ElerizaMelquiadesRibeiro Dissert
ElerizaMelquiadesRibeiro Dissert
ElerizaMelquiadesRibeiro Dissert
JOÃO PESSOA – PB
2022
ELERIZA MELQUIADES RIBEIRO
JOÃO PESSOA – PB
2022
Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação
Aos treze dias de setembro de dois mil e vinte dois (13/09/2022), às 14h00,
realizou-se o exame de defesa da mestranda ELERIZA MELQUIADES
RIBEIRO, do Mestrado Profissional em Linguística e Ensino (PGLE/UFPB),
que apresentou o trabalho intitulado “Diário pessoal: a sequência didática e a
produção de texto em uma turma de 3º ano do ensino fundamental.”. A Banca
Examinadora, constituída pela Profa. Dra. Regina Celi Mendes Pereira da Silva
(PGLE/UFPB) – orientadora –, pela Profa. Dra. Evangelina Maria Brito de Faria
(PGLE/UFPB) e pela Profa. Dra. Leila Nascimento da Silva (UFAPE)
apresentou o seguinte parecer:
Aprovado (X)
Reprovado ( )
O ensino de Língua Portuguesa vem passando por grandes transformações em seu modo de
utilização de propostas didáticas. No presente estudo, propomos uma organização do ensino
por meio de uma sequência didática com foco no gênero diário pessoal, sob a perspectiva
sociointeracionista, em uma instituição municipal localizada na capital Paraibana. Nosso
principal objetivo foi investigar quais avanços e dificuldades registrados no desenvolvimento
de uma sequência didática do gênero diário pessoal com alunos do 3º ano do Ensino
Fundamental. E, mais especificamente: a) analisar a elaboração e condução de uma sequência
didática do gênero diário pessoal, nos aspectos sociocomunicativos e discursivos da produção
textual; e, b) investigar quais elementos do gênero são contemplados na escrita do diário
pessoal. Para geração e obtenção dos dados, desenvolvemos uma pesquisa-colaborativa,
ancoradas nos fundamentos metodológicos apresentados pela Linguística Aplicada, em uma
perspectiva de caráter qualitativo-interpretativista, na qual a docente participou ativamente de
todo processo, desde a elaboração da sequência didática até a análise das produções dos
estudantes, ao final do percurso. Na análise e escrita dos nossos resultados, nos embasamos
nos pressupostos teórico-metodológicos defendidos pelo Interacionismo Sócio discursivo
(ISD), no que se refere às capacidades de linguagem, mais precisamente às capacidades de
ação. Verificamos que a docente utilizou diferentes estratégias, como modos de viabilizar a
leitura, a releitura, a discussão e a interpretação dos textos, ampliação e sugestão de
atividades, textos e vídeos, enfatizando os parâmetros de produção de modo a promover a
compreensão do gênero, pois, mesmo que os discentes tenham apresentado algumas
dificuldades, eles ressignificaram tal produção. Os resultados, no geral, apontam para a
importância de um planejamento pedagógico condizente, que considere a aprendizagem
significativa dos estudantes, por meio de objetivos e atividades que estimulem e permitam a
ampliação do conhecimento e, consequentemente, dos índices de alfabetização e letramento.
The teaching of Portuguese Language has been going through great transformations in its way
of using didactic proposals. In the present study, we propose an organization of teaching
through a didactic sequence focusing on the personal daily genre, from a Social Interactionist
perspective, in a municipal institution located in the capital of Paraíba. Our main objective
was to investigate which advances and difficulties registered in the development of a didactic
sequence of the personal diary genre with students of the 3rd year of Elementary School. And,
more specifically: a) to analyze the elaboration and conduction of a didactic sequence of the
personal diary genre, in the socio-communicative and discursive aspects of textual
production; and, b) investigate which elements of the genre are included in the writing of the
personal diary. In order to generate and obtain the data, we developed a collaborative
research, based on the methodological foundations presented by Applied Linguistics, in a
qualitative-interpretative perspective, in which the professor actively participated in the whole
process, from the elaboration of the didactic sequence to the analysis of the students'
productions at the end of the course. In the analysis and writing of our results, we base
ourselves on the theoretical-methodological assumptions defended by Social Discourse
Interactionism (SDI), with regard to language capabilities, more precisely to action
capabilities. We found that the teacher used different strategies, such as ways to facilitate
reading, rereading, discussion and interpretation of texts, expansion and suggestion of
activities, texts and videos, emphasizing production parameters in order to promote the
understanding of the genre, because, even if the students have presented some difficulties,
they’ve re-signified such production. The results, in general, point to the importance of a
suitable pedagogical planning, which considers the students' significant learning, through
objectives and activities that stimulate and allow the expansion of knowledge and,
consequently, of literacy and literacy rates.
1. INTRODUÇÃO 12
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objeto a condução de uma sequência didática, voltada
para o gênero diário pessoal, no favorecimento da aprendizagem da produção de texto no
Ensino Fundamental.
Ensinar a produzir textos, sendo eles, orais ou escritos, nunca foi uma tarefa fácil para
os professores. Ao mesmo tempo, os alunos sentem dificuldades e precisam de motivação
para escrever. É sabido que, em todo país, alguns alunos que finalizam o terceiro ano do
Ensino Fundamental não atingem os direitos de aprendizagem relacionados à leitura e à
escrita de forma consolidada. Segundo os dados da terceira edição da Avaliação Nacional da
Alfabetização (ANA) do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB / INEP - 2016),
criada com o intuito de avaliar os níveis de alfabetização e letramento dos estudantes neste
período de escolarização, foi apresentada uma quantidade significativa de 54,7% das crianças
com nível insuficiente de proficiência em leitura, e, consequentemente, na escrita. Isso
significa que os alunos irão para o quarto ano sem produzir pequenos textos. Após esta
edição, nos anos seguintes, a ANA foi vinculada ao Novo SAEB, avaliando estudantes do 2º
ano e não mais os do 3º ano, trazendo novos resultados.
Esses dados nos levam a questionar por que ainda temos estes níveis baixos de
desenvolvimento em muitas de nossas escolas. Inúmeros fatores estão ligados a esta
problemática. A título de exemplificação, temos a promoção de atividades
descontextualizadas em que priorizam a cópia de palavras, frases soltas encontradas em textos
cartilhados ou em livros didáticos, a evasão escolar, as condições precárias de algumas
escolas, as difíceis condições de trabalho dos professores, a falta de apoio e acompanhamento
de algumas famílias para com as atividades das crianças, entre outros. Não buscamos
encontrar todas as soluções aqui, mas de fato, levantar algumas questões que podem
contribuir com os profissionais da educação e familiares na complexa tarefa que é alfabetizar
letrando. Segundo Antunes (2009, p.15), alfabetizar é fazer crescer o letramento. E para que o
professor tenha êxito nesta tarefa, é preciso auxiliar seus alunos a “ampliarem suas
competências mais significativas para as atividades sociais, interativas e de encantamento,
relativas aos usos literários ou não das línguas (atividades de fala, escuta, leitura, escrita,
análise)”.
Para conhecermos um pouco mais sobre o que vem sendo produzido no mundo
acadêmico e educacional, apresentaremos adiante, o resultado de algumas pesquisas,
realizadas no período entre 2015 e 2021, que focaram em nossa temática de estudo. Durante a
13
busca, percebemos uma ausência de trabalhos neste período, então, resolvemos ampliar as
datas (2010 a 2021), a fim de encontrarmos pesquisas mais direcionadas.
Na ocasião, procuramos nas plataformas digitais: SciELO, Portal de Periódicos da
Capes, Google acadêmico e no próprio banco de dados da UFPB, por estudos em que foram
desenvolvidas sequências didáticas com o gênero diário pessoal. Encontramos alguns projetos
e planos de aulas com atividades esporádicas, assim como, sequências e elaboração de
materiais didáticos utilizando este gênero para o desenvolvimento da leitura, produção
textual, oralidade e/ou a construção da identidade em jovens e adultos. Vejamos, então,
alguns destes estudos:
Nascimento e Vargas (2013) realizaram um estudo visando a construção de
conhecimentos acerca do gênero diário pessoal, por um grupo de dez alunos de uma escola
pública, na faixa etária de nove a treze anos, acompanhados semanalmente por professoras-
bolsistas do curso de Pedagogia, no Laboratório de Alfabetização/UFJF. Através de
atividades variadas de escuta, leitura de diários e de exercícios pontuais acerca da estrutura
composicional do gênero; atividades de produção e revisão textual em torno dos diários
elaborados pelos alunos. Por meio de anotações em diário de campo, fotografias e gravações
em vídeo dos momentos de elaboração textual e os diários pessoais escritos pelas crianças, as
autoras entenderam que a produção do diário é vista pelos alunos não apenas como expressão
do que sentem/pensam, mas também como um espaço para a reflexão de suas próprias ações.
Esses pequenos autores relataram cronologicamente fatos e acontecimentos do dia a
dia consignando opiniões e impressões, confissões e/ou meditações. Além disso, é importante
destacar que, apesar dos textos serem influenciados pelas múltiplas vozes, a autoria se fez
presente em todas as produções analisadas, comprovando que os alunos, ao escreverem seus
textos, reportam-se ao discurso do outro, mas tomam consciência dessa outra voz, recortando
e reordenando esteticamente os eventos da sua vida.
Andrade (2014), por sua vez, desenvolveu uma proposta de ensino que
complementasse o material didático no Ensino Fundamental II. A autora propôs atividades
por meio de uma sequência didática, baseada na proposta de Dolz, Noverraz e Schneuwly
(2004), para produção de um diário pessoal on-line e um blog pedagógico, construído por
professores e alunos do sétimo ano, uma vez que percebeu a ausência de atividades com esta
finalidade ao analisar o livro didático. A autora baseou-se na Educação Linguística, como área
de pesquisa e metodologia de ensino e aprendizagem. Em linhas gerais, as atividades
propostas visavam produção, refacção, revisão e reescrita de textos, conhecimento sobre o
gênero (linguagem, tempo e espaço, formas verbais, recursos semióticos, pontuação,
14
Mais tarde (2015), já como professora da Rede Municipal de ensino de João Pessoa
(PB), função que desempenho até o presente momento, apostei no trabalho com o gênero
diário pessoal, através de atividades direcionadas, com uma turma de terceiro ano do Ensino
Fundamental, na qual eu era a regente. Na ocasião, pensei em como poderia auxiliar os alunos
a avançarem na leitura e na escrita. Ao final do processo, pudemos perceber que alguns alunos
conseguiram formar frases, passaram a produzir pequenos textos e a realizar a leitura
individual das suas produções. Detectamos que a maioria dos alunos avançou em seus níveis
de escrita. Entendemos que este fato se deu através das atividades propostas neste trabalho
com o gênero.
Nós partimos do pressuposto de que atividades como as elencadas acima devem fazer
parte do cotidiano da sala de aula, pois por meio delas as crianças estarão em constante
aprendizado.
A partir destas experiências, surgiu o interesse em pesquisar mais sistematicamente
sobre o trabalho com o gênero diário pessoal, de modo a identificar quais estratégias os
professores e alunos podem utilizar para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem da
produção textual. Portanto, nosso foco será no desempenho dos estudantes diante das
produções escritas deste gênero, por meio da condução da docente investigada.
Sendo assim, surgiram as seguintes questões de pesquisa: Em quais aspectos da
situação sociocomunicativa e discursiva da produção textual, a abordagem didática será mais
favorecedora da aprendizagem dos alunos? E, quais elementos do gênero são contemplados na
produção escrita do diário pessoal? Assim, temos como hipóteses ou asserções que a) o
professor é capaz de conduzir uma boa proposta de ensino, estando em constante análise e
avaliação da sua prática; b) as crianças são capazes de produzir textos se participarem de
situações de ensino concretas e bem planejadas.
Nesta pesquisa, objetivamos investigar quais avanços e dificuldades registrados no
desenvolvimento de uma sequência didática do gênero diário pessoal com alunos do 3º ano do
Ensino Fundamental. E, mais especificamente: a) analisar a elaboração e condução de uma
sequência didática do gênero diário pessoal, nos aspectos sociocomunicativos e discursivos da
produção textual, e, b) investigar quais elementos do gênero são contemplados na escrita do
diário pessoal.
Segundo Dolz e Schneuwly (2004), as sequências didáticas voltadas para os gêneros
têm como características: o favorecimento de atividades de linguagem ligadas a um gênero
em uma situação de comunicação; o estímulo à observação das capacidades e dificuldades dos
alunos; o trabalho com atividades diversas, para abordar o gênero em seus diferentes aspectos;
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a produção de um texto final, para que sejam vivenciadas novas observações, análises e
verificação dos progressos conquistados e das dificuldades ainda não superadas.
Diante das abordagens para o trabalho em sala de aula, optamos pela sequência
didática por concebermos que tal tipo de abordagem pedagógica pode oferecer boas
oportunidades de aprendizagem e ampliação do letramento, fornecendo aos alunos as
condições necessárias para que se apropriem de conhecimentos e habilidades importantes para
lidarem com situações de leitura e escrita de textos. Acreditamos, também, ser de fundamental
importância tal discussão, pois a mediação docente depende enormemente dos modos como
tais atores concebem o trabalho pedagógico e de suas concepções sobre os objetos de ensino e
modos de aprendizagem dos estudantes. O desafio de proporcionar a estes a apropriação dos
instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e escrita,
interagindo com a língua nas diferentes situações comunicativas, sugere um ensino de gênero
sob uma perspectiva modular.
Sabemos que deve haver um olhar especial do mediador para seus alunos para que eles
possam ir além do processo de decodificação da língua oral e escrita, da leitura e interpretação
dos textos. Principalmente, em atividades em que os estudantes sejam levados a
compreenderem que eles são capazes de mudar o mundo, através da linguagem. As palavras
de Antunes (2009, p. 231), nos fazem refletir sobre este ponto “a escola é que deve assumir
essa tarefa de explicar, de analisar como a língua funciona, na sua explicitude sempre
“incompleta”, exatamente, por ser funcional e interativa”.
Contudo, é de fundamental importância que compreendamos que o texto não é apenas
uma sequência ou conjunto de palavras ou frases, mas que ele foi escrito para alguém, com
uma finalidade, de determinado modo, e que não é possível a realização da leitura, da escrita e
da produção textual sem haver um foco no contexto, pois é parte significativa da atuação
social dos interlocutores. Tais elementos constituem a concepção sociointeracionista de língua
que adotamos em nossa pesquisa.
Cada registro nosso é impulsionado por um conjunto de linguagens que nos permite
expressão, comunicação, vivência. Entre eles, podemos citar a linguagem oral, escrita,
corporal, musical. Tais expressões nos leva a movimento, percebendo que a língua, fazendo
parte destas linguagens age como motivadora das nossas ações. Bakthin/Volochinov (1992)
defendeu língua como sendo viva, histórica, cultural, social, heterogênea.
Na concepção de Bronckart (1999), que está ancorado no quadro geral da psicologia
de base Vygotskyana e do interacionismo sócio discursivo, as mudanças e transformações que
ocorrem ao longo do tempo e das variações de uso desta língua, fazem com que ela não seja
17
O estudioso brasileiro, Geraldi (1984), trouxe colaborações acerca deste tema, quando
buscou concepções que também pudessem ser relacionadas ao ambiente escolar. Em suas
discussões ele ressaltou que a língua já fora concebida como a expressão do pensamento,
como instrumento de comunicação e mais recentemente, como modo de interação verbal. Ele
e outros autores apontam que nesta última, o trabalho em prol da construção da liberdade e do
contexto em uso vem sendo cada vez mais ampliado, pois a língua passa a ser entendida como
atividade linguageira, quando o seu uso começa a ser considerado.
Bronckart (1999) destaca a essência dupla da língua. De um lado, foi investigado o
estudo do seu sistema e do outro a estrutura e o funcionamento de seus diferentes textos em
uso e foi neste aspecto que o autor desenvolveu com mais ênfase suas discussões, como
percebemos quando nos apoiamos nos fundamentos do ISD. Marcuschi (2010) foi outro autor
que também defendeu esta ideia quando afirmou que a língua se funda em seus usos. E que a
escrita pode ser considerada tanto como uma manifestação formal como informal e
indispensável dos diversos tipos de letramento.
Para este autor, a perspectiva sociointeracionista percebe a língua como fenômeno
interativo e dinâmico, apresentando um caráter dialógico. Desta forma, as práticas de fala e
escrita apresentam dialogicidade, usos estratégicos, envolvimento, negociação, funções
interacionais, situacionalidade, coerência e dinamicidade. Tais noções nos fazem perceber que
a língua não pode ser vista como sistema único e abstrato, mas sim, como fenômeno
heterogêneo, variável, histórico, social, indeterminado, dinâmico tornando-se distante a ideia
de que ela possa ser transparente e determinada, pois ela não se esgota no interior do código.
Dentro e fora da escola, a língua precisa, segundo Soares (2020, p. 204), ter o texto
como eixo central das atividades de letramento e alfabetização, pois “é lugar de interação –
inter – ação – ação entre quem produz o texto e quem o lê”. Em situações de letramento, faz-
se necessário o desenvolvimento de habilidades de leitura, interpretação e produção de textos
e, ao alfabetizar, situarmos no texto a aprendizagem do sistema de escrita alfabética de que os
estudantes precisam para que se tornem capazes verdadeiramente de ler e escrever textos por
conta própria. É nesta prática de interação, por meio do texto, que a língua se concretiza, pois
esta possui uma função sociointerativa. Só se aprende a produzir textos, produzindo, estando
diante de situações entre quem escreve e para quem escreve, tendo consciência do que deve
ser escrito e para que escrever, pois é assim que acontece em situações reais fora dos muros
da escola.
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2.2 Concepções de gênero textual sob a perspectiva sociointeracionista. Por que e como
utilizá-los?
De uma forma geral, esses autores consideram que devemos proporcionar aos alunos
situações de escrita semelhantes àquelas de que participamos fora da escola, nas quais eles
possam ler e elaborar diferentes textos, pertencentes a diversos gêneros textuais, para atender
a variadas finalidades, pois só a partir do domínio desses diferentes textos é que o aluno será
capaz de responder satisfatoriamente às exigências comunicativas que enfrenta
cotidianamente. Isto porque, segundo Bronckart (1999, p. 103), “a apropriação do gênero é
um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas
humanas”. Partindo do pressuposto de que a aprendizagem da escrita não é algo que se dá de
modo espontâneo, mas se constrói através de uma intervenção didática planejada, Schneuwly
e Dolz (2004) defendem que um ensino sistemático é indispensável a uma boa apropriação da
capacidade de ler e produzir diferentes gêneros do discurso.
Nesse sentido, esses autores também consideram que a introdução do gênero na escola
é sempre resultado de uma decisão didática, que visa atingir pelo menos dois objetivos:
primeiramente, aprender a dominar o gênero para melhor conhecê-lo e melhor compreendê-lo
de modo a melhor produzi-lo na escola e fora dela; em segundo lugar, desenvolver
capacidades que ultrapassem o gênero e que sejam transferíveis para outros gêneros mais
próximos ou distantes. Esse trabalho didático com os gêneros, segundo os autores citados,
deve procurar pôr os alunos, ao mesmo tempo, em situações o mais perto possível de
verdadeiras situações de comunicação e que tenham um sentido para eles, mas também deixar
claro que eles estão inseridos numa dinâmica de ensino e aprendizagem dentro de uma
instituição que tem por objetivo fazer aprender.
Ainda segundo Schneuwly e Dolz (2004, p. 76), não se pode ter a ilusão de que, ao se
tratar dos gêneros na escola, conseguiremos reproduzir, dentro da sala de aula, as práticas
reais de uso destes gêneros. A situação escolar apresenta uma particularidade: nela se opera
uma espécie de “desdobramento” que faz com que o gênero sirva tanto como suporte para a
atividade nas situações de comunicação, quanto como objeto de aprendizagem, tornando-se
assim, referências. Assim, o texto abordado pelo aluno no espaço escolar retoma algumas
características do gênero de referência, mas sempre será visto como uma variação desse
gênero de referência, sobretudo no que diz respeito a sua função sociocomunicativa, que deixa
de ser a presumida para os gêneros que circulam socialmente e passa a ser pedagógica.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017) indica que os
conhecimentos sobre os gêneros textuais, a língua, a norma-padrão e as diferentes linguagens,
também conhecidas como semioses, precisam buscar o desenvolvimento das habilidades de
leitura, produção e tratamento das linguagens, em diferentes campos de atuação humana.
Considerações muito amplas, no tocante ao ensino da língua, uma vez que o documento
22
apresenta o que precisa ser abordado sem dar indicações de como fazê-lo, pois precisamos
refletir que o estudante vai à escola para além do aprender a ler e escrever. Ou seja, é
necessário considerar quais ações estão imbricadas na leitura, na escrita, na produção textual e
em quais contextos tais ações estão ancorados.
Diante do exposto, vale ressaltar que o eixo da produção de textos, no documento
(BRASIL, 2017, p. 121) indica o trabalho com o gênero diário, no que se refere à escrita
colaborativa, através da seguinte habilidade:
1
A priori a coesão verbal pertencia aos mecanismos de textualização juntamente à conexão, mas em Bronckart
(2019) a coesão passa a fazer parte da infraestrutura geral do texto, primeira camada apresentada acima.
24
em ação e que lhe conferem sua coerência interativa. Nesta última, as capacidades discursivas
possibilitam o processo de escolha e articulação dos elementos utilizados.
Diante de novos instrumentos como subsídios para o trabalho dos docentes em sala de
aula, o ISD procurou verificar também como esta implementação é feita e em que medida
estes profissionais os exploram na realidade. Bronckart (2006) cita um estudo realizado por
Canelas Trevesis (1997)2 na utilização de sequências didáticas com foco na narração e na
interação entre contexto de produção, planificação da narração e as condições no emprego de
unidades linguísticas específicas (tempos verbais e organizadores textuais). No estudo citado,
o autor percebeu um distanciamento relevante entre o planejado e a realidade, quando na
ocasião, a professora enuncia seus objetivos didáticos, mas os estudantes apresentam-lhe
questões referentes a outros aspectos e logo o foco da aula sofre modificações, forçando o
abandono da proposta.
Segundo Bronckart (2006), problemas como estes foram encontrados em inúmeras
pesquisas, causando reformulações nas orientações didáticas, pois era também necessário o
interesse pelo que os professores realizavam em sala de aula, a chamada, realidade do
trabalho educacional.
No tópico seguinte, discutiremos mais um pouco sobre o trabalho com o gênero diário
pessoal e como este pode promover momentos eficazes de produção de textos.
2.3 O diário pessoal e suas ramificações como objeto de ensino da produção textual
A produção textual vai além da escrita de um gênero. Nesta atividade estão envolvidas
algumas ações que o enunciador precisa considerar. A produção é interação e se faz junto ao
leitor. Ou seja, uma vez que estamos escrevendo para alguém, o nosso interlocutor, está
participando de todo movimento de produção. Por isso, a produção está ligada aos outros
eixos da língua: leitura, oralidade, escrita e análise linguística. E tais eixos estão interligados,
não podemos pensá-los em separado.
Durante uma produção textual, é preciso planejar, editar o texto e não apenas pensá-lo
como objeto atividade linguística, mas considerar a abordagem situada para produzir,
portanto, nesta tarefa, devemos ir além do identificar, considerando os usos dessa ação de
linguagem. Por exemplo, o produtor não precisa saber o que é um verbo para utilizá-lo.
As ações que implicam toda e qualquer produção textual são constituídas pela pré-
produção de texto (ato de planejar), o início da produção (os primeiros passos que devemos
2
CANELAS TREVESIS, S. (1997) La transposition didactique dans ler documents pédagogiques et dans les
interactions em classe. Tese de Doutorado, Universidade de Genebra, FAPSE.
25
trabalhado com esta faixa etária? Já nos primeiros momentos de construção do estudo
percebemos que acertamos na nossa escolha, pois apostamos que esta seria uma ótima
oportunidade que faltava para os estudantes.
Assim, pensamos uma sequência didática (SD) voltada com foco neste gênero para
que neste espaço de produção, as crianças tivessem a palavra, sendo condutoras de seu
processo de aprendizagem, registrando suas vivências e motivações. Nas ideias de Geraldi
(1997), a criança não escreverá o que queremos que ela escreva, e trazendo este novo, deixará
de ser reprodutora para se tornar produtora de texto, e consequentemente agente pensante.
Para Dolz e Schneuwly (2004, p. 150) os gêneros nascem da situação. Não é descrito e
nem ensinado, é aprendido pela prática da linguagem escolar, na situação, na interação.
“Conversam com seus pares sobre sua família, contam acontecimentos vividos de maneira
sofisticada, discutem problemas de sua época, pedem informações de forma (mais ou menos)
adequada e persuadem seus pais com estrategemas sutis”.
A partir da prática de exploração do gênero, as crianças poderão relatar
acontecimentos vivenciados na escola, um passeio feito em família, uma experiência de um
final de semana na casa de parentes, entre outros. E a docente terá subsídios ricos para
exploração de seus objetivos com sua turma, explorando as possibilidades que a sequência
didática pode oferecer. Além disso, neste processo, poderemos conhecer o que as crianças têm
a nos dizer, não estaremos apenas preocupados com a forma final do texto produzido, mas no
desenvolvimento de todo processo vivenciado.
Certamente, a produção textual se transformará em atividades motivadoras e
significativas de interesse das crianças. Pensando também nas crianças mais tímidas e
introspectivas com dificuldades em relatar fatos de suas vidas, que poderão, através do
gênero, transmitir suas emoções e opiniões, sem que se tornem públicas.
Um dos gêneros da literatura autobiográfica, o diário, é utilizado para registros de
acontecimentos cotidianos a partir de um ponto de vista pessoal e pode ser elaborado por
meio do registro de sentimentos, fatos, lembranças/memórias, anotações ou conversas, entre
outros. Por esse motivo, possui um caráter intimista e confidente. No que se refere aos
aspectos tipológicos dos gêneros, segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), o diário
pertenceria à ordem do relatar – agrupamento que comporta os gêneros pertencentes ao
domínio social da memorização e documentação das experiências humanas, situando-as no
tempo. Via de regra, na escrita deste gênero, podemos encontrar alguns elementos específicos
como: o local e a data em que foi produzido; um vocativo, sendo o mais comum deles:
Querido diário; o desenvolvimento, que é o assunto a ser abordado; uma despedida ou
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saudação e a assinatura do produtor, mas por seu caráter pessoal, pode ou não conter todos
estes elementos.
Pozzani e Steffler (2016, p. 9) afirmam que
forma precisa de trabalharmos, auxiliando os estudantes para que dominem um gênero. Nesta
ocasião, a fala e a escrita são permeadas em situações diferentes de comunicação.
Segundo Bronckart (2006), as SDs se configuram em um nível de trabalho prescrito,
pois vai se constituindo durante seu processo de elaboração como uma representação do que
vem a ser executado. O trabalho real, por sua vez, é a situação concreta, entre a atividade do
professor e os processos de aprendizagens e suas relações com os saberes, por parte dos
alunos, portanto, compreende tudo, até o que não foi realizado, mas planejado.
Compreendemos que, mesmo sendo um trabalho prescrito, este se realiza e se transforma
diante de cada realidade escolar à sua maneira e pode assim, sofrer alterações durante a sua
realização. Afinal, ainda que a apresentação da situação seja planejada com antecedência, o
planejamento dos módulos só se efetiva depois da primeira produção. Portanto, são
flexibilizados, a depender das especificidades de cada turma.
Corroboramos essa ideia do autor quando ele defende que as interações entre alunos e
professores são imprescindíveis na atividade educacional, ou seja, na compreensão do
trabalho real do professor, no funcionamento real da turma, deixando de lado a ideia do
professor como centro do conhecimento e da interação.
No estudo, decidimos eleger o trabalho com a SD elaborado por Dolz, Noverraz e
Schneuwly (2004, p. 98) que apresentam um esquema em quatro etapas como pode ser visto
abaixo:
1ª etapa
A primeira etapa foi denominada por estes autores como apresentação da situação.
Nela é feita uma descrição detalhada do que a turma irá desenvolver durante o processo de
estudo do gênero textual escolhido. Esta fase prepara os estudantes tanto para a primeira
tentativa de produção do gênero como para busca pela efetivação da proposta na produção
final, que se dá na última etapa. Por isso, ela é considerada como a parte mais importante da
investigação. Assim, o docente deve apresentar, explicar, discutir, expor a melhor forma para
que seja compreendida a situação de comunicação da qual os envolvidos irão se debruçar.
Todos os aspectos relativos aos parâmetros do contexto de produção devem ser
discutidos, a exemplo dos interlocutores do texto, ou seja, os destinatários para quem estão
34
sendo elaboradas tais produções; a forma de texto que será assumida, se serão utilizados
áudios, vídeos ou na forma escrita. Outro aspecto importante trata da participação na
produção, se será individual, em grupo, terá a participação dos pais ou da comunidade
escolar; quais os conteúdos que serão abordados, qual o nível de interesse destes, para os
novos produtores de textos.
Portanto, vale ressaltar que com o nosso estudo, as produções dos alunos poderão ser
analisadas em busca de resultados mais ricos e detalhados de como desenvolver as etapas
subsequentes da sequência didática. Tão logo nos primeiros resultados, os envolvidos estarão
de posse de materiais com informações e elementos em busca da condução de uma boa
aprendizagem.
2ª etapa
3ª etapa
embasam nosso estudo afirmam que “o movimento geral da SD vai, portanto, do complexo
para o simples: da produção inicial aos módulos, cada um trabalhando uma ou outra
capacidade necessária ao domínio de um gênero” (p. 103). E a complexidade é trazida
novamente à tona no momento de produção final, que será abordada na próxima etapa.
Mas antes de ingressarmos na explanação do que consiste a última etapa da SD,
consideramos de extrema importância discutir um pouco sobre algumas questões que podem
ser trabalhadas com mais afinco nas atividades pensadas na etapa 3.
Toda sala de aula é composta por heterogeneidade. E no trabalho com a produção de
texto, sejam eles orais ou escritos, esta diversidade fica mais evidente. Diante disso, os
autores chamam a nossa atenção para o trabalho com problemas de diferentes níveis. Como
por exemplo, faz-se necessário formular uma imagem do destinatário, os alunos precisam ter
ciência de quem receberá aquele texto, assim como qual a finalidade em produzi-lo e qual a
posição como autor ou locutor diante daquele texto. Com relação aos conteúdos, como
fazemos para elaborarmos; como podemos planejar aquele texto, pensando na finalidade e no
destinatário; e por fim, quais meios serão utilizados para que o texto seja realizado, quais
linguagens serão mais eficazes, qual vocabulário será utilizado, como o texto deve ser
organizado.
Outro aspecto importante a ser levado em conta é a variedade de atividades a serem
disponibilizadas durante o estudo. Neste momento é indispensável que o docente alterne e
diversifique os exercícios, propondo-os em grupo, em dupla ou individualmente, assim como,
variando os modos de trabalho. Estes podem contar com observação e análise de textos: sendo
eles completos ou apresentados por partes, podemos destacar a comparação entre vários textos
do mesmo gênero ou gêneros diferentes. Outro aspecto a ser levado em consideração são as
tarefas simplificadas de produção de textos, como por exemplo: o descarte de problemas de
linguagem, a reorganização de um conteúdo narrativo para um explicativo, a inserção de uma
parte que falta num texto dado ou a revisão de um texto a partir de critérios. Por fim, a
elaboração de uma linguagem comum aos envolvidos: nos momentos em que podem falar,
comentar, criticar, melhorar os textos, a partir de critérios explícitos.
Diante disso, podemos perceber que os alunos serão levados a aprender a falar sobre o
gênero e poderão capitalizar suas aquisições, utilizando uma linguagem técnica que pode ser
compreendida pela turma, pelo professor e por outros agentes que também utilizarem este
gênero. Isto se dá através de atitudes reflexivas, nas quais os conhecimentos permitem a
possibilidade de revisão do próprio texto ou até mesmo um planejamento mais adequado do
que devemos fazer em uma produção oral. A importância em se registrar por meio da
36
elaboração de listas com novos vocabulários e regras, estas seriam como um resumo do que
foi adquirido ao final dos módulos.
4ª Etapa
precisa fazer escolhas e não pode estipular um tempo fechado para a realização, pois o
processo dependerá dos objetivos e de como a sua turma receberá a proposta. Os autores
chamam a nossa atenção quando retratam que “para adaptar o trabalho à realidade da turma, o
professor deverá, por vezes, criar outras atividades ou modificar os textos de referência
utilizados” (p.128).
Na seção seguinte, apresentaremos o nosso percurso metodológico, mais
especificamente, como nos organizamos em busca da coleta, análise e discussão dos nossos
resultados.
38
4. PERCURSO METODOLÓGICO
estudo teórico sobre o tema, análise, reflexão e planejamento de sequências didáticas até a
aplicação, interpretação e discussão dos resultados obtidos, comparando as produções iniciais,
os módulos, que são as atividades, e as produções finais dos alunos. Desse modo, a
quantidade de aulas destinadas à aplicação da sequência didática foi organizada de acordo
com a rotina e disponibilidade da professora e as necessidades da turma, considerando o
período da pandemia, causada pela Covid-19. Vale ressaltar, que no início do ano letivo, as
aulas ocorreram exclusivamente por meio digital (aulas remotas) e, no período de aplicação
do estudo, de forma híbrida, ou seja, tanto pelas plataformas digitais como no modo
presencial. Portanto, a nossa SD foi aplicada no modo presencial.
Segundo Bortoni-Ricardo (2008, p. 72), neste tipo de pesquisa “o objeto é a
ação/reflexão/ação dos sujeitos parceiros, os formadores têm como procedimento básico a
observação participante”, pois não há apenas uma descrição do ambiente pesquisado, mas a
proposta de mudanças. Segundo os autores de Genebra, Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004),
o contato inicial com as sequências didáticas propicia aos professores condições de
elaborarem e aplicarem outras sequências por conta própria.
A escola escolhida como sede para nossa investigação está situada no Bairro de
Mangabeira 1, da capital Paraibana. Tem boa e ampla estrutura física com salas de aula
grandes e arejadas, um corpo docente numeroso que atua sob a orientação de uma equipe de
especialistas composta por direção administrativa, direção pedagógica, psicóloga,
supervisoras de ensino e a professora do AEE (Atendimento Educacional Especial), além dos
funcionários da cozinha, limpeza e portaria. No ano vigente do estudo, a instituição atendia
em torno de mil estudantes, organizados nos turnos da manhã e da tarde e distribuídos em
turmas da Educação Infantil até o nono ano do Ensino Fundamental. Podemos destacar que,
no geral, a comunidade escolar não é considerada carente de elementos básicos para
sobrevivência, mesmo atendendo a estudantes de classe média baixa. Esta comunidade é bem
participativa e atuante nas atividades propostas aos alunos, durante o ano letivo.
aos níveis de leitura e escrita de seus alunos. As informações são referentes aqueles
escolhidos para terem suas produções analisadas, ou seja, os estudantes que participaram de
todos os momentos presenciais vivenciados durante o estudo.
participação nas atividades aplicadas remotamente e obtinha uma frequência satisfatória nas
aulas presenciais.
No primeiro contato com a professora, ela nos informou que a turma era composta por
33 (trinta e três) estudantes, com idades entre 7 (sete) e 11 (onze) anos. Destes, 15 (quinze)
eram meninas e 18 (dezoito), meninos. A maioria proveniente de áreas próximas à escola e,
alguns residentes em bairros vizinhos. Segundo a docente, a turma correspondia bem às
atividades propostas através das plataformas digitais e/ou atividades impressas
disponibilizadas pela escola. Durante o período, ainda crítico, da pandemia da COVID-19,
visto que, esta etapa da pesquisa foi realizada no ano de 2021, a turma havia sido dividida em
dois grupos, para participarem das aulas presenciais. Do total de estudantes, uma média de 8
(oito) deles fizeram parte do primeiro grupo, e, 9 (nove) constituíram o segundo. O
quantitativo restante não teve autorização dos pais para o retorno ao presencial e continuaram
assistindo às aulas de maneira remota. Nestas aulas online, a professora planejava atividades
conforme o seu plano de ensino anual e não aplicava as atividades da sequência didática,
então postava no grupo de WhatsApp, às segundas-feiras, um bloco de atividades referentes à
semana toda e diariamente dava suporte para realização, aos estudantes que apresentassem
alguma dúvida. Desta forma, optamos por discutir e analisar as produções textuais de seis
crianças que participaram de todas as etapas e momentos (dias) da sequência, no modo
presencial.
No quadro 3 abaixo podemos entender como a docente organizou a rotina de aulas
presenciais com os dois grupos:
Discussão sobre o tema abordado, o conteúdo e sobre o gênero que estava sendo veiculado,
destacando suas características composicionais, estilísticas e função social.
Aplicação das atividades planejadas, adequando à realidade da turma. A professora apoiava
a realização e era muito solícita aos alunos.
Aplicação da sequência, na maior parte das aulas, nos dois primeiros horários (antes do
recreio), em poucos dias estendida até após, conforme andamento da turma. Quando
necessário, o horário foi estendido por mudança no calendário de aplicação da SD.
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Agora que conhecemos a organização dos momentos com a docente, vale ressaltar que
as entrevistas e reuniões aconteceram tanto de forma presencial como virtual, por meio da
plataforma Google Meet, devido ao período pandêmico, e as aulas, como explicitado
anteriormente, com os dois grupos, no modo presencial. No primeiro roteiro de entrevistas,
elaboramos perguntas sobre a organização das aulas de Língua Portuguesa, a frequência do
trabalho com o texto, os gêneros textuais mais trabalhados, quais encaminhamentos da
docente acerca do trabalho com a produção textual, a concepção dela sobre sequência
didática, a familiaridade dos estudantes com o gênero diário pessoal e como se dá a avaliação
da própria prática docente. Ao final (segunda entrevista) indagamos sobre os conhecimentos
acerca da produção textual alcançados pelos estudantes, quais dificuldades eles apresentaram
neste processo, se a sequência havia sido uma boa proposta de ensino, os avanços e
aprendizagens que ela percebera em sua prática, se havia sido pertinente o estudo e como
avaliava a experiência.
O calendário que organizamos para aplicação da sequência sofreu algumas alterações,
desta forma, em alguns dias foram aplicadas duas atividades com os alunos, sendo que apenas
uma por dia havia sido planejada anteriormente. Mas o fato não provocou mudanças que
atrapalhassem o andamento da SD. Tais alterações se deram por falta de aula no dia proposto
e/ou por antecipação na finalização do ano letivo, devido à reforma na parte física que estava
acontecendo no ambiente escolar.
Todos estes momentos foram gravados em áudio e vídeo e transcritos, ao final de cada
etapa, conforme as indicações de Marcuschi (1991) em sua obra, Análise da conversação. As
reuniões com a professora, as entrevistas e aulas aplicadas contabilizaram, no total, cerca de
19 (dezenove) horas de gravação que geraram documentos organizados em 376 (trezentas e
setenta e seis) páginas de transcrições. Estes contribuíram para uma melhor efetivação e
escrita do estudo e dos nossos resultados. No quadro 5 abaixo, podemos encontrar as datas
destas ações.
A partir dos dados obtidos no estudo, debruçamo-nos sobre eles para analisarmos as
produções das crianças, a partir dos pressupostos defendidos por Bronckart (2006, 2009),
Schneuuwly (1988) e Dolz e Schneuwly (2004), no que se refere às capacidades de ação de
linguagem na análise de textos. Ou seja, os textos selecionados dos alunos foram analisados,
em seus aspectos mais frequentes, com base nesse aparato teórico-metodológico.
No capítulo seguinte, encontraremos tais análises e discussões acerca destes dados.
46
5.1 Entrevista inicial: como a docente organizava a sua prática e alguns indícios de suas
concepções sobre o Ensino de Língua Portuguesa
Diante do que vem sendo apresentado e discutido até aqui, procuramos compreender
como as crianças chegaram à produção escrita dos diários. Desta forma, optamos por
conhecer um pouco mais sobre a prática da professora e suas concepções acerca do Ensino de
Língua Portuguesa, através de uma entrevista inicial, uma vez que optamos por não observar
as aulas da docente em momentos anteriores ao início do estudo, e, para que possamos
compreender melhor os caminhos trilhados por docente e estudantes no desenvolvimento das
ações propostas.
No primeiro momento, conversamos com a docente sobre sua prática e algumas de
suas concepções acerca do ensino de Língua Portuguesa. Então, ela demonstrou que entende
que o ensino deve ser organizado e seu planejamento visa a aprendizagem dos alunos.
Extraímos uma parte da entrevista que nos leva a tais considerações: “a gente inicia muito
com resgates. [...] vai do conhecimento prévio da criança. E tenta ver dentro da BNCC,
dentro das habilidades, de todo contexto, organizar essas aulas, para que ela tenha uma
sequência, né? Uma estrutura, de... conhecimento e aprendizagem”.
Fica visível que a professora segue as premissas de grandes autores, como Soares
(2020), quando cita trazer para suas aulas o texto como eixo central: “o texto, ele é o que...
abrange todos os conteúdos que você queira trabalhar”.
Seguindo esta mesma linha de pensamento, investigamos a concepção dela acerca do
trabalho com os gêneros textuais e quais estratégias, baseando-se neles, costuma adotar.
Entendemos em sua fala que o gênero textual é compreendido como objeto de ensino
utilizado para aproximar o discente da aprendizagem, pois serve como articulador: “(...) eu
47
acredito que o gênero textual é o que mais aproxima do... do medo que a criança tem de
aprender a ler um texto”. Buscando esta aproximação ela afirma trabalhar com gêneros
diversos, assim como, parlenda, trava-língua, poema, lista e receita. Segundo a docente, a
receita é utilizada como objeto para envolver a família e o aluno, pois traz a realidade de
textos para dentro de casa, por meio de momentos de trocas de experiências entre os
membros, desmistificando este “medo” apresentado pelos estudantes, diante do desafio que é
a aprendizagem da leitura e da escrita.
Indagamos também a docente sobre como ela prepara seus aprendizes para os
momentos da produção textual e ela indica que inicia pela oralidade, por meio da produção
coletiva, e assim, para a individualizada. Segue um trecho da entrevista: “a gente trabalha
muito a oralidade primeiro, né, pra eles se apropriarem, pra eles ouvirem, porque o ouvir, o
conhecimento... da gente ir elaborando e aprimorando o jeito de falar. Porque a gente tem
que diferenciar o falar do escrito. Então assim, no que eles vão ouvindo, eles vão ampliando
o vocabulário também, e... eu gosto muito também, pra ajudar nessa produção, trabalhar
com textos coletivos primeiro [...] ouvir todos primeiro, um texto coletivo com a contribuição
de todos, pra todos saberem que são capazes de contribuir de alguma forma e depois vai pra
o individual”.
No ponto seguinte, procuramos entender o que a docente compreende por sequência
didática. Ela nos mostra que percebe essa forma de organização do trabalho pedagógico como
uma ponte capaz de levar o professor a vários caminhos, pois possibilita interdisciplinaridade,
contextos e conteúdos diversos, a partir do texto. Para ela: “estruturar essa sequência
didática, a partir desse texto ou desse áudio, dessa música, de alguma coisa que a gente
trabalhe”. Diante do exposto, percebemos que a docente ainda não traz alguns aspectos
relacionados a como a SD pode ser organizada, pensando nos autores que adotamos como
base neste estudo, mas que apresenta um conhecimento de que deve ser elaborada a partir de
um gênero textual.
Desta forma, procuramos compreender como a docente auxilia os estudantes durante
os momentos de produção de texto e a sua resposta foi bem significativa. Vejamos: “eu não
gosto muito de trabalhar com surpresa pra eles [...] Eu gosto muito de colocar primeiro, que
eles absorvam, tenham uma ideia, mesmo que eles não façam como tá o planejado, mas que
eles façam do jeito que eles acharam que era”. A importância que a professora dá ao
momento de construção do conhecimento do aluno nos chama a atenção, pois, como vimos,
ela gosta de instigar, mesmo que não tenha o interesse de obter resultados perfeitos de
imediato. Vejamos neste outro trecho: “depois a gente vai associando, diferenciando o que é
receita, o que é lista, ele vai... tem todo um processo aí pra aprender”. Ela pensa na
48
Percebemos aqui a importância em trabalhar com este gênero, como sendo uma
oportunidade para novas aprendizagens para as crianças, uma vez que ainda não tiveram um
contato de maneira satisfatória. Tais colocações estão de acordo com as contribuições de
Geraldi (1997a) quando aponta que alunos e professores aprendem e ensinam uns aos outros
por meio de textos, para os quais vão construindo novos contextos, multiplicando os sentidos
em circulação na sociedade.
Acreditamos que um dos principais objetivos dos anos iniciais do Ensino Fundamental
seja o de despertar nos estudantes o interesse pelo mundo da leitura e da escrita, fazendo com
que os momentos de aprendizagem não sejam apenas de efetivação ou preenchimento de uma
tarefa escolar, mas que se tornem momentos de atividades prazerosas.
49
No momento seguinte, procuramos extrair da professora como ela lida com o ensino
de gêneros textuais orais e escritos, numa mesma atividade. Seguem suas considerações de
uma aula ministrada no ensino remoto (via WhatsApp), que ela quis trazer para nós como
exemplo: “vocês tiveram o Dia das Crianças, quem gostaria de contar para a tia como foi?
Aí uns começaram a dizer: ‘ah, eu ganhei um brinquedo tal’, ‘eu saí com meu pai’, ‘Eu saí
com minha mãe, a gente foi comer pizza, foi legal’. Resultado. E agora? Que tal a gente fazer
uma produçãozinha de como foi esse dia das crianças? Pode ser só um paragrafozinho. Aí,
vou, resgato o que é parágrafo, o que isso, eles têm que entender o que é o parágrafo, como
inicia o parágrafo pra ver se eles vão organizando melhor as ideias [...] O que aconteceu
ontem, o que vai acontecer amanhã, pra gente não misturar, pra gente saber essa sequência
[...] a gente tem a questão de tempo, então vai se trabalhando o conteúdo”.
Como vimos, a docente destaca a importância da estruturação do texto e que este seja
organizado por meio de uma lógica temporal, para isso, ela utiliza a oralidade como estímulo
e/ou gatilho para a produção escrita. Vale ressaltar que tais questões também devem estar
presentes na organização do texto oral, que precisa ser planejado e estruturado, conforme seus
objetivos de produção.
No que se refere à avaliação da própria prática, a colaboradora mostra uma
preocupação em pensar no ensino, em constante reflexão, pois se vê como mediadora e não
como detentora do conhecimento, numa troca que favorece o aprendizado mútuo. Segue o
trecho: “eu procuro, antes de fazer qualquer coisa pra eles... é... ver se tá adequado [...] Eu
procuro, eu pesquiso, eu tento me corrigir, eu tento... quando eu erro, eu apresento pra eles
o meu erro. [...] Pra eles saberem que eu não sou a... dona do conhecimento. Então, eu
gosto de trabalhar com essa troca, mesmo sendo crianças, né? [...] Com essa aprendizagem,
que eles vão ampliar, mas que... eu preciso deles também, pra eu saber como é que eu vou
caminhar [...] A sala de aula, ela vai dizendo como você tem que ir fazendo aquele
trabalho”.
Neste momento inicial, podemos destacar muito entusiasmo e dedicação na prática
desta profissional para com a aprendizagem dos estudantes, assim como ela demonstra
preocupação com o seu processo de formação continuada que vem se aprimorando ao longo
do tempo e na efetivação do seu trabalho, a aprendizagem contínua que se realiza com a sua
prática, com o nível de interação estabelecido com seus alunos e a necessidade de manter um
planejamento flexível, no tocante às demandas dos seus aprendizes. Desta forma, ficamos
bem esperançosas de que o estudo seria de grande valia para todos.
Para Soares (2020), o planejamento da atividade docente está relacionado à clareza de
metas, visando a continuidade no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos. A autora
50
afirma que “planejar é definir, passo a passo, o caminho capaz de desenvolver nas crianças as
habilidades e conhecimentos para que se tornem alfabetizadas, leitoras e produtoras de textos,
de acordo com as metas de continuidade e de integração” (SOARES, 2020, p. 302).
mais ampla do que só... aquele texto ali, propriamente dito que vai ter aquele... aquele leitor,
mas assim, ele tem a sua funcionalidade. Como você vai trazendo aí a questão social”.
Diante do que a docente afirma, percebemos que ela consegue pensar o gênero além
dos objetivos de escrita e da localização de informações, destacando aspectos que viabilizam
um trabalho mais completo com o gênero textual, destacando o seu papel sociodiscursivo.
Para Geraldi (1997a), quando o texto é concebido como unidade de ensino/aprendizagem este
passa a ser compreendido como lugar de entrada para este diálogo com outros textos, e que
pode remeter a textos passados ou aos que surgirão no futuro. Portanto, se o aluno for
considerado como produtor de textos, ele passa a ser participante ativo deste diálogo contínuo
entre textos e leitores ou interlocutores. Ou seja, ele começa a produzir a partir dos
conhecimentos adquiridos em situações comunicativas, contemplando textos já existentes e
construindo textos futuros. Neste processo, a dialogicidade da linguagem se manifesta entre
pessoas, entre textos e pessoas, entre textos e ideais materializados nestes textos. Fenômeno
conhecido como intertextualidade, de acordo com Bakhtin (2003).
Ao final da reunião, combinamos de pensar em atividades que pudessem compor
nossa sequência para que pudéssemos estruturá-la na reunião seguinte. E pensando na
proposta de um estudo também reflexivo, sugeri que a professora utilizasse um diário de
bordo, no qual pudesse registrar as discussões que ela gostaria de ter, possíveis dúvidas e
quais aprendizagens iam sendo adquiridas ao longo do processo. Vale ressaltar, que este
material seria de uso da docente e não comporia nossa base de dados para análise neste
estudo.
Na segunda reunião, relembramos os conceitos da SD discutidos anteriormente,
iniciando por esta fala da docente em momento anterior: “a Sequência didática, ela nos leva
pra vários caminhos, né? A gente pode explorar a interdisciplinaridade, a gente pode viajar
em todos os... contextos, em todos os conteúdos, em todas as disciplinas. A gente abordar de
uma forma... é... contextualizada. Um... um texto que nos leve a refletir sobre um momento
que a gente tá passando na pandemia, né? Então, estruturar essa sequência didática, a partir
desse texto, ou desse áudio, dessa música, de alguma coisa que a gente trabalhe. E... dele
fazer várias, criar várias estratégias e incluir vários conceitos, né? Vários conteúdos.
(Resgate do trecho da entrevista em 18/10/21). No trecho em destaque, percebemos que a
docente passa a compreender a SD como proposta de ensino organizada, por meio de um
gênero, na qual podem ser trabalhados diferentes contextos, conteúdos e disciplinas.
A partir daí, a professora foi indagada sobre o que seria trabalhar com a oralidade e a
escrita, uma vez que em momento inicial afirmou que organiza a sua prática utilizando as
duas modalidades em constante relação. Apresentamos-lhes alguns temas e trechos de obras
52
que serviram para fomentar tais discussões, além do texto anteriormente sugerido, conforme
estão dispostos no quadro 6, abaixo:
Por fim, planejamos coletivamente como seria o primeiro dia da SD junto a turma,
como pode ser visto nas seções seguintes.
A aplicação do estudo se deu em seis aulas/dias com cada grupo de alunos, a maioria
delas ocorreu nos primeiros horários de aula. As atividades planejadas eram as mesmas para
que todos tivessem a oportunidade de participar do estudo, na semana em que estivessem
presencialmente na escola.
3
Este vídeo foi escolhido por trazer um relato de viagem de um autor nordestino à uma cidade estrangeira, no
qual ele enfatiza as descobertas que fez, comparando aquela à sua terra natal e enaltecendo a sua cultura.
54
Profa: então por falar em escrita, vamos conhecer o modelo de um texto chamado diário
pessoal que falamos no início da aula. Vocês sabem o que é um diário pessoal? O que é um
diário?
Felipe: um livro.
4
Nos textos escolhidos para esta atividade, percebemos a ausência da interatividade, um dos elementos da
textualidade, pois o leitor não interfere. É salutar que qualquer pessoa pode ter um diário, a ela cabe
compromisso e iniciativa para iniciar e continuar a sua escrita, podendo guardar segredos, caso assim deseje.
55
Profa: um livro? Que a gente coloca o que nele? A gente escreve o que nele?
Felipe: a gente escreve muitas coisas que a gente sente.
Profa: hã?
Felipe: a gente escreve as nossas coisas...
Profa: as nossas coisas. Então, são coisas pessoais, num é? Que a gente, quando eu digo
assim: eu vou ter algo pra escrever e eu vou transformar isso num diário. Por que diário?
Porque ele pode ser escrito todos os dias. Diariamente. Ou você dá um espaço de
acontecimentos que você mais gostou.
apenas viagens, como o poeta Bráulio Bessa, mas qualquer acontecimento importante em
nossas vidas. E Felipe complementa: “todas as coisas que a gente viveu”. Neste momento da
aula, podemos perceber que a docente volta a enfatizar algumas capacidades de ação, relativas
ao gênero, como por exemplo, as representações acerca do conteúdo temático. Proposta
também trazida por Schneuwly (1988) quando aponta sobre a construção da base de
orientação, na produção textual. A seguir, discutiremos mais sobre tal construção.
É importante destacar também, o resgate de memórias proporcionado em atividades de
linguagem como estas. A professora então pergunta aos alunos qual deles, além de Felipe,
gostaria de relatar um acontecimento, mas eles ficaram envergonhados e iniciaram a produção
escrita.
A professora logo percebe que um estudante não inicia e se dirige a ele:
Como vimos acima, a docente tenta instigar a escrita do aluno trazendo alternativas
para que ele registre à sua maneira, neste momento inicial. Ele então faz uma ilustração como
veremos nas produções mais adiante. Então, a professora retorna a ele e pergunta se a
produção contará apenas com a ilustração:
Profa: Miguel, você vai narrar para tia né, a história? Mas... daqui, por exemplo, se for em
dezembro que a gente for olhar isso aqui você vai saber quando foi que você fez? Precisa de
quê? Pra gente lembrar quando foi?
Miguel: da data.
Profa: isso! Deixa aí registrado a data.
57
Na leitura dos excertos de aula acima, percebemos que, mesmo não conseguindo
registrar por escrito a sua produção, o aluno é instigado a recordar de um elemento
característico do gênero abordado, que é a data, para que recorde em momento posterior em
que período a atividade foi realizada. Mesmo a produção inicial sendo caracterizada pelo
registro dos conhecimentos prévios da criança acerca do gênero, a professora acha importante
intervir para que o discente registre a data em que o texto foi produzido.
Na primeira aula com o grupo 2, os estudantes se mostraram mais participativos. Este
fato, provavelmente se deu por estes alunos já terem fluência em leitura e estarem em nível
mais avançado de escrita (alfabético), embora tenham afirmado que nunca produziram ou
possuíram um diário pessoal. Quando a professora pergunta o que é um diário, um aluno
refere-se à lista de compras, como podemos ver no excerto da aula 1, com o grupo 2:
Profa: quem sabe ou lembra o que é diário? Quem consegue lembrar o que é diário?
E: diário é um livro?
Profa: é um livro. Pode ser um livro. Mas o que a gente faz no diário?
E: escreve coisas pessoais.
Profa: escreve...
Caio: e lê.
Profa: alguém falou. Escreve coisas pessoais, (estudante) colocou. Caio disse: Escreve e lê.
Num é? Então, olha só, você já teve algum diário? Já escreveu em algum diário? [...]
E: eu num fiz não.
Profa: nunca fizeram? Por que vocês acham que a gente escreve em um diário?
E: porque... porque é bom.
Profa: para que escreve? Por que a gente escreve no diário? Porque (estudante) falou que a
gente escreve coisas pessoais, no diário. Então, como é uma coisa pessoal, eu acho que um
acontecimento, como pode ser a memória de alguma coisa que a gente queira colocar. Que
mais?
Danilo: quando vai fazer compras coloca no nome da comida?
Profa: quando vai fazer compras coloca no nome da comida, no diário.
E: tomate, maçã...
Profa: isso! O que mais? A gente pode escrever? Sobre essa aula de hoje o que será que a
gente escreveria no diário? O que será que a gente escreveria no diário sobre o que a gente
tá falando aqui hoje?
Danilo: é... ingredientes?
58
Profa: a gente tá falando sobre ingredientes a aula toda? Sobre o quê? O que que a gente
poderia colocar?
E: escrever as pessoas como se fosse um amigo.
Profa: isso! Também. Quem seria a pessoa que a gente colocaria no diário hoje que a gente
escreveu sobre ele? Quem? A gente aprendeu sobre quem hoje?
E: Bráulio Bessa.
Profa: Bráulio Bessa. A gente poderia ir ao nosso diário, se vocês tivessem, se vocês
quisessem começar já hoje a fazer um diário, coloca lá no diário, o que vocês ouviram falar
sobre Bráulio Bessa hoje. [...] Mas eu posso escrever sobre qualquer coisa no diário.
Percebemos aqui que Danilo não compreende muito bem a diferença entre diário
pessoal e lista, informando que o diário serve para escrevermos uma lista de compras
contendo ingredientes para uma possível ida ao supermercado. Vale ressaltar que este não
seria um conteúdo temático próprio do gênero, mas poderiam ser acrescentados a ele, algumas
informações que pudessem configurar elementos para tal produção. Neste momento, seria
necessário que a docente fizesse tal distinção entre os dois gêneros para que não gerassem
dúvidas entre os discentes, mas julgamos importante o fato dela ter enfatizado sobre o
conteúdo que pode ser abordado neste gênero e sobre o objetivo desta escrita.
Outro aspecto importante nesta aula, foi o fato de a docente orientar que as crianças
poderiam citar no diário que durante a aula o assunto abordado foi sobre Bráulio Bessa, como
uma espécie de biografia, porque tiveram informações sobre o poeta neste dia de aula. Isso
poderia também ter gerado dúvidas nos alunos, pois o gênero diário, não serve apenas para
tratarmos de uma personalidade. A nossa sugestão é que, em momentos como estes, a docente
explicitasse aos estudantes que poderiam citar no diário que durante a aula, um dos assuntos
abordados foi o poeta Bráulio Bessa, e não que deveriam falar, necessariamente, sobre a
personalidade, mas sim, o que aconteceu na sala de aula relacionado com ela. Em momento
posterior, a professora amplia o conteúdo temático do gênero, enfatizando que durante a
produção pode ser acrescentado o que o autor julga interessante guardar em suas memórias,
quando finaliza dizendo que “Mas eu posso escrever sobre qualquer coisa no diário”.
Conforme destacamos na primeira seção deste estudo, a tarefa de produzir textos é
complexa, para Bronckart (2006, p. 251), “o agente que tem de produzir um texto novo,
sincronicamente, encontra-se em uma situação de ação de linguagem que podemos definir
como sendo o conhecimento de que ele dispõe sobre o contexto de seu agir verbal e do
conteúdo temático que ele se propõe a semiotizar”. Por isso, a proposta de utilização de uma
59
17/11/2021
Novembro
A minha professora
É boa ela me dá aula muito boa as
minhas duas eu gosto da escola
minha turma 3º ano A professora
(nome) e meus amigos é muito
boa a escola minha professora
(nome) também FELIPE
60
17/11/2021
MIGUEL
08/11/2021
Diário CAIO
Capa: DANILO
08/11/2021
Fátima
Fim.
LUAN MENDES
Após este primeiro momento de produções, como havia sido combinado, marcamos a
nossa próxima reunião com a docente para discutirmos como se deu este contato dos
estudantes com o estudo, como ficaram as suas produções, quais dificuldades foram
encontradas e quais atividades iríamos planejar para darmos andamento à SD. Movimento
este que é característico da SD e mostra a sua preocupação em propor momentos em que o
professor pode planejar, refletir e até replanejar as suas ações visando à construção dos
módulos a serem desenvolvidos. Este caráter processual é considerado como um guia e ponto
de partida para o professor, pois, por meio dele é possível agir a partir de dados concretos.
Para Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 102), as primeiras produções fornecem ao
professor dados privilegiados de observação e são considerados como subsídios para uma
avaliação formativa, que “permitem refinar a sequência, modulá-la e adaptá-la de maneira
mais precisa às capacidades reais dos alunos de cada turma”.
Nesta ocasião realizamos uma análise de cada produção elaborada pelos estudantes e
percebemos que alguns deles não conseguiram produzir com todos os aspectos trabalhados no
gênero, como foi o caso de Miguel. Então resolvemos elaborar atividades que reavivassem
uma produção do gênero mais coerente com a finalidade da nossa proposta, pensando na
organização do conteúdo temático do texto, na nossa intenção com a escrita, em que suporte o
texto seria veiculado, quem seria o autor do texto e para quem estaríamos escrevendo. Tais
estratégias seriam motivadas através da revisão e reescrita dos textos, por parte dos alunos.
Outros aspectos discutidos foram a pontuação e a paragrafação, estes fazem parte do
conjunto de capacidades linguísticas, mas que estão completamente relacionadas às
capacidades que elencamos como prioridade para nossas análises, que são as capacidades de
ação. Elas também serão trabalhadas nos módulos, pois percebemos nos textos das crianças
algumas dificuldades com relação a seus usos.
Conforme Soares (2020, p. 267), durante as atividades de produção textual é comum
perceber que “as crianças escrevem como um registro da fala, escrevem como contariam
oralmente a história [...] usando marcadores de coesão adequados à fala, não à escrita”. Por
isso, o docente deve promover momentos em que seus estudantes passem a compreender
convenções básicas em outras modalidades e utilizem em suas produções escritas.
Já no que se refere ao uso de parágrafos, a autora aponta que organizar o texto não é
fácil para as crianças iniciantes no processo de produção textual, pois “compreender e usar a
paragrafação é aprender a estruturar as ideias para compor um texto, é necessário, e também
64
possível o trabalho com a organização do texto em parágrafos, com estratégias que orientem
essa organização, tanto em relação à estruturação de ideias como em relação aos recursos
gráficos que, na página, separam os parágrafos (SOARES, 2020, p. 272).
Durante a reunião, a docente sugeriu para os momentos de releitura dos textos, pelos
estudantes, a utilização de um instrumento conhecido como sussurrofone, que é fabricado
com cano de PVC e tem o formato parecido com um telefone antigo, a fim de que os alunos
pudessem ouvir o que estavam lendo. Ela afirmou que é uma tática que facilita a dicção, o
modo de leitura e compreensão dos estudantes e que já utiliza em sua prática. Podemos
perceber iniciativa da docente na proposta por utilizar instrumentos que facilitem a
compreensão dos estudantes na realização das atividades.
• Módulo I
5
KINNEY, Jeff. Diário de um banana: caindo na estrada – Vol. 9 / Jeff Kinney; [tradução Alexandre Boide]. –
São Paulo, SP: VR Editora, 2015.
65
Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), este registro, através da lista, também pode
resumir tudo o que foi assimilado nos módulos, podendo ser construída durante a aplicação da
SD, ou ao final, como um lembrete, glossário, lista de constatações ou síntese. Mais adiante,
apresentaremos uma atividade proposta com este objetivo, aplicada no nosso estudo, mais
precisamente no módulo IV.
Em seguida, foi realizada uma análise da linguagem utilizada pelo autor através de
expressões encontradas no texto. Como atividade para casa, foi solicitado que as crianças
registrassem no caderno, como os adultos da sua família falam determinada palavra, para
conversarmos sobre as formas de falar das pessoas na aula seguinte.
• Módulo II
Os objetivos para este dia foram: analisar as repostas trazidas pelas crianças sobre a
atividade anterior; analisar as características do gênero diário presentes e ausentes na primeira
produção; revisar as produções iniciais e, reescrever as produções com auxílio da professora.
Assim, foi realizado o resgate da atividade anterior, em seguida, os estudantes foram
convidados para lerem em voz alta ou falarem sobre sua primeira produção, mas eles se
sentiram muito tímidos em mostrarem aos colegas e assim, a leitura foi feita apenas para a
professora que aproveitou para revisar e orientar a reescrita dos diários, individualmente.
Durante a realização, os outros estudantes receberam exemplares do Diário de um banana
(volumes 1 a 10) para folhearem e realizarem o tipo de leitura que conseguissem.
Consideramos pertinente trazer aqui como ficou a reescrita do Miguel após o auxílio
da professora, seguida do trecho da aula, pois o aluno se mostrou com muita força de vontade
em realizar a atividade, mas de fato não soube como e a professora ficou motivada em ajudá-
lo.
REESCRITA MIGUEL
29/11/2021
MIGUEL
Profa: eu tenho dificuldade em saber como escreve tal palavra, mas eu acho que se escreve
assim. Vamos fazer esse exercício? De contar essa história escrita aqui? Do jeito que você
achar que é a palavra. Tia, eu tenho dificuldade nas sílabas, ali ó, tem sílabas ó. (Ela aponta
para o silabário exposto na parede). BO LA. Tá vendo? Você vai lá, escreve, AMIGO, A MI
GO, aí procura as sílabas do GO. Agora, lembrando das características do diário. Você tá
lembrado? A data, pra quem você escreveu, aí escreve a história na linha e assina. Vamos
tentar? Tá certo? Aí você vai escrever do jeito que você achar.
• Módulo III
• Módulo IV
Após a aplicação dos módulos da SD nos reunimos para mais um momento de estudo
e planejamento. No qual discutimos sobre as atividades desenvolvidas e numa proposta para
produção final dos alunos, avaliando todo processo vivenciado. Destacamos também os
avanços e as dificuldades com relação à escrita dos alunos na atividade de reescrita, na qual
eles já demonstraram mais familiaridade com o gênero e percebemos o interesse na
realização. A docente trouxe contribuições valiosas para compor a proposta final, que será
apresentada a seguir.
Nas atividades de produção coletiva com os dois grupos, a professora foi a escriba. As
crianças participaram bem da proposta e trouxeram contribuições relevantes ao texto. A
docente utilizou a atividade para enfatizar satisfatoriamente os aspectos que compõem o
gênero, como, o país, a cidade e o bairro em que a escola está localizada, a data da produção,
o vocativo a ser utilizado (Querido diário) a ser compreendido aqui como destinatário (para
quem estamos escrevendo), sobre como eles iriam organizar as informações trazidas por cada
um, elencando as que mais ficassem coerentes com a proposta, a despedida e como deveriam
assinar o texto (quem seriam os autores), além de discutir sobre a temática do Natal. Ela
auxiliou na escrita, fez a leitura do texto algumas vezes, destacando cada parte dele e depois
solicitou que as crianças localizassem as informações, colando as tarjetas que continham o
nome de cada parte, a fim de aprimorar o trabalho referente às discussões acerca dos
elementos estilísticos, que visam a organização de tais elementos no texto.
Propostas de atividades como estas, estão de acordo com as implicações de Geraldi
(2010) quando este autor afirma que a participação em situações interlocutivas, implica na
constituição contínua dos sujeitos, fazendo com que o aluno não aprenda antes a linguagem
72
para depois interagir, mas sim, que ele se constitui como sujeito à medida que constrói para si
a linguagem como prática social. E que estas são ações que devem ocorrer ao mesmo tempo.
No trecho de aula com o grupo 1, podemos perceber como a docente enfatiza tais
aspectos, trazendo à tona uma discussão sobre o contexto de produção, mais especificamente,
o mundo físico (sala de aula de uma escola em determinada data e local). Outros pontos
discutidos, acerca do gênero, foram o suporte, em que o texto estava sendo veiculado, assim
como o vocativo utilizado, o destinatário, principalmente, quando um estudante confunde com
a temática trabalhada:
Profa: então, lembrando as características do diário, qual é a primeira coisa que nós vamos
colocar nesse texto?
E: a senhora disse que era a data.
Profa: muito bem! Local e data, né? João Pessoa, 03 do 12 de 2021. Então como a gente tá
construindo esse texto coletivo, a gente tem que se perceber no lugar. Onde é que a gente
está. Depois de local e data, vocês tão lembrados o que que a gente faz, o que que a gente
coloca pra gente saber pra quem a gente tá escrevendo? O destinatário desse nosso relato?
Quem é que vai ler? Ou não ler? Ou só vai ficar registrado? A gente usa que... que...
vocativo? Que... que... identificação no diário? Pra gente saber? Como é que a gente inicia
essa nossa conversa? Essa nossa escrita no diário?
E: eu?
Profa: eu? Por exemplo, se eu for escrever, eu já escrevi várias páginas, E colocou a data, o
assunto e assinou, né? Tá aqui. Quando eu for folhear esse diário de E, eu vou saber quando
foi que ele escreveu, foi ele que escreveu, mas escreveu pra quem?
E: eu?
Profa: pra você mesmo? Quando a gente escreve pra gente mesmo, a gente tem a
oportunidade de chamar de nosso, a nossa escrita. E a gente vai criando com o diário um
laço de amizade. Por quê? É como se ele tivesse ali ouvindo os nossos sentimentos, né, os
acontecimentos do nosso dia a dia e eu vou chamá-lo por um nome bem carinhoso. E aí,
como é que eu me dirijo a esse livrinho aqui? Que eu vou construindo com os meus
sentimentos pessoais, com os meus acontecimentos pessoais, deixando registrado? Eu posso
chamá-lo de quê?
E: eu vou chamar de... livro secreto.
Profa: livro secreto? Mas a gente tá trabalhando que gênero?
E: o Natal!
Profa: não, isso aqui que a gente tá escrevendo é aonde? É um DI?
73
E: ÁRIO.
Profa: e se eu quero chamá-lo de uma forma carinhosa, como é que eu chamo?
E: querido diário?
Profa: querido diário! Num é? Eu num vou escrever nele? Num vou? Vocês concordam,
Miguel e E? Concordam? Então, depois do local e da data... a gente tem pra quem a gente
vai escrever. Num é? Então eu vou escrever pra quem? Pro meu próprio?
E: caderno?
Profa: diário. Pro meu próprio diário. E vou chamá-lo de um nome carinhoso se eu quiser.
Mas também posso chamá-lo só de?
E: diário.
Profa: diário, num é? E aí, como é que a gente vai colocar no nosso texto coletivo? Diário?
Querido diário? Meu queridíssimo diário? Vamos colocar como? Posso dizer que ele é meu
amigo. E aí, como é que a gente coloca aqui no nosso texto?
Miguel: querido diário.
Vale ressaltar que a docente traz muitas perguntas de uma vez, sem dar tempo das
crianças responderem, logo no início dos excertos, mas traz à tona as capacidades de ação
quando faz os alunos perceberem o lugar de produção no qual estão inseridos e o papel destes
alunos enquanto produtores e receptores do texto juntamente a ela, pois ela tem o papel de
escriba da turma. Assim como, levantou a reflexão sobre o suporte em que o gênero diário
está veiculado, quando um aluno afirma que vai chamá-lo de livro secreto, ela enfatiza o
conteúdo que será abordado nele, fazendo referência ao diário e retoma novamente aos
elementos que compõem o gênero, para que os estudantes pensem e relembrem sobre sua
forma. Entretanto, chamar um diário de livro secreto não faz com que o gênero mude, ao
utilizar esta nomenclatura, a criança parece querer criar um vínculo com o gênero. Neste
momento, a docente poderia enfatizar tal questão.
No trecho da aula “vocês tão lembrados o que que a gente faz, o que que a gente
coloca pra gente saber pra quem a gente tá escrevendo?” também é possível perceber uma
discussão sobre a capacidade discursiva, à medida que o aluno é levado a refletir sobre a
interação estabelecida durante a produção textual, a percepção necessária a quem o texto será
destinado e o cuidado com os termos utilizados. Entretanto, vale ressaltar que ao escolherem o
termo “professora” para assinar o texto, indica que os alunos estão compreendendo que ele
está sendo destinado à docente, neste caso, a base de orientação para a produção textual ainda
não está bem compreendida pelos estudantes, pois provavelmente ainda não estão
acostumados a pensarem sobre o papel do destinatário em seus textos. Consideramos que esta
74
seria uma boa oportunidade para que a professora problematizasse tais questões no intuito de
esclarecer melhor o seu papel como escriba do texto e não como a destinatária.
Discussões como estas, são essenciais durante a aprendizagem sobre um gênero, para
não deixar dúvidas, pois, como afirma Marcuschi (2008, p. 174) o suporte de um gênero
configura-se como “um locus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou
ambiente de fixação do gênero materializado como texto”.
Na produção com o grupo 2, a docente, além de enfatizar estes aspectos, discutiu um
pouco mais sobre o sentido do Natal e como isto seria organizado no desenvolvimento do
texto.
03/12/2021 Diário
Assinado CAIO
10/12/2021
5.8 Da prática docente às produções dos estudantes: comparando as escritas, com foco
nas capacidades de ação
Na primeira produção, Felipe foi o único que afirmou ter tido contato anterior com o
gênero e apresentou que se agrada da escola, da turma e das professoras e mesmo não fazendo
menção ao vocativo “Querido diário”, enfatizou que a escrita estava sendo realizada no mês
de novembro, mesmo após ter colocado a data na linha acima. Talvez tenha lembrado dos
primeiros momentos da aula 1, quando a docente indagou se ele tinha recordações de quando
fez a sua primeira produção de diário pessoal e ele informou que havia sido no ano de 2019.
Em seu texto final, este organizado e construído com mais elementos do gênero, a
criança nos chamou bastante atenção, ao pedir ao papai Noel um presente que iria beneficiar o
mundo inteiro: “vou pedir que a fome acabe do mundo”. A sua sentença tem um efeito
positivo de esperança em quem lê ou recebe o texto, embora não estejamos tratando de
destinatários externos, no momento, mas para quem escreve algo deste tipo, o aluno
demonstra ter sensibilidade em expor seu ponto de vista.
Vale ressaltar que no dia da última produção (aula 6), o estudante se encontrava
doente, o que o impossibilitou de participar junto aos colegas. Porém, em momento posterior,
a professora apresentou para ele o que haviam produzido (texto coletivo), explanou a proposta
de produção e ele prontamente apresentou a sua escrita. O momento não foi gravado, mas
achamos importante trazê-lo para as análises, uma vez que este aluno participou efetivamente
da aplicação da SD. Percebemos que suas duas produções possuem características e
elementos do gênero diário, mas que a segunda, ficou mais completa e coerente com a nossa
proposta.
83
O aluno Miguel, por sua vez, primeiramente não registrou sua mensagem, e sim, data e
assinatura, através do incentivo da docente, pois alegou que não sabia escrever. Esta
dificuldade, provavelmente, se deve ao fato de que ele ainda não seja leitor fluente e tenha o
nível de escrita anterior ao alfabético. Na ocasião, ele apenas relatou oralmente à docente a
sua intenção de escrita, que se assemelha a outros gêneros (convite ou bilhete direcionado ao
amigo), como pode ser verificado neste trecho da aula 1: “eu queria escrever: Bora jogar
bola, amigo Gabriel? Miguel”. Então, a professora recebeu a produção da maneira como
estava e informou ao estudante que o auxiliaria em outro momento. Consideramos a ação da
professora como muito valiosa, pois não desistiu de propor ao estudante que obtivesse êxito
na atividade.
Na produção final, Miguel conseguiu produzir na modalidade escrita a sua versão,
utilizando novamente o quadro do silabário que estava na parede da sala, como apoio. Não
apresentando apenas o local e a despedida em seu texto e optando por utilizar o seu apelido ao
invés de nome próprio, na assinatura7. Com relação ao conteúdo, ele abordou a época natalina
fazendo menção a quem iria pedir o seu presente (Papai Noel), respondendo a umas das
indagações da docente durante o comando da atividade: “Agora, escreva em seu diário, como
foi este momento de receber esse presente de Natal. A quem pediu?”, conforme apresentado
no quadro 8. Além disso, produziu seu texto utilizando alguns dos elementos trabalhados
durante as atividades dos módulos da SD e conforme a condução da docente, detectamos um
avanço surpreendente na produção, uma vez que o estudante estava mais preparado e
confiante ao realizá-la.
Baseamo-nos em Soares (2020) para enfatizar que a produção final foi estimulada
pelas condutas da docente, mas não devemos esquecer que nem sempre a criança tem em
mente o que quer escrever, dentro de uma cadeia sonora que tem um significado. É necessário
que ela receba orientações para conseguir efetivar a sua produção, mas é importante que tenha
7
Como pode ser visto na imagem da página 75, na qual foi substituída por uma tarja (Produção final de Miguel).
84
Eu fui pra praia com meu pai e Eu queria uma árvore de Natal e um
meus irmãos foi muito legal. trem.
Assinado Caio
Em sua primeira produção, o conteúdo escolhido para ser abordado pelo estudante
Caio não foi referente à escola, e sim, optou por relatar um passeio com a família, deixando
de fazer referência a alguns aspectos do gênero e organizando-os desordenadamente, quando
decidiu por registrar “Diário Caio”, quando a assinatura, deveria ser apresentada
separadamente, no início ou ao final do texto.
No texto final, Caio obedeceu aos propósitos do comando da atividade, mas o seu
texto apresentou características bem semelhantes ao do gênero bilhete, e ele demonstrou ter
escrito priorizando a estrutura deste gênero. Tais aspectos podem ser comprovados no trecho
em que Caio se referiu ao primo como destinatário do texto “pra Gabriel meu primo”,
mesmo que, por inúmeras vezes, a professora tenha enfatizado e perguntado para quem os
estudantes estavam escrevendo, quando ela queria destacar que estavam escrevendo para e no
diário pessoal. Possivelmente, a criança estivesse pedindo os presentes “árvore de Natal e
trem” ao primo. É importante destacar que ele acrescenta o local, assina e usa despedida
corretamente em seu texto e consegue estruturá-lo de forma mais coerente, diferentemente do
que ocorreu na primeira produção.
Cabe ressaltar que, mesmo nos referindo à última produção do estudante na SD
aplicada, a professora poderia conversar com o Caio sobre a sua produção, mostrando que ele
optou por produzir um outro gênero que não o solicitado. Outra ação importante a ser
realizada seria mostrar ao estudante que ele poderia relatar em seu diário um pedido de
presente que teria feito ao primo durante a época de Natal.
85
Danilo, em sua primeira produção, mesmo com a ausência de discussão, por parte da
docente, acerca da distinção entre os gêneros lista e diário, indica que compreendeu a
proposta uma vez que não apresentou uma lista de compras/ingredientes como tinha sido sua
primeira impressão acerca do gênero diário, durante a conversa inicial com a professora,
trecho que destacamos anteriormente, referente ao primeiro momento da aula. Ele relata uma
série de atividades diárias que realizaria após a aula, ao retornar à sua residência, inserindo
elementos muito ricos como o local de onde escreveu e o bairro em que sua escola estava
localizada, finalizando a produção com a expressão “Fim”.
86
A sua produção final foi dividida e organizada em duas partes. Na primeira, faz
referência ao tema Natal, registra o local, a data, desenvolve o assunto e assina. Dedicando a
mensagem através da expressão: “Isso foi para a família e Deus”, mas não se refere a eles
como destinatários de seu texto, e sim um desejo de que tenham um Feliz Natal, como pode
ser visto na sequência do texto. Na segunda parte, faz menção à obra Diário de um banana e
finaliza dizendo “O Natal é isso nada de azar fim”. A referência ‘azar’ no texto da criança
possivelmente sofreu influência dos escritos na Obra “Diário de um banana – Maré de azar ”,
com a qual teve contato durante uma das atividades desenvolvidas nos módulos da SD.
Percebemos que o estudante utiliza os recursos da intertextualidade, fazendo menção a outro
texto em sua produção. Movimento que demonstra o seu interesse na obra apresentada, e que
o fez utilizar em outro momento de escrita.
Soares (2020) enfatiza que, durante o aprendizado do uso da língua escrita para
escrever textos, é comum que as crianças escrevam reproduzindo marcas da oralidade, como
expressões populares, abreviações ou até mesmo o uso de gírias. No contato com os textos
escritos, ou ouvindo textos de gêneros diversos lidos por um adulto ou quando já
alfabetizadas, lendo com autonomia, elas percebem que textos escritos pertencem a uma
modalidade diferente da modalidade oral, e são capazes de memorizar algumas expressões e
mesmo palavras próprias da língua escrita, como o ocorrido na produção acima apresentada:
“corre corre”, “mia mia (buá buá)” utilizadas por Danilo. Porém, tais ideias não podem ser
vistas como dicotômicas ou depreciativas da oralidade, pois a fala e a escrita são formas de
instauração da língua, que pode se materializar na forma padrão ou não padrão.
Segundo Chacon (2022), no trabalho linguístico com a alfabetização, quatro conceitos
que, embora remetam a aspectos distintos no fenômeno da linguagem, estão interligados, pois,
os indivíduos são ao mesmo tempo, falantes e escreventes de uma língua. Portanto, há uma
interligação entre a fala, a escrita, a oralidade nas práticas de letramento. Para este autor
O aluno Luan apresentou, inicialmente, uma escrita mais tímida, com poucos
elementos e destacou que era dia de aula, mencionando a escola, optando por iniciar com a
assinatura, seguida da data. Na produção final, o discente alcançou o objetivo da escrita, com
mais elementos solicitados, inclusive, acrescentando o vocativo e utilizando a mesma
expressão que deu início à produção coletiva do seu grupo “Feliz Natal”, no primeiro
momento da aula. No que se refere à assinatura, além de registrá-la no local correto,
conseguiu compreender a escrita do seu sobrenome, pois nas atividades anteriores registrara
com a sílaba inicial de forma errônea. Em seus dois textos, percebemos a ausência da
saudação ou despedida, mas este fato não alterou a estrutura de seus escritos.
Observando as produções, de forma geral, ainda consideramos pertinente destacar que
Felipe, Caio e Lucas utilizaram, respectivamente “Bom dia” / “Tchau até amanhã” / “Tchau
até mais”, demonstrando interesse em continuar a escrita em outras ocasiões, mesmo após a
finalização do estudo, assim como perceberam este componente nos textos de outros autores
apresentados durante o trabalho com os módulos. Além disso, no último dia de aplicação, a
docente nos revelou que Miguel perguntou algumas vezes, ao final das aulas, se poderia levar
seu diário para casa para mostrar à sua mãe e a docente respondeu que seria possível, ao final
do estudo. Soares (2020, p. 255) enfatiza “motivar e orientar a criança a escrever textos, para
que se torne capaz de produzir textos em situações em que produzir se mostre necessário ou
desejado”. Estas atitudes nos parecem ter sido bem aplicadas pela docente durante a
realização do estudo, pois sem ela, não conseguiríamos obter um resultado tão positivo e os
estudantes não teriam motivação em continuar produzindo.
Percebemos o entusiasmo no último texto deste aluno quando conseguiu produzir por
escrito, através da oralidade, da ajuda da professora e do silabário que estava na parede da
sala de aula. Vamos acompanhar um trecho da aula 6 (produção final):
89
De acordo com Motta e Carnin (2020, p. 232), durante as produções textuais dos
alunos “é muito importante que o professor tenha clareza sobre suas metodologias de ensino,
consciência sobre o seu papel central como mediador da aprendizagem da escrita e que sua
maneira de intervir nos textos dos alunos pode ser um grande aliado no desenvolvimento das
competências de escrita dos estudantes”.
As contribuições da docente para este estudo, estão de acordo com as palavras de
Bronckart (2006, p. 226-227), quando ele enfatiza que:
Este fato, certamente, também foi resultante do apoio trazido pelas atividades
desenvolvidas durante os módulos da SD, uma vez que, para Marcuschi (2008, p. 217), é na
modularidade que encontramos “um trabalho diferenciado entre os alunos e permite que se
tenha atenção para problemas específicos de cada qual na medida em que se acompanham as
90
Nosso último momento de reflexão com a docente se deu na segunda entrevista, que
fluiu como uma conversa e ela avaliou positivamente a experiência, afirmando que utilizará a
SD em sua prática e que seus alunos conseguiram produzir textos, mesmo que em um tempo
reduzido.
Na busca por mais detalhes desta experiência, indagamos a docente sobre quais
conhecimentos seus estudantes conseguiram avançar e ela nos indicou que eles apresentavam
dificuldades, que foram trabalhadas com o estudo: “eles tinham a dificuldade em si, do
gênero. Sabiam o que era… como era, de uma forma bem superficial, não entendiam é... o
significado, a função social desse gênero. Então assim, eu acredito que eles avançaram
nesse sentido. Também é… escrita, né? O aprimoramento da escrita quando teve a reescrita,
na produção. Alguns conseguiram aprimorar as dificuldades de troca de letras, a gente
91
também trabalhou em relação a segmentação de palavras, porque o primeiro texto foi escrito
de uma forma bem autônoma, bem natural, que eles ficassem, pra gente saber esse, esse
diagnóstico prévio deles, né? Da escrita. O que eles tinham aprendido, a partir do que eles
dispõem, nas primeiras aulas sobre o gênero diário pessoal. Então eu acredito que eles
avançaram muito com relação a isso. Na última produção a gente percebe isso. Até mesmo
crianças que na primeira produção, só conseguiram desenhar, elas conseguiram produzir
com a escrita. Então, foi um avanço bastante significativo. Até mesmo os que tinham mais
dificuldade mesmo”. Como podemos observar, o nosso estudo contribuiu para o trabalho
com as capacidades linguísticas dos alunos, indo além da concepção acerca do gênero textual,
permitindo que eles vivenciassem situações em que puderam explorar tais capacidades. E que
os que não conseguiram corresponder satisfatoriamente na primeira produção, realizaram tal
tarefa na última.
Outro ponto que conversamos foi se os estudantes conseguiram aprimorar suas
aprendizagens acerca da produção textual, e a docente destacou o avanço de seus estudantes
quanto ao aprendizado sobre o tema, o gênero, e que o fizeram de forma consciente: “teve um
avanço né? Porque eles conseguiram, a partir da escrita do primeiro, a gente percebeu no
último, durante todo o processo, que a... as respostas orais, quando eles iam responder eles
já tinham noção da característica do diário pessoal do que eles iam escrever. Embora na
escrita ainda eles ainda omitissem alguma característica, mas a gente também deixou bem
claro para eles, que uma ou outra característica não tiraria a estrutura do gênero textual.
Mas os que apresentaram melhor desenvolvimento na produção final tinham todas as
características do gênero, e eles sabiam o que tavam escrevendo. Na primeira produção a
gente até propôs um tema e alguns fugiram do tema, já no último, a gente percebeu que eles
escreveram dentro do tema, né? Então isso, é adquirir conhecimento, aprimorar
conhecimento”.
Um aspecto também relevante a ser discutido estava relacionado às dificuldades
apresentadas pelos estudantes durante a SD e relaciona isto ao período em que realizou
atendimento aos alunos no formato remoto e à apropriação da leitura e da escrita. A este
respeito a docente enfatizou que “antes da Língua Portuguesa, eu queria frisar a dificuldade
[...] a gente ainda não tinha, é… feito um laço anual entre professor e aluno, né? Então
assim, como a gente trabalhando muito de forma remota, a gente não tinha intimidade de
professor e aluno. Então muitas vezes a gente percebeu que eles se sentiam um pouco com
vergonha, com medo de dizer que não sabia, as suas dificuldades. Né? Como teve aluno com
dificuldade na escrita, de... que ficou um pouco resistente em realizar, mas depois a gente foi
oportunizando, outras formas de fazer” e continuou: “em relação à Língua Portuguesa em
92
si, a dificuldade na leitura, na escrita. [...] a gente trabalha o ano todo, parágrafo, sinais de
pontuação, a... a ortografia em si. E o elo, o sequenciamento de um texto, pra eles saberem o
início, o meio e o fim”.
Como vimos nas linhas acima, a professora enfatiza o pouco contanto presencial com
os estudantes ao longo do ano, devido à pandemia e considera que muitos deles mantém esta
dificuldade em expressar suas limitações, por esta falta de vínculo. Esta situação faz parte de
uma realidade que já foi mencionada anteriormente, quando mostramos índices de pesquisas
sobre os impactos da pandemia em todo Brasil. O nosso estudo vem corroborar com mais um
exemplo das condições de aprendizagens que estamos enfrentando em nosso país, porém
estamos certas de que a força de vontade dos profissionais de educação para amenizar as
dificuldades dos estudantes se eleva quando estamos diante de experiências exitosas.
Ruiz (1998, p. 191) já trazia contribuições acerca desta relação entre professores e
alunos durante atividades de produção textual “o professor tem que se integrar na situação de
produção como coautor, e não como mero observador” e completa “é interagindo realmente
com o aluno que ele pode mudar as coisas no ensino da escrita, e isso não se consegue sem
um envolvimento maior com o aluno produtor, sem um compromisso pessoal com o próprio
trabalho, sem uma pequena dose de afetividade”.
Após esta explanação tínhamos que saber da docente se a proposta teria sido
pertinente para a sua prática e para os estudantes. Ela nos afirmou que “foi. Muito válida!
Muito, aprendi bastante”. Então perguntamos se ela utilizaria outras vezes e se conseguiria
fazer por conta própria. As respostas foram: “sim, vou utilizar!”, “sim, acredito que sim”.
E por fim, indagamos quais avanços na prática ela gostaria de expor e se ela gostou do
processo vivenciado. Ela disse que “o avanço é... você entender que o gênero independente
de qual seja, ele deve ser abordado de diversas maneiras. Por várias ferramentas, vários
suportes. Porque cada um aprende de uma forma. Alguns alunos encontram mais facilidade.
Tanto é que a gente disponibilizou escrita, ilustração, imagens, a oralidade. Então, foram
várias formas que a gente trabalhou na sequência. E pra alcançar o nosso objetivo. Né?
Então assim, precisa-se pensar, precisa-se organizar, estruturar e pensar na turma
heterogênea que a gente tem. A gente não tem uma turma homogênea. E trazer coisas novas,
porque se a gente ficar só no texto, aquela coisa, só na visualização... eles tiveram a
oportunidade de ouvir, só ouvir o texto, depois assistiram ao vídeo, leram também, no papel.
Então foram várias ferramentas, vários suportes, pra chamar atenção deles”.
As constatações da docente estão de acordo com as considerações de Marcuschi
(2008, p. 213) quando o autor enfatiza que a principal ideia ao se trabalhar com a SD “devem
criar situações reais com contextos que permitam reproduzir em grandes linhas e no detalhe a
93
situação concreta de produção textual incluindo sua circulação, ou seja, com atenção para o
processo de relação entre produtores e receptores”.
Na fala da docente, sobre o gênero: “deve ser abordado de diversas maneiras”
encontramos as capacidades de ação, relativas tanto ao contexto de produção quanto ao
conteúdo abordado, propostos pelos teóricos do ISD numa ação de linguagem. Em outro
trecho de sua explanação: “a gente disponibilizou escrita, ilustração, imagens, a oralidade”
podemos destacar, a possibilidade de se desenvolver capacidades linguísticas e linguístico-
discursivas, além das próprias capacidades de ação.
Na continuação das contribuições da docente, percebemos o seu anseio em produzir
junto aos alunos o conhecimento: “bem, o que eu aprendi? É nesse contexto que vem, desses
avanços, a gente perceber esses avanços, o mínimo que seja. Principalmente com aluno com
a maior dificuldade. A gente aprende que eles são capazes de fazer. Você não tem que fazer
algo fácil demais, porque sabe que alguém tem dificuldade, mas assim você faz algo
pensando no seu objetivo, né? E você tem que criar estratégias, pra que todos os alunos
estejam inseridos. Porque você vê que todos avançam, mas cada um dentro do seu
desenvolvimento, dentro das suas competências e habilidades, eles vão avançando. Então,
você não pode minimizar esse conhecimento, você tem que fornecer conhecimento. Agora
tem que saber como. Né? Como você vai querer que aquele aluno com maior dificuldade, que
é aquele exemplo, que a gente tem, que ele só conseguiu fazer desenho, como é, nas
próximas, que eu vou trabalhar com esse aluno, pra que ele avance, que ele se sinta feliz, que
ele tenha vontade de fazer, que ele tenha vontade de aprender, que ele saiba que tá
aprendendo. Que ele se aproprie de... da aprendizagem dele, ele saber que está aprendendo.
É esse o caminho. Eu tenho dificuldade, mas eu vou conseguir”.
A professora demonstra grande satisfação com o resultado das produções de seus
alunos e destaca a heterogeneidade de sua turma, cada um aprendendo em seu ritmo e dentro
de suas possibilidades, principalmente o estudante Miguel, que teve uma grande evolução.
Destaca ainda que ele se sentiu motivado a querer produzir e que esta situação o manteve
mais atento às aulas e momentos da SD, uma vez que conseguiu produzir seu texto oralmente
e por escrito.
Em seguida, a professora afirma “a gente pode ver o quanto ele ficou satisfeito em
fazer, feliz, no avanço. Ele mesmo tendo noção, consciência do avanço dele”. Diante desta
afirmação, podemos destacar alguns aspectos avaliativos e formativos com relação ao
trabalho com a SD, defendidos por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), que é investir nas
aprendizagens, quando os autores trazem que diante da produção final os estudantes têm
indicação dos objetivos a serem alcançados, controlando o seu próprio processo de
94
aprendizagem, quando são levados a refletirem sobre o que aprenderam e o que resta a ser
feito, pois o seu texto serve de instrumento para regulação e controle do seu próprio
comportamento como produtor textual e também nos momentos posteriores de revisão e
reescrita, e, por fim, os progressos realizados ao longo do trabalho executado. Sabemos que os
estudantes do Ensino Fundamental podem sentir dificuldades em refletir sobre tais questões,
por ainda serem imaturos, mas o direcionamento, dos seus professores, pode contribuir para
esta reflexão.
Percebendo o entusiasmo da docente, perguntamos se ela havia gostado da
experiência, pois tivemos que fazer algumas modificações nos dias de aplicação, conforme já
explicitado, e tivemos ainda que planejar e aplicar as mesmas atividades para dois grupos de
alunos. A seguir, segue sua explanação “a gente tem que planejar, mas com... também tendo
a liberdade de flexibilizar. E não ter pressa. [...] Então assim, primeiro ensinamento, faça o
seu planejamento com o objetivo que você quer alcançar, mas não com a sede de terminar,
né? Porque o terminar, eu acredito que só vai ser válido se você alcançar o objetivo” e
continua “Não é só para dizer conclui, está pronto. [...] ter um relatório, não. Mas você
saber que você propôs algo, ele foi trabalhado e foi absorvido por essas crianças. É a
primeira aprendizagem que você tem que ter de tudo isso! Outra coisa, é aprender que
precisamos sim, trabalhar com as crianças [...] esse gênero, não só porque vai nos ajudar a
gente a compreender conteúdos, mas porque vão servir pra eles. É uma aprendizagem de
vida. [...] Você não tá numa relação professor-aluno só, você conhece também histórias, de
pessoas que estão ali, crianças que já têm histórias de vida, pra nos ensinar, né? No
próximo ano, eu já vou com outro olhar pra esse gênero textual. Né? Eu posso até sugerir
temas mais pessoais mesmo, que a gente possa... com essa pandemia, nesses dois anos de
pandemia. O que será que eu não posso extrair dessas crianças, não é?”.
Durante muito tempo, nas práticas de muitos professores, a ideia de produção textual
era única e exclusivamente ligada à redação escolar. Com o avanço dos estudos sobre a
didática educacional, diferentes autores vêm contribuindo para a inserção de outros gêneros
em sala de aula. Quando a professora traz que a partir desta experiência começa a olhar o
gênero diário, por meio de outros olhos, e que através dele, poderá ampliar seu trabalho e as
aprendizagens de seus atuais e futuros alunos, tal afirmação nos deixa muito motivadas. Pois
conforme, indica Marcuschi (2008) a produção textual, precisa ser uma atividade situada em
contextos da vida cotidiana e os textos produzidos devem ser baseados em determinados
objetivos e direcionados a alguém.
Como afirma este autor “tratam-se os gêneros como formas históricas com uma
relativa estabilidade e que circulam na sociedade para consumo dos falantes e leitores em
95
6. NOSSAS CONSIDERAÇÕES
“A gente pode ver o quanto ele ficou satisfeito em fazer, feliz, no avanço. Ele mesmo tendo
noção, consciência do avanço dele”. (Trecho extraído da entrevista final com a docente,
comentando sobre o avanço do Miguel)
O nosso último capítulo não poderia começar de forma diferente. Foram dois anos de
estudo e pesquisa para receber um relato tão gratificante como este em relação a um de nossos
colaboradores. É para isso que viemos dedicando tempo, em busca de resultados que
mostrassem para nós o quanto é valiosa a intenção em contribuir com o ensino e a
aprendizagem, principalmente na escola pública do nosso país. O quão importante para
pesquisadores, para os docentes que vivenciam, na prática, cada avanço e, principalmente,
para o estudante que se sente capaz de produzir e nos apresenta com o olhar a sua satisfação.
Foi uma cena indescritível vê-lo com a produção nas mãos querendo levar para casa e mostrar
aos seus familiares o que havia conquistado.
A abordagem sociointeracionista escolhida aqui, como base do estudo, tem o texto
como eixo principal e nos impulsionou à formulação e realização da pesquisa, na procura por
96
conhecermos um pouco mais sobre como a prática de ensino da produção textual vem sendo
realizada na escola atualmente.
Geraldi (1999b) defendia que, na escola, os alunos não produzem textos em que um
sujeito diz sua palavra, eles devolvem aos docentes a palavra que lhes é dita pela instituição,
em situações artificiais, mais caracterizadas como exercícios escolares do que mesmo como
interlocuções autênticas. Pesquisas como a nossa são capazes de mostrar que a sala de aula
pode e deve ser um local que pensa além desta artificialidade.
Diante de tais considerações é conveniente retomarmos às nossas questões de
pesquisa: a) Em quais aspectos da situação sociocomunicativa e discursiva da produção
textual, a abordagem didática será mais favorecedora da aprendizagem dos alunos? que esteve
atrelada, tanto ao nosso objetivo geral de investigar quais avanços e dificuldades registrados
no desenvolvimento de uma sequência didática do gênero diário pessoal com alunos do 3º ano
do Ensino Fundamental, como ao nosso primeiro objetivo específico que era analisar a
elaboração e condução de uma sequência didática nos aspectos sociocomunicativos e
discursivos da produção textual.
Uma vez que as produções dos alunos só foram possíveis graças ao processo
vivenciado junto à docente, por meio do estudo, avaliamos que a colaboradora trouxe
contribuições efetivas para a SD, participando ativamente de todo processo, estudando e
discutindo os textos indicados, trazendo propostas de atividades, textos e vídeos a serem
trabalhados com os estudantes e recursos para auxiliar na aquisição dos conhecimentos.
Além disso, devemos destacar que as diferentes estratégias propostas pela docente,
foram além do que estava planejado e contribuíram muito para o domínio das crianças e a
diminuição das dificuldades em produzir o diário pessoal. Outro ponto importante foram os
momentos de produção oral trabalhados durante a SD com o auxílio dos vídeos, áudios,
levantamento de opiniões, atividades oralizadas e da produção coletiva, uma vez que
possibilitou que os estudantes se colocassem, tirassem dúvidas e assim tivessem um
direcionamento do que iriam registrar no diário escrito.
Nas produções, ainda encontramos sim, algumas dificuldades, porém é evidente a
evolução dos estudantes participantes do estudo, pois, eles demonstraram um avanço
significativo na compreensão do gênero trabalhado, na finalidade da nossa proposta e na ação
sociocomunicativa deste gênero.
No que se refere à segunda pergunta de pesquisa: quais elementos do gênero são
contemplados na produção escrita do diário pessoal? que deu origem ao objetivo: b)
investigar quais elementos do gênero são contemplados na escrita do diário pessoal,
consideramos que foi possível observar que a maioria dos estudantes compreendeu os
97
aspectos que o compõem e que foram trabalhados pela docente, durante a aplicação da SD,
apresentando tais aprendizagens em seus textos.
Estas ações foram realizadas, pelos estudantes, por meio da utilização de várias
ferramentas, como o resgate de memórias e escritas anteriores, o uso do silabário e outros
materiais didáticos, a referência a gêneros e textos trabalhados em outros momentos e/ou por
eles conhecidos, e ao solicitarem o auxílio da docente, tais fatores foram essenciais para que
houvesse um contato proveitoso com o gênero, o que colaborou para o desenvolvimento de
suas habilidades em relatarem fatos e acontecimentos na modalidade oral e representarem
suas produções na modalidade escrita, sendo capazes de perceberem e se reconhecerem como
produtores de textos veiculados dentro de suas realidades, visando até mesmo futuras
produções.
Estes alunos demonstraram avanços na utilização da língua escrita, pois optaram por
abordarem os aspectos trabalhados em diferentes momentos da SD, de forma individual e
coletivamente.
Segundo Suassuna (2012), a sala de aula é um lugar de interações verbais e diálogo
entre sujeitos e saberes. Para a autora, as aulas de língua materna devem viabilizar momentos
em que os interlocutores têm o que dizer, através da língua, pensada como atividade, espaço
de criação, materializada pelas enunciações. Ao docente, cabe a iniciativa por situações
interativas, que provoquem reflexões acerca do aprendizado a ser construído, indo além do
repasse de informações a serem reproduzidas pelo alunado. “O professor é aquele que orienta
o aluno a correlacionar textos, lendo-os e produzindo-os numa cadeia interativa didaticamente
organizada” (SUASSUNA, 2012, p. 1136). Com estas palavras, fica claro para nós que o
papel do professor também é o de proporcionar aos aprendizes o direito de participar de
práticas sociais de leitura e escrita, para que, quando se encontrarem em momentos diversos
de letramento, saibam lidar com situações, dentro e fora da instituição escolar.
Durante a elaboração do projeto de pesquisa, pensamos em como realizar uma ação
que pudesse trazer o professor que está em sala de aula para o campo do estudo e da pesquisa
da sua própria prática e como esta ação contribuiria para o ensino e a aprendizagem dos
estudantes. Por isso, elaboramos este projeto trazendo o professor para mais perto do mundo
acadêmico, fazendo com que a Universidade não seja apenas uma instituição, como muitos
pensam, inatingível e distante da realidade de muitos professores que estão em sala de aula do
ensino básico, pois percebemos com esta experiência que academia e escola pensando juntas
o ensino e a aprendizagem, grandes transformações podem ser realizadas.
As palavras de Soares (2020) trazem esperança para nós educadores e pesquisadores,
quando ela afirma que as crianças podem, sim, aprender a ler e escrever. Para isso, é
98
necessário que o foco esteja voltado para a aprendizagem e que a partir dela seja definido o
ensino, não esquecendo, o conhecimento e o acompanhamento do desenvolvimento
linguístico e cognitivo dos estudantes.
Esta pesquisa esteve pautada neste viés e esperamos com ela, contribuir para reflexões
críticas do fazer pedagógico dos professores e de todos os envolvidos no âmbito educacional,
na ampliação dos horizontes, na construção e transformação de práticas docentes mais ricas
em conhecimento, mais reais e representativas de ensino, buscando consequentemente,
aprendizagens mais concretas, com alunos capazes de ler, interpretar e produzir textos de
diferentes gêneros textuais de forma autônoma, em busca de um avanço nos índices nacionais
de alfabetização e letramento.
99
REFERÊNCIAS
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editorial, 2009.
ALMEIDA, Djane Silva. Recriando saberes na escola: uma reflexão acerca do diário como
suporte para a leitura e produção escrita de alunos da rede pública de ensino do povoado
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CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Editora Scipione, 1989.
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e escritos na escola. São Paulo: Mercado das letras, 2004.
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Ática, 1999.
GERALDI, João Wanderley. A aula como acontecimento. São Paulo: Pedro & João
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LEAL, Telma Ferraz; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de. Textos que ajudam a
organizar o dia-a-dia. In: Leitura e produção de textos na alfabetização. Org. Ana Carolina
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LOPES, Rodrigo Smaha; SALLES Jaqueline L de; PALLÚ Nelza M. Linguística aplicada
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MARCUSCHI, Luiz Antônio. Fala e escrita / Luiz Antônio Marcuschi e Ângela Paiva
Dionísio. 1. ed., 1. reimp. — Belo Horizonte: Autêntica, 2007. 208 p.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10. ed.
São Paulo: Cortez, 2010.
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102
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SOARES, Magda. Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e escrever. São Paulo:
Contexto, 352, p. 2020.
APÊNDICES
ENTREVISTA INICIAL
ENTREVISTA FINAL
CARACTERIZAÇÃO:
Colaboradores: Professora e 33 alunos do 3º ano do Ensino Fundamental.
Objetivos específicos:
• Conhecer o gênero diário pessoal e sua função sociocomunicativa;
• Conhecer gêneros derivados do diário em situações e suportes diferentes;
• Identificar algumas relações entre a oralidade e a escrita;
• Resgatar os conhecimentos prévios dos estudantes acerca do gênero em momento inicial de
produção.
• Conhecer autores/poetas nordestinos e suas características de produção.
• Valorizar a cultura nordestina e suas contribuições.
Material utilizado: Computador, gravador, folhas de ofício, livro Poesia que transforma.
105
1º Momento:
Fique ligado!
Nas próximas linhas, você encontrará textos de diferentes formatos. Um deles é o
Vlog, que é conhecido como a narração oral de uma história ou fato através de áudio ou vídeo
em alguma rede social. Já o diário, é um texto no qual o autor escreve sobre fatos do seu dia a
dia, como se estivesse conversando com alguém. Neles podemos falar sobre qualquer assunto,
e, tanto meninas como meninos, podem ter um Vlog e/ou um diário.
2º Momento:
Um matuto em Nova Iorque Tô aqui na Times Square Nova Iorque é muito bela,
My brother, sou nordestino mas prefiro o meu terreiro dá pro cabra se encantar,
nascido lá no sertão. onde a vida não tem pressa, porém toda essa beleza
Whisky pra mim é cana não passa assim tão ligeiro. não consegue superar
misturada com limão. Aqui tem loja grã-fina, minha cidade, meu canto,
Matuto do pé rachado, muita luz que ilumina meu pequeno Alto Santo
danço forró e xaxado e tudo pra ser comprado. que eu amo e quero bem.
e adoro cantoria. Porém lá no meu sertão Sou mais um cabra da peste
Na minha terra é assim, o crédito do cartão e não troco o meu Nordeste
o tal do bacon é toicim é o caderno do fiado. por States de ninguém.
e Mary lá é Maria. Bráulio Bessa, Poesia que
Ali tem cachorro-quente, transforma
Vim bater em Nova Iorque, mas não vale uma buchada.
conhecer outra cultura. Hambúrguer não chega
Vi gente de todo tipo aos pés de carne de sol torrada.
e prédio de toda altura. Milho assado na fogueira,
Muita luz, badalação, rapadura, macaxeira,
movimento, agitação, castanha feita na brasa.
dialeto diferente, Caminhei e dei um giro
sorry, thank you e oqueis. e tô certo que prefiro
Mas não sei falar inglês a rua da minha casa.
fico aqui com meu oxente.
106
3)Você acha que o Vlog também é um texto? Já tinha assistido a algum? Há diferenças entre o
Vlog e o texto lido acima?
4) Por que você acha que podemos encontrar tanto este texto no Youtube como em livros?
6) Você acha que o autor gostou do passeio que fez? Ao final, podemos perceber que ele
gosta mais de lá ou do lugar onde mora? E você, gosta do lugar onde mora? Por quê?
3º Momento:
• Como você pode perceber, alguns autores falam, outros escrevem seus textos quando
querem passar uma mensagem aos leitores. E por falar em escrita, vamos conhecer alguns
modelos de um texto chamado diário pessoal, que falamos no início da aula?
Perguntas: Quem sabe ou lembra o que é diário? Alguém já teve algum? Sobre o que você
escreve ou escrevia nele? Para que serve? Quem pode escrever? Para quem escrevemos um
diário? É possível escrever um diário sem ter feito uma viagem? Sobre quais locais podemos
escrever no diário?
MODELOS E CARACTERÍSTICAS
Disponíveis em:
https://planosdeaula.novaescola.org.br/fundamental/3ano/lingu
a-portuguesa/diario-ler-para-conhecer-o-genero/2811. Acesso:
01/11/21
107
PRODUÇÃO INICIAL: Agora você é o (a) autor (a). Relate oralmente para a turma, uma
viagem que fez com familiares ou amigos, ou um dia marcante na sua vida, e mostre para nós
como foi a sua aventura.
E que tal se nós tivéssemos um diário? Vamos produzir nele um texto escrito contando a
experiência relatada.
Avaliação do processo: Análise das produções orais das crianças, como as crianças se
expressam em momentos em que estão sendo supervisionadas e quais aspectos mais nos
chama a atenção. Como levam tais aspectos para a produção escrita, se há semelhanças e/ou
diferenças. Identificação das características do gênero apresentadas, neste momento de
levantamento dos conhecimentos prévios.
Objetivos específicos:
• Reconhecer o gênero diário e suas características.
• Reconhecer a função do gênero lista.
• Conhecer e identificar alguns recursos linguísticos em textos.
• Identificar a utilização da linguagem em diferentes contextos.
• Vivenciar situações de uso da língua comparando os registros de falantes diferentes.
1º Momento:
A aula inicia com a apresentação da obra: Diário de um banana e com perguntas para resgate
dos conhecimentos dos estudantes. A professora deve explicar que a obra se trata de escritos
de um garoto chamado Greg, que resolve relatar sobre seu dia a dia em casa, na escola e
outros lugares por onde passa.
Observe a lista de alguns lugares visitados por Greg e sua família. Perceba que, neste texto,
os locais estão listados em forma de frases enumeradas e organizadas uma abaixo da outra,
para facilitar a nossa leitura, pois é assim que esse texto geralmente é escrito.
Leia o trecho de quando eles estavam no hotel cheio de mofo (item 2 da lista).
• Você já deve ter percebido que escrever no diário é relatar algum acontecimento
importante vivido por quem escreve, mas que não precisamos enumerar como fazemos na
lista.
Nos textos que lemos, vimos que os autores utilizam uma linguagem espontânea, livre e
mais informal, ou seja, mais próxima da fala. O uso de gírias, que são expressões utilizadas
por alguns grupos sociais, é um exemplo disso.
b) Cara.
2) Por que as palavras “VOLTAR” e “BEM” foram escritas com letras maiúsculas?
109
PARA CASA: Leia outro trecho do livro “Diário de um banana – Caindo na estrada” e
responda:
“No final, eram os moleques da banheira. Eles tinham pegado um carrinho de limpeza e
estavam brincando de bater com ele na parede” (p. 71).
Você terá um tempo para ouvir seus familiares conversando em casa. É preciso que fique
atento, se eles falam uma palavra usada por Greg em seu diário, a palavra é BRINCANDO.
Caso após 1 ou 2 dias, por exemplo, ninguém fale espontaneamente, você deve esperar uma
situação em que esteja brincando e perguntar aos seus pais ou parentes: O que eu estava
fazendo agora aqui na sala? Para que respondam que estava brincando. Depois que conseguir
extrair essa palavra espontaneamente, que peça aos adultos que a digam de forma consciente.
Como por exemplo: Pai/mãe, responda pra mim: cantar-cantando; chorar-chorando; brincar-
???
Registre na folha, respondendo na linha ou grave um áudio ou vídeo e envie para a professora.
Objetivos específicos:
• Analisar as repostas trazidas pelas crianças sobre a atividade anterior.
• Analisar as características do gênero diário presentes e ausentes na primeira produção.
• Revisar as produções iniciais.
• Reescrever as produções com auxílio da professora.
1º Momento:
Resgate da atividade de casa, registro das respostas dos estudantes sobre o que conseguiram
extrair de seus familiares sobre a pronúncia da palavra BRINCANDO. Referência ao termo
utilizado por Greg – Diário de um banana: caindo na estrada.
110
2º Momento:
Leitura individual das produções, em voz alta. Os estudantes que se sentirem à vontade para
falarem sobre os escritos são convidados a realizarem a leitura. Ou relatarem a experiência
escrita para a turma.
3º Momento:
A professora distribui um exemplar da coletânea Diário de um banana a cada estudante, eles
terão um tempo para folhearem e realizarem a leitura. Enquanto isso, chama individualmente,
mostrando a primeira produção realizada por eles e para discussão sobre os aspectos que mais
lhes chama atenção.
Ao realizarem a revisão, os estudantes são levados a reescreverem suas produções com os
aspectos e características que por ventura não estiverem presentes, considerando o gênero.
Objetivos específicos:
• Reconhecer as características do gênero.
• Ordenar as partes do texto.
• Ler e interpretar texto.
• Conhecer alguns recursos linguísticos: números e pontuação.
1º Momento:
Leitura e compreensão – conversa sobre a estrutura e outros aspectos do texto.
Leia o texto e responda:
2º Momento:
Atividade em duplas ou grupos:
A turma será dividida em duplas ou grupos. Cada equipe receberá o texto fatiado e
após a leitura e discussão deverão organizar o texto, colando-os em um cartaz, na
ordem correta. As respostas serão comparadas e discutidas sobre como conseguiram
organizar o texto.
Querido diário,
Mamãe deu aquela ordem de novo: “Já pra cama, mocinha. Desliga a televisão!”
Eu não concordo com essa mania dos pais de quererem comandar os horários dos
filhos dormirem. Ela diz que é porque eu estudo cedo, e se for dormir tarde, posso
perder a hora. Conversa de mãe!
112
Eu NUNCA cheguei atrasada na escola. Além disso, sou muito responsável e não
é todo dia que eu quero dormir tarde. Mas minha mãe é dura na queda! Ela tem
argumento pra tudo. Diz que quando eu durmo tarde acordo mal-humorada, tomo
café correndo e acabo ficando com sono na escola. E tem mais diz que toda
criança tem necessidade de pelo menos oito horas de sono para recuperar o corpo
e crescer. E ainda fala: “Dormir bem é bom para a memória!”.
1) Como você pode perceber neste texto não tem assinatura. Você consegue descobrir se
ele foi escrito por uma menina ou por um menino? Como chegou a esta conclusão?
4) Como você acha que esta pessoa está se sentindo? Qual conselho daria a ela?
6) Por que os trechos “Já pra cama, mocinha. Desliga a televisão!” e “Dormir bem é bom
para a memória!” foram escritos com “ ”, este sinal chamado aspas?
8) De acordo com o que você aprendeu sobre diário, você acha que falta alguma parte no
texto dessa pessoa?
113
9) No texto, a pessoa fala sobre ir à escola. E você, gostou do retorno presencial às aulas?
Escreva no seu diário.
Objetivos específicos:
• Identificar as partes que constituem o gênero diário e suas características.
• Utilizar o gênero lista.
• Relacionar os gêneros: diário e lista.
1º Momento:
Leitura do diário e discussão sobre suas partes.
2º Momento:
Após a leitura, a professora deve instigar os alunos sobre qual nome dariam a cada parte do
texto. E ao final, cada um, cola a tarjeta contendo o nome das partes no lugar correto.
ASSINATURA VOCATIVO
3º Momento:
Em alguns textos que lemos, encontramos mais uma parte do diário. Quem consegue lembrar?
Se você fosse o autor (a), como escreveria esta parte?
Agora que lemos alguns diários, faça, em seu caderno, uma lista com o que você aprendeu
sobre estes textos.
Objetivos específicos:
• Identificar os aspectos relacionados aos preparativos natalinos abordados no Ludo
Vlog.
• Analisar os aspectos do gênero diário pessoal.
• Produzir coletivamente e individual um diário pessoal abordando a temática.
1º Momento: Assistir ao vídeo Ludo Vlog – Quintal da Cultura. O personagem faz uma lista
com os preparativos para o Natal.
115
A professora faz uma discussão sobre o Vlog e faz um levantamento com os estudantes sobre
as festividades natalinas. Alguns aspectos são: como comemoram, onde se reúnem, como
vivenciam o período natalino.
2º Momento: Registro coletivo dessas vivências, por meio de um texto com características do
diário. Localização das partes do diário através de tarjetas, em texto construído no cartaz.
3º Momento: Registro por meio de desenho do que os estudantes gostariam de ganhar neste
Natal. Enfatizando o contexto familiar, os enfeites, onde os presentes seriam colocados, por
quem seriam entregues, o custo do presente, ou desejo de conseguir para outra pessoa.
4º Momento: Produção no diário. Agora, escreva em seu diário, como foi este momento de
receber esse presente de Natal.
- A quem você pediu?
- O que você fez quando ganhou?
- Por que você quis ganhar?
- Este momento foi importante pra você?
116
ANEXOS
117
ANEXO A – SILABÁRIO
Participação no estudo
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa intitulada “Diário Pessoal: a
sequência didática e a produção de texto em uma turma de 3º ano do ensino
fundamental”, coordenada por ELERIZA MELQUIADES RIBEIRO. O objetivo deste
estudo é investigar o trabalho do professor com a sequência didática envolvendo o gênero
diário pessoal e suas contribuições para o desenvolvimento da produção textual dos alunos.
Caso você aceite participar, você terá que participar das aulas que serão elaboradas na
pesquisa o que deve acontecer em aproximadamente seis aulas de quarenta e cinco minutos.
Além disso, serão utilizados equipamentos de gravação de imagem e voz.
Vale salientar que alguns procedimentos da pesquisa serão feitos virtualmente em
virtude da pandemia da COVID-19, seguindo as orientações da Comissão Nacional de Ética
em Pesquisa para este momento e outros, presencialmente, no retorno às aulas, diante das
condições da escola.
Riscos e Benefícios
Com a autorização de participação nesta pesquisa, o(a) menor não estará exposto a
riscos mas caso eles venham a ocorrer, serão tomadas as devidas providências, sob a
responsabilidade da equipe escolar e da pesquisadora.
Esta pesquisa tem como benefícios melhorar a prática da professora da sala, assim
como, a aprendizagem dos estudantes da turma, no que se refere à produção de texto.
Autonomia
Você também poderá desistir da pesquisa a qualquer momento, sem que a recusa ou a
desistência lhe acarrete qualquer prejuízo. É assegurada a assistência durante toda a pesquisa,
e garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo
e suas consequências. Você também poderá entrar em contato com os pesquisadores, em
qualquer etapa da pesquisa, por e-mail ou telefone, a partir dos contatos dos pesquisadores
que constam no final do documento.
Ressarcimento e Indenização
Lembramos que sua participação é voluntária, o que significa que você não poderá ser
pago, de nenhuma maneira, por participar desta pesquisa. De igual forma, a participação na
pesquisa não implica em gastos a você. Se ocorrer algum dano decorrente da sua participação
na pesquisa, você será indenizado, conforme determina a lei.
Após ser esclarecido sobre as informações da pesquisa, no caso de aceitar fazer parte
do estudo, assine o consentimento de participação em todas as páginas e no campo previsto
para o seu nome, que é impresso em duas vias, sendo que uma via ficará em posse do
pesquisador responsável e a outra via com você.
Após ser esclarecido sobre as informações da pesquisa, no caso de aceitar fazer parte
do estudo, assine o Consentimento de Assentimento de Participação em todas as páginas e no
campo previsto para o seu nome, que é impresso em duas vias, sendo que uma via ficará em
posse do pesquisador responsável e a outra via com você.
Eu __________________________________________________________ concordo em
participar, voluntariamente da pesquisa “Diário Pessoal: a sequência didática e a produção
de texto em uma turma de 3º ano do ensino fundamental”, conforme informações contidas
neste TCLE.
Local e data:
_____________________________________________________________________
Assinatura:
______________________________________________________________________
Outros pesquisadores:
Nome: ELERIZA MELQUIADES RIBEIRO
121
Endereço:- Centro de Ciências Médicas, 3º andar, Sala 14, Campus I - Cidade Universitária -
Bairro Castelo Branco CEP: 58059-900 - João Pessoa-PB
Telefone: (083) 3216-7308
E-mail: comitedeetica@ccm.ufpb.br
Participação no estudo
Você está sendo convidada a participar da pesquisa intitulada “Diário Pessoal: a
sequência didática e a produção de texto em uma turma de 3º ano do ensino fundamental”,
coordenada por ELERIZA MELQUIADES RIBEIRO. O objetivo deste estudo é investigar o
trabalho do professor com a sequência didática envolvendo o gênero diário pessoal e suas
contribuições para o desenvolvimento da produção textual dos alunos.
Caso você aceite, terá que participar de quatro reuniões de estudo e planejamento, nas
quais elaboraremos a sequência didática e discutiremos os resultados coletados. E dois
encontros para entrevistas semiestruturadas, uma no início e uma ao final do processo. O que
deve dispender cerca de 360 minutos, no total. As aulas destinadas à aplicação da sequência
serão de acordo com a sua disponibilidade e de sua turma. Por este motivo não está explícito
aqui os minutos que serão destinados a elas.
Vale salientar que os procedimentos apresentados serão realizados de forma híbrida,
conforme o andamento das atividades junto à instituição de ensino a qual está vinculada. Ou
seja, as aulas da sequência didática poderão ser de forma presencial (quando possível) e as
entrevistas e reuniões poderão ser realizadas pela plataforma do Google Meet (os links serão
criados, posteriormente), em virtude da pandemia da COVID-19, seguindo as orientações da
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para este momento.
Riscos e Benefícios
Com sua participação nesta pesquisa, você estará exposta a riscos diante da sua prática
de sala de aula. Caso ações perigosas venham a ocorrer, serão tomadas as devidas
providências e será questionado se deseja desistir ou prosseguir com a pesquisa, sem qualquer
ônus.
Esta pesquisa tem como benefícios o aprimoramento da sua formação docente, o
desenvolvimento de práticas de ensino de Língua Portuguesa, bem como o aprendizado dos
estudantes.
Autonomia
Você também poderá desistir da pesquisa a qualquer momento, sem que a recusa ou a
desistência lhe acarrete qualquer prejuízo. É assegurada a assistência durante toda a pesquisa,
e garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo
e suas consequências. Você também poderá entrar em contato com os pesquisadores, em
qualquer etapa da pesquisa, por e-mail ou telefone, a partir dos contatos dos pesquisadores
que constam no final do documento.
ser utilizados para as finalidades da presente pesquisa, sendo que para novos objetivos um
novo TCLE deve ser aplicado.
Ressarcimento e Indenização
Lembramos que sua participação é voluntária, o que significa que você não poderá ser
pago, de nenhuma maneira, por participar desta pesquisa. De igual forma, a participação na
pesquisa não implica em gastos nenhum a você. Se ocorrer algum dano decorrente da sua
participação na pesquisa, você será indenizado, conforme determina a lei.
Após ser esclarecido sobre as informações da pesquisa, no caso de aceitar fazer parte
do estudo, assine o consentimento de participação em todas as páginas e no campo previsto
para o seu nome, que é impresso em duas vias, sendo que uma via ficará em posse do
pesquisador responsável e a outra via com você.
Consentimento de Participação
Assinatura: __________________________________________________________
Outros pesquisadores:
Nome: ELERIZA MELQUIADES RIBEIRO
E-mail para contato: elerizaribeiro@gmail.com
Assinatura do (a) aluno (a) pesquisador (a): _______________________________
124
CARTA DE ANUÊNCIA
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Secretaria de Educação, Cultura e Esporte
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Nome/assinatura e carimbo do responsável onde a pesquisa será realizada