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O Gênero Ska

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O gênero Ska : Origens e desenvolvimento.

Pablo Ramires Sales Nascimento


Universidade Federal da Paraiba – pbramires@gmail.com
Alysson Aquiles Ramalho de Sousa – alyssonr031@gmail.com
Universidade Federal da Paraiba –

Resumo: O presente trabalho visa fazer o levantamento da história do gênero jamaicano


denominado de SKA, começando pela sua origem na Jamaica, da sua disseminação na
Inglaterra por volta da década de 1960 e de sua proliferação ao redor do globo, passando
por suas 3 gerações até os dias atuais. A metodologia utilizada para a elaboração desse
artigo foi baseada em pesquisas bibliográficas, e alguns dados foram colhidos na internet .

Palavras Chave : Ska, Reggae, Afrocaribenho , Música Negra, Jamaica, Cultura Negra

A Jamaica é um país insular situado no mar do Caribe ,sendo a terceira maior ilha
das grandes Antilhas. Situa-se a cerca de 150 km de ao sul de Cuba .Foi encontrada por
Cristovam Colombo em 1494 ,e colonizada pelos espanhóis ,que à época viajavam a
procura de ouro e riquezas. A ilha era chamada de Xaymaca pelos nativos ,que significa
“Terra da madeira e da água”, ou “Terra do mananciais”. A exemplo do Brasil ,milhares
de escravos foram levados para trabalhar em minas a procura de metais preciosos.
Em 1670 com o tratado de Madri, a Inglaterra tomou posse da Jamaica, e passa a
investir na plantação de cana de açúcar, já que na ilha não existia metais preciosos como
provaram os espanhois .Os senhores da terra mudaram ,mas os escravos africanos
continuavam chegando ,agora para trabalhar nos canaviais.
Nesse caldeirão étnico ,onde o índio nativo ,o africano e o europeu conviviam
começa a se forjar a gênese multicultural jamaicana. Com o passar do tempo, outros
elementos culturais caribenhos foram chegando a Jamaica, a exemplo do Calypso de
Trinidad e a Rumba Cubana , e se misturando como os Burru drums (um estilo de
batuque criado por escravos Ashanti, um grupo étnico originário da atual Ghana) usados
nos cultos afro-caribenhos. Dessa mistura surgiu o primeiro ritmo genuinamente
jamaicano : o Mento .

Dentre outras influencias, o Mento contribuiu principalmente para a formação


da indústria fonográfica jamaicana, visto que, os primeiros discos produzidos na ilha
foram desse estilo musical (CARVALHO & BRAGA, 2008).
Ao final da 2ª Grande Guerra mundial por volta de 1945, a Jamaica foi marcada
pelo êxodo rural, e com o inchaço das grandes cidades, uma nova música foi sendo
descoberta através do rádio, recém chegado nas mãos dos jamaicanos possivelmente
pelas bases militares americanas na ilha. O advento do rádio possibilitou a sintonia de
algumas estações de rádio americanas, foi quando a Jamaica descobriu o
Rhythm’n’Blues de New Orleans (PENHA, 2003).
Era o ingrediente final, dessa mistura do Mento jamaicano e do
Rhythm’n’Blues americano surge por volta da década de 1950 o SKA. Inicialmente
recebido com receio pelo grande público.
Aos poucos o Ska foi ganhando espaço e apreciadores na ilha e por volta de
1962 já invadira a Inglaterra com clubes específicos e um selo musical especializado
em lançar discos a partir dos originais jamaicanos, a Island Records, criada por Chris
Blackwell. A Island lançou artistas como Derrick Morgan, Jimmy Cliff e
posteriormente Bob Marley. Com o sucesso do Ska na Inglaterra, o ritmo começa a ser
mais valorizado na sua própria casa e a ser executado nas rádios jamaicanas. Também
em 1962 acontece a independência da Jamaica que foi celebrada ao som do novo ritmo.

O Ska é dividido por historiadores da música em 3 periodos :

- A Primeira Geração : A cena original da Jamaica em meados das décadas de


1950/1960.

- A Segunda Geração : Conhecida como TwoTone, surgida na segunda metade da


década d 1970, na Inglaterra em torno de um selo musical de mesmo nome criado por
Jerry Dammers.

- A Terceira Geração : Iniciada na década de 1980 com gêneros de fusão que deram
origem ao Skapunk e ao Skajazz.
A Primeira Geração

A cena original da Jamaica em meados da década de 1950 era formada por artistas
como : Laurel Aitken, Derrick Morgan, The Skatalites, Baron Lee and The Dragonaires,
Prince Buster, Desmond Dekker, Justin Hinds, Toots and The Maytals, entre outros, são
artistas considerados pioneiros do Ska, fazem parte assim como outros ,dessa primeira
geração ,tendo seus discos sendo os primeiros a chegar na Inglaterra por volta de
1964/1965, onde conseguem chegar no Top Ten britânico com a música “Man in the
street” do grupo The Skatalites

Figura 1 - The Skatalites

O maior sucesso de toda a história do Ska foi “My Boy Lollipop” de Millie
Small, adaptada ao estilo por Ernest Ranglin, a versão original era cantada por Barbie
Gaye ,vendeu 7 milhões de cópias ao redor do mundo e impulsionou a disseminação do
Ska pelos quatro cantos do planeta. Na segunda metade da década de 1960 quando a
música Soul americana tornou-se mais lenta e suave,o Ska mudou seu som de acordo
com a tendência, fazendo surgir um novo estilo o Rock Steady, no entanto o novo estilo
durou pouco e foi na verdade a ponte para o estilo musical jamaicano que dominaria o
mundo o REGGAE, carimbando definitivamente a Jamaica como provedora de um
estilo musical de estrondoso sucesso mundial até os dias atuais. :
Figura 2 – Ernest Ranglin Figura 3 – Millie Small

A Segunda Geração

TwoTone, ou 2Tone, é o nome atribuído a segunda geração do Ska, formada em torno


da gravadora TwoTone Records, o idealizador Jerry Dammers, era tecladista da banda
inglesa The Specials surgida na Inglaterra no final da década de 1970.

Figura 4 - The Specials

O nome remete ao fato de várias bandas dessa safra inglesa do Ska


possuírem dois vocalistas um negro e um branco por isso o nome TwoTone(dois tons).
Além da música, uma característica era a maneira de se vestir,a moda TwoTone consiste
em uma mistura de visual sessentista dos rude boys jamaicanos (bad boys) com um
toque de detalhes como algo de Mod (subcultura inglesa do final da década de 1950) e
de Suede Head (predecessores da cultura skinhead original inglesa). Acessórios como,
Porkpie Hats, Óculos escuros, Ternos de Mohair, Camisas de colarinho abotoado nas
pontas, meias brancas e sapatos pretos, que caracterizam o famoso logotipo da 2Tone
conhecido como Walt Jabsco.

Uma característica forte do Ska2Tone é a forte tendência de luta contra a


segregação racial, unindo nas bandas e no público, negros e brancos, punks e skinheads
Trads(anti-racistas), Sharps(skinheads against racial prejudice), e Rash(red and
anarchist skinheads).
Os Neofascistas são outro lado do movimento skin. White Power (poder
branco), o comportamento violento, a xenofobia, a veneração à figura de Adolf Hitler, o
anti-semitismo e a cultura do ódio, são características destes grupos skins de extrema-
direita. Isso levou a uma generalização do movimento como um todo.
Conseqüentemente a figura do skinhead não é mais pensada de forma dissociada desses
fatores (SILVA, 2014) .

As bandas principais bandas da 2Tonewave são : The Specials,


Madness, The Toasters, Bad Manners, The Selecter, The Hotknives, The Beat.

A Terceira Geração

A terceira onda do Ska originou-se na cena punk no final dos anos 1980 e se tornou
comercialmente bem sucedido na década de 1990. Embora alguns grupos da terceira
onda tenham um som tradicional dos anos 1960, a maioria dos grupos da terceira onda é
caracterizada por riffs de guitarra dominantes e grandes seções de metais. Exemplos de
bandas da terceira onda incluem: The Toasters, Fishbone, The Mighty Mighty
Bosstones, Hepcat, The Slackers, Suicide Machines, Voodoo Glow Skulls, Reel Big
Fish, Less Than Jake, Mad Caddies, The Aquabats, Mustard Plug, Five Iron Frenzy,
Buck-o-Nine, Suburban Legends, The Pietasters, Save Ferris, Goldfinger, Dance Hall
Crashers, The Littlest Man Band, dentre outras.

Figura 5 - Mighty Mighty Bosstones

No final da década de 1980, o Ska havia experimentado um pequeno


ressurgimento da popularidade no Reino Unido, devido a bandas como : The Burial e
The Hotknives, selos como Unicorn Records, festivais de Skamusic e um ressurgimento
da tradicional subcultura skinhead. No inicio dos anos 1980, assistiu-se a um aumento
na popularidade do Ska na Alemanha, o que levou à fundação de um grande número de
bandas como o The Busters, e também de selos especializados e festivais. Na Espanha,
o Ska tornou-se relevante na década de 1980 no País Basco pelas mãos do Rock Radical
Basco, sendo o Kortatu e o Potato as bandas mais representativas. O Skalariak e o
Betagarri seguiram seus passos no início dos anos 1990 e sua influência é visível fora
do país Basco em bandas de punk rock como o Ska-P, o Boikot e muitos outros que
tiveram uma participação importante na cena e muito presentes em festivais de Rock e
Punk Rock espanhóis.

Figura 6 - The Hotknives Figura 7 - The Busters


Figura 8 – Kortatu

A cena do Ska australiano floresceu em meados da década de 1980,


seguindo os precedentes musicais estabelecidos pela segunda onda (2 Tone), e
encabeçada por bandas como Strange Tenants, No Nonsense e The Porkers. Muitas
outras bandas dessa onda Ska australiano obtiveram sucesso nas paradas musicais
nacionais, mais notavelmente o The Allniters, que teve um hit #10 com um cover Ska
da música Montego Bay em 1983. A Melbourne Ska Orchestra também tiveram muito
sucesso nos últimos anos em tournes internacionais pelos principais festivais de música
do mundo como o Glastonbury na Inglaterra e o Montreux Jazz Festival na Suíça.

Figura 9 - The Allniters

Cena de ska russa (então soviética) estabelecida em meados da década de 1980


em São Petersburgo como a oposição anglófona ao rock tradicional russo mais
tradicional. AVIA e N.O.M. estavam entre as primeiras bandas do gênero. Em seguida,
bandas como Spitfire, Distemper, Leningrad e Markscheider Kunst começaram popular
e comercialmente bem-sucedidas na Rússia e no exterior no final dos anos 90.
Figura 10 - Markscheider Kunst

O Japão estabeleceu sua própria cena ska, coloquialmente conhecida como


J-ska, em meados dos anos 80. A Tokyo Ska Paradise Orchestra, formada em 1985, tem
sido uma das progenitoras de maior sucesso comercial do ska japonês.

Figura 11 - Tokyo Ska Paradise Orchestra

A cena ska da América Latina começou a se desenvolver em meados dos anos


80. Bandas de ska da América Latina tipicamente tocam ritmos de ska tradicionais
misturados com fortes influências da música latina e rock en Español. A mais
proeminente dessas bandas é Los Fabulosos Cadillacs da Argentina. Formada em 1985,
a banda vendeu milhões de discos em todo o mundo, tendo conseguido um êxito
internacional com "El Matador" em 1994 e ganhando o Grammy de 1998 de Melhor
Álbum de Rock / Alternativo Latino.
Figura 12 - Fabulosos Cadillacs

Nos USA (onde o termo Terceira Onda foi cunhado e popularizado por Albino
Brown e Tazy Phyllipz que apresentavam um programa de rádio especializado em SKA
chamado Ska Parede) começaram a surgir bandas de SKA com uma forte influência da
Segunda Onda por volta de 1980,de Nova York até a California ,desenvolvendo-se para
uma cena de SkaPunk muito forte onde troca-se a influência do R’&’B por guitarras
distorcidas e acelera-se o bpm.
Em 1983 Robert “Bucket” Hingley da banda The Toasters forma a gravadora
Moon Ska Records, tornando-se rapidamente na maior gravadora independente de SKA
dos USA. Em pouco tempo várias gravadoras foram surgindo como a Jump Up Records
em Chicago, a Stead Beat Recordings em Los Angeles ,isso graças a uma profusão de
bandas de SkaPunk que surgiram até o final da década de 1990,bandas como : Reel Big
Fish, The Aquabats, Sublime, Rx Bandits, Fishbone, Mustard Plug, Streetlight
Manifesto dentre outras.

Figura 13 - Reel Big Fish


No Brasil as influências começam na Jovem Guarda com a
releitura de sucessos Jamaicanos por nomes como Renato e seus Blue Caps( que
contava com Erasmo Carlos na época) e Wanderléia.

Figura 14 - Renato e seus Blue Caps 1963

Peter Tosh version

Sir Lancelot version (original)

Nos anos 1980 os Paralamas do Sucesso trouxeram a Jamaica para sua


música, o que fez um grande diferencial no seu som levando a banda a vender muitos
discos. Mas bandas de Ska genuíno só surgiriam no final dos anos 1990, o que levou ao
lançamento de uma coletânea dedicada inteiramente ao SKA chamada SKA BRASIL
lançada pela gravadora Paradoxx, com bandas como Skamoondongos, Boi Mamão,
MR. Rude, Skuba e Manoels.

Figura 15 - Coletânea Ska Brasil


Apesar de várias bandas nacionais conhecidas possuírem muitos
hits influenciados pelo ritmo jamaicano , o SKA não ficou conhecido pelo grande
público brasileiro e muitas bandas do estilo ainda proliferam o underground musical
brasileiro, apesar disso o estilo continua fazendo a cabeça de muita gente e com um
grandes representantes como a Orquestra Brasileira de Música Jamaicana (SP), o Ska
Maria Pastora(PE) e a nossa representante local Parahyba Ska Jazz Foundation(PB)
que apesar de ter sido criada em 2014, já circula pelos palcos do mundo com bastante
competência.

Figura 16 - Parahyba Ska Jazz Foundation

Referências Bibliográficas :
CARVALHO, C.; BRAGA, J. A música tropical tem início no ano que não terminou.
Eclética, Rio de Janeiro/RJ, n. 26, p. 2-6, jan./jul., 2008.

PENHA, Talita Lima. Reggae, identidade cultural e atratividade turística de São


Luís do
Maranhão. 2003. 77f. Monografia (Especialização em Turismo e Hospitalidade) –
Universidade de
Brasília, Centro de Excelência em Turismo, Brasília/DF, 2003.

Tássio Ricelly Pinto de Farias y Jean Henrique Costa (2016): “Da Jamaica ao Brasil:
por uma
história social do Reggae”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-
marzo 2016).
http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/01/reggae.html
HUSSEY, DERMOT ; Ska ; Encyclopaedia Britannica ; Encyclopaedia Britannica, Inc.
;
16 Setembro 2014 ;
https://www.britannica.com/art/ska
Acesso em Novembro 28, 2018

RODRICK,STEPHEN, Ska story: the sound of angry young England | Music


Review | Chicago Reader , https://www.chicagoreader.com/chicago/ska-story-the-
sound-of-angry-young-england/Content?oid=875398
Acesso em Novembro 28 , 2018

Spencer, Neil ; Ska takes over Jamaica ;


https://www.theguardian.com/music/2011/jun/16/ska-takes-over-jamaica
Acesso em Novembro 28, 2018

SILVA, KARLA KARINE DE JESUS ; Skinhead ; Enciclopédia Eletrônica da


Intolerância, dos Extremismos e das Ditaduras no Tempo Presente
http://enciclopedia.getempo.org/wp-content/uploads/2014/10/Skinhead.pdf
Acesso em Fevereiro 09, 2019

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