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Congresso Teológico 2022

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A SINODALIDADE NO PROCESSO PASTORAL DA IGREJA NO BRASIL

CONFERÊNCIA

ASSEMBLEIA ECLESIAL: POR UMA IGREJA EM SAÍDA PARA AS


PERIFERIAS

1.INTRODUÇÃO

“Todos somos discípulos missionários em saída”. Este foi o lema da Assembleia


Eclesial da América Latina e do Caribe, realizada nos dias 21 a 28 de novembro de
2021.

Uma Assembleia que teve como um dos principais objetivos resgatar a eclesiologia
da Igreja Povo de Deus, marcada pelo Concílio Vaticano II, uma Igreja libertadora,
ministerial, sinodal.

“Seguir recepcionando criativamente o Concílio Vaticano II implica assumir uma


Igreja Sinodal, libertadora, profética; uma Igreja do caminhar juntos, para fora, em
saída para as “periferias geográficas e existenciais”, que vai junto e ao encontro com
os/as pobres, os excluídos, todos os discípulos missionários de Jesus Cristo, em
permanente estado de missão. Uma Igreja que tem como centro de sua missão
evangelizadora a defesa da vida (DAp 366) e a concretização do Reino de Deus no
mundo (EG 176).

2.JESUS ENVIADO DO PAI – MESSIAS EM SAÍDA

“De tal modo amou Deus o mundo que envio o seu próprio Filho. Não o mandou para
condenar o mundo mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3, 16-17). “E vimos
e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho para ser nosso salvador” (1Jo 4,14).

Depois do seu batismo de consagração missionária como profeta e peregrino dos


pobres, no Rio Jordão, Jesus foi ao deserto, conduzido pelo Espírito. Formulou as
opções de sua vida como peregrino itinerante. Foi tentado. As tentações foram um
tempo de discernimento entre dois tipos de messianismo que se lhe apresentaram: o
messianismo de poder e prestígio, de tipo davídico, e o messianismo pobre e simples
na linha dos profetas de Israel e de sua vida em Nazaré. Jesus decidiu-se por esta última,
rejeitando o poder político, social e o prestígio religioso.

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O sistema do mal, promotor de uma sociedade empobrecida de famintos e sedentos de
justiça do Reino, apresentou a Jesus as melhores estratégias para obter sucesso. Mas,
para Jesus, porém, a fome e sede do povo, particularmente dos mais pobres, o
preocupavam.

Depois de trinta anos de uma vida camponesa em Nazaré da Galileia, Jesus partiu para
uma vida missionária de peregrino nas estradas e povoados da Galileia, Samaria e
Judeia.

Ser discípulo de Jesus é seguir um caminho que conduz à libertação da pessoa de forças
que a prendem física e espiritualmente. A pessoa livre passará a viver sob uma
espiritualidade que se coloca em antítese com o sistema opressor atual. O coração
missionário de Jesus foi ungido e trabalhado pela mística da kénosis, isto é, pelo
despojamento e esvaziamento de si. Ele escolheu o caminho descendente da pequenez
e da pobreza.

3. CHAMADOS A ABRAÇAR AS OPÇÕES MISSIONÁRIAS DE JESUS

Graças a caminhada que fazemos como Igreja, pelo Vaticano II e pelas Conferências
Latino-americanas de Medellín, Puebla, Santo Domingos, Aparecida e, ainda, pela
presença dinâmica, carismática e profética do Papa Francisco, está acontecendo uma
sincera busca de mudança radical do lugar social da Igreja para espaços mais pobres e
periferias existenciais. Somos chamados a viver a mística humilde do último lugar de
uma Igreja em saída e abraçar as opções missionárias de Jesus.

Bem conhecemos nossa realidade histórica brasileira. O estado brasileiro foi fundado
com base no tripé do latifúndio, da monocultura e da escravidão. Esta estrutura formou
um povo explorado e sem direitos. Mas ao mesmo tempo, formou um povo guerreiro
e lutador que, não aceitando as amarras da opressão, vem lutando contra toda forma de
escravidão, desde as lutas nas senzalas e quilombos pela liberdade, às lutas por justiça,
reforma agrária, direitos sociais e trabalhistas.

Vivemos, de forma cruel, as lutas pela democratização e acesso à terra, de modo


particular pelos povos originários e afro descendentes.

Em plena realidade, agravada pela fragilidade sanitária trazida pela covid 19, acontece
a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe.

O tempo urge e é preciso que cada qual atue de acordo com sua vocação, a serviço do
Reino de Deus na história.

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4. A ASSEMBLEIA ECLESIAL DA AMÉRICA LATINA E CARIBE

A Assembleia Eclesial foi convocada após quatorze anos da 5ª CELAM – Aparecida


(2007). Sem dúvida, um itinerário, um processo que prossegue, pedindo de nós
contínua conversão. A inspiração de todos os momentos foi o processo de escuta e as
premissas dos trabalhos em grupos.

Ultimamente, através dos últimos Sínodos, Amazônia e Família, de forma inovadora,


e por iniciativa de Francisco, a primeira etapa foi de “escuta” dos vários seguimentos
da Igreja.

“Todos somos discípulos missionários em saída”, em uma Igreja toda ela ministerial.
Foi com essa motivação que os mais de mil participantes percorreram do caminho
traçado pela Assembleia Eclesial. Muito mais um processo, um caminho do que
propriamente um evento.

Destacou-se, desde o início, que o objetivo principal era ser um espaço de escuta
comunitária e não de decisão. Não teria um documento final mas um conjunto de
desafios e orientações pastorais para a Igreja.

A importância da Assembleia Eclesial está muito além de sua conclusão, muito além
das tensões vividas. Ela abriu as portas para uma experiência de Igreja que pode
responder de forma mais adequada às novas exigências históricas.

Foi um momento de louvor, gratidão por tanta doação, sem dicotomia, entre liturgia e
transformação social, entre oração e vida, fizemos memória agradecida por todos os
que se doaram, em nome do Evangelho, em nossas terras”.

Todo o processo de escuta da voz viva do Povo de Deus (sensus fidelium – Cf.
Comissão Teológica Internacional – O sensus fidei na vida da Igreja, 74) que antecedeu
a Assembleia Eclesial, tinha a preocupação de “descer, ver, ouvir e conhecer” (cf. Ex
3,7ss) “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias das mulheres e ho -
mens de hoje, sobretudo do pobres e de todos aqueles que sofrem (GS 1).

O primeiro momento de escuta propiciou o protagonismo de todo o povo de Deus, em


um itinerário eclesial pastoral de profunda sinodalidade. No segundo momento, na
realização da Assembleia, marco importante que despertou entusiasmo e esperança
teve problemas metodológicos desfavorecendo uma efetiva participação dos
assembleistas. Faltou o método VER – JULGAR – AGIR, tão comum na vivência da
Igreja da América Latina e Caribe e que ajudaria muito na construção de propostas
mais consistentes e criativas a partir de um olhar crítico sobre a realidade.
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A “escuta” exige tempo, sensibilidade e empatia. Ouvir o clamor por cuidado e
mudanças, requer um exercício de discernimento para apresentar propostas e respostas.

Na Assembleia Eclesial, o processo de “escuta” foi sacrificado e documento de


discernimento foi deixado de lado; o processo sinodal, deixou de ser sinodal na pressa
de apresentar quarenta e uma afirmações, fruto da reflexão dos grupos de trabalho.

A sinodalidade foi a chave de leitura para o discernimento das atividades e reflexões


durante todo o tempo da Assembleia. Isto em razão da Assembleia anteceder e ser
parte integrante de um processo eclesial democrático, o Sínodo, convocado pelo Papa
Francisco no dia 10 de outubro de 2021, o 16º Sínodo, que acontecerá em 2023, com o
Tema “Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”. Um sínodo
diferente em que se espera ouvir mais de um bilhão de pessoas.

O Papa Francisco almeja uma Igreja sem exclusão. Expressa isso a todo momento e
destacou na sua mensagem de abertura da Assembleia. Todos os batizados tem a
missão de anunciar o Reino de Deus ao mundo. Ele está tentando compreender a
caminhada da Igreja, além do episcopado e isso requer uma vivência de todos na
circularidade, própria do Povo de Deus, inspirada em Jesus Cristo, em que todas as
pessoas batizadas têm a mesma vocação e autonomia eclesial. Tem procurado
recuperar a eclesialidade do Vaticano II (EG 111-114) ao afirmar que “ser Igreja é ser
Povo de Deus (EG 114), pois “Deus nos elegeu ((EG 113) nos tem convocado como
um povo (EG 113).

Trata-se não apenas de uma concepção ecosociológica, mas de uma noção teológica de
salvação de todo o Povo de Deus, na mesma dignidade batismal.

Na Constituição Dogmática Lumem Gentium, 9, os padres conciliares queriam


destacar a dimensão humana da Igreja e ao mesmo tempo superar o clericalismo e
valorizar a presença e atuação do laicato na Igreja. “Deus quer santificar e salvar a
todos os homens e mulheres, não individualmente, sem nenhuma mútua conexão, senão
constituí-los em um povo” (LG 9).

Não é fácil romper com velhas concepções eclesiológicas.

“O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do


terceiro milênio” (Papa Francisco na comemoração do cinquentenário da instituição do
sínodo dos bispos – 17/10/2015).

Sinodalidade é caminho de comunhão que só pode ser feito com escuta, participação
nas decisões e corresponsabilidade. Ela deve guiar o modo de ser e de agir da Igreja.
É decorrência do próprio ser da Igreja, entendida como Povo de Deus.

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Uma Igreja sinodal é uma Igreja onde todos são sujeitos nas decisões, na formulação
de prioridades e na missão. Segundo São João Crisóstomo, Igreja e sínodo são
sinônimos.

Na Evangelli Gaudium há escolhas para todos os cristãos renovarem sua pertença ao


Povo de Deus e responder ao apelo de uma Igreja “em saída”, tais como:

a) “[...] renova hoje mesmo seu encontro pessoal com Cristo, ou, pelo menos, tomar
a decisão de deixar-se encontrar por Ele” (EG 3).
b) “[...] permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta, mas
firme confiança, mesmo no meio das piores angústias” (EG 6).
c) Em toda a vida da Igreja, deve-se sempre manifestar que a iniciativa pertence a
Deus, ‘porque Ele nos amou primeiro’ (1Jo 4,19) e é ‘só Deus que faz crescer”(1
Cor 3,7)(EG 12).
d) Todos tem o direito de receber o evangelho. Os cristãos têm o dever de o
anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma obrigação, mas
como quem partilha uma alegria” (EG 14).
e) A alegria do Evangelho é uma alegria missionária (EG 21).
f) Estar em estado permanente de missão, ser “Igreja em saída” (EG 24).

Para ser Igreja “em saída” é fundamental que cada cristão saiba discernir, à luz do
Divino Espírito Santo para atender a essa convocação. Para “sair” é preciso “dar razões
da própria esperança” (cf 1 Pd 3,15).

5.ASSEMBLEIA ECLESIAL:POR UMA IGREJA EM SAÍDA PARA AS


PERIFERIAS

Dissemos acima que a Assembleia foi muito mais um processo, um caminho do que
propriamente um evento. O caminho está aberto!

De nada adianta repetirmos e citarmos os insistentes apelos do Papa Francisco para


sermos Igreja em saída sem a nossa conversão para que sejamos, cada vez mais, Povo
de Deus. “Deus quer santificar e salvar a todos os homens e mulheres não
individualmente, sem nenhuma mútua conexão, senão constituí-los em um Povo” (LG
9). Tudo está interligado e somos habitantes e cuidadores da criação. Os retrocessos
não podem ser maiores que nossos legítimos desejos de mudança, inspirado pelo
Espírito Santo e pelos ensinamentos sócio-ambientais da Igreja.

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“A Igreja está chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e
audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais” (DAp
11).

Já demos significativos passos como Igreja da América Latina e Caribe mas é urgente
uma profunda conversão pastoral (DAp 368). Igreja com mudança de mentalidade e
estruturas que promova a descentralização do poder, reorganize a Paróquia em rede de
comunidades (CNBB, Doc 100).

Uma Igreja que diz “não” ao clericalismo e reconhece no ministério de animação


comunitária realizada pelos cristãos leigos e leigas como frutos do seu batismo, os
sujeitos na Igreja e na sociedade (DAp 497). Todo batizado é sujeito ativo da
evangelização independente da própria função na Igreja e do grau de instrução de sua
fé (cf. EG 120).

Nós não avançaremos no caminho do “ser uma Igreja em saída” sem acreditar
profundamente na descentralização do poder, mantido nas mãos dos ministros
ordenados.

Conforme expressão de Téa Frigério “o chamado à conversão pastoral à sinodalidade


não conseguiu aterrissar em propostas concretas” e assim, mesmo que todos os doze
desafios apontam para significativas mudanças, nada resultará sem que se estimule o
surgimento ou fortalecimento de pequenas comunidades, das Comunidades Eclesiais
de Base, dos grupos de reflexão orante da Palavra de Deus.

Infelizmente a Assembleia Eclesial quase ignorou o potencial da experiência das CEBs


na história da Igreja da América Latina e Caribe. No Documento de Discernimento,
com 163 parágrafos, em apenas um se encontra a expressão CEBs. Nos 41 desafios
pastorais elaborados o de número 16 diz: “Promover com mais decisão as
comunidades eclesiais de base (CEBs), e as pequenas comunidades como experiência
da Igreja sinodal”. Ao mesmo tempo que surgem nas reflexões dos grupos elas
desaparecem na síntese final dos desasfios. Quanto é importante uma das contribuições
mais importantes da Igreja na AL e Caribe, as CEBs para a sinodalidade. É necessário
a sua eclesialidade e o seu valor para a Igreja e a vida de nossos povos. “Na experiência
eclesial de algumas Igrejas da América Latina e do Caribe, as CEBs tem sido escolas
que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos missionários
do Senhor, como o testemunho, a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos
de seus membros. Elas abraçam a experiência das primeiras comunidades” (cf. At 2).

Enquanto houver interesses em conflito, a Igreja permanecerá a mesma, incapaz de se


auto-reformar. Enquanto os resultados de uma consulta honesta aos católicos leigos

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forem processados por uma elite clerical, não haverá sinodalidade. Na prática,
entender a sinodalidade é viver um processo de conversão estrutural que não pode ser
interrompido e que não se trata apenas de mais um tema sem um diálogo fraterno e
sentimental entre diferentes, mas tem uma dimensão real, lógica de atuação, segundo
o próprio Evangelho, que age no cotidiano das nossas estruturas pastorais na e da
Igreja.

Se não acreditarmos na força das pequenas comunidades, da força participativa e


transformadora do laicato e da Vida Consagrada não avançaremos nos “deslocamento
da Igreja” rumo às periferias geográficas e existenciais, sintonizados com o Papa
Francisco que nos convoca a darmos testemunho em prol da construção da fraternidade
global e da defesa da casa comum.

São nos pequenos grupos de base que a vida acontece! A experiência das CEBs,
inúmeras – ainda - espalhadas por toda América Latina e Caribe, são movidas pela
espiritualidade libertadora, convictas de serem a concretização da Igreja, na missão
transformadora. Infelizmente não tem o decidido reconhecimento de sua eclesialidade
por muitos pastores.

Nas comunidades são as mulheres as principais lideranças e participantes, onde


desenvolvem ministérios e serviços. Na Assembleia Eclesial o clamor da mulher
tomou conta dos grupos, dos testemunhos, muito embora nos trabalhos mais falaram
homens e homens brancos.

Nas Comunidades se reconhece o rosto da mulher negra, indígena e jovem. É preciso


impulsionar a atuação das mulheres na Igreja e que seja reconhecida a ministerialidade
da mulher para vencer o clericalismo arraigado em nossas mentalidades e estruturas.

Funcionam como lugar de oração, vida fraterna e compromisso com os pobres e


marginalizados, expressão privilegiada de uma Igreja pobre para os pobres.

As pequenas comunidades fomentam, na sua práxis, os 12 desafios pastorais para a


Igreja na América Latina e Caribe que são causas históricas das CEBs: juventudes,
injustiças sociais e eclesiais, participação das mulheres, vida digna para todos,
sinodalidade, ativa participação dos leigos e leigas, a opção preferencial pelos pobres,
formação integral de todos, ecologia integral, defesa dos povos indígenas e
afrodescentes.

Concretizar esses desafios é avançar em direção aos mais sofridos e marginalizados, é


ser Igreja em saída missionária.

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“As alegrias e as esperanças, as dores e as tristezas e as angústias dos homens de
hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra
nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração” (GS 1).

Ser Igreja missionária em saída é abraçar os doze desafios pastorais para a América
Latina que podemos resumir:

• Proporcionar o encontro pessoal com Jesus encarnado na realidade do


continente;
• Por isso é necessário renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, a
experiência de Igreja como Povo de Deus, em comunhão ministerial, que evite
o clericalismo e favoreça a conversão pastoral;
• Acompanhar a participação dos jovens, das mulheres, dos leigos e leigas, dando-
lhes protagonismo; investir na formação cristã é fundamental;
• Acompanhar as vítimas de injustiças sociais e eclesiais, destacando maior
presença em relação aos povos indígenas, afrodescendentes, refugiados,
atingidos pelo sistema capitalista neoliberal e descartados por uma economia que
visa ao lucro acima da vida;
• Reafirmar a prioridade da ecologia integral;
• Pensar, para que isso se concretize, a ordenação de homens casados, os
ministérios das mulheres. Isso é fundamental para esvaziarmos posturas
individuais e institucionais muitas vezes contaminadas por excessos
“machistas”. Trata-se de mudança estrutural. Somos marcados pela cultura
ocidental, pela força do homem branco, de descendência europeia.
• Para avançarmos nossa pastoral deve dar prioridade a um grande labirinto que
se chama sexualidade humana. É impossível repensar a formação em nossos
seminários, a catequese em geral, sem abordar os dramas concretos que afloram
em nossos corpos humanos, nunca prontos, mas sempre em construção.

Nossa maior esperança e grande tarefa para o futuro e assim sermos Igreja missionária
em saída, é reforçarmos uma eclesiologia fundamentada no Concílio Vaticano II, nas
cinco conferências do episcopado latino americano e caribenho e nos últimos sínodos,
dentro do magistério do Papa Francisco. Sem uma boa assimilação de tudo isso não
avançaremos. Pelo contrário, seremos vítimas das continuadas doenças eclesiais como
o clericalismo, o fundamentalismo, o catolicismo de massa. Vítimas ainda de
influenciadores digitais religiosos, distantes da comunhão eclesial, submetidos a
fragmentos religiosos, facilmente manipulados por uma cultura de mercado.

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Muitas vezes, liderança, padres, bispos, ministros ordenados acham que possuem um
status especial, que lhes dão poderes sobrenaturais. Há quem fale e aja como se tivesse
autoridade absoluta, acima do bem e do mal, desconhecendo o corpo eclesial. Quando
isso acontece nos distanciamos da Igreja servidora, amiga dos pobres e dos aflitos.
Igreja de diversidade ministerial que mais avança quanto maior for o senso de
corresponsabilidade, de comunhão e de participação.

A grande profecia de nossas comunidades e da teologia da libertação muito tem a


contribuir com a experiência de uma fé encarnada na vida. Não podemos mais aceitar
suspeitas preconceituosas em relação as mesmas ou do contrário, seremos capturados
por espiritualidades mágicas, tão presentes nos cenários neopentecostais, teologia da
prosperidade que mais alienam nosso povo do que o aproxima do projeto genuinamente
cristão.

6. Conclusão

Somos um continente cristão mas convivemos com as absurdas chagas da injustiças


sociais. Porque tanta religião e tão pouca libertação entre nós. Somos peritos em ajudar
os pobres mas nos faltam vozes de denúncia das causas da pobreza e da destruição do
meio ambiente.

Ser Igreja missionária em saída às periferias é seguir o exemplo de Jesus, quando o


vemos nos Evangelhos, tocando as feridas, aproximando-se, sem discriminação, dos
pobres, dos doentes, dos desajustados e injustiçados. Ele é nosso ponto de partida.

O discípulo é convidado a ter os mesmos sentimentos do Mestre, a fazer as mesmas


opções que Ele fez.

A soberania de nossos povos, indígenas, ribeirinhos, camponeses, quilombolas, pobres


e marginalizados nas áreas urbanas e rurais, clama por nosso grito profético, a partir
de redes de comunidades, organizações sociais, formadoras de uma nova consciência
cristã e cidadã.

As feridas de nossos tempos é o lugar eclesial comum, para outra vez florescer a
experiência de Maria Madalena e das outras mulheres, ou seja, diante do absurdo de
um túmulo frio, fechado com uma pedra pesada, imbuídas do desejo de verem o Senhor
e serem agraciadas pelos acenos da ressurreição, nascidos das chagas do vivente (cf.
Mt 16,1-8).

As mudanças ou virão das periferias, dos descartados, ou não virão. A esperança latino
americana é mariana, poética e profética! O Senhor continuará fazendo em nós
maravilhas, porque Ele eleva os humildes (cf. Lc 1, 46-56).

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Brasília, 27 de abril de 2022.

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