Educacao e Cultura Ebook
Educacao e Cultura Ebook
Educacao e Cultura Ebook
-2-
Lourenço Ocuni Cá
Jarles Lopes de Medeiros
Cristina Mandau Ocuni Cá
Organizadores
-3-
-4-
Lourenço Ocuni Cá
Jarles Lopes de Medeiros
Cristina Mandau Ocuni Cá
Organizadores
-5-
Comitê Científico Alexa Cultural
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice-presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Adailton da Silva (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Alfredo González-Ruibal (Universidade Complutense de Madrid - Espanha)
Aldair Oliveira de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC – Florianópolis/SC)
Arlete Assumpção Monteiro (PUC/SP - São Paulo/SP)
Barbara M. Arisi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP – São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL – Alfenas/MG)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica - Costa Rica)
Débora Cristina Goulart (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Diana Sandra Tamburini (UNR – Rosário/Santa Fé – Argentina)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP – São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR – Porto Velho/RO)
Evandro Luiz Guedin (UFAM – Itacotiara/AM)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Fabiano de Souza Gontijo (UFPA – Belém/PA)
Gilson Rambelli (UFS – São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Iraíldes Caldas Torres (UFAM – Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Juan Álvaro Echeverri Restrepo (UNAL – Letícia/Amazonas – Colômbia)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (USP/EcA - São paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA – Salvador/BA)
Leandro Colling (UFBA – Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG – Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP – São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Mabel M. Fernández (UNLPam – Santa Rosa/La Pampa – Argentina)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
María Teresa Boschín (UNLu – Luján/Buenos Aires – Argentina)
Marlon Borges Pestana (FURG – Universidade Federal do Rio Grande/RS)
Michel Justamand (UNIFESP - Guarulhos/SP)
Miguel Angelo Silva de Melo - (UPE - Recife/PE)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU – São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR – Curitiba/PR)
Renilda Aparecida Costa (UFAM – Manaus/AM)
Roberta Ferreira Coelho de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Sebastião Rocha de Sousa (UEA – Tabatinga/AM)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ – Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL – São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC – São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)
-6-
A cultura forma sábios;
a educação, homens.
Louis Bonald
-7-
© by Alexa Cultural
Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans
Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Klanger
Imagem de Capa
Burrinho correndo - Anita Malfatti- 1909
Revisão Técnica
Jarles Lopes de Medeiros
Editoração Eletrônica
Alexa Cultural
Educação e Cultura sob Múltiplos Olhares. Lourenço Ocuni Cá, Cristina Mandau
Ocuni Cá e Jarles Lopes de Medeiros São Paulo: Alexa Cultural, 2024.
14x21cm -308 páginas
ISBN - 978-85-5467-465-6
CDD - 370
-8-
PREFÁCIO
Boa leitura!
-9-
- 10 -
SUMÁRIO
PREFÁCIO
Jarles Lopes de Medeiros
-9-
O PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM E A IMPLICAÇÃO AVALIATIVA
Francisco Lindomar de Lima Silva, Fernando Nunes de Vasconcelos e
Lourenço Ocuni Cá
- 15 -
- 11 -
A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO
FUNDAMENTAL: BRASIL (BNCC), ANGOLA E GUINÉ-
BISSAU
Salomão Nanque, Beni Kumbi Alberto, Joaquim Cassoma Jumba e
Lourenço Ocuni Cá
- 89 -
- 12 -
FORMAÇÃO PAIC PARA PROFESSORES/AS INDÍGENAS
DE CAUCAIA INTEGRANDO A ERER E AS DEMANDAS
E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA NA
ETAPA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Alessandra Sabóia Jucá e Maria Josiane Rocha Rodrigues
- 171 -
- 13 -
AS LINGUAGENS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Caroline Lima Silva e Jarles Lopes de Medeiros
- 245 -
- 14 -
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
E A IMPLICAÇÃO AVALIATIVA
Introdução
- 15 -
curiosidade epistemológica do aprendente. Ademais, o papel/perfil
do/a professor/a é definido por Cá e Cá (2020), Tardif, (2014), res-
saltando que a responsabilidade de um professor vai muito além de
simplesmente transmitir conhecimento. Ela envolve um compromis-
so profundo com o ensino, a aprendizagem, a avaliação, o desenvol-
vimento dos/as alunos/as e a criação de um ambiente que promova
a formação intelectual e ética. Qualquer falha nesses aspectos pode
prejudicar significativamente a qualidade da educação.
A compreensão que temos a respeito do processo de ensino-
-aprendizagem e avaliação é fruto de um processo de construção
histórica. Como diz Freire (1991, p. 58):
- 16 -
cepções de aprendizagem, estando em consonância a um verdadeiro
processo avaliativo, darão significado positivo a esses procedimen-
tos pedagógicos.
A qualidade da relação entre professor/aluno/professora/alu-
na é um fator crucial para o sucesso da aprendizagem, pois um am-
biente de confiança e respeito mútuo facilita por demais a comuni-
cação e o engajamento de aluno/aluna no processo de aprendizagem.
Professores/Professoras que conhecem seus/suas alunos/alunas indi-
vidualmente entendem suas necessidades e estilos de aprendizado,
podendo adaptar melhor suas estratégias de ensino e avaliação.
Usar procedimentos avaliativos é, antes de tudo, ter clareza
que as compreensões de aprendizagem têm uma significação im-
portante a esses procedimentos metodológicos e pedagógicos que
a escola/instituição de ensino proporciona. Assim sendo, entre nós,
educadores/as, há uma necessidade de investirmos na “aprendiza-
gem da avaliação”. Essa é uma habilidade importante que neces-
sitamos adquirir para que a aprendizagem de nossos alunos/alunas
realmente aconteça.
De acordo com Luckesi (2005) o papel da avaliação é diag-
nosticar a situação da aprendizagem, tendo em vista subsidiar a to-
mada de decisão para a melhoria da qualidade do desempenho de
educando/educanda. O autor corrobora dizendo que a avaliação é
processual e dinâmica. Isso implica que a avaliação não deve ser in-
fluenciada por preconceitos, preferências pessoais ou emoções, mas
sim, baseada em uma compreensão objetiva da situação ou do objeto
que está sendo avaliado. A aceitação da realidade como ela se apre-
senta permite uma avaliação mais precisa e justa, pois não distorce
os resultados em direção a uma perspectiva mais favorável.
Corroborando esse entendimento, o ato de avaliar é um pro-
cesso que deve ser orientado para a busca do melhor resultado
possível e que, para alcançar esse objetivo, é necessário acolher a
realidade como ela é, independentemente de ser satisfatória ou insa-
tisfatória agradável ou desagradável, uma vez que a disposição para
acolher essa realidade é vista como o ponto de partida fundamental
para qualquer prática de avaliação.
Luckesi (2005), com base no contraponto entre o que carac-
teriza a avaliação da aprendizagem e a observação das experiências
vividas nas nossas escolas, considera que, em vez de avaliação, o
- 17 -
que se pratica nas escolas/instituição de ensino são os exames, uma
vez que as dificuldades apresentadas pelos alunos/alunas não são
diagnosticadas para subsidiar uma intervenção adequada, mas são
classificadas, tendo em vista a aprovação ou a reprovação.
À luz do entendimento do autor/a, “a prática do exame, de-
vido a operar com os recursos de aprovação/reprovação, obrigato-
riamente conduz à política da reprovação, que tem se manifestado
como o mais consistente álibi para o fracasso escolar” (Luckesi,
2005, p. 19). Em avaliação não se julga nem se classifica e sim, se
diagnostica e se intervém em favor da melhoria dos resultados do
desempenho de educandos/educandas
A visão expressa é que a avaliação não deve ser usada apenas
para julgar ou classificar os alunos e sim como uma ferramenta para
diagnóstico e intervenção em favor da melhoria do desempenho de
educandos/educandas. Implicando que a avaliação deve sempre ser
uma das ferramentas educacionais mais ampla, no sentido de ajudar
os/as professores/professoras a entender as necessidades individuais de
alunos/alunas, identificar áreas em que precisam de apoio adicional e
implementar estratégias de ensino que promovam o aprendizado e o de-
senvolvimento de todos/todas envolvidos/envolvidas nesse processo de
aquisição de conhecimento historicamente acumulado pela sociedade.
A discussão sobre a avaliação escolar está, de fato, diretamen-
te vinculada ao processo de ensino-aprendizagem, e é fundamental
para a prática pedagógica de professores/professoras. Entretanto, a
visão dicotomizada de que professor/professora ensina e aluno/alu-
na aprende não reflete a complexidade real desse processo.
[...] Um professor que não leva a sério sua prática docente, que,
por isso mesmo não estuda e ensina mal, o que mal sabe que não
luta para que disponha de condições materiais indispensáveis á sua
prática docente, se proíbe de concorrer para a formação da impres-
cindível disciplina intelectual dos estudantes. Anula-se, pois, como
professor. [...]” (Cá; Cá, 2020, p. 50).
- 18 -
como um instrumento de comunicação que facilita a construção do
conhecimento e o desenvolvimento de alunos/alunas.
Nessa perspectiva, a avaliação não é vista apenas como uma
ferramenta para medir o desempenho dos alunos, mas como um
meio de fornecer informações valiosas, que orientam o processo de
aprendizagem. É considerada uma via de mão dupla, na qual os pro-
fessores e os alunos podem se comunicar, compartilhar informações,
refletir sobre o progresso/retrocesso e identificar áreas de melhoria.
Para que os professores adotem essa abordagem de avaliação,
é essencial que recebam uma formação adequada, coerente e alinha-
da com uma visão da avaliação como instrumento de comunicação e
aprendizado. É fundamental para que os professores possam aplicar
efetivamente essa abordagem em suas práticas pedagógicas, con-
tribuindo para a construção de um ambiente de aprendizagem mais
eficiente e eficaz.
A relação ensino-aprendizagem-avaliação toma outro rumo,
distancia-se da visão cartesiana-positivista-tradicional de conheci-
mento, de tempo e de educação. O ensino é entendido como um pro-
cesso de criação das condições didático-pedagógicas para instigar a
curiosidade epistemológica do aprendente (Freire, 2000).
A prática educativa docente se compõe de situações didático-
-pedagógicas que fazem o diálogo entre as necessidades de apren-
dizagem dos aprendentes, as temáticas do cotidiano e os conteúdos
curriculares em um tempo escolar flexível. Por mais que o plane-
jamento seja dialógico e contextualizado, o plano de ensino do/a
professor/a é inconcluso e, consequentemente, flexível. Ou seja, o
ensino é uma dinâmica aberta, um sistema de ações que constitui
uma rede complexa de significação, de construção de sentido con-
textualizado que se deve refazer continuamente.
A aprendizagem é o movimento de reconstruir-se como su-
jeito, reconstruindo o meio em que se vive. É entrar em conflito no
processo de se descobrir enquanto um ser em construção histórico
e cultural que tem uma responsabilidade social e política na con-
servação de transformação da realidade. Aprender representa saber
cuidar de si, saber cuidar do outro e saber cuidar do ambiente no
desenvolvimento da consciência cidadã que se manifesta em novas
formas de organização do pensamento e de posturas frente ao mun-
do e seus dilemas.
- 19 -
Esse cenário exige do/a professor/a uma postura aberta às
contribuições dos sujeitos, uma posição de inconclusão do seu tra-
balho e de sua identidade. Requerer também uma disposição para
a pesquisa, para construir conhecimentos que se transformem em
situações didático-pedagógicas significativas. O Processo de Ensi-
no-Aprendizagem e Avaliação é um meio importante para alimentar
uma rede de informação que subsidie a discussão na escola sobre os
desafios, os limites e as possibilidades que o cotidiano escolar impõe
à prática pedagógica.
Desenvolvimento
- 20 -
tão enfrentando desafios. Com base nessas informações, eles podem
tomar decisões informadas para ajustar suas abordagens de ensino,
currículo e estratégias pedagógicas, visando melhorar a qualidade
da educação. Portanto, a articulação eficaz entre avaliação, ensino-
-aprendizagem, políticas educacionais e comunidade é fundamental
para garantir uma educação de qualidade que promova o desenvol-
vimento pleno dos alunos e contribua para uma sociedade mais in-
formada e engajada.
Nessa perspectiva da avaliação como processo, algumas
ações, como organizar, fazer análises mais precisas sobre sua evolu-
ção, comparar tarefas e estabelecer relações entre respostas, são fun-
damentais. É possível desenvolver proximidade e intimidade maior
com o processo ensino-aprendizagem, transformando a ação avalia-
tiva em um momento de ação da aprendizagem e em um momento
de ação-reflexão-ação que apoiaria futuras intervenções no que diz
respeito ao currículo e seus desdobramentos no projeto político-pe-
dagógico de uma instituição de ensino (Carminatti; Borges, 2012).
A avaliação é, portanto, uma ação crítica e transformadora,
em que o professor acompanha de perto o grupo de alunos/as, inves-
tiga, observa e reflete sobre educandos, o grupo, sua própria prática
pedagógica e a instituição. E isso é de extrema importância na edu-
cação, porque coloca o professor no centro de um processo de apren-
dizado contínuo, onde a observação cuidadosa e a reflexão constante
são ferramentas poderosas para melhorar a qualidade da educação e
o desenvolvimento dos/as alunos/as. Enfim, o ensino-aprendizagem
requer que a educação vá além do ensino de conteúdos, visto que é
um processo complexo que demanda uma abordagem atenta e adap-
tativa.
A avaliação na educação não deve ser vista como um processo
isolado e sim, como parte integrante do planejamento pedagógico.
Ela desempenha um papel crucial na criação de objetivos educacio-
nais claros e na elaboração de atividades adequadas para atingir es-
ses objetivos. Colaborando com os/as professores/as a definir metas
e objetivos específicos para seus alunos/as, a avaliação não apenas
fornece um sentido de direção/orientação, mas também ajuda a men-
surar o progresso dos alunos em relação a esses objetivos.
Ademais, as reflexões constantes sobre as práticas de avalia-
ção são fundamentais para garantir que ela esteja alinhada com os
- 21 -
objetivos pedagógicos e que realmente contribua para o crescimento
e o desenvolvimento dos/as alunos/as, isto é, que seja uma aborda-
gem holística, considerando não apenas os resultados, mas também
o processo de aprendizagem, como fundamental para promover uma
educação de qualidade.
A avaliação gradual reconhece que a aprendizagem é um
processo contínuo e que as crianças estão constantemente adqui-
rindo novos conhecimentos e habilidades. Esse tipo de avaliação
valoriza todas as etapas desse processo, não apenas os resultados
finais. A avaliação gradual e sistemática coloca ênfase na compreen-
são completa do progresso e das necessidades das crianças, crian-
do um ambiente de aprendizagem mais eficaz e personalizado. Ela
permite que os educadores sejam mais eficazes em seu trabalho,
ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento integral das
crianças. Para Rabelo (1998) faz-se necessário lembrar que: “tentar
uma prática de avaliação que objetive essa perspectiva virá, con-
sequentemente, questionar todo o nosso modo de pensar e de agir,
nossa consciência, nossa prática pedagógica e social, virá questionar
a sociedade como um todo”.
Corroborando com autor, tais questões envolvem mudanças
filosóficas. Nesse contexto, significa afirmar que conceitos e práti-
cas que constituem a avaliação da aprendizagem só podem existir
se estiverem articulados com uma pedagogia construtiva (Luckesi,
2005), ou seja, articulado/alinhado com uma pedagogia humaniza-
dora que esteja atenta ao ser humano na sua integralidade como um
ser em movimento, em construção permanente.
Considerando a avaliação da aprendizagem como um meio
de que o/a professor/a dispõe para obter informações sobre o progres-
so e as dificuldades dos/as alunos/as, bem como para apoiar o pro-
cesso de ensino- aprendizagem, ela deve ser extremamente precisa e
alinhada com as melhores práticas educacionais. Em última análise, a
avaliação da aprendizagem desempenha um papel crucial na promo-
ção do desenvolvimento escolar/acadêmico, social e emocional dos/as
alunos/as. Quando é usada de maneira eficaz, ela não apenas mede o
progresso, mas também o impulsiona, tornando o processo de ensino-
-aprendizagem mais significativo e gratificante para todos os envolvi-
dos, “motiva na mesma medida em que diagnostica e cria o desejo de
obter resultados mais satisfatórios” (Luckesi, 1995).
- 22 -
A avaliação é parte do processo de ensino aprendizagem. São
intrínsecos. Ela é fundamental no fornecimento de dados, essenciais
a previsão de objetivos, metodologia e competências e habilidades
que compõem o currículo escolar. O docente precisa olhar para a
essência destes dois processos para que possa contribuir com uma
educação que seja de qualidade, emancipatória e humanística.
O trabalho docente requer dedicação e esforço do professor,
mas vale ressaltar que o processo de ensino e aprendizagem não é de
responsabilidade exclusiva do mesmo. Freire (2015, p. 26) defende
que o ensino deve ser voltado para o desenvolvimento da criticidade
do aluno, assim como para a curiosidade e insubmissão, e que “essas
condições implicam ou exigem a presença de educadores e de edu-
candos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos,
humildes e persistentes”.
Freire sugere em suas diversas obras que deve haver um diá-
logo entre o professor e o aluno de modo que a realidade onde o
estudante está inserido seja considerado. O percurso pedagógico vai
sendo moldado. Entretanto, o professor deve ser humilde pedagogi-
camente para construir uma prática pedagógica crítica, reflexiva e
dialógica. Segundo Freire (2000),
[...] um trabalho pedagógico que, a partir do conhecimento que o
aluno traz, que é uma expressão da classe social à qual os educan-
dos pertencem, haja uma superação do mesmo, não no sentido de
anular esse conhecimento ou de sobrepor um conhecimento a outro.
O que se propõe é que o conhecimento com o qual se trabalha na
escola seja relevante e significativo para a formação do educando
[...] proponho uma pedagogia crítico-dialógica. (Freire, 2000, p.
190-191).
- 23 -
Mesmo diante dos desafios, o processo de construção do co-
nhecimento deve ser compromisso sociopolítico, numa perspectiva
progressista. Segundo Cá e Cá (2020, p.49) “quanto mais tolerante,
quanto mais transparentes, quanto mais críticos, quanto mais curio-
sos e humildes, tanto mais assumem autenticamente, a prática do-
cente”.
Considerações finais
- 24 -
liação classificatória, ajudando a ajustar o ensino e oferecer oportu-
nidades para que os/as alunos/as melhorem seus desempenhos antes
da avaliação final. E que a chave é equilibrar a necessidade de ava-
liar o progresso e o desempenho dos/as alunos/as com a promoção
de uma aprendizagem significativa e formativa.
A complexidade do processo de ensino-aprendizagem é de
suma relevância, pois tem implicações significativas na análise da
realidade de cada indivíduo e grupo de alunos/as, uma vez que a
abordagem contemporânea da educação reconhece-a como uma
busca que leva a promover a individualização, a tecnologia como
ferramenta, a mudança de paradigma, a interlocução e a aprendiza-
gem ao longo da vida. Essas abordagens visam não apenas preparar
os/as alunos/as para o mundo atual, mas também capacitá-los a se-
rem aprendizes autônomos e adaptáveis em um mundo frenético e
em constante evolução.
Visto estarem ambos presentes nas instituições escolares, res-
saltamos, então, a importância de que a avaliação deve ser realiza-
da na concepção formativa, com intuito/esforço de promover uma
abordagem satisfatória a fim de reduzir a ênfase na avaliação classi-
ficatória, uma vez que as instituições escolares têm a oportunidade
de criar um ambiente educacional mais eficiente e eficaz, onde o
objetivo principal é a aprendizagem dos alunos e o desenvolvimento
de suas habilidades e competências. Isso pode contribuir para uma
educação de maior qualidade e relevância social.
Referências
- 25 -
FREIRE, Paulo. Educação na Cidade. São Paulo, Cortez Editora,
1991.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
HAYDT, R.C.C. Avaliação do processo ensino –aprendizagem.
São Paulo: Ática, 1997.
HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção
da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Mediação, 1993.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar:
estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1995.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem na esco-
la: reelaborando conceitos e criando a prática. 2 ed. Salvador: Mala-
bares Comunicações e eventos, 2005.
RABELO, Edmar Henrique. Avaliação: novos tempos, novas prá-
ticas. 7 ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1998.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 16. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
- 26 -
O OLHAR SOCIAL PARA RISCOS, TRAÇOS E
RABISCOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Lívia Barbosa Pacheco Souza
Elizabete Essamai Manga
Marina Tchuda Blabam
Introdução
- 27 -
responde a seguinte problemática “Qual a importância do desenho
no desenvolvimento infantil?”
- 28 -
Mas os pesquisadores precisam proceder com cautela ao ‘analisar’
os desenhos das crianças e ‘ler’ esses desenhos interpretativamente.
Às vezes, pode ser difícil interpretar os desenhos de uma
criança pequena, a menos que haja um diálogo sobre o trabalho.
Se a criança pequena demonstra um vocabulário reduzido, pode ser
duplamente difícil obter uma descrição detalhada do desenho, o que
muitas vezes deixa o professor ter que adivinhar seu significado.
Trabalhar de forma colaborativa na construção dos desenhos –
trabalhando com a criança como coconstrutora da imagem – pode
dar ao professor uma maior percepção das intenções da criança, pois
é capaz de observar de perto como surgem os desenhos da criança.
Mesmo assim, pesquisas que produzam tipologias de desenhos
infantis, ou observações e análises detalhadas de desenhos infantis,
podem eventualmente ser de muito pouco valor para os professores e
ter pouco impacto em suas formas de trabalhar com as crianças.
Os estudos socioculturais podem ajudar a expandir os enten-
dimentos sobre por que as crianças desenham (BROOKS, 2004), e
também podem oferecer descobertas que têm uma associação mais
próxima com as práticas cotidianas dos professores. Em sua pes-
quisa sobre a construção de significado na arte infantil, Matthews
(1999, p.6) observou que “o conjunto de ações que vemos na pri-
meira infância forma o substrato para modelos posteriores da reali-
dade”.
Esse expressivo ‘substrato’ sustenta a importância de com-
preender que o que as crianças fazem na infância configura proces-
sos de práticas posteriores. A pesquisa de Matthews (1999) e as in-
vestigações de Rogoff (2003) sobre o papel do cuidador ajudam a
apresentar uma base paradigmática para a construção de atividades
colaborativas de desenho em ambientes educacionais da primeira
infância.
Nesse ponto, acrescento à conversa as teorias de Bourdieu
(1993) sobre campo e habitus. É possível que os professores aces-
sem reflexivamente desenhos em referência ao habitus cultural de
uma criança. As colaborações entre professores e crianças podem
proporcionar aos professores oportunidades para facilitar e com-
preender os desenhos expressivos das crianças.
Os princípios para o desenho colaborativo, os professores
podem começar a entender as flutuações que ocorrem nas expres-
- 29 -
sões desenhadas de uma criança em desenvolvimento. Os princí-
pios orientadores incentivariam o desenho de episódios em que o
professor e a criança trabalhem de forma inter-relacionada, colabo-
rando por meio de uma troca rotativa de liderança, para forjar uma
compreensão mútua mais profunda do campo cultural um do outro e
como isso afeta o seu próprio.
- 30 -
À medida que as brincadeiras das crianças amadurecem, as
brincadeiras de faz de conta tornam-se mais evidentes. Crianças do
jardim de infância e da pré-escola que se envolvem em brincadeiras
de faz de conta ou de faz de conta assumem papéis explícitos e
seguem as regras implícitas inerentes a uma situação imaginária
construída (Bodrova; Leon, 2007). Este tipo de brincadeira permite
às crianças uma oportunidade de representar as suas ideias e como
tal pode ser visto como uma característica de “ambientes de apren-
dizagem poderosos” (Laevers, 2008).
- 31 -
para equilibrar a complexidade do ambiente e o estresse do desafio
em questão.
- 32 -
inibir sentimentos, experiências ou distrações ambientais ou pessoais
mais amplas (Papandreou, 2014). Os desenhos mudam e evoluem à
medida que as ideias das crianças mudam e se desenvolvem. A fle-
xibilidade cognitiva é demonstrada à medida que o desenho e o pen-
samento das crianças se transformam, enquanto o ato de desenhar
permite que as crianças vejam o seu pensamento (Brooks, 2009).
Mudar de pensamento mental para a representação visual do
desenho exige flexibilidade cognitiva. À medida que o uso do de-
senho pelas crianças se torna mais complexo, elas se lembram de
ideias e pensamentos anteriores (Papandreou, 2014). Isso envolve o
uso da memória de trabalho. Concentrando sua atenção em diferen-
tes aspectos, as crianças trazem novas ideias para o seu trabalho e,
como resultado, é necessária uma mudança de pensamento.
À medida que novas possibilidades são consideradas, ou
novas entendimentos ou interpretações são realizados, estratégias ou
informações previamente aplicadas podem precisar ser suprimidas.
Assim, o controle inibitório é necessário. Essas novas informações
são organizadas (Papandreou, 2014) e a memória de trabalho é atua-
lizada. Percebe-se que há fortes conexões entre a função executiva
e o desenho.
- 33 -
tas formas de “linguagem”, incluindo diferentes formas de sistemas
simbólicos e visuais, ou a chamada linguagem “não-verbal” (Aler-
by, 2015, p.15).
Considerações Finais
Referências
- 35 -
CAMERON, C. et al. Um dia na vida das crianças desenhando em
casa e na escola. Revista Internacional de Educação Infantil, v.
28, n. 1, p. 97-113, 2020.
CAVALEIRO, L. Comunicação e Transformação- Colaboração: re-
pensando as atividades de desenho na primeira infância. Questões
Contemporâneas na Primeira Infância, v. 9, n. 4, 2008.
DIAMOND, A. Funções executivas. Revisão Anual de Psicologia,
v. 64, p. 135-168, 2013.
DERDYK, E. O desenho da figura humana. São Paulo: Scipione,
1990.
FRENCH, G. O Lugar das Artes na Aprendizagem e Desenvolvi-
mento da Primeira Infância. Artigo encomendado ao Arts Council,
Irlanda. Instituto de Tecnologia de Dublin, 2013.
HANAUER, F. Riscos e rabiscos – o desenho na educação infantil.
Perspectiva, Erechim. v.37, n.140, p. 73-82, dezembro/2013.
HUNTER, L.; SONTER, L. J. Progressing Play: Praticidades, in-
tenções e possibilidades no emergente currículo co-construído. Bris-
bane: Consultores em jogo, 2012.
JUNQUEIRA FILHO, G. de A. Linguagens Geradoras: seleção e
articulação de conteúdos em educação infantil. Porto Alegre: Me-
diação, 2005.
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Discurso Multimodal: Os Modos
de Mídia da Comunicação Contemporânea. Linguagem na Socie-
dade, v. 33, p. 1, p. 115-118, 2004.
LAEVERS, F. Endereço da palestra. Refletir, Respeitar, Relacio-
nar, DVD3. [DVD]. Adelaide: Editora DECS, 2008.
MATTHEWS, J. A Arte da Infância e da Adolescência: a constru-
ção do sentido. Londres: Falmer Press, 1999.
ROGOFF, B. A Natureza Cultural do Desenvolvimento Humano.
Oxford: Oxford University Press, 2003.
PAPANDREOU, M. Comunicar e pensar através da atividade de
desenho na primeira infância. Jornal de Pesquisa em Educação
Infantil, v. 28, p. 85-100, 2014.
- 36 -
PODOBNIK, U.; JERMAN, J.; SELAN, J. Compreendendo de-
senhos analíticos de crianças pré-escolares: a importância de um
diálogo com uma criança. International Journal of Early Years
Education, 2021.
QUAGLIA, R. et al. Uma nova teoria sobre desenhos infantis: anali-
sando o papel da emoção e do movimento no desenvolvimento grá-
fico. Comportamento e Desenvolvimento Infantil, v. 39, n. 81, p.
91, 2015.
SONTER, L. J.; JONES, D. J. Desenho como ferramenta para
função executiva em apoio à criança. International Art in Early
Childhood Research Journal, v. 1, n. 1, 2018.
TWIGG, D.; GARVIS, S. Explorando a Arte na Educação Infan-
til. The International Journal of the Arts in Society, v. 5, n. 2,
p. 193-204, 2010.
VASQUEZ, O. A. Explorações transnacionais de Pesquisa Sociocul-
tural sobre Aprendizagem. Revisão de Pesquisa em Educação, v.
30, p. 1, p. 33-64, 2006.
VYGOTSKY, L. S. Mente na sociedade. Cambridge, MA: Harvard
University Press, 1978.
- 37 -
- 38 -
CURRÍCULO ESCOLAR E A REALIDADE
SOCIOCULTURAL EM GUINÉ-BISSAU:
RELATOS E PROPOSTAS DE MUDANÇA
José Sanhá
Nemésio Boni Nanque
Margarida João Embundé
Introdução
- 39 -
Ao longo da colonização até a independência, a nação gui-
neense conheceu dois modelos distintos de educação. Trata-se do
ensino e aprendizagem focalizada nos cidadãos revoltados à colo-
nização, denominado de ensino nas zonas insetos da colônia portu-
guesa, cuja finalidade era formar “homem novo”. E, outro tipo de
educação, refere-se àquela priorizada para pessoas brancas e pouco
pretas, compreendidas como alienadas, sob a responsabilidade da
colônia portuguesa, com foco de lhes instruir para adquirir conheci-
mento sobre Portugal e rejeitar a sua identidade (Sanhá, 2014).
Os textos curriculares usados na altura para ministrar as aulas
recaiam na história da República Portuguesa, país colonizador, neste
sentido procuravam afastar os estudantes totalmente dos costumes e
dos valores guineenses, isto demonstrava desajuste cabal dos con-
teúdos com a realidade, pois tudo que se ensinava era inusitado. Sa-
nhá (2005), ao tratar disso, afirma que:
os currículos, manuais escolares e materiais didático-pedagógicos
usados para proporcionar a aprendizagem dos alunos e, conse-
quentemente, a aquisição do saber, falavam somente de Portugal,
nomeadamente do Relevo, da Geografia, da História e dos Reis,
Príncipes e Rainhas, numa clara negação ao reconhecimento da
existência de uma cultura local, diferente (Sanhá, 2014, p. 39).
- 40 -
A Guiné-Bissau tornou-se independente aos 24 de setembro
de 1973 após uma luta armada de libertação nacional contra o regi-
me da colônia portuguesa que durou mais de 10 anos. No âmbito da
independência, verificou-se um rompimento da educação colonial,
que ocasionou afastamento dos assuntos sobre Portugal e foram in-
cluídos assuntos sobre a realidade guineense, com o intuito de resga-
tar a identidade nacional. Os currículos e os textos que eram usados
para ministrar as aulas tratavam sobre a realidade da Guiné-Bissau,
sobre a cultura, sobre os valores e sobre os costumes que consti-
tuem o mosaico guineense. Apesar dessa ruptura pré-embrionária,
o sistema educativo após a independência não concretizou o objeti-
vo pretendido devido a consecutivas instabilidades políticas no país
(Sanhá, 2014).
No entanto, considerando a escola como estabelecimento em
que ensino é ministrado, isto demonstra sua importância e o papel
que ela desempenha numa sociedade, dada essa importância a escola
é considerada uma das instituições socializantes do ser humano. Ou
seja, o ser humano começa o seu processo de socialização a partir do
seu ambiente familiar, de seguida a comunidade em que se encontra
envolvido e posteriormente na escola em que este passa a interagir
com várias pessoas de diferentes proveniências.
Atualmente existem instituições escolares por quase todo
quadrante do país, excepto em algumas aldeias longínquas, e essas
escolas têm contribuído bastante na formação dos cidadãos guineen-
ses, porém a realidade social e cultural do povo deste país ainda se
distancia daquilo que se ensina nas suas escolas. A sociedade gui-
neense está composta por vários grupos étnicos, com traços cultu-
rais e tradicionais diferentes, um povo como uma rica história de
resistência colonial, uma diversidade que revela sua identidade de-
nominada “guineendadi”, respaldada no multiculturalismo. Goza de
um território geográfico que conserva abundante florestas e faunas,
mares e lagos e conjunto de relevos (planícies e planaltos de setor
de Madina de Boé), igualmente, localidades históricas, no caso de
- 41 -
Kansala²2, Nham Passaré, Canhabaque³3, Komo⁴ 4Nhampassaré⁵5 e
entre outros. E todos esses fatos citados e entre outros que compõem
a realidade guineense e a sua identidade se encontram afastados dos
conteúdos que se ensinam nas escolas.
No presente trabalho objetivamos relatar a partir das nossas
experiências, sendo estudantes guineense, o distanciamento que
existe entre os conteúdos plasmados no currículo escolar e a reali-
dade sociocultural do país. Também pretendemos sugerir propostas
que julgamos ser viáveis, para fazer dos espaços escolares, um lugar
que reflete, espelha e ensina a realidade guineense. Entendemos que
é de extrema relevância fizermos reflexão em torno da realidade em
que estudamos e que pretendemos atuar como pedagogos no futu-
ro próximo, visto que estamos cada vez mais aprofundando nossos
conhecimentos em educação, ganhando novos olhares e adquirindo
capacidade de interpretar a realidade escolar e propor soluções das
adversidades identificadas.
Para tanto, fizemos um trabalho de caráter qualitativa, baseada
na revisão bibliográfica dos materiais ora pesquisados, igualmente,
efetuamos uma escrevivência, ou seja, em outras palavras, também
realizamos este trabalho alicerçado nas nossas vivências nas escolas
na Guiné-Bissau, o nosso aprendizado desde ensino primário até en-
sino médio. Referências bibliográficas utilizadas, no caso de artigos,
dissertações, teses e demais materiais, são as que debruçam temáti-
cas relacionadas ao assunto que abordamos, para assim, fundamen-
tar nossa reflexão e de igual modo trazer as nossas contribuições.
Sendo assim, estruturamos o nosso trabalho de seguinte
modo: após esta introdução, temos a primeira seção que fala da in-
compatibilidade do currículo escolar com a realidade sociocultural,
de seguida desenvolvemos uma proposta para mudança dos currí-
culos escolares, por último fizemos as nossas considerações finais.
2 Capital de antiga província de Mali e posteriormente Império de Gabu, sob reinado de man-
sa Djankee Waali, 1537-1867.
3 Uma das seções de sector de Bubaque, região de Bolama Bijagós, representa marco históri-
co de resistência no período colonial.
4 Local em que aconteceu uma das batalhas mais feroz da história de luta de libertação
nacional.
5 Uma mata formada por extensa floresta, caraterizada por planaltos e configura-se nos locais
históricos da região de Gabu.
- 42 -
Incompatibilidade do currículo escolar com a realidade
- 43 -
dominante esconde a realidade, porque é apresentada no currículo
como ideal para toda sociedade, pelo contrário não representa a rea-
lidade de pessoas de classe dominada (idem).
No caso da Guiné-Bissau, país que passou pela colonização
portuguesa, e que herdou uma condição precária em relação ao sec-
tor da educação escolar (Có, 2020). Durante a época colonial a es-
cola era usada como meio de aculturar a população e dominá-los
para depois explorar suas riquezas. Os conteúdos que ensinavam nas
escolas eram totalmente voltado a realidade de Portugal, segundo
Pereira (1976, apud Cá et al, 2017, p. 21) afirma que,
- 44 -
construção de currículo escolar conforme explica Morgado; Silva e
Santos (2016). Com o passar do tempo, celebrou acordos de parceria
com outros países e a integrou em vários organismos internacionais,
neste âmbito aderiu ao programa de ajuste estrutural (PAE), que é
um instrumento financeiro de Fundo Monetário Internacional (FMI) e
Banco Mundial (BM) em 1985 e, este passou a financiar o país na área
de educação, particularmente no ensino básico (Djaló, 2009).
Sendo um país dependente das doações dos organismos in-
ternacionais, Guiné-Bissau experimenta fortes influências externas,
fato que lhe incapacita de definir e conduzir suas políticas educati-
vas. Segundo da Silva (2011) assevera que:
- 45 -
Em outras palavras, usava-se frutas que se cultiva e consome
em Portugal e em outros países Europeus para nos ensinar na Guiné-
-Bissau, país que se encontra localizado no continente africano.
Igualmente em níveis do ensino fundamental e médio, as ilustrações
que vêm nos livros apresentam quase tudo da Europa, sobretudo nas
disciplinas da História e Geografia, os conteúdos que se ensina são
estes: conferência de Berlim, primeira e segunda guerra mundial,
história do Dom Afonso Henrique I e II, conquista de Ceuta, e entre
outros.
A realidade guineense é tão diversa e rica em termos culturais
e não só, visto que é uma sociedade formada por dezenas de mosai-
cos étnicos como havíamos abordado, e cada uma das etnias tem os
seus costumes, tradições e dialetos. Entretanto, todos saberes deste
povo poderiam ser aproveitados e ensinados nas escolas, contudo,
são invisibilizados, considerados de não científicos em detrimento
dos conhecimentos ocidentais segundo explica Correia (2023).
Por outro lado, Mendes (2022, p.91) pondera que:
Propostas de mudança
- 46 -
da realidade dos alunos e, o estranhamento que isso causa contri-
bui na evasão escolar, no baixo rendimento escolar e sobretudo na
alienação dos alunos com relação às suas realidades sociocultural.
A escola como estabelecimento onde o ensino é ministrado ela se
configura como espaço em que a cultura é organizada e garantida
a sua continuidade, nela os educandos recebem ensinamentos e são
projetados para vida social e intelectual (Júnior, 2022). Sendo que a
cultura é modo de existir e de ser de um povo, isto é, conjunto dos
saberes, tradições, hábitos, técnicas, costumes e comportamentos.
No entanto, da Serra Freire; da Silva Costa; Martins e de Al-
meida (2018), parafraseando o renomado pedagogo brasileiro, Pau-
lo Freire, referente a seus legados voltados à “Educação Popular”,
reconhecem a cultura como base fundamental da educação. Ainda,
os autores asseveram que essa aprovação significa: “reconhecer a
pluralidade de tempos, espaços e relações, onde nos constituímos
humanos, sociais, cognitivos, culturais” [...] (p. 182). Da mesma
forma, Benedicto (2016), afirma que é preciso que a educação dos
alunos se baseie nos valores, crenças e conhecimentos das suas cul-
turas e, salienta que é maneira de fazê-los idealizar suas identidades
culturais.
Por outro lado, dada condição de fragilidade econômica, ins-
tabilidade política em que o país se encontra e a subordinação dos
seus governantes as nações hegemônicas, além das descontinuida-
des nos projetos de reforma do sistema educacional, acontece aquilo
que Morgado; Santos e da Silva (2016) denominam de “reformas
viajantes”, pois não se sabe de onde vem e para onde vão, a comuni-
dade escolar não participa nas suas elaborações. Pelo contrário, Dos
Santos Dutra (2022, p. 52), citando Brasil (2004, p.14), descreve o
seguinte: “para que as instituições de ensino desempenhem o papel
de educar com eficácia, é necessário que se constituam em espaço
democrático de produção e divulgação de conhecimentos e de pos-
turas que visam a uma sociedade justa”.
No entanto, para garantir produtividade nas escolas, isto é, a
formação de cidadãos com a consciência política, comprometidos
com valores da nação, da cultura, de modo geral, conscientes da
sua realidade, é necessário que as escolas sejam espaço livre do-
mínio ideológicos com finalidades mercantilistas. As entidades que
compõem a comunidade escolar, no caso dos pais e encarregados da
- 47 -
educação dos alunos, representante de comitê dos alunos, responsá-
veis pela comunidade em que a escola se encontra situada, devem
participar de forma ativa na tomada das decisões alusivos ao funcio-
namento da instituição.
Não existe uma fórmula cabal para elaboração de currículo
escolar, por isso não aventuraremos em tecer algo do tipo, pretende-
mos de seguida, apresentar a nossa perspectiva como uma das vias
que podem ser percorridas para edificação de um ensino inclusivo
e que espelha a nossa realidade enquanto guineenses. Sugerimos a
criação de um currículo de caráter emancipatório. Segundo Correia
(2023, p.71), currículo dessa natureza,
- 48 -
cos, a título de exemplo, em vez ser somente ensinado na disciplina
História, conteúdos como: segunda guerra mundial, conferência de
Berlim, história de Dom Afonso Henrique I e II, conquista de Ceuta,
que seja inserida também a história de congresso de Cassacá, de luta
de libertação, dos destacados heróis nacionais como Amílcar Cabral,
Caramba Bangura, Titina Silá, Canha Na Ntungué e entre outros. Na
disciplina de Geografia, além da localização geográfica da Guiné
que se ensina em 7º ano, praticamente nada se ensina a respeito da
nossa realidade. Por isso, recomendamos estudo da geografia na-
cional, das diversas províncias, regiões e setores que compõem o
território guineense e não só, como também estudo voltado à densi-
dade demográfica da Guiné. Por último, não menos relevante, pelo
contrário, um assunto polêmico, prescrevemos a língua guineense
(Kriol) sendo elemento indispensável da nossa identidade, como có-
digo de ensino nas escolas.
Considerações finais
Referências
- 49 -
educacional brasileiro, São Paulo, s.n., 2016.
CÁ, Lourenço Ocuni. Perspetiva histórica da organização do sis-
tema educacional da Guiné-Bissau. 2005. 280 f. Tese de Doutora-
mento (em educação). Programação de pós-graduação em educação
na Universidade Estadual de Campinas, faculdade de Educação,
2005.
CORREIA, N. O sistema educativo na Guiné-Bissau: Uma análise
do processo de evasão escolar e o currículo nas escolas do ensino
secundário. KWANISSA: Revista de Estudos Africanos e Afro-Bra-
sileiros, São Luís, v.06, n.14, p. 60-82, jan/jun, 2023.
DA SILVA, Rui Manuel Ferreira. Globalização e currículo: atores
e processos. Um estudo exploratório na Guiné-Bissau. 2011. Dis-
sertação (mestrado) -Universidade de Minho, 2011.
DE ALVARENGA, Márcia Soares; MEDEIROS, M. B. P. Usos e
abusos do pensamento freireano em política de alfabetização de
jovens e adultos em contexto neoliberal. In: Construindo pontes:
Paulo Freire entre saberes, projetos e continentes / Elaine Ferreira
Rezende de Oliveira, Larissa Oliveira e Gabarra, Leandro Proen-
ça (Organizadores); Anderson Gonçalves Costa [et al.].- Fortaleza:
EdUECE, 2018.
DJALÓ Mamadú. A interferência do Banco Mundial na Guiné-
-Bissau: A Dimensão da Educação Básica – 1980-2005. (Disserta-
ção de Mestrado) Florianópolis. 2009.
DOS SANTOS DUTRA, Érica Taynara Alves. Reflexões so-
bre a educação para as relações étnico-raciais no currículo esco-
lar e o seu trato pedagógico. Perspectivas e Diálogos: Revista de
História Social e Práticas de Ensino, Caetité, BA, v. 1, n. 9, p.
45-61, jan./jun. 2022.
GABARRA, Larissa Oliveira. A desconstrução do “outro” por uma
educação libertária: uma experiência de extensão universitária do
ensino de História da África no Ensino Fundamental II. In: Cons-
truindo pontes: Paulo Freire entre saberes, projetos e continentes
/ Elaine Ferreira Rezende de Oliveira, Larissa Oliveira e Gabarra,
Leandro Proença (Organizadores); Anderson Gonçalves Costa …[et
al.].- Fortaleza: EdUECE, 2018.
- 50 -
JÚNIOR, José Semedo. O sistema escolar na Guiné-Bissau: um
estudo sobre o impacto do eurocentrismo no nível básico do sistema
de ensino guineense. Trabalho de conclusão de curso-modalidade
projeto de pesquisa (Bacharel em Humanidades)- Instituto de Hu-
manidades-UNILAB-Malês, São Francisco do Conde, 2022.
MENDES, Leonel Vicente. (Des)caminhos do sistema de ensi-
no guineense avanços, recursos e perspectivas. ed. Curitiba: CRV,
2019.
MENDES, Leonel Vicente. Itinerâncias da política curricular do
ensino básico na Guiné-Bissau 1973- 2011: saberes locais e diver-
sidade cultural / Leonel Vicente Mendes. - 2022.
MORGADO, José Carlos; SANTOS, Júlio; SILVA, Rui. Currícu-
lo, memória e fragilidades: contributos para (re)pensar a educa-
ção na Guiné-Bissau. Centro de Investigação em Ciências Sociais,
jun/2016.
SANHÁ, Cirilo. Do ensino público ao ensino de iniciativa co-
munitária:(análise do desenvolvimento e impacto das Escolas Co-
munitárias na Guiné-Bissau e as intervenções das ONGs FEC &
PLAN). 2014. 150 f. Dissertação de mestrado (em Sociologia Po-
lítica) -Programa de pós-graduação em sociologia e política UFSC-
Florianópolis, 2014.
SEMEDO JÚNIOR, José. O sistema escolar na Guiné-Bissau: um
estudo sobre o impacto do eurocentrismo no nível básico do sistema
de ensino guineense. 2022.
- 51 -
- 52 -
AGRESSIVIDADE NO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
Liana Nise Martins Albuquerque
José Airton de Castro Bezerra
- 53 -
comportamentos agressivos, incluindo birras, ataques verbais ou
físicos, como insultar ou bater num coleguinha. Entretanto, enquan-
to a maioria das crianças apresenta este tipo de comportamento em
grau cada vez menor, à medida que crescem, as crianças socialmente
agressivas demonstram um atraso severo no seu desenvolvimento
social, comportando-se como uma criança bem mais nova.
Ambos os tipos de agressividade (instrumental e hostil) au-
mentam do período de bebê aos anos pré-escolares, à medida que
as crianças convivem e brincam mais frequentemente com outras
crianças e são forçadas a lidar com situações de conflito por brinque-
dos ou com situações de esperar sua vez, como costuma acontecer
na escola.
Nos primeiros anos de vida, as agressões, em geral, consistem
em bater e empurrar, mas à medida que as habilidades verbais se
desenvolvem, as agressões verbais, como chamar o coleguinha de
“burro” ou de “chato” se tornam mais frequentes. Por volta dos 6
(seis) ou 7 (sete) anos de idade, entretanto, o comportamento agres-
sivo, particularmente a agressividade instrumental, praticamente de-
saparece na grande maioria das crianças.
Tomando por base uma revisão bibliográfica de textos cientí-
ficos que tratam do tema em questão, o trabalho foi dividido em três
tópicos relacionados à agressividade. O primeiro aborda as causas
da agressividade; o segundo enfoca a agressividade na infância pau-
tado, principalmente, em estudos da Psicologia do Desenvolvimen-
to; e o terceiro tópico trata das práticas de intervenção e controle do
comportamento agressivo.
Causas da agressividade
- 54 -
Provavelmente, a hipótese mais aceita com relação aos as-
pectos biológicos da agressividade é a de que mecanismos cerebrais
determinam o comportamento, em que fatores genéticos e bioquími-
cos têm um papel preponderante. Esta hipótese ganha força a partir
da observação de que o dano ou estimulação química ou elétrica de
certas partes do cérebro (como o hipotálamo ou o sistema límbi-
co) pode favorecer ou inibir o comportamento agressivo (Damasio,
2012). Entretanto, a ideia de que a agressão é simplesmente uma
função de descargas cerebrais é extremamente simplista. É evidente
que todo comportamento, incluindo a agressividade, envolve pro-
cessos neurobiológicos. Contudo, essas forças biológicas, por si só,
não determinam o comportamento. O ambiente social do indivíduo
é um regulador poderoso dos processos neurobiológicos e do com-
portamento.
Defensores iniciais da teoria psicanalítica acreditavam que
agressão é uma força instintiva básica que leva o indivíduo ao com-
portamento agressivo. Recentemente, essas teorias psicodinâmicas
perderam força; por um lado, por não serem testáveis empiricamen-
te. Por outro, pelo fato de essas teorias serem limitadas no sentido de
sugerir técnicas de intervenção eficazes.
A hipótese da Frustração-Agressão, que surgiu nos anos trin-
ta a partir de pesquisas feitas pelos teóricos da Aprendizagem foi
bastante aclamada por muitos anos. A ideia subjacente era de que
a frustração sempre levava à agressão e de que a agressão sempre
resultava de uma frustração. Porém, apesar de essa hipótese ter sido
construída com base em dados empíricos que demonstram que frus-
tração pode levar à agressão, esta teoria foi posta de lado devido ao
fato de que a agressão não é um resultado inevitável da frustração
e que vários outros fatores podem contribuir para o surgimento e
manutenção da agressão.
Bandura (1973) oferece uma análise abrangente e incisiva da
agressividade baseada na teoria da aprendizagem social. Uma aná-
lise da aprendizagem social inclui a averiguação de três principais
influências do comportamento: o estímulo que precede o comporta-
mento em questão; as consequências (reforço ou punição) e os pro-
cessos cognitivos (sentimentos, pensamentos e percepções). Nesse
sentido, a teoria da aprendizagem social afirma que experiências
aversivas (que podem incluir frustração ou estímulos desagradáveis
- 55 -
de qualquer tipo) produzem um estado de excitação emocional e que
as consequências antecipadas de um determinado comportamento
(adquiridas por meio da experiência direta, observação ou processos
cognitivos) geram motivação. O resultado pode variar bastante de
indivíduo para indivíduo, dependendo de uma variedade de fatores,
como sua história de reforçamento, estado fisiológico e situação so-
cial.
Existe forte evidência de que crianças que foram reforçadas
por apresentarem um comportamento agressivo apresentam um au-
mento na agressividade em relação a seus pares. Também sabemos
que o comportamento agressivo pode ser aprendido pela observação
de pessoas cometendo atos de agressão, especialmente se são pes-
soas significativas na vida dessas crianças. Estudos com famílias em
situações reais apresentam um resultado consistente no que se rela-
ciona à rejeição; crianças rejeitadas tendem a ser altamente agressi-
vas. Somada à violência física, a rejeição dos pais é um traço comum
em adolescentes que apresentam transtornos de conduta.
Por outro lado, em famílias com menor índice de rejeição, as
crianças mais agressivas têm pais que são, ao mesmo tempo, alta-
mente permissivos no que se refere aos comportamentos agressivos
demonstrados por seus filhos, mas castigam muito fisicamente.
Muito embora um aprofundamento da teoria da aprendizagem
social e o detalhamento da pesquisa subjacente a uma análise social
da agressividade seja por demais complexo, não cabendo no escopo
desse texto, a pesquisa empírica realizada por Bandura (1973) apon-
ta várias generalizações relevantes ao tema:
- 56 -
• Punição pode levar ao aumento ou à manutenção do com-
portamento agressivo quando não existem alternativas positi-
vas, quando a punição demora ou é inconsistente ou quando
apresenta um modelo de conduta agressiva.
- 57 -
elas vão e vêm, aparecem e desaparecem. Essa agressividade
primitiva permite a diferenciação entre a própria criança e o outro,
haja vista que, conforme a criança age sobre seu entorno, encontra
limites para seus atos, passando a entender seus efeitos nos objetos,
nos outros e em si mesmos.
Ao perceber que existe uma separação entre ela mesma e os
outros, dá-se início à compreensão de que ela pode estragar algo ou
machucar alguém. Ao passar para esse outro tipo de agressividade,
denominada de concernida por Winnicott (2001), a criança começa
a se responsabilizar por suas atitudes e a sentir culpa por suas ações
e atitudes. Entretanto, para o teórico, isso só será possível se os adul-
tos de referência da criança forem capazes de identificar a diferença
entre seus atos intencionais e não-intencionais, nomeando-os para
ela gradativamente.
De acordo com Dias (2000), o estágio do concernimento tem
uma longa duração. Pode-se encontrar sinais de preocupação e culpa
antes de um ano e o processo atinge o auge aproximadamente aos
dois anos e meio, embora jamais se estabeleça de forma consistente
antes dos cinco anos de idade.
Para Piaget (1994), a evolução do ser humano ocorre, inva-
riavelmente, numa etapa genética denominada anomia, que vai do
nascimento até os cinco, seis anos de idade. Durante essa fase, as
crianças não seguem regras coletivas; seu interesse nas brincadeiras
está relacionado principalmente aos seus interesses e necessidades
motoras e não por entenderem que todo jogo e, portanto, toda rela-
ção social, se estrutura em regras.
Hoje em dia, particularmente em virtude dos trabalhos reali-
zados por Elliot Turiel (1983), considera-se que mesmo uma criança
de cinco anos não é somente um ser que obedece, mas um indivíduo
dotado de sensibilidade moral mais ampla. Entretanto, Yves de la
Taille (2006) alerta para o fato de não se tratar, em absoluto, de afir-
mar que “nessa tenra idade, a moralidade já está pronta e acabada,
[...] o que não implica desprezar certas capacidades já presentes no
início da vida” (p. 36).
Bebês, desde muito cedo, são submetidos a rotinas e hábi-
tos, o que equivale a dizer que cedo aprendem que há coisas que se
fazem. “Mas, por volta dos quatro, cinco anos de vida, as crianças
começam a perceber que, ao lado das coisas que se fazem há aque-
- 58 -
las que devem ser feitas. Essa nova compreensão corresponde ao
que podemos chamar de ‘despertar do senso moral’” (De La Taille,
2006, p. 37)
Considerando o processo de socialização, por meio do qual
os indivíduos adquirem padrões de comportamento valorizados pelo
grupo e adequados para sua adaptação ao ambiente social, é impor-
tante ressaltar o papel exercido pela família, em particular, os adul-
tos de referência. Crianças entre 4 (quatro) e 5 (cinco) anos de idade
tendem a ver nos pais figuras exemplares também nos aspectos mo-
rais. “A obediência infantil a essas figuras de autoridade advém da
fusão de sentimentos de medo e amor que os adultos significativos
despertam neles. Obedecem a eles porque querem fazê-lo, e essa
vontade marca o despertar do senso moral” (De La Taille, 2006, p.
40).
Piaget (1994) afirma que as regras morais que a criança apren-
de a respeitar são transmitidas pela maioria dos adultos. Isto signifi-
ca que já chegam a elas elaboradas, deixando claramente implícita a
percepção de que, para ele, a moralidade não é um valor intrínseco
ao ser humano (Giancaterino, 2008). Assim, antes de interagir com
seus pares, a criança é fortemente influenciada por seus pais, sendo
submetida, desde o nascimento, a múltiplas regras disciplinares.
Considerando as implicações resultantes do trabalho de Ban-
dura (1973), o papel dos pais no controle ou no aumento da agres-
sividade nas crianças é evidente. Naturalmente, a imposição de li-
mites na educação das crianças é claramente necessária, mas jamais
deve ser violenta. O castigo, se e quando necessário, não pode ser
físico. A criança precisa refletir sobre a falta cometida, mas a pu-
nição também precisa ser proporcional à falta cometida e à fase de
desenvolvimento em que a criança se encontra.
Além disso, é fundamental que seja aplicada imediatamente
após o cometimento da falta, para que fique claro para a criança o
motivo daquela advertência. Alguns pais ameaçam punir os filhos,
mas não o fazem ou deixam para fazê-lo bem depois, o que pode
significar ou que a criança não vai fazer a relação entre as duas si-
tuações, importante para a noção de consequência, ou que não se
lembra mais do que fez, anulando a eficácia da reprimenda.
O ser humano é uma obra inacabada, em constante estado de
construção. Cada nova experiência, “boa” ou “ruim”, acrescenta
- 59 -
algo em nós, e independentemente de ajudar ou atrapalhar, passa
a fazer parte do que somos. Nesse contexto, a ideia de bater como
meio de ensinar os filhos a respeitar limites é equivocada e ajuda a
perpetuar uma cultura de violência. A própria palmada é um ato físi-
co de covardia, uma solução de fraqueza utilizada por pais que não
sabem como lidar com o filho em uma situação de conflito.
Alguns irão argumentar que esses atos físicos (como a pal-
mada ou um beliscão) são pedagógicos, acreditando que são formas
de ensinar os filhos, mas, na realidade, acabam por ensinar que os
problemas podem ser resolvidos por meio da violência. Violência
que será aprendida pelas crianças e utilizada para resolver conflitos
com os colegas de escola, e mais tarde, no seu convívio social, no
trabalho ou no trânsito.
Para a grande maioria dos psicólogos, a utilização do castigo
físico aumenta as chances de as crianças vitimadas agredirem outras
pessoas. Em geral, os abusadores foram vítimas de violência.
Piaget (1994) afirma que a criança, na sua primeira infância,
necessita de carinho, afeto, ternura, mas necessita também do não,
de limites claramente determinados e da coerência na afetividade
que lhe é dada.
- 60 -
dade de formas construtivas. Neste sentido, existem duas maneiras
a partir das quais um educador pode ajudar uma criança agressiva:
primeiro, aceitando os sentimentos da criança; segundo, oferecendo
a ela oportunidades para catarse.
No primeiro caso, a teoria da aceitação é subjacente ao esta-
belecimento de uma boa relação educador-aprendente. Para tanto,
recomenda-se uma atmosfera amigável e não-competitiva na sala
de aula, que seja permitida a expressão da individualidade de cada
criança e que os objetivos de ensino sejam pautados na realidade de
cada indivíduo.
A ideia de catarse foi popular durante muito tempo, baseada
na concepção de que agressividade é algo que se acumula na pessoa.
Portanto, a única forma de se livrar dela é colocando tudo para fora.
Um modo de fazer isso, seria, por exemplo, a criança desenhar re-
petidamente cenas de violência. Entretanto, as revisões de pesquisa
sobre agressividade indicam claramente que ao invés de esgotar os
impulsos agressivos, ver e participar de eventos de violência aumen-
tam o comportamento agressivo.
Para os propositores do método psicoeducacional, a interven-
ção tem como foco os problemas afetivos e cognitivos da criança,
baseado no preceito de que se esses problemas são resolvidos, seu
problema de comportamento sofrerá mudanças. As ferramentas
mais importantes nessa abordagem são conversar e vivenciar. Ape-
sar da ausência de provas empíricas da eficácia dessa abordagem,
há elementos para supor que se os padrões afetivos e cognitivos de
uma criança são alterados, então a agressividade pode ser reduzida.
Uma abordagem da aprendizagem social para o controle da
agressividade se baseia no pressuposto de que agressividade é um
comportamento aprendido. Consequentemente, comportamento
não agressivo pode ser ensinado. Para ensinar comportamento não
agressivo, é necessário oferecer modelos não agressivos de conduta,
recompensar o uso destes e remover as recompensas obtidas pelo
comportamento agressivo.
Uma forma de ensinar comportamento não agressivo pode in-
cluir demonstrações de como se comportar sem agressividade sob
condições adversas, usando adultos ou colegas como modelos assim
como usar filmes ou vídeos, tanto de personagens humanos como
não humanos. Também inclui reforçar o comportamento não agres-
- 61 -
sivo por meio de recompensas pelo uso específico de alternativas à
conduta agressiva, como brincar sem bater nos colegas. Além disso,
é necessário extinguir o comportamento violento por meio da re-
tirada da recompensa, como por exemplo, não ceder a um ataque
de birra da criança ou pelo uso de punição, como retirá-la de uma
atividade favorita.
A escola tem sido apontada como ambiente propício à ma-
nifestação agressiva, nos casos em que: 1) a criança não encontrou
continência necessária aos seus impulsos no seio familiar e 2) apre-
senta esperança e confiança de que a escola possa cumprir essa fun-
ção. Assim, o papel da escola como provedora de continência para
limitar e controlar a agressividade infantil se torna extremamente
relevante.
Para Souza e Castro (2008, p. 837), “a aula, a escola e a rela-
ção com o professor podem compor aquilo que se pode chamar de
mundo conhecido, portanto, fator de segurança propício à manifes-
tação de reivindicações e ao estabelecimento de limites”.
A valorização de atitudes positivas aliada a um trabalho em
conjunto com toda a equipe escolar e um trato não só com as crian-
ças agressivas, mas também com as empáticas, ao invés de uma edu-
cação coercitiva, são formas eficazes de lidar com comportamentos
agressivos no ambiente escolar (Candreva, et al., 2009).
Considerações finais
- 62 -
fisicamente, particularmente quando a punição é inconsistente, têm
filhos mais agressivos. Os teóricos da aprendizagem social acredi-
tam que crianças cujo comportamento agressivo é recompensado ou
não sofre punição provavelmente continuarão a apresentar esse tipo
de comportamento e generalizar para outras situações.
Salientamos, à guisa de fechamento, que, quando o começo
foi bom e as bases bem estabelecidas na infância, sólidas e verda-
deiras, ainda assim haverá turbulência; entretanto, se o ambiente
continua a fornecer as condições favoráveis, as chances de o indiví-
duo continuar a amadurecer são grandes. Se, no entanto, não houve
um bom começo e o ambiente fracassa novamente na tarefa de dar
sustentação aos novos (velhos) desafios, a ameaça de colapso é sem-
pre iminente. Por isso, há um forte risco de que, na adolescência, a
agressividade possa também se manifestar contra o próprio indiví-
duo.
Ao oferecer um ambiente relativamente estável, com regras
claras, a escola configura um espaço de confiabilidade, constância
e segurança, muitas vezes ausente da história de vida de algumas
crianças. Assim, elas depositam suas necessidades de atenção, afeto
e firmeza nos educadores, esperançosas de contarem com parâme-
tros e limites que, geralmente, não foram estabelecidos pela família.
Referências
- 63 -
mento. Natureza Humana 2(1):9-48, 2000.
GIANCATERINO, R. Piaget e a Moralidade. ABCEducatio. São
Paulo: Editora Procultura, abril 2008.
PIAGET, Jean. O Juízo Moral na Criança. São Paulo: Editora
Summus, 1994.
PITLIUK, Lia. Cuidado Materno. A Mente do Bebê. São Paulo:
Editora Duetto, Edição número 2, 2006.
SOUZA, M. A; CASTRO, R. E. Fernandes de. Agressividade infan-
til no ambiente escolar: concepções e atitudes do professor. Psico-
logia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 4, p. 837-845, out./dez. 2008.
TURIEL, Elliot. The development of social knowledge: morality
and convention. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.
WINNICOTT, D. W. A Família e o Desenvolvimento individual.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
- 64 -
PERCUSO DE UMA EDUCADORA DE
JOVENS E ADULTOS NA GUINÉ-BISSAU
Aminata Nadia Gomes Mané
Lourenço Ocuni Cá
Introdução
- 65 -
tema educacional como um todo, não acolhe as pessoas com idade
escolar em todo o território nacional por inúmeras razões: gravidez
precoce das meninas, casamento forçado, cerimônias de iniciação,
até mesmo a não obrigatoriedade de matrícula na idade certa, esti-
pulada pela Lei de Base do Sistema Educativo do país etc. Esses
fenômenos corroboram para a desistência, abandono e consequen-
temente evasão escolar precoce das pessoas no sistema de educação
da Guiné-Bissau.
A lei nº13/2010, pela sua formulação garante uma educação
de jovens de adultos de qualidades para os alunos, onde vão ser en-
sinado através de rádio e televisão. A modalidade de educação de jo-
vens e adultos foi implementado na Guiné-Bissau em 1911, mesmo
após a independência, o Estado da Guiné-Bissau não deu atenção a
esse subsistema de ensino. Segundo (Unesco, 2007) “embora tenha
conquistado certa institucionalização, a alfabetização de jovens e
adultos ainda não figura entre as prioridades da política educacio-
nal”. Tratar da educação de jovens e adultos na Guiné-Bissau é cons-
tatar como essa prática educativa é vista pela sociedade guineense,
porque algumas práticas culturais do país impedem o normal funcio-
namento do ensino voltado para esse segmento da população.
Importante ressaltar que o país é composto por mais de 30
grupos etnolinguísticos, de modo que cada um desses grupos tem
suas experiências culturais próprias, saberes, ritos e dogmas que, em
alguns casos, refletem no abandono escolar. A principal finalidade
deste trabalho é saber como funciona educação de jovens e adultos
na Guiné-Bissau e a trajetória da professora que já atuou nessa mo-
dalidade do ensino, para saber como ela lidou com os seus alunos
em sala de aula.
O estudo é baseado em pesquisa bibliográfica que parte de
análise dos documentos, como aportes teóricos se utiliza de traba-
lhos já publicados tais como: teses, livros e artigos. A metodologia
utilizada na realização desta pesquisa é qualitativa. Para Becker
(2014) a pesquisa qualitativa busca escrever a verdade social.
O propósito para realização deste trabalho deve-se primor-
dialmente como requisito para atender o desafio normativo de ava-
liação proposta pelo componente “Ensino da EJA nos países da
Integração” de curso de Pedagogia da Universidade de Integração
Internacional da Lusofonia Afrobrasileira (UNILAB) com a Profes-
- 66 -
sora Doutora Jacqueline Costa Silva, como requisito para aprovação
na disciplina.
Sendo assim este trabalho vai ajudar a comunidade acadêmi-
ca da Unilab e não só, mas também aqueles que têm interesse em
conhecer a modalidade de educação de jovens e adultos na Guiné-
-Bissau para compreender melhor como funciona esse subsistema
de ensino e servir de suporte para os futuros pesquisadores querem
estudar a Educação de Jovens e Adultos na Guiné-Bissau.
Desenvolvimento
- 67 -
gentes e de escolas noturnas para adultos: operários e marinheiros;
2) proporcionar aos sócios leituras e distrações nos dias em que as
escolas não funcionassem e 3) promover conferências educativas.
No entanto, esses estatutos obrigaram os colonizadores a criar
educação de jovens e adultos para os funcionários que trabalham de
manhã, para poder frequentar as aulas à noite, isso nos mostra que
a Educação de Jovens e Adultos foi implementado na Guiné- no de
1911. Pimenta (2012), sublinha ainda que, os cursos noturnos desti-
nados para adultos funcionavam nas escolas de Bissau, Bolama, Ba-
fatá, Mansoa, Bissorã, Catió, Farim, Nova Lamego, São Domingos
e Teixeira Pinto e em outras localidades.
Entretanto a Guiné ainda não tinha sido contemplada com
uma instituição liceal e só em 1958 com aumento da procura por
educação formal é que o governa da Guiné abriu mais vaga para os
alunos frequentaram o instituto de ensino liceal. Foi então à Guiné
dotada com o Liceu Honório Pereira Barreto, localizado em Bissau,
com os três ciclos liceais, e em 1959, que o governo português au-
torizou a realização na província da Guiné, o exame de aptidão à
matrícula nos estabelecimentos de ensino superior da metrópole e
no ano 1961 criou-se o serviço liceal extraordinário, para adultos,
em aulas noturnas para que esses adultos pudessem ler, escrever e
contar.
- 68 -
da Guiné, com perspectivas de criar escolas tanto na sede como no
interior, para que os filhos dos associados pudessem frequentar a
escola, mas havia questão limitantes: econofinanceira.
De acordo com a fala da entrevistada “na minha época não ti-
nha jardim (creche) mas crianças só frequentava a escola de banco
(explicação) que era conhecido como escola particular, depois que
comecei a estudar, estudei até 4ª classe, porque os meus pais não
tinham condição de me matricular no ensino fundamental(liceal)”.
Moura e Serra (2014), afirmam que olhando para a história da edu-
cação no Brasil, vemos que durante o período colonial, as escolas
existentes eram voltadas para a classe rica e a classe de baixa renda
não podia receber educação escolar.
Teve uma época que o governo português obrigava que todos
as crianças deveriam estar na escola acima de 8 anos como apon-
ta a entrevistada “Sou a única filha dos meus pais a ter educação
escolar, digo isso porque os meus irmãos mais velhos não podiam
estudar. Então se casaram cedo. Eu consegui estudar, porque na
minha época o governo português obrigava que toda as crianças
entrassem nas escolas.” Para (Domingues, 2008 p. 4):
- 69 -
A questão cultural interfere muito na EJA no interior do país, por-
que a sala de aula é formada por diversos grupos étnicos, e que
muitas das vezes, o professor tem muita dificuldade em dar aula,
às vezes, precisam de ajuda do aluno que fala a outra língua étnica
para transmitir a fala do professor.
- 70 -
trabalho ou ir para casa cuidar dos seus filhos.” Essa pratica é mais
vista no interior do país em que as mulheres estão associadas ao
doméstico e ao cuidado do lar.
Maria Josefa Domingos Bomba 69 anos, nascido no dia
22/05/1955 na Guiné-Bissau. Ela era professora de posto diploma-
do, passou na escola de formação para ser professora. É a única filha
de seu pai a ter educação escola. Diga-se isso porque os seus irmãos
mais velhos não puderam estudar. Então se casaram cedo. Ela conse-
guiu estudar porque na sua época o governo português obrigava que
toda as crianças entrassem nas escolas.
Na sua época não tinha jardim (creche) mas crianças só fre-
quentava a escola de banco (explicação) que era conhecida como
escola particular. Depois entrou na escola e estudou até 4ª classe. os
pais não tinham condição de a matricular no ensino médio, na época
nem toda as pessoas tinham acesso ao ensino médio, para entrar no
ensino médio os pais tinham que ter condições econômicas para tal.
Então teve que entrar na escola de formação de professores
que era chamado de (Prova de Aptidão) estudou nessa escola por 4
anos para ser professora do ensino médio. Era do primeiro grupo de
professores/as que abriram o Ensino Básico 5ª a 6ª classe na Guiné-
-Bissau porque na época só tinha até 4ªclasse.
Começou a dar aula durante 7 anos, mas foi transferida para
Ministério da Educação na área de alfabetização de educação de jo-
vens e adultos. Começou como coordenadora regional da alfabeti-
zação na região de Quinará. Algumas vezes, foi animadora (profes-
sora) em algumas ocasiões quando não tinha professores, depois de
muito tempo trabalhando foi nomeada como Diretora do Serviço de
Alfabetização.
Na época tive apoio da Organização das Nações Unidades
para a Infância (Unicef). Na questão financeira, o manual era pro-
duzido pela Unicef e o Ministério da Educação e depois disponibi-
lizado para os professores que atuam na modalidade de educação
de jovens e adultos. Os professores quando chegam na aldeia já
tinha casa para morar durante a formação. Essa disponibilização de
residência abrangia também os jovens que desistiam de estudar por
questão familiar, casamento forçado, gravidez precoce ou trabalho
doméstico. Esse público é ensinado a escrever o nome para evitar
assinar com dedo de tinta e também são ensinados principalmente os
- 71 -
que vivem no interior do país a com conhecer o número e os nomes
das coisas que eles/as convivem dia a dia. Caso a pessoa que vende
no mercado é ensinada a saber escrever nomes de legumes e frutas
que vende.
A questão cultural interfere muito na Educação de Jovens e
Adultos no interior do país porque a sala de aula é formada por di-
versos grupos étnicos e que muitas das vezes, o professor tem muita
dificuldade em dar aula. Às vezes precisam de ajuda do aluno que
fala a outra língua étnicas para transmitir o que o professor disse
para aqueles que não compreendem a língua crioula nem a portugue-
sa. Na época não havia o local fixo de dar aula. Podia ser em volta da
mangueira, na sala de aula e muitas das vezes no espaço livre.
Nos primeiros contatos com os alunos sempre foi difícil, mes-
mo com ajuda da associação do bairro, comitê do bairro (vereador),
mesmo assim tinha-se que ir porta à porta de cada pessoa do bairro
convencê-la a matricular-se na Educação de Jovens e Adultos sobre
importância de estudar. Quando não se encontras o marido em casa,
a mulher sempre diz: “não posso aceitar tenho que esperar o meu ma-
rido”, muitas vezes, o marido não deixa a mulher ir à alfabetização.
As aulas sempre aconteciam com a disponibilidade de cada
educando, por exemplo, pessoas escolhem para estudar de ma-
nhã, outros à tarde é difícil ter aula à noite porque o marido não
deixa a mulher sair à noite. Às vezes, no meio da aula, as mulheres
abandonam aula para ir ao campo ao trabalho ou ir para casa cuidar
dos seus filhos. Havia mais pessoas adultas na sala de aula, mas hoje
em dia tudo é diferente. Há jovens e adultos e são ensinados através
de rádios, três vezes, por semanas. O Ministério da Educação que
oferece o material didáticos desde cadernos, lápis, borracha, livros
etc., e são financiados pelas organizações internacionais.
Considerações finais
- 72 -
país não tem agenda institucional para as políticas públicas consis-
tentes. Deveria haver uma política pública clara para Educação de
Jovens e Adultos para que as pessoas que nunca tiveram a oportu-
nidade frequentar a escola ter acesso a esse tesouro construído pela
humanidade. Há abandono por conta da gravidez precoce, casamen-
tos precoces ou a cerimônias de iniciação, que volta ao banco es-
colar afim de puder ter uma educação recuperar o tempo perdido.
Espera-se que este trabalho contribua para a construção uma agenda
pública para Educação de Jovens e Adultos na Guiné Bissau.
Referências
- 73 -
- 74 -
INSTABILIDADE POLÍTICA NA GUINÉ-
BISSAU DE 2014 A 2023 E O DESCALABRO
DE SERVIÇOS SOCIAIS
Alaiquet Papa Vieira Có
Nemésio Boni Nanque
Lourenço Ocuni Cá
Introdução
- 75 -
muitos políticos não encaram partido como uma instituição da de-
mocracia, encaram-nos como uma associação de pequenos grupos
de pessoas, que podem de um momento para o outro ganhar o seu
ganha-pão; por isso temos um país pequeno com grande número de
partidos políticos. Por outro lado, os políticos guineenses quando
não estão integrados no governo fazem oposições não construti-
vas para poder afastar os que estão lá, pois muitos fazem a política
como o seu emprego (Costa, 2019, p.30).
- 76 -
institucionais. Pela querelas entre os políticos que lutam pelos inte-
resses pessoais.
- 77 -
promessas feitas durante as campanhas eleitorais e durante o seu
discurso de tomada de posse. Ele demonstrava que iria ser um pre-
sidente de unidade e de concórdia nacional, o que não passou de
uma ilusão para a Guiné-Bissau […], (Té; Monteiro, 2020, p.228).
- 78 -
custo da formação dos novos partidos políticos e/ou aumentar ainda
mais as barreiras à participação e à ampliação das relações entre os
governantes e os governados.
Alguns atores internacionais têm trabalhado para resolver a
crise política na Guiné-Bissau, incluindo a Comunidade Economia
do Estados da África Ocidental (CEDEAO), Estados Unidos da
América. Pedem o respeito à constituição e restauração da ordem
constitucional no país que eu considero uma intervenção dos dentes
brancos e coração preto. No entanto, os resultados dos seus esforços
têm sido limitados devido às resistências internas e aos interesses
políticos locais.
No que se refere ao regime do presidente Umaro Sissoco Em-
baló que tomou posse em fevereiro de 2020, após uma eleição presi-
dencial controversa contestada por seu oponente Domingos Simões
Pereira. Desde então, o país enfrentou desafios políticos, econômi-
cos e sociais significativos.
- 79 -
babilidade de acontecer, quer quando ela se efetiva e também no
contexto posterior à instabilidade, que não raras vezes é o cenário de
vinganças […]” (Moreira, 2017, p.57)
Com isso, o país tem sido marcado por desafios políticos e
econômicos significativos com a democracia e os direitos humanos.
Para Morreira (2017), a instabilidade política é ela própria
uma forma de violência, enquanto interfere negativamente com as
liberdades dos cidadãos oprimindo-lhes, causando o mal-estar, e a
iniquidade social, com consequências sociais, econômicas e políti-
cas graves, pois ela acaba com a vida da população que depende de
seu suor para sobreviver.
Vimos em cada governo dos partidos políticos da Guiné-Bis-
sau surgindo novos ministérios, aliás novos cargos para os seus
membros do partido porque não podem ficar sem função. Com isso,
“é difícil contabilidade saber o número exato de ministérios e de
ministros e de secretários de Estado que o país já conheceu até ago-
ra. Mas basta termos em conta que nenhum governo até hoje em
dia conseguiu cumprir a legislatura na Guiné-Bissau” (MOREIRA,
p.57).
- 80 -
que o governo de Domingos Simões Pereira iria completar o seu
mandato porque o presidente e primeiro-ministro eram do mesmo
partido. Contudo, nada deu certo.
Além disso, é bom salientar que desde o momento que o país
foi obrigado pelos doadores a tomar o outro rumo da política para
enfrentar os desafios políticos. Sendo assim, em junho e agosto de
1994, foram realizadas as primeiras eleições democratas, mas desde
então, só o ex-presidente José Mário Vaz conseguiu completar o seu
mandato do restante presidentes foram interrompidas com os gol-
pes; “a fragilidade do processo político e democrático consolida-se
com as tentativas e as concretizações de golpes de Estado no país,
provocando o descrédito das instituições e o caos administrativo”
(Moreira, 2017, p.57).
- 81 -
Vimos que a justiça não tem um consenso racional e as leis
não se aplicam a todos, pois há certos grupos punidos e os outros
não, porque os seus familiares fazem parte de “mandjuandade6”
política, onde se verifica muita reciprocidade. Se alguém tiver um
familiar que está a trabalhar na justiça e outro tiver o seu que está
trabalhando no Ministério da educação, as ambas as partes esta-
rão ligadas para qualquer que seja assunto ligado a estes ministérios
para poderem se ajudar mutuamente. Destarte, veem-se os verda-
deiros detentores do poder real são os militares sempre suportam o
poder político e o poder político tem suporte nas forças armadas que
dificultam bastante no cenário político, pois são os militares que o
poder civil sucumbiu nas entranhas da instabilidade política crônica,
por isso enraizou-se uma cultura de assassinatos e agressão por exis-
tir a impunidade. (Gomes, 2010; Costa et al., 2019, p.11).
- 82 -
fontes de relatórios internacionais, a Guiné-Bissau enfrenta proble-
mas críticos no seu sistema educativo. Devido a anos de conflito
político e instabilidade. A educação no país tem sido negligenciada
e subfinanciada, o que resultou em instalações escolares inadequa-
das, falta de material didático e formação ineficiente dos professo-
res. Tudo isso acontece devido à incapacidade política, como podem
observar que os “atores políticos na Guiné-Bissau na sua maioria
não possuem uma formação sólida, um conhecimento do que é fazer
política. A instabilidade política muitas vezes prende-se com a inca-
pacidade dos políticos a resolverem um problema de menor comple-
xidade” (Costa, 2019, p.29).
Além disso, a taxa de abandono escolar é alta, especialmente
para as meninas e a alfabetização continua a ser um desafio em todo
território. A falta de educação e formação adequadas limita as opor-
tunidades para crianças e jovens e tem um impacto negativo na eco-
nomia e no desenvolvimento do país como um tudo. A instabilidade é
uma das barreiras que causam o desenvolvimento de um país porque
o Estado sem a segurança, sem educação, sem saúde… não tem como
se desenvolver, pois são as coisas básicas que um Estado deveria ter.
Segundo Costa (2019), a pobreza e a falta de educação são
centrais entre os vários problemas; a maioria da população coloca a
sua confiança na campanha de castanha de caju, mas essa confiança
é ceifada sempre porque a instabilidade que grassa o país acaba por
não permitir que tudo corra bem. Com isso, os cidadãos entra numa
crise de fome. O narcotráfico no país é um problema secundário,
preocupante, que prejudica o nome do Estado, mas não é o grande
responsável da situação em que o país se encontra porque o país tem
como combatê-lo caso esteja interessado.
Com um governo sólido e forte, o problema de narcotráfico
diminuiria drasticamente. Até se formos ver os praticantes destas
práticas, a maioria está no aparelho de Estado. A título de exem-
plo, foi preso um procurador da República que estava na comitiva
do presidente Umaro Sissoco Embalo a Lisboa em 2024! A Guiné-
-Bissau tem este problema porque as instituições são fracas e sem
meio para combater este crime que é transnacional. Aliás, outras
instituições de direito para combate a esta prática estão envolvidos
na mesma prática que dificultam também no terreno da fiscalização,
pois “comparação não entrega outro”.
- 83 -
De certa forma, o que empobrece a situação política na Guiné-
-Bissau é a questão de desejo de tornar luxuoso em fração de segun-
dos e a colonialidade do poder e do saber.
É importante saber que a vida necessita de uma carreira que
embota a experiência na vida quotidiana, mas aquilo não acontece
na Guiné-Bissau porque todo mundo quer chegar ao topo, os fins
justificam os meios. Sendo assim, quando alguém chega em um
partido, mesma que tenha boa ideia que poderia levar o país para a
encarrapitar, acaba por si entrar na corrupção tendo em conta o que
os veteranos vão lhe permitir ou dar no momento. Por isso, vimos
muitos jovens a entrar nos regimes autoritários que massacram os
cidadãos como se fosse na época colonial. Como se vê, com esta
ambição de chegar ao poder e ter tudo sem a carreira, dificulta
bastante o país a se desenvolver.
Além disso, Aníbal Quinjano é sociólogo e filósofo peruano,
conhecido por sua teoria da “colonialidade do poder”. Segundo ele,
a colonialidade não é apenas um fenômeno histórico, mas sim uma
estrutura que ainda permeia as relações sociais, políticas e culturais
da América Latina e do mundo. A colonialidade do poder designa o
conjunto de relações sociais e políticas que emergem no processo
de colonização americana e que se estendem até os dias de hoje,
manifestando-se em formas de dominação, exploração e exclusão.
Assim, tudo o que vem de fora é mais valioso. Permite a voz de co-
mando, veio de fora porque muitas das deliberações tomadas pelos
governantes guineenses são decisões das pessoas externas, incutidas
pelos dirigentes, pois a quilo dificulta e muito a restauração do Es-
tado. Porque nem todos os países gostam de ver o desenvolvimento
da Guiné-Bissau; ao contrário, o desejo maior deles é que o país
continue na instabilidade política, para poderem continuar exploran-
do os recursos, fingindo que estão apoiando o país. (MONTEIRO et
al., 2000).
A colonialidade do saber é o mecanismo pelo qual a episteme
ocidental se impõe como única normativa, invisibilizando outras for-
mas de conhecimentos e saberes locais. Que levam os políticos afri-
canos a não pensar na política interna que pode criar arranque ao de-
senvolvimento dos seus respectivos territórios. (CUNHA et al., 2009).
Portanto, se os nossos políticos continuarem com este perfil
de liderança, o país continuará enfrentando os mesmos obstáculos.
- 84 -
Se vejamos bem o cerceamento de materiais de campanha de parti-
dos de oposição à situação que estão sendo impedidos passar no ter-
ritório do país vizinho, a fim de entrar no território da Guiné-Bissau,
isso tem a ver com a falta da ética política que se verifica no país.
Considerações finais
- 85 -
cano para Independência Guiné e Cabo Verde (PAIGC) é oposição
e o Partido da Renovação Social (PRS) é situação, então, o PAIGC
trata criar um momento de crise quer no país, quer dentro do PRS
como aconteceu em 2003, que culminou com um golpe de Estado.
Do mesmo modo, se o PRS está na oposição o PAIGC na situação,
então, o PRS provoca uma crise no país, para desestabilizar o go-
verno do PAIGC. Mesmo se o PAIGC que está no poder, alguma
ala do próprio partido que não está satisfeita com a liderança cria
imbróglio porque não foi incluída na governação, instabilidade das
instituições do Estado. Como se pode perceber, o que mais causa a
instabilidade na Guiné-Bissau é:
Referências
- 86 -
2018). Brasília, 2019.
COSTA, Paulo António da. Instabilidade Política na Guiné-Bis-
sau: Dimensões, Causas e Efeitos. Instituto univrsidade de lisboa,
2019.
MOREIRA, Joacine Katar: A Cultura di Matchundadi na Guiné-
-Bissau: Género, Violências e Instabilidade Política: Instituto Uni-
versitário de Lisboa. Novembro, 2017.
TÉ, Paulo Anós: Crise de legitimidade política e a cultura (anti)
partidária na Guiné- Bissau em 2020-2021. GT: Novas Reflexões
Sobre as Democracias do Nosso Tempo. Pelotas, 26, 27 e 28 de se-
tembro de 2022.
TÉ, Paulo Anós, MONTEIRO, Artemisa Odila Candé: Transição de-
mocrática na Guiné-Bissau: uma análise sobre a mercantilização da
democracia. AbeÁfrica: Revista da Associacão Brasileira de Estu-
dos Africanos, v.04, n.04, Abril de 2020.
- 87 -
- 88 -
A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL: BRASIL
(BNCC), ANGOLA E GUINÉ-BISSAU
Salomão Nanque
Beni Kumbi Alberto
Namir Fernandes Sampa
Lourenço Ocuni Cá
Introdução
- 89 -
Este trabalho trata-se de levantamentos bibliográficos e con-
sultas na plataforma de Base Nacional Curricular Comum, ana-
lisando a transição do ensino infantil para o ensino fundamental.
Foi feito um estudo baseando-se em trabalhos já publicados para
entender melhor os fatores que podem condicionar esta transição,
pela consulta das metodologias usadas no ensino infantil e do ensino
fundamental e também em base às nossas trajetórias acadêmicas, a
transição que marcou os nossos estudos saindo do ensino infantil
para ensino fundamental em Angola e na Guiné-Bissau.
- 90 -
Constitucional de 2009 que a matrícula de todas as crianças de
quatro e cinco anos em instituições de Educação Infantil tornou-
se obrigatória. Essa emenda representou um avanço significativo na
consolidação do direito à educação no país, ampliando-o desde a
pré-escola até o ensino médio e tornando quase toda a Educação
Básica um direito subjetivo público. Dessa forma, o Estado tem a
responsabilidade de garantir o acesso e as condições necessárias
para todos os alunos na faixa etária de 4 a 17 anos. Um marco
importante foi a inclusão da Educação Infantil na Base Nacional
Comum Curricular (BNCC). A Educação Infantil desempenha um
papel crucial como o primeiro processo de transição na vida da
criança, na passagem do ambiente familiar para o escolar.
- 91 -
forma, a criança tem três anos para assimilar esses conhecimentos
(Fernandes, 2015).
- 92 -
escassez de escolas do ensino primário em muitas áreas, dificulda-
de de reenquadramento de professores do ensino de base e falta de
materiais didáticos para a prática do ensino e aprendizagem no ciclo
básico.
A igualdade perante a educação, é um dos objetivos preco-
nizados pela política educativa de vários países, é considerada uma
construção social que surge da interação entre a investigação de
campo, a adoção de medidas de política educativa e a elaboração
de teorias explicativas da desigualdade social que visam esclarecer
o parcial fracasso de tais medidas. Perante este leque de situações,
nos últimos tempos têm sido experimentadas várias políticas educa-
tivas orientadas para a regulação e controle dos processos educati-
vos, dando-se particular realce à melhoria dos indicadores de suces-
so e aproveitamento escolar. Contudo, pensa-se que a compreensão
destes mesmos processos sugere, por um lado, um olhar para dentro
da escola, sua organização e gestão pedagógica, estratégias de ensi-
no orientadas para a melhoria dos resultados dos alunos, formação
e capacitação dos seus quadros etc. Por outro lado, demanda tam-
bém a análise das dinâmicas sociais, econômicas e políticas que go-
vernam o processo de concepção e implementação de tais políticas
(Chivela, 2022).
O regime de extensão da unidocência tem vindo a registrar
várias dificuldades, que têm posto em causa o êxito e a qualidade
do ensino no país. A falta de preparação adequada dos principais
agentes curriculares aliada ao desalinhamento entre o design de
formação docente e o figurino do ensino primário, o pouco domínio
dos conteúdos e das metodologias de ensino, a questão da transição
automática, a falta de condições de trabalho, a superlotação das
turmas, que impede a atenção especial às particularidades individuais
e a ausência dos pais no acompanhamento da aprendizagem dos
filhos constituem principais pontos estranguladores do processo de
ensino e aprendizagem na unidocência (Julião, 2020).
Pela escassez de trabalhos que abordam sobre a transição do
ensino infantil para o ensino fundamental em Angola, trouxemos
aqui algumas experiências próprias vividas, ou seja, a trajetória es-
tudantil referente ao ensino infantil para fundamental do estudante
Beni Kumbi Alberto.
Entendemos que para sair do ensino infantil é necessária uma
- 93 -
boa preparação, por parte dos professores para as crianças ou alu-
nos(as) percebi em minha trajetória que, não foi simples a prepa-
ração da transição do infantil para fundamental, isto por conta de
algumas habilidades que eu não possuía.
É conhecido que os processos cognitivos e motoras
condicionam muito esta transição pois no ensino infantil eu não
sabia ler em condições nem escrever e a falta de preparação dos pro-
fessores que acompanham o aluno para saber lidar com um lugar di-
ferente e formas diferentes, procurar entender as coisas que por sua
vez, nunca é fácil a tarefa do professor. Segundo o Mapa Mundial
de alfabetização descreve: indicando a prevalência de alfabetização
por país em 2013.
• Guiné-Bissau: 68.9%; taxa de alfabetização total, cuja taxa
de alfabetização masculina, 55.3%, e alfabetização femini-
na, 42.1% em critério de maiores de 15 anos que sabem ler
e escrever.
• Angola: taxa de alfabetização total é de 70.4%; cuja taxa de
de alfabetização masculina, 82.6% e taxa alfabetização femi-
nina, 58.6% em critério de maiores de 15 anos que sabem ler
e escrever.
• Brasil: 93,2% N/A em critério de maiores de 15 anos que
sabem ler e escrever.
República da Guiné-Bissau
- 94 -
tuações nessa perspectiva. Destacam-se conjuntos habitacionais no
sentido como alunos e professores se comunicam no ensino apren-
dizagem em relação aos seus convívios em torno dos seus campos.
Do ponto de vista da distribuição da população guineense por etnia,
fato importante é:
- 95 -
lização do trabalho de EP e a importância de sua formação aparece
como uma necessidade imperativa (CESO,1995:19).
- 96 -
em consequência disso, há enorme dificuldades prolongadas em
apreender e compreender o conteúdo programático que está sendo
desenvolvido em língua portuguesa de uma forma profícua. Esse
é um dos fatores que ainda dificulta o ensino infantil, fundamental
I e II. Isso afeta também no médio no processo de transmissão do
fluxo de informações em mensagens, onde o aluno possa receber
e responder nas práticas de metodologia participativa, construindo
assim uma qualidade educativa. Em sequência disso, outro fator que
poderia condicionar a melhoria do sistema deveria haver projetos
ligados aos monitores que auxiliem para minimizar as dificuldades
dos alunos.
Até hoje nada disso é implementado no sistema do ensino
público guineense. Os alunos saem da aula com muitas dúvidas que
na maioria das vezes, é, por razões da língua portuguesa. Então, a
língua de ensino no país se torna obstáculo para o desenvolvimento
das práticas educativas nas escolas. [...]as dificuldades que a Guiné-
-Bissau tem enfrentado ao longo dos anos, com um Índice de Desen-
volvimento Humano (IDH) considerado baixo e precário, com 64,7
% da população a viver abaixo do limiar da pobreza (RDH, 2011, p.
160), estima-se que 49,8% da população não tem domínio da escrita,
da leitura e de cálculo básicos e o indicador socioeconômico revela
que 69,3% da população guineense vive com menos de 2 dólares
americanos por dia e 33% com menos de 1 dólar por dia [...].” (Son-
có, 2014, p.17).
Outra questão é a forma, postura e carácter que professores
apresentam na sala de aula, dão aula fazendo com que os alunos
decorem os apontamentos disponibilizados pelos professores. A aula
pode versão sobre qualquer assunto, menos o que está disponibiliza-
do nos fascículos que obrigam os alunos comprar. O que se ensino
nem sempre corresponde com a realidade dos alunos. Obviamente,
com metodologia passiva, há menos interações com os alunos e nem
promoção à emancipação. Os professores agem como o possuido-
res do conhecimento, isso é uma pedagogia arcaica. Numa visão do
conhecimento ampla, a educação pode ser entendida como uma se-
mente que é uma estrutura extremamente importante para a manter
a geração contínua das plantas pois, no ambiente da terra adequado
ela forma basicamente por três componentes: embrião, suplemento
nutricional e revestimento protetor que por essa razão, pode manter a
- 97 -
espécie e futuramente reproduzir muito mais numa escala prolongada.
Antes do resultado, futuramente, é necessário passar por várias etapas
com seguimento na germinação a fim de tornar uma planta apta.
- 98 -
davia, sofremos mutações genéticas que geram expressão genética
diferentes na população humana. Esses processos de mutações sofri-
das ao longo da geração, a alteração no genoma humano que indica
que nem todos nascemos intelectual, morfológica e fisiologicamente
iguais até a forma corporal indica, cor, altura etc. Isso indica que o
modo que se entende uma coisa, habilidades de randomizá-la, não é
da mesma forma com todos outros, certo? É um sinal de que cada in-
divíduo é um mundo isolado que durante atividades de vida é capaz
de obter emoções, transtorno mental ou distúrbio mental e outro sin-
tomático em volta do mundo biológico. Assim, apontado na revista:
- 99 -
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar (...).
- 101 -
dentes em áreas rurais frequentando a educação infantil, sendo: 55
crianças de 3 anos, 190 de 4 anos e 234 de 5 anos. Considerando
esses números e o total de crianças de 0 a 6 anos de idade residentes
em área rural, o município atendia somente cerca de 16,3% dessa
população. (Brasil, 2012).
Resultado e discussão
- 102 -
Para o êxito do projeto da reforma, foram criadas as condições para
assegurar o seu funcionamento, com destaque para a adequação do
sistema de administração e gestão no nível central e local. O enten-
dimento de que a educação e a formação são indispensáveis para
maior igualdade e justiça, levou o Governo a atribuir particular im-
portância à educação primária na medida em que esta fase é impor-
tante na formação da personalidade do indivíduo. Dessa maneira, a
reforma criou várias modificações (Mayembe, 2016).
- 103 -
Artigo 14.º objetivos gerais:
Considerações finais
- 104 -
mento são gradualmente adicionadas.
A avaliação nesse período ocorre por meio do acompanha-
mento e registro do desenvolvimento das crianças, sem a finalidade
de promoção, inclusive para acesso ao Ensino Fundamental (LDB,
art. 31, I; incluído pela Lei nº 12.796, de 2013).
A transição é entendida como uma mudança de papel ou am-
biente que ocorre ao longo da vida, como a chegada de um irmão
mais novo, a entrada na escola, a formatura, o casamento. Enfren-
tamos constantemente transições que envolvem a participação em
diferentes ambientes fundamentais para nosso desenvolvimento,
como família, escola, trabalho, comunidade e sociedade. Todas es-
sas transições envolvem perdas, ganhos e desafios. Alguns proces-
sos de transição requerem mais cuidados do que outros, como no
caso da criança que está deixando a Educação Infantil e indo para o
Ensino Fundamental I. A transição de uma etapa de desenvolvimen-
to infantil para outra é caracterizada por crises. Essas crises surgem
no limite entre duas idades e indicam o fim de uma etapa de desen-
volvimento anterior e o início da próxima.
Quando as crianças ingressam no Ensino Fundamental é es-
sencial que a escola facilite uma transição tranquila, caso contrário,
isso pode ser prejudicial para o desenvolvimento delas. Esse mo-
mento exige mudanças na rotina escolar da criança, além de deman-
dar cobranças e avaliações. A elaboração de um projeto de transição
em ambas as etapas de escolarização da criança é de extrema im-
portância para seu desenvolvimento. Compreender a necessidade de
uma transição tranquila é fundamental para a criança. Valorizar as
atividades lúdicas de aprendizagem remete às experiências viven-
ciadas na Educação Infantil. É essencial proporcionar um ambiente
profícuo em interações no Ensino Fundamental, em que as idiossin-
crasias de cada educando sejam respeitadas.
Referências
- 105 -
rio em Angola: causas e implicações para a política educativa; 2022.
JULIÃO, António Luís. A extensão da unidocência no ensino pri-
mário em Angola: implicações para a qualidade de ensino, 2020.
MAYEMBE, Ndombele. Reforma educativa em Angola: a mono-
docência no ensino primário em cabinda. 2016.
MELLO, Bianca Atanes da Silva de. A criança e o processo de
transição da educação infantil para o ensino fundamental I.
2022. 20 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Peda-
gogia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2022.
SONCÓ, Lamine. Alfabetização de jovens e adultos não escolari-
zados: Uma reflexão sobre o contexto guineense. Porto: Faculdade
de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto
(FPCEUP). 2014.
ZORZI, Jaime Luiz; SYLVIA, Maria Ciasca. Caracterização dos er-
ros ortográficos em crianças com transtornos de aprendizagem. Re-
vista CEFAC, v. 10, 2008).
- 106 -
LITERATURA DA GUINÉ- BISSAU:
A ORIGEM DA FRACA PRODUÇÃO
ACADÊMICA DOS ESCRITORES NACIONAIS
Queita Embaló
Lourenço Ocuni Cá
Introdução
- 107 -
estudantes, tampouco estimula a pesquisa de fatores que vão além
dos livros didáticos. O que supostamente interferiu no não avanço
da literatura escrita guineense, isto é, ignorando os traumas deixados
pelo regime colonial para o desenvolvimento da Educação na Áfri-
ca, particularmente, na Guiné-Bissau, como consequência a redu-
ção dos pesquisadores guineenses.
Neste sentido, o presente trabalho procura analisar o porquê
da fraca produção literária dos escritores guineenses nos assuntos
concernentes à literatura escrita; para isso, a nosso ver para que a li-
teratura guineense se vê diferentemente da forma como ela é, será
necessário que os responsáveis do Estado (dirigentes) criassem
uma política que valorizasse pessoal que atua nesta área, nomeada-
mente os escritores e os poetas como maneira de tais profissionais
pudessem ter condições e motivações para realizar seus trabalhos
com a dedicação.Também o Estado deve contribuir na divulgação
das obras produzidas pelos autores guineenses, procurando colocar
essas obras nas bibliotecas escolares a fim de incentivar a leitura dos
trabalhos dos autores em todo o território nacional.
É importante ressaltar a necessidade de criação de um prêmio
literário nacional com o intuito de atrair as pessoas a se interessarem
pela produção acadêmica. Ainda, o Estado deve criar uma editora
própria para que os escritores, poetas e estudantes que não têm con-
dições de publicar suas obras por conta própria possam recorrer à
editora nacional para publicação das suas obras literárias e contri-
buir na consolidação da literatura nacional.
Ademais, o Estado deve incentivar os críticos literários na-
cionais a fazer resenhas críticas sobre a produção literária guineense
como maneira de inserir autores guineenses nos cenários acadêmicos.
Por outro lado, observa-se a importância de inovar o sistema de ensino
do país para proporcionar novos valores intelectuais cada vez com
mais bagagem e fundamentos essenciais para confronto literário de
uma forma amadurecida e aceitável a nível nacional e internacional.
Para Couto e Embaló (2011 p.15), “uma boa maneira de pre-
parar o terreno para a discussão sobre as literaturas da Guiné-Bissau é
apresentar um esboço histórico do país”. Com isso, pode se presumir
que o fracasso da literatura guineense e falta do seu desenvolvimento,
eventualmente deve ser enraizado a partir de uma situação interligada
aos assuntos ligados ao histórico da educação do país.
- 108 -
Na visão de Leite (2015 p.5), “A Guiné-Bissau é um país fra-
gilizado por sucessivos golpes de estado” . No entanto, embora em
se tratando da Guiné-Bissau no sentido mais amplo, pode-se notar
a presença da nossa temática nos assuntos que o mau histórico da
política do Estado tem-se interferido nos problemas que acarretaram
a fraca produção da literatura guineense. Assim, nota-se que a lite-
ratura guineense de certa forma sofreu influência direta das conse-
quências de mal-estar da política interna.
O presente estudo tem como objetivo principal analisar como
a literatura da Guiné-Bissau foi afetada ao longo da história do
país. Tendo como objetivo específico, debater sobre os principais
fatores que influenciaram na fraca produção dos guineenses sobre
a sua literatura.
Procedimento metodológico
- 109 -
Sua repercussão, ecoou em todos os níveis, desde fatores socio-
culturais, econômicos e políticos chegando afetar o status e/ ou o
perfil humanista dos africanos negros. No entanto, pode se afirmar
que o processo de colonização é um fazedor principal, que de for-
ma genérica afetou os Estados africanos, que resultou em impactos
imensuráveis, que comprometeram as políticas públicas e a política
propriamente dita, além de fatores socioeducacionais. Outro fator
associado ao regime colonial é o racismo (CHICOMO,2022).
[...] os países africanos tiveram colonizações devastadoras, sendo
que o seu povo lutou contra a colonização de várias formas, opon-
do-se à colonização e à exploração das riquezas naturais e, sobretu-
do, à colonização humana (escravização). Outra forma de coloniza-
ção foi a ideológica, na qual a cultura europeia era a cultura modelo
comparativamente à cultura autóctone. As línguas europeias pas-
saram a ser obrigatoriamente ensinadas nas escolas, e as línguas
autóctones ficaram proibidas (Silva; Timbane, 2022, p. 128).
- 110 -
Nesta condição, acredita-se que, se o crioulo guineense fos-
se adotado como língua de ensino no país, poderia se esperar com
maiores chances de sucesso da literatura escrita guineense. Porém
não se pode afirmar que essa afirmação seja uma verdade absoluta,
apenas uma sugestão. Também não se pode descartar a possibilida-
de de que mesmo se a língua crioula fosse adotada não teria efeitos
desejáveis se o país seguisse o caminho de desgovernança em todos
os setores do Estado como se vê hoje. Pois, geralmente, os proble-
mas atinentes ao sucesso/fracasso da Guiné-Bissau já não podem
ser totalmente atribuídos ao regime colonial, devido ao nível de pre-
cariedade verificado em todos os setores administrativos, que sem
dúvida, trata-se do descaso dos dirigentes do país na construção de
uma agenda política eficaz e efetiva, sendo assim, incapazes de im-
plementar no mínimo uma livraria, uma gráfica e uma editora para
disseminação do conhecimento produzido pelos guineenses (Augel,
2007a).
A Guiné-Bissau com cinquenta anos de independência con-
quistada através de esforço revolucionário que juntou mais da me-
tade da população do país para o fim da colonização, hoje beneficia
somente os guineenses em parte envolvidos diretamente na luta de
libertação da Guiné-Bissau do regime fascista português. O que en-
fatiza a derrocada do sistema que assolou o Estado e o abandono do
restante da população que sem dúvida ajudou na consagração da in-
dependência do país. Agora mantida sob situação de abandono, em
detrimento de preservação dos interesses mesquinhos de um grupo
bem restrito de pessoas, comparável ao regime colonial português,
relegando a maioria da população ao alto índice de pobreza, compa-
rável ou pior do que no período colonial.
Na compreensão de Bispo (2016, p. 46). “o que temos não é
a literatura escrita no modelo ocidental, tampouco a literatura oral,
uma vez que se apresenta por meio alfabético. Há um registro que
está entre os dois universos. Valendo-se da escrita, imita-se a orali-
dade: oralitura”
Nesta perspectiva, apesar desta contextualização generalista
da consequência colonial e sequelas deixadas por ela em vários do-
mínios no desenvolvimento dos países africanos, em contrapartida,
reconhece que na Guiné-Bissau os impactos eram maiores, devido
a escassez dos intelectuais capazes de guiar o país, no período pós
- 111 -
colonial, ou seja, o país sentiu a falta de recursos humanos (intelec-
tuais nativos capazes de guiar o país da forma correta), caracteri-
zado pela predominância dos funcionários caboverdianos ou seus
descendentes logo após a libertação do regime da dominação direta
dos europeus (Couto; Embaló, 2011). Assim sendo, levou a predo-
minância de uma política de interesse pessoal que ocasionou por sua
vez, um grande vazio, principalmente nas políticas públicas a favor
do desenvolvimento do próprio Estado, e consequentemente a edu-
cação, que é um ponto chave para desenvolver uma literatura escrita
reconhecível de uma nação.
- 112 -
rer-se aos antigos. Antigos, bem entendido, porque datam da época
dos assim chamados “descobrimentos” portugueses ou seja, no es-
paço de tempo compreendido entre os Sec. XV e XIX, quando cro-
nistas, missionários, viajantes desenvolveram relativamente à África
toda uma literatura de cariz acentuadamente etnográfico e na qual se
descortinava nítidas influências do movimento renascentista euro-
peu em geral e do português em particular. Para o caso guineense em
concreto, concorreram, no quadro convencionalmente denominado
literatura pré-colonial e dentro do espírito do renascimento europeu,
nomes como o de Gomes Eanes de Zurara; Luís Cadamasto; Padre
Fernão Guerreiro; Duarte Pacheco Pereira; Travassos Valdez; Honó-
rio Pereira Barreto e ainda alguns outros de diversas nacionalidades e
dos quais se destacam Philip Beaver; Bertrand Bocandé e Max Astrié.
Por conseguinte, registra-se, que essa literatura que atingiu
o seu apogeu no próprio século em que surgiu – o século XV - e
conheceu o seu declínio no século XVII, para se esgotar quase que
completamente no século XVIII, nada tinha que ver com a literatura
africana de expressão portuguesa e, muito menos ainda, com a litera-
tura colonial. Esta só teve algum florescimento depois da introdução
do ensino e da instalação do prelo na Guiné (1879), época de uma
relativa liberdade de expressão, a qual só ganhou corpo a partir da
década de 30 ou 40 do século XX, quando o clima de tensão decor-
rente das guerras de pacificação deixou de se fazer sentir. Por isso,
não obstante, essa literatura de cronistas, missionários e viajantes
apresenta-se atualmente como fonte insubstituível, sobretudo, para
estudos de elaboração histórica, no campo estritamente literário. Ela
ocupa um lugar secundário (Tcholona, 1994, p. 4).
Entretanto, como já aludido anteriormente, foi só a partir da dé-
cada de 30-40 do século XX, com a introdução mais ou menos alar-
gada do ensino oficial que se tornou possível o surgimento de obras
da literatura colonial ( vide a literatura colonial guineense, in Soronda
nº 9, 1990, p.73-93). Todavia, sem desprimor pelo especificamente
estético, a literatura colonial cingia-se, regra geral, a uma produção
de conteúdos cujo universo narrativo ou poético fazia sobressair o
homem europeu que se projetava em África, aparecendo o negro
não raras vezes como um elemento cénico em um contexto do qual
destacavam-se ferozes e esterotipadas adjetivações paternalistas ou
eurocêntricas; caraterização do africano era via de regra pejorativa,
- 113 -
etiquetada com pretensa inferioridade e consequentemente desvalori-
zação do homem negro africano (IBID).
Da literatura colonial guineense, destacaram-se nomes como o
de Maria Archer; Fernanda de Castro; Fausto Duarte; Afonso Correia;
António de Cértima, aos quais ainda pode-se legitimamente juntar os
nomes de Armor Pires Mota e José Martins Garcia, autores que se
dedicaram não sem mérito à tarefa de eternização literária da trágica
guerra colonial. Em 1946, as autoridades coloniais fundaram o Centro
de Estudos da Guiné Portuguesa, que editava o Boletim Cultural da
Guiné Portuguesa, revista multidisciplinar que chegou a ser publicada
até o número 110. Essa revista veiculou uma intensa produção literá-
ria: contos, poesias, o registro de contos tradicionais, ensaios, artigos
de natureza etnográfica. A produção “ geração do Boletim Cultural”,
como ficou conhecida, foi de tal forma profícua e abundante que foi
considerada pelo historiador René Pelessier como a melhor produção
científica e cultural do então império colonial português.
Nessas produções destacaram-se os nomes de Manuel Bel-
chior, João Eleutério Conduto e Viriato Tadeu, par de muitos outros
que deram contributo decisivo às atividades literárias da época. Veri-
ficou-se na Guiné colonial a ausência de uma literatura de charneira
que fosse, à semelhança dos casos angolano e moçambicano, de al-
gum modo portadora de uma literalidade de transição entre a colonial
e a propriamente de cunho nacional. Assim, cavou-se um fosso entre
as duas literaturas, apenas ligadas por laços histórico-culturais e lin-
guísticos. Aliás, para o caso guineense, abandonado em favor da tese
da ruptura total com a ideologia literária colonial, avulta a presença
de dois escritores nacionalistas: Amílcar Lopes Cabral e Vasco Cabral
que, apesar de só terem publicado depois da independência, já escre-
veram durante a época anterior, em uma perspectiva diametralmente
oposta da até então conhecida no país. (Tcholona, 1994, p. 4-5).
Consequentemente, pode-se afirmar com toda a proprieda-
de que foram esses dois autores os precursores da moderna literatura
nacional, embora a eles ainda se possa juntar Baticã Ferreira, primei-
ro autor guineense a tornar público os seus poemas, de inspiração
bucólica, sem a marca da poesia de combate. Acrescentam-se ainda
os nomes de Pascoal d´Artagnan Aurigemma; Anastácio Miranda e
Tavares Moreira. Os guineenses que figuram no Poilão, pequena an-
tologia de poemas de autores portugueses, caboverdianos e guineen-
- 114 -
ses, publicada em Bissau em 1973, tem-se completado a listagem de
autores com poemas escritos antes da queda do poder colonial.
Depois da independência, um conjunto de jovens poetas depõe
na coletânea “Mantenhas para quem luta”! (1977) todo o fervor pa-
triótico inaugurando a literatura nacional que foi marcada pelo exclu-
sivismo poético e revolucionário que, qual bola de neve, se estendeu
ainda por Momentos primeiros da reconstrução (1978), outra antolo-
gia, também ela fortemente empapada de motivos libertários. O certo
é que nessas duas publicações, para além de vislumbrar-se a contri-
buição de uma cultura enraizadamente popular, prova disso sendo a
existência de poemas em crioulo, também é possível detectar-se uma
tendência para a renovação de temas e estilos aliada à consciência da
necessidade de um maior aperfeiçoamento estético.
Hesitantes, embora, os livros: a luta é a minha primavera, de
Vasco Cabral (1981) e Não posso adiar a palavra de Hélder Proença
(1982), refletem essa renovação da qual citou-se anteriormente. En-
tretanto, foi com a Antologia poética da Guiné-Bissau (1990) que
poetas tais como Félix Siga; Agnelo Regalla; Tony Tcheca; Jorge
Cabral e novamente Pascoal d´Artagnan, entre outros, assumiram
mais decididamente essa viragem temática e as produções poéticas
apresentam um conteúdo mais multifacetado. A antologia O eco do
pranto (1992), privilegiando uma temática única, a da criança, alia
um realismo torrencial à delicadeza de sentimentos e os autores aí
representados deixam transparecer maior maturidade estética, intro-
duzindo assim a esperança promissora na literatura nacional, tantas
vezes, hibernada, quantas vezes semi-despertada, para novamente hi-
bernar-se, qual ciclo de eterno retorno (Tcholona, 1994, p. 5).
Todavia, convém que se diga que o itinerário literário nacio-
nal até recentemente não registrou senão obras no campo da poesia
em cuja trajetória, se bem que rica e multiforme, apresenta altos e
baixos. O campo da prosa está até o momento quase que completa-
mente sem representatividade. O primeiro passo, embora balbucian-
te e revelando muita inexperiência, foi dado pelo jovem Manuel da
Costa, com a publicação do livrinho: a força da vontade, edição do
autor, em princípios de 1993. Logo depois foi seguido pelo feliz apa-
recimento de A escola, de Domingas Samy, também numa edição
da autora, em setembro de 1993 e que, apesar de certas restrições
quanto à maturidade e ao acabamento da obra, abre assim as portas
- 115 -
para uma nova caminhada, na qual antevê-se o trilhar promissor de
muitos autores nacionais (TCHOLONA, 1994).
Resultados e discussão
- 116 -
reincidências de temas específicos”. A autora ressalta a importância
da recriação das histórias orais como recurso largamente utilizado
em diferentes literaturas escritas africanas. Acredita-se, no entanto,
que:
- 117 -
população guineense. Contudo, é unânime a ideia de que a literatura
escrita só pode ser desenvolvida através da boa educação, o que me-
rece a preocupação de todo acadêmico guineense.
Desde a sua independência unilateral em 1973, o país passou
por vários problemas políticas que levou a total desordem em todos
os níveis institucionais que também fracassou o principal pilar da
literatura até hoje, a mal-estar da educação originado por sucessivos
greves do corpo docente devido aos atrasos salariais fracassando
cada vez o ensino (Leite, 2015).
“A longevidade desse processo de independência dos PA-
LOPS se deve principalmente à resistência de Portugal em ceder ao
contexto internacional” (Santos, 2021, p. 25). Entretanto, “no pe-
ríodo colonial, era negada à população tradicional as suas crenças,
músicas, vestimentas e a cultura de forma geral, sendo incorporada
e obrigatória a cultura europeia, que não abrangia a identidade e a
valorização cultural africana” (Silva; Timbane, 2022, p. 129).
Todavia, atualmente, verifica-se que a valorização das lite-
raturas africanas e, consequentemente, sua difusão, cabe a vontade
dos africanos em querer resgatar suas histórias para valorização da
sua identidade, da mesma forma, no sentido estrito, para a literatura
guineense, não fugiria dessa luta para que o país alcançasse uma
literatura almejada. Na visão de Augel (2007b, p.49),
- 118 -
A origem da fraqueza da literatura da Guiné-Bissau, no entan-
to, além do atraso provocado pelo colonizador através da legada edu-
cação tardia guineense, por não ter sido implementado, pelo menos
o ensino primário logo nos primeiros anos de invasão do território
guineense, que só tornou realidade após vários anos de exploração
efetuada antes da independência total da República da Guiné-Bissau
em 10 de setembro de 1974. Mas também foi de total desprezo dos
próprios dirigentes do país na criação das políticas que pudessem
melhorar a produção literária. Pois após 11 anos da luta armada, e
consequentemente a libertação do país do regime colonial até hoje,
continua a não priorizar o povo o suficiente na Educação formal.
Em decorrência desse cenário, acredita-se que “os coloniza-
dores chegaram apenas para suprir seus interesses pessoais, suas
ambições políticas, necessidades econômicas de suas metrópoles,
de sua população, para explorar as riquezas e recursos existentes
sem pensar nas consequências de suas ações em relação à população
africana” (Silva; Timbane, 2022).
Já para Leite (2015, p.75) “a literatura colonial e a literatura
nacional coexistiram, lado a lado, durante o período que antecedeu
as independências das novas nações africanas. No entanto, esta rela-
ção não teve idênticas proporções em todos os territórios africanos”.
Ao que tudo indica, devido a algumas evidências sobre a ausência
de oportunidades da educação formal adequada na Guiné- Bissau no
período colonial e pós colonial, pode se afirmar que o país esteve
fora desta coexistência literária referida por Leite (2015).
Assim, na visão de Costa (2018 p. 7), “a ausência da infor-
mação sobre a existência dos críticos literários propriamente gui-
neenses com obras publicadas sobre a produção literária do país é a
causa da fraqueza literária da Guiné-Bissau’’.
Enfim, entre os vários aspectos elencados principalmente na
obra de Augel (2007a) sobre a literatura oral e escrita da Guiné-
-Bissau, a autora destaca alguns ícones guineense, tanto no período
colonial e pós independência, nomes como Cônego Marcelino Mar-
ques de Barros que se destaca na literatura oral precedente à inde-
pendência, e depois no período pós independência Benjamim Pinto
Bull, Vasco Cabral, Leopoldo Amado, Antonio Soares Lopes Júnior
(Tony Tcheca ), Carlos Vaz, Maria Odete Semedo Costa entre ou-
tros. Com isso percebe-se uma clara crescente de pesquisadores da
- 119 -
literatura guineense, a despeito de que maioria vive fora da Guiné-
-Bissau. Ou seja, a produção literária é feita fora do país.
Diante do exposto, os seguintes fatores podem ser destacados
como resultantes da não produção dos acadêmicos guineenses:
Iº cerceamento à educação formal para a população no perío-
do colonial;
IIº ausência de campanha de conscientização da população
logo após a independência quanto à importância de se matri-
cular as crianças nas escolas;
IIIº ausências de políticas públicas indutoras da motivação
dos estudos para o desenvolvimento da literatura do país;
VIº falta de formulação e implementação de política pública
que induz a motivação dos acadêmicos para o desenvolvi-
mento da literatura do país;
Vº falta de meios para publicação dos trabalhos acadêmicos.
É um dos fatores também que precisa ser melhorado pela po-
lítica do Estado, apoiando os profissionais sem condições de
divulgação de trabalhos;
VIº falta de estímulo a críticos literários por parte do Estado
para tecer críticas à incipientes produções guineenses e dos
meios para publicação dos trabalhos acadêmicos.
VII° inexistências de metodologias inovadoras no sistema do
ensino da Guiné-Bissau que permitam aos educandos uma for-
mação crítica.
Considerações finais
- 120 -
Diante disso, identificou que a literatura da Guiné-Bissau
não sobressaiu, devido ao fatores enraizados pelos colonizadores, e
posteriormente pelo próprio sistema político da pós- independência
por desprezar o setor Educativo, além de, infelizmente, não se
preocupar com política curricular que possa estimular, incentivar ou
motivar acadêmicos nativos para desenvolvimento da literatura do
país, e por conseguinte, este efeito foi resultante da falta de aptidão e
interesse de muitos acadêmicos guineenses na divulgação científica,
predominando, por isso, a divulgação dos escritores estrangeiros e/
ou guineenses na diáspora sobre assuntos concernentes à literatura
do país.
Referências
- 121 -
18, n. 1, p. 83-100; 2008.
COSTA, Marceano Tomas Urem da. A Critica literária sobre
a literatura da Guiné-Bissau: considerações sobre um “suposto
vazio’’. Mafuá, Florianópolis, Santa Catarina, 2018.
DA MATTA, Caroline; MATOS, Ingrid; BARROS, Silva. Gênero
e raça no contexto escolar: a experiência da Oficina Mulheres Ne-
gras e Literatura. [s.d.]. Disponível em: https://editorarealize.com.
br/editora/anais/ceduce/2018/TRABALHO_EV111_MD4_SA8_
ID92 1_05052018164447.pdf. Acesso em: 28 abril 2023.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2008.
LEITE, Joaquim eduardo bessa da costa. A literatura guineense:
Contribuição para identidade da nação, Coimbra: [s.n.], 2015.
PROJETO GUINÉ-BISSAU CONTRIBUTO. [s.l] [2019?]. Dispo-
nível em: didinho.org. Acesso em: 4 maio 2024.
SILVA, Flávia ALVES da; TIMBANE, Alexandre António. A litera-
tura feminina no período pós-colonial na Guiné-Bissau. Caletroscó-
pio, v. 10, n. 1, p. 127-145, 2022.
SANTOS, Gabriela Ribeiro. A política externa portuguesa para
os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOPS): impactos
e resultados do colonialismo luso nas relações internacionais africa-
nas. 2021.
- 122 -
A IMPORTÂNCIA DO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM NOS ANOS
INICIAIS 1° ao 5° ANO DE ENSINO
FUNDAMENTAL NA GUINÉ-BISSAU
Wilson Biaguê
Sandra Roberto Carlos Ialá
Lourenço Ocuni Cá
Introdução
Desenvolvimento
- 123 -
dizagem. Por isso, os professores têm grande responsabilidade de
saber lidar e conhecer as crianças, sabendo que cada uma delas tem
sua idiossincrasia. Portanto, é necessário que o pedagogo saiba iden-
tificar os problemas e dificuldades dos seus alunos, de modo que,
os professores e os pais precisem colaborar para aprendizagem e
desenvolvimento cognitivo de suas crianças no ensino fundamental.
Portanto, neste âmbito, as crianças devem ter acesso à educação bá-
sica, obrigatória e gratuita. E, neste caso, os professores devem bus-
car aperfeiçoamento e atualização constante conforme a mudança e
evolução tecnológica.
Em se tratando de tudo isso, não podemos esquecer de desta-
car as seguintes considerações da importância de ensino fundamen-
tal que é seguinte ׃base para Aprendizado contínuo.
Os anos iniciais são um período crítico de formação edu-
cacional. A compreensão desse estágio é essencial para estabelecer
uma base sólida de conhecimento, proporcionando às crianças uma
plataforma robusta para aprendizados subsequentes. Ao compreen-
der conceitos de maneira significativa, os alunos estariam bem-pre-
parados para enfrentar desafios educacionais mais complexos ao
longo de sua jornada acadêmica.
O estímulo ao pensamento crítico, a compreensão não se li-
mitaria a simples memorização. Ela incentiva o desenvolvimento do
pensamento crítico. Ao compreender o porquê e o que está subjacen-
te aos conceitos, os alunos estarão mais aptos a analisar, questionar e
aplicar o conhecimento em diversas situações. Isso contribui para a
formação de indivíduos capazes de raciocinar de maneira autônoma.
A integração de conhecimentos, a compreensão facilita a in-
tegração de conhecimentos, permitindo que os alunos conectem in-
formações de diferentes componentes curricular. Essa abordagem
holística contribui para uma compreensão mais completa do mundo
ao redor, promovendo a consciência interdisciplinar e preparando os
alunos para desafios multifacetados na sociedade.
O desenvolvimento de habilidades de leitura nos primeiros
anos escolares, a leitura desempenha um papel crucial no processo
de aprendizagem. A compreensão é a chave para a interpretação de
textos, possibilitando que os alunos não apenas decifrem palavras,
mas também compreendam e extraiam o significado das informa-
ções apresentadas. Essa habilidade é vital não apenas para o desem-
- 124 -
penho escolar, mas também para a participação efetiva no processo
societário.
O fomento à motivação e engajamento, alunos que compreen-
dem a relevância e aplicabilidade do que estão aprendendo são mais
propensos a se sentirem motivados e engajados. A compreensão co-
necta o conteúdo escolar à vida cotidiana dos alunos, tornando a
aprendizagem mais significativa e, consequentemente, fortalecendo
o desejo de aprender. Percebe-se que, este trabalho ajudará os pro-
fessores guineenses, ou seja, os leitores em saber como é fundamen-
tal o papel do ensino e aprendizagem.
Como ex-professor, fui testemunha direta das necessidades e
dos desafios enfrentadas pelos alunos, professores e instituições de
ensino fundamental na Guiné-Bissau. Durante minha carreira, pude
observar questões como lacunas de aprendizado, dificuldades de
engajamento dos alunos, falta de recursos adequados e desafios na
implementação de práticas pedagógicas eficazes, isto é abordagens
que correspondem com a realidade sócioetico e religioso.
Haveria percepção por parte dos professores da Guiné-
-Bissau dos anos iniciais do ensino fundamental sobre a importância
da leitura no desenvolvimento escolar dos alunos? Para que haja
a percepção dos professores, precisa-se de órgãos competentes da
área educação para incentivar a formação continuada e contínua dos
professores guineenses que atuam nos anos iniciais do ensino funda-
mental, não só, mas também ter em mente que é nesses níveis de en-
sino que reside todo o despertar para o trabalho de desenvolvimento
e sucesso escolar de cada criança que se ensina.
Referencial teórico
- 125 -
Entende-se, então, que todo ser humano nasce com a capa-
cidade de adaptar-se ao meio e de assimilar e acomodar os objetos
externos em sua estrutura cognitiva na busca de um equilíbrio o que
permite seu desenvolvimento a partir da evolução de sua inteligên-
cia. Desse modo, a criança ao se adaptar com uma nova situação,
procura inseri-la a conhecimentos anteriores, assimilação, mas mui-
tas vezes, nessa assimilação, é necessárias certas modificações, aco-
modação para uma verdadeira compreensão da situação encontrada.
Nesse sentido, Piaget (2011), enfatiza que todo comportamento pro-
cura sustentar um equilíbrio entre os fatores internos e externos, ou
mais em geral, entre a assimilação e acomodação. Isto significa dizer
que, o sujeito em contato com meio busca constantemente organizar
e adaptar-se às situações e objetos que fazem parte desse meio.
Becker (2010), ao estudar a teoria piagetiana explica que:
- 126 -
Portanto, no processo de ensino-aprendizagem por dependên-
cia entre educando e educador para se poder desenvolver a capa-
cidade crítica de um aprendiz por meio de interação entre ambas
as partes nesse processo de ensino-aprendizagem, em que a criança
é sujeita a aprender, através de uma relação recíproca, entre pro-
fessor e aluno. Segundo Palmer (2010), Piaget definiu a educação
como uma relação de duas mãos, onde de um lado, está o indivíduo
em crescimento e de outro, estão os valores sociais, intelectuais e
morais que o professor tem o dever de incutir no sujeito educando.
Podemos dizer então, que, ao ensinar o professor também desenvol-
ve valores e normas que deverão ser apreendidas pelos estudantes
com o objetivo de melhor se adaptar ao meio e agir sobre ele. E ao
aprender isso, o educando é capaz de compreender como a socieda-
de está organizada e sente a necessidade de adaptar-se a essa rea-
lidade construindo conhecimentos que possibilitem sua adaptação.
Por isso, o conhecimento não é simplesmente deslocar as in-
formações de fora para dentro das crianças, mas é ir a fundo para
despertar a atenção da criança no que se tange ao conhecimento
científico e visão crítica.
Segundo François (2008), a teoria de Piaget causou um gran-
de impacto no currículo escolar ao enfatizar que a aprendizagem é
muito mais do apenas deslocar informações de fora para dentro da
criança. Desse modo, surgiu o construtivismo que consiste numa
abordagem para ensinar e aprender onde a criança tem papel central
e ativo na construção do conhecimento. Essa metodologia constru-
tivista parte do princípio de que o aprendiz deve ser estimulado a
pensar criticamente e de forma independente, ou seja, que ele seja
capaz de construir coisas novas a partir de sua ação e mediação de
seu professor.
A educação tem como objetivo criar no individuo uma visão
clara pela qual ele é capaz de reproduzir as novas coisas não apenas
manter com o pensamento ancestral sem as justificações com funda-
mentos científicos. Para Piaget, o principal objetivo da educação é
criar indivíduos que sejam capazes de fazer coisas novas e não sim-
plesmente repetir aquilo que outras gerações fizeram. Isto significa
dizer que a educação não pode mais trabalhar para que os alunos
apenas memorizem, mas principalmente para que além de memori-
zar sejam autônomos para inventar, produzir e criar conhecimentos.
- 127 -
Que alunos não conheçam somente o produto do ensino, mas parti-
cipem do processo de construção do produto.
Portanto, o professor deve saber ensinar o seu educando e es-
perar nele um desenvolvimento positivo. Entretanto, por meio da
teoria piagetiana, o professor pode saber quando ensinar determina-
do conteúdo e de que forma deve ser ensinado, pois pelos estágios
estudados por Piaget, é possível visualizar o desenvolvimento dos
sujeitos e o que lhe é possível aprender em determinado estágio. Isto
significa dizer, que o professor sabe quando e como ensinar ao seu
aluno e que desenvolvimento pode-se esperar dele, dependendo do
estágio pelo qual está passando. Em suma, é importante respeitar o
desenvolvimento do estudante e a forma como aprende. Para Pal-
mer (2010, 35),
Procedimento metodológico
- 128 -
Nesse processo do ensino aprendizado os dois primeiros anos
do Ensino Fundamental 1 são voltados para a alfabetização do aluno.
É quando a criança começa a adquirir habilidade de leitura, escrita
e a capacidade de compreender os números. É o primeiro passo da
educação construtiva. Para Beledeli (2016, p.08), os jogos de regras
executados em grupos estimulam o convívio social, a capacidade
construtiva da criança, oferecendo-lhe a oportunidade de pensar de
forma independente, inventar, experimentar, descobrir, tomar cons-
ciência de suas estratégias e dos colegas, assumindo e analisando
seus erros.
Os jogos em regras possibilitam a troca de experiências, a
necessidade de argumentar para defender as próprias ideias, favore-
cendo a capacidade de ouvir o outro, de superar conflitos e contradi-
ções. O jogo didático tem uma função muito importante na educação
porque em si ajuda a estimular os conteúdos de uma forma mais elu-
cida e eficaz no processo cognitivo do aluno dentro de sala de aula
e assim como fora da escola no ambiente que faça parte do processo
de aprendizado cotidiano do educando.
Referências
- 129 -
PIAGET, Jean. Epistemologia Genética. Tradução: Álvaro Cabral.
3ª ed. Martins Fontes: São Paulo, 2007.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo,
imagem e representação. Tradução: Álvaro Cabral e Christiano
Monteiro Oiticica. 4ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
PIAGET, Jean. Seis estudos de Piaget. Tradução: Maria Alice Ma-
galhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 25ª ed. Rio de Janei-
ro: Forense Universitária, 2011.
ROMERO, Priscila. Breve estudo sobre Lev Vygotsky e o sociointe-
racionismo. Revista Educação Pública, 2023.
- 130 -
DIFICULDADE DE ACESSO AO ENSINO
SUPERIOR EM LUANDA(ANGOLA): UM
ESTUDO DE CASO NA UNIVERSIDADE
AGOSTINHO NETO(UAN) NO PERIODO DE
2017 A 2020
Manuel Mfinda Pedro Marques
Lourenço Ocuni Cá
Introdução
- 131 -
Luanda é a capital da República de Angola possui uma área
de 18.826 km² e tem cerca de 6.945.386 de habitantes. Sendo que
Luanda é província com maior número de população do país e na sua
maioria são jovens que com sonho de ingressar ao ensino superior. A
maioria dessa população tem pouca condição econômico-financeira.
Há concentração de instituições do ensino superior em Luanda, o
que não acompanha o crescimento populacional ou necessidades da
população residente na capital angolana.
Ao longo de vários anos tem-se notado a falta de acessibi-
lidade e/ou dificuldade de jovens e adultos, com problema de não
ter acesso ao ensino superior. Segundo Angonoticias (2006, p.1
apud Afonso, 2020, p.6) “[...] hoje só estuda quem tem condições
financeiras favoráveis”. Deste modo procurou-se compreender a ad-
missão ao ensino superior em Luanda. Observa-se a constituição da
República angolana que garante o acesso ao ensino e a educação a
todos como direito reservado e garantido pela Carta Magna do país.
Assim, pretende-se discutir o acesso ao ensino superior em
Luanda face às dificuldades de acesso ao ensino e a falta de acessi-
bilidade à educação superior com equidade de acordo com os pre-
ceitos constitucionais.
A Constituição da República de Angola (CRA), no seu artigo
nº 21, alínea g), diz que uma das tarefas fundamentais do Estado
angolano é “promover políticas que assegurem o acesso universal
ao ensino nos termos definidos por lei” (CRA, 2010, p. 10). Pois
que o Estado tem a missão e a tarefa de garantir politica de acesso
ao ensino superior a população e de ampliação do acesso ao ensino,
sendo que também deve garantir o funcionamento das universidades
públicas e privadas.
Para Manuel (2017), entende-se no decorrer da responsabili-
dade do Estado a promoção no que tange ao acesso ao ensino supe-
rior, pois fortalece a economia de um estado e sociedade e as políti-
cas sociais. Reafirma, assim, a responsabilidade do Estado angolano
na esfera socioeducacional do país e a valorização do cumprimento
fundamental plasmado na constituição da República de Angola.
Entretanto, apesar da situação de falta de acesso massivo de
jovens e adultos no ensino superior em Luanda, causa diferentes
questionamento por parte da sociedade luandense, ainda hoje tor-
na-se um quadro bastante preocupante a dificuldade de acesso ao
ensino superior. É, portanto, que as dificuldades de acesso ao ensino
- 132 -
superior acarretam diversas consequências e crescimento de taxa de
criminalidade.
Segundo Jornal de Angola (2019)7, aponta que “o número in-
suficiente de instituições superiores tem provocado a fuga de mui-
tos quadros e alguns jovens limitam-se a ficar em casa porque na
província não conseguem dar continuidade à formação académica.”.
A partir destas informações demostrada pelo jornal de Angola, dei-
xa-nos baste preocupados em busca de possíveis equações para a
situação presente a nível da província de Luanda e não só.
Para Nogueira (2009, p.5), “os chineses têm milhões de qua-
dros nas melhores universidades do mundo a estudar e foi estes
investimentos que os permitiu ter o ritmo de desenvolvimento que
têm. O Japão, a Singapura e outros seguiram a mesma política.”
Tanto que o Estado angolano precisa de fazer investimento amplo na
construção de universidades e instituições de ensino superior para
que possamos terminar com esses problemas de dificuldade e falta
de acesso ao ensino superior em todo país e em particular em Luan-
da, sendo o nosso campo de estudo.
Segundo Ditutala (2015, p.11), [...] as instituições de ensino
superior públicas respondem a uma necessidade estatal de oferecer
formação a baixo custo ou gratuita capaz de responder a um núme-
ro considerável da população e a camadas socioeconômicas mais
desfavorecidas. Apesar de recursos provenientes do orçamento do
estado e das prioridades traçadas pelo Estado.
A partir da visão do autor, permite-nos olhar pela expansão
do ensino superior e diretrizes e colocar à disposição da sociedade
e da população. Neste contexto, o foco da nossa pesquisa é buscar
compreender e problematizar a situação da dificuldade de acesso
ao ensino superior a nível da província de Luanda, como campo
de análise, a Universidade Agostinho Neto, o centro de atenção da
nossa pesquisa.
- 133 -
tiva, o autor a presenta ainda dois grandes períodos do surgimento
do ensino superior em Angola compreendido entre 1974 até 1975
que combinou com aqueda do regime salazarista. Pois que o ensino
superior em angola nesse período era controlado pela administração
do governo português que permitiu que os estudos gerais tivessem
um outro estatuto a nível da estrutura educacional. Segundo Zau
(2009), salienta que a reforma assistida ou ocorrida no período de
1978 a 2005, foram importantes para implementação de um novo
sistema de educação e de ensino em Angola. A partir deste raciocí-
nio do autor, entendemos que o subsistema de ensino superior em
Angola nasceu ou surgiu da iniciativa do colonizador português a
partir das reformas ocorridas na Metrópole.
- 134 -
nial e às exigências da Agencia das Nações Unidas (ANU) e de
organizações nacionalistas africanas para que Portugal concedesse
a independência às suas colónias (Kandingi, 2016, p.55).
- 135 -
de Angola (2007); Universidade de Belas; Universidade Gregório
Semedo; Universidade Metodista de Angola; Universidade Óscar
Ribas; Universidades Técnica de Angola; Instituto de Ciências
Sociais e Relações Internacionais e Instituto Superior Técnico de
Angola.
Reiteramos, aqui, nossa compreensão sobre os credenciamen-
tos destas instituições de ensino em Angola e em Luanda, ainda é
visível o problema de dificuldades de acesso ao ensino superior por
parte de jovens e adultos, nestes locais onde funcionam as institui-
ções de ensino. Para Carvalho (2019), percebe-se apesar de ter havi-
do crescimento de instituições de ensino superior em Luanda como
no país então, os problemas de 45 anos atrás, isto é, de 1962 a 2006,
ainda continua visível atualmente no ensino superior em Angola.
Entende-se, assim, a falta de acesso à educação e ao ensino
superior em Angola como em Luanda, vem gerando diversas con-
sequências e inclusive a entrada de jovens e adultos no mundo de
delinquências. Isso porque vê-se claramente, a partir da realidade
do país e a forma como funcionam as instituições de ensino superior
em Angola: “A juventude no nosso país recorre a delinquência, prá-
ticas perigosas quando fracassados os sonhos de alcançar o título de
doutor. Hoje só estuda quem tem condições financeiras favoráveis”
(Adalberto, 2006, p. 1).
Vale salientar que após a guerra civil no país, observou-se
um aumento de instituição de ensino superior e criação de novo sis-
tema educacional e subsistema de ensino superior em Angola, que
tem funcionado a serviço a sociedade. Segundo Figueredo (2012),
entende-se que apesar de haver aumento substancial de instituições
de ensino superior no país e em Luanda, da mesma forma tem-se
assistido dificuldade e a desigualdade de acesso ao ensino superior.
- 136 -
modo geral em Angola, tem causado diversas preocupação e ques-
tionamento sobre política adotada pelo Estado angolano e as ins-
tituições de ensino suprir em termo de qualidade de ensino e dos
serviços ofertados pelas instituições, assim como política de melho-
ramento do subsistema de ensino superior em Angola.
- 137 -
Por outro lado, o Estado aprovou no Conselho de Ministro
decreto nº 90/09 15 de dezembro de 2009, o diploma com objetivo
de melhorar a qualidade de ensino e de acesso superior em angola,
como garantir a qualidade de serviços prestados pelas instituições
públicas e privadas no país. Neste mesmo diploma aprovado pelo
conselho de ministro do ano 2009, no termo do 3º artigo a definição
do subsistema do ensino superior em Angola.
O subestima de ensino é o conjunto de órgãos, instituições,
disposições e recursos que visam a formação de quadros de alto ní-
vel para os diferentes ramos de atividade econômica e social do país,
assegurando-lhes uma sólida preparação científica, técnica, cultural
e humana, bem como promoção da investigação cientifica e a pres-
tação de serviços à comunidade.
Ainda no âmbito da política de acesso ao ensino superior que
engloba a universidade pública, a Agostino Neto (UAN), dispõe de
regulamento que estabelece os quesitos necessários para os candida-
tos para admissão dos cursos ofertados pela instituição do ensino su-
perior público em Angola. No artigo 1º Deste presente regulamento
se destaca: o presente regulamento disciplina o concurso de acesso
e ingresso a todos os cursos do ensino superior público oferecidos
pela Universidade António Agostinho Neto. Artigo 2 º os exames de
acesso, objeto do presente regulamento, abrangem exclusivamente
as provas únicas a que os candidatos serão submetidos para obten-
ção de uma vaga à primeira inscrição (matrícula) para os cursos de
bacharelato ou de licenciatura nas Unidades Orgânicas da Universi-
dade Agostinho Neto, obedecendo ao calendário acadêmico oficial.
Artigo 3 os exames de acesso decorrem uma única vez no período
definido pelo calendário acadêmico oficial. Tanto que são requisitos
que a instituição pede após o exame de acesso.
Ainda no artigo 5 nº 1 do mesmo artigo descreve o seguinte:
1 - Pode candidatar-se aos exames os candidatos que satisfa-
çam cumulativamente as seguintes condições:
a) Ser titular de um certificado original de conclusão de
curso de ensino médio, pré-universitário ou de habilitação
legalmente equivalente, com notas descriminadas;
b) Fazer prova da sua documentação de identificação pes-
soal, nomeadamente do Bilhete de Identidade, para os ci-
dadãos nacionais, do passaporte, para os estrangeiros. Em
- 138 -
qualquer dos casos acompanhada de uma fotocópia que
ficará arquivada depois de conferida a sua autenticidade
com o original;
c) Reunir condições para a realização efetiva da prova pre-
sencial.
Considerações finais
- 139 -
outro lado, também demonstra-nos que o aumento do valor das
mensalidades em certas unidades privadas tem contribuído para essa
dificuldade de acesso ao ensino superior em Luanda e em Angola.
Por isso, é necessário que ao acesso ao ensino superior em
Luanda esteja focado na sua expansão e na criação de políticas edu-
cacionais coerentes com a realidade da cidade, sendo que dessa for-
ma, o acesso massivo de jovens no ensino superior iria contribuir
para o desenvolvimento do país. Entretanto, devemos refletir sobre
a realidade e as politicais de acesso ao ensino superior, ou seja, das
dificuldades de acesso ao ensino superior. Finalizamos este artigo
consciente de algumas limitações que pretendemos desenvolver em
outros estudos futuros de modo a focar mais na educação em Angola
no seu todo que possa despertar interesses dos pesquisadores ango-
lanos e interessados em estudos educacionais em geral.
Referências
- 140 -
CRA_PT_VERSAO_DIGITAL.pdf.Acesso: 10 de maio 2023.
ANGONOTICIAS. Acesso ao ensino superior cada vez mais difí-
cil em Angola, 15. fev. 2006.
CARVALHO, Paulo. Evolução e crescimento do ensino superior em
Angola. Revista Angolana de Sociologia - RAS, n. 9, p. 51-58,
2012.Disponivel em: https://journals.openedition.org/ras/422.Aces-
so em: 10 maio 2023.
DALBERTO, José. Angolanos querem mais qualidade no en-
sino superior. DW, 23 nov. 2017. Disponivel em: https://www.
dw.com/pt-002/angolanos-querem-mais-qualidade-no-ensino-supe-
rior/a-41490238. Acesso em: 10 de maio.2023.
DIÁRIO DA REPÚBLICA. Conselho de Ministro Decreto de Lei
nº 90/09 15 de Dezembro de 2009, Disponível em: https://www.isp-
tec.co.ao/public/assets/uploads/docs/Decreto%20n%2090_09%20
15%20de%20Dezembro%2009.pdf.Acesso: 16 de maio 2023.
DITUTALA, Dulce. Abandono Escolar no Ensino Superior: Es-
tudo de Caso do Instituto Superior Politécnico Metropolitano de An-
gola. 2015. 61f. Dissertação (Mestrado em Educação e Sociedade)
– Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2015.
FIGUEIREDO. Leonor. Luanda 1974-1975. O movimento estu-
dantil. Lisboa: Sinapsis, 2012.
KANDINGI, A. A. C. A expansão do ensino superior em Angola:
Um estudo sobre impacto das instituições de ensino superior pri-
vado. 2016. 296f. Trabalho de conclusão de curso (Tese de douto-
ramento em ciências da educação, sociedade e desenvolvimento) –
Universidade Nova Lisboa, 2016.
LIBERATO, Ermelinda. A Importância da Formação Superior
no Processo de Desenvolvimento em Angola. Sinais, n. 20, p. 82-
98, 2016.
LIBERATO, Ermelinda. Reformar a reforma: percurso do ensino
superior em Angola. Revista Transversos, n. 15, p. 63-84, 2019.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/trans-
versos/article/view/42034.Acesso em: 10 de maio 2023.
MANUEL, G. A. Política de Acesso e Expansão do Ensino Supe-
rior em Angola entre 2006-2011. trabalho de conclusão de curso.
- 141 -
universidade da integração internacional da lusofonia-afro brasilei-
ra, 2019.
MANUEL, Tuca. A Universidade como resposta ao crescimento
económico – o caso angolano. CONFERÊNCIA FORGES, 4., 2014,
Luanda. Anais [...]. Luanda: FORGES. p.1-17. 2017
SANTOS, Martins. História do Ensino em Angola. Angola: Edi-
ção dos Serviços de Educação, 1970.VARELA, Bartolomeu. O En-
sino Superior em África: potencialidades, desafios e perspectivas.
Wordpress, p. 1-30, 2015. Disponível em: https://bartvarela.files.
wordpress.com/2015/10/ensino-superior-em-c3a1frica_out-2015.
pdf.Acesso de 10 de maio 2023.
ZAU, Filipe. Educação em Angola: Novos Trilhos Para o Desen-
volvimento. Luanda: Movilivros. 2009.
- 142 -
O PAPEL DA ESCOLA NA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA: CAMINHOS PARA EQUIDADE
Fabíola Silva Matos
Daniel Brandão Menezes
João Marcos de Souza dos Santos
Lourenço Ocuni Cá
Michella Rita Santos Fonseca
Introdução
- 143 -
possível envolver e beneficiar todos os indivíduos, independente-
mente de suas limitações, contribuindo assim para um desenvol-
vimento integral em suas vidas. Entendemos a educação como o
único meio capaz de eliminar a necessidade de superar obstáculos,
na garantia da inclusão de todos. Quando combinada com a inclusão
pode promover mudanças significativas não apenas no processo de
aceitação, mas também na garantia de permanência e aprendizagem
de todos aqueles que fazem parte desse sistema de desenvolvimento.
Sabemos da complexidade do ambiente escolar, onde todos
aprendem e todos ensinam, por isso a importância dos professores
entenderem essa dinâmica do espaço escolar, que começa pelos alu-
nos. Anteriormente, as escolas focavam apenas no ensino, na visão
de Moran (2000) organizando atividades didáticas que auxiliassem
os alunos a compreenderem determinadas áreas do conhecimento.
Hoje este conceito está ampliado, considerando que “na edu-
cação, o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida,
conhecimento e ética, reflexão e ação e ter uma visão de totalidade.”
(Moran, 2010, p.21), assim,
- 144 -
Considerando as lacunas e a relevância das contribuições da
ciência para subsidiar os debates e as ações políticas inclusivas, este
estudo visa apresentar uma análise sobre a inclusão como uma chan-
ce para a melhoria da educação e para o estímulo da igualdade no
processo de ensino, diante dos obstáculos provenientes do contexto
social e da sociedade, que expõem as pessoas com deficiência. O
corpus deste estudo é composto por documentos legislativos bra-
sileiros e pela produção científica nacional acerca da inclusão nas
escolas regulares de Educação Básica.
- 145 -
estudante desenvolva-se de acordo com suas próprias capacidades e
limitações, garantindo-lhes liberdade no processo de aprendizagem.
Assim, se faz necessário reconsiderar o propósito da institui-
ção escolar, de modo a transitar de um modelo homogêneo para um
mais heterogêneo, e de uma cultura discriminatória para uma que
acolha a diversidade. A escola deve ser um espaço inclusivo que
permita a participação de todos os indivíduos sem distinção. Nes-
te sentido, Mantoan (2003, p. 19) afirma que o mais relevante no
conceito de inclusão escolar é que “todos os alunos, sem exceção,
devem frequentar as salas de aula do ensino regular”.
- 146 -
lhemos a todos se distinção de raça, deficiência, gênero, religião ou
outras formas de discriminação.
- 147 -
A qualidade da nossa educação é medida pela aproximação de um
resultado de formação que só alguns alunos são capazes de atingir.
Tal ordenamento exclui os que não alcançam a média e/ou provoca
a evasão escolar. Essa situação vem se arrastando por muito tempo
e cada vez mais a presença e a influência de organizações que se
dizem colaboradoras da nossa escola insistem em manter e, mes-
mo, aperfeiçoar o caminho que a educação brasileira tem trilhado.
(Mantoan, 2020, p.79).
- 148 -
pensamento, linguagem e realidade, que leva à capacidade crítica e
criadora. A subjetivação dos professores, conforme Benachio (2012)
envolve uma rede de inter-relações dialéticas que influenciam sua
ação pedagógica. Assim, a formação de professores deve ser adap-
tada para responder à complexidade da inclusão escolar, e que a re-
siliência e a atitude positiva dos professores são essenciais para o
desenvolvimento de uma educação verdadeiramente inclusiva.
A dinâmica da atuação e a formação docente no contexto da
inclusão escolar são essenciais para a construção de uma educação
equitativa e diversificada. A escola contemporânea deve ser um es-
paço de acolhimento e desenvolvimento para todos os alunos, o que
implica uma série de desafios e transformações nas práticas pedagó-
gicas e na estrutura educacional.
A escola, como agente de transformação social, precisa estar
alinhada com uma formação docente que capacite os professores
a atuar efetivamente no contexto da inclusão escolar. Glat (2018)
ressalta a importância de uma formação que prepare os educadores
para enfrentar os desafios estruturais e conjunturais da escola, como
a repetência e a evasão escolar, e para promover a aprendizagem
significativa em disciplinas fundamentais.
Destacamos que Libâneo (2012) e Nóvoa (2002) criticam as
tendências educacionais que favorecem a socialização em detrimen-
to do acesso ao conhecimento crítico, essencial para a inclusão polí-
tica e social. Eles defendem uma educação que não apenas respeite a
diversidade cultural, mas que também ofereça aos alunos um ensino
rico em conteúdos científicos e socioculturais.
A formação docente deve ser complexa e abrangente, consi-
derando as múltiplas facetas da inserção social do professor, confor-
me aponta Benachio (2012). Os professores precisam ser preparados
para lidar com as tensões e incertezas do cotidiano escolar e para se
engajar na construção de uma realidade escolar inclusiva.
Corrobora Freire (2021) ao destacar a importância do mo-
vimento dinâmico entre pensamento, linguagem e realidade, que
resulta em uma capacidade criadora e crítica. Assim a formação
docente deve incentivar esse movimento, promovendo uma postu-
ra ativa e reflexiva diante dos desafios da inclusão escolar. Schütz
(2018) complementa essa visão, enfatizando a necessidade de uma
formação que valorize a resiliência ativa e a proatividade dos profes-
- 149 -
sores. A formação deve ser um processo contínuo de reflexão e ação,
que permita aos educadores encontrar soluções inovadoras para as
demandas contemporâneas da educação inclusiva.
Deste modo, a formação docente para a inclusão escolar deve
ser um processo holístico que prepare os professores para serem
agentes de mudança, capazes de promover uma educação verdadei-
ramente inclusiva e equitativa.
Ressaltamos que a formação docente direcionada a inclusão
no espaço escolar é um processo contínuo e colaborativo que se be-
neficia imensamente das experiências diárias na escola. A prática
cotidiana, rica em desafios e aprendizados, oferece um terreno fértil
para o desenvolvimento profissional dos educadores. Como Freire
(1996) enfatiza, a educação não é apenas um ato de depositar co-
nhecimento, mas um processo de construção que ocorre através do
diálogo e da reflexão crítica.
Os processos colaborativos de formação docente e as vivên-
cias do cotidiano escolar emergem como recursos valiosos para o
aprimoramento profissional. A escola, entendida como um micro-
cosmo social, proporciona um ambiente rico em experiências que,
segundo Libâneo (2012), devem ser sistematizadas e refletidas cri-
ticamente para que contribuam efetivamente para a formação entre
pares.
É imperativo que os tempos de estudo e reflexão dos
professores sejam assegurados e estruturados de forma a potencializar
a integração teórico e prática dos saberes relacionados à inclusão
escolar. Glat (2018) ressalta a importância de espaços de formação
continuada que permitam aos professores reconhecer e perceber a
efetivação da práxis docente, transformando a teoria em ação cons-
ciente e intencional.
A coerência entre o fazer docente e a fundamentação teórico/
pedagógica é um aspecto crucial na constituição do profissional da
educação. Nóvoa (2002) argumenta que a diminuição da dicotomia
entre “o que se faz” e “o porquê se faz” é essencial para a construção
de uma identidade docente sólida e comprometida com a inclusão. A
busca por essa unidade reflete o desafio de estabelecer uma base de sa-
beres coerentes e alinhados com os princípios da educação inclusiva.
A formação docente em educação inclusiva deve ser encarada
como um processo dinâmico e interativo, onde a troca de experiên-
- 150 -
cias e a reflexão conjunta entre os professores são fundamentais para
a construção de uma prática pedagógica inclusiva e equitativa.
Considerações finais
- 151 -
Referências
- 152 -
CUNHA, M. S. Ensino da língua portuguesa na perspectiva da
inclusão do aluno cego no nível fundamental. 2015. 173 f. Dis-
sertação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-graduação em
Educação. Universidade Federal de Sergipe. 2015.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, P. Professor sim, tia não! 31. ed. São Paulo: Paz e Terra,
2021.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 50. ed. São Paulo: Paz e Terra,
2011.
GLAT, R. Desconstruindo representações sociais: por uma cultura
de colaboração para inclusão escolar. Revista Brasileira de Educa-
ção Especial. Marília, SP, v. 24, Edição especial, 2018.
GONÇALVES, A.K.S. 2006. Estratégias pedagógicas inclusivas
para crianças com paralisia cerebral na educação infantil. São
Carlos, SP. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de São
Carlos, 136 p.
MORAN, J. A educação que desejamos: novos desafios e como
chegar lá. Campinas: Papirus, 2010. Disponível em: https://biblio.
unoesc.edu.br/pergamum/biblioteca/index.php. Acesso em: 10 abr.
2021.
LANUTI, J. E. de O. E.; BAPTISTA, M. I. S. D.; MANTOAN, M.
T. E. Desconstruir a prática para recriar a teoria: como forma-
mos professores para a educação inclusiva. TICs & EaD em
Foco, São Luís, v. 8, n. 2, p. 103–116, 2022. DOI: 10.18817/tic-
seademfoco.v8i2.630. Disponível em: https://www.uemanet.uema.
br/revista/index.php/ticseadfoco/article/view/630. Acesso em: 02 de
setembro de 2022.
LANUTI, J. E. de O. E.; MANTOAN, M. T. E. Sobre o ensinar e o
aprender na concepção inclusiva. In: NOZU, W.C.S.; SIEMS, M.E.R.;
KASSAR, M.de C.M. (org.). Políticas e práticas em educação es-
pecial e inclusão escolar. Curitiba: Íthala, 2021. Disponível em:
https://www.ithala.com.br/wp-content/uploads/2021/07/e-book-po-
liticas-e-praticas-em-educacao-especial-e-inclusao-escolar.pdf
LIBÂNEO, J. S. O dualismo perverso da escola pública brasileira:
escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social
- 153 -
para os pobres. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 38, n. 1, mar.
2012.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como
fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
MANTOAN, M. T. E. Escola boa é escola para todos. In: Machado,
R.; Mantoan, M. T. E. (org). Educação e Inclusão: Entendimento,
proposições e práticas. Blumenau: Edifurb.2020.
NÓVOA, A. Formação de professores e trabalho pedagógico.
Lisboa: Educa, 2002.
SCHÜTZ, A. A construção significativa do mundo social. Petró-
polis, RJ: Vozes, 2018.
- 154 -
ARTE E EDUCAÇÃO ESTÉTICA:
PERCURSOS E NUANCES NA EDUCAÇÃO
Caroline Lima Silva
Jarles Lopes de Medeiros
- 155 -
tivos principais para essa supervalorização do ensino superior tinha
cunho político, pois procurava fortalecer uma elite que assegurasse
o poderio da Corte contra invasores e controlasse o país durante os
primeiros anos da República.
Nessa tentativa, ainda no período colonial, muitos artistas
franceses vieram morar em terras tupiniquins a convite e serviço de
Portugal. Esse grupo seleto que mais tarde receberia o nome de Mis-
são Francesa, organizado pelo intelectual francês Joaquin Lebreton,
foi recebido com certa hostilidade por uma parte da sociedade bra-
sileira, em vista da aversão à figura de Napoleão Bonaparte, que
ameaçava historicamente a corte portuguesa por sua ligação com
a Inglaterra, país rival à França na época. Esse pequeno detalhe no
momento de construção do país já foi suficiente para obstruir o de-
senvolvimento das artes, somando-se a isso também o fato de que
houve uma ruptura muito brusca com o estilo barroco-rococó que
existia aqui, pois todos os membros dessa Missão eram de orienta-
ção neoclássica.
Esse choque de realidade estética acabou afastando as cama-
das mais populares e desvalorizando a arte nacional, que foi consi-
derada inferior pelos novos habitantes que aqui chegavam. Nossos
artistas locais, mesmo influenciados pelo barroco trazido pelos je-
suítas, conseguiram produzir muitas obras originais - o que pode-
ríamos chamar hoje de Barroco Brasileiro - mas agora passariam à
categoria de meros artesãos. Esse afastamento da população tam-
bém foi responsável pela concepção da arte como “uma atividade
supérflua, um babado, um acessório de cultura” (Barbosa, 2002, p.
20), opinião que ainda podemos ouvir atualmente.
Outro fator determinante foi a influência da educação jesuíta,
que dava mais ênfase à cultura escrita e literária do que às Artes
Plásticas. Mesmo após a expulsão dos religiosos do país pelo Mar-
quês de Pombal, a influência da Ordem dos Jesuítas do Brasil ainda
perdurava como modelo educacional, do qual se pode ter uma ideia
a partir do pequeno trecho:
- 156 -
As atividades manuais ficavam restritas então aos indígenas
e aos escravos, contribuindo intensamente para a desvalorização do
artista que se utilizasse de instrumentos manuais para seu trabalho,
sendo os escritores e poetas detentores de muito mais prestígio so-
cial em relação aos artífices. As reformas pombalinas tentaram cor-
rigir essa falha na educação trazida pelos padres, com a valorização
da Ciência, da Arte Manual e da Técnica, no entanto, há quem diga
que influências pedagógicas da Ordem dos Jesuítas ainda perdurem
atualmente. Apesar do que se pode chamar de uma fraca reforma
metodológica por parte do Marquês de Pombal, o mesmo ainda ino-
vou ao incluir o ensino de desenho no currículo em 1800, no Semi-
nário Episcopal de Olinda.
Haverá uma ruptura de tendências mecanicistas a partir do
surgimento do Movimento Escolinhas de Arte – MEA, em 1948, de
origem Modernista, que tem a arte como desenvolvimento da ex-
pressão e da criatividade, concepção que transformou a metodologia
do ensino de Arte/Educação no Brasil. Além disso, foi um movimen-
to responsável pela formação de arte/educadores distribuídos pelo
país. Mas antes mesmo desse período, em 1914, o desenho infantil já
era visto com outro olhar, pois era a “livre expressão da criança, (...)
passível de investigação e interpretação” (Silva; Araújo, s.d., p. 6).
Anita Malfati e Mário de Andrade foram grandes influencia-
dores da ideia da livre-expressão, o que também originou a condu-
ção de muitas experiencias terapêuticas, uma vez que estudiosos da
área reconheceram na Arte um potencial para trabalhar essa expres-
são dos sentimentos na infância. (Barbosa, 1975, p. 45, apud Silva;
Araújo, p. 7). Outra figura importante nesse cenário foi John Dewey,
responsável pela “Escola Nova”, com uma nova concepção de crian-
ça, desvirtuando-se do modelo tradicional de educação da época.
Todos esses nomes citados precederam e deram forma ao MEA.
Enfim, na nossa história da arte tivemos muitos personagens
importantes para a contribuição de novas formas de pensar o ensino
de arte educadores. Tivemos nomes nacionais e internacionais nes-
sa trajetória, com alguns destaques para as contribuições, também,
de Herbert Read, com sua obra Educação através da Arte (1982),
e de Viktor Lowenfeld, com seu Desenvolvimento da Capacidade
Criadora (1977). O mais importante dentre essas contribuições foi o
reconhecimento do potencial criativo das crianças.
- 157 -
Os estudos de Barbosa (1998 apud Silva; Araújo, s.d. p. 15),
também contribuíram com uma metodologia que faria a diferença no
ensino de artes, a abordagem triangular, que se constitui de três ei-
xos: leitura de imagem, reflexão e fazer artístico. Na fase de leitura,
o estudante tem um primeiro contato com a obra de arte, no qual são
observados os diferentes modos de ver desse sujeito, assim como
sua capacidade crítica. Durante a reflexão acontece a contextualiza-
ção da obra, o artista produtor da mesma e sua época, assim como
as ideologias que permeiam o objeto. Por último, como o nome da
fase afirma, é durante o fazer artístico que o estudante tem a oportu-
nidade de usar a criatividade e fazer sua representação pessoal, e é
também durante esse processo que se descobre as possibilidades de
materiais e seus instrumentos.
A Proposta Triangular, como a autora prefere chamar, foi bas-
tante utilizada na década de 1980 para a formação docente e com
atividades para crianças e adolescentes no Museu de Arte Contem-
porânea de São Paulo. Ela aparece de forma implícita no Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) e nos Parâme-
tros Curriculares Nacionais (1998)9.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil –
RCNEI (1998), “foi concebido de maneira a servir como um guia de
reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orien-
tações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com
crianças de zero a seis anos” (Ibid., p. 5), constituindo-se, portanto,
como mais um documento importante na história da arte-educação
nacional. Sua importância consiste basicamente na consulta pelo
professor sobre que tipos de atividades podem proporcionar o de-
senvolvimento infantil a partir das várias linguagens da arte, como
Movimento, Música, Natureza e Sociedade, Artes Visuais, Lingua-
gem Oral e Escrita e Matemática.
Mas não só isso, claro, pois a presença de um capítulo espe-
cífico para as artes visuais no documento de 1998 já demonstra um
interesse evidente pelo grafismo infantil e o que os especialistas têm
determinado como instrumentos propiciadores para o desenvolvi-
mento desse aspecto na educação infantil. Os RCNEI também enfa-
tizam a importância de oferecer diversos materiais para exploração,
assim como a não intervenção no desenho das crianças.
9 Disponível em: https://www.uniasselvi.com.br/extranet/o-2.0/download/arqu_download.
php?link=98758. Acesso em: 10 jul. 2024.
- 158 -
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) também apre-
sentam um conteúdo específico para artes, e foram elaborados, assim
como as outras áreas de conhecimento, com o intuito de auxiliar as
escolas e docentes quanto ao conteúdo a ser repassado para os estu-
dantes, sem, contudo, limitar a ação dos professores (as) ao que está
contido no documento. Apesar de buscar “um referencial comum
para a formação escolar no Brasil”, ou seja, a nível nacional, cada
região deve ter suas características valorizadas (Brasil, 1998, p. 98).
Os PCN (1998) são acompanhados de estudos históricos so-
bre o ensino de arte-educação no Brasil, assim como a respectiva Le-
gislação e suas implicações no currículo escolar. Como são voltados
especificamente para o ensino fundamental e médio, o Ministério da
Educação também produziu, juntamente com a Secretaria de Educa-
ção Básica, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação
Infantil (2006), Volumes 1 e 2, que legislam sobre as políticas públi-
cas que devem alcançar democraticamente as crianças de 0 a 6 anos.
- 159 -
uma vez que esse ser poético precisa ser estimulado através de prá-
ticas pedagógicas que permitam o ensino da arte continuadamente,
mesclada com outros saberes – português, matemática, ciências etc.
- inseridos ou não no currículo dito formal. É um caminho que pre-
cisa ser percorrido sem pressas, que envolve o perguntar, o partici-
par, o encorajamento e o desenvolvimento da autoconfiança (Holm,
2007 apud Ostetto, 2011).
É um período de descobertas no qual não existem fórmulas
prontas, em que o material necessário já está disponível no dia a
dia desses profissionais. Obviamente, exige-se determinados instru-
mentos e estruturas importantes para compor essa trajetória, como
equipamentos técnicos e materiais didáticos diversificados. A busca
que se faz é por um didática que vai além das atividades de pintura
e celebrações
“artísticas” em determinadas datas comemorativas, pois, nas
palavras de Ostetto (2011):
- 160 -
um pequeno artigo para a Nova Escola, intitulado Qual o papel da
arte na educação infantil? Rosana Carla Cintra também menciona
as práticas realizadas em datas comemorativas, que muitas vezes
não fazem sentido, mas são cobradas sem sequer ao menos fazer
parte do universo pessoal dos alunos.
Outro posicionamento relevante, quando se trata de propor-
cionar um bom desenvolvimento e fruição desses elementos intrín-
secos à arte, se refere ao posicionamento do professor. Este deve ser
um mediador, aquele que promove as discussões, os questionamen-
tos, prepara o ambiente, e acima de tudo, não intervém de forma ex-
cessiva, pois como um bom profissional, reconhece a criança como
um ser criador e de grandes capacidades quando as mesmas são bem
dirigidas e estimuladas (Cintra, 2018). Nesse sentido como afirma a
autora,
- 161 -
tudiosos em sua obra são bem mais extensas e completas, por isso
pretendo aqui somente destacar alguns eixos abordados por esses
nomes já citados.
De acordo com Vygotsky (2005 apud Pinazza, 2014), a edu-
cação estética tem sido mal compreendida por muito tempo, tanto
por psicólogos como pela própria Pedagogia. A estética tem cumpri-
do objetivos alheios à sua própria natureza, significado e objetivos,
sendo muitas vezes reduzida pela Pedagogia para o gozo e o entrete-
nimento na educação infantil. O autor aponta três aspectos recorren-
tes na relação entre estética e educação que podem melhor elucidar
esses aspectos impróprios à estética aplicados em sala de aula.
A primeira diz respeito ao aspecto moral que toda obra de
arte supostamente traz ou deveria trazer, e isso está muito presente
na literatura infantil, exemplo citado pelo autor, quando ela é “sua-
vizada” para que a criança possa compreender ou para que a mesma
tire algo de bonito, algum tipo de valor moral a ser aprendido, o que
pressupõe da criança e do jovem a incapacidade para temas difíceis
ou mais maduros, considerados inacessíveis para a capacidade cog-
nitiva dos mesmos.
A relação entre a arte e a realidade é o segundo ponto
levantado, onde a tendencia educacional tem sido de resumir a
arte à reprodução do real. O perigo nessa relação está na falta de
discernimento que pode ocorrer entre a realidade e a arte, causando
confusão no aprendizado e desenvolvimento. Fala ainda que essa
indiferenciação pode acarretar na “total exclusão dos aspectos
puramente estéticos” (Vygotsky, 2005, p. 360 apud Pinazza, 2014,
p. 29)
Por último, como se disse anteriormente, há uma tendência
na educação em priorizar elementos que sejam agradáveis durante
a experiência que se propõe submeter, desconsiderando elementos
que provoquem medo, por exemplo, ou sejam simplesmente tidos
como “feios”, deslegitimando as diversas emoções capazes de sur-
gir. O aspecto moralizante sobrepõe-se à verdadeira fruição estética,
que não se resume à característica de bom ou belo, mas perpassa
várias facetas dos sentimentos que uma obra pode suscitar.
Nesse sentido, o que Vygotsky (Ibid.) propõe aos professores
(as) é que a obra de arte deve ser usufruída levando-se em conta o
que ela pode provocar nas crianças, sem expectativas prévias criadas
- 162 -
pelos adultos, assim como muitos estudiosos atuais também defen-
dem.
As contribuições de John Dewey (1959; 1974) foram muito
significativas para o âmbito nacional. Na sua compreensão de arte
como experiência, esta última se contrapõe ao conceito de atividade,
que se dá de forma mecânica, enquanto a experiência deixa mar-
cas no indivíduo, sendo-lhe uma “experiência memorável”, pois é
a junção do que as coisas podem produzir em nós com aquelas que
podemos fazer através delas (Dewey, 1959, p. 299 apud Gobbi; Pi-
nazza, 2014, p. 25). Não existe, segundo o autor uma distinção entre
o trabalho artístico e o trabalho científico, pois, ambos possuem um
desafio a ser desvendado. Um artista em produção tem os mesmos
caminhos a percorrer que o cientista na busca por respostas a alguma
evidência no ramo das ciências.
Nas palavras de Dewey (Ibid.), “o artístico e o estético es-
tão presentes na experiência plena, consciente do criador” (Gobbi;
Pinazza, 2014, p. 26). Nas propostas de atividades elaboradas por
professores (as) é interessante que ele se faça essa pergunta: Estou
mesmo proporcionando uma experiência plena aos meus alunos/ às
crianças? Eles estão realmente envolvidos no ato de cantar, dese-
nhar, dançar, ou qualquer que seja o tipo de manifestação que foi
apresentado, proposto? A experiência artística precisa intervir na
inteligência, transformando as informações recebidas com outras já
trazidas no repertório particular de crianças. Do contrário, será mera
atividade mecanizada, reprodutivista.
Outra contribuição interessante diz respeito à ideia da educa-
ção como foro de cultura, concebida por Jerome Bruner (2008, apud
Gobbi; Pinazza, 2014), onde a participação ativa dos estudantes na
construção cultural e social deve ser a busca constante dos profis-
sionais da educação. A redução do fenômeno pedagógico à mera
transmissão de conteúdo também é bastante criticada pelo autor, que
enfatiza a necessidade de desenvolvimento do potencial criativo das
crianças, para que elas possam explorar o mundo para além do mo-
mento em que vivem.
O pensamento de Bruner (2002; 2008) lembra a crítica à edu-
cação bancária de Paulo Freire (2016), que também se opunha ao
formato de educação que não conta com a participação do aluno
no processo de produção do conhecimento. Para o primeiro autor,
- 163 -
devemos preparar as crianças para um futuro que não conhecemos,
pois, as mudanças culturais e sociais são constantes, sendo então
necessário dar o suporte intelectual que as tornará capazes de serem
artistas de si mesmas, sendo a educação, nesse sentido, processo de
visões alternativas do mundo. O aspecto de foro é justamente essa
capacidade (e necessidade) de mudanças que a educação carrega,
passível de construir novos significados com a contribuição de jo-
vens e crianças e com a ajuda de um professor que maneja bem seu
papel de intermediário entre o mundo e seus alunos.
Duarte Júnior (2002) contribui igualmente para essa temática
quando lista diversos fatores pedagógicos da arte. Me deterei nos
mais relevantes para o presente texto, mesmo que todos sejam de
grande importância para a formação de arte educadores da infância.
Primeiramente, uma das funções da arte se refere à educação dos
sentimentos, uma vez que ela propicia esse desenvolvimento.
Através da convivência constante e metódica com a arte e
seus símbolos, nossos gostos e sentimentos são refinados, assim
como podemos desenvolver o raciocínio lógico-matemático com o
contato rotineiro dessas matérias (Ibid., p. 106). Nesse sentido, re-
metemos de novo à ideia de trabalhar desde a infância com diferen-
tes materiais e diferentes manifestações artísticas, tornando possível
esse refinamento de gostos e preferencias.
A arte também tem a capacidade de nos proporcionar sen-
sações que o cotidiano não poderia nos trazer. As obras de artes,
seja na literatura, pintura, cinema ou fotografia estão repletas de ele-
mentos que não conseguimos enxergar ou experimentar na correria
do cotidiano. Essas produções artísticas, se bem trabalhadas e esco-
lhidas, servem como rico material de apoio para professores (as) e
alunos, despertando nos dois lados emoções que até então não lhe
eram conhecidas. Como Duarte Júnior (2002) afirma em seu texto:
- 164 -
de pertencimento a uma comunidade. As produções mais antigas,
juntamente com as transformações contemporâneas, quando estão
ao alcance desse grupo de pessoas, possibilitam ao indivíduo com-
preender essas transformações históricas e entender o significado e
relevância para seu modo de compreender a sociedade em que vive.
Essa personalidade cultural revela o modo de sentir de cada época,
e também constitui material importante para a bagagem intelectual
de educadores e alunos.
Um último fator pedagógico que gostaria de levar em consi-
deração refere-se às barreiras culturais que a arte transpõe, possibi-
litando a compreensão de elementos artísticos estrangeiros, fora da
nossa esfera de acesso, e que vêm se expandindo pela globalização.
Podemos ter contato, de alguma forma, à personalidade cultural de
uma sociedade muito remota ou distante geograficamente da nossa,
o que nos possibilita abraçar as diferenças existentes entre os povos,
expandindo nossos sentimentos de aceitação e tolerância aos símbo-
los produzidos por outras culturas.
Muitos elementos levantados pelo autor acerca dos aspectos
pedagógicos da arte referem-se à sua aplicação em adultos, mas que
podem de ser adaptados e estudados em suas nuances para propor-
cionar também a crianças experiências próximas às vividas pelo pú-
blico de maior idade. No entanto, o autor também faz um pequeno
quadro de como a arte funciona com um público infantil. Em primei-
ro lugar, a arte deve ter aspectos lúdicos para a criança, nos quais o
processo se torna mais relevante do que o produto final em si.
O caminho percorrido pela criança durante sua jornada artísti-
ca, seja fazendo um desenho ou uma escultura, é um elemento muito
valioso para que o educador observe nos pequenos seus sentimentos,
suas escolhas e reações durante a fruição de produzir aquilo que eles
têm oportunidade de criar, manusear, experimentar, como numa es-
pécie de jogo. Assim, o objetivo deve estar no significado que esses
momentos têm e são capazes de desenvolver no indivíduo absorto
no ato de produção.
Nesse período de aprendizagem, a arte é responsável pela or-
ganização das experiências da criança, quando ela se comunica atra-
vés de suas criações, expressando seus sentimentos, necessidades
e escolhas. A arte, nesse sentido, não é só passatempo, mas comu-
nicação (Ibid. p. 112), por isso ela é tão importante para quem está
- 165 -
nessa faixa etária, pois possibilita o desenvolvimento de aspectos
emocionais, de criatividade e de pertencimento social. Quando se
reconhece no produto que acabou de sair de suas mãos, e isso tam-
bém se estende às esferas da dança e do teatro, ela comunica ao
mundo quem ou o que ela é e suas potencialidades.
O autor estabelece esses fatores como fundamentais para a
organização de atividades e metodologias do ensino da arte-educa-
ção e salienta a necessidade de não tentar corrigir o trabalho infantil,
pois a arte infantil, diferentemente do adulto, não é produzida a par-
tir de regras estabelecidas por determinados padrões estéticos. “A
criança se exprime de acordo com seus processos de sentir, pensar
e perceber, que são diversos dos processos adultos e sofrem uma
variação e evolução segundo seu crescimento” (Ibid. p. 116). O tra-
balho do professor, como já foi enfatizado, deve ser o de mediador,
orientador do processo educativo, cabendo-lhe a tarefa de conduzir,
como por exemplo, ao mostrar que técnicas e materiais a criança tem
a liberdade de aprender a manusear.
Duarte Júnior (2002) ressalta que, quando se trata de educa-
ção estética, não estamos nos referindo à um tipo de treinamento
que as escolas devem dar para transformar seus alunos em artistas,
ou que criem obras de arte em determinados moldes, mas que essas
crianças, jovens e adultos, possam desenvolver a capacidade crítica
e criadora que um ambiente rico de estímulos deve proporcionar.
Como o autor afirma também, a arte não é a única matéria escolar
capaz de fazer esse desenvolvimento acontecer, mas aponta a arte
como “um fator importante na vida humana, na medida em que per-
mite o acesso a dimensões não reveladas pela lógica e pelo pensa-
mento discursivo” (Ibid. p.118).
E qual a relação dessa educação estética com o desenho?
Como o desenho pode se articular desde a mais tenra idade com o
processo de uma educação estética? E qual a função do professor?
Com relação ao grafismo infantil Ostetto (2011) tece suas conside-
rações fazendo uma relação em comum entre criança e professor.
Para a pesquisadora, muitas crianças param de desenhar durante um
determinado período em suas vidas, frequentemente pela própria de-
manda escolar que exige delas mais tempo para outras habilidades
como ler e escrever ou calcular, enquanto a dimensão estética é sem-
pre relegada. O professor, ao longo de sua trajetória, também pas-
- 166 -
sou pelo mesmo processo de “abandono” do desenho ou de outras
formas de se expressar, e assim, docente e aluno perdem o seu traço,
sua identidade artística. Por isso é tão importante uma formação es-
tética desse educador de crianças com as múltiplas linguagens. O
professor educa esteticamente a criança, e quem educa o professor?
Por isso, conhecer as técnicas de desenho, suas fases ou teorias
não é o bastante para enriquecer a prática, é preciso que as vivências
pessoais do educador também façam parte desses momentos. Como
afirma Derdyk (1989), o professor precisa resgatar o próprio dese-
nho, processo que o capacita para algo mais importante: o respeito
ao que a criança produz, sem interferências rígidas e tentativas de
“correção”, características de um bom educador ou educadora me-
diadores.
O grafismo infantil é algo que se desenvolve progressiva-
mente e durante esse processo muitas emoções estão envolvidas. É
um caminho de autoconhecimento e comunicação, portanto é lin-
guagem, e é dessa forma que deve ser compreendido pelos adultos
responsáveis por essa orientação. Ele pode por exemplo, pedir que
a criança conte sobre a história de suas garatujas, sem precisar escre-
ver o nome de cada coisa detalhada na superfície onde se encontra o
desenho, e nem transformar isso em uma atividade. A fruição deve
ser livre, com a mediação por perto, mas evitando forçar significa-
dos ao que foi criado.
Esses pequenos detalhes são importantes na construção de
uma carreira docente que busca resgatar a essência poética nos pe-
quenos, e como se pode inferir de Ostetto (Ibid.), existe uma troca de
experiências entre docente e discente, um diálogo impossível de não
ocorrer, tornando o professor “parceiro de descobertas” do universo
infantil. Nas palavras da autora,
- 167 -
tra, o ambiente de sala de aula, preenchida todos os anos com crian-
ças e alunos de diferentes personalidades e repertórios sociais, exige
uma formação contínua que não se dará em via de mão única, uma
vez que a criança recebe e aprende de acordo com as oportunidades
que lhe são oferecidas e a didática estudada e trabalhada pelo pro-
fessor orientador.
O grafismo infantil deve ser objeto de estudo e experimenta-
ção por parte dos adultos que estão no encargo do cuidado e educa-
ção de crianças bem pequenas. Por que devemos proporcionar essa
atividade com mais constância? Podemos encontrar respostas ainda
em autores como Lowenfeld e Brittain (1977), que já falava da im-
portância do grafismo para o desenvolvimento infantil e do signifi-
cado das garatujas (rabiscos) nos primórdios da infância.
Essas representações produzidas na tenra idade podem de-
monstrar, por exemplo, de que forma a criança se relaciona com o seu
meio. Se seus traços são repetitivos e simples pode-se tratar de uma
criança insegura ou tímida, mas se seus traços são fortes e cheios de
vigor podemos estar diante de uma personalidade forte, alegre, ainda
que nessa faixa etária o sujeito ainda esteja em formação.
Isso demonstra que as garatujas também refletem o estado fí-
sico e emocional da criança. É por isso que, mesmo sendo divididas
em determinadas fases com suas características, elas diferem de uma
criança pra outra. Poder fazer um diagnóstico desses processos atra-
vés do desenho contribuem expressivamente para o trabalho peda-
gógico, reconhecendo possíveis dificuldades motoras ou cognitivas
que podem ser remediadas ou revertidas quanto mais cedo ocorrer a
intervenção da profissional da escola.
Assim como existe a sistematização e o planejamento anual
de matérias como Português, Matemática e Ciências, seria oportuno
podermos fazer o mesmo tratamento para atividades como a dança,
o teatro, a pintura, e claro, o desenho. Este último tem sido muitas
vezes tratado como uma especialidade ou um dom inacessível para
a maioria, e nas atividades escolares tem caráter recreativo, quan-
do não, serve como um prêmio pelo bom comportamento. Por isso,
precisamos acordar para a realidade do desenho, que está presente
no nosso cotidiano.
Somos rodeados pelo desenho e suas nuances em elemen-
tos da natureza, nas construções arquitetônicas, animais e objetos
- 168 -
inanimados. Precisamos estimular o olhar de nossas crianças para
que elas percebam essa onipresença do grafismo, reconhecendo as
possibilidades para além de uma forma “correta” de representação,
não só do real, mas do que podemos extrair de nossas emoções e
aprendizados.
Nesse sentido, é interessante utilizar as próprias palavras de
Derdyk (1989):
Referências
- 169 -
Acesso em: 30 maio 2022.
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: Desenvolvimento
do grafismo infantil. São Paulo: Scipione, 1989.
DUARTE JÚNIOR, J.F. Fundamentos Estéticos da Educação. 7
ed. Campinas: Papirus, 2002.
FERRAZ, Maria de & FUSARI, Maria. Arte na educação escolar.
São Paulo: Cortez, 1993.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 62. Ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2016.
GOBBI, Maria Aparecida; PINAZZA, Mônica Appezzato (Orgs.).
Infância e suas linguagens. São Paulo: Cortez, 2014.
LOWENFELD, Victor; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento
da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
OSTETTO, Luciana Esmeralda. Educação infantil e artes: senti-
dos e práticas possíveis. UNESP, 2011. Disponível em: 01d14t01.
pdf (unesp.br). Acesso em: 30 maio 2022.
PINAZZA, Mônica Appezzato; FOCHI, Paulo Sérgio. Documenta-
ção Pedagógica: observar, registrar e (re)criar significados. Revista
Linhas. Florianópolis, v. 19, n. 40, p. 184-199, maio/ago. 2018.
SILVA, Everson Melquiades Araújo; ARAÚJO, Clarissa Martins de.
Tendências e concepções do ensino da arte na educação brasilei-
ra: um estudo a partir da trajetória histórica e sócio-epistemológica
da arte/educação. Disponível em: GE013073--Int (anped.org.br).
Acesso em: 30 maio 2022.
- 170 -
FORMAÇÃO PAIC PARA PROFESSORES/
AS INDÍGENAS DE CAUCAIA INTEGRANDO
A ERER E AS DEMANDAS E DESAFIOS DA
EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA NA
ETAPA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Alessandra Sabóia Jucá
Maria Josiane Rocha Rodrigues
Introdução
O Programa de Aprendizagem na Idade Certa (PAIC INTE-
GRAL), da SEDUC, anteriormente criado como Programa Alfabeti-
zação na Idade Certa (PAIC), validado pela Lei nº 14.026, de 17 de
dezembro de 2007, e ampliado pela Lei nº 15.921, de 15 de dezem-
bro de 2015, tem por objetivo principal a cooperação entre Governo
do Estado e os 184 (cento e oitenta e quatro) municípios cearenses.
O Programa estabelece como finalidade primordial o apoio
técnico, financeiro e pedagógico aos municípios, visando ampliar
as oportunidades de desenvolvimento da aprendizagem das crianças
na Educação Infantil, na etapa inicial da Alfabetização e dos/as es-
tudantes dos anos iniciais e dos anos finais do Ensino Fundamental
das escolas indígenas, proporcionando-lhes a melhoria da qualidade
da aprendizagem, garantindo a equidade no ensino-aprendizagem da
rede pública de ensino, por meio de um conjunto de ações definidas
e organizadas pelo Programa.
Na primeira formação do PAIC para professores/as indígenas,
uma das demandas apontadas pelos/as participantes do encontro,
que aconteceu no dia 10 de setembro de 2023, foi a necessidade de
um momento com abordagem sobre Educação Especial Inclusiva.
Este apontamento revela a importância crescente de capacitar edu-
cadores/as indígenas para atender às necessidades diversas dos/as
alunos/as, garantindo um ambiente de aprendizagem mais justo e
equitativo.
Integrar a Educação Especial Inclusiva ao PAIC é essencial
não apenas para promover uma educação mais inclusiva, mas tam-
- 171 -
bém para reforçar o compromisso do programa em oferecer uma
formação abrangente e sensível às realidades e desafios enfrentados
nas comunidades indígenas. Este passo é fundamental para assegu-
rar que todos/as os/as alunos/as, independentemente de suas habili-
dades, tenham acesso às oportunidades educacionais que merecem.
A inclusão de tópicos sobre Educação Especial é vital para a
construção de um sistema educacional verdadeiramente inclusivo e
equitativo. Na prática, isso significa capacitar os professores para
identificar, compreender e atender às especificidades de estudantes
com deficiências.
Para os/as educadores/as indígenas, essa formação que teve
por objetivo dialogar sobre a ERER e a Educação Especial Inclusi-
va é fundamental, uma vez que suas comunidades frequentemente
lidam com múltiplas camadas de exclusão e discriminação, os rela-
tos dos/as participantes do encontro reforçam a importância de uma
abordagem que vá além da simples transmissão de conhecimento.
Eles/elas destacam a necessidade de um diálogo constante e
sensível sobre as particularidades culturais e sociais que permeiam a
educação nas comunidades indígenas. Integrar a ERER e a Educação
Especial Inclusiva no PAIC significa, portanto, adotar uma postura
de escuta ativa e respeito mútuo, reconhecendo que a inclusão deve
ser moldada de acordo com as especificidades de cada estudante.
Metodologia
- 172 -
O encontro seguiu os seguintes passos: apresentação do ritual
do toré; socialização da temática e do material norteador; apresen-
tação dos participantes e de suas vivências em sala de aula; leitura e
reflexão da frase de Kiusam de Oliveira; discussões sobre o conceito
da ERER e da educação inclusiva. Nesse último passo abordaremos
conceitos que foram trabalhados e serviram de base para reflexão
tanto das práticas da educação de ERER, quanto da Educação Espe-
cial Inclusiva, e foi bastante interessante como a divisão das temá-
ticas e a abordagem utilizada foi de grande contribuição para os/as
docentes presentes na formação.
As formadoras Josiane Rocha e Alessandra Saboia propuseram
aos/às professores/as que expusessem suas dúvidas e seus anseios so-
bre ambas as temáticas abordadas. A seguir, serão apresentados o con-
texto da formação PAIC, a Educação para as Relações Étnico-Raciais
(ERER) e as demandas e desafios da Educação Especial Inclusiva.
- 173 -
ca e cultural, combater o racismo estrutural e construir uma socieda-
de mais equitativa e inclusiva. Através da ERER, pode-se reeducar e
reformular as percepções sobre a África, reconhecendo sua riqueza
histórica e cultural, e promovendo a igualdade e o respeito entre
todos os povos.
Durante a formação do PAIC, foi destacada a importância da
ERER como uma ferramenta para a construção de uma educação
inclusiva e equitativa, que reconheça e celebre a riqueza das dife-
rentes etnias e culturas presentes em Caucaia, fazendo a união com
a educação inclusiva e assim trazendo para os/as educadores/as uma
série de questionamentos e reflexões necessárias para trabalhar e re-
conhecer a importância da ERER como elemento estruturante na
construção de uma educação antirracista, e, nesse contexto, apontar
caminhos para uma formação que considere os referencial teórico
negros e indígenas.
A formadora Josiane Rocha trouxe o referencial teórico de
Kiusam de Oliveira, que é conhecida, nacional e internacionalmen-
te pela força e representatividade de suas obras, com histórias que
trazem uma abordagem extraordinária de questões étnico-raciais e
diversidade de gênero.
Pedagoga, doutora em educação, mestre em psicologia pela Uni-
versidade de São Paulo (USP) e terapeuta integrativa, Kiusam é escri-
tora do que chama de “Literatura Negro-Brasileira do Encantamento
Infantil e Juvenil”. Atua como formadora de profissionais de educação
nas temáticas educação, relações étnico-raciais e de gênero, com foco
em uma educação antirracista. Segundo Oliveira (2010, p. 255):
- 174 -
é uma consequência direta dessa narrativa, que é ensinada e interna-
lizada desde a infância.
- 175 -
avanço no número de matrículas de estudantes com deficiência e o
acesso a matrícula é garantido pela Constituição Federal de 1988
(capítulo III, artigo 208), onde o governo assume o compromisso de
oferecer educação para todos/as.
Ainda nessa abordagem, o Decreto 7.611, de 17 de novembro
de 2011, garante um sistema educacional inclusivo para as crianças
com deficiência em todos os níveis, sem discriminação e com base
na igualdade de oportunidades (BRASIL, 2011).
Vale salientar que os/as estudantes com deficiência não pre-
cisam ter somente a matrícula garantida nas escolas, mas também a
garantia de permanência e participação ativa no processo de ensino
e aprendizagem através de uma educação significativa que elimine
as barreiras de acesso ao conhecimento.
- 176 -
frequentemente observa-se uma abordagem superficial. A falta de
profundidade na formação não resulta em avanços para ampliar os
conhecimentos e contribuir na atuação do/da docente.
A melhoria nesse sentido, apontada no relato das professoras,
seria uma abordagem que não levasse em conta apenas os aspectos
teóricos, mas também fornecesse experiências práticas, estratégias
pedagógicas variadas e dinâmicas para romper com as barreiras de
acesso ao conhecimento, visando atender a todos/as, sem deixar o/a
estudante com deficiência para trás.
Os/as professores/as relatam que se sentem despreparadas
para atender às demandas dos/as estudantes com deficiência e todas
as suas especificidades. Além do ambiente não contribuir, pois as
salas de aulas são lotadas, quentes e sem profissionais de apoio para
auxiliar nas necessidades de alimentação, higienização e locomoção
de alguns estudantes. Com essas condições, o que era para ser uma
inclusão, resulta numa exclusão, pois se torna desafiadora para al-
cançar o desenvolvimento pleno de cada estudante.
Os/as educadores/as levantaram várias questões sobre o
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Primeiramente aborda-
ram sobre as crises de desregulação e as dificuldades de lidar com
a criança nessa situação. Diante disso, é importante conhecer o/a
aluno/a, obter informações com a família, saber a diferença entre
crises e birras para uma melhor compreensão do comportamento e
para uma abordagem mais eficaz.
Tanto a crise, quanto a birra, podem parecer semelhantes à
primeira vista. As crises frequentemente podem estar relacionadas a
estímulos sensoriais intensos, a questões emocionais, a dificuldade
de comunicação e podem ser prolongadas e difíceis de acalmar. As
pessoas com TEA apresentam hipersensibilidade ou hipossensibili-
dade sensorial, ou seja, seus sentidos podem captar mais ou menos
informações que o normal.
A principal queixa dos/as estudantes, dentro do ambiente
escolar, é a intolerância ao barulho. É comum, após o intervalo, a
desregulação. Diante disso, o uso de abafadores é uma sugestão
para minimizar o incômodo. Evite gritar e repreender a criança. É
necessário tirá-la do cenário da crise, levá-la para um local mais
tranquilo, onde se sinta mais segura, longe do excesso de estímulos,
ajuda a se autorregular. Tente também oferecer atividades e algo do
seu interesse.
- 177 -
É oportuno destacar que “cada criança é única e precisa de
recursos concretos e eficazes que respondam às suas necessidades
peculiares e sejam úteis à melhoria do seu funcionamento global
específico” (PONTIS, 2022, p.7). Identificar o que motivou a crise,
é um bom passo, para tentar evitar outras.
Já as birras, podem ter uma origem comportamental. O/a estu-
dante pode estar querendo atenção, insatisfeito com algo, chateado/a
com a interrupção de alguma atividade preferida ou resistência a
uma mudança na rotina.
Uma professora relatou a importância de preparar a turma
para a inclusão, criando oportunidades de interação, através de brin-
cadeiras de interesse comum, além de trabalhar as habilidades so-
ciais. Como ressalta Pontis (2022, p.17) “o/a docente de sala de aula
pode contribuir enormemente para criar um clima colaborativo de
conhecimento, respeito e valorização de todas as diversidades indi-
viduais por meio de atividades dirigidas [...]”.
Em todas as escolas representadas durante a formação, con-
forme relatado pelos/as professores/as, não existem salas de recursos
multifuncionais, professores/as de AEE ou Profissionais de Apoio.
Diante desse cenário, os desafios tornam-se mais complexos.
Quanto ao AEE, o Decreto Nº 6.571/2008 destaca a sua posi-
ção central e reafirma a compreensão de sua função. Parafraseando
Soares e Carvalho (2012), o AEE amplia suas responsabilidades,
não se limitando apenas à identificação, elaboração e organização
de recursos pedagógicos. Ele estende sua atuação para eliminar as
dificuldades de acesso, enfatizando que as atividades desenvolvidas
no AEE têm o propósito de complementar e/ou suplementar a for-
mação, visando à autonomia e independência tanto dentro quanto
fora da escola.
Outro aspecto mencionado foi a dificuldade que sentem de
dialogar com os/as responsáveis dos/as estudantes que apresentam
características11 de alguma possível deficiência ou TEA e que pre-
cisam ser investigadas por profissionais da área de saúde (neurope-
diatra ou psiquiatra), com o intuito de diagnosticar ou descartar a
possibilidade.
Os/as responsáveis rejeitam e ficam chateados/as com tal
abordagem. Inicialmente, é comum essa reação de negação dos/as
11 As características observadas e citadas pelas professoras são: dificuldade de aprendizagem,
atraso na fala, déficit de atenção, hiperatividade e birras frequentes.
- 178 -
responsáveis, afinal, ninguém está previamente preparado para lidar
com a realidade de um/a filho/a com deficiência ou TEA.
É importante frisar que, o diálogo dos/as professores/as com
os/as responsáveis é imprescindível, mesmo que neguem, espera-se
que eles/elas passem a observar melhor e mais na frente outros pro-
fessores/as poderão fazer a mesma abordagem e com isso, passem a
perceber que precisam tomar uma atitude.
Em casos de diagnósticos confirmados, criar uma rede de
apoio eficaz para o/a aluno/a é importante. A parceria família, escola
e saúde, através do acompanhamento com uma equipe multidisci-
plinar12, o uso de medicações (quando necessário) e práticas peda-
gógicas acessíveis proporcionam melhoria na qualidade de vida, na
interação com os/as colegas, autonomia nas atividades de vida diária
(AVDs), identifica necessidades de adaptações e auxilia também no
processo de ensino e aprendizagem mais inclusivos.
Considerações finais
Nesse contexto, a Educação para as Relações Étnico-Raciais
(ERER) dentro da formação dos/as professores/as indígenas de Cau-
caia, surge como uma ferramenta essencial para combater o racismo
estrutural e valorizar a diversidade cultural. A implementação da
ERER nos sistemas educacionais também dentro das escolas indí-
genas tem o potencial de reeducar as novas gerações, promovendo o
respeito e a igualdade entre todos os povos.
A junção da ERER com a educação inclusiva num espaço de
formação pode abrir a mente e germinar sementes de uma educa-
12 Terapia ocupacional, fonoaudiólogo, integração sensorial, fisioterapia e psicologia.
- 179 -
ção que tenha equidade. Durante a roda de conversa, ao longo da
formação, revelaram-se preocupações significativas em relação à
educação especial inclusiva e momentos de reflexão, destacando a
urgência de ações transformadoras para garantir uma educação ver-
dadeiramente inclusiva.
A constatação da falta de formação continuada, ressalta a
necessidade de investimentos em programas educacionais para que
os/as educadores/as ampliem seus conhecimentos e aprendam a li-
dar com às demandas variadas dos/as estudantes com deficiência. O
reconhecimento dessa complexidade reforça a importância de as for-
mações oferecerem ferramentas práticas para garantir um ambiente
acessível, acolhedor e a permanência do/a estudante na escola.
A ausência de professores/as do AEE e profissionais de apoio
nas escolas aponta para a carência de recursos humanos essenciais
para promover uma inclusão eficaz e apoiar e orientar o/a profes-
sor/a de sala de aula comum. Foi destacado também, a importância
de abordar os/as responsáveis pelos/as alunos/as, incentivando-os/
as a investigar a possibilidade de alguma deficiência em seus/suas
filhos/as. Essa parceria entre escola, família e saúde é fundamental
para criar uma rede de apoio eficaz para o/a estudante.
No encerramento desta roda de conversa, ficou claro que a
busca por uma educação inclusiva requer esforços coletivos e in-
vestimentos. A conscientização das barreiras existentes é o primeiro
passo para promover mudanças positivas e construir uma educação
que valoriza a diversidade, garantindo que cada aluno/a possa avan-
çar plenamente, independente de suas limitações.
Referências
- 180 -
BRASIL. Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008: dispõe so-
bre o Atendimento Educacional Especializado. Brasília, 2008. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov/br. Acesso em: 04 jan. 2024.
BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011: dispõe
sobre a Educação Especial e o Atendimento Educacional Especia-
lizado. Brasília, 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov/br.
Acesso em: 04 jan. 2024.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2008.
LIRA, M. V.; ALCÂNTARA, ALCÂNTARA, A. Lei n.° 14.026, de
17.12.07. Disponível em: https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legis-
lacao-do-ceara/organizacao-tematica/educacao/item/4310-lei-n-14-
026-de-17-12-07-d-o-19-12-07. Acesso em: 20 jul. 2024.
OLIVEIRA, Maria Anória de Jesus. Personagens negros na literatu-
ra infanto-juvenil no Brasil e em Moçambique (2000-2007): entrela-
çadas vozes tecendo negritudes. Tese (Doutorado em Letras) – Uni-
versidade Federal da Paraíba. João Pessoa: 301 p. 2010.
PONTIS, Marco. Autismo: o que fazer e o que evitar: guia rápido
para professores e professoras do ensino fundamental. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2022.
SOARES, Maria Aparecida Leite; Carvalho. Maria de Fátima. O
professor e o aluno com deficiência. São Paulo Cortez, 2012.
- 181 -
- 182 -
INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM
TEA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Aldercia Oliveira da Silva
Denise Maria Santos
Geovania Alves Rodrigues
José Marinho do Nascimento Neto
Introdução
- 183 -
que o processo da inclusão é recente e por essa razão, pode ser difícil
avaliar o quanto está sendo efetivo o trabalho realizado. Em contra-
partida, sabe-se que o processo de inclusão escolar traz benefícios a
todos os envolvidos, sobretudo às crianças com necessidades educa-
cionais especiais ou seus pares.
O objetivo geral deste estudo é refletir sobre as possibilida-
des de inclusão do aluno com Transtorno de Espectro Autista. O
artigo irá apresentar estudos acerca da inclusão do aluno com TEA
e compreender como se dá esse processo de inclusão, reconhecen-
do as principais características e necessidades do aluno. Este estudo
aponta quais foram os avanços referentes a inclusão no cenário edu-
cacional brasileiro.
Diante do efervescente momento do processo inclusivo na so-
ciedade brasileira, todo trabalho que discorra sobre esse processo é
relevante, seja no início, decorrer ou término do mesmo.
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição neuroló-
gica que afeta a maneira como uma pessoa percebe e interage com
o mundo ao seu redor. As causas exatas do TEA ainda não são to-
talmente compreendidas, mas acredita-se que uma combinação de
fatores genéticos e ambientais desempenhe um papel. O TEA provo-
ca prejuízos na interação social, na comunicação e comportamentos
incomum e repetitivo. É de grande importância o diagnóstico logo
nos primeiros anos de vida, para que o indivíduo tenha um plano de
intervenção que o ajude no seu desenvolvimento. Destaca-se, que
para cada indivíduo, o quadro clínico se difere e por isso, há varia-
ções na forma e nos graus de autismo. E o nível de funcionamento
intelectual é extremamente variável, que se estende desde profundo
comprometimento a habilidades cognitivas superiores.
A inclusão escolar de aluno com necessidades educacionais
especiais no sistema regular também envolve a parceria entre os pro-
fessores da Educação Especial e os professores responsáveis pela
sala de regular, a família e a escola a fim de maximizarem as opor-
tunidades de aprendizagem destes alunos. Por lei, os alunos com ne-
cessidades educacionais especiais têm assegurado o direito a matrí-
cula em escolas regulares brasileiras desde a Constituição de 1988.
E, em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
no. 9.394) reafirmou a obrigatoriedade do atendimento educacional
especializado e gratuito, preferencialmente na rede regular de ensi-
- 184 -
no. Desde então, cada vez mais as práticas educacionais inclusivas
ganharam força no país.
A acessibilidade no ambiente escolar é um assunto relevante
no debate sobre inclusão e atividades lúdicas, pois por um descaso
do poder público os estudantes público-alvo da educação especial,
ao serem recebidos na escola se deparam com espaços educacionais
sem acessibilidade e salas de aulas improprias para promover o con-
forto e segurança na execução de uma atividade lúdica adequada.
O lúdico nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ano ao
5ºano), representa uma das atividades mais significativas na infância
da criança, pois o brincar, jogar, criar, divertir, entreter, distrair é
fundamental e ocorre naturalmente no processo de desenvolvimento
de cada indivíduo.
Por intermédio de atividades lúdicas o ensino e a aprendiza-
gem permitem ao aluno interagir com o conhecimento tornando-se
uma pessoa mais criativa, autônomo e acima de tudo feliz, expan-
dindo suas capacidades como a atenção, a imaginação e a interação
social.
As brincadeiras e jogos lúdicos vem a colaborar com o desen-
volvimento infantil, especialmente dos alunos com Transtorno do
Espectro do Autismo, pois além de oportunizar a experiência de uma
relação com o mundo adulto através de suas representações simbóli-
cas, torna o aprendizado mais agradável e prazeroso.
O papel do professor é de fundamental importância nesse
processo inclusivo do aluno com TEA, este deve estar atento as ne-
cessidades específicas de cada aluno autista, e a partir de suas obser-
vações propor metodologias de ensino apropriadas, que envolvam
jogos e brincadeiras para que a criança receba o suporte necessário
para avançar em suas conquistar na escola.
Neste sentido, o objetivo específico deste artigo é analisar a
importância dos jogos e brincadeiras lúdicas no ambiente escolar,
possibilitando o desenvolvimento de múltiplas habilidades, pois de
acordo com a pesquisa realizada é na infância que se encontra a fase
primordial para o desenvolvimento do processo ensino-aprendiza-
gem das crianças. Portanto, o estudo apresentado nos leva a refle-
tir sobre alguns conceitos indispensáveis para que a ludicidade e a
inclusão se interlacem e proporcione aos alunos do ensino funda-
mental o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e social. As ca-
- 185 -
racterísticas devem estar presentes desde o início da infância, limi-
tando o funcionamento diário (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE
PSIQUIATRIA, 2014).
Conforme a Política Nacional de Educação Especial na Pers-
pectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), a preocupação com
a Inclusão no Ensino Regular não é tão recente, e esta pesquisa bus-
ca conseguir trazer para o âmbito científico educacional enfoques
que possam além de nortear, observar, como o processo inclusivo
do autista ganha espaço e peso para os educadores em sua prática e
formação (BRASIL, 2008).
Camargo e Bosa (2009) verificaram, nos poucos estudos so-
bre o tema, que havia competência social nessas crianças, embora
dependesse de um conjunto de fatores para que houvesse um resulta-
do positivo, especialmente relacionado ao papel do professor, como
sua qualificação, apoio e a valorização de seu trabalho.
Fonseca (2009, P.16) Os autistas poderão apresentar ecolalia
que é a repetição do que alguém acabou de dizer, incluindo palavras,
expressões ou diálogos (...) E, em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei nº. 9.394) reafirmou a obrigatoriedade
do atendimento educacional especializado e gratuito, preferencial-
mente na rede regular de ensino. Desde então, cada vez mais as prá-
ticas educacionais inclusivas ganharam força no país.
Lisboa, Alves e L (2010) ressaltaram a complexidade do qua-
dro clínico do autismo e a necessidade de ser tratado por abordagens
multidisciplinares (...).
A pesquisa de Lemos, Salomão e Agripino-Ramos (2014)
destacou a importância da mediação de um adulto e do contexto
interativo como influência no comportamento de crianças no espec-
tro autista. Os resultados apontaram que, a partir da mediação da
professora, os alunos com autismo apresentaram comportamentos
mais frequentes de iniciativa nas ações, sorriso e olhar direcionado
às pessoas. (...) Para Maluf (2009) apud Helder (2010, p 24): Quan-
do a criança brinca se prepara para aprendizagem acontecer de modo
saudável e prazeroso, auxiliando para que se torne um adulto mais
equilibrado, tanto física quanto emocionalmente.
- 186 -
Nessa mesma direção, afirmaram que crianças com autismo
podem se desenvolver no processo de aprendizagem, socialização
e interação social, principalmente quando o aluno pode contar com
um professor capacitado e suporte de uma equipe multidisciplinar.
(Carvalho E Oliveira – 2009)
Os educadores apontam que o grande número de alunos em
classe resulta em efeitos negativos no desempenho de uma boa sala
de aula inclusiva (Paulon; Freitas; Pinho, 2005).
Acrescentam a importância de as escolas possuírem “[...] a
sala de recursos, os serviços de orientação educacional e o aten-
dimento educacional especializado como importantes dispositivos
para propiciar a escolarização” (Paulon; Freitas; Pinho, 2005, p. 29.
Para Piaget (1983) apud Kishimoto (1998), “a brincadeira é um ele-
mento crucial no desenvolvimento moral da criança, pois por inter-
médio dela a mesma consegue internalizar as regras solicitadas pelo
jogo”.
Conclui-se que os efeitos do TEA e as dificuldades apresen-
tadas na escola e na sociedade podem ser amenizados, possibilitan-
do às crianças o desenvolvimento cognitivo, afetivo e emocional
através de um especialista, o psicopedagogo, junto com uma equipe
multidisciplinares e metodologias com intervenções que valorizam
suas potencialidades e criatividade. Em relação a alunos com Trans-
torno do Espectro Autista, chegam à escola sem diagnóstico fecha-
do, o professor então deverá analisar como esse aluno age em sala de
aula, isso tudo também depende de quais tipos de informação sobre
o transtorno que o professor possui, e encaminhar para a direção da
escola que tomarão as devidas providências possivelmente comuni-
cando aos pais para que esses procurem auxílio médico.
Referências
- 187 -
bre o tema, que havia competência social nessas crianças, (...).
FONSECA, 2009, P.16. Os autistas poderão apresentar ecolalia
que é a repetição do que alguém acabou de dizer, incluindo pala-
vras, expressões ou diálogos.
LISBOA, A e L; (2010) ressaltaram a complexidade do quadro
clínico do autismo e a necessidade de ser tratado por abordagens
multidisciplinares(...)
OLIVEIRA, ROSENNA C¹; ALBRECHT, ANA R M²; 2799706
LUDICIDADE: A Importância dos jogos e brincadeiras na in-
clusão escolar dos alunos com transtorno do espectro do autis-
mo (TEA) no ensino fundamental ¹Aluno do Centro Universitá-
rio Internacional UNINTER. Artigo apresentado como Trabalho de
Conclusão de Curso. 2º - 2021. ² Professor Orientador no Centro
Universitário Internacional UNINTER. ADURENS, F D L; Univer-
sidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Marília,
SP, Brasil.
OMOTE; FONSECA-JANES; VIEIRA, 2014. (...). Faz-se necessá-
rio que os educadores obtenham materiais adequados, suporte
de uma equipe com apropriação do tema e tornem-se pessoas
compromissadas com essa causa
PAULON; FREITAS; PINHO, 2005, p. 29. Acrescentam a im-
portância de as escolas possuírem “[...] a sala de recursos, os
serviços de orientação educacional e o atendimento educacional
especializado como importantes dispositivos para propiciar a es-
colarização”
PIAGET (1983) apud KISHIMOTO (1998), “a brincadeira é um
elemento crucial no desenvolvimento moral da criança, pois por
intermédio dela a mesma consegue internalizar as regras solici-
tadas pelo jogo”.
TEODORO, GRAZIELE C; GODINHO, MAÍRA C S; HACHIMI-
NE, APARECIDA H F; A inclusão de alunos com Transtorno do
Espectro Autista no Ensino Fundamental Centro Universitário
Claretiano de Batatais, (ANO DE 2000 a 2014 Brasil)
VIEIRA, C M; Faculdade de Medicina de Marília (Famema), Ma-
rília, SP, Brasil. Concepção de professores sobre a inclusão do
aluno com autismo: uma pesquisa bibliográfica.
- 188 -
GESTÃO ESCOLAR, DEMOCRACIA E
ENSINO
Henrique Marcelino Buntcho
Introdução
Uma escola é um campo de aprendizagem que agrupa estu-
dantes e professores com o intuito de compartilhar conhecimento.
Os estudantes se submetem aos professores, porque são estes que
têm o compromisso de lidar com os assuntos internos da escola e
ensinar os alunos para que possam atuar de forma correta e melhor
na sociedade. A vida é composta de aprendizagem contínua, e por
isso não se descarta a possibilidade de o professor aprender com o
aluno, pois este último também contribui para o processo educativo.
Explorando a escola em sua totalidade, seria inadequado con-
siderar que este espaço é composto apenas por professores e alunos.
Na verdade, trata-se de uma estrutura complexa, compreendendo
desde a administração superior, responsável pelos assuntos adminis-
trativos, até a equipe de segurança, encarregada de garantir a prote-
ção integral da escola. Portanto, é essencial perceber a escola como
uma comunidade coletiva cujo objetivo primordial é proporcionar
uma aprendizagem adequada em prol do bem comum.
Assim, a narrativa sobre os objetivos da educação não deve
se limitar apenas à escola, mas abranger um espectro mais amplo
que inclui o ambiente inicial de aprendizagem. A educação, afinal,
começa em casa, destacando a importância de envolver os pais nesse
contexto educacional devido ao papel crucial que desempenham na
formação de seus filhos. A participação ativa dos pais pode contri-
buir significativamente para criar um ambiente colaborativo e pro-
mover a convergência de ideias para o progresso da educação. Gerir
uma escola é uma das tarefas mais complexas, exigindo grande co-
nhecimento e competência. Portanto, cabe às entidades educacionais
competentes analisar seus recursos humanos para otimizar a produ-
ção de conhecimento por meio de um engajamento sério e rigoroso.
Portanto, um centro estudantil conjuga diferentes elementos
que fazem dele um lugar precioso para a busca de conhecimento e
- 189 -
a promoção de ideias relevantes que visam contribuir para o avan-
ço da ciência. Qualquer decisão que afete a escola como um todo
deve ser tomada de forma cordial e responsável, considerando os
direitos dos componentes do ambiente escolar. No entanto, isso não
significa que em todos os momentos, todos devem participar da to-
mada de decisão, pois a direção superior é quem tem a competência
para decidir o rumo a seguir. Ainda assim, não se ignora a possibi-
lidade de participação de todos, pois frequentemente são os alunos
e os professores que apontam a direção que a escola e o processo
de aprendizagem estão seguindo. Com base nessas pesquisas e con-
tribuições, a direção superior toma decisões informadas, utilizando
todas as informações disponíveis e respeitando o envolvimento de
todos os envolvidos, a final, a Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 206, assegura a Gestão Democrática da escola Pública.
A educação emergiu em um contexto histórico em que os go-
vernantes frequentemente negligenciavam a qualidade educacional
e a inclusão de todos no processo de geração do conhecimento. Du-
rante as eras coloniais, ocorreu o fenômeno da aculturação, introdu-
zindo elementos culturais externos nas sociedades originárias. Esse
processo não apenas tinha o propósito de educar, mas também de
moldar e orientar o desenvolvimento de uma sociedade mais inova-
dora e proeminente, contribuindo significativamente para o progres-
so intelectual da humanidade. No entanto, naquela época, o Estado
não possuía os recursos nem a capacidade necessária para enfrentar
e resolver os desafios enfrentados pelas instituições educacionais.
Por isso,
- 191 -
responsáveis, seguindo os projetos pedagógicos para atingir os obje-
tivos da instituição. Isso resultava em uma política escolar dominada
pelas ações dos diretores e professores, enquanto o aluno posterior-
mente reconhecido como um elemento essencial e colocado no cen-
tro do processo educacional. Com o tempo, a Constituição Federal
de 1988 estabeleceu princípios fundamentais para a educação brasi-
leira, visando uma inclusão mais responsável e, consequentemente,
um ensino de qualidade. Esses princípios incluem obrigatoriedade,
gratuidade, liberdade, igualdade e gestão democrática.
Um país é constituído por conjuntos de elementos essências
para o seu funcionamento, desta forma vale a pena apontar elementos
principais indescartaveis e indispensáveis para o desenvolvimento
sustentáveis duma nação, como Educação, saúde e infraestruturas,
que devem servir do interesse principais do Estado, entretanto um
Estado tem a obrigação de garantir a educação para toda a popu-
lação, pois é um direito do cidadão e um dever que o Estado deve
assegurar. Além disso, a Constituição estabelece que a educação é
gratuita para garantir a igualdade de oportunidades de acesso à edu-
cação, independentemente da condição financeira das pessoas. Nas
escolas, alunos e professores fazem tarefas em prol do desenvolvi-
mento do ensino, a partir das realizações de pesquisas e melhora-
mento de sistemas educativos, essas ações são todos garantidos pe-
los princípios que regem a educação, como a liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber que são
fundamentais, por isso deve haver condições que garantem acesso
e permanência nas escolas. A Gestão Democrática é de fato um dos
princípios extremamente relevantes para o funcionamento da escola,
isso porque a gestão significa não só organizar, dirigir e controlar,
mas também entregar um resultado positivo de acordo com a missão
da instituição, por isso é crucial conjugar elementos que fazem dele
uma instituição preparada para atender os interesses da comunidade,
a partir do envolvimento de todos nas decisões e nos processos rela-
cionados à escola, porque a democracia torna a gestão transparente
por meio da colaboração de todos.
- 192 -
possibilita a melhoria na qualidade pedagógica e no convívio ami-
gável desses funcionários (Hora, 2017).
- 193 -
rege a instituição, por isso vale a pena salientar que a iniciativa que
diz respeito sobre o envolvimento de todos não se resume somente
nos órgões colegiados, mas também nos projetos pedagógicos da
escola, ou seja, “Além dos Conselhos Escolares, outra importante
instância de tomada de decisão coletiva é o Projeto Político Pedagó-
gico (PPP), instrumento orientador dos rumos da escola”. Conforme
já visto, a LDB prevê a “participação dos profissionais da educação”
em sua elaboração (LDB, Art., 14). (Vieira, Vidal. 2015).
Por isso, ainda convém mencionar que essa participação co-
letiva define a verdadeira democracia que uma escola pode propor-
cionar, tornando-a um lugar de debate de opiniões sobre o futuro da
instituição, buscando assim as respostas sobre os problemas que a
instituição enfrenta e monitorando de perto as situações dos alunos,
professores, pais, gestores e de todos em geral. Falando sobre isso,
os pais se comprometem sempre com a educação dos seus filhos,
razão pelo qual tentam no máximo colaborar com a escola para o
bem-estar do ensino e aprendizagem dos alunos, entretanto,
- 194 -
alunos. Falando nisso, vale a pena destacar importância da escolar a
partir de fortalecimento de laços na comunidade, permitindo, sobre-
tudo, o desenvolvimento de habilidades sociais e cidadã em geral.
A partir dela, os alunos apreendem sobre a democracia, respeito às
opiniões divergentes e tomadas de decisões em grupo, pois isso con-
tribui para sua formação como cidadãos ativos e responsáveis.
No entanto, a gestão democrática engloba uma etapa crucial
que a torna uma iniciativa viável para alcançar os objetivos da es-
cola. Isso ocorre através da consecução das metas estabelecidas no
plano pedagógico, garantindo uma instituição digna ao considerar
detalhes que são essenciais. Tudo começa com um bom planejamen-
to, que destaca os pontos a serem alcançados. Assim, o planejamen-
to estratégico da escola se posiciona como um dos pontos de partida
mais importantes para qualquer organização, sendo fundamental
para o sucesso da escola. Partindo dessa ideia de planejamento, é
relevante considerar que o planejamento participativo está intrinsi-
camente ligado à democracia. Para tanto,
- 195 -
O planejamento no processo de gestão democrática participa-
tiva é fundamental para garantir a eficácia das ações e a participação
ativa de todos os envolvidos. Sendo assim, existem possiblidades para
participar no planejamento participativo, Segundo Gandin (2001), a
participação pode ser entendida em três níveis distintos: O primeiro
nível é o da colaboração, onde as pessoas são convidadas a participar
e colaborar, porém sem poder decisório significativo, o que impede
uma relação horizontal e transformadora. No segundo nível, temos a
tomada de decisão, que pode parecer democrática, mas muitas vezes
se limita a aspectos específicos e menos importantes dos processos,
com escolhas feitas entre opções já pré-determinadas.
Por fim, o terceiro nível envolve a construção conjunta, onde
todos os envolvidos têm a oportunidade de contribuir ativamente
para a definição de direções e ações, promovendo uma verdadeira
participação democrática e colaborativa.
Para o processo de planejamento, é notável vários pontos im-
portantes devido a participação para alcançar o objetivo da escola,
dentre os quais tudo realmente se inicia com o diagnóstico partici-
pativo, onde começam com a análise da realidade da escola, pois
cada escola contém uma realidade própria, e nisso envolve alunos,
professores, pais e funcionários. Além disso, importa referir que no
início de planejamento, levam sempre em consideração alguns fato-
res extremamente importante porque isso faz do planejamento um
instrumento ideal, ou seja as entidades envolvidas na elaboração do
planejamento, identificam necessidades, desafios e oportunidades.
Entretanto, é fundamental ressaltar que os planejamentos es-
colares não são todos iguais, pois se distinguem principalmente en-
tre os estratégicos e participativos. Os planejamentos estratégicos
são elaborados com base em análises profundas e projeções de longo
prazo, visando alinhar os objetivos da instituição com suas metas
futuras. Por outro lado, os planejamentos participativos envolvem
ativamente todos os membros da comunidade escolar, promovendo
uma abordagem colaborativa que valoriza diferentes perspectivas e
contribuições. Assim, compreender essas distinções é essencial para
implementar práticas educacionais eficazes e alinhadas com as ne-
cessidades e expectativas de todos os envolvidos no processo edu-
cativo. Embora, existe outra concepção em relação ao planejamento
estratégico e participativo, de que:
- 196 -
Esses dois tipos de planejamento têm características diferenciadas:
o primeiro de caráter gerencial tem como principal característica a
ótica da racionalidade, da produtividade e do atendimento às de-
mandas do cidadão/cliente. Disseminado no continente latino-a-
mericano como ideal para a gestão escolar uma vez que parte do
pressuposto de que o problema da falta de qualidade no campo edu-
cacional se deve a ausência de gerenciamento das unidades esco-
lares, materializando-se na escola por meio do denominado Plano
de Desenvolvimento da Escola; o segundo, com viés democrático,
têm por característica estimular a participação dos sujeitos no pro-
cesso deliberativo, tomando como referência o Projeto Político-Pe-
dagógico como uma de suas estratégias centrais, uma vez que esse
documento, quando constituído democraticamente, representa os
anseios e o ideal da grande maioria da comunidade escolar. (Araú-
jo, 2008).
- 197 -
ticos e capacitação, mas também promove uma gestão eficaz e trans-
parente dos recursos disponíveis. Ao envolver todos os membros da
comunidade escolar nesse planejamento, a instituição não apenas
fortalece seu compromisso com a eficiência e o desenvolvimento
educacional, mas também garante que as decisões tomadas estejam
alinhadas com as prioridades e necessidades educativas identifica-
das coletivamente.
Entretanto, a próxima etapa na elaboração do planejamento
escolar é o monitoramento e avaliação, pois estas etapas são essen-
ciais para garantir que os resultados necessários sejam alcançados.
O monitoramento permite identificar falhas e áreas que necessitam
de melhorias, possibilitando correções ao longo do processo. A ava-
liação dos resultados alcançados é igualmente fundamental, pois
proporciona insights sobre a eficácia das estratégias implementadas.
Na gestão democrática, são realizadas revisões periódicas do plano
de ação, onde os resultados são meticulosamente avaliados e ajustes
são feitos conforme necessário, assegurando que a escola permane-
ça adaptável e responsiva às demandas educacionais e às expectati-
vas da comunidade escolar.
Por fim, a transparência e comunicação desempenham um pa-
pel essencial na clareza das ações, pois garantem que o andamento
das atividades seja constantemente comunicado. A transparência as-
segura que todos os envolvidos tenham acesso às informações rele-
vantes e possam participar ativamente das discussões. Isso promove
um ambiente onde a colaboração é facilitada e as decisões são to-
madas de forma informada e coletiva. Dessa forma, ao manter uma
comunicação aberta e transparente, a escola fortalece o engajamento
da comunidade escolar, constrói confiança e promove uma cultura
organizacional voltada para o sucesso educacional e o bem-estar de
todos os membros.
Portanto, vale a pena salientar que o planejamento partipativo
da escola é um instrumento que não só orienta ação do docente e
inclusive serve como modelo ideal que todos seguem para alcançar
a visão da escola, por essa razão, no processoa da sua elaboração,
se vê a participação e colaboração de todos da comunidade de modo
que implica uma dinâmica e atenção rigorosa para evitar falhas que
possa colocar em causa a credibilidade da escola num ambiente da
competição para o bem estar social e educacional, sendo assim:
- 198 -
Para pensarmos o Planejamento Participativo em qualquer escola
devemos ter um ponto de partida. O Planejamento Participativo não
reconhece uma predeterminação, uma vez que ele é resultado da
participação do trinômio escola-família-comunidade, no entanto
Vianna (1986) nos orienta sobre a necessidade de partir das neces-
sidades básicas, uma vez que as comunidades e seus integrantes
possuem necessidades comuns que podem ser de ordem fisiológicas
ou vegetativas, psicológicas ou de autorrealização e de expressão
criativa. (Serrão, 2019).
Considerações finais
- 199 -
e a prestação de contas, mas também cultivam um ambiente que
valoriza a diversidade de perspectivas e contribuições. Isso não só
enriquece a qualidade do ensino, permitindo adaptações contínuas e
inovadoras, mas também prepara os alunos para serem cidadãos res-
ponsáveis e críticos na sociedade. Assim, a gestão escolar democrá-
tica não é apenas um modelo administrativo, mas um compromisso
com a equidade, a participação e a excelência educacional.
Referências
- 200 -
PAPEL DOS PROFESSORES NA INCLUSÃO
DOS SABERES TRAZIDOS PELOS
EDUCANDOS: CASO DA GUINÉ-BISSAU
Augusto Nan Ghada
Pedro Rui Tchuda
Introdução
- 201 -
Para alcançar os objetivos propostos adotamos uma aborda-
gem metodológica qualitativa, que combina duas técnicas de inves-
tigação, a pesquisa bibliográfica e a análise documental. Esta última
favorece a sistematização do histórico das políticas educacionais na
Guiné-Bissau, e o levantamento dos dados e informações que foram
analisadas à luz das literaturas sobre políticas educacionais.
Dialogando com o Paulo Freire no seu livro intitulado “Pe-
dagogia da Autonomia”, a qual discutiu alguns subtítulos que são
da estrema importância, tais como: Ensinar exige rigorosidade me-
tódica; Ensinar exige pesquisa; Ensinar exige respeito aos saberes
dos educandos; Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a
qualquer forma de discriminação, entre outras. Consideração o am-
biente acadêmico e a própria realidade sociocultural da Guiné-Bis-
sau diríamos que estávamos numa situação de total obscurantismo
das normas que deveria reger a conduta e perfil de um aluno assim
como, de um professor na sala de aula porque, durante a nossa traje-
tória no ensino médio vivíamos total violência por desconhecimento
dos direitos que nos assistiam enquanto estudantes.
Na modalidade do ensino onde estudávamos é meramente
caracterizado por “violência”, desprezo ao saber dos educandos,
repetição e memorização, ensino monótona sem diálogo, ou seja,
uma educação “bancária” onde o professor repassa o conhecimento
e o aluno reproduz o que foi repassado, limitando a capacidade de
produção e criatividade de educando, não se ensina a questionar,
ou seja, fazer a leitura crítica das coisas. Portanto, somos ouvintes
passivos e não produtores do conhecimento, algo extremamente pe-
rigoso e violento porque não contribui de modo algum para o avan-
ço e crescimento do conhecimento científico. Ademais o professor
desempenha, ou seja, tem esse perfil autoritário, opressor e soberano
de fazer tudo como quiser sem qualquer tipo de observância a lei e
os direitos que assiste seus educandos, os alunos, limitam-se a uma
educação tradicional onde “bater” é entendida como o sinônimo de
assimilação rápida.
Enquadramento teórico
- 202 -
cançar os objetivos que é compreender a relação professor aluno no
processo do ensino aprendizagem e a inclusão dos saberes trazidos
pelos estudantes evitando assim a passividade ou silenciamento na
construção dos saberes e o papel do professor na perspectiva da pe-
dagogia engajada, é o caso do Borges, que dizia “Ensinar envolve
uma disponibilidade para lidar com o outro, para tentar compreender
o outro, para voltar-se para o outro... Ter empatia pelos alunos é uma
coisa importante, pois é a base dessa disposição para interagir com
outro ser humano, caso outro o aluno” (Borges, 2004, p. 211).
Deste modo o professor tem que levar em consideração a vi-
são sociocultural do aluno, porque dessa realidade que o fez ser so-
cial, ensinar em um processo sistemática, social e coletivo entre o
professor-aluno que andam de mãos dadas aos saberes diversas na
construção psicossocial do homem em contexto que ele está inseri-
do, percebe que não cabe o professor delinear com os saberes locais
dos curriculum escolar, mas cabe ele sair deste interior da escola
procura entender a realidade social do aluno, que vai compondo o
mosaico dos saberes na formação do educando, assim afirma Tardif
(2014), compreende que conhecimento do professor são as realida-
des cotidianas por meio de uma construção social projetada de ações
coletivas, interdisciplinares, de uma pedagogia institucionalizada e
do próprio conhecimento do professor. Ensinar como ato de trans-
gredir múltiplas fronteira e horizontes de saber que coloca o pro-
fessor face à face com contexto social do aluno em seu todo, exige
que está capacitado com os saberes diversas do mundo, porque cada
aluno se compõem naturalmente a partir da sua cultura, hábitos e
costumes que proporciona aos saberes do seu contexto histórico e
social. Ensinar é uma tarefa multidimensional que exige o professor
no seu trabalho com um fio condutor, que orienta, cuida, e satisfaz
com que alunos possam caminhar em direção aos conhecimentos
que a sociedade demanda dele, na construção da identidade, na afir-
mação dos direitos humanos, na língua, etc. assim afirma Tardif:
- 203 -
tamente cognitivas: são relações mediadas pelo trabalho que lhes
fornece princípios para enfrentar e solucionar situações cotidianas.
(Tardif, 2014, p.16,17).
A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das ma-
neiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como
ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como tra-
balho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema cen-
tralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como
armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos
bens, do trabalho, dos direitos e dos símbolos. A educação é, como
outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam
e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua so-
ciedade (Brandão, 2007, p. 10).
- 205 -
como epicentro de saberes, desrespeitando tudo que carregam ao
longo da sua experiência de vida, nos seus lugares de conforto e
desconforto, família, religião, grupo social etc. Essas situações se
abaixa o nível de aprendizado, onde que o aluno se coloca no lu-
gar de recepcionista passivo, num total silenciamento, olhando para
seus saberes a serem apagados, face ao exposto justificamos que os
saberes dos alunos a semelha do professor vão construindo blocos e
blocos para a formação profissional do aluno e enriquecendo os sa-
beres do professor, nisso mostra a relevância de pensar na formação
dos professores para lidar com diversidades de culturas e saberes
do educando. Perante as demandas da contemporaneidade que po-
demos constatar nas práticas de docência ao seu envolvimento com
pluralidade dos saberes, é importante pensar e repensar na formação
e prática dos professores e reatualização face às necessidades atuais
das instituições escolares e da educação, que vai permitir que o pro-
fessor sinta que ele é simples orientador e que conhecimento não
está num único espaço ou ser humano.
- 206 -
O conceito do professor
Educar é um ato social que requer um certo domínio estraté-
gico (pedagogia), desde primórdios dos homens são repassados os
ensinamentos de várias formas, na formação do homem na família,
comunidade, instituições, ruas, onde quer que o ser humano se en-
contre habilitado, de acordo com Brandão, (2007) nenhum homem
escapa da educação, mas para isso acontecer hoje em dia a volta de
ciências e evolução científico requer especialista da área que deno-
minamos de professor. Professor é a luz que propaganda o conhe-
cimento, um orientador que conduz o aluno adquirir conhecimento
e desenvolver sua capacidade técnica, crítico e habilidade no seus
afazeres ao longo do processo de constituição do seu saber, que lhe
torne capaz de refletir sobre os fenômenos a volta dele que lhe torne
profissional nas certas matérias. O recluso dos conhecimentos trazi-
do por estudantes internacionais, por parte dos profissionais da edu-
cação, isso implica a inferioridade, apagamento e silenciamento dos
africanos perante os nacionais, fomentando o racismo, estereotípico,
o que tem visto muita das vezes perante os docentes da Universida-
de da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileiros-(UNI-
LAB), certos professores adotam uma medida pejorativo de julgar
no momento de ensino para os estudantes africanos, comportamen-
to que não são adequados como profissionais, isso demonstra que
muitos não estão preparados para lidar com saberes diversas, além-
-fronteiras culturas, é importante reconhecê-lo e procurar vias para
solucioná-los pelas instâncias de ensino, mantendo honra e respeito,
para que o ensino floresce com diferentes culturas, para Santana,
- 207 -
Pedagogia engajada
- 208 -
com aquilo que professor vai dizer, essa metodologia direto não é
bem conveniente para uma abordagem ou pedagogia engajada, é im-
portante levar os conhecimentos dos estudantes, partindo das suas
reflexões forma de aprender e conhecer e aprender fazer baseada na
experiência do mundo. Reafirma Hooks (2013), a sala de aulas perde
o gosto e prazer de quando professor e alunos se olham pra uns aos
outros como humanos (integrais) que procuram não simplesmente
refugiar nos conhecimentos que estão nos materiais didáticos, po-
rém sobre as experiências e saberes a volta do universo. Segundo
Santos Reis et al.:
- 209 -
humanos numa colaboração participativa onde cada um pode dar a
sua participação na sala sem ter tédio, ainda procura atualizar passo
a passo o ensino mantendo o saber de aprendizado e da experiência
da vivenciada. Apesar de que a educação é uma prática da liberda-
de, não deve existir limitações por parte de aluno e professores, os
alunos devem sentir a vontade de emitir e criticar as suas opiniões e
dos seus pontos de vista, para que as suas expressões sejam valori-
zadas como alunos e como humanos. É preciso transgredir, romper
as fronteiras e seguir de cabeça erguida, na procura de saber, porque
o saber é relativo, nessa indagação de saber que as portas não devem
ser fechadas, devemos transgredir, desenvolvendo as nossas capaci-
dades de ser humanos como corpo e alma juntos criando e ligando
as pontes do saber. Na sala de aulas, professor e alunos devem se
relacionar como a árvore entre caule e ramos, para que todos possam
fortalecer e produzir mais os saberes na base das experiências.
É fundamental que os alunos possam questionar, criticar,
adivinhar, e consolidar as coisas, não colocando medo de falar,
porque senão o aprendizado fica intacto e não transgrede. Educar e
como a vontade de saber de igual modo os professores não devem
olhar para os alunos em questionar como a tese do professor,
como que muitas vezes certos professores não gostam de se serem
perguntados, deste modo os professores não devem carregar para
sala de aulas as suas experiências pessoais, mas deve olhar para
alunos como amigos que convivem e partilham sentimentos,
emoções e saberes. A importância da participação dos alunos na sala
ajuda muito em desenvolver juntos uma harmonia de intercâmbio
de ideias dos saberes, assim ocorre uma educação válida com
uma pedagogia engajada. É óbvio que a pedagogia engajada vem
pensado em nova forma de educação, não do modo caótico, abrindo
horizontes participativo e colaborativo do ensino e aprendizado para
transgredir as fronteiras do saber.
Para alcançar os objetivos propostos adotamos uma aborda-
gem metodológica qualitativa, que combina duas técnicas de inves-
tigação, a pesquisa bibliográfica e a análise documental. Esta última
favorece a sistematização do histórico das políticas educacionais na
Guiné-Bissau, e o levantamento dos dados e informações que foram
analisadas à luz das literaturas sobre políticas educacionais. “A pes-
quisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elabora-
- 210 -
do, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL,
2002 p. 44), e ainda, “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição
do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, visto que propicia
o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a
conclusões inovadoras (Lakatos; Markoni, 2017, p. 200)”.
E a pesquisa documental “é tomar como fonte de coleta de
dados apenas documentos, escritos ou não, que constituem o que se
denomina de fontes primárias. Estas podem ter sido feitas no mo-
mento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois” (2017, p. 193).
E, “a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem
ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
de acordo com os objetos da pesquisa” (Gil, 2002, p. 45).
Conclusão
- 211 -
Compreendi que educar não é só ensinar ler e escrever, mas
sim dar acompanhamento necessária aos seus educandos de forma
proativa, porque só assim, que podemos alcançar a essências e efi-
ciência da nossa profissão que é transformação da sociedade, para
que isso aconteça, requer de nós um trabalho árduo de investigação e
formação contínua portanto, ser professor é ser pesquisador a pessoa
que acompanha atualidade e a evolução do mundo.
Referências
- 212 -
BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR
GUINEENSE: O OLHAR DOS PROFESSORES
DO COLÉGIO SÃO FRANCISCO DE ASSIS
EM GUINÉ-BISSAU
Elizabete Essamai Manga
Ana Paula dos Santos
Introdução
- 213 -
pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o
universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças,
dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é
entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se
distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por in-
terpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada
com seus semelhantes (Minayo, 2006, p. 21).
- 214 -
dagogia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira – UNILAB, campus Acarape surgiu o desejo de se
voltar a temática para o contexto escola de Guiné-Bissau.
Dessa forma, o objetivo geral é analisar as formas de violência
do bullying no contexto escolar guineense no colégio São Francisca
de Assis, e para tanto os específicos são: compreender a percepção
dos professores diante das práticas do bullying no contexto escolar;
refletir sobre o colonialismo e as práticas de bullying no contexto
escolar.
Acreditamos que as escolas, principalmente guineenses pre-
cisam discutir com urgência a implementação de uma componente
curricular que aborde temáticas voltadas para essa temática, assim
como para o acolhimento de estudantes e professores que experi-
mentam violências e adoecimento mental na escola.
Baseando na minha experiência na sociedade guineense é
muito comum ver a prática do Bullying entre amigos/as, no recinto
escolar, no trabalho e até dentro da família. Diante de algumas pes-
quisas para aprofundar sobre a temática, percebe- se que o termo
Bullying é novo, mas, a prática já ocorre há muitas décadas. No caso
de Guiné Bissau, infelizmente são poucos os textos que abordam a
temática.
A pesquisa também mostra que, na maioria das escolas até
agora, costumam negar a existência do bullying, afirmando que isso
não passa da incapacidade da geração atual em aprender a lidar com
suas emoções. Ao nosso ver, a escola, principalmente educadores/
as, podem desenvolver ações anti-bullying na escola.
De um modo geral, o artigo pretende abordar a violência do
bullying no contexto escolar guineense e o olhar dos professores Co-
légio São Francisca de Assis perante a essa a prática e quais seriam
possíveis medidas que o corpo docente tomaria perante a prática
dentro da escola.
- 215 -
cerca de oitenta ilhas que constituem o Arquipélago dos Bijagós, se-
parado do continente pelos canais do rio Geba, de Pedro Álvares, de
Bolama e de Canhabaque. A capital é a cidade de Bissau, sua moeda
é Franco, tendo como língua oficial o português.
O sistema político da guineense dá-se num contexto demo-
crático e multipartidário. Contudo, desde a independência, o país
vive uma constante instabilidade política. Segundo Banco Mundial
(2021), da independência aos dias atuais, na Guiné- Bissau já “fo-
ram registrados quatro golpes de estado bem-sucedidos, com outras
16 tentativas de golpes, conspirados ou alegados”. Mas, no mandato
de José Mário Vaz houve uma mudança em relação aos golpes com
uma quebra de recorde de golpes tornando-se o primeiro presidente
guineense democraticamente eleito a completar, de modo pleno, os
seus anos de mandato.
Quanto à questão cultural, o país também é marcado forte-
mente por várias manifestações culturais diversificadas, que variam
de etnia para etnia, desde costumes, danças, músicas até os rituais
religiosos mais sagrados. Uma das mais frequentes manifestações
culturais do povo guineense é o carnaval, que reúne diversas expres-
sões culturais e artísticas de vários grupos étnicos do país.
Contudo, a região sul contém mais “diversidades”, é possível
perceber isso no que diz respeito à diversidade, no site oficial da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasi-
leira (2023), instituição brasileira de educação superior, que rece-
be jovens estudantes internacionais da Comunidade dos Países da
Língua Oficial Portuguesa (CPLP), incluindo jovens estudantes da
Guiné-Bissau, o estado da Guiné-Bissau possui um património cul-
tural, rico e diversificado, cuja potência pode ser notada na dança,
nas expressões artísticas, nas músicas tradicionais que resultam das
diferenças étnicas e linguísticas dos povos étnico-guineenses. Essas
manifestações podem ser vistas em ocasiões como colheitas, casa-
mentos, funerais e cerimônias de iniciação.
Guiné-Bissau, embora, tenha a língua portuguesa como a
oficial, é um país constituído por variações culturais plurilingues,
contendo nelas muitos grupos étnicos, com suas devidas línguas e
especificidades. Além das suas línguas maternas, há também outra
língua chamada crioulo, falada, segundo o último censo realizado
em 2009, por 90,4% da sua população que faz o seu uso diariamente,
- 216 -
em comparação com a língua oficial portuguesa, que corresponde a
uma percentagem de 27,1% de falantes (INE, 20O9).
Por exemplo, sou guineense, da etnia Felupe, nasci na Guiné-
-Bissau, na região de Cacheu, secção de Suzana, concretamente na
tabanca de Elia. A aldeia de Elia ocupa uma área em torno de 32
km², com habitantes, na sua maioria da etnia Felupe e, consequente-
mente, falantes da língua Felupe. A aldeia faz fronteira com Djobel e
Colage e a maioria da população desse grupo étnico habita o Sul de
Casamança e na zona norte da Guiné-Bissau, concretamente em São
Domingos. A minha língua materna é Felupe, minha língua social é
o crioulo.
Neste sentido, no projeto colonial a língua é um instrumento
de dominação, a inferiorização das nossas formas de falar, expressar
os nossos códigos culturais, produziram violências em que a nossa
subjetividade internalizou o desejo de ser outro, de envergonha-se
de falar em público, o medo de errar e ser ridicularizado.
- 217 -
estrangeiras, mas com invasão, esses valores civilizatórios passaram
a serem partes estruturantes dessas sociedades.
Desde os tempos mais antigos, os saberes africanos foram tra-
tados como inferiores, e isso passaram a ser romantizado por esse
povo como normal, essa prática conforme (Maia, Sousa De Melo p.
234). O negro passa a negar e a desvalorizar as suas raízes, caracte-
rísticas e costumes, realizando o que o branco deseja sem questionar.
- 218 -
classificado em seu todo precisa ser uma ação contínua, e ressalta
que tem que ser uma atenção grande, pois muitas vezes, esse ato é
considerado como algo normal.
Ainda assim (BEANE, 2010), afirma que:
- 219 -
que, infelizmente, muitas vezes os professores não percebem ou não
agem para combater esse tipo de violência.
Resultados e discussões
São Francisco de Assis é uma escola localizada na Guiné-Bis-
sau, um país da África Ocidental, no bairro de Antula- Bono. Uma
comunidade vibrante onde a educação é valorizada e apoiada pela
comunidade local. Foi fundada no dia 04 de outubro.A escola aten-
de três turnos: de manhã a partir do jardim até quinta classe, a tarde
a partir do sexto ano até décimo segundo e a noite tem cursos de
formação de pouca duração. A equipe docente é composta por pro-
fessores licenciados e mestres.
A escola possui salas de aula, todas equipadas para propor-
cionar um ambiente de aprendizagem adequado, mas não tem uma
quadra poliesportiva, onde os alunos podem praticar atividades físi-
cas e esportes. Além disso, a escola também possui uma biblioteca..
A escola em São Francisco de Assis é mais do que um lugar de
aprendizado; é um centro comunitário onde os alunos podem crescer
e desenvolver suas habilidades. Mesmo com problemas que o país
enfrenta, a dedicação dos professores e o apoio da comunidade são
fundamentais para o sucesso contínuo desta instituição educacional.
Ao serem perguntados os motivos do bullying, os professores
apontaram várias causas para o bullying, como:Fatores socioeconô-
micos: Desigualdades econômicas e sociais entre os alunos. Influên-
cia familiar: Lares desestruturados ou com histórico de violência.
Cultura e Tradição: Normas culturais que podem legitimar a violên-
cia e a agressão. Falta de supervisão: Insuficiência de monitoramen-
to por parte dos professores e equipe escolar.
As consequências do bullying identificadas pelos professores
entrevistados da escola São Francisco de Assis da escola incluem:
queda no desempenho escolar e evasão, baixa autoestima, depressão
e ansiedade e Isolamento social e dificuldade em formar amizades.
de acordo com o entrevistado B2, na Escola São Francisco de Assis,
como em muitas outras instituições de ensino, o bullying pode criar
um ambiente perigoso e inseguro para os alunos, levando-os a evita-
rem a escola e, eventualmente, abandonarem os estudos.
No ambiente escolar, como nas salas de aula ou nos pátios das
escolas durante o recreio, é comum ocorrer bullying, que é quando
- 220 -
uma pessoa é intimidada ou maltratada por outra de forma repe-
titiva. Segundo o entrevistado B1, o combate a essa prática ainda
não é tão eficaz como gostaríamos, mas a prática está diminuindo
pouco a pouco e talvez uma maneira de ajudar a reduzir o bullying
durante o recreio na Escola São Francisco De Assis seria instalar câ-
meras de vigilância nos pátios das escolas. Pois, isso faria com que
os agressores pensassem duas vezes antes de praticar violência, pois
saberiam que estão sendo observados e gravados e por outro lado
escolher duas pessoas ou aumentar a segurança no recinto escolar
para vigiar a escola durante o recreio
Considerações
Referências
- 221 -
Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense, Santa Catarina,
p.169-195, 2009.
ALDANO, Mariana. G1 São Paulo. Casos de bullying aumentam
8% em escolas estaduais de SP, diz secretaria: foram 564 casos
registrados em 2017, 80 a mais do que no ano anterior. Núme-
ro de ocorrências pode ser maior, já que muitos alunos não de-
nunciam a prática. São Paulo. SP. 2018. Disponível em: <https://
g1.globo.com/sp/saopaulo/noticia/casos-de-bullying-aumentam-
-8-em-escolas-estaduais-de-sp-dizsecretaria.ghtml>. Acesso em:
18.jul.2024.
BEANE, Allan. Proteja seu filho do bullying: impeça que ele mal-
trate os colegas ou seja maltratado por eles. Tradução: Débora
Guimarães Isidoro, Rio de Janeiro, RJ: Ed. BestSeller, 2010.
COSTA, C. Microcrédito na Guiné-Bissau. Dissertação de mestra-
do (Mestrado em Ciências económicas e Empresariais), Universida-
de dos Açores Portugal, 2022.
INE, Instituto Nacional de Estatística Guiné-Bissau. Recenseamen-
to geral da população e habitação. Bissau: INE, 2009.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma intro-
dução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
SEIDI, Braima. Percurso do sistema educativo na Guiné-Bissau.
2019.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo,
SP: Cortez, 2007.
MAIA, Bruna Soraia Ribeiro; DE MELO, Vico Denis Sousa. A co-
lonialidade do poder e suas subjetividades. Teoria e Cultura, v.
15, n. 2, 2020.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In:
DESLANDES, Suely Ferreira; MINAYO, Maria Cecília de Souza;
GOMES, Romeu (org.). Pesquisa social teoria, método e criativi-
dade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
NAMONE, Dabana. A língua portuguesa e o insucesso do sistema
de ensino na Guiné-Bissau:caso das crianças da etnia Balanta-
-Nhacra de Tombali. NJINGA e SEPÉ: Revista Internacional de
Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras, v. 1, n. 2, p. 37-53,
- 222 -
2021. Disponível em: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njin-
gaesape/article/view/627 Acesso em: 20. jul. 2024.
QUINTANILHA, C. M. Um olhar exploratório sobre a percepção
do professor em relação ao fenômeno bullying. 2011. Disponível
em: http://www.ffp.uerj.br/arquivos/dedu/monografias/cmq.2.2011.
pdf. Acesso em: 20 jul. 2024.
Revista_Njinga_and_Sep%C3%A9_vol_2_no2_Disponívelem:ht-
tps://www.academia.edu/87043599/.Acesso em: 18 jul. 2024.
- 223 -
- 224 -
A CONTRIBUIÇÃO DE PAULO FREIRE
PARA A EDUCAÇÃO: ABORDAGEM
HUMANÍSTICA, MODELO DE ENSINO E
METODOLOGIA DE ALFABETIZAÇÃO
Lívia Barbosa Pacheco Sousa
Joarsem Bacar Embaló
Introdução
- 225 -
sileiros analfabetos da opressão da elite. Ele chegou à abordagem
através de suas próprias experiências de vida. A abordagem também
é chamada de método Freiriano. Esse método se sustenta na visão
de que o conhecimento decorre do processo de reflexão sobre as
atividades realizadas pelos sujeitos ativos durante a transformação
de seus mundos natural e social.
De acordo com Matthews, a teoria do conhecimento de Freire
é o ponto focal de sua pedagogia porque emerge de suas experiên-
cias pessoais de aquisição e transmissão de conhecimento. Embora
Freire não fosse um filósofo sistemático, sua epistemologia constitui
presumivelmente a parte mais desenvolvida de sua teoria, que con-
sistia em comentários, análises, sugestões e reflexões.
Os fundamentos de seu ‘sistema’ apontam para um processo
educacional que se concentra no ambiente dos alunos. Freire assume
que os aprendizes devem entender sua própria realidade como parte
de sua atividade de aprendizagem. Ele queria que o indivíduo se for-
masse em vez de ser formado. Para tanto, ele propôs que o conteúdo
educacional fosse derivado das experiências diárias que o indivíduo
encontra.
O objetivo da relação é a libertação da educação que é fun-
damentalmente uma situação em que o professor e os alunos têm
que ser aprendizes, ambos têm que ser sujeitos cognitivos, apesar
de serem diferentes. A pedagogia de Freire é desenvolvida como
uma prática educacional que restaura a alma. (Sua linguagem é que
a educação como práxis é um processo que humaniza).45 Então,
na pedagogia freireana, os alunos aprendem a participar de seus
próprios empreendimentos históricos, recriando e transformando o
mundo dentro de sua realidade imediata.
Segundo Collins, o pensamento de Freire era formado por
cinco componentes clássicos. Primeiro, Personalismo. Em segundo
lugar, existencialismo. Terceiro, Fenomenologia. Quarto, o marxis-
mo. Quinto, o Cristianismo. Ele considera essas visões de mundo
complementares e conseguiu combiná-las em uma filosofia com-
passiva, convincente e revolucionária para a libertação contínua da
humanidade.
Assim, a abordagem de Freire é tanto uma prática comunitária
centrada nas pessoas quanto uma metodologia de ensino e aprendi-
zagem. Sua abordagem é baseada na crença de que: “As pessoas são
- 226 -
capazes de pensar criticamente sobre sua situação, podem ser confiá-
veis para assumir o controle de suas vidas e transformar coletivamente
suas visões do mundo e como elas se relacionam com ele”.
Método de problematização
- 227 -
Método diálogo
Método práxis
- 228 -
Seguindo Freire (1992/1970) e Freire e Macedo (1996), entendemos
a práxis como a dialética da reflexão e da ação. A dimensão da refle-
xão envolve um diálogo entre as partes para entender criticamente
as estruturas e ideologias sociais que moldam e controlam suas vidas
e práticas diárias.
Freire (1970) sustenta que a práxis envolve ação e reflexão.
Na perspectiva de Freire, não há ato final de conhecer. O conheci-
mento tem historicidade; está sempre em processo de ser. Se o co-
nhecimento absoluto pudesse ser alcançado, a possibilidade de saber
desapareceria, pois não haveria mais perguntas a serem feitas ou
problemas a serem resolvidos. A práxis, portanto, começa com uma
ideia abstrata (teoria) ou uma experiência e incorpora a reflexão so-
bre essa ideia ou experiência e depois a traduz em ação intencional.
A práxis é reflexiva, ativa, criativa, contextual, proposital e social-
mente construída.
A meu ver, um dos ensinamentos mais profundos da pedago-
gia de Paulo Freire é a dialética entre teoria e prática. Teoria sem
prática seria mero pensamento abstrato, assim como prática sem teo-
ria seria reduzida a ação ingênua.
- 229 -
A conscientização é o aprofundamento da atitude de consciência
característica de toda emergência. Em contraste com os ‘depósitos’
antidialógicos e não comunicativos do método bancário de educa-
ção, o conteúdo programático do método problematizador – dialó-
gico por excelência – é constituído e organizado pela visão de mun-
do do aluno, onde sua própria temas generativos são encontrados.
- 231 -
o desenvolvimento de materiais didáticos e o letramento propria-
mente dito (decodificação).
A sessão de motivação consiste na apresentação de gráficos,
sem palavras, pelo coordenador. Isso com o objetivo de provocar
entre os alunos algum tipo de debate e discussão sobre a situação (ou
situações) em que vive a população. Dessa forma, os alunos analfa-
betos se veem em processo de aprendizagem assistida e reflexão, a
fim de promover a conscientização do grupo.
O desenvolvimento de materiais didáticos envolve a equipe
na elaboração de materiais adequados para cada situação. Os mate-
riais a serem produzidos são de dois tipos: o primeiro tipo consiste
em uma série de cartões ou slides que mostram a divisão das pala-
vras em suas partes. O segundo tipo é uma série de cartões que pin-
tam situações relacionadas com as palavras e que foram concebidos
para impressionar os alunos com diferentes imagens.
Por sua vez, essas imagens foram pensadas para estimu-
lar os alunos a refletirem sobre as situações que as palavras impli-
cam. Freire conceitua esse processo de processamento de imagens
de realidades concretas como codificação. Através de diferentes grá-
ficos, situações da vida das pessoas são codificadas ou representadas
graficamente. Esse processo de decodificação é o aspecto distintivo
do método freireano de alfabetização. Não só ajuda no processo de
ensino, mas também facilita a iniciação e estimulação do processo
de pensamento crítico entre os alunos. “A liberdade de comércio não
pode estar acima da liberdade do ser humano” (Freire).
Na alfabetização real (decodificação), cada sessão é cons-
truída em torno de palavras e gráficos. Aqui as palavras geradoras
são impressas em um gráfico da palavra. A aula de alfabetização
começa com a quebra da palavra e do gráfico. Os alunos discutem a
situação existencial da palavra e a relação entre a palavra e a reali-
dade que ela significa. Em seguida, é projetado um slide mostrando
como a palavra é separada em suas sílabas.
É assim que se mostra a família da primeira sílaba, por
exemplo, a palavra pobreza pode ser decomposta em três sílabas
pobreza. Então a família da primeira sílaba pó é mostrada como:
pu, pe, pa, pi, etc. Um processo semelhante é aplicado para as síla-
bas restantes. Em seguida, os alunos são induzidos a compor outras
palavras usando essas mesmas sílabas e suas famílias. Ao mesmo
- 232 -
tempo, continuam discutindo e analisando criticamente o contexto
real representado nas codificações. Em essência, a alfabetização está
intimamente ligada à vida cultural e política dos alunos.
Conclusão
Referências
- 233 -
- 234 -
LÍNGUA E SOCIEDADE: MULTILINGUISMO
NA GUINÉ-BISSAU E O SEU IMPACTO
SOCIAL
Juce Saritila Aires Dos Reis
Constantina Jose Malu
Considerações iniciais
A língua constitui um importante elemento na vida de cada in-
divíduo, servindo de valor cultural e identidade do povo. Na Guiné-
-Bissau, um país onde existem muitas línguas, além do crioulo que
é a língua nacional da Guiné-Bissau e o português. A línguas afri-
canas, as chamadas étnicas também representam as características
deste povo. Assim, o crioulo tem um papel fundamental na vida
do povo, visto que é a mais falada. Ela consegue unificar o povo
independentemente da pertenção étnica do indivíduo, ela é usada
nas escolas e universidades. O português, enquanto língua oficial
da Guiné-Bissau apresenta alguns problemas e dificuldades para a
maioria de indivíduos, porque nem todos conseguem se comunicar
através da mesma. Na maioria dos casos somente os alfabetizados
conseguem essa comunicação, fato que constitui sérios proble-
mas no embasamento dos conteúdos. Segundo Namone e Timbane
(2014) “a educação na língua do educando facilita o desenvolvimen-
to cognitivo, sobretudo nas primeiras fases da educação básica, para
além de construir bases de referência cultural”.
Entretanto, nem o crioulo e nem o português são línguas ma-
ternas da maioria dos guineenses. As línguas maternas são, por ve-
zes, a segunda ou até a terceira língua de muitas pessoas.
Neste sentido, a língua portuguesa, com o estatuto oficial, re-
quer uma tomada de posição do governo no sentido de abrir cen-
tros de educação para todo o território nacional a fim de que todos
tenham o domínio. Ademais formar os profissionais que estarão à
altura de transmitir os conteúdos. Estes são fatos constatados duran-
te a pesquisa. Além disso, os governantes deveriam trabalhar para a
preservação da língua nacional assim como as étnicas e, oportunizar
o seu uso em circunstâncias adequadas.
- 235 -
O objetivo geral é procurar entender o funcionamento das
línguas na sociedade guineense. A pesquisa visa discutir o precon-
ceito linguístico, explicar o seu impacto na vida do povo, debater
as questões do bilinguismo simultâneo e demonstrar como se pode
ultrapassar este flagelo.
Portanto, o trabalho se divide em três seções: na primeira será
discutido o referencial teórico do trabalho, na segunda seção será
discutida a metodologia. Na terceira seção serão debatidos os resul-
tados obtidos da pesquisa, as análises dos dados, as considerações
finais e as conclusões.
Referencial teórico
- 236 -
o que era língua materna em oficial ou numa língua herança. Entre-
tanto, alguns estudos, como o de Freire (2016) colaboraram coma
possibilidade da língua crioula se tornar a língua oficial, o que não
foi considerado possível, porque faltava a escrita. Nesse sentido,
seria necessário formalizar língua crioula, criando uma ortografia
própria. O autor relata também a opção político-partidária para a
concretização dessa ideia e, por isso, manifesta o desejo de que as
escolas da Guiné-Bissau ensinassem os jovens sobre alguns aspec-
tos importantes:
- 237 -
instalaram no país na era colonial, demonstrando que estes utiliza-
ram a língua como um instrumento de dominação e não de ocu-
pação, através de uma política de assimilação em que selecionava
um grupo de nativos de algumas zonas habitadas para ensinar-lhes
a escrever, ler e falar o português. O que significa que não existia
escola para todos, ela existia exclusivamente para os privilegiados.
Em função disso, Timbane e Namone (2014) defendem o uso
da língua crioula no processo de ensino-aprendizagem em todas as
escolas do país, dado que é a língua que está mais próxima da rea-
lidade social e cultural dos estudantes. Por isso, a implementação
do mesmo seria mais válida para melhorar o embasamento dos con-
teúdos. Segundo os dados apresentados pelos autores, há 43,31%
de pessoas que falam o crioulo. Esta é uma prova contundente da
importância do crioulo no contexto guineense. Por sua vez, o portu-
guês figura na quarta posição com 11,08% dos falantes, atrás de duas
línguas étnicas: balanta (figurando na segunda) e fula (na terceira
posição).
Portanto, há uma necessidade de repensar a situação do ensi-
no no país convista a dar oportunidades a todos os cidadãos (ãs) a
acesso as escolas, e de igual modo começar a pensar em produzir os
manuais e os materiais que adequar ao ensino do crioulo pelo menos
para educação básica.
Metodologia
- 238 -
Em primeiro lugar, foram utilizadas as técnicas de entrevista
com pessoas implicadas no estudo. Neste contexto, as entrevistas fo-
ram feitas na Universidade Lusófona da Guiné, no mês de novembro
do ano de 2021, com os colegas da escola e também no meu bairro
com a vizinhança, onde foram selecionadas perguntas sobre a língua
e sociedade para cada um dos cinco entrevistados. Foi realizada essa
entrevista prévia, no qual a pessoa foi informada com antecedência
sobre os critérios, de modo a estar mais preparada para a conversa.
Foram entrevistadas pessoas de diferentes pertencimentos étnicos
sobre as questões linguísticas, dentre as quais: Balanta, beafada,
mancanha, manjaca e pepel. As perguntas destacadas foram sobre a
língua materna, o preconceito linguístico, o uso da língua em cada
meio, as expressões típicas regionais e o número de línguas faladas
pelos entrevistados. Em seguida, os dados foram coletados de for-
ma separada, isto é, uma seção de conversa com sujeitos. Para os
quatros primeiros entrevistados foram utilizados recursos como ca-
derno e caneta para fazer o levantamento das opiniões ou respostas
dos entrevistados. No entanto, para a última entrevistada utilizou-se
recursos eletrônicos, como gravador de telefone, caneta e papel para
a coleta de dados. O uso deste último recurso (gravador) contribuiu
para uma melhor organização dos dados, uma vez que a entrevista
aconteceu em língua crioula. Por fim, foram examinados os dados de
cada entrevistado e, consequentemente, a compilação dos mesmos.
Posteriormente, foi feita a análise dos resultados em comparação aos
referenciados nas obras estudadas, fato que permitiu tirar as con-
clusões sobre algumas similitudes e discrepâncias, assim como as
lacunas deixadas.
- 239 -
a evolução da sociedade no que se refere ao crescente número das
escolas e dos alfabetizados como os principais fatores para tal. Ade-
mais, a rápida integração e a adaptação social em relação à língua
dominante são consideradas também como fatores de forte pressão
na tomada de decisão dos familiares para o efeito. Esses resultados
são bastante similares aos encontrados no estudo de Molica e Junior
(2016), que consideraram que as escolas e as outras instituições so-
ciais contribuem para tal fato, sendo assim, a criança aprendendo ou
dominando a língua majoritária tem a maior probabilidade de se in-
tegrar de forma mais rápida na sociedade e no mercado do trabalho.
Entretanto, esse não foio mesmo resultado encontrado para
os outros entrevistados, pois existem famílias que se esforçam para
a preservação da cultura linguística e, sobretudo, a língua materna
dos filhos. Este fato é bastante visível nas etnias Manjaca e Fula,
raramente, na pepel, porque essas etnias mantêm a mesma linha de
pensamento em relação às questões das línguas maternas.
Os Manjacos, por exemplo, dizem que falam a sua língua
mesmo nos Estados Unidos de America. Como prova disso, está o
fato da maioria deles que emigram para diversos países como Sene-
gal, França, Portugal e que formaram famílias lá, manterem a comu-
nicação entre eles e os filhos em Manjaco. Inclusive há um velho di-
tado dos manjacos que diz “língua estrangeira fora da casa, em casa
só Manjaca”. Os dados demonstram que esta firmeza dos Manjacos
na relação com a língua e conservação cultural não lhes impede de
integrar numa comunidade lingüística majoritária, dado que não ig-
noram categoricamente estas línguas, mas aproveitam delas em cada
momento oportuno.
No que diz respeito ao menor aproveitamento da maioria dos
guineenses com relação à língua portuguesa, e em especial os não
alfabetizados, uma entrevistada já com a idade mais avançada em
relação aos primeiros respondeu o seguinte:
OladöIumOndjiKumsarumPladö
Língua Pepel Ku Ami M’papia Purmeru
Pepel Foi A Primeira Língua Falada Por Mim
- 241 -
Considerações finais
- 242 -
dificuldades foram superadas. Portanto, exige um esforço redobrado
do governo no sentido de criar os centros de formação e abrir os
cursos ligados a sociolinguística, de modo a dar uma visão lúcida
ao povo acerca da língua, assim como trabalhar para combater o
preconceito linguístico no país.
Referências
- 243 -
- 244 -
AS LINGUAGENS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Caroline Lima Silva
Jarles Lopes de Medeiros
- 245 -
O professor carrega essa tarefa importante de trazer ao mun-
do adulto o significado dessa linguagem única manifestada no uni-
verso da criança. Na função de professor/pedagogo, seu dever de
mediador de sentidos se enriquece na medida em que sua própria
história - como criança que também foi um dia - contribui para o
relacionamento com os pequenos e a tradução de seus pensamentos
e significados. Esse trabalho exige dedicação e pode ser entendido
em dois momentos ou fases:
- 246 -
Ao resgatar o processo de aquisição da linguagem gráfica, retoman-
do as descobertas e as frustrações que envolvem o ato de desenhar,
revivendo as operações mentais e práticas que são exigidas pelo
desenho, surgirá uma forma inédita e pessoal de se relacionar com
o universo infantil: a partir da experimentação e da investigação
nascem novos significados no encontro entre o adulto e a criança
(Ibid., p.49-50).
- 247 -
forma de tolher as crianças em sua capacidade de criar e escolher.
Partindo de uma ideia de “infância de consumo”, podemos entender
por que Friedman acusa o mercado atual de atacar as crianças para
que as mesmas consumam de forma desenfreada: “Através do mar-
keting, gera-se nas crianças um estado de permanente insatisfação,
incentivando o desejo do novo e redefinindo o anteriormente consu-
mido como lixo inútil” (Ibid., 2013, p. 109).
Esse tipo de comportamento desenfreado tem tornado as rela-
ções cada vez mais descartáveis, fazendo com que as crianças sejam
“treinadas para ver todos os relacionamentos em termo de mercado”
(Ibid., p.110). Nesse sentido, enquanto educadores, pesquisadores,
pais e responsáveis, podemos concordar com a autora com a neces-
sidade de aprofundarmos nossa pesquisa – utilizando-se de conhe-
cimentos já consolidados, como a antropologia da infância – assim
como nossa prática, com o objetivo de resgatarmos e preservarmos
a essência das crianças.
Muitos desses estudos tendem a contribuir com a linguagem
gráfica, uma vez que constitui como linguagem base das crianças
bem pequenas. Staccioli (2014) ressalta que existem muitas nuan-
ces ainda não exploradas sobre a temática, e que devem lançar luz
ao modo como os adultos e estudiosos encaram essa linguagem tão
singular. Precisamos explorar as dimensões não visíveis do desenho,
assim como as representações metafóricas presentes nos mesmos,
buscando valorizar o que foge aos estereótipos visualmente reco-
nhecidos (Ibid., p. 97).
Muitas representações gráficas elaboradas pelas crianças são
uma tentativa de comunicar algo, a elas mesmas ou aos outros, e nem
sempre tem sido uma tentativa fácil decifrar o significado dessas
produções. Falta até mesmo para os adultos um meio de comunicar
o que tentam dizer, por isso, “nesses casos, precisamos de desvios
linguísticos, de contornos de palavras, de similitudes, de metáforas”
(Ibid.). Porém, o apoio que o adulto encontra nas palavras ainda não
está completamente acessível às crianças.
Nesse caso, constitui-se um empreendimento de grande valor
produtivo para a criança quando ela tenta produzir graficamente o
que está pensando, pois mesmo ainda em pleno desenvolvimento,
todas tem essa capacidade - de pensar - assim como os adultos. E
mesmo com suas dificuldades, é natural que insistam em se expres-
sar da forma como lhes é possível:
- 248 -
Por isso podem parecer tão inesperados e interessantes os desenhos
das crianças pequenas (entre 2 e 5 anos) que tentam – muitas vezes
pela primeira vez – desenhar os próprios pensamentos, suas pró-
prias emoções, sua própria experiência vivida, suas elaborações
(Ibid.)
- 249 -
cura-se ajudar as crianças a desenhar de modo que os outros tam-
bém as entendam (Ibid., p. 100).
- 250 -
mais dos “vínculos” que as crianças estabelecem para tornar eficaz
e compreensível a sua comunicação com as imagens (Ibid., 110).
- 251 -
de Reggio Emília, concebida pelo pedagogo Loris Malaguzzi, na
Itália, traz importantes considerações sobre as diferentes linguagens
da criança, inclusive do desenho. A exploração da dança, das pala-
vras, dos movimentos, do teatro, desenho e música são complemen-
tadas com a exploração das “linguagens gráficas”, que representam
os registros de observações, sentimentos e recordações feitos pelos
pequenos (Edwards, 2008, p. 38).
Os registros feitos pelas crianças inseridas nessa abordagem
italiana não se restringem às crianças maiores, mas desde os anos
pré-escolares muitas já são confiantes em fazer uso do desenho,
geralmente através da pedagogia de projetos, muito utilizada em
Reggio Emília. Como afirma Edwards (2008):
- 252 -
o registro oral ou escrito das crianças que já estão alfabetizadas,
corre-se o risco de julgamentos e conclusões precipitadas sobre o
significado de uma produção.
A valorização da participação das crianças demonstra o quan-
to elas podem contribuir para o próprio aprendizado. Não há neces-
sidade de se tratar de temas ou assuntos exóticos para desabrochar o
potencial infantil. O cotidiano também abriga muitas oportunidades,
como continua a autora:
Referências
- 253 -
LOWENFELD, Victor; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento
da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
LUQUET, Georges-Henri. O desenho infantil. Porto: Livraria Ci-
vilização Editora, 1969.
SOUZA, Elen Karine Schwelg; LIGABUE, Júlia Velasque; SIL-
VA, Gabriele Bonotto. Benefícios dos projetos pedagógicos. MOS-
TRA CIENTÍFICA DO CESUCA, nov. 2019. Anais [...]. 2019.
Disponível em: https://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac/article/
view/1770/1209. Acesso em: 10 jul. 2024.
STACCIOLI, Gianfranco. Os traços invisíveis no desenho da crian-
ça. In: GOBBI, Maria Aparecida; PINAZZA, Mônica Appezzato
(Orgs.). Infância e suas linguagens. São Paulo: Cortez, 2014.
- 254 -
A (DES)COLONIZAÇÃO CURRICULAR
NA GUINÉ-BISSAU: UMA ANÁLISE DE
MATERIAIS DIDÁTICOS DO PRIMEIRO
CICLO DO ENSINO BÁSICO
Tiago M’Boto
Lourenço Ocuni Cá
Introdução
- 255 -
Discussão teórica
- 256 -
Na condição de dimensão objetiva da formação huma-
na, a cultura possui um duplo caráter: remete o indivíduo à socieda-
de e é o intermediário entre a sociedade e a formação do indivíduo
(Silva, 2008). Porém, na Guiné-Bissau, observamos que a educa-
ção reproduz uma cultura tipicamente eurocêntrica principalmen-
te, constatados nos conteúdos que são ensinados nas escolas como
também o uso da língua do ensino, o português, que na maioria das
vezes, acaba gerando a falta de compreensão e incomunicabilida-
de entre o professor e aluno. A língua de comunicação nacional
da Guiné-Bissau língua crioula não é oficializada, com isso não é
língua do ensino. Neste contexto, torna-se complicado pensar em
descolonização do currículo na Guiné-Bissau como mostra Oliveira
(2021):
- 257 -
sidade de diálogo entre escola, currículo e realidade social, a ne-
cessidade de formar professores e professoras reflexivos e sobre as
culturas negadas e silenciadas nos currículos. No entanto, é impor-
tante considerar que há alguma mudança no horizonte. A força das
culturas consideradas negadas e silenciadas nos currículos tende a
aumentar cada vez mais nos últimos anos. As mudanças sociais, os
processos hegemônicos e contra hegemônicos de globalização e as
tensões políticas em torno do conhecimento e dos seus efeitos sobre
a sociedade e o meio ambiente introduzem, cada vez mais, outra
dinâmica cultural e societária que está a exigir uma nova relação
entre desigualdade, diversidade cultural e conhecimento (Gomes,
2012, p. 102).
- 258 -
relação ao do homem negro. Desse modo, as crianças acabam adqui-
rindo o complexo de inferioridade ao entrarem na escola. Portanto,
segundo Castiano (2006),
- 259 -
cultura. Não deixa de enfatizar também as estreitas conexões entre
pedagogia e a política entre a educação e o poder (Freire 1989 apud
Silva 1999, p. 55).
- 260 -
Material didático
- 261 -
mostrando que na Guiné Bissau antes da chegada dos europeus to-
dos os ensinamentos eram transmitidos de forma oral de geração
a geração onde não havia de modo geral conteúdo organizado em
livros didáticos. Segundo (CÁ 2008, p. 33), durante a colonização
portuguesa na Guiné-Bissau, a Igreja Católica desempenhou um
papel fundamental na docilização dos guineenses, além de não só
ter auxiliado na implantação da política educacional, mas também
ajudou na validação do colonialismo português como missão civili-
zadora e a função histórica do Portugal”. Além disso, Matos (2012)
afirma que
- 262 -
jovem e só tinha a 4ª série, mas não foi isso que impediu a realiza-
ção de um trabalho notável, somente possível porque justamente se
confiou na juventude e nas suas capacidades (Cá 2008, p. 89).
- 263 -
Análise do livro
- 264 -
Figura I
- 265 -
cionava como ponto de troca, pois no que trata de troca nota-se que
o texto não torna visível a exploração, expropriação e acumulação
de riqueza pela colonização europeia via escravização ao tratar em
termos abstratos de troca” simplesmente afirma que o comércio in-
cluía escravizados.
Entretanto, no sentido racional da palavra colonização, com-
preende-se que a colonização é um ato ou um processo pelo qual os
seres humanos ocupam novos territórios pelo mundo, pode ter como
principal objetivos a habitação ou a exploração de recursos. Mas, a
colonização da qual se trata, ou seja, que o livro didático trata atra-
vés das suas imagens é uma prática de desumanização não de troca
comercias como mostra no livro de aluno. Segundo Casimiro et al.
(1996) na altura os portugueses começaram a explorar o litoral de
África. Chegaram à Guiné-Bissau no ano de 1446. Construíram for-
talezas que funcionaram como pontos de troca de mercadoria entre
os povos africanos e portugueses”. Portanto, esta teoria de troca não
coaduna com a imagem apresentado no livro do aluno. Todavia, es-
tas imagens mostram as pessoas escravizadas a ser amaradas como
animas. Também destaca a conquista dos invasores tanto na escra-
vização, na construção da escultura e na imagem do barco, sendo
assim vale refletir sobres estas questões para a estimular a atualiza-
ção dos materiais didáticos da nossa educação básica para levar o
ensino mais próximo à realidade e da conquista feita durante a luta
de libertação nacional
Figura II
- 266 -
Diversamente, uma estratégia descolonizar envolveria valorizar a
memória, saberes e identidade de grupos ou povos subalternos, mas
não como vítimas, nem por uma gentileza politicamente correta,
como ocorre em diversos livros analisados. Descolonizar os livros
didáticos, apresentando a diferença de modo emancipatório, requer
dar verdadeiro espaço aos conhecimentos dos povos conquistados
(os conhecimentos dos diversos povos indígenas, das comunidades
quilombolas, dos povos do campo), que têm sido reduzidos a mitos,
irracionalidade, folclore, artefatos de museu, ou saberes práticos, e
que ficam na dependência da ciência como comprovadora de sua
legitimidade (Santos; Meneses; Nunes, 2005 apud Oliveira 2017,
p .29).
- 267 -
mas ainda merecemos ver a imagem estampadas de pessoas negras
sendo chutadas nos manuais de instrução das nossas crianças? Por-
tanto, vale salientar que as imagens muitas das vezes simbolizam
e representam os estereótipos que as crianças carregarão para o
resto de suas vidas como seres inferiores e subalternados ao mundo
ocidental.
Figura III
- 268 -
Figura V
- 269 -
superficial quando se pensa em aproximá-lo à realidade dos alunos.
É necessário incluir a participação de professores ou especialistas
da área da educação e pais na construção do currículo escolar ou
sobre o que deve ser ensinado na escola sem se distanciar muito do
currículo local, não necessariamente aprender o que já sabemos mas
também não abandonar aquilo que já sabemos, pois o conhecimento
se complementa.
A análise no nosso trabalho não está conclusa, como podem
perceber, para os que já tem oportunidade de ler o livro A Nossa
Vida, perceberão que há algumas coisas que ainda não sofreram mu-
dança. Mas também vale ressaltar que nenhuma sociedade continua
intacta durante 26 anos sem nenhuma mudança nas suas práticas.
Por isso, o livro publicado em 1998 precisa de algumas atualizações
porque a sociedade muda e as suas práticas educativas também mu-
dam.
Figura VI
De acordo com este trecho o que pode ser visto desde 1998
até neste momento, é que há muitas práticas que ainda estão im-
pregnadas neste livro didático que não faz mais parte da sociedade
guineense, além disso, a ficha catalográfica do livro mostra que foi
- 270 -
publicado em 1998, até agora não houve nenhuma revisão. Portanto,
é nessa ótica 0 foco nosso trabalho, isto é, se houvesse as revisões
provavelmente que poderiam ter outros elementos que ajudariam no
enriquecimento dos conteúdos sem menosprezar os conhecimentos
que podem ser produzidos localmente.
Será que há diferença em termo de assimilação de conteúdo
para crianças há 10 anos em relação a crianças de agora. Será que o
conteúdo continua a se adequar com o aluno de 2024?
Considerações finais
- 271 -
ReferÊNcias
- 272 -
SILVA, Tadeu Tomaz da. Documentos de Identidade: Uma intro-
dução as teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
SOBRINHO JUNIOR, João Ferreira; MESQUITA, Nyuara Araújo
da Silva. A evolução histórica da interação entre o leitor e o li-
vro didático de Ciências no Brasil. Campus Samambaia. Goiana-
-Goiás – Brasil, 2022.
- 273 -
- 274 -
A EDUCAÇÃO NA GUINÉ-BISSAU PRÉ-
COLONIAL: CONTRIBUIÇÕES PARA OS
SENTIDOS SOBRE O DIREITO À EDUCAÇÃO
Valeriano Dju
Elaine Constant
- 275 -
mundo, são seres históricos, porque constituíram um solo comum
de experiências por diferentes grupos humanos. Neste sentido, há
que se valorizar as narrativas experienciais, que envolvem o espaço,
tempo, enredo, personagens, narradores, modos de viver, motivos
para concepções e determinações, enfim, a ênfase na dimensão cul-
tural da experiência humana.
Salientamos que as narrativas não se atêm somente ao sentido
temporal das histórias, considerando-as como organizadoras da vida
de seres humanos, mas este estudo compreende que as narrativas são
determinantes pelo valor das experiências, especialmente, porque
as vidas se desenvolvem em um tempo histórico, social e cultural.
Assim disso, as histórias humanas, caminham paralelamente com
o tempo, instituindo as dimensões espaciais de corpos, sobretudo,
para a extensão de vozes, saberes e conhecimentos. Desse modo, as
narrativas contribuem para a compreensão de histórias baseadas em
realidades, fornecendo aos pesquisadores a possibilidade de desven-
dar acontecimentos que não foram contados por uma determinada
história, seja pelo desconhecimento, mas, principalmente, por inte-
resses políticos e científicos em esconder acontecimentos, porque
não são considerados como relevantes.
Se histórias, a narração ou os relatos de acontecimentos po-
dem ser compreendidas como fontes de conhecimentos, é igualmen-
te importante, analisar a importância da linguagem oral como um
processo educacional e formativo.
Cabe destacar que a construção histórico-cultural, a partir da
linguagem, começou desde o aparecimento dos primeiros seres hu-
manos, com a criação das sociedades independentes cujas capaci-
dades de viver, de conviver e de se desenvolver são resultantes dos
conhecimentos e das sabedorias de um povo, particularmente, do
africano.
- 276 -
Assim, as formas de organização das sociedades no conti-
nente africano foram constituídas ao longo da história, portanto, an-
teriores à invasão europeia, logo no período pré-colonial. Durante
esse período, o continente africano politicamente era organizado por
diferentes reinos e impérios, governados por reis que se sucederam
um ao outro.
O território conhecido hoje como a Guiné-Bissau fazia parte
dessas conjunturas políticas que marcaram o continente nessa altura,
pertencendo assim, os dois grandes e últimos impérios da África
Ocidental, o império de Mali e posteriormente, ao império de Gabu.
De acordo com a história, o império de Gabu surgiu com a
decadência do império de Mali (LOPES, 2005; MANÉ, 1989).
13 Tiramakhan Traoré era um dos generais de Sundiata Keita, rei do império de Mali.
- 277 -
de província de KAABU iriam se fazer consagrar mansa (reis). As
doze províncias constitutivas do KAABU eram seguintes: Sama,
Jimara, Patiana, Mana, Sankolla, Kolla, Tiagna, Kantora, Niampa-
yo, Toumana, Propana e Badiar (Mané 1989, p. 20).
- 278 -
única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar
onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a
sua única prática e o professor profissional não é o seu único pratican-
te” (Brandão, 2017, p. 9). Por isso, “a ausência das instituições esco-
lares na sociedade africana tradicional não significava a inexistência
de ensino-aprendizagem, pois se tratava de uma cultura oral, que veio
a ser sobreposta pela cultura escrita europeia” (Cá, 2000, p 5).
Nessa educação, cada povo preocupava em educar os mais
jovens para serem úteis à sociedade, respeitando os costumes e tra-
dições. Ou seja, para preservação das tradições consideradas como
patrimônios sociais e culturais desse povo. Por exemplo, na etnia
Pepel, os pais sob orientações dos anciões preocupam em educar
os seus filhos e filhos dos seus parentes a preservarem as tradições
e costumes da etnia. De mesmo modo acontece com os Balantas,
Fulas, Nalus, Beafadas, Mandingas, entre outras etnias que hoje
compõem o povo guineense. Essa forma de educar, acontece, nas
atividades pastorais, da agricultura, da pesca, nas cerimônias reli-
giosas, fúnebre e da iniciação (fanado14), no casamento, etc. que
devido ausência da escrita e das instituições escolares, esse processo
do ensino e aprendizagem era transmitida de boca a boca, ou melhor
dizer, por meio tradição oral e da experiência prática, nas quais, um
adulto era responsável pela educação do jovem no que diz respeito
aos ritos e costumes tradicionais do seu povo e do trabalho coletivo.
- 279 -
ser útil para o bem da sua comunidade, a respeitar a tradição e estar
disposta a defendê-la quando necessário. Nesse caso, a educação
fez parte do cotidiano dos africanos antes da existência e do apa-
recimento da escrita, como das instituições escolares, envolvendo
assim, o seu dia a dia. “Ninguém escapa da educação. Em casa, na
rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós en-
volvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para
aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver,
todos os dias misturamos a vida com a educação” (Brandão, 2017,
p. 7). Existe um processo de aprendizagem tanto para quem ensina,
quanto para quem é ensinado. Quer dizer, ambas partes aprendem
(Freire, 2015).
Foi nesse sentido que defendemos a tradição oral como uma
prática social de ensino e aprendizagem na sociedade africana pré-
-colonial, sobretudo, na Guiné-Bissau. Visto que, é um processo
através do qual os seres se educavam e reeducavam para manter uma
sociedade viva, saudável, solidaria e unida em busca de consensos e
objetivos comuns. Ou seja, para preservação, valorização das tradi-
ções e culturas locais.
- 281 -
Devemos lembrar que o conceito da educação é um conceito
com múltiplas definições e significados, mas nunca deixou de ser
a influência de uma geração sobre outra ou de formação de sujei-
tos numa determinada sociedade. Como sendo processo do ensino e
aprendizagem que ocorre entre duas gerações, cada tempo histórico
e espaço geográfico possui a sua forma de educar, que envolve, as
culturas, crenças, costumes e tradições.
Isso quer dizer que o indivíduo passa toda a sua vida apren-
dendo. Essas aprendizagens envolvem todos os aspectos da sua vida
cotidiana, culturais, sociais, espirituais, econômicas, entre outras.
Em outras palavras, o processo do ensino é mediatizado por tudo
aquilo que rodeia o ser no seu universo social. Como salienta Frei-
re (1987, p. 39), “ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si
mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
O que demonstra que não existe única maneira de educar. A edu-
cação nesse contexto se compreende na sua pluralidade de formas,
ou seja, educações, na medida que a razão da existência humana
síria inseparável da educação e aprendizagem sobre o mundo social.
Pois, é através dela que tomamos consciência de nós, dos outros e
de tudo o que está ao nosso redor. Pensando na sua múltipla forma
de definição, é preciso saber que desde os tempos mais primórdios,
sempre existe a educação que varia de sociedade em sociedade, ou
entre sociedades.
- 282 -
Por isso compreender a educação durante a o período pré-co-
lonial na Guiné-Bissau é preciso levar em consideração, a importân-
cia da tradição oral, que permitia a passagem de conhecimento e do
saber sobre o mundo de uma geração para outra. Mesmo num con-
texto marcado pela ausência da escrita, a educação sempre fez parte
da sabedoria do povo guineense, onde cada etnia se preocupava em
preparar os mais jovens a saberem integrar e comportar sem pôr em
causa as concepções socioculturais e valores comuns da sociedade.
As ações e comportamentos de um indivíduo não se julgam de forma
individual, sim coletiva. O que significa que cada indivíduo carrega
sobre si a coletividade, ou seja, a sua descendência, sua linhagem,
sua geração, sua comunidade e seu povo. Por isso, havia sempre
consciência da criação de um consenso coletivo de preservação das
crenças, costumes e práticas culturais no povo africano. Ter conhe-
cimento, respeito, preservação e capacidade de interpretação das
tradições torna o indivíduo num sábio que se difere tanto da escrita.
- 283 -
Embora esta prática esteja a perder a sua importância em
grande parte do continente devido à modernidade, vale a pena res-
saltar que nas sociedades ou comunidades mais conservadoras, a pa-
lavra falada continua a ter maior importância do que qualquer outro
documento escrito. Ela representa a essência do ser de um indivíduo.
Através dela, o indivíduo pode conquistar a confiança ou perdê-la.
A confiança nesse caso, conquista-se pela verdade e perde-se pela
mentira. O que exige da pessoa a ética na utilização desse instru-
mento na sua comunidade. Isso constituía a preocupação da educa-
ção pré-colonial.
- 284 -
nesse contexto, visa ajudar os sujeitos no processo de autocontrole
sobre as suas ações e emoções na sociedade.
- 285 -
cunstâncias da vida. Quer dizer, cada acontecimento constituía um
instrumento importante para transformar numa lição do ensino e da
aprendizagem para criança. Isso demonstra a não padronização das
formas de educação, mas, aberta ao mundo da vida cotidiana. A pes-
soa aprende através das suas interações com outras, com a nature-
za, com a ancestralidade. O processo de ensino pode estar aberto a
qualquer momento, lugar, acontecimento e circunstância em que se
encontra o sujeito. Como explica:
Considerações finais
- 287 -
cação no contexto africano, especificamente, no contexto guineense
não deve ser desconectada dos acontecimentos que marcaram o pas-
sado do continente. Esse regresso ao passado nos permite compreen-
der as raízes e as formas pelos quais a educação vem transformando
e adquirindo novas características até a contemporaneidade.
Ter noção sobre a constituição da educação no passado afri-
cano também nos dá leque para entender que o sentido que se dá a
educação e o seu processo de transformação não ocorreu de forma
igual em todas as sociedades. Mas, o importante é que, em todas
essas sociedades, a educação partiu-se da própria tradição e cultura
do povo. Portanto, julgar as sociedades tradicionais ou pré-coloniais
como sociedades sem educação devido à falta da escrita e institui-
ções escolares com características modernas é ao nosso ver cair no
equívoco. Pois, se olharmos pela história podemos entender que os
seres humanos antecederem a escrita, e desde o princípio da huma-
nidade, e sempre preocupam em conservar as suas histórias, os seus
valores éticos, sociais e culturais para o futuro das suas gerações.
Dado a isso, mesmo em sociedades que muitas vezes consideradas
atrasadas existe a educação. Isso ocorre através de processo de tran-
sição de conhecimentos, experiências e saberes de uma geração para
outra.
No caso guineense, essa forma de educação ainda se encon-
tra viva em várias comunidades e grupos étnicos, nas cerimônias,
nos ritos da iniciação, nos casamentos tradicionais, nas cantigas de
mandjuandadi, nas práticas religiosas entre outras. O que demonstra
que, mesmo perante a modernidade e processo de aculturação, ain-
da existem fortes influências da tradição na sociedade guineense. O
que exige a adaptação do sistema educativo a essas realidades para
que as tradições e as práticas culturais tipicamente guineense não
percam os seus valores. E que as novas gerações não percam com a
suas raízes de guinendadi.
É óbvio que, do período pré-colonial até aos nossos dias, a
educação africana, em particular a educação tradicional guineense,
sofreu várias influências, com o destaque no período da invasão
europeia em África. No contexto guineense trata-se, no entanto, da
invasão portuguesa, que procuraram impor outros modos de viver e
formas de educar limitado a um certo grupo minoria nessa sociedade
durante o período da colonização. Essas imposições entraram em
- 288 -
contradição com o modelo tradicional e buscaram neutralizar as
formas de Educação existentes no continente. E isto faz pensar
na forma como se luta pelo direito de manter os conceitos sobre a
educação é importante para uma região ou uma etnia.
Referências
- 289 -
- 290 -
ENSINO REMOTO NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR: FORMAÇÃO DOCENTE E OS
DESAFIOS DENTRO DA PLATAFORMA AVA
Amanda Silva de Souza
Débora Dias de Castro Costa
Ana Cleide Viana Pereira Mota
Pedro Italo Uchôa de Melo
Introdução
- 291 -
para nossa sociedade. É impossível negar mudanças, elas ocorreram
sim, em uma hora ou outra. Reinventar toda a questão metodológica
e a forma de ensinar não vem sendo fácil para os profissionais da
educação, muito menos para os alunos, que em sua maioria não pos-
suem dispositivos eletrônicos e/ou uma rede particular de internet
para realizar seu acompanhamento diário com a instituição em que
se faz presente.
Posto isso, é relevante pautar em nosso meio social os desafios
que cercam o fazer docente em suas ferramentas digitais para a for-
mação dos residentes. Além de tudo – é pertinente mencionar que,
formar indivíduos não é apenas discutir temas gerais e/ou dialogar
por tempo indeterminado e sim, avaliar quais práticas e ferramentas
nos possibilita proporcionar uma formação decolonial e diversa que
contribua não somente de forma individual, mas também coletiva,
isto é, descolonizar é falar de nós, de nossas histórias e memórias.
Diante disso, é necessário repensar e readaptar o sistema de
ensino para que seus residentes deem continuidade ao processo de
formação, onde novas tecnologias educacionais possam contribuir
para essa prática docente e suprir as devidas necessidades dentro
desses espaços. (Flauzino, 2021).
Metodologia
- 292 -
A autora acima chama atenção para a importância do méto-
do qualitativo, tendo em vista que sua abordagem contemplará me-
lhor os objetivos e um melhor parecer desta pesquisa. Identificou-se
como técnica o relato de experiência, onde serão ampliados e apro-
fundados os estudos a partir das experiências e vivências dentro do
próprio contexto onde estamos inseridos.
Esta escolha se justifica porque o método adotado possui uma
gama de técnicas, fazendo preferência pelo relato de experiência
para melhor coleta de dados, buscando com isso aprofundar de-
terminadas questões a respeito dos desafios que rodeiam a prática
docente que compõem o campo estudado, tendo contato com os de-
mais participantes do Programa e a realidade dos fatos onde eles
acontecem, dessa forma, percebendo a maneira como cada um atua
em sua jornada pedagógica.
Resultados e discussão
A partir dos escritos de Costa (2020) e suas devidas pondera-
ções nos instiga a um ato de reflexão sobre a atuação do profissional
da educação dentro de sala de aula em meio a um leque de ferra-
mentas que se encontram disponíveis para utilização dentro do seu
campo. Mesmo com todos os impasses, a instituição não deve cruzar
os braços para seus alunos e vice-versa. Como também os professo-
res não devem permanecer imóveis e isolados diante das possibili-
dades e diversatividade das ferramentas de trabalho. Assim, a partir
das leituras realizadas foi identificada a necessidade de se construir
determinados pensamentos sobre a escola e o que nela habita e se
encontra. Essa ideia que vem sendo exposta poela autora é de grande
relevância e o que norteia o cerne da pesquisa, pois dentro da mesma
há uma necessidade de abordar novos meios de formação dentro de
nossos contextos atuais.
Isso se justifica porque o nosso meio social se encontra na era
digital, mas que muitos desconhecem, não possuindo conhecimento
prévio para manusear equipamentos e menos ainda uma plataforma
digital, onde todos os encontros, atividades e debates que eram rea-
lizadas em modo presencial e que agora a plataforma AVA abarca
todas essas práticas.
A plataforma AVA em meio a pandemia é uma ferramenta
fundamental posta aos residentes do Programa e que auxilia no in-
- 293 -
tercâmbio de comunicação entre o residente, à escola em que ele
vai atuar e a coordenação do programa, promovendo aprendizagem
coletiva, autonomia e criatividade do próprio residente. Mas, para
que isto venha acontecer, é necessário que o coordenador passe a
assumir um papel de mediador, isto é, necessário que haja uma in-
teração entre aluno, conhecimento e a plataforma, o que supõe um
grande desafio a ser encarado, tanto pelo residente como seus tuto-
res. Entretanto, nem sempre é isto que se observa fora do cenário
educacional, práticas educativas digitais não têm sido priorizadas no
campo da educação.
O ensino precisa de novas adaptações em termos de tecnolo-
gia para oxigená-lo, aprimorá-lo e inová-lo, pois, ao contrário, cor-
re o risco da estagnação. O ensino tecnológico necessita em novos
tempos uma saída para levar seus conhecimentos à comunidade e
complementá-los com novo modelo híbrido/remoto adquirido por
conta da pandemia no atual campo educacional. O Programa precisa
dos conteúdos, residentes e professores do ensino para ser efetivada,
e o mesmo vem nessa linhagem. Uma organização prévia, planejada
e refletida fez com que vários princípios pedagógicos fossem respei-
tados com maior facilidade.
Para o filósofo norte-americano Dewey (1979) a educação é
um “continuum experiencial” e a tarefa do educador consiste em
propiciar aos seus alunos o conjunto de experiências de maior valor
educativo. A seu ver, vivenciar uma única experiência afeta, para
melhor ou para pior, a qualidade das experiências subsequentes e,
portanto, para que haja um “crescimento” do processo educativo o
professor deve conduzi-las a favor da curiosidade e da iniciativa, de
forma a neles suscitar desejos suficientemente intensos que os levem
a superar os seus próprios limites. Mesmo com todas as mudanças
continuas que vem acontecendo durante todos esses anos, mudar é
complicado, mudanças não são aceitos de forma total, com a che-
gada da tecnologia dentro dos muros da educação, os docentes de
imediato reprimiram e temeram que determinadas práticas fossem
engolidas pela era digital, como nos traz Ribeiro:
- 294 -
tâneo. Passados alguns anos, vê-se que nada disso aconteceu. Ao
contrário, texto e imagem praticamente se combinam em simbiose
imperfeita, imperfeição dada apenas pelos pedaços de coisas que se
permutam sem maior conexão entre si, sem uma visão de conjunto.
Muito rápidas, com a velocidade comprometendo a conexão entre
as partes, a visão do todo. (Ribeiro, 2019, p. 11).
Conclusões
- 295 -
além disso, conhecemos a fundo o campo de trabalho. De fato,
escrever sobre essa temática nos dias atuais é uma tarefa extensa
e ampla, pois temos que levar em conta os diversos eixos que a
perpassam e que vem carregando e acarretando outros contextos.
Referências
- 296 -
SOBRE OS(AS) AUTORES(AS)
ALAIQUET PAPA VIEIRA CÓ
Formado em Interdisciplinar em Humanidades pela universi-
dade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira-CE
(UNILAB).
E-mail: alaiquetvieira@gmail.com
- 297 -
do Acaraú – UVA (2004). Especialista em Psicopedagogia Clínica
e Institucional pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA
(2015). Atuando na educação desde 2008. Atualmente, é temporária
na Prefeitura Municipal de Fortaleza. Membro do Grupo de Estu-
dos Tecendo Redes Cognitivas de Aprendizagem – (G-Tercoa) e do
Grupo de Política de Educação especial inclusiva e Acessibilidade
(G-PE²IA), ambos pela Universidade Federal do Ceará.
E-mail: cleidevianamota@gmail.com
- 298 -
DANIEL BRANDÃO MENEZES
Mestre em Matemática (UFC), Especialista em Ciências Ju-
rídicas e Bacharel em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul
(UniCSul), Doutor em Educação Brasileira na linha de pesquisa
Educação, Currículo e Ensino no eixo Ensino de Matemática (UFC)
e Pós-doutor em Educação Brasileira na linha de pesquisa História
e Educação Comparada (UFC) e Pós-doutor em Ensino (RENOEN/
UFC). Líder do Grupo de Pesquisa “Núcleo de Pesquisa Educação,
Tecnologia e Formação Docente”. Bolsista Pesquisador de Interiori-
zação - BPI FUNCAP 2020 - 2022. Docente e pesquisador da Uni-
versidade Estadual do Ceará. Professor permanente do Programa de
Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional em coope-
ração técnica com a SEDUC - CE (2021 - 2023), Professor Perma-
nente do Programa de Pós-Graduação em Ensino da Rede Nordeste
de Ensino PÓLO RENOEN-UFC e Professor Permanente do Mes-
trado em Tecnologias Educacionais (UFC).
E-mail: brandao.menezes@uece.br
ELAINE CONSTANT
Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana pela Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora Associada da Fa-
culdade de Educação e da Pós-graduação do Programa de Políticas
Públicas e Direitos Humanos (PPDH) da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Coordenadora do Laboratório Integrado de
Estudos da Alfabetização e Linguagem (LIA) da Universidade Fe-
- 299 -
deral do Rio de Janeiro e da Secretaria Executiva do Fórum Estadual
de Alfabetização do Rio de Janeiro (FEARJ).
E-mail: constant.ela@gmail.com
- 300 -
FERNANDO NUNES DE VASCONCELOS
Graduação em Licenciatura em Pedagogia. Mestrando do
Mestrado Profissional em Ensino e Formação Docente da Uni-
versidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira
(UNILAB)/Instituto Federal do Ceará (IFCE).
E-mail: fernando.nunes@ifce.edu.br
- 301 -
de Ensino – SEDUC, lotado em turmas do Ensino Médio e de EJA
no município de Guaiuba/CE.
E-mail: jmmarcos825@gmail.com
JOSÉ SANHÁ
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades pelo Instituto
de Humanidades pela Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira. Licenciado em Pedagogia pela mesma
universidade. Possui graduação em Ensino Básico pela escola de
formação dos professores Unidade do Ensino Amílcar Cabral-Bo-
- 302 -
lama entre 2016 a 2019. Fez formação básica de carpintaria através
do programa de formação de jovens vulneráveis, ministrada pela
ADPP/Bissorã em parceria com SNLS em 2010.
E-mail: josesanha54@gmail.com
LOURENÇO OCUNI CÁ
Formado em Letras e Linguística. Mestrado em Planeja-
mento e Avaliação Educacional e Dourado em Políticas Públicas e
Sistemas Educativos. Professor Associado IV da Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB).
Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa-Extensao em Educa-
ção, Cooperação e Desenvolvimento (GEPECODE).
E-mail: ocuni@unilab.edu.br
- 303 -
MANUEL MFINDA PEDRO MARQUES
Especializando Em Educação Ambiental com Enfânse na
Formação de Professores-IFSC. Graduado em Humanidades – Uni-
lab. Graduado em Sociologia-Unilab. Graduação interrompida em
Direito pela FDUAN.
E-mail: mfinda2019@gmail.com
- 304 -
NEMÉSIO BONI NANQUE
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades pela Universi-
dade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira. Li-
cenciando em Pedagogia pela mesma universidade. Graduando em
Teologia Ministerial pelo Seminário e Instituto Bíblico Maranata
(SIBIMA).
E-mail: nanquenemesioboni@gmail.com
QUEITA EMBALÓ
Estudante do Curso Licenciatura em Ciências Biológicas na
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasi-
leira (Unilab).
E-mail: embaloqueita93@gmail.com
SALOMÃO NANQUE
Licenciando em Ciências Biológicas na UNILAB. Fui ex-bol-
sista de PIBID. Ativo em pesquisa de extensão, atual participante
- 305 -
de grupo de pesquisa AZÂNIA-UNILAB voltado para estudo de
Antropologia das emoções, etnicorraciais, racismo religioso, de-
sigualdade de gênero etc. também na área de Microbiologia como
membro de projeto CURTA CIÊNCIA, com a ostentação em estudo
de microorganismo.
E-mail: salomaonanque18@gmail.com
TIAGO M’BOTO
Bacharelado em Humanidades da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Licenciando
em Pedagogia pela mesma universidade. Bolsista de Projeto Voz da
EJA, um projeto de iniciação científica PIBIC da Unilab, coordena-
do pelo professor Luiz Carlos Ferreira. Membro representante de
estudantes no colegiado do Curso da Pedagogia.
E-mail: bicabaltenancabi93@aluno.unilab.edu.br
VALERIANO DJU
Professor, poeta e escritor. Mestrando em Políticas Públicas
em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ); Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR, 2023); Licenciado em Sociologia (2019) e Bacharel em Hu-
manidades (2017) pela Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileiras (UNILAB); Técnico em Contabilidade e
Gestão pela Escola Nacional de Administração-ENA (2012) Guiné-
-Bissau.
E-mail: valerianodju@hotmail.com
WILSON BIAGUÊ
Graduando em pedagogia pelo Centro Universitário Maciço
de Baturité UniMB.
E-mail: biaguewilson9@gmail.com
- 306 -
- 307 -
- 308 -