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Estratégia de Manutenção - Confiabilidade

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XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006

Análise da estratégia de manutenção de uma concessionária de energia


elétrica com base em estudos de confiabilidade

Jonatas Campos Martins (UNISINOS) jonatascm@gmail.com


Miguel Afonso Sellitto (PPGEPS/UNISINOS) sellitto@unisinos.br

Resumo
Este trabalho apresenta uma aplicação prática da análise de Weibull para sistemas
produtivos complexos, ou seja, que podem falhar segundo infinitos modos de falha, inclusive
correlacionados de modo não-linear. A aplicação se refere a alimentadores de energia
elétrica. Inicia-se fazendo considerações sobre a manutenção da distribuição de energia
elétrica. A seguir apresentam-se os dados coletados de intervalos entre interrupções
imprevistas não transitórias e tempos até a recomposição da operação de um alimentador de
energia elétrica de alta tensão. Os tempos até a interrupção foram modelados no software
ProConf e pelo ajuste do modelo de distribuição de Weibull foi possível calcular a função
confiabilidade do alimentador e identificar o ponto de ciclo de vida em que se encontra o
sistema. Os tempos até a recomposição também foram modelados e geraram uma função
manutenibilidade. Com os valores esperados das funções foi possível calcular a
disponibilidade do alimentador. Com base no estudo foi realizada uma análise da estratégia
de manutenção adotada pela empresa.
Palavras-chave: Análise de Weibull, Estratégia de Manutenção, Distribuição de energia
elétrica.

1. Introdução
O desempenho das concessionárias de energia elétrica, quanto à continuidade do serviço, é
medido pela ANEEL com base em indicadores específicos. A correta avaliação destes
indicadores, bem como o impacto que eles têm em outros indicadores correlacionados, é
importante para nortear a estratégia que cada empresa deve formular e para direcionar
corretamente os investimentos em manutenção.
Devido às exigências impostas por órgãos reguladores e principais clientes, verifica-se uma
mudança quanto à forma com que a manutenção é vista pelas concessionárias do serviço. A
necessidade de melhor alocação de recursos, aumento da receita e aumento da confiabilidade
do sistema tem levado as empresas a priorizar investimentos de manutenção, passando a ter
uma visão de negócio na ação de manutenção. As concessionárias de energia elétrica
passaram a reconhecer o valor criado pelo sistema e as necessidades, expectativas e riscos de
clientes, o que muda a importância da gestão da manutenção nestas empresas.
A gestão da manutenção se desenvolveu inicialmente em ambiente fabril, principalmente a
partir dos anos 1950. Já em serviços, até recentemente, não se havia percebido sua real
importância estratégica, criando-se uma defasagem tecnológica da manutenção em relação à
fabricação. Desde então, os avanços da manutenção se deram em três linhas de ação
principais em prestação de serviços: (i) métodos de gerenciamento; (ii) aumento da
confiabilidade de equipamentos e sistemas; e (iii) desenvolvimento de alternativas
tecnológicas para os equipamentos existentes (SELLITTO et al, 2002).
Para o objetivo deste artigo, entende-se que a segunda linha de ação, a do aumento da
confiabilidade, é mais relevante. A confiabilidade pode ser usada em manutenção de modo
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qualitativo, valendo-se de julgamentos de especialistas, através das técnicas de FMEA. A


confiabilidade também pode se valer de um enfoque quantitativo, operando através de
variáveis calculadas por modelos. Um método é a FTA, que, após construir uma estrutura de
falhas, atribui a cada modo de falha probabilidades. Outro método quantitativo é a modelagem
de variáveis aleatórias, tais como o tempo entre falhas e o tempo até o reparo. Tais grandezas,
se modeladas por distribuições de probabilidade, podem produzir expressões para as funções
confiabilidade R(t) e manutenibilidade M(t). Uma combinação entre os valores esperados
destas funções produz uma expressão para a disponibilidade do equipamento.
O objetivo deste artigo é explorar, no estudo da manutenção, conceitos gerados no campo da
confiabilidade. O artigo se delimita a confiabilidade quantitativa e, dentro desta, à modelagem
de tempos entre interrupções e até o reparo. Intervalos entre interrupções serão modelados
pela análise de Weibull. Tempos até o reparo serão modelados pela distribuição lognormal. O
restante do artigo está estruturado em: considerações sobre a manutenção de alimentadores e
política de reposição da empresa; referencial teórico sobre a análise de Weibull e modelagem
de variáveis aleatórias em manutenção; metodologia; implicações e constatações; e
conclusões e sugestões.
2. Manutenção de alimentadores e política de reposição
O trabalho de manutenção em linhas de distribuição é dividido em: identificação dos pontos
críticos, programação da manutenção e manutenção da rede de distribuição.
A identificação dos pontos críticos consiste em analisar, através de histórico de interrupções,
quais os circuitos que apresentam um número elevado de falhas. A partir desta análise, é
gerado um relatório de prioridade, passado para equipes de campo realizarem as inspeções.
Nestas, as verificações são feitas com os eletricistas indo a campo e detectando anomalias
observadas a distância cujo registro é feito em relatório próprio de inspeção.
A programação das manutenções das linhas de distribuição é realizada anualmente, com base
na experiência da empresa, nos relatórios de interrupção e relatórios de inspeção de campo. A
programação anual é subdividida em trimestres e posteriormente em programações mensais.
Todos os serviços de manutenção são descritos nesta programação, seguindo um cronograma
predefinido. A programação é a linha mestra para as atividades no decorrer do ano, podendo
sofrer alterações segundo o que for encontrado nas inspeções ou imprevistos e emergências.
No que tange à manutenção das redes de distribuição, existem várias operações destinadas à
sua conservação. Dentre estas, tem-se: troca de condutores, troca de isoladores, troca de
equipamentos de proteção (chaves, pára-raios, elos fusíveis), troca de postes, substituição de
peças corroídas e retensionamento de estais (tirantes de aço que sustentam certos tipos de
torres). Na manutenção dos isoladores e acessórios de cabos condutores e pára-raios, a
empresa trabalha tanto em linha energizada quanto em linha desenergizada.
A empresa considera a reposição de qualquer interrupção como prioridade em relação a outras
atividades, direcionando todos os recursos para eliminar a falha no menor tempo possível.
3. Confiabilidade e análise de Weibull
Equipamentos de interesse da manutenção industrial são conjuntos de partes que formam
sistemas reparáveis. Segundo Ascher e Feingold (apud Lindqvist et al. 2003), um sistema
reparável pode ser plenamente restaurado após uma perda de desempenho em uma das suas
funções. Segundo os autores, a restauração pode ocorrer por qualquer método que não seja a
troca total do sistema, podendo se dar por trocas parciais ou por reparos em partes. Após a
intervenção, a operação do sistema é retomada em um nível de desempenho tal, como se a
falha não houvesse ocorrido.
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É possível definir confiabilidade para sistemas que podem ser reparados ao falharem,
voltando a um estado como se fosse novo (as-good-as-new). Se o sistema é reparável,
confiabilidade é a probabilidade de desempenho isento de falhas durante um intervalo de
tempo sob certas condições (ELSAYED, 1996). A confiabilidade é uma função de
probabilidade e que, portanto, varia entre 0 e 1, e é monotonamente decrescente no tempo.
Um modo de calcular a função confiabilidade, e que é de interesse para sistemas complexos
reparáveis, é a análise de Weibull. Através desta análise, é possível atribuir uma função de
distribuição de probabilidade de Weibull à variável aleatória de interesse. A análise é útil em
sistemas reparáveis complexos, que podem falhar segundo um número infinito de modos de
falhas. O modelo de Weibull explica o comportamento de sistemas cuja falha nasce da
competição entre diversos modos de falha, o que ocorre se os modos de falha atuarem em
série, competindo pela falha (primeiro a ocorrer, ocorre a falha), como no alimentador ora
estudado (LEWIS, 1996; ),.
A análise de Weibull é uma técnica concebida pelo físico sueco Waloddi Weibull, em 1937,
tendo sido publicada no Journal of Applied Mechanics da American Society of Mechanical
Engineering, em 1951, com o seguinte formato (SELLITTO et al, 2002): (i) Coleta de
amostras de tempos até a falha do objeto; (ii) Plotagem dos tempos em papel de probabilidade
ou uso de software estatístico para ajuste à distribuição de Weibull e estimativa de seus
parâmetros; (iii) Não havendo ajustes, ou há mistura de dados, (dados provêm de mais de uma
população) ou outra distribuição deve ser tentada; (iv) Uso dos parâmetros da distribuição
para previsão do tipo de comportamento das falhas; e (v) Uso de cálculos econômicos
pertinentes envolvendo custos e riscos para gerar ações corretivas como políticas de inspeção,
reparos ou trocas. O modelo de Weibull a três parâmetros é descrito pelas equações de 1 a 3,
respectivamente a função confiabilidade no tempo t (e seu complemento, a função acumulada
de falhas no tempo t), o MTBF (tempo médio entre falhas) e a variância da distribuição.
t −t 0
−( )γ
R(t ) = 1 − F (t ) = e θ
(1)
1
MTBF = t 0 + θ .Γ(1 + ) (2)
γ
2 1
σ 2 = Γ(1 + ) − [Γ(1 + )]2 (3)
γ γ

Os parâmetros da distribuição são: (i) t0 = parâmetro de localização (tempo inicial isento de


falhas); (ii) θ = parâmetro de escala (intervalo de tempo a partir de t0 no qual ocorrem 63,2%
das falhas); e (iii) γ = fator de forma (aponta o modo de falha). O comportamento das falhas
segue padrões segundo a estimativa adotada para o fator de forma: (i) γ < 1: mortalidade
infantil do item; (ii) γ = 1: falhas aleatórias, zona de vida útil do item; e (iii) γ > 1: falhas por
fadiga ou mortalidade senil do item (SELLITTO, 2005).
Neste trabalho será usado o software ProConf para a modelagem dos dados a serem coletados.
O software aponta estimativas para os parâmetros da distribuição pelo método da máxima
verossimilhança e corrige a tendenciosidade dos parâmetros (RIBEIRO apud VACCARO,
1998). O método da máxima verossimilhança é apresentado em Elsayed (1996).
4. Modelagens para as variáveis aleatórias e cálculo da disponibilidade do alimentador
Para aplicação dos conceitos objetivados, foi escolhido um sistema de distribuição de energia
elétrica (alimentador) que abrange 25% do fornecimento de energia elétrica de um município
de pequeno porte do RS. Para fins metodológicos, o alimentador estudado será considerado
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como um sistema único, se bem que se saiba que estes são compostos por vários sub-sistemas,
que se relacionam segundo uma lógica complexa. De acordo com as informações obtidas no
sistema de informações da empresa, este alimentador atende cerca de 3.500 clientes e tem
como principais características a localização no meio rural e grandes extensões de redes de
distribuição. As características apresentadas dificultam o atendimento emergencial e
contribuem para o aumento do número de interrupções no fornecimento de energia.
O sistema de informações da empresa ofereceu os dados de interrupções imprevistas não
transitórias, apresentados na tabela 1. Os dados foram usados para obter estimativas de
parâmetros de uma distribuição de Weibull que descreva os intervalos até a interrupção e uma
distribuição lognormal que descreva o tempo até a recomposição do serviço.
Na tabela 2 se apresentam os parâmetros dos ajustes para o intervalo entre interrupções. O
nível de significância é de 0,27, o que é plenamente satisfatório, pois o método adotado exige
nível de significância acima de 0,05. Os testes realizados foram os testes do Qui-Quadrado e
Kolmogorov-Smirnov. A hipótese de que a população segue o modelo Weibull não pode ser
rejeitada. As figuras 1, 2 e 3 apresentam respectivamente o teste do papel de probabilidade
Weibull e o histograma para as interrupções e a função confiabilidade R(t) para o alimentador.
Usou-se o software ProConf para o ajuste e testes.

Tempo entre Tempo de


Data Inicial Data Final Causa
falhas (horas) reparo (horas)
11/01/04 13:18 11/01/04 13:32 isolador 253,30 0,23
21/01/04 17:29 21/01/04 18:25 condutor 243,95 0,92
29/01/04 16:50 29/01/04 18:37 poste quebrado 190,42 1,78
09/02/04 14:24 09/02/04 15:20 elo fusível queimado 259,78 0,93
13/02/04 08:08 13/02/04 08:40 elo fusível queimado 88,80 0,53
27/02/04 15:07 27/02/04 17:30 sobrecarga 342,45 2,38
03/03/04 08:54 03/03/04 11:00 poste quebrado 111,40 2,09
05/03/04 13:47 05/03/04 14:48 condutor 50,78 1,02
16/03/04 13:45 16/03/04 14:30 elo fusível queimado 262,95 0,74
23/03/04 08:44 23/03/04 09:30 chaves 162,23 0,75
26/05/04 11:45 26/05/04 15:00 condutor 1538,25 3,24
03/06/04 12:27 03/06/04 14:15 isolador 189,45 1,79
15/07/04 09:00 15/07/04 09:35 condutor 1002,75 0,58
04/09/04 06:00 04/09/04 07:23 cruzeta queimada 1220,42 1,38
06/09/04 16:33 06/09/04 18:45 chaves 57,17 2,19
10/09/04 10:49 10/09/04 15:10 poste quebrado 88,07 4,34
16/10/04 22:14 17/10/04 00:20 isolador 871,07 2,09
22/10/04 15:00 22/10/04 15:50 chaves 134,67 0,83
12/11/04 07:11 12/11/04 10:10 isolador 495,35 2,97
03/12/04 06:07 03/12/04 07:00 chaves 499,95 0,87
19/12/04 17:12 19/12/04 20:55 isolador 394,20 3,70
31/12/04 20:04 31/12/04 21:10 chaves 287,15 1,10
Fonte: sistema de informações da empresa
Tabela 1: Dados de tempos até a interrupção e até a recomposição do serviço

Parâmetros de máxima verossimilhança


distribuição t0 γ IC 95% γ θ IC 95% θ MTBF
Weibull 24,67 0,946 0,61 – 1,22 363,8 215 - 595 397,56
Fonte: pelos autores, com o uso do software ProConf
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Tabela 2: Parâmetros de ajuste do intervalo entre interrupções

10

-ln (1 - F(t)) 0.1

0.01
10 100 1000 10000
t: horas - Parâmetro de Localização

Figura 1 – Papel de probabilidade Weibull para o intervalo entre interrupções (Fonte: autores, com o ProConf)

0.0020

0.0015
f(t)

0.0010

0.0005

0.0000
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
t: horas

Figura 2 – Histograma para o intervalo entre interrupções (Fonte: autores, com o ProConf)

1.0

0.8

0.6
R(t)

0.4

0.2

0.0
0 500 1000 1500 2000 2500
t: horas

Figura 3 – Função R(t), confiabilidade (Fonte: autores, com o ProConf)

O ajuste dos tempos até o reparo é feito através da distribuição lognormal. A distribuição
normal foi rejeitada, enquanto que a distribuição lognormal não pode ser rejeitada. O menor
nível de significância dos testes é de 0,25. Os parâmetros são informados na tabela 3. A
disponibilidade Av é calculada através da equação (4), apresentada em Elsayed (1996).
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Parâmetros de máxima verossimilhança


distribuição µ σ IC 95% µ MTTR
lognormal 1,69 1,37 1,21 – 2,42 1,69

Tabela 3: Parâmetros de ajuste do tempo até a recomposição do serviço

MTBF 397
Av (t ) = = = 0,996 (4)
MTBF + MTTR 397 + 1,69
5. Discussão
Os dados obtidos no estudo permitem identificar, através da análise de da distribuição
Weibull, em que momento do ciclo de vida se encontra o alimentador estudado. O valor de
máxima verossimilhança obtido para o fator de forma é γ = 0,947 e o intervalo de confiança a
95% vai de 0,61 a 1,22. Tanto o valor de máxima verosimilhança como o intervalo de
confiança indicam que o sistema encontra-se com maior probabilidade no fim da mortalidade
infantil e com alguma probabilidade próximo à maturidade.

Na figura 4 observa-se o ciclo de vida de um equipamento industrial, a curva da banheira, e as


posições de maior probabilidade de se encontrar o alimentador em estudo. A curva não deve
ser analisada quantitativamente quanto ao eixo do tempo, pois a análise não é suficiente para
identificar os instantes de tempo em que as incidências da curva da banheira ocorrem.

h (t)

fase de
fase de mortalidade fase de maturidade; mortalidade senil;
infantil, γ << 1 γ ≈1 γ >> 1
Intervalo de
confiança a 95%

tempo
Posição de máxima verossimilhança

Figura 4: Posição do sistema no ciclo de vida (fonte: baseado em Lafraia, 2001)

É possível conjecturar acerca da situação do sistema reparável e da estratégia de manutenção


segundo a posição mais provável no ciclo de vida. A discussão que se segue é baseada em
Sellitto (2005).
Na mortalidade infantil, a taxa de falha é decrescente, o que indica que o sistema tem falhas
inerentes de projeto ou de montagem que vêm sendo corrigidas pela manutenção ou operação.
Em geral, as falhas nesta fase são prematuras e decorrem de má especificação de projeto ou
por falhas na fabricação de componentes. Se não há uma prática de correção de falhas, a
tendência é que a taxa de falhas seja alta e se mantenha ao redor do mesmo valor, o que
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caracteriza outra fase. Uma estratégia coerente de manutenção para esta etapa da vida do
equipamento é a manutenção corretiva, aquela manutenção que não apenas repara o sistema,
mas corrige o erro de projeto que permitiu que a falha ocorresse. A cada vez que uma
intervenção corretiva é feita, um modo de falha causado por falha de projeto é sanado.
Evidências empíricas de consultoria ainda não formalizadas indicam que esta é a etapa mais
observada em equipamentos industriais instalados no RS.
Na maturidade, as falhas prematuras não ocorrem mais, pois todos os erros de projeto já
foram corrigidos ou a manutenção não se preocupa em corrigir as falhas que ocorrem, apenas
repará-las. As falhas que ocorrem nesta fase são aleatórias, devidas a incidentes imprevisíveis,
tais como catástrofes naturais, ou erros de operação, nos quais o sistema produtivo é exposto a
quantidades de energia liberadas em uma taxa que o sistema não suporta. Se o sistema já está
livre de falhas prematuras e está na maturidade, o melhor é não fazer nenhuma manutenção
ou, no máximo, fazer manutenção preditiva, ou seja, aquela manutenção em que monitoram-
se alguns parâmetros significativos que se desviarão assim que o sistema entrar na terceira
fase, a mortalidade senil.
Na terceira fase, a mortalidade senil, o equipamento entrou em desgaste irreversível. Nesta
fase, a melhor estratégia é a manutenção preventiva, pois é nesta fase que vale a pena trocar
antecipadamente os componentes frágeis, aqueles que, se não falharem imediatamente,
falharão em curto prazo.
Retorna-se ao alimentador estudado.
As características reais do alimentador validam a observação. Pelo fato de não haver um
planejamento adequado de expansão da rede, o aumento da capacidade sem uma readequação
do projeto elétrico (seletividade, proteção e capacidade), conclui-se que o sistema tem erro de
projeto e se encontra em sobrecarga, ou seja, está na fase da mortalidade infantil, pois a
equipe modifica os componentes do sistema sempre que um erro de projeto se manifesta
como uma falha e uma interrupção. Uma observação significativa é o elevado número de
incidências na tabela 1 ligadas à sobrecarga (elo fusível, isolador, condutor, chaves). As
incidências de quebra de cruzetas e postes se devem, muito provavelmente à catástrofes
causadas por intempéries. O primeiro tipo de incidência é claramente ligado à fase de
mortalidade infantil, pois o sistema assume cargas que não consegue suportar, por erros de
seletividade e chaveamento. O segundo tipo de incidência está claramente ligado à
maturidade, pois quebras catastróficas por intempéries são aleatórias.
A estratégia de manutenção mais indicada para a fase onde se encontra sistema estudado é a
manutenção corretiva. Sua prática continuada decretará o fim da mortalidade infantil, se isto
for possível. Esta situação já foi observada pelos técnicos da empresa, sendo que a
necessidade de uma ação corretiva já é de conhecimento dos gestores. Atualmente, as
estratégias de manutenção adotadas são a emergencial e, eventualmente, a preditiva.
Quanto à disponibilidade, embora esta seja superior a 99,5%, para o tipo de serviço em
questão sempre é desejável o seu aumento, o que pode ser conseguido por redundância
operacional entre alimentadores e não apenas pelo robustecimento de componentes.
6. Considerações finais
A manutenção das linhas de distribuição é um processo importante, já que qualquer
interrupção da energia resulta em gastos incomensuráveis. Outro fator importante é que, além
dos prejuízos de uma interrupção no fornecimento de energia, e mesmo que se obtenha alta
disponibilidade calculada, o prejuízo social que a descontinuidade deste serviço essencial
causa é de difícil avaliação. Pode-se observar durante o estudo que o critério de qualidade da
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manutenção em distribuição de energia elétrica da empresa estudada considera apenas


aspectos técnicos para hierarquização dos circuitos e não reconhece a contribuição dos
circuitos através da confiabilidade requerida pelos clientes. O orçamento de serviços
preventivos é elaborado com base histórica, com a priorização contemplando apenas os
circuitos que caibam no orçamento. Os planos de manutenção são elaborados para um ano. A
hierarquização e a conseqüente priorização são realizadas por conjunto elétrico.
Observa-se que outros fatores também têm forte influência no direcionamento da manutenção,
tais como pressão exercida por clientes, solicitação órgãos reguladores, segurança operacional
e de terceiros, e ordens judiciais. Apesar de haver na empresa um departamento com
atribuições específicas relativas à manutenção de redes de distribuição de energia elétrica,
verifica-se que não há uma análise de engenharia para decisão de alocação de recursos de
manutenção, incorrendo nos critérios citados anteriormente.
Entende-se como importante uma estratégia de manutenção que tenha como foco o negócio
das empresas do setor elétrico, com o objetivo de determinar o valor de contribuição dos
clientes, reconhecer a contribuição dos circuitos através da confiabilidade requerida pelos
clientes, do risco do mau atendimento e, através da análise de engenharia de manutenção,
decidir sobre a alocação de recursos produtivos segundo critérios de projeto e não de simples
atendimento a demandas.
Conclui-se que a modelagem de tempos entre interrupções, tempos até a recomposição e
cálculo da disponibilidade de um alimentador de energia elétrica podem ser ferramentas
importantes na determinação da estratégia de manutenção da empresa, acumulando
conhecimento, na medida em que o estudo destas técnicas facilitam o entendimento do
sistema e auxiliam no processo de tomada de decisão.
Por último, cabe retomar a verdadeira importância da manutenção como um fator estratégico
para a empresa. Nesse sentido, a percepção da manutenção vai além do relacionamento da
atividade fim da organização com a capacidade de proporcionar os benefícios envolvendo
fatores como segurança, qualidade e custos. Mais do que isso, verifica-se que uma prestação
de serviço de distribuição de energia elétrica que atenda às necessidades de seus clientes e as
determinações da Agência Nacional de Energia Elétrica passa pela escolha de uma estratégia
correta de manutenção.
Referências
ELSAYED, E. (1996) - System reliability engineering. Reading, Massachusetts: Addison Wesley Longman.
LAFRAIA, J. (2001) - Manual de confiabilidade, mantenabilidade e disponibilidade. R. Janeiro: Qualitymark.
LEWIS, E. 1996. Introduction to reliability engineering. USA: John Wiley & Sons.
LINDQVIST, B; ELVEBAKK, G.; HEGGLAND, K. (2003) The trend renewal process for statistical analysis of
repairable systems. Technometrics, v.45, nº 1, p. 31–44.
SELLITTO, M.; BORCHARDT, M.; ARAÚJO, D. (2002) - Manutenção centrada em confiabilidade: aplicando
uma abordagem quantitativa. Anais do XXII ENEGEP, Curitiba.
SELLITTO, M. (2005) - Formulação Estratégica da Manutenção Industrial com base na Confiabilidade dos
Equipamentos. Revista Produção, v.15, n.1, p. 44-59.
VACCARO, G. (1997) - Modelagem e Análise da Confiabilidade de Sistemas. Dissertação de Mestrado,
PPGEP-UFRGS. Porto Alegre.

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