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A Escravidão Na África

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A escravidão na África: de marginalidade à institucionalidade – Profa Leny R.

Zanon

Importante fenômeno da história, a escravidão esteve presente em muitos lugares, da


antiguidade clássica a épocas recentes. A África esteve intimamente ligada a essa história, tanto como
fonte principal de escravos para as antigas civilizações, o mundo islâmico, a Índia e as Américas, quanto
como umas das principais regiões onde essa prática era comum até o ponto de ser fundamental para a
economia e política africana.

A escravidão quase sempre tinha início por meio de violência, que reduzia a posição de uma
pessoa de uma condição de liberdade para uma condição de escravo. E o tipo mais comum de violência
era a guerra, na qual os prisioneiros eram escravizados. Mas a escravização poderia ser fruto de
punições judiciais e dependendo do crime, os criminosos eram vendidos para fora das suas
comunidades.

Os escravos podiam representar uma pequena porcentagem ou uma parcela substancial de uma
população. E mesmo quando escravos cumpriam funções sociais, mas não estavam empenhados na
atividade produtiva, a estrutura da economia tinha que se basear em outras formas de trabalho, e assim
a sociedade não estava baseada na escravidão. A escravidão tornou-se importante quando os escravos
foram utilizados extensivamente na produção ou no monopólio do poder político, tornando-se
essenciais na economia. Na África, a escravidão passou por tal transformação em épocas diferentes e
em diferentes proporções, na savana setentrional, nas regiões centro-ocidentais de Angola e na bacia
do Zaire. E a transformação da escravidão de característica marginal da sociedade para uma instituição
fundamental produtiva resultou na consolidação de um modo de produção baseado na escravidão.

Três situações históricas estão relacionadas a esse processo:

a) A interação entre a África e a demanda por escravos no mundo Islâmico do norte da África e do
Oriente Médio.
b) A conexão entre a África e as Américas, onde os escravos eram essenciais para a produção
agrícola e o setor da mineração.
c) A utilização dos escravos na África, especialmente no século XIX, após o colapso do mercado
exterior.

O Ambiente africano

A África negra estava relativamente isolada na Antiguidade e na época medieval. Antes da


metade do século XV, praticamente o único contato se dava pela costa leste africana, através do mar
Vermelho e pelo deserto do Saara. As regiões juntas a essas fronteiras eram diferentes das regiões mais
isoladas do interior. E uma das características do desenvolvimento regional era uma estrutura social
baseada na etnia e no parentesco. A escravidão era um dos muitos tipos de relações de dependência, e
era um meio eficaz de controlar as pessoas em situações em que o parentesco continuava
predominante. Os escravos não tinham ligações com a rede de parentesco e tinham apenas aqueles
direitos que eram concedidos por tolerância. Em todas as sociedades, um homem podia ter o controle
de muitas mulheres, incluindo escravas, penhoradas ou livres. Casar-se com uma mulher livre requeria
pagamentos à sua família, mas ao se casar com uma escrava, o custo era apenas o inicial, de sua
aquisição. Essa prática permitia a assimilação e não a segregação. As mulheres escravas tornavam-se
parte da família e ela e seus filhos raramente eram vendidos. E os tomados como escravos ainda criança
também eram raramente vendidos e tratados como membros da família.
O fator islâmico

Nos séculos VIII, IX e X, o mundo islâmico tinha se tornado o herdeiro de uma longa tradição de
escravidão, continuando o padrão de incorporar escravos negros da África às sociedades ao norte do
Saara e ao longo das costas do oceano Índico. Os Estados muçulmanos desse período interpretavam a
antiga tradição escravista de acordo com a sua nova religião, mas muitos dos usos dados aos escravos
eram os mesmos de anteriormente – eles eram utilizados nos serviços militares, administrativos e
domésticos. É importante salientar que durante mais de setecentos anos antes de 1450, o mundo
islâmico era praticamente o único eixo de influência externa na economia política da África.
Inicialmente os escravos eram prisioneiros capturados nas guerras santas que expandiram o Islã
da Arábia pelo norte da África e através da região do golfo Pérsico. A escravidão era justificada na
religião, e aqueles que não eram muçulmanos eram legalmente passíveis da escravização. Assim, as
províncias islâmicas centrais constituíram o mercado para os escravos; o abastecimento vinha das
regiões de fronteira. Os cativos não eram necessariamente negros, embora estes constituíssem uma
proporção significativa. Eles vinham também da Europa Ocidental e das estepes do sul da Rússia e a
escravidão era concebida como uma espécie de aprendizagem religiosa para os pagãos.
Como a África Subsaariana inicialmente estava além das terras islâmicas, os muçulmanos e
outros comerciantes procuravam por escravos na África. Guerras locais, criminosos condenados,
sequestros e provavelmente dívidas eram fontes de escravos para os comerciantes visitantes, que
reuniam os cativos em pequenos grupos para transporte através do Mar Vermelho e subindo a costa
oriental africana, ou se reuniam para formar caravanas para a marcha através do Saara. As funções dos
escravos eram diferentes, podendo ser utilizados no governo, no exército e em outras áreas
administrativas ou comerciais. Escravas que eram concubinas se emancipavam quando da morte de seu
senhor e não podiam ser vendidas uma vez que tivessem filhos.

Comércio transatlântico

O crescimento e a expansão do tráfico europeu de escravos através do oceano Atlântico tiveram


um impacto decisivo na evolução da escravidão na África, principalmente naquelas regiões da costa da
Guiné onde a influência islâmica tinha sido fraca ou inexistente.

Exportações de escravos da África: o comercio Atlântico


PERÍODO NÚMERO DE ESCRAVOS PORCENTAGEM
COMPUTADOS
1450 - 1600 409.000 3,6
1601 - 1700 1.348.000 11,9
1701 - 1800 6.090.000 53,8
1801 - 1900 3.466.000 30,6
TOTAL 11.313.000 100,0

A abertura do atlântico ao comércio marcou uma ruptura radical na história da África,


especialmente porque este comércio também envolvia a exportação de milhões de escravos.
Introduziu-se uma nova força que modificou a escravidão de maneira diferente das mudanças que
tinham acontecido até então. A escravidão sofreu assim uma transformação, de característica marginal
da sociedade para uma importante instituição, mesmo mantendo em alguns lugares a “escravidão de
linhagem”.

LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Editora


Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2002. Texto adaptado

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