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Aop Polimerosao1257

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http://dx.doi.org/10.4322/polimeros.2014.

047

Desenvolvimento e Caracterização de Compósitos


ARTIGO

Poliméricos à Base de Poli(Ácido Lático) e Fibras Naturais


Alessandra Luiza de Lemos
Artecola Indústrias Químicas Ltda., Campo Bom, RS
Ricardo Martins de Martins
Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS

Resumo: O presente trabalho busca avaliar o comportamento de compósitos que contêm em sua formulação um
biopolímero originário de indústrias da agricultura sustentável. O biopolímero selecionado, poli(ácido lático), (PLA) e
um polímero termoplástico (poliuretano), (TPU), foram misturados a fibras naturais (madeira e coco). Em um primeiro
momento, foram preparadas formulações contendo 10, 20 e 30% em massa de fibra vegetal em relação à blenda de
PLA-TPU (na proporção de 70/30% em massa). Em um segundo momento, manteve-se a mesma proporção em massa
de fibra vegetal em relação à blenda de PLA-TPU, porém foram adicionados 5% em massa de anidrido maleico. Na
TÉCNICO

sequência, as formulações foram avaliadas através de caracterizações físico-mecânicas, térmicas e microscópica. De


um modo geral, as análises mostraram evidências bastante conclusivas sobre a baixa adesão interfacial entre a blenda
polimérica e as fibras vegetais. Deve-se salientar a fraca atuação do anidrido maleico como agente de acoplamento, haja
vista que as formulações que o continham não apresentaram melhoras em suas propriedades. Portanto, os resultados
indicam que os biocompósitos formulados possam atender à necessidade de nichos específicos de mercados populares,
como o de decoração, os quais não demandam alto desempenho de seus produtos, viabilizando o uso de fibras vegetais
devido à redução de custo do compósito final.
Palavras-chave: Biopolímero, poli(ácido lático), compósitos poliméricos, fibras vegetais.

Development and Characterization of Polymeric Composites


Based on Poly (Lactic Acid) and Natural Fibers
Abstract: This work evaluates the behavior of composites containing a biopolymer derived from sustainable agriculture
industries. The biopolymer selected, poly(lactic acid) – PLA –, in combination with a thermoplastic polymer
(polyurethane) – TPU – was mixed with natural fibers, wood and coconut. In a first step, formulations containing 10, 20
and 30% by weight of fiber in relation to the blend of PLA-TPU (in the ratio 70/30 wt%) were prepared. In the second
step, the same set of formulations was maintained but with addition of 5 wt% of the coupling agent maleic anhydride.
These composites were characterized by means of physical-mechanical, thermal and microscopic techniques. The
results indicated a low interfacial bonding between the polymeric blend and the vegetal fibers. It is important to
CIENTÍFICO

emphasize the poor performance of the coupling agent, because the formulations containing maleic anhydride did not
show any improvement in their properties in comparison to the standard material. Therefore, the biocomposites studied
in this paper can be used when high-performance materials are not required, as in home decoration articles, making it
feasible to use vegetal fibers in order to reduce the cost of the final composite.
Keywords: Biopolymer, poly(lactic acid), polymeric composites, vegetal fibers.

Introdução
Muito tem sido discutido sobre as principais literatura[1-5]. Dentro deste contexto e como alternativa
políticas de gestão de resíduos de materiais utilizados aos polímeros convencionais, os biocompósitos têm
na indústria em geral, porém, a maior reflexão atual é alcançado posições de destaque.
sobre o desenvolvimento sustentável. A necessidade Intensas pesquisas estão sendo realizadas para
de viabilizar a continuidade do desenvolvimento, o desenvolvimento desta nova classe de compósitos
racionalizar o consumo, optar por soluções e produtos verdes (biocompósitos), combinando fibras naturais
sustentáveis em todo o seu ciclo de vida e buscar o com polímeros biodegradáveis[1,5]. O maior destaque
equilíbrio entre o homem e a natureza passaram a ser destes biocompósitos é o caráter ecologicamente
considerações fundamentais no desenvolvimento de correto, totalmente degradáveis e sustentáveis. No final
produtos. Diversos materiais têm sido pesquisados em de seu ciclo de vida, podem ser descartados ou sofrerem
busca de soluções ambientalmente favoráveis, como compostagem sem prejudicar o ambiente[6]. Deve-se, no
podem ser apreciados em alguns trabalhos dispostos na entanto, salientar que os compósitos estudados neste

Autor para correspondência: Ricardo Martins de Martins, Universidade Feevale, Rod. RS 239, 2755, CEP 93352-000,
Novo Hamburgo, RS, Brasil, e-mail: ricardomartins@feevale.br

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trabalho não são totalmente biodegradáveis, haja vista na obtenção de uma morfologia da blenda polimérica
que apresentam em sua formulação um polímero que não relativamente estável, que permita uma melhoria das
é caracterizado por sua biodegradabilidade, o poliuetano. propriedades da blenda através de fixação mecânica de
Um grande número desses polímeros biodegradáveis uma fase na outra. Por sua vez, a compatibilização física
está disponível comercialmente[7]. Tais compostos é alcançada, geralmente, através do uso de copolímeros,
mostram uma grande variedade de propriedades, podendo cuja ação baseia-se na dissolução destes entre as fases da
competir com os polímeros não-biodegradáveis em blenda. Por último, tem-se o método químico, no qual a
diferentes campos industriais (por exemplo, embalagens). compatibilização ocorre através de reações químicas que
Os biocompósitos têm sido utilizados de forma eficaz em propiciem a formação de ligações químicas covalentes
muitas aplicações como produtos de consumo com ciclos entre as fases da blenda.
de vida curtos ou produtos destinados a pouco tempo de Assim, este trabalho visa estudar e avaliar o
uso antes do descarte apropriado[6,8]. comportamento dinâmico-mecânico, térmico e
A utilização de reforço em materiais compósitos microscópico de compósitos que contêm em sua
está se tornando cada vez mais comum no mercado, formulação o poli(ácido lático) (PLA), um bioplímero
pois originam materiais com propriedades melhores e oriundo de indústrias que produzem e comercializam
adequadas a uma determinada aplicação[9]. O emprego produtos sustentáveis para os setores agrícolas e
de fibras vegetais, além de ajudar na fragmentação dos industriais[22], assim como um poliuretano termoplástico
compostos poliméricos descartados, reduz a quantidade (TPU), largamente empregado como elastômero de
de material polimérico utilizado na fabricação dos alto desempenho em uma variedade de aplicações,[23]
mesmos[5]. e a associação destes polímeros com fibras naturais de
O horizonte de utilização das fibras naturais é madeira e coco. Adicionalmente, utilizou-se anidrido
bastante amplo, abran­gendo desde as aplicações clássicas maleico em algumas formulações como agente
na indústria têxtil até o reforço de matrizes poliméricas compatibilizante, em razão de seu relativo baixo custo
termoplásticas e termofixas. As fibras vegetais são menos comercial.
abrasivas que as fibras inorgânicas usualmente utilizadas
como reforço (por exemplo, fibra de vidro) e assim geram Experimental
menor desgaste dos equipamentos envolvidos em seu
processamento[10,11]. Materiais empregados e identificação dos compósitos
Tanto a pesquisa acadêmica quanto as indústrias Foram utilizados dois polímeros termoplásticos, dois
exploram novas formas de desenvolver produtos químicos tipos de fibras vegetais e um agente compatibilizante
mais ecologicamente corretos para uma variedade de cujas características encontram-se a seguir:
aplicações. As fibras naturais oferecem a possibilidade • Poli(ácido lático) (PLA) (2002D): contém 4%
de entregar maior valor agregado ao produto final D-lactídeo, 96% L-lactídeo; MW: 121.400 g/mol;
em razão da diminuição de custos de sua fabricação, MFI: 5-7 g/10 min (210oC-2,16 kg); densidade: 1,24;
sustentabilidade e renovação, especialmente na indústria forma física: grão; Tg: 60oC, fornecido pela empresa
automotiva, além de apresentarem um impacto ambiental Natureworks™;
reduzido durante o processamento[12]. Resíduos agrícolas, • Poliuretano termoplástico (TPU) (contendo
como palhas de trigo e de arroz, bagaço e talos de milho aproximadamente 60% de fonte renovável): MFI: 3-5
também são fontes de origem vegetal, embora as suas g/10 min (210oC-2,16 kg); densidade: 1,13; forma
fibras tenham menor teor de celulose em comparação à física: grão; Tg: - 48oC, fornecido pela empresa
madeira[13]. Merquinsa;
Na seleção de fibras para reforço em compósitos, • Anidrido maleico (com teor mínimo de 99,5% em
é imprescindível a consideração de vários fatores massa): densidade: 1,47; forma física: pó; obtido da
como: custo e disponibilidade, efeito sobre as empresa Elekeiroz;
características de fluidez do polímero, propriedades • Fibra de Madeira (Pinus): granulometria (em µm):
físicas, estabilidade térmica, resistência química, 500 (1,00%); 355 (34,00%); 250 (37,00%); 177
abrasividade ou desgaste, biodegradabilidade, toxicidade, (20,00%); 90 (6,50%); 45 (1,50%); fundo (0,00%);
reciclabilidade, molhabilidade e compatibilidade com umidade: 7%; fornecida pela empresa Inbrasfama;
a matriz polimérica[14-16]. Deve-se considerar, também, • Fibra de Coco: granulometria (em µm): 500
a possibilidade de ocorrência de incompatibilidade (39,50%); 355 (44,00%); 250 (13,50%); 177
entre a matriz polimérica e a fibra, haja vista que a (2,40%); 90 (0,60%); 45 (00,00%); fundo (0,00%);
interação interfacial é, em muitos casos, muito fraca[17,18]. umidade: 12%; fornecida pela empresa Inbrasfama.
Nesse caso, faz-se uso de um terceiro componente no As amostras foram preparadas, em uma primeira
compósito, diminuindo a tensão interfacial e aumentando etapa, com 10, 20 e 30% em massa de fibra vegetal em
a adesão entre as fases da blenda polimérica: o agente relação à blenda de PLA-TPU (na proporção de 70/30%
compatibilizante. Há vários compostos que apresentam em massa). Na segunda etapa, manteve-se a relação
essa função, tais como copolímeros[19], metacrilato de de 10, 20 e 30% em massa de fibra vegetal em relação
glicidila[20], anidrido maleico,[21] entre outros[19-21]. No à blenda de PLA-TPU (na proporção de 70/30% em
que tange aos métodos de compatibilização de blendas massa), porém adicionaram-se 5% em massa do agente
poliméricas, os mesmos podem ser classificados como de acoplamento – anidrido maleico.
mecânicos, físicos e químicos. O primeiro consiste Na Tabela 1, encontram-se os percentuais da blenda,
fibra vegetal e anidrido maleico, em massa, para cada

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Tabela 1. Formulações avaliadas com fibras de madeira (FM_ _ _ _) ou de coco (FC_ _ _ _).
Formulações (%) Padrão _ _10SA _ _10CA _ _20SA _ _20CA _ _30SA _ _30CA
PLA 70,0 63,0 60,5 56,0 53,5 49,0 46,5
TPU 30,0 27,0 24,5 24,0 21,5 21,0 18,5
Fibra Madeira (FM) - 10,0 10,0 20,0 20,0 30,0 30,0
Fibra Coco (FC) - 10,0 10,0 20,0 20,0 30,0 30,0
Anidrido Maleico - - 5,0 - 5,0 - 5,0

amostra de 500 gramas, sendo: FM – fibra de madeira; sido executado em um equipamento HDT/VICAT Júnior
FC – fibra de coco; SA – sem anidrido maleico; CA – com modelo Ceast. Os corpos de prova foram cortados em
anidrido maleico; 10/20/30 – os números representam a formatos retangulares de 5 x ½ polegada. Aguardou-se a
porcentagem em massa de fibra. Deve-se salientar que as estabilização da temperatura em aproximadamente 38°C
formulações não apresentam mistura das duas fibras. (temperatura programada). Após esta etapa, iniciou-se a
análise através da leitura da temperatura de amolecimento
Processamento no display digital.
As formulações foram preparadas a partir da medida Ensaio de caracterização térmica por calorimetria exploratória
particular de seus componentes com posterior mistura diferencial (DSC)
e homogeneização manual dos mesmos. Após, as As análises foram realizadas em equipamento da
referidas formulações sofreram o processo de extrusão marca Perkin Elmer, modelo Jade DSC e utilizado
em uma extrusora dupla rosca corrotante de laboratório, software Pyris Series para o tratamento dos dados. A
modelo CDR 22 – LD 40, da empresa Extrusão Brasil. faixa de temperatura da análise está descrita a seguir:
As temperaturas nas diferentes zonas de aquecimento primeiro aquecimento de 25°C a 200°C a uma taxa de
variaram segundo o seguinte perfil: 130‑150°C, 10°C por minuto. Após, um patamar isotérmico de 200°C
130‑150°C, 140-160°C, 150-170°C, 160‑170°C, por um minuto; na sequência, resfriamento de 200°C a
entre as zonas 1 e 5, respectivamente, 170-180°C no 25°C a uma taxa de 10°C/min. Em seguida, novamente
cabeçote e rotação de 30-70 rpm. Após a extrusão, os um patamar isotérmico por 1 minuto, porém a 25°C; novo
compostos obtidos, em formatos de fitas, foram pré- aquecimento até 200°C a uma taxa de 10°C/min. Após,
aquecidos (100°C) em uma prensa quente (Hidraumak) 1 minuto a 200°C, seguido de um segundo resfriamento
por 1 min, em seguida prensados por 30 s, sob pressão até 25°C a uma taxa de 10°C/min, utilizando-se uma
de 50 kgf/cm2. Na sequência, foram resfriados em uma massa de amostra entre 2 a 5 mg.
prensa (Eletrovale) em temperatura ambiente, sob
pressão de 5 kgf/cm2 durante 30 s. Desta forma, após esse Ensaio de microscopia eletrônica de varredura (MEV)
processo, os corpos de prova foram confeccionados para A adesão interfacial fibra/matriz foi avaliada em
as análises. corpos de prova das amostras fraturadas no ensaio
de tração (seção transversal das amostras), através de
Caracterizações medidas por microscopia eletrônica de varredura (MEV,
Jeol, JSM-6360LV), com uma tensão de aceleração
Ensaio de resistência à tração, alongamento e módulo de de 5 kV e deposição de uma fina camada de ouro por
elasticidade 3 minutos através de um metalizador.

O ensaio foi realizado segundo a norma Resultados e Discussão


ISO 527‑4:1997. Foi utilizada uma máquina universal de
ensaios EMIC, modelo DL 500 BF com célula de força Os ensaios de resistência à tração (Figura 1)
de 500 kgf e uma taxa de 5 mm/min. São registradas a demonstraram similaridade em relação a este parâmetro
força e a deformação, de forma que se possam calcular a com o uso de 10 e 20% em massa de fibra, como também
tensão, o alongamento e o módulo de elasticidade. evidenciado por Zhao et al.[24], e um acentuado aumento
quando adicionados 30% em massa de fibra de madeira
Ensaio de resistência à flexão em relação à blenda polimérica padrão (sem adição de
O procedimento foi realizado de acordo com a norma fibra). O mesmo comportamento foi verificado com as
ISO 178:2001. A flexão foi feita em três pontos de apoio. formulações as quais utilizaram o agente de acoplamento.
O ensaio foi realizado flexionando-se o corpo de prova a No que tange às formulações contendo fibra de coco,
uma velocidade constante, e registrava-se a força versus a as mesmas apresentaram desempenho abaixo daquele
flecha de deformação. atribuído à blenda padrão. Em razão da falta de material,
A flexão das amostras foi determinada pela máquina não foi possível avaliar o desempenho da formulação
universal de ensaios EMIC, modelo DL 500BF, com FC30SA referente ao presente ensaio.
célula de carga de 500 kgf e uma taxa de 10 mm/min. A adição de fibras naturais à blenda polimérica
mostrou, através dos resultados de tração, uma
Ensaio de determinação da temperatura de deflexão – HDT diminuição na resistência mecânica dos biocompósitos
O ensaio para determinação da temperatura de deflexão formados, quando comparados à blenda pura. Infere‑se
HDT foi realizado seguindo a norma ISO 75:2004, tendo que a presença das fibras curtas dispersas na matriz

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polimérica pode ter produzido descontinuidades na Por sua vez, observou-se o aumento do módulo
mesma, dificultando a distribuição e transferência do elástico (Figura 3), conforme o aumento do reforço no
esforço aplicado e, assim, reduzindo a tensão máxima compósito (formulação FM30CA). Este comportamento
suportada pelos biocompósitos desenvolvidos. Ademais, pode ser atribuído ao fato de que fibras com maior rigidez
a orientação das fibras também influencia bastante nas que a matriz podem aumentar o módulo de elasticidade,
propriedades dos compósitos, principalmente em fibras embora, geralmente, diminuem o alongamento[10], indo
curtas, a qual a mudança de orientação é impossível ao encontro dos resultados obtidos na Figura 2. Tal
de se prever. A orientação das fibras muda em razão ocorrência foi evidenciada tanto nas formulações com
de vários fatores como propriedades geométricas das fibras de madeira quanto nas formulações com fibras de
mesmas, comportamento viscoelástico do polímero, entre coco.
outros[8,25]. A inclusão de uma fase rígida, tal como fibras
No que concerne ao agente de acoplamento, é de madeira, é capaz de aumentar a rigidez da blenda
perceptível que sua inclusão nas formulações tornou‑as polimérica[8,25-28]. A fibra vegetal é um material
menos resistentes à tração, quando se comparam os lignocelulósico polar hidrofílico, que possui grupos
sistemas com e sem a presença de anidrido maleico. Tais hidroxila (–OH) na superfície enquanto que a matriz
resultados são um reflexo da fraca adesão que o anidrido polimérica poliolefínica é um material hidrocarbônico
proporcionou entre a matriz e as fibras, como poderá ser apolar hidrofóbico; e a adesão entre essas duas partes
visto ao longo deste estudo. é auxiliada pelas formas e teores de lignina presentes
O decréscimo de alongamento de ruptura (Figura 2) nas fibras que pode variar de fibra para fibra e depende
ocorreu de forma gradual, à medida que o percentual em também da época da colheita, forma de secagem e tipo
massa de fibra natural aumentou, tendo drástica redução de tratamento[29]. Nesse ponto, devem ser referenciados
em 30% de fibra em massa para as formulações contendo os relevantes trabalhos de Barreto et al.[15,16,25,30] acerca
fibra de madeira e fibra de coco sem anidrido. do uso de diversas fibras naturais para a síntese de
biocompósitos. Os autores demonstraram, entre outros
pontos, a importância do tratamento superficial no que
tange a modificar as propriedades dos biocompósitos,
justamente pela modificação do teor de lignina nas
fibras através do uso de soluções alcalinas de hidróxido
de sódio junto a hipoclorito de sódio. Com base nos
estudos, concluíram que o tratamento químico superficial
depende de vários fatores, tais como a concentração dos
reagentes, temperatura, etc., e que o referido tratamento
pode afetar de forma decisiva as propriedades térmicas,
mecânicas e de adesão entre a matriz polimérica e as
fibras. Analogamente, as diferenças entre os resultados
encontrados neste trabalho podem estar relacionadas a
diferentes teores de lignina nas fibras, aliado ao fato de a
fibra de coco ser relativamente mais higroscópica do que
a fibra de madeira, resultando em uma adesão mais fraca
entre a fibra vegetal e a matriz.
Assim como no ensaio de resistência à tração
Figura 1. Resultados do ensaio de tração para as formulações (Figura 1), os resultados de flexão (Figura 4) são muito
contendo fibras de madeira e coco na presença ou ausência de
sensíveis à adesão interfacial fibra/matriz, o que não
anidrido maleico.

Figura 2. Resultados do ensaio de alongamento para as Figura 3. Resultados do ensaio do módulo de elasticidade para
formulações contendo fibras de madeira e coco na presença ou as formulações contendo fibras de madeira e coco na presença ou
ausência de anidrido maleico. ausência de anidrido maleico.

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Figura 4. Resultados do ensaio de flexão para as formulações Figura 5. Resultados do ensaio de temperatura de deflexão para
contendo fibras de madeira e coco na presença ou ausência de as formulações contendo fibras de madeira e coco na presença ou
anidrido maleico. ausência de anidrido maleico.

ocorre com o módulo (Figura 3). De fato, a interface taxa constante, realizou-se o ensaio de temperatura de
desempenha um papel crucial na transferência da tensão deflexão (HDT)[32], mostrado na Figura 5.
da matriz à fase fibrosa. O reforço em matrizes poliméricas O ensaio deflexão térmica HDT apresentou valores de
com fibras naturais é muitas vezes atribuído a uma forte temperatura menores do que a blenda pura, à medida que
adesão gerada através de interações de diferentes fases. a porcentagem de fibra foi aumentada, mostrando que as
As diferentes propriedades das superfícies das fibras fibras vegetais ocasionaram sensível aumento na deflexão
(altamente polares) e das matrizes poliméricas apolares térmica dos biocompósitos e uma melhora no desempenho
(hidrofóbicas) exigem uma estratégia adequada para de penetração, em relação à matriz polimérica pura.
melhorar a compatibilidade e adesão interfacial entre as Concomitantemente, os resultados evidenciaram que
mesmas[9,27,31]. não houve um aumento na estabilidade dimensional
No que concerne à resposta mecânica dos compósitos, em temperaturas mais elevadas sem a ocorrência de
quando uma carga externa é aplicada aos mesmos, tal carga distorção térmica da peça[33]. Isso pode estar associado à
é transferida para as fibras mais próximas da superfície e molhabilidade das fibras[28,34]. Uma vez que a análise dos
continua fibra a fibra através da matriz e interface. Então, ensaios de tração e flexão apresentou resultados abaixo
uma interface fraca induz uma distribuição de carga daqueles relacionados à blenda padrão, a tendência dos
ineficaz e o efeito potencial de reforço das fibras continua resultados de temperatura HDT vai ao encontro dos dados
inexplorado. Mas, uma interface forte pode garantir uma da literatura[35]. Não foi possível avaliar o desempenho
transferência eficiente da carga aplicada para reforços das formulações FM30SA e FC30SA devido à falta de
fibrosos através da matriz com consequente melhora do material para este ensaio.
comportamento mecânico do composto[10,27]. Partindo-se, agora, para a caracterização térmica dos
Através da análise dos resultados, não se verificou sistemas aqui estudados, a Tabela 2 apresenta os dados da
um aumento na resistência à flexão nos biocompósitos análise de DSC obtidos através das curvas de DSC (não
desenvolvidos à medida que a proporção das fibras mostradas) das formulações. Na referida tabela, têm-se
vegetais foi sendo aumentada, conforme descrevem a temperatura de transição vítrea (Tg), a temperatura de
alguns trabalhos[5,9,10,29]. Tal comportamento sugere cristalização (Tc), a entalpia de cristalização (ΔHc), a
uma baixa adesão entre as fases da fibra e da matriz temperatura de fusão (Tm), a entalpia de fusão (ΔHm) e o
polimérica, corroborado pelo fato de a resistência à grau de cristalinidade (Xc) dos compostos.
tração dos biocompósitos ter diminuído com o aumento A temperatura de transição vítrea (Tg) típica do PLA
da proporção de fibras[29]. varia de 50°C a 80°C, enquanto que sua temperatura de
Qualitativamente, os resultados de flexão fusão (Tm) varia de 130°C a 180°C[36].
assemelham‑se aos de tração no que se refere à Percebe-se, pela análise da Tabela 2, que a
diminuição do desempenho da propriedade analisada inclusão da fibra vegetal, na presença ou não do agente
quando da adição de fibras. Os resultados de MEV compatibilizante, pouco influenciou a temperatura de
(ver adiante) podem ajudar a compreender melhor tais transição vítrea das amostras, bem como os valores dos
resultados, haja vista que em ambos os ensaios de flexão dois picos de fusão. Conforme Pluta et al.[37], a região
e tração, o parâmetro analisado apresentou diminuição de temperatura de fusão tem direta correlação com o
da propriedade em relação ao valor da blenda padrão. percentual de carga/fibra utilizada nas formulações. O
Não foi possível avaliar o desempenho da formulação processo de fusão torna-se mais complexo e dois picos
FM30SA devido à falta de material para este ensaio. de fusão são registrados nos diagramas de DSC[36,38]. Os
Com o objetivo de verificar o comportamento do dois picos de fusão (Tm1 e Tm2) foram observados em
material no que concerne à deformação do mesmo sob praticamente todas as formulações avaliadas, inclusive
flexão quando este é submetido a um aquecimento à naquela referente ao padrão, sem a presença da fibra.

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Todavia, tal fato também era esperado, haja vista que, No intuito de conhecer a estrutura/morfologia dos
segundo alguns autores[36,39], tal evento possa ser atribuído compósitos, realizaram-se análises de microscopia
ao rearranjo lamelar ocorrido durante a cristalização do eletrônica de varredura, uma técnica valiosa de
PLA, isto é, ao efeito da fusão dos cristais originais caracterização[42], cujos resultados são ilustrados
(baixa temperatura de pico), recristalização e refusão dos pelas Figuras 6 e 7 referentes às amostras contendo
cristais (alta temperatura de pico) durante a verificação 30% de fibra vegetal na presença ou ausência do
de aquecimento; à existência de mais de uma estrutura de agente compatibilizante. A Figura 6 está relacionada à
cristal; às condições de processamento ou distribuição de formulação contendo 30% em massa de fibra de madeira,
enquanto a Figura 7 é atribuída à formulação com teor de
massa molar.
30% em fibra de coco.
Esperar-se-ia que a adição de um agente
Analisando-se as micrografias de uma forma geral,
compatibilizante pudesse impactar no decréscimo da
observa-se a presença de vazios com consequente fraca
Tg e no grau de cristalinidade (Xc) do material[38,40]. adesão entre as fibras e a matriz polimérica, mesmo
Entretanto, não houve uma diminuição pronunciada da após a inclusão do anidrido maleico, indo ao encontro
Tg, o que também poderia ser um indicativo da baixa dos resultados obtidos através dos ensaios mecânicos,
interação fibra/matriz polimérica. Verifica-se, também, os quais apresentavam baixa interação fibra/matriz
um declínio na temperatura de cristalização (Tc) quando polimérica. Em particular, verifica-se um resultado mais
adicionadas as cargas vegetais à blenda de PLA/TPU. Tal pronunciado para os compostos contendo fibra de coco.
comportamento sugere que as cargas, igualmente, podem O comportamento observado por essa amostra pode ser
ter atuado como agente nucleante da matriz polimérica[41]. atribuído à característica higroscópica da fibra de coco[43],

Tabela 2. Dados comparativos de diferentes composições com a blenda PLA/TPU com/sem agente de acoplamento na presença das
fibras de madeira e coco.
Tm (°C)
DHmTotal
Formulações Tg (°C) Tc (°C) ΔHc (Jg–1) DHm1 (Jg–1) DHm2 (Jg–1) Xc (%)
(Jg–1)
Tm1 (°C) Tm2 (°C)
PADRÃO 56,90 111,01 –16,37 148,47 155,80 2,91 6,92 9,83 40,20
FM10SA 57,94 108,99 –13,54 148,32 155,15 1,82 3,43 5,25 32,03
FM10CA 56,35 102,84 –9,42 144,65 153,47 1,32 7,26 8,58 31,97
FM20SA 57,16 106,33 –13,74 147,93 156,27 1,94 6,49 8,43 42,52
FM20CA 57,42 104,83 –9,14 145,82 154,14 1,34 6,03 7,37 33,16
FM30SA 55,89 109,50 –10,55 147,80 154,96 2,23 3,04 5,27 34,68
FM30CA 54,99 105,13 –19,10 146,41 155,05 2,26 8,75 11,01 69,57
FC10SA 56,93 104,50 –8,11 148,95 156,09 1,01 4,31 5,32 22,90
FC10CA 53,80 96,60 –5,21 153,85 - 17,18 - 17,18 39,75
FC20SA 55,18 105,16 –8,67 155,76 - 18,82 - 18,82 52,72
FC20CA 55,26 102,31 –8,45 144,95 154,40 0,70 9,10 9,80 36,65
FC30SA 56,75 110,02 –11,86 148,63 155,47 1,49 2,25 3,73 34,19
FC30CA 55,71 105,50 –14,02 146,79 155,26 2,02 8,27 10,29 56,16

Figura 6. Micrografia dos compósitos contendo 30% em massa de fibra de madeira na ausência (a) ou na presença (b) presença de
anidrido maleico, mostrando a superfície transversal dos mesmos. As setas em a) e b) mostram as fibras (ampliação de 2000x e 1000x,
respectivamente).

Polímeros, vol. 24, n. 2, p. 190-197, 2014 195


Lemos, A. L.; Martins, R. M. - Desenvolvimento e caracterização de compósitos poliméricos
à base de poli(ácido lático) e fibras naturais

Figura 7. Micrografia dos compósitos contendo 30% em massa de fibra de coco na ausência (a) ou na presença (b) presença de anidrido
maleico, mostrando a superfície transversal dos mesmos. As setas em a) e b) mostram as fibras (ampliação de 2000x).

levando à baixa interação com a matriz polimérica. Nesse Agradecimentos


ponto, a fibra pode agir como um agente de separação
na interface fibra/matriz, causando pontos de vazios na Os autores agradecem à Artecola, à Merquinsa, à
superfície do compósito, como verificado nas imagens, NatureWorks e ao Laboratório de Estudos Avançados
levando a falhas no mesmo, como o aparecimento de em Materiais, da Universidade Feevale, pelas análises de
trincas na matriz ou mesmo o descolamento da fibra MEV.
(debonding)44.
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coco, utilizando-se as mesmas matrizes e mesmas org/10.1016/j.compositesb.2009.04.014
condições de processamento. As diferenças encontradas 3. Vilaseca, F.; Gonzalez, A. V.; Franco, P. J. H.; Pèlach,
entre as formulações podem ser atribuídas às propriedades M. À.; López, J. P. & Mutjé, P. - Bioresource Tech., 101,
mecânicas das fibras de madeira comparadas às das fibras
p.9264 (2010).
de coco quando da adição destas à matriz. A dispersão
4. Graupner, N.; Herrmann, A. S. & Müssig, J. - Compos.
da fibra de coco pode, também, ter influenciado a
eficiência de reforço no compósito percebido pelo alto Part A Appl. Sci. Manuf., 40, p.810 (2009). http://dx.doi.
desvio padrão da maioria das análises. Todavia, quando org/10.1016/j.compositesa.2009.04.003
se faz a comparação entre todas as formulações contendo 5. Sykacek, E.; Hrabalova, M.; Frech, H. & Mundigler,
fibras em relação àquelas sem a presença das mesmas, N. - Compos. Part A Appl. Sci. Manuf., 40, p.1272 (2009).
observa-se, em geral, queda das propriedades avaliadas http://dx.doi.org/10.1016/j.compositesa.2009.05.023
para os compósitos PLA/TPU/fibras naturais com ou 6. John, M. J. & Thomas, S. - Carbohyd. Polym., 71, p.343
sem o agente de acoplamento, denotando baixa adesão (2008). http://dx.doi.org/10.1016/j.carbpol.2007.05.040
interfacial entre a matriz (PLA/TPU) e as fibras. 7. Jamshidian, M.; Tehrany, E. A.; Imran, M.; Jacquot, M. &
Infere-se que os biocompósitos avaliados não Desobry, S. - Compr. Rev. Food Sci. F., 9, p.552 (2010).
atendem às exigências necessárias para utilizá-los em
http://dx.doi.org/10.1111/j.1541-4337.2010.00126.x
situações nas quais há necessidade de alto desempenho,
8. Paoli, M. A. - “Compósitos de Polímeros com Fibras
como no setor automotivo, por exemplo. Contudo, a
Vegetais”, in: 1 Workshop sobre Fibras Naturais, São Paulo
escolha adequada da fibra e da porcentagem desta na
formulação do compósito final pode levar à confecção (2010).
de produtos que, embora apresentem baixo desempenho, 9. Paoli, M. A.; Spinacé, M. A. S.; Mano, B. I. S.; Araújo, J. R.;
possam atender a necessidade de nichos específicos de Janeiro, L. G. & Bernardino, F.C. - “Substituição das Fibras
mercados populares como o de decoração, viabilizando Curtas de Vidro por Fibras Vegetais em Termoplásticos
o uso de fibras vegetais em razão da redução de custo do Reforçados” in: 1 Feira e Congresso Plastshow, p.1, São
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196 Polímeros, vol. 24, n. 2, p. 190-197, 2014


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