Com Amor, B - Tourinho, Liz
Com Amor, B - Tourinho, Liz
Com Amor, B - Tourinho, Liz
Folha de Rosto
Créditos
Dedicató ria
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Notas
Copyright © 2024 Liz Tourinho
Capa:
Giovana Martins
@gimartins.design
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Notas
Para todas as pessoas que encontraram o verdadeiro amor.
“I wanna be with you until we're old”
(I'll Be Waiting – Lenny Kravitz)
Uma temporada na Itá lia com toda a família era sempre a melhor
escolha para recarregar minhas energias, amava estar com eles
principalmente com o Enrico, meu sobrinho. Quando estávamos juntos,
ele certamente era mais adulto que eu. Entretanto, chegar ao meu
apartamento em Nova Iorque também tinha um valor incalculável para
mim.
Ainda bem que terei dois dias de descanso até retomar minha rotina no
ateliê. A nova coleçã o de joias estava praticamente pronta e o
lançamento seria no final de julho, aproveitando o verã o novaiorquino.
Estava louca por um banho demorado e comer algo urgente, atualmente
nã o conseguia comer nada em aviã o. Fiz um sanduíche e abri um vinho
para relaxar. Depois de saciar a fome, deitei-me no sofá e tentei achar
um filme para me distrair. Infelizmente, nã o me concentrei na histó ria,
como sempre meu pensamento foi para o mesmo lugar: o dia que
conheci o meu amor de infâ ncia e o tempo todo que fiquei apaixonada
por ele.
Ficou apaixonada, no passado, será?
É, acho que nunca o esqueci de verdade.
Eu sabia que Olívia, minha melhor amiga, tinha um irmã o mais velho,
que estudava medicina em Harvard. A diferença entre eles era a mesma
entre mim e meu irmã o Matteo, ou seja, de dez anos. Mesmo andando
sempre colada com ela, tanto na escola como nos finais de semana, eu
nunca tinha cruzado com seu irmã o, já que ele só vinha para casa nas
férias e nesse mesmo período eu estava sempre viajando com meus pais.
Tinha acabado de chegar na casa de praia dos pais de Olívia para passar
o final de semana quando ela comentou que seu irmã o tinha chegado
com alguns amigos para aproveitar o feriado prolongado de Quatro de
Julho, essa informaçã o em nada me afetou, pois nó s já tínhamos
combinado nossa programaçã o com algumas amigas da escola e
estávamos animadíssimas com os nossos planos de pré-adolescentes.
Sem perder tempo corremos para colocar nosso biquíni, o dia estava
lindo nos convidando para um mergulho no mar e foi o que fizemos,
passamos mais de uma hora na á gua com nossas amigas até nossas
mã os começarem a enrugar. Decidimos entã o que estava na hora de sair
da á gua para tomar um sol, queria chegar segunda-feira na escola, com
um tom de pele mais bronzeado.
De longe avistamos um grupo de pessoas jogando vô lei e todos estavam
bem animados; era uma gritaria louca quando um lado fazia um ponto.
Logo Olívia identificou seu irmã o, gritou seu nome, fazendo-o desviar o
olhar em nossa direçã o. Alguns minutos depois, ele saiu do jogo e veio
em nossa direçã o.
Apesar de estarmos apenas com 12 anos, eu e Olívia já falávamos de
garotos, tinham alguns da escola que eram nossos paqueras, tudo muito
inocente ainda, mas meu coraçã o até entã o livre, quase parou desde o
momento que coloquei meus olhos em Blake. Me apaixonei
imediatamente por aquele sorriso largo, que me hipnotizou desde o
primeiro instante.
— Minha irmã zinha, que saudade.
Olívia levantou-se pulando no colo do irmã o, ele com seu porte atlético a
ergueu como uma boneca.
— Blake, nã o sou mais uma criancinha, me coloque no chã o.
— Você sempre será minha princesinha, Liv. — A voz de Blake entrou
nos meus ouvidos como mú sica.
Será que é possível alguém se apaixonar sem ter trocado uma palavra
sequer?
— Entã o você deve ser Bea, a quase gêmea da minha irmã zinha. — Ele
colocou Olívia no chã o e se dirigiu a mim. — Finalmente nos
conhecemos. — Ele chegou perto e beijou minha testa. Fiquei congelada
por alguns segundos, mas por milagre me recuperei rapidamente e sorri.
— Muito prazer, Blake. Pois é, finalmente conheci o famoso irmã o da
minha melhor amiga.
— Seja bem-vinda, Bea. Entã o, pequena, depois quero saber tudo de
você. Como está indo na escola, se tem algum garoto te rondando...
Tenho me exercitado bastante e vou colocar esses marmanjos pra correr
rapidinho.
Os irmã os seguiram provocando um ao outro por algum tempo, nã o
demorou e Blake nos deixou, retornando para o seu grupo e só nos
encontramos bem mais tarde, no jantar.
Depois desse dia, Blake definitivamente conquistou o meu coraçã o. Claro
que Olívia percebeu meu interesse, mas logo me desestimulou.
— Amiga, tire o meu irmã o da cabeça, ele nos vê como criancinhas
ainda. A diferença de idade entre ambos é muito grande. Além disso, ele
é um mulherengo. Toda vez que vem pra casa, sai todos os dias com uma
garota diferente. Ele jamais te notará , ele vai sempre te considerar como
uma irmã também.
— Eu sei, Liv, o problema é que eu já me apaixonei. — Gargalhamos,
claro que isso nã o era verdade, ainda.
Depois desses dias na casa de praia, com meu interesse todo voltado
para o homem mais lindo que conheci na minha vida, passei a me
programar para estar sempre em Nova Iorque quando Blake vinha para
casa. Ó bvio que nem sempre dava certo e, quando eu me desencontrava
dele, sofria por vá rios dias.
Quando Olívia fez 15 anos, um mês depois de mim, sua mã e fez uma
festa maravilhosa. Nó s passamos o dia em um spa, fizemos hidrataçã o
nos cabelos, massagem e, pela primeira vez, nossas mã es nos deixaram
pintar as unhas com uma cor clarinha, naturalmente. No final do dia
estávamos lindas, como duas princesas.
Quando cheguei na recepçã o fiquei encantada com a decoraçã o, todas
as mesas tinham arranjos magníficos de lírios rosa, uma flor que me
lembrava muito a minha nonna1. Todo ano passávamos as fé rias na
Toscana e em todos os quartos, ela sempre deixava um arranjo de flores,
principalmente de lírios, que eram os preferidos dela.
Estava me divertindo muito com os nossos amigos até ter a maior
decepçã o do dia, que até entã o estava sendo tã o maravilhoso.
Avistei quando Blake chegou na festa com sua namorada. A festa perdeu
totalmente o brilho naquele momento, as lá grimas brotaram
imediatamente, saí correndo até o banheiro para me recompor.
Fiquei pelo menos uns trinta minutos até parar de chorar, nã o estraguei
muito a maquiagem e voltei para a festa bem na hora da valsa da minha
amiga com o seu pai. Olívia estava linda com um vestido rosa, parecia
uma princesa.
Depois da primeira dança com o seu pai, para o meu desespero foi a vez
de dançar com o seu irmã o. Esse foi um momento de tortura e, ao
mesmo tempo, de deleite. Blake estava mais lindo do que nunca, seu
cabelo mais comprido, tinha um dourado acinzentado lindo. Seu sorriso
continuava má gico, seus olhos azuis praticamente desapareciam
formando somente uma linha à medida que seu sorriso se abria mais,
quando Olívia falava algo em seu ouvido. Notei que ele estava mais forte,
com certeza fazia muita musculaçã o, além de nadar, que eu sabia ser
uma paixã o dele. Perdi as contas de quantas vezes acompanhei seu
treino no mar logo cedo, só para receber o presente de vê-lo saindo da
á gua e se deitar ao sol para descansar.
Depois da dança formal da debutante, a pista foi liberada e foi a vez dos
amigos curtirem o som da boate. Mesmo fazendo um esforço danado
para me divertir, meus olhos buscavam sempre onde Blake estava e, para
a minha tristeza, o flagrei vá rias vezes aos beijos com sua namorada,
uma mulher linda, que, segundo Olívia, era colega dele e fazia medicina
também.
Sempre gostei muito de mú sicas mais antigas, meu irmã o Matteo
sempre dizia que minha alma era antiga, o que era verdade. Quando
pensei em ir embora, começou a tocar uma das minhas mú sicas
preferidas, Kiss me, de Sixpence None The Richer, entã o resolvi deixar a
tristeza de lado, fechei os olhos e comecei a dançar. Como amava essa
mú sica, me transportei-me para a letra como se estivesse cantando para
o Blake.
Como num sonho, senti dois braços fortes me enlaçando e meu coraçã o
errou uma batida, quando abri os olhos e me deparei com aqueles dois
globos azuis brilhantes tã o perto de mim.
— É um pecado muito grande uma garotinha tã o linda dançar sozinha.
Eu nã o sou essa pessoa que você estava sonhando, mas posso fazer de
conta, quem sabe ele está por aí e você pode despertar um pouco de
ciú me nesse bobã o, que deveria estar aqui dançando com você.
— Blake, você me assustou. — Quase chorei de emoçã o. Entã o ele
começou a me conduzir em uma dança leve, onde me soltava e me levava
de volta para os seus braços, ficamos assim até a mú sica acabar e no
final fez uma reverência exagerada, como se fazia nos saraus de
antigamente para agradecer a dança.
Como estávamos perto de uma das mesas, ele pegou um lírio rosa, nã o
disse nada, cheirou a flor, entregando-me em seguida. Por fim, beijou o
topo da minha cabeça, como meu irmã o sempre fazia e me deixou ali
sem chã o indo em direçã o à sua namorada e aos amigos dele.
Olívia, que acompanhou todo o desenrolar da cena, veio imediatamente
ao meu encontro e me puxou para um lugar mais reservado, onde
ninguém pudesse nos ouvir.
— Bea, você está com uma cara muito engraçada, parece que viu um
fantasma. — Minha amiga segurou meu rosto me abraçando em seguida.
— Liv, eu estou flutuando, eu nã o estou sentindo os meus pés no chã o.
— Meu Deus, amiga, você precisa acabar com essa paixã o pelo meu
irmã o, que já dura anos. Você sabe que ele te enxerga como uma irmã ,
ele acha que nó s somos criancinhas ainda e nã o quase duas mulheres.
— Liv, nó s já temos quinze anos, nã o somos mais tã o novinhas assim —
contestei.
— Olha, eu amei te ver dançando com ele, mas nã o fantasia, ele tem
namorada e, pelo que ouvi minha mã e conversando com ele hoje mais
cedo, o plano deles é, assim que terminarem a faculdade, fazer
especializaçã o em Londres, você sabe que o sonho dele é a Cardiologia.
— Eles vã o juntos? Tem certeza de que ouviu direito, Liv? — As lá grimas
já estavam rolando pelo meu rosto. Como pode, em fração de segundos,
uma pessoa ir do céu ao inferno?
— Bea, me perdoe por jogar esse balde de á gua fria no seu momento
especial, mas nã o quero que você se iluda. Acho que meu irmã o está
gostando mesmo da Margot, nã o quero que você sofra mais com isso. —
Olívia acabou de enfiar uma estaca em meu coraçã o.
— Nã o quero ouvir mais nada, vou embora. O motorista do meu pai já
está aqui pra me buscar. — Despedi-me da minha amiga-irmã e fui
chorar na minha cama.
Depois que Blake foi embora, a ú nica coisa que alegrava meus dias era
lembrar-me da nossa dança, dos seus braços fortes envolvendo minha
cintura e do seu perfume que ficou grudado no meu vestido. Minha mã e
ficou preocupada, pois eu nã o queria sair de casa, comecei a me
alimentar mal, ela queria me levar ao médico até que, um dia, me pegou
chorando e nã o teve jeito, me senti obrigada a me abrir com ela.
— Beatrice, minha querida, você precisa reagir. Eu sei como é o primeiro
amor e muitas vezes nã o somos correspondidos — disse carinhosa me
puxando para seu colo.
— Mã e, você teve sorte de se apaixonar pelo meu pai e ele sentir o
mesmo por você. Meu caso é bem diferente, o Blake acha que sou uma
menininha — choraminguei.
— Eu já tinha percebido seus olhos sempre buscando por ele em todo
canto quando vocês estavam no mesmo ambiente, mas preferi te dar um
tempo, sabia que você um dia abriria o seu coraçã o para mim. Porém,
filha, preciso ser realista com você. A diferença de idade entre vocês é
muito grande. Blake já é um homem feito, está quase se formando, entã o,
para ele, você é uma menininha como a Liv.
— Eu sei, mã e, ele mesmo fala isso sempre e, para piorar, a Liv me disse
que ele vai morar em Londres, vai fazer a especializaçã o em Cardiologia
junto com a namorada. — Caí no choro novamente.
Ficamos ali por um tempo, com minha mã e cuidando de mim; e assim
foi por vá rios dias, quando finalmente fomos para a Itá lia. Pelo menos,
as fé rias na casa do nonno2 serviu para acalmar o meu coraçã o e
esquecer um pouco aquele que, apesar do meu coraçã o dizer que tinha
chance, o meu lado racional sabia que isso era praticamente impossível.
Claro que guardei o lírio que Blake me deu, que seria para sempre o
símbolo de uma noite maravilhosa, dos poucos minutos que passei nos
braços do meu amor.
Dias atuais...
O grande dia finalmente chegou, minha mãe e tia Ava contrataram uma
empresa para fazer o buffet, a decoração e o som, mas, ainda assim,
fizeram questão de acompanhar tudo para que nada desse errado e
realmente tudo estava maravilhoso. Nos arranjos de flores, obviamente
não faltaram os meus lírios rosa que tanto amava.
— Vamos, Bea, nós somos as aniversariantes, não podemos chegar depois
dos convidados. — Olívia me apressou, me deixando ainda mais
apreensiva.
— Calma, estou só finalizando a maquiagem. Tudo tem que estar perfeito
hoje, Liv. Pode ir na frente, não vou demorar. — Tranquilizei minha
ansiosa amiga.
Olhei-me no espelho e me senti confiante. Meu vestido era elegante, mas
com um toque sensual. O decote nas costas era bem profundo e o
comprimento um pouco acima dos joelhos deixavam minhas pernas
torneadas à vista na medida certa. Borrifei meu perfume que usava há
anos e fui ao encontro da outra aniversariante.
A festa estava simplesmente perfeita, a comida maravilhosa, os drinks do
jeito que gostávamos, enfim tudo conforme planejado. Pelo menos até
agora. Senti um frio na barriga.
“Beatrice, você não vai amarelar agora, né?” O diálogo mental estava a
todo vapor nessa noite.
— Bea, você viu quem acabou de chegar? — Olívia me alertou, mas nem
precisava, eu estava observando a entrada da festa o tempo todo e percebi
o exato momento que o homem mais lindo que meus olhos já viram
chegou, vestindo uma bermuda off-white e uma camisa de linho azul-claro
com as mangas dobradas.
— Vamos lá falar com ele. — Minha amiga nem esperou minha resposta,
saiu me puxando pela mão.
— Irmão, não é justo você estar tão lindo no dia do nosso aniversário, é
muita concorrência! — Pelo menos, ela amenizou o clima brincando,
senão juro que eu estava preste a sair correndo.
“Não posso me acovardar. Não agora, não hoje”, pensei.
— Minhas bonequinhas, vocês estão lindas demais, estão ofuscando todos
os convidados, isso sim. — Blake abraçou a irmã e, quando chegou a
minha vez, meu coração martelava tão forte no meu peito, que tive medo
dele perceber.
O abraço foi longo, para mim com muito significado. Ele beijou o meu
rosto, depois me olhou nos olhos, mas não disse nada.
— Tenho um presente para vocês.
— Um para cada eu espero. Afinal, você é um médico de sucesso, deve
estar ganhando muito bem. — Olívia não perdia a oportunidade de
pirraçar o irmão.
Blake tirou do bolso duas caixinhas de veludo e nos deu ao mesmo tempo.
— Como vocês estão sempre juntas, quase gêmeas, resolvi dar o mesmo
presente, porém com algo diferente que representa cada uma de vocês.
Quando abrimos ao mesmo tempo as caixinhas, nos deparamos com duas
pulseiras de ouro, delicadas, elegantes e o que diferenciava uma da outra
era o pingente.
— A da Liv tem um pingente de uma coroa de princesa, pois você é e
sempre será a minha princesinha. Pois é assim que te vejo desde que nossa
mãe colocou aquele pacotinho no meu colo quando eu tinha dez anos. —
Claro que minha amiga pulou no colo do irmão, quase o levando ao chão.
— Sua maluquinha, quase me derrubou. — Blake beijou o topo da cabeça
da irmã, já virando para mim.
— E o da Bea, o que é? — Óbvio que a curiosidade em pessoa se
manifestou.
— O da Beatrice é um lírio, já percebi que ela gosta muito dessa flor. Um
dos significados do lírio rosa é doçura. Combina muito com você —
respondeu olhando bem dentro dos meus olhos.
— Que delicadeza, Blake, eu amei. E o lírio, principalmente o rosa, é minha
flor preferida. — Não pulei em seu colo, mas abracei-o longamente,
deixando seu perfume me embriagar, enquanto suas mãos enlaçavam
minhas costas de maneira firme, nada angelical.
Passamos toda a noite praticamente conversando só nós dois. Às vezes, eu
me distanciava um pouco, conversava com os meus amigos, dançava, mas
sempre percebia os olhos de Blake me procurando, achei que já estava
fantasiando. A uma certa altura, fui conversar com a minha mãe, já que a
qualquer momento eu iria convidá-lo para fugir da festa.
— Mamma, acho que estou tão apaixonada e nervosa, que já estou
criando coisas na minha cabeça. Você acredita que a todo momento que
olho para o Blake, acho que ele também está me buscando com o seu
olhar.
— Filha, relaxe, você não está sonhando acordada. Eu estou de olho no
Blake desde que chegou e ele está sim vidrado em você. Lembre-se de que
estou te apoiando em tudo, sei da sua paixão desde novinha, mas, caso não
se sinta segura, não precisa dar esse passo tão importante na vida de uma
mulher.
— Dona Katie, não se preocupe, essa noite só não acontecerá nada se eu
perceber que o Blake não está na minha. Mesmo sabendo que irá embora
em poucos dias e que não nos veremos tão cedo, minha decisão está
tomada.
Minha mãe me abraçou, me desejou boa sorte e eu voltei para a pista de
dança. Depois de alguns minutos, já estava mais relaxada, fui até o bar
beber algo e logo senti o perfume marcante perto de mim, não precisava
me virar para saber de quem se tratava.
Blake passou um dedo delicadamente ao longo do meu decote das costas,
me causando um arrepio da cabeça aos pés, então sussurrou no meu
ouvido, para o meu desespero completo:
— Como seu irmão permitiu que você vestisse uma roupa dessa? — Seu
hálito morno ao pé do meu ouvido me fez paralisar imediatamente.
— Meu irmão não está aqui, mas sabe que sou bem crescidinha e confia
em mim. — Ao mesmo tempo que respondia à sua pergunta fui me virando
lentamente, até que ficamos um de frente para o outro. Nossa diferença de
altura estava menor, já que eu ostentava um salto agulha de dez
centímetros, que me deixava mais segura, então firmei meus olhos nos
dele, sem desviar como sempre fazia.
— Não tenho dúvida de que você cresceu, a cada dia que nos encontramos
você está mais linda e confesso que tenho feito um esforço muito grande
para não esquecer que você é quase uma irmã e que sua família é muito
amiga da minha.
Era agora ou nunca. Aproximei-me mais do Blake, sem vergonha alguma
fiquei a milímetros de distância dos seus lábios e olhando para eles
comecei o meu jogo de sedução.
— Prefiro que você esqueça essa história de irmãzinha. O que penso a seu
respeito, passa bem longe de um sentimento fraterno.
Blake abriu os olhos, como se tivesse sido pego de surpresa e percebi que
suas pupilas dilataram.
Foi nesse momento mágico que nossa música começou a tocar. Sim,
mesmo que ele não soubesse, nós tínhamos uma música. Então, como se
lesse meus pensamentos, ele me surpreendeu mais uma vez.
— Essa não foi a música que dançamos na festa de 15 anos da Liv?
“Alguém me belisca, só posso estar sonhando! Ele realmente lembrou? Eu
não estou acreditando nisso!”
— Sim, foi essa música.
Então sem me perguntar nada, fui guiada para a pista de dança e, ao
contrário da primeira vez que dançamos “Kiss me”, dessa vez percebi um
sentimento diferente vindo dele e eu não estava definitivamente
fantasiando.
— Bea, seu perfume, seu vestido, tudo está me tirando a razão. O que você
está fazendo comigo, princesa?
Encostei em seu ouvido para provocar:
— Eu cresci, Blake, e me tornei uma mulher interessante.
— Interessante é um eufemismo, você se tornou uma mulher linda, doce e
encantadora, que está me enfeitiçando. Não tenho o direito de ter
pensamentos impróprios com você, não é certo. — Ele vacilou um pouco,
achei até que queria encerrar a nossa dança, mas, para a minha
felicidade, ele continuou.
Continuamos neste clima tenso até o último segundo da música.
Estávamos tão grudados que não me passou despercebido a sua excitação,
o que me fez suar frio.
Logo depois da nossa dança, nos separamos e todos se reuniram em volta
da mesa, onde eu e Olívia nos posicionamos em frente aos nossos bolos –
claro que cada uma de nós tinha o seu. Em uníssono, todos cantaram os
parabéns e nossa família, após nos abraçar mais uma vez, começou a
dispersar.
Senti minha mãe me observando e de longe ela soprou um beijo. Esse gesto
me acalmou e percebi que era o momento de realizar o meu sonho: ter o
Blake todo para mim, nem que fosse somente por uma noite.
— Por que estou percebendo uma emoção diferente em seu rosto, srta.
Tomarolli? — Bem na minha frente, estava o meu primeiro amor e, para a
minha surpresa, com um lírio rosa na mão.
— O senhor continua roubando a decoração das festas, dr. Lancaster? Isso
não é um comportamento adequado para um médico renomado —
brinquei, muito feliz pelo seu gesto. Ele sempre me surpreendia me
presenteando com a flor que virou o símbolo da minha paixão por ele.
— Pois é, acho que isso está definitivamente marcado em mim, além da
música que dançamos. Invariavelmente vou me lembrar de você quando
escutá-la novamente.
— Blake, você não deveria dizer essas coisas para mim, não imagina o
efeito que suas palavras me causam. — Aproximei-me dele e senti sua mão
envolvendo minha cintura, fazendo com que nossos corpos ficassem
grudados.
— Beatrice, o que você está fazendo comigo, menina? Eu sou muito mais
velho que você e tenho certeza de que, se o Matteo estivesse aqui, já teria
pulado em meu pescoço e eu não poderia tirar a razão dele. — Segurou
meu pescoço com delicadeza e passou a língua no seu lábio inferior com os
olhos grudados nos meus.
Ainda bem que estávamos em um local mais discreto, longe dos olhos dos
curiosos, pois foi nesse momento que me enchi de coragem e aproximei da
sua boca. Dei um selinho e, como se ele estivesse esperando minha atitude,
colou sua boca na minha, sua língua pediu passagem e, claro, cedi. Senti-
me derreter em seus braços.
Ficamos assim nessa dança de línguas, respiração acelerada, por alguns
instantes que, para mim, pareceram horas. Na verdade, não queria sair
dali, era a melhor sensação da minha existência. Quando finalmente nos
afastamos, Blake estava tenso, olhando para os lados, verdadeiramente
nervoso.
— Bea, me perdoe, eu me descontrolei — sussurrou com nossas testas
grudadas.
— Blake, pelo que me consta, a iniciativa do beijo foi minha e nós dois
quisemos. Vou confessar, eu amei cada segundo. — Não era a hora de
fazer joguinhos, eu quis muito esse momento e não irei recuar.
— Eu não vou negar que me pegou de surpresa, mas Bea...
Não o deixei terminar, não hoje, não quando já chegamos tão longe. Beijei-
o novamente, sem que ele oferecesse resistência, então entendi como uma
aprovação, decidi pegar sua mão e levá-lo até o meu esconderijo.
— Para onde estamos indo, Bea? — Blake parecia assustado, mas não
recuou e continuou me acompanhando.
— Estou te sequestrando e, ao cruzar aquela porta, não quero ouvir
nenhuma palavra que faça referência à nossa diferença de idade ou sobre
nossa família ou qualquer tema que não seja a inegável atração que
estamos sentindo um pelo outro.
Paramos em frente à porta do bangalô, eu estava visivelmente nervosa e
percebi que Blake não estava diferente. Falei com tanta firmeza e
seriedade que ele até levantou as sobrancelhas em sinal de... espanto,
admiração?
Quando atravessamos a porta, eu sabia que minha vida mudaria a partir
dali. O ambiente estava delicadamente decorado. Minha mãe optou por
algo simples, mas com personalidade e, claro, não faltaram os lírios que
tanto amava. A luz âmbar deu um ar aconchegante ao ambiente, um
difusor espalhava um agradável perfume de óleo essencial de ylang ylang,
que, segundo minha cunhada, era um poderoso afrodisíaco.
Blake estacou ao entrar, ficou alguns segundos assimilando tudo o que via.
Tinha um sofá confortável, uma cama enorme forrada com lençóis de
linho, um balde de gelo com uma garrafa do meu champanhe preferido.
Tudo de muito bom gosto.
— O que está acontecendo, Beatrice, você planejou tudo isso?
Senti que eu teria que ter muito tato nesse momento ou colocaria tudo a
perder.
— Venha, Blake, sente-se, preciso conversar com você. Depois de abrir o
meu coração, a decisão de ficar ou ir embora será sua, pois minha decisão
já está tomada. — Quem me ouvisse falando com tanta segurança, jamais
imaginaria que eu estava a ponto de desistir de tudo, já que, ao olhar para
o Blake, não conseguia decifrar seu pensamento.
Agora não tinha mais como voltar atrás. Mesmo extremamente nervosa e
com medo de como Blake iria reagir, comecei a abrir o meu coração,
precisava muito que ele soubesse tudo o que eu sentia por ele, mesmo
entendendo que não ficaríamos juntos.
— Desde que te vi a primeira vez, quando tinha 12 anos, eu me apaixonei
perdidamente.
Ele tentou levantar-se, mas eu segurei suas mãos com firmeza.
— Deixe-me continuar, por favor.
Ele assentiu com a cabeça.
— Eu sei que você tem sua vida em Londres, que ainda me enxerga como
uma menina, mas eu sou uma mulher. Passei todos esses anos sonhando
com esse momento, entretanto preciso deixar claro que não te cobrarei
absolutamente nada. Seguiremos depois como se nada tivesse acontecido,
se assim você quiser, mas eu preciso te dizer o que sinto.
Blake não me deixou dizer mais nada, grudou sua boca na minha e, a
partir daí, foi uma loucura. Ele me enlouquecia com seus beijos, sua mão
que subia e descia ao longo do meu corpo até que ele se deu conta do que
estava acontecendo e parou repentinamente, como se tivesse levado um
choque.
— Bea, isso é uma loucura, minha vida é em Londres, não quero que você
se iluda comigo. Eu te vi crescer, não sou um canalha insensível, não posso
te magoar, mas confesso que já faz algum tempo que deixei de te ver como
a amiguinha da minha irmã.
Meu coração errou uma batida.
— Você se transformou em uma mulher linda, uma joia preciosa,
impossível não te notar, mas não tenho o direito de te magoar. Eu não sou
homem para você, sou dez anos mais velho e você está começando sua
vida, tem que se envolver com alguém da sua idade e que possa te dar a
atenção que você merece.
Senti verdade em suas palavras, mas eu sabia de tudo isso e estava
disposta a correr o risco.
— Blake, esqueça tudo lá fora, todas as dificuldades, pare de pensar muito,
esta noite eu só quero você. Estou à sua espera todos esses anos e não me
arrependo disso.
Blake levantou-se de súbito e bagunçou o cabelo, vi o quanto estava
duelando consigo mesmo.
Aproveitei esse momento e o abracei por trás, ele segurou e beijou minhas
mãos várias vezes.
— Bea, isso não está certo. Como vou olhar para os seus pais? Eu não sou
irresponsável a esse ponto. Volto para a Inglaterra em poucos dias, minha
vida é lá, você tem uma vida pela frente aqui e precisa focar nisso.
Percebi que ele me queria também, mas o senso de responsabilidade não o
deixava me escolher.
— Não se preocupe com a minha família, tudo isso aqui foi preparado por
minha mãe e...
— Como é? — Virou-se com os olhos quase saltando. — Quer dizer que a
Katie está sabendo que estamos aqui agora? Você está brincando comigo.
— Minha mãe não só me ajudou com tudo, como também aprova minha
decisão, ela sabe do meu sentimento por você desde sempre.
— Bea, você é doidinha demais.
Coloquei dois dedos em seus lábios, não deixando que absolutamente nada
atrapalhasse a minha decisão.
Eu me aproximei e, dessa vez, ele assumiu tudo, me beijou como um lobo
faminto. Quando sua mão subiu pela lateral do meu corpo e alcançou o
meu seio, que já estava pesado de tanto tesão, eu gemi em sua boca. Ele
me desejava, não restava dúvida.
— Bea, você está me deixando louco, seu cheiro, sua pele...
Afastei-me dele, me enchi de coragem, desci as alças do meu vestido
lentamente, que deslizou até o chão. Os olhos de Blake passearam pelo
meu corpo e, quando ele se aproximou e capturou um dos meus seios,
mordiscando o mamilo, e com a mão acariciava o outro, senti que estava
flutuando e o mundo podia parar naquele momento que eu nem
perceberia.
Meio sem jeito, desabotoei sua camisa e, quando finalmente levei minhas
mãos ao seu peitoral que tanto admirava, senti que estava completamente
perdida. Ele pegou minha mão, beijou cada um dos meus dedos e, por fim,
beijou a palma da minha mão direita. Foi um gesto simples e, ao mesmo
tempo, sensual.
Blake me pegou no colo e me levou até a cama, fiquei sentada só de
calcinha, enquanto ele me admirava ainda parcialmente vestido. Abriu o
champanhe e me serviu uma taça.
— Tá querendo me embebedar, dr. Lancaster? — Sorri e dei um gole
naquele líquido borbulhante que tanto gostava.
Blake pegou a taça da minha mão, também bebeu um gole, deixou a taça
na mesinha de cabeceira e ficou me olhando com tanta fascínio, que fiquei
até sem graça, tímida eu diria.
— Você é linda, perfeita. Tem certeza disso? Eu estou me controlando, mas
já estou à beira de um colapso, você está me matando de tanto tesão, só de
te olhar assim, com essa calcinha minúscula, não estou conseguindo
raciocinar.
— Só venha, Blake, eu quero muito você.
O que o estava segurando até então, deu passagem para um homem
ardente e, definitivamente, maravilhoso.
Com muito cuidado, Blake tirou minha calcinha, começou a beijar os meus
pés e foi subindo lentamente, deixando uma trilha de fogo em minha pele.
Toda a timidez que estava sentindo começou a desaparecer. Recebi beijos
doces, mordidas leves ao longo do corpo até o pescoço, quando alcançou
minha boca, aí sim, sem delicadeza alguma. O beijo estava urgente, ele
chupava meu lábio, mordia, era uma tortura, então ele resolveu descer a
mão até o meu centro pulsante, para o meu total desespero, pois com
certeza estava encharcada.
— Meu Deus, Bea, você está muito molhada, pronta para mim. Eu preciso
provar isso. — A essa altura, só saíam palavras desconexas da minha boca,
parecia que eu tinha me transportado para uma espécie de realidade
paralela.
Blake fez o caminho inverso, beijando-me lentamente até chegar aonde
tanto o desejava. Quando senti sua língua lentamente deslizar pelo meu
clitóris, achei que fosse morrer.
— Doce como uma iguaria rara. Você é maravilhosa, princesa. — Ficou me
torturando por alguns minutos e, quando introduziu levemente um dedo
em meu canal, eu senti uma onda se aproximando, meus quadris se
movimentando involuntariamente em sua direção e o orgasmo veio forte
me lançando ao precipício. Gritei seu nome, pedi que parasse, mas claro
que ele não obedeceu, só dizia para deixar vir, então me entreguei à
luxúria.
Quando abri meus olhos, ele estava lindo e me observando, com o cabelo
todo desalinhado.
— Acho que alguém viajou — disse e me deu seu melhor sorriso.
— Blake! Eu realmente saí do ar. Eu devo estar uma bagunça. — Um
pouco de vergonha começou a despontar.
— Você está mais linda ainda, Bea, assim entregue ao seu prazer, uma
visão que jamais sairá da minha memória. Agora que já se recuperou um
pouco, eu quero te fazer gozar mais, essa será a minha missão hoje.
— Isso não é justo, eu também preciso te ver perder o controle. — Olhei
para ele com o desejo já renovado.
Blake levantou-se, tirou a bermuda junto com a cueca boxer e me
presenteou com uma visão de um corpo perfeito, com músculos esculpidos
na medida certa e, meu Deus, aquilo sim era o paraíso, seu membro
imponente. Fiquei encantada.
— Não se preocupe que serei gentil com você, não precisa fazer essa cara
de assustada.
O safado sabia que era lindo e que seu pau impressionava qualquer
mulher. Ele pegou um preservativo na carteira, colocou devagar e me
olhou desafiadoramente, claro que me esforcei para não demonstrar o
medo que estava sentindo naquele momento. Blake era muito sensível e
certamente percebeu.
— Minha princesa, não se sinta mal, se você quiser desistir eu vou
entender. Nunca faça nada na sua vida se você não estiver à vontade ou se
não estiver muito a fim.
— Eu me preparei praticamente a vida toda para esse momento, a não ser
que você não me deseje — enfatizei. — Este é o momento mais especial da
minha vida e estou pronta para você, Blake.
— Bea, entenda uma coisa, faz muito tempo que te olho diferente, que te
desejo, mas sempre tirei isso da minha cabeça, por achar que não era
certo, afinal, te conheço desde muito novinha. Desde que dançamos pela
primeira vez, eu fiquei encantado por você, mas naquela época jamais
admitiria isso, nem para mim mesmo. Você era uma adolescente
descobrindo a vida, eu não tinha o direito sequer de imaginar qualquer
coisa com você, isso seria um crime até — falou sério.
— Estou aqui, Blake, não tenho mais quinze anos.
A partir desse momento, o homem se transformou. Distribuiu beijos por
todo o meu corpo, me adorando, dizendo palavras carinhosas até quando
percebeu que eu estava novamente me derretendo com seu toque, com
seus beijos, então, posicionou seu pau em minha entrada e foi deslizando
lentamente, me deixando acostumar com seu tamanho aos poucos.
— Está doendo? Me diga se tem algo te incomodando.
— Está doendo um pouquinho, mas acho que dá para aguentar. Não pare,
Blake, por favor.
Blake continuou fazendo movimentos lentos de vai e vem até chegar à
barreira do hímen e forçou um pouquinho. Quando viu que dei um gemido,
ele parou.
— Relaxe um pouco, não precisamos fazer isso hoje.
— Blake, eu estou bem. Está incomodando um pouco sim, mas nada muito
ruim.
O homem me beijou intensamente, saiu um pouco de dentro de mim,
desceu a mão entre nós dois, estimulou o meu clitóris até perceber que eu
estava completamente relaxada de novo. Deslizou novamente dentro de
mim com cuidado, ainda assim gemi alto de dor, mas ele foi um
gentleman, como era esperado. Beijou-me com carinho, porém, dessa vez,
ele não parou até finalmente me fazer a mulher mais feliz do mundo.
— Me perdoe, Bea, mas isso não tem como ser diferente, te machuquei?
— Não se preocupe, Blake, a dor já está passando.
Depois desse momento tenso, a dor diminuiu e a dança dos nossos corpos
recomeçou. Sentia-me plena, preenchida, ficamos assim até perceber uma
nova onda de prazer se aproximando. Blake acelerou as estocadas, focado
em meu prazer, mas também em busca do seu. Quando ele percebeu que já
estava quase gozando, começou a me incentivar com palavras, ora
carinhosas, outras vezes, para a minha surpresa, bem indecentes. Eu amei
o Blake descontrolado, absorvido pelo seu prazer. Finalmente gozamos
juntos e pude assistir ele se render plenamente, chamando o meu nome
entredentes.
— Gostosa demais. Fui muito intenso pra você, Bea? Te machuquei, meu
lírio?
Claro que me desmanchei com tanto carinho.
— Foi tudo perfeito, Blake — sussurrei.
Ficamos abraçados por algum tempo, ele deslizando seu dedo indicador
ao longo do meu corpo, mapeando minha pele, com um carinho delicado.
Depois de algum tempo curtindo o pós-sexo intenso, tomamos um banho
gostoso, onde, além de se manter extremamente atencioso, Blake me fez
gozar novamente, só que dessa vez sem penetração, ele quis me preservar,
pois estava um pouco dolorida.
Dormimos agarradinhos e, antes do dia amanhecer completamente, nos
despedimos sem nenhuma promessa, mas, no dia seguinte, ele me ligou e
passamos três dias maravilhosos juntos até ele voltar para Londres. Sem
promessas.
Como meu coração ficou? Partido e feliz ao mesmo tempo. Sabia que não
seríamos um casal, que não teríamos uma história de amor, mas tudo o
que vivemos naqueles poucos dias foi intenso demais e senti que, de uma
certa maneira, cheguei em seu coração, mas ele tinha outros planos e eu
sabia disso o tempo todo. Não fui enganada.
Chorei? Muito, claro. A mamma, como sempre maravilhosa, me apoiou
nessa fase, Olívia também não saiu de perto de mim. Mas tudo aconteceu
exatamente como eu queria. Sem arrependimentos.
Dias atuais...
Chegando em casa, fui logo saber como Lucy estava depois de toda essa
loucura. Para a minha grata surpresa, ela estava em sono profundo, nã o
estava em condiçõ es de conversar absolutamente nada. Fechei a porta
do quarto e fui para a cozinha, precisava comer algo.
Por sorte, tinha sobrado rosbife do jantar da noite passada, preparei um
sanduíche enorme, abri uma cerveja, pois estava precisando relaxar um
pouco, e fui para o meu local preferido, estava precisando me
desconectar por um tempo, mas foi uma tarefa impossível. A todo
momento, o rosto machucado de Beatrice atravessava os meus
pensamentos. Nã o sabia nem descrever como me senti no instante que a
vi. Imagens dela ainda jovem, cheia de vida em meus braços, vieram
como relâ mpagos em minha memó ria.
Como explicar o que ocorreu, isso tinha que acontecer com a Bea e
envolvendo a Lucy? Será que o universo está me enviando alguma
mensagem?
Nunca mais tinha tido uma noite tã o agitada como essa, acho que peguei
no sono quando o dia já estava começando a amanhecer. Quando
acordei, Lucy nã o estava mais na cama, espero que pelo menos ela tenha
conseguido descansar. Eu nã o tinha nenhuma cirurgia hoje pela manhã ,
mas tinha duas reuniõ es importantes, sem falar que estava louco para
saber como a Beatrice passou a noite, com certeza nã o houve nenhuma
intercorrência, deixei ordens expressas para me ligarem caso
acontecesse algo.
Depois de um banho rá pido, segui o aroma do café vindo da cozinha, que
era o que precisava neste momento. Lucy conversava calmamente com
Tereza, nossa funcioná ria, uma senhora agradável, que cuidava de nó s
como se fô ssemos adolescentes.
— Bom dia, Blake, sua vitamina já está pronta e vou preparar ovos com
torradas agora mesmo. Estou te achando um pouco pá lido, nã o deve
estar se alimentando direito lá pelo hospital, nã o é? — Era sempre
assim, para ela eu estava sempre pá lido ou magro. Parecia a minha mã e.
— Acho que vou levar você para fazer o meu almoço no hospital, o que
acha? — brinquei.
Ela riu carinhosamente e foi preparar o meu desjejum.
— Como você está , querida? — Beijei o topo da cabeça da minha esposa.
— Só consegui dormir por conta do comprimido que Kaleb me deu. Mal
tomei banho e me joguei na cama, estava totalmente grogue.
— Quando cheguei em casa percebi que você estava em um sono tã o
profundo, que achei melhor nã o te acordar. E agora, como você está se
sentindo, Lucy? — quis saber, pois vi como ela estava abalada ontem.
— Acordei melhor, mas fico revivendo o acidente a cada minuto,
tentando entender o que realmente aconteceu. Estou muito ansiosa por
notícias da moça, você acompanhou o que aconteceu depois que saí?
— Ela precisou se submeter a uma esplenectomia16 laparoscó pica, a
pancada no abdô men foi muito forte e por sorte a hemorragia foi
identificada rapidamente. O braço esquerdo precisou ser imobilizado,
mas nã o houve fratura — relatei o menos detalhado possível, mas
precisava dizer a Lucy quem era a pessoa que atropelou. — Tenho que te
dizer uma coisa importante.
Ela virou-se imediatamente assustada.
— O que foi, nã o vai me dizer que o quadro dela agravou? — Percebi
seus olhos se moverem rapidamente de um lado para o outro. Estranho
isso.
— A pessoa atropelada é Beatrice Tomarolli, amiga de infâ ncia da Liv —
revelei de vez e Lucy levantou-se tã o rapidamente que a cadeira caiu
para trá s.
— A designer de joias? Nã o é possível. Deus, isso só piora. Vocês sã o
quase parentes. Sua mã e já sabe? — Começou a andar em círculo, em um
comportamento totalmente diferente.
— Ela mesmo, a designer de joias e sim, avisei minha mã e. Ela e o papai
ficaram o tempo todo dando apoio aos pais da Bea, até o final da
cirurgia. — Tentei abraçá -la, mas Lucy se esquivou, estava totalmente
alterada. — Calma, Lucy, venha comer algo. Depois vamos juntos para o
hospital. Entenda uma coisa, foi um acidente que você nã o teve culpa
alguma com uma infeliz coincidência. Tente se acalmar. — Tentei soar
tranquilo, mas falhei miseravelmente.
Ela ficou histérica, gritando pelo apartamento:
— Eles vã o me acusar de negligente, desatenta! Com certeza devem
achar que a culpa foi minha, é capaz de moverem um processo contra
mim! — desabafou.
Respirei fundo porque, nesse momento, era minha responsabilidade
fazer com que ela voltasse ao seu estado normal, e eu precisava ir para o
hospital.
— Lucy, você precisa se controlar. — Ela me fuzilou com o olhar. Ainda
bem que Tereza percebeu a gravidade do problema e trouxe á gua com
açú car, tentando apaziguar um pouco a situaçã o.
Depois de algum tempo, Lucy começou a se recuperar do quase surto,
conseguimos comer algo e saímos em seguida para o hospital.
A noite foi bem agitada, Lucy estava inquieta, mexendo muito, quando
perguntei se precisava de algo, ela claramente fingiu dormir, achei
melhor respeitar e nã o insisti mais.
À s sete horas, já estava no hospital. Tinha uma cirurgia bem complicada
hoje, gostava de chegar com bastante antecedência para me preparar
com tranquilidade. Eu e a Lucy mal trocamos algumas palavras e parece
que seu dia estaria bem corrido hoje também.
Tive que me controlar para nã o passar no quarto da Beatrice assim que
cheguei, mas agora, depois da cirurgia, eu estava mais tranquilo e era o
melhor momento para vê-la. A porta estava apenas encostada e percebi
vozes no quarto, assim mesmo entrei sem bater.
— Blake, comentei agora sobre você, nã o apareceu aqui hoje? — Katie,
como sempre muito calorosa, me puxou para um abraço, mas de relance
vi que Beatrice estava com uma visita.
— Olá , Katie, só agora terminei a cirurgia, que começou cedo, mas antes
de vir para cá falei com o médico que fez a cirurgia da Beatrice, ele me
disse que a mocinha aí está ó tima. — Só nesse momento nos olhamos.
— Que notícia boa, meu filho. Blake, você já conhece o Miguel? — Ela
deve ter percebido um certo constrangimento no ar, entã o adiantou-se
em apresentar o estranho.
— Boa tarde, sou Miguel Ortiz, namorado da Beatrice. — Agora sim, me
lembrei de onde o conhecia, ele estava no evento das joias.
— Muito prazer, Blake Lancaster, sou amigo da família.
Entã o Beatrice estava namorando e, pelo sotaque, era um espanhol.
Cumprimentei e me dirigi a mulher que estava tirando o meu sossego.
— E você, Bea, como está se sentindo, alguma dor ou incô modo? —
perguntei o mais profissional que consegui. Ela estava visivelmente
incomodada.
— Estou me sentindo muito bem, nã o vejo a hora de ir para casa.
— Meu amor, nã o tenha pressa, você precisa estar totalmente
restabelecida para receber alta. Nã o estou certo, dr. Lancaster. — O tal
namorado fez um carinho em seu rosto. Claro que nã o fui com a cara
dele.
— Está conseguindo alimentar-se direito, parou o enjoo? — Continuei
no modo médico, antes que eu quebrasse a cara desse almofadinha.
— Estou comendo melhor e nã o tenho sentido enjoo — respondeu
quase monossilá bica.
Katie até tentou puxar uma conversa, mas o estresse era nítido, pelo
menos para mim, entã o achei melhor me retirar. Dei uma ú ltima olhada
em direçã o a Beatrice, mas ela já tinha voltado sua atençã o para o
namorado. Despedi-me rapidamente e Katie me acompanhou até a
porta.
— Nã o sei como vocês conseguem viver em um ambiente hospitalar
tanto tempo. Me acompanha em um café? — Katie passou a mã o em meu
braço e fomos para a lanchonete. Eu também estava precisando de uma
dose de cafeína.
— Que bom que você está sempre por aqui, fico mais tranquila. Foi um
susto muito grande, Blake, mas graças a Deus minha filha está bem. Só
realmente gostaria de levá -la para casa o mais rá pido possível.
Entendia a Katie, realmente ficar em um hospital aguardando a
recuperaçã o da filha nã o era tã o simples.
— Sua irmã ligou hoje pela manhã para a Bea, ficaram quase uma hora
conversando, nã o sei como aquelas duas tem tanto assunto. Sempre foi
assim desde que eram crianças. Mas me conte, querido, como está a sua
vida agora que voltou para casa?
— Estou me adaptando bem, morar em Londres foi uma experiência
maravilhosa, mas de fato a vida lá é bem diferente daqui onde tudo é
mais agitado, a cidade parece que nunca dorme, mas estava na hora de
voltar. — Fui sincero.
Quando chegamos à cafeteria, o cheiro gostoso me deu até â nimo.
Fizemos nosso pedido, que chegou rapidamente: dois expressos
fumegantes.
— Sua mã e está radiante, agora só está faltando um netinho para ela
ficar realizada. — Katie me olhou curiosa.
— Essa missã o vou deixar para a Liv. — Bebi um gole do meu café,
tentando disfarçar o meu desconforto com esse tema.
— Meu filho, uma criança é uma bênçã o, veja o Matteo, tã o feliz na
expectativa da chegada de uma garotinha, nã o acha que está na hora de
começar a pensar nisso? Desculpe, nã o quero ser invasiva, podemos
mudar de assunto. — Acho que ela percebeu que essa era uma questã o
que me incomodava.
— Nã o está sendo invasiva, fique tranquila, na verdade eu até quero
muito ser pai, mas isso nã o está nos planos da Lucy atualmente. —
Abaixei a cabeça tentando evitar contato visual.
— Você sabe que gosto muito de você, nossa família é tã o ligada que me
sinto quase uma tia sua, apesar de que eu preferia ser sua sogra. — Katie
abriu um sorriso envergonhado. — Nunca falamos sobre isso, Blake, mas
na época que Bea se apaixonou por você e vocês tiveram aquele rá pido
envolvimento, tive esperanças de que finalmente ficariam juntos.
Ela segurou minha mã o com carinho e eu franzi a testa sem saber o que
dizer.
— Me desculpe tocar neste assunto, afinal hoje você está casado e minha
filha parece estar em um namoro sério, mas nã o queria deixar essa
oportunidade passar. Quero que saiba que tanto você quanto a Liv sã o
família para nó s e o que você precisar estarei aqui sempre.
— Eu agradeço seu carinho, fico até sem jeito em falar sobre isso, mas a
Beatrice sempre foi muito importante para mim, confesso que cheguei a
ficar balançado na época que ficamos juntos, mas eu tinha um objetivo
traçado em minha vida e, naquela época, nã o conseguia enxergar outro
caminho. — Fui realmente honesto, essa era a mais pura verdade.
— Acredito em você. Apesar da Bea estar bastante segura do que queria,
sofreu muito na época, desde novinha se encantou com você. Ela vai me
matar se souber que estamos falando sobre isso, mas minha filha só
desistiu depois que você se casou.
— Nossa, essa é uma informaçã o surpreendente, achei que tivesse sido
uma paixã o de adolescente, imaginei que ela tinha seguido a vida,
deixando tudo o que vivemos como uma boa lembrança. — Comecei a
me sentir muito mal com essa conversa e Katie percebeu.
— Mas tudo isso é passado, meu querido, mais uma vez estou sendo
intrometida. Tome seu café tranquilamente, vou voltar para o quarto. Me
desculpe mais uma vez. — Acho que ela se arrependeu do que falou,
levantou-se rapidamente e se despediu me deixando com os meus
pensamentos mais confusos ainda.
A Olívia nunca falava da Beatrice comigo, sempre que perguntava por
ela, recebia respostas vagas, entã o achei melhor nã o insistir. Aquelas
duas eram tã o unidas, que, mesmo sendo minha irmã , Olívia jamais
trairia a confiança da amiga.
De onde surgiu aquele namorado? Por que motivo isso está me
incomodando tanto? Ele parecia bem à vontade como se fosse da família.
Tenho que tirá-la da minha cabeça. Não sou um canalha de merda, mesmo
tendo sido um covarde e egoísta no passado, agora depois de tantos anos,
casado, não posso sequer ficar pensando nela, que já está com a vida
estruturada, não é correto isso.
— Dr. Lancaster, seus residentes já o estã o aguardando para a reuniã o na
sala de treinamento do 3º andar. — Minha assistente me trouxe de volta
para a minha realidade. Precisava me concentrar no meu trabalho,
afinal, foi por ele que abandonei a ú nica mulher que realmente mexeu
comigo.
— Obrigado, Audrey, nã o sei o que seria de mim sem você. — Abracei a
senhora que, desde que cheguei aqui, era o meu braço direito,
organizava tudo facilitando assim a minha vida.
Quando entrei na sala me vi naqueles residentes do primeiro ano, loucos
para aprenderem tudo, eles tinham o mesmo brilho nos olhos que eu
tinha. Entã o, respirei fundo e deixei as minhas ú ltimas preocupaçõ es do
lado de fora concentrando-me em outra coisa que me fazia sentir vivo:
transmitir todo o meu conhecimento.
A vida só pode estar querendo brincar comigo. Agora que parecia que as
coisas estavam ficando tranquilas e conheci finalmente um homem que
me despertou interesse, vinha esse fantasma do passado para me tirar
do eixo, isso nã o era justo.
— Bea, desde que cheguei tenho notado que você está muito alheia, nã o
comentei nada porque sua mã e e o Miguel estavam aqui, mas agora que
estamos só nó s duas, vá logo desabafando, pois sei que tem algo aí te
incomodando. — Helena ajeitou meu travesseiro e puxou a cadeira
sentando-se mais perto da cama.
— Você nã o imagina o que está acontecendo em minha cabeça? — falei
muito desanimada, na verdade nem queria conversar, mas sabia que
Helena nã o ia largar do meu pé.
— Amiga, eu sei exatamente o que está acontecendo. Deve ser muito
difícil mesmo ter dois gostosõ es aos seus pés te paparicando, tadinha.
Revirei os olhos impaciente.
— Desculpe, só quero te distrair. — Piscou e jogou um beijo. — Vamos
lá , nã o me esconda nada.
— Minha vida está de cabeça para baixo presa nessa cama, cheia de
ideias para uma nova coleçã o e, para piorar a situaçã o, com o Blake por
perto o tempo todo. Eu nã o sei até quando vou aguentar essa
proximidade — desabafei quase chorando.
— Sem falar do Miguel, acho que ele ficou cismado com Blake, observei
que, quando cheguei e perguntei pela Katie, me deu uma resposta rude:
“Saiu com aquele médico amigo da família”. — Helena imitou a voz
grossa do meu namorado.
— Também notei isso, só que achei que talvez fosse coisa da minha
cabeça. Ele deve ter percebido a tensã o no ar, estávamos aqui
conversando tranquilamente, planejando uma viagem para quando eu
estiver melhor, quando Blake chegou, aí travei totalmente. Ele é um
homem experiente, certamente viu que fiquei diferente, mas inteligente
que é, nã o comentou nada. Pelo menos por enquanto. Nena, Blake já era
pá gina virada na minha vida, mas nã o posso negar que ele ainda mexe
muito comigo, isso é uma loucura sem fim nã o vou deixar que esse amor
renasça das cinzas, me impedindo de viver um novo relacionamento
com outra pessoa.
— Concordo com você e estarei sempre ao seu lado para te lembrar isso,
se essa for a sua escolha.
— Sei que posso contar com você, amiga, mas me diga, tenho outra
escolha que nã o seja a de tamponar esse sentimento que teima em
ressurgir? Nã o se esqueça de que ele é CASADO. — Dei ênfase à palavra
casado, para nã o esquecer esse detalhe definitivo.
Finalmente chegou o dia da minha alta, desde que acordei já estava
pronta aguardando o médico me liberar, precisava sair daqui. Receber
diariamente a visita de Blake fazia loucuras com o meu emocional.
— Miguel, que bom que você veio, quem sabe você consegue diminuir a
ansiedade da minha filha! — Minha mã e reclamou, mas ela também
estava louca para me levar para casa, ela sabia que a presença de Blake
nunca seria indiferente para mim.
— Eu imagino o quanto Beatrice está aguardando sair daqui, acho que
ninguém gosta de passar uma temporada em um lugar assim, mesmo
sendo um hospital tã o bom quanto esse. — Miguel, como sempre um
cavalheiro, estava me ajudando a recolher os meus pertences e
colocando na pequena mala que minha mã e trouxe.
Ouvimos uma batida na porta e meu coraçã o traiçoeiro disparou na
mesma hora, mas para minha tranquilidade nã o era ele. Antes tivesse
sido.
— Bom dia, vejo que já está pronta para partir — disse Lucy
educadamente, porém um pouco sem graça.
— Já está na hora, apesar de todo cuidado que fui tratada aqui no seu
hospital quero muito voltar para casa.
— Beatrice, mais uma vez preciso me desculpar com você. — Lucy se
aproximou com a voz um pouco embargada.
— Lucy, por favor, esqueça isso, ok? Eu já esqueci. Deixa-me te
apresentar o meu namorado. — Mudei de assunto, já nã o aguentava
mais ela sempre me pedindo desculpas. — Miguel, essa é Lucy
Lancaster, uma das diretoras do hospital.
— Muito prazer, mas esse é o sobrenome...
— Sim, ela é a esposa do Blake. — Nem o deixei terminar e já esclareci
sua dú vida para tranquilizá -lo. Afinal, se ele percebeu algo entre mim e
Blake, agora sabendo que ele era casado, talvez esquecesse o assunto. Os
dois trocaram um aperto de mã o.
— Exatamente, somos casados e ele deverá passar aqui para assinar sua
alta, já que o seu médico está em cirurgia. Fico feliz que você se
recuperou bem. — Depois de alguns minutos conversando sobre
amenidades com minha mã e, Lucy despediu-se nos deixando na
expectativa da chegada de Blake.
Algum tempo depois da saída de Lucy, minha mã e disse que precisava
comer algo. Nã o sei por qual motivo, mas achei que isso era invençã o
dela, pois nunca a vi reclamar de fome no meio da manhã .
— Miguel, me acompanha? Bea nã o vai se incomodar, nã o é, querida?
Nã o gosto de andar por aqui sozinha. — Aí está , ela tinha algum plano.
— Claro, Katie, eu também estou precisando de um café. Você ficará bem
sozinha alguns minutos, linda? — Miguel jamais recusaria um pedido da
mamma.
— Podem ir tranquilos. Estou ó tima, vou terminar com isso aqui. —
Apontei para as minhas coisas praticamente quase todas já organizadas
na mala.
Estava de costas quando percebi um movimento na porta e, claro,
percebi seu perfume de imediato.
— Vejo que a senhorita já está de malas prontas — Blake brincou, estava
com uma folha de papel em uma mã o e a outra estranhamente estava
para trá s.
— Já é tempo, nã o é? O trabalho de todos aqui do hospital é impecável,
mas, convenhamos, hospital é o ú ltimo lugar que qualquer pessoa queira
passar uns dias.
Rimos, meio sem graça e as faíscas estavam lá , deixando os pelos da
minha nuca arrepiados.
— Bem, aqui está sua alta, os medicamentos que você terá que continuar
usando por algum tempo e meu celular. Caso você tenha qualquer
problema, nã o hesite em me ligar.
Confirmei com a cabeça.
— A Lucy esteve aqui mais cedo. — Tentei quebrar o climã o trazendo a
esposa dele para o meio da nossa conversa.
— Eu sei, ela me disse que você estava agoniada para ir embora. —
Aproximou-se um pouco mais. — Trouxe isso para você.
Foi aí que entendi o motivo dele estar com a mã o para trá s, Blake estava
escondendo um lírio rosa.
Olhei para a flor e depois para ele, um misto de sentimentos me invadiu:
raiva, alegria, vontade de esmurrá -lo. Mas fiquei parada sem dizer uma
palavra.
— Eu nunca me esqueço o quanto você ama essa flor e pude notar outro
dia que você ainda usa o pingente que te dei. — Seu olhar era tã o
profundo e com um brilho diferente.
Meu Deus, esse homem quer me enlouquecer.
— Eu nunca deixei de usar o pingente, é como um amuleto para mim.
Obrigada, Blake. — Peguei o lírio e me afastei. Ainda bem, pois foi nesse
momento que minha mã e e Miguel retornaram.
Enquanto todos se cumprimentavam, eu aproveitei para guardar o
presente na mala fechando-a discretamente, nã o queria ter que explicar
nada para Miguel, mas vi o olhar da minha mã e e entendi tudo.
Quando Blake se despediu, finalmente nos dirigimos à casa dos meus
pais, já que eles nã o me deixaram nem pensar em ficar sozinha no meu
apartamento.
O trâ nsito até os Hamptons estava caó tico, muito movimento na estrada.
Quando cheguei, já passava das 20h, entã o a ú nica coisa que consegui foi
tomar um longo banho, fazer um sanduíche gigantesco e beber duas
taças de vinho. Estava esgotado, nem vi quando adormeci.
Fazia tempo que nã o dormia tã o bem, talvez o vinho tenha contribuído
para me deixar relaxado, o fato é que acordei cedo e totalmente
renovado. Depois do café perfeito, coloquei minha sunga e saí em busca
da minha velha prancha de surfe, fiquei no mar por horas, encontrei
alguns caras da época que passava as férias aqui, conversamos um
pouco entre uma onda e outra, alguns deles já eram pais e estavam com
seus filhos, ensinando-os a pegar onda.
Quando já estava morto de cansado, resolvi que já era hora de preparar
algo para comer, despedi dos rapazes e saí em direçã o à minha casa e de
sú bito achei que estava tendo um déjà vu23. Quando olhei para o
sombreiro que ficava mais perto da casa dos Tomarolli, nã o acreditei no
que meus olhos viam, imediatamente uma sensaçã o de felicidade
invadiu o meu peito.
Lá estava sentada em uma espreguiçadeira a responsável pelas minhas
noites agitadas. Ela mesma, Beatrice, meu lírio. Linda como sempre, com
um biquíni branco, de rabo de cavalo, parecendo a adolescente que
sempre estava me esperando sair do mar.
Quando me aproximei, ela abriu o sorriso mais lindo do mundo, tive
certeza naquele momento que estava perdido, nã o tinha como fugir, essa
mulher mexia comigo de uma forma tã o absurda, que teria que fazer um
esforço sobrenatural para nã o passar dos limites considerando que
atualmente ela nã o era uma mulher livre.
— Nã o acredito que é a srta. Tomarolli em pessoa, aqui como nos velhos
tempos. — Nã o resisti e, quando cheguei perto, me sacudi junto dela
respingando á gua como costumava fazer antigamente sob os gritos de
protestos dela e da Olívia.
— Blake, você está molhando meu desenho, algumas coisas nunca
mudam, nã o é? — Deu um gritinho, fez cara de brava, mas sabia que
estava brincando.
— Só nos encontramos assim, por obra do destino?! — Enterrei minha
prancha na areia e me sentei na ponta da espreguiçadeira.
— Nem acreditei quando olhei para o mar e percebi que era você ali
diante dos meus olhos, surfando. Lembrei-me da Liv, ela sempre gostava
de te observar nadando ou surfando, sempre foi sua fã nú mero um.
— Até onde sei, você também era do meu fã -clube — brinquei puxando
seu desenho, esse sempre foi seu maior passatempo.
— Ora, se nã o é o velho Blake convencido! — Tentou pegar o desenho de
volta.
— Coleçã o nova, Bea? Como tudo que você desenha, está lindo.
— É uma parceria com uma joalheria suíça, eles me encomendaram uma
coleçã o de comemoraçã o do aniversá rio de 50 anos da empresa. Mas sã o
apenas os esboços iniciais.
— Estã o perfeitos, será outro sucesso da Lily Jewelry.
Claro que o nome da sua empresa tinha a ver com nossa histó ria, nã o foi
à toa que ela imediatamente desviou o olhar, focando no mar em sua
frente.
— Veio passar o final de semana aqui também? — Mudou
estrategicamente de assunto.
— Cheguei ontem à noite, decidi finalmente descansar um pouco, o
ritmo do hospital é insano sempre e nada melhor do que essa paz aqui
para recuperar as energias. E você, veio sozinha ou está com o
namorado? — quis logo saber se a sorte estava do meu lado.
— O Miguel ainda está viajando, vim com os meus pais, eu também
estava precisando descansar um pouco.
— Estou indo preparar algo para comer, quer ser minha cobaia mais
uma vez? Faço o almoço rapidinho, você pode escolher o prato, uma
massa ou um risoto. — Arrisquei o convite.
— Aí é covardia, você cozinhando e com duas sugestõ es que amo, fica
difícil de recusar. — Percebi seus olhos brilharem.
— Entã o levante-se, você será minha sous chef24.
— Estou honrada com esse cargo, dr. Lancaster. — Fez uma reverência
exagerada, vestiu o shortinho jeans, pegou seu desenho e a bolsa.
— Trouxe uns pã ezinhos de alho maravilhosos, que serã o nossa entrada
e tem também aquele vinho que você ama da vinícola do seu avô . —
Segurei sua mã o e fomos em direçã o à casa. — Bea, você conhece a casa,
entã o fique à vontade. Vou tomar um banho rapidinho e já volto. Se
quiser, pegue o vinho ali na adega.
— Vou te aguardar para abrirmos o vinho, enquanto isso vou ligar para a
mamma e avisar que nã o vou almoçar com eles. O plano era almoçarmos
no restaurante da marina, mas vou preferir a comida do renomado
cardiologista — zombou pegando o celular.
Estava me sentindo como um adolescente que levou a namorada pela
primeira vez em sua casa, ansioso demais. A visã o de Beatrice com
aquele biquíni veio na minha mente e me deixou com uma ereçã o
dolorosa, optei por um banho gelado para acalmar os â nimos, nã o podia
passar vergonha.
Quando já tinha contornado a situaçã o vexató ria em que me encontrava,
coloquei uma bermuda confortável, uma camiseta, borrifei meu perfume
que ela costumava elogiar e fui ao seu encontro para, finalmente,
preparar o almoço.
— E entã o, conseguiu falar com a Katie? — Já fui em direçã o à adega.
— Sim, eles ainda estã o se preparando para sair. Vamos abrir o vinho do
nonno? As taças ainda ficam no mesmo lugar?
— Sim, no armá rio à direita. — Me trazia uma paz e tanto vê-la
circulando pela casa com intimidade.
— Pensei bem enquanto você estava no banho, vou optar pelo risoto.
Abri o vinho, coloquei um pouco em nossas taças e fiz o movimento para
brindar.
— Ao que estamos brindando, Blake?
— Ao nosso reencontro. Que nunca mais nos percamos um do outro. —
Minha voz saiu sussurrada demais. Nã o era essa a intençã o. Ela nã o
respondeu nada, mas encostou sua taça na minha. — Por favor,
assistente, pegue os pã es de alho, que estã o no freezer, coloque-os no
forno e fique de olho para nã o deixar queimar.
— Sim senhor, chef. — Bateu continência.
— Acho que vou fazer o risoto de limã o siciliano com cubos de salmã o, o
que acha?
— Perfeito para mim. Pensei em montar uma tá bua com os queijos que
vi na geladeira, pode ser?
— Fique à vontade, assim nã o morremos de fome enquanto preparo o
prato principal. Bea, por favor, coloque uma mú sica. Escolha o que você
quiser.
— Vou colocar em modo aleató rio começando com Seal. A Liv uma vez
me disse que na sua sala de cirurgia sempre tem mú sica, qual o estilo
que você gosta para esse tipo de “evento”? — Fez aspas com o dedo.
— Para esse tipo de “evento” — fiz as mesmas aspas — prefiro mú sica
clá ssica, me deixa mais concentrado.
Depois da segunda taça de vinho, percebi que Beatrice estava bem solta,
brincando mais. Ela fez uma tá bua de queijos decorada com tomate
cereja e rú cula, regou azeite e polvilhou orégano, depois nos serviu o
pã o de alho. O clima nã o poderia ser melhor: leve, muita risada. E a
tensã o que esteve sempre presente desde que nos reencontramos,
desapareceu completamente.
Beatrice preparou uma mesa elegante para o nosso almoço e nos
deliciamos com o risoto, que modéstia à parte ficou maravilhoso.
Abrimos outra garrafa de vinho e, assim que terminamos o almoço,
fomos para a varanda e nos sentamos confortavelmente em um sofá de
frente para a piscina. A conversa fluiu naturalmente, ela me contava seus
planos para as pró ximas coleçõ es, eu comentei os meus projetos no
hospital, parecia que o tempo nã o tinha passado e estávamos novamente
naqueles dias quando só recentemente me dei conta, foram os mais
felizes da minha vida.
De repente, uma mú sica cheia de significado começou a tocar e o ar
pesou: Kiss me foi a mú sica que dançamos no aniversá rio de quinze anos
da minha irmã , só que essa era uma versã o mais lenta cantada por
Pomplamousse.
Nã o pensei duas vezes e puxei-a para dançar, para minha sorte ela nã o
resistiu. Seu corpo grudado ao meu e seu perfume me enlouqueceram.
Inicialmente achei que me controlaria, mas quando ela deitou a cabeça
em meu ombro, nã o resisti e beijei seu pescoço, uma, duas, três vezes.
Quando percebi, minhas mã os já estavam em suas costas, minha vontade
era desfazer o nó do biquíni, mas nã o queria me precipitar, precisava de
algum sinal dela.
Quando ela levantou a cabeça, nosso olhar ficou congelado por alguns
segundos, a essa altura meu coraçã o estava acelerado e sua respiraçã o
ofegante denunciava que ela também estava sentindo o mesmo que eu.
Em seguida, meus olhos desceram involuntariamente para os seus lá bios
e ela os abriu como um convite, sem pensar muito colei meus lá bios nos
dela e um beijo guardado por anos explodiu de maneira incontrolável,
ela passou as mã os na minha nuca nos grudando ainda mais e a
sensaçã o era de comportas de uma represa sendo abertas sem controle.
Levantei seu corpo como se nã o pesasse nada e ela envolveu suas pernas
em minha cintura, já estava duro e com esse contato sentia que poderia
explodir a qualquer momento. Caminhei até o sofá com ela enroscada
em mim. Deitei-a lentamente sem descolar nossas bocas e assim
ficamos, nos devorando. Estava totalmente dominado pelo seu toque,
sentia meu corpo em brasa, quando Beatrice deslizava sua mã o pelas
minhas costas.
Consegui finalmente desamarrar o maldito biquíni e aí foi a minha ruína,
ali diante dos meu olhos tive acesso aos seios mais lindos que já vi, do
tamanho certo, mamilos rosados e durinhos me aguardando,
imediatamente mordisquei, lambi e ouvi seu gemido em rendiçã o. Sua
pele arrepiou e a respiraçã o descompensada demonstrava o quanto
também estava impactada.
Beatrice começou a puxar minha camiseta, totalmente entregue. Quando
me afastei para tirá -la, algo mudou em seus olhos, como se tomasse
consciência do que estava acontecendo, imediatamente se cobriu.
— Nã o posso, Blake, isso é loucura. Eu, eu... — começou a gaguejar e
buscar o biquíni. — Eu tenho namorado, nã o sou assim, nã o posso.
Preciso ir embora.
— Calma, Bea, respire. Por favor, me desculpe, a culpa é minha, eu que
forcei a situaçã o.
— Nã o, Blake, a culpa é minha, eu me deixei levar, isso nã o está certo.
Nã o podemos nos envolver, tem o Miguel.
Ouvir o nome daquele imbecil foi uma facada no meu peito. Me obriguei
a controlar minha ansiedade. Nã o queria que ela se sentisse mal por
isso. Começou a juntar as coisas para ir embora.
— Bea, por favor, vamos conversar. Nã o saia assim, você nã o pode negar
que temos uma química, um tesã o louco um pelo outro. Precisamos
conversar, estou aqui agora, por favor, nã o nos negue isso.
Ela virou-se com os olhos cheios de lá grimas ainda nã o derramadas,
abriu a boca vá rias vezes, mas nã o conseguiu dizer nada e assim saiu
porta afora. Corri atrá s dela, gritando seu nome, mas ela nã o olhou para
trá s e se foi. Achei melhor nã o insistir, nã o naquele momento.
Daria um tempo para ela assimilar tudo, seus sentimentos, mas minha
decisã o estava tomada: eu vou lutar por ela e ninguém, irá me impedir.
Meu Deus, o que foi isso? Estava indo tudo tão bem, o almoço delicioso, o
vinho que ele lembrou que amava, aquele perfume que me entorpecia, aí
bastou tocar a nossa música para eu esquecer tudo e me deixar levar pelo
seu toque, seus beijos, aqueles olhos que me cegavam completamente.
Como deixei as coisas chegarem nesse ponto? Simplesmente nã o consegui
resistir.
Blake me tirava toda a razã o, eu nã o podia estar errada, ele me queria
tanto quanto eu, nó s dois estávamos totalmente entregues, isso nã o era
de modo algum invençã o da minha cabeça. Sua respiraçã o ofegante, seu
coraçã o tã o acelerado quanto o meu, todos os poros da sua pele
exalavam um desejo incontrolável, da mesma maneira como eu me
sentia.
Isso não pode estar acontecendo novamente. Ou pode?
Se tinha alguma incerteza quanto ao meu relacionamento com Miguel,
agora nã o restava a menor dú vida do que deveria ser feito: tinha que
colocar um ponto final nesse namoro, antes que alguém saísse muito
magoado.
Entrei no chuveiro e deixei a á gua gelada levar embora todo esse fogo
que estava me consumindo. Ao mesmo tempo que a culpa me consumia,
uma sensaçã o maravilhosa me deixava em êxtase. Ver Blake louco de
tesã o, completamente sem controle, era a materializaçã o de todos os
meus sonhos. Eu ainda o amava, por mais que tentasse negar, esse
homem era e sempre seria o amor da minha vida e nada mudaria isso.
Depois do longo banho, coloquei uma roupa confortável e me deitei na
cama na doce ilusã o de que conseguiria acalmar os meus pensamentos.
Foram anos fugindo desse sentimento, que agora sem pedir permissã o
estava minando todo o meu discernimento. As lá grimas que até entã o
estava conseguindo controlar rolaram intensamente.
Comecei a despertar, como estava escuro fiquei sem entender onde
estava, quando ouvi uma batida na porta, em seguida vi minha mã e
entrar no quarto com cuidado.
— Oi, mamma, entre, já estou acordada. — Preciso muito dela agora.
— Filha, quando cheguei, passei aqui no seu quarto, mas você estava em
um sono tã o pesado que nã o tive coragem de te acordar.
Sentou-se na minha cama com a testa franzida em sinal de preocupaçã o.
— O que aconteceu, Bea? Achei você tã o animada quando me ligou
dizendo que tinha outros planos para o almoço, agora chego aqui e você
está com o rosto todo inchado, com certeza pelo muito que chorou. —
Me puxou para um abraço.
— Encontrei com o Blake na praia e ele me convidou para almoçar. —
Funguei tentando nã o chorar mais.
— Eu sabia. Hoje cedo na praia, eu e seu pai o vimos quando estava indo
surfar. Nã o te disse nada, pois achei que seria melhor você descobrir
sozinha, e talvez até nem se encontrassem. Me conte o que aconteceu
para te deixar assim tã o abalada?
— Estava indo tudo muito bem, eu o ajudei a preparar umas comidinhas
de entrada e ele se dedicou ao prato principal, fez um risoto sensacional.
Ele serviu aquele vinho rosé do nonno que amo, inclusive ele lembrou
desse detalhe. Ficamos conversando sobre nossas vidas, de como
amamos o que fazemos... — Parei de falar e fiquei pensativa.
— Até aí nã o estou percebendo nada demais. Continue, filha.
— Depois do almoço, já estávamos na segunda garrafa de vinho, entã o
começou a tocar aquela mú sica.
— A mú sica que você dançou com ele no aniversá rio da Liv? — Mamã e
nã o esquecia um detalhe.
— Essa mesmo. Ele me puxou para dançar e claro que fui. Estava mais
solta por conta do vinho, nã o vi nenhum perigo nisso, mas nã o demorou
muito e o clima esquentou. — Me levantei e andei pelo quarto.
— Vocês transaram? — Dona Katie sempre sem rodeios.
— Nã o, mamma, claro que nã o. Mas quase aconteceu. Nos perdemos nos
beijos enlouquecedores e, quando ele se afastou um pouco para tirar a
sua camisa, a realidade mostrou a cara e eu fugi. Disse que nã o e saí
correndo.
— E ele, o que fez?
— Correu atrá s de mim querendo conversar, me pedindo desculpas, mas
saí feito uma louca, sem olhar para trá s. Ele deve ter achado melhor me
dar espaço.
Um silêncio sombrio tomou conta do quarto por alguns segundos até
que minha mã e veio com a pergunta mais difícil da minha vida:
— E o que você está pensando em fazer?
— Vou fazer o que é certo. Terminar com o Miguel, nã o posso mais
continuar com esse namoro. Definitivamente nã o o amo. Nã o sei o que
acontecerá entre mim e Blake, mas uma coisa eu tenho certeza: mesmo
que nunca fiquemos juntos, meu coraçã o é dele, talvez isso nunca mude.
— Minha filha, eu sinto tanto por você ainda nã o ter se acertado com o
Blake. O amor é mesmo cheio de mistérios, quem sabe agora é a chance
de vocês. Termine sim com o Miguel, dê um tempo para você se
organizar emocionalmente e deixe o sentimento falar mais alto, nã o
racionalize tanto.
— Eu já tinha decidido falar com o Miguel antes mesmo disso tudo
acontecer. Na segunda, ele chega de viagem e terei uma conversa
definitiva — suspirei forte e coloquei a cabeça no colo da mamma.
Passei todo o domingo em casa com meus pais, conversando à beira da
piscina. Eles eram maravilhosos, me deixaram à vontade, sem perguntar
absolutamente nada sobre o Blake. No final do dia, retornamos para
Nova Iorque. Apesar de tudo, estava me sentindo mais leve e forte ao
mesmo tempo.
Quando cheguei em casa, por volta das sete da noite, preferi fazer só um
sanduíche leve, queria dormir cedo, mas meus planos de uma noite
calma e tranquila caíram por terra quando meu celular tocou e um
nú mero desconhecido apareceu na tela.
— Alô ?
— Bea, sou eu, Blake. — Aquela voz meio rouca, sussurrada, me deixava
enfeitiçada.
— Oi, Blake, tudo bem? — Tentei soar o mais natural possível.
— Acho que precisamos conversar. Você saiu muito abalada ontem, achei
melhor não insistir.
— Foi a Liv que te deu o meu nú mero? — quis desviar do assunto.
— Nem me arrisquei em pedir, ela jamais daria. Quando você teve alta,
pensei em te ligar, então peguei seu número no cadastro do hospital. Você
não acha que precisamos conversar?
— Tem razã o, a Olívia jamais faria isso. Antes de responder à sua
pergunta, preciso me desculpar, sei que pareceu meio infantil minha
fuga, mas é que me assustei com tudo o que estava acontecendo e, aliado
ao vinho, nã o consegui raciocinar direito. — Preferi ser honesta.
— Sendo assim preciso me desculpar, eu também não me controlei, ter
você ali ao meu lado depois de tantos anos mexeu muito comigo. Mas essa
é uma conversa que precisamos ter pessoalmente.
— Blake, eu estou com o Miguel e...
— Eu sei, mas você não pode negar que existe algo entre nós. Tudo o que
aconteceu ontem não foi premeditado, foi natural e muito forte tanto da
minha parte quanto da sua.
— Blake, você está certo, precisamos sim conversar, entender os
sentimentos, mas eu ainda nã o posso, nã o estou preparada.
— Tome o tempo que você precisa, mas não me negue essa conversa. Eu
vou te esperar até quando você se sentir pronta, ok?
Ele disse isso mesmo? Vai me esperar?
— Bea, você ainda está aí?
— Sim, é que fiquei pensando no que você disse. Nos falamos depois,
quando as coisas estiverem mais claras em minha cabeça, pode ser? —
Queria encerrar a ligaçã o urgente.
— Vou te esperar, boa noite, Beatrice. Durma bem.
Como se isso fosse possível!
— Você também.
Claro que rolei na cama por horas, e na segunda-feira cedo já estava no
escritó rio com a cabeça a mil, mas definitivamente decidida quanto ao
que teria que fazer.
Tomei um banho rá pido, comi algo leve, em seguida pedi um Uber, tinha
que sair logo de casa, já estava com os dedos coçando querendo ligar
para a Beatrice, mas me contive.
— Achei que você acabaria desmarcando. — Meu amigo já estava em
uma mesa estrategicamente posicionada.
— De forma alguma, hoje quero beber muito. Amanhã nã o temos
nenhuma cirurgia, só preciso ir para o hospital apó s o almoço.
— Assim que se fala, vamos pedir a primeira rodada, estou morrendo de
sede. — Kaleb pediu nossos chopes e alguns petiscos. — Me diga, Blake,
o que está te incomodando? Até onde sei, tanto você quanto a Lucy estã o
levando a separaçã o de maneira tranquila. Ou estou errado?
— Para te dizer a verdade, já estava decidido que a viagem que fizemos
para os Hamptons era a ú ltima tentativa para salvar o nosso casamento
e, como esperado, foi a gota d´á gua. Para a minha total surpresa, a ideia
da separaçã o partiu inicialmente da Lucy. — Bebi um longo gole do
chope, que desceu como uma luva.
— Encontrei com ela hoje cedo e estava ó tima, até mais sorridente, me
cumprimentou amistosamente. Estranhei, já que mal trocávamos
algumas frases ultimamente.
— Pois é, estava preparado para momentos desgastantes, onde ela se
negaria a assinar o divó rcio ou algo do gênero, mas o fato é que ela já
está providenciando tudo.
— Mas assim é bem melhor. Sua situaçã o no hospital será afetada? —
Acho que essa era a curiosidade de todos por lá .
— Continua tudo na mesma, tive uma conversa com Andrew outro dia e
ele me garantiu que nada mudará , afinal ele sempre quis que eu
assumisse a cardiologia, entã o nã o faria sentido agora que retornei de
Londres ele me dispensar.
— Ó timo, entã o um brinde aos novos tempos, à sua solteirice! —
Tocamos nossos canecos e, mais uma vez, me deliciei com a bebida
geladíssima.
— Ora se nã o é o dr. Mú sculos se divertindo um pouco! — Virei-me para
saber de quem era aquele comentá rio nada sutil.
— Helena! Que surpresa, como vai? — Levantei-me para cumprimentá -
la.
— Acho que nã o nos conhecemos — ela falou com Kaleb. Fiz as
apresentaçõ es e a convidei para sentar-se em nossa mesa.
— Vou ficar só um pouco, estou aguardando uma amiga.
Meu coraçã o errou uma batida. Será que ela estava aguardando a Bea?
— Bebe algo, Helena? — Kaleb ofereceu, já que eu emudeci com a
possibilidade de encontrar a mulher que estava me enlouquecendo com
sua distâ ncia.
— Blake, nã o precisa ficar agoniado, a pessoa que estou esperando nã o é
a Beatrice. — Bem que a fama dessa mulher era nã o ter rodeios.
— Como ela está ? Nã o nos falamos nos ú ltimos dias. — Também fui
direto sem fingimento.
— Agora está ó tima, mas você a conhece, ruminando as decisõ es, mas
tenho certeza de que ela saberá escolher o que for melhor para ela. Bom,
mas nã o vou te passar nenhuma informaçã o privilegiada, você sabe que
somos muito amigas e confidentes, entã o... — Passou a mã o na boca
como se estivesse fechando um zíper.
Ficamos os três conversando por algum tempo. Além de linda, Helena
era muito divertida, senti que Kaleb ficou bem interessado, mas, assim
que sua amiga chegou, se despediu e foi ao encontro de uma mulher
igualmente atraente.
— Entã o quer dizer que você e Beatrice finalmente darã o uma chance ao
amor do passado? — O curioso já quis saber os detalhes.
— A italianinha está me dando um chá de espera e a amiga, que poderia
me adiantar algo, você viu, um tú mulo.
Fizemos novas rodadas de chope, mas antes das 23h já estava em casa.
Eu precisava espairecer um pouco, mas nã o era de encher a cara.
Quando me preparava para dormir, meu celular vibrou. Era uma
mensagem da Olívia querendo saber se eu estava acordado.
Imediatamente fiz uma chamada para ela.
— Irmãozinho, ainda não está dormindo? — brincou, pois sabia que eu
geralmente dormia cedo.
— E aí, pequena? Já estou deitado inclusive, velhos há bitos nunca
mudam. O que houve, tudo bem com você? — Olívia me ligando assim
tã o tarde, fiquei preocupado.
— Estou com saudades, apenas isso. Quero passar uns dias aí com vocês, o
que acha?
— Notícia maravilhosa. Estou precisando mesmo de alguém para
finalizar a decoraçã o da minha nova casa.
— Como você está se saindo, o mais novo solteiro está barbarizando? —
Lá vinha as perguntas nada discretas.
— Muito trabalho, hoje consegui sair com o Kaleb e fomos beber para
distrair um pouco.
— Não acredito! Meu irmão todo certinho caindo na farra? Voltou para
casa sozinho?
— Estou fora de forma, mas nã o demora e pego o jeito, principalmente
se eu sair sempre com o Kaleb, o cara é um paquerador nato — brinquei.
— Como está a relação com Lucy? — Sua voz ficou mais séria. — Vocês
têm se encontrado?
— Surpreendentemente tranquila. Nos encontramos eventualmente no
hospital, mas a conversa gira apenas em torno de algum paciente. Nã o
imaginei que Lucy fosse ficar tã o tranquila, acho que o casamento a
estava torturando, agora está se sentindo mais livre, sorridente até. —
Senti-me tranquilo ao falar isso.
— Acho tudo muito estranho, isso não combina com ela, sempre foi muito
grudada em você, ciumenta. Tem algo aí nessa história que não está
batendo. — Percebi seus neurô nios se movimentarem.
— Pois é, mas ela já deu entrada nos papéis do divó rcio. Melhor assim,
preciso também seguir com minha vida, seu irmã o já nã o é tã o jovem,
ainda quero ter uma família, filhos.
— O que você está me escondendo, Blake? Pode começar a falar, já estou
sentada confortavelmente.
— Nã o tem nada de novo, mas decidi que quero tentar com a Bea, isso se
ela ainda me quiser.
Ficou em silêncio por alguns segundos, até que...
— Como é, Blake Lancaster? Você só pode estar louco! Beatrice está
namorando.
— Eu sei, foi uma coincidência terrível, logo agora que me separei ela
está namorando sério, mas nos encontramos casualmente outro dia e ela
percebeu claramente o quanto a quero de volta. — Fui logo franco, nã o
tinha nada a esconder.
— Na verdade, eu te liguei para te sondar — a bandida confessou. — Eu
já sei o que aconteceu nos Hamptons e que a Bea já terminou o namoro
com o espanhol.
Dei um pulo da cama, parecendo um gato assustado.
— Quando é que você iria me contar, Olívia? Por favor, nã o me deixe no
escuro, já basta a sua amiga que sumiu há mais de uma semana. —
Fiquei nervoso e feliz ao mesmo tempo. — Agora sou eu que digo, nã o
me esconda nada. O que ela te falou?
— Calma, ela está colocando a cabeça no lugar, não quer tomar nenhuma
decisão precipitada, afinal vocês dois recém-saíram de um
relacionamento. Para quem já esperou tantos anos, o que são alguns dias?
— Mas ela te disse algo? Se vai me procurar? Nã o sou nenhum menino,
nã o vou ficar como um idiota aguardando a Beatrice se decidir por mim.
— Deixe de ser esquentado. Tudo acontecerá no momento certo.
Minha irmã encheu o meu saco por mais meia hora, nã o me disse
absolutamente nada e eu fui dormir frustrado.
Depois que descobri que meu nome já estava na portaria como uma
pessoa autorizada a subir para o apartamento de Beatrice, entrei no
elevador rindo feito um idiota, mas encontrá -la em sua porta me
esperando linda como sempre, me fez o homem mais sortudo do mundo.
— Demorei, princesa? — Agarrei seu pescoço tomando-a em um beijo
urgente.
— Para dizer a verdade, você está anos atrasado, dr. Mú sculos, como diz
Nena — ela riu grudada em meus lá bios.
Fiz uma cara de interrogaçã o com o que ela comentou, trazendo-a ainda
mais para perto se é que isso era possível.
— Por favor, entre. Tenho uma vizinha que é uma senhorinha simpá tica,
mas acho que, talvez, ela nã o goste de nos ver assim em plena luz do dia.
A casa de Beatrice era cheia de personalidade, elegante em tons claros,
com plantas espalhadas por todo lado e obras de arte em lugares
estratégicos.
— Amei seu apartamento. Combina com você, lindo e sofisticado. —
Andei pela sala observando as fotografias da família Tomarolli,
obviamente nã o poderia faltar vá rias da Olívia e, para a minha surpresa,
havia uma minha saindo do mar com a prancha de surfe. Peguei o porta-
retratos e, quando me virei, ela estava encostada na parede com um
olhar safado e meio tímido.
— Eu tirei essa foto em uma das suas férias nos Hamptons. Sempre
esteve discretamente aí, achei até que você nem perceberia.
— Quando foi isso? Estou com um semblante tã o feliz.
— Foi durante aqueles dias que ficamos juntos e, de fato, você está mais
lindo ainda. Peguei um momento especial e essa foto é uma das minhas
preferidas.
— Como assim, uma das suas preferidas, você tem mais fotos minhas?
Nã o me lembro de ter autorizado você sair tirando fotos, nã o conhecia
esse seu lado paparazzi.
Fui em sua direçã o e a enlacei pela cintura fazendo-a perceber que a
essa altura, só de saber que ela me observava em segredo, já estava
pronto para tirar nossas roupas mais uma vez e esquecer do mundo lá
fora.
— Tenho alguns á lbuns com suas fotos ao longo dos anos, só parei
minha coleçã o quando você ficou noivo, aí desisti da loucura de agir
como uma stalker26 — assumiu que sempre estive presente em sua
vida.
— Quero ver esses á lbuns, mas antes preciso ter você em seus lençó is
que certamente sã o macios e sei que me tornarei um viciado. Me diga
onde é seu quarto, Bea, preciso de você agora.
Peguei-a no colo rapidamente enquanto ela me guiava para o meu
paraíso particular. Acho que o nosso programa seria em casa mesmo,
nã o tinha intençã o alguma de sair da cama até amanhã , no má ximo vou
preparar uma refeiçã o rá pida, afinal vamos gastar muita energia.
— Achei que fô ssemos sair, almoçar em algum lugar, aproveitar o dia
lindo que está fazendo.
Neguei com a cabeça, ao mesmo tempo que ela levantava os braços para
que eu pudesse tirar seu vestidinho minú sculo, que deixava pouco para
a imaginaçã o.
— Achei que, na sua idade, esse fogo todo estaria mais brando.
— Como é, Beatrice? Está me chamando de velho? Você está merecendo
umas palmadas e hoje é um bom dia para isso.
— Esqueceu que a nossa diferença de idade sã o dez anos? Isso pesa
muito no desempenho sexual.
A bandida virou-se de costas para eu abrir seu sutiã e, claro, levou uma
palmada naquela bunda empinada. Deitou-se na cama só de calcinha e
nã o resisti mais, rapidamente tirei toda a minha roupa, coloquei os
preservativos na cama e mergulhei entre suas pernas.
— Cheirosa demais, macia demais. Assim você vai me enlouquecer,
mulher.
— Apesar de ser mais velho, você sabe como agradar uma mulher. —
Mais uma vez, ela me provocou e ganhou uma mordida na barriga
chapada.
— Se continuar me provocando, nã o vou deixar você gozar por um bom
tempo, vou te levar ao limite e parar antes de você explodir.
— Que maldade é essa, dr. Lancaster? Estou brincando, nã o mereço esse
castigo tã o severo. Você nã o tem nada de velho, aliá s, você é maravilhoso
e o ú nico que consegue me levar verdadeiramente ao céu.
— Sou o ú nico, o primeiro e, a partir de agora, o ú ltimo. — Subi
distribuindo beijinhos na sua barriga, pescoço até chegar em sua boca,
que sem demora me devorou.
Beatrice estava completamente entregue ao nosso tesã o, envolveu suas
pernas em minha cintura, em busca de mais atrito e me fazendo seu
prisioneiro. Mordisquei seus mamilos, que apontavam para mim loucos
por atençã o. Os sons que ela fazia chegavam direto em meu pau, que já
estava rijo.
Desci minha mã o por suas curvas lentamente sentindo na ponta dos
meus dedos sua pele arrepiar instantaneamente. Ao chegar em seu
clitó ris, sem nenhuma surpresa, percebi que sua umidade denunciava o
quanto estava excitada. Pronta para me receber.
Quando a ouvia sussurrar meu nome me sentia o homem mais foda,
dando prazer a essa mulher incrível. Faço tudo por ela. Estou
completamente fascinado por Beatrice, nos amamos por longas horas
até, mais uma vez, tomarmos consciência de que estávamos ficando
famintos.
Dessa vez, Beatrice nã o me deixou preparar nada, entã o optamos por
pedir uma comida á rabe deliciosa e como sobremesa ela preparou um
docinho super-rá pido, que aprendeu com seu sobrinho Enrico. Acho que
já vou roubar a receita desse tal brigadeiro, simples e delicioso.
Depois do almoço, nos sentamos para assistir a um filme, mas o sono
nos pegou e acordamos com o celular de Beatrice tocando. De longe, ela
já viu que era uma videochamada da Olívia e me olhou, como se nã o
soubesse o que fazer.
— Esqueci completamente do nosso encontro. — Começou a arrumar o
cabelo.
— Atenda, nã o temos nada a esconder. Fale com ela primeiro, depois eu
apareço.
— Ela vai nos matar, Blake. Nã o tive tempo de falar com ela. Oiiiii! —
Beatrice atendeu animada demais e com uma cara de culpada, minha
irmã vai perceber no primeiro segundo.
— Beatrice, que cara de quem estava fazendo sacanagem é essa? —
Minha irmã e sua sutileza de um elefante de sempre.
— Sacanagem nada, peguei no sono, acordei com sua ligaçã o. Esqueci
que nosso encontro hoje tinha mudado de horá rio. — Agora que entrava
o elemento surpresa.
— Ela estava fazendo sacanagem sim, irmã zinha. E das boas — comecei
a rir da cara das duas.
O grito que Olívia deu deve ter sido ouvido por toda Nova Iorque.
— Traidores, estão se pegando na maior safadeza e eu, inocente, sem
saber de nada? Me contem quando isso aconteceu e por qual motivo não
fui comunicada? Logo eu, que sempre fui o maior cupido de vocês.
— Calma, amiga, nó s nos acertamos ontem, já estava nos planos te ligar
no má ximo amanhã . — Abracei Beatrice, sentindo o cheiro dos seus
cabelos.
— Olha a cara de apaixonado dos dois, aposto que não saíram da cama
desde então.
— Liv, você está querendo saber demais, mas posso te garantir que sua
amiga nã o pode reclamar, estamos em um processo de recuperar o
tempo perdido e em ritmo acelerado.
— Estou muito feliz por vocês. Blake, você sabe que sempre pedi que
deixasse a Bea em paz, já que você não tinha intenção de se mudar para
Nova Iorque na época que se envolveram. Depois você acabou se casando,
mas sempre soube que foram feitos um para o outro.
— Estamos nos redescobrindo novamente e nã o posso mais ficar longe
da minha princesa.
Beatrice me olhou emocionada.
— Finalmente, nã o é, Liv? Agora vamos nos priorizar.
— Quem mais está sabendo da novidade? — A minha irmã ciumenta já
indagou.
— Você é a primeira pessoa para quem contamos. Blake se separou faz
pouco tempo, eu também terminei o namoro com o Miguel
recentemente, entã o combinamos que por um tempo ficaremos mais
discretos, no má ximo falaremos com nossos pais e a Nena.
— Melhor mesmo, acredito que, quando a Lucy souber, ela não vai gostar
nada. Mulher tem uma cabeça meio doida, mesmo ela querendo a
separação vai ficar chateada, é o sentimento da posse falando mais alto.
— Por falar em Lucy, acabei me esquecendo de comentar com a Bea um
fato estranho que ocorreu hoje quando passei no hospital para ver os
pacientes.
Beatrice juntou as sobrancelhas em sinal de preocupaçã o.
— Olha aí, desde que você comentou que ela aceitou superbem a
separação e que a iniciativa foi dela de pedir o divórcio, achei bem
estranho. — O tom de voz da minha irmã já saiu de divertido para um
bem preocupado.
— Quando estava saindo do hospital, um dos residentes me abordou
informando que a Lucy estava descontrolada na sala de descanso dos
médicos. Quando a encontrei, parecia outra pessoa, desorientada, o
cabelo estava todo desarrumado, gritando com todos que estavam ao
seu redor.
— Sério? O que pode ter acontecido? — Minha garota segurou minha
mã o.
— Nã o faço a menor ideia, o pai dela chegou em seguida e disse que
estava tudo sob controle e que assumiria a partir dali. Como a pró pria
Lucy dispensou minha ajuda, me coloquei à disposiçã o e os deixei lá ,
vindo direto para cá .
— Olha, irmão, se eu fosse você ficaria em alerta, ela poderá sim tentar
atrapalhar a vida de vocês. — Olívia tinha razã o, eu precisava apurar
essa situaçã o.
— Na segunda vou dar uma investigada nisso — garanti para as minhas
meninas.
— Depois nos atualize, ok? Mas agora quero saber de vocês. Quais os
planos dos pombinhos?
— Por enquanto namorar muito, nã o vou largar essa mulher nunca mais.
Quando você vem nos visitar? Mamã e sente muito a sua falta.
— Como te falei outro dia, estou planejando passar uns dias aí, no máximo
em quinze dias chego em Nova Iorque e já adianto que quero muito tempo
sozinha com a Bea, não é porque vocês agora estão juntos que vou perder
a companhia da minha amiga-irmã.
— Fique tranquila, Liv, que você também é prioridade na nossa vida —
Beatrice a tranquilizou.
Ficamos por mais um tempo conversando animadamente até que
encerramos a ligaçã o.
Conforme já tínhamos decidido, ficamos em casa namorando o restante
do sá bado e, no domingo, Beatrice recebeu a ligaçã o da mã e pela manhã
convidando-a para o almoço. No primeiro momento, ela pensou em
recusar, mas pensou bem e acabou contando a novidade. Katie ficou
radiante, a relaçã o das duas era muito boa, ela sempre apoiou a filha em
tudo. Obviamente fui convidado para o almoço, entã o nosso domingo foi
cheio de comida saborosa, vinho e muito amor.
Quando chegamos na casa dos meus pais no domingo, Blake foi tã o bem
recebido que toda a tensã o que sentimos apó s o convite da minha mã e
se dissipou rapidamente. Já nã o era novidade para a minha família o
quanto sempre fui muito apaixonada por ele. Nã o era um assunto que
eu e o papà27 conversávamos, mas ele sempre acompanhou tudo meio
que de longe, afinal ele e a mamma nunca tiveram segredos.
— Seja bem-vindo, ficamos felizes em receber você em nossa casa,
querido, ainda mais ao lado da nossa filha. — Mamã e puxou Blake para
um abraço afetuoso. Meu pai foi mais comedido, mas igualmente
animado.
— Obrigado, Katie, sei que você aprova a nossa reaproximaçã o. — Blake
comentou retribuindo o abraço da minha mã e e cumprimentou meu pai
respeitosamente.
— A Ava já está sabendo que vocês estã o juntos?
— Ainda nã o, Katie, estamos planejando passar na casa dos meus pais
ainda essa semana para darmos a notícia.
— Mamma, estamos sendo mais reservados, afinal nó s dois saímos de
relacionamentos recentemente, achamos melhor ir com calma.
— Estã o certíssimos, curtam um ao outro primeiro, vocês têm muita
coisa para viver ainda. Mas faço questã o de fazer um jantar para as duas
famílias assim que vocês permitirem, ok? Agora vamos lá para fora, o dia
está muito agradável, precisamos brindar. Vocês nã o sabem como estou
radiante com tudo isso.
Minha mã e nos conduziu para a á rea da piscina onde uma mesa
lindamente decorada com flores e frutas estava nos aguardando. Meu
pai logo serviu uma bebida para o Blake e os dois começaram uma
conversa animada, inicialmente eu estava preocupada, acreditava que
ele nã o aprovaria o nosso relacionamento, mas agora vendo os dois tã o
entrosados, sentia-me mais tranquila.
O almoço foi servido com o requinte costumeiro da casa dos Tomarolli,
mas ao mesmo tempo deixando o convidado de honra bem à vontade.
Ele, inclusive, ajudou minha mã e com o molho das saladas, preparando
uma de suas receitas exclusivas.
— Bea, estou sinceramente encantada com o que Blake está me falando
sobre os pratos deliciosos que ele tem criado, precisamos fazer esse
livro de receitas virar realidade.
Pronto, agora a dona Katie terá um motivo para paparicar ainda mais o
Blake.
Foi um domingo maravilhoso, minha mã e estava radiante. Vá rias vezes a
flagrei nos observando e suspirando, nã o tinha dú vida de que estava tã o
feliz quanto eu. No final da tarde, voltamos ao meu apartamento e, para
fechar o dia com chave de ouro, eu e o Blake nos perdemos mais uma vez
em nossa paixã o, seus beijos eram como fagulhas que acendiam meu
desejo em segundos. No final da noite, nos despedimos, ele achou
melhor voltar para a sua casa, porque na segunda-feira logo cedo ele
teria uma cirurgia relevante e precisava descansar, pois se dormisse
mais uma noite comigo, descanso certamente seria uma palavra que nã o
estaria em nosso vocabulá rio.
Meu amor,
Você estava tão linda dormindo, que não tive coragem de te acordar.
Deixei seu café pronto e suas frutas cortadas estão na geladeira.
Mandei uma mensagem para Petrov avisando-o de que você sairá mais
tarde hoje. Seu celular está no silencioso, não queria que nada te
perturbasse.
Com amor,
B.
Depois da cirurgia, fui direto para a casa dos pais de Lucy conforme
tinha prometido, por sorte ela já estava dormindo, pois, sinceramente,
nã o estava disposto a retornar à quele tema de que deveríamos voltar a
morar juntos novamente. Isso nã o tinha cabimento algum.
Andrew e Sarah, meus ex-sogros, estavam me aguardando ansiosos.
Assim como eu, eles também estavam muito preocupados com a filha.
Nã o entendiam o que estava desencadeando todo esse comportamento.
— A verdade é que a gravidez foi uma surpresa muito grande para todos
nó s e principalmente para Lucy. Todos sabemos que nunca esteve em
seus planos ter filhos, está sendo um choque muito grande para ela. —
Eu realmente acreditava nisso, para a minha ex-mulher nã o estava sendo
fá cil aceitar a gravidez.
— Nó s a trouxemos para cá hoje, mas a intençã o é que ela fique conosco,
pelos menos até o bebê nascer. Amanhã vou tentar convencê-la de que
será melhor para todos. Ela nã o tem a menor condiçã o de ficar sozinha.
— Sarah sempre foi muito sensata e tinha certeza de que seu apoio
nesse momento era de suma importâ ncia para o equilíbrio da Lucy.
— Já marquei um horá rio com um psicó logo amigo meu que faz uma
trabalho bem interessante com gestantes, acredito que ele poderá
ajudar nossa filha. Ela nã o está normal, nã o podemos colocar toda a
responsabilidade na mudança hormonal. — Pelo que percebi, Andrew
estava em alerta.
— Sabemos que podem ocorrer algumas mudanças de humor,
sonolência excessiva e até alguns distú rbios emocionais, mas isso que
está acontecendo definitivamente nã o é comum. — Senti que Sarah
estava bem apreensiva.
— Quero que saibam que jamais estarei ausente, é também minha
responsabilidade manter a integridade de Lucy e do nosso filho, mas
concordo com vocês, ela precisa de ajuda profissional. — Independente
da gravidez, eu jamais abandonaria a Lucy, nã o é porque nã o estávamos
casados que deixaria de apoiá -la em qualquer situaçã o que precisasse.
— Meu filho, em algum momento da vida de vocês a Lucy demonstrou
qualquer sinal de desequilíbrio emocional? Nó s nunca percebemos
nada, mas os ú ltimos anos com ela morando em Londres a ú nica pessoa
que pode nos ajudar com alguma informaçã o é você. — Sarah estava
com a voz embargada, a pessoa alegre que sempre foi estava envolta em
uma nuvem de preocupaçã o.
— Quando ainda estávamos em Londres, nos ú ltimos tempos
eventualmente eu percebia que ela estava distante, retraída, mas nem de
longe demonstrou qualquer atitude que eu pudesse associar a qualquer
distú rbio emocional. Nã o estávamos em uma fase boa do casamento, ela
provavelmente deveria estar pensando na possibilidade de uma
separaçã o, que foi o que aconteceu e, como vocês sabem, a decisã o
inicial foi dela.
Fiquei na casa dos pais de Lucy mais tempo do que planejei, mas a
conversa com eles era necessá ria, eles entenderam que poderiam contar
comigo para o que fosse preciso. Deixei claro que eles nã o estavam
sozinhos nessa situaçã o.
Dirigi até a casa de Beatrice, com o pensamento distante, tentando
entender o que aconteceu para que Lucy mudasse tanto assim, confesso
que essa situaçã o me deixava muito triste. Precisava urgente de uma
taça de vinho e muitos beijos da minha mulher.
Assim que ela entrou no carro, senti seu perfume que tanto amava e uma
sensaçã o de paz me envolveu, definitivamente ela era o meu porto
seguro e garantirei que nada mude isso. Acharemos uma maneira de ter
a nossa vida protegida de toda e qualquer interferência externa e,
quando meu filho nascesse, tinha certeza de que ela o acolheria como se
fosse dela.
Eu sabia que nã o seria fá cil, mas a cada dia que passava percebia que
Beatrice se transformou em uma mulher cheia de personalidade e
lidaria com qualquer dificuldade que aparecesse.
— Demorei, amor? — Beijei-a com força, porque com ela nunca seria
algo leve.
— Um pouco, mas imaginei que isso aconteceria. Como está a Lucy,
melhorou? — Estava com uma ruguinha na testa, apesar de tentar
transparecer serenidade.
— Quando cheguei, ela já estava dormindo, o que foi excelente, pude ter
uma conversa bem tranquila com seus pais, me disseram que acham
melhor que a filha fique com eles pelo menos durante a gestaçã o, me
confidenciaram também que querem uma avaliaçã o mais profissional
desse comportamento que a Lucy vem apresentando, desde que soube
da gravidez e uma consulta com um psicó logo já está agendada.
— Que bom, ainda bem que sã o pais presentes. Vai ficar tudo bem, tenho
certeza disso. — Beatrice segurou minha mã o carinhosamente como
sempre, entã o dei a partida no carro, precisava chegar em casa, tomar
um banho gostoso com essa mulher linda.
Ainda nã o entendia qual liçã o a vida estava nos dando com toda essa
fase que surgiu tã o inesperadamente. O fato era que a cada dia sentia
que estava no caminho certo, e ter Beatrice ao meu lado só me fortalecia,
estava pronto para enfrentar qualquer coisa desde que estivéssemos
bem.
Quando meu filho chegasse, eu estaria preparado para ser o melhor pai
do mundo e nã o tinha dú vida de que Beatrice seria uma boadrasta
maravilhosa.
Tenho vivido essas ú ltimas semanas sempre na expectativa de Lucy ter
novas crises, sabia que tem estado mais tranquila. Blake comentou que
sempre conversava com ela no hospital e parecia que as sessõ es com o
psicó logo estavam ajudando bastante, isso era ó timo, principalmente
para o bebê, sem falar que meu namorado poderia ficar mais tranquilo.
Sentia que Blake ainda sofria com tudo o que estava acontecendo, nã o o
vi ainda completamente feliz com a chegada do filho, ele comentou que
Lucy estava entrando no terceiro mês e ela ainda nã o comprou nada
para a criança. Como amanhã era sá bado, ele queria fazer umas compras
e claro que irei com ele. Era bem desafiador para mim ter que conviver
com isso, todavia o importante era estar perto dele, tentar tornar esse
momento o mais leve possível.
— Nena, tenho uma novidade que, se fosse em outra época, iria amar,
mas na atual conjuntura vou ter que recusar o convite que acabei de
receber agora. — Deixei meus problemas um pouco de lado por ora e
entrei na sala da minha amiga, toda esbaforida.
— Ai, meu Deus, já sei que eu nã o vou gostar da novidade. Sente aí e me
conte tudo, estava mesmo precisando de uma pausa, vou preparar um
café para nó s. — Helena amava um café gourmet, sempre inventava
umas combinaçõ es exó ticas que ficavam incríveis, já fez até um curso de
barista. Na sua sala havia um armá rio cheio de especiarias, leite,
chocolate, cacau em pó que deixaria a Starbucks com inveja.
— Entã o vou querer aquele com essência de laranja e gotas de chocolate
amargo. — Era exigente na escolha e esse realmente ficava muito bom.
— Me diga o que está fazendo seus olhinhos brilharem tanto? Modo
curiosíssima ativado. — Ela mesmo reconhecia que suas anteninhas
ficavam sempre ligadas em tudo. Gargalhamos alto.
— O sr. Bolliger está muito encantado com o meu trabalho, ficou
maravilhado com os primeiros desenhos que enviei e acabou de me
fazer um convite. — Fiz suspense.
— Deixe de enrolaçã o, Bea, já estou em có licas, o que o megaempresá rio
suíço te propô s? Nã o me diga que te pediu em casamento? — Ela se
superou com esse comentá rio.
— Nena, ele é mais velho que o papà, sua louca. Nã o tem nada a ver com
isso, ele me convidou para passar uma temporada em Zurique, assim
poderia me dedicar exclusivamente à sua coleçã o de joias. Sua esposa,
que sempre está nas reuniõ es, reforçou o convite.
— Claro que você nã o aceitou, nã o é, amiga? Afinal, você nã o vai deixar o
Blake solto à mercê daquela ex-mulher louca, acertei? — Como sempre,
Helena nã o mediu o que falou. Pensou, falou o que veio na cabeça. Ainda
bem que só estávamos nó s duas agora.
— Minha recusa nã o foi exatamente por esse motivo, mas sim é por
causa do Blake, nã o quero ficar longe dele, já perdemos tempo demais.
Claro que a situaçã o com a Lucy nã o me deixa confortável, nã o por ele,
pois estou muito segura do que ele sente por mim, mas acredito que ela
pode aprontar alguma coisa na minha ausência.
— Ela já deve saber que vocês estã o juntos. — Helena tinha algo
maquinando em sua cabeça.
— Com certeza já sabe, porém Blake nã o quis abordar esse assunto
ainda, nã o vê necessidade de dar satisfaçã o da sua vida, ele já conversou
com o pai dela, que entendeu plenamente. — Bebi mais um pouco do
meu café especial, acalmando meu coraçã o.
— E ela nã o está com ninguém? Nã o é porque está grávida que nã o irá se
relacionar com alguém.
— Ele me disse outro dia que gostaria muito que Lucy refizesse a vida ao
lado de alguém bacana, que amasse seu filho, mas ele acha que ela ainda
está sozinha.
— Acabei de ter uma ideia maravilhosa, Beazinha. — Lá vem bobagem.
— Será que o sr. Bolliger nã o me aceitaria no seu lugar? Adoraria passar
uma temporada nos Alpes Suíços, colocaria minha criatividade para
trabalhar em novos cafés maravilhosos associado aos chocolates divinos,
que eles fazem por lá . — Helena fez uma cara como se estivesse de fato
sentindo o sabor dos chocolates.
— E as joias também ficariam sob sua responsabilidade, nã o é, querida?
— ri da cara de desgosto que ela fez.
— Poderíamos fazer um arranjo, você ficaria aqui desenhando em
companhia do seu médico todo músculos, me mandava tudo via e-mail e
eu apresentaria pessoalmente ao sr. Bolliger. Acho uma boa soluçã o.
— Desconfio que você colocou alguma bebida alcoó lica no seu café, já
está delirando.
— Você é muito chata, Bea, nã o sabe nem brincar — Jogou alguns post-
its em minha direçã o e sim, estávamos de volta à adolescência.
— Por falar nisso, acabou a pausa. Preciso voltar ao trabalho, hoje vou
sair mais cedo, prometi ao Blake acompanhá -lo na aula de Gastronomia.
— Amiga, já ia me esquecendo, preciso te dizer uma coisa. — Ela
levantou e seu rosto já estava sério.
— Lá vem bomba, até seu tom de voz mudou. O que foi?
— Hoje, quando cheguei, vi um carro todo preto estacionado bem aí na
frente do prédio, fiquei meio cismada, só notei porque era muito cedo,
com poucos carros estacionados na rua. Você ainda está com aquela
sensaçã o de estar sendo seguida? — Senti um calafrio percorrer todo o
meu corpo.
— Na verdade, eu me desliguei um pouco disso, já que nunca estou
sozinha. Sei que o Petrov está atento a tudo, outro dia ele achou que
estávamos sendo seguidos, aí mudou a rota e acabou chegando à
conclusã o de que poderia ter se enganado.
— De qualquer forma já avisei ao Petrov sobre minhas suspeitas, mas,
por favor, nã o vacile, ok? — Abraçou-me carinhosamente.
— Fique tranquila. Está tudo sob controle. — Abracei-a de volta e voltei
ao trabalho. Nã o podia ficar pensando nisso, ou corria o risco de ficar
neuró tica.
Minha princesa,
Apesar de não querer ficar distante de você, entendi que precisava de
espaço. As coisas saíram um pouco do controle e me dói muito saber o
quanto está sofrendo. Não tenha dúvidas do quanto você é importante
para mim, nossa história só está começando. Serei o homem que você
sempre sonhou e esperou.
Confio em nosso amor. Quando se sentir melhor, volte para casa. Estarei te
esperando.
P.S.: Enquanto escrevia este bilhete, estava ouvindo a música “I’ll Be
Waiting”, do Lenny Kravitz. Quando tiver um tempo, ouça. Ela diz muito o
que estou sentindo neste momento.
Com amor,
B.
Quando cheguei perto do quarto onde Blake estava, ouvi a voz de Olívia,
entã o entrei de vez no quarto, queria muito abraçá -la.
— Festinha com meu namorado enfermo na minha ausência, dona
Olívia?
— Beatrice Tomarolli, nã o apronte mais outra dessa, nã o tenho coraçã o
para tanta emoçã o. — Nos abraçamos longamente emocionadas, soube
que ela também sofreu com os ú ltimos acontecimentos.
— Ei, vocês duas, o doente aqui sou eu. Podem, por favor, me dar
atençã o? — meu médico enciumado reclamou.
— Oi, amor, como você está ? Quis vir ficar com você ontem, mas Kaleb
me disse que você estava medicado e dormiria toda a noite...
— Venha aqui me dar um beijo, princesa, estou louco de saudade.
Como senti falta disso, um beijo quente do meu homem.
— Por favor, vocês dois se segurem aí, estamos em um hospital — Olívia
reclamou.
— Sente-se aqui, amiga, estou com tanta saudade de você. No auge do
meu desespero, achei que nunca mais nos encontraríamos. — As
lá grimas começaram a se formar, mas respirei fundo e me controlei, o
momento agora era de comemorar e nã o de tristeza.
Mesmo na cama de um hospital, mas com a Olívia e a Beatrice ao meu
lado, jogando conversa fora, era tudo o que eu precisava para aliviar o
estresse que passei.
Quando vi Beatrice nas mã os daquele bandido, perdi o controle,
abandonei todas as recomendaçõ es de Daniel; nã o conseguiria ficar
aguardando, tinha que agir. Felizmente tudo deu certo e estamos aqui, os
três grudadinhos, conversando, falando besteira.
Perto do almoço, Daniel chegou para fazer uma visita e nos atualizar de
como foi o desfecho de toda a operaçã o.
— Já estou percebendo que o doutor super-heró i já está ó timo e sendo
mimado — Daniel brincou, mas sei que ele nã o gostou da minha atitude.
Ele era um profissional e tanto, sua perspicá cia foi fundamental e
realmente meu desespero poderia ter prejudicado todo o planejamento.
— Lembra da Olívia, Dani? E que histó ria é essa de heró i? — Claro que
Beatrice nã o deixaria passar o comentá rio.
— Claro que me lembro. Nã o esqueço do quanto vocês duas aprontavam
nos Hamptons. — Daniel abraçou Olívia carinhosamente, notei um olhar
trocado entre as duas amigas. Depois saberei o que isso significa, essas
duas tinham tantos segredos. — Respondendo à sua pergunta, Bea, seu
namorado queria participar do seu resgate. Tive que praticamente
amarrá -lo para que nã o me seguisse. O coitado do Petrov suou para
mantê-lo controlado e, ainda assim, aconteceu tudo isso aí.
— Daniel, você nã o imagina o quanto essa mulher é importante para
mim, se acontecesse o pior, certamente eu me tornaria um morto-vivo.
— Segurei a mã o de Beatrice emocionado.
— Pare com esse dramalhã o. O pior já passou, agora é seguir em frente.
— Como sempre, Olívia nos puxou para o lado bom da vida.
— Exatamente, Liv. Bom, passei aqui para informá -los que conseguimos
desbaratar toda a quadrilha que estava no comando do contrabando de
pedras preciosas, ou pelo menos grande parte dela — Daniel começou a
relatar o desenrolar do caso.
— Só me diga que aquele desgraçado do espanhol foi preso ou está
morto — rosnei com ó dio.
— Ele está no hospital, sob custó dia, mas, assim que se recuperar, será
encaminhado para a detençã o e nã o sairá tã o cedo. Pessoalmente me
empenharei para que ele apodreça na cadeia.
— E a velha bandida que se passou por boa senhora no aeroporto?
Quando me lembro da carinha de inocente que ela fazia ao contar as
histó rias da falsa família, fico para explodir de raiva. — Beatrice ficou
com a voz trêmula, nã o gostava nem de pensar nos momentos de terror
que passou.
— Parece que já existia algum problema no “paraíso” — fez sinal de
aspas quando falou a ú ltima palavra. — Quando chegamos no local onde
você estava Bea, ficamos um bom tempo na tocaia aguardando o melhor
momento para agir e observamos uma longa discussã o entre a famosa
Madame e o Miguel. A coisa foi ficando feia, até que em certa altura ele
disparou dois tiros à queima-roupa na líder do bando, inclusive foi a
nossa oportunidade de ouro para fazer a abordagem, atacamos no
momento certo. Pegamos eles de surpresa.
— Meu Deus! Inacreditável que convivi com um bandido sem ter
percebido nada.
— Esqueça isso, amiga, nã o tinha como você saber. Eles sã o ardilosos,
até a Lucy caiu na conversa dele.
— Como assim, Olívia? — Beatrice estranhou o comentá rio da amiga.
— Isso mesmo, amor, a Lucy ouviu um á udio que você me enviou
dizendo alguma coisa sobre a Suíça e, segundo ela, passou essa
informaçã o para o safado, pois ele estava sofrendo com seu
distanciamento e queria te reconquistar — esclareci.
— Passou a informaçã o para o Miguel porque também queria nos
separar com certeza, pois já sabia que estávamos juntos. Nã o tenho
dú vida disso. Mas pelo bem do seu filho, Blake, eu vou fingir que ela nã o
quis nos prejudicar.
Esse tema ainda fazia minha mulher sofrer muito, mas a temporada na
Suíça, longe de mim, só confirmava que o mais importante era que
ficá ssemos juntos e o meu filho que estava chegando seria muito amado
por ela. A Lucy nã o ia conseguir usar a criança para nos separar.
— Para finalizar, como Miguel agora também vai responder por
homicídio doloso, acabou aceitando, depois de alguma pressã o, entregar
todos os membros da robusta organizaçã o criminosa. — Nem queria
pensar na frase “alguma pressã o” que Daniel acabou de falar. — O fato é
que o FBI estava atrá s dessa corja há algum tempo, agora finalmente
conseguimos desmanchar esse covil — Daniel finalizou.
— Assim que me recuperar, eu vou preparar um jantar para comemorar
a nossa vida e todo esse resultado. Você já é nosso convidado, Daniel. —
Comecei a me animar, em breve voltaria para as minhas aulas de
gastronomia.
— A Sherlock nervosinha estará lá com certeza, nã o é? — Senti um ar de
provocaçã o. Beatrice me olhou sem entender nada, nã o aguentei e
gargalhei em seguida.
— Amor, você perdeu as farpas e alfinetadas que Daniel e Helena
trocaram. Se o momento nã o fosse tã o tenso, juro que poderia ter me
divertido assistindo as provocaçõ es dos dois.
— Blake, ela que é muito intrometida, achando que podia dar sugestõ es
no meu trabalho em meio a um caso gravíssimo. Bea, sua amiga tem
muito topete. — Daniel já parecia irritado, só em falar sobre o que
aconteceu.
— Nã o me diga que a Nena tirou o compenetrado agente especial do FBI
do sério? Como perdi essa cena? — Beatrice começou a rir e a Olívia
acompanhou.
— Nada disso, ela se acha a detetive. Atrevida isso sim, ela é demais da
conta. — Daniel estava quase espumando de raiva.
Ficamos tirando sarro dele por um bom tempo, tinha certeza de que
Beatrice ia querer saber essa histó ria direitinho, só que na versã o da
amiga. Helena seguramente esculacharia o pobre coitado.
Minha ansiedade estava tã o grande que percorri a distâ ncia até a sala do
Andrew em segundos.
— Oi, Blake, por favor, sente-se. Precisamos conversar. — Nunca vi o
Andrew tã o perturbado.
— O que aconteceu, está tudo bem com a Lucy? — Nesse momento, a
pró pria saiu do toalete, que ficava no fundo da sala. — Lucy, está tudo
bem?
Ela só balançou a cabeça em afirmaçã o.
— Blake, quero que você saiba que sempre confiei em você e te
considero como um filho, mesmo hoje você nã o estando mais casado
com a minha filha, mas adianto que essa nã o será uma conversa fá cil.
Ainda assim, você sempre terá o meu apoio.
— Por Deus, Andrew, chega de rodeios, o que está acontecendo? Lucy,
está tudo bem com o nosso filho? Nã o me esconda nada.
— Lucy, por favor, sente-se. Você precisa fazer isso, filha, é o certo.
— Blake, eu sei que talvez, depois do que eu te falar, você nunca mais
queira olhar na minha cara. Eu vou entender, mas depois de tudo o que
aconteceu, de certa maneira, reconheço que tive indiretamente uma
parcela de culpa no sequestro da Beatrice...
— Lucy, nó s já conversamos sobre isso, já entendemos que aquele patife
te envolveu de uma forma, ficando difícil você se dar conta da real
intençã o do bandido. Esqueça isso e foque na gravidez, nosso filho está
crescendo saudável. Eu e a Bea já viramos essa pá gina.
Lucy olhou para o pai, que a incentivou ir em frente com um gesto. Que
diabos estava acontecendo?
— O problema é justamente esse, Blake. Esta criança nã o é sua. Você nã o
é o pai.
O ar fugiu dos meus pulmõ es, meus batimentos cardíacos aceleraram,
minha visã o ficou embaçada. Que diabos estava acontecendo?!
— Acho que nã o entendi. Como assim, nã o é meu filho? Nó s nã o usamos
proteçã o da ú ltima vez que ficamos juntos, já tivemos essa conversa. Que
histó ria é essa agora, Lucy?
Levantei-me abruptamente e senti uma leve tontura. Andrew percebeu e
me ajudou a sentar novamente.
— Acalme-se, Blake, beba um pouco de á gua. Continue, Lucy, esclareça
tudo. Você deve isso a ele.
— Me perdoe, Blake, eu sei que nã o tinha o direito de fazer isso com
você, mas aquele dia que fomos para os Hamptons, com a intençã o de
tentar salvar o nosso casamento, eu... — ela hesitou um pouco, mas
continuou: — Bem, nã o há outra maneira de te dizer isso. Eu menti, eu já
estava grávida, eu tinha descoberto poucos dias antes e estava
desesperada, nã o pensei direito, entã o achei que seria um bom plano,
tinha certeza de que acabaríamos transando, entã o só precisei dar um
tempo para comunicar a gravidez.
Quem é essa mulher que está aqui na minha frente? Eu já amo essa
criança. Como ela pôde ser tão ardilosa?
— Entã o, enquanto estávamos casados, você me traía descaradamente?
Por que você nã o foi honesta comigo? Quem é o pai dessa criança?
Houve nova troca de olhares entre ela e o pai. Eu vivia em um casamento
de mentiras, essa era a verdade nua e crua.
— O pai do meu filho é o Lucas.
A sensaçã o que tive foi de ter levado um direto de esquerda bem no
meio da cara e sem esperar.
— Dr. Lucas Carter? Seu amigo de longa data, que você se empenhou em
colocá -lo para trabalhar aqui no hospital do seu pai? — esbravejei sem
respeitar a presença de Andrew. — Olhe para mim, Lucy, eu quero saber
tudo. Isso já acontecia desde que morávamos em Londres? Você já me
traía pelas costas, enquanto eu lutava pelo nosso casamento, achando
que tinha que empenhar mais?
— Você nunca me amou, Blake, você sempre foi apaixonado pela italiana,
eu sempre soube disso! — Ela, enfim, demonstrou alguma emoçã o. —
Eu era apaixonada por você quando nos casamos e acreditava que você
também gostava de mim. Mas, no fundo, você se acostumou com a minha
companhia. A medicina era a sua razã o de viver, eu sempre estava em
segundo plano. Entã o acabei encontrando no Lucas o que você nã o
conseguia me dar.
— E por que raios você inventou essa histó ria de que eu era o pai do seu
filho? Desembucha, Lucy! Já que chegou até aqui, quero saber todos os
detalhes dessa histó ria só rdida. — Sentia meu rosto pegar fogo, certeza
de que minha pressã o arterial deu um salto.
— O Lucas sempre foi como eu, nunca quis ter filhos. Quando revelei que
estava grávida, ele nã o quis saber. Disse que nã o estava preparado para
ser pai.
— Era por esse motivo que você estava aos berros com Lucas no
estacionamento ontem? — inquiri Andrew, que me olhava
envergonhado.
— Exatamente, Blake. Eu ouvi a Lucy discutindo com ele. Quando a
interpelei, ela nã o teve como negar, pois tinha escutado tudo claramente.
Entã o naquele momento que você nos viu, estava chamando o dr. Lucas
à sua responsabilidade, o malandro nã o negou que é o pai do meu neto,
mas afirmou categoricamente que poderá assumir a paternidade, mas
nã o participará da criaçã o da criança.
— Você nã o podia ter feito isso comigo, nã o estou falando da traiçã o,
isso agora nã o importa, mas me deixar pensar que seria pai, foi muito
cruel. Nunca neguei que esse era outro sonho meu e que você sempre se
negou a realizar. Essa sim foi a verdadeira traiçã o.
Neste momento, uma lá grima escorreu pelo meu rosto. Eu já amava este
bebê. Um menino como sempre quis. Levantei-me devagar, precisava
sair da sala. Nã o estava mais conseguindo respirar.
— Espero que seja feliz com suas escolhas, Lucy. — Minha voz saiu
embargada, o sentimento era de perda.
— Blake, eu lamento muito. Sei que está sofrendo. Mas se precisar de
mim, estarei aqui para o que você precisar. — Andrew levantou-se e me
deu um abraço sincero. Em seguida, saí daquela maldita sala, totalmente
destruído.
A minha melhor terapia era entrar no ateliê e passar horas desenhando,
isso me renovava a cada dia. Especialmente hoje, com este novo projeto:
a criaçã o de anéis de noivado. Passava muito tempo pensando em todos
os detalhes de cada peça e, principalmente, na reaçã o da pessoa que
receberia esse símbolo do amor, ficava verdadeiramente emocionada.
Reconectar-me com o trabalho logo depois do sequestro foi a melhor
decisã o, sentia-me segura e sabia que aquela afliçã o ficou no passado,
mesmo que ainda tivesse o Petrov me acompanhando, por
recomendaçã o do Daniel.
— Amiga, você passou o dia todo trancada nesta sala gelada, estou
sentindo falta da nossa conversinha de fim de tarde e, por conta disso,
estou encerrando seu expediente com essa surpresinha aqui.
Minha amiga Helena tem sido um grande suporte, tanto na minha vida
quanto no trabalho, a Olívia ficava até um pouco enciumada, mas eram
duas personalidades completamente diferentes e eu amava as duas.
— Espero que nessa sacola tenha o que estou pensando, estou faminta e
vou te amar ainda mais por esse agrado. — Almocei super-rá pido
somente uma salada, nã o queria perder tempo, entã o agora o meu
estô mago já estava roncando de fome.
— Pedi a Naomi para comprar nossas tortas preferidas, a minha de
limã o e a sua, claro, de chocolate amargo, para acompanhar aquele café
expresso sensacional. — Helena rodopiou na sala com a sacola na mã o
feito uma criança que ganhou seu doce preferido.
Fechei o notebook, guardei todo o material de trabalho e nos
entregamos ao prazer que só um bom doce proporcionava.
— Isto é o paraíso, srta. Nevicare, você nã o me decepciona nunca. —
Coloquei uma fatia enorme da minha torta preferida na boca. — Tudo
bem que teremos que dobrar nosso tempo na esteira, mas, como esse
tipo de extravagâ ncia nã o faz parte da nossa rotina, estamos perdoadas.
— Bea, você é disciplinada demais, um pouquinho de carboidrato nã o
vai aumentar sua bunda, que já está bem trabalhada no agachamento
diá rio, me causando inveja como sempre. — Nó s rimos como garotinhas
falando besteira no intervalo da aula. — Mudando de assunto, estou
curiosa. Agora que vocês já sabem que o filho de Blake é um menino,
como está sua cabeça com relaçã o a tudo isso?
— Já esteve pior, atualmente já estou mais acostumada com a ideia de
que nã o serei eu a realizar esse sonho, dar a ele o primeiro filho, mas
vamos ter o nosso bebê, aí sim minha felicidade estará completa.
— Nã o me diga que vocês já estã o providenciando meu sobrinho? —
Helena quase deu um pulo da cadeira.
— Calma, apressada, está nos nossos planos sim, mas ainda nã o
decidimos quando. Por falar em planos, no sá bado vamos fazer o jantar
que Blake prometeu ainda quando estava no hospital, ele está
entusiasmado para mostrar suas novas receitas criadas com alimentos
funcionais, afinal, um cardiologista nã o pode esquecer essa parte, nã o é?
— Uau, já estou com á gua na boca. Só nã o me diga que aquele agente do
FBI insuportável foi convidado também? — Minha amiga fez uma cara
de nojo horrenda.
— Evidentemente que ele foi convidado e já confirmou presença. Estou
muito animada para ver vocês dois juntos, até hoje você nã o conseguiu
me explicar de onde surgiu essa antipatia gratuita pelo pobre coitado. —
Cutuquei um pouquinho a onça.
— Ele é muito arrogante, dono de si. Nã o sei te explicar, mas nã o fui com
a cara dele. Só isso. — Foi evasiva demais.
Aí tem coisa, conheço essa mulher.
— Daniel é um homem lindo, alto, forte, do jeito que você gosta —
continuei a instigá -la.
— Ok, ele é bem gostoso, cheiroso também, mas é um grosso. Eu vou ao
jantar, mas, se ele me perturbar, eu nã o respondo por meus atos. —
Levantou-se de supetã o e colocou as duas mã os na minha mesa. —
Agora, srta. Tomarolli, chega dessa conversa, porque você nã o vai me
juntar com esse troglodita, entendeu?
Levantei as mã os em rendiçã o e passei o indicador e o polegar nos
lá bios, como se estivesse fechando com um zíper.
Tentei arrancar da minha amiga o que de fato acontecia quando ela e
Daniel estavam no mesmo ambiente, mas me frustrei porque a
sabidinha se fechou como uma ostra, entã o encerrei meu dia e fui para
casa.
Prometi ao Blake que faria uma massagem, prepararia um banho com
sais relaxantes, meu amor devia estar esgotado, tinha duas cirurgias
enormes hoje.
Tudo pronto e Blake ainda nã o chegou, até mandei mensagem, mas ele
nem visualizou. Pouco tempo depois, estava na cozinha finalizando a
sobremesa e ouvi a porta bater. Lavei as mã os e fui correndo encontrar
meu médico gato e quase caí de susto.
— Meu Deus, amor, o que aconteceu?!
Seu rosto estava inchado, seus olhos pareciam duas bolas vermelhas,
uma bagunça de homem. Blake me abraçou e, sem dizer nada, chorou
como uma criança. Nã o perguntei nada, deixei ele à vontade, esvaziando
seja lá o que estivesse causando tanta dor.
Alguns minutos depois, ele começou a se acalmar, respirou fundo,
levantou-se, serviu um pouco de whisky e bebeu de vez. Só entã o eu
resolvi me pronunciar:
— Está melhor?
Ele só balançou a cabeça confirmando.
— Estou pronta para te ouvir, me diga o que de tã o grave aconteceu para
te deixar assim?
Blake sentou-se de frente para mim, segurou e beijou cada uma das
minhas mã os, seu olhar era de pura tristeza, cortava meu coraçã o vê-lo
dessa forma.
— Eu nã o sou o pai do filho que a Lucy está esperando. — Foi direto.
Fiquei alguns segundos tentando assimilar o que ele acabou de falar
com uma voz tã o sombria, que senti um arrepio subir por meu corpo.
— Como assim, nã o é seu filho? Como você descobriu isso? — Senti
minha cabeça pesar, acho que o ar até sumiu dos meus pulmõ es.
— Quando estava saindo do hospital, Andrew me chamou em sua sala,
Lucy também estava lá e ele praticamente a forçou para me contar toda
a verdade.
Eu fiquei sem açã o, só levei a mã o à boca, agora ficou claro o motivo dele
estar assim tã o quebrado.
— Ela já me traía desde Londres, com seu amigo, era assim que ela se
referia a ele, o dr. Lucas Carter. Resumindo: ela engravidou, ele nã o quis
assumir o filho e a infeliz achou que a melhor soluçã o seria dizer que eu
era o pai do filho de outro homem.
— Que loucura, essa mulher é doente. Imagino a dor que você está
sentindo, amor.
— Você sabe que, no começo, essa gravidez me tirou do prumo, mas
agora já estava curtindo, principalmente quando descobri que seria um
menino. Estou arrasado, Bea, essa traiçã o eu nã o vou perdoar nunca. Eu
juro que saber da infidelidade da Lucy, nã o me atingiu tanto quanto
saber que o filho que eu já amava nã o é meu. É inacreditável isso!
Ficamos conversando por quase uma hora, esgotamos todo o assunto,
ele me contou todos os detalhes da conversa com a ex, inclusive o
quanto ficou surpreso com o apoio recebido do pai dela.
Quando jantamos, depois de algumas taças de vinho, Blake já estava
mais relaxado, até brincou um pouco. Depois do jantar decidimos tomar
o banho de banheira que tínhamos programado. Apó s o longo banho, fiz
uma massagem com ó leo essencial de lavanda para acalmá -lo e acho que
consegui, pouco tempo depois percebi sua respiraçã o mais pesada, já
estava dormindo.
Princesa,
Faz alguns dias que estou planejando essa viagem para o nosso paraíso
particular. Confesso que não foi uma tarefa fácil guardar um segredo de
você, mas necessário.
Infelizmente não jantaremos aqui, você terá que andar um pouquinho até
o local onde tudo foi especialmente preparado para você. Tenho certeza de
que gostará da surpresa. Não demore. Como você mesma diz, sou quase
um idoso, então esse velho coração já está bastante ansioso. Te espero no
local onde nos amamos a primeira vez.
Com amor,
B.
O meu coraçã o estava ansioso agora. O que será que Blake está
preparando? Coloquei um vestido bem lindo, passei apenas um gloss nos
lá bios, borrifei o perfume que ele tanto amava e fui em direçã o ao
bangalô , que ficava no terreno da casa dos meus pais, onde nos amamos
pela primeira vez, há quase nove anos.
Quando cheguei ao bangalô , ouvi a nossa mú sica, a mesma que estava
tocando naquele dia. Abri a porta bem devagar e foi como se eu estivesse
em uma má quina do tempo, a decoraçã o era praticamente a mesma, a
diferença era que o amor da minha vida estava me esperando. Lindo
com um lírio rosa na mã o.
Eu já queria chorar. Ele se aproximou lentamente, me entregou a flor.
Percebi que ele também estava se segurando para nã o chorar e recebi o
beijo mais doce de toda a minha existência. Nã o contive a emoçã o e uma
lá grima desceu pelo meu rosto. A essa altura, eu já estava
completamente em êxtase. Blake se afastou um pouco e pude ver seu
rosto tomado pela emoçã o também.
— Minha Bea, eu fui um idiota e egoísta quando fugi de você, estava cego
pelo meu desejo de ser um médico de sucesso. Depois de tantos anos,
entendi, enfim, que a minha felicidade só seria plena se você estivesse ao
meu lado. Eu te amo e quero passar o resto da minha vida me
redimindo, pedindo perdã o por nã o ter enxergado lá atrá s, que só você
me completa.
Blake tirou uma caixinha do bolso da sua bermuda e ajoelhou-se.
— Beatrice Tomarolli, aqui nesse lugar com tanto significado para nó s,
peço que aceite ser a minha mulher, a mã e dos nossos filhos, até o fim
dos nossos dias.
— Meu amor, é claro que aceito. Te amo, Blake, sempre te amei e assim
será até o fim.
Quando Blake colocou o anel no meu dedo, meu coraçã o errou uma
batida.
— Eu nã o acredito! O anel da nonna, que eu sempre amei. — Choramos
juntos, dessa vez de alegria.
Meu ú nico pensamento era que durante todos esses anos estávamos
sendo preparados, retornamos ao ponto de partida, para o lugar onde
tudo começou, onde nosso amor nasceu. Parece que o tempo nã o
passou.
Nos recuperamos da emoçã o e finalmente jantamos, rimos muito
quando me contou como estava nervoso no momento que pediu
permissã o aos meus pais para nos casarmos. Para coroar a nossa
felicidade, ainda teve o anel da nonna, lindo e carregado de muito amor.
— Blake, você sabe que estou fazendo uma coleçã o de anel de noivado e
toda vez que desenho algo é nesse anel que me inspiro, você me fez a
mulher mais feliz hoje.
Agarrei meu amor e o resto da noite foi coroada com um jantar divino
preparado pelo meu noivo, depois dançamos mais uma vez a nossa
mú sica e, para finalizar, fizemos amor com calma e, ao mesmo tempo,
com muita paixã o.
Três anos depois...
— Meu irmã o, acho que a beleza de toda a família foi direcionada para
você. Isso nã o é justo, o tempo passa e você fica mais gato.
— Você está querendo elogio, irmã zinha? Você sempre foi linda e agora
com esse barrigã o está maravilhosa. Venha aqui me acalmar, estou tã o
nervoso que nã o consigo dar o nó nesta bendita gravata.
— Vocês homens sã o previsíveis demais, está parecendo o dia do seu
casamento, lembro-me de que, na ocasiã o, a Bea me pediu para te ajudar,
pois tinha certeza de que você estaria todo atrapalhado.
— Pois é, ela me conhece bem e logo hoje, no dia do lançamento do meu
livro, ela vai se atrasar. Quero a Beatrice aqui com urgência, ela é a
verdadeira responsável por eu estar realizando esse sonho. Tomara que
nã o demore.
— Acalme-se que sua princesa já chegou. O problema é que a designer
de joias mais badalada de Nova Iorque nã o pode chegar em um local
pú blico, os fotó grafos nã o a deixam em paz.
A Rizzoli Bookstore foi a livraria escolhida para lançar o meu livro de
receitas tã o planejado. Além de elegante, era uma verdadeira
preciosidade que reunia livros de arte, moda, design e mais uma
variedade imensa de gêneros. Claro que todo esse evento foi preparado
em todos os detalhes por Helena. Como era de se esperar, tudo está
perfeito. A nata da sociedade foi convidada, além da nossa família e
amigos.
Nã o precisei nem me virar, pois já senti a presença da minha mulher no
ambiente, era impressionante que, quanto mais os anos passavam, mais
apaixonado eu ficava. Ela estava deslumbrante. Perdi o ar quando se
aproximou, com meu filho em seu ventre, mais linda do que nunca. Isso
mesmo, Beatrice estava grávida de sete meses, o mesmo tempo de
gravidez da Olívia. Teríamos uma nova dupla de amigos para sempre, só
que na versã o masculina, porque nã o tinha dú vida de que essas crianças
seriam tã o unidas quanto a Beatrice e a Olívia eram.
— Blake, você está de tirar o fô lego. — Recebi um beijo com gosto de
promessa. Os hormô nios estavam fazendo loucuras com o apetite sexual
da minha rainha.
— Tio Blake, aviã ozinho! — Ouvi um gritinho e passos apressado em
minha direçã o, Noah correu e praticamente se jogou em cima de mim.
— Campeã o, você está muito pesado, daqui um tempo eu nã o
conseguirei te levantar mais. — Fiz cara de quem estava sofrendo para
levantar o pingo de gente.
Desde que o filho de Lucy nasceu, nem eu e nem a Beatrice conseguimos
nos desgrudar dele. Minha ex-mulher continuava internada, a
esquizofrenia avançou, mas ela tinha o melhor tratamento do país e
seguia no seu mundo particular.
Para a nossa alegria, Lucas voltou para Londres e abriu mã o da guarda
do filho em favor dos pais da Lucy. Desde entã o, tanto eu quanto a
Beatrice naturalmente resolvemos ser presentes na vida do Noah, nó s
éramos os seus tios do coraçã o e juntos com os avó s, o cercávamos de
amor. Formávamos uma grande família, que estava prestes a ganhar dois
novos membros. O fruto do meu amor com a Beatrice foi muito
planejado e já era a razã o da nossa vida.
— Blake, ele é lindo, mas considero nã o ser muito justo, afinal carreguei
por nove meses, o protegi de tudo, para, no final, ser exatamente
igualzinho a você — brinquei com meu marido, mas achava ó timo que o
nosso pequeno Dylan fosse a có pia perfeita do homem mais lindo que já
coloquei os olhos em toda a minha vida.
— Em breve providenciaremos uma garotinha, que tenho certeza de que
será uma mini Bea. Pensando bem... talvez nã o seja uma boa ideia.
Prevejo que isso seja o início dos meus maiores problemas, já imaginou
o quanto vou sofrer com o marmanjos na minha porta? Nã o, acho
melhor ficar só com o Dylan.
— Venha aqui, seu bobo, com tantos homens na família acho que minha
versã o mirim nã o conseguirá sair de casa sem ter alguém no seu pé. —
Lembrei-me de quando era menina, que os meus primos e o Matteo nã o
me deixavam em paz.
— Bea, nunca vou cansar de repetir o quanto sou feliz ao seu lado, agora
sou um homem completamente realizado. Te amo até o fim.
— Quando te vi pela primeira vez, ainda uma garotinha de apenas doze
anos, eu me apaixonei irremediavelmente. Todos esses anos era com
isso que sonhava: formar uma família com você. Te amo, para sempre.
Fico muito emocionada ao finalizar um livro, confesso que choro mesmo.
Sã o meses “conversando” com os personagens, a sensaçã o que tenho é
de que eles estã o literalmente ao meu lado, escrevendo a histó ria junto
comigo. Entretanto, chega um momento que tenho que deixá -los ir. Já
tem gente nova querendo chegar.
Preciso muito agradecer a todas as pessoas que me incentivam, que
torcem por mim, em especial à s minhas queridas “leitoras beta”, elas sã o
os primeiros crivos e sã o três leitoras completamente diferentes e
igualmente essenciais: Obrigada, Gal Bittencourt, minha irmã , que me
conhece bem e já sabe quando estou com preguiça e me obriga a refazer
tudo. Minha leitora beta emoçã o, Telma Torres. Essa eu sei que chora
como eu, seu abraço no final é fundamental. A mais nova integrante da
equipe, a minha beta mais exigente, que quase me enlouqueceu: Patrícia
Coelho, você foi cirú rgica. A histó ria de Beatrice e Blake é de vocês
também.
Obrigada, VP Assessoria Literá ria, Vanessa Pavan e Giovana Martins.
Vocês fazem a diferença, de verdade.
Obrigada a todas as pessoas que leram os meus livros, estarei sempre
buscando melhorar a cada dia.
Mais uma vez, obrigada, meu amor. Cacá , você é o meu maior
incentivador e quero ficar velhinha ao seu lado.
Com amor,
Liz.
LIZ TOURINHO é baiana de Vitó ria da Conquista, mas mora há anos em
Salvador, onde trabalha como Nutricionista. Seu amor pela leitura a fez
despertar de um antigo sonho: escrever suas pró prias histó rias.
Em seus livros, nunca faltarã o romances, emoçõ es intensas, surpresas e
temas que possam atrair, encantar e surpreender o leitor.
@liztourinho.autora
1)
Avó em italiano.
↵
2)
Avô em italiano.
↵
3)
Cores da alma em inglê s.
↵
4)
Lírio Joias em inglê s.
↵
5)
Mamã e em italiano.
↵
6)
Perseguidor em inglê s.
↵
7)
Meu querido em espanhol.
↵
8)
Muito prazer em espanhol.
↵
9)
Parece o amigo secreto do Brasil, a diferença é que a pessoa que organiza a
brincadeira distribui os presentes e cada um tem que adivinhar quem o tirou.
↵
10)
Caderno ou bloco com pá ginas em branco para desenhar.
↵
11)
Doutor Coraçã o em inglê s.
↵
12)
Espreguiçadeira em francê s.
↵
13)
Querida em espanhol.
↵
14)
Referente ao mundo da moda.
↵
15)
Sensaçã o de já ter visto ou vivido uma situaçã o.
↵
16)
Cirurgia para retirada do baço.
↵
17)
Criança ou menina em italiano.
↵
18)
Meu amor em espanhol.
↵
19)
Sobremesa italiana.
↵
20)
Expressã o que determina a maneira que uma pessoa trabalha ou age.
↵
21)
Chefe de cozinha, cozinheiro
↵
22)
Minha nossa, que delícia em italiano.
↵
23)
Termo em francê s usado quando temos a sensaçã o de já ter presenciado ou
vivenciado algo.
↵
24)
Expressã o francesa. É o subchefe, o segundo no comando de uma cozinha
profissional e, portanto, responde apenas ao chef.
↵
25)
Minha vida em espanhol.
↵
26)
Perseguidora
↵
27)
Papai em italiano.
↵
28)
Palavra em francê s que caracteriza um tipo de assento estofado, onde nos
sentamos e podemos ficar com as pernas esticadas.
↵
29)
Reviravolta do enredo, mudança radical no rumo da histó ria.
↵
30)
Filho da puta em espanhol.
↵