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AnaliseEconomicoFinanceira_Barbosa_2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

YURI HENRIQUE DE SOUSA BARBOSA

ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA COSERN DIANTE


DO PERÍODO DE PANDEMIA: UM ESTUDO DE CASO

NATAL
2021
YURI HENRIQUE DE SOUSA BARBOSA

ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA COSERN DIANTE


DO PERÍODO DE PANDEMIA: UM ESTUDO DE CASO

Monografia apresentada à Banca Examinadora do


Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências
Contábeis, em cumprimento às exigências legais
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientador: Prof. Dr. Adilson de Lima Tavares

NATAL
2021
FICHA CATALOGRÁFICA

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN


Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Barbosa, Yuri Henrique de Sousa.


Análise econômico-financeira da COSERN diante do período de
pandemia: um estudo de caso / Yuri Henrique de Sousa Barbosa. -
2021.
41f.: il.

Monografia (Graduação em Ciências Contábeis) - Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, Curso de Ciências Contábeis. Natal, RN, 2021.
Orientador: Prof. Dr. Adilson de Lima Tavares.

1. Análise Econômico-Financeira - Monografia. 2. Setor


Elétrico - Monografia. 3. Covid-19 - Monografia. I. Tavares,
Adilson de Lima. II. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. III. Título.

RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 657.1

Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355


FOLHA DE APROVAÇÃO

YURI HENRIQUE DE SOUSA BARBOSA

ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA COSERN DIANTE


DO PERÍODO DE PANDEMIA: UM ESTUDO DE CASO

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências


Contábeis, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Ciências Contábeis.

Aprovada em 13 de setembro de 2021.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Dr. Adilson de Lima Tavares - Orientador

_______________________________________
Prof. Dr. Clayton Levy Lima de Melo
Membro da Banca

_______________________________________
Prof. Dr. Renato Henrique Gurgel Mota
Membro da Banca
AGRADECIMENTOS

De início, agradeço a Deus pela saúde, persistência, determinação e motivação para alcançar o
objetivo pretendido, espero que ocorra tudo bem, conforme o planejado. Foi difícil, “mas quem
falou que seria fácil?!”.
Agradeço também aos familiares, namorada e a todos que de alguma forma contribuíram para
o processo, mesmo impondo adversidades, as quais serviram de motivação.
Obrigado professor Adilson, que me forneceu o suporte necessário para a conclusão da
monografia.
Por fim, agradeço a mim mesmo, afinal o presente trabalho precisou de um pesquisador e
redator.
Sigamos firmes até o objetivo!
RESUMO

Em março de 2020, a OMS declarou oficialmente a pandemia do Coronavírus (COVID-19), o


qual trouxe consigo diversos impactos, desde sociais a financeiros, afetando não só as pessoas
físicas, mas também as jurídicas. Nesse sentido, as empresas foram acometidas por mudanças
no mercado que exigiram readequações para enfrentar o novo cenário. Em meio a esse contexto,
considera-se relevante analisar os impactos sofridos pelas entidades durante o período em
questão, tendo em vista a crise sanitária envolvida. Por isso, o presente trabalho teve por
objetivo analisar os impactos econômico-financeiros em uma empresa situada no setor elétrico
brasileiro, responsável por grande parte do fornecimento de energia elétrica no Rio Grande do
Norte. Para alcançar tal propósito, utilizou-se a análise das demonstrações contábeis com base
em indicadores de rentabilidade, estrutura de capitais e liquidez, a partir dos dados trimestrais
relativos ao período entre 2019 e 2020. No que tange à metodologia da pesquisa, conforme a
classificação adotada por Beuren e Raupp (2006), quanto aos objetivos caracteriza-se como
descritiva, quanto aos procedimentos, estudo de caso, e, quanto à abordagem do problema,
quali-quantitativa. Os resultados encontrados apontaram que mesmo diante do cenário
desfavorável – aumento de inadimplência, queda no mercado consumidor, entre outros – a
empresa evoluiu durante o período: tornou-se mais rentável, uma vez que melhorou a geração
do lucro líquido a partir do uso dos seus recurso; reduziu seu endividamento, apesar das dívidas
de curto prazo terem ascendido ao longo dos últimos trimestres; e também evoluiu sob o aspecto
da liquidez, embora a liquidez corrente tenha apresentado queda nos últimos trimestres diante
da concentração das dívidas no curto prazo.

Palavras-chave: Análise econômico-financeira; Setor elétrico; COVID-19.


ABSTRACT

In March 2020, the WHO officially declared the Coronavirus pandemic (COVID-19), which
brought with it several impacts, from social to financial, affecting not only individuals, but also
legal entities. In this sense, companies were affected by changes in the market that required
readjustments to face the new scenario. In the midst of this context, it is considered relevant to
analyze the impacts suffered by the entities during the period in question, in view of the health
crisis involved. Therefore, this study aimed to analyze the economic and financial impacts on
a company located in the Brazilian electricity sector, responsible for a large part of the supply
of electricity in Rio Grande do Norte. To achieve this purpose, the analysis of the financial
statements based on profitability, capital structure and liquidity indicators was used, based on
quarterly data for the period between 2019 and 2020. Regarding the research methodology,
according to the classification adopted by Beuren and Raupp (2006), regarding the objectives,
it is characterized as descriptive, regarding the procedures, case study, and, regarding the
approach to the problem, quali-quantitative. The results found showed that even in the face of
an unfavorable scenario - increase in default, drop in the consumer market, among others - the
company evolved during the period: it became more profitable, as it improved the generation
of net income from the use of your resource; reduced its indebtedness, although short-term
debts have risen over the past few quarters; and it also evolved in terms of liquidity, although
current liquidity has decreased in recent quarters due to the concentration of short-term debt.

Keywords: Economic-financial analysis; Electrical sector; COVID-19.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Indicadores de rentabilidade...................................................................................30


Tabela 2 – Média anual dos indicadores de rentabilidade.......................................................30
Tabela 3 – Indicadores de estrutura de capitais.......................................................................33
Tabela 4 – Média anual dos indicadores estrutura de capitais..................................................33
Tabela 5 – Indicadores de solvência e liquidez........................................................................36
Tabela 6 – Média anual dos indicadores de solvência e liquidez............................................36
Tabela 7 - Dados coletados nas ITR’s e utilizados no cálculo dos índices..............................43
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Retorno sobre o patrimônio líquido........................................................................30


Gráfico 2 – Retorno sobre o ativo..............................................................................................31
Gráfico 3 – Retorno sobre vendas.............................................................................................31
Gráfico 4 – Endividamento.......................................................................................................33
Gráfico 5 – Composição do endividamento..............................................................................34
Gráfico 6 – Dependência financeira..........................................................................................34
Gráfico 7 – Liquidez geral........................................................................................................36
Gráfico 8 – Liquidez corrente...................................................................................................37
Gráfico 9 – Liquidez imediata...................................................................................................38
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Número de consumidores.......................................................................................20


Figura 2 – Desempenho Econômico-Financeiro......................................................................21
LISTA DE SIGLAS

AC – Ativo circulante
ANC – Ativo não circulante
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
COSERN – Companhia de Energia Elétrica do Rio Grande do Norte
DRE – Demonstração do resultado do exercício
EBITDA – Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
ITR – Formulário de informações trimestrais
LL – Lucro líquido
MEI – Micro Empreendedor Individual
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico
PC – Passivo circulante
PECLD – Perdas estimadas com créditos de liquidação duvidosa
PIB – Produto Interno Bruto
PL – Patrimônio líquido
PNC – Passivo não circulante
ROA – Retorno sobre ativos
ROE – Retorno sobre o patrimônio líquido
RSV – Retorno sobre vendas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................................................ 13
1.2 OBJETIVOS .................................................................................................................. 14
1.2.1 Geral ....................................................................................................................... 14
1.2.2 Específicos ............................................................................................................. 14
1.3 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 16
2.1 CRISE SANITÁRIA DA COVID-19 ............................................................................ 16
2.2 SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA.............................................................................. 18
2.3 COSERN........................................................................................................................ 20
2.4 ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA.................................................................... 22
2.4.1 Rentabilidade e Lucratividade................................................................................ 24
2.4.1.1 Retorno sobre o PL (ROE) ............................................................................. 24
2.4.1.2 Retorno sobre o Ativo (ROA) ........................................................................ 24
2.4.1.3 Margem líquida (Retorno sobre vendas) ........................................................ 24
2.4.2 Estrutura de capitais ............................................................................................... 25
2.4.2.1 Endividamento................................................................................................ 25
2.4.2.2 Composição do endividamento ...................................................................... 25
2.4.2.3 Dependência financeira .................................................................................. 26
2.4.3 Solvência e liquidez ............................................................................................... 26
2.4.3.1 Liquidez geral ................................................................................................. 26
2.4.3.2 Liquidez corrente ............................................................................................ 27
2.4.3.3 Liquidez Imediata ........................................................................................... 27
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 28
3.1 TIPOLOGIA DO ESTUDO........................................................................................... 28
3.2 AMOSTRA UTILIZADA NA PESQUISA .................................................................. 29
3.3 COLETA DOS DADOS ................................................................................................ 29
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................................ 30
4.1 RENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE .................................................................. 30
4.2 ESTRUTURA DE CAPITAIS ....................................................................................... 33
4.3 SOLVÊNCIA E LIQUIDEZ .......................................................................................... 36
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 39
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 41
13

1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
Desde de 11 de março de 2020, o mundo enfrenta um dos episódios mais catastróficos
dos últimos tempos, marcado pela declaração de pandemia do Coronavírus (COVID-19) pela
organização mundial da saúde (OMS). De acordo com o Ministério da Saúde (2020), A
COVID-19 é uma infecção respiratória provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, de elevada
transmissibilidade e de distribuição global. Segundo dados divulgados no portal do Ministério
da saúde (2020), no final de 2020 mais de 7 milhões de casos já tinham sido confirmados.

Diversos são os setores afetados em decorrência da calamidade atual. Altas taxas de


desemprego, economia instável, cofres públicos afetados. Para combater esse estado de
calamidade, os governos destinaram grande parte do seu orçamento para a área da saúde. No
Brasil, os gastos extraordinários destinados para o enfrentamento da pandemia em 2020
atingiram a marca de 26,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país (MINISTÉRIO DA
ECONOMIA, 2020).

As empresas também estão sendo impactadas. No setor elétrico, a Agência Nacional de


Energia Elétrica (ANEEL) precisou intervir com propostas para que o serviço de distribuição
de energia se adequasse à realidade financeira dos cidadãos. As estimativas feitas pela agência
indicam perda de 6,3% na arrecadação média do setor de distribuição elétrica. No entanto, as
empresas também possuem obrigações fixas de curto prazo que precisam ser liquidadas, para
isso a obtenção de empréstimos junto a bancos contribui para que as empresas possam se manter
financeiramente e operacionalmente (ANEEL, 2020).

Nesse contexto, o cenário econômico-financeiro global vem sofrendo mudanças, as


quais precisam ser estudadas e detalhadas. Para tal, a contabilidade pode ser utilizada como
ferramenta para mensurar e avaliar os resultados obtidos diante desse cenário, principalmente
no segmento de análise das demonstrações contábeis.

Diante disso, a análise das demonstrações contábeis, por meio da observação e do


confronto entre os elementos patrimoniais e de resultado das operações, visa o conhecimento
detalhado da composição qualitativa e quantitativa da entidade. Além disso, possibilita revelar
fatores antecedentes e determinantes da situação atual, servindo de ponto de partida para
delinear um comportamento futuro da companhia (OLIVEIRA et al., 2010).
14

Vale salientar que a forma de análise varia conforme o segmento de cada empresa, tendo
em vista sua natureza, mercado no qual está inserida, objetivos, entre outros aspectos. Posto
isso, o presente trabalho busca analisar o comportamento de uma empresa pertencente ao setor
elétrico em meio ao cenário de pandemia atual, a partir de um estudo de caso da Companhia
energética do Rio Grande do Norte (Cosern), objetivando responder ao seguinte
questionamento: quais as variações sofridas pela empresa em relação a seus indicadores
econômico-financeiros, tendo em vista a crise sanitária da COVID-19?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral
O objetivo geral do trabalho é realizar uma análise econômico-financeira da Companhia
Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), com base nos dados trimestrais do período de
2019 a 2020, e demonstrar as variações patrimoniais, citadas no tópico anterior, pela empresa
durante o período de pandemia da COVID-19.

1.2.2 Específicos

• Demonstrar a variação da composição patrimonial da empresa;


• Analisar as alterações na rentabilidade (índices de retorno), na estrutura de
capitais (capitais próprios e de terceiros) e na liquidez.
• Discutir sobre as consequências dessas variações para a empresa

1.3 JUSTIFICATIVA
Os impactos da pandemia manifestaram-se em diversas áreas, provocando danos que
não foram reparados em sua totalidade e precisam ser estudados. Não se trata, todavia, somente
de aspectos sanitários ou sociais, mas também econômico-financeiros.

Além disso, o período exigiu adaptações cultuais e profissionais. O trabalho remoto


aumentou significativamente durante o período de pandemia: em setembro de 2020, eram quase
8 milhões de pessoas trabalhando remotamente (IBGE, 2020). Evidentemente, essa modalidade
de trabalho possibilita ao funcionário exercer suas atividades de um modo mais flexível, estando
em casa ou em outro lugar, fato que pode refletir inclusive no bolso do trabalhador. Por não
estar no seu ambiente natural de trabalho, ele será o responsável por arcar com os custos do
local, inclusive relacionado ao consumo de energia elétrica.
15

Tratando-se de energia elétrica, atualmente seu uso é indispensável, inclusive para as


atividades mais rotineiras e básicas. Além da dependência doméstica, seu uso é bastante
recorrente no setor de saúde – na sua falta as cirurgias correm risco, os respiradores são
desligados e a higiene é ameaçada. Diante disso, a falta de energia pode resultar perdas
financeiras substanciais e representar uma ameaça à segurança (VASCONCELOS et. al, 2020).

Devido à importância da energia elétrica, o governo brasileiro, juntamente com a Aneel


adotaram medidas para que a prestação desse serviço essencial não fosse interrompida, nem
mesmo para os que estavam inadimplentes. Tal medida foi contemplada pela Resolução
Normativa nº 878/2020 da Aneel (2020), a qual vedou a suspensão do fornecimento de energia
elétrica de algumas unidades consumidoras, dentre elas as residenciais de baixa renda, tendo
em vista o estado de calamidade reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de
2020.

Dessa forma, as companhias voltadas para o fornecimento de energia elétrica certamente


sofreram variações financeiras que precisam ser estudadas, sendo imprescindível a abordagem
da análise contábil. Outrossim, por se tratar de um assunto atual, seus efeitos ainda não foram
muito estudados, havendo uma escassez de trabalhos na área, apesar da sua relevância social.

Posto isso, o presente trabalho justifica-se por abordar um tema relacionado a um


serviço essencial, o qual é indispensável para as atividades humanas, e que está exposto a
variações econômico-financeiras em razão do estado de calamidade pública. Nesse sentido,
constatou-se a necessidade de realizar um estudo com o intuito de analisar como a situação
econômico-financeira de uma empresa do setor de energia elétrica comportou-se no período
entre 2019 e 2020, tendo em vista todos os fatos anteriormente citados relacionados à crise
sanitária e ao contexto econômico-financeiro. Para tal, selecionou-se a Companhia de Energia
Elétrica do Rio Grande do Norte (Cosern), uma das responsáveis pela distribuição de energia
elétrica na região nordeste do país. Esse tipo de pesquisa pode ser relevante para a sociedade,
consumidora primária dos serviços, e para a própria empresa, que pode usufruir da análise
contábil para melhor gerir seu patrimônio e embasar as tomadas de decisões.
16

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CRISE SANITÁRIA DA COVID-19
O Corona vírus pertence à família de vírus Coronaviridae, isolados inicialmente em
1939, mas denominados como tal apenas em 1965. Eles possuem como característica marcante
a propagação de infecções respiratórias. Diversos são seus membros, alfa coronavírus (HCoV-
229E, beta coronavírus (HCoV-HKU1), entre outros. No entanto, o novo integrante que ganhou
destaque no final de 2019 devido aos casos registrados na China foi o SARS-CoV-2,
responsável pela COVID-19 (LIMA, 2020, p.5).

A pandemia foi decretada oficialmente pela OMS em 11 de março de 2020. Todo esse
cenário inesperado elevou o grau de incertezas quanto ao seu enfrentamento e medidas para
combatê-la. Nesse tipo de situação, com ânimes exaltados e questionamentos sem respostas, os
efeitos econômico-sociais são muito radicais e precisam ser controlados, por meio da
cooperação no âmbito nacional e internacional.

Na visão de Pires, as autoridades sanitárias internacionais, em consonância com diversos


governos, têm convergido na implementação de ações, as quais podem ser agrupadas sob três
estratégias: recomendação ou determinação do isolamento e distanciamento social; ampliação
da capacidade de atendimento dos serviços de saúde; e medidas de apoio econômico a cidadãos,
famílias e empresas (PIRES, 2020).

Com relação aos aspectos sociais, estes foram os que mais sofreram alterações ao
decorrer do avanço da COVID-19. O distanciamento social foi amplamente divulgado por
diversos governos municipais e estaduais, o que impacta de imediato as relações íntimas de
afeto entre pessoas próximas. De forma mediata, as relações de trabalho também sofreram
alterações. Por questões de espaço físico muitas empresas/instituições adotaram o trabalho
remoto como forma de garantir o distanciamento social entre os empregados e coibir o avanço
da pandemia.

No entanto, ao aplicar isso à realidade brasileira percebe-se a dificuldade em adotar tais


medidas, tendo em vista aspectos culturais e financeiros, que são requisitados para quaisquer
mudanças de padrões. Conforme afirma Pires (2020, p.8), para aderir ao confinamento
domiciliar, é pressuposto que todas as pessoas possuem um local de residência com condições
minimamente adequadas, porém, as condições das moradias da população brasileira estão
distantes da expectativa.
17

Segundos dados do IBGE (2020), devido ao distanciamento social, no início de


maio/2020 cerca de 15 milhões de pessoas haviam sido afastadas do trabalho, dos quais a maior
proporção foi de militares e servidores estatutários. Tais mudanças foram acompanhadas de
inovações no ambiente de trabalho e adoção crescente da tecnologia, sendo indispensável para
a comunicação social e profissional.

Do ponto de vista Social, especificamente da educação, as mudanças de rotina


agravaram ainda mais os problemas relacionados ao ensino. Devido ao distanciamento social,
o ensino remoto foi uma alternativa encontrada para não interromper o período letivo. No
entanto, por demandar certos recursos tecnológicos que muitas vezes não estão em posse de
todos os estudantes, acabaram dificultando a aprendizagem de alguns e demonstrando as
desigualdades existentes no país.

Os impactos da pandemia na formação do capital humano podem divergir conforme os


níveis de renda. Ao utilizar o ensino remoto, fatores como a falta de acesso à internet,
computadores, ambiente adequado para o estudo, podem provocar impactos ainda mais
negativos para crianças de baixa renda. Acompanhar os resultados dos grupos mais afetados
por esse fator pode ser um caminho para entender se as desigualdades no aprendizado foram
agravadas em tempos de pandemia (CARDOSO; MAGALHÃES, 2020).

No que tange ao cenário econômico, é de se esperar que diante de tantas incertezas seja
um dos mais afetados. É evidente que cada setor responde de uma forma diferente à medida em
que seus produtos ou serviços são comprometidos.

O setor varejista, um dos mais importantes no cenário da economia brasileira, tendo em


vista a alta taxa de empregos formais e amplo crescimento, no estado do Rio de Janeiro teve
uma queda de 29% no início do mês de abril, segundo estudo da Federação de Comércio, Bens,
Serviços e Turismo do Rio de Janeiro. Além disso, durante o período os empreendedores
registraram queda de 50% na demanda (OLIVEIRA, 2020, apud COSTA; MEIRELIS, 2021,
p. 318).

Setores que podem deixar os clientes em situação de vulnerabilidade, por demandarem


certas práticas que contrariam medidas de distanciamento e de higiene, tiveram quedas no
consumo e tiveram que reorganizar sua estrutura. O ramo de alimentos e bebidas é um exemplo
dessa situação. De acordo com Costa e Meirelis (2021, p.320), a partir de pesquisas da
Associação Nacional de Restaurantes, em abril de 2020 o setor de restaurantes já contava com
18

mais de 1 milhão de demissões e queda de faturamento de 70% na segunda quinzena de maio


em relação à primeira.

O governo brasileiro adotou uma série de medidas para atenuar os impactos da


pandemia. Houve prorrogações de recolhimento de parcelamentos especiais do simples
nacional, por meio da resolução CGSN 155, além da postergação de entrega da declaração de
impostos de renda pessoa física, presente na IN RFB 1.934, dentre outras medidas
(MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2020). Tais medidas visaram manter o equilíbrio econômico-
financeiro dos cofres públicos sem, no entanto, prejudicar a saúde financeira dos contribuintes.

Vale salientar que o Brasil mesmo antes do período de pandemia já enfrentava


problemas econômico-sociais. O crescimento médio anual do PIB desde 2011 a 2019 é de 0,6%,
valor pequeno se comparado à década de 2001 a 2010, a qual registrou 3,7% ao ano. Além
disso, o país enfrenta elevado de desemprego e alta informalidade, os quais foram agravados
durante a crise sanitária (CARDOSO; MAGALHÃES, p.5, 2020).

A adoção de medidas governamentais que amenizassem os efeitos sofridos pela


população foi essencial. Nesse contexto, o Auxílio Emergencial, dentre todas as medidas, foi
sem dúvida o que ganhou mais repercussão nacional e fez diferença nas finanças dos mais
necessitados e afetados durante o período. Ele é tido como um benefício financeiro concedido
pelo Governo Federal cujo objetivo é garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação
vulnerável durante a pandemia. Diversas pessoas puderam solicitar tal direito: os
Microempreendedores Individuais (MEI), contribuintes individuais do INSS, entre outros.
Respeitando os critérios de idade (maior de 18 anos), não possuir emprego formal e respeitar o
teto salarial requisitado – renda mensal per capita até meio salário mínimo ou renda familiar
mensal de até três salários mínimos (MINISTÉRIO DA CIDADANIA, 2021).

2.2 SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA


A energia elétrica atualmente é indispensável para a rotina de qualquer pessoa, e as
empresas do setor elétrico assumem grande responsabilidade pela geração, transmissão e
distribuição dessa energia. A principal fonte de geração desse recurso no brasil advém de usinas
hidráulicas, os reservatórios de água são utilizados de forma planejada, garantindo o proveito
da diversidade de bacias existentes nas diversas regiões geográficas que compõem o território
brasileiro. A dimensão continental do país também contribui ao dar possibilitar a instalação de
diferentes sistemas de transmissão (PIRES, 2000, p.8).
19

Nesse contexto, o setor elétrico brasileiro é regulado pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL), uma autarquia em regime especial com diversas atribuições, dentre elas:
regular a distribuição, produção, e comercialização de energia elétrica. Além disso, exerce
atividades de fiscalização dos serviços prestados por concessionárias e permissionárias nesse
setor (ANEEL, 2020). Na crise atual, a Aneel agiu juntamente com o governo federal para
buscar medidas que possibilitassem o pleno fornecimento de energia aos cidadãos e que
respeitassem a situação financeira.

Posto isso, para atenuar os impactos da pandemia no setor elétrico, a Aneel


regulamentou a “Conta-Covid”. O principal objetivo dessa medida é cobrir déficits e antecipar
receitas de distribuidoras de energia, visando o equilíbrio econômico-financeiro do setor
durante o período de calamidade provocado pelo coronavírus.

Conforme dispõe a Aneel:

Do ponto de vista do consumidor, a Conta-covid foi organizada para evitar reajustes


maiores das tarifas de energia elétrica. O aumento da conta seria muito maior por
efeitos como, principalmente, o reajuste do preço da energia gerada em Itaipu, que
acompanha a variação do dólar; a alta na remuneração das políticas públicas do setor
(via cota da Conta de Desenvolvimento Energético – CDE); e o repasse de custos de
novas instalações de sistemas de transmissão (ANEEL,2020).

Outro órgão que atua diretamente na questão da energia elétrica no Brasil é o Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Essa instituição possui competência de coordenar e
controlar as operações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado
Nacional (SIN) sendo fiscalizada pela própria Aneel. Dentre as competências que lhe são
incumbidas, destacam-se: otimizar a operação do sistema eletroenergético, objetivando redução
de custos e aumento de eficiência sob critérios estabelecidos pela Aneel; garantir a transmissão
de forma ampla a todos; colaborar com a expansão do SIN almejando melhores condições
operacionais no futuro (ONS, 2021).

Embora diversas medidas tenham sido tomadas, uma das fases mais críticas da
pandemia no setor elétrico ocorreu em março de 2021. De acordo com Sousa et. al (2021),
constatou-se alta de 5,5% no quantitativo de consumo no SIN (Sistema Integrado Nacional), a
partir do comparativo anual.

Outrossim, o setor já enfrenta dificuldades em decorrência de inadimplência acumulada,


tendo em vista que a situação financeira dos consumidores foi comprometida durante o período
de pandemia. Com relação a inadimplência acumulada em março de 2021, “O impacto estimado
20

da COVID-19 foi de R$12 milhões, sendo R$6 milhões devido à inadimplência”


(MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2021, apud SOUSA et al., 2021).

2.3 COSERN
A companhia energética do Rio Grande do Norte (Cosern) foi fundada em 1961 e
permaneceu sob controle estadual até 1997, época em que foi privatizada. Atualmente, pertence
ao grupo Neoenergia, que é responsável pela geração, transmissão, distribuição e
comercialização de energia elétrica em diversos estados brasileiros, principalmente na região
nordeste do país. Ademais, a Cosern está presente em 167 municípios potiguares e atende mais
de 3,5 milhões de habitantes (COSERN, 2021).

No que concerne ao número de consumidores, a Cosern obteve um incremento de 1,2%


novos consumidores no período entre 2019 e 2020. Percebe-se também que grande parte do
número de usuários são residenciais, os quais representam 87,6% do total no ano de 2020, de
acordo com o release de resultados da Cosern (2020), conforme a figura abaixo.

Figura 1 – Número de consumidores

Fonte: Cosern (2020).

Outro fator relevante a ser destacado no período em questão é o consumo de energia


elétrica. Tendo em vista as mudanças socioculturais e profissionais aderidas durante a
pandemia, as quais foram comentadas anteriormente, o consumo residencial sofreu algumas
alterações.

De acordo com o release de resultados da Cosern, o consumo residencial apresentou um


aumento de 6,1% no ano de 2020 em relação a 2019. Essa variação deve-se principalmente à
elevação de temperatura no período, pelo crescimento do número de consumidores e pela
prática do trabalho remoto (home-office) bastante utilizado em decorrência da pandemia do
Covid-19 (COSERN, 2020).
21

No entanto, apesar do aumento no consumo residencial, os outros tipos de mercado


seguiram uma lógica inversa. Os demais segmentos do mercado cativo apresentaram
diminuição no consumo de energia. Conforme o release de resultados da Cosern (2020): Classe
industrial (-17,3%), classe comercial (-18,6%), classe rural (6,1%), outros (10,5%)

De acordo com a Cosern (2020) tais variações podem ser explicadas pela redução do
ciclo de leitura do grupo A, que no caso da industrial foi basicamente o maior agente
impactante, e pelas seguintes razões:

• Classe comercial: medidas de isolamento social;


• Classe rural: com o aumento do nível de chuvas a demanda por irrigação diminuiu;
• Outros: isolamento social, fechamento de escolas e uso frequente do home office.

Com relação ao desempenho econômico financeiro, alguns pontos merecem destaque


por demonstrar os impactos nos resultados da empresa durante o período contemplado de 2019
a 2020. As variações observadas a partir da Figura abaixo, são explicadas De acordo com a
Cosern (2020):

• O incremento da despesa operacional de 12 milhões em 2020 comparado a 2019 deve-


se, principalmente, às ações de corte realizadas no período.

• A diminuição da PECLD (Perdas Estimadas por Créditos de Liquidação Duvidosa) em


2020 demonstra a eficácia das ações de cobrança realizadas pela empresa.

• Apesar da evolução do EBITDA (Sigla do inglês que significa Lucro Antes dos Juros,
Impostos, Depreciação e Amortização, LAJIDA) de 11%, ele ainda foi prejudicado
pelos efeitos da Covid-19 em 24 milhões.

Figura 2 – Desempenho Econômico-Financeiro

Fonte: Cosern (2020).


22

Para garantir o fornecimento de energia elétrica de forma integral a todos, a Cosern


possui um projeto denominado “Vale Luz”, o qual funciona desde 2013 beneficiando famílias
mais carentes com descontos na conta de luz. Esse programa é regulado pela Aneel e possui
como finalidade a troca de resíduos recicláveis por descontos na fatura. Nele são aceitos
diversos materiais, tais quais: papelão, jornal, garrafa PET, baldes, latas de refrigerante, etc.
(COSERN,2021).

Para a gerente de Eficiência Energética da Neoenergia, o Vale Luz foi de suma


importância no período pandêmico, principalmente para os consumidores de baixa renda, por
servir de auxílio na redução do valor da conta de energia, gerar economia a partir da troca de
lâmpadas e promover ações de sustentabilidade (COSERN, 2021).

2.4 ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA


A contabilidade surge no contexto da Análise Econômico-Financeira como ferramenta
imprescindível no que tange à avaliação patrimonial, pois de acordo com Oliveira et al. (2010)
ela permite avaliar a situação econômica e financeira de uma organização, além de contribuir
na inferência de tendências futuras. Posto isso, tal ciência tem como objetivo o fornecimento
de informações relevantes e fidedignas no contexto das entidades. Por isso, é amplamente
utilizada ne gerência de qualquer empresa, pois, além da obrigatoriedade, contribui para manter
o controle patrimonial e consequentemente subsidiar a tomada de decisão.

Para atingir alcançar o fim a que se propõe, isto é, fornecer informações úteis e
relevantes, faz-se necessário o uso das demonstrações contábeis. Segundo o Comitê de
Pronunciamentos Contábeis:

O objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações financeiras sobre os


ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas da entidade que reporta que
sejam úteis aos usuários das demonstrações contábeis na avaliação das perspectivas
para futuros fluxos de entrada de caixa líquidos para a entidade que reporta e na
avaliação da gestão de recursos da administração sobre os recursos econômicos da
entidade (ESTRUTURA CONCEITUAL CPC 00, p. 15, 2019).

A análise das demonstrações consiste em uma das técnicas contábeis. Para Ribeiro
(2009, apud DINIZ, 2015), o processo de análise inicia quando o processo contábil termina, ou
seja, o analista contábil utiliza as demonstrações já elaboradas para fazer inferências e estudar
a composição patrimonial de uma entidade sob diferentes aspectos. Para uma avaliação mais
precisa, é necessário interpretar os dados com base nas características do setor de atividade da
23

organização, o que irá resultar em análises mais consistentes tendo em vista os parâmetros
incialmente estabelecidos (DINIZ, 2015, p.71).

De acordo com Oliveira et al. (2010), pode-se dividir a análise das demonstrações
contábeis em duas categorias distintas: Análise Financeira e Análise Econômica. A primeira
permite a interpretação da saúde financeira da entidade, do grau de liquidez e capacidade de
solvência. Já a segunda, está mais ligada com a interpretação das variações do patrimônio e da
riqueza gerada.

Outro ponto relevante para a análise diz respeito ao uso de índices, os quais, para
Oliveira et. al (2010, p.4), consistem na “confrontação entre os diversos grupos ou contas
patrimoniais e de resultado de forma que se estabeleça uma relação lógica que possibilite a
mensuração da situação econômica e financeira da empresa”. Para obtê-los são necessários
alguns cuidados quanto à qualidade e padronização dos métodos utilizados.

Sob a ponto de vista de Assaf Neto (2020, p.51), as principais técnicas de análise de
balanço são as seguintes:

Análise Horizontal – mensura a evolução dos elementos patrimoniais num dado


período de tempo, possibilitando uma análise de tendência temporal;

Análise Vertical – Similar à análise horizontal por incidir sobre o estudo de tendências.
No entanto, essa permite visualizar a participação relativa dos elementos patrimoniais, isto é,
quanto uma determinada conta, ou grupo de contas, representa de um conjunto maior, por
exemplo: o percentual de passivos de curto e longo prazos no passivo total;

Indicadores Econômico-Financeiros – Busca relacionar elementos das demonstrações


contábeis para uma melhor extração de conclusões. São classificados quanto ao grupo em que
estão inseridos (liquidez, operacional, rentabilidade, endividamento, estrutura, etc.);

Diagrama de índices – Obtido pela decomposição dos elementos que compõem os


índices. Esse tipo de técnica, é mais utilizado no estudo de rentabilidade, a exemplo do ROA.

Nesse sentido, existem diversas técnicas de análise econômico-financeiras, de modo a


atender as particularidades de cada pesquisa/análise. Desse modo, o presente trabalho propõe-
se a utilizar a análise por meio de índices como ferramenta para atingir seu propósito,
enfatizando os aspectos de rentabilidade, estrutura de capitais e liquidez.
24

2.4.1 Rentabilidade e Lucratividade


Com relação aos indicadores de rentabilidade e lucratividade, eles abrangem aspectos
econômicos da entidade, isto é, a atenção está voltada para a geração de resultado, o qual é
apresentado por meio da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) (MARION, 2019).

2.4.1.1 Retorno sobre o PL (ROE)

Fonte: Marion (2019)

Do inglês Return On Equity (ROE), cuja tradução significa retorno sobre o Patrimônio
Líquido, o presente indicador permite mensurar a capacidade da entidade de gerar resultados a
partir do capital próprio. Em outras palavras, sob a ótica dos acionistas, permite auferir o ganho
dos proprietários como consequência do lucro (ASSAF NETO, 2020).

Para Marion (2019), essa razão possibilita, do ponto de vista dos proprietários, uma
estimativa de quanto tempo demorará para que recuperem seus recursos aplicados na entidade,
funcionando, na visão dele, como um “payback dos proprietários”.

2.4.1.2 Retorno sobre o Ativo (ROA)

Lucro líquido
ROA =
Ativo
Fonte: adaptado Marion (2019)

De forma similar ao ROE, o ROA também aborda a questão do retorno, diferindo quanto
ao seu denominador, que no caso deste é o ativo. Nesse sentido, segundo Marion (2019, p.121)
esse índice representa “O poder de ganho da empresa: quanto ela ganhou por real investido”.

Para Assaf Neto (2020), é uma forma de medir a eficiência do gerenciamento da


lucratividade sobre o capital total investido (ativo).

2.4.1.3 Margem líquida (Retorno sobre vendas)

Lucro Líquido
RSV =
Vendas Líquidas
Fonte: adaptado de Assaf Neto (2020)
25

Por fim, a Margem Líquida aborda o retorno a partir das vendas líquidas. Tal indicador
está intimamente relacionado à eficiência da gestão da lucratividade. Posto isso, a margem
líquida é formada a partir da combinação de resultados da gestão de ativos, passivos, que
refletem diretamente na função básica da entidade (ASSAF NETO, 2020).

2.4.2 Estrutura de capitais


Neste tópico os indicadores utilizados são voltados para a análise da estrutura das contas
patrimoniais que compõem as demonstrações contábeis, a fim de mensurar o grau de
endividamento da empresa e sua composição, além do grau de dependência.

2.4.2.1 Endividamento

Fonte: Assaf Neto (2020)

Por meio do confronto entre passivo e patrimônio líquido chega-se ao valor do índice
de endividamento. Para Assaf Neto (2020), esse indicador permite visualizar quanto as dívidas
representam do capital próprio da empresa, ou seja, quanto a empresa assumiu de dívidas para
cada recurso dos acionistas investido.

Um ponto interessante ao falar sobre endividamento é que nem sempre um alto índice
representa um aspecto negativo. Marion (2019) ressalta em alguns países desenvolvidos o
indicador apresenta valores elevados pelo fato de empresas recorrerem a dívidas para realizarem
aplicações produtivas no seu ativo. Por essa razão, mesmo elevado é aceitável, uma vez que no
futuro resultarão em benefícios econômicos suficientes para saldarem as dívidas. No entanto,
ainda segundo o autor, é preciso ter cuidado pois sucessivas dívidas podem ocasionar um ciclo
vicioso, acarretando prejuízos para a entidade.

2.4.2.2 Composição do endividamento


PC
Composição do endividamento =
PC + PNC
Fonte: adaptado de Assaf Neto (2020)

Após o estudo do endividamento propriamente dito, é necessário enxergar como se dá


a estrutura de tais dívidas, isto é, onde estão mais concentradas em relação à sua exigibilidade.

Analisar a composição do endividamento permite gerenciar com mais eficiência os


recursos que saldarão as dívidas. Uma maior concentração dessas dívidas no longo prazo
26

possibilita à empresa mais tempo para acumular recursos. Em contrapartida, caso concentrem-
se no curto prazo, a entidade poderá ter dificuldades e necessitará adotar medidas emergenciais
para saldá-las, como vender seus estoques ou assumir novas dívidas (Marion, 2019).

2.4.2.3 Dependência financeira

Fonte: Assaf Neto (2020)

Por fim, após a abordagem do endividamento e da sua composição, é oportuno abordar


o grau de dependência financeira da entidade. Conforme aponta Assaf Neto (2020), tal
indicador demonstra a participação do capital de terceiros nos recursos totais a disposição da
entidade, sendo prejudicial para a saúde financeira de uma empresa um alto valor desse índice,
uma vez que a empresa não possuirá autonomia suficiente a partir do seu capital próprio.

2.4.3 Solvência e liquidez


A liquidez é um ponto de grande relevância a ser analisado em uma empresa, pois a
partir dela pode-se observar a capacidade de uma empresa de honrar com suas dívidas, pois
uma alta liquidez pressupõe a existência de recursos disponíveis e prontamente conversíveis
em moeda.

Na visão de Marion:

São utilizados para avaliar a capacidade de pagamento da empresa, isto é, constituem


uma apreciação sobre se a empresa tem capacidade para saldar seus compromissos.
Essa capacidade de pagamento pode ser avaliada, considerando: longo prazo, curto
prazo ou prazo imediato (MARION, 2019, p.74).

2.4.3.1 Liquidez geral

Fonte: Assaf Neto (2020)


A liquidez geral é baseada no quociente entre ativos e passivos. Nesse sentido, o índice
exibe a capacidade de pagamento da empresa a curto e longo prazo, tendo em vista que é
considerado tudo que será convertido em dinheiro (curto e longo prazo), correlacionando com
o que já possui de dívida (curto e longo prazo) (MARION, 2019).
27

Ademais, Segundo Assaf Neto (2020, p.176) “A liquidez geral é utilizada também como
uma medida de segurança financeira da empresa a longo prazo, revelando sua capacidade de
saldar todos seus compromissos”.

2.4.3.2 Liquidez corrente

Fonte: Assaf Neto (2020)

Para avaliar a disponibilidade de recursos de uma entidade, além da liquidez geral, deve-
se levar em consideração tal perspectiva aplicada no curto prazo. Para isso surge o presente
índice, pois quanto maior a liquidez corrente, maior é a capacidade da empresa financiar suas
necessidades de curto prazo, ou capital de giro (ASSAF NETO, 2020).

Convém ressaltar que é necessário ter cautela na análise do índice, conforme aponta
Marion:

[...] uma premissa deve ficar bem clara: nos casos em que ocorra a queda do índice de
LC nem sempre significa perda da capacidade de pagamento; pode significar uma
administração financeira mais rigorosa (o que é louvável) diante, por exemplo, da
inflação, do crescimento da empresa etc. (MARION, 2020, p.75).

2.4.3.3 Liquidez Imediata

Fonte: Assaf Neto (2020)

De todos os indicadores apresentados anteriormente, este é sem dúvidas o que mais


representa a liquidez em um curto espaço de tempo. Tal afirmativa pode ser justificada ao
visualizar a composição dele. Ao considerar o disponível em seu numerador sua denominação
pode ser claramente entendida, isto é, a capacidade da empresa honrar os compromissos
imediatamente. Segundo Assaf Neto (2020), esse quociente é geralmente baixo pelo baixo
interesse das companhias em deixar seus recursos em caixa.

Apesar de não ser desejável que esse índice seja muito alto, é interessante manter certos
valores em disponibilidade como forma de segurança para liquidar possíveis dispêndios
emergenciais, conforme aponta Marion (2019).
28

3 METODOLOGIA
Segundo Reis (2009, p.23) “A metodologia de pesquisa é um caminho a ser trilhado
pelo pesquisador no processo de produção de conhecimento sobre a realidade que se busca
conhecer”. Nesse sentido, esta seção busca apresentar a metodologia de pesquisa utilizada para
atingir o propósito do trabalho. Além disso, demonstrar o modo como chegou-se ao resultado
de pesquisa, a partir da amostra e dos procedimentos utilizados.

3.1 TIPOLOGIA DO ESTUDO


Há diversas formas de delinear as pesquisas científicas, a forma adotada pelo presente
trabalho segue a perspectiva de Beuren e Raupp (2006), que agrupa as tipologias de pesquisas
em três categorias: quanto aos objetivos, aos procedimentos e à abordagem do problema. Tal
subdivisão é feita pelos autores pelo fato desses delineamentos serem mais aplicáveis à
contabilidade, considerando as peculiaridades existentes dessa área do conhecimento
(BEUREN; RAUPP, 2006).

Posto isso, quanto aos objetivos esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, a qual
objetiva analisar características de determinada população ou o estabelecimento de relações
entre variáveis, conforme aponta Gil (1999, BEUREN; RAUPP, 2006, p.81). Esse tipo de
pesquisa direcionada à contabilidade pode ser relevante para esclarecer determinadas
características do objeto de pesquisa. No entanto, para que um trabalho monográfico utilize
estudos descritivos e apresente resultados válidos, é imprescindível entender a natureza desse
estudo, caso contrário invalidará tais resultados (BEUREN; RAUPP, 2006).

Com relação aos procedimentos, trata-se de um estudo de caso, uma vez que se deseja
obter conhecimentos acerca de um determinado caso específico, conforme apontam Beuren e
Raupp (2006). O caso particular a ser contemplado pelo trabalho é justamente a situação
econômico-financeira da empresa Cosern no período selecionado (2019 e 2020). Ademais,
Beuren e Raupp (2006, p.84) afirmam que esse procedimento quando aplicado à contabilidade,
concentra maior número de pesquisas em organizações, visando à análise ou à aplicação de
instrumentos ou teorias contábeis.

Por fim, no que tange à abordagem do problema, essa pesquisa possui aspectos quali-
quantitativos. Ao abordar a questão da análise econômico-financeira com o uso de índices,
utiliza-se aspectos quantitativos pois há uma tentativa de entender, a partir de uma amostra, o
comportamento de uma população (BEUREN; RAUPP, 2006, p.93), isto é, com base na
amostra selecionada, procura-se entender o comportamento da empresa selecionada em meio
29

ao período pandêmico e possivelmente contribuir para outros trabalhos relacionados ao setor


de energia elétrica. Ademais, por se tratar de uma análise utiliza-se também a abordagem
qualitativa, conforme aponta Richardson:

Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a


complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis
compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais
(RICHARDSON, 1999, p. 80 apud BEUREN; RAUPP. 2006, p.91).

3.2 AMOSTRA DE DADOS UTILIZADA NA PESQUISA


Para realizar a análise a que se propõe, a pesquisa utilizou os dados trimestrais da
empresa Cosern do período de 2019 a 2020. A partir desses dados, realizou-se os cálculos dos
índices econômico-financeiros especificados anteriormente, os quais foram divididos nos
seguintes grupos: rentabilidade e lucratividade; estrutura de capitais; solvência e liquidez.

3.3 COLETA DOS DADOS


A coleta dos dados foi realizada no sítio eletrônico da Neoenergia - grupo ao qual a
Consern pertence – especificamente na central de resultados. A partir disso, realizou-se a coleta
das informações trimestrais dos anos 2019 e 2020, as quais contém as demonstrações contábeis
utilizadas para o cálculo dos indicadores escolhidos, tais quais o Balanço Patrimonial e a
Demonstração do Resultado do Exercício.

Por fim, o tratamento e a organização dos dados foram feitos por meio da utilização de
planilha eletrônica (Excel), a qual também foi utilizada para o cálculo dos índices.
30

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS


4.1 RENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE
Nesta seção serão demonstrados os indicadores de rentabilidade que foram selecionados
e calculados para a realização da análise.

Tabela 1 - Indicadores de rentabilidade


2019 2020
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
ROE 5,40% 7,19% 6,98% 7,60% 7,07% 5,58% 7,09% 7,52%
ROA 1,71% 2,08% 1,74% 1,97% 1,90% 1,52% 2,00% 2,17%
RSV 7,90% 10,67% 11,22% 11,96% 12,76% 11,24% 13,17% 11,81%
Fonte: dados da pesquisa (2021)

Tabela 2 – média anual dos Indicadores de rentabilidade

2019 2020 Diferença


ROE 6,79% 6,82% 0,02%
ROA 1,88% 1,90% 0,02%
RSV 10,44% 12,25% 1,81%
Fonte: dados de pesquisa (2021)

Gráfico 1 – Retorno sobre o patrimônio líquido

ROE
8,00%
7,00%
6,00%
5,00%
4,00%
3,00%
2,00%
1,00%
0,00%
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).

Com relação ao indicador do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), observou-se


que em 2020 a empresa obteve um acréscimo na capacidade de retorno do lucro líquido em
relação ao capital próprio investido. Apesar das oscilações trimestrais, a média do índice no ano
de 2020 superou a média de 2019, com os respectivos valores de 6,82% e 6,79%.

Por meio da observação dos dados, o segundo trimestre de 2020 destaca-se em relação
aos demais trimestres do mesmo ano, uma vez que é o menor valor do ano e o segundo menor
31

valor de todo o período analisado. Tal fato justifica-se pelo incremento do patrimônio líquido
em detrimento da diminuição do lucro líquido. Enquanto o patrimônio líquido aumentou
aproximadamente 6% do primeiro para o segundo trimestre de 2020, o lucro líquido resultou
em uma diminuição de 16%.

Gráfico 2 – Retorno sobre o ativo

ROA
2,50%

2,00%

1,50%

1,00%

0,50%

0,00%
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).

No que tange ao retorno sobre o ativo (ROA), observou-se novamente um incremento


em 2020 em relação a 2019. Enquanto a média em 2019 foi de 1,88%, em 2020 o valor
encontrado foi de 1,90%. Diante desse contexto, percebe-se que empresa mesmo diante do
cenário pandêmico aumentou a capacidade de geração de lucros a partir dos seus ativos.

Vale ressaltar que o segundo trimestre de 2020 apresenta um ROA abaixo dos demais
pelo mesmo motivo do ROE desse trimestre: o lucro líquido.

Gráfico 3 – Retorno sobre vendas

RSV
14,00%
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).


32

A média do retorno sobre vendas ou margem líquida de 2020 apresentou um aumento


de 1,81 pontos percentuais em relação à média de 2019, consoante aos demais índices de
rentabilidade. Nesse sentido, a Cosern demonstra que houve um incremento do lucro líquido
em relação às vendas líquidas realizadas no período.

Em suma, a partir dos dados obtidos no período analisado, constatou-se uma variação
positiva da rentabilidade no período analisado. Apesar das adversidades que impactaram a
Cosern no período - reajuste tarifário, aumento da PECLD em razão do provisionamento da
covid-19, além de outros aspectos comentados no referencial teórico – a empresa conseguiu
resultados favoráveis no período analisado.

Contudo, cabe destacar o segundo trimestre do ano de 2020, que foi marcado por uma
redução do lucro líquido em aproximadamente 16% em relação ao trimestre anterior. Por essa
razão, todos os indicadores de rentabilidade apresentaram redução nesse trimestre.

Diante disso, buscou-se verificar as principais razões que contribuíram para esse
cenário. Por meio da consulta às notas explicativas da Cosern (2020) e aos relatórios de
desempenho da entidade, destaca-se que o surto da pandemia, o qual foi agravado ao final de
março de 2020 e perpetuou-se ao longo do segundo trimestre, impactou negativamente os
resultados da companhia em relação ao trimestre anterior nos seguintes aspectos:

• O faturamento foi afetado diante da redução da demanda de energia elétrica no mercado


regulado;
• As medidas de prevenção e de distanciamento social adotadas pressionaram o consumo
de energia, o que provocou redução no fornecimento de energia elétrica; e
• O aumento no saldo do contas a receber, advindo do aumento da inadimplência,
prejudicou a arrecadação das faturas e, por consequência, aumentou as perdas de
créditos esperadas;

Apesar disso, a empresa ressaltou que as perdas apuradas devem ser objeto de
recomposição tarifária a fim de reestabelecer o equilíbrio econômico-financeiro da concessão,
o que não afetará de forma significativa os investimentos no longo prazo. Ademais, os efeitos
da COVID-19 são tidos como itens não recorrentes e que, gradualmente, haverá retorno à
normalidade (COSERN, 2020).
33

4.2 ESTRUTURA DE CAPITAIS


Após abordar índices referentes ao desempenho da entidade no que tange à
rentabilidade, agora serão demonstrados os indicadores da estrutura de capitais.

Tabela 3 - Indicadores de estrutura de capitais


2019 2020
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
Endividamento 2,155 2,463 3,004 2,861 2,727 2,669 2,547 2,474
Composição do 33,13% 22,70% 18,20% 17,83% 16,32% 18,57% 19,08% 20,26%
endividamento
Dependência 68,30% 71,12% 75,02% 74,10% 73,17% 72,74% 71,81% 71,22%
Financeira
Fonte: dados de pesquisa (2021)

Tabela 4 – média anual dos Indicadores de estrutura de capitais

2019 2020 Diferença

Endividamento 2,62 2,60 - 0,02


Composição do 22,96% 18,56% -4,41%
endividamento
Dependência 72,14% 72,23% 0,10%
Financeira
Fonte: dados de pesquisa (2021)

Gráfico 4 – Endividamento

Endividamento
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).

O índice de endividamento é responsável por estabelecer uma relação entre o capital de


terceiros (passivo) e capital próprio (patrimônio líquido). A partir dos valores encontrados,
percebe-se que o endividamento da empresa aumentou no decorrer do período de 2019 e atingiu
seu pico no terceiro trimestre do ano. Posteriormente, houve uma redução progressiva até o fim
de 2020.
34

Diante desse cenário, apesar do passivo da empresa ter aumentado durante os trimestres,
o patrimônio líquido também aumentou, mas em uma proporção superior, o que causou uma
diminuição do indicador ao longo do tempo. Em suma, no ano de 2020 a empresa demonstrou
que vem reduzindo o endividamento, mesmo diante das agitações ocorridas em 2019.

Gráfico 5 – Composição do endividamento

Composição do endividamento
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).

Posterior ao cálculo do endividamento, faz-se necessário identificar sua composição,


isto é, quanto do passivo total está situado no curto prazo. Nesse contexto, utilizou-se o índice
de composição do endividamento. No ano de 2019 o índice apresentou uma queda progressiva,
no entanto, no ano de 2020 ele fez um movimento contrário, uma vez que apresentou aumentos
constantes. Diante desse crescimento, a empresa precisará cada vez mais de ativos circulantes
para poder liquidar essa dívida de curto prazo. Confrontando o endividamento com a
composição do endividamento, conclui-se que apesar do grau de endividamento estar
diminuindo, as dívidas estão se concentrando cada vez mais no curto prazo.

Gráfico 6 – Dependência financeira

Dependência financeira
76,00%
74,00%
72,00%
70,00%
68,00%
66,00%
64,00%
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).


35

A dependência financeira, por sua vez, mensura o quanto dos recursos de terceiros
representam dos recursos totais a disposição da empresa, ou seja, a razão entre passivos e ativos
totais. A partir dos dados obtidos, constatou-se uma pequena variação entre 2019 e 2020.
Enquanto a média de 2019 foi de 72,14%, a de 2020 atingiu 72,23%. Diante disso, percebe-se
que os ativos e passivos variaram em proporções semelhantes durante o período, o que
provocou alterações pouco significativas no indicador.

Entre o segundo e o terceiro trimestre, contatou-se uma variação acima da média em


relação aos demais trimestres do período no que se refere aos ativos e passivos, mais
especificamente no grupo não circulante. Por consequência, houve um aumento no
endividamento da companhia e redução na composição do endividamento, uma vez que houve
incremente no saldo da dívida de longo prazo. Diante disso, buscou-se respaldo nas notas
explicativas da companhia para entender tal variação.

O evento que ocasionou essa oscilação trata-se do reconhecimento do crédito tributário


relativo ao PIS/COFINS, o qual decorre da exclusão do ICMS da base de cálculos desses
tributos federais. Desde 2010 a empresa havia ajuizado uma ação que pleiteava a inexistência
de uma reação jurídico-tributária entre eles. No entanto, somente em setembro de 2019 a
decisão transitou em julgado a favor da empresa. Por conseguinte, a entidade efetuou o
reconhecimento do crédito tributário que havia sido recolhido indevidamente desde 2005 a
2019.

Contabilmente, a empresa reconheceu o crédito a recuperar uma parte no ativo


circulante e a outra no não circulante, em contrapartida, o lançamento correspondente foi feito
no passivo não circulante. A justificativa para a constituição do passivo, segundo a Cosern, é
de que a compensação dos créditos fiscais deve repassada integralmente aos consumidores, e
será feita conforme as normas da Aneel. Vale ressaltar que desde o seu reconhecimento – no
terceiro trimestre de 2019 – a conta constituída no passivo destinada ao repasse não foi
liquidada, apresentando saldos crescentes durante todo o período analisado.
36

4.3 SOLVÊNCIA E LIQUIDEZ


Para finalizar a etapa de análise dos indicadores, serão abordados a seguir os índices
selecionados para demonstrar a situação de liquidez da empresa e suas variações ocorridas ao
longo do período analisado.

Tabela 5 - Indicadores de solvência e liquidez


2019 2020
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
Liquidez Geral 1,166 1,116 1,112 1,127 1,156 1,167 1,188 1,195
Liquidez Corrente 1,155 1,455 1,718 1,756 1,906 1,740 1,677 1,524
Liquidez imediata 0,246 0,310 0,359 0,451 0,489 0,563 0,642 0,314
Fonte: dados de pesquisa (2021).

Tabela 6 – média anual dos Indicadores de solvência e liquidez

2019 2020 Diferença


Liquidez Geral 1,131 1,176 0,046
Liquidez Corrente 1,521 1,712 0,191
Liquidez imediata 0,341 0,502 0,161
Fonte: dados de pesquisa (2021).

Gráfico 7 – Liquidez geral

Liquidez geral

1,2

1,15

1,1

1,05
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).

A partir da liquidez geral, pode-se extrair a proporção entre ativo (circulante e realizável
a longo prazo) e passivo (circulante e não circulante). Posto isso, verificou-se que tal indicador
cresceu no período de 2020 em relação ao ano anterior, em decorrência do aumento nos ativos,
tanto circulante quanto realizável a longo prazo em comparação a uma variação menos
significativa no passivo.

Apesar da evolução do índice, em termos percentuais a variação não foi tão significativa.
A média de 2020 foi aproximadamente 4% superior à média de 2019. Nesse sentido, dentre os
37

índices utilizados para avaliar a liquidez da empresa, esse foi o que apresentou menor variação,
uma vez que as contas patrimoniais utilizadas no seu cálculo apresentaram oscilações
semelhantes.

Gráfico 8 – Liquidez corrente

Liquidez corrente

1,5

0,5

0
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).

No que tange à liquidez corrente, observou-se um aumento nos últimos dois trimestres
do ano de 2019 e no primeiro trimestre do ano de 2020, o qual não se perpetuou nos últimos
trimestres de 2020.

Ao comparar a composição do endividamento, discutida na seção anterior, com a


liquidez corrente, percebe-se que uma situação desfavorável para empresa no ano de 2020. Essa
situação diz respeito ao aumento na composição do endividamento nos últimos trimestres do
ano, em detrimento da diminuição da liquidez corrente no mesmo período. De um lado a
empresa está concentrando cada vez mais suas dívidas no curto prazo, do outro está cada vez
menos liquida no curto prazo. Futuramente a empresa pode enfrentar dificuldades para honrar
seus compromissos de curto prazo, caso essa situação se perpetue.
38

Gráfico 9 – Liquidez imediata

Liquidez imediata

0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T
2019 2020

Fonte: dados de pesquisa (2021).

A liquidez imediata, por sua vez, apresentou um comportamento diferenciado


comparado aos demais indicadores de liquidez. Desde o primeiro trimestre de 2019 a empresa
apresentou valores crescentes, estendendo-se até o terceiro trimestre do ano seguinte. No
entanto, essa sequência foi interrompida no quarto trimestre de 2020, período no qual ocorreu
uma queda brusca das disponibilidades, que saiu R$ 409.000.000 para R$ 209.000.000, entre o
terceiro e o quarto trimestre. Essa diferença decorreu principalmente na diminuição dos fundos
de investimentos que compunham o saldo do caixa e equivalentes de caixa, saindo de 331
milhões para 132 milhões.

Ao comparar a liquidez corrente com a imediata, percebe-se que do ponto de vista dos
recursos de maior liquidez (caixa e equivalentes de caixa) a empresa evoluiu durante todo o
período, com exceção do último trimestre de 2020. Por outro lado, em alguns períodos a
liquidez corrente apresentou queda enquanto a imediata obteve um acréscimo, a exemplo do
período entre o segundo e o terceiro trimestre de 2020. Diante disso, apesar de aparentemente
a empresa ter reduzido a capacidade de liquidez em alguns períodos sob o ponto de vista da
liquidez corrente, a liquidez imediata demonstrou uma melhora nesse aspecto.
39

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalhou objetivou demonstrar as variações econômico-financeiras em uma
empresa de distribuição de energia elétrica – Cosern – a partir das demonstrações financeiras
trimestrais relativas ao período de 2019 a 2020. O período em questão foi marcado pelo
surgimento da pandemia da COVID-19, que trouxe consigo alterações sociais e econômicas a
nível global. Para alcançar o propósito, a pesquisa utilizou a análise das demonstrações
contábeis com o uso de indicadores específicos para verificar a situação da empresa sob o ponto
de vista da rentabilidade, estrutura de capitais e liquidez.

Sob a ótica da rentabilidade, com base nos dados coletados e nos índices calculados, a
empresa demonstrou uma melhora nesse aspecto. Apesar das vendas líquidas da empresa em
alguns trimestres de 2020 terem sido inferiores em relação aos trimestres de 2019, o lucro
líquido apurado aumentou, o que impactou positivamente os índices de rentabilidade. Nesse
sentido, a média do ROE e do ROA - levando em considerações os valores trimestrais – obteve
um singelo acréscimo no ano de 2020 em relação ao ano anterior, bem como o RSV. Diante
disso, a empresa conseguiu aumentar o seu lucro líquido em relação ao capital próprio, aos
ativos e às vendas.

Com relação à liquidez, a empresa também apresentou evolução. A liquidez geral no


ano de 2020 alcançou valores maiores em relação a 2019. A liquidez corrente, em contrapartida,
foi marcada por uma redução nos dois últimos trimestres de 2020, pois os passivos circulantes
da empresa aumentaram nesse período. Por fim, a liquidez imediata apresentou aumentos
contínuos desde o início de 2019 até o terceiro trimestre de 2020, mas logo no trimestre seguinte
despencou em virtude da diminuição do saldo das disponibilidades. Em suma, até o período
analisado, a empresa obteve incrementos na liquidez, a qual pode apresentar reduções nos
próximos períodos tendo em vista os aumentos recorrentes no passivo circulante da entidade.

Por fim, no que tange à estrutura de capitais, com ênfase no endividamento e na


dependência financeira, não houve alterações significativas do ponto de vista anual. Os
indicadores de endividamento e de dependência financeira apresentaram resultados bem
próximos levando em consideração o período anual de 2019 em comparação a 2020,
trimestralmente ocorreram algumas oscilações, mas de modo geral nenhuma diferença
significativa. Todavia, ao verificar a composição do endividamento, percebe-se que ao longo
do ano de 2019 as dívidas de curto prazo foram sendo reduzidas. Já em 2020, o índice
apresentou movimento contrário, as dívidas de curto prazo cresceram ao longo dos trimestres,
apesar da média anual do indicador ter sido inferior ao ano anterior. Tal fato corrobora com a
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diminuição da liquidez corrente, ou seja, as dívidas estão cada vez mais se concentrando no
curto prazo e os ativos circulantes da empresa não estão acompanhando essa evolução
proporcionalmente.
41

REFERÊNCIAS

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42

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jul. 2021.
43

ANEXO
Tabela 4 – Dados coletados nas ITR’s e utilizados no cálculo dos índices.

2019 2020
Contas patrimoniais 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T

PL 1.028.727 931.570 1.002.439 1.052.200 1.150.700 1.219.000 1.311.000 1.329.000

ATIVO 3.245.172 3.225.816 4.013.340 4.062.400 4.288.900 4.472.000 4.650.000 4.617.000

PASSIVO 2.216.445 2.294.246 3.010.901 3.010.200 3.138.200 3.253.000 3.339.000 3.288.000

PC 734.270 520.769 548.011 536.700 512.200 604.000 637.000 666.000

PNC 1.482.175 1.773.477 2.462.890 2.473.500 2.626.000 2.649.000 2.702.000 2.622.000

AC 848.082 757.737 941.489 942.700 976.300 1.051.000 1.068.000 1.015.000

ARLP 1.736.214 1.803.674 2.407.520 2.451.300 2.650.500 2.746.000 2.898.000 2.915.000

DISPONÍVEL 180.821 161.233 196.702 242.000 250.700 340.000 409.000 209.000

Contas de resultado 1T 2T 3T 4T 1T 2T 3T 4T

LL 55.500 67.000 70.000 80.000 81.300 68.000 93.000 100.000

VENDAS LÍQ. 702.400 628.000 624.000 669.000 636.900 605.000 706.000 847.000
Fonte: adaptado Cosern (2019) e Cosern (2020)

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