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STJ - RESP - 1842599 - IPTU e Compromisso de Compra e Venda 2

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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.488.230 - RS (2019/0107871-8)

AGRAVANTE : HABITASUL DESENVOLVIMENTOS IMOBILIÁRIOS S/A


ADVOGADOS : OSVALDO GAUSS NETO E OUTRO(S) - RS035579
DANIELA MOTTA TOJAL - RS068436
AGRAVADO : MUNICÍPIO DE ALVORADA
PROCURADORE : CLÁUDIA ARAÚJO DA SILVA CICOGNANI E OUTRO(S) -
S RS070595
TIAGO LIMA SELAU - RS084741
OTÁVIO JAHN DUTRA - RS101745B
INTERES. : ALEXANDRE PAIXAO DA SILVA

DECISÃO

Trata-se de agravo interposto pela Habitasul Desenvolvimentos


Imobiliários S/A contra a decisão que inadmitiu o recurso especial fundando no art.
105, III, a, da Constituição Federal.
Na origem, o Município de Alvorada ajuizou execução fiscal em face
da Habitasul Desenvolvimentos Imobiliários S/A, com valor da causa de R$
1.381,18, em novembro de 2013, visando à satisfação de crédito tributário a título de
IPTU e Taxa de Coleta e Destino Final do Lixo - TCL.
A executada opôs exceção de pré-executividade, sustentando que o
imóvel objeto da tributação já não era de sua propriedade, desde o ano de 2002. O
pedido foi acolhido pelo Juízo de primeira instância para extinguir o feito executivo
sem julgamento do mérito, por sentença, em que foram fixados honorários
advocatícios em favor da executada.
Interposto agravo de instrumento pela Fazenda Pública, o Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul deu provimento ao recurso sob o
fundamento de que fora a executada quem dera causa à propositura da execução
fiscal em razão do descumprimento do dever de comunicar a situação jurídica do
imóvel, conforme ementa abaixo transcrita:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU.


EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. RECONHECIMENTO DA
ILEGITIMIDADE PASSIVA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. AUSÊNCIA DE ATUALIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO JURÍDICA DO IMÓVEL JUNTO AO SETOR DE CADASTRO.
- É incumbência das partes – alienante e adquirente – comunicar o setor de
cadastro fiscal do município acerca da situação jurídica dos imóveis; trata-se de
verdadeira obrigação tributária acessória, expressamente prevista no Código
Tributário Municipal.
- No caso, considerando que a parte agravada, por não ter observado o
disposto nos artigos 57 e 59, ambos do CTM, deu causa ao ajuizamento equivocado
da execução, é ela quem deve arcar com os honorários do procurador da parte
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Documento eletrônico VDA22588396 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Francisco Falcão Assinado em: 08/08/2019 17:45:51
Publicação no DJe/STJ nº 2729 de 12/08/2019. Código de Controle do Documento: 05869122-7E8A-4C15-8DDA-9EB34ED7B215
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adversa, em razão da incidência do princípio da causalidade.
- Precedentes desta Corte.
AGRAVO PROVIDO.

Contra o acórdão acima ementado, a Habitasul Desenvolvimentos


Imobiliários S/A interpôs recurso especial, apontando violação do art. 34 do CTN,
sustentando, em resumo, que o Tribunal de origem equivocou-se na aplicação do
princípio da causalidade, considerando que a Municipalidade tinha conhecimento de
que a propriedade do imóvel não era mais da executada e que a legislação determina
que é do contribuinte a obrigação de alteração do cadastro imobiliário municipal.
Apresentadas contrarrazões pela manutenção do acórdão recorrido.
Após decisão que inadmitiu o recurso especial, com base no
Enunciado Sumular n. 83/STJ, foi interposto o presente agravo, tendo a recorrente
apresentado argumentos visando rebater os fundamentos da decisão agravada.
É o relatório. Decido.
Considerando que a agravante, além de atender aos demais
pressupostos de admissibilidade deste agravo, logrou impugnar a fundamentação da
decisão agravada, passo ao exame do recurso especial interposto.
O recurso especial não comporta seguimento.
No presente caso, a execução fiscal foi extinta sem julgamento do
mérito em decorrência da ilegitimidade passiva, com imputação à executada dos
ônus da sucumbência, pelo princípio da causalidade, considerando sua desídia em
relação à comunicação da transferência da propriedade do imóvel tributado.
Com efeito, o Tribunal de origem apontou o descumprimento da
obrigação acessória que impõe como "incumbência das partes – alienante e
adquirente – comunicar o setor de cadastro fiscal do município acerca da situação
jurídica dos imóveis; trata-se de verdadeira obrigação tributária acessória,
expressamente prevista no Código Tributário Municipal, em especial nos artigos 57
e 59". (fl. 70).
Portanto, verifica-se que o Tribunal de origem cingiu-se à
interpretação do Código Tributário Municipal para extrair o descumprimento da
referida obrigação acessória e aplicar o princípio da causalidade, o que atrai, por
analogia, o teor do Enunciado n. 280 da Súmula do STF: “Por ofensa a direito local
não cabe recurso extraordinário.”
Ainda que fosse superado esse óbice, ad argumentandum tantum,
verifica-se que o pleito recursal não prosperaria em seu mérito, considerando que o
acórdão recorrido está em consonância com a jurisprudência deste Superior
Tribunal de Justiça, no sentido de que em função do princípio da causalidade, nas
hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito, decorrente de perda de
objeto superveniente ao ajuizamento da ação, a parte que deu causa à instauração do
processo deverá suportar o pagamento das custas e dos honorários advocatícios.
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Ademais, em caso de descumprimento do dever de comunicação ao


Fisco da alienação do imóvel pelo executado, impõe-se a este o ônus de arcar com os
honorários advocatícios em razão da extinção por ilegitimidade da execução fiscal,
com fundamento no princípio da causalidade.

A propósito:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. PENHORA.


IMÓVEL COMUM. EXTINÇÃO DA AÇÃO. PERDA SUPERVENIENTE DO
OBJETO. ILEGITIMIDADE PASSIVA NA EXECUÇÃO FISCAL. PRINCÍPIO
DA CAUSALIDADE.
1. Trata-se, na origem, de Embargos de Terceiro propostos pela parte
recorrente relacionados à penhora realizada em Ação de Execução Fiscal ajuizada
pelo Município de Francisco Beltrão/PR contra Janete de Oliveira, em imóvel
pertencente ao recorrente e sua companheira.
2. A sentença extinguiu a ação sem julgamento do mérito pela perda
superveniente do objeto, em razão da extinção da Execução Fiscal, condenando a
parte recorrente, autora na ação de Embargos de Terceiro, ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).
3. O recorrente alega, em síntese, que cabe à parte que deu causa à ação o
pagamento dos ônus sucumbenciais, incluindo os honorários advocatícios.
4. O STJ, em inúmeras oportunidades, já se manifestou no sentido de que,
em função do princípio da causalidade, nas hipóteses de extinção do processo sem
resolução de mérito, decorrente de perda de objeto superveniente ao ajuizamento da
ação, a parte que deu causa à instauração do processo deverá suportar o pagamento
das custas e dos honorários advocatícios.
5. A jurisprudência do STJ é assente na orientação de que, sendo o
processo julgado extinto sem resolução do mérito, cabe ao julgador perscrutar, ainda
sob a égide do princípio da causalidade, qual parte deu origem à extinção do
processo ou qual dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação tivesse, de fato,
sido julgado. Nesse sentido: REsp 1.678.132/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 22/8/2017, DJe 13/9/2017; REsp 1.668.366/MG, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 3/8/2017, DJe 12/9/2017.
6. Segundo narrado no acórdão recorrido, "o motivo que levou o juiz a quo a
extinguir o feito sem julgamento do mérito foi a ilegitimidade passiva da executada",
o que provocou a extinção da Ação de Execução Fiscal sem julgamento de mérito.
Ou seja, a presente ação de Embargos de Terceiro somente foi ajuizada em razão da
realização de penhora para a garantia de crédito tributário que posteriormente foi
exinto, razão pela qual, aplicando-se o princípio da causalidade, devem os ônus
sucumbenciais da presente ação ser fixados em desfavor da Fazenda Pública.
7. Recurso Especial provido para inverter os ônus sucumbenciais, incluindo
honorários advocatícios.
(REsp 1755343/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 16/08/2018, DJe 13/11/2018)

EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. VENDA DE IMÓVEL.


FALTA DE COMUNICAÇÃO ANTERIOR AO EXEQÜENTE. PRINCÍPIO DA
CAUSALIDADE. CONDENAÇÃO DO EXECUTADO EM HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS.
I - Esta Corte tem-se pronunciado no sentido de que deve ser afastada a
condenação do exeqüente ao pagamento dos honorários advocatícios, em face do
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princípio da causalidade, devendo suportar os ônus sucumbenciais quem deu causa à
instauração do processo. Precedentes: AgRg no Ag nº 798.313/PE, Rel. Min. TEORI
ALBINO ZAVASCKI, DJ de 12/04/07; REsp nº 713.059/PR, Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, DJ de 21/11/05 e REsp nº 674.299/SC, Rel. Min.
FRANCIULLI NETTO, DJ de 04/04/05.
II - Na hipótese, trata-se de execução fiscal em face de dívida de IPTU,
ajuizada em 2003, em que houve a alienação do imóvel objeto da dívida em 1999, por
parte do executado a terceiro.
III - Em que pese ter havido o registro da venda do bem no Cartório
Imobiliário, o executado deixou de comunicar ao Fisco, antes do ajuizamento da
execução, acerca do citado negócio jurídico, o que só o fez por meio dos embargos à
execução.
IV - Deve, portanto, o executado arcar com os honorários advocatícios, em
virtude da extinção da execução fiscal sem julgamento de mérito, por ilegitimidade
passiva ad causam, pois foi quem deu causa ao ajuizamento da lide, em atenção ao
princípio da causalidade.
V - Recurso especial improvido.
(REsp 1089701/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 21/10/2008, DJe 10/11/2008)

Ante o exposto, com fundamento no art. 253, parágrafo único, II, a, do


RISTJ, conheço do agravo para não conhecer do recurso especial.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília, 14 de junho de 2019.

MINISTRO FRANCISCO FALCÃO


Relator

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