10573728032012historia Da Matematica Aula 1
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através de Problemas
Volume 1 Mário Olivero
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
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Masako Oya Masuda
Vice-presidente
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Material Didático
ISBN: 85-98569-36-4
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Publicado por: Centro de Estudos de Pessoal (CEP)
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Apresentação História da Matemática
nuam motivando) novas descobertas. É bem provável que você passe a gostar
ainda mais dos diversos temas com que lidamos na Matemática, uma vez que
descobrirá como eles surgiram e se desenvolveram.
É claro que num projeto como esse certas opções devem ser feitas. Não é possı́vel
cobrir todos os temas, mesmo aqueles de maior importância. A escolha daqueles
que representarão o nosso painel foram feitas em função de meu gosto pessoal
(sim, todos nós temos nossas preferências matemáticas) assim como das minhas
muitas inabilidades. De qualquer forma, se o conteúdo apresentado motivá-lo
a buscar ainda mais informações sobre aquilo que ficou faltando, despertando a
sua curiosidade, dar-me-ei por satisfeito.
Essa experiência deverá afetar, também, sua atuação profissional. Após cur-
sar a disciplina você estará melhor preparado para apresentar os conteúdos de
Matemática, colocando-os em um contexto histórico e mostrando suas conexões
com outros temas. Seja, portanto, bem-vindo à História da Matemática Através
de Problemas!
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Visão Geral da Disciplina
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Visão Geral História da Matemática
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Unidade 1
Na verdade, pretendemos que você pense um pouco sobre esse tema, que de-
manda mais esforço do que podemos dispor em alguns minutos. Por exemplo,
há um livro de cerca de quinhentas páginas, escrito por Courant e Robbins, cujo
tı́tulo é, precisamente, “O que é Matemática?”
Veja, a Matemática lida com duas idéias fundamentais: multiplicidade e espaço.
Desde os primórdios os seres humanos se valem desses conceitos. Contar as
reses de um rebanho ou os frutos de uma colheita, avaliar a área de campo
de pastagem, de um campo a ser cultivado ou o volume de um vaso contendo
grãos são tarefas que demandam conceitos matemáticos.
Dessa forma, podemos dizer que números e figuras geométricas são elemen-
tos fundamentais da Matemática. Podemos até ensaiar uma resposta: a Ma-
temática é a ciência dos números e figuras geométricas, assim como as relações
que possam existir entre eles.
Mesmo sentindo que a resposta contém parte da verdade, não podemos deixar de
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UD 1 História da Matemática
É comum, no entanto, que as pessoas tenham uma visão parcial do que constitui
a Matemática. Vejamos alguns aspectos que a caracterizam e distinguem das
demais ciências.
Geralmente, quando se trata de Matemática, os números são as primeiras coisas
mencionadas, não acha? Contudo, apesar da importância que eles têm, a Ma-
temática não lida apenas com números, mas também com formas, assim como
estuda as relações entre esses objetos.
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UD 1 História da Matemática
com perı́odos onde a intuição abre novos caminhos e assim por diante.
Além disso, Matemática é uma ciência que difere de todas as outras na forma
como estabelece a verdade. A verdade cientı́fica, na Matemática, é estabelecida
a partir de um conjunto mı́nimo de afirmações, chamadas axiomas, por meio
de um conjunto de regras lógicas bem estabelecidas. É o chamado método
dedutivo.
Nas outras ciências, a verdade é estabelecida por experimentos cientı́ficos. É
por isso que, em muitos casos, uma nova teoria toma o lugar da anterior, que
já não consegue explicar os fenômenos que prevê.
Basta comparar, só para se ter um exemplo, a evolução histórica do conheci-
mento sobre o universo, em particular sobre o funcionamento do sistema solar,
com a estabilidade vivida na Matemática, simbolizada nos Elementos, de Eu-
clides, uma coleção de livros escritos em, aproximadamente, 250 a.C. Os Ele-
mentos só tiveram menos edições do que a Bı́blia, e são tão corretos hoje como
quando foram escritos.
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UD 1 História da Matemática
Grothendieck passou os anos Alexandre Grothendieck nasceu em 1928, em Berlim, e mudou-se para a França
de 1953 a 1955 na
Universidade de São Paulo.
em 1941. Seus trabalhos inovadores tiveram grande impacto em diversos cam-
pos da Matemática, devido especialmente ao seu alto grau de abstração. Em
1966 recebeu a Medalha Fields, que é assim como um Prêmio Nobel da Ma-
temática.
O número de outubro de 2004 da revista Notices of the American Mathematical
Society traz um artigo sobre um dos mais relevantes matemáticos do século 20,
Alexandre Grothendieck.
Nesse artigo aprendemos que os primeiros anos de Grothendieck, durante a
Segunda Guerra, foram caóticos e traumáticos e sua formação educacional não
fora nada boa. No entanto, a atitude de enfrentar os problemas, as questões
da Matemática, já estava presente. Ele escreveu suas memórias, intituladas
Récoltes et Semailles (algo como Colheita e Semeadura), em que faz o seguinte
comentário:
O que menos me satisfazia, nos meus livros de matemática [do liceu], era a
total ausência de alguma definição séria da noção de comprimento [de uma
curva], de área [de uma superfı́cie], de volume [de um sólido]. Prometi a
mim mesmo preencher esta lacuna assim que tivesse uma chance.
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UD 1 História da Matemática
Atividade 1
Para ajudá-lo nessa tarefa, tente dar sua própria resposta à questão “o que
é Matemática?” Guarde esta resposta para relê-la quando tiver completado o
estudo da disciplina.
Faça, também, uma lista sucinta das caracterı́sticas da Matemática apresenta-
das no texto. Você poderia acrescentar outras?
Tudo que você estudou até aqui constitui uma introdução para o tema do
próximo texto: três problemas famosos e antigos, diretamente relacionados a
uma das caracterı́sticas mais valorizadas em um matemático: a criatividade.
Essa caracterı́stica se manifesta, especialmente, na resolução de problemas.
Em muitos casos, a atitude de inconformismo diante das respostas dadas às
antigas questões pelas gerações anteriores marcou o inı́cio da carreira de
matemáticos famosos, como teremos a oportunidade de ver no decorrer de
nossa jornada.
Trissecção do ângulo:
Dado um ângulo, construir um outro ângulo com um terço de sua
amplitude.
Duplicação do cubo:
Dado um cubo, construir outro cubo com o dobro do volume do
anterior.
Quadratura do cı́rculo:
Dado um cı́rculo, construir um quadrado com a mesma área.
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UD 1 História da Matemática
Atividade 2
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UD 1 História da Matemática
nos respectivos pontos obtidos nos lados do ângulo, determine o ponto que,
juntamente com o vértice original, define a reta bissetriz.
Tal sucesso encoraja a consideração do próximo passo: dividir o ângulo em
três partes iguais. Para certos ângulos especı́ficos, o problema tem solução.
Como é possı́vel construir, com régua e compasso, um triângulo eqüilátero,
podemos construir um ângulo de trinta graus, que divide o ângulo reto em três
partes iguais. No entanto, o problema proposto nos pede para estabelecer um
procedimento que funcione para qualquer ângulo dado.
Muitas tentativas de solução para o problema foram dadas, mas cada uma
delas apresentava uma falha. Também, pudera, o problema não tem solução.
Você deve notar que demonstrar que não há uma solução (que sirva para um
ângulo dado qualquer) é uma tarefa muito difı́cil. O problema era conhecido
dos antigos gregos e a resposta (negativa) só foi obtida no século XIX, pelo
francês Pierre Laurent Wantzel. Apesar da genialidade de Wantzel, é preciso
dizer que sua solução depende de conceitos algébricos desenvolvidos ao longo
de vários séculos, por várias gerações de matemáticos. Ou seja, o problema só
foi solucionado quando se mudou o foco da questão, passando-se a buscar uma
prova de que não tem solução.
Nesse caso, a situação é mais radical. Enquanto certos ângulos especiais podem
ser divididos em três, usando régua e compasso, apesar de não haver um método
geral que sirva para um ângulo genérico, não se pode duplicar qualquer cubo.
Veja, o problema é o seguinte: dado um cubo (ou seja, conhecendo o lado de
um dado cubo) devemos construir, com régua e compasso, um cubo que tenha,
exatamente, o dobro de seu volume.
Novamente, os gregos conheciam uma versão simples do problema. Sócrates foi
um dos mais originais pensadores de que temos notı́cia, mas tudo que sabemos
de sua obra nos foi legado por Platão, que estudara com ele. Apesar de não ter
sido um matemático, Sócrates é retratado em um dos diálogos de Platão, numa
conversa com Ménon sobre a virtude, ensinando um jovem e inculto escravo a
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UD 1 História da Matemática
duplicar um quadrado.
Isto é, dado um quadrado, construir com régua e compasso um novo quadrado
que tenha o dobro de sua área. Na primeira tentativa, o jovem dobra o lado
do quadrado dado e Sócrates o faz ver o erro cometido. Em seguida, Sócrates
mostra-lhe a figura de um quadrado com os pontos médios de seus lados unidos
por segmentos que formam um quadrado menor. Então, Sócrates ajuda o rapaz
a lembrar-se que a área do quadrado construı́do sobre a diagonal do quadrado
menor tem o dobro de sua área.
Novamente, o problema só foi resolvido muito tempo depois de ter sido pro-
posto. Em 1882, o matemático alemão Ferdinand von Lindemann demonstrou
a impossibilidade de efetuar a quadratura do cı́rculo usando apenas construções
com régua e compasso.
Como isso foi feito? Apostamos que você está curioso. Realmente, vamos
gastar o tempo que nos resta desta unidade para que você tenha ao menos
uma idéia geral dos argumentos dados por Wentzel e por Lindemann.
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UD 1 História da Matemática
√
Veja como a duplicação do quadrado se encaixa nesse esquema. O número 2
pode ser construı́do com régua e compasso, pois é a diagonal de um quadrado
√
de lado 1. Realmente, 2 é uma das raı́zes do polinômio x2 − 2, de coeficientes
inteiros.
Ora, para duplicarmos o cubo de lado 1, terı́amos que construir um segmento
√
de comprimento 3 2. Esse número algébrico é raiz do polinômio x3 − 2, que
tem grau (mı́nimo) 3, que não é uma potência de 2.
No caso do problema da divisão de um ângulo em três partes iguais, a alge-
brização do problema também resulta em uma equação cúbica.
Na questão da quadratura do cı́rculo (de raio 1, por exemplo,) terı́amos que
√
construir com régua e compasso um quadrado cujo lado medisse π. Linde-
mann mostrou que π não é raiz de nenhuma equação polinomial com coeficientes
inteiros não todos nulos. Ou seja, π não é um número algébrico e, portanto,
√
π também não é um número algébrico.
Atividade 3
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Atividade 4
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