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O Problema Da Existência de Deus

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O problema da exisTência de deus

Luana Duarte, Marta Carvalho, Matilde Corricas, Samuel Duarte

2023/2024
ESCOLA SECUNDÁRIA SÃO JOÃO DA TALHA
No vasto campo da filosofia, um dos problemas mais persistentes é o da
existência ou inexistência de Deus, um ser eterno, omnipotente,
omnipresente e sumamente bom. Esta questão transcende fronteiras
culturais e temporais, estando presente nos debates intelectuais desde os
primórdios da filosofia.
No âmbito da reflexão filosófica, a oposição entre o ateísmo e o teísmo
emerge como um dos problemas mais cruciais e complexos. Este problema
filosófico está profundamente enraizado na natureza humana e na busca
por compreensão e significado na vida. A filosofia desempenha um papel
crucial ao fornecer o contexto e as ferramentas conceituais necessárias
para abordar questões metafísicas tão complexas.
Neste contexto, torna-se imperativo definir conceitos-chave, de modo a
estabelecer uma base sólida para análise. Ao discutir a existência de Deus,
é inevitável considerar a natureza da fé, que transcende as fronteiras das
religiões teístas e permeia a experiência humana nas suas várias formas.
Quando se fala sobre a fé, associa-se instintivamente este conceito à
religião, uma vez que, por exemplo, o cristianismo, é uma religião que
acredita em Deus e na sua doutrina, mesmo não tendo provas concretas da
existência do mesmo. Assim, a fé é um profundo sentido de crença absoluta
em algo ou alguém, mesmo na ausência de evidências objetivas que o
confirmem, sendo subjetiva e podendo sofrer alterações ao longo da vida.
No entanto, a fé não está restringida à religião. São praticados, diariamente,
atos de fé, uma vez que todos os indivíduos racionais têm crenças,
essenciais à sua existência, e estas nem sempre podem ser comprovadas
através de evidências concretas. Um exemplo de ato de fé que ocorre no
quotidiano é a confiança que se deposita nas tecnologias. Por exemplo, ao
usar um telemóvel, uma pessoa confia na sua funcionalidade e na precisão
das informações que lhe fornece. Mesmo que não compreenda
completamente todos os processos técnicos envolvidos, confia nos
fabricantes e desenvolvedores do dispositivo. Esta confiança é um ato de fé
no funcionamento adequado da tecnologia, mesmo sem acesso a evidências
concretas em cada momento, que comprovam que tudo está a funcionar
conforme esperado.
Adicionalmente, existe a fé moderada, em que os indivíduos acreditam em
algo, sendo capazes de não basear toda a sua vida, ou até mesmo a sua
existência, nessa mesma crença. Conseguem, deste modo, viver e lidar com

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outras pessoas que tenham outros ideais, uma outra fé, não impondo a sua.
Existem, no entanto, certos indivíduos cuja fé é “cega”. A sua vida resume-
se à sua fé, recusando, ocasionalmente, perspetivas diferentes das suas.
Assim, quando se fala de fé moderada e fé cega na religião, fala-se nos
graus da religião.
A religião não é uma entidade monolítica, mas sim uma questão
profundamente pessoal, moldada por experiências individuais e
interpretações subjetivas. Cada pessoa pode abordar a fé e a religião de
maneira única, resultando numa diversidade de perspetivas e graus de
intensidade na crença. Conceitos relevantes para esta discussão são o
teísmo, ou seja, a crença na existência pessoal de um Deus transcendente,
uma entidade suprema, e por outro lado, o ateísmo, que nega a existência
de tal entidade. O agnosticismo, por sua vez, defende que o conhecimento
da existência de Deus é inacessível ao conhecimento humano, remetendo à
suspensão do juízo.
Ao longo deste ensaio, serão exploradas diversas perspetivas filosóficas
quanto à existência de Deus, e será apresentada uma reflexão sobre a
viabilidade de adotar uma posição agnóstica perante este enigma
metafísico, considerando os argumentos apresentados e a complexidade
inerente a esta questão.
Existem certos argumentos que visam provar a existência de Deus, através
da racionalidade, como o argumento ontológico proposto pelo filósofo
Anselmo de Canterbury, que recorre ao conhecimento a priori. Nesta
perspetiva, Deus é definido como o ser "do qual nada maior pode ser
concebido". Uma vez que a existência é considerada uma qualidade “maior”
que a não-existência, Deus deve existir, pois a sua não-existência implicaria
uma contradição na sua própria definição. No entanto, esta visão enfrenta
diversas críticas, como a de Gaunilo. Este monge sugeriu que, seguindo a
mesma lógica de Anselmo, seria possível concluir a existência de entidades
e objetos que claramente não existem, como uma "ilha perfeita" (algo do
que o qual nada maior pode ser pensado). No entanto, aceitar tal conclusão
seria absurdo, pois não é possível inferir a existência de algo apenas a partir
da sua conceção mental. Por outro lado, Kant argumentou que a existência
não é uma propriedade que pode ser adicionada a algo como uma
característica adicional. Em vez disso, a existência é uma condição para que
algo seja considerado real. Portanto, mesmo que se possa conceber a ideia

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de um ser perfeito, como Deus, isso não implica necessariamente a sua
existência.
Em contraste, Descartes formula o argumento da marca impressa onde
argumenta que a ideia de perfeição, inerente à noção de Deus, não pode ter
sido criada por seres finitos e limitados como os humanos. Logo, a origem
dessa ideia só pode ser atribuída a um ser perfeito, ou seja, Deus. Deus, na
sua infinita perfeição, plantou essa ideia nas mentes humanas como uma
marca da sua própria existência. É possível objetar este argumento com o
facto da ideia de perfeição não necessariamente implicar uma origem
divina. Pode-se questionar se a conceção de perfeição é verdadeiramente
universal e objetiva, ou se é moldada pelas experiências e entendimentos
individuais e culturais de cada pessoa. A ideia de perfeição também pode
surgir da observação e reflexão sobre o mundo, e as suas formas mais
harmoniosas e completas, sem qualquer necessidade da intervenção de
uma entidade divina. Assim, estes argumentos permanecem sujeitos a
críticas, relativas à sua validade como provas conclusivas da existência de
Deus.
Outro possível argumento que apoia a existência de Deus é o apresentado
por Tomás de Aquino, o argumento cosmológico, que se baseia no
conhecimento a posteriori e se fundamenta na noção de causa. Segundo
este argumento, existe uma sequência causal que remete a uma primeira
causa, uma causa incausável, o ponto de origem de todas as causas
subsequentes. Essa primeira causa, segundo Aquino, é Deus, o Ser Perfeito,
a causa de tudo o que começou a existir. No entanto, é questionável a
própria aplicação da causalidade ao universo como um todo, especialmente
no contexto do Big Bang, onde as leis da física podem comportar-se de
maneiras incomuns, desacreditando assim, a noção de "começar a existir",
quando aplicada ao universo. Além disso, ao afirmar que tudo o que começa
a existir tem uma causa, este argumento é criticado por apresentar a falácia
do falso dilema, pois assume que a causalidade se aplica universalmente,
sem considerar a possibilidade de eventos ou entidades que começam a
existir sem causa.
Assim, devido à incapacidade de provar a existência de Deus através da
razão, certos filósofos recorreram à fé para justificar a crença em Deus,
como Blaise Pascal. O seu argumento central sugere que a escolha mais
sensata é apostar na existência de Deus. Para Pascal, esta crença traz

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recompensas infinitas (vida eterna), enquanto os riscos são finitos (perda de
prazeres mundanos e tempo em rituais religiosos), argumentando que
escolher não acreditar em Deus é irracional, pois implica perdas
significativas, incluindo a possibilidade de punição eterna. Assim os seres
humanos devem acreditar em Deus, mesmo sem provas, já que maximiza
os ganhos e reduz as perdas. Por outro lado, é possível contra-argumentar
ao referir que a verdadeira fé não pode ser reduzida a uma escolha
voluntária. É deste modo enfatizada a importância da sinceridade e da
honestidade intelectual na formação de crenças, sugerindo que a fé genuína
surge de uma convicção interior profunda, não sendo imposta por pressões
sociais ou racionais. As crenças são influenciadas por uma variedade de
fatores, incluindo experiências pessoais, emoções e processos mentais
subconscientes, e não é possível simplesmente escolher acreditar em algo
contra a própria convicção interna.
O Homem recorre, muitas vezes, a Deus como último recurso perante
eventos desconcertantes e inexplicáveis na vida. Experiências como a de
Teresa Callegari, vítima de uma doença crônica, que milagrosamente
recuperou após orar a Dom Bosco, sacerdote católico italiano, exemplificam
este tipo de justificação, perante momentos inexplicáveis. Estes
acontecimentos conduzem muitos teístas a acreditar na existência de um
ser superior que oferece conforto e respostas perante os enigmas da vida,
uma vez que não encontram outra explicação para este tipo de eventos,
muitas vezes chamados de milagres. É natural ao ser Humano procurar
conforto em crenças religiosas perante adversidades, porém, estes
acontecimentos reconhecidos como milagrosos, não constituem provas
racionais da existência de Deus. Cada pessoa é livre de explorar as suas
próprias crenças e encontrar significado de acordo com as suas convicções,
no entanto, a falta de explicações para certos acontecimentos não remete
obrigatoriamente para a intervenção divina, logo, este não é um argumento
sólido a favor da existência de Deus.
Existem, por outro lado, argumentos que pretendem provar a inexistência
de Deus, como o argumento do mal, que apresenta um desafio significativo
às crenças religiosas teístas. Segundo este argumento, os seres humanos
vivem num mundo em que o sofrimento é constante, em que o mal existe.
Os seres vivos sofrem por ação de processos naturais, ou em consequência
de decisões e ações humanas. Como é que é suposto acreditar que o mundo

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foi criado e é controlado por um ser bom, omnipotente e omnisciente? Se
assim fosse, o mal não existiria. Um ser bom, com poderes ilimitados não
criaria um mundo onde o mal existe, mas sim, um mundo perfeito. A
formulação mais conhecida deste problema pertence a David Hume: “Quer
Ele (Deus) impedir o mal, mas não é capaz de fazê-lo? Então Ele é
impotente. Pode Ele fazê-lo, mas não o deseja? Então Ele é malévolo. Não é
Ele tanto poderoso como o deseja fazê-lo? De onde, pois, procede o mal?”
Assim, o problema do mal questiona como um Deus sumamente bom
permitiria a existência do mal e do sofrimento, colocando em dúvida a sua
existência. Uma possível objeção a este argumento é o facto de Deus ter,
supostamente, concedido livre arbítrio aos seres humanos, permitindo-lhes
escolher entre o bem e o mal. A falha em seguir a orientação divina, é
responsabilidade do ser humano e não de Deus. Para Deus evitar o mal,
seria necessário um controle total sobre os seres humanos, privando-os de
livre arbítrio. No entanto, é preferível viver num mundo onde o mal existe,
mas onde se mantém a liberdade de escolha, do que em um mundo perfeito
sem essa liberdade. Assim, a responsabilidade recai sobre os seres
humanos, que muitas vezes escolhem seguir caminhos contrários à
orientação divina.
Após a análise de diversos argumentos filosóficos sobre a existência de
Deus, é evidente que a questão permanece complexa e sujeita a diversas
interpretações. No entanto, devido à falta de evidências conclusivas e às
limitações do conhecimento humano, o mais razoável é adotar uma posição
agnóstica perante este problema, uma vez que se reconhece a
impossibilidade de afirmar com certeza a existência ou inexistência de
Deus. Caso este ser realmente exista, está além do alcance do
conhecimento humano, num plano metafísico inacessível às capacidades
cognitivas e sensoriais humanas. Assim, o agnosticismo caracteriza-se pela
suspensão do juízo, reconhecendo as limitações da razão e da experiência
humana perante questões metafísicas. Tendo em conta a diversidade de
crenças religiosas, interpretações filosóficas e experiências individuais, uma
postura agnóstica oferece um espaço para a reflexão aberta e o respeito
pela diversidade de perspetivas. Conclui-se, deste modo, que nunca se
obterá uma resposta definitiva ao problema da existência de Deus, logo, o
mais sensato é adotar uma perspetiva agnóstica perante o mesmo.

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Bibliografia
- Ponto de Fuga 11º Ano. Areal, 2023.
- Lino, José Brissos. “David Hume e Epicuro: sobre o Mal.” Salmo Presente, 4 Maio
2015, https://salmopresente.wordpress.com/2015/05/04/david-hume-e-
epicuro-sobre-o-mal/. Visitado em 2 maio 2024.
- Porto Editora. “secularismo.” Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa,
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/secularismo. Visitado
em 17 abril 2024.
- Sousa, Rosa. “Deus existe?” Lola e a Filosofia, 13 abril 2020,
https://lolaeafilosofia.blogspot.com/search/label/Deus%20existe%3F.
Visitado em 5 abril 2024.
- Wikipédia. “Dom Bosco.” Wikipédia, https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Dom_Bosco.
Visitado em 16 abril 2024.

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