Tempo e História No Plano de Avenidas
Tempo e História No Plano de Avenidas
Tempo e História No Plano de Avenidas
Como nos filmes de ficção científica, muitos acreditaram que no que seria
então o futuro, por volta do ano 2001, as cidades seriam totalmente diferentes.
Os cenários da ficção científica eram referências para as imagens de uma época
onde os espaços urbanos substituiriam suas históricas contradições por uma
eficiente felicidade idealizada e sonhada, tendo em vista o alcance imaginado da
tecnologia.
Existem em nossa imaginação viagens através dos filmes e da literatura
ficcional, onde veículos aéreos cruzam os céus urbanos como bolhas de vidro e
luz com pessoas transportadas neles e transitando em passarelas e túneis
suspensos. As construções seriam como máquinas eficientes e funcionais, que a
partir das suas mega-estruturas consagrariam a técnica e afastariam a
possibilidade de uma natureza indomável. Esse caminho nos conduz ao mundo
dos sonhos e das utopias como também nos aproximam das teorias urbanísticas,
que desde o início do século, se colocavam no desafio de pensar o futuro das
cidades. Todavia, hoje deparamos com uma gama de propostas de intervenção
urbana, em que as palavras requalificação, reabilitação, revitalização,
recuperação – e sem dúvida muitos outros “res” – se colocam na tentativa de
reconstruir o que as práticas urbanísticas dos dois últimos séculos, em nome do
progresso e da modernização foram capazes de destruir. Contudo, não se trata
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
2
Como todo urbanista, Prestes Maia não apenas projetou um espaço, mas
também um tempo. Em cada capítulo de sua obra a história gravita como
elemento fundante da disciplina urbanismo. Através dela se articulam os campos
conceituais que tratam a cidade, ora como um ser vivo, ora como uma máquina.
Além disto, a história é a fonte reprodutora capaz de permitir ao autor
apresentar todas as suas facetas de poeta, artista, técnico e político. Ao se
referir à cidade como um ser orgânico, o urbanista se coloca concomitantemente
como um médico na tentativa de elaborar um diagnóstico, para o chamado mal
urbano. Em sua opinião, o congestionamento, a aglomeração, as habitações
insalubres, a inexistência de obras sanitárias, de iluminação, de água e a falta de
esgotos são elementos incompatíveis com o desenvolvimento da cidade. Ainda
no seu entender esse mal é universal e dele sofrem as grandes cidades. O
urbanista, assim como o médico, deverá servir-se da técnica para afastar e
prevenir os males causados pela crise do crescimento desordenado.
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
3
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
4
do imigrante e, por fim, a chegada das fábricas inaugurando uma nova era – a
do industrialismo impulsionador de cidades.
O olhar do urbanista para o passado colonial é marcado pela euforia do
presente, diante da aparente chegada do progresso. Este fenômeno, que
segundo as interpretações históricas de Pierre Monbeig, Jaime Cortesão e Aroldo
de Azevedo foi provocado pela energia da raça (bandeirantes e imigrantes), se
coloca naquele momento como responsável pelas transformações urbanas.1 A
partir daí as imagens ganham movimento e com a ajuda do texto procuram
problematizar o presente. A cidade, no começo do século, apresenta um cenário
bem diferente do anterior, ruas pavimentadas, casas e edifícios construídos em
diferentes estilos arquitetônicos procuram demarcar o poderio econômico de seus
habitantes. O teatro Municipal, o prédio Martinelli, a igreja de São Bento, a
Estação da Luz, o Museu Paulista, Palácio das Indústrias. Todas essas
construções, na perspectiva do autor, são valiosas enquanto forma e função,
entretanto, se perdem no meio da desordem causada pelo crescimento urbano.
Os exemplos estão nas fotos de uma garagem ao ar livre na Praça da Sé repleta
de veículos que impossibilitam a circulação em uma área comercial; outras
mostram a concentração excessiva de edifícios ou a ausência de áreas verdes,
como o flagrante das Ladeiras do Ouvidor e São Francisco e da rua 15 de
Novembro.
As fotos da inundação dos rios Tietê e Pinheiros, atingindo os Bairros de
Bom Retiro e Pinheiros, no ano de 1929, procuram demonstrar o transtorno e o
desperdício das áreas ribeirinhas. Enquanto as muralhas para as cidades
européias significavam obstáculos para o seu crescimento, o dois rios foram os
acidentes geográficos que a natureza ofereceu à cidade de São Paulo. Em cada
página o autor recorre à história para justificar a eliminação dos vestígios do
passado colonial; por outro lado constrói um presente problemático na tentativa
de se desprender da história e buscar no itinerário de um sonho – as projeções
de um novo tempo. Este é o ponto crucial de nossas explorações do Plano de
Avenidas, pois é o instante da criação, em que o autor se vê diante da integração
da razão com a paixão. Instante que se manifesta no discurso de outros
urbanistas, dentre eles, o mestre Le Corbusier.
1
Azevedo, 1958, Mobeig, 1958, Cortesão, 1958.
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
5
Neste sentido, cada um poderá dizer o que é o belo ou o que é a arte sem
se prender aos conceitos gerais e universais como ocorre com a ciência. Segundo
ele, muitos artistas, adotando pontos de partida imprecisos ou precipitados, e
querendo depois trabalhar filosoficamente, acabam por praticar as maiores
heresias. Além do mais, importa para ele ressaltar que o objetivo central da arte
é transmitir o sentimento e ao mesmo tempo possibilitar o traço de união entre
as criaturas, “(...) é o veículo mais eficiente e amável de idéias e mensagens
humanas.” (MAIA, 1955:67)
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
6
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
7
2
Consulta realizada na obras de Sumerson, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura, São
Paulo, Martins Fontes, 1994.p.49
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
8
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
9
3
O jornal A Gazeta, 25-08-1954, apresenta uma propaganda com os seguintes dizeres: “ Na
prefeitura sob a sua administração Prestes Maia fez de São Paulo antiquado a cidade mais bela da
America do sul. Prestes Maia transformou a paulicéia ao fazer isto: No Centro: as avenidas
Ipiranga e Anhangabaú; as reformas da praça da República, das ruas São Luiz, Maria Paulo e
Anita Garibaldi, do Parque Pedro II e da ladeira do Carmo; os melhoramentos das ruas Senador
Queiroz, Mercúrio, Santa Rosa, Vieira de Carvalho, Xavier de Toledo e da Liberdade; a
remodelação do Piques e do parque Anhangabaú; a abertura da praça do Carmo; a ampliação das
praças João Mendes e Clovis Bevilaqua; a modernização das praças Ramos de Azevedo do
Patriarca e do Arouche. Nos Bairros: a Av. Nove de Julho; a canalização do Tietê; abertura e
construção das praças Cornélia, na Agua Branca, Guianas, no Jardim America, Fernando Prestes,
na Luz, Rudge, no Tatuapé, General Polidoro, na Aclimação, Nossa Senhora da Aparecida, em
Indianopolis, Nossa Senhora da Conceição, no Cambuci, e Anajás, no fim da avenida Brigadeiro
Luiz Antonio; o bosque publico, junto ao Museu do Ipiranga; o prolongamento das avenidas
Paulista, Pacaembú, Rebouças, Rangel Pestana e Anhangabaú, (inferior); os jardins do Trianon e
da alameda Jaú; a conclusão e alrgamento da avenida São João; a avenida do Café, ligando a
avenida Jaguaré, entre a Lapa e a estrada de Osasco. Etc., etc., etc.
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
10
Referências Bibliográficas
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP
11
URBANA, ano 2, nº 2, 2007, Dossiê: Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade.
CIEC/UNICAMP