Dissertação Fatima Aparecida Dionizio
Dissertação Fatima Aparecida Dionizio
Dissertação Fatima Aparecida Dionizio
PONTA GROSSA
2013
FÁTIMA APARECIDA QUEIROZ DIONIZIO
PONTA GROSSA
2013
Para meus pais Geraldo e Nair, que me ofereceram muito mais do
que as melhores condições de estudo: ensinaram-me como eu
conseguiria alcançar esse objetivo com meus próprios esforços.
Agradeço a Deus pelos dons concedidos, pela coragem para seguir em frente nos
momentos de dúvidas e incertezas e pela realização de mais uma conquista.
Aos meus irmãos Ricardo e Henrique, as minhas cunhadas Vânia e Anice e aos
meus sobrinhos e afilhados Gabriel e Miguel, pela companhia, apoio e incentivo.
Aos meus amados pais Geraldo e Nair por acreditarem em mim, por me
incentivarem nas minhas escolhas e por me ensinarem a seguir sempre o meu coração e a
fazer o meu melhor em todas as situações. As minhas conquistas serão sempre suas.
Obrigada!
RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise dos conhecimentos pedagógicos, curricular e de conteúdo
de professores de matemática da Educação Básica, do município de Ponta Grossa/PR, sobre
Trigonometria. Os dados empíricos foram obtidos por meio da aplicação de um instrumento
contendo diferentes tipos de erros cometidos pelos alunos em atividades de Trigonometria,
para a análise e apontamento de possíveis intervenções pedagógicas pelos professores e
também respostas a conceitos de Trigonometria. Esses dados foram analisados tendo por
subsídios teóricos as contribuições de Shulman (1986, 2001) e as funções e operações
discursivas apresentadas na teoria dos Registros de Representação Semiótica segundo
Raymond Duval (2004, 2009, 2011). O problema de pesquisa que se buscou responder foi:
Como se caracterizam os conhecimentos sobre Trigonometria e qual a natureza dos
conhecimentos relativos a questões sobre a aprendizagem e o ensino de Trigonometria
apresentados por professores de matemática que atuam na Educação Básica? A partir disso os
objetivos da pesquisa foram: caracterizar os conhecimentos sobre Trigonometria apresentados
por professores de matemática que atuam na Educação Básica e; desvelar a natureza desses
conhecimentos dos professores de matemática em relação a questões sobre o ensino e a
aprendizagem da Trigonometria. Para a realização da pesquisa foi adotada a abordagem
qualitativa, de cunho descritivo e explicativo, com os procedimentos metodológicos de análise
sustentados pela análise de conteúdo de Bardin (2009). A organização dos dados contou com
o auxílio do software Atlas.ti por meio do qual foram elencados o conhecimento de conteúdo
da matéria, o conhecimento pedagógico de conteúdo e o conhecimento curricular e as funções
de expansão dos discursos propostas por Duval (2004), para posterior análise. Os resultados
dessa pesquisa indicam que os conhecimentos docentes que se sobressaíram foram os
conhecimentos de conteúdo da matéria a ser ensinada. Esses resultados apontam para a
necessidade de um olhar mais atento pelos professores sobre os demais saberes necessários à
prática educativa e que parecem não estarem sendo postos em prática.
This study presents an analysis of pedagogical, curricular and content knowledge that teachers
of mathematics in basic education, in Ponta Grossa/PR have on Trigonometry. Empirical data
was obtained with the use of a tool containing different kinds of errors made by students in
Trigonometry exercises to be analyzed and point out possible intervention by the teachers as
well as to present responses to Trigonometry concepts. This data was analyzed based on
Shulman’s (1986,2001) theoretical contributions and on the functions and discursive
operations according to the Register of Semiotic Representation theory by Raymond Duval
(2004, 2009, 2011). The research question was: How is knowledge about Trigonometry
characterized and what is the nature of the knowledge related to learning issues and
Trigonometry teaching presented by mathematics teachers who work in basic education? And
the objectives of the study were: to characterize the knowledge of Trigonometry of
mathematics teachers working in basic education and; to reveal the nature of mathematics
teachers’ knowledge in relation to Trigonometry learning and teaching issues.The research
had a qualitative approach, with descriptive and elucidative characteristics, and the analysis
methodological procedures were assisted by Bardin’s (2009) content analysis. The
organization of data was carried out with the aid of the software Atlas.ti, through which the
subject content knowledge, the pedagogical knowledge of content, and the curricular
knowledge were gathered within the discourse expansion function proposed by Duval (2004)
for later analysis. The results of this study indicate that teachers’ knowledge that was more
evident was the knowledge of the subject content. These results point to the need for teachers
to be more attentive to other aspects of knowledge also necessary to their education practice
and which seem to have been disregarded.
Figura 15 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “a”, situação 1....... 67
Figura 16 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “a”, situação 1......... 69
Figura 17 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “a”, situação 2....... 70
Figura 18 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “a”, situação 2......... 71
Figura 19 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “a”, situação 3....... 72
Figura 20 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “a”, situação 3......... 73
Figura 21 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “b”, situação 1....... 74
Figura 22 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “b”, situação 1......... 76
Figura 23 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “b”, situação 2....... 77
Figura 24 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “b”, situação 2......... 78
Figura 25 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “b”, situação 3...... 79
Figura 26 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “b”, situação 3......... 80
Quadro 6 – Organização das respostas dos professores QPM para análise dos dados
empíricos................................................................................................ 54
Quadro 7 – Organização das respostas dos professores PSS para análise dos dados
empíricos..................................................................................................... 55
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
INTRODUÇÃO
1
De acordo com Guelli (1999, p. 54) “numa circunferência, a distância entre dois pontos quaisquer A e B é
chamada de corda”.
12
obra de Ptolomeu. Hiparco também parece ser o responsável pelo uso do círculo de 360°,
pois:
[...] não se sabe bem quando penetrou na matemática o uso sistemático do círculo de
360°, mas parece dever-se em grande parte a Hiparco através de sua tabela de
cordas. É possível que ele tenha tomado de Hipsicles, que anteriormente tinha
dividido o dia em 360 partes, subdivisão que pode ter sido sugerida pela astronomia
babilônica (BOYER, p. 111, 1996).
“jiva”, que significa meia corda, corresponde à razão que hoje é conhecida como “seno”. Foi
a partir da razão seno que surgiram as outras razões trigonométricas, como o cosseno, a
tangente, a cotangente, etc.
13
2
Trata-se de um documento que busca complementar e detalhar as orientações educacionais presentes nos PCN
(BRASIL, 1999).
14
utilização correta e adequada das representações para desenvolver textos em que a matemática
terá o papel de ferramenta para descrever de forma clara e precisa o fenômeno que está sendo
observado. Também é importante observar o tratamento dado à linguagem matemática e sua
articulação com a língua materna.
A “Representação e Comunicação” é uma competência apontada pelos PCN+
(BRASIL, 2005) como uma das metas a serem perseguidas para a escolaridade básica, que
envolve a leitura, a interpretação e a produção de textos nas diversas linguagens e formas
textuais características da matemática. No documento existe uma preocupação de colocar em
evidência as possibilidades de articulação entre os conhecimentos matemáticos que devem ser
trabalhados no Ensino Médio, com outras áreas de conhecimento.
Em relação à aprendizagem da Trigonometria na Educação Básica, esta é apontada
como um desafio por muitos autores que se dedicam ao assunto (LINDEGGER, 2000;
SILVA, 2005; SILVA, 2007). Os alunos apresentam dificuldade em compreender conceitos
básicos da Trigonometria e principalmente em resolver problemas ou aplicar esses
conhecimentos a situações que não sejam as de salas de aula. Isto é inquietante por se tratar de
um longo período disponibilizado para um ensino que aparentemente não está atingindo seu
objetivo final que é aprendizagem dos conceitos trigonométricos, pelos alunos.
Se essa questão for considerada pelo olhar do ensino, a dificuldade pode estar
relacionada aos conhecimentos dos professores envolvidos neste processo. Isto porque os
conhecimentos docentes são entendidos como norteadores da prática dos professores
permitindo um ensino que favoreça, ou não, a aprendizagem dos alunos.
Para uma melhor compreensão dos aspectos que estão envolvidos nos conhecimentos
docentes, foi necessário dedicar parte da pesquisa ao entendimento dos discursos mobilizados
pelos professores. Isso se deve a necessidade de apontar a forma como eles compreendem os
motivos pelos quais os alunos erram ao fazerem atividades de Trigonometria e, também para
explicar os conceitos de Trigonometria que esses professores possuem e que são essenciais
para essa compreensão.
No entanto, para a compreensão desses discursos foi necessária à contribuição de
teorias que se voltam para a análise do discurso. Por essa razão foi utilizada a teoria de
Representações Semióticas de Raymond Duval (2004) no que diz respeito às funções do
discurso: referencial, apofântica, de expansão discursiva e de reflexividade discursiva. Cada
uma dessas funções compreende operações discursivas que podem ser de natureza descritiva,
narrativa, explicativa e de raciocinamento, dessa forma, pode desvelar os conhecimentos
docentes dos professores para o desenvolvimento de práticas pedagógicas para o trabalho com
15
a Trigonometria em sala de aula presentes nesses discursos. Esses conhecimentos podem ser
analisados segundo categorias de conhecimentos propostas por Shulman (1986):
conhecimento de conteúdo, conhecimento pedagógico do conteúdo e conhecimento curricular.
A escolha do trabalho com a Trigonometria foi motivada por uma pesquisa iniciada
em um Curso de Especialização em Educação Matemática, voltada para a identificação da
natureza das dificuldades dos alunos na aprendizagem da Trigonometria. Nesse trabalho foi
possível constatar a dificuldade dos alunos em trabalhar com registros de representação de
objetos trigonométricos, oriunda da falta de conceitualização e, também, em atribuir
significados a sistemas de medidas. Alguns dados empíricos, obtidos por meio dos
instrumentos de coleta de dados, foram utilizados para compor o instrumento de coleta de
informações referente aos conhecimentos docentes dos professores, no que diz respeito à
Trigonometria. Esses dados empíricos apresentavam erros cometidos pelos alunos em
atividades propostas, presentes no instrumento de coleta de dados acima referido. No
instrumento da presente pesquisa os professores deveriam identificar o tipo de erro cometido e
apontar os encaminhamentos pedagógicos para superação de tal dificuldade. Mais adiante
estaremos especificando o instrumento de coleta de dados.
A trajetória percorrida instigou a buscar respostas para o seguinte problema: Como
se caracterizam os conhecimentos sobre Trigonometria e qual a natureza dos conhecimentos
relativos a questões sobre a aprendizagem e o ensino de Trigonometria apresentados por
professores de matemática que atuam na Educação Básica?
Diante desse questionamento foram delineados os seguintes objetivos de pesquisa:
caracterizar os conhecimentos sobre Trigonometria apresentados por professores de
matemática que atuam na Educação Básica; desvelar a natureza dos conhecimentos de
professores de matemática em relação a questões sobre o ensino e a aprendizagem da
Trigonometria.
A pesquisa realizada, de abordagem qualitativa e de cunho descritivo e explicativo,
procedeu à análise dos dados sustentada pela Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (2009)
e, coletou os dados por meio da aplicação de um instrumento que contemplou respostas
erradas de alunos do Ensino Médio em atividades de Trigonometria, conforme já citado
anteriormente, questões relativas ao processo de ensino da Trigonometria e questões
específicas sobre Trigonometria. O instrumento foi aplicado para um grupo de 20 professores
de matemática que atuam na Educação Básica. A partir das respostas dos professores às
questões presentes no instrumento foi possível recolher informações sobre seus
conhecimentos docentes em relação à Trigonometria e aos processos de ensino e
16
CONHECIMENTOS DOCENTES
ANÁLISE ANÁLISE
Teoria dos Registros de Representações
DOS DOS
Semióticas
DADOS DADOS
PRÉ- ANÁLISE
INTERPRETAÇÃO INFERENCIAL
Considerações Finais
Fonte: A autora.
CAPÍTULO 1
Este capítulo é dedicado à apresentação dos subsídios teóricos que fundamentam essa
pesquisa e da revisão de literatura. Serão abordados os conhecimentos docentes com
fundamentação em Shulman (1986, 2001) e também os principais aspectos da teoria, segundo
Raymond Duval (2009) e sua contribuição para a análise do discurso de professores que
ensinam matemática.
De acordo com Almeida e Biajone (2005), no final dos anos de 1980, houve um
movimento reformista nos Estados Unidos e Canadá com o objetivo de reivindicar um status
profissional para os profissionais da educação. Os envolvidos nessa reforma, de acordo com
os autores, acreditavam na existência de uma base de conhecimentos para o ensino, por meio
da qual seria possível estruturar a educação do professor e instituir as práticas de formação.
Dentre a diversidade conceitual e metodológica das pesquisas que se inserem nesse contexto,
conforme apontam Almeida e Biajone (2005), destacamos os trabalhos de Shulman (2001)
que tem contribuído para o fortalecimento do campo educacional dos conhecimentos docentes
e “como pesquisador do programa Knowledge Base3, tem sido referência para as reformas
educativas, não somente norte-americanas, mas também estrangeiras, dada a influência de
seus trabalhos nas pesquisas e nas políticas de outros países” (ALMEIDA E BIAJONE, p. 6,
2005, grifo dos autores).
Shulman (2001, p.168) entende a base de conhecimentos para o ensino como “um
conjunto codificado ou codificável de conhecimentos, habilidades, compreensão e tecnologia,
de ética e disposição, de responsabilidade coletiva” (tradução nossa). O autor busca entender
como se acumulam os conhecimentos pedagógicos e da matéria na mente de jovens que se
tornam professores. Ele coloca que, por meio dessa questão, se revela e se destaca o complexo
corpo de conhecimentos e habilidades necessários para desempenhar com eficácia o ensino
(SHULMAN, 2001).
3
A Knowledge base (base de conhecimentos), de acordo com Shulman (1987) citada por Almeida e Biajone
(2005), é entendida como o corpo de compreensões, conhecimentos, habilidades e disposições de que um
professor necessita para atuar efetivamente numa dada situação de ensino.
19
autor considera que se fosse necessário organizar um manual, ou algo parecido, para organizar
os conhecimentos dos professores, este deveria incluir, no mínimo:
Almeida e Biajone (2005) colocam que a primeira categoria apontada por Shulman
em 1986 é o conhecimento do conteúdo da matéria ensinada, que está ligada a
“compreensão dos processos de sua produção, representação e validação epistemológica, o
que requer entendimento da estrutura da disciplina compreendendo o domínio atitudinal,
conceitual, procedimental, representacional e validativo do conteúdo”. Nas palavras de
Shulman (1986) citado pelos autores (2005, p.7), o professor “[...] não somente precisa
entender que algo é assim, e também por que é assim, bem como em que pressupostos pode
ele obter garantias e sob quais circunstâncias nossa crença na justificação (desses
pressupostos) pode ser enfraquecida ou até mesmo negada [...]”.
A segunda categoria apontada por Shulman (1986) é o conhecimento pedagógico da
matéria que, de acordo com Almeida e Biajone (2005, p. 7), está relacionado aos modos de
formular e apresentar o conteúdo para torná-lo compreensível aos alunos, o que inclui “[…] as
analogias de maior impacto, ilustrações, exemplos, explanações e demonstrações – em uma
palavra, as maneiras de se representar e reformular o conteúdo de tal forma que se torne
compreensivo aos demais” (SHULMAN, 1986 citado por ALMEIDA e BIAJONE, 2005,
p.7). Os autores colocam que esta categoria está relacionada à compreensão docente do que
facilita ou dificulta o aprendizado do aluno, em um determinado conteúdo e que ela vai além
do conhecimento da disciplina por si mesma, abrangendo o conhecimento da disciplina para o
ensino.
A terceira categoria apontada por Shulman (1986), de acordo com Almeida e Biajone
(2005, p.8) é o conhecimento curricular, que busca conhecer o currículo como “o conjunto
de programas elaborados para o ensino de assuntos e tópicos específicos em um dado nível,
bem como a variedade de materiais instrucionais disponíveis relacionados àqueles
programas”. Buscando uma correlação para explicar essa categoria, Shulman (1986) citado
por Almeida e Biajone (2005, p.8) sugere a analogia de que “os professores precisam dominar
o conhecimento curricular para poder ensinar aos seus alunos, da mesma forma que um
médico precisa conhecer os remédios disponíveis para poder receitar”.
Essas três categorias elencadas por Shulman em sua obra de 1986 (conhecimento do
conteúdo da matéria ensinada, conhecimento pedagógico da matéria e conhecimento
curricular), as quais são retomadas e discutidas nos trabalhos posteriores do autor, de acordo
com Almeida e Biajone (2005), serão consideradas como categorias de análises das respostas
dos professores as questões propostas no instrumento de coleta de informações.
23
os alunos sabiam sobre o conteúdo, e outro após a apresentação desse conteúdo. O autor
afirma que foi possível verificar que abordar o conteúdo referente à Trigonometria com a
participação do aluno na construção do conceito, apresentou resultados satisfatórios e que de
acordo com pensamento de Vygotsky, é possível agir na zona de desenvolvimento proximal
dos alunos, impulsionando a aquisição de novos conhecimentos.
Os resultados obtidos por Lindegger (2000) apontaram para um melhor desempenho
e evolução do grupo experimental (GE), pois os alunos desenvolveram com mais propriedade
as competências para a resolução de problemas sob a abordagem escolhida pela sequência de
ensino. O mesmo autor também constatou que houve dificuldades quanto à representação
simbólica, tanto no que se refere à linguagem simbólica matemática, quanto à linguagem
natural.
Silva (2005) abordou a construção de uma aprendizagem significativa para o aluno
por meio de situações-problema que articulam as construções geométricas e o tratamento
figural na abordagem das relações trigonométricas. Para atingir seu objetivo, o autor elaborou
uma sequência didática com quatro atividades, integrando as construções geométricas e o
tratamento figural e aplicou a 13 alunos do 1° ano do Ensino Médio de uma escola particular
de São Paulo.
A elaboração das atividades, segundo Silva (2005), procurou promover a articulação
entre as construções geométricas e as transformações no plano, contendo situações em que
são valorizadas mudanças de ponto de vista que foram observadas durante a análise
epistemológica da Trigonometria e aproveitou situações que ocorreram na história da
matemática. Ele concluiu que houve evolução conceitual dos alunos das relações
trigonométricas com a sequência de ensino proposta. Além disso, os alunos recorreram ao
tratamento figural e isso contribuiu para que fossem produzidas conjecturas a respeito das
relações entre lados e ângulos nos triângulos retângulos.
O objetivo da pesquisa de Silva (2007) em sua dissertação foi de investigar como os
estudantes utilizam se de registros de representação e semiótica durante a resolução de
problemas matemáticos. Para alcançar seu objetivo, a autora aplicou quatro problemas
formulados com base no ENEM, a cinquenta e oito alunos de cinco turmas do 3° ano do
Ensino Médio de uma escola pública de São Paulo, que posteriormente foram analisadas
fundamentando-se em referenciais da teoria dos Registros de Representação Semiótica de
Raymond Duval (1993).
Em sua pesquisa, Silva (2007) constatou que poucos alunos utilizam mais de um
registro de representação semiótica durante a resolução de problemas. O registro em
25
4
Essa proposta de ensino e aprendizagem foi sugerida pela autora em sua dissertação de Mestrado em 1994.
26
matemática”. Brighenti (2001, p. 39) coloca que por meio dessa categoria as professoras
revelam “suas representações a respeito das concepções dos alunos sobre o ensino de
matemática e a respeito de sua prática de ensino da matemática”.
Entre outras constatações Brighenti (2001) percebeu que as professoras ainda
permanecem com a concepção tradicional de ensino e que apresentam pouca reflexão sobre
sua prática, além de não valorizarem as dificuldades básicas dos alunos e de não acreditarem
no potencial deles. A autora considera que o procedimento realizado nesta pesquisa:
A partir dessa síntese, Bairral (2003, p.10) observa que o conhecimento do professor
precisa ser visto “como um construto que se move em diferentes domínios e está em constante
desenvolvimento, que sofre (e provoca) influências do/no contexto do qual está integrado e
dos processos de colaboração e interações profissionais diversas”.
Diferentemente do trabalho anterior, Ribeiro (2009) aborda em seu estudo o
conhecimento matemático para o ensino. Procede realizando uma discussão sobre as bases
teóricas da multiplicação de dois números decimais com um grupo de trabalho colaborativo
num programa de formação continuada. Com esse trabalho o autor constatou que há uma falta
de conhecimentos dos professores sobre como explicar aos seus alunos a forma de efetuar a
multiplicação de dois números decimais, de forma compreensível e que lhes permita utilizar
os algoritmos com compreensão.
29
5
Obra denominada “Semiosis y pensamiento humano: registros semióticos y aprendizajes intelectuales”
(DUVAL, 2004).
6
Termo utilizado para expressar o “ato de raciocinar” por ser o que melhor traduz a palavra francesa
“raisonnement”, originalmente empregada por Raymond Duval.
31
valor, o modo ou o status combinado para uma expressão por parte de quem a anuncia. A
estas funções Duval (2004) denomina de referencial, quando designa objetos; apofântica,
quando são expressos enunciados completos; de expansão discursiva, quando há a articulação
de enunciados completos em uma unidade coerente; de reflexividade discursiva, quando há
transformação potencialmente recorrente de um enunciado completo. Essas funções podem
ser mais bem observadas na Figura 2.
Figura 2 – Esquema das funções meta-discursivas e funções discursivas Segundo Raymond Duval (2004)
FUNÇÕES META-DISCURSIVAS
TRANSFORMAÇÃO DE OBJETIVAÇÃO DE
COMUNICAÇÃO REPRESENTAÇÕES REPRESENTAÇÕES
COGNITIVAS VISUAIS
FUNÇÕES DISCURSIVAS
Referencial Apofântica De expansão Reflexividade
discursiva discursiva
Argumentação Dedução
Regras que tratam das formas de expressão: Retória lógica
pode ser produzida em continuidade discursiva com outra unidade apofântica, as quais se
embasam em uma similaridade entre as duas. Esta similaridade pode ser determinada por
meio de duas dimensões: a) presença ou ausência de significantes comum às duas unidades e;
b) a mediação ou não por meio de uma terceira unidade apofântica (DUVAL, 2004).
Por meio desses aspectos, Duval (2004, p.116) coloca que é possível obter “quatro
formas fundamentais possíveis de expansão discursiva no registro de uma língua” (com
presença de significante comum e mediação por meio de uma terceira unidade; com
ausência de significante comum e mediação por meio de uma terceira unidade; com
presença de significante comum e não mediação por meio de uma terceira unidade; com
ausência de significante comum e não mediação por meio de uma terceira unidade).
Podemos exemplificar com as unidades apofânticas “o botijão de gás explodiu” e “a
casa queimou” que não possuem significantes em comum, mas que possibilitam uma
expansão discursiva por meio da mediação de uma terceira unidade apofântica: “a casa
queimou porque o botijão de gás explodiu”. Essa expansão é possível por meio de uma
unidade apofântica mediadora, pois a explosão de um botijão de gás provoca fogo.
Outro exemplo de similaridade é apresentado por Duval (2004) para apontar a
possibilidade de expansão discursiva em virtude da dualidade sentido/referência. Duas
unidades apofânticas podem ser similares semanticamente pelo fato de haver continuidade
entre dois enunciados em ausência de significantes comuns: 50 + 1 e 18/9. Nesse caso apesar
do sentido diferente de cada uma das expressões elas fazem referência a um mesmo número.
Essas duas unidades apofânticas expandem o discurso podendo ser substituídas pelo número
2.
Para análise dos discursos dos professores de matemática optou-se por trabalhar com
a função discursiva de expansão discursiva, embora fosse possível trabalhar, também, com a
função discursiva de reflexividade discursiva. Essa escolha se deve ao entendimento de que os
discursos dos professores de matemática seriam mais bem interpretados pelas quatro formas
de expansão discursiva de uma expressão (DUVAL, 2004) que serão apresentadas na
sequência. A análise fundamentada na função discursiva de reflexividade discursiva
(DUVAL, 2004) poderá ser realizada em outro momento, pois é uma função discursiva que
permite compreender a relação que o locutor quer estabelecer com o interlocutor.
Se a análise fosse realizada em relação a discursos de crianças, também seria
interessante considerar as funções discursivas: referencial e apofântica. Isso porque no
discurso de um adulto entende-se que ele tem condições de designar um objeto ou de
36
Cálculo proposicional,
Linguagem do inconsciente cálculos de predicados
Expansão COGNITIVA
Expansão NATURAL
(exige o conhecimento de definições,
(somente o conhecimento da linguagem
regras e leis para um domínio de
Similaridade semântica corrente é suficiente)
objetos)
Lei de Frege:
Significantes diferentes e
Descrição, Narração Explicação
mesmo objeto.
(Invariância referencial
Argumentação retórica Raciocinamento dedutivo
estrita ou global)
Silogismo aristotélico
(proposição de estrutura temática (proposição de estrutura temática
predicativa) condicional)
CAPITULO 2
Fonte: Atividade resolvida por alunos do Ensino Médio (DIONIZIO, BRANDT, 2011)
Três tipos de erros, cometidos pelos alunos, foram incluídos no instrumento aplicado
aos professores, para que eles identificassem o tipo de erro cometido e apontassem uma
possível intervenção para levar os alunos a refletirem sobre o erro cometido e superarem as
dificuldades. Estamos denominando de erro, respostas dadas pelos alunos do Ensino Médio
que apresentavam relações trigonométricas não válidas, erros de matemática básica ou erros
de utilização de unidades de medidas. Na nossa concepção o foco no erro do aluno é
importante, pois consideramos que ele deve ser o ponto de partida da reorganização da prática
educativa do professor. Também consideramos importante a concepção de avaliação, que
quando tem o papel apenas de classificar e apontar o que já aconteceu, está direcionada para a
Pedagogia Tradicional, a qual possui um olhar estático sobre o educando, segundo Luckesi
(2011). Esse olhar é contrário ao da prática da avaliação da aprendizagem, que tem o papel de
subsidiar o que está sendo construído e que não espera resultados bem sucedidos, mas busca
40
8 3 = 2ℎ ℎ=4 3
ℎ = 4.1,7
ℎ = 6,8
Fonte: Atividade resolvida por alunos do Ensino Médio (DIONIZIO, BRANDT, 2011)
3. 8 = 3𝑥
3 .8 3. 8 24
=𝑥
3 3 3
Fonte: Atividade resolvida por alunos do Ensino Médio (DIONIZIO, BRANDT, 2011)
7
HOFFMANN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.
41
a
c
b
De acordo com os dados responda:
a) Qual a altura da rampa, representada por h
no desenho?
b) Qualao=comprimento
b+C C =da22 metros
rampa inclinada?
30o = 8 + C
30 – 8 + C
Fonte: Atividade resolvida por alunos do Ensino Médio (DIONIZIO, BRANDT, 2011)
Para iniciar a coleta de dados com os professores da rede estadual de ensino foi
necessária uma autorização da Superintendência de Desenvolvimento Educacional do Paraná.
Inicialmente esse pedido foi feito ao Núcleo Regional de Educação de Ponta Grossa, que fez o
encaminhamento. A Superintendência é responsável por garantir o suporte físico que viabiliza
o funcionamento dos estabelecimentos da rede estadual de educação básica. Cabe a ela
promover a elaboração e implementação do plano de obras e manutenção dos prédios
escolares, planejar e administrar questões relacionadas à infraestrutura escolar (como
alimentação, mobiliário e equipamentos) e fornecer indicadores e dados estatísticos que
subsidiem os gestores das escolas e a comunidade escolar.
A preferência pelos professores da rede estadual de educação básica se deve ao fato
de que eles constituem um maior número em relação aos professores de matemática da rede
privada, e, por essa razão, uma maior representatividade em se tratando da formação
matemática dos alunos. No município de Ponta Grossa o número de escolas particulares que
ofertam a segunda fase do Ensino Fundamental e o Ensino Médio é 38. E o número de escolas
44
da Rede Estadual de que ofertam essas mesmas etapas de ensino, inclusive Educação de
Jovens e Adultos é 50.
Com a autorização da Superintendência em mãos, para a aplicação do instrumento de
coleta de informações (Apêndice), foram selecionadas dez escolas da Rede Estadual de
ensino, com o auxílio das informações contidas no site da Secretaria Estadual de Educação do
Paraná. O critério para a escolha das escolas foi o número de professores que lecionam
matemática. Foram selecionadas as escolas que possuem mais de nove professores,
considerando todos os níveis de ensino (Ensino Fundamental - anos finais, Ensino Médio,
Educação de Jovens e Adultos e salas de apoio) e todos os turnos (manhã, tarde e noite). No
total foram contabilizados 118 professores, mas o número real pode ser menor pelo fato de
alguns professores lecionarem em mais de uma escola.
Os questionários foram entregues para os diretores e equipe pedagógica, em cada uma
das dez escolas, que ficaram responsáveis por entregar e recolher junto aos professores.
Acompanhou o questionário um termo de consentimento que os professores deveriam assinar
ao entregá-lo respondido. Esse termo de consentimento foi considerado importante para que
os professores pudessem manifestar sobre sua decisão em participar da pesquisa e para
autorizar a utilização e divulgação dos dados.
Dos 118 questionários entregues para as 10 escolas, apenas 20 retornaram, de 9
escolas. Em relação ao baixo retorno, os professores de matemática alegaram: não trabalhar
com esse conteúdo na série em que lecionam; não ter tempo para respondê-lo devido às
provas e trabalhos que possuíam para corrigir; que o questionário era extenso e difícil. E
também sugeriram que as questões propostas fossem de múltipla escolha.
2, 3,..., 20. Uma mesma escola pode caracterizar diferentes professores, no caso de mais de
um professor lecionar naquela escola.
Os sujeitos também foram caracterizados em relação ao seu perfil que compreende
idade, sexo, rede de ensino (estadual ou particular) e contrato de trabalho (quadro próprio do
magistério, QPM8, ou Processo Seletivo Simplificado, PSS9). Além dessas informações é
possível caracterizar esses professores de acordo com sua formação (curso de graduação,
licenciado ou bacharel, curso de pós-graduação, PDE, mestrado ou especialização). Também
com informações relativas ao número de aulas semanais e tempo de magistério. No Quadro 3
essas informações são apresentadas de forma sintética.
Quadro 3 – Perfil dos participantes da pesquisa
(continua)
PROFESSORES QPM
Rede de Contrato Curso de Aulas por Tempo de
Sujeitos Idade Sexo Formação
ensino de trabalho graduação semana magistério
licenciatura; mais de 15
A1 - F Estadual QPM matemática 20 a 40 h
PDE; mestrado anos
licenciatura e
A2 43 M Estadual QPM matemática 20 a 40 h até 15 anos
especialização
licenciatura e
B3 44 M Estadual QPM matemática até 20 h até 15 anos
especialização
matemática,
Estadual e licenciatura e mais de 15
B4 43 M QPM ciências e 20 a 40 h
particular especialização anos
direito
licenciatura e mais de 15
C5 51 M Estadual QPM matemática até 20 h
especialização anos
licenciatura e mais de 15
C6 55 M Estadual QPM matemática até 20 h
especialização anos
licenciatura e mais de 15
C7 43 M Estadual QPM matemática 20 a 40 h
especialização anos
mais de 15
D8 44 M Estadual QPM matemática licenciatura 20 a 40 h
anos
Estadual e licenciatura e
E9 41 F QPM matemática 48h até 15 anos
particular especialização
licenciatura;
F10 42 F Estadual QPM matemática especialização; 20 a 40 h até 15 anos
PDE
licenciatura e mais de 15
F11 42 F Estadual QPM matemática 20 a 40 h
especialização anos
licenciatura e
F12 34 F Estadual QPM matemática 20 a 40 h até 10 anos
especialização
licenciatura e
F13 34 M Estadual QPM matemática 20 a 40 h até 10 anos
especialização
não
G14 26 F Estadual QPM matemática licenciatura 20 a 40 h
respondeu
licenciatura e mais de 15
H15 48 F Estadual QPM matemática 20 a 40 h
especialização anos
8
QPM são os professores concursados em caráter permanente e com habilitação específica para atuar na
disciplina que lecionam.
9
PSS são os professores temporários, contratados por tempo determinado para atender as necessidades
específicas (licença médica, licença maternidade, aulas excedentes, etc.)
46
Essas duas funções de análise de conteúdo, de acordo com a autora, podem coexistir
de maneira complementar. Tudo vai depender da experiência de quem está analisando as
mensagens e da natureza das informações (BARDIN, 2009).
47
2.2.1 Pré-análise: descrição dos procedimentos metodológicos para organização dos dados
10
Pinto e Santos (2012) entendem a grounded theory enquanto um estilo de pesquisa.
49
Tendo em vista essas considerações sobre o software Atlas.ti, os dados obtidos por
meio do instrumento de coleta de informações foram digitados e salvos em formato ‘doc’ para
compor os documentos primários. Na sequência foram criados os códigos para associação das
respostas apresentadas pelos professores, os quais foram categorizados conforme adaptação
da organização apresentada por Tozetto (2010), a autora fundamentou-se em Shulman (1986)
para contemplar os conhecimentos docentes no que se refere ao conhecimento do conteúdo,
conhecimento curricular do conteúdo e conhecimento pedagógico do conteúdo, e em Duval
(2004) no que diz respeito às funções do discurso.
A organização apontada por Tozzeto (2010) foi utilizada como categoria para análise
dos dados. Para cada uma das categorias foram criados os seguintes códigos no software
Atla.ti:
a) CCM_N/D para a categoria conhecimento de conteúdo da matéria a ser ensinada
(CCM) em relação às funções de expansão discursiva de narração ou descrição
(N/D);
b) CCM_E para a categoria conhecimento de conteúdo da matéria a ser ensinada
(CCM) em relação às funções de expansão discursiva de explicação (E);
c) CCM_R para a categoria conhecimento de conteúdo da matéria a ser ensinada
(CCM) em relação às funções de expansão discursiva de raciocinamento (R);
d) CPC_N/D para a categoria conhecimento pedagógico de conteúdo (CPC) em
relação às funções de expansão discursiva de narração ou descrição (N/D);
e) CPC_E para a categoria conhecimento pedagógico de conteúdo (CPC) em relação
às funções de expansão discursiva de explicação (E);
50
níveis de ensino e o conhecimento sobre os materiais instrucionais que podem ser utilizados.
(SHULMAN, 1986, apud ALMEIDA & BIAJONE, 2007).
No que se refere à função de expansão discursiva e às quatro formas de operações
discursivas, a categorização N/D (narração e/ou descrição) está relacionada a uma forma de
expansão que Duval (2004) coloca como sendo “natural”, na qual somente o conhecimento da
linguagem natural é suficiente para o entendimento da informação. Tanto a narração, quanto a
descrição são entendidas sob esse aspecto, por que ambas fazem parte dessa expansão natural
da qual o autor se refere.
11
GRIZE, J. B. Schématisation et Logique naturelle. In : BOREL; GRIZE; MIÉVILLE (orgs.). Essai de logic
naturalle. Berne : Peter Lang, 1983. p. 99-145.
12
BENVENISTE, E. Problèmes de linguistique génerale, 2. Paris : Gallimard, 1974.
53
Quadro 6 – Organização das respostas dos professores QPM para análise dos dados empíricos
(conclusão)
Shulman Conhecimento de Conteúdo da Conhecimento Pedagógico de Conhecimento
(1986) Matéria a ser ensinada (CCM) Conteúdo (CPC) Curricular (CC) Sem
Duval resposta
N/D E R N/D E R N/D E R
(2004)
12 11
(C6, F10, (B3, A1,
F13, A1, C5, A2,
Questão 2 1
C5, A2, C7, C7, D8,
4B3 (F13,B4) (B3)
D8, E9, E9, F11,
F11, F12, F12, H15,
H15, G14)
10
3
(A1, B4,
(A2, 2
Questão C5, C7, E9,
B3, (D8,
5 F10, F11,
C6, H15)
F12, F13,
G14)
G14)
13
(A1, A2,
B4, C5, C6, 2
Questão 1
C7, D8, E9, (C7,
6 (G14)
F10, F11, B3)
F12, F13,
H15)
12
(A1, A2,
B3, C5,
Questão 1 1 1
C6, C7,
7 (F13) (B4) (H15)
D8, E9,
F10, F11,
F12, G14)
Fonte: Instrumento de coleta de informações aplicado para os professores de matemática (Apêndice)
Para as respostas dos 5 professores PSS, uma síntese da organização pode ser
observada no Quadro 7.
Quadro 7 – Organização das respostas dos professores PSS para análise dos dados empíricos
(continua)
Conhecimento de Conteúdo Conhecimento
Shulman Conhecimento Pedagógico
da Matéria a ser ensinada Curricular Sem
(1986) de Conteúdo (CPC)
(CCM) (CC) respost
Duval a
N/D E R N/D E R N/D E R
(2004)
4
(C16,
2 1
Questão 1 D17,
(F18, I20) (G19)
F18,
I20)
2 2
1
Questão 2 (C16, (D17,
(I20)
G19) F18)
4
(C16,
1
Questão 3 D17,
(I20)
F18,
G19)
5
Questão (C16,
4A1 D17, F18,
G19, I20)
56
Quadro 7 – Organização das respostas dos professores PSS para análise dos dados empíricos
(conclusão)
5
Questão (C16,
4A2 D17, F18,
G19, I20)
4
Questão 1 (C16,
4A3 (F18) D17, G19,
I20)
3
3 2
(C16,
Questão 4B1 (C16, (G19,
D17,
D17, F18) I20)
F18)
3 3
2
(C16, (C16,
Questão 4B2 (F18,
D17, D17,
I20)
G19) G19)
4
4
(C16,
(C16, 1
Questão 4B3 D17,
D17, F18, (I20)
F18,
G19)
G19)
3
3
(D17,
Questão 5 (C16,
G19,
D17, F18)
I20)
5 3
(C16, (D17,
Questão 6
D17, F18, F18,
G19, I20) I20)
3
2
(F18,
Questão 7 (C16,
G19,
D17)
I20)
Fonte: Instrumento de coleta de informações aplicado para os professores de matemática (Apêndice)
2.2.2 Descrição analítica: dados obtidos por meio do Instrumento para coleta de informações
Para cada uma das questões, foi feita uma representação gráfica com o auxílio do
software Atlas.ti. Essa representação só foi possível depois que as respostas foram
categorizadas de acordo com os códigos criados para expressar os conhecimentos docentes e
as operações discursivas, conforme mencionado no capítulo anterior.
As respostas dos professores QPM para a questão 1 “COMO PROCEDERIA AO
PROPOR CONTEÚDOS DE TRIGONOMETRIA PARA OS ALUNOS?” foram
organizadas conforme sua associação com as categorias. Ressalta-se que, por vezes, numa
mesma resposta encontravam-se mais de uma categoria. Por essa razão sua essa resposta foi
associada simultaneamente a essas categorias. Esse tipo de organização referente a questão 1
pode ser mais bem visualizada na Figura 9.
57
G14
H15
A1
G14 “Utilizo a sequência dos conteúdos a meu favor, no 1º ano do ensino médio
trabalhando bem os conceitos de relação e função”
G14 “proponho o “desafio”: como alguém mediria a altura de uma grande árvore
ou prédio sem precisar subir/escalar este”
13
Os sujeitos podem ser identificados na representação gráfica por meio do primeiro número que aparece em
cima das respostas. O segundo número refere-se à quantidade de parágrafos.
58
A resposta de A1 também está ligada a mais de uma categoria porque parte de sua
resposta está relacionada ao Conhecimento Curricular (CC) e outra parte ao Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo (CPC). Na parte do discurso de A1 referente ao CC ele afirma:
Esse professor está apontando que a forma como o currículo é organizado, faz com
que o trabalho com esse conteúdo seja realizado no 1° ano do Ensino Médio, não sendo
possível aprofundar no assunto. A categorização dessa parte da resposta de A1 como de
narração ou descrição em relação às operações de expansão discursivas, se deve ao fato da
não utilização de termos específicos de um campo do conhecimento, permitindo o
entendimento do discurso apenas pelo conhecimento da linguagem natural. Em outra parte do
discurso A1 afirma:
Essa parte da resposta de A1 foi categorizada como CPC por expressar a forma como
o professor pretendia conduzir sua prática de ensino e como Explicação (E) pela utilização de
termos que exigem o conhecimento sobre esse campo do conhecimento, no caso das relações
métricas e trigonométricas no triângulo retângulo e da construção do geoplano.
O professor H15 também teve sua resposta relacionada a duas categorias por
apresentar um discurso com referências ao Conhecimento Curricular (CC) e ao Conhecimento
de Conteúdo da Matéria (CCM) ao afirmar:
I20
F18
Teorema de Pitágoras e os elementos do triângulo que são necessários para a aplicação das
razões trigonométricas: seno, cosseno e tangente. Mesmo que o Conhecimento Pedagógico
de Conteúdo se refira ao método tradicional, o que também se expressa na resposta de F18:
G14
F13
H15
F13 “Que o aluno saiba o por que de estar fazendo esses cálculos, e que entenda o
por que estarmos utilizando cada ferramenta da matemática e que conclua se o
61
Por meio dessa resposta F13 indica que o professor entende que esse
encaminhamento pedagógico levaria o aluno a entender o que está fazendo de cálculos,
identificaria uma aplicação da matemática e teria a capacidade de concluir sobre os resultados
alcançados. Essa afirmação permite expandir o discurso do professor de modo que possamos
inferir que essas capacidades e habilidades só seriam possíveis por meio dessa forma de
encaminhamento do processo de ensino, por meio do qual o aluno teria uma participação mais
ativa. A resposta de H15, categorizada como CCM indica que o professor só se refere aos
conhecimentos específicos da matéria a ser ensinada sem indicativos de procedimentos
metodológicos para organização da prática educativa, permitindo inferir, por meio da
expansão do discurso, que basta focar nos conteúdos de ensino para atribuição de significação
aos objetos de ensino (conceitualização):
A parte da resposta de G14 categorizada como CCM indica que o professor acredita
ser essencial o domínio de conteúdos:
G14 “1º domínio de conteúdo pois ninguém (nenhum profº) ensina o que não
aprendeu”
No entanto, na continuidade de sua fala, podemos inferir que ele julga não ser
suficiente ao apontar a necessidade de procedimentos metodológicos mais adequados e
eficientes para o ensino, e por essa razão, parte de sua resposta categorizada como CPC:
conduzir o processo de ensino voltado no despertar deste interesse. Essa conscientização não
deve tornar o estudante um receptor passivo de informações e reprodutor de regras e
procedimentos mecanizados, ao contrário, que o leve a participar ativamente deste processo.
Para a questão 2, as respostas dos professores PSS foram categorizadas conforme a
Figura 12.
Figura 12 – Respostas dos professores PSS para a questão 2
C16 G19
I 20 D17 F18
A categorização das respostas dos professores PSS para a questão 2 não foi
homogênea. A resposta de I20 foi identificada como Conhecimento de Conteúdo da Matéria e
operação de expansão discursiva de explicação (CCM_E), devido à preocupação do professor
com aspectos específicos do conteúdo e a utilização de uma linguagem que exige o
entendimento que a utilização adequada dos dados do triângulo permite encontrar a solução
de um determinado problema, por meio das razões trigonométricas:
F18 “Enfatizar e explicar muito bem quem são os catetos (ângulos agudos) e quem
é a hipotenusa”
compreender o motivo pelo qual F18 enfatiza a importância de ensinar esses conceitos para os
alunos. O que justifica sua categorização como de operação de expansão discursiva de
explicação.
As respostas de C16 e G19 pertencem às categorias de Conhecimento Pedagógico de
Conteúdo e operação de expansão discursiva de narração/descrição (CPC_N/D) por também
estarem relacionadas à prática pedagógica do professor:
C16 “O aluno deve assimilar bem o conteúdo associando a teoria com a prática.
Penso que o aluno deve relacionar pelo menos 30% do conteúdo teórico com o
prático”
Por meio da expansão do discurso desses professores é possível inferir que para o
aluno assimilar o conteúdo e para que as aulas sejam mais dinâmicas, é preciso ações
pedagógicas que favoreçam.
As respostas dos professores QPM para a questão 3 “COMO ACREDITA QUE OS
ALUNOS RESPONDERIAM A ESTA PROPOSTA?” podem ser mais bem visualizadas
na Figura 13.
Figura 13 – Respostas dos professores QPM para a questão 3
F13
H15
A2
Todas as respostas para essa questão 3 foram categorizadas como CPC por estarem
relacionadas com aceitação ou não dos alunos à proposta de ensino apresentada pelos
professores. Essa categorização pode ser identificada na resposta de H15, em que o professor
64
expressa seu descontentamento em relação à aceitação de seus alunos que não correspondem
às práticas de ensino:
H15 “Hoje em dia nossos alunos não respondem a nada, pois estão alheios ao
saber, pelo menos no colégio em que trabalho no ensino médio ”
Essa resposta permite inferir que a culpa do desinteresse pelas propostas do professor
é dos alunos, revelando que ele não poderá fazer nada para reverter esse quadro. Nesse caso a
crença do professor em relação aos saberes pedagógicos de conteúdo não contribui para que
ele pense em propostas motivadoras e de envolvimento participativo dos alunos para despertar
o interesse em aprender e superar dificuldades. Também na resposta de F13, em que além da
falta de interesse dos alunos, aponta a dificuldade em relação a questões de organização da
escola que dificulta sua prática de ensino:
No caso de F13, por meio da expansão desse discurso, pode-se inferir que os saberes
pedagógicos de conteúdo não são suficientes para permitir ao professor alteração do quadro
que se apresenta. Novamente a culpa é atribuída a outrem: a escola, o aluno,...., etc. Pode-se
inferir que os saberes pedagógicos de conteúdo deveriam respaldar a organização da prática
educativa do professor levando-o a enfrentar os desafios e a superar as dificuldades.
No que se refere à função de expansão discursiva de narração ou descrição, todas as
respostas foram categorizadas dessa forma, por que apenas o conhecimento da linguagem
corrente é suficiente para o entendimento dos discursos desses professores para essa questão.
Na resposta de A2, por exemplo, ele afirma que:
Em relação à questão 3, as organização das respostas dos professores PSS pode ser
visualizada na Figura 14.
Figura 14 – Respostas dos professores PSS para a questão 3
D17
I 20 F18
C16 G19
As respostas dos professores para essa questão 3 foram todas categorizadas como
Conhecimento Pedagógico de Conteúdo (CPC), porém 1 delas foi categorizada como de
operação de expansão discursiva de explicação (E) e as outras 4 como de narração/descrição
(N/D). O discurso de I20 categorizado como CPC_E, além de estar se referindo a forma de
aceitação, ou não, dos alunos sobre a prática do professor, é formado por uma linguagem que
exige o entendimento de que se o aluno compreendesse o Teorema de Pitágoras ficaria mais
fácil a compreensão das relações trigonométricas:
D17 “Reclamariam como sempre, pois para o aluno mesmo que mostramos
aplicações do conteúdo proposto eles nunca se interessam ou simplesmente ignoram
as aplicações e saem com a velha frase ‘mas eu nunca vou usar isso’ ”
66
F18 “Quando o aluno apresenta interesse ele responde muito bem, porém aqueles
que dizem: - não sei, fácil p/ você que é professora; é muito difícil despertar
interesse em qualquer assunto”
Figura 15 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “a”, situação 1
F13
B3
A1
C7 F10 D8
As respostas dos professores para a situação 1 da questão 4, item “a”, foram todas
categorizadas como CCM_E (Conhecimento de Conteúdo da Matéria) e como operação de
expansão discursiva de explicação, por apresentarem conhecimentos relacionados ao
conteúdo da matéria a ser ensinada, no caso a Trigonometria. A resposta de D8 apresenta, por
exemplo, argumentação com aspectos específicos do conteúdo e utiliza termos que se referem
ao próprio campo de conhecimento matemático, ao tratar de cateto oposto, cateto adjacente e
hipotenusa:
Da mesma forma F13 ao dizer que o aluno utilizou cos 30° quando deveria ter
utilizado a tg 30°, o que também pode ser observado nas respostas de C6 e F11:
Figura 16 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “a”, situação 1
I 20
D17
F18 C16 G19
Todas as respostas dos professores PSS para a situação 1 do item “a” foram
categorizadas como Conhecimento de Conteúdo da Matéria e operação de expansão
discursiva de explicação (CCM_E). Os professores C16, F18 e G19 apresentam argumentos
sobre conteúdos específicos da disciplina, ao afirmarem que o aluno confundiu ou não
reconhece as relações trigonométricas e os elementos do triângulo retângulo:
Esses professores também utilizam uma linguagem que exige o conhecimento de que
os termos utilizados referem-se aos lados dos triângulos, que recebem uma nomenclatura
específica dependendo da posição em que estão em relação ao ângulo conhecido.
As respostas de D17 e de I20 também apresentam argumentos referentes a conteúdos
específicos da disciplina e exige o conhecimento da linguagem utilizada pelo professor,
porém esses professores referem-se à falta de interpretação do aluno, evidenciando que o
aluno sabe o conteúdo, mas não utilizou de forma correta:
D17 “O aluno não soube interpretar a atividade proposta bem como não sabe
utilizar corretamente as relações trigonométricas”
G14
Esse aspecto permite inferir que G14 acredita que o fato do professor “dar” aulas
para seus alunos é o suficiente para que eles aprendam a utilizar corretamente os conceitos
ensinados. E por essa resposta de G14 ser categorizada como operação de expansão discursiva
de narração ou descrição, é devida a utilização de termos comuns, que não exigem
conhecimentos específicos de um campo do conhecimento para o entendimento de seu
discurso.
A resposta de F10 foi incluída em duas categorias, por apresentar como resposta:
71
Essa afirmação está relacionada tanto ao CCM, em que ele argumenta sobre o
conteúdo que o aluno precisa aprender, quanto ao CPC, devido a sua preocupação de seja
ensinado para o aluno (tarefa do professor) que no teorema de Pitágoras as unidades de
medidas que se trabalham são as de comprimento e não de grau. Ambas as categorias da
resposta de F10 foram elencadas como operações de expansão discursivas de explicação
devido à necessidade de se conhecer sobre as unidades de medidas para o trabalho com o
teorema de Pitágoras.
Para a situação 2, do item “a”, da questão 4, as respostas dos professores PSS foram
categorizadas conforme é possível visualizar na Figura 18.
Figura 18 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “a”, situação 2
I 20
C16
A respostas dos professores PSS, para a situação 2 do item “a”, também foram todas
categorizadas como Conhecimento de Conteúdo da Matéria e operação de expansão
discursiva de explicação (CCM_E) por apresentarem aspectos relativos a própria disciplina e
exigirem o conhecimento da linguagem específica da matemática. As respostas de C16, G19 e
I20 estão relacionadas à categoria de CCM_E pela explicação que os professores apresentam
de que o erro do aluno está no fato dele utilizar o Teorema de Pitágoras sem os dados
necessários e de que ele não percebeu a necessidade de utilização do ângulo apresentado no
triângulo para encontrar a solução do problema, assim como o D17 e o F18 que apresentam
argumentos relativos à própria disciplina e, além disso, expressam sua indignação diante do
erro do aluno:
72
I20 “O aluno também não soube interpretar, pois nem percebeu que faltam dados
para utilizar Pitágoras, ele não se deu conta que tinha que trabalhar com 30º ”
D17 “Acredito que o aluno queria aplicar Pitágoras devido á rampa apresentar
um ângulo reto, porém Pitágoras dessa maneira nunca havia visto antes. Haja
imaginação”
Para a situação 3 (erros de matemática básica) do item “a” (Qual tipo de erro
apresentado pelos alunos em cada uma das situações?) da questão 4, a categorização das
respostas dos professores QPM pode ser visualizada na Figura 19.
Figura 19 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “a”, situação 3
A1
A2
F10
D8
C5
resposta de F10, por exemplo, permite inferir que sua consideração se deve a sua comparação
com a situação 2, apresentada anteriormente, em que o aluno erra ao trabalhar com unidades
de medidas diferentes como se fossem a mesma coisa, ao afirmar que:
Esse professor faz referência à situação anterior para justificar que o aluno está no
caminho certo, porém não deixa claro o tipo de erro que o aluno cometeu e a quê se refere
quando diz erro de matemática básica. As respostas de A1, A2, D8 e C5 também
exemplificam a referência dos professores a conteúdos específicos da disciplina:
F 18
D17 G19
Para essa situação 3, nas respostas dos professores PSS também foram todas
categorizadas como Conhecimento de Conteúdo da Matéria (CCM), porém uma das respostas
foi categorizada como operação de expansão discursiva de narração/descrição (N/D)
diferentemente das outras 4 respostas que foram incluídas na categoria de explicação
(CCM_E) por apresentarem aspectos relativos a própria disciplina e exigirem o conhecimento
da linguagem específica da matemática. A resposta de F18 permite o entendimento de que o
74
aluno não soube como terminar de resolver a situação a partir do momento em que ele se
deparou com uma raiz quadrada, o que não exige o conhecimento específico de conteúdo para
entender o que o professor afirmou por meio de seu discurso:
F18 “Até a metade a situação estava “indo”, contudo deparou-se com a operação
que envolve raiz, tentou deixar como resposta um número natural e do jeito dele
conseguiu! Mas resposta errada”
D17 “O erro cometido ocorreu devido ao aluno ignorar a raiz quadrada. Aplicou
corretamente a relação trigonométrica”
C5
F12
Nessa situação 1, do item “b” apareceram diferentes relações entre as categorias dos
15 professores QPM, 9 apresentaram respostas categorizadas como Conhecimento
Pedagógico de Conteúdo em relação as operações de expansão discursivas de narração ou
75
F12 “É preciso que o aluno identifique quais são os dados que o problema
apresenta e como cada razão trigonométrica se estabelece”
Está relacionada a CPC por ser possível explicitar desse discurso, que o professor
entende que, para que o aluno identifique a forma correta de se resolver o problema, é
necessária uma prática pedagógica voltada para isso. Porém, o professor não deixa claro que
tipo de ação seria necessária para isso, por isso a categorização de operação de expansão
discursiva, de narração ou descrição. A categorização dessa resposta de F12 como CCM_E se
deve a sua referência aos conteúdos que precisam ser trabalhados e sua referência a termos,
como razão trigonométrica, que supõe o conhecimento específico para o entendimento de que
se trata das relações trigonométricas que envolvem as medidas dos lados e dos ângulos que o
problema fornece e que permitem a solução do problema.
A resposta de C5 foi relacionada a mais de uma categoria: Conhecimento de
Conteúdo da Matéria em relação às operações de expansão discursivas de explicação
(CCM_E) e Conhecimento Pedagógico de Conteúdo em relação às operações de expansão
discursivas, também de explicação (CPC_E). Isso porque além de se referir a conteúdos e a
termos específicos da matemática (CCM_E), ele esclarece o que deveria ser feita na
intervenção pedagógica para que o aluno superasse a dificuldade apresentada. Para isso ele
utiliza uma linguagem mais acadêmica o que justifica sua categorização como operação de
expansão discursiva de explicação:
Figura 22 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “b”, situação 1
Das respostas dos 5 professores PSS para a situação 1, do item “b”, 3 foram
categorizadas como Conhecimento Pedagógico de Conteúdo em relação às operações de
expansão discursivas de narração ou descrição (CPC_N/D) e como Conhecimento de
Conteúdo da Matéria em relação às operações de expansão discursivas de explicação
(CCM_E) assim como as respostas dos professores QPM para a mesma situação desse item
“b”. A resposta de D17 explicita quais os conteúdos que precisam ser retomados, o que
justifica sua categorização como CCM_E. O fato D17 mostrar certa preocupação com a
retomada dos conteúdos, porém sem deixar claro como isso seria feito é o motivo de sua
categorização como CPC_N/D:
D17 “Reforçaria o que é cateto oposto ao ângulo, cateto adjacente ao ângulo, pois
o erro ocorreu devido à falta de noção do que é oposto e adjacente”
Figura 23 – Respostas dos professores QPM para a questão 4, item “b”, situação 2
A2
C5
A categorização das respostas dos professores para essa situação 2 da questão 4, item
“b” ficou parecida com a situação 2 do item “a”. Dos 15 professores QPM, 9 apresentaram
respostas categorizadas como Conhecimento Pedagógico de Conteúdo em relação às
operações de expansão discursivas de narração ou descrição (CPC_N/D) e como
Conhecimento de Conteúdo da Matéria em relação às operações de expansão discursivas de
explicação (CCM_E). Novamente a resposta de C5, foi categorizada como Conhecimento de
Conteúdo da Matéria em relação às operações de expansão discursivas de explicação
(CCM_E) e Conhecimento Pedagógico de Conteúdo em relação às operações de expansão
discursivas de explicação (CPC_E), ao afirmar que:
para que o aluno superasse a utilização da relação apontada pelo professor como sem
fundamento, mas sem apontar qual é essa relação:
A2 também não deixa evidente, por meio de seu conhecimento pedagógico, qual
ação seria mais efetiva nessa situação, o que aponta para um CPC fragilizado, já que não lhe
permite apontar caminhos para a superação da dificuldade do aluno.
Para à situação 2, do item “b”, da questão 4, as respostas dos professores PSS podem
ser visualizadas na Figura 24.
Figura 24 – Respostas dos professores PSS para a questão 4, item “b”, situação 2
C5
A2 F12
Apenas uma categoria que não havia sido apresentada nas outras situações apareceu
nessa situação 3: o Conhecimento Curricular como operação de expansão discursiva de
explicação (CC_E). A resposta de B3 foi incluída nessa categoria pela referência que esse
professor faz aos conteúdos que foram trabalhados na 8ª série e que precisam ser retomados.:
F18 “Sempre antes de iniciar um novo conteúdo temos que “relembrar” alguns
assuntos, nesse caso: potenciação, radiciação e regra de sinais. Mesmo sendo
prosseguimento de conteúdo”
D17 “Reforçaria, utilizando exercícios sobre raiz enésima pois nas relações
trigonométricas elas aparecem com muita frequência”
G14
A1
B3
C6
Nessa parte da resposta de G14 busca explicar quantos graus mede um radiano
recorrendo ao conhecimento sobre a matéria e utiliza de forma de expansão cognitiva. A
categorização da resposta de G14 como CCM_R, se deve a continuidade de seu discurso por
meio da linguagem formal:
B3 “ = 180º”
C6 “ rd = 180º”
º º
G19 “ 𝑎𝑑 º”
A2
F13
H15
A resposta de C7 foi categorizada dessa forma por apresentar uma explicação sobre o
‘rad’ e na sequência ser feito o uso de símbolos para seu discurso. As respostas de A2, F13 e
H15 são exemplos da categorização como CCM_E, em que os professores apresentam em
suas respostas aspectos relativos a própria disciplina, com uma linguagem que exige
conhecimento específico do conteúdo:
85
H15 “Eu não digo que são iguais são relações de equivalência, considerando a
circunferência 360º e 2 a metade seria 180º e ”
As respostas dos professores PSS, para a questão 6, podem ser visualizadas na Figura
30.
Figura 30 – Respostas dos professores PSS para a questão 6
B3
F11 “Deve-se demonstrar a relação entre graus e radianos, que são diferentes
unidades de medida de ângulo que podem ser relacionados por meio do círculo”
É possível inferir por meio do discurso desse professor, que ele considera que o
aluno só irá se apropriar do referido conhecimento se ele perceber como este é formado,
cabendo ao professor a tarefa de demonstrar esse caminho de formação do conteúdo. A
categorização dessa resposta de F11 como operação de expansão discursiva de explicação se
deve a utilização de termos específicos da matemática pelo professor. As respostas de A3, B2,
C7 e D8 também são exemplos de resposta foram incluídas na categoria CPC_E pelos
mesmos motivos que F11.
ensino, em que C16 entende que há necessidade de utilização de material prático e D17 a
articulação com os demais conteúdos trabalhados e foram categorizadas como operação de
expansão discursiva de narração/descrição (N/D), por não exigirem um conhecimento
específico da linguagem empregada para compreensão do discurso dos professores.:
C16 “Através de um material prático. Pode ser com material simples, como por
exemplo, barbante, cola tesoura e compasso”
As respostas de F18, G19 e I20 foram categorizadas como CPC_E por, além da
preocupação com aspectos relativos ao ensino, empregarem uma linguagem que exige o
conhecimento específico do conteúdo ao qual os professores estão se referindo.
Seis dos vinte professores foram selecionados para realização das interpretações e
inferências. A escolha desses professores foi feita de forma aleatória (sorteio) para não
caracterizar tendenciosidade por parte do pesquisador na seleção de dados empíricos. Esses
91
professores apresentarão um perfil que poderá ser interpretado em relação aos processos de
ensino e aprendizagem da trigonometria.
Professor A1
A caracterização dos professores apresentada no item 2.1.3 e a compreensão dos
conhecimentos docentes foram contempladas na interpretação inferencial dos dados. No
Quadro 12 é possível visualizar a caracterização dos conhecimentos docentes referente ao
professor A1.
Quadro 12 – Caracterização dos conhecimentos docentes do professor A1
1 2
3
Conhecimento de Conhecimento
Conhecimento
PROFESSOR A1 Conteúdo da Matéria a Pedagógico de
Curricular
ser ensinada Conteúdo
A
Expansão Natural
(3) (4B1) (4B2) (4B3)
(por meio da linguagem
natural)
B
Expansão Cognitiva (1) (2) (4A1) (4A2)
(por meio de definições, (4A3) (4B1) (4B2) (4B3) (7)
leis e regras para o (5) (6)
domínio de objetos)
C
Expansão Formal
(por meio de símbolos,
notações, escrita
algébricas, ...)
Fonte: Adaptado de Arruda et al. (2011) citado por Baccon (2011)
A1 é do sexo feminino, não informou sua idade, trabalha na Rede de Ensino Estadual,
pertencente ao regime QPM, sua formação é em matemática, além de ter feito PDE14 e
mestrado. Essa professora trabalha de 20 a 40 horas semanais e possui mais de 15 anos de
atuação no magistério. A escola em que A1 trabalha é localizada no centro da cidade e possui
mais de 1800 alunos matriculados entre o Ensino Médio regular e ensino profissionalizante. É
uma escola que possui uma boa estrutura com biblioteca, laboratório de informática, etc.
As respostas apresentadas por A1 nos permitem inferir que os conhecimentos
docentes que prevalecem em seus discursos é o de Conhecimento de Conteúdo da Matéria a
ser ensinada. Para essas respostas A1 utiliza uma linguagem específica da Trigonometria para
se referir a esse conhecimento o que configura esses discursos como operação de expansão
14
O PDE é uma política pública de Estado do Paraná, regulamentado pela Lei Complementar nº 130 de 14 de
julho de 2010 que estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação básica, através
de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças
qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense (http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br).
92
discursiva de explicação. Duval (2004) denomina essa forma de expansão como “Cognitiva”
cuja característica é o emprego especializado da língua natural.
Podemos caracterizar os conhecimentos docentes de A1 como, predominantemente,
referentes ao conteúdo da matéria, pois suas respostas para as questões 1, 2, 4B1, 4B2 e 4B3,
categorizadas no Setor 1B, são relativas ao conhecimento do professor para a organização da
prática pedagógica, eixo 1. As questões 4A1, 4A2 e 4A3, categorizadas também no Setor 1B
são relativas ao eixo 2, pois são referentes aos tipos de erros dos alunos que são justificados
com argumentos referentes à falta de compreensão de conteúdos específicos da disciplina que,
de acordo com A1, os alunos não conseguiram compreender. E também para as respostas das
questões 5 e 6, relativas ao eixo 3, pois são referentes ao domínio dos conhecimentos
específicos do conteúdo de Trigonometria pelo professor.
O Conhecimento de Conteúdo da Matéria a ser ensinada, que se apresenta de forma
notável nas respostas da professora A1, envolve aspectos da produção (conhecimento
formalizado), representação e validação epistemológica do conteúdo em questão, conforme
apontam Almeida e Biajone (2005). Ainda em relação a esse conhecimento, Shulman (2001)
afirma que o professor precisa saber os motivos pelos quais o conteúdo se apresenta de
determinada forma e não de outra. Esse aspecto pode ser observado no discurso de A1 no
momento em que ela afirma:
Questão 4B1 “Retomar com o aluno o que significa cateto oposto e cateto
adjacente de um triângulo”
Questão 4A2 “Aluno escreve uma relação que não existe, talvez pensando em
Pitágoras, mas usa valor do ângulo, operando com unidades diferentes (comp. e
grau)”
Professor C6
A caracterização dos conhecimentos docentes referente ao professor C6 pode ser
visualizada no Quadro 13.
Quadro 13 – Caracterização dos conhecimentos docentes do professor C6
1 2
3
Conhecimento de Conhecimento
Conhecimento
PROFESSOR C6 Conteúdo da Matéria a Pedagógico de
Curricular
ser ensinada Conteúdo
A
Expansão Natural
(2) (3)
(por meio da linguagem
natural)
B
Expansão Cognitiva
(1) (4A1) (4A2) (4A3)
(por meio de definições, (7)
(4B1) (4B2) (4B3) (6)
leis e regras para o
domínio de objetos)
C
Expansão Formal
(por meio de símbolos, (5)
notações, escrita
algébricas, ...)
Fonte: Adaptado de Arruda et al. (2011) citado por Baccon (2011)
“Começar o mais básico possível, como por exemplo analisando um ângulo. Depois
tomando o triângulo retângulo falaria que foi tomado o lado oposto ao ângulo tido
como base e dividido pela hipotenusa dará sempre o mesmo resultado mesmo que se
aumente estes lados”
Situação 3 “Quase tudo certo, mais não se pode ignorar a raiz, temos que
calcular = 1,73”
Nesse caso o professor limita-se a apontar o que o aluno fez, mas não expressa
possíveis formas de superar a dificuldade apontada por ele. Questões do eixo 2 e eixo 3
95
também estão presentes nessa característica de categoria conteúdo apresentada pelo professor,
presentes no Setor 1B.
A clientela com a qual o professor trabalha (EJA) pode favorecer essa forma de
encarar a matéria como um conhecimento voltado para as próprias questões do conteúdo de
Trigonometria. Podemos inferir que isso acontece porque, esse professor pode não sentir a
necessidade de elaborar diferentes formas de ensino para conseguir a disciplina da turma ou
para fazer com que os alunos aprendam, já que normalmente se trabalha com adultos, que por
si mesmos se esforçam para compreender o que está sendo ensinado, mesmo que a forma de
conduzir o ensino pelo professor não seja a mais adequada.
Professor F11
Em relação à caracterização dos conhecimentos docentes de F11, esta pode ser
observada no Quadro 14.
Quadro 14 – Caracterização dos conhecimentos docentes do professor F11
1 2
3
Conhecimento de Conhecimento
Conhecimento
PROFESSOR F11 Conteúdo da Matéria a Pedagógico de
Curricular
ser ensinada Conteúdo
A
Expansão Natural
(3) (4B1) (4B2) (4B3)
(por meio da linguagem
natural)
B
Expansão Cognitiva
(2) (4A1) (4A2) (4A3)
(por meio de definições, (1) (7)
(4B1) (4B2) (4B3) (6) (5)
leis e regras para o
domínio de objetos)
C
Expansão Formal
(por meio de símbolos,
notações, escrita
algébricas, ...)
Fonte: Adaptado de Arruda et al. (2011) citado por Baccon (2011)
mais importante nesse momento ensino?) em que a professora parece considerar que o mais
importante ao iniciar o conteúdo de Trigonometria, seja domínio de conteúdos já trabalhados
e as habilidades para lidar com os instrumentos:
“Que os alunos tenham uma boa noção da geometria plana (área, perímetro) e que
tenham habilidade com régua, compasso, transferidor”
Nessa resposta Talvez a intenção dessa professora fosse a de criar essas condições que
ela julga necessárias para o ensino, mas em seu discurso isso não parece ser seu objetivo, já
que ela aponta o que é preciso, mas não esclarece de que forma ela identificaria esses aspectos
e como os recuperaria se não se fizessem presentes.
Em outras respostas da professora, categorizadas no Setor 2A, como para a questão 3
(Como acredita que os alunos responderiam a essa proposta?) pertencente ao eixo 1 embora
sua resposta tenha sido categorizada como conhecimento Pedagógico de Conteúdo, podemos
inferir que ela acaba se isentando de sua responsabilidade de fazer o melhor enquanto
educadora. Isso porque no momento em que a dificuldade é apontada como resultado do
desinteresse dos alunos fica a impressão de que enquanto professor não há o que se fazer para
facilitar a compreensão dos conteúdos pelos alunos, e por isso não se faz necessário buscar
diferentes propostas de ensino:
“Atualmente está muito complicado despertar o interesse dos alunos, acredito que
por mais interessante que seja o conteúdo, está difícil em contentá-los ou motivá-
los”
Talvez esse aspecto se apresente devido aos longos anos dedicados ao magistério,
sem alcançar os resultados esperados. O que pode ter acontecido, pelo fato dela ter
privilegiado questões referentes à própria estrutura da disciplina, que são os Conhecimentos
de Conteúdo da Matéria a ser ensinada de acordo com Shulman (2001), conforme foi possível
observar em suas respostas. Podemos inferir que essa professora já não considera mais que
suas ações podem alterar o quadro de desinteresse dos alunos o que dificulta sua busca por
alternativas que favoreçam sua prática em sala de aula.
97
Professor F13
A caracterização dos conhecimentos docentes de F13 pode ser observada no Quadro
15.
Quadro 15 – Caracterização dos conhecimentos docentes do professor F13
1 2
3
Conhecimento de Conhecimento
Conhecimento
PROFESSOR F13 Conteúdo da Matéria a Pedagógico de
Curricular
ser ensinada Conteúdo
A
Expansão Natural (2) (3) (4B1) (4B2)
(por meio da linguagem
natural)
B
Expansão Cognitiva (4A1) (4A2) (4A3)
(por meio de definições, (4B1) (4B2) (4B3) (6) (1) (4B3)
leis e regras para o (5) (7)
domínio de objetos)
C
Expansão Formal
(por meio de símbolos,
notações, escrita
algébricas, ...)
Fonte: Adaptado de Arruda et al. (2011) citado por Baccon (2011)
Professor G14
A caracterização dos conhecimentos docentes referente ao professor G14 pode ser
visualizada no Quadro 16.
Quadro 16 – Caracterização dos conhecimentos docentes do professor G14
1 2
3
Conhecimento de Conhecimento
Conhecimento
PROFESSOR G14 Conteúdo da Matéria a Pedagógico de
Curricular
ser ensinada Conteúdo
A
Expansão Natural
(2) (2) (3) (4A2) (4B3)
(por meio da linguagem
natural)
B
Expansão Cognitiva
(1) (4A1) (4A3) (4B1)
(por meio de definições, (1) (7)
(5)
leis e regras para o
domínio de objetos)
C
Expansão Formal
(por meio de símbolos, (5)
notações, escrita
algébricas, ...)
Fonte: Adaptado de Arruda et al. (2011) citado por Baccon (2011)
No que se referem às questões pedagógicas, estas estão relacionadas aos modos pelo
qual o conteúdo será apresentado aos alunos, conforme apontam Almeida e Biajone (2005) ao
tratarem dos Conhecimentos Pedagógicos de Conteúdo propostos por Shulman (1986).
Podemos inferir que a professora G14, pode ter assimilado que o trabalho com os conteúdos
específicos estão atrelados a forma como estes serão apresentados para os alunos.
Professor F18
No Quadro 17 é possível visualizar a caracterização dos conhecimentos docentes
referente à F18.
Quadro 17 – Caracterização dos conhecimentos docentes do professor F18
1 2
3
Conhecimento de Conhecimento
Conhecimento
PROFESSOR F18 Conteúdo da Matéria a Pedagógico de
Curricular
ser ensinada Conteúdo
A
Expansão Natural (4A3) (3) (4B1) (4B3)
(por meio da linguagem natural)
B
Expansão Cognitiva (1) (4A1) (4A2) (4B1)
(1) (2) (4B2) (7)
(por meio de definições, leis e (4B3) (5) (6)
regras para o domínio de objetos)
C
Expansão Formal
(6)
(por meio de símbolos, notações,
escrita algébricas, ...)
Fonte: Adaptado de Arruda et al. (2011) citado por Baccon (2011)
F18 é do sexo feminino, possui 30 anos, trabalha na Rede Estadual de Ensino, por
meio do contrato PSS e sua formação é em matemática. Trabalha até 20 horas por semana e
possui menos de 5 anos de atuação no magistério. A escola em que F18 trabalha é mesma de
F13 e F11 que fica situada em um dos maiores bairros da cidade e atende a quase 2000
alunos, entre Ensino Fundamental e Ensino Médio.
100
Esse aspecto está relacionado ao que Shulman (1986) citado por Almeida e Biajone
(2005), coloca como aspectos relativos a compreensão dos processos de produção,
representação e validação do conhecimento.
A fragilidade dos Conhecimentos Pedagógicos dessa professora, também ficam
evidentes em sua resposta para a questão 3, na qual afirma que:
“Quando o aluno apresenta interesse ele responde muito bem, porém aqueles que
dizem: - não sei, fácil p/ você que é professora; é muito difícil despertar interesse
em qualquer assunto”.
Nesse momento podemos inferir que essa professora expressa sua descrença em
relação aos métodos de ensino, embora tenha menos de 5 anos de atuação no magistério.
Essas análises não esgotam as possibilidades de interpretação que poderiam surgir
em relação aos conhecimentos dos professores e essa também não foi a intenção. Assim como
não tivemos a intenção de julgar ou classificar o conhecimento de cada professor aqui
pesquisado, mas apenas refletir sobre o conhecimento docente de cada um destes diante das
situações propostas.
101
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Porém, no momento de ensino, não é apenas o domínio de conteúdo que irá garantir a
aprendizagem dos alunos. A dinâmica da sala de aula exige muito mais que isso.
Concordamos com Shulman (2001) no momento em que ele afirma que existe uma base de
conhecimentos para ensino, por meio da qual se revela um complexo corpo de conhecimentos
e habilidades para o desempenho eficaz desse ensino.
Nessa base de conhecimentos precisam estar presentes tanto conhecimentos
referentes aos conteúdos, como conhecimentos pedagógicos e curriculares. O conhecimento
dos conteúdos está fortemente presente na característica apresentada pelos professores de
matemática que atuam na Educação Básica no que se refere à Trigonometria, conforme
apontam os dados dessa pesquisa. Porém o Conhecimento Pedagógico da Matéria, que
Shulman (2001) aponta como tendo um interesse particular por identificar a bagagem
distintiva de conhecimento para o ensino, não tem sido privilegiada como deveria por esses
professores. Talvez esse seja um reflexo da formação inicial desses professores. Esse é um
aspecto preocupante, pois conforme o autor nos alerta trata-se de um conhecimento que
representa uma mistura entre o que vai ser ensinado e a forma escolhida para ensinar esse
conteúdo para levar o aluno a compreender e a se interessar pelo conteúdo.
Em uma pesquisa desenvolvida em outro momento pela pesquisadora (DIONIZIO,
BRANDT, 2011), junto aos alunos, foi possível observar a dificuldade que eles apresentam
em conceituar os objetos matemáticos em Trigonometria. Isto porque os alunos não
conseguiam relacionar a situação apresentada na atividade com a relação trigonométrica que
permitiria a solução. Duval (2004) permite uma explicação para essa situação por meio da
estrutura triádica da significância, em que o autor explica que para ser remetido ao objeto de
conhecimento, é preciso atribuir o significado adequado a um significante (representação).
Para isso, o trabalho com a Trigonometria em sala de aula deveria explorar os objetos
matemáticos por meio de diferentes registros de representação, enfatizando a relação existente
entre essas diferentes formas de representação. Essa forma de trabalho poderia levar os alunos
a compreenderem as características do objeto de conhecimento e não apenas de sua
representação. Essas considerações sobre os conteúdos matemáticos nos remetem aos
conhecimentos pedagógicos de conteúdo por mostrarem preocupação tanto com o
conhecimento a ser ensinado como as possibilidades de se trabalhar com esse conhecimento.
O Conhecimento Curricular, também não é algo característico do conhecimento
desses professores. Esse conhecimento é importante por se referir ao entendimento do
conjunto de conteúdos que são trabalhados com os alunos ao longo dos anos e em cada nível
específico, além dos materiais disponíveis para o trabalho com determinados conteúdos,
104
conforme aponta Shulman (1986), citado por Almeida e Biajone (2005). O conhecimento
referente a esse aspecto se faz importante, pois conforme o próprio autor esclarece, só é
possível a escolha adequada do conteúdo a ser trabalhado ou do material a ser utilizado, se
esse professor domina esses conhecimentos.
Se esses conhecimentos (pedagógicos e curriculares) não são revelados pelos
professores de matemática que atuam na Educação Básica, juntamente com os conhecimentos
de conteúdo da matéria, as consequências poderão ser observadas na aprendizagem dos
alunos, já que os professores possuem uma ligação direta com essa aprendizagem. E isso pode
explicar os motivos pelos quais os alunos apresentam dificuldade em compreender conceitos
básicos de Trigonometria e principalmente em resolver problemas ou aplicar esses
conhecimentos a situações que não sejam as de sala de aula, conforme apontam as pesquisas
que tratam do assunto (LINDEGGER, 2000; SILVA, 2005; SILVA, 2007; DIONIZIO,
BRANDT, 2011).
Atingimos nossos objetivos de pesquisa ao identificarmos como característica dos
conhecimentos sobre Trigonometria apresentada por professores de matemática que atuam na
Educação Básica, o predomínio do conteúdo da matéria a ser ensinada, conforme mencionado
anteriormente. Também, ao desvelarmos que a natureza dos conhecimentos desses
professores está relacionada à forma como eles concebem o ensino e aprendizagem da
matemática. Por meio das respostas apresentadas pelos participantes dessa pesquisa, pudemos
inferir que eles consideram a matemática como um conjunto de conhecimentos formais,
prontos e acabados e que precisam ser ‘transmitidos’ para os alunos. Nesse processo, é dada
maior ênfase para as regras necessárias a resolução dos problemas, do que para a
compreensão do conceito matemático em questão e o significado que isso pode, ou não, ter
para o aluno. Esse aspecto pode estar relacionado à forma como esses professores aprenderam
durante a Educação Básica ou mesmo nos cursos de formação de professores.
Os resultados dessa pesquisa, apesar de representar uma pequena parcela dos
trabalhos que poderiam ser feitos, contribui para que seja repensada a forma como tem sido
conduzido o trabalho com a Trigonometria pelos professores em sala de aula. Esse aspecto,
possivelmente, pode ser ampliado para outros conteúdos da matemática, já que a maneira
como foi conduzida a análise, nos permite outras interpretações. Ressaltamos que em
momento algum tivemos a intenção de julgar ou classificar o modo, a forma ou o estilo de
gestão de cada professor aqui pesquisado, como bom ruim, certo ou errado, mas apenas
refletir sobre o conhecimento docente de cada um destes diante de uma situação de avaliação
e aprendizagem.
105
Entendemos que é preciso um olhar mais atento com relação aos processos de
formação inicial, que podem estar favorecendo a primazia do conteúdo, em detrimento do
conhecimento sobre a forma como esse conteúdo será ensinado e do conhecimento sobre a
atribuição de significado aos objetos matemáticos pelos sujeitos. Os professores só podem
escolher diferentes formas de trabalhar com os conteúdos e de avaliar a aprendizagem dos
alunos, se os seus conhecimentos lhe derem essa possibilidade. E, embora o professor possa e
precise buscar conhecimento por iniciativa própria, os cursos de formação de professores se
caracterizam como um espaço privilegiado para que os professores tenham contato com esses
diferentes conhecimentos necessários à prática docente.
106
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, P. C. A. de; BIAJONE, J. A formação inicial dos professores em face dos saberes
docentes. Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação. Reunião Anual da ANPEd,
n. 28, 2005. Anais... Caxambu - MG. Disponível em: <www.anped.org.br/28/textos>. Acesso
em: 10 set. 2012.
BACCON, A. L. P. Um ensino para chamar de seu: uma questão de estilo. 153 f. Tese
(Doutorado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, 2011.
______. Ver e ensinar a matemática de outra forma: entrar no modo matemático de pensar
os registros de representações semióticas. Organização Tânia M.M. Campos. Tradução
Marlene Alves Dias. São Paulo: PROEM, 2011.
WALTER, S.; BACH, T. M. Adeus papel, marca-textos, tesoura e cola: inovando o processo
de análise de conteúdo por meio do Atlas.ti. In: SEMINÁRIO EM ADMINISTRAÇÃO, 12.,
2009, São Paulo. Anais... São Paulo, 2009. Disponível em:
<http://www.ead.fea.usp.br/semead/12semead/resultado/trabalhosPDF/820.pdf>. Acesso em:
28 fev. 2012.
110
As informações recolhidas por meio deste questionário ajudarão a compreender melhor o processo de ensino
e aprendizagem da trigonometria. As suas respostas serão anônimas: jamais elas serão analisadas ou
divulgadas individualmente. Nós relataremos apenas o conjunto de respostas das várias escolas que
participam desta pesquisa. Esta é a primeira parte dessa pesquisa que é formada por duas etapas e
possivelmente o (a) Sr. (a) será solicitada para participar da 2ª etapa, juntamente com os demais professores
de matemática desta Rede de Ensino.
Maiores informações sobre essa pesquisa encontram-se no documento que o (a) Sr. (a) precisa assinar ao
entregar este questionário. E a qualquer momento com a pesquisadora, por e-mail:
faqdionizio@hotmail.com ou por telefone: (42) 9945-7123.
Pedimos para que respondam as informações abaixo e a todas as questões para que possamos ter um
parâmetro no momento de análise dos dados, de forma alguma essas informações serão utilizadas para
identificá-lo (a).
Desde já agradeço,
Fátima Aparecida Queiroz Dionizio
4) Em uma avaliação de matemática do 2º ano do Ensino Médio, foi proposta aos alunos
a seguinte atividade referente ao conteúdo de Trigonometria:
1) A rampa de acesso a um estacionamento de
automóveis faz um ângulo de 30º com o solo e,
ao subi-la, um carro desloca-se horizontalmente
8 m de distância, conforme o desenho.
Observou-se nessa turma uma parte dos alunos apresentou respostas semelhantes as seguintes
situações:
Situação 1
Situação 2
Situação 3
a) Qual tipo de erro apresentado pelos alunos em cada uma das situações?
Situação 1
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
113
Situação 2
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Situação 3
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
b) Que tipo de intervenção pode realizar o professor para que os alunos reflitam sobre o
erro cometido e superem tal dificuldade em cada uma das situações?
Situação 1
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Situação 2
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Situação 3
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5) Quantos graus mede um radiano?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
6) O que significa dizer que 180º é igual a π radianos?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
7) Como procederia ao ensinar esse conceito aos alunos?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________