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A Psicoterapia Socio-Histà Rica  - Lima e Carvalho

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A Psicoterapia
Socio-Histórica
The Socio-Historical Psychotherapy

La Psicoterapia Socio Histórica

Paula Márcia de Lima


& Carolina Freire de
Carvalho de Carvalho

Faculdade de
Americana
Artigo

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2013, 33 (núm. esp.), 154-163


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PSICOLOGIA:
CIÊNCIA E PROFISSÃO,
Paula Márcia de Lima & Carolina Freire de Carvalho de Carvalho
2013, 33 (núm. esp.),154-163

Resumo: Este trabalho teve como objetivo desvelar a possibilidade da aplicação da abordagem socio-
histórica à psicoterapia, e foi realizado através de um ensaio teórico a partir de uma pesquisa bibliográfica
e da análise de publicações de estudiosos da teoria socio-histórica, que compreende o homem a partir da
teoria marxista de que o homem constrói e é construído nas relações sociais. A análise fenomenológica
corroborou a dinâmica da internalização dos conceitos pela pesquisadora, possibilitando a expressão do
que foi entendido ao longo de todo o trabalho através das diferentes categorias em diferentes momentos:
imersão, que é o momento da leitura, discriminação e atribuição de sentidos, referente ao momento de
organização do material de forma subjetiva e singular, e, finalmente, a síntese, que busca a compreensão
geral obtida através das etapas anteriores. Assim, a possibilidade de uma psicoterapia socio-histórica foi
identificada na literatura estudada e analisada pela pesquisadora.
Palavras-chave: Psicologia. Psicoterapia. Fenomenologia. Vygotsky, Lev Semenovich, 1896-1934.

Abstract: This article is the result of a psychology course paper that proposed to reveal the possibility of
applying the socio-historical approach to psychotherapy, since we observed the lack of publications in socio-
historical psychotherapy, for most publications refer only to the educational applications of this theory. The
socio-historical psychology understands man from the marxist dialectic, that assumes that man is constructed
and constituted in social relations. Written as a theoretical essay, we used the method of bibliographical
survey of books and journals produced in Brazil and the analysis of scholar publications on the subject. The
chosen method of analysis was the phenomenological, allowed by the categories: immersion (for the time
of reading), discrimination and assignment senses (regarding the subjective organization of the material) and
synthesis (that seeks general understanding), internalizing the concepts read. This way, the possibility of a
socio-historical approach in psychotherapy was identified and analyzed in the literature.
Keywords: Psychology. Psychotherapy. Phenomelogy. Vygotsky, Lev Semenovich, 1896-1934.

Resumen : Este trabajo tuvo como objetivo desvelar la posibilidad de la aplicación del abordaje socio
histórico a la psicoterapia, y fue realizado a través de un ensayo teórico a partir una investigación bibliográfica
y del análisis de publicaciones de estudiosos de la teoría socio histórica, que comprende el hombre
a partir de la teoría marxista de que el hombre construye y es construido en las relaciones sociales. El
análisis fenomenológico corroboró la dinámica de la internalización de los conceptos por la investigadora,
posibilitando la expresión de lo que fue entendido a lo largo de todo el trabajo a través de las diferentes
categorías en diferentes momentos: inmersión, que es el momento de la lectura, discriminación y atribución
de sentidos, referente al momento de la organización del material de forma subjetiva y singular, y, finalmente,
la síntesis, que busca la comprensión general obtenida a través de las etapas anteriores. Así, la posibilidad de
una psicoterapia socio histórica fue identificada en la literatura estudiada y analizada por la investigadora.
Palabras clave: Psicología. Psicoterapia. Fenomelogía. Vygotsky, Lev Semenovich, 1896-1934

Este trabalho visa a estudar a aplicação da de conclusão de curso (TCC), discutir a teoria
abordagem socio-histórica como psicoterapia socio-histórica, abordagem da Psicologia em
bem como entender a abordagem criada que o homem é compreendido como um
por Vygotsky, uma vez que parte não só do ser ativo no mundo, ou seja, o constitui e
materialismo histórico dialético de Marx e é constituído por ele, dentro de um campo
de conceitos como filogênese, sociogênese pouco divulgado, ou que, pelo menos, possui
e ontogênese, mas apresenta-nos também pouco material científico publicado no que
os conceitos de processos psicológicos se refere ao trabalho clínico, ou psicoterapia.
elementares para explicar que é deles
que descendem os processos psicológicos A Psicologia socio-histórica foi criada em
superiores, e que estes só são possíveis no meio à Revolução Russa. Com base na
momento em que existem os instrumentos teoria marxista, podemos entender isso
e, em consequência, os signos para que ao quando Veer e Valsiner (2001) afirmam que,
mesmo tempo produzam a mediação e, em como aspecto fundamental, Vygotsky usa o
seguida, a internalização. pensamento marxista para dizer que os seres
humanos diferem dos animais no momento
Assim, o presente estudo busca, através de em que têm uma história social e coletiva,
um ensaio teórico inserido em um trabalho não se adaptando passivamente à natureza,

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pois fazem uso de instrumentos no processo É com os processos psicológicos


de trabalho. Outra ideia, vinda da teoria superiores que Vygotsky apresenta um
de Marx, foi a experiência duplicada, que conceito relacionado a outro, pois não há
consiste na capacidade do homem de prever internalização se não houver mediação,
os resultados, ou seja, o homem é capaz de sendo que os dois estão intrinsecamente
pensar nas consequências de seus atos, e ligados aos processos psicológicos superiores.
com isso ponderar qual seria a melhor ação. “Mediação, em termos genéricos, é o
processo de intervenção de um elemento
Vygotsky é tido também como um psicólogo intermediário numa relação; a relação deixa,
Os signos são interacionista por levar em consideração então, de ser direta e passa a ser mediada
como se fossem
os instrumentos,
o plano filogenético, que é a história da por esse elemento” (Oliveira, 2002, p. 26).
mas usados espécie, para entender como se originam
no campo os processos que hoje são tipicamente Vygotsky acreditava que a relação do
psicológico.
humanos (Oliveira, s/d): o sociogenético, homem com o mundo é uma relação
Oliveira (2002)
explica que o que é a história da cultura onde o sujeito fundamentalmente mediada, e destacou
signo age como está inserido (a autora acrescenta que esse dois tipos de elementos mediadores, que
instrumento plano não diz respeito somente a país, mas são os instrumentos e os signos.
na atividade
também a classe social, valores, família,
psicológica, da
mesma forma tipos de pares ou até mesmo a convivência O instrumento é um elemento interposto
que a ferramenta religiosa), e o plano ontogenético, que entre o trabalhador e o objeto de seu
em um trabalho trata da história do desenvolvimento do trabalho, assim amplia a possibilidade de
manual, por
exemplo. indivíduo como Ser desde seu nascimento; transformação do ambiente.
a ontogênese atenta não para o que o sujeito
aprendeu, mas para como ele aprendeu. Os signos são como se fossem os instrumentos,
mas usados no campo psicológico. Oliveira
Com os estudos de Rego (1995), é possível (2002) explica que o signo age como
entender que um dos conceitos mais instrumento na atividade psicológica, da
abrangentes de Vygotsky é o de que os processos mesma forma que a ferramenta em um
psicológicos superiores – que correspondem trabalho manual, por exemplo.
aos funcionamentos tipicamente humanos,
tais como imaginação, planejamento, Nesse processo, há também a internalização,
memória ativa, pensamento abstrato, que é outro conceito básico da teoria de
atenção voluntária, ações conscientemente Vygotsky. O processo de internalização é
controladas, pensamento abstrato, raciocínio alcançado por dois movimentos: o primeiro,
dedutivo e capacidade de planejamento – com a utilização de marcas externas,
têm sua origem no meio histórico e cultural transforma-se em processos internos de
(sociogênse e ontogênese), emergindo dos mediação, ou ainda, são desenvolvidos
processos psicológicos elementares. sistemas simbólicos, que organizam os signos
em estruturas complexas e articuladas.
Vygotsky lança mão do materialismo histórico
dialético não só para desenvolver seu Goes (2000) afirma que, para Vygotsky, o
conceito como também para explicá-lo, sujeito constitui suas formas de ação e sua
pois ele afirma que os processos psicológicos consciência nas relações sociais; dessa forma,
superiores têm sua origem nas relações a ação do sujeito é considerada a partir da
sociais, assim, entende que o sujeito não ação entre sujeitos. O plano psicológico,
é um mero receptáculo, mas é produtor e portanto, só pode ser compreendido nas
produzido pelo contexto em que vive. suas dimensões social, cultural e individual.

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Assim, o desenvolvimento é alicerçado no da sua significação do desenvolvimento


plano das interações, ou seja, é socialmente da Psicologia social apoiada no marxismo;
construído, e, nesse plano, é possível assim, questões da personalidade, do sujeito
entender que os sistemas simbólicos, e e da patologia, que são aspectos centrais
principalmente a linguagem, exercem para o desenvolvimento de uma posição na
papel essencial na comunicação e na clínica, foram pouco trabalhados.
constituição de significados compartilhados
que consentem interpretações de objetos, A partir disso, é importante ressaltar que
eventos e situações do mundo circundante. Veer e Valsiner (2001) contribuem com
informações a partir de pesquisa sobre
A linguagem como um todo, ou seja, vida e a obra de Vygotsky, afirmando que
todas as suas formas ocupam lugar central suas últimas pesquisas buscaram instruir-se
na teoria de Vygotsky, uma vez que é um mais sobre o comportamento desviante de
sistema simbólico básico de todos os grupos adultos, tendo ele passado a estudar mais
culturais. Outro fator que a torna importante profundamente sobre psiquiatria, Psicologia
para a teoria é o surgimento do pensamento clínica¹. Para esses autores, fica claro que
Momento em que o biológico se
transforma em sócio-histórico ->
verbal e da linguagem, porque é o momento a teoria socio-histórica foi uma das muitas
Surgimento do pensamento verbal e em que o biológico se transforma em socio- teorias que tentaram dar explicações a
da linguagem
histórico (Oliveira, 2002). respeito da origem e do desenvolvimento
dos processos mentais de adultos.
Vygotsky também introduziu dois níveis de
desenvolvimento: nível de desenvolvimento Dias afirma que “as práticas clínicas atuais
real, “o nível de desenvolvimento das apontam um maior interesse e preocupação
funções mentais da criança que se com o contexto social” (2005, p.2), e
estabeleceram como resultado de certos acrescenta que esse novo olhar faz repensar
ciclos de desenvolvimento já completados” a postura de profissionais diante do ato
(Vygotsky, 2007, pp. 95-96), ou seja, é o clínico, no sentido de que é a subjetividade
que o indivíduo consegue fazer de forma de uma construção social e histórica. O autor
autônoma, independentemente do auxílio assegura também que “a psicoterapia é uma
de qualquer outro sujeito, enquanto o nível forma recorrente de interação/relação social,
de desenvolvimento potencial se refere à e seu espaço de ocorrência são os espaços
resolução de problemas sob a orientação psicólogos, lugar da realidade de cada um”
de outro indivíduo mais capacitado ou com (2005, p.3).
mais experiência naquela tarefa. O grande
diferencial da teoria de Vygotsky é a zona Sendo assim, a psicoterapia é inerente à
de desenvolvimento proximal, que define as atividade do psicólogo clínico e de todos
funções que ainda não amadureceram, mas aqueles que, de alguma forma, trabalham em
que estão em processo de amadurecimento saúde, incluindo o âmbito da saúde pública.
(Vygotsky, 2007). Trata-se de uma modalidade importante
de intervenção em Psicologia diante do
Portanto, sendo a psicoterapia uma relação sofrimento humano (Quayle, 2007).
contínua de troca e de transformação, por
que não encontramos tantos profissionais Mas, pensando no sentido da práxis, temos
atuando a partir dessa abordagem na clínica, a Resolução nº 10/00, de 20 de dezembro
ou que não divulgam seu trabalho? A isso, de 2000, do Conselho Federal de Psicologia
Rey (2007, p. 198) atribui o fato de Vygotsky (CFP), cujo artigo primeiro estabelece que a
ter chegado à Psicologia ocidental através psicoterapia é prática do psicólogo, e constitui

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um processo científico de compreensão, Metodologia


análise e intervenção que se realiza através
de técnicas e de métodos psicológicos Sujeito
que promovem a saúde mental e que
proporcionam condições de enfrentamento Os sujeitos deste trabalho foram todas
de conflitos ou de transtornos psíquicos as literaturas já estudadas e pesquisadas
De acordo com individuais ou grupais.
Appolinário,
durante a graduação em Psicologia
“a análise referentes à Psicologia socio-histórica, como,
fenomenológica Objetivo por exemplo, artigos, livros e sites.
buscará uma
compreensão
Este trabalho estudou a possibilidade de a Método de coleta
das temáticas
que emergem psicoterapia socio-histórica ser utilizada na
pelo contato da clínica. A partir de uma revisão bibliográfica, Foi feito um levantamento bibliográfico
consciência do buscou-se uma possível resposta para a de artigos em bases de dados científicas,
pesquisador com
escassez de material literário nesse campo, como, por exemplo, Scielo, livros e sites de
o texto analisado”
(2006, p. 170); já que literatura a respeito dessa abordagem Psicologia, o que tornou este trabalho um
dessa forma, a no campo educacional e no campo ensaio teórico, ou uma pesquisa documental
pesquisadora social, separadamente, não são difíceis de
perpassou (Appolinário, 2006).
o material
encontrar no caso de realização de uma
pesquisado, pesquisa. Método de análise
proporcionado
pela construção
da análise.
Justificativa A análise partiu de livros e artigos publicados
por Gonzáles-Rey (2007, 2001) e por Rego
A escolha do tema foi feita a partir de dúvidas (1995), entre outros autores que publicaram
que foram surgindo em estudos paralelos à em torno do tema psicoterapia socio-
graduação a respeito da Psicologia socio- histórica.
histórica, pois muito se encontrava sobre
o desenvolvimento infantil, o campo social A partir disso, foi utilizado um dos modelos
e o trabalho feito no campo da educação, de análise fenomenológica. De acordo com
mas, sobre a psicoterapia a partir dessa Appolinário, “a análise fenomenológica
abordagem, é possível encontrar somente buscará uma compreensão das temáticas que
um trabalho escasso, até o momento de emergem pelo contato da consciência do
uma busca mais refinada. Nesse trajeto, a pesquisador com o texto analisado” (2006, p.
pesquisadora se deparou com a seguinte 170); dessa forma, a pesquisadora perpassou
pergunta: é possível a psicoterapia socio- o material pesquisado, proporcionado pela
histórica? construção da análise.

Pensando ainda na importância do tema, O primeiro momento é chamado por


fez uma avaliação crítica sobre toda a sua Appolinário (2006, p.171) de imersão,
graduação, e chegou à conclusão que esse referente ao momento da leitura do material,
trabalho se torna importante no momento quantas vezes a pesquisadora julgar necessário
em que vemos um novo método, pois é para familiarizar-se com a linguagem. Em
importante o conhecimento a respeito seguida, será o momento de discriminação
de outras abordagens para o psicólogo e atribuição de sentido, para se organizar
que não aquelas já arraigadas, que não o material de acordo com o significado
permitem novas possibilidades de lidar com encontrado por ele mesmo, bem como para
o sofrimento humano. proceder a uma interpretação dessas unidades

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de significados a partir de suas concepções do diálogo é tão importante; por ser único em
teóricas e subjetivas; por último, o momento cada relação, o terapêutica é quem determina
de síntese, que consiste no mapeamento das os processos de sentido e de significado para a
unidades de sentido obtidas, objetivando produção de novos sentidos de subjetivação),
alcançar a compreensão geral do fenômeno e o objetivo de descobrir as configurações
pesquisado, que parte da própria consciência do sujeito, seguindo hipóteses que só terão
da pesquisadora. sentido através da abertura de zonas de
diálogo, que vão além de histórias narradas
Análise e discussão pelo sujeito.

A partir da análise fenomenológica, foi possível Bock (2007) afirma que os psicólogos que
atribuir sentido aos seguintes conceitos: atuam nessa vertente trabalham para romper
de acordo com Rego (1995), o intuito de os processos de fragilização no sujeito, já
Vygotsky não era apenas desenvolver uma que a saúde psicológica do sujeito está na
teoria sobre o desenvolvimento infantil, mas possibilidade de enfrentar cotidianamente
sobre o desenvolvimento humano, por isso seu contexto, interferindo nele, construindo
recorre à infância, e justifica sua posição soluções para os conflitos que se apresentam.
dizendo que o estudo da criança reside no O psicólogo, por exemplo, intervém na
fato de ela estar no centro da pré-história busca da construção de sentidos, isto é, nos
do desenvolvimento, principalmente pelo registros que o sujeito faz do seu contexto,
surgimento de instrumentos e da fala. registros esses que podem ser as fontes de
sua fragilidade.
Sendo assim, Marangoni (2006) afirma que
a psicoterapia socio-histórica atua a partir Gonzáles-Rey (2007) acrescenta que o
da compreensão do contexto social dos psicoterapeuta deve ser um facilitador de
sujeitos, da interação de acontecimentos novas produções subjetivas alternativas que
sociais, econômicos e políticos bem como permitam novos processos de subjetivação.
constitutivos, e, de modo dialético, também Essa subjetivação deve transformar-se
constituintes dos sujeitos; assim, retira em ações pelas quais o sujeito se torne
do sujeito o prognóstico de que suas responsável, produzindo ele mesmo novos
dificuldades são causas intrínsecas e isoladas espaços de sentido subjetivo.
em si mesmas.
Para tanto, é preciso levar em consideração
Nesse sentido, a psicoterapia socio-histórica o estilo de vida dos sujeitos da psicoterapia,
é também interação social. Gonzáles- entendendo seu estilo de vida como um
Rey (2001) acrescenta a isso pontos que “sistema de atividades que configuram a
influenciam a prática nessa perspectiva, como organização da vida cotidiana, o que constitui
a subjetividade construída historicamente, a uma fonte relevante na configuração dos
ênfase no caráter singular, a consideração sentidos subjetivos das pessoas e dos espaços
da subjetivação bem como dos sentidos de relação” (Gonzáles-Rey, 2007, p.172).
e dos significados gerados nas relações, o
reconhecimento do caráter constitutivo das Dias e Gonzáles-Rey concordam quando
patologias, a dúvida que o psicoterapeuta dizem que o psicólogo faz o papel de
detém o poder supremo, isso porque a mediador, dando sentido ao problema do
psicoterapia é um processo dialógico para paciente, nomeando sentimentos, auxiliando
que surjam mudanças produzidas a partir de na identificação de sentidos subjetivados e
uma relação dialógica (por isso a qualidade trabalhando junto na construção de novos
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sentidos, logo a importância da função A zona de desenvolvimento proximal, já


educativa e da interativa em contexto de explicada antes neste trabalho, tornou-
práticas sociais diversas. Como exemplo se uma das mais utilizadas técnicas entre
dessas funções, associar a psicoterapia a psicoterapeutas socio-históricos. Dias
espaços subjetivos de ação social: sala de atribui esse fato ao valor que as capacidades
aula, hospitais, tribunais, instituições de emergentes têm para a abordagem. Assim,
trabalho (pública ou privada), comunidades essas funções emergentes, ao longo da
e grupos de diferentes formações. psicoterapia realizada a partir da mediação
Afirma Gonzáles-Rey que “está claro do psicoterapeuta, se tornam funções
que a psicoterapia pode ser realizada no consolidadas, entrando para seu nível de
consultório, o que não é certo é que não desenvolvimento real.
seja feita fora dele...” (2007, p.164).
Quintino-Aires (2011) e Marangoni (2012)
Técnica de psicoterapia socio- também nomeiam algumas técnicas,
com uma breve explicação ao que
histórica
referem, como, por exemplo: intercurso
mutuamente contingente, que é um padrão
Quintino-Aires (2006) acredita que o
de interação relacional, estudado por
psicoterapeuta deva criar um conjunto de
Rita Leal (1975), compreensão empática,
técnicas de intervenção adequadas para
que consiste em assumir a Eigenwelt1 do
si próprio, já que também reconhece a
paciente, reconhecendo e assumindo a
construção mútua do desenvolvimento da
subjetividade da sua representação de Si
psicoterapia. Mas o autor aborda também

J
e do mundo, nomeação, que consiste em
a importância dos conceitos de Vygotsky,
descrever e nomear o acontecer referido,
como, por exemplo, a internalização, ou
repetição, que tem o objetivo de produzir
seja, através da mediação do psicoterapeuta,
maior verbalização, ou mesmo para o
significados antes interpsicológicos passam a
sujeito perceber sua fala através do outro,
ser intrapsicológicos. Técnic
marcação, que tem o intuito de não deixar as
verbai
1“Um dos três no vazio a palavra do outro, ou seja, apoia
Com isso, seguem algumas técnicas usadas s
modelos de conduta o diálogo, mas sem interromper o fala do em
do Dasein: Eigenwelt. na psicoterapia socio-histórica: França (s/d) psicot
sujeito, generalização, que procura reduzir erapia
É o mundo-do- também considera importante observar a
si-mesmo. O a ansiedade, demonstrando semelhança
autoconhecimento
realidade do sujeito e a forma como ele
de determinada ação em outros humanos,
é uma qualidade percebe suas experiências, para que, a
eco-emocional, que auxilia o sujeito a dar
-

exclusiva dos seres


humanos, e conduz
cada sessão terapêutica, possa desenvolver
-
nomes a emoções e a sentimentos quando
ao sentimento de com os sujeitos, por exemplo, a zona de
autoidentificação.
-
este demonstrar dificuldade em fazê-
desenvolvimento proximal, a heterocronia,
Este muda -

lo, re-expressão, que descreve eventos


constantemente, que se refere ao tempo que cada sujeito tem
mas forma uma
-
apresentados pelo sujeito, mas de uma
para a internalização de novos conceitos,
série habitual de forma racional e objetiva, e pôr-verbo,
modelos de respostas
autoidentificadoras e
autovalorativas que
podemos chamar de
=
a instigação, referente à estimulação de
potencialidades, a contextualização, que
coloca em contexto os mitos adquiridos
quando se descreve um comportamento
quando não houve linguagem verbal (mais

=
usado com crianças).
ser-em-si-mesmo. pelo sujeito ao longo de sua vida, e a
O Eigenwelt, ou
mundo-do-si-mesmo, despotencialização, relativa à diminuição
Dias contribui com o modelo relacional
tem também duas da potência de comportamentos ideais e
formas possíveis: (a) -
dialógico, que trata do privilégio do acesso
a forma singular, e (b)
fossilizados.
- à pessoa total em um sentido psico-
a forma anônima” (cf.
Sá,2008). socio-emocional, e ainda integrando o

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desenvolvimento psicomotor, cognitivo e Na mesma obra, o autor destaca a compreensão


social. A mesma autora acrescenta que esse da palavra, trabalho considerado muito
modelo tem como base a compreensão delicado por psicoterapeutas socio-históricos,
dos processos psicológicos e sua rede de explicando que o pensamento e a linguagem
significados, dialeticamente estabelecida pela são as chaves para a compreensão da natureza
significação das informações proveniente do da consciência humana, porque as palavras
meio externo e interno. desempenham papel central na evolução
histórica da consciência como um todo.
Outra técnica é a complementação de
frases, usada por Rey como instrumento França (s/d) e Dias (2005) esclarecem que,
na ação terapêutica e na construção de para se ter êxito na clínica, é preciso ter a
hipóteses. Essa técnica age na identificação linguagem como instrumento de mediação,
das configurações subjetivas envolvidas isso porque a comunicação do sujeito
com os conflitos do sujeito, porque facilita é produto de sua consciência e de sua
ao sujeito falar sobre as questões que o experiência. Essa consciência pode visualizar
afetam, bem como se torna uma interessante imagens, obter sensações e fantasias, mas, se
operação terapêutica no momento em que é o sujeito não externalizar essas emoções e
associado à conversação. afetos através da palavra, a psicoterapia não
terá sentido, e o psicoterapeuta não fará seu
Assim, Rego afirma que Vygotsky dedica papel fundamental de mediador.
especial atenção à linguagem, que é um
sistema simbólico fundamental em todos Vygotsky acrescenta que um conceito expresso
os grupos humanos, que organiza os signos por uma palavra pode representar um ato
em estruturas complexas, desempenhando de generalização, mas os significados, ao
contrário, diferenciam-se para cada sujeito.
papel indispensável para a formação de
características exclusivamente humanas.
Rey acrescenta que, por trás das narrativas,
estão os sujeitos, que são sujeitos pensantes
Desse modo, a linguagem funciona como
e atuantes em seu contexto, portanto,
elemento mediador, permitindo a comunicação
históricos também; assim, cada uma de suas
entre indivíduos e estabelecendo, assim,
afirmações contém significado cultural e
significados compartilhados por determinados
sentidos construídos ao longo de suas histórias.
grupos culturais, percepção e interpretação
de objetos, eventos e situações do contexto, O autor comenta ainda sobre um momento
reafirmando que o processo de funcionamento essencial na psicoterapia, quando se assume
mental humano é fornecido pela cultura, uma definição ontológica da subjetividade,
utilizando a mediação simbólica. porque o conflito está além da organização
da fala, existindo, assim, sentidos subjetivos
Para Vygotsky (2008), o desenvolvimento do que muitas vezes não são representados
pensamento é determinado pela linguagem, de forma consciente pelo sujeito. Não será
ou seja, pelos instrumentos linguísticos do produzida mudança terapêutica se não houver
pensamento, e pela experiência socio-cultural novas cadeias de desdobramentos simbólico-
do sujeito durante sua infância. Assim, o emocionais que organizem novos sentidos
desenvolvimento intelectual do sujeito (desde subjetivos (Gonzáles-Rey, 2007).
sua infância) depende de seu domínio dos
meios sociais do pensamento, ou seja, da Dessa maneira, a psicoterapia deve ter o
linguagem. objetivo de colocar o sujeito subordinado à

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sua experiência, para que tenha, assim, a que usam os conceitos criados por Vygotsky e
capacidade de produzir sentidos subjetivos aplicam-nos em seu trabalho clínico. Temos,
alternativos àqueles relacionados ao seu portanto, a resposta para nossa pergunta
sofrimento. inicial: Sim, é possível a psicoterapia socio-
histórica, porque, na literatura pesquisada,
Ratner (1995) concorda com Gonzáles- encontramos psicólogos que trabalham com
Rey acrescentando que a Psicologia socio- essa temática, apresentando os procedimentos
histórica é capaz de explicar a loucura e embasando-se teoricamente na abordagem
ou psique geradora de danos bem como socio-histórica.
os outros fenômenos psicológicos, pois
entende-se que o funcionamento gerador Mas também foi encontrada uma escassez
de danos segue os mesmos princípios socio- de material sobre o tema separadamente,
históricos do funcionamento saudável. ou seja, encontra-se o tema em meio a
outros conceitos de Vygotsky, explicando
Gonzáles-Rey (2011) acrescenta que o seu trabalho da forma como é utilizado
transtorno mental não é uma doença de fato, na Psicologia social ou na Psicologia
no sentido biológico, mas é, na verdade, uma educacional, o que nos remete a outra
configuração subjetiva em processos da vida questão deste trabalho: talvez alguns
atual do sujeito, e que vão sendo acrescidos profissionais que trabalhem com essa
sentidos subjetivos a esses processos. Assim, abordagem não divulgam seus métodos ou
nessa perspectiva, toma-se o cuidado de não produzem artigos científicos.
ir além das classificações centradas apenas
nas patologias, dando ênfase ao trabalho
psicoterapêutico, isso porque se reconhece
que as atividades e as relações do sujeito
sempre encontrarão formas de subjetivação,
ou de capacidade geradora. De acordo
com Gonzáles-Rey, “a capacidade geradora
do sujeito é inseparável da produção de
novos sentidos subjetivos de novas práticas.
Esse processo é essencial na definição da
psicoterapia e geral a todos os campos de
práticas humanas” (2007, p.199).

Considerações finais

Ao longo do trabalho, fomos apresentados


à teoria desenvolvida por Vygotsky, que,
como alguns autores disseram, dentre eles
Veer e Valsiner e Rego, estudou muito
mais o desenvolvimento humano do que
outros aspectos bem difundidos por outras
teorias. O estudo voltado para a clínica
tornou-se prioridade em sua vida próximo
de sua morte. Assim, o que temos sobre
psicoterapia socio-histórica é produção de
seus seguidores, psicólogos vygotskyanos,

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Paula Márcia de Lima


Graduada em Psicologia pela Faculdade de Amaricana, Americana – SP – Brasil.
E-mail: psicopl@yahoo.com.br

Carolina Freire de Carvalho de Carvalho


Mestre em Psicologia Escolar pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e docente da Faculdade de
Americana, Americana – SP – Brasil.
E-mail: carolfcc@gmail.com

Endereço para envio de correspondência:


Rua Seringueira, 366, Jardim Alvorada. CEP: 13460-000. Nova Odessa, SP.

Referências Appolinário, F. (2006). Metodologia da ciência: filosofia e prática Marangoni, S. (2012). Ludoterapia como um vygotskyano faz.
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A Psicoterapia Socio-Histórica

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