Recursos Pedagógicos Musicais Acessíveis
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1. INTRODUÇÃO
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A partir da necessidade de promover uma prática musical na qual todos os alunos
pudessem participar sem qualquer tipo de barreira ou obstáculo que limitassem suas
vivências, foi realizada um planejamento pedagógico que culminou na promoção de
acessibilidade de três instrumentos musicais, em práticas musicais acessíveis, uma
apresentação musical em homenagem ao dia das mães, como também, possibilitou a escrita
deste artigo.
O plano pedagógico contou com sete aulas, ministradas uma vez por semana, com
duração de 45 minutos, no período compreendido entre o mês de abril e de maio de 2023.
Além de sua função pedagógica, as aulas serviram para a construção de dados deste relato de
experiência.
Para nortear este trabalho, foram pesquisados autores da educação inclusiva, educação
musical, educação e áreas afins, como: Fonseca (2022), Fernandes (2013), Brasil (2000, 2001,
2015), Brito (2003), Louro (2016, 2018) e outros.
No final das setes aulas, foi possível constatar que a promoção de acessibilidade nos
instrumentos musicais utilizados nas atividades de Arte-Música, proporcionou a Bastião
maior possibilidade de se expressar musicalmente, ampliou seus conhecimentos com relação
às práticas musicais, contribuiu para sua participação plena em um trabalho artístico de forma
colaborativa, entre outras.
Concordamos com Bianchetti (1995) que, para não fazermos juízo de valores de como
se deu o processo de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, é preponderante
termos conhecimento de alguns fenômenos históricos, sociais, culturais, filosóficos,
geográficos, religiosos, entre outros.
Sendo assim, precisamos elucubrar acerca de questões amplas, centrais e complexas,
no que se refere aos processos de construção das visões, entendimentos, tratamentos e outras
relações, as quais pessoas com deficiências vivenciaram nas diversas sociedades ocidentais.
Ao lermos Fonseca (2022), podemos evidenciar que desde as sociedades mais antigas,
já existiam diferentes concepções acerca do indivíduo com deficiência. Com exceção ao Egito
Antigo, onde as pessoas com deficiências eram valorizadas, tratadas com dignidade, respeito e
integravam as diferentes classes sociais.
Os demais fatos históricos ocidentais, ocorridos em períodos distintos, como na Idade
Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea, como: extermínios,
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estigmatização, segregação, filantropia, assistencialismo, entre outros, nos revelam que
durante muito tempo, as pessoas com deficiências foram excluídas, abandonadas e cerceadas
perante seus direitos enquanto cidadãos.
No tocante a educação, as mobilizações e ações das últimas décadas, como:
Declaração de Salamanca, Convenção das Nações Unidas sobre o Direito das Pessoas com
Deficiência, a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Lei 8.069/90, (Estatuto da
Criança), Lei Nº 13.146/2015 (Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência), Lei nº
9.394/96 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional), a Política Nacional de Educação
Especial, a Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001 (institui as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica), entre outras ações, contribuíram
para que as pessoas com deficiência passassem a ser consideradas sujeitos de direitos, as quais
merecem serem incluídos e respeitados em toda amplitude.
No que se refere a Música, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) definiu a música como
um componente curricular obrigatório da educação básica. As Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), nos diz que as práticas pedagógicas que
compõem a proposta curricular devem garantir experiências que favoreçam a imersão das
crianças nas diferentes linguagens, como também, promova seu relacionamento e sua
interação com diversas manifestações culturais, entre elas a música.
Em 2018 foi aprovada a Lei 11.769/2008. A referida Lei dispõe da obrigatoriedade no
ensino de Música na educação básica. A partir dela, a música tornou-se conteúdo obrigatório
no componente curricular da educação básica em todo o Brasil.
A resolução nº 2, de 10 de maio de 2016 que define as Diretrizes Nacionais para a
operacionalização do ensino de Música na Educação Básica, nos diz que o ensino de Música
deve ser inserido nos projetos político-pedagógicos das escolas como conteúdo curricular
obrigatório.
Já na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a música está inserida no
componente curricular Artes, na área de Linguagens, tendo seis competências específicas que
se relacionam com as dez competências gerais da BNCC.
Segundo a BNCC (2017), a Música é uma expressão artística que contribui, entre
outras coisas, para a subjetividade das relações de interações sociais e emocionais dos
indivíduos; favorece o respeito às diferenças, o diálogo intercultural; propicia a troca de
saberes culturais distintos; contribui, ainda, para a relação de complexidade com mundo, além
do aprimoramento de diversas capacidades de âmbito cognitivo e motor.
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Através dos exemplos citados acima, podemos evidenciar que a música exerce um
papel importante para educação brasileira. Entretanto, ao lermos autores, como: C. Silva e
Fonseca (2022), Keffer e Zattera (2021), Pendeza e Dallabrida (2016), Louro et tal. (2006), I.
Silva (2020), percebemos diversas lacunas para que a educação musical possa contribuir para
a inclusão na educação básica, como por exemplo: dificuldade em adquirir materiais
acessíveis para as práticas musicais, conhecimentos pedagógicos necessários para ensinar
música a pessoa com deficiência, aprofundamento quanto às especificidades de cada
deficiência, formação complementar acerca da deficiência e inclusão, acessibilidade em
espaços físicos, metodológicos, entre outros.
Com base na revisão de literatura realizada por I. Silva (2020), e C. Silva e Fonseca
(2022), como também, na revisão realizada por estes pesquisadores, em 7 Revistas de Qualis
A, totalizando 3.823 trabalhos pesquisados, como mostra a tabela abaixo, foi possível
evidenciar que a discussão sobre a Música na educação básica em uma perspectiva inclusiva
ainda é uma tarefa desafiadora e complexa.
Tabela 1
Periódicos pesquisados
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Total - 312 3.823
2. MÉTODO
Como metodologia, foi realizado um estudo de caso (Severino, 2007 e Laville &
Dionne, 1999), em uma instituição educacional da rede privada na cidade do Natal/RN. A
ação pedagógica na qual, a partir dela, foi possível escrever este artigo, foi promovida no
período compreendido entre 04 de abril a 16 de maio de 2023, em uma turma de primeiro ano
dos Anos Iniciais que estão em idades compreendidas entre 06 e 07 anos.
A referida turma possui 21 estudantes, 6 meninas e 15 meninos, que, a maioria, estão
juntos desde os primeiros anos da Educação Infantil. A escolha da turma como objeto de
pesquisa se deu pelo fato de que os instrumentos musicais que eram ofertados nas aulas de
Arte-Música não possibilitavam acessibilidade a todos os alunos.
As práticas pedagógicas foram planejadas e norteadas de acordo com os processos de
aprendizagem e desenvolvimentos, assegurados pela BNCC para o primeiro ano dos Anos
Iniciais, como: identificar e apreciar criticamente diversas formas e gêneros de expressão
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musical, perceber e explorar os elementos constitutivos da música, explorar fontes sonoras
diversas, explorar diferentes formas de registros musical não convencional e entre outras
propostas.
Como instrumento para a coleta, análise, interpretação e conclusão de dados, foram
realizados registros fotográficos, gravações em vídeos e registros feitos a partir das gravações
em áudios, após as aulas. Para trabalhar com as diferentes fases de análise de dados deste
trabalho, elegemos a organização de análise de Bardin (1977). Também foi solicitado junto a
escola e aos responsáveis de Bastião, a autorização para realização da pesquisa, via Carta de
Anuência e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.
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3. RESULTADOS
Figura 1
Prática pedagógica de Arte-Música
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Pelo fato de Bastião colocar os instrumentos sobre a mesa, os mesmos ficavam em
uma posição desconfortável para serem percutidos. Os instrumentos ficavam escorregando de
um lado para o outro, em uma posição mais alta, ruins para serem apoiados na mesa, entre
outras situações.
Na análise desta ocorrência foi possível perceber lacunas para uma atividade artístico-
musical acessível para o estudante. Portanto, foi planejada uma ação que possibilitou a
confecção de instrumentos musicais acessíveis para o aluno. Tal fato corrobora com o
planejamento comprometido em assegurar aos estudantes uma educação de qualidade,
garantindo seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade (Brasil, 2015).
É fato que a inclusão escolar ainda implica em quebra de paradigmas, de barreiras,
como também, na reestruturação de condições e modos como o ensino é ministrado. Com
isso, precisamos estar disponíveis, ser flexíveis, promover e adotar ações que venham
favorecer as diversas habilidades e desenvolvimentos dos nossos alunos.
Então, na tentativa de reduzir as restrições, barreiras ou quaisquer entraves que
limitasse a liberdade de movimento, de expressão, desempenho ou a participação de Bastião,
foi planejada a confecção de instrumentos musicais acessíveis, os quais pudessem lhe
promover condições de igualdade de participação nas atividades de Arte-Música.
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dimensões: Tambor (17x15cm), par clavas (16mm x 19cm) e ganzá (9cm x 40mm), como
mostra a figura abaixo.
Figura 2
Instrumentos utilizados na aula de Arte-Música
Figura 3
Realizando acessibilidade nos instrumentos
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Durante a inspeção na cadeira de rodas, foi possível perceber que ela possuía alguns
apoios (do tipo meia argolas de metal), as quais serviram como base para apoiar e fixar o
tambor. Outro fato perceptível, foi que, os instrumentos musicais que possuíam uma espessura
mais grossa eram mais confortáveis para Bastião poder realizar movimentos percussivos.
Assim, foi possível fazer modificações no que se diz respeito ao peso, altura e espessura dos
instrumentos, tornando-os acessíveis a Bastião, como irão mostrar as figuras que seguirão
abaixo.
Figura 4
Ganzá acessível
Para deixar o ganzá acessível para as práticas pedagógicas musicais de Bastião, foi
preciso utilizar um pedaço de cano de PVC, medindo 10 x 50cm; 2 rodas de madeiras de 3mm
x 50cm e grãos de milho. Para finalizar, o instrumento foi pintado com tinta azul do tipo
spray.
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O par de clavas foi o instrumento mais simples de torná-lo acessível. Para tal, foi
preciso utilizar dois bastões de madeira jatobá, medindo 22mm x 20cm. Essas medidas foram
escolhidas para deixar o instrumento mais longo, dando mais espaço para percuti-lo,
possibilitando um maior conforto na hora de realizar o movimento de preensão palmar.
Figura 5
Par de clavas
Figura 6
Tambor
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Como já foi mencionado anteriormente, durante as práticas musicais, Bastião apoiava
o tambor na mesa. Isso fazia com que o instrumento ficasse escorregando de um lado para o
outro, na hora de percuti-lo. Para solucionar esse problema, realizamos um furo vertical, de
aproximadamente 4cm, no qual fizemos um sistema de fixação para que o tambor pudesse ser
preso a cadeira de rodas, e com isso, dando mais possibilidades de manipulação a Bastião, na
hora das práticas percussivas
Figura 7
Furo para fixação
Figura 8
Materiais para fixação do tambor
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Feito esse procedimento, foi possível fixar o tambor na cadeira de rodas de Bastião. Os
mosquetões colocados nas extremidades do cadarço, serviram para prender o tambor nas meia
argolas existentes na cadeira de rodas, como as que foram mostradas na figura 3. Os
reguladores e o furo, serviram para que o tambor pudesse ser regulado no que se diz respeito à
altura e a distância do corpo de Bastião.
Para finalizar, também foi realizada acessibilidade na baqueta. A baqueta que é
usualmente utilizada na aula, possui 10mm x 20cm. Para torná-la acessível a Bastião, foi
cerrado um bastão de madeira de pinus (tipo cabo de vassoura) para deixá-lo com as medidas
de 20mm x 25 cm, que segundo Bastião ficou melhor para percutir o instrumento.
Figura 9
Baquetas
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3.2 ATIVIDADES PRÁTICAS DE ARTE-MÚSICA COM OS INSTRUMENTOS
ACESSÍVEIS
Pelo fato de a escola dispor de um grande espaço físico, as aulas de Arte-Música são
realizadas em espaços diversos, como: hall, jardins, pracinhas, sala de aula, entre outros
espaços. Tal fato possibilita uma gama de ações diversas nas quais os alunos têm a
possibilidade de experienciar a ludicidade, suas percepções, expressividades, imaginação,
através da ressignificação dos espaços da escola (BNCC, 2017).
As atividades práticas realizadas na turma de Bastião durante esta pesquisa foram
diversas, pois englobaram temas, como: exploração de fontes sonoras, sonorização de
histórias, práticas em conjunto, atividades de percepção rítmicas, ensaios para uma
apresentação em homenagem ao dia das mães, entre outras.
Com isso, e devido ao escopo deste trabalho não temos como relatar todas as
atividades vivenciadas por Bastião após a acessibilidade dos instrumentos musicais. Mas,
deixaremos aqui o relato do planejamento, preparação e execução da apresentação em
homenagem ao dia das mães.
A referida apresentação, foi planejada uma atividade musical na qual os alunos tinham
que apresentar (cantando e tocando) para as mães, a música Tum Tum Tum, do cantor,
compositor e multi-instrumentista brasileiro, Jackson do Pandeiro.
Para montar essa apresentação o professor utilizou quatro encontros, nos quais foram
realizadas atividades de canto coletivo, para que os alunos pudessem conhecer e se apropriar
da poesia da canção, e também, foram realizadas atividades rítmicas, na qual o professor pôde
trabalhar com os alunos as aprendizagens para a execução rítmica.
Para a execução musical, a canção foi dividida em três partes. Na primeira parte, as
crianças tinham que chacoalhar o ganzá (de cima para baixo), para acompanhar ritmicamente
a primeira estrofe da canção, como mostra a figura abaixo.
Figura 10
Primeira parte da apresentação
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Na segunda parte da execução musical, os alunos foram instruídos a percutir três
batidas no tambor para simbolizar o som do coração. Tal ação foi realizada para substituir a
onomatopeia que representa o som do coração, pelo som do tambor, como mostra o exemplo
logo abaixo.
Figura 11
Segunda parte da apresentação
Figura 12
Segunda parte da apresentação
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Para finalizar a execução musical, as crianças tinham que bater seis vezes no tambor
para representar as onomatopeias referentes ao som do coração, como no exemplo da figura
11.
Durante as atividades descritas acima, foi possível promover a acessibilidade nos
instrumentos utilizados por Bastião.
Durante todo o processo, o aluno foi sendo consultado no que se diz respeito às
modificações que foram sendo realizadas nos instrumentos, até que eles estivessem totalmente
confortáveis para manipular os mesmos, e assim poder participar das atividades propostas
pelo professor com maior autonomia.
No dia da apresentação, os alunos foram levados para um dos espaços da escola, uma
pracinha que foi destinada para o recital. Ao fazermos as análises dos vídeos registrados desse
momento, podemos perceber o quanto as acessibilidades promovidas nos instrumentos
musicais, proporcionaram a Bastião uma participação com independência. Foi perceptível ver
que o aluno pôde participar de todo recital sem se preocupar se os instrumentos poderiam ser
utilizados de forma autônoma.
No que diz respeito aos desenvolvimentos das habilidades musicais, ficou evidente
que a promoção da acessibilidade nos instrumentos, possibilitou a Bastião uma maior
oportunidade de se expressar musicalmente. Proporcionando-lhe possibilidades de interação
com as práticas e os desenvolvimentos musicais e artísticas, como também garantindo, sua
participação plena em um trabalho artístico, de forma independente e com autonomia.
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4. CONSIDERAÇÕES
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5. REFERÊNCIAS
Bianchetti, L. (1995). Aspectos históricos da educação especial. Rev. bras. educ. espec.,
Marília, 2(03), 07-19.
Silva, Í. S. (2019). Práxis docente na educação musical inclusiva: estudos no contexto escolar
do estado do Rio Grande do Norte. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
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