Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia online no Scribd
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 7
ATENDIMENTO DE CASAIS E FAMÍLIAS NA TERAPIA SISTÊMICA
A terapia familiar surgiu em torno da década de cinquenta como uma
nova forma de pensar e fazer clinicamente. Baseada na teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação, compreende a ideia de família com um sistema guiado por certas regras que têm a finalidade de manter o equilíbrio do funcionamento. A teoria sistêmica considera de suma importância as relações e o que elas geram. Também, e compreende que as interações entre as pessoas estão sob influência da trajetória individual e familiar e pelo contexto sócio-histórico- cultural no em que estão inseridas (ROSSATO, 2017). Ponciano (2019) explica que foi na década de 1980 que o termo Family Psychology se iniciou formalmente como nomenclatura no campo disciplinar dos estudos e das intervenções familiares e se tornou área de trabalho dos psicólogos. O entendimento da família abrange suas formas e diferenciações históricas, sua disposição e movimentação ao longo da história, seus espaços, culturas e gerações, além das características diferenciadas e sistêmicas. Afora a centralização no tratamento, tem como objetivo a implementação de novas teorias e pesquisas empíricas, abrangendo o estudo da compreensão ampla de família (KASLOW, 1987 apud PONCIANO, 2019). Papp, (1992) apud Lunal e Scapinii (2019) descrevem a importância na comunicação entre pais e filhos e o modelo da pragmática da comunicação humana para a abordagem psicoterápica sistêmica que se moldam nos padrões dos princípios sistêmicos de causalidade circular, globalidade e totalidade. Pesquisas a respeito da terapia sistêmica individual com adolescentes e adultos, com base na perspectiva do ciclo de vida familiar, indicam a grande importância da diferenciação do indivíduo. Os estudos brasileiros mostram a importância da “transgeracionalidade” e do processo de individuação e dessa diferenciação como centro da terapia com jovens adultos (LUNAL E SACAPINII, 2019). De acordo com Rossato (2017), em o que ocorre na terapia é um conhecimento crescente de um tanto das pessoas ou das famílias a depender da busca do terapeuta. Sendo assim, a terapia é uma “co-construção” entre família e terapeuta. Desta maneira, se traduz com mais produtividade quando o terapeuta se permita aventurar-se na forma de repensar suas crenças, suas verdades, pois poderá dar espaço para a produção conjunta de conhecimento. A curiosidade saudável e o desconforto fazem com que as pessoas também exercitem mais a seu processo de construção e possibilidades. Quando o sujeito procura auxílio de um terapeuta já o faz por sentir algum desconforto ou porque não está contente com alguma situação. A postura de curiosidade sobre os vínculos que mantêm este padrão de desconforto cria novas possibilidades vantajosas na direção de novos caminhos, ao mesmo tempo em que permite ao terapeuta oportunidades de compreensão e de intervenção (ROSSATO, 2017). Rosset (2014) apud Hintz e Zanchetta (2022) esclarecem que a conjugalidade se refere ao compartilhamento de intimida, projetos e sexualidade qualidade na relação entre duas pessoas, influenciando significamente o padrão de funcionamento familiar. No caso de relação conjugal com dificuldades ou tensões, é provável que um ou mais membros da família apresentem sintomas físicos e/ou emocionais provenientes da disfuncionalidade do casal. Os autores destacam que: A atenção básica se configura como uma das portas de entrada do sistema de saúde, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) são a primeira ligação entre saúde e usuário, pois estão localizadas dentro do território, estreitando relações com a comunidade a todo o momento. A partir da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) as Equipes de Saúde da Família são a estratégia prioritária para consolidação e direcionamento dos processos de trabalho às demandas do território, e a violência é das umas questões que mais exigem dedicação e atenção (HINZ e ZANCHETTA, 2022).
Para ampliar a capacidade de auxílio às diferentes demandas em saúde,
o Ministério da Saúde criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) em 2008. A equipe que atende essas demandas é multiprofissional, e conta com psicólogos, assistentes sociais, educadores físicos, nutricionistas, fisioterapeutas e fonoaudiólogos capacitados para o tratamento em Atenção Básica/Saúde da Família. Dentro das estratégias do profissional de Psicologia, pode ser oferecido apoio educativo para e com as equipes (HINZ e ZANCHETTA, 2022).
Luna e Scapinii (2019) chamam a atenção para a extrema importância
da comunicação em terapias de relação paterno-filial, tanto com o objetivo de diagnóstico como na promoção mudanças buscando tornar a relação familiar mais positiva e assertiva. As relações interpessoais de base familiar precisam se nortear em uma comunicação de aceitação, e qualificação, corroborando os sujeitos num convívio familiar. Segundo Rossato (2021), tanto o terapeuta quanto a família têm parte na responsabilidade do conteúdo que surge no contexto terapêutico. Todo tipo de intervenção ou interpretação necessita um contexto de interação significativo e que tenha base na coerência. As decisões do terapeuta não garantem certeza nem preveem qualquer resultado, pois suas ações sempre estarão ligadas às ações das outras pessoas, do momento e circunstâncias. O terapeuta precisa se preparar para imprevistos e assumir uma postura reflexiva, a importância de cuidar é maior que a encontrar a cura. A autora continua afirmando que na concepção de um terapeuta familiar, as pessoas, os cônjuges e qualquer família possuem dentro de si a capacidade e as respostas para a melhora das circunstâncias que os levaram a buscar ajuda. A relação entre terapeuta e família é um processo em que caminham juntos. O terapeuta não está acima dos membros da família por causa de seus conhecimentos coo profissional (ROSSATO, 2021). Alves e Carvalho (2018) afirmam que a família é compreendida como um sistema aberto que está em constante transformação sendo pensada para além da simples ligação de parentesco. Narvaz e Koller (2007, p. 123) apud Alves e Carvalho (2018) destacam que as dificuldades trazidas pelas famílias estão longe de serem compreendidas como disfunções, mas “como narrativas ou descrições rígidas e estáticas que a família constrói sobre suas relações”. O papel do terapeuta é ajudar a família a ampliar estas descrições por meio de novas narrativas numa forma de co-construção. Os autores seguem afirmando que a utilização de metáforas no processo terapêutico é de grande utilidade como meio para a construção de significados. Paschoal e Grandesso (2014, p. 25) apud Alves e Carvalho (2018) explicam que as metáforas têm diferentes formas de utilização como, por exemplo “quando alguma imagem ou história nos vêm à mente ao escutar nossos clientes, oferecendo uma possibilidade de sentido para apreciação dos envolvidos no processo”. Conforme Hinz e Zanchetta (2022), segundo o pensamento sistêmico, acredita-se que herdamos diversos aspectos da família de origem que atravessam o ciclo familiar. As circunstâncias vivenciadas sobre o fenômeno do casamento ou da relação conjugal desempenha forte influência na vida das pessoas, existe a transgeracionalidade familiar e existe a transgeracionalidade social, em que são considerados valores, crenças e legados sociais que continuam durante o desenvolvimento da sociedade. Portanto, nas escolhas conjugais há um cruzamento de mensagens, dos valores e dos legados que foram passados de geração a geração “transgeracionalmente” pelo contexto familiar e social (FALCKE et al. 2014 apud HINZ E ZANCHETTA, 2022). Nagem e Negozio (2021) corroboram dizendo que a terapia familiar relacional sistêmica considera a pessoa no centro de seu cuidado, compreende os significados que o indivíduo atribui à saúde e ao adoecer e promove a autonomia; a corresponsabilização do médico e do sujeito que determinam os problemas juntamente, as metas e os papeis; a relevância da família como um laboratório de afetos em que a compreensão da própria estrutura e das funções ajuda no entendimento de como as pessoas desempenham seus papéis ou como enfrentam dificuldades. O curso de terapia familiar sistêmica tem uma enorme relevância para a sistematização de conceitos fundamentais, dentre eles os três princípios do pensamento sistêmico pós-moderno: O princípio da complexidade, o princípio da instabilidade e o princípio da intersubjetividade. O primeiro considera os diversos contextos envolvidos ao avaliarmos um fenômeno, indo em direção contrária à linearidade e à noção causa-efeito. O segundo nos desafia a sair da impaciência terapêutica, colocando-nos diante da imprevisibilidade da vida, que está em constante transformação. O último, enfim, admite o observador como coconstrutor da realidade, negando a possibilidade de neutralidade e fazendo um convite à utilização da não neutralidade de forma potencializadora (VASCONCELLOS, 2006 apud NAGEM E NEGOZIO, 2021). Em estudo realizado por Alves e Carvalho (2018), a partir das considerações realizadas a respeito do processo terapêutico em questão, concluiu-se que a terapia ofereceu possibilidade de significativas mudanças no sistema familiar. Foram usados recursos conversacionais que colaboraram para executar os objetivos do processo terapêutico que foram definidos conjuntamente doravante as expectativas da terapeuta e da família participantes da pesquisa. A consideração das reflexões no sistema terapêutico foi valorizada e o foco da terapia não foi condensado em diagnósticos, mas no desenvolvimento de novas possibilidades relacionais. Houve um encorajamento para que a família explorasse alternadas formas de olhar suas dificuldades. As competências individuais foram resgatadas para a resolução dos problemas (ALVES e CARVALHO, 2018). Referências
ALVES, Cláudia de Oliveira; CARVALHO, Analice de Sousa Arruda Vinhal de.
Do cuidar ao cuidar-se: um relato de intervenção em terapia familiar sistêmica. Nova perspect. sist., São Paulo, v. 27, n. 62, p. 109-125, dez. 2018. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 78412018000300008&lng=pt&nrm=iso Acesso em 06 jul. 2023.
HINTZ, Helena Centeno; ZANCHETTA, Nayara Pantaleão. Educação
permanente na atenção básica: contribuições da Teoria Sistêmica frente à violência conjugal. Pensando fam., Porto Alegre, v. 26, n. 1, p. 189-197, jun. 2022. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1679494X2022060000014&lng=pt&nrm=iso Acesso em 06 jul. 2023.
IVANIA JANN, LunaI; SCAPINII, Amanda Isabela Nórcio. Mudanças na
comunicação ao longo da terapia de abordagem sistêmica: um estudo de caso. Est. Inter. Psicol., Londrina, v. 10, n. 2, p. 210-225, ago. 2019. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236- 64072019000200013&lng=pt&nrm=iso Acesso em 06 jul. 2023.
NAGEM, Tamiris Esteves; NEGOZIO, Simone Bambini. Do método clínico
centrado na pessoa à terapia de família relacional sistêmica: diálogos possíveis. Nova perspect. sist., São Paulo, v. 30, n. 70, p. 64-76, ago. 2021. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S010478412021000200006&lng=pt&nrm=iso Acesso em 06 jul. 2023.
PONCIANO, Edna Lúcia Tinoco. Psicologia da família, self e relação: revisão
narrativa da construção de um campo disciplinar. Est. Inter. Psicol. Londrina, v. 10, n. 3, supl. 1, p. 48-65, dez. 2019. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S223664072019000400004&lng=pt&nrm=iso Acesso 06 jul. 2023
ROSSATO, Mara Lúcia. Terapia familiar como um espaço de
ressignificação das relações. Pensando fam., Porto Alegre, v. 21, n. 1, p. 137-145, jul. 2017. <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1679494X2017000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 06 jul. 2023.
Contribuições da Psicologia Positiva e da abordagem centrada na pessoa para o aconselhamento psicológico com casais “Na situação concreta da psicoterapia, acreditar no ser humano significa aceitar a sua capac (1)