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Teoria Da Mudança e Metodologias de Avaliação de Projetos Sociais Nas Organizações

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Teoria da mudança e metodologias de avaliação de projetos sociais nas


organizações

Article in Revista de Empreendedorismo Negócios e Inovação · April 2021


DOI: 10.36942/reni.v6i1.332

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4 1,106

4 authors, including:

Cibele Roberta Sugahara Bruna A. Branchi


Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
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Denise Ferreira
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
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TEORIA DA MUDANÇA E METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE
PROJETOS SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES
THEORY OF CHANGE AND SOCIAL PROJECT EVALUATION
METHODOLOGIES IN ORGANIZATIONS

Patrícia Peres Rodrigues


Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
ptcperes@hotmail.com
Orcid https://orcid.org/0000-0001-7180-6501

Cibele Roberta Sugahara


Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Programa de Pós-
Graduação em Sustentabilidade.
cibelesu@puc-campinas.edu.br
Orcid https://orcid.org/0000-0002-3481-8914

Bruna Angela Branchi


Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Programa de Pós-
Graduação em Sustentabilidade.
bruna.branchi@puc-campinas.edu.br
Orcid https://orcid.org/0000-0001-5312-286X

Denise Helena Lombardo Ferreira


Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Programa de Pós-
Graduação em Sustentabilidade.
lombardo@puc-campinas.edu.br
Orcid http://orcid.org/0000-0002-3138-2406

DOI: https://doi.org/10.36942/reni.v6i1.332

RESUMO
No ambiente organizacional, iniciativas para o desenvolvimento de projetos
requerem mecanismos para acompanhar e validar o alcance das ações e dos
resultados e geração da mudança planejada. Neste contexto, a ferramenta

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Teoria da Mudança possibilita definir o escopo de atuação de projetos e


acompanhar o impacto das intervenções para posterior aplicação de uma
metodologia de avaliação de impacto. Estudos apontam a importância de
analisar os impactos de projetos e programas sociais. O objetivo desta
pesquisa é descrever a contribuição da Teoria da Mudança aplicada a
projetos como instrumento de gestão das organizações. A metodologia da
pesquisa caracteriza-se como exploratória. Por meio de uma pesquisa
bibliométrica, foram selecionados trabalhos que descrevem a aplicação da
Teoria da Mudança em projetos sociais, o que indicou que esta prática
contribui para validar e acompanhar os resultados e impactos das ações e
iniciativas desenvolvidas pelas organizações.
Palavras-chave: Teoria da Mudança; Avaliação de Impacto; Metodologias de Avaliação
de Impacto.

ABSTRACT
In the organizational environment, initiatives for the development of social
projects require mechanisms to monitor and validate the scope of actions
and results and the generation of planned change. In this context, the Theory
of Change tool makes it possible to define the scope of action for projects
and monitor the impact of interventions for subsequent application of an
impact assessment methodology. Studies point out the importance of
analyzing the impacts of social projects and programs. The objective of this
research is to describe the contribution of the Theory of Change applied to
projects as an instrument for managing organizations. The research
methodology is characterized as exploratory. Through bibliometric research,
works that describe the application of the Theory of Change in social projects
were selected, which indicated that this practice contributes to validate and
monitor the results and impacts of the actions and initiatives developed by
organizations.
Keywords: Theory of Change; Impact Assessment; Impact Assessment Methodologies.

JEL Classification: M10 - Business Administration/General.

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1.INTRODUÇÃO

Nos Negócios Sociais, o impacto social gerado deve ser avaliado de forma contínua,
a fim de identificar formas de aperfeiçoar as ações, iniciativas e práticas adotadas pela
organização que resultem efetivamente em mudança no sistema social. Diante deste
cenário, um estudo realizado pela New Philanthropy Capital (NPC), sobre as razões pelas
quais as organizações sem fins lucrativos (charities) realizam processos de avaliação de
impacto, mostra que a necessidade externa de prestação de contas aos financiadores
responde por mais da metade dos processos de avaliação (Ógáin; Lumley; Pritchard,
2012).
Em um estudo aplicado ao Brasil, a motivação que levava as organizações a avaliarem
o impacto socioambiental de programas sociais era de natureza interna, como ferramenta
de gestão e avaliação de performance (Instituto Fonte e Ibope Inteligência, 2013).
Entretanto, Assumpção e Campos (2011) afirmam que a avaliação de programas sociais
é muito discutida, mas pouco colocada em prática. Quando aplicada, restringe-se ao
controle dos investimentos financeiros ou serve apenas como relatório de atividades
desenvolvidas, não conferindo valor ou mérito à iniciativa.
Quanto ao acesso dos gestores a informações sobre metodologias de avaliação de
impacto de programas sociais, Assumpção e Campos (2011) alertam para a falta de
estudos acadêmicos para o acompanhamento e análise de programas sociais que
possibilitem que as instituições demonstrem o retorno social das intervenções. Além
disso, os mesmos autores citam a ausência de materiais que auxiliem, de forma didática,
os atores sociais ao avaliarem as intervenções além dos aspectos da economia, eficiência
e eficácia.
Neste contexto, as organizações podem contar com a Teoria da Mudança, uma
ferramenta a serviço da avaliação de impacto (Fabiani et al., 2018). A problemática deste
estudo baseia-se no pressuposto de que existem peculiaridades da Teoria da Mudança
aplicadas aos projetos das organizações. Portanto, o objetivo da pesquisa é descrever a
contribuição da Teoria da Mudança aplicada a projetos como instrumento de gestão das
organizações. Para tanto, foi realizada um mapeamento de trabalhos que tratam da Teoria
da Mudança em projetos das organizações. A metodologia da pesquisa caracteriza-se
como exploratória do tipo bibliométrico.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Teoria da Mudança nas organizações

A Teoria da Mudança é considerada uma abordagem que descreve como um


programa gera resultados específicos de longo prazo por meio de uma sequência lógica
de resultados intermediários (Breuer et al., 2016).
Em relação ao uso é aplicada para o desenvolvimento, gerenciamento e avaliação
de intervenções nas organizações. A Teoria da Mudança permite reunir atributos para
avaliação, mensuração e acompanhamento do impacto alinhado ao contexto específico da
comunidade, população ou território objeto da intervenção. A sua construção contribui
com a identificação das lacunas na lógica do projeto e com o levantamento de resultados
e impactos (Mayne, 2015).
No caso dos Negócios Sociais que são organizações com foco em geração de
impactos sociais ou ambientais que podem ter retornos financeiros, as iniciativas são de
caráter privado que visam apresentar soluções para problemas sociais implementadas a
partir de práticas de mercado (Comini; Barki; Aguiar, 2012; Muhammad; Moingeon;
Lehmann-Ortega, 2010; Jianoti, 2015).
Um Negócio Social pode ou não distribuir lucros, no entanto o retorno econômico
do empreendimento pode ser um atrativo para investimentos externos e participação de
investidores de impacto, doadores sociais e filantrópicos (Comini, 2016; Morgan, 2010;
Jianoti, 2015).
Nas atividades realizadas pelos Negócios Sociais a formação de alianças entre
empresas e organizações da sociedade civil pode ter maior significância para atender aos
segmentos de baixa renda. Comini (2016, p. 43) observa que as iniciativas de mercado
para esse público são elaboradas dentro das empresas com fins lucrativos.
Adicionalmente, a autora ressalta que as “iniciativas podem fazer parte do core business
ou representar uma atividade secundária ou periférica inserida na área de
Responsabilidade Social Corporativa” (Comini, 2016, p. 43).
Neste contexto, as iniciativas, ações ou atividades orientadas para projetos ou
programas nas organizações como os empreendimentos sociais podem contar com a
Teoria da Mudança como uma ferramenta para acompanhar, validar se as ações e
resultados irão causar a mudança planejada.

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A Teoria da Mudança é desenvolvida utilizando uma abordagem de mapeamento


que começa com a descrição do que se pretende alcançar a longo prazo e, em seguida, são
mapeados o processo de mudança e os resultados de curto e médio prazo necessários para
alcançar esse objetivo (Breuer et al., 2016; Limeira, 2018; Ribeiro, 2017). Gertler et al.
(2015) observam que é importante elaborar a Teoria da Mudança no início do processo e
com o envolvimento dos stakeholders do programa ou negócio. Bengo et al. (2016)
reforçam esta ideia afirmando que os stakeholders são atores-chave na construção do
negócio e cujo apoio contínuo é crucial para a legitimidade percebida das atividades de
uma organização.
Em outras palavras, a Teoria da Mudança permite que todas as partes entendam
os processos de mudança propostos e colaborem com a maximização dos resultados, bem
como verifiquem até que ponto os resultados e processos realmente se alinham com o que
se espera da intervenção (Jackson, 2013; Insper Metrics, 2014).
É neste contexto que se insere a cadeia de valor de impacto baseada na Teoria da
Mudança que é, composta pelos seguintes elementos: principais indicadores; resultados
e impactos. Os principais indicadores dizem respeito às práticas, ações e produtos
passíveis de serem medidos e avaliados diretamente pela organização. Os resultados são
as mudanças ocasionadas pela adoção de uma determinada prática ou ação, bem como os
efeitos colaterais pretendidos e não intencionais do negócio (Olsen; Galimidi, 2008).
A cadeia de valor esquematizada na Figura 1, permite evidenciar a
correspondência entre os elementos constitutivos da cadeia de valor e as perguntas
relevantes que deveriam orientar a seleção de indicadores a serem usados para avaliar um
programa visando acompanhar o cumprimento dos seus objetivos. Os indicadores
selecionados permitem avaliar a evolução da intervenção desde a obtenção dos recursos
até a geração dos impactos provenientes dos produtos/serviços.
Observa-se que apesar de diferentes autores apontarem nomes distintos, os
elementos da Teoria da Mudança são os mesmos. Os insumos ou inputs referem-se aos
recursos utilizados no empreendimento. As atividades ou activities são as principais ações
do empreendimento. As saídas ou outputs são os resultados que podem ser mensurados.
Os resultados ou outcomes ou impactos são as mudanças nos sistemas sociais. Os
alinhamentos dos objetivos são as atividades e ajuste de metas geradas (Olsen; Galimidi,
2008). Depreende-se então que a Teoria da Mudança é uma lógica que pode ser aplicada
a vários contextos, possibilita que o processo de mensuração de programas sociais tenha
início, seja aplicado, termine e prossiga de forma adequada.
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Figura 1 – Elementos da cadeia de valor

Fonte: Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2009,


p. 18).

Portanto, no processo de avaliação de impacto, pode-se observar que a elaboração


da Teoria da Mudança, quando alinhada aos objetivos da transformação que se almejam
alcançar, pode auxiliar na mensuração do resultado e do impacto gerado ao público
envolvido.

2.2 - Principais metodologias para a avaliação de impacto

Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre um objeto, situação ou processo


baseando-se em determinados critérios. A avaliação de programas sociais apresenta
conceitos diferentes na literatura, de acordo com a linha de pesquisa nas áreas da Ciência
Política, das Ciências Sociais, da Economia e da Administração Pública, e tem se tornado
parte da análise de políticas públicas, como ferramenta de monitoramento de programas
governamentais, e da avaliação prática de programas sociais (Jannuzzi, 2014).
Sabe-se que a avaliação do impacto de um projeto ou programa social tem por
finalidade medir se as intervenções produzem os efeitos propostos. A literatura aponta
que a avaliação de impacto pode ser considerada um meio de potencializar mudanças de
longo prazo, duradouras, significativas e que resultem em transformação social (Roche,
2000; Brandão; Cruz; Arida, 2014; Gertler et al. 2015; Limeira, 2018; Cruz Filho, 2018).
Neste contexto, é essencial tratar a avaliação de impacto a partir da identificação
da “relação causal entre o projeto, programa ou política e os resultados de interesse”
(Gertler et al. 2015, p. 22). Assim, a avaliação de impacto é diferente de outras formas de
avaliação, pois busca elementos que possibilitem o estabelecimento de uma relação de

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causa e efeito entre a intervenção e seus resultados, além de prover informações para a
confirmação da efetividade das ações e do impacto gerado, e também permitam o
frequente aperfeiçoamento das intervenções e evidenciem a sua importância. Sendo,
portanto, essencial também para a administração de programas sociais (Fabiani et al.,
2018; Brandão; Cruz; Arida, 2014).
Após a elaboração da Teoria da Mudança, em um processo de avaliação de
impacto de programas sociais, a próxima etapa é a definição da metodologia de avaliação.
De um ponto de vista técnico na avaliação do impacto de um programa usualmente
são comparadas as experiência de dois grupos: o grupo de tratamento, que engloba os
participantes do programa, e o grupo de controle, que inclui pessoas não participantes do
projeto. Dependendo da técnica de seleção dos grupos, aleatória ou não, os métodos são
classificados como: experimental, quase experimental e não experimental. A decisão do
tipo de avaliação é influenciada pelo custo, prazo da intervenção e da avaliação, além da
finalidade, incluindo aqui os interesses dos stakeholders.
Diante disso, depreende-se que o processo de avaliação e mensuração de impacto
deve-se se diferenciar de acordo com as circunstâncias em que cada iniciativa será
analisada. Cada caso precisa ser avaliado separadamente e metodologias distintas podem
ser utilizadas para diferentes propósitos em uma organização ou projeto (Cruz Filho,
2018; Fabiani et al., 2018).
Bengo et al. (2016) destacam três grupos de metodologias de avaliação que podem
atender aos anseios dos financiadores de programas sociais:
1) Metodologias que levam à construção de um indicador sintético destinado a
medir a criação de valor social. Estas metodologias medem o valor dos benefícios sociais
criados por uma organização em relação ao custo do atingimento desses benefícios.
2) Abordagens baseadas em metodologias que se concentram no processo de
produção de um serviço ou produto social, articulando a análise do desempenho social
dos negócios em entradas, saídas, resultados e impactos.
3) Metodologias baseadas em dashboards e scorecards, que incluem métodos
destinados a fornecer uma imagem dos resultados de acordo com as dimensões de
desempenho.
As metodologias de avaliação de impactos apontadas na literatura são importantes
meios de auxiliar os gestores e os investidores nas tomadas de decisões, já que oferecem
informações necessárias para aprimorar o processo de planejamento e de gestão dos seus
programas. Além disso, os stakeholderes necessitam de conhecimento sobre as
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metodologias de avaliação de impacto para que possam medir os impactos dos programas
sociais.
Olsen e Galimidi (2008) com o apoio de um Grupo de Empreendimento social e
Tecnologia e da Fundação Rockefeller publicaram um catálogo com abordagens de
avaliação de impacto intitulado “Catalog of approaches to impact measurement:
Assessing social impact in private ventures”, as metodologias são apresentadas no Quadro
2.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resultados da Pesquisa Bibliométrica

A partir da pesquisa bibliométrica, buscou-se identificar artigos acadêmicos


científicos publicados entre 2010 e 2019 e dissertações e teses publicadas desde 2013, no
de início dos registros na plataforma Sucupira, até 2019. Para a coleta dos artigos, foram
utilizadas as bases de dados Scopus e SciELO e para a pesquisa das teses e dissertações
foi consultado o Catálogos de Teses e Dissertações da Capes. A pesquisa bibliométrica
foi realizada em abril de 2020. O Quadro 1 apresenta a quantidade de trabalhos
encontrados em cada base de dados por palavras-chave e por base de dados.

Quadro 1 – Quantidade de trabalhos encontrados por palavra-chave e por base de dados.


Catálogo de Teses e Total por
Palavras-chave SciELO Scopus Dissertações da Capes palavra-
Dissertações Teses chave
Teoria da Mudança 9 4 3 8 24
Teoria de Mudança 0 0 2 2 4
Total por base de dados 9 4 5 10 28
Fonte: Elaboração própria.

Após a aplicação dos filtros mencionados, foram encontrados 28 trabalhos.


Porém, adotando como critério excluir trabalhos repetidos e considerar apenas os
trabalhos relativos à aplicação da Teoria da Mudança em projetos sociais. Neste artigo
foram analisados oito trabalhos que constam no Quadro 2.

Quadro 2 – Trabalhos encontrados na pesquisa bibliométrica


Autor e ano Título do trabalho Base de dados
Debray, Mcdermott, Lessons from a federal grant for school Scopus
Frankenberg, Blakenship diversity: Tracing a theory of change and
(2015) implementation of local policies

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Cruz (2006) Avaliação de programas de prevenção de Catálogo de Teses e


DST/AIDS para jovens: estudo de caso numa Dissertações da Capes
organização governamental e numa
organização não-governamental
Dugand, Brandão (2017) A Teoria da Mudança como Ferramenta Scopus
Avaliativa do Desenho dos Programas Sociais:
o caso das ações estruturantes para
Comunidades Quilombolas.
Murad (2017) Desenvolvimento de métricas para avaliação Catálogo de Teses e
dos impactos relacionados às ações da Dissertações da Capes
Organização não Governamental - Amigos de
Itajubá
Martins (2018) Avaliação de impacto social na área da saúde: Catálogo de Teses e
estudo de caso modelado a partir da teoria de Dissertações da Capes
mudança
Nilson (2018) Avaliação de telessaúde para apoio assistencial Catálogo de Teses e
na atenção primária à saúde Dissertações da Capes
Almeida (2019) Teoria de mudança e resultados de uma Catálogo de Teses e
iniciativa para melhoria do acesso e efetividade Dissertações da Capes
do transplante renal
Silveira (2019) A gestão para a inclusão: uma pesquisa-ação Catálogo de Teses e
colaborativa no meio escolar Dissertações da Capes
Fonte: Elaboração própria.

3.2 Iniciativas orientadas para a Teoria da Mudança em projetos nas organizações

3.2.1 Iniciativas da Teoria da Mudança em programas de assistência técnica para


políticas de atribuição de alunos

O artigo escrito por Debray et al. (2015), intitulado “Lessons from a Federal Grant
for School Diversity: Tracing a Theory of Change and Implementation of Local Policies”
objetiva aprofundar o entendimento da dinâmica da implementação de políticas de
equidade em todos os níveis do governo e identificar desafios e possíveis lições para os
formuladores de políticas em seus futuros esforços no projeto e administração de um
papel federal na assistência técnica para políticas de atribuição de alunos.
O projeto social analisado é o Programa de Assistência Técnica para os Planos de
Atribuição dos Estudantes (TASAP) implementado pelo departamento de Educação dos
Estados Unidos em 2009. Os insumos para execução do programa são os Fundos do
governo aos distritos escolares.
Em relação aos resultados o TASAP apoiou os esforços locais para revisar e
implementar políticas de atribuição de alunos, mas apenas alguns esforços pareceram
propensos a aumentar a diversidade e, portanto, a equidade. Cinco distritos representaram
exemplos de implementação “bem sucedida” na utilização dos fundos, priorizando a
diversidade. Entretanto, seis distritos mostraram uma implementação “subvertida”,

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usando os fundos para satisfazer as necessidades locais, mas muito longe da meta de
diversidade. As descobertas dos autores revelam como impacto do projeto que alguns
distritos cumprirem seus compromissos existentes com a diversidade.

3.2.2 Iniciativas da Teoria da Mudança em programas da área da saúde de


prevenção de DST/AIDS

A tese de Cruz (2006), intitulada “Avaliação de programas de prevenção de


DST/AIDS para jovens: estudo de caso numa organização governamental e numa
organização não-governamental” objetiva avaliar as ações de prevenção de DST/AIDS
para jovens a partir das experiências de uma Organização Governamental (OG) e uma
Organização Não-Governamental ONG) do Município do Rio de Janeiro (MRJ).
A partir da abordagem qualitativa realizada através de técnicas de observação
participante, de entrevistas semiestruturadas e de dados secundários extraídos de
documentos oficiais foram estudados dois casos sobre a prevenção de DST/AIDS para
jovens: uma Organização Governamental (OG) do tipo Unidade de Saúde (US); e uma
Organização da Sociedade Civil (OSC) do tipo Organização Não-Governamental (ONG)
de base comunitária.
As duas unidades oferecem como recurso os preservativos. Embora a US não
apresente problemas com a disponibilidade desse insumo quando comparado com a ONG,
a US dificulta o acesso dos jovens aos preservativos devido às barreiras organizacionais.
Outra importante característica é que na ONG é evidente a participação dos jovens no
planejamento e execução das atividades, diferentemente do que ocorre na US. A ONG
tem estratégias mais apropriadas para garantir o acesso, pois tem mais recursos
financeiros, preparo dos profissionais, trabalha numa perspectiva de rede.
A autora observou que o fato de existirem recursos materiais e humanos não
garante o sucesso do programa, é preciso que haja a mudança de visão e concepção dos
jovens. Há necessidade de mudança de ordem estrutural, sociocultural e organizacional.
Recomenda-se que a US desenvolva meios de divulgação da disponibilidade do
preservativo no interior da US e nas comunidades vizinhas; revise os critérios de acesso
ao preservativo no programa; planeje as atividades educativas de forma a articular mais
as temáticas ligadas à saúde sexual e reprodutiva à questão da prevenção de DST/AIDS.
Recomenda-se que a ONG estabeleça parceria com instituições que possam dar
apoio psicológico para os jovens e os profissionais; fortaleça as parcerias locais como
forma de transferência de tecnologias de prevenção de DST/AIDS; busque recursos
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financeiros para garantir a reprodução dos materiais educativos de prevenção de


DST/AIDS produzidos pelos jovens.

3.2.3 Iniciativas da Teoria da Mudança em programas sociais de Comunidades


Quilombolas

O artigo de Dugand e Brandão (2017), intitulado “A Teoria da Mudança como


Ferramenta Avaliativa do Desenho dos Programas Sociais: o caso das ações estruturantes
para Comunidades Quilombolas” objetiva mostrar a pertinência da Teoria da Mudança
no campo das avaliações do desenho, assim como desenvolver uma aplicação concreta da
ferramenta na análise das intervenções dirigidas às comunidades quilombolas no Brasil.
Em particular, se analisa o desenho do Programa de Ações Estruturantes nas
Comunidades Remanescentes de Quilombos, implementado em 2003 pelo Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em parceria com a Fundação
Cultural Palmares (FCP).
O programa recebe como insumos um aporte expressivo de recursos para o
desenvomimento de ações ou atividades estruturantes para geração ou incremento da
renda: 1) Focalização das comunidades mais vulneráveis; 2) Questionários de
caracterização respondidos pelas comunidades; 3) Oficinas que permitem definir os
melhores equipamentos a serem entregues; 4) Alocação das ações estruturantes e
aquisição dos equipamentos e 5) Articulação espontânea para assistência técnica.
Dugand e Brandão (2017) relatam que os produtos gerados são um banco de dados
baseado em questionários respondidos pelas comunidades e ações que viabilizam a
geração de renda sustentada. As suposições sobre os impactos gerados pelo programa,
segundo Dugand e Brandão (2017), são a superação da situação de insegurança alimentar,
a auto-sustentabilidade e o enfrentamento das diferenças raciais de bem-estar. Todavia,
os autores apontam no artigo inúmeros problemas e desafios na consecução desses três
impactos.

3.2.4 Iniciativas da Teoria da Mudança aplicadas a projetos de inclusão social de


uma ONG

A dissertação de Murad (2017) intitulada “Desenvolvimento de métricas para


avaliação dos impactos relacionados às ações da Organização não Governamental -

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Amigos de Itajubá” objetiva propor uma metodologia de mensuração baseada na Teoria


da Mudança e no Modelo Lógico, contendo indicadores que avaliam os resultados e
impactos sociais gerados pelos projetos desenvolvidos por uma Organização Não
Governamental (ONG).
O trabalho apresentou os elementos da Teoria da Mudança para cada um dos seis
projetos da ONG Amigos de Itajubá. Os principais recursos ou insumos identificados na
pesquisa que abrange os seis projetos da ONG são: pessoas; material didático; material
de construção; celular, computador, acesso à internet; alimentos; material para
entretenimento; material de divulgação e caixa de papelão.
Dentre as ações e atividades realizadas pela ONG no período analisado destacam-
se eventos; capacitação e aulas; campanhas; dinâmicas envolvendo público interno e
externo e visitas ao espaço físico. As atividades contemplam: reforço escolar; inclusão
digital; aulas de violão; capacitação e aulas práticas e teóricas; visitas ao espaço físico;
contatos com beneficiários; apresentações culturais e eventos para a busca de patrocínio.
Como produtos e serviços oferecidos ao público-alvo dos projetos, contemplam
serviço de reforço escolar; convívio social e entretenimento; reformas de infraestrutura,
palestras, construção e manutenção de hortas com a disponibilização de um stand para o
oferecimento destes serviços na Feira Agroecológica e Cultural de Itajubá; visitas às
instituições sociais.
Em relação aos resultados, o trabalho apresentou uma proposta para a criação de
um Projeto Modelo de Relatório para Captação de Recursos para ser utilizado pelos
gestores da organização Amigos de Itajubá. Além de melhoria da infraestrutura dos
espaços públicos e das instituições; ocorreu aproximação da comunidade acadêmica com
a comunidade externa; atendimento de pessoas na oferta de serviços gratuitos de saúde,
educação, entretenimento e cultura.
Os principais impactos foram: melhoria na qualidade do ensino; a aproximação
entre os participantes dos projetos com o meio acadêmico despertou o interesse no ensino
superior; melhoria na qualidade de vida; novos hábitos alimentares; interesse por projetos
sociais.

3.2.5 Iniciativas da Teoria da Mudança em projeto de entidade assistencial sem fins


lucrativos

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A dissertação de Martins (2018) intitulada “Avaliação de impacto social na área


da saúde: estudo de caso modelado a partir da teoria de mudança” objetiva avaliar o
impacto econômico-social de um programa, na área de saúde, que realiza exames
diagnósticos gratuitos à população, financiado e operacionalizado por uma Faculdade
privada de Ribeirão Preto que constituiu para esta finalidade uma entidade sem fins
lucrativos.
O autor evidencia que a Avaliação de Impacto à Saúde tem como objeto principal
avaliar o impacto de um programa baseado na relação causal entre ação e resultado. A
metodologia usada é qualitativa e quantitativa. As abordagens identificadas para a
avaliação de impacto na saúde são:
a) avaliação prospectiva que pode ser de dois tipos: experimental e quase-
experimental;
b) avaliação retrospectiva que pode ser de dois tipos: não-experimental e
Teoria da Mudança. O autor justifica a opção de adotar no estudo a
avaliação de impacto com foco na Teoria da Mudança.
Através da Teoria da Mudança o autor identifica os impactos esperados pelo
programa estudado, assim como as variáveis a serem avaliadas e aquelas usadas como
contrafactual (denominada pelo autor de variáveis externas).
Após ter delineado o problema a ser enfrentado, ou seja, a contenção do gasto
público com saúde e redução das filas de atendimento do SUS, foi escolhida a ação de
oferecer exames de diagnóstico por imagem à população carente. O custo do processo foi
avaliado com base no preço dos procedimentos de acordo com a tabela do SUS.
Os resultados esperados eram a desoneração da saúde pública; a redução do
tamanho da fila de espera e do período de espera.
Para a avaliação o autor utilizou entrevistas semiestruturadas, com a finalidade de
obter informações qualitativas sobre o programa, assim como dados dos exames
realizados pela entidade que oferece o programa e dados da Secretária Municipal de
Saúde de Ribeirão Preto.
Martins (2018) considerou o valor médio de reembolso autorizado pelo SUS, de
R$ 26,64, para o total de 19.057 exames realizados em 2016. Assim, o impacto econômico
direto foi estimado em R$ 507.678,48 em 2016.
Para a avaliação dos impactos indiretos foram consideradas as informações sobre
a fila de espera e o tempo de espera no SUS para a realização dos exames. A oferta de
exames através desse programa permitiu reduzir a fila de espera e o tempo de espera com
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impactos importantes na qualidade de vida dos pacientes. Pela natureza desses impactos
indiretos, tanto econômicos quanto na qualidade de vida da população, deveria ser
realizado um acompanhamento da população atendida ao longo do tempo. Esta é uma
fase importante para melhorar a avaliação do impacto total do programa.

3.2.6 Iniciativas da Teoria da Mudança no apoio assistencial na atenção primária à


saúde

A tese de Nilson (2018), intitulada “Avaliação de telessaúde para apoio


assistencial na atenção primária à saúde” tem como objetivo avaliar o uso de telessaúde
para apoio assistencial na Atenção Primária à Saúde.
Foi selecionado como caso um Núcleo de Telessaúde do Programa Nacional
Telessaúde Brasil Redes – Santa Catarina. O Telessaúde Brasil Redes tem forte expressão
e alcance, com mais de 40 núcleos no país, em 23 estados. O Telessaúde SC é financiado
pelo Ministério da Saúde para oferecer serviços de apoio aos profissionais e trabalhadores
de saúde em busca de uma APS (Ação Primária à Saúde) forte. Está localizado na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e oferece, em parceria com a Secretaria
de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES/SC), todos os serviços previstos pelo
Telessaúde Brasil Redes.
A pesquisa foi realizada com coordenadores de serviços de Telessaúde SC e
profissionais de saúde. Foram consideradas os três âmbitos: organizativo e de gestão;
conhecimento e de domínio da tecnologia; humano e modelo integral de atenção à saúde.
Apesar do alcance de 100% dos municípios do Estado, o Núcleo Telessaúde ainda
não atinge todos os profissionais e equipes de saúde; não há equipamentos suficientes e
nem cobertura total da rede de internet; as regulamentações formais disponíveis são
insuficientes e não identificadas, mesmo determinando o aumento na utilização de
serviços quando implantadas.
O apoio assistencial oferecido pelo Telessaúde ampliou o acesso e qualificou o
cuidado em saúde, melhorou a comunicação entre os pares. Entretanto, é necessário
fortalecer parcerias com as centrais de regulação para ampliar a inclusão do apoio do
Telessaúde em processos regulatórios; oferecer suporte técnico; participar e desenvolver
análises de efeitos e contribuições do Telessaúde para o sistema de saúde; identificar
gargalos e fragilidades locais e regionais de resolução de demandas em saúde; acessar e
utilizar os serviços de Telessaúde de acordo com as necessidades; participar da

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identificação de demandas de apoio; avaliar os serviços utilizados, seus efeitos na prática


assistencial e para os pacientes.

3.2.7 Iniciativas orientadas para a Teoria da Mudança em um Centro


Transplantador

A tese de Almeida (2019), intitulada “Teoria de de Mudança e resultados de uma


iniciativa para melhoria do acesso e efetividade do transplante renal” objetiva estudar
uma iniciativa realizada em um centro transplantador em Minas Gerais para melhorar a
qualidade do cuidado ao paciente renal crônico. É um estudo retrospectivo, com
abordagem qualitativa e quantitiva.
A abordagem qualitativa, realizada através da aplicação de entrevistas aos
profissionais do centro transplantador permitiu descrever a situação, identificar três
problemas principais: gerenciamento da fila, necessidade de aumentar a captação de
orgãos e reestruturação do centro de transplante. Foram identificados 16 elementos de
mudança que se traduziram em três mecanismos ou ações de mudança: a) articulação
entre os diferentes serviços; b) racionalidade para a condução das melhores práticas; c)
adoção do melhor resultado para o paciente como valor.
Todas essas ações a autora define como “teoria de mudança de iniciativa”, mesmo
sem usar o vocabulário da Teoria da Mudança usada nos negócios sociais, segue a mesma
intuição: implementar uma iniciativa de melhoria da qualidade do cuidado ao paciente
renal crônico. A Teoria da Mudança como abordagem científica permitiu implementar
iniciativas mais racionais, com espaço para reflexão e aprendizado, visando construir
conhecimento generalizável (Almeida, 2019).
A abordagem quantitativa usada permitiu à autora avaliar os impactos da ação, ou
iniciativa, realizada em 2012. Os efeitos da ação foram avaliados comparando a
experiência de pacientes que foram submetidos ao transplante renal nos cinco anos
anteriores e nos cinco anos seguintes ao da intervenção. Através de uma análise
estatística, a autora constatou que houve a ampliação do acesso ao transplante, assim
como uma maior efetividade do tratamento, avaliado tando na queda do tempo de diálise
quanto no aumento da sobrevida entre os pacientes transplantados. Nesta pesquisa, o
acesso à informações de prontuários dos pacientes ao longo de cinco anos nos permitiu
avaliar os impactos ao longo do tempo, componentes particularmente relevantes quando
se estudam os efeitos da ação na qualidade de vida dos pacientes.

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3.2.8 Iniciativas da Teoria da Mudança para uma gestão escolar inclusiva

A tese de Silveira (2019), intitulada “A gestão para a inclusão: uma pesquisa-ação


colaborativa no meio escolar” objetiva estudar em parceria com a escola, o
desenvolvimento de uma experiência que considere a gestão da aprendizagem na
diversidade, tendo como ponto de partida a constituição de uma gestão coparticipativa.
Os recursos para o desenvolvimento da proposta intitulada “Projeto Gestão da
Aprendizagem na Diversidade (GAD)” envolvem dois grupos de participantes para a
elaboração da mudança organizacional na perspectiva da gestão da escola, sendo o grupo
gestor e o grupo de informantes - professores e alunos.
Para desenvolver o Projeto Gestão da Aprendizagem na Diversidade foram
realizadas as seguintes atividades: (1) identificação das escolas interessadas e que
atendiam aos critérios definidos na pesquisa e, principalmente ter alguns alunos com
deficiência em salas regulares.
Outras ações para efetivar o projeto nas escolas envolveram encontros mensais de
estudos coletivos com todo o grupo de professores da escola e grupo gestor, tendo por
objetivo discutir temáticas ligadas à inclusão. Também foram desenvolvidas ações como
práticas pedagógicas e gestão da sala de aula e atividades de leitura e escrita para alunos
com deficiência.
Em relação aos resultados a partir da elaboração de uma mudança sistêmica com
ações integradas foi proposto um modelo de organização visando a inclusão escolar –
adoção de procedimentos para práticas escolares inclusivas. Dentre os aspectos que
evidenciam um movimento de mudança do contexto escolar inclusivo foram observados:
elaboração de uma política inclusiva; readequação de recursos para atendimentos das
necessidades de inclusão; ações orientadas para o fortalecimento de acessibilidade física;
integração entre os atores do ambiente escolar e cultura de partilha de saberes.
Os principais impactos do projeto foram: mudança na gestão da escola e
favorecimento de mudança na cultura organizacional sob o ponto de vista da promoção
do desenvolvimento profissional contínuo e permanente e incentivo à cooperação.

4. CONCLUSÃO

A pesquisa indicou que a ferramenta Teoria da Mudança aplicada a projetos


sociais contribui para validar e acompanhar os resultados e impactos das ações e
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iniciativas desenvolvidas pelas organizações. Para este procedimento, a identificação de


cada etapa da Teoria da Mudança é influenciada pela base de conhecimento acumulada
na organização.
A trajetória da construção da Teoria da Mudança depende, sobretudo, da definição
do que se pretende alcançar com o projeto a longo prazo. Uma parte do sucesso para o
desenvolvimento da Teoria da Mudança requer a definição clara quanto a relação de causa
e efeito entre a intervenção e os seus resultados.
O conjunto de trabalhos analisados neste estudo revelam que, na realidade, a
Teoria da Mudança é construída e conformada a partir de momentos individuais e
coletivos de intercâmbio de saberes, tendo em vista a especificidade dos recursos das
organizações, do seu meio e das interações com diferentes atores.
No entanto, nem todos os trabalhos analisados distinguem claramente os
elementos para acompanhar o desempenho da iniciativa, mas expressam a necessidade da
adoção de metodologias de avaliação que possam que lhes dar sustentação tanto no
atendimento dos objetivos quanto na geração de benefícios sociais.
Neste sentido, dos estudos analisados, o método de avaliação de impacto mais
usado é o não experimental. Único exemplo de aplicação de um método quase
experimental encontrado nos estudos analisados é a tese de Almeida (2019), visto que a
avaliação do impacto da implantação de mudanças no Centro Transplantador ocorreu com
base na comparação estatística da evolução dos pacientes incluídos no estudo, divididos
nas fases (1) período do transplante e (2) anterior ou posterior à intervenção.

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