Estratégia de Manutenção - Confiabilidade
Estratégia de Manutenção - Confiabilidade
Estratégia de Manutenção - Confiabilidade
Resumo
Este trabalho apresenta uma aplicação prática da análise de Weibull para sistemas
produtivos complexos, ou seja, que podem falhar segundo infinitos modos de falha, inclusive
correlacionados de modo não-linear. A aplicação se refere a alimentadores de energia
elétrica. Inicia-se fazendo considerações sobre a manutenção da distribuição de energia
elétrica. A seguir apresentam-se os dados coletados de intervalos entre interrupções
imprevistas não transitórias e tempos até a recomposição da operação de um alimentador de
energia elétrica de alta tensão. Os tempos até a interrupção foram modelados no software
ProConf e pelo ajuste do modelo de distribuição de Weibull foi possível calcular a função
confiabilidade do alimentador e identificar o ponto de ciclo de vida em que se encontra o
sistema. Os tempos até a recomposição também foram modelados e geraram uma função
manutenibilidade. Com os valores esperados das funções foi possível calcular a
disponibilidade do alimentador. Com base no estudo foi realizada uma análise da estratégia
de manutenção adotada pela empresa.
Palavras-chave: Análise de Weibull, Estratégia de Manutenção, Distribuição de energia
elétrica.
1. Introdução
O desempenho das concessionárias de energia elétrica, quanto à continuidade do serviço, é
medido pela ANEEL com base em indicadores específicos. A correta avaliação destes
indicadores, bem como o impacto que eles têm em outros indicadores correlacionados, é
importante para nortear a estratégia que cada empresa deve formular e para direcionar
corretamente os investimentos em manutenção.
Devido às exigências impostas por órgãos reguladores e principais clientes, verifica-se uma
mudança quanto à forma com que a manutenção é vista pelas concessionárias do serviço. A
necessidade de melhor alocação de recursos, aumento da receita e aumento da confiabilidade
do sistema tem levado as empresas a priorizar investimentos de manutenção, passando a ter
uma visão de negócio na ação de manutenção. As concessionárias de energia elétrica
passaram a reconhecer o valor criado pelo sistema e as necessidades, expectativas e riscos de
clientes, o que muda a importância da gestão da manutenção nestas empresas.
A gestão da manutenção se desenvolveu inicialmente em ambiente fabril, principalmente a
partir dos anos 1950. Já em serviços, até recentemente, não se havia percebido sua real
importância estratégica, criando-se uma defasagem tecnológica da manutenção em relação à
fabricação. Desde então, os avanços da manutenção se deram em três linhas de ação
principais em prestação de serviços: (i) métodos de gerenciamento; (ii) aumento da
confiabilidade de equipamentos e sistemas; e (iii) desenvolvimento de alternativas
tecnológicas para os equipamentos existentes (SELLITTO et al, 2002).
Para o objetivo deste artigo, entende-se que a segunda linha de ação, a do aumento da
confiabilidade, é mais relevante. A confiabilidade pode ser usada em manutenção de modo
XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006
É possível definir confiabilidade para sistemas que podem ser reparados ao falharem,
voltando a um estado como se fosse novo (as-good-as-new). Se o sistema é reparável,
confiabilidade é a probabilidade de desempenho isento de falhas durante um intervalo de
tempo sob certas condições (ELSAYED, 1996). A confiabilidade é uma função de
probabilidade e que, portanto, varia entre 0 e 1, e é monotonamente decrescente no tempo.
Um modo de calcular a função confiabilidade, e que é de interesse para sistemas complexos
reparáveis, é a análise de Weibull. Através desta análise, é possível atribuir uma função de
distribuição de probabilidade de Weibull à variável aleatória de interesse. A análise é útil em
sistemas reparáveis complexos, que podem falhar segundo um número infinito de modos de
falhas. O modelo de Weibull explica o comportamento de sistemas cuja falha nasce da
competição entre diversos modos de falha, o que ocorre se os modos de falha atuarem em
série, competindo pela falha (primeiro a ocorrer, ocorre a falha), como no alimentador ora
estudado (LEWIS, 1996; ),.
A análise de Weibull é uma técnica concebida pelo físico sueco Waloddi Weibull, em 1937,
tendo sido publicada no Journal of Applied Mechanics da American Society of Mechanical
Engineering, em 1951, com o seguinte formato (SELLITTO et al, 2002): (i) Coleta de
amostras de tempos até a falha do objeto; (ii) Plotagem dos tempos em papel de probabilidade
ou uso de software estatístico para ajuste à distribuição de Weibull e estimativa de seus
parâmetros; (iii) Não havendo ajustes, ou há mistura de dados, (dados provêm de mais de uma
população) ou outra distribuição deve ser tentada; (iv) Uso dos parâmetros da distribuição
para previsão do tipo de comportamento das falhas; e (v) Uso de cálculos econômicos
pertinentes envolvendo custos e riscos para gerar ações corretivas como políticas de inspeção,
reparos ou trocas. O modelo de Weibull a três parâmetros é descrito pelas equações de 1 a 3,
respectivamente a função confiabilidade no tempo t (e seu complemento, a função acumulada
de falhas no tempo t), o MTBF (tempo médio entre falhas) e a variância da distribuição.
t −t 0
−( )γ
R(t ) = 1 − F (t ) = e θ
(1)
1
MTBF = t 0 + θ .Γ(1 + ) (2)
γ
2 1
σ 2 = Γ(1 + ) − [Γ(1 + )]2 (3)
γ γ
como um sistema único, se bem que se saiba que estes são compostos por vários sub-sistemas,
que se relacionam segundo uma lógica complexa. De acordo com as informações obtidas no
sistema de informações da empresa, este alimentador atende cerca de 3.500 clientes e tem
como principais características a localização no meio rural e grandes extensões de redes de
distribuição. As características apresentadas dificultam o atendimento emergencial e
contribuem para o aumento do número de interrupções no fornecimento de energia.
O sistema de informações da empresa ofereceu os dados de interrupções imprevistas não
transitórias, apresentados na tabela 1. Os dados foram usados para obter estimativas de
parâmetros de uma distribuição de Weibull que descreva os intervalos até a interrupção e uma
distribuição lognormal que descreva o tempo até a recomposição do serviço.
Na tabela 2 se apresentam os parâmetros dos ajustes para o intervalo entre interrupções. O
nível de significância é de 0,27, o que é plenamente satisfatório, pois o método adotado exige
nível de significância acima de 0,05. Os testes realizados foram os testes do Qui-Quadrado e
Kolmogorov-Smirnov. A hipótese de que a população segue o modelo Weibull não pode ser
rejeitada. As figuras 1, 2 e 3 apresentam respectivamente o teste do papel de probabilidade
Weibull e o histograma para as interrupções e a função confiabilidade R(t) para o alimentador.
Usou-se o software ProConf para o ajuste e testes.
10
0.01
10 100 1000 10000
t: horas - Parâmetro de Localização
Figura 1 – Papel de probabilidade Weibull para o intervalo entre interrupções (Fonte: autores, com o ProConf)
0.0020
0.0015
f(t)
0.0010
0.0005
0.0000
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
t: horas
Figura 2 – Histograma para o intervalo entre interrupções (Fonte: autores, com o ProConf)
1.0
0.8
0.6
R(t)
0.4
0.2
0.0
0 500 1000 1500 2000 2500
t: horas
O ajuste dos tempos até o reparo é feito através da distribuição lognormal. A distribuição
normal foi rejeitada, enquanto que a distribuição lognormal não pode ser rejeitada. O menor
nível de significância dos testes é de 0,25. Os parâmetros são informados na tabela 3. A
disponibilidade Av é calculada através da equação (4), apresentada em Elsayed (1996).
XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006
MTBF 397
Av (t ) = = = 0,996 (4)
MTBF + MTTR 397 + 1,69
5. Discussão
Os dados obtidos no estudo permitem identificar, através da análise de da distribuição
Weibull, em que momento do ciclo de vida se encontra o alimentador estudado. O valor de
máxima verossimilhança obtido para o fator de forma é γ = 0,947 e o intervalo de confiança a
95% vai de 0,61 a 1,22. Tanto o valor de máxima verosimilhança como o intervalo de
confiança indicam que o sistema encontra-se com maior probabilidade no fim da mortalidade
infantil e com alguma probabilidade próximo à maturidade.
h (t)
fase de
fase de mortalidade fase de maturidade; mortalidade senil;
infantil, γ << 1 γ ≈1 γ >> 1
Intervalo de
confiança a 95%
tempo
Posição de máxima verossimilhança
caracteriza outra fase. Uma estratégia coerente de manutenção para esta etapa da vida do
equipamento é a manutenção corretiva, aquela manutenção que não apenas repara o sistema,
mas corrige o erro de projeto que permitiu que a falha ocorresse. A cada vez que uma
intervenção corretiva é feita, um modo de falha causado por falha de projeto é sanado.
Evidências empíricas de consultoria ainda não formalizadas indicam que esta é a etapa mais
observada em equipamentos industriais instalados no RS.
Na maturidade, as falhas prematuras não ocorrem mais, pois todos os erros de projeto já
foram corrigidos ou a manutenção não se preocupa em corrigir as falhas que ocorrem, apenas
repará-las. As falhas que ocorrem nesta fase são aleatórias, devidas a incidentes imprevisíveis,
tais como catástrofes naturais, ou erros de operação, nos quais o sistema produtivo é exposto a
quantidades de energia liberadas em uma taxa que o sistema não suporta. Se o sistema já está
livre de falhas prematuras e está na maturidade, o melhor é não fazer nenhuma manutenção
ou, no máximo, fazer manutenção preditiva, ou seja, aquela manutenção em que monitoram-
se alguns parâmetros significativos que se desviarão assim que o sistema entrar na terceira
fase, a mortalidade senil.
Na terceira fase, a mortalidade senil, o equipamento entrou em desgaste irreversível. Nesta
fase, a melhor estratégia é a manutenção preventiva, pois é nesta fase que vale a pena trocar
antecipadamente os componentes frágeis, aqueles que, se não falharem imediatamente,
falharão em curto prazo.
Retorna-se ao alimentador estudado.
As características reais do alimentador validam a observação. Pelo fato de não haver um
planejamento adequado de expansão da rede, o aumento da capacidade sem uma readequação
do projeto elétrico (seletividade, proteção e capacidade), conclui-se que o sistema tem erro de
projeto e se encontra em sobrecarga, ou seja, está na fase da mortalidade infantil, pois a
equipe modifica os componentes do sistema sempre que um erro de projeto se manifesta
como uma falha e uma interrupção. Uma observação significativa é o elevado número de
incidências na tabela 1 ligadas à sobrecarga (elo fusível, isolador, condutor, chaves). As
incidências de quebra de cruzetas e postes se devem, muito provavelmente à catástrofes
causadas por intempéries. O primeiro tipo de incidência é claramente ligado à fase de
mortalidade infantil, pois o sistema assume cargas que não consegue suportar, por erros de
seletividade e chaveamento. O segundo tipo de incidência está claramente ligado à
maturidade, pois quebras catastróficas por intempéries são aleatórias.
A estratégia de manutenção mais indicada para a fase onde se encontra sistema estudado é a
manutenção corretiva. Sua prática continuada decretará o fim da mortalidade infantil, se isto
for possível. Esta situação já foi observada pelos técnicos da empresa, sendo que a
necessidade de uma ação corretiva já é de conhecimento dos gestores. Atualmente, as
estratégias de manutenção adotadas são a emergencial e, eventualmente, a preditiva.
Quanto à disponibilidade, embora esta seja superior a 99,5%, para o tipo de serviço em
questão sempre é desejável o seu aumento, o que pode ser conseguido por redundância
operacional entre alimentadores e não apenas pelo robustecimento de componentes.
6. Considerações finais
A manutenção das linhas de distribuição é um processo importante, já que qualquer
interrupção da energia resulta em gastos incomensuráveis. Outro fator importante é que, além
dos prejuízos de uma interrupção no fornecimento de energia, e mesmo que se obtenha alta
disponibilidade calculada, o prejuízo social que a descontinuidade deste serviço essencial
causa é de difícil avaliação. Pode-se observar durante o estudo que o critério de qualidade da
XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006