Teoria Da Mudança e Metodologias de Avaliação de Projetos Sociais Nas Organizações
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net/publication/350988097
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Denise Ferreira
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
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DOI: https://doi.org/10.36942/reni.v6i1.332
RESUMO
No ambiente organizacional, iniciativas para o desenvolvimento de projetos
requerem mecanismos para acompanhar e validar o alcance das ações e dos
resultados e geração da mudança planejada. Neste contexto, a ferramenta
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ABSTRACT
In the organizational environment, initiatives for the development of social
projects require mechanisms to monitor and validate the scope of actions
and results and the generation of planned change. In this context, the Theory
of Change tool makes it possible to define the scope of action for projects
and monitor the impact of interventions for subsequent application of an
impact assessment methodology. Studies point out the importance of
analyzing the impacts of social projects and programs. The objective of this
research is to describe the contribution of the Theory of Change applied to
projects as an instrument for managing organizations. The research
methodology is characterized as exploratory. Through bibliometric research,
works that describe the application of the Theory of Change in social projects
were selected, which indicated that this practice contributes to validate and
monitor the results and impacts of the actions and initiatives developed by
organizations.
Keywords: Theory of Change; Impact Assessment; Impact Assessment Methodologies.
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1.INTRODUÇÃO
Nos Negócios Sociais, o impacto social gerado deve ser avaliado de forma contínua,
a fim de identificar formas de aperfeiçoar as ações, iniciativas e práticas adotadas pela
organização que resultem efetivamente em mudança no sistema social. Diante deste
cenário, um estudo realizado pela New Philanthropy Capital (NPC), sobre as razões pelas
quais as organizações sem fins lucrativos (charities) realizam processos de avaliação de
impacto, mostra que a necessidade externa de prestação de contas aos financiadores
responde por mais da metade dos processos de avaliação (Ógáin; Lumley; Pritchard,
2012).
Em um estudo aplicado ao Brasil, a motivação que levava as organizações a avaliarem
o impacto socioambiental de programas sociais era de natureza interna, como ferramenta
de gestão e avaliação de performance (Instituto Fonte e Ibope Inteligência, 2013).
Entretanto, Assumpção e Campos (2011) afirmam que a avaliação de programas sociais
é muito discutida, mas pouco colocada em prática. Quando aplicada, restringe-se ao
controle dos investimentos financeiros ou serve apenas como relatório de atividades
desenvolvidas, não conferindo valor ou mérito à iniciativa.
Quanto ao acesso dos gestores a informações sobre metodologias de avaliação de
impacto de programas sociais, Assumpção e Campos (2011) alertam para a falta de
estudos acadêmicos para o acompanhamento e análise de programas sociais que
possibilitem que as instituições demonstrem o retorno social das intervenções. Além
disso, os mesmos autores citam a ausência de materiais que auxiliem, de forma didática,
os atores sociais ao avaliarem as intervenções além dos aspectos da economia, eficiência
e eficácia.
Neste contexto, as organizações podem contar com a Teoria da Mudança, uma
ferramenta a serviço da avaliação de impacto (Fabiani et al., 2018). A problemática deste
estudo baseia-se no pressuposto de que existem peculiaridades da Teoria da Mudança
aplicadas aos projetos das organizações. Portanto, o objetivo da pesquisa é descrever a
contribuição da Teoria da Mudança aplicada a projetos como instrumento de gestão das
organizações. Para tanto, foi realizada um mapeamento de trabalhos que tratam da Teoria
da Mudança em projetos das organizações. A metodologia da pesquisa caracteriza-se
como exploratória do tipo bibliométrico.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
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causa e efeito entre a intervenção e seus resultados, além de prover informações para a
confirmação da efetividade das ações e do impacto gerado, e também permitam o
frequente aperfeiçoamento das intervenções e evidenciem a sua importância. Sendo,
portanto, essencial também para a administração de programas sociais (Fabiani et al.,
2018; Brandão; Cruz; Arida, 2014).
Após a elaboração da Teoria da Mudança, em um processo de avaliação de
impacto de programas sociais, a próxima etapa é a definição da metodologia de avaliação.
De um ponto de vista técnico na avaliação do impacto de um programa usualmente
são comparadas as experiência de dois grupos: o grupo de tratamento, que engloba os
participantes do programa, e o grupo de controle, que inclui pessoas não participantes do
projeto. Dependendo da técnica de seleção dos grupos, aleatória ou não, os métodos são
classificados como: experimental, quase experimental e não experimental. A decisão do
tipo de avaliação é influenciada pelo custo, prazo da intervenção e da avaliação, além da
finalidade, incluindo aqui os interesses dos stakeholders.
Diante disso, depreende-se que o processo de avaliação e mensuração de impacto
deve-se se diferenciar de acordo com as circunstâncias em que cada iniciativa será
analisada. Cada caso precisa ser avaliado separadamente e metodologias distintas podem
ser utilizadas para diferentes propósitos em uma organização ou projeto (Cruz Filho,
2018; Fabiani et al., 2018).
Bengo et al. (2016) destacam três grupos de metodologias de avaliação que podem
atender aos anseios dos financiadores de programas sociais:
1) Metodologias que levam à construção de um indicador sintético destinado a
medir a criação de valor social. Estas metodologias medem o valor dos benefícios sociais
criados por uma organização em relação ao custo do atingimento desses benefícios.
2) Abordagens baseadas em metodologias que se concentram no processo de
produção de um serviço ou produto social, articulando a análise do desempenho social
dos negócios em entradas, saídas, resultados e impactos.
3) Metodologias baseadas em dashboards e scorecards, que incluem métodos
destinados a fornecer uma imagem dos resultados de acordo com as dimensões de
desempenho.
As metodologias de avaliação de impactos apontadas na literatura são importantes
meios de auxiliar os gestores e os investidores nas tomadas de decisões, já que oferecem
informações necessárias para aprimorar o processo de planejamento e de gestão dos seus
programas. Além disso, os stakeholderes necessitam de conhecimento sobre as
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metodologias de avaliação de impacto para que possam medir os impactos dos programas
sociais.
Olsen e Galimidi (2008) com o apoio de um Grupo de Empreendimento social e
Tecnologia e da Fundação Rockefeller publicaram um catálogo com abordagens de
avaliação de impacto intitulado “Catalog of approaches to impact measurement:
Assessing social impact in private ventures”, as metodologias são apresentadas no Quadro
2.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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O artigo escrito por Debray et al. (2015), intitulado “Lessons from a Federal Grant
for School Diversity: Tracing a Theory of Change and Implementation of Local Policies”
objetiva aprofundar o entendimento da dinâmica da implementação de políticas de
equidade em todos os níveis do governo e identificar desafios e possíveis lições para os
formuladores de políticas em seus futuros esforços no projeto e administração de um
papel federal na assistência técnica para políticas de atribuição de alunos.
O projeto social analisado é o Programa de Assistência Técnica para os Planos de
Atribuição dos Estudantes (TASAP) implementado pelo departamento de Educação dos
Estados Unidos em 2009. Os insumos para execução do programa são os Fundos do
governo aos distritos escolares.
Em relação aos resultados o TASAP apoiou os esforços locais para revisar e
implementar políticas de atribuição de alunos, mas apenas alguns esforços pareceram
propensos a aumentar a diversidade e, portanto, a equidade. Cinco distritos representaram
exemplos de implementação “bem sucedida” na utilização dos fundos, priorizando a
diversidade. Entretanto, seis distritos mostraram uma implementação “subvertida”,
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usando os fundos para satisfazer as necessidades locais, mas muito longe da meta de
diversidade. As descobertas dos autores revelam como impacto do projeto que alguns
distritos cumprirem seus compromissos existentes com a diversidade.
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impactos importantes na qualidade de vida dos pacientes. Pela natureza desses impactos
indiretos, tanto econômicos quanto na qualidade de vida da população, deveria ser
realizado um acompanhamento da população atendida ao longo do tempo. Esta é uma
fase importante para melhorar a avaliação do impacto total do programa.
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4. CONCLUSÃO
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