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RESUMO
A caracterização dos recursos hídricos subterrâneos das bacias hidrográficas dos rios Bengo e Dande, em
Angola, é fulcral para a sua correta gestão e proteção. No presente trabalho apresenta-se uma sistematização da
informação disponível na bibliografia da especialidade e identifica-se diretrizes para trabalhos futuros, podendo
assim otimizar o conhecimento sobre os meios aquíferos existentes, com vista a contribuir para uma uma gestão
mais consciente e sustentável dos recursos hídricos a nível global.
Palavras-Chave: Águas subterrâneas; Bacia Hidrográfica; rio Bengo; rio Dande
1. INTRODUÇÃO
A gestão dos recursos hídricos deve assentar num processo de planeamento envolvendo instituições
públicas/privadas e a sociedade, com base num modelo que tenha como eixo central a compatibilização entre as
disponibilidades e a procura de água pelos diferentes sectores, em cenários alternativos de desenvolvimento.
Tendo em conta os recentes impactes sentidos nas disponibilidades de águas superficiais, nomeadamente aqueles
com origem nas alterações climáticas, torna-se indispensável a integração das águas subterrâneas na gestão
sustentável dos recursos hídricos tendo merecido, nas últimas décadas, especial atenção dos organismos
responsáveis por estas temáticas.
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O rio Dande nasce no município de Negage, província do Uíge, onde é designado por rio Dange. Desenvolve-se
ao longo de cerca de 371 km. A sua bacia de drenagem abrange uma área total de 11 330 km 2.
As bacias hidrográficas dos rios Bengo e Dande apresentam uma forma alongada no eixo este-oeste, onde os
cursos dos rios são grosso modo paralelos entre si, apresentam um percurso algo sinuoso e encaixando nas
formações mais duras do Proterozóico e Arcaico. Já sobre os depósitos detríticos da bacia de Luanda são comuns
os meandros. Aqui também ocorrem dezenas de lagoas, como as de Ibéndua, Panguila e Kilunda, bastante
importantes para as populações locais por proporcionarem agricultura e a pesca.
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Do ponto de vista hidrogeológico é expectável que na bacia de Luanda possam ocorrer, em associação, sistemas
aquíferos porosos e sistemas aquíferos cársicos ligados às rochas estratificadas (carbonatadas). A natureza
litológica deste meio confere-lhe grande heterogeneidade de comportamento hidrogeológico, com predominância
de sistemas aquíferos do tipo poroso, na parte superficial das formações aflorantes que se podem conectar
hidraulicamente com sistemas carbonatados, mais ou menos carsificados, com um modelo hidrogeológico de
funcionamento com características hidrogeológicas específicas.
O “Sistema aquífero Quelo-Luanda“ foi objecto de estudo aprofundado por Miguel (2006) que abrange parte da
bacia hidrográfica do Bengo. Nesse trabalho foram inventariadas captações de água subterrânea com
produtividades compreendidas entre 1-5 l/s. A análise da piezometria permitiu inferir um fluxo subterrâneo de
E - W. Os ensaios de bombeamento permitiram calcular transmissividades entre os 10 e os 138 m 2/dia e
condutividade hidráulica até 6 m/dia. Do ponto de vista hidroquímico verifica-se que a mineralização é média a
elevada e que a fácies dominante é do tipo bicarbonatada-cálcica e cloretada-sódica. Em dois locais, próximos do
litoral, parece ocorrer fenómenos de intrusão salina.
Trabalho recente de Pedro et al., (2019) revelou que a composição isotópica em deutério (δ2H) e o oxigénio-18
(δ18O) em pontos amostrados na região do Bengo permitiram o conhecimento sobre a origem das águas (rios,
lagos e águas subterrâneas) confirmando a não existência de processos de transferência de massas de águas
provenientes de outras fontes que não seja a de origem pluviométrica.
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Tabela 1. Recursos Hídricos Subterrâneos Renováveis (ano médio)
Bacia Área Recursos Caudal Específico
Infiltração (mm)
Hidrográfica (km2) Renováveis (hm3) (l/s/km2)
Bengo 10 930 189,48 2 071 2,33
Dande 11 330 176,04 1 995 2,25
Refira-se que as conclusões apresentadas devem ser utilizados com a devida precaução por diferentes motivos,
nomeadamente a antiguidade dos dados utilizados (1953/54 a 1972/73), a extensão das séries (apenas de 20
anos) e o número reduzido de estações.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho serviu de base para um melhor conhecimento das bacias hidrográficas dos rios Bengo e
Dande, incluindo a sistematização de um modelo de comportamento, com vista à obtenção das disponibilidades
hídricas potencialmente previstas, tendo em conta que os trabalhos desenvolvidos à escala local são escassos e
dispersos, não permitindo uma análise continuada ao nível da caracterização das bacias hidrográficas.
A informação disponível para uma caracterização e definição de aquíferos nos meios fissurados é a que
necessitará de trabalho adicional mais exaustivo por forma a conhecer melhor o comportamento subeterrâneo; no
entanto, com vista a suportar a análise de disponibilidades hídricas subterrâneas, enquanto estimativa prevista,
considera-se que a caracterização cumpre com as necessidades ao nível de planeamento. Acrescenta-se que esta
é a área que apresenta menor densidade populacional, por consequência, uma menor pressão sobre os recursos
hídricos subterrâneos.
Não obstante e face ao exposto, sugere-se como trabalhos futuros, nomeadamente, um inventário das captações
de água subterrânea em exploração e respetivas características hidrodinâmicas e hidroquímicas que permita
conhecer melhor os recursos hídricos subterrâneos das bacias hidrográficas dos rios Bengo e Dande, com vista a
contribuir para uma gestão mais consciente e sustentável dos recursos hídricos a nível global.
AGRADECIMENTOS
A execução do presente trabalho só foi possível com a colaboração de importantes pessoas e entidades
angolanas, a quem expressamos os nossos agradecimentos: ao Eng.º Vieira da Costa da PROCESL, ao Instituto
Nacional de Recursos Hídricos de Angola, nomeadamente ao Eng.º Manuel Quintinho, e ainda às extintas
Direções Provinciais de Energia e Águas e administrações comunais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Araújo A.G., Perevalov O.V. e Jukov R.A, 1988. Carta Geológica de Angola, à escala 1:1 000 000, República
Popular de Angola, Ministério da Indústria, Instituto Nacional de Geologia
Araújo, A.G. & Guimarães, F., 1992. Notícia Explicativa da Carta Geológica de Angola, à escala 1:1 000 000,
Serviço Geológico de Angola
McCabe, G.J.& Markstrom, S.L., (2007) Thornthwaite a monthly water-balance model driven by a graphical
user interface. US Geological Survey
Miguel, G. L., (2006) Caracterización hidrogeológica y ambiental de Luanda y sus alrededores (Angola). Tesis
Doctoral. Universidad de Alcalá Henares. 360pp
Pedro, J., Miguel, G., Carvalho. A., Rumang, M., André S. (2019) Composição isotópica preliminar das águas na
região entre os rios Bengo e Lifune. 14º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua
Portuguesa (SILUSBA). Cidade da Praia (Cabo Verde). 6pp.