Artigo Conforto Acústico
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IMPERATRIZ-MA
RESUMO
Esse artigo apresenta um estudo de acústica realizado na Igreja Vida de Imperatriz, localizada
no Bairro Três Poderes de Imperatriz, Maranhão. As duas métricas usadas para realizar esse
estudo foram o tempo de reverberação e a geometria do espaço. A partir desse estudo foi
oferecida uma proposta de condicionamento para adaptar o templo de forma que o ambiente
seja mais confortável e acessível.
Palavras chave: Igreja; acústica; coeficiente de absorção sonora; tempo de reverberação.
ABSTRACT
This paper presents an acoustic study at the Igreja Vida de Imperatriz, located in the Três
Poderes, neighborhood of Imperatriz, Maranhão. The two metrics used to carry out this study
were reverberation time and geometry of space. Based on this study, a fitness proposal was
offered to adapt the temple to make the environment more comfortable and accessible.
Keywords: Church; acoustics; sound absorption coefficient; reverberation time.
1. INTRODUÇÃO
A acústica arquitetônica é uma área de estudo que se dedica ao planejamento de
espaços a fim de garantir a qualidade sonora adequada às necessidades do ambiente. Além
disso, investiga as relações entre o som e o ser humano, abrangendo aspectos como
percepção, conforto e comunicação sonora.
A acústica influencia diretamente no bem-estar e na qualidade de vida dos ocupantes
de um ambiente. A exposição prolongada a locais com uma acústica mal projetada pode
acarretar a uma variedade de consequências negativas para a saúde das pessoas, como estresse
físico e mental, distúrbios do sono, perda auditiva, e outras alterações fisiológicas.
A inteligibilidade, isto é, a boa compreensão do que está sendo comunicado, o tempo
de reverberação adequado, a distribuição sonora no ambiente e o isolamento acústico
determinam a qualidade acústica de um ambiente.
Portanto, é de extrema importância que na hora de projetar um ambiente, haja o
conhecimento das características acústicas das superfícies e dos materiais usados na
construção dos ambientes e dos móveis utilizados naquele local desde o estágio inicial do
projeto, a fim de garantir um ambiente confortável e funcional. Apesar da sua importância,
esse aspecto é frequentemente negligenciado na maioria das construções, seja por falta de
conhecimento ou por questões de custo, como no caso das igrejas.
Segundo Moscati (2013), os níveis sonoros emitidos pelas igrejas dependem
basicamente das atividades desenvolvidas no local, da utilização de recursos de amplificação
sonora e da arquitetura da edificação.
As igrejas geralmente priorizam a intensidade dos sons em detrimento da qualidade
acústica, isso acaba resultando em um ambiente sonoro desagradável e desconfortável tanto
para os fiéis quanto para a comunidade vizinha, especialmente quando o som se torna
excessivamente alto e intrusivo.
É verdade que ultimamente muitas igrejas têm se preocupado em isolar o som para
evitar problemas com a vizinhança. Entretanto, ainda existem desafios no que diz respeito ao
condicionamento acústico desses ambientes, que envolve não apenas o controle do som que
entra ou sai do espaço, mas também a qualidade do som dentro dele.
Para solução destes problemas é necessário entender o som, bem como sua emissão,
propagação e comportamento. Além de conceitos acústicos como ruído, frequência sonora e o
tempo de reverberação.
Conforme afirma Moscati (2013), no Brasil, muitas igrejas e templos são
implantados em espaços inicialmente construídos para outros usos, resultando em edificações
incapazes de cumprir a sua função de forma satisfatória, devido à falta de qualidade acústica,
isto sugere então a necessidade de elaboração de uma norma brasileira para disciplinar essas
situações.
Este trabalho tem como objetivo a elaboração de estratégias para melhoria do
condicionamento acústico da Igreja Vida de Imperatriz - MA contemplando a geometria
acústica e o tempo de reverberação do local. Como forma de atingir este objetivo foi realizado
um diagnóstico da igreja, onde foram considerados os coeficientes de absorção de todos os
materiais utilizados na construção da igreja, além dos materiais e objetos presente no interior
da edificação, buscando identificar se o local em questão atende às normas estabelecidas pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT em relação ao desempenho acústico, e
caso necessário, apresentar as devidas alterações para um tempo ótimo de reverberação (Tor).
2. ACÚSTICA E SOM
Acústica é o ramo da física que se dedica ao estudo do som e do ruído, bem como à
sua propagação, que pode ocorrer em meios líquidos, gasosos ou sólidos. De acordo com
Bistafa (2018), os sons são vibrações que se propagam a partir de estruturas vibrantes. Essas
vibrações são transmitidas através do ar e são percebidas pelo ouvido humano como som.
As ondas sonoras desempenham um papel crucial na transmissão de informações e
na comunicação. Os sons produzidos por essas ondas são essenciais em uma variedade de
contextos, desde a fala humana e sinais de alerta, até apresentações musicais e atividades
cotidianas, como o ruído de uma furadeira ou buzinas de veículos.
Segundo Remorini (2018 apud FERRONI, 2007), o ser humano é capaz de
identificar as frequências de 20 a 20.000 Hz. Frequências abaixo de 20 Hz são consideradas
infrassons, e acima de 20.000 Hz são chamadas de ultrassons.
“Frequência é a medida do número de oscilações por segundo de um movimento
vibratório do som.” (REMORINI, 2018, p. 37). Simplificando, é a característica que
determina a altura ou o tom do som percebido pelo ouvido humano. Quanto maior a
frequência, mais agudo é o som, e quanto mais baixa a frequência, mais grave é o som.
A percepção de um som é subjetiva. Cada indivíduo interpreta de maneira individual,
levando em conta suas preferências pessoais e sensibilidade auditiva. O que pode ser
considerado agradável para uma pessoa pode ser irritante para outra. Para Bistafa (2018), o
som é a sensação que é percebida pelo sistema auditivo, enquanto o ruído é definido como um
som indesejável, frequentemente associado a conotações negativas.
O som pode se propagar não apenas pelo ar, mas também através da vibração das
moléculas dos materiais de construção, das superfícies dos ambientes e dos objetos. Embora
esses meios sejam menos elásticos que o ar, eles ainda são capazes de vibrar e transmitir,
refletir ou absorver o som.
Remorini (2018) afirma que o som reflete em superfícies lisas e, quando ocorre
reflexão do som nas paredes, forro ou piso, isso indica que as superfícies são refletoras e, por
isso, o som pode se tornar confuso. No entanto, se as paredes forem absorventes, o nível de
som será baixo e abafado, pois essas superfícies absorvem a energia sonora, reduzindo a
quantidade de som refletido de volta para o ambiente. Quando o som sofre várias reflexões,
mesmo após a fonte parar de emitir o som, isso é denominado reverberação.
Tempo de reverberação é o “tempo necessário para que um som deixe de ser ouvido,
após a extinção da fonte sonora [...]” (ABNT, 1992). E essa queda da intensidade sonora se dá
devido à distância percorrida pelo som, e pela absorção dos materiais.
“O coeficiente de absorção de materiais expostos em ambiente consiste na
quantidade de energia absorvida e refletida pelos materiais [...] e esses valores variam entre
0,00 a 1,00” (BARBOSA et al., 2016).
Conforme Barbosa et al. (2016), cada material possui um coeficiente de absorção
sonora que é diferente para cada frequência, e em conjunto com o volume e a geometria do
ambiente influencia diretamente no tempo de reverberação do local e no comportamento do
som dentro dele.
3. OBJETO DE ESTUDO
Segundo a NBR 12179, para ambientes como auditórios, teatros e igrejas é
necessário fazer o estudo geométrico-acústico do local, levando em conta todos os materiais
empregados na construção. Tal estudo visa obter as melhores condições de audibilidade do
local. Dessa forma, cada ambiente possui um tempo de reverberação ideal, que depende de
seu volume e da quantidade de materiais absorventes contidos nele.
O ambiente analisado é a nave da Igreja Vida de Imperatriz, que está localizada no
Bairro Três Poderes, na cidade de Imperatriz, interior do Maranhão. O ambiente possui uma
área de 453.768 m² e um volume de 1633.564 m³ (Figura 1). O acesso à nave se dá através de
um porta dupla de abrir feita de vidro na fachada frontal que também dá acesso aos banheiros.
Os materiais utilizados para a construção da igreja foram: paredes e pisos em bloco
de concreto com tinta lisa, e teto em gesso. O templo foi construído sem projeto acústico. Os
cultos geralmente acontecem aos sábados das 19h às 21h e aos domingos das 18h às 20 horas.
O local possui diferentes tipos de equipamentos e mobiliários, incluindo: 150 (cento
e cinquenta) cadeiras e 6 (seis) bancos, ambos estofados com tecido; 2 (dois) púlpitos de
vidro; 18 (dezoito) painéis acústicos estofados; 2 (dois) balcões de MDF; 2 (duas) mesas de
MDF; 4 (quatro) caixas de som; 1 (uma) bateria (instrumento musical); 1 (um) violão; 1
(uma) guitarra; 1 (um) baixo; 2 (dois) computadores; 8 (oito) ar-condicionados.
4. METODOLOGIA
4.1. Levantamento físico
Foi realizada uma visita ao local para a medição do ambiente, a fim de entender as
características acústicas do espaço e identificar áreas que possam necessitar de melhorias,
nesse momento foi feita a contabilização dos equipamentos e mobiliário, assim como a
identificação dos materiais construtivos que compõem as superfícies do ambiente. Foi
constatado que houve uma preocupação com a acústica do ambiente, uma vez que foram
identificados a presença de painéis acústicos para melhoria do condicionamento sonoro da
nave da igreja. Esses painéis são projetados para absorver e controlar as ondas sonoras,
reduzindo a reverberação e melhorando a qualidade acústica do espaço. Não foi constatada a
presença de nenhum material que favorecesse no isolamento acústico da igreja.
A coleta detalhada de informações sobre o ambiente, incluindo o volume de
ocupantes, equipamentos, superfícies e o volume do espaço foi fundamental para realizar os
cálculos do tempo de reverberação ideal. Esses fatores são variáveis críticas que influenciam
significativamente o desempenho acústico do ambiente. Entender esses elementos permite
uma abordagem personalizada para otimizar a qualidade acústica do espaço de acordo com
suas características específicas.
Além disso, foi feita a análise do fluxo de pessoas que utilizam o local, a frequência
com que frequentam o ambiente e as atividades que são desenvolvidas dentro da igreja. A
quantidade de pessoas e o volume do ambiente são fatores-chave na determinação do tempo
de reverberação, que é um indicador importante da qualidade acústica do espaço.
Posteriormente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a especificação dos
coeficientes de absorção sonora de cada material. Neste trabalho adotou-se como base para
cálculo e estudo a frequência média (500Hz). Esta variável, em conjunto com outros dados,
como o volume, número de ocupantes e áreas das superfícies forneceu o tempo de
reverberação da igreja. Com base nestas informações foi possível iniciar o processo de análise
e correção do tempo de reverberação.
Portanto, essa abordagem meticulosa na coleta de dados e análise das necessidades
acústicas do ambiente foi essencial para desenvolvimento de soluções eficazes de
condicionamento acústico que atendam às necessidades específicas da igreja e proporcionem
um ambiente sonoramente confortável e agradável para os fiéis e outros usuários do espaço.
Onde:
Tr = tempo de reverberação em segundos.
α = coeficiente de absorção do material.
S = área de superfície do material em m².
V = volume do ambiente em m³.
5. RESULTADOS
Neste tópico, descreve-se a descrição detalhada dos dados coletados e uma análise
dos resultados referentes ao comportamento acústico do ambiente estudado. A tabela 1
descreve os materiais que compõem o interior do auditório e demonstra os valores
encontrados dos coeficientes de absorção sonora junto à norma 12179, para a frequência de
500Hz.
Tabela 1 – Coeficientes de absorção acústica dos materiais existentes no ambiente
Frequência
MATERIAIS
500 HZ
500Hz
Especificação Área/quantidade dos
materiais
α Sxα
Piso em reboco liso 453,77 0,02 9,07
Como o objetivo principal dessa mudança é uma reforma que gerasse poucos
problemas para ser executada, sem precisar alterar a estrutura do piso ou da parede, a
implementação de poucos materiais alcançou o resultado almejado.
6. CONCLUSÃO
Em linhas gerais, a forma mais adequada de se criar uma edificação que siga os
padrões de conforto acústico, é seguindo as métricas de conforto acústico previstas em
legislação desde o projeto inicial da edificação, no entanto, isso não ocorreu na construção da
Igreja Vida de Imperatriz.
Foi possível observar que o tempo de reverberação estava bem acima do que é
estabelecido pela norma vigente, o que impacta diretamente na inteligibilidade da fala no
ambiente.
Através da pesquisa bibliográfica foi possível verificar variáveis como os diferentes
coeficientes de absorção dos equipamentos e calcular o tempo de reverberação do ambiente.
A solução proposta por este trabalho visou buscar minimizar os problemas acústicos
do ambiente causando o mínimo de impacto possível à edificação, e a aplicação de estratégias
que incluem a implementação de materiais para redução do nível de ruído e do tempo de
reverberação sonora, visando melhorar a acústica da igreja estudada.
Assim, a pesquisa revela a importância do estudo de acústica para garantir o conforto
em ambientes de grandes aglomerações, além da necessidade de criar um ambiente
confortável e adequado para a realização de suas atividades propostas, em termos de acústica.
7. REFERÊNCIAS
BRANDAO, Eric. Acústica de salas: projeto e modelagem. São Paulo, SP: Editora Blucher,
2016.
REMORINI, Silvana Laiz. Acústica arquitetônica. Porto Alegre: SAGAH, 2018. 1 recurso
online. ISBN 9788595027169.
VALLE, Solon do. Manual prático de acústica. 3. Ed. Rio de Janeiro: Música &
Tecnologia, 2009.