Congresso Teológico 2022
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CONFERÊNCIA
1.INTRODUÇÃO
Uma Assembleia que teve como um dos principais objetivos resgatar a eclesiologia
da Igreja Povo de Deus, marcada pelo Concílio Vaticano II, uma Igreja libertadora,
ministerial, sinodal.
“De tal modo amou Deus o mundo que envio o seu próprio Filho. Não o mandou para
condenar o mundo mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3, 16-17). “E vimos
e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho para ser nosso salvador” (1Jo 4,14).
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O sistema do mal, promotor de uma sociedade empobrecida de famintos e sedentos de
justiça do Reino, apresentou a Jesus as melhores estratégias para obter sucesso. Mas,
para Jesus, porém, a fome e sede do povo, particularmente dos mais pobres, o
preocupavam.
Depois de trinta anos de uma vida camponesa em Nazaré da Galileia, Jesus partiu para
uma vida missionária de peregrino nas estradas e povoados da Galileia, Samaria e
Judeia.
Ser discípulo de Jesus é seguir um caminho que conduz à libertação da pessoa de forças
que a prendem física e espiritualmente. A pessoa livre passará a viver sob uma
espiritualidade que se coloca em antítese com o sistema opressor atual. O coração
missionário de Jesus foi ungido e trabalhado pela mística da kénosis, isto é, pelo
despojamento e esvaziamento de si. Ele escolheu o caminho descendente da pequenez
e da pobreza.
Graças a caminhada que fazemos como Igreja, pelo Vaticano II e pelas Conferências
Latino-americanas de Medellín, Puebla, Santo Domingos, Aparecida e, ainda, pela
presença dinâmica, carismática e profética do Papa Francisco, está acontecendo uma
sincera busca de mudança radical do lugar social da Igreja para espaços mais pobres e
periferias existenciais. Somos chamados a viver a mística humilde do último lugar de
uma Igreja em saída e abraçar as opções missionárias de Jesus.
Bem conhecemos nossa realidade histórica brasileira. O estado brasileiro foi fundado
com base no tripé do latifúndio, da monocultura e da escravidão. Esta estrutura formou
um povo explorado e sem direitos. Mas ao mesmo tempo, formou um povo guerreiro
e lutador que, não aceitando as amarras da opressão, vem lutando contra toda forma de
escravidão, desde as lutas nas senzalas e quilombos pela liberdade, às lutas por justiça,
reforma agrária, direitos sociais e trabalhistas.
Em plena realidade, agravada pela fragilidade sanitária trazida pela covid 19, acontece
a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe.
O tempo urge e é preciso que cada qual atue de acordo com sua vocação, a serviço do
Reino de Deus na história.
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4. A ASSEMBLEIA ECLESIAL DA AMÉRICA LATINA E CARIBE
“Todos somos discípulos missionários em saída”, em uma Igreja toda ela ministerial.
Foi com essa motivação que os mais de mil participantes percorreram do caminho
traçado pela Assembleia Eclesial. Muito mais um processo, um caminho do que
propriamente um evento.
Destacou-se, desde o início, que o objetivo principal era ser um espaço de escuta
comunitária e não de decisão. Não teria um documento final mas um conjunto de
desafios e orientações pastorais para a Igreja.
A importância da Assembleia Eclesial está muito além de sua conclusão, muito além
das tensões vividas. Ela abriu as portas para uma experiência de Igreja que pode
responder de forma mais adequada às novas exigências históricas.
Foi um momento de louvor, gratidão por tanta doação, sem dicotomia, entre liturgia e
transformação social, entre oração e vida, fizemos memória agradecida por todos os
que se doaram, em nome do Evangelho, em nossas terras”.
Todo o processo de escuta da voz viva do Povo de Deus (sensus fidelium – Cf.
Comissão Teológica Internacional – O sensus fidei na vida da Igreja, 74) que antecedeu
a Assembleia Eclesial, tinha a preocupação de “descer, ver, ouvir e conhecer” (cf. Ex
3,7ss) “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias das mulheres e ho -
mens de hoje, sobretudo do pobres e de todos aqueles que sofrem (GS 1).
O Papa Francisco almeja uma Igreja sem exclusão. Expressa isso a todo momento e
destacou na sua mensagem de abertura da Assembleia. Todos os batizados tem a
missão de anunciar o Reino de Deus ao mundo. Ele está tentando compreender a
caminhada da Igreja, além do episcopado e isso requer uma vivência de todos na
circularidade, própria do Povo de Deus, inspirada em Jesus Cristo, em que todas as
pessoas batizadas têm a mesma vocação e autonomia eclesial. Tem procurado
recuperar a eclesialidade do Vaticano II (EG 111-114) ao afirmar que “ser Igreja é ser
Povo de Deus (EG 114), pois “Deus nos elegeu ((EG 113) nos tem convocado como
um povo (EG 113).
Trata-se não apenas de uma concepção ecosociológica, mas de uma noção teológica de
salvação de todo o Povo de Deus, na mesma dignidade batismal.
Sinodalidade é caminho de comunhão que só pode ser feito com escuta, participação
nas decisões e corresponsabilidade. Ela deve guiar o modo de ser e de agir da Igreja.
É decorrência do próprio ser da Igreja, entendida como Povo de Deus.
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Uma Igreja sinodal é uma Igreja onde todos são sujeitos nas decisões, na formulação
de prioridades e na missão. Segundo São João Crisóstomo, Igreja e sínodo são
sinônimos.
a) “[...] renova hoje mesmo seu encontro pessoal com Cristo, ou, pelo menos, tomar
a decisão de deixar-se encontrar por Ele” (EG 3).
b) “[...] permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta, mas
firme confiança, mesmo no meio das piores angústias” (EG 6).
c) Em toda a vida da Igreja, deve-se sempre manifestar que a iniciativa pertence a
Deus, ‘porque Ele nos amou primeiro’ (1Jo 4,19) e é ‘só Deus que faz crescer”(1
Cor 3,7)(EG 12).
d) Todos tem o direito de receber o evangelho. Os cristãos têm o dever de o
anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma obrigação, mas
como quem partilha uma alegria” (EG 14).
e) A alegria do Evangelho é uma alegria missionária (EG 21).
f) Estar em estado permanente de missão, ser “Igreja em saída” (EG 24).
Para ser Igreja “em saída” é fundamental que cada cristão saiba discernir, à luz do
Divino Espírito Santo para atender a essa convocação. Para “sair” é preciso “dar razões
da própria esperança” (cf 1 Pd 3,15).
Dissemos acima que a Assembleia foi muito mais um processo, um caminho do que
propriamente um evento. O caminho está aberto!
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“A Igreja está chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e
audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais” (DAp
11).
Já demos significativos passos como Igreja da América Latina e Caribe mas é urgente
uma profunda conversão pastoral (DAp 368). Igreja com mudança de mentalidade e
estruturas que promova a descentralização do poder, reorganize a Paróquia em rede de
comunidades (CNBB, Doc 100).
Nós não avançaremos no caminho do “ser uma Igreja em saída” sem acreditar
profundamente na descentralização do poder, mantido nas mãos dos ministros
ordenados.
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forem processados por uma elite clerical, não haverá sinodalidade. Na prática,
entender a sinodalidade é viver um processo de conversão estrutural que não pode ser
interrompido e que não se trata apenas de mais um tema sem um diálogo fraterno e
sentimental entre diferentes, mas tem uma dimensão real, lógica de atuação, segundo
o próprio Evangelho, que age no cotidiano das nossas estruturas pastorais na e da
Igreja.
São nos pequenos grupos de base que a vida acontece! A experiência das CEBs,
inúmeras – ainda - espalhadas por toda América Latina e Caribe, são movidas pela
espiritualidade libertadora, convictas de serem a concretização da Igreja, na missão
transformadora. Infelizmente não tem o decidido reconhecimento de sua eclesialidade
por muitos pastores.
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“As alegrias e as esperanças, as dores e as tristezas e as angústias dos homens de
hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra
nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração” (GS 1).
Ser Igreja missionária em saída é abraçar os doze desafios pastorais para a América
Latina que podemos resumir:
Nossa maior esperança e grande tarefa para o futuro e assim sermos Igreja missionária
em saída, é reforçarmos uma eclesiologia fundamentada no Concílio Vaticano II, nas
cinco conferências do episcopado latino americano e caribenho e nos últimos sínodos,
dentro do magistério do Papa Francisco. Sem uma boa assimilação de tudo isso não
avançaremos. Pelo contrário, seremos vítimas das continuadas doenças eclesiais como
o clericalismo, o fundamentalismo, o catolicismo de massa. Vítimas ainda de
influenciadores digitais religiosos, distantes da comunhão eclesial, submetidos a
fragmentos religiosos, facilmente manipulados por uma cultura de mercado.
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Muitas vezes, liderança, padres, bispos, ministros ordenados acham que possuem um
status especial, que lhes dão poderes sobrenaturais. Há quem fale e aja como se tivesse
autoridade absoluta, acima do bem e do mal, desconhecendo o corpo eclesial. Quando
isso acontece nos distanciamos da Igreja servidora, amiga dos pobres e dos aflitos.
Igreja de diversidade ministerial que mais avança quanto maior for o senso de
corresponsabilidade, de comunhão e de participação.
6. Conclusão
As feridas de nossos tempos é o lugar eclesial comum, para outra vez florescer a
experiência de Maria Madalena e das outras mulheres, ou seja, diante do absurdo de
um túmulo frio, fechado com uma pedra pesada, imbuídas do desejo de verem o Senhor
e serem agraciadas pelos acenos da ressurreição, nascidos das chagas do vivente (cf.
Mt 16,1-8).
As mudanças ou virão das periferias, dos descartados, ou não virão. A esperança latino
americana é mariana, poética e profética! O Senhor continuará fazendo em nós
maravilhas, porque Ele eleva os humildes (cf. Lc 1, 46-56).
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Brasília, 27 de abril de 2022.
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