41 CPP e no art. 282 CPC e são: 1) exposição do fato criminoso e suas circunstâncias (a acusação deve ser clara,
compreensível e objetiva, devendo expor todas as elementares e circunstâncias que interferem no agravamento
da pena – com exceção da tentativa. Só haverá inépcia se não possibilitar o direito de defesa. No crime tentado a
inicial de ve descrever todos os requisitos da tentativa, em especial as circunstâncias alheias a vontade do agente
que impediram a consumação do crime. No crime culposo a inicial deve descrever a modalidade de culpa. No
concurso de pessoas a inicial deve narrar a conduta de cada envolvido, não cabendo, como regra, a denúncia
genérica, com exceção dos crimes societários e multitudinários, devendo ser provada a conduta de cada um no
curso da ação penal. A denúncia alternativa ou imputação alternativa na denúncia não é admitida para uma
primeira corrente (Ada Grinover) pois ela inviabiliza o direito de defesa por ser acusação incerta. Uma segunda
corrente entende que é válida pois apenas torna mais complexo o direito de defesa, mas não inviabiliza (Afrânio
Silva Jardim); 2) identificação do acusado (pode ser identificado por características físicas, os dados qualificativos
podem ser corrigidos a qualquer momento, quando não há dúvida sobre a qualidade física do acusado. No caso
de nome falso o acusado comete crime e o MP pode denunciar nos próprios autos ou em autos apartados); 3)
classificação jurídica do fato (se o Mp erra na tipificação legal não gera inépcia se narra corretamente o fato) e 4)
Rol de testemunhas, se houver (não poderá arrolar depois, mas pode requerer que o juiz ouça como testemunha
do juízo.

64. O QUE É A REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO?


É a manifestação de vontade do ofendido ou representante legal, ou ainda do CADI no caso de morte do
ofendido, no sentido de ver o agente processado, nos casos de crime de ação pública condicionada a
representação. Não é necessário rigor formal (para o STJ se a vítima comparecer espontaneamente na delegacia
para comunicar um fato já pode ser considerada representação). Se houver conflito de interesses entre o menor
e seu representante legal deverá ser nomeado um curador especial. A representação pode ser feita por escrita
ou verbal, devendo ser reduzida a termo, ou ainda através de procurador com poderes especiais. O ofendido
pode se retratar até o oferecimento da denúncia (Na lei Maria da Penha é em audiência realizada até o
recebimento da denúncia). O prazo para a representação é de até 6 meses contados do conhecimento da autoria
delitiva, não se suspende nem se interrompe. Há eficácia objetiva da representação, assim, o oferecimento de
representação contra um agente autoriza o MP a oferecer denúncia contra todos pelo princípio da
indivisibilidade.

65. O QUE É AÇÃO CIVIL EXDELICTO?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
É a ação ajuizada pelo ofendido na esfera cível para obter indenização pelo dano causado pelo crime,
quando existente. Ela envolve a execução da sentença penal condenatória no juízo cível (a legitimidade é do
ofendido ou do CADI e apenas em face do réu) e a ação civil de conhecimento para ressarcimento do dano (essa
será em face do réu ou do responsável legal). O MP tem legitimidade expressa no caso de desassistido pobre,
mas segundo o STF a legitimidade do MP padece de inconstitucionalidade progressiva, assim o MP perde a
legitimidade na medida em que a DP for se estruturando. O dano pode ser material e/ou moral e quanto aos
danos materiais a parte pode pleitear danos emergentes, lucros cessantes ou, ainda, solicitar a restituição de
coisas.

66. QUAIS SÃO OS SISTEMAS DE APURAÇÃO DE CULPA?

✔ sistema da confusão: uma ação proposta no juízo criminal com duas pretensões, uma penal e uma

civil. Para alguns o Brasil passou a adotar esse sistema após a reforma de 2008. Para outros não, o
juiz criminal pode fixar valor mínimo de indenização a título de antecipação, mas não está
decidindo a área civil. O juiz criminal só poderá fixar indenização se houver pedido, segundo o STF
e STJ.

✔ sistema da solidariedade: duas ações, uma penal e uma cível decidida por um só juízo. Não foi

adotado.

✔ sistema da livre opção: a vítima expressa sua vontade para que a ação civil de reparação de dano

tramite junto com a ação penal. Não foi adotado.

✔ sistema da independência absoluta: o penal decide no juízo penal e o civil decide no juízo cível.

Não foi adotado.

✔ sistema da separação relativa: a área penal é independente da cível, mas determinadas sentenças

criminais farão coisa julgada no cível e a culpa não poderá ser mais discutida. Foi o sistema
adotado. A decisão do juiz que homologa o arquivamento do IP por falta de provas, por
atipicidade, no caso do investigado estar amparado por alguma causa que exclui o crime não
impedem a propositura de ação civil.
No caso de sentença condenatória com trânsito em julgado com posterior prescrição da pretensão
executória ou com posterior abolitio criminis o efeito civil permanece intacto. No caso de sentença concessiva de
perdão judicial, o STJ entende que não subsiste qualquer efeito penal ou civil e o STF entende que pode executar
no cível, sendo título.
No caso de sentença absolutória por inexistência material do fato ou por estar provado que o réu não
participou do crime faz coisa julgada no cível.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
No caso da sentença absolutória por falta de prova da existência material do fato, por falta de prova a
participação do réu, em razão do fato não constituir infração penal, porque o isenta de pena ou por insuficiência
de provas, não faz coisa julgada no cível.
No caso de haver sentença absolutória por estar o réu amparado por uma causa que exclui o crime faz
coisa julgada, não se discute mais culpa, com exceção do caso de atingir terceiro por erro de execução no
exercício de uma causa de ilicitude e ainda no caso de estado de necessidade agressivo, quando causa dano a
terceiro.

67. QUAL O CONCEITO DE COMPETÊNCIA E SUAS ESPÉCIES?


Competência é a quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído por lei a cada órgão ou grupos de
órgão jurisdicionais. É a medida da jurisdição.
A competência pode ser absoluta ou relativa. A competência absoluta é aquela que não permite
prorrogação, por envolver interesse público, podendo ser arguida a qualquer tempo e em qualquer grau de
jurisdição, inclusive de ofício, sob pena de nulidade absoluta de todos os atos praticados no feito (decisórios ou
instrutórios), segundo posicionamento doutrinário mais abalizado. Há 3 hipóteses de competência absoluta: em
razão da matéria (leva em conta a natureza da infração a ser julgada), por prerrogativa de função (leva em conta
o cargo ocupado pela pessoa que cometeu a infração penal. O STF definiu, que o foro por prerrogativa de função
aplica-se, como regra, apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas. Além disso, decidiu também que após o final da instrução processual com a publicação do
despacho de intimação para apresentação de alegações finais a competência para processar e julgar ações
penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que
ocupava, qualquer que seja o motivo) e funcional (tem como parâmetro a distribuição de tarefas dentro dos
órgãos responsáveis pela persecução penal).
A competência relativa permite prorrogação, caso não seja arguida a tempo a incompetência do foro,
afinal de contas, ela interessa, sobretudo, às partes. O desrespeito às normas de competência relativa, segundo
posicionamento doutrinário prevalente, leva apenas à nulidade relativa dos atos decisórios (não são anulados os
atos instrutórios, conforme melhor interpretação conferida ao art. 567, do CPP). No Processo Penal, é hipótese
de competência relativa a competência territorial. Ressalte-se, porém, que no Processo Penal, a competência
territorial pode ser reconhecida de ofício pelo juiz até o início da instrução criminal.

68. QUAL A COMPETÊNCIA DO CRIME DE ESTELIONATO PRATICADO MEDIANTE


DEPOSITO DE CHEQUE SEM FUNDOS?
Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em
poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção. caso de crimes.

69. NAS AÇÕES DE CRIMES CONTRA DIGNIDADE SEXUAL, QUAIS AÇÕES SÃO
VEDADAS PARA GARANTIR A INTEGRIDADE FÍSICA E PSICOLÓGICA DA
VITIMA?
Na audiência de instrução e julgamento, e, em especial, nas que apurem crimes contra a dignidade
sexual, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão zelar pela integridade física e
psicológica da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o
cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos
fatos objeto de apuração nos autos; II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que
ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.

70. QUAIS SÃO AS REGRAS DE COMPETÊNCIA TERRITORIAL?


No caso de crimes plurilocais (conduta e resultado em foros distintos), a fixação do foro é o local da
consumação, como regra. No caso de consumação em local incerto, na divisa entre dois foros, adota-se a
prevenção. No caso de tentativa é o local do último ato executório. No caso de crimes à distância é o local do
último ato executório em território nacional. No caso de crime permanente ou continuado adota-se a prevenção.
No caso de crime cometido no exterior é a capital do Estado de último domicílio do réu ou a capital federal se
nunca teve domicílio no Brasil. No caso de crime a bordo de embarcação é o local do primeiro porto que a
embarcação tocar após o crime ou o último porto antes do crime, se for rumo ao exterior. No caso de crime a
bordo de aeronave é o local do pouso após o crime, ou da decolagem antes do crime (sempre competência
Federal). Como exceção, a competência ser firmada em razão da conduta no caso de infração de menor
potencial ofensivo, no caso de crime doloso contra a vida e no caso de homicídio culposo.
No caso de ação penal pública ou privada subsidiária da pública, o critério de domicílio ou residência do
réu será subsidiário, quando não for conhecido o local da infração. Se de ação privada esse critério é optativo. Se
houver mais de um domicílio ou residência utiliza-se a prevenção. Se desconhecido o domicílio ou residência,
utiliza-se o local em que o fato se tornou oficialmente conhecido.

71. O QUE É PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA, CONEXÃO E CONTINÊNCIA?


Se o vício de incompetência relativa não for arguido oportunamente ocorre a prorrogação de
competência. A conexão e continência são institutos de deslocamento de competência que permitem reunião de
processos para julgamento conjunto, como regra, para economia dos atos e para evitar decisões contraditórias.
Há casos que mesmo havendo conexão não haverá a reunião de processos (casos de separação obrigatória, art
79). Na conexão há pluralidade de fatos e na continência há unidade de fato. A conexão se classifica em:
intersubjetiva (por simultaneidade, por concurso ou por reciprocidade), objetiva ou material (teleológica ou
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consequencial) e instrumental, processual ou probatória. A continência se classifica em: por cumulação subjetiva
(art. 29) ou por cumulação objetiva (art. 70, 73 2ª parte e 74 2ª parte).

72. O QUE É FORO PREVALENTE E QUAIS SUAS REGRAS?


É o juiz ou tribunal que chama para si a responsabilidade de julgar todos os processos no caso de conexão
ou continência. No caso de justiça especial e justiça comum, prevalece a justiça especial (exceto justiça militar,
que não se mistura). No caso de júri e justiça comum prevalece o júri. No caso de Justiça Federal e Estadual,
prevalece a Federal. No caso de órgãos de diferentes graus de jurisdição, prevalece o órgão mais graduado. No
caso de órgão da mesma justiça e de mesmo grau prevalece o local do crime mais grave; se igual, o de maior
número de crimes e se igual, a prevenção (no caso de crime continuado vai direto para prevenção).

73. O QUE É PERPETUATIO JURISDITIONIS?


É a perpetuação da competência nos casos de conexão ou continência, quando o órgão prevalente
absolve ou desclassifica o crime de sua competência, continua competente para o julgamento do processo, com
exceção do Júri, ao final do sumário da culpa, se o juízo impronunciar, absolver sumariamente ou desclassificar o
fato deverá remeter o crime conexo ao juízo singular.

74. O QUE É AVOCAÇÃO?


É um dever do órgão prevalente que deverá avocar o julgamento dos casos no caso de serem instaurados
processos em juízos distintos. Não é absoluto, pois o órgão prevalente pode optar pela separação de processos).
O limite para a avocação é a prolação da sentença.

75. QUEM SÃO OS SUJEITOS PRINCIPAIS E SECUNDÁRIOS DO PROCESSO PENAL?


Os sujeitos principais são imprescindíveis para a relação jurídica processual, que se constitui, se
desenvolve e se completa, como juiz, MP e acusados. Os sujeitos secundários, colaterais ou acessórios são as
pessoas que tem direitos perante o processo, mas não são imprescindíveis para a relação jurídica processual,
mas poderão deduzir pretensões, como o assistente de acusação. Há ainda os terceiros, que não tem direitos no
processo e apenas colaboram com ele, podem ser interessados (Ministro da Justiça nos crimes condicionados a
sua requisição) e não interessados (testemunha, perito e auxiliares da justiça).

76. QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE CAUSAS DE IMPEDIMENTO E CAUSAS DE


SUSPEIÇÃO?
As causas de impedimento estão previstas nos artigos 252 e 253 do CPP e referem-se a vínculos objetivos
do juiz com o processo, há presunção absoluta de parcialidade, são causas de nulidade absoluta (alguns
entendem que os atos são inexistentes, mas o STF já decidiu que os atos são válidos até o seu reconhecimento),
alegáveis a qualquer tempo, cujo rol é taxativo. As causas de suspeição estão previstas no art. 254 do CPP e
referem-se ao ânimo subjetivo do juiz quanto às partes, em regra externas ao processo. Há divergência se gera

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nulidade absoluta ou relativa, cujo rol é exemplificativo pois porque permite a expansão por razões de foro
íntimo (chamado por alguns de incompatibilidades).

PONTO 5 - MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS. PRISÃO. LIBERDADE PROVISÓRIA. AUDIÊNCIA DE


CUSTÓDIA. MEDIDAS CAUTELARES REAIS. QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES. PRISÃO
ESPECIAL.

77. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE MEDIDAS CAUTELARES?


As medidas cautelares se dividem em medidas cautelares reais (almejam a constrição patrimonial para
viabilizar futura indenização, evitar o enriquecimento ilícito e materializar a perda de bens como efeito da
condenação. Ex: hipoteca legal, arresto e sequestro), medidas cautelares probatórias (ligadas a produção de
provas. Ex: interceptação telefônica, busca e apreensão) e medidas cautelares pessoais (ligadas a restrição de
liberdades. Antes da Lei 12.403/11 havia o sistema da bipolaridade das cautelares pessoais, ou a pessoa ia presa
cautelarmente ou usufruía de liberdade provisória. Depois dessa lei cai o sistema da bipolaridade pois o agente
pode ainda ser beneficiado com cautelares pessoais diversas da prisão, que são mais brandas, sendo a prisão a
ultimaratio).

78. O QUE É A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA?


É o direito que possui o preso em flagrante de ser conduzido, em 24 horas (prazo máximo estipulado pelo
CNJ), à autoridade judicial, que irá analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados, se a
prisão em flagrante foi legal e se a prisão cautelar deverá ser decretada ou a pessoa tem direito a liberdade
provisória ou a medida cautelar diversa da prisão. Não tem previsão no CPP, é prevista na Convenção Americana
de DH (pacto de San José). Foi instituída pelo CNJ em 2015 e o STF decidiu que esse provimento é constitucional
pois o provimento não criou obrigações, mas sim o Pacto de San José.
Assim, lançadas em 2015, as audiências de custódia consistem na rápida apresentação da pessoa que foi
presa a um juiz, em uma audiência onde também são ouvidos Ministério Público, Defensoria Pública ou
advogado do preso.
O juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade e a regularidade do flagrante, da necessidade e da
adequação da continuidade da prisão, de se aplicar alguma medida cautelar e qual seria cabível, ou da eventual
concessão de liberdade, com ou sem a imposição de outras medidas cautelares. A análise avalia, ainda, eventuais
ocorrências de tortura ou de maus-tratos, entre outras irregularidades.
A implementação das audiências de custódia está prevista em pactos e tratados internacionais de direitos
humanos internalizados pelo Brasil, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção
Americana de Direitos Humanos. Além disso, a realização das audiências de custódia foi confirmada pelo
Supremo Tribunal Federal ao julgar, em 2015, a ADI 5240 e a ADPF 347.
Incluída pelo pacote anticrime no art. 3-B, parágrafo 1 do CPP.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a
realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz
deverá, fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal; ou
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312
deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não
realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser
relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
preventiva.

79. O QUE É A PRISÃO E QUAIS SUAS MODALIDADES?


Prisão é a restrição da liberdade de locomoção, fruto da autuação em flagrante, por ordem judicial
motivada ou ainda por transgressão militar ou crime propriamente militar.
As modalidades de prisão são: prisão civil (a Convenção Americana de DH somente autoriza a prisão do
devedor de alimentos, e o STF decidiu que ela tem status de norma supralegal e, portanto, as normas que tratam
da prisão do depositário infiel estão invalidadas.), prisão do falido (considerada incompatível com o texto
constitucional pelo STJ), prisão administrativa (não mais existe). Na nova lei da Migração não mais existe
obrigatoriedade de prisão para fins de extradição), prisão sem pena (prisões cautelares que são em flagrante,
preventiva e temporária) e prisão com pena (decorre do trânsito em julgado de sentença penal condenatória).
Segundo entendimento atual do STF não é possível o início da execução da pena após acórdão condenatório em
2º grau (ADC 43, 44 e 54).

80. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE FLAGRANTE?

✔ Flagrante próprio (real, propriamente dito, perfeito ou verdadeiro): aquele que é capturado

cometendo a infração (praticando os atos executórios) ou acaba de cometê-la (atos executórios já


foram encerrados).

✔ Flagrante impróprio (irreal ou quase flagrante): o agente é perseguido logo após a prática da

infração. Não pode haver a interrupção da perseguição, solução de continuidade.

✔ Flagrante presumido (ficto ou assimilado): o agente é encontrado logo depois da prática do crime,

com objetos que façam presumir que ele é o responsável.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL

✔ Flagrante esperado: hipótese válida de flagrante onde a polícia se antecipa e aguarda a prática do

crime para se efetivar o flagrante. Não há intervenção na vontade.

✔ Flagrante preparado (provocado, delito de ensaio, delito putativo, imaginado por obra do agente

provocador): estimula-se a prática criminosa e prende-se o agente no cometimento do crime. Há


intervenção na vontade. A prisão é ilegal e o fato praticado é atípico por se considerado crime
impossível. No tráfico de drogas, se a pessoa tem a droga estocada o flagrante é esperado, pois a
consumação do tráfico era preexistente.

✔ Flagrante postergado (diferido, retardado, ação controlada): É idealizado para que se promova a

captura em momento mais estratégico. Na lei de crime organizado deve ser comunicado ao juiz,
que pode fixar limites. Na lei de drogas e de lavagem de capitais deve ser autorizado pelo juiz. Na
lei de drogas deve ser conhecido o itinerário da droga.

✔ Flagrante forjado: É a prisão de pessoa inocente que não tinha conhecimento ou dolo para a

prática do crime. A prisão é ilegal e deve ser relaxada. O a gente que forja responde por crime.

81. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA?


Com previsão nos artigos 311, 312 e 313 do CPP, trata-se de prisão cautelar cabível durante a persecução
penal, na fase investigativa ou processual. Hoje, é consenso do STF e STJ que não cabe conversão de ofício e
podem requerê-la o MP, o querelante o delegado ou o assistente de acusação.
Não possui prazo fixo e seus requisitos são: 1) prova da existência do crime e indícios suficientes de
autoria; 2) garantia da ordem pública (probabilidade de reiteração de condutas criminosas, podendo ser levado
em conta atos infracionais, também gravidade em concreto do crime), da ordem econômica, conveniência da
instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal; 3) crime com pena máxima maior que 4 anos (há
discussão se cabe do descumprimento de medida cautelar diversa da prisão, se for pena menor que 4 anos),
ausência de identificação civil, reincidente em crime doloso ou violência doméstica e familiar contra mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência para garantir execução das medidas protetivas
de urgência (apenas se descumpridas as medidas protetivas).

82. QUANDO NÃO SE CONSIDERA FUNDAMENTADA A DECISÃO DA PRISÃO


PREVENTIVA ?
A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e
fundamentada.
Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar
concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL
Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que:
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a
causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto
de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV -
não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada
pelo julgador; V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir
enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento

83. QUAIS SÃO OS PRESSUPOSTOS DA PRISÃO TEMPORÁRIA?


Com previsão na lei 7.960/89, trata-se de prisão cautelar cabível exclusivamente na fase de investigação.
Será decretada pelo juiz a requerimento do MP ou da autoridade policial (não pelo querelado ou assistente de
acusação, com prévia oitiva do MP), nunca de ofício. Possui prazo de 5 dias prorrogáveis por mais 5 se
demonstrada a necessidade, com prévia oitiva do MP, ou 30 dias prorrogáveis por mais 30 no cado dos crimes
hediondos ou assemelhados. Não há fungibilidade entre a prisão provisória e a temporária. Os pressupostos são
o fumus comissi delicti (inc III, indícios de autoria ou participação em um dos crimes do rol taxativo) e o
periculum libertatis (inc I, imprescindível para a investigação ou o inc II, não tem residência fixa ou não comprova
sua identidade).

84. QUAL O CONCEITO DE LIBERDADE PROVISÓRIA E QUAIS AS SUAS


MODALIDADES?
Ao receber os autos da prisão em flagrante o juiz será obrigado a relaxar a prisão ilegal, decretar a prisão
preventiva se presentes os requisitos – para STF e STJ a conversão não pode ser de ofício, respeitando o sistema
acusatório e por força da redação do art. 311 do CPP –ou conceder a liberdade provisória, com ou sem
decretação de cautelares diversas da prisão (inclusive a fiança).
Liberdade provisória é contracautela de resistência à prisão legal, que permite a libertação do preso em
flagrante, sendo arbitrada ou não medidas cautelares diversas da prisão. Suas modalidades são: liberdade
provisória em que é vedada a fiança ( no caso dos crimes inafiançáveis. Converte-se a prisão em flagrante em
uma cautelar diversa da prisão, exceto fiança, se não houver os requisitos da preventiva), liberdade provisória
com fiança (converte-se a prisão em flagrante em fiança, acompanhadas ou não de outras medidas cautelares.
Há o dever de comparecimento a todos os atos do inquérito, da instrução e do julgamento e não pode haver
mudança de residência sem prévia permissão da autoridade processante, não podendo a parte se ausentar da
comarca por mais de 8 dias sem prévia comunicação do lugar onde possa ser encontrado. Haverá a perda do
valor da fiança se condenado o acusado e este não comparecer para o início do cumprimento de pena
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definitivamente imposta. Haverá a quebra da fiança e a perda de metade do valor se houver violação dos
deveres, se deixar de comparecer sem motivo justo, se praticar ato de obstrução da justiça, descumprir cautelar
imposta cumulativamente, resistir injustificadamente a ordem judicial ou praticar nova infração dolosa) e
liberdade provisória sem fiança (quando o agente atuou amparado por excludente de ilicitude e excludente de
culpabilidade, exceto inimputabilidade, para alguns, se não forem preenchidos os requisitos para a prisão
preventiva e ainda se for réu pobre. Pode ser arbitrada medidas cautelares diversas da prisão. É cabível para
quaisquer crimes, mesmo hediondos ou equiparados, segundo o STF).

85. QUANDO É CABÍVEL A PRISÃO ESPECIAL?


É cabível para prisões cautelares em se tratando de determinadas pessoas, diante das funções públicas
por elas exercidas, da formação escolar alcançada ou, ainda, em razão do exercício de atividades religiosas. O
CPP traz um rol exemplificativo (art. 295), havendo leis especiais que a preveem.
Registre-se que sala de estado maior é diferente de prisão especial, pois a sala de estado maior não tem
grades e nem é trancada pelo lado de fora. Juiz, MP e advogados tem direito a sala de estado maior. Apenas
advogados da ativa tem esse direito, não os suspensos.

86. QUAIS SÃO AS MEDIDAS CAUTELARES REAIS?


São medidas assecuratórias, providências tomadas para garantir futura indenização ou reparação à
vítima, pagamento de despesas processuais ou penas pecuniárias ou ainda para evitar que o acusado obtenha
lucro com a prática criminosa. São de 3 espécies: sequestro, hipoteca legal e arresto. O sequestro é medida
assecuratória decretada pelo juiz de ofício ou ao requerimento do MP, na fase de investigação ou processual e
consiste em reter os bens móveis e imóveis do acusado, ainda que em poder de terceiro, quando adquiridos com
o proveito a infração penal, bastando a existência de indícios veementes de proveniência ilícita dos bens. A
hipoteca legal é medida assecuratória prevista em lei, não dependente de requerimento cujo procedimento para
sua realização depende de especialização, que recai sobre bens imóveis de origem lícita, assim pode ser
requerida em qualquer fase, desde que haja certeza da infração e inícios suficientes de autoria, não cabendo na
fase do inquérito. Arresto é medida assecuratória que visa tornar indisponível bem de origem lícita, imóvel ou
móvel penhorável (se não houver bens imóveis, sendo residual).

87. O QUE É QUESTÃO PREJUDICIAL?


É a questão prévia vinculada ao mérito, é a que interfere ou pode interferir no mérito, cuja solução prévia
é indispensável ao julgamento do mérito. É questão resolvida incidentalmente na motivação, não no dispositivo.
Para uma questão prejudicial ser julgada em definitivo deverá ser ajuizada uma ação declaratória incidental (não
cabível no rito sumário e no juizado especial), ação nova ajuizada no mesmo processo. A prejudicialidade pode

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ser interna ou externa (o julgamento de uma causa depende de outra causa que está sendo julgada), que pode
ser homogênea (processos de mesma natureza) ou heterogênea (processos de natureza distintas). Pode ser
obrigatória (relacionada ao estado das pessoas) ou facultativa (outras causas). A questão prejudicial está
relacionada a uma anterioridade lógica, antes da verificação do delito e tem vínculo com a existência do delito e
possui existência autônoma. A questão preliminar dilatória ou peremptória é sempre de cunho processual, são
vinculadas ao processo e decididas sempre pelo juízo criminal.

88. O QUE SÃO OS PROCEDIMENTOS INCIDENTAIS?


É a questão prévia de natureza processual. Pacceli classifica os procedimentos incidentais levando em
consideração a sua finalidade e estrutura: 1) questões tipicamente preliminares (exceções e conflitos de
jurisdição), 2) questões acautelatórias tipicamente patrimoniais (medidas assecuratórias e restituição de coisas
apreendidas), 3) questões tipicamente probatórias (incidente de insanidade mental, incidente de falsidade
documental).
Exceção é o procedimento incidental para se discutir a ausência de condições da ação e pressupostos
processuais. Pode ser de suspeição, impedimento, incompatibilidade, incompetência, litispendência, coisa
julgada e ilegitimidade de parte. Quanto a natureza pode ser exceção processual ou exceção material (diz
respeito ao mérito) direta (trata de defesa direta de mérito) ou indireta (trata de defesa indireta de mérito).

89. OS BENS APREENDIDOS OU SEQUESTRADOS PODEM SER UTILIZADOS ANTES


DO TRANSITO EM JUGADO?
O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado, apreendido ou
sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição
Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto
Geral de Perícia, para o desempenho de suas atividades.
O órgão de segurança pública participante das ações de investigação ou repressão da infração penal que
ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização.
Fora das hipóteses anteriores, demonstrado o interesse público, o juiz poderá autorizar o uso do bem pelos
demais órgãos públicos.
Se o bem a que se refere o caput deste artigo for veículo, embarcação ou aeronave, o juiz ordenará à
autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e
licenciamento em favor do órgão público beneficiário, o qual estará isento do pagamento de multas, encargos e
tributos anteriores à disponibilização do bem para a sua utilização, que deverão ser cobrados de seu responsável
Transitada em julgado a sentença penal condenatória com a decretação de perdimento dos bens,
ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé, o juiz poderá determinar a transferência definitiva da
propriedade ao órgão público beneficiário ao qual foi custodiado o bem.
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PONTO 6 - COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS. AS PROVAS NO DIREITO PROCESSUAL


PENAL. PRAZOS PROCESSUAIS. DEFEITOS PROCESSUAIS. NULIDADES.

90. QUAL O CONCEITO DE INTIMAÇÃO E DE CITAÇÃO E SUAS ESPÉCIES?


Citação é o ato de comunicação processual, chamamento do réu em juízo, dando-lhe ciência do
ajuizamento da ação, imputando-lhe a prática de um crime e lhe oferecendo a oportunidade de se defender
pessoalmente e através de defesa técnica. Tem a finalidade informativa e convocatória.
Intimação é a comunicação a respeito de um ato processual já praticado ou ainda a ser praticado,
seguindo as regras da citação. O defensor constituído, o advogado do querelante e o assistente de acusação
serão intimados por órgão oficial. O MP, DP e defensor dativo serão intimados pessoalmente. O réu preso será
intimado pessoalmente. Na intimação da sentença condenatória advogado e réu devem ser intimados e o prazo
só se inicia a partir da última intimação
As espécies de citação são: por mandado ou pessoal (quando o oficial de justiça dá ciência pessoalmente
ao acusado do conteúdo da acusação. Se o réu não comparece dá-se a revelia e é nomeado defensor), citação
por edital (citação ficta, quando o acusado não for encontrado e se esgotarem todos os meios para a citação
pessoal. Se o réu não comparece suspende-se o processo e a prescrição. Não cabe no juizado especial), citação
por hora certa (se o réu se oculta par não ser citado, é citação ficta. Se o réu não comparece é nomeado defensor
dativo). A citação do militar é por intermédio do chefe do respectivo serviço), a citação do funcionário público
por notificação ao réu, não mais sendo necessário o ofício requisitório ao superior hierárquico, apenas no caso
de interrogatório e a citação do réu preso é sempre pessoal.

91. QUAL O CONCEITO, A NATUREZA JURÍDICA E O OBJETO DA PROVA?


Prova é todo elemento de convicção acerca de um fato criminoso. O destinatário imediato das provas é o
juiz e o mediato são as partes. A prova é um direito subjetivo ligado ao direito de ação e direito de defesa. O
objeto da prova são os fatos que as partes pretendem demonstrar. Não são objeto de prova o direito Federal, os
fatos notórios, os fatos evidentes, as presunções legais e os fatos inúteis.

92. QUAIS AS CLASSIFICAÇÕES DA PROVA?


Quanto ao objeto a prova pode ser direta (se refere diretamente ao fato probandi) ou indireta (se refere
a um outro acontecimento que nos leva ao fato principal); quanto ao efeito ou valor a prova pode ser plena (é a
necessária para a condenação, imprimindo juízo de certeza quanto ao fato), não plena ou indiciária (limitada
quanto a profundidade, permitindo a decretação de cautelares); quanto ao sujeito ou causa a prova pode ser
real (emergente do fato) ou pessoal (decorre do conhecimento de alguém em razão do fato); quanto a forma ou
aparência a prova pode ser testemunhal (expressa pela afirmação de uma pessoa), documental (condensa

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graficamente a manifestação do pensamento) ou material (simboliza qualquer elemento que corporifica a
demonstração do fato); quanto aos meios de prova as provas são nominadas ou típicas e inominadas ou atípicas.

93. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS RELACIONADOS A ATIVIDADE PROBATÓRIA?

✔ Princípio da autorresponsabilidade das partes: cada parte é responsável por indicar a sua prova e

pelos ônus e bônus que ela trouxer.

✔ Princípio do contraditório: toda prova se submete a dialética e admite contraprova. As provas

podem ser renováveis (repetida em juízo) ou não renováveis (não tem como repetir em juízo, são
as cautelares, as periciais e antecipadas, assim o contraditório é diferido.

✔ Princípio da comunhão: uma vez produzidas as provas não pertencem mais a quem indicou e são

de uso e interpretação comum.

✔ Princípio da oralidade: prevalece a utilização da palavra falada. Engloba a identidade física do juiz

(o juiz que preside a instrução estará vinculado ao julgamento, ressalvados caso fortuito, força
maior e exceções), a concentração (os atos de prova serão concentrados em audiência única) e a
imediatidade (as provas são produzidas imediatamente perante o juiz) e da irrecorribilidade das
decisões interlocutórias.

✔ Princípio da não auto incriminação: direito de não produzir prova contra si mesmo.

94. QUAIS SÃO OS SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE PROVAS?


São 3:
1) sistema da prova tarifada (as provas possuem um valor e a condenação ou absolvição depende da
somatória. Para cada fato exige-se específico meio de prova. Resquício desse sistema é o exame de corpo de
delito);
2) sistema do livre convencimento ou da íntima convicção (o juiz decide e não precisa motivar. É aplicada
no Tribunal do júri, mas o jurado não pode ser arbitrário);
3) sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional (o juiz é livre para julgar, mas deve
motivar as razões de seu convencimento. Em regra, o juiz só pode se utilizar de provas produzidas em
contraditório ao longo do processo penal, com exceção das provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, que
são produzidas no inquérito policial e tem o contraditório diferido).

95. O QUE É ÔNUS DA PROVA?

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O ônus consiste na atribuição de determinada incumbência a um sujeito no interesse desse próprio
sujeito. Ou seja, prescreve-se ao onerado uma conduta a adotar, pela qual ele poderá obter uma vantagem ou
impedir uma situação que lhe seja desfavorável.
O ônus da prova incumbe a quem alega. Assim, em regra o ônus da prova é da acusação, pelo princípio da
presunção de inocência, assim compete ao autor da acusação a demonstração da autoria e materialidade, do
dolo e da culpa e das circunstâncias que exasperam a pena. Excepcionalmente é ônus da defesa a prova das
excludentes de ilicitude e culpabilidade, as causas de extinção de punibilidade e ainda quaisquer causas que
diminuem a pena. Conforme o art. 156 do CPP, o juiz pode determinar de ofício a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, mesmo antes da ação penal, em atenção à busca da verdade real, sempre
observando a adequação, necessidade e proporcionalidade da medida. Durante a ação penal o juiz pode produzir
prova de ofício se houver dúvida sobre ponto relevante.

96. O QUE É PROVA EMPRESTADA?


É a prova produzida em um processo e utilizada em outro, sob o crivo do contraditório. A doutrina
sempre sustentou que para ser válida deveria ser produzida entre as mesmas partes, mesmo fato probando, mas
STJ consolidou a alteração de sua posição para estabelecer que não precisa ser produzida entre as mesmas
partes, assegurado o contraditório.

97. EM QUAIS HIPÓTESES AS PROVAS ILÍCITAS SÃO VÁLIDAS?


Nos termos do art. 157 do CPP, a prova ilícita é a obtida com violação das normas constitucionais e legais.
Em regra, é inadmissível, devendo ser desentranhada e inutilizada. Também não tem validade jurídica a prova
ilícita por derivação (Teoria dos frutos da árvore envenenada ou dos efeitos à distância, tendo que ser
demonstrado o nexo causal). As hipóteses em que são admitidas as provas ilícitas são:
1) prova ilícita pró-réu: usada para a absolvição do réu. Para alguns, a pessoa que comete crime para
provar a sua inocência está abarcada por excludente de ilicitude.
2) proporcionalidade: o STF em situações excepcionais, em razão da preponderância do interesse público
tem reconhecido a prova ilícita em desfavor do réu, se houver os requisitos da adequação (capaz de estimular a
obtenção do resultado), necessidade (se não há outra medida que produza resultado de igual intensidade e viole
menos os direitos fundamentais) e proporcionalidade em sentido estrito (ponderação de valores).
3) teoria da fonte independente: é possível o convívio da prova ilícita com a lícita se a lícita não foi obtida
de uma prova viciada, de uma fonte diferente da ilícita.
4) teoria da descoberta inevitável: a prova é ilícita, mas numa investigação rotineira, com métodos de
praxe poderia se chegar a essa prova de maneira lícita.
5) teoria da contaminação expurgado ou conexão atenuada: a prova será lícita se o nexo causal com a
prova ilícita for muito tênue, insignificante.

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6) teoria da visão ampla: a busca e apreensão pode ser validade mesmo sem mandado se o objeto estiver
em plena vista do policial, o policial legalmente no local onde avistou o objeto e a natureza incriminatória do
objeto for evidente.
7) teoria dos campos abertos: a busca e apreensão feita fora da propriedade do sujeito não viola a
privacidade.

98. O QUE É SERENDIPIDADE?


É o encontro fortuito ou casual de provas, é a descoberta fortuita de crimes que não são objeto de
investigação. Não importa se há nexo causal entre o crime investigado e o crime descoberto, a prova é sempre
lícita, segundo o STJ. Serendipidade de primeiro grau é quando há nexo causal entre o crime investigado e o
crime descoberto e de segundo grau é quando não há nexo causal. Serendipidade objetiva é quando se descobre
novos crimes, e subjetiva quando são descobertas novas pessoas.

99. QUAL O CONCEITO DE PROVA PERICIAL?


É a modalidade probatória em que o juiz se utilizará dos conhecimentos de um especialista imparcial
numa determinada área do conhecimento humano e será auxiliar da justiça. É gênero e possui espécies: exame
de corpo de delito (obrigatório para os crimes que deixam vestígios, pode ser substituído pela prova testemunhal
se os vestígios houverem sumido, mas nunca pela confissão), exame de sanidade mental (delegado não pode
determinar, somente mediante ordem judicial). É necessário um perito oficial ou dois não oficiais que tenham
curso superior. O prazo para a feitura do laudo pericial é de 10 dias, podendo ser prorrogado a requerimento do
perito.

100. O QUE É CADEIA DE CUSTODIA?


Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e
documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua
posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.
O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais
ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio.
O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova
pericial fica responsável por sua preservação.
Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à
infração penal.
A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova
pericial;

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II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente
imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de
delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo
indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento;
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas
características e natureza;
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma
individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com
anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento;
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas
(embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características
originais, bem como o controle de sua posse;
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no
mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de
origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio,
protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia
adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá
ser formalizado em laudo produzido por perito;
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser
processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número
do laudo correspondente;
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando
pertinente, mediante autorização judicial.

101. O QUE É O INTERROGATÓRIO E QUAL SUA NATUREZA?


É o momento da persecução penal em que o imputado poderá, se quiser, a sua versão dos fatos, como
exercício da autodefesa. Há divergência, mas o STF considera o interrogatório como meio de prova e meio de
defesa. O juiz deve oportunizar o interrogatório, sob pena de nulidade relativa, majoritariamente e o prejuízo
deve ser demonstrado. A presença do advogado é obrigatória, sob pena de nulidade absoluta. O interrogatório
deve ser o último ato do processo, mesmo no caso dos procedimentos especiais, conforme decisões do STF. Foi
considerada inconstitucional a condução coercitiva para interrogatório do réu.

102. QUAIS AS HIPÓTESES PARA QUE O INTERROGATÓRIO POSSA SER


REALIZADO POR VIDEOCONFERÊNCIA?

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São taxativas e considerada a ultimaratio. Assim, o interrogatório poderá ser realizado por
videoconferência: 1) para a garantia da segurança pública (o agente integra organização criminosa ou há risco
concreto de fuga); 2) impossibilidade de deslocamento do réu por enfermidade ou velhice; 3) risco de
intimidação da vítima ou testemunhas; 4) garantia da ordem pública. É necessária ordem judicial motivada,
intimação das partes com 10 dias de antecedência, direito de entrevista preliminar reservada, direito de
comunicação entre o réu e o advogado, fiscalização da sala de transmissão.

103. O QUE É O DEPOIMENTO SEM DANO?


É a oitiva judicial de crianças e adolescente que foram vítimas de crimes sexuais por meio de
procedimento especial em que a criança fica numa sala separada e o depoimento é colhido por meio de
psicólogo ou assistente social, com uma conversa em tom mais informal, onde vai se estabelecendo uma relação
de confiança entre a vítima e o psicólogo, evitando a revitimização. O MP, Juiz e advogado acompanham o
depoimento em outra sala em tempo real, por meio de sistema audiovisual. Em 2017 houve mudança no ECA,
trouxe a escuta especializada (procedimento de entrevista de criança e adolescente vítima de violência, limitado
o relato ao estritamente necessário) e o depoimento especial, que visa a oitiva de criança e adolescente vítima
de violência.

104. EM QUE CONSISTE O SISTEMA DO DIRECTEXAMINATION E DO


CROSSEXAMINATION?
São sistemas americanos de oitiva de testemunha, utilizadas no Brasil, em que os advogados fazem
perguntas diretamente para as testemunhas, primeiro aquele que arrolou a testemunha (directexamination) e
após o advogado da outra parte (crossexamination). Após, o juiz fará as perguntas complementares. O juiz
deverá indeferir as perguntas que induzirem a resposta, não tiverem relação com a causa ou forem repetidas. Se
houver a inversão dessa ordem, haverá nulidade relativa, devendo a parte demonstrar o prejuízo. Esse sistema
acaba com o sistema presidencialista, onde as perguntas eram formuladas sempre por intermédio do juiz e este
fazia as perguntas primeiramente.

105. EM QUE CONSISTE A BUSCA E APREENSÃO?


É meio de prova cautelar que visa o acautelamento do material probatório, animais, coisas e até pessoas
que não estejam ao alcance espontâneo da justiça. É medida excepcional pois implica na quebra da
inviolabilidade domiciliar ou pessoal, do acusado e de terceiro. A busca e apreensão domiciliar ou pessoal pode
ser feita a qualquer tempo, mesmo antes do IP. Para a busca e apreensão domiciliar é necessária ordem judicial
fundamentada (cláusula de reserva de jurisdição), não podendo ser efetivada nem mesmo pela CPI. É preciso
delimitar com precisão o local do cumprimento. Será cumprida de dia, salvo autorização do morador

106. O QUE SÃO NULIDADES?

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São vícios que contaminam determinados atos processuais praticados sem a observância da forma
prevista em lei, podendo levar a sua inutilidade e consequente renovação, só existindo após ser reconhecida
judicialmente. Tem natureza jurídica de sanção, que variam segundo a maior ou menor intensidade do desvio
legal do tipo. Elas não incidem em atos praticados ao longo do IP, que é mero procedimento administrativo,
devendo a prova ser repetida em juízo.

107. QUAL A DIFERENÇA ENTRE ATOS IRREGULARES, ATOS NULOS E ATOS


INEXISTENTES?
A diferença consiste na gradação do vício. Os atos irregulares são infrações superficiais que não
contaminam a forma legal a ponto de merecer renovação. Os atos nulos são aqueles em que a falta de
adequação ao tipo legal pode levar ao reconhecimento de sua inaptidão para produzir efeitos jurídicos. Os atos
inexistentes são aqueles aos quais falta de forma absoluta algum elemento exigido pela lei, não são considerados
atos processuais e não depende de declaração judicial.

108. QUAIS AS ESPÉCIES DE NULIDADE?


As nulidades podem ser absolutas ou relativas. As nulidades absolutas contêm vício mais grave pois
violam as normas constitucionais, podem ser decretadas de ofício pelo juiz e reconhecidas a qualquer tempo e
em qualquer grau de jurisdição, não podem ser convalidadas e não precluem. As nulidades absolutas
independem de demonstração do prejuízo, embora o STF exija a prova do prejuízo para o reconhecimento de
qualquer nulidade. As nulidades relativas violam normas processuais, não podem ser decretadas de ofício pelo
juiz, devem ser arguidas em momento oportuno sob pena de preclusão e convalidação e dependem da
demonstração do prejuízo.

109. QUAIS OS PRINCÍPIOS REGENTES DAS NULIDADES?

✔ Não há nulidade sem prejuízo (art. 563 CPP): nenhum ato será declarado nulo se não houver

prejuízo. É a aplicação do princípio da instrumentalidade das formas, onde a forma prevista em lei
do ato não é um fim em si mesmo, assim, se a finalidade do ato foi atingida não há motivo para
anulação. Em tese esse princípio só seria aplicado para a nulidade relativa, pois na nulidade
absoluta o prejuízo seria presumido, mas o STF tem entendimento que sempre o prejuízo deve ser
demonstrado.

✔ Não há nulidade provocada pela parte (art. 565 CPP): nenhuma das partes poderá arguir nulidade

da qual tenha dado causa ou para a qual tenha concorrido. Ninguém pode se beneficiar da própria
torpeza, afasta-se a má-fé.

✔ Não há nulidade por omissão de formalidade que só interessa à parte contrária (art. 565 CPP): é

uma constatação da exigência de prova do interesse na alegação da nulidade.

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✔ Não há nulidade de fato irrelevante para o deslinde da causa: (art. 566 do CPP): não será

declarada nulidade de ato que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na
decisão da causa.

✔ Princípio da causalidade (art. 573, parágrafo 1º do CPP): a nulidade de um ato, uma vez declarada,

causará a nulidade dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência, desde que
demonstrado o nexo causal entre os atos.

PONTO 7 - ATOS JURISDICIONAIS. DESPACHOS. DECISÕES. SENTENÇAS. ACÓRDÃOS.


DECISÕESMONOCRÁTICAS. TRÂNSITO EM JULGADO. COISA JULGADA.

110. O QUE SÃO ATOS JURISDICIONAIS?


São os atos praticados pelo juiz, no curso do processo, no exercício de sua função típica. Dividem-se em
provimentos, também chamados de pronunciamentos, e em atos materiais ou reais. Os provimentos abrangem
os despachos de mero expediente, as decisões interlocutórias e as sentenças. Os atos materiais, por sua vez, não
solucionam questões, nem determinam quaisquer providências, constituindo-se de meros atos instrutórios
(realização de inspeções em pessoas ou coisas, oitiva de alegações dos procuradores das partes) e de
documentação (ato de rubricar folha dos autos, subscrever termos de audiência).

111. COMO O CPP CLASSIFICA OS PROVIMENTOS JUDICIAIS?


O CPP (art. 800) divide as decisões em: a) definitivas; b) interlocutórias mistas; c) interlocutórias simples;
e d) despachos de expediente.

112. O QUE SÃO DESPACHOS DE MERO EXPEDIENTE?


São os provimentos judiciais destinados ao impulso do processo, desprovidos de qualquer carga decisória,
sendo, em regra, irrecorríveis. Exemplos: determinação de intimação das testemunhas para a audiência una de
instrução e julgamento, ciência às partes acerca da juntada de laudo pericial. São passíveis de delegação pelo juiz
aos servidores do Poder Judiciário (art. 93, XIV, da CF/88).

113. O QUE SÃO DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS? COMO O CPP AS CLASSIFICA?


Decisões interlocutórias são aquelas dotadas de carga decisória, podendo acarretar a extinção do
processo, porém sem enfrentamento do mérito principal, ou seja, sem se pronunciar quanto à culpabilidade ou
inocência do acusado. O CPP divide as decisões interlocutórias em simples e mistas. Estas, por sua vez, se
subdividem em não terminativas e terminativas.
As decisões interlocutórias simples resolvem questões processuais controvertidas no curso do processo,
sem acarretar sua extinção, como incidentes processuais ou questões de regularidade formal. Exemplos:
decretação de prisão temporária, conversão da prisão em flagrante em preventiva, rejeição das exceções de
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coisa julgada, litispendência e ilegitimidade de parte. Em regra, são irrecorríveis, salvo se listadas no rol do art.
581 do CPP (RESE); poderão, entretanto, ser impugnadas, preliminarmente, em futura e eventual apelação.
As decisões interlocutórias mistas são aquelas que, julgando ou não o mérito, põe fim ao procedimento
ou a uma de suas fases. São recorríveis via recurso em sentido estrito, observado o rol do art. 581 do CPP.
As decisões interlocutórias mistas terminativas ou decisões com força de definitivas extinguem o
processo, sem julgamento de mérito, ou resolvem procedimentos incidentais de maneira definitiva, sem
possibilidade de reexame no mesmo grau. Exemplos: rejeição da peça acusatória, procedência das exceções de
coisa julgada e de litispendência, impronúncia.
As decisões interlocutórias mistas não terminativas determinam o fim de uma etapa do procedimento,
tangenciando o mérito, sem causar a extinção do processo. Exemplo: pronúncia.

114. O QUE SÃO DECISÕES DEFINITIVAS? COMO SE SUBDIVIDEM?


São aquelas que julgam o mérito, ou seja, o direito de punir do Estado, acarretando a extinção do
processo ou do procedimento. Subdividem-se em sentença definitiva ou decisão definitiva em sentido estrito e
decisões definitivas em sentido amplo ou decisões terminativas de mérito. Naquelas o juiz analisa o mérito
principal, condenando ou absolvendo o acusado, ao passo que nestas há decisão de mérito, mas sem
condenação ou absolvição. São exemplos de decisões terminativas de mérito as proferidas nas ações autônomas
de impugnação (habeas corpus, revisão criminal e mandado de segurança).

115. O QUE SÃO SENTENÇAS, ACÓRDÃOS E ARESTOS?


Para o CPP, sentença é tão somente a decisão que julga o mérito principal, ou seja, a decisão judicial que
condena ou absolve o acusado.
Em sentido estrito, sentença é o pronunciamento final do juízo de 1º grau proferido pelo juiz singular
(regra) ou pelo órgão colegiado de 1º grau (Tribunal do Júri e Conselho de Justiça – Justiça Militar).
Em sentido amplo, a sentença também abrange os acórdãos, que são decisões dos órgãos colegiados dos
Tribunais (turma, seção, câmara, órgão especial ou plenário) proferidas em recursos ou em ações originárias.
Aresto é a denominação dada ao acórdão transitado em julgado.

116. O QUE SÃO DECISÕES MONOCRÁTICAS?


São os atos individuais de julgamento dos juízes de tribunal, dos relatores, nos casos previstos nas leis
processuais.

117. O QUE É EMENDATIOLIBELLI?


De acordo com a atual redação do art. 383 do CPP, e também do art. 418 do CPP, aplicável à pronúncia,
consiste na atribuição, pelo juiz, quando da prolação da sentença (em regra), de definição jurídica diversa da

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apontada na inicial ao fato nela descrito, sem modifica-lo, ainda que, em consequência, tenha de plicar pena
mais grave.

118. O QUE É MUTATIOLIBELLI?


Segundo o art. 384 do CPP, é o aditamento da peça acusatória, pelo Ministério Público, durante o curso
da instrução probatória, em decorrência da alteração da base fática da imputação, ou seja, do surgimento de
prova de elementar ou circunstância não contida na denúncia ou queixa. Ao aditamento segue-se oitiva da
defesa e renovação da instrução processual.

119. DIFERENCIE ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS.


Elementares são dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode produzir atipicidade absoluta
(conduta atípica) ou relativa (desclassificação). As circunstâncias, por sua vez, são dados periféricos que gravitam
ao redor da figura típica, podendo aumentar ou diminuir a pena, mas sem interferir no tipo penal básico;
guardam relação, portanto, com o preceito secundário.

120. O QUE SÃO TRÂNSITO EM JULGADO E COISA JULGADA? DIFERENCIE COISA


JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL.
Trânsito em julgado é um marco processual, certificado nos autos, que indica que contra uma decisão
não cabe mais recurso, seja em virtude da preclusão das impugnações cabíveis, seja em virtude do esgotamento
da via recursal disponível.
Sobrevindo o trânsito em julgado, está-se diante da coisa julgada, que consiste na qualidade conferida à
sentença judicial que se tornou imutável e indiscutível, não mais se sujeitando a qualquer recurso.
O trânsito em julgado dá origem à coisa julgada formal, que é a impossibilidade de modificação da
sentença no mesmo processo, ou seja, constitui um evento interno do processo, dizendo respeito
exclusivamente às partes e ao juiz. Assim, alguns doutrinadores a identificam como uma espécie de preclusão e a
denominam de preclusão máxima.
Não sendo possível a modificação da sentença no mesmo processou ou em qualquer outro, tem-se a
coisa julgada material, decorrente da necessidade de estabilidade nas relações jurídicas. Assim, a coisa julgada
material consiste na projeção da coisa julgada para além da relação jurídica instituída em contraditório perante o
juiz competente, de forma que as partes, o juiz, os terceiros e o próprio Estado não poderão rediscutir a lide,
reputando-se repelidas todas as alegações e defesas que a parte poderia opor ao acolhimento ou rejeição do
pedido, exceto nas hipóteses de cabimento da ação rescisória.

PONTO 8 - RECURSOS EM GERAL. REMÉDIOSAUTÔNOMOS. HABEAS CORPUS. REVISÃO


CRIMINAL. MANDADO DE SEGURANÇA CRIMINAL. RECLAMAÇÃO. CORREIÇÃO PARCIAL.

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121. DEFINA RECURSO.


Recurso é o instrumento processual voluntário de impugnação de decisões judiciais, previsto em lei
federal, utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, objetivando a reforma, a
invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão judicial impugnada.

122. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DOS RECURSOS?


Há diversas correntes doutrinárias acerca do tema:
a) O recurso funciona como desdobramento do direito de ação, uma fase do mesmo processo;
b) O recuso funciona como nova ação dentro do mesmo processo;
c) O recurso funciona apenas como um meio destino a obter a reforma da decisão.

123. DO QUE SE TRATA O REEXAME NECESSÁRIO?


Trata-se de exceção à voluntariedade dos recursos, na medida em que, mesmo que não haja a
interposição de recurso voluntário pelas partes, deverá o juízo prolator da decisão submetê-la à revisão pelo
Tribunal competente nas hipóteses previstas em lei, funcionamento como providência legal para que se
aperfeiçoe a preclusão ou o trânsito em julgado de determinadas decisões judiciais.

124. O QUE É JUÍZO DE PRELIBAÇÃO?


Também chamado de juízo de admissibilidade, consiste na verificação da presença dos pressupostos
objetivos e subjetivos de admissibilidade recursal. Os requisitos objetivos, os quais dizem respeito ao próprio
recurso, são cabimento, adequação, tempestividade, inexistência de fato impeditivo ou extintivo e regularidade
formal. Os pressupostos subjetivos, por sua vez, subdividem-se em legitimidade para recorrer e interesse
recursal.

125. QUAIS OS EFEITOS DOS RECURSOS E NO QUE CONSISTEM?

✔ Efeito obstativo significa que a interposição de um recurso tem o condão de impedir a preclusão

temporal, com o consequente trânsito em julgado, que somente ocorrerá após o julgamento da
referida impugnação.

✔ Efeito devolutivo consiste na transferência do conhecimento da matéria impugnada ao órgão

jurisdicional, objetivando a reforma, a invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão


impugnada.

✔ Efeito suspensivo importa na impossibilidade de a decisão impugnada produzir seus efeitos

regulares enquanto não houver a apreciação do recurso interposto.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2021 – DIREITO PROCESSUAL PENAL

✔ Efeito regressivo, iterativo ou diferido implica a devolução da matéria impugnada para fins de

reexame ao mesmo órgão jurisdicional que prolatou a decisão recorrida, ou seja, permite juízo de
retratação.

✔ Efeito extensivo consiste na possibilidade de se estender o resultado favorável do recurso

interposto por um dos acusados aos outros que não tenham recorrido.

✔ Efeito substitutivo denota que o julgamento proferido pelo juízo ad quem substituirá a decisão

impugnada no que tiver sido objeto de recurso, ainda que seja negado provimento à impugnação.

✔ Efeito translativo se traduz na devolução ao juízo ad quem de toda a matéria não atingida pela

preclusão.

126. O QUE É RECURSO EM SENTIDO ESTRITO?


É o meio adequado para a impugnação de decisões interlocutórias de juízes singulares nas hipóteses
expressamente previstas em lei (art. 581 CPP) e também dos casos decorrentes de interpretação extensiva,
segundo entendimento majoritário. A referência do art. 581 a despachos importa em impropriedade técnica na
redação do dispositivo.
Cabe RESE da não homologação de acordo de não persecução penal.

127. NO QUE CONSISTE A APELAÇÃO?


A apelação consiste na impugnação de efeito devolutivo mais amplo, uma vez que é recurso de
fundamentação livre e permite ao juízo ad quem, quando interposta contra sentença de mérito proferida por juiz
singular, o reexame integral das questões suscitadas no primeiro grau de jurisdição, ressalvadas aquelas sobre as
quais tenha se operado a preclusão, funcionamento como eficaz instrumento processual para concretização do
princípio do duplo grau de jurisdição. Ressalve-se da possibilidade de devolução plena à instância superior
apenas a hipótese de apelação contra decisões do júri, em observância à garantia constitucional da soberania
dos veredictos.

128. O QUE SÃO EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE?


Trata-se de recurso exclusivo da defesa destinado ao reexame de decisões não unânimes dos Tribunais de
2ª instância no julgamento de apelações, recursos em sentido estrito e agravos em execução. Embargos
infringentes são cabíveis quando o acórdão impugnado possuir divergência em matéria de mérito ao passo que
embargos de nulidade são a impugnação adequada contra acórdãos divergentes em matéria de nulidade
processual.

129. O QUE SÃO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO?

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Embargos de declaração são o recurso cabível no caso de haver ambiguidade, obscuridade, contradição
ou omissão na decisão proferida. A ambiguidade se caracteriza pela possibilidade de duas ou mais interpretações
da decisão. Há obscuridade quando falta clareza na redação da decisão judicial, de forma que não é possível
saber qual o entendimento exposto. A contradição importa na ocorrência de afirmações opostas entre si
constantes da decisão. A omissão, por fim, ocorre quando a decisão deixa de apreciar ponto relevante acerca da
controvérsia.

130. O QUE É AGRAVO DE EXECUÇÃO?


É o recurso adequado para a impugnação das decisões proferidas pelo juízo das execuções.

131. DEFINA CARTA TESTEMUNHÁVEL.


É o instrumento subsidiário para a impugnação da decisão que denegue o recurso ou que, embora o
admitindo, obste a sua expedição e seguimento para o juízo ad quem.

132. O QUE SÃO REMÉDIOS AUTÔNOMOS? DIFERENCIE-OS DOS RECURSOS.


A ação autônoma de impugnação é o instrumento de impugnação da decisão judicial pelo qual se dá
origem a um processo novo, instaurando uma nova relação processual, cuja finalidade é atacar ou interferir no
provimento jurisdicional. Os recursos, por outro lado, são meios de impugnação que se desenvolvem no bojo do
processo de origem, prolongando o direito de ação já em exercício.
São exemplos de remédios autônomos de impugnação no processo penal: revisão criminal, habeas
corpus, mandado de segurança contra ato jurisdicional.

133. NO QUE CONSISTE O HABEAS CORPUS?


Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, de natureza constitucional, que visa à proteção do
direito subjetivo de ir, vir e ficar (liberdade de locomoção) quando objeto de violência ou de coação decorrente
de ilegalidade ou abuso de poder.

134. O QUE É REVISÃO CRIMINAL?


É uma ação autônoma de impugnação, de competência originária dos Tribunais (ou das Turmas Recursais,
no âmbito dos Juizados), a ser ajuizada após o trânsito em julgado de sentença condenatória ou absolutória
imprópria, visando à desconstituição da coisa julgada sempre que a decisão impugnada estiver contaminada por
erro judiciário.

135. DIFERENCIE JUÍZO RESCINDENTE E JUÍZO RESCISÓRIO.


O juízo rescindente ou revidente ocorre quando a decisão impugnada é desconstituída, ou seja, há um
juízo de cassação. O juízo rescisório ou revisório, por sua vez, ocorre quando nova decisão é proferida em
substituição àquela que foi rescindida, ou seja, há um juízo de reforma.

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136. NO QUE CONSISTE O MANDADO DE SEGURANÇA?
Trata-se de ação autônoma de impugnação de natureza cível, com status constitucional, com o fim de
proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público. Em sede processual penal, o writ ofmandamus é utilizado de maneira residual, assumindo
contornos de impugnação recursal.

137. O QUE É RECLAMAÇÃO?


É um remédio processual, de caráter jurisdicional e competência originária do STF e do STJ, conforme o
caso, que garante a manutenção do direito da parte, afastando a eficácia de ato de juiz ou tribunal inferior
invasivo de sua competência ou em desacordo com anterior julgamento seu.

138. O QUE É CORREIÇÃO PARCIAL?


É o instrumento destinado à impugnação de atos tumultuários dos juízes no processo, sejam eles
comissivos ou omissivos, sempre que não houver recurso específico previsto em lei (caráter subsidiário). A
correição parcial não pode ser utilizada para impugnar atos praticados pelas partes, serventuários da justiça, dos
tribunais ou de seus membros. Ademais, visa à correção de error in procedendo, sendo incabível a sua
interposição para impugnar as razões jurídicas da decisão judicial (error in judicando).

139. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DA CORREIÇÃO PARCIAL?


Muito embora haja controvérsia, prevalece o entendimento de que a correição parcial tem natureza
jurídica de recurso, pois serve para os Tribunais reformarem decisão judicial que tenha causado problemas a
regular desenvolvimento do processo, seja em decorrência de erro (equívoco na interpretação da lei ou na
apreciação do fato), seja em razão de abuso (excesso ou prática consciente de ilegalidade).
A corrente dissonante considera a correição parcial uma medida administrativa/disciplinar tendente a
apurar atividade tumultuária do juiz não passível de recurso, uma vez que prevista apenas nas leis de
organização judiciária e nos regimentos internos dos Tribunais, de sorte que inobservada a exigência do princípio
da taxatividade para que seja considerada recurso.

PONTO 9 - PROCESSOS E PROCEDIMENTOS EM ESPÉCIE, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.


DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS PENAIS DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
E DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO.

140. DIFERENCIE PROCESSO E PROCEDIMENTO.

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Processo é o instrumento por meio do qual o Estado exerce a jurisdição, o autor o direito de ação e o
acusado o direito de defesa, havendo entre seus sujeitos uma relação jurídica diversa da relação jurídica de
direito material, qual seja, a relação jurídica processual, que impõe a todos deveres, direitos, ônus e sujeições.
Procedimento, por sua vez, é o modo pelo qual os diversos atos se relacionam na série constitutiva do
processo, representando o modo do processo atuar em juízo; é o processo em sua forma extrínseca.

141. INDIQUE A CLASSIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS PENAIS E O CRITÉRIO DE


APLICAÇÃO.
Os procedimentos penais classificam-se em:
a) procedimentos especiais, previstos na legislação especial e no CPP;
b) procedimento comum, previsto no CPP.
O procedimento comum tem aplicação subsidiária, ou seja, será aplicado quando não houver previsão de
procedimento especial para o crime praticado. Os procedimentos comuns se caracterizam pelo grau de
concentração de atos processuais ao passo que os procedimentos especiais se justificam pela especificidade da
relação material debatida.

142. COMO O PROCEDIMENTO COMUM SE SUBDIVIDE? QUAL O CRITÉRIO DE


DEFINIÇÃO?
O procedimento comum se divide em ordinário, sumário ou sumaríssimo, de acordo com o quantum de
pena máxima cominada ao tipo. Assim, o procedimento comum será ordinário quando a pena máxima for igual
ou superior a 4 anos; sumário para pena máxima inferior a 4 e superior a 2 anos; e sumaríssimo para infrações
penais de menor potencial ofensivo, ou seja, contravenções e crimes com pena máxima não superior a 2 anos,
cumulada ou não com multa (JECRIM).

143. COMO AS SEGUINTES SITUAÇÕES INFLUENCIAM NA DEFINIÇÃO DO


PROCEDIMENTO APLICÁVEL: CONCURSO DE CRIMES, QUALIFICADORAS,
PRIVILÉGIOS, CAUSAS DE AUMENTO E DE DIMINUIÇÃO, AGRAVANTES E
ATENUANTES?
Concurso de crimes, qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição são levados em
consideração para fins de definição do procedimento adequado. Quanto ao concurso de crimes, a regra do art.
119 do CP só se aplica para fins de prescrição. Atinente às causas de aumento e de diminuição, considera-se,
respectivamente, o quantum que mais aumente a pena e o quantum que menos diminua a pena.
Quanto às agravantes e às atenuantes NÃO são levadas em consideração na definição do procedimento,
uma vez que não têm quantum pré-estabelecido.

144. HAVENDO PERSECUÇÃO PENAL DE CRIMES CONEXOS E/OU CONTINENTES


SUJEITOS A PROCEDIMENTOS DISTINTOS, QUAL APLICAR?

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A doutrina e a jurisprudência entendem que deve ser aplicado o procedimento que melhor assegure às
partes o exercício das suas faculdades processuais, ou seja, o procedimento comum ordinário.

145. QUAL O MOMENTO DO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA PEÇA ACUSATÓRIA?


Apesar da antinomia aparente entre os arts. 396 e 399 do CPP, o juízo de admissibilidade deve ocorrer
imediatamente após o oferecimento da denúncia (art. 396), de forma que a expressão “recebida a denúncia ou
queixa” do art. 399 deve ser lida como “rejeitada a absolvição sumária”, não importando no recebimento ou
rejeição da denúncia apenas após a notificação do acusado para apresentar defesa preliminar.

146. DISCORRA ACERCA DA REJEIÇÃO DA PEÇA ACUSATÓRIA.


Trata-se de um juízo negativo de admissibilidade, cujas causas estão previstas no art. 395 do CPP:
a) inépcia, decorrente da inobservância dos requisitos obrigatórios do art. 41 do CPP, a qual, segundo
os Tribunais Superiores, deve ser arguida até a sentença, sob pena de preclusão. Este defeito formal grave na
inicial acusatória, que normalmente compromete a narrativa dos fatos é rotulada de criptoimputação pela
doutrina.
b) ausência de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal. São pressupostos
processuais de existência: demanda veiculada pela peça acusatória, órgão investido de jurisdição, presença de
partes que possam estar em juízo. Pressuposto processual de validade guarda relação com a inexistência de vício
ou de defeito de atos processuais e com a originalidade da demanda (litispendência ou coisa julgada). São
condições da ação genéricas a legitimidade e o interesse, e específicas a representação do ofendido, a requisição
do Ministro da Justiça, o laudo pericial nos crimes materiais que deixam vestígios etc.
c) falta de justa causa para o exercício da ação penal, chamada de inépcia material por LFG,
correspondendo ao suporte probatório mínimo para a deflagração do processo penal.
A rejeição da peça acusatória só faz coisa julgada formal.

147. É NECESSÁRIO FUNDAMENTAR O RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA?


Segundo entendimento jurisprudencial, NÃO há necessidade de fundamentação do recebimento da
denúncia (juízo positivo de admissibilidade), pois tal ato não se qualifica nem se equipara, para os fins a que se
refere o art. 93, IX, da CF/88, a ato de caráter decisório, SALVO nos procedimentos em que há previsão legal de
defesa preliminar.

148. QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA?


O recebimento da peça acusatória importa na fixação da competência por prevenção, salvo tenha havido
prévio ato de caráter decisório praticado pelo juiz durante a investigação preliminar; na interrupção da
prescrição, desde que decisão não tenha sido proferida por juízo absolutamente incompetente; e no início do

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processo penal, ressalvada corrente que defende a ocorrência de tal marco quando do oferecimento da
denúncia ou queixa.

149. QUAL A DIFERENÇA ENTRE DEFESA PRELIMINAR E RESPOSTA À ACUSAÇÃO?


Diferenciam-se pelo momento da apresentação, uma vez que a defesa preliminar é apresentada entre o
oferecimento e o recebimento da peça acusatória, importando em contraditório prévio ao juízo de
admissibilidade da peça acusatória, ao passo que a resposta à acusação é apresentada depois do recebimento da
denúncia/queixa e da citação do acusado.
Embora haja divergência doutrinária, o STJ já entendeu que, em caso de procedimento que prevê a
defesa preliminar, não haverá a apresentação de resposta à acusação, por conta das finalidades semelhantes das
peças em questão.

150. QUANDO SE DÁ A REVELIA NO PROCESSO PENAL? QUAIS AS SUAS


CONSEQUÊNCIAS?
Revelia é a contumácia, ou seja, o indivíduo foi citado, mas não demonstrou interesse em acompanhar o
processo. Assim, haverá revelia no processo penal quando o acusado, citado pessoalmente ou por hora certa,
não apresentar resposta à acusação. Decretada a revelia, o processo seguirá normalmente, com a nomeação de
defensor dativo.
Diversamente do processo civil, a revelia não acarreta a presunção da veracidade dos fatos narrados na
inicial acusatória, mas sim a desnecessidade de intimação do acusado para os demais atos processuais, salvo no
caso de sentença condenatória ou absolutória imprópria.

151. DISCORRA ACERCA DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA NO PROCEDIMENTO


COMUM.
A absolvição sumária, chamada por parte da doutrina de julgamento antecipado da lide, é aplicável a
qualquer procedimento penal de primeiro grau, mesmo que não regulado pelo CPP, por força do art. 394, §4º do
CPP, caso haja um juízo de certeza quanto à existência manifesta de causa excludente da ilicitude ou de causa
excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade, à atipicidade da conduta (formal ou material) ou
à extinção da punibilidade do agente. Ocorre antes da audiência una de instrução e julgamento e faz coisa
julgada material.
Alguns doutrinadores rechaçam a qualificação como julgamento antecipado da lide sob o fundamento de
que no processo penal não há pretensão resistida, uma vez que não há um conflito de interesses propriamente
dito e que a resistência por parte da defesa é obrigatória.

152. QUAL A DEFINIÇÃO DE ALEGAÇÕES ORAIS?


Consistem em ato postulatório das partes que precede a sentença final, no qual o MP, o querelante, o
advogado do assistente e o defensor devem realizar minuciosa análise dos elementos probatórios constantes dos

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autos a fim de influenciar o convencimento do juiz acerca da procedência ou improcedência de eventual pedido
de condenação do acusado, fornecendo-lhe subsídios para a sua decisão.

153. O QUE É TRIBUNAL DO JÚRI?


O júri é um órgão especial do Poder Judiciário de 1ª instância, de caráter democrático, pertencente à
Justiça Comum (Estadual ou Federal), colegiado e heterogêneo (formado pelo juiz presidente e por 25 jurados),
que tem competência mínima para julgar os crimes dolosos contra a vida, temporário, dotado de soberania
quanto às suas decisões, tomadas de maneira sigilosa e inspiradas pela íntima convicção, sem fundamentação,
de seus integrantes leigos.

154. NO QUE CONSISTE A PLENITUDE DE DEFESA?


Na plena defesa, o acusado e o defensor podem se valer não apenas de argumentação jurídica, mas
também de argumentos de caráter extrajurídico, invocando razões de ordem emocional, social, de política
criminal. Divide-se em defesa técnica, exercida pelo defensor, e autodefesa, exercida pelo acusado.

155. NO QUE CONSISTE A IMPRONÚNCIA?


É a decisãoao final da primeira fase do Júri que extingue processo sem julgamento de mérito, por
ausência de lastro probatório que justifique a remessa do réu aos jurados. Com o advento da Lei 11.689/2008, a
impronúncia ganhou status de sentença, apesar de parte da doutrina enquadrar como decisão interlocutória
mista terminativa.
Faz apenas coisa julgada formal. Surgindo novas provas antes da extinção de punibilidade, caberá nova
denúncia.

156. O QUE É PROVA NOVA?


Prova nova é a capaz de alterar o contexto probatório dentro do qual foi proferida a decisão de
impronúncia. Pode ser prova substancialmente nova, que é a prova inédita, ou prova formalmente nova, qual
seja a já conhecida à época da impronúncia, mas que ganhou uma nova versão.

157. O QUE É DESPRONÚNCIA?


É a pronúncia transformada em impronúncia por força da interposição de RESE. Pode ser feita tanto pelo
juízo sumariante (RESE dotado de juízo de retratação) como pelo juízo ad quem.

158. O QUE É DESCLASSIFICAÇÃO?


É a decisão do juiz que entende que a imputação formulada pelo MP ou pelo querelante não versa sobre
crime doloso contra a vida.

159. O QUE É DESQUALIFICAÇÃO?

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Consiste na exclusão de qualificadoras por ocasião da pronúncia. Trata-se de hipótese excepcional, que só
pode ocorrer quando se tratar de qualificadora teratológica, sem nenhum respaldo na prova dos autos.

160. O QUE É ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DO JÚRI?


Trata-se da decisão que, analisando o mérito (produz coisa julgada formal e material), absolve o acusado,
ainda na fase do iudiciumaccusationis, quando provada a inexistência do fato, não ser ele autor ou partícipe do
fato, o fato não constituir infração penal ou demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Admite-se a absolvição sumária do inimputável no Tribunal do Júri, desde que a inimputabilidade seja a única
tese defensiva.

161. O QUE É PRONÚNCIA?


É a decisão interlocutória mista não terminativa que encerra um juízo de admissibilidade da acusação de
crime doloso contra a vida, permitindo o julgamento pelo Tribunal do Júri quando houver alguma viabilidade de
o acusado ser condenado, ou seja, quando houver juízo de certeza quanto à materialidade do fato e juízo de
probabilidade quanto à autoria ou participação (indícios).

162. O QUE É ELOQUÊNCIA ACUSATÓRIA?


Trata-se do excesso de fundamentação da pronúncia, ou seja, quando o juiz não se limita a apontar a
prova da existência do crime e os indícios suficientes de autoria ou de participação, valendo-se de termos sóbrios
e comedidos. Importa na nulidade absoluta da pronúncia, por causar indevida influência dos jurados, segundo
entendimento do STF.

163. O QUE É DESAFORAMENTO?


Consiste no deslocamento da competência territorial de uma comarca para outra da mesma região, a fim
de que nesta seja realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri, se o interesse da ordem pública o reclamar,
houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado ou se o julgamento não for
realizado no prazo de 6 meses, contados da preclusão da pronúncia. Aplica-se exclusivamente ao julgamento em
plenário, somente após a preclusão da pronúncia. Depende de decisão jurisdicional, não podendo ser
determinado pela corregedoria ou pelo CNJ, mas sim por Câmara ou Turma do TJ ou TRF.

164. O QUE É REAFORAMENTO?


Consiste no retorno do processo à comarca de origem. Em regra, é vedado pelos regimentos internos dos
Tribunais, mesmo diante do desaparecimento das causas que autorizaram o desaforamento. Por óbvio, é
possível que ocorra um novo desaforamento diante do surgimento de novos motivos.

165. QUANDO SE DÁ O ESTOURO DE URNA?

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Ocorre quando não é possível a formação do Conselho de Sentença com 7 jurados, seja em razão do não
comparecimento de alguns dos 25 jurados convocados, seja por conta das recusas motivadas e imotivadas. Há
adiamento do julgamento e convocação de jurados suplentes.

166. O QUE SÃO QUESITOS?


São perguntas formuladas aos jurados para que se pronunciem quanto ao mérito da acusação, ou seja,
acerca da existência do crime, autoria/participação, absolvição do acusado, presença de causas de diminuição de
pena, qualificadoras e causas de aumento de pena, com base na decisão de pronúncia e nas posteriores a ela, no
teor do interrogatório e nas alegações das partes durante os debates em plenário. Devem ser redigidos em
proposições afirmativas, simples e distintas, a fim de que sejam respondidos com clareza e precisão.

167. CONTEÚDO DA DECISÃO DE PRONÚNCIA?


Indícios de autoria, prova de materialidade, qualificadoras, causas de aumento de pena, omissão
penalmente relevante, tese da tentativa, concurso de pessoas.

168. PROIBIÇÕES NA DECISÃO DE PRONÚNCIA?


Agravantes e atenuantes, causas de diminuição de pena, concurso de crimes.

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