Emergencia Da Criptosporidiose
Emergencia Da Criptosporidiose
Emergencia Da Criptosporidiose
RESUMO
Criptosporidiose é uma parasitose emergente no Brasil e no mundo, classificada
como uma das principais causas de diarreia em adultos e crianças. Sua importância
deve-se principalmente ao fato de ter uma ampla variedade de hospedeiros e pelo
seu potencial zoonótico. Além disto, a forma infectante do agente, Cryptosporidium
spp., possui alta resistência ambiental, viabilizando contaminação de alimentos,
corpos d’água e solo e possibilitando surtos em alta escala acarretando em prejuízos
econômicos e sociais. A subnotificação, falta de tratamento eficaz e baixa utilização
de métodos de controle eficientes dificultam a implantação de medidas preventivas,
visando diminuir o impacto da doença.
PALAVRAS-CHAVE: Criptosporidiose, doença emergente, parasitose, zoonose
ABSTRACT
Cryptosporidiosis is an emerging parasitosis in Brazil and in the world, known as one
of the major causes of diarrhoea in adults and children. Its importance is mainly due
to its wide array of hosts and its potential as a zoonoses. Furthermore, the infective
form of the agent, Cryptosporidium spp., is highly resistant in the environment,
enabling food, water and soil contamination and thus potentially causing large
outbreaks and massive economical and social losses. Sub notification, lack of
efficient treatment and subutilization of efficient control methods hamper use of
preventive measures to lower this disease impact.
KEYWORDS: Cryptosporidiosis, emergent disease, parasitosis, zoonoses
INTRODUÇÃO
Doenças emergentes e reemergentes são assim classificadas pela
evolução ou mudança de um patógeno existente ao alterar sua patogenicidade,
abrangerem novas áreas geográficas ou novos hospedeiros (LI et al., 2014; CDC,
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2015a; OIE, 2015). Há uma crescente preocupação com estas doenças devido à
facilidade de disseminação mundial, afetando a saúde humana e animal, com
consequentes impactos sanitários, sociais e econômicos(OIE, 2015).
A criptosporidiose, cujo agente etiológico é o Cryptosporidium spp., é
classificada como doença emergente e reemergente (YODER et al., 2012;
ROBERTSON & CHALMERS, 2013). O agente, de caráter cosmopolita, afeta ampla
diversidade de hospedeiros como mamíferos, aves, répteis e anfíbios (XIAO et al.,
2004; NAKAMURA et al., 2009; QI et al., 2011), causando infecções subclínicas ou
clínicas com sinais gastrointestinais (RYAN et al., 2014). Com potencial zoonótico,
acomete principalmente indivíduos imunocomprometidos, como idosos e crianças
(MEIRELES, 2010), podendo, nestas, ocasionar má nutrição e afetar o crescimento
(XIAO et al., 2004).
Dentre as principais espécies que acometem os homens encontram-se
Cryptosporidium hominis, Cryptosporidium parvum e Cryptosporidium meleagridis,
sendo que as duas últimas são zoonóticas e geralmente estão associados ao
contanto com animais ou contaminação hídrica ou alimentar (CHALMERS et al.,
2011; RYAN et al., 2014). Embora tenha grande prevalência na medicina veterinária
(CUTLER et al., 2010; REBOREDO-FERNANDEZ et al., 2015) e potencial para
causar perdas econômicas significativas em países desenvolvidos e em
desenvolvimento (XIAO et al., 2004; REBOREDO-FERNANDEZ et al., 2015), há
poucos estudos em espécies silvestres, pois estes concentram-se primordialmente
em espécies comerciais ou de interesse econômico (NAKAMURA et al., 2009;
MEIRELES, 2010; QI et al., 2011; REBOREDO-FERNANDEZ et al., 2015). Uma
importante forma de contaminação é por meio de sua forma infectante, o oocisto,
que é resistente e permanece infectante por longos períodos no ambiente e na água
(GRACZYK et al., 2008; THOMPSON et al., 2008). Métodos usuais de desinfecção e
monitoramento de qualidade da água são inadequados para detectar e eliminar
estes protozoários. Mesmo que surtos de criptosporidiose sejam associados a
reservatórios públicos de água (LAKE et al., 2007; MEIRELES, 2010), não há
monitoramento rotineiro para estes patógenos (GRACZYK et al., 2008). Estudos
sugerem que a presença de animais próximos a estes locais esteja relacionada a
tais episódios (GRACZYK et al., 2008; REBOREDO-FERNANDEZ et al., 2015).
Devido ao próprio ciclo do parasito, sua eliminação é mais abundante nos
períodos de diarreia aguda, entretanto ele continua a ser eliminado em casos
crônicos. O diagnóstico parasitológico é dificultado pela pouca visualização do
parasito em lâminas à microscopia. Além disto, inibidores presentes nas fezes
dificultam a utilização de técnicas moleculares de diagnóstico. Portanto, em
consideração à pequena quantidade de DNA extraído das amostras e da grande
quantidade de inibidores presentes nas fezes, uma das técnicas mais indicadas é a
nested PCR (HIGGINS et al., 2001; UPPAL et al., 2014). No Brasil são poucos os
estudos em animais que utilizam diagnóstico molecular, talvez pelo custo elevado
destes (MEIRELES et al., 2007; MEIRELES, 2010).
Objetivou-se com esse trabalho analisar os aspectos que tornam a
criptosporidiose uma doença de impacto à saúde humana e animal, ocasionando
prejuízos financeiros e sociais e quais são as medidas necessárias para prevenção
ou contenção de surtos, evitando sua ampla abrangência ou ressurgimento.
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REVISÃO DE LITERATURA
Doenças emergentes e reemergentes
A saúde global enfrenta diversos desafios relacionados a doenças infecciosas
e parasitárias, incluindo a emergência e reemergência de velhas e novas doenças
(MORENS et al., 2004; MACKEY et al., 2014). O Centers for Disease Control and
Prevention (DCD) caracteriza uma doença emergente como aquela que surge a
partir de mudanças ou evolução de organismos existentes, uma infecção que passa
a abranger novas áreas geográficas ou populações, doenças resultantes de
organismos anteriormente não conhecidos e doenças que passam a ter maior
incidência(CDC, 2015a). Já a Organização Mundial para Saúde Animal (OIE)
acrescenta que doença reemergente é uma doença já conhecida, mas muda seu
ambiente geográfico, amplitude de hospedeiros ou aumenta significativamente sua
prevalência (OIE, 2015). Estas doenças moldaram o curso da história humana e
foram capazes de causar inúmeras mortes (MORENS et al., 2004).
A emergência e reemergência são aceleradas devido a circunstâncias
multifatoriais, muitas vezes complexas (MORENS et al., 2004; CUTLER et al., 2010),
e devem ser lidadas de forma dinâmica por vários setores da sociedade, incluindo a
saúde pública, ambiental, animal e segurança alimentar (BALDURSSON &
KARANIS, 2011; MACKEY et al., 2014). Alterações ambientais e ecológicas,
eventos climáticos extremos e desastres naturais podem influenciar a disseminação
de doenças anteriormente controladas (MACKEY et al., 2014; OIE, 2015), mas há
também fatores predisponentes humanos e inerentes ao próprio microrganismo,
como adaptação e evolução, em conjunto com a resistência às drogas utilizadas em
seu controle (OIE, 2015).
O comportamento humano, desenvolvimento econômico, adequação de
infraestruturas de saúde, desenvolvimento de novas terapias para indivíduos com
imunossupressão e o próprio crescimento e envelhecimento da população são
outras condições que influenciam no aparecimento e reaparecimento de doenças
(PRASAD, 2010). Além disto, observa-se nestes últimos séculos um rápido
crescimento da população humana e a disseminação de doenças, pois patógenos
não reconhecem ou respeitam fronteiras geopolíticas. A rapidez em que se realiza o
comércio entre países, a facilidade de deslocamento entre grandes distâncias e
movimentos de migração de populações estão entre os fatores responsáveis pela
globalização de doenças (MACKEY et al., 2014).
O crescimento populacional demanda apoio nutricional, que se fundamenta
em intensas práticas agropecuárias, algumas vezes envolvendo criação de grandes
contingentes de animais ou várias espécies agrupadas dentro de uma mesma região
(CUTLER et al., 2010). Estas práticas promovem maior contato entre humanos e
animais, podendo facilitar o cruzamento de barreiras entre espécies para
determinadas doenças (CUTLER et al., 2010; MACKEY et al., 2014).
Doenças zoonóticas são aquelas naturalmente transmissíveis entre homens e
animais (MACKEY et al., 2014) e são contabilizadas como a maior parte das
doenças emergentes e reemergentes (MORENS et al., 2004; MACKEY et al., 2014;
OIE, 2015). A interação entre a saúde humana e animal não é um fenômeno
recente, mas o impacto atual das zoonoses aumentou de forma notável. A
globalização, industrialização, consumismo, reestruturação de sistemas de
agricultura e pecuária, dentre outros fatores, pressionam por mudanças nas políticas
de saúde animal e de prevenção (OIE, 2015).
A disseminação de doenças ocorre em velocidades que desafiam os
mecanismos de controle. Além disto, a entrada contínua de humanos em habitat
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Taxonomia
As pequenas diferenças morfológicas limitam a utilização da microscopia para
identificação de espécies de Cryptosporidium (XIAO & FAYER, 2008) (Figura 2). No
início da utilização do diagnóstico molecular, aproximadamente no ano de 2000,
reconheciam-se 10 espécies deste gênero (FAYER et al., 2000). Até 2008, haviam
sido identificados no gênero 18 espécies e 40 genótipos (XIAO & FAYER, 2008). Até
o momento, são reconhecidas 26 espécies e mais de 60 genótipos (WIDERSTRÖM
et al., 2014). Alguns genótipos foram renomeados como espécie quando havia
informações suficientes a respeito da biologia, morfologia e genética. Espera-se um
aumento de número de espécies à medida que novas pesquisas obtenham maiores
informações biológicas e moleculares (XIAO & FAYER, 2008). Registra-se que 18
possíveis espécies de Cryptosporidium não foram validadas por motivos como
dimensão grande de oocistos, indicando que provavelmente sejam sarcocistos, falta
de mensurações de oocistos ou dados biológicos insuficientes (RYAN et al., 2014).
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Criptosporidiose em humanos
Criptosporidiose é uma importante causa de diarreia em pessoas (BUSHEN et
al., 2007). Estudo sobre proporção global de casos de diarreia em humanos com
cinco anos ou mais sugeriu que 6,9% de pacientes com diarreia eram causados por
Cryptosporidium e que 1,3% destes foram internados em hospitais (WALKER et al.,
2010). A cada ano as hospitalizações nos Estados Unidos por criptosporidiose
custam aproximadamente 45,8 milhões de dólares. Cuidados ambulatoriais custam
257-757 dólares para cada pessoa (YODER et al., 2012; RYAN et al., 2014).
A criptosporidiose afeta pessoas de todos os grupos de idades, mas, como já
registrado, é mais comum em crianças de um a nove anos de idade e pacientes com
baixa imunidade (YODER et al., 2012). No Brasil é comum encontrar criptosporidiose
em crianças de creche e portadores de HIV, mas também em não portadores
(THOMAZ et al., 2007). Aproximadamente 4,5% dos pacientes são assintomáticos e
12,7% dos pacientes são imunocompetentes. Crianças em países em
desenvolvimento e locais de poucos recursos são particularmente propensas à
infecção, resultando em diarreia aguda e persistente e também em dificuldade de
crescimento (BUSHEN et al., 2007; COLLINET-ADLER & WARD, 2010), mesmo na
ausência da diarréia (BUSHEN et al., 2007). A maior prevalência em áreas em
desenvolvimento é ocasionada pela maior exposição ao organismo devido a más
condições higiênico-sanitárias, incluindo suprimento de água impura e inadequadas
condições de vida (BUSHEN et al., 2007; BALDURSSON & KARANIS, 2011).
Cerca de 17 espécies de Cryptosporidium já foram relatados em humanos,
incluindo C. hominis, C. parvum, C. meleagridis, C. felis, C. canis, C. cuniculus, C.
ubiquitum, C. viatorum, C. muris, C. suis, C. fayeri, C. andersoni, C. bovis, C.
scrofarum, C. tyzerri e C. erinacei (RYAN et al., 2014). Dentre estas, as espécies
que mais acometem humanos são C. hominis e C. parvum, sendo o primeiro o mais
prevalente (XIAO & FAYER, 2008; NG et al., 2010; RYAN et al., 2014). Espécies
zoonóticas, como C. meleagridis, C. felis, C. canis, C. cuniculus, C. ubiquitum e C.
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viatorum são menos comuns. Raros casos foram relacionados a outras espécies,
mas elas afetaram indivíduos imunocompetentes e imunocomprometidos, muitas
vezes sem diferença significativa (RYAN et al., 2014). De forma geral, há dois
importantes ciclos de transmissão de criptosporidiose em humanos: o antroponótico,
cuja principal espécie é o C. hominis, e o zoonótico, no qual C. parvum é o principal
responsável e circula entre humanos e seus outros hospedeiros (THOMAZ et al.,
2007).
Em relação à clínica, C. hominis é mais comum que C. parvum em crianças
(BUSHEN et al., 2007; RYAN et al., 2014) e é associada a infecções mais graves,
maior excreção de oocistos e maior imparidade no crescimento pós-infecção,
especialmente entre indivíduos assintomáticos (BUSHEN et al., 2007; NG et al.,
2010).
A ocorrência dessas espécies em humanos varia de acordo com áreas
geográficas e condições socioeconômicas. Em países europeus e na Nova Zelândia,
C. hominis e C. parvum são comumente detectados em humanos (SNEL et al.,
2009; RYAN et al., 2014). Anteriormente, acreditava-se que no Reino Unido a
principal espécie responsável pela criptosporidiose humana era o C. parvum, mas na
década de 2000 descobriu-se que 50,3% dos casos eram associados a C. hominis e
45,6% a C. parvum. Outros estudos conduzidos na Austrália, Canadá, Europa,
Estados Unidos e Japão também mostraram maior prevalência de C. hominis (XIAO
& FAYER, 2008; NG et al., 2010; RYAN et al., 2014).
Também há diferença na distribuição geográfica de C. parvum e C. hominis
dentro de um mesmo país. Nos Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia C.
parvum é mais comumente encontrado em áreas rurais e C. hominis em áreas
urbanas (XIAO & FAYER, 2008; SNEL et al., 2009; RYAN et al., 2014). Esta
diferença na distribuição é provavelmente devida às diferentes fontes e rotas de
transmissão (RYAN et al., 2014), apoiando a probabilidade de criptosporidiose
zoonótica (XIAO & FAYER, 2008).
Estudos em países em desenvolvimento aparentemente apontam um papel
menos importante de infecções zoonóticas por C. parvum. Cerca de 70-90% das
infecções humanas no Brasil, Índia, Quênia, Peru, Tailândia, África do Sul e Vietnã
são ocasionadas por C. hominis (XIAO & FAYER, 2008).
Estudos recentes com subtipagem de C. parvum apontaram que algumas
infecções humanas por esta espécie não decorre de transmissões zoonóticas
(RYAN et al., 2014). A melhor forma de identificar uma transmissão zoonótica é
comparar os isolados de Cryptosporidium de diferentes hospedeiros usando
métodos moleculares e caracterização genética destes isolados (THOMAZ et al.,
2007).
Entre várias famílias de subtipos de C. parvum identificadas, os subtipos IIa e
IIc são os mais comuns em humanos. Em países em desenvolvimento, a maioria das
infecções por C. parvum em crianças e HIV positivos é causada pelo subtipo IIc,
considerado antropofílico. O subtipo IIa, associado a transmissões zoonóticas, é
aparentemente ausente, indicando que a transmissão antroponótica de C. parvum é
comum nestas áreas. Em contraste ambos, IIa e IIc, foram observados em humanos
em países desenvolvidos. Em 2013 na Suécia, todas infecções pela família do
subtipo IIc foram adquiridas em viagens ao exterior e no Reino Unido houve a
associação de IIa a visitas a propriedades rurais (RYAN et al., 2014; WIDERSTRÖM
et al., 2014).
Há uma divergência quanto à importância zoonótica de C. meleagridis, C.
canis, C. felis e C. muris. Alguns autores consideram que estas não são espécies de
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Criptosporidiose em ruminantes
Criptosporidiose é uma das causas mais comuns de diarreia em bezerros com
até 30 dias de idade, chegando a totalizar 37,2% dos casos (BLANCHARD, 2012). A
maior prevalência de infecção é em bezerros de até duas semanas de idade
(45,8%)(SANTÍN et al., 2008), constituindo-se em uma das principais causas da
diarreia neonatal bovina (MAWLY et al., 2015). A infecção pode ocorrer devido a
contaminação de pastos, estábulos, reservatórios de água, ou pelos próprios
animais. Alguns estudos identificaram que o contato com superfícies, ferramentas,
moscas e aves também pode transmitir o parasita. Tratadores de animais também
podem transportar mecanicamente oocistos infectantes em roupas e sapatos
(SANTÍN et al., 2008).
A doença pode causar sérios prejuízos econômicos às criações como retardo
no crescimento, mortalidade e gastos com medicamentos (RIEUX et al., 2013;
VARGAS et al., 2014). Pode afetar vários lotes de animais, pois o tratamento não
costuma ser efetivo e o oocisto persiste no solo durante vários meses (VARGAS et
al., 2014). Perdas econômicas também estão relacionadas a espécie ou genótipo
causador da infecção (RIEUX et al., 2013).
Os métodos de diagnóstico utilizados em bovinos são imunofluorescência
indireta (IFI), ensaio imunoenzimático (ELISA), flutuação, cromatrografia e diferentes
técnicas de PCR. PCR identifica um número maior de animais positivos quando
comparado às outras técnicas (BLANCHARD, 2012). Em um estudo realizado por
SANTÍN et al.(2008), em bezerros durante dois anos, pela PCR detectou-se 19,2%
de positividade, enquanto pela IFI 12,9%, diferença estatisticamente significativa.
As principais espécies causadoras de criptosporidiose em bovinos são C.
parvum, C. bovis, C. andersoni e C. ryanae (MEIRELES et al., 2011; RYAN et al.,
2014). A prevalência em bovinos de leite é maior que em bovinos de corte, quando
criados sob as mesmas condições (XIAO & FAYER, 2008). A maioria das infecções
em bovinos de leite adultos é causada por C. bovis, C. ubiquitum e C. andersoni. Em
países desenvolvidos, 86,7% dos bezerros doentes são infectados por C. parvum
(RIEUX et al., 2013) e o principal subtipo encontrado é o IIa (zoonótico)(RYAN et al.,
2014). Portanto, bezerros de leite de até dois meses (XIAO & FAYER, 2008)
parecem ser os maiores reservatórios para o C. parvum zoonótico, sendo que as
práticas de criação intensiva podem facilitar a transmissão deste subtipo em
criações (RYAN et al., 2014).
Devido ao fato que os estudos epidemiológicos de Cryptosporidium em
bovinos geralmente não são realizados ao acaso e sim por amostras oportunas, o
impacto de C. parvum originados de criações de bovinos na criptosporidiose humana
é pouco compreendido. Na Nova Zelândia, 40-65% das propriedades de bovinos de
leite eram positivas para Cryptosporidium e a prevalência de C. parvum foi estimada
em 50,5%. Em Otário, Canadá, 76% eram positivas, mas não foi realizada
genotipagem (MAWLY et al., 2015).
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2014). Em 2011 foi relatado que C. cuniculus era a terceira espécie mais comum de
Cryptosporidium em pacientes com diarreia no Reino Unido(RYAN et al., 2014).
Cryptosporidium também é descrito em camundongos, capivara, veados,
porco espinho, cangurus e muitas outras espécies (MEIRELES, 2010; RYAN et al.,
2014). Também ocorre em répteis como serpentes, tartarugas e lagartos, e anfíbios.
Pouco se sabe sobre a prevalência e diversidade genética de espécies de
Cryptosporidium em animais aquáticos, mas o gênero já foi descrito em peixes
marinhos, como dourada e robalo(ALVAREZ-PELLITERO & SITJÀ-BOBADILLA,
2002), e de água doce, como a tilápia (KOINARI et al., 2013), com 13 genótipos
diferentes (RYAN et al., 2014).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da criptosporidiose ser uma doença que ocorre em cinco continentes e afeta
grande número de hospedeiros, incluindo humanos, muitos países não têm um bom
programa de monitoramento para avaliar a prevalência da doença em sua
população. Em países onde existe este monitoramento ele é normalmente falho e
incompleto, focando-se somente na transmissão hídrica do patógeno para humanos.
No entanto, é comprovado que alimentos, solo e contato com animais infectados
também têm grande importância no ciclo da parasitose.
Os países que estão em maior risco são justamente os que apresentam
problemas no monitoramento e na prevenção da enfermidade. Não se conhece o
real impacto da doença em países em desenvolvimento, como o Brasil. A maior
parte das detecções do agente é realizada através de técnicas pouco sensíveis
como microscopia, o que também não permite a diferenciação entre as espécies de
Cryptosporidium e, consequentemente, impossibilita avaliar as rotas de transmissão
e formas de prevenção. Apesar da sua grande validade, alguns autores alegam que
o diagnóstico molecular e tipificação não sejam rotineiramente utilizados devido ao
elevado custo.
Por não ser uma doença de notificação obrigatória no Brasil, há poucos
relatos de casos e investigação insuficiente, o que reflete na subnotificação e
dificuldade de avaliar os verdadeiros impactos ocasionados. Além do
desconhecimento da prevalência das diferentes espécies de Cryptosporidium em
diversas áreas, o difícil controle e eliminação do protozoário se devem à natureza
extremamente resistente do oocisto, a ampla distribuição, alta infectividade, diversas
espécies hospedeiras e ausência de medicamentos ou vacinas efetivas.
Deve-se levar em conta também que por ser uma doença emergente e
reemergente, está mais propensa a surgir em países onde ainda não foi registrada e
se disseminar conforme o crescimento da população. Para o futuro controle desta
enfermidade, além da conscientização pública, os esforços para conhecimento
epidemiológico, desenvolvimento de técnicas de diagnóstico eficazes, simples e
mais baratas, e novas formas de controle, incluindo o desenvolvimento de vacinas,
devem ser constantemente aperfeiçoadas.
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