A Escolha - Livro Único - Kevin Attis
A Escolha - Livro Único - Kevin Attis
A Escolha - Livro Único - Kevin Attis
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o consentimento escrito do autor. A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.2018.
Sumário
Sinopse
Dedicatória
Nota de esclarecimento
Nota da revisora
Parte I - A Escolha
Capítulo 1 - A Decisão
Capítulo 2 - Número de telefone
Capítulo 3 - Convite Inesperado
Capítulo 4 - Chefe da Regina
Capítulo 5 - Drinques, homens e muito mais…
Capítulo 6 - Balada
Capítulo 7 - Biblioteca da Região
Capítulo 8 - O Roubo
Capítulo 9 - Visto
Capítulo 10 - Armário Cheio
Capítulo 11 - Notícia
Capítulo 12 - Sonho
Capítulo 13 - Ligação
Capítulo 14 - O Encontro
Capítulo 15 - A Proposta
Capítulo 16 - Talvez isso seja o melhor…?
Capítulo 17 - Passeio obrigatório
Capítulo 18 - Casa do Lucas
Capítulo 19 - Treinando com o Magnata
Capítulo 20 - Perguntas e Respostas
Capítulo 21 - Sexo
Capítulo 22 - Fugindo
Capítulo 23 - O Contrato
Capítulo 24 - Café da manhã divertido
Capítulo 25 - Almoço de negócios
Capítulo 26 - Ligação
Capítulo 27 - Ibirapuera
Capítulo 28 - Jantar de negócios
Capítulo 29 - Revelações
Capítulo 30 - Convite
Capítulo 31 - Véspera de Natal
Capítulo 32 - Visita Inesperada
Capítulo 33 - Semana monótona
Capítulo 34 - Ano Novo
Capítulo 35 - Xeque-Mate
Capítulo 36 - Observando
Parte II - A Decisão
Capítulo 37 - A Conversa
Capítulo 38 - Fim
Capítulo 39 - Medos
Capítulo 40 - Dias
Capítulo 41 - Elijah Brown
Capítulo 42 - Passeio
Capítulo 43 - Depoimento
Capítulo 44 - Verdades
Capítulo 45 - Perdoar?
Capítulo 46 - A Decisão
Capítulo 47 - Encontro a Quatro
Capítulo 48 - Rosas Vermelhas
Capítulo 49 - “Estou sempre aqui”
Capítulo 50 - Submissão?
Capítulo 51 - Sessão
Capítulo 52 - Teorias
Capítulo 53 - Jantar em Família
Capítulo 54 - Primeiro Dia
Capítulo 55 - Ligações Importantes
Capítulo 56 - Sessão a Dois
Capítulo 57 - Primeiro Encontro
Capítulo 58 - Canção
Capítulo 59 - O Bilhete
Capítulo 60 - Distrações
Capítulo 61 - Volta
Capítulo 62 - Convite
Capítulo 63 - Plano barato?
Capítulo 64 - O Segredo
Capítulo 65 - A Descoberta
Capítulo 66 - O Jantar
Capítulo 67 - Oliver
Capítulo 68 - “Acredito em você”
Capítulo 69 - Dinheiro Roubado
Capítulo 70 - Conversa
Capítulo 71 - Verdade Revelada
Capítulo 72 - Planejamento
Capítulo 73 - Preparativos
Capítulo 74 - Desconfiança
Capítulo 75 - Suspeitos
Capítulo 76 - Sumiço Repentino
Capítulo 77 - Conversa
Capítulo 78 - Esperança
Capítulo 79 - Oportunidade Em Dose Dupla
Capítulo 80 - Falha No Plano
Capítulo 81 - Delegacia
Capítulo 82 - Fantasma Real
Capítulo 83 - Espera
Capítulo 84 - Resgate
Capítulo 85 - Mortes
Capítulo 86 - Enterro
Capítulo 87 - Sete meses depois
Capítulo 88 - “Til Happens to You”
Capítulo 89 - Curtindo a Dois
Capítulo 90 — O Perdão
Epílogo - Viagem
Agradecimentos
Playlist Carlos e Caio Brown
Redes sociais do autor
Sinopse
Carlos Alberto é um jovem de vinte anos que está em um dilema: cometer um delito com
seu amigo ou continuar trabalhando duro para ajudar a sua família.
Com as contas atrasadas e os armários quase vazios, ele, junto de seu melhor amigo,
Bruno, decidem roubar uma casa em um bairro nobre de São Paulo. O único problema é que o
jovem acaba encontrando com Caio Brown, um CEO magnata que lhe fará uma proposta
tentadora.
Ou Carlos é preso pelo seu crime ou se torna submisso de Caio.
Diante dessa escolha, Carlos e Caio estarão presos em um esquema de traições,
armadilhas, traumas a serem deixados de lado, e o principal: uma chance ao amor.
Será que Carlos enfim conseguirá se libertar dos seus medos?
Dedicatória
A você, caro leitor, que nos apoia incansavelmente.
Obrigado...
Nota de esclarecimento
O livro “A Escolha — O Início”, foi incialmente lançado no Wattpad, alcançando um
enorme número de leitores, após sair da plataforma, foi lançado na Amazon e em formato físico.
Após dois anos de contrato com a antiga casa, essa é a versão final, antes com o “o início” no
nome, e agora como “A Escolha”. O livro seguirá o mesmo enredo, porém, com nova revisão,
nova diagramação, nova capa, novas cenas e um único volume. O texto foi totalmente
repaginado, dando leveza na leitura e se tornando mais fácil de ser interpretado.
O que acontece no enredo é total imaginação do autor.
Qualquer coisa semelhante à realidade, é mera coincidência, o livro segue um romance
LGBT, com cenas fortes de sexo e caso não te agrade, abandone a leitura imediatamente.
Nota da revisora
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa, porém no decorrer da
história poderão ser encontrados termos e gírias, além de objetos que não estão de acordo com a
Gramática Normativa para demonstrar a informalidade do texto e deixá-lo mais fluido.
Capítulo 1 - A Decisão
Entro no ônibus vazio e sigo diretamente para o fundo, onde tem somente um lugar
vago, não perco meu tempo e rapidamente sento. Observo as pessoas ao meu redor; todas
quietas, fechadas em seus mundos com seus fones nos ouvidos, algo tão monótono que chega a
ser irritante.
Mentir para minha mãe não é fácil e jamais havia feito aquilo, mas ver seu entusiasmo,
me deu mais forças para continuar com o plano de Bruno.
Coloco calça jeans preta apertada e uma camisa social azul-escura que parece ser de seda
e destaca bem meu peitoral pouco malhado, graças ao trabalho pesado que faço. Nos pés coloco
o All Star preto que ganhei da minha vizinha e penteio o cabelo grande para trás.
Meu cabelo é grande e escuro, meus olhos são castanhos e minha pele é, antes de “pegar”
sol diariamente, branca. Agora ostento um leve bronzeado.
Sorrio para a imagem no espelho e observo meus dentes, brancos e retos.
Até que sou bonito e vestido assim diriam que tenho dinheiro.
Bem, o bazar da igreja de uma amiga vende roupas boas e baratas então quando sobrava
algum dinheiro, o que quase não está acontecendo, dá para me vestir um pouco melhor, além de
que é necessário por causa do trabalho.
“Você trabalha com o público, tem que andar ao menos bem vestido.”, dizia minha mãe.
Passo o perfume levemente amadeirado do meu irmão, não sei como ele consegue essas
coisas caras, e saio do quarto.
Olho o relógio e vejo que já são 20h:54min.
— Toma cuidado — diz mamãe quando Lucas buzina. — E não chega muito tarde.
— Mãe, até amanhã — digo olhando sério.
Sorrio e dou um beijo na sua bochecha.
Ela vai comigo até a porta e acena para Lucas e Bruno, que está no banco da frente.
— Cuidado, crianças e não bebam muito.
— Pode deixar, dona Marisa — responde Bruno sorrindo.
Dou outro beijo nela e entro no carro.
— E aí, moleque — Bruno dá um soco no meu braço e sorri. — Pronto para pegar uns
carinhas?
Bruno é meu amigo desde pequeno, passamos nossa infância jogando bola na rua até
aquilo acontecer...
Ele foi o primeiro a saber da minha sexualidade e o primeiro homem que beijei.
Quando nossos lábios se encostaram, Bruno me empurrou para trás, disse que me amava
do jeito que sou, mas que ele gostava de mulher. Depois daquilo, nossa amizade se fortaleceu
mais ainda e desde então nunca nos separamos. Estudamos juntos e pretendíamos fazer faculdade
de psicologia. Éramos inseparáveis, irmãos de verdade e o amava mais do que meu próprio
irmão, Rafael.
— O que vier é lucro — brinco.
Lucas e ele acabam rindo com a piada.
— Sua bicha, pão com margarina, estamos em 2014, faltando um mês para entrar em
2015, e você diz isso?! — diz Lucas.
— Como assim? — pergunto já sabendo a resposta.
— Você não pode simplesmente aceitar “o que vier” — responde Lucas dirigindo.
Passamos pela Mooca para meu amigo pegar seu namorado.
— Tem que ter o melhor, pensar no melhor, procurar o melhor. Veja eu, namoro um
homem super rico e tenho tudo que quero, sou dono de vários salões de cabeleireiro em São
Paulo e Rio de Janeiro, vamos pensar alto!
É verdade, Lucas Ferreira havia arrumado um namorado que é modelo e ator. O nome
Rafael de Jesus é muito conhecido pelas pessoas, principalmente por conta de uma novela que
ele está fazendo chamada “Corações Rebeldes”.
Apesar de tudo, Rafael mora em um belo apartamento na Mooca.
Lucas para o carro, pega seu iPhone e liga para o namorado.
— Oi, amor — diz sorrindo. — Sim, já estamos aqui embaixo. — Desliga o aparelho sem
ao menos se despedir.
Bruno pula para o banco traseiro e sussurra em meu ouvido.
—É amanhã.
Aceno com a cabeça forçando um sorriso.
— O que estão cochichando aí? — pergunta Lucas fingindo irritação. — Você vai comer
o Carlos, né, Bruna?!
Bruno sorri ao ser chamado de “Bruna” e concorda.
— Sim, vou devorar o cuzinho dessa passiva — diz socando meu braço.
Dou um soco nele e sorrio junto.
— Você sabe minha escolha na cama — comento.
— Todos sabemos. — Lucas sorri. — Você transa com a bunda.
Rafael entra no carro, nos cumprimenta e dá um rápido beijo em Lucas.
Logo voltamos para o trânsito.
— Bando de filhos da puta esses paulistanos. Por que em plena sexta-feira eles resolvem
sair de carro? — diz Lucas irritado.
— Sério isso? Amor, estamos em um carro — responde Rafael.
— Nós podemos — Lucas diz.
Rimos com a irritação dele e ficamos cantarolando uma música qualquer.
— Chamei uma amiga para ir ao bar com a gente. Na verdade, a conheci hoje— digo
— Sério? Ela acha que você é heterossexual — diz Lucas e não foi uma pergunta.
— Sim, mas não rola. Chamei mais por causa do Bruno, ela é gostosa e bonita, e se
chama Regina.
— Valeu, velho — diz Bruno.
— Não há de quê — respondo.
— Conheceu a moça onde? — pergunta Rafael.
— Ela é recepcionista na empresa que presto serviço, funcionária de um tal de Caio
Brown.
Lucas pisa no freio e um carro quase bate em nós. O motorista o chama de viado e meu
amigo não deixa barato, mostrando o dedo do meio para ele.
— SOU MESMO, ARROMBADO! — grita Lucas. — VOCÊ TAMBÉM É, ESQUECEU QUE ONTEM
CHUPOU MEU PAU IGUAL UMA VADIA?
— Meu filho, que bom que chegou! — diz beijando meu rosto.
— Tenho uma surpresa para você, me ajuda aqui com as sacolas.
Vamos até o porta-malas do carro, abro e minha mãe se espanta.
— Meu filho — diz colocando as mãos na boca. — Que maravilha!
— Sim, mãe, vamos para dentro com essas coisas — digo pegando um punhado de
sacolas.
Minha mãe me ajuda e em poucos minutos todas as compras estão dentro de casa.
— Veja só, Danone, bolachas, Robertinho vai adorar! — Minha mãe vem até a mim e me
abraça forte. — Deus abençoe seu trabalho e seu chefe, meu filho.
O desconforto toma conta de mim quando ela diz aquilo.
Se ela soubesse como consegui esse dinheiro, será que ainda me amaria?
— Tenho um presente para você — digo pegando uma sacola pequena da mesa.
Entrego para ela sorrindo e minha mãe sorri.
— Carlos, um celular novo! Realmente estava precisando, o meu já não funciona mais há
tempos, obrigada, meu filho.
Sorrio para ela e vou até a geladeira guardar as compras.
— Onde Roberto e Rafael estão? — pergunto para minha mãe.
— Roberto está dormindo um pouco. Ele se queixou estar com dor de cabeça e preferiu
dormir. Não via a hora de você chegar.
Sorrio para ela novamente e aceno com a cabeça.
— Agora Rafael que é minha preocupação. Ele saiu daqui irado, disse que iria encontrar
um amigo — diz suspirando.
Não digo nada, não me importa onde Rafael se enfia.
— Vou pegar o carro do Lucas e ir pagar as contas.
— Tudo bem, aqui estão elas — diz mamãe pegando três contas de luz e água.
— Quanto que dá o total?
— Setecentos reais. Vamos ter esse dinheiro, meu filho?
— Vamos sim — digo beijando sua testa e guardo as contas no bolso. — Volto em uma
hora.
*
Mais tarde, chego em casa novamente e encontro minha mãe sentada mexendo no celular
novo.
— Pronto — digo depositando as contas pagas sobre a mesa.
Sinto uma dor avassaladora no meu peito, pois aquele dinheiro não é meu.
Não sou eu que estou pagando minhas contas, mas ao ver o alívio no rosto da minha mãe
fico mais relaxado.
— Robertinho tá dormindo ainda?
— Ele acordou agora a pouco. Ainda se queixando de dor, se ele não melhorar, vamos ter
que ir ao médico.
Balanço a cabeça em concordância.
— Deve ser esse tempo. — Sorrio e espero que realmente seja isso. — Vou tomar um
banho — digo seguindo para o corredor.
Lembro da mochila com o dinheiro dentro do carro e paro rapidamente.
— Carlos — diz minha mãe parando de mexer no celular. — Seu chefe te adiantou
quanto?
Engulo em seco.
— Três mil. Ele me fez um empréstimo de três mil.
— Nossa, meu filho, é muito mais do que imaginei.
— Sim, eu sei, e ele vai descontar em suaves prestações.
— Deus realmente é bom — diz vindo até a mim e me abraçando.
— Sim, bem, sobrou um pouco de dinheiro. A senhora pode marcar amanhã cabeleireiro,
se cuida, quero vê-la mais linda do que já é.
Dona Marisa ri feliz e assente.
— Vou me deitar um pouco, meu filho, se quiser comer, tem comida na geladeira. —
Pisca alegre para mim e segue para seu quarto.
Espero minha mãe se afastar e vou até o carro do Lucas novamente. Abro a porta e pego
debaixo do banco a mochila com dinheiro.
Olho ao redor para ver se encontro olhares curiosos e não encontro nada, rapidamente
pego a mochila e jogo em minhas costas. Tranco o carro de Lucas e entro em casa.
Sigo rapidamente para o quarto, procuro um lugar seguro para colocar o dinheiro e decido
colocar embaixo da última gaveta do guarda-roupa.
Coloco a gaveta no lugar e olho o local novamente, ninguém vai desconfiar daqui.
Pelo menos assim espero.
*
Acordo com uma sacudida e vejo Rafael me observando.
— É o Robertinho.
Fico meio desorientado e percebo que ao guardar o dinheiro e tomar banho, deitei e acabei
dormindo.
— O que tem ele? — pergunto me levantando.
— Está com dor de cabeça. Acabei de chegar, mamãe tá vestindo o menino que não para
de chorar.
Coloco meu tênis rapidamente e verifico minhas roupas, calça, camiseta básica e cabelo
completamente bagunçado.
— Vamos levá-lo ao hospital — digo saindo do quarto.
Rafael me segue e segura no meu braço.
— O que faremos? Não podemos levá-lo em um hospital público, vamos demorar horas.
Ele tem razão e penso no dinheiro que está guardado no quarto.
— Espera aqui — digo voltando ao quarto.
Tranco a porta, tiro a gaveta e pesco a mochila tirando de dentro dela dois bolinhos de
dinheiro. Guardo o restante, abro a porta novamente e minha mãe junto com meus irmãos me
aguardam.
Observo Roberto e vejo que em seus olhos têm lágrimas.
— Ei, garotão — digo o pegando no colo. — O que você tem?
Ele não responde de imediato e seguimos para o carro de Lucas.
— Minha cabeça dói muito — diz forçando os olhos. — Faz parar, Carlinhos, por favor.
— Calma, calma — digo beijando sua testa. — Vai passar, garotão, vamos lá.
Minha mãe entra no carro com Rafael e passo Robertinho para ela.
Tranco nossa casa, entro no carro e suspiro tentando manter a cabeça no lugar.
Será que aquele homem misterioso já ligou para a polícia?
Será que essa dor do Robertinho é algo normal?
— Vamos para uma clínica particular — digo olhando a hora, confesso que essa semana
estava fazendo muito isso.
Ainda eram oito horas da noite.
— Onde, meu filho? Como vamos pagar?
— Não se preocupa com isso — responde Rafael.
Olho para ele e envio um obrigado mentalmente, apesar das nossas diferenças, temos os
mesmos desejos, a proteção do Roberto e da nossa mãe.
— Vai dar tudo certo — digo ligando o carro e então partimos.
Capítulo 11 - Notícia
Paro o carro em uma clínica 24 horas e rapidamente minha mãe desce do veículo
com meus irmãos.
Ele olha para mim e sorri, logo em seguida vem na minha direção e beija meus lábios.
Sinto sua mão ir de encontro ao meu pênis, o que é estranho e revigorante.
“Isso é apenas um sonho”, meu subconsciente diz.
O sonho muda, agora estou no hospital ao lado de Robertinho, meu irmão sorri feliz e isso
me faz querer chorar.
Pode chorar sonhando?
Mais uma vez vejo o cenário mudar, agora estou na rua e tenho apenas nove anos de
idade.
É uma noite quente, e estou junto com Bruno jogando bola alegre.
— Você chutou muito forte — diz Bruno me fuzilando com o olhar.
Observo a bola se distanciar da quadra e cair perto de uma caçamba.
— Eu pego — respondo indo até o lugar.
Atravesso a avenida, me abaixo para pegar a bola, a coloco debaixo da blusa e sigo para
a quadra.
— Tenho que ir embora, mamãe já me gritou — diz meu amigo.
Bruno mora ali perto, então rapidamente entra em sua casa e sigo para a minha que fica
três quarteirões de distância.
Sigo minha caminhada como sempre faço e observo as ruas, todas quietas e vazias.
Pego a bola e começo a rodopiá-la na mão, então uma voz me assusta fazendo com que
ela caia.
— O que esse jovem tão bonito faz sozinho na rua? — pergunta um homem alto com
feições duras.
“Acorda!”, meu subconsciente diz.
— Estava jogando bola — respondo pegando-a do chão e me xingo, afinal minha mãe
sempre me disse para não falar com estranhos.
O homem surge ao meu lado e pude observá-lo bem; olhos castanhos e cheios de malícia,
pele clara, cabelo cortado estilo militar, corpo forte e cheio de músculos.
— Meu nome é Antônio. Qual é o seu nome?
Recuo um pouco e me sinto totalmente impotente perto dele.
Percebo que ele fala estranho...
Como se não falasse meu idioma de verdade, o que me deixa confuso.
— Carlos, mas todos me chamam de Carlinhos. Preciso ir embora, tchau.
Tento seguir meu caminho, mas Antônio segura meu braço e me puxa para perto de si.
— Ah, fica brincando comigo aqui, que tal nesse beco sem saída?
Ele me empurra para o beco e sinto o sangue subir para minha cabeça.
Estou sem saída, o que farei agora?
— Vamos brincar... Vamos brincar de bola, mas outro tipo de bola.
Antônio abre o zíper da sua calça e segue na minha direção. Seguro minha bola com
força e ando para trás, encostando na parede.
Estou perdido.
— Aqui, pega nele — diz o homem.
Coloca seu pau grande para fora e observo; a cabeça rosada está úmida e é enorme.
— Por favor, me deixa ir embora — peço com lágrimas nos olhos. — Não conto nada
para ninguém.
— Vamos negociar, pega nele e te dou mais cinco minutos de vida. Chupe e te dou uma
hora, deixa eu foder esse cuzinho e você sai livre daqui.
As lágrimas caem pela minha face e então concordo, não tenho escolha e serei estuprado.
*
Acordo com o despertador revelando que já passa das cinco da manhã.
Abro meus olhos aliviado por ter fugido daquele pesadelo, levanto, entro no banheiro e
faço minhas necessidades matinais. O barulho na privada é reconfortante.
Tiro meu short que havia colocado antes de adormecer e ligo o chuveiro, a água gelada é
revigorante.
Termino de me lavar, seco meu corpo, me troco e vou até a cozinha.
Preparo o café e tomo um gole, o desânimo bate quando lembro do que tinha acontecido
em tão pouco tempo.
Primeiro havia roubado uma casa, me tornando assim um ladrão; segundo meu irmão
estava com um tumor, e lembranças do meu passado voltavam para minha mente.
Nunca havia contado para ninguém que fui estuprado quando tinha somente nove anos,
aquilo era um segredo que levaria para meu túmulo.
Sabia que não era culpado, mas poderia ter evitado; poderia ter pedido socorro, mas ao
invés disso permiti que aquilo acontecesse.
Deixei Antônio me estuprar.
Balanço a cabeça tentando afastar esses pensamentos e começo a comer, preciso ver
Bruno ainda hoje.
Capítulo 13 - Ligação
Aviso Rafael que sairei e antes que ele pudesse me dar uma resposta, pego as chaves
do carro do Lucas e sigo para a casa de Bruno.
São 06h:30min quando buzino em frente ao seu portão e sou recebido por Bruno
descabelado e cheio de sono.
— Entra, estou sozinho.
É um alívio saber que os pais de Bruno não estão em casa.
Deixo o carro no meio-fio e entro na pequena casa do meu amigo.
— O que aconteceu que você precisava falar comigo assim tão cedo?
Suspiro e olho em seus olhos.
— Robertinho está no hospital — digo já sentindo as lágrimas querendo descer pelo meu
rosto. — Descobrimos que ele tá com um tumor na cabeça.
Bruno fica quieto, seu olhar cai e posso notar que ele tropeça.
— O-o que? Isso não é verdade.
— Infelizmente é sim — digo começando a chorar.
Bruno vem na minha direção e me abraça. Aperto meus braços em volta dele e me
permito chorar igual uma criança.
— O que os médicos disseram?
— Eles estão confiantes, mas não sabemos como será daqui em diante. Robertinho terá
que viver com medicamentos fortes.
— E caros — completa Bruno suspirando.
Concordo, pois isso é algo a se pensar.
— Foi por isso que você veio até aqui?
— Não — digo secando as lágrimas. — Quero saber se teve notícias de algum
acontecimento... Você sabe, passou alguma coisa na TV sobre o roubo?
— Não, não passou nada. Relaxa, isso não vai acontecer.
— Tudo bem. — Balanço a cabeça em concordância.
— Gastou muito? — pergunta me olhando.
— O suficiente — digo seguindo para a sala.
— Não sei o que fazer com tanto dinheiro — diz Bruno sentando no sofá.
— Guarda, pensa um pouco no seu futuro, faça faculdade.
— Faculdade? Não, obrigado.
— Acabou os planos de fazer psicologia? Gostaria muito de fazer... — digo sonhando
com isso. — Queríamos ser psicólogos, lembra?
— Sim, lembro bem, mas por enquanto não quero e tem que ser forte para isso.
— Eu sei, iria ajudar pessoas com traumas.
— Traumas?
— Sim, isso que psicólogos fazem, ajudam pessoas com traumas — respondo lembrando
dos meus próprios traumas. — Você não?
— Eu não o quê?
— Pensa em ser alguém na vida, lerdo!
— Não agora, acabei de acordar, me dê um desconto, odeio estudar e odeio a faculdade.
— Você nunca esteve em uma para odiar.
— Não preciso.
Fico quieto e penso em Robertinho e na minha mãe.
— Preciso ir ao hospital — digo levantando. — Minha mãe deve estar me esperando e
Rafael também, diga a Lucas que não poderei ir na casa dele hoje...
— Você vai sim — diz Bruno levantando. — Você prometeu, Carlos.
— Eu sei, mas isso foi antes de saber sobre a doença do meu irmão.
— Para, cara, vai ser bom para você se distrair um pouco. Aproveita e tenta não pensar
muito.
Suspiro e aceno com a cabeça.
— Tudo bem, nos encontramos lá, pode ser?
— Sim, desde que você vá mesmo.
*
Busco Rafael em casa e seguimos para a clínica onde Robertinho está internado,
chegamos rapidamente e minha mãe está no quarto com meu irmão, que pelo que o médico disse
ainda dorme.
— Como ele está? — pergunto ao médico.
— Bem, já recebeu os medicamentos e acordará em breve.
— Quero vê-lo, posso?
Rafael está ao meu lado esperando ansiosamente para ver o nosso irmão.
— Um de cada vez.
— Eu vou primeiro — respondo seguindo o médico.
Rafael concorda e senta no banco da recepção.
— Carlos, quero deixar bem claro para o senhor que seu irmão está muito bem. Fica
calmo, você está tremendo.
Realmente estou e isso me assusta, mas saber aquela notícia me deixa mais calmo, o que
chega até ser confuso.
— Desculpa, é que... Ele é tão novo.
— Doença não tem idade. Assim como a morte também não tem, mas esse não é o caso
do seu irmão.
Aquilo é verdade, mas não quero pensar nisso.
Seguimos para uma ala separada dos outros pacientes e logo avisto minha mãe.
Dona Marisa está deitada em uma cadeira reclinável lendo uma revista, seu olhar é de
completo cansaço e ao seu lado está Robertinho dormindo como um anjo.
Sinto vontade de chorar ao vê-lo deitado imóvel naquela cama, somente a respiração fraca
e o mexer do seu peito me davam certeza que ele ainda está entre nós e ficará por muito mais
tempo.
Me aproximo deles, dou um beijo na testa da minha mãe e logo sigo para meu irmão.
É como se estivesse vendo-o nascer novamente, quando minha mãe quase morreu e quase
perdeu aquela doce criança...
Corro com minha mãe ao meu lado, sua expressão é de dor e desespero, sua barriga
antes dura, ficou flácida de repente.
— ELA ESTÁ PERDENDO A CRIANÇA! — grita um médico pegando uma cadeira de rodas e a
colocando sentada.
Vejo o médico se afastar às pressas com minha mãe e as lágrimas escorrem pelo meu
rosto como uma cachoeira.
— EMERGÊNCIA! EMERGÊNCIA! O BEBÊ E A MÃE ESTÃO MORRENDO.
Logo mamãe é transferida para uma maca, seu olhar está vidrado e parece já não estar
entre nós.
E de fato, ela está quase nos deixando.
Logo uma enfermeira se antecipa e começa a colocar alguns aparelhos na minha mãe.
Sorrio para a enfermeira que diz que tudo dará certo, então sussurra para mim:
— Fé.
E se afastam.
Lembro como se fosse hoje, ver o desespero da minha mãe me deixava louco.
“— SALVE MEU BEBÊ! NÃO IMPORTA MINHA VIDA, SÓ A DO MEU BEBÊ.”
Mas os médicos não desistiram dela, conseguiram salvar os dois e sou grato até hoje por
isso.
Olho meu irmão inerte na cama, pego sua pequena mão e o conforto que sinto é
instantâneo, algo realmente bom de sentir.
— Ele vai ficar bem — diz mamãe. — Vai dar tudo certo.
— Tenho certeza que sim, ele é uma criança forte, sempre foi — respondo secando as
lágrimas que invadem meus olhos. — Avisou Juliane?
— Avisei sim, ela disse que vem mais tarde vê-lo.
Aceno com a cabeça, meu celular começa a vibrar, pego do bolso e olho a tela.
A ligação é do trabalho.
— Você não vai atender? Anda, Carlinhos, pode ser importante.
Na verdade, não quero de jeito nenhum atender aquele telefone, mas que escolha tenho?
Minha mãe acredita que meu patrão me arrumou dinheiro, não que eu tenha roubado uma
casa.
“As atitudes das pessoas mostram quem elas realmente são.”
O que eu sou, um bandido ou um moço desesperado para alimentar a família?
Uma vítima de estupro ou o culpado por ele?
Atendo receoso e a voz de Gabriel ecoa no telefone.
— Carlos, desculpa te ligar assim em pleno domingo, é que preciso de um grande favor
seu. Lembra aquele prédio que você foi na sexta-feira, onde uma tal de Regina recebeu o
material?
— Lembro, sim — respondo lembrando que aquele lugar pertencia a Caio Brown, o CEO,
chefe de Regina, dono desta clínica.
— Preciso que você vá até lá ainda hoje e retire todas aquelas caixas — diz suspirando.
— Parece que o material está errado e ele vai ser usado na terça-feira.
Engulo em seco, pois teria que ir trabalhar em pleno domingo.
— Tudo bem — respondo sem escolha, sabia que minha mãe iria me obrigar a ir mesmo.
— Que horas você precisa disso?
— Bem, pode ser agora? O senhor Caio Brown estará esperando lá para te receber.
Capítulo 14 - O Encontro
Desligo o telefone e olho para a minha mãe.
— Vou ter que ir trabalhar — digo a ela.
Dona Marisa não responde de imediato, mas assente e logo me despeço dela e do
Robertinho, que ainda dorme.
— Me avisa assim que ele acordar, surgiu um imprevisto, terei que trabalhar hoje — digo
a Rafael.
Meu irmão concorda e dou duzentos reais na mão dele para pegar um táxi e comer algo
com minha mãe.
Eu sei que dar dinheiro na mão dele é loucura, mas sei também que Rafael jamais faria
uma idiotice, se é que me entende.
Saio da clínica e entro no carro do Lucas, não fará mal nenhum usar mais uma vez o carro
dele, afinal, Lucas tem outros veículos e não liga se usá-lo mais um pouco.
Decido que irei direto para a empresa do tal Caio Brown e confesso que estou ansioso
para saber quem é esse homem, pois em poucos dias ele pairava na minha vida.
Chefe da Regina, um dos caras mais ricos do mundo, CEO, que ajuda a clínica que meu
irmão está internado.
É estranho como as coisas podem estar tão ligadas, trabalho para “ele” e nunca tinha visto
o homem.
O trânsito hoje está tranquilo e sem muita pressão, o que foi realmente confortador, pois
levará menos tempo para chegar até a empresa do senhor Caio.
Ligo o rádio e vou mudando as estações, até deixar em uma música do Link Park.
Meu celular vibra, aproveito o farol fechado, olho o visor e vejo uma mensagem do
Danilo:
Ansioso para te ver novamente, podemos sair hoje?
Suspiro e mando uma resposta direta:
Eu: Infelizmente não posso, problemas... Meu irmão está no hospital.
Danilo: Qual hospital?
Passo o endereço e o nome, e vejo uma resposta que não imaginei.
Danilo: Vou ir para lá, te encontro onde?
Eu: Estou trabalhando agora, houve uma emergência no trabalho, mas se quiser me
esperar lá, estarei por volta das quatro.
Danilo: Tudo bem, estarei esperando você lá.
Confesso que esse ato de Danilo realmente me toca, o cara mal me conhece e já irá me
apoiar em uma situação que jamais imaginei estar passando.
Mando um “ok” para ele e volto minha atenção para o trânsito.
*
Em poucos minutos já estou em frente a empresa de Caio Brown.
Deixo o carro no meio-fio, sigo para a empresa e vejo um homem na recepção que parece
estar cansado.
— Bom dia, meu nome é Carlos, vim retirar um material com o senhor Caio Brown.
— De que empresa você é? — pergunta com a voz pastosa.
— “Grá-Impressão” — respondo soletrando como escreve.
— Tudo bem, vi aqui que já tem cadastro — diz entregando um cartão. — Décimo nono
andar.
Agradeço pegando o cartão e sigo para o elevador que chega rapidamente. Entro, aperto o
19 e suspiro.
Quero estar em casa, com minha família e que o que estamos passando não passe de um
pesadelo idiota.
A porta do elevador abre e saio em um corredor todo branco com uma das paredes escrito
“EMPRESAS BROWN”.
Engulo em seco, olho para os lados, sigo para a direita, onde contém uma recepção e
Regina está ali.
— Carlos — diz levantando, parece surpresa em me ver aqui.
Ela vem até a mim e me dá um beijo no rosto.
— O que aconteceu?
— Vim aqui tratar de um assunto com o senhor Caio Brown. Parece que o material que
trouxe, está errado — digo sorrindo.
— Errado? Que estranho, ele não me disse nada, mas ok. — Volta até a mesa e mexe no
computador. — Pode seguir para aquela sala ali.
Regina aponta para uma sala de portas duplas e escuras, aceno e sigo na direção indicada.
Dou uma leve batida e ouço um “entre” abafado e estranho. Suspiro e abro as portas, mas
o que vejo, me deixa perplexo e de coração acelerado.
Ele está de costas, olhando pela janela, seu cabelo cor de fogo reflete vivo e o terno azul
royal combina perfeitamente com seu tom de pele.
Engulo em seco.
Ele vira para mim, seu olhar parece de espanto e fúria.
“Puta que pariu!
Ele é o homem que roubei!”
— Você! — dizemos juntos.
“Estou ferrado!”
Capítulo 15 - A Proposta
Parece que o mundo está girando mais e mais rápido, o que com certeza não pode ser
verdade.
Estou na frente do homem que roubei e esse mesmo homem é quem está ajudando meu
irmão, mesmo que involuntariamente, o cliente da empresa que trabalho e o chefe da Regina.
Não pode ficar pior.
Engulo em seco e ele parece estar nervoso.
O que irá acontecer de agora em diante?
Só Deus sabe me dizer.
— Você... — repete nervoso.
Percebo que ele tem sotaque londrino, o que dá um pouco de dificuldade de entender o
que diz.
— Foi você que esteve na minha casa ontem, não foi?!
Fico sem reação, o que posso dizer?
Ele está certo, sou eu mesmo.
Quero nesse momento ser uma mosca inofensiva e voar para bem longe daqui, mas como
a vida adora brincar comigo, continuo imóvel.
— RESPONDA! — grita batendo na mesa.
Me assusto, mesmo ele estando longe de mim, dois metros e meio, eu diria, eu sinto
medo.
Penso no que posso fazer, é só abrir a porta, fugir e correr sem parar...
Mas ele iria atrás de mim, tenho certeza.
Ainda mais que agora meus dados pessoais como nome e número de documento estavam
na recepção, sem contar que ele sabe de que empresa venho.
Não há escapatória, estou ferrado.
— Fo-foi eu — consigo dizer gaguejando e sinto as lágrimas querer invadir meus olhos.
Não tem mais nada a fazer e quando minha mãe souber o que fiz, ficará decepcionada
comigo. Perderei meu emprego, minha dignidade, minha liberdade e a confiança que dona
Marisa sempre depositou em mim.
— O que você está fazendo aqui?
— Vim a serviço da empresa “Grá-Impressão” — digo tentando manter a calma.
— Foi você que roubou minha casa, seu delinquente — diz andando na minha direção.
Dou dois passos para trás e sinto a madeira gelada encostar nas minhas costas enquanto
Caio Brown se aproxima cada vez mais rápido.
— Sabia que o encontraria... Você roubou mais de 20 mil reais meu e agora vai pagar por
isso.
Caio cola seu corpo ao meu, seu peito bate em mim e seus fortes braços se colocam na
porta.
Estou encurralado.
Posso sentir seu hálito quente bem próximo e sinto uma excitação que não sei explicar de
onde surge.
— Vou te matar por isso — diz suavemente.
Balanço a cabeça e fecho meus olhos, pois não duvido de suas palavras.
Volto a encará-lo, Caio morde o lábio inferior e percebo que ele sorri, um sorriso
diabolicamente sensual.
— Como você pôde? Seu ladrãozinho sem-vergonha.
Vejo sua mão se estender em minha direção, o tapa ecoa pelos ares e logo sinto a
ardência. Coloco uma das mãos no rosto e o encaro.
— Me perdoa, por favor — consigo dizer. — E-eu não tive escolha.
Lágrimas começam a descer pela minha face e Caio recua um pouco, talvez sensibilizado
com a cena que está vendo, ou não.
— Você foi idiota! — diz sorrindo — Achou que roubaria uma casa e jamais seria
encontrado?
— Nunca pensei isso — digo tomando coragem. — Por favor, me entenda, minha família
estava quase passando fome e as contas estavam acumuladas.
— Isso não é motivo para roubar.
Fico quieto.
Aquilo não é motivo suficiente para roubar?
Parando para pensar, talvez não fosse, poderia ter procurado outros meios para ajudar
minha família, mas aceitei logo de cara a proposta de Bruno. Coloquei meu caráter a prova
porque não tive coragem suficiente de me esforçar mais. Penso nisso e seco as lágrimas que
escorrem em meu rosto enquanto Caio ainda está me encarando.
Como não havia pensado naquilo antes?
Poderia ter dobrado meus horários, insistido para Rafael trabalhar, cobrado a mísera
pensão do meu pai, pedido ajuda para Juliane, mas preferi me tornar um delinquente, como disse
Caio.
Havia tantos meios e fui por um caminho sem volta.
Roubei uma pessoa que, mesmo sem saber, ajudou meu irmão.
— Vou ligar para a polícia agora — diz pegando o telefone. — Você não vai mais fugir,
será preso junto com seu ajudante.
Lembro do meu amigo e penso o quanto sou idiota, se eu for preso, ele também será.
— Por favor, não o envolva nisso — peço nervoso.
Caio está longe de mim, ainda com o telefone na mão, pronto para ligar para a polícia.
— Como você é bonzinho... Me roubou e ainda quer livrar um bandido.
Sinto a bile subir ao ouvir aquilo, bandido; é isso que Bruno e eu nos tornamos.
Caio coloca o telefone na mesa novamente e olha para mim.
— Você não precisava roubar... Qual é mesmo seu nome?
— Carlos.
— Carlos, você não precisava roubar minha casa ou outra qualquer. Existe uma coisa que
se chama empréstimo, poderia ter feito um.
— Não pensei nisso e se pensei, não fui atrás — respondo rapidamente.
— Você é novo — diz me olhando da cabeça aos pés. — Quantos anos você tem?
— Para quê quer saber minha ida...
— EU PERGUNTEI QUANTOS ANOS VOCÊ TEM! — grita autoritário.
— Vinte.
— Realmente muito novo... Seria uma pena se fosse preso.
Olho para ele sem entender e Caio Brown sorri.
— Tenho uma proposta para te fazer — diz com seu sotaque extremamente sexy.
— Me mandar para a cadeia, não me parece uma proposta — respondo friamente.
Caio se aproxima de mim, com suas mãos segura meu rosto e passa seus dedos longos e
macios no lugar em que me bateu.
— Não é essa proposta que tenho a fazer. Sei que sua orientação sexual é...
— Gay — o corto. — Sou gay igual a você.
Ele sorri e concorda.
— Ótimo, vou fazer uma proposta.
— Qual? — pergunto sem entender.
— Carlos, você já ouviu falar de submissão?
— Já... Ato ou efeito de submeter; sujeição; humilhação; dependência; obediência;
humildade, ou se preferir, pessoas passivas, que fazem o que mandam, sempre obedientes.
Ele sorri mais uma vez e concorda.
— Ótimo, é isso mesmo, você estudou bem, mas e submissão sexual, já ouviu falar?
Engulo em seco tremendo, sentindo o suor brotar na minha cabeça.
É claro que já ouvi falar sobre aquilo, havia lido até mesmo livros sobre isso, Anastácia
Steele não some da nossa mente tão fácil, não é mesmo?
Mas nunca sequer me ofereceram algo parecido com isso, ainda mais um homem sexy,
rico e gostoso.
Que loucura é essa pela qual estou passando?
Só podia ser um sonho estranho.
— Já ouvi falar sim.
— Acho que você já entendeu onde quero chegar.
Sim, havia entendido.
— Carlos, você pode ter sua liberdade, se aceitar ser meu submisso sexual.
Olho para ele sem saber o que responder ou pensar.
Quero ser seu submisso?
Então lembro dos meus traumas da infância, aquilo jamais seria possível de ser esquecido,
em todos esses anos jamais havia me aberto para alguém e contado o que passei quando tinha
apenas nove anos de idade, nem mesmo minha mãe que sempre foi minha amiga e confidente,
sabia que eu tinha sido estuprado. Não conseguiria de livre e espontânea vontade me abrir desse
jeito para alguém, literalmente falando.
— Ah! — Penso por um instante e então respondo. — Não, eu não aceito.
Capítulo 16 - Talvez isso seja o melhor…?
Caio olha para mim e sua face demonstra raiva, logo em seguida ele me dá um
sorriso do tipo “você vai me pagar” e é exatamente isso que significa, porque Caio Brown pega o
telefone e digita três números.
Não consigo ouvir o que a pessoa fala para ele, mas entendo perfeitamente suas palavras:
— Meu nome é Caio Brown — diz com um forte sotaque. — Estou ligando para
denunciar um roubo que aconteceu na minha casa, o infrator está bem aqui na minha frente.
Observo que ele faz uma pausa, ouve o que dizem e balança a cabeça como se a pessoa
estivesse na sua frente.
— Pode deixar, ele não vai fugir.
Logo o telefone volta para a mesa e ele sorri.
— Você não aceitou o caminho mais fácil, Carlos, então serei obrigado a colocá-lo atrás
das grades.
É nesse momento que o meu mundo desaba, vou ser preso por causa de um roubo e isso
vai desapontar muito a minha mãe.
— Por favor, não...
— Não venha com esse papo de “não faça isso”. Te dei uma escolha, era só ter aceitado,
mas você não quis! — diz seco.
As lágrimas rolam soltas pela minha face, como dizer àquele homem que não aceitei sua
proposta de submissão porque tenho medo de sexo, ainda mais sendo passivo.
Ele não entenderia meus traumas, é uma pessoa rica e muito importante, o que significa
que jamais passou pelo que passei.
Eu não podia ser submisso dele devido o estupro que sofri, mas também não podia ser
preso. Ainda mais com meu irmão no hospital e minha mãe desempregada, eles iriam passar
fome e acabar perdendo tudo.
— A polícia vai vir aqui e você acabou de perder a oportunidade de ser alguém nessa
porra de vida! — diz sorrindo e batendo as mãos na mesa, o que me faz assustar.
— Tenho minha mãe para ajudar, meu irmão, e-ele só tem cinco anos e descobrimos
ontem que ele tem um tumor na cabeça, por favor, se eu for preso, tudo acaba — digo em
lágrimas.
Estou descontrolado, jogando todas as armas que tenho para Caio Brown, quem sabe
falando da minha vida trágica, ele não muda de ideia.
Observo que sua expressão muda e ele parece por um segundo sentir pena de mim.
— Seu irmão está doente? — pergunta prestando atenção.
Seco as lágrimas tentando me controlar e balanço a cabeça em concordância.
— Sim, ele está, vai ter que viver a base de medicamentos caros e não sei o que fazer.
Caio engole em seco e arruma sua postura, ficando ereto e de queixo para cima.
Noto que ele é muito mais bonito pessoalmente, frente a frente, o que me deixa com a
sensação de borboletas no estômago, mesmo que elas estejam mortas.
— Sendo assim, é só você aceitar ser meu submisso e isso te dará vantagens — diz.
—Vantagens? — questiono sem entender.
— Sim, ou você acha que vou querer você assim? Você realmente é bonito, tenho que
admitir, mas quero que corte esse cabelo horrível, tire a barba, entre em uma academia, mude seu
jeito de falar e se vestir, e sempre esteja interagindo com a sociedade.
— O quê?! Mas eu tenho dinheiro para isso, não... Não posso.
— Eu tenho dinheiro e você tem você mesmo, é só saber se usar.
Engulo em seco e sinto a bile na boca.
Me usar?
Não passarei de um objeto para ele, isso é óbvio.
— Só sexo, sem sentimentos — diz lendo meus pensamentos. — Por favor, arrume sua
postura.
Percebo que estou curvado e tremendo, então me controlo e fico ereto.
— Muito melhor — diz sorrindo. — E en...
Caio é interrompido pelo telefone que toca alto.
Ele faz um sinal pedindo um minuto, atende, ouve o que a pessoa diz e responde com um
“mande entrar”.
— A polícia chegou — diz depositando o telefone na mesa. — E aí você aceita ou não?
Aceito?
Eu não sei o que pensar, seria tão ruim assim ir para a cadeia?
Paro para pensar, e vejo que sim, vou perder tudo.
E ser submisso, seria tão ruim assim?
Talvez seja o melhor, não?
Mas, vou conseguir?
Não sei se seria capaz de aceitar aquilo.
Reviver aquela memória há muito esquecida seria doloroso demais, o sonho que tive na
noite passada me mostrava que não havia esquecido completamente...
— Tudo bem, senhor Caio, aceito ser seu submisso.
Caio sorri alegre e assente para mim.
— Ótima escolha, agora se tranque no banheiro. — Continua sorrindo e indica a porta ao
lado.
Vou rapidamente para o local indicado e ouço uma batida na porta. Logo entro e me
fecho, mesmo assim consigo ouvir a conversa do lado de fora.
— Boa tarde, senhor Caio, recebemos sua ligação e decidi vir aqui ver o que aconteceu.
— Olá, delegado Martins, obrigado por vir até aqui — diz Caio.
— Você disse que havia uma pessoa aqui, mas não vejo ninguém, o infrator fugiu?
Encosto meu rosto na madeira gelada e ouço Caio dizer:
— Sim, ele fugiu, inclusive machucou um jovem rapaz que estava prestando serviços para
mim, o jovem Carlos, ele se encontra no banheiro nesse momento.
Fico parado.
O que aquele filho da puta acha que está fazendo?
Vou até o espelho e me observo, meus olhos estão inchados e vermelhos, meu cabelo está
bagunçado e no meu rosto está a marca do tapa de Caio.
— Será que ele pode vir até aqui? — pergunta o delegado.
Sei que ele está falando de mim, então me preparo para uma cena e saio do banheiro.
Observo primeiramente Caio, que está parado no mesmo lugar com as mãos na mesa, seu
olhar cai sobre mim e sorri. Sigo meu olhar para o homem alto, gordo, bigodudo, e velho do
outro lado, o delegado Martins.
— Olá, Carlos — diz vindo até a mim e aperta minha mão. — Foi o senhor que o infrator
agrediu? Posso ver uma forte marca em seu rosto.
— Boa tarde, sim, foi no rosto mesmo que o bandido me bateu. — Olho para Caio que
sorri.
— O senhor Caio estava me dizendo que o rapaz fugiu, sabe dizer como ele é?
— Alto, moreno, olhos castanhos e cabeça raspada. — A mentira flui tão rápido que
parece que aquilo é verdade.
— Como o senhor o reconheceu, senhor Caio?
— Eu o vi ontem na minha casa roubando. Não dá para esquecer um rosto tão facilmente
assim.
— Certo, e o senhor prestou queixa ontem?
— Não, não tive tempo, e ele não me roubou muita coisa.
— O que o bandido levou?
— Vinte e cinco mil reais em dinheiro vivo, só isso.
Martins parece vacilar.
“Só isso?”
— Vou ver o que posso fazer o mais rápido possível. Vou precisar do depoimento de
vocês, e manter contato. Podemos precisar ligar para reconhecer o suposto bandido... Vai prestar
queixa?
— Vou — Caio diz e quero xingá-lo.
Ele vai manter mesmo uma queixa, o que pode me levar a ser preso se ele dizer que sou o
bandido infrator.
O delegado pega nossos documentos e anota nossos números.
— Espero encontrá-los logo com boas notícias — diz se despedindo e sai logo em
seguida.
Suspiro e levo a mão até a cabeça.
“Essa foi por pouco.”
— Obrigado — digo para Caio.
— Pelo que exatamente? Pelos vinte cinco mil, por encobrir você, ou por permitir que
você seja meu submisso?
“Filho da puta convencido!”
— Por não me colocar na cadeia. Você poderia ter mudado de ideia.
— Poderia mesmo, mas não sou de mudar de ideia assim tão rapidamente. Agora vamos
ver se vai valer à pena isso tudo — diz sorrindo.
Concordo e faço uma coisa que jamais imaginei na vida; estou apertando a mão de Caio
Brown, o homem que me ajudou, que roubei, que me bateu e que agora é o meu dono.
Está feito, não posso mais voltar atrás.
Sou submisso de Caio Brown.
Capítulo 17 - Passeio obrigatório
Caio olha para mim após apertar minha mão e diz:
— Vamos sair agora.
— Mas, e o material que estava errado? Preciso levá-lo para meu trabalho.
— Esqueça isso, depois resolvo. Você vai pedir demissão desse emprego.
— O quê?!
Olho para Caio e vejo que ele pega as chaves e um iPhone.
— Quero que se dedique totalmente a mim. Não se preocupe, ainda não acabou, você vai
assinar um contrato e vamos ver os valores que vou te dar.
Engulo em seco horrorizado, Caio Brown vai me fazer assinar um contrato e vai me dar...
Dinheiro?
Isso tudo lembra Anastácia Steele, e o meu mundo gira.
— Agora vamos, vou levar você para fazer um passeio.
Imagino que ele vai me levar para um lugar reservado e vai me penetrar fundo, confesso
que isso faz meu coração gelar.
— Va-vamos transar?
Caio para de mexer em uns papéis que estão sobre a mesa, olha para mim e solta uma
risada forçada.
— Apesar de estar louco para te comer, não vou fazer isso agora.
Suas palavras me dão um certo alívio e um pouco de desapontamento.
O que eu estava esperando, que ele fosse arrancar nossas roupas ali mesmo e me comer?
Parecia até que eu queria isso, o que com certeza não é verdade. Eu jamais seria passivo
em uma relação por vontade própria. O estupro fez isso comigo, havia criado um trauma sobre
sexo e talvez era por isso que não transava muito.
— Vamos.
Ele vem na minha direção e abre a porta. Não tenho escolha e o sigo.
O lugar que antes Regina estava, está vazio, e penso que ela já foi embora. Havia a
conhecido pouco tempo atrás e ela tinha falado do seu chefe. Cheguei a pensar que talvez
quisesse conhecer Caio Brown e agora o conheço e sou seu submisso.
— Posso perguntar algo? — peço o seguindo para o elevador.
Caio aperta o botão para descer e percebo seu ar de irritação, não posso negar que ele é
um homem muito atraente.
— Pergunte.
— O senhor já teve outros submissos?
Caio fica surpreso com minha pergunta e volta a sua postura anterior.
— Isso não é da sua conta, garoto — responde ríspido.
— Desculpa.
“Ignorante filho da puta!”
O elevador chega e Caio e eu entramos.
Ele aperta o botão do primeiro subsolo e lembro de uma coisa.
— Por favor, tenho que devolver o carro do meu amigo antes.
— Não se preocupe, depois cuidamos disso, ninguém vai mexer no carro.
— Como você pode ter tanta certeza?
Ele bufa de raiva e percebo que está sem paciência, o que não é novidade, afinal, desde o
momento que o conheci, ele é irritado.
Caio pega seu celular, disca um número que não vejo e rapidamente diz:
— Alexandre, me encontre no primeiro subsolo ao lado do meu carro, preciso que pegue a
chave de um veículo para mim e trate de levá-lo em segurança para casa. — Desliga o celular
antes mesmo de ouvir uma resposta e a porta do elevador abre depois do famoso plim.
Ele sai do cubículo de inox, segue em frente e sei que tenho que segui-lo.
Andamos por poucos minutos até Caio parar na frente de uma BMW preta com teto solar.
Pega a chave, destrava o carro e um homem aparece o cumprimentando.
— Senhor.
— Obrigado por vir rápido, Alexandre. Preciso que leve o carro do Carlos para casa em
segurança — diz Caio sério
Pego a chave do bolso e entrego para o homem.
Alexandre é alto, tem cabelo escuro, olhos castanhos e pele negra, usa terno preto e tem a
postura séria assim como a do patrão. Ele pega a chave das minhas mãos, balança a cabeça, com
um pequeno sorriso no rosto e retribuo.
— Vamos, Carlos — diz Caio entrando no carro depois que passei o endereço para
Alexandre.
Sigo para o outro lado do carro e me despeço de Alexandre. Ele se afasta, entro no carro e
o observo por dentro; tem cheiro de couro e coisa nova. Tudo é bege e extremante lindo.
— Uau, que carro — digo nervoso.
Será que deveria ter falado?
— Lindo, não é mesmo? Espero que não toque em nada e coloque logo a porra do cinto,
antes que minha paciência acabe.
Olho para ele e vejo um traço de irritação em seu rosto assim como um pequeno sorriso.
— Claro, senhor — digo colocando o cinto.
Ele liga o carro e sai da garagem.
Se eu parasse para pensar dois dias atrás, jamais imaginaria que aquilo poderia acontecer,
mas está acontecendo.
Como a vida podia mudar da noite para o dia, não é mesmo?
Dois dias atrás era apenas um homem desesperado para alimentar minha família e pagar
nossas contas, agora sou ladrão e submisso do homem que roubei.
“A vida é mesmo uma caixa de Pandora!”
Caio para no estacionamento de um enorme shopping que tem próximo a sua empresa e
sai do carro.
Percebo que está na hora de sair, então tiro o cinto e abro a porta, saindo logo em seguida.
— O que estamos fazendo aqui?
— Vamos entrar no shopping para comprar algumas roupas para você e arrumar esse
cabelo ridículo.
— Mas e se eu não quiser?
— Tem uma queixa nas suas costas, e você é obrigado a fazer o que eu mandar. Você
agora é meu, e isso significa que decido como você vai ser.
Ok, esse homem é um pouco mais louco que Christian Grey.
Anastácia Steele é uma sortuda perto de mim.
Seguimos para o elevador que tem no subsolo do shopping e Caio aperta o botão do
térreo.
Rapidamente a porta fecha e abre novamente, nos revelando um corredor branco com
portas indicando o banheiro.
— Posso? — pergunto apontando para a placa.
Ele revira os olhos irritado e concorda.
Logo sigo para o banheiro masculino e respiro fundo.
Minha mãe deve estar louca atrás de mim, Danilo com certeza já deve ter me ligado várias
vezes e Rafael também.
Pego o celular no bolso e verifico; duas chamadas perdidas da minha mãe, quatro do
Rafael e uma de Danilo junto com um SMS.
Danilo: Já está chegando? Estou com sua família aqui, beijos.
Respiro fundo e envio uma mensagem simples.
Eu: Vou demorar, imprevisto.
Saio do banheiro e Caio me observa.
— O que foi?
— Nada, anda, vamos logo. Você tem que ir embora.
“Ir embora?”
Acho que estou virando sortudo e deixando Anastácia Steele no chinelo.
Quero erguer os braços e gritar de felicidade, mas não posso fazer isso, Caio com certeza
não iria gostar nem um pouco.
Seguimos primeiramente para o cabeleireiro que tem no shopping, um gay é super gentil
com Caio e me deixa de lado, como se nem estivesse presente.
Não sei o que sinto; raiva, ciúme ou a sensação de desprezo, mas quase grito:
“EI, SOU SUBMISSO DELE, QUERIDINHO!”
Claro que não faço isso, afinal, Caio poderia me castigar.
Não é isso que dominadores fazem?
— O que posso fazer pelo senhor?
— Quero que arrume o cabelo e a barba do meu companheiro— diz Caio.
Uau, como subimos de patamar rapidamente, né?
Caio sorri com ar de arrogância para o rapaz que me olha da cabeça aos pés.
— Você tem alguma preferência de corte? — pergunta olhando para mim.
Abro minha boca e a fecho, não tenho preferência nenhuma, Caio que deve decidir.
— Claro que ele tem — diz sorrindo. — Raspe nas laterais e corte um pouco em cima,
queremos um penteado bagunçado.
“Penteado bagunçado?
Que cara maluco!”
— É para já! Venha por aqui — diz o rapaz sorrindo.
Sigo o rapaz até uma cadeira e ele começa a lavar meu cabelo, logo em seguida o enrola
em uma toalha e seguimos para outra cadeira. Me sento, o rapaz seca os fios, pega a máquina e
raspa rapidamente as laterais da minha cabeça, deixando somente um milímetro de cabelo.
Quero chorar ao ver meu cabelo sendo raspado, por anos o deixei crescer para que as
pessoas, homens no caso, não se interessassem tanto por mim. Não sei se a tática funcionou, no
entanto, vê-los sendo cortado, é como se o Carlos há muito adormecido, voltasse à tona.
Não demora e o rapaz, que se chama Diego, (resolvi perguntar), finaliza o corte, que
agrada Caio, e está com o sorriso no rosto.
Logo minha barba também é feita, a deixando alinhada e bem aparada, então Diego sorri e
me encara.
— Pronto, ficou incrível, você não acha? — diz Diego sorrindo alegre.
Ele vira minha cadeira, me observo no espelho e pareço outra pessoa. Estou mais jovem,
mais bonito, muito diferente do que era antes.
Sorrio para minha imagem.
— Realmente gostei. Vamos, temos que comprar suas roupas — diz Caio sorrindo.
Caio paga a conta, o que me deixa desconfortável e seguimos adiante.
— Você fica muito melhor assim. Vamos entrar nessa loja aqui.
Não vejo o nome do local, porém noto que é um lugar para ricos.
Assim que colocamos nossos pés dentro da loja, dois homens vêm até nós nos
cumprimentando. Sei que eles só estão sendo gentis comigo por causa do jovem britânico, Caio
Brown, mas também, ver esse homem lindo e maravilhoso, (isso não posso negar), não tem
como não ser gentil.
— Quero alguns ternos, camisas, calças, sapatos, tênis, tudo que tiver — diz Caio.
Os dois homens concordam e vão em busca do que Caio pediu, logo após pegar minha
numeração de roupa e sapato.
Sentamos em um banco de madeira com almofadas de couro e esperamos.
— Quero que amanhã você comece a fazer academia e peça as contas do seu emprego.
Não vou discutir com esse cara, mas tudo isso me dá uma sensação estranha.
O que minha família pensaria de mim quando chegasse em casa com várias sacolas e
bem-arrumado?
Coisa boa não seria.
Então tenho uma ideia.
— Gostaria de te pedir uma coisa, mesmo que não tenha direito algum em pedir algo —
digo para Caio.
Ele ergue a sobrancelha e me olha.
— O quê?
— Posso deixar todas essas roupas e sapatos na sua casa, pelo menos por um tempo?
— Por quê? — pergunta sério.
— Minha família pode estranhar me ver chegar com isso tudo, nesse momento tão
difícil...
Caio me observa por um segundo e sinto vontade de desviar meu olhar do seu. Uma
pesquisa diz que, se uma pessoa olha em seus olhos por mais de seis segundos, significa que, ou
ela quer te matar ou transar com você.
Espero que Caio só queira transar comigo e nada além disso.
— Tudo bem. Vamos, os dois já estão voltando.
Capítulo 18 - Casa do Lucas
Visto várias roupas de todos os tipos; calças coloridas e apertadas, camisas,
camisetas, sapatos, tênis, ternos, gravatas, e no fim de tudo, Caio compra todas as peças.
Então vejo que ele abre sua calça e tira sua camisa, depois rapidamente pega um par de
algemas e um chicote.
— O que você vai fazer? — pergunto sentindo um calafrio percorrer minha espinha.
— Fica quieto — diz Caio vindo em minha direção.
Vejo o chicote na sua mão e ele sorri, então passa nas minhas costas e sinto a maciez do
couro, o que me causa um arrepio, então respiro fundo.
“Puta que pariu, o que eu faço?!”
Caio Brown passa mais uma vez o chicote em mim e o empina para trás. Já preparo meu
psicológico para a dor que vai vir quando ele me acerta. Sinto meu corpo ir para a frente e uma
dor fraca se instala nas costas.
— Você é delicioso, Carlos — diz parando ao meu lado depois se abaixa e me olha. — Eu
vou te foder tanto.
Passa o chicote na minha bunda, bate nela e a ardência rapidamente passa para calor.
— Estenda as mãos — ordena.
Obedeço sem pestanejar e ele passa as algemas nas minhas mãos, prendendo em uma
barra de ferro comprida que não havia reparado antes.
Estou preso.
Caio levanta e puxa minhas pernas para trás, me fazendo levar um susto e ficar de barriga
no chão.
“É agora, ele vai me comer...
Ele vai me comer.”
— Essa bundinha precisa ser bem maltratada. Você já cuidou dela o suficiente.
Engulo em seco e fico quieto, o suor escorre pela minha testa, meu estômago se embrulha
e sinto um grande medo.
Meu dominador passa o chicote nas minhas nádegas mais uma vez, e me acerta. Me mexo
tentando me afastar, mas ele não permite.
— Vou ter que prender seus pés também? — pergunta com um leve tom de raiva na voz.
— Não, senhor — respondo nervoso.
Aperta minha bunda com suas mãos e coloca o chicote de lado.
— Para quê enrolar mais? — pergunta e logo cai de cara na minha entrada.
Sinto seu rosto invadir minhas nádegas e sua língua passar pelo meu cu. Tremo de prazer
e por um minuto esqueço que estou preso, me permitindo sentir aquilo.
Sua língua age rápido, de maneira descontrolada, entrando e lubrificando meu ânus. O
calor instantaneamente sobe pela minha barriga e sinto meu rosto formigar. Nunca haviam feito
isso em mim, mas quando Caio faz, vejo o quanto é prazeroso.
Ele segura minha bunda com as mãos e volta a chupar meu cu, fazendo meu pau começar
a ficar duro. Não quero que aquilo acabe tão sendo, até porque sei que depois disso, vai vir algo
que venho temendo há anos.
— Jesus — diz tirando o rosto das minhas nádegas. — Não aguento mais me segurar.
Olho para ele com dificuldade e sinto um dedo seu entrar em mim devagar, a dor me
invade e imediatamente me lembro mais uma vez do meu estupro.
— Por que você vai me dar esse cuzinho, Carlos? — pergunta Caio tirando o dedo de
mim e arrancando sua calça já aberta.
— Sou seu submisso, senhor — respondo nervoso.
— Exatamente, mas por que você é meu submisso?
— Porque roubei a sua casa. — Sinto as lágrimas querendo invadir meus olhos e me
seguro, olhando as minhas mãos algemadas. As algemas queimam meus pulsos, mas continuo
em silêncio, apenas esperando o momento.
— Exatamente — diz jogando a calça do outro lado do quarto.
Vejo quando pega o chicote do chão e o guarda, confesso que sinto alívio, mas somente
até ver que ele pegar um cinto.
— O que você vai fazer?
— O que você acha?
— Você disse que não usaria o cinto em mim pelas minhas respostas satisfatórias.
— Pode ser que menti — diz sorrindo.
Sinto que ele quer me assustar com suas palavras, mas não me permito, afinal as lágrimas
querendo cair já são o bastante.
Caio abaixa, abre as algemas, permitindo que eu me solte. Passo minhas mãos nos pulsos
para aliviar a dor depois passo na minha nádega, sentindo uma leve ardência e mordo a língua.
— Coloque-se em pé agora mesmo.
Levanto rapidamente e me mantenho no lugar, me preparando psicologicamente para o
cinto. Caio vem em minha direção, sorri, ergue meus braços e me faz segurar na barra de ferro.
Meu peito sobe e desce rapidamente, estou suado e com medo, mas aquilo está longe de
terminar. Mesmo sabendo que ele não é o homem que me estuprou, sinto meu coração acelerar
cada vez mais.
“Mantenha a calma, Carlos, você escolheu isso. Caio te deu a escolha, agora terá que
arcar com a sua decisão” diz meus pensamentos.
— Fique assim, se você se mexer, eu te amarro.
Concordo engolindo em seco e fico quieto. Meu rosto queima de vergonha por estar nu na
frente desse homem enigmático.
Me mexo sem querer e ele me fuzila com o olhar.
— Eu disse para você não se mexer — diz me arrumando na barra novamente. — Quer
que eu prenda suas mãos?!
Nego com a cabeça e engulo o soluço, ficando em silêncio, não posso permitir que as
lágrimas escorram pelo meu rosto, aquilo já é humilhante demais.
Caio vem em minha direção e joga o cinto no chão.
— Foda-se — diz e me puxa na sua direção.
Sinto sua boca colada na minha e me entrego ao momento, seus lábios são macios e ágeis,
fazendo todo o sentimento ruim que estava sentindo antes sumir como se fosse fumaça.
Continuamos nos beijando e quero apertar todo seu corpo contra mim, mas evito ao máximo
tocá-lo com medo dele achar ruim.
— Pode passar as mãos em mim, Carlos, não há o que temer — diz como se lesse meus
pensamentos.
Concordo e passo minhas mãos nas suas costas largas, subindo para nuca e enfim
chegando em seu cabelo, enquanto ainda o beijo. Vou aprofundando meus dedos em seu cabelo
ruivo e acaricio os fios, me sentindo mais tranquilo. Meu dominador sorri com isso e morde meu
lábio inferior suavemente.
— Você quer mesmo entrar nesse jogo? — sussurra no meu ouvido.
— Sim, você não me deu muito escolha, senhor — digo e faço algo que jamais imaginei
que faria.
Sigo com minha mão para o rosto de Caio e sinto a maciez da sua pele, tomando coragem,
levo minha mão até seus lábios e acaricio, com ele apenas me observando. Caio abre a boca e
enfio um dedo entre seus lábios, vendo-o mordiscar a ponta, então sorrio e de mantenho calmo.
— Você é um rapaz corajoso, Carlos, por ter aceitado isso, tem bastante coragem, não
acha?
— Como eu disse antes, senhor, não tive muita escolha.
Vejo um sorriso se formar e Caio acerta um forte tapa na minha bunda, logo em seguida
me joga com força na cama e me encara.
— Gosta do perigo, Carlos?
— Talvez goste do perigo quando estou com você — respondo o encarando.
Tenho a imagem completa dele e posso notar o quanto está excitado.
— Ótimo, porque tenho algo para você.
Aos poucos como se tudo ficasse em câmera lenta, ele abaixa sua cueca e o encaro.
Fico embasbacado com o que vejo, enorme e cheio de veias, pulsando com um desejo
descontrolado, grosso e com uma glande rosada.
Caio pega seu pau na mão e começa a se masturbar, deve ter no mínimo uns 21
centímetros, o que me assusta um pouco.
— Vire-se de costas — ordena.
Penso em dizer que não, mas sei que não posso fazer isso.
Ou obedeço a Caio ou sou preso.
“Continue apenas respirando e mantenha a calma, você vai conseguir.”
Viro de costas nervoso, tentando me acalmar e ele sobe em cima de mim.
— Eu vou te foder até não aguentar mais — diz sussurrando no meu ouvido depois
mordisca minha orelha, fazendo com que eu me arrepie.
Vejo que ele abre o plástico da camisinha e desliza pela extensão do seu pênis. Continuo
quieto e meu dominador abre minhas nádegas e sorri. O vejo pegar lubrificante na cama, logo
passa na extensão do seu pau e no meu cu. Joga a embalagem no chão e se deita novamente em
mim, entrando devagar.
Relaxo ao máximo, afastando o pensamento de que não é Antônio e minha carne queima,
como se estivesse sendo rasgada. Grito de dor, mas Caio não para até chegar ao fim.
Quando sua barriga encosta totalmente na minha pele, ele começa com movimentos
lentos.
Não sei dizer o que sinto, parece que uma faca entra dentro de mim e me corta por
completo, ele não diz sequer uma palavra, apenas sinto sua respiração e o gemido baixo.
Seus movimentos ficam mais e mais rápidos, enquanto vou gemendo de dor, tristeza e
desespero, não aguentando aquela humilhação que estou passando. Aos poucos, vou tentando
relaxar e me acostumar, dizendo a mim mesmo que de agora em diante, serei escravo sexual de
Caio Brown e não posso fazer nada...
Assim como também não fiz quando fui estuprado, naquele beco, quando ainda era uma
criança.
Tento me concentrar e meu dominador me enche de beijos, dizendo o quanto sou quente,
apertado, gostoso e seu submisso. Ao ouvir aquilo tudo, lembranças surgem na minha mente...
Sinto o pau daquele homem me rasgando e choro pedindo para ele parar, mas não
adianta suplicar, porque ele continua com os movimentos.
— Para de choramingar ou vou te matar! — diz nervoso me enforcando.
Engulo o choro e começo a vomitar, com ele ainda me penetrando fundo, então me
lembro do seu membro dentro da minha boca.
— Você chupa tão gostoso, quero gozar na sua boca.
Limpo o vômito e o homem alto continua investindo em mim.
— Que apertado você é, você está gostando, não está? Quero que se lembre de mim toda
vez que for dar essa bundinha.
Saio dos meus pensamentos e volto para o momento atual, quero pedir socorro e sair dali,
mas meu dominador continua com as investidas, mais e mais rápido. Sinto as lágrimas surgindo
e vejo Caio delirando de prazer comigo. Ele sai de cima de mim e vira todo meu corpo na cama.
Encaro seu peito forte subir e descer mais rápido do que o normal e ele me beija, colando seu
corpo ao meu.
— Entrelace suas pernas na minha cintura.
Faço o que me pede e logo ele volta para dentro de mim, segurando meu corpo ainda mais
próximo dele.
— Você é tão apertado — sussurra. — Está gostando, não está? Quero que lembre sempre
dessa nossa foda.
Aceno com a cabeça e ele continua com os movimentos, agora apertando com força meus
braços.
— Me responde, Carlos, você está gostando?
Quero dizer que não, que aquilo nunca vai ser algo fácil de se fazer, mas como tenho uma
dívida com ele, respondo:
— Sim, senhor, continue e goze para mim.
— Estou quase lá — murmura indo ainda mais rápido.
O suor escorre pelo nosso corpo e com um gemido alto, Caio goza, saindo logo em
seguida de dentro de mim e deixando a camisinha de lado. Ele me encara por um momento e
sorri, então deixa o quarto.
Sinto as lágrimas começarem a descer do meu rosto e continuo deitado, arrependido de
tudo que fiz e soluçando ao lembrar do meu passado.
Capítulo 22 - Fugindo
Não sei quanto tempo fico na cama chorando, mas não consigo levantar. Me sinto
completamente sujo, não somente pelo sexo, mas pela maneira que ele foi feito e pelas
lembranças que teria que levar para o resto da vida comigo.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e caem na cama, molhando o travesseiro e lençol.
Caio aparece uma hora depois, está vestido e limpo, com um sorriso enorme no rosto. Ele
abre a porta e entra, vindo em minha direção, logo percebe que estou chorando e se afasta.
— O que foi? — pergunta sem entender.
A verdade é que nem eu mesmo entendo direito o que está acontecendo, ao aceitar ser
submisso de Caio, deveria saber que uma hora ou outra ele iria transar comigo, então por que
todas aquelas lágrimas e desespero?
A resposta vem imediatamente na minha cabeça; o sexo com Caio Brown me fez recordar
do meu estupro.
Meu subconsciente me alerta que não tinha sido isso porque aceitei ser seu submisso,
mesmo assim, é como se Caio tivesse me forçado a entrar naquele jogo.
Choro mais um pouco e fico encarando o teto, sem saber o que dizer ou o que fazer.
— Você está se sentindo bem? — pergunta meu dominador, sentando ao meu lado.
Me afasto, pego o lençol e cubro meu corpo com o tecido. Caio parece irritado e tenta me
tocar.
— Não toque em mim! — digo me jogando no chão para me afastar ainda mais dele.
— O que está acontecendo, Carlos? — pergunta nervoso.
— Por favor, não, não me obrigue a fazer isso — digo chorando e uma forte dor de
cabeça se instala em mim — Não quero.
Caio me observa, fica quieto por um minuto inteiro, então diz:
— Você sabia que seria assim, fizemos um acordo, você aceitou, por que está com essa
frescura?!
— Você não tem o direito de falar assim comigo — respondo levantando. — Eu errei, eu
sei, mas você... Você me usou!
Ele fica parado, sem revelar nenhuma expressão, logo começa a rir baixinho, colocando a
mão na cintura.
— Foi por causa que gozei e sai? — questiona com a sobrancelha erguida.
— Você fala isso com tanta naturalidade — respondo na defensiva.
— Não seja idiota, quer que eu fale como? Qual sua preocupação? Usamos camisinha e
mesmo que não usássemos, não tenho doenças e creio que não precisa da pílula do dia seguinte.
— Forma um sorriso em seu rosto e joga roupas limpas para mim. — É melhor você se vestir
logo antes que mude de ideia e te coma de novo. Estarei na sala te esperando — diz e sai
fechando a porta.
Fico parado, sem mais nenhuma lágrima para deixar cair. Respiro fundo e jogo o lençol
na cama, teria que fazer um acordo com Caio para que isso não durasse muito, mas como seria?
Pensando nisso e em outras coisas, me arrasto para o banheiro esperando que a água
limpe não só meu corpo, como também minha mente.
*
Meia hora depois, me encontro na sala junto com Caio, ele está sentado no sofá de frente
a uma mesa de centro com vários papéis a sua volta. Pigarreio mostrando que estou ali e ele me
olha.
— Vejo que a roupa serviu.
— Sim, obrigado.
— Não agradeça.
Ele volta a atenção para os papéis e sento no sofá de frente para ele. Minha bunda arde e
solto um gemido baixo de frustração. Caio me olha e um sorrisinho travesso aparece em seu
rosto.
“Bom saber que alguém se diverte.”
— Está mais calmo? — pergunta sem tirar seu olhar daqueles papéis.
— Um pouco.
No banho, pensei em todas as maneiras que pudesse fazer com que esse acordo não
durasse muito, mas não encontrei nenhuma solução.
Como isso iria acabar, e quando iria acabar?
Eu não poderia viver para sempre preso a Caio, além disso, uma hora ou outra, ele iria me
dispensar e ficar com alguém mais novo que eu.
Não é isso que dominadores fazem?
— Quer comer alguma coisa? — pergunta me observando.
— Não — respondo imediatamente.
— Quer beber alguma coisa?
— Também não.
Ele joga os papéis na mesa e me observa.
— O que foi?
— Nada — respondo mecanicamente.
— Argh! Você me frustra às vezes!
— E você é muito estressado, já parou para pensar? Sempre fica nervoso. Não passa um
dia sem estar irado e olha que mal te conheço.
Ele levanta, anda de um lado para o outro, suspira e passa as mãos na cabeça.
— Já disse que a vida nos fode de uma maneira que faz sermos assim?
— Nunca me disse — digo ficando de pé.
— Vamos acabar logo com isso, esses papéis são o contrato que faremos, a pode levar
para sua casa, ler com calma e depois assinar. Qualquer dúvida pode falar diretamente comigo.
Como disse antes, caso precise de um advogado, é só me dizer, assim que estiver assinado,
entregarei ao meu, que cuidará da parte burocrática.
— Tem mesmo necessidade disso tudo?
— Um contrato não registrado é apenas um papel, Carlos.
Olho todos aqueles papéis e fico quieto.
— Tudo bem, agora posso ir embora? Gostaria muito de ver meu irmão sair do hospital,
quero estar ao lado dele nesse momento.
— Tudo bem, te levo lá.
— Não tem necessidade.
— Já disse que mando aqui, não disse? Você tem que me obedecer.
— Tecnicamente não, ainda não assinei nada.
— Posso te mandar para a cadeia agora mesmo — ameaça.
— Eu sei que você não faria isso.
— Você não sabe de nada, agora vamos logo.
Olho para ele nervoso e fecho o punho tentando me controlar.
— Tudo bem, vamos — digo pegando todos aqueles papéis e colocando debaixo do
braço.
Ele vai em direção ao elevador e o sigo, rapidamente descemos para a garagem e
entramos em seu carro. Jogo os papéis dentro de uma pasta vazia que Caio me entrega e ele liga
o motor, me observando por um instante.
— Você parece tão irritado — diz e logo em seguida sorri. — Por que te comi de um jeito
que ninguém jamais fez?
— Talvez você tenha me comido de uma maneira que já fizeram — respondo frio.
Ele não fala nada, segue adiante, liga o som e uma música da Beyoncé começa a tocar.
— Não imaginava que um homem como você gostasse desse tipo de música — digo
olhando para o lado de fora da rua.
Pessoas passam tranquilamente pelas calçadas e sinto inveja delas.
— Gosto de todo tipo de música. Só porque sou rico e poderoso não significa que não
posso apreciar as pessoas que cantam bem.
Pela primeira vez concordo com ele, Beyoncé é uma das minhas cantoras favoritas. Em
primeiro lugar está Madonna e depois Britney, é claro.
Penso um pouco sobre o contrato que está jogado no banco traseiro e estremeço.
O que Caio vai fazer comigo?
Tento não pensar nisso e peço gentilmente para que ele repita a música.
I was here, repete várias vezes e me sinto leve, pela primeira vez esquecendo do meu
trauma.
— Amanhã quero você aqui no mesmo horário — diz me desviando dos meus
pensamentos. — Vamos treinar e depois iremos almoçar com um casal de amigos meus que
estão vindo de Londres para negociar algo grande comigo.
— Ainda não entendo por que quer que eu vá com você nesses almoços e jantares. Para
quê?! E você disse que seria na quarta.
— Na quarta terá outro — responde friamente. — Você vai onde eu mandar, se eu mandar
você descer do carro agora mesmo e ir andando até a próxima rua, você fará.
— Tenta a sorte — desafio.
Ele para o carro quando o farol fecha, encosta no meio-fio, me olha da cabeça aos pés e
diz:
— Desça agora mesmo.
Observo seu olhar sério e ao mesmo tempo brincalhão, e tenho uma séria vontade de
beijá-lo e bater em seu rosto.
— Se eu descer, não volto mais — decido entrar no seu jogo.
— Não volte e leva uma surra.
— Vo-você não seria louco em me bater — digo destemido.
— Acho que você já percebeu que sou uma pessoa meio imprudente.
Tiro o cinto nervoso e saio do carro pegando minha pasta, ainda bem que minha carteira
está comigo com meus documentos e dinheiro, assim posso ir embora tranquilo.
— Até amanhã, senhor Brown. — Bato a porta com força.
O olhar de Caio é fervente, parece que ele vai explodir a qualquer momento e preciso
estar longe para não ser atingido, então entro na rua seguinte e desço correndo, empurro algumas
pessoas e logo peço desculpas, dizendo que é importante.
Vejo o carro de Caio descendo pela rua e na hora que vou atravessar para o outro lado, o
farol abre e ele para perto de mim.
— Entra nessa porra de carro agora mesmo! — diz nervoso.
— Não! Até amanhã, Caio.
Sei que serei cobrado por isso a qualquer instante, mas nesse momento quero irritar esse
filho da puta e sei que estou conseguindo.
Corro rapidamente para o outro lado e vejo Caio acelerando ainda mais seu carro.
“Preciso entrar em algum lugar, assim ele não vai me pegar.”
Sigo adiante por mais uma rua, vejo uma grande livraria, entro nela e vejo Caio
estacionando o carro na frente do lugar.
Me misturo entre as pessoas e me escondo diante das enormes prateleiras.
Vejo vários livros e CDs, observo um casal trocar ideias sobre leitura e pego um dos
livros para fingir ler.
Caio aparece no final do corredor excepcionalmente lindo e passa as mãos no seu cabelo
cor de fogo, seu olhar está duro e irritado, e sei que ele vai me dar uma surra se me pegar.
— Com licença, vocês já leram esse livro aqui? — pergunto ao casal.
Pego o primeiro livro que vejo e mostro a capa para eles, só precisava de um tempo de
falação e Caio passaria sem poder fazer nada.
— Eu já li sim — diz a mulher negra de olhos castanhos. — Ele é ótimo, recomendo.
Vejo que ela está com o livro “Duologia Desejos” de um autor brasileiro em mãos e sorri.
— Que bom, esse que está na sua mão recomendo também, o final da duologia me
entristeceu, mas não vou dar spoiler.
— Já imaginava, o final do primeiro foi bem pesado, mas eu amei.
Vejo Caio passar ao seu lado e fingir ler um livro.
“Não vou escapar fácil.”
— Bem, espero que eu goste, até logo — diz se afastando como se um dia iríamos nos
reencontrar.
Caio rapidamente vem para o meu lado e faço um sinal negativo com o dedo, mostrando
que têm pessoas logo atrás da gente.
— Vamos embora daqui agora — sussurra nervoso. — Você vai se arrepender tanto.
— Arrependido estou de ter aceitado a merda do seu acordo — sussurro em resposta.
Uma mulher passa perto de nós e reconhece o rosto do meu dominador, mas percebe a
fúria em seu olhar e não o cumprimenta.
— Você não se arrependeu de nada — diz decidido. — Gostou tanto quanto eu.
“O que ele é, doente?
Deve ser.”
— Vamos embora daqui logo, quero te bater e não estou aguentando de tesão.
“É, ele é doente.”
Observo Caio encostar sua mão na minha e sinto um choque percorrer meu corpo, logo
ele me vira de frente para a prateleira e coloca minha mão disfarçadamente no seu pau. Engulo
em seco ao sentir que o volume disfarçado, está duro.
— Agora.
Caio puxa minha mão e solto o livro, quase tropeçando nos meus próprios pés, saímos
rapidamente da livraria e ele abre o carro, me jogando com os papéis do contrato no banco
traseiro.
— Coloque a porra do cinto — diz fechando a porta e dando a volta no veículo.
Ele entra e rapidamente liga o motor. Vejo-o travar às portas e segue adiante na avenida.
— Você nos fez perder tempo, sabia? Seu irmão já está em casa. Liguei no hospital e me
informaram, o bom é que você poderá mentir para sua mãe dizendo que ficou trabalhando até
tarde.
— E se ligaram para ela avisando que eu.... Você pediu minhas contas?
— Ninguém fará isso — garante seguindo a avenida.
Penso em abrir a porta do carro e pular quando o farol fechar, e vou me aproximando
dela.
— Não adianta fugir, essas portas só abrem por fora ou se eu quiser.
— Me tira daqui, me deixa ir embora sozinho.
— Antes de qualquer coisa você vai levar uma surra para aprender a não ser teimoso.
Caio entra em um hotel e segue com tudo para a garagem.
— Você é doente, transamos há pouco e você fará isso comigo de novo?!
— Vou te dar uma lição... Jamais me desobedeça.
Ele tira o cinto de segurança e sai, vem até a minha porta, abre, me puxa pelo braço e saio
como se fosse um boneco de trapos.
Seguimos para a recepção, ele fala com uma mulher pedindo uma suíte presidencial e diz
que não quer ser incomodado pela próxima hora. Paga e seguimos para o elevador que tem logo
em frente. Aperta o botão do último andar depois aperta seu pau latejante que provavelmente o
incomoda.
A porta abre e vejo um hall, seguimos por ele e avistamos uma porta de madeira simples.
Caio passa a chave nela, abre a porta e me joga para dentro do quarto, me fazendo cair no chão.
Me viro para ele, a tempo de vê-lo tirar o cinto da calça, os sapatos, a camisa, e todo o
resto. Ele segura o cinto com gosto e sorri para mim.
— Abaixa a calça e vira de costas — ordena.
— Não! Você não vai fazer isso comigo.
Caio se aproxima de mim, me vira com a mão livre e imobiliza meu corpo com a outra
que segura o cinto. Ele puxa a calça e a cueca para baixo e observa minha bunda.
Sinto o suor começar a escorrer no meu rosto e ele beija aquela região, fazendo com que
eu gema baixinho.
— Fica quietinho que não vai doer tanto — responde me soltando.
Obedeço sabendo que não tenho escolha, pois a escolha já havia sido feita.
Caio passa sua mão na minha bunda e gruda seu corpo no meu, o que faz com que sinta
seu pau dentro da cueca latejando de prazer.
— Nunca comi alguém tão apertado e gostoso.
Imagino que aquilo é mentira, Caio é lindo e gostoso, apesar de ser doente, podendo ter
quem ele quiser.
O cinto ergue no ar e acerta minha bunda. Sinto uma ardência passar pelo meu corpo e
vem junto um forte calor.
Não sinto dor, o que é um alívio.
Ele bate de novo e faz isso mais algumas vezes, então joga o cinto no chão e começa a
beijar minha bunda com seus lábios frios, fazendo o calor e ardência diminuírem.
Caio vai até um frigobar que eu nem havia reparado ter no quarto e pega uma garrafa de
água gelada. Abre e joga na minha bunda. Sinto o líquido gelado queimar minha pele e logo em
seguida aliviar a dor que eu nem havia sentido.
— Espero que aprenda.
Engulo em seco e concordo, querendo não sei o porquê virar na direção dele e o beijar.
“Eu havia gostado de apanhar.
Não, não mesmo, devo estar delirando!”
— Levanta, ainda não acabou.
Com um pouco de esforço, levanto e Caio me puxa para perto dele. Vejo que ele abre a
boca devagar e morde o lábio inferior.
— Nunca mais faça isso comigo. — diz e me beija.
Caio me dá um beijo ardente, cheio de tesão, ira e desejo.
Me entrego ao beijo e começo a passar a mão em seu corpo forte, me aproveitando da
oportunidade. Ele puxa minha calça para cima e aperta minha bunda por cima dela. Seu pau
ainda lateja duro em sua cueca, e eu o agarro de bom grado.
Caio geme com meu toque e o jogo na cama, fingindo por um minuto que eu sou o
dominador, então abaixo sua cueca e vejo seu pau grande pular para fora.
Pego seu membro com força e Caio solta um gemido de tesão. Logo o engulo cheio de
desejo e luxúria, me entregando aquela loucura, porém, não completamente.
Chupo seu pau todo e depois vou até suas bolas, massageio cada uma com a língua e vejo
que ele segura a cama com força.
— Para, eu vou gozar.
Mas não paro, começo a chupar seu pau ainda mais e o masturbar até que vejo que ele
está delirando de desejo e raiva.
— Para, porra! Eu disse para parar!
Caio solta as mãos do lençol e volta a gemer alto, enchendo minha boca de porra.
Engulo cada gota, subo sua cueca, me arrumo e vou até a porta.
— Acho que a lição foi aprendida. Nunca desafiar o professor, agora me leva para casa.
Caio se levanta da cama rapidamente e se troca. Vejo em seu olhar o ódio por não ter
parado quando ele mandou.
Eu, Carlos Alberto, um homem de 20 anos, acabo de ferir o ego do cara mais mesquinha
que já conheci.
Caio Brown acaba de ter sua primeira experiência como submisso.
Capítulo 23 - O Contrato
Depois que terminamos de nos arrumar, Caio me encara e parece furioso; mas se
realmente está, não diz nada.
Me sinto um pouco contente com aquilo, pela primeira vez ele havia perdido o controle, e
agora está completamente frustrado com isso.
Saímos do quarto rapidamente e seguimos para o carro, seu olhar continua gélido e desvio
o meu, colocando o cinto de segurança.
“Ele vai arrumar uma maneira doentia de fazer eu pagar, de novo estou fodido.”
Então lembro que não havia achado tão ruim assim apanhar.
Afasto esses pensamentos da minha mente e saímos do hotel. Caio liga o rádio do seu
carro e começa a tocar um cover da música Bad Romance.
— 30 Seconds to Mars, o som deles é incrível — digo distraído.
Caio me olha por um segundo e vejo um brilho em seu olhar.
— Pelo visto temos um gosto parecido — diz parando o carro quando o farol fecha.
— Na música, sim, e creio que seja só isso — murmuro.
Parece que somente eu ouço minhas palavras, mas vejo seu sorriso seco.
— Temos mais coisas em comum do que você pode imaginar.
“Será que temos?
Caio também havia sido estuprado na infância?!”
— Aquilo que você fez será cobrado outro dia — diz naturalmente. — Aprenda uma
coisa; quando eu disser pare, você deve parar, entendeu?
— Acho que posso tentar entender — digo vendo que já estamos perto de casa.
Ele passa a mão na perna e me arrepio todo.
Seria loucura dizer que eu queria estar passando a mão nele?
— Amanhã, mesmo horário, meu motorista vem te pegar — responde mudando de
assunto. — Não esqueça de dar uma olhada no contrato.
Pego a pasta que havia deixado no banco e suspiro derrotado.
— Até amanhã — digo tirando o cinto e abrindo a porta.
Caio segura meu braço e rapidamente me viro, aguardando um beijo de despedida, mas ao
invés disso, ele passa a mão no meu rosto e dá dois tapinhas fracos.
— Você vai acabar aprendendo que não se deve mexer com pessoas do meu tipo — diz e
se endireita no banco.
Saio e rapidamente ele vai embora. Observo que o sol já está se pondo e penso nas
mentiras que terei que dizer a minha mãe.
A verdade é que detesto mentir, mas não há escapatória, tinha escolhido roubar a casa de
Caio e agora teria que pagar pelo meu ato.
Entro em casa e vejo que a sala está em silêncio, sigo para o quarto do meu irmão e o
encontro dormindo.
Sorrio alegre e dona Marisa me olha.
— Oi, filho, como você está bonito. Onde você estava? Essas roupas são muito bonitas,
comprou?
Vou até a minha mãe e dou um beijo em seu rosto.
— Eu dei uma passada no Lucas e ele me arrumou essas roupas — digo e vejo as
mentiras escaparem com facilidade. — O trabalho hoje foi cansativo.
“E coloca cansativo nisso.”
— Que bom, meu filho, Robertinho acabou de dormir, estava te esperando, mas você
demorou e como ele estava exausto, deixei que ele dormisse. Por que não foi ao hospital mais
cedo?
— Aconteceu um imprevisto na empresa. Robertinho estava sentindo dor? Reclamou de
alguma coisa?
— Não, ele está bem — responde sorrindo para mim depois olha para meu irmão que
dorme tranquilamente na cama.
Concordo e saio do quarto.
— Preciso tomar um banho, temos algo pronto para comer?
— Ah, me desculpa, filho, não deu tempo de preparar nada.
— Mãe, não se preocupa, vou fazer alguma coisa para jantarmos, descanse com
Robertinho.
Ela concorda e sigo direto para meu quarto.
Entro, vejo que Rafael não está, tranco a porta e verifico se o dinheiro continua no mesmo
lugar.
Tudo ok.
Guardo tudo novamente e tiro a roupa de Caio do meu corpo, mas antes inspiro seu cheiro
delicioso e lembro do que havíamos feito.
Apesar de não ter gostado do sexo, havia gostado muito da surra e de tê-lo chupado.
Lembro do momento em que Caio havia pedido que eu parasse e um sorriso se forma no
meu rosto. Pensando nisso, sigo para o banho.
*
Faço arroz, com panquecas recheadas de carne coberta por molho vermelho e bastante
queijo. Para bebermos, escolho um vinho seco.
Minha mãe gostou da comida, elogiando a cada garfada que dava, mas detestou o vinho o
achando muito forte.
Rio com sua careta e termino de comer.
Quando vou lavar a louça, dona Marisa insiste que deixe isso para ela. Dou um beijo em
seu rosto de boa noite e sigo para o quarto, mas no meio do caminho volto à cozinha e pergunto:
— Onde Rafael está?
— Ele disse que hoje não iria dormir em casa — responde minha mãe já cuidando dos
pratos. — Parece que aquela namorada dele, não sei qual delas, não estava bem e ele vai passar a
noite com ela.
— Típico dele, o irmão doente e não fica em casa para ajudar, mas uma piriguete adoece e
logo ele vai dar... Enfim, vou dormir, amanhã vou trabalhar.
— Não se preocupa com seu irmão, agora vai descansar e não esqueça de escovar os
dentes.
— Tudo bem, mãe — respondo sorrindo.
Sinto o quão maravilhoso é o cuidado que mamãe tem com a gente, mesmo sendo homens
formados.
Vou ao banheiro, escovo os dentes e corro para meu quarto, me preparando
psicologicamente para ver aquele maldito contrato.
Tranco a porta e pulo para a cama com a pasta nos braços. Não sei como minha mãe não
havia a visto, mas dou graças a Deus.
Respiro fundo e abro a primeira página.
CONTRATO DE SUBMISSÃO.
Assinado hoje,_____ de 2014 — Início da submissão.
Entre:
Senhor Caio Brown Junior, 29 anos, nascido em Londres na data 25 de março.
O DOMINADOR.
E senhor Carlos Alberto Souza, 20 anos, nascido em São Paulo, na data 30 de julho.
O SUBMISSO.
AMBAS AS PARTES CONCORDAM COM OS TERMOS ABAIXO:
1° O que se segue são partes de um contrato composto entre o dominador e o
submisso.
Termos Fundamentais:
2° O propósito central do contrato é permitir que ambas as partes explorarem de
uma maneira segura e consensual seus limites, respeitando suas necessidades e bem-estar.
3° O dominador e o submisso concordam que o que acontece sobre tal contrato será
algo consensual e completamente confidencial, para preservar a imagem de ambas as
partes.
Cláusula Um: novas experiências e procedimentos poderão ser adicionados a
qualquer momento que o dominador achar correto.
4° Ambos terão que garantir que não sofrem de doenças sexualmente transmissíveis
como, por exemplo, AIDS, hepatite, herpes e outras.
Se qualquer um dos dois descobrirem ao decorrer do contrato sobre alguma doença,
deve avisar o outro imediatamente e assim o contrato poderá ser anulado, e ambos
prestarão suas obrigações sobre quaisquer assuntos.
OBRIGAÇÕES:
5° O dominador será responsável pelo treinamento, bem-estar, orientações, e
disciplina compostos ao submisso. Ele irá decidir quais serão os treinamentos indicados ao
outro, orientações e afins.
6° O submisso terá que ir à academia cinco vezes na semana, e em todos os outros
lugares que o dominador determinar — como escritório, viagens, casa do dominador,
almoços e outros.
7° Se a qualquer momento algum dos dois deixar de fazer algo sobre a segurança ou
afins para com o outro, o contrato será anulado e o dominador ou submisso serão
responsáveis por quaisquer coisas.
Cláusula Dois: O submisso terá que estar 100% disponível para o seu dominador
sem questionar.
Submisso:
O submisso aceita o dominador como seu amo, sendo propriedade dele. O submisso
não poderá se relacionar com outras pessoas a não ser o seu dominador e em caso de
quebra da regra, seu dominador poderá castigá-lo da maneira que quiser.
O submisso manterá contato com um médico uma vez a cada três meses, e fará
exames de seis em seis meses.
Cláusula Três: o dominador fará o mesmo para preservar a saúde dele e do seu
submisso.
O submisso pode somente se tocar diante do seu dominador.
O submisso aceitará ser chicoteado, espancado, açoitado, e quaisquer outros
métodos que seu dominador desejar como plugues anais, cera quente, mordidas, consoles e
outros.
Uma lista completa seguirá.
Na relação terá:
• Masturbação;
• Deglutição de sêmen;
• Vibradores;
• Plugues anais;
• Algemas;
• Bondage com braceletes de couro;
• Mãos amarradas;
• Tornozelos amarrados;
• Mão/dedos no ânus;
• Sexo em lugares indiscretos.
O contrato não terá prazo de validade, a não ser que o dominador deseja rompê-lo.
Cláusula Quatro: qualquer coisa pode ser alterada pelo dominador sem aviso prévio
ao submisso.
Termino de ler aquilo e fico em choque, o que Caio Brown tem na cabeça?
Engulo em seco e lembro novamente de Anastácia Steele.
Leio o contrato novamente e mais uma vez, até decorar partes dele.
Plugues anais?
Surra?
Chicote?
Não consigo pensar com clareza, isso é loucura, não tem palavra mais apropriada para
descrever.
O que eu vou fazer com isso?
Respiro e penso sobre o que o contrato diz; nele fala que se qualquer um dos dois tiver
alguma doença transmissível, o contrato será anulado...
Me xingo mentalmente e bato na cama.
Como posso pensar em ter uma doença para acabar com aquilo?
Caio jamais acreditaria se eu dissesse ter alguma doença; afinal, sei que ele sabe que não
tenho, mesmo não tendo feito nenhum exame, parecia que meu dominador havia pesquisado
meticulosamente sobre a minha vida, talvez sabendo até demais.
Olho algumas folhas e vejo que são imagens de alguns itens que ele pretende usar em
mim. Até que as algemas não são tão ruins, mas ao ver os plugues, meu coração acelera.
Na última página está escrito algo relacionado ao pagamento que ele fará, respiro e leio:
O dominador fará um pagamento mensal para o submisso no valor de 30 mil reais
para cuidar de suas despesas e bem-estar como: roupas, sapatos, perfumes, cabeleireiro e
outras coisas que o “sub” desejar. Todo início de mês o dinheiro será depositado em uma
conta criada pelo dominador.
Termino de ler e guardo o contrato na pasta.
Trinta mil reais por mês?
Em doze meses isso daria 360 mil reais, o que daria para minha família e eu vivermos
bem pelo o resto de nossas vidas.
Suspiro começando a chorar, deito e penso sobre o dia cansativo que tive com Caio.
Pensando sobre a surra de cinta que levei, adormeço.
Capítulo 24 - Café da manhã divertido
Levanto na manhã seguinte cedo e vou até o banheiro me aliviar. Lavo meu rosto,
escovo os dentes e saio em direção ao quarto do meu irmão.
Robertinho ainda dorme tranquilamente, assim como minha mãe ao seu lado, sorrio e
volto para a cozinha para preparar um café. Assim que o tomo, volto para o banheiro e tomo um
banho.
Rapidamente me arrumo e fico olhando pela janela a espera do carro do dia anterior
aparecer em frente de casa, mas aparece outro e saio rapidamente do quarto.
Dou um beijo na testa da minha mãe, na do meu irmão e saio antes que dona Marisa
acorde.
Entro no carro e me deparo com Caio, ele usa camiseta regata da banda AC/DC, uma
bermuda de pano mole revelando suas pernas grossas e tênis de corrida. Seu cabelo está
despenteado e ele usa óculos de sol.
— Bom dia — digo após observar o show.
— Bom dia — responde seco como sempre. — Aqui, use isso, e coloque essas roupas,
deveria de ter dito que iríamos correr hoje de manhã.
Ele me entrega óculos parecido com o seu e um short de pano mole.
— Posso me trocar em casa? Levo menos de cinco minutos.
— Melhor não... Veja, parece que sua mãe acordou. — Aponta o dedo na direção da
minha casa e vejo a luz da cozinha acesa. — Se troque aqui no carro mesmo, os vidros são
escuros o bastante.
Engulo em seco olhando para minha casa e Caio sai do meio-fio.
Pulo para o banco traseiro, rapidamente tiro a calça que estou usando, coloco o short e o
tênis novamente.
— Ótimo, vamos deixar o carro no meu apartamento e de lá vamos correr um pouco.
Você leu o contrato?
— Li sim e achei algumas coisas meio absurdas.
— Tipo o quê?
— Plugues anais? Sério mesmo?! — digo já sentindo o calor, mais conhecido como raiva,
subir pelo meu corpo.
— Sim, você nunca usou? Vai ver como é prazeroso... Ao menos para o dominador.
— Tudo bem, e chicote? Cera? Poder me masturbar só diante de você?!
— Quero todo o seu prazer direcionado a mim. Se caso você gozar pouco, saberei que
você se masturbou.
— O quê?! Isso é doentio.
Ele me olha e sorri.
— Nunca disse que não era doente.
— Mas também não disse que era — respondo com firmeza.
Caio continua dirigindo e não diz nada enquanto fico pensando sobre o que ele está
pensando. Mordo o lábio inferior diante daquele pensamento idiota e vejo quando ele estaciona o
carro na garagem do seu apartamento.
Tiro o cinto de segurança e espero. Ele abre sua porta e desce rapidamente. Faço o mesmo
e logo estamos na rua.
— Vamos correr um pouco e de lá iremos para a academia, hoje quero malhar na rua.
Concordo e não digo nada para Caio, afinal é ele quem manda.
Estico minhas pernas como se estivesse me aquecendo, respiro fundo e Caio começa a
correr numa elegância descomunal.
Caio corre com as costas eretas, braços balançando ao lado do corpo e camiseta regata
revelando um pouco do seu peito na lateral. Ele chama a atenção não só de mulheres, como
também de homens e sigo ao seu lado o máximo que posso.
Vejo que ele tira um aparelho pequeno de dentro do bolso depois me entrega e observo o
iPod.
— Ouça um pouco de música, ajuda.
— Obrigado — digo pegando o aparelho e os fones de ouvido. Ligo o aparelho depois
coloco o fone em meus ouvidos.
Não sei mexer naquilo, mas não tenho muita dificuldade e logo estou ouvindo uma
música dançante da Lady Gaga.
“Que gosto, hein?!”
Caio também está com um aparelho igual, um dos fones no ouvindo e o outro batendo
sobre o peito.
— Vamos lá, costas eretas e postura firme. Mantenha a cabeça sempre para frente e
pescoço travado, assim você não sente tanta dor.
Obedeço e continuamos correndo lado a lado, em silêncio. Às pessoas passam ao nosso
redor sempre nos observando, aliás, observando Caio. Reviro os olhos e continuamos nosso
caminho, rapidamente estamos na rua Peixoto Gomide, seguimos por toda a rua depois vamos
para a Augusta e subimos em direção a Paulista.
Respiro fundo e suspiro.
— Você sempre faz isso? — pergunto perdendo o ar.
— Sempre que dá.
Minhas pernas já estão protestando, assim como o restante do meu corpo. Uma queimação
sobe das minhas panturrilhas e vão até em cima. Tento esquecer a dor que estou sentindo na sola
dos pés e observo Caio.
Ele segue para direita e rapidamente estamos no trânsito da Paulista, seguimos em linha
reta sem parar até que ele entra em uma das ruas.
Seus passos diminuem e agora estamos andando, estou sem fôlego e morrendo de sede,
então vejo uma academia logo em frente.
— Viu como passou rápido? — pergunta sorrindo e me divirto com aquilo.
“Caio sorrindo?”
Concordo com a cabeça e entramos no ambiente.
O lugar está lotado e há várias pessoas andando para todos os lados. Vários olhares caem
sobre Caio e o homem sem graça ao seu lado, sinto meu rosto pegar fogo e um homem se
aproxima.
Ele é muito bonito; alto, cabelo curto, pele negra, sorriso mais do que perfeito, corpo
musculoso e usa calça larga e camiseta apertada.
— Caio! — diz alegre e sua voz é juvenil.
Penso em sorrir, mas me controlo.
— Como é bom vê-lo aqui. Vejo que trouxe companhia.
— Olá, Júlio. Sim, trouxe, e você cuidará dele hoje, pode ser?
— Claro, mas o que você quer, cara? — Ele me olha e vejo que é hora de falar.
— Ah, e-eu quero, eu quero ficar. — Olho para Caio e ele me encara sério, esperando
uma resposta que no mínimo seja boa para ele. — Quero parecer igual meu amigo aqui. —
Aponto para Caio e tanto ele como Júlio me encaram.
— Sério? — pergunta Júlio — Caio tem anos de treinamento.
— Sim, estou falando sério. Posso ter anos de treinamento também.
Ele concorda e observo o olhar de satisfação de Caio.
— Tudo bem, esse desafio será interessante, vamos malhar! — diz Júlio sorrindo.
*
Começamos a treinar e passado uma hora já estou completamente molhado de suor. Meus
braços doem e minhas pernas já não conseguem sustentar meu peso.
Levanto o peso com muito esforço e Júlio sorri ao meu lado.
— Você até que foi muito bem por ser iniciante. Com o tempo vai se acostumar e logo vai
pegar mais pesado, precisamos que você faça um exame para ver se está tudo certinho com você,
mas isso fica para outro dia também — diz ainda sorrindo
Concordo e agradeço.
— Estou exausto — digo a Caio que vem em nossa direção.
O suor escorre pelas suas costas e nas suas mãos contém duas garrafas de água e duas
toalhas. Ele me entrega um item de cada, seco meu rosto em seguida bebo a água.
— Se acostume, isso não foi nada — diz piscando. — Vamos embora, precisamos tomar
café e tenho que preparar umas coisas antes do almoço com um amigo, seria ele e o namorado,
mas parece que não vai dar.
Concordo e me despeço de Júlio, que dá um breve aceno e se afasta.
Seguimos para o lado externo e vejo que o carro não está aqui, porque viemos correndo.
Droga!
— Vamos voltar andando? — pergunto para Caio que está mexendo em seu celular.
— Não, vamos pegar um táxi até lá, já abusei da sua força hoje e ainda quero abusar mais,
mas não agora.
Um tempo depois o táxi para na nossa frente e seguimos na direção do prédio onde Caio
deixou o carro. Fico em silêncio o tempo todo, pensando sobre como as coisas estão diferentes
em tão poucos dias, parece que faz meses que conheço Caio, mas não tem nem uma semana
ainda.
Engulo em seco e olho de lado para ele, que está ainda olhando para a tela do celular
sério, seu dedo vai até a boca e ele estreita os olhos, então vira para mim e dá um pequeno
sorriso, o que me enche de surpresa.
Logo estamos no carro e assim que entramos, Caio dirige rapidamente, ao som alto de All
I want do Kodaline.
A letra da música, pelo pouco de inglês que tive acesso, diz sobre um amor perdido, e que
agora ele vai encontrar um novo, que se pareça com o anterior.
— Se você me amava, por que me deixou? — diz o cantor.
Olho espantado para Caio, o que aquilo significa?
A verdade é que não conheço nada sobre esse homem, não pesquisei nada na internet
sobre ele, apesar de lá ter muitas mentiras.
Mas poderia ter verdades, não é mesmo?
Penso sobre isso e por dentro dou uma de deusa interior.
“Sim, isso mesmo, preciso saber mais sobre ele, e vou pesquisar tudo que puder.”
Chegamos rapidamente no mesmo apartamento de ontem e subimos, Caio vai direto até a
geladeira e começa a pegar várias coisas para comermos; mamão, uva verde, suco, pãozinho,
queijo branco, peito de peru, iogurte e outros. Coloca a cafeteira para preparar café e senta
olhando para mim.
— Sente-se — diz e fico na frente dele.
— Você prepara seu café?
— Nem sempre, mas hoje dei folga para todos meus empregados. Quero ficar um tempo
sozinho com você até irmos para o almoço, venha aqui.
Ele aponta a banqueta ao seu lado, meio hesitante, vou até seu lado, me sento e ele aperta
minha perna.
— Estou louco para sentir sua boca em volta do meu pau de novo — diz sorrindo.
Sua mão sai da minha perna e vai até o volume que se forma no seu short.
— Agora? — pergunto meio trêmulo, aquilo até que seria fácil de fazer, afinal já havia
feito muito...
“Chupa meu pau, paga um boquete.”
Afasto os pensamentos da minha mente e vejo Caio acenando com a cabeça.
— Pode ser aqui mesmo, mas tome seu café primeiro, sei que está faminto, e eu também
estou.
Concordo e quando levanto para ir para o outro lado, Caio me segura pelo braço.
— Fique do meu lado.
Volto a me sentar rapidamente e ele se levanta por apenas um minuto, logo volta com
duas xícaras fumegantes de café e me entrega uma.
— Bom apetite.
Agradeço e desejo o mesmo, estranhando a gentileza daquele homem.
Comemos rapidamente, e a cada garfada que dava no mamão e levava para boca, Caio me
observava atentamente e sorria, abrindo um pouco as pernas e mostrando o volume enorme ali no
meio. Engulo em seco e deixo o garfo de lado, totalmente satisfeito com a refeição.
— Que bom que terminou — diz levantando e tirando do balcão tudo que sobrou,
rapidamente o espaço está vazio e limpo como quando chegamos.
— Obrigado, estava tudo muito bom.
— Que bom que gostou — diz.
Caio para na minha frente e abre as pernas um pouco, aquele short curto marca seu
volume e sinto água na boca só de olhar. Ele sobe no balcão e puxa o short com a cueca para
baixo, então seu pau enorme para na minha frente, pronto para atacar.
— Engole — diz Caio sério. — Chupa todo meu pau agora mesmo.
Faço isso por mim, não por ele, mesmo sabendo que o prazer será direcionado todo a Caio
Brown. Rapidamente pego seu pau com a mão e começo a massagear, sentindo a maciez da sua
pele e seu saco enorme embaixo. Mordo os lábios e vejo que ele revira os olhos, com a boca
entreaberta, pronto para o que vai vir a seguir.
Me aproximo e coloco somente a glande na boca, chupando e passando a língua por ela,
enquanto Caio geme de prazer. Vou engolindo enquanto chupo todo o comprimento até onde
consigo, faço esse movimento inúmeras vezes, vendo-o delirar de prazer.
— Puta que pariu, engole meu cacete todo, vai.
Chupo mais um pouco e me aprofundo ainda mais, sigo com os movimentos sentindo seu
gosto delicioso na minha boca; uma mistura de suor com sabonete, o que me deixa tão excitado
quanto ele.
Continuo naquele ritmo frenético e Caio segura minha cabeça com firmeza, empurrando
todo seu pau na minha boca. Tento escapar, mas é quase impossível, por conta da força de Caio,
logo continuo o chupando e meu dominador goza dentro da minha boca, me fazendo engolir cada
gota e me sentir deliciado com aquele ato.
Capítulo 25 - Almoço de negócios
Após terminarmos, Caio levanta e vai direto para o banho, antes disso me entrega seu
notebook dizendo que posso ficar mexendo na internet.
Vejo a oportunidade vir à tona e assim que ele desaparece, pesquiso no Google o nome
“Caio Brown”.
Aparece milhares de coisas sobre ele, e o primeiro site, diz um pouco sobre a vida do
magnata. Clico em cima do link e a página carrega.
Olho atentamente e a matéria que diz:
Tudo sobre Caio Brown.
Jovem de apenas 29 anos e um dos homens mais ricos do mundo, decide permanecer
no Brasil para investir no país.
Olho as imagens de Caio de terno sério e sigo para o texto abaixo.
Pai de Caio Brown morre na cadeia após crimes de estupro e desvio de dinheiro
serem descobertos.
No dia 1º de setembro de 2005, Oliver Estevam Brown foi preso após confessar que
abusava de crianças menores de idade, incluindo meninos que trabalhavam com ele.
Na entrevista que fizemos, percebemos que o senhor Oliver parece tranquilo sobre a
situação e diz que não está arrependido de nada.
Perguntamos como ele se sente ao saber que será preso por pelo menos 25 anos, e ele
responde que está tranquilo, “já fiz o que tinha que fazer nessa vida.”
Todos sabemos que Oliver tem um filho de 20 anos e perguntamos como o jovem
está diante de toda essa situação.
“Ele vai ficar bem, o que é dele por direito já está garantido, o que eu roubei foi
devolvido, e sua mãe vai criá-lo bem.”
“Mas você não acha que isso tudo não foi um tapa na cara dele?” pergunta nosso
jornalista Henzo Spencer, e ele responde que “não, ele vai superar e, pelo que conheço, meu
filho, vai limpar meu nome ainda.”
“Mesmo você tendo feito vários crimes e ter estuprado vários jovens?”
“Sim, quem fez isso tudo foi Oliver Estevam Brown, o empresário. O Oliver pai
sempre foi o herói dele, mesmo sendo um herói torto.”
Perguntamos também se ele chegou alguma vez a abusar do próprio filho, e Oliver
responde, nervoso, que tinha muitos amantes, então nunca precisou estuprar o próprio
herdeiro.
Abaixo imagens dele.
Olho mais abaixo e não vejo imagem nenhuma, em um pequeno quadrado da tela diz que
Caio Brown ordenou que todas as imagens do seu pai fossem tiradas de todos os sites ou ele iria
processar cada um deles.
“Não duvido disso.”
Penso sobre o que acabei de ler e fico de boca aberta, então o pai daquele homem tão
sério, magnata, e destemido era um estuprador dos seus próprios funcionários?
A informação me dá ânsia.
Arrasto mais um pouco a tela para baixo e vejo a notícia que o pai dele morreu há anos,
não diz muita coisa sobre a morte, mas tudo indica que ele foi linchado até morrer e...
“A surra perfurou seu pulmão e estourou uma artéria.”
Mudo de site e vejo em outro um pouco sobre a vida de Caio.
Jovem empresário de 28 anos acaba de fazer aniversário e o presente é para a
população.
Caio Brown nessa quinta-feira, dia 25 de março, acaba de completar mais um ano de
vida e decidiu dar um presente para pessoas sem recursos.
Na sua empresa, Caio abriu mais de 500 vagas para pessoas deficientes,
e sem estudos. Em entrevista ele diz que fez isso porque “pessoas com poucos
recursos de vida merecem uma chance, se não dermos a chance que elas precisam, elas vão
pelo lado mais fácil, roubar, matar, vender drogas, etc” e diz que não se arrepende da
decisão tomada.
Mas não foi só isso que Caio deu para nós, ele abriu também 13 novas clínicas não-
particulares, que diz funcionar como um convênio pago.
“É bem simples fazer parte das nossas clínicas, basta você ir na mais próxima de
você com seus documentos, e fazer a inscrição, vai ser como um convênio, você terá sua
carteirinha e poderá marcar médico pelo telefone, mas sem nenhum custo.”
Perguntamos qual o objetivo disso, e ele responde que o objetivo é diminuir o
número de pessoas em hospitais do governo.
“A saúde do Brasil é muito precária, e isso é algo que deve ser melhorado, mas
infelizmente não temos muito avanços. Acho que fiquei em São Paulo por conta disso; para
ajudar as pessoas. Afinal, se não fizermos, quem vai fazer? Sei que clínicas particulares vão
cair matando em cima de mim por isso, mas não ligo. Enfrento quantos processos forem
necessários para ajudar as pessoas.”
Ele diz também que pretende dobrar esse número até o fim de 2016.
Fecho a página e vou para outra onde Caio diz sobre seu pai.
Após a morte do pai, Caio Brown fala pela primeira vez como se sentiu ao saber que
o seu “Herói Torto” foi preso.
Nesta manhã do dia 26 de maio de 2011, Caio Brown nos recebe em seu apartamento
na zona sul de São Paulo e nos convida para um chá. Durante a refeição, pergunto para ele
como se sente após alguns anos da morte de seu pai.
“Me sinto normal, o único problema é que ele morreu no dia do meu aniversário”,
diz sorrindo.
Em meio a sorrisos amarelados, pergunto para ele como foi receber a notícia que
Oliver seria preso.
“Meu pai antes de se entregar me chamou para uma conversa e disse para mim que
seria preso por cometer atos errados. Perguntei a ele quais eram e ele me disse que era
estuprador e que havia roubado um dos seus sócios, um valor absurdo de 300 milhões de
libras.
Na hora foi um tapa na minha cara, como vocês mesmo disseram, e tentei entender a
situação. Tinha acabado de terminar meus estudos, estava na faculdade, e não sabia o que
fazer. Ele me disse que resolveu se entregar porque em um dos seus estupros, o garoto
sofreu demais e aquilo o perturbou. Ele me disse que o dinheiro roubado já havia sido
devolvido com juros e sobrou um pouco mais de 6 bilhões para mim, mas suas dívidas se
resumiam há 4, então fiquei somente com 2 bilhões.”
Após toda essa revelação incendiária, pergunto para ele o que fez com esse dinheiro.
“Ergui novas empresas, e paguei o tratamento da minha mãe, mas infelizmente o
tumor venceu, e dois anos depois da prisão do meu pai, ela faleceu.”
“Você acha que a prisão do seu pai influenciou na morte da sua mãe Elise? Ela era
uma mulher sensacional.”
“Sim, ela era mesmo, e não acho que influenciou, eu tenho certeza. Minha mãe
amava meu pai mais do que tudo nessa vida, e descobrir as traições e o roubo, a destruiu.
Logo depois ela descobriu a doença, e isso foi um meio de escape para ela, não precisaria
cometer suicídio, era só se entregar a doença. Imagina se ela tivesse se matado? Um pai
preso, bandido e estuprador, e uma mãe doente suicida, vocês logo saberiam que Caio
Brown também tinha se matado, mas não aconteceu isso, ainda bem.”
Ele diz isso tudo muito tranquilamente, e agradecemos a ele e aos céus por não ter
cometido essa loucura.
— Você não vai ir tomar banho? — pergunta Caio vindo em minha direção.
Olho atordoado para ele e fecho rapidamente a página do computador, rezando para que
ele não vá no histórico mais tarde.
— Já vou sim — digo olhando para ele.
Não sei o que dizer, aquele homem parado na minha frente havia passado por poucas e
boas na vida, havia ajudado pessoas que ele nem conhecia e continuava ajudando.
Engulo em seco o sentimento que está se alastrando pelo meu corpo e dou um meio
sorriso para ele.
— Ótimo, sua roupa já está na cama, tome um banho e se vista rapidamente, o almoço foi
antecipado.
— Tudo bem — digo sorrindo de verdade, e penso pela primeira vez que Caio é um herói.
*
Caio escolheu um paletó azul royal para mim, que me lembrou a primeira vez que o vi,
calça jeans apertada, sapato social preto e camisa escura.
Me visto, vou até o espelho observar como fiquei e me espanto com o que vejo. Em tão
pouco tempo pareço até um homem de classe com dinheiro.
Caio olha para mim quando desço e sorri.
— Ficou ótimo, sabia que iria combinar com você, agora vamos.
Ele pega a chave do seu carro, vai na direção da porta, o acompanho sem dizer uma única
palavra e seguimos para o elevador.
Em poucos minutos já estamos dentro do seu carro, não sei porque, mas me sinto um
pouco nervoso com aquele almoço, e se eu fizer alguma besteira?
Melhor seria ficar quieto mesmo.
Caio tira o carro da garagem e aumenta um pouco o som.
— Está tudo bem? Parece nervoso — diz com aquele sotaque londrino sexy.
— Só com medo de fazer besteira — digo olhando para ele.
Ele sorri e assente.
— Não precisa ter medo, essa pessoa que vamos encontrar é muito importante, mas ele é
tranquilo, acredite.
— Me sentiria melhor sabendo que ele é normal igual eu — respondo ironicamente.
— Somos todos normais, iguais a você. Uns com probleminhas ali, outros com
sacanagens aqui. — Sorri e pisca. — Não existe nem grande e nem pequeno, só pessoas que
tiveram oportunidades na vida.
— Você teve muitas, é um CEO muito respeitado no mundo inteiro.
— Só tive um pai filho da puta que foi capaz de me deixar uns bilhões.
Olho boquiaberto para ele e não digo nada.
“Caio falando do pai?
Será que ele viu o histórico?!”
Tento não pensar nisso e fico o restante do caminho em silêncio, torcendo para que esse
almoço seja rápido e que eu não faça nenhuma besteira. Penso novamente se Caio havia visto o
histórico de navegação do seu notebook.
Se tivesse visto, ele me diria alguma coisa?
— Bem, chegamos — diz entrando no estacionamento de um restaurante mega chique e
me tirando dos meus pensamentos.
Observo o local por fora e fico de queixo caído, aquilo não parece um restaurante, parece
mais uma mansão de tão grande e ostensivo que é.
Reviro os olhos e saímos do carro, deixando o motorista colocar em alguma vaga por aí.
— Vamos entrando — diz Caio passando a mão pela minha cintura e me guiando.
— Sério isso? As pessoas estão nos olhando.
Sinto meu rosto ficar vermelho com tantos olhares em nossa direção, um homem vem, tira
uma foto de Caio comigo e tremo em pensar se vai parar no jornal.
Outras pessoas nos observam, e fico tão nervoso que nem consigo ver o restaurante em
volta.
Só percebo que paramos quando ele segura minha mão com força e sorri.
— Carlos, conheça meu amigo.
Olho para a mesa que paramos e vejo um homem muito bonito; seu cabelo é loiro e um
pouco grande, seus olhos são claros e ele tem uma bela barba. Observo e vejo que na sua mão
tem uma linda aliança de compromisso, mas o que mais chama a atenção é como ela é diferente;
com duas pedras escuras e duas claras.
— Olá, Carlos, seja muito bem-vindo. Meu nome é Luke Evarns — diz o homem.
— Muito prazer — consigo dizer apertando sua mão. — Me chamo Carlos, como já sabe.
— Caio Brown, é muito bom ver você — diz Luke apertando a mão do meu dominador.
— Quanto tempo, meu amigo. Achei que não voltaria nunca mais para o Brasil,
especialmente para São Paulo.
Nós três nos sentamos e Luke sorri.
— Ah, encontrei a pessoa certa para a minha vida, você nem imagina. Ele não veio
almoçar conosco porque foi fazer compras com suas amigas para o restaurante. Ele se chama
Gale Meyers, você iria adorar o humor dele.
— Fico feliz que você tenha finalmente encontrado alguém que te mereça — diz Caio
alegre. — Mas o que te trouxe aqui? E por que me procurou?
— Bem, Gale, é uma das razões, e aquele problema que você conhece tão bem.
Fico imóvel sem dizer nada, não sei quem é Gale, nem Luke, e muito menos o problema
desse homem, mas consigo perceber que Caio e ele são bons amigos.
— Superação então — diz Caio. — Ótimo, fico feliz.
— Sim, superação, você também deveria tentar superar — diz Luke.
— Que tal irmos aos negócios? — pergunta Caio mudando de assunto.
— Vamos lá. Procurei você porque vou reabrir meu primeiro restaurante — diz animado.
— Visitei o local e boa parte das coisas estão destruídas pelo tempo, gostaria de uma forcinha
sua...
— Pode falar — diz Caio.
— Quero que a sua empresa de construção resolva tudo, e mantenha aquele lugar perfeito.
Não posso pedir isso para outra pessoa além de você.
Olho para Caio e ele sorri alegre.
— Será um grande prazer trabalhar com você nisso, fico contente quando ganho tal
confiança.
— Você não é igual a ele — diz Luke e fico sem entender. — Você sabe disso e merece
total confiança.
— Obrigado, então aceito.
— Ótimo!
Os dois apertam um a mão do outro e Luke se vira para mim.
— E você, Carlos, o que é do meu amigo?
Engulo em seco e um garçom vem na hora trazer os cardápios.
— Traga a melhor garrafa de champagne que vocês têm — diz Caio para o homem. —
Vamos comemorar.
O homem se afasta e Luke volta a me olhar.
— Sou um amigo de Caio — digo sorrindo e bebo um pouco de água tentando me livrar
daquilo.
— Amigo... E mais o quê?
Olho para Caio e ele sorri para mim, querendo também saber a minha resposta.
— Amigo e funcionário — digo. — Ele me trouxe hoje para que eu aprenda um pouco
dos negócios...
— Não trouxe nada para anotar?
— Não, acabei esquecendo, mas tenho a memória boa — respondo sério.
— Com licença — diz Caio levantando rindo. — Preciso usar o banheiro.
Ele se afasta e penso que morder seu pau mais tarde não vai ser tão ruim por me deixar
sozinho nessa.
— Ele anda te comendo, não é? — pergunta Luke direto.
— O quê? — pergunto sem graça. — O senhor está enganado.
— Me desculpe por ser tão direto, mas conheço rapazes como você. Caio já teve
submissos antes.
A pergunta que fiz a Caio há dias é respondida nesse momento. Então ele realmente já
teve submissos antes de mim.
— Está tão na cara assim?
— Um pouco. Na verdade, o seu jeito tímido e como nos olhava te entregou. Agora me
diz, vocês já transaram?
— Sim, uma vez até agora...
— Entendo — responde sorrindo. — Domine esse cara, não deixa só ele ser dominador.
Conheço bem o Caio, se faz de durão, mostra o tempo todo uma pose de macho alfa, mas na
primeira oportunidade, estará caidinho por você. Agora me responda, ele já te deu o contrato?
— Me deu ontem. Ele é doente, o que são aquelas coisas?
— Doente não, ele só tem fortes desejos sexuais. — Luke dá uma piscada e sorri. —
Acredite, uma hora ele vai se apaixonar por você. Espero que se apaixone também.
— O quê?! Não, claro que não, ele jamais se apaixonaria por mim, eu fiz algo muito
errado para ele.
— E o que ele está fazendo por acaso é certo? Só espero que, caso rolar paixão, que seja
recíproco. Ou ele vai fazer merda.
— Merda? Isso já estamos fazendo há alguns dias.
— Não é sobre o sexo louco e os desejos dele que estou falando, mas caso role mesmo
paixão, vai ter que ter muita paciência e perdão nessa relação.
Fico quieto diante daquilo e não digo mais nada.
“Caio Brown um dia apaixonado por mim?
O que Luke Evarns sabe que eu não sei?”
Preciso descobrir o que está acontecendo.
Capítulo 26 - Ligação
O restante do dia passou tranquilamente após o almoço. Caio permitiu que eu fosse
para casa e assim pude ficar com minha mãe e Robertinho.
Entro avistando o carro do meu dominador se afastar, respiro fundo e olho para minha
mãe que vem na minha direção.
— Filho, não acredito! — diz nervosa. — Você perdeu o emprego? O que faremos agora?
Eduardo ligou aqui agora a pouco dizendo que era uma pena o que havia acontecido.
— Ele disse mais alguma coisa? — pergunto sentindo uma forte tontura tomar conta de
mim.
— Não, só disse que ficou muito triste com a sua saída da empresa, e que você fará falta,
disse que era para você ir lá na sexta, acho que vão falar sobre o empréstimo que você fez com
eles.
Aceno com a cabeça para ela e forço um sorriso, seguindo para a cozinha.
— Por que não me falou antes que perdeu o emprego? E essas roupas que você está
usando?
Olho para dona Marisa e suspiro.
— Não contei por que não queria que você se preocupasse, e as roupas eu comprei porque
hoje fui fazer uma entrevista.
Outra mentira, elas surgem agora tão facilmente que chega a me assustar.
Odeio mentir para minha mãe, mas que escolha tenho nesse momento de desespero?
E o que Eduardo quer comigo, para que eu vá na empresa?
Mesmo eu não pedindo as contas, tenho certeza que Caio, do jeito que é, cuidou de tudo,
sendo que ele mesmo me disse que ninguém iria nos ligar.
— E como foi na entrevista?
— Um sucesso, eles vão me ligar ainda essa semana.
Minha mãe bate palmas alegre.
— Isso é ótimo, Deus é muito bom, vou na igreja agradecer ao Senhor.
Ela me abraça e novamente forço um sorriso.
— Bem, vamos ver como Robertinho está — digo tentando mudar de assunto.
*
Depois de ver como meu irmão está, entro em meu quarto e rapidamente tiro aquela roupa
ridícula. Caio havia dito que era melhor eu ir até a casa dele para trocá-la, mas achei melhor não,
pensando que ele pudesse me forçar a fazer alguma coisa.
Ainda não estou preparado para isso tudo que está acontecendo, mas sei que logo terei
que dar meu braço a torcer e assinar o maldito contrato, afinal, com certeza Caio irá exigir isso,
levando em consideração que aceitei essa loucura.
A única coisa que me anima é o dinheiro; se eu assinar, terei esse benefício, o que daria
ainda mais credibilidade para a mentira que contei a minha mãe.
Mas pensar nisso, me remete apenas a uma coisa.
Prostituição.
É isso que eu sou agora, um prostituto?
Um garoto de programa particular?
Só de pensar nisso me dá náuseas.
Me jogo na cama somente de cueca e respiro fundo, então começo a pensar sobre aquele
almoço louco que tivemos.
O que Luke quis dizer com Caio não ser parecido com ele?
Seria sobre o pai dele?
E de Caio se apaixonar por mim?
Ele seria realmente capaz de se apaixonar por alguém?
Penso que conheço Caio há pouco tempo e nos poucos dias que estive ao seu lado, tive
diversos motivos para odiá-lo.
Porém, por que não consigo sentir raiva, ódio e desprezo pelo meu dominador?
Sento na cama e penso um pouco mais sobre isso.
Visualizo o rosto de Caio em minha mente e recordo do seu beijo doce e gentil.
Será que eu estou...?
Não, de jeito nenhum, isso seria loucura demais e não faz sentido algum.
Existe até uma doença para pessoas assim, não existe?
Qual é o nome mesmo?
Síndrome de Estocolmo.
Tento lembrar mais sobre isso, mas desisto ao pensar em como seria assustador saber que
posso ter isso, mesmo não fazendo sentindo algum. O melhor a se fazer é somente ser seu
submisso e assinar logo o contrato.
Meu telefone toca me tirando dos meus pensamentos e vejo um número desconhecido.
Atendo rapidamente e sou pego de surpresa ao ouvir a voz distorcida.
— Se afaste antes que se machuque.
A ligação é encerrada e fico sem entender.
Quem seria aquela pessoa?
Aquele homem...
A voz era perfeitamente de um, mesmo usando um aparelho para distorcer, sei que é um
homem, tenho certeza disso.
Saio do quarto assustado com o celular na mão e aviso mamãe que estou de saída. Ela me
lembra que estou somente de cueca e rapidamente volto para o quarto para me trocar.
Seria no telefone a pessoa que eu penso ser?
Respiro fundo, pego minha carteira e sigo até a casa de Bruno.
*
Bato na porta três vezes com uma fúria que jamais imaginei que sentiria, meu amigo a
abre somente de samba canção e ergue a sobrancelha sem entender.
— O que está acontecendo, Carlos?
— Recebi uma ligação — digo entrando nervoso. — Não sei quem pode ser, mas disse
poucas palavras.
Bruno fecha a porta e se joga no pequeno sofá que tem no cômodo, sua casa é pequena,
mas muito confortável e traz uma sensação de calmaria.
— Você acha que foi ele? — questiona.
— Não tenho certeza — digo me sentando. — Ele disse “se afaste antes que se
machuque”, quem mais pode ser?
— Eu não sei! O maldito do seu ex não seria capaz de reaparecer novamente, seria? Dei
uma surra nele depois de ter te traído, duvido que ele volte.
Olho para ele nervoso e balanço a cabeça, é verdade que Bruno havia batido no meu ex,
que me traiu com outro rapaz, mas não é nele que estou pensando.
— Droga, não estou pensando no Augusto. Preciso te contar um segredo, aliás, dois —
digo ainda mais nervoso.
Logo começo a contar para meu melhor amigo sobre meu estupro e sobre Caio.
Bruno não consegue acreditar que eu tinha sido estuprado no dia em que estávamos
brincando tantos anos atrás, o pior ainda era a parte sobre eu estar sendo submisso de Caio
Brown.
— Por que não me disse antes que esse cara estava fazendo isso com você? — pergunta
perplexo.
— Eu não sei, não queria que você se metesse também nessa confusão, já basta eu.
— Mas afinal de contas, quem você acha que te ligou te ameaçando? Você vai na
delegacia, certo? Precisa ir!
Encaro meu amigo e nego com a cabeça.
Não posso ir à delegacia, primeiro que não tenho prova nenhuma, segundo que eu não sei
quem possa ser, e havia a queixa que Caio tinha feito. Eu já estou encrencado demais para me
meter com polícia.
— Pensei no homem que fez aquilo comigo, mas não faz sentido nenhum, aliás,
ultimamente nada anda fazendo sentido para mim, sabe o tanto que menti depois daquele roubo?
Sabe como está sendo para mim encarar isso tudo de ser submisso e obedecer a alguém?
— Foi por isso que você cortou o cabelo e anda mais arrumado, não é?
Concordo e respiro fundo.
“Que loucura isso tudo!”
— O que vai fazer, cara? — pergunta meu amigo.
— Ainda não sei.
— Me diz — Bruno me encara. — Não está sendo tão ruim assim com esse tal de Caio,
está? Posso dar um jeito se quiser.
— Tudo bem, é melhor do que sermos presos, e tem a questão do dinheiro, vai ajudar a
tratar meu irmão.
Bruno assente concordando.
— Como ele está?
— Não tem como saber ainda, mas acredito que esteja bem, os médicos estão confiantes.
Ele concorda e sorri apertando a minha mão.
— Tenta não pensar muito sobre isso tudo que está passando. Sobre a ligação, talvez
possa ser um trote ou até mesmo Lucas, você sabe como ele adora essas coisas e já faz uns dias
que você não fala com ele para colocarem o assunto em dia. É sempre tudo muito rápido e no
domingo você praticamente ficou calado.
Concordo constrangido e não falo mais nada.
Quem quer que fosse, iria descobrir de uma maneira ou de outra.
*
Mais tarde, no mesmo dia, recebo uma mensagem de Caio dizendo que passará cedo na
minha casa para tomarmos café juntos. Respondo com um simples “ok” e jogo o celular na cama.
Penso mais uma vez sobre Luke ter dito que Caio poderá um dia se apaixonar por mim, e
que se isso viesse acontecer, ele esperava que fosse recíproco.
Respiro fundo e seco uma lágrima que escorre pela minha bochecha. Penso sobre a
loucura que invade minha mente, me dando conta de que conheço Caio tem poucos dias, além
disso, nem nos conhecemos direito, mas mesmo assim, não tem como negar que existe uma
atração da minha parte, o que me assusta.
Estou começando a me apaixonar pelo CEO Caio Brown e isso não é nada bom.
“Droga, o que vou fazer?”
Capítulo 27 - Ibirapuera
Levanto às 6 horas da manhã sentindo dor de cabeça. Acabei dormindo chorando por
ser tão idiota a ponto de me apaixonar por um homem que havia me forçado a ser seu submisso,
e que faz menos de uma semana que o conheço.
Hoje já é quarta e teremos o jantar de negócios que Caio me avisou logo que aceitei ser
seu submisso.
Vou para o banheiro rapidamente, tomo um banho quente, me troco e espero o carro, qual
que seja, parece que Caio tem milhares de veículos.
Agora essa é a minha rotina; levantar, tomar banho, esperar meu dominador me pegar e
tentar sobreviver até o final do dia.
O carro para rapidamente na frente de casa e a janela abre. Vejo Caio com um sorriso
preguiçoso no rosto e logo viu ao seu encontro.
Minha mãe ainda dorme tranquilamente no sofá quando saio e me sinto aliviado.
Entro no carro, Caio aumenta o som e Crazy in Love da Beyoncé começa a tocar.
— Bom dia — diz me dando um rápido beijo na boca. — Vamos? Teremos um dia longo
hoje, peguei folga.
Olho para ele surpreso e não digo nada.
“Desde quando Caio aparece na minha casa com tanto humor?”
— Você trabalha? — pergunto sarcástico. — Achava que não.
— Como sou o dono e CEO, não preciso ir sempre na empresa, mas hoje especificamente
resolvi pegar uma folga. Vamos ao parque Ibirapuera.
— O que?! Desde quando Caio Brown vai em um parque público? — pergunto com o
tom sarcástico.
— Desde quando o dinheiro decidiu se devo ou não ir em lugares públicos? — pergunta
de volta.
— Eu não sei, esse mundo é tão mesquinho e nojento que as pessoas criam facções sem
ao menos perceberem, e você sabe que é verdade. Quando você viu um rico morar em um bairro
pobre?
— Bem, digamos que tenho uma casa em Itaquera e ela é muito confortável.
— Sério isso?! — agora estou surpreso.
— Sim, achei a construção bonita e decidi comprar. Agora vamos.
Concordo e ele liga o carro.
Rapidamente ele segue para a avenida e fico pensando mais uma vez se ele seria capaz de
se apaixonar, então penso sobre o que ele já havia feito pelas pessoas pobres, e percebo que
mesmo ele sendo tão duro, cruel, e frio às vezes, Caio Brown tem um bom coração e é capaz de
amar, mesmo que seja de um jeito torto.
Mas como dizem; pau que nasce torto, faz de ladinho e se dá muito bem, não é mesmo?
Talvez Caio seja assim.
Afasto esse pensamento ridículo da minha mente e o olho.
— Eduardo ligou lá em casa ontem, ele falou para a minha mãe que perdi o emprego, não
é ótimo? Você disse que ninguém falaria nada.
— Porque pedi para não falar, mas pelo jeito esse povo não sabe manter o bico calado.
Concordo e suspiro.
— Eu disse para minha mãe que praticamente já arrumei outro emprego, e ontem fomos
fotografados juntos, você vai ter que dizer que sou seu mais novo funcionário, Caio.
Ele para o carro quando o farol fecha e olha para mim.
— Tudo bem, o delegado Martins também acha isso, então vamos fingir que você é meu
novo funcionário.
— De certa maneira sou.
— Você ainda não assinou o contrato, então não vai receber um centavo... Seria melhor
assinar logo, como está seu irmãozinho?
— Ótimo, obrigado por perguntar.
Ele sorri e aumenta o som um pouco, logo em seguida eu abaixo.
— Gostaria de te agradecer, quero dizer, mesmo tendo te roubado 25 mil reais, dado
vários motivos para me colocar na cadeia, você não fez isso e ainda vai me dar dinheiro.
Caio fica quieto ouvindo e concorda.
— Saiba que vou assinar o mais rápido possível o contrato, pelo meu irmão e minha mãe.
Os medicamentos são bem caros e com esse dinheiro vou poder comprar, aproveito para
agradecer também pela clínica, sem ela não saberia o que fazer.
— Não se preocupe com isso, abri essas clínicas exatamente para ajudar as pessoas que
precisam e me admiro muito em ver você fazer tudo isso pela sua mãe e irmão.
Balanço a cabeça e sorrio.
— Podemos fazer um acordo?
— Qual?
— Devolvo o dinheiro que roubei de você e esquecemos isso, mas continuamos com o
contrato de submissão para que eu possa ajudar minha família. — Sorrio alegre e estendo a mão.
— Digamos que seria um acordo de paz.
Ele me olha e para o carro em frente ao prédio.
— Tudo bem, eu aceito — responde apertando minha mão.
*
Depois de exatamente 45 minutos, estamos estacionando perto do parque Ibirapuera, o
portão marca o número 6, e percebo que nunca havia visto esse lado do parque.
— Nunca vim neste lado — digo saindo do carro. — É tão... Diferente, sei lá, parece uma
parte só para ricos.
— Não é... É só mais calmo, dá para andar de bicicleta por aqui, fazer piquenique e
conversar tranquilamente.
— Do outro lado dá para fazer a mesma coisa, só que é mais cheio. Mas não creio que em
plena quarta tenha muita gente.
Ele vai até o porta-malas e pega uma cesta de vime.
— Sei que dá para fazer tudo isso do outro lado, mas a última vez que fui não deu muito
certo, muitas pessoas ficaram em cima de mim e isso não é legal enquanto aqui as pessoas são
mais educadas.
— Tá aí o que eu disse sobre facções — respondo seguindo para a entrada, Caio me segue
e não diz nada.
— Ser rico, famoso e londrino tem seu preço, não gosto muito da fama por causa disso.
— Então você é mesmo famoso — não é uma pergunta, mas ele assente. — Devo admitir
que não o conhecia, o que leva a ser chamado de famoso?
— Tenho uma história e tanto. —Trava o maxilar e concordo.
Seguimos andando pelo parque, percebo como aquele lado é lindo e silencioso, e isso me
agrada muito.
— Vi o histórico do meu notebook — diz ao meu lado. — Procurou saber um pouco mais
sobre minha fama que você desconhece?
— Sabia que veria — digo sentindo medo. — Percebi que não sabia muita coisa sobre
você a não ser seu lado... dominador.
Ele dá uma risada e rio junto.
— Descobriu muita coisa?
— Não muito, mas tive uma nova visão sobre você. Caio, o que você faz pelas pessoas de
baixo recurso é sensacional.
Vejo que ele para e se abaixa sob uma árvore, parece meio sem graça e concorda.
— Vi que pesquisou sobre meu pai, ajudo pessoas por causa disso.
— Como assim? — pergunto me sentando ao seu lado.
— Carlos, meu pai arruinou muitas vidas e faço o máximo para consertar outras, me sinto
menos coração duro fazendo isso.
Olho para ele sem entender e percebo a loucura que Caio está dizendo.
— Você não pode se culpar pelo que seu pai fez. Desculpa, mas ele era cruel demais, só
que nada disso é sua culpa.
— E se for? Vivi anos embaixo do mesmo teto que ele e não fiz nada.
Aperto sua mão livre e sorrio.
— Minha mãe diz que quem vê sorriso no rosto, não nota a maldade nos olhos. Você não
tem culpa se seu pai era assim, ele fazia tudo isso porque queria e infelizmente você soube tarde.
Caio concorda cabisbaixo.
— Você não me conhece, há coisas que nem mesmo a internet pode te dizer, há segredos,
assuntos inacabados, que se você soubesse, Carlos, iria embora agora mesmo e escolheria ser
preso.
Engulo em seco ao ouvir aquilo.
Afinal o que o Caio está dizendo?
— Bem, acredito em mudanças.
— Então você acredita que meu pai mudou?
— Acredito que ele se arrependeu, é o que importa. Ele pagou pelo que fez.
— A morte não é um pagamento — Caio olha dentro dos meus olhos. — A morte para ele
foi uma libertação, ele não deveria ter morrido...
— Para pagar pelo que fez... — completo o que ele quer dizer. — Que tal comermos,
andarmos um pouco e não pensarmos sobre isso?
Ele concorda e sorri.
— Antes me diga uma coisa.
— O quê?
— Qual foi a visão que teve sobre mim após ler tudo aquilo?
Olho para o rosto perfeito de Caio e mexo em seu cabelo. Ele não liga e fecha os olhos
por um segundo, então desço meus dedos para seu rosto e aliso sua barba curta.
— Vi que você é completamente diferente do homem que era seu pai. Ele era seu herói
torto, você o herói generoso, um pouco louco, mas perfeito para esse país, para esse mundo... Até
mesmo para mim.
Caio ri e nega com a cabeça.
— Então o senhor Carlos Alberto está dizendo que gosta do magnata Caio Brown?
Abaixo minha mão e sorrio feito bobo.
— Bem, quem sabe não nos tornamos amigos — digo pegando a cesta da sua mão. —
Vamos, mostre o que trouxe, senhor, estou com fome.
*
Após nossa conversa e o café da manhã, Caio e eu passeamos um pouco pelo parque.
Várias pessoas o reconhecem e pedem para tirar foto com ele. Vejo que meu dominador revira os
olhos antes de sorrir para os flashes.
Andamos mais um pouco e logo estamos próximos a ponte de ferro, subimos e observo o
lago lá embaixo.
— Acho esse lugar simples, mas incrível — diz Caio sorrindo.
Concordo com ele e observamos o sol no céu, já passa das onze e meia e começa a ficar
quente.
— Acho melhor voltarmos para irmos embora — digo e Caio ergue a sobrancelha. —
Quero dizer, temos um jantar de negócios hoje, não temos? Então é melhor você me preparar,
dizer o que não posso fazer e nem falar.
Caio ri e concorda.
— É melhor irmos mesmo, que tal alugarmos duas bicicletas e apostar até o carro?
— E depois quem traz as bicicletas de volta? — pergunto querendo evitar aquela loucura.
— Do lado de fora pode deixá-las também, lá tem estacionamento. Que foi, está com
medo? Sabe que posso ordenar que você faça isso, não sabe?
— Sabe a vergonha que você vai passar do meu lado, não sabe? Vamos lá.
Descemos a ponte de ferro olhando uma última vez e vamos até um quiosque que tem
próximo daqui.
Caio pede duas bicicletas e após pagar, o homem vem nos ajudar. Colocamos capacete,
joelheiras, montamos na bicicleta, nos despedimos e começo a seguir Caio.
Faz muito tempo que andei em uma bicicleta, as coisas estavam tão ruins que havia
vendido a minha para conseguir dinheiro, mas agora poderia comprar outra para mim e para
Robertinho.
Isso tudo valia a pena.
Seguimos adiante e Caio freia para me acompanhar, um enorme sorriso se forma em seu
rosto e sorrio. Caio está mais comunicativo, feliz e relaxado hoje.
Percebo que aquele homem duro, frio e sem paciência só precisa ser um pouco mais
entendido e poder desabafar, além de se livrar de uma culpa que ele não tem, por seu pai ter sido
um monstro.
Em poucos minutos já estamos perto do carro, descemos da bicicleta e um homem que
fica em outro quiosque as pega, verificando a nota de pagamento.
Caio assente para ele e seguimos para seu carro.
— Foi divertido e não cai o que é um alívio.
— Fico feliz que não tenha caído também, se caísse ao meu lado seria uma notícia
daquelas. — Caio ergue o braço e estreita os olhos. — “Jovem cai de bicicleta próximo a Caio
Brown, seria por causa da beleza do magnata?”
— Então essa seria a manchete? — Dou risada e reviro os olhos. — Me poupe, Caio, você
nem é tudo isso.
— Mas sou bom em andar de bike — diz piscando e saindo do meio-fio.
— No que você não é bom? — pergunto nervoso.
— Na cama? Você não gostou muito.
Engulo em seco diante das suas palavras e penso um pouco.
“Caio não é ruim de cama, ele é ótimo, o meu trauma que é péssimo.”
— Você definitivamente não é ruim nisso.
— Então por que chorou tanto e disse que te usei?
“Porque lembrou meu estupro.”
— Uma longa história que você não gostaria de saber, mas me responda, no que você é
ruim?
Observo a avenida e percebo que estamos próximos da casa de Caio que Bruno e eu
roubamos. Ele para na frente dela e sorri.
— Está vendo aquele tabuleiro de xadrez?
Olho para a frente da casa e percebo que continua igual da última vez que vi.
— O que tem?
— Sou ruim no xadrez, nunca soube jogar, minha mãe tentava me ensinar, mas ela sempre
ganhava. Lembro que ficava tão nervoso que simplesmente pegava o rei e derrubava a rainha só
para dizer “xeque-mate”.
Olho para Caio e volto meu olhar para aquela casa.
Será que os agentes que procuravam digitais minhas e do Bruno ainda estariam ali?
— Posso te ensinar a jogar qualquer dia.
Ele concorda e seguimos para seu apartamento.
Capítulo 28 - Jantar de negócios
Caio e eu chegamos em seu apartamento e logo comemos a comida que Rose, a
mulher do outro dia, havia preparado.
Comemos em silêncio, parece que Caio Brown sem paciência voltou ao modo ativo e não
sei o que dizer.
Após o almoço, decidimos ir para a sala para descansarmos, enquanto não nos
arrumamos. Bruno me liga e diz que não descobriu nada sobre quem poderia ter me ligado, ainda
confessa que foi até a casa de Augusto perguntou se ele tinha me ligado.
Augusto é um rapaz doente que me relacionei um tempo atrás.
Decido não pensar nisso e ligo para minha mãe.
— Oi, meu filho, onde você está? Levantei e não te encontrei, Juliane está aqui, gostaria
de te ver.
— Mãe, lembra que eu disse que tinha feito uma entrevista e que eles me ligariam para
dar a resposta?
Caio me olha e abaixo a cabeça.
— Então, comecei hoje, agora trabalho para Caio Brown.
— O que?! O dono da clínica que ajudou Robertinho? Filho, isso é muito bom! Meu
Deus, que maravilha de notícia!
— Sim, sabia que você ia gostar. Vou ter que ir em um jantar de negócios com o senhor
Caio, ele quer que eu pegue algumas informações.
— Como ele confia em você, meu filho! Aproveita essa oportunidade que Deus está te
dando, agora vai trabalhar, Juliane te vê outro dia.
— Tudo bem, vou indo, conta a novidade para ela.
Desligo o telefone e olho para Caio, que está com um ar de sarcasmo.
— Então você está trabalhando, Carlos? — Sorri. — Se aproxima de mim.
Olho para meu dominador e engulo em seco, logo sento próximo a ele. Caio passa um
braço por cima do meu ombro e dá play em um filme qualquer.
— Sua mãe não precisa saber que você está de folga — diz rindo.
Assistimos dois filmes naquela posição, um ao lado do outro com o braço de Caio em
meu ombro e minha mão na sua perna.
Não consigo digerir isso tudo.
Quantas fases esse homem tem?
Dominador, chefe, herói, brincalhão e até mesmo um homem comum.
É muita coisa para me acostumar, e não faz nem uma semana que estamos juntos.
*
Quando dá 17 horas decido tomar um banho e Caio faz a mesma coisa. Ele me mostra um
quarto bem decorado que diz ser meu quando eu fosse dormir lá.
O lugar é enorme e bem decorado, me deixando confuso ao observar cada detalhe. Havia
uma grande cama escura com lençóis de seda, closet com todas as roupas que ele havia
comprado para mim, penteadeira com frascos de perfumes e outras coisas.
— Vá tomar banho — diz Caio me deixando no quarto. — Até daqui a pouco. — Vira e
sai fechando a porta.
Começo a tirar minha roupa e vou direto para o banheiro, que é luxuoso e com uma
hidromassagem.
Respiro fundo e sorrio, isso parece um conto de fadas de terror e no fundo estou
adorando.
Entro debaixo do chuveiro e permito a água quente cair em meu corpo, pego uma bucha,
sabonete líquido e começo a me esfregar. Lavo meu cabelo, passo creme hidratante, enxáguo e
arrumo minha barba que já começa a crescer.
Fecho o chuveiro e bem na hora ouço uma batida na porta.
— Toc, toc — diz Caio entrando no banheiro.
Percebo que ele ainda não havia tomado banho, o que me faz revirar os olhos.
— O senhor poderia me passar a toalha? — pergunto apontando para a pia ao seu lado. —
Você deveria de estar se arrumando, Caio, você me disse que detesta atrasos.
— E detesto — diz jogando a toalha. — Mas não podia perder a chance de te ver aqui
desse jeito.
Me enrolo na toalha e engulo em seco.
— Por que eu, Caio? — pergunto saindo do box indo até o espelho da pia.
— Por que você o quê?
— Por que eu ser seu submisso. Olha para mim, eu nem sou tão bonito, não sou malhado
e ainda por cima sou um ladrãozinho sem caráter.
Me olho no espelho e vejo meus olhos começarem a ficar vermelhos. Engulo as lágrimas
e observo Caio.
— Você é lindo, charmoso, educado, rico, da alta sociedade, poderia ter uma pessoa igual
a você.
— O que adianta um corpo bonito e uma alma podre? — pergunta colocando as mãos
dentro dos bolsos da calça. — Escolhi você porque te acho lindo e atraente do seu jeito, e vi o
desespero em seu rosto. — Suspira e anda para mais perto de mim. — Meu pai passou fome e foi
por esse motivo que ele lutou para conquistar tudo que teve, mesmo sendo de um jeito errado.
Ele sempre me deu do bom e do melhor e me ensinou uma coisa.
— O quê?
— Ajudar quem precisa, ele sempre me falou isso. Quando os jornais disseram que ele era
meu herói torto, eles estavam certos. Somente eu conheci meu pai direito, ele pode ter feito
coisas erradas, mas também ajudou muita gente.
— E você continua ajudando por ele.
— Também, é uma maneira de limpar o nome dele, mas faço porque gosto. — Para do
meu lado e suspira. — Nunca me abri tanto para uma pessoa que quase não conheço — diz
rindo. — Mas parece que te conheço há anos.
Olho para seu rosto e concordo.
— Sei como é, obrigado pela confiança.
Ele concorda e vira de costas.
— Vou tomar banho enquanto se troca — diz saindo do banheiro.
Seguro seu braço e ele se vira sem entender.
— Me deixa ir com você... Quero que você... Eu quero.
— Quer o quê? — pergunta sem entender.
— Só hoje, quero sem cinto ou plugues, podemos?
— Está dizendo que quer transar comigo? — pergunta com o sorriso cínico.
— Estou — digo nervoso.
“O que penso que estou fazendo?”
— Venha.
Ele segura na minha mão e me leva para o lado de fora do quarto. Seguimos por um
corredor e entramos na última porta, onde vejo um quarto grande e organizado.
Caio começa a tirar sua roupa e vem na minha direção, ele me beija e retribuo,
desesperado por aquele toque. Aperto seu pau ainda o beijando e ele geme de prazer, ansioso
para enfiá-lo todo em mim.
Paro de beijá-lo e vou me ajoelhando, olhando nos olhos do meu dominador. Ele me
observa com um sorrisinho em seu rosto e quando enfio todo seu pau na minha boca, ele geme
de prazer revirando os olhos.
— Puta que pariu! — diz gemendo baixo. — Isso é tão bom.
Engulo mais ainda e passo a língua por todo o comprimento, então o tiro da boca e chupo
suas bolas, batendo o pênis em meu rosto. Volto a chupar seu membro e faço rápidas sucções,
adorando ver Caio delirar.
— Chega — diz me puxando. — Assim vou acabar gozando na sua boca.
Ele me joga na cama e me vira de costas, então ergo meu corpo um pouco e rapidamente
ele entra em mim.
A ardência e a dor estão lá como as duas vezes que senti antes, a diferença é que Caio vai
entrando devagar dessa vez e logo já está fazendo movimentos vaivém. Não sinto vontade de
chorar e afasto com todas minhas forças, meu trauma de infância. Tento ao máximo me
concentrar na sensação que sinto e Caio dá algumas estocadas em mim. Quero pedir para ele ir
mais rápido, o que acaba parecendo uma loucura, pois não pensei que aquela sensação poderia
ser tão gostosa. Meu dominador vira meu corpo em posição de frango assado e volta a me
penetrar, vejo seu peitoral subir e descer, os músculos fortes, o suor e o agarro contra mim.
Caio não recua, o que me anima bastante, então enquanto ainda me come, beijo seus
lábios e o abraço, arranhando suas costas. Ele me fode rapidamente e depois de um tempo com
um grito para ao começar a gozar dentro de mim. Pela primeira vez na vida eu pego no meu
pênis e começo a me masturbar, mas Caio tira minha mão e ele mesmo faz isso.
— Goza para mim — diz e faz algo que jamais imaginei.
Com uma mão ele enfia um dedo em mim e com a outra ele acaricia minhas bolas
enquanto engole todo meu pau.
Aperto os lençóis com força e seguro um grito de prazer, então quando o meu auge está
próximo, Caio tira o meu membro de sua boca e me masturba ainda mais. Gozo com um grito
enlouquecedor e ele sorri alegre.
— Isso foi delicioso.
*
Caio coloca um smoking preto com uma gravata borboleta e me veste exatamente igual.
Percebo só de olhar para aquelas roupas que o jantar vai ser muito importante e não posso fazer
nenhuma besteira.
Arrumo meu cabelo deixando meio bagunçado e passo o perfume que Caio me deu. Olho
no espelho e suspiro.
— Você ficou muito bem — diz mexendo em seu cabelo ruivo. — Semana que vem
começa suas aulas de etiqueta.
— E os seguranças que você disse? — pergunto curioso.
— Vamos cuidar disso, não se preocupe, assim como o médico.
Concordo e agradeço, então descemos e seguimos direto para a garagem.
Caio pega a chave de um Porsche Carrera GT e fico embasbacado com isso.
— Esse carro é lindo, sempre quis dirigir um desses.
— Obrigado, comprei faz pouco tempo. Quem sabe se você se comportar eu não te dou
ele.
— Me dar ele? Jamais você me daria um carro desse.
— É, não daria mesmo, ele é veloz e você fugiria rapidinho de São Paulo com ele. — Ri
da piada e entramos no carro.
— Promete não me deixar fazer nenhuma besteira? E nem me deixar sozinho igual me
deixou com Luke Evarns.
— Você está pedindo demais — diz saindo da garagem. — E sou eu quem manda aqui.
*
A viagem até o restaurante dura menos de 20 minutos. Saímos do carro e Caio dá a chave
para um homem estacionar, o que me causa ciúme e inveja.
“Só eu não irei dirigir esse carro?”
Entramos no restaurante e vejo várias câmeras prontas para nos fotografar.
Flashes e mais flashes nos encobrem e tento manter um sorriso gentil no rosto.
Caio se aproxima de mim sorrindo e sussurra no meu ouvido:
— Continue assim que você está indo muito bem.
— Não me disse que seria um jantar tão importante a ponto de ter fotógrafos — sussurro
de volta.
Andamos pela multidão, Caio se aproxima de uma grande mesa redonda, há várias
pessoas sentadas nela e quando veem Caio, levantam na hora.
— Caio, como é bom vê-lo — diz uma mulher muito elegante.
Ela usa vestido curto preto e um colar de diamantes. Seu cabelo é escuro e está preso em
um rabo de cavalo.
— Caroline — diz Caio sorrindo, pega na mão dela e beija. — É muito bom ver você.
— É muito bom ver você também, querido, trouxe um convidado e espero que não se
importe.
Caio olha na direção da mesa e cumprimenta alguns dos seus sócios.
Ouço os nomes por cima e não consigo gravar nenhum, a não ser o do último rapaz que
levanta e ergue a mão para meu dominador.
Ele tem o cabelo escuro e arrepiado, barba elegante e tem um sorriso encantador. Sua pele
é clara e usa smoking igual ao nosso.
— Christopher Reid — diz Caio nervoso. — Que surpresa você por aqui, era esse seu
convidado, Caroline?
— Ah, mas é claro — diz sorrindo. — Chris é o homem que quer fazer sociedade com
você, Caio, eu te avisei por telefone semana passada que seria uma grande surpresa. Mas chega
de falar, não vai apresentar o rapaz que está ao seu lado?
Pigarreio e Caio aponta com a mão para mim.
— Este é Carlos Alberto, meu mais novo funcionário, ele veio nesse jantar para ver como
funciona os negócios.
— Ora, muito prazer, Carlos — diz Chris se aproximando e apertando minha mão.
Percebo que os outros homens na mesa estão quietos.
— Caio já te deu o contrato?
Fico surpreso com o que ele diz e Caio o fuzila com o olhar.
— Sim, o senhor Caio me deu o contrato — respondo.
“Quem é esse homem e como ele sabe sobre o contrato de submissão?”
— Ótimo, então que tal enquanto o jantar não é servido, você e os outros não o leem? —
pergunta Caroline com o enorme sorriso no rosto.
— Sim, sim, mas não vejo o contrato com ele — diz Christopher.
— Está aqui comigo — diz Caio tirando de dentro do bolso vários papéis dobrados. —
Mandei no e-mail de cada um, incluindo uma cópia para mim, ainda prefiro papel a celular.
Alguns dos presentes dão risada do que era para ser uma piada de Caio.
— O meu se encontra um pouco amassado, mas legível — diz Caio sorrindo.
Todos retribuem e Caroline senta, o encarando, com Christopher ao seu lado.
— Pelo que vejo, você não chegou nem a olhar o contrato antes, Caiozinho — diz
Caroline revirando os olhos.
— Ando bastante ocupado, Caroline, mas não viemos aqui para falar sobre isso, vá direto
ao ponto.
Meu dominador parece um tanto nervoso com aquele jantar, mas se realmente está, não
deixa transparecer na sua voz. Continuo quieto e sem me mexer, com medo de apenas um olhar,
me causar alguma encrenca.
— Bom, chamei vocês aqui hoje nesse jantar para fazer uma proposta para você, Caio —
diz Caroline. — Como todos sabem aqui, Caio e eu somos parceiros de longa data, assim como
vocês. No meio dessa parceria incrível que criamos, encontrei Christopher, um jovem empresário
muito bem reconhecido.
Chris ergue o copo e sorri.
— Obrigado, Caroline, mas acredito que não sou tão reconhecido como vocês todos.
— Mas será — diz sorrindo. — Senhores, Chris nos fez uma proposta muito boa, ele quer
doar metade da sua fortuna para investir na nossa empresa desde que seja dono de algumas ações
nossas.
— E isso por acaso seria bom, senhorita Caroline? — pergunta um homem gordo e
barbudo.
— Ora, senhor Nilton, com toda a certeza seria muito bom. Quanto mais empresários
fortes unidos, melhor para nós.
— E qual empresas seriam também dele? — pergunta Caio.
— Bem, eu tenho interesse em poucas — diz Christopher diretamente para
Caio. — Gosto de pensar que “Indústrias Brown”, “R.J. Shopping”, e “Smart Brown”
possam ser minhas em porcentagem.
— E você só desejaria essas empresas? — pergunta outro homem. — Quero dizer, você
está “doando” metade da sua fortuna.
— Seria idiotice se fossem somente elas — diz Caroline. — A fortuna equivale a mais de
duzentos milhões de dólares.
— Tenho muito mais que isso, não me interessa mais — diz Caio. — Por que não me
avisou sobre isso, Caroline? Para que fazermos mais parcerias sendo que já temos nós?!
Percebo que Caio permite transparecer o nervosismo agora e tento segurar o tremor que
percorre meu corpo.
— Seu pai te destruiu quase completamente, Caio, juntos reconquistamos muitas coisas
— diz Caroline.
— Meu pai realmente me deixou quebrado, Caroline, mas não esqueça que quem ergueu
tudo foi eu, sozinho, você apenas me ajudou em outros investimentos, quando viramos sócios, já
tinha me reerguido. Meu sucesso equivale somente a mim mesmo.
— Tenho que admitir, você está certo, mas agora nós todos juntos, podemos conquistar
muito mais — argumenta Caroline.
— Conquistar mais? — questiona Caio.
— Sim, Caio, conquistar mais... Me interesso também pelas indústrias do seu falecido pai
— diz Christopher.
— Naquelas empresas ninguém mexe a não ser eu! — diz Caio batendo na mesa. —
Caroline me ajudou muito em algumas empresas, mas foi eu que limpei o nome do meu pai e
reconstruí seu império, sendo seu único herdeiro, elas são de minha total responsabilidade e
jamais permitiria que você se tornasse dono nem que fosse um por cento! — Volta a bater a mão
na mesa e pega o copo de água para se acalmar.
— Caio, aquelas empresas precisam de mais investimentos, não dá para só você as
manter. Seu pai morreu sendo um bandido, e você consertou isso, mas está na hora de ter ajuda
para expandi-las — diz Caroline.
— Não quero expandi-las e nem quero ser sócio de Christopher Reid, Caroline! Você
sabe muito bem o motivo, não se faça de idiota.
Todos na mesa estão em total silêncio contemplando o debate que ocorre entre os três.
“Quem é esse Christopher e por que apareceu agora?
O que Caroline está planejando com ele?”
— Não vamos nem ao menos ler o contrato para ver a proposta que tenho para vocês? —
pergunta Christopher levantando.
— Não — diz Caio também levantando e rapidamente faço o mesmo, ficando ao seu lado.
— Ok, amanhã entro em contato com você novamente, não vou desistir facilmente — diz
Christopher.
Ficamos em silêncio por um tempo e Caio me olha.
— Vamos embora, jantamos em outro lugar.
Caio se despede de cada sócio e saímos em direção a entrada do restaurante.
— O que foi tudo isso? — pergunto sem entender.
— Depois conversamos.
— Caio! Volte aqui agora mesmo — diz Caroline vindo atrás de nós.
— O que você quer, Caroline? Você me traiu! Sabe o quanto odeio Christopher e mesmo
assim o trouxe aqui hoje para tentar roubar as empresas do meu pai!
— O que? Não! Ele não queria roubar nada, ele só queria fazer parte!
Saímos do restaurante e o motorista traz o carro.
— Não me importa — diz olhando para ela. — Não quero mais saber sobre Christopher
nas nossas empresas, ou serei obrigado a desmanchar a nossa sociedade. Você sabe que sou dono
de tudo, e posso te deixar na merda, então não mexa comigo.
Caio entra no carro e rapidamente sigo para o outro lado.
Olho para Caroline que parece querer chorar e suspiro.
— Sinto muito — digo e entro no veículo.
Capítulo 29 - Revelações
Paramos em um restaurante próximo e Caio sai do carro nervoso. Sem dizer uma
única palavra, com medo de todo aquele veneno vir diretamente para mim, o sigo.
O que não consigo entender é porque Caio havia ficado tão nervoso e alarmado com a
presença de Christopher naquele restaurante.
O que eles tinham tido no passado?
Caio pede uma mesa para nós e rapidamente nos sentamos. Fico o observando e ergo a
sobrancelha.
— Caio, está tudo bem? O que foi aquilo naquele restaurante?
Ele ergue o olhar para mim e dá um sorriso seco.
— Christopher... e Caroline, como ela pôde fazer isso comigo?!
— Não entendo — digo pegando sua mão.
Caio a puxa e pega o cardápio para disfarçar.
— Desculpa.
— Não tem do que se desculpar. Você vai querer comer o quê?
— Eu não sei, nunca comi nada desses cardápios a não ser hambúrguer com batatas fritas.
Ele ri e assente, chamando o garçom.
— Traga para nós dois hambúrgueres com batatas fritas e Coca-Cola.
O homem assente e se afasta.
— Não precisa comer isso só porque sou um ignorante.
— Não é por você, só estou com vontade.
Balanço a cabeça e voltamos a ficar em silêncio.
— Vai me dizer o que aconteceu naquele restaurante e quem é Christopher?
Caio me observa e ergue a sobrancelha.
— Christopher é uma pessoa do meu passado — diz sorrindo seco. — E não foi um
passado tão bom.
— Como assim? Ele é seu ex? — aproveito o momento e pergunto.
— Sim, meu ex-submisso — responde simplesmente. — Você me perguntou um dia
desses se eu já tinha tido outros submissos, na verdade, só tive Chris e agora você.
“E sobre Luke ter dito que ele teve outros submissos?
Era mentira, então?”
Concordo tentando processar aquilo e sinto vontade de rir, Christopher foi trocado e
poderia acontecer o mesmo comigo a qualquer momento.
— Faz quanto tempo isso? Ele não parece um ex-submisso.
— Alguns anos... Seis mais ou menos.
— E ele foi seu... Você sabe, por quanto tempo?
— Cerca de dois anos e meio. — Caio olha ao redor e suspira. — Terminei com ele,
porque Chris descobriu algo sobre mim.
— E o que foi?
— Isso não te interessa, Carlos. Você perguntou quem era Christopher e eu disse, o que
nem deveria, afinal não te devo nenhuma satisfação.
— Desculpa — digo me sentindo magoado. — Realmente você não me deve satisfação de
nada.
Ele pega o copo de água que tem na mesa e dá um gole.
— Bem, pulando uma parte da história, quando Chris descobriu meu segredinho, ele
ameaçou contar para todo mundo e então me pediu dinheiro... Muito dinheiro, para não falar.
— Quanto?
— Alguns milhões de dólares, não hesitei e logo dei, depois disso ele foi embora para
Nova Iorque e voltou agora sendo um grande empresário.
— Isso te magoa?
— Nem um pouco, fico feliz que ele tenha usado bem o dinheiro que praticamente me
roubou.
Nossos lanches são colocados na mesa e rapidamente dou uma mordida, bebo um pouco
da Coca e pergunto:
— Então qual o motivo do ódio que sente por ele? Por que dizer que Caroline te traiu?
Sei que estou sendo invasivo demais, mas preciso de algumas respostas, ainda mais se
ficarei por um tempo com Caio Brown.
— Porque Christopher Reid foi o cara que amei, Carlos, e ele fodeu com meus
sentimentos.
Como meu lanche em silêncio após aquela revelação de Caio, não consigo imaginar Chris
sendo seu submisso, assim como não consigo imaginar Caio amando alguém, mesmo tendo
provas de que ele poderia ser um cara legal.
Continuo comendo em silêncio e observo Caio comer, sem nenhum dos dois dizer nada
sobre o que ele havia dito.
Depois de um tempo suspiro ao comer a última batata e Caio me olha sorrindo.
— Você estava mesmo com fome.
— Estava sim, obrigado.
Ele chama o garçom pedindo dois milk-shakes e depois paga a conta. Escolho o meu de
chocolate e saio na rua tomando.
— O que temos para amanhã? — pergunto indo para o carro.
— Bem, amanhã você pode ficar na parte da manhã em casa, vou ter que ir até a empresa
conversar seriamente com Caroline.
Concordo e não falo nada.
— Depois podemos almoçar juntos e malhar, quero que você fique malhado o mais rápido
possível.
— Isso é meio difícil, não acha?
— Não se você for com força total — responde piscando.
Caio termina seu milk-shake e sai do meio-fio.
Seguimos o caminho todo para minha casa em silêncio, não consigo parar de pensar sobre
Chris e Caio, o segredo que meu dominador esconde, e o motivo de Caroline ter levado aquele
homem até ele.
Por que a cada segundo que ficava com esse homem surgiam tantas perguntas e parecia
ter tantos segredos?
“Uma hora vou descobrir.”
*
Caio me deixa em casa e depois de um longo beijo de despedida, vai embora.
Percebo que o carro de Lucas ainda está comigo, então ligo para meu amigo avisando que
o levaria para o seu apartamento.
Como ainda são 20h:30 min, pego as chaves dentro de casa e aviso minha mãe que irei no
Lucas rapidamente. Ao me ver vestido do jeito que estou, ela me enche de beijos e pergunta
como havia sido o trabalho.
— Tudo certo, foi incrível. Quando chegar te conto mais detalhes.
Ela concorda e saio rapidamente, antes que surja mais alguma pergunta.
*
Lucas me atende somente de roupão, usa óculos e na mão está com um livro de capa
amarela.
— Oi — digo sorrindo.
— Entra — diz dando passagem.
Entro no seu apartamento e vou direto para o sofá.
— Como vão as coisas?
— Normais. Você não vem aqui desde domingo, está tudo bem?
— Sim, está. O que foi, Lucas? Você está estranho.
— Não é nada — diz indo até a adega e preparando duas doses de uísque para nós. — Eu
sei lá, Carlos, estou preocupado com você, Bruno me disse sobre a ligação.
— Disse? E foi você? Ele levantou essa hipótese.
— Não, não foi eu, querido. — Entrega o copo e senta ao meu lado. — Carlos, por que
nunca me disse que foi estuprado?
Engulo o uísque em um único gole e fecho os olhos nervoso.
— Bruno me paga — digo me levantando.
— Não venha com essa, seu filho da puta, como pôde passar por isso sozinho?! Como
pôde nos esconder algo tão pesado?!
— NÃO QUERIA VER A REAÇÃO QUE VOCÊ ESTÁ TENDO AGORA! — digo gritando. — Você acha
que quero que as pessoas me olhem com pena? O menininho de nove anos estuprado por um
louco, coitadinho!
— Jamais te olharia assim... Você deve ter passado tantas coisas ruins, não consigo
imaginar, esconder isso por onze anos não é como esconder uma gravidez dos pais.
Ele volta a adega e enche nossos copos novamente.
— Sempre soube que tinha alguma coisa que você nos escondia, mas isso, isso é... Foda
demais.
— Foda demais?
— Sim! É estranho, como conseguiu suportar? Como conseguiu sobreviver?!
— Eu não sei — digo e as lágrimas começam a descer pelo meu rosto. — Não queria
envolver ninguém.
— Por que não?
— Porque, Lucas, eu poderia ter evitado isso — respondo colocando o copo no balcão. —
Antônio disse que eu deveria ficar quieto, e eu fiquei, ele me obrigou... Eu não fiz nada.
— Larga de ser idiota, pelo amor de Deus, você tinha nove anos, o que poderia fazer?
— Gritar teria ajudado.
— Ou não. Quem sabe o que ele seria capaz de fazer se você gritasse?! Ele poderia te
matar, Carlos! — Vem até a mim e seca meu rosto. — Você foi tão forte, querido, mas não
esconda mais essas coisas de nós, somos seus amigos e estamos aqui para te ajudar. — Me
abraça e choro mais ainda.
— Obrigado, de verdade.
— Não me agradeça, agora me diga, tem mais algum segredo seu que devo saber? E essa
roupa que você está usando?
Nos sentamos no sofá e pego a sua mão.
— Tenho — digo mexendo na gravata borboleta. — Lucas, lembra do Caio Brown?
Capítulo 30 - Convite
Duas semanas haviam passado voando após eu dizer a Lucas sobre Caio e eu.
As coisas estão cada vez mais difíceis para mim, sou obrigado a ir todos os dias até a casa
de Caio e malhar com ele. Sem contar que tive que passar no médico para realmente ver se
estava tudo certo comigo, e as aulas de etiqueta tinham começado, coisa que não conseguia
entender quase nada.
Edgar Galbraith, é baixinho, magro, careca e se veste muito bem. Seu olhar é duro e
sempre diz que devemos conversar olhando nos olhos das pessoas.
A minha postura começa a ficar ereta depois de duas semanas, mas ainda não consigo
acompanhar algumas coisas, como todos aqueles talheres na mesa.
“Sobre a mesa, diria Edgar.”
Caio nos deixa a vontade no seu apartamento enquanto trabalha no escritório e às vezes o
pego olhando para mim e sorrindo.
Depois do jantar frustrado com Caroline e seus sócios, Caio está muito mais
comunicativo.
Perguntei a ele como estava a relação com Caroline, e ele respondeu que tudo estava bem
e que Chris não perturbaria mais, o que me assustou um pouco.
Mas é claro que ele estava enganado...
Na quinta-feira quando Edgar está me ensinando alguns modos de conversação, a
campainha do apartamento de Caio toca, ergo as sobrancelhas sem entender e vou até a porta.
Abro e dou de cara com Christopher que veste terno cinza sem gravata e sorri radiante.
— Olá, boa tarde — diz entrando. — Caio está?
— Sim, ele está no escritório — digo me sentindo incomodado. — Quer que eu avise que
você está aqui?
— Não tem necessidade — responde Christopher. — Sei onde fica o escritório dele,
obrigado.
Christopher vira as costas para mim, segue na direção do escritório de Caio e naquele
momento, vejo que uma catástrofe irá acontecer.
“Por que Christopher apareceu?”
— Edgar, me dê um minuto, ok? Vou na cozinha beber água.
— Tudo bem, querido, traga para mim se não for muito incômodo.
— Ok.
Sigo em direção a cozinha, mas ao invés de entrar nela, continuo andando pelo corredor,
vendo a porta se fechar.
Me aproximo rapidamente e coloco o ouvido na porta.
— Não deveria ter vindo aqui. Você já não teve o que queria, pra quê voltar?! — pergunta
Caio raivoso.
— Por causa de você, é claro.
Ouço Christopher dizer e sinto uma fúria dentro de mim.
— O que está fazendo, Caio? Esse menino é uma criança.
— Carlos não é nenhuma criança, Christopher. Você tinha a idade dele quando virou meu
submisso.
— E como ele virou o seu submisso? Usou algum truque barato como usou comigo?
— Você não sabe o que está falando!
Seguro a respiração e continuo ouvindo.
“Que truque Caio teria usado contra ele?”
— É melhor contar toda a verdade para ele, antes que descubra de outra maneira. Não vai
gostar se ele soubesse por mim que você fez aquilo.
— Você não seria tão idiota.
Caio está nervoso, sei disso, o sotaque londrino começa a surgir com sua irritação.
— Se você abrir a boca sobre qualquer coisa que sabe, toda a sua fortuna vem para mim,
esqueceu o último contrato que fizemos?
— Não esqueci, porém valeria cada centavo ver você perder esse rapaz, aliás, você está
apaixonado por ele? Sabe que isso seria besteira, ele não está com você porque te ama ou algo
parecido, está somente pelo dinheiro e nada mais, assim como foi comigo. Confesso que até que
gostei do nosso contrato de submissão, é o mesmo que o dele?
— Cala a porra da sua boca, Christopher! Você não sabe o que está dizendo, é melhor se
manter longe do Carlos ou teremos problemas.
— Tudo bem, você quem sabe, me procure quando mudar de ideia, e aliás, qual o motivo
das aulas de etiqueta? Ele é um ogro, não aprenderá nunca.
Engulo em seco ao ouvir isso, eu era mesmo um ogro, um ignorante, um jovem pobre que
lutou para ajudar a família e no fim perdeu, tendo que ir por um caminho mais fácil, que acabou
se tornando mais difícil ainda para mim.
— Não subestime a capacidade de Carlos, aliás, ele é muito mais esperto e interessante
que você, foi por isso que te descartei e agora estou com ele.
— Você me descartou por conta do que fiz, e simplesmente não correspondi o seu amor
frustrado.
Ouço passos e penso em subir para os quartos ou ir para o banheiro, mas os passos não
estão vindo em direção a porta. Acredito ser os passos de Chris, que deve estar se aproximando
de Caio.
— Mas agora posso corresponder se você quiser.
— Fica longe de mim e não tente fazer coisa. Estou com Carlos e não o trocaria por você.
— Já estão nesse patamar? Então está apaixonado mesmo.
— Não estou apaixonado, isso tudo não passa de sexo, porém, respeito e não traio meu
submisso. Agora vá embora e faça o favor de nunca mais aparecer aqui.
Ouço um silêncio assustador, vou até a cozinha para pegar o copo com água para Edgar e
depois volto para a sala.
— Obrigado, querido — diz bebendo.
Ele mexe no computador que nem percebe minha ausência na cozinha, o que é um alívio.
— Por nada, desculpa a demora.
— Sem problemas, vamos continuar de onde paramos.
Christopher surge na sala nervoso, me observa atentamente, então sai batendo a porta.
— Esse é louco. Vamos lá, postura ereta —diz Edgar.
Obedeço às ordens de Edgar, mas não consigo me concentrar em mais nada.
*
O Natal já é na próxima semana e não sei bem o que fazer, pois é uma data muito
importante para a minha mãe e meus irmãos, assim como para Lucas e Bruno, então decidimos
todos vir para minha casa na véspera e ficarmos na casa de Lucas no Natal.
Regina também foi convidada, Bruno e ela estão firmes e fortes, mas não sei que tipo de
relação eles têm.
Minha irmã Juliane e seu marido Pedro viriam também, então os dias estão uma loucura.
Vou todos os dias bem cedo para a casa do Caio e treino com Edgar as aulas de etiquetas,
o que continua me deixando nervoso, e quando terminavam íamos para a academia. Caio não me
dá sossego e cada vez mais o treino fica pesado. Eu já consigo notar algumas diferenças no meu
corpo, como a disposição que está melhor, mas meu dominador quer muito mais que isso.
O dinheiro do roubo foi muito bem usado, depois de um período dizendo que estava
trabalhando com Caio Brown, peguei o restante e disse que aquele era meu salário. Minha mãe
vibrou de alegria e depois de muitos Natais sem poder presentear Robertinho, ela finalmente
poderia fazer aquilo.
No dia 23, Caio pareceu um pouco mais calmo após aquela conversa estranha com
Christopher, não perguntei sobre ela e nem disse que ouvi; era melhor assim. Não sabia muito
bem como ele iria reagir se soubesse que eu ouvi, mas o que mais me intrigava naquele momento
era onde o meu dominador passaria o Natal.
Ergo a cabeça e observo Caio saindo do banho após termos feito sexo, já é mais fácil e
não penso tanto no meu estupro, mesmo assim ainda não consigo gostar tanto daquilo.
— Você vai passar o Natal onde? — pergunto me levantando da cama.
— Por aí, não gosto muito dessas datas — responde displicente.
— Eu também não sou tão fã quanto antes, mas esse ano vai ser bom — digo sorrindo
para mim mesmo. — Vai ter Peru, bastante comida e presentes, minha mãe está muito feliz.
Caio dá um sorriso amarelo e assente.
— Que bom, divirtam-se — diz indo em direção ao closet.
Me levanto e o sigo.
— Gostaria de passar o Natal conosco? Vamos passar a véspera na minha casa e o dia na
casa de um amigo meu.
Caio vira para mim somente de cueca e ergue a sobrancelha.
— É sério? — pergunta surpreso.
— Sim, por que não seria?
— Não quero incomodar — diz pegando a calça jeans escura.
— Não vai, minha mãe vai adorar, ela está muito ansiosa para te conhecer.
Caio sorri e balança a cabeça.
— Ansiosa para me conhecer? Ela não vai querer.
— Bem, podemos saber isso se você for.
Troco de perna e dou um sorriso amarelo, me sentindo desconfortável.
— Tudo bem, o que eu levo?
— Bem, não sei, já temos tudo. Minha mãe sempre ficou louca com essas datas, então
adiantava tudo, e agora que a grana está sobrando, já pode imaginar como é que vai ser.
— Tudo bem, vou encontrar alguma coisa para levar.
Concordo sorrindo.
Vou até ele, criando coragem o abraço e pela primeira vez Caio retribui aquele gesto tão
simples.
Capítulo 31 - Véspera de Natal
Caio e eu fomos em um supermercado para ver o que faltava para o jantar de véspera
de Natal e acabamos pegando algumas champagne e sobremesas prontas, como torta de morango
e de chocolate.
— Acha que isso está bom? — pergunta Caio colocando na geladeira assim que
chegamos no seu apartamento.
— Ótimo, minha mãe vai adorar saber que você vai estar lá amanhã, ainda nem falei para
ela, quero fazer surpresa.
Ele ergue a sobrancelha e faz um olhar sério.
— Deveria de ter avisado que vou.
— Não se preocupa, avisei que era para colocar um prato a mais na mesa.
Caio vem em minha direção e beija meus lábios sorrindo.
Faz quase quatro semanas que estamos juntos e tudo aquilo ainda é uma loucura. Nossa
relação a cada dia parece mais um romance do que somente sexo, mas não falei isso a ele,
principalmente depois de ter ouvido a conversa dele com Christopher, onde deixou claro que era
somente sexo.
Vamos para a sala e nos sentamos, já é quinta-feira e hoje Edgar não pôde vir, o que me
deu uma folga tanto de aulas chatas de educação como da academia.
— Que tal vermos um filme qualquer? Não temos nada para fazer.
— Podemos arrumar algo rapidinho para fazer — digo rindo para ele. — Tudo bem, qual
filme?
Ele levanta, pega o controle da televisão, entra na Netflix e começa a caçar algum título
que nos chame a atenção.
— Que tal assistirmos “Eating Out”? — pergunta.
Concordo com ele e começamos a ver o filme, que fala sobre um homem, uma garota
heterossexuais e um gay. A garota no filme se dá bem somente com gays, o que até parece
loucura.
A história é engraçada e Caio se diverte, na cena um pouco mais quente ele me olha de
lado e lambe os lábios, penso em colocar minha mão no seu pau, mas me controlo, fingindo que
quero continuar a ver o filme.
Um tempo depois começa a rolar os créditos e Caio decide colocar a continuação,
assistimos tranquilamente sempre nos atentando nas partes de sexo.
Querendo um encostar no outro.
Fico quieto observando o filme e ele se aproxima de mim, logo sua mão está em meus
ombros e começa a me apertar.
— Quero te foder — diz baixinho.
Engulo em seco e não digo nada, apesar de estarmos fazendo sexo todas as semanas,
ainda me assusto ao ouvir aquilo de maneira tão explícita.
— Quero te chupar — digo a Caio.
Ele para o filme ao ouvir isso, segura meu braço, me observa por um instante e me joga
com tudo no sofá. Começamos a nos beijar e logo sinto meu pau ficar duro, seu membro já está
encostado na minha barriga e me arrepio por completo.
— Então me chupa — diz colocando o pênis para fora.
Me delicio ao observá-lo e quando vou colocar seu pau na minha boca, o celular dele toca.
— Droga! — diz nervoso.
Ele vai até o aparelho e atende ainda com o pau duro para fora.
— Quem é?
Caio me observa e faço um gesto para ele sentar. Se joga no sofá e o ouço ao telefone
dizendo com um de seus sócios.
—Tudo bem, amanhã mesmo vou na empresa para saber o que ela quer.
Me aproximo de Caio e fico de joelhos na sua frente, logo ele se ajeita no sofá e abre as
pernas, ainda no telefone. Acredito que esteja falando sobre Caroline, mas nesse momento quero
apenas me concentrar em seu pau duro que está na minha frente. Me aconchego entre suas
pernas, o pego com uma das mãos e o abocanho com tudo, fazendo Caio perder o ar por um
segundo.
— Sim, está cer... Porra! — diz quando sente meus lábios frios no seu pau. — Nada não,
só machuquei minha mão — mente.
Sorrio alegre e continuo chupando seu pau enquanto mexo nas suas bolas com umas das
mãos e com a outra o masturbo.
— Vai ficar tudo bem — diz Caio suando. — Tudo bem, melhor ligar outra hora mesmo.
Ele joga o celular no sofá e segura minha cabeça no seu pau, então começa a foder minha
boca.
— Puta que pariu, que boca perfeita — diz revirando os olhos.
Continuo o chupando e abro minha bermuda. Tiro com um pouco de dificuldade e passo a
língua no seu pênis. Depois tiro a cueca e logo a camisa. Arranco a bermuda de Caio que está no
meio das suas pernas e ele as abre um pouco mais.
Chupo seu pau mais um pouco e subo no seu colo, olhando nos seus lindos olhos azuis.
— Você é tão gostoso, Carlos — diz me encarando.
Ele beija meus lábios, fazendo com que eu perca o ar, logo nos separa e volta a me
encarar.
— Estou louco para te penetrar.
— Então me penetra, senhor Caio, me come bem gostoso.
Caio fica surpreso com o que digo e logo me encaixo nele. Vou sentando devagar com um
pouco de dificuldade, mas como sei que Caio é um homem preparado para tudo, abro a gaveta do
móvel ao lado com certa dificuldade e pego um tubo de lubrificante. Ainda o encarando, passo
na extensão do seu pênis e depois na minha entrada, sentando aos poucos.
A sensação é gostosa, ainda mais por estarmos sem camisinha, o que não me preocupa
tanto, já que os exames, que ele me fez fazer, deram negativos em tudo.
— Nossa... — diz Caio enlouquecido.
Passo meus braços em volta do seu pescoço e o beijo, gemendo e pedindo por mais, o que
é loucura.
— Me fode, por favor — digo olhando para Caio.
Ele sorri e me beija, então enfia ainda mais seu pau em mim.
Vou subindo e descendo e vejo o quanto Caio está se segurando naquele momento, apesar
de gozar diversas vezes na semana, parece que ele não se cansa.
Logo vejo meu dominador segurando meu corpo e estocando cada vez mais forte em
mim. Peço por mais, me deliciando com aquilo, quero que ele me foda de uma maneira que
nunca fodeu ninguém, quero me lembrar dessa foda, e esquecer as outras que tivemos,
principalmente a minha primeira vez.
Quero me entregar a Caio, ser seu submisso, e pensando nisso, sei que no fim vou acabar
me divertindo com toda essa ideia.
Ele continua estocando em mim e reviramos os olhos de prazer.
— Puta merda, vou gozar.
Ao ouvi-lo dizer isso, continuo cavalgando sem parar, pronto para o ápice, então Caio
aperta meus braços e solta um gemido, anunciando que gozou, fico tão deliciado com aquilo que
gozo na sua barriga e peito, sem ao menos tocar no meu pau.
Saio de cima do seu colo sem fôlego e Caio me observa quando já estou de pé, pronto
para o banho.
— Essas transas inesperadas são as melhores — diz com o pau meio bomba.
Sorrio constrangido e concordo.
— Vou tomar um banho — digo correndo para o banheiro, me sentindo feliz e estranho
por ter finalmente gostado de transar com meu dominador.
*
Acordo no dia seguinte renovado e feliz, já é véspera de Natal e logo todos estarão em
casa.
Me levanto indo até o banheiro, faço minhas necessidades, escovo os dentes, lavo o rosto
e vou até a cozinha.
Robertinho está jogando videogame todo alegre e Rafael está sentado no sofá com uma
mulher que deve ser sua namorada.
— Bom dia — digo a eles.
— Bom dia — diz a mulher sorrindo.
— Muito prazer, me chamo Carlos — digo apertando sua mão.
— Me chamo Joyce — diz alegre.
Ela é uma moça bonita, cabelo loiro, pele clara e um sorriso encantador.
— Você devolveu o carro para o Lucas? — pergunta Rafael me encarando.
— Sim, entreguei faz várias semanas — digo indo até Robertinho. — Se você parasse em
casa um pouco saberia disso.
Passo as mãos no cabelo de Robertinho e dou um beijo em seu rosto.
— Como você está hoje, garotão? — pergunto olhando para ele.
— Bem, e você?
— Também — digo piscando.
Fico feliz que meu irmão não esteja se sentindo doente.
Naquele mês tínhamos comprado seu remédio, ele havia passado no médico novamente e
o doutor disse que tudo está correndo muito bem. A única coisa que nos preocupa é que às vezes
meu irmão se sente cansado e até mesmo um pouco lesado.
Vou até a cozinha e encontro dona Marisa a todo vapor, sobre a mesa está o café da
manhã; pão francês; pães recheados; frutas; queijo; frios; suco e café.
— Bom dia, mãe — digo beijando seu rosto.
— Bom dia, meu filho — diz enfiando dentro do forno o peru.
— Que horas são? Será que perdi a noção do tempo ou a senhora está bem adiantada?
— Agora são nove e meia, querido — diz sorrindo. — Quero fazer tudo o mais rápido
possível para quando sua irmã e meu genro chegar, poder ficar com vocês.
Sorrio para ela e me sento para comer.
— Não vai trabalhar hoje, meu filho?
— Não, mamãe, Caio me deu folga — digo sorrindo.
É verdade, ele disse que eu não precisava ir cedo porque iria na empresa conversar com
Caroline, acredito eu.
— Que bom que está dando tudo certo, meu filho — diz minha mãe sorrindo. — Você foi
ver o Eduardo? Acabei esquecendo de te perguntar.
Fico paralisado e por um segundo não digo nada, era para eu ter ido no meu antigo
trabalho para conversar com Eduardo e o suposto empréstimo, e acabei não lembrando de ir.
— Fui — minto bebendo um copo de suco e comendo pão. — Teve notícias dele? Ele
ligou de volta?
— Não, não — diz mamãe sentando ao meu lado. — Filho, Deus foi tão bom conosco.
Ele te arrumou um ótimo emprego, pagamos nossas contas e vamos ter um Natal de verdade esse
ano.
— Sempre tivemos, mamãe, não se coloca para baixo, a senhora sempre fez maravilhas
nos Natais, mesmo não podendo nos presentear.
— Não seja bobo — diz secando lágrimas dos olhos. — Obrigada, meu filho, por não me
abandonar como seu pai fez.
— Não se preocupa e não agradeça, sou filho dele, mas não sou igual e você sabe. Agora
pare de chorar.
Seco suas lágrimas e volto a comer.
— Bem, é melhor eu continuar com às coisas... Já, já sua irmã vai chegar com Pedro, ela
tem uma notícia para nos dar.
Olho para minha mãe sem entender e concordo.
Logo termino de comer e vou tomar banho.
*
Meia hora depois estou pronto e renovado, coloco uma roupa nova que tinha trazido da
casa de Caio na noite anterior e vou para a sala.
Minha irmã e meu cunhado entram sorrindo.
— Juliane! — digo indo até ela.
Minha irmã é uma mulher muito bonita, é alta, pele um pouco escura, cabelo longo e um
sorriso encantador. Seu marido Pedro também é alto, moreno, e muito gentil.
— Maninho! — diz me abraçando. — Como é bom ver você, parabéns pelo novo
emprego.
— Obrigado — digo sorrindo. — Como vão as coisas? Por que não apareceram antes?
Cumprimento meu cunhado e os dois sentam no sofá.
— Longa história — diz abraçando Robertinho. — Ando trabalhando muito e cansada
demais, fora os enjoos que me matam.
Olho para Juliane espantado e depois para Pedro, então minha mãe aparece sorrindo na
sala.
— Não, não pode ser — digo. — Está falando sério? Você está grávida?
Joyce bate palma alegre e meu irmão se espanta.
— Sim, estou falando sério — diz rindo. — Vocês vão ser titios, os três!
Dou um pulo de alegria e abraço minha irmã e meu cunhado.
— Isso é ótimo — diz Robertinho. — Ele vai poder jogar comigo!
Damos risadas e Juliane segura meu irmão.
— Eles vão poder jogar com você o tempo que quiser — diz fazendo o número dois com
uma das mãos e passando a outra na barriga. — Descobrimos ontem que são gêmeos.
Comemoramos mais uma vez a feliz notícia e então seguimos para a cozinha. Ajudo
minha mãe com a salada de maionese e a farofa enquanto Juliane faz o arroz e um creme de
abóbora, logo o cheiro da comida começa a impregnar na casa.
Vou para a sala com minha família e Robertinho pega uma caixa grande com a árvore de
Natal.
Na nossa casa é tradição montá-la sempre na véspera e desmontar no final de janeiro.
Robertinho pega as varetas e começa a montar a árvore toda errada, então Pedro e Rafael
o ajudam, enquanto minha mãe, minha irmã, e minha cunhada-número-sei-lá-que conversam.
A campainha toca um tempo depois e abro a porta para Lucas, Bruno, Regina e Rafael.
Os casais entram e começam a falar com os outros enquanto minha mãe transmite
felicidade ao falar com Rafael de Jesus.
— Eu amo demais a novela que você está fazendo — diz alegre. — Vamos, se arrumem
aí no sofá, daqui a pouco o nosso almoço fica pronto e a festa começa.
— O que temos para o almoço, dona Marisa? — pergunta Lucas.
— Fizemos salada, frango recheado e outras coisas. O peru vai ficar para a noite.
— Tudo bem, trouxe uísque e vodca. Vamos beber um pouco, dona Marisa, vem.
Minha mãe e Lucas seguem para a cozinha e continuo montando a árvore com
Robertinho.
— Então você agora trabalha com meu patrão — diz Regina sentando ao meu lado no
chão. — Parabéns, fico muito feliz com isso, Bruno me disse que as coisas não estavam fáceis.
— Pois é — digo sorrindo para ela. — Caio... Loucura, né? Uns dias atrás estávamos
falando que ele era seu patrão gostoso, agora ele é meu também.
Regina e eu caímos na risada e ela ajuda Robertinho e eu a montar a árvore.
— Para você ver como as coisas mudam rapidamente, mas, então, me diz, ele já tentou te
pegar?
— O que? Não, claro que não! — digo revirando os olhos. — Mas quem sabe.
Ela ri e continuamos o trabalho na árvore.
Um tempo depois terminamos e colocamos as luzes.
— Bem, só falta ligar — diz minha mãe com um copo de uísque na mão, o que chega a
ser engraçado.
“Dona Marisa achava vinho forte, mas uísque não”, dou risada pensando naquilo.
Sorrio me levantando, pego um copo de bebida e ficamos conversando um pouco sobre
meu novo trabalho.
Tudo não passa de mentira, e como elas estão fáceis de surgir. Invento algumas coisas e
Regina me dá credibilidade, dizendo que realmente as coisas na empresa com Caio são sempre
diferentes.
Então o assunto muda para Rafael, minha mãe tenta ganhar alguns spoilers sobre a novela
e ele até revela algumas coisas.
Meu irmão Rafael não fala muita coisa, fica somente sentado com sua namorada bebendo
uísque.
Juliane conta para Lucas e Bruno que está grávida de gêmeos e mais uma vez a nossa casa
vibra de felicidade.
— Vou mimar muito essas crianças — diz Lucas alegre. — Já pensou em nomes?
— Ainda não, mas Pedro gosta de Michel — diz minha irmã.
— Sim, e ela de Laura — diz meu cunhado.
— Seria lindo se viesse um casal — diz Regina.
Continuamos conversando e Joyce agora parece mais à vontade, inclusive me vejo
conversando algumas coisas com ela.
— Você não namora, Carlos? — pergunta Joyce.
Todos param de falar e olham para mim, aquele não é um assunto que falo muito na
minha casa, então me sinto desconfortável.
— Ah, bem, ando bem tranquilo quanto a isso.
— E o Danilo, meu filho? — pergunta minha mãe.
Olho para Lucas e Bruno e engulo em seco. Eles são os únicos que sabem que eu tenho
um caso secreto com Caio Brown.
— Somos só amigos, ou éramos, ou nunca fomos — digo me enrolando. — Ele nunca foi
meu namorado.
— Pensei que daria em algo — comenta Rafael.
— Concordo com o Rafa — diz meu irmão. — Vocês no hospital pareciam...
A campainha toca mais uma vez cortando meu irmão e vou correndo atender. Respiro
fundo e abro, dando de cara com meu dominador.
— Caio, quero dizer, sen...
— Nada disso aqui — diz Caio piscando. — Não estamos trabalhando, esqueceu?
Fico em silêncio sorrindo para ele e Caio ergue a sobrancelha.
— É... Essas coisas estão meio pesadas — diz com as sacolas do mercado que compramos
no dia anterior.
— Ah, meu Deus, desculpa — digo dando passagem para ele. — Entre.
Meu dominador entra na minha casa e observa em volta.
Todos na sala olham na nossa direção e ficam em silêncio.
— Senhor Brown — diz Regina surpresa.
— Só Caio hoje, Regina — responde sorrindo ainda com as sacolas.
— Deixa eu te ajudar com isso — digo as pegando e levando até a mesa. — Mãe, lembra
que eu disse que teríamos um convidado? Esse é Caio Brown, meu chefe.
— Muito prazer — diz Caio se aproximando da minha mãe e apertando a mão dela. —
Obrigado por me receber na sua casa.
— O prazer é todo meu — responde mamãe envergonhada, coloca o copo de uísque na
mesa de centro e sorri. — Sinta-se em casa, meu filho deveria de ter dito que você viria, teria me
arrumado mais.
— A senhora está ótima — diz Caio piscando para ela. — Uau, você é o astro da novela?
— Sim, sou, e você um dos maiores empresários do mundo — responde Rafael. — Muito
prazer.
Os dois apertam um a mão do outro e sorrio.
— O prazer é todo meu. — Caio parece feliz ao ver o namorado do meu amigo. — Sou
seu fã, acompanhei todas suas novelas e seus filmes.
— Uau, fico feliz em saber disso.
Ergo a sobrancelha e olho para Caio.
“Meu dominador assiste novela?
Uma caixinha de surpresas...”
— Bem, Caio — digo engolindo em seco. — Esse é meu amigo, Lucas, meus irmãos,
Rafael, Robertinho, e Juliane, meu cunhado Pedro. — Vou apontando para cada um deles e Caio
aperta suas mãos. — Minha cunhada Joyce, Regina você já conhece, e por último Bruno, meu
melhor amigo.
Caio olha para Bruno e vejo o olhar gélido do meu amigo para ele, talvez com medo de
que Caio possa soltar alguma coisa sobre o roubo, ou nervoso sobre eu ser submisso do homem
que está à sua frente.
— É um prazer conhecer vocês — diz Caio sorrindo. — Você é o famoso Robertinho
então.
Caio se ajoelha para ficar na altura do meu irmão e fico espantado, nem parece o homem
ignorante que eu tinha conhecido.
— Sim, sou eu, e você é o meu herói?
— Sou?
— Ah, é que falamos para ele que foi graças a você que ele está bem — responde mamãe
alegre. — E antes que eu me esqueça, muita obrigada, se não fosse aquela clínica.
— Não precisa agradecer. — Levanta novamente e bagunça o cabelo do meu irmão. —
Robertinho é um menino forte, ele teria saído de qualquer maneira dessa.
Concordo com ele e reparo que o Caio dos ternos, roupas de grife, não está hoje aqui, e
sim um Caio que usa calça jeans, camiseta comum e All Star, o que me deixa surpreso.
— Bem, acho que não falta mais ninguém.
— Na verdade, falta sim, mas também é surpresa — diz mamãe.
— Mas olha só, mamãe vai trazer um namorado em casa! — brinca Juliane.
— Não seja boba, mas não vou dizer quem é.
— Bem, vou colocar as coisas que Caio trouxe na geladeira.
— Posso te ajudar — diz ele.
Sigo para a cozinha e ouço a falação na sala voltar ao normal.
Abro a geladeira e Caio começa a me dar as tortas e as bebidas.
— Obrigado por ter vindo e sustentado essa história.
— Não se preocupa, Carlos, no domingo você vai preencher um relatório enorme para
mim.
Olho para Caio sem entender e ele pisca, sorrindo.
Terminamos de guardar as coisas na geladeira e Caio se aproxima de mim, olho nos olhos
dele e tento ver se ninguém nos vê, então nossos lábios se encostam em um beijo rápido e
quente.
— É bom ter você aqui — digo sorrindo.
— É bom estar aqui com você... Com todos vocês.
Aceno com a cabeça, sorrio e digo:
— Vamos voltar para a sala antes que Regina pense alguma coisa.
— Espera, ela sabe sobre Bruno?
— Não, acho que não, isso é entre eles, eles que se resolvam.
— Tudo bem, vamos para a sala.
Seguimos para o outro cômodo e com um pouco de dificuldade me sento no chão, Caio
senta ao meu lado e começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Regina sempre nos observa,
sorrindo com o copo na mão.
Preparo uma dose de uísque para Caio e outra para mim, e ficamos bebendo até a hora do
almoço, alegres por aquele Natal tão diferente de todos os outros que já vivenciamos.
Capítulo 32 - Visita Inesperada
Depois de muito papo finalmente seguimos todos para a cozinha. Caio senta ao meu
lado e começamos a nos servir assim que Pedro deposita o frango na mesa.
Minha mãe faz uma rápida oração agradecendo a comida sobre a mesa, meu trabalho, a
ajuda que Caio deu ao nosso irmão e o presente de poder ser vovó, então segue um coral de
“amém” e começamos a nos servir.
Caio parece estar muito à vontade, quem não parece muito é Regina e eu, afinal ela é
funcionária dele e eu o submisso.
Afasto esses pensamentos da mente e começo a me servir de um pouco de cada coisa.
Todos conversam sobre assuntos aleatórios e minha irmã diz que está espantada por minha mãe
ter tomado uísque; afinal ela sempre detestou qualquer tipo de bebida mais forte que cerveja.
Vejo Caio se servir e o observo atentamente, parece um homem bem contente e não
entendo o motivo. Fico pensando também como deveria ter sido os seus outros Natais, já que ele
não tem família, ao menos não conheço ninguém.
Ele me olha assim que enche seu prato e sorri, um sorriso verdadeiro e cheio de alegria,
retribuo e começamos a comer em silêncio.
— Então, Caio, meu irmão faz o serviço direito? — meu irmão Rafael pergunta.
Olho para ele irritado por fazer aquela pergunta e bebo um pouco de água que tem na
mesa, temos outras bebidas como vinho, refrigerante e dois champagnes. A vodca e uísque que
Lucas trouxe já haviam acabado.
— Sim, ele trabalha muito bem... Uma pessoa muito inteligente e esforçada, a senhora o
criou muito bem, Marisa.
— Ah, não me chame de senhora — diz minha mãe sorridente. — Assim me sinto mais
velha do que realmente sou e meus filhos são muito esforçados, Carlos Alberto é um exemplo a
ser seguido.
Engulo a comida sentindo que ela rasga minha garganta e dou um sorriso de gratidão para
minha mãe.
Exemplo a ser seguido?
Se ela soubesse que roubei aquele homem que está ao meu lado e ainda por cima transo
com ele por dinheiro para pagar o que furtei e nos sustentar, ainda acharia eu “um exemplo a ser
seguido”?
— Obrigado, mãe — digo sorrindo. —Esses poucos dias que venho trabalhando com
Caio, tem sido de grande conhecimento, aprendi muita coisa.
Regina sorri para mim e volta a comer sua comida.
— Aprendeu o quê? — pergunta Rafael.
— Bem, acima de tudo aprendi muito sobre talheres — digo rindo e todos me
acompanham.
— Que bom que finalmente aprendeu isso — diz Lucas piscando para mim.
Ele sabe que tudo aquilo não passa de uma farsa e isso me dá uma angústia muito grande;
fiz meu amigo ser meu complô em todas as minhas mentiras.
— Pois é, acabamos aprendendo coisas básicas. Carlos é muito bom em contas, ele faz
coisas incríveis que poucos conseguiram fazer, inclusive ele também tem uma maneira muito boa
de usar a boca, para falar com os clientes, quero dizer.
Todos encaram Caio e concordam.
Sinto vontade de rir com aquilo, porém me controlo.
“Uso bem minha boca?
Que tipo de coisa é essa para se dizer em um almoço de véspera de Natal?”
— Nunca te vi na empresa, Carlos, e você já aprendeu tantas coisas — diz Regina.
— É que... E-eu...
— Carlos tem me acompanhado rua a fora, ele literalmente trabalha lado a lado comigo.
— Sim — concordo, é a única coisa que consigo dizer.
— Muito bem, Carlos, parabéns! Você merece muito isso, como se sente com essa vaga?
— pergunta Regina.
Encaro Bruno e Lucas e engulo em seco.
“Que droga está acontecendo aqui?”
Não era para eu ser o centro das atenções e fico pálido com isso.
“Como essas mentiras podem surgir tão rapidamente?”
— Me sinto muito contente, de verdade, essa oportunidade que Caio me deu é única —
digo sem graça. — Faço de tudo para dar meu melhor.
— E consegue, claro, tem que se aperfeiçoar em algumas coisas, mas nada que o tempo
não faça — diz meu dominador.
Concordo e sorrio, então Juliane levanta e segue para o banheiro.
— O que ela tem? — pergunto para mudar o assunto.
— Enjoos, ela sente toda vez que come — diz Pedro.
— Logo passa, no início é assim mesmo. Bruno, por que está tão calado? — pergunta
minha mãe.
Todos os rostos sobre a mesa viram para Bruno que está ao lado de Regina.
— Nada, dona Marisa. — Sorri sem graça. — Só estou apreciando o sabor da comida,
mamãe diz que quem muito fala na hora de comer, acaba não sentindo o sabor do alimento
direito.
— Essa é boa — diz Joyce mexendo com o garfo no seu prato. — Minha mãe dizia isso
também, era engraçado quando ela puxava nossa orelha e dizia, “crianças, calem a boca e sintam
o sabor do meu tempero.”
— Ela dizia? — pergunta Caio.
— Sim, ela faleceu há alguns meses — diz a garota.
— Sinto muito, perdi meus pais também já faz alguns anos.
Mexo no meu prato e de repente sinto um peso no estômago, deixando a comida de lado e
bebendo um pouco mais de água.
— Não gostou da comida, Carlinhos? — pergunta Robertinho se lambuzando com a dele.
— Gostei sim, maninho — digo piscando. — Só estou me sentindo um pouco cheio, se
me derem licença.
Me levanto rapidamente da mesa e sigo para o banheiro, onde encontro Juliane lavando as
mãos.
— Já estou saindo e você pode entrar — diz sorrindo.
Entro no pequeno cômodo com ela e nos observamos no espelho, somos muito parecidos.
— O que você tem, Carlos? — pergunta Juliane passando batom. — Você parece meio
verde.
— Eu não sei, só me deu um frio na barriga.
A verdade é que me sinto muito mal por ter que mentir tanto para a minha família e isso
me deixa louco.
— Ah, já, já passa, clima de Natal... A propósito, seu patrão é bem gato e gostoso, hein?!
Não deixa o Pedro saber que te disse isso, mas não é de esquentar a cabeça, vi como ele te olha.
— O quê, como assim? — me faço de desentendido.
— Ah, Carlos, não se faça de desentendido.
Às vezes consigo ser tão transparente.
— Esse cara tá caidinho por você, vê se pega.
Juliane pisca para mim, abre a porta saindo e em nossa direção vem Caio sorrindo.
Engulo em seco e retribuo o sorriso.
— Vim ver como você está, o clima lá na cozinha não está muito legal, Regina não para
de me olhar como se tivesse cometido um assassinato, seu irmão não para de me encarar e fazer
perguntas sobre seu trabalho e sua mãe está bebendo mais uísque com Lucas, que me ofereceu
mais um gole.
“Parece que ele não trouxe só uma garrafa.”
— Desculpa, não era bem assim que imaginei nosso almoço de véspera, nem sei como vai
ser a noite, vou entender se quiser ir embora.
Ele entra um pouco mais no banheiro e encosta com seu corpo musculoso no batente.
— Não vou embora de jeito nenhum, esse é o primeiro Natal de verdade que tenho depois
da morte da minha mãe, os outros foram um saco, sempre as pessoas vinham me encher falando
como sou especial, e dessa vez o foco não sou eu, pelo menos não por completo.
Fico sem reação e ele sorri se aproximando.
— Obrigado por isso — diz e beija meus lábios devagar e suavemente.
A campainha toca e nos afastamos rapidamente, sabendo que quem for atender a porta
pode nos ver juntos.
Caio sai do banheiro e eu o sigo, então vamos direto pelo corredor, mas não antes de
pegar na sua mão e apertar.
— Obrigado por ter vindo — digo sorrindo.
Vamos para a sala e meu coração para quando vejo Eduardo entrando na minha casa com
uma cesta cheia de biscoitos caseiros e vinho. Ele sorri e beija o rosto da minha mãe, então seu
olhar cai sobre mim e Caio.
— SURPRESA! — grita mamãe. — Esse era o meu convidado especial, nada de namorado!
Vejo o quanto ela está alegre, porém não me preocupo com isso e encaro Eduardo, que me
olha sério.
— Oi, Carlos, parece que não gostou muito da minha visita, está surpreso? Faz tempo que
não te vejo, quantas semanas? Três? Quatro? Acho que perdi as contas.
Engulo em seco e minha mãe me olha sem entender.
— E esse ao seu lado só pode ser Caio Brown — diz entrando e vindo na nossa direção.
Ele aperta a mão de Caio e sorri. — Finalmente te conheci, e não parece com aquele cara
arrogante no telefone que falou comigo umas semanas atrás sobre....
— Muito prazer, Eduardo — corta Caio sério. — Então é você que vem falando comigo
muitas vezes quando preciso de alguns trabalhos da gráfica.
Eduardo ri alegre e concorda.
— Isso mesmo, o material te agradou agora que foi arrumado?
— Com toda a certeza — diz Caio e lembro que o material que fui retirar acabou nem
sendo retirado, mas alguém deve ter ido na empresa pegar para trocar.
— Carlos — diz Eduardo vindo na minha direção, ele dá a cesta para a minha mãe e me
abraça. — Não vai dizer nada?
— Oi, Eduardo, é bom que esteja entre nós— digo finalmente. — Sinta-se em casa.
— Com certeza, temos muito o que conversar — diz baixinho no meu ouvido.
— Concordo — respondo no mesmo tom, tapando a boca com o braço ao redor do seu
pescoço. — Mas não agora, mais tarde explico tudo.
— Espero — diz sorrindo e desgruda de mim.
— Você está bem, filho? — pergunta minha mãe meio alcoolizada. — Do que Eduardo
estava falando?
— Nada demais, dona Marisa — diz meu amigo rindo. — Bem, vamos continuar
comendo, quero comer sua comida, faz tanto tempo que não provo seu tempero.
Minha mãe sorri para Eduardo e os dois seguem para a cozinha. Olho Caio e ele sorri,
passando confiança para mim.
*
Depois da chegada de Eduardo não consegui comer mais nada, então esperei cada um
terminar de comer sua comida e ajudei minha mãe a limpar a louça assim como Juliane e Joyce
ajudaram. Caio se ofereceu para ajudar, mas o impedi e disse para ele ir para sala com os outros
homens.
Estendo o pano no fogão e vou devagar até a sala dar uma olhada em Caio enquanto
minha mãe e as meninas estão arrumando a mesa para o jantar, pois já passa um pouco das oito e
meia da noite.
Observo Caio atentamente e noto como ele parece jovem; conversa tranquilamente com
os outros rapazes e até sorri para Bruno, o que me deixa confuso.
Minha irmã cutuca meu braço e viro para ela.
— Você não disfarça mesmo o quanto está a fim dele — diz ao meu lado.
Ficamos parados olhando para Caio e sorrio.
— Fazer o que, ele é hipnotizante — respondo.
Regina vem para perto de nós, sorri e diz:
— Ele parece caidinho por você.
Bem na hora Caio olha para nós e revela um sorriso cativante.
— Meninos, o jantar já está na mesa — diz minha mãe.
Ela está bastante alegre por conta do uísque e rio mais uma vez disso, então vejo todos se
levantarem e seguirem de volta para a mesa.
Caio senta ao meu lado de novo, o que me anima um pouco, mas de frente para mim
agora está Eduardo, o que me deixa desconfortável.
— Bem, como já agradecemos mais cedo, vamos pular essa parte e aproveitar o peru —
diz minha mãe sorrindo. — Mais tarde temos a torta que Caio trouxe e vamos acender a árvore.
Todos concordam e me sirvo de lentilha, arroz e peru. Vejo Caio pegar o mesmo que eu e
um sorriso em seu rosto se forma, o que me anima muito.
Hoje ele está sorrindo bastante.
— E então, Carlos — diz Eduardo após se servir. — Como vai o emprego novo? O
pessoal sente muito sua falta lá na gráfica.
Mais uma vez, vejo o assunto ser eu na mesa, mas agora não estou tão nervoso como mais
cedo, então o respondo com naturalidade.
— Ah, sinto falta deles também — digo tentando sorrir. — Mas o emprego com Caio é
fantástico, uma grande oportunidade de crescimento.
— Vejo que sim — diz Ed. — Agora me diz, como que consegue uma sorte dessas?
Queria eu arrumar outro emprego bem longe daquela gráfica, apesar de gostar do lugar, gostaria
de ganhar mais.
— Você sempre adorou trabalhar lá — respondo.
Todos na mesa estão em silêncio nos observando.
— Verdade, mas agora quero crescer assim como você — Pisca para mim e sinto vontade
de mandá-lo a merda.
“O que ele pensa que está fazendo?
Seria uma chantagem ou somente impressão minha?”
— É mesmo, Carlos — diz meu irmão de repente. — Você não nos disse como conseguiu
uma entrevista com o senhor Caio.
Caio dá uma risada ao meu lado e não entendo nada.
— Às vezes às coisas vêm até nós, no caso de Carlos aconteceu exatamente isso... Eu o
vi, gostei da maneira que trabalhava e ofereci a entrevista.
Agradeço a Caio mentalmente e todos na mesa sorriem.
— Por favor, chega de falar de trabalho — pede Regina. — Adoro trabalhar com Caio,
mas hoje é véspera de Natal, vamos aproveitar.
Concordo com ela e continuamos comendo e falando sobre assuntos aleatórios. Rezo para
que aquilo acabe logo, e depois do que parece ser uma eternidade, terminamos o jantar e vamos
para a sala.
*
Olho a hora e vejo que são dez e meia da noite, o que me espanta, então ouço Robertinho
jogando videogame com Lucas e depois com Rafael.
Parece que meu amigo perde para o meu irmão e dou risada disso.
— Quero jogar com Caio — diz Robertinho.
Caio se espanta e olho para ele, rindo daquilo tudo.
— Ele não vai te deixar em paz até que você jogue com ele — diz minha irmã ao meu
dominador.
— Hum, tá legal — diz Caio pegando o controle. — Se prepare para perder, mocinho.
Os dois escolhem seus jogadores e logo estão em um cenário lutando. Robertinho aperta
todos os botões para matar Caio, mas ele parece tranquilo e acerta o avatar do meu irmão várias
vezes.
— Usa o especial! O especial! — diz Bruno para meu irmão.
Ed se diverte, parece menos tenso e não me falou nada até agora.
Robertinho tenta acertar Caio, mas ele aperta um dos botões e o “especial” acerta o avatar
do Robertinho, que cai logo em seguida morto.
— Ah, nossa — diz meu irmão batendo com a mão na testa. — Perdi dessa vez, mas vou
querer revanche depois.
Robertinho joga o controle na minha mão e me olha atentamente.
— Derruba o Caio, Carlos — pede.
Olho para Caio que ri tranquilamente e dou de ombros.
— Não custa tentar — digo escolhendo um dos jogadores.
Caio faz o mesmo e logo estamos em outro cenário prontos para nos enfrentar, ele se
aproxima do meu personagem e tenta usar uma faca. Pulo para trás, abaixo e dou um chute nele.
O personagem de Caio cai, logo uso uma flecha para acertar bem no meio do seu peito e vejo a
vida do meu adversário diminuir rapidamente.
Mas ainda não acabou, Caio troca a arma do seu personagem e acerta com tudo, bem no
meio do peito do meu personagem que cai e metade da minha vida sai.
— Putz — diz meu irmão Rafael rindo.
Olho para ele e reviro os olhos, então corro para cima do personagem de Caio e me jogo
em cima dele. Os dois vão ao chão, rolando sem parar, então aperto um dos botões e meu
personagem “ativa” seu poder especial, atingindo o peito do meu adversário e o deixando no
chão morto.
— É, parece que não sou tão bom quanto pensei — diz Caio passando o controle para
Pedro.
— Isso! Isso! — diz Robertinho rindo. — Você perdeu, Caio.
Caio levanta rindo e faço o mesmo, entrego meu controle para Joyce e vou na direção
dele, juntos vamos para cozinha e o observo.
— Ganhei de você — digo piscando. — Pensei que era ruim somente em xadrez.
— Você me provou hoje que sou péssimo em videogames também — responde rindo.
Dou uma olhada na direção da sala e vejo Eduardo nos olhando. Volto meu olhar para
Caio e mordo o lábio.
— Acha que ele vai dizer alguma coisa? — pergunto nervoso.
— Não, não vai — diz Caio olhando a hora. — Bem, é onze e meia, que tal pegarmos os
champagnes?
— Pode ser, mas antes...
Vamos mais para dentro da cozinha, puxo sua mão, então beijo seus lábios macios e o
abraço.
— Seria loucura dizer que tô a fim? Quero dizer, com mordaças, plugues, e o que mais
tiver.
Caio ri e sinto seu pau começar a ficar duro, então ele me beija novamente e fico sem ar.
Seu beijo é quente e sensual, sempre combinando perfeitamente com minha boca. Passo minhas
mãos pelos seus braços e sorrio, então ouço um pigarreio atrás de nós e vejo Eduardo parado de
braços cruzados perto de nós.
— Interrompo? — pergunta sério.
Caio se afasta de mim e fico vermelho de vergonha.
— Não se preocupem, não vou falar nada, já que querem segredo, vai ser segredo, mas
preciso de explicações, Carlos.
Olho para Caio e ouço todos na sala rindo e gritando por Joyce ter ganhado do meu irmão.
— Por que de repente Caio Brown atende seu celular e diz que você não vai mais
trabalhar na gráfica, depois pede para eu não dizer nada e em troca me dá um cheque de dez mil
reais? Gostei de ter ganhado o dinheiro, me ajudou a terminar de pagar meu apartamento, mas
quando ligo na sua casa, sua mãe me pergunta se quero falar com você por conta de um
empréstimo que a empresa te fez e aí paro e vejo que eles não fizeram empréstimo nenhum,
porque lá eles não fazem isso e sou obrigado a dizer para sua mãe que quero falar com você
exatamente sobre isso, e acertar o que te devemos.
Só escuto e não consigo dizer nada, já tem muita gente envolvida nisso tudo.
Bruno, Lucas, e agora Eduardo?
Aquilo já é demais e não posso dizer a Ed que fui trabalhar com Caio porque sou um
submisso para pagar por um roubo.
— Estou esperando a resposta — diz ele.
Olho para Caio e o vejo acenar, então volto meu olhar para Eduardo e aponto para a porta.
— Aqui dentro não. Caio, volta para a sala e diz para os outros que talvez Eduardo e eu
vamos nos atrasar um pouco para o brinde.
Caio concorda e olha para o relógio.
— Falta 25 minutos para meia-noite.
Concordo e sigo para fora com Eduardo na minha cola.
Abro a porta e recebo o ar gelado da noite em meu rosto, a rua está bem clara por conta de
todos os enfeites natalinos nas casas e isso de alguma maneira me acalma um pouco.
— Vou te dizer o necessário — digo para meu amigo.
— Vá em frente.
Paramos perto da árvore no meu quintal e então suspiro.
— Ed, as coisas em casa estavam muito difíceis, então tive que tomar decisões drásticas
quanto a isso — digo olhando a lua cheia no céu. — Caio de uma maneira e de outra me ajudou,
o agradeço muito por isso e posso até te dizer que estou completamente apaixonado por ele.
Eduardo me olha sem entender e suspiro.
— Fiz algo de errado e tive que pagar. Caio me deu duas escolhas, uma delas era eu ser
seu escravo sexual.
Ed me olha com os olhos arregalados e abaixo a cabeça.
— Você tem que entender que eu escolhi isso por causa da minha família, viu o olhar de
felicidade da minha mãe? A alegria de Robertinho por ter presentes esse ano? Também tínhamos
contas atrasadas e logo descobrimos a doença do meu irmão, então aceitei ser submisso de Caio
Brown e como minha mãe não pode saber disso, acabei mentindo para ela e dizendo que trabalho
para ele.
Eduardo só escuta o que começa a me perturbar.
— Você acha certo mentir desse jeito para sua mãe? — pergunta depois de um tempo.
Fortes lágrimas invadem meus olhos e nego com a cabeça.
— Sei que não deveria mentir para a mulher que me ajudou tanto, me ama e me aceita do
jeito que eu sou, mas não tenho escolha.
— Você tinha duas escolhas, qual era a outra?
— Disse que só diria o necessário — respondo.
— Como você pôde se apaixonar por um homem que te obriga a foder com ele?! —
Eduardo aumenta um pouco a voz e me assusto.
— Hoje em dia ele não me obriga... Na maioria das vezes faço porque quero, claro que as
vezes tenho que fazer o que ele manda, mas não é tão ruim assim.
Ele me olha e ergue a sobrancelha.
— Não sei como aconteceu, mas me apaixonei por Caio. Foi algo que não queria aceitar e
chorei muito por conta disso. — Olho meu amigo e seco as lágrimas. — Não escolhemos por
quem vamos nos apaixonar, simplesmente acontece, o amor nos escolhe.
Olho para o céu e sorrio.
— Caio Brown é um homem bom, tem seus defeitos assim como qualquer um, mas tem
um coração enorme e cheio de amor para dar. Aceito gostar dele, não vejo problema algum
nisso, somos pessoas solteiras, qual seria o problema?
— A maneira que isso começou é o problema, mas quem sou eu para te julgar? Só não
minta mais para a sua mãe, evita isso, pois ela morreria por você. E boa sorte na sua decisão, não
voltaremos a nos falar mais, não consigo compactuar com isso e ficar quieto.
Eduardo vira as costas para mim e entra em casa novamente.
Começo a chorar ao ouvir que perdi uma grande amizade e vejo Caio saindo com duas
taças na mão, logo me entregando uma.
— Ouvi o que ele disse, sinto muito por fazer você perder uma amizade.
Ouço isso e penso se Caio também ouviu eu dizer que gosto dele.
“Se ouvisse, teria comentado alguma coisa comigo”
— Não se preocupa, se fosse uma amizade verdadeira e sincera, não acabaria — digo
esquecendo o pensamento.
— Anda, vamos lá — diz mudando de assunto. — Sei que é difícil, mas vamos esquecer
isso hoje, falta poucos minutos para a meia-noite.
Seco as lágrimas restantes e bebo um pouco da taça, sorrindo para meu dominador.
Seguimos para dentro da casa e vejo todos, menos minha irmã e Robertinho, com suas
bebidas em mãos.
— Um minuto, filho — diz mamãe.
Robertinho segura a tomada da árvore com um olhar cheio de alegria, embaixo dela têm
presentes para todos, inclusive para Caio que comprei já faz algumas semanas.
— Dez, nove, oito — Todos começam a contagem regressiva juntos, e Caio me
acompanha alegremente. — Quatro, três, dois, um...
— Feliz Natal — sussurra Caio no meu ouvido.
Todos gritam juntos e abraço Caio alegre.
— Feliz Natal, tenho uma coisa para você.
Me afasto antes que possa dizer alguma coisa e cumprimento os outros, até mesmo
Eduardo, apenas por questão de não levantarmos suspeitas. Robertinho acende a árvore alegre e
sorrio de longe para Caio, vibrando com toda aquela alegria.
Logo os presentes são entregues e ganho quatro, dois sendo duas séries de livros que eu
gosto, “Harry Potter” e “Percy Jackson”, e os outros são duas camisetas.
— Não comprei nada para você, Caio — diz minha mãe. — Não sabia que você vinha...
— Não se preocupa, dona Marisa, vou pegar o presente de vocês e volto num instante.
Caio vai até a porta e me surpreendo.
“Ele comprou presentes para nós?”
— Nossa, não comprei nada para ele — diz Regina.
— Eu comprei — digo com um embrulho em mãos, e espero de coração que ele goste.
Caio volta com vários pacotes para dentro de casa, ele entrega um enorme para
Robertinho e vai distribuindo os outros. Quando fiz o convite para ele e Caio aceitou, contei
quem estaria lá, mas não imaginei que ele compraria presentes para todos.
Robertinho ganhou um Kinect e 32 jogos novos, minha mãe ganhou um colar de pérolas e
um vestido preto, Juliane ganhou um vale compras, assim como Regina. A única das mulheres
que ficou sem presente, foi Joyce, que até mesmo eu não sabia de sua presença até aquela manhã.
— Meu Deus, é lindo — diz minha mãe feliz. — Não posso aceitar esse colar, deve ter
custado muito dinheiro.
— Não pensem nisso, é de coração.
Sorrio alegre para Caio e então ele entrega para Lucas e Rafael uma embalagem simples,
e de dentro eles retiram uma bela safra de 1817.
— Puta que pariu! Isso é incrível, deve ser a safra mais cara que vou beber a minha vida
inteira — diz Rafael.
Lucas pega a garrafa da mão do namorado e o beija.
— É por isso que vamos deixar para nosso noivado, obrigado, Caio. — Lucas vai até ele e
o abraça.
Caio retribui o abraço e sorri.
— Isso não é nada.
Ele entrega uma embalagem para meu irmão, e uma para Pedro.
— Bem, eu não sabia o que dar para você, então...
Os dois abrem e de dentro tiram um cheque no valor de um mil reais cada, olho absorto
para Caio e suspiro de frustração.
“Ele deu dinheiro para meu irmão?”
— Bem, esse é para Bruno — diz Caio, e entrega também um cheque que não consigo ver
o valor. — Eu não sabia da presença da senhorita, e nem da sua, Eduardo, então não trouxe nada,
mas posso resolver isso agora mesmo.
Ele tira um talão de cheques do bolso e faz um para Joyce, mas Eduardo se recusa.
— Você já me deu meu presente de Natal — diz meu amigo se referindo aos dez mil
reais, outra coisa que Caio teria que me explicar depois. — Fico feliz que tenha dado um bom
emprego para Carlos.
A sala cai num silêncio absorto e Joyce quebra agradecendo pelo cheque.
— E por último o seu, Carlos — diz Caio.
Me levanto e estendo a embalagem para Caio.
— Antes pegue o seu, não é tão luxuoso quanto esses que você deu para a minha família,
mas é de coração.
Caio pega e sorri, então abre e de dentro tira um novo iPod e mordaças com um par de
algemas. Ele sorri mais ainda sem tirar os acessórios da caixa e mostra o aparelho pequeno.
— Criei uma playlist, o nome é “Playlist Carlos e Caio” — digo sorrindo. — Tem
algumas músicas que gosto e podemos adicionar mais depois.
Ele concorda e vem na minha direção, por um segundo penso que ele irá me beijar, mas
ele só me abraça.
— Obrigado, não só pelo presente, mas por esse Natal.
Concordo alegre e todos sorrimos.
— Vamos ver seu presente, está lá fora.
Olho para minha família e amigos e dou de ombros, seguimos para o lado de fora e quase
caio para trás ao ver o meu presente.
Ele é prata, com um laço vermelho em cima.
Abro a boca e não sai nada.
— Caralho — diz meu irmão Rafael. — É um Porshe Carrera GT!
Capítulo 33 - Semana monótona
Acordo na segunda-feira após ter sonhado mais uma vez com o presente que Caio me
deu.
Ainda não consigo acreditar que ele me deu aquele Porshe que ele disse que eu não iria
dirigir; a desculpa era que eu iria embora de São Paulo na mesma hora, mas eu sabia que não
conseguiria fazer isso.
Sorrio e me deixo levar novamente para o Natal...
Olho o presente que Caio me deu e fico de boca aberta, aquilo não pode ser verdade.
Caio está mesmo me dando aquele carro?
Era loucura aquilo, havia dado um simples iPod para ele, coisa que ele já até tinha e ele
me deu um carro?
—Vai vê-lo — diz meu dominador.
Forço minhas pernas a andarem e vou até o carro. Abro a porta e entro, segurando o
volante e sorrindo de alegria.
“Meu, esse carro é meu, mas não seria muito abuso aceitá-lo?”
Resolvo não pensar nisso e abro a janela do passageiro.
— Vamos dar uma volta juntos — digo para Caio e ele vem rapidamente para dentro do
carro como um cachorrinho alegre para passear.
Ligo o carro e dou partida, minha família e amigos ficam nos olhando alegres com aquilo,
então logo saio do meio-fio e sigo a rua até o fim.
— Isso é loucura, Caio. Você está me dando esse carro. — Paro no farol e olho para ele,
um sorriso se forma em seu rosto e ele concorda.
— Estou te dando ele sim... Pode ser loucura, mas não vejo problema nenhum nisso.
O farol abre novamente e dou partida, em silêncio ainda por não conseguir acreditar no
que está acontecendo.
— Por que você deu todos aqueles presentes para minha família?
— Simplesmente quis — responde sorrindo.
Sorrio de volta e paro o carro em uma rua pouco movimentada, olho para Caio e sigo com
minha mão para seu rosto, mas então paro no meio do caminho e a deixo cair.
— Por favor, me toque — pede com a voz embargada.
Engulo em seco e ergo minha mão novamente, tocando seu lindo rosto barbudo.
— Seu toque é tão bom — diz sorrindo. — Carlos, não sei o que está acontecendo
comigo, mas você me faz tão bem.
Fico paralisado ao ouvir isso e ele segura minha mão.
O que Luke tinha dito sobre Caio se apaixonar já estava se concretizando?
Mas aí me lembro do que ele disse para Christopher.
— Obrigado por ter me convidado — diz e sinto uma agonia tomar conta de mim. —
Depois que meu pai foi preso, minha mãe e eu deixamos de comemorar Natais e Ano Novo, ela
se entregou completamente a doença e não saía mais do seu quarto.
— Caio... — Sei o quão doloroso é para ele falar sobre seus pais.
— Não, ouça. Depois que ela morreu, vi o quão somos meros mortais, não adianta termos
todo o dinheiro do mundo se não temos amor. Só fui amado uma vez na vida e a pessoa que me
amou, morreu.
“Já perdi muito, Carlos, minha mãe, meu pai e essa pessoa. Dar presente para sua família
não foi nada, cada centavo foi gasto com alegria e nunca me senti tão feliz quando recebi o
convite seu para passar o Natal aqui.”
“Depois que voltamos do mercado e você foi embora, liguei para meus funcionários e
ordenei que eles dessem um jeito o mais rápido possível para conseguir esses presentes. Dei
porque quis, e mesmo todo o dinheiro ou todos os Porshes do mundo, nada disso vai trazer o
presente mais valioso que tive, que era a minha família. Admiro isso em você, você os amam de
uma maneira inexplicável, e foi por isso e outros motivos que não quis te colocar atrás das
grades.”
Caio para de falar e quando olha para mim há lágrimas em seus olhos.
Aperto sua mão e sinto meus olhos se encherem de lágrimas.
— O que você quer dizer com “não quis colocar você atrás das grades”?
— Quando você entrou no meu escritório, percebi a dor e o medo em seus olhos, percebi
que faria tudo para proteger e ajudar sua família, para você pagar de algum jeito, disse que o
prenderia, mas não teria coragem e vendo sua família hoje, percebi que eu realmente não iria
conseguir.
“Sua mãe disse que você é um exemplo a ser seguido, e concordo com ela, quem faria e
aceitaria o que você fez e aceitou pela família?”
“Não sei se eu seria tão corajoso quanto você.”
Estou espantado com tudo que Caio fala, nunca imaginei que ele pensasse isso sobre mim.
— Você é muito corajoso, tinha tudo para o fracasso; a morte da sua mãe e dessa pessoa,
seu pai preso, ninguém mais para te apoiar, mas você decidiu vencer e conseguiu.
Caio olha nos meus olhos e concorda.
Tento sorrir para ele, mas não consigo, aquilo é uma coisa séria e estamos sendo sinceros
um com o outro.
Sinto uma forte ligação com ele e aperto sua mão.
— Você não me conhece, Carlos, já te disse isso, se realmente soubesse o que já fiz, o que
sou, você não ficaria comigo nem mais um segundo.
— Nesse um mês que eu te conheço, você me ensinou muitas coisas e a cada dia aprendo
mais, não pense desse jeito.
— Carlos, sou um monstro... Como você pode aprender coisas com um monstro?
Não digo nada, apesar de gostar de Caio e esperar que aquilo desse certo, ele havia me
forçado a ser seu submisso, o que acarretou lembranças avassaladoras do meu passado
traumático.
Seria esse o motivo dele se achar um monstro?
Mas no fundo sabia que não, era outra coisa, podia sentir isso, só não sabia o quê.
Percebi nessa noite, olhando nos olhos dele que, primeiro; Caio é um homem com um
escudo e por trás dele não passa de uma criança desprotegida. Segundo; meu dominador não tem
ninguém a não ser eu, e se num futuro eu não estiver mais com ele, o enigmático senhor Brown
voltará para seu casulo e se tornará o homem mais severo que já vira. Terceiro; Caio tem um
passado perturbador e cheio de lembranças ruins, nelas incluem a morte de seus pais e da pessoa
que ele amou, fora Christopher Reid, o que me deu mais certeza de que Caio Brown é sim capaz
de amar. E quarta; estou louco e desesperadamente apaixonado por ele.
Eu sabia que tínhamos cerca de 99% de chances daquilo não dar certo, mas faria de tudo
para que desse.
*
No sábado fomos para a casa de Lucas e passamos o dia lá, Caio estava ainda mais à
vontade com minha família e amigos. Meu irmão e Joyce não haviam ido, decidiram ir para a
casa da garota e passarem lá sozinhos ou ao menos era isso que eles disseram para minha mãe.
Eduardo também não foi, o que me deu a certeza que ele estava completamente
desapontado comigo e realmente nossa amizade teria chegando ao fim. Não o culpava, afinal,
pedi para ele esconder coisas terríveis, mas também não podia ficar triste por conta disso, se ele
fosse meu amigo mesmo, me apoiaria e não julgaria.
Juliane e Pedro estavam deitados no quarto de hospedes na casa de Lucas, minha irmã
sentia muito enjoos e por isso não dormiu nada, fazendo assim Pedro também não dormir.
Robertinho havia levado um dos seus novos jogos para jogar na casa de Lucas e o volume
da TV estava baixo na sala.
Mamãe está na cozinha preparando o café da tarde para nós, a hora havia passado tão
rápido que nem percebemos que o Natal já está chegando ao fim.
Aperto a mão de Caio disfarçadamente e ele sorri para mim. Perto de Lucas e Rafael não
preciso me esconder, e como Bruno já havia ido embora com Regina, me sinto mais à vontade.
Logo chega ao fim da noite e decidimos ir embora. Me despeço dos meus amigos e
Juliane e Pedro nos acompanham.
Os dois entram no carro deles e se despendem de nós.
— Vê se aparecem lá em casa — diz minha irmã sonolenta. — Vou combinar um almoço
lá, Caio também está convidado.
Meu dominador concorda sorrindo e eles vão embora.
— Bem, vamos — digo entrando no meu carro novo.
Minha mãe vai atrás com Robertinho, que dorme por se queixar de dor de cabeça. Caio
vem na frente ao meu lado, ligo o som baixinho e dou partida com todos em silêncio.
— Foi muito bom — diz minha mãe alegre. — Não vejo a hora de chegar o próximo final
de semana para o Ano Novo.
Sorrio para ela e concordo, então chegamos em casa em poucos minutos e logo minha
mãe sai com meu irmãozinho.
Caio não tinha vindo de carro, então eu o levaria.
— Até mais, Caio — diz dona Marisa. — Foi muito bom conhecer você, filho, e obrigada
por tudo.
— Eu que agradeço, dona Marisa — diz Caio sorrindo. — Foi um prazer, nos vemos em
breve.
Minha mãe concorda e entra em casa com meu irmão.
— Vamos? — pergunto e dou partida.
*
Em poucos minutos Caio já está na frente do prédio, ele se apoia na janela do carro e
sorri.
— Nos vemos amanhã, como agora você tem um carro, não preciso mais buscar você.
Ele se aproxima de mim e me dá um beijo molhado, então nos despedimos e vou para
casa.
*
Saio das minhas lembranças e sigo para o banho. Ontem, domingo, Caio e eu havíamos
malhado o dia todo e depois Edgar apareceu para me dar aulas.
E hoje a rotina voltou ao normal, abro o chuveiro e deixo a água quente cair no meu
corpo, gemo de alívio e sorrio com as lembranças que me acarretam.
As palavras de Caio não saem da minha mente, o que faz eu começar a acreditar que ele
está se apaixonando por mim, mas isso não seria loucura?
E se eu estivesse tão apaixonado por ele, a ponto de acreditar que é recíproco, quando na
verdade, não é?
Deixo de pensar nisso e fecho o chuveiro, pego minha toalha e saio do banheiro para me
trocar no quarto, já que Rafael não tinha voltado para casa ainda.
Coloco calça jeans, camiseta polo, arrumo meu cabelo e logo coloco meu tênis. Saio do
quarto e vou direto para a cozinha, onde encontro minha mãe e Robertinho comendo.
— Bom dia, meu filho — diz me dando um beijo no rosto. — Vai trabalhar?
— Bom dia, mãe — respondo sorrindo. Dou um beijo nela e em Robertinho e concordo.
— Vou trabalhar sim, só vou comer e já saio.
— Ah, sim, tudo bem, vou lavar roupa, manda lembranças para Caio.
Volto a concordar e ela sai em direção a lavanderia.
— E você, garotão — digo mexendo no cabelo de Robertinho. — Como se sente?
— Estou bem, minha dor de cabeça passou, os remédios me deixam meio tonto e mamãe
diz que é normal, por causa dessa sementinha que nasceu na minha cabeça.
Ouço aquilo tudo quieto.
Como uma criança tão jovem pode lidar com isso tudo?
— Qualquer dor forte que sentir, nos avise, queremos você bem.
— Pode deixar, Carlinhos, é só uma sementinha!
Sinto vontade de chorar ao ouvir aquilo e concordo.
Logo volto a tomar café e assim que termino, me levanto pronto para sair.
Porém, antes de sair, sigo até o meu quarto, tranco a porta e tiro a gaveta. Encaro os
papéis do contrato de submissão e o analiso. Logo o guardo novamente e penso que pode estar
chegando a hora de assiná-los.
*
Naquele dia eu fiz alguns treinos novos com Caio, depois corremos um pouco na rua.
Edgar me ensinou algumas coisas novas e me fez decorar outras que já sabia; como ele dissera,
era bom relembrar para não passar vergonha.
Terça foi um dia completamente parado, Caio teve que ir na empresa e então fiquei no seu
apartamento com meu professor, aquilo me desanimou muito, afinal já estava acostumado com
ele no apartamento enquanto eu aprendia.
Quarta foi um pouco diferente, Caio estava no apartamento, mas só saiu do escritório na
hora do almoço. Comemos os três, Caio, Edgar, e eu, em silêncio, e após a refeição, meu
dominador pediu licença e voltou a trabalhar.
— Argh! — digo quando vejo a porta se fechar.
— Está tudo bem, querido? — pergunta Edgar deixando o prato de lado. — Percebi como
você encara o senhor Caio, você gosta dele?
Olho para Edgar e suspiro.
— Gosto, mas é melhor esquecermos isso e voltarmos a aula.
— Ah, não vamos mais ter aula por hoje, tenho um compromisso já, já e o senhor Caio já
sabe. — Levanta e vai até a sala voltando com sua bolsa nas mãos e o óculos no rosto. —
Obrigado pelo almoço, nos vemos depois do dia 5, bom Ano Novo, que você tenha muita
prosperidade, sorte com o galã e aprenda essas etiquetas logo. — Se despede me dando dois
beijos no rosto e vai na direção da porta.
— Espera, por que não teremos aula amanhã e nem sexta?
— O senhor Caio disse para eu não vir, ele paga meu salário e eu obedeço.
A porta abre e ele vai embora, me deixando sozinho.
Decido ir até o escritório do meu dominador e bato na porta desanimado.
— Pode entrar — diz.
Entro e fico parado na sua frente.
— Edgar acabou de ir embora, ele disse que só voltamos com as aulas dia 5, quer que eu
faça alguma coisa para você?
— Não se preocupa — diz olhando o computador. — Dispensei Edgar por uns dias, vi
que você anda meio cansado.
— Sim, é verdade — respondo sem animação.
— Pode ir para casa se quiser, nos vemos amanhã.
Fico chateado com isso e assinto, sem ao menos saber se ele viu ou não, então viro de
costas e saio.
A verdade é que eu estou desanimado por não ter Caio ultimamente, e isso me deixa um
tanto louco. Sigo para a porta, abro, viro de costas esperando ver meu dominador na porta do
escritório e me deparo com o corredor vazio.
— Caralho — digo e saio batendo a porta nervoso.
*
— Você está cada vez melhor nos treinos — diz Caio na quinta-feira de manhã.
— Obrigado. — Largo o peso e levanto sério.
— Você está bem, Carlos? — pergunta me observando.
Olho para ele e suspiro de raiva.
— Estou sim.
— Parece nervoso.
— Talvez esteja.
— Aconteceu alguma coisa?
Vamos para dentro do apartamento e balanço a cabeça.
— Você está fodendo com a minha cabeça, Caio — digo parando perto do seu quarto.
— Do que você está falando?
— Sabe quantos dias não nos beijamos? — pergunto nervoso. — Desde domingo! Isso
está me deixando louco.
Caio me olha, tira a camisa e seu peitoral liso está suado.
— Então esse é o problema? Não estarmos nos pegando?
Fico quieto e me sinto constrangido.
— Bem, sim... Eu tô super a fim de te beijar nesse exato momento e você aí.
Caio está um pouco longe de mim, somente com seu tênis e bermuda larga, ele segura seu
pau por cima da roupa para me provocar e vou ao delírio.
— Por favor — digo com água na boca.
— Fique onde está — diz em tom autoritário. — Tire essa camiseta, Carlos, e logo em
seguida a bermuda.
Olho para ele e vejo Caio tirando seu tênis e sua bermuda, ficando somente com uma
cueca boxer azul escura. Obedeço e tiro a camiseta, jogando no chão, logo tiro o tênis e a
bermuda, ficando só de cueca. O volume nela aumenta ao ver o grande volume de Caio.
— Isso mesmo — diz Caio acariciando seu peito nu.
Ele aperta seus mamilos e morde o lábio inferior.
Ainda não assinei o contrato, mas sei que não posso me tocar sem uma ordem dele, então
espero, sentindo meu tesão aumentar ainda mais.
Caio alisa seu peito com uma das mãos e com a outra aperta seu pau ainda por cima da
cueca. Ele sorri para mim, sabendo que estou louco para correr na sua direção e fazer loucuras.
— Aperte seus mamilos, Carlos — diz com uma voz sensual e cheia de desejo.
Obedeço e rapidamente uma das minhas mãos está sobre meus mamilos, indo de um para
o outro. Sinto um prazer enorme tomar conta de mim e solto um gemido baixo.
— Aperta seu pau com a outra mão, Carlos — ordena Caio.
Faço o que ele me pede e logo estamos os dois nos alisando e apertando nossos membros.
Quero diminuir nossa distância e quando dou um passo, Caio nega com a cabeça.
— Fica onde está — sussurra.
Vejo Caio enfiar a mão dentro da cueca, pegar seu pau e vou ao delírio, desejando estar
no seu lugar.
— Faça o mesmo — volta a sussurrar.
Obedeço enfiando minha mão dentro da cueca, agarro meu pau que está quente e duro e
solto outro gemido.
— Se masturba para mim, Carlos.
Abaixo a cueca até os joelhos e começo a me masturbar, sempre olhando para o delicioso
corpo do Caio e seu sorriso. Meu olhar vai para seu pau quando ele o tira para fora e me sinto
mais excitado.
Caio começa a se masturbar e ficamos um desejando o corpo do outro de longe, tenho
vontade de parar com aquilo tudo e correr, mas continuo e com o tempo aumento os movimentos
vaivém.
Caio acelera os movimentos e gememos mais alto e estamos prontos para o ápice, mas sei
que ainda não é hora e tento segurar o máximo.
— Quando acabarmos — diz Caio com sua voz sexy. — Vou prender seus braços com as
algemas que me deu nessa escada e te foder loucamente.
Sinto um frio na barriga tomar conta de mim e lambo os lábios, desejando que aquele
momento aconteça logo.
— Por favor... — peço entre gemidos.
— Goza, Carlos, goza para mim, vai, antes você não era ativo?
— Sim.
— Então... — Vira de costas e me mostra sua linda bunda depois vira o pescoço e
continua se masturbando. — Imagina que você está me fodendo, que toda essa porra vai para
dentro de mim.
— Meu Deus, Caio — digo olhando seu delicioso corpo, me atento a sua bunda e meu
pau dói de tanto tesão.
— Isso, imagina que vou te dar bem gostoso, sentar no seu pau e fazer você gozar.
Quando Caio diz isso, solto um gemido alto e vários jatos de porra disparam do meu pau.
Me masturbo até parar e logo estou ofegando enquanto Caio vira ainda se masturbando e
sorri.
— Agora vou te foder.
Vejo ele subir a escada, entrar no quarto e logo em seguida descer os degraus lentamente.
Vou na sua direção me sentindo nervoso e excitado, então paro próximo do primeiro
degrau.
— Agora vou te foder — repete e vem na minha direção.
Nossos lábios se encontram e solto um gemido, ansioso por cada parte de seu corpo, ele
me beija desesperado, descendo para meu pescoço e voltando para meus lábios. Nossos corpos
estão colados, seu pau encostando no meu, se encaixando perfeitamente.
— Como eu te quero — diz me beijando. — Como desejo esse corpo.
Caio me vira de costas e coloca minhas mãos sobre o corrimão, por baixo ele passa um
lado da algema e prende, então segue para meu outro pulso.
Estou preso e Caio pode fazer o que quiser comigo.
Ele beija minhas costas e vai descendo com seu pau encostando no meu corpo.
Não digo nada, só consigo sentir o tesão e desejo que temos um pelo outro.
Ele beija minhas costas até o fim e logo está de joelhos, abre minha bunda com suas mãos
quentes e morde uma das nádegas, em seguida, Caio investe com tudo e logo sua língua está no
meu sexo.
Delírio de prazer ao sentir aquele toque tão pessoal, isso está cada vez melhor e fico
desejando por mais. Caio para, levanta, vejo que ele segura seu pau e bate com ele na minha
entrada, então o coloca lá e enfia.
De início dói, mas não de uma maneira dolorosa ou invasiva, diferente das minhas duas
primeiras vezes como passivo, eu quero aquilo.
Logo todo o pênis de Caio está dentro de mim.
Ele encosta as costas em mim, beija minha nuca, morde minha orelha e começa com os
movimentos. Me seguro com força no corrimão, desejando beijar Caio e ver seu olhar de tesão.
Nós dois começamos a gemer e os movimentos aumentam.
Desejo que Caio vá mais e mais rápido, e é o que ele faz, o que me leva a loucura.
— Você me faz tão bem — diz gozando dentro de mim.
Mesmo após gozar, Caio não para e continua me comendo, sua mão vai até meu pau e ele
o agarra, então começa a me masturbar até eu gozar, e juntos, damos um grito de prazer.
Capítulo 34 - Ano Novo
Sexta-feira amanhece fria e com as ruas movimentadas.
Levanto da cama, vou direto para o banho e me lavo rapidamente. Corro para o quarto
para me trocar, hoje é dia 31, o último dia do ano de 2014.
Me troco e vou direto para a cozinha, onde estão Joyce, Rafael, minha mãe e Robertinho
sentados tomando café.
— Bom dia — digo a todos me sentando rapidamente.
— Bom dia — respondem em uníssono.
— Parece agitado, meu filho — diz minha mãe bebericando seu café. — Houve alguma
coisa? Vai sair?
— Vou sim — digo enchendo a xícara e pegando um pão. — Vou ter que ajudar o Caio
agora de manhã em um trabalho e depois seguiremos para cá, o chamei para passar o Ano Novo
conosco.
— Que bom, ele parece ser tão sozinho — diz minha mãe.
Concordo e começo a comer.
— Então Carlos finalmente arrumou um namorado — diz meu irmão rindo e passando um
dos seus braços nas costas da cadeira de Joyce. — Já estava na hora, mano, achei que morreria
virgem.
Mostro o dedo do meio para ele sem que Robertinho veja e faço cara feia.
— Caio não é meu namorado e desde quando você apoia minha sexualidade? Cuida da
sua vida, Rafael, da minha cuido eu.
Me levanto rapidamente da mesa e me despeço de todos.
— Que estresse — diz revirando os olhos.
Abro a porta depois que pego a chave do meu carro e saio na rua. Graças a Deus moramos
em um bairro calmo e que não acontece muita coisa, então o carro que Caio me deu pode ficar na
“garagem” que tem em frente de casa, sem nenhuma proteção.
Entro no carro, dou partida e rapidamente me infiltro no trânsito de São Paulo. Caio disse
que poderia ficar em casa hoje na parte da manhã e que mais tarde nos encontraríamos em casa.
O chamei para passar o Ano Novo com a gente e ele rapidamente aceitou, mas disse que após dar
meia-noite, lá para uma da manhã, iria para sua casa onde acenderia velas para sua mãe.
E é justamente isso que estou indo buscar; velas. Pode parecer ridículo, mas quero fazer
algo bacana para Caio e resolvo passar em uma loja para isso.
Estaciono o carro, saio rapidamente, entro e um homem alto, de pele escura, sorriso
bonito e cabelo curto vem em minha direção.
— Bom dia, senhor — diz sorrindo. — Posso ajudá-lo?
— Bom dia. — Retribuo o sorriso. — Quero velas brancas.
Ele assente, seguimos para um corredor, pego duas e penso.
— Quero um porta-retrato também, quer dizer, dois, os mais bonitos que tiver e queria um
grande favor.
Ele vai até um corredor e pega dois porta-retratos dourados.
— Gostei.
— Qual favor seria, senhor?
— Poderia procurar na internet aqui da loja fotos da mãe de Caio Brown?
O homem estranha o pedido e concorda.
— Vou ver o que posso fazer.
— Tudo bem, vou dar uma olhada nas prateleiras.
O homem se afasta e continuo olhando as coisas, a procura de mais alguma coisa que eu
precise, mas não encontro nada...
Vejo outro porta-retratos e o pego, penso em pedir para o rapaz procurar uma foto minha
e de Caio, mas não é preciso.
— Meu Deus! Você é o novo funcionário do Caio Brown, agora que te reconheci.
Vou na direção do homem e ele vira o computador para mim, vejo a foto minha e de Caio
entrando no restaurante e observo bem; estou com o olhar concentrado nas pessoas, Caio parece
calmo e dou um meio sorriso com isso. Apesar de não estarmos demonstrando nenhum afeto
amoroso, parece que estamos juntos e eu próximo dele afirma mais ainda isso.
— Poderia imprimi-la para mim e a da mãe de Caio?
Ele concorda e prepara as fotos, então vira a da mãe de Caio para mim.
— Essa está boa?
Observo a foto e perco o fôlego, Caio mais novo está ao lado de uma linda mulher; alta,
pele clara, cabelo escuro preso em um coque, vestido preto e no pescoço um colar de pérolas.
O que me lembra o presente que Caio deu para minha mãe.
Observo a foto novamente e percebo que o sorriso e os olhos de Caio pertenciam a sua
mãe, o resto provavelmente ele herdou do seu pai já morto.
— Perfeita — consigo dizer finalmente. — Quanto que ficou tudo?
Enquanto ele diz e imprime as fotos para colocar nos porta-retratos, penso no motivo de
Caio dar um vestido e uma joia para minha mãe que lembrasse a sua mãe.
O rapaz que me atende termina de arrumar tudo e embrulha os dois porta-retratos em
papéis de presente. O terceiro digo para ele deixar fora da embalagem.
A ideia de dar essas fotos para Caio, mesmo que não fossem íntimas, ocorreu quando
percebi que no seu apartamento não havia uma foto da sua mãe ou do seu pai. Eles estavam
mortos e Caio só tinha as lembranças da sua memória.
Penso sobre o motivo de não ter fotos do pai e lembro que, nos sites de tabloides, não
havia nenhuma foto dele, Caio havia pedido para tirar todas, mas por que não ter uma em casa?
Saio da loja e vou para o carro, como sabia que Caio estaria na empresa, decidi ir até lá
para encontrar Regina. Havíamos combinado de ir ao shopping para comprar roupas para o Ano
Novo.
Claro que deveríamos ter feito isso há algum tempo, mas como Regina trabalha a semana
toda e mal tem tempo, deixamos tudo para cima da hora.
Paro o carro na frente da empresa e saio às pressas, Regina está na recepção segurando
sua bolsa e me observa.
— Que bom que chegou, Caio chegou cedo hoje aqui, pensei que iria vir com ele.
— Ah, eu até iria, mas ele disse que não havia necessidade — digo sorrindo.
Saímos do prédio e seguimos para o meu carro, colocamos o cinto de segurança e
partimos para o shopping.
Vamos em três lojas diferentes e encontramos somente na quarta um vestido branco cheio
de renda que Regina gosta. Compro uma calça jeans branca e camiseta de manga cumprida na
mesma cor, na frente ela tem uma gola V aberta.
Compramos e depois vamos embora, minha mãe já havia providenciado roupas para ela e
meus irmãos, então não preciso me preocupar com isso.
Regina diz que está com fome, então vamos ao McDonald´s para que ela possa comer
alguma coisa.
— Então — diz Regina na fila de espera para pegarmos os lanches, pois de última hora
decidi pedir um para mim. — Você e Caio, nossa!
Olho para ela me fingindo de tapado, ela não pode saber sobre a submissão de jeito
nenhum.
— Como assim? — pergunto fingindo que não estou entendendo.
— Ah, nem vem, Carlos, desde a véspera de Natal percebi como ele te olha e, caramba,
ele te deu um Porshe!
— Fala baixo — digo olhando em volta, algumas pessoas nos observam sem entender. —
Tá, tudo bem, eu gosto dele e a gente se beijou na cozinha na véspera.
Não estou mentindo, realmente nos beijamos na cozinha, mas ela não precisa saber que
fazemos isso já faz mais de um mês.
A fila anda, pegamos nossos lanches, saímos e vamos para uma mesa próxima. Nos
sentamos, sinto um cutucão no braço, me viro e vejo Danilo sorrindo.
— Carlos! Quanto tempo, como vão as coisas? Você sumiu depois da... Última vez.
Observo o homem parado na minha frente e fico sem reação, Danilo continua bonito e
atraente, o que me incomoda um pouco.
— Nossa — consigo dizer, levanto e o abraço gentilmente. — Como é bom ver você, é...
Está por aqui sozinho?
— Estou sim. E aí, vai me dizer as novidades ou não? — diz sorrindo.
Penso sobre o que Danilo quer dizer e lembro da foto minha e de Caio no porta-retrato no
carro.
— Bem, arrumei outro emprego — digo sorrindo sem graça. — Mas, e você, vamos
sentar, me conta como andam as coisas.
Regina nos observa e sorrio.
— Você conhece a Regina já — digo sem graça.
Ele senta perto dela para ficar de frente para mim e sorri.
— Caramba, só assim para nos reencontrarmos. Vi que está trabalhando com Caio Brown,
parabéns, fico feliz com isso.
— Pois é, parece que a sorte deu uma guinada para mim.
Ficamos em silêncio por um tempo e ele assente.
— É melhor eu ir nessa. — Levanta e sorri.
Sinto meu rosto queimar, apesar de gostar de Caio e ele ser com certeza mais gostoso que
Danilo, aquele homem ainda mexe comigo de alguma maneira.
— Bem, nos vemos por aí então — digo sorrindo.
Ele concorda e sorri.
— Você tem meu número — diz e vai embora.
Regina e eu observamos Danilo se afastar e após ela engolir um pedaço do lanche, olha
para mim séria.
— Ele não sabe disfarçar que quer dar aquela bundinha sexy para você, não é?
— O que? Achei que você tinha gostado dele no dia que fomos na balada.
— Bem, isso já faz mais de um mês — diz bebendo seu refrigerante. Dou uma mordida
no meu lanche e a observo. — Agora tem Caio Brown na jogada.
*
Já é mais de oito horas da noite e Caio ainda não chegou em casa, todas as pessoas que
estavam no Natal estão na minha sala novamente, menos Eduardo e Caio.
Pego meu celular, ligo para ele e o telefone chama, mas logo cai na caixa postal. Não nos
falamos o dia todo e isso me incomoda.
Será que aconteceu alguma coisa?
O pessoal conversa entre eles e comem algumas coisas que preparamos, não consigo focar
minha mente em assunto nenhum, então não sei sobre o que eles falam. Me levanto, vou até o
quarto, tranco a porta e me observo no espelho, até diria que estou bonito, se não fosse pela
preocupação estampada em meu rosto.
Ligo mais uma vez e nada acontece, apenas cai na caixa de mensagens assim como as
outras vezes.
— Me retorna quando puder — deixo recado e desligo o telefone.
Já era para Caio ter chegado faz tempo, combinamos de ele vir para a minha casa por
volta de 17h:30min e já passa das oito horas.
Abro a porta, vou até a sala, pego a chave do meu carro e anuncio para minha mãe que
vou dar uma saída.
— O que? Não pode esperar?
— Não — respondo para minha mãe, olho para Regina e ela vem até a mim. Abro a porta
e saio para o lado de fora. — Ele não me atende, estou começando a ficar preocupado de
verdade.
— Não se preocupa — diz tirando o celular do bolso. Ela disca o número e ouve até cair
na caixa de mensagens. — Droga, ele também não me atende, vai logo até o apartamento e me
informe se o encontrar, vou ligar para as outras residências.
— Obrigado — agradeço a Regina.
Vou até o carro, entro e parto o mais rápido possível.
*
Paro o carro na frente do prédio e entro. Como estou diariamente lá, não sou barrado e
logo estou dentro do elevador preocupado.
Não posso imaginar ter acontecido algo com Caio...
Se tivesse, já estaríamos sabendo, essa é a parte boa de ele ser famoso.
As portas do elevador abrem, saio e vejo que a porta não está trancada, o que acho
estranho. Entro e vejo a luz da copa acesa.
Sigo até a copa e noto que sobre o balcão, contém três taças que pelo fundo delas,
deveriam ter contido vinho.
Por que Caio usaria tudo aquilo de uma vez?
— Caio? — chamo com medo de não ter resposta alguma.
Olho dentro do escritório e não o encontro lá, subo a escada lembrando vagamente da
nossa transa no dia anterior e respiro fundo.
— Caio? — digo novamente.
Abro a porta do seu quarto, avisto uma sombra no escuro, acendo a luz e vejo Caio
sentado na cama sem camisa, com o cabelo bagunçado e cabisbaixo.
— Caio? — digo indo até ele, mas não obtenho resposta.
Me aproximo e me ajoelho ao seu lado.
O olhar dele está vidrado e não consigo reconhecê-lo.
O que havia acontecido?
— Ei — digo encostando minha mão no seu braço frio.
Caio me olha e percebo que seus olhos estão inchados por ele ter chorado.
— O que você está fazendo aqui? — pergunta desnorteado.
— Já são mais de oito horas, esqueceu que hoje é véspera de Ano Novo?
Caio assente e levanta.
Me levanto junto e ele respira fundo.
Tento entender o que está acontecendo, mas não consigo; somente ele pode me dizer.
— Você está bem? Quer tomar um banho?
— Quero — diz ignorando a primeira pergunta.
— Tudo bem, venha comigo.
Puxo Caio pelo braço e o arrasto para o banheiro, seu hálito tem cheiro de vinho
misturado a uísque.
Como ele já está sem camisa, tiro sua calça e cueca sem nenhum constrangimento, abro o
chuveiro e encho a banheira.
Coloco Caio dentro dela, pego meu celular, envio uma mensagem para Regina dizendo
que o encontrei e digo que não sei se vou conseguir ir para casa tão cedo.
Ela responde rapidamente:
Regina: Tudo bem, disse para sua mãe que aconteceu um imprevisto com
Caio e ele precisou de você. Uma pena, nosso primeiro Ano Novo juntos :(
Respondo a mensagem dizendo que lamento e que vamos ter muitos outros Anos Novos
para isso, então desligo meu celular e vou até Caio.
— Você está bem? — tento perguntar novamente.
— Atordoado, mas vou ficar bem — diz me olhando.
— O que houve?
— Nada demais, é que.... Esquece isso, me desculpa, você não deveria de estar aqui, você
tem que curtir a virada com sua família.
— Para, já avisei que não vou poder. Caio, me preocupo com você, se não quiser dizer
agora, tudo bem, mas está óbvio que aconteceu algo realmente sério.
Caio me olha e assente.
— Vou deixar você tomar banho e ver se consigo pedir alguma coisa para você comer.
Me viro pronto para sair, mas ouço o pedido de Caio.
— Não vá, por favor, toma banho comigo.
Não penso duas vezes e logo começo a tirar minha roupa, quando estou completamente
nu, entro na banheira com Caio e ele me abraça por trás.
— Se você soubesse, acho que não aceitaria, por favor, não pergunte.
Fico quieto sem entender nada e assinto, mostrando que ele pode confiar em mim e que
não vou perguntar nada.
Na hora certa ele mesmo vai me dizer.
*
Ficamos um bom tempo na banheira, então Caio decide sair e o sigo. Nos secamos e
rapidamente me visto, ele também coloca uma roupa branca e suspira.
— Me sinto culpado por você estar aqui, se quiser pode ir, não vou me importar.
— Para — digo indo até perto dele e colocando um dedo em seu lábio. — Quero ficar
aqui com você, a gente só não vai ter um jantar, mas damos um jeito.
— Bem, tem espaguete, queijo e vinho. Tem outras coisas também, podemos preparar
algo.
Aceno com a cabeça para ele e descemos para a cozinha, vejo as três taças usadas
novamente e Caio rapidamente as pega e coloca para lavar.
Não pergunto e finjo que não reparei, então começamos a caçar as coisas e coloco a água
para ferver. Coloco a espaguete para cozinhar enquanto Caio corta salsa e outros temperos. Sirvo
duas taças de vinhos para nós e ele bebe sorrindo. Seus olhos já não estão mais inchados e ele
parece menos triste, então resolvo ajudá-lo para animá-lo um pouco mais.
Pego vários tipos de queijo na geladeira e começo a ralar, depois tiro o espaguete da água
e o reservo em uma tigela. Refogo os temperos em uma panela e adiciono os queijos com creme
de leite, Caio agora somente observa eu cozinhando e após o molho de queijo ferver, desligo e
preparo os pratos, colocando a espaguete e o molho por cima.
Caio arruma a mesa com o vinho e levo os pratos até ela.
— Não sou muito bom na cozinha, mas acho que dá para sobrevivermos até o Ano Novo.
Caio ri e olho o relógio, já são quase dez e meia da noite, o que me assusta; a hora perto
desse homem passa tão rápido que nem percebo.
— Vamos ver — diz Caio enfiando na boca uma garfada, ele mastiga depois sorri,
bebendo um gole do vinho. — É, está gostoso.
Sorrio.
Estamos sentados na cabeceira da mesa, um longe do outro.
— Regina estava preocupada também — digo sem graça. — Quer dizer, acabei deixando-
a preocupada.
Caio assente ainda comendo e sorri.
— Obrigado por terem se preocupado comigo, não atendi porque, bem, você viu meu
estado.
Concordo e não digo mais nada, ainda pensando sobre o que aconteceu para deixar um
homem como Caio tão desnorteado.
*
Terminamos de comer e resolvemos ir para a sala ver algum filme.
Caio coloca a louça para lavar, logo nos jogamos no sofá, pegamos cobertas e fazemos
pipoca para acompanhar o filme.
— Você poderia ter uma virada perfeita — diz Caio.
— Bem, não está nada mal — digo segurando sua mão. — Acho que sair não rola, não é?
Ele faz que não com a cabeça e concordo.
— Deixei umas coisas no meu carro, vou pegar e volto já.
— Mas e o filme?
— Bem, o filme não é tão importante.
— Mas é “Harry Potter” — diz Caio erguendo a sobrancelha.
— Eu sei — digo já de pé na porta. — Espere aqui.
Ele revira os olhos e assente.
Desço rapidamente, vou até meu carro, pego dentro dele os porta-retratos e as velas, subo
rapidamente e encontro Caio na mesma posição.
— Se não vamos sair, então vamos nos divertir aqui mesmo, preparei isso para você,
espero que goste — digo colocando as duas velas no balcão e entregando os três porta-retratos
para Caio.
Ele observa as embalagens e as abre, então se depara com a nossa foto e a foto dele com a
mãe.
— Percebi que você não tem nenhuma foto com sua mãe aqui, então decidi fazer isso,
além de uma foto nossa, se não se importa.
Ele observa as fotos, um sorriso se forma entre seus lábios e os olhos brilham talvez
relembrando de alguma coisa.
— Obrigado, nunca tive coragem de colocar uma foto da minha mãe aqui, mas...
Obrigado.
Ele coloca os dois porta-retratos no aparador e pega o terceiro vazio.
— E esse?
— Bem, esse pensei que você poderia colocar uma foto sua com seu pai — digo com
medo de ser invasivo demais.
Ele olha o objeto e coloca no aparador ao lado da dele com sua mãe.
— Outra hora faço isso e ainda deixo você escolher a foto.
— Sério? Mas não encontrei nenhuma na internet.
— Não se preocupa — diz se aproximando e me segurando pela cintura. — No meu
closet tenho uma caixa com várias fotos nossas, depois escolhemos uma.
Ele me beija e retribuo.
— Aliás, feliz Ano Novo — diz me beijando no rosto.
— Ainda não deu a hora, senhor Caio — digo revirando os olhos.
— Não tem problema, não existe hora certa para começarmos a ser felizes.
Concordo e o beijo.
— Então feliz resto de ano — digo beijando Caio de novo. — E feliz Ano Novo.
Ficamos nos curtindo até dar meia-noite e quando a contagem regressiva começa,
acendemos as velas, colocamos perto do porta-retrato vazio e do que estava a foto de Caio e sua
mãe.
Olhamos a chama se queimar e Caio me puxa para um abraço, beija minha testa e suspira,
então naquele momento percebo que nada poderia me afastar daquele homem. Apesar de termos
iniciado nossa história de uma maneira totalmente diferente de todas já vista, adorava a
companhia do Caio e desejava que continuássemos juntos.
Pensando nisso, percebo que o próximo ano será um bom ano, tenho certeza disso.
Capítulo 35 - Xeque-Mate
Acordo na manhã seguinte com o sol no meu rosto, me viro e vejo Caio ao meu lado,
então lembro de tudo o que aconteceu; depois de muitos anos não passei o Ano Novo com minha
família.
Lembro do que aconteceu com Caio e o observo dormindo, agora parece muito mais
calmo e leve, o que me anima um pouco.
Levanto da cama tendo o máximo de cuidado para que ele não acorde, é a primeira vez
que dormimos juntos e sorrio ao seguir para o banheiro. Lavo meu rosto, faço minhas
necessidades matinais e corro para meu quarto para poder escovar os dentes, aproveito e coloco
uma calça e uma camiseta de tecido mais leve, já que o Ano Novo iniciou quente.
Sigo para o quarto do meu dominador e pego meu celular na mesinha de cabeceira, vejo
que têm algumas mensagens de alguns conhecidos.
Quando deu meia-noite, liguei para toda minha família e desejei um feliz Ano Novo.
Minha mãe ficou um pouco chateada por não estar lá, mas entendeu que Caio estava muito mal e
precisava de mim. Eu sabia que por conta desse episódio as pessoas, pelo menos os meus
familiares, diriam que Caio Brown e eu, Carlos Alberto, tínhamos algo. Mas naquele momento
isso não importava, porque estava com o homem que eu gosto.
Caio se mexe na cama, sorri ao acordar e continuo em pé perto da porta, então ele se
levanta e vem até a mim.
— Vamos voltar para cama, hoje ainda é sábado.
Me inclino para frente e o beijo. Caio não se afasta e logo estamos em um momento tão
romântico, que por um segundo consigo esquecer o contrato de submissão e toda a loucura que
enfrentamos.
Voltamos para cama e Caio me abraça sorrindo alegre.
— O que vamos fazer hoje?
Sinto sua respiração no meu pescoço e isso de alguma maneira me excita, então vejo Caio
erguer a sobrancelha e morder os lábios. Aquilo é tão sexy que sinto vontade de avançar em sua
boca e não o soltar mais, porém me contenho.
— Bem, estava pensando em ficarmos de boa — responde Caio pensativo. — Na verdade,
gostaria de ir na minha casa.
“Na casa de Caio?”
Engulo em seco e fico quieto, ir na casa que havia roubado com Bruno seria um problema,
ainda não estava preparado para enfrentar aquilo, mas não tinha escolha.
— Tudo bem, podemos ir.
— Beleza. — Caio beija meu cabelo e levanta rapidamente.
Percebo como ele está calmo, mas seu olhar me mostra que tem alguma coisa errada.
— Vou tomar um banho, depois tomamos café e seguimos para lá, pode ser?
Olho surpreso para Caio e concordo.
Ele está mesmo me perguntando se a decisão dele está de bom grado?
Ergo a sobrancelha e o observo se afastando para dentro do banheiro nu.
“Parece que as coisas estão mesmo mudando.”
*
Caio para o carro na frente do portão ladeado e respiro fundo, faz pouco mais de um mês
que eu estive aqui para fazer algo completamente errado; roubar o homem que está sentado ao
meu lado.
Respiro fundo e observo o lugar, continua do mesmo jeito que estava quando vi pela
última vez; arrumado, organizado, com um jogo de xadrez impecável na varanda da frente e duas
cadeiras, que estão gastas pelo tempo.
Saímos do carro e Caio sorri para mim, tento retribuir, mas é tão forçado que ele percebe
algo de errado.
— Está tudo bem? — pergunta erguendo a sobrancelha.
— Sim, só é meio estranho vir aqui depois... Depois de tudo.
Ele concorda, vem para o meu lado, me puxa pelo braço e seguimos para o portão.
— Não pensa nisso, esquece, já passou.
Balanço a cabeça e entramos.
Noto pela primeira vez, já que a outra eu mal havia reparado, que o jardim é muito bem
cuidado e o único barulho são dos pássaros que cantam céu a fora.
Entramos e olho ao redor, lembrando do dia em que estive aqui com Bruno, uma sensação
estranha surge e quero vomitar. Ainda não acredito que tinha roubado aquela casa com meu
amigo, porém só de lembrar da felicidade da mamãe e da doença de Robertinho, percebo que
apesar de todas as escolhas difíceis que fiz, aquela foi a mais correta. Afinal, já que estava com
Caio e fiz um acordo de pagá-lo, ao fazer isso, não seria mais roubo, certo?
Podia ser que estava errado, mas pensar dessa maneira, me fazia me sentir melhor.
Saio dos meus pensamentos e seguimos para a cozinha. Caio abre a geladeira, pega duas
garrafas de água e me entrega uma.
— Ainda bem que Rose deixou aqui tudo organizado. Fazia tempo que não vinha aqui.
Estou em silêncio, prestando atenção no que ele diz.
— Tenho vontade de morar definitivamente nessa casa, mas acho que ela é grande demais
para uma única pessoa.
— Você não tem empregados e seguranças? — pergunto bebendo um pouco da água.
— Tenho sim — diz colocando a garrafa no balcão. — Eles estão em toda parte, mas não
me perturbam e não é a mesma coisa de morar com uma família.
Balanço a cabeça e ele sorri.
— Bem, que tal jogarmos uma partida de xadrez? Talvez eu ganhe de você.
Coloco a garrafa no balcão e dou um sorrisinho.
— Pode ser, mas acho que você não ganha.
*
Seguimos para o lado de fora da casa e Caio pega o tabuleiro, o ajudo com as peças e
seguimos para a sala. Olho ao redor e percebo que ela é toda de madeira; chão, teto e até partes
da parede.
Caio coloca o tabuleiro sobre uma mesinha de centro e arrumo as peças. Sento em uma
poltrona e ele senta na outra; ficando um de frente para o outro.
— Bem, vamos lá — diz pegando um pião.
Caio move sua peça e presto bastante atenção em seus movimentos, sorrindo com prazer
quando movo a minha.
Ele me observa e ao invés de mover a mesma peça, move outra. Fico quieto e movo a
mesma, chegando o mais perto possível da sua, sabendo que ele vai pegar a minha.
Caio derruba meu peão e sorri, sorrio também, feliz por ter conseguido o meu objetivo.
Foi meu pai que me ensinou a jogar xadrez, o truque que ele me ensinou foi; deixe seu
adversário derrubar uma ou duas peças suas, ele vai achar que está ganhando, fazendo assim ele
desejar derrubar mais ainda e é isso que o atrapalha; o desejo de derrubar mais e mais peças, faz
com que ele não preste atenção nas suas jogadas e acabe desprotegendo as peças importantes.
Caio faz exatamente isso, percebo que estou com dois peões dele e ele com quatro meus,
mas diferente dele, meu rei e minha rainha ainda estão protegidos.
Movo meu cavalo e ele percebe que já não tem mais jogadas para me pegar, então move
sua peça para o lado e eu sigo com a minha.
— Xeque-mate — digo derrubando a peça cabeça.
Caio me olha e fica sério.
— Não vale, você roubou.
Dou risada e reviro os olhos.
— Não tem como roubar, você perdeu, Caio, e eu ganhei.
Ele fica mudo e então começo a arrumar as peças de novo, para jogarmos mais uma
partida.
Meia hora depois Caio derruba meu rei e sorri.
— Ganhei — diz com um enorme sorriso no rosto.
— Apenas sorte — digo rindo, meu estômago ronca e Caio levanta.
— Estou ficando com fome também, vamos ver o que temos para comer.
Seguimos para a cozinha e começamos a preparar o nosso almoço. Fazemos lasanha ao
molho branco e enquanto está no forno, me afasto de Caio e ligo para minha mãe.
— Carlos — diz ao me atender. — Onde você está? Ainda com Caio?
— Oi, mãe — digo parado na frente da sala. — Estou na casa do Caio com ele.
— Você vem embora que horas?
— Daqui a pouco — digo sorrindo quando Caio me abraça por trás. — Caio pegou um
resfriado e estava com muita febre ontem, pediu desculpas por não comparecer e me manter
preso com ele.
— Diga a ele para não se preocupar, meu filho — responde minha mãe do outro lado. —
Espero que ele melhore logo, vamos almoçar sem vocês, mas vou deixar um prato para quando
você chegar.
— Tudo bem — me despeço dela e desligo o celular.
— Deve ser difícil para você.
— O quê? — pergunto a Caio sem entender.
— Ter que mentir, ainda mais para a sua mãe, isso tudo por minha causa.
— Não se preocupa, antes era mais difícil e isso não é sua culpa, os meus atos fizeram eu
chegar aqui.
Ele concorda e me observa, ficando um passo de mim.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Tecnicamente você já fez — digo rindo e ele ri junto. — Pode fazer sim.
Caio me olha por um minuto e me observa da cabeça aos pés.
— Se pudesse mudar tudo isso, mudaria?
— Como assim?
— O roubo, foi por causa do roubo que estamos assim... Você mudaria isso se pudesse?
Entendo o que ele quer dizer; se desejaria não o ter conhecido e me tornado seu submisso.
— Não, não mudaria, apesar de tudo, não me arrependo de ter te roubado, fazer isso me
trouxe onde estou.
Ele me olha meio sem graça, sorri e me beija, então voltamos para a cozinha para comer.
*
Mais tarde, quando estamos sentados no sofá abraçados, Caio olha para mim e diz:
— Quero te mostrar uma coisa.
Fico quieto e o observo.
— Me diz que não é um quarto vermelho da dor — digo olhando para ele.
Caio ri e coça a cabeça.
— Pode se dizer que é, mas ele é preto.
Olho para ele surpreso e me levanto.
Caio faz o mesmo e segurando minha mão, seguimos para o andar de cima.
Vejo algumas portas e o elevador que leva para o quarto dele. Lembro vagamente que abri
algumas delas, mas uma estava trancada. Ele abre justamente ela e entra.
Respiro fundo e o sigo.
A primeira coisa que reparo é que as paredes são realmente pretas, no meio do cômodo
tem uma enorme cama com um quadro gigantesco do Caio nu, como o do escritório, nenhuma
parte íntima do seu corpo é exposta e fico encantado com o retrato. Observo adiante nas paredes
diversas coisas que Caio gosta; chicotes, plugues, cintos, palmatórias, alguns cremes,
prendedores, vibradores, algemas e outras coisas.
Ele anda até um armário e abre, de dentro tira um chicote com franja bem gasto.
— Esse é o meu favorito — diz com o sorriso no rosto.
Olho para o objeto na sua mão e sinto o suor começar a brotar na minha testa.
— Quero foder você aqui — diz colocando o chicote na cama.
Respiro fundo e não digo nada, com certeza não quero transar aqui. Apesar de ter dito a
ele que quero isso.
Caio vai até seus brinquedos e pega uma coleira de couro com detalhes de metal. Respiro
fundo e vejo o próximo brinquedo; uma algema, só que muito diferente das comuns que
conhecemos. No meio dela há um distanciador, o que faz os braços ficarem um longe do outro.
Caio abre e olha para mim, sempre sorrindo.
Ele joga os dois objetos na cama e volta para pegar mais um, então olha atentamente e tira
da parede uma mordaça-bastão; objeto com um bastão que vai na boca me impedindo de falar.
Só de ver isso, me assusto.
— Tenho uma algema muito interessante aqui — diz pegando outra.
O objeto sexual me faz me contorcer, ela tem uma coleira no meio e as algemas são de
couro.
— Não se assuste, isso tudo dá muito prazer, mas vamos deixar essa para outro dia. —
Caio a guarda e pega a algema com o distanciador da cama, ele vem na minha direção e sorri. —
Tira a camisa e estica os braços.
Lentamente faço o que ele manda, tiro minha camisa, estico os braços e ele os prende,
deixando-os um longe do outro.
— Muito bom — diz voltando para cama e pegando a mordaça.
Caio vem até a mim e fica por trás.
Ele coloca o bastão na minha boca e prende as tiras de couro, repuxando meu cabelo.
— Quero que deixe o medo de lado, Carlos — diz no meu ouvido. — Deixa o prazer te
dominar.
Ele vem até a minha frente, abre o botão da minha calça, a puxa para baixo e a tiro com
um pouco de dificuldade, sentindo o gosto de aço na minha boca. Fico somente de cueca e Caio
mais uma vez se afasta, pegando a coleira.
Novamente ele vem em minha direção, passa o couro frio pelo meu pescoço, fecha e
então beija minha orelha, fazendo com que me arrepie todo.
Vejo meu dominador tirar sua camiseta e calça, ficando de cueca assim como eu, logo em
seguida ele vai até um aparelho de som, algo que nem havia notado, e o liga. Nothing else
matters começa a tocar, fazendo eu ficar todo arrepiado.
Respiro fundo e Caio volta para perto de mim, seu corpo quente se encosta no meu e sinto
seu pau duro encostar na minha bunda.
Ele puxa minha cueca para baixo e alisa meu corpo com suas fortes mãos, logo em
seguida vem para minha frente, tira a mordaça da minha boca e começa a me beijar, passando
meus braços presos por cima do seu pescoço, fazendo ficarmos ainda mais próximos.
Nossos beijos são quentes e violentos, um desejando mais que tudo aquilo.
A música agita um pouco mais, Caio segura meus braços, solta um gemido e me beija
uma última vez. A mordaça volta para o lugar e ele se afasta.
Observo Caio tirar sua cueca e seu pau subir, completamente duro e pronto para me
invadir. Ele vem para trás de mim, passa seu pau na minha entrada, beija minhas costas e se
abaixa, inclinando meu corpo para frente.
Caio segura minhas nádegas uma separada da outra e me lambe, depois disso ele volta até
a cama e me leva junto, mas ao invés de deitarmos, ele me deixa ali em pé e pega o chicote
gasto.
A música acaba e outra começa no lugar, um som de piano invade o quarto, e com isso
meu dominador se aproxima de mim. Ele passa o chicote com franja sobre as minhas pernas e
segue para mais alto, acertando minha barriga e depois as minhas costas.
Respiro fundo reprimindo a dor e Caio não para, o chicote acerta minhas coxas depois
minha bunda, me fazendo me inclinar um pouco para a frente. Meu dominador para e me faz
ficar de quatro, então ele abaixa e entra dentro de mim, puxando a coleira para trás e me
impedindo de se mexer.
Ele fica imóvel, esperando o momento certo para começar com os movimentos.
— Esqueça o medo, não pensa na dor, sinta apenas o prazer.
Tento fazer o que ele diz e fecho meus olhos, tentando me concentrar no prazer e afastar o
medo.
Os movimentos começam, Caio geme deliciado, respiro com dificuldade e me entrego
para aquele delicioso momento de prazer. Estamos ofegantes e gemendo juntos, Caio pega o
chicote do chão e passa pelas minhas costas, então o acerta na minha nádega, ainda entrando e
saindo de mim. Solto um grito abafado por conta da mordaça e ele se delicia, batendo mais uma
vez, um pouco mais forte.
Gemo de prazer, sentindo a loucura tomar conta de mim naquele momento, é maravilhoso
dar todo aquele prazer para aquele homem que me fode deliciosamente. Esqueço tudo; meus
traumas, os momentos difíceis que passei com minha família, meu namoro frustrado com
Augusto, as brigas em casa dos meus pais, a briga com meu irmão. Esqueço que Antônio me
estuprou, esqueço que o homem que goza dentro me forçou à essa situação e me entrego a
paixão, a luxúria, ao prazer inesgotável que sinto e gozo dizendo o nome de Caio abafado.
*
Ficamos um tempo deitados na cama após terminarmos de fazer sexo, Caio me abraça e
me enche de beijos, o que me assusta; tenho medo disso tudo acabar.
Ele levanta e me ergo um pouco, pensando se devo fazer aquilo que vem na minha mente
e decido que sim.
— Caio, você tem alguma cópia do contrato aqui?
Ele me olha e pensa por um segundo então assente.
— Por quê? — pergunta um tempo depois.
— Vou assinar — digo me levantando.
— Já se sente preparado para isso?
— Sim, o sexo hoje foi maravilhoso, isso só provou que estou mais do que pronto para
isso. Pode pegar para mim?
Ele assente e sai do quarto, voltando um minuto depois com uma cópia do contrato e uma
caneta em suas mãos. Respiro fundo e olho a data, ainda mostra o ano de 2014, risco e
faço um “15” em cima e então assino, rezando para que isso dê certo.
Caio me beija e guarda o contrato sorrindo, agora sou seu submisso oficialmente, o que
me deixa aliviado e com medo, pensando como que vai ser daqui em diante.
Será que Caio vai mudar comigo ou continuará sendo o homem doce que vem mostrando
ultimamente?
— Ótimo, agora que assinou, entregarei ao meu advogado e assim que tudo estiver ok,
começaremos com o pagamento. — Assinto e ele sorri. — Vou tomar um banho — diz beijando
minha testa. — Está ficando tarde e preciso levar você para sua casa.
Concordo com a cabeça e sento, vendo meu dominador se afastar.
Olho ao redor do quarto e suspiro, aquilo é tudo muito novo para mim, mas sei que vou
conseguir; o sexo de hoje provou que eu estou preparado.
Olho os objetos sexuais e dou um leve sorriso, agora isso tudo será usado em mim em
algum momento e gargalho pensando nisso. Decido ver o que tem dentro do armário que Caio
pegou o chicote, então aproveito e pego o objeto gasto e guardo no lugar.
Dentro não tem muita coisa, somente umas toalhas que prefiro pensar que seja só para
banho e uma caixa. Curioso puxo a caixa e olho dentro; há alguns álbuns velhos, abro um deles e
vejo fotos de Caio pequeno, algumas paisagens e uma linda mulher com o homem que se
encontra no banheiro.
Em uma delas, a mulher, mãe de Caio, segura um bebezinho no colo, em outra está com
um homem e Caio.
Olho o rosto dos três; passando do da mãe de Caio, para ele e do dele para um homem.
Derrubo o álbum no chão e me sinto tonto.
“Não pode ser!”
Tremo, com medo do que meus olhos acabaram de ver, pego a foto e olho novamente.
Não estou enganado, aquele deve ser o pai do Caio, o herói torto dele, o homem que foi
preso por ter roubado e estuprado vários garotos.
O homem que onze anos atrás me pegou em um beco e destruiu minha vida.
O pai de Caio, que deve ter se passado como Antônio, é o homem que me estuprou.
Capítulo 36 - Observando
O homem está parado diante do grande prédio observando o local, faz alguns dias
que havia tomado a decisão de ir até São Paulo e finalmente visitá-lo.
Tinha medo do que pudesse acontecer, mas havia tomado coragem e o encontrado.
Vira de costas e suspira, não queria ter que fazer isso, mas sabia que se Caio Brown
continuasse com aquele jovem, algo de ruim iria acontecer e era necessário que eles se
afastassem o mais rápido possível.
Entra no carro e olha para seu filho, um homem de cabelo ruivo e grande, barba na mesma
cor e olhos azuis.
— O que faremos agora, papai? — pergunta preocupado.
— Vamos esperar, meu filho — diz suspirando. — Vai ser melhor, acredite.
O rapaz acena desconcertado e sai do meio-fio, torcendo para que o plano louco de Oliver
Estevam Brown dê certo ou eles estarão muito encrencados.
Capítulo 37 - A Conversa
Um mês atrás...
O tempo em São Paulo está diferente, parece que a cidade sabe que algo de ruim vai
acontecer em breve.
Oliver anda de um lado para o outro e só para quando a porta da casa em que está
hospedado abre.
Olha na direção e vê seus novos aliados entrando.
— Vocês estão atrasados, sabiam? Detesto atrasos — profere um tanto irritado.
Caminha até a adega que há na sala e prepara uma dose de uísque para si. Bebe em um
único gole e volta a encher o copo.
— Não achei que iríamos demorar tanto para chegar aqui — diz o homem à sua frente. —
Sabe que temos que ser cautelosos, ninguém pode desconfiar disso.
Oliver apenas dá de ombros.
“Que se danem essas pessoas!”
— Alguma novidade para me dar? — pergunta a um dos comparsas.
— Tudo indica que eles dois realmente estão juntos, não saiu nada nos noticiários, mas é
praticamente certo — responde o outro.
Oliver respira fundo, já esperava que isso ia acontecer. Na verdade, desde o dia que
chegou ali, já suspeitava.
Ele terá que agir rápido, não pode deixar seu filho junto daquele rapaz, é muito arriscado
para ele.
— Preciso que deem um jeito de assustá-los — declara. — Isso não pode ficar assim,
Caio não vai ficar com esse rapaz!
Termina de beber o líquido marrom jogando o copo longe, os dois se assustam, mas não
dizem uma única palavra.
— Podemos dar um jeito nisso, sei lá, algum plano que abale Carlos, ele é frouxo, vai
ficar nervoso rapidinho — propõe o rapaz rindo. — Antes disso quero o que combinamos,
preciso da grana.
O homem de cabelos ruivo desgrenhado assente, já sabendo que isso teria um preço. Vai
até o cofre que há na casa, pega um pacote com dinheiro e aproveita para pegar o revólver que
precisará para a próxima visita.
Entrega a quantia para o rapaz, logo os dois se despedem e se vão.
Oliver pega a garrafa, serve dois copos e então sorri quando a mulher esbelta entra na
casa, vindo em sua direção.
Os dois se abraçam e logo sentam, sorvendo mais um pouco da forte bebida.
— Tenho algo para você — diz entregando o revólver. — Está chegando a hora de usar
isso, espero que não falhe.
Ela olha bem o objeto enquanto sente o metal frio em suas mãos, mas no fundo algo a
incomoda.
Como será capaz de fazer isso?
Quais são seus motivos realmente?
Para de pensar ao lembrar do pequeno espetáculo de humilhação que teve com Caio há
muito tempo.
Respira fundo e, novamente, assente, agora um pouco mais séria, determinada.
Ela dará um jeito nisso, sentirá o gosto da vingança que tanto espera, nem que alguém
tenha que morrer.
Ela fará de tudo para acabar com Caio Brown e quem estiver em seu caminho terá o
mesmo destino.
Capítulo 38 - Fim
Ainda estou parado no quarto de Caio olhando a foto do homem que invadiu meus
sonhos durante anos, sem acreditar que o homem que me apaixonei é seu filho. Levanto do chão
com lágrimas nos olhos e vejo meu dominador entrar no quarto.
Caio está de calça jeans preta, camisa polo e tênis. Ele me observa e se aproxima.
— O que foi? Por que mexeu nas minhas coisas? — Olha sem entender.
Encaro seus lindos olhos azuis e percebo a grande semelhança que tem com aquele
homem.
Como não percebi?
Por que fui tão idiota a ponto de me apaixonar por Caio Brown?
— Me desculpa, não deveria ter mexido. — Não olho para ele e sigo em busca de uma
roupa enquanto ele me acompanha.
— Você está bem? Está chorando.
Ouço sua voz ecoar atrás de mim.
— Escondi algo de você...
Será que é certo dizer a verdade para ele?
Ainda sem o olhar, vou para o closet. Caio estanca no quarto esperando minha resposta.
Por que sinto nojo dele também?
Por um motivo; o pai de Caio me estuprou e meu dominador me obrigou a esta situação.
Dois homens da mesma família...
Engulo em seco e enxugo o rosto com as costas da mão enquanto olho para o armário,
tentando parar de chorar, mas não consigo.
— O que você escondeu de mim? — Caio está desnorteado e pergunta, sério.
— Há onze anos... — começo a contar e sinto medo da sua reação, mas não posso voltar
atrás, ele precisa saber o que seu pai fez.
Deixo a frase solta no ar e começo a me vestir.
— O que houve onze anos atrás? — insiste em entender.
Olho para ele e não consigo me controlar, sinto as lágrimas descerem pelo rosto e molhar
minha camisa.
— Caio... Seu pai! — Minha voz sai embargada e as lembranças me invadem trazendo à
tona toda a dor. — Você... Como puderam fazer isso comigo? Eu não merecia tal brutalidade!
— Do que você está falando? — diz arregalando os olhos.
Caio tenta se aproximar de mim, mas me afasto.
— FICA LONGE DE MIM! NÃO CHEGA PERTO! — grito.
Caio apenas me observa e então ri.
— De novo? Achei que dessa vez você havia gostado, até porque você que me pediu isso.
Fico sério e abaixo a cabeça.
Como Caio pode ser tão idiota?
Só de ouvir sua voz já sinto raiva e desprezo.
— Por que seu pai foi preso mesmo? — pergunto um tanto irônico.
Ele me olha sem entender e responde.
— Roubo e estupro. Ele se entregou porque disse que o último garoto que violentou
sofreu muito.
— Isso foi há quantos anos? — insisto.
— Onze — responde automaticamente.
— E por acaso ele estava no Brasil, mais especificamente em São Paulo, nessa época?
Caio assente e então seu rosto fica pálido, juntando as peças, finalmente entendendo o que
estou dizendo...
O homem que o pai estuprou está bem na sua frente.
— Não pode ser... Isso seria loucura, há uma chance em um milhão de isso ter acontecido!
Pode ter sido qualquer um, menos você! — balbucia incrédulo.
— MAS ERA EU! SEU PAI ME ESTUPROU! — grito em meio às lágrimas.
— Não, não! — Caio tenta chegar perto, mas não permito, pois o nojo agora se intensifica
a cada momento. — Por favor, Carlos, deve ter alguma confusão aqui.
— Não tem confusão nenhuma — respondo com a respiração acelerada. — Era eu... Seu
pai me estuprou, fui eu que sofri onze anos atrás.
Ele me olha e fica em silêncio por um momento.
— Por que não me disse isso antes? Por que isso agora? — Olha para mim com os olhos
marejados, ele está tão assustado e triste quanto eu.
— Não queria contar essa parte da minha vida para ninguém. Não sabia que era seu pai,
descobri agora a pouco. Esqueceu que ordenou que todas as imagens dele fossem removidas da
internet?
Ele fica em silêncio e parece pensar.
— Seu pai me estuprou, Caio — repito, com as lágrimas cobrindo meu rosto. — E você...
você me forçou.
— O que você quer dizer com isso? — Caio me olha com o cenho fechado enquanto
balança a cabeça em negação.
— A nossa primeira vez, você viu o quanto eu estava nervoso e despreparado, mas
mesmo assim me obrigou! — esbravejo. — Seu pai me violentou e você fez o mesmo trabalho
sujo que ele, me forçaram a fazer sexo, me foderam sem dó!
Caio me olha atentamente e esbravejo, relembrando o momento de nossa primeira vez,
então se dá conta do que fez.
— Na nossa primeira vez eu não... Não foi intenção minha. Juro que não foi — explica,
tentando se aproximar de mim, mas não permito.
Abro a porta do quarto e dou um sorriso forçado.
— Mas você não parou, não é? Continuou me fodendo até gozar e depois me deixou lá
sozinho... E eu pensando que isso poderia dar certo, mas estava enganado.
A lembrança de tudo o que aconteceu me corrói, a constatação é tão dolorida quanto o que
aconteceu.
— Pode dar. Não vá embora, você assinou o contrato, precisa de mim! — argumenta.
— Não, eu não preciso! Luke disse no restaurante que você não era igual ao seu pai e até
acreditei nisso, me permiti viver isso, me apaixonei por você! E você fez exatamente o mesmo
que o seu pai, ainda bem que ele está morto!
Minhas palavras atingem Caio como se fosse uma apunhalada. Ele está perplexo, sem
saber como contornar a situação.
— Você me roubou... Você pode ser preso — argumenta desesperado.
Olho bem em seus olhos e sorrio.
— Eu não seria o único. Eu te roubei, mas você me forçou a isso, se eu for para o inferno,
você vai junto! — declaro e saio do quarto.
Caio corre na minha direção, o empurro e desço a escada correndo, tentando fugir o mais
rápido.
A cena seria cômica se não fosse trágica...
Parece que essa casa puxa uma energia ruim, na primeira vez que fugi foi porque havia
roubado e agora estou fugindo porque seu dono, o meu dominador, o homem pelo qual me
apaixonei, despertou todos os meus traumas.
— Não vá! — diz Caio quando já estou no portão. — Por favor, Carlos, eu também estou
apaixonado por você!
Congelo ao ouvir suas palavras e sinto uma dor angustiante. Viro para ele, o olhando uma
última vez e, então, saio, lamentando saber dessa maneira que o meu sentimento é correspondido
por Caio Brown.
Capítulo 39 - Medos
Caio é filho do homem que me estuprou...
Como isso é possível?
Chega a parecer coisa de novela, mas muito pior, é verdade e isso me machuca muito, por
não saber o que fazer.
Como serão as coisas de agora em diante?
Assim que saio, pego um táxi, afinal estou sem carro por ter vindo com Caio, e mesmo se
estivesse, não estaria em condições de dirigir. No momento que entro, passo meu endereço para
o motorista e sigo direto para minha casa, ainda em lágrimas pela dolorosa verdade que se
estampou diante de mim.
Percebo o quanto fui tolo...
Horas antes, quando o relógio marcou meia-noite e o início de um novo ano, estava tão
feliz por estar com Caio, que até pensei que seria um bom ano, mas estava completamente
enganado.
O motorista segue em silêncio, enquanto soluço no banco traseiro do seu carro tentando
pensar no que dizer à minha mãe.
Qual mentira vou inventar?
Então lembro do que Eduardo havia me falado, “não minta para a sua mãe”.
Será que vai ser assim tão fácil contar a verdade para ela?
Como ela reagirá?
Vendo que estou cada vez mais próximo de casa, meu coração aperta e o medo grita
dentro de mim, não posso enfrentar minha mãe agora.
Digo ao motorista para seguir para outro endereço, a casa de Bruno.
Poucos minutos depois o carro estaciona em frente ao portão do meu amigo. Pago o
homem e saio do veículo sem dizer uma única palavra. Bato na porta de Bruno que atende logo
em seguida. Ele me olha da cabeça aos pés e ergue a sobrancelha.
— Você está um lixo! Entra.
Entro e me jogo no sofá.
Ele se aproxima e quando o olho, o nó se forma em minha garganta e começo a chorar
como uma criança.
— O que foi? — pergunta alarmado com o repentino choro.
— Caio... O pai do Caio, foi ele. — As palavras saem entrecortadas em meio aos soluços.
Bruno continua a me olhar sem entender.
Dou um longo suspiro na tentativa de controlar minhas emoções.
— Foi o pai do Caio que me estuprou — consigo dizer finalmente. — Descobri hoje
quando mexia em suas coisas e encontrei uma foto dele.
Bruno respira fundo e soca a mesa de centro.
Dou um pulo de susto e o vejo levantar.
— FILHO DA PUTA! — grita nervoso — O que você fez quando descobriu?
Conto como tudo aconteceu, ocultando a parte de que Caio havia praticamente me forçado
a transar com ele na nossa primeira vez, mas não adianta mais esconder as coisas, preciso dizer a
verdade, mesmo que doa. Sinto medo, mesmo sem saber o motivo, um pressentimento de que
algo de ruim vai acontecer.
— Ele está morto, mas o filho está vivo — digo depois de uns minutos.
— O que quer dizer com isso? — Bruno senta ao meu lado e me olha tentando entender
tudo o que estou dizendo.
— Caio... — digo sentindo novas lágrimas. — A nossa primeira vez foi estranha, não
queria e ele meio que me obrigou.
— Você está me dizendo que aquele filho da puta também te estuprou? — Bruno engole
em seco e se aproxima de mim.
Só consigo assentir com a cabeça, pois as palavras ficam presas na garganta. Bruno volta
a ficar de pé e quebra o copo que está na mesa de centro, que eu nem havia reparado que estava
ali.
— ELE NÃO PODIA TER FEITO ISSO COM VOCÊ! ELE VAI PAGAR POR ISSO! — grita com raiva.
Olho para ele sem entender e levanto.
— Do que você está falando? Não vá fazer nenhuma merda, por favor. — Tento contornar
a situação.
— Não vou, mas você precisa denunciar esse mau-caráter. Você não pode deixá-lo livre
dessa, já basta o pai dele.
Olho para Bruno e reflito.
Será que deveria denunciar Caio em relação a nossa primeira vez?
— Roubamos a casa dele, se ele for preso, também seremos! Não posso... — tento
justificar.
— Sem essa, Carlos! Você ama esse filho da puta e por isso vai deixá-lo impune?
— O que? Eu não o amo! — Nego o óbvio.
— Você acha que não vi como vocês se olhavam no Natal? Aquilo era olhar de amor.
Reflito sobre isso, nos conhecemos há um mês e reconheço que estou apaixonado, mas
depois de saber a verdade, não posso permitir que continue com esse sentimento.
Bruno se aproxima, me abraça e não sinto quando minhas lágrimas voltam.
Repouso a cabeça em seu peito largo e choro por um bom tempo.
*
Já faz mais de uma hora que estou na casa de Bruno e meu celular não para de tocar. Caio
me liga de minuto a minuto, mandando vários recados de áudio e SMS.
Olho um deles e suspiro.
Caio: Por favor, me atenda, vamos conversar melhor, não podemos acabar assim,
gosto de verdade de você.
Ignoro a mensagem e olho para Bruno.
— Ele não para de me ligar, já me mandou milhões de mensagens e deixou vários recados
na caixa postal. — Sinto meu coração apertado.
— Ignore! É melhor pensar no que vamos fazer.
— Estou com medo... Não quero mais mentir para a minha mãe, não quero mais viver
essa farsa.
Meu amigo me olha e assente.
— Acho que é melhor mesmo, está na hora de pagarmos pelos nossos erros — diz
convicto.
Olho para ele e ergo a sobrancelha.
— Não vou te envolver nisso, ninguém precisa saber que você participou.
— A Regina sabe. Eu contei toda a verdade para ela hoje, também não quero viver com
mentiras, por isso precisamos conversar.
— Como ela reagiu? — Fico pasmo.
— Ela disse que gosta de mim de qualquer jeito e que se Caio nos perdoou, ela também
perdoa.
— Não disse para ela sobre a submissão?
— Não. Carlos, e-eu preciso te dizer uma coisa — diz receoso.
Não presto muita atenção no que ele diz e vou até a porta.
— Preciso ir embora, me dê uns dias, vou pensar sobre o que fazer.
Ele concorda e sigo para a casa, no caminho penso sobre tudo que está acontecendo; estou
apaixonado por Caio e é um sentimento recíproco, porém seu pai destruiu minha infância, me
fazendo ter diversas noites em claro, me privando de algumas coisas e, além disso, viver me
culpando.
Agora tem o Caio, que é filho dele. Mesmo apaixonado por ele, sinto nojo e desprezo por
suas atitudes.
Idiota fui ao acreditar que isso ia dar certo.
Porém, não adianta ficar chorando pela minha decisão do passado, preciso resolver minha
vida e pensar no que vou fazer. Penso em dona Marisa e vejo que ainda não chegou a hora de
dizer a verdade para minha mãe, mas chegará, em breve.
Capítulo 40 - Dias
Chegando em casa, forço um sorriso no rosto e vou falar com minha mãe.
Digo para ela que “meu chefe” está melhor da suposta gripe e acho que a mentira cola, já
que ela apenas sorri e segue para o seu quarto.
Me tranco no meu, aproveitando que Rafael está fora e choro durante várias horas.
É uma mistura de sentimentos...
Minhas inseguranças, a vergonha, além do sentimento que tenho por Caio. E mesmo que
minha razão quisesse dizer o contrário, apesar de tudo, estou preocupado com ele.
Como será que ele está?
*
Os dias passam devagar e a falta de notícias é ainda o pior, além, é claro, de ter que
manter a história de que trabalho com Caio. Assim todo o dia levanto e vou para casa de Bruno e
Lucas.
A essa altura, já contei tudo o que ocorreu para Luc. Até saber o que fazer, foi necessário
pedir a ajuda dele, até porque com o rompimento com o Caio, não terei dinheiro para ajudar a
minha família. Tive que pedir um empréstimo, ao que meu amigo me atendeu de pronto.
Em meio as muitas conversas, acabo confessando que sinto nojo de Caio.
— Ele não tem culpa do que o pai fez e Caio não abusou de você, sua mente está achando
isso por conta do que passou quando criança — diz Lucas firme.
Meus sentimentos ainda estão muito confusos entre a raiva, decepção e saudade.
Lucas pode até ter razão, mas como poderei perdoá-lo?
Apesar do sentimento que tenho por ele, não consigo pensar em perdão, afinal Caio fez
coisas horríveis comigo, certo?
Além disso, já tinha jogado minha dignidade no lixo por conta do roubo e me manter num
jogo em que me sinto mais diminuído, não faz sentido na minha cabeça.
*
Mais três dias passam...
Estou na casa de Bruno o observando jogar videogame e minha mente vagueia em
lembranças.
Lembro do dia em que Caio e eu nos vimos pela primeira vez, ele estava tão nervoso,
quanto eu, assustado.
O olhar duro vindo em minha direção, a proposta indecente de eu ser seu submisso. Tudo
volta à minha mente como um filme; nós dois no Ibirapuera, correndo dele na livraria, o
treinamento que tivemos na sua casa...
Lembro dele de sunga e dou um sorriso, mas logo em seguida recordo que após o
treinamento, ele fez um sexo comigo, o que me causou mais um trauma.
Paro de pensar nisso e olho para o relógio, Regina chegará em breve, então, para não a
encontrar, decido ir para o apartamento de Lucas até dar o horário para retornar para casa.
Estaciono o carro e subo.
Luc me atende e olha atentamente para mim.
— Você a cada dia fica mais acabado, Carlos — constata.
Não consigo responder, simplesmente vou para o sofá.
Rafael está sentado e me observa.
— Fiquei sabendo que você e Caio terminaram. Lucas não me disse o motivo e nem quero
saber, mesmo assim, sinto muito.
— Obrigado, vou superar.
— Vai sim, lembro de uma vez que Lucas e eu terminamos e foi muito difícil para mim.
Não parava de chorar e não sabia por que não estava com ele, mas no fim nos resolvemos. O
amor sempre vence no final.
“Será que vence mesmo?”
*
Mais uma semana passa sem nenhuma notícia de Caio e a cada dia me sinto pior por não
ter como resolver nossa situação.
Se não tivesse descoberto a verdade, como estaríamos?
Não tenho como fugir do que aconteceu, uma hora ou outra a verdade virá à tona e isso
tudo acabará. Reflito em como tudo que aconteceu entre Caio e eu acabou rápido e seco as
lágrimas.
— Não adianta você ficar chorando, Carlos, precisa resolver a situação alguma hora —
diz Rafael quando está saindo com Lucas para o trabalho.
— Deixe-o, uma hora esse cabeça oca vai resolver isso. Vamos. Até logo, Carlos, tem
comida na geladeira e, por favor, melhore essa cara.
Assinto para os meus amigos e me despeço deles.
Aproveitando que Rafael e Lucas não estão no apartamento, pego o notebook e pesquiso
sobre ele. Digito o nome Caio Brown no Google e aperto o enter, de repente, encontro algumas
notícias na mídia. A mais recente diz, “Caio Brown se afasta do comando da sua empresa por
doença.”
Engulo em seco e abro o link, roendo as unhas de ansiedade.
“Nesta manhã de 02 de janeiro, recebemos a notícia que Caio Brown se afastou
temporariamente da sua empresa por motivos de saúde. Sua assessoria respondeu que está
tudo bem, mas que o jovem de 29 anos precisa de descanso.
— Caio anda estressado e achou melhor se afastar — diz sua recepcionista Regina.
— Esperamos que retorne logo ao trabalho, parece que sem ele não há nada a fazer.”
Fecho o link e suspiro.
Caio estressado?
Isso só pode ser mentira, nada abala aquele homem. Talvez esteja se sentindo chateado
por termos rompido ou pensando sobre o que havia acontecido conosco, ou simplesmente está
estressado mesmo...
*
Chega o décimo dia sem notícias do meu antigo dominador e, a cada segundo que passa,
meu coração dói ainda mais. Sinto falta dos seus abraços, dos seus beijos, do seu corpo e até
mesmo do sexo. Gosto muito dele apesar de tudo, mas não consigo conceber a ideia de perdoá-
lo.
— Ainda nada? — pergunta Lucas querendo saber se já tive notícias.
— Não — respondo me levantando, olho a hora e suspiro. — Melhor ir embora, minha
mãe está me esperando.
Lucas assente e revira os olhos.
— Vocês precisam conversar, já faz dias que isso aconteceu, está mais do que na hora de
serem homens o suficiente para se enfrentarem pessoalmente. Carlos, você está um lixo
ambulante, olha a sua aparência, não sei como sua mãe não desconfia de nada.
Olho a figura triste no espelho, minha barba está enorme, o cabelo despenteado...
Estou largado.
— Ainda não estou preparado, até amanhã. — Me despeço.
Ele acena irritado, não dou bola e saio.
Desço sem ao menos olhar para os lados e entro no meu carro.
O carro que Caio havia me dado...
Infelizmente, não posso devolvê-lo agora, pois minha família estranharia.
Sigo para casa observando o trânsito e penso no que Caio está fazendo, mas logo afasto
esses pensamentos.
— Esqueça, Carlos, acabou! — digo para mim mesmo.
*
Vinte e três dias sem notícias do Caio e já não sei o que fazer, muito menos o que pensar.
Às vezes sinto vontade de ir até a casa dele e dizer que tudo deveria ser esquecido, mas em
outras, penso que não, não dá para perdoar Caio Brown e o seu falecido pai.
Os pesadelos também voltaram...
Quando fecho os olhos e adormeço, revivo todo o abuso que o pai dele fez contra mim e
durante o ato seu rosto se transforma no de Caio, sempre acordo gritando.
— FILHO! — minha mãe grita desesperada enquanto me sacode.
Rafael está viajando com Joyce e, graças a isso, o quarto é só meu.
— O que foi? Você está suando, por que está chorando?
Estou aos berros e chorando compulsivamente.
Me sinto culpado...
É minha culpa!
Poderia ter impedido tanto Caio quanto seu pai, mas o que eu fiz?
Eu permiti, permiti que me Oliver me estuprasse e que Caio me colocasse nesse jogo
sádico!
Então não aguento mais, abraço minha mãe e choro. É doloroso demais tudo isso que
estou passando e me pergunto como Caio está neste momento.
“Eu também estou apaixonado por você!”, essa lembrança me atormenta.
— Foi só um pesadelo, desculpa. — Tento tranquilizá-la.
— Um bem feio, imagino, para fazer você gritar e chorar desse jeito — pondera.
Ficamos em um silêncio angustiante, então sentamos e ela aperta minhas mãos nas suas.
— Carlos, tem alguma coisa acontecendo? Você e Caio... O que houve?
É incrível como, às vezes, consigo ser tão transparente.
Claro que ela acha que há alguma coisa errada entre nós. Nos últimos vinte e três dias,
minha mãe ficou pedindo para levar Caio para jantar conosco e eu sempre dizia que “não, ele
está trabalhando demais e infelizmente não tem tempo para isso”.
— Meio que brigamos. Caio às vezes consegue ser uma pessoa muito difícil de lidar —
digo sem graça.
— Vocês estão juntos? — pergunta dona Marisa.
Nego com a cabeça.
— Não mais, terminamos.
— Mas por que, meu filho? Vocês pareciam tão felizes! Achei que finalmente você tinha
encontrado alguém bacana, não que estava pensando no dinheiro dele, mas Caio parecia ser uma
boa pessoa.
E ele é...
Caio e eu tivemos bons momentos juntos, isso eu não posso negar. Então, mais uma vez,
me lembro do nosso passeio no parque; sua corrida atrás de mim quando escapei do seu carro e
me enfiei em uma livraria; nossa transa na escada; o primeiro dia que treinei com ele e nadamos
na piscina tranquilamente, apesar de estar extremamente nervoso, e todos os outros momentos,
como o Natal e o Réveillon. E claro, o momento em que assinei o maldito contrato de submissão.
Será que ele havia entregado ao seu advogado?
Como ficará em relação a isso?
Penso na cópia que ainda tenho guardada debaixo da gaveta e suspiro.
— Caio e eu meio que discordamos em um assunto e nessas divergências, acabamos por
brigar.
Minha mãe me observa, abre um sorriso suave, aperta ainda mais minha mão e me abraça.
— Que bobagem, querido. Vocês se gostam tanto e brigaram por isso? Uma hora ou outra
um dos dois terá que dar o braço a torcer e pedir desculpa. O amor é assim mesmo, passamos por
tempestades, por marés altas, mas, no fim, encontramos o arco-íris. Se você gosta mesmo dele,
perdoe e aprenda a pedir perdão. — Levanta e sai do quarto, me deixando pensativo.
Ela não conhece o real motivo de nosso rompimento, porém, eu sei que tem razão. Um
dos dois terá que dar o braço a torcer e pedir desculpa.
Seria tão errado assim ele pedir primeiro?
Lembro dos milhões de recados e mensagens, Caio estava arrependido e muitas vezes me
pediu perdão, mas eu tinha ignorado.
Suspiro.
Agora é a minha vez de dar o braço a torcer e perdoá-lo.
Vamos ver no que vai dar.
Capítulo 41 - Elijah Brown
Após a conversa com minha mãe, decido procurar por Caio. Já faz vários dias que
não nos encontramos e acho necessário tentarmos nos resolver. Ainda não consigo conceber
totalmente a ideia de perdoá-lo, mas tentarei, ao menos, conversar a respeito de alguns assuntos.
Gosto bastante dele e sei que Caio sente o mesmo, porém, com toda a situação que
tivemos, não sei se vai ser tão fácil assim perdoá-lo. Na verdade, nossa relação, se é que se pode
chamar assim, começou de uma maneira nada convencional.
Quem pediria para o homem que te roubou, se tornar seu submisso?
Somente Caio!
Saio de casa e vou direto para o apartamento, sei que estará lá, afinal, ele não fica muito
em sua casa.
Ao chegar no edifício onde mora, entro e sigo para o elevador, todos me conhecem, então
não é necessário me identificar ou ser anunciado.
Aperto o andar e respiro fundo.
O que acontecerá de agora em diante?
Qual será a minha reação ao vê-lo?
A ansiedade e o nervosismo fazem meu estômago embrulhar, ainda bem que não comi
nada, não seria nada legal vomitar nos pés dele, mas até que seria engraçado.
A porta abre e, mais uma vez, respiro fundo para tomar coragem. Sigo até a única porta do
andar e bato devagar, desejando que Caio não atenda.
Alguns minutos seguem sem resposta alguma.
Aperto a campainha e se tudo estivesse normal como antes, era para estar lá dentro tendo
mais uma aula idiota de etiqueta, mas...
A porta abre me tirando dos meus devaneios e à minha frente está um homem que não
conheço, é bonito e muito parecido com Caio, barba e cabelo ruivo, olhos azuis, pele clara e
sorriso gentil.
— Oi... o Ca-Caio está? — digo com certa dificuldade, com o ar sumindo dos pulmões.
— Ele está sim. Você gostaria de entrar? — diz o rapaz com uma voz sensual e confiante.
De alguma maneira isso me acalma e o sotaque forte mostra que não mora no Brasil.
— Ah, sim, por favor. — Entro assim que me dá passagem.
Observo o apartamento, tudo continua da mesma maneira, a não ser pelo cheiro ruim que
paira no ar e concluo que Caio não anda limpando a casa.
— Desculpa pelo cheiro. Caio não deixa ninguém entrar aqui, ele diz que quer
privacidade total, está muito mal — justifica, como se lesse meus pensamentos.
— O que ele tem?
— Eu não sei. Ele só sabe dizer que fez besteira e diz que nosso pai também, mas sei lá.
Afinal, quem é você?
Engulo em seco e me seguro para não cair.
Escutei direito?
— “Nosso pai?” — repito não ligando para a sua pergunta.
— Ah, sim, é meio que novidade tanto para ele quanto para mim. Desculpa não me
apresentar, sou Elijah Brown, irmão de Caio Brown, muito prazer.
Ele estende a mão e aperto.
Sinto um arrepio percorrer todo o corpo.
Claro que tem uma semelhança entre eles, é evidente.
Reviro os olhos.
— Muito prazer, sou Carlos Alberto, o motivo de Caio estar tão mal. Ele nunca me disse
que tinha um irmão.
— Ah, como eu disse, é novidade para ele — responde Elijah e noto que o forte sotaque é
londrino. — Nosso pai me escondeu muito bem.
— Entendi.
Quer dizer que o canalha do pai de Caio tinha outro filho?
As coisas ficam cada vez mais loucas.
— Você disse que é o real motivo dele estar mal, por quê? — pergunta intrigado.
— É complicado — respondo e decido sentar.
Ele faz o mesmo e ficamos perto um do outro, sua perna batendo na minha.
— Caio e eu tivemos uma história.
— Vocês eram namorados?
— Não chegamos a nos chamar assim, mas fomos alguma coisa — respondo e continuo a
observá-lo, ele é tão parecido com o irmão que até dói.
— Legal, e agora vocês terminaram.
— Exatamente — afirmo.
A conversa com ele flui tão bem que me assusta.
— E você, como veio parar aqui?
— Ah, me...
Uma voz que conheço muito bem corta a frase do homem ao meu lado.
— Carlos? — diz Caio surpreso.
Levanto, viro para ele e meu coração martela mais forte.
Caio está lindo.
O cabelo está molhado, a barba desgrenhada, seu olhar demonstra tristeza, mas também
um “quê” de alegria. Ele veste somente calça moletom, deixando seu peito nu à mostra.
Engulo em seco ao me lembrar de quantas vezes o beijei bem ali.
— Oi — consigo dizer.
— Que bom que você apareceu — diz ainda parado.
Sinto que ele quer se aproximar e me abraçar, tanto quanto eu, mas fica no mesmo lugar
que está.
— Precisamos conversar, resolver algumas coisas pendentes — proponho sério.
— Claro, podemos ir até o meu escritório — concorda.
Volto para Elijah e sorrio.
— Foi um prazer te conhecer, depois quero saber direito como apareceu aqui. — Aperto
sua mão e vejo o olhar de Caio analisando esse pequeno ato.
Será que deseja estar no lugar do irmão ou só quer me dar umas bofetadas por flertar com
Elijah?
— O prazer foi todo meu, podemos sair qualquer dia para você me mostrar São Paulo, já
que Caio está inacessível ultimamente, mas agora entendo, vendo o motivo da tristeza.
Pisco para ele e sigo para o escritório de Caio.
Ele não se aproxima de mim, o que é um alívio. Fecha a porta atrás de nós e fico próximo
à janela.
— Não precisava ficar dando em cima do meu irmão na minha frente — comenta
levemente irritado.
— Engraçado, né? Vinte e quatro dias atrás nem imaginava que você, Caio, tinha um
irmão tão gostoso — provoco.
Olho para ele e vejo seus punhos se apertarem.
— Quer ficar com ele? Ele iria gostar muito, pelo jeito que te olhava.
Finjo pensar sobre o assunto, então dou um sorriso torto e nego com a cabeça.
— Apesar dele aparentar ser diferente de você e do seu pai, não quero nada com nenhum
Brown — concluo.
As palavras atingem Caio de uma maneira que não imaginava, ele abaixa a cabeça e fica
em silêncio.
— Sobre o que gostaria de conversar? — indaga por fim.
— Sobre nós, tomei uma decisão.
— Que decisão?
Eu não sei mais o que fazer, cada dia está mais difícil de me manter longe de Caio e estar
aqui em frente a ele me incomoda; mesmo querendo pular em seus braços e enchê-lo de beijos,
sei que ele e seu pai abusaram física e psicologicamente de mim apenas para o próprio prazer
deles próprios, e isso me dá náuseas.
Já faz uns dias que ando pensando a respeito, não tenho como dimensionar os reflexos
dessa decisão, mas é o melhor.
Anuncio minha decisão de falar tudo para a minha mãe sobre nós, irei me entregar para a
polícia por conta do roubo e o denunciarei por abuso e chantagem, ao me obrigar a ser seu
submisso.
Gosto muito de Caio, não sei mais viver sem ele, mas ele tem que pagar pelo que me fez.
Assim como eu.
É a hora da minha família saber a verdade e Caio e eu irmos para a cadeia juntos.
Caio ouve tudo sem dizer nada, parece que a cada palavra que digo, mais encurvado ele
fica, como se um peso repousasse em suas costas.
— Vai ser melhor... Eu pago pelo que fiz e você também.
Depois de uns minutos em silêncio, ele concorda.
Caio ergue a cabeça e seus olhos estão marejados.
— Isso vai te deixar feliz? — questiona com a voz embargada.
Não era isso o que eu esperava...
Achei que iria pestanejar e dizer absurdos para mim.
— Vai me deixar aliviado, não consegui ver seu pai atrás das grades, mas posso ver você,
Caio. Você tem que pagar pelo que me fez, e eu pelo o que o fiz.
— Tudo bem. Se você vai ficar feliz com isso, eu me entrego para a polícia, quero apenas
que seja feliz.
— Estarei na cadeia junto com você — digo sem entender onde quer chegar.
— Não precisa se entregar. Só eu farei isso, cuide da sua mãe e do Robertinho, eles
precisam de você.
Me calo.
O que Caio está me pedindo?
— Vou me entregar também, é melhor assim, espero que não pegue uma pena muito alta e
foi um prazer te conhecer.
Sigo para a porta, Caio se aproxima de mim, segura minha mão e sinto uma eletricidade
percorrendo todo o meu corpo. De repente nossos lábios estão colados em um beijo urgente,
ofegantes, desejando mais que tudo esse pequeno ato de prazer. Seguro seu cabelo o beijando
mais ainda, enquanto ele passa suas mãos pelo meu corpo, apertando minha bunda e meu pau
que já está duro. Aperto seu membro e lembro de todas as vezes que esteve em mim e,
principalmente, na nossa primeira vez. Então me afasto e seco as lágrimas que teimam em
aparecer.
— Adeus, Caio. Acabou.
— Por favor, Carlos... Não vá embora de novo, você não sabe como tem sido horríveis
esses últimos dias. Mal durmo, mal como, só consigo pensar em você — suplica.
— Eu também — confesso. — Mas não dá, Caio. Você me forçou... seu pai, é difícil de
esquecer isso tudo.
Ele fica em silêncio e saio apressado.
Percebo que Caio não vem atrás de mim e passo pela sala em direção à saída, vendo
Elijah sentado.
— Quer tomar um café comigo? — convido.
Elijah levanta e aceita, então saímos do apartamento juntos.
Sinto que essa é a última vez que estarei aqui e que esse café será a última coisa que farei
com a minha liberdade.
Capítulo 42 - Passeio
Entramos no estabelecimento e vamos direto para o balcão, como Elijah não conhece
quase nada em São Paulo, decidi trazê-lo para tomarmos um café na Starbucks. Ele conta que
veio de Paris e que passou alguns anos em Londres, mas foi embora ainda criança para lá.
Peço pães de queijo, croissants e dois cafés com creme. Nos acomodamos em uma mesa
mais reservada, ele fica de frente para mim com nossos braços apoiados na mesa quase nos
tocando.
Elijah conversa comigo tranquilamente e vejo o quanto ele é divertido. Diz que sou um
rapaz muito bonito para ficar chorando e que se for para seu irmão e eu ficarmos juntos, tudo vai
se encaixar.
Parece que ele não ouviu nossa conversa, o que me deixou aliviado, pois seria perturbador
demais ter que explicar que Caio tinha gostos peculiares na cama e o que havia feito,
principalmente seu pai já morto.
— Então, você e Caio ficaram quanto tempo juntos?
— Pouco mais de um mês — revelo me sentindo envergonhado; foi pouco tempo para
tanta história.
— Na juventude da paixão — diz sorrindo. — Gosta muito dele, não é? Eu vi pelo seu
olhar e ele também gosta de você.
— Que tal você ser o assunto de hoje? Não quero falar muito sobre seu irmão.
— O que quer saber? — pergunta com um sorriso no rosto.
— Tudo! Como é Paris? E Londres?
O assunto com ele flui de uma maneira tão calma que me espanta, parecia que nos
conhecemos há anos e não há uma hora.
— Os parisienses são pessoas incríveis — diz com entusiasmo. — Adorava ir à Torre
Eiffel, passear pelas ruas... Tudo é maravilhoso. A cada passo que você dá é uma nova paixão, as
comidas são excelentes, os passeios. Deveria conhecer um dia.
Sorrio, pois apesar de não conhecer o lugar, consigo imaginar tudo.
— Já Londres é sempre tão frio — compara, enquanto o atendente coloca o nosso pedido
sobre a mesa. — As pessoas andam muito bem-vestidas, há pubs em cada esquina, passeios. Os
trens são a parte mais interessante, você faz maravilhas com um trem.
Fico ouvindo Elijah falar enquanto beberico meu café, mordo o pão de queijo e sinto o
sabor invadindo a minha boca.
— O castelo... — relata Elijah. — Não dá para explicar, você precisa ir até lá para
conhecer, ver com seus próprios olhos a maravilha que os homens e Deus fizeram.
Rimos e continuamos a comer.
— Quem sabe um dia eu vá — comento.
“Depois que pagar minha pena, talvez?”
— Meu sonho é conhecer esses lugares, assim como Lisboa.
— Já fiz uma rápida passagem por lá. Passei pela Espanha também, mas foram lugares
que não deu para conhecer muito. E você?
— Eu o quê?
— Já foi para algum país?
Dou risada e nego com a cabeça.
— Nunca, o único lugar que conheci foi Jundiaí e Campinas.
Caímos na risada ainda mais.
— Você precisa conhecer um dia todos esses lugares. Podemos ir qualquer dia, o que
acha? — propõe.
— Seria bom, quem sabe daqui uns quatro anos? — digo sorrindo e emendo — Me diga,
porque estou curioso, como veio parar aqui? Como encontrou Caio? Ele disse que não tinha
família.
— Caio não sabia da minha existência até um tempo atrás — explica. — Quando soube,
ficou muito atordoado, nunca vi uma pessoa daquele jeito.
Ouço sua resposta e lembro do dia do Ano Novo, Caio estava muito estranho. Então
lembro que quando entrei no apartamento, sobre o balcão havia três taças de vinho usadas.
Quem mais estaria lá além dos dois?
— Você ainda não me disse com quem veio para cá — digo pressentindo o pior.
— Ah, eu vim com meu pai, ele que me trouxe até Caio.
*
Saímos da cafeteria e seguimos até o Ibirapuera, Elijah diz que quer conhecer o parque de
qualquer jeito e, como não estou trabalhando, decido levá-lo.
Deixamos o carro no estacionamento do prédio de Caio e seguimos para lá. Admito que
ainda estou pensando nas palavras de Elijah, o pai dele o trouxe até Caio.
Talvez seja o homem que o adotou?
Afinal, Elijah não foi criado com Caio, e pelo que reparei, é muito rico, assim como o
irmão, então, não veio atrás de Caio por interesse. Fico com receio de perguntar qual é o nome
do seu pai, é melhor ficar na dúvida do que ter mais uma verdade dolorosa diante de mim.
Andamos pelo parque, pegamos as bicicletas e vamos até a ponte de ferro. Alimentamos
os patos escondidos e comemos cachorro-quente, que Elijah adorou.
Pode até ter sido maldade da minha parte, estar ali, me divertindo enquanto o homem que
eu gosto, sofre em seu apartamento, mas se estou decidido a ser preso com Caio, tenho que
aproveitar meus últimos momentos de liberdade.
Não me constranjo por ter ido até lá com Elijah, é uma maneira de esquecer o passeio com
Caio, mas sei que estou enganado.
Voltamos para o prédio por volta das 15 horas, rindo muito por ter derrubado sorvete na
minha roupa.
— Bem, foi divertido — diz Elijah sorrindo. — Obrigado, Carlos, gostei bastante do
nosso passeio.
Retribuo o comentário com um sorriso.
— Eu também gostei, agora é melhor eu ir embora. Você tem um irmão deprimido para
animar.
Ele concorda e me abraça.
Já estou partindo quando ele me para e pede meu telefone. Depois de dar meu número,
pego o carro e vou para casa ao som de Girl Gone Wild da Madonna.
Assim que chego em casa, meu celular apita mostrando uma nova mensagem.
Abro, vejo um número diferente e ao ler percebo que é de Elijah.
“Meu irmão não estava em casa.
Ele deixou um bilhete, dizendo que foi à delegacia mais próxima se entregar por ter
feito algo de ruim com você.
O que aconteceu, Carlos?
Precisamos impedir meu irmão de fazer isso.”
A mensagem me deixa tão apavorado que nem respondo.
Capítulo 43 - Depoimento
Leio a mensagem diversas vezes antes de entrar e encontrar minha mãe tomando chá
com nossa vizinha. Apenas aviso que preciso conversar urgente com ela e que é melhor a sua
convidada ir embora e nos deixar em paz.
Ao ver minha mãe tão decepcionada e aturdida, minha vontade é de sumir e até mesmo
acabar com tudo. É doloroso demais ver a mulher forte que minha mãe é, parecer tão vulnerável.
— Me perdoa, mamãe... Eu não queria chegar a esse ponto, mas não tive escolha —
suplico.
Ficamos em silêncio e somente nossos soluços ecoam pela casa.
— Podia esperar isso do Rafael, mas não de você! — diz triste. — Você agora vai ser
preso porque quis me alimentar, alimentar seus irmãos! Não é justo, meu Deus, não é! — Ela me
abraça.
Envolvo minha mãe em um abraço apertado, desejando que tudo isso não passe de um
sonho, mas então lembro que Caio já deve estar na cadeia.
— Não se preocupa, vai dar tudo certo. Vou pagar pelo que fiz e Lucas junto com Bruno e
Rafael vão te ajudar. Tenta ser forte, pelo Robertinho, agora vou até a delegacia e não conta nada
a ele, por favor, mãe, por favor.
Ela me abraça forte.
— Me perdoa, de coração.
Ela assente e beija meu rosto.
— Me perdoa também por ter permitido que as coisas chegassem a esse ponto, fui fraca e
deixei tudo nas suas costas, me perdoa, de verdade.
E eu a perdoo.
*
Não sei como consegui chegar à delegacia onde, provavelmente, Caio está. Ao entrar o
encontro de pé conversando com o delegado Martins. Olho para ele depois para Caio, que está
com os olhos inchados, a boca entreaberta e o olhar de raiva contida por eu estar aqui.
— Vejo que chegou bem na hora — diz Martins me observando. — Caio insistiu muito
para que não fosse atrás de você, quis até me chantagear, acredita? Mas sabíamos que você viria.
— Você é tão idiota, Caio! Achava o quê? Que eu ia me derreter com sua iniciativa e não
viria até aqui? — digo nervoso.
Eles ficam quietos e várias pessoas à nossa volta nos observam.
— Já pode nos levar... Caio por chantagem e abuso, e eu, por roubo — sentencio.
— Queria que todos os ladrões fossem iguais a você, garoto. Imaginei que tivesse sido
você que roubou Caio. Naquele dia no escritório dele, achei toda a situação muito estranha, mas
enfim, vamos, vocês precisam depor e após isso, será necessário um exame de corpo de delito,
afinal, o senhor acusa Caio Brown de abuso sexual e psicológico.
Engulo em seco ao ouvir isso, não havia pensado que teria que depor e muito menos fazer
um exame de corpo de delito. Me vejo andar com Caio ao meu lado e Martins à nossa frente. O
delegado diz que serei o primeiro a prestar o depoimento, então me afasto de Caio e o vejo ser
levado para uma cela vazia. A cada passo que dou, me sinto mais nervoso ainda com um medo
gigante tomando conta de mim.
— Não se preocupa, tudo dará certo. Vamos.
Seguimos por um corredor, logo avistamos uma saleta, entramos e Martins oferece o lugar
para que me sente. Não tem quase nada na sala, a não ser uma cadeira de frente para uma mesa, o
escrivão sentado do outro lado e uma cadeira onde Martins se acomoda.
— Pode começar a depor — diz Martins.
Olho para ele um pouco confuso.
— Começo por onde?
— Que tal pelo roubo e sobre o dia em que fui até o escritório de Caio?
Concordo com um aceno e me lembro do dia em que roubei Caio com a ajuda de Bruno,
então aos poucos vou contando para ele, dizendo que fiz tudo sozinho, não posso deixar meu
amigo no meio dessa situação.
— Então o senhor está me dizendo que após roubar Caio, no dia seguinte vocês se
encontraram?
— Sim, isso mesmo, foi aí que Caio e eu tivemos nosso primeiro contato, estava muito
desesperado.
— E o que fez Caio mudar de ideia sobre te colocar atrás das grades?
— Bem, ele me fez uma proposta — digo nervoso, de olho em Martins que me encara e
no escrivão, que anota tudo que estou dizendo.
— Que tipo de proposta foi essa?
Tento controlar algumas lágrimas que invadem meus olhos, então após secá-las, digo:
— Ele me ofereceu dinheiro, em troca eu seria seu submisso sexual, faria coisas com ele...
Martins me encara e acena para que eu continue, então conto tudo.
— O senhor então está me dizendo que além dele ter perdoado o roubo, ofereceu ainda
mais dinheiro para você ser seu “escravo sexual”?
— Exatamente, fechamos um contrato, ele me deixaria livre e eu seria seu submisso.
Martins olha para o outro homem e balança a cabeça suspirando.
— Percebe que esse sexo que você diz ser estupro, foi consensual? — me questiona com a
sobrancelha erguida. — Quero dizer, se ambas as partes estavam de acordo sobre o que
aconteceria, não foi um abuso, nem sexual e muito menos psicológico, como o senhor alega.
— Como assim? — pergunto com a voz embargada.
— Você estava ciente dele, pode até não ter gostado, porém sabia que teria que fazer. O
senhor não foi estuprado por Caio Brown, simplesmente fez sexo com ele ciente de toda a
situação.
Engulo em seco sem saber o que fazer.
— O que vai acontecer agora?
— Pode sair, um policial está do lado de fora te esperando, vou ouvir o depoimento de
Caio agora e ver onde isso vai dar.
Aceno e levanto, indo em direção a porta e encontrando um homem à minha espera. Ele
me leva até a cela onde Caio está e assim que meu ex-dominador sai, sou colocado dentro dela.
Observo Caio uma última vez antes dele ser guiado para a saleta que estava antes e
começo a chorar.
Toda essa situação me deixa completamente chateado, como aquilo que Martins me disse
faz sentido.
Tudo poderia não ter passado de uma confusão, certo?
Lembro que meu amigo Lucas havia me dito isso e não quis dar ouvido, porém, ainda tem
o roubo e sei que vou pagar por ele.
*
O tempo passa devagar e ainda não sei o que vai acontecer.
Após um bom tempo, Martins aparece com Caio e abre a cela.
— Vocês estão liberados, podem ir embora.
— O quê? — Levanto sem entender.
— Caio disse que você não o roubou, até mesmo tirou a queixa que havia feito. Como te
disse, o sexo foi consensual. Se o senhor quiser, podemos fazer o exame de corpo de delito e
investigar o caso.
Olho para Caio e ele me encara.
— Não sei, posso pensar?
Martins revira os olhos e concorda me puxando.
— Vão para casa, amanhã entro em contato com vocês, espero que essa maldita confusão
se resolva logo! Não tenho tempo para ficar dando de psicólogo de casais.
Concordo com ele e Caio e eu saímos para fora da delegacia.
Vou em direção ao meu carro e o vejo parado com o telefone em mãos.
— O que foi?
— Nada, estou pedindo um Uber, vim de táxi para cá. — Seus olhos estão vermelhos
assim como os meus.
— Posso te dar uma carona se quiser.
De pronto, Caio aceita e logo estamos no trânsito de São Paulo. Ainda não consigo
acreditar que realmente estou solto, preciso de qualquer maneira entrar em contato com minha
mãe, pois ela deve estar muito preocupada.
— O que você disse para Martins?
— O óbvio, disse que você não me roubou, eu te dei o dinheiro.
— Você sabe que a história real é muito diferente dessa que contou para a polícia — digo
parando no semáforo.
— Quem nunca mentiu?
— Tudo bem, obrigado, só que te acusei de abuso sexual e psicológico.
— Eu sei, posso até ter errado na nossa primeira vez, mas... Por favor, precisamos
conversar sério.
Paro o carro no meio-fio e vejo que estamos no prédio de Caio.
— Conversar sobre o quê?
— Sobre meu passado, quero me abrir com você.
Encaro Caio e concordo, então saímos do carro e seguimos para seu apartamento.
O lugar continua fedido e graças a Deus está vazio. Caio força um sorriso para mim, mas
não retribuo, então seguimos para seu escritório, onde nos sentamos um de frente para o outro.
Quebrando o silêncio, falo:
— Contei tudo para a minha mãe. Exatamente tudo. Ela ficou muito abalada, queria ter
ido até a delegacia comigo, mas não permiti, preciso dizer a ela que estou bem.
O silêncio mais uma vez se instala e me mexo na cadeira.
— Sua mãe é uma mulher muito forte, lembra muito a minha, sinto falta dela.
— Imagino que deve sentir mesmo. Antes que me esqueça, o Elijah é adotado?
— Elijah? — Caio me olha e sua feição se transforma. — Gostou mesmo do meu irmão?
— Não mude de assunto! Ele é adotado? Como conseguiu te encontrar? — Corto a onda
de ciúme.
Ele acha que sou tão estúpido assim?
Caio me olha e em seguida abaixa a cabeça. De repente escuto seus soluços, e apesar de já
tê-lo visto chorar, me espanto. Não é todo dia que vemos uma pessoa como Caio Brown
chorando pelos cantos, literalmente falando.
— Carlos, lembra quando eu disse que havia feito algo muito errado?
Tento me recordar e assinto.
— Sim, lembro.
— É uma longa história, mas já que ainda não sabemos no que vai dar isso tudo, acho
melhor você saber de toda a verdade.
— Pode começar a dizer.
Apesar de vê-lo nesse estado, não perderei a chance de esclarecer algumas coisas.
— Você deve já ter se perguntado o motivo de eu ter um gosto tão peculiar no sexo... Vou
te dizer, mas garanto que não é uma história agradável de ouvir.
Capítulo 44 - Verdades
Caio respira fundo, meio que tomando coragem para iniciar sua história. E, por fim,
começa:
— Tudo começou quando tinha mais ou menos nove anos. Era um garoto bem agitado,
adorava sair pelos lugares a fora para me divertir. Meu pai era um homem muito tranquilo, ou ao
menos, era o que parecia. Já minha mãe era agitada igual a mim e, por isso, fazíamos muitas
viagens.
“Desconfio que tudo começou nessa época, quando fizemos uma viagem à Paris e meu
pai decidiu ficar na nossa casa em Londres, alegando que não poderia ir porque teria uma
reunião muito importante com um grande empresário e não podia remarcar.”
“Apesar de não poder nos acompanhar, mamãe e eu fizemos nossa viagem. Quando
voltamos, tudo parecia diferente. Meu pai estava com um olhar de quem não dormia há semanas
e dizia não ser nada, que estava tudo muito bem.”
“Mamãe começou a desconfiar que a estivesse traindo e, eu, ainda muito criança, achava
que isso não era possível.”
“Um dia voltei mais cedo da escola e minha mãe estava viajando a negócios a mando do
meu pai. Ele disse a ela que por ser uma boa esposa e mãe dedicada, fecharia aquele contrato
sem problemas e, também, por ter enormes seios.”
“Quando entrei em casa, ouvi um gemido e permaneci em silêncio para me certificar que
não estava imaginando coisas. O gemido baixo vinha do andar de cima. Coincidência ou não,
aquele era o dia de folga de metade dos empregados e os outros não estavam por perto.”
Ouço tudo atentamente, imaginando Caio pequeno, olhos azuis e inocentes, cabelo ruivo e
curto, e um corpo magro.
Ele suspira e continua:
— O gemido baixo vinha da biblioteca e o segui até lá. Abri a porta devagar para não
fazer barulho e me deparei com uma cena que não sai da minha mente até hoje. Meu pai fodia o
filho do nosso motorista, seu pau dentro dele, enquanto o garoto, de pouco mais de 12 anos,
estava amordaçado e com as mãos algemadas. Assim que ele me viu, ficou paralisado,
totalmente sem reação.”
“Quando caiu em si, fez o garoto que estava em lágrimas, ir embora exigindo que ele não
contasse nada a ninguém.”
“Ele foi logo falando que não era o que eu estava pensando, veio se desculpando e não
sabia o que pensar. Explicou que aquilo que havia feito foi sob ordem do garoto, que não era
estupro e que o menino tinha pedido.”
“Eu acreditei, mas fiquei chocado ao vê-lo traindo minha mãe com um menino. Papai
disse que era normal, mas que minha mãe não podia saber daquilo nunca e concordei.”
Não sou capaz de dizer coisa alguma, pois meu estômago embrulha.
Como Caio pôde fazer aquilo com sua mãe?
Como seu pai tinha coragem de pedir aquilo a uma criança?
Ele continua a relatar, submerso em suas lembranças.
“Fiquei intrigado com a mordaça e as algemas e perguntei para ele por que usava aquilo
no menino. Sua explicação foi que ele gostava daquilo e dava muito prazer. Perguntei com medo
se tinha mais garotos fora o que tinha visto e ele respondeu que tinha, mas que não era para eu
pensar nisso, pois ele amava minha mãe. Acreditei de novo em suas palavras e deixei passar, mas
confesso que os objetos não saíam da minha mente, então em um dia qualquer, que estava só
com meu pai, pedi para ver.”
— E seu pai te mostrou? — questiono com medo da sua resposta.
— Sim, mas não foi só isso. Quando ele pegou as algemas, perguntou se podia me
prender e deixei, depois pegou a mordaça e perguntou se podia colocar em mim e permiti. Ele
me observou e vi o seu olhar de malícia. Meu pai sussurrou no meu ouvido se podia abaixar a
minha calça e eu disse que não, mas ele não me ouviu.
Choro ao imaginar a dor pela qual passou, pois sei muito bem como é.
Como ele enfrentou aquilo tudo em silêncio?
Então lembro de mim, ele aguentou do mesmo jeito que eu.
— Ele não só colocou o pau em mim, mas também usou palmatórias, plugues e outras
coisas. Enquanto entrava e saía de mim, dizia que me amava e que sempre desejou aquilo... E só
pude chorar. Depois disso, me pediu para não contar à minha mãe, que era melhor. Fiquei quieto
durante anos, até ele ser preso. Minha mãe morreu de desgosto mesmo, Carlos.
Ficamos em silêncio durante alguns minutos que pareceram uma eternidade.
Caio Brown, o homem que eu achava que tinha me estuprado, também tinha sofrido
abuso...
Pelo próprio pai!
Um homem doente, louco, que só queria satisfazer seus desejos.
Um homem que se sentia atraído por crianças e não poupou o próprio filho.
— Após meu pai ir para a cadeia, contei a verdade para a minha mãe e ela não acreditou.
Ficou muito mal, se entregou com tudo a doença e antes de morrer disse que era um alívio, que
só lamentava por eu ficar sozinho. Ela foi fraca, não aguentou a doença, a traição do marido,
seus outros crimes e o estupro do seu filho. Preferiu a morte a lutar.
Choramos, um de frente para o outro, Caio com as mãos no rosto e eu com a cabeça
encostada na mesa, soluçando como duas crianças.
A dor nos consumindo.
— Sinto muito! Deve ter sido muito difícil isso tudo. — É o que consigo dizer.
— Ainda não terminei, vou te contar tudo, quero ser sincero com você em tudo.
Não posso imaginar o que mais teria a me contar, mas permaneço em silêncio.
— Meu pai tinha um irmão gêmeo, isso não era segredo para ninguém. Jorge era muito
diferente do meu pai, um pouco mais ambicioso, folgado e bandido igual. Lembra que eu disse
que perdi uma pessoa que eu amava?
— Lembro sim.
— Meu tio Jorge o matou, Carlos, porque descobriu que ele o roubou. Eu disse que
devolvia o que quer ele tivesse roubado, mas meu tio não aceitou. Ele se chamava Carlos, assim
como você, e tinha vindo para Londres para tentar um futuro melhor. Era brasileiro, estudante de
tecnologia e amava a vida de uma maneira que não sei te explicar.
“Certo dia estávamos na sala, deitados no sofá, tínhamos acabado de fazer amor e meu tio
chegou em casa furioso. Na sua mão tinha uma arma e ele gritava que Carlos o tinha roubado e o
xingava de filho da puta. Rapidamente nos levantamos. Meu tio continuou a gritar que Carlos
tinha roubado a pessoa que mais o ajudou e era verdade. Meu tio havia ajudado muito o Carlos e
fiquei com muito medo ao ver a arma em sua mão.”
“Pedi para meu tio se acalmar, tentei apaziguar as coisas, mas ele não me deu ouvidos, só
gritava que Carlos o havia roubado e Carlos acabou confessando. Foi aí que tudo aconteceu...”
“Toda vez que fecho os olhos ainda posso ouvir o tiro, Carlos caindo no chão, o sangue se
espalhando pelo tapete e meu tio limpando a arma. Depois ele virou para mim disse que iria ficar
tudo bem e que iriamos nos desfazer do corpo. Claro que não o ajudei, mas estava tão em choque
que só fiquei parado olhando. Depois de se desfazer do corpo de Carlos, ele veio até a mim, disse
que era melhor assim e simplesmente assenti.”
“A vingança é algo muito poderoso. Depois daquele dia, planejei a minha
cuidadosamente. Foi em um dia da semana, uma terça-feira, acho, que meu tio apareceu em casa
querendo me ver. Ele vinha às vezes para ver se o sobrinho órfão, com pai preso, não tinha se
matado. E nesse dia fiz um convite a ele. Dinheiro é poder e isso eu tinha de sobra.”
“Planejei tudo cuidadosamente e disse para os policiais da cadeia que poderíamos
aparecer a qualquer momento, então fui com meu tio visitar meu pai. Assim que cheguei dei o
sinal para os policiais, que desligaram as câmeras da sala de visitas. Meu pai veio, conversou
conosco e meu tio riu muito. O seu último dia de risada, porque o colocamos para dormir e
rapidamente meu pai trocou de roupas com ele. Assim que fizemos a troca de roupas, meu pai
assumiu a identidade do meu tio e meu tio a dele.”
“Quatro dias depois, recebi a notícia que meu suposto pai havia sido morto na cadeia e
meu pai verdadeiro, que agora estava livre, ficou surpreso.”
Surpreso eu estou.
Como Caio teve tamanha frieza de colocar seu tio atrás das grades e deixar seu pai livre?
O mesmo pai que abusou dele.
Aí penso em Carlos, que ele matou sem nenhuma piedade. Pensando dessa forma, não tiro
sua razão de ter feito a troca, apesar de não concordar.
— Não imaginava que seria morto... Só queria que pagasse pela morte de Carlos, por isso
havia feito a troca. A soltura do meu pai foi consequência do meu plano maluco. Não adiantava
ir até a delegacia e dizer que meu tio havia matado Carlos. Não tinha como provar, até da arma
ele tinha se desfeito e os empregados já não estavam mais na casa. Depois, fiz meu pai ir
embora, ainda não o havia perdoado e disse para aproveitar a liberdade, mas bem longe de mim.
Eu o odiava e queria vê-lo morto também, mas não tinha coragem. Ele disse que iria para Paris,
porque tinha coisas a tratar lá e esperava que um dia o perdoasse e voltasse a falar com ele.
Tudo começa a fazer sentido, Elijah ter vindo de Paris; o pai de Caio solto; Caio
desnorteado na véspera de Ano Novo; as três taças vazias; Elijah dizendo que o seu pai o trouxe
para o Brasil.
Congelo.
Meu coração bate descompassado e levanto sentindo o mundo desacelerar.
O pai de Caio e Elijah, o homem que me estuprou, estuprou Caio e tantos outros, está
vivo e muito mais perto de mim do que imagino.
O mundo gira e desmaio.
Capítulo 45 - Perdoar?
Acordo algumas horas depois na sala do apartamento de Caio. Olho para o teto,
ainda atordoado e sinto uma mão segurar a minha, então vou lembrando aos poucos o motivo do
desmaio tão repentino.
Caio disse que me ama e agora não somos somente dominador e submisso, somos
namorados.
Levanto com cuidado, não quero acordá-lo, mas preciso ir ao banheiro fazer minha
higiene e aproveitar para preparar o café da manhã.
Quando desço, sou surpreendido pela presença de Elijah na cozinha e Chris sentado
confortavelmente no sofá.
— Bom dia! — Cumprimento.
— Bom dia, Carlos — responde Elijah sorrindo.
Ele vem até a mim e me abraça, retribuo sem entender e então o observo.
— Valeu, cara, o apartamento estava um lixo. — Agradece.
Reviro os olhos e dou risada.
— Não sei como vocês estavam vivendo aqui.
Chris levanta e se aproxima de nós. Ele parece mais sorridente do que o normal e me
espanto com isso.
— Loucura, não é mesmo? — diz me encarando. — Você e Caio namorando, acabou o
contrato, então?
Elijah nos olha sem entender, respiro fundo e dou de ombros.
— Isso faz alguma diferença para você? Porque, até onde eu sei, isso é um assunto meu e
do Caio. — Ergo a sobrancelha, dou um sorriso irônico e viro para a geladeira para pegar um
suco. — Por que o espanto em saber que Caio é meu namorado? Ele nunca te pediu em namoro?
— Elijah fica mais confuso ainda, então olho para ele e finjo surpresa. — Ah, ele não contou?
Conta Chris, se você quer ter alguma coisa com meu cunhado, é melhor ser verdadeiro!
Chris fica vermelho e bate a mão no balcão.
— Vai se foder! — responde bastante irritado.
— Vai você! — respondo no mesmo nível.
— Ei! Mas que merda está acontecendo aqui? — pergunta Elijah sério — Chris, do que
Carlos está falando?
— Nada — responde com o cenho fechado. — Vou embora, depois nos vemos. — Se
dirige até a porta e não digo nada.
Viro para o fogão e começo a preparar café para Caio e eu.
— Por que você fez isso? — pergunta Elijah me olhando.
— O quê? — pergunto distraído.
— Fez parecer que Chris é um vilão. Eu sei o que ele e Caio tiveram, mas não é por causa
disso que você tem que estragar o nosso relacionamento — comenta chateado.
— Me desculpa — digo com sinceridade. — Não quero causar nenhum problema entre
vocês, eu só acho que... Bem, Chris deve dizer tudo sobre ele.
— Você sabe de alguma coisa que eu não sei? — insiste.
— Ele tentou persuadir a sócia de Caio a fazê-lo conseguir algumas empresas que
pertenciam ao pai de vocês. Não sei o que ele queria, mas sinto que não era nada bom.
Elijah assente e me observa, então revira os olhos e sai em direção à escada. Depois que
ele se afasta, percebo que fiz uma grande besteira.
Quem sou eu para dizer a Elijah quem é o Chris?
Por que fiz isso?
Pego uma tigela no armário, pensando que não devo me intrometer na vida deles, mas
noto que estou com ciúme de Elijah com Chris e na minha distração, acabo a quebrando.
*
Caio acorda e sorri ao ver o café sobre a cama.
— Bom dia! — Dou um beijo nele.
— Bom dia, amor.
Ouço Caio dizer isso e fico nas nuvens, retribuindo com um grande sorriso.
— Você me chamou do quê? — pergunto fingindo surpresa.
— Amor. Por quê? Você não gosta? — brinca.
Percebo, nesse instante, como Caio realmente é apaixonante.
— Mas é claro que gosto! Ainda mais ouvindo você dizer... — Mexo no seu cabelo e fico
sério. — Acho que fiz uma besteira.
Ele começa a comer e me sirvo, temos frutas, suco, torradas com queijo e café.
— O quê?
— Encontrei Chris e Elijah na sala e acabei tendo uma pequena discussão com seu ex. —
Reviro os olhos. — Ele veio me alfinetar com perguntas idiotas sobre eu ainda ser ou não seu
submisso e acabei falando umas merdas.
Caio me olha e ergue a sobrancelha.
— Chris deveria ficar longe, não entendo ainda o motivo dele querer se aproximar do meu
irmão.
— Estava pensando sobre isso quando preparava nosso café. Caio, ele queria comprar de
qualquer jeito as empresas do seu pai, será que ele não se aproximou de Elijah para conseguir
isso? Já parou para pensar que agora você tendo um irmão, não é o único dono dessas empresas?
Ele para de comer e fica pensativo.
— Pensei bastante nisso no último mês. Elijah ainda não falou nada sobre a herança, mas
sei que devo dar a parte dele nisso tudo.
— E quando você der, Chris vai querer comprar a parte dele para fazer o que tenha
planejado. — Caio fica quieto por um minuto. — Não quero me meter em um assunto que é seu
e do seu irmão, mas conversa com ele.
— Vou fazer isso, não se preocupa. — Me beija e sorrio. — O que você respondeu para
Chris quando ele perguntou se ainda era meu submisso?
— Disse que isso era um assunto meu e seu. — Aproveito a oportunidade e aperto sua
mão. — Ainda somos dominador e submisso?
Ele me olha, faz carinho na minha mão, então dá um sorrisinho.
— Não precisamos tratar necessariamente como submisso e dominador. Somos
namorados agora, poderei fazer os meus desejos normalmente, não poderei?
Concordo e ele me beija.
— Bem, então não vejo necessidade de termos um contrato, inclusive, mandarei meu
advogado cancelar, pode ser?
O abraço ao assentir e o beijo novamente.
— Preciso arrumar um emprego então, não posso ficar sem dinheiro, tenho que ajudar
minha família.
Caio me olha por um minuto inteiro e não diz nada.
— Não precisa se preo...
— Caio, não! — Interrompo sua fala. — Por favor, não quero seu dinheiro assim.
Ele assente e me puxa para perto de si.
— Então, senhor Carlos Alberto, receio que você vai ter que começar a trabalhar de
verdade para mim — diz Caio alegre.
Beijo seu rosto e ficamos deitados por um tempo, aproveitando o delicioso momento de
paz que temos.
Capítulo 51 - Sessão
Lucas me liga a manhã toda querendo saber o que havia acontecido, então acredito
que Bruno deve ter dito alguma coisa.
Conto tudo a ele, que fui até a delegacia prestar depoimento contra Caio; que acabamos
nos resolvendo e que agora somos oficialmente namorados.
Lucas grita de alegria ao telefone quase me ensurdecendo.
— Mas você o perdoou mesmo? — pergunta depois de um tempo.
Abro a porta de casa e entro.
Minha mãe está sentada no sofá com Robertinho assistindo a um filme na TV, assim que
me veem, acenam e retribuo.
— Sim, perdoei. Eu não tinha a mínima noção do que estava dizendo.
Lucas suspira enquanto entro em meu quarto, trancando a porta rapidamente.
— Carlos, posso dizer uma coisa?
— Diga, você vai falar de qualquer jeito — brinco.
— Vou falar mesmo! Não fica com raiva de mim, eu acredito que vai ser bom para vocês,
já que passaram por isso e agora estão juntos.
— Lucas, vá direto ao ponto — insisto.
— Acho que seria bom para vocês, procurarem um psicólogo, talvez. Eu conheço um
incrível, posso recomendar.
— Por que eu iria a um psicólogo?
— Porque você ainda tem traumas, Carlos, e vão dizer que você está doente.
— Doente?
— Você está namorando o homem que dois dias atrás acusava de abuso sexual e
psicológico, ficar com um abusador não é sinal de boa saúde, mesmo que ele não seja isso. —
Boceja.
— Lucas, entendo sua preocupação, mas isso é um assunto particular e pretendemos
manter assim.
Ele não diz nada, desliga o telefone, fico pensando no que Lucas disse e deito.
Será que isso é realmente loucura?
Estou doente por gostar da pessoa que eu acusei de abuso?
Reflito por um instante, perdoei Caio, me abri com ele e disse que o amo, assim como ele.
Mas por que o que Lucas me disse soa na minha cabeça como um sino?
Suspiro e envio uma mensagem para ele:
Me manda o telefone do psicólogo, vou marcar uma sessão.
*
O nome do psicólogo é William Borges, ele tem um consultório renomado e atende
diariamente. Nosso primeiro encontro, prefiro chamar assim à “sessão”, será hoje às 14 horas.
Caio e eu nos vemos todos os dias, o que só me faz ficar cada vez mais apaixonado. Ele
me arrumou uma vaga de emprego na sua empresa, serei seu secretário e Regina vai mudar de
cargo, um mais alto, o que a fez pular de alegria.
Então, sem Caio saber, decido aproveitar meu último dia de folga e encontrar William
para conversarmos.
É 13h:40min e já estou no consultório, uma mulher de cabelo escuro, olhos amendoados e
sorriso perfeito, me recebe.
— Sou Carlos Alberto, tenho uma sessão com William Borges às 14 horas — aviso.
— Ah, ele está aguardando o senhor. Meu nome é Larissa, mas pode me chamar de Lari,
sente-se, ele já vai te atender. Gostaria de uma água ou um café?
— Estou bem, obrigado — digo com o sorriso vacilando.
Ela assente, volta para trás do balcão branco, enquanto sento e espero.
Alguns minutos depois, um homem alto, cabelo escuro, pele negra, olhos castanhos e um
belo sorriso, aparece na recepção e me olha.
— Você é Carlos Alberto?
Assinto, vou em sua direção e aperto sua mão.
— Sou o doutor William Borges, mas pode me chamar de Will, caso queira se sentir mais
à vontade.
— Muito prazer, Will.
— Vamos começar, então? — Volta ao consultório e o sigo.
Entramos e me deparo com um lugar espaçoso e todo branco, uma mesa com um
computador está no centro, ao lado há um divã, uma única cadeira e um segundo sofá de dois
lugares.
Will segue para a cadeira e aponta o divã para mim.
— Deite-se, fica à vontade.
Vou até o lugar indicado, um tanto constrangido e me deito.
Ele sorri e diz:
— Bem, Carlos, que tal começar me dizendo um pouco sobre você?
Balanço a cabeça em afirmação e começo a falar:
— Bom, meu nome é Carlos, mas isso você já sabe. — Respiro fundo tentando controlar
o nervosismo. — Tenho 20 anos, moro com minha mãe e dois irmãos, um mais velho e outro
mais novo.
— Interessante, mas e seu pai? Você tem?
— Tenho, mas ele mora em Minas Gerais. Tenho também uma irmã casada e grávida de
gêmeos — digo me sentindo pouco à vontade.
— Lucas me disse que vocês são amigos, certo? Qual o nível de intimidade de vocês? O
que o traz até aqui, afinal?
— Lucas é meu amigo, sim, somos bastante íntimos, ele que me recomendou procurar
ajuda — respondo ainda olhando para o teto, fecho os olhos e suspiro. — O que me traz aqui não
é uma situação tão fácil.
— Ah, eu imaginava que não era mesmo — diz em um tom simpático. — Acredite, já
atendi de tudo nesse consultório, sobre a sua amizade com Lucas, pergunto porque já o atendi,
não posso falar com ele sobre a nossa consulta, apenas você. Antes de mais nada, quero que
saiba que tudo que for falado aqui, é sigilo.
Me sinto mais tranquilo ao ouvir seu comentário, relaxo, e viro para encará-lo.
— Bem, têm vários fatores que me trazem aqui. — Tento organizar as ideias.
— Tudo bem, comece falando o que mais te incomoda — incentiva.
Penso por um instante e fico em silêncio.
— Ou pelo que é mais “fácil” — Will diz.
— Tudo começou quando meu pai foi embora por eu ser gay, quero dizer, não foi
exatamente por aí que começou, mas ele ir embora por conta da minha sexualidade, me deixou
bastante incomodado.
— Entendo. Como foi para você se assumir?
— Nada fácil, foi em um dia do mês de fevereiro. — Penso sobre isso e vou lembrando
do dia em que aconteceu nossa conversa.
“Estava em casa ajudando minha mãe com as coisas do jantar, estava feliz porque tinha
acabado de beijar um garoto que gostava na época, ele até se tornou um ficante meu.”
“Quando papai chegou em casa, notou minha felicidade e não deixou passar despercebido,
então perguntou o motivo do sorriso bobo no meu rosto. Fiquei com medo do que ele faria se
soubesse, mas decidi que seria o melhor, então após o jantar, pedi para mamãe e ele ficarem na
mesa para conversarmos.”
“Meu pai logo ficou desconfiado de alguma coisa e quando comecei a dizer a verdade, ele
levantou, fingiu que iria me abraçar e então me bateu. Minha mãe tentou impedir, mas era fraca
perto dele e aquela foi a maior surra de toda a minha vida.”
Seco as lágrimas que descem e Will me olha com uma expressão serena.
— Se arrepende de ter assumido a verdade para eles?
— Ah, não, minha mãe me apoiou muito, mas meu pai... Bem, ele infernizou minha vida
até o dia de ir embora. Quando ele partiu, me senti ainda mais culpado do que antes, afinal, havia
tirado o homem que nos sustentava de casa, não é? Era culpa minha aquilo...
— Por favor, me deixe te dizer uma coisa antes de continuar — diz William me cortando.
— Tudo bem.
— Me responda uma coisa, você se sente culpado por ser gay? Se aceita?
— Sim, eu me aceito muito bem, mas por causa de ter falado a verdade, meu pai decidiu
ir embora e assim passamos os piores momentos das nossas vidas.
Ele fica sério e assente, me incentivando a continuar.
— Passamos fome, ficamos sem luz, sem água, minha mãe perdeu o emprego que mal
havia arrumado, meu irmão nunca colaborava e minha irmã se casou.
— Certo e acredito que tudo ficou na sua responsabilidade.
— Sim, tive que arrumar um emprego e ser o homem da casa. Não me arrependo disso,
faria tudo de novo pela minha família, mas as coisas saíram do controle depois do meu salário
reduzir. — Penso no que havia feito e suspiro nervoso.
— Tem alguma coisa a mais que te incomoda?
— Sim, sim... Quando tinha nove anos, fui abusado sexualmente na rua por um homem
chamado Oliver Estevam Brown.
— O famoso que foi preso em Londres por roubo e abuso?
— Sim, ele mesmo, mas aqui ele se passou como Antônio — digo sentindo um alívio em
me abrir para alguém desconhecido, o que parece loucura. — Mas o pior não foi dito ainda.
— Bem, pode dizer o que se sentir à vontade para contar.
— Eu sofri muito com meu estupro, não contei para ninguém por anos e a vida me pregou
uma peça. Bem, como disse antes, aconteceu que meu salário já não dava para manter a casa,
então fiz uma loucura: roubei uma casa com meu amigo.
William me olha sério e não demonstra reação nenhuma, pensei que iria se espantar,
chamar a polícia ou fazer qualquer outra coisa, mas ele apenas me observa atento.
— O que aconteceu depois do roubo?
— Reencontrei o homem que roubamos. Ele ficou furioso comigo e acabou me fazendo
uma proposta.
Lembro do momento que vi Caio em seu escritório, naquele dia seus olhos mostravam
fúria. Parecia que ele estava pronto para me matar, ainda tremo ao lembrar dele pegando o
telefone e discando para a polícia. Na minha cabeça vem a imagem das minhas lágrimas
invadindo meus olhos e eu dizendo para Caio sobre a situação do meu irmão.
— E que proposta foi essa? — questiona.
— Ele propôs que eu fosse seu submisso e aceitei, mas o pior foi a nossa primeira vez...
Pela maneira que foi feita e por conta dos meus traumas, acreditei que ele tivesse forçado sexo
comigo e me senti muito mal por isso, depois de terminarmos, lembrei do homem que havia me
estuprado quando eu ainda era uma criança.
— Qual foi sua reação, Carlos?
— De início, nada, continuei com aquilo. Precisava do dinheiro que me daria e não podia
ser preso. Quem cuidaria de mamãe? Mas o pior foi quando encontrei uma foto em suas coisas e
vi que o pai do meu dominador, era o homem que me estuprou.
— Está me dizendo que seu “dominador” é Caio Brown?
— Sim, isso não vai sair daqui, né?
Ele sorri e balança a cabeça me tranquilizando.
— Como disse antes, tudo é tratado no sigilo, não se preocupa com isso. Por favor,
continue contando o que aconteceu.
— Terminei com ele. Ficamos 23 dias sem nos ver, mas já estava apaixonado por Caio e
não sabia o que fazer. Foi por isso que te procurei, Lucas acredita que vão pensar que estou louco
ou doente por amar o homem que jurava ter abusado de mim física e emocionalmente.
Will me observa por um segundo e olha a hora.
— Nossa sessão acabou. Carlos, recomendo que volte, isso é um assunto que vai render
muito.
“E tenho certeza que sim...”
Capítulo 52 - Teorias
Saio do consultório do doutor William às pressas e vou direto para casa. Caio havia
me ligado, mas não pude atender e isso me incomoda. Não queria dizer a ele que fui a um
psicólogo para tratar sobre um assunto que afirmei estar encerrado, mas, também, não queria
mentir. Já bastava todas as mentiras que havia dito para a minha mãe.
Entro em casa e vou direto para o banho, já passa das 16 horas, então iria dar um pulo na
casa do meu namorado para matar a saudade.
Mamãe está em casa, como não há mais mentiras entre nós, conto que vou começar a
trabalhar realmente com Caio. Ela fica muito contente e não parece ter nenhuma mágoa do
homem que segundo seu filho abusou dele.
Saio do banho, escuto o celular tocar novamente e atendo.
— Onde você está? Te liguei e você não atendeu — diz Caio um tanto aflito.
— Oi para você também. Conversamos depois sobre onde eu estava. Você está bem?
— Sim, morrendo de saudade de você!
Sorrio e abro o guarda-roupa, fuçando entre os cabides à procura do que vestir.
— Também estou com saudade, por mim, não me separaria de você nunca.
Escuto sua risada e sinto em meus lábios um imenso sorriso se formar enquanto me troco.
— Só você se mudar para meu apartamento, não ficaremos separados nunca.
A proposta é realmente tentadora, mas não posso fazer isso com minha mãe, ela precisa
de mim.
— Quem sabe um dia, está trabalhando?
— Sim, terei uma conferência em poucos minutos, vamos jantar juntos hoje?
Saio do quarto e sigo para sala encontrando dona Marisa, Robertinho, meu irmão e Joyce.
— Mas é claro que sim, te encontro às 19 horas na empresa, pode ser?
— Perfeito.
— Beijo, bom trabalho.
Desligo e vejo meu irmão.
— Finalmente voltou! — Dou um beijo em Joyce e ela retribui. — Como você está? Meu
irmão se comportou?
— Bem e você? Rafael se comportou sim, por incrível que pareça.
— Que bom! Você o está mudando mesmo.
Ela ri.
— E a propósito, estou bem sim!
— Deu para notar, maninho. — Rafael pisca e reviro os olhos. — Como seu namorado
está?
— Ótimo. — Viro para minha mãe. — Vou dar um pulo na casa do Lucas e vejo vocês
mais tarde, vou jantar com Caio.
Mamãe assente e me dá um beijo.
— Vai com Deus.
Robertinho pula em meu colo e me abraça.
— Me deixa ir com você, Carlos? Por favor, por favor!
— Robertinho, não. Deixa seu irmão — diz mamãe.
— Deixa mãe, vou levá-lo.
Robertinho pula de alegria e seguimos para o carro. Ajeito meu irmão no assento no
banco de trás, entro, ligo o som e uma música da Tove Lo começa a tocar.
— Hoje vai ser divertido — digo para mim mesmo seguindo para casa de Lucas.
Meu irmão grita entusiasmado e cantamos a música juntos em um inglês estranho.
*
Entramos e Lucas fica surpreso ao ver meu irmão. Ele o pega no colo e o aperta em um
forte abraço.
Robertinho começa a gritar e rir, logo ele está nas costas de Lucas dizendo que meu
amigo é seu avião enquanto Luc corre.
— MAIS RÁPIDO! MAIS RÁPIDO! — grita meu irmão.
Me divirto com a cena, vou até Rafael, o abraço e sigo para Bruno.
— Como você está? — pergunto.
— Ainda não acredito no que você fez, Carlos! Voltar com aquele canalha... E ainda
namorar com ele?!
Fico calado, é claro que muitos irão criticar minha atitude.
Quem ficaria com o homem que roubou e teve um sexo para lá de estranho?
Só eu mesmo!
Mas Bruno me magoa com suas palavras, ele é como um irmão para mim; tínhamos
entrado naquele jogo juntos e se não fosse ele, jamais teria roubado Caio Brown. Não que a
culpa fosse sua, até porque fiz isso porque quis, mas mesmo assim me sinto um pouco chateado.
— As minhas escolhas, eu faço — respondo sério. — O livre arbítrio é para isso também,
Bruno, cada um faz o que bem entende e sou bem grandinho para saber o que estou fazendo.
Ele não diz nada.
— Sabe mesmo? — pergunta Rafael. — Quero dizer, não vou me intrometer nem nada,
mas você não acha isso estranho? Se Lucas fizesse algo bizarro comigo, com certeza não ficaria
com ele.
— Mesmo se você me amasse, baby? — pergunta Lucas colocando Robertinho no sofá.
— E outra, Caio não estuprou Carlos, nosso amiguinho aqui estava bem ciente e aceitou.
— Tá, pode até ser isso mesmo, e outra, Carlos não ama Caio ou ama?
Engulo em seco e fecho os olhos por um longo minuto.
Lucas estava certo; muitas pessoas, até mesmo meus amigos, irão criticar minha decisão.
Tenho vontade de gritar com cada um deles, mas me mantenho calado.
— Vamos parar de falar sobre isso — diz Lucas me salvando. — Carlos está certo, ele já
é maior de idade e sabe o que faz, as escolhas são dele.
— Sim, eu tomo as minhas decisões — completo.
— Tudo bem. Só espero que a sua decisão não te foda mais tarde — diz Bruno sério.
Decido ignorar e Lucas me puxa até a cozinha.
Me sento em uma das banquetas e meu amigo começa a preparar um café para nós.
— Vai dizendo agora como foi à sessão com Will.
Então conto sobre o que falamos e Lucas parece decepcionado por Will não ter me dito
praticamente nada.
— Acredito que ele vai estudar o caso de Carlos — fala Rafael em defesa do psicólogo.
— Will é assim mesmo, primeiro ouve, anota mentalmente tudo e na próxima sessão já tenta
fazer você pensar de outra forma.
Assinto contente.
— E Caio sabe sobre isso? — pergunta meu amigo.
Vejo que Robertinho está brincando no videogame e nego com a cabeça em resposta.
— Decidi passar primeiro com Will para contar a ele, vou falar hoje à noite.
Bruno parece sério, seu rosto tem uma máscara de decepção, raiva e, talvez, frustração,
conheço bem meu amigo.
— Conta mesmo para ele, quem sabe não decide te acompanhar — sugere Lucas.
Ele coloca uma xícara de café na minha frente e beberico o café fresquinho.
— Só estou com um pouco de medo.
— Medo do quê? — pergunta Bruno.
— O pai do Caio, ele não está morto — confidencio.
Rapidamente conto para eles o que Caio me revelou sobre seu pai, pulando partes da sua
história tão triste.
— Quer dizer que o filho da puta que te estuprou está aqui?! — pergunta Bruno sem
acreditar. — Se encontrar esse cara, eu mesmo mato ele!
— Não sei o que eu faria — digo para Bruno. — Mas aposto que o faria pagar pelo que
fez, mesmo sendo pai de Caio.
Lucas aperta minha mão me confortando.
— Não se preocupa com isso agora, querido, vai dar tudo certo, você só precisa ficar
afastado dele.
— Eu sei, mas não faço ideia de onde ele esteja, posso encontrá-lo em qualquer lugar.
Rafael concorda.
— Carlos está certo, já pensou se esse pervertido tenta fazer alguma coisa com ele?
— Espere aí! — diz Bruno nervoso. — Carlos, lembra que você disse que alguém te ligou
dizendo alguma coisa sem sentido?
— Sim, lembro, “se afaste antes que se machuque” a pessoa disse, mas o que tem isso?
— E se foi o pai de Caio que te ligou dizendo isso? — Levanta a hipótese.
Essa suposição me deixa surpreso, até que faz sentido.
Mas por que o pai de Caio me ligaria para dizer aquilo?
— Será que foi ele? Talvez tenha sido Christopher. — Engulo em seco e sinto um frio na
barriga me consumindo. — Afinal ele era louco para que Caio voltasse com ele.
— Outro ex-namorado louco? — pergunta Bruno revirando os olhos. — Tá, pode ser que
tenha sido esse tal de Christopher, mas não faz mais sentido se fosse o pai de Caio?
— Por que mais sentido se fosse o falecido não falecido? — Lucas pergunta sem
entender.
— Carlos está com Caio e se o pai dele aparecesse, Carlos saberia quem ele é — conclui
Rafael. — Isso foderia os planos do velho de querer alguma coisa do filho.
— Sim, porque Carlos o colocaria atrás das grades na hora. Não colocaria, Carlos? —
indaga Bruno.
— Mas é claro que sim, sem pensar duas vezes, perdi muitas noites de sono por causa
daquele canalha!
Caio também havia perdido, afinal, meu namorado também tinha sido abusado pelo pai.
Meu sogro...
A ideia me causa arrepios.
— Preciso ir agora, vou encontrar Caio.
— Tudo bem, mas fale sobre isso com ele. É melhor, não esconda nada dele — Lucas diz.
Assinto levantando e vou até Robertinho.
— Vamos lá, garotão!
Robertinho desliga o aparelho e vem para perto de mim. Aproveito para me despedir.
— Obrigado por me ouvirem.
— Não agradeça e conta tudo para Caio — Lucas insiste.
Balanço a cabeça em afirmativa e saio do seu apartamento, pensando sobre o que
conversamos.
Será que realmente foi o pai de Caio que havia me ligado?
Capítulo 53 - Jantar em Família
Encontro Caio no horário combinado em frente à empresa onde serei funcionário a
partir de amanhã. Ele, ao ver Robertinho, vibra de felicidade, o agarra e enche de beijos depois
me abraça e seguimos para o carro.
Peço que dirija, porque ainda estou atordoado com a conversa que tive com Bruno, Rafael
e Lucas.
Caio escolhe um restaurante em estilo londrino, aconchegante e me apaixono pelo lugar.
Ele senta de frente para mim e Robertinho ao meu lado.
— Ele parece muito com você — meu namorado diz e sorrio.
— É uma pena para ele, então — respondo rindo.
— Acho que diria sorte. — Caio afaga a minha mão.
— Posso tomar sorvete, Carlinhos? — meu irmão questiona.
Olho para ele e bagunço seu cabelo.
— Só depois que comer.
— Poxa... — responde chateado.
Dou risada e Caio sorri também.
— Você ama muito seu irmão, dá para notar.
É verdade, amo Robertinho como jamais amei alguém. Meu irmão me traz uma alegria
imensa, é um dos motivos pelos quais lutei com todas as forças para não deixar que aquele
episódio aterrorizante da minha vida me ganhasse por completo e me levasse para uma escuridão
sem fim.
— Vão querer comer o quê? — Caio questiona me olhando.
— Quero um hambúrguer com batatas fritas e muito ketchup — Robertinho se adianta.
Olho sério para ele e sorrio logo em seguida.
— Só se for segredo, se mamãe descobrir isso, ela me mata e depois a você!
— Fechado! — diz batendo sua mão na minha.
— Acho que vou querer o mesmo que Robertinho — Caio diz pensativo. — Ninguém
morre se comer porcaria um dia.
Reviro os olhos para ele e concordo.
— Bem, já que vão de hambúrgueres, também vou querer.
Caio aperta um botão na mesa e um atendente vem até nós. Olho para ele e congelo ao ver
que é Danilo.
— Carlos — Sorri ao me reconhecer. —É você mesmo?
— Eu mesmo — digo levantando e apertando sua mão. — Não sabia que trabalhava aqui
agora, deixou a boate?
— Deixei sim, já faz uns dias.
— Esse é Caio Brown. — Viro para ele e o apresento.
Danilo aperta a mão dele encantado.
— Muito prazer, sou o namorado do Carlos.
Olho para ele e ergo a sobrancelha.
Sério que ele está marcando território?
— O prazer é todo meu. Fico feliz que Carlos esteja namorando, é uma pena que eu não
tenha conseguido esse papel — responde Danilo não perdendo a oportunidade de dar uma
alfinetada.
Sinto meu rosto pegar fogo, isso vai dar merda se continuar.
Caio sorri, um tipo de sorriso que molharia minha cueca se não estivesse com ar de
zangado.
— Desculpa, cheguei antes.
Danilo apenas sorri e pega um bloco com papel.
— Os senhores vão querer o quê? — questiona e fico chateado por seu comportamento
mudar tão de repente.
— Hambúrgueres e fritas para todos — responde Caio. — Pode trazer suco de morango
para mim, um de laranja para Carlos e para o nosso pequeno traga um de melancia, tenho certeza
que ele vai adorar.
Danilo anota tudo e sorri.
— O pedido de vocês chegará em breve. Foi um prazer revê-lo, Carlos, e um prazer te
conhecer, magnata.
Caio revira os olhos quando ele se afasta e me observa.
— Você ficou com esse babaca?
Desvio os olhos para não encarar o olhar duro de Caio, mas confirmo.
— Ficamos uma vez antes de te conhecer. Você está com ciúme?
— Lógico que estou com ciúme. — Bufa.
Dou risada da cara que ele faz.
— Fico contente com isso, agora sabe como me sentia quando Christopher estava perto de
você.
— O que? Isso é diferente, Christopher não faz mais parte da minha vida.
— Nem Danilo da minha — rebato.
Ele me encara e sorri.
Retribuo e aperto sua mão.
— Vocês são engraçados, né, tio?
Olho para ele e Caio fica encantado.
— Que bom que você acha isso de nós. Isso é porque você não viu seu irmão tomando
sorvete, ele se lambuza todinho!
Robertinho e Caio caem na risada e encaro os dois com cara fechada.
— Então agora é um complô? — digo fingindo estar zangado.
— Com certeza — diz meu irmão. — Mas me diz, o que é complô?
*
Nossos pedidos não demoram a chegar, mas são servidos por outra pessoa.
Danilo deve ter ficado chateado ou algo assim, mas tento não pensar nisso.
Robertinho come rapidamente e Caio ri ao ver meu rosto lambuzado de ketchup.
— Não disse para você, Robertinho. — Caio mostra meu rosto em tom de brincadeira.
Limpo meu rosto, rindo e observo como meu irmão se dá bem com o seu “tio”. É incrível
como as crianças são inocentes. Robertinho não é capaz de imaginar o que havia passado com
Caio. Ele o vê com um amigo, como o “homem que deu vários jogos” a ele.
Amo os dois, cada um de uma maneira, mas estão cravados no meu coração. Robertinho é
minha família e Caio agora faz parte dela.
— Acho que podemos tomar sorvete agora — meu irmão diz olhando o cardápio.
Enquanto escolhe, decido conversar com Caio sobre o psicólogo. Quando conto a ele que
estive em uma consulta mais cedo, ele ergue a sobrancelha.
— Psicólogo para quê?
Sei que não será fácil tratar desse assunto. De início, fui ver o doutor William por conta
de tê-lo perdoado, mas chegando na sessão, vi que era por conta de todos meus traumas
passados.
— Quero me libertar dos meus traumas — confesso.
Sua face muda repentinamente, a alegria some e dá lugar à tristeza.
— Você se arrependeu? — pergunta simplesmente.
— Nunca. — Pego sua mão e aperto com força. — Lucas acha que pode ser loucura, mas
sei que não é. Fui procurar o doutor William por causa dos meus outros traumas.
— Logicamente que você vai falar desse trauma também — diz sério. — Tudo bem, não
te culpo, faça o que achar melhor.
Sua resposta ácida é um tapa na minha cara.
Ele acha mesmo que não foi perdoado?
Eu realmente o perdoei?
— Você pode ir comigo se ficar mais à vontade. Quero que dê certo, mas para isso
precisamos nos livrar de nossos traumas.
— Acha que um psicólogo pode fazer você esquecer?
Permaneço em silêncio por um minuto e Caio pede sorvete para nós.
— Não digo esquecer, mas sim superarmos para aprendermos a conviver com isso, só
depende de nós, Caio.
— Tudo bem. Consideremos que eu vá, terei que me tratar também?
— Só se esse for seu desejo — saliento.
Ele me olha por um minuto inteiro e passa a mão no cabelo.
— Nunca pensei em passar em um psicólogo, sempre resolvi os meus problemas. —
Demonstra desconforto.
— Mas você superou a morte de Carlos? Superou o que ele fez?
Caio me olha e Robertinho aperta meu braço.
— Você está vivo, Carlinhos.
— Eu sei, Robertinho, estou falando de outro Carlos.
Ele balança a cabeça e volto minha atenção para Caio.
— Não superei — assume.
— Isso é um “sim”? — insisto.
— Sim, acho — declara.
*
Saboreamos nossos sorvetes e me sujo todo para divertir Robertinho. Depois de
terminarmos, decidimos que já é hora de irmos.
Deixo Caio em seu apartamento e me despeço dele.
— Nos vemos amanhã na empresa às 8 horas — informa.
— Pode deixar, chefe! — digo dando um beijo nele enquanto Robertinho está distraído
brincando com meu celular.
Então me lembro sobre a ligação que havia recebido.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Pode — responde me abraçando.
Sinto o cheiro do seu cabelo e dou um suave beijo na sua bochecha, logo em seguida o
abraço.
— Sabe me dizer quanto tempo faz que seu pai chegou aqui?
Caio se afasta e me analisa.
— Não vamos falar dele — sentencia.
— Por favor, responda, é importante — insisto.
Caio suspira e dá de ombros.
— Uns dois meses? Menos, acho, não sei ao certo, por quê?
Conto a respeito da ligação que recebi quando estávamos juntos. Ele ouve em silêncio e
falo sobre a teoria louca de Bruno e Rafael.
— Pode ser uma possibilidade de trote, eu não sei. Desculpa, não queria estragar nossa
noite com mais um problema — digo realmente lamentando por trazer a ele tantas coisas para se
preocupar.
Caio se cala por alguns instantes, refletindo.
— Por que não me disse sobre essa ligação antes?
— Não achei importante na época. Nem sabia quem poderia ser e não fazia ideia que seu
pai estava vivo — justifico.
— Não me lembre que ele é meu pai!
— Desculpa.
— Me dá seu telefone, vou mandar criptografar e tentar descobrir de onde veio a ligação.
Arqueio a sobrancelha olhando para sua mão estendida, por fim, pego o aparelho que está
com meu irmão.
— Me prometa uma coisa — digo antes de entregar o celular.
— O quê?
— Se foi Oliver, promete que vai me dizer.
— Você não tem que ter contato com ele.
— Eu sei e por conta disso quero saber se foi ele. Por que Oliver me procuraria?
Caio pondera, mas não há resposta para esta pergunta.
— Melhor você ir, cuidado e assim que chegar em casa, me avise.
Me despeço com um beijo, notando que Caio ficou muito abalado com a possibilidade do
seu pai estar envolvido naquela ameaça feita por telefone.
Capítulo 54 - Primeiro Dia
Escuto o despertador, pulo da cama e vou rapidamente para debaixo do chuveiro.
Como será meu primeiro dia?
Estou mais do que nervoso.
Dona Marisa já está na mesa quando chego à cozinha para tomar café.
— Já vai, meu filho?
— Só vou tomar um café e já vou sair, não quero me atrasar.
— Como você está?
Sei muito bem do que minha mãe está falando.
Pego a xícara e a coloco sobre a mesa.
— Bem. Falei com Caio a respeito da terapia que estou iniciando com o doutor William e
consegui convencê-lo a fazer também.
— Isso é bom! Você o perdoou mesmo?
Olho para minha mãe e seguro suas mãos.
— Perdoei sim, você acha que fiz certo?
Ela me olha por um segundo e sorri.
— Se você está disposto a passar uma borracha nisso... Só você pode dizer se está certo
ou não. A decisão é sua, Carlos.
— Eu o perdoei, o amo de verdade e sei que ele também me ama, mas as pessoas... As
pessoas me olham como se eu estivesse fazendo algo totalmente errado. Mãe, você acha que sou
doente por namorar um homem que eu dizia ter abusado de mim? — questiono implorando por
socorro.
Ela respira fundo e nega com a cabeça.
— Não acho que você seja doente, Carlos, você é humano, assim como todos nós — diz e
suspira, tomando um momento antes de continuar. — Caio pode ter te levado ao inferno, mas
também te leva todos os dias ao paraíso. Ele te ajudou, te ama e sei que pode te proteger. E como
você mesmo ponderou, não passou de uma confusão isso tudo, em recorrência ao seu... trauma.
Meus olhos marejam com as palavras de minha mãe e vejo que ela está emocionada.
Ela está certa, Caio é o homem certo para mim. Farei de tudo para superar esse episódio
de nossas vidas e lembrar dele somente como um incidente, como de fato foi.
*
Chego à empresa às 7h:40min e Caio está parado no meio-fio.
Quando vê meu carro, vem até a mim e me beija em público. Retribuo e sorrio para ele.
— Bonjour! — diz alegre.
— Bonjour! Por que todo esse humor?
— Ora, meu namorado agora vai trabalhar comigo — diz me abraçando.
Algumas pessoas passam e nos observam.
— É de se alegrar com isso, não é mesmo?
— Trabalho com o senhor já tem um tempo, senhor Brown — brinco imprimindo um tom
mais sério às palavras.
Ele sorri malicioso e olho para o meio de suas pernas.
— Acho que isso vai ser divertido!
O olhar de Caio transmite suas segundas intenções.
Entramos no prédio e subimos direto para o andar onde fica a sua sala, pois serei seu
secretário particular.
Chegando ao andar, avisto a mesa de Regina e no mesmo instante vem a lembrança da
primeira vez que vi Caio e abro um meio sorriso.
— As coisas com você serão bem tranquilas. Essa é sua mesa e seu computador. Esse
agora é seu novo celular. — Passa as coordenadas e me entrega o aparelho.
— Você dá um celular para todos seus funcionários?
— Não, claro que não! Mas peguei seu celular ontem, então não acho justo ficar sem —
explica.
— Obrigado. — Agradeço e sorrio. — Tudo bem, o que faço? — pergunto totalmente
perdido.
Caio coloca os braços na cintura e sorri. Mordo o lábio ao contemplá-lo em seu terno
preto e imagino besteiras.
— Você só precisa atender o telefone e me passar as ligações importantes, checar meus e-
mails, ver quando terei reuniões, os locais e só. Às vezes você vai receber alguns contratos no
seu computador, seu dever é enviá-los diretamente para mim, entendeu?
— Entendi sim. Bem, acho que isso vai ser fácil. — Sorrio animado.
— Vai sim, você terá ajuda se precisar, basta ligar para o primeiro andar que Regina vai te
atender.
— Como ela está? Faz uns dias que não a vejo.
— Bem, eu diria... Feliz com o cargo novo — constata.
Desvio o olhar para a minha mesa, branca, com um computador de última geração, um
telefone e nada mais.
— Bem, pode começar se instalando. Qualquer coisa estarei na minha sala. Hoje terei
uma reunião às 10 horas, quero que me acompanhe para te apresentar à nossa equipe e, também,
para você ver como é uma verdadeira reunião.
Lembro do nosso primeiro jantar com seus sócios e o fiasco que havia sido.
— Tudo bem, bom trabalho.
Caio se aproxima e me dá um beijo, logo se afasta indo para a sua sala.
Sento em meu lugar e respiro fundo. Ligo o computador e vejo que atrás de mim tem uma
porta que leva a uma copa, aproveito o momento para tomar um café forte.
*
A primeira hora passa devagar, sem nenhum telefonema ou e-mail. Havia conseguido
acessar a conta, pois estava anotada em um caderno e os e-mails recebidos são somente dizendo
sobre o absurdo de dinheiro que Caio fatura.
Apanho o celular novo que ele me deu e vejo os meus antigos números salvos nele, sorrio
ao ver que Caio pensou até nisso.
Envio uma mensagem para Regina:
Aqui é sempre parado?
Ela logo responde:
Logo começa a loucura, você vai se acostumar e parabéns pelo cargo.
Guardo o celular e o telefone toca, não sei como devo saudar. Respiro fundo e atendo.
— Escritório de Caio Brown, bom dia. Aqui é o Carlos, com quem eu falo e no que posso
ajudar? — Me dou conta que ficou longo demais.
— Sou eu, Carlos — diz Caio rindo. — Gostei da saudação, mas é meio longa, tente só
com um “Empresas Brown, bom dia”.
Me sinto envergonhado, mas sorrio com a situação.
— Você precisa de alguma coisa?
— Não, só estava com saudade de ouvir sua voz — diz malicioso.
— Caio... Faz só uma hora que estamos trabalhando! — respondo rindo.
— Tempo demais para mim — sussurra. — Quero almoçar com você hoje. Temos que ver
um horário para malharmos também, faz tempo que não fazemos isso.
— Então ainda vai ter academia?
— Vai sim, somente as aulas de etiqueta que não, acho que você aprendeu o suficiente.
— Fico feliz com isso, elas eram um saco! — confesso e ele ri.
— Deveriam ser mesmo, já passei por isso, quem vai ficar chateado será o Edgar. Vou
desligar agora, até às dez.
Coloco o telefone no lugar e um segundo depois ele toca novamente.
Será que é Caio querendo me testar?
É melhor atender corretamente.
— Empresas Brown, bom dia.
— Bom dia, gostaria de falar com Caio Brown.
Meu corpo retesa e sinto meu rosto ficar pálido ao ouvir a voz. A mesma voz que me
atormentou por longos onze anos e atormenta até hoje.
— Q-Quem gostaria? — Forço minha voz a ficar firme, fingindo não saber de quem se
trata.
— Jorge, o tio dele. Quem é você? — indaga ríspido.
Respiro fundo e começo a tremer.
— Sou Carlos, o secretário do senhor Caio, só um minuto que vou avisar a ele que o
senhor está na linha.
— Não avise, senão ele não vai atender. — Se apressa em dizer. — Estou com problemas
com meu sobrinho, entende? Quero tentar me resolver com ele.
“Fingido, filho da puta.
Como pode ser tão cínico?”
— Não se preocupe, ele vai atender.
Dou mudo na ligação e ligo rapidamente para Caio, que atende no primeiro toque e
disparo sem nem dizer oi.
— Ele está na linha. — Tento manter a fala segura.
— Quem?
— Oliver Estevam Brown — digo sério. — E ele quer falar com você.
Ouço Caio bater em alguma coisa e suspira.
— Passe a ligação.
— Tudo bem.
— Carlos?
— Sim?
— Sinto muito por isso.
— Eu também — digo e transfiro a ligação.
*
Fico inquieto depois de Oliver ligar para Caio. Tento me ocupar olhando alguns e-mails e
atendendo telefonemas.
Um homem chamado Silas liga avisando que a reunião do Caio será no 5° andar, que
tiveram um problema no 6° e, por conta disso, mudaram de última hora.
Às 9h:45min Caio sai do escritório.
Vejo que ele está com um olhar sério, por isso logo levanto e permanecemos em silêncio,
afinal não quero receber patadas gratuitas.
— Está tudo bem? — pergunto quando estamos esperando o elevador.
— Não se preocupa, tudo sob controle — diz sem me olhar.
Me calo e não faço mais perguntas, pois Caio dirá para mim o que conversou com Oliver
uma hora ou outra. Então decido me concentrar na reunião a seguir.
Entramos no 5° andar e vejo uma sala enorme, tudo indica que é para conferências
importantes e não uma reunião qualquer. Regina está parada, em pé, com um terninho grafite
bem cortado. Ela se aproxima de mim e me abraça rapidamente.
— Estou tão contente que esteja aqui — diz com um sorriso.
— Eu também, você é a única que conheço nesse mar de gente.
Há vários homens e algumas mulheres, entre elas está Caroline, que quando me vê, se
aproxima.
— Você é o rapaz que estava com Caio naquele jantar, não é mesmo? — pergunta me
analisando atentamente.
— Eu mesmo — digo estendendo a mão. — Me chamo Carlos.
— Muito prazer, Carlos. Sou Caroline, seja bem-vindo à nossa equipe. — Cumprimenta
amistosa.
Retribuo com um sorriso, agradeço e ela se afasta.
— Ela é uma vaca — sussurra Regina. — Você ficou sabendo o que ela tentou fazer com
Caio?
— Tentar persuadi-lo a vender algumas empresas para Christopher?
Ela balança a cabeça em afirmação.
— Ela sabe que Caio não se dá bem com aquele rapaz, mas insiste que deve ser sócio das
Empresas Brown.
Ficamos em silêncio e Caio me chama.
— Vamos começar a reunião — anuncia.
— Tudo bem. O que faço? — Me sinto perdido.
— Fique ao meu lado e não diga nada. No fim da reunião vou te apresentar a todos. Elijah
também, ele está aqui.
Seguimos para a enorme mesa, homens e mulheres sentam e observo Regina do outro
lado. Ela dá um sorriso de encorajamento e retribuo sentindo minhas mãos tremem.
— Bom dia, a todos. Obrigado por terem vindo até aqui, hoje essa reunião é para falarmos
sobre o gerenciamento das nossas clínicas e para a apresentação de duas pessoas — Caio diz.
O silêncio reina na sala e alguns me olham, sabendo que sou a novidade.
— Caroline, pode me dizer como anda a clínica que fica na Zona Leste? — pergunta
Caio.
Vejo uma Caroline sorridente levantar e parar próxima a um telão, ela aperta um botão e
aparece um quadro revelando gráficos com as porcentagens de cada área e não entendo muito
bem.
— A clínica da Zona Leste está com tudo — afirma Caroline. — A população está cada
vez mais contente com o resultado, os hospitais públicos diminuíram os números de espera e
pessoas já conseguiram cirurgias e afins.
— Ótimo! Isso é muito bom! — diz Caio sorrindo. — Continue.
— Bem, Caio, como sempre digo, deveríamos começar a cobrar uma taxa para atender
essas pessoas — diz Caroline concentrada. — O alto custo para mantê-las vai aumentar cada vez
mais, ainda mais com a crise que o país está passando.
Caio não diz nada, somente dando corda ao que Caroline fala.
— E o que você sugere, Caroline? — um homem alto de cabelo branco pergunta.
— O mesmo de sempre, Silas. Fecharmos pelo menos quatro clínicas ou cobrar algumas
taxas mínimas, assim não perdemos tanto e as pessoas ficam satisfeitas.
— Caroline... — Caio diz levantando — Me responda uma única coisa.
— Tudo bem.
— Por que as pessoas estão indo nas nossas clínicas?
Caroline observa Caio e olha para cada um dos rostos presentes.
— Porque precisam — constata.
— Claro que precisam, mas não é só isso — Caio dá uma pausa e continua. — As pessoas
vão às nossas clínicas porque não tem custo nenhum. Se o atendimento fosse pago, não teriam
como ir, entende o que quero dizer? Criei essas clínicas para ajudar as pessoas de baixa renda,
acho que você sabe o significado disso.
— É claro que eu sei — responde nervosa. — Só quero dizer que deveríamos fechar ou...
— Não vamos fechar nada e nem cobrar um centavo dessas pessoas, entendeu? Se o
problema para você é o alto custo que gastamos, pode deixar de fazer parte desse projeto —
sentencia encerrando o assunto.
Caroline senta e não diz nada.
— Silas, tem algo importante a me dizer? — Caio questiona voltando para o seu lugar.
— Ah, sim, eu tenho — responde já se levantando.
O telão muda e aparece outros gráficos com vários números que não sei o que significam.
— Bem, nossa amada Caroline disse que as clínicas têm um alto custo e têm mesmo, mas
as nossas outras empresas estão faturando milhões por dia e isso significa que as clínicas não
interferem nos lucros gerais. — Sorri para Caroline que revira os olhos.
— Isso é ótimo! Já entregamos o restaurante de Luke Evarns?
— Entregaremos essa semana, Caio. Tudo ficou muito bonito, espero que seu amigo goste
— Silas comenta.
— Ele me avisou que não estará por aqui, mas uma amiga irá cuidar do local — Caio
avisa.
Uma pausa se faz e Caio levanta novamente.
— Bem, acho que essa reunião está encerrada, antes de liberar vocês, quero apresentar
meu novo funcionário, Carlos Alberto, ele agora fará parte da nossa equipe.
Fico de pé e aceno para todos.
— Seja bem-vindo, rapaz — diz Silas.
Alguns me cumprimentam e sorrio agradecido.
— Bem, agora quero que conheçam Elijah.
As portas abrem e o irmão de Caio entra, sorrindo. Ele está vestido com um terno preto e
seu cabelo está preso.
— Este é Elijah Brown, meu irmão.
Todos ficam surpresos ao ouvirem Caio revelar que tem um irmão, fico em silêncio e
Elijah os cumprimenta.
— Ele também vai trabalhar conosco a partir de hoje e quero que o coloquem a par de
tudo o que acontece na empresa, no mais, vocês estão dispensados — diz encerrando a reunião.
Todos levantam surpresos e saem sem dizer nada.
Fico olhando Elijah e ele vem até a mim.
— Loucura, não é? — comenta entusiasmado. — Caio me ligou dizendo para vir para cá
o mais rápido possível, disse que vai me apresentar ao mundo agora.
— Isso é ótimo! — digo sorrindo.
“Por que Caio decidiu revelar seu irmão assim tão de repente?”
Caio vem para o meu lado e aperta meu braço.
— Vamos almoçar para comemorar — anuncia e tento não pensar no que Oliver possa ter
dito a ele.
Capítulo 55 - Ligações Importantes
Caio
Regina parece feliz, então me aproximo e passo o braço por cima do seu ombro.
— Ele é maravilhoso, não é?
— Nosso chefe ou seu namorado? — pergunta rindo.
A cutuco com o braço e respondo:
— Digamos que ambos, mas ele como namorado é sensacional.
Meu sorriso se amplia enquanto observo Caio que está do outro lado da cozinha
preparando caipirinha para nós. Ele disse que precisávamos beber algo mais forte do que vinho e
se prontificou a fazer a bebida.
— Você tem que ver o irmão dele, ótima pessoa e gay também.
Regina ri e continuamos bebendo.
Lucas se aproxima e encosta o cotovelo no meu ombro.
— Sabe, Carlos, pensava que você jamais deixaria de ser uma bichinha pão com ovo. —
Aproveita para alfinetar. — Obrigado, Caio, por ter dado uma mudada nesse rapaz aqui.
Caio sorri, vem até a mim secando as mãos no pano e beija rapidamente meus lábios.
— Foi ótimo dar um tapinha no visual dele, mas Carlos também me mudou.
Lembro do sexo que tivemos mais cedo e não posso deixar de sorrir, não só por isso, mas
também por saber que de alguma maneira o mudei. Caio de uns tempos para cá está realmente
diferente, o jeito ignorante e dominador começa a ficar de lado, revelando somente um homem
apaixonado.
A porta da frente abre e Elijah entra com Chris, os dois estão sérios e fico tentado a
perguntar o que está acontecendo, mas me calo. Elijah cumprimenta cada um e apresenta Chris
para meus amigos.
— Já volto — diz sério, seguindo para o segundo andar.
— Está tudo bem? — pergunto para Chris.
— Acho que sim, não sei, preciso beber.
— Vou falar com ele — aviso para Caio, que concorda com um meneio de cabeça.
Deixo minha taça de vinho em cima da bancada e subo a escada com os olhares dos meus
amigos nas minhas costas. Paro em frente a porta do quarto de Elijah, respiro fundo e bato.
— Entre!
Abro a porta e me deparo com Elijah sem camisa, somente de cueca, prestes a ir para o
banho.
— Ah, você quer que eu volte depois? — pergunto envergonhado.
— Não. — Ele vai até o banheiro e veste um roupão, mas posso ver que seu corpo é tão
bonito quanto o do irmão — Pode falar.
— Todos lá embaixo perceberam que você meio... — Forço um sorriso. — Está com
algum problema.
Ele fica quieto e confirma.
— Tem algo que eu possa fazer para ajudar? — indago.
Elijah caminha até a cama e senta. Puxo a cadeira que está ao lado da mesa do
computador e sento.
— Não sabia que era amante da leitura — digo enquanto observo os livros sobre a mesa.
— Sou um sonhador. Busco nos livros o que a vida não tem para me oferecer.
— E o que seria?
Ele parece sério, então suspira e abaixa a cabeça.
— Amor? Não sei, Carlos. — Ele me fita com seus olhos vermelhos pelas lágrimas que
transbordam. — Caio demonstra que me ama, mas mal me conhece, meu pai diz me amar, mas
ele é louco... Fissurado em Caio. Quando viemos para cá, ele disse que precisava encontrar meu
irmão de qualquer maneira.
Lembro mais uma vez de Caio sendo estuprado pelo pai.
— Por que acha que não tem amor?
— Não sei, só acho isso.
— Você tem algum medo, Elijah?
Ele me olha e assente, então levanta e vem até a mim.
— Tenho medo de perder meu irmão, meu pai e até mesmo você, Carlos.
— Eu?
— Sim, apesar de nos conhecermos tão pouco tempo, gosto bastante de você, você é uma
boa pessoa.
— Obrigado, também gosto muito de você.
Estou sentado, mas ainda assim, ele sorri e me abraça de um jeito desajeitado.
— Você e Chris estão bem?
— Não sei, ele parece não gostar de verdade de mim.
— Vocês acabaram de se conhecer, se acha isso, faça com que ele goste — aconselho.
— Quando gostamos realmente de alguém, não precisamos conhecer a pessoa totalmente
e não precisamos saber tudo sobre dela. Gosto dele, mas tenho medo de não ser correspondido.
— Entendo você — digo, seguro sua mão e levanto. — Nós sempre tememos perder
aquilo que ainda nem é nosso e, mesmo não sendo, quando aquilo se vai, dói da mesma maneira.
Ele seca as lágrimas.
— Não fica assim, vamos curtir essa noite, beber... Converse com ele e veja no que dá. —
Abraço Elijah e ele concorda.
— Obrigado, de verdade, meu irmão tem muita sorte por ter você.
— Temos sorte de termos um ao outro. — É a verdade. — Tome banho e desça para nos
divertirmos, chega de pensar em coisas que ainda nem aconteceram. Um passo de cada vez,
rapaz!
Elijah esboça um pequeno sorriso e saio do quarto.
*
Posso sentir que tem algo ruim aqui, mas não consigo discernir o que é.
Depois que Elijah voltou do seu banho, foi até o Chris e o chamou para conversar. Os dois
se enfiaram no escritório de Caio e estão lá há mais de uma hora. Para não demonstrarmos o
quanto estamos interessados em saber o que está acontecendo naquele escritório, decidimos pedir
pizza.
Caio está ao meu lado, segurando a minha mão, e a outra está com um copo de caipirinha.
— A pizza deve ter chegado — diz Regina quando o interfone toca.
Caio levanta, atende e responde um simples “estou descendo”, logo levanto e vou até ele.
— Quer que eu desça com você?
— Não precisa, amor, pode ficar aqui, volto logo. — Me beija e nego com a cabeça.
— Vou com você, não tente me impedir, estou louco para saber o que Elijah e Chris estão
conversando, se ficar aqui muito tempo, vou acabar indo naquele escritório.
Ele ri e concorda.
Aviso aos nossos amigos que voltamos logo e seguimos para o elevador. Assim que
chegamos na recepção, encontramos um rapaz.
— Caio Brown? — pergunta.
Caio concorda e aperta a mão do jovem, que retira as pizzas e me entrega. Logo Caio
paga e seguimos novamente para o apartamento, mas não deixo de notar que o jovem não tirou
os olhos de nós, nos analisando minuciosamente.
Assim que entramos no apartamento, a porta do escritório abre e Elijah me encara.
— Deixa eu te ajudar — diz e segue na minha direção, pegando algumas pizzas das
minhas mãos.
Agradeço e encaro ele e Chris.
Todos ficamos em silêncio tentando descobrir como está a situação entre os dois. Pelo
olhar que trocam demonstrando uma certa alegria, parece que está tudo tranquilo.
Elijah e Caio vão até a banqueta e assim que entrego as últimas pizzas para meu
namorado, volto para a sala e Chris se aproxima, sentando ao meu lado.
— Devo desculpas a você — digo a ele. — Não deveria ter me metido naquele dia...
— Relaxa, Carlos, não me abalou nem um pouco — responde sorrindo. — E peço
desculpas também por algum inconveniente.
Tento não pensar que ele queria comprar empresas do Caio por algum motivo
desconhecido, que acho ser obscuro, e forço um sorriso.
Caio e Elijah nos chamam e começamos a nos servir.
Percebo que Bruno está quieto demais e seu olhar mostra que algo o incomoda. Vou até
ele e passo o braço em volta dos seus ombros.
— Manda...
— Não é nada — disfarça. — Que maneiro esse apartamento.
— Vocês precisam fazer uma visita à minha casa — diz Rafael enquanto abastece seu
prato. — Nunca os chamei para ir lá.
— Percebeu isso quando, querido? — questiona Lucas revirando os olhos.
Rimos e começamos a comer, pego um pedaço de pizza de atum com queijo, o meu sabor
preferido.
— Está gostando do emprego, Carlos? — pergunta Chris.
— Estou sim, não vi muita coisa, mas estou gostando.
— Com o tempo você se acostuma — diz e pisca para mim.
Continuamos comendo e bebendo, falando de assuntos bobos, como novela e os piores
filmes que já vimos.
— Aquela adaptação de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” foi horrível! E o enterro
do Dumbledore? E as memórias de Voldemort?! — diz Caio completamente indignado.
— Ele é fã de “Harry Potter” — explico rindo.
— Sou e ainda fico indignado com esse filme — responde e me dá um beijo.
— Acho que o filme que vai ser ruim mesmo é “Cinquenta tons de cinza” — comenta
Regina. — Sério! Eu vi o trailer e parece ser bem ruim.
Rio ao lembrar de Anastasia Steele e reviro os olhos.
— Vocês falam desses filmes porque não viram “It — Uma Obra Prima do Medo” — diz
Rafael. — O livro é ótimo, mas o filme é péssimo.
— O filme é um clássico! Como pode não ter gostado? — questiono.
— Por que, Rafa? Por não ter a pegação que tem no livro? — pergunta Lucas rindo. —
Rafael tem medo de palhaços, quando vimos esse filme, ele não dormiu a noite toda.
Todos começam a rir, zoando Rafael.
— Ninguém pode negar que as melhores adaptações para o cinema foram as dos “Jogos
Vorazes” — comenta Bruno.
Levanto para pegar mais um pedaço de pizza, Elijah vem junto até o balcão e começamos
a escolher.
— Está mais calmo?
— Sim, obrigado — diz sorrindo.
Vejo que ele segura o prato em uma das mãos, mas seu olhar se dirige a outro lugar.
Elijah pega um folheto que até então não tínhamos reparado que estava ali e o lê, seu olhar
endurece e sua mandíbula tensiona.
— O que foi? — questiono curioso.
— Isso, é um bilhete — responde entre dentes e me passa o papel.
“Melhor tomá-la enquanto respiras, não há bebida após a morte”
John Fletcher, “O irmão sangrento.”
“As vinganças que vos reservo repercutir-se-ão pelo mundo.
Coisas terríveis farei, que coisas serão,
Não sei, sei apenas que farão tremer a terra.”
“O Rei Lear — ato 11, cena 4.”
“A morte vem como o ladrão;
sem hora e sem dia certo, quando vem, devasta tudo, não somente o que morreu, mas os que
ficaram vivos para viver sem aquela pessoa.
Cuidado.”
Ao terminar de ler estou tremendo, sem conseguir entender direito o que as palavras
escritas querem avisar.
Que bilhete mais estranho!
Palavras soltas como um enigma.
Quem teria enviado?
Não pode ser!
— Oliver — digo em voz alta.
Todos param de conversar e se viram para mim, Caio vê o papel em minha mão e
rapidamente levanta.
Sinto minhas pernas enfraquecerem, o medo tomar conta do meu corpo fazendo-o tremer
sem controle.
— O que foi? — Caio pergunta preocupado.
Mostro o bilhete a ele que fica branco como o papel após ler. Todos que estão na sala vêm
até nós tentando entender o que está acontecendo.
— Isso seria uma ameaça? — indaga Lucas.
— Shakespeare. — Ouço Chris dizer.
— Onde você achou isso? — questiona Caio atônito.
Estou petrificado, sem conseguir dizer qualquer coisa.
Estamos sendo ameaçados?
Oliver seria capaz de fazer alguma coisa contra os filhos?
É claro que sim.
— Achei perto do folheto de sabores das pizzas — explica Elijah.
Caio sai correndo e se enfia no escritório, tento ir atrás dele, mas Regina me puxa para o
sofá e Bruno me traz um copo d’água. Regina não está mais em meu campo de visão, mas a ouço
conversar com Elijah.
— Oliver? Que Oliver? — pergunta.
— Não sei — mente Elijah.
Claro que ele tem que mentir, para o mundo, Oliver Estevam Brown está morto, mas para
mim, não. Sei que está vivo e tem alguma ligação com o tal bilhete estranho.
Mas o que quer dizer com aquelas palavras?
Quer somente nos assustar?
Realmente está planejando nos atacar?
Matar?
Não sei.
A única coisa que sabemos é que ele é louco.
Regina vem até mim e aperta minha mão na intenção de me acalmar.
Fico por um bom tempo sem dizer nada, sentindo que as coisas de agora em diante não
serão como antes, fomos ameaçados com um enigma.
O bilhete está bem claro, alguém irá morrer em breve.
Capítulo 60 - Distrações
Posso dizer que nunca vi Caio tão nervoso em todo o tempo que o conheço, nem mesmo
quando o encontrei após o roubo parecia tão furioso. Seus olhos estão vermelhos, suas mãos
tremem e os punhos fechados.
Ele anda de um lado para o outro, esperando o delegado Martins chegar. Depois que leu o
bilhete, se trancou no escritório e ligou para o delegado. Não sei o que conversaram, mas Caio
informou que pediu para que ele viesse até aqui o mais rápido possível, pois tínhamos recebido
um bilhete ameaçador. Ele estava descontrolado e acabou descontando nas taças e garrafa de
vinho que estavam sobre o balcão, aa arremessando⁰0 na parede e me deixando assustado.
Quarenta minutos se passam e o silêncio e tensão estão pairando pesadamente no ar.
Todos nos assustamos ao ouvir fortes batidas à porta, Caio abre a porta e Martins entra
sem ao menos nos cumprimentar.
— Onde está o bilhete? — pergunta.
Caio entrega o bilhete e Martins observa.
Todos continuamos em silêncio, esperando que ele diga alguma coisa.
— Desculpa, mas a pessoa é bem filosófica e pedir para um entregador de pizza entregar?
Bem pensado.
Continuamos na expectativa.
— Sabe me dizer até que horas essa pizzaria funciona, Caio?
— Um pouco mais de meia-noite, acho.
Levanto, vou para o lado de Caio, aperto sua mão e ele dá um meio sorriso para mim.
— Bem, iremos até lá para tentar falar com esse cara, vamos sondar para ver se
descobrimos alguma coisa — diz Martins e olha para mim. — Como está, Carlos?
— Se você perguntasse isso uma hora atrás, diria que muito contente, mas agora... —
Suspiro. — Por favor, só descubra quem fez isso.
— Não se preocupa, vou descobrir. Podemos ir agora, Caio? — Martins questiona já com
a mão na maçaneta, pronto para sair.
— Podemos ir? — pergunta Lucas.
— Melhor não. — Pondera o delegado. — Isso é caso de polícia, Caio e eu já está ótimo.
— Vocês podem ficar por aqui até voltarmos, não precisam acabar com a festa. Fiquem,
se quiserem dormir por aqui, sintam-se à vontade. Depois disso, precisamos de diversão — diz
Caio.
Todos concordam e Martins se despede de nós.
Vou com Caio até a porta e o abraço.
— Por favor, não demore. — O beijo. — Prometa me avisar tudo que estiver
acontecendo.
— Tudo bem. — Ele beija meu rosto. — Te amo, volto logo.
— Eu também te amo. — Fecho a porta e volto para o sofá.
— Ei... Não deixa isso abalar sua noite, vamos nos divertir, faça isso por Caio – Bruno
sugere para me animar.
— Tudo bem, vamos esquecer isso por enquanto. — Esboço um sorriso e tento aproveitar
o resto da noite.
Ligamos o som e começamos a dançar. “The reason” do Hoobastank toca e danço
agarrado com Regina, que apesar de tudo, está bêbada.
Bruno está sentado no sofá com um copo na mão e a outra bate na perna. Lucas e Rafael
dançam aos beijos, enquanto Elijah e Chris estão sentados conversando e rindo muito.
Apesar do bilhete misterioso, sei que nossas vidas não podem parar e estou aproveitando a
companhia dos meus amigos, me divertindo de verdade. Porém, ainda não consigo tirar da minha
mente o que havia acontecido.
Será que Caio está bem?
O medo de que pudesse acontecer alguma coisa com ele aumenta cada vez mais, mas não
posso deixar isso me abater; tenho que continuar com minha vida.
Algum tempo depois, deixo que Regina dê atenção ao Bruno e não demora muito para
estarem aos beijos.
Logo, Elijah e Christopher também.
Para não ficar sobrando, vou até a cozinha e me sirvo de um pouco de sorvete. Uma
música de Charlie Puth começou a tocar e passo a dançar sozinho, aproveitando para limpar a
bagunça que Caio havia causado, metade dos eletrodomésticos estão banhados de vinho.
Reviro os olhos pensando no motivo dele quebrar coisas quando fica nervoso, nunca
entendi isso muito bem. Recolho os cacos espalhados e passo pano em tudo enquanto meus
amigos dizem que deveria parar de dar uma de empregado e me divertir.
— Se vocês parassem de se agarrar iguais animais selvagens, talvez poderia sentar no sofá
e conversar — resmungo assim que termino e eles riem de mim.
— Tudo bem, paramos — diz Regina. — Vem para cá.
Pego uma cerveja na geladeira e me dirijo até o sofá.
— Será que eles descobriram alguma coisa sobre o rapaz que entregou as pizzas? —
pergunto baixinho para Regina.
Os outros conversam animados sem prestarem atenção em nós.
Ela pensa por um instante e dá de ombros.
— Eu não sei, mas não pense nisso, daqui a pouco Caio chega e poderá nos contar tudo.
“Heartbreak story” do The wanted começa a tocar e Regina dá um pulo.
— Ai, adoro essa música!
Ela começa a dançar de um jeito engraçado, dando pulos e batendo cabelo, como se
estivesse ouvindo RuPaul.
— Sua namorada é bem doidinha — digo para Bruno que se aproxima de mim.
— Pois é... Com o tempo a gente se acostuma. — Olha para ela com um sorriso.
— Obrigado por estar aqui, de verdade. Você sabe o quanto é importante para mim. —
Aperto sua mão e dou um sorriso.
Bruno sorri, porém, percebo um certo desânimo em seu olhar.
— O que foi?
— Não é nada... Obrigado por ter chamado.
Ainda assim sinto algo em sua voz.
Deixo para lá e vou dançar com Regina, agora ao som de Lauren Marsh. Abraço Regina,
giro seu corpo, ela ri descontroladamente e me animo. Mas ainda fico pensando em como Caio
está.
Será que encontraram o homem que nos entregou as pizzas?
Tento não pensar e dou um sorriso para Regina.
— “Dear love” — fala alegre.
Rimos e continuamos dançando agarrados, até que a música acaba e começa uma do
Jason Mraz.
— Estou cansado, não aguento mais — digo e me jogo no sofá.
— Você é tão novo, bobo! A propósito, quando é seu aniversário? — pergunta Elijah.
— 30 de julho.
— Logo mais está aí.
— Antes vem o do Caio. — Lembro que no contrato havia a data de aniversário dele. —
25 de março.
— Precisamos fazer uma festa para meu irmão, Carlos, falta um pouco mais de um mês,
os dias passam rapidamente.
— Concordo com isso. — Chris assente. — Caio nunca gostou muito de festa, mas acho
que esse ano ele tem motivos suficientes para comemorar.
Todos olham para mim e fico sem graça, então de repente penso no falecido Carlos, se
estivesse vivo, eu não estaria aqui, não é mesmo?
Pensar nisso faz meu coração apertar.
Meu celular apita, o pego rapidamente e vejo uma mensagem de Caio.
— É uma mensagem do Caio — informo já correndo os olhos pelo texto.
— Leia em voz alta, então — pede Bruno.
— Conseguimos encontrar o cara que entregou as pizzas. Ele disse que foi uma mulher
que entregou o papel a pedido de outra pessoa, mas ele não sabe quem é. O nome dele é Tiago e
a polícia vai ficar de olho, já estou chegando.
— Mas que porra! — diz Regina indignada. — Quem será que está fazendo isso?
— Não faço ideia — digo olhando para Bruno, que aparenta estar desconfortável com
tudo isso. — Você está bem, Bruno?
— Estou sim — responde de pé. — Acho melhor irmos embora, Regina.
— Por quê? Durmam aqui. Caio pediu.
— Melhor não, Carlos, vocês dois vão querer ficar sozinhos quando ele voltar.
— Realmente, mas temos o quarto dele.
— Qual é, Bruno! A festa não pode acabar, Caio mesmo disse isso — comenta Regina
que está com os olhos quase fechando.
— Fica, Bruno — diz Elijah. — Não tem que ir embora.
Meu amigo me observa e assente, mas sua atitude demonstra que não está contente com
isso.
— Tudo bem. Posso pegar uma cerveja?
— Fique à vontade — digo enquanto ainda o observo.
Bruno vai até a cozinha, me viro para Regina e ergo a sobrancelha sem entender a atitude
do meu amigo.
Será que ele está me escondendo alguma coisa?
Prefiro não pensar nisso, Bruno jamais faria alguma coisa para me prejudicar, não é
mesmo?
*
Vinte minutos depois, a porta abre e Caio entra sozinho. Vou até ele e o abraço.
— Como você está? — pergunto e ele beija meu cabelo.
— Mais calmo, só que sinto que não irei descansar nos próximos dias — diz sério e todos
nos observam. — Tiago disse que foi uma mulher que pediu para que entregasse o bilhete, mas
não sabe o nome dela. Ele ganhou dinheiro para isso, não disse a quantia, queria dobrar o valor
para ver se ele me dizia mais alguma coisa, mas não foi possível.
— Por que não? — indago.
— Martins me impediu, claro! Disse que aquela não era a maneira certa de trabalhar —
Suspira. — Por acaso quero saber a maneira correta? Só quero encontrar essa mulher e saber
quem deu o bilhete a ela.
— E o bilhete? — pergunta Elijah.
— Ficou na delegacia. O rapaz nos contou que a mulher é loira, pele clara e olhos azuis.
“Quem está querendo nos fazer mal?”
— Nós vamos descobrir, Caio, não se preocupa — diz Chris.
Ergo a sobrancelha, “nós”?
Prefiro deixar o ciúme de lado e concordo.
— Você quer descansar, tomar um banho, comer alguma coisa? — pergunto.
— Um banho será bem-vindo se você vier comigo — Caio responde e todos dão risada.
— Bem, amiguinhos, a festa para nós vai continuar no quarto! — digo animado. — Boa
noite. Elijah você pode mostrar os quartos a eles?
Elijah sorri e concorda.
Me despeço dos meus amigos e vamos para o nosso quarto. Caio tira a roupa e faço o
mesmo, então seguimos para o banheiro. Encho a banheira e entro, Caio vem logo em seguida e
se acomoda entre as minhas pernas. É a primeira vez que tomamos banho dessa maneira.
— Você tem algum suspeito? — pergunto passando sabão em seus ombros.
— Meu pai, claro, mas não tenho provas contra ele.
— Confesso que pensei nele também, mas por que dizer aquilo?
— Oliver é doente, Carlos — murmura e passo os dedos no seu cabelo.
— Sei que ele é, mas... Não vamos mais pensar sobre isso, vamos descansar por hoje e
amanhã pensamos com mais clareza.
— Você está certo — diz sorrindo e vira para colar nossos lábios em um beijo rápido. —
Poderia fazer uma massagem em mim depois do banho?
— Com toda certeza — respondo e esqueço tudo de ruim que aconteceu nesse dia.
Capítulo 61 - Volta
Estou deitado, ainda de olhos fechados enquanto escuto barulho de água.
Que horas são?
Não está tarde para isso?
Abro os olhos lentamente e o relógio aponta que ainda são 03h:35min.
Por que Caio está enchendo a banheira?
Levanto e sigo para o banheiro, preocupado se Caio está bem. Entro e ele está agachado
de costas com o cabelo ruivo bagunçado.
— Caio, por que está aqui? — pergunto ansiando ouvir sua voz.
Ele se vira e o terror toma conta de mim ao ver que não é Caio.
— Oliver! — Dou um passo para trás com receio que se aproxime.
— Oi, Carlos — diz sorrindo.
Seu sorriso, mesmo sendo perfeito, me causa medo.
— O que você quer? Onde está Caio? — questiono já entrando em pânico.
Minha vontade é de sair correndo daqui e gritar para todos os cantos que Oliver é
Antônio; o homem que me estuprou quando eu era apenas um menino.
— Caio está bem, não se preocupa, estou aqui para tratar algo com você.
Dou outro passo para trás enquanto ele avança em minha direção. Sinto medo e ânsia ao
olhar para ele.
Por que Oliver está aqui?
O que ele quer comigo?
Por que Caio não aparece logo?
Como ele entrou aqui?
O desespero me atinge quando penso em como esse homem havia destruído minha vida...
— Por favor, não se aproxima — imploro olhando para o quarto à procura de Caio, mas
não o encontro.
Onde ele está?
O que Oliver fez com ele?
— Caio não vai poder te salvar, Carlinhos. — Meu apelido estala em sua boca fazendo a
onda de pânico crescer em mim.
— Por favor... — suplico.
— Shh, fica quieto!
Oliver está mais próximo agora, tanto que posso sentir seu hálito quente.
O estuprador para na minha frente, sorri, ergue a mão para acariciar meu rosto e sinto o
pavor percorrer minha espinha.
— Foi tão bom ter entrado em você quando ainda era uma criança — sussurra. — Lembro
de você, querido, você sofreu demais naquele dia, mas hoje não... Hoje vai ser diferente, afinal
meu filho vem te comendo, não é mesmo?
Engulo em seco.
Ele sabe quem sou, ele lembra!
Mas como?
Mudei tanto, como ele ainda me reconhece?
— Naquele dia não fiz nada que queria com você, quero te comer mais. — Sua voz é
cheia de malícia.
Tropeço em meus próprios pés e caio no chão. O pavor invadindo a alma, pressentindo o
que virá.
— CAIO! — grito desesperado. — ME AJUDA, CAIO!
Nada.
O cinto de Oliver caindo no chão é a única resposta.
— Vem, agora! — diz abrindo a calça e tento recuar em vão, temendo o que vem a seguir.
Sinto meu sangue gelar, rapidamente meus lábios ficam secos e o pavor toma conta de
mim, estou querendo vomitar.
Onde está Caio?
Por Deus, por que ele não aparece?
Por que ele não vem me socorrer?
Quero chorar, meu pesadelo está parado diante de mim, prestes a fazer novamente o que
fez anos atrás.
Oliver abre a calça, desce a cueca e o pau está duro despontando, grosso...
Pronto para o abate.
Ele se aproxima até que seu membro fique na altura do meu rosto para enfiar em minha
boca.
“Eu não quero!
Ele não pode fazer isso comigo outra vez!”
— NÃO! — Minha voz sai em um grito desesperador.
*
Abro os olhos e sinto as lágrimas transbordarem.
Caio levanta em um pulo, liga o abajur, se aproxima e olha em meus olhos.
— Está tudo bem? Carlos, consegue me responder?
Fico quieto, pois o pesadelo foi tão real que ainda sinto sua presença.
— Por favor, responda — Caio pede.
Abro a boca para formar alguma palavra, mas não consigo. Somente um grunhido seco sai
pela garganta e começo a chorar.
Não adianta...
Oliver vai me atormentar para sempre.
Tê-lo visto despertou meus piores temores.
Como viver com isso?
Caio me abraça e me agarro em seus braços quentes.
Como eu o amo!
Ele ser filho de Oliver me faz amá-lo mais ainda nesse momento.
Caio não é igual a Oliver Brown, eles são pessoas completamente diferentes. As sessões
com o psicólogo me ajudaram mais ainda a ter certeza de que Caio não abusou de mim, e que
posso me entregar de corpo e alma a ele, ciente de que ele me protegerá.
Mas não dos sonhos, disso não consigo escapar.
— Me conta o que houve, por favor, estou preocupado.
Continuo abraçado a ele, desejando só esquecer esse pesadelo maldito, mas sei que ele
não vai desistir até que eu diga tudo. O olhar dele é amoroso, me incentivando, me dizendo que
está comigo sempre.
Tomo coragem e conto tudo, revivendo o pesadelo com a voz embargando no final.
— Não se preocupa, amor, não irei permitir que isso aconteça — diz me consolando com
carinho.
Sinto um giro no estômago ao ouvi-lo me chamar de “amor”.
Como as coisas mudaram em tão pouco tempo!
Claro que ele já tinha me chamado outras vezes, mas sempre me derreto quando o escuto
pronunciar essa palavra.
— Foi tão real, já tive sonhos antes, mas nada como esse...
— É por conta do que aconteceu hoje, aquele bilhete pegou a todos de surpresa.
Realmente, aquilo havia me perturbado demais.
Será que as ameaças são verdadeiras e alguém irá morrer?
Deitamos e Caio continua abraçado comigo enquanto suas mãos percorrem meus braços e
meu cabelo.
— Só quero viver em paz, gostaria de superar esse trauma — sussurro.
— Eu também — confessa. — Vivo sonhando, praticamente todas as noites sonho com o
que meu pai me fez, com o que fiz e que ocasionou a morte de Carlos, e com você indo embora.
Isso é doloroso demais para mim, mas ter pesadelos me faz mais forte ao acordar no outro dia e
ver que era só sonho. Provam mais ainda que sou forte mesmo e você também é, Carlos, sabe
disso!
“Caio sonhando comigo o abandonando?”
Permanecemos em silêncio, apesar de ter sido um pesadelo, ainda estou aflito como se
fosse real.
— Eu preciso de ar, não sei, preciso sair daqui.
— Ainda é 5h:40min. Quando amanhecer podemos sair e passar na sua mãe, o que acha?
— sugere.
Viro para Caio, ele sorri e me beija.
Me sinto aliviado de tê-lo ao meu lado.
*
Não havia notado que voltei a dormir, só acordei porque Caio levantou e foi para o
banheiro.
Bocejo e olho para o relógio, 9h:53min.
— Não acredito que perdi a hora — murmuro batendo a mão na testa por ter perdido
outro dia de trabalho, já é o segundo dia que não vamos à empresa e Caio parece não ligar para
isso, o que me incomoda um pouco.
As horas passaram tão rapidamente que me espantei, mas precisava dormir, o pesadelo da
madrugada me perturbou demais.
Levanto e vou até o banheiro do quarto. Caio está tomando banho, tiro minha roupa e
aproveito para entrar junto. Ele sorri ao me ver.
Chego mais perto e começamos a nos beijar, tentando esquecer o que havia acontecido na
noite anterior e na madrugada.
— Por favor, não me abandona jamais — sussurra Caio mordendo meu lábio inferior.
Acaricio seu rosto e o puxo ainda mais para mim, sentindo nossos membros roçando,
duros. Ele passa o sabonete no meu corpo e cola nossos lábios novamente.
Como o desejo!
— Jamais vou te abandonar — murmuro.
Caio sorri e me abraça.
— Antes de conhecer você, tudo era tão sem graça, não sabia o que era viver, só
trabalhava e nada mais. Mas você apareceu na minha vida e foi como um terremoto inesperado;
abalou cada uma das minhas estruturas, me deixando vulnerável — declara.
Eu somente o observo, inebriado com cada palavra, absorvendo o impacto delas sobre
mim.
— Possa ser que você se sinta mal, mas quando o vi no elevador da minha casa, pensei
que era o Carlos. Cheguei a cogitar isso, mas sabia que era impossível. Não mandei a polícia
atrás de vocês porque pensei nele e que ele havia feito algo de errado com meu tio também. E se
você acabasse ferido pelos policiais? Eu nem podia imaginar. Fiquei a noite toda acordado
pensando em você, torcendo para que te visse novamente o mais rápido possível e quando entrou
no meu escritório, mais muralhas caíram dentro de mim. — Olha para mim, passando o polegar
no meu rosto, com os olhos cheios de carinho e desejo. — Eu te amo bem antes de te conhecer,
Carlos, você é tudo para mim, se não tenho você, nada tem sentido.
A água cai em nossos corpos lavando as lágrimas que descem por meu rosto, pois foi a
coisa mais linda que já ouvi na vida.
— Te achei atraente no momento que vi seu quadro no escritório — digo rindo. — E
quando você estava olhando o vaso quebrado, estava debaixo da cama te observando e meu
coração acelerou quando nos encaramos. Queria conhecer Caio Brown, em apenas um dia tinha
ouvido seu nome por várias pessoas e desejei que você cruzasse meu caminho — confesso,
lembrando do dia que estava no carro de Lucas e ele falava quem era o Caio. — Apesar de ter
sido uma loucura, adorei ter te reencontrado.
— Sempre vou te amar.
— Eu também.
— Promete sempre me perdoar quando eu fizer algo errado? — questiona com seu olhar
perfurando o fundo da minha alma.
— Prometo.
*
Depois que Caio e eu saímos do banho, rapidamente nos trocamos e fomos para o andar
de baixo, nossos amigos já haviam ido embora, afinal, somente nós que não tínhamos ido
trabalhar.
Preparo um café forte para nós, ainda pensando sobre o bilhete estranho, a noite que
tivemos, o sexo maravilhoso com Caio e a sessão com William Borges.
Como podia acontecer tanta coisa em míseras 24 horas?
— No que está pensando? — Caio me observa curioso.
— Essas últimas 24 horas, que loucura, não?
Ele concorda.
— Devíamos estar no escritório... — comento, bebendo o café, sem um pingo de fome.
— Concordo, mas as últimas horas estão sendo difíceis, é melhor sairmos hoje e depois
voltarmos à nossa rotina — argumenta. — Vamos na sua mãe e depois em algum outro lugar, se
der passamos na empresa.
Concordo.
— Caio, me diz uma coisa...
— O quê?
— Você percebeu como Bruno estava estranho ontem? — pergunto levantando.
Caio engole e dá de ombros.
— Não percebi, por que diz isso?
Eu sei que isso é loucura, Bruno é meu melhor amigo e jamais faria algo para me
prejudicar, mas sua atitude na noite passada me deixou incomodado demais.
— Ele estava estranho, não sei, parecia que escondia algo... Espera!
De repente vem uma lembrança e tento puxar da memória o que aconteceu há pouco
tempo.
— O que foi?
— No dia que terminamos, fui procurá-lo — comento. — Chegando lá, ele me disse que
precisava me dizer algo importante, mas acabei não permitindo, estava com a cabeça cheia e não
tinha condições de pensar em mais nada.
Caio parece desconfortável.
— Você acha que ele pode estar escondendo o quê?
— Eu não sei, Bruno seria capaz de me fazer alguma coisa?
Caio me encara sério.
— Responde você, ele seria capaz?
Penso sobre isso e nego, realmente isso que estou pensando é uma loucura e tanto. Bruno
sempre foi meu amigo, sei que jamais faria algo para me prejudicar, certo?
— Aí é que está; eu não faço ideia! Melhor esquecer isso e irmos logo.
Meu namorado assente e seguimos para a casa da minha mãe.
*
Assim que Caio para o carro no meio-fio, sinto que alguma coisa está errada na minha
casa. Solto o cinto e Caio sai em seguida.
Ao me aproximar da porta, escuto gritos exaltados. Fico sem entender, minha mãe é uma
pessoa muito reservada e evita esse tipo de coisa.
Me apresso em abrir a porta e entro com Caio.
— Mãe, o que está acontecendo aqui?
A cena com a qual me deparo supera qualquer expectativa. Já estou passando por tanta
coisa e acabo de adicionar mais uma para a lista. Minha mãe está em pé com Robertinho
chorando ao seu lado, enquanto meu irmão e Joyce estão do outro lado da sala. Todos olhando
para o homem de braços cruzados próximo à porta do meu quarto.
Percebendo minha presença, ele sorri para mim e sinto o sangue congelar.
— Oi, filhão! Seu pai voltou e para ficar!
As coisas não podiam ficar piores.
Capítulo 62 - Convite
Estou paralisado, sem crer no que meus olhos veem.
Volto a mim com o som da porta sendo fechada por Caio.
Meu pai vem em minha direção com os braços estendidos com a intenção de me abraçar e
apenas observo o homem que nos abandonou cada vez mais próximo.
— O que você está fazendo aqui? — Estico minha mão como advertência para que se
mantenha onde está, o impedindo de se aproximar.
— Estava com saudade, filho, afinal aqui ainda é minha casa.
A casa ainda é dele?
Ouvir isso soa como uma piada mal contada e a minha vontade é de socar sua cara
deslavada.
Como ele tem coragem de dizer isso depois de tudo que fez conosco?
— Aqui deixou de ser sua casa quando nos abandonou.
Ele abre um sorriso cínico que se transforma em uma risada irritante.
— Aqui sempre vai ser minha casa, precisei voltar e ficarei aqui — sentencia.
— Precisou voltar para quê?
— Nosso pai não tem para onde ir, Carlos, ele perdeu tudo em Minas — justifica Rafael.
Não me espanto com a posição do meu irmão, claro que iria defender o seu pai, afinal os
dois sempre foram muito ligados. Lembro que quando éramos crianças, meu pai levava apenas
Rafael para jogar bola; quando íamos ao parque, eu sempre ficava de lado. José realmente nunca
foi um pai presente para mim, o que me fez crescer com raiva e indignação. Porém, o que sinto
agora é bem maior; sinto nojo dele e de Rafael.
Como após tudo que passamos, todas as dificuldades enfrentadas, ele ainda o defende?
— Sim, perdi mesmo. Precisei voltar. Vi uma foto sua no jornal, então, como agora está
mergulhado na grana... — diz José com certo ar de deboche.
Suas palavras estão impregnadas de malícia e segundas intenções. Aposto que só voltou
por causa de dinheiro e está mentindo sobre perder tudo.
— Não estou mergulhado na grana e mesmo se estivesse não te daria um real! Já esqueceu
que sou seu filho gay? A vergonha para sua família? Esqueceu que você me bateu e foi embora
dizendo que me odiava?! — esbravejo explodindo de ódio, pois espero por esse momento há
muito tempo.
Olho para minha mãe e vejo que ela e Robertinho choram descontrolados.
— Aqui não é sua casa, essa casa é da minha mãe que ganhou como herança! Saia daqui
agora mesmo! — ordeno apontando a porta de casa.
Sinto a mão de Caio segurar a minha e meu pai se afasta.
— Eu sabia, Rafa, eu sabia que esse viadinho não iria me querer aqui — diz a Rafael
como se estivesse desapontado.
— Você sabia que ele estava aqui?
— Sim, fui viajar com Joyce para buscá-lo. Papai não tinha como voltar, vi a situação
dele de perto — explica.
— Não quero nem saber, você não tinha o direito de trazê-lo para dentro desta casa! —
cuspo as palavras, mas se pudesse avançar em Rafael já teria feito.
A raiva e o ressentimento fazem emergir as lembranças de como José tinha sido um
péssimo pai.
Quando pedíamos dinheiro e mesmo ele tendo, se negava dizendo que iria nos bater; dele
nos batendo sem motivo algum; José gritando que me odiava, me surrando por ser gay; indo
embora e deixando minha mãe desamparada.
— Papai vai ficar sim, Carlos, você quase não fica aqui — decreta Rafael.
— E quem é você para mandar em alguma coisa? Você nunca ajudou em nada! É um
sem-vergonha igual a ele. — As palavras destilam toda a raiva que sinto nesse momento.
A essa altura, não estou me importando se Joyce está aqui presenciando essa briga de
família. Rafael vem para cima de mim, mas Caio se coloca entre nós.
— Não ouse tocar nele ou serei obrigado a me envolver — declara Caio, com cara de
poucos amigos.
Rafael recua e dirijo um olhar agradecido ao meu namorado.
— Dona Marisa, arrume suas coisas e as de Robertinho, vocês não precisam ficar aqui. Se
o pai de vocês necessita de um lugar para ficar, tudo bem, mas não permitirei essa família ficar
nessa casa com ele — Caio pede.
Todos ficam em silêncio e minha mãe, prontamente, vai para o quarto e começa a arrumar
as malas.
— Você não precisa... — Tento argumentar, mas Caio me corta.
— Você, sua mãe e Robertinho vão morar comigo. Rafael e o pai dele podem ficar aqui,
assim evitamos brigas e os dois podem aprender a se virarem para viver.
— Quem você pensa que é?! — questiona meu pai.
— Caio Brown e se você tentar encostar um dedo em alguém daqui, vai se arrepender
amargamente. Posso te colocar atrás das grades em poucos minutos, gostaria de tentar?
Meu pai recua.
— Coloquei um pouco de roupa, não coube tudo. — Minha mãe volta para sala com duas
malas.
— Não vai precisar delas. Vamos. Até mais, Rafael, espero que arrume um emprego logo
já que não terá mais seu irmão para te sustentar. Joyce. — Caio se despede com um meneio de
cabeça e abre a porta para que possamos ir embora.
*
— Ainda não acredito que ele voltou para casa! — digo assim que paramos na frente de
um restaurante.
— Eu também não acreditei, meu filho. Ver que seu irmão o trouxe me deixou mais
abalada ainda. Você sabe que seu pai é violento e já até me agrediu — mamãe diz ainda
assustada com toda a situação.
Sim, sei disso muito bem. Certo dia enquanto minha mãe e meu irmão discutiam, meu pai
simplesmente se virou para ela e torceu seu braço a ponto de ter que ir para o hospital. Ficou com
ele imobilizado por 15 dias.
— Não vamos pensar nisso agora — diz Caio. — Nossa, os problemas nos perseguem de
uma maneira...
Sinto vontade de rir, primeiro ele diz para não pensarmos sobre isso, mas está citando que
os problemas nos perseguem?
— Caio, por favor, você não precisa deixar a gente na sua casa, eu posso ir para alguma
amiga, eu não sei, dou um jeito — diz minha mãe.
— Dona Marisa, não se preocupa. Tenho uma casa onde ninguém fica a não ser meus
seguranças e às vezes vou para lá. — Ele sorri para mim. — Comentei com Carlos que desejava
morar lá com uma família, vocês agora são isso para mim.
Me emociono com Caio dizendo que somos uma família.
De repente me lembro de Luke Evarns dizendo que Caio ia se apaixonar por mim em
algum momento.
— Se não quiser ficar nessa casa, tenho outras. Carlos e eu podemos ficar no meu
apartamento também, se quiser privacidade.
— Você é muito gentil, obrigada. — Agradece enquanto abraça Robertinho.
Entramos no restaurante e escolhemos os lugares, o garçom se aproxima e anota o pedido
de cada um.
— Gostaria que meu filho estivesse perto de mim — mamãe diz apertando minha mão. —
Tenho médico com Robertinho em poucos dias e preciso dele, será bom viver com você também,
Caio.
Meu namorado assente.
Iremos viver na casa onde aconteceu o roubo e tenho certeza que vou sentir saudade do
apartamento de Caio.
— Podemos passar uns dias com a senhora e outros no apartamento — sugiro dando de
ombros. — Claro, se não tiver problema para você, Caio.
— Dona Marisa, é impressão minha ou o Carlos quer morar comigo?
Observo minha mãe sorrindo para Caio e dando de ombros.
— Caio, acho que meu filho quer morar só com você mesmo — responde me fazendo rir.
— Quem sabe um dia — comento e pisco para ele.
— Que complô hein, Carlos?! — Robertinho fala e começamos a rir.
*
Seguimos para a casa de Caio e minha mãe está maravilhada com tudo o que vê.
Entramos e rapidamente Robertinho fica empolgado com o tamanho da casa, correndo por todos
os cômodos alegre.
Ainda me sinto um tanto desconfortável nessa casa, mas sei que se não ficar, nem que seja
por uns dias, minha mãe irá recusar o convite de Caio.
Ele nos leva para o andar de cima para mostrar o quarto da minha mãe e de Robertinho.
Acabo descobrindo que o andar depois da suíte de Caio, são quartos.
Passamos pela porta do quarto obscuro de Caio e me lembro do dia que estive aqui. Foi
no dia em que saí correndo porque descobri que o pai de Caio era o homem que me estuprou
naquele beco. Parece que aconteceu há tanto tempo, mas não, só passou um mês.
Penso sobre as duas vezes em que estive aqui, sai correndo no final das duas, mas sei que
dessa vez será diferente.
— Aqui é muito maneiro! — diz Robertinho animado ao ver seu quarto.
O quarto é amplo, mas não tem muita coisa, somente um guarda-roupa e uma cama.
— Que bom que gostou. Você pode decorar como quiser — informa Caio.
Minha mãe vibra com isso e logo seguimos para o próximo quarto que será o dela.
Caio abre a porta e dona Marisa se emociona.
— É muito lindo, obrigada.
— Fiquem à vontade, vou pedir para alguém vir para cá para nos ajudar com as coisas
domésticas — anuncia Caio.
— O quê? Não precisa, Caio, posso fazer, odeio me sentir inútil.
— A casa é grande, dona Marisa.
— Ao menos a comida eu faço — diz mamãe envergonhada.
Caio concorda e saímos do quarto.
— Falando em comida... Estava pensando que poderíamos fazer um jantar aqui para todos
nós e chamar os nossos amigos. Preciso te apresentar algumas pessoas.
Observo Caio e fico pensativo.
Quem ele irá me apresentar?
Achei que Caio não tivesse amigos.
— Tudo bem, podemos fazer isso — digo sorrindo. — Vai ser bom para nos distrair.
Ele sorri e me dá um beijo rapidamente, logo voltamos para dentro do quarto e ficamos
observando minha mãe e meu irmão pularem na cama, alegres.
Capítulo 63 - Plano barato?
Os dias foram passando tranquilamente, o que me animou um pouco, para nos distrair,
Caio e eu voltamos a malhar e seu advogado o informou que o contrato de submissão não havia
mais valor algum. Pensar sobre isso, me deixa mais aliviado, voltamos a trabalhar também, o que
foi bom para esquecermos os nossos problemas.
Oliver e meu pai não apareceram, e não sabia como Rafael estava sobrevivendo com ele,
mas isso já não era mais da minha conta.
Mamãe e eu levamos Robertinho no médico e ficamos sabendo que o tumor está
controlado, os medicamentos agiram bem e não precisariam ser trocados.
O trabalho com Caio a cada dia fica mais interessante e já consigo entender um pouco
sobre seus contratos. Confesso que ver aqueles números absurdos de dinheiro na sua conta, me
dá náuseas.
Elijah e Chris estão bem e o ciúme do meu cunhado havia diminuído. Bruno está me
evitando, o que faz com que eu comece a desconfiar de que algo realmente está errado, então
envio uma mensagem simples para ele, dizendo que preciso vê-lo, porém não tenho resposta.
*
Já é tarde e Caio e eu ainda estamos aqui na empresa, tivemos que organizar alguns
documentos e de praxe fazer alguns telefonemas para seus clientes. No momento em que termino
tudo, desligo meu computador, sentindo um alívio percorrer meu corpo.
Graças a Deus é quarta-feira e não teremos muito trabalho para fazer até a próxima
semana.
Sigo em direção do escritório de Caio, bato na porta, escuto sua voz sexy pedindo para
que entre e faço isso.
— Ainda trabalhando? — pergunto indo em sua direção.
— Já estou finalizando tudo — responde com um sorriso em seus lábios. — Vem cá,
senta aqui.
Caio bate a mão em sua perna, indicando que é para me sentar nela. Me acomodo em seu
colo e inalo o cheiro delicioso do seu perfume amadeirado.
— Desculpa não ter dado tanta atenção hoje, amor, realmente o dia foi uma loucura!
O beijo enquanto sua mão percorre meu corpo até parar em minha bunda.
— Amor… Sei que não quer falar sobre isso — começo a falar e ele me olha. — Mas
você não acha muito estranho esse silêncio de Oliver?
Caio me observa com mais atenção e assente.
— Também achei estranho, mas fica tranquilo, Martins está cuidando disso.
Concordo e voltamos a nos beijar com sua mão seguindo o caminho para dentro da minha
calça.
— Adoraria comer você aqui, no meu escritório, na verdade, desejo te comer pela
empresa toda.
Apesar de Caio agora ser meu namorado, sinto meu rosto pegar fogo com suas palavras.
— Pela empresa toda eu não sei…, mas aqui acho que podemos tentar... — comento.
Levanto do seu colo e dou a volta na mesa, ficando de frente para ele. Caio sorri e abre as
pernas, me observando, com o volume do seu pau já marcando na calça.
Olho em volta do escritório, sigo até a caixa de som, conecto meu celular e “Crazy in
Love” da Beyoncé começa a tocar, é uma versão mais sensual, o que dá ênfase para o que
pretendemos fazer.
Volto para onde estava e tiro meus sapatos, sorrindo sempre para meu namorado. Caio
não se move, apenas aprecia a cena.
Abro a camisa devagar revelando meu corpo pouco malhado e a jogo no chão. Tiro meu
cinto, abro o zíper da calça e a tiro lentamente.
— Continue, estou adorando o espetáculo! — comenta meu namorado com o olhar
vidrado em mim.
Mordo o lábio e fico somente de cueca, com o volume da excitação mostrando o quanto o
desejo.
— O senhor não vai se despir? — pergunto em um tom baixo.
Caio me olha e tira o terno, logo começa a abrir sua camisa, sempre sorrindo para mim.
Vejo seus sapatos voarem para longe e sua calça cair ao chão. Agora nós dois estamos de cueca e
duros.
— Se toque, Carlos, agora mesmo — diz meu namorado.
Obedeço mesmo sabendo que não existe mais contrato entre nós e começo a acariciar meu
peitoral, percorrendo o caminho do abdômen até mais abaixo e aperto o meu pau que lateja de
tesão.
— Coloca para fora — diz fazendo o mesmo com o seu pau.
Observo seu pênis e sinto vontade de ir em sua direção, mas me mantenho parado,
lembrando do dia em que fizemos isso no apartamento.
Caio e eu havíamos transado tão gostoso.
— Você deseja meu pau, Carlos?
— Sim, eu desejo, senhor — digo com a boca salivando.
— Tudo bem, vou te dar. Veja como pulsa só de te ver, mas seja bonzinho e faça por
merecer.
Olho atentamente para seu pênis enquanto ele pulsa em sua mão, me deixando ainda com
mais tesão.
Mas o que farei?
Como vou convencer Caio de me preencher com ele?
Engulo em seco e tento pensar.
— Quero seu pau dentro de mim, senhor — arrisco. — Por favor, me deixe te dar prazer.
Ele sorri e começa a se masturbar, faço o mesmo e continuo observando.
Meu Deus, que loucura é essa?
Ainda estamos no escritório!
— Peça... — ordena.
— Por favor, me fode gostoso!
Caio para com os movimentos e vem em minha direção.
— Porra! Puta que pariu, não aguento mais me segurar.
Caio atrai meu corpo para o seu e nossos lábios se encostam. Em um movimento rápido
tudo o que estava em cima da mesa agora está no chão. Caio beija meus lábios e explora meu
corpo, mordiscando meus mamilos, meu pescoço, descendo para o meu pau e logo em seguida,
chupando meu cu. Sinto um arrepio percorrer meu corpo e gemo implorando por mais enquanto
Caio continua com as investidas da sua língua.
— Não aguento por mais tempo! — confesso — Por favor, Caio, me fode! — imploro.
Ele vai até a gaveta e retira um tubinho de lubrificante.
— Sabia que precisava ter isso aqui! Depois que você começou a trabalhar comigo, senti a
necessidade de ter um estoque de lubrificante no escritório — brinca.
Caio passa o lubrificante em seu membro e depois aplica um pouco no meu ânus, o
massageando de um jeito enlouquecedor. Sinto a cabeça do seu pau de encontro à minha pele e
reviro os olhos, se Caio não for logo acabarei gozando agora mesmo.
Ele enfia seu pau devagar e depois de um tempo, investe com tudo, segurando meu cabelo
e me fodendo com vontade.
Chamo pelo seu nome em meio aos gemidos e Caio me diz o tempo todo o quanto me
ama e o quanto adora fazer isso.
Meu namorado para os movimentos e me coloca de quatro, ajusta a nossa posição e sinto
seu pau me invadindo outra vez em um vaivém enlouquecedor. Não aguentamos mais e gozamos
juntos, sujando toda a mesa.
— Esse com certeza foi o melhor dia de trabalho que já tive! — diz rindo.
*
Mamãe está feliz quando chegamos e já nos espera com a mesa posta com o jantar.
Caio me avisou que no próximo domingo, no meio de fevereiro, teremos o jantar na casa
dele, ainda não consigo dizer “nossa”, para ser apresentado oficialmente como seu namorado e
Elijah conhecer algumas pessoas.
Só de pensar nisso, meu coração acelera mais do que nunca.
Caio e eu continuamos com as sessões de terapia e estamos nos abrindo cada vez mais
sobre os nossos traumas.
— Meu pai, ele abusou de mim — confessa Caio.
Will o observa atentamente.
— Como você se sente sobre isso?
— Estranho, não sei.
Vejo meu namorado suspirar e aperto sua mão.
— Eu não consigo perdoá-lo.
— Imagino que seja difícil mesmo, afinal, é seu pai — pondera o psicólogo. — Carlos e
você foram estuprados pela mesma pessoa, não acham isso uma ironia do destino?
— Ironia do destino? — Ouço Caio perguntar.
— Sim, o destino os colocou no mesmo caminho para enfrentarem os problemas juntos,
entende o que quero dizer? Vocês precisam um do outro para superar, sei que são capazes.
Assentimos sorrindo.
Talvez isso seja verdade, Caio e eu fomos feitos um para o outro, para um consertar o
outro.
— Também não consigo me ver perdoando Oliver — digo envergonhado. — Só de pensar
que ele é meu sogro...
— Ele não é meu pai. — Caio me corta.
— Caio, você precisa aceitar que ele é seu pai sim e que te fez algo de ruim, dizer que
Oliver não é seu pai, não vai mudar nada — explica Will. — Ou muda alguma coisa para você?
Caio fica quieto e pensativo.
— Não muda nada, mas não consigo.
— Tudo bem. Digamos que você e Carlos nunca o perdoem, eu também não perdoaria,
mas não podem mudar o inevitável. Ele faz parte da vida dos dois, sendo seu pai e sogro do
Carlos.
Ficamos quietos.
— Vocês têm alguma novidade? — questiona Will diante do nosso silêncio.
— Eu con-consegui. — Caio engole em seco. — Fui passivo com Carlos, consegui.
— Isso é muito bom, quando uma pessoa é violentada, sente medo que a outra a toque —
diz William. — Você ter conseguido isso é um grande avanço.
Caio sorri para mim e declara:
— Carlos mudou muitas coisas em minha vida —diz sem tirar os olhos de mim. — Eu o
amo.
Abro meu melhor sorriso e o abraço.
— Nossa sessão está encerrada — William Borges informa.
*
Os pesadelos não param de me perturbar, Oliver sempre está lá, mas agora acompanhado
do meu pai, José, sorrindo enquanto estou sendo abusado sexualmente.
Acordo na madrugada de domingo e respiro fundo, verifico o relógio e ainda são
6h:30min.
Estamos no apartamento e observo Caio dormindo ao meu lado.
Sei que não conseguirei dormir novamente, aproveito e desço. Sigo até a cozinha e coloco
a cafeteira para trabalhar. Me sirvo de uma xícara fumegante e caminho lentamente em direção à
sala, ao passar pelo aparador, observo os porta-retratos que dei de presente para Caio. Um tem
uma foto nossa; outro, ele e a mãe; e no terceiro, antes vazio, agora tem uma foto dele com o
irmão. Sorrio ao ver as imagens, pego o porta-retrato onde está Caio e eu e fico admirando.
— Já acordado?
Escuto uma voz e me assusto. Coloco o porta-retrato de volta ao seu lugar e viro
encontrando Christopher.
— Já sim — respondo. — E você, acordado por quê?
— Perdi o sono — diz e senta no sofá.
Sento próximo a ele, ficando de frente.
— Também perdi. As coisas que vêm acontecendo não me deixam dormir.
— Você gosta mesmo do Caio, não é?
Não respondo e fico pensativo sobre o motivo dele me perguntar isso.
— Ele te contou o que fez?
— Me contou sim. Claro, se você estiver falando do que estou pensando, ele contou.
— Sobre o que ele fez com o tio e o pai — esclarece.
Balanço a cabeça confirmando.
Lembro que Caio me disse meses atrás que Christopher havia descoberto algo sobre ele e
o chantageado.
— Posso te fazer uma pergunta? — Resolvo arriscar.
— Faça.
Olho-o bem e me sinto desconfortável.
— Tempos atrás você veio neste apartamento e conversou com Caio, eu ouvi a conversa
de vocês.
Ele confirma, como se não estivesse surpreso com o que estou dizendo.
— Bem, você perguntou para Caio se ele havia feito comigo o que fez com você. O que
ele te fez?
Ele pensa por um instante e dá de ombros, talvez se lembrando da época em que era
submisso do meu namorado.
Isso é tão estranho!
Christopher ex-submisso de Caio, agora é namorado do meu cunhado.
— Caio e eu nos conhecemos de um jeito meio estranho, por falta de palavra melhor. Meu
pai trabalhou com ele por um tempo, então, consequentemente, acabamos nos conhecendo já que
ele sempre ia jantar em nossa casa. Uma vez, ele ficou me observando o jantar todo, confesso
que eu também, mas não era ele que chamava minha atenção. Caio usava um relógio muito
bonito e fiquei interessado nele, eu tinha um problema sério com isso. Roubava as coisas das
pessoas e depois meus pais tinham que simplesmente devolver e pedir mil perdões.
Escuto tudo sem interromper, minha curiosidade falando mais alto.
— Em um certo momento, o fiz ir até meu quarto e acabamos transando. Enquanto ele
tomava banho, peguei o relógio. Depois ele começou a procurar o objeto e eu disse que não tinha
visto nada, mas nós dois sabíamos que eu estava mentindo. Então meu pai contou sobre meu
problema para Caio, ele não quis saber e disse que eu iria preso por aquilo e meu pai seria
demitido. — Para de falar e sorri.
Sinto minhas mãos suarem e minha respiração ficar pesada ao ouvir tudo o que ele está
me contando.
Caio seria capaz mesmo de colocar alguém atrás das grades?
De repente me vejo perdido nessas lembranças de Chris.
Caio teria feito o que a ele?
Engulo a bile na minha boca.
— Então surgiu a proposta dele para mim, disse que meu pai não perderia o emprego e eu
não seria preso se me tornasse seu submisso, mas a verdade era que Caio sabia do meu problema
bem antes. Eu tinha roubado um cliente dele, ele ficou sabendo e deixou o relógio lá de
propósito. Ele fez tudo planejado e então me tornei seu submisso. De início, não quis, mas
aprendi a me acostumar com a ideia, ele me tratava bem, mas não o amava de jeito nenhum, já
ele... Você deve saber. Bem, descobri seu segredo e o fiz pagar. Caio Brown foi chantageado
pelo homem que planejou um roubo.
Estou perplexo com tudo isso.
Caio realmente é uma caixinha de surpresas, não é mesmo?
Engulo em seco e me levanto para pegar mais uma xícara de café.
— Foi por isso, Carlos, que perguntei para Caio se havia feito algum truque sujo com
você. Ele ainda me odeia um pouco, mas não ligo, só que tenho certeza que seu namorado deu
um jeito de te tornar o submisso dele com algum plano barato.
*
Fico o resto da manhã pensando no que Chris havia me dito.
Caio me encontra no sofá, sentado com uma xícara de café na mão, já perdi as contas de
quantas tomei.
— Bom dia! — Cumprimenta me dando um beijo.
— Bom dia — respondo indiferente.
Caio me observa e ergue a sobrancelha.
— Está tudo bem? — pergunta me encarando.
— Caio, preciso falar com você antes de irmos para casa — digo e ele senta ao meu lado.
— Você tem alguma coisa para me contar?
Ele pensa por um instante, de repente uma máscara encobre o seu rosto e ele concorda
sério.
— Tenho. Mas antes me diga... Tem dedo do Christopher nisso?
Eu não consigo mentir para ele, o que é inacreditável, minto facilmente para minha mãe e
para Caio não?
— Depende do que você chamaria de “um dedo”, quero dizer, ele me contou a história
sobre como se conheceram, algo que você nunca me contou. Nem sabia que o pai dele já havia
trabalhado para você.
— Eu sei que não contei, não achava necessário você saber sobre isso.
Fico em silêncio por um tempo, refletindo sobre o que está acontecendo na minha vida.
Por que Caio me escondeu isso?
Teria algo a mais para me contar?
De repente me vejo ainda mais chateado com a situação, não tem motivos para que eu não
soubesse disso, certo?
Ou teria?
— Olha, só me diga a verdade, ok? Você usou algum golpe para conseguir que eu fosse
seu submisso?
Ele fica quieto e abaixa a cabeça, olhando para seus dedos que dançam uns nos outros.
— Lembra que você disse que me perdoaria por tudo que eu fizesse?
— Lembro.
— Vai me perdoar sobre isso também?
As lágrimas surgem em meus olhos, então realmente tem alguma coisa a ser dita.
Há algum segredo e tenho certeza que não vou gostar dele.
— Só conte, sei que vou te perdoar.
Ele assente, pensa por um momento e me olha sério.
— Sim, Carlos. Usei um plano barato para fazer você ser meu submisso. Tudo foi muito
bem arquitetado entre Bruno e eu, mas não vou contar isso para você sozinho, espere um pouco,
irei pedir agora mesmo para Bruno vir até o nosso apartamento.
Capítulo 64 - O Segredo
Fico meia hora agonizando no sofá enquanto Caio anda de um lado para o outro
esperando Bruno chegar.
Algumas vezes Caio se aproxima e me beija, mas não consigo retribuir, estou nervoso
demais com toda essa situação, mesmo o amando tanto.
A campainha toca 40 minutos depois e Caio abre a porta.
Bruno entra sério, olha em minha direção e rapidamente levanto.
— Você contou? — pergunta Bruno apreensivo.
— Estava esperando você — explica Caio.
Bruno se aproxima e me cumprimenta com um abraço que retribuo sem muita vontade.
Os dois param diante de mim e Bruno começa a falar:
— Carlos, me perdoa. Tentei te contar várias vezes, mas você não me deu importância.
Permaneço em silêncio e minha cabeça retorna ao dia que saí da casa de Caio e o
encontrei. Ele disse que precisava me contar algo...
Então era isso!
— Eu sabia que se falasse para você ser submisso de Caio, você não aceitaria — justifica.
— Então como devia um favor a Caio, eu usei você...
Desabo no sofá ao ouvir isso.
“Como assim me usou?”
— Por favor, conta isso direito — peço com a voz rouca.
— Bruno me conhecia há um tempo já — Caio se adianta e começa a explicar enquanto
senta. — Nos conhecemos em uma das minhas convenções.
— Como? — Isso não faz o menor sentido para mim.
— Ouvi Caio ao telefone com um homem, ele dizia sobre algo que fez...
— Falava com Christopher que insistia em encher meu saco por conta do que fiz.
Estávamos discutindo e disse que não daria mais nem um centavo a ele, que aquela história era
passado. — Caio esclarece.
— Eu ouvi a conversa.... Ouvi Caio dizer que tirou o pai da cadeia. Eu conhecia o nome
dele, então fiz algumas fotos e vídeos dele no telefone e uns dias depois fui até a empresa.
Regina não estava lá, o que é um alívio para mim até hoje. Insisti para vê-lo, quando entrei em
sua sala, fui logo dizendo sobre o que ouvi e mostrei as fotos.
— E no mínimo Caio te comprou — concluo enojado. — Afinal, ele compra a todos, não
é, Caio?
Meu namorado me olha arrependido, seus olhos estão avermelhados.
Balanço a cabeça em negativa.
Como ele pôde?
No fim, eu só fui uma mercadoria...
Ele me comprou e quem me vendeu foi meu próprio amigo, que sempre disse estar ao
meu lado. Sinto vontade de chorar e me odeio por isso, nos últimos dias essa vontade anda muito
presente na minha vida, mas não é para menos.
Como se sentir ao saber que o homem que diz te amar, havia te comprado como uma
mercadoria qualquer?
— De certa maneira eu o comprei, ofereci dinheiro pelas fotos, vídeos e pelo silêncio
dele...
— Onde me encaixo nisso?
— Caio viu uma foto nossa no celular e perguntou quem era você.
— Sim — confirma Caio. — Você me lembrou tanto ele... Eu precisava saber quem você
era.
— E você falou, não é, Bruno? Se Regina não te viu lá, que história você contou para ela,
afinal? Você mesmo havia me dito que contou para ela sobre o roubo.
Nesse instante, visualizo toda a cena de Caio e Bruno e me sinto com raiva.
Por que, afinal, as pessoas mentem para mim?
— Regina e eu somos um caso à parte, deixa que eu me resolvo com ela, ok? Sobre essa
história, comentei que você era gay e solteiro, então tivemos o plano do roubo, eu na verdade.
Contei para Caio que as coisas na sua casa não estavam fáceis e sabia que você aceitaria. Ele
deixaria o pagamento de 25 mil reais no cofre e ficaria metade para cada um, um pagamento
silencioso para você.
— Pagamento silencioso? — Arregalo os olhos.
“Como eles puderam fazer isso comigo?”
— Sim, o dinheiro que você acha que roubou, na realidade era seu, por estar se tornando
meu submisso.
Não consigo proferir uma palavra sequer...
Então tudo não passou de armação?
Fui usado como uma marionete, apenas uma peça que foi manipulada para seu bel-prazer.
Ser submisso por um capricho?
E pensar que fiz um acordo com Caio para devolver o dinheiro, me deixa ainda mais
frustrado.
— Continuem — digo entre dentes.
— Bruno pediu para que chamasse a polícia para dar mais credibilidade à situação, mas
quando te vi pessoalmente, não tive coragem, como já te disse, fiquei com medo de você se
machucar.
— Agora entendo sua calma na casa de Caio, indo na cozinha, comendo tranquilamente e
ainda me mandou ir ao andar de cima.
Bruno assente e meu sangue ferve.
— Era a única maneira de fazer você encontrá-lo. Se ele descesse, você iria sair correndo
e não daria tempo para nada. Não queria ter que te envolver, mas vi um meio de você conseguir
dinheiro. No fim, você nem estava cometendo um crime.
— Por isso pedi para não ir até a delegacia — completa Caio.
— Você ganhou mais dinheiro fora o que pegamos?
— Sim, mais dez mil — confessa Bruno.
Como isso é possível?
As pessoas não cansam de me enganar?!
E não só isso, o Bruno se mostrou um tremendo mau caráter junto de Caio.
— Vocês são loucos — esbravejo ficando de pé. — Fazer uma pessoa acreditar que estava
roubando outra, quando na verdade estava em um esquema para se tornar um submisso... —
Ando de um lado para o outro, sem saber o que fazer ou pensar. — Bruno, você era meu amigo,
você prometeu nunca mentir para mim! E olha o que você fez. — Meu olhar para ele é um misto
de tristeza, raiva e decepção.
— Ainda sou seu amigo. — Bruno se aproxima e olha em meus olhos. — Me perdoa, por
favor. Sei que não tenho o direito de te pedir isso, mas achei que seria o melhor jeito de resolver
tudo, não queria ter te usado dessa maneira.
Não respondo, pois por um tempo fico refletindo sobre essa situação.
Deveria perdoá-los?
As coisas não estão indo nada bem para a gente...
Oliver está de volta com uma ameaça pairando sobre nós. Meu pai também voltou e ainda
não entendo o motivo, mas sei muito bem que não foi com a intenção de se desculpar comigo e
em meio disso tudo, ainda temos os nossos traumas que estamos aprendendo a lidar.
Será que devo colocar mais um obstáculo no nosso caminho?
— Vou sair, preciso esfriar minha cabeça — digo pegando minha carteira e a chave do
carro.
Caio se adianta em vir na minha direção e Bruno o segura.
— Deixe-o ir — diz.
Encaro os dois por um longo minuto e observo meu namorado, então saio batendo a porta
e sigo em direção ao elevador, pensando em como as coisas conseguem piorar cada vez mais.
*
Saio em disparada pelas avenidas de São Paulo, pensando em como pude ser trouxa em
acreditar em Caio e Bruno.
Seco uma lágrima que escorre do meu rosto e suspiro, pensando em tudo que está
acontecendo.
Será que o destino não cansa de brincar comigo?
Será que a vida não cansa de me dar porrada?
Por que Caio e Bruno haviam feito isso comigo?
Justo as pessoas que eu mais confiava.
Suspiro, irritado, e paro próximo da casa de Caio, olhando atentamente e relembrando o
que passei, o medo que senti. Tudo não passou de um plano.
Respiro fundo e desafivelo o cinto, saindo e indo em direção ao local, sou recebido por
mamãe que nota que algo está errado e permito as lágrimas rolarem, a abraçando forte.
— Meu filho, o que aconteceu? Foi algo com seu pai? — pergunta preocupada.
Nego com a cabeça e seguimos para dentro, desejo que Caio não apareça aqui, mas sei
que Bruno o impedirá de vir atrás de mim.
— Aconteceu uma coisa — digo com a voz embargada. — Descobri que Bruno e Caio
mentiram para mim.
Mamãe me observa e estreita as sobrancelhas, então vai até a cozinha e me traz água, que
bebo em um único gole.
— Me conte o que aconteceu dessa vez — pede.
Engulo o choro e conto que o roubo na verdade foi um plano bem arquitetado de Bruno
com Caio para que eu me tornasse seu submisso. Assim que vou finalizando a história, vejo o
semblante de mamãe aliviado.
— Meu filho, sinto muito que você tenha sido usado dessa maneira, não consigo imaginar
como você se sente, mas sua vó me ensinou, enquanto viva, que devemos sempre olhar as coisas
ruins de um jeito, até que encontrássemos algo bom nisso.
— Como assim, mãe? — pergunto confuso.
— Sei que não é legal saber que foi usado, ainda mais nesse sentido, levando em
consideração tudo que passou. — Suspira pesadamente. — Mas pense pelo lado bom, você não
roubou Caio, você não roubou para nos alimentar.
Ouço o que diz e assinto, pensando por esse lado, até que faz sentido.
Por diversas vezes me vi pensando sobre o ato deplorável que eu havia feito, no entanto,
saber que Caio e Bruno me usaram, não muda o fato de que eu fizera isso, pelo menos na minha
cabeça.
— O que você acha que eu deva fazer, mãe?
— Acredito que esteja bastante chateado com Caio e Bruno — pondera e assinto.
— Não sei se os perdoo pelo que me fizeram, ser usado dessa maneira...
Minha mãe assente e sorri, acariciando meu cabelo e rosto.
— Me responda uma coisa, vale a pena brigar com as únicas pessoas que temos ao nosso
lado neste momento? E não estou falando sobre o dinheiro de Caio, porque você sabe que não
ligo para isso, mas analise tudo o que ele fez por você nos últimos tempos... O que fez por nós...
E veja se realmente vale a pena perdê-lo, e perder o seu melhor amigo.
Penso a respeito do que minha mãe diz e reflito sobre o que vovó dizia quando viva, de
tirarmos coisas boas das ruins.
Pensando agora, com mais clareza, mesmo sendo usado, me sinto mais aliviado em saber
que de fato não cometi um crime. Realmente tudo poderia ser pior.
— Eu te amo, mãe, obrigado por tudo.
— Eu queria poder fazer mais por você e seus irmãos — diz suspirando.
— Você fez tudo de melhor, mãe. — Sorrio e beijo sua testa. — Obrigado por me dar a
resposta em relação a isso, vou falar com Bruno e Caio.
Mamãe concorda, me despeço e volto em direção ao carro, seguindo rapidamente para o
apartamento do meu namorado.
Namorado...
Quem diria?
Sorrio feito bobo com isso e assim que abro a porta, vejo Bruno parado e Caio andando de
um lado para o outro, quando me vê, para e me observa.
— Carlos — diz com o sotaque arrastado.
Me aproximo primeiramente de Bruno e ele me encara.
— Me perdoa, irmão, eu só queria ajudar.
Observo meu amigo e o abraço apertado.
— Espero que nunca mais você minta para mim — digo e ele assente, com o sorriso
largo.
Me afasto dele e me viro para Caio, que continua parado, esperando.
Acredito que isso seja uma tortura para ele, não pelo fato de sermos namorados, mas sim
porque é um homem que sempre teve tudo o que quer na palma de sua mão.
— Carlos — repete meu nome e me aproximo, acariciando seu rosto. — Me perdoe, por
favor.
Analiso seu semblante e passo o dedo pelo seu lábio, seguindo para seu rosto e por fim,
no seu cabelo.
— Perdoo, senhor Brown.
Assim que digo isso, Caio sorri e me puxa em sua direção, depositando um beijo
apaixonado em meus lábios. Retribuo e o aperto contra meu corpo, sentindo o calor da sua pele.
— Vamos esquecer isso... Pelo menos não devo nada para você.
Rimos e seguimos para a cozinha, preparando um café.
— Não se preocupa com isso, eu que te devo, aliás, seu dinheiro está em uma conta que
abri — Caio declara.
— O quê? — Fico boquiaberto ao ouvir isso.
“De que dinheiro ele está falando?”
— Você assinou o contrato, lembra? Apesar de ter sido cancelado, achei melhor manter a
palavra sobre o dinheiro. Na verdade, venho transferindo os 30 mil desde o primeiro mês que te
conheci.
Reviro os olhos e sei que não adianta protestar a respeito disso.
Caio irá insistir até que consiga me convencer a ficar com o dinheiro, mas irei encontrar
uma forma de usar essa pequena fortuna.
E já até sei como.
Esquecendo isso, penso nas palavras de minha mãe e aproveito o momento com meu
amigo e namorado.
Capítulo 65 - A Descoberta
O dia do jantar que Caio inventou de fazer, enfim, havia chegado. Ainda me sinto
nervoso só de pensar que serei apresentado ao mundo como seu namorado e o “pior”, irei
conhecer alguns de seus amigos.
Depois da conversa com Bruno e Caio, tudo mudou. Minha relação de amizade com
Bruno voltou ao que era e está mais sólida, agora, sem nenhuma mentira.
Caio cada dia demonstra ser mais romântico, sempre me trazendo café na cama,
mandando mensagens durante o expediente de trabalho dizendo que me ama, deixa uma rosa
diariamente na minha mesa e sempre almoça comigo, o que me deixa feliz e incomodado, pois
ele desmarca todos os almoços com seus clientes para ficarmos juntos.
Minha mãe está feliz, adorando morar na casa enorme e poder cozinhar todos os dias. A
sombra do roubo já não me persegue, com a história esclarecida, agora é mais fácil ficar aqui,
sabendo que no fim de tudo não roubei nada.
Robertinho havia voltado para a escola, às vezes passa mal, mas os médicos dizem ser por
conta dos medicamentos fortes. Seus novos amigos da escola particular em que Caio o
matriculou, também vivem por aqui, adoram passar a tarde na piscina e comer a torta de maçã de
mamãe. Os antigos amiguinhos também, meu namorado faz questão de mandar um carro buscá-
los nas suas casas e depois os levar de volta.
É no domingo que tudo está diferente; nunca vi tanta gente na casa. Empregados correm
para todos os lados, decoradores trazem vasos com vários tipos de flores, tapetes e muitas mesas.
Parece até que haverá um casamento.
Elijah percebendo que estou perdido no meio dos preparativos, se diverte com a situação e
senta do meu lado na escada de mármore.
— Está uma loucura aqui — comenta.
— Nunca vi essa casa desse jeito.
Nesse momento minha mãe passa apressada com Robertinho em direção à cozinha.
— O que você acha desse jantar que Caio decidiu preparar?
Ele pensa por um instante e dá de ombros.
— Acho que está na hora do mundo nos conhecer como a família de Caio.
Penso por um instante e concordo. A mídia já havia nos vistos juntos, mas nunca
assumimos publicamente que somos um casal.
— Acho que você está certo. Melhor começarmos a nos arrumar — sugiro e me despeço
de Elijah.
*
Estou deitado na cama quando Caio chega e se põe ao meu lado, me enchendo de beijos.
— Oi, amor! Não vai se arrumar? Está ficando tarde.
— Subi para me arrumar, mas fiquei com preguiça — digo rindo. — Onde estava?
— Tive que dar uma saída para resolver umas coisas — diz e desvia o olhar sério.
— Resolver o quê?
Levanto e vejo que já passa das 17 horas.
Sigo para o banheiro e Caio vem junto já se despindo.
— Combinei de ser sincero com você, mas não quero falar sobre isso hoje — diz me
abraçando.
Um sinal de alerta soa em mim, fico sério e me viro para ele.
— O que aconteceu? — insisto.
— Nada demais. — Dá de ombros tentando despistar.
— Caio...
Ele respira fundo, parecendo tentar coordenar as ideias. Confesso que o ver nu e com ar
de sério me deixa com más intenções.
— Não quero falar com você sobre isso agora.
Fico quieto por um minuto inteiro, não acredito que ele vai me esconder alguma coisa.
— Ou fala ou eu não desço para esse jantar — decreto colocando a mão na cintura.
Caio continua sério e por um instante esboça um pequeno sorriso, retornando a sua
postura anterior logo em seguida.
— João descobriu o número de telefone que te ligou, tem certeza que está preparado para
saber quem é?
Engulo em seco temendo pelo pior, mas preciso saber quem havia me ligado e me
ameaçado para me manter longe de Caio. Tenho certeza que a pessoa me queria longe dele.
Apenas olho para ele e balanço a cabeça quase que imperceptivelmente o incentivando a
me contar.
— Ok. — Suspira. — O número de telefone que foi usado para te ligar é do seu irmão
Rafael, foi ele que te ligou. Agora o motivo não sei, talvez esteja junto com meu pai nessa.
Sinto uma ânsia ao ouvir, não pode ser, Rafael não teria essa coragem.
Engulo em seco, olho para Caio e as lágrimas descem pelo meu rosto.
— Sinto muito.
Caio me abraça e então choro durante um bom tempo.
*
Seguimos para o banho, ainda pensando no que Caio havia me dito, tentando entender o
motivo de Rafael ter ligado para o meu celular e dizer aquelas palavras, e como teria conhecido
Oliver.
Isso se realmente o conhecesse.
Não consigo acreditar, alguma coisa está errada nisso, talvez o tal do João que Caio
contratou, deve ter se enganado. Sabia que meu irmão não vale um real, mas não quero acreditar
que faria algo para me prejudicar. Então lembro que ele foi até Minas Gerais e trouxe de lá o
homem que me bateu e gritou que me odiava por causa da minha sexualidade.
Me troco em silêncio, tentando disfarçar a tristeza, principalmente diante da minha mãe.
Ela não conseguiria superar isso.
Decido não pensar a respeito, hoje é uma noite especial para todos nós e isso não poderia
atrapalhar nossos planos. Visto a roupa que Caio escolheu para mim, smoking preto, sapatos,
gravata e por último, perfume.
Meu cabelo está penteado para trás e a barba por fazer.
Saio do banheiro após finalizar e encontro Caio arrumado, me esperando na porta.
— Você está lindo — diz vindo em minha direção.
— Você também está — respondo antes dos nossos lábios se tocarem.
Sinto sua boca quente na minha e paro de pensar em tudo que está acontecendo em nossas
vidas. É sempre assim, quando Caio e eu nos tocamos, tudo à nossa volta deixa de existir.
Ele se afasta e abre um sorriso de lado.
— Vamos descer, os convidados já devem estar chegando.
Sorrio e pego em sua mão, caminhando em direção ao andar de baixo para nos apresentar
ao mundo como um casal.
Capítulo 66 - O Jantar
No momento que desço do quarto com Caio e o elevador abre a porta começo a
tremer da cabeça aos pés. Tento processar o que está acontecendo, mas a minha ansiedade é
maior. Caio me apresentará como seu namorado e só de pensar nisso, um arrepio percorre minha
espinha.
Minha vida já foi muito boa, houve momentos que me observava no espelho e pensava,
“eu consegui”. Porém perdi tudo quando fui preso, mas sabia que um dia sairia de lá, sabia que
meu amado filho me ajudaria. Apesar de tudo que fiz, ele sempre me ajudaria quando precisasse.
Fodê-lo foi fácil, o garoto gostava e não adiantava dizer o contrário. Lembro como se
fosse ontem, ele gemendo enquanto meu pau pulsava dentro do seu cu apertado. Fico de pau
duro só de lembrar, era tão quente e macio...
Uma pena que não pude mais sentir.
Estou recebendo ajuda, a garota trouxa acha que ganhará algo comigo, mas está enganada,
assim como o amigo ou namorado dela. Não sei direito o que são e, também, não faço questão.
O que importa é que estou tendo uma boceta para comer, dinheiro para viver, ajuda e
estou cada vez mais próximo de Caio.
Só tem um problema...
O rapaz, o namoradinho dele.
Ele lembra um jovem que meu filho um dia me apresentou, muitos anos antes de ser
preso. Lembro que ele se chamava Carlos e isso me incomoda, mas tem outra coisa, sinto que ele
é problema e sei bem o motivo.
Era ele, o garotinho do beco, o que sentiu meu pau pulsar dentro dele, soube no momento
que o vi. Apesar de ser um homem, seus traços juvenis ainda estão presentes em sua face.
Maldito!
Ele havia me perturbado tanto, por anos esteve em meus sonhos, gritando, pedindo
socorro, pedindo para eu parar...
Ele precisa sumir da vida de Caio, tem que sumir, preciso do meu filho livre para ser só
meu.
Caio...
Ele se tornou um homem tão parecido comigo, tão bonito, agora seria mais interessante
comê-lo, poderia até praticar diferentes atos com ele...
Só de pensar, meu corpo todo se retrai.
O carro para na frente da casa, observo e saio seguindo em direção do portão que está
aberto.
Isso é ótimo!
Não sei para que lado ir, então ouço as vozes e uma criança diz algo que ignoro.
Está chegando a hora, engulo em seco e me preparo, ansioso para isso.
Entro e digo sorrindo:
— Boa noite! Estou atrasado, mas finalmente cheguei!
Olho para Caio e vejo o quanto fica perturbado ao perceber minha presença.
— Mas que porra!
Ouço alguém dizer.
Caio levanta e rapidamente seu namorado aperta sua mão. Os dois se olham por um
instante e os observo, tentando decifrar o que esses olhares dizem. Segundos depois, Caio
assente e sorri, então olha na minha direção.
— Tio, sente-se, vou mandar servi-lo.
Me acomodo na ponta da mesa e sorrio.
— Obrigado, sobrinho, essa noite vai ser muito agradável.
Rapidamente um prato é colocado à minha frente e uma taça, me sirvo me sentindo em
casa. Sempre com um sorriso estampado no rosto por ver o olhar duro do meu filho, o assustado
do seu namorado e o inesperado de Elijah.
— Gostaria de pedir a atenção de vocês por um minutinho, se não for pedir muito.
Todos os convidados me olham esperando que diga alguma coisa, pego a taça e ergo na
direção do garçom que está ao meu lado.
— Champanhe, por favor. — Com a taça cheia volto minha atenção para todos os
convidados. — Esta noite faço um brinde em nome da felicidade de Caio Brown e Carlos
Alberto.
Todos erguem suas taças e meu filho fica somente observando.
— À felicidade — digo e todos me acompanham.
Bebo um longo gole e olho para Carlos. Ele me observa, dou um sorriso e uma piscadela.
Fodido...
É isso que ele está!
*
O jantar passa tranquilamente e ninguém diz nada a respeito da minha aparição
inesperada. Logo estamos fora da mesa e circulo pela casa.
Caio está sempre próximo, mas não ousa vir falar diretamente comigo.
Estou realizado, estar aqui e ver a reação deles me dá a certeza que minha presença é
temida. Carlos sente medo, isso é óbvio e quando me aproximo da mãe dele, sinto seu olhar
sobre mim.
— Olá, senhorita — digo, pego sua mão e deposito um beijo enojado.
A observo atentamente, ela está com um vestido preto e um colar muito parecido com o
que a minha falecida esposa usava.
Que Deus a tenha, diga-se de passagem.
— Olá, senhor — responde sorrindo.
— Muito prazer! Me chamo Jorge, sou tio de Caio.
— Me chamo Marisa e o prazer é todo meu. Não sabia que Caio tinha um tio, ele nunca
me falou.
— Ele não fala muito sobre mim, estamos há anos sem nos falar, é normal.
Ela assente ainda com o sorriso no rosto e uma criança vem correndo em sua direção.
— Mamãe! Mamãe! Estão servindo sobremesa — anuncia eufórico. — Vamos lá, vamos!
— Mas que rapazinho adorável — digo olhando em volta.
Caio e Carlos estão próximos, me observando, sorrio e me abaixo até ele.
— Qual é seu nome, garotão?
Sua mãe sorri e ele também.
— Me chamo Roberto, mas todos me chamam de Robertinho — responde alegre e lembro
do seu irmão.
“Carlinhos...”
— Que nome bonito, combina muito com você. — Toco a ponta do seu nariz.
— Jorge!
A voz dele ressoa próxima a mim e me ergo para olhar Caio e seu namorado, bem de
perto.
— Olá, queridos! A festa está muito agradável.
— Tenho que discordar — responde meu filho.
Marisa e Robertinho se afastam.
— O que você quer aqui? Não entendeu ainda que não queremos nos aproximar de você?!
— Shhh — digo colocando o dedo sobre os lábios. — Vocês não precisam me querer por
perto, só precisam saber que estou por aqui. E adivinhem? Eu sei tudo sobre você, Carlinhos.
Ele me olha e fica pálido.
Caio tenta vir para cima de mim, mas outro rapaz o segura.
— Tenho olhos em toda parte. — Dou uma piscadela e saio rapidamente.
Capítulo 68 - “Acredito em você”
Estou tremendo da cabeça aos pés. Ele sabe quem eu sou, ele disse para nós que tem
olhos em todas as partes.
O pesadelo da minha vida, de onze anos atrás, está vivo e muito próximo de mim...
De todos nós.
O pior, ele tocou no meu irmão, falou com minha mãe e agora Oliver os conhece bem.
A festa continua, mas não tenho cabeça para isso, então, sem que os convidados notem,
subo a escada com Lucas me segurando e sinto a angústia me sufocar. Assim que Oliver foi
embora, Caio mandou reforçar a segurança e colocou seus seguranças para procurar seu pai, mas
ninguém o encontrou.
Caroline havia sumido também, o que me dá certeza da minha suspeita. Ela está ajudando
Oliver.
Entro no quarto com meu amigo e caio na cama com as lágrimas já rolando soltas. Lucas
tira meus sapatos e vem ao meu lado, nos deitando como já tínhamos feito muitas vezes.
— Calma, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem — diz me consolando.
Quero acreditar, mas ver aquele homem que fez um inferno na minha vida tão próximo de
mim, falando com minha família, me mostra que nada ficará bem.
Do que Oliver é capaz?
O que acontecerá agora?
Tento controlar as lágrimas, mas é em vão, porque continuam caindo e esse ato tão
simples, de chorar, me deixa irritado. Me sinto tão fraco, fisicamente, mentalmente e
emocionalmente.
Como poderei defender minha família?
Como defenderei Caio?
“Eu sou um fracasso, um saco de ossos ambulante!”
Abraço Lucas mais forte e continuo a chorar. Preciso descarregar todas essas lágrimas
para poder raciocinar direito.
Um tempo depois, finalmente as lágrimas cessam, minha cabeça dói e me sinto sonolento.
Já Lucas continua ao meu lado, mexendo no seu celular.
— Caio? Onde ele está? — pergunto com a voz frágil.
— Acabei de falar com ele, disse que está dispensando todos os convidados e logo subirá.
Chamou o delegado Martins aqui para conversarem sobre a visita inesperada que tivemos. Você
está melhor? Gostaria de um chá? Um banho quente, talvez?
— Um banho seria ótimo.
Ele vai ao banheiro para encher a banheira, me dispo e o sigo. Meu amigo e eu não
ligamos de ficarmos nus um na frente do outro, somos como irmãos e esse ato não tem nenhum
pingo de malícia.
Entro na água quente e ele senta na beirada da banheira. Fecho os olhos por um segundo,
lembrando do que havia acontecido no jantar que era para ser algo perfeito para mim e Caio.
— Você está bem, Carlos?
Assinto para meu amigo e jogo um pouco de água no rosto.
— Puta que me pariu, viado, tem como você responder com a porra da boca ou está
difícil? Que eu saiba você não tem nenhum problema de fala! — se queixa.
Começo a rir e ele também.
— Me desculpa, fiquei muito abalado com tudo que aconteceu hoje. Lucas, eu já tinha
visto Oliver, mas o fato dele ter estado aqui, falado diretamente comigo e minha família... Isso
me mostrou que não estamos em uma brincadeira, Oliver está fazendo um jogo conosco, mas um
jogo perigoso, que alguém pode até sair morto no final.
Ao proferir isso me arrepio todo, me arrependendo das minhas palavras.
— Calma, não se preocupa, ninguém irá se machucar, Carlos. Você tem que ser mais
forte, colocar mais fé em você mesmo. Vocês podem enfrentar esse homem juntos. — Segura
minha mão e aperta. — Eu acredito em você, acredito que é capaz de enfrentar esses traumas.
Caio não apareceu sua vida por acaso, se ele apareceu e vocês se apaixonaram, significa que tem
um objetivo aí, talvez seja para enfrentarem seus medos de uma vez por todas. Carlos, você fugiu
desse trauma por onze anos, chega de se esconder, está na hora de lutar!
Reflito por longos minutos suas palavras.
Caio praticamente havia forçado sua entrada na minha vida, mas Lucas está certo. Não
estava no nosso roteiro nos apaixonarmos, o incrível ou cruel, é que temos um passado
perturbador, onde um único homem, com várias identidades, faz parte.
Tínhamos sido estuprados pelo mesmo homem; pai de Caio e meu sogro.
Talvez realmente a vida seja uma caixinha de surpresas e tenha colocado Caio na minha
para finalmente enfrentar todo meu passado.
— Você está certo. Chegou a hora de enfrentar isso tudo.
Capítulo 69 - Dinheiro Roubado
Ao ver Caio chegar, Lucas me dá um beijo na testa e sai do quarto. Já estou na cama,
pronto para dormir.
— Pois é, também não sei. — Suspiro e dou uma mordida no meu sanduíche. — Não
acho que ele faria isso, sabe? Tudo bem, João descobriu o número dele, mas pode ser outra coisa.
Lucas termina de comer e me olha sério.
— Tipo o que, Carlos?
— Sei lá, alguém usou o celular dele...
— Desculpa ridícula essa para defender seu irmão. Vamos esquecer isso, ok? Saímos para
nos distrair um pouco, não pensar em problemas.
— Você está certo — concordo terminando de comer.
— Já sabe o que vai dar de presente para o Caio? O aniversário dele está próximo e não
vale sexo!
Dou risada e nego com a cabeça.
— A gente anda tão ocupado que nem tive tempo de pensar nisso.
— Então comece a pensar, meu bem! Anda, vamos procurar algo por aqui, Caio não pode
ter tudo — diz Lucas.
Dou de ombros e saímos em direção a algumas lojas.
Duvido que Caio não tenha tudo, mas não custa tentar encontrar algo. Na verdade, já tinha
pensado em uma coisa, uma noite bem romântica, afinal, estamos precisando, mas Lucas já tirou
essa ideia da minha cabeça.
— No que você está pensando, Carlos? — pergunta Lucas parando na frente de uma loja
de grife.
— Nada de mais, só no aniversário de Caio mesmo... Você acha que deveríamos fazer
uma festa? Anda acontecendo tanta coisa e, também, tem o Oliver...
Lucas olha sério para mim e me dá um forte tapa no rosto, várias pessoas que estão
passando se assustam com o barulho e instantaneamente minha bochecha lateja de dor.
— AI! SEU FILHO DA PUTA! — grito passando a mão no rosto, xingo sua mãe, me
arrependendo logo em seguida. — O que você tem na cabeça?
— Eu que te pergunto! Já conversamos sobre esse homem, você me prometeu que não o
temeria mais. Para de ter medo de Oliver! Ele é só um homem como qualquer outro, lógico, um
pouco maníaco, mas nada que precise temer.
Não tenho resposta, mais uma vez Lucas está certo, não posso ter medo de Oliver e dos
meus traumas para o resto da vida.
— Você está certo, mas isso não é motivo para me bater! — Me defendo.
— Ah, precisava descarregar em alguém! Vamos lá, vamos procurar um presente para
Caio — justifica e entra na loja rebolando.
*
Três horas mais tarde ainda não tínhamos encontrado nada para dar de presente para Caio.
Falta pouco mais de dez dias para o seu aniversário e isso significa que tenho pouco tempo.
Procuramos de tudo, desde roupa a relógio, perfumes, ternos, mas nada parece ser suficiente para
Caio.
— Estou cansado — diz Lucas colocando os óculos de sol no rosto enquanto entramos no
carro.
No fim, saímos sem ter escolhido nada de presente para meu namorado.
— Também estou, mas ainda preciso encontrar alguma coisa para Caio.
— Viado, desiste, é melhor transar mesmo!
Dou risada.
Lucas dá a partida e logo já estamos na avenida.
— Vou encontrar alguma coisa, caso não, vamos para o plano B, mas ainda vamos fazer a
festa dele, vai ser surpresa e vou precisar da sua ajuda — intimo meu amigo com um sorriso.
Lucas dirige tranquilamente, acenando com a cabeça.
— Conte comigo e Rafael, vamos arrasar na decoração e, lógico, a comida também, mas...
— Lucas me olha rapidamente e abre um largo sorriso. — As bebidas serão ainda melhores!
Dou risada, ligo o rádio e a música toca alto. Lucas e eu começamos a cantar alegremente,
cada segundo mais alto e, então, vejo algo que me tira a atenção de todo o resto.
É ela, bem-arrumada, o cabelo loiro preso em um coque, sua roupa, um vestido preto bem
decotado, se destaca no meio da rua e o sorriso sarcástico à mostra...
E ele está lá, olha para todos os lados, parecendo nervoso.
— LUCAS, PARA O CARRO AGORA!
Saio da cafeteria com Caroline um tanto atordoado pelo teor de nossa conversa. Na porta,
nos despedimos e tento disfarçar ao máximo o meu nervosismo.
Sigo em silêncio para a casa, sentindo um frio na barriga, com medo de que algo possa
dar errado essa noite.
Em poucos minutos já estamos em frente ao portão que em um dia não muito distante,
forcei a abertura para “roubar” com Bruno. Saber que aquele incidente, na verdade, foi algo
armado, me dá certo alívio, afinal nunca fui ladrão.
Entramos e a casa está com grande movimentação, as pessoas do bufê andam para todos
os lados organizando tudo para a festa de aniversário de Caio.
Decidimos fazer a festa no enorme salão que há nos fundos da nossa casa, Caio nem
imagina o tanto de gente que estará presente, o que me deixa um pouco receoso.
Será uma festa e tanto, com seus sócios e amigos da empresa, então qualquer deslize
nosso, pode acabar prejudicando meu namorado. Confesso que esse pensamento repentino me
faz estremecer.
Dona Marisa vem toda polvorosa quando me vê entrar. Ela está linda usando um vestido
azul royal. O cabelo bem escovado e solto, maquiagem suave que realça seu rosto fino e salto
alto nos pés.
— Como estou? — pergunta dando uma volta.
— Maravilhosa! Está a fim de impressionar alguém, mamãe?
— Mas é lógico que não! Só quero que seu pai veja como estou bem.
— É assim que se fala, dona Marisa! — diz Lucas e a abraça também.
— Por mim ele nem viria, mas é necessário...
Um pequeno silêncio se faz e ela fala.
— Vá logo se arrumar. São 16h:30min e os convidados já estão chegando, seu irmão está
no seu quarto te esperando. Eu vou ver se tudo está correndo bem na cozinha. Ah, a propósito, eu
adorei seu cabelo!
Agradeço e subo, preocupado com a demora de Rafael não ter chegado com a minha
encomenda.
Em poucos minutos estou pronto, o traje a rigor bem alinhado sobre o corpo, a gravata
borboleta bem colocada por Lucas. Olho no espelho e sorrio para mim mesmo, surpreso em
como mudei nos últimos meses.
Robertinho está deitado na cama jogando no seu novo tablet. Disse a Caio para não dar o
aparelho para ele, mas não adiantou, então preferi não discutir.
— Como estou? — pergunto para os meus amigos.
— Lindo! — elogia Regina abraçada a Bruno.
— Tenho que admitir que nem parece aquele pobre sem graça que vi pela primeira vez no
restaurante com Caio — fala Chris rindo.
— Obrigado por ser um babaca, Chris — digo e mostro o dedo do meio, dando risada.
— Agora é só esperar Rafael e Caio chegarem — diz Lucas olhando para o relógio. — Já
são cinco horas, vamos descer e beber alguma coisa bem forte, essa noite vai ser longa.
Descemos juntos e vejo alguns amigos da empresa de Caio entrarem e seguirem pelo
corredor enorme que tem à direita e que leva até o salão de festa. Cumprimento cada um deles,
sempre com um sorriso no rosto.
Bebo uma dose de uísque junto com meus amigos e continuo recebendo os convidados,
são tantos que nem consigo lembrar seus nomes.
A hora passa e às 17h:30min, meu irmão, Joyce e meu pai chegam. Eles estão muito bem-
arrumados, como imaginei que estariam, inclusive com aquele sorriso frio e calculista no rosto
dos dois homens que um dia chamei de família.
— Olá, filhão — diz José olhando cada canto da casa. — Se deu bem, hein, gostei daqui!
— Oi, Carlos. — Cumprimenta Rafael.
— Boa noite — respondo sério.
Minha mãe vem para o meu lado com Robertinho.
— Oi, garotão — diz meu pai para meu irmão. — Não foi me visitar desde aquele dia...
Sua mãe não deixa você me ver?
— Eu que não quero mesmo — responde Robertinho, se afastando para brincar com seus
amigos da escola que acabam de chegar com seus pais.
— Moleque mal-educado! Isso é tudo culpa sua, Marisa! — declara.
— Não tenho culpa por seu filho não ter mais interesse em ter uma relação de pai e filho
com você, José. Se me derem licença, vou receber os convidados. Vão para o salão que Caio
chegará em poucos minutos... Foi bom ver vocês, Rafael e Joyce — dona Marisa diz e se afasta.
Fico surpreso com a resposta da minha mãe e dou um sorriso orgulhoso.
— Ouviram? Vão para o salão de festa — emendo.
Os três seguem em silêncio e, quando se afastam, meus amigos e eu caímos na
gargalhada.
— Dona Marisa está aprendendo — diz Lucas sorrindo e em seguida toma sua bebida em
um único gole.
Olho para a porta e vejo um casal de braços dados, ele com o sorriso estampado no rosto e
ela com um olhar duro e gélido.
Estou indignado com a audácia de Caroline trazer Oliver aqui, assim, como seu
acompanhante.
Vejo os dois se aproximarem e forço um sorriso sem graça.
— Boa noite, Carlos. — Cumprimenta Caroline sorrindo e me dando um beijo no rosto.
— Boa noite, Caroline. Vejo que trouxe um acompanhante — comento.
— Espero que não se importe, Carlinhos — diz Oliver sorrindo com ironia.
Sinto o arrepio subir pela minha nuca ao ouvir sua voz, mas continuo firme. Não posso
mais ser covarde e Oliver só está aqui porque permiti.
— Não tem problema nenhum, Jorge — respondo sorrindo. — Só não sei se Caio irá
gostar da sua presença na festa.
Terceira parte do plano, Caio sabia que Oliver estaria aqui em algum momento, só não
sabe que será hoje, e ainda mais na sua festa de aniversário surpresa.
Quando iniciei o plano, disse a ele que faria um jantar entre amigos para nós e daria um
jeito de trazer Oliver e meu namorado concordou.
Está dando tudo certo até agora.
Oliver sorri e segue para o salão com Caroline.
Logo em seguida chega o delegado Martins muito bem-vestido e acompanhado da sua
esposa Edith, ele havia me dito o nome dela para poder colocar no convite, e, logo atrás, vêm
alguns dos seus homens com atrizes contratadas para serem seus pares.
Ele me olha e sorri, já se sentindo vitorioso.
Quando falta dez minutos para às 18 horas, todos os convidados já haviam chegado e
estão no salão de festa, sentados junto com seus amigos e familiares nas mesas, com bebidas nas
mãos e em silêncio, somente à espera de Caio.
Olho primeiro para o meu irmão Rafael e marco bem seu rosto. Ele é um dos suspeitos,
tudo porque João, que está sentado em nossa mesa, havia descoberto seu número em meu celular.
Olho para Joyce e fixo meus olhos nos dela. Ela também é uma forte suspeita, afinal, é namorada
do meu irmão e o ajudou a trazer meu pai para São Paulo. Meu olhar para em José, o homem que
só havia me colocado no mundo porque minha mãe assim o quis. Ele pediu para que ela fizesse
aborto, mas dona Marisa se recusou. Meu pai também é suspeito, afinal, o que estaria fazendo
aqui se não fosse por esse motivo?
Sigo o olhar para Caroline, ela com certeza é suspeita de muita coisa, de desviar dinheiro
da empresa de Caio, ajudar Oliver e de querer roubar ações da empresa do meu namorado.
Oliver...
Nossos olhares se cruzam e ergo o copo para ele, que retribui, mal sabe que brindamos à
sua perda.
Ele irá perder sua liberdade em poucas horas.
Oliver é um forte suspeito de ter ajudado Caroline a roubar Caio, afinal, ele quer dinheiro
tanto quanto ela. É um bandido, já tinha roubado antes e para roubar de novo não precisava de
muito esforço, mas, além disso, é um estuprador e está mais do que na hora de pagar pelos seus
atos. Apesar de ser culpa do Caio, ele usa a identidade de outra pessoa e falsidade ideológica é
crime.
Olho para Chris, que mesmo tendo feito tudo o que fez de errado, está me ajudando e fez
por merecer a confiança que conquistou da minha parte. Olho para Elijah, apesar de amar meu
cunhado e querer acreditar que ele não é capaz de fazer mal a ninguém, acho estranha toda a
história da sua vinda para cá, o que me faz parecer burro.
Por que nunca percebi antes?
Saio dos meus pensamentos quando as luzes do salão são apagadas e ouço a voz de Caio
vindo de dentro de casa.
— Carlos?
Escuto me chamar.
— Onde ele se meteu? — pergunta Rafael.
— Maria! — diz Caio e fico imaginando a cara dele.
— Sim, senhor — diz Maria.
— Onde está minha família? — pergunta Caio e sorrio ao ouvi-lo.
— O senhor Carlos e sua família estão no salão de festa, parece que iam jogar um pouco
de bilhar, ele disse para o senhor ir para lá assim que chegasse.
— Tudo bem. Vamos, Rafael.
Os passos dos dois vêm em minha direção e quando estão próximos, todos nos
posicionamos.
As luzes se acendem e Caio nos encara.
— Surpresa! — dizemos todos em um coral.
— Mas o quê... — balbucia Caio sem entender.
Olho para ele e sorrio.
— Achou mesmo que não íamos fazer nada no seu aniversário? — pergunto indo até ele.
Assim que estou próximo a ele, passo uma das minhas mãos em seu pescoço e a outra por
trás de suas costas, então Rafael me entrega meu pequeno pacote.
— Parabéns, amor! — Beijo rapidamente seus lábios.
Todos batem palmas alegres e uma música da Christina Aguilera que Caio já cantou para
mim, começa a tocar.
— Nossa, uma festa! — constata Caio enquanto olha os balões dourados e brancos no
teto. As mesas bem-arrumadas, os convidados, o bufê contratado. — Nunca ganhei uma festa
surpresa.
— Sério? Está aí então algo que você ainda não experimentou.
— Obrigado! Sempre quis uma festa surpresa, todos os meus colegas da escola já tinham
tido e eu não... — diz e me beija emocionado.
Sorrio e volto a abraçá-lo.
— Mas ainda não acabou — digo levando minha mão com o pequeno pacote na direção
dos seus olhos.
Todos ouvem atentamente.
— O que é isso?
Engulo em seco e tiro o papel pardo que envolve a pequena caixinha. Ele olha e ergue a
sobrancelha.
— Isso é meu! — diz Caio.
Fico sem entender e olhamos para Rafael, que entrega outro pacote para Caio e tira dele
uma caixinha igual.
— Foi difícil devolver aquela sua encomenda, Caio, quase não consigo. Mas desculpa...
Carlos havia pedido primeiro — diz Rafael.
Olhamos um para o outro sem entender e voltamos o olhar para as caixinhas.
— Você abre? — pergunto a Caio.
— Não sei — responde confuso. — Que tal juntos?
Ele me dá a sua caixinha e dou a minha para ele, então contamos até três juntos e abrimos.
Dentro da minha há somente uma aliança de ouro negro e por dentro rose.
Admito que é a coisa mais linda que já vi em toda a minha vida!
Observo novamente e em cima da aliança tem uma linha fina também rose, o que a deixa
ainda mais perfeita.
Olho para Rafael e ele sorri.
— Eu sei, tenho um ótimo gosto, nem foi preciso muito para Caio gostar também.
Olho para a caixinha de Caio e a aliança é igual à minha, só um pouco maior.
— Não entendo — diz Caio erguendo a sobrancelha.
— Apesar de ser linda, também não entendi. Era para ser um par, Rafael.
— E é um par. Carlos me pediu para comprar um par de alianças para ele, mas hoje
quando sai com Caio, ele decidiu ir a joalheria e pediu para ajudá-lo para comprar um par de
alianças também. — Revira os olhos. — Como já tinha comprado a de Carlos, entrei em uma
confusão, então escolhi a mesma aliança que já tinha comprado. Caio disse que passaria no
apartamento dele para se trocar e, para não correr o risco de Carlos ver o presente dele, pediu
para guardar as alianças. Foi nesse momento que tive que voltar até o local e devolvê-las, afinal,
já tínhamos um par comprado. A atendente quase não aceitou por já ter os nomes gravados, mas
dei um dinheiro a ela e tudo ok, alianças devolvidas. Pedi a caixinha para ela e coloquei a aliança
de Caio nela, na outra ficou a de Carlos. Agora que já expliquei tudo, vocês já podem fazer o
pedido.
Dou risada com Rafael e olho para Caio.
— Espera, você pediu para Rafael comprar um par de alianças para você... Você ia me
pedir em casamento? — pergunta Caio.
Olho para todos os convidados e fico sem graça.
— Era esse o plano.
— Eu também ia te pedir em casamento — informa com um sorrisinho no rosto.
— Bem, vocês têm duas alianças, caso não perceberam — diz Rafael.
— Eles não são burros, Rafael! — diz Lucas revirando os olhos. — Terminem logo com
isso que estou ficando com fome, festa só é boa por causa da comida e da bebida, então vamos
logo.
Damos risada e assinto.
— Então, Caio... — começo.
— Você por acaso... — continua ele.
— Aceita se casar comigo? — Completamos juntos erguendo as alianças um para o outro.
O silêncio cai sobre todo o recinto e começo a suar.
— Seu cabelo ficou muito bonito, gostei — diz Caio.
— Não é hora disso! — contesta Lucas nervoso.
Meu namorado dá risada e assente.
— Era só para descontrair, mas sim, eu aceito me casar com você, Carlos, e você?
— Ainda tem dúvidas? É lógico que aceito, eu te amo!
Nos beijamos e coloco a aliança no dedo de Caio, ele pega a outra, coloca no meu e
deposita um suave beijo no meu dedo.
— Finalmente! — diz Lucas pulando de alegria. — Solta o som, DJ, vamos nos divertir!
Capítulo 76 - Sumiço Repentino
Caio está adorando a festa até ver seu pai, digo a ele para ficar calmo que Oliver estava
presente porque eu quis, explico que faz parte do meu plano e ele assente nervoso.
Resolvemos nos divertir e deixar um pouco os problemas para lá, então dançamos muito e
bebemos também. Mal viro um copo, outro já está em minhas mãos, pronto para ser degustado.
Martins fica próximo de nós, em algum momento da festa, ele sussurra no meu ouvido
que seus homens estão rondando Oliver e Caroline, e peço para ficarem de olhos abertos no meu
irmão e no meu pai.
Mamãe está radiante, bebe tanto que até estranho, mas não digo nada. Apesar de um plano
estar sendo executado, isso é uma festa e temos mais que aproveitar mesmo.
Regina vem para o meu lado e me puxa dos braços de Caio, então me leva para a pista de
dança e começamos a cantar uma música de Katy Perry.
Nunca me diverti tanto mesmo com pessoas desagradáveis no local.
Observo meu pai e ele parece um louco.
Não tinha nem passado quatro horas de festa e ele já está completamente bêbado, caído no
chão.
— Coloquem esse homem debaixo do chuveiro e deem algum remédio — digo aos
empregados enquanto meu irmão dá as costas para seu pai, que o chama loucamente.
— Deveria ir ver o que ele quer, Rafael, afinal ele não é o seu pai? — provoco.
Rafael me olha furioso e cerra os punhos.
— Que se dane esse velho — diz e me dá as costas.
Continuo dançando com Regina, Caio se junta a nós, me abraça por trás e beija meu
pescoço, um pouco alegre.
— Está gostando da festa?
— Muito, você é demais.
“Buzzcut season” de Lorde começa a tocar e as luzes diminuem, abraço meu noivo e
dançamos agarrados.
Me sinto feliz, mas ao mesmo tempo uma sensação ruim toma conta de mim, é como se
esse fosse o último momento meu e de Caio juntos...
Algo me diz que seremos separados para sempre.
Afasto esses pensamentos e o agarro ainda mais, sentindo seu delicioso cheiro.
— Te amo tanto — murmuro.
— Eu também te amo, Carlos, obrigado por ser a luz na escuridão, sem você eu já teria
desistido de tudo.
Me emociono com suas palavras e o beijo, voltando a agarrá-lo.
— Vamos comer alguma coisa? — pergunta depois de um tempo.
Seguimos até nossa mesa e nos sentamos.
Rafael, Lucas, Regina, Bruno, Elijah, Chris, mamãe e Robertinho estão sentados,
comendo e bebendo. Sento ao lado do meu futuro marido, mordisco um pedaço de salmão cru do
prato de Regina, bebo um pouco da Coca do meu irmão e olho para o meu dedo.
— Você tem um ótimo gosto, Rafael — digo sorrindo. — Obrigado pela ajuda de cada
um de vocês, se não tivessem me ajudado, não teria conseguido fazer tudo isso sozinho.
Rafael dá de ombros.
— Se você não tivesse a nossa ajuda, nada teria sido feito, Carlos — constata Lucas me
mandando um beijo. — Aceita que somos perfeitos e você não vive sem nós.
Mostro o dedo do meio para ele sem Robertinho ver e abraço minha mãe.
— Posso saber por que você está bebendo tanto? Nunca vi a senhora assim.
— Hoje tenho motivos suficientes para beber — diz toda alegre. — Você e Caio vão se
casar, isso não é o motivo perfeito para encher a cara? Eu ganhei mais um filho!
Caio segura a sua mão e a beija.
— Obrigado, dona Marisa, se não fosse a senhora, Carlos e eu nem estaríamos juntos.
Concordo com um meneio de cabeça, sabendo bem do que ele está falando; minha mãe
foi uma das pessoas que disse que eu precisava dar outra chance a Caio.
— Corta o bolo logo, Caio — pede Robertinho. — Meus amigos e eu queremos comer.
Caio levanta, vai até meu irmão, o pega no colo e sorri.
— Que tal você cortar comigo, então?
— Oba! Meus amigos vão morrer de inveja.
Ficamos de pé e pedimos para o DJ anunciar que o bolo será cortado. Olho ao redor à
procura de Oliver e o vejo vindo em minha direção.
— Me procurando? Talvez esteja com saudade do meu pau dentro de você.
Fecho os punhos com força, me segurando para não o socar e forço um sorriso.
— Jamais sentiria saudade de um fio de cabelo que venha de você, seu lixo.
Ele sorri e se aproxima ainda mais, seu hálito de bebida está forte, o que me deixa
enjoado.
— Lixo é você, seu rapaz tolo, se prepare que está mais próximo do que nunca Caio
deixar de ser seu. Não vai nem dar tempo de trocarem essa aliança.
Passo o dedo na minha aliança e engulo em seco.
“Ele está me ameaçando...”
Ele ergue a sua bebida e diz:
— “Melhor tomá-la enquanto respiras, não há bebida após a morte.”
Engulo em seco e não digo nada, o que ele acabou de dizer estava no bilhete que
recebemos juntos com as pizzas, o que é mais uma prova de que Oliver o havia enviado.
— Foi você, seu filho da puta. Foi você que enviou aquele bilhete para nós.
— Bingo! — diz rindo e sua risada é maligna. — Você realmente é esperto.
Olho para Caio e o vejo me encarando, balanço a cabeça querendo dizer que está tudo
bem e ele faz o mesmo gesto com a cabeça.
— Ela está com você, não está? Caroline está te ajudando.
Oliver me olha sério e dá de ombros.
— Ela é só uma vadia que vai me ajudar a pegar uma boa grana, mas eu disse para você
que eu tinha olhos em todos os lugares, não deveria se espantar.
Fico quieto e me afasto, indo até Caio, que está com meu irmão no seu colo, prontos para
cortar o bolo.
— O primeiro pedaço vai para uma pessoa que mudou completamente a minha vida —
diz Caio sorrindo. — Ele entrou nela de uma maneira que eu jamais imaginei, e mesmo sabendo
quem eu realmente sou, me abraçou e me aceitou.
Caio vem em minha direção e me entrega o prato.
— Não sou muito bom com discursos sem serem preparados, mas saiba que eu te amo e
agradeço muito por ter entrado na minha vida, obrigado.
Ele me dá um beijo na testa e todos aplaudem, então, rapidamente como o bolo, por
educação. Nem ao menos sinto o gosto, me lembrando do que Oliver Estevam Brown havia dito.
Eu preciso contar isso para Caio, mas ele ainda está com meu irmão em seus braços.
A sensação ruim aumenta a cada segundo.
Regina vem para o meu lado junto com Lucas e os dois notam meu olhar de espanto.
— Está tudo bem? — pergunta meu amigo.
— Está, vamos ao plano — digo de uma vez. — Precisamos pegar Oliver.
Os dois concordam e vão em direção ao delegado Martins, olho para os lados e vejo meu
irmão junto com Joyce, Caroline um pouco mais a frente e logo em seguida, Oliver, parado me
encarando.
Vou na direção de Caio e chamo minha mãe.
— Saia daqui com Robertinho — ordeno. — Um dos homens do delegado Martins estará
na porta te esperando, vão logo.
Minha mãe me olha e vem na minha direção, mas nego com a cabeça. Se ela me abraçar
vão desconfiar de que ela vai sair e não podemos permitir que isso aconteça.
Olho para ela e meu irmão por um longo minuto e sinto um aperto no coração.
Logo os dois se afastam e Lucas e Rafael vêm até a mim.
— Martins está pronto, seus homens também.
Aceno com a cabeça e seguro na mão de Caio, olho em seus olhos e respiro fundo.
Isso tudo vai acabar hoje.
Abraço Caio e algo inesperado acontece; todas as luzes se apagam, nos deixando na
completa escuridão.
Os gritos de susto dos convidados rompem por todos os cantos do cômodo. Seguro a mão
de Caio com força e ele faz o mesmo.
— O que está acontecendo?
Escuto alguém perguntar.
— Caio? — chamo e o medo está tomando conta de mim.
— Está tudo bem, estou aqui do seu lado. Fica calmo, as luzes já vão voltar.
— Isso não faz parte do plano — digo tentando ver alguma coisa na escuridão à nossa
volta. — Estou com medo, não solte a minha mão.
Não ouço nenhuma resposta de Caio, sua mão ainda está em volta da minha, e isso me
alivia um pouco, mas de repente sinto que ele me solta.
“Onde Caio está?”
— Caio? Amor, me responde — digo com as lágrimas já tomando conta de mim, a
sensação ruim no auge.
Um minuto inteiro segue de silêncio, então as luzes se acendem novamente e olho ao
redor.
Caio não está aqui.
Nem ele e nem Oliver.
Não vejo mais meu irmão, nem Joyce e muito menos Caroline.
Lucas me olha e me abraça, Rafael vem para o nosso lado, logo Regina e Bruno correm
até nós.
— Cadê o Caio? — pergunto olhando ao redor. — Onde ele está?
Então olho ao redor e vejo na mesa o pequeno papel. Engulo em seco e o pego, lendo
cada palavra.
“As vinganças que vos reservo repercutir-se-ão pelo mundo — coisas terríveis farei; que
coisas serão, não sei; sei apenas que farão tremer a terra.”
Engulo em seco ao ver aquilo e leio as palavras no rodapé do bilhete:
ELE FOI SEQUESTRADO!
Sinto uma náusea vindo com força total, de repente minha visão escurece e não vejo mais
nada.
Capítulo 77 - Conversa
Caio
O problema das pessoas é que elas acham que sempre estão um passo à frente, mas
isso é mentira, quando você pensa que é melhor que alguém ou que está na frente, é porque, na
verdade, você não é melhor e está bem atrás.
É isso que está acontecendo com o delegado Martins e os amigos do meu filho. Aquele
idiota do Bruno, acho que é esse o nome dele, acreditou mesmo que estava fazendo um plano
perfeito e que eu não o tinha visto?
Tudo o que fiz é só mais uma parte do meu plano...
Ao ver os telejornais, descobri onde Christopher está internado e rapidamente vim fazer
uma visitinha.
Carlos nunca foi meu alvo, na verdade, queria simplesmente torturá-lo de uma maneira
que ninguém foi capaz e, para isso, precisava tirá-lo de dentro da delegacia e não deixar ninguém
perto dele. Agora que ele estava preso com Caio, eu iria dar o último passo do meu plano, e tudo
finalmente acabaria para eles dois.
Eles seriam resgatados mesmo, mas não por muito tempo, iria jogar com eles de novo e
mais uma vez faria Carlos vir até a mim, só que agora com Caio.
Parece até cena de filme e isso faz o meu humor ficar ótimo.
Chego ao local e sigo para dentro sem ninguém me notar, há policiais para todos os lados,
juntamente com uma grande parte da imprensa, então visto o capuz da minha blusa e passo
despercebido, a parte mais difícil é a que está por vir. Quando vejo um policial vindo em minha
direção, entro no banheiro e corro para um dos privados.
Espero e nada acontece, então escuto uma porta ao lado ser aberta e o barulho da água
cair. Olho por cima da porta e vejo o que estou procurando.
Ele é pequeno, seu irmão na época que o estuprei, era um pouco maior, mas esse menino é
um tesouro valioso, na verdade, é a minha saída desse país.
Abro a porta devagar, ele olha para trás e seus olhinhos, tão pequenos e inocentes, me
observam, então sorrio.
— Você, você está com o Carlinhos — diz em um tom nervoso, o que me faz rir.
— Olá, garoto. — Cumprimento com um sorriso. — Qual o seu nome? O meu é Oliver.
— MAMÃE ME ENSINOU A NUNCA FALAR COM ESTRANHOS, MAS VOCÊ ESTÁ COM MEU IRMÃO!
— Calma, calma, fica quieto, que tal fazermos uma brincadeira? — Me aproximo dele
cautelosamente, não querendo que ele se assuste.
Ele fica parado e quando estou perto, olha para cima, me observando.
— Você quer ver seu irmão novamente, não quer? Posso te levar até ele, mas terá que ser
um bom garoto e não gritar.
Ele fica quieto e pensativo, por fim, concorda.
“Mais fácil do que eu imaginei...”
— Vou buscar meu irmão para mamãe, ela está muito preocupada.
— Isso, é disso que eu gosto... Você é uma criança muito obediente, agora vamos sair
daqui.
*
Carlos
Caio continua quieto, como se estivesse sozinho, então me mexo na cama e pigarreio.
— Você não vai falar nada?
— O que você quer que eu fale? Nada que eu disser vai fazer você acreditar em mim, meu
pai já contou tudo para você.
Fico quieto e fecho meus olhos, querendo chorar, mas não é hora, preciso ser forte.
— Se quiser se separar, irei entender, nunca vou aceitar, mas vou entender a sua decisão.
Eu também não ficaria com uma pessoa como eu — diz com um tom de voz dolorido.
Respiro fundo ainda sem saber o que dizer.
Amo Caio, e é isso que importa.
Não tenho que perdoá-lo de nada, quem tem que perdoá-lo é o rapaz.
— O garoto... Onde ele está? O que realmente aconteceu?
Caio levanta o rosto e me encara.
Vejo que seus olhos inchados estão cheios de lágrimas que escorrem pelo seu rosto.
— Continua em Londres — balbucia. — O que meu pai disse, é verdade, Carlos, ao
menos em partes, eu pensei mesmo em abusar daquele rapaz, mas eu não fiz, eu juro.
— Não fez, mas soube que seu pai fez e não o impediu — digo sentindo minha garganta
dilacerar. — Como pôde, Caio, me diz, como conseguiu conviver com isso tantos anos?
— Não foi a coisa mais fácil da minha vida, Carlos, acredite, eu queria fazer alguma coisa
a respeito, mas Oliver é pior do que você imagina, a única coisa que me restou, foi mandar
aquele garoto para bem longe daquela maldita casa.
Ouço suas palavras e fico em silêncio.
Como devo reagir diante disso?
Caio não havia estuprado esse rapaz, mas seu pai sim.
— Você ao menos o procurou para pedir perdão? Se arrependeu do que tentou fazer?
Caio fica quieto por um instante, então assente.
— Sim, o procurei sim, na verdade, dei um bom dinheiro para ficar quieto sobre o
assunto.
— Se arrependeu? — insisto.
— Mas é claro, Carlos, é claro que me arrependi, mas ele não me perdoou, disse apenas
que aceitaria o dinheiro para poder ajudar sua família e pagar seus estudos, mas que não queria
me ver novamente. Tentei de todas as formas conseguir seu perdão, mas foi em vão, ele não quis,
disse que eu poderia ter feito algo sobre o que meu pai fez, mas não fiz. Fui um covarde e
reconheço isso.
— Não o culpo. Não perdoei seu pai, nem você o perdoou. E mesmo você não chegando a
estuprá-lo, imagina como esse rapaz ficou, fora que Oliver fez o serviço sujo.
Ele abaixa a cabeça outra vez e minhas lágrimas começam a descer quando o vejo se
ajeitar na cadeira e gemer de dor.
— Ele... O que ele fez com você? — pergunto já temendo a resposta.
— Acho que você já imagina... Durante a noite toda, ele me embebedou, me bateu, me
forçou... — sua voz falha e sinto meu coração se apertar. — Eu vivi esse pesadelo de novo! E
sabe por que, Carlos, quase fiz isso com aquele garoto? Eu queria que essa dor saísse de mim,
pensei que se fosse igual ao meu pai, não sentiria essa dor que é ser abusado, mas adivinha?
Sinto muito mais dor agora, cada vez pior.
Ao ouvir tudo e absorver sua dor, começo a soluçar, nervoso, furioso, sentindo ódio de
Oliver e até de mim mesmo por não estar ao lado de Caio naquele momento tão difícil.
Não entendo como Oliver foi capaz de fazer isso, de novo, com o próprio filho.
— Fica calmo, vamos sair dessa, Oliver vai ser preso, tudo vai acabar.
— O que adianta sairmos dessa se eu vou perdê-lo? — questiona em um choro sentido.
— Não, você não vai me perder, eu te amo! Vamos sair dessa e iremos atrás deste rapaz
para resolvermos toda essa situação, eu prometo, falaremos com ele e ele irá perdoá-lo.
Termino de falar e ouvimos um barulho vindo do andar de baixo seguido de uma gritaria,
logo em seguida tiros ecoam por toda a casa e nos assustamos.
Depois de algum tempo, escutamos passos vindo em direção ao quarto e temo o pior.
— O senhor está preso por participar do sequestro de Caio Brown, os seus outros crimes o
senhor dirá na delegacia no seu depoimento!
Escuto o delegado Martins dizer.
— Chamem uma ambulância, dois homens gravemente feridos, um deles sendo o
ajudante de Oliver.
Engulo em seco.
Um chute atinge a porta, seguido de mais dois e então a porta vai ao chão.
O delegado Martins vem até a mim e solta meu braço, com uma chave “mestra” que abre
qualquer algema.
— Delegado Martins, o quê? Como?
Eu não entendo nada, parece até que estou sonhando, e se for sonho, é um muito bom.
— Eu te segui — diz Bruno entrando no quarto e indo até Caio.
Bruno observa meu noivo e meneia com a cabeça, ficando com o olhar triste, então
Martins vai até ele e o liberta.
— Nunca que eu deixaria você sozinho, espero que esteja bem.
— Estou sim. Caio... Ele precisa ir para o hospital.
— Não, não quero — diz se levantando com dificuldade.
Levanto rapidamente e sigo em sua direção, então o abraço como nunca tinha feito antes,
ele envolve seus braços quentes e fortes em mim e me sinto protegido.
Estamos juntos.
— Obrigado por terem vindo atrás de mim — diz emocionado. — Obrigado, amor, eu te
amo.
Seguro seu rosto com delicadeza por causa dos machucados e beijo seus lábios, não me
importando que Martins e Bruno estejam aqui, o sabor doce dos seus lábios envolve os meus, e
por um instante sinto que tudo isso chegou ao fim, mas estou enganado.
— Oliver fugiu, na verdade, ele saiu faz uma hora — anuncia Bruno e nos afastamos. —
Seu irmão levou um tiro e está muito ferido, Joyce e José foram presos.
— Alguém mais se feriu? Tem notícias de onde Oliver possa estar?
— Um dos meus homens — responde Martins e respira fundo. — Carlos, infelizmente
não acabou, tenho uma notícia não muito boa para te dar.
Fecho os olhos com força e Caio aperta minha mão.
Que tempos estamos vivendo!
Parece que isso nunca vai acabar!
— O que aconteceu? Mamãe está bem?
Bruno assente e abaixa a cabeça.
— Robertinho... — diz delegado Martins.
— Ele está doente? — interrompo nervoso.
— Não, aconteceu algo pior... Oliver sequestrou seu irmão, uma mulher o avistou saindo
com uma criança.
Não acredito no que acabo de ouvir, simplesmente não pode ser verdade.
“Que Robertinho não passe pelo mesmo que nós!”
Volto a chorar e Caio me abraça ainda mais forte, dizendo que tudo ficará bem.
— Quais sãos os próximos passos que vamos tomar? — pergunta Caio.
— Oliver entrou em contato conosco, disse que quer se encontrar com vocês dois, que era
para deixarmos o celular ligado que ele retornaria. Agora precisamos esperar, mas você precisa
ser forte, Carlos, estamos com vocês, e seu irmão necessita dessa força.
Ouço tudo em silêncio e concordo, é a mais pura verdade o que Martins diz, Robertinho
precisa de mim bem.
— Tudo bem, vamos esperar ele entrar em con...
Não dá tempo de terminar a frase e o celular do delegado Martins começa a tocar. Ele o
puxa do bolso e atende.
— Pode falar — diz sério, franze o cenho e me passa o celular.
Pego com dificuldade e coloco no ouvido.
— Seu filho da puta, vai pagar seriamente por isso!
— Ah, gostou da surpresa que planejei? O plano nunca foi machucar você... Não
fisicamente, está preparado para um último jogo?
Fecho o punho livre, me imaginando o socando e pergunto:
— O que você quer?
— Dinheiro, é lógico, quero um milhão de dólares em minhas mãos ainda hoje, ou
Robertinho vai pagar por isso.
Escuto os gritos de desespero do meu irmão e meu coração aperta.
— O que você roubou não é suficiente, precisa mesmo desse showzinho barato? —
pergunto nervoso.
— O show só começou, ou me dá esse dinheiro, ou diga adeus ao seu irmãozinho.
Carlinhos, acha que ele vai gostar de ser fodido igual fodi você e meu filho?
— Seu verme filho da puta!
Ele dá risada e escuto os gritos de Robertinho.
— Tudo bem, darei o dinheiro, mas vou precisar de algumas horas, sacar esse valor leva
tempo, ainda mais em dólares.
— Dê seu jeito, entro em contato novamente, e não adianta rastrear o telefone, estou me
desfazendo dele agora mesmo e indo para outro lugar.
Ele desliga o telefone e volto a abraçar Caio, temendo pelo que pode acontecer ao meu
irmão.
Capítulo 85 - Mortes
Conto para eles o que Oliver havia me pedido e rapidamente Caio faz várias
ligações, pedindo para que os bancos providenciassem o mais rápido possível um milhão de
dólares em dinheiro vivo.
Três horas mais tarde, duas enormes bolsas são entregues na casa.
Não tinha nem falado com minha mãe ainda, todos estavam no hospital com Chris, e
como tinha coisas mais graves para resolver, preferi me manter com Caio e Bruno para darmos
continuação ao plano de Oliver.
Já começa a amanhecer e me sinto exausto, Caio diz para eu cochilar, mas simplesmente
não consigo nem piscar os olhos, com medo de acabar perdendo alguma ligação.
O celular de Martins toca e atendo imediatamente.
— Bem, acho que já deu tempo de vocês terem conseguido o que eu pedi, não é mesmo?
— Já estamos com o dinheiro, agora me diga onde vamos nos encontrar — respondo
rispidamente.
— É bom saber que vocês agem rápido quando se tem um pouco de pressão. — Oliver ri.
— Me encontrem em uma hora no aeroporto, vou mandar o local por mensagem, estarei
esperando, nada de polícia, e se tentarem alguma coisa, mato seu irmão e quem estiver por
perto. Vamos fazer um último passeio antes que eu me despeça.
A ligação é encerrada e devolvo o celular para Martins.
— O que ele disse? — questiona Caio.
— Quer que o encontremos no aeroporto em uma hora, nada de polícia ou ele vai matar
Robertinho e quem estiver no seu caminho, falou também que vamos fazer um passeio, não disse
para onde — explico secando as lágrimas. — O que vamos fazer? Não posso deixar que ele
machuque Robertinho!
Caio me abraça e beija minha cabeça.
— Ele não vai morrer — afirma Bruno. — Vamos dar um jeito.
— Tudo bem. Vamos pensar em um plano — diz Martins, seu celular apita com o
endereço que Oliver passa.
— Bruno, é melhor você ir embora. Regina deve estar te esperando, todos estão muito
preocupados — digo.
— Não vou te deixar — diz enquanto balança a cabeça negativamente. — Vamos acabar
logo com isso para que eu volte para Regina e vocês possam se casar.
Abraço meu amigo, agradecendo por ele estar ao meu lado nesse momento.
Martins nos dá algumas coordenadas sobre um plano e concordamos já que não temos
opções.
Saímos do quarto segurando as malas, descemos para a sala e começamos a nos preparar
para encontrar Oliver.
Colocamos o colete à prova de balas, prendemos armas pequenas em uma tira de couro,
que está presa em nossas pernas e Martins coloca novos rastreadores em nós, já que o meu havia
quebrado no caminho para a casa. Martins disse que se não fosse Bruno, não teriam nos
encontrado. Agradeço mais uma vez meu amigo por ter se arriscado por mim.
— Está na hora de irem — anuncia Martins. — Bruno estará com vocês, mas tomem
cuidado, ele não pode ser visto, vamos seguir para lá logo em seguida.
Não quero que meu amigo vá, mas ele insiste tanto que não temos escolha.
Então nós três estamos prontos para ir, pegamos um táxi e seguimos em silêncio até o
aeroporto com o celular de Martins em minhas mãos. Cada segundo mais próximo do local
combinado faz o nervosismo e o medo aumentar consideravelmente. Nada pode dar errado
agora, a vida do meu irmão está em jogo e temos que tomar muito cuidado com o que iremos
fazer, então aviso para Bruno que assim que chegarmos ao aeroporto, ele deve se esconder para
Oliver não o ver.
— Não se preocupa, ele não vai me ver — garante assim que chegamos ao aeroporto.
Caio paga o taxista, pegamos do porta-malas as duas bolsas com o dinheiro e seguimos
para dentro do aeroporto. Logo na entrada, damos de cara com Oliver e Robertinho, que está
querendo chorar. Oliver sorri para nós e levanta a camisa, mostrando a arma em sua cintura.
Minhas mãos tremem e mostramos as bolsas. Oliver acena com a cabeça para seguirmos em
frente, e começamos a segui-lo, como Bruno não teve tempo de se esconder é obrigado a ir junto
conosco.
Oliver nos conduz até o estacionamento do aeroporto e se vira para nós, segurando meu
irmão pela mão.
— Disse que era para vir vocês dois, mas já que seu amigo está aqui, ele vai conosco, e
qualquer gracinha, ele e seu irmão morrem.
Ele abre a porta de um carro totalmente escuro, coloca Robertinho dentro, faz sinal para
que eu entre e depois Bruno.
— Caio, você vai dirigindo — diz abrindo a porta do motorista e entrando do outro lado.
Caio entra sem dizer uma palavra e liga o carro.
— Vamos para onde? — indaga meu noivo
— Siga em frente, na hora certa digo para parar.
Caio assente e sai do estacionamento, indo direto para a avenida. Fico pensando onde o
delegado Martins está e abraço meu irmão que chora nervoso.
— Vai ficar tudo bem — sussurro para ele. — Vai acabar tudo em breve.
Oliver ri no banco da frente com a arma apontada para Caio.
— Você é pior do que imaginei, Carlos, mesmo contando tudo que te contei, você ainda
fica com meu filho.
— Eu o amo independentemente de qualquer coisa. Tudo o que aconteceu você é o
responsável.
Assim que estamos próximos a um galpão abandonado, Oliver pede para Caio parar e
manda todos nós sairmos do carro.
Somente eu vejo o movimento sutil de Bruno puxando a pequena arma da perna. Ele me
olha, como se estivesse dizendo para eu ficar quieto e que vai dar tudo certo. Assinto de leve,
saímos e vejo o Sol já brilhando no céu.
— Vão, sigam na frente e entrem. Vamos acabar com isso de uma vez por todas — Oliver
diz nervoso. — Vamos fazer a viagem que eu disse, Carlinhos, a viagem para o inferno!
Seguro na mão de Robertinho e sigo na frente, entrando no galpão abandonado. O lugar
está vazio e um cheiro podre está no ar. Olho ao redor e vejo algumas janelas quebradas.
O lugar me lembra morte, o que me assusta muito.
— Vamos, Oliver, acabe com isso, o seu dinheiro está aqui, como pediu — diz Caio
jogando as malas no chão. — Você não vai fugir do país? Por que nos trouxe aqui?
Oliver aponta a arma para mim e sorri.
— Realmente vou embora sim, filho, mas antes vou acabar com o homem que você diz
amar. Seu tio matou o outro Carlos e eu vou ter o prazer de matar este.
Meu corpo treme, a garganta está seca, mas acho que é o fim.
Solto a mão de Robertinho, o afastando para longe de mim.
— Tudo bem, acabe com isso, me mate, mas deixe Caio, Robertinho e Bruno irem
embora. Só ficamos nós dois aqui e então você pode fazer o que quiser comigo — falo com a voz
embargada.
Oliver sorri triunfante e então olho para Caio.
— Vão, proteja Robertinho e cuide da minha mãe. Caio, saiba que eu te amo e mesmo
depois dessa vida, sempre vou amar — digo sentindo um aperto no coração.
— NÃO VOU DEIXAR VOCÊ! — grita Caio.
Tudo acontece tão rápido que não consigo ter reação. Bruno puxa a arma para cima e atira
na perna de Oliver; Robertinho corre para longe e se joga no chão, enquanto Caio vem na minha
direção. Oliver pega sua arma e atira em nós, mas somos mais rápidos e nos escondemos atrás de
um monte de lixo enquanto meu irmão chora descontroladamente.
Ouço Bruno atirar mais uma vez e correr, então Oliver começa a atirar na sua direção e
por pouco não acerta meu amigo. Tudo parece ser irreal, uma realidade paralela, mas então o
homem que me estuprou, levanta e começa a vir em minha direção.
Puxo minha arma e Caio a dele, mas como não sei usar isso, dou na mão do meu noivo e
abraço meu irmão.
Oliver não o machucará.
— Seus idiotas, vocês vão todos morrer!
O que acontece nunca mais sairá da minha mente.
A cena que vejo faz meu coração doer profundamente. Bruno levanta de onde está e atira
mais uma vez, então Oliver vira e atira na sua direção. Meu amigo rapidamente abaixa e quando
levanta para atirar novamente, as balas já haviam acabado. Oliver atira três vezes, uma acerta o
braço do meu amigo, a outra em seu peito que está protegido com o colete e o terceiro é fatal.
Vejo a bala perfurar sua testa e solto um grito, então antes de Bruno cair, já sem vida, seus olhos
guiados pela morte me olham uma última vez e então ele desaba no chão.
Bruno, o homem que estava comigo poucos minutos antes de eu ser estuprado, o homem
que me levou até Caio, que me fez acreditar que estava roubando uma casa, que dizia que faria
faculdade de psicologia comigo, o primeiro menino que beijei, o homem que adorava sair para
beber, sem hora para voltar para casa.
O amigo, irmão que sempre me apoiou...
Está morto.
Caio me joga no chão e volta a atirar na direção do pai. Vejo o tiro acertar a mão que
Oliver segura a arma e então o objeto cai próximo do corpo inerte de Bruno. Meu noivo descarta
sua arma no chão e vai na direção do pai, que grita de dor. Segura na camisa dele e dá um soco
em seu rosto, fazendo Oliver cair para trás.
— Isso é por ter estuprado Carlos. — Disfere outro soco, logo em seguida chuta sua
barriga e suas costas. — Isso é por ter sequestrado Robertinho e pensado que sairia daqui
impune, seu desgraçado!
Mais socos e o rosto de Oliver está banhado em sangue. Caio vai até o outro lado do
galpão, pega uma barra de ferro, que eu não havia notado e volta até onde o pai está caído.
— Isso é por ter matado mamãe!
O ferro acerta bem no meio das costas de Oliver, que urra de dor.
Caio é implacável, acertando um golpe atrás do outro.
— Isso é por todo o sofrimento que me fez passar! — A barra de ferro desce em suas
pernas. — E isso é por Bruno!
Fecho meus olhos e os de Robertinho ao ver que Caio segura o ferro na direção do seu
rosto. Meu irmão chora descontroladamente e o abraço mais forte.
As portas do galpão abrem e o delegado Martins entra junto com vários outros homens.
— CAIO, CHEGA, VOCÊ VAI MATÁ-LO! — grita Martins.
Abro meus olhos e vejo o delegado próximo a Caio que segura o ferro parado no ar pronto
para ser usado.
Meu noivo não desvia os olhos de Oliver que se encontra ensanguentado, jogado no chão,
respirando com dificuldade.
Levanto junto com meu irmão e corro até Caio, o abraçando forte enquanto escuto o
barulho do ferro caindo no chão. Desabo a chorar em seus braços, vendo Bruno do outro lado,
caído.
Minha mãe entra e corre até meu irmão, depois nos abraça. Regina vem com Lucas e
Rafael e meu coração aperta ainda mais ao vê-la entrar em desespero quando vê Bruno morto.
Choro descontroladamente, não conseguindo acreditar que isso tudo está acontecendo.
Por que meu amigo teve que morrer?
Oliver agoniza no chão, e quando os paramédicos vão perto dele para o socorrer, algo
inesperado acontece.
Ele puxa outra arma das suas costas e rapidamente todos os policiais sacam as deles.
Oliver olha para mim e sorri com a boca cheia de sangue, então olha para Caio e começa a
chorar.
— Eu ve-venci... Venci, tive você por pouco tempo, mas tive, e agora vou morrer aqui —
diz rindo maleficamente então para de rir de repente. — Por favor, cuida do seu irmão.
Ele fica em silêncio por um longo minuto e suspira.
— Me perdoem... me perdoem, o que vou fazer é para o seu bem, Caio, para um crime
não cair nas suas costas. — Leva a arma até sua cabeça sem tirar os olhos do seu filho e
rapidamente fecho os olhos de Robertinho. — Eu te amo.
Então dispara, o chão ficando coberto com o sangue e pedaços do homem que eu tanto
temi.
Oliver está morto.
Ele se matou porque sabia que não iria resistir, e para Caio não ser culpado de um crime,
decidiu tirar a própria vida.
Esse pesadelo, enfim, chegou ao fim!
Capítulo 86 - Enterro
Dois dias passaram desde o ocorrido e ainda não conseguimos acreditar que Bruno
havia morrido e que Oliver tinha se matado.
Meu irmão Rafael se recupera rápido do tiro e logo em seguida vai para a prisão, onde
Joyce e José estão com Caroline.
Depois do delegado Martins nos encontrar, fomos para a delegacia dar depoimento do que
houve e decidir o que aconteceria com Caio. Apesar de ter cometido inúmeros crimes, como
falsidade ideológica, agressão, estupro e o plano louco com Bruno, armando o assalto, nada
aconteceu.
Caio só iria recorrer sobre o processo do seu pai, afinal, as notícias estavam a todo vapor
com a descoberta da troca e a morte oficial de Oliver. Meu noivo iria responder sobre ter
colocado seu tio na cadeia e esclarecer alguns pontos sobre a morte de Carlos, o que para nós não
resolveria muita coisa, já que ambos estavam mortos.
Vamos para casa depois de 39 horas acordados e ainda me sinto impactado com tudo que
tinha acontecido.
Tomo um banho quente, me lembrando que agora Bruno nunca mais estaria entre a gente
e que ele não chegou a ver a nossa estranha vitória.
Regina foi hospitalizada e me sinto ainda mais culpado. Ela está grávida e Bruno sequer
soube que seria pai.
Choro por tudo...
A morte de Bruno, a prisão do meu irmão, meu pai e de Caroline. A morte de Oliver.
Tudo me deixa completamente anestesiado.
Saio do chuveiro, me troco e vejo que Caio não está. Pedi a ele para ir ao hospital ver
Regina.
Deito na cama e sinto vontade de vomitar ao lembrar da cena de Bruno caindo morto e
depois Oliver atirando em sua própria cabeça.
Depois de tanta tensão, de muito chorar, consigo adormecer.
*
Acordo com a voz de Caio chamando e me chacoalhando de leve. Levo alguns segundos
para me situar.
— Amor — diz encostando sua mão no meu rosto. — Você está com febre, vem, deixa eu
cuidar de você.
Meu corpo está anestesiado, me sinto mal e lembro dos sonhos que tive...
Toda a cena sendo revivida.
Bruno caindo, seus olhos já sem vida e vidrados em minha direção. Depois Oliver se
matando, sua risada maléfica antes de morrer...
Revivo, mais uma vez, a cena do estupro, entretanto, agora, Caio está lá, machucado e
chorando.
Ele também havia sido abusado.
Seu olhar encontra o meu, vejo o sangue escorrer pelo canto da sua boca enquanto diz
chorando, “eu também fui estuprado, Carlos”.
Meu corpo estremece.
Caio me levanta, carrega meu corpo me acomodando na banheira e entra em seguida. Ele
toma o maior cuidado para não me tocar e estranho a sua atitude.
— Como ela está? — pergunto com a voz embargada.
— Ela vai ficar bem, o bebê está ótimo, graças a Deus — diz, mas percebo dor em suas
palavras. — Carlos, eu sinto muito, isso tudo foi culpa minha.
Caio abaixa a cabeça e fica quieto.
— Do que você está falando?
— De tudo. Tudo que aconteceu foi culpa minha. Praticamente matei Bruno e meu pai,
tirei a felicidade de Regina... E sua família, se não fosse meu pai, eles não estariam presos agora.
Sua mãe está no quarto dela, trancada.
Escuto em silêncio, tentando processar cada informação.
— Meu Deus, sou doente, parece tudo tão errado, você aqui. Eu... Eu, por favor, se quiser
ir embora, irei entender.
O que eu quero?
O que realmente eu quero?
Está certo que Caio fez coisas horríveis, mas não poderia prever ou evitar as decisões dos
outros. Minha família poderia ter feito coisas erradas de outra forma. Bruno poderia estar vivo,
aqui comigo, mas isso não é culpa dele. O responsável por tudo foi Oliver, foi ele quem o matou
e ninguém mais.
Nunca pareceu tão errado estar ao lado de Caio, mas me parece a atitude mais certa que já
tive, então simplesmente o abraço, chorando em seu ombro.
— Não tem por que se sentir culpado, Caio. Oliver envolveu a todos. Você não é
responsável por meu pai e meu irmão terem se envolvido com ele. Infelizmente ele levou todos
ao limite. Na verdade, você foi o grande herói, conseguiu enfrentar Oliver.
— Mas por que não agi antes?! Bruno poderia estar aqui conosco! Ele ia ser pai e nem
teve a chance de saber, você sabe como isso pesa na minha mente?! Meu pai, o homem que me
deu a vida, matou seu melhor amigo! E o que eu posso fazer? Nada!
As lágrimas vertem dos seus olhos, a voz de Caio está rouca e um grunhido sai do seu
peito involuntariamente.
— Não pense tanto. Você precisa descansar, temos um enterro para preparar...
— Lucas e Elijah já estão cuidando disso, a propósito, Chris receberá alta ainda hoje.
Querem vir para cá, só que não deixei.
— Por que não? Vai ser bom um ajudar o outro na dor, vou ligar para eles virem nos
encontrar, mas só mais tarde. Você não dormiu nada ainda, vamos tomar um banho.
— Você me perdoou por tudo mesmo? Eu preciso saber, mal consigo tocá-lo, por conta
de saber que você descobriu tudo o que eu já fiz...
Meu coração aperta e sinto seus dedos macios percorrerem meu rosto.
O seu toque é macio e gentil, o que me conforta muito. Ele nunca seria capaz de machucar
alguém, tenho certeza disso
— O que passou, passou, não podemos mudar o que já aconteceu, mas acredito que
podemos pensar no que vamos fazer de agora em diante. O que você fez ou deixou de fazer, foi
antes, no seu passado. Agora estamos juntos e você é outra pessoa. Se acha que vai conseguir me
tocar com um perdão, então eu te perdoo, Caio. Perdoo por tudo que já fez, perdoo cada erro seu,
assim como espero que você perdoe cada erro meu.
Ele sorri e me abraça.
— Eu te amo tanto e cada dia amo mais ainda.
Olho para ele e seguro seu rosto com delicadeza secando suas lágrimas, pois os
machucados ainda estão presentes e mesmo com tantos machucados, ele não deixa de ser lindo.
Encosto meus lábios nos seus, sentido o delicioso gosto do seu beijo.
— Vamos lá, temos muito que fazer — digo e ele concorda. — Sobre o que eu disse,
realmente faremos, quero ir atrás do rapaz...
— Robert — diz e não entendo. — O nome dele é Robert.
— Vamos atrás dele, você pedirá perdão pessoalmente sobre tudo o que aconteceu.
— Você acha mesmo que ele vai me perdoar? — questiona.
— Só iremos descobrir se formos atrás, mas pensaremos nisso depois.
Ele assente e tomamos banho em silêncio, eu com o pensamento positivo de que a cada
passada de sabonete em meu corpo, tudo de ruim que está em mim sairá.
*
Nossos amigos chegam por volta das nove da noite. Achei melhor chamá-los para
dormirem aqui, como o enterro será amanhã, quero que todos fiquemos juntos para enfrentar
isso.
Regina ainda continua no hospital e agora é minha mãe que está com ela. Dona Marisa se
prontificou a cuidar dela e pediu que não me preocupasse, porque no fim tudo daria certo.
Todos estavam aqui, em um silêncio respeitoso, mas no fundo, querem saber como estou.
— Culpado, se for isso o que querem saber — confesso me sentando.
Caio senta ao meu lado e aperta minha mão.
— Não fala isso, ele não iria gostar que se sentisse dessa maneira — diz Lucas com os
olhos vermelhos, Rafael passa uma de suas mãos em seu ombro e me olha. — Bruno foi um
herói e heróis morrem por um propósito. Não devemos nos culpar, infelizmente, o destino quis
assim.
Não respondo e observo Chris que está com o braço enfaixado.
— Como está se sentindo? — pergunto, tentando quebrar o clima pesado.
— Melhor, eu diria, mas com todas as notícias que venho recebendo... Bem, vou
sobreviver, obrigado.
— Deveríamos fazer alguma coisa, comer — comenta Elijah. — Amanhã o dia vai ser
logo, precisamos de forças para... Bem, enterrá-los.
Oliver também será enterrado no mesmo lugar que Bruno.
— Vamos preparar alguma coisa para comer e depois irmos descansar, temos um longo
dia amanhã. Como estão os preparativos? — questiono enquanto me levanto.
— Tudo em ordem já — responde Lucas. — Os pais dele... Ainda não conseguiram
acreditar no que aconteceu, eles querem te ver.
Meus olhos enchem de lágrimas e assinto lentamente. Os pais de Bruno querem me ver,
duas pessoas que quase não via.
— Tudo bem, deixaremos isso para amanhã, vamos para a cozinha agora? — Caio diz
segurando na minha mão e me puxa para a cozinha.
*
Levanto cedo, tomo um banho rápido, escovo os dentes e me observo no espelho; meus
olhos estão fundos e avermelhados. Não consegui dormir direito e as cenas sempre estão
voltando em um looping frenético.
A manhã está chuvosa, o que para mim é algo normal quando se trata de São Paulo. Só
que a chuva parece triste, os ventos estão fortes e a tempestade inunda alguns lugares da cidade.
Visto jeans e camiseta preta.
Tudo está completamente escuro para mim, parecia que um Dementador havia entrado em
minha vida e sugado toda a minha felicidade.
Dou um sorriso idiota ao pensar em Dementadores. Lembro de uma passagem de “Harry
Potter” onde Dumbledore dizia para não termos pena dos mortos, mas sim dos vivos, e
principalmente, dos que não sabiam o que era amor. Essa reflexão faz que as lágrimas rolem pelo
meu rosto.
Vendo que já é um pouco mais das oito da manhã, vou até Caio e o acordo, beijando seu
pescoço.
— Oi... Não posso desejar bom dia, sabemos que não vai ser — diz um pouco sonolento
com a voz triste.
Realmente hoje não será um bom dia para ninguém, mas para nós, que estamos tão
envolvidos na série de acontecimentos, será pior.
— Vou chamar os outros enquanto você toma banho, depois irei ver se Maria já fez o
café.
Caio assente, pois ele sabe melhor que ninguém que esse será um dos meus piores dias.
Em poucas horas enterrarei meu melhor amigo e isso causa uma forte dor no meu coração.
Tudo parece errado, mas, como discutir com o destino?
Hoje poderia ser um dia perfeito, amanhã não mais. Para chegarmos ao arco-íris
precisamos passar pela tempestade. Admito que essa frase, hoje, faz mais sentido do que nunca.
Forço um sorriso para Caio, o beijo e desço.
Chegou a hora de enfrentarmos o que vem a seguir.
*
Todos já estamos no carro a caminho do cemitério e Caio não solta minha mão por nada,
o que me alivia muito.
O carro parece um breu, devido o reflexo de tanta roupa preta e fico espantado como uma
simples cor faz diferença.
— Regina acabou de me mandar mensagem — informa Lucas. — Ela não vai ao enterro,
disse que não está preparada para isso e que se sente mal.
O alívio que estava sentindo, instantaneamente some. É claro que ela não está pronta para
isso e não tiro sua razão, até porque ninguém aqui está realmente pronto. Estamos somente
cumprindo uma obrigação de termos que ir ao cemitério enterrar meu amigo.
Continuo em silêncio e a chuva continua forte do lado de fora, me deixando ainda mais
triste.
— Mamãe vai? — consigo perguntar finalmente.
— Já está no Uber, ela e Robertinho. Ele insistiu muito para ir — responde Lucas.
Penso que em breve encontrarei os pais de Bruno.
O que vão dizer?
Irão me culpar?
Realmente espero que não, afinal, eu mesmo já me culpo por isso.
A angústia me sufoca, além da tristeza.
Quero que esse pesadelo acabe logo.
“É pedir muito?”
*
Quando chegamos, os pais e alguns parentes de Bruno, já estão no local.
O caixão está fechado e sei o motivo, o ferimento na cabeça não seria algo bonito de se
ver.
Assim que entramos, todos nos olham e vejo mamãe em um canto, o que me acalma um
pouco.
A mãe de Bruno, dona Cleonice, vem até a mim, com lágrimas nos olhos, e me observa
bem. Fico sem reação, com medo do que poderia fazer, então ela estende seus pequenos e frágeis
braços e me abraça. Retribuo o abraço forte e suas lágrimas se tornam um pranto sentido. Para
minha surpresa ela me diz que sou muito forte e que está feliz por eu estar vivo. Que não devia
me sentir culpado, pois o único culpado era o falecido Oliver Estevam Brown. O pai do CEO
magnata Caio Brown. O meu sogro. O homem que abusou da gente.
A emoção me toma ao ouvir suas palavras de consolo, o meu medo é grande de todos
acabarem me culpando, mas acontece o contrário. O pai de Bruno, o senhor João, também vem
até onde estou aos prantos e me abraça, ficamos nós três um bom tempo assim, simplesmente
chorando e tentando aceitar que isso realmente havia acontecido, o que é quase impossível de
acreditar.
Depois de um bom tempo, nos separamos, Caio segura minha mão, me passando força e
me aproximo do caixão.
Toco na madeira fria, volto a chorar e as lágrimas caem sobre o simples objeto. Objeto
esse que carregará o corpo do meu melhor por anos. Lembro de tudo que havíamos passado, o
que tínhamos feito juntos e nos nossos planos para o futuro. Não iríamos mais realizá-los e
jamais seríamos psicólogos juntos.
Solto meu noivo e coloco a cabeça sobre o caixão, algumas pessoas tentam me impedir,
mas dona Cleonice pede para me deixarem.
Choro muito, o som de dor vindo do fundo da minha alma e a tempestade lá fora continua
forte, com trovões e raios cada vez mais altos me acompanhando em minha dor, parece que até
mesmo o tempo sentia que tínhamos perdido uma grande pessoa.
Seco as lágrimas e tento me controlar.
— Você quer falar algumas palavras, Carlinhos? — pergunta dona Cleonice.
— Pode ser — minha cabeça dói, a visão turva, sinto ânsia, dor, medo, tudo isso
misturado dentro de mim.
Olho cada um dos presentes e respiro fundo. Eduardo está aqui, também, e de longe acena
para mim. Retribuo o gesto e olho para meus amigos e familiares. Juliane e Pedro chegam e noto
os dois com os semblantes bem abalados.
Tento buscar forças para dizer alguma coisa e suspiro.
— Quando estiver pronto — diz o senhor João.
Fico por alguns minutos em silêncio e olho para Caio que me passa confiança com seu
olhar.
— Bruno sempre foi um grande amigo e irmão para mim. — Começo, tentando controlar
a emoção. — Ele dizia que eu era como o irmão caçula que nunca teve e o melhor amigo gay que
sempre procurou. Ele me ajudou muito, estava comigo em momentos da minha vida que achei
que seria o fim. Éramos inseparáveis e sempre estávamos à procura de algo para fazer. Até nos
momentos errados, ele estava ao meu lado. Lembro do dia em que conversamos sobre fazermos
faculdade, ele me disse que queria ser psicólogo, porque um tio dele, já falecido, sofria de
problemas com ansiedade. Contou que quando via o tio, sentia vontade de ajudá-lo e por isso
seguiria essa profissão. Combinamos de fazer a tão esperada faculdade, juntos, mas não tivemos
tempo, a vida não nos deu tempo... Ele se foi antes do esperado.
Todos me olham atentamente, prestando atenção em cada palavra minha.
“Bruno era tudo para mim, o amava muito e sinto muito por tudo isso. Fazer parte de sua
vida, ele foi a minha melhor parte e estar com ele no dia do fim, foi destruidor. Não era para ter
acabado assim, não era para ele estar dentro de um caixão. Era para estarmos alegres, sorrindo
por saber que uma vida, uma parte dele, está por vir ao mundo.”
“Bruno sempre me dizia que queria ser pai, que era um sonho seu particular e não teve
tempo de saber que esse sonho estava mais próximo do que nunca.”
“Bruno morreu para me salvar, ele foi um herói, foi forte em todos os momentos e
agradeço a isso. Sempre serei grato a ele.”
“Algumas pessoas podem achar hipocrisia, mas a partir de agora, vou sorrir, vou ser feliz
por ele. E sabem por quê?”
“Porque Bruno me deu a chance de seguir com minha vida e tenho certeza que, de onde
estiver, não quer ver nenhum de nós tristes.”
“Temos sim que ter o nosso luto, dona Cleonice e senhor João, mas não pode durar a vida
toda.”
Paro de falar e somente os soluços são ouvidos. Aproveito e olho para meu noivo.
— Caio, sinto muito por tudo isso, pela morte de Oliver, mas temos que seguir com
nossas vidas, é o que Bruno iria querer. Não estou sendo hipócrita de dizer isso hoje, estamos
sofrendo, eu sei. Porém, o dia vai acabar, vamos voltar para nossas casas, tomar um banho, fazer
nossas refeições diárias e continuar com a vida. E eu sei, bem no fundo, que é isso que ele quer.
“Sinto muito também, Elijah, sei o quanto você achava seu pai especial, talvez, ao menos
para você, ele tenha sido uma boa pessoa.”
“Nunca vamos esquecer Bruno, até porque é impossível, pela pessoa que ele foi, mas a
partir de agora ele está em cada um de nós, dentro dos nossos corações e apesar do meu coração
estar despedaçado, ele estará sempre comigo”.
Todos me olham com lágrimas nos olhos e aplaudem, vindo me abraçar em seguida.
*
Encontramos Elijah do lado de fora, com os olhos marejados, olhando atentamente para
uma lápide, com uma rosa sobre ela.
Apuro o olhar e vejo que é de Oliver Estevam Brown, o homem que assombrou minha
vida e acabou se matando para que o filho não fosse preso.
Pego duas rosas da mão de mamãe, observo meus amigos e familiares e, com voz baixa,
peço que se dirijam para o carro. Caminho em direção ao meu cunhado, entrego uma rosa a Caio
e a outra coloco ao lado da de Elijah.
Restam somente Caio, Elijah e eu olhando para a lápide, em silêncio.
Meu noivo permanece estático, em silêncio, segurando a rosa, com os pensamentos a mil.
Quero saber nesse momento tudo o que está pensando, mas não posso ser tão invasivo.
— Elijah... — Caio diz depois de um tempo e volta a se calar.
Aproveito o momento e digo:
— O que eu disse lá dentro é verdade, realmente sinto muito que tenha acabado desse
jeito. Talvez Oliver tenha sido um covarde conosco, mas com você sei que foi diferente.
Ele fica em silêncio e as lágrimas já escorrem em seu rosto.
— Espero que onde ele estiver, possa descansar.
Meu cunhado assente e se vira para nós.
— Por quê? Por que nunca me disseram que ele havia abusado de vocês?!
As lágrimas agora são bem mais visíveis diante da situação. O observo com o coração
partido e dou de ombros, tentando formular uma resposta.
— Lembra que eu disse para perguntar ao seu irmão o motivo do ódio? Seu pai…
— Oliver. — Corrige.
— Oliver abusou de nós, tirou algo da gente que jamais pode voltar… não queríamos te
dizer tão de cara. Quando você chegou aqui, estava feliz, parecia que somente queria reconciliar
seu irmão com ele.
— E queria, papai me disse que vocês brigaram, Caio, e por isso não se falaram mais —
diz finalmente se abrindo para nós. — Viemos para cá somente com o intuito de vocês serem
amigos, pelo menos era isso que eu achava.
“Ele me contou um pouco da história dele, disse que estava casado quando conheceu
minha mãe e ela engravidou de mim. Ele adorou a ideia, mas não podia me revelar, pois seria um
escândalo. Então me manteve escondido, ia sempre nos visitar, me levava presentes, era um
verdadeiro pai e herói. Logo depois que foi preso, fiquei muito mal e minha mãe não soube o que
fazer, então, anos mais tarde, papai reapareceu dizendo que meu irmão havia o ajudado a fugir.”
“Contou tudo que havia acontecido, os roubos; os estupros; a troca com Jorge… Como
mamãe naquela época já estava muito doente, aceitei a permanência dele, dizendo que agora ele
tinha a chance de mudar. Oliver disse que mudaria e para mim ele sempre foi um herói!”
“Tempos depois, mamãe faleceu, então ele disse que estava na hora de virmos para o
Brasil e conhecer meu famoso irmão Caio Brown. Perguntei o motivo da vinda e ele me disse
que seria uma reconciliação. Apesar de saber sobre seus crimes, eu o amava, papai era bom para
mim e para mamãe, e como não tinha mais ninguém, a imagem de um irmão parecia incrível,
então aceitei.”
“O único pedido dele era ajudá-lo a se aproximar do meu irmão. Por isso, Caio, o levei
naquele dia no apartamento, jamais imaginei que papai havia feito aqueles atos nojentos com
você, com vocês!”
Ele se cala e vejo meu noivo parado, sem dizer nada com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Você só fez o que achou certo, Elijah, me perdoe por desconfiar de você em algum
momento — digo.
Ele vem até a mim e o abraço.
— Obrigado, Carlos. Vou para o carro, vejo vocês mais tarde — diz Elijah e se afasta.
Vou até ele e o abraço novamente, sentindo seu cheiro. Elijah me olha e sorri, logo em
seguida, continua a seguir em direção ao carro de cabeça baixa.
Olho para Caio que ainda está parado e seu terno escuro balança por causa do vento frio.
Seu cabelo está bagunçado e o seu rosto já está melhor, agora só um pouco esverdeado nos
machucados. A rosa continua em sua mão, dançando entre seus dedos.
Suspira e leva a outra mão até o rosto, secando lágrimas que descem.
— Caio, se quiser um minuto a sós... — digo parado atrás dele.
— Por favor, fique, você sabe melhor que ninguém que preciso de você aqui.
Assinto, mesmo sabendo que não está me vendo e continuo parado.
— Ele era meu pai, Carlos. Esse maldito era o meu pai! O homem que me deu a vida. Ele
fez tantas coisas cruéis comigo, tantas atrocidades, mas, no fim, era só a droga do meu pai, um
homem apaixonado pelo próprio filho. Uma paixão proibida, mas mesmo sabendo disso tudo, ele
fez isso...
“Ele me sequestrou, bateu, estuprou enquanto dizia que me amava. Me mostrou coisas
inacreditáveis, coisas que jamais pensei que iria ver ou fazer. Ele roubou, matou, foi preso e
liberto, isso por minha causa.
“Apesar disso tudo, o vi muitas vezes como um herói, aquele herói que quando eu tinha
apenas quatro anos, me pegou no colo, me girou dizendo que era o meu helicóptero ambulante.
Como ria disso, a gente brincava de cavalinho e minha mãe ficava doida, correndo atrás da
gente.”
“Um dia ele me levou para assistir a uma corrida de cavalos. Fui ao banheiro e me perdi
dele, mamãe ficou maluca e para a deixar confortável e bem, ele parou a corrida, foi até o
microfone do locutor e disse que seu filho havia se perdido, que quem me achasse, receberia 10
mil libras.”
“E não é que ele deu mesmo?”
“Naquele dia saímos para comer pizza e mamãe ficou muito feliz. Ele dizia que a
felicidade dela era o que realmente importava. Mesmo assim, ele fez besteiras e me viu com
outros olhos.”
“Fico imaginando que se continuasse sendo a pessoa boa que era, estaria vivo, meu tio
estaria vivo e mamãe também. Tudo seria tão diferente, cada dia seria uma nova aventura, tenho
certeza disso. Mas não conseguiu e apesar de tudo o que fez comigo, ele era o maldito do meu
pai.”
“Dói dizer isso, não posso mentir para você e nem para mim mesmo, mas ele era o meu
herói quando o monstro sumia, meu herói torto e, no fim pensando em mim, tirou a própria vida
para me salvar.”
“Não estou falando isso só porque ele está morto, é o que sempre quis dizer, mas o ódio e
repulsa sempre me impediram.”
“É por isso que simplesmente não posso, Carlos, simplesmente não consigo associar a
imagem desse monstro com o meu pai, Oliver me destruiu, ele machucou cada parte de mim, e
pode parecer egoísmo, mas desejo que ele queime no inferno com todos os seus pecados!”
“Posso não ser a melhor pessoa do mundo, fiz coisas que me arrependo muito, e sei que
pagarei por cada uma delas, mas desejo que Oliver Estevam Brown apodreça no inferno por cada
atrocidade que fez com todos nós.”
“Eu te odeio, papai!”
Capítulo 87 - Sete meses depois
O tempo passa tão rápido que quase não dá para processar tudo que havia acontecido
e apesar das tristezas, estamos muito felizes.
Regina havia se recuperado e agora está em casa, havia exatos cinco meses que ela mora
com a gente. Elijah e Chris firmaram união estável e foram viajar pelo mundo, disseram que só
voltariam para o nosso casamento.
Tudo está bem, Caio a cada dia está mais romântico comigo, me traz flores, chocolates e
vários presentes. Nessas suas brincadeiras, acabei engordando cinco quilos, o que me fez voltar
para a academia.
O trabalho também havia voltado ao normal, nos primeiros meses foi muito difícil porque
a imprensa não nos dava sossego, mas agora tudo está calmo como antes.
Caio Brown respondeu por todos os seus crimes e, claro, saiu ileso, mas teve que pagar
uma pequena fortuna por isso. Todos nós demos depoimentos sobre o ocorrido, desde minha
infância e de Caio, falando sobres os estupros, até o momento da morte de Oliver.
Meu pai e Rafael pegaram uma pena de 15 anos, o que para nós já foi o suficiente,
enquanto Caroline e Joyce pegaram 10 anos.
As empresas de Caio caíram muito, mas nada que o deixasse pobre ou à beira da falência,
para ele foi até bom, assim, como ele mesmo disse, poderia descansar e ter tempo para ficar
comigo.
Mamãe está estudando, havia iniciado a faculdade de Letras e Robertinho está com a
saúde cada dia melhor.
Tudo estava se encaixando.
Eu também resolvi retomar os estudos e, no próximo ano, irei começar o curso de
psicologia. Farei a faculdade em memória de Bruno.
Regina descobriu que o seu bebê será um menino, o que nos deixou muito felizes. Ela
continua trabalhando com Caio, porém com uma carga menor, afinal, em um mês, dará à luz.
Para fazer bom uso do dinheiro que Caio depositava para mim, procurei por várias
instituições e ONGs para ajudar pessoas. Esse sempre foi o objetivo para usar o dinheiro, mas
com todas as loucuras que havíamos passado, não tive tempo para ver isso antes.
Encontrei a perfeita, uma que dá suporte a pessoas portadoras do vírus HIV, além de
ajudar mulheres, homens e crianças que sofreram abusos sexuais e psicológicos.
— Olha o que chegou para nós — digo entrando no escritório do apartamento.
Essa semana estamos aqui para podermos descansar um pouco.
— O que é isso? — Pega o convite dourado da minha mão. — Eu não acredito!
— O que foi, amor? — questiono sem entender.
Caio abre o envelope e lê atentamente cada palavra, com seu sorriso aumentando cada vez
mais. Após terminar a leitura, ele joga a carta na mesa, dá um pulo e grita alegre.
— Meu Deus, o que aconteceu? Ganhou na loteria? Você já é rico! — brinco.
— Melhor que isso, veja...
Ele pega a carta e lê:
“Aos senhores Brown.
O Instituto Vida realizará um evento de confraternização para celebrar o sucesso na
arrecadação de fundos para o Projeto “Acreditar para Viver”.
Senhor Caio, como um dos nossos convidados de honra, pedimos calorosamente que
faça um discurso em nosso evento e se desejar, cante em homenagem a todos os presentes.
Data do evento 14 de outubro de 2015.
Horário 20 horas.
Saudações.
Instituto Vida.”
— Eles colocaram você como um Brown, o que para mim já deveria ser há muito tempo.
Nós vamos, certo? Eles querem que eu cante! Sempre quis ser cantor, mas meu pai sendo
empresário, não permitiu que isso acontecesse. Diz que vamos? — pede Caio eufórico.
Fico olhando Caio parecendo uma criança, rio e concordo.
— Lógico que vamos, agora temos que ver uma canção para você cantar, ouvi uma esses
dias indo para o trabalho e acho perfeita para a ocasião.
— Ok, qual?!
Ele anda de um lado para o outro, nervoso, e ao mesmo tempo muito alegre. Vou ao
computador e faço uma breve busca na internet.
— Esta!
Ele ouve atentamente e depois que encerra, ouve de novo. Sorri para mim e me beija.
— É perfeita, eu te amo!
— Eu também te amo.
Beijo meu noivo e ficamos dançando feito bobos, ansiosos para o grande dia.
Acordo de manhã com o choro do bebê, rapidamente me levanto e vejo que Caio já não
está mais na nossa cama.
Tomo um banho rápido e sigo para o quarto de Regina.
— Bom dia! — digo entrando devagar.
Ela está de pé com o pequeno Bruno nos braços.
— Bom dia, Carlos! — diz me dando um beijo no rosto.
Depois de nove meses, ainda não tínhamos aceitado a morte de Bruno, mas já
conseguimos conviver com a dor. Regina mora oficialmente conosco, seus pais, que eu nem
sabia da existência, tentaram convencê-la a ir morar com eles em Porto Alegre, mas minha amiga
se negou, dizendo que queria que o filho crescesse onde o pai havia passado a infância.
Minha mãe a ajuda nos horários vagos e Robertinho, que a cada dia está mais inteligente e
sua saúde cada vez mais forte, adora brincar com Bruno.
Regina coloca o bebê no berço e olha para mim com um olhar cansado.
— Bem, seu casamento é em poucas horas e você está aqui olhando para mim — diz
rindo. — Agora que Bruno dormiu, vamos tomar café e cuidar de você, Caio merece um noivo
bem-arrumado.
— Obrigado! — Agradeço rindo.
Descemos para a cozinha e nos sentamos, logo ela prepara tudo e nos serve.
— Então, o que vai fazer enquanto Caio e eu viajamos? Sabe que só voltamos daqui
alguns meses.
— Eu sei e isso me dá um aperto muito grande no coração. — Coloca a mão no peito
fingindo dor e volta a comer. — Bem, eu ainda não sei, vou arrumar uma babá, trabalhar e ver se
arrumo um canto para morar com meu filho.
Engulo o pão e aperto sua mão.
— Não precisa ir embora daqui, sabe que é muito bem-vinda, será bom você fazer
companhia para minha mãe.
Ficamos um tempo em silêncio e ela dá de ombros.
— Não quero ser chata, Carlos, mas não me sinto confortável aqui, ele esteve aqui
comigo, assim como no seu apartamento. Estar aqui sem Bruno dói demais.
Assinto me sentindo desconfortável.
— Me perdoa, se eu não o tivesse levado naquele encontro para resgatar Robertinho...
— Ele daria um jeito de ir e se sacrificaria igual por você, ou esqueceu que ele foi atrás de
você e de Caio? E não peça perdão, não te culpo pela morte dele, Bruno simplesmente fez o que
achou certo.
Reflito e concordo.
— Deixa pelo menos a gente cobrir as suas despesas e do bebê, é o mínimo que eu posso
fazer.
Ela concorda e me abraça.
— Ok, vamos lá... Está na hora de arrumarmos o noivo do ano!
*
Caio
Estou nervoso, meu cabelo está suado, assim como minhas mãos e meu coração bate a
mil, parecendo que vai explodir. Ainda não consigo acreditar que finalmente Carlos e eu seremos
somente um.
Já é um pouco mais de quatro da tarde, e como não quero me atrasar, já estou pronto.
Olho no espelho e contemplo minha imagem em um smoking preto, com camisa branca e gravata
borboleta. Meu cabelo ruivo está amarrado em um coque frágil; pois nos últimos meses ele
cresceu bastante. Minha barba está bem alinhada, dando um grande destaque para os meus olhos
azuis.
Sorrio para minha imagem e logo entro em desespero, o grande dia que eu tanto esperei
finalmente está acontecendo, irei me casar com o homem que amo.
Pego o celular e envio uma mensagem a Elijah:
Onde você está? Precisamos chegar logo, não quero me atrasar.
Ele logo me responde:
Calma, tô aqui na porta, não vamos chegar atrasados.
Assim que recebo a mensagem a campainha toca, abro a porta e dou de cara com meu
irmão e meu cunhado, Christopher.
— Vocês demoraram horrores! — Dramatizo dando espaço para entrarem.
— Relaxa, noivinho, nem estamos atrasados, ainda faltam duas horas e meia para o
casamento, não se preocupa que Lucas organizou tudo! — justifica Chris abrindo a geladeira e
pegando uma cerveja.
Elijah vem até a mim e me olha, então sorri alegre.
— Você está um gatão, não sei quem tem mais sorte, você ou Carlos. Ele também está
lindão!
— Você o viu? — pergunto com o coração acelerado.
— Lógico que vimos — responde Chris. — E realmente ele está bem bonitão!
A cada segundo fico mais ansioso para vê-lo, simplesmente não aguento mais ficar longe
do meu futuro marido.
— Quero vê-lo... Isso de não poder ver o noivo, é besteira, de verdade.
Elijah e Chris começam a rir da minha cara.
— Não se preocupa, mano, em poucas horas vocês estarão unidos para sempre.
Solto um grunhido e vou até a geladeira, pegando um pouco de água para tentar me
acalmar.
O tempo vai passando e os dois conversam comigo para me distrair.
— Acho que está na hora de irmos para o casamento do ano — anuncia Christopher
depois de verificar a hora. — Está preparado, Caio?
Concordo ansioso.
É muito estranho ter Christopher aqui conosco, mais estranho ainda ele ser meu ex e agora
meu cunhado.
Como será que meu irmão se sente em relação a isso?
Ele já havia falado comigo que não se importava com o passado de Chris, mas, ainda
assim, é muito estranho.
Paro de pensar nos dois e levo todo o meu pensamento para Carlos, que em poucas horas
deixará de ser meu noivo para se tornar meu marido.
Coloco o copo na bancada sorrindo animado e apalpo o bolso sentindo a caixa das
alianças.
— Vamos, está na hora!
*
Carlos
Olho para o relógio e já passa um pouco das seis horas, em menos de uma hora irei me
casar com o homem que tanto amo.
Olho no espelho, Regina sorri e Lucas está mais alegre que nunca.
— Viado, você está de arrasar! — diz Lucas com seu jeitinho especial. — Caio vai babar,
não disse por onde! Mas ele vai e muito!
Me admiro no espelho. Meu cabelo, que já está natural outra vez, está solto, na altura dos
ombros, o terno escolhido, preto com detalhes de seda, combina perfeitamente com meu corpo,
foi feito especialmente para mim. Os sapatos são um caso à parte, decidi usar meu All Star
surrado, o que ficou bem interessante. A gravata é de um azul-escuro, assim como a minha
camisa.
Sorrio para meu reflexo e começo a imaginar se Caio já está pronto. Logo estaremos
unidos pelo resto de nossas vidas, como um casal, como uma pessoa só.
A emoção vai crescendo em meu peito com as várias lembranças de tudo que passamos
até aqui.
A primeira vez que o encontrei, o sotaque londrino forte, com uma voz grossa, sensual e
irritadiça, dizendo que havia o roubado. O momento em que tentava se aproximar e eu me
afastando para a porta, com medo do que poderia fazer. Nossa primeira noite juntos. O Natal, o
Ano Novo em que ele estava perturbado por conta do pai. O jantar que me levou para conhecer
seus sócios. A primeira vez em que se entregou para mim de corpo e alma, pedindo por mais,
deixando o desejo, amor e a luxúria invadirem todo o seu corpo. Os beijos quentes que sempre
demos, do nosso sexo maravilhoso e, depois, após assinado o contrato, descobrindo que Oliver
era seu pai. De quando terminamos e fiquei arrasado, recebendo notícias pelos jornais de que
Caio estava afastado de suas empresas por estar “doente”. O momento doloroso que dei as costas
para ele e sai correndo e quando ele foi atrás de mim e acabamos em um motel.
Dou risada, como as coisas passam rápido, não é mesmo?
Há um ano, jamais imaginaria que encontraria uma pessoa tão perfeita como meu futuro
marido e pensando nisso, lembro de quando fomos ao Ibirapuera, como nos divertimos, não
parecendo ser uma relação de dominador e submisso.
Olho mais uma vez para mim e volto para a realidade.
Está na hora de encontrar o meu noivo dominador e sermos somente um.
*
Caio
Na porta do salão de festas, fico admirado com o número de pessoas, a imprensa está em
peso, com suas câmeras fotográficas prontas nas mãos para conseguirem uma boa foto e
venderem aos interessados em mais uma fofoca.
Elijah me olha tentando me encorajar, tomo um fôlego e abro a porta do carro.
Flashes e mais flashes atingem meus olhos, tento ser gentil e sorrir para as câmeras, mas
não vejo a hora de estar dentro do salão e sentir a calmaria novamente.
Sigo pelo tapete vermelho com meu irmão e cunhado, sempre sorrindo e entramos no
salão, que está repleto de convidados.
Vejo alguns sócios meus e os cumprimento. Vejo Eduardo, o amigo de Carlos, e aceno
para ele, depois de toda aquela loucura que passamos e o enterro de Bruno, Eduardo decidiu
pedir desculpas para Carlos e então voltaram a amizade de antes. Mesmo assim, ele não me
desce muito, porém, não impediria Carlos de manter amizade com ele.
Ao longe, vejo seus amigos e familiares. Rafael, marido de Lucas, se aproxima e me
abraça, desejando felicidades.
Olho para todos os lados e logo vejo dona Marisa com Regina, Robertinho, Juliane,
Pedro, os gêmeos, que já estão grandinhos, e mais algumas pessoas. Meu irmão e Chris seguem
para lá e logo se posicionam em seus lugares.
O juiz, que realizará a cerimônia, vem até a mim e me cumprimenta, sorrindo a todo
instante.
— Parabéns, senhor Caio, fico muito contente em unir o senhor e Carlos.
— Obrigado — digo nervoso. — Onde ele está?
— Acalme-se, logo ele chegará.
Assinto e vou para meu lugar.
Uma música suave começa a tocar, o que me acalma um pouco.
O delegado Martins se aproxima, estendo a mão para ele e logo nos abraçamos.
— Obrigado por ter vindo, de coração.
— Relaxa, vai dar tudo certo, eu já passei por isso também! — Ri e coloca a mão em meu
ombro. — Realmente essa situação nos deixa muito nervosos, mas pode ter certeza que é a
melhor sensação que vai sentir em toda sua vida. Ter a pessoa que se ama ao nosso lado, não tem
preço.
Agradeço mais uma vez e ele se afasta, voltando para o seu lugar.
As luzes diminuem um pouco e engulo em seco, sentindo que o momento tão desejado,
finalmente, chegou.
— O NOIVO CHEGOU! — anuncia Lucas aos gritos.
Procuro Elijah com os olhos, mas ele não está por perto.
Onde estará?
Meu irmão já tinha feito isso, com ele aqui seria muito mais fácil.
Então eu o vejo, parece que tudo fica em câmera lenta e a música, “Unconditionally” da
Katy Perry, fica mais baixa.
Carlos está lindo como sempre, o sorriso em seu rosto mostra o quanto está feliz e ao seu
lado, o trazendo até a mim, está Elijah, rindo feito bobo.
Sinto minhas pernas fraquejarem e vontade de chorar, pensando em tudo que passamos
para estarmos aqui, juntos.
Vejo a cena de nós dois juntos, pela primeira vez, Carlos com medo. Lembro do dia em
que saímos para comer, somente ele, Robertinho e eu, como uma verdadeira família. Do dia em
que descobriu sobre os meus segredos e, mesmo assim, me abraçou, dizendo que me amava. Da
vez em que fomos para casa e lá contei um pouco sobre minha vida. Carlos ficou tão perturbado
naquele dia e, apesar de tudo, me acolheu e me perdoou.
Penso no perdão, foram tantos para chegarmos até aqui.
Carlos Alberto tinha tudo para não me amar e nem me perdoar, entretanto, foi capaz de
fazê-lo.
Sinto lágrimas descerem pelo meu rosto.
Penso no túmulo do meu pai, na morte do meu tio é até mesmo na de Carlos.
As lembranças cada segundo que passa estão mais fortes e quando dou por mim, Carlos
Alberto já está bem na minha frente, sorrindo e secando minhas lágrimas.
— Eu te amo tanto! — digo assim que meu olhar foca e o vejo. — Obrigado por tudo, por
cada momento ao meu lado, você é a parte mais importante da minha vida.
Ele sorri e me beija.
— Agora seremos somente um. Agradeço tanto por não ter desistido de você, de mim, de
nós... Ter você ao meu lado, te perdoar e seguir em frente foram as melhores decisões que tomei.
Aceitar esse amor foi a melhor decisão, obrigado.
Ele me abraça e Elijah rapidamente nos separa.
— Ei, acalmem-se, ainda nem se casaram!
Damos risada e meu irmão coloca a mão de Carlos sobre a minha.
— Está entregue, irmão. Quando Carlos pediu para entrar com ele, nunca me senti tão
honrado. Ver vocês dois felizes, me torna feliz também, agora vai com tudo e se casem logo!
O abraço agradecido e Elijah volta para o seu lugar.
Ainda segurando a mão de Carlos, nos viramos para o juiz e ele nos observa.
— Podemos ver aqui duas pessoas que se amam de corpo e alma e esse é o mandamento
mais importante de uma união, o amor, o respeito e a reciprocidade...
*
Carlos
—... Além disso tudo, temos também coisas ruins. Calma, não fiquem espantados!
Casamento não é só alegria não, acreditem, se for, é um casamento de mentira. E no fundo,
nenhum dos dois é feliz. Todo casamento tem suas crises, suas brigas, mas sabe o que é melhor
nisso tudo? É que no final os dois acabam ficando de bem, e aquela discussão boba deixa de
existir.
“Todo casal que uno dou o seguinte conselho, sejam felizes, muito, sempre que puderem;
façam viagens, durmam agarradinhos e façam um sexo selvagem. Isso mesmo, por que não?”
“Casal não tem que viver só de mesmice não, sempre tem que inovar. Isso tudo sabe para
quê?!”
“Para não virar rotina e acabar dando em divórcio. E hoje, diante de todas essas
testemunhas, apenas desejo para vocês amor, paz e saúde. O resto os dois vão atrás para
conquistarem, caminhando sempre de mãos dadas, vocês encontrarão o melhor, juntos.”
Depois das palavras do juiz de paz, olho para Caio com os olhos marejados e uma música
que faz muito sentido em nossas vidas, começa a tocar.
“Til it happens to you” da Lady Gaga toca baixinho, nos levando a lembranças que antes
eram perturbadoras e que agora são somente algo que nos tornou fortes.
— Se alguém for contra essa união, diga agora ou...
— Eu sou!
Escuto minha mãe dizer.
Todos se viram e a observam espantados.
— Quero dizer, claro que não sou contra, Caio sabe que o amo desde o momento que o vi
pela primeira vez. Só que não posso deixar vocês se casarem antes de dizer algumas palavras.
Vejo minha mãe se aproximar.
— Quando tinha a idade de Carlos, estava me casando e isso porque estava grávida.
Quando fazemos algo que não é de nossa vontade, dá muito errado, mas apesar disso, tenho
momentos bons para recordar. Até hoje lembro de Carlos dizendo a primeira palavra, e adivinha
qual foi? Bem, mamãe e papai que não foram! Parecia que ele se recusava a dizer isso.
Todos dão risada de suas palavras, esperando que ela continue.
“A primeira palavra que Carlos disse foi ‘amor’, isso mesmo, amor. Ele ouvia muito eu
dizer isso para o seu pai e deu no que deu. Quando ele disse pela primeira vez, estava no sofá,
chorando por causa de um marido imprestável que nos deixava passar necessidades.”
“Foi Carlos que me deixou forte ao ouvi-lo dizer uma palavra tão simples. Naquele
momento vi que ele teria muito amor na sua vida e vendo Caio ao lado dele, vejo que estava
certa.”
“Então, antes que se tornem um, desejo a vocês todo o amor do mundo e que tudo que há
de bom nesse mundo, reine sobre vocês.”
Ela nos abraça.
— Obrigado, dona Marisa, de coração e não se preocupa, irei cuidar muito bem do seu
filho e da sua família. Sempre estarei aqui, para o que precisar.
— O tornando feliz, já é o suficiente, meu filho — diz abraçando Caio. — Sejam felizes.
Ela volta para o seu lugar e o juiz pergunta:
— Estão prontos?
— Sim! — respondemos em uníssono.
— Carlos Alberto, você aceita se casar com Caio Brown, se tornando a partir da
aceitação, uma só pessoa?
— Aceito! — respondo alegre.
— Caio Brown, você aceita de livre e espontânea vontade, se casar com Carlos Alberto e
assim se tornarem um só?
— Aceito! — responde sem desviar o olhar do meu.
— Então, sendo assim, eu os declaro casados, que toda a felicidade do mundo os cubra
para o resto de suas vidas. Podem trocar as alianças e selarem com um beijo.
Caio pega de dentro do seu bolso uma caixinha pequena e de dentro tira um par de
alianças de ouro branco. Pega na minha mão e a coloca devagar, depositando um beijo. Pego a
outra e coloco em seu dedo, também o beijando. Caio me olha e toca seus lábios nos meus.
O primeiro beijo de casados.
Um arrepio percorre minha nuca e todos nos aplaudem, nos desejando felicidades.
“Bound to you” de Christina Aguilera toca alto, olho para o meu marido e o abraço.
— Eu te amo, para todo o sempre eu irei te amar. Obrigado por ser a melhor parte de
mim, por ser esse homem tão maravilhoso que você é.
— Eu também te amo muito e agradeço por nunca ter desistido de mim. Prometo cuidar
de você para o resto da minha vida.
Voltamos a nos beijar e sorrimos, chorando de felicidade.
Estamos juntos!
Finalmente conseguimos enfrentar todos nossos desafios e ficaremos juntos para sempre.
Saímos do salão e seguimos para festa, sempre de mãos dadas.
Sei que a felicidade só está começando para nós e ainda há muito por vir.
Capítulo 90 — O Perdão
Olho para o Sol londrino e sinto meu corpo inteiro se arrepiar, ao meu lado está Caio,
meu marido, que olha atentamente para o céu a nossa frente. Sua respiração está acelerada, a
têmpora pulsando. Seguro sua mão, como um sinal de que estou aqui para ajudá-lo, e saímos do
avião.
Depois de muito tempo procrastinando, decidimos fazer a viagem até Londres à procura
de Robert. Caio sabe onde encontrá-lo, afinal, pesquisou bem antes de virmos para cá, mas sei
que agora próximo do tão desejado perdão, sente medo e angustia ao recordar de tudo que havia
acontecido.
— Não me deixe desistir, Carlos — pede e me olha com seus olhos azuis que brilham, a
barba bem alinhada, o cabelo ruivo esvoaçando.
— Você não vai desistir, amor — digo com um sorriso. — Faremos isso juntos, lembra?
Ele apenas assente, voltando a ficar imerso em seus pensamentos, então um homem se
aproxima e pega nossas bagagens. Ele fala na sua língua nativa e não entendo nada, então, pela
primeira vez vejo Caio respondê-lo no mesmo idioma.
Fico maravilhado ao ver como seu sotaque é maravilhoso e sorrio, com meu marido me
observando.
— Vamos? O carro já está pronto, nos levará à casa.
— Tem certeza que quer ir até lá? — pergunto segurando sua mão ainda mais firme.
Meu marido apenas suspira e dá de ombros.
— Temos que enfrentar os nossos medos, não temos? — questiona e assinto, seguindo
com ele para dentro do carro.
— O que você acha de encontrarmos Luke mais tarde? — pergunto e ele estreita as
sobrancelhas. — O que foi? Sei que ele mora em Londres.
Caio me observa e sorri assentindo.
— Tudo bem, mais tarde vou ligar para ele.
Concordo e logo já estamos seguindo pelas ruas de Londres. Meu coração acelera ao ver a
beleza do lugar, nunca na minha vida imaginaria que um dia estaria aqui, lembro, há muito
tempo atrás, de uma conversa que tive com Elijah, meu cunhado, onde disse a ele que queria
conhecer esses lugares. E aqui estou, em Londres.
Sorrio olhando para o lado de fora e sinto a mão de Caio em volta da minha, volto meu
olhar para ele e suspiro, pensando o quanto meu marido é lindo.
Nosso último ano foi bastante intenso, com tudo que havia acontecido, ainda éramos
atingidos com os acontecimentos. Não superei a morte de Bruno, e depois que Regina decidiu
morar no seu cantinho com Bruninho, tudo piorou.
Decido não pensar sobre isso e quando vejo, o carro entra silenciosamente por um portão
ladeado. Vejo a estrutura da casa, toda feita de pedra, bem cuidada, pelo menos por fora.
A casa em que Caio viveu todos os seus pesadelos.
Aperto sua mão e ele sorri. Vejo em seus olhos que está com medo e receoso, mas não
posso permitir que ele desista. Ele quer fazer isso e farei com ele.
Logo o motorista para o carro e abre a porta para nós. Saio com meu marido e o homem
carrega nossas malas, entregando a uma empregada, que recebe na porta e segue para dentro.
— Foi aqui — sussurra Caio. — Foi aqui onde passei os meus piores pesadelos.
Quero abraçá-lo para confortá-lo, mas apenas o escuto.
— Foi onde perdi mamãe, onde Oliver... Nessa casa que ele fez tudo.
Ele engole em seco e me aproximo do seu corpo, o alinhando em mim.
— Se não quiser ficar aqui, podemos ir para um hotel...
— Não, tudo bem, já passou, vamos.
Caio segue para dentro me puxando pela mão e seguro a respiração ao passar pela porta.
Estar no local onde meu marido nasceu e cresceu, me traz conforto, porém, ao recordar que
Oliver conviveu com ele aqui, que o machucou, o desconforto toma conta de mim.
A casa está limpa, acredito que em algum momento Caio pediu para que limpassem,
fiquei sabendo, por ele, que nunca se desfez da casa e mandou que ela fosse cuidada, para que
nada fosse danificado.
Olho ao redor e vejo diversos quadros por todos os lados, meu marido também observa e
seu semblante é um misto de emoções. Das mais diversas, que não consigo decifrar.
— Está tudo bem? — pergunto e ele assente suspirando.
— Vou ligar para Luke, ver se ele está disponível para vir nos visitar.
Percebo que ele muda de assunto e logo se afasta pegando o celular.
Decido dar espaço a ele e continuo apenas observando o local, pensando o quanto deve
ser doloroso para ele estar aqui. Reflito, andando pelos corredores, sobre a infância de Caio.
Será que em algum momento havia sido boa a ponto dele deixar toda essa dor de lado?
Passo os dedos pelos quadros, pelas paredes, vasos, e chego em uma sala, vendo um
enorme quadro de Oliver, Caio e sua mãe. O sorriso do meu marido é visível, assim como de
seus pais.
No quadro, que é um retrato gigante da família Brown, consigo notar que parecem felizes
e normais, o que me deixa triste pelo meu marido.
Me aproximo e vejo sobre um aparador, fotos de Caio bebê, abraçado a mãe, ao pai,
brincando, indo para o colégio com o uniforme e até mesmo pescando. Ele nunca havia me
falado sobre isso, acredito que seja porque quer esquecer até mesmo os momentos bons, já que
Oliver fez parte deles.
Meu marido diz que tenta perdoar seu pai, mas duvido, já que, no último ano, ele
simplesmente se fechou para algumas coisas no sexo, até mesmo o seu lado dominador foi
deixado de lado.
— Ele me atendeu — diz aparecendo na sala, me tirando dos meus pensamentos. — Disse
que vem para cá mais tarde.
Assinto e me aproximo dele, beijando seus lábios suavemente.
— O que você quer fazer enquanto isso?
— Chamei Robert para vir aqui — diz e seu semblante muda novamente.
— E ele vem?
— Espero que sim, ele não me deu uma resposta.
Assinto e seguimos para o sofá, nos sentando.
Me sinto cansado da viagem, mas sei que para Caio é importante resolver isso logo,
afinal, a viagem foi feita exclusivamente para isso.
Enquanto não temos notícias de Robert, coloco uma música para tocar e preparo duas
doses de uísque para a gente, que ele bebe em silêncio, apenas me contemplando dançar de
maneira desengonçada.
Caio ri com meus passos desajeitados e uma hora mais tarde, sua empregada aparece,
dizendo algo que eu não entendo.
Logo meu marido levanta e me encara.
— Ele veio — diz.
Fico surpreso e desligo o som, então um homem aparece na sala e o analiso bem.
Robert é muito bonito, isso não posso negar, seu cabelo é escuro, o rosto quadrado,
magro, com o olhar sério. Seus olhos são verdes e se veste muito bem; usa calça jeans, sapatos e
camiseta polo, com um lenço em seu pescoço.
— Robert — diz Caio
Percebo que sua respiração acelera cada vez mais e o homem se aproxima.
Fico parado, apenas olhando os dois frente a frente e suspiro, torcendo para que Caio
consiga o que tanto almeja.
“Vai dar tudo certo.”
*
Caio
— Robert — digo, minha respiração fica pesada, cada vez mais acelerada, então o vejo se
aproximar.
Fico frente a frente com ele e tento me acalmar, é como se somente nós dois estivéssemos
aqui. Ele continua igual, com o mesmo jeito delicado de ser.
— Oi, Caio — diz com a voz suave. — Estou surpreso de ter me chamado para vir aqui,
depois de tudo, ainda mais nessa casa.
Penso sobre isso e assinto.
— Eu precisava falar com você — começo a falar e ele assente.
— Vi os jornais, fiquei sabendo sobre tudo o que aconteceu, não posso dizer que sinto
muito pela morte dele, na verdade, saber isso para mim é um alívio.
Ficamos em um silêncio angustiante e apenas concordo. Oliver havia feito mal para
muitas pessoas.
— Por que você nunca me contou? Por que nunca disse que seu pai fez o mesmo com
você?
Abaixo a cabeça, querendo chorar.
Quando você é abusado sexualmente, você simplesmente não consegue falar abertamente
com ninguém a respeito disso. Passa na sua cabeça o motivo de você ter deixado isso acontecer,
porque sim, você se culpa. Você se sente sujo, impotente, entre diversas coisas.
Mas o medo de falar é pior, porque não sabemos como as pessoas podem reagir diante
disso.
E se te culparem?
Quantas vítimas espalhadas pelo mundo foram culpadas do que aconteceram com elas?
Milhares...
Milhões.
— Não sabia como dizer isso — começo a falar e ele cruza os braços.
— Imagino que tenha sido muito difícil para você — comenta e volto a assentir.
— Robert, eu quero te pedir perdão por tudo, não tenho orgulho de nada disso, sinto
muito, de coração.
— Imagino que você saiba a dor que eu senti naquele momento, não é? Li nos jornais o
que seu pai fez com você, o sequestro, estupro...
Ele para de falar e anda de um lado para o outro.
Percebo, nesse instante, que Carlos nos deixou sozinhos, para termos mais privacidade.
— Sabe, Caio, durante anos eu quis ver seu pai e você atrás das grades, mas quando soube
o que ele havia feito com você, percebi que somos duas vítimas do mesmo homem, assim como
seu marido, não é? Eu li sobre ele, três pessoas com algo em comum; estuprados por Oliver
Estevam Brown. — Novamente faz uma pausa e suspira.
— Quando vi que seu pai estava morto, me senti aliviado, vingado, e acima de tudo,
compreendi o que havia acontecido.
“Não estou dizendo que você foi a pessoa mais correta do mundo, mas se não tivesse sido
naquele momento, seria em outro, por diversas vezes peguei Oliver me observando, era questão
de tempo isso acontecer.
“Ainda é muito difícil para mim pensar que você quase fez isso comigo, mas no fim, você
desistiu.
“Sendo sincero, eu teria me entregado para você de corpo de alma, se tivesse me pedido,
porque por muito tempo fui apaixonado por você, mas depois de tudo o que aconteceu, fui
embora e encontrei outra pessoa, que me faz bem e me completa.”
“Sei que não é fácil lidarmos com os nossos traumas, mas reconheço que fomos vítimas,
pensei o mesmo que você. ‘E se eu abusar de outra pessoa, será que essa dor, essa culpa, esse
medo deixarão de existir?’, mas fui covarde, ou corajoso, eu não sei, e não fiz isso, assim como
você não fez. Então, se para você é necessário isso, eu te perdoo, de todo meu coração.”
Termino de escutar o que Robert diz e fico surpreso ao saber que em algum momento ele
foi apaixonado por mim, mas além disso, estou realizado ao saber que ele me perdoa.
Corro em sua direção e o abraço, de começo, ele não faz nada, mas logo em seguida me
aperta contra o seu corpo e sorrimos um para o outro.
— Ele te faz feliz?
— Meu marido?
— Sim, ele te faz feliz? Ajuda a esquecer seus medos e traumas?
Penso sobre isso e assinto.
— Ele me transformou, se hoje sou uma boa pessoa, é graças a Carlos.
Robert assente e sorri.
— Fico feliz em saber que você está bem... Que nós estamos bem.
Volto a abraçá-lo e não demora, Carlos aparece com o sorriso no rosto.
— Deixe-me apresentá-lo meu marido — digo a Robert. — Este é Carlos, o homem que
mudou toda a minha vida.
Robert o abraça e arrisca falar um pouco português, mas falha e acabo sendo o tradutor
dos dois.
Rimos e bebemos um pouco, quando já está ficando tarde, Robert levanta e me encara.
— Vou indo nessa, ainda tenho muito o que fazer.
— Vi que você se tornou empresário — comento e ele assente. — Se um dia quiser um
sócio, me procure.
— Pode deixar, espero que vocês sejam felizes do fundo do meu coração, aqui, nesta casa,
colocamos uma pedra em cima de tudo que passamos.
Nos despedimos e Robert sorri uma última vez, indo embora.
Abraço Carlos e beijo o alto de sua cabeça, feliz com isso, sentindo todo o peso da culpa
que carreguei por anos, se dissipar do meu corpo.
— Como se sente? — pergunta meu marido e sorrio.
— O homem mais feliz do mundo, acho que não posso desejar mais nada.
Carlos assente e sorri.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Fique à vontade.
— Você já pensou em ser pai?
Ouço sua pergunta e ergo a sobrancelha, pensando a respeito disso.
Não recordo de em algum momento querer ser pai, com a figura masculina que havia tido
na minha infância, o medo de ser igual a Oliver sempre me rondou.
— Nunca pensei sobre isso, mas qual o motivo da pergunta? Você quer ser pai?
Ele pensa sobre isso e dá de ombros.
— Quem sabe um dia...
Concordo e devoro sua boca, o abraçando, então ouço meu celular tocar e vejo que é uma
mensagem de Luke, dizendo que ele, Gale e Alice, estão chegando, prontos para nos ver.
Os recebo com Carlos maravilhado em ver como a vida do meu amigo mudou e sorrio,
desejando que ele enfim possa contar a sua história para o mundo, assim como eu pude.
Epílogo - Viagem
24 de dezembro de 2017
Decidimos marcar uma sessão com William Borges depois do nosso aniversário de
casamento. Como muita coisa havia acontecido no último ano, não conseguimos voltar ao
consultório de Will.
Ligo para ele e aguardo. A manhã está ensolarada e apesar de ser véspera de Natal, não
aguento esperar para falar com ele. Segundos depois, ouço sua voz no telefone:
— Carlos, que surpresa me ligar essa hora da manhã. O que manda?
Olho para Caio sentado na cama, mexendo na sua barba e sorrio.
— Você deve saber que Caio e eu nos casamos certo?
— Fiquei sabendo, aliás, já faz um ano, correto? Parabéns, desejo toda felicidade para
vocês.
Respiro fundo e respondo.
— Depois de todos os acontecimentos passados, Caio e eu gostaríamos de ter uma sessão
com você, se não for muito incômodo. Já adianto que temos muito a falar.
Ele dá risada.
— Tudo bem, não se preocupem com isso, encontro vocês...
— Hoje, pode ser? Sei que é véspera de Natal e hoje é domingo, mas... — Engulo em
seco nervoso e continuo. — Estamos ansiosos.
Ele fica mudo no telefone e depois de alguns segundos, concorda, confirmando para as
quatorze horas.
— Encontro vocês em breve, até mais.
Desligo o telefone e olho para o meu marido.
Marido...
Já faz um ano que estamos casados e, mesmo assim, ainda não consigo acreditar que
somos somente um.
Sento ao lado de Caio, jogo seu cabelo para trás e dou um beijo rápido em seu pescoço.
— Como se sente?
Caio está bem, tenho que admitir, mas após nosso casamento ele se fechou
completamente a respeito de sexo. Desde o acontecido, ele não foi uma única vez passivo
comigo, nem mesmo na nossa lua de mel que passamos em Londres.
— Estou bem, vida — diz sorrindo. — Já faz mais de um ano que aconteceu... Você deve
imaginar que os pesadelos...
— Eles voltaram, eu sei. — Seguro forte a sua mão. — Você não precisa fazer nada que
não queira, sabe que eu te amo.
— Sim, eu sei. — Olha para mim e abre um sorriso.
Seu sorriso é tão perfeito!
Levanto, o puxo pela mão e descemos para a sala onde mamãe e Robertinho estão
colocando os presentes debaixo da árvore de Natal.
Caio segue para a cozinha, logo volta com uma garrafa com água, bebe e eu fico
observando sua beleza...
Ele é tão lindo!
Seu corpo está bem mais malhado do que quando o conheci, seu cabelo ruivo, está maior;
preso para trás. A barba, como sempre, está perfeitamente alinhada.
A calça moletom, marca bastante seu pau, o que me deixa louco. Sua bunda também está
marcada e penso como sinto falta dela. Seus braços fortes marcam sua camiseta e me imagino
beijando cada parte dele.
Saio dos meus pensamentos impróprios e vejo Regina entrando com Bruninho que vem
andando, a passos largos, em minha direção. Ele parece muito com o pai.
Dou um sorriso e o pego no colo enchendo de beijos.
— Regina, que surpresa! — Me aproximo dela e dou um beijo em seu rosto.
— Quanto tempo, estava morrendo de saudade! — diz me abraçando. — Dona Marisa me
ligou avisando que você e Caio haviam chegado de Paris, que chique você, hein?!
— Não sou chique, Caio que gosta de viajar muito.
— Ele? Tem certeza? — pergunta mamãe rindo enquanto coloca a estrela na ponta da
árvore que havia caído. — Quem decidiu fazer essa viagem foi você!
— Está corretíssima, mamãe — diz Caio a abraçando, agora ele só a chama assim;
mamãe.
Sorrio e reviro os olhos.
— Complô contra o Carlinhos — diz Robertinho pegando Bruno e indo para fora brincar.
Damos risada e Regina senta, seu cabelo está curto e a cor escura brilha. Ela usa um
vestido cinza, curto, que destaca suas curvas perfeitas.
— Como andam as coisas? — pergunto a ela.
Regina continua em São Paulo, só que agora em um apartamento só dela e de Bruno.
Continuamos a ajudando nas despesas, apesar dela dizer que não precisa.
— Estão bem. O trabalho continua uma loucura, você e Caio longe me deixam doida!
Mas Elijah e Christopher trabalham muito bem, a propósito, as empresas voltaram com tudo,
novos sócios, antigos voltando...
— Ninguém consegue viver sem Caio Brown por muito tempo — diz meu marido.
Jogo uma almofada nele e damos risada.
— Um pouco convencido esse seu marido, não acha? — pergunta minha mãe rindo.
— Quase nada — respondo.
Mamãe dá risada e vai para seu quarto.
— E vocês? Me diz, como estão? — pergunta Regina.
Olho para Caio e vejo a intensidade em seus olhos.
— Estamos bem, superando... — consigo dizer.
Ela assente e suspira.
— Eu imagino como estejam, mas, Caio, você precisa reagir, isso só depende de você.
Caio senta ao meu lado, sério.
— Carlos é maravilhoso, mas ainda tenho receio, foi por isso que voltamos de viagem,
decidimos visitar Will.
— Eu não queria falar nada, mas adivinhem quem está vindo para cá?
Ouço a campainha tocar várias vezes seguidas e me levanto, já sabendo quem está à porta.
Digo à Maria que não precisa atender e abro.
— Pensei que nunca mais voltaria! — Dramatiza Lucas tirando os óculos de sol.
Ele está muito gay, usa chapéu preto, calça jeans apertada, sapatos marrons e camiseta
que mais falta pedaços do que tem pano.
Abraço meu amigo, feliz por vê-lo.
Rafael continua do mesmo jeito, a única coisa que mudou nele é a aliança, que agora é de
ouro.
O casamento de Lucas foi bem inesperado, na verdade, ele se casou antes de mim, só que
em segredo. Ele simplesmente disse que estava cansado de ser só namorado de Rafael e fez o
marido pedi-lo em casamento, até ameaçou terminar com Rafael se eles não se casassem.
Seguimos todos para o sofá e logo estamos sendo servidos de bebidas refrescantes.
Lucas cruza as pernas e um sorriso enorme se forma em seu rosto.
— Então, Carlos, o que anda fazendo, além de dar essa bundinha sexy? Está grande, hein!
Continue malhando!
Gargalhamos e dou de ombros.
— Viajando muito, Caio e eu estamos pensando em fazer outra viagem.
— Lucas e eu também — comenta Rafael.
— Sério isso? — questiona Regina. — Entrei de férias essa semana no trabalho, estava
pensando em fazer a mesma coisa com Bruno. Vai ser bom tanto para mim, quanto para ele.
A porta de casa mais uma vez abre e Elijah e Chris entram, os abraço rapidamente e logo
os dois já estão sentados, bebendo com a gente.
— Onde está dona Marisa? — pergunta Chris.
— No quarto, estudando como sempre, mesmo de férias, ela não para — respondo.
— Não me fale essa palavra — diz Elijah. — Ainda bem que a empresa entrou em
recesso, não aguentava mais. Caio, como consegue lidar com tanta coisa?
Meu marido dá de ombros e ri.
— Com o tempo a gente se acostuma, você vai ver, logo também estará acostumado.
— Mas antes dele se acostumar, vamos viajar — diz Chris.
— Vocês também? Que coincidência! Estávamos falando agora mesmo que todos nós
vamos viajar — digo.
— Legal! Podíamos viajar juntos — sugere Elijah.
— Não seria uma má ideia — responde Caio. — Nunca viajei com meu irmão, seria
bom...
— Sério isso? — pergunta Elijah já empolgado.
— Sim, por que não? — responde Caio. — Seria bacana irmos para algum lugar juntos.
— Eu super topo, Caio, desde que arque com todas as despesas... — brinca Chris
erguendo a mão.
— Eu também! — respondo, batendo na mão de Chris.
— Eu ajudo! — diz Rafael. — Quero dizer, se também formos convidados.
— Mas é claro que seremos! — diz Lucas. — Coitado do Carlos se ele não nos chamar.
Damos risadas.
— Tudo bem, vamos todos juntos, inclusive você, Regina, o que acha?
— Para mim está perfeito! — responde sorrindo. — Vamos para onde?
— Vamos para a praia — responde dona Marisa descendo a escada.
Todos a olhamos e erguemos as sobrancelhas.
— Praia? — questiono.
— Sim, por que não? Acha que só tem que fazer viagens caras e para fora do Brasil? —
diz mamãe.
— Nossa, não é isso, é que... Tudo bem, vocês decidem, Caio? — digo.
— O que acha de conhecer as praias do Brasil, maninho?
— Super topo! — responde Elijah, batendo na mão de Caio.
Lucas revira os olhos e dá de ombros.
— Tudo bem, vamos para a praia, acho que vai ser divertido.
Todos concordam animados e olho o relógio; já está na hora de Caio e eu irmos até
William Borges.
— Precisamos sair, mas voltamos logo — avisa Caio levantando. — Bem, nos vemos
mais tarde, vamos viajar ainda hoje.
— Mas e a ceia? Está quase pronta! — diz mamãe.
— Podemos levar tudo, não sei — sugere Caio — O que a senhora acha?
Mamãe pensa um pouco e dá de ombros.
— Por mim tudo bem, vou pedir para Maria colocar a comida em travessas, logo que
terminar, já coloco no carro.
Todos concordaram.
Saímos de casa nos despedindo dos outros e entramos no carro de Caio. Meu marido
dirige tranquilamente enquanto uma música alegre toca na rádio baixinha.
Observo Caio dirigindo e penso sobre a sessão que teremos com Will.
Será que meu marido conseguirá, após essa conversa, se abrir novamente para mim?
Fico pensando nisso e tento imaginar a cena, realmente seria muito bom para ambos se ele
conseguisse, mas eu esperarei o tempo de Caio. O maior passo já havíamos dado e estamos a
caminho do consultório.
Pensando nisso, aumento o som e fico ouvindo a música com Caio, até chegarmos no
consultório.
*
Entramos no consultório de Will e ele nos recebe com um sorriso gentil em seu rosto,
logo seguimos para sua sala e ele senta. Caio e eu sentamos nas cadeiras de frente para ele.
— Olá, rapazes, é muito bom ver vocês aqui hoje — diz Will sorrindo. — Carlos, está
diferente, muito mais bonito, com todo respeito, Caio.
— Tudo bem, fica tranquilo. O ciúme está sendo controlado também.
Os dois riem e reviro os olhos.
— Quando os dois bonitões pararem de brincar, me avisem que assim começamos a
sessão.
Novamente vejo os dois dando risada.
— Chega de brincadeiras, vamos trabalhar — avisa Will assim que Caio senta ao meu
lado. — Quem quer começar a falar?
Começo a falar; conto tudo o que havíamos passado. Da morte de Bruno e Oliver, até o
nascimento do filho do meu amigo. Conto sobre nosso casamento e que foi lindo; sobre como
meu irmão, que estava doente, parecia bem; minha família, que havia nos traído e agora estavam
atrás das grades, o verdadeiro lugar deles. Falo, com a permissão de Caio, sobre a nossa viagem
para Londres e o reencontro com Robert.
Will ouve atentamente, sem ao menos piscar, conto também que comecei a estudar
psicologia e não tive mais pesadelos.
Minha vida realmente está muito tranquila, mas temos um único problema. Caio está
completamente travado.
Continuávamos fazendo sexo como sempre fizemos, só que agora ele parecia muito
menos “selvagem” e não conseguia permitir que o tocasse como antes.
Caio conta sobre os pesadelos que haviam voltado, que mesmo estando livre, esquecido
Oliver e decidido seguir em frente, simplesmente não conseguia. Algo o travava completamente
no quesito “se entregar”.
— Caramba, vocês ficam um ano sem vir até aqui e quando aparece trazem várias
notícias! — diz Will, quando meu marido para de falar.
— Não vou mentir, foi justamente por isso que o procuramos — digo sem graça.
Will assente e empurra seus óculos para trás, tirando-os da ponta do seu nariz.
— Carlos, fico imensamente feliz que tenha progredido tanto na sua vida, seguir em frente
e fazer coisas novas, ajuda muito. E foi o que você fez, mesmo sofrendo pela morte do amigo,
não permitiu se aprofundar na tristeza.
Fico contente em ouvir isso e é a mais pura verdade, mesmo passando por tantas coisas,
decidi que o melhor era simplesmente ser feliz.
— Agora, Caio... Bem... É natural que você esteja desse jeito, você passou por muitas
coisas. Sequestro, a perda do amigo, morte do pai, estupro novamente... São coisas que deixam a
mente de uma pessoa sã, completamente confusa, mas, mesmo assim, você também deu passos.
Casou, está feliz, pelo que vejo, tem trabalhado menos, curtindo mais momentos simples da vida.
Esquecer um trauma não é e nunca será fácil, ainda mais quando aparece mais um, mas só
depende de você seguir em frente.
— Como assim? — pergunta Caio ouvindo atentamente.
— O que eu quero dizer... — Will olha para mim e depois para o meu marido — Bem,
você tem que entender que Carlos não é seu pai e se permitir. Só quem conseguirá tirar esse
pesadelo de você, é você mesmo, entende?
Caio assente, pega minha mão e dá um leve aperto.
— Você tem razão — meu marido diz. — Eu vou tentar, não prometo conseguir, mas
farei de tudo para tentar.
Olho para ele e sorrio, isso já é um grande passo.
Will nos olha sorrindo e dá de ombros.
— Nossa sessão está finalizada.
*
Já estamos a caminho da praia, Caio dirige tranquilamente enquanto cantarolo a música
que toca no rádio. Olho para ele, sorrio e volto meu olhar para Elijah, que está no banco de trás
com Christopher.
Minha mãe, Regina, Bruno e Robertinho foram com Lucas e Rafael, insisti para meu
irmão vir comigo, mas ele não quis. Então, quando já é mais ou menos nove horas da noite,
estamos instalados na casa de praia.
Cada um segue para o seu quarto e vamos para o nosso, uma suíte grande, com uma
enorme cama de casal, closet e TV.
Jogo a mala no chão e Caio faz o mesmo. Deito na cama macia e meu marido vem para
perto de mim. Me aproximo um pouco mais e encosto meus lábios nos seus.
— Natal — diz sorrindo. — Achei que essa seria uma data bacana para todos nós, mas
depois da sessão de hoje...
— Você foi muito bem, amor, e muito corajoso também. Só de pensar em tentar, já é um
grande passo, não vamos estragar nosso Natal, pelo contrário, vamos seguir com ele do jeito que
planejamos. Aliás, você percebeu que esse será o nosso quarto Natal juntos?
— Hunrum — responde e me beija com seus lábios macios.
Caio passa a mão atrás da minha cabeça, me mantendo preso à sua boca. Beijo meu
marido e mordisco seus lábios enquanto ele geme baixinho e sorri.
— Vou tomar banho, nos vemos daqui a pouco — avisa.
Ergo a sobrancelha e franzo a testa.
— Não vai me chamar para tomar banho com você?
Ele finge que está pensando e nega com a cabeça.
— Hoje não, vamos nos preparar, mais tarde quero te levar à praia.
Dou de ombros e concordo.
Assim que ele vai para o banheiro, levanto e sigo para fora do quarto.
A casa de praia é totalmente diferente do que imaginava, as paredes são todas de madeira,
assim como o teto e o chão. O local é enorme, com uma sala de visitas, de jantar e de jogos. Vejo
Lucas e Rafael brincando na mesa de bilhar, sigo para a cozinha e vejo minha mãe junto com
Regina, já preparando a ceia. Elijah ajuda a tirar as comidas das travessas de vidro e colocar em
outras.
Olho cada um deles e sinto meus olhos marejados, só falta Bruno....
Já faz tanto tempo que ele partiu, mas não consigo deixar de me sentir triste,
principalmente em datas como essas que ele tanto adorava...
Paro de pensar em coisas tristes e sigo para fora da casa, o céu está estrelado e não muito
longe daqui vê a praia.
O mar está calmo e a praia vazia.
Olho para o céu e vejo que a lua está cheia. Fecho os olhos e desejo que nunca mais nos
aconteça nada de ruim, que só tenhamos alegrias e mais alegrias.
Ao abrir os olhos novamente, vejo uma estrela no céu brilhar mais do que as outras e
tenho certeza que de onde Bruno estiver, está cuidando de todos nós.
*
Mais tarde, após a ceia de Natal, que foi maravilhosa, Caio e eu seguimos sozinhos para a
praia.
Meus amigos e familiares decidiram ficar em casa, bebendo e ouvindo música.
Caio está com camisa preta aberta e calça de tecido mole. Descalço, assim como eu, e seu
cabelo está solto.
Venta muito do lado de fora e o calor toma conta do ambiente.
Ando com ele pela areia de mãos dadas, aproveitando cada segundo do momento
delicioso que estamos tendo.
— Acha que alguém vai vir aqui? — Caio pergunta.
— Acredito que não, mamãe e Regina já estão bêbadas, as crianças estão dormindo,
Rafael e Lucas no mínimo estão transando e Elijah e Chris, estavam jogando videogame.
Ele sorri, agora, de frente para mim.
— Eu nem acredito que estamos aqui, juntos. Já faz tanto tempo, passou muito rápido. —
Segura meu rosto e me arrepio todo com o seu toque. — Jamais imaginei que iríamos ficar
juntos, tínhamos tudo para dar errado, e ainda assim fizemos dar certo.
— O destino pode não ser controlado por nós, mas somos nós que decidimos como ele vai
seguir — respondo sorrindo. — Parece loucura, não? Três anos!
Ele segura minhas mãos, olha para minha aliança e depois para os meus olhos.
— O que Will disse hoje, fez total sentido para mim, somente eu mesmo posso fazer isso
parar de ser um trauma e transformar somente em uma lembrança. — Faz uma pausa e
prossegue. — Então decidi que a gente pode tentar agora, se quiser. Aqui, na areia, debaixo
dessa lua e céu estrelado.
Arregalo os olhos e vejo meu marido tirar devagar sua camisa, logo sua calça também está
no chão ficando apenas de cueca. Não penso muito, logo tiro minha roupa, me aproximo dele e
passo meus braços em torno do seu pescoço.
— Você tem certeza? Se não estiver preparado, irei entender.
— Tenho absoluta certeza, você já me fez esquecer uma vez, me faça esquecer
novamente.
Então, devagar, encosto meus lábios nos seus. O beijo é lento e parece até que é o nosso
primeiro. Logo minhas mãos começam a percorrer seu corpo maravilhoso, me deixando excitado
a cada toque. Meu pênis lateja dentro da cueca, assim como o de Caio. Beijo cada parte do seu
corpo e o deito na areia observando sua respiração um pouco acelerada enquanto nossas roupas
servem como lençol.
Tiro sua cueca lentamente e olho atentamente seu pênis enrijecido.
Penso no que Caio havia passado e decido que está mais do que na hora de superar o seu
trauma. Devagar, passo a língua na cabeça do seu pau, ele geme baixinho e continuo. Em seguida
preencho toda minha boca com seu sexo, de uma vez. Meu marido geme mais ainda, torcendo as
mãos de tanto prazer.
Chupo seu pau e logo desço para suas bolas, o deixando ainda mais louco, então subo
para seu peitoral, o enchendo de beijos calorosos. Caio geme de prazer, enlouquecendo mais a
cada segundo.
Delicadamente viro seu corpo e olhando dentro dos seus olhos, declaro:
— Vai ficar tudo bem, confia em mim.
Ele assente e engole em seco.
— E-eu confio — diz com a voz embargada. — Sei que você é diferente dele, me faça
esquecer novamente, por favor.
Concordo com a cabeça com o nó se formando na garganta. É doloroso demais ter que ver
meu marido implorar por isso. Desço enchendo suas costas de beijos, a cada segundo descendo
mais e mais. Assim que chego na sua bunda, a observo bem.
A cena é algo indescritível, o mar ruge, a lua brilha com as estrelas e a brisa bate em
nossa pele.
Continuo olhando sua bunda redonda, firme e devagar me aproximo. Com minhas mãos,
separo suas nádegas e encontro seu ânus, logo minha língua quente passeia por ele, deixando
Caio todo arrepiado e o fazendo gemer mais alto. Meu pau está mais duro que o normal, o que
me preocupa um pouco. Está chegando a hora e não quero machucar meu marido. Então, assim
que vejo seu sexo bem lubrificado, seguro meu pau e levo até ele. Caio está quieto e não esboça
nenhuma reação.
Encosto devagar e sinto sua pele quente, com delicadeza, vou encostando mais e mais,
entrando devagar. Meu marido geme baixinho, sentindo um pouco de desconforto e quando tento
tirar, ele me impede.
— Não tira, eu quero, continue...
Continuo aos poucos, logo estou dentro de Caio e minha pele queima de tanto tesão.
Como ele é quente e apertado.
Fico um tempo quieto, para que possa relaxar, começo com movimentos lentos e a cada
estocada aumento o ritmo. Caio pede sempre por mais, pedindo para que o faça esquecer tudo
que já tinha passado e lembrar somente dessa noite. Então, quando menos espero, ele já está
montado em mim, subindo e descendo no meu pau, segurando seu pênis grande e grosso que
pulsa em sua mão. Continuo metendo nele, agora ele apenas me recebe parado, enquanto estoco
meu pau dentro do seu cu.
O suor desce por nossa pele e observo o céu estrelado, a areia, a praia e sorrio.
Meto mais e mais, Caio sempre implorando para continuar e depois de um bom tempo,
gozamos juntos. Eu dentro dele e Caio no meu peito.
Devagar, meu marido sai de cima de mim e deita ao meu lado com a respiração ofegante.
— Isso foi maravilhoso! — diz sorrindo. — Você é maravilhoso!
Beijo seus lábios e o abraço, é gratificante fazer meu marido feliz e poder superar o
trauma.
— Você gostou mesmo? — questiono sério.
— Sim, gostei. — Ele me beija e depois deita com a cabeça no meu peito.
— Vamos ficar aqui? Quero ver o Sol raiar ao seu lado.
Caio concorda, coloca a cueca e me puxa pela mão.
— Vem.
Sigo Caio para dentro do mar e me arrepio todo quando a água gelada encosta na minha
pele.
Logo estamos os dois agarrados e nos beijando.
— Que sexo, hein?! — comenta rindo. — Percebeu que sempre fazemos sexo em algum
lugar diferente?
Rio e concordo.
— Parece que o dominador Caio Brown está voltando! — digo brincando.
Ele sorri e assente.
— Parece que Caio Brown está ficando sem traumas.
— Assim espero.
— Isso graças a você. — Caio me beija e me abraça forte. — Eu te amo, Carlos, obrigado
por tudo, obrigado.
— Eu também te amo, Caio, você sempre será o meu amor.
Continuamos dentro da água e dançamos agarrados, brincando feito duas crianças.
Estou feliz assim como Caio e ver que a cada dia superamos mais e mais nossos traumas,
me dá a certeza de que eu fiz a escolha certa ao ficar com ele.
Enfim, estamos em paz.
Fim...
Agradecimentos
Meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que sempre apoiaram meu sonho de ser
escritor, mesmo enfrentando diversas dificuldades com a profissão no Brasil, jamais desisti dos
meus sonhos, e isso é graças a algumas pessoas que carrego no peito com maior orgulho.
Gratidão a Kate Attis, Ivani Attis, Nubia Bispo, Leonardo Amaral, e diversas outras.
Vocês fizeram um simples sonho, virar realidade, não me deixando desistir e segurando na
minha mão para continuar nessa batalha.
Gostaria também de agradecer a Sil Zafia, amiga de anos luz, que acabou se tornando
minha autora favorita, obrigado por me ajudar tanto nessa longa caminhada, pelas dicas, e por
ajudar isso se tornar real. Você é uma verdadeira luz no fim do túnel.
Gratidão a todos os meus leitores que com as dificuldades pessoais, adquiriram o livro
para ajudar, em especial a Carlos Augusto Reis, por ser a paciência em pessoa e me apoiar na
carreira independente.
Isso tudo se torna cada vez real, por causa de vocês, obrigado de coração, eu os amo
muito.
Não poderia deixar de citar uma pessoa especial, que já não está mais entre nós, Wanessa
Morais. Ela foi tão guerreira, tão forte, mas infelizmente o câncer venceu, a tirando de nós.
Wanessinha, de onde estiver, obrigado pelo apoio e pelas palavras doces que sempre me
disse. Eu te amo aqui e até depois dessa vida.
Kevin Attis.
Playlist Carlos e Caio Brown
• Lost in Hollywood - System of a down
• Bad Romance (cover) - 30 seconds to Mars
• I was here - Beyoncé
• The Scientist - Coldplay
• If I lose myself – One Republic
• All I want (part 1) - Kodaline
• Latch (part 2) - Kodaline
• Take My Heart Back - Jennifer Love
• Buzzcut season - Lorde
• Try - Colbie Caillat
• Diamonds - Rihanna
• Toxic - Britney Spears
• Prayer in C (Robin Schulz Remix) - Lilly Wood & The Prick and Robin Schulz
• Chandelier - Sia
• Story Of My Life (cover) - Boyce Avenue
• Someone like you - Adele
• Falling fast - Avril Lavigne
• Umbrella - Rihanna
• Nothing else matters - Mettalica
• Say Something - A Great Big World, Christina Aguilera
• I won't give up - Jason Mraz
• Better in time - Leona Lewis
• Broken-Hearted Girl - Beyoncé
• The reason - Hoobastank
• We don't talk anymore - Charlie Puth, Selena Gomez
• Heartbreak story - The Wanted
• Dear love - Lauren Marsh
• Loved me back to life - Céline Dion
• Bound to you - “Burlesque” Christina Aguilera
• Unconditionally - Katy Perry
• A thousand years - Christina Perri
• Rise - Katy Perry
• Love the way you lie (Parte II) - Rihanna, Eminem
• Alive - Sia
• Ave Maria - Beyoncé
• Crazy in love - Sofia Karlberg
• Habits (Stay High) - Tove Lo
• Rebel heart - Madonna
• Work from home - Fifth Harmony, Ty Dolla $inn
• Body say - Demi Lovato
• Hello – Adele
• Praying – Kesha
• Head above water – Avril Lavigne
• Frozen – Madonna
• Pretty hurts – Beyoncé
• Exagerado - Cazuza
• Oração - A Banda Mais Bonita da Cidade
• Serpente - Pitty
• Try – P!nk
• Price tag - Jessie J, B.o.B
• Million reasons - Lady Gaga
• Indestrutível - Pabllo Vittar
• Girl Gone Wild - Madonna
• Too Good at Goodbyes – Sam Smith
• Til It Happens to You - Lady Gaga
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