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Análise do Capítulo 115 das Crónicas de D. João I

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Análise do capítulo 115

ANÁLISE DO CAPÍTULO 115 DA CRÓNICA


DE D. JOÃO I DE FERNÃO LOPES
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina de Português do 10.º ano de
escolaridade como objetivo de analisar o capítulo 115 (Fernão Lopes, Crónica de D. João I).
Fernão Lopes, escritor português, exerceu alguns trabalhos ligados à literatura e ao aquivo
geral do reino. Entre esses destacou-se a sua função enquanto cronista, para a qual foi escolhido
por D. Duarte, tendo-lhe sido atribuída a tarefa de colocar em crónica os reinados dos antigos
reis de Portugal, nomeadamente o do D. João I, Mestre de Avis.
Entre 1383 e 1385, após a morte de D. Fernando, iniciou-se, em Portugal, uma crise dinástica.
Como D. Fernando não tinha outros filhos, D. Beatriz era herdeira do trono, o que causou
preocupação no povo português devido ao seu matrimónio com D. João I, Rei de Castela, pois
ameaçava a independência de Portugal caso este ascendesse ao trono. Assim, o povo
influenciado pela burguesia, opôs-se à ascensão de D. João I, Rei de Castela, ao trono português
e pretendia que o novo rei fosse D. João, Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro. Esta
oposição originou entre outras situações o cerco de Lisboa pelo reino castelhano.
O capítulo baseia-se na preparação de Lisboa e na reação do povo português ao ataque
comandado pelo Rei de Castela (o cerco) e cujo exército está cada vez mais próximo da cidade.
Como resultado, o povo prepara-se para o cerco e começa a recolher mantimentos (trigo e carne)
e a salgar a carne para que se mantenha em condições de ser consumida durante um período mais
longo. Algumas pessoas refugiaram--se dentro das muralhas da cidade, focando-se depois na
defesa da cidade. Contudo, por precaução e receio, alguns optaram por ficar nas cidades já sob
domínio castelhano.
A informação dada sobre o que se passava dentro das muralhas, é altamente detalhada; o povo
começou a preparar a cidade para a vinda do Rei de Castela, tendo sido feita a reparação das
muralhas, a proteção das 77 torres e foram também fornecidas armas (escudos, lanças, dardos e
armas de longo alcance). Existiam 38 portas na cidade e 12 delas estavam abertas o dia todo,
havendo homens com armas que tinham de as guardar. Pessoas desconhecidas não entravam,
nem saíam, sem se saber por que razão vinham. O Mestre ordenou que a guarda da cidade fosse
repartida, ou seja distribuída, tendo confiado as chaves e os muros da cidade a homens da sua
confiança (fossem nobres ou burgueses). Havia, também, durante a noite, a chegada de
mantimentos (“taes horas iam e viinham d’aalem com trigo e outros mantimentos”).
Fora das muralhas, também foi necessário proteger a margem do rio, pois não se sabia se os
castelhanos viriam por lá. Porém, sendo um cerco, supuseram que viessem por todos os lados.

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Assim, construíram cercas de estacas de maneira que os castelhanos não


conseguissem passar nem de cavalo, nem a pé.
Para além de todas as estratégias de proteção, a união do povo e a consciência coletiva criada
foram elementos cruciais para a defesa da cidade. Todos se juntaram para lutar pelos mesmos
objetivos, defender a cidade e derrotar o Rei de Castela. Quando tocava o sino, os responsáveis
pela defesa, outras gentes da cidade e os artesãos corriam todos com as armas, para onde os
castelhanos estavam, mostrando assim coragem e determinação para os enfrentar (“Em cada
quadrilha havia uũ sino pera repicar quando tal cousa vissem, e como cada uũ ouvia o sino da
sua quadrilha, logo todos rijamente corriam para ela”), inclusive os membros do clero
participaram na proteção da cidade (“mas clérigos e frades, especialmente Trindade, logo eram
muros, com as melhores que haver podiam.”), apesar de o clero não dever utilizar armas. Nota-se
também que não havia rebeldes, estavam sempre todos prontos para fazer o que lhes mandavam
de forma bem organizada e cuidadosa. Porém, independentemente de todas as precauções
impostas, Mestre de Avis, preocupado, confirmava de noite se as muralhas e as portas estavam
seguras. Depois, levava as chaves a Paaços, onde se hospedava um homem em quem ele
confiava muito e entregava-as.
A atitude das gentes da cidade de Lisboa, que construíram muros ao mesmo tempo que
protegeram a cidade, é comparada pelo narrador, no parágrafo 12, com os filhos de Israel que
fizeram o mesmo na cidade de Jerusalém, evidenciando-se a determinação e a bravura da
população portuguesa (“e os Portugueses fazendo tal obra, tinham as armas junto consigo, com
que se defendiam dos ẽmigos quando se trabalhavom de os embargar, que a nom fizessem.”).
Evidencia-se também no mesmo, os grupos sociais – atores coletivos – que construíram um muro
à volta das muralhas da cidade e a ajuda das mulheres que, sem medo, apanharam pedras pelas
herdades e entoaram cantigas a louvar Lisboa (“e as moças sem neuũ medo, apanhando pedra
pelas herdades, cantavom altas vozes”).
Por fim, o narrador elogia o Rei de Castela e o seu exército, mas realça o feito da população
da cidade de Lisboa na preparação para o cerco, lutando com as suas armas e os seus cuidados
pela guarda da cidade e a sua defesa. Indica também que todos os portugueses trabalhavam de
maneira harmoniosa, sem causar alaridos, tendo sempre um objetivo em comum: a
independência de Portugal.
Apesar de não estar descrito neste capítulo, sabemos que a cidade de Lisboa resistiu ao cerco,
levantado a 3 de setembro, pelos castelhanos, devido à peste negra. A 3 de março de 1385,
Mestre de Avis chega a Coimbra e é aclamado rei de Portugal a 6 de abril de 1385.
Ao longo deste capítulo apercebemo-nos de algumas marcas próprias do autor como a
linguagem e estilo do mesmo, nomeadamente: o coloquialismo, evidente nos apelos ao
locutor/interlocutor, no uso da 2ª pessoa do plural e na linguagem popular e carregada de
insinuações (“Ali viriees os muros cheos de gentes”); a descrição viva e dinâmica, durante o
texto o autor descreve pormenores dos preparativos da defesa, tal como recorre também ao
vocabulário técnico e a recursos expressivos; e a visualização, ou seja, Fernão Lopes escrevia o
texto de forma a que nos fosse possível visualizar o lugar, as pessoas, a defesa da cidade, tudo
aquilo que ele estava a descrever, da maneira mais real possível (rigor da pormenorização) (“Os
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muros todos da cidade nom haviam mingua de boom repairamento; e em seteenta e


sete torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes caramanchões de madeira, os quaes
eram bem fornecidos d’escudos e lanças e dardos e bestas de torno, e doutras maneiras com
grande avondança de muitos viratões.”). Outras marcas próprias do autor são os aspetos
estéticos-formais tais como a enumeração (“com camas e ovos e estopas, e lenções velhos para
romper; e celorgiam, e triaga, e outras necessárias cousas”) e a adjetivação (“Ó que fremosa
cousa”, “tam nobre cidade”, “tam fermoso cerco”).
Ao analisarmos este capítulo apercebemo-nos que foram vários os momentos da história do
mundo em que houve união da população para conseguir um objetivo comum. Podemos, por
exemplo, relacionar com um acontecimento mais recente, o movimento dos direitos civis nos
Estados Unidos. Tal como no capítulo analisado, no qual se destacou a união do povo, o
movimento dos direitos civis ficou marcado por manifestações populares pacíficas que levaram a
alterações na sociedade civil em países de todos os continentes, mas principalmente nos Estados
Unidos da América. Estas manifestações evidenciaram o espírito de solidariedade que havia
entre as pessoas. Uma outra semelhança entre estes dois acontecimentos é a liderança: enquanto
que no capítulo conseguimos observar a liderança de Mestre de Avis, no movimento de direitos
civis vemos a liderança por parte de Martin Luther King Jr.. Um pastor batista e ativista político
norte americano que se tornou a figura mais elevada e líder do movimento dos direitos civis nos
Estados Unidos, dando uma voz a todos aqueles que não tinham ou não a sabiam usar.
Em conclusão, apercebo-nos da importância de Fernão Lopes enquanto cronista para a
história de Portugal, pois como na altura não havia câmaras fotográficas, filmes e etc., a escrita
de Fernão Lopes ajuda-nos a saber, perceber e visualizar aquilo que acontecia naquela época:
“Fernão Lopes é bem uma espécie de "repórter" dos acontecimentos que narra (e que não
presenciou, ainda que, ao lê-lo, possamos ter a ideia de que, como qualquer bom repórter, ele
viu, ouviu, esteve lá, falou com os intervenientes). De facto, e concluindo, ele conta-nos a
História como quem conta histórias.” Além disso, o escritor tinha a intenção de separar as lendas
dos factos reais, tinha cuidado com o rigor histórico, consultando várias fontes e ainda pretendia
dar prioridade ao povo.

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Bibliografia

 Silva, Pedro., Cardoso, Elsa., Nunes, Susana Ribeiro. (2021). Letras em dia 10. Porto:
Porto Editora.
 Ruivo, Alexandra., Ribeiro, Clara., Gaspar, Maria do Céu. (2021). Lugares em Português
10. Lisboa: Raiz Editora.
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_dos_direitos_civis
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther_King_Jr.
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_din%C3%A1stica_de_1383%E2%80%931385
 https://www.infopedia.pt/$crise-de-1383-1385
 https://www.todamateria.com.br/fernao-lopes/
 https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7884/e511861/portugues-10-ano
 PowerPoint disponibilizado pela professora no Teams.

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