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Vetores 4

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Vetores – 4

A Geometria Plana, na parte métrica trata de três elementos fundamentais: as distâncias,


os ângulos e as áreas. Neste capítulo vamos abordar a questão dos ângulos no plano
cartesiano.

4.1. O produto escalar

A operação de multiplicação de um vetor por outro é, de certa forma, estranha. O


produto escalar de um vetor por outro não dá como resultado um novo vetor, mas sim
um número real e essa é a razão dessa operação ser chamada de produto escalar. A
definição é a seguinte:

Dados os vetores 𝑢 = (𝑥1 , 𝑦1 ) e 𝑣 = (𝑥2 , 𝑦2 ) o produto escalar de 𝑢 por 𝑣 é defindo


por:

𝑢 ∙ 𝑣 = 𝑥1 𝑥2 + 𝑦1 𝑦2

A definição é clara. Se, por exemplo, 𝑢 = (2, 5) e 𝑣 = (−4, 3) então o produdo escalar
desses vetores é 𝑢 ∙ 𝑣 = 2 ∙ (−4) + 5 ∙ 3 = 7.

Mas, para que serve esse número? Vamos ver mais adiante. Inicialmente, mostraremos
suas propriedades, que são de verificação imediata:

a) 𝑢 ∙ 𝑣 = 𝑣 ∙ 𝑢

b) 𝑢 ∙ (𝑣 + 𝑣′) = 𝑢 ∙ 𝑣 + 𝑢 ∙ 𝑣′ e (𝑢 + 𝑢′) ∙ 𝑣 = 𝑢 ∙ 𝑣 + 𝑢′ ∙ 𝑣

c) (𝛼𝑢) ∙ 𝑣 = 𝛼(𝑢 ∙ 𝑣), 𝛼 ∈ ℝ

d) 𝑢 ∙ 𝑢 = |𝑢|2
No item 2.2 do texto anterior demonstramos a condição de perpendicularismo.
Recordando, ela diz que, se nenhum dos vetores 𝑢 = (𝑥1 , 𝑦1 ) e 𝑣 = (𝑥2 , 𝑦2 ) é nulo
então esses vetores são perpendiculares se, e somente se, 𝑥1 𝑥2 + 𝑦1 𝑦2 = 0. Portanto,
podemos agora escrever essa condição assim:

𝑢, 𝑣 ≠ 𝑂, 𝑢 ⊥ 𝑣 ⟺ 𝑢 ∙ 𝑣 = 0

Atenção

O vetor nulo 𝑂 = (0, 0) não deve ser confundido com o número real 0 (zero).

Exemplo

Dados os pontos 𝐴 = (2, 1), 𝐵 = (4, 5) e 𝐶 = (1, 5), determine o ponto 𝑃, do eixo X,
de forma que as retas 𝐴𝐵 e 𝐶𝑃 sejam perpendiculares.

Solução

Consideremos então o ponto do eixo X, 𝑃 = (𝑥, 0).

⃗⃗⃗⃗⃗ = (2, 4) e 𝐶𝑃
Temos que 𝐴𝐵 ⃗⃗⃗⃗⃗ = (𝑥 − 1, −5) são perpendiculares. Logo o produto
escalar deles é zero:

(2, 4) ∙ (𝑥 − 1, −5) = 0

2(𝑥 − 1) + 4(−5) = 0

As contas simples fornecem 𝑥 = 11 e, assim, a resposta é 𝑃 = (11, 0).

A figura a seguir mostra o que foi calculado. Observe que essa figura é apenas uma
ilustração e não é absolutamente necessária para a resolução do problema.
Exemplo

Por que as diagonais de um losango são perpendiculares?

Solução

Seja 𝐴𝐵𝐶𝐷 um losango. Tomemos ⃗⃗⃗⃗⃗


𝐴𝐵 = 𝑢 e ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐴𝐷 = 𝑣. Sobre as diagonais do losango
temos ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐴𝐶 = 𝑢 + 𝑣 e ⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐷𝐵 = 𝑢 − 𝑣. Utilizando o fato de que |𝑢| = |𝑣| vamos calcular o
produto escalar dos vetores ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐴𝐶 e ⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐷𝐵 :

⃗⃗⃗⃗⃗
𝐴𝐶 ∙ ⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐵𝐷 = (𝑢 + 𝑣) ∙ (𝑢 − 𝑣) = 𝑢 ∙ 𝑢 − 𝑣 ∙ 𝑣 = |𝑢|2 − |𝑣|2 = 0

Portanto, as diagonais do losango são perpendiculares.

Obs: Observe que, neste exemplo, não houve necessidade de estabelecermos um sistema
de coordenadas. A propriedade do losango pode ser demonstrada com a utilização,
apenas, das propriedades do produto escalar.
4.2. Ângulo entre dois vetores

Na geometria com coordenadas cada ângulo é identificado por uma de suas razões
trigonométricas. Na geometria analítica tradicional cada ângulo é identificado por sua
tangente. Aqui, vamos identificar cada ângulo por seu cosseno. De fato para cada
ângulo do intervalo [0, 𝜋] existe uma bijeção entre o ângulo e seu cosseno.

Portanto, nesse contexto, conhecer o cosseno de um ângulo significa conhecer o ângulo.

⃗⃗⃗⃗⃗ = 𝑢 e 𝑂𝐵
A figura a seguir mostra o triângulo 𝑂𝐴𝐵 onde 𝑂𝐴 ⃗⃗⃗⃗⃗ = 𝑣.

A lei dos cossenos nesse triângulo fornece:

|𝑢 − 𝑣|2 = |𝑢|2 + |𝑣|2 − 2|𝑢||𝑣| cos 𝜃


Entretanto, o lado esquerdo da igualdade acima pode ser escrito, usando as propriedades
do produto escalar, da seguinte forma:

|𝑢 − 𝑣|2 = (𝑢 − 𝑣) ∙ (𝑢 − 𝑣) =

= (𝑢 − 𝑣) ∙ 𝑢 − (𝑢 − 𝑣) ∙ 𝑣 =

=𝑢∙𝑢−𝑣∙𝑢−𝑢∙𝑣+𝑣∙𝑣 =

=𝑢 ∙𝑢−𝑢∙𝑣−𝑢∙𝑣+𝑣∙𝑣 =

= |𝑢|2 − 2𝑢 ∙ 𝑣 + |𝑣|2

A relação inicial da lei dos cossenos fica então:

|𝑢|2 − 2𝑢 ∙ 𝑣 + |𝑣|2 = |𝑢|2 + |𝑣|2 − 2|𝑢||𝑣| cos 𝜃

ou seja,

𝑢 ∙ 𝑣 = |𝑢||𝑣| cos 𝜃

Se 𝑢 e 𝑣 são colineares e de mesmo sentido, então cos 𝜃 = 1 e se são colineares e de


sentidos opostos, então cos 𝜃 = −1. Portanto, concluimos que:

−|𝑢||𝑣| ≤ 𝑢 ∙ 𝑣 ≤ |𝑢||𝑣|

Por outro lado, como sabemos calcular o produto escalar de dois vetores e como
também sabemos calcular seus módulos, então podemos calcular o ângulo entre eles:

𝑢∙𝑣
cos 𝜃 =
|𝑢||𝑣|
Exemplo

O triângulo 𝐴𝐵𝐶 tem vértices 𝐴 = (1, 1), 𝐵 = (4, −1) e 𝐶 = (6, 4). Determine um
valor aproximado em graus para o ângulo 𝐵𝐴𝐶.

Solução

O desenho deve ser apenas um esboço. Na geometria com coordenadas não há a menor
necessidade de executar desenhos precisos a partir dos eixos. Basta algo assim:

Como o ângulo que queremos determinar tem vértice A, determinamos os vetores:

𝑢 = ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐴𝐵 = 𝐵 − 𝐴 = (3, −2) e 𝑣 = ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐴𝐶 = 𝐶 − 𝐴 = (5, 3). A seguir calculamos:

𝑢 ∙ 𝑣 = 3 ∙ 5 + (−2) ∙ 3 = 9

|𝑢| = √32 + (−2)2 = √13

|𝑣| = √52 + 32 = √34

Assim, o ângulo 𝜃 entre os vetores 𝑢 e 𝑣 é dado por

9 9
cos 𝜃 = =
√13 ∙ √34 √442

Essa é a resposta correta, mas esse valor nada diz de concreto a respeito desse ângulo.
Nesse ponto, usamos a calculadora científica, ou melhor, a do celular e encontramos
para esse ângulo o valor aproximado de 64,7°. A situação real está a seguir.
4.3. Distância de um ponto a uma reta

Na geometria analítica tradicional que está presente nos livros didáticos brasileiros a
distância de um ponto a uma reta, quando aparece, é dada por uma misteriosa fórmula.
A demonstração, me geral, não aparece nesses livros, pois demanda um grande trabalho
de cálculos, mas a ideia é fácil de entender. Dados um ponto 𝑃0 e uma reta 𝑟, para obter

a distância de 𝑃0 até 𝑟 construímos uma reta 𝑠, que contém 𝑃0 e é perpendicular a 𝑟.


Determinamos, em seguida o ponto 𝑄, interseção das retas 𝑟 e 𝑠. A distância entre 𝑃0 e
𝑄 é a distância de 𝑃0 à reta 𝑟.

Exemplo
Calcule a distância do ponto 𝑃0 = (6, 4) à reta 𝑟: 2𝑥 + 3𝑦 − 5 = 0.

Solução
Vamos resolver a questão seguindo, inicialmente, a sugestão dada acima.
A reta dada é 𝑟: 2𝑥 + 3𝑦 = 5. Como sabemos dos cursos anteriores, uma reta
perpendicular a 𝑟 é a reta 𝑠: 3𝑥 − 2𝑦 = 𝑐. Observe que as retas 𝑟 e 𝑠 são
perpendiculares porque seus vetores normais 𝑛 𝑟 = (2, 3) e 𝑛 𝑠 = (3, −2) são
perpendiculares, uma vez que 2 ∙ 3 + 3 ∙ (−2) = 0.
Como a reta 𝑠 contém o ponto 𝑃0 = (6, 4) então, substituindo esse ponto na equação da
reta 𝑠 temos 3 ∙ 6 − 2 ∙ 4 = 𝑐, ou seja, 𝑐 = 10. Assim, a reta 𝑠 tem equação 3𝑥 − 2𝑦 =
10.
O ponto 𝑄, interseção das retas 𝑟 e 𝑠 é dado pela solução do sistema formado pelas duas
equações:
2𝑥 + 3𝑦 = 5
3𝑥 − 2𝑦 = 10

Multiplicando a primeira equação por 2 e a segunda por 3, obtemos:


4𝑥 + 6𝑦 = 10
9𝑥 − 6𝑦 = 30
40
Somando, encontramos 𝑥 = 13 e, substituindo esse valor em qualquer uma das
5
equações encontramos 𝑦 = − 13.
40 5
Assim, o ponto de interseção das retas 𝑟 e 𝑠 é 𝑄 = (13 , − 13).

Vamos, a seguir, construir o vetor ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗


𝑃0 𝑄 e calcular o seu módulo.

40 5 38 57
⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑃0 𝑄 = 𝑄 − 𝑃0 = ( , − ) − (6, 4) = (− , − )
13 13 13 13

Para facilitar o cálculo do módulo desse vetor, podemos observar que 38 = 2 ∙ 19 e que
19
57 = 3 ∙ 19. Assim, ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝑃0 𝑄 = 13 (−2, −3).

Assim, a distância de 𝑃0 até 𝑄 é:


19 19√13
⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
|𝑃 0𝑄| = √(−2)2 + (−3)2 =
13 13

Vamos ver a seguir que com vetores o trabalho se reduz consideravelmente. Antes,
porém, vamos tratar de calcular o comprimento da projeção de um vetor sobre uma reta.

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