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Recuperacao Judicial 1

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RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Flávia Catarina Alves Viali1

Lana Alpulinário Pimenta Santos2

RESUMO: O presente trabalho possui como enfoque o estudo da Recuperação


Extrajudicial de empresas, tendo por base as mudanças legislativas realizadas em nosso
ordenamento jurídico através da Lei n.º 11.101, de 09 de fevereiro de 2005 (Lei de
recuperação de empresas e falência), que substituiu a antiga Lei de Falências (Decreto-
Lei n.º 7.661, de 21 de junho de 1945). A referida lei possui como objetivo maior
possibilitar a superação da crise econômico-financeira pela qual se encontra a empresa
em estado de insolvência, de fato ou aparente, mantendo o emprego dos trabalhadores, a
manutenção da fonte produtora, o interesse dos credores, a preservação da empresa e
estimando a economia. Nesse sentido, serão abordados os princípios que regem tal
instituto, conjuntamente com os elementos do pedido para efetuar a recuperação
extrajudicial;os limites e os créditos que podem ser objeto da recuperação extrajudicial;
seus respectivos efeitos; o rol de documentos necessários para o pedido e seu
procedimento judicial e extrajudicial.

Palavras-chave: Recuperação extrajudicial. Lei de recuperação de empresas e


falência. Superação da crise econômico-financeira.

1
Docente no Curso de Direito na Universidade do Estado de Minas Gerais- Campus Ituiutaba,
flaviaviali@hotmail.com.
2
Docente no Curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais-Campus Ituiutaba,
lana_itba@hotmail.com.

1
1

INTRODUÇÃO

A Lei n° 11.101/2005 – art. 161 a 167, permite que o devedor empresário


em crise econômico-financeira, negocie diretamente com seus credores acordo que lhe
permita ergue-se no mercado, entabulando com eles plano de recuperação extrajudicial.
A referida possibilidade exige do devedor especial conceito junto aos seus credores, além
de prudente habilidade negocial.

1. NOÇÕES GERAIS

Na recuperação judicial, temos um acordo firmado judicialmente entre o devedor


e seus credores com o objetivo de superar uma crise econômico-financeira. Sua previsão,
porem, não impede outros tipos de acordos com o mesmo objetivo, mas acordos firmados
extrajudicialmente, daí falar-se em recuperação extrajudicial. Tais acordos eram tratados
como atos de falência no regime anterior e agora passam a ser expressamente admitidos
pelo nosso ordenamento jurídico, representando uma alternativa de superação das crises.
Embora a intervenção do Poder Judiciário possa ser medida otimizadora para a
conclusão do acordo entre o devedor e seus credores, é certo que ela também representa
custos mais elevados, com a necessidade de atuação de um administrador judicial, de um
procedimento de verificação de créditos e de até da convocação de assembléias de
credores. Em razão disso, deve-se abrir outro caminho para a celebração desse acordo,
um caminho mais rápido, informal e econômico, a saber, a recuperação extrajudicial, na
qual a intervenção estatal é apenas acessória. A recuperação extrajudicial, portanto,
“outorga ao devedor que atingiu um estado crítico, a possibilidade de administrar
extrajudicialmente um acordo com seus credores de uma maneira simples e prática”.
Trata-se de um acordofirmado extrajudicialmente entre o devedor e seus credores com o
objetivo de superação da crise econômico-financeira, levado apenas eventualmente à
homologação pelo Poder Judiciário. O objetivo e a natureza são os mesmos da
recuperação judicial, vale dizer, trata-se de um contrato para superação da crise, mas sua
realização é mais simples e mais prática, uma vez que a intervenção do Poder Judiciário
é eventual e meramente homologatória. A existência dessa recuperação extrajudicial não

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prejudica outras modalidades de acordo entre o devedor e seus credores (Lei 11.101/2005
– art. 167).

2. SUJEITOS

Como acordo que é, a recuperação extrajudicial terá de um lado o devedor em


crise e de outro lado seus credores, que negociarão extrajudicialmente as condições
necessárias para a superação da crise. Todavia, não é qualquer devedor que poderá lançar
mão desse acordo. Do mesmo modo, não são quaisquer credores que poderão ser
chamados a participar desse acordo extrajudicial.

2.1 Devedor

Podem lançar mão da recuperação extrajudicial os devedores que se enquadrarem


como empresários individuais ou sociedades empresárias, vale dizer, pessoas físicas ou
sociedades que exerçam atividade econômica organizada para a produção ou circulação
de bens ou serviços para o mercado. Ao contrário de outros países, nosso Direito só prevê
a recuperação para quem se enquadre nessa situação e não para qualquer pessoa. Por se
tratar de um benefício, para obter a eventual homologação judicial, exige-se ainda que
essas pessoas estejam exercendo regularmente a atividade empresarial, isto é, sociedades
em comum, mesmo que sejam empresárias, não podem lançar mão da recuperação
extrajudicial.
Mesmo os que se enquadram como empresários podem ser excluídos da
recuperação extrajudicial, por possuírem um regime especial de superação da crise,
acompanhado mais de perto pelo Estado, dada sua importância para a economia. Desse
modo, estão excluídos da recuperação extrajudicial a instituição financeira pública ou
privada, a cooperativa de crédito, o consórcio, a entidade de previdência complementar,
a sociedade operadora de plano de assistência à saúde, a sociedade seguradora, a
sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. Além
disso, dentro de uma opinião majoritária no direito empresarial, também estariam
excluídas da recuperação extrajudicial as empresas públicas e sociedades de economia
mista.

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2.2 Credores abrangidos

O devedor empresário, que não se enquadre nas exclusões legais, poderá negociar
o acordo da recuperação extrajudicial como os credores existentes até o momento do
acordo. Todavia, alguns credores não se submeterão a esse acordo, seja pela
indisponibilidade do crédito, seja pela falta de interesse para a eventual negociação. Nada
impede, porém, que mesmo em reação a esses sejam realizadas outras modalidades de
acordos individuais.
Não participam da recuperação extrajudicial os credores fiscais que, em razão do
princípio da legalidade e pela indisponibilidade do interesse público, não são passíveis de
negociação. Também são excluídos da recuperação extrajudicial os créditos trabalhistas
e de acidente de trabalho que, embora passíveis de transação, devem ficar afastados dessa
negociação extrajudicial, por não terem tanta força de negociação.
De outro lado, ficam excluídos da recuperação extrajudicial os credores que não
teriam qualquer interesse na negociação, por já possuírem uma grande segurança nos seus
créditos, em razão do direito de propriedade. Nesta exclusão entram os credores titulares
da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de respectivos contratos
contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações
imobiliárias, de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio ou de
adiantamento de contrato de câmbio (Lei n° 11.101/2005 – art. 49, §§ 3° e 4º).
Desse modo, poderão participar da recuperação extrajudicial os credores com
garantia real, os credores com privilégio especial, os credores com privilégio geral, os
credores quirografários e os credores subordinados. Ressalte-se que não há necessidade
de o acordo abranger todas essas classes, ou mesmo todos os créditos integrantes de uma
classe, isto é, o plano pode se restringir a um grupo de credores de mesma natureza e
sujeito a semelhantes condições de pagamento. Assim, se o devedor possui obrigações
com garantia real de curto prazo e de longo prazo, a recuperação extrajudicial poderá
abranger apenas um desses grupos, dando mais margem de liberdade à atuação da
autonomia privada. O essencial é que a divisão em grupos seja realizada por critérios
objetivos e impessoais.

3 MODALIDADES

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Definidos os credores abrangidos pela recuperação extrajudicial, o devedor poderá
negociar com eles as condições necessárias para a superação da crise. Em alguns casos,
o devedor consegue a anuência de todos os credores e firmará normalmente o acordo com
eles, vinculando-os aos termos do acordo. Em outros casos, ele não consegue a adesão
unânime dos credores, mas consegue a adesão de uma boa parte deles, não sendo possível,
a princípio, firmar o acordo com todos os credores. Apesar disso, os próprios objetivos
da recuperação fizeram com que a legislação aceitasse o acordo também nesse caso,
vinculando todos os credores, desde que ele fosse homologado judicialmente e cumprisse
certos requisitos legais. Essa dualidade de situações nos leva a uma distinção entre duas
modalidades de recuperação judicial.

3.1 Recuperação extrajudicial de homologação facultativa

Caso o devedor obtenha o consentimento de todos os seus credores, o acordo já


será firmado pelo simples encontro de vontades entre o devedor e esses credores, vale
dizer, a homologação judicial do acordo é facultativa. Já que a homologação judicial não
é essencial, pode-se denominar essa modalidade de recuperação extrajudicial de
homologação facultativa. Há quem prefira as expressões recuperação extrajudicial
ordinária, recuperação extraordinária unânime ou de adesão total, recuperação
extrajudicial individualizada ou ainda recuperação extrajudicial meramente
homologatória. Não há qualquer equívoco nas terminologias adotadas.
Caberá às partes decidir se levam ou não o acordo à homologação. Levando o
acordo à homologação judicial, ele passará a ter a condição de título executivo judicial
(art. 515, III, CPC), vale dizer, ele terá mais força no eventual cumprimento. Para tanto,
obviamente deverão ser cumpridas as formalidades legalmente exigidas para a
homologação. De outro lado, se ele não for levado à homologação, o acordo é válido e
produz efeitos como qualquer contrato privado. Além disso, pode-se buscar a
homologação para realizar a venda de estabelecimentos por meio de hasta judicial (Lei
11.101/2005 – art. 166).
Há quem sustente, porém, que a homologação nesse caso também seria obrigatória
para ser tratada como recuperação extrajudicial. Sem homologação, haveria um simples
acordo privado, mas não uma recuperação extrajudicial. Apesar de parecer contrário a
opinião ora esposada, vê-se que se chega à mesma conclusão. A homologação não é
essencial para o acordo, mas é essencial para que ele produza os efeitos.

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3.2 Recuperação extrajudicial de homologação obrigatória

Nem sempre o devedor consegue a adesão unânime dos credores a sua proposta
de acordo. Por vezes, há uma minoria resistente a qualquer proposta de negociação que
inviabiliza o acordo. Nesses casos, a vontade da minoria prevaleceria sobre a vontade da
maioria e sobre o próprio princípio da preservação da empresa. Em razão disso, a Lei
11.101/2005 admite que a recuperação extrajudicial seja concluída sem o consentimento
unânime dos credores, vale dizer, se o devedor conseguir uma adesão expressiva dos
credores, ele poderá vincular todos os credores aos termos do acordo, desde que promova
a sua homologação judicial.
Caso o devedor negocie o plano de recuperação extrajudicial (acordo) e obtenha
o consentimento de mais de três quintos dos créditos de cada classe abrangida pelo
acordo, a lei já considera essa adesão suficientemente expressiva para considerar válido
o acordo, exigindo apenas a sua homologação judicial, para a vinculação daqueles
credores que não aderiram ao acordo. O quórum de mais de três quintos dos créditos
(cômputo pelo valor) é considerado suficiente para demonstrar que a recuperação é
possível., exigindo-se, porém, a chancela judicial ao acordo.
Os credores serão divididos nas seguintes classes: credores com garantia real,
credores com privilégio especial, credores com privilégio geral, credores quirografários
e credores subordinados. Ressalte-se que não há necessidade de o acordo abranger todas
essas classes, ou mesmo todos os créditos integrantes de uma classe, isto é, o plano pode
se restringir a um grupo de credores de mesma natureza e sujeito a semelhantes condições
de pagamento. Assim, se o devedor possui obrigações com garantia real de curto prazo e
de longo prazo, a recuperação extrajudicial poderá abranger apenas um desses grupos,
dando mais margem de liberdade à atuação da autonomia privada.
No cômputo dessa concordância, serão levados em conta os valores dos créditos
e não o número de credores. Para esse fim, os créditos em moeda estrangeira serão
convertidos pelo câmbio da véspera da assinatura do acordo. No entanto, não serão
incluídos aqueles créditos que não fazem parte do acordo. Do mesmo modo, não serão
computados os créditos pertencentes a pessoas próximas ao devedor, dada a parcialidade
desses sujeitos. Assim, não poderão ser computados os créditos pertencentes aos sócios
do devedor, bem como às sociedades coligadas, controladoras, controladas ou às que
tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital

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social, a cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, colateral até o 2° (segundo) grau,
ascendentes ou descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, de
membro dos conselhos consultivo, fiscal ou semelhantes da sociedade devedora e à
sociedade em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções.

4. HOMOLOGAÇÃO

Tendo a concordância de todos os credores, o devedor poderá levar o plano de


recuperação extrajudicial à homologação judicial para lhe dar mais força. Não obtendo a
concordância de todos os credores, mas obtendo a concordância de mais de três quintos
dos créditos de cada classe, o devedor deverá levar o plano à homologação para que ele
possa produzir seus efeitos. Em ambos os casos, a homologação deverá obedecer certo
procedimento e só ocorrerá se atendidos os requisitos legais impostos para tanto.

4.1 Requisitos subjetivos

Para obter a homologação judicial do plano de recuperação extrajudicial, o


devedor terá que cumprir certos requisitos ligados à sua pessoa, daí falar-se em requisitos
subjetivos. Tais requisitos são exigidos para demonstrar a idoneidade do devedor,
reforçando o interesse na superação da crise.
O primeiro requisito específico para que o empresário possa ter sua recuperação
extrajudicial homologada é o exercício regular da atividade empresarial há mais de dois
anos. Tal exercício será comprovado mediante certidão da junta comercial, que pode ser
elidida por prova em contrário. Inicialmente o empresário deve estar no exercício da
atividade, isto é, não pode estar parado. Além do exercício efetivo da atividade, exige-se
que tal exercício seja regular, isto é, exige-se que o empresário não seja impedido e
cumpra as obrigações legais impostas a ele, no que tange a sua constituição e
funcionamento. Esse exercício regular da atividade deve ocorrer há mais de dois anos,
para que se possa aferir a seriedade do exercício da empresa, a sua relevância para a
economia e especialmente a viabilidade da sua continuação.
Além do exercício regular da atividade há mais de dois anos, é essencial também
que o devedor não seja falido ou, se for falido, que já tenha suas obrigações extintas. Isto,
para afastar a possibilidade de uma recuperação extrajudicial para simplesmente
suspender os efeitos da falência, como era possível na concordata.

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Outro requisito da homologação da recuperação extrajudicialé a ausência de
condenação definitiva por crime falimentar (Lei n° 11.101/2005 – art. 168 a 178). Esse
impedimento, decorrente da condenação por crime falimentar só passa a existir a partir
do trânsito em julgado da sentença condenatória, tendo em vista a presunção de inocência
do art. 5°, LVII, da Constituição Federal. No caso de empresário individual, tal requisito
é exigido em relação ao próprio empresário pessoa física. Já nas sociedades empresárias,
o requisito é exigido em relação aos seus administradores (diretores ou membros do
conselho de administração) e em relação aos sócios controladores.
Para obter a homologação da recuperação extrajudicial, o devedor não poderá ter
obtido recuperação com base em um plano especial de recuperação para microempresas
e empresas de pequeno porte, nos últimos oito anos. Além disso, ele não pode ter obtido
recuperação judicial ou homologado plano de recuperação extrajudicial nos últimos dois.
Não se pode permitir que o empresário use reiteradamente a recuperação para superar
suas crises. O uso da recuperação em momentos próximos denota a incompetência do
empresário em gerir aquele negócio e, por isso, afasta a possibilidade de nova
recuperação.
Por fim, exige-se que não esteja pendente pedido de recuperação judicial, não
pode o devedor usar os dois caminhos (recuperação judicial e extrajudicial) ao mesmo
tempo. Nada impede, porém que ele desista da recuperação judicial, obedecendo as
determinações legais, e realize um acordo extrajudicial para ser levado à homologação.
O que não se admite é o uso simultâneo das recuperações judicial e extrajudicial.

4.2 Requisitos objetivos

Além dos requisitos atinentes à pessoa do devedor, a homologação da recuperação


extrajudicial exige requisitos atinentes ao próprio plano de recuperação extrajudicial,
requisitos de análise do próprio acordo realizado, cuja homologação é pretendida
O primeiro requisito objetivo é a concordância dos credores que representem mais
de três quintos dos créditos de cada classe. Exige-se, em última análise, uma concordância
expressiva dos credores para que o acordo possa ser considerado concluído. Somente
serão computados os credores abrangidos pelo acordo, segundo o valor dos seus créditos.
Outro requisito objetivo é a ausência de previsão de pagamento antecipado de
credores, evitando benefícios de alguns em detrimento de outros, no caso da eventual
decretação da falência pela não superação da crise. O plano de recuperação extrajudicial

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só será homologado se não contiver tratamento desfavorável aos credores que nele não
são abrangidos (Lei n° 11.101/2005 - art. 161, § 2°), tentando evitar assim alguma espécie
de conluio entre o devedor e alguns credores.
Também é requisito objetivo a concordância dos credores para o afastamento da
variação cambial que lhes era assegurada originalmente (Lei n° 11.101/2005 – art. 163, §
5°). Além disso, na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou
sua substituição somente serão admitidas a mediante a aprovação expressa do credor
titular da respectiva garantia (Lei 11.101/2005 – art. 163, § 4°).

4.3 Pedido de homologação

Cumpridos os requisitos objetivos e subjetivos, o devedor poderá pedir a


homologação judicial do acordo perante o juízo competente do principal do devedor. Para
tanto, deverá ajuizar uma ação com esse objetivo específico. Tal ação não suspende as
ações e execuções em curso, nem impede o pedido de falência por iniciativa dos credores
não sujeitos. Contudo, após a distribuição do pedido de homologação, os credores não
poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais
signatários, inclusive o próprio devedor.
A princípio, apenas o devedor terá legitimidade específica para pedir a
homologação do plano de recuperação extrajudicial. No entanto, há quem reconheça a
aplicabilidade do artigo 48, parágrafo único, da Lei 11.101/2005 à recuperação
extrajudicial, legitimando também para o pedido o cônjuge sobrevivente, os herdeiros, o
inventariante e o sócio remanescente. Para Marlon Tomasse-te, apenas o devedor terá
essa legitimidade, tendo em vista o disposto nos artigos 161 e 163 da Lei n° 11.101/2005
que se refere ao próprio devedor.
No caso de homologação facultativa, o pedido de homologação dever vir
acompanhado do próprio acordo firmado entre o devedor e seus credores, bem como da
sua justificativa. No caso da homologação obrigatória, exige-se ainda que o pedido seja
instruído com outros documentos que demonstrem a real situação do devedor e
comprovem a regularidade do acordo.
Na homologação obrigatória, o pedido deverá ser instruído com os seguintes
documentos (Lei n° 11.101/2005):
. plano de recuperação extrajudicial e sua justificativa;
. exposição da situação patrimonial do devedor;

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. demonstrações contábeis relativas ao último exercício;
. as demonstrações relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas
especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da
legislação societária aplicável e composta de:
a) Balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
e) relação completa de credores; e
f) prova de que os credores que assinaram o pedido têm poderes para
novar ou transigir.
Pela idéia da homologação, é natural que se apresente o acordo firmado, para que
o juiz e os credores possam analisar o cumprimento dos requisitos e a própria viabilidade
da recuperação.
Exige-se ainda a exposição detalhada da situação do devedor, demonstrações
contábeis, para que os credores tenham a ciência exata da situação do empresário.
Eduardo Goulart Pimenta considera suficientes as demonstrações contábeis do último
ano.
Por fim, exige-se a comprovação da regularidade do acordo, apresentando-se a
lista de todos os credores, com a comprovação de que aqueles que assinaram o plano tem
poderes suficientes para isso. Impõe-se ao devedor o ônus de demonstrar que ele negociou
e obteve o consentimento necessário para que o acordo seja aprovado e homologado em
juízo.

4.4 Procedimento da homologação

Verificando a instrução adequada do pedido, o juiz determinará a publicação de


um edital, na imprensa oficial e em jornal de grande circulação, assegurando aos credores
o prazo de 30 dias para que apresentem impugnação à homologação do plano de
recuperação extrajudicial (Lei n° 11.101/2005 – art. 164). Durante esse prazo, o devedor
deve comprovar o envio de carta com aviso de recebimento a todos os credores
domiciliados no país, informando a distribuição do pedido de homologação, dando-lhes
a mais ampla ciência possível do procedimento.

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A eventual impugnação (Lei n° 11.101/2005 – art. 164, § 3°) deverá ser
acompanhada da prova da qualidade de credor e só poderá invocar o não preenchimento
dos requisitos legais (exemplos: percentual de concordância de credores, pagamento
antecipado de credores no plano), a prática de atos de falência e a existência de fraude na
conduta do devedor. Além disso, as impugnações podem dizer respeito à simulação de
créditos e à existência de vícios de representação dos credores que subscreveram o plano.
A matéria de impugnação é bem restrita, facilitando o sucesso do pedido de homologação
do plano de recuperação extrajudicial.
Sem impugnação no prazo, os autos serão conclusos ao juiz que julgará o pedido
de homologação. Apresentada a impugnação, será aberta vista ao devedor para que ele se
manifeste sobre a impugnação no prazo de cinco dias (Lei 11.101/2005 – art. 164 § 4°).
Após tal prazo, os autos serão conclusos ao juiz, que poderá deferir ou indeferir o pedido
de homologação. Marlon Tomasse-te, orienta no sentido de ser recomendável a oitiva do
Ministério Público.em qualquer situação.
Obedecido o trâmite legal, o juiz homologará o plano de recuperação extrajudicial
ou indeferirá essa homologação, em ambos os casos, por meio de /uma sentença. Desta
sentença proferida, cabe recurso de apelação, sem efeito suspensivo. Não homologado o
plano, o devedor pode apresentar novo pedido de homologação, cumprindo os requisitos
legais para tanto.
Gladstone Mamede afirma que, se o motivo da impugnação que impede a
homologação é a existência de atos de falência, o juiz deveria decretar a falência, pois
esse é um dos pressupostos da falência.
Para Marlon Tomasse-te, não há previsão legal nesse sentido e, por isso, não se
deve admitir a decretação da falência. Caso o credor impugnante queira a decretação da
falência, ele deverá ajuizar uma ação própria para isso, com todo o procedimento inerente
a esse pedido.
Ao nosso ver, concordamos com os ensinamentos de Marlon Tomasse-te, pois não
se trata neste caso do direito do credor a uma reconvenção, não cabível, e ainda iria ferir
o direito do devedor ao princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório.

5. EFEITOS DA HOMOLOGAÇÃO

Uma vez homologada, a recuperação extrajudicial produzira seus efeitos,


vinculando inclusive os credores que não aceitaram o plano inicialmente, desde que tenha

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sido obtida a concordância de mais de três quintos dos créditos de cada espécie ou grupo
abrangido pelo plano. Também, essa vinculação de todos os credores produzirá a novação
dos seus créditos, que passarão a ter as condições previstas no plano de recuperação
extrajudicial, mesmo que se decrete a falência do devedor posteriormente.
Na novação, credor e devedor ajustam nova obrigação com a intenção deliberada
(ânimo de inovar) de substituir a obrigação anterior.
A novação na recuperação extrajudicial é a mesma do Código Civil, sem qualquer
peculiaridade. Além disso, a homologação tornará o plano de recuperação extrajudicial
um título executivo judicial (Novo CPC – Art. 515, III), dando-lhe mais força.
Outro efeito da homologação é a submissão da eventual alienação de
estabelecimento prevista no plano à forma prevista para essa alienação na falência (Lei
n° 11.101/2005 – art. 166 c/c 142), por meio de leilão, proposta ou pregão.
O adquirente de um estabelecimento alienado em uma recuperação judicial
extrajudicial responderá pelas dívidas do alienante, nas condições previstas pelo direito
comum. Assim, o adquirente responderá pelas dívidas regularmente escrituradas (CC –
art. 1.146), pelas obrigações trabalhistas (CLT – art. 448) e pelas obrigações tributárias
(CTN – art. 133).
A princípio, todos os efeitos gerados pela homologação do plano de recuperação
extrajudicial serão voltados para o futuro, isto é, para depois da homologação. No entanto,
é lícito pactuar a produção de efeitos pretéritos, apenas no que tange à modificação do
valor ou da forma de pagamento dos credores signatários, ratificando pagamentos
efetuados antes da homologação. Caso não se obtenha a homologação, devolve-se aos
credores signatários o direito de exigir seus créditos nas condições originais, deduzidos
os valores efetivamente pagos (Lei n° 11.101/2005 – art. 165, § 1°).

6. CONCLUSÃO

Diante disso, resta claro a preocupação do legislador ao introduzir a recuperação


extrajudicial, como mais uma ferramenta de auxílio às empresas, visando a manutenção
das relações comerciais e tendo a função social da empresa como preocupação maior,
mantendo a empresa, mesmo que em dificuldade em funcionamento, inserida no mercado.
Ademais, a redução das formalidades para esta modalidade de recuperação
acarreta em maior celeridade ao procedimento, podendo o devedor realizar quase todo o
procedimento em meios extrajudiciais, sendo necessário apenas a publicação de edital,

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para dar ciência a demais credores que desejem se habilitar, oferecendo ainda o
contraditório em 5 dias, oportunidade em que o juiz ao apreciar a impugnação, já decidirá
pela homologação ou não., após análise da doutrina e da Lei 11.101/20005, a norma
vigente que trata da recuperação extrajudicial, veio para facilitar a negociação entre
credor e devedor, contribuindo para que entre eles cheguem a uma solução mais favorável
para ambos, tendo uma participação mínima do estado na solução da lide envolvendo
agentes empresariais.
A recuperação extrajudicial agiliza a superação da situação da crise econômico-
financeira do devedor e permite que o empresário continue produzindo os produtos
necessários à utilização por parte da sociedade, a preservação dos empregos dos
trabalhadores, bem como atende aos interesses dos credores. Enfim, possibilita a empresa
manter sua função social.

REFERÊNCIAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial – Direito de Empresa, São Paulo:
Saraiva, 2008, volume 3, 9ª edição.

NEGRÃO, Ricardo. Aspectos objetivos da lei de recuperação de empresas e de


falências: Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. – 4. ed. – São Paulo: Saraiva, 2010.
RESTIFFE, Paulo Sérgio. Recuperação de Empresas. São Paulo: Manole, 2008.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Falência e recuperação de


empresas, vol. 3– 5. Ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2017.

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