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Apostila - Caminho de Israel e o Caminho de Jesus Cristo - Citep 2023

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Bíblia, comunicação entre Deus e o povo

CITEP – Curso de introdução à Teologia e Pastoral - FAJE


Objetivo do curso:

Apresentar o quadro histórico do Antigo e Novo Testamento


(1º. e 2º. Testamento), a origem do Primeiro Testamento como Sagrada
Escritura, a gênese do Segundo Testamento. Introduzir o educando na
dinâmica de leitura e interpretação dos textos sagrados. Apresentar um
vocabulário básico bíblico teológico.

Cronograma:
Encontro 1
1. A Bíblia
2. Divisão e subdivisões da Bíblia e definições de termos
3. A Bíblia “católica” e a Bíblia “protestante”

Encontro 2
A terra; o povo e os fatos históricos que determinam o contexto dos Livros do 1º. Test.

Encontro 3
1. Escolas e historiografias teológicas na compilação dos Livros bíblicos do 1º. Test.
2. Gêneros Literários

Encontro 4
1. O Pentateuco
2. Livros Históricos (Tribos, Monarquia e Pós-exílio).

Encontro 5
1. Livros Sapienciais
2. Livros Proféticos

Encontro 6
Jesus de Nazaré: Encarnação, vida, paixão/morte e ressurreição.

Encontro 7
1.Nasce uma literatura, II Testamento.
2.Método de Leitura Orante da Bíblia.

CRONOGRAMA ADAPTÁVEL AO ANDAMENTO DO CURSO

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ENCONTRO 1

Glossário - Hermenêutica – ciência que atualiza e revela o sentido oculto


Exegese - é o estudo cuidadoso e sistemático da Bíblia para descobrir o
significado original que foi pretendido, é basicamente uma tarefa histórica
Sitzen Leben – contexto vital
1. A Bíblia Anacronismos – antecipação histórica dos fatos
Canon – corpo delimitado do texto sagrado. Lista, regra, definição
Deutero – segundo
Pseudonímia – recurso utilizado para valorizar o texto ou se esconder
1. 1 - O que é a Bíblia? Autor real, autor implícito, leitor real, leitor implícito
A Bíblia não é apenas um livro. O termo bíblia é, etimologicamente, o plural da
palavra grega bíblion e significa originariamente “os livros” ou “coleção de livros”. Portanto,
Bíblia é um conjunto de livros, é uma biblioteca.
Cada livro possui sua própria história e deve ser lido à luz de seu:
 Contexto histórico
 Gênero literário
 Intenção do autor (a mensagem que o autor quis transmitir),
 Destinatários etc...(para quem o autor escreve)

Contudo, precisa ser considerada na sua Unidade, porque todos os livros reportam a
uma única história, que é a História da Salvação, história da relação de Deus com o seu
povo. E, isso faz dela mais que um livro, um documento: Palavra de Deus, história da
relação do povo da Bíblia com Deus e suas Manifestações.
Embora tenha algo de histórico, a Bíblia não é um livro de História. Ela é um livro
de Fé e relação.
É uma coleção de 73 livros na qual são destacadas as Alianças (Aliança no Primeiro
Testamento e a Aliança no Segundo Testamento, com Jesus Cristo a Aliança definitiva) e o
plano de Salvação de Deus para a humanidade.
Também chamada de Sagradas Escrituras ou simplesmente Escritura. Nela
encontramos: orações, rituais, “história” da humanidade, narração de guerras e de Impérios,
sagas familiares, novelas, sabedoria, exortações, poesias, e ...
A Bíblia é uma coleção de livros que a Igreja reconhece como Inspirados. É a
“Palavra de Deus” narrada com palavras humanas.

1. 2 Quem a escreveu?
Homens e “mulheres” como nós, sob inspiração divina, escreveram a Bíblia. São
narrativas referentes às experiências com Deus vividas pelo povo de Israel em sua história
que inicialmente foram guardadas na memória e transmitida de viva voz (tradição oral -
lembrar de ditados populares: batatinha quando nasce, quem tem boca vaia Roma), até
serem, muito depois registradas por escrito (papiros, pergaminhos, argilas, pedras,
cerâmicas, paredes, cavernas...). Importante dizer que, também as interpretações e
reinterpretações que fazemos hoje podem ser inspiradas, principalmente quando feitas em
comunidade.

1.2.1 - Se é Palavra de Deus, onde está a assinatura d’Ele?


É Palavra Inspirada. Palavra de Deus expressa em linguagem humana.
O quer dizer Inspiração? E verdade? E Verdadeiro?
Já que a Bíblia é o relato não só da Palavra divina, mas também da resposta
humana a essa Palavra, o caráter da autoria humana não pode ser desprezado.

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Isso significa que a Bíblia não caiu do céu, pronta, acabada e, que Deus não ditou ao
escritor da Bíblia sua Palavra. Portanto, a Bíblia é fruto da inspiração divina adicionado
ao esforço humano. Diante da reciprocidade, da alteridade, do relacionamento, a Bíblia
descreve a ação de Deus junto ao seu povo. Ela nos apresenta o Deus que se revela, se
autocomunica por amor, Deus que comunica “si mesmo” ao seu povo.

1.2.2 Hagiógrafos?
A Bíblia foi escrita por homens e mulheres como nós, ou seja, por pessoas, membros
atuantes de uma comunidade, membros de um povo em formação, cuja identidade se afirma
na Aliança com Deus por intermédio de Abraão.
O eixo da vida desse povo era a fé em Deus.
A Bíblia é fruto de um esforço comunitário que envolve todo um povo, envolve
muita gente. Nela, aparece uma variedade de pessoas: reis, agricultores, profetas, militares,
pobres, ricos, mulheres, crianças...

1.2.3 Quando, onde e em que línguas a Bíblia foi escrita?


Hoje qualquer pessoa pode ir a uma livraria e comprar o livro mais famoso e mais
vendido do mundo: a Bíblia Sagrada. Ela já foi traduzida para quase todas as línguas e está
presente em todos os países do nosso planeta.
Aparentemente a Bíblia é como os outros livros, mas, na verdade, é diferente de todos
os outros. A começar pelo tempo em que foi escrita. Enquanto um livro pode ser escrito até
em meses ou alguns anos, a Bíblia demorou mais de 1300 anos para ficar pronta.
Não é que tenha sido muito difícil escrevê-la. Nem é por causa de seu tamanho. É
porque foi escrita por partes e em diversas etapas. Para termos uma ideia, basta dizer que a
Bíblia começou a ser escrita provavelmente no tempo de Moisés, que viveu por volta de
1250 aEC (1º. Test. de 1250 a 50 aEC fechando o 1º. Testamento temos o Livro da Sabedoria
escrito por volta do ano 50 aEC), quando o faraó Ramsés II governava o Egito. E a última
parte da Bíblia, o 2º. Testamento foi escrita dos anos 50 a 115 EC. Portanto, a Bíblia foi
escrita dentro de um longo período de aproximadamente 1300 anos.

Uma grande dificuldade era a questão financeira, os custos eram muito altos, por isso
grande parte foi escrita no tempo da monarquia. Outro motivo era o interesse da monarquia
em manter em textos escritos, o que era de seu interesse (leis, decretos e regulamentos)
inclusive de fazer memória dos grandes feitos reais.
As cópias mais antigas. que ainda existem. da Bíblia estão guardadas na
Biblioteca do Vaticano e no Museu Britânico. Não deve existir mais nenhum exemplar
originalíssimo, isto é, todos os manuscritos existentes são cópias.
A Bíblia divide-se em duas grandes partes: Antigo ou Primeiro Testamento e Novo
ou Segundo Testamento, 1ª. e 2ª. Aliança. A primeira parte é formada pelos Livros escritos
antes de Cristo e a segunda, conta a vinda de Jesus (vida paixão morte e Ressurreição) e a
formação da Igreja. Testamento: Ato unilateral, gratuito e solene, pela qual uma pessoa,
observando a Lei, dispõe seus bens após a morte em favor de filhos ou terceiros. Portanto
somos herdeiros de uma promessa feita por Deus feita diretamente a Abraão (1ª. Aliança, 1º.
Testamento) e de “seu descendente” Jesus Cristo (2ª. Aliança, 2º. Testamento). ATESTAR
A maioria dos textos do Primeiro Testamento foi escrito em hebraico, parte em
aramaico e parte em grego (Tb, Jt, 1 e 2 Mc, Br, Sab, Ecl, partes do livro de Dn e de
Est). Todo o Segundo Testamento foi escrito em grego, porem o Evangelho de Mateus, que
pode ter tido partes escritas em aramaico. A língua grega usada na Bíblia é grego popular,
chamado “koiné”. Ficou muito famosa uma tradução do Antigo Testamento, feita do
hebraico para o grego, duzentos anos antes de Cristo, por 70 ou 72 sábios de Alexandria
(onde se localizava a grande Biblioteca onde, inclusive, Apolo das cartas paulinas teria
estudado), no Egito. Ficou conhecida por “Tradução dos Setenta” ou “Septuaginta” LXX”.

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O hebraico era a língua do povo hebreu ou Povo de Deus. Segundo uma tradição,
“hebreu” vem de “Heber” ou de “Hebrim”, que era o nome de um dos descendentes de Sem.
Além do hebraico, havia entre os hebreus outra língua semita, era o aramaico. Dizem que
“aramaico” vem também do nome de outro descendente de Sem, chamado “Aram”, do qual
se originou o povo arameu ou sírio.
A língua hebraica era uma língua especialmente religiosa, enquanto o aramaico era
mais usado no meio diplomático. No tempo de Cristo já não se usava mais o hebraico, e sim
o aramaico. Conhecer um pouco dos costumes e as línguas dos povos semitas, especialmente
hebreus e arameus, nos daria mais condições de entendermos melhor os textos bíblicos.
O judeu trata como Bíblia (simplesmente), nada de antigo ou primeiro Testamento,
pois a Bíblia judaica encerra “apenas” o que chamamos de Primeiro Testamento.

1.2.3.1 - Hebraico (antes do exílio na Babilônia)

Aconteceram mudanças que refletiram no texto da Bíblia, essas mudanças


aconteceram em 3 fases sucessivas:

a. 1a. fase - Entre os anos 1000 e 100 aEC as


palavras eram escritas só com as consoantes,
só depois do exílio da Babilônia por volta de
538 aEC a escrita das consoantes começou a
tomar forma quadrada (até hoje).

b. 2a. fase de 100 aEC até 500 EC, nesse período


foi fixada a forma única de escrever
consoantes.

c. 3a. fase do ano de 500 ao ano 900 EC só neste


período a língua adquire estabilidade com o
acréscimo e a fixação das consoantes. No Séc
IX EC um grupo de Judeus chamados
Massoretas rotulados de tradicionalistas
colocaram por escrito todas as tradições orais
que diziam respeito ao texto.

1.2.3.2 - Aramaico (semítico, durante o exílio na Babilônia)

“Irmão” do hebraico, começou a ser falado pelo povo da Bíblia no exílio


babilônico em 587 aEC quando muitos judeus começaram a falar a língua dos
babilônicos. Pouca coisa foi escrita em aramaico apenas partes de Esdras (Esd
4,8-6,18; 7,12-26), Daniel (Dn 2,4b-7,28), Jeremias (JR 10,11) e partes do
Evangelho de Mateus.

1.2.3.3- Grego (a partir das conquistas de Alexandre Magno - Tb, Jt, 1 e 2 Mc,
Br, Sab, Ecl, partes do livro de Dn e de Est). Para os judeus o grego não é uma
língua sagrada.

O povo falava o Aramaico em casa, o hebraico na liturgia e o grego no


comércio e na política.

É difícil saber com certeza que escreveu cada livro, nem sempre um
livro bíblico que traz o nome de uma pessoa que foi escrito por ela.

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Sem nos colocarmos dentro do ambiente daquele povo que escreveu a Bíblia, dentro
da sua mentalidade e da sua cultura, dificilmente vamos entender toda a riqueza contida na
mensagem da Bíblia. Mais ainda: precisamos perguntar também o que o autor sacro tinha
em mente quando escreveu a Bíblia Sagrada, a qual não tem outro sentido senão o de
transmitir a mensagem de Deus ao homem.

CURIOSIDADES

Na época de Jesus existiam poucos exemplares da “Bíblia”.


As cópias das Escrituras somavam mais de 60 rolos e custava o mesmo preço de um
cavalo, hoje o equivalente ao preço de um carro popular.
Gutemberg inventou a tipografia em 1440 e imprimiu a Bíblia.

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2. Divisão e subdivisões da Bíblia e definições de termos:
2.1 Definições de termos
Para entender a divisão da Bíblia há designações de termos importantes que é
preciso conhecer, tais como:

2.1.1 Ta Na K = TNK (Bíblia judaica, Bíblia Hebraica); onde:

T = Tora = Orientação (Lex=Lei), ensinamento, caminho, LEI do SENHOR. A Tora é um


conjunto de livros sagrados para o povo judeu (Gn, Ex, Lv, Nm e Dt). Pentateuco.

N = Nevi’im = Profetas. São usados para explicar a Torá. Subdividindo-se em:


* Anteriores: Js, Jz, 1 e 2 Sm, 1 e 2 Rs (antes do exílio babilônico)
* Posteriores: (durante e pós-exílio babilônico)
- Maiores: Is, Jr, Ez, Dn(?).
- Menores (12): Os, Am, Ab, Jn, Mq, Hab, Sf, Ag, Zc, Ml, Na, Jl.

K = Ketuvim = Escritos: 1 e 2 Cr, Esd, Sl, Pr, Rt, Jó, Ct, Ecl, Lm, Est, Dn, Ne.

Essa é a divisão proposta pela TEB, uma vez que ela objetiva ser uma Tradução
Ecumênica da Bíblia.
Temos a Bíblia Hebraica, a Bíblia no seu original (hebraico) e dividida entre Lei,
Profetas e Escritos. É a Bíblia aceita pelo judaísmo.

Edições da Bíblia: TEB, Jerusalém, Peregrino, CNBB, Almeida entre outras.

2.1.2 Deuterocanônicos:
Dêutero = segunda/após;
Cânon = Lista, Regra, Definição.
Os Livros Deuterocanônicos são os seguintes:
Baruc
Ester
Sabedoria
Tobias
Judite
1 e 2 Macabeus
+ Partes de Ester e Daniel

Os livros deuterocanônicos surgem depois da tradução do hebraico para o grego. Os


LXX adicionaram rolos de pergaminho ou de papiro espalhados pelas sinagogas. Entre eles
havia partes em hebraico e parte em grego.
Disso resultará a diferença entre Católicos e Protestantes:
Católicos: 73 livros (AT = 46 e NT = 27)
Protestantes: 66 livros (AT = 39 e NT = 27)

Entre os séculos I e II EC começaram a surgir algumas divergências entre a cultura


judaica e a cristã. Daí, a necessidade de se estabelecer regras, limites para o Cânon. Os
judeus utilizavam a TaNaK (Leis, Profetas e Escritos), escrita em hebraico, excluindo os
deuterocanônicos escritos em grego. Os cristãos utilizavam a tradução da TaNaK do
hebraico para o grego, além dos escritos deuterocanônicos em grego e do 2º.T também
em grego.

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2.1.3 Septuaginta (LXX) = “Tradução dos Setenta” = Canon Alexandrino = Bíblia Grega
Diz uma lenda que 70 ou 72 sábios de Alexandria (cidade do Egito, no continente
Africano) traduziram a TaNaK (Bíblia Hebraica) para o grego. O número simbólico 70 é
para dizer que a tradução é fiel. Essa tradução dos LXX ou Septuaginta aconteceu
aproximadamente no séc. III aEC.

2.1.4 Concílio de Jâmnia (80-85 E.C.) Ruptura entre Judeus X Cristãos


Delimita o cânon da Sagrada Escritura para os judeus.
A partir deste “Concílio”, os judeus (fariseus) consideraram como Escritura Inspirada
somente os Livros em hebraico que formavam a TaNaK enquanto os cristãos consideraram
como Inspirados os Livros da LXX + Deuterocanônicos + 2º.T. A partir daí as leitura nas
sinagogas passaram a ser somente em hebraico, excluindo os cristãos.

2.1.5 Vulgata = do latim = Popular


A Vulgata é Bíblia traduzida para a língua latina, 73 livros (39+7+27).
Com o avanço da língua latina, no séc. IV São Jerônimo traduziu a Bíblia (em grego)
para o latim. Ele faz a tradução da LXX (ou seja, a TaNaK + Deuterocanônicos) + 2º.T
para o latim. Essa tradução recebeu o nome de Vulgata (vulgar = acessível ao povo).
Aprovada no Conc. de Trento em 1546.

Nova Vulgata: corresponde à publicação da Igreja Católica, após o Concílio


Vaticano II (1962-65), com correções dos textos de São Jerônimo de modo bastante radical,
de acordo com estudos críticos, tornando-se assim o texto oficial da Igreja.

2.2 Reforma Protestante


Lutero deseja colocar a Bíblia na linguagem do povo. Para tanto, resolve traduzir dos
textos originais e não do latim para o Alemão. Para o 2º.T utiliza os originais em grego e
para o 1º.T recorre aos textos em hebraico, da TaNaK, portanto, excluindo os livros
deuterocanônicos da LXX, foi uma decisão com intuito de “voltar às origens”. Publicação
das 95 teses em 31/10/1517, protestando contra Igreja Católica e pedindo Reforma. Cinco
Solas: “Sola fide, Sola Scriptura, Sola Chtistus, Sola Gratia e Sola Deo Glória”.
Daí resulta a diferença de 7 livros entre as Bíblias católicas e protestantes.
Porque então a Igreja não aceitou a ideia da Reforma em retirar os deuterocanônicos?
- Tradição: os cristãos utilizavam a LXX – Sucessão Apostólica.
- O texto do 2º.T está em grego.
- Devido ao conteúdo dos livros deuterocanônicos.
– Devido à antiguidade dos textos.
A Reforma considera os 7 livros a mais encontrados na LXX como apócrifos = livros
que não estão no Cânon ou já estiveram, mas foram retirados (apócrifo vem do grego
Apokruphoi, e significa secreto, separado ou excluído).
A Igreja Católica admite os 7 livros, devido a sucessão apostólica e atribui-lhes o
nome de deuterocanônicos (segunda lista). O Cânon da Igreja Católica torna-se definitivo
no Concílio de Trento (séc. XVI) como reação à Reforma Protestante.

2. 3 DIVISÃO DA BÍBLIA

2.3.1 Antigo e Novo Testamento (1º. e 2º. Testamentos, 1ª. e 2ª. Aliança, As Escrituras)
Testamento em hebraico significa Aliança (berît). E tem o sentido de “pacto
atestado”, portanto é mais que herança, legado, etc. A experiência religiosa de Israel se
apresenta em forma de um pacto oferecido por Deus ao povo eleito por intermédio de Moisés
e por extensão com Abraão e também Noé, segundo os cristãos, esta Aliança foi ampliada e
renovada por e em Jesus Cristo, para o mundo inteiro. Paulo fala: conforme as escrituras

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(1Cor 15,3-4), uma das possibilidades para se entender esta expressão é lembrar que Paulo
não vivenciou Cristo na carne e sim no Espírito através dos testemunhos dos “chamados
cristãos da primeira hora”.

2.3.2 Subdivisões da Bíblia


Quando a Bíblia foi traduzida para o grego, a ordem dos Livros na Bíblia Hebraica
foi modificada:
 a “primeira categoria” é constituída pelos livros que narram a história do povo, os
Livros Históricos, na ordem cronológica dos episódios narrados (que não é
necessariamente a ordem de sua composição);
 na “segunda categoria” aparecem os Livros Sapienciais, que contêm sabedoria e
poesia;
 a “terceira categoria” contém os Livros Proféticos: primeiro os quatro profetas
maiores (Is, Jr, Ez, Dn), depois os doze profetas menores: Os, Am, Mq, Jl, Ab, Jn,
Na, Hab, Sf, Ag, Zc, Ml.
Em todas as categorias, foram inseridos alguns textos que não constavam na Bíblia
hebraica, mas que eram lidos pelos judeus de língua grega. Vários livros receberam outra
denominação: 1/2 Sm + 1/2 Rs, por exemplo, passaram a se chamar 1-4 Rs, de modo que 1
Rs do hebraico é o mesmo livro que o 3 Rs do grego.
A Bíblia cristã assumiu a organização do AT grego, excluindo, porém, os apócrifos
judaicos. Os protestantes, mais tarde, excluíram também os deuterocanônicos. Sendo que
alguns livros da Bíblia hebraica foram divididos, a Bíblia protestante conta atualmente 39
livros no AT (“canôn restrito”), e a católica, 46 (“cânon amplo”). O NT é idêntico para
católicos e protestantes e contém 27 livros.

Bíblias grega, católica e protestante


ANTIGO TESTAMENTO (com base na LXX)
Negrito: Livros Deuterocanônicos (recusados pelos protestantes) NOVO
Sublinhados: apócrifos ou pseudepígrafos (recusados por TESTAMENTO
protestantes e católicos)
Livros Livros Livros Evangelhos e
Históricos Sapienciais Proféticos Atos:
Gn Sl Is Mt, Mc, Lc, Jo, At
Ex Odes Jr
Lv Pr Lm Cartas
Nm Ecl Br/ Carta de Paulinas:
Dt Ct Jeremias Rm, 1/2 Cor, Gl, Ef,
Js Jó Ez Fl, Cl, 1/2 Ts, ½
Jz Sb Dn (+ fragmentos Tm, Tt, Fm, Hb
Rt Sr deuterocanônicos)
1/2 Rs (=1/2 Sm) Salmos de Salomão 12 “Profetas
Cartas
3/4 Rs (= 1/2 Rs) Menores”: Os, Am,
1/2 Paralipômenos Mq, Jl, Ab, Jn, Na, Católicas ou
(= 1/2 Cr) Hab, Sf, Ag, Zc, Ml universais:
1 (ou 3) Esd Tg, 1/2 Pd, 1/2/3 Jo,
2 Esd (= Esd/Ne) Jd
Est (+ fragmentos
deuterocanônicos) Apocalipses:
Jt Ap
Tb
1/2 Mc
3/4 Mc
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2. 3 - Manuseando a Bíblia
No início as Bíblias não eram divididas em capítulos, não tinham os versículos
numerados nem títulos e subtítulos muitos menos notas de rodapé e introduções explicativas.
Aliás, esses títulos e subtítulos podem nos direcionar a interpretações errôneas, exs.:
“Parábola do Bom Samaritano” (parece que só este samaritano era bom o que vai contra o
que Lucas quer transmitir) que pode ser substituído por “Parábola do Samaritano”;
“Multiplicação dos Pães” que traz à tona mais o aspecto mágico quando poderíamos chamar
de “Partilha dos Pães”; “Parábola do Filho Pródigo” X “Parábola do Pai Misericordioso”.
Vê-se logo que estes títulos não são definitivos.
Quem não está familiarizado com a Bíblia, fica admirado quando vê alguém abrir a
Sagrada Escritura e ir direto ao Livro tal, capítulo tal, versículo tal. Se for o seu caso, caro
amigo, não precisa ficar com inveja. É questão de prática, manuseio, encontrar uma citação
bíblica! Se você quiser, poderá aprender em poucos minutos e depois praticar, manusear. É
o que vamos ver a seguir.
Você já sabe que a Bíblia se divide em Antigo e Novo Testamento (1º e 2º.
Testamento). O AT (1º. T) ocupa mais da metade da Bíblia, é composto por 46 Livros,
enquanto o NT (2º. T) possui 27 Livros.
Então como procurar uma citação bíblica?
1° Passo: é ver se o Livro que você procura está no 1o. ou no 2º. Testamento. Para ajudar,
você pode, mas, não deve recorrer ao Índice Geral dos Livros nas primeiras páginas de sua
Bíblia. Tente gravar, se familiarizar com a ordem dos Livros para facilitar o trabalho. Em
geral, os Livros da Bíblia seguem uma ordem comum a todas as Bíblias. Se você estiver com
dificuldades em decifrar uma abreviatura, você também encontra nas primeiras páginas de
sua Bíblia a lista de abreviaturas.
2° Passo: é encontrar o Capítulo. Os números dos capítulos são grafados sempre em tamanho
grande, no início do capítulo.
3° Passo: encontre o versículo ou versículos indicados. Os números dos versículos são
grafados sempre em tamanho pequeno, espalhados pelo meio do texto.
4° Passo: Pronto agora você pode ler a citação indicada.

Tomemos como exemplos as seguintes citações:


Jo 8, 12 – Lê-se: Evangelho de João, Capítulo 8, versículo 12.
(a vírgula separa o capítulo do versículo)
Is 55, 1-6 – Lê-se: Profeta Isaías, Capítulo 55, versículos de 1 a 6.
(Se o texto citado abrange mais de um versículo, então se separa a sequência dos versículos
por um hífen ( - ) que significa até)
OBS: O hífen ( - ) pode também indicar a sequência de capítulos, como por exemplo: Rm
5, 12 – 6,3 – Lê-se: Carta aos Romanos Capítulo 5, versículo 12 até o Capítulo 6, versíc 3.
O ponto e vírgula ( ; ) serve tanto para separar Capítulos de Capítulos como para
separar Livro de Livro.
Exemplo de separação de Capítulos: Lc 12,49; 18,16. Lê-se: Evangelho de Lucas,
Capítulo 12, versículo 49 e Capítulo 18, versículo 16.
Exemplo de separação de Livros: Gn 3, 15; Jr 2, 13. Lê-se: Livro do Gênesis, Capítulo
3, versículo 15 e Profeta Jeremias, Capítulo 2, versículo 13.
Quando se pula algum versículo o sinal gráfico utilizado é o ponto ( . ). Exemplo:
1 Cor 11,17.20.23-28. Lê-se: Primeira Carta aos Coríntios, Capítulo 11, versículo 17,
versículo 20 e versículos de 23 até o versículo 28. Portanto, “pula” os versículos 18, 19, 21
e 22.

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Às vezes encontramos um “s” ou dois “ss” depois do versículo. Quer dizer:
“versículo seguinte” ou “versículos seguintes”. Exemplo: Lv 19, 22ss. Lê-se: Livro do
Levítico, capítulo 19, versículos 22 e seguintes.
Outras vezes encontramos um “a” ou “b” depois do versículo. Indicam se é a primeira ou
segunda parte do versículo. Exemplo: At 8, 7a. Lê-se: Atos dos Apóstolos, Capítulo 8 e
primeira parte do versículo 7. (Isto acontece quando o versículo é formado por duas ou mais
frases, separados por vírgula, sinais ortográficos ou apenas por “sentido”).

Em geral as citações bíblicas seguem o seguinte esquema:

Lê-se: Evangelho de João, Capítulo 3, Versículos de 16 a 18.

CURIOSIDADES

Os textos bíblicos são subdivididos em capítulos e versículos. Esta divisão não existia
inicialmente. A divisão em capítulos data da Idade Média (Stephan Langton, † 1228), e a
divisão em versículos, do início da Modernidade (Robert Estienne, † 1559).

Para você exercitar:


Is 52, 13-53 • At 8, 26-35 • Sl 19 • Lc 4, 1-4.8 • Nm 13,17-29 • Ecl 11,1-12,7 • Jz 9,7-15 •
2 Rs 22, 3-10 • Dn 11, 21-45 • 2 Mc 6,12 – 7,42 • Jt 9; Tb13.

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3. A Bíblia Católica e a Bíblia Protestante
Frequentemente alguém nos pergunta: “A Bíblia Protestante é verdadeira? Eu ganhei
uma. Posso ler ou não?”
Será que existe alguma diferença entre a Bíblia editada pelos evangélicos e a Bíblia
editada pelos católicos? Sim. Existe uma diferença quanto ao número de Livros e a questão
da tradução (“a tradução é uma traição”). Entre o 2º. Testamento “deles e o nosso”, não há
nenhuma diferença. Ambas as Bíblias possuem 27 Livros no Novo Testamento.
A diferença está no 1º. Testamento. A Bíblia usada pelos evangélicos não possuem
estes 7 Livros: Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus. Além disso,
falta na Bíblia deles os Capítulos 13 e 14, e os versículos 24 e 90 do Capítulo 3 do Livro de
Daniel. E, também não possuem os Capítulos 11 a 16 de Ester. Esses sete Livros são
chamados por nós, católicos, de Livros “Deuterocanônicos”. A palavra “canônico” vem de
“cânon”. E “cânon” quer dizer “regra”. Trata-se da “regra da fé”. Esses Livros fazem parte
da norma da fé na vida da Igreja.

Os “deuterocanônicos” são assim chamados porque sua autenticidade foi posta em


dúvida pelos judeus, e depois, pelos evangélicos. A Igreja aceitou os deuterocanônicos como
autênticos e inspirados, do mesmo modo que os canônicos. E qual a razão por que os judeus
e os protestantes não incluem na Bíblia os Livros deuterocanônicos?

A razão é a seguinte. Os judeus eram radicalmente nacionalistas. Por isso, achavam


que Deus só poderia inspirar os Livros escritos na língua dos judeus, que era o hebraico.
Achavam também que a Palavra de Deus só poderia ser escrita dentro do território de Israel,
e até o tempo de Esdras (Pilares do judaísmo: TERRA – LEI - REI – TEMPLO).

Ora, quando os judeus começaram a espalhar-se pelo mundo, logo após a destruição
de Jerusalém e do Templo (ano 70EC), eles mesmos viram a necessidade de traduzir a Bíblia
Sagrada para o grego, que era a língua mais universal daquela época. E, nessa tradução,
foram incluídos esses 7 Livros deuterocanônicos (que já estavam escritos em grego, pelos
próprios judeus).

Foi a partir daí que surgiu essa divergência. Os fariseus que zelavam pela pureza e
conservação das Escrituras Sagradas, não quiseram aceitar esses 7 Livros como inspirados
por Deus. E essa foi também a decisão de Lutero quando traduziu a Bíblia para o alemão.
Lutero designou, assim como os judeus, esses 7 Livros como “apócrifos”. Mas a Igreja
Católica, desde os tempos de Jesus e dos Apóstolos, sempre reconheceu esses 7 Livros como
verdadeiros, ou seja, inspirados por Deus.

No Sínodo de Hipona, no ano 393, a Igreja citava os 73 Livros como pertencentes à


Bíblia Sagrada. Esse total de 73 Livros foi confirmado no Concílio de Cartago, no ano de
419. Isso foi sempre uma questão pacífica na Igreja. Entretanto, no século 16, quando Lutero
organizou a Bíblia da Reforma, ele não reconheceu os 7 Livros deuterocanônicos como
autênticos ou inspirados. Então, para não pairar dúvidas, a Igreja definiu de maneira oficial
esses 7 Livros são de inspiração divina e fazem parte da Bíblia Sagrada. Isto aconteceu no
Concílio de Trento, realizado nos anos de 1545 a 1563.

Com isso, não queremos dizer que não se possa ler a Bíblia evangélica. Tudo o que
está nela é verdadeiro. Ela não é “falsa”. É apenas “incompleta”. A maior diferença entre a
Bíblia dos católicos e a Bíblia dos Protestantes não está no texto bíblico, mas nas diferentes
interpretações que uns e outros dão ao texto bíblico. A mesma frase pode não significar a
mesma coisa para católicos e evangélicos.

12
A interpretação dos católicos é “uma só” (ou pelo menos deveria ser), no mundo
inteiro, porque nós seguimos o Magistério, que é a palavra oficial da Igreja. Ao passo que
os evangélicos divergem entre si mesmos, porque adotaram o chamado “livre exame”.

Tarefa:
Leia a Introdução Geral de sua Bíblia. Leia a introdução de um dos Livros, os títulos
e subtítulos algumas notas explicativas deste Livro. Se tiver mais que uma edição, leia-as e
faça comparações. Verifique também a tabela de Abreviaturas. Crie uma relação de amizade
com sua Bíblia, folheia-a, tente decorar a ordem dos Livros, começando pelos Livros do
Antigo Testamento e depois os do Novo Testamento, assim, tendo familiaridade com os
Livros, os nomes e personagens bíblicos você conhecerá melhor a Bíblia.
Então, vamos “decorando” a ordem em que se encontram os livros começando pela
TORAH. Depois com o conhecimento de como a história do povo Judeu aconteceu vamos,
de forma quase automática, assimilando a ordem que os livros se encontram.

Glossário
Diáspora – comunidade judaica fora da Terra Prometida
Encontro 2 Clã – diversas famílias lideradas por um patriarca
Tribo – união de diversos clãs – Juízes
Dinastia – poder de pai pra filho, familiar
1. A terra Sincretismo – diversos seguimentos religiosos
1.1 Canaã – Israel – Palestina
O cenário da Bíblia – a “terra de Israel” – é conhecido na historiografia universal
como a Palestina. Este nome não é bíblico, ele vem dos antigos gregos, que chamaram a
região assim por causa da população costeira, os filistim (filisteus), grandes adversários do
povo de Israel. A administração do Império Romano chamava de a região de Judéia, que é
hoje o território do Estado de Israel, onde predomina a população judaica, e o Estado
Palestino, onde se concentra a população palestina e árabe. A capital é Jerusalém.
Nos tempos bíblicos mais remotos, a região se chamava Canaã. Seus habitantes, por
volta de 1300 aC, eram chamados de cananeus.

1.1.1 Geografia e clima


Situados na costa oriental do Mar Mediterrâneo, o país goza do clima ensolarado,
mas ameno, da bacia mediterrânea e abre-se para atividades comerciais que, naquele tempo,
aconteciam principalmente pela navegação e pelas estradas das caravanas rumo ao Oriente,
até a Índia.
A largura média (L-O), “de mar a mar” (= do Mediterrâneo até o Lago de Genesaré
e o Vale do Jordão), é de uns 75 km (quase a mesma distância entre Belo Horizonte e o trevo
de Itabira); o comprimento (N-S), “de Dã a Barsabéia”, comporta + 260 km (quase a
distância entre Belo Horizonte e Juiz de Fora), algo em torno de 22.000 Km2, o Brasil é 420
vezes maior. Corresponde mais ou menos o tamanho do estado de Sergipe.

13
O país pode ser descrito como uma faixa de terra entre duas estradas de caravana, a
“estrada do mar” (a oeste) e a “estrada real” (a leste) – estradas essas que, de vez em quando,
se transformavam em estradas militares.
Se a região em redor do Mar Morto é um deserto inóspito, o resto do país, sobretudo
o centro e o norte, abunda em boas terras aráveis e ricos pomares. Hoje em dia – com exceção
das recentes tentativas de rearborização – o país é bem mais desértico do que nos tempos
bíblicos. As fotografias da atual “Terra Santa” não dão uma idéia adequada do aspecto
bucólico da “terra que emanava leite e mel” e produzia, conforme Nm 13, 23: cachos de uvas
(um cacho carregado por duas pessoas!).

1.1.2 O “povo” e as “nações”


No meio do Crescente Fértil1 vive o “povo” (‘am) de Israel. Em torno dele, os outros
povos, aos quais Israel chama de “nações” ou “gentes” (goyim) – depois: gentios.
O crescente fértil (tamanho: 200 km), com seus rios mantêm a vida do povo. Esta
região foi o berço de grandes civilizações.
Oriente próximo – Síria e Israel
Oriente Médio – hoje – Irã, Afeganistão e Paquistão.
Israel localiza-se no crescente fértil ou meia lua fértil, junto com e Egito e a Mesopotâmia
(entre rios), assírios babilônios e persas. Israel era corredor destes grandes impérios e única
ligação por terra entre os dois. Rios: Nilo (Egito), Jordão (Israel) Tigre e Eufrates
(Mesopotâmia).
Crescente fértil hoje – Iraque, Síria, Líbano, Jordânia, Egito e Estado de Israel.
Antes do povo de Israel muitos povos habitaram a região (mostrar transparência).
Mesopotâmia – Assírios, babilônicos e persas. No meio o povo de Israel e fora “as nações
ou gentes” = gentios.
Na guerra entre o rochedo e o Mar (Egito x Mesopotâmia) quem sofre é o marisco, ostra,
pérola. Pois as sucessivas ondas de conquistas não desalojaram o povo de Israel ali
encrustado, antes forneceram-lhe experiência histórica e religiosa para desenvolver a pérola
que chamamos Bíblia.

Os “filhos de Israel” são tradicionalmente identificados como hebreus. A Bíblia fala


dos hebreus principalmente na narrativa de sua estada no Egito e do êxodo subsequente, por
volta de 1300-1200 aEC. O termo seria derivado de hapîru e significaria algo como
migrantes, nômades. Quando, porém, se fala em “filhos de Israel”, a perspectiva se desloca
para o nordeste, a Alta Mesopotâmia (Harã, a cidade de Abraão: Gn 11,31, etc.; outra
tradição diz que ele vem de Ur, na Baixa Mesopotâmia). Hoje, se aceita que o povo que no
séc. XI aEC. constituiu as “doze tribos de Israel” tinha dois componentes principais, um
vindo do nordeste, da Síria, e outro vindo do sul, das fronteiras do Egito. Não eram
homogêneos culturalmente. O elemento que vem do sul é mais marcado pelo estilo
nomádico-pastoril, enquanto o elemento “amorreu”, do norte, é mais propenso à vida
agrícola e sedentária.

O que difere os hebreus ou israelitas dos demais povos semíticos ocidentais é sua
religião. Em vez dos baalim, deuses do comércio e da fertilidade – eles adoram um único
Deus, YHHW, que tem atributos ora de pastor, ora de guerreiro. Um Deus migrante, como
o povo do Êxodo.

Dentre os povos vizinhos, existem alguns que são parentes mais ou menos próximos
de Israel: edomitas, moabitas, amalecitas, amonitas, etc. Também os povos não-semitas:
arameus, fenícios, hititas, filisteus, medos etc.

1
Região entre o Mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsico, mãe de muitas culturas e civilizações. Sua população
se concentra numa faixa semicircular de terras férteis, cercada por desertos e montanhas.

14
2 - Os impérios
Devido a sua localização geográfica, durante a maior parte de sua história, Israel
viveu sob o domínio dos grandes impérios que se sucederam na hegemonia do Antigo
Oriente. A história bíblica só se entende no quadro da história destes impérios. As principais
forças imperiais foram: Egito (dominações e influência na área tecnológica/ agrimensura e
literário/filosófica/teológica), Sumer e Acad (Ur e código Hamurabi), Assíria (exílio RdN),
Babilônia (neobabilônicos/caldeus, Exílio RdS), Pérsia (volta do Exílio e reconstrução com
o imperador Ciro), Grécia (helenização, revolta dos Macabeus) e Roma (guerra judaica,
suicídio dos Zelotas em Massada, destruição do Templo, segunda revolta judaica Bar Kokbá,
destruição de Jerusalém).

3 - A vida do povo de Israel


Não é possível falar da vida e da estrutura de Israel de modo uniforme. Conforme as
diversas épocas, lugares e origens apresentam consideráveis diferenças no interior do povo
israelita. Deve-se distinguir entre o grupo meridional, a “tribo de Judá”, o grupo central
(sobretudo Efraim e Manassés) e os outros grupos, mais periféricos. Um caso a parte é a
pequena tribo de Benjamim, que desempenhou importante papel político. Com o tempo
consolidou-se uma divisão entre parte identificada como Judá, no Sul (RdS), e as outras
tribos no centro e no norte do país, identificadas como Israel (RdN).

3.1 - O período da sociedade tribal – Chamado “tempo da terra sem males”


No período anterior a 1050 aEC, os israelitas vivem principalmente como nômades.
As famílias constituem clãs sob a autoridade do patriarca. Os “filhos” são livres, têm direitos
hereditários etc. Não assim os “servos”, que não são considerados como integrantes do clã,
mas como propriedade do mesmo; seus filhos e filhas têm apenas valor utilitário, como mão-
de-obra, concubinas, etc.

15
Ocupando territórios fixos e passando, em parte, da economia pastoril à agricultura,
os clãs formam tribos, que se unem entre si para se defender contra os reis das cidades-estado
de Canaã e para ocupar as terras que os reis exploravam desde os seus luxuosos palácios.
Em função das circunstâncias, surgem nas tribos líderes carismáticos, os “juízes”. Estes
desempenham um papel importante na divisão das terras, já que a estrutura fundiária das
tribos não incentivava a concentração das terras nas mãos do rei, como entre os cananeus e
no Egito. Pelo contrário, cada família tem a sua terra, e existem até leis específicas para fazer
com que as terras fiquem com as famílias ou a elas voltem caso por alguma razão tiverem
sido subtraídas. De modo semelhante existe uma legislação para restituir a liberdade aos
israelitas que, por razão de dívidas tenham sido forçados a se tornarem servos.

3.2 - O período da monarquia unida

A partir do séc. XI, os israelitas decidem ter reis, semelhantes aos reis de Canaã.
Alguns, como Salomão, imitam até o faraó do Egito. A razão desta mudança parece ter sido
principalmente militar: a segurança nacional exigia exércitos, armas de bronze e de ferro
como usavam os filisteus. O dinheiro para tal se conseguia por duas vias: a exploração dos
povos subjugados e a tributação também do povo.

Os reis de Judá e Israel copiam em parte o sistema das cidades-estados dos cananeus.
As cidades-estado eram independentes entre si, mas dependentes do Egito. Tinham um rei
que tinha servos e um conselho de notáveis constituído pelos latifundiários e pelos grandes
comerciantes. A cidade era cercada por grandes muros, toda a área era protegida por militares
que a defendiam.

É o caso de Jerusalém, antiga cidade dos jebusitas, conquistada por Davi. Outro exemplo é
Samaria, cidade-estado fundada pelos reis de Israel. Enquanto estas cidades se tornam
importantes centros políticos e comerciais, mantém-se no campo a estrutura comunitário-
familiar.

16
Reis deste período: Saul, Davi e Salomão. Saul praticamente fez apenas a transição
do período tribal para monarquia. No reinado de Davi o reino alcançou sua maior extensão
territorial. Salomão o rei que pediu “apenas” sabedoria teve como grande evento a
construção do Templo. Porém, seus muitos casamentos com mulheres estrangeiras,
promoveram grande sincretismo religioso que trouxe deuses e crenças. Suas construções
faraônicas endividaram a nação e geraram novamente trabalho escravo. O povo revoltado
com o trabalho forçado e a grande carga tributária imposta (principalmente sobre as “tribos”
do Norte) para pagamento da dívida externa resolve, após a morte de Salomão, dividir o
reino em Reino do Norte e Reino do Sul.

3.3 - O período da monarquia dividida


Com a morte de Salomão o reino se divide em Reino do Norte (Jeroboão, capital
Samaria) e Reino do Sul (Roboão filho de Salomão, capital Jerusalém).

17
3.4 - O período pós-exílio
Como nações, Israel e Judá são aos poucos desmanteladas pelas guerras. Samaria é
levada à deportação e misturada com outros povos, em 722/721 aEC. Jerusalém (Judá)
conhece uma deportação de parte da população em 597 e outra em 586 aEC. Parte dos
deportados de Jerusalém, porém, não se misturam com os outros povos. A partir de 538 aEC,
parte deles volta a Jerusalém, onde então surge o conflito entre a elite repatriada e a
população rural que tinha permanecido no país. O grupo dos repatriados se torna dominante.
Desenvolve o comércio, o artesanato etc. Graças à presença de judeus nas outras cidades do
Império Persa – a diáspora – desenvolve-se fortemente o comércio internacional, o sistema
bancário etc., sempre sob a tutela política do governo persa. Isto pouco se modifica quando,
por volta de 330 aEC, o Império Persa é derrotado por Alexandre (Grécia).
No pós-exílio, os judeus constituem novamente um povo, sem ser uma nação com
soberania política. O que os mantém unidos é sua identidade cultural e religiosa. Por isso,
reagem com violência quando esta identidade é ameaçada, como na revolta dos Macabeus,
por volta de 170 aEC.

Fatos históricos que determinam o contexto dos Livros Bíblicos:

Datação Império Escritos da época Escritos sobre a


Fatos época
Séc. XIX–XVI Egípcio Tradição oral
aEC Patriarcas (Abraão, Gn 12-50; 1Cr 1-2;
Isaac, Jacó) Eclo 44
Grupos Nômades
Organização em clãs
(grande família)
Séc. XIII aEC Êxodo = Evento Tradição oral
Fundador da Eclo 45 Ex 1-18;
Economia Salvífica do Nm 9-14; 20-25
AT.
Sinai = Aliança/Lei
Séc. XII aEC Ocupação da Terra Jz 5 (Cântico de Js 1-12; 23-24
Organização Tribal Débora); Ex 20,1- Dt 31-34
21(Mandamentos); Eclo 46
Ex 20,22-23,19
(código da
Aliança) Sl 19,2-7;
29; 68; 82; 136.
Séc. XI aEC Juízes Ex 19-24; 32-34
Jz 5 (Cântico de Nm 31-36
Débora); Js 13-19
Ex 20,1-21 Jz 1-18
(Mandamentos);
Ex 20,22-23,19
(código da
Aliança) Sl 19,2-7;
29; 68; 82; 136.
Séc. X aEC Assírio 2Sm 9-20; Jz 19-21; 1-2 Sm;
Monarquia 1Rs 12; Sl 2;15;24; 1Rs 1-11
Organização 51-110; 121-134 1Cr 10-20
Monárquica = Saul, 2Cr 1-9
Davi e Salomão. Eclo 47

18
Construção do 1°
Templo de
Jerusalém.
Séc. IX aEC Divisão do Reino:
Israel (N), Capital:
Samaria; Santuário de
Dã e Betel.
Judá (S); Capital:
Jerusalém; Templo de
Jerusalém (+ ou – 931
aEC)
Séc. VIII aEC Queda da Samaria Amós, Oséias e Rs 12-22; 2Rs 1-
(722) Salmo 58 15;17, Ecle 48

Séc. VI aEC Queda de Jerusalém Proto Is 1-39; 1Rs12-15; 2Rs 11-


Destruição do Templo Miquéias; Sl 31; 16; 18-25; 2Cr 10-
46; 48; 64; 80; 81; 36; Is 1-12; 28-39;
Sofonias; Pr10-22; Eclo 49; Jr 1-45
Dt 5-26; Jeremias,
Naum, Habacuc,
Baruc

597 aEC Babilônico Lv 8-10; 17-26; Jr, Lm, Ab, Sl 79;


compilação final do Ez; Deutero Is 40- 89; 39-52; 2Rs 24;
Pentateuco 55; Is 40-55; Ez 1-24;
Exílio Babilônico Sl 42; 43; 69; 70; 33-39
137
538 aEC Persa Lv 1-7; 11-16; Ag; Ag; Zc 1-8; Is 56-
Edito de Ciro: Zc 1-8; Trito Is 56- 66, Lv 1-7
Autoriza a volta dos 66; Pr 1-9; Joel; Sl
exilados à terra 4;10;19;
(repatriados) 22;23;50;77;78;83;
Reconstrução do 85;96-98;105-107;
Templo 113; 116; 118;119;
126; Rt; Jn; Ct;

333 aEC Grego 2Zc; Malaquias; Is 24-27; Zc 9-14; Jl


Ascensão de Cr; Neemias; 3-4; 2 Mc; 1 Mc 1-
Alexandre Magno Esdras; Ester; 16; Eclo 50
Ecle; Sl 1;73;139; (Flávio Josefo)
150 Judite; Tobias;
Eclo; Sl 44;74;86;
91; Dn 2Mc; 1Mc;

300-200 aEC Tradução da LXX,


Biblioteca de
Alexandria
160 aEC Revolta dos Macabeus 1 e 2 Mc
63 aEC Período
Intertestamentário

19
0 ??? Nasce Jesus Cristo Período Evangelhos
Intertestamentário
33 EC ??? Paixão/Morte/ Período Evangelhos
Ressurreição de Jesus Intertestamentário
Cristo.
Evento Fundador da
Economia Salvífica do
NT
70 EC Destruição do Templo Mc Evangelhos
de Jerusalém
80 EC Concílio de Jâmnia Mt; Lc Evangelhos
Definição do Cânon
Judaico e do Cânon
Cristão
131 EC Revolta de Bar Kokba Evangelhos
Última tentativa de
autonomia judaica
sufocada pelos
romanos
30-65 EC Primeiras Cartas Paulinas Evangelhos
Período Apostólico Comunidades Cristãs Escritos Paulinos
Viagens Missionárias
de Paulo
Incêndio de Roma
65-97 EC Expansão do Mc; Mt; Lc; Jo; Evangelhos
Período Sub cristianismo Ap; Cart. Católicas
Apostólico Guerra contra Roma
Destruição do Templo
97... EC Período Demora da Parusia Apocalipse Evangelhos
Pós-Apostólico

ALGUNS MOMENTOS FORTES DA VIDA DO POVO DE DEUS NO 1º. Test

FATOS MARCANTES LEIA EM:


1 Vocação de Abraão, vocação do Povo Escolhido Gn 12, 1-9
2 Jacó/Israel no Egito Gn 46, 1-7
3 Vocação de Moisés Ex 2, 23 – 3, 12
4 Saída do Egito – Êxodo = Evento Fundador da Ex 13, 17 – 14,30
Economia Salvífica do AT
5 A Aliança Ex 24, 1-11
6 O Santuário (Tenda da Reunião) EX 40, 1-38
7 Investidura dos Sacerdotes Lv 8
8 Ocupação da Terra Prometida liderada por Josué Js 3, 1-17
9 A opção por YHWH – Assembléia de Siquém Js 24, 14-24
10 A Terra é partilhada entre as tribos Js 13-19
Sem um líder o povo sucumbe, não consegue cumprir Jz
a parte que lhes cabe na Aliança – Livro dos Juízes:
11 pecado-castigo-conversão-salvação (repete-se).
12 O povo pede um Rei 1Sm 8, 1-9
13 Sagração de Saul 1 Sm 11, 12-15

20
14 Saul é rejeitado por YHWH 1 Sm 15, 10-23
15 Unção de Davi 1 Sm 16, 1-13
16 Davi é o Rei de Israel 2 Sm 5, 1-5
17 A Profecia de Natã 2 Sm 7, 1-17
18 O Rei Salomão 1 Rs 3, 1-3
19 A Construção do Templo 1 Rs 5, 15 – 6,14
20 A divisão do Reino 1 Rs 12, 1-33
21 Queda da Samaria – Reino do Norte 2 Rs 17, 5-23
22 No Reino do Sul – Josias e a Reforma Religiosa 2 Rs 22 – 23
23 Ruína de Jerusalém – Exílio Babilônico 2 Rs 23,31 – 25,26
24 Lamentação sobre Jerusalém Lm 1; Sl 78
25 Edito de Ciro Esd 1, 1ss
26 Reconstrução de Jerusalém Ne 3, 1ss
27 Helenismo – deuses pagãos no Templo 2 Mc 6, 1-11

Dentre estes fatos históricos, quatro marcam a identidade do “Povo de Deus”:


1 – A Sociedade Tribal: organização em clãs até a época dos juízes, predominando o
acontecimento do Êxodo e da ocupação da terra.
2 – A Monarquia Unida: Reis: Saul – Davi – Salomão
3 – A Monarquia Dividida: Israel (N) culto descentralizado; Judá (S) culto centralizado em
Jerusalém. Na dominação Assíria (RdN) os Samaritanos foram misturados aos Elamitas um
povo semítico do Golfo Pérsico.
4 – O Exílio: perda da Terra; perda da autonomia e da identidade; crise de fé; diáspora;
gatilho para a Bíblia. Aqui a Bíblia passa a ser Bíblia, porque o povo em crise (terra, rei e
Templo) passa a resgatar sua Tradição.

4 - As tradições de Israel

Êxodo: é o evento referencial do povo de Israel. Tal evento é “liderado” por YHWH.
Mediante esse evento se estabelece o Decálogo (Dez mandamentos), as festas: Páscoa (Festa
dos nômades); Festa dos Pães ázimos (festa dos sedentários); festa das semanas (50 dias),
festa das tendas (deserto).

Templo: YHWH pede que fosse feito uma tenda (tenda da reunião) que acompanharia o
povo em sua caminhada. Disso resultará a construção de Santuários até a unificação e
construção do Templo em Jerusalém (sonhado por Davi, construído por Salomão, estratégias
políticas). Templo de Salomão destruído em 587aEC pelos babilônicos, reconstruído por
Herodes e destruído definitivamente em 70EC pelos romanos.

Monarquia: Os juízes são tidos como escolhidos por Deus para resolver problemas entre o
povo. Este sente a necessidade de reis e, advém o regime monárquico, cópia política da única
realidade existente entre os povos vizinhos.

Problema: YHWH é o único Rei de Israel. O fato de o povo pedir um rei demonstra o risco
do abandono à fé em YHWH.
Em 2 Sm 5 Davi é feito rei.
Por meio de Natã, YHWH promete a Davi que sempre haverá um descendente seu
no governo do povo (2 Sm 7, 12-16). Advém o Exílio e o povo aguarda a realização da
promessa denominando-a como expectativa messiânica.

21
Messianismo: Depois do Exílio (586-538 aEC), os judeus não tendo mais rei nacional,
esperam um novo rei, ou seja, um “Ungido” (mashîah em hebraico=daí Messias). Tal ungido
é pensado nos moldes do rei Davi, a quem Deus fizera promessa (2Sm 7, 12-16). No tempo
de Jesus a espera pelo Messias era grande.

OBS.: Com a destruição do Templo de Jerusalém, para os judeus o local do Encontro com
Deus passa a ser a Torá (daí a valorização das sinagogas).
Para os cristãos, o local de encontro com Deus, não é mais o Templo, mas o próprio
Jesus (Palavra Encarnada, Novo Templo, Templo vivo).

Tarefa:
Leia a Introdução Geral do Pentateuco em sua Bíblia.
Leia Gn 1, 1-2, 4a e Gn 2, 4b-25.

Nomes dados à Terra citados apenas neste encontro:Terra Santa, terra de Israel, Canaã,
Palestina, região da judéia, Estado de Israel

Encontro 3 Glossário
Sitz in liben – contexto vital

1. Escolas e historiografias teológicas na compilação dos Livros bíblicos do 1º. Test.


1.1 Escola Javista
A Escola Javista diz respeito à fé em Javé. Sua origem se situa no tempo do reinado de
Salomão ou no Reino do Sul (sec. X aEC), Judá, onde foram produzidas as principais
narrativas que serviram de base, juntos com as das demais escolas, para o atual Pentateuco.
Apresenta um Deus próximo e uma certa atenção para os bens da vida humana.

1.2 Escola Eloísta


A Escola Eloísta origem no contexto do Reino do Norte (sec. VIII aEC), Samaria, narrativas
que serviram de base, juntos com as das demais escolas, para o atual Pentateuco. Deus é
mais distante com anjos para resguardar a transcendência de Deus

1.3 Escola Sacerdotal


A Escola Sacerdotal estava preocupada com ritos, calendários, genealogias (direitos
sacerdotais). A esta Escola teológica foram atribuídos a configuração do Tetrateuco (Gn, Ex,
Lv, Nm) que depois acolherá o Dt (escola deuteronomista) constituindo assim, o Pentateuco
(no pós-exílio).
T
Antes do exílio babilônico, a escola sacerdotal recolheu as antigas tradições
O
culticas e, durante e depois do exílio, com base em documentos anteriores, redigiu a
R
grande narração das origens que é o Pentateuco.
Á

22
A teologia sacerdotal parte da Criação (Deus é o Deus Criador e, independentemente
da (in)fidelidade do povo, Deus é o Deus do Amor), perpassa a figura de Noé (justo) atinge
o estabelecimento da Aliança e, chega ao Exílio. Essa teologia procede dos repatriados (os
que voltam da Babilônia) e aplicam à Aliança um caráter de Aliança Incondicionada
(independe de condições estabelecidas e do cumprimento ou não dessas condições).

1.4 Escola Deuteronomista

A Escola Deuteronomista produziu a historiografia profética (Js, Jz, 1 e 2 Sm, 1 e 2


Rs) e, acrescentou o Dt, propondo uma teologia deuteronomista. O Pentateuco, nessa ótica,
pode ser designado como Tetrateuco. O horizonte teológico dessa escola parte do Êxodo,
perpassa o estabelecimento da Aliança, chega até o Exílio. Sua intenção é mostrar que a
infidelidade à Aliança levou ao Exílio.
Essa teologia deuteronomista é elaborada pelos remanescentes (os que permanecem
em Judá) e aplicam à Aliança um caráter de Aliança Condicionada (estabelece condições).

1.5 Historiografia Profética

A narração profética que compreende os livros de Js, Jz, 1 e 2 Sm, 1 e 2 Rs (profetas


anteriores ou primeiros). Parte do fato histórico de ocupação da terra e vai até o fato histórico
do Exílio, marcado pela perda da terra e pela destruição do Primeiro Templo (Salomão). Sua
teologia consiste em ressaltar a fidelidade e a infidelidade à Aliança. Se o povo é fiel à
Aliança, Deus concede a Bênção; ao contrário, se é infiel, há a concessão do castigo.

PECADO – CASTIGO – ARREPENDIMENTO – BENÇÃO (“referência circular”).

Moisés, Débora, Balaão, Natã, Gad, Aías de Silo, Elias, Eliseu, entre outros. Profetas sem
livros.

1.6 Historiografia Cronista

Compreende os livros de Esd, Ne, 1 e 2 Cr. Este último livro conclui a TaNaK. Os
livros de Esd e Ne narram a volta dos exilados para Jerusalém. 1Cr apresenta uma narração
que parte de Adão e vai até o Exílio, destacando um convite a voltar (subir) a Jerusalém.
Afirma-se que é uma espécie de inclusão (recurso literário que aparece no final de um bloco
e no início de outro).

Assim, a TaNaK termina com um convite a Voltar (Subir) constantemente para Jerusalém.
A proposta teológica é demonstrar que Deus se mantém fiel à promessa mesmo diante da
infidelidade de seu povo.
Enfim, temos:

TORÁ = Pentateuco – teve sua compilação final realizada pela escola sacerdotal.
NEBI’IM = Profetas – teve sua compilação final realizada pela escola deuteronomista.
KETUBIM = Escritos – teve sua compilação final a historiografia cronista (pós exílio).

2 - Período Intertestamentário
Período de transição entre judaísmo e o cristianismo. Período no qual se conclui o 1º.
Test. e não se começa a escrever outro, porém não significa que não tenha nenhum escrito.
Voltará depois, com o primeiro escrito do 2º. Test que é a 1Ts. Durou mais ou menos 100
anos.

23
3. Gêneros Literários

Qual o sentido literal de um escrito?


Para encontrar o sentido de um texto é preciso conhecer, examinar e distinguir
claramente que gêneros literários empregaram os escritores antigos.
Os autores sagrados (os hagiógrafos) também utilizaram de gêneros literários para
contar ou narrar os fatos, empregaram certos particularismos próprios da língua semítica,
como expressões aproximativas ou hiperbólicas e talvez paradoxais (contraditórios), com a
intenção de gravar as coisas mais firmemente na memória.
Como podemos determinar o gênero literário dos textos?
Com a ajuda do método histórico-crítico.
O que é “gênero literário” (ou tipo de texto)?
Ex.: Um mesmo fato é descrito de modo diferente no relato do jornalista, no boletim
de ocorrência policial, na fofoca das comadres.
Assim é também na Bíblia. Um texto pode ser elaborado conforme padrões diversos,
em função de seu ambiente de origem e do uso que dele será feito: liturgia, ensino, crônica
etc.
Os gêneros mais comuns (ou maiores) são: a prosa, o verso, a poesia, o drama, o
teatro; ou, sob outro ângulo, a narrativa e o discurso.
Existem dentro destes gêneros mais comuns outros que são chamados de gêneros
“menores”: fábulas (Jz 9); narrativas familiares (Gn 12-36 – Em cada ciclo há pequenas
histórias); alegorias (Is 5,1-7); etiologias ou explicação de causas e origens das coisas (Ex
17,1-7); teofanias ou manifestações de Deus aos seres humanos (Ex 19,16-19; 20,18);
parábolas (Mt 13); oráculos (Jr 2,5); lamentações (Sl 6 e 7); promessas (Gn15); biografias
(Rt 1); relatos de vocação (Jr 1,4-10); milagres, prodígios, sinais (1 Rs 17,17-24); etc.
Junto aos gêneros estão as “formas” literárias, que são formulações específicas
presentes nos textos bíblicos em função de determinadas finalidades (p.ex.: as fórmulas do
querigma que é o anúncio da boa nova, as fórmulas de profissão de fé, sentenças morais,
parábolas).
Saber (estudar) qual o gênero literário permite-nos:
1- Compreender melhor a intenção do autor, e consequentemente, a mensagem do texto.
2- Individuar o contexto vital (sitz im libem) no qual o texto se origina.
3- Situar melhor a “verdade” da Bíblia.

A verdade do texto pode não ser aquilo que está aí escrito materialmente, mas
aquilo que o autor (solidário com a comunidade que recebeu a revelação de
Deus) quis expressar. A verdade não está na letra da frase, mas na conclusão
que o autor deseja que o ouvinte tire. Não importa a exatidão material daquilo
que é dito, mas a direção certa para qual aponta.

24
Os limites do gênero literário.
Nem tudo é gênero literário, embora alguns assim o afirme. Um gênero literário diz
respeito à forma no qual o texto foi moldado. ANTES dessa “formatação”, porém, existe
uma matéria, um fato ou pensamento à procura da forma adequada para ser transmitido.
Descrever ou classificar os gêneros literários é apenas um instrumento a mais, uma
ferramenta para ajudar na interpretação de um texto bíblico para a vida da comunidade.

3.1 - GÊNEROS LITERÁRIOS “PROBLEMÁTICOS”


- Gênero apocalíptico – mesmo que se utilize de descrições aterradoras, fale sobre o “fim
do mundo”, porém não quer dizer isto “ao pé da letra” ou literalmente.
O gênero apocalíptico é uma maneira de expressar a decepção com a presente
realidade, mas também e, sobretudo, a ESPERANÇA de uma realidade melhor, ainda
escondida, que o “visionário”, por ordem de Deus, revela para animar seu povo e fazê-los
resistir aos poderes idolátricos deste mundo que pretendem competir com Deus.

- Histórias de sentido figurativo, parábolas – são histórias para “fazer cair a ficha”,
geralmente usando imagens conhecidas da vida cotidiana.

- Provérbios e aforismos – são “meias verdades”, sua verdade não está nos vocábulos, mas
no efeito que produzem.

- Cumprimento das Escrituras, a “profecia”


Reconhecimento posterior de um texto antigo que, de certa maneira, pode significar
aquilo que aconteceu com Jesus.

4 - CUIDADO COM O FUNDAMENTALISMO!2


Vamos falar de dois tipos de leitura que desvirtuam o sentido, desnaturalizam a
Bíblia: o fundamentalismo e o utilitarismo.
O termo fundamentalista vem de uma coisa boa: ter fundamento, alicerce. Mas achar
que o próprio fundamento, aquilo em que se acredita é o melhor e único válido... faz a coisa
mudar de figura. Fundamentalismo é isto: absolutisar a própria visão do mundo, da vida e
até da religião. O fundamentalismo “absolutisa” o texto bíblico. Então não devemos acreditar
em tudo o que está escrito na Bíblia? Ela não é a Palavra de Deus? Vamos esclarecer isso.
Em primeiro lugar, não basta ler a apenas a Bíblia. Ela nasceu numa cultura, na vida
de um povo (contexto). Temos de conhecer o jeito de escrever, o vocabulário, os gêneros
literários (texto); enfim o “pano de fundo”. E o leitor, a leitora e a comunidade que leem a
Palavra também são importantes. Podemos então falar de um triângulo: Bíblia – Comunidade
– Realidade.
Ora, o fundamentalismo toma uma das pontas do triângulo, o texto, e diz que ela é a
única que conta.
Mas será que os fundamentalistas não estão corretos? Afinal eles dizem que seguem
a Bíblia “ao pé da letra”, que são fiéis ao texto original, que seguem fielmente aquilo que
está escrito.
O jeito fundamentalista de ler a Bíblia é justamente o que menos respeita o texto. Por
quê? Como vimos em nosso estudo sobre os gêneros literários, os autores escreveram
utilizando as formas típicas de escrita do tempo em que viviam. Além disso, não escreveram
para nós, mas para aqueles que viviam naquela época, para aqueles leitores e leitoras

2
RODRIGUES, Maria Paula (org.). Palavra de Deus e palavra da gente: as formas literárias na Bíblia. São
Paulo: Paulus, 2004. p. 171-173.

25
Vamos dar alguns exemplos. Na leitura fundamentalista, o mundo e o ser humano
foram criados como está escrito nos dois primeiros capítulos de Gênesis. É como se fosse
uma descrição “científica” de como surgiu o universo. Mas (...) há jeito melhor de entender
esse texto. Até porque ali há dois relatos bem diferentes um do outro.
Outro problema. Paulo, em suas cartas, dá várias orientações às comunidades. Ele
dirige-se a pessoas concretas, que vivem situações próprias daquele tempo e daquele lugar.
Tomemos o espinhoso exemplo da política. Na primeira carta de Pedro (2,13), o autor
pede que os cristãos se submetam às instituições humanas. Quer dizer, temos de ser
obedientes às autoridades. Porém, outro livro bíblico traz uma visão bem diferente. No
Apocalipse, o Império Romano é considerado a “grande Besta”, inimiga de Deus e dos
cristãos (Apocalipse 13). Se for para seguir cegamente o que está escrito, qual das duas
posições é mais “inspirada”?
A leitura fundamentalista, portanto, não consegue entender o texto, nem as intenções
do autor, nem o significado que determinada palavra tem para nós hoje.

5 - CUIDADO COM O UTILITARISMO!


Tem gente que abusa da Bíblia! Vejamos alguns casos.
Há o perigo de se reduzir a Bíblia a um livro de consulta pessoal, que dispensa a
comunidade. O que muitos fazem é reduzir o texto bíblico a umas poucas passagens “fáceis”
de se entender. Muitos até descartam o Primeiro Testamento como coisa sem importância.
Nesse caso, a experiência do Êxodo, fundamental para entender a Bíblia, perde seu
significado. As histórias bíblicas viram apenas belos contos edificantes, e não mais
profundas experiências comunitárias de fé. E Jesus fica parecendo mais um guru que tem
receitas apenas para problemas pessoais ou até um ator de uma peça teatral.
Pois é, tem gente que só se serve da Bíblia para isto: estou em dificuldades, vou ver
o que a Bíblia me diz. Não sei como fazer nessa situação, deixe-me abrir a Bíblia e ver qual
a resposta. A Bíblia, nesse caso, vira receita, livro de curas, guia de autoajuda, horóscopo.
Puxa, quer dizer então que a Bíblia não ajuda em situações de crise, ou de dúvida, ou
de dificuldades? Sim e não. Depende de como a lemos.
Podemos rezar com a Bíblia. Seja em comunidade, seja pessoalmente. Há muitos
textos que nasceram da oração das comunidades daqueles tempos. Os salmos são bons
exemplos. Encontramos nesses poemas situações semelhantes às nossas, seja de dificuldade,
seja de alegria e agradecimento. Mas a Bíblia não é livro de mágicas. Ela inspira a pessoa
ou a comunidade para que busque uma resposta válida para o seu tempo.
Outro perigo: usar da autoridade da Bíblia para o próprio interesse. Como um pai que
põe medo em seu filho, dizendo que Deus vai castigá-lo se não lhe obedecer, como fez com
os israelitas no deserto. De fato, há textos que falam de castigo, até do direito do pai de punir
seus filhos. Mas há outros que mostram que o respeito é mais importante. Por isso, é
necessário buscar uma resposta que seja boa para hoje.
Também há um tipo de leitura que podemos chamar de “subsidiária”. É o uso de
textos bíblicos para justificar as próprias ideias ou atitudes. Um bom exemplo: em Mateus,
o Reino dos céus pertence aos “pobres em espírito” (Mateus 5,1). Em Lucas, são bem
aventurados os pobres, simplesmente (Lucas 6,20). O estudo dos textos leva a descobrir que
esta última formulação é, provavelmente, mais próxima daquilo que teria falado Jesus.
Quantas vezes, porém, o texto de Mateus foi usado – e abusado – para mostrar que, para
Jesus, o mais importante seria o pobre “só de espírito” (não no sentido material), justificando
assim a opressão, a miséria, a dominação. Essa forma de ler continua sendo muito usada em
igrejas, em catequese, em homilias.
A Bíblia, apesar de todos esses abusos, não se rende a nossos interesses. Ela não se
deixa domar por este ou aquele grupo. Ela não serve a nossos propósitos imediatos; ao
contrário, nos provoca. Não diz o que temos de fazer, mas nos ilumina para que busquemos
o melhor caminho.

26
PARA ENTENDER A RELAÇÃO QUE EXISTE ENTRE
O SITZ IM LEBEN (CONTEXTO VITAL), A FORMA E A INTENÇÃO DO DISCURSO.
PARA CADA SITUAÇÃO, UM JEITO DE FALAR3
O jornal daquela manhã trouxe a seguinte notícia: “A Escola Recanto da Paz foi novamente
invadida por um grupo de traficantes. Não houve vítimas. A diretora foi feita refém e depois solta.
Os invasores fugiram antes que a polícia chegasse ao local”.
A notícia correu o bairro:
– Bom dia, comadre!
– Bom dia!
– Viu só a situação da escola dos nossos filhos?
– Nem fale! Fiquei com o coração na mão quando soube!
– Dá vontade de tirar o menino de lá.
– É mesmo...
Na delegacia, o escrivão já registrou o crime:
“Nome: Maria Aparecida Santos.
Endereço: Escola Recanto da Paz, Rua das Saudades, 123.
Motivo da queixa: às 17 horas, um grupo de suspeitos não identificados invadiu a referida escola. A
vítima, diretora do estabelecimento, foi tomada como refém e depois solta. A PM foi acionada, mas
os suspeitos fugiram”.
A revolta da população levou a Associação dos Moradores a escrever uma carta para o
governador:
“Exmo. Sr. Governador, vimos por meio desta mostrar nossa indignação contra a violência
que vem tomando conta de nosso bairro. Recentemente foi a escola, que abriga nossos filhos e filhas,
o alvo da ação dos bandidos...”
No domingo, a ministra da Palavra que presidia a celebração juntou-se à indignação geral:
“Irmãs e irmãos, essa situação não pode continuar. Deus quer a vida para todos. Quer a vida
sobretudo das nossas crianças e jovens. Vamos rezar para que encontremos um caminho, uma saída
diante dessa situação de violência”.
Um fato é comentado por diferentes pessoas, em situações também diversas. Isso produz diferentes
formas de linguagem. Podemos distinguir as formas orais, como o diálogo entre as vizinhas e a
homilia da ministra, e as escritas, como o texto do jornal, o boletim de ocorrência da polícia e a carta
da associação de bairro.
E se deixássemos somente as falas, sem mencionar as personagens? Seria possível
reconhecer quem tinha escrito ou falado, e em que situação? Provavelmente sim. No jeito de dizer
ou de escrever reconhecemos as formas utilizadas em situações semelhantes. Essas formas foram
fixadas pelo uso no dia a dia.
As saudações são um bom exemplo: “bom-dia”, “boa-tarde”, “como vai”, “prazer em
conhecê-lo”, “olá”, “e aí, mano?”. Dependendo da pessoa e da situação, escolhemos em nosso
repertório de saudações aquela que melhor cabe. Essas formas de saudação ajudam a estabelecer a
comunicação e definem o grau de intimidade com a pessoa, se é mais próxima ou mais distante,
conhecida ou estranha.
Na linguagem escrita, encontramos muitas formas fixas. Conhecemos a poesia, o romance,
o conto, a história em quadrinhos, as fábulas, as lendas do tipo “era uma vez”. Podemos observar o
mesmo com a linguagem mais técnica e científica: um manual, um requerimento, um formulário,
uma tese, todos possuem uma forma já estabelecida.
Conclusão: sempre que falamos ou escrevemos, servimo-nos de formas fixas que nos ajudam
a expressar idéias e sentimentos. O reconhecimento da forma ou jeito de uma pessoa falar/escrever
permite entender melhor o significado do que está sendo ouvido/lido.
Do mesmo modo, a Bíblia possui muitas formas fixas. Para conhecer melhor sua mensagem,
precisamos saber identificar as várias formas de que se serviram os autores e as comunidades para
contar a própria experiência de vida e de fé. (...)

3
RODRIGUES, Maria Paula (org.). Palavra de Deus, palavra da gente: as formas literárias na Bíblia. São
Paulo: Paulus, 2004, p. 14-16.

27
TABELA DOS GÊNEROS MAIORES NA BÍBLIA4
Gênero Características Intenção
História Narração de fatos passado. Compilação de Interpretar os fatos do
dados sobre a trajetória do povo de Deus. presente.
Análise da situação política. Mitos e lendas
das origens do povo de Deus.
Profecia Denúncia de injustiças. Chamar à conversão os
Comunicação da palavra divina. Anúncio de indivíduos e a sociedade.
promessa ou castigo.
Apocalipse Narrativas fantásticas de transformação da Protestar e resistir contra a
história ou dos fins dos impérios e outras opressão humana.
instituições humanas. ESPERANÇA
Narrativas de visões, sonhos e audições.
Lei Coleção de normas de conduta, Organizar o povo de
mandamentos, proibições e outros tipos de Deus. Chamar o povo e
regras. seus governantes à prática
da justiça.
Salmos Coleção de poemas para rezar, hinos, Promover a comunicação
súplicas e cânticos. afetiva entre Deus e o
povo.
Sabedoria Coleção de ditos, provérbios, parábolas, Iluminar o cotidiano.
conselhos, poemas e reflexões.
Evangelho Narrativas sobre Jesus e seus discípulos. Atualizar a boa notícia do
Coleção de ditos, parábolas e ensinamentos Reino de Deus.
de Jesus. Chamar ao seguimento de
Jesus.
Cartas Conselhos práticos, repreensões, Orientar a vida
recomendações, ensinamentos, comunitária.
admoestações, exortações.

6. O Pentateuco

“Pentateuco” é uma palavra grega que significa “cinco livros/rolos”. O Pentateuco


reúne os cinco primeiros Livros da Bíblia. Narra as origens do homem e do mundo, a
formação do povo de Israel, sua libertação o êxodo e a Aliança com Deus. O Pentateuco
pode também ser chamado de “Torá”, palavra que quer dizer “instrução”, “lei”.

6.1 Gênesis

“Gênesis” é uma palavra grega. Quer dizer: “origem”. O Gênesis é o Livro que narra
as origens do mundo e do homem, a corrupção da humanidade e o dilúvio. Conta-nos
também a formação do Povo de Deus e a história dos Patriarcas: Abraão, Isaac e Jacó.
Destaca-se neste Livro a Aliança que Deus faz com seu Povo. Essa Aliança foi feita
inicialmente no paraíso terrestre, a qual foi rompida pelo pecado de nossos primeiros pais.
Deus a renovou com Noé, após o dilúvio (Gn 9, 9.13). Mas, sobretudo com Abraão e sua
posteridade é que Deus vem estabelecer a sua Aliança (Gn 15, 1-18). É propriamente com
Abraão que tem origem o Povo Eleito de Deus, que se chamou Povo de Israel.

4
RODRIGUES, Maria Paula (Org.). Palavra de Deus, palavra da gente: as formas literárias na Bíblia. São
Paulo: Paulus, 2004, p. 89.

28
A partir do cap 12 o livro nos apresenta os primeiros arquivos do povo de Israel
propriamente dito e sua eleição como povo de Deus. Essa Eleição, no entanto, não é um
privilégio, antes é uma responsabilidade, um compromisso diante das nações. Pois YHWH
diz a Abraão: “Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de
nações. E não mais te chamarás Abrão, mas teu nome será Abraão, pois eu te faço pai de
uma multidão de nações.” (Gn 17, 4-5). Na verdade, ao eleger um povo, Deus o institui como
luz para as nações, deve, portanto, ser sinal de justiça e amor entre todos os povos, mais que
privilégio é vocação.

6.2 Êxodo

“Êxodo” é uma palavra latina, que significa “saída”. Esse Livro trata da saída do
Povo de Deus do Egito. O povo hebreu, com o passar do tempo, foi se tornando escravo no
Egito, que era uma terra de pagãos. Então Deus dá a Moisés a missão de tirar o seu Povo
desta “casa da Escravidão”. O livro do êxodo é ao mesmo tempo continuação e ruptura em
relação do livro de Gênesis. O Livro do Êxodo narra como isso aconteceu e como foi a
passagem de Israel pelo Mar Vermelho e pelo deserto. Em todos esses acontecimentos,
manifestou-se de maneira extraordinária o poder de Deus. Um ponto importante dessa
caminhada para a Terra de Canaã ou Terra Prometida é a ALIANÇA realizada no Monte
Sinai. Por intermédio de Moisés (mediador entre Deus e o povo), Deus institui os Dez
Mandamentos, ou Decálogo, ou a LEI, que é uma espécie de “Carta” dessa Aliança (Ex 19,
5-6). Esse Livro é uma espécie de coração pulsante do Antigo Testamento, por causa da
Aliança (teologia da Aliança), pois no 1º. Test tudo “gira em torno” dela. Passa de narrativas
familiares para a narrativa da história de um povo. Trata de três grandes elementos básicos
da vida e da compreensão do povo de Israel: a Páscoa (festa da páscoa comemora a saída do
Egito Ex 12,1-28), a Lei (Ex 19,16ss, 20,1-17) e a Aliança (Ex 19,3ss). Portanto, sem
entender o Livro do Êxodo, a compreensão dos Livros da Bíblia Sagrada é comprometida.

6.3 Levítico

Levi era um dos doze descendentes de Jacó/Israel. E Deus consagrou os descendentes


de Levi ao serviço do culto divino, tanto os sacerdotes como os Levitas. Daí é que vem o
nome do Livro: “Levítico”. É um Livro que trata das leis sobre o culto divino. Uma espécie
de “ritual” dos sacrifícios oferecidos a Deus naquele tempo. Por isso, as prescrições do
Levítico, hoje, quase não têm aplicações para os leigos. Trata das funções, cargos, costumes
e papel da casta sacerdotal Levita.
Vale salientar que já no final do Livro do Êxodo, houve a construção do Santuário,
ou Tenda da Reunião, do qual YHWH toma posse, habitando, por assim dizer, no meio do
povo, daí a necessidade de instruir o Povo acerca de seus procedimentos, pois o SENHOR
estava no meio deles.

7.4 Números

O Livro dos Números é designado como tal devido aos recenseamentos e séries de
números nele contidos. Narra a etapa final da caminhada do Povo de Israel pelo deserto.
Moisés e o povo estão às portas da Terra Prometida então é preciso contar quantos somos
para entrar na Terra. Além disto, supõe-se que o Povo já estivesse organizado em doze
grupos, que seriam depois as doze tribos. Neste Livro narra-se ainda as lutas dos israelitas
frente a outros povos que ocupavam as fronteiras da Palestina ou Terra Prometida.

29
7.5 Deuteronômio –

“Deuteronômio” quer dizer “Segunda Lei”. Este Livro tem estrutura particular: é
código de leis civis e religiosas (12,1-26,15 CÓDIGO DEUTERONÔMICO), enquadrado
num conjunto de discursos atribuídos a Moisés (5-11 e 26,16-28,68). Primeiro discurso de
Moisés (1,1-4,44), segundo discurso de Moisés (4,45-11,32 – dentro deste discurso temos o
SHEMÁ Israel 6,4-6), terceiro discurso (29-30) e também de trechos referentes ao fim de
Moisés: missão de Josué, cântico e bênção de Moisés e sua morte (31-34 ler Dt 34,10). O
código deuteronômico retoma, em parte, as leis promulgadas no deserto. Os discursos
retomam os grandes acontecimentos do Êxodo, do Sinai e da conquista que começava:
salientam seu sentido religioso, sublinham o alcance da lei e exortam à fidelidade à Aliança.
No Deuteronômio, YHWH promete a bênção e a felicidade a quem for fiel, e maldição a
quem for infiel à Aliança. Aí está a Teologia da Aliança, que comporta a Teologia da
Retribuição (Bênção e Maldição cf. Dt 11, 26-28). Camp. da Fraternidade Dt 30,19.

CURIOSIDADES

No Livro do Deuteronômio existem várias camadas redacionais. Existia no tempo de Moisés


somente o miolo que corresponde a Dt 16-22, com o trabalho redacional dos
Deuteronomistas aos poucos foram elaboradas e acopladas ao Dt outras camadas até chegar
à composição tal qual conhecemos hoje. Este miolo do Dt serviu como fio condutor para a
elaboração dos demais Livros do AT. Os mandamentos de YHWH serviam como parâmetros
para julgar as ações dos Reis e consequentemente de todo o povo.

Tarefa:
Leia em sua Bíblia a Introdução Geral aos Livros Históricos.

ENCONTRO 4
1. Livros Históricos: Período tribal, monarquia, Exílio e pós-Exílio

1.1 Os 16 Livros Históricos

1.1.1 Josué (O Senhor salva // Jesus) Ler Js 5,13

Quando o Povo de Israel se aproximava da Terra Prometida, Moisés, já de idade


avançada, faleceu sem poder entrar na Terra. Mas antes de morrer, havia transmitido sua
missão a Josué, o qual conduziu o povo até Canaã, a terra onde “mana leite e mel” (cf. Ex
33,3). Josué viveu “à sombra de Moisés durante toda a travessia do deserto”. O Livro de
Josué narra a tomada da Terra Prometida pelos Filhos de Israel, fala das vitórias do Povo de

30
Deus e da partilha da Terra de Canaã entre as Tribos de Israel. Mostra um Josué que chefia
grandes batalhas.
O livro de Josué pode ser dividido em duas partes: A conquista da terra e a repartição
da terra para as 12 tribos (13-21, tipo uma reforma agrária).

Ler Js 24 – 24,1 (convocação, 24,2-13 histórico dos benefícios a favor do povo, 24,14-24
diálogo de Josué com o povo, 24,25-27 conclusão, 24,28-33 morte e sepultamento
Tema do livro -TERRA. Cap 1 prólogo, Caps 2-12 A conquista da Terra, Caps 13-21 A
distribuição da Terra (reforma agrária) e Caps 22-24 Conclusões

1.1.2 Juízes Ler Jz 2,6-8


Depois da morte de Josué até a constituição do Reino, um período que durou do séc.
XIII ao séc. XI aEC, as terras das Tribos de Israel foram muitas vezes invadidas por povos
inimigos. Então, certos líderes “carismáticos” assumiram a defesa do Povo de Deus,
tornando-se assim verdadeiros heróis e chefes absolutos de uma ou mais Tribos. Tais chefes
eram chamados “Juízes”. Segundo os estudiosos, o Livro dos Juízes faz parte da produção
literário-teológica da grande Historiografia Deuteronomista. Neste Livro é interessante
notar, que com a morte de Josué, o Povo de Deus, ficou sem um grande líder, e segundo o
redator do Livro, a geração que sucedeu a geração de Josué, “não conhecia a YHWH” nem
o que Ele tinha feito por seu povo (cf. Jz 2,6-10), em outras palavras, os israelitas tornaram-
se infiéis e “fizeram o que era mau aos olhos de YHWH” (Jz 2,11). Um esquema teológico
em quatro tempos, a saber: pecado – castigo – conversão – salvação; se repete com
frequência no Livro dos Juízes. O esquema reproduz a própria história de Israel e revela por
um lado a inconstância do povo quanto à fidelidade, e por outro, mostra que o SENHOR é
bom e fiel. Se o povo se arrepende de seus pecados e se converte, Ele envia os Juízes, líderes
carismáticos temporários, salvadores e libertadores. Este esquema além de conter a Teologia
da Retribuição, apresenta a Teologia da Graça e mostra que se houver confiança nos
momentos de fraqueza, a força do Senhor não demora a chegar.
O livro apresenta um resumo da vida das tribos. A época de Josué é apresentada como
de Fidelidade e a dos Juízes é apresentada como época de Infidelidade. São apresentados 12
juízes. Juízes que não só fazem justiça, mas que sobretudo comandam e governam além de
serem os salvadores do povo.

1.1.3 – 1 Samuel
Samuel foi ao mesmo tempo o último juiz de Israel e poderíamos dizer o primeiro
profeta. Foi consagrado a Deus desde a infância e educado pelo sacerdote Eli. Por volta do
ano 1200 aEC, Samuel unifica as Tribos de Israel para poder enfrentar os filisteus. Samuel
torna-se assim um chefe político e religioso de Israel. Só depois de muita insistência, por
defender a teocracia, ele aceita que seja eleito um rei para Israel: Saul a quem ungiu, e que
depois foi substituído por Davi.
I Sm Caps 1-7 – Vocação e missão de Samuel
Caps 8-12 – Transição das Tribos para a Monarquia, ascensão de Saul
Caps 13-15 – Guerras de Saul contra os filisteus e amalequitas
Caps 16 – 31 Saul persegue David (ascensão e David e queda de Saul)
(((Cap 24 David poupa Saul, Cap 25 morte de Samuel, Cap 31 morte de Saul)))
Caps 16 – 21 Saul persegue David

1.1.4 – 2 Samuel

No início, “Samuel” era um só Livro. Depois foi dividido em dois. Este Segundo
Livro narra o grandioso reinado de Davi, protótipo de rei fiel à YHWH. Depois da sagração
de Davi como Rei, Samuel sai de cena. Condena veementemente o pecado de David.

31
1.1.5 – 1 Reis
Os Livros dos Reis contam a história dos israelitas a partir da morte do Rei Davi (ano
970 aEC), início do reinado de Salomão até a deportação do Povo de Israel por
Nabucodonosor, no ano 587 aEC. A história narrada neste Livro salienta a inconstância dos
Reis e também do Povo, em relação à Aliança com YHWH. Narram-se alianças políticas,
adoração aos Baals e Astartes, a divisão do Reino etc. Têm muitos dados históricos, mas não
devem ser considerados primordialmente como livros históricos e sim como uma reflexão
teológica do período da monarquia.

I Rs 1-11 – Final do reinado de David e início do reino de Salomão.


I Rs 12 – II RS 17 – Cismo do Reino de Israel
I Rs 17-19.21; 2Rs 1-2 – Ciclo de Elias – ressurreição do filho da viúva, o sacrifício
do Carmelo, Elis no monte Horeb. I Rs 21 vinha de Nabot.
II Rs 3,4-8,15. 9,1-13 Ciclo de Eliseu o ungido de Elias
II Rs 18-25 – Do fim do Reino de Israel ao fim do Reino de Judá. Destaque para o
Reis Josias e a Descoberta do Livro da Lei.

1.1.6 – 2 Reis

No início, os dois Livros formavam um só. A história dos reis de Israel e de Judá aí
narrada não pode ser tomada num sentido rigoroso e científico. A preocupação dos
deuteronomistas, redatores destes Livros, não é histórica, mas teológica. Assim sendo, os
redatores, quiseram deixar claro o porquê do Povo de Deus ter sido mandado para o Exílio,
a saber, por sua infidelidade a YHWH e a seus mandamentos

Lugar de destaque é reservado aos profetas: Elias, Elizeu, Natan, Shemaiá, Ahiá,
Miquéias, Isaías, Hulda. Eles intervêm a todo o momento e falam em nome do Senhor,
proclamando apelos à obediência à Lei tanto por parte do Rei quanto do povo. Atuam no
campo moral, político e religioso.

CURIOSIDADES
O Único e Verdadeiro Rei de Israel era YHWH, no entanto, a partir do momento que o povo
lhe pediu um rei, este deveria ser na terra o braço de Deus a exercer o direito e a justiça,
sobretudo em relação aos mais fracos: o pobre, órfão e a viúva. Se, porém, o rei não realiza
o que agrada ao SENHOR, ele deve ser advertido. Quem tinha a missão de fazer tais
advertências eram os profetas. Os profetas eram homens de Deus que tinham a missão de
exortar, em nome de Javé, os reis, os chefes do povo e todo o povo quanto ao proceder em
relação ao cumprimento da Aliança; o que ocorreu diversas vezes e, por isto, serviu também
como uma das justificativas do Exílio: reis e povo foram constantemente advertidos, no
entanto, não deram ouvidos à pregação dos profetas. Nos livros dos Reis a figura de dois
profetas, Elias (1Rs 17-2 Rs 2) e Eliseu (2Rs 2-13), despontam como fiéis combatentes
javistas contra o baalismo.
Assim, ao lado do rei sempre havia um ou mais profetas como, por exemplo:

REIS PROFETAS
Saul Samuel
Davi e Salomão Natã, Gad
Acab e outros do Reino do Norte Elias e Eliseu
Acaz e Ezequias Isaías (I, II e III)

32
1.1.7 – 1 e 2 Crônicas

Os Livros das Crônicas, formavam uma só obra juntos com os Livros de Esdras e
Neemias, a chamada “Historiografia Cronista”. Foram escritos por volta do início do terceiro
século aEC. Estes escritos têm uma forte marca da ideologia hierocrática (poder exercido
por sacerdotes) típica dos círculos sacerdotais de finais do séc. IV aEC, que governavam a
província de Judá. O Primeiro e Segundo Livro de Crônicas, assim como Esdras e Neemias
têm em comum temas como: o Templo, o culto e a “raça”. 1/ 2 Cr, especificamente, não é
tanto historiografia quanto meditação sobre a promessa feita a Davi de ter uma dinastia
duradoura (cf. a Profecia de Natã em 2Sm 7, 8-13). É uma obra redigida numa determinada
perspectiva, uma peculiar “teologia da história”.

Podem ser considerados complementos aos livros de Samuel e Reis.


Narram desde a criação até o final do sec V aEC depois da volta do Exílio.

1 Cr 1-9 – Listas genealógicas desde Adão até David passando pelas tribros
1 Cr 10-29 – Reinado de David. Da morte de Saul até a morte de David
2 Cr 1-9 – Reinado de Salomão
2 Cr 10-36 – Reino de Judá, da morte de Salomão ao Exílio babilônico.

1.1.8 – Esdras e Neemias

Estes Livros apresentam-se como continuação do Livro das Crônicas. Narram o


retorno do exílio da Babilônia com a restauração religiosa de Israel, a reconstrução do
Templo e dos muros de Jerusalém; permitidos pelo Edito de Ciro, rei da Pérsia, que
autorizava a volta dos exilados para Jerusalém. Aliás, o fim de 1/2 Cr é idêntico ao início de
Esd/Ne, citando verbalmente o texto do Edito de Ciro. É assim como convinha iniciar a
história do judaísmo, no pós-exílio (Esd/Ne) com esse documento, pedra fundamental para
a reconstrução do povo, convinha encerrar com ele a história anterior (1/2 Cr), com um “final
feliz”.
Esdras era contra o casamento com mulheres estrangeiras, ler Cap 10,1-5. Esdras e
Neemias não são citados em nenhum outro Livro do 1º. Testamento.

Esd 1-6 – Volta dos primeiros cativos autorizados por Ciro.


Esd 7-10 – Esdras, sacerdote e escriba, chega a Jerusalém e se assusta com os
numerosos casamentos de Judeus com pagãos.
Ne 1-7 – Neemias, sensibilizado pelos relatos sobre Jerusalém, vai a Jerusalém e
começa a reconstrução da cidade iniciando pela muralha.
Ne 8-9 – Esdras restaura o culto e a celebração das festas conf. a Lei de Moisés.
Ne 10-13 – Lista de reformas efetuadas por Neemias em Jerusalém.

Esdras – sacerdote, escriba, erudito no campo da Lei, rigorista, renovador do culto.


Neemias – leigo, enérgico e de coragem indomável, homem de oração e fé.

1.1.9 Rute

O Livro conta a história de uma mulher chamada Rute, que se casa com Booz. Rute,
a estrangeira, é modelo de piedade e de fidelidade. Ela é bisavó do Rei Davi, de cuja família
nasceu Jesus (cf. Mt 1,5). Sendo Rute uma estrangeira (moabita), ela é sinal de que Deus
quer estender a Salvação a todos os povos e não somente ao Povo de Israel, assim, o Livro
de Rute combate a visão xenofóbica de Esdras e de seus partidários (cf. Esd 10,1-5).

33
1.1.10 – Tobias
Este Livro foi escrito na metade do século II aEC. Os dados históricos entram apenas
como pano de fundo, ele se encaixa no estilo literário do romance. O que mais interessa é
expressar de maneira viva e bela a grandeza da piedade e da fé. O jovem Tobias é o exemplo
de um israelita justo, que vive conforme a Lei de Moisés.
Dá mostras da vitalidade humana e religiosa do judaísmo no pós exílio, inspirado na
tradição da sabedoria do mundo pagão circundante. Duas famílias judaicas deportadas para
Ninive (Iraque) e Ecbátana (Irã) famílias de Tobit e Tobias.

1.1.11 – Ester
O Livro de Ester é um romance relacionado com a diáspora. Ester (nome da deusa
suméria Ishtar), a bela sobrinha do judeu Mardoqueu (nome do Deus babilônio Marduc),
torna-se primeira dama do rei Xerxes da Pérsia. Nesta qualidade, ela consegue o castigo dos
inimigos que programaram o primeiro pogrom (perseguição dos judeus) que a História
conhece. O livro explica assim a origem da Festa do Purim (as Sortes), celebrada na Palestina
já por volta de 165 aEC, conforme atesta 2Mc 15,36 (o “dia de Mardoqueu”).
A salvação de Deus não poderia se realizar sem o concurso dos homens a quem ele
se dirige. Essa é a Aliança entre Deus e seu povo.

1.1.12 – 1 e 2 Macabeus
O Primeiro Livro dos Macabeus é um Livro histórico que abrange um período de
cerca de 40 anos: de 175 a 135 aEC. Narra lutas empreendidas pelos Macabeus nos anos de
166-161 aEC contra os generais sírios, em defesa de Jerusalém. Esses livros foram os únicos
a informar sobre a história do povo eleito na época de domínio helênico (grego). Os
Macabeus eram cinco irmãos, filhos do sacerdote Matatias.
O Segundo Livro dos Macabeus foi escrito aproximadamente no ano 100 aEC. tem
finalidade mais edificante do que histórica. Nele se exalta a resistência até o martírio dos
judeus “piedosos” (os hasidim), tendo seu maior expoente em Judas Macabeu. Junto com
Dn 12, 2-3, este Livro fornece o primeiro indício explícito, na Bíblia, acerca da fé na
ressurreição dos mortos – fé que sustenta o martírio (2Mc 7,9.11ss) e assim revela uma
força revolucionária. De fato, enquanto o israelita antigo projetava a sobrevida pós-morte
em sua descendência, que devia manter o seu nome, a fé na ressurreição libertava os jovens
guerreiros do medo de morrer sem deixar descendentes. Esta mesma fé justifica também, o
sacrifício pelos mortos, conforme 2Mc 12,44.
Conforme a tradição judaica, a revolta dos Macabeus abriu um precedente na história
da humanidade: nunca antes uma nação ousou morrer por seu Deus. Esta foi a primeira
guerra religiosa e ideológica da história da civilização.
O líder da revolta, Judá, o Macabeu, possuía notável capacidade militar. Derrotou
várias expedições enviadas para tentar esmagar a revolução. Três anos depois do início da
guerra, Judá e seu exército ocuparam a capital, desfizeram as inovações helenísticas de
Menelau e consagraram o Templo ao Deus Judaico. Esse fato deu origem à festa de
Chánukah.
Os dois livros não fazem parte dos livros canôninos, escritos em grego e tendo
sido considerados apócrifos por São Jerônimo e pelos protestantes, Lutero lutou para que
1Mc não fosse canônico.

Obs.:Na TEB o bloco de livros Js, Jz, I e II Sm e I e II Rs são chamados profetas anteriores

Tarefa:
Leia a Introdução Geral do Segundo Testamento em sua Bíblia.

34
ENCONTRO 5
1 Os 7 Livros Sapienciais

1.1 – Jó
Escrito no quinto século antes de Cristo. Num estilo poético, o Livro apresenta o
problema do sofrimento. Baseados no Deuteronômio, os judeus achavam que o sofrimento
significava castigo e abandono de Deus. O Livro de Jó busca provar que não é assim, pois
Jó sofre e é um justo amado por Deus. Este Livro quer ensinar a crer e confiar em Deus,
mesmo no extremo do sofrimento e da solidão. É uma tentativa de um homem perplexo de
situar-se ante o Deus santo e todo poderoso.

A mensagem teológica que o Livro de Jó quer transmitir é que não as explicações


dos sábios, mas a presença de Deus mesmo, em meio aos sofrimentos, é o que o reconforta
(Jó 42, 1-7). Deus está ao lado daquele que sofre não ao lado daqueles que apresentam
explicações baratas. Para Jó o silêncio divino é o sofrimento último. Mais que a destituição
dos bens, que a perda dos filhos, o banimento da sociedade, a incompreensão da esposa e
dos amigos, e mais até que os terrores de uma doença fatal.

É a teologia da Graça em contrapartida às acusações dos sábios sobre os castigos


sofridos por Jó. A noção de pecado aplicado no livro ultrapassa a noção simplista entre bem
e mal. Jó exige, não a cura, mas ser liberado das acusações contra ele. Teologia da retribuição
x teologia da Graça, a inclusão do final atrapalha.

Prólogo em prosa – 1,1-2,13 – inclusão posterior


Diálogo em verso entre Jó e três amigos – 3,1-31,40
Discursos em verso, intervenção do quarto amigo – 32,1-37,24
Diálogo, em verso, entre o Senhor e Jó – 38,1-42,6
Epílogo em prosa – 42,7-17 – inclusão posterior

1.2 – Salmos

O Livro dos Salmos é um verdadeiro manual de orações para o povo judeu, para
Jesus (judeu praticante) e para nós hoje. A palavra salmos quer dizer “louvores”. São poesias
para serem cantadas. Ao todo são 150 salmos. A referência a Davi, Salomão, Moisés, Core,
Asaf, Emã e Etã, no cabeçalho de cada salmo não indica necessariamente a autoria, mas
garante a autorização das autoridades religiosas para a recitação no culto; pois a chancela
para o uso canônico é expressa na Bíblia pela referência a um personagem de reconhecida
influência e importância no povo israelita.

Possíveis divisões dos Salmos: nos Salmos 3-41 e 90-150 Deus é denominado
YHWH (Javé, SENHOR) enquanto nos Salmos 42-83 ELOHIM (Deus). Podem também ser
divididos em cinco partes (numa alusão ao Pentateuco) 1-41; 42-72; 73-89; 90-106; 107-
150, cada bloco é encerrado com uma benção ou doxologia (forma de louvor ou glória
dirigida a Deus, normalmente ritmada, ex.: “: Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus
Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para
sempre. Amém”).

Quanto ao gênero literário, podemos classificar os Salmos em quatro categorias,


distintas pela estrutura e forma literária, bem como pelo objetivo específico dos respectivos
salmos. As quatro categorias abrangem tipos específicos, agrupados segundo critérios
literários e temáticos:

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1.2.1 - I. SALMOS DE LOUVOR: visam ensinar a prece de reconhecimento da soberania
de Deus, a adoração da criatura ao Criador:

 Hinos: celebram a soberania de Deus, como Criador (8, 19A, 33, 104) ou como
Senhor da história (65, 68, 113-115, 117, 135, 136, 145-150);
 Salmos históricos em forma de hino (75, 105, 106)
 Hinos litúrgicos para grandes solenidades (24, 132)
 Cânticos de Peregrinação (120-134) e Cânticos de Sião (46, 48, 76, 122), que exaltam
Jerusalém e o Templo;
 Salmos da realeza de Deus, celebrando a soberania de Deus, como Rei por excelência
(47, 93, 96-99);
 Salmos da realeza davídica, glorificando os monarcas da dinastia de Davi, como
representantes de Deus (2, 18, 20, 21, 45, 72, 101, 110, 132).

1.2.2 - II. SALMOS DE AÇÃO DE GRAÇAS: ensinam preces de gratidão a Deus pelos
dons recebidos:

 Em âmbito individual (9, 18, 30, 32, 34, 40, 66C, 92, 107, 116, 118, 138);
 Em âmbito coletivo (66B, 124, 129).

1.2.3 - III. SALMOS DE SÚPLICA: ensinam preces de confiança na ajuda de Deus


concedida aos aflitos e necessitados:

 Em âmbito individual (5-7, 10, 13, 17, 22, 25, 26, 28, 31, 35, 36, 38, 39, 42, 43, 51,
54-57, 59, 61, 63, 64, 69-71, 86, 88, 94, 102, 109, 120, 130, 140-143);
 Em âmbito coletivo (12, 14, 44, 58, 60, 74, 77, 79, 80, 83, 85, 90, 94, 108, 123, 137);
 Salmos de confiança individual (3, 4, 11, 16, 23, 27, 62, 63, 91, 121, 129, 131) ou
coletiva (46, 123, 125, 126);
 Salmos de vigília, para a véspera das solenidades litúrgicas (5, 17, 27, 30, 57, 63,
143);

1.2.4 - IV. SALMOS PENITENCIAIS: ensinam preces de acatamento da vontade de Deus:

 Salmos alfabéticos, para memorizar (137, 111, 112, 119, 145), também em outras
categorias: 9, 10, 25, 34;
 Salmos histórico-didáticos (78, 105, 106);
 Salmos de exortação profética (14, 50, 52, 53, 75, 81, 82, 95);
 Salmos sobre a doutrina da retribuição (37, 43, 49, 73, 91);
 Salmos de instrução sapiencial (1, 37, 49, 73, 112, 119, 127, 133).
Os Salmos espelham a vida e a memória histórica do povo israelita, como se pode
verificar no estudo aprofundado e, sobretudo, na oração ou meditação cotidiana. Embora
alguns salmos estejam na primeira pessoa do singular, todos eles se originaram da liturgia e
são destinados para a liturgia, para celebrar a obra de salvação realizada na história.
Chama a atenção que ¼ do Saltério é constituído de salmos de súplica. Sinal de
religiosidade interesseira? Não necessariamente. A imploração não é necessariamente
egoísta; pode também ser uma expressão de confiança e de solidariedade com Deus,
considerado o único em quem se pode confiar de verdade.

36
OBSERVAÇÃO: Os Salmos 9 e 10 originalmente formavam um só poema (e assim
continua no grego e na Vulgata). Daí resulta a diferença de numeração, quando numa citação
aparece Sl 51, corresponde ao Sl 50 na Bíblia Hebraica, da mesma forma o Sl 23, o Salmo
do Bom Pastor, corresponde ao Sl 22 na Bíblia Hebraica e nas Traduções que a adotam como
fonte, como por exemplo, as Bíblias Protestantes.

1.3 Provérbios

O mais antigo livro didático ou sapiencial é o Livro dos Provérbios, que recolhe as
sabenças populares de Israel desde tempos remotos. A obra é atribuída a Salomão (1,1), que
tinha fama de sábio (cf. 1Rs 3, 16-28, etc.) e cujo nome devia legitimar o uso na sinagoga.
O livro contém:
 Um conjunto de exortações pedagógicas, de pai para filho, prevenindo contra as
mulheres más e colocando em cena a mulher certa, que é a Sabedoria personificada
(1,8-9,18);
 Duas coleções de provérbios/comparações de Salomão (10, 1-22, 16 e cap. 25-29)
 Coleções de provérbios de outros sábios, inclusive não-israelitas (22, 17-31,9, menos
cap. 25-29);
 O famoso poema sobre a mulher virtuosa (Pr 31, 10-31).
Este Livro nos põe em contato com uma sabedoria prática, nada especulativa, que
conduz a pessoa a viver conforme as boas regras de convivência vigentes na sociedade
judaica. Não há referências à história de Israel ou à Aliança (como em Dt 4,6, etc.).

I - 1,8-9,18 – Exortação do pai educador;


II – 10-,1-22,16 – Sentenças sobre a vida moral;
III –22,17-24,22 – 1ª. coletânea dos Sábios;
IV –24,23-34 – Sentenças sobre a vida moral;
V – 25-29 – 2ª. coletânea dos Sábios;
VI –30,1-14 – Um Sábio não israelense;
VII –30,15-33 – Provérbios numéricos;
VIII –31,1-9 – Outro Sábio não israelense;
IX – 31,1-31 – Louvor à mulher virtuosa.

1.4 Eclesiastes (Qohélet) = O pregador

Não se sabe ao certo quem o escreveu. Mostra a instabilidade, e a insegurança da


vida presente (da época), é muito pessimista. Começa dizendo: “Vaidade das vaidades. Tudo
é vaidade” (Ecl 1,2). Mas, no meio desse pessimismo, o Eclesiastes ainda lembra que há
muita coisa boa sobre a terra, e que tudo o que é bom vem de Deus. Por isso, precisamos
amar a Deus e obedecer aos seus mandamentos.

– 1,3-11 - Prólogo;
– 1,12-2,26 – autocrítica de Salomão;
– 3,1-6,12 – aspectos negativos e limitações da realidade humana;
– 7.1-12,7 – Reflexões comparativas, Sabedoria e suas relações com justiça.

1.5 Cântico dos Cânticos

“Cântico dos Cânticos” é uma expressão que significa: “O canto por excelência”, ou
“o mais belo dos cânticos”. É um cântico de amor, bem ao estilo oriental. Toma como
exemplo o amor do esposo e da esposa, mas o bom israelita já sabe que se refere ao amor de

37
Deus para com seu povo, com quem fez uma Aliança. Da mesma forma, os cristãos, pensam
no amor de Jesus para com sua Igreja, novo Povo de Deus. Cap 5.
Este livro pode ser estudado de quatro formas: interpretação alegórica, interpretação
cultual, interpretação dramática e interpretação naturalista. Podemos ainda fazer um paralelo
com a linguagem da Aliança, para mostrar no amor de Deus para com seu povo o modelo de
todo o amor humano.

1.6 Sabedoria

O nome do autor deste Livro é desconhecido, mas se sabe que foi escrito em língua
grega por um judeu, que vivia provavelmente no Egito, na primeira metade do séc. I aEC. O
Livro não trata da sabedoria mundana dos filósofos, mas da Sabedoria que é Vida e Amor.
Uma Sabedoria que procede de Deus. É um Livro bem próximo do Novo Testamento e tem
a preocupação de atualizar a religião judaica. Fala da imortalidade da alma e do destino
eterno do homem, como o 2Mc. Ler 3,13-4,6 (a mulher estéril).

1-5 – O destino humano, justos x ímpios; imortalidade dos justos (5,15-23);


6,1-11,3 – Elogio à sabedoria;
11,4-19,22 – Meditação sobre o Êxodo, israelitas x egípcios.

1.7 Eclesiástico (Siracida) = Livro da Igreja ou da assembleia

Chama-se também “Sabedoria de Jesus, filho de Sirac”, ou “Livro de Sirac” ou


simplesmente “Sirácida”. Foi escrito por volta dos anos 120 aEC, fora os escritos proféticos
este é o único livro do I testamento que tem um autor definido. Faz considerações sobre a
vida humana. Mostra o valor estável da Lei de Deus, que nos conduz ao que é eterno. É um
convite a obedecer aos sábios preceitos divinos. Leva-nos a praticar a virtude e a fugir do
pecado. É um Livro válido para judeus e cristãos, pois procura educar o homem para uma
vida feliz.

Tem por principal finalidade defender o patrimônio religioso e cultural do judaísmo,


sua concepção de Deus, do mundo e sua eleição privilegiada.

2 - Os livros proféticos Ler Dt 18,14-22

Como já dissemos, o profetismo bíblico surge com força ao mesmo tempo em que o
primeiro rei de Israel sobe ao trono. O profetismo é muito valorizado pelo judaísmo,
islamismo e cristianismo chamadas religiões proféticas: Deus fala através dos profetas.
PROFETA LOCAL aEC DATA REINADO
Reino Norte/Sul APROXIMADA
Elias 1Rs 17-19; 2 Israel 850 Acab de Israel (869-50)
Rs 1-2
Micaías 1Rs 22 Israel 850 Acab de Israel (869-50)
Eliseu 2Rs 2-10 Israel 825
Amós Israel 750 Jeroboão II de Israel (786-46)
Oséias Israel 740-30 Jeroboão II de Israel (786-46) e outros
Isaías (Is 1-39) 742-695 Joatão de Judá (724-35); Acaz de
Judá (735-15)
Miquéias Judá 730-01 Ezequias(715-687);Manasses (687-42)
Naum Jerusalém? 663-12
Sofonias Judá 630-22 Josias de Judá (640-09)
Jeremias Judá 627-580 Josias, Joacaz (609), Joiaquim (609-598)

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Habacuc Judá 605-600 Joiaquim(598-97);Sedecias (597-87)
Ezequiel Babilônia 593-70 Nabucodonosor (556-39)
2 Isaías (Is 40-55) Babilônia 540 Nabonidus (556-39); Ciro (550-30)
Ageu Jerusalém 520 Jerobabel da Judéia (520-18);
Dário I (522-486)
Zacarias Jerusalém 520-15
Jonas ? Nínive? 500?
3 Isaías (Is 56-66) Jerusalém 515?
Malaquias Jerusalém 515-445
Joel Jerusalém 400-350?
Abdias ? ?

2.1 Amós

Era camponês, de alma simples e fervorosa. Pastor de ovelhas nas proximidades de


Belém. Deus o chamou a profetizar durante o reinado de Jeroboão II (786-46 aEC). Amós
condena ferozmente as injustiças sociais que massacram o povo da Samaria (Reino do
Norte), especialmente a corrupção por parte dos juízes e a opressão dos pobres. Ameaça com
castigos a prática de tais injustiças.

2.2 Oséias

Oséias exerceu seu ministério por volta dos anos 740-30 aEC. O profeta fala sobre a
infidelidade de Israel para com o SENHOR e, compara a união de Deus com seu povo como
a um matrimônio. Casou-se com a prostituta Gomér.

2.3 Isaías
Isaías é considerado o maior profeta de Israel. Nasceu em Jerusalém, por volta do
ano 765 aEC. Com cerca de 20 anos começou a profetizar. Exerceu essa missão durante
aproximadamente 50 anos. É o profeta da justiça e do direito. Denuncia as explorações
sociais e a idolatria. Fala claramente do Messias.
O Livro do Profeta Isaías se divide em três partes, provavelmente não se trata do
mesmo profeta que escreveu o livro todo. A primeira parte compreende os cap. 1-39 e o
autor certamente é Isaías. A segunda parte, Deutero-Isaías vai do cap. 40 ao 55. A terceira
parte ou Trito-Isaías vai do cap. 56 até o fim. É no Livro de Isaías que se encontram as mais
belas passagens sobre o Messias, chamado pelo profeta como “Servo de YHWH”, a Ele
foram dedicados os quatro cânticos do “Servo Sofredor” conhecido por todos nós (42; 49;
50 e 52). O nome Isaías, quer dizer “Deus salva”. Isaías I, II e III, antes/durante/depois do
Exílio.

2.4 Miquéias

Nasceu perto de Hebron. Foi contemporâneo de Isaías. Profetizou no fim do séc. VIII
aEC. Anunciou a ruína da Samaria (o que acabou acontecendo em 722 aEC). Predisse que o
Messias nasceria em Belém (Mq 5,2).

2.5 Naum

O profeta fala da grandeza de Deus e do poder com o qual o Criador governa o


mundo. Alegra-se com a queda de Nínive, que se deu por volta do ano 608 aEC.

2.6 Sofonias

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Profetizou no reinado de Josias, aí pelos anos 625 aEC. Predisse a justiça divina,
anunciando o “Dia de YHWH”, ocasião na qual seriam punidos todos os maus, pagãos e
judeus. Fala também da felicidade dos tempos messiânicos.

2.7 Jeremias

Jeremias profetizou durante quarenta anos. Ficou conhecido como o “profeta das
desgraças”. Entre as profecias mais duras, figura a profecia da deportação dos judeus. Pela
dureza de sua pregação foi perseguido e humilhado, visto como um derrotista. Ele viu e
também sofreu as desgraças que predisse. Jeremias lutou pela reforma religiosa de Israel.

2.8 Lamentações

Livro composto nos anos após a destruição de Jerusalém, em 587 aEC. Contém
orações, lamentações (cantos fúnebres) e súplica, para que, apesar de tantos desastres e
sofrimentos, o povo volte a confiar em Deus e em sua Aliança. Este Livro é lido anualmente
pelos judeus, no aniversário da destruição do Templo.

2.9 Baruc

O profeta exorta o povo a fazer penitência. Além de ser um poema à Sabedoria


Divina, é também um convite à coragem, à resignação e à esperança. Baruc quer dizer
“abençoado”. Baruc foi secretário de Jeremias.

2.10 Habacuc

Profetizou entre os anos 625 e 598 aEC. Predisse a invasão iminente dos caldeus. Foi
um profeta filósofo. Considera o problema do mal, e diz que, no final, Deus salvará os justos
e punirá os maus. Então a terra se encherá do conhecimento de Deus.

2.11 Ezequiel

Ezequiel quer dizer “aquele que Deus faz forte”. Quando Jerusalém foi tomada por
Nabucodonosor, no ano de 597 aEC, a elite de Jerusalém (rei, soldados, sacerdotes do
Templo e judeus importantes) foram levados para o Exílio na Babilônia, e Ezequiel estava
no meio destes. Lá, os deportados não sofriam fisicamente, pois não foram exilados como
escravos, gozavam, portanto, de certa liberdade, podendo trabalhar, negociar e se organizar
em comunidades. O que os fazia sofrer era o fato de estarem longe da Terra dada por Deus
e do Templo. No começo era uma tristeza estarem misturados com os pagãos, mas, aos
poucos, os exilados começaram também a viver à maneira dos pagãos, adotando certos ritos
de idolatria.
É no meio destes judeus exilados que Ezequiel, exerce sua missão profética,
procurando levar o povo a se manter fiel à Aliança com YHWH, o verdadeiro Deus. Fala do
Messias como de um pastor que vai apascentar o seu rebanho, e anuncia a restauração de
Israel.
Ezequiel prega a responsabilidade individual (dentes embotados).
O cerne da profecia de Ezequiel é o anúncio da presença da Glória de Deus junto aos
exilados (1, 1-28; 10, 18-22; 11, 22-25), culminando na visão da volta da Glória para
Jerusalém (43, 1-12). Assim, em meio a desesperança Ezequiel foi sinal de Esperança, o
Exílio não era o fim da história de Israel. Lembrar do tripé de sustentação do judaísmo
TERRA+REI+TEMPLO.

40
2.12 Ageu
Exerceu seu ministério em Jerusalém, por volta do ano 520 aEC, quando era
reconstruído o Templo. Para ele, todas as desgraças eram causadas pelo fato de o Templo
ter sido destruído. Ele anima o povo com as esperanças dos tempos messiânicos. O nome
Ageu significa “aquele que nasceu durante a festa” ou o “peregrino”.

2.13 Zacarias
É contemporâneo do profeta Ageu. Prega uma reforma moral e exorta o povo a
reconstruir o Templo. Fala da vinda do Messias e da conversão das nações.

2.14 Jonas
O Livro de Jonas é uma espécie de parábola. Mostra que Deus chama à conversão os
judeus e também os pagãos, os quais ouvem prontamente a voz de Deus.

2.15 Malaquias
Malaquias quer dizer “meu mensageiro”. Provavelmente profetizou entre os anos
515-445 aEC. Fala do amor de Deus para com seu povo. E diz que, se Deus não está
concedendo mais bênçãos, é por causa dos adultérios e divórcios. O profeta anuncia o dia de
YHWH, que purificará os membros do sacerdócio, devorará os maus e assegurará o triunfo
dos justos (3,1 – 5. 13-21).

2.16 Joel

Profetizou no reino de Judá e em Jerusalém, onde nasceu. Fala do culto divino e do


amor que o espírito profético fará brotar sobre todo o povo na era escatológica (3, 1-5).

2.17 Abdias

Profetizou pelos anos 550 aEC. Anunciou castigos sobre Edom e o triunfo de Israel
no Dia de YHWH, porque os idumeus se aproveitaram da ruína de Israel. O profeta solta um
grito apaixonado de vingança, mostrando o seu espírito nacionalista.

2.18 Daniel

O autor do Livro é desconhecido. Daniel é o nome de um personagem ideal que sofre


no exílio. Tem fé viva e ardor patriótico. É o herói principal da obra. O Livro destina-se a
sustentar a fé e a esperança dos judeus perseguidos por Antíoco Epífanes. Fala do Tempo do
fim no qual o perseguidor será abatido. Será o fim das desgraças e do pecado, e o advento
do Reino dos santos, governado por um “Filho do Homem” (figura messiânica), cujo império
jamais passará.

A data da sua obra (605-534 a.C.) Daniel estava entre os primeiros cativos levados de
Jerusalém para a Babilônia em 605 aEC. e continuou lá durante o período de setenta anos
durante os quais os israelitas estiveram em cativeiro (veja Daniel 1:1,21;10:1; Jeremias
25:11;29:10). Por ocasião da invasão da Palestina pelas hostes de Nabucodonosor. (1,1-3)

O livro apresenta O profeta Daniel como autor em vários trechos, como 9.2 e 10.2. O fato
de Jesus confirmar essa autoria fica claro quando se refere ao “sacrilégio terrível”, do qual
falou o profeta Daniel (Mt 24.15), citando 9.27; 11.31 e 12.11. O livro foi provavelmente
finalizado em 530 aEC., poucos anos depois de Ciro conquistar a Babilônia, em 539.

41
2.18.1 - QUEM ERA DANIEL

Sábio, intérprete de sonhos e visões, que viveu entre os exilados judeus na Babilônia.

Daniel era jovem quando foi levado para a Babilônia, talvez logo no início do domínio de
Nabucodonosor sobre Jerusalém, em 605 aEC. Sabe-se pouco sobre ele, mas pelos
conhecimentos que demonstrava devia fazer parte das camadas dominantes e dirigentes de
Jerusalém. Ele era reconhecidamente um homem de ciência. Nada se sabe a respeito da sua
família. A sua piedade diante de Deus e sua integridade nos negócios de Estado (Dn 2.14-
23) nos levam a pensar nas instruções do ambiente familiar.

Ele ascendeu rapidamente, tornando-se um dos oficiais mais respeitados do governo. Sua
reputação se manteve mesmo com o colapso do Império Babilônico. Já em idade avançada
foi um dos homens poderosos do Império Medo-Persa sendo subordinado apenas ao rei.

2.18.2 - UM LIVRO POLÊMICO

Daniel é um dos livros mais polêmicos e complexos do Primeiro Testamento. Na Bíblia


Hebraica aparece entre os “Escritos” e, no cânon cristão das Escrituras, entre os “Proféticos”.
O livro de Daniel é uma literatura apocalíptica no Primeiro Testamento. Por essa razão, de
forma rigorosa, para os hebreus, o livro não cabe no cânon dos profetas. Daniel enfatiza o
controle divino sobre as potencias mundiais, e destina-se a animar os judeus na fé e esperança
em Deus diante das perseguições de Antíoco Epífanes (Dn 8.23-25). Por isso o livro de
Daniel apresenta a história a partir da perspectiva divina. Sua mensagem é de certeza. A
despeito de todas as aparências do contrário, a humanidade não é deixada às forças da
ganância e ambição humanas ou à mera sorte. Deus está no controle da vida hoje. Ele
governa nos reinos dos homens para cumprir seu propósito. O Deus onipotente e onisciente
está cumprindo seu sábio desígnio e irá salvar seu povo que depositou nele sua confiança.

Daniel pode ser considerado companheiro do livro de Apocalipse; ambos contêm uma
linguagem figurada de difícil interpretação.

Encontro 6
Jesus de Nazaré: encarnação, vida, paixão/morte e Ressurreição
Quadro Cronológico Escritos
5 aEC Nascimento de Jesus de Nazaré
4 aEC Morte de Herodes Magno
14 EC Tibério imperador de Roma
27 Atividade de João Batista – Batismo de Jesus
30 Morte e Ressurreição de Jesus de Nazaré
Pentecostes: primeira comunidade cristã (At 2-5)
36/37 Grupo dos “Sete”(Estevão, Felipe e outros apóstolos): o
cristianismo entre os judeu-helenistas Coleções de
Martírio de Estevão sentenças e
39? Expansão na Samaria e na Síria (At 6-8) milagres de Jesus
Conversão de Paulo de Tarso (At 9)

43/44 Fundação da Igreja de Antioquia (At 11, 19s)


Perseguição de Herodes Agripa I
Martírio de Tiago Maior (filho de Zebedeu) (At 12,2)

42
48/49 “Primeira viagem” de Paulo (At 13-14) “Primeiras” e
50-58 “Concílio dos Apóstolos” em Jerusalém (At 15) “grandes” cartas
Grande missão de Paulo na Europa de Paulo
(“segunda e terceira viagens”: At 16-18 e 19-20) Cartas do
cativeiro
58-60 Paulo em Jerusalém; prisão; Cesaréia (At 21-26)
60-63 Paulo transferido para Roma (At 17-28)
60-64 Atividade de Pedro e Paulo em Roma
62 Martírio de Tiago Menor, chefe da Igreja de Jerusalém
64 Perseguição de Nero; provável martírio de Pedro e Paulo Ev. de Marcos
66 Rebelião e perseguição dos judeus no Egito “Guerra Carta de Tiago?
Judaica”; os “zelotas”
68 Fim da comunidade de Qumran
70 Tomada de Jerusalém e destruição do Templo
72/73 Suicídio coletivo dos zelotas em Massada
78-81 Tito imperador Mateus; Lucas +
80s Reconstituição da comunidade judaica Atos
Preponderância das comunidades helenistas entre os cristãos “Cartas pastorais”
Domiciano imperador; Hebreus, 1Pedro
81-96 Sínodo judaico de Jâmnia; excomunhão dos cristãos da
+ 85? comunidade judaica
Imposição do culto ao Imperador e perseguição dos cristãos Ev. e Cartas de
90s (Ásia Menor) João, Apocalipse,
O cristianismo e a gnose Judas, 2Pedro
132-135 Rebelião de Bar Kokbá e destruição de Jerusalém
Início do séc.II;
Conclusão do NT

Grupos que existiam no tempo de Jesus eram:

Herodianos. Eles eram a favor da política romana, dominante na época. Eles apoiavam a
dinastia de Herodes. Elite judaica

Fariseus: Eram grupos de judeus piedosos que zelavam pela observância fiel da Torah,
diante da ameaça de helenização imposta pela política intolerante dos Selêucidas. Os fariseus
eram da origem dos assideus. Os assideus uniram-se ao movimento rebelde liderado pela
família dos Macabeus, desejosa de salvar o judaísmo da torpe influência do helenismo e da
ingerência política dos sírios (Selêucidas) na vida dos judeus Estima-se que a sua doutrina
tenha raízes nos tempos de Esdras e Neemias, daí o zelo pela Torá

Zelotas: a paixão pela liberdade. Esse nome vem do grego “zelos” que significa zelo,
ciúmes, defesa extremada de uma convicção própria quando é ameaçada. Os zelotas formam
um partido revolucionário e nacionalista. Seus membros eram fanáticos e opositores da
dominação romana. Seu ideal era estabelecer a teocracia, expulsando pela força os
dominadores estrangeiros. Por isso foram duramente reprimidos pelos romanos, exatamente
por representarem a forma mais perigosa de movimento judaico contra os interesses do
império romano. Pela narrativa na qual Pedro decepa a orelha do soldado romano afirma-se
que ele era um Zelota.

Essênios: os penitentes. Por volta do ano 150 aEC em plena efervescência do movimento
Macabeus, nascia outro grupo dentro do judaísmo: os essênios. Eram uma espécie de monges
judeus. Viviam no mais absoluto respeito à Lei Mosaica, mas numa linha divergente dos

43
fariseus. Segundo Josefo sua origem parece também estar nos assideus, portanto origem
comum aos Fariseus. Sua comunidade tinha suas próprias regras, geralmente muito austeras,
buscando o ascetismo. Os essênios não apoiavam a revolta dos Macabeus, por considerá-las
apenas de cunho político, uma briga de poder. Era uma comunidade que vivia retirada no
deserto. João Batista pode ter feito parte deste grupo.

Saduceus: a elite manipulada e manipuladora. Os Saduceus formavam um partido


político religioso, cujo nome se relaciona com Sadoc, o sumo sacerdote colocado por
Salomão em lugar de Abiatar. Os saduceus separam-se dos fariseus quando Jônatas, irmão
de Judas Macabeus usurpou o sumo sacerdócio (152 a. E.C) Desde então os saduceus se
tornaram adversários dos fariseus dos quais se distinguem pelas crenças religiosas. Suas
convicções religiosas tendiam a negar o sobrenatural. Só aceitavam estritamente a tradição
escrita, particularmente do Pentateuco, afirmando não encontrar aí a doutrina da ressurreição
da carne. Na política, os saduceus apoiavam a dominação romana e controlavam a nomeação
dos sumos sacerdotes. Constituíam, por isso, uma espécie de elite na sociedade judaica, pois
se associavam ao poder econômico, dele se beneficiando. Não aceitavam as tradições orais
judaicas, apegando-se somente ao que está escrito na Lei. Por isso, não acreditavam em anjos
nem na ressurreição.

Fariseus e Escribas controlavam o povo e os Saduceus controlavam o Templo

GRUPO SADUCEUS FARISEUS BATISTAS


Pertenciam à classe alta, tanto a Pertenciam à classe média. Vinham das classes
sacerdotal como a leiga. Eram Em geral, era artesãos. populares.
CLASSE SOCIAL grandes proprietários de terra e Fariseu quer dizer
grandes comerciantes. Controlavam separado.
as ri quezas do Templo.

Eram aliados dos romanos para poder Suportavam os romanos e A eles também pregavam a
POSIÇÃO EM manter seus privilégios. diziam que o sofrimento conversão. (Ler Lc 3,10-14)
RELAÇÃO AOS imposto por eles era uma
ROMANOS purifi cação. Declaravam ser
neutros na política.

Tinham uma rígida observância da lei. Tinham um ideal muito alto Os seguidores de João
Aceitavam somente o Pentateuco. de observância da lei e Batista pregavam um
Acredi tavam no Reino de Deus que na queriam impor isso ao povo. batismo de conversão.
terra. Desprezavam o povo, Os pobres e o povo em Afirmavam que o tempo
considerando-o impuro. geral eram considerados havia esgotado e que se
VISÃO DE DEUS impuros e malditos. aproximava o juízo final. Por
Detentores do saber, isso, era necessário fazer
legalistas e conservadores, penitência.
acreditavam que a salvação
podia ser alcançada pela
rígida observância da lei,
que faria acontecer o Reino
de Deus.

MESSIAS Esperavam um Messias que Esperavam um Messias Esperavam um Messias juiz.


ESPERADO restaurasse monarquia de Davi. legislador que restaurasse a
lei.

44
GRUPO ZELOTAS ESSÊNIOS POVO
Eram camponeses pobres que haviam Classe média e camponesa. São as pessoas pobres,
perdido suas terras, sobretudo na Retiravam-se ao deserto, excluídas e marginalizadas
CLASSE SOCIAL região da Galiléia. Recrutavam porque a sociedade era má. – os doentes, as mulheres,
adeptos entre os pobres. Viviam em comunidades. as crianças, os escravos
judeus e não judeus.

Os romanos eram impuros e Para eles, os romanos eram Eram os que suportavam o
POSIÇÃO EM invasores. Organizavam-se em símbolo do mal. peso das dominações
RELAÇÃO AOS guerrilha para expulsá-los. romana e judaica.
ROMANOS

Eram muito exigentes com a A lei para eles tinha valor Eram considerados malditos
santidade do templo e da lei. Matavam absoluto e era interpretada e impuros por não conhecer
VISÃO DE DEUS e morriam pelo templo. Tinham uma pelo mestre de justiça. e não observar a lei. Entre
visão nacionalista do Reino de Deus. Davam muito valor às eles, havia os anawim, os
abluções de purificação. O pobres de Javé que
ideal de pobreza e partilha esperavam uma intervenção
vivido entre eles, junto com de Javé, o Deus dos
uma vida pura, faria pequenos.
apressar o Reino de Deus,
que exterminaria os maus.
Consideravam impuros o
templo e o sacerdócio.

MESSIAS Esperavam um Messias guerreiro Esperavam um Messias Em geral, esperavam um


ESPERADO como Davi, que os guiasse na guerra legislador e sacerdote, que Messias quebra-galho.
santa contra Roma. viria restaurar e purificar a
lei, o templo e o sacerdócio.

Os Saduceus como os Samaritanos consideravam inspirados apenas os livros do


Pentateuco Ou Torah. Os “rolos” encontrados em Qumram pertenciam aos Essênios
O Evento Referencial: O Mistério Pascal de Cristo
• A partir das fontes, especialmente os evangelhos, podemos tentar evocar a figura de
Jesus, que causou o impacto do qual nasceram a pregação dos apóstolos, as tradições
das comunidades e, finalmente, a redação dos escritos acerca de Jesus que o 2º. Test
nos transmite. Com Jesus, cristãos da primeira hora (caminheiros, grupo dos com
Jesus), beberam água da fonte na palma da mão.

Origem
• Ano 5 aEC
• Nasceu em Belém, mas criou-se em Nazaré, na Galiléia (Reino do Norte e região das
revoltas judaicas 60 EC). Lc 2,1-5 situando no contexto histórico.
• Sua missão profética teve início na órbita de João Batista, com o qual os primeiros
cristãos têm em comum a prática do batismo (batismo de conversão, arrependimento
dos pecados - Água), embora com um sentido novo (batismo de inserção comunitária
- Espírito).
• Atuou na linha das grandes intervenções proféticas. Anunciando o reinado de Deus,
Jesus atua e fala com “poder”, sua pregação é confirmada por sinais milagrosos
(exorcismos e curas).
• REINO DE DEUS X JESUS.
• Jesus era chamado de “O profeta” (semelhante a Moisés, que havia de vir: Dt 18,18),
ou de Messias (=Cristo, ungido por Deus), ou ainda, de “Filho do Homem” (cf. Dn
7,13-14).
• História: Flávio Josefo e Fílon. Ler pag 155 livro “Repensar a ressurreição”

45
O Reinado de Deus

• A boa-nova (ou evangelho) de Jesus: a pregação da chegada do reinado de Deus


• O Reinado de Deus é a realização, aqui na terra, da vontade de Deus, que não é senão
o seu amor paterno, exigindo que nos tratemos como irmãos.
• Jesus gera conflitos por causa de sua pregação: Deus salva seus filhos porque os ama;
sua bondade é gratuita. E a Lei e a Justiça não são em primeiro lugar meios para se
salvar, mas orientações para amar os outros filhos de Deus. Contra a retribuição
(méritos da Lei). LEI X HOMEM
• Jesus é rejeitado como Messias, pois não veio como “salvador da pátria”, no modelo
de David conforme esperado pelos judeus.

A comunidade de Jesus

• Jesus não só ensinou, mas também fundou um grupo de pessoas que fizessem daquilo
que ele ensinou por sua vida e morte a estrutura fundamental de uma nova sociedade,
sem isso, o Reino de Deus não teria pé neste mundo. Por isso, Jesus faz de sua morte
a conclusão de uma “nova aliança” (cf. Jr 31,31-35) com a comunidade dos seus
seguidores, aliança selada em seu próprio sangue, representado pelo vinho da ceia
pascal (Mc 14, 22-25).
• O Reinado de Deus não vem ostensivamente como que caindo do céu; é um novo
modo de viver que se inaugura entre as pessoas: “O reino de Deus está no âmbito de
vocês” (Lc 17,21).

A Morte

• Causa: motivos religiosos e/ou políticos?


• Culpa: dos judeus e/ou dos romanos? Sinédrio (Escribas e saduceus) + Pax Romana
• Jesus morreu porque foi fiel àquilo que ele tinha iniciado: uma nova maneira de viver,
no mundo, a consciência do amor de Deus.
• Jesus não tomou o poder, mas colocou-se ao lado do não-poder, em nome do Pai,
desafia o poder a pôr-se a serviço da justiça e da fraternidade (pobres e excluídos).
• Com sua pregação e ação Jesus mexeu com as estruturas político-econômico-sociais
estabelecidas, pois estas não produziam justiça. Sem medo de desafiar os poderosos
de seu tempo.
• Ao reinterpretar os conceitos de justiça e da Lei, Jesus mexeu com a estrutura
religiosa pela qual os fariseus se elevavam a dominadores do povo, e os sacerdotes
do Templo e saduceus a exploradores.
• Quem na verdade condenou Jesus, foram os detentores do poder (os governantes
Romanos e os que integrantes do Sinédrio).

A Ressurreição

• A narrativa acerca de Jesus não termina com sua morte, mas na “ressurreição no
terceiro dia”, sinal de que Deus ficou com Ele na morte e para além da morte. Venceu
a morte.
• O Ressuscitado precede os seus na Galiléia, onde se reconstitui a comunidade (Mc
16,7; Cf 14, 27-28). Mt 28; Mc 16; Lc 24,13-21.25-35 e Jo 20-21
• A ressurreição é inseparável da comunidade cristã.
• O sepulcro vazio é contestável (tese do corpo roubado), as aparições podem ser
experiências de fé. Mas, a expressão “eles não eram mais os mesmos” e os

46
testemunhos dos cristãos quando vivem a dinâmica do ressuscitado justificam a
ressurreição, essa é a grande Ressurreição.
• Busque a Ressurreição diária naquilo que vc ama, somos seres ressurrecionais.
• Ele não foi embora apenas mudou a forma de estar conosco, um novo modo de
presença real.
• Ressuscitar é fazer uma nova história acontecer.
• É necessário um discurso atual para a Ressurreição, com uma mudança de
paradigma, sob pena de continuar com o discurso antigo e torna-la absurda e não
crível.

Primórdios da comunidade de Jesus


• A comunidade de Jerusalém – em Atos, Lucas apresenta o modelo de comunidade:
fraternidade, comunhão de corações e de bens materiais. “Eles tinham tudo em
comum”
• A expansão
• O nascimento das Escrituras Cristãs: as primeiras testemunhas estão morrendo. Será
que as novas Igrejas conhecerão a tradição certa a respeito de Jesus? Será que não
correm o risco de criarem um Jesus segundo seus sonhos assim como os judeus
criaram acerca do Messias? A Práxis é digna de ser contada por escrito.
• Inicialmente os escritos vinham em “formas literárias”: querigma, instrução, paixão,
parusia, milagres, parábolas etc.
• Evangelhos = “formas literárias” + tradição oral + necessidades da comunidade. 1Cor
11,23.
• Então “fazei tudo o que Ele vos disser” (Maria em Caná), então presta atenção no
que Ele diz, busca nos Evangelhos a verdadeira Palavra de Jesus, não fique vivendo
de caricaturas de Jesus pintadas por outros, imagens que nos foram dadas ou criadas
por nós mesmos sem qualidade. Veja em “HD” e não em “analógico”. Se não
podemos ser o Cristo para o próximo então sejamos Maria.

CURIOSIDADES

Todos os evangelhos são catequeses ou teologias narrativas. Os evangelhos fazem a


catequese organizando-a ao redor da vida de Jesus. Os primeiros cristãos se serviam do
gênero das teologias narrativas para elaborarem os evangelhos, que também é um gênero
literário. A partir das crises e problemas de fé da comunidade, elaboram-se catequeses. Para
responder às crises da comunidade, os evangelistas voltam à pessoa de Jesus nos anos 30,
servindo-se das tradições sobre Ele. Os evangelistas utilizam da tradição, mas não julgam
sua historicidade. Não há preocupação com a ipissíssima verba, ou o quê Jesus disse de fato.
Tomando as tradições, os evangelistas procuram organizar o material recolhido em favor de
seu projeto literário-teológico, há uma adaptação da tradição ao seu interesse literário-
teológico. Assim estamos diante de uma catequese narrativa que visa responder aos
problemas de crise de fé da comunidade.

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Encontro 7 Glossário Querigma – Anúncio At 2,14-36; 3,12-26; 10,34-43
Parusia – a volta eminente de Cristo para o juízo final
Escatologia – Tempo do fim, últimas coisas.

Nasce uma literatura – II testamento

• Coleção de sentenças e de milagres de Jesus.


• “O Evangelho antes do evangelho”
• A tradição recebida de Paulo (os mais antigos escritos cristãos – as cartas de Paulo,
a partir de 50 dC – 1Ts)
• O querigma – “discursos missionários” ou querigmáticos: At 2,14-36; 3, 12-26 e At
10, 34-43

Formas literárias nas comunidades cristãs


• Evangelho
• Querigma
• Parábolas
• Coleção de Milagres
• Parusia
• Instrução dos convertidos: Mt 5-7
• Catequese dos candidatos ou recém-batizados: Jo 3, 1-15; 4, 4-29; Rm 6, 3-11
• Liturgia, celebração e culto: Fl 2,5
• História da Paixão: Mc 14-15 e paralelos
• Profissão de Fé: Rm 10,10
• Exortação à firmeza na fé e na vida moral (parênese): Fl 4, 4-9
• “Novelas”, narrações mais elaboradas, de estilo edificante: Lc 7, 36-50
• Apocalíptico
• Entre outros

Escritos Paulinos

• Jesus veio anunciar o Reino de Deus, os evangelistas anunciaram Jesus, mas foi
Paulo quem “fundou” a Igreja, sistematizou, organizou.
• Conversões de Paulo: Gl 1,13-24; At 9,1-9; 22,6-11; 26,12-18.
• O Cristo glorioso.
• Cartas Paulinas??? - 7+6+1
• Primeira carta: 1Tessalonicenses;
• As “grandes cartas”: Coríntios, Gálatas, Romanos
• As “Cartas do cativeiro”: Filipenses, Colossenses, Efésios, Filêmon.
• Cartas genuínas (7) Rm, ICor, IICor, Gl, Fl, Fm, ITs
• Deutero paulinas Ef, Cl, IITs
• Pastorais ITm, II Tm, Tt. Tratam de problemas diversos da estrutura e organização
interna das comunidades. Disciplina comunitária e eclesial
• Homilia, sermão – Hb. não é Carta, não é de Paulo e nem é dirigida aos Hebreus. É
contra os judaizantes
• 4 viagens – 1ª. – Derbi, Listra, Icônio, Antioquia de Psídia, Perge Atália e Salamina
- 2ª. – Retornou pelos mesmos lugares e foi para a Grécia (Europa):
Neápolis, Felipos, Antípolis, Tessalônia, Beréia, Corinto e Éfeso.
- 3ª. – Todas as comunidades e se fixa em Éfeso.
- 4ª. – Como prisioneiro vai para Roma.

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• Cartas – 1 Tessalonicenses – Parusia (volta de Jesus para formalizar o juízo final e a
recompensa dos fiéis). A Ressurreição vista como uma viagem de Cristo para receber
a realeza universal de Deus e depois voltar para o juízo final.
• 1 Cor – Cap 13 –AMOR, Cap 15 – Ressurreição
• Gálatas e Romanos – LEI X CARIDADE (Gl 5,13-14) e Salvação pela fé
• Três centros de evangelização: Jerusalém, Antioquia da Síria e Éfeso.
• Existe a tese de que os escritos paulinos poderiam se perder e aí o autor de Efésios
foi o compilador do corpus paulino e a própria carta aos Efésios seria a introdução
geral de toda a coleção paulina,

Os primeiros Evangelhos escritos

- O Evangelho de Marcos (+ 65 dC)


- João Marcos – muitas vezes assim citado (At 12,12.25; 13,5.13; Cl 4,10; 1Pd 5,13)
- Escrito na Galiléia ou na Síria durante a revolta judaica.
- A parusia não é pra já.
- O segredo messiânico (Mc 8,31)
- Jesus terreno, histórico
- Pedro e Tiago, comunidade em Jerusalém

- O Evangelho de Mateus (depois de 70)


- Escreve para a comunidade dos cristãos vindos do judaísmo, na Síria
- Jesus é apresentado como o novo Moisés
- Contra os Fariseus (mestres da Lei) = Jesus é o único mestre.
- Acento na boa formação dos discípulos.
- É o Evangelho da “sinagoga cristã”.
- Profetas e 1º. Testamento.

- O Evangelho de Lucas (História de Jesus e continua no Atos) 80/85 EC


- Médico, não viveu com Jesus, mas foi companheiro de Paulo na evangelização do
mundo greco-romano.
- Resgata a figura da mulher
- Comunidade urbana (cidade 39 vezes) ricos e pobres
- Viver a longo prazo – Parusia distante
- História da salvação - tempo da promessa (Primeiro Testamento) e tempo do
cumprimento da promessa (atuação de Jesus) e o tempo da vida dos cristãos no mundo
(Práxis) reunidos na Igreja e animados pelo Espírito Santo.
- Possível divisão do Ev Lc 1-3 - A infância de Jesus.
Lc 3-9 – Jesus na Galiléia.
Lc 10 – 19,28 – A subida a Jerusalém
Lc 19,28- Realização em Jerusalém até a Ressurreição
- Paulo e Barnabé

- Atos dos Apóstolos (70 a 80 dC) - História da comunidade


• At 1-15 – A comunidade de Jerusalém em torno dos 12 apóstolos/discípulos
• At 16-28 – Atividade e viagens de Paulo
• Três Pentecostes: - Judeus – At 2,1-41
• - Samaritanos – At 8,5-25
• - Gentios – At 10,44-48

49
Os Evangelhos Sinóticos

Mc Fonte Q

(Mts) Mt Lc (Lcs)

A “Questão Sinótica”
Comparando Mt com Mc, percebemos que Mt contém as mesmas matérias
narrativas, praticamente na mesma ordem e até com as mesmas palavras, que Mc. O
contato literário entre os dois é inegável. Todavia, Mt é a metade mais longo do que Mc,
e isso é devido sobretudo a uma multidão de sentenças e parábolas de Jesus que Mc não
traz. Então, há duas possibilidades: ou Mt acrescentou algo a Mc, ou este abreviou Mt.
Ora, esta última hipótese é pouco provável: por que Mc teria eliminado algo tão
importante como o Sermão da Montanha e as sentenças de Jesus no evangelho de Mt? É
bem mais plausível que Mt tenha acrescentado, à matéria essencialmente narrativa
transmitida por Mc, outra tradição, contendo sentenças de Jesus.
Por seu estilo semítico, Mt parece emergir de um ambiente judeu-cristão próximo da
Palestina, possivelmente da Síria, para onde os cristãos de Jerusalém se refugiaram
quando da guerra judaica de 66-72 EC, talvez levando consigo uma coleção de sentenças
do Mestre Jesus. Tais sentenças correspondem bem ao método do ensino rabínico, que
foi o de Jesus e o da tradição dos primeiros cristãos na Palestina.
Assim como Mt, também Lc contém, com algumas exceções, as matérias de Mc, e
substancialmente a mesma terminologia e ordem; além disso, as mesmas sentenças que
Mt acrescentou a Mc, em parte verbalmente iguais e agrupadas da mesma maneira,
embora inseridas na narração em lugar diferente. Será que também Lc teve acesso à
“fonte das sentenças de Jesus” usada por Mt para completar o evangelho de Mc? Pode
ter sido um fruto das investigações que ele diz ter efetuado (Lc 1, 1-4).
Constatamos, portanto, que os três primeiros evangelhos são tão semelhantes quanto
ao conteúdo e à ordem, que podem ser colocadas em colunas paralelas numa visão de
conjunto ou sinopse. Por isso, são chamados evangelhos sinóticos. Já o Evangelho
segundo João não cabe muito bem dentro de tal sinopse.
O estudo deste fenômeno chama-se de questão sinótica. A melhor explicação que se
encontrou para o evidente parentesco literário dos três primeiros evangelhos, Mt, Mc e
Lc – parentesco cientificamente comprovado pelos métodos da investigação filológica e
literária – é a seguinte:
 Nos anos 30-60 EC ter-se-iam cristalizado, primeiro na pregação oral depois na
escrita, pequenas unidades e breves coleções de sentenças do Mestre Jesus e
também de suas principais atividades, sobretudo os milagres que comprovavam
a autoridade de sua palavra.
 Por volta de 65-70 EC, Marcos teria colocado por escrito uma parte – mormente
narrativa – dessa tradição: surgiu assim o primeiro evangelho escrito dentre os
que nos foram conservados. As recentes tentativas de datar Mc mais cedo,
inclusive com base em novas descobertas documentais, não convencem os
estudiosos.
 Por volta de 80, Mt e Lc teriam escrito os seus evangelhos, independentemente
um do outro, usando as mesmas duas fontes literárias, a saber:
- o evangelho de Mc
- e uma coleção de sentenças de Jesus, possivelmente conservada na comunidade cristã
de Jerusalém antes da guerra judaica (66-73 EC). (Os estudiosos indicam esta fonte pela

50
sigla Q, do alemão Quelle, “fonte”; e pelo termo grego lógia, que significa “palavras,
sentenças”).
 Além destas duas fontes literárias – Mc e as sentenças (Q) – Mt e Lc têm
naturalmente cada um seu material peculiar.
 Existe uma corrente de estudiosos que diz que o critério de escolha dos 4
evangelhos (havia muitos outros textos evangélicos escritos): Mateus e João
estavam entre os Doze, Marcos ligado a Pedro e Lucas a Paulo além disso é
baseada no uso na aceitação na tradição nas comunidades

As “Cartas Pastorais”

• Carta a Timóteo I e II Timóteo


• Carta a Tito
• Tratam de problemas diversos da estrutura e organização interna das comunidades.
Disciplina comunitária e eclesial

As “Cartas Católicas”
com destinação universal

• A carta de Tiago
• A primeira carta de Pedro
• A Carta de Judas
• A segunda carta de Pedro
• I II e III cartas de João
• Dirigem-se a todos os cristãos em geral (universal = católica)

Escritos joaninos (80 a 135 EC)


- O “quarto evangelho”
- Escrito por e para judeus/cristãos expulsos da sinagoga (Jo 9,19-23) por fazerem uma
nova leitura das Escrituras e acreditavam ser Jesus o Messias anunciado.
- Pessoas marginalizadas, excluídas, perseguidas e minorias.
- Comunidades já evangelizadas por Paulo e seus discípulos. As dificuldades são
interpretações errôneas sobre Jesus e sua doutrina, religião dos mistérios e os gnósticos
(chamados no apocalipse de nicolaítas Ap 2,6). As comunidades joaninas e seus escritos
situam-se na Ásia Menor (Éfeso).
- Duas conclusões: 20,30-31 e 21,24-25.

Livro dos Livro da GLÓRIA


SINAIS (Manifesta Glória na Cruz)

Adro(Prólogo) --- Nave (Santo) --- Presbitério (Santo dos Santos) --- Sacristia (Epílogo)

1,1-18 1,18 -12, 50 13-20 21


Público Discípulos e amigos

Os escritos joaninos se deram num contexto de grande rejeição aos cristãos, haja vista as
XII Bençãos proclamadas nas sinagogas pelos rabinos (Tephillah, a oração por excelência):
“Para os apóstatas e para os nazarenos e os heréticos, não haja esperança, e todos num
instante pereçam; que os nazarenos e os heréticos sejam imediatamente destruídos e sejam

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apagados do livro dos vivos. Bendito tu Senhor, que despedaça os inimigos e humilha os
soberbos.”

• As Cartas joaninas
- 1ª. Carta– pessoas com conhecimento superior (gnosticismo + docetismo) 5,13-21
Exposição doutrinal sobre o amor de Deus e o amor verdadeiro às pessoas.
- 2ª. Carta – falsos doutores ou anticristos (vers 6)
- 3ª. Carta – Bilhete a Gaio (ancião da Igreja que recebeu missionários em sua casa)

• O movimento Apocalíptico (ESPERANÇA)


Músicas: debaixo dos caracóis..., dancing days... depois de nós (Engenheiros do Hawai)

Apocalipse é uma palavra grega e significa “revelação”.

Usa simbolismos, metáforas e visões proféticas.

Gênero tipo sonho ou pesadelo (tem sentido, mas não total)

Mostra medos e ansiedades da época

Criação, destruição e reconstrução. Pode assustador para “quem não lè bem”.

Não fala de fim do mundo, o tempo é que é de desordem, destruição e sofrimento. Ao


contrário, fala de novos céus e nova terra.

O autor do Apocalipse conhece bem o 1º.Test. inclusive usa muita coisa do apocalíptico
Daniel.

Fazer uma hermenêutica do texto, todo texto pede um contexto. Uma comunidade de que
vive os horrores da dominação romana. O escritor usa de linguagem metafórica para mostrar
todo um contexto no qual o grande desejo daquela comunidade é esmagar a cabeça do dragão
que é o Império Romano, livrar-se daquela dominação. Fala da insatisfação desse povo
dominado e oprimido que quer se tornar livre (este é o contexto).
Uma leitura possível para hoje é de um tempo de Parusia. Nós, sabendo o contexto,
acreditando no fim dos tempos podemos usar essa linguagem verbalizando a nossa fé na
escatologia. Essa leitura deve ser de esperança, assim como o escritor queria alimentar a
esperança de vencer o Império, nós também devemos ficar motivados a esperar pela
eternidade (trabalhar o conceito de eternidade). Nós também temos necessidade de fazer cair
por terra as estruturas que nos dominam, realidades que nos esmagam, que nos oprimem.
Viver para que a minha vida me encaminhe para um apocalipse escatológico de esperança,
preparando o que virá, desde agora, desde já, invocando o poder de Jesus que nos liberta de
todas as opressões. Um apocalipse em minha vida significa proclamar, a partir do sacrifício
de Jesus, que todas as realidades que me oprimem cairão por terra e sei que viverei
plenamente essa libertação quando, eu partir dessa vida, entrar na ressurreição, a eternidade,
a salvação já nos foi dada, o que temos a fazer é nos libertar de tudo o que nos oprime. A
Graça de Deus tem a primazia nesta ação, mas Ele não dispensa de nossa missão de lutar
contra o opressor. Para o cristão todo o dia é dia de esmagar a cabeça do dragão, todo o dia
é dia de proclamar a libertação.

As pessoas se enganam muito na leitura do Apocalipse. Parece um livro de horror,


ensejando especulações misteriosas ou fanáticas (p. ex., a respeito da “besta-fera” de Ap
13,18). Mas, na realidade, não é nada disso. É um livro de exortação dos cristãos ameaçados

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pela perseguição e pela desistência. Páginas como Ap 2,17; 3,7-13; 21, 1 – 22,5, justificariam
para esse livro o apelido de “Livro da Consolação da Igreja Perseguida”. O “vidente” do
Apocalipse “vê a realidade celeste”, a vitória do Cordeiro, decisiva e definitiva, enquanto no
plano da história seus seguidores enfrentam o martírio. Ele parece dizer – como Martin
Luther King, o líder negro assassinado – “Eu tive um sonho... em meio a esta opressão, eu
vejo a luz que vocês não veem!”
O Apocalipse de João se alimenta dos escritos apocalípticos do Antigo Testamento: Joel
(3-4), Zacarias (-14), Isaías (24-27) e, sobretudo Daniel. No segundo Testamento temos o
gênero apocalíptico em: Mt 24, Mc13, Lc 21, Ts 5,1-11, I Cor 15,35-53, Rm 8,18-25 e II Ts
2,1-12. Mas as frequentes citações não são apenas indício do mesmo gênero literário.
Significam, sobretudo, que as visões dos antigos profetas estão encontrando realização. O
Apocalipse não é, portanto, um livro de futurologia, mas o anúncio da vitória do
Enviado de Deus (o Cordeiro) na plenitude do tempo, que já se inaugurou com a vinda
de Jesus. A cosmovisão é ligada ao mundo de baixo e o mundo de cima, o tempo agora
e depois, no presente pessimismo e no futuro otimismo.

Os Capítulos de 4 a 11 podem ser colocados no tempo de Nero (64 EC) o perseguidor de


cristãos, ou no período da revolta judaica 70 EC.

Os caps. 12-22 podem ser colocados no período do Imperador Domiciano (81-96 EC)
num também contexto de perseguição.

Caps. 1 a 3 introdutivos e o cap. 22, 16-21 uma conclusão.

O capítulo final do Apocalipse, Ap 21, é o encerramento da Bíblia e apresenta a


admirável visão do novo céu e da nova terra (A NOVA JERUSALÉM). Assim, faz simetria
com o primeiro capítulo da Bíblia, a história da criação em Gn 1.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM: nova edição, revisada e ampliada. São Paulo: Paulus, 2008.

BÍBLIA SAGRADA: Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1990.

CECHINATO, Luiz. Conheça melhor a Bíblia: noções gerais da Bíblia em linguagem


popular. 12 ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

KONINGS, Johan. A Bíblia nas suas origens e hoje. Petrópolis: Vozes, 1998. (grande parte
da apostila montada a partir desta obra por Pe. Sidney Rigobelo que foi utilizada pelo Fr
Jerry)

KONINGS, Johan. A Palavra se fez livro. São Paulo: Loyola, 1999.

MESTERS, Carlos. Deus, onde estás? Uma introdução prática à Bíblia. Petrópolis: Vozes,
2008.

MILANI, André Luiz; et alii. Introdução ao Segundo Testamento: Eu vim para que todos
tenham vida em plenitude. São Paulo: Paulus, 2007.

PRADO, José L. G. A Bíblia e suas contradições: como resolvê-las. São Paulo: 2004.

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RODRIGUES, Maria Paula (org.). Palavra de Deus e palavra da gente: as formas literárias
na Bíblia. São Paulo: Paulus, 2004.

SCARDELAI, Donizete; VILLAC, Sylvia. Introdução ao Primeiro Testamento: Deus e


Israel constroem a história. São Paulo: Paulus, 2007.

VISÃO GLOBAL DA BÍBLIA: Serviço de animação da Bíblia (SAB). São Paulo:


Paulinas, 2001, 15 volumes. Obra utilizada por Robson José da Silva nesta apostila.

Apostila elaborada pelo Pe. Sidney Rigobelo que foi utilizada pelo Fr Jerry e modificada
para adequação de curso por Robson José da Silva a partir de Janeiro de 2014. Atualizável

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