Sociologia 23 - 24
Sociologia 23 - 24
Sociologia 23 - 24
PROGRAMA
1. Introdução: da teoria, à sociologia, à sociologia da comunicação
2. As primeiras teorias sociológicas sobre a construção de significado do mundo social: as ideias
de Karl Marx e Max Weber; a sociologia pioneira Harriet Martineau.
3. O moderno mundo dos jornais industrializados: a imprensa americana do início do século XX
4. A comunicação moderna no pensamentos de Charles Horton Cooley, John Dewey e Robert E.
Park
5. A pesquisa sobre comunicação como análise empírica da propaganda: a visão de Walter
Lippman sobre a opinião pública e o papel da imprensa; o modelo Lasswell; Paul Lazarsfeld e a
mass Communication research.
6. Tecnologia e sociedade: a sociologia do meio de Marshall McLuhan.
A sociologia da comunicação permite-nos ter uma divisão da sociedade: por um lado, o estudo
da comunicação e dos media ajuda-nos a mapear e evidenciar áreas-chave para compreender
tendências e transformações significativas nas sociedades contemporâneas. Por outro lado, um
entendimento sociológico da comunicação e dos media ajuda-nos a colocar questões
importantes sobre o seu funcionamento e sobre o seu impacto em diferentes dimensões da vida
social. Apesar de se tratar de dois entendimentos, uma noção leva à outra.
Temos de mudança
Olhando retrospetivamente, as sociedades humanas foram organizadas numa série de sistemas de
produção específicos para atingir a satisfação das necessidades. Esta satisfação implica a
garantia dos meios para a sobrevivência, como comida, habitação e vestuário. Numa época de
industrialização e proliferação das fontes industriais de produção, em que uma classe detém as
forças de produção e a outra detém a força de trabalho, a satisfação destas necessidades eram,
essencialmente, materiais (para moldar o mundo os seres humanos têm de garantir formas de
sobrevivência básica). Isto não pode estar desligado de uma conceção materialista da história.
Como Marx afirma em A Ideologia Alemã, “o primeiro ato histórico é a produção dos meios para
a satisfação dessas necessidades, a produção da própria vida material, e este é, sem dúvida, um
ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, qua ainda hoje tem de ser cumprida
diariamente, a cada hora, simplesmente para manter os homens vivos”.
Nível
PE
Nível
UR
e relações de produção
Luta de classes
O conflito de classes é o principal motor da mudança social. A sociedade burguesa moderna,
que se desenvolveu a partir das ruínas da sociedade feudal, herdou os antagonismos de classe,
dando-lhes uma nova forma. Surgem como duas classes fundamentais: burguesia e proletariado.
Teoria da alienação
A alienação económica sob o capitalismo significa que o ser humano é alienado das suas
atividades diárias (do trabalho pelo qual ganha a sua vida). O sistema económico é um sistema
de exploração. Os trabalhadores acabam por estar alienados da sua atividade produtiva, não
trabalham para satisfazer as suas próprias necessidades, é uma alienação do próprio trabalho que
praticam. Esta conceção prevê que, sob o capitalismo, a relação entre trabalho e expressão
humana muda: e vez de trabalharem para satisfazerem as suas necessidades ou expressarem
ideias, os trabalhadores fazem-no mediante as exigências do processo de produção. O trabalho
já não pertence ao trabalhador, mas sim ao capitalista.
O conceito de ideologia
A ideologia enquanto conceção da produção e proliferação de ideias ilusórias que contribuem
para a criação de uma falsa consciência que tenderá a legitimar e reproduzir a situação vigente.
As ideias dominantes nas diferentes sociedades são geradas, difundidas e impostas pela classe
dirigente, com o objetivo de manter e perpetuar o seu domínio.
à Qual é o papel dos media na reprodução da ideologia?
A ideia do Playbour
A internet compreende a participação no seu espaço: “comunicação de massa autocomandada”
(Castells, 2005), “prosumer” (Toffler, 1980) e “produsage” (Bruns, 2007).
Um outro aspeto do entendimento da web 2.0 prende-se com o surgimento de novas tendências,
como o conceito de mediatização e o modo como os media vieram transformar todos os aspetos
das nossas relações sociais e a forma como nos organizamos, bem como o tempo que permitimos
dar às coisas ou como vivemos momentos de lazer. Para além disso, os media também vieram
alterar as rotinas de trabalho das instituições, a definição das próprias indústrias e a mobilização
para movimentos de ação coletiva. É mais fácil comunicar através de pessoas, personalizando as
questões, do que comunicar ideias abstratas, o que também se vê na política, com a personalização
de assuntos e mensagens políticas.
Tendo esta conceção de ação social presente e para orientar a sua interpretação, Weber avança
com quatro tipos ideais de ação social. Só existem como arranjo de ideias no mundo concetual,
pois a realidade é muito mais complexa do que os tipos propostos. Trata-se de criar uma tipologia
de ações socias com significado: as ações com significado podem ser conduzidas por múltiplas e
diversas forças motivadoras.
o Ação social com relação a fins (não o Ação social tradicional (almoços de
roubar porque podemos ser família e comemorações).
apanhados. o Ação social emocional ou afetiva.
o Ação social com relação a valores
(como olhamos para o mundo de
acordo com os nossos valores: não
roubar porque é um valor básico).
Racionalização
A sociedade está em progressiva racionalização, afastando-se das crenças mais tradicionais.
Esta racionalização da ação e do trabalho pressupõe um abandono dos modos de vida tradicionais,
nomeadamente quanto às relações familiares. Esta é a relação entre a emergência e consolidação
do capitalismo moderno e o processo de racionalização, a busca de lucros apela a uma raciocínio
racional com vista à promoção da eficiência.
Em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, uma das obras mais conhecidas de Max
Weber, o autor procura também perceber a relação da religião com esta ideia de racionalização,
iniciando uma investigação sobre como as crenças religiosas, doutrinárias ou culturais deram
origem a diferentes instituições religiosas e sociais. O foco era o papel particular de determinadas
correntes protestantes, que explicariam a discrepância entre católicas e protestantes na sua relação
com os negócios, a indústria e o capitalismo. A conclusão a que Weber chega é que há uma visão
distinta que o protestantismo traz que tende a quebrar com o domínio mais tradicional,
contribuindo para encorajar os homens a aplicarem-se racionalmente no seu trabalho.
A Teologia Calvinista é a doutrina encontrada por Weber que explica as consequências sobre o
espírito do capitalismo, devido à sua crença na predestinação, com base nas ações. Deste modo,
há uma visão positiva atribuída às ações e ao lucro e uma alteração na forma de ver o mundo e na
postura da sociedade pressionada pela religião. A incerteza da salvação, aliada à solidão e ao
isolamento influencia a racionalização das ações, mas, ainda assim, o calvinismo está longe de
constituir a raiz única do capitalismo moderno.
1. Tudo pode ser tornado público? A função principal do jornalismo é informar, ou seja, trazer
para público aquilo que não é. No entanto, nem tudo pode ser tornado público, como os próprios
códigos deontológicos pressupõem. Há uma dimensão de responsabilidade por parte dos
jornalistas que pressupõe que nem tudo pode ser tornado público por segurança, privacidade ou
pelo interesse público. Com o passar dos anos, surgem também novas questões e alterações,
nomeadamente na conceção das fronteiras do que é a privacidade.
2. Funções sociais do jornalismo: para além de informar, o jornalismo pode ter um papel de
educação, intervenção, mobilização.
3. Públicos do jornalismo: perceber quais são as audiências e dentro perceber outras questões
mais específicas, como a evolução das pessoas que estão interessadas em notícias nos diferentes
países, as fontes de consumo de notícias, os meios mais vendidos e o que isso diz sobre o seu
público.
4. Quem são os jornalistas? Do ponto de vista formal, o que define um jornalista é diferente em
diferentes países, bem como o desenvolvimento da indústria do jornalismo (oposição anglo-
americano – informativo – e francês – distração). Definir uma profissão de jornalista significaria
fechar uma profissão e fechar o acesso à atividade. Neste sentido, muitos sociólogos tratam o
jornalismo como uma “quase profissão”. Por outro lado, surge o caso italiano em que há uma
Ordem dos Jornalistas, é muito mais limitado. Já no caso português, existe o Estatuto Profissional
do Jornalista que, acima de tudo, define quem é que não pode ser jornalista e ter acesso à carteira
profissional (depois de passar pelo estágio).
5. Mercadorização da imprensa: são os modos de financiamento da imprensa que a sustentam,
nomeadamente a venda de conteúdos (jornais) e a venda das audiências, ou seja, da nossa atenção
aos anunciantes que utilizam um espaço nos jornais para nos atrair enquanto compradores e
interessados (publicidade).
Weber e a imprensa
O advento da imprensa e o seu poder apontam para processos que Weber percebera como uma
parte do fenómeno da ação racional relativa a fins. O fenómeno da imprensa e da comunicação
de massas deve ser entendido no contexto da configuração da empresa noticiosa privada: os
jornais são fundamentalmente empresas que concorrem no mercado, à semelhança de outros
negócios ou atividades comerciais. A par da ação racional relativa a fins, a imprensa tem também
um funcionamento de propósitos subjacentes a uma conceção mais próxima da ação racional
relativa a valores. Não obstante a imprensa seja parte de empresas, que só sobrevivem se
venderem jornais, os jornalistas têm critérios, ideais e valores. Além de ser um negócio, a
imprensa prossegue a ideia de que se deve colocar ao serviço da verdade e da justiça.
Martineau jornalista
“Faz agora um ano que se fez de mim um cavalheiro da imprensa ou uma criada para todo o
serviço do Daily News”. Martineau foi convidada aos 50 anos para escrever com regularidade e
em posições de autoridade para o Daily News. Foi aí encarregue da autoria dos leaders, espaços
semelhantes aos modernos editoriais que consistiam em artigos anónimos com a linha oficial da
publicação sobre importantes questões da atualidade. Teve um importante contributo para estudar
questões particulares que são também uma área da sociologia da comunicação, nomeadamente
questões relacionadas com o género nos media: género das audiências e do consumo, o papel
dos media na definição e representação das identidades, o papel dos media na produção dos media.
Com o jornalismo industrializado começa a surgir aquilo a que chamamos de sob sister, termo
depreciativo atribuído a repórteres, com um tipo de escrita mais emocional. São exemplos deste
tipo de jornalistas Nellie Bly (jornalismo encapuzado), que teve como sua histórica mais famosa
a da volta ao mundo em 72 dias e Ida B. Wells, que teve um papel importante na denuncia dos
linchamentos afroamericanos.
O grupo de sociologia, que utilizava diferentes métodos e com o particular foco na cidade, foi
pioneiro na investigação empírica, mobilizando a métodos qualitativos e quantitativos no
desenvolvimento de uma “ciência da sociologia”. O foco na cidade, na vizinhança urbana
circundante como o seu laboratório, a ida aos locais, o contacto com as pessoas e com a realidade
foram sempre fatores essenciais. Robert Park tem uma conceção de cidade como algo mais do
que fenómeno geográfico, mas um “mosaico de pequenos mundos que se tocam mas não se
invadem”.
Um dos trabalhos mais importantes sobre estes temas é O camponês polaco na Europa e na
América, de William I. Thomas e Florian Znaniecki, sobre a imigração, procurando perceber de
que forma é que os imigrantes polacos se inseriam na sociedade americana, através de uma
análise dos instrumentos como cartas, jornais, panfletos. Um dos volumes da obra focava-se no
papel que os jornais assumem na identificação dos imigrantes e na integração ou não dos
imigrantes: o jornal enquanto instrumento empírico do estudo.
Robert E. Park assumiu um papel central na Escola (nos anos 20 e 30). Interessou-se pelas
questões da comunicação como uma parte integrante do funcionamento da sociedade, com
especial atenção aos meios de comunicação de massas e à formação da opinião pública (um
aspeto partilhado pelo pensamento de autores como Lippmann, Mead, Burgess ou Blummer).
Tinha uma visão sobre o jornalismo enquanto elemento reformador e entendia os sociólogos
como “um tipo de super-repórter, que escrevem mais exata e distanciadamente do que os media,
tendo a capacidade de interpretar longas tendências sobre o que estava a acontecer na sociedade
ao invés de permanecerem na superfície dos fenómenos, satisfeitos em observarem o que parece
estar a acontecer”, procurando entender os efeitos que o jornalismo poderá ter na sociedade.
Depois de deixar a Escola trabalhou como repórter durante 11 anos e assumiu uma grande
relevância no “Thought news” e enquanto repórter muckraker (expunham irregularidades,
vertente mais sensacionalista) na denúncia da exploração do povo do Congo Belga, relatos sobre
as casas de jogo e causas do alcoolismo. Faz-se aqui um paralelismo entre a sociologia e o
jornalismo, falando dos sociólogos, mais uma vez, como um tipo de super-repórter. Um dos
autores muckraker mais conhecido é Upton Sinclair, que escreveu um livro sobre denúncias de
práticas do jornalismo norte-americano e das empresas de notícias.
Os jornais podem ser também um meio de integração, mas podem ter outro efeito, como a criação
de comunidades fechadas e isoladas. Há, neste sentido, diferentes tipos de media para
imigrantes, abordados noutra obra de Robert Park – The Immigrant Press and its Control (1922).
à Como é que os meios de comunicação influenciam a opinião pública? Como são
influenciados pela opinião pública? Podem operar a mudança social? Como se estabelecem as
redes entre pessoas e meios de comunicação? Que tipo de conhecimento obtemos pelos meios de
comunicação? Discute-se que a leitura de jornais nas suas línguas nativas permitiu aos recém-
chegados adaptarem-se à vida dos Estados Unidos, intensificando este papel de integração dos
jornais. Os editores argumentam que “os seus jornais não são apenas meios de comunicação de
notícias, envolvendo o imigrante no ambiente americano, mas são também um meio de lhes
traduzir e de lhes transmitir os costumes e os ideais americanos.
Nesta obra de 1923 Park defende o papel relevante do jornal na criação da comunidade. Na
grande cidade, o jornal e as notícias constituem mecanismos de controlo social e de formação da
opinião pública e funcionam como guia para a realidade, assinalando sistematicamente o que
escapa à normalidade. Para além disso, fornecem assuntos para a conversa e para o debate. Ainda
assim, para além do jornal como uma instituição com o papel de construção de um público
democrático, surge uma perspetiva crítica sobre a imprensa que resulta da yellow press, focada
fundamentalmente no aumento do público leitor de jornais.
O jornal é uma instituição social, nascida para atender às exigências comunicacionais de uma
sociedade moderna cada vez mais complexa. Este entendimento levanta questões complexas, pois
nem sempre existiu jornalismo, muito menos nos moldes que conhecemos atualmente, o que nos
leva a pensar se é possível que o jornalismo possa acabar. Do que falamos quando falamos em
jornalismo? Aquilo que entendemos por jornalismo e pelas suas características e valores vai ou
não permanecer com a evolução dos meios, mesmo que a necessidade de informação se
mantenha? Não há uma perspetiva fechada sobre o assunto?
Histórias vs Notícias: o que distingue a história e as notícias no tipo de conhecimento que
nos dão? Que tipo de conhecimento é que as notícias nos dão?
Há uma relação intrínseca entre as notícias e o conhecimento. As notícias ajudam as pessoas no
seu entendimento do mundo em que vivem. A hipótese que quem usa notícias está mais a par
do que se passa no mundo é central no estudo das notícias e a ideia de que as notícias conduzem
a uma sociedade mais funcional e uma democracia mais robusta é central para a maioria das
teorias normativas do jornalismo. É a partir destas noções que Park procura distinguir diferentes
tipos de conhecimento, percebendo que nem todos os tipos de conhecimento têm as mesmas
características. Divide o conhecimento em dois pontos como um espectro, onde podem ser
encaixados diferentes níveis, na segunda obra de grande relevância – News as a form of
knowledge: a chapter in the sociology of knowledge (1940).
Presente ilusório: “o que se pretende aqui significar por presente ilusório é sugerido pelo facto
de as notícias, como os editores, da imprensa comercial, bem sabem, serem um bem perecível.
As notícias mantêm esse estatuto apenas até chegarem às pessoas para quem tem interesse
noticioso. Uma vez publicadas e o seu significado reconhecido, as notícias passam à história”.
A partir do momento em que uma informação se sabe, deixa de ter valor de troca.
Debate Lippmann-Dewey
Walter Lippmann foi um jornalista, estudioso e de intervenção política. Foi editor e um dos
fundadores da The New Republic, editor do World, colunista do New York Herald Tribune e
vencedor de dois prémios Pulitzer pelos trabalhos em “Today and Tomorrow” e pela entrevista a
Nikita Khruschev, em 1961,
John Dewey, por sua vez, foi filósofo e sociólogo, associado à Escola de Chicago e figura
fundamental do pragmatismo. Teve particular interesses pelas questões da comunicação e
trabalhou no âmbito da pedagogia e da educação.
Lippmann e Dewey tinham perspetivas distintas sobre a relação entre os media e a democracia
e sobre o papel dos cidadãos na própria democracia. Em rigor, não se trata de um debate, mas
sim de respostas críticas de Dewey às obras de Lippmann sobre este assunto: respondeu através
do Review of Public Opinion by Walter Lippmann à obra Public Opinion, de 1922, e através da
obra Practical democracy: Review of Walter Lippmann’s book the Phantom Public em resposta a
The Phantom Public, de 1925. Lippmann olhava para a democracia e para o papel dos cidadãos
através de uma perspetiva muito negativa (muito restritos ao voto e depois desligam). Este
debate vem sendo recuperado ao longo dos anos, nomeadamente a discussão sobre a ideia
democrática e falência dessa noção.
à Como é que nós participamos no processo democrático?
Publicada após a I Guerra Mundial, esta obra surge como crítica ao modelo da democracia de
massas e ao papel da imprensa no funcionamento das instituições democráticas. A questão da
propaganda está bem explícita no livro e é feita uma descrição sobre como, durante a I Guerra
Mundial, o governo e generais do lado alemão e do lado francês coordenavam a elaboração e
emissão de comunicados de imprensa. As palavras da mensagem (que podemos enquadrar no
âmbito da propaganda) seriam decisivas na mobilização dos cidadãos e da opinião pública. A
forma como os governos atuam tem peso nos comunicados e assumem na mobilização de todos.
“Em poucas horas, essas duzentas ou trezentas palavras seriam lidas em todo o mundo e pintariam
uma imagem na mente dos homens do que estava a acontecer nas encostas de Verdun. Perante
essas imagens, as pessoas ficariam em choque ou em desespero”.
Ideia do cidadão omnicompetente (uma posição realmente informada, até sobre as
consequências)
Questionamento do conceito liberal clássico do cidadão omnicompetente e soberano, que pode
ajuizar de modo informado sobre todas as questões públicas. É a partir de aqui que desenvolve
uma crítica à incapacidade das instituições de dar à imprensa informações fidedignas que nos
permitam ter esse conhecimento e desenvolver uma opinião pública devidamente informada.
Os constrangimentos são estruturais e cognitivos sobre como podem os cidadãos nas sociedades
democráticas modernas conhecer o que se passa à sua volta.
“O mundo que temos de considerar está politicamente fora do nosso alcance, fora da nossa visão
e compreensão (nomeadamente a nossa proximidade direta e capacidade de conhecer). Tem de
ser explorado, relatado e imaginado”. Surgem dificuldades e elementos que podem dificultar
este contacto que temos com o mundo, nomeadamente a censura ou privacidade da fonte, barreiras
físicas e sociais de acesso, atenção escassa, pobreza de linguagem, distorção da mensagem, receio
de lidar com os factos apresentados e a obscuridade e complexidade dos factos.
A imprensa é tida como um “holofote móvel que salta de um tópico para outro, de uma história
para outra, iluminando as coisas, mas nunca as explicando completamente”. Sinaliza os assuntos
mas não explica nem aprofunda e as notícias acabam por apenas assinalar eventos sem
explicações. Este aspeto é o mais evidente nos dias de hoje, com a renovação constante da agenda
noticiosa. O autor atribui ainda uma grande relevância dos gatekeepers para a democracia. O
eixo fundamental da discordância deste debate passa pela crítica à ideia da democracia de massas
na obra Public Opinion, no sentido em que a tarefa da informação deve ser deixada a peritos.
A solução para a democracia reside no desenvolvimento de divisões de inteligência nas diferentes
agências governamentais, apoiadas por cientistas sociais que forneçam o conhecimento de que os
decisores necessitam.
à Solução para a democracia = chamar especialistas sobre os temas para tomar decisões mais
informadas. A proposta é a da criação de intelligence bureaus que usariam métodos científicos
para gerar informação “desinteressada” sobre questões públicas, o que conduz aos fornecimento
de recursos de conhecimento fiáveis para a governação, para os negócios e para o jornalismo.
É também a partir desta questão que Dewey apresenta os seus contributos, em discordância com
a proposta de Lippman, mas com alguns pontos de concordância, nomeadamente a
complexidade do mundo moderno, a incapacidade do público para conduzir uma ação executiva
eficiente como preconizado pela teoria democrática tradicional, a crítica e riscos subjacentes à
ideia de coesão do público e o risco de captura da democracia por interesses políticos e
económicos.
Com poucas provas de que os media convertem os eleitores, chegou-se à conclusão de que o
principal efeito dos media seria, então, o reforço, fazendo relembrar a fraca exposição das
pessoas aos media, nesta altura. As pessoas que liam e ouviam rádio eram as que tinham opiniões
políticas mais definidas. As pessoas tendiam a interpretar o que ouviam sobre a campanha de um
voto seletivo e apontavam para a influência de outras pessoas, mais do que dos media. O modelo
proposto nos anos 40 e 50 (fluxo a dois passos) ajuda-nos, atualmente, a explicar questões mais
atuais, como o papel das redes sociais e dos influenciadores.
Fluxo a um passo, Bennett and Manheim (2006): estes autores apontam para outro caminho,
devido ao peso das mudanças sociais e tecnológicas, ao isolamento social e ao consumo
personalizado de media ou do narrowcasting
A SOCIOLOGIA DO MEIO DE MARSHALL MCLUHAN
Com a alteração das dimensões de senso comum percebemos os media também de outra forma
(media = comunicar com as massas). A leitura que fazemos do entendimento do que é um meio
de comunicação social leva-nos a outras questões, como o papel desses meios. Também as
plataformas de streaming de música podem transformar a forma como percebemos as coisas.
à Os efeitos que os media têm sobre nós são iguais (de media para media)?
“O meio é a mensagem”
O que está na base disto é o rompimento de uma atenção centrada apenas no conteúdo veiculado
pelo meio, desviando a atenção e passando o foco a ser o estudo do meio de comunicação por
si. Independentemente do que veiculam, cada meio tem as suas próprias características que fazem
com que se torne numa mensagem por si só, única e específica.
à Será que o meio tem de ter conteúdo? Utiliza um exemplo da luz elétrica (lâmpada) como
se fosse a mensagem: é informação pura, não tem qualquer conteúdo, o seu conteúdo é o que ela
ilumina (quando no escuro). Serve simplesmente para estender o alcance da atividade humana,
mas é indiferente a qualquer atividade que ela ilumina. É um meio sem uma mensagem. Estende
a mensagem, mesmo sem conteúdo. As próprias mensagens e os seus efeitos estão dependentes
desse meio.
Esta frase tem por base esta noção: compreendermos os efeitos sociais mais amplos de um meio
de comunicação e temos de olhar, não apenas para os conteúdos, mas para a própria natureza
desse meio, as suas características específicas, para as suas estruturas e funcionamento, ou seja,
para os elementos que determinam as particularidades das mensagens que esse meio emite.
à Exemplos práticos: um jornal envia mensagens de modo significativamente diferente do
modo como uma rádio envia mensagens e essas diferenças são independentes do conteúdo das
mensagens emitidas (em rigor, a mensagem pode ser a mesma, mas há diferenças na forma como
a percecionamos, tem efeitos sociais distintos dependendo do meio).
No arranque dos jornais online, os artigos partilhados eram iguais ao que era publicado no
impresso, todos à mesma hora, quase sem atualizações. Havia uma subordinação do que estava a
ser feito online ao que era a informação no papel. Mas à medida que se foi consolidando e os
próprios textos no online alterando-se, também se sentiu diferenças na estruturação dos textos no
papel (impacto do online). “O conteúdo acaba por se converter na mensagem do meio que o
contém” e “o conteúdo de qualquer media é sempre outro media”, como um ciclo contínuo. A
mensagem (SMS) é na verdade composto por outro media (a escrita), que resulta da fala.
“O meio é a massagem” – como é que um erro num livro se transformou numa teoria?
O meio envolve-nos inteiramente, formando o “ambiente” que nos dá forma. Os media
desempenham, assim, um papel fundamental nas questões políticas, sociais, culturais e humanas,
funcionando como ambientes que nos limitam e nos moldam a todos os níveis.
Críticas a McLuhan
o Determinismo tecnológico: a mudança social é determinada pela natureza e função da
tecnologia, não pela ação humana consciente.
o Todo o argumento de minimização de questões de poder, da propaganda ou dos conflitos
de análise.
o As abordagens não têm em conta a relevância dos media como fenómeno social
complexo.