Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Roteiro

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

Centro de Apoio Operacional sobre Estudos de Violência Doméstica e Familiar

Contra a Mulher e Gênero Feminino

ROTEIRO DE ATUAÇÃO AOS


PROMOTORES DE JUSTIÇA
Implantação da Rede de Enfrentamento à
Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher
SUMÁRIO

Apresentação......................................................................................................03

Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a


Mulher.................................................................................................................06

Implantação da Rede de Enfrentamento.........................................................10

Procedimento Administrativo de Acompanhamento.....................................13

Referências Bibliográficas.................................................................................14
APRESENTAÇÃO

Diante dos dados estatísticos divulgados na 2ª edição da pesquisa “Visível e


Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, publicado em 2019, tem-se
que a redução dos índices de violência contra a mulher demanda ainda muito
a fazer por parte do Estado brasileiro em suas diferentes instâncias.

De acordo com o resultado da pesquisa, no ano de 2018, cerca de 536


mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no último ano (4,7
milhões de mulheres).

Ainda que a Lei nº. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) tenha criado
mecanismos para coibir tais crimes, o panorama retro demonstra a existência
de um grave problema.

Desta forma, faz-se necessário potencializar as estratégias de enfrentamento


à violência doméstica e familiar contra a mulher previstas neste dispositivo
legal, no que tange à assistência à mulher e demais sujeitos envolvidos na
situação de violência de forma articulada e conforme os princípios e as
diretrizes das políticas públicas de assistência social, saúde e outras políticas
de proteção, bem como à criação de serviços especializados no atendimento
dos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

O Estado de Mato Grosso não destoa do cenário nacional. Em grande parte


das Comarcas encontramos pontos de fragilidade na rede de atendimento
aos envolvidos em situações de violência doméstica/familiar contra a mulher,
assim como a inexistência de articulação intersetorial com objetivo de
reduzir os índices, garantir o acesso aos serviços e proporcionar uma vida sem
violência.
Para tanto, um dos objetivos do Planejamento Estratégico 2020/2023
definido pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso na área criminal é
buscar a implantação do Projeto Rede de Enfrentamento à Violência
Doméstica e Familiar Contra a Mulher, levando-se em consideração os
números de casos de violência e a respectiva estrutura do Município para
receber este projeto.

Assim, o referido projeto tem a finalidade de fomentar a prevenção do


feminicídio e qualquer outro tipo de violência praticada contra a mulher, por
meio da implantação da rede.

A definição dos objetivos do Planejamento Estratégico contou com o


envolvimento da sociedade e dos integrantes da instituição, considerando,
outrossim, um diagnóstico das demandas e prioridades da população feito
pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Mais de 9 mil questionários
foram respondidos em todo o país.

Concomitantemente, 535 membros e servidores do Ministério Público do


Estado de Mato Grosso responderam à pesquisa, apontando as áreas e temas
a serem priorizados. Também foi realizado workshop presencial com
definição dos valores, visão e votação dos objetivos e ações estratégicas, além
de Capacitação em Gestão Estratégica envolvendo Membros e Servidores da
instituição.

Com a finalidade de auxiliar os Promotores de Justiça que possuem


atribuição na área da violência doméstica e familiar contra a mulher, o
Centro de Apoio Operacional Sobre Estudos de Violência Doméstica e
Familiar Contra a Mulher e Gênero Feminino editou o presente Guia de
Orientação para a implantação da Rede de Enfrentamento à Violência
Doméstica e Familiar Contra a Mulher.
Inicialmente, a Rede de Enfrentamento será implantada em 10 (dez)
municípios mato-grossenses, os quais foram escolhidos com base no número
de feminicídios praticados e, também, na estrutura dos serviços públicos
existentes na localidade, facilitando, dessarte, a implantação da rede.

O presente Guia de Orientação está estruturado em três partes. A primeira


tem o objetivo de esclarecer e informar sobre a Rede de Enfrentamento à
Violência Doméstica e Familiar contra a mulher, por meio da apresentação
de conceitos chaves.

Na segunda parte são ilustradas as etapas necessárias para a implantação da


Rede de Enfrentamento, considerando as particularidades de cada
município.

Por fim, a terceira parte contém orientações gerais para o registro e


acompanhamento das ações do Projeto nas localidades, por meio da
instauração de competente Procedimento Administrativo.
REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
Para implantar a Rede de Enfrentamento é fundamental compreender o seu
conceito, objetivos, participantes, sua diferenciação com a rede atendimento
e os serviços especializados e não especializados.

A fim de propiciar esse conhecimento apresentamos a seguir informações


sobre a Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher.

O que é a Rede de Enfrentamento?

A Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres diz respeito à


atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais, não-
governamentais e a comunidade, visando o desenvolvimento de estratégias
efetivas de prevenção e de políticas que garantam a construção da
autonomia das mulheres, os seus direitos humanos, a responsabilização dos
agressores e a assistência qualificada às mulheres em situação de violência.

Quais são os objetivos da Rede de Enfrentamento?

A Rede de Enfrentamento tem por objetivos efetivar os quatro eixos


previstos na Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres – combate, prevenção, assistência e garantia de direitos – e dar
conta da complexidade do fenômeno da violência contra as mulheres.
Quem são os participantes da Rede de Enfrentamento?

A rede de enfrentamento é composta por: agentes governamentais e não-


governamentais formuladores, fiscalizadores e executores de políticas
voltadas para as mulheres (organismos de políticas para as mulheres, ONGs,
movimento de mulheres, conselhos dos direitos das mulheres, outros
conselhos de controle social; núcleos de enfrentamento ao tráfico de
mulheres etc.); serviços/programas voltados para a responsabilização dos
agressores; universidades; órgãos federais, estaduais e municipais
responsáveis pela garantia de direitos (habitação, educação, trabalho,
seguridade social, cultura) e serviços especializados e não-especializados de
atendimento às mulheres em situação de violência (que compõem a rede de
atendimento às mulheres em situação de violência).

O que é a Rede de Atendimento?

Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de


diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança
pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do
atendimento, à identificação e ao encaminhamento adequado das mulheres
em situação de violência e à integralidade e à humanização do atendimento.

Assim, é possível afirmar que a rede de atendimento às mulheres em


situação de violência é parte da rede de enfrentamento à violência contra as
mulheres, contemplando o eixo da “assistência” que, segundo o previsto na
Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, objetiva:
(...) garantir o atendimento humanizado e qualificado às
mulheres em situação de violência por meio da formação
continuada de agentes públicos e comunitários; da criação de
serviços especializados (Casas-Abrigo/Serviços de
Abrigamento, Centros de Referência de Atendimento à Mulher,
Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor,
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
Defensorias da Mulher, Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher); e da constituição/fortalecimento da
Rede de Atendimento (articulação dos governos – Federal,
Estadual, Municipal, Distrital- e da sociedade civil para o
estabelecimento de uma rede de parcerias para o
enfrentamento da violência contra as mulheres, no sentido de
garantir a integralidade do atendimento (SPM, 2007, p. 8).

A rede de atendimento, portanto, refere-se somente ao eixo da


Assistência/Atendimento da mulher em situação de violência, sendo
composta pelos serviços especializados e não-especializados.

O que são os serviços não-especializados?

Os serviços não-especializados de atendimento à mulher, em geral,


constituem a porta de entrada da mulher na rede, abrangendo: hospitais
gerais, serviços de atenção básica, programa saúde da família, delegacias
comuns, polícia militar, polícia federal, Centros de Referência de Assistência
Social/CRAS, Centros de Referência Especializados de Assistência
Social/CREAS, Ministério Público, defensorias públicas.

O que são os serviços especializados?

Os serviços especializados de atendimento à mulher são aqueles que


atendem exclusivamente a mulheres e que possuem expertise no tema da
violência contra as mulheres.
São compostos por: Centros de Atendimento à Mulher em situação de
violência (Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Núcleos de
Atendimento à Mulher em situação de Violência, Centros Integrados da
Mulher), Casas Abrigo, Casas de Acolhimento Provisório (Casas-de-
Passagem), Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Postos ou
Seções da Polícia de Atendimento à Mulher), Núcleos da Mulher nas
Defensorias Públicas, Promotorias Especializadas, Juizados Especiais de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Central de Atendimento à
Mulher - Ligue 180, Ouvidoria da Mulher, Serviços de saúde voltados para o
atendimento aos casos de violência sexual e doméstica, Posto de
Atendimento Humanizado nos aeroportos (tráfico de pessoas) e Núcleo de
Atendimento à Mulher nos serviços de apoio ao migrante.
IMPLANTAÇÃO DA REDE DE ENFRENTAMENTO

Apresentados os conceitos da Rede de Enfrentamento e da Rede de


Atendimento, passemos agora para as ações iniciais que farão parte da
implantação da Rede de Enfrentamento. Para tanto, serão elencadas
algumas etapas necessárias.

Etapa 1 - Articulação intersetorial

O que é?
Consiste na articulação e integração entre as diferentes instituições e/ou
serviços, que atuam direta ou indiretamente com a temática da violência
contra a mulher.

Qual o objetivo?
Identificar e articular as possíveis instituições e/ou serviços a constituírem a
rede, tais como: Poder Executivo, Poder Judiciário, Defensoria Pública,
Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, Universidades, associações,
movimentos sociais, entre outros. Desta maneira, a articulação pressupõe a
apresentação do conceito de Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher e a sensibilização quanto à sua importância.

Como realizar?
A articulação intersetorial pode ser realizada de variadas formas, como por
exemplo, através de reuniões, contatos institucionais, rodas de conversa e
outros, com os representantes das instituições e/ou serviços. Esta articulação
será materializada com a assinatura de um protocolo de intenções entre as
instituições e/ou serviços parceiros da rede.
Etapa 2 - Capacitação dos atores envolvidos

O que é?
Consiste na capacitação e qualificação dos atores sociais das instituições e/ou
serviços, que atuam de forma direta ou indireta com a violência contra a
mulher.

Qual o objetivo?
Promover espaços de diálogo e reflexão, sobre a temática da violência contra
a mulher e outros assuntos, direcionados aos atores sociais envolvidos na
rede para que todos tenham acesso a um conteúdo mínimo necessário ao
atendimento à mulher em situação de violência.

Como realizar?
A capacitação deve ser realizada de forma coletiva, com a participação das
diversas representações que compõem a rede. Sugere-se a utilização de
metodologia dialogada e participativa que propicie o envolvimento e a
interação das pessoas, por meio de oficinas, rodas de conversa e outras. Caso
seja possível, é estratégica a parceria com as universidades e institutos
federais na construção e execução da capacitação.

Qual conteúdo abordar?


O conteúdo da capacitação deve ser definido coletivamente pelas instituições
e/ou serviços envolvidos na rede. Todavia, destaca-se a importância de
abordar os seguintes conceitos e assuntos: gênero, violência contra a mulher,
aspectos jurídicos da Lei nº. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), tipos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, mitos e estereótipos quanto à
violência contra a mulher, escuta ativa e atendimento humanizado, avaliação
de risco, consequências da violência doméstica e familiar contra a mulher,
Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
entre outros.
Etapa 3: Rede de Atendimento

O que é?
Consiste no conjunto de ações e serviços de diferentes setores que visam à
ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento às mulheres em
situação de violência e familiares envolvidos neste contexto.

Qual o objetivo?
Propiciar à mulher e demais pessoas envolvidas no cenário de violência a
integralidade e a humanização do atendimento, o encaminhamento
adequado, bem como o acesso aos serviços e ações disponíveis.

Como realizar?
Primeiramente é imprescindível identificar os serviços e as ações existentes e
a serem implementadas no atendimento às mulheres e familiares envolvidos
no contexto de violência. Em seguida, pode-se elaborar fluxograma e
protocolo de atendimento referente à violência doméstica e familiar contra a
mulher. Salienta-se que essa etapa é materializada ao firmar parceria e/ou
termo de cooperação entre as instituições e/ou serviços envolvidos na rede.

Quais ações e serviços podem ser ofertados?


Considerando a realidade de cada município, pode-se verificar a necessidade
de estruturação do atendimento às mulheres em situação de violência no
Centro de Referência em Assistência Social – CREAS, a implementação da
Patrulha Maria da Penha, do Grupo Reflexivo para Homens e outros.
Destaca-se que para cada serviço e/ou ação é possível elaborar capacitações e
protocolos específicos.
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DE
ACOMPANHAMENTO
Para além do conhecimento das etapas de implantação da Rede é necessário
contabilizar as iniciativas nos indicadores e também permitir o
acompanhamento da execução do Planejamento Estratégico.

Assim sendo, considerando que na Promotoria de Justiça inexista qualquer


procedimento que trate sobre a implantação da Rede de Enfrentamento à
Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, sugere-se a instauração de
Procedimento Administrativo.

Para tanto, deve-se seguir as seguintes regras no momento de inserção no


SIMP:

1. Área: Violência Doméstica.


2. Classe: Sugere-se o Procedimento Administrativo.
3. Assunto: PEI – Implementação da Rede de Enfrentamento à Violência
Doméstica e Familiar Contra a Mulher (920148) (Caminho: DIREITO
PENAL > PEI – Implementação da Rede de Enfrentamento à Violência
Doméstica e Familiar Contra a Mulher).

Após classificar o procedimento e instaurá-lo, deve-se lançar o movimento


PROJETO (Código 922006), conforme tabela de taxonomia disponibilizada
no Portal FOCO.

Todas as atividades decorrentes da implantação da Rede no Município


devem ser inseridas no SIMP respectivo, como, por exemplo, reuniões, ofícios
expedidos, listas de presença etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Visível e invisível: a


vitimização de mulheres no Brasil. 2ª edição, Brasília: FBSP, 2019.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. SECRETARIA DE POLÍTICA PARA AS


MULHERES. Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Brasília:
SPM/PR, 2011.
Centro de Apoio Operacional sobre Estudos de Violência Doméstica e Familiar
Contra a Mulher e Gênero Feminino

ORGANIZAÇÃO
Dra. Laís Glauce Antonio dos Santos - Promotora de Justiça e Coordenadora
do CAO
Renata de Paula Teixeira - Analista Assistente Social do CAO/MPMT
Tarlyson Corrêa Martins - Oficial de Gabinete do CAO/MPMT

Você também pode gostar