Regional e Urbano Pós-80
Regional e Urbano Pós-80
Regional e Urbano Pós-80
AS QUESTÕES REGIONAL E
URBANA APÓS 1980* * Agradeço os comentários
e sugestões de meus cole-
gas do IE, Professores Fer-
nando M. Mota e Humberto
M. Nascimento, que me per-
Wilson Cano mitiram esclarecer melhor
algumas questões cruciais
que envolvem o momento
Resumo Entre 1930 e 1980 as principais determinações sobre nossa urbanização, atual.
integração do mercado nacional e desenvolvimento regional decorreram basicamente da indus-
trialização, da política macroeconômica e de políticas de desenvolvimento regional. Após 1980,
com a “Década perdida” e as políticas neoliberais, aquelas determinações foram em grande
parte modificadas pelas novas formas de nossa inserção externa, pelo câmbio apreciado e juro
alto, e pela Guerra Fiscal. Assim, além dos determinantes anteriores – enfraquecidos –, há os
novos, de sentido nacional, sendo alguns específicos a cada região. Em que pese as mudanças,
os efeitos nocivos de nossa forma de crescer e de nossa urbanização se transmitiram a todo o
território nacional. O artigo se encerra com uma proposta de Agenda de Pesquisa sobre os
temas regional e urbano para o período 1980-2010, com intuito de entender melhor aquelas
determinações e efeitos desses processos.
Este texto visa um exame e reflexão sobre os principais efeitos das mudanças
mais relevantes sofridas pelo padrão de crescimento vigente após 1980, que causaram
profundas alterações sobre as determinações mais gerais que agem sobre os processos
de desenvolvimento regional e de urbanização brasileiros. Esse período de análise se
situa entre 1980, com a “Crise da Dívida” e a posterior adoção de políticas neoliberais,
estendendo-se até 2010.
No primeiro tópico, e para comparação com o restante do texto, farei breve síntese
sobre as anteriores determinações, as ocorridas entre 1930 e 1980, destacando, contu-
do o transcurso da década de 1970. No segundo tópico o objetivo central é desenhar
e justificar uma agenda de pesquisa para o período 1980-2010, indagando as novas
determinações mais gerais daqueles processos. Para tanto, se fará um esforço teórico e
metodológico que possa dar conta da realidade do período. Desde já tenho consciência
do tamanho da tarefa e que sua realização só será possível com um grande esforço co-
letivo de pesquisa.
Obviamente, ao longo de todo esse processo, a questão ambiental ganhou relevância
no debate nacional, face à degradação que ocorre, principalmente, no período pós 1980,
seja pela extensão do desmatamento ou pela contaminação das principais bacias hidrográ-
ficas, seja pelas várias formas degradantes que se multiplicam no processo de urbanização
(lixo, água, esgoto, ar, paisagem, enchentes etc.). Contudo, dada a dimensão e escopo des-
te artigo e, principalmente, a complexidade envolvida nesse tema, não tratarei do referido
processo, embora o entenda como uma das questões prioritárias a examinar nos temas da
questão regional e da urbanização.
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s fato semelhante, mas de menor impacto, ocorreu com o sul de Goiás e ainda em menor
escala no sul do atual Mato Grosso do Sul, para o que contribuiu a política federal da
“Marcha para o Oeste” e mais tarde a construção de Brasília e da Belém-Brasília.
Esses novos espaços – no CO, no PR e em SC – que constituíram uma “fronteira
exuberante”, com produção eficiente e melhor distribuição de renda, receberam grandes
fluxos migratórios de habitantes do NE, de MG, do Rio Grande do Sul e de São Paulo:
os que se dirigiram ao Sul somaram (em 1.000 pessoas), respectivamente, cerca de 400,
500, 450 e 700; os fluxos em direção ao CO foram ainda modestos, predominando os de
paulistas (cerca de 200).
s a grande ocupação no Maranhão e no norte de Goías (atual norte do Tocantins), e
mais ao fim deste período, no sudeste do Pará, que se pode caracterizar como uma
“fronteira de pobres”, dada a questão fundiária local, a precariedade de sua agricultura
e as perversas relações sociais de produção. Este espaço constituiu, claramente, uma
perversa manifestação do fenômeno da agricultura itinerante de que falou Furtado
(1972). Para esta fronteira acorreram grandes fluxos de nordestinos não residentes (cer-
ca de 400.000) no MA. Com a continuidade da itinerância dessa agricultura, as levas
de nordestinos (maranhenses ou não) migraram também para o atual norte do TO e o
sudeste do PA; foram cerca de 100.000 pessoas.
Há que ter presente, no caso da agropecuária, que, à medida que ela se moderniza
e cresce, embora expulse parte de seu emprego direto, gera outros empregos indiretos
urbanos, seja na agroindustrialização ou na indústria que lhe fornece bens de produção,
seja em várias atividades produtoras de serviços. É isto que explica, por exemplo, a notável
rede urbana gerada pela cafeicultura paulista antes de 1929, e a do norte do PR, durante a
“colonização” agropecuária que ali se deu entre 1925 e fins da década de 1960.2 O oposto 2 Sobre as redes urbanas do
Brasil até a década de 1950,
disso se deu na ocupação do MA, do antigo norte de GO (atual TO) e do sudeste do PA, ver o excelente trabalho de
no período posterior à década de 1940. Geiger (1963).
Em termos regionais, a demografia sofreu forte influência dos fluxos migratórios, cujo
total nacional passa de 2,7 milhões em 1940 para 11,9 milhões em 1970.3 Entre 1940 e 3 Cifras calculadas com eli-
minação das migrações en-
1970 (em 1.000 pessoas), as entradas acumuladas em São Paulo passaram de 726 para tre as UFs das regiões NO,
3.185; no Paraná, passaram de 214 para 2.467 e no Rio de Janeiro, de 602 para 2009. NE e CO.
A população brasileira, que entre 1920 e 1940 crescera à modesta taxa média anual
de 1,5%, com as transformações econômicas e sociais que ocorreram após 1930, acelera
seu crescimento, para 2,3% em 1940-1950 e para cerca de 3% em 1950-1970. Mas a
população urbana cresceria muito mais: 3,8% em 1949-1950, 5,3% em 1950-1960 e
5,1% em 1960-1970.
Durante todo esse período, as taxas nacionais foram ligeiramente superadas pelas
paulistas. Contudo, a urbanização gerada pela cafeicultura em São Paulo – e sua notável
rede urbana – era relativamente maior do que a nacional: foi acelerada com o aumento
de seus fluxos imigratórios e com parte de seu próprio êxodo rural, com o que, em 1940,
as taxas de urbanização do Brasil e de São Paulo eram respectivamente 31% e 44%, dis-
tância que aumenta em 1970, para 56% e 80%. Cabe ainda apontar que, se excluirmos
São Paulo e o Rio de Janeiro, o restante do Brasil apresentaria, naqueles anos, as taxas de
25% e 45% apenas.
A estratificação das cidades, por tamanho, também é útil para examinarmos essa evo-
lução. Em 1920, o país tinha apenas uma cidade com mais de um milhão de habitantes,
o Rio de Janeiro, e uma com mais de 500 mil, São Paulo, que só em 1940 figuraria com
mais de um milhão. Em meados dos anos 1950, São Paulo (e o aglomerado que viria a
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ser sua região metropolitana) ultrapassavam o Rio de Janeiro e sua futura RM. Na escala
de 500 mil, só em 1950 teríamos uma – Recife –; em 1960 seriam cinco e seis em 1970,
com o surgimento de Brasília.
Se baixada a escala para cidades entre 250.000 e 500.000, também seria escasso seu
número: apenas Salvador em 1920; mais duas (Recife e Porto Alegre) em 1940; mas em
1970 já figuravam 14, das quais 9 sediadas em SP e no RJ. Tínhamos em 1920, na escala
de 100.000 a 250.000, 10 cidades (3 em São Paulo); em 1940, 18 (2 em São Paulo e 4
no Rio de Janeiro) e em 1970 elas seriam 66 (17 em São Paulo e 5 no Rio de Janeiro).
Assim, a maior concentração urbana no período se restringe a São Paulo, Rio de
Janeiro, Brasília e a algumas capitais estaduais. Nova Iguaçu, na baixada fluminense, mu-
nicípio agrícola até meados da II Guerra e depois, predominantemente, cidade-dormitório
do Rio de Janeiro, fazia parte desse grupo, com seus 727.000 habitantes.
Contudo, o que predomina em todos os estados brasileiros é a grande presença de
cidades menores, notadamente abaixo de 100.000 habitantes. Mas isso, longe de repre-
sentar uma identidade, oculta, na verdade, uma dura realidade de diferenciação regional
de crescimento, renda, ocupação e melhor nível de vida.
O exame da estrutura do emprego mostra o mesmo processo: em 1940, Brasil e São
Paulo empregavam, respectivamente, 67% e 58% da População Economicamente Ativa
(PEA), nas atividades primárias, 13% e 17% na indústria e os serviços ocupavam apenas
20% e 25%. Em 1970, os mesmos dados eram de 44% e 20%, 18% e 31% e 38% e
49%, mostrando o grande distanciamento entre aquelas estruturas ocupacionais. Con-
tudo, o agregado Brasil – (São Paulo + Rio de Janeiro) em 1970 tinha ainda a seguinte
estrutura: 57% em primários, 12,5% no setor industrial e apenas 30,5% em serviços. O
país estava se transformando e urbanizando em “alta velocidade”, contudo, as reduzidas
bases periféricas de industrialização e urbanização impediam que a evolução regional
fosse tão avançada quanto a que se dava em São Paulo.
Concluindo este subperíodo, cabe dizer que, a despeito da velocidade do processo
de urbanização, notadamente nos estados mais industrializados, há que entendê-lo co-
mo de uma urbanização suportável, dada a existência de mecanismos de assentamento
e acomodação das camadas de baixa renda, em termos de possibilidade de uma perife-
rização ainda próxima aos centros urbanos, acesso a lotes baratos ou ocupação de áreas
até então não disputadas com o capital mercantil, como morros, alagados e outras áreas
ruins ou inapropriadas.
Por outro lado, e a despeito dessa velocidade de crescimento, como o emprego ur-
bano cresceu aceleradamente, a fiscalidade estadual e municipal também cresceu, não na
mesma proporção da expansão urbana, mas mesmo que de forma ainda parcial elevou o
gasto público urbano e a oferta de serviços sociais, amenizando o drama social que em
um futuro próximo surgiria.
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A ditadura fez algumas das reformas, não como as sonhávamos, e sim com um estrito
sentido capitalista praticamente desprovido do social. Destaquemos as duas principais
reformas econômicas:
s a tributária, que modernizou a estrutura fiscal ao mesmo tempo em que centralizou,
na órbita do governo federal, uma massa crescente de recursos diminuindo a partici-
pação dos estados e municípios, o que afetaria sobremodo seus potenciais de gastos e,
portanto, de atendimento das crescentes demandas sociais;
s a financeira, instituindo a correção monetária, ampliando os canais de financiamento
para os segmentos de bens de consumo duráveis e de capital e para a modernização da
agricultura de exportação.
Essas duas reformas ampliaram muito a capacidade federal de gasto e investimento
público, com o que a política macroeconômica, a partir de 1966-67 pode retomar e
acelerar o crescimento e a diversificação da economia. As novas bases de financiamento
de médio e longo prazos deram maior apoio ao investimento e à produção privada. O
investimento total, como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), atingiria no auge
do período (1970-74) cerca de 25%.
As políticas sociais foram em certa medida negligenciadas, principalmente, a do salá-
rio mínimo, que continuaria a sofrer maiores quedas reais. A agrária foi transformada em
um simulacro, para, justamente, não fazê-la. Exemplo notável foi a construção da Rodovia
Transamazônica, instrumento para agilizar as migrações nordestinas rumo ao Noroeste,
com o que se esvaziava a pressão fundiária no Nordeste. A política urbana limitou-se às
novas formas de financiamento de habitação e saneamento básico (Poupança, Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço e Banco Nacional de Habitação), com o que a política
habitacional expandiu sobremodo a construção residencial, e isto acomodava o problema
do emprego e cooptava politicamente a população beneficiada com esse programa.
A questão regional, para a qual havia sido implantada em 1960 uma Política de
Desenvolvimento Regional com incentivos econômicos para o Nordeste, teve, a partir
de 1967, seus recursos direcionados também para o Noroeste e, em seguida, dispersados
pelo surgimento de novos programas, a maior parte dos quais para todo o território na-
cional, como os investimentos em turismo, pesca, reflorestamento, mercado de capitais e
indústria aeronáutica.
A intensidade do crescimento entre 1967 e 1980 “compensou” esses constrangimen-
tos: a queda do salário mínimo foi atenuada pelo excepcional crescimento do emprego
urbano, que elevou o salário médio e dispersou a estrutura salarial. A dispersão dos recur-
sos financeiros regionais do Noroeste e Nordeste foi compensada pela desconcentração
regional do investimento, pois o aprofundamento e diversificação imprimidos à industria-
lização obrigavam a uma utilização mais intensa das bases regionais de recursos naturais
(terras, água e minérios).5 Isso também obrigou a uma forte desconcentração regional da 5 Implantação ou expansão
de celulose e papel, metais
infraestrutura energética, de comunicações e de transporte. não ferrosos, química, ál-
A taxa média anual do PIB entre 1970-1980 foi de 8,7% para o Brasil (8,2% para cool de cana, petroquímica
e outros.
São Paulo). A agropecuária cresceu a 3,8%, alta, se confrontada com a demográfica, que
foi de 2,5%. Os serviços, impulsionados pela industrialização, cresceram a 8% e a indús-
tria de transformação a 9% (8,1% em São Paulo e 10,2% no agregado Brasil-São Paulo).
A participação da periferia nacional aumentou a desconcentração industrial, passan-
do de 0,8% para 2,4% no Noroeste, basicamente explicada pela implantação da Zona
Franca de Manaus; o Nordeste saltou de 5,7% para 8,1%, recuperando parte das perdas
sofridas no período anterior; Minas Gerais, foi de 6,5% para 6,7% e o Espírito Santo,
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de 0,5% para 0,9%, foram os principais beneficiados. Os maiores perdedores foram São
Paulo (cai de 58,1% para 53,4%) e o Rio de Janeiro (de 15,7% para 10,6%). A des-
concentração industrial em São Paulo também teve um vetor interno: a participação da
Região Metropolitana de São Paulo no total nacional cai de 43,5% para 33,6% enquanto
a do interior sobe de 14,7% para 19,8%, desenvolvendo, também nesse espaço estadual,
a urbanização e a produção de serviços.
A modernização e expansão da agropecuária se concentraram mais em São Paulo e
região Sul, e em menor escala no Centro-Oeste. Seus principais produtos foram a soja, o
trigo, a laranja, a cana-de-açúcar e as carnes. Ressalte-se que a expansão no Paraná deu-se
nas áreas em que antes predominava a pequena e média propriedade, transformando as es-
truturas produtivas e da propriedade, resultando na expulsão, nessa década, de paranaenses
(predominantemente rurais), do equivalente a 22,8% de sua população de 1970. A ocu-
pação do Noroeste se iniciava, notadamente no Pará, em pecuária e cultivos tradicionais.
Os fluxos migratórios inter-regionais saltaram de 12 milhões de pessoas em 1970
para 16,5 milhões em 1980. As maiores saídas continuaram a ser de nordestinos (2,3
milhões), paranaenses (1,6 milhões) e mineiros (800 mil). A principal área receptora foi
São Paulo, com o recorde de 2,8 milhões de pessoas (cerca de 1,5 de nordestinos, 0,6 de
mineiros e 0,55 de paranaenses, além de outros). O Rio de Janeiro diminuía sua recepção,
para cerca de 500 mil, mas aumentava sua própria expulsão, para cerca de 180 mil.
A fronteira Noroeste receberia 650 mil pessoas (260 mil do Nordeste; de Minas
Gerais, Paraná e Centro-Oeste-DF, 90 mil de cada e outros). A do Centro-Oeste-Distrito
Federal, recebeu 500 mil: 180 mil do Paraná; do Nordeste e de São Paulo, 100 mil de
cada, além de outros. Brasília continuou sendo importante receptor, acusando entrada de
380 mil pessoas.
A taxa média anual de crescimento demográfico caíra de 2,9% nos anos 1960 para
2,5% nos 1970, mas o acréscimo absoluto da população foi maior: (23 milhões contra
26). A da população rural, que já fora pequena nos anos 1960 (0,7%), torna-se negativa
nos 1970 (-0,5%). A taxa de crescimento da população urbana também caiu nos mesmos
períodos de 5,2% para 4,4%, mas o acréscimo absoluto foi ainda maior: 28 milhões nos
anos 1970 contra 21 nos anos 1960.
A taxa de urbanização para o total do Brasil sobe de 55,9 % em 1970 para 67,3%
em 1980, mas enquanto as áreas mais industrializadas (SP e RJ) apresentavam cifras que
ultrapassaram os 80% para cerca de 90%; o NO (51,7%), NE (50,6%) e CO-DF (pouco
mais de 60%) eram as áreas menos urbanizadas do país.
A aceleração do crescimento industrial, induzindo fortemente a expansão diversifi-
cada dos serviços fez com que, pela primeira vez na história recente do país, a taxa média
anual de crescimento do emprego da PEA não agrícola (6,16%, contra 4,62% na década
anterior) superasse a taxa de crescimento da população urbana (4,4% contra 5,2% da
década anterior). Isso certamente representou um enorme amortecedor de tensões sociais
e possibilitou ganhos reais nos salários médios, dada a grande pressão no mercado urbano
de trabalho.
A estrutura da PEA empregada mostra o positivo efeito da industrialização: para o
Brasil, o emprego agrícola cai de 44% para 30%, o industrial sobe de 18% para 25% e o
de serviços, de 38% para 44,5%; para SP, as cifras correspondentes foram de 20% para
11,5%, de 31% para 39% e de 49% para 49,5%. O agregado Brasil (SP+RJ) mostrava
ainda elevado emprego agrícola (41,3%) e baixo terciário (apenas 38,7%) embora tivesse
duplicado a participação do industrial que passa de 12,5% a 20%.
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A crise, que vinha desde 1976, se agrava a partir de 1979, devido à brutal elevação
internacional dos juros, tornando a dívida externa impagável, desestruturando as finanças
públicas, desencadeando um processo inflacionário e de estagnação. A crise só não foi pior
graças à forte expansão das exportações, que cresceram 71% entre 1980 e 1989, em que
pese a queda dos preços internacionais de produtos básicos.
A recessão conteve as importações, que cresceram apenas 24%, com o que geramos na
década, US$97 bilhões de saldos comerciais, incapazes, contudo – frente ao que remetemos
de juros (US$87 bilhões) além de outros pagamentos –, de evitar o aumento da dívida
externa, a qual, entre o início e o fim da década saltou de 64 para 115 bilhões de dólares.
O elevado impacto orçamentário dos juros da dívida pública contaminou também os
governos subnacionais, que exacerbaram suas dívidas e também sofreriam os percalços de-
correntes de seu crescente serviço. Esse forte desequilíbrio financeiro do estado restringiu
suas ações no plano nacional e regional debilitando não só o gasto público, mas também
o investimento privado, notadamente o industrial, atingindo, principalmente, o núcleo
da dinâmica industrial – o parque produtivo de São Paulo –, que estagnou, diminuindo
os efeitos dinâmicos para a desconcentração industrial regional.
O crescimento médio anual do PIB foi medíocre, tanto para o Brasil (2,2%) como
para São Paulo (1,5%). O setor agropecuário continuou obtendo taxas (3,2%) de cres-
cimento em torno de sua trajetória anterior, graças ao programa energético do álcool de
cana e à expansão das exportações agrícolas e agroindustriais, em parte decorrentes da
expansão da fronteira no CO.
A indústria de transformação, o setor antes mais dinâmico, teve desempenho ainda
pior, pífio, de 0,9% para o Brasil e ainda mais baixo para SP (0,2%), sendo de 1,6%
para o agregado Brasil-SP. A continuidade da diversificação industrial parou, com sua
estrutura regredindo, pois os segmentos de bens de produção e de consumo durável
foram mais afetados do que os de bens de consumo não durável. Demos um passo atrás
na evolução industrial, em um período em que o capitalismo mundial acelerava sua
reestruturação produtiva.
A crise industrial só não foi pior graças aos segmentos mais vinculados às exportações
agroindustriais, minerais e de insumos básicos, além dos vinculados à questão energética,
como álcool de cana-de-açúcar e petróleo, este decorrente da forte expansão da extração
na Bacia de Campos, no RJ.
A desconcentração industrial prosseguiu, com SP perdendo 3,2 pontos percentuais
na produção nacional do setor. Adverte-se, porém, que se no período 1980-1985, a par-
ticipação paulista caiu de 53,4% para 51,9% isso se deu mais porque a taxa negativa de
crescimento de SP foi maior do que a do Brasil. Em 1989 a participação cairia um pouco
mais, para 50,2%, não por um crescimento satisfatório da periferia, mas sim porque a
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taxa positiva de crescimento de SP foi medíocre, e abaixo da reles taxa verificada para o
conjunto do país. Desconcentração espacial, em tempo de crise profunda, tem sentido
muito diverso da que ocorre quando se dá crescimento normal ou alto. No período, ela
foi espúria, um resultado meramente estatístico.
Até mesmo o setor de serviços cresceu pouco (médias anuais de 3,1% para o Brasil
e 2,2% para SP) e sua expansão nesse período decorre não só da continuidade da des-
concentração dos outros setores produtivos. Uma explicação para isso é a de que o êxodo
rural cresceu muito, diminuindo a população rural, entre 1980 e 1991, em 2,8 milhões
de habitantes. Mas o fraco desempenho industrial fez com que seu emprego aumentasse
apenas 19%, enquanto a população urbana aumentava 38%, pressionando pelo aumento
da oferta de vários serviços.
O Censo de 1991 mostra que a diferença entre a PEA total e a ocupada atingiu 3,2
milhões de pessoas, cifra muito acima da verificada pelo Censo de 1980, no qual a não
ocupação era de 964 mil pessoas. Assim, além do aumento da desocupação aberta, também
aumentou o desemprego urbano oculto. A “válvula de escape” foi, como de costume, o
emprego do terciário, que passou de 18,8 milhões em 1980 para 29,7 milhões em 1991, já
dando mostras de precarização do mercado de trabalho e expansão da economia informal.
O setor de serviços, entre 1980 e 1991, foi responsável por 83% do aumento do
emprego, gerando 10,9 milhões de novas ocupações, das quais sobressaíam 1,2 milhões de
empregados domésticos remunerados e 1,7 milhões de outros empregos com predomínio de
autônomos e outros serviços precários e forte queda do rendimento médio do trabalhador.
A crise afetou profundamente o fluxo migratório inter-regional: a média anual entre
os Censos de 1980 e 1991 diminuiu 40% em relação à da década de 1970 e as entradas
médias em SP sofreram queda de 65%. O que atenuou esse movimento foi a continuida-
de da expansão da fronteira agrícola no NO e CO, o melhor desempenho da agricultura
nordestina e a forte expansão urbana ocorrida nessas três regiões.
A taxa média anual (1980-1991) do crescimento populacional caiu ainda mais, dos
2,48% da década anterior para 1,93%, mas as regiões NO e CO-DF apresentavam taxas
pouco acima de 3%, graças à atração da fronteira agropecuária. A da população urbana
também caiu de 4,44% para 2,97%, em proporção similar nas demais regiões, salvo no
NO (5,4%) e no CO-DF (4,8%). Mesmo assim, a taxa de urbanização subiu expressiva-
mente, de 67,3% para 75,6%, com um grande diferencial entre o NO e NE (com cerca
de 60%) e SP, RJ e DF (acima de 93%).
O número de cidades acima de um milhão de habitantes passou de 10 para 12 (com
a inclusão de Belém e Manaus), enquanto o das acima de 500.000 e abaixo de um milhão
passaram de 8 para 13 (das quais 6 fora de SP e RJ), e as de mais de 250.000 e menos de
500.000, de 24 para 40 (das quais, 23 fora de SP e RJ).
Período 1989-2003
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impondo a quebra da soberania nacional de nossos países, para liberar seu movimento
internacional na busca incessante da valorização. A segunda, da reestruturação produtiva
e comercial feita pelas grandes empresas transnacionais (ETs), em suas bases localizadas
nos países desenvolvidos, que também exigiria, na década de 1990, reestruturações seme-
lhantes em suas bases localizadas nos subdesenvolvidos. Isto foi reforçado pela voracidade
do capital estrangeiro na compra de empresas públicas e privadas nacionais, debilitando
ainda mais nossa já precária soberania nacional.
Destas duas ordens derivaram os objetivos para impor um conjunto de reformas
institucionais liberais, que constituem um todo articulado para permitir a funcionalidade
do modelo neoliberal. Elas, resumidamente, compreendem:
s desregulamentação dos fluxos financeiros internacionais, para adequar nossa economia
aos interesses do capital financeiro internacional;
s a reforma do sistema financeiro nacional para compatibilizá-lo com o sistema inter-
nacional;
s a abertura comercial, potenciada pela grande valorização do câmbio, reduziu fortemen-
te os custos dos importados, debilitou as exportações, e gerou grandes deficits comer-
ciais e de serviços. Constituiu ainda forte apoio à política anti-inflacionária;
s flexibilização das relações trabalho-capital, para diminuir ainda mais o custo do tra-
balho, adequar contratos ao novo timing da tecnologia e debilitar estruturas sindicais;
s reformas previdenciárias, para criar mais um importante segmento para o mercado
financeiro e abrir maior espaço no orçamento público para os juros das dívidas públicas
interna e externa;
s reforma do estado nacional, para desmantelar suas estruturas, diminuir seu tamanho
e sua ação, eliminar vários órgãos públicos, dispensar funcionários e reduzir seus salá-
9 Várias antigas estatais – rios reais, privatizar ativos públicos9 e desmantelar os sistemas de planejamento e de
como a Companhia Vale do
Rio Doce – tinham positiva
regulamentação;
ação sobre diversas partes s os estados subnacionais (governos estaduais e prefeituras) que também estavam com
do território nacional, agindo
muitas vezes como verdadei- sua fiscalidade debilitada e fortemente endividados, foram obrigados a negociar suas
ros agentes de desenvolvi- dívidas com o governo federal, entre 1996 e 1998, comprometendo por 30 anos parte
mento regional. Com a priva-
tização essas atitudes foram de suas receitas com o pagamento compulsório de amortizações e juros, reduzindo
sumariamente reduzidas. fortemente suas capacidades de gasto, em especial de investimentos.
Esse quadro foi complementado pela nova política de estabilização, implantada en-
tre fins de 1993 e junho de 1994, bem-sucedida, mas que teve como lastro uma elevada
valorização da moeda nacional ante o dólar e um ciclópico crescimento da dívida pública
interna, inflada por elevados juros reais.
Ocorre que a dinâmica de funcionamento desse novo “modelo”, à medida que o PIB
cresce, aumenta aceleradamente as importações e outros gastos externos, exigindo altos,
crescentes e persistentes fluxos de capital estrangeiro, forte aumento das dívidas externa e
10 O gasto com juros pas- interna, contaminando as contas públicas, dados os elevados juros.10
sou a ser de cerca de 8%
a 9% do PIB, estrangulando
É fato que houve importante entrada de capitais como Investimento Direto Estran-
as finanças públicas e res- geiro (IDE), mas a maior fração dele destinou-se a comprar empresas públicas e privadas
tringindo o crédito ao setor
privado, que se reduziu, até nacionais, predominantemente na área de serviços (distribuição de energia, transportes,
2003, a um volume em torno telecomunicações, instituições financeiras etc.). Com isso, tais empresas passaram a re-
de apenas 22% do PIB.
meter juros e lucros ao exterior, tornando-se consumidoras líquidas de divisas e o país
ampliou sobremodo seus gastos com serviços importados.
Contudo, a provável deterioração do balanço de pagamentos e das contas públicas,
sensibiliza as finanças internacionais, freando a entrada de capital, e com isso gerando uma
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crise cambial e uma recessão.11 Com isto, o câmbio se desvaloriza, as importações se con- 11 De 1995 a 2002, o de-
ficit em transações corren-
traem e as exportações crescem. Porém, a taxa de crescimento do PIB cai, só retomando tes acumulou a fantástica
patamares mais altos, quando a “festa” de gastos internacionais pôde ser reiniciada. cifra de US$199 bilhões;
nossa dívida externa saltou
Dessa forma, o crescimento só pode ser ciclotímico e baixo, resultando em uma taxa de US$150 bilhões para
média anual tão medíocre quanto a observada na década anterior: entre 1989 e 2003 a US$235 bilhões e nosso
passivo externo atingiu cer-
taxa do PIB foi 2,3% para o Brasil e 1,5% para SP. O investimento despencou, de cerca ca de US$400 bilhões. Isso
de 25% no final da década de 1970, para cerca de 18%: 1) o público, porque não há nos levou às crises cambiais
de 1999 e 2003.
nem política de desenvolvimento, nem, muito menos, recursos no orçamento público;
2) o privado, dada a incerteza do movimento da economia e os elevados juros internos.
Também a estrutura do investimento mudou com predomínio do setor de serviços e de
construção civil, e em detrimento da indústria.
A estrutura produtiva também mostra fortes danos: diminuiu o peso da indústria de
transformação, que cai, para o Brasil, de 30,8% em 1989 para 18,1% e em SP de 40,9%
para 35,0%; a agropecuária passaria, para o Brasil, de 9,1% para 7,4% (em SP, subiria de
3,5% para 7,7%); o setor de serviços aumentaria, no Brasil, de 50,3% para 64,8% e em
SP, de 48,2% para 48,5%.12 12 Os dados de SP são os
das Contas Regionais, na
Assim, as restrições externas e internas ao crescimento foram aumentando ao longo base de 1985. Se mudadas
do período inibindo o investimento, pelas razões já apontadas. É preciso também lembrar para a nova metodologia
com a base em 2002, as
que a crescente contaminação dos juros no orçamento público leva a novos e crescentes cifras resultantes para 2003
cortes do gasto corrente, inclusive em áreas sociais. são simplesmente incompre-
ensíveis, principalmente a da
Ainda assim, após 1999, graças à desvalorização cambial e ao início do “efeito China” agropecuária, que passa a
as exportações (principalmente de commodities) cresceram mais e as importações se contra- ser de apenas 2,2%, enquan-
to a da indústria de transfor-
íram, fazendo com que exportações e consumo liderassem o pífio crescimento do período. mação passava a 23,9% e
os serviços a 65,9%.
Vale notar que em 2003, a despeito da negociação e em que pese o elevado com-
prometimento compulsório (de 9% a 13%) da receita corrente líquida, dos 27 estados, a
relação dívida líquida/receita líquida corrente era pouco menor que 1 em apenas três deles.
No entanto, em quinze deles, ela era superior a 1 e em oito, superior a 2, mostrando a
enorme dificuldade de sua liquidação na maioria das unidades federadas.
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Há um complexo conjunto de fatos e ações que permitiram a continuidade da 20 Ver o citado trabalho de
Monteiro Neto (2005).
desconcentração produtiva regional, como as políticas de incentivo às exportações, nota-
damente de commodities agropecuárias, agroindustriais e minerais; à Guerra Fiscal, princi-
palmente em termos da indústria de transformação; a execução de alguns investimentos de
infraestrutura descentralizados; e os efeitos estatísticos da desconcentração industrial espú-
ria, de que já tratei. Os resultados mais flagrantes desse processo foram, resumidamente:
s EM TERMOS DE PIB total, embora todas as Unidades Federativas tenham tido taxas mé-
dias anuais positivas, o RJ (1,2%) foi o maior perdedor, seguido por SP (1,5%); NE,
MG e RS (os três com 2,2%) cresceram pouco abaixo da média nacional e os demais
estados acima, com as maiores taxas no NO, MS e MT (os três em torno de 5%);
s NA IND¢STRIA EXTRATIVA MINERAL POR SUA ESPECIFICIDADE S CABE APONTAR OS GRANDES GA-
nhadores: com petróleo, o RJ, NE e ES ou com minérios metálicos, o NO;
s NA AGROPECUÕRIA O 3UDESTE PERDE PONTOS PRINCIPALMENTE MAIS PARA O NO e CO-DF e
um pouco para o Sul;
s NA IND¢STRIA DE TRANSFORMA½áO EMBORA TODOS CRESCESSEM S PERDERAM PARTICIPA½áO NO
total nacional, PE, RJ e SP (a maior perda: cai de 50% para 41%). A dinâmica expor-
tadora fez com que MG e ES transformassem suas estruturas produtivas predominan-
temente na produção de commodities industriais;
s NOS SERVI½OS TANTO A DESCONCENTRA½áO PRODUTIVA MATERIAL QUANTO A CRESCENTE URBANI-
zação, somente RJ e SP perdem alguns pontos. Pela óptica da renda, a diversificação
estrutural do setor continuou, diminuindo o peso dos segmentos mais tradicionais,
como o comércio e domésticos remunerados. Contudo, pela óptica do emprego, estes
segmentos estão entre os que mais cresceram, e a queda de seus pesos se deve à grande
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s para a região NO rumaram apenas 255 mil, o que causou surpresa, contra 832 mil do
período anterior, e suas saídas aumentaram 50%, ameaçando converter a região, de
receptora em expulsora;
s no CO-DF, entraram 507 mil contra 636 mil no período anterior e suas saídas cres-
ceram 10%;
s para SP, que se pensava como uma área que não permitiria maiores fluxos entraram 1,7
milhão, cuja média anual é o dobro da verificada no período anterior;
s o NE continuou a ser o maior expulsador, dele emigrando 2,3 milhões, 1,3 milhões
para SP, 246 mil para o NO e 232 mil para o CO-DF;
s o PR continuou a “limpeza” de seu campo, expulsando mais 232 mil pessoas e MG
126 mil.
Resultou assim que ao final do período, praticamente apenas SP – com todos os seus
graves problemas urbanos e sociais – permanecia como o grande receptor da migração na-
cional, e as demais regiões (além do NO e CO) ou se tornaram expulsadoras ou reduziram
drasticamente suas capacidades de recepção.
Enquanto a população rural diminuía (de 35,8 milhões para 31,9 milhões), a urbana
crescia à media anual de 2,44% abaixo da taxa da década anterior (2,97%). Cresceram
abaixo da média nacional: SP, RJ, RS, RN, PB e PE; o NO teve a mais alta (4,8%), seguido
pelo CO-DF (3,2%). Desconcentração produtiva, expansão da fronteira agro-mineral e
fluxos migratórios ampliaram e desconcentraram a urbanização. A taxa de urbanização do
Brasil passou a 81,2%, sendo as do NO e NE as menores, pouco acima de 69% e SP, RJ
e DF as maiores, acima de 93%. A do CO-DF foi a quarta maior (84,8%), resultado da
transformação de sua moderna agropecuária e da agroindustrialização.
A PEA total cresceu à média anual de 2,98% mas a PEA ocupada só de 1,92%,
mostrando cerca de 12 milhões de pessoas desocupadas. A PEA agrícola diminuiu de 12
milhões para 11,8 milhões e a não agrícola, aumentou de 43,3 milhões para 53,9 milhões.
Dados da PEA mostram a grave situação do emprego.23 Os censos de 1991 e 2000 23 Estou usando os dados
da chamada PEA restrita,
mostram forte redução de 30% na PEA agrícola ocupada do Brasil; no NO e CO-DF, as ou seja, estimada pela mes-
reduções respectivas foram de 22% e 20%, em que pese o forte aumento de seus PIBs ma metodologia do Censo
de 1991, dado que a PEA,
agrícolas (32%) e de suas áreas plantadas (53%). É óbvio que os efeitos mais perversos dis- na metodologia do Censo
so atingem mais os trabalhadores de baixa renda. Trabalho recente, abarcando as PNADs de 2000, não é diretamen-
te comparável à de 1991.
de 1999 a 2003, mostra a continuidade do fenômeno: forte aumento da área plantada e Os dados foram gentilmen-
redução do emprego em 5,5%.24 É ainda mais grave que a proporção dos trabalhadores te cedidos por meu colega
professor Cláudio Dedecca.
rurais sem remuneração (mais de 15 horas semanais trabalhadas) na PEA, só diminuiu um Para essa discussão me-
todológica. ver Dedecca e
pouco para o agregado Brasil (de 3,2% para 3,1%), no Sul e CO-DF, aumentando nas Rosandiski (2003).
demais regiões. Em termos absolutos, essa categoria só diminuiu em SP e no Sul.
24 O texto é o de Balsadi
Na indústria não foi melhor: a criação de 575 mil empregos na construção civil não (2005). Ver também Belik e
pode compensar os 1.109 mil desempregados nos outros setores industriais, restringindo- outros (2003).
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tipos de trabalho (menos precários), anteriormente exercidos por essas pessoas, nos quais
seus rendimentos eram maiores. Baltar, em trabalho recente, já havia mostrado isso,
analisando as PNADs de 1989 e 1999. Nele se vê que os aumentos mais expressivos no
mercado de trabalho urbano foram os mais precarizados e informais, notadamente de
emprego domiciliar, limpeza, segurança e serviços auxiliares. O emprego urbano, naquele
período, cresceu apenas 16,8% ao passo que o dos autônomos aumentou 42,3% e dos
domésticos 37,7%.
O DIEESE confirma esses fatos. Entre 1991 e 2000, para a RMSP, a taxa de desem-
prego aberto saltou de 7,9% para 11% e a do desemprego total de 11,7% para 17,6%.
O rendimento real médio anual do total dos trabalhadores assalariados do setor privado
caiu 26,2%, o dos com carteira assinada caiu 25,3% mas o dos sem carteira caiu apenas
2,1%. Esta última cifra esconde o citado “efeito estatístico de melhoria”, que pode ser
melhor observado na relação entre o rendimento médio dos sem carteira e o dos com
carteira assinada: era de 48,4% em 1991, subindo para 70,7% em 2000. Em que pese
isso, entre 1980 e 2000, o número de famílias ricas no Estado de São Paulo passou de
192 mil para 674 mil, ou 58% do total nacional. Só na cidade de São Paulo residem 40%
do total estadual. Isso se deve, em grande medida, ao rentismo que crassa nas famílias de
25 Cf. Pochmann (2006). alta renda no Brasil.25
Como essa dinâmica afetou mais seriamente RJ e SP, e dada a situação prévia em
que se encontrava o problema social nessas áreas, não é difícil entender as razões básicas
que explicam o extraordinário aumento da violência nesses dois estados, agora já não
mais radicada apenas em suas duas maiores cidades, mas já espraiada em quase todas as
cidades de médio e grande porte do país. Entre 1985 e 2005, o emprego formal ligado à
segurança pessoal e pública na cidade de São Paulo passou de 95,6 mil pessoas para 446
mil, ou seja, 366% de aumento, enquanto o dos professores aumentou apenas 38%. Na
cidade do Rio de Janeiro, os números passaram de 67,8 mil pessoas para 245 mil, ou
26 Dados contidos em ma- 270% de aumento.26
téria do jornalista Fernando
Dantas, publicada no Estado
Por tamanho de cidade, as maiores de 1 milhão de habitantes incorporam Guarulhos
de São Paulo, em 9-4-2007, (SP), passando a 13 e as maiores de 500 mil e menores de 1 milhão passam de 13 a 18,
Caderno Metrópole.
das quais faziam parte 6 do NE, 6 de SP e 3 do RJ. As cidades médias, que já vinham
crescendo mais do que as RMs na década anterior, continuaram a fazê-lo, assimilando não
só os efeitos positivos da expansão urbana, mas, principalmente, os nocivos: conurbação,
periferização, favelização; insuficiência de recursos públicos, insegurança, degradação
27 Sobre o tema das cida- ambiental e outros males.27
des médias, ver Andrade e
Serra (2002).
O Período 2003-2010
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ao consumo e forte expansão dos limites do BNDES. As políticas sociais foram positivas,
com o Bolsa Família e recuperação parcial do salário mínimo e das aposentadorias. Isto
reativou o crescimento do consumo, mas a taxa de investimento, embora crescesse, os-
cilou entre os 18%-19% do PIB. A partir de 2003-2004 os estímulos internacionais da
elevada expansão da China (“efeito China”) e os decorrentes da aceleração da especulação
financeira internacional elevaram sobremodo os preços de quase todas as commodities,
beneficiando extraordinariamente nossas exportações primárias.
O dólar barato constrangeu as exportações de manufaturados e alargou o deficit comer-
cial nesses bens, diminuindo nossa competitividade externa e a participação desses produtos
na pauta exportadora. Esse debilitamento e mais a guerra fiscal entre as UFs, tem desestru-
turado nosso parque industrial, avançando o processo de desindustrialização. A participação
da indústria de transformação no PIB caiu ainda mais, atingindo 15,7% em 2010!
Ao mesmo tempo o forte aumento dos gastos externos pessoais e de remessas de em-
presas privadas provocaram crescentes deficits em transações correntes. Dada a elevada taxa
real de juros e a situação internacional, o buraco de nossas contas externas foi coberto por
uma enxurrada de dólares, com grandes sobras, aumentando nossas reservas, diminuindo
a dívida externa pública e criando a ilusão de que “nossa vulnerabilidade externa agora é
baixa”. Os otimistas “esqueceram” de analisar com mais responsabilidade nossos passivos
externos, e mais precisamente, os enormes investimentos externos em carteira. Pior ainda,
que o dólar barato também estimula a saída de capital nacional, atitude que também tem
sido apoiada pelo crédito do BNDES.
A crise internacional também nos pegou em 2008-2009, mas graças às políticas
“anticíclicas” implementadas – principalmente as grandes isenções e os largos prazos de
financiamento ao setor automobilístico e a expansão do crédito público para o setor habi-
tacional –, nos recuperamos a partir de fins de 2009.
O crescimento médio anual (2003-2010) do PIB foi de 4,4%, graças às taxas mais
altas da mineração (5,5%) e dos serviços (4,5%), dado que a agropecuária (2,2%) e a
indústria de transformação (2,8%) sentiram mais os efeitos da crise. Ainda assim, a ex-
pansão do consumo e das exportações primárias está criando a ilusão do crescimento, e da
hipótese de que a situação excepcional do mercado internacional perdure a longo prazo.
Chegamos, portanto, a um ponto de saturação desse modelo, mas “ninguém quer pôr o
guizo no gato”, ou “tirar o bode da sala”.
A boa média anual do crescimento do PIB entre 2003 e 2010 (salvo 2009) suscitou
no governo, nos economistas conservadores e nas elites, uma euforia, anunciando que a
“recuperação dos fundamentos” – o deficit público, o do comércio exterior e o menor ní-
vel de inflação –, nos levara ao crescimento “sustentado” (no sentido econômico, não no
ambiental). Que não teríamos mais nosso conhecido “voo da galinha”. Recusam-se a ver
que os “bons fundamentos” e os “maus e escorchantes juros” não recuperaram a estrutura
e o volume dos investimentos – notadamente do industrial –, e que nos mantemos em
crescimento, graças à excepcional situação do mercado internacional de commodities e à
ameaça de quebra de certos “fundamentos”, como o crédito contido e o gasto social e do
aumento do salário mínimo, do que às virtudes de nossa política econômica.
Não é preciso repisar os males sociais advindos da dinâmica do modelo neoliberal:
aumento do desemprego, queda dos salários reais, corte dos gastos sociais e aumento da
violência, hoje presentes em todas as nossas regiões e cidades. Assim, é inerente a essa
dinâmica, a corrosão (e não o equilíbrio) dos chamados fundamentos da economia, que,
fatalmente, a conduz a um desastre cambial e financeiro.
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28 Em Cano (2010) apresen- Existem alternativas a esse modelo.28 Mas é preciso que se entenda que é impossível,
to as linhas gerais do que
seria um Projeto Alternativo
imediatamente, fazermos a reestruturação produtiva e da infraestrutura, dada a enorme
para o Brasil, com o vetor massa de recursos para isso exigidos. Assim, é preciso estabelecer prioridades nacionais;
principal do crescimento
voltado para a distribuição uma nova política de crescimento e um maior controle dos capitais e do comércio exterior,
de renda e de ativos e a ex- e um radical enfrentamento da questão social do país.
pansão do mercado interno,
não descurando contudo de Para tanto, necessitamos de muito tempo para fazê-lo, e de muita negociação polí-
retomar a atualização tec- tica. Acima de tudo, necessitamos reconstruir o estado e dotá-lo de recursos compatíveis,
nológica imprescindível para
recuperarmos e ampliarmos tanto para o saneamento estrutural fiscal quanto para a retomada do investimento públi-
nossas exportações de ma-
nufaturados.
co. Somente em uma alternativa como esta é que se pode pensar seriamente no trinômio
estabilidade, retomada do crescimento e resgate da dívida social. Somente com ela é que
se pode repensar a questão regional e a urbana em termos produtivos e sociais.
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na verdade se trata das conhecidas bases produtivas de recursos naturais. O termo especiali-
zação em economia tem um sentido claro como algo que decorre de um aprofundamento
da divisão social do trabalho, de algo não comum, como é uma commodity.
Por outro lado, precisamos entender que mesmo que venhamos a ter no futuro
longos períodos de firme crescimento, a expansão da periferia estará atrelada, em grande
medida, à região de São Paulo. Tanto porque não há sentido teórico nem prático em se
pensar em uma “industrialização autônoma” para o resto do Brasil. A exceção a esse pro-
cesso reside na “autonomia” regional ganha por algumas áreas do país, com a expansão de
produção destinada a exportações (notadamente de commodities) e à produção energética,
como o álcool de cana, o petróleo e a hidroeletricidade.
Contudo, à medida que o mercado interno cresça espacialmente e possa ser ampara-
do por uma infraestrutura adequada e dissemine economias de escala e externas – ambas
no sentido produtivo e tecnológico – para a industrialização, esta seguirá se desconcen-
trando. Pistas para essas possibilidades podem e devem ser buscadas por meio da análise
dos dados do comércio inter-regional e das estruturas produtivas regionais. Os últimos
dados que pude acessar sobre esse comércio são para 1999 e eles mostram que suas expor-
tações para o restante do país equivaliam a 45% do PIB paulista e as importações a 34%,
afluxos que representavam o dobro de seus fluxos de comércio exterior.
Isto não elimina a necessidade de se discutir e implantar medidas específicas de
crescimento ou que possam atenuar ou corrigir os desequilíbrios regionais e sociais mais
gritantes existentes no país. É óbvio que esforços no sentido de alocação de projetos em
outras áreas do país devem e podem ser feitos por meio de programas e projetos de im-
pacto detalhados de forma “mais fina”. Os de recursos privados, contudo, em sua busca
por maiores “vantagens locacionais”, ajudaram a aumentar a suicida “guerra fiscal” entre
estados brasileiros, promovendo verdadeiros leilões de localização.
A desconcentração no sentido São Paulo para o restante do país, se mantida a política
neoliberal, continuará tendo um alto componente espúrio, e padecerá, crescentemente,
dos efeitos perversos que a desestruturação industrial está causando. Tais efeitos não só
têm prejudicado ainda mais a economia paulista, como também afetam o parque indus-
trial nacional, destruindo cadeias produtivas e inibindo economias de escala e externas.
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decorrem de suas inserções nas redes urbanas principais ou mais relevantes de que fazem
parte. O que se pode ver nos dados existentes, é que as cidades de porte médio e grande
têm assimilado os efeitos perversos das maiores e das RMs, muitas vezes sem assimilar
seus principais efeitos positivos. Assim, o sentido dessas propostas de políticas públicas
é parcial, aparentemente esquecendo que a massa maior daqueles problemas se encontra
nas maiores.
A taxa de urbanização atingiu 84,4% para o Brasil, próxima à do Sul (84,9%). As
do NO e NE subiram, de cerca de 69% para 73% tornando territorialmente menos con-
centrado o processo de urbanização.
Até agora (junho de 2011) foram poucos os dados divulgados do Censo de 2011,
razão pela qual o tema urbano, neste tópico, será bem menos tratado. Para as migrações,
usei provisoriamente os dados de várias PNADs (de 1999 a 2009) apenas para ter algumas
informações que me possibilitassem conhecer pelo menos a “tendência” ao longo do pe-
ríodo. Com esses dados, pude fazer o seguinte resumo, que deverá ser confrontado pelos
dados do Censo:
s as entradas no NO e no CO-DF devem ter se mantido em torno de, respectivamente,
300 mil e 500 mil pessoas, com pequena diminuição no NO. As saídas do CO-DF
tiveram pequeno aumento, mas as do NO aumentaram em 100 mil, diminuindo sua
capacidade receptora;
s as entradas em SP teriam sido fortemente reduzidas, de 1,7 milhões na década anterior,
para cerca de 650 mil nesta, também diminuindo a capacidade receptora. Os imigran-
tes do NE teriam somado 330 mil e os de MG, 200 mil;
s as saídas do NE tiveram forte redução, caindo de 2,3 milhões para 1,1 milhão nos
mesmos períodos. Esse fluxo teria um destino majoritário para o NO, CO-DF e SP,
distribuído em proporções semelhantes pelas três regiões;
s de MG, as saídas aumentaram muito, passando de 127 mil para 350 mil;
s as do PR caem, de 366 mil para 150 mil, dando a entender que sua reestruturação
agrícola e agrária tenha sido concluída.
Aparentemente, os fluxos neste período, teriam tido um destino muito mais urbano
do que rural, mas isto requer o exame aprofundado dos dados censitários de 2010, tanto
os migratórios quanto os de emprego. Vejamos dois fatos. O maior fluxo de emigrantes
nordestinos se dirigiu a SP, onde a população rural diminuiu em 760 mil pessoas, número
maior do que o total de imigrantes do estado e o dobro do de nordestinos. Em GO tam-
bém diminuiu a população rural (menos 23 mil pessoas), mas o fluxo de nordestinos teria
sido em torno de 180 mil. Em MS e MT a população rural aumentou pouco mais de 6%
com números absolutos bem próximos aos dos imigrantes.
Já na região NO, em que a população rural aumentou 8% (309 mil pessoas) o fluxo
nordestino (cerca de 300 mil pessoas) distribuiu-se entre todos os estados que também
ampliaram a população rural, e se concentraram no PA (cerca de 180 mil). Neste estado,
fiz um teste sobre a região Sudeste, que foi a que mais cresceu – em termos econômicos
e demográficos – mas que se caracterizou pela forte presença da mineração em Carajás,
da pecuária latifundiária e da subsistência rural. Dado o pouco emprego gerado pela
mineração e pela pecuária, é surpreendente que 90% do crescimento da população total
foi urbano.
Estes fatos apontam para a grande diversidade das determinações regional e urbana
que ocorreu nos últimos períodos, tanto em termos econômicos, quanto ocupacionais e
demográficos, o que está exigindo uma série de pesquisas específicas para tentar explicar
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esses fatos e, quiçá, poder estimular a elaboração e posta em prática de políticas públicas
para enfrentar os graves problemas regionais e urbanos do país.
É sabido que vários indicadores sociais no Brasil têm melhorado, mas não se sabe o
quanto dessa melhora se deve à efetividade de políticas públicas e quanto ao fato de que
nossa estrutura etária mudou muito, diminuindo fortemente certas demandas sociais. Por
exemplo, quanto da “melhoria” do grau de atendimento educacional nos últimos 20 anos
se deve à política educacional e quanto se deve ao simples fato de que entre 1991 e 2010
o número de crianças com menos de 10 anos de idade se reduziu em 15%, ou seja, porque
temos hoje 5,2 milhões delas a menos.
Contudo, e pensando no futuro, já ingressamos, há vários anos, em um processo que
nos está conduzindo a um expressivo amadurecimento e envelhecimento da população bra-
sileira, e isto nos traz a certeza de que no futuro teremos duas questões muito importantes
que deveriam, desde já, ser analisadas:
s as demandas sociais estão crescendo e vão crescer ainda mais, pois o grupo etário maior
de 60 anos dobrou, aumentando em 10 milhões de pessoas, e isto pressiona fortemente
os gastos com saúde, assistência social e previdência, muito mais do que se fossem 10
milhões de crianças;
s o grupo entre 14 e 65 anos cresceu 46% ou 39 milhões de pessoas em idade de traba-
lhar, e também crescerá ainda mais nos próximos anos, pressionando energicamente o
mercado de trabalho.
PROPOSTAS DE INVESTIGAÇÃO
As propostas de pesquisa que seguem terão a periodização aqui anunciada, ou, quan-
do for o caso, terão uma periodização específica.
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30 Cano (2008). A pesquisa a que me referi30 e que estou usando largamente neste texto, informa
várias questões sobre as novas determinações, particularmente as emanadas do aparelho
produtivo, que vem sofrendo alterações estruturais ao longo do período 1970-2003. Con-
tudo, é preciso examinar outras, que não foram objeto daquela pesquisa ou que, por suas
especificidades, foram tratadas de modo parcial ou pouco detalhado.
A guerra fiscal e a desindustrialização, embora já tenham sido objeto de vários es-
tudos e pesquisas, se ressentem ainda da falta de dados concretos sobre seus efeitos. São
exemplos: que fins esses processos têm sobre os custos de inversão e de produção e da
rentabilidade privada? Eles seriam rentáveis e competitivos sem os incentivos recebidos?
Em que medida estes investimentos incentivados pela guerra fiscal são do tipo footloose,
e, portanto podem ter uma temporalidade mais curta? As destruições causadas por esse
processo e pela desindustrialização são reversíveis? Sob que condições? Lideranças empre-
sariais desaparecidas, empresas falidas ou alienadas, elos eliminados de cadeias produtivas,
mercados externos perdidos, podem ser facilmente recriados?
Ainda, pode-se especular sobre a Zona Franca de Manaus, instituição peculiar, pois
que, como Zona Franca, deveria ser exportadora líquida para o exterior, mas que na
realidade é deficitária, desde sua origem. Se o modelo macroeconômico nacional fosse
alterado, diminuindo drasticamente a abertura e desvalorizando o câmbio, haveria condi-
ções para sua reversão?
Os dados do comércio interestadual depois de 1985 ficaram ainda mais precários
propositadamente ocultos ou de pobre informação, face aos problemas políticos gerados
por sua divulgação, frente à guerra fiscal. Os do comércio exterior de cada UF são for-
necidos pelo Ministério do Desenvolvimento, para o período posterior a 1989 e foram
objeto de recente pesquisa que analisou seus impactos estruturais sobre a economia e a
urbanização das várias UFs, mas requerem ainda um aprofundamento analítico sobre o
emprego e a renda, e, no período posterior a 2003, sobre o efeito negativo do crescimento
31 A pesquisa referida é desproporcional das importações.31
a da Tese de Livre Docên-
cia de Fernando M. Mota
Essa pesquisa mostra, por exemplo, que as exportações do PA representam 90%
(2010) que mostra forte das do NO, mas as importações do Amazonas (ZFM) totalizam cerca de 90% da região,
elevação dos coeficientes
de exportação e de importa- mostrando impactos distintos nesses dois estados. Indica ainda que as exportações de pro-
ção. Contudo, as mudanças dutos básicos em recursos naturais têm elevado peso no total exportado pelo NO (80%),
metodológicas das CRs, al-
terando valores e estrutu- NE (60%) e CO-DF (905%). Já os produtos industriais predominam nas exportações do
ras dos PIBs regionais e a Sul e SP, e as importações de manufaturados estão fortemente presentes em praticamente
valorização cambial podem
distorcer muito os valores todas as UFs.
desses coeficientes. Os da-
dos anteriores a 1989 estão
Essas e as questões abaixo devem constituir uma pesquisa sobre as determinações do
contidos em antigas publica- crescimento regional:
ções do IBGE ou do Banco
Central, mas envolvem pro-
s principalmente para o período mais recente, analisar as mudanças nas estruturas pro-
blemas metodológicos sobre dutivas e de emprego das regiões;
a origem estadual de várias
dessas exportações. s a expansão da produção nas áreas de fronteira agropecuária e mineral: regiões NO,
CO-DF e os cerrados da BA, PI e MA;
s a forma e os resultados da profunda reestruturação agrária e agrícola que se verificou
nos estados do PR e RS, com a implantação e expansão do complexo soja-trigo;
s surgimento ou expansão de novos pontos de concentração de atividades que não
existiam em seus respectivos novos espaços. São exemplos: a forte expansão da ativi-
dade petrolífera nas regiões norte fluminense, sul do ES, e litoral de SE e do RN; a
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Abstract Between 1930 and 1980, urbanization process, domestic market in-
tegration and regional development in Brazil were basically determined by the combination
of industrialization process, macroeconomic and regional development policies. After 1980,
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as a result of the so called “Lost decade” and the implementation of neoliberal policies, those
determinants were significantly modified by the new paths of external insertion, overvalued
exchange rate, high interest rates, and “fiscal war” between regions. Beyond those weakened
previous determinants, new ones have aroused; some are national and others specific to each
region. Despite the changes in the determinants mentioned above, the harmful side-effects of
the economic growth and urbanization processes have affected the whole national territory. As
a conclusion, the article proposes a Research Agenda focused on regional and urban subjects
for the period 1980-2010 in order to better understand how those determinants have affected
these processes.
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