Iara de Souza Martins
Iara de Souza Martins
Iara de Souza Martins
RESUMO
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Acadêmica do nono período de Direito, pela Universidade de Rio Verde, Campus Caiapônia, GO.
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Orientadora: Mestra em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB). Professora da
Universidade de Rio Verde Campus Caiapônia.
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1 INTRODUÇÃO
Este estudo traz uma abordagem sobre a Lei 11.340/06 - intitulada Lei Maria da
Penha- buscando discutir os principais avanços legislativos trazidos pelo diploma legal e as
principais problemáticas que dificultam sua aplicação. Sabe-se que a violência doméstica e
familiar contra a mulher é fenômeno historicamente presente na sociedade brasileira, mas que
por largo período foi considerado um problema de âmbito privado, não demandando
interferência social, nem estatal.
Contudo, pelas graves consequências suportadas por uma mulher em um caso concreto
específico, o qual se aprofundará neste artigo, foi-se necessário criar uma lei coibindo de
maneira específica tal conduta. A criação da supramencionada lei é considerada um avanço do
ponto de vista dos direitos das mulheres. Contudo, não se pode deixar de observar que após
12 anos de sua criação, ainda se encontram problemáticas em sua aplicação.
Diante ao exposto, o artigo tem como objetivo responder a seguinte pergunta: quais
seriam as soluções para alguns dos problemas que dificultam a aplicação da Lei Maria da
Penha de forma eficaz?
Sendo assim foi possível elencar as seguintes hipóteses: a) A Lei Maria da Penha é
considerada umas das três legislações mais avançadas do mundo de enfrentamento de
violência contra a mulher. No entanto, encontra dificuldade em sua aplicação devido à
redação da própria lei, a qual restringe somente ao juiz algo que poderia ser resolvido pela
autoridade policial no caso da aplicação da medida protetiva. b) Deveria ser realizada
campanhas educativas demonstrando a importância da Lei Maria da Penha e os problemas que
são causados quando esta é utilizada indevidamente para outros fins. c) O Estado deveria
liberarrecursos necessários para que fossem construídos locais adequados em todas as
cidades, onde mulheres vítimas de violência doméstica pudessem ser abrigadas, ter tratamento
médico, psicológico e dispor de um efetivo policial que conseguissem fazer a segurança
destasmulheres. d) Seria necessário que pelo menos os agressores de alta periculosidade
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fossem monitorados por tornozeleiras eletrônicas, algo que já acontece em alguns Estados e
que o dispositivo com o “botão de pânico” fosse disponibilizado pelo menos às mulheres
vítimas de violência doméstica com maior risco de morte.
A Lei Maria da Penha foi criada visando a proteção das mulheres devido ao número
alarmante de violência e de assassinatos de mulheres, o que fortaleceu a insurgência de
movimentos feministas cobrando solução para coibir tal violência.
Esta convenção, a qual fora reconhecida pela Organização dos Estados Americanos
(OEA), submete os países subscritos a um monitoramento e por integrar o sistema
interamericano, dispõe de órgão jurisdicional- a corte interamericana de Direitos humanos, a
qual possui força jurídica vinculante e obrigatória.
[…] A repercussão foi de tal ordem que o Centro pela justiça e o Direito
Internacional – CEJIL e o Comitê Latino- Americano e do Caribe para a
defesa dos direitos da mulher – CLADEM formalizaram denúncia à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados
Americanos. Apesar de, por quatro vezes, a comissão ter solicitado
informações ao governo brasileiro, nunca recebeu nenhuma resposta. O
Brasil foi condenado internacionalmente, em 2001. O relatório n. 54 da
OEA, além de impor o pagamento de indenização no valor de 20 mil dólares,
em favor de Maria da Penha, responsabilizou o Estado brasileiro por
negligência e omissão frente a violência doméstica, recomendando a adoção
de várias medidas, entre elas “simplificar os procedimentos judiciais penais a
fim de que possa ser reduzido o tempo processual”. A indenização, no valor
de 60 Mil reais, foi paga a Maria da Penha, em julho de 2008, pelo governo
do Estado do Ceará, em uma solenidade pública, com pedido de desculpas.
Dessa forma, surgiu a proposta de uma Lei específica para combater e prevenir a
violência doméstica e familiar contra as mulheres elaborada por um grupo interministerial, a
partir de um projeto de organizações não governamentais. Assim, o Governo Federal enviou
referida proposta ao Congresso Nacional onde foi transformado em projeto de Lei, e
posteriormente transformou-se na Lei 11.340/06, conhecida popularmente como Lei Maria da
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Penha, a qual foi sancionada em 07 de agosto de 2006 pelo presidente Luís Inácio lula da
Silva.
Apesar da demora estatal em promulgar uma lei de proteção às mulheres, a lei Maria
da Penha trouxe inúmeros avanços. Em primeiro lugar, pode-se dizer que houve, após a
publicação da lei, uma maior conscientização da população de que a violência doméstica
necessitava da ajuda de toda a sociedade para ser combatida e não poderia mais ser encarada
apenas como um assunto de casal, como acontecia antes.
A Lei Maria da Penha marca o início de um novo tempo, pois essa norma
jurídica transformou os casos envolvendo mulheres vítimas de violência,
uma vez que antes eram tratados pelo direito penal como irrelevantes, pois se
enquadravam em crimes de menor potencial ofensivo. Para a mesma autora,
esse marco caracteriza uma mudança de um tempo onde as mulheres eram
oprimidas por toda a ordem de violência para, a partir dessa lei, recuperar
sua dignidade, por meio da conquista do respeito e consideração pelos
operadores jurídicos.
Tal lei é considerada pela organização das nações unidas (ONU), a terceira melhor Lei
do mundo de enfrentamento à violência contra a mulher. Como descreve Nascimento (2013,
p. 1):
Reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações de proteção
ás mulheres do mundo, segundo relatório bianual do UNIFEM (fundo de
desenvolvimento das Nações Unidas para a mulher) publicado no ano de
2009, a Lei Maria da Penha, segundo sua ementa, “cria mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”, sob a forma de
políticas públicas e atuação específica do judiciário, com a intenção de
proteger e assistir as suas vítimas.
Em segundo lugar, é importante destacar que a Lei 11.340 (Lei Maria da Penha) traz
em seu contexto cinco tipos de violência doméstica praticadas contra as mulheres, quais sejam
- violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Essas violências receberão a
proteção da lei Maria da penha quando se tratarem de violência doméstica ou familiar,
entendida como:
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Art. 5º- Para os efeitos desta lei, configura violência doméstica e familiar
contra a mulher qualquer ação e omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I- no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
II- no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,
por afinidade ou por vontade expressa;
III- em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem
de orientação sexual. (BRASIL, 2006).
Outro grande avanço, foi publicada no Diário Oficial da União, em 4 de abril de 2018,
a Lei 13.641/2018, que incluiu uma seção (IV) ao Capítulo II do Título IV da Lei Maria da
Penha (Lei11.340/2006), nesta nova seção foi criado o artigo 24-A que tipifica o
descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência, cuja pena é de detenção de 3 meses a 2
anos. Como se verifica abaixo:
Além disso, esta medida também contribui para a abordagem integral necessária ao
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher, uma vez que permite que o
juiz e o representante do Ministério Público que cuidam da causa criminal, possam também
ter conhecimento sobre os efeitos da violência e a extensão da violação dos direitos das
mulheres nos outros âmbitos de sua vida. Um segundo elemento que caracteriza o
atendimento especializado nestes Juizados é a existência de equipes multiprofissionais que
deverão assessorar o juiz na tomada de decisões, identificar as necessidades das mulheres e
providenciar para que elas tenham acesso a serviços e programas sociais aplicáveis no âmbito
das medidas de assistência e proteção. (IZUMINO, 2011, p. 15).
4 PROBLEMÁTICAS NA APLICAÇÃO
Apesar dos grandes avanços da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha), esta ainda
encontra problemáticas em sua aplicação, devido ao teor da própria lei, como exemplo no
caso de somente o juiz poder conceder medidas protetivas, conforme consta no art. 12, inciso
III da supramencionada Lei, o que faz que seja mais demorado para que a mulher tenha acesso
a medida protetiva, conforme o art. 18, inciso I.
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Outro fator que dificulta a aplicação desta Lei é o fato de que, muitas vezes, há uma
má utilização dos mecanismos previstos na lei pelo público feminino. Há casos em que as
mulheres a utilizam com o objetivo de prejudicar os companheiros por motivos pessoais,
gerando descredibilidade dos agentes públicos aplicadores da lei que tem o seu tempo e
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recursos tomados na persecução de um crime que tais mulheres sabem que não ocorreram. Tal
conduta, no entanto, possui punição no ordenamento jurídico, tratando-se de crime de
denunciação caluniosa, conforme art. 339 do Código Penal Brasileiro:
A juíza de São Paulo, Maria Domitila Prado Mansur Domingos, não apoia o
afastamento da mulher da própria casa e da família para ser acolhida em casas-abrigo com o
cerceamento da sua liberdade, enquanto o agressor fica solto. Por isso, o uso da tornozeleira
(dispositivo com botão pânico) e a vigilância do Estado são considerados fundamentais.
A tornozeleira eletrônica é uma medida cautelar que está disposta no art. 319, inciso
IX do CPP, tal medida constitui-se em utilização, por parte do acusado/indiciado de
equipamento eletrônicos de vigilância indireta, que, através de sinais, consegue verificar a sua
real localização.
5 OBJETIVOS
6 METODOLOGIA PROPOSTA
O presente trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa exploratória, o qual foi
feito por meio de análises bibliográficas, buscando expor um conteúdo de forma concisa e de
fácil entendimento a respeito do tema proposto.
7 RESULTADOS/ANÁLISES E DISCUSSÃO
A supramencionada lei trouxe vários mecanismos para proteção das mulheres vítimas
de violência doméstica, dentre eles criminalizando não somente a violência física praticada
contra estas, mas qualquer ação e omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
Outro grande avanço trazido por tal lei é a expedição de medidas protetivas para as
mulheres vítimas de violência doméstica e os filhos, proibindo a aproximação do agressor, e
em caso de descumprimento desta, podendo ser este autuado em flagrante delito e ter a prisão
preventiva decretada. Esta medida traz mais segurança e encorajamento para que mulheres
vítimas de violência doméstica procurem ajuda.
Além disso, era comum que muitas mulheres vítimas de violência doméstica não
procurassem ajuda por vários motivos, dentre eles, o fato de as vezes terem que sair
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temporariamente da cidade e por tal motivo perderem seus empregos. A Lei Maria da Penha
trouxe o benefício de mulheres vítimas de violência poderem afastar do seu trabalho por até
seis meses, sem perderem o vínculo trabalhista.
Outro fator que inibiam as mulheres de procurarem ajuda quando vítimas de violência
doméstica era a demora do judiciário. Neste sentido, outro grande avanço que a Lei Maria da
Penha trouxe foi a criação dos Juizados de Violência doméstica Familiar Contra a Mulher, o
qual pela dupla competência que é dada ao magistrado no julgamento de causas cíveis (de
família) e criminais, reduz os obstáculos que as mulheres enfrentam no acesso à justiça,
unificando no mesmo espaço físico (juizado) e temporal (a audiência) o acesso às medidas de
proteção, de assistência e a garantia de seus direitos e de seus filhos e ainda mais celeridade
aos processos.
Entretanto, apesar dos grandes avanços trazido pela Lei Maria da Penha, esta ainda
encontra grandes dificuldades em ser aplicada de forma eficaz, como exemplo no caso das
medidas protetivas poderem serem concedidas somente pelo juiz, e este ainda ter um prazo de
até 48 horas para concessão tal medida. Esta demora faz com que muitas mulheres desistam
do procedimento, pois quando uma mulher vítima de violência doméstica procura uma
delegacia para denunciar o seu agressor, esta já quer sair do local e se sentir um pouco mais
segura, pois tem medo de retaliações do agressor quando este souber que foi denunciado.
Uma solução para este caso seria a mudança da Lei autorizando o próprio delegado a
conceder as medidas protetivas de imediato, durante a realização do procedimento.
Outrossim, outra dificuldade são os poucos recursos fornecidos pelo o Estado, o que
gera falta de locais adequados para abrigarem vítimas de violência doméstica, falta de
servidores para garantia da proteção destas, e falta de dispositivos de segurança como
tornezeleiras eletrônicas e dispositivos de segurança conhecido como “Botão do Pânico”, os
quais são de suma importância para as mulheres que correm risco de morte.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio do presente trabalho, objetivou-se discutir a respeito dos avanços trazidos
pela lei Maria da Penha, bem como das dificuldades encontradas em sua concretização. Para
debater tais questões, discutiu-se, a priori, o histórico de desenvolvimento desta legislação que
se iniciou a partir da constatação da presença constante da violência doméstica e familiar
contra as mulheres.
uma das maiores conquistas das mulheres brasileiras em relação à violência doméstica e
familiar, pois, em primeiro lugar, ela trouxe o debate da violência doméstica para o âmbito da
responsabilidade da sociedade e do poder público. Além disso, alguns crimes que se praticava
por meio de violência contra as mulheres eram tratados como crimes de menor potencial
ofensivo, o que gerava nos agressores um sentimento de impunidade.
Neste sentido, constatou-se que a lei trouxe grandes avanços, como a concessão de
medidas protetivas, a prisão do agressor em caso de descumprimento de tais medidas, a
manutenção do vínculo trabalhista da mulher vítima de violência doméstica por até seis
meses, quando necessário o seu afastamento do local do trabalho para preservar sua
integridade física, psicológica, a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a mulher, sua prioridade na utilização de serviços públicos de saúde e assistência
social, dentre outros.
Entretanto, nos seus doze anos de existência a supramencionada lei ainda encontra
dificuldades em sua aplicabilidade. Tais dificuldades se dão em razão de diversas questões.
Uma delas refere-se à própria vedação legal de a autoridade policial autorizar a concessão de
medida protetiva, conduta reserva ao juiz. Tal fato promove uma maior demora na concessão
de tais medidas e a possibilidade de concessão pela autoridade traria maior segurança à vítima
e mais celeridade ao procedimento.
Outro fato é a falta de recursos públicos para construção de locais adequados para
abrigar as vítimas de violências doméstica. Sabe-se que há uma carência e, em algumas
cidades, até ausência de tais estabelecimentos. Além disso, outras dificuldades a serem
enfrentadas que também se relacionam à falta de recursos públicos é a carência na contratação
de servidores e compra de dispositivos necessários para a segurança dessas mulheres, como
tornozeleira eletrônica e o dispositivo de segurança preventiva denominado “Botão Pânico”.
Assim, pode se inferir que a Lei Maria da Penha desde a sua criação trouxe inúmeras
inovações, muitos avanços, porém ainda encontra dificuldades em sua aplicabilidade, por
diversos fatores, dentre quais muitos podem ser solucionados, como a alteração da Lei
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ABSTRACT
The present scientific article aims to demonstrate the main legislative advances brought by
law 11.346 / 2006, as well as the main problems that hinder its application, in addition to
presenting proposals for such problems. For this, first, the historical process of development
of said law in Brazil, which began with redemocratization. Subsequently, we analyzed the law
and its provisions that have brought advances in the treatment of domestic and family
violence, with the creation of several mechanisms to curb such practices, to finally present the
problems of law enforcement. The methodology used to achieve the objectives of the work
was the exploratory research with bibliographical analyzes, through consultation with
different sources, such as laws, books, articles, periodicals. Finally, it was concluded that the
Maria da Penha Law since its inception has brought innumerable innovations, many advances,
but still finds many difficulties in its applicability, due to several factors that can be
adequately solved, perhaps there is a prioritization of the domestic violence agenda and
against the woman.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, CARMEN HEIN DE (Org). Lei Maria da Penha: comentada em uma perspectiva
jurídico-feminina, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
OLIVEIRA, PATRÍCIA. Botão do pânico e tornozeleira eletrônica devem ter uso ampliado
no combate a violência contra a mulher. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/11/24> Acesso em: Set. 2018.