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Marcha e Determinantes

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MARCHA E DETERMINANTES

INTRODUÇÃO
A locomoção, palavra derivada do latim locus, lugar, e movere, mover, significa
a mudança de um lugar para outro. Ela pode ser realizada de diversas maneiras:
engatinhando, sobre patins ou utilizando um meio de transporte qualquer. A locomoção
utilizada pelos seres humanos na posição bípede é definida como deambulação. A
marcha normal consiste em uma maneira de deambulação com movimentos rítmicos,
alternados e sem esforço consciente em que, obrigatoriamente, um pé esteja em contato
com o solo, com um padrão cíclico que se repete indefinidamente a cada passo,
passando por um período de duplo apoio, o qual varia conforme a velocidade da marcha
de cada indivíduo. No entanto, esse equilíbrio pode ser alterado quando qualquer
interferência nas relações normais ocorre, aumentando o gasto energético e alterando os
padrões normais da marcha, como na amputação de um membro inferior e/ou superior.
Durante a deambulação ocorre alteração de velocidade a cada passo e
deslocamentos do centro de massa corpóreo nos planos frontal e sagital. A marcha só é
obtida pelos deslocamentos angulares dos vários segmentos do corpo em torno dos
eixos localizados próximos às articulações. A pelve se inclina, gira e oscila, os
segmentos do membro inferior apresentam deslocamentos nos três planos, enquanto os
ombros giram e os braços balançam em fase contrária aos deslocamentos da pelve e das
pernas.
Um ciclo de marcha é definido pelo intervalo de tempo compreendido entre dois
toques sucessivos do calcanhar do mesmo pé. Durante esse ciclo ocorrerão duas fases,
as quais são classificadas como fases de apoio e de balanço.
FASE DE APOIO
A fase de apoio, responsável por 60% do ciclo da marcha normal, é dividida em:
 Contato inicial: ocorre toque do calcâneo no solo e absorção do impacto.
 Apoio total: todo o pé encontra-se apoiado no solo, com transferência de peso
nesse membro.
 Apoio médio: o pé encontra-se em posição neutra, com descarga de peso total. O
membro contralateral, em balanço, encontra-se na mesma direção.
 Apoio terminal: é a fase final do apoio com desprendimento do retropé.
 Impulso: é a fase em que ocorre desprendimento do hálux do solo.
DETERMINANTES DE MARCHA
Durante a marcha, o centro de gravidade corporal descreve duas curvas
senoidais nos planos horizontal e vertical. Esses deslocamentos acarretam uma
diminuição da excursão vertical e horizontal do centro de gravidade e acabam levando a
uma redução significativa no gasto energético. Chamados de determinantes de marcha,
os movimentos são divididos em: rotação pélvica (4°), inclinação pélvica (5°), flexão do
joelho na fase de apoio (15°) e movimentos do pé e tornozelo, que atuam para diminuir
a amplitude do deslocamento vertical. Já o deslocamento lateral da pelve e a rotação
pélvica no plano transversal, em conjunto com as rotações do tronco e membros
superiores, atua para diminuir o deslocamento horizontal.
1. Rotação pélvica: na fase de balanço ocorre uma rotação pélvica anterior durante a
flexão do quadril e uma rotação posterior durante a extensão, ocasionando uma
redução da amplitude da flexoextensão dos membros. Com esse mecanismo,
consegue-se diminuir a excursão vertical do centro de gravidade.
2. Inclinação pélvica: também para minimizar um deslocamento vertical durante a
marcha, o quadril do membro em balanço inclina-se para baixo.
3. Flexão do joelho: na fase do contato inicial entre calcâneo e solo, há uma flexão do
joelho de aproximadamente 15° para reduzir a variação de comprimento entre o
centro de massa corporal e o solo. Esse mecanismo também minimiza a excursão
vertical.
4. Mecanismos do pé e do tornozelo: os movimentos do tornozelo e do pé, durante a
fase de apoio, são responsáveis pela manutenção constante do comprimento do
membro na fase de apoio.
5. Deslocamento lateral da pelve: ocorre um pequeno deslocamento lateral com desvio
para o lado do membro de apoio, visando a uma variação mínima na base da
marcha. Esse mecanismo diminui a excursão lateral do centro de gravidade.
Atualmente, é possível contar com recursos mais sofisticados, que permitem
analisar, durante o ciclo da marcha, desvios e compensações e, simultaneamente,
fornecer variáveis quantitativas para maior análise. Entre esses recursos, será possível
citar a avaliação cinemática, na qual ocorrem descrições espaciais e temporais de um
movimento; a avaliação cinética, na qual são analisadas as forças e os movimentos
desenvolvidos durante a marcha; a eletromiografia dinâmica, que mostra a atuação de
cada músculo ou grupo muscular; e a baropodometria computadorizada, na qual
pressões segmentares dos pés desenvolvidas durante o ortostatismo e a marcha são
medidas.
Definimos como cadência o número de passos em um intervalo de tempo
(passos/min) e o comprimento do passo, medido entre dois pontos de referência (p. ex.,
calcanhares) durante o duplo apoio.
A cinemática trata da geometria dos movimentos, sem relacionar as forças que
os causam. Ela descreve o movimento em termos de deslocamento, velocidade e
aceleração no espaço. A análise cinemática da marcha requer a medida dos
deslocamentos dos segmentos corporais (tronco, pelve, coxa, perna e pé) durante o ciclo
de marcha. Para a análise do deslocamento, utilizam-se marcadores externos que são
colocados nos segmentos corporais no nível das articulações. Esses marcadores são
usados para definir sistemas de coordenadas, cujos eixos definem a posição dos
segmentos. As medidas do movimento são realizadas com referência aos centros
articulares. Esses movimentos podem ocorrer em três planos (frontal, sagital e
transversal).
Os movimentos observados no plano sagital durante a deambulação, como a
inclinação pélvica anterior, a flexão/extensão do quadril, a flexão/extensão do joelho e a
flexão plantar/dorsal do tornozelo são os mais estudados.
A inclinação pélvica anterior é controlada pela gravidade, pela inércia e pela
ação dos músculos flexores e extensores do quadril. A inclinação diminui durante o
duplo apoio e no final do apoio simples. A flexão/extensão do quadril pode ser
observada como uma curva sinusoide simples. A flexão máxima ocorre no balanço
terminal e a extensão máxima ocorre no momento do toque do pé oposto. Na
flexão/extensão do joelho, a primeira flexão começa na fase de apoio, com absorção do
choque, e a segunda flexão é observada na fase de impulso e balanço inicial. A extensão
do joelho é observada imediatamente antes do toque de calcâneo e na fase do apoio
médio. Na flexão dorsal/plantar do tornozelo, os movimentos ocorrem entre o toque de
calcâneo e o apoio total, entre o apoio médio e o impulso e durante a fase de balanço.
Os movimentos observados no plano frontal são a obliquidade pélvica e a
abdução/adução do quadril. A obliquidade é observada durante a fase de apoio com
inclinação pélvica contralateral durante a fase de balanço e no contato inicial, quando
ocorre inclinação ipsilateral.
No plano transversal, observa-se a rotação pélvica, femoral, do quadril, da perna
e do pé. A rotação pélvica descreve uma curva sinusoide simples com rotação medial
máxima durante o contato inicial e rotação externa máxima na fase de desprendimento
do pé oposto. O fêmur realiza uma rotação medial durante o balanço e o apoio inicial e
rotação lateral desde o apoio total até o desprendimento dos dedos. A rotação do quadril
é determinada pelo cálculo da diferença entre a rotação pélvica e femoral. A rotação do
quadril começa na metade da fase de balanço e continua até o toque do pé oposto. A
partir daí, gira externamente até a metade do balanço. Na perna, ocorre uma rotação
tibial medial na fase do contato inicial e apoio total. No apoio médio e na fase de
desprendimento, ocorre uma rotação lateral. O pé apresenta durante a fase de
desprendimento e balanço inicial e médio uma rotação lateral e uma rotação medial no
balanço terminal e contato inicial.
Na marcha normal, os músculos contraem e relaxam de modo preciso e
orquestrado. A atividade muscular durante a marcha pode ser avaliada por meio da
eletromiografia dinâmica. Essa avaliação pode ser subdividida em grupos.
O grupo pré-tibial, formado pelos músculos tibial anterior, extensor do hálux e
comum dos dedos, é o responsável pela dorsiflexão. Esse grupo tem ação excêntrica
importante durante a fase do toque do calcâneo, evitando que o antepé bata no solo, e
ação concêntrica na fase de balanço, evitando o toque dos dedos no solo.
O grupo dos flexores plantares, representado pelos músculos sóleo e
gastrocnêmio, realiza uma contração excêntrica durante a fase de apoio e ação
concêntrica na fase do impulso.
O grupo dos extensores do joelho, formado pelo quadríceps, tem ação excêntrica
no toque de calcâneo, realizando um efeito de amortecedor, e realiza uma ação como
flexor do quadril entre a fase de apoio e de balanço.
O grupo dos flexores de joelho (isquiotibiais) apresenta ação concêntrica antes
do toque do calcâneo (desaceleração do movimento) e ação como extensor do quadril
após o toque do calcâneo (ação sinérgica com o glúteo máximo).
O grupo dos flexores de quadril, composto pelo ilíaco e pelo psoas, apresenta
grande atividade durante a fase de balanço.
O grupo dos abdutores do quadril (glúteo médio) tem ação excêntrica durante a
fase de apoio para controle da inclinação da pelve para o lado oposto.
O grupo dos adutores do quadril causa rotação medial do fêmur e estabiliza o
quadril em conjunto com os abdutores.
As análises eletromiográficas dos diversos grupos musculares podem ser
acopladas às medidas tridimensionais dos movimentos da marcha, de modo a esclarecer
a sequência de recrutamento muscular necessária para que cada movimento e a marcha
ocorram. Anormalidades no controle motor podem afetar a eficiência mecânica e
aumentar o gasto energético durante a realização da marcha.

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