Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

A Paixao Que O Viuvo Rejeitou - Yohan Bell

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 189

A PAIXÃO QUE O VIÚVO REJEITOU!

COPYRIGHT © 2024 YOHAN BELL


Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída
ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo
fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a
prévia autorização por escrito do editor, exceto no caso de breves citações
incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais
permitidos pela Lei de Direitos Autorais.

Primeira Edição/2024 — Criado no Brasil.


Título: A Paixão Que O Viúvo Rejeitou!
Imagens: Depositphotos/Freepik.
Revisão: Angélica Podda.
SINOPSE
DEDICATÓRIA:
NOTA INICIAL
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
EPÍLOGO
SOBRE O AUTOR
Quando amor & preconceito entram em colisão, despedaçar
corações apaixonados pode afetar toda uma família.
Era como um conto de fadas, até que a notícia de um casamento
chegou aos ouvidos de Adrian Saint. O seu primeiro e único amor, aquele
com quem ele sonhou em ter uma vida a dois, iria se casar com a sua
própria irmã. Quebrado, destruído, rejeitado, ele foi embora, sem dar uma
única chance para explicações.
Havia culpa, dor e remorso em Levi Tapia, mas ele fez o que era
necessário para salvar a própria família. Sem aquele acordo de casamento, a
chance da sua mãe sobreviver se perderia. E mesmo após tantos anos,
aquele coração já cansado e ferido não parou de bater nem um único
segundo pelo homem que amava e ainda ama; que era o motivo de preces
noturnas, suplicando o seu retorno.
Após seis longos anos, um acontecimento faz com que Adrian
retorne para casa. Passado e presente entrarão em conflito, reabrindo
feridas quase cicatrizadas e revivendo dores já esquecidas. No entanto, há
esperança, pois, tanto sofrimento os lembrará que ainda há amor e, quem
sabe, uma segunda chance para os dois.
Aos meus amados leitores: o Yohanverso recomenda que vocês
preparem os lencinhos antes de iniciar essa leitura recheada com muita
emoção, reflexão e lágrimas. Essa é uma viagem com destino ao amor, em
todas as suas formas, cores, raças, credos e intensidade.
Para todos aqueles que perderam o seu primeiro
amor e rezaram por uma segunda chance. Para
todos aqueles que almejam um amor dos livros;
espero que se lembrem de que amor é amor,
sem exceções e de que nunca devemos perder
a esperança de amar e de ser amados!
A Paixão Que O Viúvo Rejeitou é um romance LGBTQIA+
classificado como drama erótico e faz parte da coleção O Clichê Dos Meus
Sonhos. Essa coleção tem como proposta um crossover entre os quatro
livros da coleção. É preciso lembrar que as histórias são independentes
uma das outras, ok?
ESSA HISTÓRIA PODE
CONTER GATILHOS!
Esse romance em particular aborda uma história de amor entre
dois homens, ou seja, é um romance gay que traz cenas de sexo explícito.
Os seguintes temas serão abordados: preconceito, age gap, segunda
chance, primeiro amor e viúvo.
NÃO LEIA
SE NÃO SE SENTIR CONFORTÁVEL
COM ESSE GÊNERO DE ROMANCE!
Casei-me há seis anos.
Não havia amor entre nós, era apenas uma obrigação. Um acordo
selado pelas nossas famílias e que nos livraria da absoluta ruína, trazida até
nós pela ingerência e ganância do meu falecido pai.
O preço determinado para a nossa salvação era alto e, por mais que
eu me recusasse a pagar, também tinha consciência de que não havia outra
opção. Era isso ou seríamos jogados na rua da amargura, na mais completa
miséria e desgraça.
Se tal tragédia se limitasse a mim, eu não me importaria em
recomeçar do zero. Infelizmente, esse não é o caso e como o atual chefe da
nossa família, a minha prioridade segue sendo cuidar da minha mãe doente
e da minha irmã, garantindo que nada lhes falte; mesmo que isso custe a
minha felicidade.
Ainda me lembro como se fosse hoje da conversa que tive com o
senhor Saint, o melhor amigo do meu falecido pai e o seu sócio:
— Como prometi ao seu pai no leito de morte, não permitirei que a
sua família caia em desgraça — disse e levando o copo de uísque à boca,
deu alguns goles. — O acordo é bem simples, Levi.
— Estou ouvindo, senhor Saint.
— Você irá se casar com a minha filha e iremos unir as nossas
famílias — propôs, causando-me um doloroso aperto no peito. — A sua
única obrigação será garantir que eu tenha um neto. Não ligo se for menino
ou menina.
Inspirei, forçando-me a manter a calma. Apesar disso, os meus
punhos haviam se fechado quando ouvi a proposta. Está mais do que claro
de que ele está se aproveitando da nossa situação.
— Senhor Saint, já é do seu conhecimento que estou em um
relacionamento com o seu filho. Poderíamos unir as nossas famílias se eu
me casasse com ele — sugeri, sentindo os meus batimentos elevados,
refletindo a raiva que transbordava dentro de mim.
Ele sorriu de canto, sem tirar os olhos de mim. Depois de torcer a
boca, deu mais um gole na bebida e balançou a cabeça duas vezes.
— O meu filho está confuso e ainda é jovem. Seja lá o que for que
vocês dois tenham juntos, não irá durar. Não quero que dure. A ideia de ele
se casar com outro homem não só me enoja, como também não leva o nome
da nossa família adiante. Dois iguais não fazem filhos, Levi — retrucou.
Inspirei lentamente, com o meu sangue fervilhando pelas minhas veias. —
Também não quero alongar esse assunto desagradável. O que espero de
você é a resposta da proposta que lhe fiz e nada mais.
As suas palavras arrancaram uma insistente ardência dos meus
olhos, fazendo-os lacrimejarem. Abaixei a cabeça e, mais uma vez, inspirei
lentamente. Se eu abrisse a boca naquele momento, seria para mandá-lo
enfiar aquela proposta no rabo, mas flagrei-me lembrando dos sorrisos
esperançosos da minha mãe e da minha irmã, quando as informei de que
havia sido convidado pelo senhor Saint para debatermos uma proposta que
poderia sanar os nossos problemas financeiros.
No entanto, eu estava dividido e não conseguia deixar de pensar em
Adrian, o meu primeiro e único amor, aquele com quem eu havia feito
planos de me casar. Imaginar os seus lindos olhos acinzentados, cheios de
lágrimas e por minha causa, provocava rachaduras no meu coração.
Aceitar essa proposta seria a pior das traições, tanto da minha parte
como da irmã de Adrian, a Ariane.
— O senhor odeia o seu filho? — Engoli em seco, erguendo o rosto
na direção do senhor Saint. Ele uniu os lábios e sacudiu a cabeça para os
lados. — Seja franco e me diga a verdade.
— Não, eu o amo e estou fazendo isso por amá-lo. Antes de você,
ele saía com mulheres. Depois de você, espero que ele volte a fazer o
mesmo.
Assenti com a cabeça, voltando a mirar os meus sapatos. O aperto
que havia tomado o meu peito, esmagando-o, se alastrava por todo o meu
corpo, forçando um misto de sentimentos que me causava confusão.
Eu ainda queria mandá-lo à merda, para o quinto dos infernos, mas,
infelizmente, não posso fazer isso.
— Aceito a sua proposta — disse baixinho, sentindo a minha
garganta secar, com os meus olhos se enchendo de água, ameaçando
transbordar.
O senhor Saint abriu um largo e vitorioso sorriso, com uma
expressão de satisfação tomando a sua face. A alegria era tamanha que ele
deixou o copo de bebida em cima da mesa e se levantou, estufando o peito e
bateu palmas, irradiando empolgação.
— Providenciarei para que todas as dívidas que o seu pai deixou
sejam quitadas e a sua parte das ações nas Lojas Saint’s será devolvida
integralmente. Obviamente, você irá assumir o meu lugar quando eu morrer
e irá preparar o meu neto ou neta para fazer o mesmo. — Gesticulou com as
mãos, começando a andar de um lado a outro, falando sem parar. — Não se
esqueça de que tudo isso será colocado no contrato de casamento.
— Sim, senhor. — Assenti com a cabeça mais uma vez, esforçando-
me para não demonstrar nenhuma fraqueza.
— Eu mesmo contarei ao Adrian sobre o acordo de casamento e
quero que entenda que isso não é um pedido, Levi. — Parou por um
momento, deixando-me estarrecido e depois de me lançar um olhar furtivo,
sorriu diabolicamente, voltando a andar pelo cômodo. — Hoje é um dia
feliz para mim e ninguém irá estragá-lo.
— Imagino que sim.
O ódio reverberava por todo o meu corpo e se eu continuasse o
ouvindo, em algum momento acabaria esfregando a sua cara no chão.
Respirei fundo e me coloquei de pé, adiantando-me até a porta. Antes de
sair, espiei por cima do ombro, vendo aquele demônio com o copo de
uísque na mão, exibindo alguns passinhos de dança enquanto cantarolava.
Tais memórias se foram quando ouvi um choro baixo ao meu lado,
me fazendo voltar à realidade.
Dona Carla Fernanda assou o nariz no lencinho e fungou algumas
vezes, mirando a filha adormecida no sono eterno, dentro do caixão.
Acompanhei o seu olhar, mirando a mulher que chamei de esposa nos
últimos seis anos.
O belíssimo rosto de traços delicados e acentuados, estava mais
pálido que de costume. Os cabelos anelados e loiros, quase platinados,
pendiam em largos anéis ao redor da sua face. Seus lindos lábios carnudos
estavam começando a roxear, lembrando-me de que até mesmo a mais bela
das rosas, que encanta um jardim com a sua beleza e o perfuma com o seu
aroma, também irá murchar.
Inspirei lentamente, enfiando as mãos nos bolsos do paletó. Movi os
ombros para trás e pigarreei ao perceber que algumas lágrimas haviam
tomado o canto dos meus olhos.
— Gael chorou tanto que acabou dormindo. — A minha sogra
comentou, com a voz embargada. — Um passarinho que aguarda no ninho
pelo retorno da mãe, que não volta mais — emendou, aos soluços.
Fixei o meu olhar no primeiro banco da igreja, mirando o meu
pequeno deitado com a cabeça em cima de uma blusa de frio.
— Ele ainda tem a nós.
— Nada substitui uma mãe — respondeu e puxando por fôlego,
assentiu com a cabeça algumas vezes. — Ainda assim, faremos o melhor
para cuidarmos do nosso menino.
— Sim, nós faremos o melhor, dona Carla — concordei, inspirando
profundamente, mais uma vez.
Nenhuma criança deveria chorar a morte dos pais; muito menos um
que completou recentemente quatro anos de idade e nada entende sobre a
vida, a morte e o luto.
Passei os olhos novamente pelo imenso salão. A igreja estava
lotada. Amigos, conhecidos e representantes de várias das instituições que
Ariane era madrinha estavam ali para se despedir dela. Do lado de fora, a
chuva havia ficado mais forte, com relâmpagos iluminando as várias
janelas, arrancando tremores do Céu.
— Ela merecia alguém melhor que eu — sussurrei, unindo os lábios.
— Outro homem, que realmente a amasse e...
A minha voz falhou quando um raio causou um estrondo, fazendo o
ar tremular. A luz da igreja acabou e ficamos no completo escuro. Voltei-me
em direção ao banco, observando Gael levantar, ainda sonolento. Por sorte,
o meu garoto não estava assustado.
Outro relâmpago iluminou as janelas e a silhueta de uma pessoa fez
sombra pelo corredor principal. Havia alguém parado na entrada. Gael se
adiantou até o corredor que dividia os bancos da direita e da esquerda e
durante longos segundos mirou a silhueta na entrada da igreja.
— Mamãe! Mamãezinha! — gritou quase que desesperado,
adiantando-se em direção à entrada.
Um sonoro “oh” ecoou pelo salão e todos se levantaram,
acompanhando Gael com os olhos, não se atrevendo a deixar os seus
lugares. Um arrepio tenebroso cortou a minha espinha, ao ponto de me
fazer mirar o caixão rapidamente, confirmando que Ariane seguia ali. Em
seguida, com o coração quase saindo pela boca, voltei os meus olhos na
direção do meu filho.
Quando Gael cessou os passos diante da silhueta, a luz finalmente
voltou, revelando o rosto daquele que havia chegado em meio à tempestade.
Quando o vi, prendi a respiração, sentindo cada centímetro do meu corpo
estremecer.
— Ele voltou — disse dona Carla, endireitando-se.
— Sim, ele voltou — sussurrei, piscando algumas vezes, ainda
incrédulo com a sua presença ali.

Nem por um segundo imaginei que o meu retorno a minha cidade


natal, Curitiba — Paraná, fosse ser assim, vindo me despedir da minha
irmã em seu próprio velório, muito menos, que seria recepcionado dessa
forma.
O garotinho que vinha gritando desesperadamente pela mãe deixou-
me com o coração pequenininho e angustiado, fazendo os meus olhos
lacrimejarem. A sua confusão é perfeitamente entendível, uma vez que a
sua mãe e eu somos gêmeos idênticos.
Quando Gael cessou o passo e mirou-me com aqueles olhinhos
acinzentados, arregalados e trêmulos, a decepção tomou o seu rostinho.
Enfim, ele se deu conta de que não sou quem ele esperava.
O seu pranto retornou e inundou a igreja. A dor daquela criança,
meu sobrinho, que suplicava pela mãe, exigiu o mais absoluto silêncio. Era
sufocante vê-lo naquele estado, sem entender nada do estava acontecendo
ali.
Dei um passo à frente e ao me abaixar, o puxei para mim,
abraçando-o. Quando senti o seu rostinho se aconchegar no meu ombro,
coloquei-me de pé com Gael no colo e afaguei os seus cabelos.
— O titio te ama, meu amor — sussurrei em sua orelha, ouvindo-o
soluçar. — Sabia que quando uma mamãe vai morar no Céu, ela continua
cuidando do seu filho?
Após alguns segundos, o choro diminuiu e Gael se endireitou, ainda
soluçando. Os seus olhinhos se alinharam aos meus e as suas pequenas
mãos seguraram o meu rosto.
— A-A-A mamãe cuida do Gael lá do céu? — perguntou, aos
soluços, com mais lágrimas marcando o seu rostinho.
— Sim, meu amor. A mamãe vai estar ao seu lado para todo sempre.
— Sorri e, sem conseguir segurar mais aquelas lágrimas, deixei que elas
rolassem pelo meu rosto. — Você nunca vai estar sozinho, entendeu?
Gael uniu as mãozinhas e assentiu com a cabeça, exibindo um
beicinho nos lábios. Em seguida, abraçou-me novamente pelo pescoço,
voltando a deitar o rostinho no meu ombro.
Os olhares curiosos seguiam me fitando, seguido por cochichos e
comentários, que imagino serem hostis. A maioria dos presentes aqui hoje
sabe o que aconteceu no passado, mas não me importo com o que pensam.
A única razão de eu ter retornado foi para me despedir da minha irmã.
Depois que eu fizer isso, irei embora.
Segui afagando os cabelos de Gael e quando me voltei ao altar, pude
ver o caixão e ao lado dele o viúvo, o homem que rejeitou a nossa paixão, o
nosso amor. Puxei por fôlego, sentindo o meu coração bater sem parar,
encarando-o por mais alguns segundos.
Ele não mudou nada.
Os seus olhos castanho-claros, que lembram duas grandes
amêndoas, continuavam a chamar a atenção daqueles que o miravam. O
rosto, quase que perfeito, era cerrado por uma barba rala. Os lábios grossos
e vermelhos se destacavam na sua face e o corpo torneado, definido em
algumas partes, exibia-se ao ameaçar rasgar as peças de roupa que ele
estava usando.
Desviei os nossos olhares e encostei a minha cabeça na de Gael, que
finalmente havia se acalmado. No entanto, eu seguia pensando naquele
homem.
Feito uma nascente que jorra água, dia e noite, sem descanso, é o
meu coração que ainda sangra. Tantos anos se passaram e ainda sinto aquela
dor, como se fosse hoje.
A traição dói ainda mais quando vem daqueles que amamos.
Consegui perdoar a minha irmã, Ariane. Sei bem como era o nosso pai
quando ele queria algo. Infelizmente ou felizmente, o mesmo não se aplica
a Levi Tapia.
O meu primeiro amor, primeiro homem, primeiro beijo, primeiro
calor e nome que escapou entre sussurros pelos meus lábios, em meio ao
prazer, sequer se deu ao trabalho de ter uma conversa digna comigo, para
me explicar tudo o que estava acontecendo.
Ao invés disso, ele optou por partir o meu coração em tantos
pedaços, que seria necessário mais uma vida para que eu os colasse.
Fechei os olhos por alguns segundos, tentando tirar aquele maldito
homem da minha cabeça.
— Quer ouvir a música que a mamãe e o titio cantavam quando
éramos do seu tamanho? — perguntei baixinho, o vendo assentir com a
cabeça. — Rosa, que linda eres... — cantarolei baixinho, andando de um
lado a outro com ele no colo. — Rosa, que linda eres...
Por longos minutos, segui andando com o meu sobrinho no colo, de
um lado a outro, entoando a mesma melodia. Não demorou para que mamãe
se aproximasse, mirando-nos com um sorriso gentil no rosto.
Espiei Gael rapidamente, percebendo que ele continuava de olhos
abertos, quietinho, agarrado a mim. Adiantei-me até mamãe, parando diante
dela. Os seus olhos estavam repletos de água, os lábios unidos e o queixo
trêmulo.
— Obrigada por vir — agradeceu baixinho, com algumas lágrimas
tomando o seu rosto. Em seguida, ela fungou e mirou Gael, sorrindo. — Ele
é igualzinho a você quando criança.
— Imagino que sim, mamãe. Gael puxou a mãe e como a mãe dele e
eu somos gêmeos idênticos... — Dei de ombros, unindo os lábios. — Tentei
vir antes, mas não consegui. Não entendo o que aconteceu, Ariane estava
respondendo bem ao tratamento oncológico. Quando a senhora me ligou,
tomei um susto.
— Ela dormiu e não acordou mais, foi isso que aconteceu, meu filho
— respondeu mamãe, me fazendo engolir em seco. — A sua irmã estava
em paz. A única preocupação dela era o Gael, mas ela se foi tendo a certeza
de que cuidaríamos bem dele.
— Com toda certeza iremos — confirmei com a cabeça.
Por um breve segundo esqueci-me daquele homem e voltei o rosto
na direção do caixão, deparando-me com ele, ainda parado ao seu lado.
Ofegante e sentindo aquele aperto no peito regressar, voltei a desviar os
nossos rostos, dando-lhe as costas.
Quando o olhar de Adrian finalmente encontrou o meu durante
alguns poucos segundos, antes de ele me dar as costas, perdi o fôlego. Ao
cerrar os punhos, abaixei a cabeça e fechei os olhos, sentindo-os arderem.
Ainda que eu quisesse contar, não conseguiria dizer quantas vezes
me perdi em sonhos, almejando revê-lo mais uma vez. No entanto, agora
que ele está diante de mim, não tenho coragem de ir até ele.
Nunca me esqueci de uma frase dita pela minha amada e falecida
mãe: Maldito o homem que semeia o amor em um coração e o deixa morrer
por falta de cuidados.
Inspirei profundamente e enfiei as mãos nos bolsos, continuando a
mirar os meus sapatos pretos. Depois de um tempo, quando ouvi a
gargalhada infantil ecoar, ergui o rosto. Adrian se aproximava em passos
lentos, trazendo Gael no colo, que apontava o dedinho na minha direção.
Ele parou do outro lado do caixão e voltamos a nos encarar. Os
olhos trêmulos e de um acinzentado vívido, encheram-se de lágrimas, me
fazendo engolir em seco.
— Papai, a mamãe tá com sono? — Gael se voltou a mim, confuso.
Engoli em seco e uni os lábios, esticando-os em um sorriso. — Mamãe,
mamãezinha — a chamou, fazendo o meu coração se apertar.
— Ele não precisava ver isso — murmurou Adrian, com as
primeiras lágrimas marcando o seu rosto.
— Gael passou a última semana sem ver a mãe — expliquei,
inspirando profundamente e retirando as mãos dos bolsos, cruzei os braços.
— Cogitamos deixá-lo em casa, mas depois de uma longa conversa com a
psicóloga, concordamos que seria prudente que ele pudesse se despedir da
mãe.
— Foi uma péssima ideia — retrucou e sacudindo a cabeça para os
lados, afastou-se do caixão, adiantando-se pelo corredor da igreja.
— A mamãe vai embora, titio?
— A mamãe está no Céu — respondeu Adrian. — Lembra que o
titio contou que ela vai cuidar de você lá de cima?
— Lá do alto? — Gael ergueu os bracinhos para o alto, soltando
uma gargalhada.
— Isso, lá do alto — confirmou.
Os meus olhos seguiam tão absortos naqueles dois, que sequer notei
quando a minha sogra parou ao meu lado. Só percebi a sua presença quando
a ouvi pigarrear.
— Perdão, não vi a senhora chegar.
— Eles são lindos juntos — comentou, me fazendo assentir com a
cabeça. Após alguns segundos, dona Carla emendou: — Dias difíceis virão,
Levi.
— Sim, estou ciente — murmurei.
— Se importa se eu te fizer uma pergunta?
— Não, fique à vontade.
— Você ainda o ama?
Espiei-a rapidamente, vendo seus olhos fixos em mim, esperando
por uma resposta. Prendi a respiração e me endireitei, pigarreando.
— Se eu pudesse voltar no tempo, mudaria algumas coisas —
confessei, sentindo os meus olhos arderem. — Tentei salvar a minha família
da desgraça, mas onde eles estão hoje? Mortos.
Assim como a minha falecida esposa, o câncer também levou a
minha mãe, dias depois de eu ter feito o acordo com o senhor Saints.
Depois de mais um ano, a minha irmã, Luísa, faleceu em um acidente de
carro quando voltava da faculdade.
Tudo que fiz foi em vão.
Não, na verdade, há alguém que fez todo o meu sofrimento valer a
pena. O meu menino, o meu garotinho que me acorda todas as manhãs me
chamando de papai.
— Gael é o único acerto de toda essa história.
— Um acerto perfeito — enfatizou, me arrancando um sorrisinho de
canto. — A vida tem sido cruel com você há muito tempo, meu filho, mas
não se esqueça de que é importante ter em mente que sempre há tempo para
ser feliz — sussurrou, pousando uma das mãos nos meus ombros,
apertando-o.
— A felicidade me odeia. — Sorri, terrivelmente frustrado, voltando
a fixar os olhos naquele que poderia ser o dono da minha alegria. — Nem
se eu pedisse perdão de joelhos, a felicidade me aceitaria de volta.
— A vida é cheia de surpresas, meu filho. Nunca se sabe quando
uma nova chance poderá surgir — retrucou e acompanhando o meu olhar,
deu-me alguns tapinhas no ombro.
Ao amanhecer...
Seguimos para o cemitério em um cortejo fúnebre, contando com a
presença de parentes distantes e amigos próximos. Após o enterro, os
presentes começaram a ir embora, mas me mantive ali, de pé, com as mãos
nos bolsos, mirando a foto fixada no centro da lápide.
Espiei por cima do ombro, vendo dona Carla se adiantar em direção
à saída do cemitério, sendo acompanhada por Adrian e Gael, que havia
adormecido nos braços do seu tio.
Respirei fundo e me abaixei, tocando a terra mexida e ainda úmida.
Uni os lábios e fechei os olhos, apertando-os com força, finalmente
conseguindo sentir alguma coisa.
— Você merecia ter vivido o seu próprio amor. Apesar disso, nos
tornamos grandes amigos e eu vou sentir muito a sua falta — sussurrei e ao
abrir os olhos, os senti arderem. — Quanto ao nosso menino, juro que farei
com que ele se torne um homem honrado, digno e respeitoso, exatamente
como você dizia que faria.
Funguei e pisquei os olhos algumas vezes, colocando-me de pé.
Enfiei as mãos nos bolsos e mirei a foto de Ariane uma última vez, antes de
girar sobre os sapatos e me lançar em direção à saída do cemitério.
Levei pouco menos de trinta minutos para chegar em casa. Ao
descer do veículo, adiantei-me até a porta principal, empurrando-a. A sala
estava completamente vazia, com alguns funcionários passando de um lado
a outro. Fechei a porta atrás de mim e precipitei-me em direção às escadas,
rumo ao primeiro andar. Atravessei o corredor com portas de ambos os
lados e parei em frente à porta do quarto do meu filho.
Da entrada, pude ver Adrian sentado ao seu lado, roçando o dorso
da mão em seu rostinho, mirando-o com ternura. Um sorriso tomou os meus
lábios e eu cruzei os braços, dando-me ao luxo de admirar aquela cena
extremamente fofa.
— Assim que chegamos ele perguntou pela “mamãe” e depois de
muito choro e conversa, adormeceu — contou Adrian, sem tirar os olhos de
Gael. — Quando vocês irão retornar na psicóloga?
— Iremos começar o acompanhamento essa semana — expliquei.
Adrian assentiu com a cabeça, ainda evitando me encarar. — Obrigado por
passar as últimas horas com ele. Você deve estar exausto.
— Não precisa agradecer. Ele é o meu único sobrinho e eu o amo
como se fosse meu filho — respondeu, enfim, voltando-se a mim, mirando-
me com aqueles grandes olhos acinzentados. — Os meus planos eram de ir
embora ainda hoje, mas devo ficar mais alguns dias.
— Mandarei preparar um quarto.
— Obrigado.
Um mísero segundo foi o suficiente para que eu me perdesse na sua
beleza e doçura; exibidas no rosto daquele que foi o único a ouvir um “eu te
amo” deixar os meus lábios.
Os cabelos loiros e anelados, quase platinados, pendendo sobre os
ombros, balançavam conforme ele se mexia. Os olhos acinzentados
reluziam. O rosto pálido dava destaque aos lábios carnudos e roseados. Ele
é tão belo e cativante, que eu poderia passar horas o admirando e não me
cansaria.
Adrian continua exatamente como eu me lembrava. O simples fato
de tê-lo ali, próximo a mim, acalmava o meu coração, diminuindo as suas
batidas; secava a minha garganta e fazia-me esquecer do mundo.
Quando saí daquela hipnose, pigarreei.
— Você... Está bem?
— Sim, não se preocupe comigo — respondeu emendando as
palavras umas nas outras, voltando a mirar Gael.
O meu coração estava a mil, batendo sem parar. Perder-me nos seus
olhos castanho-claros foi, ao mesmo tempo, nostálgico e sufocante. Rever
as nossas imagens me trouxe certa alegria, mas lembrar de tudo que passei,
formou um bolo na minha garganta e por mais que eu tentasse gritar, não
consegui.
Pensei ter apagado tudo que sentia por ele, deixando apenas a
mágoa e o rancor, mas revê-lo deixou claro de que isso não aconteceu.
A nossa história acabou e não irá recomeçar, não deve, não pode.
Esse homem é o viúvo da minha irmã, o pai do meu sobrinho. Não importa
o que tivemos juntos, não mais. Tornamo-nos estranhos e, no que depender
de mim, continuaremos assim.
Será melhor para todos.
Quando Levi deixou o quarto, soltei o ar preso nos pulmões e senti
as lágrimas tomarem os meus olhos, enquanto o meu queixo tremulava.
Aquele aperto no peito me deixava sem ar, zonzo, sentindo o meu coração
despedaçado bater, esforçando-se para juntar os próprios cacos, sem
sucesso.
— O passado precisa ficar no passado — sussurrei, roçando o dorso
da mão no rostinho de Gael, que dormia feito um anjinho. — O titio
promete que só irá embora quando você estiver bem.
Permaneci no quarto durante um tempo e depois desci, encontrando
mamãe sentada em um dos sofás da sala principal, com uma espécie de
livro em mãos. Sentei-me ao seu lado. Permanecemos um longo tempo em
silêncio.
— Quando a sua irmã se casou, ela chorou por uma semana —
contou mamãe, me fazendo espiá-la rapidamente. — Não por ela, mas por
você. Ela dizia aos prantos, desesperada: perdi o meu irmão, o meu melhor
amigo.
Engoli em seco, abaixando a cabeça.
— Receio que naqueles dias eu tenha sido muito cruel com as
palavras — uni os lábios e encolhi os ombros. — Quando voltamos a nos
falar, depois que o Gael nasceu, ela tentou tocar no assunto, mas eu não
quis. Talvez, eu devesse tê-la ouvido.
— Talvez — concordou mamãe, dando um longo suspiro. — Ariane
não amou o Levi e nem ele a amou. Eles eram amigos, felizes, mas nunca
foram um casal.
— Pelo menos ela foi feliz.
— Na noite anterior à morte dela, ela me entregou isso e pediu para
que eu o desse a você — disse mamãe, oferecendo-me o livro. Assim que o
peguei, dei-me conta de que, na verdade, era um diário. — Não o li. Ela
disse que começou a escrevê-lo depois do casamento e que gostaria que
você lesse.
Senti os meus olhos arderem e assenti com a cabeça.
— E-E-Eu me sinto tão culpado, mamãe — ofeguei, puxando por
fôlego, sentindo as primeiras lágrimas descerem. — Não importa por qual
ângulo eu olhe, só vejo destruição. E por mais que eu tente afastar essa
culpa de mim, sei que a causa fui eu.
— Não traga para si um culpa que não lhe pertence. Seu pai, o
verdadeiro culpado, está morto. — Fungou, gesticulando com uma das
mãos. — Apesar de ter feito tudo o que fez, ele te amava. Do jeito dele, mas
amava.
— Ele nos condenou ao sofrimento — murmurei, mantendo os
olhos fixos no diário.
— E morreu arrependido de ter feito isso. No leito de morte ele
chorou, pois sabia que você não iria ao seu encontro, se despedir. —
Espiou-me rapidamente, me fazendo engolir em seco. — Não te julgo. O
seu pai te magoou de uma forma muito cruel quando forçou a sua irmã a se
casar com o seu namorado, com o homem que você amava e ainda ama.
Ergui a cabeça com os olhos arregalados, voltando-me a mamãe,
que abriu um sorriso terno, compreensivo, aconchegante.
— Não faça essa cara. É claro que você ainda o ama, do mesmo
modo sabemos que ele também te ama — sussurrou e tocando o meu rosto
com uma das mãos, roçou o polegar na minha bochecha.
— Mamãe, eu...
— Estou tão feliz de te ver. — Sorriu, com algumas lágrimas
escorrendo pelo seu rosto. — Seis anos. Há seis longos anos eu não vejo o
meu garotinho. — Ofegou, unindo os lábios durante alguns segundos. —
Perdi uma filha. Não quero perder o único filho que me sobrou, por isso,
por favor, não vá embora de novo.
Assenti com a cabeça e a abracei com força, apertando-a junto a
mim. O silêncio que nos seguiu abriu espaço para o choro baixo, repleto de
dores, mágoas e arrependimentos.
— Obrigado por me lembrar que sou importante nessa família,
mamãe — agradeci, sentindo a minha voz tremular.
— Você nunca deixou de ser importante na nossa família. — Beijou
o meu rosto, apertando ainda mais o abraço, arrancando-me um sorriso em
meio às lágrimas.
Afastamo-nos após alguns minutos e mamãe se levantou, mirou-me
uma última vez e se adiantou em direção às escadas, subindo-as. Esfreguei
o rosto com as mãos, enxugando-o e me lancei em direção à segunda sala,
que dava acesso ao jardim.
Assim que atravessei a porta de vidro cessei o passo, sentindo um
frio atravessar a minha barriga. Levi estava sentado no “nosso banco”, com
o rosto erguido na direção do céu cheio de nuvens.
Por um mísero segundo de descuido, me vi submerso nas nossas
lembranças:
Era noite e as estrelas cintilavam no céu escuro. Deixei a mansão
escondido para encontrá-lo no jardim, como sempre fazia. Assim que o vi
sentado no banco, corri em sua direção e ele se levantou para me receber.
Abracei-o com força e em seguida, selei os seus lábios.
— Consegui escapar rapidinho — contei aos risinhos e levando as
mãos para trás, entrelacei a ponta dos dedos, mirando a sua expressão de
felicidade. — Está aqui tem muito tempo?
— Alguns minutos — respondeu, roçando o dorso da mão no meu
rosto e ao se aproximar, chupou os meus lábios calmamente, soltando-os em
seguida. — O lado bom de sermos vizinhos é que podemos fugir a qualquer
hora.
— O seu pai não se importa, mas o meu... — Encolhi os ombros,
franzido a testa ao ver aquele rasgo em sua camisa. — O que foi isso?
— Ah, isso foi... — Riu, levando uma das mãos à nuca, esfregando-
a. — O portãozinho da divisa dos nossos muros estava trancado e eu o
pulei.
Trocamos uma risadinha baixa e eu o abracei novamente, deitando o
rosto no seu peito. Levi pousou o queixo sobre a minha cabeça e levou uma
das mãos a minha nuca, subindo-a e descendo até os meus cabelos.
— Um dia iremos nos casar e seremos muitos felizes — disse
baixinho, beijando a minha cabeça.
— Tomara que esse dia chegue logo. — Ergui o rosto em sua
direção, arrancando-lhe um largo sorriso. Levi confirmou com a cabeça. —
Vou poder escolher onde iremos passar a nossa lua de mel?
— Como você sempre diz, é você quem manda nessa relação, sendo
assim poderá escolher tudo o que quiser, meu amor — retrucou, acelerando
o meu coração.
Tais lembranças se foram, me trazendo de volta à realidade.
Levi continuava sentado no banco, com os olhos fixos no céu. Em
meio às lágrimas que não paravam de descer, recuei alguns passos para não
chamar a sua atenção, mas acabei esbarrando em um vaso que caiu no chão
e quebrou.
Encarei o vaso espatifado e me voltei a ele, vendo seu rosto fixo na
minha direção. Engoli em seco quando Levi se levantou, aproximando-se.
— Está tudo bem? — perguntou, mirando o vaso e rapidamente
pegou as minhas mãos, olhando-as com atenção. — Que bom que não se
cortou. O material desses vasos é bem afiado.
O seu toque me arrancou uma sensação quente, seguida por um
calafrio que subia dos meus pés até a nuca.
— Foi só um susto. — Recolhi as minhas mãos rapidamente e ao
dar mais um passo para trás, senti as minhas costas se colarem na parede, ao
lado da porta. — Eu só vim pegar um pouco de ar, mas já estou de saída.
Os olhos de Levi seguiam fixos nos meus, me fazendo perder o
fôlego e puxar por ar. De súbito, ele sacudiu a cabeça e pigarreou, enfiando
as mãos nos bolsos.
— Você está chorando — sussurrou e quando fez menção de tocar o
meu rosto, o virei para o lado, como se pedisse para não o fazer. — Tem
certeza de que está tudo bem?
— Não, mas vou ficar — respondi, sentindo o meu interior se
revirar, apertando-se. — Se importaria de me deixar sozinho?
— Não, claro que não. Por favor, fique à vontade — disse baixinho,
adiantando-se em direção à porta. — Vou pedir para alguém recolher os
cacos.
Finalmente só, comigo mesmo e com os meus pensamentos, fechei
os olhos, sem deixar de constatar o que eu já imaginava. Os próximos dias
serão dolorosos. É inevitável não reviver as memórias do passado quando
ele está por perto.
As lembranças de um amor deveriam ser um consolo, mas a única
coisa que sinto são as minhas feridas, quase cicatrizadas, serem reabertas.
Atravessei a porta que dava acesso ao jardim e me adiantei pela
segunda sala. Dei mais alguns passos, antes de parar subitamente. A
imagem do rosto de Adrian marcado por lágrimas retornou a minha mente,
me fazendo ofegar.
Era como se o meu peito estivesse sendo rasgado de forma brutal e
furiosa. Eu odiava vê-lo chorar. Doía no fundo da minha alma, pois eu sabia
o motivo de tais lágrimas.
Não precisava ser um gênio para saber. Era ali, naquele mesmo
banco onde eu estava sentado, que costumávamos nos encontrar durante a
noite, às vezes, na madrugada.
— Como solicitou, o quarto do senhor Adrian já foi preparado —
disse uma das funcionárias ao se aproximar, tirando-me dos meus
devaneios.
— Obrigado, dona Lara. Por gentileza, peça para que alguém retire
o vaso quebrado da área externa. Não quero correr o risco de acontecer um
acidente com o Gael.
— Farei isso nesse instante, senhor. — Assentiu com a cabeça, girou
sobre os sapatos e se adiantou em direção ao outro cômodo.
Recompus-me e me adiantei pelo corredor, em direção às escadas.
Segui pelo corredor do primeiro andar, parando na porta do quarto de Gael.
Dali era possível vê-lo ainda adormecido. Não era para menos, ele passou
toda a madrugada acordado.
Um largo sorriso tomou o meu rosto e fui até ele, parando ao lado da
cama. Puxei os lençóis para cima, cobrindo-o até os ombros e me inclinei,
beijando a sua testa.
— O papai te ama — falei baixinho, para não o acordar.
Obviamente, irei reduzir a minha carga de trabalho, assim poderei
passar mais tempo com o meu filho. Para ele, nada, nem ninguém poderá
substituir a ausência de Ariane, mas tentaremos preencher essa lacuna de
toda as formas possíveis.
Não importa o que seja necessário fazer, farei sem pestanejar. O que
não posso, nem irei permitir é que o sorriso infantil que dá alegria as
minhas manhãs, desapareça.

Alguns dias depois...


Acordei um pouco sonolento e ao mirar o relógio de pulso, vi que
ainda era uma da manhã. O choro infantil seguido de passinhos estalando
no corredor, me despertou de vez.
— Mamãe. Mamãezinha... — chamou aos soluços, com a voz
chorosa.
Usando apenas uma cueca samba-canção, saltei da cama e adiantei-
me até a porta do quarto. Antes de deixar o cômodo, peguei o roupão em
cima da minha poltrona de leitura, vestindo-o. Adiantei-me pelo corredor a
passos largos e quando cheguei no topo da escada, pude respirar aliviado.
Adrian estava no meio da sala principal, andando de um lado a
outro, com Gael no colo, ninando-o. Afastei o roupão com os dedos e
pousei as mãos na cintura, admirando aqueles dois.
— A-A-A mamãe tá onde? — perguntou Gael, me fazendo engolir
em seco.
— A mamãe está lá no céu, cuidando de você, meu amor —
explicou Adrian, roçando o dorso da mão no rostinho do sobrinho.
Adrian respirou fundo e adiantou-se em direção à cozinha. Desci os
degraus, indo atrás deles. Assim que cheguei no cômodo, escorei-me na
porta, observando-os. Gael estava sentadinho em cima do balcão central de
mármore, balançando as perninhas sem parar. Por sua vez, Adrian andava
de um lado a outro, levando consigo várias caixinhas de chá e separando
alguns copos, antes de parar em frente ao micro-ondas, mirando o seu
interior através do vidro.
— O titio vai fazer um chá gostoso para nós dois — disse Adrian,
entreabrindo a boca em um bocejo. — Vai nos ajudar a dormir e...
A sua voz falhou quando ele se virou na direção de Gael e acabou
me vendo parado na entrada no cômodo. Ele se endireitou, pigarreando. Os
seus olhos passaram por mim lentamente, com suas bochechas ganhando
um tom avermelhado, antes de ele virar o rosto na direção oposta, puxando
por fôlego.
Por um breve momento, a sua reação me arrancou um sorrisinho de
canto, mas quando me lembrei de que estava usando apenas um roupão e
uma samba-canção, pigarreei, fechando o roupão com um nó.
— Papaizinho! — exclamou Gael.
Adiantei-me até o meu pequeno e o peguei no colo, sentindo-o seus
bracinhos abraçarem o meu pescoço. Quando Gael se afastou, dei-lhe um
beijo na bochecha.
— Não está na hora de dormir?
— Não, papai. — Sacudiu a cabeça para o lado, me fazendo segurar
o riso. — O Gael vai tomar chazinho com o titio.
Voltei os meus olhos a Adrian, que seguia de costas pra mim. Atrás
de nós, o micro-ondas apitou, fazendo-o se virar na nossa direção. Os seus
olhos encontraram os meus por alguns instantes, mas ele os desviou e
apressou o passo, parando em frente ao aparelho eletrônico.
— O Gael estava chorando no corredor e eu não quis te acordar —
disse Adrian, despejando um pouco de leite quente em cada um dos copos
que já abrigavam os sachés de chá. — É chá de camomila. Para ajudá-lo a
dormir.
— Desculpe por te causar tanto trabalho. Sou eu quem deveria estar
fazendo isso — respondi, inspirando profundamente.
— Você? Fazendo chá? — Riu com certo deboche, fazendo as
minhas bochechas arderem. — Se quiser mandar o menino para o hospital,
é melhor escolher um jeito menos perigoso.
— Ei, não sou tão ruim assim na cozinha — defendi-me,
arrancando-lhe uma risada.
— Ruim é elogio. Você é péssimo — retrucou de imediato, fazendo
o meu rosto queimar mais que antes.
O chá não demorou para esfriar e todos nós tomamos e seguimos
para o primeiro andar. Segui pelo corredor com Gael no colo, sentindo o seu
rostinho deitado no meu ombro. Ao parar na porta do meu quarto, voltei-me
a Adrian, que vinha atrás de nós.
— Obrigado.
— Não precisa agradecer. — Encolheu os ombros, me fazendo
assentir com a cabeça.
A parte mais dolorosa de estar diante da única pessoa que você
amou e que ainda ama, é perceber que os eventos da vida, a distância e o
tempo, nos tornaram completos desconhecidos.
Assenti com a cabeça e adiantei-me para dentro do quarto. No
instante em que subi de joelhos no colchão e coloquei Gael na cama,
aninhando-o entre os travesseiros, ele abriu os olhos, sonolento.
— É o papai — disse baixinho.
— Titio — chamou sonolento e, não contente, insistiu, aumentando
o tom de voz: — Titio!
— O titio foi dormir, campeão.
— Não, papai — choramingou, sentando-se na cama. — Titio, vem
dormir com o Gael — chamou novamente.
Ao ouvir dois breves toques na porta, espiei por cima do ombro,
vendo Adrian parado na entrada do quarto. Ele estava um pouco acanhado,
esfregando o braço direito com uma das mãos.
— Por favor, entre.
— Licença.
Após rodear a cama, Adrian se sentou na beirada do colchão,
fixando os olhos em Gael, que lhe ofereceu um sorriso. O meu pequeno
deitou-se novamente e bateu uma das mãozinhas ao seu lado.
— Aqui, titio.
Adrian me encarou rapidamente, um pouco desconsertado e se
deitou. Coloquei-me de pé, pousando as mãos na cintura, admirando
aqueles dois, sentindo o meu coração se aquecer.
— O papai também — disse Gael ao se voltar a mim, me fazendo
engolir em seco.
Ergui o rosto na direção de Adrian, que apesar de estar claramente
desconfortável, assentiu com a cabeça. Respirei fundo e voltei a subir no
colchão, deitando-me ao lado do meu filho, a exemplo do seu tio.
Ambos estávamos deitados de lado, de frente para Gael e,
consequentemente, um de frente para o outro. Vez ou outra, nossos olhares
se encontravam, mas acabávamos os desviando.
— A mamãe tá no céu? — perguntou Gael, apontando o dedinho na
direção do teto, abrindo a boca em mais um bocejo.
— Sim, meu amor. A mamãe está no céu, cuidando do Gael. —
Adrian respondeu baixinho e o meu pequeno coçou o olho esquerdo com
uma das mãos, indicando que o sono estava chegando. — Quer que o titio
cante para você?
— Unhum — resmungou Gael, de olhos fechados.
Um sorriso terno tomou o rosto de Adrian e depois de ele pigarrear,
o som da canção de ninar ecoou pelo cômodo:
Brilha, Brilha, Estrelinha
Lá no céu, pequenininha
Solitária se conduz,
Pelo céu com sua luz.
Brilha, Brilha, Estrelinha — Jane Taylor & Mozart.

Em pouco minutos, Gael caiu no mais profundo sono, arrancando


um sorriso ainda mais belo do rosto de Adrian. Suspirei, acabando por
chamar a sua atenção.
— É melhor eu ir, eu...
— Por favor, fique — respondi no mesmo tom de voz, entre
sussurros. — Assim que ele acordar, irá te procurar.
Adrian assentiu com a cabeça.
— Apesar de ainda ser um bebêzão, ele é muito esperto e sabe que
há algo errado. Acredito que o motivo de Gael estar tão grudado com você é
a sua semelhança com a Ariane.
— Provavelmente, sim — concordou.
A primeira vez que Gael viu o tio pessoalmente, foi no dia do
velório. Antes disso, eles se viam através das frequentes videochamadas
que Ariane fazia — após o nascimento do nosso filho —, na intenção de se
reaproximar do irmão e de aproximá-lo do sobrinho.
Perceber que o Adrian é o maior consolo que o meu filho poderia ter
nesse momento e ver toda a dedicação e atenção oferecida ao meu pequeno,
lembrava-me do motivo pelo qual me apaixonei e quis casar com ele, antes
de ser obrigado a me casar com a sua irmã.
Um sorrisinho de canto tomou o meu rosto. Fechei os olhos por
alguns segundos, tentando limpar a minha mente e não pensar em nada, mas
era impossível tendo ele ali, tão perto de mim.
Ao abrir os olhos, levantei-me da cama e apressei o passo em
direção ao corredor. Em poucos minutos, me vi sentado no nosso banco, no
meio do jardim, mirando o céu estrelado. O mesmo que eu ficava
admirando, enquanto o esperava vir ao meu encontro.

Entreabri os olhos um pouco sonolento, percebendo que a minha


única companhia era o meu pequeno sobrinho, Gael. Sentei-me no colchão
e me espreguicei, abrindo a boca em um bocejo. Em seguida, adiantei-me
até a sacada, mas acabei cessando o passo.
Dali de cima era possível vê-lo sentado no nosso banco, no meio do
jardim. Levei uma das mãos ao peito, sentindo-o se apertar dentro de mim.
As lágrimas se acumularam no canto dos meus olhos, mas não permiti que
vazassem.
Ante a calmaria da noite, pude ouvir os seus soluços, o vendo
esconder o rosto com ambas as mãos, rendendo-se ao choro e às lágrimas.
Ofeguei, sentindo o meu queixo tremular.
Queria ir até ele, queria abraçá-lo e dizer que poderíamos
recomeçar, mas... O amor da minha vida agora é o viúvo da minha irmã.
Não posso e não devo cogitar ter qualquer coisa com esse homem. Em
respeito a Ariane, o menor dos sentimentos que seja deve ser sufocado,
como venho fazendo em todos esses anos que estive distante.
Sim, é isso que farei.
Irei destruir o que resta do amor que havia entre nós, até que não
sobre nada; nenhuma lembrança, nenhuma promessa, nenhum sorriso ou
palavra de amor.
Funguei, piscando algumas vezes para secar as lágrimas, voltando-
me a Gael, adormecido na cama. Um largo sorriso tomou o meu rosto.
— Quando você ficar bem, meu amor, irei embora para sempre. Não
se preocupe, o titio continuará a te ligar — sussurrei, abraçando os meus
próprios braços.
Com o sono perdido, permaneci um tempo parado. Não faço ideia
de quanto. Entediado, adiantei-me pelo cômodo, passando a observar cada
detalhe. Ao entrar no closet, admirei tudo ao meu redor e um detalhe me
chamou a atenção.
Não havia uma única roupa feminina ali.
Franzi a testa, um pouco confuso e segui em direção à suíte. A
banheira estava vazia e havia uma única toalha no suporte. Adiantei-me até
a ducha e o nicho de produtos para banho eram todos masculinos.
— Onde estão as coisas da Ariane? — perguntei a mim mesmo,
ainda mais confuso.
— No quarto dela. Nós ainda não mexemos em nada. — Ouvi a voz
dele atrás de mim, fazendo todo o meu corpo tremer, antes de eu prender a
minha respiração. — Acredito que a sua mãe fará isso no tempo dela.
Como assim no quarto dela?
Puxei por fôlego e girei na sua direção, alinhando os nossos rostos.
Os seus olhos e rosto estavam vermelhos, indicando que o choro que vi não
havia sido uma ilusão.
— Vocês dormiam em quartos separados?
— Nunca dormimos juntos — respondeu, me fazendo arregalar os
olhos. — O contrato que assinamos não exigia que dormíssemos no mesmo
quarto.
— Ela nunca reclamou?
— De qual parte? — Ele riu, frustrado. — De se casar com o
namorado do próprio irmão? De ter que engravidar dele, do contrário você
seria internado em uma clínica psiquiátrica ou de passar o resto da vida ao
lado de um homem que nunca iria amar, pois esse mesmo homem foi
arrancado do coração daquele que ela chamava de melhor amigo?
Senti o meu queixo tremular, com as primeiras lágrimas marcando o
meu rosto. A dor e a mágoa faziam-se presentes na sua voz, atingindo-me
em cheio.
— Você não foi o único que sofreu, Adrian — prosseguiu entre
sussurros. Os seus olhos marejados e trêmulos me fizeram engolir em seco.
— Todos nós sofremos. Eu ainda estou sofrendo — enfatizou, me fazendo
engolir em seco.
O meu peito se apertou um pouco mais.
— Sinto muito — falei baixinho, abaixando a cabeça. — É tudo
minha culpa. Se nós não... — A minha voz falhou quando Levi se
aproximou e me puxou, abraçando-me.
— Por favor, não termine essa frase — pediu ofegante. Sem me
conter, o abracei pela cintura, deitando o rosto no seu peito, ouvindo as
batidas do seu coração acelerado. Quando o senti pousar o queixo na minha
cabeça, como ele sempre fazia, uma sensação nostálgica me tomou. — Não
podemos mudar o passado, mas o presente está diante de nós e juntos
podemos construir um futuro diferente.
As suas palavras fizeram o meu corpo inteiro estremecer.
Desvencilhei-me dele e ergui o rosto em sua direção. Um sorriso em meio
às lágrimas tomou o seu rosto e ele tocou o meu lábio inferior com o dedão,
desenhando-o lentamente, fazendo o meu corpo inteiro queimar.
— Nunca deixei de te amar. Nem mesmo por um segundo —
continuou Levi e tocando o meu rosto com o dorso da mão, o acariciou com
carinho, deixando as minhas pernas bambas.
— De todos que me magoaram, você foi o que mais me machucou
— respondi baixinho, mordendo o lábio inferior. — O buraco que você
abriu no meu peito, continua aberto.
— Eu...
— Está tarde e eu preciso dormir — desconversei e sem esperar por
qualquer interrupção, adiantei-me em direção à saída. Acabei cessando o
passo quando o senti segurar o meu pulso, voltando o meu rosto na direção
dele. — Por favor, me solte.
— Prometa que iremos sentar e conversar sobre tudo o que
aconteceu — pediu, soltando o meu pulso. — Por favor, Adrian. Nós dois
merecemos isso.
— Outra hora — concordei.
Levi uniu os lábios e sacudiu a cabeça positivamente. Mais que
depressa, lancei-me para fora do cômodo e atravessei o corredor, entrando
no meu quarto. Fechei a porta atrás de mim e fechei os olhos, acabando por
ouvir aquela frase mais uma vez, sentindo o meu coração tremular.
“Não podemos mudar o passado, mas o presente está diante de nós
e juntos podemos construir um futuro diferente”.
Na manhã seguinte...
Com as mãos apoiadas no guarda-corpo da sacada, mantive os olhos
fixos no horizonte. Estava começando a amanhecer e eu ainda não havia
pregado os olhos.
A dolorosa conversa que deveríamos ter tido seis anos atrás,
finalmente foi acertada e me tirou o sono. Se eu não tivesse sido tão
covarde, acredito que seria mais fácil de nos entendermos. Ao invés disso,
optei pelo caminho que imaginei causar menos dor, mas o tempo me
mostrou que foi apenas mais um dos meus muitos erros.
Ouvi duas breves batidas na porta e deixei de lado as minhas
reflexões. Girei o corpo na direção da entrada do cômodo, vendo dona
Carla parada na entrada.
— Licença — pediu, adiantando-se até a cama. Depois de se sentar
no colchão, inclinou-se e beijou a testa de Gael. Ao se endireitar, espiou-me
rapidamente, antes de fixar os olhos no neto. — Que milagre o nosso
pequeno ainda estar dormindo.
— O Gael acordou de madrugada. Estava chamando pela mãe —
contei, a vendo unir os lábios, pesarosa. Deixei a sacada e entrei no
cômodo, parando do outro lado da cama. — Adrian o pegou no colo e o
convenceu a tomar chá de camomila.
— Adrian e os seus chás. Admito que não ouvi nada, pois tomei
alguns remédios para dormir. — Dona Carla sorriu e, após alguns segundos,
inspirou profundamente. — O retorno à psicóloga é hoje?
— Sim, às dez horas.
— Quer que eu o leve?
— Por favor. — Pousei as mãos na cintura, fixando os meus olhos
no meu filho, adormecido feito um anjinho. — Preciso ir à sede da empresa
organizar algumas coisas e definir o meu novo horário de trabalho. Vou
diminuir a carga horária pela metade, para conseguir passar mais tempo
com o nosso garotinho.
— Excelente ideia. — Dona Carla ofereceu-me um sorriso gentil,
mantendo os olhos em mim. — Vocês dois conseguiram conversar?
— Trocamos algumas poucas palavras.
— Algumas feridas demoram para se curar.
— E o que acontece quando essas feridas não se curam? —
retruquei, deixando-a pensativa.
— Acho que o carinho vira desprezo e o amor, ódio.
Engoli em seco, abaixando a cabeça. Não demorou muito para que
uma dúvida pertinente me tomasse e, de imediato, levei a questão a ela.
— No velório, a senhora me perguntou se eu ainda o amava —
lembrei-a e ela assentiu com a cabeça. — Por quê?
— Para não errar de novo — respondeu. Ao unir os lábios, dona
Carla abaixou a cabeça. — Nunca fui contra o namoro de vocês. Pelo
contrário, você o fazia feliz e, consequentemente, isso me deixava feliz.
Porém, preciso assumir a minha responsabilidade no que aconteceu. Eu não
queria iniciar um conflito com o meu falecido marido e as coisas
terminaram como já sabemos. Não digo que ter me posicionado teria
mudado algo, mas, certamente, hoje não haveria a culpa que há em mim.
— Todos nós erramos.
— E é por esse motivo que não podemos mais errar. Se o fizermos,
Adrian irá embora e nunca mais irá voltar — sussurrou, roçando o dorso da
mão no rostinho de Gael.
Assenti com a cabeça.
— Posso te fazer outra pergunta?
— Claro, meu filho.
Entrar naquele assunto era um pouco desconcertante, mas era
necessário. Inspirei profundamente e pigarreei, limpando a garganta.
— Se nós dois, eu e o Adrian, conseguirmos nos entender, a senhora
nos daria o seu apoio?
— Por que eu não daria? — Voltou-se a mim, me causando alívio
instantâneo. — Você e Ariane foram qualquer coisa, menos um casal.
Foram seis longos anos vivendo um casamento de mentira, cuja intenção
sempre foi proteger o Adrian.
Ouvir aquilo me arrancou um sorriso genuíno. Puxei por fôlego,
sentindo uma explosão de alegria dentro de mim e, por fim, uni os lábios,
assentindo com a cabeça.
— Obrigado — agradeci, sentindo os meus olhos arderem. —
Então, a senhora sabe do...
— Sim, ela me contou — confirmou Dona Carla, me fazendo
engolir em seco. — Você é um bom homem, Levi. Mesmo não a amando,
você cuidou e se manteve ao lado dela até o fim e eu nunca poderei pagar
por isso.
— No começo foi estranho. Com o passar do tempo, nos tornamos
melhores amigos, confidentes. — Sorri ao lhe contar aquilo. — Ela foi a
melhor amiga que eu tive em toda a vida.
— E você, sem dúvidas, também foi o melhor amigo dela —
retrucou, deixando-me mais leve. — Ela sempre dizia: Levi é o melhor pai
que o Gael poderia ter.
— Amei esse menino desde o momento em que soube que ele
estava na barriga dela — sussurrei, voltando-me ao meu garotinho, ainda
adormecido. — Um presente dos céus, dado a essa família, para alegrar os
nossos corações quebrados.
Falando nele, o nosso pequeno espreguiçou-se e abriu os olhinhos.
Primeiro encarou a avó e, em seguida, encarou-me, abrindo aquele
sorrisinho que incendiava o meu coração.
— O amor da vovó já acorda sorrindo — disse dona Carla com a
voz fofa e, ao se inclinar, abraçou o pequeno, enchendo-o de beijos.
— Bom dia, vovó — disse baixinho, com a voz sonolenta.
— Bom dia, meu príncipe — respondeu dona Carla.
Assim que ela o soltou, Gael sentou-se na cama e entreabriu a boca
em um bocejo. Em seguida, voltou a me encarar e se levantou, andando até
a beirada da cama. Aproximei-me e o peguei no colo, enchendo seu rosto de
beijinhos.
— Bom dia, papaizinho — disse baixinho, coçando o olho esquerdo
com uma das mãos.
— Bom dia, bebezão do papai. — Sorri, passando a mão pelos seus
cabelos bagunçados. — Está com fome? — Ele assentiu com a cabeça e
deitou o rostinho no meu ombro.
Deixamos o quarto e seguimos pelo corredor. No instante em que
passamos na porta do quarto de Ariane, ele se endireitou, apontando com o
dedinho indicador.
— A mamãe — disse, encarando-me fixamente.
Adiantei-me até a porta e a empurrei. Gael passou os olhos de um
lado a outro e ao se voltar a mim, gesticulou com as mãozinhas para o lado.
— Cadê a mamãe? — perguntou, com os olhinhos já se enchendo de
lágrimas, me fazendo engolir em seco.
— Vamos acordar o titio? — sugeriu dona Carla, empolgada,
roubando a atenção de Gael para si.
— Vamos! — respondeu empolgado, com um lindo sorriso tomando
o seu rosto.
Dona Carla o pegou no colo e retornou pelo corredor, em direção ao
quarto de Adrian. Respirei fundo e cruzei os braços, observando-a interagir
com Gael, numa tentativa de fazê-lo esquecer a mãe por alguns segundos,
arrancando-lhe gargalhadas gostosas.

Algumas horas depois...


A Lojas Saint’s, fundada pelo meu pai e pelo meu sogro, é uma rede
de moda masculina e feminina, presente em todas as regiões do país,
contando com mais de quatrocentas lojas em ruas e shoppings.

Passei parte da manhã conferindo alguns documentos que exigiam a


minha atenção. Eu estava quase no fim, quando ouvi um breve toque na
porta, me fazendo erguer o rosto em direção à entrada. Era Rafael, vice-
presidente das Lojas Saint’s e meu melhor amigo desde a faculdade.
O homem que usava terno cinza, de barba bem aparada, olhos
verdes e pele clara, sorriu assim que me viu. Os cabelos pretos e lisos
batiam na nuca e o corpo torneado esticava o tecido das peças de roupas
que ele estava usando.
Rafael e eu temos a mesma altura e, se não me engano, sou dois
meses mais velho que ele. Não que faça diferença. Ambos já estamos com
quarenta anos.
— Pensei que não fosse mais te ver. — Abandonei os papéis e
prontamente me levantei. Depois de rodear a mesa, adiantei-me até ele,
puxando-o para um abraço. — Chegou hoje?
— Ainda há pouco. Vim do aeroporto direto pra cá — respondeu.
Assim que nos afastamos, ele enfiou as mãos nos bolsos e uniu os lábios. —
Meus sentimentos, meu amigo. Fiquei sabendo apenas ontem.
— Obrigado.
— Com todo respeito a Ariane, mas agora você finalmente está livre
— sussurrou, me fazendo engolir em seco. — Não há mais nada que te
impeça de ir atrás dele. Ariane iria querer o mesmo.
Sendo o meu único e melhor amigo, Rafael sabe melhor do que
ninguém tudo o que eu passei. No primeiro momento, nos vimos unidos
pela amizade que nasceu na vida universitária e, depois, pelo sofrimento das
nossas perdas.
Pior do que não viver ao lado da pessoa amada, é perder o amor da
sua vida. Dez anos atrás, Mariana faleceu no parto. Infelizmente, o bebê
também não sobreviveu. Desde então, ele segue de luto.
— Ele voltou — contei, o vendo erguer as sobrancelhas,
embasbacado. — Chegou no dia do velório. Trocamos algumas palavras,
mas ainda não conversamos.
— Ouça com atenção. — Rafael deu um passo à frente e segurou o
meu rosto com ambas as mãos, alinhando os nossos olhos. — Depois de
anos, o destino te deu uma segunda chance, por isso, não se atreva a
desperdiçá-la ou eu mesmo te darei uma surra.
Trocamos um sorriso cúmplice e quando ele recolheu as mãos,
inspirei profundamente, fitando-o.
— Que tal fazermos um acordo? — propus, arrancando-lhe um
sorrisinho de canto.
— Ok, diga.
— Vou tentar me entender com o Adrian, mas quero que você avalie
a possibilidade de seguir em frente, de viver um novo amor e ser feliz —
falei, o vendo arregalar os olhos.
— Isso foi muito repentino. — Soprou o ar preso nos pulmões,
assentindo com a cabeça algumas vezes. — Quer saber por qual razão não
recomecei? — Ergueu o rosto na minha direção.
— Não faço a menor ideia.
— A maioria das pessoas, inclusive você, meu amigo, imaginam
que ainda estou de luto, mas isso não é verdade. Já superei a morte da
minha esposa, do grande amor da minha vida. — Gesticulou com uma das
mãos, erguendo o rosto na direção do teto. — O meu coração está aberto,
mas o amor ainda não retornou à minha porta, entende?
Uni os lábios, balançando a cabeça.
— Perfeitamente.
— Nos últimos anos saí com inúmeros homens e mulheres. Não
havia qualquer ambição, eu queria apenas sufocar a solidão e quem sabe,
encontrar alguém — disse e respirando fundo, voltou os olhos a mim. —
No entanto, esse algúem ainda não apareceu, se é que um dia irá aparecer. É
muito egoísmo da minha parte pedir por mais um amor, não acha?
— Não, não acho. — Balancei a cabeça para os lados. — Todo ser
vivente quer um companheiro, um amor, alguém com quem fazer planos e
ter uma vida feliz.
Rafael uniu os lábios e assentiu com a cabeça.
— Ok, você venceu. Em nome da nossa amizade, juro que se você
se entender com o Adrian, vou me esforçar para encontrar um novo amor.
— Impressão minha ou você jogou toda a responsabilidade sobre
mim? — Arqueei uma das sobrancelhas, o vendo segurar o riso.
— A ideia foi sua. — Deu de ombros.
Fiz menção de abrir a boca para contestar, mas a fechei. De fato, a
ideia foi minha, não posso negar.
— Sim, foi — confirmei.
— Pois bem, temos um acordo. — Ofereceu-me uma das mãos.
— Sim, temos um acordo. — Peguei a sua mão, apertando-a.
Depois que recolhemos as mãos, nos adiantamos até os sofás, onde
nos sentamos para estender a conversa um pouco mais.
— Analisando a situação atual, imagino que seria prudente da sua
parte passar mais tempo em casa. Gael precisa do pai mais do que nunca e
se você continuar passando o dia todo aqui, as suas chances de sucesso com
o Adrian serão mínimas.
— Não tenho argumentos para discordar. Confesso que não estava
nos meus planos te ocupar dessa forma. Inicialmente, pensei em reduzir os
meus horários pela metade, mas você está certo.
— Claro que estou! Se você dividir a sua preocupação com a
empresa e com a família, um dos dois ficará mal assistido.
— Sendo assim, posso contar com você para assumir a presidência
da empresa enquanto resolvo a minha vida pessoal?
— Quando foi que não pôde contar?
Trocamos mais um sorriso cúmplice.
Na hora do almoço...
Um pouco mais cedo, acompanhei mamãe e Gael no retorno à
psicóloga. Admito que fiquei encantado em ver como a doutora Liz
consegue se comunicar com as crianças. Não só isso, a forma como ela
explicou para o meu sobrinho que a mamãe havia ido morar no Céu, foi
incrível.
Como a própria doutora Liz disse, isso não muda o fato de que Gael
seguirá questionando sobre a ausência da mãe e caberá a nós reforçar a
narrativa de que a mamãe está cuidando do Gael lá de cima. Conforme ele
for crescendo, as explicações se tornarão mais objetivas, seguindo o ritmo
determinado pela psicóloga.
É claro que, na prática, as coisas não são tão fáceis. Desde que
voltamos do consultório ele segue triste, quieto, em completo silêncio. O
sentimento de perda, novo para Gael, traz consigo inúmeras outras
sensações e é natural que ele sinta medo.
Estávamos sentados no mesmo sofá. Mamãe em uma ponta, eu em
outra e Gael com o rostinho deitado na minha coxa esquerda.
— Vamos almoçar, amor da vovó? — Mamãe pousou a mão sobre a
cabeça de Gael, afagando os seus cabelos.
— Não quero.
— Que tal irmos ao cinema? — sugeri, tentando soar o mais
empolgado possível, mas ele apenas balançou a cabeça para os lados.
Inspirei profundamente e assenti com a cabeça. Gael havia tomado
apenas o café da manhã. Crianças não podem ficar sem comer ou ficam
doentes. Sem saída, tive que recorrer a medidas drásticas.
Deixei o sofá, liguei a imensa televisão da segunda sala e a conectei
com o Youtube. Depois de alguns minutos, finalmente encontrei o vídeo e
me posicionei no meio da sala.
Cabeça, ombro, joelho e pé
Joelho e pé
Cabeça, ombro, joelho e pé
Joelho e pé
Cabeça, Ombro, Joelho e Pé — Xuxa.

Conforme a música era tocada, me empenhei em fazer a coreografia


infantil, ignorando Gael em um primeiro momento. Quando o verso
recomeçou, me virei na direção dele, o vendo sentadinho no sofá, mirando-
me com um sorrisinho sapeca no rosto.
— E-E-Eu também — disse às gargalhadas, descendo do sofá e
parando ao meu lado.
— Agora é a sua vez. — Ofegante, pousei as mãos na cintura,
observando-o repetir os movimentos que passavam no videoclipe infantil.
Em meio às risadas gostosas, Gael seguia imitando os passinhos de
dança do seu jeito e para não o deixar perder o ritmo, espantando a sua
tristeza de vez, uni-me a ele.
Foram longos minutos pulando e dançando ao lado do meu
sobrinho. Sem que ele notasse, eu já havia diminuído o ritmo, deixando-o
gastar toda a sua energia.
Ao espiar mamãe, acabei sendo surpreendido pela presença de Levi,
que nos observava em silêncio, com os lábios esticados em um sorriso.
Senti as minhas bochechas queimarem e ainda desconcertado, me endireitei.
Gael cessou os movimentos, puxando por fôlego e depois de me encarar,
acompanhou o meu olhar.
— Pa-pai! — gritou empolgado, apressando-se em sua direção.
Assim que ele parou na frente de Levi, deu alguns pulinhos. — Eu estava
dançando.
— Você dança muito bem — respondeu Levi. Ao se abaixar, ele
ficou na altura do filho e pousou as mãos sobre os seus cabelos,
bagunçando-os. — Já comeu?
— Não, papai — sacudiu a cabeça para o lado.
— Está sem fome? — Levi roçou o dorso da mão na bochecha do
Gael, que sacudiu a cabeça para os lados. — Qual é o problema?
— E-E-Eu estava tristinho — contou baixinho, me fazendo engolir
em seco.
— A tristeza já passou?
— Unhum. — Gael assentiu com a cabeça.
Levi assentiu com a cabeça e ofereceu um sorriso gentil ao filho. Ao
se levantar, o pegou no colo, dando-lhe um beijo estalado na bochecha.
— Gostariam de nos acompanhar no almoço? — Levi se voltou a
nós, revezando os olhos entre mim e mamãe.
— Já almocei, mas tenho certeza de que o tio Adrian irá adorar fazer
companhia para vocês dois — disparou mamãe, me fazendo prender a
respiração por alguns segundos.
— Por favor, titio, nos acompanhe. — Levi fixou os olhos em mim,
me fazendo engolir em seco.
— Vamos, titio — pediu Gael, fazendo coro ao convite do pai, me
deixando sem saída.
— Vão indo na frente — respondi, soltando o ar dos pulmões.
Levi assentiu com a cabeça e adiantou-se com Gael no colo em
direção à sala de refeições. Aproximei-me de mamãe, mirando-a com os
olhos semicerrados.
— Por que a senhora fez isso?
— Isso o quê? — Deu de ombros e ao se colocar de pé, beijou a
minha bochecha. — É apenas um almoço, meu filho — enfatizou, me
fazendo engolir em seco.
Antes que eu pudesse contestar as suas intenções, mamãe apressou o
passo em direção às escadas. Pousei as mãos na cintura e respirei fundo,
sacudindo a cabeça de um lado a outro.
Parece que quanto mais me esforço para mantê-lo longe de mim, o
universo conspira contra os meus anseios e o traz para mais perto.
Após alguns minutos, enchi os pulmões de ar e me lancei na direção
da sala de refeições. Assim que entrei no cômodo, vi Gael balançando a
colher em uma das mãos, tagarelando sem parar, enquanto o pai lhe rendia
total atenção. Quando ele me viu, um sorriso de alegria tomou o seu
rostinho.
— Aqui, titio. — Gael bateu a mãozinha na cadeira ao lado da dele,
me chamando.
— Estou indo — respondi, arrancando-lhe um sorriso.
Sentei-me ao lado dele e quando me endireitei, o meu rosto e o de
Levi se cruzaram rapidamente, mas desviei o nosso olhar, fixando-o no meu
sobrinho.
— Você já comeu quase tudo?! — Fingi espanto, arrancando-lhe
mais um sorrisinho.
— Unhum — confirmou com a cabeça.
Uni os lábios e estiquei uma das mãos, pegando uma das conchas de
comida, servindo-me um pouquinho de cada um dos muitos pratos
disponíveis. Enquanto comia, mantive os olhos atentos no meu sobrinho,
não deixando de notar os olhares furtivos do seu pai sobre mim.
— O que acha de levarmos o Gael ao parque de diversões, titio? —
perguntou Levi, me fazendo erguer o rosto em sua direção, surpreso. Havia
um brilho diferente no seu olhar. — Nós três, em família.
— Eba! — exclamou Gael, erguendo os bracinhos no alto, em
comemoração.
Ri de nervoso e mordi o lábio inferior, sacudindo a cabeça para os
lados algumas vezes. No entanto, quando percebi a expectativa no rostinho
de Gael, engoli em seco.
— Tudo bem, podemos ir. — Voltei-me a Levi, que uniu os lábios
em um sorriso, me deixando com mais raiva que antes. — Essa sua tática,
além de baixa, não vai funcionar sempre.
— Estou ciente que não — respondeu, afinando os olhos. — No
entanto, como bem sabe, sou um homem paciente e só estou começando.
Puxei por fôlego, sentindo o meu coração se acelerar.
— Não pensei que a postura de homem triste e ferido fosse sumir
tão rápido — retruquei à altura.
— Quando você percebe que pode perder o amor da sua vida de
novo, o desespero te obriga a tomar medidas excepcionais — sussurrou,
arrancando-me um arrepio dos pés à cabeça. — No entanto, há um jeito de
me parar.
Voltei os meus olhos ao meu prato de comida e dei mais uma
colherada. Depois que mastiguei e engoli, assenti com a cabeça.
— Qual?
— Diga que não me ama.
Aquilo veio como um tiro, me fazendo erguer o rosto rapidamente
na sua direção. O meu peito se apertou e os meus olhos se encheram de
lágrimas.
— Te odeio — soletrei, sem que a minha voz saísse.
— As palavras precisam ser exatas — respondeu baixinho, antes de
forçar um sorriso, abaixando a cabeça.
Pisquei algumas vezes, forçando as lágrimas a recuarem e me voltei
a Gael, que seguia nos observando, curioso, sem entender nada.
— Está empolgado para ir ao parque de diversões? — Ele assentiu
com a cabeça. — E você vai em todos os brinquedos?
— Em todos — confirmou, ficando de pé em cima cadeira, dando
pulinhos. — E-E-E o papai e o titio vão comigo — emendou, me
arrancando um sorriso forçado.
Espiei Levi de relance, o vendo de braços cruzados, mirando-nos
fixamente. Não faço a menor de ideia de onde ele espera chegar com isso,
mas não importa o caminho que ele tome, eu mesmo irei interditar a sua
passagem.

Por volta das vinte e três horas...


Depois que Gael dormiu, desci para o térreo e me aconcheguei em
um dos sofás da segunda sala. Acabei trazendo comigo o diário da minha
irmã, que eu sequer havia aberto desde que mamãe o entregou a mim.
Retirei o celular do bolso e mirei a tela desbloqueada, apontando
centenas de notificações. No entanto, haviam três chats que se destacavam
das outros.
Berlin[1]: Chegou bem ao Brasil?

Beatrice[2]: Como estão as coisas no país do carnaval?


Lindsey[3]: Estou com saudades! Por favor, dê notícias
Um sorriso bobo tomou o meu rosto.
Sem dúvidas, elas são três mulheres lindíssimas e de parar o
quarteirão.
Berlin tem olhos azuis e vívidos. Os seus cabelos são castanhos e
levemente ondulados. Temos a mesma altura. Beatrice, por sua vez, exibe
um lindo tom de ruivo e sardas no rosto — acho encantador e charmoso —,
mas o que mais chama a atenção são as grandes esmeraldas verdes que ela
tem no lugar dos olhos. Por fim, temos a Lindsey que tem olhos mais
parecidos com os meus e os seus cabelos são escuros e rosa nas pontas. Sem
contar que ela é uma PRINCESA de verdade!
A história de como conheci essas três daria um livro. Quem é que
pensaria em fazer amizade durante um assalto? Nós quatro, é claro!
Em um dos meus intermináveis passeios pela Europa, decidi passar
em uma loja de departamento para fazer algumas comprinhas. Eu estava
tranquilo, atravessando uns dos corredores, quando o pânico se instalou. Só
então percebi os homens encapuzados dentro da loja.
Via-se pessoas correndo de um lado a outro, tentando se esconder e
fugir da mira dos assaltantes. O meu coração foi a mil e passei os olhos ao
meu redor, tentando buscar por uma saída. Foi quando escutei aquele “Ei,
psiu. Vem comigo” vindo de Beatrice, chamando por Berlin.
Sei que não era pra mim, mas não pensei duas vezes em acompanhá-
las. Não só eu, Lindsey, que estava mais próxima a elas, seguiu na minha
frente, me deixando por último.
Naquele momento, eu ainda não sabia os seus nomes, mas o tempo
que passamos escondidos dos assaltantes dentro daquele galpão nos rendeu
não só uma amizade maravilhosa, como também uma promessa a ser
cumprida: Viver a vida intensamente e sem arrependimentos.
Quando o susto passou, trocamos os nossos números e desde então
nós quatro temos uma amizade maravilhosa. Os assaltantes foram presos e
eu acabei perdendo o meu compromisso daquele dia, pois tive que prestar
depoimento.
Uma coisa posso afirmar com toda certeza, essa surpresa nada
positiva, me presenteou com quatro amigas maravilhosas e que levarei
comigo para toda a vida, tenho certeza disso.
Sorri e respirei fundo, respondendo cada uma delas, dizendo que
havia chegado bem e, é claro, que mandaria fotos. Quando eu estivesse
melhor e mais animado, contarei a cada uma delas sobre o falecimento da
minha irmã e o problema em que me meti ao retornar para casa.
No entanto, esse dia não é hoje.
Deixei o celular de lado e finalmente peguei o diário, mirando a sua
capa rosa. Assim que o abri, senti um frio atravessar a minha barriga ao me
deparar com aquela primeira frase.
“A única vez em que Levi me beijou, foi no casamento”.
Prendi a respiração por alguns segundos e passei os olhos pelo
cômodo. Depois de recuperar o fôlego, retomei a leitura.
“Sem amor e sem sentimentos, era natural que o nosso beijo fosse
frio como a geada que anuncia a chegada do inverno. O seu coração
pertencia a outro, assim como o meu. O arranjo selado por nós dois foi
feito único e exclusivamente para salvarmos uma pessoa em comum, que
amávamos e amamos com todo o nosso coração”.
Engoli em seco, sentindo os meus olhos arderem. Após alguns
segundos, voltei os meus olhos às páginas.
“Ainda me lembro de quando o meu pai me informou sobre o
casamento. Foi um choque. Ele estava me usando para fomentar o seu
preconceito, para afastar o meu irmão do amor da sua vida, numa tentativa
de “curá-lo”, mas a única coisa que ele conseguiu foi destruir a nossa
família. O senhor Saint parecia não se importar, pois jurou ir além. Caso
eu me recusasse a casar, Adrian seria internado em uma clínica
psiquiátrica, onde passaria o resto da vida”.
Fechei o diário de supetão, sentindo o meu rosto ser marcado por
lágrimas, uma atrás da outra. O meu coração estava sendo esmagado dentro
do meu peito. Um misto de raiva e ódio se formavam dentro de mim,
entrando em colisão.
Deixando-me ser levado por aqueles sentimentos, saltei do sofá e
segui para sala principal, mirando o imenso quadro na parede; um retrato
daquele demônio que um dia chamei de pai e que, como a minha irmã disse,
destruiu a nossa família.
Empurrei uma poltrona até a parede, subi em cima dela e com muito
esforço, derrubei o quadro no chão. Em seguida, reuni forças sabe-se lá de
onde e o puxei até o lado de fora, deixando-o no caminho que antecedia os
degraus e levava à porta principal. Ofegante, segui para a cozinha, onde
peguei álcool e fósforos, retornando para o lado de fora.
Ouvi alguns passos atrás de mim, eram alguns funcionários que se
encaravam espantados. Ignorei-os e abri a tampa de álcool, despejando-o
até a última gota sobre o quadro. Em seguida, risquei o fósforo e assim que
o joguei, uma coluna de fogo subiu, me fazendo recuar alguns passos.
Por um breve momento, senti o meu coração tremular. Eu podia
jurar que tinha visto o rosto daquele demônio no meio do fogo.
— Espero que esteja ardendo no inferno! — gritei, sem tirar os
olhos das chamas, sentindo o meu corpo inteiro sacolejar.
— Adrian! — Ouvi a voz de Levi atrás de mim, mas não o encarei,
apenas senti o seu braço enlaçar a minha cintura, puxando-me para trás. —
Quer se matar? — perguntou ofegante.
Desvencilhei-me dele, empurrando-o para trás.
— Nesse momento eu adoraria fazer isso! — gritei, sentindo as
lágrimas continuarem a descer, vendo uma expressão de espanto e
preocupação tomarem o seu rosto. — Vá embora, me deixe sozinho.
Adrian estava visivelmente transtornado. As lágrimas continuavam
a marcar o seu belo rosto, tomado por aquele olhar triste, perdido e cheio de
dor.
— Deixem-nos a sós — ordenei e os funcionários que nos
observavam, atravessaram a porta principal.
Voltei os meus olhos ao imenso quadro, o vendo ser consumido
pelas chamas. Em seguida, me voltei a Adrian.
— Era mesmo um quadro horrível — comentei baixinho, o vendo
unir os lábios. — Estava mais do que na hora de o jogarmos fora.
Ele cerrou os punhos e confirmou com a cabeça.
Dei alguns passos na sua direção e ao parar diante dele, toquei o seu
queixo com a ponta dos dedos, o erguendo o suficiente para que os nossos
rostos ficassem alinhados.
— Se quiser e se for ajudar a doer menos, também podemos colocar
fogo na mansão — sugeri, arrancando-lhe um sorriso em meio aos soluços.
— É claro que iremos tirar a sua mãe e o Gael de lá antes de fazermos isso.
— Ainda está doendo. Nunca parou de doer — sussurrou e
pousando ambas as mãos no peito esquerdo, enfatizou: — Bem aqui.
Ofeguei, sentindo os meus olhos se encherem de água e, antes que
eu pudesse perceber, o havia puxado pela nuca, colando seu rosto ao meu
peito. Aconcheguei o queixo sobre a sua cabeça e esfreguei a sua nuca
suavemente com uma das mãos.
— Qual o problema com o terno rosa? Se estiver com vergonha,
posso usá-lo no seu lugar — sussurrei, levando-o de volta ao nosso passado.
Adrian ergueu o rosto na minha direção, exibindo aquele grandes
olhos acinzentados e trêmulos, repletos de surpresa.
— Você é muito grande para se vestir todo de rosa — respondeu
com a voz embargada, exatamente o que havia respondido seis anos atrás,
quando fiz o mesmo questionamento.
Por uma fração de segundos, lembrei-me de uma das coisas que
mais adorava quando se tratava de nós dois. Eu era grande e alto, muito
maior que ele. Enquanto Adrian tem exatos um e setenta de altura, sou vinte
centímetros mais alto que ele.
O soluço aumentou e o choro o arrebatou de vez. Adrian
aconchegou o rosto no meu peito e me abraçou pela cintura, apertando-me
junto a ele. Ouvir o seu pranto me quebrava por dentro, mais do que eu já
estava quebrado.
Respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos, continuando a
esfregar a mão em sua nuca, às vezes, subindo-as pelos seus cabelos.
— Olhe para mim — pedi, engolindo em seco.
Adrian engoliu o choro e me soltou, dando um passo para trás. Pude
ver os seus olhos inchados e o seu rosto completamente vermelho. Toquei a
sua bochecha com o dorso da mão e esbocei um sorrisinho.
— Deixe-me cuidar de você. — Dei um passo à frente e segurei o
seu rosto com ambas as mãos. Ao me inclinar, beijei a sua testa e me
afastei, alinhando os nossos olhos. — Deixe-me secar as suas lágrimas. —
Abaixei o tom de voz e ao aproximar os lábios do seu rosto, deslizei a ponta
da língua na sua bochecha, colhendo as lágrimas que desciam. — Deixe-me
te dar todo o meu amor, o mesmo que mantém o meu coração pulsante e
espera por você há seis longos anos.
Adrian uniu os lábios e o seu queixo tremulou. Inclinei-me
novamente em sua direção, aproximando as nossas bocas, ameaçando tocá-
las, dando-lhe chance para fugir, mas ele não fugiu.
Quando as nossas bocas se encontraram, foi como se eu tivesse ido
ao céu. Sentir o seu gosto doce, mais uma vez, arrepiou-me por inteiro.
Passei um braço ao redor da sua cintura e o puxei para mim, envolvendo-o
em um beijo lento e demorado, com chupões intensos sendo trocados,
enquanto as nossas línguas se esfregavam com paixão e ardência; cujo fogo
se alastrava pelo meu corpo.
Após longos segundos, nossas bocas se afastaram, ligadas por um
fio de saliva e pudemos nos ver um na pupila do outro. De repente, Adrian
arregalou os olhos e me acertou em cheio no nariz. A ardência veio
acompanhada pela sensação de algo quente escorrendo sobre a minha pele.
— Au! — Gemi, levando ambas as mãos ao local do impacto.
— Foi sem querer. E-E-Eu fiquei assustado e... — Adrian
gesticulava sem parar, claramente preocupado. — Céus, está sangrando!
Apesar da leve sensação de dor e ardência inicial, o meu nariz havia
adormecido e o sangue já havia parado de descer. No entanto, não consegui
evitar de voltar ao passado mais uma vez, ao dia em que lhe roubei o nosso
primeiro beijo.
Arrebatado por aquelas lembranças, mergulhei em uma crise de
risos que me arrancou algumas lágrimas de alegria. Adrian parecia confuso
com a minha reação, sem entender nada.
— Não tem graça! — ralhou.
Quando a crise de risos passou, pousei as mãos na cintura e respirei
fundo, pigarreando.
— Você adora me bater, não adora?
— Eu nunca te bati. — Negou com a cabeça e se aproximou,
tocando o meu rosto. — Vamos, erga a cabeça para que eu veja se o seu
nariz ficou torto.
Fiz como ele pediu.
— Tomara que não, o meu nariz é muito bonito.
— Calado! — rosnou. — Não, não está torto — constatou, recuando
a mão.
— Você diz que nunca me bateu, mas se lembra de qual foi a sua
reação quando te beijei pela primeira vez? — Cruzei os braços, fixando os
meus olhos nele.
Adrian piscou algumas vezes, parecendo pensar. De repente, ele
arregalou os olhos, exibindo as bochechas mais vermelhas que antes e após
me fitar uma última vez, virou o rosto para o lado.
— Você me assustou — defendeu-se.
— Aparentemente, tenho a habilidade de te assustar com facilidade
— confirmei, arrancando-lhe um sorrisinho de canto. — Está melhor ou
vou ter que te jogar por cima do ombro e te levar para dentro?
Mal terminei a frase para que Adrian me lançasse um olhar de
espanto e apressasse o passo em direção à porta principal, me arrancando
uma gargalhada.
Espiei uma última vez o que restou do quadro e segui atrás de
Adrian. Ele estava quase chegando aos degraus quando parou, de súbito, e
eu também parei.
— Desculpe por te socar no nariz — pediu, de costas para mim,
mantendo os punhos cerrados.
— Está tudo bem. Boa noite, meu amor — respondi, o vendo
endireitar a postura de imediato. — Quer ajuda para subir? Posso te levar
no colo...
Adrian negou com a cabeça e praticamente voou sobre os degraus,
sumindo do meu campo de visão em questão de segundos. Permaneci no
mesmo lugar e levando a ponta dos dedos aos lábios, permiti que um sorriso
bobo tomasse o meu rosto, me fazendo suspirar, revendo mentalmente o
exato momento em que as nossas bocas se encaixaram, depois de muitos
anos.
O beijo dele continuava doce, carregado de amor e paixão,
exatamente como eu me lembrava.

Havia um misto de sentimentos colidindo dentro de mim e, por mais


que eu me esforçasse para ignorar as imagens do momento do beijo, elas
insistiam em continuar atravessando a minha mente.
Apesar disso, nada mexeu tanto comigo quanto ouvir aquele “meu
amor” sair da sua boca. Mesmo deitado na cama, ainda sinto as minhas
pernas tremerem, bambas.
— O que esse homem quer de mim? — perguntei baixinho,
afundando o meu rosto no travesseiro. — Ele ainda não se deu conta de que
não podemos ficar mais juntos?!
Às vezes eu queria enfiar a mão no peito, arrancar o meu coração e
jogá-lo para longe. Quem sabe ficando oco por dentro, as coisas não se
tornassem mais fáceis. Não haveria amor, dor, rancor ou mágoa.
Não haveria nada.
Sacudi a cabeça para os lados, tentando me livrar daqueles
pensamentos, mas eles me acompanharam durante parte da madrugada,
antes de eu cair no sono.
— Titio! Acorda, titio!
Entreabri os olhos, ouvindo a voz infantil. Ainda sonolento, vi
aquele rostinho diante de mim, abrindo um largo sorriso ao me ver
despertar.
— Bom dia, titio — gritou Gael, começando a pular sobre o
colchão.
— Bom dia, amor do titio — respondi, espreguiçando-me na cama.
— Não acha que está muito cedo para acordar?
— Não, titio. — Gael balançou a cabeça para os lados, me
arrancando um sorriso genuíno.
Reuni um pouco de coragem e sentei-me na cama, abrindo os braços
na direção de Gael, que prontamente veio até mim, abraçando-me pelo
pescoço. Apertei-o carinhosamente contra o meu corpo e dei-lhe alguns
beijinhos no rosto.
— Já tomou café da manhã?
— Não.
— Vamos tomar?
— Vamos!
Depois de alguns minutinhos, descemos. Assim que pisei no último
degrau da escada, com Gael no colo, vi aquela movimentação anormal. Os
funcionários seguiam andando de um lado a outro, carregando alguns
móveis, garrafas de bebidas, quadros e inúmeras outras coisas.
— O que está acontecendo? — perguntei a uma das funcionárias
que estava passando, segurando uma caixa nos braços.
— O senhor Levi ordenou que todos os itens que pertenciam ao
senhor Saint fossem removidos da mansão — respondeu, me fazendo
erguer as sobrancelhas. — Há algo que queira guardar, senhor?
— Não, nada. Obrigado.
A funcionária assentiu com a cabeça e adiantou-se em direção à
porta principal. Pisquei algumas vezes e quando dei por mim, um sorriso
bobo havia tomado os meus lábios.
Ele é mesmo inacreditável!
Retomei o passo, adiantando-me em direção à sala de refeições. A
mesa estava posta, recheada com pães, bolos, frutas, sucos e mais algumas
variedades de comidas. Adiantei-me até a poltrona da ponta, onde deixei
Gael e me sentei ao seu lado.
— O que você quer comer? — Voltei-me a ele, o vendo passar os
olhinhos pela mesa.
— Ovinho, mamão, melão e bacon — respondeu, apontando o
dedinho para cada um dos itens que havia pedido.
Depois que nos servi, o assunto cessou por um breve instante,
enquanto comíamos. Estávamos quase terminando o café da manhã, quando
ele entrou na sala de refeições.
— Pa-pai! — gritou Gael, empolgado.
— O campeão do papai está animado para irmos ao parque? —
perguntou ao parar ao lado de Gael, dando-lhe um beijo na cabeça.
— Unhum!
Em seguida, os seus olhos pousaram em mim, me fazendo pigarrear.
Abaixei a cabeça, mirando o meu prato, que contava com alguns pedaços de
frutas.
— Estou um pouco indisposto e...
— O titio também está ansioso para ir conosco — interrompeu Levi,
me fazendo fulminá-lo com o olhar. — Não está, titio?
Gael se voltou na minha direção, mirando-me fixamente. Engoli em
seco e uni os lábios em um sorriso desgostoso, sacudindo a cabeça em sinal
positivo.
— E-E-E vamos em muito brinquedos, não é, titio? — Gael ficou de
pé em cima da cadeira e ainda segurando o garfo, balançou os braços no
alto, eufórico.
— Sim, nós vamos — confirmei.
Levi rodeou a mesa e parou atrás de mim. Vi de soslaio quando ele
se abaixou, aproximando os lábios da minha orelha.
— Vou entender isso como um pedido de desculpas pelo soco que
você me deu ontem — disse baixinho e em seguida, beijou a minha
bochecha, endireitando-se rapidamente.
Senti o meu corpo queimar e o meu coração explodiu em batidas,
forçando-me a cerrar os punhos. Quando pensei em socá-lo novamente, a
risada de Gael inundou as minhas orelhas. Voltei-me ao meu sobrinho, o
vendo aos risos, apontando o dedinho na nossa direção.
— O papai deu um beijo no titio.
— Já comeu tudo? — Levi se voltou a Gael, que assentiu com a
cabeça. — Acho que o campeão do papai também merece muitos beijos.
Outra explosão de risos tomou as minhas orelhas quando Levi
avançou na direção de Gael, que disparou pelo cômodo, fugindo do pai, aos
risos. Depois que eles deram duas voltas ao redor da mesa, o meu sobrinho,
já exausto, subiu no meu colo, buscando refúgio. Assim que Levi se
aproximou, ele me abraçou por trás, roçando a barba rala no meu rosto,
fazendo-me queimar dos pés a cabeça.
— Titio, você viu o Gael? Ele sumiu.
— N-N-Não, não o vi. — Sem saída e um pouco ofegante, entrei na
brincadeira.
— Sério?! — Fingiu surpresa, arrancando mais uma risadinha de
Gael e, consequentemente, conseguiu arrancar um sorriso meu. — Como
foi que ele se escondeu tão rápido? O meu campeão é mesmo muito
esperto.
— E-E-Eu sou mesmo, papai — respondeu Gael, erguendo o rosto
na direção de Levi, que abriu a boca, fingindo surpresa. — O Gael tá aqui.
— Apontou para si mesmo.
— Que bom que o papai te encontrou. — Levi finalmente me soltou
e deu alguns passos, parando ao nosso lado, pousando as mãos na cintura,
todo sorridente. — Vamos nos arrumar para irmos ao parque de diversões?
— Vamos. — Gael concordou com um aceno e desceu do meu colo,
parando ao lado do pai. — E o titio também. — Apontou na minha direção.
— Sim, não podemos nos esquecer do titio.
— O titio vai subir daqui a pouco, tá bom? — Voltei-me a Gael, que
concordou com a cabeça.
Os dois se adiantaram em direção à sala principal, deixando-me
sozinho com os meus próprios pensamentos. Respirei fundo e dei mais uma
garfada no mamão, levando-o à boca. Depois de mastigar e engolir, sacudi a
cabeça para os lados, refletindo sobre os acontecimentos desde ontem à
noite.
Levi está avançando com tudo, sem me dar qualquer chance de
defesa. Sinceramente, não sei como reagir. Pior ainda, não sei se
conseguirei resistir às investidas do homem que amo, que sempre amei e
que me rejeitou.
Um suspiro acabou escapando pelos meus lábios entreabertos e, por
instinto, levei a ponta dos dedos até minha bochecha esquerda, tocando o
exato lugar do beijo que ele havia me dado.
Outra vez, aquele frio atravessou a minha barriga, fazendo com que
os meus batimentos lentos e ritmados, ressoassem por todo o meu corpo.
Era quase que um lembrete, uma advertência de que apenas ele conseguia
mexer comigo daquela forma.
Uma hora depois...
Deixamos o veículo no estacionamento e seguimos pela larga pista
que margeava o imenso lago do Parque Barigui. Ao lado dela havia uma
segunda pista, reservada aos ciclistas. Os carrinhos de pipoca, doces,
pamonhas, quentão e outras comidas estavam cercados por pessoas. Além
disso, os vários restaurantes ali presentes pareciam estar lotados.
Ao longe era possível ver a roda gigante do parque de diversões,
juntamente com o grito eufórico daqueles que ocupavam os seus
brinquedos.
— Ainda me lembro da primeira vez que viemos aqui juntos —
comentou Levi, sem tirar os olhos de Gael, que seguia na nossa frente.
— Esqueça o passado — respondi, incisivo.
— Só se você prometer fazer o mesmo — retrucou, me fazendo
espiá-lo rapidamente. — Foi ali, embaixo daquela árvore que te pedi em
namoro. — Apontou com o dedo, mirando a grande araucária, próxima às
margens do lago.
— Até quando vamos continuar nos machucando? — Cessei o passo
e sem encará-lo, cerrei os punhos, irritado com a sua insistência em trazer o
passado ao presente.
— Até que sentemos e conversemos como dois adultos.
Ri, um pouco frustrado.
— A capivara — gritou Gael, apontando o dedinho na direção do
mamífero roedor, que estava com parte do corpo dentro da água. — Pode
levar pra casa? — perguntou todo inocente, nos arrancando uma gargalhada
sincera.
— Não pode, campeão. Ela é muito grande. — Levi se aproximou e
afagou os seus cabelos. — Podemos pensar em um animalzinho menor, o
que acha?
— Uma capivara pequenininha?
— Que tal um porquinho da índia? — sugeriu Levi, deixando Gael
pensativo. — É como uma capivara e é pequenininho.
— Tá bom — concordou Gael, assentindo com a cabeça.
Retomamos o passo e assim que nos aproximamos da entrada do
parque de diversões, Levi deixou Gael aos meus cuidados e apressou o
passo em direção à bilheteria.
— Em qual você quer ir primeiro, meu amor? — perguntei,
agachando-me para ficar na sua altura.
— Em todos, titio — respondeu, tocando o meu rosto com as suas
mãozinhas. — Tá bom?
Tamanha fofura me arrancou um sorriso e automaticamente o puxei
para um abraço, o pegando no colo.
— Alguns brinquedos são para adultos, mas vamos em todos os das
crianças, combinado?
— Unhum — confirmou com a cabeça.
Ao ouvir um pigarreio atrás de mim, girei o corpo na direção do
som, dando de cara com um “colega” de quando eu estava na faculdade. A
pele negra reluzia ao toque do Sol e os olhos intensamente caramelados
prendiam a atenção, tanto quanto o seu belo rosto. Ele estava usando uma
bermuda curta, camisa social e sapatos sem cadarços.
— Kaius! — Ofereci-lhe um largo sorriso.
— Pensei que não tivesse como você ficar mais lindo, mas vejo que
me enganei. — Uniu os lábios e passou os olhos por mim, de cima a baixo,
me fazendo corar. — Quando foi que você voltou, anjinho?
As minhas bochechas arderam ainda mais. Esse homem diante de
mim, quase tirou a minha virgindade. Na época, estávamos ficando, mas
não havia nada sério entre nós. Era apenas diversão. Acontece que Kaius
acabou sumindo por algumas semanas, devido a problemas familiares e foi
quando me aproximei do Levi.
— Cheguei há alguns dias.
Ele assentiu com a cabeça e revezou os olhos entre mim e Gael,
permitindo que uma expressão de surpresa tomasse o seu rosto.
— É o meu sobrinho.
— Vocês são muito parecidos. — Riu, cruzando os braços, me
fazendo assentir com a cabeça. — Está com alguém no momento ou posso
te chamar para sair, anjinho?
No instante em que abri a boca para respondê-lo, senti uma mão
pousar na minha cintura e assim que girei o rosto para o lado, vi Levi com
os olhos fixos em Kaius, oferecendo-lhe um sorriso forçado.
— O restaurante preferido dele vai te custar uns bons dias de
trabalho, anjinho — disparou Levi, usando um tom irônico.
Quis morrer, mas era melhor fazer isso em um outro momento. Tudo
indica que as coisas entre esses dois vão ficar um pouco tensas.
Kaius uniu os lábios e descruzou os braços, enfiando as mãos nos
bolsos.
— A sua conta bancária pode até ser mais gorda que a minha, mas o
meu... — Fez uma pausa rápida ao se dar conta de que Gael estava atento à
conversa e esboçou um sorrisinho de canto. — Sem dúvidas é bem maior.
Não vejo Kaius há tanto tempo que, por um segundo, acabei me
esquecendo que ele e Levi se odeiam. O motivo? Obviamente, eu.
— Ok, já chega — determinei, revezando os olhos entre aqueles
dois, que trocavam um olhar faiscante. Eram como dois leões que se
preparavam para o confronto. — Ouviram o que eu falei? — Ergui o tom de
voz, forçando-os a alinhar os seus rostos ao meu. — Obrigado.
— Tártaros, às vinte e uma horas. Vou te esperar na porta — disse
Kaius e depois de me jogar uma piscadela, girou sobre os sapatos e seguiu o
seu caminho.
— Idiota — rosnou Levi, furioso.
— Não pode falar palavrão, papai — repreendeu Gael.
— É verdade — respondeu Levi, mantendo os olhos fixos em Kaius,
que ficava mais longe a cada segundo. — Você pode desculpar o papai?
— Desculpo, papai.
— Obrigado, campeão — agradeceu Levi, finalmente se voltando na
direção de Gael e ao se aproximar, beijou a sua bochecha.
Quando os nossos olhares voltaram a se encontrar, não pude deixar
de notar que o rosto de Levi estava completamente vermelho de raiva.
— Cuidado para não ter um ataque do coração — murmurei,
adiantando-me em direção à entrada do parque de diversões.
— Tenho certeza de que se isso acontecesse, você iria ficar muito
feliz — retrucou e parando próximo a um dos palhaços da entrada, lhe
entregou os nossos bilhetes. — Vamos, confesse que sim.
— Está vendo aquela barraca de bebidas? — Apontei com o queixo
e espiei Levi, que confirmou com a cabeça. — Eles também vendem sucos
naturais. Recomendo o de maracujá.
Levi riu, mordeu o lábio inferior e pousou as mãos na cintura,
balançando a cabeça para os lados.
— O quê? — Ergui as sobrancelhas.
— Nada, anjinho — respondeu, ainda furioso, fazendo as minhas
bochechas arderem ao usar aquele apelido.
Adiantamo-nos até o carrossel, rodeado por pais observando as suas
crianças aos gritos de empolgação. Gael prontamente desceu do meu colo,
dando pulinhos, eufórico para subir em um dos cavalos.
Quando chegou a vez dele, Levi o colocou em um dos cavalos.
Assim que o carrossel começou a girar, a cada vez que ele passava por nós
era um berreiro, nos arrancando sorrisos genuínos.
Acabei aproveitando que Gael estava ocupado se divertindo e
retornei ao “quase conflito” de minutos atrás, deixando claro o meu
incômodo.
— Não precisava ter sido tão grosseiro. — Encarei Levi, que revirou
os olhos e pousou as mãos na cintura. — O Kaius é um cara legal, de
origem pobre e muito esforçado em ajudar a família.
— Fui grosseiro? Nem notei. Pensei estar ajudando quando dei a ele
aquela dica gratuita. — Gesticulou com uma das mãos, me fazendo
semicerrar os olhos.
— Você o chamou de pobre em quatro línguas diferentes. — Franzi
a testa, respirando fundo.
— Foi apenas em português.
Sacudi a cabeça para os lados e depois de respirar fundo, cruzei os
braços.
— Quando eu te conheci, você não era um babaca.
— Virei um babaca por ter destratado o seu ex de sete dias? —
Franziu a testa, claramente inconformado. Diante do meu silêncio, Levi
respirou fundo e recomeçou: — Ok, fui babaca em chamá-lo de pobre.
— Então você admite?
— Sim, admito. Fiquei possesso de ciúmes quando o vi perto de
você — confessou, me fazendo arfar. — A ideia de te ver com outro
homem é insuportável para mim.
Encolhi os ombros e torci a boca.
— E se outro homem me fizesse feliz? — perguntei baixinho, o
vendo arregalar os olhos, antes de abaixar a cabeça.
— Acredita que pode ser feliz ao lado de outro homem que não seja
eu? — Ergueu o rosto na minha direção, exibindo os olhos marejados. —
Pois bem, se esse homem te amar mais do que eu te amo, eu também ficaria
feliz, pois ele cuidaria de você como ninguém.
Os meus batimentos pararam por alguns segundos e quando
retornaram, foi como uma explosão, eletrizando o meu corpo inteiro.
— Posso pedir algo? — Ele prosseguiu. Assenti com a cabeça, o
vendo unir os lábios em um sorriso. — Se um dia esse homem chegar, dê-
me um último beijo. Juro que irei guardá-lo no fundo do meu coração.
Tomado pela intensidade do seu amor e das suas palavras, dessa vez,
permiti que o meu coração falasse com ele.
— Se um dia esse homem chegar, serei seu do pôr do Sol ao
amanhecer, antes de ir embora com ele — respondi baixinho, o vendo
forçar um sorriso.
— Tomara que nunca chegue — sussurrou, me fazendo engolir em
seco.
Também espero que esse homem nunca chegue, mas se um dia
acontecer, como já disse, irei embora com ele. Não quero continuar sozinho,
sem um amor, sem ter com quem fazer planos.
Quero voltar a me sentir vivo, amado, desejado e...
Os meus pensamentos foram interrompidos quando Levi segurou a
minha mão, entrelaçando os nossos dedos. Assim que ele a puxou, senti os
seus lábios tocarem o seu dorso.
— Gostaria de fazer um jogo comigo?
— Você sempre ganha nesses jogos. — Ele riu, balançando a
cabeça. — Ok, qual é o jogo?
Ele sorriu e me espiou rapidamente, oferecendo-me um olhar
travesso. Depois de pensar um pouco, umedeceu os lábios e se voltou a
mim.
— De agora até a hora em que formos embora, vamos fingir que
somos casados e que o Gael é o nosso filho — sugeriu, me fazendo puxar
por fôlego. — Não gostaria de vivenciar, mesmo que por algumas horas,
como seria o seu futuro ao meu lado?
— E depois? — Senti a minha voz tremular.
— Só consigo pensar no agora.
É claro que eu gostaria, mas...
Por que continuar me torturando com um futuro que não irá
acontecer? Não vejo sentido nisso, além de nos causar sofrimento
desnecessário.
— Pega eu! Pega eu! — A voz de Gael roubou a minha atenção e
automaticamente soltei a mão de Levi, adiantando-me até o meu sobrinho.
— Oi, titio — disse todo sorridente, esticando os bracinhos.
— Oi, amor do titio. — Peguei-o em cima do cavalo e o ajeitei no
colo. — Gostou do carrossel? Quer ir de novo?
— Gostei, mas agora quero ir no trenzinho. — Apontou com o
dedinho, me fazendo assentir com a cabeça.
Precipitei-me com Gael no colo até o trenzinho e depois de alguns
minutos de espera, ele entrou em um dos mini vagões. Levi continuava
parado ao meu lado, em silêncio, vez ou outra me lançava um olhar
discreto, que eu fingia não notar.
Depois que passamos por todos os brinquedos possíveis,
conseguimos convencer Gael de que estava na hora de irmos para casa e
que poderíamos voltar um outro dia. Se dependesse do meu sobrinho, que
mais parecia uma pilha super energizada, teríamos visitado cada um
daqueles brinquedos ao menos mais uma vez.
Ao chegar em casa, descemos do veículo e nos adiantamos em
direção à porta principal. Assim que a atravessamos e Gael viu a avó, ele
correu em sua direção. Depois de se sentar no seu colo, o pequeno começou
a tagarelar sem parar, contando sobre cada um dos brinquedos em que foi.
— Obrigado por nos acompanhar. Sem você, ele não teria se
divertido tanto — disse Levi ao parar ao meu lado, cruzando os braços,
mirando o filho com um lindo sorriso no rosto. Contudo, a sua expressão
mudou e ele pigarreou, girando o rosto na minha direção. — Pretende sair
mais tarde?
— Provavelmente, sim. — Abracei os meus próprios braços,
evitando encará-lo. — De vez em quando precisamos beber até esquecer
todos os nossos problemas.
Ele riu, claramente frustrado.
— O quê?
— Se o objetivo é esquecer, não beba, do contrário o efeito será o
exato oposto. Experiência própria — alertou, espiando-me uma última vez,
antes de adiantar o passo em direção às escadas.
— Tudo bem? — A voz de mamãe me alcançou, fazendo-me voltar
os olhos em sua direção. — Você está parado aí desde que chegou.
Aconteceu algo?
— Não, está tudo bem.
— O titio brincou muito comigo hoje, vovó — contou Gael,
apontando o dedinho na minha direção. — E ele me levou em um montão
de brinquedos.
— Foi? — Mamãe fingiu surpresa, arrancando uma gargalhada
gostosa de Gael. — De qual brinquedo você mais gostou?
— Do carrinho de bate-bate — respondeu, me arrancando um
sorrisinho.
Aquela angústia dentro de mim estava me sufocando. As minhas
ações, guiadas pela minha consciência, continuavam indo na contramão dos
anseios do meu coração. E mesmo agora, nesse exato momento, me flagro
arrependido em não ter aceito o “jogo” que ele propôs quando estávamos no
parque.
“De agora até a hora em que formos embora, vamos fingir que
somos casados e que o Gael é o nosso filho. Não gostaria de vivenciar,
mesmo que por algumas horas, como seria o seu futuro ao meu lado?”.
Sei que é errado, mas não consigo parar de pensar nisso.
Um pouco mais tarde...
No instante em que atravessei a porta do meu quarto, cessei o passo
e levei as mãos ao rosto, esfregando-o contínuas vezes. Após alguns
segundos, tentando controlar a fúria dentro de mim, pousei as mãos na
cintura e afinei os olhos.
Adrian está querendo me matar do coração. Não vejo outra
explicação, além dessa. Por qual outro motivo ele toparia ir beber
justamente com o cara com quem saía antes de se envolver comigo?
Confesso que a mais remota possibilidade de aquilo acontecer
fomentava a fúria dentro de mim, obrigando-me a andar de um lado a outro,
levando-me a mais questionamentos.
Já ficou claro que o problema sou eu, mas...
— Não consigo entender a razão de tamanha resistência —
murmurei, inconformado com as suas recusas as minhas investidas. — Se
ele dissesse que não me ama mais, eu entenderia, mas essa não é a questão.
Então, qual é? — Cessei o passo, pousando as mãos na cintura.
Durante longos minutos cogitei inúmeras possibilidades, mas todas
eram vazias. O fato é que se ele não disser onde errei, não conseguirei
acertar as coisas entre nós.
— Você está perdendo o jogo, Levi — disse a mim mesmo, voltando
a andar de um lado a outro no cômodo. — E se o jogo chegar ao fim como
está agora, você também o perde.
Parei de súbito e depois de respirar fundo, mordi o lábio inferior,
sentindo aquela adrenalina me tomar. Admito que estou um pouco
enferrujado, mas ainda sou jovem, não sou? Quer dizer, quem me daria
quarenta anos?
Talvez, uma noite na balada nos faça bem.

Algumas horas depois...


Espiei-me uma última vez no espelho e um sorrisinho de satisfação
escapou pelo canto dos lábios. Aproveitando o verão de Curitiba, optei por
uma camisa social estampada na cor vermelho e preto, deixando os três
primeiros botões abertos, para que parte do meu peitoral ficasse visível. A
bermuda branca, alguns centímetros acima do joelho e bem ajustada nas
minhas coxas, marcava tudo, inclusive o volume, sem qualquer proteção,
afinal, eu não estava usando cueca. Por último, os sapatos com cadarços e
meias da mesma cor da bermuda.
Passei as mãos pelos cabelos, deixando-os naquele misto de
bagunçado/arrumado sexy e rocei as mãos na barba bem aparada. Borrifei o
perfume no pescoço algumas vezes e para finalizar, coloquei os óculos
escuros e quadrados.
— Quer brincar, Adrian? Faremos isso juntos — murmurei,
sentindo o meu sangue fervilhar de excitação.
Girei sobre os sapatos e adiantei-me para fora do cômodo, seguindo
em direção ao térreo. Ao apontar no topo da escada, vi Adrian bem vestido,
usando um short curto que deixava suas coxas à mostra e uma camisa de
gola “V”. Os cabelos estavam presos em um pequeno coque, com duas
mechas caindo, cada uma sobre uma das suas sobrancelhas.
O simples ato de admirá-lo, mesmo que à distância, acelerou os
meus batimentos, me obrigando a puxar por fôlego.
— Não beba muito, por favor — pediu dona Carla, recostando-se no
sofá, sem tirar os olhos do filho.
— Vou apenas tomar uns drinques e conversar um pouco com o
Kaius. — Adrian deu de ombros, unindo os lábios, exibindo aquele olhar
triste. — Acho que vai me fazer bem.
— Será?
— Não sei, eu só...
Sua voz falhou no instante em que comecei a descer os degraus,
fazendo questão de pisar com força, para que os meus passos ecoassem no
cômodo. No mesmo instante, ele girou o rosto na minha direção e assim que
me viu, arregalou os olhos e engoliu em seco.
— Uau, faz tempo que não te vejo vestido assim. Está um gato —
disparou dona Carla, me arrancando um largo sorriso.
— Obrigado — agradeci, mirando-a rapidamente, antes de me voltar
a Adrian. — Receio não ser o único a fazer “miau” nessa sala. — Estalei a
língua, arrancando tons vermelhos das bochechas de Adrian, que pigarreou,
abaixando a cabeça. — Também pretende sair?
— Sim, como eu te disse mais cedo, vou sair — enfatizou, me
fazendo assentir com a cabeça.
— E eu vou subir — avisou dona Carla, ao se colocar de pé. —
Como passei parte do dia dormindo, por conta dos remédios, vou me
aconchegar na poltrona do quarto do Gael e enquanto o admiro dormindo,
vou ler um bom livro.
— Obrigado por cuidar dele essa noite.
— Sempre que precisar, basta pedir, meu filho — respondeu dona
Carla, adiantando-se em direção aos degraus.
Quando a minha sogra chegou ao topo da escada e sumiu pelo
corredor do primeiro andar, voltei-me a Adrian, que me fitava com os olhos
semicerrados.
— O quê?
— Planejou isso desde a hora que chegamos?
— Claro que sim — confirmei, o vendo erguer as sobrancelhas. —
Não posso simplesmente sair e deixar o Gael sozinho. Pensei em chamar
uma babá, mas a sua mãe disse que não era necessário.
— Não estou falando disso, Levi.
— Do que está falando, meu amor? — Dei alguns passos em sua
direção e ao parar diante dele, o olhei de cima para baixo. — Diga, sou todo
ouvidos. Não precisa ter pressa, gosto de observar os seus lábios se
moverem.
— V-V-Você está fazendo de propósito. — Cerrou os punhos, pronto
para me socar. — Se eu te ver no Tártaros, juro que vou te bater e...
A voz de Adrian falhou quando rocei o dorso da mão no seu rosto.
Os nossos olhos se alinharam e o meu coração se aquietou, palpitando com
suavidade e calma.
— Uau, você está tão lindo hoje — sussurrei, umedecendo os lábios.
— Não é todo dia que um anjo surge na minha frente. Permita-me te olhar
por mais alguns segundos, eu imploro.
Adrian puxou por fôlego, sem desviar os olhos dos meus, enquanto
o meu toque seguia acariciando a sua pele. Sem perceber, toquei o seu lábio
inferior com o dedão, desenhando-o de um lado a outro, antes de segurar o
seu queixo com a ponta dos dedos.
Os olhos trêmulos fitavam-me com desejo. As faíscas que haviam
tomados as suas pupilas eram visíveis. Levei ambas as mãos à cintura de
Adrian e as deslizei em movimentos contínuos e lentos de sobe e desce. Ao
me inclinar, rocei o meu nariz no seu, deixando as nossas bocas próximas.
— Não tenho dúvidas de que há muitos homens bonitos atrás de
você, mas nenhum deles vai te deixar mole quando te toca, como eu te
deixo — sussurrei, sentindo a sua respiração tocar a minha pele. — O nome
de nenhum deles irá sair da sua boca com tanto amor, prazer e paixão, igual
o meu sai. Ninguém vai fazer amor com você do jeito que eu faço.
— O que você quer de mim? — choramingou, ofegante, pousando
as mãos sobre as minhas, segurando-as com força.
— Quero ser o seu marido. É o que eu sempre quis e vou morrer
tentando — respondi e ao me aproximar um pouco mais, rocei os nossos
lábios, subindo-os em direção a sua testa, onde depositei um beijo. Em
seguida, afastei-me e engolindo em seco, me endireitei, sentindo um forte
desconforto na bermuda e ao olhar para baixo, pude ver o meu pau
marcado, latejando embaixo do tecido. Ao me voltar a Adrian, percebi que
suas bochechas estavam ainda mais vermelhas. — Desculpe por isso. Como
já sabe, o meu coração bate com muita força quando se trata de você, meu
amor.
— Um homem que ficou viúvo recentemente não deveria se
comportar dessa maneira — disse ao passar por mim. — É um desrespeito
com a sua esposa.
— Uma esposa falsa, num casamento falso, onde não existia amor.
Não de marido e mulher. Eram apenas negócios. Sabe o que existia?
Carinho e cumplicidade. Isso resultou numa bela amizade — respondi, o
fazendo cessar o passo, ainda de costas pra mim. — Não perdi a minha
esposa, pois nunca tive uma. Perdi uma grande amiga. A minha melhor
amiga.
— Se não existia amor, como o Gael surgiu? — Girou sobre os
sapatos, ficando de frente para mim. — Vai dizer que a cegonha o trouxe?
Não uma, mas várias vezes, a minha irmã me afirmou com convicção que
só teria filhos do homem que amasse.
Algo estalou na minha mente, me fazendo arregalar os olhos. Enfim,
encontrei alguns dos muitos problemas que nos cercam. Talvez, o principal
deles.
Ao que tudo indica, Adrian acredita piamente que a sua irmã e eu
tivemos algo, pois só isso explicaria o nascimento de Gael. Por
consequência, isso o leva a entender que ela me amou. Dito isto, posso
concluir que parte da sua resistência se deve a não “manchar” a memória da
irmã.
Como foi que não pensei nisso antes?!
— Há algo que preciso contar sobre o...
— Chega por hoje — interrompeu-me, sacudindo a cabeça para os
lados, exibindo os olhos marejados. — Você já passou dos limites.
De fato, passei.
— Acho que já vou indo — desconversei e quando passei por ele,
parei ao seu lado. — Aceita uma carona?
— Não, o meu táxi está chegando.
Retomei o passo e adiantei-me até a porta principal. Assim que a
atravessei, fechando-a atrás de mim, movi a cabeça de um lado a outro,
estralando o pescoço e espreguicei-me.
Essa noite será bastante longa para nós dois...
Precipitei-me até a garagem e assim que entrei no carro e girei a
chave, o meu celular tocou. Ao ver o nome na tela, prontamente o atendi,
levando-o à orelha.

— Dê-me boas notícias, Capitão Guimarães[4].


— O seu “amigo” Kaius acabou de ser parado em uma blitz. Ele não
sairá de lá até que o dia amanheça. Por garantia, o celular dele foi
confiscado.
— Perfeito! — Mordi o lábio inferior, contendo a excitação
crescente dentro de mim. — Obrigado por esse favor, meu amigo.
— Sabe que pode sempre contar comigo, ainda mais quando se trata
de uma operação de amor.
Desliguei a chamada e retirei o veículo da garagem, rumo a próxima
parada: Tártaros.
Cheguei ao local de destino em menos de trinta minutos e estacionei
o carro do outro lado da rua. Permaneci escondido atrás dele, observando a
movimentação. Depois de um tempo, o vi descer de um táxi.
Adrian permaneceu parado na calçada, no meio daquele vai e vem
de homens e mulheres, arrancando olhares por toda a parte. O pessoal da
fila havia começado a entrar, mas ele permanecia parado, olhando de um
lado a outro, esperando o acompanhante que não viria.
Ele enfiou a mão no bolso e pegou o celular. Provavelmente, estava
ligando para Kaius. Ao longo de dez minutos, Adrian ligou pelo menos
cinco vezes e quando se cansou, entrou na boate.
Ao atravessar a porta, adiantei-me até a bilheteria, onde comprei o
meu ingresso. Quando me aproximei da entrada, entreguei a carteira de
identidade ao segurança. Em seguida, ele franziu a testa e passou os olhos
por mim.
— Estamos lotados — avisou.
— Tem certeza?
— Absoluta, senhor.
Espiei discretamente por cima do ombro e ao confirmar que não
havia ningúem atrás de mim, enfiei a mão no bolso e retirei a carteira,
contando as notas. Quando chegou em dez, as retirei, dobrei e coloquei no
bolso do paletó daquele guarda-roupas ambulantes.
— E agora, temos vaga?
O homem exibiu um sorriso amarelado e pegou o dinheiro no bolso,
contando cada uma daquelas notas de cem. Ao terminar, mirou-me
novamente.
— O senhor pagou o dobro do que um rapaz pagou para não te
deixar entrar — contou, me fazendo erguer as sobrancelhas, surpreso.
— Que rapaz?
— Um loiro de olhos acinzentados.
Pisquei algumas vezes, segurando-me para não rir.
— Ele está um pouco chateado comigo. — Dei de ombros, o vendo
assentir com a cabeça. — Obrigado pela vaga. — agradeci, adiantando-me
pelo corredor.
Uma das atendentes me abordou, oferecendo-me uma máscara.
Prontamente a peguei, colocando-a no rosto. O ambiente estava cheio, mas
não ao ponto de impedir o trânsito de pessoas de um lado a outro.
Parei próximo aos degraus da pista de dança e passei os olhos ao
redor. Nos cantos haviam mesas para quatro pessoas. O bar ficava em frente
à pista de dança, rodeado por vários clientes que esperavam pelas suas
bebidas. No andar de cima, haviam mais algumas mesas e sofás.
Pousei as mãos na cintura e voltei a passar os olhos pelo piso
inferior, dessa vez, com mais atenção. Foi quando o vi sentado, sozinho, em
uma das banquetas do bar. Ele estava no canto, tão bem escondido que se
não prestasse atenção, não seria possível vê-lo ali.
Um homem se aproximou dele e pareceu dizer algo em seu ouvido.
Adrian riu, voltou-se na direção do homem e, para o meu alívio, balançou a
cabeça para os lados.
Sem perdê-lo de vista, adiantei-me pelo grande salão e atravessei a
pista de dança, sentando-me em um sofá logo atrás dele, de onde poderia
garantir a sua segurança, caso algum imbecil tentasse algo.
Outro homem se aproximou, fazendo a minha sobrancelha arquear e
o meu maxilar se contrair. Dessa vez, ele chegou tocando a sua cintura. No
instante em que fiz menção de me levantar, Adrian tirou a mão do cara dali
e se voltou a ele, balançando a cabeça em sinal negativo, fazendo-o se
afastar.
— Não tenho coração para isso. Se eu não infartar até o fim da
noite, acho que sairei daqui preso — murmurei, irritado.
Tomar um bolo do Kaius não estava nos planos daquela noite, mas
levando em conta que liguei para ele várias vezes, suponho que tenha
acontecido algo. Apesar de que já passamos por isso antes.
Quando ele desapareceu por conta de problemas familiares, as
minhas ligações também não eram atendidas.
— Mais uma margarita, por favor. — Ergui o indicador na direção
do barman.
— Está saindo, gatinho. — Jogou-me uma piscadela, me fazendo
unir os lábios.
Desde o momento em que cheguei, o bonitão sem camisa, que
esconde o peitoral com um avental, segue me lançando cantadas sutis.
Analisando-o agora com um pouco mais de atenção, ele é rústico.
Braços fortes, corpo torneado e grande. Os seus grandes olhos
castanho-escuros são tão gentis. Os lábios grossos e carnudos parecem ser
suculentos e a pele negra e retinta, iluminada pela luz do bar, o deixa mais
atraente do que já é.
— Aqui, princeso — disse ao me entregar a bebida. Dessa vez, ele
se debruçou sobre o balcão, alinhando os olhos aos meus. — Posso
perguntar o motivo da tristeza?
— Está tão visível assim? — Ele confirmou com a cabeça, me
fazendo respirar fundo. — Amores impossíveis nos deixam tristes.
Ele sorriu e umedeceu os lábios.
— Há muitos tipos de amores impossíveis. Alguns realmente não
estão ao nosso alcance, mas outros... O único impedimento somos nós
mesmos. Então, em qual desses o seu se encaixa?
Mordi o lábio inferior e abaixei a cabeça.
— O problema sou eu — respondi, o vendo franzir a testa, sem
parar de sacudir a cabeça para os lados. — Sim, é a verdade.
— Desde que você chegou, ao menos dez caras se aproximaram e
você recusou todos eles. — Ergui as sobrancelhas, surpreso. — Desculpe,
eu estava observando.
— Tudo bem.
— O seu coração tem dono, não tem?
— Sim, tem.
— E onde está o dono nesse momento?
— Acho que em casa, cuidando do meu sobrinho — respondi, o
vendo arregalar os olhos, surpreso. — É uma situação muito complicada.
Eu levaria muito tempo para explicar, mas... Eu o conheci primeiro e
namorei com ele primeiro e por conta de eventos da vida, ele se casou com
a minha irmã.
O barman pousou as mãos na cintura e soprou o ar preso nos
pulmões. Ele abriu para boca para dizer algo, mas a fechou em seguida.
— Ele pelo menos te ama?
— Segundo ele, nunca deixou de amar.
— Não sei o que dizer, de verdade.
— Está tudo bem. — Forcei um sorriso e levei a taça de bebida à
boca, dando um gole. — A minha irmã faleceu há alguns dias e, em teoria,
ele está livre, mas...
— A sua consciência não deixa, não é?
Confirmei com a cabeça, sentindo os meus olhos arderem e o meu
coração se apertar.
— Olha, eu não te conheço, mas você está aqui hoje por um motivo,
que também não sei explicar. — Trocamos um sorriso. — Quer um
conselho?
— Por favor.
— O amor se tornou algo tão raro que atualmente o encontramos
apenas nos livros e nas telas do cinema. No seu caso, o amor retornou a sua
porta pela segunda vez e, talvez, não haja uma terceira.
Engoli em seco, dando mais um gole na margarita.
— Obrigado pelo conselho.
— Há instantes atrás eu queria te beijar, mas acabei virando um
conselheiro amoroso. — Riu, pousando as mãos na cintura.
— Não quer mais?
— Não é isso é que... Você está sofrendo e eu já passei por isso. Em
situações assim, costumamos ficar vulneráveis e eu não quero me aproveitar
de você.
— Você é um fofo!
Fiquei de pé no apoio da banqueta e levei ambas as mãos ao avental,
o puxando para mim. Assim que nossos lábios se tocaram, trocamos alguns
chupões, antes de eu me afastar, endireitando na banqueta.
— Porra! — um berro furioso ecoou atrás de mim, me fazendo
espiar por cima do ombro.
Por uma fração de segundos, jurei que fosse o Levi.
— O pessoal aqui é assim mesmo. De vez em quando eles gritam
feito malucos — disse o barman, me fazendo voltar o rosto na sua direção,
o vendo umedecer os lábios. — Obrigado pelo beijo. Foi o suficiente para
entender o motivo de ele ainda te amar.
Um sorriso tomou o meu rosto e as minhas bochechas arderam.
Sendo sincero, pensei que ele não tivesse gostado. Para mim foi como um
beijo dado a um amigo, sem sentimentos e calor.
— Você mereceu. — Encolhi os ombros, arrancando-lhe um
sorrisinho de canto. — Obrigado pelo conselho. Aliás, o meu nome é
Adrian.
Provavelmente não vou usar, mas foi muito gentil da parte dele em
me mostrar o quão privilegiado sou.
— O meu é Lúcio. Você deveria dar um pulo na pista de dança. —
Sugeriu e jogando-me uma piscadela, deu alguns passos para trás. —
Preciso voltar ao trabalho. Desejo uma ótima noite e torço para que você
não deixe o seu amor ir embora. No seu lugar, eu não deixaria.
Uni os lábios e sacudi a cabeça.
Terminei de tomar a margarita e segui o segundo conselho de
Lúcio. Desci da banqueta e me joguei na pista de dança, rendendo-me ao
batidão que fazia o meu corpo se mexer sozinho, de um lado a outro.
Alguns homens se aproximaram, dançando próximo a mim, mas os
ignorei. Eu queria apenas me divertir e esquecer tudo ao meu redor.
— Vem sempre aqui? — O hálito quente masculino acertou a minha
orelha e em seguida, senti o seu braço envolver a minha cintura, fazendo
com que as minhas costas se esfregassem no seu peito. — Você é uma
gracinha, sabia?
— Por favor, não me toque assim. Eu nem te conheço — pedi e
cessando os passos de dança, tentei me desvencilhar dele, sem muito
sucesso.
— Estamos aqui para nos conhecer, não é?
— Não desse jeito. — Segurei o seu braço, tentando tirá-lo de mim,
mas ele era muito mais forte que eu. — Solte-me, por favor!
— Qual é, gatinho...
A sua voz falhou e ele me soltou no mesmo instante. Com o coração
acelerado, girei o corpo em sua direção, o vendo caído no chão. Quando vi
o homem ao lado dele, o meu coração parou por alguns segundos.
Levi se agachou e apontou o dedo na sua cara.
— Você é surdo ou algo do tipo? Ele te pediu para soltá-lo duas
vezes — rosnou, exibindo um olhar sombrio, que me causava arrepios.
— Qual é cara? Quem é você? — O outro sentado no chão
gesticulou, levando uma das mãos à cabeça, esfregando-a. — Do nada você
puxa o meu cabelo e me joga no chão.
— Para você eu sou o diabo. Se voltar a se aproximar do meu
garoto, farei com que arda nas chamas do meu inferno particular —
vociferou Levi e ao se inclinar, deixou o seu rosto próximo ao do cara. —
Está na hora de você ir embora. Se eu ver a sua cara de novo, vou te matar.
Um arrepio subiu pela minha espinha e foi quando percebi que
algumas pessoas estavam olhando tudo. A maioria simplesmente ignorava e
seguia dançando.
— Deixe pra lá, Levi. — Adiantei-me até ele, o puxando pelo braço.
— Você me entendeu? — Ele me ignorou, mantendo os olhos fixos
no cara, que assentiu com a cabeça. — Que bom — emendou, colocando-se
de pé.
O cara se levantou do chão e adiantou-se pela pista de dança,
sumindo entre as pessoas. Levi continuava ofegante e com os punhos
cerrados. Ao se voltar na minha direção, passou os olhos por mim.
— Ele te machucou?
— Não, eu estou bem — respondi baixinho.
— Menos mal.
— Você me seguiu até aqui? — Cruzei os braços, o vendo engolir
em seco.
— Eu? — Apontou para si mesmo, negando com a cabeça. — O
meu nome é Romeu. V-V-Você provavelmente está me confundido com
outra pessoa e...
A sua voz falhou quando me aproximei dele e o abracei, esfregando
o meu rosto no seu peitoral. Funguei algumas vezes, sentindo o seu cheiro
invadir as minhas narinas, aquecendo o meu coração. Ao olhar para cima,
levei a mão até a sua máscara e a ergui brevemente.
— Tem certeza de que o seu nome não é Levi? — Soltei-o e dando
dois passos para trás, entrei na onda de mais um dos seus jogos.
— Sim, tenho. Sempre me confundem com esse tal de Levi. —
Pousou as mãos na cintura, me fazendo segurar o riso. — Como eu disse, o
meu nome é Romeu.
Ri, levando as mãos para trás, balançando os ombros de um lado a
outro.
— Pode me chamar de Julieto — respondi, arrancando-lhe um lindo
sorriso. — Que coincidência te encontrar aqui hoje, Romeu. Eu jurava que
o segurança iria impedir a sua entrada.
— Ele tentou.
— Imagino que sim.
Um breve silêncio nos tomou. Naquele momento, esqueci de tudo.
Eu conseguia ver e ouvir apenas ele, diante de mim.
— E-E-Eu vou voltar para o sofá. De lá posso cuidar de você sem
atrapalhar a sua noite.
— Quer ser a minha companhia essa noite?
— Tem alguma regra?
— Sem regras, sem Adrian e Levi. Agora somos Romeu e Julieto.
— Encolhi os ombros, sentindo o meu coração se acelerar. — O que acha?
— Acho perfeito — sussurrou. Ao dar um passo à frente, ficando
diante de mim, senti a ponta dos seus dedos segurarem o meu queixo. — O
Romeu pode beijar o Julieto?
— Ele deve.
Um breve sorriso tomou o seu rosto e ele se inclinou na minha
direção, tateando os seus lábios nos meus, antes de chupá-los, puxando-os
para si. No instante em que as suas mãos tocaram a minha cintura, senti as
minhas pernas amolecerem, mas me mantive firme. Nossas bocas se
colocaram, com nossas línguas se esfregando em um beijo intenso, cheio de
paixão, transbordando por todo o meu corpo.
Ofegante, afastei os nossos lábios por um instante e passei os braços
ao redor do seu pescoço, encostando as nossas testas.
— Eu estava com tantas saudades, Romeu.
— Prefiro a morte do que continuar vivendo sem você, Julieto —
disse baixinho, voltando a chupar o meu lábio inferior, puxando-o em sua
direção. — Se for embora outra vez, quero que me mate antes.
— Pare de falar e apenas me beije — pedi, chupando o seu lábio
superior, puxando-o para mim.
De repente, a música parou e ouvimos alguém pedindo por atenção.
Giramos o nosso rosto em direção ao outro lado da pista.
— Há muitos casais aqui hoje e aproveitando esse momento in love,
vamos tocar algumas românticas, enquanto eu faço um lanchinho, ok? —
avisou o DJ, arrancando gritos eufóricos dos presentes.
Quando a música começou a tocar, o abracei, deitando o rosto no
seu peito, enquanto ele conduzia a nossa dança em ritmo lento, conforme a
música exigia.
Eu estou olhando para você, bem na minha frente
Você está bem na minha frente
Mas por que você continua tão distante?
Você tem meu coração, com apenas um sorriso
E suas lágrimas machucam meu coração
Younha — I Believe.

Sentir o seu corpo junto ao meu era maravilhoso!


O seu toque, o seu cheiro, o seu calor misturando-se ao meu, em
meio aos passos de dança, me fazia desejar que aquele momento fosse
eterno. Se fosse um sonho, que nunca acabasse, pois eu odiaria acordar.
Depois de um longo tempo na pista de dança, fomos para o sofá.
Sentei-me em seu colo e escondi o rosto no seu pescoço, sentindo-o
acariciar o meu rosto com o dedão.
— Quer que eu pegue uma bebida para você?
— Não, pretendo me manter sóbrio — respondi baixinho, dando
beijinhos no seu pescoço. — Quero ficar quietinho, agarrado em você.
— Posso acrescentar uma regra ao jogo?
— E que regra seria?
— Seremos Romeu e Julieto até o dia amanhecer.
Endireitei-me no seu colo, alinhando os nossos rostos.
— Então é melhor irmos para outro lugar.
— Não quer se divertir um pouco mais?
— Quero, mas não aqui. — Encolhi os ombros, sentindo as minhas
bochechas queimarem. — Só eu e você.
— Ok, vamos para outro lugar — concordou e segurando o meu
queixo, primeiro beijou a minha testa e em seguida, colou os lábios aos
meus, chupando-os mais algumas vezes.
Estacionei o carro na garagem da mansão Saint e descemos. Tomei a
sua mão junto a minha, entrelaçando os nossos dedos e seguimos em
direção à porta principal.
— De repente me veio uma curiosidade. Você vendeu a casa da sua
família? — Ele cessou o passo, voltando-se a mim. — É que ela parece
vazia.
— Não, não vendi. Quando a Luísa faleceu no acidente de carro,
perdi a coragem de entrar lá. A sensação que eu tenho é de que falhei com a
minha mãe e com a minha irmã. — Dei de ombros e quando o vi arregalar
os olhos, surpreso, engoli sem seco. — Uma vez na semana, os funcionários
daqui vão lá dar uma organizada nas coisas.
— Eu não tive a oportunidade de dizer antes... Sinto muito pela sua
mãe e pela sua irmã. — Encolheu os ombros, me fazendo unir os lábios. —
Sei o quanto você as amava e que faria qualquer coisa por elas.
— Obrigado, meu amor — agradeci, sentindo o meu peito se
apertar. — Elas te adoravam. Muito mesmo.
— Quer ir lá comigo? — Abri a boca para dizer que era melhor não,
mas ele não me deu tempo. — Gosto daquela casa. Só temos lembranças
boas lá. É diferente daqui — disse baixinho, me fazendo assentir com a
cabeça.
Adrian recuou alguns passos, me puxando e assim que se endireitou,
seguiu na frente. O abracei por trás, enlaçando os meus braços ao redor da
sua cintura. Em meio aos risos e beijos estalados em seu pescoço,
atravessamos o jardim na direção da cerca viva, que já deveria ter batido os
dois metros de altura.
Aproximamo-nos do portãozinho que divida as duas propriedades e
entramos no jardim da mansão Tapia. A frente estava iluminada com alguns
refletores posicionados no jardim.
— Parece abandonado.
— Na minha opinião está bem cuidado — retrucou Adrian,
espiando-me rapidamente. — Aquele balanço ainda está ali? — Riu,
apressando o passo até a mangueira.
Adrian sentou-se no balanço e ao pegar impulso, começou a
balançar. Posicionei-me ao lado dele, para não atrapalhar a sua diversão.
— Lembra de quando a Luísa e eu competíamos aqui? Você ficava
empurrando nós dois. — Sorriu, me fazendo cruzar os braços, antes de
sacudir a cabeça positivamente. — Nunca consegui ganhar dela.
— Ela era maravilhosa.
Adrian colocou os pés no chão e o balanço parou, mantendo-se
sentado nele. Ele respirou fundo e apesar da expressão de tristeza, forçou
um sorriso.
— No dia em que eu fui embora, ela me pediu para ficar. Disse que
as coisas ficariam bem, mas eu não quis ouvi-la — contou baixinho,
voltando-se a mim com os olhos marejados. — Fiquei devastado quando
soube do acidente. Sinto muito por não estar por perto quando elas te
deixaram.
Engoli em seco, sentindo os meus olhos arderem.
— Tudo bem, eu... — Respirei fundo e me aproximei dele. Ao parar
na sua frente, agachei-me, pousando as mãos em sua cintura, alinhando os
nossos rostos. — Posso confessar algo?
Adrian assentiu com a cabeça.
— Arrependo-me amargamente de ter te magoado, de ter sido
covarde e de não ter contado sobre o casamento, mas eu não podia por
causa do acordo. Apesar disso, eu estava tentando encontrar uma saída e
quando encontrei, você tinha ido embora. — Puxei por fôlego, vendo os
seus olhos tremularem. — Nunca te pedi perdão por isso, mas... —
Prontamente dobrei os joelhos na terra. — Perdão. Perdão. Perdão, meu
amor.
Ele ofegou e piscou algumas vezes, exibindo os olhos cheios de
lágrimas, antes de tombar a cabeça para trás.
— Como você deve se lembrar, estávamos falidos. O tratamento da
minha mãe era muito caro e sem o casamento, não havia nenhuma chance
para ela. Os estudos da minha irmã iriam por água a baixo e... — Ofeguei e
prossegui, sentindo as primeiras lágrimas marcarem o meu rosto. — No
fim, fiz tudo em vão, mas eu pelo menos tentei. Eu tentei salvar a minha
família e me sinto inútil, pois além de ter perdido as duas, também te perdi.
O meu coração estava sendo esmagado dentro do meu peito e de
súbito, o abracei pela cintura e deitei o rosto no seu colo. Sem conseguir
segurar mais aquela dor, há anos presa dentro de mim, rendi-me ao choro,
feito uma criança que chora pedindo pelo colo da manhã.
— E-E-Eu... — A voz de Adrian tremulou e não demorei a sentir
sua mão em meus cabelos, afagando-os. — No começo eu não entendia os
seus motivos, mas ao longo dos anos, compreendi que você fez o que foi
preciso.
— No fim, a única coisa que me sobrou foi o dinheiro. — Solucei,
mordendo o lábio inferior. — Perdi todas as pessoas que eu amo e o amor
da minha vida me despreza.
— Eu não te desprezo. Estou aqui, não estou?
— A questão é: até quando você vai estar aqui? — Ergui o rosto na
sua direção, vendo as lágrimas marcarem a sua pele.
— Ainda somos Romeu e Julieto? — desconversou, me fazendo
assentir com a cabeça. — Não vai me mostrar a casa onde cresceu, Romeu?
— Perdoe a minha desatenção, Julieto. — Coloquei-me de pé e
ofereci-lhe uma das mãos. Assim que ele a tocou, o conduzi em direção à
entrada.
Ao parar na porta de entrada, respirei fundo e pressionei o local da
digital, na fechadura eletrônica, com o dedão, destrancando a porta. Senti
um leve frio na barriga, que passou quando Adrian apertou a minha mão.
Atravessamos a porta principal. No meio da sala, passei os olhos ao
redor. As coisas estavam exatamente do jeito que eu me lembrava. Não
havia uma única coisa fora do lugar.
— A mansão está com o cheiro do chá favorito da sua mãe —
Adrian murmurou, me arrancando um sorrisinho de canto.
— Erva cidreira — confirmei.
— Ela adorava chá com torradas e geleia. Às vezes, quando você ia
para a empresa com o seu pai, eu vinha aqui tomar chá com ela — contou,
me fazendo espiá-lo. — Ela vivia me mostrando as suas fotos de quando
criança.
Um sorriso bobo tomou o meu rosto.
— Eu não sabia.
— Ela dizia que você seria um excelente marido e que você era o
orgulho dela.
— Quer me fazer chorar de novo? — Ele sacudiu a cabeça e
abraçou o meu braço, apontando em direção ao escritório que ficava
embaixo da escada. — O quê?
— Não se lembra?
— Eu jamais irei me esquecer.
Adrian uniu os lábios e soltou o meu braço, adiantando-se até o
escritório. Segui atrás dele. Assim que entramos. Passei os olhos ao redor.
Havia um sofá cama imenso próximo da janela. Um pequeno bar em um
dos cantos e atrás da mesa do escritório, uma estante com muitos livros.
Voltei-me a Adrian que seguia mirando tudo com um sorriso no
rosto. De repente, ele parou e abraçou os próprios braços, suspirando.
Abracei-o por trás e rocei a barba rala no seu pescoço.
— Foi aqui que eu te fiz meu pela primeira vez — sussurrei,
sentindo-o acariciar as minhas mãos. — Os meus pais tinham viajado e
você veio me trazer o café da manhã.
— Vim todo inocente achando que você iria adorar os ovos mexidos
com bacon.
— Quem disse que eu não gostei dos seus ovos? — retruquei,
arrancando-lhe um gargalhada.
— Levi!
— O quê?! Eu gostei muito. Foi nesse dia que você, sem qualquer
experiência, me ensinou o que é fazer amor. Antes de você, eu só conhecia
a palavra trepar.
Adrian desvencilhou-se dos meus braços e deu um passo à frente.
Ao se virar, encostou o traseiro na mesa do escritório e me fitou por alguns
segundos, chegando a tombar a cabeça para o lado direito, sem tirar os
olhos de mim.
— Durante o tempo que passei no exterior, dormi com vários
homens — contou, me fazendo engolir em seco. — Tentei encontrar o amor
com cada um deles, na cama e fora dela, mas não obtive sucesso.
Quis morrer de ciúmes ao ouvir aquilo, mas inspirei lentamente e
mantendo o controle, dei um passo à frente, parando diante dele. Toquei o
seu lábio inferior com o dedão, esfregando-o de um lado a outro.
— Prometa que irá responder a minha próxima pergunta — pedi, o
vendo prender a respiração. — Por favor.
— Ok, eu prometo — respondeu, soltando o ar dos pulmões.
— Você ainda me ama?
Os seus olhos se arregalaram. Visivelmente ofegante, Adrian piscou
algumas vezes, engolindo em seco. Depois de alguns segundos, ele assentiu
com a cabeça.
— Diga, por favor — supliquei entre sussurros.
— Nunca deixei de te amar — sussurrou, com os seus olhos
voltando a se encher de lágrimas. — Rezei para que esse amor morresse,
mas ele continua vivo dentro de mim e, provavelmente, seguirá vivo até o
dia em que eu morrer.
— Rezo para morrer primeiro. Eu não suportaria perder mais
alguém. — Ofeguei, sem tirar os olhos dele. — De repente, você ficou
ainda mais lindo.
— Eu ia dizer o mesmo agora.
Pousei as mãos em sua cintura, segurando-a com firmeza e ao erguê-
lo, o sentei em cima da mesa do escritório. Encaixei-me entre as suas pernas
e toquei a ponta do seu queixo, erguendo-o o suficiente para que nossas
bocas ficassem próximas.
— Levi, nós não podemos...
— Romeu. Já se esqueceu? Eu sou o Romeu do Julieto — disse
baixinho, sem desviar o nosso olhar.
Adrian inclinou o corpo um pouco para trás e apoiou as mãos
espalmadas sobre a mesa do escritório. Ofegante, o suficiente para puxar
fôlego pela boca entreaberta, os seus olhos continuavam fixos em mim.
Sem dizer uma única palavra, comecei a desabotoar os botões da
camisa, um a um. Se ele me pedisse para parar, eu faria isso no mesmo
instante, mas até lá...
Quando cheguei ao último botão e o desabotoei, a camisa se abriu
para lados opostos e os seus olhos deixaram o meu rosto, descendo para o
meu peitoral. Seu rosto se avermelhou e ele arregalou os olhos, antes de
voltar a alinhá-los aos meus.
Retirei a camisa e a joguei para o lado. Enlacei um dos braços ao
redor da sua cintura e o puxei pra mim, encaixando o seu traseiro em cima
da ereção que marcava a minha bermuda. Ao me inclinar em sua direção,
encostei a minha testa na sua.
— Não quero continuar sendo um estranho, como se não tivéssemos
uma história. Permita-me te mostrar, mais uma vez, todo o meu amor —
sussurrei, roçando os nossos lábios.
Ofeguei e engolindo em seco, mantive as mãos espalmadas e
apoiadas sobre a mesa, sentindo a sua ereção pulsar contra o meu traseiro,
acelerando a minha respiração. Os olhos flamejantes e desejosos exibiam
sede de amor e paixão, fazendo a minha garganta secar.
— Sim, me dê todo o seu amor — pedi, puxando por fôlego.
O sorriso que as minhas palavras arrancaram do seu rosto, fez o meu
coração disparar. No instante seguinte, os seus lábios tomaram os meus,
sugando-os carinhosamente, mordiscando-os e os puxando em sua direção.
A medida que as suas mãos subiam pela minha cintura, por baixo da
camisa, arrepios tomavam o meu corpo, percorrendo-o incansavelmente.
Sem oferecer qualquer resistência, entreguei-me àquele homem.
Passei os braços ao redor do seu pescoço e intensifiquei o beijo, esfregando
as nossas línguas uma na outra, quando eu não chupava a dele e ele a
minha.
O fogo dentro de mim erguia-se com fúria e intensidade, ao ponto
de os meus mamilos se ouriçarem e o meu pau latejar dolorosamente, com
força. Quando ele desceu uma das mãos, esfregando-a contra o meu traseiro
ainda por cima do tecido, apalpando-o generosamente, senti a minha
entrada se contrair, me fazendo arfar mais uma vez.
Afastamos as nossas bocas e trocamos um sorriso cúmplice,
genuinamente feliz. Com a ajuda de Levi, retirei a minha camisa e a joguei
para o lado. Em seguida, as suas mãos seguraram o meu short, puxando-o
para baixo, levando a cueca junto. Quando me vi completamente nu, senti
as minhas bochechas queimarem e queimaram ainda mais ao perceber
aquele olhar predatório e lascivo sobre mim, mirando cada parte do meu
corpo.
— O retrato da perfeição — sussurrou e voltando a se aconchegar
entre as minhas pernas, segurou o meu pau pela base, arrancando-me um
gemido manhoso. — Nem comecei e você não para de vazar — provocou e
parecendo não contente, pressionou o dedão contra o freio, esfregando-o ali,
me arrancando mais um gemido. — Estava com saudades disso?
Tombei a cabeça para trás e abri um pouco mais as pernas,
rendendo-me de vez. Sem parar de puxar por fôlego, um sorriso bobo me
tomou, mas cedeu quando gemi outra vez, sentindo-o subir o dedão até a
glande, massageando-a em movimentos circulares.
— Quer saber por que eu sou o seu dono? Ninguém te toca com
tanto amor e perversão como eu — disse baixinho, me fazendo morder o
lábio inferior.
— Ninguém faz como você faz.
— É que eu faço com amor.
Sorri e no instante em que pensei em abrir a boca para retrucar,
outro gemido escapou, mais alto que os primeiros. Um calafrio gostoso me
atravessou quando senti os seus lábios tocarem o meu mamilo esquerdo,
sugando-o com gula, obrigando-me a levar uma das mãos a sua nuca,
acariciando-o carinhosamente.
Quase no mesmo instante, a sua mão pressionou o meu pau com
mais força, iniciando movimentos lentos, num sobe e desce delicioso que
me fazia contrair com mais frequência.
— Desse jeito eu vou gozar antes da hora e...
A minha voz falhou, chegando a tremular quando seus dentes
beliscaram o meu mamilo, puxando-o em sua direção, obrigando-me a
segurar os seus cabelos com força. Assim que o soltou, Levi atacou o meu
outro mamilo, o direito, recomeçando os movimentos de sucção, às vezes
esfregando a ponta da língua contra ele.
— Qual o problema de gozar agora? — indagou e sugando o meu
mamilo mais algumas vezes, puxando-o com os lábios, o mordiscou,
arrancando-me um gritinho. — Goze quantas vezes quiser, desde que em
todas elas diga o meu nome.
— Quer que eu diga o seu nome? — provoquei-o, igualando o jogo
e ao trazer a cabeça para frente, pude admirar os seus lábios carnudos e
vermelhos sugando o meu mamilo com gula, arrepiando-me inteiro. —
Mereça!
Por um segundo, os movimentos de Levi cessaram e ele ergueu o
rosto na minha direção, exibindo aquele olhar desejoso e cheio de fogo, me
fazendo tremer inteiro. Depois de passar a língua pelos lábios, ele se
inclinou novamente e voltou a tocar os seus lábios contra o meu corpo,
causando-me queimaduras prazerosas.
Sem tirar os olhos dele, me vi contando os segundos para que ele
chegasse onde eu queria e quando chegou, não me decepcionou. Prendi a
respiração e no momento em que os seus lábios tocaram a minha glande,
sugando-a com força, fechei os olhos e apesar de tentar me conter, quando
os seus lábios deslizaram pela extensão do meu pau, indo até a base, com o
seu nariz esfregando-se contra o pequeno tufo de pelos loiros, um gemido
rompeu a minha garganta, dando lugar a uma melodia contínua e
incessante.
— Isso, gema para mim. O mais alto que puder — pediu ao cuspir o
meu pau, pressionando a sua base antes de lamber a cabeça consecutivas
vezes, sem tirar os olhos de mim, instigando-me ainda mais.
— Mais alto? — Senti a minha voz tremular, arrancando-lhe um
sorrisinho de canto, completamente pervertido e obsceno. A adrenalina e a
excitação me tomaram, acelerando os meus batimentos. — E-E-E se
alguém nos ouvir? — Expus a minha apreensão.
— Perfeito! Assim saberão que você é meu. — Estalou a língua, me
fazendo arregalar os olhos.
Quis contestar, mas não tive tempo.
Levi se afastou, abaixou-se e segurou as minhas pernas, abrindo-as
para lados opostos, me fazendo prender a respiração. Não demorou para que
eu sentisse o seu toque quente e úmido no meu cuzinho, me obrigando a
levar uma das mãos à boca para abafar os meus gemidos.
— Que saudades de chupar esse cu! — disparou, fazendo o meu
rosto arder.
As suas palavras mal saíram e os toques da sua língua contra o meu
anel se intensificaram, me fazendo queimar dos pés à cabeça. O ritmo lento
e contínuo da sua língua massageando a minha entrada me fez explodir de
excitação tantas vezes que quando percebi, havia iniciado uma punheta
lenta com a mão livre, sentindo o meu cu piscar freneticamente.
— Não seja cruel, deixe-me ouvir — pediu baixinho, antes de
ameaçar me penetrar com a ponta da língua, esfregando-a, antes de sugar o
meu cuzinho com os lábios, em movimentos repetitivos. — Deixe-me
ouvir, meu amor.
Aumentei o ritmo da punheta e fechei os olhos, abrindo-os quando o
senti me puxar para a beirada da mesa. Dessa vez, ele veio com tudo,
sugando com gula e força, me fazendo revirar os olhos de prazer, quando
não estava ameaçando me penetrar.
Tentei me segurar ao máximo, mas não consegui.
— Levi — chamei pelo seu nome, ofegante. — Mais, por favor! —
implorei, levando uma das mãos a sua cabeça, aumentando ainda mais o
ritmo da punheta. — Mais, meu amor!
Os meus pedidos foram atendidos de imediato, me fazendo
contorcer em cima da mesa. Em alguns momentos, tentei afastá-lo ou
acabaria não conseguindo me segurar, mas não consegui e... Enquanto a sua
língua se esfregava contra o meu cu, massageando-o deliciosamente, o
ritmo da punheta explodiu, sendo seguido pelos gemidos que escapavam
dos meus lábios, cada vez mais altos e contínuos.
— Eu vou gozar — anunciei com a voz trêmula, voltando a sentir a
ponta da sua língua forçar a minha entrada, me fazendo revirar os olhos. —
E-E-Eu vou...
A minha voz falhou quando o primeiro jato de gozo atingiu o meu
rosto, sendo seguido por vários outros que marcavam a minha pele.
Ofegante e completamente acelerado, mordi o lábio, rendendo-me à
sensação de prazer que atravessava o meu corpo. Quando Levi saiu do meio
das minhas pernas, admito que continuei piscando em reclamação, sentindo
falta da sua boca ali.
De pé, ele voltou a se aconchegar entre as minhas pernas e deslizou
uma das mãos pelo meu traseiro, acertando os dedos na minha entrada,
massageando-a lentamente, me fazendo mirá-lo com um sorrisinho no
rosto.
— Não há visão mais linda que a sua expressão de prazer —
sussurrou e usando um dos dedos, pressionou a minha entrada, penetrando-
me sem pressa. Soltei um gritinho, o vendo passar a língua pelo lábio
inferior de um lado a outro. — Você é tão apertado, quente e úmido — disse
baixinho, arrancando-me um ardor do rosto. — O beicinho que surge nos
seus lábios quando brinco com o seu cuzinho é... — Puxou por fôlego,
afundando o dedo dentro de mim, me arrancando um gritinho.
— Devagar — pedi, mordendo o lábio inferior.
— Assim? — Iniciou movimentos lentos de entra e sai, me fazendo
assentir com a cabeça. — E assim? — Acrescentou mais um dedo, me
arrancando um gritinho, num misto de dor e prazer.
— Os seus dedos são muito grossos... — reclamei, manhoso.
— O que vem depois é muito mais grosso — retrucou, forçando os
dedos ao fundo, me fazendo revirar os olhos. — Está ansioso para me sentir
dentro de você, meu amor?
— Muito, meu amor — respondi entre gemidos.
Os movimentos de vai e vem dos seus dedos dentro de mim
seguiram por mais alguns segundos, forçando o meu anel a lacear um pouco
para recebê-lo. Sem essa preliminar, seria praticamente impossível que ele
entrasse e, se entrasse, acabaria me machucando.
Essa é uma das coisas que eu mais amo nesse homem. Ele sempre
cuidou e ainda cuida de mim. Não importa a situação, os seus desejos nunca
estão acima dos meus, mas, sim, lado a lado.
Senti certo alívio quando os seus dedos saíram de dentro de mim.
Do mesmo modo, a sensação de ansiar por ele me invadindo me tomou no
mesmo instante. Levi recuou alguns passos e levou os dedões ao cós da
bermuda, descendo-a, fazendo o seu pau saltar para fora.
Outro arrepio me atravessou e instantaneamente senti a minha boca
se encher de água. A glande avermelhada vazava sem parar, ao ponto de o
líquido escorrer pela sua extensão, que exibia algumas veias saltadas. As
bolas grandes pareciam fartas. E o tufo de pelos intensamente negros em
cima do seu pau o deixava ainda mais bonito.
— Parece que ficou mais grosso — disse baixinho, engolindo um
pouco de saliva e, em seguida, sentei-me em cima da mesa, revezando os
olhos entre o rosto de Levi e o seu pau. — E maior.
Um sorriso lascivo tomou o canto dos lábios de Levi, que deu
alguns passos à frente, voltando a se aconchegar entre as minhas pernas. Ao
segurar o meu queixo com a ponta dos dedos, lambeu a minha bochecha, no
lugar exato onde o havia caído um jato de gozo e, em seguida, ele chupou o
meu lábio inferior, puxando-o em sua direção e soltando-o em seguida.
— Sei que está louco para colocá-lo na boca. O que está esperando?
— disse sem conter o sorriso, causando uma leve ardência no meu rosto.
— O quanto eu quiser? — perguntei baixinho, encolhendo os
ombros.
— Ainda não entendeu que eu sou seu? Sempre será o quanto, como
e do jeito que você quiser — sussurrou, fazendo o meu corpo se arrepiar,
reiniciando as piscadas no meu cuzinho.
Assenti com a cabeça e desci da mesa, erguendo o rosto na sua
direção. Sorri e me abaixei, deixando o seu pau na altura do meu rosto.
Segurei-o pela base e deslizei a ponta da língua da base, subindo-a pela sua
extensão, até tocar a glande. Os gemidos másculos de Levi me causando
arrepios, um atrás do outro. No momento em que suguei a cabeça do seu
pau, ele urrou de tesão.
Sem tirar os olhos dele, vendo a satisfação tomar o seu rosto, segui
deslizando os meus lábios pela extensão do seu pau, engolindo-o até pouco
mais da metade. Os movimentos lentos foram ganhando velocidade e a cada
vez que eu descia, engolia um pouco mais. Quando finalmente cheguei à
base, ele segurou a minha cabeça, obrigando-me a abrigar o seu pau no
fundo da minha garganta por alguns segundos. Apesar de algumas lágrimas
escorrerem pelo rosto e da sensação da falta de ar me tomar, era
extremamente excitante ser sufocado pelo seu pau, sentindo-o pulsar com
força e vazar o seu líquido na minha garganta.
— Só mais um pouco, meu amor — pediu entre gemidos, dando
algumas estocadas lentas. Cada vez que o seu pau se afundava na minha
garganta, os seus pentelhos roçavam no meu nariz, trazendo consigo o seu
aroma másculo. — Só mais um pouco... — pediu novamente.
Quando ele soltou a minha cabeça e eu finalmente cuspi o seu pau,
puxei por fôlego, tossindo algumas vezes, sem tirar os olhos dele, que me
fitava com extrema satisfação. Ele deu um passo à frente e segurou o pau
pela base, batendo-o contra o meu rosto. Era quente, macio, pesado e... Abri
a boca novamente, colocando a língua para fora, sentindo-o esfregar o pau
nela sem tirar os olhos de mim.
Suguei a sua glande uma última vez e coloquei-me de pé, sem tirar
os olhos de Levi, que me puxou pela cintura, colando nossos corpos,
deixando os nossos paus se esfregarem enquanto chupava os meus lábios
carinhosamente e eu chupava os seus. Ao me afastar, trocamos um sorriso.
Dei alguns passos para trás, sentindo o meu traseiro encostar na
mesa do escritório e me virei, ficando de costas para ele. Respirei fundo e
apoiei as mãos na mesa, espiando-o por cima do ombro. Assim que a
mensagem foi recebida, Levi deu alguns passos, parando atrás de mim. O
senti tocar a dobra da minha perna direita, erguendo-a, deixando-a sobre a
mesa. A sua outra mão mantinha-se na minha cintura, enquanto a sua barba
rala roçava contra o meu pescoço, me arrancando arrepios gostosos.
Levi recuou a mão da minha perna, me fazendo espiar por cima do
ombro. O vi segurar o pau pela base e automaticamente me inclinei para
frente, deitando o meu corpo sobre a madeira, ainda o espiando por cima do
ombro. Em seguida, levei as mãos à bunda, abrindo-a para os lados.
— Amo essa sua carinha de quem pede por rola — sussurrou, me
fazendo morder o lábio inferior, começando a pincelar o meu cu, esfregando
a sua glande contra a minha entrada.
— Devagar, meu amor — pedi.
No instante em que Levi forçou o seu corpo para frente,
pressionando a sua glande contra a minha entrada, mordi o lábio inferior,
fazendo uma careta. Eu havia me esquecido da sua grossura e de que no
começo, sempre doía um pouco. Puxei por fôlego e fechei os olhos,
sentindo-o recuar, voltando a esfregar a glande, antes de a forçar novamente
contra a minha entrada.
Em meio a várias tentativas e mais algumas chupadas no meu
cuzinho, ele finalmente conseguiu entrar. A sua glande pulsando dentro de
mim me fazia revirar os olhos, num misto de prazer e dor. Quando a sua
mão pousou na minha cabeça e segurou os meus cabelos, puxando-os para
trás, à medida que o seu pau afundava-se lentamente dentro de mim,
empinei um pouco mais a bunda, sentindo aquele misto de sensações
tomarem o meu corpo, explodindo juntas e ao mesmo tempo.
— Espera um pouco — pedi, sentindo o meu anel se contrair,
apertando o seu pau dentro de mim, que pulsava furiosamente, me
obrigando a alargar para recebê-lo. — Já entrou tudo?
— Quase, meu amor — respondeu, me fazendo arregalar os olhos.
Depois de alguns segundos empinei um pouco mais a bunda,
começando a rebolar no meu pau, sentindo-o terminar de entrar, indo ao
fundo, me fazendo choramingar. Quando finalmente senti os seus pentelhos
roçarem contra a minha pele, soltei o ar preso nos pulmões e em meio às
lágrimas, sorri.
— Você está me apertando muito — comentou, segurando os meus
cabelos com mais firmeza, iniciando os movimentos de vai e vem, me
fazendo revirar os olhos, naquele misto de dor e prazer. — Amo quando faz
isso.
— Também amo quando pulsa dentro de mim.
— Assim? — Pulsou o pau várias vezes, me fazendo contrair e
retrair, gemendo mais alto.
— Assim mesmo, meu amor — respondi todo manhoso.
O ritmo das estocadas aumentou gradualmente e num piscar de
olhos, embriagado pelo prazer anal que se espalhava por todo o meu corpo,
enquanto eu me masturbava lentamente, percebi que o meu corpo ia para
frente e para trás em cima da mesa. O som das bolas de Levi se chocando
contra o meu corpo ecoava continuamente pelo cômodo, misturando-se aos
gemidos másculos.
Sentir o seu pau me alargar era maravilhoso, tanto quanto as
estocadas, que vez ou outra iam ao fundo, com ele se inclinando apenas
para gemer na minha orelha, me deixando ainda mais louco por ele.
— Levi... — gemi seu nome, espiando-o por cima do ombro, vendo
um sorriso lindo tomar o seu rosto. — Mais rápido — pedi, aumentando o
ritmo da minha punheta.
No mesmo instante, ainda segurando o meu cabelo, ele me puxou
para trás, obrigando-me a sair de cima da mesa. Quando as minhas costas se
colaram ao seu peitoral, abri um pouco mais as pernas, sentindo uma das
suas mãos pousar na minha garganta, segurando-a com firmeza.
— Agora, um pouquinho de brutalidade — sussurrou na minha
orelha, deixando as minhas pernas bambas de tesão.
Sem tirar a mão da minha garganta, Levi segurou a dobra da minha
perna, erguendo-a o suficiente para que eu apoiasse o pé na ponta da mesa e
no mesmo instante, retomou as estocadas. Eram fortes, intensas, iam ao
fundo e, às vezes, me faziam deixar o chão.
Os nossos gemidos de prazer tornaram-se altos e contínuos, em uma
só voz. Cada vez que ele se afundava em mim, a sua mão se apertava no
meu pescoço, sufocando-me de forma deliciosa, me fazendo revirar os
olhos de tesão e quando percebi, havíamos chegado ao ápice daquele
momento.
— No cu ou na boca, meu amor? — perguntou ofegante, bombando
sem parar, me fazendo rebolar contra as suas estocadas.
— No meu cuzinho, amor — respondi manhoso, encostando a nuca
no seu ombro.
O ritmo de estocadas explodiu, me arrancando gritinhos de prazer e,
de repente, Levi se afundou dentro de mim, me fazendo revirar os olhos e
ficar de pernas bambas. Ao mesmo tempo, apertou a minha garganta com
força, sufocando-me. A explosão de jatos quentes dentro de mim, me
invadindo, enquanto eu sentia os meus pés deixarem o chão, me levou a um
estado de êxtase único, obrigando-me a levar as mãos para trás, apoiando-as
na sua nuca, enquanto eu ouvia o som do seu prazer ecoar na minha orelha,
com seu hálito quente acariciando a minha pele.
Inevitavelmente, também explodi, com os jatos de porra indo longe
e os meus gemidos, cada vez mais altos, ecoando como uma melodia do
prazer, enquanto ele seguia pulsando dentro de mim.
— Espero que não esteja cansado, meu amor. Pretendo te foder na
sala, depois nas escadas e depois no meu antigo quarto — sussurrou,
afrouxando a mão no meu pescoço, arrancando-me um sorriso, seguido por
um arrepio gostoso.
Quando voltei a sentir os meus pés tocarem o chão, ele saiu de
dentro de mim. As minhas pernas falharam por um segundo, mas apoiei
ambas as mãos na mesa. Ao girar na direção dele, o percebi bem na minha
frente.
— Vai ser maravilhoso te lembrar do por que eu sou o seu homem—
segurou o meu queixo e ao se inclinar, chupou o meu lábio inferior.
— Você vai acabar comigo — resmunguei, o vendo unir os lábios
em um sorriso.
— Vou e você vai adorar — retrucou, roçando o dorso da mão no
meu rosto, sem tirar os olhos de mim.
— É claro que eu vou — respondi baixinho e ficando na ponta dos
pés, selei os seus lábios, antes de abraçá-lo pela cintura.
Após tantos anos, aquele era o nosso primeiro momento íntimo
juntos e estava sendo tão maravilhoso. Eu havia me esquecido de que esse
homem não é feito só de palavras bonitas e, aparentemente, ele está
decidido a me lembrar isso ao longo da madrugada.
Acordei com o toque no Sol no meu rosto, fazendo-me erguer uma
das mãos para o alto, impedindo-o de continuar acertando a minha pele. Foi
quando percebi que Adrian estava deitado em cima de mim, com o rosto
aninhado no meu peito.
Pousei a outra mão em sua nuca e a subi pelos seus cabelos,
afagando-os. Suspirei, ouvindo os meus batimentos lentos, ressoando por
todo o meu corpo.
— Você é o dono do meu amor — murmurei, deixando um sorriso
de ponta a ponta escapar.
— Estou te ouvindo — avisou, apertando o abraço ao redor da
minha cintura e ao girar o rosto contra a minha pele, tocando-a com seus
lábios, mordiscou o meu peito, arrancando-me um arrepio gostoso. — Que
horas são?
— Não faço a menor ideia. — Girei o rosto na direção da porta,
mirando o relógio em cima dela. — Quase sete da manhã.
Adrian inspirou profundamente e se ergueu. Depois de se sentar em
cima do meu abdômen, ergueu os braços para cima, mirando-me com
aqueles olhos mais cinzas do que de costume. Algumas mechas estavam
caídas sobre as suas sobrancelhas e os cabelos, apesar de bagunçados, o
deixam ainda mais lindo.
Endireitei-me, sentando no colchão e toquei o seu rosto com uma
das mãos. Com a mão livre, acariciei a sua bochecha, analisando-o. Passei
os olhos por ele lentamente, sentindo uma sensação quente e aconchegante
me tomar. Os lábios rosados estavam inchados por conta dos meus beijos,
assim como os seus mamilos. A pele branca exibia algumas marcas de
mordidas e chupões. No entanto, nada se comparava àquele olhar doce e
apaixonado, que me deixava completamente rendido.
— Gosto de pensar que somos como a abelha e o mel, as nuvens e o
céu, óleo e pastel — sussurrei, arrancando-lhe um lindo sorriso, que fez a
minha alma sorrir com ele.
Adrian mordeu o lábio inferior e segurou o meu rosto com ambas as
mãos. Ao se inclinar, trouxe os seus lábios de encontro aos meus,
chupando-os carinhosamente por longos segundos. Ao se afastar alguns
centímetros, mirou-me uma última vez e passou os braços ao redor do meu
pescoço, abraçando-me e deitando o rosto no meu ombro.
— O seu romantismo é o meu ponto fraco — disse baixinho,
mordendo o meu ombro. — Quando estávamos nos conhecendo, as suas
palavras bonitas abriram o meu coração para o amor e depois, eu abri as
pernas para você — riu, me mordendo novamente, com mais força.
A sua mordida não era dolorosa. Pelo contrário, me causava
arrepios, excitando-me.
— O que foi aquele beijo no barman? — perguntei assim que me
lembrei daquele detalhe da noite passada. — Fiquei tão puto na hora que
acabei soltando um “porra” e todos ficaram me olhando.
— Foi você?! — Gargalhou. — Já que quer saber... Eu estava triste
e ele me deu bons conselhos sobre o amor. Em partes, ele ajudou a
chegarmos aqui hoje.
— Já gosto dele. Caso voltemos lá, darei a ele uma gorjeta de seis
dígitos.
Adrian gargalhou novamente.
— Tem algum arrependimento sobre nós?
— Nenhum — respondeu de imediato. — Só queria que as coisas
tivessem sido diferentes. Que fossem diferentes. — Respirou fundo, me
fazendo engolir em seco.
— Aquela conversa que ficamos de ter...
— Não, agora não — Adrian me cortou educadamente, todo
manhoso. — Depois de muito tempo, estamos tendo um momento juntos,
só nosso.
— Sim, você está certo.
Enlacei a sua cintura com um dos braços e ao nos virar na cama,
arranquei-lhe uma gargalhada. Depois de aconchegar os meus quadris
contra as suas coxas, inclinei-me em sua direção, apoiando as mãos no
colchão, ao redor da sua cabeça.
— Está me olhando como um predador olha a sua presa. — Mordeu
o lábio inferior e ao levar os olhos na direção do meu pau, corou
completamente. — O seu amigo diz que é isso mesmo.
— Ainda temos alguns minutos — disse e levando o rosto em
direção ao seu, chupei o seu lábio inferior, puxando-o na minha direção.
— Acho que posso te dar mais alguns beijos — respondeu,
deslizando a ponta da língua do meu queixo até os meus lábios, chupando-
os.
Trocamos um sorriso cúmplice e apaixonado e, no instante em que
eu avancei contra ele e encaixei as nossas bocas, senti as suas pernas me
prenderem pela cintura, instigando-me ainda mais.

Duas horas depois...


Atendendo ao pedido de Adrian ele foi primeiro, atravessando o
portãozinho que dividia as duas propriedades. Depois de trinta minutos, saí
pela porta da frente da mansão Tapia.
Ele não disse o motivo, apenas pediu, mas sei do que se trata. Para
aqueles que não conhecem a nossa história, caso a noite de ontem viesse a
público, de fato seria um verdadeiro escândalo na alta sociedade: o recém-
viúvo está dormindo com o cunhado.
Respirei fundo e ao me aproximar da porta de entrada da mansão
Saint, a empurrei e deparei-me com Gael eufórico, correndo de um lado a
outro, enquanto a avó o observava com atenção.
— Pa-pai! — gritou, vindo na minha direção. Assim que me
abraçou pelas pernas, ergueu o rostinho, mirando-me todo sorridente. — E-
E-Eu vi a mamãe.
— Sério? Você sonhou com ela?
— N-N-Não, eu vi no quarto — contou, apontando para si mesmo,
me fazendo franzir a testa.
Ergui o rosto na direção de dona Carla, que umedeceu os lábios e
sacudiu a cabeça.
— Ontem eu dormi com o Gael e acordei com risadas — contou, me
fazendo cruzar os braços. — Ele estava conversando com alguém, mas não
havia mais ninguém no quarto.
Engoli em seco, voltando os meus olhos a Gael.
— Com quem você estava conversando ontem à noite, campeão? —
Pousei a mão em seus cabelos, afagando-os.
— Mamãe — respondeu, me fazendo piscar novamente.
— Tenho certeza de que fechei a janela da sacada e quando acordei,
estava aberta — prosseguiu dona Carla, me fazendo levar uma das mãos à
nuca, acariciando-a.
— Você abriu a sacada? Não, isso seria impossível. A fechadura fica
no alto — respondi antes que ele pudesse responder. — Então você viu a
mamãe?
— Unhum — confirmou com a cabeça, me arrancando um arrepio
dos pés à cabeça.
Sinceramente, não sei o que dizer.
— Foi muito estranho — disse dona Carla. — Cogitei que alguém
tivesse entrado, mas não havia ninguém. Agora de manhã, pedi para que a
equipe de segurança conferisse as câmeras e não há nada. Absolutamente,
nada.
— Tem que ter uma explicação.
— O que vou dizer agora pode soar fantasioso, mas na minha
família, ainda que crianças fiquem órfãs, elas nunca ficam só — contou, me
fazendo puxar por fôlego. — Às vezes, tenho lembranças de ter visto a
minha mãe muitas vezes, tempos depois de ela ter... Eu era um pouco maior
que o Gael.
— A mamãe disse que me ama — contou Gael, todo sorridente,
fazendo o meu coração se apertar.
— É claro que a sua mamãe te ama. — Voltei-me a ele, forçando um
sorriso. — Assim como a vovó, o papai e o titio.
— Unhum. — Gael assentiu com a cabeça e finalmente soltou as
minhas pernas, correndo em direção à segunda sala, parecendo pronto para
explodir de alegria.
Uma das funcionárias surgiu na sala.
— Com licença, a portaria pediu para informar que há um senhor
chamado Kaius querendo falar com o Adrian — informou.
— Pode liberar a entrada — respondeu dona Carla.
— Sim, senhora. — A funcionária assentiu com a cabeça e se
adiantou em direção à cozinha.
— Por um acaso, ontem mais cedo, ouvi algo sobre furar pneus ou
coisa do tipo — disse dona Carla ao se colocar de pé, mirando-me, fazendo
o ar falta aos meus pulmões. — Não sei o que aconteceu, mas seria bom
você falar com o Kaius antes de ele falar com o Adrian — sugeriu e
segurando o riso, precipitou-se em direção à segunda sala. — Vou ver o que
o Adrian está fazendo. Tudo está tão quieto que fico até preocupada.
— Sim, vá — concordei e soltando o ar dos pulmões, pousei as
mãos na cintura.
O que o Kaius veio fazer aqui?
Pelo visto, ficar segurando vela no dia em que fomos ao parque de
diversões não foi suficiente. Será que ele também trouxe bolo para
cantarmos parabéns, os três juntos?!
Alguns minutos depois, a campainha soou. Adiantei-me até a porta,
abrindo-a, dando de cara com Kaius. Admito, ele é bonitão, um concorrente
forte; quer dizer, seria se eu o deixasse competir.
— Posso ajudar?
— Vim falar com o seu cunhado — respondeu, enfiando as mãos
nos bolsos. — Ele está em casa?
— Sim, está — confirmei. — Posso saber do que se trata?
Kaius arqueou uma das sobrancelhas, riu e retirou as mãos dos
bolsos, cruzando os braços.
— Na boa? Isso não é da sua conta. — Passou os olhos por mim,
com desdém. — Não deveria ser, já que você se casou com a irmã dele e,
por sua causa, ele foi embora.
O meu sangue ferveu. Aconteceu em questão de segundos e quando
vi, Kaius estava no chão, com uma das mãos no nariz, que escorria sangue
em abundância.
— O que você fez? — Ouvi a voz de Adrian atrás de mim,
acompanhada pelos passos apressados. Assim que passou ao meu lado,
mirou-me com uma expressão de irritação e se ajoelhou na frente do Kaius.
— Você está bem?
— Sim, estou.
— Por que você fez isso? — Adrian se voltou na minha direção,
furioso.
Engoli em seco.
— Apenas respondi a ele o motivo de eu ter me casado com a sua
irmã e ter feito você ir embora, exatamente como me foi perguntado —
rosnei e inspirando profundamente, girei sobre os sapatos, lançando-me em
direção às escadas.
Quando cheguei ao meu quarto, pousei as mãos na cintura e respirei
fundo, andando de um lado a outro. Os meus olhos estavam ardendo e o
meu coração sendo esmagado dentro de mim.
Fechei os olhos por alguns segundos e me lembrei daquele dia. O
pior de toda a minha vida, o dia em que o perdi, sem saber se um dia teria a
chance de recuperá-lo. E apesar de ter acontecido há anos, aquilo ficou
gravado na minha cabeça e eu conseguia ver e ouvir tudo com perfeição:
— Então temos um acordo? — Ariane sorriu, empolgada, andando
de um lado a outro.
— Sim, temos. Vamos nos casar, morar na mesma casa, dormir em
quartos separados e você poderá continuar com o seu amado John Ken e eu
com o seu irmão — respondi, repetindo exatamente o que havíamos
combinado.
— Temos que tomar cuidado para que o meu pai não suspeite. —
Ergueu o indicador, cessando o passo.
— Ele ainda não engoliu a história dos quartos separados, mas, no
fim das contas, o que importa para ele é apenas um neto ou neta.
Ariane assentiu com a cabeça e pousou as mãos na cintura, exibindo
um sorriso travesso.
— John e eu iremos providenciar o neto ou a neta.
— Perfeito. Sendo assim, nós só precisamos contar ao Adrian e...
A minha voz falhou quando dona Carla entrou no quarto de Ariane,
pálida feito um papel. Ofegante, ela se aproximou de nós, com uma das
mãos no peito e os olhos cheios de lágrimas.
— A senhora está pálida, mamãe. O que aconteceu?
— O Adrian foi embora — contou, fazendo o meu coração
estremecer e as minhas pernas bambearem.
Foi ali, naquele instante, que o meu mundo desabou. O casamento
não podia ser desmarcado, afinal, tratava da sobrevivência da minha família
e eu não podia ir atrás dele, se fosse, tudo estaria arruinado para a minha
mãe e a minha irmã.
Restou a mim, sofrer em silêncio.
Um tempo depois do casamento, contratei inúmeros detetives para
encontrá-lo, mas todos falharam miseravelmente.
Pisquei algumas vezes, deixando aquelas memórias de lado. Quando
notei as lágrimas marcando a minha face, dei-me tapinhas no rosto e
respirei fundo, voltando a andar de um lado a outro no quarto.
— Sim, é verdade que a culpa foi minha, mas eu estava tentando
encontrar uma saída e ajeitar as coisas para nós — murmurei, sacudindo a
cabeça para os lados. — Eu nunca quis que ele fosse embora ou que
sofresse como sofreu.
Precipitei-me até o closet e parei na última porta. Assim que a abri,
abaixei-me e puxei a última gaveta. Depois de mexer em algumas fotos,
encontrei a pequena caixinha. Sentei-me no chão e a abri, vendo as duas
alianças, gravadas com os nossos nomes.
— Não mereço uma segunda chance, mas rezo todas as noites para
que você me dê outra oportunidade, meu amor — disse baixinho, unindo os
lábios.
Alguns minutos depois...
Quando perguntei a razão de o Levi ter socado o Kaius e ele virou
na minha direção, senti o meu estômago se contorcer. Aquela misto de
culpa, mágoa, tristeza e arrependimento que o seu rosto exibiu, doeu em
mim.
— Au! — reclamou Kaius, me fazendo recuar a mão que segurava o
algodão contra o seu nariz. — Pela sua cara, sei que está puto comigo.
— Não deveria ter dito aquilo a ele. — Sacudi a cabeça para o lado
e peguei mais uma bola de algodão, molhando-a no antisséptico, antes de
pressionar contra o seu nariz. Parecia que nunca iria parar de sangrar. — Ele
te machucou fisicamente, mas você tocou na ferida dele, lá dentro.
Kaius suspirou e tombou a cabeça para trás, apoiando a nuca no
estofado, com ele mesmo segurando o algodão com as pontas dos dedos.
— Fiquei irritado, ok? Ele age como se fosse o seu dono. — Franziu
a testa, inconformado. — Com que direito ele se comporta assim? Por causa
dele, você foi embora. Ele te machucou. Ele não te merece. — Enfim,
voltou o rosto na minha direção.
Puxei por fôlego e sacudi a cabeça para os lados, tentando ignorar
tais palavras. Fingindo que não as ouvi, pois o meu peito já doía o
suficiente.
— Fique quieto ou não irá parar de sangrar.
— Você ainda o ama, Adrian?
— Que diferença isso faz?
— Para mim, faz toda a diferença. Não tenho a menor chance de
competir com alguém que você ama — disse baixinho, abaixando a cabeça.
— Seria como dar uma flor para quem já tem um jardim.
Engoli em seco e virei o rosto para o lado, desviando o meu olhar do
dele.
— O nosso tempo juntos foi maravilhoso. Porém, você é a última
pessoa no mundo que tem moral para dizer que o Levi não me merece. Qual
a diferença de vocês dois? Ambos me abandonaram — sussurrei, cerrando
os punhos, sentindo os meus olhos arderem. — Aparentemente, tenho um
ímã para homens que se acovardam diante do primeiro problema.
— E-E-Eu te expliquei tudo quando voltei. — Ofegou, esfregando o
rosto com ambas as mãos. — Mesmo você estando com outro, eu vim até
você e me expliquei. Ele já se explicou?
— Tentou, mas não permiti. Esse assunto é muito sensível para mim
e ainda não estou pronto para lidar com a verdade — respondi baixinho.
— Você o ama? — insistiu, me fazendo girar o rosto em sua direção,
alinhando os nossos olhos. — Sim, você o ama — constatou o óbvio,
abaixando a cabeça. — Tenho muita inveja dele. Eu daria tudo para estar no
lugar do Levi. Não é muito, mas é tudo o que eu tenho — confessou com a
voz embargada.
Assumo que fiquei um pouco desconfortável. Não que ele tenha sido
desrespeitoso ou algo do tipo, mas os meus sentimentos não são recíprocos
e como alguém que já viveu a dor da rejeição, sei exatamente o que Kaius
está sentindo nesse momento.
Respirei fundo e pigarreei, mudando o rumo da conversa.
— Você me deixou plantado na porta da boate — reclamei,
pousando as mãos na cintura.
— Fui detido — contou, me fazendo arregalar os olhos. — É essa
foi a cara que eu fiz. Aparentemente fizeram uma denúncia anônima
dizendo que havia drogas no meu carro.
— E tinha?
— Cem gramas de maconha. — Riu, dando de ombros. — Como
sabe, eu gosto de fumar um baseado.
— A pergunta é como você foi solto. — Cruzei os braços, atento a
mais uma das suas peripécias jurídicas, como o bom advogado que é. —
Vamos, conte.
— Após uma série de ilegalidades na abordagem e condução dos
policiais, chegamos a um acordo quando o dia amanheceu. Em resumo,
ninguém denunciaria ninguém. — Sorriu, cheio de si. — Quando me
entregaram o celular, vi as suas ligações e no instante em que te liguei,
fiquei sem bateria e corri para vir me explicar. Eu não queria que fosse
como da última vez.
Ele retornou ao assunto...
— Ainda podemos, sei lá, sair para jantar. — Gesticulou com uma
das mãos e colocando-se de pé, parou diante de mim. — O que acha?
— É melhor não. A única coisa que vou conseguir é te magoar. —
Encolhi os ombros, sem tirar os olhos dele.
Os olhos de Kaius se encheram de lágrimas e ele soprou o ar preso
nos pulmões, pousando as mãos na cintura.
— Posso te pedir algo? — pediu, com a voz embargada.
— Sim, pode.
— Se for embora de novo, me leve com você.
— Caso aconteça, prometo tentar me lembrar do seu pedido, ok?
Kaius sorriu e assentiu com a cabeça. Ele deu um passo à frente e
roçou o polegar na minha bochecha, enquanto os lindos olhos caramelados
pareciam invadir a minha alma. Aos poucos, se inclinou e tocou os meus
lábios gentilmente, dando-me um selinho.
— Se vocês dois conseguirem se entender e, em algum momento
decidirem casar, me chame para o casamento. Vou amar te ver vestido de
noivo — disse, enquanto as primeiras lágrimas marcavam o seu rosto e,
sem dizer mais nada, recuou alguns passos. — Qualquer coisa, você tem o
meu número.
— Sim, eu tenho — Funguei, sentindo os meus olhos arderem. —
Desculpe por não conseguir atender as suas expectativas. Você é um bom
homem e vai encontrar alguém muito melhor que eu.
— Talvez.
Kaius deu de ombros e recuou mais alguns passos, sem tirar os
olhos de mim, antes de se virar e atravessar a porta principal, fechando-a
em seguida.
No entanto, as suas palavras continuavam perambulando pela minha
mente, enchendo-me de questionamentos e me lembrando do que
aconteceu.
Ele te machucou e não te merece.
Ele se comporta como se fosse seu dono.
Você foi embora por causa dele.
Os meus devaneios foram rompidos pelo som da gargalhada que
ecoava atrás de mim, seguida por passinhos. Ao girar o corpo, vi Gael
correndo, todo sorridente e assim que se aproximou, abraçou as minhas
pernas.
— Oi, titio. — Mostrou os dentinhos, aquecendo o meu coração.
— Oi, meu amor — respondi, o pegando no colo, dando beijinhos
na sua bochecha, arrancando-lhe mais algumas gargalhadas. — Está
correndo de quem?
— Da vovó. — Apontou com o dedinho na direção da segunda sala
e não demorou muito para que mamãe surgisse, ofegante. — A vovó. —
Balançou o dedinho na direção dela.
— Estou muito velha para brincar de correr — resmungou mamãe,
ofegante, me fazendo segurar o riso. — Vamos tomar banho?
— De novo?
— Como assim de novo? — Mamãe se aproximou, pousando as
mãos na cintura, indignada. — Você tomou banho ontem, antes de dormir.
— Unhum. — Gael confirmou com a cabeça, me arrancando uma
gargalhada.
— O titio acabou de sair do banho. Estou cheiroso? — Ergui o
pescoço, sentindo aproximar o rostinho do meu pescoço, fungando feito um
cachorrinho.
— Que cheiroso!

— Viu só? Tem que tomar banho. Se você não tomar banho, não vai
crescer e não vai ficar alto igual ao papai — disse, o vendo abrir a boca,
espantado.
— Vovozinha, o Gael tem que tomar banho para ficar grande. —
Voltou-se a mamãe, esticando os braços em sua direção.
Mamãe se aproximou e o pegou no colo, dando-lhe um beijo
estalado no rosto.
— É isso mesmo, meu príncipe — confirmou mamãe e jogando-me
uma piscadela, adiantou-se em direção às escadas, enquanto Gael se
despedia, acenando com uma das mãozinhas. — Vamos encher a banheira
com patinhos, tá bom?
— E-E-E muitos patinhos e muitos coelhinhos.
— Os coelhinhos não sabem nadar.
— É de borracha, vovó.
— Sério?! — Mamãe fingiu surpresa, arrancando-lhe uma
gargalhada. — Pensei que fossem de verdade.
— Não, vovó. O papai falou que é de borracha.
— Esse papai é muito esperto mesmo.
— O Gael também. — Apontou para si mesmo, arrancando um
largo sorriso do rosto de mamãe.
O meu coração ficava quentinho ao vê-la bem. Os primeiros dias do
luto foram difíceis, mas mamãe se apegou ao que ela tem de mais
importante para seguir em frente. Essa criança, esse menino, é o maior e o
melhor presente que Ariane poderia ter nos deixado.
Sem ele, essa casa seria sem vida, um mausoléu fantasma, cujas
paredes coloridas, aos nossos olhos, seriam em preto e branco. É como
dizem, crianças são pequenos anjos, enviados à Terra, para iluminar os
nossos dias.
Aos pequenos ensinamos e com eles aprendemos. A ser mais
humanos, amorosos, prestativos, cuidadosos, sinceros, verdadeiros e,
principalmente, a proteger aqueles que são especiais para nós.
Sem esses pequenos anjos, nós, como seres humanos, já teríamos
falhado o suficiente para encarar o nosso fim, sem qualquer chance de
salvação.

Um pouco mais tarde...


Aproveitei que a noite havia caído e me sentei na poltrona que
ficava na sacada do meu quarto, usando uma cueca samba-canção e um
roupão de seda, que deixei desamarrado. Peguei o diário de Ariane,
mirando a sua capa, sem me atrever a abri-lo novamente.
O meu coração continuava apertado pelo que aconteceu ontem à
noite. Há um crescente conflito dentro de mim. Amo esse homem, como
nunca amei outro — nunca houve outro. Desejo com todas as minhas forças
que ele esteja comigo e que me faça seu pelo resto das nossas vidas. Ao
mesmo tempo, também há culpa, vergonha e o sentimento da traição, de
roubar alguém que já foi de uma pessoa amada por mim.
Como disse Sófocles: Não existe testemunha mais terrível —
acusador mais poderoso — do que a consciência que habita em nós.
Deixei o diário de lado e peguei o meu celular. Abri o aplicativo de
mensagens e depois de pensar um pouco, inspirei profundamente,
enchendo-me de coragem para enviar aquela pergunta para as minhas três
melhores amigas de “assalto”.
Quando fizemos aquela promessa de viver intensamente, não
estipulamos regras ou condições. Por esse motivo, quero saber a opinião
delas sobre a minha situação.
Após alguns segundos, pensando em cada palavra que iria usar,
digitei a mensagem e a enviei. A mesma para cada uma das três.
Adrian: O primeiro amor da sua vida se casou com alguém muito
importante para você. Agora ele se encontra viúvo e quer uma segunda
chance, um recomeço. O que você faria?
Permaneci por longos minutos segurando o celular, com os olhos
fixos na tela, ansiando por uma resposta, que não demorou a chegar.
Berlin: Vocês se amam de verdade? Porque em caso positivo, para
que pensar tanto? A cabeça da gente fica criando problemas onde não
existem. Se o amor é recíproco, se joga. Se você não ficar com ele, outro
aparecerá. Agarre a sua chance de ser feliz. A história dele com a esposa
acabou. Você não está entrando no caminho de ninguém. Ambos são livres.
Senti os meus olhos arderem, com um sorriso bobo tomando o meu
rosto. A segunda resposta veio instantes depois de eu ler a primeira.
Beatrice: Amigo, o amor muitas vezes dá voltas e mais voltas, mas
ele sempre para onde deve parar. Como uma andorinha que voa milhares de
quilômetros, faça chuva ou faça sol, durante o frio e a tempestade, no fim
da sua grande migração, ela volta exatamente ao mesmo ninho onde nasceu.
Pisquei algumas vezes, segurando as lágrimas, sentindo o meu
coração bater mais forte e lento. O sorriso no meu rosto se alargou um
pouco mais quando a última mensagem chegou.
Lindsey: Meu amigo, quando duas pessoas estão destinadas a se
amar, nada impedirá que a semente do amor germine, cresça e floresça.
Passe dias, semanas, meses ou anos, aquela árvore que cresceu no seu
coração está pronta para dar frutos, então, por que negar a colheita àquele
que você ama, quando vocês dois podem finalmente desfrutar dessa nova
chance que o destino lhes deu?
Sem conseguir me segurar, as lágrimas escaparam, marcando o meu
rosto. Tristeza e alegria se chocavam dentro de mim, disputando por
domínio. As doces memórias dos nossos beijos, das juras de amor e dos
muitos sorrisos e olhares que trocamos incontáveis vezes me tomaram.
Funguei algumas vezes e depois de enxugar o rosto com ambas as
mãos, respondi a cada uma delas, agradecendo pelas suas respostas.
Coloquei-me de pé e deixei o diário em cima da poltrona. Outra
hora voltarei à leitura. Nesse momento preciso pensar um pouco e...
Os meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi a porta do
quarto se abrir, fechando-se logo em seguida. Era ele, usando um roupão
como o meu, combinando-o com um short curto e fino. Assim que o seu
rosto me encontrou, ele arregalou os olhos, apressando-se ao meu encontro.
— O que foi? Por que está chorando? — perguntou baixinho, aflito,
roçando o polegar na minha bochecha.
Abracei-o pela cintura, afundando o meu rosto no meio do seu
peitoral. O seu cheiro invadiu as minhas narinas, arrepiando-me inteiro, me
fazendo queimar de dentro para fora. Com a boca seca, afastei-me um
pouco e distribuí beijos pelo seu peitoral e ao erguer o rosto, fiquei na
pontinha dos pés, o suficiente para tocar os seus lábios com os meus,
chupando-os.
— Faça amor comigo como se fosse a nossa última vez — pedi sem
tirar os olhos dele e dando um passo para trás, movi os ombros, fazendo
com que o roupão deslizasse pelo meu corpo, caindo no chão.
— O que está acontecendo? — Franziu a testa, com a respiração
acelerada. — Não, não me diga que vai embora de novo. Não faça isso
comigo, por favor — suplicou e no mesmo instante, se ajoelhou diante de
mim, mirando-me com os olhos marejados. — Está se culpando por termos
dormido juntos, não é? Fique e eu juro que irei me contentar em apenas te
olhar.
— Não está acontecendo nada. Só quero que você faça amor
comigo, até o dia amanhecer — repeti o meu pedido e ao tocar o seu rosto,
um sorriso tomou os meus lábios. — Eu te amo tanto, tanto, meu amor.
Um sorriso surgiu em meio as lágrimas de Levi, que se colocou de
pé. Os seus olhos se alinharam aos meus e o dorso da sua mão tocou a
minha pele, como ele sempre fazia, aquecendo-me com aquele sentimento
caloroso que me atravessava como um carinho contínuo e aconchegante.
— Até o amanhecer ou até você adormecer nos meus braços —
sussurrou e tomando as minhas mãos junto das suas, recuou alguns passos,
sentando-se na beirada da cama.
Ele se comporta como se fosse o seu dono...
As palavras de Kaius retornaram, atingindo-me novamente. Dessa
vez, arrancando-me um sorriso de alegria. Sim, o Levi se comporta como se
fosse o meu dono, pois ele sabe que é.
Nunca houve outro, nem haverá.
“... eu te amo tanto, tanto, meu amor”.
As suas palavras continuavam ecoando na minha mente,
incendiando o meu coração, com o seu fogo se alastrando pelas minhas
veias, deixando-me em estado de pré-erupção. Ninguém além de Adrian
tem poder sobre mim. Sem nem mesmo pedir, me vejo de joelhos na sua
frente, à sua mercê e vontade, deixando claro que sou um homem
completamente rendido. Em outras palavras, um “cadelinho” ou como
prefiro “um cachorrão”.
Ele sorriu e aconchegou-se em cima do meu colo, passando os
braços ao redor do meu pescoço. Automaticamente pousei as mãos na sua
cintura e ao descer uma delas, estapeei o seu traseiro com força,
arrancando-lhe um gemido.
— Diga de novo, por favor — pedi baixinho.
Adrian sorriu e assentiu com a cabeça.
— Eu te amo muito, meu...
O meu coração disparou e no instante seguinte, sequer lhe dei tempo
para terminar a frase. Avancei, colando as nossas bocas. Chupei os seus
lábios com gula, puxando-os na minha direção e quando me cansei, segurei
o seu maxilar, apertando-o gentilmente e chupei a sua língua por longos
segundos.
Quando soltei o seu maxilar, pude admirar o seu rosto corado,
percebendo a sua respiração ofegante. Adrian ofereceu-me um lindo sorriso
e eu prontamente coloquei a língua para fora, o vendo morder o lábio
inferior.
— A sua língua também é enorme. — Encolheu os ombros,
deslizando as mãos pelo meu peitoral, acariciando-o. Como resposta, fiz a
ponta da minha língua tocar o meu queixo, o fazendo arfar.
— Não vai medir a minha língua igual fez com o meu pau? —
Arqueei uma das sobrancelhas.
— Levi! — exclamou, arregalando os olhos, com o seu rosto
ficando completamente vermelho.
Segurei o riso e sem conseguir me conter, tomei os seus lábios
juntos aos meus, mais uma vez. Deslizei a mão esquerda da sua nuca até a
sua bunda, estapeando-a mais uma vez e, em seguida, a enfiei dentro da sua
cueca samba-canção, tocando o seu cu com a ponta dos dedos,
massageando-o em movimentos circulares e gentis.
Afastamos as nossas bocas, trocando um sorriso. Adrian seguia
puxando por fôlego, acabando por exibir uma expressão de prazer quando
forcei mais os dedos contra a sua entrada, colocando um pouco de força na
massagem.
— Alguém faz como o seu homem?
— Ninguém — respondeu, mordendo o lábio inferior.
Passei a língua pelo lábio inferior e de súbito, nos virei em cima da
cama, ficando por cima dele. Sem cessar a massagem no seu cuzinho, rocei
o dorso da mão livre contra o seu rosto e ao aproximar os lábios,
mordisquei o seu queixo algumas vezes, sem tirar os olhos dele.
O rosto corado, as mechas de cabelo caídas sobre o seu rosto e
aquela expressão doce, completamente vulnerável a mim, faziam o meu pau
explodir em pulsadas dentro da cueca. Ao afastar os lábios do seu queixo,
subi a língua por dele, esfregando a sua ponta contra os seus lábios e me
afastei de súbito, ficando de pé em frente à cama. Girei o indicador, pedindo
para que ele ficasse em outra posição.
Adrian prontamente atendeu ao meu pedido e se virou na cama,
deixando a cabeça em sua beirada. Inclinei-me uma última vez e chupei os
seus lábios, antes de retirar o meu short curto e jogá-lo para o lado. Segurei
o meu pau pela base e o bati na mão, ouvindo o som ecoar pelo cômodo.
— Abra a boca, meu amor.
Primeiro ele sorriu e depois abriu a boca, arrancando-me um arrepio
dos pés à cabeça. Dei um passo à frente e me abaixei, encaixando a cabeça
do meu pau entre os seus lábios, sentindo-o sugar com vontade, me
arrancando gemidos. Apoiei ambas as mãos no colchão e comecei a mover
os quadris, sentindo-o engolir cada centímetro da minha rola.
Aumentei o ritmo aos poucos, forçando o meu pau cada vez mais
fundo e quando chegou ao fundo da sua garganta, o deixei lá por alguns
segundos, fazendo-o pulsar, alargando-a. Tomado pelo tesão, retomei as
estocadas, naquele vai e vem lento, obrigando-o a agasalhar todo o meu
pau.
Quanto mais eu socava, mais ansiava por continuar dentro, mas ao
sentir os seus tapas na minha coxa, recuei, deixando-o cuspir o meu pau,
ligado aos seus lábios por alguns fios de saliva. Inclinei-me novamente e
chupei os seus lábios.
— Chega?
Ele sacudiu a cabeça para os lados e abriu a boca novamente, me
fazendo fervilhar de tesão. Retomei a posição de antes e o invadi, mais uma
vez. Sentir o meu pau pulsar no fundo da sua garganta era delicioso. O
ritmo se intensificou, com o som molhado das minhas estocadas inundando
as minhas orelhas e, sem conseguir me conter, forcei o meu pau ao fundo,
sentindo-o pulsar com força, me fazendo revirar os olhos.
— Oh! — gemi alto, revirando os olhos, sentindo os primeiros jatos
de gozo explodirem. — Engula tudo, meu amor.
Quando o último jato foi cuspido, afastei-me lentamente, deixando a
cabeça do meu pau entre os seus lábios, observando Adrian sugá-la com
gula, em meio à tosse e às lágrimas que marcavam o seu belo rosto. Às
vezes, os seus lábios iam até a metade, mas recuavam, com ele se
dedicando apenas com a minha glande, pressionando a sua fenda com a
língua.
— Quer mais, meu putinho?
Ele cuspiu o meu pau e o segurou pela base, beijando a sua cabeça
algumas vezes e, em seguida, se endireitou na cama. Depois de tirar a cueca
samba-canção e jogá-la para o lado, aconchegou a cabeça em um
travesseiro e se posicionou de lado na cama. Em seguida, puxou a dobra da
perna e a ergueu, exibindo aquele pequeno cu rosado e piscante para mim.
— Quero aqui, meu amor — respondeu, mirando-me com aqueles
grandes olhos acinzentados, que pediam por rola. Ao esticar uma das mãos,
esfregou os dedos contra o cuzinho, sem tirar os olhos de mim. — Vem,
amor — pediu, todo manhoso.
Por um segundo, senti as minhas pernas ficarem bambas.
— Desse jeito eu fico louco — sussurrei e subindo na cama,
engatinhei, aconchegando-me atrás dele. Beijei o seu pescoço e segurei o
meu pau pela base, esfregando-o contra a sua entrada. — É por isso que
quando faço amor com você, quase te rasgo no meio. Você fica me
provocando — sussurrei, lhe arrancando um sorrisinho.
— Gosto do seu jeito bruto de fazer amor comigo — respondeu
baixinho e girando o rosto na minha direção, selou os meus lábios. —
Coloque logo em mim.
— Se pedir de novo, vou te rasgar. — Ofeguei, forçando a cabeça
do meu pau contra o seu cuzinho, o vendo fechar os olhos e tombar a
cabeça para trás, mordendo o lábio inferior.
— Desta vez, vou te deixar entrar com força — retrucou, me
arrancando um sorriso bobo. — Quer ouvir o seu nome? Faça o que
mandei.
Naquele momento, o meu coração chegou a errar as batidas. Forcei
o quadril para frente, deixando a minha glande pressionada contra o seu cu
e o abracei pela cintura, garantindo que ele não pudesse fugir.
— Vai doer um pouco — sussurrei em sua orelha e o segurando com
força junto a mim, movi o quadril para frente, forçando o seu anel a se abrir
para me receber. — Só vou parar quando estiver todo dentro de você.
— Ai — gemeu manhoso, segurando o meu braço com força.
— Você gosta quando dói, não é? — Rocei a barba rala no seu
pescoço, sentindo a cabeça entrar. — Oh, amo te abrir assim!
Recuei um pouco e ao avançar novamente, entrei de uma vez,
afundando-me dentro dele, forçando ao fundo. Adrian soltou um gritinho
agudo e ao puxar o meu braço que o segurava pela cintura, o mordeu com
força, com algumas lágrimas marcando o seu rosto. Admito que doeu um
pouco, mas ignorei a dor e iniciei as estocadas.
Eram fortes, lentas e faziam o seu corpo ir e vir em cima do colchão.
Os seus gemidos, mesmo abafados, começavam a escapar, deixando-me
ainda mais excitado. Depositei alguns beijos no seu pescoço, aumentando o
ritmo, sentindo o seu cu me apertar com mais força que antes.
— Está tão gostoso — choramingou, ofegante. — Ainda está
ardendo, mas... — soltou um gritinho quando me afundei dentro dele,
fazendo o meu pau pulsar lá no fundo. — Isso, assim mesmo, meu amor.
— Só eu faço do jeito que você gosta. — Estoquei com mais força,
ouvindo-o gritar novamente, sentindo-o sufocar o meu pau de uma forma
tão gostosa, que gemi junto. — Apenas o seu dono sabe te dar prazer! —
Estoquei novamente, arrancando-lhe mais um gritinho.
— Sim, só o meu dono — respondeu ofegante e espiando-me por
cima do ombro, exibiu o rosto molhado por lágrimas, vermelho e com
alguns resquícios de suor. — Mais, meu amor. Eu quero mais!
Queimei dos pés à cabeça e sem me conter mais, ignorando a
preocupação constante em acabar o machucando, explodi em estocadas. Os
meus quadris moviam-se para frente e para trás com força e velocidade,
indo ao fundo, arrancando-lhe gemidos contínuos, às vezes gritinhos
agudos, mas ele não saiu do lugar.
O meu nome começou a ecoar pela sua boca, arrancando-me um
sorriso genuíno e a cada vez que ele soletrava “Levi”, eu me afundava nele,
fazendo-o choramingar, ao mesmo tempo em que o seu anel apertava o meu
pau.
— E-E-Eu vou gozar — anunciou, ofegante.
— Eu também — retruquei, mantendo o ritmo das estocadas.
Os segundos seguintes foram tomados pelos nossos gemidos e, em
meio às estocadas, o meu pau explodiu em pulsações, fazendo-me afundar
dentro dele, com os primeiros jatos de gozo jorrando em seu interior. Os
seus gemidos ficaram mais altos e foi quando vi o seu cacete cuspir jatos de
porra, um atrás do outro, com os seus gemidos manhosos tomando as
minhas orelhas.
Ofegantes, voltei a roçar os lábios em seu pescoço, sentindo o seu
cuzinho continuar a apertar o meu pau, pedindo por mais. Retomei os
movimentos, num vai e vem lento e carinhoso.
— Quer que eu pare?
— Não, continue. Quero sentir todo o seu amor, até não aguentar
mais. — Espiou por cima do ombro, me oferecendo aquele sorrisinho
pervertido. Levei os lábios de encontro aos seus, chupando-os. —
Devagarzinho, por favor.
— Sempre farei do jeito que você quiser — sussurrei, o vendo
assentir com a cabeça, diminuindo o ritmo um pouco mais.
A noite se tornaria pequena para nós dois. Todo o amor guardado há
anos dentro de nós estava suplicando para sair e, mesmo que quiséssemos
adiar esse evento, quando o amor desperta, nada pode segurá-lo.
Acordado há alguns minutos, permaneci deitado na cama, com um
lençol fino me cobrindo da cintura para baixo. Os meus olhos estavam fixos
no teto, mas a minha mente continuava nele, assim com o meu coração.
É como um sonho e, infelizmente, em algum momento eles chegam
ao fim. Torço para que esse seja uma exceção e dure para sempre.
Quando a porta do quarto se abriu, girei o rosto em sua direção, o
vendo entrar com uma bandeja de café da manhã em mãos, arrancando-me
um sorrisinho de canto. Depois de fechar a porta, ele se adiantou até a
cama, deixando a bandeja em uma das pontas e se sentou ao meu lado.
— Bom dia, meu amor. — Inclinou-se, selando os meus lábios,
antes de chupá-los, puxando-os em sua direção. Ao se endireitar, pegou a
bandeja e a colocou entre nós. — Trouxe leite queimado, torradas, geleias e
algumas frutas. Exatamente como você gosta.
— A primeira vez que tomei leite queimado foi com você e eu amei.
— Uni os lábios e me sentei no colchão, vendo um sorriso pervertido tomar
os seus lábios, me fazendo corar. — Você é mesmo um idiota!
— Eu não disse nada.
— Pensou!
Levi segurou o riso e confirmou com um aceno de cabeça, me
fazendo afinar os olhos. Em seguida, ele pegou uma torrada, passou um
pouco de geleia e a aproximou da minha boca.
Assim que a mordisquei, senti o meu rosto esquentar. Era doce, mas
tinha um suave ardor. Se não me engano é geleia de morango com pimenta.
— Muito bom.
— Agora essa aqui. — Ofereceu-me outra torrada, cuja geleia tinha
uma cor amarelada, com alguns pontinhos verdes.
Mordisquei a outra torrada, sentindo um doce mais suave, misturado
com certo frescor. Assenti com a cabeça e levei o rosto para frente,
abocanhando o restante da torrada. Acabei segurando o seu pulso e assim
que terminei de mastigar e engolir a torrada, chupei os seus dedos
lambuzados com geleia.
— Estava sujo — disse sem tirar os olhos dele, o vendo me encarar
todo bobo.
— Aqui também está sujo, meu amor — retrucou e enchendo a
espátula com geleia, puxou o short e no instante seguinte, ameaçou jogar
geleia dentro ele. Pigarreei, afinando os olhos. — O quê? Foi você quem
começou.
— Você é mesmo um idiota, mas eu adoro esse seu lado bobo —
disparei, aos risos.
— Só um pouquinho. — Sorriu, levando a espátula com geleia à
boca, sem tirar os olhos de mim. — Essa geleia de maracujá com hortelã é
muito boa.
Servi-me um pouco de leite e comi mais duas torradas, antes de
findar o café da manhã com algumas frutas. Em determinado momento,
percebi que Levi parecia um pouco distante, pensativo.
— O que foi?
— Eu estava pensando em como seria fofo se o Gael te chamasse de
papai — disse ao se voltar a mim, me fazendo arregalar os olhos. — Ele
teria dois papais.
Inspirei profundamente, sentindo uma fisgada acertar o meu peito.
Sei que a intenção dele não foi essa, mas, por um momento, me senti como
um usurpador, ocupando um lugar que não me pertence.
— Quando as aulas voltam? — Mudei de assunto, o vendo engolir
em seco, assentindo com a cabeça.
— Daqui uma semana. A sua mãe e eu andamos conversamos e
talvez o deixemos mais alguns dias em casa. — Cruzou os braços, sem
parar de balançar a cabeça. — Crianças não tem filtro e quando ele
comentar com os coleguinhas sobre a mãe ter ido morar no céu, já consigo
prever o que irá acontecer.
— Infelizmente, isso é inevitável.
— Estou ciente, mas é que... Quero proteger o meu garotinho —
respondeu, esboçando um sorriso gentil. — Não quero que o Gael sofra
mais do que já sofreu. Os últimos dias foram tranquilos, no entanto, a
psicóloga nos alertou de que uma crise pode acontecer a qualquer momento.
— Vamos tentar evitar isso ao máximo, mas caso aconteça, iremos
ampará-lo de todas as formas possíveis.
— Obrigado — sussurrou, mirando-me com ternura. — Sabe o que
me deixa muito feliz?
— O quê?
— Saber que você ama o Gael como se ele fosse seu.
— Ainda bem que você sabe que eu o escolheria ao invés de você
— retruquei, arrancando-lhe um largo sorriso.
— Para mim está perfeito assim.
— Eu sei.
Levi pegou a bandeja e a colocou atrás dele e voltou-se a mim, com
os olhos faiscantes. Ainda em silêncio, avançou de quatro em cima da
cama, me arrancando uma gargalhada.
— Sabe o que também seria perfeito? — Sua voz soou mais sexy do
que de costume, me arrepiando inteiro. — Podemos aproveitar que você
ainda está nu e... — Fez uma breve pausa, deixando o rosto diante do meu.
— O que acha?
— Por acaso a sua intenção é me deixar sem andar? — Ergui as
sobrancelhas, arrancando-lhe uma gargalhada sincera, ao ponto de fazê-lo
perder a postura. — Não ria, eu estou falando sério.
— Tento sempre ser carinhoso — defendeu-se, me fazendo afinar os
olhos. — Ok, em alguns momentos eu me empolgo, mas é que eu amo te
fazer gritar de prazer — sussurrou aquela última parte, arrancando-me mais
um arrepio.
O meu rosto estava ardendo como brasa e os seus olhos cintilavam
com mais intensidade, fazendo a minha respiração oscilar.
— Titio! — O grito infantil me fez girar o rosto na direção da porta.
— Acorda titio! — insistiu, dando tapinhas contra a madeira.
— O titio já está indo. — Ergui o tom de voz para que ele me
ouvisse e, em seguida, voltei-me a Levi. — Se esconda em algum lugar.
— Sério?
— Sério!
Levi revirou os olhos, saltou da cama, apressou o passo em direção
ao closet e assim que entrou, fechou a porta. Coloquei-me de pé e me
apressei pelo quarto, catando as peças de roupa jogadas no chão, vestindo-
as. Precipitei-me em direção à porta e assim que a abri, vi Gael exibindo
aquele lindo sorriso que preenchia o seu rostinho.
— Bom dia — disse ao abraçar as minhas pernas, erguendo o
rostinho para cima, mirando-me. — V-V-Você já tomou café?
— Sim, meu amor e você? — Pousei a mão em sua cabeça,
afagando os seus cabelos.
— Não.
— O papai sumiu — contou, gesticulando com as mãozinhas para
os lados, me fazendo engolir em seco.
No instante em que pensei em dizer algo, mamãe surgiu atrás de
Gael. Os seus olhos se encontraram aos meus e, em seguida, fixaram-se na
bandeja em cima da cama, com café da manhã para dois.
O meu coração parou por um segundo. Puxei por fôlego e me voltei
na direção dela, assentindo com a cabeça algumas vezes, sem saber o que
dizer.
— Vamos descer para tomar café, príncipe da vovó — disse mamãe,
pegando Gael no colo. — Caso veja o Levi, diga que o Gael quer sair para
passear.
— O Gael quer passear — emendou Gael, apontando para si
mesmo.
— Se por um acaso eu o vir, darei o recado — Encolhi os ombros,
cruzando os braços.
— Obrigada, meu amor — respondeu mamãe, me jogando uma
piscadela.
Assim que dona Carla retomou o passo pelo corredor, soltei o ar
preso nos pulmões. Fechei a porta e fiz um exercício de respiração,
contando de um até dez, antes que tivesse um ataque. Era óbvio que, em
algum momento, acabaríamos sendo flagrados.
— Já pode sair — avisei.
Levi deixou o closet e veio até mim. No momento em que me
preparei para lhe dar uma bronca e dizer que ele estava proibido de visitar o
meu quarto, o senti me puxar pela cintura, deixando o meu corpo mole.
Depois de selar os meus lábios algumas vezes, ele me soltou e abriu
a porta. No entanto, antes de sair, deu-me mais um beijo no rosto.
— Nos vemos lá embaixo?
— Só vou tomar banho.
— Ok, acho que vou ficar e tomar banho com você — sugeriu, me
fazendo afinar os olhos. — Pensando bem, é melhor não, né? Vai que
alguém invade o banheiro e nos vê juntos.
Arqueei uma das sobrancelhas e apontei o indicador em direção ao
corredor.
— Também te amo. — Aproximou-se mais uma vez e depois de
chupar os meus lábios, disparou pelo corredor, aos risos.
— Quase um adolescente de quarenta anos — murmurei, mordendo
o lábio inferior.
Ao fechar a porta, respirei fundo, sentindo aquela sensação quente
me tomar, aquecendo o meu coração. Pousei as mãos na cintura e assenti
com a cabeça.
— Sim, como as minhas amigas disseram, eu também tenho o
direito de ser feliz — disse a mim mesmo.

Uma hora depois...


Desci para o térreo e deparei-me com mamãe sentada no sofá,
observando Gael experimentar os óculos sem lente. Havia vários deles em
cima do sofá.
— Esse, vovó?
— Não, esse não combinou, meu príncipe — respondeu, mantendo
as pernas cruzadas.
Gael pegou outro par de óculos, um de cor preta e com um pouco de
esforço, o colocou no rosto. Em seguida, parou mais uma vez na frente de
mamãe.
— E-E-E agora?
— Perfeito! — Mamãe bateu palmas, fazendo com que Gael desse
alguns pulinhos, eufórico por conta da escolha. — Vá mostrar ao papai.
Sem qualquer hesitação, ele disparou em direção à segunda sala, me
fazendo espiá-lo. De longe, pude ver Levi andando de um lado a outro com
o celular na orelha.
— Está lindo, meu filho — elogiou mamãe, me fazendo girar o
rosto em sua direção. — Vocês dois já se entenderam? — A pergunta veio
de supetão, me fazendo abaixar a cabeça, envergonhado. — Ora, o que foi?
— A senhora não está chateada comigo? — gemi, cerrando os
punhos.
— Por ir atrás do amor da sua vida? Não.
No mesmo instante, ergui o rosto, mirando-a. Um pouco surpreso
com a sua resposta, dei mais alguns passos e sentei no sofá, ao seu lado.
— Esqueceu-se do que falei, aqui nesse mesmo sofá, quando
voltamos do velório da sua irmã? — Assenti com a cabeça, engolindo em
seco. — Ariane e Levi nunca foram um casal.
— Isso não faz o menor sentido. — Franzi a testa, balançando a
cabeça para os lados — Estou ciente de que a senhora quer que eu fique,
mas agir dessa forma, não vai ajudar.
— Dessa forma como? — Arqueou uma das sobrancelhas,
claramente irritada.
— Como se não fosse nada demais dormir com o viúvo da minha
irmã — disse baixinho, como se fosse um segredo.
Mamãe revirou os olhos e respirou fundo.
— Você leu o diário que eu te entreguei?
— Ainda estou lendo — respondi, piscando algumas vezes. — Por
que a pergunta?
— Como eu disse antes, não o li, mas a minha intuição diz que as
suas perguntas serão respondidas naquelas páginas, seja o que for que tenha
nelas.
Engoli em seco, assentindo com a cabeça.
A conversa acabou sendo interrompida quando Levi se aproximou
com o Gael no colo, parando próximo a nós.
— Vamos, titio? — Levi mirou-me rapidamente, antes de se voltar a
minha mãe. — Quer ir também, vovó?
— Vamos! — repetiu Gael.
— A vovó vai ficar em casa, mas o titio vai com vocês — respondeu
mamãe, colocando-se de pé. Ao se aproximar de Gael, deu um beijo no seu
narizinho, arrancando-lhe uma gargalhada gostosa. — Vai me trazer um
docinho?
— E-E-Eu vou, vovó.
— Vou ficar esperando, tá?
— Tá bom. — Assentiu com a cabeça.
Mamãe apressou o passo em direção à segunda sala e eu me
coloquei de pé, enfiando as mãos no bolso da calça, mirando Levi, que
seguia com os olhos fixos em mim.
— Amamos muito o titio, não é, campeão?
— Muitão, papai — confirmou Gael, assentindo com a cabeça,
esticando os bracinhos na minha direção.
Peguei-o no colo, enchendo o seu rostinho de beijos, arrancando-lhe
mais gargalhadas.
— O titio também ama vocês muito — respondi, vendo Levi ajeitar
o paletó, pigarrear e, por fim, exibir um sorrisinho de canto. — Convencido
— rosnei.
— Só um pouquinho. — Jogou-me uma piscadela e girou em
direção à porta, acelerando o passo. — Por favor, me acompanhem, meus
amores. Estou muito ansioso para o nosso primeiro dia como uma família.
“... o nosso primeiro dia como uma família”.
“... o nosso primeiro dia como uma família”.
“... o nosso primeiro dia como uma família”.
Sabe quando o seu coração dispara e tudo ao seu redor parece um
filme em câmera lenta, enquanto você ouve as suas próprias batidas
ecoaram em seus ouvidos? Era exatamente o que estava acontecendo
comigo.
Ele cessou o passo de súbito e se virou lentamente na nossa direção.
O sorriso se abrindo aos poucos, antes de as suas mãos pousarem na cintura,
me fez arfar. Os seus grandes olhos-castanho-claros brilhavam como duas
grandes estrelas flamejantes e, por mais que eu tentasse, não conseguia
desviar o nosso olhar.
— Quer que eu te leve no colo? — perguntou, me tirando daquele
transe.
— Não, não precisa. — Sacudi a cabeça, sentindo o meu rosto
queimar de vergonha, enquanto o seu sorriso se alargava um pouco mais.
Ainda não sei explicar o que aconteceu ontem à noite. Foi como se,
enfim, tivéssemos nos reconciliados. É óbvio que em algum momento
iremos conversar sobre tudo, para que não fique nenhuma dúvida, mas sinto
que podemos ir em frente e que não há nada nos impedindo, não mais.
Voltei o meu olhar para a piscina de bolinhas, que contava com
poucas crianças e um Adrian eufórico, correndo atrás do Gael que se
acabava de gargalhar. Suspirei e mantendo os braços cruzados, continuei a
admirá-los brincando, rindo, jogando bolinhas um no outro.
Esse é o meu paraíso, o meu céu, o motivo do meu respirar. A visão
diante de mim é tudo o que eu sonhei, desde o dia em que espiei por cima
da cerca viva — quando ela ainda era menor — que separava as nossas
propriedades e vi aquele anjo de cabelos anelados e loiros sentado no banco
do jardim, olhando na minha direção.
São momentos como esse que nos lembram a importância da nossa
família. Ter um lugar para onde voltar, com lindos sorrisos te recebendo, faz
toda a diferença na vida de um homem. Na verdade, é a família que ensina
um homem a ser verdadeiramente homem, pois, pela família, faríamos
qualquer coisa.
Qualquer coisa mesmo.
— Vou te pegar — avisou Adrian, aos risos, arrancando mais uma
gargalhada de Gael, que se apressava em sair da piscina de bolinhas.
— E-E-Espera eu sair — pediu Gael, finalmente deixando a piscina
de bolinhas, indo em direção ao gigantesco tobogã de lona. — Agora pode,
titio — gritou, gargalhando um pouco mais.
Um sorriso bobo tomou o meu rosto e rapidamente descruzei os
braços. Enfiei a mão no bolso e peguei o aparelho celular, tirando várias
fotos daqueles dois juntos.
Quase trinta minutos depois, Adrian deixou o espaço infantil
exausto e se aproximou, parando ao meu lado. O seu rosto estava um pouco
vermelho e a testa suavemente molhada com suor.
— Acho que ele vai demorar a se cansar — comentou, ofegante,
parando ao meu lado.
— Da última vez, ele ficou três horas aí dentro — contei. Adrian
ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Esse não é nem de longe o recorde do
Gael.
Adrian sorriu e respirou fundo mais uma vez, acenando na direção
de Gael, que acenava para nós. Também acenei, observando-o começar a
subir as escadas para descer no tobogã, sendo acompanhado por um dos
funcionários do espaço infantil.
— Eu amo tanto esse menino.
— O nosso menino. — Espiei-o rapidamente, arrancando-lhe um
sorriso tímido. — Estive pensando e acho que seria bom aproveitarmos as
minhas férias para fazermos uma viagem. Eu, você, o Gael e a dona Carla.
— E onde nós iríamos?
— Tenho certeza de que vocês dois vão pensar em lugares
maravilhosos.
Adrian uniu os lábios e pousou as mãos na cintura.
— A Disney é uma parada obrigatória.
— Inegociável — concordei.
— Será que... — Fez uma breve pausa, me fazendo girar o corpo em
sua direção, rendendo-lhe minha total atenção. — Um dia ele gostaria de
me chamar de papai?
Aquela pergunta me deixou genuinamente feliz.
— Acho que sim. Quer dizer, sinto que ele gosta mais de você do
que de mim.
— Gosto quando as pessoas perguntam se ele é meu filho. Sinto
uma coisa tão boa — confessou, encolhendo os ombros.
— Ficar comigo significa escolher nós dois e, por consequência,
você também será pai dele — sussurrei e tocando o seu rosto com o dorso
da mão, alinhei os nossos olhos, vendo os dele se encherem de água. —
Você será o papai Adrian.
Ele ofegou e assentiu com a cabeça.
— Soa lindo, não é?
— Muito lindo, meu amor — concordou.
— Por que estou sentindo tanta vontade de te beijar?
— Não sei, mas também estou. — Encolheu os ombros, puxando
por fôlego. — Um beijinho, ok? — Enumerou com o indicador.
Assenti com a cabeça e desci a mão até o seu queixo, segurando-o
gentilmente. Ao me inclinar, os nossos lábios se tocaram, antes de trocamos
alguns chupões lentos. Afastei-me, vendo aquele lindo sorriso em seu rosto
e me endireitei.
— Poderíamos ir para a capital da França. Não sei se você sabe, mas
Paris é considerada a cidade do amor. Lá também tem um parque da Disney
— sugeriu, me fazendo unir os lábios.
— Ainda não sabia. Para mim, Paris soa mais que perfeita para nós.
— Para mim também.
Puxei as nossas mãos entrelaçadas e beijei o dorso da dele, fitando-o
novamente. Que saudades de ver essa expressão de felicidade e alegria
tomarem o seu rosto.
O nosso passeio pelo shopping seguiu depois de convencermos Gael
a deixar a piscina de bolinhas para lancharmos e tomar um sorvete. A
equipe de segurança continuava nos acompanhando. Era raro eles serem
minha companhia. No entanto, quando se tratava de Gael, por ordem minha,
eles eram uma presença obrigatória sempre que ele estava fora de casa.
A nossa última parada daquele dia, quase noite, foi o cinema. Fomos
assistir a um filme infantil que estava em lançamento. A sessão lotada, com
crianças gritando o tempo todo e Gael fazendo coro a elas, empolgado.
Quando o filme terminou, girei o rosto na direção de Adrian, que
mirava Gael com aquele olhar doce e paternal, adormecido em seu colo. Ele
se levantou e o meu garotinho continuou adormecido.
— Ele é tão lindo dormindo. Parece um anjinho — disse baixinho,
espiando-me rapidamente.
— É a coisinha mais linda do mundo — concordei.

Quarenta minutos depois...


Ao chegarmos em casa, Adrian avisou que iria colocar Gael na
cama. Sentei-me no sofá e peguei o aparelho celular. Só então percebi que
havia algumas mensagens, de minutos atrás, enviadas por Rafael, o meu
melhor amigo e vice-presidente das Lojas Saint’s.
Rafael: Como estão as coisas por aí? Naquele mesmo dia que
conversamos, a minha secretária, Maurina, pediu demissão. A mãe dela está
doente e ela irá acompanhá-la durante o tratamento. Obviamente, recusei a
demissão e ofereci suporte financeiro. Enfim, acabei contratando um
funcionário novo.
Um sorrisinho de canto escapou.
Levi: Desejo melhoras para a mãe da Maurina, mas imagino que
esse não seja o motivo da mensagem. Esse rapaz, ele... hum, mexeu com
você?
No instante em que pensei em guardar o telefone no bolso, vi que
ele estava digitando e aguardei.
Rafael: Sei lá! O problema é que ele é filho do meu melhor amigo.
Eu nem sabia que aquele filho da mãe era pai e que o filho era tão bonito
assim. Só me toquei quando vi os sobrenomes e foi aí que liguei a sutil
semelhança de ambos. Então, questionei o nome dos pais e tive a
confirmação.
Levi: Pensei que eu fosse o seu melhor amigo.
Rafael: Sem drama, Levi, você sabe que é um dos meus melhores
amigos. Em todo caso, acho que irei demiti-lo. Não quero problemas.
Levi: Posso sugerir algo?
Rafael: Claro, por favor.
Levi: Filho do seu melhor amigo ou não, vocês dois são adultos.
Sugiro sete dias. Veja o que acontece durante esse tempo e depois disso,
tome uma decisão.
Rafael: Acho melhor cortar o mal pela raiz. Obrigado pelo
conselho, meu amigo.
Levi: Por nada, meu amigo.
Uni os lábios e guardei o celular no bolso, sacudindo a cabeça para
o lado algumas vezes. Rafael sempre foi muito profissional e ético. Apesar
de ter tido a oportunidade de se envolver diversas vezes com pessoas que
trabalham na empresa, ele sempre evitou.
Por isso, não consigo parar de imaginar o que esse rapaz fez para
deixá-lo tão atordoado assim, ao ponto de ele me enviar uma mensagem,
contando o seu drama.
O som dos passos descendo os degraus da escada me fez virar o
rosto em sua direção. Coloquei-me de pé e assim que ele se aproximou,
ofereci-lhe uma das mãos. No instante em que Adrian a tocou, o puxei para
mim, colando os nossos corpos.
— Estou sem sono — confessei e me inclinando, selei os seus lábios
algumas vezes, mordiscando o inferior, puxando-o em minha direção.
— Quer ir ao nosso banco no jardim?
— Eu adoraria, meu amor.
Adrian sorriu e se afastou, adiantando-se pelo cômodo, me puxando
pela mão. Quando chegamos ao jardim, sentei-me no banco e ele se
aconchegou no meu colo, passando um dos braços ao redor do meu
pescoço. Em seguida, mirou o céu estrelado e eu fiz o mesmo.
— Lembra de quando nos encontrávamos aqui de madrugada e
fazíamos planos de nos casarmos?
— É claro que eu me lembro. Como eu poderia esquecer? — Ele me
espiou rapidamente e respirou fundo, voltando os olhos na direção do céu
noturno.
Adrian se aconchegou no meu colo, ficando de costas para mim.
Passei os braços ao redor da sua cintura e apoiei o queixo em seu ombro.
— Ainda quer casar comigo?
— É claro que quero. — Segurou as minhas mãos, começando a
acariciá-las lentamente.
— Vou poder usar o terno rosa?
Ele gargalhou, espiando-me por cima do ombro.
— Não, meu amor. Sou eu quem irá usar o terno rosa — respondeu
todo sorridente, me fazendo afinar os olhos. — O quê?
— Então foi por isso que você não queria que eu usasse o terno?
Você queria usá-lo!
— Sim! — confirmou aos risos.
Automaticamente lhe fiz cócegas, ouvindo gargalhar, tentando
escapar dos meus dedos, sem sucesso. Quando percebi que ele estava
ficando vermelho, parei e ele se endireitou no meu colo, ficando de frente
para mim. Adrian estava ofegante, com algumas mechas de cabelos caídas
sobre os olhos.
Sem dizer uma única palavra, segurei o seu queixo e toquei nossos
lábios, envolvendo-o em um beijo lento e calmo, com nossas línguas se
esfregando calorosamente. Afastamos as nossas bocas por alguns instantes
e sorrimos, retomando o beijo com mais intensidade.
As minhas mãos subiam pela sua cintura, enquanto a gula nos
tomava, com o beijo ganhando velocidade. Nossas línguas se chocavam,
esfregando-se, quando não, eram os nossos lábios.
— Amo o seu beijo — sussurrou ao afastar as nossas bocas,
puxando por fôlego. — Amo quando você me toca e me faz seu.
— Amo te fazer meu — respondi no mesmo tom, encostando as
nossas testas. — Afinal, eu sou o seu dono.
Adrian uniu os lábios em um sorriso e assentiu com a cabeça.
Depois de passar os braços ao redor do meu pescoço, apertou o abraço e
deitou o rosto no meu ombro.
— Qual é a nossa música? Só o meu dono saberia responder.
Mordi o lábio inferior e enfiei a mão no bolso, pegando o celular.
Depois de desbloquear a tela, abri o aplicativo de músicas e assim que
encontrei a nossa, dei play.
Você ainda vai me amar quando
eu não for mais jovem e bonita?
Você ainda vai me amar quando
eu não tiver nada além de minha alma dolorida?
Eu sei que você vai, eu sei que você vai
Young And Beautiful — Lana Del Rey.

No instante em que a música começou a tocar, Adrian deixou o meu


colo, oferecendo-me aquele olhar apaixonado e cheio de brilho. Diante de
mim, ele começou a dançar em passos lentos, cantando a letra da música,
movimentando-se de um lado a outro.
Suspirei, sem conseguir tirar os olhos dele, vendo os seus cabelos,
vez ou outra, esvoaçarem com a brisa noturna. Os batimentos ficaram mais
lentos, me levando à calmaria, enquanto eu admirava o homem da minha
vida.
— Você ainda vai me amar quando eu não for jovem e bonito, meu
amor? — Cessou o passo, oferecendo-me uma das mãos.
Coloquei-me de pé e assim que peguei a sua mão, ele me puxou em
sua direção, arrancando-me um sorriso. Diante dele, olhando-o de cima para
baixo, admirei o seu rosto por mais alguns segundos, antes de segurá-lo
gentilmente com ambas as mãos.
— Não seria eu quem deveria fazer essa pergunta? — Ergui as
sobrancelhas, roubando-lhe um sorriso.
— Sim, eu te me amaria mesmo velho e feio. Ainda mais velho do
que já é. — Riu, fazendo o meu rosto arder.
— Muito bom saber disso — retruquei. — Se é como dizem e há
outras vidas depois dessa, peço que o céu estrelado dessa noite testemunhe
o meu desejo: quero te amar não só nessa, mas em todas as vidas futuras.
Serei seu hoje, amanhã e por toda a eternidade, meu amor.
Adrian suspirou, sorrindo logo em cima.
— Você joga baixo. Fica dizendo essas coisas e eu fico todo mole —
reclamou manhoso e, de repente, arqueou uma das sobrancelhas.
— Que culpa eu tenho se você fez de mim um homem apaixonado?
— Viu só?! — rosnou e mordendo o lábio inferior, cruzou os braços,
virando o rosto para o lado. — S-S-Seu sedutor profissional!
Gargalhei e o abracei por trás, pousando o queixo em seu ombro.
Respirei fundo e beijei o seu pescoço, repetidas vezes.
— Acho que as minhas palavras são bonitas, pois são confissões que
vem do meu coração e da minha alma. É o meu amor falando com você —
sussurrei, sem deixar de perceber que os pelos do seu braço se arrepiaram
completamente.
— Ok, eu não tinha a intenção de fazermos hoje, mas vamos para o
quarto. — Adrian desvencilhou-se de mim e me puxou pela mão, fazendo-
me morder o lábio inferior.
Falhei miseravelmente ao tentar controlar aquele homem no cio. A
intenção era de chegarmos ao quarto, mas quando percebi, ele havia me
botado de frango assado no sofá da segunda sala e...
Arfei novamente, revirando os olhos de prazer. As suas mãos
seguravam as dobras das minhas pernas, deixando-as bem separadas, ao
mesmo tempo que as empurrava na minha direção, enquanto pincelava o
meu cuzinho incansavelmente, às vezes, beliscando-o com os lábios.
— Mais, meu amor — implorei e pousando a mão em seus cabelos,
os segurei, empurrando a sua cabeça contra o meu traseiro. Acabei soltando
um gritinho quando Levi forçou a ponta da língua, ameaçando entrar, sem
sucesso. — Isso!
— Adoro te chupar! — disparou ao se afastar e antes que eu tivesse
tempo de respondê-lo, voltei a sentir a sua língua se esfregar contra a minha
entrada, me arrancando mais alguns gemidos. — É tão doce, apertado e...
— Afastou-se novamente, me lançando o olhar lascivo. — Sinto vontade de
rasgá-lo com o meu pau.
Um arrepio gostoso me atravessou, acompanhado pelo ardor que
tomou o meu rosto. Preciso admitir que o seu lado devasso é tão
maravilhoso quanto o romântico. Ele consegue ser perfeito nas duas
versões.
— Quem é o seu dono? — perguntou, fixando os olhos em mim,
sem parar de esfregar o dedão contra o meu anel, provocando-me. — Quem
é o dono do seu prazer?
— É você, meu amor. Só você e apenas você — respondi baixinho,
mordendo o lábio inferior.
Ofeguei novamente ao voltar a sentir sua língua se esfregando
contra o meu cu, me fazendo contorcer de prazer. O meu pau continuava
pulsando dolorosamente, me obrigando a iniciar uma punheta lenta e
contínua. De repente, senti a língua de Levi subir, esfregando-se contra as
minhas bolas, lambendo-as antes de engoli-las. Soltei um gemido mais alto
quanto ele as puxou com os lábios, soltando-as em seguida.
Quando senti a sua língua tocar a base do meu pau, puxei por
fôlego. O toque quente e úmido, deslizando pela sua extensão, subindo até a
glande, antes de agasalhá-la entre os seus lábios, em meio aos fortes
movimentos de sucção, me fizeram contorcer, mas, nem por um segundo,
ele me permitiu mudar de posição, mantendo as minhas pernas bem abertas,
deixando-me completamente vulnerável a ele.
— Engole, amor — pedi manhoso e pousando as mãos sobre a sua
cabeça, empurrei-a contra o meu pau, observando os seus lábios deslizarem
pela sua extensão, chegando à base, com os meus pentelhos roçando no seu
nariz. — É tão gostoso!
Levi ergueu os olhos na minha direção, iniciando os movimentos
lentos de vai e vem, engolindo o meu pau todo, arrancando-me gemidinhos.
Era delicioso ver aquela expressão lasciva em seu rosto enquanto ele me
chupava. Depois de alguns minutos, ele cuspiu o meu pau, coberto de saliva
e voltou a descer, arreganhando mais as minhas pernas. De repente, senti o
primeiro beijo no cuzinho, me deixando completamente desconcertado,
fazendo o meu coração disparar.
— O-O-O que você está fazendo?
— Ora, você vive beijando a cabeça do meu pau. Nada mais justo eu
dar uns beijinhos no seu cu — respondeu, esfregando a ponta da língua
contra a minha entrada, me arrancando alguns arrepios. — Quer que eu
pare, meu amor? — perguntou, voltando a beijar o meu cuzinho, fazendo-o
piscar continuamente.
— S-S-Seu pervertido!
— Sim, sou o seu pervertido — retrucou e passando a língua pelos
lábios, finalmente soltou as minhas pernas e se colocou de pé. Ao segurar o
pau pela base, o balançou algumas vezes, antes de batê-lo contra a palma da
outra mão, fazendo o seu som ecoar pelo cômodo. — Estou ansioso para
fazermos algo que li em um livro, meu amor. — Sorriu, acelerando o meu
coração.
— Que livro você andou lendo? — Ofeguei, esfregando os dedos
contra o meu cu, que piscava sem parar, ansiando por aquele pau no seu
interior.
O sorriso no rosto de Levi se alargou um pouco mais, me
arrancando um calafrio gostoso. Ainda em silêncio, ele me ofereceu uma
das mãos. Endireitei-me no sofá e a peguei, sendo puxado por ele. Nossos
corpos estavam colados, com nossas rolas se esfregando. Ergui o rosto em
sua direção, o vendo passar a língua no lábio inferior de um lado a outro.
Seu rosto se aproximou lentamente do meu e quando os nossos
lábios se tocaram, trocamos um sorrisinho, antes de iniciarmos aquela troca
de chupões, enquanto ele me conduzia pelo cômodo. Paramos próximo ao
imenso espelho em uma das paredes da segunda sala e depois de mais
alguns chupões, ele se afastou e parou atrás de mim, abraçando-me por trás,
fazendo o seu pau escorregar pelas minhas coxas, aconchegando-o entre
elas.
— Olhe para o espelho — pediu.
Atendi ao seu pedido e fixei os olhos no espelho, observando a
nossa imagem juntos e admirando os nossos corpos completamente nus,
esfregando-se um no outro. Adoro o fato de ele ser bem maior do que eu,
em todos os sentidos.
— Não tire os olhos do espelho — sussurrou e levando uma das
mãos à dobra da minha perna, a ergueu o mais alto que pôde. — Olhe com
bastante atenção, meu amor.
Engoli em seco, sentindo o meu corpo se arrepiar; ele moveu os
quadris um pouco para trás e quando voltou para frente, a sua glande se
esfregou contra o meu cuzinho, esfregando-se contra as minhas bolas.
— Conseguiu ver? — Assenti com a cabeça, engolindo em seco.
Aquela visão havia feito o meu corpo ser tomado por choques elétricos,
dispersando a minha excitação. — Quero que me veja te fazer meu, do
começo ao fim.
Ao impulsionar o quadril para frente, a sua glande forçou a entrada,
me fazendo morder o lábio inferior e, mesmo assim, continuei vendo tudo
através do espelho. No instante em que a cabeça entrou, um gemido
escapou pelos meus lábios, mas ele não parou ali. O seu pau continuava me
invadindo, obrigando o meu cu se alargar para recebê-lo pouco a pouco.
— Au! — gemi, ofegante, sentindo o meu corpo queimar com a
visão diante de mim. Era lindo vê-lo me preencher e... Soltei outro gritinho
quando chegou à metade. — Céus, ainda não acredito que isso tudo entra
em mim.
Um sorriso pervertido tomou o rosto de Levi. O seu pau continuava
se afundando dentro de mim, centímetro por centímetro, me arrancando um
misto de expressão. Ofegante, sentindo-o pulsar continuamente, revirei os
olhos. Quando senti os meus pés ameaçarem deixar o chão, puxei por
fôlego.
— Entrou tudo — avisou, beijando o meu pescoço. — Consegue ver
pulsando dentro de você, meu amor?
— Consigo.
Era como um coração pulsante, palpitando sem parar, forçando-me a
acostumar com o seu formato. O meu pau latejava de tesão, ao ponto de o
pré-gozo escorrer em fios, pingando no chão.
— Agora vem a melhor parte. — Beijou o meu pescoço novamente
e tombou o corpo um pouco para trás, me fazendo franzir a testa. Admito
que tomei um susto quando ele tocou a dobra da minha outra perna e a
ergueu. Abri a boca, um pouco assustado e automaticamente levei os braços
para trás, enlaçando-os no seu pescoço. — Não precisa ter medo, não vou te
deixar cair. Olhe para o espelho de novo.
Com o coração a mil, mirei o espelho, arregalando os olhos. Levi
me segurava pelas dobras das pernas, mantendo-me arreganhado no ar, com
o pau completamente atolado no meu cu. Era como a posição de frango
assado, mas estávamos de pé, com ele atrás de mim, garantindo que as
minhas pernas ficassem abertas.
— É lindo, não é? — Sorriu, me fazendo assentir com a cabeça. —
Diga-me, como que quer eu faça?
— Acabe comigo e quando terminar, comece tudo de novo, com
carinho — respondi, mordendo o lábio inferior.
— A minha satisfação é sempre te lembrar de que eu... — Moveu o
quadril para trás e ao voltar para frente, estocou com força, arrancando-me
um gritinho. — Sou o seu dono — repetiu o movimento, me fazendo puxar
por fôlego.
— Sim, é você, meu amor... — A minha voz falhou com mais uma
estocada.
— Não tire os olhos do espelho, por favor.
— Estou olhando, meu amor.
As estocadas fortes e lentas iam ao fundo, me fazendo revirar os
olhos. Em alguns momentos, cheguei a ficar mole, mas era delicioso não só
sentir o seu pau me alargar e pulsar dentro de mim, como vê-lo entrar e sair.
O ritmo aumentou, com as bombadas se tornando ainda mais fortes
e intensas. Por mais que o meu cu tentasse expulsá-lo de dentro de mim, ele
se recusava a sair e essa sua teimosia me fazia explodir de prazer por
dentro, com o meu corpo ardendo em chamas.
Atordoado e revirando os olhos vez ou outra, não consegui parar de
admirar o seu pau grosso entrando em mim, arrancando-me gemidos
contínuos, constantes e manhosos. Quanto mais ele me invadia, mas eu
ansiava para que ele continuasse e...
— Vou gozar — avisei em meio aos gemidos, ofegante.
— Sim, vamos — retrucou, me arrancando um sorriso.
— Não consigo me tocar, tenho medo de cair e...
— Te proíbo de se tocar — disparou, me fazendo arregalar os olhos.
— Quero que goze pelo cu, com o meu pau dentro dele, sem sequer se tocar
— avisou, arrepiando-me inteiro ao roçar a barba rala em meu pescoço.
O ritmo das estocadas explodiu, com os meus gemidos de prazer
ecoando pelo cômodo. Quando o gozo explodiu, os meus jatos de porra
atingiram o espelho contínuas vezes, me fazendo contorcer, sentindo o pau
dele pulsar com fúria dentro de mim. Sequer tive tempo para puxar por
fôlego, pois os seus gemidos másculos tomaram as minhas orelhas,
deixando-me ainda mais mole em seus braços. No instante em que senti os
primeiros jatos de porra me invadirem, revirei os olhos e mordi o lábio
inferior com força, sentindo o meu cuzinho se contrair, apertando o seu pau.
— Porra, eu amo quando você me aperta assim! — confessou, antes
de morder o meu pescoço gentilmente.
Conforme o ritmo diminuía, voltei os meus olhos ao espelho, sujo
de gozo. Ver o seu pau pulsando dentro de mim, com gozo escorrendo pela
sua extensão era mais que delicioso, era extremamente satisfatório.
— É por isso que eu sou o seu dono. Ninguém te fode com tanto
amor como eu — sussurrou, desferindo inúmeros beijos pelo meu pescoço,
arrancando-me um sorriso.
— Sim, é por isso mesmo, meu amor.
Levi sorriu e lentamente desceu as minhas pernas. Eu estava tão
confortável naquela posição que assim que os meus pés tocaram o chão,
senti certa estranheza. Permanecemos abraçados alguns minutos, com o seu
pau ainda pulsando dentro de mim, admirando o nosso reflexo no espelho.
— Eu te amo, meu amor.
— Eu também te amo — respondeu, saindo de dentro de mim, me
arrancando um gemidinho.
Levi deu alguns passos para trás e se sentou na ponta da poltrona
próximo a nós e segurando o pau pela base, o balançou, exibindo-o para
mim. É claro que ele não está satisfeito. Nem eu.
De pernas bambas, adiantei-me até ele e assim que subi em cima do
seu colo, deixando as pernas separadas entre as suas coxas, segurei o seu
pau e o encaixei na minha entrada. Sentei lentamente e assim que o senti no
fundo do meu cu, ofeguei e apoiei as mãos no seu peitoral, voltando os
meus olhos aos dele.
Trocamos um sorriso e eu me inclinei em sua direção, deitando o
rosto em seu peitoral, antes de abraçá-lo pela cintura. Respirei fundo e
comecei a mover o traseiro para cima e para baixo lentamente, sentindo o
seu pau deslizar dento de mim.
— Como você pode ser tão maravilhoso? — indagou e tocando a
ponta do meu queixo, ergueu o meu rosto em sua direção. Ao se inclinar,
chupou os meus lábios e os puxou em sua direção. — Fique quietinho, ok?
O seu homem vai cuidar do seu prazer.
— Com carinho, meu homem — sussurrei e tocando os nossos
lábios novamente, cessei os movimentos.
As mãos de Levi pousaram na minha cintura, segurando-a com
firmeza. Os seus quadris voltaram a se mover lentamente, fazendo o seu
pau retomar os movimentos de entra e sai. Nossas bocas seguiam coladas,
com nossas línguas se esfregando e nossos lábios se tocando, em um beijo
apaixonado e intenso.
Se ele quiser, e eu sei que quer, faremos amor a noite inteira.
Ou até eu não aguentar mais.
Alguns dias depois...
Acabei acordando antes do Sol nascer. Por alguma razão que não sei
dizer, perdi o sono. Como havíamos tirado muitas fotos nos últimos dias e
Levi mandou revelar quase todas, aproveitei para separar as que mais
gostei.
Peguei a pilha de fotos em cima da cômoda que ficava ao lado da
cama e separei algumas em cima do colchão. Repeti o processo algumas
vezes, escolhendo as dez melhores fotos que havíamos tirado.
Uma suave brisa atravessou a porta da sacada que estava aberta,
fazendo os meus cabelos esvoaçarem. Foi quando ouvi uma voz feminina
chamar o meu nome, me fazendo girar o rosto em sua direção.
Pisquei algumas vezes, mas não havia ninguém. Provavelmente foi
apenas uma impressão e...
— Adrian. — A voz me chamou novamente.
Um arrepio me subiu dos pés à cabeça e outra brisa me acertou. No
entanto, dessa vez ouvi algo cair no chão, me fazendo levantar da cama, em
alerta. Com o coração acelerado, dei alguns passos em direção à sacada. O
diário da minha irmã estava aberto e caído no chão.
Puxei por fôlego e cerrei os punhos, mordendo o lábio inferior.
Hesitei por um tempo, mantendo os olhos fixos no diário e quando tomei
coragem, dei mais alguns passos e ao me abaixar, o peguei do chão, na
exata página em que estava aberto.
“Como sempre fiz questão de dizer, eu só teria um filho do homem
que eu amasse”.
No instante em que li a única frase daquela página, o meu corpo
inteiro sacolejou. Engoli em seco e recuei alguns passos, me sentado na
beirada da cama.
Passei para a página seguinte e foi quando percebi que estavam
faltando algumas folhas. Ignorei aquele detalhe e continuei a leitura.
“Quando Levi pegou Gael no colo pela primeira vez, fiquei
emocionada. Pensei que o meu filho não fosse ter um pai presente, mas ele
decidiu ser o seu pai e eu nunca poderei quitar essa dívida”.
Ofeguei, deixando o diário cair no chão.
A ardência tomou os meus olhos, seguida por uma falta de ar que
me obrigava a puxar por fôlego. Enquanto as lágrimas desciam, eu me
esforçava para respirar.
Com a mente a mil e sem conseguir pensar direito, os
questionamentos começavam a surgir, um após o outro, fazendo o meu
coração ser esmagado no meu peito.
— O que ela quis dizer com “ele decidiu ser o pai”? — perguntei a
mim mesmo. — Ele não queria assumir o Gael, é isso?
Fechei os olhos por alguns segundos e tombei a cabeça para trás,
sentindo aquela sensação me tomar por inteiro. No fundo da minha mente,
cheguei a memórias antigas, lembrando-me do que Ariane me disse uma
vez:
“... um dia você será tio. Um excelente tio. Talvez demore, pois só
pretendo ter um filho do homem que eu amar. Se eu não amar? Não terei”.
— Ela o amava — sussurrei, rendendo-me às lágrimas. — É claro
que ela o amava. Ele é o pai do Gael e... — Solucei, sacudindo a cabeça
para os lados. — O que eu estou fazendo? Não, não podemos continuar com
isso.
Como pude ser tão idiota? A verdade estava diante de mim o tempo
todo. Ignorei por amor a ele, mas agora que tenho a certeza de que Ariane o
amou, não há como continuarmos. A minha consciência não me permite
trair alguém tão especial para mim, como a minha irmã.
Não só isso, agora consigo enxergar. Levi mentiu para mim. Ele
disse que eles eram apenas amigos, mas amigos não se casam e tem filhos
juntos!
Todos eles, sem exceção.
Estão mentindo, de novo.
Ainda atordoado, coloquei-me de pé, sentindo uma leve tonteira.
Passei os olhos pelo quarto, vendo tudo girar ao meu redor e pousei os
olhos nas fotos. Eu, Levi e Gael estávamos felizes, planejando o começo da
nossa família, mas...
— Ele mentiu — sussurrei e sentindo o meu queixo tremular, rendi-
me ao choro.
A dor imensurável que havia tomado o meu peito me colocou de
joelhos e para que ninguém ouvisse os meus prantos, afundei o rosto na
cama.
Estava doendo, ainda mais do que da primeira vez. Era como se eu
estivesse sendo rasgado por dentro. Uma tremenda angústia havia me
tomado e eu ansiava e desejava pela morte, para dar fim àquela dor
insuportável.
Queria gritar, me desesperar ou fazer qualquer coisa para que aquela
sensação que me destruía de dentro para fora passasse, mas não consegui. O
rosto dele não saía da minha mente, assim como o seu cheiro, que tomava
as minhas narinas e o toque dos seus beijos, acertando a minha pele, como
se ele estivesse ali comigo.
Naquele instante, senti pena de mim mesmo.
É tão doloroso perceber que sem Levi ao meu lado, sou como um
peixinho fora d’água, que se debate desesperadamente, buscando por
oxigênio antes de sufocar.
Isso deveria ser romântico, não é? Como se um completasse o outro.
No meu caso, é trágico. Os poucos dias alegres que passamos juntos, me
fizeram esquecer que a tragédia me acompanha desde sempre.
Respirei fundo, sentindo os meus olhos queimarem. Deitei o rosto
no colchão e durante um tempo, mirei o nada. Quando senti o toque do Sol
que nascia no horizonte acertar as minhas costas, endireitei-me e funguei
algumas vezes. Esfreguei o rosto com ambas as mãos e enxuguei as
lágrimas que insistiam em descer.
— Está na hora de ir embora — disse a mim mesmo e unindo os
lábios, segurei o choro e assenti com a cabeça.
Reuni forças e me coloquei de pé. Adiantei-me até a suíte, tomei
uma ducha e troquei de roupa. Assim como cheguei, sem trazer uma mala,
irei embora sem levar um único cisco desse lugar amaldiçoado.
O homem que eu deveria chamar de pai destruiu a minha vida.
Como uma maldição, mesmo depois de morto, o seu desejo continuava
vivo, impedindo-me de ser feliz.
É como se ele soubesse que para mim só havia o Levi. Ciente disso,
ele tomou todas as garantias possíveis para que eu não pudesse tê-lo.
No fim das contas, ele conseguiu.
Deixei o quarto e segui pelo corredor em passos lentos, passando os
olhos ao redor, admirando tudo uma última vez. Ao chegar no topo da
escada, vi mamãe sentada no sofá, com Gael adormecido em seu colo.
Comecei a descer os degraus e não demorou para que mamãe me
notasse, oferecendo-me um sorriso, que logo sumiu.
— O que aconteceu? — Franziu a testa, preocupada.
— Agora consigo ver que nunca foi o meu destino ser feliz —
respondi baixinho, passando próximo a ela, em direção à porta. — Eu
jamais me atreveria a tomar o lugar da minha irmã, nem o seu marido, nem
o seu filho.
— Do que está falando, Adrian? — perguntou ofegante.
— No diário ela diz que o Gael é filho dele, mamãe. Ela o amava e é
por isso que não podemos ficar juntos.
— Isso não faz o menor sentido, meu filho...
— É claro que a senhora diria isso. — Ri, mais frustrado que antes.
Ao pousar a mão na maçaneta, a espiei por cima do ombro. — Não se
preocupe, mamãe. Dessa vez vou dar notícias.
— Não faça isso, meu filho. Vocês precisam sentar, conversar e se
entender.
— Não há o que conversar.
Mamãe respirou fundo e assentiu com a cabeça.
— As coisas agora são diferentes. O Levi irá atrás de você e não
importa onde se esconda, irá te encontrar — disse baixinho, com as
primeiras lágrimas marcando o seu rosto. — Quer ir? Vá, mas ele irá virar o
mundo de cabeça para baixo até te encontrar e te trazer de volta.
— Ele não fez isso da primeira vez, por qual motivo faria agora? —
Dei de ombros, abrindo a porta, vendo o táxi parado em frente a mansão, à
minha espera. — Assim que eu chegar, mandarei mensagem.
— Para onde você está indo?
— Paris, a cidade do amor. Irei para me lembrar de nunca esquecer
de que o amor não é para mim — respondi, engolindo em seco. — Desde
que aprendi a amar, só me machuquei e eu não aguento mais me machucar
por amor — disse baixinho, com as lágrimas retornando.
Puxei por fôlego e endireitei-me, retomando o passo. Eu estava
quase chegando ao táxi quando ouvi a voz de Gael, gritando por mim.
— Titio, vem aqui.
Girei o corpo em sua direção, o vendo nos braços de mamãe, me
chamando com uma das mãos. Funguei algumas vezes e uni os lábios.
— O titio te ama tanto. Eu adoraria ser o seu segundo pai, mas não
me atrevo a manchar a memória da sua mãe. Se ela não o tivesse amado, as
coisas poderiam ser diferentes — sussurrei e voltando-me ao veículo, abri a
porta.
— Não vai embora, titio — gritou, aos prantos, fazendo o meu
coração ficar pequenininho.
Entrei no veículo e no instante em que fechei a porta, vi mamãe
colocar Gael no chão. Assim que o veículo acelerou, o vi correr na nossa
direção, aos prantos, chamando o meu nome desesperadamente, como se
por algum milagre pudesse nos alcançar.
— Quer que pare o carro, senhor?
— N-N-Não — respondi, sentindo o meu queixo tremular.
Em algum momento, quando Gael for maior, direi que o seu
nascimento foi o motivo da minha reconciliação com a sua mãe, mas não
pretendo contar o motivo do nosso desentendimento.
Em toda essa história ele é o único inocente.
Também irei contar que eu adoraria ter estado ao seu lado, o vendo
crescer, arrancando-lhe sorrisos e o protegendo de tudo e todos, mas,
infelizmente, não pude. Talvez ele me perdoe, mas se não perdoar,
continuarei cuidando dele à distância, garantindo que o mundo não seja
cruel com ele como foi comigo.
Acordei com o som de batidas na porta. Um pouco zonzo, ergui o
rosto em sua direção. Foi quando ouvi o choro sentido de Gael, me fazendo
despertar de vez.
Praticamente saltei da cama, apressando o passo até a porta. Assim
que a abri, tomei um susto. Dona Carla estava com o rosto marcado por
lágrimas, assim como Gael, que chegava a soluçar, esticando os bracinhos
na minha direção.
— O que aconteceu? Por que vocês estão assim? — perguntei,
ofegante, pegando Gael no colo. De súbito, algo apitou na minha cabeça. —
Onde está o Adrian?
— Ele foi embora — respondeu dona Carla, fungando algumas
vezes.
Um calafrio sinistro me atravessou e, por um momento, senti como
se tivesse perdido o chão e seguisse em queda, rumo ao abismo, cujo fundo
me parecia distante. Com o coração acelerado, puxei por fôlego, sentindo os
meus olhos queimarem.
— Por quê? — questionei, sentindo a minha voz tremular. —
Estávamos nos entendendo e fazendo planos.
Dona Carla deu um passo à frente, uniu os lábios e tocou o meu
rosto com uma das mãos.
— Ele acredita que a Ariane te amou e é por isso que vocês não
podem ficar juntos — respondeu, balançando a cabeça algumas vezes. —
Você precisa contar a verdade a ele.
— O-O-O titio foi embora e deixou o Gael. — Senti as mãozinhas
de Gael segurarem o meu rosto, fazendo-me mirá-lo. O seu rosto estava
vermelho, marcado por lágrimas e ele seguia soluçando. — P-P-Por que
você deixou o titio ir embora, papaizinho?
Ouvir aquilo foi como uma facada no peito, cuja lâmina girava
dentro de mim, causando-me uma dor inenarrável. Outra vez, depois de
muitos anos e pelo mesmo motivo, senti medo e quando dei por mim, as
lágrimas haviam começado a descer pela minha face.
Os eventos do passado estavam se repetindo no presente e se eu não
fizesse nada, o desfecho seria o mesmo.
— O papai está indo buscar o titio, ok? — Toquei o seu rostinho,
enxugando as suas lágrimas. Gael assentiu com a cabeça, mas o beicinho
não deixou os seus lábios. — Não dê trabalho para a vovó, tá bom?
— T-T-Tá bom, papaizinho — respondeu aos soluços.
— Ele foi para o aeroporto. O destino é Paris — avisou dona Carla,
me fazendo puxar por fôlego.
Dias atrás estávamos falando disso...
“Poderíamos ir para a capital da França. Não sei se você sabe,
mas Paris é considerada a cidade do amor”.
Respirei fundo e assenti com a cabeça. Ao me voltar ao meu filho,
dei-lhe um beijinho no rosto e o entreguei para dona Carla. Apressei o
passo em direção ao closet e me vesti. Coloquei uma calça por cima da
cueca samba-canção e peguei a primeira camisa social que vi e um terno,
caso fosse preciso embarcar em um voo para trazê-lo de volta. Por fim,
calcei os sapatos.
Sem conseguir pensar em muita coisa, deixei o closet e adiantei-me
pelo cômodo, mirando o meu garotinho uma última vez.
— O papai já volta, campeão.
— E-E-E o titio também, né?
— Ele virá nem que seja carregado — respondi, voltando-me a dona
Carla, que assentiu com a cabeça.
Apressei o passo pelo corredor e quando pisquei os olhos, eu já
estava abrindo a porta do meu carro. Confesso que a minha cabeça não
estava no lugar. Nada estava. Girei a chave na ignição e retirei o veículo da
garagem, rumando em direção ao aeroporto.
No caminho, tentei ligar para o Adrian várias vezes, mas o seu
número só dava fora da área de cobertura. Depois de alguns minutos,
quando finalmente cheguei na avenida que dava acesso ao aeroporto,
percebi que havia um engarrafamento.
Não havia como avançar ou retornar. Eu estava preso, ilhado.
Abaixei o vidro do carro e coloquei a cabeça para fora, vendo um acidente
um pouco adiante.
— Porra! — Soquei o volante, furioso.
Respirei fundo numa tentativa de me acalmar e buscar opções, do
contrário, não conseguiria impedi-lo de embarcar. O problema é que mesmo
indo a pé, o aeroporto está a cerca de dois quilômetros de distância.
Foi quando o som de um relincho chamou a minha atenção, me
fazendo girar o rosto para o meu lado direito, em direção à calçada.
Um homem passava montado em uma cima de um lindo cavalo
negro. O animal era imenso, forte e a crina volumosa chegava a ser
brilhante. Um sorriso bobo tomou o meu rosto, me levando à ideia mais
maluca que já tive em toda a minha vida.
— Devo ter perdido o pouco juízo que me restava — disse a mim
mesmo e pegando a carteira no porta-luvas do carro, abri a porta e desci,
fechando-a em seguida.
Após comprar a passagem para Paris, segui para o lounge da
companhia aérea, onde iria aguardar o meu voo. Por sorte, consegui uma
vaga na primeira classe. Se não houver nenhum atraso, devo embarcar
daqui uma hora.
Uma moça se aproximou oferecendo bebidas, mas recusei
educadamente. Funguei mais uma vez e peguei o celular do bolso,
retirando-o do modo avião. As notificações começaram a chegar sem parar.
Levi havia me ligado mais de quarenta vezes.
Ignorei-o e liguei para Kaius, colocando o telefone na orelha.
— Oi, gatinho. Tudo bem? — disse assim que atendeu a ligação, me
fazendo unir os lábios.
— Não, não está nada bem — respondi, respirando fundo. — Estou
indo embora.
— Ok, me diga onde você está e eu irei junto.
— Preciso passar um tempo sozinho.
— Tudo bem. Há algo que eu possa fazer para ajudar?
— Não sei, eu só queria ouvir alguém. — Encolhi os ombros,
sentindo as lágrimas retornarem.
O ouvi suspirar do outro lado da linha.
— O que um pato disse para o outro?
— Quá?
— Estamos empatados — respondeu, me fazendo revirar os olhos.
— Ok, foi péssimo.
— Sim, foi muito ruim. — Sorri em meio às lágrimas.
A minha atenção foi roubada pelo rebuliço que se iniciou no saguão.
Através da parede de vidro, vi várias pessoas apontando na mesma direção.
Coloquei-me de pé e ao longe, no fim do extenso e largo corredor, vi um
homem montado em um cavalo.
— Acredita que um idiota entrou no saguão do aeroporto montado
em um cavalo? — contei aos risos. Sem conter a minha curiosidade,
acompanhei os membros da sala vip até a saída, mirando o homem montado
no animal, que trotava elegantemente. — Deve ser algum maluco e...
Senti a minha voz falhar quando percebi quem era o maluco. Pisquei
algumas vezes e engoli em seco.
— Te ligo depois.
— Ok, gatinho.
Desliguei a chamada e guardei o celular no bolso.
Dei alguns passos para frente, adiantando-me pelo corredor, o vendo
vir na minha direção, montado no imenso cavalo de pelugem negra. Assim
que os nossos olhos se encontraram, um calafrio percorreu o meu corpo, me
fazendo cerrar os punhos.
Ele continuava a se aproximar e mesmo sabendo que precisava fugir
ou não conseguiria ir embora, permaneci no mesmo lugar. Quando o animal
parou próximo a mim, ele desceu e se aproximou.
Os seus grandes olhos castanho-claros estavam repletos de lágrimas.
Levi sorriu, mas era um sorriso triste e no mesmo instante, ajoelhou-se na
minha frente.
— Se você me ama, como acredito que ama, precisa me ouvir ao
menos uma vez — disse com a voz trêmula, me fazendo puxar por fôlego.
— E-E-Eu... — Recuei alguns passos, encolhendo os ombros. —
Ela te amava. Esse é o problema, entende? Ela te amava — repeti, para que
ele compreendesse o meu impedimento.
— A Ariane me amava como um amigo.
— Não, não vou acreditar nisso de novo.
Um flash de luz me atingiu e foi quando percebi que as pessoas ao
nosso redor estavam tirando fotos e fazendo filmagens com os seus
aparelhos celulares.
— Esqueça eles e foque em mim. — Apontou para si mesmo. — O
Gael é meu filho. Eu o escolhi como filho, mas ele não tem o meu sangue.
Estou tentando te dizer isso desde que você chegou, mas você nunca me
deixa falar. Sempre fica para depois e depois e depois. — Gesticulou com
uma das mãos, abaixando a cabeça. — Até quando vamos ficar para depois,
meu amor?
Sacudi a cabeça para os lados, sentindo um aperto no peito. Pisquei
algumas vezes, tentando segurar as lágrimas.
— Eu li o diário da Ariane e ela diz que você é o pai dele — contei,
o vendo franzir a testa. — Vai continuar negando?
— A sua mãe pode te confirmar isso.
— Ela é sua cúmplice.
Ele soprou o ar preso nos pulmões e balançou a cabeça, sem tirar os
olhos de mim.
— Podemos sair daqui agora, passar em casa, pegar o Gael e ir até a
clínica mais próxima para fazer um exame de paternidade — sugeriu.
O problema não é o Gael ser filho dele, mas, sim, o fato de Ariane
sempre ter dito, inclusive no diário que deixou para mim, que só teria um
filho do homem que amasse.
Nunca me esqueci da nossa última promessa, de quando nos
apaixonamos pelo mesmo garoto no ensino médio e quase brigamos por
causa disso:
“— Irmão, juro que nunca irei me envolver com alguém que você
ama ou já amou — disse Ariane, sorridente, me oferecendo o dedinho
mindinho.
— Irmã, também juro nunca me envolver com alguém que você ama
ou já amou — respondi, enlaçando o meu mindinho ao dela”.
No entanto, a convicção com que ele respondeu aquilo me deixou
confuso. Como ele poderia estar falando a verdade se no diário diz outra
coisa?
Os meus devaneios foram interrompidos por alguns policiais que se
aproximaram de nós, parando ao nosso lado. Um deles se adiantou até o
cavalo, pegando as suas rédeas.
— O animal é seu, senhor? — Um dos policiais se voltou a Levi,
que engoliu em seco.
— Que cavalo?! — Fez-se de desentendido.
— O que mordeu o homem — respondeu o policial que segurava as
rédeas do animal.
— Foi de raspão. — Levi deu de ombros, me fazendo segurar o riso.
— Ok, eu o peguei emprestado. O trânsito estava caótico e seria ruim
perder o meu voo.
— E o senhor pretendia embarcar o cavalo também? Duvido que os
assentos do avião consigam suportá-lo — retrucou o policial, claramente
irritado. — O senhor precisa nos acompanhar.
Levi uniu os lábios e se colocou de pé.
— Vem comigo? — Ofereceu-me uma das mãos.
“Ouça o que ele tem a dizer”.
“Ele te ama, ainda não notou?”.
“Vá com ele, vocês vão dar um jeito”.
Vozes aleatórias ergueram-se da pequena multidão próxima a nós,
atentos ao evento que Levi havia criado de forma involuntária.
Sacudi a cabeça para os lados.
— Prefiro te esperar em casa. É que eu nunca pisei em uma
delegacia e nem quero — respondi, arrancando-lhe aquele lindo sorriso que
aquecia o meu coração. Em seguida, me voltei aos policiais. — Esse
maluco que os senhores estão levando é o CEO das Lojas Saint’s. Por favor,
o tratem bem.
— Sério?! — exclamou um dos policiais. — A qualidade dos
produtos de vocês é maravilhosa.
— Vamos, senhor? — O policial próximo a nós, apressou Levi.
— Talvez eu demore um pouco, mas espere por mim, meu amor —
pediu enquanto acompanhava os policiais.
Assenti com a cabeça.
Confesso que a angústia dentro de mim me deu um descanso
temporário, dando lugar a uma faísca de esperança, afinal, pode haver uma
outra explicação, não é?
Se não formos ficar juntos, que eu tenha a mais absoluta certeza de
toda a verdade, sem qualquer omissão. Ouvir o seu lado da história é o que
escolho nesse momento.
Algumas horas depois...
Ao terminar de ler a última página, fechei o diário, segurando-me
para não chorar, do contrário, também levaria o Gael às lágrimas. Respirei
fundo e fechei os olhos, permitindo que um sorriso de alívio tomasse o meu
rosto.
— Terminou de ler?
— Sim, terminei. — Assenti com a cabeça, girando o rosto em sua
direção. — A senhora sabia de tudo?
— Tomei conhecimento do plano dos dois depois que você foi
embora. Sobre o Gael, eu sempre soube — respondeu, me fazendo unir os
lábios.
De certo modo, me sinto um pouco culpado. Se eu tivesse dado a
chance de eles se explicarem, as coisas hoje seriam completamente
diferentes.
— A senhora deveria ter me dado uns tapas e me obrigado a ouvir
assim que cheguei.
— Você não teria me escutado do mesmo jeito — respondeu
baixinho e respirando fundo, tocou o meu rosto com uma das mãos, o
acariciando gentilmente. — Não se sinta culpado. Quando estamos feridos,
costumamos ignorar a tudo e a todos.
— Queria ter tido tempo para pedir desculpas a Ariane. Antes de ir
embora, eu lhe disse coisas horríveis — contei baixinho, sentindo vergonha
de mim mesmo.
— Ela já te perdoou há muito tempo e esse diário, deixado para
você, é a prova disso. — Mamãe abriu um largo sorriso, exibindo os olhos
cheios de água.
— Lembro de quando ainda erámos crianças e andávamos de mãos
dadas pelo jardim. Dizíamos que nunca iríamos nos separar e que quando
ficássemos velhinhos, continuaríamos sendo mais que irmãos, também
seríamos melhores amigos — sussurrei, sentindo o meu coração ficar
pequenininho, obrigando-me a piscar algumas vezes, segurando as
lágrimas.
— Ela adorava dizer que era a irmã mais velha, mesmo que por dois
minutos. E que por isso, era a obrigação dela cuidar de você. — Mamãe
recordou, arrancando-me um sorriso.
— Uma vez um menino me xingou na escola, pois eu tinha o cabelo
grande, do tamanho do dela. Ela não hesitou em lhe dar um soco no olho.
— Como esquecer disso? Fui chamada na escola e vocês dois foram
suspensos. — Sorriu, mordendo o lábio inferior. — O seu pai ficou furioso
e queria colocar vocês de castigo, mas eu não deixei.
— O senhor Saint me machucou muito. É verdade que ele nunca me
bateu, nunca me xingou ou disse algo pesado. No entanto, o seu olhar
falava mais do que palavras — disse, inspirando profundamente. — Uma
noite, ouvi vocês discutirem e ele disse coisas horríveis sobre mim.
— Alguns pais não estão preparados para aceitar os filhos como eles
são — disse baixinho, unindo os lábios. — Você se lembra de quando
aquele garoto te ameaçou no ensino médio e socou o seu nariz?
— Foi um pouco traumático. Achei que fosse tomar uma verdadeira
surra, mas, no dia seguinte, descobri que ele tinha sido expulso.
— O seu pai ficou furioso quando soube que você tinha apanhado e
foi até a escola. Ele disse ao diretor que se ele não expulsasse o rapaz, que
garantiria a falência da instituição — contou, me causando certa surpresa.
— Depois disso, ele te obrigou a andar com seguranças.
— Sim, é verdade.
— Ele ficou com medo de alguém te fazer mal na rua.
Engoli em seco, virando o rosto para o lado.
— Isso não muda o que ele fez.
— Não, não muda, mas quero que entenda que ele te amava do jeito
dele. No leito de morte, quando a morfina não fazia mais efeito e ele
delirava de dor, se contorcendo na cama do hospital, era comum ouvi-lo
chamar pelo seu nome.
— Foi ele quem me contou sobre o casamento do Levi com a
Ariane. Vê-lo feliz com aquilo partiu o meu coração. Ele sabia que éramos
namorados e, mesmo assim, não hesitou em colocar o seu plano em ação,
dividindo a nossa família, quebrando a todos nós.
— Talvez um dia você consiga perdoá-lo. Se não conseguir,
ninguém irá te julgar por isso.
A ferida mais dolorosa sempre será causada por aqueles que
amamos. O meu pai foi o meu herói na infância. Ele era maravilhoso, mas
conforme fui crescendo, ele foi se afastando e aos poucos, eu entendi que
esse distanciamento foi causado por eu ser diferente dos outros garotos.
Isso me causou certa tristeza, afinal, os pais deveriam amar os filhos
exatamente como eles são, não é?
No entanto, depois do que ele fez comigo e com Ariane, privando a
nós dois de vivermos os nossos sonhos e de ter uma vida feliz com os
nossos amores, essa tristeza se transformou em algo ruim. Desde então, não
consigo sentir nada além de raiva, mágoa e ódio.
Como mamãe disse...
Talvez um dia eu consiga perdoá-lo.
— O Levi está demorando. — Mudei de assunto, voltando-me a
Gael que seguia sentadinho no chão, vendo vídeos no tablet. — Será que
aconteceu algo?
— Não duvido que antes de voltar para casa, ele tenha passado no
zoológico e roubado um elefante para te surpreender de novo — disparou
mamãe com bom humor, me arrancando uma gargalhada, rindo comigo.
— E-E-Eu quero ver um elefante, vovó. — Gael deixou o tablet de
lado e se levantou, aproximando-se de nós. — Tá bom?
— O papai e o titio vão te levar para ver.
— Hoje? — Gael voltou-se a mim e se aproximou. Depois de apoiar
as mãozinhas nos meus joelhos, ofereceu-me aquele sorrisinho sapeca.
— Podemos ir amanhã, amor do titio. O que acha?
— Unhum. — Sacudiu a cabeça e dando pulinhos, sentou-se no
chão novamente, voltando a sua atenção ao tablet.
A porta se abriu e eu me voltei em sua direção. Era Levi. O meu
coração se acelerou e sutilmente puxei fôlego pelos lábios entreabertos,
mantendo-me no mesmo lugar, sentindo a pressão do seu olhar sobre mim.
— Pa-pai! — gritou Gael, correndo na direção dele.
— Oi, campeão do papai — respondeu e o pegando no colo, beijou
o seu rostinho. — Já almoçou?
— Já, papai.
— Deu trabalho para a vovó?
— O Gael é bonzinho, papai — respondeu, nos arrancando um
sorriso.
— O papai e o titio precisam conversar — disse mamãe e ao se
levantar do sofá, adiantou-se até Levi, parando próximo a ele. Depois de
pegar Gael no colo, rumou na direção da segunda sala. — Vamos ouvir as
músicas da Xuxa?
— Ouvir e dançar, vovó.
— Isso mesmo, meu príncipe — confirmou mamãe.
Ao ouvi-lo pigarrear, voltei-me em sua direção, alinhando os nossos
rostos. Permanecemos alguns segundos nos encarando, antes de ele vir até
mim. Sem qualquer hesitação, Levi se ajoelhou na minha frente,
aconchegando-se entre as minhas pernas e erguendo o rosto, fixou os olhos
nos meus.
— Por onde devo começar? — sussurrou, me fazendo encolher os
ombros.
— Apenas fale e eu irei te ouvir — respondi no mesmo tom,
sentindo o meu coração se aquecer.
— Quando o seu pai fez a proposta de casamento, tentei convencê-
lo de que poderia ser entre nós, eu e você, mas ele recusou. — Engoli em
seco. — Como já disse, estávamos falidos e sem um centavo. Se eu não
tivesse aceitado, eu iria jogar fora a única chance de sobrevivência da
minha mãe. No meu lugar você...
— Teria feito o mesmo — respondi antes que ele terminasse a frase,
o vendo esticar os lábios em um sorriso.
— Ele também decidiu que eu não deveria te contar, do contrário,
não teríamos um acordo. Ele mesmo queria contar.
Ofeguei ao ouvir aquilo, cerrando os punhos.
— E depois?
— A sua irmã e eu levamos três dias para bolar um plano quase
perfeito. Ela viveria o seu amor com o John e eu com você, mas fingiríamos
um casamento feliz. Acontece que quando iríamos te contar, você havia ido
embora.
John era o amor de infância de Ariane e filho do nosso jardineiro.
Quando eles começaram a se envolver e o senhor Saint descobriu, ele os
despediu na esperança de sufocar esse amor.
— O contrato de casamento proibia que eu me aproximasse e
quando você foi embora, juro que quis deixar tudo para sair a sua procura,
mas...
— A sua família precisava de você — concluí, sentindo os meus
olhos arderem.
— Sim, elas precisavam — confirmou, puxando por fôlego, com as
primeiras lágrimas marcando o seu rosto. — A única vez que toquei a sua
irmã foi no altar, depois de dizer “sim”. Também nunca dormimos juntos.
Como eu disse no aeroporto, o Gael é meu filho por escolha, não de sangue.
Ouvi-lo me chamar de papai é maravilhoso e, para todos os efeitos, eu sou o
pai dele, hoje e sempre. — Sorriu, me fazendo sorrir com ele.
— Não precisa continuar.
Ele franziu a testa e engoliu em seco, mirando-me angustiado,
beirando o desespero. Toquei o seu rosto, roçando o dedão em sua
bochecha, oferecendo-lhe mais um sorriso.
— Pouco depois que cheguei em casa, mamãe me convenceu a
retomar a leitura do diário. Depois das páginas rasgadas, ainda haviam
muitas outras para serem lidas.
— Que páginas rasgadas? — Franziu a testa, confuso.
— As que me fizeram deduzir que a Ariane te amava e que você era
o pai biológico do Gael. — Balancei a cabeça e peguei o diário ao meu
lado, o abrindo, nas duas últimas páginas. — Caso queira, depois você dar
uma olhada no diário. Agora eu gostaria de ler as últimas duas páginas, tudo
bem?
— Por favor, meu amor.
Pigarreei e respirando fundo, comecei a leitura:
“O seu sobrinho é mesmo um sapeca! Em um momento de descuido,
ele arrancou algumas páginas do meu diário para poder desenhar nelas.
Lembro-me vagamente do que escrevi, mas farei um resumo, ok?
John, o filho do nosso jardineiro. Você se lembra dele? O amor da
minha vida faleceu em um assalto. A notícia me colocou em trabalho de
parto três semanas antes do previsto.
Como seria a vida do Gael sem o pai?
Como seria a minha sem o meu amor?
Isso pode soar um pouco egoísta, mas, muito obrigada, meu amado
irmão. Você escolheu muito bem a quem dar o seu coração. Diante do meu
desespero, Levi, o melhor amigo que tive em toda a vida, veio ao meu
socorro e disse: seu filho não crescerá sem pai, eu serei o pai dele de agora
em diante”.
Solucei em meio à leitura, com as lágrimas descendo uma atrás da
outra. Funguei algumas vezes e puxei por fôlego.
— Quer ler o trecho final? — perguntei com a voz embargada,
esfregando o rosto com uma das mãos, enxugando as lágrimas.
Levi assentiu com a cabeça e pegou o diário.
“Termino esse diário à beira da morte.
Eles dizem que vou melhorar, mas sei que não, sei que estou
morrendo. Como mãe, preocupo-me com o meu filho. Como irmã, lamento
se te feri, mas a ideia de vê-lo internado em uma clínica psiquiátrica, como
papai disse que faria caso eu me recusasse a casar com Levi, era
inaceitável.
Por te amar, aceitei me casar com o seu homem e peço perdão por
isso. No entanto, se lembre que, por te amar, nunca, em nenhum momento,
consegui vê-lo como homem, mas como um irmão. Torço para que o nosso
sacrifício em viver um falso casamento tenho valido a pena.
Depois que eu morrer, o contrato perderá a validade e com isso
vocês poderão ser felizes.
Como a sua irmã mais velha, mesmo que seja apenas por dois
minutos, sinto orgulho de ter cuidado de você até o fim. Se há algo que eu
possa pedir, peço para que ao lado de Levi, você seja um excelente pai para
o meu filho, o seu sobrinho. Ele vai adorar ter dois papais e tenho a
absoluta certeza de você irá se sair muito bem.
Eu adoraria ganhar um abraço seu antes de partir. Infelizmente,
acredito que não será possível, mas saiba que eu te amo com toda a minha
alma, meu pequeno e amado irmão”.
Àquela altura eu já não me aguentava mais e em meio aos soluços,
cobri o meu rosto com ambas as mãos, rendendo-me ao choro. Não
demorou para que Levi se sentasse ao meu lado, puxando-me em sua
direção; o abracei e escondi o rosto no seu peito, deixando que toda a dor e
remorso saíssem.
— Fui um péssimo irmão — disse com a voz embargada, sem
conseguir parar de soluçar. — Enquanto ela cuidava de mim, pensei e
desejei coisas horríveis.
— Ariane, melhor do que ninguém, conseguia entender a sua dor.
Como você mesmo leu, não havia mágoa ou raiva, apenas amor. Ela te
amou até o fim — sussurrou, pousando a mão sobre a minha nuca,
acariciando-a lentamente.
— Apesar de estar magoado, eu a amava. Só voltei para me despedir
dela. Mesmo sem saber a verdade, quando mamãe me avisou que a Ariane
havia falecido, vim correndo — contei baixinho, apertando-o ainda mais
junto a mim.
— Eu sei, meu amor.
Engoli o choro e puxei por fôlego. Ao soltar Levi, me afastei,
erguendo o meu rosto e alinhando-o com o dele.
— Pode me perdoar por ter estragado o plano de vocês? Por não ter
deixado vocês se explicarem? Por ter pensado o pior quando você e a minha
irmã só estavam tentando me proteger?
Senti a ponta dos seus dedos tocarem o meu queixo e, no instante
seguinte, ele se inclinou selando os meus lábios, antes de beijar a minha
testa e me abraçar com força.
— Não há o que perdoar, meu amor. Você não fez nada de errado.
— Beijou a minha cabeça, respirando fundo. — Eu te amo e não quero que
vivamos do passado. De agora em diante, vamos focar no nosso futuro, com
a nossa família e com o nosso filho.
Tomado por uma calmaria, senti o calor do seu corpo aquecer o
meu. Fechei os olhos e assenti com a cabeça, voltando a abraçá-lo.
— Eu te amo muito, muito mesmo. Obrigado por não desistir de
mim, quando eu mesmo já havia desistido. — Funguei, escondendo o rosto
no seu peitoral.
— Nem em um milhão de anos eu faria isso — sussurrou,
arrepiando-me com as suas palavras bonitas, como sempre fazia.
O passado irá ficar no passado e, de agora em diante, iremos
construir o nosso futuro, com a nossa família e o nosso filho. Sim, nosso
filho, exatamente como a minha irmã, Ariane, desejou que fosse.
Duas semanas depois...
Ao toque do Sol matinal em meu rosto, entreabri os olhos e me
espreguicei, sentindo-o aconchegado sobre mim. Sorri e pousei a mão em
sua nuca e ao me inclinar, beijei a sua testa algumas vezes.
Por longos segundos admirei aquele rosto adormecido no meu
peitoral, enquanto roçava o dorso da mão em sua face. Os meus batimentos
eram lentos e suaves, carregados de um amor que transbordava pelo meu
corpo, percorria as minhas veias e irrigava todo o meu ser.
Era como se uma grande batalha tivesse chegado ao fim, trazendo-
nos a vitória. Passamos por muitas coisas; sofremos, choramos, perdoamos
e, enfim, recomeçamos. O tempo da dor passou e um novo tempo, o do
nosso amor e da nossa família, estava apenas começando.
Adrian se mexeu, esfregando o rosto contra a minha pele e quando
abriu os olhos, ainda sonolentos, fixou aquele seu doce olhar em mim, me
fazendo admirar o acinzentado dos seus olhos com atenção. Suspirei,
entreabrindo a boca em um sorriso sutil e deslizei o dedão em seus lábios,
acariciando-o.
— Bom dia, meu amor — sussurrei, arrancando-lhe um sorrisinho.
— Eu só queria dizer que é maravilhoso acordar mais um dia ao seu lado —
emendei, mantendo o tom de voz baixo.
— Bom dia, meu amor — respondeu, quase que inaudível.
O nosso olhar permaneceu um no outro por longos minutos. Não
havia a necessidade de palavras. Os nossos olhos diziam o que
precisávamos ouvir e isso era mais do que suficiente para nós.
Ao se mexer novamente, Adrian aconchegou o traseiro no meu
abdômen e se ergueu, entreabrindo a boca em um bocejo, antes de erguer os
braços para cima. Os cabelos bagunçados o deixavam tão lindo!
Sem conseguir me conter, segurei-o pela cintura e também me ergui,
levando os lábios de encontro ao seu peitoral, beijando-o incansavelmente.
Quando cessei os beijos, ergui o rosto em sua direção, o vendo esticar e
deixar um lindo sorriso escapar, antes de abraçar-me pelo pescoço.
— Casa comigo? — Enfim, fiz o pedido.
Adrian me soltou rapidamente e ao se afastar, o suficiente para
deixar os nossos rostos alinhados, percebi que os seus olhos estavam
arregalados e, aos poucos, enchiam-se de lágrimas.
— Quero ser o seu marido, o seu dono, o seu melhor amigo. Aquele
que estará ao seu lado em todos os momentos, de hoje até o fim das nossas
vidas. — Sorri ao dizer aquilo e, engolindo em seco, prossegui: — É apenas
uma formalidade, mas eu gostaria de te assumir publicamente para o mundo
inteiro.
Adrian puxou por fôlego, permitindo que as primeiras lágrimas
caíssem. Ele engoliu em seco e assentiu com a cabeça, segurando o choro.
— E-E-Eu quero muito. — Soluçou, fungando algumas vezes. De
súbito, inclinou-se, voltando a me abraçar. — Espero por isso há tanto
tempo, meu amor.
Passei os braços ao redor da sua cintura e o apertei junto a mim,
beijando o seu pescoço algumas vezes. Em seguida, estiquei a mão até a
cômoda, pegando a pequena caixinha que havia deixado ali ontem à noite.
— Tenho algo para mostrar.
Adrian se endireitou e quando viu a caixinha, entreabriu a boca,
voltando a fazer cara de choro. Àquela altura, os meus olhos já estavam
ardendo, ameaçando se unir aos dele, num pranto de pura alegria.
— Quando estávamos falidos eu não tinha muito dinheiro, então
comprei essas alianças. São simples, mas... — Engoli as palavras, abrindo a
caixinha.
— São perfeitas! — Ofegou, pegando uma das alianças, admirando-
a com um sorriso que mal cabia no rosto. — E você as guardou todo esse
tempo... — O seu sorriso se alargou ainda mais.
— Nunca perdi a esperança em nós.
— Vamos usá-las no dia do nosso casamento — disse ofegante,
abraçando-me mais uma vez. — Nenhuma joia se compara ao amor que
temos um pelo outro.
Adrian encarou-me rapidamente e colocou a aliança no dedo,
exibindo a mão no alto. Em seguida, tocou o meu rosto com ambas as mãos,
encostando a testa a minha, antes de tocar os nossos lábios, envolvendo-os
em uma calorosa e lenta troca de chupões.
— Eu te amo, meu amor.
— Eu também te amo, meu amor — respondi em meio ao beijo e,
de súbito, nos girei na cama, ficando por cima dele, sentindo-o passar as
pernas ao redor da minha cintura. — Podemos retomar a nossa operação
secreta?
Ele riu, franzindo a testa.
— Que operação é essa?
— É a operação chame pelo meu nome.
Adrian gargalhou ainda mais e quando o riso cessou, mordeu o lábio
inferior.
— Acho que vou gostar bastante.
— Essa é a ideia — sussurrei e passando a língua pelo lábio inferior,
admirei-o por mais alguns segundos, antes de partir para o ataque.

Um pouco mais tarde...


Quando contei para Berlin, Beatrice e Lindsey o motivo de ter feito
aquela pergunta sobre o viúvo e o que havia acontecido, juntamente com o
desfecho da história, elas ficaram chocadas. Não no sentido ruim, mas por
tudo que eu havia passado para, enfim, ser feliz ao lado do homem da
minha vida.
Como esperado, elas me deram todo o apoio e eu agradeci,
lembrando-as que o grande ponto de partida havia sido o conselho que me
deram de forma despretensiosa.
Obviamente, as deixei de sobreaviso, pois queria contar com a
presença das três no meu casamento, ainda sem data. Levi e eu
concordamos que vamos esperar um pouco para que o Gael se acostume
com a nossa relação.
Não creio que vá demorar, pois crianças são puras e inocentes. O
preconceito é algo exclusivo dos adultos, incapazes de aceitar as diferenças
e dedicados a propagá-las.
Deixando aqueles devaneios de lado, aconcheguei-me na poltrona e
retomei a minha leitura, que acabou sendo interrompida pelo meu filho. Ele
se aproximou, de sunga, todo molhado e apoiou as mãos nos meus joelhos,
mirando-me com aqueles grandes olhinhos brilhantes.
— Papai — disse, me fazendo derreter. — O Gael pode pegar os
patinhos para mostrar pros amiguinhos?
— O papai vai pedir alguém para trazer, tá bom? — respondi,
tocando o seu rostinho. Gael assentiu com a cabeça e disparou em direção à
piscina inflável.
Poucos dias depois que Levi e eu nos entendemos, perguntei a Gael
se eu também poderia ser o seu papai e a resposta imediata foi um sonoro e
empolgado “sim”. Desde então, ele me chama de papai.
Sem dúvidas, é uma palavra maravilhosa de se ouvir e eu pretendo
me esforçar muito para ser um excelente pai, juntamente com o Levi,
atendendo não só os meus anseios, como também, o último desejo da minha
amada irmã.
Dali da poltrona, vez ou outra eu o observava brincando com os
amiguinhos do condomínio. Aos risos, falando sem parar, sob a vigilância
constante das babás.
— O nosso filho é mesmo lindo — disse Levi ao se aproximar,
sentando-se ao meu lado, segurando um garfo de churrasco com uma das
mãos. Ao se inclinar, selou os meus lábios. — O que está lendo? — Espiou
a capa.
— Um dark romance gay.
Ele entreabriu a boca, surpreso.
— E o que a história conta?
— Eles são trigêmeos, mafiosos e lobisomens. Esses irmãos
possuem um harém e enquanto os seus predestinados não chegam, eles se
divertem bastante com os seus Betas — contei, o vendo erguer as
sobrancelhas. — O nome do livro é Goldrick, O Primeiro Alfa do autor
Yohan Bell.
— Você gosta bastante de histórias com lobisomens que são
mafiosos e cruéis, não é? — Mordeu o lábio inferior, me fazendo assentir
com a cabeça. — Deixe-me ver, hum... Esses lobos que exalam testosterona
e que também são criminosos, são cadelinhas dos seus predestinados?
— Muito!
— Ok, você venceu. Amanhã cedo vou comprar uma fantasia de
lobo. — Deu de ombros, me arrancando uma gargalhada.
— Eu vou adorar — disse baixinho.
— Eu sei — respondeu no mesmo tom, jogando-me uma piscadela.
— Os patinhos, papai! — gritou Gael ao longe, roubando a nossa
atenção para si.
— A vovó vai levar — Ouvi o grito de mamãe ecoar do primeiro
andar.
— Daqui a pouco a carne estará pronta para almoçarmos — avisou e
selando os meus lábios novamente, se colocou de pé, adiantando-se em
direção à churrasqueira.
Alguns poucos minutos depois, mamãe atravessou a porta que dava
acesso à varanda dos fundos, abraçada a inúmeros patos de borracha. Ao se
aproximar, parou ao meu lado, oferecendo-me um sorriso e apressou o
passo até Gael. Em seguida retornou e, ao se sentar ao meu lado, pousou os
olhos em mim.
— Fiz algo errado? — Encolhi os ombros.
Mamãe sacudiu a cabeça e respirou fundo.
— Te ver irradiando felicidade me deixa feliz, meu filho — disse,
aquecendo o meu coração. — Diga-me, é do jeito que você sonhou?
— É muito melhor do que eu sonhei, mamãe — respondi sorridente,
a vendo sorrir de volta para mim.
O que estou vivendo agora é muito, muito, muito melhor do que
sonhei. Juntos, Levi e eu iremos trabalhar para que o nosso sonho nunca
chegue ao fim, pois lutamos com todas as nossas forças para chegar até
onde chegamos.
Que o amor, hoje e sempre
seja um direito de todos!
FIM
Com milhões de leituras nas plataformas digitais, o autor que
atualmente reside em Curitiba — PR, utiliza o pseudônimo Yohan Bell para
publicar romances adultos, voltados ao público LGBTQIA+.
Conheça os meus livros:
https://www.amazon.com.br/YohanBell
Fiquem atentos aos próximos lançamentos:
https://www.instagram.com/autoryohanbell

[1] Protagonista de “Meu Faz De Conta Que Sempre Foi Amor” da autora
D. A. Lemoyne.
[2] Protagonista de “A Babá Que Conquistou O Médico Viúvo e Solitário”

da autora Stephânia de Castro.


[3] Protagonista de “Apaixonada e Enganada Pelo Príncipe Vingativo” da

autora Carlla Arine.


[4] Protagonista do livro “Capitão Guimarães” do autor Yohan Bell.

Você também pode gostar