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Aula 02 - Inquérito Policial

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Módulo:

Investigação e Processo
Aula 02 – Inquérito Policial - II

Prevalece que o Inquérito Policial tem natureza de procedimento administrativo de


caráter investigatório. Contudo, parte da doutrina tece críticas quanto ao reconhecimento
do inquérito enquanto procedimento.
O procedimento se caracteriza como o conjunto encadeado de atos, sendo tais
atos concatenados, organizados, ou seja, o procedimento pode ser definido como um mo-
vimento coordenado para frente.
No Inquérito Policial, porém, não se apresenta tal concatenação de atos, pois os
atos e os elementos de prova serão praticados pela autoridade policial de acordo com a
conveniência e a necessidade. Não há, portanto, uma forma rígida. Nada impede, por exem-
plo, que se determine a oitiva da vítima ou do suspeito como primeiro ato, em outro caso um
exame de corpo de delito como ato inicial. Nesse sentido, não há no Inquérito Policial uma
obrigatória concatenação de atos, pois os atos são praticados de acordo com a conveniên-
cia e com a necessidade, e podem ser praticados, inclusive, simultaneamente. Portanto, a
realidade do Inquérito Policial nos afasta da ideia de procedimento em seu sentido estrito.
Conclui-se, assim, que o Inquérito é uma atividade administrativa de caráter investi-
gatório. A discussão sobre a ideia de procedimento é de extrema relevância, pois se não há
um procedimento em sentido estrito, então não se pode cogitar nulidades procedimentais
no Inquérito Policial. Isso significa que um ato inválido praticado no Inquérito Policial não
afeta, necessariamente, outros elementos de prova que tenham sido colhidos e que tenham
independência. As provas derivadas (art. 573, § 1º do CPP: a nulidade de um ato, uma vez
declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência)
serão, ainda assim, consideradas inválidas, mas não há nulidade procedimental, como no
Processo Penal. Nesse sentido, NUCCI (2016, 491):
Tratando-se de mero procedimento administrativo, destinado, primordial-
mente, a formar a opinião do Ministério Público, a fim de saber se haverá ou
não acusação contra alguém, não apresenta cenário para a proclamação de
nulidade de ato produzido durante o seu desenvolvimento.

Se algum elemento de prova for produzido em desacordo com o preceitu-


ado em lei, cabe ao magistrado, durante a instrução – e mesmo antes, se
for preciso –, determinar que seja refeito (ex.: um laudo juntado aos autos
do inquérito foi produzido por um só perito. Deve ser novamente realizado,
embora permaneça válido o inquérito).

Características do Inquérito Policial:

Preparatório e Informativo
Dizer que o Inquérito Policial é preparatório significa que a atividade desenvolvida

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na fase pré-processual visa preparar a ação penal que será levada a juízo por meio da de-
núncia ou queixa.
O Inquérito é, ainda, informativo, pois reúne elementos de informação tendentes a
embasar o oferecimento da ação penal. São informações qualificadas em relação ao crime
e à respectiva autoria. Esses elementos de informação têm por destinatário imediato o pro-
motor ou o querelante, e como destinatário mediato o magistrado.
Nesse sentido, lembramos que a finalidade principal do Inquérito Policial é a de
apurar as infrações penais e sua autoria. Para que o titular da ação penal, tanto pública
quanto privada, possa dar início à marcha processual, é necessário que se reúnam requi-
sitos mínimos de materialidade delitiva e indícios de autoria, de forma que consubstancie
justa causa para o oferecimento da ação penal.

Dispensabilidade
O Inquérito Policial, apesar de sua elevada relevância em nosso sistema de justiça
criminal, é dispensável ou disponível para o titular do direito de ação. Isso quer dizer que o
Ministério Público ou o querelante não necessitam do Inquérito para a propositura da ação.
Assim, conforme veremos mais à frente, há outros meios pelos quais os titulares da
ação penal podem reunir elementos informativos que formem suas convicções e embasem
o oferecimento de uma denúncia ou queixa.
Todavia, é muito importante notar que para a autoridade policial, o Inquérito é in-
disponível. Isso quer dizer que para o delegado, o Inquérito Policial é obrigatório. Nesse
sentido, mesmo que a autoridade policial entenda inexistir provas suficientes contra o in-
vestigado, não poderá arquivar o caderno de investigação. É o que dispõe do Código de
Processo Penal:
CPP, art. 17 - A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de
inquérito.

Além disso, sempre que tomar conhecimento de uma infração penal o delegado
deverá dirigir-se ao local do fato e tomar as providências previstas no art. 6º do Código de
Processo Penal.
Há casos excepcionalíssimos, contudo, nos quais o delegado de polícia não estará
obrigado a instaurar o Inquérito Policial: (i) quando receber uma notitia criminis inviável, ou
seja, quando não há o mínimo de consistência para o início de uma investigação, por ser a
notícia muito genérica e abstrata; (ii) quando a autoridade policial verificar de forma certa
que ocorreu a extinção da punibilidade, por exemplo, um crime de homicídio ocorrido em
1960; (iii) o fato noticiado ao delegado de polícia for notória e evidentemente atípico, por
exemplo, comunico ao delegado que o pai manteve conjunção carnal consentida com filha

5 Investigação e Processo
maior de idade.
Para as infrações de menor potencial ofensivo, a autoridade policial elaborará
Termo Circunstanciado, que é sucedâneo do inquérito. O Inquérito Policial pode, portanto,
ser substituído por um Termo Circunstanciado, conforme previsto no art. 69, caput, da Lei
9.099/95:
Art. 69, caput, da Lei 9.099/95. A autoridade policial que tomar conhecimen-
to da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediata-
mente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as re-
quisições dos exames periciais necessários.

Escrito
Segundo o art. 9º do Código de Processo Penal, o Inquérito deve ser escrito ou dati-
lografado. Todavia, trata-se de uma norma que retoma à década de 40, quando o Código foi
produzido. A Lei 11.719 de 2008 atualizou o disposto e, atualmente, o art. 405 do mesmo
Código prevê a autorização para a coleta dos elementos de prova por qualquer meio idôneo
de registro, o que dá à prova maior fidelidade e representa uma modernidade no Processo
Penal.
Art. 9º do CPP. Todas as peças do inquérito policial serão, num só proces-
sado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
autoridade.

Art. 405 do CPP. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro pró-
prio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos
relevantes nela ocorridos.

§ 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indi-


ciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de grava-
ção magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual,
destinada a obter maior fidelidade das informações.

§ 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes


cópia do registro original, sem necessidade de transcrição.

Leitura Complementar

O Brasil adotou um sistema de investigação preliminar conduzido pela polí-


cia judiciária, sobressaindo o inquérito policial como principal procedimento
investigativo para a busca da verdade na fase pré-processual. Desde o sé-
culo XIX, consolidou-se como mecanismo central de investigação criminal,
consagrado pela Lei 2.033/1871 e pelo Decreto 4.824/1871, legislação esta
que o conceituava de maneira singela como “todas as diligências necessá-
rias para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de
seus autores e cúmplices”.
O atual arcabouço legal não fornece o conceito de inquérito policial, tarefa

Tema 01 - Aula 02 6
delegada à doutrina. O conceito do procedimento policial costumeiramente
difundido é formado por sua natureza jurídica, características e finalidades.
Isso significa que sua correta definição depende da apropriada concepção
de sua essência, objetivos e traços marcantes.

PARA LEITURA DO TEXTO


NA ÍNTEGRA, CLIQUE AQUI:

Legislação

Código de Processo Penal

Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas


a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assi-
nado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorri-
dos. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado,
ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, este-
notipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade
das informações . (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia
do registro original, sem necessidade de transcrição. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos ante-
riores, serão renovados ou retificados.
§ 1o A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele dire-
tamente dependam ou sejam conseqüência.

Lei 9.099/95

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediata-
mente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se

7 Investigação e Processo
imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz
poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))

Jurisprudência

PROCESSUAL PENAL. ART. 4º, ALÍNEA B, DA LEI Nº 1.521/51, ART. 1º DA LEI Nº


9.613/98 E ART. 288 DO CÓDIGO PENAL. PRISÃO CAUTELAR. NULIDADE. VIOLAÇÃO AO
TEOR DA SÚMULA VINCULANTE Nº 14. NÃO OCORRÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL. PRO-
CEDIMENTO INQUISITÓRIO. CERCEAMENTO DE ACESSO AOS AUTOS NÃO EVIDENCIADO.
FUNDAMENTAÇÃO. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. RESGUARDO DA ORDEM
PÚBLICA. GARANTIA DE APLICAÇÃO DA LEI PENAL. ELEMENTOS CONCRETOS. RÉ FORA-
GIDA. ORDEM DENEGADA.1. A súmula vinculante nº 14 não possui o condão de alterar a na-
tureza do procedimento investigatório, expressando apenas o direito de acesso pela defesa
aos elementos de convicção já documentados pelo órgão com competência de polícia e
que digam respeito ao exercício legítimo do direito de defesa.2. Considerando a natureza do
inquérito, não prospera a pretensão anulatória sob o argumento de que a paciente não teria
sido instada a se manifestar em sede policial quanto às diligências realizadas. Da mesma
forma, não tendo o impetrante demonstrado, por intermédio de prova pré-constituída, supos-
ta negativa de acesso aos autos do inquérito policial, não há se falar em infringência ao teor
da súmula vinculante nº 14.3. Ainda que assim não fosse, “eventuais irregularidades ocorri-
das na fase investigatória, dada a natureza inquisitiva do inquérito policial, não contaminam
a ação penal” (HC 232.674/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, Dje 10/4/2013).4. A
prisão é medida extrema sujeita à existência de elementos concretos de comprovação da
necessidade de proteção da ordem pública, garantia de aplicação da lei penal e conveniên-
cia da instrução criminal.5. In casu, as instâncias de origem destacaram o modus operan-
di delitivo, ressaltando a grande soma em dinheiro (cinquenta milhões de reais) auferida
pelos agentes em decorrência dos diversos crimes perpetrados contra a economia popular,
bem como a capilaridade da associação, hierarquizada e com elaborada divisão de tarefas,
que contava com panfletagem e com agentes especializados em assediar vendedores e
compradores de cartões dos programas Rio-Card e VR-Vale. Para as instâncias de origem,
tais circunstâncias seriam capazes, inclusive, de por em risco a conveniência da instrução
criminal, haja vista a “grande capacidade de coação de testemunhas”.6. A custódia pre-
ventiva restou firmada, também, para o resguardo da ordem pública, mais especificamente
em virtude do risco concreto de reiteração delitiva, destacando o magistrado a quo que “os
acusados se dedicam de forma contumaz à atividade criminosa, não sendo inibidos pelas

Tema 01 - Aula 02 8
investigações policiais”. 7. Nesse contexto, indevida a aplicação de medidas cautelares
alternativas à prisão, porque insuficientes para resguardar a ordem pública.8. Ordem de-
negada.(HC 398.527/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 13/06/2017, DJe 23/06/2017).

Súmula Vinculante 14

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elemen-


tos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.


Brasília, DF. Disponível em :< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.
htm>. Acesso em 27 de maio de 2020.

BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Lei dos Juízados Especiais Cíveis
e Criminais. Brasília, DF. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.
htm>. Acesso em 27 de maio de 2020.

CASTRO, Henrique Hoffmann Monteiro de. Inquérito policial tem sido conceitua-
do de forma equivocada. Conjur. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2017-fev-21/
academia-policia-inquerito-policial-sido-conceituado-forma-equivocada>. Acesso em 28 de
maio de 2020.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. Rio de Janeiro:


Forense, 2020.

NUCCI, Guilherme de Souza. Pacote Anticrime comentado. Forense: Rio de Janeiro:


2020.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2011.

9 Investigação e Processo

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