Tratados Internacionais de Direitos Humanos e o Estado Brasileiro: Incentivo Na Construção de Políticas Públicas
Tratados Internacionais de Direitos Humanos e o Estado Brasileiro: Incentivo Na Construção de Políticas Públicas
Tratados Internacionais de Direitos Humanos e o Estado Brasileiro: Incentivo Na Construção de Políticas Públicas
RESUMO
Esse trabalho apresenta elementos para o entendimento do processo de internalização dos tra-
tados internacionais no Brasil. São estudados quais são os atores envolvidos no processo, qual
o contexto dos direitos humanos no mundo, como foi elaborado o Sistema Internacional de
Direitos Humanos, como o Brasil se insere nesse contexto e quais são os principais tratados e
convenções que o país é signatário. Verifica-se também a atuação do Estado brasileiro frente à
proteção dos direitos fundamentais, sua estrutura política e organizacional, os principais atores
na garantia das políticas de proteção dos direitos fundamentais, nas três esferas da
Administração Pública e quais Planos e Programas estão vigentes atualmente.
Palavras-chave: Direitos Fundamentais. Avaliação de políticas.
Mapeamento.
ABSTRACT
This work presents elements for understanding the internationalization process of international
tre- aties in Brazil. Are studied which actors are involved in this process, what is the humans
rights con- text in the world, how was elaborated the Human Rights International System, how
Brazil is inserted in this context and which are the main treaties and conventions that the
country is signatory. It is also verified the Brazilian State acting in front of human rights
protection, your politic and organiza- tional structure, the main actors in guarantee policies of
fundamental rights, in the three spheres of government and what are the Plans and Programs
currently in effect.
Keywords: Fundamental Rights. Evaluation of Policies.
Mapping.
1. Introdução
A abordagem inicial do tema é inafastavelmente relacionada a como os direitos humanos
são vistos no Brasil, principalmente pelos órgãos do Estado, além de como a ratificação de
Tratados Internacionais influenciaram e influenciam no cotidiano das normas brasileiras.
A redemocratização do país foi o marco inicial na história da busca pela efetivação dos direitos
humanos no Brasil. A Constituição de 1988 surge como indicativo do interesse de ampliar
o rol de direitos e garantias dos cidadãos brasileiros, o que se pode perceber pelo artigo 5º,
que diz respeito a todos os direitos, tanto individuais quanto coletivos, especialmente pela
cláusula de abertura contida no parágrafo 2o do referido artigo.
O Brasil mostra-se interessado em atuar na busca da proteção dos direitos humanos ao rea-
lizar a ratificação dos dois pactos de grande influência para a garantia dos direitos. O Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, que inserem o Brasil no Sistema Internacional de Proteção dos Direitos
Humanos, algo que se aprofunda quando, posteriormente, em 2006, o Brasil passa a fazer
parte do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Para tornar mais compreensível o processo de internalização das normas internacionais, este
trabalho apresenta como objetivos principais: (i) verificar quais são os principais tratados de
proteção dos direitos humanos ratificados pelo Brasil; (ii) fazer um levantamento dos órgãos
federais ligados à proteção dos direitos humanos; (iii) identificar os programas nacionais
de proteção dos direitos humanos; e (iv) catalogar as instituições públicas que promovem a
proteção dos direitos humanos.
2. Metodologia
A metodologia utilizada nas pesquisas jurídicas se apresenta num campo delicado. É neces-
sário diferenciar metodologia como método de trabalho e metodologia como abordagem
metodológica.
Não se busca aqui a realização de uma análise teórica que se esgota em si mesma. Pretende-
-se, pelo contrário, não só contribuir para a discussão sobre a nacionalidade e os direitos fun-
damentais, mas também fornecer subsídios para a atividade jurisprudencial, especialmente
aquela ocupada com a proteção dos direitos fundamentais.
3. Desenvolvimento
3.1 Contexto dos Direitos Humanos no Mundo
Para iniciar o estudo sobre os direitos humanos, deve-se ter em mente o que se considera
como sendo direitos humanos. Segundo Ramos (2014), os direitos humanos são um conjunto
de direitos considerados indispensáveis para uma vida humana digna, pautada na liberdade,
igualdade e dignidade. Também são eles dotados de quatro ideias-chave: universalidade, es-
sencialidade, superioridade normativa e reciprocidade.
Diante desses conceitos básicos, parte-se para o entendimento da evolução dos direitos nos
mais variados ordenamentos jurídicos do mundo. Tem início aí a compreensão do pensa-
mento moderno e contemporâneo sobre direitos humanos.
Após a segunda Guerra Mundial, os países passam a adotar uma nova perspectiva no campo
dos direitos. A proteção dos direitos humanos ganha relevância, com a justificativa de pre-
venir e impedir que atrocidades, como as cometidas nas guerras, se repetissem. Essencial-
mente, no entanto, o crescimento da proteção internacional dos direitos humanos se deve à
tentativa dos Estados de se legitimarem interna e internacionalmente. Tem-se, assim, a ne-
cessidade de abrigar os direitos humanos, de maneira que se busca uma concordância entre
os países do mundo em alcançar a paz e a resolução dos conflitos, facultando aos Estados um
amplo esforço para garantir e proteger tais direitos.
Diante da intenção mundial de promoção de direitos, em 1945 (que pode ter fundamento ex-
clusivamente na busca de legitimação pelos Estados), formaliza-se a criação da Organização
das Nações Unidas (ONU), por meio da Carta das Nações Unidas, com o intuito de discutir
e propor ações específicas para a proteção internacional dos direitos humanos. Nesse con-
texto, em 1948, é aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, conhecida como
Declaração de Paris, concretizada pela Resolução 217 A (III), da Assembleia Geral, em 10 de
dezembro, por 48 votos a zero e oito abstenções, efetivadas por África do Sul, Arábia Saudita,
Bielorrússia, Checoslováquia, Iugoslávia, Polônia, Ucrânia e União Soviética. Segundo Laffer
(1948), a declaração é o primeiro texto de alcance internacional que trata de maneira abran-
gente da importância dos direitos humanos, representando um marco na afirmação histórica
desses direitos, como critério organizador e humanizador da vida coletiva na relação entre
governantes e governados. A Declaração Universal é formada pela composição da indivisi-
bilidade e universalidade dos direitos (PIOVESAN, 2004), inaugurando as discussões sobre
proteção internacional dos direitos humanos.
Ao elaborar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, por meio da Comissão de Di-
reitos Humanos, a intenção da ONU era estabelecer um marco normativo vinculante aos
Estados, com o objetivo de fortalecer a ideia de proteção dos direitos fundamentais. Esse
marco deveria ser seguido pela elaboração de um tratado internacional de direitos humanos.
Porém, os Estados potências já na época (Estados Unidos e União Soviética) concentraram
seus esforços na Guerra Fria. Foi somente em 1966 que dois pactos de extrema importância
foram aprovados: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional
dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais. A união desses três elementos seria a chamada
“Carta Internacional dos Direitos Humanos”, que, segundo Ramos (2014), representou a sis-
tematização da proteção dos direitos humanos.
Para Bilder (2004), o Direito Internacional dos Direitos Humanos consiste em focar as re-
gras internacionais, procedimentos e instituições de desenvolvimento para implementar o
conceito e promover o respeito aos direitos humanos em todos os países. Aponta que, para
começar a se criar uma cultura de proteção aos direitos fundamentais, todos os países do
mundo devem tomar para si a responsabilidade de garantir aos seus cidadãos as condições
adequadas de uma vida digna.
O Sistema de Proteção dos Direitos Humanos estabelece normas a serem seguidas pelos
Estados adeptos por meio de tratados internacionais, promovendo um alinhamento do pen-
samento ético sobre os direitos humanos entre tais Estados (PIOVESAN, 2001). Por ser um
sistema global, algumas regiões sentem a necessidade de criar sistemas locais mais específi-
cos. Dessa forma, são criados os Sistemas Europeu, Americano e Africano, para promover e
disseminar os valores de proteção aos direitos humanos, em conjunto com o sistema global
formado pela ONU (AGU, 2014).
Os sistemas global e regional não são dicotômicos. Eles revelam a mesma vontade de prote-
ção dos direitos, diante da Declaração Universal. Piovesan (2001) argumenta que os sistemas
compõem um universo instrumental de proteção dos direitos humanos no plano internacio-
nal. Diante dessa visão os diversos sistemas interagem para beneficiar os indivíduos prote-
gidos. Adotar esses sistemas, somando-os ao sistema interno nacional, tem a finalidade de
proporcionar maior efetividade na proteção e promoção dos direitos fundamentais.
Para Ramos (2012), a explicação para a entrada dos países no sistema global, adotando a
proteção dos direitos como linha de frente de suas ações, permitindo a fiscalização global de
suas políticas, limitando suas políticas e criando obrigações jurídicas, pode ser revelada por
seis motivos. São razões que podem não se aplicar da mesma maneira para todos os Estados,
mas de alguma forma influenciam suas decisões. Os motivos são: o próprio Direito Interna-
cional dos Direitos Humanos; o anseio de adquirir legitimidade política na arena internacio-
nal e distanciar-se das ditaduras; o estabelecimento de diálogo entre os povos, revestido pelo
seu conteúdo ético; motivos econômicos, com a finalidade de oferecer um padrão mínimo da
sociedade para atrair investidores; a atuação da sociedade civil organizada, gerando pressão
sobre os governos para atuarem ativamente na promoção dos direitos; e, por fim, a mobiliza-
ção das comunidades na reivindicação de direitos básicos não respeitados.
A argumentação de Benoni (2009) revela que esse processo culminou na dissolução da Co-
missão e na organização do Conselho de Direitos Humanos, formado em 2006, por meio da
Resolução 60/251 da Assembleia Geral. O conselho teve a intenção de criar mecanismos de
avaliação e monitoramento mais eficazes na proteção dos direitos humanos, para inibir o
descumprimento dos acordos feitos pelos países associados ao Sistema Global.
Deve ser mencionado que o Sistema de Proteção dos Direitos Humanos, segundo Piovesan
(2001), possui quatro dimensões de acordo com: a determinação por consenso internacional
de parâmetros mínimos de proteção dos direitos humanos; a conciliação entre as gramá-
ticas internacionais e nacionais sobre garantia de direitos e deveres; a criação de órgãos de
proteção, como comitês, relatorias e cortes, entre outros organismos; e, por fim, a criação de
mecanismos de monitoramento voltados à implementação dos direitos assegurados interna-
cionalmente. Essas características complementam e auxiliam as atividades dos países dentro
do Sistema. Um dos mecanismos mais utilizados entre as normas é a ratificação de tratados
e convenções, de maneira que os países se sujeitam a seguir as regras internacionais e partem
para uma visão mais progressiva e protetiva dos direitos fundamentais.
Partindo da explicação de Ramos (2014), entende-se que o Sistema gere um conjunto de me-
canismos por meio de órgãos direta ou indiretamente ligados à ONU. Esses organismos são
divididos em onusianos, aqueles ligados diretamente à ONU e apoiados por tratados ligados
à ONU, e aqueles independentes, previstos nos tratados. Na primeira classificação, encon-
tram-se o Conselho de Direitos Humanos, relatores especiais de Direitos Humanos e o Alto
Comissariado de Direitos Humanos. Já na segunda classificação, podem ser encontrados os
comitês criados por tratados internacionais de âmbito universal e o Tribunal Penal Interna-
cional (subdividido em cortes regionais).
Pode-se entender que a proteção internacional age em três eixos: o Sistema Universal (ONU),
com seus pactos, protocolos e convenções, o Sistema Regional Americano (OEA), com pro-
tocolos e convenções e os mecanismos internacionais de proteção e monitoramento dos Di-
reitos Humanos, com conselhos, comitês e comissões.
Diante do panorama geral criado sobre os Sistemas, uma explicação mais detalhada sobre o
que são os tratados de direitos humanos se faz necessária. Nesses termos, colocar a situação
do Brasil perante a ratificação dos mesmos segue o caminho lógico da formação da proteção
dos direitos humanos no país.
Diante das discussões geradas sobre os tratados de direitos humanos, vale descrever o pro-
cesso de incorporação destes na norma brasileira. Ramos (2014) revela as quatro fases do
processo: a assinatura pelo chefe de Estado (presidente, de acordo com a CF/88, artigo 84,
inciso VIII), a aprovação pelo Congresso Nacional, a ratificação e, finalmente, o decreto pre-
sidencial ou de promulgação).
A Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados, de 1969, traz dois princípios interes-
santes para o estudo: o Princípio da Boa-Fé e o do Livre Consentimento. Por estes princí-
pios, o Estado deve cumprir o tratado ratificado, uma vez que o foi por livre consentimento
de adesão. Assim, cabe ao Estado responder por suas ações. Na interpretação de Piovesan
(2001), esses princípios, somados ao artigo 29 da Convenção Americana de Direitos Huma-
nos, consagram ao Estado o princípio de seguir a norma mais favorável, seja ela proveniente
do Direito Internacional ou do nacional. Diante desse conceito, vale ressaltar que as regras
dos tratados internacionais só se aplicam aos Estados-parte. O interesse de se vincular aos
tratados deve ser legítimo, de maneira que, ao término do processo de ratificação, o Estado
esteja apto a cumprir o tratado em vigor, com a aplicação de suas normas.
Diante dessa nova configuração, pode-se entender que o posicionamento defendido pelo
país nas discussões internacionais corresponde a uma visão democrática e coerente com os
interesses nacionais, buscando o aprimoramento de um sistema capaz de tomar decisões
legítimas e justas (BENONI, 2009). Nesse contexto, o aparelho estatal ganha mais força e
legitimidade para implantar mecanismos de proteção e promoção dos direitos humanos,
consolidando-se, assim, a posição do Brasil internacional e nacionalmente.
Tem-se, nas palavras de Bobbio (2007), que a história das instituições se desenvolveu poste-
riormente à história das doutrinas, o que significa que os ordenamentos de um determinado
sistema político tornaram-se conhecidos por meio da reconstrução, deformação ou ideali-
zação que os escritores fizeram. Hobbes identificou-se com o Estado absoluto, Locke com a
Nos processos que deram origem ao Estado moderno, se encaixam as etapas de transfor-
mação do puro Estado de Direito em Estado Social, revelando o Estado como uma forma
complexa de organização social. Nesse sentido, surge a ideia de que a função das instituições
políticas é dar resposta às demandas sociais sob a forma de decisões coletivas vinculadas à
sociedade, gerando um sistema de retroalimentação através da demanda- resposta (BOBBIO,
2007).
Tribunais de Justiça
(desembargadores) e Juízes
Governos estaduais Deputados estaduais:
Estaduais (primeira instância);
Nível estadual (governadores e Assembleias Legislativas
Justiça Militar Estadual; Juizados
secretários de governo) (27)
Especiais Cíveis; Juizado de
Pequenas Causas.
Governos municipais
Vereadores: Câmaras de
Nível municipal (prefeitos e secretários -
Vereadores (5.570)
municipais)
Para entender a proteção dos direitos humanos no Brasil, é preciso começar pela Declaração
e Programa de Ação da Conferência Mundial de Viena, de 1993. Em seu item 71, orienta
os países a elaborar programas de direitos humanos e, com isso, criar políticas públicas de
promoção aos direitos fundamentais. Ao seguir essa determinação, o Brasil edita o Decreto
nº 1.904, em 1996, criando o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-I), com o
objetivo de diagnosticar a situação da proteção dos direitos no país. Trouxe como missão
dar visibilidade aos problemas referentes aos direitos humanos e estipular e coordenar os
esforços para superar as dificuldades, com foco na implementação desses direitos. O Pro-
grama conta com a articulação do governo e da sociedade civil. Ramos (2014) ressalta que
o PNDH-I não possui força vinculante, o que significa que não gera obrigatoriedade, mas
orienta a conduta das ações governamentais, por meio dos seus agentes. Com o Programa,
inaugura-se um processo de consulta e debate com a sociedade civil, representados pelos
seminários regionais ocorridos em seis localidades no período de 1995 a 1996. A construção
do plano foi elaborada pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São
Paulo. Este foi apresentado na I Conferência Nacional de Direitos Humanos, de abril de 1996,
promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, com o apoio de
diversas organizações da sociedade civil.
Os Programas Nacionais devem ser implantados por organismos de Estado. A partir desse
entendimento, é necessária a definição dos principais atores do aparato administrativo, bem
como localizar os centros formadores de políticas públicas na defesa dos direitos humanos.
Vale compilar a sua estruturação, uma vez que ela age de acordo com subtemas. Tem-se a
seguinte composição: 1. Gabinete; 2. Ouvidoria de Direitos Humanos; 3. Órgãos Específicos
Singulares divididos em: a) Secretaria de Gestão da Política de Direitos Humanos; b) Se-
cretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos; c) Secretaria Nacional de
Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente; d) Secretaria Nacional de Promoção
dos Direitos da Pessoa com Deficiência; 4. Órgãos Colegiados: a) Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana (CDDPH); b) Conselho Nacional de Combate à Discriminação
(CNDC); c) Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE); d) Con-
selho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA); e) Conselho Nacio-
nal dos Direitos do Idoso (CNDI); f) Conselho Nacional de Promoção do Direito Humano à
Alimentação (CNPDHA).
Outras duas secretarias são de extrema importância no cenário da proteção dos direitos fun-
damentais no Brasil. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria
de Políticas para as Mulheres. Ambas em conjunto com a Secretaria de Direitos Humanos
têm status ministerial, e suas estruturas básicas são bem parecidas, sendo compostas pelos
conselhos, gabinete, Secretaria Executiva e subsecretarias. O que difere são os Conselhos,
sendo eles Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher.
A separação dos temas sobre questões raciais e de gêneros em secretarias próprias, nos revela
que estes são objetos de profundas mudanças na sociedade brasileira. Por isso, são de extre-
ma importância as ações promovidas e as políticas delineadas nesses dois núcleos formado-
res. O destaque se faz na realização de políticas antidiscriminatórias de ordem nacional com
a promoção da igualdade de gêneros e de raça, combatendo a intolerância e o preconceito.
Uma medida promovida pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial foi o
planejamento, a coordenação da execução e a avaliação do Programa Nacional de Ações Afir-
mativas do Governo Federal, regulado pelo Decreto nº 4.228/2002. Cabe também sublinhar
a ação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, em conjunto com a ONU MULHERES,
que vem reforçando as políticas brasileiras e lutando para disseminar a cultura de promoção
e proteção dos direitos das mulheres para, então, alcançar a igualdade entre gêneros. Esta
ação também envolve as raças e etnias, uma vez que a mulher deixa de ser subjugada e passa
a ter papel fundamental na sociedade machista atual.
Deve-se também ressaltar a ação dos Conselhos, Comitês e Comissões no trato das questões
ligadas à proteção dos direitos, principalmente na formulação e implantação de políticas pú-
blicas específicas para cada área determinada pelos organismos citados. Os Planos Nacionais
temáticos também devem ser ressaltados, pois por meio deles é que as ações governamentais
são delimitadas.
4. Considerações Finais
Pode-se chegar à conclusão neste estudo que o Estado brasileiro foi fortemente influenciado,
ao efetivar a ratificação dos principais tratados internacionais de direitos humanos, a realizar
esforços no sentido de elaborar e implantar políticas públicas de proteção e promoção aos di-
reitos humanos. Foram determinantes nesse processo a ratificação dos Pactos Internacionais
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e dos Direitos Civis e Políticos, em conjunto com
a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, a Convenção contra a Tortura
e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, a Convenção sobre os Direitos da
Criança, a Convenção Americana de Direitos Humanos, a Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, entre outros já citados anteriormente.
Fica evidente neste trabalho que os organismos internacionais ligados à ONU têm agido de
maneira efetiva no auxílio a políticas que promovam e protejam os direitos humanos no Brasil,
a partir de parcerias com as Secretarias de Direitos Humanos, de Políticas para as Mulheres e
de Promoção da Igualdade Racial na intenção de promover um amplo alcance das ações inter-
nacionais.
Por fim, pode-se concluir que o Brasil é exemplo de luta pelos direitos humanos na América
Latina, e que, apesar de seu recente histórico de democracia, vem caminhando para uma so-
ciedade menos desigual e mais coerente com as normas e tratados internacionais. Claramente,
porém, não se atingiu o pleno desenvolvimento de uma cultura de proteção e promoção dos
direitos humanos. Ainda existem muitas violações dentro do país, por parte de cidadãos, polí-
cias e governos, talvez alicerçadas nas raízes da discriminação, profundas na história brasileira.
Porém, com a forte atuação do Estado em promover estes conceitos de cidadania e igualdade,
junto com a sociedade civil organizada, seja possível chegar ao ideal de proteção integral dos
direitos fundamentais.
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