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Rainhas de Portugal

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MEMORIAS
DAS

MINHAS DE PORTUGAL

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I

1
i

4
MEMORIAS
(O

RAINHAS DE PORTUGAL

D. TUERGSA-SANTA ISAB£L

LISBOA
TTPOGRAPHIA UNIVERSAL
Roa dMGalafites.liS

1859

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ADV£RX£NGIA

Em yista do importante assumpto do I.* Livro da bem


elaborada Uistoria de Portugal do sr. Alexandre HercuiaQO,
e do modo por qae este iliustre historiador apresenta os
factos, deduzidos de fontes legitimàs. relativos á adminis-

tração de D. Theresa, infanta-rainha dos portuguezes, fôra

ama ousadia ridicula da uiinha parte submetter ao leitor


um novo trabalho a respeito dessa princesa. Teria falhado

na tentativa se isso me houvesse passado pela mente. Gomo,


p(»ém, pareceria fóra de propósito excluir de uma obra pri-

vativamente destinada a commemorar os actos das rainhas


de Portugal, uma princesa que tão distincto logar occupa
nos íàstos portuguezes» e cujo governo taiito concorreu para
estabelecer a independência nacional, pareceu-me que o pla-

no que adoptei era o único próprio para evitar o inconve-


niente apontado. Pedi, pois, licença ao sr. Herculano para
incorporar nestas Memorias as passagens do i .° Livro da

Historia de Portugal que me pareceram adequadas ao meu

*
I

VI ADVEnTENGIA

trabalho. Essa licença foi-me concedida com toda a con-


. descendência e urbanidade» e tenho em conta de muito
honroso para mim este favor, que desejo uão vlesmerecer.
Omittindo o que tinha referencia mais geral á historia
do paiz, escolhi unicamente as passagens que me parece-

ram mais iotimameute ligadas á vida da infanta, e condu-

centes a fazer conhecer e apreciar as suas acções: ahi as


apresento ao IcilDr na própria linguagem do author. tão

^ enérgica e cheia de vida. Tentei apenas eucadeiar os tre-


chos destacados por meio das explicações que pedia o fio

da narração; e se accrescentci algumas hreves noticias, são

de natureza das que, não podendo ser admittidas n uma


historia nacional, tôem todavia cabida em memorias bio-

graphicas.

Quanto ás demais Memorias, o publico ifjuiaará delias

como bem entender.

Darei aqui um publico testemunho do mou reconheci-

mento ao sr. José Manuel Severo Aureliano Basto, digno


Guarda-Mór interino e Official-Maior do Archivo Nacional

da Torre do Tombo, não só peia cortezia e boa vontade


com que me franqueou o exame dos documentos que preci-
sava consultar, mas especialmente pelo valioso auxilio que

elle e seus dignos íiihos os srs. João Pedro da Costa Basto


e José Manuel da Costa Basto, hábeis paleographos do
mesmo Archivo, me prestaram nas buscas e indagações a
que tive de proceder. lambem me foi de muito proveito
a coadjuvação do sr. José Gomes Goes, dislíncto paleogra-

pho do referido Archivo, provido ha tempo em um dos


logares da Bibliotbeca Nacional.

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ADVERTÊNCIA VII

Aos srs. Mo Antonio Gomes de Castro e doutor An-


tonio Ayres de Goiivêa muito devo igualmente pelas in-

formações que me ministraram de Coimbra, e» a este ulti-

mo cavalheiro» nomeadamente pelo modo ipor que conse*


guiu remover alguns obstáculos que se oppunliam a que
eu compulsasse os documentos do cartório do convento de
Santa Clara na mesma cidade. Á senhora abbadessa e mais
religiosas do mencionado convento peço queiram acceitar
as expressões do meu agradecimento por me haverem per-
mittido o exame do rico cartório que possuem.

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SOBRE OS RETRATOS

Até D. Beatriz não ha retratos genuínos de nenhuma


das rainhas de Portugal. Na repartição dos MSS. do Mu-
seu Britannico existem os fragmentos de uma arvore genealó-
gica iUuminada sobre pergaminho, mandada fazer pelo in-
fante D. Fernando, filho de D. Manuel, rei de Portugal, por
intermédio do historiador Damião de Goes, que encarre-
gou o famoso Simão Beninc de Bruges da sua execução,
antes do anno de 1534. Desta obra dei uma descripção mi-
nuciosa n'um trabalho que publiquei ha poucos annos ^
Ahi« entre muitos outros retratos, acham-se os das rainhas
D. Theresa, D. Mafalda, D. Dulce, D. Urraca, da condessa
Mathilde ^, da rainha D. Beatriz de Gusman, e de outras,
faltando o de Santa Isabel. Não devemos acreditar que to-

1 Catalogo dos Mamiseriptoa Portngaexes existentes no Hnsen Bri-


tannico (Lisboa. 18S3),TÍd. pp. 968^376.
4 No Museu Britannico ha um livro de costumes ou trajos venezianos,
em que também apparece o retrato da condessa iMalhilde, primeira mu-
lher de D. AÍIonso iii, do qual tenho copia. O vestuário pertence ao sé-
culo em que ella viveu, mas quanto á fidelidade das feições oada sei di-
ler. Aepreeenta-e moçe e fonnoia.
X SOBRE OS RETRATOS

. dos esses retratos sejam verdadeiros, mórmente os dos per-


sonagens mais antigos e, de feito, os trajos em qae ap-
:

parecem as menciuiiadas princesas niío vão além do sécu-


lo XIV. á excepção d;i piirneira.

O retrato de D. Thcresa que apresento, é copia do que


se acba na taboa n."" 6 da referida arvore genealógica. Se
fiz excepçSo desta, tão foi por supp6r o retrato fiel quanto
ás feições, mas resolvi-me por conselho do
a apresentai-o
meu amigo o sr. Eduardo Lobo de Moura, artista portu-
guez residente em Londres, bem conhíM ido por suas obras
primorosas e cuja fama tem merecidamente chegado aos
'princípaes paizes da Europa. Segui -o não só porque esse re-
trato, na opinião daquelie meu amigo, é um primor d arte,
mas porque ha motivo para crer que o trajo é conforme
ao que se usava, pouco mais ou menos, no tempo de D. Ttie-
resa. Taivez fosse copiado de alguma illiimiuura da opo-
cha, daquellas que ainda hoje se vêem em antigos livros
de resa MSS. em alguns paizes da Europa, ainda que oão
haja disso vestígios entre nés. O sr. Moura reaftetteu-me um
fac-simíle em corpo inieiro de Adèle de Ver-
do retrato
mendois, fallecida em 07^—* pouco mais de um século antes
do tempo de D. Theresa, —
o qual encontrara n um livro de
costumes liancezes por Mifliez. O lí*ajo em que ligura Adèle
ê quasi em tudo similhante ao do retrato da D. Theresa
e aiiida que este não fosse o mesmo queseusaiva em Portu-
gal, parece ao manos pertencer i epocha.
Contava» até ha pouco, poder offsrecer aos meus leílo-
res o retrato de D. Mecia Lopes de Haro, tirado do vulto
que está sobre o seu tumulo em Najora. O sr. conselheií o
Luiz Augusto Pinto de Soveral, Enviado Extraordinário e
Ministro Plenipotenciarto de Portugal em Hespanha, teve
a bondáde de se interessar a este respeito, conseguindo
mesmo achar uma pessoa <]U6 se promptificava a executar
o tt'abalho, quando infelizmente recebeu de Imm parte a

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SOBBe OH RBTIATOS Xi

noticia de que a figura da raioha estava em tal estado de


deterioração que de nenhum modo servia ao meu intento.
Não deixarei todavia de registrar aqui os meus sinoeros
agradecimentos pela boa vontade com que o sr. Soveral,
de quem me prezo de ser amigo, se piestou a obsequiai-
ffio nesta occasiâo.
O retrato de D. Beatriz de Gusman, que se vê na pre-
sente obra, é copia mais esmèrada de outro publicado por
Pedro José de Figueiredo nos c Retratos e Elogios de Va*-
rões e Donas» (Lisboa, 1817); O original conservaya^se
em Alcobaça, segundo se declara no citado livro. Os qua-
dros -ali existentes foram remrllidos, pela exlincção dos
conventos, á Bibliotbeca Nacional de Lisboa; e tendo feito
diligencias por saber se ainda parava naquelie deposito,
não me foi possívelobter notícia delle. É de suppôr que
esse retrato fosse mandado tirar na occasíão em que se
abriu o tumula da rainlia em 1509, representando-a mais
moça, podeiido-se talvez ler em conta de verdadeiro. Pelo

menos é certo que o vestuário é o da epoclia, se é licito


dar credito ás coUecções publicadas de trajos antigos.
N'uma que possuo dos reis e rainhas de França, observa-
se, em
algumas que são contemporâneas de D. Beatriz, a
mesma espécie de toucado. As gravuras desta rainha e de
D. Tlieresa foram executadas em Londres por pessoa es-
colhida pelo sr. Moura.
Existe um sem numero de retratos de Santa Isabel,
mas não me parece que haja motívo de dar fé a nenhum
delles. Àtnda que não mereçam consideração, menciona-
rei dous, pouco conhecidos, e dos quaes tenho copia : um
ncha-se pintado, no habito de Santa Clara, na folha de rosto
da Lenda daquella rainha; o outro é um quadro a oleo que
se conserva no coíivento de Santa Clara de Coimbra, e que
dizem ser o que D. Dinis teria mandado vir de Aragão para
ajuizar da formosura de sua futura consorte. Mas o estado

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xu SOBRE OS BETRATOS

da arte naquella epocha desmente similhante supposiçSo,


e sem que seja necessário argumentar pelo lado artístico,

basta dizer que o vestuário que se apresenta é sem a me-


nor sombra de duvida o da côrle dos Fiiippes.
Muito desejava, pelo interesse do assumpto, dar uma
gravura do tumulo antigo, e hoje vasio, da rainha com o
sen vulto sobreposto, que se acha em Santa Clara, em ad-
mirável estado de conservação. Está collocado dentro do
coro, e para se copiar convenientemente fura necessário
que o artista ali tivesse entrada. Fiz diligencias para o
jsonseguir; e por intermédio de outra pessoa, obtive, da
anthorídade ecclesiastica superiot de Coimbra, iiçença para
esse fim, que todavia não foi attendida pela eommunidade,
exigindo-se que a licença fosse expedida pela nunciatura,
como única authoridade admissível neste caso. Não me
prestei a esta exigência, por isso que entendi que não me
devia dirigir a outra authoridade que não fosse portu-
guezá.

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MRODUCÇÀO

Dotes e Arrhas. — Até o secnio xiii i, o código wisi-


gothico teve authoridade entre nós, e varias doutrinas ger-
mânicas Delle consignadas prevaleceram mesmo peio tempo
adiante» authorisadas pelos eostrnnes e foraes, tanto neste
reino como no resto de Hespanha. Assim foi no tocante
aos dotes, que, sujeitando-se a yarias modificações nas
condições particulares, conformavam todavia com a re<?ra

fundamental, que, ao revez da lei romana, mandava que o


marido dotasse a mulher.
Póde-se admittir, sem receio de errar, que pelo menos
até D. Affonso ii foi essa instituição fielmente observada
em Portugal. A mulher nSo trazia cousa alguma, salyo, tal-

vez, alguns objectos moveis que se podem considerar da na-


tureza de enxoval, e que effectivameiite so cliamam, em al-

guns foraes de Castella, ajovar ou (muvar, d onde o nome


moderno de lyuar K Aos bens que o marido dava á mulher

1 Tid. Portug. MoDun* Hist. leges et liooraeU Tolanid 1 Pnifat.


p. TUI—XI.
S Martínet Marina, Eneayo aobre la LegisUeiOD | S60. — Pance que
XIV MEMOIIIÁS BAS RAINHAS DE PORTUGAL

cliamava-se dote ou arrhas, coUigindo-se dos documentos


que entre nós denominação era a mais usual. Ha-
esta ultima
via também outra doação feita pelo marido, chamada compra
do corpo, quQ ás vezes parece corifundir-so com as arrhas,
oulras designar liiiia doagaodistincta: desta diremos alguma
cousa opportunameiite.
O . casamento contractava-se por carta d arrahas^ oo por
carta de metade. Yô-se que em algumas viilas o costume
determinava a primeira fórma — deixando a lei, comtodo,
ao arhitrio do marido escolher de preferencia a segunda,
— ao passo que em outros logares era costume serem os
cônjuges meeiros nos bens, de sorte que por morte de um
o outro âcava com a metade que lhe coubera, po-
delles,

dendo o que fallecia testar livremente da outra quando


não ficavam filhos ou outros herdeiros .forçados ^ O casa-

mento de D. AíTonso ii com D. Urraca parece ter-se con-


trahido soh condições- algum tanto a^lalo(^^^s, segundo se
p6de deduzir do testamento da rainha: ahi diz ella que
€ fazia testamento dos seus bens, isto é, de metade de to-

dos os bens moveis e immoveis do rei seu marido, a quai


este lhe havia concedido ; e que ella havia concedido ao
mesmo a metade de todos os seus bens moveis delia rai-
nha D ^. Já se vê que esses hens eram os pessoaes, não os
da coroa : e porventura devemos entender que se refei'ia

aqui aos bens havidos por um e outro consorte durante o


matrimonio. Este género de syustes, de pertencer aò eon-
jage sobrevivente metade dos bens adquiridos na constan-

era também costume, entre algans povos germânicos, que a mulher trou*
lêsse algans objeatoa moveis, qne davam os paes da aoiva, e cuja posse
ella conservava depois da dissolaç&o do matrimonio. Vide RieUu>rn.
Deutsche Staats^und Rechtsgpschichte T. t p. .167, 5." edição.
1 Vid. o rd. AíTons. I.. iv til 12, p !it 107 § I ou melhor, quanto a esta
;

ultima lei, Portug. Monum. llisl. leges et consuet. vul. \ p. 265 § 89. —
Vid. também ibid. p. 257 § 71
S Nota VI no fim do volume. •
INTAODQCÇÂO XV

cia do malrimonif), ora comnuim em (Castel!;», v não ex-


cluía o (lar u m.'ii ido lambom as nri has ou dolc a sua mu-
lher, como exemplos produzidos por Mar-
:iitost:ifn vários
tiues Marina Se D. Affonso ii deu também arrhas a sua
mulher, é o que q9o consta ; nem nos é possWel averiguar
se as terras que lhe cedeu» e que menciona um documen-
to foram nessa qualidade ou por doação subsequente. Em
todo o caso, do um doeuniento que teremos de citar
adiante» se conhece que eia costume antigo do reino con-
signar arrbas á raíntw.
No xiii a jurisprudência romana começou a at-
aeenlo
trahir algum» attençílo na península, sendo propagada por
aqiielles que haviam cursado asescholns de direito cmlío-

lonha, pondo-se em pratica as suas doutrinas de enví>lta

com as leis consuetudinárias. Existe um contracto de cn-


sameoto de i!d73 entre D. Gonçalo Garcia, alferes de D. Af-
fonso 01, e depois conde, e D. Leonor, filha natural deste ,

monareha, em que se observa ji a instítoiçlo romana de


ser a íilha dotada pelo pae. ao passo que a mulher é i^rual-
mente dotada pelo marido, segundo o estylu do paiz. Cj\mo
este documento ó um subsidio valioso para esclarecer ai-
grnns pontos dos costumes antigos a esse respeito, temos
por acertado referir aqui as soas clausulas. D. Gonçalo dá
a D. Leonor, por conhpra ái au corffo, a metade de todos
os seus herdamentos para sempre e liereditariamente: com
a condição, porém, de <pie, impetrnndoD. Alíonso iii dis-

l)ensa (eram iwrcMites, ao que parece), D. Gonçalo daria a


sua mulher por arrhas 6 quintans e 60 casaes, pelo cos-
tume de Entre Douro e Minho e neste caso a dita metade
:

\ ZoBãjo sobre U Lcgis. § Í6I e S6|. Esta douttiaa derivou d» lei go-
4 Ut. % § 16).~ Pelas leis westphalienses e ripuarea-
tbiea (For. Judie. L.
ses era Unlieia costume receber a mulher viuva umn porção do que (ftra
adquirido na constam-ín do matrimonio : Eichborn» 1. cil.
3 Nota YU no Hm do volume.

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XVI MEMORIAS DAS BAINHAS DE PORTUGAI.

dos herdamentos tornaria a D. Gonçalo. Se o casamento se


de D. Gonçalo, ou que demittisse de si
desfizesse a pedido
a malher» esta para sempre e hereditariamente de
ficaria

posse da dita metade. Se o casamento se dissolvesse por


mandado da igreja, ou a pedido de D. Affonso iii ou de
D. Leonor, esta receberia 2:000 libras de moeda antiga
por compra de seu corpo, e teria os fructos e rendas da
sobredita metade dos herdamentos ató que recebesse a dita
somma» sem comtudo se descontar desta o valor dessas ren-
das. Fica bem entendido, posto qae se n3o declare no do-
cumento, que, paga essa somma, tornaria a referida me-
tade a D. Gonçalo. Por outro lado, o rei dava perpetua posse
a D. Gonçalo e a D. Leonor da herdade de Santo Estevão,
debaixo das seguintes condições : qne, fallecendo primeiro
D. Leonor sem deixar filhos, seu marido teria a mesma
herdade em quanto vivesse, e por sua morte seria devol-
vida á coroa mas ficando um ou mais filhos, estes teriam
;

metade da herdade, e D. Gonçalo a outra em sua vida, pas-


sando depois essa metade também aos filhos. Se esses fi-
lhos fallecessem igualmente antes de D. Gonçalo, sem dei-
xarem descendência, a metade que possuíam passaria a
D. Gonçalo. Se depois da morte dos paes esses filhos mor-
ressem sem prole, seria a herdade devolvida á corôa. Era
vedado vender, dar ou alienar de qualquer modo essa her-
dade. Se o casamento se desfizesse a pedido de D. Gonçalo,
ou este demittisse de si a mulher, não teria jus a parte al-
guma da dita herdade. Eis aqui temos um verdadeiro dote
dado pelo rei a sua filha, posto que assim o tíSio intitule
o documento
i Contracto datado de Santarém a 11 de maio de 1273. na Chancell.
de D. Affonso ni L. 1 f. 120 verso, no Arch. Narion. O rei passou, no
mesmo dia, um documenio em separado contendo a doação de Santo Es-
tefio com as mesmas elausulas do coolracto está registrado no mesmo
:

logar, logo antes do eootracUi. Tanto Viterbo, no Blucidario.eomo Figuei-


redo, na Nova Malta, eitam esto docnmento. —Nessa epoelia pnbliearam-
liNTHODUCÇÂO XVII

Das diversas clausulas sobre o modo por que D. Gon-


çalo dotava a mulher, infere-se que a compra do corpo era
diffôreote e íodepeodeote das arrhas. De feito, daado-se a
£ircamstancía de se aDDullar o matrimonio» D. Leonor tí-

nba direito em todo o caso ao preço da compra de seu


corpo —
isto é, a metade das terras de D. Gonçalo se por
vontade deste se tornasse nullo, ou 2;(K)0 libras se não de-
pendesse delle, — mas em neriliiim destes casos ficava com as
arrhas. Por outro lado, subsistindo o matrimonio, D. Leonor
tinha direito somente ás arrhas» podendo-se por conseguinte .

concioir que, na ultima hypothese, o preço da compra de seu


corpo se considerava como incluido nas arrhas. Esse preço
importava pois, neste contracto, uma segurança da validade
do casamentoera um penhor que o marido perdia no caso
;

de haver separação, e que elle remia com as arrhas no caso


de subsistir o consorcio. Gita-se outro documento, que.pa-
rece concordar com esta doutrina» poisque a mulher do conde
D. Martim Gil, em seu testamento datado de 1310, falia
em 5:000 libras que seu marido lhe havia de dar €por ar-
ras e por compra de seu corpo » Encontra-se, porém,
outro diploma peio qual certo cavalleiro dá a sua mulher,
par compra de sm carpo, vários bens em Santa Comba, com
a condição de que os possuiria sómente em sua vida, e nSo
casando segunda vez, pois em tal caso os perderia : neste
exemplo, a doação tem a natureza de arrhas, postoque este
Yocabulo se não empregue

^. A verdade é que naqueiles

seis Sete Pari idas de D. Affonio o sábio, fandadas pela maior parte ao
Digesto e Código de Justiniano, e nas Decreta es; ahise dispõe, segando a
doutrina romana, qn^ a mulher traga o dote, e o luaridolhe faça alguma
doação. As arrhas [arriue sponsalitiíP do Código, L. 5 lit. 1) são alii ape-
nas o penhor que o esposo dava ao pae da noiva para cumprimento da
promeaaa de matrimoDio, recebendo ellé também outro penhor do mes*
no pae para segurança da oalra parte. Vide Parttda 4 tit. li lei 1 e aeg.,
o êã formolas oa Partida 3 tit. 1 8 leia '84 ->S7.
i Viterbo. Elucid. Supplem. p. 24 verbo compra.
9 Ibid. T. 2 p. 123 nfto ae dia a daU do documento.
;
ITllI MEMOBIAS DAS BAINHAS DE POBTUOAL

tempos 08 usos 6 costames, embora se conformassem oom


certos typos fundamentaes, eram sujeitos a tantas modifica^*
ções, segundo as localidades, que era facillimo iiitroduzir-
se certa confusão nas idéas, o que daria em resultado que
a mesma fialam nem sempre teria a mesma aecep^ em
tedoa 08 legares, e que omesmo beto muitas Teces se tra-
duBíria em termos diflérentee.
ti provável que a compra do corpo, derivasse primitiva*
«ente do pretinm dos wisigodos *, chamado diversamente
meta, wittemo, reipiis por vários povos germânicos, uma
porçSo do qual era, segundo parece, para o pae ou aqueile
debaixo de cuja authoridade a noiva se acbava ; parecendo
eomtodo que, ao menos entre alguns daquellespofoe, esta
transacçSo se redoiia apenas a uma èmnpra simulada da
noiva í. Entre nós a compra do corpo, a julgarmos pelos
exemplos citados, parece ter chegado a significar : ás vezes
aimptes garantia do matrimonio» outras vezes as próprias
arrhaa.
Quanto ia arrha$, é sabido que, ssgundo a doutrina mo>
dif^, ^ um
consigna çHo fitta pelo marido, dependente
da importância do dote que traz a mulher, por quanto não
devem exceder a terça parte desse doie : a mulher não as
administra nem as desf^ucta antes de enviuvar. Só nesta
«itlma parle é que as arrbas antigamente tinham algmmi
analogia: cemo regra geral, si^êiu a varias modlficaf9ea nas *

eendiç5es, parece que as arrhas eram ós bens que o marido


ddva i mulher para seu sustento iu> c>aso de enviuva . A'

1 Kor. Judie. L. 8til 1 §3. tit. 3 § 3, til. 4§ 2.


t Eichhorn. Deutsche StnaU^und fíerhisgeschichte T.1§ 54pp. 3f{,
St5, 3t7. Émais verosímil esta origem do que dertval-a dn mof-
90n0aW (a que allade Viterbo, no Bhieid. T. t p. 18S); esta ert «BA
áMçfto awmDttitreia, e ioleiraKeote Toluatarift, feita pelo MM»
losp depois da eonaummaçéo do matrimonio, e de que a mvlker od*
quiria completa poioe depois da disaoloçio de mesmo : Biehhoffa, T. 1
i6Sb,p.S6S.

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mmmocçio m
natureza da posse lograda pela mulher, as restricções a qud
o que provavelmente era regulado pelos cos^
era sujeita, eis
tomet loca^B, ou* até certo ponto, pela vontade do maridoi
quando essis costumes lhe deixavam tal Uberdade K Nio
pertença aqui desenvolver esta matéria, e passaremos a
pôr o que podémos colligir ácerca da natureza das arrhas
das rainhas, a qual parece desviar-se n um ou o outro ponto
da regra commum.
Os subsidios para se estabelecer a doutrina antiga das
anriias das rainhas slo escaçoe : limitam-se, ao menos itA
onde alcançámos, a Ires documentos I.* carta d'arrfaas de
r

Santa Isabel de 24 d'abril de i28i, incluída na doação pro^


píer nuptias, de que logo nos teremos de occupar ^ ;
2.**

carta d arrbas de D. Beatriz de Castella, mulher de D. Af«


fonso iv, de 16 d'outubrode 1297 3: 3.^ carta d'arrhas da
ialattta D. Constança, mulher de D. Pedro i, de 7 de julho
de IdiO 4. Desde logo occonre orna duvida : poderio estés

I Viterbo (fiiucid. T. 2 p. iii eol. t.) ciU uma earta 4l'arrha8 de 1190»
pela qiMÍ O. Soeiro Viégeedavi i sue mulher, D. Sancha Yermodes,
rtéa lMrA« que êlla aá devia pcMauii* depoiadè tiava, e ée iiflo eaaaMè \ cá-
iMiio, foi^m. ligaiiiÉ ve». aMM n« deTíâdi paNaf logo «èa SlHèa êá
fnmnm aiofcrimouio. Por outro lado.ftdaodo eUe, D. Soeífo, tíuto, èM»
gentio spgunda vez, os filhos que houvera de D. Sancha náo teriam es-
tes bens. Isto qu^r di/cr que, náo enviuvando, a mulhfr nerthuní diréitd
teria a ffisf s be^!), tirando ouira vez livres ao marido no naso de ihe se->>
breviver. O doouuienio guardava-se nas Salzedas, seudo de presumir que
00 referidoH bi^na ae aehaaaeni ailos oaquella parle da Beira.— Que aa ar*
rbas aio oran aerapro liniiadaa i naeania regra, que diveraifieava en «1-
guaa diatrictos, vè-ãe doseiemploa prodoiidoa por Marina (Enaayo taèrt
U Legis. § — 253). Isso aioaaioae infere de umaelaasula do eonlraoto
entre D (ronçalo e D. Leonor, a que alludimosne texto cipse domnva :

Geasalvus debet eidem domne AleoDor dare aiiaa arraa... «écMieil coi»^
êuttudo inter dor ium ei Min um*.
t Chancell. de D. Diais L. 1 1 41. —Mon. LusU. P. S L. iSe. SS.
Corp. Diplom. Portag^ T. 1 p. Si.
i Mos. Luaít I*. 8 1. 17 e. 41. —Corp. Diplona. Portng. T. 1 p. S3.
4 fiiat. Oeoeal. da Gaaa Real T. 1 daa Proraa p.* S8B. —Corp. biploa.
fortag. 1. 1 p. 156.

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XX BIGMOBIAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL

documentos fazer authoridade quanto aos reinados antece


dentes, ou sómento quanto áíiiiollos n que dizem respeito?
Esta duvida desvanece-se ao k rmos o que diz D. Dinis no
primeiro : « assignamus vobis predite domne Elisabet
pro Arris secwédum consuetudinem Reghi Portugaliê kaC"
tênui obssemtíam » ; e no ultimo documento diz o rei
c assino a essa donna Constança por sas arras e dona-
dio bem compridamente em toda sa vida assim como as
e
melhor ouveram as Raynhas de Portugal». Assim deve-
mos concluir que até esse tempo a regra era a mesma desde
o começo da monarchia, ou quando nella houvessem al-
gumas alterações, seriam de pouca monta. A carta d'arrlias
de D. Isabel nSo basta só por si para illustrar o assumpto
porque ahí faltam particularidades que vem consignadas
nas outras duas.
0 que, pois, se prova por esses documentos é que as
rainhas tinham as suas arrhas por toda a vida, entrando
logo na posse delias, e desfructando, desde o dia do casa-
mento, os respectíyos rendimentos ^ ; que esta posse nlo
se limitava só ás rendas e aos direitos reaes, e à nomeado
dos oíBciaes fiscaes nus v i lias dadas em arrhas, senão que
lambem tinham a nomeação dos alcaides — quer dizer, o

senhorio dessas viilas e castellos, nunca largando o rei,

porém, o senhorio eminente K Assim que, as arrhas nlo

1 Yejam-se «s cartas d^arrhat dt 0. Bettris e de D. Coostftnça.


1 Nas doações enterulia-se sempre que o rei nunca largava esse le-
nhorio, mas D. Dinis julgou dever dizel-o expressamente na carta d'ar-
rhas de sua nora, D Beatriz c E estas villaí sobreditas vos dou
: cora
o seohorio delias guardando todavia u meu senhorio ». Na carta d'ar-
rbis de Siiitâ Isabel, fallaado daa homenagens, qae deTiam faier al- M
eaidea, entende-ie o meimo.— Yê^e que as viilas dadas em arrhas po-
diam sér trocadas por outras por m«rcé do rei. Bm 1334 D. Affonso.iT deu
Cintra a soa mulher por escamho de Gaya e Villa Nova, que (com Efora,
Villa Viçosa © Villa Real! formavam as suas arrhas ; D. Beatriz cedeu, na
mesma transacção, outros logares. que Q&oeram das suas arrhas Gav. 13
;

maç. S n.*' 13, ao Arch. Nacioa.


INTBODCCÇÀO .XXI

eram só destinadas á maDatenção da rainha lio estado


de viuvez, mas também no de casada, occorrendo o rei
afóra isso ao sustento de soa consòrte com doações vo-
luntárias,segundo IhVj dictava a liberalidade, ou lh o mere-
ciam US sentimentos quo nutria pela mulher.
Não temos base alguma pára podermos fixar a natureza
do contracto de casamento entre D. Affonso iii e D. Bea*
triz de Gusman, em 1253, sendo comtudo mais que prová-

vel que o rei dotasse sua mulher, dando-lhe, talvez com este
fim, Torres Vedras i. Se D. Alfonso o sábio deu também
dote a sua fdha, é cousa (jue não sabem(>s determinar, posto
que liaja todo o logar para crer quo o não desse. O casa-
mento não parece ter sido escolha livre da parte do rei
portuguez, mas sim uma necessidade, e uma das condi-
ções para se pOr termo á guerra entre Portugal e Castells,
que se tornava ameaçadora para Affonso in. A paz, e a
promettida restituição do AIgârve por pai te de Castella,
eram de per si vantagens que o rei de Portugal adquiria
casando com D. Beatriz ; mas por certo o nome de dote,
que alguns authores empregaram, não tem cabida alguma
nessa restituído, que se veiu a realisar só depois de bas-
tantes annos.
É no consorcio de D. Dirus com D. Isabel de Aragão que
apparece pela primeira vez (quanto a casamentos reaes), era
luz não duvidosa, a doutrina da jurisprudência romana ácerca
de dotes. Dous escriptores nacionaes aíBrmam que esta rai-
nha não trouxe dote, nem mesmo enxoval ^ quando, á vista

1 Vejft-M adianto, pag. 1 14*—O NobUiario attrí buido ao eonde D. Pe-


dro, no tit. 55, dis que o eattoUo de Celorico de Baalo era daa arrhas
desta raioha, mas nenhum outro vestígio de similhante facto temos encon*
trado. É por essa occasifto que o Nobiliário relata a tão celebre, como
ínacredilaTel façanha de Martim Yasques, relatiTamente ao mesmo caa-
tello.
t Duarte Nunes, Chron.de D. Affonso iv T. 2 p. 178. —
Fraocisco Bran-
dão, Mon. Lusit. P. 5L. 16e*as.—É faefl de Tér que a aulhoridade que
XUl MEMORIAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL

doa doGumentos pablieados por uni delles, todas as pre*


sumpçôes eram em sentido contrario. Por diploma de 24
de abril de 1281, D. Dinis faz doação propter nuptia^ i

a D. Isabel» que declara receber por mulher, das villas de


Óbidos, Abrantes • Porlo de Mo£ por toda a sua ?ída ; ó
logo depais diato <pia» para maior segurança da precedente
4oa^o \ se segue no mesmo diploma a eonsignação de dose
eastellos por arrhas, de que fallámos mais acima. A doa-
ção propter niiptias era inteiramente estranlju ás leis an-
tigas do paiz, pertencendo ás romanas : esta espécie de doa*'

^
aiU$
(conhecida» anteriormente a Justiniano, pelo
m^iku, e que este imperador
nome de
denominou depois jNro>
ptfr nupiias) presuppunha sempre um doto da parto da mu<-
Iher; porque o esposo costumava oonsignal-a como segu*
rança do dito dote, e assim como, depois da dissolução do
Inatrimonio, o doto revertia á mulher ou aos seus herdei^
ros, do mesmo modo a doação propter nupltoa ficava ao
marido ou aos seus herdeiros. É verdade que D. IMuIsBSo
se aocingiu ao que mandava a lei romana a respeito desto
'
género de doações ; mas deduz^se claramente que, tendo*
se ajustado que D. Isabel traria dote, julgaria D. Dinis de*
ver retribuir pela fórma que o direito romano exigia, con-
sscvando comtudo os costumes do paiz quanto á natureza
da possa qua soa mulher devia ter daqueUac^villae- Aaossh
áiçOes deasa posse n&a eram todavia as meanasqnftse da»

iv!U)ores se arripiariiii fQi Zurita.. PaUando da questão qu» H


Ui-
yantou entre D. Affonso iv e os embaixadores do rei de ArHgfto (porque
estes exigiam que aquelle désse dote com a filha, ao que elle a principio
se recusou,com quanto a fínal cedesse), diz Zurita que um dos •rgumeQ>
108do rei de Portugal era que D. Isabel, sua mi9, Dáo trouxera âet«
qnaado viert de Aragão (Annaes d* AregAo. T. S L. Se^ S, aue dê WH^
Nas ana asaerçad deata naterti», aam naa^uiM Mira aaiafifaa^o, nál
péde aer?ir de prava eontrá doooiteBtoi aatlMotieaa.
1 « dona mus et in donacionem asaignamus propter núpcias».
9 «Ad aaiorem aateoi ArinilaMni •! aaouriutea aefaaiidiiai wpttadte'
muai».

Digiti/eu by LiOOgle
INTMID1)€ÇÍ0 xxm
Tam nas arrhas, visto que o rei reservava para si as alcai-

darias dessas villas» isto ó, o senhorio. O ter D. Dinis ieiih

brado esta doaçio prçpfer mpUai depois de recebido com


a omUier» isto os doa^ de Trancoso, bôn coioo a cer-
teea que temos, por doemnentos, de qae D. Uabel te?e a
posse eíTectiva das ditas viiias, persuade que ella trouxera
dote.
Esta não é, porém, a única prova de que o rei de Ara*
fio dotasse a filha. A it de novembi-o do mesmo anno de
1281, D. Duiis nomeou tres procuradores para irem a Ara-
gSo, afim de, entre ontras cousas, tractarem com o respe-
ctivo soberano, sobre o dote que havia da dar a sua filha,

e receberem a paga ou a competente segurança ^


Gomo complemento destes factos, citaremos o testamento
do rei de Aragão, pae de D, Isabel» feito .a 26 de dezena
bro de 1281 (7 kaleod. jan. 1282)—^poucas semanas aoh
tos do recebimento de sua filha com os procuradores de

D. Dinis. Ahi apparece uma verba pela qual deixava a D. Isa-


bel dez mil maravedis, além do que já lhe havia dado, como
declara o rei. £ para tirarmos toda a duvida que o que lhe
d4ra fòra em dote» diremos que na verba seguinte deixava
i infanta O. Violante (irman de D. Isabel, e ainda nio ca*
sada) 30KXK) libras bare^onesas para ^ffond» ea»mê, mos-
trando que o rei de Aragão se resolvéra a dotar as duas
filhas que tinha 3.

1 €.. ad eoBiientoiíduin com predicto rege Aragon, super dota ab


\pÊ9 efti» danda et iolMada pro predlata fliíd toa «t a« UteCflfaddtMi ia-
laeionvnr ifiioi dália al «oliia fieraC al ad faripiaadaB alia» aaeurititea
at obligaciones pro predicta dote nobis 8oIuenda».0 lai aGcrescenta tm-
mediatamente depois: « et ad faciendum etiam ex parte nosfra pre(íicti<

heli#abeth donaeioneru propter núpcias, si AeeeMe faerit». Esta altiaia


clausula seria apenas pro forma, visto que D. Dinis já havia feito esta
doação pr»p(«ri»uf lios; mas para nós serve de apoio ao que dizemaa
aaiMi • raspaitii da idéaqiehaQra oaeU doaçAo: Chancall. da D. IHiia
U 1 f. II Tarao. Taja-aa tanbam adianta, pag. 143 a aag.
% Qaanto ao teaUmnto. vaja-a» loa Gondaa dt Boraaloai. do ar. 1#-
XXIV MEMORIAS DAS RAINHAS DB PORTUGAL

Assim que, não ha duvida que D. Isabel de Aragão foi


dotada pelo pae, tíio só pelo marido mas qual a iinpor- —
tancia do dote e soas condições, isso é que não sabemos.
Desta epoclia em diante, vê-se, de grande numero de do-
cumentos, que foi costume geralmente seguido pelos prín-
cipes da península dotarem as íilhas« e também que as ar-
rbas dadas pelos maridos conservaram por bastante tempo
a sua natureza primitiva.
Conjecturamos, todavia, que as arrhas promettidas a Santa
Isabel, não tiveram eíTeito, sendo talvez, como ahi se diz,
mera segurança para a nova espécie de doação que D. Di-
nis fazia., De feito, dos doze castelios ^ que alii se mencio-
nam, não ha vestígio algum de ter qualquer delies perten*
eido a esta rainha, com a única excepção de Cintra; e se
essa Villa lhe pertenceu, é porque cinco annos depois do
seu casamento D. Dinis lh a cedeu por doação formal, o
que não podia ser se ellajá a possuísse. Accresce que em
1297, vivendo ainda Santa Isabel, D. Dinis deu dous des-
ses mesmos castelios-^ Villa Viçosa e Gaya — em arrhas
a D. Beatriz de Castella, sua nora, o quenãosuccederia, se.
se houvessem confirmado as arrhas de D. Isabel. Pòde-sé,
portanto, concluir que tendo-se realisado a doação proptèr
nuptias (denominação que se não torna a encontrar nas
doações nupciaes feitas ás subsequentes rainhas), foi essa
considerada como substituição das arrhas.

Senhorio e jurisdigçâo das rainhas eh suas terras. —


já dissémos que além das arrhas, os reiscostumavam fa*

zer outras doações a suas consortes ; mas estas eram total-

mente voluntárias, e não sujeitas a regra âxa, sendo mais

faruU, T. 2 p. 245. — A Lenda de Santa Isabel diz que orei de Aragão


dera a sua filha D. Isabel «muitos ricos dons e graiu vasilha de prata»,
p. 498 col. 1.
1 Vâo mencionados «diante, pag 143^.

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INTRODUCÇÁO XXV

OU menos niimerosas, mais ou menos an^ks, conforme a


inclinado e vontade do soberano. GircomscreTer-se-hia
eomtudo a certos limites, que é nosso propósito examinar.
Faltam subsídios para se detorminar o que havia a este
respeito antes do tempo de D.. Beatriz de Gusman. O modo
por qae D. Sancho i se exprime em seu testamento de 1188,
—ao fazer a sua mulher o que se poderia chamar uma es-
pécie de doação morHs causa, se fòra licito applicar este
termo a uma determinação daquella epocha, — pouco pôde ,

servir para illustrar o assumpto que nos occupa. É verdade


que, sem fallarmos no direito de successão, o rei parece
distinguir entre a doação (jue faz a suas íilhas, ea que faz
^

a sua mulher, dizendo

«... .Castello de Monle-Mayore, qvod do licrc-


dilario jure íilie inee niayori D. T. Regine. Do
prelerea Hegine, uxori niee, omnes redilus dc
Alanquer, el de lerra de Vaiiga ri de leria de
Saneia Maria, el <le Porlii ... Mando cliniii, ui
lilia rnea inayor, Ue^ina I). Tharasia Ca,^tium de

Monle-Maijore, el.... Cabanoes habeal^ atqufí po.$-


sideat Jure heiedilKrio. El lilia niea minor liabeat
eodeiu hereditário jure Bauias^ el Villam de Con-
de^ el Fão » 1.

0 dar-se âs infantas nquelles legares, com direito de suc-


cessão, é uma distincção que a natureza das cousas deixa
rompreliendor: mas além disto poderia inferir-se que ellas
teriam o senhorio desses legares, ao passo que a rainha
apenas lograria as rendas das terras que o rei lhe dava.
Àttendendo, porém, á imperfeição e pouca precisão da
linguagem daquelle tempo, arríscar-nos-hiamos a uma er-
rada interpretação da citada passagem do testamento de
D. Sancho, dando porventura á sua construcção um valor
que na realidade mo teria. De resto, lia motivos para crer

1 Ribeiro, Disseíl. Chronol. 1. 3 r. i p. 116.

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UVl 3IEII0A1AS DAS AAiNUA» DE PORTUGAL

que D. Dulce teve o senhorio de Alemquer^ se nío em fir-


tude tia presente doação, por algum acto subsequente
As primitivas doações que D. Affonso iii fei de algu-
mas Tílias a D. Beairíz de Gasman ^, limilaTam^ is ren-
das e direitos reaes, e proTarelmente, posto que o uso ve-
jamos estipalado, ènomeaçio dos offieíaes flscaes : em 4277
accrescentou-lhe o padroado das igrejas, concessão que dfr-
ia só durar em quanto por elle não fosse revogada. Foi
sò em 1279 — umas semauas aiUes do sea failecimeoto,
tres
e promelmdDte quando já o prem^qne» além de lhe
confirmar o direito de padroado em soa vida, dei^ihe a
alcaidaria dos casteilos. Masconeedeodo-Hie esse senhorio,
não ficava menos reservado á coroa o alto senhorio, como
se depreheode do documento, que nesta parte resa assim

«Oulrossi mando e outorgo queelaaia as Aicayda-


rías de eada homa deasas vUhs e os dereytos e as
rendas dessas Akaydarias aasi liuramente come ha
lodolos outros dereytos dessas vílias, e outraesi
Ím aia en sa uida assi como he dessusu dicto, mI*
vo lanio qti0 os Cauahffrm quê ela y qvmr mê'
ter pwr Aleaydet quê antrê (síc) qw entr$m «m
êstêê Caêíêhs qw façam e mi aniê mênaf/em <m
aaqneiis que depôs mi rei/narem que esses Casiêhê
que mhos dem irados e pagadas cada que lhoê aa
pêékr 9 K
Vô-se, portanto, que as doações de D. Affonso iii a saa
mulher se foram ampliando gradualmente.
Já Ttmos que D. Dinis resenrou para si os padroadoe e •

1 Veja-se. adiante, pag. 63 e seg.-- Viterbo (Elucid. T. 1 p. 266 verbo


ehapins) affirma que Âlemquer pagava cerLo tributo applicado paraocal-
ç&do das rainhas, e que por esta rasáo se deu áquella villa o nome do
Chapins da HaiiiJia ou áa Princesa. NSo dis eomlndo em que tempo m
fotrodoBÍa ene tributo, nem cHa dQeiraienloe sen respeito. PareeeHiof
fee tevi erigesi en tempos Beis iBoderaes.
2 Veja-se adiante, pag. 114 e seg.
3 ChaaceU. de D. Aflònso lu L. 1 f. UU m Areh. Nacioa.

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INTIODIJGÇAO 3ULT1I

alcaidarias das Ires vil las que deu a sua mnllipr propter
flupUas, podendo elia somente nomear os almoxarifes e
outros officiaes que lhe haviam de arretadar as ren-
fiscaes,

das. O mesmo de Trancoso em 1282, ou para


fez na doaçSo
melhor diser, a rainha apenas recebia 600 libras que llie pa-
gava csttí concelho. Mas passados alguns aiinos (1287) deu-
lhe o padroado e alcaid;iria das mesmas villas, salvo Tran-

coso ; e em todas as doações subsequentes O. Dinis cede


sempre â rainha a alcaidaria. Mas na doa^o de Leiria
"
(1300), e na de Atoug^ia (1307) n9o faz menção do pa-
droad(|, com quanto lh*o désse em Torres Novas (1304).
Nas duas ultimas doações de villas <jue fez a sua mulher
(Torres Novas Alougula), o rei deu-lhe mais o tabellio-
e,

nadq. £otro os tritaitos que se não alieuavaiQ sem expressa


OHiQCSo-**- sendo considerado aonexo ao summo império»
-«-havia o chamado colMta t: D. Dinis cedeu esta tributo
a soa Quiher em Cintra e Porto de Moz
Assim como D. AtTonso iii sujeitou o senhorio que coo*
cedêra a D. Beatríj^ em suris villas, ao senhorio eminente
da corôa, do mesmo modo, em todas as doagòes de D. Di-
nis a sua mulher, se encontra igual reserva, achando-se
iowiavelmente nellas a seguinte clausula

« Outro 89i uos dou enlodolos dias de nossa uíd«


a Alcaidaria dessa vila« en tal guisa, que uos me-
tades hi alcaide e tolhades quando uos prouguer*
que seia homem lUho dalgo, • meu nalnral, « qt»

i 9itt. de Pertttg. do 9r. HerouluBa T. 4 p. 403. e Mgf. Vnm tfipl*»


fia«contendo qm^lUta dos géneros que sq haviam de pagar como eolhel»
ta na terra de Figueiredo quando o reiaU fosse, I(^-so no fím «. .e devem
-.
.

]hÍdar(ao rei) 60 galinhas, e 100 ovos. E se ElHey quisor comer mais


galinhas deve pagar senhos soldos por elas. B devem ánr tí sobrepostas
a El Rey : sae andar y a Raynha seerem 9 sobrepostas. £ se a Rayaha y
M enév* deftm « sttr mtiiB que 6»; i. P. ftibeiro.Mem. dia Inquir. Aik
OMi. ti p. 41.
% V4a^»dii0le,pas. rntfla.

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XXVIll MEMORIAS DAS RAINHAS dfi PORTUGAL

faça ante a mi menagem por esse Caslelo^ que irado . . •

e pagado mho de quando lho eu pedir^ e que faça


e aguarde e fuça aguardar ende a mi e a meus suS'
cessares o meu senhor ».

0 rei nâo costumava especificar, nas doações, em que con-


sistiam os dirjBitos reaes, dizendo sómente

«... dou e outorgo-vos (lai villa) com lodos seus ler-


mos e com Iodas sas pertenças c com lodos seus
dcrcitos e rendas que eu hy ci e de dcreilo devi»
a aver ».

Mas na de Alouguia, provavelmente por ser terra fóra


da regra commum» sendo uma das qae haviam sido po-
voadas pelos francos, D. Dinis houve por bem individuar
os direitos que lhe eram affectos, a saber: o Castello (di-
reitos d^alcaidaria), os açougues, as portagens, o mordoma-
do, as jugadas de galegos, a vintena do pescado de galegos,
o terço da cornaria, o terço da almotaçaria
Em nenhuma das doações feitas a D. Beatriz de Gus-
man e D. Isabel de Aragão, se faz menção de que estas
rainhas tivessem qualquer jurisdicçSo em suas terras. Sa-
bemos^ porém, positivamente que D. Dinis a deu no cível
a esta ultima e ha uma circumstancia que faria presu-
:

mir que D. Mecia e D. Beatriz a tivessem igualmente.


Quanto á jurisdicção de Santa Isabel, vemol-a largamente
definida n'um diploma de D. Affonso nr, por occasiSo de
conceder os mesmos privilégios a sua consorte^ D. Bciatriz
de Gastella. Diz, pois, este monartha, por carta regia de
3 de novembro de 1329 — epocha em que Santa Isabel

1 Chancell. de D. Dinfs L. 3 f. 58 verso. — >obre os inhulop (lirp^tos


e indirectos qup, se pagovam á coroa nos concelhos, consiillp-sp a Uist.

de Porlugai do Herculano T. 4 p. 403 a 436. Era muito usual arrema-


sr.

Urem^o ewas tobcUs a particulares pur quantias delAmiiiiadfts, como


86 fé lio que vai eipatlo na eitada Historia T. S nota viii no fim do tono.

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INTRODDCÇÂO

ainda vivia,— que ha por bem que sua mulher lenha em


todas as suas víHas, saivo Évora ^ a jurisdicçâo nos feitos ei-

veis, e nos criminaes civilmente intentados, de fórma que


se das mesmas terras sahíssem appellações nos ditos fei-
tos, seriam determinadas pelos ouvidores da rainha, e nSo

pela Curia do rei que as partps não poderiam appellnr pa-


;

ra ou para a sua corte, do que os ouvidores delia rai-


elle,

nha houvessem julgado que no criminal, onde havia pena


;

de corpo ou morte, e nlo corregimento, as appeiiações su*


biriam a elle rei, ou á sua còrte, e nSo a ella < ; fíndmente,
que as cartas citatorias, ou outros similhantes despachos,
passariam pela rainha, ou por sua audiência ou chancella-
ria. Em seguida a isto o rei diz « de guisa que haja a :

c Rainha D. Beatriz a mesma jurdiçom das suas terras, salvo


c Évora, como a ha a Rainha D. Isabel», accrescentando que
seupae, D. Dinis, havia dado tal jurísdicçSo a sua itíSe D. Isa-
bel, e que elle, D. Affonso, lh'a outorgára e confirmára de-

1 Esta cidade era das suas arrhas. Nfi troca de Cintra (a que alludimos
a pag. XX nola :2j por Gaya e Villa Nova (que tambeoi linha em arrhas),
D. Affosso IT deo a taa mulher a juritdio^ooaqoeUa villa.
S É de notar que o rei fas exeepç&o aqui de Vianna, disendo que oeila
iUa D. Beatrii tlaha toda a jariadieçfto tanto oo eivei, como no criminal
— isto foi em 13^29. De feito, vemos que na doaçfto primitiva de Vianna
Báo ha reserva. Esta villa pertencia a seu marido sendo infante, o qual,
a 20 d'outubro de 1314, lh'a deu «com toda jurdiçom ecomjur e dereylo
real e com todas outros dcreytos também sperituaes como temporaes »;
doação que foi contirmada por D. Dinis tres dias depois, 23 d'outubro, es-
tando emFriellas (Lít. de Histicoe f. 93 no Areh. Nadon.)- Apparece. po-
rém» outra doaçlo da dita tilla á mesma rainha, datada de 4 de maio de

1357— pouco antes da morte de D. Alfonso iv. em que este dá a sua mu-
lher toda a jurisdícç&o real, salvo no crime criminalmentê intentado
(Liv. 3 de Estremadura f. 25 verso, no Arch. Nacion.); isto foi confirmado
com a mesma reserva por D. Pedro i a 8 de junho do mesmo anno (Gav. 13
maç. 5 n." 5, no mesmo Archivo). Segue-se, portanto, que D. Affonso iv
julgou acertado, por motivos que não transparecem, privar sua mulher,
nas cansas criminaes» de jurisdicçâo naquella viUa, a qual primittvamente
lhe havia concedido ; o que o levaria sem duvida a passar a segunda doa*
çio.

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XIX MEMORUS DAft RAINHAS DE FORT0OAL

pois D ahi vimos, pois, a conhecer a jurisdicção que ai


rainhas costumavam ter em suas terras; isto é» a porção de
jurisdicçào soperíor de que o rei se desapossafa em fiiTor
de soa consorte: porque convém lembrarmo-noe que havia
também a Jarisdic^o municipal, que residia em magistra-
dos eleitos pelos visinhos dos concelhos, e que conheciam ^

das causas em jirimeira instancia 2.


^

Dissémos que se podia presumir que D. Mecia Lopes e


D. Beatriz de Gusman tivessem igualmente a jurisdic^ em
soas terras : assim se deve inferir do facto de ellas terem
^
om chanceller K Gomo o chanceller-mór do reino tinha
^
antigamente, entre outras attribuiçSes, a de juiz supremo
da oorôa e principal magistrado da côrte do rei, parece
^
que as funcções do chanceller da rainha, dentro da sua ea«
^
phara, deviam ser análogas, indicando assim que as rainhas
que tivessem chancelier, teriam também uma côrte ou tribu-'
nal próprio, e portanto alguma jurisdição em suas terra».
Quanto a D. Beatriz, consta que, além de chanceller, tinha
"
lambem um sohrejuiz, magistrado superior, que conhecia
^
dos aggravos e appellações, mas inferior em jerarchia ao
^
chanceller K Parece certo que estas duas rainhas tiveram
"r
Ji

1 (tHv. 13 maç 4. n." \, no Àrch. Nat-ion É uinn publica fófnia da era ^


4e 1395 (A. l). 1357), irasliul.iruio quatru doe. : o que citariios é o uUiino.
^
2 V«ja-»e, subre a al^da dos juues luuoicipaesr • Uíst. de Porliig.
é» tr. HtNttlAiio, T. 4 pp. 192 a 2tS. — A jariiilicçfto áat rainiMs •m bva»
ttfraa pftncê tor^e eontervado, pouco ntis oii manos, noa meanos Unl^ ,11

tn noa rotnndoa sogutniea, oa ialvi*g tm


Umitoa algum tanto mnis oalroi-
toa. D.Affonno ft le^iaUndo tobre esta matéria, d«termÍDOu que as appol-
laçôea nas qupslôps criminaes, que sahissom das terras da raiuha, fossem ^

dasembargadas pclu ouvidor da ratnlia ua côrte e relação do rei, oade o '

|
mesmo ouvidor leria aggento; mas que as appellações nas causas eiveia
fossam do exclusivo coaUeciuiento do dito ouvidor, podeado comludo Ua- *

vtr afgravo par» oa doaombargadoroa da c6rte, guando a quantia foat«


•••ai clovnda para dar logar a isso. Vid. OrdoB. AffMi. L« 1 Ul« S» • L. 9
^
ttt.4aiSaâ.
S Va>a-40 adianta, na relaçào dos officiaaa da easa das rainhas.
4 Veja-se no logar indicado.—Consta o masmo por outra via, ppisqua.

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niTBODUGCÃO XXXI

juriidic^ em sins terras, nm n9o nos é possifei indicar


qnaes foseem os seus linilfls.
Do que fk» «xposto. oonbeoe-fis qnê n rainhas nunca tí-
Yeram o alto senhorio, mero e mixto império: que pelo
contrario o soberano conservava sempre o senhorio emi- •

Qente» e a justiça maior ou mero império. Á concessão de to-


dos esses príTilegios de alcaidaria» padroado, tabeiiionado,
e jorisdiccko no eivei, nSo se ligava de certo idéa algtnna
de poderio feudal, completamente albéa ás instituições do
paiz a verdadeira vantagem que os acompanhava eram os
:

Domerosos proventos que d'ahi auferiam as rainhas.

SOMI O MODO POR QCB AS RAINHAS PIGDUAVAII NOS Dl-


FJtoMAS puauGOS. — É bem sabido que, nos primeiros tem-
pos da monarchia, para se tomar valido qualquer documento
em que o soberano alienava bens da corôa, ou concedia prí-
viU^gios, era necessário não só que os magnates da côrte
e os prelados o cooíinnassem, mas lambem que a rainha e
seus filhos nelle ílgurassem como consentindo na concea-
sio; embora nesta parte fosse mera formalidade, nomean-
do-se mesjno os infantes ou infantas quando apenas aca-
bavam de ver a luz. Esta pratica^ que iguabnente se dava
nos outros reinos da península, e que derivou sem duvida
da doutrina primitiva, (|ue negava ao marido o direito de
vender hens de raiz ou demandai-os em juixo, sem outor-
gsmento da mulher, doutrina que se tem conservado no
nosso duneito civil —
parece ter subsistido até o fim do rei-
nado de D. Dinis ; nas nem sempre com a mesma perais-
lencia, modiíicando-se gradualmente até acabar de todo.
As quatro primeiras rainhas, D. Theresa, D. Mafalda,
O. Dulce e D. Urraca, figuram em quasi todos os diplo-

Q'ua etitabeieriiuealú d« seu marido, D. kSoaso iii, ló-se «... oven^ea


:

aaioret «U rainha e seu iobrejuiz » ve)a>ie Purt. Mooum. Miai Uget


:

et eoBsaet» tal. t p. SOS | tf7.

ivju,^cd by Google
XXXII MEMORIAS DAS RAINHAS DE PORTUOAL

mas de seus maridos, isto é, nos perteDcentes ao tempo


em que YíYeram e os poucos exemplos «m que se dá
essa falta, devem considerar-se, talvez, apenas como irregu-
laridades de chancellaria Se examinarmos esses documen-

1 Ao principio daT»-te algama irregularidade nas formulas: cEgo


D. Heoricus tino ctim uxore (ou cônjuge) míat, ele. «Kgo Henricus cum
(jloriosa uxore tnea». «Ego famulusDei Henricus rgregius comes et Ego
famula Dei Tarazia, ejus uxcr». «Ego Comité Henricus tina cum con-
sensn coiijugia mea» (vid. Dissert. Chronol. T.3P.lpp.34 —
58). Na chan-

cellaria de D. AíTonso Henriques e seus successores.nota-se maior rega*


laridada, leodo-ie quasí sempre c... una (ou partter) eum uxore mea»,
ou eutio c... «I uxore mea». Aeha-se, porém. D*uni documeoto : «Ego Al-
fonsua... aasenau meoat voluntária eoneeuUmêuxoris mece Regince Ma^
haláa»', e n'uma confirmação de D. AíTonso ii, de dezembro de 1217, a
rainha não figura no principio do documento, mas só no fim por esta
forma «... unde sciatis quod cumconsen&u et uo\un\ate uzoris mee Re~
:

gine domne Vrrace»; Ihiá, pp. 129 —


143, 176 —
197. — Documentos de
D. Affonao ii, na ChanceU. de D. Affonso iii L. i passim. —
Collecç.
Bapec* eaixa 18, no Areb, Ifacion.
S Por exemplo, eoeontra*ae uma earta de eoato de D. AJfonao Henri-
riques em que não figura D. Mafalda, nem seus fllhoa ; .ánu doaçôea do
I) Sancho i em que se observa igual omissão e tres foraes do mesmo
;

mooarcha em que, nomeando-sc os filhos, não apparece o nome da rai-


nha, com quanto vivesse (Dissert. Chronol. T. 3 P. 1 n.°" 419, 567, 574,
OOi, 622 e 644]. Encontram-seigualmente documentos de D. AíTonso Hen-
riques em que não figuram seus filhos, existindo elles alias. Na CoUec-
çãoBspeeial, no AreliiTO Naeionat, eaixa 18, aelia-seuma doaçiode D.8an*
cho 1 dè 8 de jnUio de 1198, em que ana muUier D. Dulce nio figura. Ahi
também existe um privilegio de D. Aflònso ii do 1.* de julho de ISIB em
que nem a rainha D. Urraca, nem seus filhos figuram. —
É de crer que
o exemplo citado por Ribeiro ''Dissert. Chronol. T. 1 p. 89), de faltarem
of nomes de D. Urraca e seus filhos no foral de Villariça, de 6 de junho
de 1218, fosse apenas uma irregularidade de chancellaria, e náo uma in-
novaçáo poisque n'uma doação expedida no dia precedente figuram a
:

raiohaeoa infantea (Coilecç. Espoe, caixa SB), o depois da morte do


D. Urraca os filhos vem nomeadoa em Tarioe diplomaa (ibid.). Nem Iftra
licito dizer-se quetal innovaçioae derasd para comos foraes, porquanto
é certo que I). B<'atriz de Gusman e Santa Isabel figuram em alguns. —
No reinado dc D. Sancho adoptou-se o costume assaz seguido, de no-
i

mear os filhos todos juntos poV estafórma «cura filiis nostris» ou «et fi-
:

liis et filiabus meis», sem os designar pelos seus nomes, posto que isto

se Oleoso moitaa voiea ainda oo tempo de O. Sancho i, e quasi sempre


no» reinados tanto do sou predecessor, como do sen aoecessor.
INTROD CÇÁO XXUH
toSj Teremos que todos dizem respeito á concessiode beos

OQ de privilégios : sSo todos doações, escambos, foraes,


cartas de couto» de privilegies, de venda, oa então confir-
mações de outros taes documentos de reinados anteriores.
Póde-se concluii-, portanto, que até lodo o reinado de D. Af-
fooso II, que a rainha e seus filhos figuras-
era necessário
sem em todos os diplomas que importavam alguma dimi-
dqíçSo nos bens da corôa, ou cerceamento na sua accSo
administrativa.
A rainha D. Mecia n?ío figura em documento algum de
D. Sancho ii : mas a verdade ê que r(íslam mui poucos do-
cumentos pertencentes aos últimos annos do seu reinado:
não encontrámo» um sequer relativo ao tempo em que ji
devia estar casado.
É, ao que parece, no reinado do seu successor, D. Af-
fotiso ui, que essa regra de chancellaria principia a modifí.
rar-sp algum tanto. Posto que a rainha continue a figurar
nas doações de alguma importância, e nosforaes, vê-seque
o rei não associa a consorte na expedição de outros diplo-
mas de menor vulto, ainda que por elies, até certo ponto»
se alienassem bens, como nas cartas de aforamento. Com o
tempo a pratica fot-se afrouxando ainda mais, posto que
lentamente e com pouca regularidade, eticoiitrando-se con-
firmaçÕPs e foraes, por exemplo, em que Santa Isahel não
figura, com quanto n outras veoha meacionada. Mas como
regra, tanto D. Beatriz de Gusman, como Santa Isabel con«
tinnam a figurar em todas as doações importantes
Ck>meçando-se nos fins do reinado de D. Affonso iii a
escrever os documentos em vulgar, a formula usual por
que a rainha vem mencionada, é esta « Eu D. Affonso (ou :

Dinis) emsembra com mha molher a Reynha D. Bea-


triz (ou Isabel)» etc. Na carta de D. Affonso iii sobre o

1 Vejaoi-se os Livros da Chancellaria de D. Áffoiíso ui, e d» D. Di-


dU. ptMilD.

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XXUV MBMOftUS DAS BAINHAS » PORTUGAL
eorregimento do reino em 1273, temos um exemplo nota-
Tei além de figurar a rainha D. Beatriz oo priocipio
:

documento pela fónna que acabamos de indicar, apparece


ootra vez no ftm« nSo só outarffondo o qae o rei mandava,
senão também estabelecendo certos limitas ao consentimentp
que dava, poisque se lê: «E eii donna Beatrix ... sem- m
bracom meus íilhos e com mhas filhas... todeste que Elrey
manda outorgoo e prometo de o teer mluo por mi e por
meus filhos e por mbas filhas gue dou nm outorgo a nm
êUt (aos corregedores) poder de fazer nulha rem eobeku
èemfôee e eohrêloeahanmtosquefezelRey don SoticAo Ayr-
mao do sobre dicto Rey don Alfonso 9. Esta mesma reserva
é repetida logo depois pelos infantes e infantas. Ni5o deve-
mos suppôr, porém, que essa clausula fosse suggerida pela
rainha, mas antes que seria imposta pelo rei ^ Também
oHmia doado de D. Dinis, de 13 de outubro de idOO, se
lé : <eom mUorgamento da Reynha dona Isabel e do inflbnte
don Affonsoi ^.
Temos um exemplo singular, que mostra o quanto se
considerava necessário que a rainha figurasse nas doações
da coròa para lhes dar validade. £ uma doaçio que D. Af-
toso III fôzia em
4261 a D. Aldonça Annes com quem elle
6ohabita?a« dando-o assim a entender no próprio diploma,
pelo l^cto de apontar as condiç5es que deviam vigorar no
caso de ter filhos delia : ahi nomêa a rainha sua mulher por
este modo : € una cum regina D, Beatrice H

I VM. Port. Mon. Hist. leges et consuei. vol. 1 p. ttS « teg. do-
eum. HIV. —
Quanto A significação histórica deste dOQun., veÍa*M t
Hist. de Portugal do sr. Herculano T. 3 p. 13â e segg.
2 Collecç. Rspec. cnixaSO. no Arch. Nacion.
3 Docum. citado peio sr. Herculano, Hist. de Porlug. T. 3 p. innota 1.
Dep9U 4e9ltliiotiiiiio valeria a paDt fater reparo D«a doações d« D. Di*
nie • algana fllhoa baatardos «ém «ambra eom a rainha Pona Uábtl
mha molher»: Chancel). de D. Diala L. 3 f. 33 terão, e L. S doa Bena doa
Propr. f. dS. 00 Arch. Naeioo. —
Veja-ae nm doenneolo algum taBtoaot-

Digitizeu by
iNmoiwoçÃo xxvf

Em nenhum dos diplomas de D. Affonso iv que imoa


flgara sua mulher, D. Beatriz de Gastella, nem sequer nas
doa^&es e n3o nos consta que se cite algum em que ella
;

appareça como outorgando juntamente com o marido. D'onde


colligimos que D. Dinis foi o ultimo dos nossos monarchas
que julgou necessário observar, como regra, a formalidade
de o nome da consorte ao seu nas cartas de doa-
associar
00, ou em outros quaesquer diplomas. Dizemos como regr^
porque pôde ser que o tempo nos depare alguns casos iao*
lados, como por exemplo o assaz singular de figurar a rai-
nha D. Leonor Telles, juntamente com seu marido D. Fer-
nando, no tratado de 16 de junho de 1373 entre Portu- ,

gal 6 Inglaterra L

CaBBNCIA absoluta de ASSIGNATURAS formulas CON- —


PIUiATORUS E SI6NAES QUE AS SUPPEtAM. Até D. DiníS —
nenhum dos nossos soberanos assignava os documentos
foi elíe o primeiro que introduziu essa pratica, que depois

se foi continuando Não podemos estabelecer com a mes-


ma certeza qual fosse a rainha que primeiro adoptasse o
costume de assignar. O primeiro exemplo, porém, que en-
contramos é n um diploma de D. Leonor Telles, mulher
de D. Fernando, datado a 15 de julho de 1374, no fim dò
qual se acha a sua assignatura por este modo : Rêynha 3.

Temos por indubitável que Santa Isabel nSo assignava os


documentos que se expediam pela sua chancellaria ( res-

tam-nos bastantes, pertencentes a differentes epochas da


togo aò relsrido ao texto, passedo pdo rei dc Cattell», o qqil eilaoMM


adiante, pag. itt nota 3.
1 Rymer, Poedera T. 3 P. 3 p. 8, ediç. da Haya. — n«flioot, Corpa
Univ. Diplomai. T. áP. 1
p. 92.
i Ribeiro, Dissert. Ctironol. T. 3 P 2p 18, oade se eitam varíos exem-
plos.
3 CoUecç. Espec. caixa 72, no Arch. Naeioa. Ro oieiBO logar eacon-
triB-«e outros diplomas de 1977 e 1381 essignadof pela mesma ftona.

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XIIVI MBMORUS DAS RAINHAS DB' PORTUGAL

sua vida, nos quaes se nlo encontra um único caso de si-

miihante pratica
Gomo espécie de substituição ás assignaturas, costuma-
am 08 notários fazer no íim dos documentos régios uma se-
rie de cruzes, ou para melhor dizer, traçavam uma linha
horizontal, rortnndo-a com tantas riscas ou linhas perpen-
diculares quantas eram as pessoas que figuravam com o rei
como outorgando ou consentindo :por exemplo^ se com
este figuravam a rainha e dous filhos» faziam-se quatro rís-
câs perpendiculares, cortando a linha horizontal. Esta regra
mosira-se quasi invariável. As nossas investigações depa-
raram-nos apenas tres excepções, que se devem natural-
mente attribuir a dpsc.uido : i." N um diploma de D. San-
cho 1 das calendas de fevereiro da era de ii32, ao passo
que figuram seis nomes, incluindo o do rei, as riscas s3o
sete, havendo uma delmais; 2.® n'outro de D. Affònso ii
de 3 das calendas de agosto da era de 1249, fíguran<ío a
rainha e os infantes D. Sancho e D. Leonor, vôem-se só
tres riscas, devendo ser quatro 3.'^ n oulro do mesmo rei
;

de 5 de junho da era de 1256 apparecem os oomes da rai-


nha e seus quatro filhos, ao passo que as riscas s3o ape-
nas quatro, devendo ser seis ^.

As formulas que precediam essas riscas não seguiam um


typo invariável, mórmente nos primeiros tempos passa- :

remos a dar alguns exemplos. No tempo de D. Theresa


diz-se : « Nos siipradictos hmc testamentum propriis mani-
bus Roboramus-» . A primeira syllaba de Roboramns está
separada do resto da palavra pela linha horizontal cortada
por tres riscas, indicando, sem duvida, a rainha, o conde

1 Masn*um <iorum de 1331 expedido em nome da rainha por via de


dous ouvidorps peus, assignam estes funcrionarios no fim, um em lalim
outro em vulgar e havia de ser pelo próprio punho, porque a letra é
;

diveraa da do corpo do documento, eo é igualmente comparando as diiM


assisaatnras. Yeja-so a noU XXXI do fim do Tolome.
S- GoUecç. Espee. eaiia 48, no Arch. Nàeion.

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INTIIOIIUCÇÃO lUTll
I>. Fernando e o mestre do Templo, que figuram no documen-
to ^ Eis outros exemplos da mesma rainha, citados por
Viterbo ' : < in hae carta manus nostras robaramus »
(aqui as riscas v?ío depois da palavra roboramus, e são duas,
uma pelo conde D. Henrique, a outra por D. Theresa),
< hanc Kartam própria manu (ou manu mea) rob(h
ranfi • , f hanc Kartulam manu mea confirmo » K '

Do tempo de O. Affonso Henriques podem-se notar, en-


tre outras, as s^intes variantes : « Ego Alfonsus Rex et
uxor mea Regina Mahalda m hanc Kartam tnanus noslras
ad roborandum ponimus, facicntes hcv siyita » (docum. de
ii54); entre hec e signa apparecem as duas riscas per-
pendiculares cortando a Unha horizontal. « Ego Alfonsus Por-

tng. Rex una cum uxore mea Regina Mafalda, et filiis meis,
hancK proprtís manilm rohoramus et koc si^num
facwmiw (docum. de 1158): entre signumefaeimus acham-
se as riscns, que são (juatro, indicando assim que os filhos
eram dons Um dociimiMito de 1109 tem « hanc car-
tam propriis manibus roboramus sem se notar nelle
nem a linha horizontal nem as riscas perpendiculares
Uma doaç3o de D. Affonso Henriques ao mosteiro de Al-
cobaça em fevereiro de 1183 offerece-nos um exemplo
pouco commnm, não pelo desuso do que nelle se obser-
va, mas pela falta do documentos daquelle período : em
lo^^ar (ia costumada linha horizordal cortada pelas perpen-
diculares, vê-se uma cruz correspondente a cada nome, pela

1 Doação de Soure aoe Templários, 14 kaleod. april. era 1106 : Ibid.


2 Elucid. T. t p. 321 e segg.
3 Ribeiro (Diasert. Chronol. T. 4 P. 1 p. 155 n. TGD) cila uni liorumento
do anno de 1110. pasmado pelo conde D.Henrique e sua mulher, onde.
em logar da linha horizontal e as riscas, se achavam duas cruzes en- :

tre 08 braços da primeira eslava escripto Henricus, e da segunda 7ara«


tia.
4 Elveid. T. 1 p. SW:
5 Colleeç. Efpec. eeixe flS.
XXXYIIÍ MEMORIAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL

fórma que damos em fee-simíle : c Ego Airònsos |K)r-


tugalensium rex hmeKaríam facere iussi et impresêò hoc

coram boms kominibus roboratú. Ego rex Saucius hoc. (or

cmm taU gfflf


' ^T^" **
1 ^"^J^^^^.-^—^^
.
I
' w) imprem

1
manu própria roboro et confirmo, £go regina Tarasia ^ hoc
1

fãctmn iito mg no tmprefio


/
propriamanu roboro et confirmo. Ego Regina Dulcia ^ cum.
fílíabus meis Regina domina Tarasia et Regina domina San-

eia taU dg 1^4^ no imprem hoc

factum roboro et confirmo » 3.

Existe um documento de D. Sancho i, cuja genuinidade


porém n3o podemos certificar, datado da era de 1224 (aono
de H86), sem mez nem dia, em que lambem se notam
cruzes em logar das riscas « Ego supranominatus rex Dom-
:

nus Sanlids qui hanc Kartam facere iussi coram testibiis


manu própria roboraui et hoc sig-^num feci. Ego Regina
domna Dulcia quod feci roboro et hoc dgno imprena^eoih^
firmo » ; em seguida confirmam as infantas D. Theresa e
D. Sancha, mas sem cruzes nem signaes alguns.^. N'um
1 de D. Affonso Henriques
Filhii
2 Mulher do infante-D. Sancho.
3 Collecç. Espec. caixa É a este documento que pertencem os ro-
dados produzidos adiante na estampa fig. 5. i

4 Ibid. As cruzes que aqui damos não $&o fac-similes.

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INTBOIWOÇAO XXXII

documento do mesmo anno, em que a rainha e as mesmas


iníantas figuram com a formula: c hanc cartam ttia-
simits facete mofit^ prcprm robaramue 9, depois desta
ultima palavra acba-se a lioba horíiootal, mas sem riscas
alemãs, o que se deve attrflmhr a descuido da parte do
notário.
\ formula 110 tempo de D. Alfonso 11 é mais regular :

em todos os documentos que vimos deste soberano, com


quanto oem sempre os notários fossem os mesmos» eu»
eontra-se invariavelmente a formula que se segue, com
as riscas logo depois da ultima palavra, como se vé do
fac-simile, variando, porém, o numero das riscas segundo
o numero dos que figuram no documento « Nos supror1 :

nominati qui hanc cartam fieri iummus (ou outras vezes


l^ecepimus) coram eubscriptis eam robaraumus et ea m
kec signa fecimus

Depois do reinado de D. Affonso 11, parece que se des-


continuou de todo o uso das riscas e cruzes nos documeo-
tos, ao menos em nossas diligencias não se nos offerecea
exemplo algum, com quanto as formulas, mais ou menos
modificadas, continuem a apparecer nos tres reinados im-
mediatos
Os exemplos que acabamos de dar fariam crer que as
riscas se traçavam pelo próprio puniio do personagem a

l Vários documentos na Collerç. Espec. caixa ÍH. —


O fac-simile foi
copiado do mesmo documento em que se âchao rodadona estampa u fig.8.
a Viterbo (Elocid. T. 1 p. 332 col. 3) produz um documento de Saa-
dio II de 1116, em que appareee eiiia erni eono teodo tido feita pele rei.
É ^revevel que o coetame einde eenliooeiee eee prineilree aoaee deite
ttonereha.

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MBMOaiAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL.

que diziam respeito. É, porém, impossível ffdraittir esta re-


^ gra ao vermos que essas riscas são conslantemente mui
uniformes eotre si : e como suppôr que cinco pu seis pes-
soas, 6 entre ellas muitas vezes simples crianças, podessem
assentar cada uma a sua risca de fórma que se notasse tio
pequena differença entre as mesmas ? É moralmente certo
que, apesar da declaração pr opriis manihus (que alias nem
sempre appartíce), era o próprio notário quem as fazia
Admittíndo-se, porém, que no priucipio essa declaração não
fosse letra morta» e que alguns dos monarcbas leonezes e
castelhanos traçassem por sua própria mfo as riscas, nUo
é menos certo que as formulas empregadas chegaram com
o tempo a não ter significação effectiva. Parece-nos que se
pôde estabelecer como certo que desde o principio da
monarchia portugueza, eram os notários qu(^ faziam as cru-
zes ou riscas, o uso das quaes se foi conservando por mera-
formalidade nos documentos até todo o reinado de D. Af-
fonso II, cessando depois inteiramente passados os primei-
ros annos de D. Sancho ii.

0 que, com effeito, leva a presumir que as declarações


confirmatórias eram, desde muito, unicamcnle urna forma-
lidade de chanceliaría, sem importância alguma, são as es-
pécies que nos restam dos reinados immediatos, em cujos
documentos essas formulas s3o empregadas ou supprimi-
das, ao que parece, segundo a vontade do notário.
N'um documento de Sancho ii, de abril de Í2íá9, lô-se:
« hanc cartam iussi fieri et coram infrascriptís propriis

manibm roboraui et meo sigiilo feci communiri » ^. £m


1 J P. Ribeiro era também dessn opininn viu lle uma mullidáo de
: r

documentos nos diversos cartórios do reino, e observou sempre a notá-


vel uniformidade que se da?a nas riscas. Cita, porém, o mesmo auihor
exemplos de particulares terem feito as eruiea ou riseas convo próprio
>
ponho Díssert. Ghronot. T. 8 P. S p. 15 e seg T. 4 P. t p. 168.
: ;

t iDolaido n'ama eonfirmaçflo de D. Dioia : Ghaocell. de D. Dinis


L. 1 f. 76 no Árcii. Naeion.

Digitlzed by
INTBODOCÇÃO XLl

outro (Io Qiez seguinte, a formula é idêntica ^ : não vimos


os origÍDaes, mas no registro imita-se o sello deste ulti-

mo documento, ao passo qae as. riscas faltam inteiramente.


N nm diploma original do medmo rei, de 1235, folta a pró-
pria formula, achando-se só a declaração relativa ao sello
« hanc cartam feci mpo sif/illo próprio commumri » o no- :

tário cliamava-se Henrique. Mas depois, em dons documen-


tos originaes de 1239 e lâiO. exarados aml>os pelo notá-
rio Jalíano, lemos : « istam Kartam meo sigiUo feci si-
gíllari et meis manibus proprtís roboraui» , sem se notar
riscas nem outros sígnaes alguns, sendo a formula em am-
bos idêntica 2.

O mesmo acontece 110 i tMiiadi) de AlToiíso iii : escusado


é, talvez, repetir que em uenlium dos seguintes exemplos
se acham riscas ou signaes de espécie alguma. < istam car-
tam meo sigiUo feci sigillari et manibus proprus mm
roborauiw (docom. de fever. de 1255) cfeci.... presen- ;

tem cartam .... mel sigilli munimine roborari », sem mais


declaração (abril de iá55) :«presentem cai lnm....mei sigilli

munimine roboraui quam cartam incis mambus propriis


roboro et confirmo (maio de li55). £m outro diploma
do mesmo anno só se allude ao sello, sém a formula con-
firmatoria. Em documento de 1259: cprecepi....hanc car-
tam fieri et mei sigilli munimine communiri in testimo-
nium rei geste», sem outra declaração « hanc cartam... :

quam.... feci meo sigillo ^'\g'ú\'òi'[ corroboro et confirmo (maio


de 1260). Em documentos de 1256 e 1263 falta a formula;
mas em maio de 1267 apparece outra vez: •.„,mainibu$
'meiê roboro et confirmo 9, É desnecessário multiplicar os
exemplos ; e diremos apenas que a irregularidade nota-se

t Ibid. r. 77 ireno.
S CoUecç. Etpee. eaiia SS.
XLII , IIBHOAUS DAS lAINHAS OB PORTUGAL •

muitas vezes em differeotes diplomas exarados pelo mesmo


notário i.

É muito raro encontraroios a formuia confirmatoria na


cbanceUaria de D. Dinis, com qaanto appareça ainda akgu-
mas Tezes. «Nas doaçQes da qninta de Pandega da Fé, e de
Leiria feitas a Santa Isabel em i!298 e 4300, lô-se : < A qual
carta a vos com inhas mãos próprias rouoro e confirmo»,
sem trazer, comtudo, a assignatura real ^, posto que D. Di-
nis já tivesse introduzido o costume de assignar algumas
ezes por sua mão K Blas como os originaes destas doa-
çOes nSo existem, fôra, talvez, imprudente dar-Ihes muita
importância neste assumpto. Nlo acontece o mesmo em
outro documento : vimos a doaç3o original de Torres No-
vas, feita á dita raiulia em 1304, na qual se lê pela mesma
fórma : < dou ende a uos....esta mlia carta seelada do meu
seeio do cliumbo, a qmU carta a uos eon mhasmaãasfHrO'
prias remro e eanflrmo i. Neste diploma i^o se yé assi-

gnatura de espécie alguma, tendo apenas o sello pendente.


O notário que redigiu a doação de Leiria também é outro *
No foral dado a Ourique em 8 de janeiro de 4290, no qual .

Ego predictus iiex dom-


figura a rainha. D. Isabel, lê-se: c
nus Dionisius una cum dita Vxore mea roboramus et cofi-
frtnamm ístam cartam et eam sigilli mei piumbei feci.ro-
bore communiri » sem sedeciarar que o original tivesse as-
,

signatura 8. Quando o rei assignava, a formula era diversa.


N um diploma de 2 de novembro de 4349, em que o rei
íigura só, lô-se: c mandei ende dar a N... esta mha carta
seelada com meu seelo e so serem en eta meu nome com

1 Collecç Esper., caixa 29.


2 Chancell. de D. Diois L. 3 f. 5 verso e 11.
3 Já tiabft tsiigaado com o sen nome em diplomes de IMS e 1197 : Die-
lert. Chronol. T 3 P. t« p. 18.
4 Cartório de Santa Clara de Coimbra.
5 Registrado na ChaneeUaría de D. Dinis L 1 f.ÍS9.
nmOMrcçÃO XLUI

mha mado», e no fim vem em letra differente, sendo evi-


dentemeote do punho real «Eu el Rey don Denis sso
:
^
creuj aqi (aqoi). fim outro anleríor datado de de março ^
de 1295, onde figura a Faínba e aeus filhos, apparece aan-
iígn formula junto com a no?a : c Nos sobreditos Rey eRey-
nha e Infantes fazemos e outorgamos todas as cousas so-
breditas, e cada hnma delas, e con/uniam^las e reaoramo-
las, £ eu Rey don Denis con a Keynlia
sobredito e
con nossos filhos damos ende a N.... esta nossa carta
seelada do nosso seelo chumbado e èn elacan nossa mão
própria so screuemos » : no fim vè-se a assigoatura unica-
mente do rei, pela fórma do precedente documento ^
Níío (Micontrâmos um único exemplo da formula confir-
matoria cui documeutos do tempo de D. AHonso iv.

SrBAGiSTiGA. — O que Terdadeiramente data o cunho de


authenticidade aos documentos era o sello. Parece que
desde o secnlo viii até o meíado do xii o uso dos sellos
cahiu em desuso, principiando então a apparecer de novo
. nos documentos
Os de que se serviram os nossos reis e rainhas, até á
epocha de que tractamos neste volume, foram de tres espé-
cies : os signaes, rodas ou rodados, e os sellos pendêntes.
Os signaes e os rodados pouca diiOferença faziam excepto na
fórma, sendo os primeiros mais irregulares, e os segun-
dos ci?*culares : tanto aquelles como estes eram traçados
â penna pelo notário no fundo do docmnento, entre as co-
lumoas dos confirmantes e testemunhas. Nos rodados vô-se
quasi sempre o nome do soberano e da rainha ; os infan-
tes e infantas também figuram neiles umas vezes pelos seus

1 Golleeç. Bspec. eaixt 80. —


D. Of ais atmgntfa tanbem «nitro
nodo: vejam-sealgoDS exemplos nas INaserU Chroool. T.3 P. Sp 18.
% Ribeiro, Diwert. Ghronol. T. 1 p. 10S nota 8.

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XUV MBIIORIiLS DAS RAINHAS DE PORTUGAL

nomes, outras collectivamente. Nos signaes esta regra não

era tão seguida, vendo-se ás vezes só o monogranuna do


soberano, uma cruz^ ou a palavra Portugal. O setlo pen- LI
dente era de chumbo, ou de cera, gerabnente de còr branca,
vermelha ou escura ; ou era feito de maltha, composição
que se parece bastante com a cera. Tinha as armas reaes
estampadas commnmmente era ambas as faces : e pendia
da parte inferior do documento por uma tira de couro, ou de l T
pergaminho, ou por um cordão ou fita de seda, de linho
^ ]

ou de Ian, ou por uma trança de seda« ou fios de retroz


ou de cadarço ^
Nos documentos do tempo de D. Theresa n3o se encon-
tra senão o que chamam signaes. Na estampa fig. 1 i

damos um fac-simile do signal de D. Theresa, tirado do


único documento original que encontrámos desta rainha.
É a já referida doação de Soure aos Templários (49 de março
de 1128) 3. Ha duas columnas de confirmaotes, e uma dey
]
y
testemunhas : o signal está entre a segunda columna dos
|
confirma rites e a das testemunhas. Por cima da cruz vê-se }

um T, na extremidade do braço esquerdo cf, quo signifi-


cam Tarasia oonfirmavit; não partilhamos a opinião de A
Viterbo, que pretende que esse monogramma fosse do pro-
prio punho da rainha. |
^
'
NSo se deve suppòr que o soberano adoptasse um si-
gnal certo e conhecido porque os monumentos provam o
;
j

contrario, parecendo que o notário traçava o signal con- ]

forme lhe parecia. Apenas dez dias haviam decorrido desd^ |

a doação de Soure, que acabamos de citar, quando a rai- ;

1 Achar-se-hio mais particularidades a este respeito nas Dissert.


GhroDol. T. t p. 91 e segg.
a CoUeeç. Bspee. etixa SS, no Areh. Naeion. --Viterbo eneootrou ca-
iro exemplar dotta doaçlo oo cartório de Thomar, e dá noa copie do
signal da rainha, algum tanto dillèrente do que prodotimos iJBIncid.
T. 1 p. 323.

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INTBODUGÇÁO XLV

nha passou outra, coalinnatoria da primeira, f alii appa-


rece o signal da raÍDba por forma inteiramente diversa,
sendo apenas uma cruz cortando a palavra P0R-TV-6A-L K
Viterbo dá mais tres signaes pertencentes a D. Tberesa,
todos diversos entre si : um deUes imita uma estreita, cu-
jos braços partem o nome da rainha, Ta-ra-s-i-a 2.

Signaes de diversas f(')rmas continuaram a ser traçados


nos diplomas de D. Aífonso Henriques por bastantes an-
nos depois que começoa a administrar o paiz, e mesmo de-
pois do seu casamento mais tarde, porém, adoptou a fór-
;

ma circular, ou o rodado, continuando sempre certa va-


riedade nos enfeites e ornatos. Não encontrámos documento
algum original com rodado —
pelo menos que sf possa con-
siderar acima de toda a excepção relativo ao tempo da —
rainha D. Mafalda (1146— ii5â) ; tivemos, portanto, de re-
produzir do Elucidário 3 os tres exemplos que damos na
estampa i. A
2 representa os signaes do rei e da rai-
fig.

nha, que se acbam n'uma carta de confirmado à sé de Vi-


seu, do anno de MõO. Na doação do couto de S. Pedro

de Mouraz á mesma sé, datada de 30 de setembro de 1 15á,


vôem-se dous signàes de fórma diíTerente, e sem os nomes
do rei e da rainha (fíg. 3). N uma doagão de cinco casaes
ao mestre Soeiro Tedoniz, professor de medicina (em re-
compensa da cura que tinba Rodrigo Exemeniz por
feito a
ordem real), feita em Mõi, vè-se entre as columnas dos
confirmantes e testemunhas, os dous rodados, de fórma
perfeitamente circular, do rei e da rainha ; mas em logar
de se achar uma cruz em cada rodado, conforme o costu-
me mais seguido, apenas apparece uma entre os dous ro-
'
dados (fig. 4).

1 Eloeid. T. 1 p. 3SS eol. 1, e Tab. tn n. 8 no âin da obra.


S Ibid p. 321.eTab. iitn. 19e15.
% T. Ip. 325eTab. iitii.7. »
XLTI MEMORIAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL

Ha exemplos de rodados com o busto do soberano re-


tratado no centro. Francisco Brandão e João Pedro Ribeiro <
citam um exemplo relativo a D. Mafalda n'ama doação :

qae D. Affonso Henriques fez de certa herdade a D. Gon-


çalo de Sousa, em junho de 1155, achavam-se doas roda-
dos, n um dos quaes eslava traçado o busto da rainha
D. Mafalda, no outro o de D. AtTonso Henriques com Ca-
bello comprido. Conservava-se este singular monuineDto
no cartório de Pombeiro (gav. i9 n.'' 19) ; mas tendo-se
infelizmente perdido este rico cartório n*um incêndio que
occorren ha alguns annos no Porto^ iameiítamos nUo nos
ser possível dar um fac-simile daquella curiosidade.
Desde esse tempo, os diplomas de D. AíTonso Henriques
apparecem quasi sempre com rodados, alguns assaz ricos
de ornatos. Geralmente os infantes e infantas «são ahi
mencionados com o rei ; mas ba exemplos de se achar
mais de um rodado no documento. Na estampa i Og. 5 da-
mos nm, pertencente aos fins do reinado desse monarcha,
não só pelo primor da execução, mas por.jue ali apparece
o rodado de D. Dulce, casada com o herdeiro do tbrono,
o infante D. Sancho. É tirado do documento original con-
servado no Arcbi¥p Nacional ^ sendo uma carta de doação
feita por D. Affonso Henriques ao mosteiro de Alcobaça

em fevereiro de 1183. O rodado maior é do rei de um :

lado está o de sua íilha mais oova, D. Theresa, ainda não


casada, sendo a única que n'a(jue!la occasião se achava na
còtle ; do outro lado está o rodado do infanta; D. Sancho»
e por baixo deste o de sua mulher D. Dulce, fym quanto
as duas filhas desta, D. Theresa e D. Sancha, figurem no
corpo do documento junto coih a mie, todas tres com ama

1 Moo. Lu8it. P. 6 L. 18 e. 84. — Diitert. Chroaol. T. 1 p. 8T. §


DbMTV. «le Oiplom. p. ISB.
f Golleeç. BtpM. etiia 18. *

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INTROBUOÇAO XLTII

única cruz vô*se todavia que não vão mencionadas no


rodado.
Dos reinados de D. Sancho i e D. Affonso ii, os docu-
mentos costumam ter um só rodado com uma cruz tra- —
çada ao centro —
no qual vão designados os nomes do
rei, da rainha e de seus filhos; mas notam-se variaçoos na
disposição dos Domes, como se vé das espécies que pro-
duzimos em fac*simiíe, e de outras que se acham em di-

versas publicações ^. Na estampa ii apresentamos dous ro-


dados ein que figura a rainha D. Dulce (figg. 6 e 7), e um em
que se menciona D. Urraca (fig. 8). O de fig. 6 está algum
tanto deteriorado, e é copiado da donrão original de Alcnrer,
Palmella, Almada e Arruda á ovúoAn de Santiago, feita por
D. Sancho i a ^8 de outubro de 1186. O de fig. 7 acha-se

na doa0o original de Santos á mesma ordem, feita pelo re-


ferido rei no 1."* de fevereiro de 1194. O de fig. 8 é ti-
rado da doação original de um moinho em Leiria a Pedro
Garcez, feita por D. Affonso ii no l.** de maio de lá 17
O primeiro dos nossos soberanos que fez uso do sello
pendente foi D. Sancho i, còntinuando todavia a servir-se
também de rodados ; isto é, ás vezes apparece o rodado
o sello só, e algumas vezes encontram-se
só» outras vezes
no mesmo documento um rodado e um sello pendente. Ha
occasiões em que o sello se acha declarado no texto do
documento mas isso nem sempre acontece. N um docu-
;

mento de 1186, sem mez nem dia, vê-se uma tira de couro
d'onde pendia o sello, e não apparece rodado ^ : não af-

fiançamos, porém, a genuinidade deste diploma. Em outro


de II de janeiro de 1194 succede o mesmo, com a diflie-

1 Vide ante. pag. xxxvm.


i HUt. Geaeal da Casa Real T. 4 Tab. A esegg. Elucid. T. — 1 p. 3^
e3Sl.
a ÁfiliaiB-M todos tret da Cdlecç. Espec. etiia IB.
4 Ibid.
XLVllI MGMOBIAS DAS RAINHAS DB POBTUGAL

rençn que fxistem tamsoinente os furos eni (jue se pre- ,

gava a tira. £ni dous outros diplomas de 1192 e 1203 ap-


parece um rodado junto com um seilo pendente: no pri-
meiro o rodado está vasio e resta só a tira de couro
d'onde pendia o sello, o qual se acha di9c1arado no corpo
do diploma no segundo o rodndo traz os nomes, do re'
:

e de seus fillios, e o sello de cera ainda e\\sU) pendente V


Em todos os di|)lomas que vimos de D. Aífonsu ou
j^parece um de chumbo, ou os vestígios da sua exis-
sello

tência : é simllhante ao que está gravado no 4.** fomo da


Historia Genealógica; no Elucidário vé-se a gravura de ou-
tro de forma diversa *. Nos documentos até 1217 appa-
rece também uni rodado — o mesmo documento em que
se acha o fac-simile fíg. 8 tem também pendente o sello de
ebumbo, — mas os diplomas que vimos, de data posterior^
pertencentes a esse soberano, tèem unicamente o sello.
Muitas vezes este não se declara no documento ; outras ve-
zes, porém, se accusa no fim por esta fdrma : c et mm
(cartam) feci men,si gillo plúmbeo commiwirhy ou n cartam
istam feci exinde fieri et mo próprio pUmbeo sigillo si-

gillarir» 3.

Não ba vestígios de que as consortes de D. lancho i


e de D. Affonso u usassem de sellos pendentes : figuravam
apenas nos rodados, e quando estes fóttam, vão sómente
nomeadas no documento, e accusadaspelo numero de riscas.
D. Sancho ii foi o ultimo dos nossos soberanos que fez
USO dos rodados ^ e isso, talvez, só no princípio do seu rei-

1 Ibid.
2 T. 1 p.332
3 Dof urrHMitos de abril e julho «ie 1211, julho de maio. junho e
dezembro tle 12t7, janeiro, marro junho de 1216, e agosto de 1221 :Col-
e

lerç. Kspec. caixa 28. Nesta caixa parece-nos li«TftralguDt doenmenlot,


cuja genoíDidade é pelo meoos davídosa.
4 Diaserl. Clironol. T. 1 p. 87. — No Blaeid. T. 1 p. tSI ae vé a ma-
tura de um rodado de D. Sancho ii, tírado de nm docomento de ISK.

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INTIIODUGÇÃO XLIX

nado : os documentos originaes que vimos, emaoados da


sua chancellaría, s9o de 42^5 em diante, e em nenhum deU
les apparecem rodados, mas sim selios pendentes oa tos-
tigios delles. 'Algunas vezes o notarío omittia declarar o
sel!o no corpo do diploma, mas geralmente o fazia por
esta formula «//awc cartam feci meo sigillo próprio conh-^
;

muniri », ou « istam Kartam meo sigillo feci sigillari »


D. Affonso III também deixava ás vezes de mencionar o
selio ; mas vô-se qae a regra mais seguida era fazer a de-
claração, e quasi pela mesma fórma que D. Sancho ii; en-
'
contram-se, porém, yariantes, que se podem ver, bem como
o que pertence ao tempo de D. Dinis, n algumas citações
que fizemos acima, fallando das formulas confirmatórias
A primeira rainha de
Portugal que consta ter usado
de selio pendente foi D. Mecia Lopes, mulher de D. San-
cho II ; depois todas as seguintes rainhas liTeram selio
próprio. Quanto ao de D. Mecia, serve de prova o que se de-
clara no fim da caria de doação que ella passou em 1246
a Paio Peres: adedi ei in testimonio istam meam cartara
apertam meo comnimitam». Nada sabemos, porém,
iigillo

do (pie continha o selio; porque o original desse documento


desappareceu K Em outro diploma da mesma rainha, pas-
sado em 1286, estando ella em GasteUa, existe o seu selio
pendente, o qual foi visto por Jeronymo Gudiel, que de-
clara que o selio tinha dous lobos de uma parte com um
cordeiro na bocca, e aspas por orla, que são as armas de
Haro; e de outra parte as de Portugal ^.
'
Apesar de existirem vários diplomas originaes de D. Bea-

1Vários documentos na Collecç. Espec. caixa 28.


Vide aote, pag. xi.i e segg
2 —
Para maiores particularidades sobra
«•taa matérias veja-ae Ribeiro. Disserl. Chronol. T.l p. 87 e segg., e Ob-
tervaçdes de DiplomiUca, ob. i p. 114 e Mg.
S Rota IX no fim doTolnme.
4 Nota X no fim do TOlome.

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L NBIIOHIAS DAS ftAINHAS DK POBTtTOAL

triz de Gusman, que prímitivameote eram munidos do seu


sello» só podémos descobrir o fragmento de um sello pen-
dente desta rainha : na estampa m, fig. 9 vai reproduzido
em fac-simile. É de cera encarnada, pendente, por cor^o de
linho da mosma côr, de uma doação feita pela rainha a
ã7 de março de 1279 Conhece-so que este sello era es-
tampado só em uma face, tendo á direita do escudo as ar-
mas de Portugal, e á esquerda as de Gasteila» poisque o
que ahi se tô são evidentemente as torres de um castdio;
^ possível que esta parte do escudo trouxesse também as
*

arans de Le9o. Do pequeno fragmento superior vé-se que


na orla havia um letreiro.

D. Isabel de AragJo usava de dous sellos differentes. Na


estampa ui fig. IO-a apresentamos o faosimiie de um em
cera escura — ou talvez seja maltha, pois a matéria nio
parece ser de cera pura — estampado ^m uma só fsice»
e pendente, por cord2o de seda encarnada, de um docu-
mento de 22 de outubro de 1331 2. É o único exemplar
que encontrámos. O aragonez José Dormer (Discursos Vá-
rios pag.106) deu uma gravura do sello que achou pendente

de duas cartas de D. Isabel ao rei de Araglo, pertencen-


tes aos annos de 1302 ou 1303 e I32i Pareceu-nos acer-
tado reprodazil-o dessa obra : porque, com quanto o sello
seja similhante ao exemplar que existe entre nós, servirá to-

davia para illustrar este em alguns pontos que se não distin-


guem bem nelle — ahi o damos, íig.fO-B. Vé-se que em cada
um dos quatro lados do escudo das armas portuguezas appa-
rece outro mais pequeno com as barras de Aragão.
igualmente que havia duas orlas, e que a legenda — parte
da qual era illegivel no exemplar de Dormer — ia na pri-
meira. Diz esle author <el sello es sobre cera coloradas,

i Nou XIV DO fim do volame*


t Nota XXXI no fim do Tolnmo.
3 Notâi XX e XXUI no fim do volome.

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t

. kju^ u . i.
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INTRODUCÇÂO Lt

A fig. li representa outro sdlo de qae usava 0. laabel,


estampado em ambas as foces, n'uiiia com as armas de Por-
tugal, na outra com as de Aragão, e com idêntica legenda
na orla de cada face. Esta deve ler-se como segue: si: (si-

gilluin) domne: elisabethe: regine: poriugalie: et: al-


6ABBU. Vimos varies exemplares deste sello, todos eUes
no cartório de Santa Ciara de Coimbra» em doações, coo-
documentos de símilbaote natureza. É sem-
Iractos e outros
pre de cera encarnada mas as prisões nUo s3o da mesma
;

côr, nem da mesma matéria em todos os casos. Algumas


São de fita de Ian ou de seda, cordões de linho, retroz, tran-
ças etc. ; as côres são vermelbo, carmesim, verde e ama-
rello. Todos os sellos estão mais ou menos estragados: es-
colhemos para a nossa gravura o que estava em melhor es-
tado, que é o que se vé pendente de uma doa^o da rainha
datada de 2í de abril de 1321 e algumas faltas que este
i
;

tem foram suppridas por outro exemplar, pendente de um


contracto de 26 dc junho de i32t> (era de 1364) entre a
rainha e o mosteiro de Santa Cruz.
Não é fácil, com os poucos dados que temos, assentar
qual fosse a dífferença que haveria no uso destes dous sel-

l06,sendo comtudo provável que existisse alguma porque ;

vemos que o primeiro (íig. 10) serviu em 1302 ou 1303


e lambem em 1321 e 1331, ao passo qne o outro (6g. 11)
a[^arece também em documento de 1321, e em outros
pertencentes a diversos annos comprehendidos no pério-
do apontado.

1 NoU XXIV, segundo docum., ao fim do volume.


t

ISUÇlt MS MTiaAIS B lill WRBSiMS li GAU lAI lAimt

D. MAFALDA DE UAURIANNA
Ama D.THEBE8AAFFON80, viuva de Egas
'"^'lií^^JgjlL
^ (l

dl*B) • <• tatate B. Moniz


DoeoDi. na Mon. Lutit. P. 3
L. Se.97 ; mais exacto no Ela
oid. T. 1 p. 166 erbo FUeo
{porco do) \ e nas Dissert.
Chronol. T. 3 P. 1 p. 100
n. 47a.

D. DULCE DE ARAGÃO
í «e wmm cm» D. MAIOR PAES, mulher de Lourenço
Viegas.
Docum. na Mon. Lusil. P. 4
L. 12c.26adfin.

Au de leite da In. EGEA, dona Qobre (nobiUs mu-


her).
Nova Malu Portug. P. 2
p. 30.

Emprese deMoahe- MaRTI.M DE ARAGÃO ; dizeiTl que


acompanhára a rainha quando esta

veiu a Portugal : estabeleceurse neste


reino, deixando gerado.
Nobiliário attrib. ao conde
D. Pedro Til. 41 e 44 pp. 249
e271,ediç. deRoma.— Hist.
Geneal. T. 6 das Provas p. 6d8.

1 Na Chron. dos Coneg. Regr. L. 12 e. 6 § 3, M dil qve certa D. Pili-


ciana lOn douella da caaa de 0* Mafalda.

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r

INTRODUCÇÂO LIII

AU ém Infante 9. Aff- MbNDO PAB8 1.


»BM (AS»mM II) ff^^^ 11^,^ Portug. P. 1
p. 3S5.

D. URRACA DE GASTELLA

D. THERESA DE TRANDEIRAS ; VeiU dC


Castella com a rainha, e casou com
£8te?ão Soares de Belmír.
Liv. Velh. das Linhag. nt
Hist. Geneal. T. 1 das Provas
p.l8«.

Anonyma, casada com D. Vicente


Rodrigues de Penela « era molher :

pouco íllhadalgo», diz o Livro Ve-


Ibo, que Dão a nomêa por nome.
Ibid.

4e leflte úm ta- D. ESTEVAINHA SOARES, mUlher dO


tato^B. mmmt^ {mmwr
Marlim .Fernandes.
Nova Malta Portug. P. i
p. 465{§264).— Elucid.T.2
p.â69, nota.

Ato do Infante I D. loXo GARCIA provayelmente o


;
III)
mesmo que foi prior do Hospital.
NoTa Malta Portug. P. 2 p. 1

(ab6a^ jqIq p^gs : junho de 12i4 2.

Testamento da rainha, no-


ta YI no fim 'do volume.

1 0 author da Chron. dos Coneg. Regr., aíllrma que D. Joáo Froes,


prior de Santa Crus. f6ra confessor de O.Dulce. Veja-se adiante, pag. 6S
nota 2.
S Na Lenda dos cinco martyres (vide Portug. Mon. Hist. scrip. vol. 1
p. llft leet. viu), dix-se que Pedro Nunes, cónego de Santa Cruz de Coim-

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UV mMORIilS DAg MAINIIAS DE PORTUGAL

D. MEGIÂ LOPES D£ HARO


Pfdro abbade setembro de 1246.
:

E provável que abbas fosse apenas


distinctivo ecciesíastíco.
Nou IX no fim do Tolum*.

capeute j)^ savBSTRE : Setembro de Í24Ç.


Ibid

D. BEATRIZ DE GUSMAN
^ D. JOANNA DIAS, seohora da yilla
de Atoogoia, e mulher de Fernando
Fernandes Cogominho ^
Hút Seraf. P.S L. 6 o. 10
§9.— Chron. dos Conog. Re-

N. B. Do regimento da casa real


feito em ISBIS, se conhece que ha?ia
duas regueifeiraSy uma para o rei, ou-
tra para a rainha. Segundo Viterbo»

bra fôra cônfessor de D. Urrnr» — No Nnbil. allrib. ao conde D. Pedro,


tit. referem que Ruy Capon viera de Caslella com D. Urraca, e que
41,
sendo judeu fez-se baptisar neste reino pelo nome de Rodrigo, casando,
por intermédio da rainha, com uma rica cidadan de Lisboa. Yeja-se tam-
bém a Mon. Lttsit. P. 6 L« 18 e. 21. -
1 O antbor da Chron. doa Coneg. Regr. (L. IS e. 8 |2) affinna que
D. Maior Dias (a qtfe fandoo Santa Clara de Coimbra), irmandeD. Joan-
na, f^ra tarnbem dona da casa de D. Beatriz, depois do casamento de
sua irman —
No Nobil. attrib. ao conde D. Pedro, tit. 44, diz-se que
Bestrii Eannes era collaça da rainha D. Beatriz mas não se declara pe
;

ara D. Beatriz de Gusman, ou D. Beatriz de Gasteila, mulher de D. Af-


ftinaoiv. —
Da doaçio de Moora a D. Taaoo Martins SerrAo (1284], se vê
que sua mnlber, D. Theresa, se criAra em^ casa de 0. Beatris de Ousman,
por isso que esta a ehama svo triaãã: GhaBcell. de D. AffoBSO ni L; 1
f. 144 verso, cit.w Nora Malta P flp. 61.

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INTIODUCÇÃO LV

regneifeirai enm mulheres que amas-


savam e coziam o pão para a casa e
£imilia real.
Port Moniuii. Hist. leges et
coosnet. vol. i p. 199, deg.
nooo.

Boi] FKRlfAflDO rBBNANDBS GOGOMINHO,


casadocom D. Joanna Dias. É de pre-
sumir que occupasse algum cargo im-
portante juoto da rainha em 1274 1.

MoU llU 00 fim do vol.

D. JOÃO PEBES BB ABOIM. ExOrCOU


este cargo logo depois do casamento
da rainha continuou nelle muitos an-
;

nos, figurando como tal em diplomas


de 1254, 1259, e outubro de 1274.
HÍ8t. de Portug. do sr Her--
culano T 3 p. lil, 1.' ediç.
—Moo. Lusit. P. 4 L. 15 c. 15
nlt doevDi. — NotasXII e XIU
no fim deste volome.

João RAIMUNDO : junho e novembro


de 1282.
Liv. dos Pregos f. lit no
Arch. da Gam. Man. de Lis-
boa.— Acto de Affonso xdes-
herdsodo o infuite D. Sancho,
nas Nem. de Alonso x por
Mondejar pp. 409 —418.

1 Talvez se possa dizer o mesmo de Abril Pires e D. Vasco Martins


Serrão ; eram f assallos da raioba, como se vê de docum. de ^
de dexem-
too do laSS oS deJoiMifO do IW : Chaocell. de D. Affonso iii L. 1 f. 144

verso o ISt Torao. oitedos na Nova Malta P. S p. 61 e segg.

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LYI MEMORIAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL

Pedro febnandes : janeiro de 1288.


. Um docnnMnto sem data dá-lhe o mes-
mo cargo. N*ran diploma de dezembro
de 1285 é chamado pela rainha seu
Vassallo, sem o designar como mor-
domo» cargo que provavelmente aioda
nSo exercia. .

Liv. de Extras f. 187 verso


no Arcli. Nacion. — Gav. 13
maç. 3 n,° 2, sem data, no
Arch. Nacion. —Nota XVI no
fim do volume.

Garcia hartins : jiflho de 1300.


Mos. LuiU. P. 5 L. 16 è. 74.

vkmmmMmnm DuRAMDO PAES : janelro de i259.


Nota XII no fim do vol.

Gii- ANNES ; novembro de 1279.


Moo. Lusit.P. 5L iec. 27.

Martim PAES junho de 1282, e de-


:

zembro de 1^83 ^
Liv. dos Pregos f. 121, no
Arch. da Cam. Mun, de Lis-
boa. — ChanceU. de D. Af*
foMo in L. 1 f. 144 verso •
161 verso.

Aftonso RODRiGmss janeirode 1288. :

Liv. de Extras f. 187 verso


' 00 Areh. Nacioa*

••i^rtdafts Martim paes: dezembro de 12HI.


Devia ser o chanceller citado acima.
Nota XV no fim do volame.

1 Porém no acto de desherdação de D. Sancho, feito por D. Affonso x


a 8 de novembro de 1282, figura Domingos Peres como dltlieeUer d*
D. Beatrix : Mondejar, Men. de D. Alonso x p. 409 e segg.

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r
INTRODUCÇÁO LVII

DoiniiGos 1IABTIN8, da ordem de


Santo Agostinho : dezembro de 1276,
e em 1277.
ChanceU. de D. AfTonso iii
L. I f. 140 col. 2 ad fin. no

Areh. NaeioD.«Moo. Lmit.


P.5L. 17 C.5S.

Martim mahtins : janeiro de i279.

Hon. Lusit. P. 4 L. 15 c 48.

Pero vigente : em 128i e 1282 es-


tava ao serviço da rainha (veja-se
adiante notarias). Depois passou para
o serviço da infanta D. Branca, cujo
capellSo era em maio de 1286.
Mon- Lusit. P. 8 L. 16e.58.

Frei juuâo : dezembro de 1283, e


janeiro de I2S4.
Chaneell. de D. Iffonao tii
L. 1 f. 144 Yfrao e 161 veno.

Domingos vigente : junho e dezem-


bro de 1285. e abril de 1293.
Liv. de Extras f. 192 verso,
e Gav, 3maç. 6 n.° 3, do Ar-
ch. Nacion. Notas XVI e—
XVH (doo. i.") no fim do vol.

JoAo ANNES : em 1288.


Liv. de Extras f. 187 totm,
noArch Nacioo.

Pedro annes : março de 1279.


Nota XIV DO fim do vol.

1 Os clérigos do rei ou da rainha eram ecclesiastieosqae estos per-


sonagens tinham junto de ai para darem expediente a diversos negoeies
da sua fazenda.
2 Official fiscal da rainha.
LTIII MCMOMAS DAS BAINHAS DB POBTtfGAL
"•«•^ ^
Domuígosaffonso: outobrode 1274.
Nota XIII DO fim do toK

RoDNiGOPBHNANDES: marçodel279.
Nota XIV BO fim do vol.

Pero vicentb : dezembro de 1281,


e junho de 1282. Devia ser o capel-
lão meocíonado acima.
'
Nota XV no fim do vol.
Liv. doa Pregos f. 121*

yiGENTC80AREs:dezembrode i^.
Chanrell. <1e D. Àffonao 111

L. 1 f. 161 verso.

EsTETÂo PERES dezembfo de 1285.


:

Nota XVI BO fim do vol.

GRR18T0VÂ0 EANNE8 : junho d6 1300.


NoU XVIII no fim do vol.

janeiro
m^^^^^T^^ÍL *"

éwmmt de 1259.
Mola XII 00 íim do vol.

Salvado Domingues : dezembro de

NoU XVI 00 fim do vol.

1 Etereviam oo doeumoDlos qne a raiDlia maadava eipedir ; exerce-


riam ao meamo tempo ontroa empregoa.
S Oflieial que, alóm de OBiroa cargos, tinha o de arrecadar os di-
reitos reaes na villa e seu termo para que era nomeado, dando-lhes o
destiDo que o rei — ou a rainha, quando a terra era delia ordenava. —
3 Junto do almoxarife havia sempre um escrivio em cada terra. As
ordens que o rei ou a rainha expedia para pagamentos etc. eram dirigi-

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INTMOBUGÇÂO LIX

BMrtvà» da ralaka Ruy 60MSALTES : abril de 1293.


ei
Nota XYU (doe. I."»] no fim
lio vol.

Si?' ***** *** F^E^ PEDRO, moDje de Alcobaça


dezesibro de 1285.
Nota XVI no fim do toI. —
Icob. Illustr. p. 106.

Requeueiroi EsTKvAo PEKES, « i equeixeiro da


rainha e cnsiiilieiro das infantas» Ha- .

via um Dotario do mesmo nome.


Mon. Lusit. P. ôL. 16 c. 37.

N. B. Por um regimento da casa


real, feito em 4261, conhece-se que
a rainba tinha ao seu serviço 8 mulas
de sella e 6 l)estas de carga : « E em
casa da Rainha aia ou to muas de sela

e seis azemellas : e dem aas bestas


dEi Rey e da Rainha asi azemellas
como de sella em estada alqueire e
meio cada dia e em andada dous al«
queires »
Port. HonuiQ. Hist leges et
conenet. vol. 1 p. Sbl § ti.

D. ISABEL DE ARAGÃO

D. BBTApA» filha do conde de


Ventemilha e neta do imperador do
Oriente Theodoro Lascaro n. Yeiu de

das ao almoxarife c escrixnw de (lai tiUii), como se vê de muitos docu-


mentos do tempo de Santa Isabel.
I Era quem lhe fonncia os qaeijot.

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MEMORIAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL

Araglo na companhia da rainha, ca-


sando depois com D. Martim Annes,
filho de João Gil de Soverosa. Figura
entre os testamenteiros no segundo tes-
tamento da rainha, que lhe legou 100
marcos de prata. Foi aia da infanta
D. Constança, que acompanhou a Gas-
tella.
Itpertiiça, Hisl. Sertf. P. S
L 9 e. li f S e seg. — Moa.
LntitP. 5L. 16 c. 35. e L. 17

e. 1. NoU XX VII no fim do


?ol.

D. ISABEL DE CARDONA, sobrluha da


rainha, filha de D. Ramon de Cardona
e de sua mulher D. Beatriz, irman bas-
tarda de D. Isabel. Acompanhou de
Araglo a rainha sua tia, e yeiu a ser
segunda abbadessa de Santa Clara de
Coimbra.
Boiarull,Condes de Barce-
lona, T. 2 p. 246 —
Mon. Lu-
sit. P. 5 L. lae. 34, • P. 6^ nt

Lenda do Santa Isabel, p. SU.


— Bsperança, Hiat. Seraf. P'. 1
L.6c.l8|4.

D. MARU XIMENES coRNEL, aragODe-


za : Teiu na companhia da rainha, e,

mais tarde, foi segunda mulher do


conde D. Pedro de Barcellos, a quem
é attribuido o Nobiliário.
Mon. Lusit. P. 5 L. i6c.34
ad fin., e L. 17 e. 3.

A CONDESSA D. LEONOR AFPOlfSO, fi-

lha illegitima de D. Affonso iii. An-

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INTKODUCÇÃO LXl

dava em casa da rainha pelos annos


de 1286* sendo já Tiava do segundo
mando» o conde D. Gonçalo Garcia de
Sousa; entrou depois no convento de
Santa Clara de Coimbra, vivendo ainda
em 1317.
Moo. Liisit. P. S L. 16 c. 61.
— Nova Malta Porlug. P. 3
pp. 376 a 386.

Marquesa Rodrigues era também :

coUaça da rainha, e esta, em seu pri-


meiro testamento, a chama sua ata,
deixando-lhe 800 libras : feUeceu, po-
rém, antes da data do segundo testa-
mento (dezem. de 1327). É de crer
que viesse de Aragão com a rainha.
Notas XXVI, XXVUeXliX
uo úm do volume

UiiiiACAVASQUES : janeiro de 1325.


NoU XXYl no fim do volu-
me.

JoANNA GONÇALVES, inoan da 1.^ ab*

badessa de Santa Clara de Coimbra.


Docnm. de IS de detém, de
1329: vejft-aeadiente, pag. 196
uota a.

EsTEVAiNUA MARTINS: jaoeiro de


1325.
NoU XXTI no fim do vola-
me.

Constança martins: mesma data.


n>id.
LXII HEMOflIAS DAS BAINHAS »E PORTUGAL

Maria anmes : mesma data.


Ibid.

Maria uartins : mesma data.


Ihid.

JoANXA PERES * : mesma data.


ibid

Ama lellr do In- SaNCHA PERES.


ÊÊmte m. Attmmmm (Af-
tÊmmm ) MoD. Lusil. P. 5 L. 17 e. t

D. Ramon de cardona, primo, por


parte da mãe, segundo dizem, da ce-
lebre D. Ghamoa Gomes : era casado
comD.Beatriz, irman bastarda de Santa
Isabel (filha dè certa D. Maria, Tíd.
Bofarull, T. 2 p. 2i6), sendo de pre-
sumir que ací)mi);uil)asse a rainha a
este reino, e talvez ainkisse no seu ser-
viço. Ella legou-lhe pelo I .° testamento
2:000 libras. Foi alferes do infante
D. Affonso, filho de D. Isabel.
Mon. Lusít. P. 5L. i6e. 48
ad fin., e L. 17 o. I. Nota—
XXVII no Am do Tol.

Bbrenguer de monrogh, ari^ago


deXativa em Aragão. Veiu desse reino
no séquito da rainha, na sua primeira
vinda em 1282, ou talvez em 1304

1 Ern seus lestamealos a raiuha deixa 100 libras a certa D. Gai-


ihamona, e pelo segundo deixa igual aomina a liaria Soares : pôde ser que
pertenceMem a ena easa. Nos mesinos doettmentosfklla a rainha oas eo-
vilkHroi do seu eorpo, mas sem nomear nenhuma.
INTRODUGCÃO LXIU

qnando a rainha foi á cMe de seu ir-


míío. Desempenhava sem duvida algum
cargo em casa de Santa Isabel.
Mon Lusit. P. 6 1. 18 c. 60.
— Zurita, 'Annaps de Arag.
P.3L.6e.34f.99.

mmrAmmw^mérfm LOUBENÇO SIABTINS ESCOLA (O mes-


mo que tinha sido alcaide-mór de Lis^
boa), exercia em 1287 e 1289.
Chancel]. de D. Dinis L. 1

r. 200, no Áreh. Nacion. —


Mon. Lntit. P. 8 L. 16 c. 71.
— Bèpemnçii. HiM. Seraf.
P.SL.6e.Sl

D. MAHTiM GIL (depoís conde de


Barcellos): exercia em 1293. Era tam-
bém aio do infante D. Affonso, filho
da rainha.
Moo. Losit. P. 8 L. 17 e. 1
~0 lornal «Panorama»
Ser. 3.' vol. S.<> p. 381 col. S.*
#

Gonçalo pebes BiBBmo, genro de


Lourenço Martins Escola : janeiro de
1324, e dezembro de 4327 K
Mon. Losit. P. 6L. 19 e. 89.
^ Nota XXyn no fim do voL
(segundo teslam.). Tentam.
• do mefimo Gonçalo Peres no
rariorio de Santa Clara de
Coimbra

1 Soufia (Hist Geneal. T. 1 p. 981) affirma que Jofto Affoq|o, filho


baatardo de IK Dinia, fòra mordomo-mdr da rainha ; pôde ser, maa néo
Timoa eitado docomento que o comprovasse. Ditem que foi morto em
1888 por sen irraáo D. Affonso iv {vid. Portug. Mnn. Hist. sciip vol. 1
p 21 col. 2 ad eer. 1364). Brandão íMon. Lusit P. 4 L. 15 c. 23 ad fin )diz
que Affonso Dinis, filho bastardo de D. Affouso m, fôra mordomo da
mesma rainha.

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LXIV MEMOBUS DAS BAINHAS DE P0BTU6AL
Cttuuirellerrs Mestre pedro, medico, que depois
instituiu o morgado d6s Nogueiras em
S. Lourenço de Lisboa. Entrou neste
cargo logo á chegada da rainha, exer-
cendo-o ainda em 1288.
Hon.LuttUP. 5 L. 16 c. 25,
e L. 17 e. 4S. —
Glitiicell. de
D. Oioig L. 1 f. aOO. onde fi-
gura em doue docuaieniog.

EsTE?Ao DADE, chautre de Visen.


Exercia em 1327, e ainda á hora da
morte da rainha, cm 133() ^
Noías XXVIl (segundo tes-
lam.) e XXYill no fim do vol.
— DocQÉn de 11 de junho da
era de 1368, e S7 de julho da
era de 1374 ; oeste ultimo é
intitoledo prior: Oartor. de
•Hanta Clara de Coimbra.

Pero esteves: 22 de novembro de


1327 até á morte da rainha.
Vários docum. do carioiio
de Santa Clfirn de Coimbra.
- Notas XXVIll e XXXI do
Um do vol.

Lourenço peres: outubro de 1331.


Nota XXXI no. fim do vol.

1 Ifoma publica fòrma de 14 de maio da era de 1384; anno de ISIS,


feitapor ordem e em presença da raiaha, figura Doiniogos Annes eomo
testemunho; é intitulado simplesmente efi«neeU«r, sendo d^ presumir
que fosse elianeeller da rainha. Eatá no cartório de Santa Clare de Coim*
bra.
2 Juizes : talvez nessH epocha, entre outras attribuiçôen, tivessem a
de tomar conliecimenlo dos feitos relativos aos direitos reaea, portagem,
jugàda etc, que mais tarde pertenceram aos vedores da fiiienda (0r->
den. AlTon. L. 1 De Tarios documentos collige-seqoe este-cergo
tit. 8§ 6).

e o de elerigo eram moitas reses reonidos na mesma pessos,

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INTBODIHSÇXO LXT
Mabtiu affonso: em Id36.
Docum. de 15 de julho da
era de 1374: Cartor. de SanU
Clara.

Frei pbdro serra, da ordem dos


Mercenários: dizem que fôra confes-
sor dç Santa Isabel em Aragão, e que

d'aii a acompanhára na mesma quali-


dade. /
Moo. Luait. P. 5 L. IC e. 84.

Frei esteváo de santarem, da or-


dem da Trindade : em 4318 tinha o
titulo de confessor-mór K
Mon. Lusit. P. 6 L. 19 c. S3.
— Chron. dos Coneg.Regr P.l
L.4c.7§17.

F REI joÁó PAES, franciscano ; igno-


ra-se a epoctia em que exerceu.
Esperan., Hiat. Seraf. P. S
L. 8 c. 32 § 4.

Frei salvado ou salvador mar-


TiNS, da mesma ordem, e bispo de La-
mego exerceu
: durante os últimos an-
no8 da rainha. Foi seu testamenteiro
(1327), e dirfgíua conduto do corpo
da mesma princesa de Estremoz a
Coimbra.
Ibld*. e L. 9 e.88M.-
^ Moa. Lvait. P. & L. 19 e. 84, •
P. 6 na Lenda p. 6S4 e teg.
, da 1.* edição.

1 Segundo o author da ilhron. dos Coneg. Regr. (P. 3 L. 7 c. 15 § 14,


aL. 9 e* 80 § 1)08 padret D. DomiAgoa Martína, eonego de Santa Gmt, o
D. Oomiogoa Paaeoal, da ordem de Santo Agostinho, foram confessores de
Santa Isabel, o príineíro antes de 1808, 0 segando até 1314, anno em quft
foi eleito prior de Santa Cru.

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VXTI milOBIAS DAS BAINHAS DB PORTUGAL
«^"*~ MmaE GONÇALO : em 1290
Docutn. do cartório de
Santa Clara de Coimbra dal.
de 21 de nov. da era de 132S.

Gonçalo esteves, talvez o mesmo'


que o precedente : em
1336.
Doçura, do mesmo cartório,
dat. de 27 de julho da era de
1371 -> vinte e trea dias de>
pois da morte da rainha.

Mesthe MABTiNHO; em 1314. Era


lambem medico do rei.
1.*tesUm. DOU XXTII no
do ToL

João RODRIGUES: figura desde i^'àl


até 1335.
Doriim. do cartor. de Santa
Clara de Coim. dat. de 22 nov,
era de 1365, nov. e dez. da de
1368 (vid. nota XXIX DO fim do
ol.)» e B de jnnlio de 1373 ;

neste nltimo é ebamado pela


rainha mtu de eriaçom. B
n'um docum. de 12 de deMB-
bro de 1329 cbama-lhe mau
bom em.

ccvMi«ir« 1
-Vicente martins em 4316 e 1320.
:

Docum. do mesmo cartó-


rio, dat. 14 de maio da era

de 1354, e 7 de abril da de
13B8; em ambos flgnra com o
titnlo de €eauaá€%ro da rai-
nha» — , isto é, çoMdeiro oo
ctvadeiro. '

\ Tomav^ eonfii da eevada. — No doeom. de tl de jolho da era de


1974 (A. D. 1336), Já eitado, fignra Franeiseo Steves rspotlslro, aendo
fossiTel qne o fosse da lainba.

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INTftODUOÇÃO UVlt
JoÁo ANNES : 20 de fev. de 1318^
e março de 1328 (vid. Porteiros),
Cartor. de Santa Clara de
Coimbra. — Nota XXVIll no
Om do vol.

Pedro sanches, arcediago de Vi-


seu :25 de setembro de 1321.
Publica fórma no mesmo
carlorio.

Pero soabes : março de *1328.


Nota XXVm no fim do vol.

Pedro oa pbro esteves, cónego de


Silves dezembro de 1327 até á morte*
:

da rainha. Era também ouvidor.


3.^ teslaiu. nola XXV U no
fim do Tol.— Variot docum.
do cartório de Santa Clara.

João çoudo: 6 de dezembro de


1333.
Doqim. do meamoeartorio.

Gonçalo BIartins» cónego de Sil-


ves : 5 de janho de 1335 (vid. Nota-

rios).
Doeum. do mesmo cartório.

Affonso MARTINS: íigura como tal

em um contracto feito entre a rainha e


o convento de Santa Cruz a 26 de ju-
nho de 1326 (cartor. de Santa Clara
de Cioim.). No Obituário de S. Bar-
fholomeo (no Arch. Nacion.) lé-se
c V IdnsMaii— Anninersariom pro ani-
ma Alffonssi mar tini Thesmrarii li-
LXVin lOBIIOBIAS DAS BAINIIAS ViK POBTUGAL
lustrissime domne Regine Elisabet per
melioracione quam fecitin íd (sic) apo-
teca neteri qae est prope predictam
Ecclesiam safactí Bartholomey. Era
!.• ccc.» vii.* 1, isto é, 1269, anno
em que fez a bemfeitoria

Pedro paes: 14 de maio de 13f«,


e i2 de dezembro de 1329.
Cartor de SanU Glarf de
Coimbra.

João annbs: 14 de maio de 1316»


e 22 de noT. de 1327 (vld. Clérigos).
Mesmo cartório.

AlmoxaHie é» João fernajidbs: 28 de agosto de


'
1322. .

Mesmo cartório.

Martim RODRIGUES : 2 de junho de


1330 até á morte da rainha.
Yarios documentos do mes-
mo cartório.

Mmwmm
Bartholombu pbrbs : 28 de agosto
de 1322.
*
Mesmo cartório.

í Na publicafórma deUde luaio da era 1354(A.D. 1316}, jáoitada, uma


das testemnniias é Bartholomeu theioureifo, talvez nesse tempo foss»

tliesooreiro da rsinlia. Esperança (Rist. Seraf. P. S L. 6 c. 23) dii qoe
D. Quilhem de Cardona, irmão de D. Isabel de Cardona, e sobrinho de Santa
Isabel, fôra veodor desta e Brandão (Mon. Lusit- P. 6 L. 19c. 31) afDrma
;

que Estevão da Goarda, contando ainda pouros annos, viera de Aragão


cora a mesma rainha, a quem servira de pagem, até que mais tarde o rei
lheconâou cargos importantes. O seu nome apparece em vários docu-
mentos qne encontrámos, nfom como escriv&o do rei.

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, INTBODOCÇÂO LXIX

João PERES : 2 de junho de i330


até á morte da rainha.
Documentos do netno car-
tório.

JOÁO LOMPRETO : CIH 1302 OU 1303.


Seria, talvez, natural de Aragão.
Not« XX no fim do volume.

Estevão db tbangoso : ahrii de


mi.
Nota XXIT no fim do toI.

João sans: dezembro de 1321.


ProvaTelmente era aragonez.
Nota XXllI no fim do toL

PSEO SoABBS : janeiro de 1325.


Nota XXVl no fim do toI.

Gonçalo martins, devia ser o clé-


rigo da mesmo nome :* dezembro de
1330.
Nota XXIX no fím do toI.
«

Mabtih fontarcada: outubro de


1331.
Nota XXXI no fiiu do vol.

João MAftTiNs: junho de 1338.


Doenm.. de 5 do dito mei
no cartor. de Senta Clara de
Coimbra.

N, B. Alguns frades menores fo-


ram empregados por D. Isabel de Ara-
gão permanente ou temporariamente
meucionam-se os seguintes

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MBMOMAS DAS RAINHAS DE PORTUGAL
Frei Domiogos de Portugal, em
1287.
Frei Francisco de Évora, qae &•
gurá nos dous testamentos de Í3t4
e 4327.
Frei Frnncisco, talvez o mesmo que
o precedente.- em 1346.
Frei Affonso, guardião de S. Fran-
cisco de Coimbra, em 1348.
Flrei Affonso Viegas (Yeegas), em
4327 e 4329 ; nomeado testamenteiro
no 2.** testamento.
Frei Vasco Ribeiro, em 1329.
Frei Lourenço de Santarém.
Vários docum. do carlor. de
Santa Clara.— Hisl. Seraf. L. 4
c. 24§6. eL.8c. 32|4.

Os seguintes figuram como vassal-


los da rainha, muitas vezes designa-
dos nos documentos com a si^inte ex-
pressão 7nefi homem
Vicente Monteiro, em 1318.
L. 2 de Heis f. 203 verso,
DO Arch. Nacion.

João Martins, e Giraldo Martins, em


docum. de 24 de dezembro, de 4328,
e 6 de dezembro de 4333.
Gartor ie Santa Clan.

Em seus testamentos D. Isabel deixa


3Q0 libras para seus criadas houms
.de pi.

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INTRODUCÇÃO LIXl

Brandão mencioDa dous coliaços da


. rainha Pero Martins ,e Martim Peres»
:

clérigo do rei. Suspeitamos que houve


ahi algum engano, e que em vez de
dous seria um só.
'
HoQ. Lu6it. P. 5 L. 16 c. 40,
e P. 6L, 18 €. 7.

Santa Isabel teve tres irmãos bastardos: Pedro e Sancho


eram filhos de D. Ignez Zapata; Jc^o era innSo inteiro de
D. Beatriz de Cardona, de que acima fizemos mençSo. O
mais velliQ dcsles irmãos, Pedro, veiu a este reino em li^97,

onde se est;rf)ele('eii, casando com D- Constan^'a Mendes Pe-


tite. Vivia ainda em 1314, mas em i3á7 era íailecido ; poisque
a rainha legava-lhe 1:000 libras pelo seu prímehro testa-
mento, ao passo que no segundo só menciona seu filho
D. Aflònso, a quem deixa 500 libras. Devia ser esteD.Àf-
fonso, sobrinho de Santa Isabel, cujo nome se achava n'um
documento entre os ricos-homens que tinham rações em
Mancelios. Brandão (Mon. Lusit. P. 5 L. 16 c. 34) diz que
lhe chamavam irmão da rainha, mas isto não podia ser;
porque o único irmSo de Santa Isabel, quer legitimo, quer
iUegitimo, com o nome de Affonso, foi o. que herdou o
sceptro de Aragão, morrendo em Os outros dous ir-
mãos bastardos, Sancho e João, também vieram a este rei-
no, mas só de passagem.
liofiirull, Condes de Barcel. T. 2p. 243 e 246.
— Mon. Lusit. P. 5 L. t7 c. 42, P. 6 L. 18 c. 39 e
L 19 c. 25. — Veja-se também adiante, pag. 168,
e a nota xnn no fim do TOluiDe. '
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MULUEU DO CONDE D. UEAUIÚUE

'
, — <

Í095— 1114

filha de D. Àffonso vi, rei de Le3o e


D. Theresa ora
Castella»chamado o imperador, e de D. Ximena Nunes, ou»
segundo outros, Muniones oa Munhoz de Gusman, que
nunca deixou de ser considerada, por escriptinres coevos,
e alguns mais modernos, como concubina daquelle monar^
cha, até que André de Resende no século xvi avançou a
opinião contraria, dizendo que D. Ximena liavia sido mu-
lher legitima e não concubina de D. Afifonso vi, fundan-
do-soem certa passagem que lêra de um chronícon antigo
de Uespanha^ Desde então tem-se suscitado por vezes

1 KcseiHlo, De Âniiiiuii. Lusilaiu L. 4 § Ue Orici». Ag. foi. 209 e se^ç,

0 cliruiiicon, quu mais tarde iiupressu por Flores nas


e aiioiiynio, lot
Reyoas Calholiea«T. 1." p. 481 e segg. da edição de 1761. As palevras çue
eonfirmantii Reaende na sua opiuiáo são as seguíotes : « Este rey D. Al-
fonso tomó mtig«r mora, que decian la Zttyda».. Despueso^oeste Rey
D, AlfoDso olra mugwft que ovo nombre Xemena Munoz.. »Blas é possível
que o author usasse do vocábulo mulher no sentido genérico, e neste caso
não indicaria que 0. AíTonso houvesse uontrahido matrimonio, isto tor-
na-se muito provável ao li&r-se mais adiante « Murio Xemenn Munoz, el
:

pues prisó otra mugier el Rey D. Alfonso á la Reyna D. Constância. > Dá


pois o titulo de rainha a esta, que com effelto consta ter sido ossada»
ooiiilindo-o quando de Zaida e Ximena, que foram sempre tidas
falia
por amigas. Veja-se as observações de Flores (obn cii. p. 167 e seg ),
onde mostra que o chronicon nAo é tão antigo como o suppunha Re-
sende, e onde aponta vários erros que se encontram no mesmo.

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*

2 MEMOhlAS

polemicas a este respeito» e esgotado todos os argumentos


pró e contra ; seria portanto enfastiar o leitor se aqui os
repetíssemos. Bnsta dizíír, com o nosso' moderno historia-

dor que de todas as provas addiízidas a favor da legiti-


midade de D. Theresa, apenas uma apresenta alguma gra-
vidade : é a buUa de Gregorio vii, do anno 1080 ^, na qual
o papa allude a um consorcio iliicito contrahido por D; Af-
fonso VI, chamando a sua esposa mulher perdida (perdi'
tam fceminam). A duvida consiste em saber se esta mu-
lher —que se nao nomêa na bulia era D. Ximena ou a —
rainha D. Constança, que, segundo as melhores conjectu-
ras, estava casada com o rei naqueiie anno ^. As diversas
circumstancías que se ligam a este ponto mostram com
bastante evidencia que era D. Constança a quem a bulhi
se referia. Escusado é todavia repetir argumentos, que se

1 o tr. HercttlaiKi, na raa Hiit. de Portugal, T. 1 nota iii no fim do


mesmo tomo.
2 Iiupr<^tH« n» Monarrh. Liult. P. 3, 1. 8, c. i3.
3 O 6r.
Lafuente (Hist. de Espana T. 4, p. 446,aota) parece ser de opi-
nião que Gregorio alUidia a D. Xrrnpna, não vpndo nosta nem concu-
bina, nem niiillipr legitima, mos sim mulher illegitima, com quem o rei
Dão podia casur por ser sua parenta em terceiro gráo. Conciue dizendo
4Ue é indiiliilayel i|«e TÍ?fa eom ella eoaio mtiilMr desde 1078 até 1000,
anno em que casou com D. Constança. Attendamos, porém, ao facto de
qne o papa nfto falia em parentesco entre o rei e a mulher a i|lie alindia
na buUa, roas só diz que tal parentesco existia entre esta e outra con-
sorte, que devia ser já morta ou repudiada, não devendo ser outra senão
D. Ignez, primeira esposa de Atronso vi, Veja-se o fac-simile do singular
epitaphio de D. Ximena, onde cila se chama amiga do rei, declarando
ter fallecidoemlIIH}, publicado por Flores nas Reynas Cathol. T. 1 p. 194.
A genuinidade deste monumento foi fanaticamente combatida por Bar-
bosa (Gatat dat Rainhas p. 12 e segg.)» que o eonl)ecia da copia que deUar
.dera Sandoval alguns dos sena argumentos séo absurdos, bem como oú"
;

tros relativos a diversas matérias que opportunamente leremos de apon-


tar. A acreditar o Nobiliário allribuido ao conde D. Pedro (lit. 16 § 1),

D. Ximena teria 8Ído também amiga, ou por ventura mulher, do conde


D. Moninhoda Maia pois diz-se ahi, que D. Gonirude Moniz, primeira
:

mulher de Sueiro Mendes, o bom. era irman da rainha D. Theresa por


> parte da mie, e filha do dito conde D. Moninho.

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DÊ D. THKRKSA 3

podém achar desenyolyidos com summá imparcialidáde e


erudição em outro logar i.

Recusando-se o rainha a D. Ximena Muniones,


titulo de,

não se lhe pôde comtudo deixar de reconliecer uma li-


nhagem mui distincta, e entroncada mesmo na realeza.
Teve por pae o conde Nuno Rodrigues de Gusman, bisneto
Me Ordenho t, rei das ÀsturiaS e de L^o ; e por mSe
D. Ximena, filha do infante D. Ordonho, e neta do rei
Bermudo ii. De forma que D. Theresa, posto que illegitima,
era de uma e outra parte de sangue altamente illustre.
Além desta filha, D. Ximena teve outra de D. Alfonso vi,
chamada D. Elvira ou Geioira, que era mais velha do que
a irman, e yeiu a casar com Raimando« conde de S. Gil-
les 2. .

N3o consta a data do nascimento nem de uma nem de ou-


tra irman, ignorando-se, até, a epocha em que D. Ximena
vivia com D. AfTonso : nem temos tão pouco noticias de
D. Theresa antes da epocha do seu enlace com D. Henrique,
nos flns de 1094, ou com
no principio de 1095^.
certeza
Este cavalleiro viera de Borgonha : era o mais moço de
quatro filhos que houvera Henrique, segundo genito de
Roberto, duque de Borgonha (irmão de Henrique i, e filho
.de Roberto, reis de Firança) de sua mulher Sybilla, a qual

1 Hisl de Portug. do 8r. ílerculann.T.l notn iii no fim do mesmo tomo.


AIhiii ileslo aulhor, os principaos (jue tractarara do assumpto, são: con-
tra a legitimidade: Flores, Reyn. Cathol. T. 1, pag. 180 e segg.— Pereira

de Figaeiredo, Menu. d» Academ. das Scieneiai, T. 9. p.274 e segg., e —


aos Elog. dos Reis nota iTp. Almeida. Etane Comparai. deChron.
pnb. nasditasMem. T. tl P. 1. ex. 6, art 3; Ex.8§§3 e4; P.2Ex. l art.7;
Ex. 9, art. 8 —
0 sr. Schaefer, Hist. de Porfug. Ep. i 1. i c. 1. A favor da
legitimidade consultem-se Brandão, Mon. Lusit. P. 3, 1. 8 cc. 12, 13 e
:

U. —
Barbosa, Catai, das Rainhas, nota A, p. 7 e segg. —
S. Luiz, Mem.
Hist. e CbroQol. publ. nas Mem. da Academ. T. 12 P.2.
2 Todos os anthores coevos meoeion^m Elvira aotes de Theresa, indi-
eando assim ser aqnella mais velha ; e no concilio ovetense delllSeon-
firnia antes de D. Theresa, vid. Dissert. ChroDol. T. 3 P. 1 p. 65 n. 19t.

3 Hist. de Portug. do sr. Herculano, T. 1 p. 197 e seg. da 1.* ediç.


4 MEMORIAS
«

era irman do conde de Borgonha Guilherme i, pae de Rai-


mundo, que casotí com D. Urraca, irman legítima de
D. Theresa: de forma que Henrique e Raimundo eram
primos coirmãos.
Com a mão de D. Theresa, D. ileiirique recebeu o ^ovei no
do condado de Portugal, mas debaixo da dependência de
'
seu primo o conde RaimAndo. Todavia esta dependência
não durou muito: dentro de poucos mezes, tendo o conde
de Galliza soffirido uma derrota dos sarracenos junto a Lis-
boa, foi o districto entre o Minho e o Tejo desmembrado
do seu governo passando ao dominio do conde D. Henri-
que, que d'ahi cm diante íicou independente do primo,
sem comludo-deixar de reconhecer a supremacia da coroa
leoneza • »

 este propósito diz p sr^ Herculano:


< Este desbarato de Rsiimúndo concorreu talvez em parte
para todo o território desde a margem esquerda do Minho
alé Santarém se desmembrar inteiramente da Galliza. Se
não suppozermos devido exclusivamente o consorcio de
Henrique á influencia da rainha Constância 2, a concessão
de uma filha própria, bem que iliegitima, feita por Af-
fonso VI a um simples cavalleiro, posto que illustre, parece
provar que elle merecéra tal distincçHo pelos seus méritos
pessoaes e por serviços feitos na guerra, serviços que va-
gamente lhe attribue um seu contemporâneo. Fôssem, po-
rém, estos ou outros os motivos que guiaram o rei de
Leão e Castella, é certo que no anno de 1097 Henrique
dominava todo o território do Minho ao Téjo, e os es-
tados de Raimundo tiiíiham recuado por esta parte para as
fronteiras meridionaes da moderna Galliza 3. »
Durante, os primeiros annos immediatos ao consorcio,

1 Ibidp. 196—900.
Kra tia de I). Henriqae.
2
3 Ibid.p. m

Oigitízed by
DB D. THRRBSA 5

parece que os dous esposos permaneceram em grande parte


na cdrte de Toledo, empregando D. Henrique o seu tmço
nas guerras gue o sogro mantinha contra os sarracenos,
inimigos incansáveis que nunca permittiam aos christios
embainhar a espada por laigo espaço. Ha indicies de que
no anno de 1097 a 1098 o conde e sua mulher foram em
peregrinação ao famoso templo de Santiago de Compos-
teiia e que de passagem por Portugal coartaram alguns
abusos que oneravam Varias povoações ^
Nada sabenibs acerca de D. Tberesa durante a ausência
do marido na Palestina entre os annos de 1103 e IIOS :
é de suppôr que residisse com o pae. As circurostancías
que acompanharam a volta do conde, assim como a sua
ida, são. totalmente ignoradas : apenas consta que em 1105
estava em Portugal. Continuou a assistir junto do sogro
até á morte dfóte, acontecida no anno de il09, aosentan-
do-se algumas vezes para o seu condado afim de attender
â administração delle K Esta residência prolongada em Gas-
tella parecerá estranha ; todavia não foi sem motivo forte.

Acontecimentos subsequentes dão a entender que esse


motivo era a esperança de augmefilar os seus estados. É
verdade que D. Alfonso tiolia um herdeiro na pessoa de
D. Sancho, seu filho único, e que faltando este príncipe,
como efiéctívamente foltou, se devolvia a coroa a D. Urraca,
única filha legitima do velho monarcha ; mas nSo é fóra de
propósito presumir que D. Henpique procurasse captar a be-
nevolência do sogro na esperança de qwi este por sua niíirte
lhe deixasse algum accrescimo de teiiitorio. Parece com-
tudo que aquelle não se fiava demasiadamente da liberali-

dade de D. Alfonso vi, durante a vida de D, Sancho, e o


pacto que D. Henrique concluiu pelos fins de 1)06 ou no

1 Ibid. p. Mon. Lusil. P. 3 1. 8 c. 15.

a Hist. de Porlug. do sr. Uercuiano» T. 1 p 203 — ^06.


6 HEMOBIAS

principio de 1107 com o conde Raimundo claramente o


prova. « As eoodicões eram (palavras do sr. Herculano):
qae os dous coodes lealmente respeitariam e defenderiam a
vida e liberdade om do outro que Henrique depois da :

morte do sogro sustentaria fielmente o domínio de Raimun-


do, como seu único senhor, sobre todos os estados do mes-
mo rei, contra quem quer que fosse, correndo promi»lo a
ajudal-o a ad(|uiril-os : (jue no caso de lhe cahiiem priuiei-

rameote nas mãos os thesouros de Toledo, ficaria com um


terço, e ceder-lhe-ia dous : que Raimundo, pela sua parte,
depois de Mecer o rei, daria a Henrique Toledo com o seu
distrícto, sob condido que por esse território, que assim

lhe concedia, ficasse sujeito a eile Raimundo, e o tivesse


como dependente delle, e que depois de o receber^ lhe en-
tregasse todas as terras de Leão e de Castália que se al- ;

guém ibes quizesse ou íazer-lbes


que lhe fi-
r^istir, ii^uria,

zessem ambos guerra, ou começasse logo qualquer delles,


até que o território fosse entregue a ou a outro, e Rai- um
mundo désse a Henrique o 'que lhe promettéra
: que se

Raimundo obtivesse primeiramente o thesouro de Toledo,


guardaria para si duas parles, dando a outra a Henrique. »
Por um artigo addicional ajustou-se, que, se Raimundo
não podesse dar Toledo a D. Henrique, lhe daria a Galli-

za^
4 Gontinúa o ar. Herculano : c Ou o segredo sobre o pacto
dos dous condes b3o foi perfeitamente guardado, ou por
algum acto externo elles deram indicies dos seus desígnios
pouco ajustados pelos de AíTonso vi. A accusação de se
haver mostrado algum tanto rebelde ao sogro pesa sobre
a memoria de Henrique, e Raimundo decahiu por esse
tempQ da graça do rei, ainda que na occasião da sua morte
parece quê Âffonso estava congraçado com elle. A mor-
te, com efiéito, salteando o conde da Galliza no outono de

1 Uittt. de Forlug. T. 1 p. 309.

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DB D. THBBCSA 7

1107 iuutiiisou a allianga dos dous primos, e destruiu as


esperanças que Henrique concebôra de oiHer o domínio
de Toledo. N9o abandoaou, todavia, o conde as suas idóas
de engrandecimento e independência; os successos poste»
riores no-lo revetam ; roas nos dons annos que decorreram
entre o fallociiinMito de Raimundo e de AOonso vi (i I07
a 1109) elle residiu (juasi sempre em Poi tugal na obediên-
cia do sogro, occupado talvez, nas cori erias contra os sai-
racenos, que era costume fazer todas as primaveras, a que
estavam obrigados os tiomens d'arma& ou cavaUeiros vil-

lões dos municipios, e que se conheciam pela denomina»


ção de fossados » .

€ A enfermidade que conduziu Aííonso vi á sepultura


foi longa, e aggravada nos últimos mezes [)ela desgraçada
sorte de seu íillio. Henrique havia concebido, como o
pacto feito com Raimundo
e os succesâos posteriores o
I»^vam, a atrevida idéa dç ficar senhor, por morte do mo-
narcba, de uma parte dos seus estados. Failecido o conde
de Galliza, a ambição delle, longe de*enf)ranquecer, punha
talvez ainda mais longe a mira. Poucos dias antes de expi»
rar o monarcha, Henrique foi persegui-lo no seu leito de
morte. Ignora-seaté onde chegavam as [)relengões do con-
de; mas sabe-se que elle sahira de Toledo furioso contra
o sogro moribundo. Antes de morrer, Aifonso declarou
única herdeira da co^òa sua filha Urraca^ e tal foi pof
certo a causa da cólera de Henrique, e do audaz proje-
cto que desde entSo formou de se apossar, não de uma
parte, mas de Ioda a monai chia de Lcâo e Cantella* » .

Fundado nesse projecto ambicioso, e não bastando para


a sua execução as forças de que podia dispor nos próprios
estados, dirigiurseno anno seguinte (1110) a França, com
o íim de alistar gente.
Foi preso naqueUe paiz, mas consaguíu* escapar refii-
Ibid. p. 210-212.
«

8 MEMORIAS

giando-se para os dominlos do rei de AragSo. Este sobe-


rano havia casado com D. Urraca no anno precedente : mas
o seu proceder tyraimico para com esla princesa, e o modo
arbitrário por que avocara o mando dos negocids rni I^eão
e'Gasteila,o haviam tornado odioso á rainha, assim como
á maior parte da nobresa daquelies reinos ; finalmente» a
má sorte das suas armas na GalUza o eonstrangéra» no meio
da indignação gei al, a recolher-se aos próprios estados. O
conde soube entender-se com o aragonez a poiítí) de con-
seguir fazer com elle um pacto, pelo (jual prometterani re-
ciprocamente unirem-se para conquistar as terras de Leão
e Gasteila» dividindo^s depois igualmente entre ambos. De-
pois disto voltou o. conde para Portugal onde o achamos
em maio de 1111^.
Pouco depois congraçou-se o rei de Aragão com sua mu-
lher, inutilisando-se portMiito a alliança que se pactuara en-
tre elle e o conde de Portugal. A harmonia não foi, porém.'
de longa duração, e o divorcio que se proferiu entre os deus
cônjuges teve por consequência a realisaç9o daquelle pacto.
Reunidos os dous alUados encontraram em Campo d'Espina
'
as forças de D. Urraca, as quaes foram desbaratadas, sendo
morto o conde D. Gomes Gonçalves, que as capitaneava
com D. Pedro de Lara (novembro de 11 H).
Os fidalgos castelhanos procuraram então desfazer a liga,
4ttrabindo o conde para a sua parcialidade. Ofleréceram-
Ihe o commando das tropas da rainha» e, em nome desta,
uma porç9o dos domínios da coHya. D. Henrique deu ou-
vidos n estas propostas, e pretextando que os neírocios o
chamavam a Portugal, dirigiu-se ao castello de Monzon,
onde viu a rainha, que confirmou as promessas dos seus
em seguida pelo partido de D. Ur-
barões, declarando-se elle
raca. Em quanto esta foi aquartellar-se em Astorga', tra-

ctou o seu novo aliiado de reunir a sua gente. No entre*.

1 Ibid. p. 215 e seg.


DE D. THBBBSA 9
tanto D. Affonso marchoa a cercar Astorga mas foi obri- ;

gado pelos castelhanos a levantar o sitio» retirando-se para


o Castello de Penafiel, onde D. Henrique o foi cercar acom-
panhado (!' D. Urraca i.
« D. Theresa, » diz o sr. Herculano 2 « que, durante a
ausência de seu marido, parece ter residido sempre em
Portugal 3 , partira nesse meiotempo de Coimbra, paraTir
unir^^e com elle. Chegada ao acampamento, poucos dias tar-
dou em semear ahí a discórdia, persuadindo ao conde que,
antes de tudo, exigisse a divisão dos estados leonezes, que
lhe fòra prornettida, lemlirando-lhe que era rematada, lou-
cura, arriscar a própria vida e a dos seus soldados só em
proveito alheio. Deu-lhe Henrique ouvidos, e começou
á apertar para que se reálisassem as promessas feitas. A
estas pretençQes se ajuntavam outras circumstancias, que
ajudavam a irritar D. Urraca. Os portuguezes que se acha-
vam no exercito tractavam a irman como rainha. Este fi-

tulo, que ahás fora vão, dado á mulher do mais poderoso


dos seus barões, daqueile que era o principal cabeça do
exercito, apontava-lhe t) alvo em que a irman e o cunhado
punham a mira. A firaqueza do seu sexo a incitou então a
seguir a politica tortuosa, a que n'esse tempo nSo duvida-
vam recorrer os mais fortes e nobres cavalleiros. Abrindo
1 Ibi.l. p :fl9— 221 6 226—228.
2 Ibili. p. 228 e 8egp.
a É de crer que duranln as repolitlas nusoiicias do conde, D. Theresa
ficasse com o governo da província. É o que provaria urna cai la de couto
passada por D. Theresa sem concurso de seu marido datada de 4 das Ka •
lendas de noTembro da era de 1148^ de outubro de 1110), epocha enr
que o conde se achava em Praoça: e outra rarta de couto de 8 dos idos
de abril da era de 1150 (6 de abril de 1112), estando o conde por esse
lempo occupado nas guerras de Caslella. Porem J. P. Ribeiro lías Dis-
sert. ('hronol. (T. 3 P. p
')')
e 57 c T.
1 p. U>'» ti.
1 e3)p«">e duvida na ge-
nuinidade desics documenttjs, sobretudo respeiíodo primeiro Quanto
ii .

ao outro a niaiur duvida consiste em tigurar U. ílieresa í;ò por si sem o


marido ; mas admiUiado que, duranie a sua ausência, ella livesse o gover-
no, já nfto havia essemotivo de suspeito. {Nota do author.)
10 MBIIOBIÀS

relações occuttas com o rei de Aragão, procurou de novo


congracar-sé com elle, e aproveitando o pretexto die que-
rer satisfazer ás pretenç5es de Henrique e de D. Theresa,
levantou o cerco, e dirigíu-se com elles para Palencía. Âhi
se escolheram árbitros, e a divisão do império de AíTonso vi

SC fez, ao menos nominalmente. O caslello de Cea sobre


o rio do*mesmo nome, que tocára ao conde, lhe foi logo
entregue, eresolveu-se que elie, ajudado pelos homens d'ar-
mas da rainha, marchasse a apoderar-se de Samora, que era
uma das terras mais importantes das que lhe tocavam, e que
provavehneiite estava então pelos araf,'onezes. As duas ir-
mans deviam entielanlo recolber-se á cidade de Leão.
c Taes eram as intenções patentes de D. Urraca ; hem n^
diversas as occultas. Aos cavalleiros, que íam na compa-
nhia do conde, ordenou em segredo que, tomada Samora,
nSo lh*a entregassem, e ao mesmo tempo mandou preve->
nir a guarnição de Palencia de que, se AíTonso i para alli

.se encaminbasse, Ibe abrissem as i)ortas. Depois d isto di-


rigiu-se á vilia de Sahagun, cujos habitantes eram fauto-
res daquelie príncipe, e por isso facilmente os persuadiu
a fazerem o mesmo. D'ahi, separando-se primeiro de D. The-
resa, recolheu-se efectivamente a LeSo, conservando-se no
emtanto a condessa de Portugal no celebre mosteiro de SSi-

bagun, contra cujos monjes, como senhores da villa, o odio


dos burguezes era grande, e causa do seu ailerro á par-
cialidade aragoneza. A partida de D. Urraca, abandonando
flrili sua irman, parece ter sido resultado de accordo secreto
coin o rei de Ara^o, porque este entrou de repente na vil-

la, e sabendo que D. Tberesa fugira, mandou após ella tro-

pas que a perseguissem, mas que não poderam alcança-la. »

«A noticia da traição de D. Urraca brevemente che- .

gou aos ouvidos de Henrique — talvez pela bocca da in-


fanta sua mulher, fugida de Sahagun. É fácil de suppòr qual
seria a indignação do conde vemlo-se assim escarnecido.

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DE D. THERESA If

transtorDados os seus desígnios. Os Doitres de Leão e Gas-


lella, a quem sobre tudo era odioso o domínio do rei de
ÂragSo, mostranim-sd inclinados a /avorecer Henrique, des-
approvando o procedimento da rainha. AproYeitou o con-
de esta irritado dos ânimos, e com os outros barbes of-
fendidos resolveu proseguir contra os dons a guerra, que
até então tinham feito unicamente ao principe aragonez. »

Com eHeito chegaram a i)ôr cerco a ambos em Carrion,


mas foi em breve levantado^ dissolvendo-se o exercito.

Desde a epocba em que estes successos se passaram, que


foi no outono de 1112, até á jBorte do conde, nada consta

a respeito dos seus movimentos, nem tão pouco ácerca dos


de sua mulher. Falleceo D. Henrique no 1." de maio de
1114 ^ e Joí sepultado na sé dc Braga, onde jaz.

1 Hist. de Poriug , dou vii no Gm do loimi 1.^


4

II

lil4 — 1130

Á opoclia da morte do conde, seu único filho varão, Af-


fonso Henriques, contava apenas Ires ainios de idade, e por
consequência a regência do condado se devolveu a sua mãe.
NSo se conhece testamento de D. Henri(iue, talvez nuuca
existisse similhantedocumento; mas ou por testamento,
ou por declaração verbal, é de crer que por vontade do
moribundo ficasse sua mulher administradora dos seus es-
• tados, durante a menoridade do filho, mormente se atten-
der-mos á hoa inlelligencia que parece ter existido entre
amhos : e o ter D. Henrique mais de uma vez dado ouvidos
aos conselhos de sua esposa provaria a boa conta em que
tinha os talentos desta, os quaes, como veremos, não eram
*
vulgares.
Ainda em vida do conde a nobreza e o povo de Portugal
davam a D. Tlieiesa o tratamento de rainha, como vimos
' acima ; ella, porém, nunca usou deste titulo nos documen-
tos apenas apparece uma ou outra vez com o de infan-

1 na Cliron. de (lister, produz uma doaçáo de !1fl? fera d»-


Brito,
que D. Theresa
Il iO) Pin intitulada rainha; mas este docunienlo e faUo
como aponta Kíbeiro, Disseri. (Jironol. T. 3 P. 1 p. 40 n. 120.

L-iyiii^cG by Google
DG D. THERESA 13

ta S Ott cohdessa ^; nos outros diplomas, de que temos


noticia, figura simplesmente com o seu nome, precedido
ás vezes de dona Mas logo depois da morte do esposo
vciH()l-a iiititukir-se quasi sempre rainha e n"nma carta

de couto, « infanta Doiina Theresn, rainha de Portugal » ^.

Nem por isso devemos entender que eita fosse considera-


da quer por si, quer por seus vassallos como rainha, na si-

gnificação restricta do vocábulo. O uso que se fazia desse


titulo naquelles tempos era muito' mais geral do que em
epochas mais recentes. Era então costume em Castella,

e veiu a sel-o em Portugal, chamar aos lilhos e filhas le-

gítimos do soberano «reis», e < rainhas i^, e esse costume


oonsèrvou-se entre nós até o reinado de D. Affònso ii ^.

cSe Henrique fôra ambicioso»,o nosso insigne diz


historiador'', «n3o o era menos sua mulher. Apenas soube
fjue elle (o conde) fallecêra, a|)parereu na côrte de As-
torga. Armava grande competência diz um contemporâ- —
neo — com sua irmane como rei. Que outra podia ser essa
competência senão a das pretenç5es do marido ?.Mas o guer-
reiro conde descéra ao sepalchro ; e a sua espada, que lu-

I Ribeiro. DisseruChronol T. 3 IM p. 3in. 99e p.r»5n. 159, e T.4 P. i


p. 155 n. 769. Estes dous uUfmos docunienlos sáo do 1110, r oonlro deve
ser de 1111, ou posterior, pelo facto de figurar nelle o infante 1). Alfon-
so Henriques, que nasceu neste anno; dn t09i>. mas ú erro
traz a data
eomo aponta Ribeiro. Veja-se também o citado T. 3 p. 60 e61. De ma-
neira que D. Theresa teria adoptado o titulo de infanta aó nos uUimos
aoooi da vida de sen marido. «

1 Ibid. p. 45 n. 136 ; este doe. é datado de 1108. Por outros dons de


1120 vt^ se que.iíndn ent&o lhe chamavam condessa, ibid. T. 4. P. I p.
159 e seg. n. 779 e sr rr.

3 Ibid. T. 3 P. 1 pp. 30— 58.


4 Ibid. pp. 64— 90.— Hisl. de Poriug. do sr. Herculano, T. 1 p. 243 eseg.
h Dissert. ChrODol. T. 3 P. i p. 69 n. 202 . é datada de 1117.
6 Ibid. p. 140 n.438, p. 141 n. 442, p. 147 n. 463 em diante. — Até
1907 se deu esse título a todos os filhos
e filhas do rei : d*ahí atA 1211 só
ao primogénito e ás filhas; e desde este ultimo anno adopton-se o de in-
fante para todos sem excepção, vid. ibid. T. 1 p. 88.
7 0 sr. Herculano, Hist. de Portog. T. 1 p. 235.
14 !ilEMORIAS

zini ao sol de tanlas batalhas» jazia ao lado delie debaixo


da campa. SnbraTam á infanta ambiçio, energia, tenacidade!
ftiltaTa-lhe um braço de homem para sustentar o bom on
máu direito que suppiíiilia ter: faltava-lhe o feno, que a
politica, como sempre, costuma lançar na balança
então
em que pesam as contendas dos principes ou dos povoSé
se
Recorreu ás armas de que a sua fraqueza mulheril podia
tirar tanta vantagem, como o marido tirára Ao esforço e pe^
ricía militar : empregou a astúcia. Por inter?en0lo de um

individuo, de cujas artes se fiava, teve modo de persuadir


o rei de xVragâo, de que sua mulher intentava dar-ihe pe-
çonha, accusaçâo, talvez^ não inteiramente infundada. Af-
fonsOf que nada desejava tanto como um pretexto para pu-
nir a rainha, sem que lhe Aigíssem das m3os os vastos
estados de que ella era legitima herdeira, deu, ou fingiu
dar credito á revelação que Ifie fora feita. Perante os no-

bres que estavam na còrte acciisou-a do intentado assassi-


nio, para assim se justificar do procedimento que deter-
minava seguir, e este era o separasse delia. Segundo o
costume do tempo recorreu a rainha á prova do combate^
escolhendo um cavalleiro que mantivesse na estacada a sua
innocencia ; mas o rei negou-se a acceitar o chamado juizo

de Deus, fazendo-se julgador da própria causa. Debalde o9>

condes de GasteUa, e até os barões aragonezes, que se acha-


vam presentes, procuraram socegar os ânimos urritados dos
dous consortes. D. Urraca foi expulsa de Astorga seguida
de poucos cavalleiros, que não quizeram abandona-la na<»
quella desgraçada conjunctura.
Mas este proceder violento indispoz todos os ânimos con-
tra D. Aflfonso e grangeou tantas sympafhias a D. Urraca,
que, tendo-se a assembléa de Sahagun mostrado resoluta em
sustentar as condições juradas por aquelle, foi obrigado a
recolher-se a seus estados, ao passo que a authoridade da
rainha foi reconhecida por toda a parte.

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Dfi D. tHKBfiSA . 15

« D. Tlieresa », continúa o sr. Herculano ^ « ficára re-

sidindo em Astorga quando sua irman fôra expulsa. AUi


pactuára alliança com o rei de Aragão mas os aconteci- ;

mentos de Sabagun vinham colioca-la n'wna situação ex*


cessivamente difficultosa. Os seus domínios eram demasia*
do circumscrfptos para nelles achar recursos contra a ir-
man^ offendida mortalmente por ella. O seu alliado, reli-
rando-so aos proi)rios estados, só de um modo indirecto
poderia ser util a Portugal, divertindo as armas leonezas
para as fronteiras de Gastella. Por outra parte a morte do
conde, succedida antes de elle obter definitivamente a posse
de uma parte da monarchia, em quepodesse constituir um
reino independente e assaz importante para se fazer res-
peitar, deixava, até, a província cpie Aílonso vi lhe dera
para governar, ligada virtualmente a Leão, c se D. Theresa
partisse os laços dr^ obediência que a uaiam á irman, es^
acto seria considerado como orna flagrante rebeliião. t
Ignoram-se os meios que D. Theresa empregou para se
tirar As actas das còrtes de
dessa situação díflScultosa. <
Oviedo, » Herculano^ «de que adiante havemos de
diz o sr.
fallnr, persuadem que a infanta dos portuguezes recorrera
á submissão para evitir a procella ; mas o que não parece
menos provável é que o esquecimento da passada injuria
não fôra em D. Urraca pura longanimidade. » O iilustre

historiador, ligando com summa erudição factos ciga con*


nexão ninguém suspeitára até hoje, revela osverdadeiros mo-
tivos que haviam de mfluir no proceder de D. Urraca para
com a irman ^. Mostra ipio foram as relações de amisado que
ligavam D. Theresa a í;,'lniires, bispo de Compostella, que
lhe valeram nessa conjunctura ; porque, como este prelado
turbulento e ambicioso andava em continuas desavenças com
1 Ibid.
i Ibid |). âV>.
3 lliiii. p. Í41 - 243.

DiyiliztiO by GoOgle
IG MSttORIAS

I). UrracM, nn que era apoiado pela nobreza de CaHiza, que


a queria privar da corôa pai'a a pôr ua cabeça du seu fi-

lho, AíTonso Haimundes, receia va augmeotar a índísposi-


ç!So do bispo maltractando a infanta portugneza, nUo dQ^
vidando que elle, cuja influencia na Galliza era toda po-
derosa, vingaria qualquer affironta que aquella recetiessedas
suas mãos.
A prova de que D. Tlieresa se submettèra a sua irman,
rei oiííiecendo a própria inferioridade, lem-nos sido Irans-
mittida por documento authentico. Diz o sr. Herculano a
este propósito ^ : t Na antiga capitai das Astúrias, em Oviedo,
eelebrou-se em 1115 uma reunião de bispos, de nobres, e
de deputações municipaes (plebs) com o intuito de occorrer
aos crimes e violências, que se perpetravam por toda a mo-
narchia, e especialmente entre os asturianos. Considere-se
aquelle numeroso ajuntamento como cortes ou como con-
cilio, porque a naturesa de taes assembléas celebradas
por
esses tempos pôde bem distinguir, é certo
nem sempre se
que uma parte das suas actas chegou até nós, e nellas se en-
contram disposições nSo só ecclesíastícas, mas também cri-
minaes e civis. Assistiram a estas côrtes D. Urraca e suas
iliias irmans, Theresa e Elvií-a, rom avultado numero de pre-
lados e barões das diversas provincias da monarcbia, á ex-
cepção dos de Portugal. A subscripção daquelie impor-,
tante documento nos apresenta a situação relativa das duas
filhas de Ximena Muniones e da herdeira de Affonso vi.

Eis-aqui essa subscripção


c A rainha D. Urraca, com todos os seus filhos e filhas
« confirmou e jurou a sobredita constituição, e a mandou ju-
« rar e conlirmar a todos os habitaiiles do seu reino inteiro,
« tanto ecclesiasti€os como seculai es. E assim as irmans da
c mesma rainha, D. Geioira infanta, com todos os seus
« filhos e filhas, e com todas os seus súbditos, e a infanta,

i Ibíd. p. 247 e seg.

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DE D. THERESA 17

« D. Tberesa» com todos os seus íiliios e filhas a tila m-


€ jeitoã, juraram e confirmaram como acima fica declarado, t

t Portanto nós todos que subscrevemos, etc. * » Seguem


os nomes dos condes, nobres e prelados, que se achavam
presentes, ou que depois adheriram ás resoluções ahi to-
madas. •
c É n*uma assembléa dos príncipaes personagens de LeSo

e Gastella, que D. Theresa assigna como infanta depois da


rainha, c ainda depois de Elvira sua irman mais velha : mas
ao passo que Elvira confirma o jura em nome dos seus des
cendentes e súbditos, ella (se uão suppozermos aquella pas-
^gem trancada) só falia dos primeiros. Não resulta evi-
dentemente deste facto o reconhecimento da superioridade
de D. Urraca ? E'a ausência dos bailes de Portugal, e o
silencio de D. Theresa ácerca delles não vem reforçar as
nossas suspeitas de que o espirito publico, ainda mais, se
é possível, que os desejos dos príncipes, tendia eoergica-
mente em Portugal á independência 2?»
Noprincipio da 1146 a guerra civil rdientou na Galliza.
O conde de Trava, Pedro Froylaz, aio de D. Aflbnso Rai-
mundes, favorecido pelo bispo Gelmires, capitaneava os des-
contentes porém as foryas (jue a rainha lhe oppoz tiveram
:

a melhoria, e ok*igavam-no a retirar-se, quando nesta con-


junctara appareceu a infanta de Portugal com seus homens
d'armas para reforçar o partido dos sublevados e alentar-lhes
o animo, que jã começara a esmorecer. Segundo todas as
probabilidades foipor convite de Gelmires que D. There-
sa se decidira a enU^ar na lucta: e porventura não seria
preciso muita persuasão para resolvei-a, visto que, alem da
gratidjio que devia pelos bons serviços que lhe prestára re-
t Vid. Unbem Diaserl. Chronol. T. 3 P. I p. 65 n. 191, onda te acba
Iranscripta mo idioma d» origiaal ; oo Portug. Mottum. Hitt. seriptorea,
vol. 1 p. lAOcoi. ±
2 Sobre essas suspeitas, veja-se a mesma Hi^U de Poriug. T. 1 p.245
« seg.
t

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18 MCHORIAS

centemente o composteilaiio, era occasião opportuna pafa


adiantar os projectos ambieiosos que nunca perdia de vista.
Unindo as suas tropas com as de Pedro Froylaz foi cer-

car a rainha em Suberoso; esta estava alli qoasi isolada, em


quanto que o seu exercito, dividido era fracções, se achava
occupado em diversos pontos do paiz. ígnora-se qual dos
dous partidos triumphou neste cerco : se D. Urraca fugiu,
vSlOpodendo resistir aos adversários, ou. se a infanta e o
conde de Trava sofilvram uma derrota. É certo todavia que
a rainha, partindo de Suberoso, protegida por algumas tro*
pas, se retirou para Ci)m[)()stella e d'ahi para Leão ^
Depois da partida de D. Urraca, aâ hostilidades continua-
ram na Gallíza entre as forças d ambos os partidos. Segundo
parece, D. Theresa demorou-se ainda alguns mezes, per-
correndo aqueUe território em companhia do conde de Trava
e seus dous filhos Bermudo e Fernando. < Ahi, > diz o his'
toriador 2, « no meio das fadigas e riscos dos combates, des-
pontaria essa aíTeição entre Fernando de Trava e D. The-
resa, que tão notável se tornou annos depois, e que veíu a
produzir em Portugal scenas análogas ás que se representa-
vam entio na GaUiza. > Mas chegando a noticia, pelos fina
de 1116, da Invaslio dos sarracenos nos seus domínios, viu-
se obrigada a abandonar a vida errante, que, talvez, lhe não
fosse desagradável, aíim de cuidar na defensão dos seus sú-
bditos contra o novo e poderoso inimigo que surgia ao suL
D. Theresa não deixou dOi tirar proveito da parte que lhe
coube na guerra de Gallíza: por este meio dilatou as fron-
teirasdos seus estados para o norte, fazendo reconhecer
o seu senhorio nos districtos de Tuy e Orense e fazen- :

1 Ibitl* p. com bons motivos, qn»


250-^253. Osr. Herculano suppôe,
D. Theresa e seu aHiado ficaram desbaratailos. O sr. Lafuente, que pa«
rece não apresentar os factos com tanta miudeza como onos^o historiador,
dA a entender que D. Urraca escapára com bastanle diffieuldade. Uisl. de
Espana T. 4 p. 483.
a Híst de Poriug. T. 1. p. 254. *

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BG n. TntMBSA 19

do-se a paz» ainda nesse mesmo anno, entre D. Urraca e


seus contrários, oão foram oiTidadosos interesses de D.
resa na reconciliação geral, e, ficando esta, portanto, \vm
de cuidado por esse lado, pôde dirigir toda a sua atten*
ção contra a invasão dos infiéis ^
Ao entrar nos seus estados a infanta dos Portuguezes
achára os castellos de Miranda, Santa Eulália e Soure, que
fom^vam de defesa de Coimbra, n'um montSo de
a linha
minas; e em
junho do anno seguinte o emir de Marrocos,
Aly, veiu em pessoa com um exercito numeroso cercar atpiella
capital. A sua chegada foi tão súbita que pouco faltou que

D. Theresa não cahisse em seu poder, salvando-se a muito


custo dentro dos muros da cidade ; comtudo a defesa da

ínfántae dos seus foi tão vigorosa, e as fortificações tSo


boas, que ao cabo de tres semanas de tentativas infructi*
feras, o emir viu-se obrigado a levantar o sitio e recolher-
se a Africa, deixando os arrabaldes de Coimbra assolados
pelo ferro e pelo fogo 2. £ de crer que a fome e a peste
que o exercito sarraceno nSo contríbuissem pouco
afiflígiram

para o desfecho que teve esta memorável invasiio. Desde a


data deste snccesso até 1421 , o condado de Portugal logrou
algum descanço, e parece certo que D. Theresa não tomou
parte nos negócios do resto de Hespanha, vivendo, ao me-
nos na appareucia, em boa harmonia com a irman, ciua
supremacia nio contrariava.
Foi neste intervalo de quatro annos que D. Fernando Pe-
res, filho segundo do conde de Trava, devia ter vindo i
côrte de D. Theresa. Não consta ao certo a data da sua
chegada, mns sabemos que elle se achava em Portugal go-
vernando, como titulo de cônsul ou conde, os districtos do
Porto e Coimbra no principio de 1121 ^ o que indica que a

1 Ibid. p. áooe^Tí?.
â Ibiil. p. io3 e seg.
3 Hiit de Porlug do sr. Herculano T. 1 p. 2G7.

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ao MBIIOBUS

sua vinda fôra algum tempo antes, porventura pouco de-


PQís da pacificação da discórdia civil a que já alludimos; a
qual deixando-o desoccupado lhe proporcionaria a occasião
de Yír ao encontro da soa antiga companheira d^armas. NSo
é nosso intento determo-nos com a polemica qae tanto te|n*
po doroo, ácerca do pretendido casamento de D. Thema
com o fidalgo galiego i. As chamadas provas adduzidas
por alguns authores, partidários do segundo casamento de
D. Theresa, são demasiado triviaes, excepto um único do- .

comento, para merecerem moa consideração detida, e esse


mesmo documento» que é a carta de fundaçSo de Monte-
Ramo» tem-se provado com a ultima eyidencia nSo ser ge-
nuíno Por outro Mo, de algumas memorias coevas, es-
caças mas authenticas, infere-se com bastante evidencia
que os vinculos que uniam D. Theresa e D. Fernando Pe-
res não foram os do matrimonio 3. O que reforça esta opi-
nião é que D. Fernando era casado com D. Sancha Gonçal-
ves quando veiu a Portugal, vivendo ella ainda em 4142,

1Alguns eMriptorw, teguiiido o NobU» rio «Itribaiilo «o conde D. Pe-


dro, iam mais longe, «ffirraando que D. Theresa rasára em primeiro le-
gar fom D. Bprniuilo Perps, e que depois o trniáo «Jesle. D. Fernando.
.1veiu lirar do poder daquelle, rasando com ella. Vid. Nobil. íil. 13 in
prin. —
Galvão, Chron, de I). AíT. Henriques c. 5. —
Acenlieiro, CI»ron, do
mesmo rei. Foi esse D. Bermudo que casou com D. Urraca, filha de D. The-
resa e do conde D. Henrique. 0 sr. Schafer iHist. de Portug. Ep. t I. f
e.S) nio r^eita Inteiramente o ter D. Theresa convivido eom D.Borinndo*^
náo nn matrimonio, mas no concubinato —
antes lie se ligar eom o outro
irmáo. U\o, porém, só se poderia dtiiu/ir da tradição suppondo erro
quanto aos dou> ra^anientos e adniitliii<1o o mais conjectura que a pouca
;

confiança que merece o Nobiliário não uo& parece sanccionar.


a Vid. Híst de Porlng. do sr. Herculano, nota zit no fim do I.* temo.
8 Para a questão do segundo casamento, poJ«*se consultar os seguin-
tes authores Brandáo, Mon. Lusit. P. 3 1. 9 c Se seg.
: —
Barbosa, Calai,
das Rainhas, nota E p. 87 e segg.— Almeida, Mero. da Acadeni. dns Scien.
T. 2 P p. 174 e segg. —Figueiredo, ibid, T. 0. p. 295 e segg.— S. Luiz,
I

Mem. Chronul. e Ilisl. do governo de D Theresa, ittiii. T. 1 P. 1 da nova


serie p. tl e Kegg —
O sr. Schsefer, Hi&t. de Portug Kp. i 1. 1 c. 2.-->0
ar. Herrulano, Hist. de. Portug. T. 1 nota iit no flm do menno tomo.

t •

L/iyiii^cG by Google
DE D. THERESA 21

doze annos depois da morte de D. Theresa» segundo consta


de mn documento daquelle anno ^. Mo seria mesmo licito
presumir que esta circumstancia impedisse que elles eon-
trahissem matrimonio, sendo este aliás o desejo de ambos?
Negando-se o consorcio, não é possível comtudo duvidar
das relações illicitas que ligavam a infanta e D. Fernando,
facto este que aliás vem affirmado em termos não equivo*
cos, por dous escriptores do próprio tempo ^. Parece mes-
mo que a iníánta não fazia grande mysterio da sua intimi-
dade com aquelle fidalgo. Um dia que o celebre S. Theo-
tonio pregava em Viseu, succedeu estarem presentes os dous
amantes, e quando ouviram as enérgicas reprehensões com
que o moiye exprobrava os vicios do tempo, entendendo a
allosão que sem duvida fazia á demasiada familiaridade que

1 Documento pelo qual 1>. Fernando Peree e a dita sua mulher, junta*
m'enle eom sêui filhos, fitaram doação da metade que lhes pertencia do
mosteiro de Sobrado, citado pelo sr. Herculano, ffist. de Portug. nota xit
do 1." tomo; e por Barbosa, Cotai, das Rainhas nota Ep. 102, apud Man-
rique, Annaes de Cister, c. 13 n. 10, e Salazar, Hist. de la Casa de Lara T. \
p. ^1 n. 8. A Hist. Compostellana diz que o conde era casado quando veiu
a Portugal (vid. a nola seguiote). O Liv. Velho das Linhg., sem fallar de
D. Theresa, dá o conde por casado com nma dona qoe nlo noméa, nomean-
do comtudo os quatro filhos que te?e delia (vid Hist. Geneal. T. 1 das Pro-
vas p. 195). ONoMUattriboido ao conde D. Pedro depois de referir (no lít.
13) o supposto casamento de Fernando Peres com D. Theresa, attribue
áqaelle outro consorcio mns dá a entender que fôra em segundas nú-
;

pcias, dizendo: «Este conde D. Fernando foi outra vez casado com D...»
edá-se em seguida uma relação dos filhos os nomes dos quatro primei-
:

ros concordam com o Liv* Velho já citado, mas accresoenta o Ifobil. mais
duas filhas. É porém sabido, que esta obra. composição de muitas mãos e
de diversas épochas, nio faz authoridade de per si só. No fim do tit. 15.*
refere o rapto de D. Theresa (uma das filhas do conde Fernando) por
D. Lopo Rodrigues d'Ulloa.
2 «Portugalensis infans...acquisita portugalensi pátria, et Fernando
Petride...qui, relicta sua legitima uxore, cum matre ipsius infantis re-
gina TAToiriAtunc temporis aàuUetábatur, ettoti iUiterrse principaba-
tur. vi ablato, magoam dissénsionem... babuit, etc. > Hist. Gomport. L. 3
c. S4. citada pelo sr.|Hercu1ano,Hi8t. de Portug. 1. cit.; opor Ribeiro Dis-
sert. Chronol. T. 3 P. ip. 96 n. 188. Vide nota seguinte.

Diyilizea by ^OOglc
n ' MSiiiORIAS

exíslia ectre elles, satiirani apressados da igreja com o ru-


bor da Tergonlia oas Aices ^
Ê de crer que a affeícSo era reciproca e Terdadewa de
nm e outro lado. Da parte de D. Theresa ao menos o de-
via ser: os acontecimentos nol-o indicam com l>astantp

evidencia. Investiu o amante com o mais altoe im|)ortante


cargo, dando-lhe o govôrno dos principaes districtos do
condado. Porto e Goimtra, como já yíidos. A influencia
de Fernando fazia-ee sentir cada tos mais; pouco tar-
dou que nSo díspozesse de tudo, e n9e reunisse em tomo
de si os seus compatrícios. Tinha um poder a bem dizer
absoluto sobre o espirito da infanta, cujo amor lhe foi
constante até a morte, arremessando-a por fim no abysmo
que elie, por seus conselhos imprudentes, lhe havia pre-
parado. A serem sinceras as expressões de que o conde
se serviu, n*uma doação de terras que fez á sê de Coim-
bra por alma da já defíincta D. Theresa, nSo deixaremos
de lhe reconhecer iguaes sentimentos de affeíçKo : « Se al-
guém, » dizia liando, «se alguém houver ahi que intente
annullar (o (pie não croio) a doação (|ue ora faço, pague
em dobro a ousadia á authoridade real, e se fòr algum in-

dividuo tão poderoso e cruel, que possa consenrar-ae per-


tinaz, seja o seu destino na morte o de Dathan e Abi-
ron*; •

1 Vit. S. Theot. §
'6 ttd iin.
O nuihor dest* narração, que era roero,
4ii expressameate, no logar apontado, qnn Fernrado Peres aio era le»
gitíno e^oeo d« infaoia, mas aím seu amaate : « eoatoberaalis etaa, aon
. nir legitimus erat. » Vid. Portugali» Monuroenta Histories ; srriptorea
vol. p.81 col. 1, publicaç.So importantíssima que a Aeademi» Real da»
1

Sriencias de Lisboa encetou em ts.">6. e que virá a ser um padrão hi>o~


roso para a pátria, fazendo cessar a inferioridade em que nos lemos
aehado comparado^ com as outras nações coltaa. Todo»
a este respeito,
sabea qoe o sr. Herealaao Ibi iaevBbida deste imporlaala tosbalha^
pr^eetado e proBOvido por Hle.
t Litro Preto U W, ctiado pele ar. lercalaao, Hist. de Poftag. T. t
p 292.

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i
Gôogle
m D. T.ÍERESA 23

Nio era de presumir que a traiuiuSllidade que a infanta


dos portuguezfs desfructava nos seas estados haviit quatro
antios continuasse por muito tempo, attentos os elementos
de inquietação que na Uespanha subsiâtiam» e que*
cireumetanciasem que então se achava a monarchia* nlo
podiam ser reprimidos. É evidente que D. Theresa, por
sua situação, e ainda mais pelas relações occultas que con-
tinuava a entreter com Diogo Gelmires e os descontentes
de Galliza, provavelmente por influencia do conde Fer-
nando Peres» não poderia esquivar-se a tomar parte nas
hostilidades que porventura rebentassem entre seus visinhos.
Mas desta vez lâo havia arintrio a tomar : o raio partiu
dirigido dh^ctamente contra eila.
No verSo de llái D. Urraca resolveu invadir os estados
da irman, queixando-se de que esta retinha o senhorio dos
districtos de Tuy e Orense, dos quaes se apoderára du^
rante a campanha de Galliza. Isto porém era mero dis-
farce com que procurava encubrir os verdadeiros motivos.
Apesar da pacificação feita em 1116, continuavam na Gal-
liza as tramas contra o poder da rainha, merecendo estas

a approvação do pnpa Calixto ii, tio do joven AíTonso

Raimundes» pretendente á coroa da mãe. Gelmires, á força


de rogativas, conseguiu de Calixto a elevação da sé de
Compostella á dignidade de metrópole^ mas com a condi-
ção de prestar o seu apoio ás pretenções do príncipe. Para
facilitar-lhe o cumprimento dessa promessa o pnpa expe-
diu uma novo arcebispo íicava desligado
bulia pela qual o

dos seus juramentos de fidelidade á rainha, habiiitando-o


assim a entrar sem macula na liga contra a sua soberana,
pois era então licito á cúria romana sanctificar os actos
mais torpes e deshnmanos, e o povo ignorante abaixava
a cabeça submisso. Todavia Gelmires não se aproveitou
desta liberdade d acção, dissuadido pelo legado, o cardeal
Boso« de qualquer passo que o compromettesse para com

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24 motiAS
o partido (la rainha, assegurando-lhe qye por tods a parte
86 armaTam ciladas coDtra elie.
GoDfonnando-se, iN)]8» eomestecoDseiboamígaTel, fez o
possível para se mostrar, ao menos ostensivamente, íiel

a D. Urraca e affastar-lhe da mente qualquer desconfiança a


seu respeito. Esta, porém, não se deixava enganar tão facil-

mente : leve indicios do que se passava, e resolveu anti-


cipar Q& seus adversário^. Julgava inútil tentar assegurar-
ão do prelado» visto que simiihante plano já por doas ve-
zes tinha falhado. Parece que suspeitava a connivencia de
D. Theresa com os partidários de seu filho, e entendeu
que o meio mais seguro de quebrar a íorga dos descon-
tentes era fazer cahir o golpe sobre esta, a mais poderosa
dos seus inimigos ^.

Na expedição contra Portugal D. Urraca fez-se acom-


panhar por seu filho, que dava a entender não ir de ac-
cordo com os que o queriam proclamar rei. Seguia«a tam-
bém o arcel^spo de Gompostella com seus homens d'ar-
mas, manifestando o maior zelo possível poios interesses
da soberana, que nem por isso Ibe dava mais credito do
que merecia.
Apenas D. Theresa teve rebate da marcha da rainha,
reuniu logo todas as forças de que pôde dispôr, vindo
acampar-se na margem esquerda do Minho, ao passo que
o exercito invasor occupava a outra margem. Succedeu
em breve, que alguns cavalleiros da rainha tomassem posse
de uma insua que se achava mais perto dos portuguezes, o
que deu causa a que se espalhasse o terror ei\tre elles e
se retirassem, deixando livre a passagem do rio. As tro-
pas inimigas invadiram o território portuguez sem encon-
trar re»stencia, e, díspersando-se por todos os lados, le-
varam tudo a ferro e fogo até chegarem ás margens do
1 Snbrf> os antecedentes II veje-ee Uiei. de Porlug. do sr. Uerculftoo

T. 1 pp.íá6l — 267.

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DE D. THERESA 25
Douro. Gelmires começou odISo a fingir-se compungido
com as crueldades que iam acompanhando i conquista
do paíz, conquista quo se nkançava com uma facilidade
que de modo algum convinha aos desígnios do astuto pre-
lado ; instou para que o deixassem voltar a sua sé prf^lcx-
lando motivos religiosos. Mas D. Urraca conhecia a fundo
o caracter ardiioso desse homem e tinha sobradas razões
'

para temer o efféito das suas intrigas se nSo fosse vigiado


dé perto : n3o quiz portanto annuir a que se ausentasse.
No entretanto D. Theresa, abandonada por seus soldados,
tinha-se recoUiido a Laithoso. Este castelio foi investido
e em breve tomado, ficando a infanta presa. Não se faz
mençSo nesta oonjunctura de Fernando Peres, o que é para
admirar, pois n9o é de crer que deixasse de estar ao lado
da infanta no perigo em que ella se achava ^
As noticias sobre os factos immediatos a este successo
sSo muito escaças ; eis o que diz o nosso erudito histo-
riador, o sr. Herculano > : c O vencimento e sujeição de
D. Theresa vinha... a ser por muitos modos um golpe í^-

tal nos interesses e desígnios de Gelmires e dos seus as-


sociados. Tornava-sc, portanto, necessário ao ambicioso
prelado correr o risco de uma resolução atrevida, para
salvar a causa em que se achava empenhado. »
Ignorámos quaes fossem nesse momento os factos pra-
c
cticados por Gelmires conducentes ao sen fim. E' certo,
porém, que D. Urraca resolveu prende-lo. Era um nego-
cio delicado. Tinha elle comsigo os seus homens d'armas :

tinha além d isso parciaes no exercito, e uma influencia


na Gailiza que era impossível desconhecer. Em í^nte do

1 Ibid. p. 967 e segg. —


É moílo provável que desta prisão de D. The-
resa em Lanhoso pela irmaD, originasse a fabnla do sen encareeramenio no
mesmo logar pelo infante seu filho, nomo dit D. Francisco de S. Luis,
Mem. Chronnl. e Hist. de D. Theress p. 13» nota.
S Hisi. de PorU T. 1 p. 270 e segg.

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M MEMORIAS

inimigo um
Ui acto tornava-se quasí inexequiTel pela cer-
teia de qaé os sitiados aproveitariam a lucta íntestioa
dos sítiadores para os destroçarem. É provável que neste
apuro a rainha preferisse cougraçar-se cuin a irman a dei-
xar impune aqucUe homem desleal e hypocrita, contra o
qual sentiria um ódio tanto mais violento, quanto se vira
por longo tempo obrigada a reprimi-lo e dis&rça-lo.
c Fes-se» de feito» a paz. Por qoaes meios, e por inter-
venç9o de quem é o que vâo diegou até nós. Um tractado,
porém, existe celebrado entre nsdiíns irmans, que aUrilmi-
mos a esta conjunctura, e que na verdade fòra dilliculloso
de conciliar com outra. data. Ou a situação de D. Urraca
habilitou D. Tberesa para negociar com immensa vantagem
1 cessado das hostilidades^ ou aquella princesa quíz as-
segurar a lealdade de sua írman, confiando-lhe um senhorio
muito mais extenso do que até ahi desfructàra. Na con-
venção e juramento feito pela rainha á infanta, ella pro-
mctteu conservar-Ute amisuide liei, e oppôr-se a todo o mal
que lhe intentassem fazer» e concedeu-ihe p dominio de
muitos legares e terras nos modernos districtos de Samora,
Toro, Salamanca e Avila, com as rendas e direitos senho-
riaes destas cidades, além de outi-as nos de Valladolid e
Toledo, obrigando por isLo D. Theresa a que llie jurasse

amparo e defesa contra os seus inimigos, quer mouros,


querchristãos, e a que lhe promettesse não dar acolhimento
a nenhmn Vassallo da rainha levantado com terras ou cas-
tellos, nem a nenhum traidor. Os dominios novamente con-

cedidos á infanta deviam ser considerados como uma te-


nencia similhante á dos que anteriormente possuía, no que
porventura só se fazia referencia ás terras de Tuy e Orense,
ou antes, como cremos^ a ^stas e ás de Portugal K »

t Vfj.i^sc o texto deste tractado, nola i do An do T. 1. dii Hiat.


de. Purt.do sr. Hercalano.

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DK D. TilKUKSA 27

ff Dados recíprocos fiadores da exeeiiç9o do traeUdo,


as duas irmaiis parece te?'em convivido familiarmente; ao
menos os Íntimos conselheiros da rainha julgaram poder
communicar a D. Theresa o que se tioha reaoivido ácerca
da prisão de Geimires e os meios que para isso se harâm
de empregar. D. Theresa, poróm» talyez por influencia de
Fernando Peres, mandou alisar o prelado, ofiTerecendo-lbe
ao mesmo tempo ou uni dos seus castellos para a elle se
recolher, ou alguns dos seus navios para voltar a Compos-
leiia. GeJmires, coniiado na reconciliação jurada cuia i>* Ur-
raca, ou, o que 6 mais certo, nos homens d'armas que o
cercavam, recusou a offerta, posto que antes deste aviso
já corresse no arraial uma noticia vaga da tentativa. Asstra,
pondo-se em retirada para a Galiiza o exercito invasor, elle
não se apartou da rainha, a quem também acompanhavam
alguns súbditos de D. Theresa, porque nos consta seguiam
o campo o arcebispo de Braga e o bispo de Orense. Che-
gados á margem esquerda do Minho, a rainha ordenou pas-
sassem primeiro os cavalleiros de Geimires, o que effecti-
vamente se executou, ficando este com o infante o com ella

para depois seguirem com o resto do exercito. Apenas, po-


rém, os bornes d armas do compostellano pisavam o terri-
tório gallego, e começavam a acampar-se, a rainha mandou
prender o prelado, que, na impossibilidade de resisth*, con-
tentou-se de protestar contra similhante procedimento. Di-
vulgada a nova da prisão, o arcebispo D. Paio e o bispo
de Orense fugiram atemorisados, o que nâo deixa de ser
eitraordinarío, • parece indicar alguma cumplicidade destes
dous personagens da còrte de D. Theresa eom o astucios»
Gekmires, e até pdde faser suspeitar, attentas as relações
estreitas que existiam entre elle e Fernando Peres, que
do lado da infanta não houvera a melhor fé na paz que

celebrára, e que nem com tão avultadas concessões pôde a


rainha desliga-la inteúramente do seu antigo alliado. Mais

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I

28 MEMORIAS

fahemenies, porém» ainda se tornario as suspeitas se nos


lembrarmos do aviso occulto, que eUe recebôrâ de D. The-
resa sobre este mesmo soccesso, e da alliança d'ahi a poneo
francamente feita contra a rainha entre a infanta e o pró-
prio arcebispo de Sanctiago. »

Dentro de poucos dias Affonso. Raimundes, o conde de


Trava e oatros fidalgos abandonaram a i^ínba, dirígin-
do-se para o norte onde nSo tardaram a levantar de novo
as pretenções do joven príncipe, declarando-se também a
seu favor Gelmires, que D. Urraca se vira obrigada a pôr
em liberdade depois de poucos dias de prisão. A lucta
continuou, mais ou monos morte da
violenta, até á
rainha, succedida em il26« não obstante a paz celerada
nos fins de 1121 m
Monsacro, a qual foi de pouca dura-
ç8o.
« D. Theresa, » diz o sr. Herculano ^ « D. Theresa havia-
se unido immediatamente ao partido do arcebispo, ou, o
que é mais de crer, como acima insinuámos, tendo apro-
veitado a conjunctura da paz offérecida, nUo só para salvar
o que possuía por morte de Henrique e as terras de Gallíza
occupadas por ella, mas lambem para assegurar os novos
senhorios que sua irman lhe confiava, entendeu que não
devia arriscar-se a perde-los, conservando-se no partido
da rainba, cuja estreita visivelmente declinava. Era tão fre-

quente naquelles tempos a quebra das mais solemnes pro-


messas> a ambição e o egoísmo tão pouco rebuçados, que
não devemos julgar esse procedimento com o mesmo rigor
com que o condemnariamos n uma epocha mais recente.
Além d isso, Fêrnando Peres obtivera no seu espirito in-
teiro domínio, e nesta resolução da iníanta-rainha sabemos
que elle figurou por metade. »
Todavia, desde a paz de Ifonsacro, parece que D. Theresa

1 Ibid. p. 215

Digitizeu by LiOOgle
DB D. THEIKSA W
deixou de tomnr parle, ao menos activamente, nas convul*
sões do reino visínho.
No anno seguinte D. Paio, arcebispo de Braga,
ao voltar de uma digressSo que fizera a Samora, foi preso
por ordem de D. Theresa. Os motivos deste acto não che-
garam até nós mas o nosso moderno e illustre historiador,
;

quo, nunca passa por um facto duvidoso sem consaf,nar-lhe


nm estudo profundo, parece ver aqui alguns indicios da
revolução, que d alii a poucos annos rebentou em Portugal.
Sem connexão (para a qaai faltam até hoje mate»
definir a
rlaes) que podia existir entre estes doas foctos, mostra que
attendendo á i^a de D. Paio para Samora, antes da sua
prisão, assim como â de D. Àfiònso Henriques para arjuella
cidade em 1125, epoclia em que se armou cava lie iro, tendo
apenas quatorze annos, e ao haverem alguns membros po-
derosos da famiiia do arcebispo figurado mais tarde na liga
contra o governo estabelecido, junto com outras circum-
stancias, tudo conspiraria a persuadir que as intrigas, que
depois tomaram vulto contra a infanta, ou antes contra a
authoridade odiada do conde D. Fernando, já então tinham
começado, chegando, talvez, alguns vislumbres dessas in-

trigas ao conhecimento de D. Theresa. Fosse qual fosse a


rasão, é certo que o papa expediu uma bulia ao arcebispo
de Sanctiago em junho do mesmo anno, pela qual amea-
çava D. Theresa de excommunhSo se nSo soltasse o prelado
portuguez até os fins do mez seguinte. O resultado foi a
liberdade deste
Nos annos immediatos D. Theresa parece ler-se occu-
pado da administração interna do paiz e da sua fortifica-
ção. Concedeu a Fernando Peres, em troca de Coja que
elle possuía, os castellos de Soure e Santa Eulália, des-

1 Ibid. p. 279 e seg. Veja-se lainbetn sobre a prisfto de D. Paio, Mem.


Cliroiiol. e Hist. do governo de D. Theresa por D. Francisco de S.
Luit p. 14, onde interpreta este facto d'outro modo.

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30 \IEM0RIAS

tfoidos em 1116 pelos sarracenos, afim de os reedificar e


tomar effectívos como pontos de defesa da flronteira ao sol;
e effectivameiile denliu de dous ou tres auuos este plano
realisou-se ^
Por morte da rainha D. Urraca, seu íilho, D. Aííonso
VII, assumiu definitivamente o mando em Leão e Castella.

Nio deixou comtudo de encontrar resistência. Apesar da


pouca sympathía, que D. Affonso de Aragão gosava nos

estados de sua dc^fuin ta mulher, e de se llie terem re-
bellado os logares que ainda nelles conservava, resolveu
nlo 08 largar sem appellar para as armas. Com o intuito
de empregar todas as suas forças contra aquelle monarcha,
cujo valor lhe adquirira o appellido de batalhador ou lida-
dor, quiz D. Aflbnso vii assegurar-se da amisade ou neu-
tralidade de sua tia D. Theresa ;
dirigiu-se para esse fim
a Samora, onde ella se achava com D. Fernando Peres. Fez-
se a paz ; mas por um praso limitado, porque o novo rei
estava resolvido, acabada que fosse a pendência com o ara-
gonês, a exigir de D. Theresa o reconhecimento da sua su-
premacia. A guerra entre os dous reis tão durou muito
desta vez, concluindo-se um armistício sem virem ás
mãos
No entretanto a infanta dos portuguezes, adivinhando
talvez o pensamento do sobrinho, cuidou em pôr os seus
domínios em melhor estado de defesa, fortificando os dis-
trictos que possuía alem do rio Minho, e guamecendo-os
de tropas. Ao mesmo tempo houve indícios de agitação na
Galliza, a qual foi depressa sulTocada por influencia de Gel-
mires, que até empregou a força para submetter os que
nto quizeram attender a consdhos pacíficos. Citaremos
agora as palavras do sr. Herculano ^ :

1 Hi8t. dM Porl. T. 1 p. 283.


2 Ibid. p. 282 e se^ç.

3 Ibid. p. 264 e seg.

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I

D£ D. Tii£il£SA 31

€ A reducção de Portugal era, porém,. negocio mais gra-


ve. D. Theresa tinha por si não só os barões de Portugal,
mas Fernando Peres seu amante e os cavalleiros de Gal-
iiza» que á sombra delie tinham vindo residir em Por-
tugal. Não Ibe faltavam além disao homens d*armas e rí*

quesas para si»tentar a gaerra. Orgulhosa do sea poder,


D. Theresa, que, durante o governo de D. Urraca, eTÍtárt,
como temos visto, o declarar-se de todo independente, cons-
trangida, talvez, a^^ora pelas pretenrões mais precisas de
Affonso Yu^ recusava formalmente cumprir com as obri-
gações nascidas da tenencia que. conforme o tractado de
1121, e attenta a origem primitiva dos domínios de que
era senhora, o rei leonez entendia que ella exercitava.
c Foram estes os motivos, que trouxeram a Portugal uma
invasão similhante á que o deixára assolado dez annos an-
tes. Na primavera de 1127, feitas já as tréguas com o rei

de Aragão, AíTonso vu veiu á GaUiza, e mandando ajun-


tar as tropas desta província, marchou com um exercito nnr
meroso por Entre-Douro e BImho. Das circumstaneias da
guerra n3o nos restam memorias senlo dos males que fXo
communs em taes successos, e que pela barbaria dos tem-
pos ainda o eram mais naquelle século : devastações dos
campos e aldeias, assédios de castellos, ruína das grandes
povoações. A sorte das armas mostrou-se mais. uma vez
adversa a D. Theresa» cvyo poder, por grande que fosse,
era por certo mui inferior ás fqrças do sobrinho. Os revé-
ses recebidos nesta campanha, que apenas durou seis se-
manas, obrigaram a rainha a humilhar-se, e a reconhecer
a supremacia do monarcha. Fez-se então a paz, e AíTonso vii
regressou immediatamente a Compostella, cujo prelado o
.
acompanhára com todas as tropas que poderá jguntar para
aquella expedição.
Esta invasão fòra porventura um obstáculo temporá-
rio ás hostilidades dos rebeldes contra o poder da mfiin-

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32 MBMOBUS
ta mis ollas não tardaram em se renovar. O amor indis-

creto cego de O. Theresa, deixára adquirir a seu amauta um


domínio completo sobre o sea espirito ; de forma que, ape*
sar de indirecta, a authorídade deste nSo era menos uía
facto positivo. O predomínio de um estrangeiro nos negó-
ciosdo paiz despertara o riume rios nobres de Portugal,
que se indignaram ainda mais mo ver que o conde D. Fer-
nando se rodeava, talvez para mais seguramente estabele-
cer o sea poder, de parentes e compatrícios seus» sendo
ao menos certo que seu irmio D. Bermudo^ o qual fez ca-
sar com uma filha de D. Theresa, governava nessa epocha
em Viseu.O joven D. Aflfonso Henriques chegára á idade
de dezesete annos, achando-se alíastado por sua mãe dos
negócios públicos. Manifestava um génio vigoroso e guer-
reiro,que os descontentes aproyeitaram para induzil-o a
que se puzesse á frente de uma re?oluçKo.
A guerra civil rebentou de novo nos princípios de 1128.
Em abril desse anno D. AíTonso Henriques, abandonando
a mãe, dirigiu-se para o norte do Douro, onde começou a
exercer authorídade, limitando-se a da infanta desde ent2o
aos districtos situados ao sul deste rio. Os promenores desta
Incta nSo penetraram até nós. Á doaçSo de Soure aos Tem-
plários feita por D. Theresa, em que D. Alfonso vii figura

como confirmante, faz suspeitar, porém, que ella se achava


na corte de Leão ao começarem as hostilidades ; tal au-
sência explicaría o facto de se passarem tres mezes antes
que os dous partidos viessem a uma batalha campal. Esta
ac^o decisiva teve logar no dia 24 de junho, no campo de
S.Mamede, junto de Guimarães: alli as tropas da infanta
foram completamente destroçadas, vendo-se ella obrigada
a fugir. Mas, perseguida pelo inimigo, cahiu em poder do

1 A revolução tinlia já começado ein11S7, antes da expedição do rei


de Le&o : vid. Hist de Porlug. do sr. Herculano T. 1 p. 287 e seg. da 1.*
•dição.

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DE D. THERRSA 33

filho, e prdTayelmente coube igual sorte ao conde D. Fer-


nando, posto que sobre isso n9o haja a mesma certeza. Cons-
ta, porém, que elle e a desgraçada D. Theresa íuram final-
mente expulsos de Portugal, uecolliendo-se sem duvida á
Galliza, onde parece que exerciam conjunctamente uma te-
nencia na terra deLima ^
Nada mais se refere da iil3e de nosso primeiro rei, se-
Dio que morreu d*ahi a dous annos, no dia 1." de novem-
bro de H30, não contando provavelmente mais que cin-

coenta anoos de idade, e depois de ter administrado este


paíz durante quatorze annos K Do logar e das circumstancias
da sua morte falham igualmente as noticias 3. Consta» po-
rém, que o seu corpo foi depositado junto ao de seu marido
na Capella de S. Lucas no claustro da sé de Braga. Em 1513
o arcebispo D. Diogo de Sousa trasladou as cinzas do conde

1 Ibid. pp. ^— 293 e a nota do fim do


— Os
mesmo tomo. — S. Luiz
Meiu. Chronol. e Uiat. de D. Theresa p. 24. escriplores do século
ifi e ivii (Ácenheiro, GaWfto, Brito etc.) pretendem que D. Âffonso
Henriques havia encarcerado a mftenocastello de Lanhoeo, eqoe ahi a dei*
lira morrer* ao passo que soltára D. Fernando Peres debaixo da con-
dição que nunca tomaria a pôr pé em Portugal. Aecrescentam outros
factos incríveis, que se podem ler na Chron. de Cister, de Brito L. 1
C.6, e em duas raeniorias d'aiites inéditas e agora publicadas no Port, Mo-
uura. liisl., scrip. vol. 1 pp. á6 e 29, n/'* iii e iv. É provável que a tradi»
çáu tivesse origem, como dissémoá, em ter sido presa D.Ttieresa em La-
nhoso pela irman em 1121. addicionando-ihe os historiadores, ou an-
tes no velleiroSt outros suppostos fsctos de pura invençfto.
8 «Era MCLXVIIl obiit Regina Tarasia mater Alfonsi Kal. viiii*^
ao 11.® Kegni eius. » Brev. Hist. Gottor. vld. Port. Monom. Hist. scrip.
vol. 1 p. 12col. 2. Tinha já t-omeçadoo 3.*^ anno do reinado de D.AfTooso
Henriques. Uma copia antiga do Liv. das Calendas da sé de Coimbra eiis-
lente na T. do l ombo, concorda na data do dia e mez, mas não na era,
aehando-se escripla a de MCLXV 11 (anno de 1129), o que fosse talvez
devido ao ter o amanuense esquecido de acerescenter mais um I pois ;

qne a referida copla tem alguns erros raanifestemente devidos ao des-


leiío de quem a fez.
Vejam-se as fabulas narradas a este respeito pelo archi-falsario
3 —
de documentos .historicos —
Bernardo de Brito na Chron. de Cister L. t

c. 6.
3

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34 MEMOmAS
D. Henrique e de D. Theresa para a capella-mor, da parte
do evangelho, eDcerraado as de ambos do mesmo mausoléu.
Finalmente em 28 de noYembro de 1598 outro arcebispo,
D. Agostinho de Castro, examinou, segundo se diz, o in-
terior do monumento, e achando os dons c/>rpos rennidos,
mandou tirar o dn infnnta-raiiiha e fel-o rdllocar em tumulo
sfparado, do lado da epistola, aliin de (pio licasse fronteiro

ao de seu marido^ Não se conhece o epitaphio primitivo,


se é que talmas apenas o que o mesmo arcebispo
houve,
D. Agostinho mandou lavrar no anno apontado' de 1508,
o qual diz:

D. O. M.

BMm« Tiaisidi Alpohsi Castilljk à. LniORU


Rseis IiimuToais hubcupati, pilia, Couti»
HÊaici vxoBi DwAcus i Sovsa ÁBcniRnscoPus
BiACiAS. Hmf. Pbimas N; P. am. áChbisto
HATO OYlll

Apesar das trevas (pie cnrobrem as acrnos desta prin-

cesa o que sabemos de algumas bem revela que D. Theresa


. possuía talentos e qualidades pouco vulgares. Os alicerces
da independência da nação portugueza lhe são em grande
parte devidos. O
conde D. Henrique não viveu o tempo
necessário para poder realísar o sen pensamento intimo e
constante —
o erigir-se em soberano indep(Midente. Até á
morte do sogro disfareára a sua ambição, esperando ser con-
templado vantajosamente nos derradeií^os momentos do mo-

1 Cunha. Hist. Bcclos. do8 Arceb. de Braga P. 2 e. 70 1 5. —


No Liv.
das Calend. da sé de Coimbra dii^e também que D. Theresa jatiiTRa sé
de Braga «Regina iaoet in erclesia Brarliaronsp » foi. \M.
:

2 Trnnsrripto [>nr Cunha, cit. - Brandáo{Mon. I.iisií P. 8


1 9 r. 2<))1

e Sousa (Hist. Geneal. T. 1 p. 39) u Irazeui lambem coui alguoiuii varia»-


idè in.signitKuintes.
DK D. TlienESA 35

narcha ; mas quando tíq mallogradas as soas esperanças


deixou cahtr a mascara, e tentou apoderar^se de uma
parto, senão do todos os torritorios dn rainha D. Urraca.
A morto, porém, anebalou-o, quando apenas delineava o
seu plano.
Se D, Theresa não deu logo seguimento aos projectos
do marido, vSo foi de certo por faltar-lhe ambição, pois
que essa paixão não a dominaTa menos do que ao conde.
As oircumstancias, porém, em que se achára, quando elle
fal locou, não lhe eram favoráveis, como tivemos occasião
de ver; alem de que, para levar ávante tamanho desígnio
por via das armas» era preciso» naquelles tempos, um liraço
de homem, e de homem n3o menos esforçado que o fòra
o borgonhez, um dos capit?ies mais afamados da Península.
Ora, os acontecimentos subsequentes fazem suspeitar que
D. Theresa foi assaz infeliz na escolha dos seus chefes mi-
litares, pois, com a única excepção da campanha de Gal-
liza, nunca deixou de ser vencida ; o que em parte se deve
attribuir, também» á inferioridade ninnerica das forças

portu^niezas comparadas com as da monarchfa leoneza. A


diplomacia foi, portanto, o meio a (ju(; se soccorreu para
chegar aos seus íins. Se a infanta-rainha era guarnecida
de grande formosura como nol-o asseguram *, de subtilesa
edexteridade não o devia ser menos^ para que sahisse tantas
vezes das maiores affrontas e difficuldades com manifesta

1 Eis como começa o foral dos moradoreB de Tentúgal « Ego comes :

Henricus una cum uxore mea /brmom«tma^ Tara8ia...> E no ílm «Ego :

eomes Henricus et ego supradicla duZctmma Tarasia *. Ribeiro, Dissert,


rhronol. T.3, P. 1 p 45 n 136. Temos outro exemplo «Dum autein in Kc- :

clesia Viiuaraueusi vir Dei Missàm celebrarei. Comité llenrico et uiore


ejus venusta Regina scilicet Tharasiaprdssentibus», ele: Vit. S. Geraldi
Monum.Hist. serip. toI. 1 p. 85 eol. 1, e eol. 3 (§ 9], onde
§ 8, Titf.Port.
segunda toi se nomfia a infanta-rainha nos mesmos termos. Foram as
ctUQôes do sr. Herculano qoe chamaram nossa atlençio a estas passagens.
i € Un saber astuto e ingpnioso », diz, f.illnndo de D. Theresa, umau-
tbor coevo, citado peio sr. Herculano, Hist. de Portug. T. 1 p. 23S.

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'
d6 mciKHIIAS

tanlagem, como, por exemplo, quando foi prisioneira da


innan, e ao diante do sobrinho.
D. Theresa, seguindo uma política tortuosa, liumilha-
va-se, (|uando as circumstancias a obrij^avam a isso, reco-
nherondo a supremacia da coroa leoii(V.a e subscrevendo
áâ condições que lhe eram exigidas, com a reserva mental
de asiiludir no primeiro momento opportuno. O cumpri-

mento das suas promessas lâo lhe perturbaria demasiada-


mente o animo, com tanto que achasse meio de subtrahir^
a eilas impunemente. A sua vassallagemredusia-se portanto
ao simples arto de meuaj^fem : sacrificava o brio para obter

vantagens positivas. Essa relaxação de princípios — esse


menoscabo dos mais solemnes juramentos, não devem ser
julgados com o mesmo rigor com que o condemnaríamos
em tempos mais recentes, como bem observa o distincto
pscriptor que taiilas vezes temos citado nesta memoria i.
Naquella epocha de violência e de paixões desenfreadas,
era a força bruta que impunha a lei, fazendo com que
a duplicidade fosse o único recurso dos fracos. E quei-
mar-se-ha hoje, porventura, nas aras da sinceridade e da
boa fé, mais incenso do que então ? Duvidamol-o : o
reinado da liypocrisia ê talvez nestes tempos mais dila-

Embora
tado. naquellas enis uma pequena fracção do <,'enero

humano o — clero — se regesse e dominasse por ella, for-


çoso é admittir que a maioria era mais rude do que dis-
simulada, mais supersticiosa e fanática do que beata e hy-
pocrita. As suas idéas fundavam-se em erros, sim — mas
davam-lhes credito ; e a convicção, boa ou má, deve ser
respeitada. Hoje o embuste, que outr ora servia de arma
ao poder ecciesiastico, tem invadido as outras classes da
sociedade, que já não jcré, finge acreditar. A hypocrisía
não medra com a cjvilisação, como querem dizer, mas
nasce da tenacidade com que se conservam crenças e ins-
1 o sr. Hercuiêuo, na Htsl. de Portug. T. 1 p. 27ã.

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D£ D. THERESA 37

títuíçSes dos séculos da ignorância, ao passo qm a intel-


ligencia vai descubrindo as irrecusáveis verdades da na-
tureza.
Se o objecto que se preleude attingir pudesse algumas
vezes desculpar a pouca honestidade dos meios — o que
nlo sustentamos, nem sustentaremos nunca — nSo deixa-
ria esta princesa de merecer alguma indulgência» em a(»
tençSo á santa causa pela qual pugnava — a independência-
nacional, cuja pèdra angular assentou rum mais solidez
do que, porventura, se unicamente dependesse da espada.
Os amores de D. Theresa com Fernando Peres n3o
abonam muito o caracter moral da rainha. Convém toda-
via nKo deslembrar os costumes e idéas relaxadas da epo-
cha, conducentes a incital-a a menos res^^ardo ;
pois a de-
vassid??o e impunidade em que viviam os grandes eram cir-

cumstnncias inseparáveis das idades semi-barbaras O sé-


culo é que muitas vezes devemos condemnar^ mostrando
ao individuo isolado menos severidade. Diz o sr. Hercu-
lano :

« O castigo de um erro, que^ medido pelos costumes


do tempo, estava longe de ser imperdoável, parece-nos de-
.masiado severo, e o procedimento dos barões portuguezes
para com ella merecerá dos desprevenidos a ímputa(^o.
de ingrato >. »

Como quer que seja, a amargura de seus últimos annos


merece alguma contemplação, e os importantes resultados
da sua administração não deixam duvidar da sua sagaci-
dade» porquanto durante a sua regência vimos Portugal cres-
cer em território, população e poder 3; factos estes que

1 Sem mencionar
outras fontes, léa-se o NobUari» attribuido ao
eonde D. Pedio; por ahi se poderá fomar idea de alguns costumes
da^oeUas eras
2 Hist. dePortT. 1 p.293
3 Ibid.

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38 iiEMomAS

baslam para collocai-a n uma


posição emioente entre os de-
mais soberanos deste telio paíz, a maior parte deiles tão
que os próprios estrangeiros
notáveis por suas qualidades,
nSo poderam deixar de reconhecer este facto, pouco eom-
mum na historia das nações.
D. Theresa parece; ter-se conservado em boa harmonia
com a igreja» e mesmo na prisão do arcebispo de Braga,
que, como vimos, devia ter origem em mna questão pu-
ramente e não ecciesiastiea, não mostrou grande
politica
resistência ás ordens da santa sé, visto que o prelado foi
solto pouco tempo depois. Segundo o que entíío se prati-
cava, o clero teve uma boa parte nas doações feitas durante
o seu governo ^ No seu tempo veiu a este reino a ordem

do chamada de S. João de Malta, a quem


Hospital, depois
a infanta-rainba deu Leça (onde se fundou a primeira casa
da ordem) e vários outros bens ^ . A .ordem do Templo foi
também introduzida em Portugal debaiio dos auspicies da
viuva do conda D. Henrique, já nas vésperas de perder o
governo, e recebeu Soure por doação delia 3. Dizem que
restaurou a sé do Porto, editicanílo ao mesmo tempo um
palácio junto da mesma, que habitava algumas ve^^es. Tinha
o palácio communicação com o templo por meio de uma
escada particular, que por muito tempo foi conhecida pelo
nome de t escada da rainha i, existindo ainda no século
passado
»

1 Como seria muito prolixo enamprar todas as (ioarót^s ffitas por


esta princesa ás ordens religiosas, ao resto do clero, a particulares, etc. ,

referifiios o leitor, para o que diz respeito ás naais importantes, ás í)is-

sert. Chronol. T. 3 P. 1 pp. 59-92 ; á Nova Malta T. 3 indice, verbo The-


reta é á Mon. Lugit. P. 3 1. 9 e. 90.
;

2 Nova Malta, P. 1 p. 9B e segg.


3 Ibid. p 32. —
Disserl. Chronol. T. 3 P. t p. 89. Viterbo, Elocíd. —
T. 1 p. 321 col. 2. —
Hisi. de PorCUg. do ar. Hexculano, oota xtii no lin
do T. i.
4 Agoiiliubu Rebello da Cosià, Uescripçáo du Purlo p. 19.

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DE D. TUERESA Z9
N*iinui memoria coeva conta-se a seguinte anecdota desta
rainha ^ : Um dia que o famoso Theotouío se dispunha a di-
zer missa, chegou D. Tlieresa á igreja e mandou recado
áquelie para que fosse breve. Theotonio, estranhando si-

milhante mensagem» respondeu que no céu havia outra


rainha omito melhor e muito mais nobre, a quem ia offe*

recer aquelia missa com summa


pausa e reverencia ; mas
que a rainha D. Theresa podia ouvíl-a ou retirar-se do tem-
plo como bem lhe aprouvesse. Em vez de so escandalisar
da resposta pouco cortez do monje, D. Theresa, advertindo
no erro que commettôra» acabada que foi a missa, mandou
vir Theotonio á sua presença, e, deitando-se-lhe aos pés,
pediu-lhe perdão da sua irreverência.
Alem de D. Affonso Henriques, que nasceu em HH 2,

D. Theresa deixou duas filhas, que ambas deviam ler nas-


cido primeiro que o irmão.
D. Urraca foi sem duvida a mais velha 3, e casou com
D. Bermudo Peres, irmão mais velho do conde D. Fer-
nando \
D. Sancha, a serem genuínos dous documentos citados
por Brandão do anno de 1147^ teria casado com Fernão
Mendes de Bragança ^. Por outro lado, aílirnia o Livro Ve-
lho das Linhagens que este íidalgo. casara com D. Theresa
Soares ^, e que Sancho Nunes se unúra em primeiras nup-

1 Vit. S. Theoloo. § 6, vid Port. Monum, Uist. scrip. vol. 1 p. St.


S Uiftt: áa Forlug. do sr HertiuUoo, T. 1, nota xi no fim do mesmo to-
mo.
3 !H'um tliploma de 1120, apparece seu nome antes do da irriian. D.
Sancha; vid. Díssert. Ciironol. T. 3 P. 1 p. 71 n. 209. Confirma lambem
d'iid dueumeoto de abril de 1113 vid. Moo. Luait. P. 3 1. 8 c. 27.
;

4 Hoo. Lusit. 1. çit.— Liv. Velho das Liahsg. na Hist. Geneal. T. 1


das Provas p. 198, onde. porém, senio refere o nome da infàntaepmqoem
casos.
5 Mon. LuRÍt. I. cit; vid. também 1. 10 c. 4 inprín.
% Uisi. Geneal. T. 1 das Provas p. 216.

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40 HBIIOBIAS

cias com uma irman de D. Afionso Ueori^es, sem cofld-

ludo noméal-a.^ Verdade é, qae Brandão admitte a exis-


tência de outra irman chamada Theresa, que elle conje-
etnra ter sido a que casára cora Sancho Nanes mas os
motivos f[ue apresenta não repousam em base solida, e
na completa falta de documentos que provem o facto, dif-

ficil que a infanta-rainha tivesse uma iilha cha-


é admittir
mada Thereaa, ao menos que chegasse -a annos adultos.
Portanto, a única duvida que resta a solver» é se D. Sancha
casou com Fernão Mendes ou com Sancho Nunes, quen-
tão que deixamos em aberto, porque não é fácil conci-
liar os diversos documentos citados por Brandão, salvo se

admittirmos o que se lè n'uma passagem do Livro Ve-


lho 3.

Duarte Nunes afirma, que em Braga jaziam os cor-


pos de dous filhos menores do conde D. Henrique' e
de D. Theresa, facto este de que não temos outra noti-
cia *.

1 Ibid. p. m.
2 Mon. Lusil. 1. cit. , e I. 10 c.

3 Fernão Mendes Bravo... foi o que levou por prema deí-


« este D.

Rey D. Affooso o primeiro Rey de Portugal a Irmãa que tioha^ cazada


eom D. Sanebo Nanes de Barbeia em terra de D. Gonçalo de Souza o
bom, porque se rirlo delante BlRey, por bnma pooea de nata que Ibe
corria peUa barba sendo hi eomendo, e esle tof o que se exardon a sa
morte pella Infante que assí houve.» (Liv. Yelho das Linhag. Hist. Ge-
neal. T. 1 das Provas p. 182). Isto foi depois reprodusido no Nobiliário
attribuido ao ron ie D. Pedro, mas amplificado, e, ao passo que na
passagem cilada se di/. que fôra a irman de O. AiTonso Henriques que
tiraram a seu marido D. Sancho Nunes passando ao poder de D. Fernão .

Menáe», o Kobit. faz representar este papel é infanta D/Theresa. fíika


do mesmo rei (vid Ut. 37). Ribeiro, nssDissert. GbionoL T. 8 P. 1 p. 148
n. 485 , cita uma doação e escambo de janeiro de 1181 entre a infinta
D. Sancha e a igreja de Villa Nova das Infantas, mas sem referir se
se adiava casada, o que sem duYÍda aquelle author teria feito se no
documento existisse meuç&o de simUhanie íacto. Talvez entáo se achasse
viuva.
4 Cbrouicas, T. 1 p. 63, ediç. de 1774.

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DE D. THEHESA 41

Não consta que jamais houvesse fhicto da iilidta uníio


de D. Theresa com Fernando Peres ^

t Sandoval, na aua obra aobre a familia dos Ciiohas, .cita um di-


ploma de ilSS — a doação de S. Martinho de Jonve — em qne» segando
diz, o conde confirmafa deste modo : < Ego comes Predenaadus Pay fi-
lius Comítis Petris una cum filia mea nata de Regina Dona Tereyxa
conf. », o que provaria que D. Fernando houvera uma filha de D, The-
resa. Mas ha rasáo de suspeitar que esse documento fui pelo menos vi-
ciado, e sobre isso referimos oleitor ao que dizem Braodáo (Mon. Lusit.
P. II. 9 c. S ad fim.) e Barbosa (Gatai, das Bainhas, nota E p. 99 e seg. ).

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MULHER DE D. AFFONSO HENRIQUES

114G— II08

A notável ignorância de nossos antigos cbrunimas a


respeito da ascendência do conde D. Henrique nSo foi,

no seu género, um facto singular na historia de Poi tugal


Assim como altribuiram ao conde varias origens, qual dei*
las mais errada, do mesmo modo as diversas geDealogias
que teceram de D. Mafalda ^ não distavam menos da ver-
dade : uns a soppunham filha de D. Blanrique de Lara *
outros do infante D. Afonso de Molina ^ ; oiitros, final-
mente, do conde de Bolonha ^. Damião de Goes foi o pri-
meiro em descubrir a origem desta princesa, provando i<;er

1 Nos doemneotos públicos o nome desta rainha apparece geralmoBle


eacripto Mahalda, qoe menoa ae afasta da etymologia (Haliaut) ; occorre,
poréru, ás vezes dé diversos modos Mafalda, Matilde, e mesmo Malílle.
:

Vid. Uibeiro, Dissert. Clironol. T. 3 P. 1 pp. 129-144.


2 Nobil. attnbuido ao conde D Pedro,
til. 7 e 10. Galvão, Chron. —
de D. Affou. Ilenriq. c. 22. — Meni.
de Santa Cruz, vid. Port. Monum,
Uist. scrip. vol. 1 p. iò col. 2. —
N uoia passagem iaterpulada do Liv.da
Noa, 00 Gliron. Conímb., dis-se : c conde D. Manrique de Lara e aenhor
de HoUoa », ibid. p. 4; o mesmo se lé n*um ebronieoo, e em outra mem.
ibid. p. 21 col. 1 e p. 39 col. 1. Intitolam-no Umbem eosde de HoUna,
ibid. p. 30 col. 2.
3 Clífon. Brev. do Arch. Narion.ibid. p. 22 col. 1, — Fero&o Lbpes»
Epit. dos Reis, cit. na Mon. Lusit. P. K 1. 17 c. 13.
4 Acenb., Cbron. de D. Ailoa. lieariq. c. 4, no T. 5 doa Inedit. de Uial.
Port.

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44 MUlOMikS

a que elle lhe attribuia a verdadeira por vários documentos


autheDticofi K que outros vieram mais tarde rotM)rar
D. Mafolda pois, filha de Amadeu ii
era, quinto, ou«
segundo outros, septimo conde de Maurianiia e primeiro
de Sabóia, e de sua mulher Mahaut, fliha do conde Guido
dAlboii, que fôra casado com D. Ignez, filha de Rai-
mondo Berenguer, ou Berengario, o velho, conde de Bar-
celona.
Ignoramos a data do nascimento de D. Máfelda. As chro-
nicas de Sabóia collocam-na depois do anno de 1136, af-
fii mando que o primogénito de Mahaut d'Albon fôra Hum-
berto, que nascera no 1.*^ de agosto de 4136, e que a

condessa sua mãe, estéril nos primeiros annos de casada,


segundo dizem, tivera em seguida outros muitos filbos e,
portanto, entre elles, a rainha D. Mafalda K Ora, nSo nos
parece isto exacto, por quanto, como veremos adiante, esta
pnncesa casou em H46^ e teve o primeiro filho em março
do anno seguinte ; contaria assim ao muito dez annos de
idade quando o deu á luz. Mas nio seria essa a única cir-

t Chron. de D Manuel, r. 4 e. 71.


2"De Expug. Sialabis, vid. Porl. Monum. Hist. scrip. vol 1 p. 94coI. l
— Brev. Hi8l Goltor., e Chron. Gothor. ibid. p. 14. —
Veja-se também
lloo. Lusit. P« 3. 1. 10 e. 19, e m
Díssert Chron. T. 3. P. 1 pp. 144. IV—
3 Ouichenon (Hist. Génóal. de la mtÍMin de Stvoie T. 1 c. 7) ehame
ao pae de D. Mafalda Amadeu iii, ao pasao qoe oe precedentes escripto-
res o consideraram como o segundo dos Amadent* ProTini ieto de ler
ai|uelle auíhor collorndo tioiís condes do mpsmo nome entre os governos
de Humberto e Humberto n, sendo a opinião comraimi que só um hou-
i

vera. Nolamos-lhe certa incohorencia a f sse respeito referindo, como


:

data da morte de Humberto i, o anno de ll4b, põe comtudo a morte de


sea sopposto aneceiaor, Amadea, no de 1147.
4 Ibid. — Os monjes de SalnUManr iraetaBdo, em L*Art de Terif.
les Dates, dos condes de Hanrianna, dixem.(sob Amadeo ii), qne a morte
de Luiz VI, rei de França, seguira de perto o nascimentu do primeiro fi-
lho de Mahaut d'Albon. Luiz vi morreu no 1.° de agosto de 1137, exacta-
mente um anoo depois da data attribuida pelos rhronistas sahuianos ao
nascimento de Humberto. Talvez que os aulbores de L'Arl. de Verif. les
Dates se referissem só aos filhos varões.

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I

DR D. !mapali>a dk maurianna 45

emnstancia notável : que Mabaut ti-


já é dífficil acreditar
vesse um filho em porém muito
que lhe nas-
1136, mm,
cessem ainda sete depois, attendendo a que a essa data
Mahtmt n?ío teria menos de sessenta annos, e [)rovavel-
mente mais, visto quo sua mãe D. Ignoz f.illecêra antos
de 4070 Aflmitiindo, UKlavia, íjUP Humberto nascesse
em 1136, não iia duvida que D. Mafalda era mais velha
do que olle.

A historia não explica as influencias que deram causa a


esta primeira alliança matrimonial entre as casas de Por-
. togai e Sahoia 2, alliança que se ri^o tornou a repetir an-
tes (lo soculo xvr. Consta, porém, que D. AíTonso Henri-
ques se desposíira com a princ(\sa snlxiiana entre o mez
de março e T^ de maio de i pois que por um lado 1 'trC) :

vemos no relatório da tomada do Santarém, que o rei, af-


firmando ter-se apoderado da praça a 15 de março de
1147, accrescenta que ainda n9o havia um anno que era
casado com D. Mafalda 3: e por outro notamos que o pri-
meiro (lociunento conhecido em (pie a rainha figura é
de 23 de maio de 1 146 ^ . Nesta epocha contava D. Affon-

1 É o que se deve inferir do tetiamrnto — feito em 1076 — de Ahí-


mundo BerenguerHHvelho, poieqve ciiamendo uma ouira filha. D. San*
cha, á herança do condado no caso da morte de seus dous filhos varões
sem succefsAo, limiia-ne a nomear uin filho de I). Tgne/. e de (luido d*Al-
bon como herdeiro na falia de D. Sancha, indirnndo assim que D. Ignez
era já fallecida. Vide Los (loodesde Uarcelooa, de D. l'rospero de Bofa-
roU (Bareelona 183ft, t tomos) T. 2 p. 39. e o citado testamento impresso

pela primeira vet na mesma obra p. 43 ad fin.


2 * No Brev. liist. Gotior. (Port. Monom. Hist. ftcrip. vol. 1 p. 14 col S)
«Alfonsus duxit uxorem Matildam. vel Mafnidam....
lé-se a este respeito :

quia nusquam reperiri potuit fernina Regii Sangniriis, que non esset In
aliquo gradii consagunipa » esta p.issngem talvez dé<se origem ao que
;

lemos no mesmo sentido em memorias subsequentes.


S De Expu^. Sealab. vid. ibid. p. 94rol. S. Por este documento sabe-se
também que o primogénito de D. Mafalda naseêra a 5 de. março de 1147.
4 Ribeiro. Confirm. Regias, doe. 68 p. 162. Neste doeoroenlo, qne é
uma traducçáo antiga do original, notam-se vários e graves equivoeos
(vid. a obra cit. c. 3 1 2 p. 37 e seg.) devidos lalrei ao traduclor, podendo

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46 IklEMORIAS

so HeDriques trinta e cinco ou trinta e seis annos de


idade.
As poucas notícias desta princesa que escaparam ao ol-

vido proveniente da rudeza daqiielles tempos, tractam quasi


excliisiv;ímont(í de obras do, cnridade. Tcni-se nttrilniido a
D. Mafidda, 011 nnlcs n seu marido conjiiiictnniciitc com cila, a

fundação de nada monos de ceato e ciucoenta mosteiros


e igrejas ^ Além da evidente exaggeraçSo no numero, já
!

um author benemérito 2 mostrou a nenhuma probabilidade


de que fossem devidos á munificência desses príncipes va-
3. Sem nos determos a considerar
rias da(|uellas fundações
este ponto, passaremos a tractar áv al^nnnas obras que a
raiidia omprehendeu por sua própria conta.
Dizem que D. Maifalda íundâra, no anuo de 1154^

apesar disso ter sidog^nuino o original. O segundo documento cnnherido


em que a rainha confirma á de julho do mesmo anuo vid. Dissert. Chro- ;

nol. T. 3. P. 1 p. i-29n. 398. A Chron. Gothor. e a Hrev. Uist. Goltor, 1. cií-

dizem que o casamento foi em H4o, e na Chron. dos Coneg. Ilegrantes,


(L. 6 c. 12 § 10) cita-fe um doconiênto qae tenderia a corroborar esta data
se náo fosse a nenhama fé qae merece : é o pretendido praso de um casal,
datado de 1145, passado por D. Mendo, qne se intitula prior do eonvento
dii Costa de Guimarães econfsMor da rainha; mas como, no mesmo capi-'

tulo 7) e em outros logares do mesmo livro, se attribiie a fundação do

dilo roii vento no anno de 1 154, a conlradicçáo é palpável. E nota-se ainda


outra, pois que, no L. 11 c. 28§ 2, diz o author que o referido D, Mendo
fdra eleito bispo de Osmatomando posse do bispado no mesno
eni 1139,
anno. o qnal reteTe até á sua morte em 1153 1 0 author desta rhronica,
D. Nicolau de Santa Maria, tem sido convencido de tantos eiros, senfto
Ikaudes, nas noticias que nus transmittiu, qne pouco do qne allega me-
rece credito, a nSo «ler comprovadu por outras authoridades
1 Mariz, Dial. de Var. Hist., dial. 2 7. — Duarte Nunes, Chronicas
c.

T. 1 p. 157. ediç. de 1774. — Garibay, Compend. de las Chron. L. 34 14 c.

p. 794.
9 Brandáo, Mon. Lusit. P. 3 1. 10 e. 38.
3 Attribuiraro-Ihe, entre ontras, a fundação do mosteiro de B. Domin-
gos do Porto, que pertence a nma epoeha muito mais moderna. Talvez
uma net.i de D. Mafalda, do mesmo iinme, tivesse voto nessa fundação.
Vid. Sousa, Hisi. de S. Domingos P.l l. 3 c. li e seg. f. 157 e seg., l."ediç.
— Dissert. Chronol. T. 5 p. 294.
DB À. IIAFALDA DE 11A0RIANNA 47

O mosteiro da Costn de Guimarães, mas na falta de aiitiio-

ridade digna de credito, temol-o por muito duvidoso i.

Era tradição que D. Mafalda estabelecôra do Moledo e


Porto de Rey dous barcos qae antigamente davam passa-
gem do rio Doaro junto de Lamego, deixando as rendas de
certas propriedades para sostento dos barqueiros, aos
quaes era vedado [xMlirem remuneração alguma aos passa-
geiros sob pena de muli ta e prisão. Consta (jue em 1532 '

o serviço desses barcos continuava ainda, cumpri ndo-se á


risca os primitivosregulamentos ^. Segando a authoridade
a qae nos estamos referindo, consta mais que a tainha
mandára construir uma albergaria ^ ou hospital em que se
dava cama, fogo, sal e agoa aos caminhantes. A camará
de Lamego vigiava na execução destas disposições 4.

1 Elslaoo, Var. Antit; r 25 Ç 17 o ppg».— Garibay, 1. cit. Agiol. Lusil.


T. 4 p. 217 B e fsegg. (18 de juliio). Cliron. dos Coneg, Rpgr. L. fi r, 11 § 7
^ segg. — Soledade, Uist. Seraf. P. 4 1.3 â § 483 ; esle ultuno atlribiie
c.

a ftindaçáo a it39. e asaim meemo reconhece D. Mafalda por fundadora I


D. Nieolav de Saota Maria (Chron. doa Coneg. Regr. L. 6e. 13 § 10) pre*
tende que D. Mafalda, em U5i, mandára constrnir nmaumptnoaomau*
$oleuna igreja de S. Pedro de Rates para onde teria feito trasladar os res-
tos mortaes desse marlyr. Mas não cita .nithoridade. No Dic. Googr. MS.
da T. do Tombo (vid. vol. 31 p. 91) náo se diz uma palavra de sirnilhante
tumulo, o que nâo aconteceria se houvesse vestígios deUe. Alem do que
08 jazigoB nâo coBtumavam aer SDmptooaos enire nAa noa tempos primi-
tivos.
3 Sm um mappa MS. que vimoa« levantado no aeeolo passado, aeham-
se mencionados esses barcos.
3 Albergarias eram estabelerimentos fundados por pessoas caridosas
para recepção de viajantes pobres e miseráveis, onde se recolhessem
de graça, e onde em caso de doença fossem traclados eic. vid. Elueid.
T. 1 p. 68 eol. S.
4 Rui Femsodes, Descrip. do districto de Lamego, nos Inedil. de .

Híst. Portng. T. 5 p.SfiSL—Viterbo (Blucíd. T. 1 p. 69 verbo Àlh«rgaria)


Úm para si que a albergaria de Moledo e o barco chamado Por Deut fo-
ram estabelecidos por I). Theresa, mulher do conde D. Henrique, mas
nâo dá a rasAo porque nâo seriam antes de D. Mafalda. Veja-se tam-
bém Duarte Nunes, CUronicas T. 1 p. 157, edi(^. de 1774 e Mariz, Dial. 2 ;

c. 7, in prin.

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t

48 MEMORIAS

0 autlior<la dosrripção dfi l.nmcgo, escrevendo i»m I53i


diz > : c Antre esta barca do beraaldo, e a do porto de rei
c estam huns fermosos peares de huma ponte, que a Rainha
c dona motalda dysem que mandava fazer; osquaes sam dous
« no moo do douro de muito grande altura, e mui lar^,'© fun-
« damento; que os «ious que estam no rio neste mes de
€ maio hirám bem dez palmos desruI)erlos, e no Verão hirâm
< bem W palmos, emais. £ estam outros dous de fora, hum
c da parte daquem, e outro da parte dalém. Estes poyares
« forom jâ de dobrada altura, e os deribaram, e fezeram
€ delles pesqueiras, e inda aurora os lavradores os derribam
€ cada dia. por dizerem que criam nelles as gralhas, que -

c lhes comem os trigos. O arco da parte daquem volvia já.


c Está hi muita pedra quebrada poUo monte, que ficoii que»
c brada, e acharam ainda poUos montes muitas niarras, e
c cunhas, elayancas^ que por hí ficaram : dizem nesta terra,
« que a Rainha dona mofakla tinha hum fdho, o qual filho
« lhe diziam estroiicos, que avia (h* morrer eui agoa, e por
c isso mamdava fazer aquella ponte e que fazendo-se a ponte
:

« morrera o filho em huma peguada de boy cbêadeagoa,


< e que ieyxou de a mandar acabar de fazer: o que certo
(accrescenta o dito author como homem de âo juizo)
« me não parece, se nom que a Rainha morreu estamdo
« a ponle nesta altura, e poi* ysso cesou a ohra » etc.
No próximo a Barqueiros, ainda
conceilio de Mesâo-frio,
hoje existe um pear de
palmos de grossura, e cin-
trinta
coenta de altura na superfície do leito do rio da margem :

esquerda, porém, todos os vestígios da ponte desappare-


ceram, apenas se vêem algumas pe(has que mostram te-
rem sido cunhadas. Corre em tradição, segundo uns, que
a rainha D. Mafalda, íllha de D. Sancho i, mandára cons-
truir uma ponte naquelle sítio, e segundo outros, que fora

1 Ibid. p 568

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DE D. MAFALDA DR MAURIANNA 49

obra de D. Loba, senhora do casteilo d*Amarante^. Fá-


cilé demonstrar que essa tradição, pelo menos no que diz
respeito á filha do D. Sancho i, é fundada em erro. De
*

feito, consta por um documento de 1179, (jue nesse anno


,
a ponte do Douro já existia, ou talvez estivesse por acabar,
sendo, certo que D. Affonso Henriques deixou um legado
de 3000 maravedis para as despezas da mesma ponte Nesta
epocha havia apenas cinco annos que D . Sancho i era ca-
sado. Alem disso^ era muito natural que D. M;ilakla. filha

de D. Sancho, fizesse menção da \)o\úg c dosdous harcos —


porque lia também quem lhe attrihua estes ^ — no seu tes-

tamento se realmente lhe fossem devidos ; nenhuma allu-

sSo, comtudo, se acha a súnílhante respeito nesse documen-


to, que chegou inteiro até nós < O que parece mais provável,
éque D. Mafalda de Maurianna fosse quem fez aquella obra,
attribuída mais tarde a sua neta do mesmo nome, por mais
conhecida ou lembrada
Nem é este o miico exemplo de se conftindirem as doas
princesas. Asseveráram que a ponte sobre o Tâmega e a

1 Devemos estas noticias á hundade do sr. José dos Santos Leiífto,


de Lamego, as qtiaps i-onlealnieiítc atíradocemO"».
2 Et tlcdi jaiii Al>b;»ti. et FrHirihus S. Johonnis de Tnrouco iii iii«r.
íjuos mando dnri ponii Dorii : ('odifil. de I). AtTotiso Meiíriijíies, ciiadci

por Viterbo, Elunid. T. 2 p. 165 e 227 verbis iMoímodú et Ponte, Ou-


tros diplomas de 1308 e 1S16, também faiem meoçâo da mesma ponte,
verbo Ponle.
ibíd.
3 Bayâo, Portuval Glorioso p. 903. Depois de afflrmar que a ponte
rôra ronstraeçáo da dita filha de D. Sonrho i, accrèscenta : cpor ser
* (« ponte) muy disforme cm grandeza cahiuem seu tempo. Com que se
deu (O. Mafalda) por obrigada a inventar a barca que chamam Pnr Deos,
nome synenpado de por amor de Deos^* etc, o que o auihor avança sem
citar authoridade alguma.
4
Sonsa, Híst. Geneal. T. 1 das Provas p. 31 e segg.
5 Dis Viterbo, 1. cit. (vérb. Poni«), que aoUgaraenle a estrada de
Cana vetes vinha ter á ponte do Donro; ha motivos para cri>r, como ve-
remos adiante, que aqaella villa pertencesse a D. Mafalda, mulher de
0. Affonso Henriques.

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90 MEMORIAS *

albergaria de Canaveses foram feitas a espensas da mesma


D. Mafalda, filha de D. Sancho 1 1, quando é certo que o
foram, ao monos a allxTpria. por sua avô.
De feito, (lo pn)prio ((slaiiifiito desta rainha, (Jo (jual

eiLÍstem dous fragmeulos \ consta (|ue olla fundou a alber-


garia de Ganavezes, para hospedagem de nove pessoas. As
do primeiro firagmento provam com toda
ultioias palavras
a evidencia que fôra a esposa de D. Affonso Henriques,
D. Mafalda, e não a íilha de íNincho do mesmo nome,
í)'. i

quem fizera este tí-sinmcnto ; e um diploma de I). Diiii/,

datado 20 de novembro de 121) vem tirar toda a du-

vida a tal respeito ^. Um desses fragmentos tracta da al-

bergaria, o outro das portagens que lhe deixava D. Ma-


falda ^. Verdade é que ahi nKo se diz que a ponte fosse obra
da rainha, mas somente a alherí,^'\ria om presença, porém, ;

deste facto, e da traíHcão íjue atti ihue a ponte a uma D. Ma-


falda— sendo que não podia
certo obra da de ser fdha
D. Sancho porque vem mencionada no testamento da
i,

avó — é admittir que a mesma princesa que fundára


licito

a albergaria fosse também a que mandasse construir a


ponte 5.

1 Bayilo, 1. cit. —
Cardoso, Agiol. T.usit. T. 3 p. 37 h't. }>. Estes au-
tbores poderiam certiíicar-se de seu erro, se houvessem consultado a
HoB. Lusit. F. 3 1. iOe. 3S. —Camillo da CcMta* na Chorographia Por-
tug. T. 1 c. 96k foi maiaeiaeto.
3 VidA nota I no fim do olume.
3 B porque esta cousa he aaneta e boa e foi assim dotada per a Rai~
«
nha dona mafalda minha trcs avot; refere-se O rei áa disposições do
mesmo testamiMito, vid. ibid.
h Portagem ora um direito que se cobrava sulirc as merraílorias que #
entravam nas povoações era uma espécie de direito de barreira. Muitas
:

vezes este termo incluía também o direito de pasgagem oa peagem, isto


é, o que se pagava sobre as fazendas qne passavam por luia villa on le-
gar de eaminho para outro é o que aconteeia nessas portagens deiía-
:

das por D. Mafalda (Vide nota I no fim, carta de D. AfTouso IV). Sobre
portagens, etc. veja-se Hiat. de Portog. do sr. Herculano T. 4 pp. 418 —
436.
õ c 0 rio Tâmega tem uma grande e magnifica poule de cantaria

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DE D. MAFALDA DE MAURIANNA 51

Âs disposiçòos testaiuanlarias da raiuba acerca da sua al-


bergaria de Caiiavezes vigoraram por muito tempo : em
abono disso e&ístem algumas cartas regias que mostram as
providencias tomadas a seu respeito por O. Diniz, D. Af-
fonso IV e D. PediV> 1 Por ellas se conhece que a har-
moniií nãi) ora coiistaiilc entro us alhcr^Mieiros, os da villa.

e os ixíregrinos ; mas vê-s<' que as tletermiiiações dus mo-


narchas tendiam invariavelmente a consej^^iir a fiel execu-
to da vontade de D. Mafalda. O diploma de AíTonso iv mir
nistra-nos o conhecimento de algumas disposições da bem-
feítora que faltam nos excerptos de seu testamento que che-
garam até nós. Podem ver-se em outro logar ^; aqui men-
cionaremos apenas que lodos os nioiadores, quolizaiulo-se,
eram obriji^ados a dar conjuncta e animalmente ao alborguei-
ro a quantia de 127 soldos 1 dinheiro e meio 3. Não eram
estes, porém, os únicos proventos, iiavendo outras fontes
de receita mencionadas no referido diploma, além das por-
tagens indicadas no testamento da rainha Finahnente
consta, (jiie, no meiado do século passado, este estabeleci-
mento ainda existia, achando-sn em vigor, ao menos na
maior parte, as disposições da fundadora ^.

ou emiuadriA, tem eineo areos muito graades da excaUeoto architeeUira


com suas ameias, e dez fortes pcdrestaes, que he um dos milhores ede-
firios deste reioo, coja obra mandou fazer a rainha D. Mafalda primeira
deste reino, em quanto asislia nesta dita freguesia de S. Nicolau. Tem a
ponte 136 varas de comprido, iO de alto, e 4 de largo.» Assim escr6«
ia o parocho de S. Nicolau de Canavezea ao goverou, em 19 de abril
de 1758, Tid. Di«eion«6eog de Portug., (NS. na Tone do Tombo), toI. 8
n. 89p. 631. É provarei, oomtudo, que o todo da obra não fosse da pri-
mitira.
1 Nota 1 HO fim do volume
2 Ibid.
3 Veja-se o Talor em réis dessa quautia, nota XXXIII-B do fim do toI.
4 O author da Descrip. de Lamego (Ined. de Hisi. Portog. T. S p. 565),
que eserevia em 1533, não só menciona a exiatoncia da pooto e alberga-
ria, mas também de um hospital de leprosos [gnafaria) na mesma Illa,
o qual diziam ser igualmente obra do D. Mafalda.
5 O referido paroctio de S. Nicolau de Canavezes escrevia em 11S8.
52 mifOiíiAS

Pouco podemos dizer com certeza ácerca dos ^bens qoe


D. Màílilda teria adquirido por doa(So do roí ou por ou-
tras vias. Havia um casal na freguezia de Ganis» hoje Gan-
iias de duas Igrejas (concelho de Penafiel), que diziam ter
sido desta rainha K Consta que uma rainha D. Mafalda ti-

vera uma parte da aldêa de Meixide, na frej^uezia de Santa


Maria de Villa tíoa do Bispo (concelho de Bem-viver) ^.
Sabemos também que lhe pertencéra, e que déra á sé doPor«
to, metade da aidéa de Paços na fr^uezia de S. Martinho do
Fandinh?ies3(no mesmo concelho) ; bem como que, na dita
freguezia, dous casaes no logar de Mourílhe Ermo foram
da criação da mesma rainha, isto é, que lhe pertenciam, e
com elles os colonos adscriiitos á ^deha ^. O mesmo acon-
tecia com outros tres casaes no logar da Veiga, freguezia
de S. Martinho de Sande (no mesmo concelho) K Resta

que as rendai do hospital nu albergaria subiam a 170^10 réis, e tinli»


camas para nuvc peregrinos cotti lume, agoa e t^al, e (tuc st^ dizia urii.i
inisFa oadii seni.itia por altiui da rainha D. Mafalda \nimexra deste Reinn
que inbUtuirú a mesiuu albergaria, deixando-lhe vinculada u apreseuta-
çáo da igreja de Santa Maria de Sobre Taiuega, uma quinta, os disimoa
reaea e portageii», e tudaa aa rendaa e inoinhus do Rio de Paaao, e outma
muitos foros qunpor descuido doaadmiuiatnidores se haviam perdidneti:.
Vid. Dicciou.Geogr. 1. cil ; eompare«8e com o diploma de D. Aflòoao iv, .

nota I no fini do volume.


1 É, ao menos, o que nos parece indic«r, em linKoa;;em uni pouco con-
fusa, o author dd Nova Malla i\ i § 72 p. 105. l^tirece também quo uma
rainha D. Mafalda possuía outros beus no mesmo districto, i«to e, na fre>
guesia de S. ChrisloTáo de Loun^do, conrelho de Paredes ; mas ignora^e
qaal delias, se a mulber de U. Affonso Henriques, ou sua neta : ibid.
2 Inquir. de D. Affuuso iii (de 1258) L. 6 f. 5 1 4no Arcb. Nac. da Torre
du Tombo.
3 E^la íreguezin vem fpouttida m» Diccidn. Geogr. Ms. da lurre do
rumbo (vol. 15 f. 85] mas bcje uão existe cum o mesmo nome.
;

4 Veja-ae o valor do termo fcomem dc criação, na Hist.de Fortug.


do ar. Herculano, T. 3 p. 3u3 e segg. . 1 * edigáo consulte-se também
;

p. 314 e segg.
5 Kstits nutieiai constam das Inquir. de D. l)ini£Gav. 3 ma^. 10 n.^18
. no An h. Nac. , copiadas no Uv. «la Ueforuia das Gavetas, ff 184 verso,
185 e beg.

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t

IIE D. MAFALDA DK MAURIAMNA $3


saber se esti D. Mafalda era a mulher dc D. AíTonso Hen-
riques ou a filha de D. Sancho i. É o que se não pode di-
zer com certeza, mas íacliDamo-Dos a crer que se aliudia
â primeira ; porqae todos esses legares estão na mesma
visiobança e perto de Villa Boa do Bispo, em cqjo convento
ha rasllo de suspeitar se sepultára nma íilha soa fallecida
na meninice, e neste caso deve suppor-se que essa locali-
dade lhe nâo fosse estranha K É também licito conjecturar
que Ganavezes lhe pertencesse^ mormenle pelo facto das
portagens qae alli deixou á albergaria ; conjectm^ apoiada
por uma passagem da carta regia de D. Affonso iv, onde
menciona aforamentos feitos pela rainha a varias pessoas
daquella villa^; e dizem que ahi teve uns paços ^.

Gontam-se alguns successos baseados no grande' perigo


em que se achára D. Mafalda ao dar á luz alguns de seus
lilbos, o que que effectívamegte a rainha era su-
iària crer
jeita a partos difficeís. O
serem duas dessas narrações con-
fimdidas com o maravilhoso, nSo excluiria a verosimilhança
do facto fundamental. O que muito enfraquece, porém, a
conjectura, é a probabilidade de que esses contos, salvo
um, sejam invenções mais modernas do próprio author que
os refere, e cajo credito como historiador é dè pouco peso K
Na vida de S. Theotonio ^ conta-se, que, desejando a rai-
nha ver o interior de Santa Cruz de Goimbra, fôra um dia
visitar aquelle varão, a esse tempo prior do mosteiro, e

. insistindo com elle para que lhe franqueasse o claustro

não foi possível conseguil-o. O author aoonymo daqueilas

1 Nota IV no fim do volume.


2 « .cada liomem a quem mais a quem menos segundo os aforameu-
.

tosque uossos aiiteceisores primeiramente fizeram com a diia Rainha. »


Nota i no fim do vol.
3 Dtttrte Nune^s Chrun. T. t p. 157. —
Dicciou. Geogr. Ms. do Arch.
NaeíOD. ,Tol 8p.631.
4 Veja-se a nota II. do fim do volume.
5 § 19. Vid. Port. Monum. Hist. scríp. vol. 1 p. 85.

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54 MEMORIAS

memorias accrescenta, que eila se irritára de maneíÀ con-


tra o intractavel monje, ({ue lhe fizera sentir por algum
tempo o peso de seu odio, cnrre^ando-o de vexações. Este
facto, a ser verdadeiro, não rins a[)rpsenta a rainha sob um
'
aspecto demasiado favorável : dove-se confessar comtudo;
que o escríptor que nol-o transmittíu, o fez de um modo
Vío succinto,que não nos auxilia a formar um juízo seguro
sobre a índole da mulher de D. AíTonso Henriques, fal-
lando-nos ao mesmo tempo outros dados por onde isso se.
podesse conseji^uir ^
D. Mafalda veiu a failecer a 3 de dezembro de 1 158 ^»

com pouco mais de doze annos de consorcio, solMre?íTen-


do4he o rei, seu e^oso, vinte e sete annos 3. Foi sepul-
tada no mosteiro de Santa Cruz ; mas ignora-se hoje o lo-
cal preciso, por não restarem vestiiíios do seu tumulo, nem
devemos dar fé nos ([ue dizem (jue seu corpo se transferira
para o novo mausoléu, dedicado pelo rei D.Manuel á me-
moria do fundador da monarchia, onde os restos deste ja-
zem actualmente ^,

Pôde ser que no leito da morte a rainha vestisse o ha-


bito da ordem terc<Mra dos cónegos regrantes de Santa
Cruz, e quenelle se mandasse sepultar. Um author nosso ^

aí&rma que elia chegara a entrar, na dita ordem, fundan-

1 Mendonaremos aqui, qoe ainda nos fina do aeeulo passado se coo>


servavam na sé do Porto algumas joya8,qneera tradição haviam sido
doadas por uma rainha I). Mafnlda se a se a neta, é o cpieso nfto
:

aponta. Vid. Rebello da Cosia, Descrip. dn Porto p. 59 e sog.


2 Viterbo, no Klurid. T. 1 p. 3á7, nliii tua que D. Mafalda fallecêra de
parto de &ua lilliu D. Sancha em "àà de novembro de 1157. Adala cslá
eirada, e o reato da ootieia nfto tem anthorldade que o abone. As
fontes primitivas diflerem sobre a data da morte da rainha: veja-ae a
nota UI-A no fim do volume.
3 Morreu a 6 de detembro de 1185» víd. Hiat. de Portog. do ar. Her-
culano r. 1 p. 44(j.
4 Veja-stí a iiotij IV no hiu do voluuje
5 Saiila Maiid, «Ibioa. uu^ (Uui. Ucgi. i^. »Ofi,

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DE D. MAFALDA DE MAIIHIANNA 55

do-se anicamente na circumstancia de se chamar a D. Ma-


falda, n*uma noticia obituária, t conega de Santa Cruz» ^
Mas admíttindo mesmo que seja ^'enuina a authoridade em
que elle estriba a sna opiniUo. nem por isso ficaria compro-
vada, parocendo-nos (jiio a interpretação a dar seria apenas
a que apontamos acima.
D. Mafalda teve três íiihos e quatro tiihas, precedeudo-a
na morte dous daqueles.
0 (M^imogenito chama?a-se D. Henrique ) nasceu a 5 de
março 4147 e morreu na puerícia.
-de
D. Sancho, que herdou o si-(;ptro, nasceu a II de no-
vembro de lifJi, e por ser esse dia o da festa d(; S. Mar-
tinho turonense, recebeu o nome do santo, que foi depois
mudado no de Sancho K
Do outro filho ignora-se tanto a data do nascimento» como
1 Bsla noticia obituária, e outra aimilhante, ?fto reprodiuidas na
nota III-A no fím do volume. FAra taWez ifiso que fes COm que Gui-
chenoii ílist. Génóal. de Savoie T. 1 p. 230) nílirmasse, contra Ioda a
(

v erdade histórica, que


I). Aironso Henriques falleeôra antea da mulher,

e que esta se fizera então conoga de Santa Ouz.


2 mahaldam... ex qua primogenitus esl uatus henrtcus íilius meus
III* nonas eiuadem mensis (o rei refere-ae a março da era de tl85), quo

eíoítaa capta est : De Bzpog. Scalab., vid. Port. Monnin. Hiat. scrip. toI.
1 p. 94 col. %
3 Quanto ao anno, todasasauthorídadesconrordain: Chron. Conímb.
Hist. Goltor.; um Chron. do sec. xiv, vid. Por». Monum Hist. vol oit. p. 2
rol. 2, p 14 col. 2 o p. 21 rol. 1. -A Chroii. (íulhor. (ibid. p. Ili col.l)
é mdis miauciosa: Era m c x c ii, uatus estRex Saucius... iu nocle S. Mar-
tini feria quinta, iecireo in baptismo uoeatom est nomen eins tlarttnns,
.poslea oognonilnatus est Saneias. Natos est anno patris sui ixvi.~
Ha no calendário cinco Martinhos, cpm festa própria : o de Tonrs a 11
de novembro o de Dunie a 20 de março; o papa a 12 de novembro no
;

rito catliolico, e a \h de abril no rito grof^n o dr Verlou (em Franca) a ;

24 do outubro o de Saiute.s (cm Fr.nua) a 7 de dezembro (vid, l/art.


;

de Vérif. les Dates T. l.S.^edii;. calai, des Saints). É preciso pois esco-
lher entre elles para assentar a data do nascimento de D. Sancho i, o
qne não será díiBcil, porque sabemos que occorreon'nmaqainta feira.
Como a letra dominical de "1154 foi G» segue-se qoe o dia de S. Marti-
nho, bispo de Tonrs,' 11 de novembro, foi o único i]ue eahiu á quinta
feira ; os ootros, pela sna ordem, cahiram ao sabbado, á sexta feira (ou

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56 i»iioiiU8

o anuo da morte, aabendo-se apenas qae ae ebamava Jo3o,


e que morna de pouca idade a um 25 de agosto i.
Das fillias de D. Mafalda ignoram-se totalmente as datas
do nascimento, devendo, porém, as duas maiores ter sido
mais velhas que D. SaochOr porque eram nascidas em Ju-
nho de Ii55.
A mais velha de todas foi inânbitavelmente I>. Umea,
porque íigara sempre antes das irmans nos docmnentos
casou pelos annos de H703 com D. Fernando ii, rei do
Leão, que foi obrifíado mais tarde a separar-se delia í)pI(>

parentesco que entre ambos existia, voltando a princesa a


Portugal. Tomou, porém, a Leão em 1188 quando subiu
ao throno D. Affonso ix, seu filho K
Póde^ presumir ter sido a segunda filha D. Ibfelda ^;

quarta feira, entre os gregos), ao (iomingo, e á terça feira. A morie de


S. Martinho papa, 16 de setembro, c;íIuií também á quinta feira mag, ;

contra o eosturr.e mais geral, a sua festa olebra-se nn dia, já apontado,


l

da sua trasladação. A única cousa em que se poderia fazer reparo, era


qae o 96.** anuo ilo reinado Ae Affonao Hnariqueii ae tinha completada
em junlio de 1154 ; mas taea erroa de computação afto volgaríanimoa nos
ehronieona. Finalmente na Chron. Brev. doArcIi Nac. (Port. Monum. eíi.
p. 22 col. 2) diz-se que esse rei oaaeftra : « onse dias de nonembro da Era
de mil e cento e nouenta e dous anos. »
1 A data e o nome consta ilo Olutuario citado na Mon. Lusit. I'. ;{
1.10 C.19. A morte prematura, tanlo do I). João como de D Henrique, riào
só se deduz de um dos exemplares da Cliron. Gothor. (ao passo que um-
boa aSirmam que D. Mafalda tivera três filhos varòea : vid. Poii. Monum.
eit. p. f I col. 1 e a e p. 16 col. 1 ), mas também da falta doa aeua nomes

noa diplomas públicos.


2 Ribeiro, Dissert. Chronol. T. 3 P. 1 p. 110 n. 488 em diante.— Mon.
Lu8it. P. 3 1 10 c. 19.

'A Flores (Reyn. Cathol. T. 1 pp. 313 — 320) assenta esse successo em
1165, mas consta que até outubro de 1169 D. Urraca esteve neste reino;
vid. Dissert. Chronol. T. 3 P. 1 p. 134 n. 487, e p. 155 n. 490.
4 i''lores, 1. cit. , de 1175, e
diz que o divorcio teve logar no principio
piova que D. Urraca estava outra vez em Leáo em ItW ; e nós lemoa pro-
vas que com isso concordam, mostrando a sua estada em Portugal pelo
menos desde 1179 até 118S : vid. Dissert. Chronol. T. cit. n. 886» 841 e 844.
8 O seu nome appnrece pela primeira vez. junto com o de D. Urraca,
n*um documento de junho de vid. ibid. p. 140 n. 439

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DE D. MAFALDA I>K MAUniANNA ,h

Foi desposada na infância, em com o íilbo (depois

D. Alfonso II de Ârag?$o) do conde de Barcelona, Raimondo


Beronguer * : casamento que nurica se realisou, sem duvida
pelo fallocimento prematuro da infanta, de quem faltam no-
ticias depois de ii6i ^.

Acerca de D. Sancha conhece-se apenas que existiu, por


ser confirmado em dons docomentos, de março de 1458
e maio do anno seguinte 3, tendo provaTelmente fòllecido
pouco tempo depois, visto não apparecer o seu nome nos
diplomas subsequentes.
Finalmente, a primeira menção que encontramos án in-

fenta D. Tberesa, é n'um diploma de agosto de 1161 ^


mais de dons annos depois da morte de sua mie, e foi sem
doTida a mais nova de todas as filhas da rainha. Gasoa em
Íi8i com Filippe, conde de Flandres, onde os authores
lhe deram o nome de Ma th lide Enviuvando, passou em
1194 a segundas núpcias com Eudo iii, duque de Borgo-
1 Ibid. p. 146 n. 488.^Blon. LusU. P. 3
1. 10 e. 41. Drate «ueresso —
que um docmnento veiu oiai» Urde revelar a Anlonío Bran<léo.fana um,
eeeriptor de dous ou tres aeeulos posieríorea ao facto; eiisaae-fl<' Mtt*.
poréni, foppoodo ter-se consummado o matrimnnio vtd. Port. Moauin. :

Hist. scrip. vol 1 p. 25 col. 2 ÍMeni. de Sanla Cru?).


2 Dissert. Clironol. T. 4 \\ 1 p. n. TòV. -O sr. Bofarull, ipic com-
pulsou os «rchivos de Aragão, não dá iioiicia i<lguiita dos degposorios do
príncipe aragouez coiu a nossa iufanla, neiu se faz delia menção nos tes-
tamentos da raioha D. PetronUha e do eonde do Baroeloua, amboa de
liftl. Doode 86 coUige que ella nfto ehegdu a eotrar DaqneUe reioo (víd.

Condoa de Barcelona T. S pp. 906, íffl, S13 <* segg). Parece-noa que a in-
faota foi aepoltada no moateiro de Vnia Boa do Biapo : vid. nota lY no fim
do vol.
3 MoD. Lusit P. 3 I. Itl r. 19 nd íin. Na Chron. Golhor. ad era llSii
(Port. Monuni, cit. pp. 14 e 15 col. 1) UVse: « D. Morliia esl iii prí-
oieua etate ;» e coiuu se fallava ahi das filhas da rainha D. Mafalda, dan •

do-lhe só Ires, o nome em bramM) devia referir-se, ou a essa D. Sancha,


on á infanta D. IIafaida,poi8 D« Urraca e 0. Tboresa afto mencionadas per
aeus nomea.
4 Vid. Dissert. Ghronol. T. 3 P. I p 147 n. 463.
5 Hist. de Ponng. do sr. Herculano, T. 1 pp. 429 432. í ^ edtç., e —
noia XIV II no fim do mesmo tomo.

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58 MBHOltlAS DE D. MAFALDA DB MAURUNNA-
nha, união que foi aunuliada pelo pontiíice oo auiio se-
guinte por causa de parentesco ^

1 4 respeito desta infanta vejft-se o Quadro Blemeutar do visconde


de Saalarem T. 3 pp. 3— 9.

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U. DULG£ DE ÂMfiÃO
MULHER ÔE D. SANCHO I

1174—1198

A historia não declara os motÍTos que influíram no ani-


mo de D. Alldnst) Henriques para procurar alliar-se, por
laçus de família, com a casa de Aragão ou, para melhor
dizer, de Barcelona ; mas concebe-se facilmente, que, em
quanto a península se achou retalhada em reinos indepen-
dentes, nada havia mais natural que a alliança entre os so-
heranos dos dous paizes situados, um ao occídente, outro
ao oriente deCastella. Que esse pensamento já existia muito
antes do casamento de D. Dulce com o infante D. Sancho,
no-lo prova o contracto matrimonial de 1160, de que fize-

mos menção na precedente memoria ^; eonhecendo-se que


nSo foi abandonado, por vermos, passados quatorze annos,
realisada essa alliança na união do irmão da infanta D. Ma-
falda com a irman do príncipe com quem se desposara. E,
porventura, ter-se-hia contractado o novo casamento pouco
depois de mailogrado o primeiro ; ao menos ha motivos
para crer que já antes de fevereiro de 1171 se tivessem
celebrado os esponsaes, demorando-se por alguns annos a
vinda da princesa a PorLu^^al em attençao, -talvez, a sua
tenra idade ^. tiomu quer que seja, ó certo que D. Sancho,
1 Vide pap. 57.
^ No archivo de Aragão eiiale um documenio de 4 de /evereifo de

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00 MBIIOUAS

administrando o reino jantamente com sen pae, e contan-


do apenas de idade, se recebeo com D. Dul-
vinte annos
ce, Aldonça^ ou Dôce, fllha de D. Raimundo Berenguer IV,
conde de Barcelona, e de sm mulher D. Petronlllia, rai-
nha de Aragrío ^ entre os me/es dfi ahril e junho do 1174
Nessa epocha reinava em Aragão AfFonso ii, irmão de
D. Dulce, tendo fallecido o conde D. Raimundo em il62,
e abdicado D. Petronilha em 1164, vindo a fallecer em
outubro de 1174 K N9o consta ao certo a idade de D. Dulce
quando veiu para Portugal. Sabemos apenas, que seus paes
viveram juiUos desde o melado de 1150 ou princípios de
1151 ^ até 116i, epocha da morte do conde ; e que D. Af-
fonso, tendo nascido a 4 d'abril de 1152, foi o primeiro

1171. leinio-se enlre os coníirnianies o seguinte . ««íignumReginaeSororis


Kegis qui hnc firmainus * O sr. Rofarull ((bondes de Barcel. T. 2 p. 193,
e aula 3) tem para ii que esta rainha, irman do rei de Aragão, D. AfTori-
80 II que emêo reintva, nfto podia ser outra aeaáo D. Dulce, pnrisso que
Affonao nfto tivera oníra irman rainha. A nnira duvida qne euaciu o mes-
mo anthor, e que Sancho nfto era ainda rei, «fuvida que procura desva-
necer lembrando a i-o-regenci.-i deste prineipe 008 oUimosannos do rei-
nado de AíTunso Henriques. Porém tornam-s^ escusadas tanto a duvida
ronjo fxplii-.irno, attendendo «o eslylo seguido em Portugal no8 primei-
«1

ros reinHdos —e df que se iiâo rpcordou o illiisire escriplor aragonez


de 86 ialitularem lodus os filhos e liihas do soberano reis erainhas. Co-
mo esse estylo nfto era adoptado em Aragão, o chamar-se D. Dolce fai^
nha, mostra que era jft casada por palavras de futuro.
Não deixaremos de registar neste logar que, segundo aflirma o sr. Bofa-
mH, o tratado de Huesca, celebrado em maio de 1191 entro Portugal, Ara-
gAo e LeAo, existe hoje no archívo de Aragão, em Barcelona (Cnll^c. de
D. AíTonso ii de Aragão, n. 585) porque alé agora tínhamos noticia des-
;

se diploma apenas pelaa citações dos historiadores hespanhoes. ViJ. ibid.


e nola (ij.

1 Raimondo, sen marido, nunca tomoa o titulo de rei, contenta ndo-se


com o de : Frimcipe y Dominador 4$ Aragon : ibid. T. S p. 187.
i ChroD. Gothor. ad era IMS, vid. PorU Honum. Hist., serip., vol. 1
p. 16 col. 1. Em abril appareoe o pome do infante O. Sancho n'um foral
sem o de sua mulher em outro documento de junho figura esta pela pri-
:

meira vez. Vide Hibeiro, Dissert. Chronol. T. 3 P. 1 n.5USe506.


3 Condes de liarrel. do sr. DofaruU, T. 2 p. 191.
4 Ibid. pp. 184 — 187.

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D. DULCB DB ABAGÂO 64

ínicto deste consorcio, o que se deixa ver com hastnnte


evidencia do primeiro testamento de D. Petronilha, feito
no próprio dia do seu parto ^ De fórma que, nSo havendo
nascido antes de 4153, nâo podia a princesa, ao chegar a
este reino, ter mais de vinte e um nnnos, sendo comtudo
provável que fosse ainda mais moça
Zurita, nos Annaes de Aragão, é de parecer que D. Duice
fôra casada com o conde de Urgel, Armengol vii, antes de
passar a segundas núpcias com o principe portuguez. O
quanto seja infundada siniilliante asserção bem se deixa
ver das propi-ias datas (pio nos suhministra o mesmo au-
Ihor, dizendo ter ella rasado com o condo em 1177, eque
este viera a faliecer em 1184, quando não cabe duvida al-

guma sobre a estada da princesa em Portugal no anno de


1474, como já vimos. Torna-se, porém, inútil gastar rasões
sobi e este ponto, visto que um escriptor dos nossos tem-
pos, e de summa provou com dorunicutos
autlioridadc. já
que a multier do conde Armengol, muito embora se cha-
masse Dulce, não era todavia a mesma de que tractamos
nesta memoria, mas sim filha de Rogério ii, conde de Foix,
e de D. Ximena, irman de Raimundo Berenguer iv, con-
de de Barcelona, e, portanto, tia e não irman de D. Affonso
de Aragão ^.

£m 1188 Sancho i, que havia subido ao throno tres

1 Ibid. p. 187, e o tesUmento a p. 306,


2 O author da Chron. dos Coneg. Regr. (L. ^ 6 § 13) pretende que o
'

conde D. Pedro, irraao da rainha, perteneôra á ordem terceira de Santa


Cruz de Coimbra, suppondo assim ter elle vindn a Portugal e allrihue- ;

ihe lambem uma filha, que nomôa. Basia ilizcr íjne este infante D. Pedro,
a quem o pae legára o condado deCerdunha, morreu de poucos aiinos. Vid.

CoDdet de Barcet. T. 2 p. 189.


3 Condes de Bareel. do sr. BofanilL T. 2 pp. 0 comman doa
eacríplorea aragon^zea (aalea deaaa deaevberta do sr. BofarnU), Julgatam
que a mulher de Armengol fftra, Dio D. Dulce mas D. Leonor, soa irman
,

é o que o moderno author da genealogia dos condes de Rarcelona também


refuta cabal mente, mostrando qaala verdadeira ascendência da eonaorie
do conde de Urgel.

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62 MEMORIAS

aniios .nites, Ipvp n momíMilnncM iIp lomnr pnrle nn


cruzada a que (» [»apa coiividáia lodos (»s priiicipcs cliiis-

tãos. Este projecto não o realisoii o roi dn INn higal an- ;

tes, porém, que o abandonasse tinha feito um testamento,


a que accrescentou um codícíllo, nos ({uaes fez exarar va-
rias disposíçoíis que deviám ter cffeito quando viesse a fal*
lecer ou lhe acontecesse aljíum desastní na<inella expedição.
Entre outras cousas, nM-ommendava ao íilho <iue IIkí sue-
cedesse no throno, o maior respeito por sua mão, e que.
longe de a privar de qualquer parte dos bens que lho dei-
xava — ê de que logo tractaremos —
procurasse augmen*
tal-os : 6 ahi nomôa a D. Dulce, e mais cinco pessoas por
testamenteiros
Escaças noticias temos ácerca desta rainha. Consta, po-
rém, que íizera arípiisirão de alí^inuas propriedades eni
diversos pontos da Beira ao sul do Mondego. Comprou
Ervedal e seu termo, que deu á albergaria de Poiares ^
que ella fundára ou povoâra não longe de Coimbra ^. Em

l o testamento pódc lôr-se nasDissert. Chronol. T. 3 P. 2 p. IIG. Ve-


ja-se também a Hist. de Portug. do sr, Herculano, T, 2 p. 20 o se^.; e a
nota 111 no fim do mesmo tomo, onde se acha iranscripto um extracto du

codicillo.
*
3 laquír. de D. Affonso iii. L. 1 f. 14 Terao § 1» e L. 3 f. t4 erso, no
Areb. Naeton. da Torre do Tombo» tiradas em 12S8 nas terras de Céa e
Ck>uvêa. Na Chron. dos Coneg.Regr. (L. 8 c. 18 § 10) cita-se um docum.
pelo qual D. Dulce teria comprado Ervedal em fevereiro de 11*J3 a Gon-
çalo Carneiro e seus irniSos por preço de lõO maravedis. Accreseenta
o aulhor, que ella dera essa villa a D. Paio (iodinho, 1." prior de S. Ko-
mão de Céa, em agosto do mesmo anno mas alem de náo concordar
;

eom a inquirição eitada, eontradiz-se afirmando, mais adiante (L. 9 c. 10


S 5), dera a mesma villa e a de Naiorea a seu confessor


c|Qe a rainha
D. Joio Frões, prior de Santa Crus de Coimbra, o qual, dis o chronista,
deu foral ás ditas villas era 1194.
3 Regina Domna Dulcia populauit albergariam de Poiares Gav. 3 :

maç. 10 n." 17 § 48 no Arch. Nacion., documento contendo as iníjuiriçóes


de D. Affonso iii pertencentes a 1248, registadas também no L. 2 de Di-
reitos Reaes f. 47 verso, onde se omittiu transcrever o citado § 48.

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DE D. DULCE DE ABAOÃO 63
Travanca (do Ln.i:os) comprou dezenove casaes ^ Adquiriu
do mesmo modo a herdade de Sameice 2. Consta igual-
rnante que possuía a herdade de Cea, ignoramos se por
compra, se por doação: o que sabemos é que D. Sanebo i

a dea, depois da morte de saa mulher, a sua filba D. Ma-


falda
Pelo priiiioiro testamento de D. Sancho i, feito em 1188,
a que acima alludinios, deixava elle a sua mullier todos

os rendimentos de Aleraqucr. da terra de Vouga, da terra


de Santa Maria^ e do Porto ^. Ignoramos se estas doações
— feitas por D. .Sancho à rainha, quando meditava ausen-

tar-se deste reino e expôr a vida naquellas paragens onde


tSo avultado numero de valentes cavalleíros e a flôr da
nol)resa christan se perderam — tiveram elíeilo depois que
desistiu da empresa. Cunjectm-amos que, pelo menos a que
dizia respeito a Álemquer, foi confirmada e talvez ampliada :

consta que em um chamado Marinha, no termo da-


logar
quella villa, existia uma herdade que pertencia a um vas^
sallo da rainha D. Dulce \ e de que esta mandou tomar

posse por haver elle fallecido sem herdeiros, dando-a de-


pois era prestimonio, por toda a vida a João Paes ^, reitor

1 Inquir. de D. ÂíTonso
iti L. 1 f. 24 verso § 2. e L. 3 f. 14 verso.

2 §4.
Ibid.
3 Reginos Domot Haphalda dedi pro hnreditale... horeditatem de
sena, qvm foit matris suo : 9.^ testamento de O. SaDeho i, na Hist. 6e-
neal. T. 1 das Provas p. 18, e na Mon. Lusit. P. 4. appen. escrit. iv de- ;

vendo lêr^se, em ambos os exemplares, a dnta da era de 1248 (anno de


1210) em voz de t!â47, como apontou o author da Nova Malta P. 1 p. 203:
tambeui vimos um exemplar original desto testamento uo Arch. Nacion.
(CoUecç. Espec. caixa 28} e lê-se a era de 1248.
4 Sxeeptis pannis navium (dfreitos de porto oti de alfandega ?] quot
debet filias meos, qui regnaterit habere. Veja-se o testamento, DÍssert.
Chronol. T. 3 P. 2 p. 116.
5 ipsa here ditas fuít cujusdam hominit eUe^tulli rregine domneal-
donce: Inquir. de D. Dinis L. 10 f. 22-24 verso, noÂ.rch. Nacion.
C E em seguida l(^-se mortuo uero jam dicto rectore et Regine dona
:

sancya recepicet villam de alanquerio dedittuac ipsamhereditatem mo-

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04 XRMORIAS •

(le S. Salv.nlor <h; Lisho:!. Accresco (|no aindn Iiojíí oxísUí


por copia nuthcnticn um rol, ou relação de cento o (piarciila

courellas que D. Dulce alli comprára a diversos K Valeria


a pena notar os preços indicados neste registo : essas por-
ções de terreno venderamose por differentes quantias, desde
oulo dinheiros até dons soldos ; mas a máxima parte fo-
ram pagas a rasão de um soklo cada unia As courellas
tinlíam, segundo diziam, cinco palmos do largo, não st?

declarando o seu comprimento. Em tempo de D. AfTonso iii

affirmava certo individuo ter visto bois da raiiiUa D. Dulce


lavrando essas terras com a cliarrua K
As propriedades de que acabamos de fazer menção,
passaram depois da morte da rainha a suas íilhas : D. Ma-

falda veiu a possuir os casaes de Travanca, e as herdades


de Simieice e Cea ^ : l). Theresa a alhergai ia de Poiares í>

e D. Sancha a villa de Alemquer, sem sabermos S(í licaria

de posse das courellas que sua mãe ali havia comprado.


Pôra sem duvida esta rainha a que, indo em romaria,
sem que se saiba quando, a Santa Comba de Moura Morta

naslerio de ccllys vimarerx. (próximo a Cctimlira). Videibid Esta D. San-


cha era a infanta, lilhn do D. Sannho que mais tardt^ lho lizcrn doação
i,

da mesma viUa. O fado referido na papsagem transcripla. em ronnexAo


uom o mencionado no lexto, dá logar a crer que LX. Dulce era senhora
de Alomqoer.
1 loqnir. de D. Dinis I. cit., acha-se no fim com a data da era de
lS35b anno de J. C. de 1197, oporha em qne ainda vivia a rainlia. As
conrellas eram situadas junto do rio, aiem da ponte ehamada Marea, e
n'um loRar denominado Aberta.
2 Sobre o valor em rein, veja-se a nota \xxiii-H no fim cio vol No -

regialo uieneionam-se duas herdades, ambas compradas pela rainha


por um maravedi. Nota-se também que um rerto Alvaro Uio déra qua-
tro eoorellas tpontanea voluntate.
3 Registo uit.
í Inquir. de 0. AíTongo m de iáów, 1. it. — 4 " testamento de D. San-
<


<'ho I, 1. rit. A posse deSameir.e lambem se deixa vpr do donum. pro-
dusido por Anastácio de Figueiredo, Nova Mal^a F. 1 p. Í31, nota 115.
5 Gav. 3 maç. 10 n° 17 § 48 no Arch. Nacion.

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Dfi D. DULGB DE ARAGÃO 65
(no moderno concelho de Pezoda Regoa). fizesse doação á
ordem do Hospital de metade daquelle logar, e sua igreja ^
Nada mais sabemos a respeito desta priucasa^ seoão que
d 26 de agosto de Í4d8 > orna prematura morte a roubou
• seu marido; depois de vinte e quatro annos de consor-
cio, e de haver partilhado o throno treze, contando ao muito

quarenta e cinco annos de idade. D. Sancho sobreviveu


i

a sua mulher doze annos e sete mezes ^.

N3o se conhece testamento de D. Dulce. Foi sepultada


no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra ; mas nem sequer
por tradição se tem conservado lembrança do Logar preciso,
nto sendo provável que seu corpo se ache no mausoléu
em que hoje repousam as cinzas de seu marido, como al-
guns têem asseverado O chronista que aíSrmára ter
pertencido D. Mafalda de Maurianna á ordem terceira de
Santa Gruz, diz o mesmo ácerca de D. Dulce, sem melhor
prova que a primeira, parecendo-nos qae o muito que se

1 Novi Malta P« 1 p. 378. loaé Anastaeio de Figueiredo entende


(p. 37S|que eeta doação náo podia ler aido feita pela nolher de D. San-
cho r, mas sim por 0. Theresa sua filha, no qaeniocoDcofdamoe.Naioqai»
rição, donde elleextrahiu esta Qotiriâ, diz-se que os do logar ignoraTam o
nome da rainha que fízera a doaçl^o, achando-se só um individuo que afflr-
mava ter ouvido dizer que ella se ctiamára D. Dulce o que faz suppor
;

eo dito anther que a filba de D. Tiíeresa, a qual effecti?araettte ae cha-


MTa Dalee, luvia ascompanhado a eiie. fmém* nioé Teroeimil que em
1988 (data da iBqoiriçlo) jetease noeeqeeeimeote o nome de D. Theresa,
qae morreu em USO; ao passo que, havendo a rainha D. Dulce fatte-
eido sessenta annos antes, o fíou oome estaria na lembrança de poueoa»
3 Nola Ul-B no fim do volume.
$ Morreu nos úns de março de 1211 (Hist. de Portug. do Sr. Herculano
T. a p. 130}.— Brandão (Mon. Lnsit. P. I L. 13 c. 1), citando a Ghron. Co-
Mimb., dis que a M
do dito mei. —
0 Obit. de S. lorge na Torre do
Tembe refSareessesneeeaao aobJfon.apfilit,5d*abril.— O de SantaCrus,
nomeame ArahÍTO,eebiulétoAd.apr{ltf. TK) de março, e é eaua data
que melhor concorda com um diploma de 30 de junho de 1211 (citado
por firandão e o Sr. Herculano 1. cit.) em que D. Ailonso u diz, que havia
tres mezes que eatrára no governo do reino.
4 Nota IV no flm do volume.
5

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(06 MEMOillAS

pôde inforir da cilnção (jiie elle faz. é quo a rainlia veslisse


o habito quando fallereu ^ Na sarrisíia d(^ Santa Cruz de
Coimbra conservava-se um anel de esmeralda, que, segundo
n tradição, perlencdra a esta princesa K
De todas as consortes dos nossos monarchas foi D. Dolce
de Araglo a roais fecunda. Ha quem diga que llie nasce-
ram quinze filhos ^: o séu numero, todavia, rão se pôde
lixar hoje. O quo é certo é que chegaram até n«'»s os no-

mes de onze filhos, dos quaes outo venc^írain em diasá rai-


nha : foram cinco infantes e seis infantas.

D. Affonso nasceu em 23 d abril, de


4ía' de S. Jorge,
1186 S do nome.
e lierdou o sceptro> sendo o ii

D. Pedro nasceu a 23 de março de 1187 \ Sahiu do


reino ao empunhar o sceptro seu irmão D. AfTonso, por
causa d(í desintel licencias entre aml)os, e diri<<i(i-se a

Leão. Casou pelos annos de 12^8 com Aurembiax, con-


dessa de Urgel, que, morrendo pouco depois, llie deixou
0 condado. Correu diversas terras, e teve fama de grande
guerreiro
D. Fernando nasceu a 24 de março de 1188 7. Sahin do
reino pelo mesmo motivo que o irmão, acolhendo-se a
França, onde casou em t2il ou 4212 com Joanna, herdeira

1 Tide D. MleoUn de Sinu Maria. Chroii. doa Coiieg. Ilegr. L. 1) t.


4 ISaaig. k authoridade em qod eUe ae «atríba Tai reproduaidi por ex«
tenso na nota llí-n nn fim do volume,
i Chron. dos Coneg. Regr. L. 7 c. 22 S 16.
3 Mem. Avul. (U) de Santa Cru/., vid. Port. Monum. Hist,, acrip. lrol.
1 p. 26 col. 1 08 nomes, porém, nào se mencionam ahi.
;

4 Chron. Conimb. ad era I2Í4. vid Port Hoiiiim. Hiat., scríp. «ol. 1
p. 3 eol. 1. — Dm chronicondo aee. xtv, ibid. p.St eol.l.^0 Cliroa. Bro?.
do Areli. Nacion. (ibid. p. tí eol. S) dis <|tte Daaceo a S d*abril. eoneof-
(laDdo porém no anno.
5 Chron. Cunimb. ad era —O pitado chron. do sec. xiv.
6 Hiíl fieneal. T. 1. p. 97 e Provas T. 1 p 28.— Hisl. de Poflug. do
AT.HerculaDO. T. 2 pp. 146. 159 e seg. , e 380.
7 Chron. Conioíb. ad era iiSS.
DB D. DULGl DE ARAGÃO 67

de Flanires ; e como conde de Flandm legou á historia


um nointí assignalado K
D. H(Mn i jiie dizem que nascera em 1189 Temos pro-
vas da sua eiústencia em maio e novembro de il91 3« fal-

tando noticias suas subsequentes» a nlo ser que morreu a


8 de dezembro, sem que se saiba o anno \ sendo proTa-
vel que fosse na puerícia^ e porventura nesse mesmo anno
de II9«.
De D. Raimundo nada consta, senão que falloceu a 9 de
março, ignorando-se o aíino ^ mas sem duvida de tenra
idade, visto faltar seu nome nos documentos.
Do nascimento das infantas Ignoram^-se as datas, exce-
pto unicamente a respeito de D. Constança.
^
D. Theresa foi a mais velha de todas as filhas da rainha,
e, se não fosse o n9o sabermos a data do nascimento de
Raimundo, disséramos de todos os nomes che-
íilhos cujos

garam até nós: porque ella figura n'um diploma de seu


avô, D. Affonso Henriques, de fevereiro de 1183 Casou

1 Hist. de Portug. do sr. Herculano T. 2 pp. 146 e seg. . 379 e seg. —


Visconde de Santarém, Quadro Elemen. t. 3 pp. 9 11 —
1 Duarte Nases, ChironlèaA T. 1 p, tSI, ediç. de 1774. Veja-te Un^^
'
beto Dlanert. ChroMi. T. f p. 57 o aêg. ; • a Hiat. de Portog. T. 2. nola iii
no fim do foesmo toido, onde o sr. Herculano conjectura, cooi a n^xima
probabilidade, que o infante D. Pedro se rhamára primeiro Henrique, mu-
daiido<se lhe o nome mais tarde, e daiidu-o ao que depois nasceu era
1189.
3 DooMm. ao Blacid. T. 1. p. 331, verbo Crux, onde seu nome figura
•'UB todado. —
Díasert. GhronoK T. 2 p. SI9 a T. 3 P. 1 p. 188 n. SOS.
4 Obituário citado na Mon^ Lneít.P. 4 L. 19 e. 31.
'

5 Ibid
6Hoaçáo a Aleobnça na Collecç.Espec. caixa 28, no Arch.Nacion. em
que se lê, no fim «Kgo Regina Dulcia cum /iitabuí meix Regina domina
:

Tarasia el Regina domina Saneia lali sig (urna cruz) no impresso hocfac-
tum roboro et confirmo. »Vê-8e que aqui ligura iambemsun irman D. .San-
cha ; uiaa aabemoa, pelo primeiro teatamento de D. Sancho i (Diaaert.
Ghronol. T. 3 P. 2 p. 11S), que D. Thereca era a maia velba, figurando,
aUáa» aempre a primeira em todoa oa documentos salvo dous, em que
O. Sancba figura aotea da irman» provavelment por deacuido do notário

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68 MEMORIAS

m 1191 eom D. Affonso ix, rei de LeSo. fim cfwsfeqiien


cia, porém, do próximo parentesco que havia entre ambos,
o papa proclamou a nullidade deste casamento, sendo os
esposos obrigados a obedecer, apesar do amor que since-
ramente os unia, e separa ndo-se, depois de alguma resís-

toDcia, em
ti95 ou il96. Alguns annos depois do seu re-
gresso a este reino, a rainha de LeSo reco!heu-se a Lor*
tio alguns, porém, pretendem que se recolhi a Yilia^
;

buena. Foi beatificada em 170a por Clemente xi


É mais que provável que D. Sancha fosse a seguíída ^.
Não casou e dizem que fundou o convento de CeKas de
;

Coimbra. A beatificação também lhe ('oui)e por sorte 'K


D. Constança nasceu em maio de \ Sen nome não
figura dos documentos, tendo já um escriptor iUustre
mostrado que devia ter faliecido de pouca idade, ante»
mesmo que seu pae subisse ao throno Certamente não
vivia por todo o mez de fevereiro de 1183, aliás teria fi-

gurado na já citada doação a Alcobaça.


D. Mafalda, com sua avó
repetidas vezes confundida
por autbores de tempos mais recentes, segundo vimos na
precedente memoria, nasceu depois de seus innSios, como
se vé das datas de nascimento destes príncipes, n9o podendo

No i° testamento de D. Sancho i vê-^se bem a


(ibidP. 1 n. 569 e n. 577),
ordem de nascimento de suas filhas (HisLOeneal. T. 1. das Provas p. IS,
e Mon. Lusit. P. 4 Append. escrit. iv).
1 Veja-se Hist. de Portug. do sr. Herculano, T. 2 pp. 61, 68 e aeg. •
• 306 6 segg. — -
MoB. LofíL P. 4L. IS e. SS. Brito, Chron. de Cister L. 6
e. aCK — Flores, Rejn. —
Hist Iveneal. T. 1
Gathol. T. 1 p. 334 e segg.
p.lOSesegg.
5 De maio de 1182, em que nasceu D. Constança, a fevefeiro de iiSS,
em que D. Sancha figura pela primeira vez, vão só nove oieies, OQ des
se contarmos do principio de maio ao fim de fevereiro.
3 Mon. Lusit. P. 4 L. 14 c. 29. —
Brito, Chron. de Cister L. 6 c. 33. —
Hist. Geneal. T. 1 p. 121 e segg.
t Gbron. GoDinub. ad ert iilO.
6 Ribeiro, Diasert. Ghronol. T. S p. 168 e seg., ondeepontt o erro dos
Bossoe ehronistas, qne Ibe davam Tinte annos de vida.

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BB D. DOLGB DB ABA6Ã0 60
O. Mafalda nascer antes dos fins de 1180
1215 Casou em
com Henrique i, rei de Castella, que apenas contava dez
ou dozeannos de idade. Porém, os que entendiam que este
enlace ia de. encontro aos seus interesses, impelráram da -

santa sé o divorcio, a pretexto de próximo parentesco, ex-


pediente que tantas vezes serviu de capa aos desígnios dos
ambiciosos. A idade de D. Hem'ique obstára á consumma-
^o do matrimonio, e por sua morte, succedida pouco tem|K>
^
depois, regressou D. Bfafolda a Portugal, retirando-se para
o seu convento de Arouca, onde passou o resto de seus
dias mas não em clausura, assistindo ás vezes em outros
;

legares « Esta piedosa princesa parece ter merecido, mais

que suas irmans, o ser contada no numero dos santos» > como
diz o nosso historiador ^.

D. Branca n3o casou, e dizem que foi senhora de Gua-


dalajara em Castell a ^. Esta infanta e suas três irmans, D. The-
resa, D. Sancha e D. Mafalda, tiveram com o rei seu irmão
discórdias mui renhidas, e que d^ráram largos annos, de-
pois que este cingiu a coròa K

l o primeiro documento de que temos noticia, em que figurara D. Ma-


falda e D. Branca, é de 1205, sete oddos depois da morte da mãe. Vid.
Bliieid* T. 1 p. 330 eol. %
rtrho Cruz, oo rodado. —
Talvei esfa
infanta foaae a mesma que nn
eriada na ílregaesla de S. Martinho de
Hoaxarea (Penafiel de Souia), a nio aer a outra infanta do meamo nome,
fillia de O. Affonao Henriques « Em Louredo de Hoasarea lia doie ea-
:

saes de mo<»toiros c dc igrejas e de filhos dalgo. e tragemnos per honrra


per Razom que dizem que foy hy eriada a Rainha D. Mafalda.» Liv.
díis Inquir. do Alem Douro f. 56 verso col. i. no Arrh. Nacion.
i Eui 12^ passava um diploma em Bouças ; vide Liv. dos Mestrad.
f. f7 verso, no árch. Macion.

3 O ar. Herenlano. Hiat. de Portug. T. .3 p. 174 Veja-ae tamben a


mesma obra p. tSl e aegg. ; e fteyn. Gathol. T. 1 p. 418.*
4 Duarte Nunes, Chronícas T. 1 p. 183. Uma memoria antiga referindo
08 filhos de D. Dolce, diz, a respeito desta infanta, o seguinte : « Dona
branea que morreo naauga dalfajar; » e repete-se o mesmo em outra me-
moria, veja-se Port. Monum. Ilist., scrip. vol. 1 p 22 col. 2 e p 31 col. 1.
ô Hist. de Portug. do sr. Herculano, T. 2pp. 144 — 183.

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70 MUIOUAB M B. DVLCl 01 ARAGÃO

D. Berengária, a mais moça de iodas as filhas de D. DiU-


ce, easou em Iii4 com Waldemar ii» rei de Diaaman»,
de quem foi segunda mulher ^.

Além dos referidos, poreoe^ por uma carta de D. Sanobo i

ao papa, datada de 1186, que tivera outros filhos de sua


mulher, os quaes já a esse tempo eram fallecidos ; mas não
diz quantos K Em Tista da data, devemos crer que D. Cons-
lança entrasse nesse numero ; e tabOE se possa dizer o
mesmo de D. Raimundo, poísque, com quanto se ignore
a data do seu nascimento e da sua morte, a circumstan*
cia de lhe haverem dado o nome do avô materno faa sus-

peitar que eUe fosse o primeiro fiilio varão da rainha 3.

1 Ibid. pp. 179 e teg., 996 e seg.


*
a Mon. Lnsit. P. 4 L. It e. 1, oode se traosereTea a earla tem « data,
que todavia Miolia dedorada la P. 3 L. 11 o. SSda laesma otea.
a A respeito dos filhos desta rainhf, ^éde-ee oonsultor, aléoi des io-
gares citados, a Hist. Geaeal. T. 1 pp.S7 —
ISP; a Noa. Imsíl, P. 4, e»
Nova MaLta, nos índices.

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D.

URRACA DE CASTELLA
MULHER DE D. AFFONSO II

1209—1220

D. Urraca ora ííIíim segunda de D. AfTonso viii. rei de


Castel la, e de sua mulher D. Leonor, íilha de Henrique ii

de Inglaterra. Teve por irman a celebre rainha de França*


Branca, mulher de Luiz viii» a qual tSo importante papel
representou como regente durante a minorfdade de seu
filho Luiz IX, e mesmo depois, quando este dirigia o leme
do estado. Com quanto D. Branca fosse mais nova que
D. Urraca, casou aquella cerca de outo annos mais cêdo.
Se fôra licito dar fé á Chroníca geral de Hespanha, por bem

pouco nSo $e desposou a nossa rainha com o monarcha


francez em (ogar da irman. Eis o que se refere a este res-
peito. O rei de Castella tinha tres filhas, a mais velha das
(juaes, D. Berenguella, era já casada com o rei de Leão.
quando, .em o rei de França, Fiiippe-Augusto, mau-
áon pedir para seu filho a mão de uma das infantas cas-
telhanas. 0$ embaixadores íirancezes foram admittidos á
presença das duas princesas para escolherem a que mais
lhes agradasse. Eram ambas mui formosas : e c(mi quanto
D. Urraca fizesse vantagem á irman, deram a preferencia
a D. Branca por causa do nome, não lhes soando tão sua-
vemente aos ouvidos o de Uiraca * f

1 Flores. Beyn. Cathol. T. I p.401, onde eila a diU Chrooice. Quando


nAo houvesae provaa eni contrario, parecêra-noa merecer esaanarraçâa

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72 MEMOHIAS

0 que, porém, Tem destruir essa asserção, já de si pou-


co acreditável, é que no tratado celebrado em 1200, entre
os reis de Inglaterra e de França, ha uma clausula em que
se estipula o casamento do príncipe herdeiro» Luiz» com
a iofaota D. Branca de Gastella, que se acha sdii expressa-
mente nomeada ; constando» igoalmente» que a ramha-mSe
de Inglaterra, Leonor de Goyenne, se dirígh^ pessoatanente
a Gastella a pedir a mão de D. Branca, que então contava*
doze annos, e acompanhou Leonor no seu regresso, so-
lemnisando-se os desposorios a 23 de maio de 1200 ^
D. Urraca nasceu em li87» antes de 28 de maio, e foi
criada por uma dama apenas conhecida pelo nome de D. San-
cha K Afim de estreitar a allíança com a corôa castelhana»
D. Sancho i mandou pedir D. Urraca para esposa de se»
tilbo e herdeiro, D. Âffonso, verificando-se o consorcio nos
fins de 1208, ou antes de fevereiro de 1209 3. O infante
contava então vinte e dous annos de idade, e a noiva um
anno de menos» sendo dotada de grande formosura» segundo
é fama.
Este casamento» quepromettía tranquilUdade a Portugal»
serviu indirectamente para renovar com mais calor as de»-

tnnto credito como a inspecção algum tauto mais mimicioM por qae tv-
ria passado, no século segniate, outra rsivha de França, Isabeau de Bk-
vière, segundo a afBrmathra de Froissart ; ipie, nas suas Chfonieas S
e. SSO (T. 2 p. 31S da ejàiç. do Panth. Liiiér.), aeereseenta o seguinte :
« II esi (l'tisage en France que quelronque dame, comme íille de haut
seigneur qirelle soit, que Ton veut marier au roi, il convient que elle
8oitregardée et avisée toute nue par dames, á savoir si elle esi propice
etformée á porter enfants.»
1 mst. de France» do sr. Henri Hartin, T. 3 p. 569 e seg., 4.^ediç.
— Dreux dn Radier. Mera. des Reines de Franee (Parte fSVTI T. 9p.
e 333.
W
2 Flores, Reyn. Cathol. T.
1 p. 399 e 403.

3 de Portug. T. 2 p. 104, e com especialidade a nota xiv do fim


Hist.
do mesmo tomo. onde o sr. Herculano destroR terminantemente o que
allega Barbosa (no Catai, das Rain. notas k e l) para provar que cala
entace se ceiebrára en llOl.

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D£ O. URRACA DE CASTELLA 73

avenças entre o rei e o clero, ou» para melhor díser, en-


tre o rei é o bispo do Porto, Martinho Rodrigues, as quaes,
mal comprimidas, tinham deixado o animo do prelado en-
tregue a um morta? rancor contra o monarcha O infante
era parente remoto da princesa castelhana, sendo primo
terceiro de Affonso ?iii: estavam ambos, portanto, rigo-
rosamente fatiando, dentro do gráu de consanguinidade pro-
híbido pelos cânones. Porém, nem o clero portuguez, nem
o castelhano se oppuzeram ao casamento, com a unic^ ex-
cepção do bispo do Porto, que, inlluido sem duvida por
sua animosidade contra Sancho i, não só recusou assistir

á ceremonía nupcial, mas também quando os noivos, acom»


panhados da côrte, passáram por aqueUa cl^de, se abs-
teve de os ir receber processionalmente conforme o estylo
Proceder tão insólito, affronta tão publicamente feita a um
monarcha, em cujo caracter não predominíiva por certo o
soffrimento, não podiam deixar de ter graves consequên-
cias ^: a cólerade D. Sancho subiu de ponto, seguindo-
se d*ahi uma serie de luctas entre o throno e o clero, que
se protrahiu quasi até á morte do rei, succedida nos úl-
timos dias de março de 12H.
D. Urraca não deixou de si mais memoria que as duas
rainhas que a precederam. A circumstancia mais notável
que lhe diz respeito está a tal ponto confundida com o ma-
ravilhoso que apenas pôde figurar entre as lendas do nosso
paiz ^.

Dizem íjiie, passando o fundador da ordem dos menores.


S. Francisco de Assis, por Guimarães, na sua romaria a
Santiago de Gompostella, vira e faiiára com D. Urraca no

1 Hist.de Portug. do sr. Herculano T. 2 p. 105 e sftgg.


2 Ibid. p. 108 e seg. —
Moo. Lusit. P. 5 L. 17 c. 40 f. 257.
8 Martinho Rodrigues foi prooo pouco depois do sueeesso referido oo
texto, posto que aio em resultado immediato deUe. Vid. Hiat de Por-
tug. cit. p. 111.
4 Nota V no fim do volume.

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74 «BiKMIUS

«QDO (to iltt4 K T6r*«e-hia a rainha mostrado grande pro-


tectora da ordem que elle inatitaiu, poiaque, segando re*
Harém, alcançára do rei aeo marído licença para ae esta-
belecer fí^ades menores em Lisboa e Gifimarães debaixo dos
seus auspícios ^ : auxiliára a cunhada, a infanta D. Sancha,

am obter as lícençaa neceasariaa para fundar em Alemquer


um convento da mesma ordon, .que foi o primeiro que se
edificou neete reino ' ; e, flnalmentey concorrôra jHura a
funda^^ de Santo Antonio dos Olivaes de Coimbra \
Quanto ás terras ou villa.s (jue a rainha possuiu, achan-
do-se o documento que lemos á vista bastante deteriorado,
não noa pôde aubministrar noticias de todo o ponto sati»-

flictorias a esse respeito. Abi vem mencionadas Torres


Yedraa, Óbidos e Alafões, tendo*se talvez eseripto, primi-
tivamente, o nome de outra villa entre os daquellas duas.
Parece-nos que deste di[)lí)ma se pôde coUigir^ ou que
as referidas villas eram [)«M tenças da rainiia, ou que ape-
nas tivera algumas propriedades no seu termo por doação
do rei. Qual das interpretações seja a verdadeira» não nos
attrevemos a decidir, por isso que lacílmente nos podería-
mos enganar na apreciação de um documento em que exis-
tem lacunas que tanto podem influir no sentido do mesmo ^.

Cita-setambém um diploma de D. AfTonso iii, pelo qual


mandava entr^ar A ordem do Hospital quanto sua mie ti-
féra em Torres Vedras, e seu termo, pertencente á mesma

1 Frei Marcos de Liáboa, Chron. dos Menor. P. 1 L. 1 c. 4í> f. 41. ediç.


á% 15(i(>. Foi nessa conjuoclur^que se «Uribuiu ap satUo uma propUecia,
que se não verifícuu, qual era que Portugal niiBca aeria junto aos rei-
:

nos de GasteUa.Nfto faltou, porém, como aempre, qMem pntendeaae pro-


var a Tentado do f aticinio 1
t Esperança, Hist. Seraf. P. t L. t c. S ad fin.
3 Ibid. i'. 10
4 Ibid. L. 2 c i8.
5 Nota VU no fim do voluoie.

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DE UBftÀCA DB CASTKLLA 75
'
ordem ; o qual, a encoutrar-se U(úe, poderia, porveiUura»
resolver a duvida ^
D. Urraca fex seu lealameoto a 15 de jonlio de
estando em Coimbra, e, ao que parece, enferma, receiaodo
que o stíu íini estivesse perto ^. A rainha deixou duas terças
partes da metade que lhe cuiiipetia, para serem igualmente
divididas entre oa filhos» dispondo do reato para pagamento
das anaa dividas, e para legados ao papa e a alguns prels- •

dos e cabidos do reino, entrando no nomero desses l6ga<>

doe o de quatro mil aoreos para se repartirem entre as


pessoas de sua casa. O total dos legados orçava por 7:500
maravedis e 5:000 áureos, ou, reduzindo estes, 19:500 ma-
ravedis d. Como esta quantia representava só a terça parte
da herança que a rainha deixou, ou ainda menos, por isso
que não sabemos em quanto importavam as dividas, se-
goe-se que o total orçava por mais de 68:500 maravedis *

mas só uma pequena parte seria em numerário, que na-


queile tempo era tão escaço, que as permutações se fa-
atam não raras veses em géneros, facto que muitos dooi>-
mentos attestam.
D. Urraca viveu mais de seis annos depois de ter feito
lavrar seu testamento, vindo a fallecer no principio de no-
vembr9 de 12^0 ^ ainda mui jovea, contando pouco mais de

1 Vldtlltn Malta P. 1 p. 182, cujo asilior apenas tereconhecíaaala


dwsedocura.pelo anUgo Registro de Leça, pondo em duvida se fôra pas-
sado por D. AfToDso ii ou iii, náo ge mencionando a data nem o nomn da
rainha. Conjecturamos ser deste ultimo, porque aliás alludiria a D. Dulce,
cujo nome náo apparece eiu parte alguma com referencia a Torres Ve>
dni8«
2 aí «aqae ad Kaleadaa proxiini aagoali tot Mt te Br» meu
i*. ^teeea-

aero : veja-ee o taatamenlo, nola VI no fim do volume.


3 Galmilamee o anree a as aeldea * viá. neta XXXlll-A, ne fim do «o-
lurae.
4 Veja-se o valorintrinaeoo em réU e o repreaentativo>Dota XJCXIll^A
no fim do volume,
ò .0 obituário citado por Braodáo (Mon. Lubil. 1\ 4 I4. 18 c. 18) traxia

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76 MUIOftUS

trínla e tres annos de idade, e doze de casada. O rei so-

breví?eu-Uie mais de dous anous


0 cadáver da raioba não foi, segundo parece, condusido
logo a Alcobaça, onde se maadára sepultar, sendo a causa
da demora as obras que se faziam na Igreja do mosteiro
dizem que f5ra para ali transferido em novembro de 12^
e depositado em uma capella á entrada da mesma igreja 2.

Mais tarde veiu a ser mudado para a uave <lo cruzeiro, de*
fronte da capeila de S. Vicente, onde hoje jaz n um grande
tumulo de cantaria de forma singela, e sem signaes alguns
de ter por ahi passado o cinzel do escuiptor, fazendo vivo
contraste com os ricos mausoléus de D. Pedro e da infeliz
D. Ignez de Castro, que Ibe ficam próximos. O epitapbio
que iielle se lê revela por si mesmo pertencer a tempos
mais recentes 3.

Cerca de um mez depois da morte de sua esposa, passou


D. Afiònso u um diplooia, mandando ao- mestre do tenqilo,

o tegiiate:€TertiolloMtNoveiDbri8oUitOoiMUmMPortttgalensi Regl-
aaftUaDoDoiAlfonsi Régis Castellse Era h. cc. lyiii». O obituário de Sanla
Crui no Archivo Nacional dá mais cinco dias de vida á rainha, dizendo :

« TI Idos (nouembris) ohiit (aqui váo os nomes de diverí^os. e depois) et


Doinna Orracha portugalie regina >, sem mencionar a era. O iii das oooas
e o Tl dus idos correspoodem a3 e 8 do referido mez. Faltando no Ne-
crológio do S* Jorge todo o qoe excedia ao II doa idot de aetembio» bIo
aoe podemoe apiOTeiUr da eoa authoridade neela queatto. Sobre o aoao
não ha duvida que é o apontado pelo Obit. de Brandão» constando do
diploma de 7 de dezembro de 12^, produaido na nota VU no fim do volor
me, que D. Urraca era entáo fallecida.
1 Morreu a 25 de março de 1223 (viu Kalend. april. era 1261), segundo
apooU o Obit. cit. por Brandão (Mon. Lusit. P. 4 L. 13 c. 26); o Obit. de
SanUCmi no Ârch. Naeion. concorda no dia e met, náo referindo • ert.
O Neerol. de S. Jorge fixa a morte* de D. Affonao ii ao dia aegninte, tu
Kalend. aprílis.
3 Mon. Lusit. P. 4 L. 13 o. 19. —
Alcob. Illustr. p. 80 e seg.
3 c D. Urraca Regina, uxor Régis Ãlphonsi Secundi, jacet hic, anno
IMO. » No tempo de Faria e Sousa náo havia epitaphio (vid. Bpitom.
P. 3 c.4adfin) lavrou-seprovaTelmente no tempo de Antonio Braadio,
;

on poMO depois.

t
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D. tíBftAdA Bi CÁSTÊLLA

ao ahbade de Alcobaça, ao prior de Santa Gruaí» 0 a outro


indiTíduo, ciyo nome desapparecen do documento (poden-
do-se comtudo suspeitar fosse o prior do Hospital), arreca-
dassem os rendimentos da terra ou terras da fallecida prin-
cesa —
o estado do documento não nos permitte conhecer
se de um ou mais annos — e com eiles pagassem as divi-

das da rainha, e distríbuissem certas somnu» entre wios


bispados e igrejas, importando essas sommas, além dai di-
Tidas, que se nSo especificam, em mais de 9:200 marayedls t.
Como explicar esse diploma á face do testamento de D. Ur-
raca ? Em primeiro logar, os testamenteiros por ella nomea-
dos foram o arcebispo de Braga, o bispo de Lisboa, eioão
Paes, abbade ou confessor da rainha, e nSo os personagens
designados pelo rei ; e em segundo logar, a applicaçSo que

este manda dar aos rendimentos da rainha é díTeraa da


que se achava determinada no testamento de 1214. É ne-
cessário suppor, ou um subsequente codicillo feito pela
rainha, modiâcaado as anteriores disposições testameDta-
rias,ou que o monarcha julgára mais conveniente não dar
inteira execução ao testamento, tomando sobre si resolver
o modo de satisfeser ao que a snperstiç^ do século exi-
gia para que a alma de sua mulher podesse mais facilmente
ter entrada na mansão dos justos, hypotbese que uma clau-
sula do testamento torna crivei ^.

Em 1560 abriu-se a sepultura de D. Urraca em preaença


de D. do seu séquito. Eis o que
SebastíSo, e mais pessoas
refere uma testemunha presencial desse acto, cuja narração,
a ser fiel, mostra que a formosura da rainha não era uma
ficção

1 Ditemos mais, porque iiAo se pôde hoje deoiffrar a quantia per-


tenceote a certa igreja 0 rei oiaoda dar 900 maravedis aeada bispado
do reino : eontamos oato, por ser o numero então existente, além de
igual somma ao de Tay. Yeja-se a nota VU no fim do volnnie.
2 Et mando quod tola if^ta mea manda adimpleatur per... si domnua
Rex eis totam medietatem meam dederit, prout mihi concesait et fir-

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78 MBMOIIiAft

« Esta líainhn foy «npiiltadn no Mosteyro <le AhTibnça


tím hum sepiilcliro junto a ElHey D. AíTonso seu niíirido.

Nesta era em que escrevo este livro, que he de i54)d,


vindo KiRegr D. SeliasUão da Portugai o primeyro deste
nome ao Moateyiro de Alcobaça» mandou abrir todas as
sepulturas dos Reis» dr Rftinhas que nelle jaiem« tirando a
lie D. Pedro, à de Dona Ignes, entre as quaes foy aberin
a sepultura desta Rainha D. Urraca. Estando eu presentt» a

tudo tãbem esta Rainha, a qual jaz só em iium


isto, vi

grande Monumento, jaz inteyra como aqueUa hora que a


sepuitario; jaz mirrada como também estSo os outros
Reis, d seus filhos* E tem esta Rainha cara, qp» mostra
ser em seu tempo muy fermosa. Está emfeytaài ao modo
anljfço, seus cabelos enastrados compridos ainda agora pa*
recém hum fio de ouro, 6 para testemunha disto eu lhe
cortey huã feimo&a gadella delles de junto de huã orelha,
a qual tenho em muita- estima, tem debayxo de si huma
colcha plDtada como cousa de negros, d sobre a colcha
hum lençol de linho, d tudo isto está como a hora que a
allí sepultarão, ao menos o lençol que he muito para ver,
v.^ o que me mais espantou, com Sua Al-
d- a alguns que
teza estiverão, foy que com humas botinas
ella jaz calçada
vermelhas apaotufadas, d- tem no peyto do pé em partes
as armas antigas de Portugal douradas^ que parecem ou«
ropel d as botinas, ou çapatas estSo tio frescas como se
fossem agora calçadas, das quaes eu trabalhey de tomai*
huma por memoria, d ftKo me foy concedido. Tudo isto

está desta maneyra, deyxo outras particularidades poi* mo


ser proiuxo. E se^/uiido acho pelos dias que esta Rninlm vi-

veo, d pelo tempo em que faieceo, faz agora nesta sobredita


liter furonisil. alUt aulem ipBÍ noa ttnetBtur. ^ Nem se poderia ei»
plirar esiu medida como coMeguencie de se ter achado, que os l^(ados
feiíoR pela rainha excedessem a terra parle df» ineiade, poisqufl
;

isto não aulhorisaria o rei a mudar, como leXi o desiino dessa lerça parte,
qualquer que foste a c^oa importância.

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DE D. URRACA US GASTBLLA « 78

era de i569, irezeulos e sincoenta <k dous anno<^ (alias

349 annos) qae he sepultada, d passou dasta vida » i.

Estando nós ba tempo em Alcobaça, assegurársm-tios


que tia in?âs8o dos íhiiicezes oe soldados do inimigo ar>
rombáram as sepulturas —como o fizeram na Batalha —
em procura de joyas e outras riquezas, que ali suppunham
encontrar: soifreu o tumulo de D. Urraca a sorte dos de-
mais. Arrastaram o corpo fóra do jazigo em que repou**
sava havia perto de seis séculos, e despíndo-o do len*-
çol que o envolvia, deíxáram-no estirado nas iages do tem-
pio, onde ficou até que, ao rccolherom-se esses vândalos,

foi restituído ao mesmo tumulo. Nessa occasião veriíicou-se,


segundo parece, o perfeito estado de conservação em que
se achava o corpo, devido ao modo efficaz por que fOra
preparado.
D. Urraca teve tres filhos e uma filha, sendo incertas as
datas exactas do nascimento de todos elles porquanto as
referidas pelos cbronistas a respeito de alguus estão erra-
das.

D. Sancho nasceu antes do fim de 1209, talvez no


tíão
seguinte anno Succedeu no throno, e foi ii do nome.
^.

Sabemos que D. AíTonso não era nascido antes de


porque foi mais moço que a irman; nasceu, segundo colligi-

mos, entre o meiado desse anno e fevereiro do seguinte ^,

1 Relação de tcti Antonio de F«n«« ciude na Moo Lusii. P. 4 L. 13


c. 19.

f Hi9t. (le Portug. do ar. Herculano, T. í p, 2(i2, e nntn \iv no \\\\\

do mesmo Alguns auihores, procurandu explicar a origem da


toino.
alemilii de íopêilo que deram a este rei, r^femn um eaio em que figura
a rainha soa mfle, o qual, por se não pstríbar em aullioridade algooia,
passaremos eita ellertelo, rtAnetteido o ielter ao qae disem Brasdie, Moo.
Lusit. P. 4 L. 14 n. 1 : Bs|»erança. Hist. Seraf. P. t L. 4 v,. 36; Santa Ma»
ria, Chron dos Coiieg. tleitr. L. II r. 34; e Barboea, Caul. daa Roin.
p, 147 p íPfíg.
3 O seu nome falta nos diplomas de30dejulho(CoUecç.E8pec.cajxa28
'
00 Arch. Nacion.)t e 5 de dezembro de 1311 (Diasert. Chronol. T. 3 P. 1

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80 tttMOftlAS

Reinou depois da morte do irmão, que expulsára do throno»


e foi III do nome.
D. Fernando, ultimo filho de D. Urraca, nasceu em
março de 1218» e foi senhor de Serpa i. Depois de resi-
dir algum tempo em PortagaU praticando algmnas violao-
eias nas desordens do reinado de D. Sancbo Ui passou a Cas-
tells, onde cason com D. Sancha Fernandes^ filha do conde

Fernando Nune^ de Lara, e, fazendo-se Vassallo de D. Fer-


nando III de Gastelia, tomou parte nas guerras contra os
infleis ^.

D. Leonor nasceu em 4211» antes de 30 de julho K No

p. 116 D. 710) 6 a de junho de tltS (Cheneell. de D. Aaòmo.iu L. 1 f. 6 no


Aieli Naeioa.). todos os quaes figora D. Leonor. Eni fevereiro de
1213 parece que já era naHcido porque n*um diploma <lpssn data, depois
;

de se nomear o rei e a rainha, accresrenta- se . «cuin fHiis el tiliabuji


Dostris» (ibid. É comludo notável que se dissesse (iliabus quando
f. 66).
áo havia seoio uma filha; o mesmo se eacoolra em outro documentode
94 de agotio de ISIS (ibid. f. fSjt devia ser descuido do notário.
1 O ar. Hereolano (Biat. de Fort. T. 1 p. 300» nota % ÍA edíç.) já pro-
vou que eate infante teria naaeido entre março e maio do referido
anno, o que se confirma por um diploma de 20 de março da era de
llfíf» (A. D. 1218), no qual D. Fernando figura, devendo portanto ter nas-
cido naquelle mesmo mei : vid. CoUecç. Espec. caixa ^
no Arcb. Na*
cion.
a Hift. do Portng. eit. T. 3 pp. 949-351, asi-aso, tf ast.
a ITnm diploma da referida data figoram, segando ji obaerramoe»
O. Leonor e o infante D. Saneiío (Gollecç. Bspee. eaixa 98, det. Ital. m
angnati era 1949). Ribeiro (Diaaert. Chronol. T. 3 P. 1 p. 215 n. 718) eita
outro diploma do mesmo mez, sem data do dia, em que também se men-
riona D. Leonor; masdá-o por duvidoso, roarcando-o com um *. Na ci-
tada caixa da Collecçio Especial existe a confirmaç&o de D. Affoaso it
do VIM doa^ feita por D. Affenio Henrlqnea ao moetairo de Aleobnça
eonfirmaçio é datada de 6 de abril de 19tl. e neUn Sgoram aninba, o
inbnte D. Saneho ai /(lia mas Infotila doimia . .eono nome da infanta
em branco, aéontecendo o mesmo no rodado. A ser genoino eate docn-
mento, e não nos atrevemos a condemnal*o, poderia suppor-se que a
infanta acabasse dever a luz, eque ainda n&ofôrabaptisada. Ha, porém,
no mesmo logar, outro documento cujo contexto e datasáo idênticos a :

niea differença qae ae dá eotee ollee é n« letre, no meneiOMf-io


o nomo por inteiro do D. Leonor, e no figurar tanlHnn o Infanto D. Af-
DE D. URRACA DE CASTELLA 81

principio do ISKSQ casão, em Ripen, com Waldemar, her-


deiro da coroa do Dinamarca, que os authores chamam iii
do nome, porque o pae, Waldemar ii, o associára ao po-
der. Falleceu a princesa dous annos depois (1231), e o
marido segQiu-a ao tumulo passados poucos mezes

fonso, tanto no corpo do dooumonto, como nn rodado. NSo hesitamos em


considerar esle uUimo como apocry pho porque é impossível que O. Af-
;

íonso fo8M mseido netea dtta, ezisiindo doeomentos potteriores em qne


. elle nfto figura, como Timos. A confirmação de D. Affonso ii acha-se re-
gistada n'iim antigo códice d'Áleobaça (eod. 14S f. Í4i, aetualmenle na

Biblioth. Nacion. de Lisboa), onde também appareee o Home do infinte


D. Affonso, sendo evidentemente copia do exemplar qoe citamos em al-
limo logar p ppla letra não parece ter sido lançada naquelle códice an-
;

tes do reinado de D. Affonso lu. Segue-se, pois, queoreferido exemplar


•pocrypho teria sido escripto tendo o amanuense á vista o primeiro, na
snpposiçio de se admitUr a genuinidade deste, qoe de certo nftô é licito
rejeitor sem nm estudo escrupuloso na parte paleograpliica. Ha comtudo
um documento que militaria contra elle porqne» sendo datado de 30 de
;

junho do mesmo atino, náo figura ahi D. Leonor, mas só a rainha e o in-
fante L). S'incho (vid.Hist. Geneal. T. 1 das Provas p. 13), ao passo que a
citada confymaçáo a faria nascida em abril.
1 de Port. do sr. Herculano T. i p. 298. Alguns escriptores nos-
Hist.
sos attribuiram a D. Urraca mais um flllio eliamado Tieento ; mas Bran-
dio (Mon. LnsiL P. 4 L. 18 e. 10 e L. 1B c. S9) já mostrou que esse era filho
de D. Beatrii de Gusmsn, e nio de D. Urraca.

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D. MECIA LOPES DE HARO
MULHER M SANCHO II

ATÉ 1240

como dizem em Hespanha, era G*


D. Mecia, ou Mencin,
lha do famoso Lopo Dias de Haro, por antonomásia o Ga-
beça-brava, senhor de Biscaya, e de sua mulher D. Urraca
AíToíiso, lillia illegitima de AlTonso ix de Leão Igiiora-se
a data do seu nascimento porém, que casou com
: sabe-se.
um cavalieiro que adquirira grande fama nas guerras de
Fernando iii contra os mouros. Era este Âl?aro Peres de
*
Castro» que, entre os annos de 1225 e 1228, repndiàra sua
primeira mulher, Aurembrax, condessa de Urgel, por nUo
ler, segundo dizem, alcançado dispensa de parentesco, o
que não passaria, talvez, de um pretexto, tão commum na*

t Francisco nran'lAo (Mon Lusit. P. 5 L. 17 i*. 14). arrimando-se a cer-


táii auttioriilades castelhana'*, enieniieu iiue D. Mecia er i filha illegiti-
ma de Lopo Diu e dn D. Toda de Sanla Gedea, opinião que já eabêl- M
mente refnlade por Barbos-* (Catai, das Rain. p. 177 e segg. )• De feito, um
dneomento prodosfdo por Salaiar e Castro (Casa de Lara, T. 4 p. 1i) rem
tirar tods a duvida a este respeito é o recibo, pnnsado porD. Urraca Af-
:

fonso, mulher de Lopo Dias, á nnipm de Santiago, do pagamento feito


por esta de reriH quantia que recebéra por empréstimo do mesmo Lopo
Dias. Ne^ln dotíumemo fii^iimin sou'? filhos i'oino seguem D. Diogo Lo- :

pez., D. Alvar IVrez, D. Mencia, D. AtTonso Lopeí, 0. Lop, D. Fernando

Malrriqfie por onde parece ter sido O. Vecia a terceira na ordem


:

de naeeinento. Náo tem data ; mas vem incluído nelle outro diploma de
f«33(erade «971).

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84 MKMUiilAS

quellas eras. Nesse iiitimo anno casou a condessa com o


infante D. Pedro, filho de D. Sancho i de Portn^l i.
Não «consta a data do rasaménto rie Alvaro Peres com
D. Mecia. A primeira iiolicia que encontrámos desta senhora
é a que vem no Nobiliário attrihiiido ao conde D. Pedro \
onde se lé» que Alvaro Peres foi o que c pos as barreiras
€ do sirgo (seda) em paredes de naua quando el Rei de

«castella ho queria cerqnar, e dise qne nunca outro muro'


€ meteria antre si e atjueles que a ele quisesem vir. E

« esto foi poi(|ue era namorado da Rainha dona meçia lo-

cpez filha de dom lope senhor de hízcaia com que depois


< casou. E depois que ei morreo casou ella com el Rei dom
• sancho capello de purtugal. t E mais adiante *, allndindo
o chronista ao mesmo facto por oníras palavras, diz o se-

guinte: «Equando foram çerquar dom ahi.irpirezde crasto


« em paredes e que el pos as barreiras do sirgo aa Rainha
« dona miçía lopez de purtugal que fora molher dei Rey
€ dom Sancho capelo de que elle (D. Álvaro) entam andaua
€ muito namorado. Jazia (D. Mecia) fora do c^rquo com
« esas outras companhas. E hum dia sya (estava leni sa tenda
« e tinha as faldras da lenda alçadas contra a villa e sia ju-
c gando com este dom martim sanchez o açedrenche (xa-
€ drez) » etc. Prosegue, referindo como Alvaro Peres che-
f(ára da villa a cavallo, armado de todas as armas; como
Martim Sanches, simplesmente vestido de manto e saio, se
erguera, e, lançando mão de um escudo e uma lança, sa-
híra ao encontro do recem-chegado, o qual, vendo o adver-
sário sem armadura, apenas lhe déra com o conto da lança,
e regressára á villa.

Conta a historia, que Alvaro Peres de Castro, por des-


gostos que tivera com o rei de Castella, guerreava do lado
I Vide aiit«», pag. 66. •

i Ti». 11.
U lu. 25. no i de D. Martim Sanchea.

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DB D. MEGIA LOPES DE HARO 85

dos sarracenos, até que. cerca do anuo de i^tàl, quíz a for-


tuua que ede fosse medianeiro n'uma tre^ pactuada en-
tre o monarcha castelhano e os mouros, de Granada, que
nesta occasiSo deram a liberdade a- 4300 prisioneiros chris-
tâos. Que, em premio da parte qiic lhe coube neste negocio,
Alvaro Peres ohtiveia congraçar-se com o seu rei esuzeraiio
natural, dando por acabado o serviço a que se bavia pres-
tado entre os infiéis O que, portanto, se pôde deduzir da
informe namçSo do Nobiliário, é que os homens d'armas do
rei de Castella cercavam Paredes, cuja defensão fôra, talvez,
entregue a Alvaro Peres [)e!os mouros: e que entre os chris-

tãos se acÍKiria Lopo Dias, piovavehntMite como chefe, visto

que o seu nome apparece acompanUado de feitos heróicos


em todas as guerras que se polejaTam por esse tempo
entre os defensores do evangelho e os do koran. Porven-
tura se acharia também no acampamento sua filha, D. Me-
da, sendo o dito singular de Alvaro Peres uma galanteria
motivada pela presença de sua amada. O encontro com Mar-
tim Sanches, íilho ilicgitimo de D. Sanclio i de Portugal,
procederia acaso de ciúmes. É impossivel dizer, se o suc-
cesso em Paredes, referido no Nobiliário, foi ou não um
facto : é comtudo certo, que a antiga Ghroníca de D. Affonso
o sábio dá a entender que havia tradiçSo de alguma occor-
rencia naquelle ponto em relação a D. Mecia Se, com ef-
feito, teve legar, devia ter-se verificado pouco mais ou me-
nos na epocha já indicada, desposando-se D. Mecia com
Alvaro Peres depois de se haver este congraçado com o seu
soberano, isto é, em 1227 ou depois.
Durante os dez annos immediatòs, os monumentos dei-
xam o nome de D. Mecia Lopes n um silencio absoluto. E
crivei que .acompanhasse o marido, se não em todas, ao

1 Hiât. de Espafla do sr. Lafianle, T. p. 325.


'i

2 C...U reyna doaa meocia de portugal, quedizian ဠparedtê**


Chron. de D. Alon. el aabio cap. 19 f. li col. t.

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66 MUIORIAS

menos em algumas das suas expedições 'eoT serviço da co-


rôa, mormente se dermos eredíto ao que vamos referir.
Concluida a conquista de Cordova em junho de lá3G,
D. Fernando iii voltara a Toledo, deixando por governa-
dor da nova provinda a Afiíooso Telles de Meuezes na parte
administratíTa, e a Alvaro Peres de Castro no ramo mili-
tar ^. O avultado numero de que acudiam de to-
christSos»
'
das as partes a povoar as terras de novo adquiridas, os es-
tragos que estas [laviam soíTrido, e o abandono a que fôra
votada a agricultura por elTcito da guerra, tudo concorreu
para em breve produzir a escacez, chegando os habitaotes
de Cordova a sentir todos os horrores da fome. Nesta con-
íunctura partiu Alvaro Peres a pedir soccorros a Feman>
do, que n8o só lhe deu dinheiro e mantimentos para acu-
dir ás necessidades dos seus súbditos, mas nomeou-o seu
adiantado no novo districto, revestindo-o de todos os po-
deres de vice-rei. D ahi a algum tempo, em carecendo
Alvaro Peres de voltar á côrte para negócios urgentes,
deixou sua e^osa» a condessa, —
que assim lhe chama a
chronica — no forte caslello de Martos, sito no cume de
uma penha elevada, com uma guarda do quarenta cavallei-

ros capitaneados por um seu sol)rinho chamado Tello, jo-


ven de pouca experiência. Um dia lembrou-se este, coma
imprudência própria da mocidade, de fazer uma correria
nas terras dos mouros, levando comsigo a guarnição, e
deixando asshn o Castello quasi, se n3o de todo, desampa^
rado. Conhecedor do facto, Alhamar, rei ou vvali de Ar-
jona, sem melter tempo em meio ajuntou numerosas for-
ças, e marchou contra a penha de Martos, havida por chave

daquella parte de Andaluzia. D. Mecia não desmaiou ao


avistar os pendões mouriscos : com animo varonil, e a otr
tural subtilesa do seu sexo« ao passo que ordenava a todas
as suas donas e donzellas revestissem armas, e assomassm
1 Hist. de Espatta do sr. Lnfueute, 1. 9 p. 344.

Digitízed b/
t

DB D. MBCU LOm DE HABO 87

•ás ameias do casteilo. afím de illudir Alhamar, mandava re-


cado do saccedido a Tello. O ardil de O. Macia não deixou
de sortir effeíto, porque o mouro, persuadido de que nSo
era só com mulheres que tinha de combater, tomou-se me-
nos expedito e mais caateloso, dando assim tempo para (jue
Tello chegasse com os seus compantieiros d armas. Estes,
porém, á vista do avultado numero de inimigos, começaram
a- titubear, e talvez desistissem da tentativa se as eiborta-
ções do valoroso cavalleiro Diogo Peres de Vargas, por aU
cunha o Madiuca, n9o viessem a tempo incutir-lhes no ani-
mo quão vergonhoso seria ahandonar a mulher de seu se-
nhor, e o Castello, cuja defensão lhes fôra commettida. For-
loaodo-se, pois, n um esquadrão compacto e cerrado, teudo
na frente Diogo Peres, arremetteram aos sarracenos, e, rom-
pendo pelo meio das suas fileiras^ conseguiram, com perda
de alguns dos seus, chegar á penha, livrando assim D. Me-
da e suas damas da arriscada posição em que se tinham
achado poisque, após este feito d armas, o principe ma-
;

hometano, tendo por inútil pôr ceico a um logar tão t>em


defendido, se recolheu aos seus* estados ^.

Pouco depois de lhe constar o modo quasi milagroso


por que sua mulher escapára de cahir em poder de Alhih
mar, Alvaro Peres morreu de moléstia em Orgaz, no anno
de 1^39, ou no seguinte, e porventura sem que D. iMecia
lhe cerrasse as pálpebras; porque, segundo parece^ Alvaro
Peres marchava para Andaluzia com dinheiro e mantunen-
tos,que recebéra de D. Fernando, quando foi salteado da
doença que o levou á sepultura K
I CroB. de S. Fernando 6. 3a, eit. pelosr. Lafuienie, namet. deBe-
5 p. 34$ e aegg. Bala é a nnica fonte por onde conhecenoa o epí-
pafla, T.
iodfo narrado no teito lalres nâo paaae de orna daqnellaa SeçOea poe-
;

iUiaadeqne se afham recheadas as rhronieaa antigas. Todavia, julga-


mos que náo a deviamos oroittir pela unica rasáo de náo haver outra
prova do facto, tanto mai;* que, salvo n'um ou ii'outro ponto, provaveU
mente viciado pelo narrador, o successo náo é inverosimil.
S Ui8t. (leEipafia. T. 5 p. 349.-0 sr. Herculano (Uisl. de Porlug. I. 2

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II

1240— ms

Os antigos clironislas e escriplores portuguezes são una-

nimes em considerar D. Mecia como mulher, e não concu-


bina» de D. Sancho ii K Âotooio Brandão foi o primeiro a
impugnar este facto no que foi seguido por Barbosa K
Este casamento é, comtudo» hoje um fiicto incontostayel á
'
vista da bulia Sua nohis de Innocencio iv, dada á luz pelo
distincto escriptor tantas vezes citado no decurso destas

p. 370) pâe a morte de Al varo Peres em 12iO, abonando-se com authori-


dades hespanholas.
1 Sem citar as chroDicas rulgarmente conhecidas, vejam-se am Chro-
ieon Alcobaeense do see. xit, ad era 1S14, o Chronica Breve do Áieh.
Maeion. (PorU^Monnin. Hist.aerip. vol. 1 p. St eol. i e p. 9S ool. 2 ; veje-ie
tâiDbeiii p. 31 eol. S). Âquelle chama á rainha Elvira Lopes, e faUa deUa
eoao oom despreso : c duxit (Sanchios)... gnondam aiorem dt iiilioH gt-
eloiram lupi. »
fierí, flcilicet,
2 Mon. Lusit. P. 4 L. c. U Hl.
3 Catai, das Rain., nota O, sob D. Urraca. O gr. Schaefer (Hist. de Por-
tug. Ep. 1 L. 1 c. 6 § 4), erudito e acreditado historiador aliemão, seguiu o
mesmo parecer ; o que não é de admirar, visto que a existência do docu«
mento por onde se prora o contrario nio era ainda poeta fóra de duvida.

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DE D. MLCIA LOPKS DE HARO 89
memorias i. Além de que, ha varias circurnstancias que fa-
riam suspeitar, quando não existisse esse diploma, que a
tradição neste ponto é conforme á verdade : sobre as quaes
temos por escusado insistir depois do que se acha escripto
t>or melhor penna que a nossa 2. .

As circumstancias que precederam, e influíram oeste en-


lace onde e quando se 'effeituou, s9o cousas totalmente
;

ignoradas ^. Da bulia Sua nobis consta, que no principio


de 1245 era Siiiirhu casncio com 1). Meoia, e por outro lado
póde-se conjecturar, com muita probabilidade, que o não
estivesse antes de Ii42 4.
^ A tradição aflSrma, que as consequências desta união fo-r
ram fbnestas, tanto para o soberano como para o reino. Se
lhe dermos credito, o povo inteiro, menos alguns validos,

a amaldiçoavam. Proviria isso da inferioridade de jerarchia


da viuva de Alvaro Peres? ou das desordens, que, segundo
as chronicas, a rainha promovia, rodeando-se de parentes
e criaturas suas, ao passo que captivára o animo de D. San-
cho por tal modo, que chegâra a ser corrente entre o povo
que o rei andava enfeitiçado pelas ai tes diabólicas de sua
mulheril? Ou, finaliiiento, nasceria o odio á rainha dos
enredos do clero, e dos auatbemas que este fulminava, não
tanto por causa do parentesco entre os cônjuges — o qual
eflèctivamente existia dentro dos gráus prohibidos, posto

1 Veja-se a biilta, na oota VIU no fiiu deste volume.


S Veja-se a YL\%i. de Portug. do ar. Herculano, nota xiviii no fim do to-
mo 2.
3 asserção dc Faria e Sousa (Epit. de ]as Hist. de Portug. P. 3 e. B)
e de outros escripiores, de que os yalidos proporcionaram este casamento
a D. Sancho para nch.irpm na rainha umadfogadoa bem dos seus inieres-
868, é inteiramente gratuita.
4 É o que persuade o farto de Roilrigo de Toledo nfio mencionar este
casamento na sua historia, que elle acabou de escrever em março de 1243,
posto qu4* nfto omitta o dos írmios de D. Sancho ii. Vejam-ee as reflexdes
na Bist. de Portug. do sr. Herculano. T. 3 nota xxtiii p. 804 da 1.* ediç.
5 Pina, Chron. do D. Sancho ii c. 1.

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90 miiOBiis

que por bastardia ^


—mas antes com o intuito de crear do-
to» embaraços ao monansha, ciya mina desejavam accele*
rar? TaWes nio seja difficil responder: tentemos son-

dar 08 factos conhecidos, até onde possam ter relação com


o ponto em questão.
0 reinado de Sancho ii, até cerca de 1237, fôra uma con-
tinuada lide com os sarracenos ; mas uma lide gloriosa para
elle, proveitosa para a monarchia — se é que as guerras o
podem ser. Nas victorias ganhadas pelos christSos, umas
íq>ós' ontras em acto soccessivo, tivera largo quínlâo o jo-
ven rei, que combatia á testa dos seus cavalleiros e ho-
mens d armas, distinguindo-se por sua valentia e talentos
militares. A lacta, porém, não se limitava aos sarracenos;
continuava também sem trégua entre a corôa e o clero.
Mas a aureola de gloria que cercava a íironte do moço-rei
era uma formidável barreira á realisaçSo dos desígnios am-
biciosos ílo poder espiritual, que também tinha de comba-
ter a prudência e astúcia de homens enérgicos, experi-

mentados e adextrados nos enredos politicos, em cujas


m3os D. Sancho deixára a administração civil do reino.
Mal cessou o estrondo das batalhas, mal trouxeram a paz
e o repouso as victorias de D. Sancho, este apressou-se em
de mui diffe-
substituir a seus velhos conselheiro^:, outros
rente earacler —
pela maior parte seus companheiros d ar-
mas, acostumados á confusão dos arraiaes, á inquietação do
soldado. A conseqencia era fácil de prever : os abusos e as

1 D. AtTonso Henriques

, D. Sancho 1 D Urraca, 1.^ muUmr


I
de D. Feraando ti de Leáo
I I
.
D. AÍToaso ii D. AfTonso ix Ue Leio

D. Sanebo ll D. Urrara Alfonso


(filha illegilima)
I

O. Hecia Lopes
DB D. MBfJA L0PK6 DE HARO 91

deBordens de toda a casta» já d atites mui íreipieotes, fomn


cmcendo de dia para dia, dando assim ensejo ao clero para
dirigir oon mais acerto os seus attaques contra o monarcha,
que, despojado agora do prestigio que costuma aconipa-
ntiar o guerreiro no meio das suas proezas, perdêrn o único
meio de fazer que fossem comportáveis as perturbações e
discórdias ci?is. De feito, o clero, cujo pensamento de ar-
rancar o sceptro da nâo de Sancho u é já apparente nessa
epocha, valeu-se dé tudo para accumolar sobre este ínfelíx

principe a responsabilidade dos actos praticados tanto em


descrédito da igreja como em detrimento do paiz K
Tal é o quadro resumido do que se passava em Portu-
gal, mesmo antes da vinda de D. Mecia para e^^te reino.
Sendo aasim» como é possivel acreditar que. esta influíra
nas desgiaças do paiz tanto como no-lo querem pintar os
chronislas, que lii as parecem imputar todas ? Que D. Me-
cia fosse ainda joven, e dotada de grande formosura, é

cousa muito crivei; que o casamento se efíeituasse em con*


sequencia do excesslTo .amor do monarclia, é o mais na-
tural soppôr, visto que nio trazia vantagem politica á co-
rôa: que ella por conseguinte havia adquirido bastante in-
fluencia no animo do esposo, é moralmente certo, se at-
tendermos sobre tudo á uidole nimiamente branda e in-
dulgente de D. Sancho, salvo em assumptos de guerra, por-
que nas armas sempre foi extremado ; êmfim, que a viuva
de Alvaro Peres se achava acompanhada de parentes e
compatrícios, ò também facto que os documentos parecem
attestar K Tudo isso podia e devia ser assim mas não prova ;

1 Veja-M Hisi de Poriug. do «r. Hereulano, T. S Uv. passid.


i Diogo Lopes «ie Salzedo, iri&fto bastardo, e Sancho Lopos, outn
imio ou parente d» rainhH. estiveram em Pmrtugal; Orlío Ortiz, Onego
ou Inígo Ortiz, Petlro df Festa, e talvez outros, mencionados n'um di-
plom.) [vide noia l\ no fim do volume)« deviam ser biscaiobos, a julgar-
mos pelos numes.
MEMOIIIAS

que eUa praticasse os vexames, e promovesse as desordens


que liizem pesar sobre a sua memoria alguns authores,
cujas accusaçdes sSo feitas em termos geraes, sem nos re-
velar um «nico exemplo que faz era seu propósito Es-
tamos longe de a)ncluir d aqui, qun a autlioridade da rai-
nha fosse nulla o pouco que sabemos da sua vida ante-
:

rior — se é licito dar-lhe fé — mal no-lo címsentiria. Não


lhe faltando ainda energia de caracter, teria esta, porven-
tura, subido de ponto ao acliar-sè D. Mecia unida a um ho-
mem de génio complacente, sim, mas irresoluto e fh)UXO.
Assim que, sem lhe negarmos inn quinino no incitamento
dos infortúnios puliíicos, uão nos julgamos autliorisados a
aitribuir-ihe a parte principal
0 que parece, porém, fóra de duvida é que, pouco mais
OU menos ao tempo em que o consorcio de D. Sancho e
D. Mecia se realisára, o alio clero de Portugal, de acrordo
com a cúria romana, meditava já o plano — que mais tarde
poz por obra — de derrihar do mooarcha
tlirono o Joveif
e o primeiro acto deste drama nefando, em quea hypo-
crisia de Roma e a do clero do reino, ou pelo menos de

1 Eneontrtmos «penas um snpposto documento, citado por Bri to(Chron.


de Cister L. 6 c S), segundo o qusi a rainha teria feito revogar injusta-
mente o senliorio do couto do mosteiro de Bouro, que (Ara dado por
D. Affonso Henriques e confirmado por D. AfTonso ii accrescentando o
;

author.que a revogação nío tivera eíTeito, porque o abbade a remiu pela


quantia de mil maravedis de ouro. Mas gem considerarmos este iHploma
era si —
o que não poderiaiiios íaier sem o conhecermos na integra; e Brito
náo o transcreveu —
basta dizer que a data, que lhe assígnala o cister-
eense, é de 3 de julho de 1i86 (erade 1294), epocha em que D* Meeia se
aeiíaTa nos dominios de Castells, e D. Sanelio ii repousava havia ooto an«
nos debsiio da lousa do sepulcro I
i Léam-se os factos documentadol; e narrados pelo sr. Herculano
(Hist. de Portug. T. 2 p. 330 e seRg., e nola xtiv no fim do me^mo tomo),
sobre as violências praticadas pelos barões e pelo próprio cloro nesse
periodo do reinado de D. Sancho ii —
anterior á vinda dp I). Mecia e —
prunuQciem depois sobre a jusiiça com que é arguida e^la princesa de
ser a causa principal delias*

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I»B D. MBGIA LOm DC HABO 113

uma parte delle, se maDifestou etn ioda a sua hediondez, te-


ve logar, segundo parece, ao mais tardar pelos fins de 1244.
Alludimos aos qaeixumes dirigidos pelos prelados portu-
giiezes ao papa contra as violências praticadas no reino,
violências cuja responsabilidade faziam recahir unicamente
sobre D. Sancho. O diploma era que esses queixumes fo-

ram exarados não existe ; mas ama


de Innocencio iv >
bulia
íios revela que elles se fizeram, conforme o diz a chroni-

ca Os foctos censurados neste documento, posto que em


parte verdadeiros, tôem o quer que seja de exaggerados, e
é de crer quo alguns dellos fossem íiilsiíicados ou detur-
pados. Dos successos subsequentes, assiijíi como dos docu-
mentos emanados da chancellaria romana» bem se deixa
ver o fim com que o clero se queixára ao papa. É mais que
provável, que já a esse tempo estivesse decidido, que o in^
fonte D. Aflbnso, conde de Bolonha, substituiria D. Sancho
no throno, e que aquelle se houvesse entendido sobre isso

com a santa sé. Existe uma bulia do papa ao conde de Bo-


lonha, datada de 30 de janeiro de 1245 —
isto é, quasi dous»

mezes antes da buUa Inter aUa dirigida a D. Sancho —


rogando-lhe que parta em soccorro da terra santa, a esse
tmnpo em grande apuro. Toma-se notável que o bolonhez
fosse o único que recebesse tal diploma de Innocencio, o
que induz a crer,como bem adverte o nosso eximio histo-
riador 3, que fôra isso mero pretexto para que D. Affonso
podesse vir acompanhado de homens d'arma8 a Lisboa,
que ficava na derrota de Palestina. Outro tres diplomas
vêem confirmar esta suspeita.

1 Bulla Inter alia desiderahilia, de SOde março de 1S45. impresBa 00


T. 1 das Provas da Hist. Geneal. p. 43.
2 Pina, Chron. de I). Sancho ii c. 2.

3 O Herculano, Hisl. de Port. T. 2 p. 387. Na nota 4 da mesma pa-


sr.
gina, affirma o author que foram baldadas lodan as suas diligencias part
HeJiar outro buUu análoga á de 80 do janeiro de 1245, que priuripia Terra
:

Saneia.

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ti MBMOHIAS

Posto que até agora D. Mív/ia n?ío houvesse dado her-


íltíiio á coroa, poderia isso realisar-se de um dia para ou-
tro, o que viria susciUir grandes embaraços ao ( (uulf na

execução dos seus planos ambiciosos ; era pois um perigo


que pedia remédio, e este nio podia consistir senão na
separação dos dous cônjuges. Representou o conde a In-
nor^ncio, que seu irmío era parente de sua mulher dentro
do quarto j/ráii, pondo assim sua alma em risco, e dando
oixasi?So a graniio escândalo. Já vimos ([ue o parentesco
de D. Sancho e D. Mecia existia, de feito, dentro do quarto
gráu de consanguinidade : mas esta círcomstancia era bas-
tante vulgar e tolerada, com tanto que a politica nio viesse
metter-se de permeio. Em consequência das representa-
ções de D. AíTonso, foi expedida a bulia Sfui nobis, diri-

gida em 10 de fevereiro de Iii5 aos prelados de Gompos-


teila e de Astorga, referindo o que representára o eonde,

e mandando-lhes que indagassem a verdade, e sendo caso


que se desse tal parentesco, divorciassem os esposos, sem
c.omtudo recorrením á excom?nii!ihão *. Ignora-se o que se
fez a este respeito, sendo provave! que o negocio não ti-

vesse seguimento por desnecessário, em vista de aconte-


cimentos ulteriores. D abi a poucas semanas— em de
março —
Innocencio dirigiu a Sancho ii a bulia Mer alia,
a que alindimos acima, exprohrando-lhe o miserável estado
do reino, que largamente descreve em quadro medonho,
estribado nas queixas qm recebera dos prelados portugue-
zes, e rematando com ameaças de que, se elle D. Sancho

fosse remisso no cumprímènto dos seus deveres, e em corri*


giro estado das cousas, a sé apostólica tomaria sobre isso
opportunas providencias ^ palavras estas destinadas a dar
:

t «limitnção natura), que patentpa a consclenria quolnnorencio tinha,


e o remorso que sentia de prostituir n força moral dos cânones a uma
intrigii poliiiru.j» di^ o sr Ueroulanu a respeito da ultima clausula íbid. :

p. 3S9. Veja-se a bulia, nola VIII, no fim do volume.


3 SouM, Eí»U Geneal. T. t dag Provas p. 43.

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i

I>E D. MFCIA LUFES DE HARO 95

còr ao que já estava resolvido na curía. Emfim, a bulia Cttiti


zelo fidei, dirígfida ao conde de Boloriha dezenoye dias de-
pois da nníPCPílente, isto í*».
n 8 de alu il, louva-o pela in-
tenção de ir «íuerrear os sarracenos em Hespanha, conce-
dendo-lhe a elle, e aos habitantes de Portugal que com elle
combatessem contra os infiéis, as mesmas indulgências que
aòs que iam ao oriente ^ A própria phraseologia deste do-
cumento mostra que fôra expedido pro forma, a fim de ser-
vir de pretexto ao condo para vir a Portugal, e para lhe
offerecer um motivo plausível de cliamar em torno de si

os portuguezes, sendo caso que não adherissem de motu


próprio á sua causa. A bypocrisia é mais patente, e o ver-
dadeiro pensamento transsudacom mais força deste docu-
mento, que de qualquer dos outros a que nos temos refe-
rido. O papa não só não ignorava o estado decadente do
islamismo na península, e o quanto era extemporâneo pré-
gar a cruzada contra elle ; mas também devia sentir que
os estimules espirituaes eram escusados quando o próprio
mais fortes, e nlio
•interesse (cujos effeitos aio de certo
raro mais conformes ás do universo, que os provenien-
leis

tes de incitamentos piuMmcute moraes) instigava os po-


vos christãos de Hespanha a exterminar o domínio mu-
sulmano.
Emquanto, sobre outro theatro, os enredos do poder, ec-
clesiastico caminhavam, a passo lento mas seguro, a um fim
commum. em Portugal os partidários do bolonhez, malsof-
fridos e pouco affeitos ao rebuço, manifestavam aberta-
mente a sua parcialidade, chegando, até, a virem ás mãos
com os do rei junto do Porto ^.

t VejM-.«e « bijUfl na Mon. Lusit. P. 4L. 14 c. IS. Advírta-sequêBraa-


41o fax cahir oa € doa iiioa de abril do 2 anno de Innoòenr io no anno
de 1241, quando deTf»rii« rer no de 1246, porque eatle papa foi eleito a
24 de Junlio «le 1248. —
V^ja-se também. Rial. de Portug. T. 2p. 389.
i Hisi. de Portog. cil. p. 891.

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96 MBMOBIAS

Os que acabamos de esboçar


factos —
e que se podem
ver maito mais desenvolvidos na obra que nos tem servido
de gaia nesta matéria —
n3o téem conneiâo immediata
eom o nosso assunqito era todavia necessário lembra-los
;

pai a se formar uma idéa geral das intrigas que precede-


ram a chegada du conde de Bolonha a Portugal, e lhe
franquearam a posse do throno : e vistos esses factos na
sua verdadeira luz, explicarão facilmente a origem dascen^
sm^s que pesam sobre a memor|a da rainba. É prová-
vel que a tradição não se aflEiíste muito da verdade ao re-
presentar-nos a maioria do povo accusando D. Mecia como
authora dos desastres que enlutavam o paiz. À vista, po-
rém, do que exposemos nas precedentes paginas, é licito

crer, que alguns prelados e outros descontentes, que por


todos os modos procuravam desvirtuar os actos de San-
cho II, posto que não arreceassem accusal-o abertamente
quando se dirigiram ao pontífice, cuidariam que não era
pela mesma via que haviam de fazer mossa na popularidade
*

que elle gosava no reino. Antes pensariam solapar essa


popularidade mais eílicazmente, tornando a rainba odiosa
ao povo, ora inculcando-a como causa de todos os males
pela ascendência que tinha no animo do marido, que, di-
ziam elles, enfeitiçára por artes cabalísticas : ora insistindo
sobre a indignidade e escândalo de similhante consorcio,
não só pela sua inferior jerarchia, mas tamhem pelo pa-
rentesco que existia entre ambos^ persuadindo deste modo
aô vulgo a necessidade de uma separação. Bem sentíamos
que taes intrigas urdiam, que D. Sancho, veneido pelo amor,
nunca consentiria em repudiar sua mulher, e «ra esta a
conjunctura em que, talvez, punham a mira : porque, ob-
tendo assim indispôr o povo contra o monarcha, cantavam
ter maneira de dirigir as sympathias populares para o lado
que mais convinha aos seus desígnios. Eis o que nosparece se
pôde deprehender dos factos que chegáram até nós, per-.

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DE D. MECIA LOPES DE HARO 97

tencentes áqaella epocha deplorayel da historia nacio-


nal.
Nada achamos posto memoria da vida da rainha du-
rante esse período. Em 24 de julho e I." de agosto de
iá45 publicaram-se as duas bulias Grandi non immeritò,
dirigidas, a primeira aos barões e concelhos de Portugal,
e a segunda aos prelados, decretando a deposição de
D. Sancho n do throno dos seus maiores ^ e nos fins da- :

quelle anuo. ou no principio do seguinte, arhava-se já no


reino o conde de Bolonha. Depois de alguma resistência
contra as armas do irmão, D. Sancho viu-se constrangido
a ir pedir soccorro ao infante D. Aflfonso, herdeiro da co-
r6a de Gastella Foi por esse tempo, ou pouco antes, que
succedeu um facto algum tanto romântico, que diz respeito
a D. Mecia.
. Um nobre chamado Raimundo Viegas de Portocarreiro,
acompanhado, como é de crer, de outros cavalleiros, foi
a Coimbra e conseguindo elle e os seus entrar uma noite
;

no paço disfarçados, foram ao quarto onde o rei estava re-


colhido com sua mulher, e arrancando-ihe esta do próprio
leito conjugal, a Ourem. D. Sancho foi-se logo
levaram-na
em mas não pôde chegar á villa senão de-
seu alcance,
pois de Raimundo Viegas se ter recolhido a ella. O rei
mandou que lhe abrissem as portas por quem era, mas
por única resposta lançaram-lhe dos muros yarios projectis;
de sorte que, achando-se sem duTida com poucas forças,
não pôde insistir na tentativa de recuperar a mulher 3.

1 Ihid. p. 393.
2 lbi«l. p. 397 e segg.. o nota xxix no fira do mesmo tomo.
3 < Bftte Reimô Viegas de porto carreiro suso
di to sendo vasalo dei Rei
dom BiDcho capello e seu natural depurtugal veo huma noiíea coymbra
tò companhas de martím gU de aouerosa, o que vençao a lide do porto,
huu el Rei jazia dormindo em sa cama e filharAlb*e a R.* dona meçia sa
mnitier dapar delle e leuarâna p.* Ourem seu (sem) seu mandado, e sem
ta Tontade. E quádo kio ElRey «ouím, lançou empoa ellea e nõ hoa poda
9^ MEMOlklAS

Como já dissp o nosso moderno historiador i, tudo faz


presumir que este rapto — se é iicilo dar-lhe credito — se
leYára a effeito por ordem do conde de Bolonha. Raimun-
do Viegas, que o exeeutára, era iroAo de D. Jo3o Viegas,
arcebispo de Brag;^, e de Gomes Viegas, ambos partidários
de D. AfFonso, e unhado de Pedro Ourigues da Nóbrega
«

que estivera em Paris com o conde, tendo ligurado como um


dos principaes cabeças da conspiração. O próprio D. Âf-
fonso, ao achar-se^ de posse de uma boa parte dos domí-
nios do írm9o, julgaria este meio mais prompto para sepa-
rar os dous cônjuges, lí?rando-se assim do receio de acbar
mais tarde outro competidor em campo. Sobre isso pouca
duvida pôde liav«T. A questão, porém, é se D. Mecia fôra
connivente no rapti». nu se este se fizera sem que ella ti-

vesse sido consultada. I{a rasôes muito fortes que militam


em fovor da primeira hypothese^ uma vez que se acceite
em tudo a tradição pela forma por que vem contada no
Nobiliário. Mas ê possível que a ralnlia fosse verdadeira-

mente roubada, e que só depois, ao ver-se em poder dos


adh^reiítes do cunliado, julgassp pi eferivel acceitar quaes-
quer propostas vantajosas que porventura o conde Ibe liou-

vera fôíto para lhe induzir a conservar-se separada doma- .

rido. Em todo o caso parece foi*ço80 interpretar o facto


d uma ou d'outra maneira, por isso que as circumstancías
qtie prendem com elle obstam a que se possa acreditar que

se eínpi"egasse a violência em todas as pliasês desse suc-

alcançarsaluo em Ourom qup era entani mui fortp, f tinhao o R;iiiiha dona
meçia susn AWn em aR«s. K chegou pI Rei lii e dise lhes (pip llie abrisem
portas c era el Rei dom Sàcho hu elle leuaua seu preponto vfesttdo
ji

"
de seus synaes e seu escudo, e sèu peadom ante sy. I£ derftlhe mui
graodes seetas e mai grandes pedradas do seu escuilo e no sen pendooi.
e asy se ouue ende a tornar. > NobU. attrib. ao conde D. Pedro, TU. 13
1 4; US. do sec xv,ou prin. do xvi. qup possuímos.
t O ar. Herculano, ua sua Hist. de Portug. T.S p.408e seg., e BoU
ixviii no fim do mesmo tomo.

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DE D. MECIA i^OPES DE HARO 00
çmo, %àmttànóo'm^o ^ houv^s»^ no jjuctp de a ti-

r^rmn do lado do marido, É realmente difficll acradítar


como pod<>sseiii hnyr n rainha por lai fornia, sem que exi§-
lisse coiilino ciitre ella e os que o deviam pôr por obra.

H^^ ^tfppoadi) que iiouvesse inQvdcção da par^e de quem


redigia a narração m
i^pbUíario, /pomo eiplícap a laK» d#
mençíSo de qne ^e oola no (e^tuqanto de D. $90-
aiia miiltiar

^Q, feito em ToMo em janeiro de 1? Não pareee i$so


indicar, não sóínenteque ella deixár.ii de reunir-se ao ma-
rjjijo mas que este, até. se havia desenganado, perdendo
todas as jll^sões a $eu respeito ? Vemo-la também í^ef^ÚQ
(t09ç$o de bei|B em Ourem» vili9 queUiep^teiieéra, eqti^^
com qaanto estivesse entSo ocimpada pejaatfopas
d§D. J^r
fonso, parece que estava ainda debaixo da administrado
de magistrados da sua nomeação: e isto em setembro de
iá46, quando D. Saiiclio se achava desterrado ^. Como dei-
xar de acreditar que D. Mecia se entendia períeitameiUe*
ao menos então, com o conde de Bolonha ?
Quanto aos próprios que a rainha pos$ui.a em Portug^,
cx>nheGiHse, pelo diploma que acabamos de citar (em que
D. Meda ht doa^o a um Paio Peres de eertos bens nos
termos Torres Novas e Ourem, por jg^alardão de sprvi-

1 Vfjn-so o leslamenlo na Mon. Lusil. P. 4Appeii. escril. xxvui.


Hiat. Geoeal. T. 1 das Provas p. 80.
2 Pok» nenbaat fé ineKee a sup posta carta «le privilegio (produiida
por Cooha» Areeb. de Braga T. 2e, %9 § 7). dada por D. Sancho n aoa ha-
bitantea de Celorico por liaverem aosteniiido aqaolle caateUo cootra aeu
irmáo, cuja data é de Toledo, t de setembro de 1246, na qual fignra a rai-
nha D. Mecia, o que provaria que esta se reunira ao esposo. Além doa
argumentos de Barbosa (Catai. dasRain. p. 170 e segg.j rontra a sua ge>
nuinidade, o sr. Herculano (Hist. de Porlug. T. 2, nota xxvrii uo fim, p.

503) dá as melhore;* rasôes paru o condemnar como documento forjado.


a o pretor ou alcaide de Ourem era Ooego ou loigo Ortix, nome bia*
eaínbo, e portanto devia ser da nomeaçfto da rainha, aenhora da dita vil-
Ia. 0 documento não tem data de lugar, mas é assas evidente que foi pas-

sado em Ourem. Vid. nota IX no fim do volume.


100 MEMOHIAS

Ç08, e por elle ha?er perdido por causa delia tudo o que
possuirá em Leiria que as mesmas duas Tillas de Tor-
res Novas e Ourem lhe pertenciam : e isto é, em parte,
conforme â tradição Afora isso nada sabemos das villas

oa propriedades que porventura teria tido em Portugal.


Adiante veremos que, segundo referem, yeíu a possuir,
em LeSo, Santa Eulália e as terras do Infantado.
D. Sancho ii^ que se havia refugiado a Toledo, baixou
á sepultura nos priníefros dias de janeiro de lá48 3, tra-

hido pelo irmão, desamparado pelos vassallos, abandonado


pela mulher. Este ultimo golpe não fora, talvez, o de que
menos se resentisse o infeliz monarcha, nem o que menos
syudasse a lhe encurtar os dias.

1 Talrez na entrega de Leiria feita to conde de Bolonha pela pert-


«liado seu alcaide, a n&o sensasa eatrega uma fircâo.
!2O Nobiliário di7. que Ourem era das arrliaa de D. Mecia ; veja-ae «
passagem Iranscripta na nota a pag. 97 e seg.
3 Segundo o Necrol. de S Jorge, a 3 daquplle mez « iiiNons. {Ja-
:

saarii) obiit lUúslrissiiDus Rez domnus Santius ii, » sem mencionar a


era. Obit. de Santa Crus, no Árch. Naeioo.. fixa a morte do rei a 4 do
meamo mei ;« it Nona.(JaDnarii) obiit Illuatriaaimna Rex portogalie Dom-
BUaSancius secundus. E M." CC.*Lzxx.*fi.*».—Oleatamentode D San-
cho II é datado de Tolfido a 3 do metmo mes e era: vid. Mon. Luait.
P. 4 Append. eacrit. xxf iii.

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ê

III

1248—1270

A IradiçSo diz que D. Mecia fôra levada de Ourem para


Gailiza, e que nunca.mais houveram noticias suas ^ Igno-
ra-se se realmente foi a Galliza, nem ha memoria delia senão
depois de um intervalo de dez annos. Existe um docu-
mento, que, apesar de lho faltar a indicação do logar, mos-
tra que ella vivia nessa ejjocha nos domínios de Castella
por esse documento, datado de 24 de fevereiro de 1257,
D. Mecia e seu cunhado, D. Rodrigo Gonçalves, como tes-
tamenteiros de D. Theresa Aires, faziam entrega dê cer-
tas igrejasao convento de Benavides
Nada mais encontramos a seu respeito até 1270. Come-
çava então a celebre rebellião promovida pelo conde D. Nu-
no Gonçales de Lara, mas cujo chefe ostensivo foi mais
tarde o de D. Affonso o sábio.
infante D. Fiiippe, irmão
Este infante escreveu ao rei, dizendo-lhe que D. Fernando
Rodrigues de Castro queria tirar-lhe a elle infante sua mu-
lher, que era irman do mesmo D. Fernando e esperava

1 Pina, C.linni. dp D. Siiiirlio ll r. 3


2 Mota \ no fiiii do volume.
3 Chamava-se D. Leoiíur Rodriguei de Castro : Flores, Reyn. Cathol.
T.Sp.804.

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102 MBIIORIAS

herdar SaaU Eulália e outros logares da raiuha D. Meoia


de Portugal ; que D. Fernando contava levar a effeito seu
propoeito com o auxilio dos rícos-homens reunidos em
Lerma, e pedia ao rei cjue n3o consentisse nisso i. D'aqui
se vô que o infante D. Filippe ainda não fazia parte, ao
menos ostensivamente, da conjuração, e também que D. Me-
da era ainda viva. No anno seguinte parece que era falle-

dda, e que uma das queixas do infante, já entSo chefe da


rebelliSo, fòra que o rei o tinha desherdado do Infantado
em Leão, que perlencêra a D. Mecia. Porém, segundo o
que se attribue ao rei n uns rnessagens que enviou a D. Fi-

lippe e a D. Fernando Rodrigues de Castro, parece que,


tendo D. Mecia perfilhado o infante D. Fernando, este en-
trára em posse das terras em questão por morte da viuva
de D. Sancho n ^. As passagens citadas da Ghronica antiga

i cB otrosi el infante don phelípe despues que de alU partio por


assegnnr, emUole a d*iir («o rei) por eartas qoe ácm fernando rayx
de castro le queria quitar su muger que era nn bermanà de aqael
femau ruyz. y heredera de aancta olalla A de l0!< oiros lugnres qtie
esperaoa heredar d'la reyna dooa meneia de porlogat, que disian de
paredes, esto que lo hazia con esfuerço de aqtiollps ricos omes que aUi
se juntaron, y el por esio quf^ ouo d»' venir, y que le pedia que le pe-
sasse desto, y que lo non coiisinli»'ssp .» (]ron. dei Rey D. Alonso el sá-
bio, c. 19 f. li. No principio do capitulo é que se declara o anuo de
tS70.
a Na eitada Clirooica, sob o anno de Í87t fe. SS foi. 18), se lé o seguinte,
que é parte do messsgem que o rei mandou a seu innio : « ... y el rey .

haxiendo vos esto, y non tirando voá dello ningana cosa, y vos seyendo
su bermano y sn vassallo, y promettiendole siempre que le hariades
el rey desaforaua Ia tierra, y que vos
seruíço, embiastps le a dezir ijue
desheredaua, sefialadamente dei infanladgo de la tierra de leon, y el
rey non vos desheredo desto, ca vossabedes que la reyna dofta menda
proliijo al infante don fernando : y al tiempo de su finamiento d^aquella
dolla meneia, diego d*corral entro toda su heredad sin mandado d*l rey.
T por mandado dei infante don fernando por el probijamiento que le
hiaiera; y se vos alguna qucrella auiades desto, itunca selo mostras-
tes. * —
A D. Fernando Rodrigues de Castro mandou dizer (c. 29 foi.
20) « Y a loque de/ides dei heredamienlo dei infantadgo, vos sabedes
:

que la reyna dofia meneia, cuyo era, ouo por hijo a) infante don fernan-

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DE D. lOBCU U»U DB NABO 103

de D. AffoDSO o sábio dão, portanto» a enteoder que D. Ma-


cia havia ter fallecido em Paiencía no anno de 1270 ou
IS71 ; e que possuíra varias terras naqoelle distrícto. Foi
sepultada nio muito longe da hesrna cidade, em Najera, no
mosteiro benedictino de Santa Marja, n uma capella deno-
minada da Cruz. que ella, segundo dizem, mandára construir
no O tumulo é sustentado
claustro, e ahi jaz actualmente.
por ^luatro ie&es de pedra com os escudos das armas de
Portugal nos peitos. Sobre o mesmo tumulo está o vulto
da rainha em trajo de Biscaya, segundo dizem. Instituiu
na sua capella seis capellães, com missa diária por sua al-

ma. Eram conhecidos no mosteirf» pelo nome de « Capel-


lães da rainha de Portugal >. Junto do sepulcro de D. Me-
cia» estão os de seus dous irmãos, D. Lopo Dias de Haro,
bispo de Siguença, e D. Diogo Lopes de Salzedo, que era
bastardo e estivera com a rainha em Portugal, como já
dissémos ^
Não ha noticia de que D. Mecia tivesse filhos de seu pri-
meiro marido, Alvaro Peres de Castro, e já vimos que ne-
nhum teve de D. Sancho ii ; é certo, porém, que este rei
teve um
filho, cm'o nome se ignora, sendo provável que o

tivessede alguma concubina antes do seu casamento


Eis o que encontramos a respeito da rainha D. Mecia
Lopes de Haro. Se por um lado a sua mciiioi ia ha sido jul-
gada com demasiada severidade em relação á parte que

do, j quando elia iioo eniregoio a diego corral ea palenria por mandado
dei infante, el rey no lo sabiendo.
1 Cunha, Árceb. de Braga T. 39 §8.^0. Paacual Madoz fai
também a deseripçio do tumulo de D. Mecia, veja^ae Diocion. Geogr.
de Espana T. It verbo Najera (Madrid 1850).
2 Ribeiro, nas Reflex. Histor. P. p. 12i e P. 2 p.
I 181 novos addita
mentos ás Dissprl. Chronol.), faz niençáo deslp filho, « uja existência lhe
constára das inquirições de D. Affonso iii, de 12J>8, onde, a foi. 23 verso
do Lir. 5, achára que certos casaes na freguezia de Santa Maria de ViUar
de Porcos, eoneeihe da Haia, foram de um filho « Rtgi* D, S. fralrii m-
itut Jlaf iff»
104 mifOBlAS DB D. lUEGIA LOPBS DE HABO

teve nas desgraças du reinado de D. Sancho ii, por outro


6 certo, que o ter abandonado seu marido na adversidade
foi um acto de iogratidão que Dada pôde justificar, moi^
trando que a heroina de Martos sabia melhor defender wm
do que retribuir o amor %%•
Castello sitiado pelo inimigo»
tremoso que lhe consagrára um príncipe infeliz, ou ao me*
DOS cercear-lhe os amargores do exílio e as saudades do
throno perdido.

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*

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D. BEATRIZ DE GUSMAN
Mulher de D Aííanso Hl

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D. BEATRIZ DE GU&HÂN
SEGUNDA MULHER DE D. AFFONSO Hl

IÍ53— 1258

Quando o infante D. Affoiíso sahiu de Portugal para a


côrte de Luiz ix, rei de França, achava-se todo o poder do
estado nas mios da rainha-viuTa, Branca de Gastella,
mafenia do principe portuguez. Tanto o motivo como a
data exacta da sua partida sSo desconhecidos; é, porém,
de presumir que passasse a França por convite de sua tia,

.
que, segundo a opinião geral, ajustou o casamento do
sobrinho comMathilde, condessa de Bolonha — a mais rica
princesa do sen tempo» segando é fama — TíoTa, desde
1234, de Filippo Hurepel, de Fiiippe-Ângasto rei de
filho

França ^ Este casamento yein a realisar-se em 1238


Matiiilde era filha de Renaud, conde de Dammartin, e de sua
mulher, Ida, condessa de Bolonha, neta pelo lado materno
do rei Estevão de Inglaterra. A condessa devia ser muito
mais velha do qUe D. Affonso, poisque Filippe-Augosto

1 L'Art de Vérif. Ics Dates ^T. 2 p. 662 e 766, 3.'' ediç.) refere que,
segundo uns, Filippe faliecêra envenenado, e que segundo outros fôra
morto om ura lornôo por um cavalleiro que queria vingar Florêncio,
conde de Hollanda, que tinha sido morto por Filippe, por sçr objecto de
«Bia paixfto da pane da condessa Maihilde.
9 Hist. de PortQg. do sr. Hereolano, T. S p; 199 e 381, 1.* ediç.— Vi*-
eonde de Sanlarem, Qoad. Blem. T. 8 p. 11.

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106 miioiius

a casara com seu ilibo pouco depois da batalha de Bovioes


(lii4). Da qual ficára prisioneiro o pae delia» Renaud, que
nunca maia alcançou a liberdade U nesta epocha seria

o infante portuguez apenas nascido.


Este viveu com sua esposa até que foi chamado, iio

fim de lái5 ou principio de 1246, para tomar posse do


governo de Portugal, d onde a ira e soberba do clero expei-
liram seu irmSo mais yeiho, o D. Sancho ii, como infeliz
Vimos na precedente memoria. No decurso dos dezoito ou
vinte anpos de seu primeiro consorcio, Mathilde tivera um
filho, Alberic, conde de Dainmariin, e uma filha, Joanna de

Bolonha Da sua união com "o infante, dizem que nas-


côra um filho 3, ou dous, segundo outros e ha quem
diga uma filha também ^, Na
de autboridades seguras,
falta

parece hoje impoaaivel decidir este ponto conclusivamente.


Tudo, porôm, a nosso ver, milita contra similhante ftcto
e como vários escriptores já tractaram o assumpto, poucas
palavras expenderemos ^. Supponhamos por um momento
que AíToDso, ao não tivera em
partir para Portugal*
vista separar^-se de Mathilde» mas que pretendia assegu-
rar-se do tbrono antes de a diamar junto de si. Depois de
eífeitnados os seus desígnios, o que obstava a esse chama-
mento? Não podia ter idéas fixas a respeito de sua futura
1 Hist. de France do sr. Henri Martin, T. 4 p. 87, ediç. — DosTle
Nunes (T. 1 p. 270), e UArt de Vérif. lee DhU*, l. cll.. seguindo a Jacob
Mayer, dizem que MaUiilde casára cora Filippe em 1316; os monjes mau*
rienses citam, porém, uma chrooica que põe o casamento em 1214.
i L Art de Vérif. les Dates, 1. cit.
8 Pina, Chroa. de D. Affoneo tii c. S.— Aeenh., Chrot. dMMe, e. IS.
4 Vejam-se aa eitaçdea na Mon. Lusit. P. 4 L. 15 e. S3. Barboaa, —
Catai, daa iain., nota P.
8 Généal. 4m Comtaa da DMaMrtio, eitada «m VArt de Tértf. lea
Dates, 1. cit.

6 Duarte Nunes, Ohron. T. 1 pp. 237—272, ediç. de 1774. Barbosa 1/ —


cit.— Sousa, Hist. Geneal. T. 1 pp. 165—170, são todos contra a tradição.
— Braudáo, na Mon. Lusit. 1. cit., pretende mostrar que esia não e tni-
provafil.

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DE D. BEATRIZ DE GUSMAN 107

alliaDça matrimoDial com Gaslella, porque as occon ouGias


que déram logar a isso saccederam algaas annos mais tarde»
sendo essa alliança nSo tanto escolha sua^ oorao neceasi**
dade para se tirar de difflcoldades que entflo o cercavam.
A resposta, portanto, não seria fácil se admittissemos que
o infante tivesse filhos de Mathilde. O mais de crer é que,
antes mesmo de sahir de França, resolvera desapressar-se
de uma* esposa estéril, e que por soa idade não promettia
Já dar4he saccesslo, a qual devia anhelar mais do que
fiunca, agora que, nd idade mats brilhante do homem» con-
tava ossenhorear-se do throno que tanto cubiçava.
Depois que nelle se viu seguramente estabelecido, 1). Af-
fonso, á frente dos seus homens d'armas,.dirigiu-se contra
o Algarve, onde conquistou aos mouros varias praças, e
passando o Guadiana tomou posse de Arftche e Aracena.
Segniu-se uma ruptura entre elle e o herdeiro deCastella,
a qual foi pacificada em breve, para renovar-se d'ahi a pouco,
quando este empunhou o sceptro debaixo do nome de D. Af-
fonso X, por antonomásia o sábio Dos promenores
desta lucta nenhumas memorias reatam; durou» porém, até
o anno seguinte, em que se concluiu a paz por mediaçio
do papa, quando já a fbrtuna, ao que parece, nio se mos-
trava muito favorável ao portuguez. O convénio n3o existe :

sabemos comtudo, de outras fontes, a substancia das suas


condições. O rei de Portugal devia casar com Beatriz, vul-
garmente chamada D. Bdtes^ filha natural de D. Afibnso t
e de D. Maior ou Maria Guillen de Gusman, sua amante.
O rei de Gastella ficava com o usofructo do Algarve e dos ^

territórios ao oriente do Guadiana, até que o primogénito


de D. AíTonso iii e de D. Beatriz chegasse aos sete annos,
epocha em que seriam rcstítuidos á corôa portuguesa o
' Algarve e os ditos territórios K Poderá cauaar surpresa
I HiSL de Poriug. du sr. Herculano, I. 3 pp. 1 ~- â5, e uola iv no tin
do mesmo lomo.
108 MEMOftlAS

que o rei de Portugal consentisse em receber. por mulher


" uma fílha iJiegitima do seu adversário. É de crer que Ui
não houyesse acontecido se esta tivesse filhas legitimas t

mas Dão as tendo, era D. Beatriz a única pessoa da sua fa-


mília por meio de quem se podia eíTeituar a alliança — a que
o portuguez se via obrigado para obterá paz (pie muito pre-
cisava —
visto que de duas irmans de D. Atfonso x, uma,

D. Berengária» era religiosa, e a outra, D. Leonor, fôra


promettida ao principe Duarte de Inglaterra, com quem
casou em outubro de 1254. D. Affonto in foi a Chaves re-
ceber sua noiva, ainda criança, no meíadode maio de 1253 >.

Posto que se ignorem as particularidades do procedi-


mento de Mathilde ao coustar-llie a deslealdade do esposo,
sabe<se cointudo que não se resignou submissa á sorte que
lhe estava preparada. Becorrendo á santa sé, impetrou de
Alexandre iv uma bulk, expedida em maio de 1255 ao ar-
cebispo de Gompostellá, para que o rei de Portugal fosse
intimado a comparecer na ciiria romana dentro de quatro
mezes, afim de ahi ser jul<,Mda a causa. Como o rei não
obedecesse, foi contra elle fulminado o interdicto. Ignora-
se a data precisa em que isto teve logar, bem como o
que occorreu no tempo que medeou entre a citação, e a
prodamaçSo do interdicto K AtradiçSo refere, que Mathilde
se abalançára a vir a Portugal ^, mas nSo ha monumento
que a confirme é certo, comtudo, que o interdicto fôra
:

o resultado das suas rogativas e que esteve em vigor até'

1 o primeiro flroeto do eonsoreio de D. Affonao t eatio e de nu-


llierD. Violante de ÁragSo, foi a infanta D. Bèrengaria. que naaeen no
fim deate meamo anno de 1353. Flores, Keyn. CàtlioL T. Sp. 506.
2 Híst. de Portug. cit. p. 86, e nota it no fim do meamo tomo.
3 Ibid. p. 72
4 Veja-se Ao.enh. e Ruy de Pina, 1. rit. — e as observações de Bran-
dão, Mon. Lusit. P. 4 L. 15rc. 22, que pugna pela tradição.
5 « .... eccleaiasUco inlerdicto procuranle (ut dicitur) ComitisM
prmfata : » Carta doa prelad. portng. a UrIwno iv, na Mon. Lnait. P. 4
L. 15 c. 18.

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Dfi D. BGATBIZ DK 0USIIAN i09

1262 ou pouco depois. Foi levantado por Urbano iv a instan-

cias dos prelados do reino, haTeodo pre?iamente deiíado de


existir a condessa de Bolonha e o papa Alexandre i?: aqnella
em í^tSS ^ e este em 1261. Na carta dos prelados, diri-
gida a Urbano em maio
de 1262. pediram também ao pon-
tífice, que dispensasse os impedimerilos que militavam
contra o consorcio de D. Aílonso e D. Beatriz, aíim de po-
derem continuar a Tiver juntos» e que legitimasse os dous
filhos que já existiam e os que ponrentura nascessem
antes de se obter a dispensa impetrada. Da effeetiva an-
nuencia do papa só temos coníiecimento por via indirecta,-
por isso que não se encontra o diploma que sem duvida fôra
para esse iim expedido peia chanceilaria romana K
1 L*Art de Vérif. les D. 1. cil., abonando-se rom duas autlioridades.
— Hist. de Portug. 1. rit. —O visconde de Santarém, Quadr. Eleni. T. 8
p. 13, cilando a Hist. de S. Luiz por La Chaise, põe a morte da condessa
no priocipio de 12ô9. Em todo o caso, o ter D. Âffonso iii deixado o titulo
dê conde de Bolonha desde 28 de março do anao de 1350 (Dissert. Ghro-
nol. T. 1 137), parece indicar que a condená fallecéra. oa nos fins de
1258. ou no principio do sono seguinte.
2 Hist. de Portug. cit. p. 73 e seg. A inquirição poronde se conhece a
resolttç&o do papa, vem citada no T. 2 p. 39& da mesoia Hist.

Digitizeu by LiOOgle
II

Emquanto se veiUilava uma questão lã(» importante, e


que lhe tocava de t^o perto, a tenra idade de D. Pe^triz
obsilaTa a que nella tívesBe acçlo^ alwolvefido-9 toda 9
responsabilidade n*uin aeto condemnado. afisím pela moral,
como pelas leis da sociedadf^. (]om eíTeito. a rainha era
ainda muito nova. ígnora-se a verdadeira data do seu nas-
cimento, constando apenas da carta dos prelados a Ur*
bano que era criança quando casou ^ Todavia, por uma
IV ,

carta de seupae, datada de Guadalaxara a 31 de dezembro


de 4244, ve-se que D. Beatriz era então já nascida e nUo é :

fora de propósito suppôr que nascera haveria ponco, e que o


gosto que isso causára ao infante o levasse a passara dita
carta, pela qual fazia doação a sua fdha — e aos outros fi-

lhos que de futuro tivesse de D. Maria Guillen — da villa

de Elche, estipulando que a usofruisse a mSe em quanto


vivesse 2. A ter nascido, pois, em 1244, D. Beatriz teria
apenas outo ou ;iove annos quando veiu a Portugal. O pae

\ Alfonsus .... iiobilem dominam Bealricem .... adhuc infra anoos


nubiles eonsUtatan .... doxit nxorem.
S N0U.XI DO fiai do volume.
«

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t

DE D. BEATRIZ DB GUSMAN Hl
Unlia Tinte e tres aoDOs a esse tempo, e aioda d3o era
que só em novembro de 4246 se realisou ^, Sa-
casado, o
bemos que 0. Maria Guillen ainda vivia em 1262, porque
nesse anno, a 4 de outubro, fez seu testamento, estando re-
colhida no mosteiro de Santa Maria la Real de Alcocer que
eila fundara K £ peio facto de deixar todos os seus bens
a 0. Beatriz, se eonbeceque fôra esta o único fructo dos
seus amores com
sendo provável que o casa^»
Afifonso
mento deste pozesse termo áquelles com quanto elle con- ;

tinuasse, ao que parece, a lembrar-se delia por muito tem-


po 3.

A joven rainha passou os primeiros ânuos do seu con-


sorcio nos paços do marido mais como filha do que como
esposa. Foi por elle educada com esmero e desvelo, de-
vendo a esta circumstancia a muita confiança que o rei pa^-
rece ter depositado depois em sua mullier, cuja indolede*
via conhecer a fundo, segundo contribuíra para a formar *.

Nlo é de crer que o matrimonio se consummasse antes de


1258» tendo a rainha então uns quatorze annos, alteo-

Flores, Reyn. .Cathol. T. 9 p. SSO.


1
3 Hondejtr, Nem. HiBt. dt I>. Alonso el Sabio » p. SOO.
a Km outubro UelSSB D. Affoeso % 4eu por ctria regia, jfmtameiifr
coffiffua mutiier araMkiD. Violante, varioabeosno districto de Cuenca
a sua antiga concubina, l) Maria Guillen, os quap"; licpois da morte desta
deviam passar a D. Beatriz e aoe filhos que esta viesse a ter (Liv. de
Extras f. 192 verso, no Arch. Nacion ). Por aqui se ronliece também, que
além de Beatriz, D. Maria uâo tivera outros úilios do infante, como er-
radanoflie aoppoz Lafanha, citado por Flores, Reya. CaHiol. T. 1
p. «ai.
k 0i« O. Aifoiro em aeu (ealam^oUi : « Et ««go Bofinam Beatríeeó
ttXoreiD meam pro criança, quam f«ci eí.etquia confido de ea p1u$ quam
de onínibus rebus niundi, et pro debito quod habet niecum. > Mon. Lusit.
J'. 4 eacnt. XXXVI do Appeud., ou na Uist. Geneal. T. 1 das Provas p. 66.
N&o obstante issu, ou talvez por isso mesmo, D Adonso não fez cods-
cieneia deconviver pul>UcameQte<'Qwi>idoa<Qa Adra^, »q l<tmpo em que a
raiaba já Uie haiia dado Alba». Teja-aa dOMm. ait. aafiipt. de Por-
tog. do «r. flerculaao, T. 3 p. 117 nota 2» 1.* ediç.

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MBMOmAS
dendo a que o seu primeiro fructo foi a infaDta D. Branca,
que nasceu em Guimarães a 28 de fevereiro de 1259.
Dons ou tresannos depois dessa epoclia, ateou-se de novo
a guerra entre Portugal e Castália, cujos promenores s5o
desconhecidos. Escaços vestígios nos revelam, comtudo,
que no meiado de láOo a paz se firmára entre Affonso iii
e o sogro. Este cedeu ao infante D. Dinis que D. Bea- —
triz déra á luz em 1261 —
o senhorio do Algarve, salvo
certas regalias que reservava para si em quanto vivesse
com a condição, porém, de que o infante, ou antes seu pae
em nome delle, se obrigaria a ajudal-o em tempo de guerra
com cincoeiUa laiu-as. Em setembro do anno seguinte, o
castelhano fez cessão dessas mesmas regalias, ficando as-
sim a coròa de Portugal òom o domínio pleno daquella pro-
víncia, subsistindo apenas a obrigado das cincoenta lan-
ças. Finalmente, deste symbolo de preeminência desistiu
também o rei de Castelia em 1267, na occasião em que
seu neto D. Dinis, sendo de seis ânuos, foi á sua côrte.
D. Affonso III pela sua parte cedeu ao sogro os castellos de
Arôche e Aracena, alem do Guadiana K
É 4radiç3o que a rainha D. Beatriz fòra a Gastella en-
eontrar-se com o pae sobre o negocio do Algarve, antes da
ida do infonte ' ; mas attribuiram-no a uma conjunctura
envolvida em successos que já foram devidamente avalia-
dos pela critica apurada de escriptores modernos. Rejei-
tando-se,porém, o que é estranho a essa tradição, não ha
repugnância em acceitar pura e simplesmente o facto da
jornada de D. Beatriz, e suppòr nesse caso que ella acom*
panhasáe o filho. O astuto rei de Portugal conhecia de-

1 Hist. lie Portug. eil. T. 3 pp. 69 — 67. 74, 77 e segg.. e a nota ix no


ftm do roe«mo tomo.
S Pina, Chron. de D. Áffonso ui e. 10. - Aeeiíh., Ghron. p. 79, noa
iRAd. da Hiat. T. S. — Oaarle Nonea, Uhran. T. 1 p. IM a aag., adiç. da
1774.

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U£ D. BEATRIZ DK GUSMAN . 113

masiado o geoio varíô e pouco firme do sogro, e se antevia


que as gentilezas infantis do neto não deixariam de abran-
dar o animo do pri[iripe cnstelhano, julgaria lamliem que
os carinhos da filíia, a (jiiem este sempre se mostrou por
extremo affeiçoado, concorreriam não menos a inclinai-o á
liberalidade^ Não
insistimos, porém, sobre este ponto, sen-
do, como mera conjectura reflectimos apenas que as
é, ;

tradiçQes nem sempre são para se rejeitar tu /intíne quando


é possível concilfal-as com factos averiguados.
NíJo ha vestígios de que D. Beatriz tivesse quinhão al-

gum nos negócios do reinado de seu marido, excepto nos


que acabamos de referir, relativos á paz com Castelia. De-
pois de um reinado de trinta e um annos, muito vanta-
joso para o progresso dopaíz, mas quasi sempre agitado —
ora com as guerras lontra os sarracenos e castelhanos, ora
com as desintelligoncias e luctas com o clero — falleceu
Affonso III a 16 de fevereiro de 1279 ^ vergando ao peso
das censuras de Roma, de que só foi absolvido nas agonias
da morte, aprove itando-se os agentes da cúria do terror
de um moribundo para o compellir, ao dar o ultimo ar-
ranco, a renegar os actos da sua vida, os quaes, por mais
que fossem incitados pela própria ambição, nem por isso
eram menos proveitosos ao pniz.
D. AíTonso tinha feito seu testamento a %^ de novembro de
4^271^ e neile nomeava a rainha principal testamenteira,
juntamente com outras pessoas de confiança, empregando
a seu respeito palavras que denotam o grande conceito que
lhe merecia K Sdbre o modo pôr que D. Beatriz cumpriu a

I Docum. cit pelo sr. Herenlano. Hísl. de Portiig. T. 3p. 150. 0 —


Necrol. de S.Jorge é conforme. — 0 Obituar. de Santa ('rur., no Arch. Na-
cion., concorda também no mez e no anno, mas não do dia : diS| xii Ka-
end. marUi (18 de ffevereiro).

S Vide ante, pag. Ill, nota 4. A. raialua anceita o encargo deste modo:
«BtegoBettria Dei gratla Regina praoena foi omoibos tnpradi-
eUt, oicooieiísaiii prttbai» etprttbêo nea spontanea voluntate, et joravi

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I

114 XEMOMIAS

QUima Tootade do esposo nSo exislon nolícías. Apenas re-


ferem, qne, apesar de D. Aflboso haver determinado em
seu testamento qne o sepultassem em Alcobaça, foram os
sens restos morlnes deposilados em S. Domingos de Lislioa,
onde permaneceram dez annos, sendo por íim trasladados
para Alcoliaça em 1289, e iodo a sua viuva do préstito fu«
nebre
Gomo já tivemos occasião de apontar na IntrodaccSo,
ignoram-se as particularidades que ámm
respeito às ar«
rhas, que talvez D. Affonso iii désse a sua esposa. NSo
acontece o mesmo quanto a algumas doames porelle feitas.

Consta que lhe fizera mercê das villas de Torres Vedras,


Alemíjuer e Torres Novas, posto que só exista a carta de
doa^o da s^iínda. £ de crer que o rei déssp Torres Ve-
dras a D. Beatriz por occasião do seu casamento ; porque

vé-se de uma de 1289 e passada a favor


quítaçSo, datada
da viuva de Nuno Sueiro, almoxarife que foi daqueUa villa,
que ella a possuíra desde 1253 For carta passada
em Elvas a 25 de fevereiro de 1267, l). AíTonso deu a sua
mulher Alemquer com todas as suas rendas e direitos,
menos a aicaidaria respectiva, da quai fazia reserva ; come-
çando a percepção das mesmas rendas do i.** de abril em
diante Em 28 de junho de 1277, diz o rei n'um diploma,
que tendo visto as cartas de doação pelas quaes dera a

D. Beatriz Torres Vedias, Alemquer e Torres Novas, a

super woeU Dei BuBngelia, quod eomplebo, ei faciiim complerí beoe


etfideliler pro posse meconiDia el sioguls supradieta, ethaie eedulv si-
glUmB neuiD peodens apponi fecU ia eonfirinatioDeiii et teatimeniiuB
praemÍBSorum ». Hisl. Geneal. T. 1 das Prov. p. 57.
1 Pina, Chroíi «le D. Affonso iii c, 16.— Aoenh., Chroo.dosReisc. t3ad
fio., diz 1327, iiiiis deve-se tuinar por era, correspoodeado assim ao anao

de Christode 1289, que é u apontado por Pina.


S Nota XII no fím do volume.
8 Gav. 13 maç. 9 o." 19 no Áreh. Nacioo., registrado ao Liv. de Reis
r. Itt veia.— Braodfto, na Mon. i«aait. P. 5 L. 17 e. M. den a cato doeoi-
lento, por engano, a datado iStt, que não eorresponde á era de IW.

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D£ D. BEATRIZ DE GUSMAN 115

pedido da rainha lhe dava a^ora o padroado das igrejas


vil las, devendo vigorar esta nova doaç?ío em quanto
das ditas
fossedo agrado dello rei K Esta graça foi ampliada pouco
tempo depois, cedendo D. Affonso á rainha, em 22 de ja- '

neiro de 4270 —
poacas semanas antes de morrer, —
mesmo padroado em quanto ella vWesse, e dando*lhe màís
a alcaidaria das mesmas vi lias

Consta que D. AíToikso iii mandara ásaiithoridades de Alem-


quer que pagassem annualmente á rainha, das rendas da
dita villa^ a quantia de 1799 lilnras 13 soldos e 4 dinhei*-
ros 3. Nilo se aponta a data em que se expediu a ordem»
tal?e2 fosse antes da doação de 1267. Os magistrados, com
a isenção daquelles tempos, responderam que se viam im-
possihditados de pagar todos os annos a somma exigida,
pelas muitas despezas que faziam com as leziras durante as
inundações do rio, com o sustento de cavallos e homens,
e com muitas outras cousas qiie por entSo não podiam re-
ferir*.
Em Alemquer a nomeação de porteiro ^ pertencia ao
concelho e nâo á rainha, isto é, era feita pelos alvasis ^ e
"
nào pelo alcaide ; até que, sendo Abril Rodrigues alcaide,
este usurpou o privilegio, instituindo um porteiro de quem
recebeu uma dadí?a ; outro alcaide, Pero Fernandes, fez o

t ChaneeU. de D Affonso iii, L. 1 f. 141, no Arcb. Naeion.


t Ibid f. 161.
3 Inquir. de D« Dinis, L* 10 f. S2 c seg. no 4rch. Nacion. Sobre O valor
em reis dessa somma vcja-se anota XXXIll-B no fim do vol.
4 que modo srribere non possumiis. Vide inquir. cit,
et in multis
5 cujas funcçôes eram citar os cavalleiros-villfios
Oííicial judiciai
para virem a juizo. fazer arrestos ou penliores ele. Veja-se a Uisl. de
Fortug. do sr. Hernolano, T* 4 p. 247. quanto ás parlieularidades deale
cargo.
eNagislradoa jnrUdieeionaea do coneelho : Ibid. p. 1 22.
7Exernia uma delegaçio do rei, e neste caso da rainha. Accainutaya
B8 attribuiçôea militarea com intervençAo noa actM jndiciaea : Ibid.
p. 135.

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116 MEMORIAS

mesmo, recebendo 6 libras do individuo que nomeára para


aquelle cargo. A discórdia» em consequência destas ir-
regularidades» chegou a ponto que foi necessário mandar
fluer uma inquiríçlo sobre o caso, reconhecendo-se por
derradeiro que o direito estava da parte do concelho. Os
depoimentos feitos pelas testemunhas acham-se incluídos
por extenso n uma carta dirigida pelos taheiliães de
Alem-
quer à rainha D. Beatriz. Não tem data, mas como esta
rainha não teve a alcaidaria da vilia senão em janeiro de
segue-se que a inquirição se fez depois desta data
e do que dizem algumas das testemunhas conheee-se que
eram já passados alguns aanos desde a morte de D. Af-
fonso III ^
D. Beatriz, por cessão da ordem de Santiago, usofruia
as rendas de Arruda a epocha em que essa cessão foi
;

feita é, porém» desconhecida K


Consta que em Villa do Conde gosava certos direitos
e rendimentos ^ e lambem que já possuía, ou veiu mais
;

tarde a possiiir, algumas propriedades em Lisboa, talvez ad-


quiridas por compra ^. Parece que competia a D. Beatriz
a nomeação do albergueiro de Ganavezes» não sabemos di-
zer por que via \

1 2, no Ãreh. Nadon. (registrado do Liv. 11 de Es-


Gav. 13 maç. 3 n.*
trêm. f. 270). A
do doeameoto é áon fins do sec. xiii além de qae
letra :

não pôde haver equivoracáo com a outra rainlia l). Beatrís, nualher do
D. Afifonso IV, porque esta nunca possuiu Alemquer.
2 Nota XVllI no fira do volume.
3 Liv. Grande da Cam. do Porto f. 144 verso, citado por J. P. Ribeiro,
Mem. das Inquir. p. !9t.
4 Eram umas casas de qae fex doaçfto a Affooso Dinis, filho bastardo
de O. Alfonso III, segando €onsta de nm diploma de D. Dinis, datado de
15 de setembro de 1300, em que este, comludo, náo deelara a dala da
doaç&o de sua mãe Chancell. de D. Dinis L. 3 f. 10 verso.
:

5 Nota I AO fim do volume, carta de U. Dinis.


III

'
1279 — 1300

Quando D. AíTonso iii expirou, contava seu herdeiro,


D. Dinis, quasi dezoito aunos, idade que não exigia uma re-
gência, mórmentese attendermos á probabiiidadeqne éxiste
de haver sido o joven príncipe incumbido de parte» se nSo
de toda a administração nos últimos mezes da yida de seu
pae Parece comludo certo, a ser genuíno um documento
que se cita, que D. Beatriz presidira por um breve espaço
de tempo a um coitselho de regência, composto de alguns
privados do failecido monarcha K Mas o governa da rai-
nha, se é que houve tal, durou poucas seoianas ; porque a
3 de abril de 4279 já n^o existia 3. A entrada da rainha-mSe
no poder seria devida aos desejos do marido ? ao convite do
íillio ? ou antes tel-a-hia a própria ambição levado a tentar

1 Hisi. de Portug. do tr. Herculano, T. 8 p 147 e eeg.


S c Rege vandaete per Dominam Reginam, et per Doninum Epiaeo-
pum EUwrensem. et per D. loannem de Auoiro, et per fratrem Alpbonsom
i^arinam, et per Rodericura Gomesii tenentem vicem Reginee in corrigi-
mentis »: Docum. do cartório de Bouro, dat. de 18 de março de 1279, e ci-
'
lado na Mon. Lusit. P. 5 L. 16 c. 26.

3 Nesse dia fez D. Dinis um contracto com os judeos de Bragança, o


qual ae lavron unicamente em sen nome. Teja -ae o docnm. em Ribeiro,
Díaaert. Chronol. T. 8 P. i p. 84.
118 milOMAS
similhante passo ? A primeira hypolhese tem pouca pro-
iMibílidade, porque D. Dinis era maior, e D. Affooso iii

nada diz a tal rebito em sea lestamenlo, exarado emld7i


quando D. Dinis conta?a apenas dez annos. Se déssemos ^
credito a alguns aotbores, a regência nliofôra.do agrado do
novo rei, que queria governar só, e desembaraçado da in-
fluencia de coiiselíieiros cujas sympatliias eram, segundo
affirmam, mais por Castella do que por Portugal. Dizem mes-
mo, que quando D. Dinis de^edira do governo a m3e e
seus adyuntos, o rei de Castells, com o fim de induzir o
neto a reconsiderar o caso, propôz para que se avistassem
em Badajoz, ao que o rei de Portugal se esquivára, presup-
pondo o motivo. Tudo isso é assaz improvável, aflirmando-
se, de mais a mais, que (juando D. Beatriz sahiu do go-

verno, se Mcoihéra á côrte de Affonso % por causa de des-


intelligencias com o filbo ; anticipando-se assim um suc-
cesso que só veiu a ter logar d*abí a mais de tres annos,
e por differente motivo ^

Admittiriíln-se, porém, a curta regência do D. Beatriz de


Gusman, julgámos ocioso commentar o facto, attendendo
a que todas as circumstancias que Ibe são relativas, estão
sepultadas nas trevas que nos encobrem' aquelle periodo.
Apenas diremos, com um escriptor nosso % que não nos
parece ter existido por esse tempo desaccordo entre a mãe
e o filho : se o liouve não foi sincero, nem dc muita dura-
do. £ o que se pôde inferir da circumstancia de ter a rai-

idia acompanhado o filho parte do caminho na primeira


jornada que este fez pelo reino. De feito, eziste um doeu-
nento da chanc^ria da rainha datado de Palmetta a 27
de março dc 1279 3; e foi poucos dias depois, a 3 de abril,

1 Duarle Nunes, Chron. T. 2 p. 1 e seg. — Mariana, cit. por Brandão,


Moa. Liitlt. 1. eit.
S Brsnd&o, Horn. Lutit P. 8 L. 16 c. 97 ad fio.

3 Nota XIT no fim do volume.


Dl D. BBITHU MB GUSMAN 110

que D. Dinis fez o contracto com os judeos — que citámos


n'uma nota acima —
estaDdo em Marateca, a tres legoas
de Palmella. O rei conlinooii a soa jornada» dírigindo-fle
a Évora; Estremoz e Elvas: voltaiKk) em agosto para o
norte do reino, acliamol-o em Lamego no mez de sefem*
bro, no seguinte em Coimbra, em Leiria a 4 de novembro,
e a 17 era Torres Novas ^ Consta por outro lado, que a
rainha se achava em Leiria a 10 de novembro, tendo ahi
apresentado no mesmo dia Gil Annes, seu chanceller» na
igreja de Santa Mana de Torres Vedras K Destes factos se
pôde eolligir que ella acompanhâra o rei na sua digressSo
até recolher ás próprias terras, encontrando-se depois com
elle em Leiria, d'ondc teriam ido juntos a Torres Novas,
que pertencia á rainha, separando-se elle então delia para
ir a Santarém, aonde chegou peio natal 3. É de crer que
a rainha continuasse a residir em Torres Novas» onde ha:
via uns paços que ella mándâra edificar; pelo menos é
certo que ahi se achava a 19 de dezembro de im, dia
em que dirigiu uma ordem ao alcaide, juizes e concelho
da mesma villa para que não embargassem ao mestre do
Templo a albergaria da Asseiceira, que pertencia á mesma
ordem
Com quanto depois da morte do irnúo mais velho, o in-
fento D. Sandio de Gastella tivesse alcançado do pae ser
declarado herdeiro da coròa, náo obstante o direito que com-
pelia ao primogénito do defuncto principe — conforme o
principio de representação, já nesse tempo promulgado pe-
ias Sete Partidas, embora fosse desconhecido na jurispru-
dência heqKinhola anteriormente áquelle código, — assim
mesmo nlo se deu elle por satisfeito com a simples pers-

1 Mon. Ltttii. P. S L. 16 c. 17.


2 Ibid.
3 ibid.
4 Nota XV 00 fim do volume.

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ff

pectiva do throno. Sustentado nas suas pretençôes pela


maioria do povo, veiu a receber o governo do reino nas cor-
tes de Val lado li d em abril de 1282 declarando^se ao mes-
iQO tempo a deposição do velbo Aífonso. cuja causa foi aban-
donada por todD o paiz» salvo Badajoz e Sevilha ; a esta nl*
tima cidade se recolheu o infeliz monarcha com a soa di«
minuta còrte.
Quando D. Beatriz viu o triste estado a que ficara re-
duzido o pae, determinou ir reunir-se a ell(í. As particula-
ridades desta ida são descoubecidas. Suspeitámos que nesta
coiyunctura alguma friesa houve entre D. Beatriz e seu fi«

lho. A 26
de junho de 1282, ou poucos dias antes» celebra*
vam-se em Trancoso as núpcias de D. Dinis- com D. Isabel
de Aragão, ao passo que a 9 do mesmo niez D. Beatriz se
achava em Serpa ^. O cui to intervallo que medeia entre as
duas datas, comparado com a distancia que separa os dous
legares, e o não haver vestígios da presença de D. Beatriz
em Trancoso na celebração das vodas, faz crer que effecti-
amente a rainha-m9e não assistiu a ellas, e que se achava,
talvez, de caminho para Sevilha. Se assim foi, parece que
devia existir alguma desharmonia grave para í|ue ella es-

tivesse ausenlíí em uma occasião alias que tanto devia in-


teressar a seus sentimentos maternaes. Nem será fácil ex-
plicar o motivo deste procedunento pela pressa que teria de
se reunirão desventurado pae, pois não consta qoe chegasse
a Sevilha antes de norembro do mesmo anno : a 8 desse
mez se exarou o documento pelo qual o rei desherdava o
filho rebelde, e com quanto nelle vemos figurar vários por-
tuguezes, e entre elles o mordomo e o chancelier de D. Bea-
triz, o nome desta não apparece ^. E como se poderá sup-

1 Flores, Reyn. Cathol. T. 2 p. 535.


i Docum. no Liv. dos Pregos f. 121, no Arch. da Cam. Mimiaip.- <•
Lisboa.
3 Mondpjíir. Mem. 4e D. Alonso el Sabio, p 409 e segg.

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I

DB D. BEATRIZ DB GUSSUN 121

pôr que o rei de Castella deixasse de mencionar a fiíha em


um diploma tão importante» se estivesse presente, quando
a vemos figurar em outro da mesma natureza» lavrado d'ahi
a mp
anno < ? È, pois, de presmnír que chegasse a Sevilha
só nos Ans de lâáí, havendo4h6 precedido alguns officiaes
de sua casa 2.
O que nos parece, c que D. Beatriz, ao constar a depo-
sição do veUio pae, e o estado de abandono em que eUese
achava, procurasseeons^uírde D. Dinis, que se declarasse
a sen favor, ou lhe prestasse algum auxilio. Mas este, mo--
vido por sentimentos bem diversos dos que influíam no ani*
mo de D. Beatriz, desejava conservar-se neutral na questão
que se debatia no reino visinho e ainda que tivesse um :

embaixador junto do avô h fazia votos interiormente para


que triumphasse o tio, com quem dizem se accordou no
sentido de nlo o molestar^ posto que provavelmente nSo
houvesse convénio formal, mas só uma promessa verbal.
D'ahi naturalmente nasceriam, entre a mãe e o fdho, desin-
telligencias, que — se nos não enganamos na appreciação
que fazemos de certa passagem de um documento, — ou s e
protrahiram por bastantes annos, ou se tornaram a reno-
var ao diante \ Talvez, mesmo antes disso a rainha tivesse

1 Chama<lD priinníro testamento, pelo qual o rei regulava a suceetaio


ao thrano: Chron. 'Íh D. Alntisofl Sabio, c. 7G
2 E que ahi fislava a 4 «i»* março dt; liKI] Ooaçâo de Moura, Ser
certo :

pa etR.. na Mon. Lusil. P. 5 Appeiid. escril. xiii. -Viac. de Sanlareiu,


Corp. Dipioiu. Porlug. T. 1 pp. 40 e 43.
3 No documento jé citado, de 8 de norembro de tin, figura «Gonialo
Fernandes enbajador dei rei de Portugal»: Mondejar, 1. eit.— Brandão,
na Moo. Lustt. P. 8L.1S c. i% diz que Sueiro Perea de Barbosa e D. Joio
d'Aboím eratn também embaixadores. Mas posto que figurem no dipio-
nia, nfio é com esse titulo.

4 MoD. Lusit. P. ^ L. 16 c. 41.~lli8t. de Espafta do sr. Lafuente, T. 6


p.9l.
5 c E elle me mostrou huma carta da Rainha dona breatiz minha ma-
dre a que detu dê peráom»^ dix o rei n'nma carta de tl94 (vid. nota I no
fim do vol.. carta de D. Dinia). Batas expresades, que, se fossem appli*

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m MBIIOMAS

motivos de estar descontente de D. Dinis, e que desappro-


vasse o seu procedimento para com seu irmão, o iafante
D. AffODSO. Este, no anno precedente, começára a fortifi-
car Vide (Castello de Vide), que lhe pertencia, empresa
que parece ter sido a causa immediata da cólera do monar-
cha, que marchou a pôr cerco áquelle logar. Fez-sp, porém,
a paz entre os ilous irmãos no principio de i28á, iigurando
n'um dos diplomas, entre os confirmantes, dous fidalgos que
háyiam pertencido ao conaeibo de regência, João d* Aboim
• 6 firei Afiònso Pires de Farinha, confidentes da rainba-mle.
Os Terdadeiros projectos do infante na fortificação de Vide
não transparecem, lornando-se portanto difficil ajuizar se o
rigoroso procedimento de D. Dinis fora justificável, e ainda
que o fosse, é possível que D. Beatriz não o approvasse.
£m todo o caso ha circnmstancias que fariam crer, que a
rainha se achava em melhor intellígencia com o inCsinte do
que com o rei, se vSio precisamente nesta conjunctura, ao
menos pouco depois. Posto que nos faltem provas de que
D. AíTonso se declarasse pelo velho monarcha castelhano
nas contendas com seu fdho D. Sancho, os indícios nos es-
que as suas sympathias nesta questão har-
tão revelando
monisayam com as de sua mãe, ainda mesmo que tivessem
diversa origem. Não só se havia recolhido a Sevilha, onde
D. Affonso X tinha a soa côrte, em quanto os seus vassal-
los negociavam a concórdia com o irmão mas vemol-o, an-
nos depois, coadjuvando os que se levantaram contra D. San-
cho iv; e com quanto, nesta ultima conjunctura, D. Af-
fácil de conceber que a hosti-
fonso X fosse ji ÊiUecido, é
lidade do infante era a sequencia dQ antigos odi08 contra
o tio, e que não provinha unicamente do propósito de con*

cadas a uma pesaot filleeida, nrahmaui importância leriam, devem-na


Mbenlo>m p«fttiT«ReDte que D.Beatrit aíoda viviaaeasa
ter por eerto
dau.
1 DocuB. na Moa. LvaK. F. 5 L. 16 e. ai.
DE D. mSATBIK DK GOSIIAIf 123

Irviar a politica do irmão. Oppoitunamenie veremos cpie


D. Sancho ir 0SO teve toda a contemplaçSo com D. Bea-
triz, (]uaDdo vetu a sneceder no throno por morte de D. Af-
fonso o sábio.
Se D. Beatriz levou comsigo algum soccono a D. Af-
fonso X» ou se foi apenas acompanhada do seu séquito, ,é

coQsa que não sabemos dizer. Mas é facto averiguado, que


vários cavalleiros portuguezes seguiram o bando desse mo-
narcha nas lides com o filho \ e talvez fossem induzidos
a dar esse passo por insiMuarão da rainha, transpondo al-
ies a raia cm haiidos separados ; pois é pouco provável,
que a serem numerosos —
facto que se ignora, a acom- —
panhassem todos juntos, em vista da attitude tomada
por D. Dinis. O mais certo é, que o auxilio levado por
D. Beatriz ao pao fosse de pouca monta, e (]ue a vantagem
por este lograda se reduzisse á consolação e ao amor cons-
tante que lhe vinha oíTerecer uma íilha querida, na occa-
sião em que os outros íilbos o abandonavam. É este o sen-
tido das suas expressões na carta de doação de Moura,
Serpa, Nodar e Moui^o, passada a fevor de D. Beatriz em
4 de março de 1383 No mesmo dia lhe fez doação, por
outro diploma, do território de Niebla, comprehendeudo

1 Mon. Lusit. P. 5 L. i6 e. 13. —


No citado diploma de 8 de novembro
de 1^3, figuram, além do mencionado embaixador Gonçalo Pernniides,
os seguintes portuguezes I). Martim Gil de Portugal Sueiro Peres de
: ;

Barbosa; D. João d'Aboim; Domingos Peres, chancelier de D. Beatrii;


Joúo Raimuiides, seu inorJoiíio p. Fernão Martins Curulelo.
:

i «Catando el grande amor y verdadeiro que falíamos en nuestra fija


to BteiíQ iMNirada D. Beatrix. .7 la lealtid qoe iiempre noetrd eontra
. .

DOS, y de como nos Aie obedíeBteymaadada en todas cosss, como buena


fija y leal deae ser a padre; e sefialadamente porqae a la sasoD que los

otros anestros fl|os, y la maior parte de los hÃmes dc nuestra tierra se


alçaron contra nos viendo ella esto, y conociendo lo que ellos des-
conocieron, desemparó fijosy herdamientos y todas las olrascosíis que
auia. yvinoa padecer aquello que nos padecemos, para viuir y morir
eon nosco » etc: Mon. Lusit. P. 5 L. 16 c. 42.— Vise. de Saltarem, Corp.
Diplom. Portug. T. 1 p. 40.

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124 MEMORIAS

mias villas, a qual gô teria efféíto depois da morte deite


rei •
; a primeira, porém, desde logo, devendo ambas ter vi-

gor até á morte deD. Beatriz, em que se devolveriam ácorôa.


Continuava a guerra de um e outro lado cada vez mais
calorosa ; mas por derradeiro houve idéas de se encontra-
• rem o pae e o filho com o intento de se comporem» o qué
tão teve por conselho dos parciaes do infante. As
effeito
negociações de paz foram confiadas á rainha D. Beatriz e
a D. Maria de Molina, miilhor do D. Sancho, e diz um his-
toriador (jue as duas princesas cheiraram a avistar-se em
Toro, mas nada sabemos do que entre elias se passou
Nesse meio tempo D. Sancho cahiu gravemente enfermo
em Salamanca, e perdendo-se todas as esperanças do seu
restabelecimento, chegaram a levar a Sevilha a noticia de
que era fallecido, noticia que não tardou a ser desmen-
tida. Mas a saúde do desgraçado AíTonso x tinha peiorado
com os successos dos últimos annos, e o abalo que lhe
. causou aquella nova menos yeridica, foi, segundo dizem,
o que precipitou a doença que o levou á sepultura, a 4
de abril de 1284 K No anno pretérito (8 de novembro) ha-

via o rei feito um testamento, á feitura do qual estivera
presente D. Beatriz; mas nesse diploma unicamente tra-
ctára da successão ao throno, e passando a fazer outro a
22 de janeiro de 1284, coube a D. Beatriz ser um dos
seus testamenteiros. Nelie confirmou as doaçSes que lhe
fizerade Moura, Serpa, Nodar e MourSo, e do território
de Niehla. Entre outras cousas, estipulou que sua filha per-
ceberia as rendas de Badajoz em sua vida, na conformidade
das cartas que havia passado a seu favor, e das quaes não

1 Mon. Lusit. P 5 Appeod. esetíl. xiii.— Corp. Diplom. cit. p. 43.

2 MariHna. L 14 r. 7.

3 Mon. Lusit. P. 5 L. 16c. 48.— Chron. deAlon. el Sabio r. IVt f. 82.—


Mondejar, L. 6 c. 29 p. 427. —
Ganbay. L. 13 c, tC. — Lafuente, T. 6
p. 92—103. — Flores, Reyn. Calhei T. 2 p. 536.

DigitBBirtiVGopgle
DE BEATRIZ DE GUSMAN

temos conhecimento. Â sua neta D. Branoi, que prova-


velmeote se achava com sua mãe em Sevilha, deixou
cem mil inarcos ou duzentos mil maravedis para seu ca-
samento 1 ; e recommendou ao cuidado de D. Beatriz sua
filha natural, Urraca AObnsu, e uma filha do infante
D. AíTonso de Molina 2.
Não temos noticias certas dc D. Beatriz antes da sua
oita para Portugal ; é, comtudo, natural que se demorasse
em Sevilha algum tempo depois da morte do pae, visto
que, na qualidade de testamenteira, tinha voto na execuçlo
das ultimas disposições daquelle monarcha, e que os seus
próprios interesses assim o exigiam. Poucos mezes depois
do fallecimento de D. Affonso, o novo rei, D. Sancho iv,
foi a Sevilha (agosto de I284)« e porventura tractaria en-
tão D. Beatriz directamente com elle sobre a execução do
testamento. Pelo próprio facto de se achar o* poder nas
mios de D. Sancho, n3o ora possível dar-lhe inteiro cum-
primento, visto que uma das clausulas importava a des-
herdação daquelle príncipe, e outras a desmembração do
reino. Persuadimo-nos de que o que nelle se mandava
com referencia ás doações feitas á rainha-viuva de Portu-
gal, ficou sem effeito. Entre as terras doadas por D. Af-
fonso X a sua filha, figuravam, como já vimos, Moura, Serpa
e Mourão, que haviam pertencido aos hospitaleiros, tendo
sido as duas primeiras ganhadas acis mouros em tempo de
D. Sancho 11, que as confiara aos cavalleiros daquella on-.
dem^. Depois alcançou-as D. Afifonso x, juntamente com
Mour3o» por escambo de 10 de agosto de 1271, definitiva-
mente ractificado a 11 de março de 1281. Este contracto

1 Náo podiam ser marcos de peso, porque assim o legado subiria


a omaramma iocrifAl. Disem que D.Sancho ! dea á infinita o senhorio
do moateíro de Ias Hoelgas em logar desse dinheiro.
S Yejam-se os doos tesumenlos : Chron. de p. Alon. el SahÍo« o. 76.
3 de Portttg. do sr. Herculano, T. 2 p. SM.
Hist.

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126 JMKMORiAS

foi confirmado por D. Sancho i? a 15 de março de iS86 >.

Orn, ;i simples confirmação do novo n»i não provaria de per


si que as villas e cnslellos deixavam de pertencer a D. Bea-

triz, porque, talvez, essa confirmação fosse necessária para


ordem a posse das terras qoe recebéra a troco
aflfiançar á

das mesmas villas mas o que \em indicar qoe D. Sancho


;

nio respeitára a doaçSo feita a O. Beatriz^ ao menos qaanto


a Moura e Serpn, são dous di[)lomas de setembro e outu-*
hro de 1295 De feito, pelo primeiro prometle o infante
D. Henriíiue de Castella fazercom que o rei D. Fernando iv,

successor de D. Sancho iv, faça enti*ega a 1>. Dinis de


Moura, Serpa, Arôche e Aracena ; o outro, de outubro,
. é a carta de. D. Fernando dirigida ás authorídades de
Moura e Serpa, mandando que as entrefirassem ao agente
do rei de Portugal \ Tal foi o modo por (|ue ellas vieram

a fazer parte do domínio da coroa porlugueza, vivendo


ainda D. Beatriz: por onde se conhece qoe a doação do
pae não teve effeito depois da sua morte. É de crer, po»
rém, que em quanto elle Yíveu, a rainha sua filha estivesse

de posse delias, poisque vemoÍ*a ahi OKercendo os direi-


tos senhoriaes. Com effeito, estando em Sevilha, a 25 de de-
zembro de láS;] fez doação da granja deFicalho, no termo
de Serpa, a Abril Pires sen Vassallo, [jor serviços que re-
cebéra e ainda esperava receber delle ^. A 8 de janeiro
i Nora Malta. I*. S pp. 984 —Wk, — Hís». de Portug. cit. T. 3 p. 78
nota 2.
í Santarém, Corp. Diplom. T. 1 p. ^6 e segg."»
Vise. de
3 Diz. Fernando « y quito n vos cl omeiiagH que fizestps »l rey D. Al-
:

fonso mi abuelo, y ai Rey D. Sancho mi padre, y a mi dessas villas y


castillot » etc, mwlraiido que D. Sancho nfto largira o teoborio daa vU-
laa : Ibid. Áecreace que em 1)98, tivendo ainda l>. Beatrix.D.Dinisdeo
Mourão a D. Thrresa Gil em sua vida: Ghaneell. de D. Díols L. 3 1, 4. do
Arch. Nacion.
4 ChanceU. de D. AfTonso iii, L. 1 f. 161 verso. Rm 1323 0. Dinis confir-
mou esla doação a favor do neto de Abril Pires, Joáo Affonso Valente,
achando-se incluída na carta de D. Dinis a de sua m&e :.Chauceil. de
D.Dinis L.3 f. 15ã (aliás 153).

Diflitized by
PE D. BEATRIZ DE GUSMAN 127

. do anno sdgaínte, estando na mesma cidade, a rainha dea


o Castello de Moura a D. Vasco Martins Serrão, por servi-
ços delle e de sua mulher, D. Theresa, criada delia rainha
D. Vasco, segundo diz o documento, tinha parentesco com
D. Beatriz ^ Finalmente, a i2 dc março do mesmo anno
de 1284 fez dóa0odeMour3oa D. Raimundo de Cardona,
resenrando, porém, a quinta parte das rendas durante a
vida *. Já se vê, estas doações teriam pouca duraçío, se é
que chegaram a ler eíTeito. É de notar, que já antes da
doação que D. AíTonso x fez a sua fdha a 4 de março de
1:283, D. Beatriz possuía Serpa; por quanto a 9 de junho
de 1282, em que ahi se achava, concedeu carta de privi*
legios aos besteiros da villa K Deste documento se pôde
inferir que D. AfTonso x lhe havia já dado Serpa, doação
que íieâra conlirmada pela carta regia de março de lá83.
Pelo que toca a Niebla e suas dependências, nada sabe-
mos ; nem tão pouco o que determinou D. Sancho iv a
respeito das rendas de Badajoz, outorgadas a D. Beatriz
pelo fallecido monarcha. É de crer, pelo menos quanto ao
senhorio de Niebla, que D. Sancho nSo confirmasse a mu-
nificência do pae para com a filha. Ignora-se, comtodo, o
partido que a viuva de D. AíTonso iii soube tirar do es-
tado em que se adiavam os negócios \
1 Chancell. de D. AfTonso til, L. 1 f. 144 Terso e 161 veno.
2 Mesmo Liv. f. 161 Ter»o. — Estes tres documentos são em leira di-
versa do resto do códice, provavelmente por lerem sido ahi registrados
em tempos mais recentes quando se descobriram os originaes, que hoje
não se encontram. Veja-se o que dizem Brandáo (Mon. Lusit. P. 5 L. 17
c. 44) e Figueiredo (Nova Malta Portug. P. 2 p. tK) e segg. § 38-40) a res-
peilo desUs doações.
3 EiiniDdo-os do pagameoto das diiimas do veado e das aves qoe
snaUasem com suas bestas determinando' que nfto podassem soffrer pe-
;

nhora sem que primeiro fossem chamados a juizo por seu auadelt ete.:
Liv. dos Pregos f. 121, no Ârch. da Cam. Munícip. de Lisboa.
à Francisco Brandão (Mon Lusil. P. 5 L. 16 c. 58) suppóe que D. San-
cho sanccionára a doação relativa ás rendas de Badajoz: é possível que
assim fosse.
1^ 1IBM0BIA8

Como dissémos no pruicipiu dosta memoria, D. AíTonso x -


dera em ii55 a D. Maria Guillen varias villas no distri-
cto de Cueoca ^ que deviam passar a D. Beatriz, a quem
effectífamente D. Maria Goiilen as deixou por testamento
feito em 12d2. Nlo sabemos se a rainha as possuía em
ida do pae — ignonhse mesmo a data do feUecimento
de sua mãe — mas é de suppôr que D. Sancho não re-
validasse a doação. Se elle recusou confirrnnr a que dizia
que tinham de voltar á corôa depois
respeito a territórios
da morte de D. Beatriz, como consentiria elle nesta, em
que se estipulava que a herança passaria aos filhos da rai*
nha ? O novo rei de Gastella não era de índole a deixar
alienar, em prol da família real de Portugal, extensas por-
ções dos seus domínios. O que vem robustecer esta con-
jectura, é que o documento em que se nos transmittiu •

a noticia desta doação, é uma publica forma, datada de


Lisboa a8 de junho de i28$, passada por tabelliSo, e ao
tempo que outro tabellilo, da mesma cidade e na mesma
data, pablicava a doação de Moura, Serpa, Noda^ e Mou-
rão feita a D. Beatriz por seu pae 2. O que nos revelam
estes dous instrumentos ? Que — achando-se esbulhada de
logares que legalmente lhe pertenciam, e conveocida da re-
solução de D. Sancho i¥, de não ireconhecer o direito que
ella tinha ao distríçto de Cuenca e ao d'alemdo Guadiana
uma das primeiras providencias que D. Beatriz teria to-
mado ao chegar a Portugal, fôra de mandar publicar na
forma legal, tanto a doação de 4255, como a de 1283,
aíim de manifestar e resalvar os direitçs que lhe compe-
tiam sobre esses territórios. Os diplomas não faliam esta
linguagem— e talvez se possa explicar a sua existência
por outra forma, — mas parece-nos« vistas as circumstan-
*

1 Vide ante, pag. 111 tiotaS.


i GaY. 13 inaç. i n.<^ 3. no Arrh. Nactoií. é o iostrumeaio original.
.
,

Ácba-s0 regislrado ao L. 1 de Reis LWi verse.


DG D. BEATRIZ DK GUSMAN

cias, que assim se dev»' trarliizir a idtja (jiie lionvt! na sua


publicação, que podia aiiás ter-se feito muito antes K
Estes documentos não provam que a rainha estivesse
em Portugal n essa data porque foram lavrados a rogo
;

de Domingo^ Vicente» clerijgio da rainha, a qual talvez man-


dasse os oríginaes de Caslella. Isto, porém, é pouco pro-
vável, e temos provas da estada de D. Beatr iz no reino
poucos mezes depois a 7 de dezenibio de 1^85 passou,
:

na sua villa de Torres Novas, uma quitação a um dos


seus vedores 2. D. Beatriz devia, portanto, ter regressado
de Gastella no meiado de 1285. As noticias que delia te-
mos depois desta epocha slo escaças, mas d?io logar a

crer que estava de assento em Torres Vedras, e d aiii são


datados todos os documentos posteriores que temos da
rainha» isto é, de 1293, 1299 e 1300. Nessa viila cons-
de Santa Maria, os quaes foi
truiu uns paços na freguezia
augmentando ou aformoseando quasi até ao momento da
sua morte, como se deprehende da compra que íéz de di-
versas casas e campos que os cercavam 3. Destes paços
denominados mais tarde paços velhos, para os distinguir

t Brautiáo (Moa. l.ubii. P. ^ L. 16 c. 58 ad fiu } diz que D. Beatriz não


leve ftt vi lias do dUtríi^ de Cuenca, mas que as cedéra á iofanla
IK Brinca, que por derradeiro as deu ao infante D. Pedro de Gastella.
NAo cita nathoridades; e a ter-se passado o negocio assim, essss renun*
cias náudevíam^ervoluntariart. Mondejar(Kem. deA.lon.el Sabio. p. COO)
tAinbera aíRrrn^ que D. Beatriz tleixára esses bens a snua filha D. Branca.
Diividamus igualiueiite que a raiuha-viuva chegasse a possuir Klche, ou
ao menos que a podesse conservar. A Chronica de D. Fernando iv (c 3().
f. 3Ucol. 2] afliriiiA, referindo-se ao anno de i305, que Elche pertencia a
O. Joio Mennel. É verdide que nessa epocba l>. Beatriz era falleeida
mes pôde ser que também squi se désse outro caso
liaria eineo annos,
4e renuncia forçada. Ha dous instrumentos de tabelllAo da doação d*El-
ehe, um de 1288 e outro de 1295. Veja-se a nota XI no fim do volume.
2 Nota XVI no fim do volume.
3 Nola XVII no fim lio vol. —No Liv. l. "dos Bens dos Próprios, f. 67
no Arcb. Nai-ion., se diz lambem que os paços eram silos na treguei:ude
Santa Maria.
9
1^ IIEai01IA>

dos que se edificaram em tempos mais recentes, uão res-


tam hoje vestigios, ou bem poucos e incertos K
NSo devemos suppôr que neste viçoso e aprasivol sitio

D. Beatriz passasse o resto dos seus dias n'iiiiui completa


Iranquillidade. Desgostos e tríbalações nto deixariam por
certo de acompanhar a velha rainha, mesmo nos últimos
mezes da sua existência : a qnasi constante discórdia en-
tre seus ílllios, e as ^'iierras civis que rel)entaram em 1287
e 4299 Dào lhe cooseotiriam outra cousa» obrigaodo-a por
ventara a trocar ás vezes o remanso de sua casa pelo bu-
lido e movimento dos arraiaes. Os authores fazem-na fi-
gurar, e mnito^ nas pazes que então se celebraram com ;

quanto, porém, seja j)rovavel que alguma influencia tivesse


nas duas pa cl fi (lições, é certo que o seu nome não appa-
rece nos diplomas ^.

Parece que a infanta D. Branca costumava residir com

t Ba Torres Vedru moatraranHiot aos treoi mis de aeio enter-


redes, qee diiem perteeeUni eo fsisei* d« D. Beetris: por eims deUes
está construída a Hospedsris do Bo»que, sita á esquias das ruas do Css-
tello e da Tras do Açougue, na fregupzín de Santa Maria. Oque hoje se
vê desses reslos fica dentro dn recinto da cavallariça da linspedaria. Af-
*
(irmarara-nos que havia outros que estavam completamente soterrados, os
quaes descobriram por occasiào de algumas obras que ahi se fizeram.
Ha uma casa A esquina das ruas do Castello e dos Cavalleíros que tem
faoM de ser s msis sotigs ds Tnia, e de ter feito perle do palácio ; mes
isto nes psreee poneo provevel, pois sinds que sntígs, efto o niostrt
ser asssi; sléu de qne náo está ao nivet âa l|sse dos sreos, qee lhe llesM
todavia a poucos passos de distancia. — Consta lambem qoe s mesma rai*
nha tinha uns paçoâ em Torres Novan. que provavelmente mandéra
construir: delles veiu a entrar em posse um certo Affonso Guilherme,
ignoramos por que via. Elie vendeu-os n Santa Isabel a 7 d'abrii de 1320.
jnntocom outros bens no termo de Torres Novas, dizendo no instrumento
qne lhe vendis oa €Paço$'que forom da Htj/hka Dona Bwtfiw »• Biisie
BO cartório de Santa CtarsdeCÕimbrs.
i Veja -se a Mon.Lusit. P. 5 L. 16e.66e L. 17 r. 54 e 56. Os documen-
tos relativos ás duas tréguas entre os irmãos, sâo de dezembro de 1287 e
janeiro do anno seguinte, e de julho de l.K>0 Chancell. de D. Dinis L. 1
:

II, 314 verso 18, e L. 3 f. 10 verso e 11, uo Arch. Nuciou.

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j
DE I>. BEATRIZ DB GUSMAN i3i

freqiienci.i na companliia de sua mãe : não só esteve com


ella em Caslella, ao menos parte do tempo, senão lambem
Vinha assistir em Torres Vedras, onde estava a 17 de maio
de 1300, dia em que authorisou saa mãe a dar ou vender,
entre outros' logares, a quinta da Rebaldeíra, próximo
áquella villa K Desta licença D. Beatriz se aproveitou a 14
de junfio do mesmo anuo, f^izendo doação da quinta á or-

dem de Santiago,, e declarando que um dos motivos que a


isso a moviam era o estar gosando desde muito tempo os
k^endimentosdaÂrruda, que a referida ordeln lhe cedéra >.

A ultima noticia que encontramos desta rainha, em quanto


viva, é a doação que fez a certa Maria Nunes, criatura de
sua casa, de 300 libras, com as quaes mandara comprar
por seu mordomo uma herdade, que, por morte da dita
Maria Nunes devia passar ao mosteiro d' Almoster; era da*
tada de Torres Vedras a 30 de julho de 1300 3.

D*ahi a poucos dias, a 7 de agosto, D. Beatriz de Gus-


man expirou — provavelmente na mesma villa — contando .

de' idade pelo menos cincoenta c cinco annos c sete me-


Z6S ^. Não se conhece testamento. Foi sepultada em
1 o original oslá na Collecç. Espec cafxa 72, no Arch. Nacion., e vai
.

impresso na Mon. Lusit. P. 5 L. 17 c. 58 Essa quinta linha sido da iiifanla


D. Sancha (irmau de 0. Branca) por doaçio de 1180. feita por D. Dinis
(viá. L,iáM Bens dm Propr. f. 70, no Arch. Naeioo.). e taWei pUMue
i OQtra infaota por morte diqHella, <iiie ou aulhorea pde em IM, mtt
ae prof a por oatro doewBeoto, eomo logo vereoioa, baver auceedido
•m 1?98, ou antes.
2 Nota XVlIl no fim do volume.
3 Cit. na Mon, Lusit. P. 5 L. 16 c. 74.
à A data da morte desta rainha havia sido até oltimamente uma ques-
tão insolúvel. Francisco Brandão (iMon. Lusit. P. 6 L. 18, c. 9) atlribuiu o
Moeeaao ao asno de 1204, aem fixar o dia» eatribaBdo-ae na doaçfto da Tér-
rea Vêdrae a Santa habel naquelle anno. Haa argunentaado deate modo.
ó de admirar qne não escolhesse o de 1900, pelo facto de haver Santa ba-
bel possuído Arruda já antes de 13 de outubro de 1300, sendo certo qne
D. Beatriz a tinha ainda a U de junho do mesmo anno ; factos que Bran-
dão não ignorava, por Uso que cita ambos os documentos d'oode elles

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132 MEMÓRIAS

Alcobaça, onde jaz, no mesmo togar em que díssémos es-


tava o tumulo de D. Urraca: o de D. Beatriz d»» (hisman
está motlido om um nicho na parí^lc, fronte^ii o ao d(> D. Af-
fonso 111. Tem um epitapldo que se conhece haver sido la-
vnido depois do tempo de Francisco Brandão, aflirmando
este que entSo nenhum existia ^
As acções desta princesa descobrem-se atra?ez de umYéo
tão denso que mal deixa transparecer algum ténue clarSo
por onde possam ser apreciadas. O (jue se lorna, [lorém, mais
apparente é o respeito que parece ter consagrado á memoria
de seu esposo^ e o amor filial com que acatava o author dos

con8tain/B«rboM(CaUl. disRaíniMS, p. S60 e se^.) fisou arbiiraríaniefite a


data de f7 de oatnbro de 1303, abonando-ee «om o Obltoario de Moreira, ,

qoe ilizia «6 Kal. noTem


: 1339 ». Nfto davidoa aeceiUr o dia, ao paaao .

qve rejpiuvH o anno indicado no Obituário, porque entendia 1330 por ati-
no dn CJirisio, sendo notório que naqueile tempo se não contava deste
I modo. Nno concebemos como se não lembrasse de o tomar por era de
Ceiíitr, vindo assim a responder ao anao de Christo de 1301: fôra mais
eonse.qiit me. e ter^-bia approxliBado mala dt verdadeira data. Haa o
caprlriio era demaaiado em Barboaa,e argumentoa palpavelmeate fraooa,
e, até por mea, ridieuloa náo faltam na am obra. Ploalmente uma no*
ticia authentina, descaberta pelo ar. Jofio Pedro daCoata Baafo, diatineto -

empregado dj Archivo Nacional, veiu resolver a qu^^stâo notiiiia que e«á ;

em completa harmonia com os dous documentos acima citados de li de


junho e 13 de outubro de 1300, relativos a Arruda, dos quaes já d antes se
inferia que D. Beatriz fallecêra entre estas duas datas. A referida noticia
dii aaaim : « Sub Bra «.* ccc.* xix.* viii.* In Menae Augnati In feato aaneti
donati epiaeopi et martirla Oomna Beatriz Regina portugalie et algarbíi
fttit defonela, eoiua Anima reqoieacattn paee anien.i(Cod. Alcob.n * 110,

vid. Port Monnm. Hiit. aerip. vol. f p. II col. 2). A feata de S. Donato
• hispo e martyr —
porque houve outros santos deste nome — celebrava-
SH a 7 de írgosto : Acta Sanctor., men.se augusti, T. 2 p. 180 e 181 C. —
Brev. Roman., ad diem. — Calend. da Igr. Anglic, antes da Reforma, na •

cCollection de Docum. de Fraoce, Lettres», T. 1 p. cxl. Houve um bispo


de Reima deaee nome que tinha Iret feataa. uma daa quaea ae celebrava
a 30 de agoelo, principalmente em Bruges (Flandrea) ; maa eaae náo é o
eiiaiaado martyr vid. L*Art de Vérif. lea Datea, Catai, dea Sainta.
:

1 Mon Lusit P. 6 L. 18 c. 9. — Reaa o epítaphio: «D Beatrix Regina


Portugallise uxor Alphonsi tertii anno 1304». Y6*ae 4|ae foi concebido
Guufome a opioiio emiuida por Brandfto.

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DE D. BBATBIZ DE GUSMAN 133
seus (iias no ultimo quartel (ia vida. O ter conservado por
seus couseltieiros, logo depois da morte de AíIodso iii, os an-
tigos confidentes deste monarcha, persuade quanto ao pn-
metro pit^nto. Nem foi temporário o valimento que experimen-
taram da parte da rainha-víuva ao menos é certo que D. JoSo
;

de Aboim, o grande e constante amigo de D. Alfonso, esteve


junto delia em Sevilha. O que nanámos a respeito da ida
de D. Beatriz a Sevilha» parece convencer que o incentivo
mais forte, o sentímento predominante que a movia nessa
conjunctura, era uma affeiçlo profiindamente enraizada no
coraç^io da filha natural, que o infeliz monarcha nSo achava
nos lillios Jegitimos. A fama attribuia á viuva de Affonso iii
mais sympatliia por Castel la do que por Portugal, e, abstra-
bindo dos incidentes, talvez injustamente. Por outro lado
se, para salvar a corôa de seu pae, fosse necessário sacrificar
os interesses de Poriugal, é provável que da sua parte nio
houvesse hesitação: efoi de certo uma fortuna para a nação
que D. Diius tivesse chegado á idade competente para po-
der ter mão no leme do estado ao tempo da rebellião do in-
fante D. Sancho. Tudo leva a crer que sentai não houvesse
acontecido, D. Beatriz teria arrastado o paiz a uma guerra,
de que provavelmente não resultaria nem honra nem pro-
veito e quando o paiz resistisse a essa exigência, de quan-
;

tas divisões intestinas não seria ella causa.


Já dissemos como D. Sebastião fez abrir os túmulos dos
seus antepassados em Alcobaça: o desta raiuha foi exami-
nado na mesma occasião. Em seguida transcrevemos o que
refere uma das testemunhas presenciaes desse acto
c Eu a vi (a rainha D. Beatriz) na Era mil e quinhen-
tos e sessenta e nove, o primeiro dia de Agosto, e jaz intei-
ra como aquella hora que ali a sepultáram, jaz mirrada se-
gundo parece, a roupa com que foi sepultada está como
aquelle dia que ali a puseram, ao menos O' lançol, que, a
colcha que tem debaixo do lançol estauá algum tanto da-

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434 MBIfOAIAS

niflcada,e ja pode ser que o fosse ao tempo qae ali a lan-


çaram; como quer qae seja, nam está tam inteira, e fresca

oomo o lançol jaz enfeitada, e a csheça apertada, tem huns


:

cabellos castanhos que parece (|iie foram fermosos, mos-


tra que foiam cortados estando doent»s porque est3o em

huma parte mais cumpridos, que na outra, e estam mal cor-


tados ; tem hum lenço na cabeça sobre os cabellos asaz
Doao: tem calçadas humas çapatas pretas apantufadas, como
naqnella hora que lhas calçáraQi, do pé ainda estão quasi
justas ao menos do comprimento : finalmente ella parece
ser reuerenda mulher em seu tempo. Alguns dizem que
ella tinha hum rabo, e que vinha por parte da may, de
huma casta que em Gastelia naciam com rabos. Disem que
S. Bernardo lhe tirou este rabo, e mostrílo hum manto que
ella lhe deu por isso. O manto eu o yi, mas se foi dado por
isso, ou nam, nam o acho escrito, nem menos que ella
tiuesse rabo, mais (jue anirinaiemine i)ess()as lidas nestas
historias, (jue o leram, que se chama ua a Rainha rabuda ao :

menos ella agora nam tem sinal disto, porque nam faltou
fezer sobre isso diligencias para saber a verdade disto. E
desta maneiraque tenho escrito jaz esperando ser chamada^
Prazerá ao Senhor que seja para a gloria sua, porque esta
Rainha fes neste Reino muito boas ohras, e teue fama de
mui santa, e deuota, e alTeiçoada á H('li</iam Christãa » ».

Esse boato absurdo relativo á filha de D. Maria Guillen


—de que nlo encontrámos outra noticia — procedéra, se-
gundo um author nosso ^ de ter ella sido a primeira a

I Reproduzida d« Mon. Lusil. P. 6 L. IS c.9. 0 autlior desU memorit


éo oiesinoquA esereveo a que dix respeito a D. Urrm a. Amónio Bran-
dão escreveu o nome correctamente ina^ Francisco Uramiâo chama-o Af-
;

fonso de Falia. Seu verdadeiro nome foi frei Anioriio de Falia, da ordem
doB prégadores; corapoz em 1569, por ordem do rei D. Sebastião, a Kfla-<r

ç4o dosReys eRayíihas que estáo sepultadas eiu Alcobaça», d'onde se


êitraiiia as duas referidas memorias. Veja-se aBibUolli. Laatt. T. t p.
a Fraacíaco Brandão, 1. cii.

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R€y POR^: 9PRIDO :D€[ VO.

Rn os oFC; n nico
;
1 Sít l^ft^S;
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«

'
BC D. BEATMZ OB GOSMAlf I3S

ioiroduzir na côrte de Portugal a moda das cotas cauda-


tiSy OQ de rabo» doBconhecidas até então no pais, o que

Udves Uie graiigeasse a alcunha de rainha rahadiu termo


qae em tempos subsequentes viria a ser Bial interpretado,

conservando-se essa ridícula tradição a ponto de ter-se se-


riamente averiguado se havia motivo para ella.

D« Beatriz fundou a igreja do convento de S. Francisco


na sua viUa de Alemqaer» mas nio chegoa a conclnir »
obra, o que só teve efièíto em 1317» reinando sea filho
O. Dinis, bio mesmo consta de doas laindes com inseri»
pções em letra oncial, que ainda hoje existem á entrada,
por cima da porta. Entre as duas lapides acham-se esculpi-
das as armas reaes em cujo escudo contámos vinte c outo
Castello^ apesar de estar tudo caiado, adiando-se só selo .

'
dos castellos pintados a' eôres no bom gosto dos frades. Da-
mos na estampa annexa copia das duas inscripções^ adWr-
tindo que dos originaes as letras téem cerca de meia poUe-
gada.
A inscripç3o n.^ 1 está á direita das armas reaes» e é co-
mo segae
Esta borbja pordoi
A MUY IfOBRB RA.l(n)aA DORA
BbATB(ix) I ÁOABOD A O HDT 10-
BTiçoM SBU nuo HOniB
MT DB POBT(ueAL) flOmiDO BB TB-
BTUBB DO(h) DbRIS

k segunda» á esqiíerda das armas» diz o seguinte :

HOC raRFECISTI INCLITB KBX DlOIltSI

DUO VIBTUS XPI [CHRISTi) TIBI 6AUDIA DBT PABAD18I


AHBB B. H. OOC. LV ABOS 0P(Br}B RBIfO
SiT LAUS BT CL(0|)IA CRIÍTO. AUH 1.

1 A copia dessas iascripçóes, que tivemos occasiáo de examinar pet-


soalmente, foi tirada ha tres annos pelo sr. João Fedro da Costa Basto,
que teve a boodad^ de nol-a franquear. O traasumpto que deu Esperança
(HliL S«rfttt P. 1 L. I e. IS) nio é «zaeto bmi completo.

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i36 MBimiAS
Dieem que psta rainha fundára o hospital de orphãos ou
enjeitados de Lisboa^ no sitio da Moiu'aria, ampliado por
D. Gatharína, mulber de D. JoSo iii ^ e reedificado por
D. iosó em 1764.
Ao& monjes d*Álcobaça mostrou muita predí lecçio. Existe
o original de um diploma em que se notam muitas lacu-
nas, que tornam o sentido obscuro, o q\m\ parece comtudo
sigaiíicar que a rainha isentara do pagamento da jugada ^
os que laYrassem terras do mesmo mosteiro e fossem su-
jeitos a esse tributo do termo de Torres Vedras ^. Pouco
depois da morte de D. Affonso iii, sua viuva deu a igreja
de S. Pedro de Torres Vedras ao abbade do referido mos*
teiro e seus successoros, em honra da Virgem Maria, em
remissão dos seus peccados, e por ahna de seu defuncto
marido, como resa o diploma K Deu também, segundo di-

zem, ao mesmo abbade outra igreja em Torres Vedras, a


de S. Miguel
Renunciou o padroado da igreja de Santo Estevão de
Alemqner, para que o rei seu íiího o podesse outorgar ao
convento de Odivellas, que acabava de fundar ^. Dizem,

1 Mon. Lusit. P. 6 L. 18 r. 9. -D. Dinis deixou oro legado ii esta iRSth


tu içá o,bem oomo sva mulher D» iMbel» nas wm declarar quem fdra o
fundador.
2 Para origem e explicação desse tributo consuUe-SP a
a verdiídtíira
Hist. de Portug. do sr. Herculaoo, T. 3 p. 364 e »egg., l.* ediç.
3 Nota XIU no fim do Yolame.—Frei Manuel dos Saoloa (Aleob. llluatr.
p. lOS) eito eata privilegio, que enoootrára registrttdo o*um doa eodieea
do moatoiro ; a noticia que dá é a a^goínte : om privilegio pera que oa

caseiros e lavradores dos Monges que lavrassem no território da mesma


Villa (Torres Vedras) fossem escuzos de pagar jugada ».
4 Nota Xiy nu fim do volume.
5 Aleob. lUustr. p. !06.
6 c... donavit etiam eis jus patronatos, quod habet io Bcclesia Sancti
Stopi^aoi de Alanquerio noatrrn Dimeesia. oonaeotioBto ad lioc Domina
Beatriee Regina matre dieti Domini Regia, ad quem in eadem BeeMa
jusprffiscntandi quoad vitam tantummodo pertinobat»: Carta doDota*
çAo de Odivellaaifevereiro de 1395) oa Hist. Ganeal. T. 1 das Provas p.l09i.

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BE B. BBÁTBn D£ GUSHAN 137

finalmente, que fôra esta princesa a que dêra cinco casaes


ao prior de Santa Maria do Castello em Torres Vedras ^

Temos noticia de quatro filhos e tres filhas de D. Beatriz


de Gusman.
D. Fernando: de cujo nascimento se ignora a data;
constando apenas, do epitaphío do seu tumulo em Alco-
baça, que fallecêra em íiOí,. sem duvida antes de maio»
ou quando muito, nesse mesmo mez 2.
D. Dinis: nasceu a 9 de outui)ro de 1261, dia do santo
do sen nome 3. Herdou o sestro.
D. Âffonso : nasceu a 6 de fevereiro de 1263 \ e casou
com D. Violante Manuel. Na memoria seguinte teremos
de Mar delle.
D. Vicente: nasceu a 22 de janeiro de 1268, dia do
santo do mesmo nome ^. Nada mais consta a seu respeito,
senão que jaz em Alcobaça em um tumulo com seu epita-
phío
D. Branca: nasceu em Guimarííes a 28 de fevereiro de
1259 7. N3o casou, e dizem que foi senhora dos mosteiros
de Lorvão, em Portugal, e das Huelgas de Burgos, em Gas-
tella ; e, de feito, fez seu testamento a 15 de abril de 1321
neste ultimo mosteiro

1 Madeira Torres, Descrip. de Torres Vedras. p.3b.


2 Moo. Lusit. P. 4 li. 15 c.i9.
3 Ibid. —Chron. Coninib. ad ©r. Iá99, vid. Porl. Mon. Uisl. scrip. vol. 1

p.4 eol. lé-- Ribeiro, Gonflmi. Regias, doeom. 10. Soèn o meio que di«
lem liever tido empregado por D. Reatrii para salvar este sen fllho de
morrer sufTocado por eausa de nma espinha de peiíe, eonsulte-se a Moa
Lusit. P. 5 L. 16 c. 14 in prin.
4 Chron. Conimb. «daer. i:{()l. —
Brandão, por engano, dia 8 de feve-
reiro :VIU idus februarii corresponde a 6 do mesmo mez.
5 Ibid ad ser. 1306.
€ Transcripto por Braadio. 1. cil.
7 Chron. Conimb. ad «r. 1S9?. —
Mon. Lusit. 1. eit.
S Impresso por exUacto em Alarcon. Casa de los Msrq. de Toreifal.
eseríl.84. Áeercadesla infant» veja-se Flores, Reyo. Gathol. T. S p. 531 e

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138 maoius db d. ib4tms db oosiun
D. Sancha : nasceu a 2 de fevereiro de iá64 ' : n5o
casou, e sem dovkla m emoofembro de
já fallecidu 1^
*
D. Maria : naacea no fim de 11264 ou principio do anno
seguinte Dizem que professára na ordem ihs conegas de
Santa Cruz ^.
Os escriptores antigos também alludem a outra filha de
D. Beatriz, chamada Constança faliam comtiido provas da
:

sua existência. £' notafel que neniiuma dessas ioíantas


casasse.

1 Chron. CoDimb. ad ser. 1302.


i Consta que em 1278 possuía F andega da Fé
(L. 2 dos Bens dos Propr.

f. que vemos que essa propriedade


11 Terso, no Árch. Nacion.). ao passo
foi dada aSiBta Isabel « SS de norenbro de 1298 (CbanceU. da D. Dial«
L. S 1 5 verso). Sousa, na Hist. Gaoesl. T. i p. 171. p6e a soa morta Bm
1801, fttodando-se no epitaphio do taoinlo da mesma infanta em Alcoba*
ça. qoa traosereve, quando o dito epitaphio foi eTídeotemente gravado
em tempos mais recentes, como se conhece da data ab anno 1302. (Veja-
se também o que dissémos a pag. 13t, nota 1}. —Alguns dizem que a in-
fanta morrêra em Sevilha (vid. Porl. Monum. Hisl. scrip. vol. lp.-23
col. 1; e Sou:ia, 1. ciU), la&s nada mai8 consla a esle respeito
8 Mon. Lnsit. I. cít.— Cardoso (Agiol. Luait. T. 3 p. 570) e Saola
liaria (Chron. dos Cooeg. Regr. P. S p. M3 ) affirmam que a infanta oas-
eéra a 21 de novembro de 1264, mas sem comprovar a asserçlo.
4 Ibid., e Hist. GeneaL 1. cit. *

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D. ISAfiEL DE ARAGÃO
(A BAINHA santa)
0

MULHER DE D. DINIS

1271 — 1325
«

A medida (jue proseguiinos iia tarefa que encetámos, v^o-


&e accumulando os factos, e as fontes doude elles diina-

nam v9o-se tornando cada vez mais seguras. Não tanto»


comtudo, que possamos sempre ligar as revelações pardaes
dos monumentos com os successos anteriores ou posterior
res não ê ainda possível dar á narração uma fórma se-
:

guida e connexa. As lacunas continuam ; e com quanto nos


seja dado em parte desapressarmo-nos do mar de conjectu-
ras em que nos vimos engolphados nas passadas memo-
rias» nem por isso
deixaremos muitas vezes de divagu* por
elle.

Pedro III, rei de AragSo, e sua mulher D. Constança, fi-


lha de Manfredo, rei usurpador das corôas de Nápoles e Si-
cilia, tiveram quatro filhos e duas filhas. A mais velha des-
tas chamavá-se Isabel, que por suas virtudes» e talvez por
seus talentos» mereceu muita Gonsideni<^o no século em que.
viveu» dilatando-se-lhe a fama nos subsequentes e crescendo
em quilates, porque o tempo de ordinário nSo costuma af-
ferir com exaggerando quasi sempre
a necessária exacção,
obom e o máu. Dizem geralmente que a infanta nascôra
em Çaragoça ; e parece que ali havir*, nos paços de Aliaga

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440 IICIIORIAS

ria ^ uma camará cienominada


« toucador da rainha »/onde,

segando a tradição locai, elia veiu ao mundo. Ha quem pre-


tenda que nascéra em Barcelona, por ter sido essa a séde
da còrte mas se nSo ha melhor fúndamento para esta opi-
;

nião, nâo é por corto de muito valor: porque é sabido que


naquellas opochas os príncipes permaneciam por pouco
tempo D um mesmo sitio, percorrendo qnasi de continuo
08 díTorsos pontos dos seus domínios ^. Nasceu a princesa,
ao que parece, em 1274 ; esta data tem por único abona-
dor, mas talrez sufficiente, a relação chamada vulgarmente
Lenda de Santa Isabel, que foi escripta quasi immediata-

mente depois da morto da raio fia, merecendo sem duvida


que se lhe dê credito em grande parte do que refere 3.
Vimos nas precedentes memorias que, se os vestígios
que as nossas primeiras rainhas deixaram da sua existên-
cia no throno slo por extremo ténues e desconnexos, fal-
tam absolutamente quanto á vida que viveram em casa
de seus paes nenhuma penna as veia salvar desse esque-
:

cimento. Não succcdeu outro tanto cora respeito á prin-


cesa que faz o assumpto desta secção do nosso trabaitio.

t Chnmados Tolgarmeaie âljaferia ; era construcçáo dos monroa : Dor-


mer, Di«curso8 varioa, p. 110.
t Thomaz Caetano de Bem, iias Meiu. doa Clerig. ReguL T. 1 p. 448,
diz c^tte o padre hespanhol Ribeira tinha composto ura livro em que que-
rÍH provar que D. Isabel nasnêra etii Barcelona, o qual livro teocionava dar

ao prélo. Ignorâmoí» se foi impn-sso.


8 Àch«-«e imnrpjísa no Appen»!. da 6.' Parte da Mon. Lusit. Fique dito
por uma vez que as iMiaçôes quefaxemoa da Len la referam ao. quanio á
paginação, á 1.* edíçfio da dita 6.* Parte da Mon. Luait., impreasa «^m
1S7S. Para a data mencionada no texto, veja-ae p. 496 col. 1 * Vejam-ae
as nossna ob^ervaçõeaa respeito desta relaçAo na nota XIX no fim do vo-
lume. —Diz a mesma Lenda, no logar cita-lo « E esta Dona Isabel, a qual
:

quando naceo, nareo enuislida, enuolla, e cubrrta de huma pelle, que


lhe nam parecia nambro algum a qual pclle, ou teagem a Rainha sua
;

madre fei poer em huma cauaella de prata, e tragia eata Haioha aquella
eauaella ein aia areaa ». Alguna authorea modernoa viram neaie aoceeaao
um prodigiOt qne todavia ainda lioje occorre por vezea, poato que nio
eeja mui commum.

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DE D. ISABEL DE ARAGAU 141

Um seu contemporâneo legouáposterklade» DO monumento


que acabamos de citar, uma breve narração dos príni:ij)aes
actos da sua vida, e séculos depois um enxame de panegy-
ristas veiu supprir com a phautasia as lacunas que se en-

contram na Lenda. Se nos parecesse acertado tomar a futura


santa desde o berço, muito teríamos que recontar. Mas
se o pio leitor deseja saber como uma criança de outo an-
nos se deleitava em passar horas inteiras no oratório, de
breviário na mão ou o espirito embebido em orações; como
€ suspirava sempre pela sua solidão » ; como jejuava com
todo o rigor, e, por cumulp de devoção, vestia contra as
tenras carnes o cruel cilicio cpara mortiíicar os seus sen-
tidos» 1 ! emfim se a ordem da natureza transtornada Uie
merecer algum credito,- ou o bom senso desafiado, alguma
attenção, nesse caso convidamol-o a consultar outras obras
assaz coaliQcidas ^.

t Ao menos a Len(la« na sua singelesa, náo passa osHmites da vero-


simUhança quaodo refere ! cqnejá eoi aqnel tenspo daqneUa idade (de
menina) entendia em rezar horas, e em seroir a Deos por jejum, e por
esmolas » ; porque é crivei que naquellas eras de títs fé os paes inci-
tassem 08 tenros filhos a actos que porventura mal saberiam avaliar. Mas
esrriptores posteriores, com zelo desordenado, se esmeraram em retocar
esses quadros primitivos, roubando-lhes toda a naturalidade pelo car-
regado das côres distribuídas por mão inhabil. Karo é que se chegue a
conhecer porelles a índole do seeulo de que trsetam os seus livros.
t Ra muitos eseríptos sobre a nossa rainha , tanto em português, eomo
em outras lingoas. Em
hespanholcitam-seprincipalmenteos de frei Juan
de Torres, frei Juan Carillo, D. Juan Antonio de Vera, conde de Roca;
em italiano a obro do padre Jacob Fuligatti. Em vulfçar temos, enfre
muitas outras, as seguintes publicarões c Vida e Milagres de Santa

Isabel» por Diogo Affonso, Coimbra, 1560, 4.°: obra raríssima de que
se faz menção a pag. 24, u. 108 da Bibliog. Histor. Portug. por J. C. de
Figaniére, e que nfto podémos eonsoltar. c — Phenii de Portugal >
por frei Antonio de Escobar, Coimbra, 1680, 4.®~cHistoria de Santa
babel » por D. Fernando Gorrfta de Lacerda, Lisboa, 1S80 e 1735, am->

bas em 4.° < Discurso sobre a vida e morte de Santa Isabel» por
Vasco Mousinho de Quebedo Castel-branco, Lisboa, 1597, 4." em outava

rima. « Nova Esther em Portugal » por José Manuel Chaves, Lisboa, 1819,
8,*, poema. Se ó que se pode detinir poema o que não é mais que um in-

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4

142 MEMOHIAS

Na escolha de uma consorte, os príncipes deixam-se


guiar as mais das yezes pelas vantagens qde esperam obter
para a rnròn ou para fins qiio tem em vista. É mais que
provável que D. Dinis de Portugal, que com ser ainda mui
joven já dava signaes de grande politico, \\%ú se desviasse
desta máxima ; e que, sem talvez desestimar a fema tfoe,
segundo affirmam, já por esse tempo- soára nas diversa
cArtes da Euro[)a, a respeito da formosura da infhnta D. Isa-
hei de Aragão, se nsolvesse a pedil-a por esposa, {)ara (jue

por este meio (Conseguisse formar uma allianrn sc/mv) entre


as duas coroas de Portugal e Aragão, que servisse de re-


presa contra o poder preponderante do rei de Castel la. Tal
devia ser o motivo principal de D. Dinis, e a grande in-
fluencia que depois adquiriu nos negócios peninsulares, de*
vida em muito ao sen casamento, nSo srt aos seus* taten*
tos, abona assaz' a í)ors|)icacia do joven nionarcha.
Nada de bem autlientico achamos escripto com referen-
cia aos primeiros passos que se deram para. negociar o ma-
trimonio ; alguns leves promenores nos fbram transmitti-
lidos por um historiador aragonez, mâs níló os faz con-

«ossoac.prvo de instancias e rinins. Deixámos ao juizo do leitor decidir (|ual


podia ser o paraneloda santa nragoneza com a jadin da biblia, que co-
meçou por representar o pape) de concubina, on ottlropooeo iii«limr,rat
les de ser escolhida para rainha» sendo depois nas mftos de Mardoehe* um
initrndiento de vingança sanguinária 1— Ha uma rircurnslaneia noiavel.
Na edição de 18B7 dos Diálogos de Vnrfft Historia de Pedro de Ma rir,
falta, era todos os exemplares que lemos visto, o eap. 2." do Dial. 3.",
no qual, segundo se diz, o autlior tractava dp ^íaiit.i Isabel —
h vimos en»
dous exemplares (Biblioth. Nacinn.) o reirato d.i m^stna rainha nu logar
indicado. 0 texto que Talta. abrangia desde foi. 92 até 100 [ambns inclui-
dts) isto é, 18 paginas. Na dita ediçio o eap. 3.^ corresponde aoeap. I.*
'
em todas as subsequentes edições. Nfto' sabemos qiie alguém tenha visto
um exemplar completo da ediçfto de que tractemos. Pareee qae a censor»
teria mandado sapprímir aqnelle capitulo em lodos os exemplares, por
conter, talvez, alguns factos pouco accettnveís para os que se esforça-
vam por obter a canonisaçúo da rainha, que até ontâu se nio havia con*
seguido. £ o caso éque empregaram tanta diligencia e habilidade, que
boje nio resta o menor Tesligio do qoe se continha no citado capitulo.

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 143

, cordar entre si tanto como fôra para desejar. As chronicas


portuguezas se limitam a affirmar que D. Dinis mandára
mensageiros a Aragão a pedir a mão da. princesa ^. O es-
eríptor àragonez diz. por um que
1280 o re(i de
lado^ em
Portugal maudára commettw essa proposta por tres em-
baixadores chamados loUo Velho, Jo9o Martins e Vasco Pe-
res, e que a resposta de Pedroni fôra que enviaria os seus
agentes para tractar do negocio 2. Poroulro lado, reforin-
do-se ao anno de 1281, o mesmo .author diz (jue a esse
tempo» achando-se concordado o casamento da infanta com
D. Dmfs por ínterrencio do de França, o de Aragio.
rei
mandftra a este reino Conrado Lança e Beitran de Villa*
,

franca para pacificar a discórdia que existia entre o rei


de Portugal e seu irmão o infante D. AíTonso 3. Do que
se diz nas duas passagens citadas não é fácil resolver se a'
negodaçlo se fez em Portugal ou em Araglto; e quanto,
á tf^nrenfio finnceza, em nenhuma outra.parte a aebamoSk
mencionada.
A verdade é que a 24 de ahril de 1281 os dous ara-
gonezes. Conrado Lança e Boltran de Villafranca, se acha-
vam na côrte portugueza, onde flguraram como testemu-
nhas em dous diplomas passados em Vide (Casteiio de Vide)
naquelle dia, cujo assumpto parece indicar que o matri-
monio estava então concordado de todo, ou no mais essen-
cial. Por um delles D. Dinis fazia doação propter mtpHa»

a D. Isabel das viilas de Óbidos, Abrantes e Porto de Moz,


e para maior segurança assignava-lhe mais por arrhas
doze casteilos, a saber: Villa Viçosa, Monforte, Cintra,
Ourem, Feira, Gaya, Lamozo, Nóbrega, Santo Est^
v3o de Chaves, Monforte do Rio Livre, Portel e Monte

1 UMb. p. 497 Ml. 1. ^ PioA. Cbron. áe D. Oíbís «• S. A^vétta ilo


Mifil 4éU; MU ulliM ptei de 1981.
2 Zurita. Ann. da Àragê* L. 4 ê. 8«á fia.

3 lbid.e.lS.
U4 MEMOBIAS

Alegre. Pelo outro corutMlia o rei que L). Isabel po-


desse testar por 10:000 libras da moeda de Portugal, co-
'
brando-se esta quantia, depois da sua aiorte, dos reudi-
meotos de Obidoi^ Abrantes e Porto de Moz i. Nestes do-
cnmeotos diz o rei qae recebia a O. Isabel por mulher^ o
qoe mostraria qae as condições, ao menos as príncipaes,
deviam estar assentadas. Temos, porém, outro diploma de
data posterior cujo contexto, tomado ao pé da letra, im-
portaria o contrario. É uma procuração dada pelo rei em
Estremoz» ai2 de novembro do mesmo anno de 1281, fa.
zendoseosprocmradoresa João Velho» Joio Martins e Vasco
Peres (os mesmos mencionados por Zorita) para tractarem
com o rei de Aragão sobre o matrimonio delle D. Dinfe com a
infanta para o contrahirem por palavras de presente ou de
;

futuro ; para se entenderem com o mesmo rei sobre o dote


que lhe t)avia de dar, e receberem a sua importância etc. K
Para conciliar estes documentos poderíamos sappòr que,
achando-se as condíçQes ajustadas veiiKilmeiite, só com-
petia aos procuradores cumprir as formalidades do estylo
antes de celebrarem os esponsaes ; pode ser mesmo que
fícassetn alguns pontos indecisos para serem resolvidos pe-
los ditos agentes. Em todo o caso, em presença dos diplo-
mas de 24 de abrU de 1281, é difficil admittir que a esta
data uma e outra das partes interessadas nio estiTessem
concordes quanto ás bases do negocio. Ê de notar tam-

1 ClitiietU. de II. Diais L. 1 f. 41 e verso, em latim, e em lúl^u


naMon.Lusit. P. 5 L. 16c. 32,e no Cojrp. Diplom. Portug. T. 1 p. 3t. Vasco
Peres figura nestes documentos, o que faz suppôr a Brandão que elle te-
ria vindo de Aragão com os dous aragonezes. deixando seus iooipa«
nheiros naquelle reino, e voltando ali depois com a procurar.So, de que
em breve havemos de faliar. Veja-se como esse author conla o negocio
'
do ommento. Moo. LwiL P. 5 L. 16 e. Sa e segg.
1 BsU do recebimento de
i»rocuraçio etCá isclaida no insIruDento
o. Isabel: Chaocell. de D. Dinis. l. cit. Vem transcripto na Mon. Lusit.
P. S L. 16 c. S3 e escrit. xi na Hist. Geneal. T. 1 daa Provaa p. til ; e
:

na Corp. Diplom. Poriug. T. 1 p. 33 e 35. •

Digiti^oo by
DE O. ISABEL DE ABAGÃO 145

bera que apenas tres mezes decorreram entre a data da pro-


ciinição pnssada em Estremoz, e o casamento por palavras
de presente, o que deixaria pouco tempo pnra negociações.
Esta ceremonia praticou-se em Barcelona a 11 de fevereiro
de 1282, sendo o rei representado nessa oecasiSo pelos
tres mencionados procuradores i.
Em outra sec^o desta obra mostramos que a rainha foi
dotada pelo piw, ao revcz do que se tem aílirmado até
aqui, sendo provável que fosse a primeira das nossas rai-
nhas que trouxesse dote comsigo
Despedindo-se da sua pátria, D. Isabel fez a jornada por
tem, empresa que naqaelles tempos apresentava bastantes
difficddades. Dizem que seu pae a acompanbára até á
fh>nteíra dos seus estados, e que ao passar por Gastella, o
Infante D. Sancho, levantado já contra a authoridade de
AíTonso X, a fez acompanhar por seu irmão D. Jayme até
á raia de Portugal. £m Bragança adiou o infante D, Af*
fonso, que, por ordem de D. Dinis, aguardava a sua vinda
para a conduzir a Trancoso, onde elle a esperava ou vera>
ao seu encontro depois da sua chegada 3. NSo se sabe o

dia preciso em que isto teve logar comtudo certo que


: é
ali se achava a 26 de junho, segundo consta da carta de
doação daquelia villa passada a essa data por D. Dinis, po-
dendo ser que esse mesmo dia fosse o próprio em que os
esposos receberam as bênçãos nupciaes : a doação fez-se

1 Eis as pula\ riiii pronunciadas por D. Isabel neste acto < Ego Helisa-:

bet filia excellenlis doDiini P. dei gratia Illustris Regts Aragon, trado
corpus meam in oxorem legitimam domino Dionísio dei gratía Regi Por-
tiigali» et Algarbii abaentitanquam preaenti et eonaensam meum su-
per ipso matrimonio nobia procuratoribua predictís pro bono noraine
dietidomini Regia PortugalíoB »: Instrumento de recebimento, citado.
2 Veja-ae o que deixamoa dito na ímtbooucçâo Dotet ê Àrrhnit —
ad fín.
3 Lenda, — Acenli. Chron.
p. 49.S e seg. c. 14. — Piua, Chroo. de
O. Dinis c. 3. — Mon. Luait. P, 5 L. tS 33. e.
10
146 MEMORIAS

pan comifteiiiorsr as primeinift fistaB do rei com sua mu-


lher, como resa o documento t. A estetempo D. Dinis
coiilava quasi vinte e um annos : já vimos íjuo, segundo
referem, a rainha nascera em 1271, tendo por consequên-
cia apenas ooze annos. £m lodo o caso não podia exce-
der dos dezenove annos ^e para isso fôra necessário
suppol-a mais v^ba que seus quatro imdos — poisque
seus paes casaram a 13 de julho de iWá
Os primeiros annos do seu casamento passaram sem
novidade para a rainha, salvo a morte de seu pae, succe-
dida a 2 de novemhro de 1285. Acompanhava o marido
nas jornadas que este joveo e activo monarcha fazia a
miúdo pelas diversas terras do reino com o propósito de
prover aos negócios internos.
Na entrada que D, Dinis fez» em julho de 1298, no reino
de Gastella em soccorro de Fernando iv, contra seu tio o
infante D. João e seus parciaes, foi acompanhado de D. Isa-

bel até á fronteira. No anno antecedente a infanta D. Cons-


tança» sua íilha» que apenas contava 7 annos, fôra despo-
sada» nas pazes de Alcanises^ com o joven rei de Gastella
e posto que o recebimento se solemnisasse sòmente cinco
annos depois (1302), aehava-se já em Gastella, para onde
tinha ido em companhia da sogra. A rainha ficou em Sa-
bugal, em (juanto D. Dinis marchou com parte do sou
exercito para Ciudad-Rodrigo, onde se deteve até á vinda
das outras tropas que esperava, vindo ter á mesma cidade
a rainha-mãe de Gastella, D. Maria de Molina, com seu fi-

1 ChanceU. de D. Dinis L. 1 f. 42 verso impresM n« MocLmit. l,oit»


;

e no Corp. Diplom. Porlug. T. 1 p. 39. Brandão suppòe que a saDcUfl-


cação do consorcio se fez a 24 dc junho por ser dia de S, João, mas as
suas rasoes são triviaes O mesmo escriptor encarece o que dissera Ruy
de Pina a respeito das festividades nupciaesque tiveram logar em Tran-
com; a Lenda cifra tado em poucas palavras, dizendo apenast: « e alli
ae Glorio as bodas ». p. 499 eol. 1.
2 Bofarull, Condes de Barcel. T. 2 p. S43.
DB D. ISABEL DB ABA6Â0 t47

lho e nora. A pedido de D. Isabel as duas rainlias enron-


traram-se n um logar da fronteira casielliaBa denominado
Fuente-Gainaldo, onde a nossa rainha logroa apertar nos
braços a tenra filhinha de qaem a politica a obrigára a se-
parar-se em
annos tSo verdes.
Não se sabe o qne se passou entre as duas rainhas, nem
se a entrevista teve alguma influencia nos negócios públi-
cos. Ao cabo de doas dias fizeram as suas despedidas, re-
colhendo-se Isabel a Sabugai, onde aguardou a volta
do marido, que teve logar em setembro ^.

No anno seguinte D. Dinis fez seu testamento (8 de


abril); e poucos dias depois (i8 de abril) fez um codicillo,
mandando que, no caso que fallecesse, D. Isabel fosse lu-

lura dos infantes D. AíTonso e D. Constança 2, e regente do


reino durante a miooridade do herdeiro» com auxilio de
um conselho composto de cinco ecclesiasticos e do mei-
rmho-mór lo3o SimSo, que eram os mesmos que nomeâra
por testamenteiros. O rei desenvolve nesse documento al-
guns pontos concernentes ao mando que a rainha devia
exercer na qualidade de regente. Estas disposições cadu-
caram, como é sabido 3.

Uma chronica antiga affirma que nas conferencias que


houvejram em Badajoz no anno de 1303 ou 1304, entre as
còrtes de Portugal e Castella, D. Isabel, para poupar des-
gostos i filha^ conseguira á força de rogos trazer sen ma-
rido a termos de acudir ao apuro do erário castelhano,
dando ao genro, Fernando iv, um milhão era dinheiro, do
qual logo ali eatregára metade K Na falta, porém, de ou-

1 Mon. T,usit. P. 5 L. 17 c. 44 e 46.


2 Veja-se como Brandão explica o nomear-se a raioha tutora também
de D. Constança, aehamdo-M eaU em CaeteUa: Mon. Lnsit. P. 5 L. 17
€. 80.
3 Mon. Lusit. P. 8, Appead. escrít. xxxiv e zxxv.
4 Chron. de Fernando iv c. 19 f 34. a qual pôe a conferencie em abril
i&e 1304, o que Braná&o (Mon. Lnsii. P. 6 L. ISc. t) tem por erro, coUo-
148

Ira authoridade, élicito duvidar que se déssé tal munifi-

cência por parte do rei portoguez, podendo-se suspeitar


que, a ter o facto algum Aindamento» fosse empréstimo, e
nSo dadiva como dá a entender a chronica — posto que,
sendo a linguagem desta tão ambígua, tal\-ez se referisse
a uni empréstimo. Púde ser que fosse nesla conjunctura
que D. Diais emprestasse ao castelhano 1300 marcos de
^

prata, acceitando em penhor o casteUo e cidade de Badajoz ; I

a ser assim, nSo fôra necessário encarecer os esforços da rai-


nha, poisque o cauteloso monarcha não deixaria de se ter
convencido de todas as vantagens da transacção
Em 1304 D. Isabel teve a satisfação de tornar a ver a sua

pátria. O que proporcionou o ensejo, foi a escolha de


D. Dinis como um dos árbitros de ser com-
a quem havia
mettida a composição das desinteiligencias que existiam
entre Fernando it de Castella e Jayme ir de Aragão ; es-

ctndu a um anno «ntes. Esta chrooica, além de ser obsruta no et-tylu, é,


em uáo poucos logares, um conjuncto lifi inroiigrupncias. Ris o trf>( ho a
que se refere o lexlo :« pI rpy dou fernando liablo con el iiifaiiip ilou I

Juan y con dou juan nuHez, y pregunto le^ que puo8 eu las visus erao
ya,comonoa le dava le rey deporlugal elaver quele dixeron.e ellosha-
blaroB con el rey de ponugal, y el ettranolo mucho, j fbe el pl<>yio lle>
gado a luf^rque se ofieran de desaveoír aibbos los reyes por esta ra>
ton mas la reyna dona yi^abel de Portugal, recelando miirho la desave-
;

nencia de los reyes por lo de su liija, irnvo tanto con el rey de portu-
gal su marido, que uvn de hazer, que pronieliesse al rey un cuento! y
que le daria alli luegola mitad en badajoz: y In reyna hablo luego con el
rey don feroando su yernu que quisitrsise Hgur<i tomar este cueulo eo I

esta naoera. Tal rey non to quíoo bazer, sino por aquel judio que era su
privado y por algunosotrossos privadiia que roo cobidieia dei algo le |

aeonsejaron que lo tomasse: yel ovo Iode liater Aflcaron anboeeiai as-
sossegadoa los reyes.
1 Igiiorn-sp (juatido este empréstimo se fe/., mas consta o facto de um
documento pelo qual Fernando iv hypothecou Alconchel e Burguielhos
por outro empréstimo, que llie fez I). Dinis a 2 de julho de 13t1. Veja-
86 o Corp. Diplom. Portug. T. 1 Acenheiro (Chron. de D. Dinis,
p. 99.
nos loedit. de Hist. Portog. T. 5 p. 95) tambeai blla do enprasUno por
Badajoi, mas errou ns quaoUa; além de qoe dous^iemplaresdesn obra
diserepam «nire si.
DB D. tSAflBL M ARAGÃO 149

colha que a Lenda dis se devia á influencia de D. Isabel,


o que, sobre ser de si muito crível, se pôde inferir de uma
carta da rainha a seu IrmSo o rei de AragUo. Este docu-
mento, que pertence a 1302 ou 1303, prova ao menos
que ella teve alguma acção no negocio que pendia entre
seu irmão e o castelhano K D. Dinis devia também arbitrar
nas pendências entre Fernando iv e os infantes de la Gerda.
Os escriptores gabam muito a magnificência ostentada por
D. Dinfe nesta ida a Castells e AragSo, acompanhando-o,
além da rainha, passante de mil pessoas. Depois de se en-
contrarem com o rei e rainha de Gastella, caminharam juntos
para a raia de Aragão, onde foram recebidos por D. Jayme
e toda a sua corte. Houve grandes festejos para celebrar o
ajuntamento de tantos personagens reaes, todos tão pron-
mos parentes A sentença dos árbitros publicou-se em
Agueda no mez de agosto, e pouco depois os reis de Portu-
gal e Castella voltaram aos seus eslados, seguindo o mesmo
caminlio até Valladolid, onde se separaram, chegando o
portuguez com a sua comitiva a este reino pelo melado ou
finsde setembro
Poucos annos antes do que acabamos de referir, algumas
exigências do infante D. Âflfonso abriram e deram logar a
um acontecimento em que a rainha figurou por muito:
1 Veja-RP a caria, tioln XX no fim do volume.
2 Pina, Ch. de D. Dinis c. 11 p. 43. — Mon. Lusit. P. 6 L. IS e. 11 •
seg. Flores, Réyn. Cathol. T. 2 p. 378.
3 Os documentos a respeito lit^sie negocio vera no Corp. Diplom. Por-
tug. do visconde de Saalarem, T. 1 pp. bò —
97.— A Lenda de Sauta Isa-
bel, p. 502, pôe a jornada na era da 1312 em logar de 1342, o que é ola-
nunente lapso de peona do amanueose, on erro de impressão; tanto maia
qaanto é certo qoe. dizendo a mesma Lenda que oa reis estiveram ausen-
tes do reino desde a primeira semana de jolho até á' festa de Santa Ma-
ria em setembro, concorda perfeitamente com o que se (leduz de vários
documentosexistentes. Nota-se o luesiiio erronoChroti. Coniinb.enoBrevo
Chronicon Alcob., onde manifestamente se deve ler mcccxlii em vez de
cccxii, mencionam ambos expressamente o ter D. Isabel acompanhado
o marido: Fort. Mon. HisU serip. vol. 1 p. 4col. 2 § 8. e p. 21 col 1.
150 MKHOIUS
para o fazer bem sentir é preciso não só que passemos era
revista alguns factos anterígres, onas também as ulteriore»
consequências.
Afóra oatras villaa qae D. Âffonso in por soa morte
deixou a seu segundo genito o infònte D. Afifonso, annoe
antes (4i de outubro de 127!) lhe havia feito doação de
Marvão, Portalegre e Arronches, com successão para o filho
mais velho, ou íilha na falta de varão, determinando que se
ao iniante faltassem filhos legítimos, estes Ires castellos de*
TOlyeríam á corôa ^. D. Binis tinba apenas subido ao throoo
de.seus maiores quando a idzanit brotou entre os dous ir-

m3o8» chegando em breve a actos de Tiolencla. Alguns an-


nos depois veiu a rebentar outra guena entre eiles, gerada,
segundo parece, na ira com que D. Dinis vira o soccorro
prestado por seu irmão aos facciosos de Castelia contra
Sancho iy. D. AfGonso foi cercado pelo rei em Arronches»
e obrigado finalmente a submetteiHse, faiendo homenagem
pelos castelloa de liarvSo e Portalegre, ao passo que cedia
Arronches á corôa em troca de Armamar. Estas pazes íi-
zeram-se em dezembro de 1287 e janeiro do auno seguinte,
e dizem i|ue nellas tivera alguma influencia a rainha D. Isa-
bel ; mas
não consta dos documentos, e ella contava
isto

a esse tempo poucos mm


de idade K O infánte caeone-
n9o se sabe ao certo quando —
com D. Violante filha do
infente D. Manuel, que era filho de Fernando iii de Cas-
telia. Eram parentes dentro dos gráus prohibidos pela ignjja,

e isto por duas vias : 1.^ era o infante bisneto, e sua mulher
neta do referido rei de Gastella ;
2.'' D. VioUnte era bisneta
de D. Berengária, irman da rainha D. Urraca, avó de D. Af>
fonso. TomaTa-se portanto necessária dispensa do papa para
legalisar o matrimonio. Nada podemos dizer das diligencias

1 das Provas, p. 62.


HíRt. Geiíeal. T. 1
2 Vpjam-se os documeatos na CbaDcell. de O. Dinis 1*. I f. 114 vers»
a ao Arcb. Maciou.
DB D. IMiiL ms ABAOÂO
que porventura o tnfaute íez para aicauçai-a ; mas é cerlo
que nunca a obteve.
Vendo, pois, neste estado de cousas, que wm filbos— ott
antes o primogénito— perderiam o direito (te herdar os re-
feridos castellos, esforçou-se o infante por alcançar do rei
que os legitimasse, sendo provável que em primeiro logar
rei, que recusaria ou hesitaria
se dirigisse directamente ao
tomar uma deliberação. Passando enlão o infante a pedif o
apoio da rainha a íávor da soa pretendo, em vez de eflcon-
trar a benevolência com qnesem duvida contava, expérimen^
toa nella ima decidida opposiçSo. Desgostosas e certo da
inutilidade das suas instancias, soccorreu-se D. Affonso aos
meios violentos, visto que os suaves de nada lhe serviam.
Embaraçado já com a guerra de Castella, D. Dinis enten*
deu que ess^oiitra com que o ameaçava o inoSo, viri» em
má hora se fosse ávante; parecea^^ por conseguinte, me^
Uior satfsfozer ás exigências do desínqnieto infante^ fo-
rem, dons dias antes que o rei pozesse por obra o que
trazia resolvido, D. Isabel, em seu nome e de seus filhos,
protestou solemnemente contra a projectada legitimação.
D. Diuís, que estava presente—«bem como o bispo de Lis-
boa e mais cinco testemonha^-^ao ponderar o qae dis^énos
adma, isto é, que ia tegitíHar os ftibos de seu iraifo com
medo qoe este lhe fizesse a guerra, declarou que nSo enten-
dia que essa legitimação conferisse o direito a seus sobri-
nhos de herdarem os castellos de Marvão, Portalegre e
Arronches. Apesar disto a rainha persistiu em protestar,,

accreseentando que se acaso viesse a dar sen consentimentov


seria por €oacçau> do marido emedo da guerra do infánte.
Esle acto passoo-se na alcáçova de Goinibra a 6 de feve^
reiro de 1297, e tudo^ o fue ali se disse, e que acabamoe

de expôr resumidamente, for exarado n'um diploma cujo


original ainda existe, servindo de testemunha terrível con-
tra os principaes actores dessa scena, onde a má fé e a
152 . imoBus
prenrícacio semostiminmntodaa suaDudez, semana»
nor sombra de rebuço ^ De nada serríu, porém, o protesto -

da rainha, ou para melhor dizer, não obstou a que D. Dinis


effeituasse o que determinára, mandando d ahi a deus dias
lavrar a carta pela qual legitimava os sobrinhos, declaran-
clo-08 idóneos para herdarem sem impedimento todos os
bens, honras e senhorios que o pae entlo possuis K
'
de simples intai^o que o diploma em que se pôz por
É
escripto o protesto de D. Isabel, nâo era destinado a ser
publicado juiiUiinente com a cartii de legitimação, porque
neste caso faria conhecer ao infante o verdadeiro valor que
merecia esta ultima, annullando assim todas as vantagens
qoe D. Dinis esperava colher do artificio. O mais que se
deve suppôr é que« talvez, o bispo de Lisboa, em cum-
primento das ordens da rainha, flzesse constar aos outros
prelados que ella protestára, abstendo-se de tocar nas de-
clarações do rei. A única iilação que parece admissível
condizendo aliás perfeitamente com o uso ulterior que se
fez desse documento — é que achando^ a bra-
Dinis,
ços com Castells, e receiando os embaraços de uma guerra
civil, se resolvéra não a ceder lealmente á força das cir-
rnmstancias, mas sim a coiitemporisar com ellas. Enga-
nai o irmão era uni plano premeditado e d'ante mão de-
cidido: o rei dava-lhe a segurança que exigira, com o fim
de o pacificar, mas com a reserva mental de allegar op-
portunamente a nullidade da legitimando no ponto que di-
zia respeito aos castellos doados por Affopso iii. Para che-
gar a este fim com menos i nido c escândalo, ou por ou-
tra, para legalisar a traição, imaginou a comédia que se
representou na alcáçova de Coimbra, onde, fazendo pro-
testar a rainha, dava logar a que elle rei declarasse o ver-
dadeiro sentido que ligava ao acto que ia praticar —e a
1 Nota XXI no íim do vol.

2 Nota XXII no fím do vol.

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DK D. ISABBL DE ARAGAO f 53

circmnslaiicia de não se achar ainda passada a carta de^le-


githnaçSo aò tempo em que fazia taes explicações, toma
ainda mais saliente o dolo i.

Dous annos depois, em 1299, o infante D. AfTonso has-


teou pela terceira vez o pendão da rebeldia. A causa (jue
os historiadores assignalarn a esta nova discórdia pôde ver-se
em outro logar ^ ; apenas reflectiremos que é muito crivei
que, instruído o ínfonte do que na alcáçova de Coimbra
se machinára contra elle, se deixasse arrastar a esse ex-
tremo com tanta mais facilidade qnanto havia de ser intensa
a sua indignação. I). Dinis marchou a acommelter o infante,
que se acolhera a Portalegre : mas este resistiu por uns
cinco mezes antes de render-se. Finalmente fez-se a paz,
na qual dizem que D. Isabel influiu bastante, o que é na-
túral de suppòr o certo é que eila cedeu a posse de Cin-
;

tra, que o rei lhe havia dado em 1287, para que esta villa
e Ourem fossem entregues ao infante em troca de Portale-
gre e Marvão ^. Aqnellas duas villas l endiam ao todo i:iOO
libras, em quanto (jue o rendimento destas era só de 2:000
libras. O escambo, no sentido de interesse pecuniário, foi
: mas
pois favorável ao infante n3o o era menos a D. Di-
nis, porque tirava ao irmão turbulento dous legares im-
portantes da fW>nteTra —
d'onde fazia as suas correrias no
reino visinho. — posto que d'a[i o não aflaslasse de todo,
conservando D. Aflonso ainda Castello de Vide e Alegrete.

1Francisco Brandfto (Mon. LusiU P. õL. 17 c. 35} pubUrou é»se do-


enmento na integra, posto qve com bastantes erros, sem sentir o seo ver-
dadeiro alcance, ao menos não o dá n conhecer pelo contrario via ahi;

€uma das notáveis acções económicas da sanla rainha»: e foi, de feito,


muito notiivpl.
2 Mon Lusil P. 5 L. !7 r, 50.
3Esperança, Hist. Seraf. P. i L. 7 c 2i § 5., aífinna que durante esta
expedição do rei, ficára a rainha iocunibida do governo ; mas não diz
d'onde tiron esta noticia.
4 Bate escambo fez-se ao 1 de julho de 1300, e neUe figuram a rainha
e o infante-herdeira Chancell. de D. Dinis L. 3 1. 10 verso.
:

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151 MEMORIAS

TeDdochegadoámaíoridnde^oinfante-liordeiroconfirniod
— estando em Braga a ^
de julho de 4308— o protesto
feito em 1297 por saa mie, dizendo que elle também pro-
testava contra o acto de legitimação de seus primos : ao
que D. Dinis respondeu que u^o fora nem era sua teri-

ç?So que aquella legitimarão fizesse iiiipediniento á coroa.


Lavrou-se termo do mesmo, estando presentes, além do
rei e da raintia, o arcebispo daqueiia sé, os bispos de Lisboa
e Guarda, e mais algumas pessoas <. Isto foi sem da?ída
ordenado pelo rei como reforço e -complemento do que se
fizera na alcáçova de Coimbra.
A ultima parle desta trama macliiavellira fez-se esperar
ainda alguns annus : mas cliegon por fim, eo desfecho não
desmentirá a expectação dos que nos têem seguido na ex-
posição dos factos. Em novembro de 1312 falieceu o infante
D. Aflfonso, írm^o do rei,tomando este sem demora posse
de Cintra, Our^ e Armamar. O defuncto príncipe dei-
xara varias filhas, achando-se a mais velha, D. Isabel, ca-
sada com D. João o torto, senhor de Biscava : foi esta que
veiu a I*ortugal reclamar os ditos castellos. Passou-se quasi
tres amios, empregados talvez em esforços inúteis da parte
da herdeira do infante para obter do o que lhe per- tio

tencia de direito. Isto, porém, é simples conjectura, porque


nada alcançamos do que se fez neste íntervallo. Passado
elle, vemos que D. Isabel de Biscava resolveu trazer o, ne-
gocio a juizo, nomeando, em setembro de rU5, por pro-
curador a Fernão Vasques do Cintra para demandar as tres
referidas villas K O pleito teve iogar a 30 do mesmo mes,
1 Na sentença, que adiante leremos de citar, se diz que chegára a r»-
vora ; tinha o infante 17 aunos 5 lue^es e 12 dias.
S BfI» diploma icht-se na integra no mstrmnento (que terenraa de
eoDsiderar opportanameiite} de julgamento doa direitoa da filha do Ui»
lante D. Affonso: Chancell. de D. Dinia L. 5 f. 97 até (M ; Te|a-ee nni'
pouco antea do fim.
3 A procaraçA» é daiada de Cinira a SB de aetembro. A IS do meamo

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1

DB D. ISABICL DB ABAGÂO 195

designaudo o rei por juízes aos bispos de Lisboa, Évora, e


Goimbni ; a João Martins, chantre d'£vora ; Francisco Do-
mingues, prior de Alcobaça ; e mestre Joio, letrado. Seu
advogado e procurador foi Estevão Peres.
O procurador de D. Isabel de Bíscaya fundou a sua re-
clamação sobre a carta de doação de Marvão, Portalegre
e Arronches, e os dous escambos pelos quaes estas villas
baviam sido trocadas pelas outras três que agora se recla-
mavam, passando a ler os próprios diplomas. O advogado
do rei n^ou o direito allegado, pretendendo provar a sua
asserto pelos seguintes argumentos, que resumimos:
que AíTonso iii promettôra eni Paris não alhear cousa al-

guma da coròa, toroando-se portanto irrita a citada doação,


que fôra além disso prejudicial ao reino; 2.*^ que o in-
fonte infringira as condições da doação, bosUlisando o rei
de Gastella contra o mandado do rei seu írmio ; 3.^ que itoo
não se remediava com as cartas d'escambo, visto que ellas
assentavam sobre as mesmas condições da doação de Af-
fonso III, e que sendo esta sem validade não a tinham tam-
pouco aquellas; 4.''que D. Isabel não era legitima. Em lo-
gar de rebater tão grosseiros sophismas, e mesmo falsida-
des (o que fôra facillimo o procurador da authora hou-
vesse pedido se lhe facuitasae o juramento de Affonso m,
e se se tivesse aproveitado dos diplomas que acabára de ler),
contentou-se de affirmar a legalidade da doação, não se fa-

zendo cargo senão de contrariar o quarto argumentoallegado


por parte daeorôa, lendo a earta de legilimaçSo concedidi

mcz, esUndo em Lisboa» D. Isibel de Bleeaya vendeu a O. Dinis por


em Castello de Vide e Alegrete.
6:000 libras a terça que lhe perteocia
Suas irmans D. Beatriz e D. Maria tinham cada uma vendido a sua
ten;a pelo mesmo preço, esta, por procuração, a 3 de setembro, e a
primeira a 5 do mesmo mez. A procuração passada por D. Maria foi da-
tada das Huelgas do Burgos a 16 de jullio do mesmo anuo por onde ae ;

eoohece que o negocio da Tende se traeltTa havia algam leapa.Vcjtai-s«


08 doeumealos na Chancdi. de D. Oinls L. 8 C 100 e segg.

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156 mHOBUS
por D. Dinis. Porém Estevão Peres estava preparado:
D. Isabel fòra legitimada, isto nlo negava elle, mas Insis-
tia que nem por isso era c legitimai pem ilegitimamente
natat e que a sua legitimação nSo Ibe dava jus para her-
,

dar os castellos, visto o protesto que a rainha havia pre-


viamente feito, bem como a confirmação do mesmo sul)-

sequentemente feita pelo infante-herdeíro, e attenta a de-


daraçlo do rei de que nunca fôra sua ten0o legitimar
os filhos de seu. Irmio de maneira que podessem herdar
as villas em questSo : passou entSo a ler esses dous diplo-
mas, que formavam a bem dizer o eixo sobre o qual girava
o negocio todo. Depois de uma débil insistência do pro-
curador de D. Isabel de Biscaya, julgou-se que haviam sido
sufficientemente ouvidas uma e outra parte, adiando os
juizes a sua sentença para o£mfim, recapitu-
dia seguinte.
lando os argumentos enunciados na véspera pelo advogado
do rei, os juizes sentenciaram que D. Isabel não podia nem de-
via herdar as villas e castellos de Cinira, Ourem e Armamar,

nem ter b privilegio de renovar o pleito. Deste modo as vil-


las íicaram sendo deíioitivamente propriedade da corôa ^
Não é preciso ser jurisconsulto para resolver sobre a
manifesta injustiça dessa sentença. Em primeiro logar era
felso asseverar que Alfonso iii nUo podia fazer a doaçSo
por causa do compromisso que assignára como conde de
Bolonha em Paris nenhuma das clausulas daquelle diplo-
:

ma lhe punha o supposto impedimento ao contrario ha ;

uma pQla qual reservava o direito de fazer mercês de terras


ou de dinheiro do modo que lhe aprouvesse, sem se si^jeitar
aos conselhos dos prelados ^. A doação podia ser preju-
1 Veja-se o julgamento, regií>trado na Chancell. de D. Dinis, L. 5.
foi. 87 até 9.) Só a ultima parte do ducumento original existe hoje;
acha-se oa Gav. 12 maç. 5 n.° 1 no Àrcii. Nacion.
% cPer hoc «atem Saeraroentoni Don intelligunt dieti Arehiepi>«o-
pos et Episcopus Comitem ene obligatnin. et io dando et toUendoterree
BegeU et in peevniís soie dandis teaeatar eeqiii eensiliom Prelatorom

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 157

dicial ao reino, mas isto nSo a invalidava, havendo sido con-


firmada por um grande nmnero de ricos-homens, prelados
e letrados do reino, o que entSo bastava píira legnlísnr do-
cumentos desse j^enero, como é notório, e bem o lembrara
a própria rnintin no seu protesto, com qunnto n outro [)ro-

posito. Além de que o


pretexto de perigo para o reino já
não coibia, porque os castellos da fronteira liaviamsido re-
nunciados por outros mettidos muito no interior do paiz.
O segundo ponto era o único em que havia alguma força,
mas essa mesma força é mais apparente que real. Verdnde
é (pie AíTonso lu mnndína na donção que seu filho e os
successores deste íizessem a guen a e a paz por parle do rei
porém a passo igual preveniu o caso de querer o rei fazer
algum damno ao irmão ou a seus successores, estipulando
({ue, não obtendo reparação na fóitna por elle prescripta,
dava plena liberdade ao infante e a seus successores para pro-
cederem como entendessem Fôra, pois, necessário exami-
nar detidamente as rasões que abonavam um e outro lado uas
guerras que se travaram entre os deus irmãos. £sse mesmo
exame teria sido, em
de propósito, por isso
rigor, fòra
que a 3 de julho de 1300 o rei fizera exarar um diploma
em que promettía não desherdar o irmão dos seus castellos e
villas por causa da guerni que tinha havido entre elles 2.

Nos argumentos do 3.*" ponto, o procurador do rei não foi


mais feliz. Pois de certo os escambos ernm uma confirmação
da primitiva d.oação, que, suppondo-a iilegal— que o não
era, —
tomava-se deste modo valida. No escambo relativo
a Cintra e Ourem feito em 1300, mais de três annos de-
pois do protesto da rainha, D. Dinis declara expressamente

si melíussibí apparuent, et hoc concedunt eiiiem* Juramento feílo em :

*
Paris em 1245, no tini impresso n» Mon.Lusit. P.iAppend. Mcrit.xivi;
;

e Da Hisl. Geneal. T. tUs Provas p 51.


1

1 Veja-se a cilada carta de doaçáo, no fim ; impres&a Da Hist. Geoeal.


T. t das Provas p. 62.
1 ChafieeU. de D. Dlnlt L. 3 f. II.
*

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158 MEMORIAS

que essas villas deYiam, por morte do infante, passar a seus


successores por tierança, repetindo-se nada menos que tres
vezes os termos t por herdamento pêra sempre » de mais ;

a mais, a própria rainha e seu filho figuram neste diploma,


tirando assim toda a duvida quniito á sua legalidade. Em-
fim, por cumulo de iniquidade, os juizes admittiram o pro-
testo da rainha D. Isabel, e mórmente a patente preyari*
cacio do rei nelle contídsi, como sufficientes para invali-
dar o acto de legitimação, documento redigido em termos
tâo claros e explicites que pareciam não dar azo a sophis-

mas. Mas que segurança pôde haver para os súbditos quando
aos tribunaes falta a independência, única garantia da jus-
tiça? quando ministros corruptos dobram a cerviz aos man»
datos do poder falho de consciência ^ ?
Que diremos do modo por que a rainha figurou nesse
esbulho dos direitos da sobrinha ? De duas uma ou o pro- :

testo foi espontâneo, ou ella andou de accordo com o ma-


rido, o que significaria neste ultimo caso, embora a isso

fosse compeliida por D. Dinis, que se prestára a servir de


instrumento para se praticar uma injustiça bem patente

i É de notar que, seit dias depois da sentença, isto é, a 7 di*. outa-


bro, D. Dinis, junto eom toa malher
e o infante-herdeiro. deu Giotra a
aua sobrinha» daDdo-lhe também, por outro docnmeato. Penella eMi.
randa no bispado de Coimbra, e vários bens no de Évora (veja-so
ChanceU. de D. Dinis L. 3 f. 07 e seg ). Esie fanto, em presonça da fra-
quissima defesa sustentada pelo procurador de D. Isabel de Biscaya,
^ faria suspeitar que o litigio fòra apenas uma formalidade, e que os con-
tendores se línliam ttccordado d'ante mão, prevendo porventura afilha do
infante a parcialidade qde haveria na sentença. Talves isso se possa ex-
pitear, bem eomo a vantagem que o rei loerav a apesar dessas doações»
porque ao passo que sabemos que o infante D. ÀffouM tivera a juris-
• dicção e direitos reaes nas villaa de que se tractava, vemos que na doa-
ção de Penella, Miranda etc, feita a D. (aabol de juro e herdade, esli-
pula-se que nem eLia nem seus successores teriam a jurisdicrão. A doa-
çáo de Cintra era só em vida de D. Isabel, e fazia-se como mercê, facto
que a própria D. Isabel reconhecia por estas palavras: tE eu sobredita
D. Isabel tenhoQOlo en meree e assim o outorgo.

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«

Dfi D. ISABEL DC AHAGÃO 159

por meios altamente immoraes. Nesta ultima hypothese, a


parte que coube a D. Isabel falia pouco em seu abono.
Nem vemos que se ganhe muito escolhendo a primeira, pois
que quando mesmo ella se persuadisse ter justos motivos
para se oppôr á resolução do rei, era de suppôr, attendendo
á Índole que alguns escriptores se ufanam em attribuir a
esta princesa, que, ao maiiifestar-se o desígnio doloso do
marido, levantasse a voz contra .tamanha deslealdade, in-
sistindo^ uma vez que D. Dinis se mostrára inabalável no
intento de legitimar os sobrinhos —
que se cumprisse sem
tergiversação o que elle ia tão solemnemenle prometter.
Em vez de assim proceder, vemol-a annos depois — tendo
havido tempo dc sobejo para consultar a consciência — as-
sistindo em Braga a outro acto análogo ao que se prati-
cára em Coimbra, b qual por conseguinte sanccionava, ao
menos tacitamente. Blas é fadl, attentas todas as cir-

camstaucias, desistir da idéa que tudo se fizera de combi-


nação, não desconhecendo a rainha o verdadeiro alcance
> do quinhão que tivera neste tristíssimo negocio.

D. Isabel parece ter mantido mui constantes e estreitas


relaçQes com a sua famiha : desde o seu casamento vemos com
frequência as côrtes de Portugal e Aragão intervirem reci-
procamente nos graves negócios que n*uma e n'oufra occor-
riam. Mas a rainha não se empenhava somente nos negó-
cios do irmão mais velho: lembravn-sc também dos outros.
Tinha um, chamado Fradique ou Frederico, que cingia a
corôa de Sicilia, e se achava a braços com o seu visinho Ro-
berto, rei de Nápoles. Tractou-se em 1317, entre o papa e o
rei de Aragão, diligenciar um accordo entre os dousbelifge-
rantes. Não ha indícios de que D. Dinis se associasse com
elles para esse fim: mas um historiador aragonez de res-
peitável authorídade aâirma que D. Isabel tomou parte
na negociação. Havia de ser antes lío caracter de irman
dos reis de Aragão e Sicilia, do que na qualidade de rainha

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4
160 MEMORIAS

(le Portugal. Entre os ar;i^'onezes que ella liníia junto de


si, liiivia um ecclesiaslico cliamado Berengario de Mon-
rocU. arcediago de Xativa: foi este que a raiolia despachou
como agente seu para se ir reunir aos comniíssaríos apos-
tólico e aragonez, e apoial-os na missSo de que tinham
sido encarregados. Dirígiram-se todos três a Nápoles, onde
assentaram com íidlu i toas twses de um aciordo. que foram
depois sulMuetler a Kradique em Messina. Os lios agentes

uào souberam fa/.er com que os mouarchas se compozes-


sem de um modo duradouro: mas ao menos conseguiram
concluir uma trégua
D. Dinis estava destinado a passar os últimos annos do
seu reinado no meio de desgostos e dissenções domesticas,
que sobrepujaram tudo (|uafito soffrêra neste género du-
rante os primeiros. Nesse tempo tivera de luctar com um
irmSo ambicioso e turbulento ; agora, no fim dos seus dias,
um filho único veiu com mSo armada lançar a desordem no
paiz. coalharo throno de espinhos e desafiar o amor pa-
terno. Os successos desta guerra pertencem á historia ge-
ral do paiz mas tocaremos de leve nos pontos mais salien-

tes, para que se possa entender a parte que nelles coube

á rainha.
Gosando desde os mais tenros annos uma certa indepen-
dência. concQdída pela fraqueza ou talvez vaidade paternal;
exposto justamente na idade em que mais nos deixamos le-
var das impressões para —
bem ou para mal idade que mal
pôde prescindir do alTectuoso desvelo dos paes expos- —
to, dizíamos, á influencia dos que o rodeavam, o infante,

que* como o tio^ se chamava Affonso, apenas chegára á ado-


lescência, descobriu um espírito insubordinado e desin-
quieto. Homens pérfidos e interesseiros souberam a tal

1 Zoriu, Aoo. de Angio T. 2 L. 6 c. S4. —Mon. Lusil. P. I L. 18 c. 60;


onde se dii que a rainha eacrevêra ao papa por via de Boiengario de
Monroch.

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DK D. ISABBL DB ARAGÃO 161

poDto captiTar-lhe o animo que acabaram por abafar Delle


quaesquer sentimentos filiaes qae porventura a natureza
lhe implantára no coração, arrastando-o emfím ao passo
desnaturai de se sublevar contra o pae. Os primeiros actos
desta rtíbeliião tiveram principio pelo melado de 1319 i.

D. Dinis tinha um fdlio natural ciiamado AíTonso San-


ches por quem sentia profunda afifeição. Além de muitos

bens que adquirira por doação do pae« era mordomo*mor«


*
primeira dignidade do reino. Pelas insinuaçõès dos seus
validos o infante principiou a mostrar-se desconfiado do
favor cuni que AíTonso Sanches era tractado, afi(?uraiido-se-
Ihe, ou lingiiido acreditar, que o rei tencionava deixar a

corôa ao bastardo predilecto. Por via dos seus sequazes


fez espalhar entre o povo boatos nesse sentido, afirmando
mesmo que se entabolavam negociações em Roma com o
indicado fim. As intrigas n3o pararam aqui : para grangear
as sympathias da plebe e encarecer o odio, que similhan-
les projectos da parte do rei, a serem provados, deviam
naturalmente incutir» pretendeu ter descuberto uma cons-
píraçSo do bastardo para o «envenenar a elle legitimo her-
deiro do throno ;deu côr a esta accusaçio enviando a
seu pae um documento forjado. Porém D. Dinis, proce-
dendo como homem previdente, obteve a certeza da falsi-

dade desse diploma, podendo assim rebater similhante im-


postura, provando ao mesmo tempo, por uma carta que
impetrára do papa, o nenhum fundamento que existia quanto
a haver elle intentado negociações com Roma afim de dei-
xar o sceptro a Affonso Sanches. Tudo isso, e muitos ou-
tros factos relativos ás demasias do infante (que aspirava
nada menos que á entrega do governo do reino, no que
era apoiado por sua sogra a raínha-mãe de Castella)» expôz

1 Éoque se infere do que diz D. Dinis no seu segundo manifesto, de


IS de maio de 1321. declarando que c o infante partira mui sanhudo ora
auêra áout afino*».* Oa?. 11 ma^. 8 n." 37. no Areh. Naeion.

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O rei n um laaiiifeslo que publicou no 1.'' de julho de
U20 1.

£nt9o o infante attrahia junto a si nUo só as pessoas


qae se achavam malquistas na côrte. mas também aquellas
que eram perseguidas pela justiea. O seu pendão tornou-s^
a guarida mais seguia de quantos criminosos havia na paiz:
ninguém que se apresentasse era recusaflo com tanto que
tivesse a offerecer uma espada, e um braço robusto para a
vibrar. Gom esta força heterogénea percorreu a província
dllntre Douro e Minho, saqueando as povoações, e talando
os campos. Dirigiu-se depois contra Leiria, que pertencia
a sua mie, e alcançou apoderar-se da villa por traição doai-
vazil fi d nnlros magistrados. Ao ter rebate desses successos,

o rei pariui logo com rosto em Leiria, ao passo que D. Af-


fonso ia sobre Santarém, onde com effeito obteve entrar.
No entretanto, havendo recuperado Leiria e castigado com
pena de morte os magistrados fementidos, D. Dinfs voltou
de novo a Santarém. Constando-lhe a vinda do pae, o in-
fante sahiu desta villa. e passando por Torres Novas e Tlio-

mar, de que se não pôde assenhorear, chegou a Coimbra,


ou antes aos seus arrabaldes, que elle habitava com sua mu-
lher a infanta D. Beatriz. D'ahi a pouco, fingindo uma ro-
maria a S. Vicente, caminhou para Lisboa, de que natu-
ralmente desejava apoderar-se. Mas o rei não se deixou il-

ludir : tomou n saliir de Santarém ao encontro do filho re-

belde, o que obrigou o infante a abandonar o seu pi;ojecto,


indo aquarteiar-se em Cintra. Estava o rei no Lumiar com
s«a mulher quando esta nova chegou ao seu conhecimento
éetânninou incontinente marchar contra D. Alfonso. A tra-
dição accrescenta que, desconfiando de que D. Isabel infor-
ma va o infante de tudo, procurára dei.\al-a na ignorância

1 Não o encontrámos, mas vem resamido na Mon. Lusit. P. 6 L. 19


G. IS. Sobre os |§ antecedentod f «»ja-se a mesma obra c. 16 em diantt.

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DE D. ISABEL UE AhAGÃO 163

do seu destino, mas que vindo ella a suspeitar a verdade,


mnndára a toda a pressa avisar n fíltu». Fosse como fosse,

é certo que D. AíTonso esperou o pae a pé íiriiie cnin as


suas foiças dispostas em ordem de batalha. D. Dinis nâo
attacou o filho ; e se esperava reduzil-o à obediência só
com ameaças, não iogroa o intento, poisqae o infante, sem
eiirarde submissão, dirigiu^se ao Lumiar, onde, diz a tra-
dição, se avistou com a mãe, que não vira havia muito
tempo. Não se deteve aqui foi acampara pequena distan-
:

cia, n uma aldêa chamada Aibogas, aonde seu pae não


tardou em apparecer. Havia, comtudo, natural repugnância
de um e outro lado a lançar mSo da violência, ao menos
da 'parte do rei, que assim o confessou depois, o que alias
facilmente se concebe. O sanf^ue, portanto, não se verteu,
recolhendo-se em breve o íilho pertinaz aos arrabaldes de
Coimbra, ao passo que D. Dinis se foi a Santarém. Estes
acontecimentos tiveram logar entre julho de 1320 e março
de mi 1.

No meio dessas contendas, a posiçSo da rainha era real-


mente digna de commiseraçlSo. De um lado a chamavam os
deveres de esposa e rainha, do outro a piedade e ternura de
mãe. Fosse qual fosse a causa a que ella prestasse a sua in-
fluencia, ou em favor da qual a fortuna se declarasse, o
coração de D. Isabel nem por isso soffiria menos. A tradi-
çSo impnta-lbe o ter favorecido a parcialidade do filho, não
se contentando de lhe dar os avisos necessários para li-

vral-o de perigo, mas subministrando-lhe também meios


pecuniários. Ao menos insinua que o rei assim o suspei-
tara ; e a entrada do infante com tanta facilidade em Lei-

1 Segundo Qianifesto de D. Dinis, datado de Lisboa a 15 de maio de


1321 Gav. 11 maç. 8 d.°37. no Arch ^iacion. De uiu documento, a que
:

opportonamente teremos de referir, consta que o rei eataTa emSantarem


a X9 de março.—Póde-se consultar também a Mon. Lasit. P. 6 L* 19 c. SI
e Append. (Lenda de Santa Isabel) p. B04 ; e Pina, Chron. de D. Dinis
c. 23.
164 MEMORIAS

ria, que pertencia á rainha» justificava em parte a sus-


peita. Sobre a verdade de taes subsídios nada sabemos com .

certeza ; todavia, não só os successos, mas o raciocínio es-


tãD-nos persuadindo gue a rainha se inclinaria mais para o
lado de D. AíTonso. É natural que ella em primeiro io^r
forcejasse por trazer o filho á obediência e respeito de-
vidos ao pae, e porventura, por insistir com este que at-

tendesse ás exigências menos extravagantes daquelle ^


Mas é licito suspeitar que, achando baldadas as suas dili-
gencias, não deixasse de apoiar o infante, ainda mesmo
que lhe não désse rasão em tudo. O valimento de Affonso
Sanches devia ser tão mal visto da rainha como era odioso
ao infante ; embora houvesse motivos de descontentamento
contra este, a mSe nSo os veria á mesma luz que o mo-
narchá ultrajado, e a sua sympathia em taes circumstancias
seria toda a favor do filho, a seu ver opprimido. E se essa
sympathia se limitava a dar-lhe avisos e prevenil-o do pe-
rigo, poucos terão o animode condemnal-a; posto queD.|Di-
nís, como parte interessada, não devia encarar similhante
procedimento com a mesma indulgência. Mas se, efi^ecti-

vamente, D. Isabel prestava soccorros pecuniários ao in-


fante, fomentando assim uma empresa digna de reprova-
ção, fôra díífícil eximil-a da culpa de uma transgressão de
deveres.
Segundo a Lenda, parece que D. Dinis, induzido por seus
conselheiros,que assacavam á rainha o participar tudo ao
infante e até, como vimos, o dar-lhe ajuda aindi^ mais su-
bstancial, privou-a. estando em Santarém, dos rendimentos
das suas villas, mandando-a recolher Alemquer para ahi
a

permanecer em quanto fosse do agrado delle rei. Referem


mais, que os alcaides dos castellos da rainha foram procu-

1 Éoque 86 pôde inferir de uma çarU a seu irmáo o rei de Aragio,


veja-se a nota XXIII no fim do voluoie.
4

DE D. ISABEL DE ARAGÃO 165

ral-a nessa viilá^ offérecendo-lbe o poder de seus braços para


sastentar os sens direitos menosprezados, offerta que ella,

como esposa obediente, recusara i.


Quanto, porém, a esta
ultima asserção, aiimittindo-se mesmo que os alcaides dessem
similhante passo, a natureza da sua teneocia, sendo sujeita
ao senhorio eminente do rei, não lhes permittiria pôr por
obra o que propunham; assim que a recusa da rainha iiio
procederia, talvez, depura longanimidade. Mas o feeto em
SIé suspeito. No mais, com quanto os escaços monumentos
que nos restam não provem positivamente o desterro de
D. Isabel em Alemquer, não podemos, comtudo, deixar de
reconheoer-lhe muita probabilidade.
Os authores nSoflxama data precisa do successo. Ha quem
o colioque logo depois da tomada de Leiria por D. DInfs
mas attemo-nos ao que se colhe do texto da Lenda, isto é,
que foi depois de se recolher orei da ahlêa d'Albogas a San-
tarém. De feito, affirmam, como logo veremos, que a rainha
ao sahír d'Âlemquer—>onde permanecâra algum tempo por
ordem dorei*— fôra{^ onortecomintento de pacificar o ma-
rido eo filho, que seachavam denoYò em hostilidade é certo :

que isto foi em 1322, porque se seguiu á tomada de Coimbra


pelo infante, successo que se realisou a 31 de dezembro de
1321 ^. Ora. temos um diploma original de D. Dinis, no qual
diz que a rainha lhe havia representado que o almoxarife delle
rei constrangia a algunsmoradoresde Paredes (que pertencia
a D. Isabel e se achava no termo de Leiria) para que ser-
vissem na frota real ; e, havendo-lhe a mesma princesa mos-
trado uma carta do foro, ou foral, que o rei dera aos ditos
moradores, eximindo-os, entre outras cousas, de serem

1 Lendt p. 505. — Pina, Chron. de D. Dinis c. 11. A rainha tinha


nesse tempo seis villas, cujos alcaides ernm dn sua nomeação: Óbidos,
Abrantes, Porto de Moz, Leiria, Torres Novas e Atouguia.
- 2 Brandão, Moo. Lusit. 1. cit.
3 Chron. Conimb.adeer. 1359, vid.Porl. Mou. Uist.scrip. voi 1 p. 5§ tO.

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I6G MEMORIAS

por mar quer por terra, maiuiava


olirigados a servir quer
agora, a pedido da mesma rainha, que se ibes guardaaae
0 seu foro, e que elle almoxarife desistisse de os vexar por
esse motiTo:é datado de Santarém a ^
de março de 1321 t.
Pornilui s«' côiihece que nesta dala a rainha ainda não tinha
sido }>rivada dos seus direilns, e que havia de estar em com-
panhia do marido, lâto couiirma-se por mais deus diplomas :

a 21 de abril do mesmo auno, a rainha, estando em Santa-


rém, deu ao convento de Santa Clara de Coimbra vários bens
em Montemor-o-velbo: e a 24 do dito mez deu ao oiesmo
convento a quinlan de Fungalhas e outros bens no termo
de Torres N( iv.)s Seírue-so d alii que o seu desterro se não

verificára antes de áide abril de I3ál. Por outro lado, a carta

escripta a seu irmão, o rei de Aragão, á qual alludimos acima,


é datada deAiemquera 23 de dezembro, sem indicado do
anno. Se admittirmos o facto do desterro de D. babel, em
carta (em que ella pinta com tanto sentimento o auge a que
havia chegado a disi-onba cíiire o marido e o filho, a inu-
tilidade dos seus esforços para osapazi^niai*, achando obstá-
culos nos que cercavam o rei, e ca rida amargosa que ella
vima*) fòra sem duvida escripta durante aquelia epocha,
nSo podendo, por conseguinte, pertencer senão ao anno de
1924 3.

Kxiste um documento que talvez, indirectamente, venha


apoiar o que se diz a respeito da rainha ter sido privada dos
rendimentos das suas terras. Parece que em 1287 D. Isabel
mandára, por nâo de um minorita, entregar ao abbade do
mosteiro de SantasCnizes de Barcelona o original da carta de
dotação que D. Dinis passára a favor de sua mulher— certi"
mente a mesma pela qual lhe dera Óbidos, Abrantes e Porto
deMoz, ou ao menos a ampliação de 23 de junho de 1287

1 Era de 1389. CoHecç. Bspec. eaisa 30. ao Areh. NaeiM.


1 Nota WIV no fim du volumo.
3 ?9ota XXlll ao fim do lotume.

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DB D. ISABet I)E ARA(ÍÂO 167

— parn ain ficjr em deposito. A 5 de outubro^o anuo apon-


iado, dirigiu-Uie o abbade uma carta em que accasava ter re-
cebido odocumeDto, prometteDdo devolver-ih'o, entregan-
do-oa quilquer pessoa qae lhe apresentasse uma ordem por
escriptod<*ll;i rainha pai a í'ssh elTeito. Eslc recibo oii carta do

ahbade de Santas Cruzes existe em publica fórma datada de


Lisboa a á5 de setembro de i3il, a qual foi lavrada a pe-
dido de Pedro Sanches, clérigo da rainha, dt em nome
mesma. O do recibo tinha sido apresentado ao ta-
original
belliSo pelo dito clérigo, achando-se presente o yigarío
geral do bispado de Lisboa, e varias testemurthas L Não e
muito crivei que D. Isabel, vendo-se despojada das suas
vilias, e não tendo ao seu alcance o original da referida
carta de dotação, mandára pôr em pubiica fórma o dôco-
mento pelo qnal constaya a soa existência? Devia certamente
ter algum motivo para fezer essa publicado 34 annos de-
pois da data do deposito: e note-se que tendo-lhe sido da-
das por Lhy,\vi\o p rapte r nuptins, antes mesmo de se casar,

como vimos, as villas d Obidos, Abrantes e Porto de Mojí,


eram justamente as que o rei não teria o direito do lhe ti-
rar, não cabendo duvida alguma que a carta do abbade se

referia em especial áquella doação, em vista das expressões


de que se serve ^. A ser admissível a nossa hypotbese,

1 KiicoiUrúrnos es.sp 'iocurn. no cartório de Santa Clarii d*» Oiirnbr» ;

tem pendente o seilo do bispado de Lisboa, que se collocou a pedido do


clérigo da rainha.
S ftrater minornm nun-
Dominieiís de Portugália de ordine fratrum
èitts domne Blisabet Regine PortiigaUe...tradiditin deposito
lUastria
ex parte dicte domne Regine, veoerabUi fratri Januário abbati monasterii
sanctarum Crucium, Instrvmentnm dotalicium ip$ius domnê Rêgine si-
giilatum sigiUoplumheo íllnxtris Heqis Porfu^aíif efe. É possível que,
junto com a doarão primitiva de 24 d abrti de !:í8l, n rainhí» mandasse
a ampliarão da mesma, que lhe foi concedida a i3 de junho de 1287 (ve-
ja- se adiante, onde falíamos das terras da rainha), poisque esta data
quadra moitoben com a do recibo do abbade, 5 de outubro do memo
anno. Ou pôde ser, como já inainuámos, que este prelado se referisse só-

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168 IIEM0MA8

vé-se que D. Isabel não desprezava os seus direitos, nem


da?idava tomar medidas para resalyal-os. A tradição, tanto
a respeito do desterro,como da privação dos reDdimentos,
não nos parece mna ficção, sendo de crer que D. Dinis
apartasse de si sua mulher entre de abril e i5 de maio
de i32l; porque a esta data estava o rei em Lisboa, e
áquella D. Isabel se achava em Santarém, como vimos, ao
passo que a memoria, que nos transmittiu o conhecimento
daqueile facto, diz que foi desta ultima yilla <|ae a rainha
partira para Alemquer.
Nesse meto tempo a discórdia entre o pae e o filho ia
tomando incremento, adquirindo cada vez novo calor nem ;

havia sido possivei a D. Sancho, que viera da parte do rei


de Aragão seu irmão, reconcilia-los i. Depois de se asse-
nhorear de Coimbra (31 de dezembro de 13âi), Montemor-
o-Telho, Gaia, Feira e Porto, que foram entregues por ,

traição e não tomados a viva o inOsinte


força, propôz-se
sitiar Guimarães. Mostrando-se, porém, o alcaide, Mem
Rodrigues de Vasconcellos, mais fiel que os alcaides des-
s outras vilias, D. Affonso soffreu dura resistência. Este
commettimento cessou com a nova de que D. Dinis camí-
nhava sobre Coimbra, e o infante, levantando então o cerco
de Gnimaiies^ marchou para a mesma cidade, que, á sua
chegada, achou investida pelas forças de seu pae. Isto sue-
cedia em março de 1322 2.
Foi nesta conjunctura que D. Isabel appareceu de uovo
r
,

meiíte á ampliação, achando-se talfei já em deposito a príneira doaçio


antes da vinda da rainha a Portugal.
1 É deste irinâo qufi falln D. Isabel na sua rarta ao de Aragão, por
rei

onde 96 conhece que elle, veiu a este reino do meiatio aié o fim de 1321,
e não em 1319 como aponta Zurita. Brandão (Mon. Lusit. P. 6 L. 19 c. 25)
jÀ tiaha mostrado que a vinda de D. Sancho devia ter-ae realisado on
tSM.
a Von. Laait. P. 6 L. 19 c. S7 e 18. abonaodo-ae com ama ehroDiea
antiga inadita.

Oigitízed by
DE D. ISÂBKL DB ARAGÃO 169

em scena. Dizem aigOQs que ella, *em sahindo de Alem-


qaer, fOra a Gaimaiites, onde procurou debaiúè pacificar
o filho, que acompanhou depois a Coimbra i ; outros ao
mesmo passo dão a entender que foi directamente de Alem-
quer a Coimbra 2. o mais de crer é que D. Isal)L'l fosse para
Guimarães, e talvez sem licença de D. Dinis, notando-se
que em todo o decurso das negociações subsequentes, elia

esteve quasí sempre com o infante. Gomo quer que fosse,


associando-se a rainha cóm o bastardo de seu marido, o
conde de Barcellos D. Pedro —
depois t3o celebre como
author do Nobiliário, e que era do partido de D. Aflonso,
conseguiram ambos, ao cabo de algum tempo, fazer a
paz. Antes porém» de se chegar a isso, tinha havido lide
entre os homens d*armas das duas facções, e, afim de
prevenir a repetição de símilhantes successos, concor-
dou-se em que o rei se dirigisse a Leiria, e o infante a Pom-
bal com sua mãe, onde se conservariam durante as negocia-
ções. A paz fez-se em maio de 1322, estipulando-se que o
infante teria Coiíhbra, Montemor, Gaia, Feira e o Porto,
além de um accrescimo de rendimento, devendo, em com-
'
pensaçUo destas concessOes, despedir de si os malfeitores
de que era acompanhado, etc. ; ao conde D. Pedro deviam,
pelo mesmo tratado, ser restituidas as suas terras e bens.
Depois de juradas as condições pelo infante, pelos ricos
homens e fidalgos de seu partido, bem como pela rainha,
na igreja de S. Martinho em
rei na de Pombal, e pelo
S.Simão em Leiria, dírigiram-se aqueUes para esta villa,
onde o pae e o filho deram o osculo de paz K Fòra bom

1 Ibid.
"2 Pina, Chron. de D. Dinis c. 24 — Raphael de Jesus, Mon. Lusit. P. 7

p. 150. — Esperança (Hist. Seraf. P. 2 L. 9 c. 14 ad fin.) sem citar authori-


dade. diz qu e caminhou por Saotarem, e que abi fizera levar em procis-
são o santo milagre, tomando parte nella de pés descalços, cabeçt co-
berta de dnta e corda «o peseoço.
8 Pina. Chron. de D. Dinis e. M. — Mon. LusH. P. 6 L. 19 c. 39 e 30.

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9

que houvesse sido sincero. A Lenda refere que apôs esta


que a rainha se empenhára mais que oin-
pacíficaçSo, ein
goem. D. Dinis, agradecido por este serviço, lhe restituirá
todas as suas villas e rendimentos i

Mas parecia (jue nada podia socegar o lurbulento infante,


ou antes não fechava os ouvidos aos maus conselheiros
que o cercavam. No anuo seguinte a tranquilidade pertur-
bou-se de novo, ou porque eile cobiçava maiores rendi-
mentos, que lhe denegava o pae, ou porque Affonso San-
ches apparecia outra ?ez na côrte, d*onde tinha sido tem-
• porariamento aíTaslado, ou finalmente por ambos os moti-
vos. O infante sahiu de Santarém, onde residia, dirigindo-

se a Lisboa. D. Dinis, que estava de assento nesta ultima


cidade, mandou-lhe intimar que houvesse de sobrestar *na
soa marcha ; e como aquelle persistisse^ o rei ajuntou as
suas forças no Gampo-grande, ao passo que o filho assen-
tava o seu arraial no Lumiar
As chronicns aííiiniam que, sendo im!)ossivol chegar
a uma solu(;ão pacifica, dispunham-se as duas hostes para
o combate, a que já se havia dado começo, quando de rebate
a rainha appareceu só, cavalgando em uma mula, sem que
pessoa alguma a guiasse, e infeíramente desacompanhada.
Avançou entre os dous bandos hostis, expondo-se, no

1 pHg. 5(Ki.

t A Lend.i diz Kouivs.Kuy «íf Pin-i (Chnin. de I). Dinis c. i9) o 1-u-
. miar, e esta éa opinião mais seguida. Cardoso ;Agiol. Lusiu T. 4 p. 57
e «eg.) traz duas suppostas cartas, ama de CL Isabel ao rei» datada de
OdiTeUas a 7 d*agosto, sendo a outra a resposta de D. Diols do Campo-
grande na mesma data, ambas sem indicaçSo do anno pelo assumpto ;

pertencf^ríam a esta eonjunrUira, se fossem genuínas. Mas para nos con-


Tencermos da impostnr.i, hasta o eslylo em qne são escriptas, que de
eerto e inclassifií avel Ainda mais, os dous documentos ach»m-se repro-
duzidos na Collecç. de Doe. e Mera. da Aoadeni. Real de Hisl. (tomo per-
tencente ao aono 1729, p. 24S e scgg ), e confrontando estes com oe
exemplares de Cardoso» encon(ram>se Tarias transposições e notavehí
díffeienças.

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DE D. MAiKL DE ARAGÃO 171

meio da refrega, aos projectis que se lançavam de uma


e outra parte, sem comludo receber damno algum. A
corajosa rainha conseguiu» n9o sem dífficaidades, apazi-
'

guar os ânimos altamente irritados do paee do filho, eon-


duzindo este submisso á presença de D. Dinis ^. Emfím,
depois de uma iiisifíiiiticante peleja em Santnrem — aonde
D. Dií)ís se lecolhêra — ciilre os do rei e os do infante,
esta odiosa guerra, que durava iiavia cinco annos, veiu a
extinguír-se de todo em 1324, recebendo o infante doto
accrescimo de rendimento, e partindo-se AfTouso Sanches
segunda yez da còrte para as suas terras
O malfadado monarcha, menos vencido dos annos que
dos repetidos {jfolpes que lhe teriam cortado profunda-
mente pelos allectos de pae, exacerbando*! tie a moléstia
de que padecia havia tempo, nlio gosou por largo espaço
a tranquiiiidade que tantos sacrificios lhe custáni. lamrM
manifestando com mais força de dia para dia os ameaços
da hora suprema, que já riâo podia tardar. Devia ser nesta
persuasão (jue a raiiilia, poui-os dias antes do acontecimento -

— isto ò, a á de janfMio de 13áo, — fez exarar um docu-


mento no qual promeitia vestir o habito de Santa Clara,
sendo caso que ficasse viuva, posto que ao mesmo passo

1 LtMitiii p. 506 e seg. - IMna, Cliruii. Ue D. Dinia 1. cil.— Mou.Lusil.


P. 6 L. 19 c. 36. — Junto do Canipo-pequeno existe uma eeiumoa de pe-
dra, tendo «a parle inferior uma lapide eommottoratíva desta paei-
fieaçao. A
soa eoUoeaçAo é attribuída^á rainha : mas esta supposta ori-
gem é abenrda, ao menos quanto á inscripçAo qie se Id na dita lapide»
A vista dl) caracter das letra» e da própria redacção, nem aoa mais qM
imperitos podem iUudir. Kosa ««sim, em caracter romano rnhiusculo : .

SANTA ISABFI, HAINHA 1»K PURTVf.AI MANDOV COl.LOCAH ESTK PADRAH


NESTE LVGAK KH MEMORIA HA P ASCBFICAÇ AU QVB NBI.LK rKZ RNTRK 8BV
MAniDO IL nni o. DIMIS SBV P.° d. AFONSO BSTANDO P/ SI DAIIH BT/
NA BBA DB ISSS.
3 Raphael de Jesus (Mon. Lnsit. P. 7 p. 173) dix que a rainha iater-
veiu oHira vex no i^oste qn« se oegvin a essaeonleoda : porém, nenhuma
das citronicas antigas o afflrmam.

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i72 MBMORUS
disponha, por mera formalidade tai?ez, que se acaso ella
fallecesse antesdo marido a sepultassem no mesmo habito.
Teve o cuidado de declarar que não entendia com isso fa-
zer profissão ou voto de obediência a ordem alguma, mas
que a mudança de trajo seria havida apenas como si-

gual de TiuTez, reservando para de largar osi o direito


habito quando e quantas vezes quizesse^e conswvando em
tudo os ^ireitos que possuía sobre as suas propriedades»
cuja administração e disposição retinha para si ^
A memoria antign, e todos os escriptores. louvam a in-

cançavel vigilância» e aifectuosa solicitude com que D. Isa-

bel acompanhou o esposo moribundo durante toda a sua


doença, até dar o ultimo arranco, o que se verificou a 7
de janeiro de 1325 >. As particularidades authenticas ' dos
últimos momentos de D. Dinis, não escaparam ao olvido
em que jazem quasi todos os promenores dos factos daquel-
las eras longínquas ; mas affigura-se-nos a anciedade d'es-

1 Nota XXV 00 fim do Tolnine.


f O dia em que morreu D. Dinis tem tido muitas variantes, com
quanto sobre o mez e anno nSo b ija questão. O Chron. Conimb. diz que
foi aos 13 de janeiro (idu8 januarii) e o Brev. Chron. Alcrob. diz o
mesmo (vid. Porl. Monum. Hist. scrip. vol 1 p. 4 n.° 10 e p. 21 col. 2) ; isto
porém n&o é possivel á TÍBta do documento que produzimos na nota xxvi.
ONeerol. de S. Jorge, oo Arch. NacioD. fiia essa data a viu dos idos do
mesmo mes, que corresponde a 6, e assim o fat o Liv. dos GapiL d*0di-
Tellas citado por Brandflo. A Lenda de Santa Isabel (p. 513 col. % refere-a
ao dia 8. Porém, pouca duvida pôde haver— e tal foi tarabem a opinião de
Brandão —sobre ser o dia 7 a vordodeira data, conforme a máxima parte
das authoridades. De feito, além de outros esrriptos impressos, assim
o dizem duas memorias antigas (vide Fort. Mouum. Hist. scrip. vol. 1
p. 23 col. 2 e p. 92 col. ^. No mesmo dia 7 coneordam : ama ehroniea an-
tiga citada por Brandão, e os cslendarioa de Alcobaça, da sé de Lisboa,
e'da sé de Coimbra; este vitimo dis mais, qne foi n'nma seganda feira,
e effectiTamente 7 de janeiro de 1325 cahin n*ama segunda feira. por>
que a dominical daquelle anno foi F. Vejam-se as citações na Mon. Lu-
sit. P. 6L. 19 c. 41.

3 Poisque os discursos que lhe atlribue Brand&o (Mon. Lusil. 1. cit.^

n&o tôem authoridade.

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J
I

DE D. ISABEL DE AEAGÃO 173

pirito que o devia acompanhar até o fim, apesar das de- •

monstrações de affecto da parte da rainha e a consoladora


presença da sua família : a ausência sigDÍficatíva do bas-
tardo obnoxio, e a índole áspera e cruel do herdeiro do
throno, que D. Dinfs devia perfeitamente conhecer, teriam
porventura desportndo na imaginação do roi-trovador vis-

lumbres dos acoutecimeutos que eniuctaram a aurora do


novo reinado.
Convém, antes que prosigamos na vida de D. Isabel,
dar uma relação das terras que possiiiu, bem como alguma
ídéa dos meios pecuniários de que dispunha.
0 leitor estará lembrado (jue, aiites de se roceber nom
a iíifaiita aragoneza, D. Dinis Mie havia feito doação —
além de doze castellòs por an has. c o direito de testar
por 10:000 libras —
das viilas de Óbidos, Abrantes e
• Porto de Moz (24 de abril de 1281), por toda a sua vida,
com seus termos, direitos, rendas etc., á excepção do
padroado das igrejas e da alcaidaria i. A 9 de junho
de 1287- o rei deu a sua mulher a colheita da ultima
dessas villas, bem como a de Cintra e poucos dias de-
pois (23 do mesmo mez) confirmou todas essas doações
anteriores, accrescendo-lhes a da própria villa de Cintra,
e dando-lhe mais a apresentação ás egrejas e a alcaidaria
dessas quatro villas Neste diploma o rei não falia da
villa de Trancoso, que lhe dera em lá8á ^ mas diz somente
que a rainha havia de receber 600 libras pagáveis aiinual-
mente peio conceiho de Trancoso ; e é de crer que a pri-

1 Vide ante, pag 143.


2 de D. Dinis L. 1 (. 200, no Arch. Nacion.
Ctiancell. —
Para os géne-
ros de que consistittm as collteitas de Porto de Moz e Cintra veja-se In-
quir. de D. Alfonso in L. 4 f. 34 e 96. A de Porto de Moz permutou «se,
em 1305. por 100 libras, pagáveis no ÍJ* de janeiro de cadÈ anno.
3 Cbaaeell. de D. D inís L. 1 f. 201. Consta que Cintra rendia 3^430 li-
bras, vid. escambo do 1.*" de julho de 1300 : Ibid. L. 3f. iOTeito.
4 Vide ante, pag. 145 e seg.

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174 MeMORIA!^

mitifa doação se reduzisse a isto. porque sabe-se que em


1270 ÁffoDSO III fízera um contracto com a vilia pelo qual
esta se obrigava a pagnr 600 libras annuaes em logar dos
tributos a que estava sujeita ^ A rainha cedeu esta quan-
tia ao rei. em 130i, como adiante veremos. •

Consta também que Cintra foi renunciada pela rainha.


O diploma pelo qual teria feito essa renuncia, não se
encontra boje ; mas o facto deduz-se da carta d^escambo
do i.^ de julbo de 1300 peia qual D. Dinis, juntamente
com soa mulher e seu filho, dSo Ourem e Cintra ao infiinte
D. Aflfonso em troca de Marvão e Portalegre A ordem do
Templo tinha roiirpdido á rainha os paços de Cintra, que
hoje pertencem á corôa, e eram então da ordem. Ignora-se
quando tomára posse delles, mas parece tel-os conservado
até á sua morte, passando ent^o de novo aos cavalleíros ^

do Templo ^.
A 9 de junho de 1287 o rei expediu outro diploma,
dando a sua mulher os direitos sohre todos os géneros —
menos alguns que especifica —
que entrassem pelo Porto
de Selir, junto de S. Martinho \
Estando em Santarém, D. Dinis fez doação á mesma

1 de Portug. do sr. Herculano, T. k p. 15! e 165.


Hist.
2 de D. Dinis L. 3 f. 10 verso. A I.entJa de Santa Isabel
('hant ell.

p. 502) concorda neste ponto com os documentos, (Hzoniio que n rainlia


largára Cintra para 86 eITeituar o escambo, e mediante isto obter-se a
pai entre os dous irmãos.
3 Docum. citado na Mon. Lusít. P. 6 L. 18 c. 42.
4 GhaneeU. de O. Dinis L. 1 f. 900. Os géneros, cujos direitos se exee-
ptosvain, ficando psra a corôa, eram oníe : panos de cftr, armas (af*maff
muuiiaff), ouro, prata, pimenta, açafrão, ferro tirado, aço, chumbo, esta-
nho e cobre. —
Diz Brandão (Mon. Lusil. P. 5 L. Ifi c. 72) que D. Dinis,
depois de povoar Villa Real, a dera, em 1i289, a sua mulher. Náo encon-
trámos documento algum que o faça constar. O que é certo é que foi uma
das villas que o mesmo rei deu em 1297 por arrhas á infanta D. Beatriz
ao casar com o herdeiro da corAa (veja-se o doonm. no Corp. Diplom.
Portug. T. i p. eSj, Se D. Isabel a teve de i889 até 1297, é o que nfio te-
mos visto confirmado por documentos.

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 475

princesa, a 48 de iioveinbin de 1298, da fjuiiila ou herdade


de Fandega da Fé, iio termo de Torres Vedras, devendo
ser junto do logarchamado hoje Fanga da Fé Esta her-
dade pertencéra á infanta D. Sancha» irman do rei» deven-
do-se portanto inferir que esta era fallecida a essa data
A 4 de julho do 1300 D. Isabel recebeu por doação
real, a importante viHa, hoje cidade de Leiria, com todos
os seus termos, aldéas, rendas, e direitos, bem como a ai-

caidaria. As expressões deste diploma sSo assaz enérgicas»


promettendo o rei nunca ir contra a doação em quanto sua
mulher vivesse. Talvez fosse para mostrar a D. Isabel
que não reconsideraria, como porventura teria já feito al-
gumas vezos 3. Ao depois vinha algumas vezes habitar a
villa, residindo ora no castello, cujos restos magestosos
ainda se vêem coroando dma eminência dèfendida em
grande parte pela natureza, ora em Monreal ou Monte
Real» logar distante duas legoas» onde mandou construir
uns paços no mesmo local em que mais tarde se edificou
a ermida de Santa Isabel
No mesmo anno (entre 7 de apfoslo e 13 de outubro) a
ordem de Santiago deu a D. Isabel, em sua vida» a viiia
de Arruda que pertencia á mesma ordem» que» como vi-
mos» a havia também cedido á fallecida D. Beatriz de Gus-
man.. A carta de doação n3o existe» mas outros documen-

1 Chancell. de D. Dinis L. 3 f. 5 verso. •L. t dos Benk dos Próprios


f. —
48 no Arch. Naeion. Af. 14 do L. 2 dos Bens dos Propr. se seha trans-
cripU a mesma doaçáoicom a era de 1337, o que tem contra si os outros
dous registros, que Irazeni a dc 133fi, (juo nós soguimos.
2 Doação de I). AfTonso m
de 28 «ie março do 1278, no L. 2 dos Bens
dos Propr. f. 11 verso. Alél235 essa herdade pertcnrfira ao mosteiro de
Santa Maria d Oya, possuindo-a depois Vicente Rodrigues, e passando
em seguida á corda, quer por compra qaer por outra via.' Veja-se a
doaçfto de O. Âffonso iii cit, e Gav. 1 maç. 6 n.^ SI, no Arch. Nacion.
3 ChanceU. de D. Dinis L. 3 f. 11.— Mon^ Lusit. P. 5. L. 17 e. M, ond»
se acha transcrípta a doacáo.
4 Mon. Luait. P. 6 L. 18 c. 40.
176 MEMORIAS

los provam que a houve, e, entre elles, a doação de D. Di-


nis, á mesma ordem, da quiuta d Orta Lagoa iio lermo de
Santarém, feita a 13 de outubro de 1300
Consta que o rei dera a D. Isabel, em sua vida, os re-
guengos e herdades de Souto de RebordSos (próximo a
Braga), Gondomar (no bispado do Porto), e ÇodSés, termo
da Maia mas ignora-se quando fez a doação, sal)en(l(>-se
:

apenas que em 1301 Souto de Helíordãos era delia e (|ue

D. Dinis tomou essa propriedade outra vez para si, bem


como Gondomar e Çodões, e as 600 libras que a rainha ti-
nha do concelho de Trancoso, indemnisandò-a com a posse
de Torres Novas


que pertencera á fallecida Beatriz de
Gusman com todos os seiís direitos e rendas, ah aidaria.
padroado das igrejas e tabellionado: foi expedido o diplo-
ma na Guarda, a 24 de junho de 1304 'K

1 o original acha-se na Collecç. Bspee. caixa 30, nn Arch. NavioQ.,e


foi regiíliado no I.iv. il<ts Copos f. 177, nova numeração. É para notar,
todavia, que a dita qiiintn já liavia pertencido á referida ordem em 1241
por doação (jue delia lhe lizera a de Avis a 14 de outubro do diloanno
f. 299 antiga numer.). Deve portanto ter passado, por via que igno-
^ (ibid.
ramos, da posse da ordem para a da corôa, nesse intervallo d« Wannos.
BiD 1319 D. Affonso ly deu á ordem Odemira e a quinta da Nisa em
eseambo d*Àrrad/, coneordando-se qne desta tomaria posse o rei de-
pois da morte da rainha nua mAe(ibid. f. 170 verso, nova numeração. 0
original edtá na cilada CoUecç. Espec. caixa 31). Mas achando a ordem
que por essa transacção ficavam lesados os seus interesses, por serem
mais valiosas as reniias d'Arruda, alcançou do mesmo mouarcha, era i352,
que lhe fosse reslituida a dita villa, largando a urdem, pela sua parte,
Odemira e Nisa : Liv. dos Mestrados f. 197, no Arch. Nacion.
2 c Item porque achei... e Souto de Reuordios-qae era terra da Ray-
nha non flzi hy nenhoma obra » : Inqair. de D. Dinis L. 3 9 §4. ioáoGe-
sar. que assim se exprime, sahira de Lisboa a 23 de maio de 1301, incum-
bido de uma inquirição em Alemdouro. —
Bm 1261 O. Affonso iii deu
Gondomar e Çodões ou Zadôes a Aldonça Annes, com quem cohabitava.
com a condição que havendo filho.^í, estes herdariam os ditos logares, e
náo os havendo, devolveriam á corua. Como D. Dinis deu esses logares a
sua mulher, póde-se inferir que não ficára geração de Aldonça Annes
e D. Affonso iii: Gliaoeell. de D. Affonso iii L. 1 1. 48.
t ^Bneontrámos a doação original noeartorio de Santa GlaradeGoInbra;

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 177

A Villa de Atougaia, próximo a Peniche, pertencia a uma


nobre dona chamada D. Joanna Dias, a mesma que dizem
tinha sido donzella do paço de D. Beatriz de Gusman, ca-
sando depois com Fernão Fernandes Cogominho. Ainda
antes da morte de D. Joanna, succedida em i30l, a posse
daquella Yiila lhe fôra (iisputada peia corôa. Conseguira
todavia consenral-a em quanto yiveu, retendo-a, mesmo, os
seus herdeiros alguns annos depois, até que, em 1307, foi
definitivamente julgado em juízo que era devoluta á corôa.

Os principaes fundamentos sobre os quaes ief)()i]sava a sen-


tenca, eram: 1.^ que a viila havia sido povoada por fran-
cos, e que portanto se lhe devia appUcar os costumes feu-
daes daquelles povos, os qoaes determinavam que, faltan-
do herdeiro em linha recta do possuidor primitivo, se de-
volvesse a Villa ao senhor da terra em que se achava 2.**
;

que D. Joanna tíào era herdeira em linha recta Para es-


tabelecer a justiça ou injustiça dessa sentença fôra neces-
sário verificar, antes de tudo, a genealogia de D. Joanna,
o que é hoje diflScil fazer com certeza, nem seria este o
logar de encetar similhante discussão Basta dizer que,

tem pendent<í, por fios de, rotroz vermelho mesclado com ainarello, o sello
de chumbo, deforma perfeilamente rirculnr e eslampado cora as anuas
reaes em ambas as fdces. Acha-se o docum. regist. na CbanceU. de D. Di-
isL.3f. 33.->DeTe'^se emendar a data referida por Brandão, sabsUtuado
julho, qoe erradamente ae lè na Mon Laalt. P. 6 L. 18 c. 9 e 11, por junho,
.

que é a qoe vem no original.


1 Veja-se a sentença, expedida em nome do próprio rei, datada de
Coimbra a 3 de fevereiro de 1307 arlia-se, em publica fórma de 8 de
;

outubro de 1313, na gav. 11 maç. 5 n " 14 no Arch. Nacion.


2 Em abono disto, veja -se Liv. Velho das Linb. {Hist. Geneal. T. 1 das
Provas onde se diz que Giraldo Gonçalves deAlouguia (bisneto, se-
p. 166)
gundo dizem, de Roberto dea Coroes, irmão do fundador da povoação)
eaaára eom Haria Gomes, ao passo que no Nobiliar. attribiiido ao conde
D. Pedro, tít 69, fasem-no casado com D. Tberesa Pires. —
Confessa-
mos que o diploma, de .3 de ferereíro de 1307 se nos representa debaiio
de uma luz mui suspeita o syatema feudal, cujos costumes estavam longe
:

de se adslriogirem a um tvpo uoico, nem sempre excluía da successáo


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178 iimoiius

poucos mezes depois de entrar na posse de Atougtiia, D. Di-


nis ISK delia doa^o á rainha oom
todos oa seus direitos» lo-
eittíndo a alcaidariae o tabellionado: foi eipedida na pró-
pria Villa de Atouguia a 19 de outubro de 1307 ^.
Finalmente, o rei deu a sua cDnsorte a lezira (Je Atalaia,
mandando, por carta do i."" de agosto de 1318, (jue fosse

entregue a quem a rainha indicasse ; a entrega fex*se ao seu


procurador no dia 4 do mesmo mez K Esta propriedade
foi também uma das muitas que D. Dinis, is Tezes oom
bom direito, outras sem elle, adquirira por litigio 3.

Esta foi, segundo panM-c, a ultima doação que D. Dinis


fez á rainha. Antonio Br.indão aflirma que Tones Vedras
pertencôra a D. Isat^l» mas não encontrámos documentos

os collateraes. A doação primitiva de Atouguia, feita por AíTonso Hen-


riques a Guilherme des Cornes (Vilhelmo de cornibus), nâo parece li-

mitar a successftosó á lioha recta, dizendo apenas 4 : Donamus igitur eam


(h«re4ilai«m Ú9 lm$am^\à9hi» iure herediUrio ei tiMeaoribiit «mM 9ui
P99t uo$ fútrintik (gav, 11 maç. 7 a«* it ao Areh. Naeion). nesaiáramos ter
viito o auto doa dapoineoUMfeiloa aobn os artigos da íaquiriçâo, depoi-
meRiaa a qaê allode IX Diais, e peloe qouêa oa da ana tOfto, diz elle.
julgarom que eu fMrouaua tantos dos dictos artigoos que mê auondaua.
Náo se acha, porém, esçe auto incluído no diploma, que encerra apenas
osartigos, nem seenconlra em separado. Em ouirologar démosuma anios-
Ira dequ&oelaslíca era a consciência do rei, e da venalidade dos juizes da
snacSrte.
1 Chaneell. de D. DiDfoL. 3 f. 8S verso, mbeiro (Oissert. Cliroiio). T. 5.
p. 388) eila eaU doa^o, e d» nesma Ibate, eoss a data de IS de daia»-
bro, que &e deve emendar pela que dgaios no texto.
2 Gav. 13 maç, 9 n 46 em publ. form. de 5 de novemb. de 1337 ,/C re-
gi8t. DO L. 2 de Reis f. 203 verso, no Arrh. Nnrlon.; o fí»7,er-se a publica

fórina por ordem de I). Aífonso iv pouco mais de um anno depois de


luorle da máe, parece indirar que esta a possuirá em quanto viveu.
3 Havia aIgniM aunos qae D. Dinis reclamára a meamalezira. jualo
«•omottCras. doeoocellio de Sanisresi, que, ao que parece, náo fet aipp»«
aiçio: a ooiea reaisleneia veiu da psrie do arcediago (chaDlre, dia o di-
ploma do 1." de agosto de 191^ de Yíse«, que então se aeliaTa de posse
da lezira d'At»iaia, e pretendia provar qne eila lhe pertencia. Vid. Ri-
beiro, Disserl. Chronol.T. 1 Append. p. 2*J3. doe 74. Vejs-se também, a
respeito desta lezira, Hist. de Portug. dosr. Herculano T. 3p. Uinolal,
a p. ) 15 e aeg., 1 .* ediç.
DE D. ISABEL DB ARAGÃO

abomm essa opinião» se nSo foi adtes mérft equt«


vocação da parte íJaquelie esoriptor ^* Francisco Brandão
é de parecer (}ue Aleni(|uer lambem pertencia á mesma
rainha: mas sem achar documentos a que se arrimar ^. E
na realidade» admiUindo como faoto o desterro da raínhdi
Dio fôra coherente sappòr que o rei a mandasse reoolher
a ama villa propriamente delia, mórmente príTando-a doa
rendimentos das suas terras. É comtudo possivel que D. Isa-
bel possuísse outros locares além dos que mencionámos
poisque assim como se extraviaram as doações de Souto de
Aebordãos, Gondomar e Çodoes» que boje não se encon»
tran» do mesmo modo pôde ser que tenham desappanh
eido diplomas relativos a outras terras, que ponrentura
lhe pertencessem. Na segunda divisão desta memoria tere-
mos occ^sião do mencionar varias compras de bens de raia
feitas por esta rainha.
Recapitulando, vô-se que as doações outorgadas a D.
belforam muito mais numerosas do que as que nos consta
haverem sido feitas áe outras rainhas suas antecessoras
por quanto consta indubitavelmente que, â epocha da morte
de seii marido^ ella tinha nada menus que sete vlllas im-
portantes — Óbidos, Abrantes» Porto de Moz. Leiria, Ar-^

ruda. Torres Novas e Atouguia —


além da quinta de Fan*
dega da Fè, e a lezira de Atalaia.
Temos um diploma do qual sê eonhece n importância
dos rendimentos que D. Isabel percebia desses logarés. Ha-
vendo a rainha feilo s<íii primeiro testamento a 19 de abril
de 131 em que
deixava muitos legados, expediu-se na
chancellaría real,no dia seguinte, um documento em que
D. Dinis concedia que os testamenteiros de sua mulher per-
cebessem, durante tres annos depois da morte delia, os ren-
dimentos e direitos de Abrantes, Porto de Moz, Torres No-
1 Mon. Lusit. iV 3 L. 10 c. 34 in pria.

t Ibid. P. 6 L. 18 c. 42 e L. t9 c. âl.

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180 MEMORIAS

vas, Leiria, Óbidos, Alouguia e os da quinta de Fandega da


Fé, para cumprirem o que ella niandára nesse testamento.
Continua dizendo que, visto a grande demora que isâo cau-

saria na execução das ultimas vontades da rainha, consen-


tia, a rogos desta» em dar aos testamenteiros por uma vez,
e até'am mes depois da sua morte, uma somma igual áquella
em que importassem esses rendimentos e direitos durante
os tres annos : emfim, calculou-se os mesmos rendimentos
em 36:000 libras pelos tres annos t.

D'aqui se conhece que as referidas seis villas e a quinta


davam conjunctamente um rendimento annual de 12:000
Ubras. Entendemos, porém, que os meios de D. Isabel nlo
se limitavam a esta quantia, já de per si assaz avultada :

porque, no diploma citado, não se menção de Arruda


faz —
por isso que a rainha a trazia por concessão da ordem de
Santiago, e não do rei —
nem da lezira de Atalaia, que
D. Isabel só veiu a possuir posteriormente á data desse di-
ploma, nem finalmente entraram no calculo os direitos d'al-
fandega de Porto de Selir; podendo ser comtudo que já
os tivesse renunciado. Vê-se, portanto, que na thesouraria
da rainha haviam de entrar sommas assaz fortes, além da já
mencionada, sem que seja preciso suppôr que tivesse ou-
tros proventos de que hoje nlo nos restem vestígios K

í GhabeeU. de D. Dinii f. 86 Teiwi.

t Sobre o valer em réif dM lt:0O0 libras, reja-ae a nota XXXHI-B no


fim do volume.

Oigítízed by
1325 — 1336

0 primeiro passo que a raÍDba deu depois da morle de seu


marido —e mesmo no próprio dia em que ella tève logar
foi vestír-se com o habito de Santa Clara, em cumprimento .

do voto que poucos dias antes fizera. Desse acto se passou


uma escriptura a 8 de janeiro, tornando a rainha a repetir
'

ahi algumas das declarações feitas em outro documiMito aná-


logo, a que já nos referimos. Propunha-se sem duvida evi-

tar por este modo alguma errada interpretação, e preve-


i. Se D. Isabel insistia tanto para que
nir graves dissabores
n3o tivessem nunca esse acto em conta de profissão reli-
giosa, é que provavelmente tinha presente a vergonhosa
historia do voto de D. Maior Dias — que opportunamente
teremos de considerar —o qual, em vez de affiançar a esta
infeliz senhora a tranquiilidade que procurava, lhe havia
acarretado afi^ontas não cuidadas» soffrendo, até o fim da
vida, perseguições da parte de uma congregação de impos^
tores,que cobriam os seus actos de espoliação com a mas-
cara da religião. É comtudo provável que D. Isabel nem
sempre trouxesse o. habito, e que em certas occasiões o

1 Nota XXVI no iim do volume.

«
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182 MBMOBIAS

largasse, direito que aliás se tinha reservado, coiuo vi-

mos.
Dizem que a raiotia acompanhou o sahimento, feito em
boDra do defunto monarcha, a(é Odivellas, onde seu corpo
foi depositado n*iim tumulo de riquíssimo lavor, que ainda
hoje se pôde ver, posto que muito mutilado, níio tanto pelo
tempo, como pelas mãos dos liomens K Parece que ahi se
demorou algum tempo, e que recebeu uma carta de pesame
do papa João xxii, datada de AvinhSo ao í."de março do
mesmo anno» com uma por^o de relíquias que o pontífice
lhe mandava D. Dinis havia feito seu terceiro e ultimo tes-
tamento pouco antes de fallecer (34 de dezembro de 1324),
e nelle ordenava que sua mulher tivesse o principal logar
entre o>i que deviam cumprir as suas disposições finaes 3.

Ignoram-se os passos que deu nesta incumbência. É crivei


que achasse difficuldades a vencer; D. Dinis^ mesmo, parecia
receial-as da parte do seu herdeiro. Consta ao menos que
dous annos quasi haviam passado sem que se désse inteiro
cumprimento ao testamento, por quanto existe um docu-
mento original, datado de Elvas a 7 de novemI')ro de 13^6,
peio qual frei Vasco d'Elvas, confessor que fôra de D. Di-
nis e um dos seus testannenteiros, comettia â rainha D. Isa-
bel a execução do mesmo testamento, na parte que a elle>

frei Vasco, competia ; reservando todavia os seus direitos

1 Pina, Cliron. de D. DinÍ8 c. 31.— Mon. Liisit. P. 6L.t9 c. 41 e 48.


% Y^JA-se a carta na Uoa. Lusit. L. Id c. 45.— Esperança, Hi9t. Seiraf.
« t. 6 e. 19.
a «.f . e a eUa (D. Isabal) tenha ei| por bom que e^t • priaeipel e •
maioral tesUmenteira. porqoe som certo que fará por mim e peHa minha
ahna todo aquello qoe ella poder e qse deve a faaer ». Yeja-^se o testam.
Mon. Lusít. P. BAppend. ultimo dooumeato.— O segundo testamento, <ia>
lado de Lisboa a 20 de junho de 1322, imprimiu-se na Hist. Geneal. T. 1
das Provas p. 99, copiado de um registro o original encontra-se na Col-
:

lecç. Espec. caixa 3U no A.rch. Naciou. Neste também vinha a tainha qo-
meada por testamenteira 1 0 primeiro j4 tivemos occasiáo de citar: flile
ante, pag. 147

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DB D. ISABMi »E ÁAA6Â0 183
para qualquer eveDtualídade em que julgasse necessária a
sua intervenção em prol da alma de D. Dinis» como elle di-
xã U isto dá logar a crer «fue a deseonflança, que eviden*
tenente dotaimiYa o rei quando dietava a sua ultima voiv-
tade,Dio fòrá infundada.
É fama que a rainha emprehendêra uma peregrinação a
Santiago de Compostella, em julho de 1325. No dia da festa
do apostolo íe2-lhe a rainba, e á sua igr€iia« riquíssimas
offertas, entre as quaes se contava a sua coroa de maior
preço e uma infinidade de objectos de suMdo valor* A muni-
ficência da piedosa princesa nlfo deixaria de ser largamente
apregoada pelos sacerdotes do templo, cujos corações isen-
. tos, como devemos crer, sem duvida se sensibllisariam sem-
pre com devoções de tão appreciavel natureza* Ao regres^
ser a Portugal, D. Isabet recebeu das nãos do arcebispo
o bordSo e a bolsa de peregrina. A aua jornada foi uma con*
tinnada ovação, correndo ao seu encontro os povos por
onde passava, sôfregos de contemplar a futura santa, a fama
de cujas virtudes tinha penetrado em todos os ângulos do
paiz, chegando aos últimos recantos das Hespanhas, e por-
ventmra a regiões mais longínquas ^. De feito^ isto ião è

t BMoatránios ease d^Miesto no ctrtorio éò StiiU CUri d« Coio»-


bra ; que é exacto. Frei Vasco vem »<>•
iras taontem na data aeita -feira,
meado como am dos testameDieiros no testameoio do rei: víd. AIoa. Ltt-
8Ít. 1. Cit.

3 p. 512. Alguiia esoriptores mai» nioiieriios pretendem quf»


Lenda
D. l8«bel foi a Sautiago iocognila, in^é que u riquesa dos seus pre-seutes
a traUra. Além de que.a Lenda nem inaÍDua tal, diiendo apenas que ca-
lárt o logar fara onde ia, par» que oa q«e a aeeBiikaDhaTaai o ignorasaem,
eoBite qM
eoi Dinia fSra a CompoateUa con toda a aiia eSrto(lle«.
Liiait. P. 6 L. 18 c. peregrinação de que a rainha devia ter feito parte»
sendo portanto bem conhecida naquella localidade. Isto, alúai de outras
circunastaocias, mostra o absurdo da versão que moderaamente deram a
esse successo. Esperança (Hi$t. Seraf. P. i L. 9 c. 2â) attribue a D. Isa-
bel outra romaria a Santiago, em t3^. também iacogaita o que sem du-
I

vida eopiOQ de Ruy de Pina (Chron. de D. iffonso iv c 93). ou talvea da


«Relaçik) feita em Gonaistorio Secreto » P. i f. IS verso (impreaae eai

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184 MEMORIAS

incrível, porque encontrámos ama carta assaz singular es-


cripta á rainha, pouco antes da morte de sea marido, por
André, prior do hospital ou hospício de Santa Maria de
Roncesvalles, em Navarra,dizendo ahi que lhe constava que
ella desejava tomar parte nas obras de devoção daquella
conmkunldade, e (jae, por consequência, com verdadeiro ju-
bilo a acceítava por participante e sócia em todas as obras
de devorão e piedade etc. ; que elle e os de sua casa of-
fereceriain preces paru que a sua vida crescesse em dias
e prosperidade, convindo que ella promovesse o que fosse
util ao estabelecimento, ajudando-se assim reciprocamente
etc. ^ Naquelle celebre sanctuario corre em tradi^o que
D. Isabel o visitâra em romaria, conservando-se ainda hoje
um manto de seda encarnado, bordado pelas suas próprias
m^os, que ella, segundo referem, offerecêra á imagem da
virgem ^. Desta tradição não encontrámos vestigíos em
Portugal, pàrecendo-nos assaz duvidosa tal romaria.
A guerra que se travou entre D. AfiTonso IV e o bas-
tardo Alfonso Sanches, pouco depois daquelle ter empu-
nhado o sceptro, dizem uns que fora apaziguada por inter-
venção de D. Isabel, ao passo que outros pretendem que
o rei de Aragão fôra o medianeiro ; mas temos por escu-
sado determo-^nos com esta discórdia civil, que pertence
antes á historia geral do paiz K •

Évora em 1625). Os authores que se seguiram repetiram o mesmo sem abo-


narem af suas aaserçOea, aeodo mais que proravél qoe om aaieo sueeesaa
foaae ampHado em dona diatinetoa.
1 A carta original, datada de RoncesvalleafRoaeideualUs) a 22 de oo-
yembro (x kal. decembris) anoo de 1324, está no cartório de Saata Clara
de Coimbra. Rni ambos os testamentos (de 1314 e 1327) deiXOQ a rainha
um legado de 500 libras a esse hospício.
2 Madoz, Diccion. Geogr. de Espafia. T. 13 verbo Roncesv alies.
3 Pina, Chrou. de D. AíTon. iv c. 3, diz que a guerra se paciíicára
por medianeiroe, maaaem os indíYiânar. Veja-ae também Marii, Tar.
Hiat. dial. 3 c. I. —Mon. Lusít. P. 7 L. 6e. S e aegg* Schmfer.Hist. da —
Portog. Ep. 1 L. S c. f

X
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DE D. ISABBL DB ARAGÃO 188

Passaremoâ agora a tractar de uma matéria, que, por I)as-


tantes annos da sua Tida, attraliiu a atteugio de D. Isabel
a fundação do couYento de Santa Clara de Coimbra.
O pensamento de fundar em Coimbra um convento de
donas de Santa Clara, teve principio em D. Maior Dias, se-
nliura nobre, e de muitos bens. Parece que já antes de ja-
neiro de 1278 esse projecto eiistia ^ ; por quanto nessa
data D. Maior fazia construir uma<( casas» junto da ponte
de Coimbra, em que> dizia, tencionaTa passar o resto dos
seus dias, povoando^s outrosím de donas de Santa Clara
Ora, acontecia que D. Maior tinha tomado, aljí^um tempo
antes, sem se saberá data precisa, o liabitode S;uita Ci uz 5,

ceremonia que se praticára no mosteiro de Santa Cruz na


presença do prior e de vários monjes da congregação, afora
doze frades menores e seis da ordem dos prégadores. Na
mesma occasíão, antes de se revestir, e diante desse grande
concurso, declarára e protestara D. Maior que, recebendo
o dito babito, não entendia entrar, nem professar, nem su-
jeitar-se á obediência
da ordem, e que seu único fim era al-
cançar maior segurança etc. O prior e a communidadc accei-
taram a protestação, e consentiram em dar-lhe o habito K
£ste acto de devoção, em vez d^ lhe trazer a segurança que

t Porém oáo seria muito «ntfs, on pelo menos nSo o t^^ria de clar«(to,
porque a 15 de março de 1S77 D. Maior fez escambo com o mosteiro de
Santa Cruz lie dous casaes per outro canal em Monlemor-o-velhoe parte
d'iirna herdailP! (o original está no eart. de Santa (^lara de Coimbra). Isto

indica que ainda náo havia dpsiiitelligencia entre D Maior e ns cnizios.


S Docuin. de D. Maior, datado itii." nonas januani anno dumini
cc.* Lxx,^ vi|i.<* (em publica fórma de 31 d agosto da era de 1354, no
cartório de Santa Clara de Coimbra). Como os documentos desie cartó-
rio nio se acham classificados por maços e números, nto podamos in-
dividuai>os senão pelas datas.
3 Ou pannot iêcuritatis, como o designavam.
4 Coitsfn (Ím quatro docum. dos annos de 128i e 12.S8 (ciepoimentos
(if frades cnenores; em duas publicas fórraas de 14 de maio e 31 de agosto

da era de : Ibid. À ultima acha-se no pergaminho citado na penúl-


tima nota.

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186 HIHOIIIAS

esperava, veiu a ter consequências de sununa gravidade para


D. Maior. Os eoneffos de SaoCa Grui, quando -viram que
um coDTeolo de outn ordem, temidos de
ella edifieiTa
ira,e eul)íçosos das riquesas que possuía esta senhora, pre-
tenderam emtiarírar as obras, apoiando-se em uma falsi-
dade, que a tanto montava o insistirem em que D. Maior
pertencia á ordem de Santa Cruz, e que portanto não po-
dia dispôr dos seus bens.
É de crer que os trabalhos estivessem impedidos por
algum tempo porque vemos, alguns annos mais tarde, que
;

D. Maior, tenilo merecido o lavor do vigário geral de Coim-


bra, conseguira delle lit'enra para edificar o seu convento
*
(que ella d ante mão dotára de vários bens, por diploma de

15 de outubro de 128;^ 0> lançando-se por mios do yigarío


a primeira pedra a S8 d*abril de 1286, concorreDdo muita
gente á solemnidade, na qual se declarou que o convento
'
se dedicava com especialidade a Santa Isabel e Santa
Clara 2. É pois de suppôr que a fundação se fez de novo
neste anno, acompanhada de mais formalidades para maior
segurança. Mas com quanto o convento-^ que nunca veiu a
ser muito amplo — se acabasse de edificar, e n^e se or-
denasse uma communidade composta de algumas freiras
transferidas de outros conventos, e de algumas seculares que
professaram, consta que não só nunca obtivera a sancção
de Roma, mas até que o papajhe pozera a sua inhibição.
^
Neste meio tempo a perseguido dos cruzios contínuava
sem remissão. A chronologia dos successos nto se aponta
nos documentos, mas sem podermos íixar a epocha, colligi-
mos que o prior de Santa Cruz chegou a fulminar a excom-
munhão contra D. Maior pela sua contumácia, ou para melhor

1 Bn fU. Mrtoi daUét ii odD. ntTaniIft. doniai «.* ecc.* iii.*:


llNd.
3 Carta do m^smo vignrio dalada ilii kalend. maii e^tK.* CcG.*uilU.%
*
em publ. fórma de 31 de agosto da era de 1354; ibid.

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 187

dizer» poniae esta sustentafa asiens direilos. Foi, porém,


abiolfida por juiaea apoatoKcos, As partes contendoras ap-
pellaram varias vezes para a cúria romana, protrahindo-se
a f|uestão, com mais ou menos vehemencia, ate á morte de
D. Maior K £sta fez seu testamento a 2 de janeiro d6Í302»
pouco antes do seu faUecimento, deixando parte dos seus
bens ao eonTento, e outra parte a um hospital que fiindára
em Seira, nomeando por testamenteiros, defmdêâores e
emparedares do convento a D. João, bispo de Lisboa, e D.
Giraldo, bispo do Porto 2.

A perda de D. Maior foi íàtal para a pequena commu*


nídade: as. eonteodas com os cruzíos adquiriram doto
ardor. Parece qae em 4307 a rainha D. Isabel quiz pòr de
accordo os dous conventos 3 : ignoramos o que fez, mas

fados sui)sequentes mostram que não pôde sahir com o


intento. Os intractaveis cónegos de Santa Cruz, cuja insa-
ciável avidez quadraria melhor aos sacerdotes de Jaggre^
nate, que aos que professavam a caridade e a abnega(ílo
de Cbristo^ nik) se contentavam senSo com a total espolia-
ção de SaFita Clara, e por tal modo
houveram que tudo
se
lhes sahiu á medida dos seus desejos. Não somente sou-
beram captivar a boa vontade de D. João, bispo de Lisboa,
és quem D. Maior tanto fiára que o havia designado por
prote<^r do seu convento ; mas também acharam meio de
amolgar a vontade, firme até então, de Domingas Peres,
que se achava á testa do convento, tendo-a a fundadora dei-
xado por vigaria e procuradora dos bens da communidade
at4 á eleição da abhadessa, que nunca chegou a veriâcar^se.

i Gr proinenores dcsie negorio vem narrados n'uin ext<'n80 pergami-


nho, que e uma sentença do bispo de Lisboa, de que adiante teremos de
DM ê^ovcliar.
ft CiHot. dA Saqk» Clara, t o orifi^al, oom o aello f^Qifteia» ^
D. Maior Dias
a poder dado pelo bispo de Lisboa á rainha, para este
Ejtiste uoi cif-

feito, datado de ISdejaoeiro d<i«ra4e 1345: Cárter, de iiafilL% CUra.

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188 MBMOBIAS

De feito. Domingas Peres, o guardião de S. Francisco de


Coimbra, e o prior e cónegos de Saota Cruz escolheram o
bispo de Lisboa para arbitro da qaestio, promettendo to-^

dos acceitar a sua decisSo como final. A 2 de dezembro


de Í3H, depois de recapitular os factos do negocio (de
que já memorámos os priiicipaes), sentenciou o bispo, en-
tre outras cousas, que os bens que D. Maior tinha deixado
a Santa Clara, pertenceriam d'ahi em diante a Santa Cruz,
ficando ao hospital de Seira os que lhe legára a fundadora;
que alguns casaes e herdades, que esta deixára a Domin-
gas Peres em sua vida, ficassem a esta ultima em quanto
vivesse, passando depois aos cónegos; que as freiras, que
tinham vindo de outros conventos, regressassem a elles,

ou fossem para outras casas da ordem de Santa Clara,


e que Domingas Peres e as mais entrassem na das do-
.

nas de Santa Cruz; que, yísto que o convento de S. Fran-


cisco se achava muito arruinado, por causa das enchentes
do Mondego, os frades menores tomassem posse das casas
de Santa Ciara com sua igreja, bem como de um campo
próximo. As pobres freiras foram assim expulsas da sua
humilde morada, abandonadas por todos, mesmo por aqnel-
les cujo dever era protegel-as poisque Domingas Peres
;

não duvidou estar pela sentença, vendo que os seus inte-


resses pessoaes lhe eram afliançados, e os franciscanos sahi-
ram satisfeitos com o módico quinhão que llies coubera nessa
espoliação de uma communidade pertencente á sua própria
ordem i.

Taes s9o os pontos que sobresahem nesse pequeno epi-


sodio da historia monástica : a sêde do ouro era já nesse
tempo a paixão dominante daquellas innumeraveis congre-
gações chamadas religiosas. Nem parece que devia ser de
outra fomoa, poisque a parte util do papel que os conven-

1 Esta sentença está incluída n'iima publica fórma de 14 de maio


de 1316 (era 1354) ; Caitor. de Saota Clara.

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D£ D. ISABEL DE ABAGÁO i89

los representavam na ordem social, estava quasi, se não de


todo, preenchida; e por mais beneíica que seja uma institui-

ção, em cessando as círcumstancias especiaes que a tornam


proveitosa» nunca deixa' de decahir e degenerar, criando
abusos que a transformam em cancro para a sociedade.
Parece que pouco depois de proferida a sentença do
bispo de Lisboa, a rainha D. Isabel tractou dc pôr por
obra o projecto de D. Maior Dias, pedindo para isso au-
thorisação apostólica. Documentos de que nos havemos de
aproveitar, mostram que o plano ^ rainha consistia em rei-

vindicar as clausulas do testamento de D. Maior, contra-


riadas pela injusta sentença do prelado, e a esses bens ac-
crescentar outros para dotar a nova fundação. Uma questão
tão complicada, e que tanto tempo durava, encontraria na-
turalmente delongas na cúria romana : foi só a 10 de abril
de 1314 que ahi se expediu a authorisaçSo solicitada, que
se limitava a conceder a D. Isabel licença para fundar um
convento da invocação de Santa Clara e Santa Isabel, e para
que podesse requisitar, depois de acabado, do provincial da
ordem dos menores em Santiago, algumas freiras para o
povoar, sem tocar na questão dos bens de D. Maior K
É provável que a morte de Clemente Y, succedída dez
dias depois da data desse diploma, — que causou e tanta
confusão no sacro collegio, que d seguiu
alii se estar a
santa sé vaga por mais dedous annos, — demorasse sua a re-
cepção por parte de D. Isabel. N um documento emanado
da sua cbancellaria, datado de Lisboa a 17 de maio de 1316,
t Copia C06Tâ de uma carta de Arnaldo, cardeal de Saota Maria in
Yoitieo, e defensor da ordem de Santa Clara, dirigida é rainha; datada
deGaatrímonio de ÁTinhfto a 10 de abril, zii indicçáo, anno 9.® do pon-
tificado de Clemente V. Cahíu no anno de 1âi4. que era lambem a xii
indicção: Cartor de Santa Clara. — D. Isabel, no seu primeiro teata-
raento, feito a 19 de abril desse anno, mas evidentemente antes de rece-
ber a carta de Arnaldo, dizia: « Item leixo a aqueliogar que está em Coim-
bra que se chama de Sania Isabel que fez Dona Maior Diaz se se fezer hy
alguma cousa a seruiço de Deus quinhentas libras. »
190 MBHORIAS
I

liiz a raínlui mençio do referido diploma^ diiendo que ia


fundar o conYento c por licença e outorgamento de D. Ar-
naldo Cardeal de Roinn » K
0 mezes de 1316, D. Isabel,
certo é que, nos primeiros
munida da permissão apostólica, traclou de termioar aa
dííliculdades que ainda embariçavam oa sana projectos.
Parece que os cónegos de Santa Òníz nunca quizerlm exe-
cutar fielmente â sentença do bispo de Lisboa, no que dízfa
respeito aos bens concedidos a Domingas Peres, e tanto
assim que ella^ julgando^se por isso desobrigada, sabira da
casa (Ias don.is de Santa Gniz^ regressando ao convento
de D. Maior Dias. Esse procedimento mesquinho doa cru^
lioa índispOl o préladò, que, a 17 d^abríl de 1310, já en**
tSo transferido para a sé de Braga, deu poder a D* Isabel
para fazer cumprir o teslameMito de D. Maior, determiníiníJn
que a parte da iierança por elle arljitrada a Santa Cruz,
K Pouco depois (em
se devolvesse ás donas de Santa Clara
maio e agosto) niandou d rainba transcrever em publica
fórma todos oa documentos orígitiaesrelalivosaeasaque»'
tHo— a substancia dos quaes já passámos em revista com
o propósito, sem duvida, de mostrar clara e evidentemente
a verdade dos fòctos, e de diligenciar que os cónegos
de Santa Cruz largassem ãquelia herança 3* Talveai fosse

1 6 nfltâ eifla 4e <ldaçáo original a fatòr do fflesmó cònvehio de


eertM ««iakat » ftísb* adquirira, ^ot eie*«ibo, de D. fMtel, aiài
de infante D. Affonao, evja eepolia(áo referimos na primeira perto deate
'

memoria Cartor. de Santa Clara.


:

S Em publ. form. de 3t d'agOtftO d« era de 1354 Ibíd. :

3 Eísas publ. forni, são em quatro pergruninhos —


dous de h de maio \

e dou8 de 31 d'agoslo da era de 1354 Ibid. Nellaso tratamento dado á


:

rainha nem sempre ó o mesmo, o que alias concorda com a pouca regu-
laridade daquelles tempos n'uiua lô-se serénitsima ae iilustrissima
; :

doeuM tfomnaJValIffA^ff^: D*outrfl:MrfiiMltiiM otffa»eeU«filMrim4deiiMM


eto.; e em duae : Uhutrittima domna elo« Oa faetramentot de meio
lavr«ram-ae em pieaeoça da rainke, ^iie eotregon peaaealmeate ae te*
beUiioeeerigioaee. Os de agosto pasaarem-ien roaode frei Frftnciaeo*
frede menor, em nome de rainlM« de ^em
era preevrader.

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DE D. ISABEL DE ABAGÃO iOi

também com o fim de provar no rei (\m, segundo parece,


se inclinava mais a favor de Santa Cruz — que este mos-
teironenhum direito tinha a esses bens. Ao menos consta
que, a 7 de julho do mesmo anno, ella e o arcebispo diri-
giram uma representação a D. Dinis, pedindo o seu auxilio
mas nada conseguiram delle K
Finalmente, passado mais algum tempo, pôz-se termo á
questão do destino dos bens de D. Maior Dias. A 13 de
março de 1318, D. João arcebispo de Braga que, mosr —
trando-se empenhado em reparar a sua anterior injustiça,
chegára a pôr demanda em Roma contra o prior de Santa
Cruz —
auttiorisou de novo a rainha a ajustar-sc com este
sobre o assumpto, declarando que o prior Jhe enviára di-
zer que desejava vir a um accordo para agradar a eiie ar-

cebispo: este promettia cessar toda e qualquer demanda,


feitaque fosse a composíçlSo com a rainha'. D. Isabel
mandou propôr aos de Santa Cruz ou (pie referissem o nego-
cio â decisão de árbitros, um dos íjunes fosse o prior, ou
que ficasse cida um dos mosteiros de Santa Cruz e Santa
Claracom a parte <la herança de D. Maior de que naquelte
momento se achassem de posse. Os cónegos escolheram
a segtmda proposta mas, para nKo desmentirem
: a mesqui-
nhez com que, diísde o principio, ligiir.n nm neste negocio,
exigiram qtw a obrrgaçHo da missa (juotidiana por alma
de D. Maior — (pie, pela sentença do bispo de Lisboa, esti-
vera a cargo delies —
por conta das freiras. Nesta
íicasse
conformidade lavrou-se termo de composição entre a rainha
e os cónegos, sendo aquella representada por procuração
(19 de maio de 1^19) A consequência disto foi deixa-

t Sula Clua ciUdo por Esperança (Hbl. Seraf. P,S L. 6


Ooouni. de
,e. iMS«n6oo emseatrimos.
3 Incluído n'uma pulil. form. de 29 de maio d« era de 1357, datada de
Serra, junto de Atougiiia. ontle se acitava a rainltH Carl. de Saota Clara.
:

S Nào encontrámos essa composição, ma8viu-a Esperança, ((ue refere


o que d«ixamos dito no leilo (Uiât. Seraf. P. 2 L. 6 c. 16). Vimos —

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MEMORIAS

rem ás írôiras de San la Clara apenas onze casaes, e mais


algumas propriedades, dos muitos bens com que a funda-
dora as havia dotado.
Mas em desconto de todos esses prejuízos, a rainha fòra
pouco e pouco augmerUnndo, com varias doarues, as Ião
minguadas posses do convento. Tinlia-llie dado os moinhos
a que acima aliudimos(i7 de maiodei3l6) <; havia impetrado
de D. Diofs comprar terras no valor de 2:000
licença para
libras, com o mesmo destino (19 do mesmo mez) <; e com-
prára pouco depois alguns bens em Penella, que deu a Santa
Clara (á8 de agosto) 3.

Do documento de iO.de maio de 1316, que acabamos


de que a essa data as obras do convento ti-
citar, vê-se

nham principiado, constando por outra via que antes do


fim de julho doanno seguinte, com quanto as obras ainda
continuassém, a communidad(* estava já formada, ao menos
em parte, e regida por uma abbadessa ^. A rainha, apro-
veitando-se da licença apostólica, mandara vir de Santa
Clara de Samora algumas freiras ^ professando no coj^vento;
além destas, varias donzelas de sua casa. Às cbnstrucções
comtudo unia caria do prior de Santa Cruz, de 3 de junho do naesmo an-
no, accusando a recepção de Tarias carias e escripturas da rainha e do
•reebiffpo,na qual allode á eomposição que tioha feito com essa príoee-
aa : de Santa Clara.
Gartor. —
Baperaoça cita também outroa documen-
toa que não encontrámos, e que porventura se perderiam D*um incêndio
que aoffreu esse cartório ha poneoa annoa» nò qaal consta tiaverem-ae
consumido bastantes documentos.
1 Vide ante, pag. 190 notai.
í « duas mil livradas derdades pera o luosteyro de Santa Eli-
sabeth da ordem de Santa Clara que eUa faz» está incluída n'uma carta
;

de compra datada de 17 de mato de 13SS (era de 1960), o que mos-


tra que nto ae compraram logo terras até o valor marcado: easaa com-
pras fasiam-ae gradnalmente. O docnm. eatá no cartor. de Santa Clara.
3 Doeom. no dito cartório. Nelle chamam á rainha €« mny nobre e
hêmauenturada senhora D. Isa bela».
4 Docnm. cil. por Esperança, Hist. Seraf. P. 2 L. 6 r. 18 § 2.
5 A Lenda impressa diz onze ma» bli^perança ^ibid. cap. ciL§
: 1), ci-

tautlo o MS. da mesma Leuda, diz uove.

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DE D. ISABEL DR ARAGÃO i93

8Ô se acnbaram depois de bastantes annos ; e concluídas


que foram, o numero das freiras subiu a 50, determi-
nando a rainha que nunca fossem menos, podendo com-
tudo ser mais ^
Em quanto D. Dinis viveu, a' rainha, segundo parece, nSo
fez larga residência em Coimbra, nem lhe teria isso ^do
possível no estado de confusão em que andavam os nef?o-
cios da corte, procedida da guerra civil nos últimos an-
nos daquelle monarcha. Mas nem por isso olvidou os inte-

resses do seu convento, enriquecendo-o de vaiios bens nas


villas e termos de Montemor-o-velho e de Torres Novas

(i32l) >, e usando da sua influencia com o rei para pro-


teger e promoTer os ínt^^es da communídade, de que
se intitulava umas vezes «padroeira e provedor», outras

« padroeira e governador »

Depois da morte de D. Dinis sua viuva fixou a resi-


dência em Coimbra, n'uns paços que, havia tempo \ ti-

nha comprado > ao contento de Santa Anna, situados junto

1 no fim do olmne.
Codicillo, nota XXYIII
2 Nota XXIV no fim do Yolume.
3 Assim lhe chama o rei em doas diplomas, que passou era conse-
quência do que lhe represeniára sua mulher; são ambos originacs: n'um,
dat, de Lisboii a 9 de outubro de 1322, indica ao alcaide e alvasis de
Coimbra as providencias que haviam de tomar a respeito de algumas
farras que o eonvento herdára de D. Waioi Dias» nas quaas se Unha in-
troduzido nm certo MarUm Ganaveies, pessoa sospeita ete. No outro,
dat. de Santarém a 19 de abril de 13S3, manda ao alcaide e juises da
Lousan qne procedessem á partilha de uma quinta emFos d'Arooee,
de que o pae de uma das freiras deixára metade ao convento, partilha
a que se oppunha a viuva do fallecido. De um diploma original de D. Af-
fonso IV, dat. d'£vora a 9 d'abríl deli25, v6-8e que esta questão ainda
pendia Cartor. de Santa Clara.
:

4 Um diploma citado por Brandão (Mon. Lusit. P. 6 L. 18 c. 62), e da-


tado de 17 d*oiitQbro de 1311, allude a esses paços.
6 On, para faUar com mais eiacçáo, pagava annualmenté 18Õ libras
ao convento de Santa Anna, até que se resolvesse a eompral-os. Yeja-ae
o codicillo, nota XXYIII no fim do Tol.
13
194 MEMORIAS

de Santa Cbra, um
pouco mais chegados ao rio ^ Tendo
mandado reconstruir ou au^niientar cssí^s paços, alii pas-
sou a maior parte da sua viuvez^ auseutaudo-se apeuas quan-
do os negócios exigiam a sua presença em outros logares.
Nos primeiros annos oceupourse ainda em aviar a conclu-
flio do seu palácio» bem como do convento e sua igreja <

aíBrmando-se que inspeccionava a miúdo os trabalhos, e,


mesmo, que dava o isro dos edifícios 3. Em consejjuencia
i

das enciientes do Mondego tinba-se arruinado a t^l ponto


a igreja do convento —provavelmente a primitiva, feita por
D. Maior Dias — que a rainha mandoo edificar outra» nio
sabemos em que anno, constando, porém, que em I3i!7
ainda não eslava acabada K No anno seguinte a rainha fez

doação dos seus i)aços ao convento de Santa (^lara, coma


clausula de que durante a sua vida poderia occupal-os \
A Lenda» e vários escriptores, faliam do hospital para po-
bres, que D. Isabel mandára erigir junto do convento. De
feito, a27 de outubro de 1322 impetrára de J09o xxn tí-
cencci para fundar aquelle estabelecimento ^»e depois (6

de novembro de i327j expediu-lhe o mesmo papa ouUo


rescriplo coníirmatorio, permittíndo que nelle houvessem

1 lbi(i.

2 Pelo tPstarnpnto da rainha df 13á7, vê-se que nesse anno as obraa


nào estavam concluídas : «... e pera fazimeuio do dito mosteiro (Santa Cla-
ra]e das casag da miiilui morada que sou outras acerca dodiío nnosteiro
3 Leoda p. 514 col. %
4 « e se acontecer que eu saya deste mundo mie quê aste Igreja stia
feita, mando-me em tanto deitar ein o coroda outra Igreja uellia •
: Tes*

Um. de 1327, nota XXVII no íim do vol.


õ Nota XXVIII no íím do vol. Existe uma carta original de Affonso iv,
•1 11. lie Lisboa no 1." de outubro da era de 13G4i I320i, dandolicenca a sua
máe de fazer o que lhe aprouvesse dos mesmos paçoii, e de uma viaba ao-
neia : Cartor. de Santa Clara.
6 Docum. cí t. por Brandão (Bion. Lnsit. P. 6 L. 18 c. SS), que Um assl-
gna-la a data de 1328. devendo ser 1981, ponque o 7.* anno do pontiflMd»
de Joio XIII principiára em agosto deste ulUmo awio.

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 195

altares. capellHes e cemitério i. O objecto era dar agasa-


lho a 15 homens e outras tantas mulheres, de cincoenta
aonos para cima» que, de melhor posição, houvessem cahido
em pobresa. Ignora-se o anno preciso em que se edificou
esse hospital denomíoado de Santa Isabel, mas consta que
o foi em 1329 eslaya con-
perto da morada da rainha, e que
cluído, porque no \° de outubro desse anno, D. AfTonso iv»
estando em Coimbra, passou, a pedido de sua mãe, uma
licença para que elia podesse comprar bens que rendessem
1:300 libras, para mantimento do referido hospital,. deven*
do-se assentar no verso do documento cada compra qae
se effeitaasse, para nUo ultrapassar o valor mencionado >.

Existem bastantes documentos que revelam que a rai-


nha continuou a adquirir muitos l>ens para o seu convento:
em 1326 obteve, por escambo, do mosteiro de Santa Cruz,
duas fontes chamadas do Pombal contracto que foi de-
pois confirmado por D. Alfonso iv^. Em 15 de novembro

1 Reserip. ú% Joio xiii, dai. de ATÍnbflo a 6 de noTembro, anno 11**


do 8eopontifieado(iaS7).É nmaaoUgt Teraáoem vulgar :GartOT. deSanla
Clara.
i € pera mantimento do seu EspUal de Santa Isabel quêtla fêx em Coi m-
hra apar das Cosas da sa Morada ». O uríginal eRtá no cartório de Sanla
Clara Éde notar que o codiriUo da rainha, lavrado em 1328 fnota XXVin),
parece dar que oliospitHl se devia estaltelerer só depois da mor-
a enlt^iider

te da rainha, e n'uma pnrle do próprio palácio. O diploma de D. ÂfTonso iv


nAo consenlA ^odavin similhantH interpretação, e nisso concorda a Lenda
• (p. SlScol. t)»ditendA que o hospiíal estava nHiraas easaa leparadaa do pa-
laelo. e que era dividido ao meio por uma eapeUa, sendo um lado para os
homens, outro para as mulheres.—No verso do diploma de Alfonso iv, que
citamos acima, se acham coBiÉigoadas quatro compras effeituadas pela
rainha: a 1.', em 1331, de terras no valor de 460 libras, calculando-se a
renda em 50 libras a 2.* e 3.", em 1335, e a ultima a 9de maio de 1336.
;

Àchando-se os caracteres quusi inteiramente apagados, n&o se pôde ler


senáo poucas palavras além das datas vê-se comtudo que a 3.* compra
;

Ittra BO Tftlor. de 180 libras, sem aht se calenlar a renda.

3 Bscripturas de U
de junho e 10 de Julho da era de 1314, e 14 de de-
lenbro de anno seguinte : Cartor de Santa Clara.
4 Original, dat. de Lisboa no 1.* de outubro da era de 1864 : Ibid.

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196 MEMORIAS

do anno seguinte a raíoba alcançou de seu filho licença


para comprar herdades para o convento, que rendessem até
ISO libras: comprou logo no mesmo dia, por 1:800 libras,
bens em Urf^ilhi, termo do Miranda, os (juaes se calculava
renderiam as ditas 150 libras Esses hens deu em sej^uida
ás freiras ^. Em
1330 mandou comprar, para o mesmo ef-
feito» certos bens em AolbaUa, termo de Leiria» por 700

libras ^. No mesmo anno deu ao convento vários bens em


Porto de Moz, que ella^ obtivera, por escambo, de João Ro-
drigues seu eslribeiro, dando a este em troca os que Mar-
quesa Rodrigues, sua dona e collaça, lhe deixara em Be-
navente por testamento K
N3o foi este o único exemplo de dadiva feita por parti-
culares a D. Isabel. Em Évora a 20 de fev^eiro de 1318,
Martim Domingues e sua mulher, Agueda Mendes ama —
que fôra de D. Maria, filha de D. Martim Gil e irman do
conde D. Martinho, —
deram á rainha, em testemunho do
muito bem que llies havia feito, tres casaes no logar de
Penco^ em Riba de Yizella^ os quaes a dita D. Maria lhes
tinha dado : esses casaes veiu a possuil-os mais tarde o con-
vento Em 132i Martim Domingues — provavelmente ou-
«

1 Diplom. orig. de Affonsoiv, dat. Coimbra a 15 de Dovem. er^ del365,


com a declaraçftoda com^pra po Terão : Ibid.
2 Proeoraçio da rainha, Coimbra, 22 de novembro era de 136S : Ibid.
Existe no mesmo cartório um inslruiuento dnt deCoinibra. nos paços de
D. Affooso IV, a 12 de dezembro da era de 1367 (13i9), no qual D. Isabel .

declara que certa quinta na Lousan fôra comprada em seu nome mas que ;

fòra por conta e com o dinheiro de Joanna Goiíçiilve.s {saa donn), irman
de Maria Gonçalves abbadessa de Santa Clara, e que queria que a mes-
*na a boavAaae aem maia contenda ete,
3 loatmm. de venda, dat Leiria a 2 de junho, era de 1368 : Ibid.
4 Nota XXIX no fim do olnme.
5 Instrumentos dat. de Bvora a 20 de fevereiro, de Penço, em Riba
de Vizella. a 23 d'(>uiiibro, e de Guimarães a i8 do mesmo mez, todos
da era de 1356; Cartor. de Santa Clara. No segundo dncum. se acha in-
clnida uma carta da rainha, dat. de Évora a 18 (28?) de fevereiro da
mesma era, constituindo seu procurador, para tomar posse dos casaes, a

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 197

tro que o pi^ecedente — e sua mulher, D. Avizibona, deram


a D. Isabel vários bciis em Montemor-0-ve'.bo, que também
couberam em sorte ao mesmo convento K
Todos esses factos acreditam bastante a constante solici-
tude da devota rainha, e yé-se que, ao realísar o pensa-
mento de D. Maior Dias, resuscítando uma communidade a
bem dizer extincta, e esbulhada das suas posses, houve-se com
mão hirga, desi)eiidendo nesta obra, por muitos annos, uma
boa parte dos seus rendimentos. O convento primitivo des-
appareceu de todo, bem como os paços e o hospital >
D9o resta o mais pequeno Testigio daquellas paredes^ que,
fundadas no meio das contendas e discórdias dos homens,
foram desl)aratadas prematuramente pela própria natureza,
achando-se hoje sepultadas nas arcas que o Mondego, cora
o andar dos séculos, tem depositado e amontoado em suas
margens. Ahi, porém, se vô ainda a igreja que foi edificada

debaixo das vistas da rainha : está enterrada mais de me-
tade, ficando os ( apiteis das columnas. que sustentam o
arco do Indo do norte, quasi ao nivel do chão. A parte,
que até agora escapou ao diluvio das arêas, está em estado
assaz perfeito para se poder admirara bellesa das propor-

frei AfTonso, guardião de S. Francisco de Coimbra. A data nho podia ser


IH, por(}iic a doação foi feita a 20, e, como é copia, haveria engano da
parte do nolario.
t Koti XIIV 00 fim do vol. Feroáo Rodrigues Redondo deiíou por sua
morte parle da quiota d'Orelhudo, termo de Coimbra, a 0. hábtl t attu
eonvehtú : Doeum.Hle 11 de junho da era de ISfiS (A« D. 1380) no eartor. de
Santa Clara. O inordomo>mór da rainha, Gonçalo Peres Ribeiro, e sua
mulher, D. Constança, escolheram sepultura na igreja nova do convento
de Santa Clara, legando ao mosmo por testamento duas ((uint.is e uma
herdade Docum. dat. de Coimbra, 1.° de janeiro era de 136."» (\. l).
:

1337), no mosmo cartor. Um dos sellos pendentes é da rainha (intitulada


no documento « padroeira do mosteiro » ), e ò outro do convento, restando
apena» as fitas por onde pendiam os da abbadessa, de Gonçalo Perea, e
de D. Constança.
9 Os paços e o hospital já estavam totalmente em minas no^eeu-
lo XTi Esperançat^Uiat. Seraf. P. S L. 6 e. 90 S 5*
:

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196 MBMOIIIAS

çDes, e, quanto a uó&, a singular eiegauda do typo gothi-


€0, pertencente aos tempos em' que o bom gosto ainda
guiaft os riscos dos architectos. As tres naves, e as abo-
badas de cantaria guarnecidascom os' escudos das quinas
de Portugal e das barras de Aragão, ainda se enxergam
quasi na sua primitiva perfeição, tendo todavia soíTrido al-
gum tanto o lavor dos capiteis. Esse bello monumento,
que facilmente se poderia desentulhar e conservar, serve
agora de celleiro I
É sabido que, em consequência das frequentes inunda-
ções do Mondego, e do arruinado estado do convento, o rei
D. Manuel impetrou licença, em 1505. de Julio ii para o
mudar para outro A
3 de julho de 1649^ reinando
sitio.

D. João nr, lançou*se ^ primeira pedra do novo convento


no alto da Esperança, mudando-se para elle as fireiras a 29
de outubro de 1677 : esse é o convento de Santa Clara que
actualmente existe
Com quanto a rainha n3o professasse no seu convento,
vivia nos paços com todos os rigores da vida monástica.
A acreditarmos a voz publica daquella epocha, teria passado
. a maior parte do tempo em ouvir missas, fazer orações,
meditar, jejuar, nlo lhe faltando arrebatamentos nem a mor-
tificação voluntária das suas carnes — sem fallar nos cuida-
dos seculares ^ : pouco em harmonia com os padeci-
rigor
mentos e falta de saúde de que se queixa n um diploma 3.
Esse género de vida era, todavia, muito commum naquellas
eras de viva fé, em que sinceramente se j ulgava ganhar o céo
reprimindo os sentimentos e maltractando o corpo, já de
per si sujeito a tantos e tão duros achaques e, ao vermos ;

o que ainda se passa em roda de nós, não ê muito que se


acredite se seguisse então um regimen, que, com ser a

1 Mon. Lusit. P 5 L. 16 c. 54. - Hist. Geneal. T. 1 p ââS e seg.


i Nota XXX no fim <Jo volume.
3 Nota XXVl 00 Um du voluma.

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BE D. ISàmCL DS ABA6Â0 IM
negação eonstaole dat leis da nitureza, fllo deiíara da
ser filho da crença cega e sincera que possuía qoasi to-
das as classes.
Mas as occupações de D. Isabel não se restringiam uni-
cameote ao espiritual, ioteressava^se também nos negocio^
noDdanos» e nomeadaoMiite nos que diziam respeito aos
numerosos poros e viUas de que tinha o senhorio, oomo
nol-o assegura a Lenda, e se deixa ver de um documento
original, datado de Leiria em outubro do 1331. Nas den-
sas trevas que naqueiles tempos toldavam o mundo intei-

lectual, a parte pensante do bomem tinha um horisont0


tSo eironmscripto» que nlo é de admirar que noções tidas
por triviaes entre as pessoas iUustradas dos nossos dias» nlo
òccorressem nem mesmo aos mais instruidos nos secoloi
em que o erro predominava sobre a verdade. Os morado-
res de í^aredes, que era uma povoação no termo de Leiria,

e privativamenie composta de gente do mar, haviam xepcd-


sentado a D. Isabel que as anthoridades de Leiria Ibaspur
nham impedimento na compra de p9o, ou antes de «eimas»
para levarem á soa aldéa, com o pretexto de que tíS» era des-
tinado ao consumo da povoação, mas sim para ser de novo
vendido fóra do termo. Mandára a rainha tomar conheci-
m^to do caso pelos seus aufidores, os (piaes aicharam
que não hafia fundamento para a suspeita qua servira «de
díafiirce para se pôr embargo i onnpra a que aqndles pre^

tendiam ter direito. Em consequência disto, D. Isabel pas-


sou o diploma a que alludimos, mandando que d'ahi em
diante se não impedisse aos ditos moradores «)mprarein
em Leiria todo o pão de que precisassem, com tanto que
fosse só para o seu consumo* e não para venda, podendo
m de Leiria, se quizessem, exigir dos mesmos habitantes
de Paredes juramento sobre os evangelhos de que o pão -

não seria levado fóra do termo, nem vendido a outrem


1 Nota XXXI DO fim do volume.

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Esta medida de ha cinco séculos era conforme á dootrina
que eoHo prevalecia eulre os nossos maiores, como se co-
nhece de bastantes documentos. E na verdade a estulta le-
gislação que nos rege hoje, assim como entre outras na-
ções, na parte económica^ está longe de se ter despido dos
erros grosseiros do mundo tradicional : ainda continua sen-
do uma fonte perenne de desgraças e de crimes.
O estrépito da guerra im
emfim retumbar dentro do
próprio recincto que a rainha-mSe havia escolhido para soa
residência, sobresaltando-a no meio da vida tranquília em
que, sem duvida, esperava acabar os seus dias; esperança
que não era destinada a realisar-se. Desgostos, não só po- /

liticoSy mas domésticos^ haviam indigesto o animo de Af-


fonse IV contra o genro, Affonso xi de Castells, casado com
D. Maria filha daqudle. Era esta a neta predilecta de D. Isah
bel, que a criára ^ e a tivera junto de si até ao seu casa-
mento. O contracto deste se flzera em Coimbra, no próprio

palácio da rainha-mãe, a 17 de dezembro de 1327 2 effei-

tuando-se os desposorios cm setembro do anuo seguinte


na Villa de Alfáiates, aonde D. Isabel acompanhára sua ne-
ta 3. Ao despedir-se mal suspeitava ella que d'ahi a
desta,
pouco devia começar para D. Maria uma serie de infortú-
nios nunca interrompida até ao dia da sua morte : e quantas
saudades não abririam caminho no coração despedaçado da
rainha de Gastella ao comparar a ternura da avó com o
abandono, indifferen^ e severidade que experimentou suc-
cessivamente do marido, do filho, e finahnente do pae, se-
gundo é fama. De feito, os desgostos nSo tardaram.

1 Gomo se deprehende do segundo testamento de D. Isabel; onde


também parece mostrar a sua predilecção por esta neta, deiíando-llie
muito mais que á outra irman B. Leonor, e nomeando-a por um dos seus
testamenteiros.
2 Hist. Gcneal. T. 1 das Provas p. 238.
3 Pina, ChroD. de D» Affonso iv c.4 foi. 5 verso. — Flores, Reyo. Ca-
thol.T. Sp. 599e seg.
DE D. ISABEL DE ADAGÃO
I

Na côrte de Portugal eram notórios os desaires por que


o monardia castelhano fazia passar sua mulher desde 1330,
a qual se achava não sómente abandonada pelo esposo, se>
não também tractada com desdém pelos cortezãos, todos
absortos em prestar o incenso do sen coito a D. Leonor
de Gnsman, objecto de uma paixão excessiva, que lhe ad-
quirira completo dominio sobre o rei ^ O sangue de Af-
fonso o bravo, facilmente excitado, fervia-lhe nas veias ao
ver sua filha votada a tão publico despreso K A paciên-
cia já lhe ia faltando, qnando sobmdn um caso que foi
como a feisca que se lança ao paiol. D. €k>nstança Bianuel
achava-se contractada para casar com o infante D. Pedro
de Portugal (1336) mas o rei de Castella punha toda a es-
;

pécie de embaraços afim de impedir que ella viesse daquelle


a este reino K Ardendo em ira, o monarcha portuguez de-

1 Lafuente, Hist. de Espafia T. 6 pp. 479, e 482 a 491


2 Pina (Chron. de D. Affonso Duarte Nuoes (ChrODÍm T. 3
iv c. 5) e

p. 92) aílirinam que, no começo dos amores de Affonso xi eom D. Leonor


«i-epocha em que 0. Maria se aehava no mais completo abandono, por
^aioda pio ler dado i lux filho algnm, ao passo que aquella já era mAe,»
a raiolia D. Isabel se dirigira a Xerez de Badijox a lançar em rosto ao
rei o modo indigno com que traetava sua neta querida ; mas a este res-
peito ha falta de provas.
3 Depois da guerra, .que durou alguns annos, a princesa veiu a Por-
tugal, e as núpcias effeituaram-se,segundo consta, em 1840. A opinião
geralmente seguida é que D. Constança morreu em 1345» e Barbosa (Ga-
tai, das Rainhas p. 299e segg.) pretende mesmo fixar o dia. 13 de novem-

bro ; em parte porque esse dia viera apontado n'nma eota feita por algum
curioso na margem de um catalogo dos reis» em MS. (vid. ibid. p. 996), a
'qual eota 6 um conjuneto d'erros, como nota o próprio Barbosa; e em
parte porque era fama que D. Constança fallecêra de parto, argumentan-
do o referido aulhor « pois do seu ultimo parto, que foy a 31 de Outubro,
:

correm trexe dias, que são os que bastão para duração da enfermidade,
que intempestivamente lhe tirou a vido». Tal é a critica pueril que em-
prega Barbosa que, aliás, ó da mesma força que o racioeinio com que
1

quis fixàr adaU da morte de 0. Beairii deGusman. Averdadelra data


da morte de D. Constança Manuel foi a 27 de janeiro de 1349, como se co-
nhece do assento que se 16 nò Obituário de S. Barlholomeu, no Archivo
Nacional, que é o seguinte :«vi lUl. íebrur. Sra •"ccc.^ ulzx.tii.'' obiit

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Í08 mOMAS
clariNia gom
ao gwuro, fezendo ow
repaolma mmSo
nos estados deste pelo Mo
de Badajoz, respondendo o cas-
tdhano por uma cootra-invasão effeituada por seus capi-
tães.

Foi nesta conjunetura que a rainba-mãe deliberou, ape-


sar da ma idade e padecimentos physícos» empreheoder
uma afiaa de representar mais uma
jornada Mígosa, m
•o papelde anjo da paz, e proenrar reconeiliar por m^oe
'
suayes animes exaltados. Sahiu de Coimbra, dirigindo-se
para os arraiaes do filbo. A tentativa foi, porém, superior
ás suas forças: em vez de de negócios» foi imsear
ir tractar

o leito da norte. Ao cbegar a EstreoMz» onde se achava a


c6rte, sobreveiífr-lbe um tumor n o braço : os sjrmptomas nio
cansaram susto aos medíoos» e nessa yiaSSo continuam
todos até pouco antes do seu fallecimento. Este occorreu
na noute du quarto dia depois que se vira obrigada a re-
colher-se á sua camará. Foi n uma quinta feira, 4 de julho
de 4336 qué a piedosa rainha den o ultimo suspiro, tendo
era roda de si o filho, a nora e os netos, ultima consola-,
ção que lhe fK^ra concedida nesta vida, cumprindo-se'assim
o desejo, que, segundo affirmam, sempre expressara, de
ter seu fliho ao lado na hora do passamento K
êmw vior inelili 4»mni petri Regispeit. ettl*
Gostiioeit iofimlíua
gsrbfi.ntaenarío cnivs kataaius a«riie prior dAbnMeoBprMfsor Wno-
nim ip8ÍM testanenti deb«t 4tn ic soHdM >. As paltmii ãigit poH.
indicam que etím •imoto ee fiíera depoffl de O. Pedro tobir ao throno, e
portanto alRuns annoa depois da mnrtp de sua mulher mas isto nâo fôra
;

motivo de per si so para recusar a pxacçáo do Obituário e o que vera,


;

em parte, apoiar a noticia, é que, por um documento de Lorvão, visto


por frei Manuel dos Santos (citado na Hist. Geneal. T. 1 p. 376), consta
qat « infimlt D. G«n§Uiiiça vivia tinda êoi f S47.
1 Laoda p. I5ai a M. ^ Pioa, ClirM. de O. Âffoaeo i? e.' SS —
O epi-
tapMo de D. iMèel, traaacrfpto adiante, eonfinaa « data referida, e a
pablica fórma do segando teaCameato, lavrada em Estremoz a 5 de julho
do mesmo anno, era qoe se declara já finada a rainha, vem apoial-n. A
Lenda acerta igualmente no dia da semana, porque as dominicaes do anno
bissexto de 1.^ foram 0 f . Erigiram mais tarde, ao sitio do caslelio aa-

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DE D. ISA9EL DE ARAGÃO 203

Assim acabou D. de Araglio na idade de seaseoli


Isabel
e cinco aiinos, com quasi quarenta e tres de matrimonio e
mais de onze de viuvez. Abstrahindo dos exaggerados pa-
negyricos de escriptores mais recentes, que, ao apregoarem
as virtudes do objecto do seu culto, desconheciam as leis
a que o género humano se acha sujeito, ha circumstancias,
(|ue, sem recorrer áquelles absurdos encómios, acreditam
bastante as boas (jualidades desta princesa. Cdin (luanto
as particularidades das suas acções nâo chegassem até nós,
e seja diâicil, talvez, descoln^ir os impulsos que actuaram so"
bre ella em muitas conjuncturas, o quadro da sua vida visto

no todo persuade que a natureza emprestára a esta princesa


um espirito activo e talentos não mediocres ; parece mesmo,
se dermos credito â Lenda, que lhe não faltava instrucção,
lendo mui bem o latim, não só o portuguez. Yemol-a fi-

gurar em alguns negócios importantes do reinado de seu


marido, sendo licito crer que poucos de alguma urgência
deixariam de chamar a sua attenção ; e se nem sempre a
sua influencia mostra preponderar, convém lembrar que
D. Dinis, monarcha de grande e atilada intelligencia, supe-
rior em muitos pontos á sua epocba, não era homem que
se deixasse 'guiar facilmente por outros, e por muito que
respeitasse as virtudes de sua mulher, pòde-se duvidar da
influencia desta em assumptos de interesse publico. Parece,
por outro lado, ter exercido alguma innuencia sobre seu
filho, D. AíTonso iv; ao monos varias circumstancias fazem
crer que este tinha grande aíTeição pela m?íe, e que sem-
pre a reverenciou e acatou. Se^ por um lado, nio pode-
mos subscrever á opiniSo daquelles, que pretendem trans-
formar esta rainha em um ente superior aos outros mor-
taes ; se o senso commum, e a convicção que nutrimos

tígo de Bstreraos, uma ermida da iovocaçào da rainha para marcar o to-


gar da 8ua morte.

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W\ 11KII0MA8

da immutabilidade das que regem o uoiverso, nos


leis

levam a desprezar a$ patranhas sonhadas por fanáticos, ou


inventadas por impostores ^ ; se, finalmente» ê impossí-
vel negar a D. Isabel as imperfeições communs^ em grau
mais ou monos subido, a todos os mortaes —e de que,
como vimos, algumas acções da sua vidamostram que eila
nio era isenta, — por outro lado não deixaremos de lhe re-
conhecer virtudes. A sua caridade era notória : gastava
muito do seu haver em esmolas com necessitados, notan-
doise-lhe um sentimento, que muito depunha a favor do seú
discernimento, e animo compassivo e bondoso ; tinlia parti-

cular compaixio dos desgraçados que, tendo gosado certo


conforto, cahiam em pobresa, soffrendo em silencio a sua
desventura. A sem lhes ferhr o
estes sabia a rainha acudur
pundonor» fozendo os seus donativos a occultas, e com todo
o melindre. Educava os filhos de nobres e cavaileiros, e
dava dotes a muitas donzellas e moças, que os necessitavam.
N uma fome horrorosa, que succedeueml333, a rainha abriu
os seus celleiros e alimentou grande parte do povo de Coim-
bra ^. Os authores louvam igualmente a resignação com que
D. Isabel soffiria, sem murmurar, a infidelidade do marido

N3o ha duvida que D. Dinis foi pouco circumspecto a esse


respeito, sendo facto que deixou seis ou sete filhos bas-

tardos, dos quaes peio menos a maior parte teria nascido


depois do seu casamento. Gita-se um diploma de 1298 pelo
qual o rei noméa a sua mulher para ser, no caso da sua
morte, tutora de tres desses filhos bastardos, com poder
sobre as suas pessoas e bens. Isto mostraria quanto con-

1 Nota XXXIf no fim dn Tolome.


8 Yeja-se a Landa pp. 502, 600, 512, 590. Doaaa fome falia o Liv. da
Noa de Santa Crus, ad or. 1171, no T. 1 das Provas da ffist. 6eneal.,bem
como um chronicon d* Alcobaça, vid. Port. Monum. Hist. scrip. vol. 1 p. 31
col. 2.— Sobre os dotes para caBamentos, vejam-se lambem ot iesUmen-
^08 dii rainha, nuta XXVU no fim do volume.
3 Leuda p. õOi.

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DE D. ISABEL DE ARAGÃO 205

taya com a indulgência de soa mulher, se não fosse um


costume demasiado commum da epocha Mas o que so-
bresahe no caracter tradicional de D. Isabel é um fervor
religioso t3o requintado que, segundo o commum dizer
do seu século, a máxima parte do tempo passava em
devoções, 8i:yeitando o corpo a todos os rigores entio exi«
gidos pela superstição para formar uma perfeita christan*
Se D. Isabel de Aragão mereceu ser canonisada, com tanta
ou maior rasão que muitos dos que figuram no calendário
romaoOj nem por isso nos parece que tivesse maior direito
para o ser do que outros que a igreja não reconhece por
santos. A yerdade é que só Deus pôde sondar o corado
humano K
Duas vezes mudára a rainha de resolução ácerca do
logar em que a deveriam sepultar. Em seu primeiro testa-
mento havia designado Alcobaça, bein como o rei depois ;

determinou que fosse em Odivellas, como consta de um


breve de JOSo xxn 3 ; e por fim, pelo seu testamento de
1327, escolheu Santa Clara de Coimbra, tendo, já antes
desta data, segundo dizem, mandado construir o seu mau-
soléu na igreja do convento K .

1 Veja-se o docum. na Mon. Liisit. P. 5 í.. 17 c. 47. Os filhos pram Af-


fonso Sanches, Pedro AÍTonso o Fernúo Sanches que seriam ent40 os úni-
cos nascidos, e mesmo todos ellesde menor idade.
S DUem que, reclamando ÁffoDso iv dos monjes d' Alcobaça certos to-
gares nos termos de Óbidos e Leiria, interpôi-se a rainha contra a pre-
lençfto, por serem suas essis villas ; cedeu o íei á reclamação d<« sua rofie,
e mandou que fossem entregues ao procurador desta. Vindo arainha-máe
a saber que seu procuradoria intentar causa contra os flunijes, como fisera
o de Affonso iv, mandou D. Isabel áquellc agente que cessasse pom a pre-
tenção; porque seella julgasse que as terras em questão eram do seu se-
nhorio, as houvera rcelamatio na \ida de seu marido. Sobre a verdade ,

desta abnegação de D. Isabel, nada podemos aíQançar veja-se a Alco- :

baça Uluslrada. pp. 1f7 » 173.


3 Citado por Brandão, Mon. Lnsit. P. 5 L. 17 c. S4ad fin.
4 Lenda p. 514 e 515. Peio testamento mandasse soterrar no cero da
igreja, sem mencionar o tumulo.

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^06 HRHOEIAS

Depois de algumas duvidas, cumpriu-se a vontade da de-


fuQcia princesa, conduzindo-se o seu corpo, Qaturalmeote
depois de embalsamado, a Ck>imbra *. A i2 do mesmo mez

foio cadáver depositado no tumulo a qae acima alludímos, e


n'um pilar de pedra azulada, que se collocouá cabeceira do
mesmo, se gravou em letras douradas o seguinte epitaphio
BI* H.GCC. LXSIV, 011 4 MBIISItlUUI IR 0*8-
TIO DB itTRBMOZ OBIIT IIGLlíTâ ILItiBITH
BBGiNA P0RTt-6ALI«, & ¥Vn ^RPULTA XII Dll
DICTI MR!<«IS IN nOC MONASTEniO S. CLAR;C,

VUOD IP^AMETFiUKI Jt S?IT, &DOTAVIT: & FUIT


OXOB D. DIOKTSIl ll.LlSTRIiiSiMI RBfilã PORTli-
oALiA, é nu* mn ». rarii n aiamm*,
à BBflim B. OOHSfABTIJI, *TQUB mim D. AL-
rtsi sniNvisMiii ii«s PfinoflALM, A d.
comtAimjt nmnm c*inu.«, porqi» avi*
RBflIS D. DR CASTRLLA, & REOINE D.
MARIB I XORIS SVE. HOi^TIMUlT, HOS HONORAVIT,
HIS BRNEDIXIT. CUIIJ8 ANIMA «BQUIBSCAT W
PACK ••

1 Corrêi de Lacerda, Hisl. de Santa Isabfl [p. 297), diz qusera trailiçAo
que sehaviam tirado as patranhas da rainha, sen io (lepositulasno alto dos
degraus da Cí»pella-mór da igreja de S. Francisco de Estremoz. Varies «u-
ihores referem as duvidaa, que se levantaram sobre a conveoiencia de
coadoAiro eadiver a Coimbra dob calores do etUo, aconaelhaudo alguns
qae fosse enterrado em S. Franeisco de Estremoz oa na sé de Bvora, que
fieava perto ; mas qne o rei reaolvèra que se cumprisse desde logo a von-
tade da mâe. Jeronymo de Belém, e Manuel da Esperança dizem ambos
que o corpo de D. Isabel náo fòra embalsamado esta aflirmatiTa nâo se;

estriba, porém, em authoridade alguma segura. 1^ verdade que a Lenda,


com quanto nad.i diga de positivo a tal respeito, .lá claramente a enten-
der o mesmo que os dous citados authores mas, como já apontámos em
;

outro logar, é impossivel snbsofeTer a tudo quanto aUega a Lenda, e na


fealldade o doce cheiro, qne esta afBrma emanava do ataúde durante a
conduçaoa Coimbra, provaria assas que o corpo tinha sido preparado com
ns essências aromáticas do costame para prevenir a corrupçio, se esse
circum'4tancta não fosse trazida no intuito unicamente de fazer acreditar
n'uma intervenção especial da Providencia, que naquelles tempos facil-
mente faria echo, mas que o bom senso dos nossos náopóde admittir. Ve-
ja-sea esle respeito a Lenda p. 5i3 e segg.; Chron. Seraf. P. 1 p. 105 { 125;
e Hist. Seraf. P. t p. 444.
S Esperança. Hist* Seraf. P. S. L. 9 c 96 ad ftn. Soma, na Hist. Geiíeal.'

1
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;

DE D. ISABEL DE ARAGÃO 207

A primeira pedra do novo conTento que se edíficoa, foi


lançada em 1640. Depois de acabado, procedeu-se, em ou-
tubro de 1677, aos preparativos da trasladação do corpo da
rainha, já então canonizada. Ao cabo de varias conferen-

ciaSt em
que se regulou a fórma da procissão e mais actos
pertenGeutes a essa eeremooia, abriram o tumulo da rai-
nha —
o qual já em f 6lt£ tinha sido aberto, como logo ve-
remos —
na presença do bispo-conde» dos bispos de La-
mego, Viseu, Porto, Miranda, Targa, Pernambuco, do deão,
mestre-escola. chantre e cónegos da sé, do reitor da univer-
sidade, do provincial da ordem de S. Francisco, do guardião
do convento, de um notário e de um architecto. Âchando-se
o caixão despregado e todo desconjunctado, deliberaram
que unicamente o corpo fosfe posto em um novo caixão
e. tirando a uma e uma as taboas do antigo, .acharam o ca-
dáver inteiramente envolto em roupas e mortalhas brancas.
Descobriram apenas uma das mãos, que acharam intacta,
beyaudo-a todos os assistentes, bem como as freiras, as
quaes foram admittidas a tomar parte neste acto. Susci-
tou-se a questão sobre a conveniência de chamar o povo,
para que visse por seus olhos o perfeito estado de conser-
vação em que se achava o corpo mas a idéa íoi rebatida
;

por todos, excepto pelo bispo de Miranda, por ser a ipreja


muito pequena para conter tão grande concurso de gente,
julgando-se além' disso que os assistentes eram bastantes
para testemunhas do facto. Transferiram, portanto, o corpo
para o novo caixão de prata imbutido de pedras preciosas,
fechando-0 com quatro chaves. Na sexta íeira, 20 de.outu-

da C. R. T. 1 p. 221 , lambem transcrevea este epitaphio com algumas va-


riantes na ortliogrnphia, alias de pouca monta, mas que nos parecem me-
nos exactas. A lapide do epitaphio, que era separada do tumulo, ter-se-
hit perdido na onídança d» antigo para o doto eoDTento. porque já hoje
náo eziíiê. Algnns aaeuloo depois, imcieveram ao tamalo os seii TOreoe
laUnoi, que olnda neUe te lèen. o sa aéham Iranieriptos nos lagares sn-
praaitados.

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208 MBMORIAS

hro de 1677, foi conduzido aos hombros dos bispos em so


lennQe procíssSo acompanhada das religiosas, qae, segaindo
os restos mortaes da sua fundadora, mudaram na mesma
occasião a sua residência para o novo convento. Não se
achando ainda terminadas as ohras da nova igreja, collo-
caram o caixão em um altar levantado n'nma das casas do
couTento. Finalmente a 3 de julho de 4696, foi depositado,
com grande ceremonial, na tribuna da capella-mór da noya
igreja, onde até este dia permanece ^ Mais tarde transfe-
riu-se o cenotapliio para o coro da dita nova igreja, e alii

o guardam com venerando recaio as religiosas que hoje ha-


bitam o convento, as quaes téem gravado na memoria vá-
rios episódios — que lhes fòram transmittidos por suas pre-
decessoras — pertencentes â historia daquelle antigo mo-
numento, que consideramos um dos mais bem consenrados
de quantos temos visto no nosso paiz. É de grandes dimen-
sões, em pedra, com as escuipturas pintadas a cores, sen-
do, salvo a corôa e os ai^os em metal, evidentemente da
obra primitiva. Na tampa se yô o vulto colossal da rainha
em corpo inteiro, vestido no habito de Santa Clara.
Gomo já dissémos, a rainha D. Isabel havia feito dous
testamentos, um a 19 de abril de 1314, e outro, depois da
morte do marido, a 22 de dezembro de 1327 ; e finalmente,

a 12 de março do anno seguinte, fizera uma espécie de


codicílio, principahnente relativo ao hospital de Santa Isa-

bel. Gomo documentos vão lançados na integra em


estes
outro logar 2, diremos apenas que os diversos legados que
a rainha deixou, pelo segundo testamento, a vários conven-

tos, estabelecimentos pios, e a indivíduos, orçavam em


mais de 12:000 libras K Além disso, deixou 4;000 libras para •

1 Sonsa, mstGeaeal. T. 1 pp. 9S8— S85. ^RoTifta Litterar. toI. 7


pp. 945— 160^ 353-^379, onde se lêem na integra mios docamentos
relativos ás trasladações da rainha.
2 Notas XXVII e XXV [II no Am do volume.
3 Náo se pód^ affirmar a quantia exacta, porque deixa ás rezes um
Vtt D. tUÈÊL DK ÀAAGÂO

ad despesas do sea enterro, e 500 para as doa testamentei-


ros, e outras 12:000 libras ao convento de Santa Clara de
Coimbra, além de tado o qne sobejasse das 36:000 libras
pelas quaes adquirira privilegio de testar. Entre os seus tes-
tamenteiros figuravam em primeiro logar Affonso iv e sua
mulher D. Beatriz de Logo depois da morte de sua
Gasteila.

mãe» D. Affonso 6 os outros testamenteiros começaram a


dar execuçio ao testamento K Aquelle ordenou a Pero Es-
teves, clérigo da dèfuneta rainha, e a Domingos Martins,
clérigo delle rei, que fossem comprar tenras para o con-

vento de Santa Clara até o valor de G:000 libras, intimando


ao mesmo tempo os almoxarifes e escrivães das Yiilas de
D. Isabel para que pagassem, dos cofres dos seus almoxa*
rifkdos» a importância dessas compras Existem alguns

tanto para eadaeonvento de certa ordem, ou a cada criado de certa cUa-


8e etc.
1 Encontrasse, no •artor. de Santa Clara, um instrumento em latim
pelo qual D. Isabel, abbadesaa do mesmo convento, declara que cons-
taado-lhe, pela pablicaçfto emCoioibrado teaiamento da rainha, que eata
a Domeárapor uma das asaa teatamenteiras, encargo de qne mal ae p<H
deria eaeuaar era Tiata da reverencia qne lhe merecia a memoria da de*
functa, de qnem era sobrinha ealumna.acceitaTaodito encargo, protea-
tando, porém, que por isso nâo respondia pelo mt^smo testamento, nem
com 08 próprios bpns, nem com os do convento, mas só até onde os bens
deixados pela mesma rainha bastassem para esse etreiío. É datado do
i-onvento, segunda feira, Võ de julho da era de 1374 (Â. D. 1336).
9 Diploma de D. Affonso !
dat. de Batremos aSde noTembro de 18S6
(incluído n*uma carta de venda de 17 d*agosto do annoaeguinte), e de Évo-
ra aiO d'abrU de 1837 (incluído em instrumento de IS de maio do mesmo
anão). Acarta incluindo o primeiro docum. comprehende também outro
do mesmo rei, dat, de Evorn a 23 d'agosto de 1336, pelo qual manda que
se veudu dos bens daquelles que deviam quantias a D. Isabel
proceda á
Cartor. de Santa Clara de Coimbra. Convém advertir que, segundo o di-
ploma de D. Dinis, concedendo á rainha o privilegio de testar por 36;000
libras, oatealamenteiroa da rainha deviam aer entregues de todas aasom*
maa queae lhe devessem até ao dia da aua morte. Um doa taea dev edorea
foi o que arrendára o mordomado (em Leiria), montando a aua divida a

3S0 libras. Vendeu-se lambem, por 50 libras, uma herdade que perten-
cia a outro individuoi qne tivera o mordomado em 1835 e nio tinha pago

o que devia.
14
210 MEMORIAS

instrumentos de compra em resultado das ordens meneio-


nadas As disposições da rainha n9o se achavam ainda in-
teiramente cumpridas no meiado de 1338. Por dons di-
plomas, um de D. Beatriz de Castella, de 15 de junho
desse armo, outro de seu esposo D. AíTonso iv, de 20
do mesmo mez, se conhece que este ultimo, em conse-
quência de um contracto que fizera com a abbadessa de
Santa Clara, deu ao convento as rendas e direitos dos moi-
nhos da ribeira de Condeixa, além de varias casas com s^s
fazendas no mesmo sitio, avaliado tudo em 6:200 libras
somma que se havia de deduzir das 36:000 libras que elleera
obrigado a pagar, em rasão dos rendimentos das villas de
sua fallecida mãe durante tres annos depois da sua morte K
Essa quantia de 6:200 libras, talvez fosse considerada como
uma prestação das 12:000 que D. Isabel deixâra ao con-
vento, ou porventura constaria em parte das sommas de-
vidas á rainha á hora da sua morte, não sendo provável,
á vista do contexto do diploma, que fosse o que sobejasse
depois de cumprido o testamento, resto que, segundo este»
devia ser entr^e ás fueiras de Santa Clara 3.

Uma disposição notável do segundo testamento e do


codicillo, foi prohibir que pessoa alguma pouzasse nos
paços junto do convento, salvo os reis, as rainhas e os
«

1 Além doas docum. citados na nota precedente, encontram-se no


dojS
mesmo cartório outros dou8 dal. de 16 de janeiro e 7 d'abril da era de
1375 (1337). 0 valor de todas ess.is compras sobe a 1160 libras.
2 l.iv. 11 de Estremadura IL 244 verso c 275 verso no Arch. Nac. Este
ultimo, o da rainha, existe em original na gav. 1 maç.7 n." 6, achando-
He lambem registrado a foi. 30 do Liv. 2 de Reis. —
Vide anie, p. 179.
8 Parece que, quando falleceu, D. Isabel devia ao seu ooiiTtato mil
libras, de mil e quinhentas que o rei tinha dado ao convento por uma
herdade que fôra de D. Maria, irman do conde D. Martinho somma que ;

tinha sido entregue á dita rainha. Como testamenteira, O. Beatriz de


Castella mandou pagar essa divitla ás freiras, das rendas de Leiria. A
carta ori<;iiial v datada de Coiíiibru a 2ti d'abril da era de Í376(A. D.
1338); está uo carlor. de bania Clara.
DE D. ISABEL D£ ARAUÁO 21 i

infantes-herdeiros com suas mulheres. Foi nesses paços,


secundo dizem, que residiu D. Ignez de Castro, e que
soffreu a cruel morte que todos sabem. Depois deste trá-
gico SQCcesso, parece que vários poderosos se atreyeram *

a hospedar-se nelles: a 26 de novembro de 1356 expediu


o rei, sobre representação e queixa da abbadessa de
Santa Clara, ordem ao alcaide e alvasís de Coimbra para que
expulsassem dos mesmos paços todos aquelles, por mais
poderosos que fossem, que para ali tivessem ido residir;
porque queria que os desejos de sua mlle se cumpris-
sem ^
A fundação de Santa Clara de Coimbra não foi a única
obra nesse género que fez D. Isabel; fallaremos aqui
de outras.
Em 1289 uma viuva, chamada D. fierengaria Ayres,
principiou a fundação de om convento de moinas cister-
cíenses, em Almoster, próximo a Santarém, logar aqaelle
de que era senhora. Quando falleceu, achando-se parte das
casas por acabar, com quanto nellas estivessem já algumas
religiosas, pediu á rainha D. Isabel se incumbisse de as
concluir. Alguns annos antes» a rainha — que, ao que parece,
era affeiçoada a D. Berengária — tinha recebido o convento
debaixo da sua protecção, e por isso, talvez» não du-
vidou annuir ao pedido da fundadora ^. A rainha man-
dou fazer á sua custa o claustro e a enfermaria, bem
como outras porções do edifício. Soria também por in-

que D. Dinis^ em 1300, e D. Affonso iv,


fluencia delia
em 1326^ concederam a este convento licença de her-
1 o diploma origioal, eom seUo pendente, acha-ae ao eartor. de
Sauta Clara.
2 Certos privilégios concedidos por D. Dinis a D. Berengária em 1308,
, o foram a rogos da rainha. Brandão aílirma que D. Isabel se iizera pro-
tectora d*A1moeter por diploma dat. de Lisboa a 7 do junho de 1304
' Dio diz onde o Tira, maf'é de soppòr o achasse do cartório d'Alaoster
Mon. Losit. P. S L. 16 c. 74.

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312 BIIOIUàS

dar, das religiosas que nelle professassem, fazenda qoe


rendesse mil libras; pois que a lei de março de 4291 o

Iirohibia ás ordens religiosas Em seu tesUmieoto dei-


xou a rainha mil libras a este eonvento.
Dliem que D. babel, juntamente oom um bispo da
Guarda, chamado Martinho, fundára em Santarém o hospital
denominado dos Innocentes para recolhimento e criação do
enjeitados, que ahi eram ensinados em algum ofQcio, e sus-
tentados até aeharem emprego, depois do que não podiaiá
Toltar ao mesmo hospitaL a nSo ser por motivo de doraça.
Este estabelecimento foi extincto no reinado de D. JoSo n,

e incorporado no hospit<il de Jesus da mesma villa ^. Foi


contemplado no testamento da rainha com mil libras.

Em Leiria, dizem que fundou um hospital ou recolhi-


mento para pessoas do sexo feminino, qoe, tendo vivido
em m^ores circumslancias, cahíssem em pobresa 3. Nesta
*
mesma villa, instititíu uma capella perpetua, e outra em
Óbidos, deixando bens para mantel-as ^.

1 Mon. Lusit. 1. cit. —


Lenda p. 309.
2 Lenda, p. 511. - Hist. de Santarém T.
• 1 p. Í58 e segg. leoda «lii

que a tondaçâo fôra começada pelo bispo e acabada pela rainha a HisL ;

de Santarefli dii qoe f5ra Aiadada por «mboe. eitaado o diploma da fna-
daQio «foin a data do anão de tSSO, do que ha engano manifesto, porque
nlo vivia então a rainha. A ser genuino o documento, esta data devia ser
«ra, e não anno porque ajera de 1359 correspondia ao anno de 1321. em
;

que nâo só vivia a rainha, mas tarabem D. Dinis, cujo beneplácito o doco-
mento diz haver sido nlcançado pelos fundadore)*. Por outro lado Ribeiro,
na lista que dá dos bispos da Guarda (Dissert. Chronol. T. 5 p. 167), põe

D.Martinho sob o anno de 1359, era de 1397. não mencionando nenhum


deste nome no tempo de D. Isabel. Esperança (Qist. Seraf. P.S L. 7 c.
ad fin.) saggere que este bispo fftra Ãr. Joflo Martins, cujo nome falta
igualmente na lista de Ribeiro; nesta lista ha, por6m, muitas lacunas.
Consignamos as duvidas que existem, sem tentarmos desatar a meada.
Veja-se sob a» Erratas.
3 Lenda, p. 518. Esperança, Hist. Seraf. P. 1 p. 367.
4 Lenda, p. 518. de N. S. da Pena de
Dizem que D. Isabel deu á igreja
Leiria umaambula contendo uma porção de que os embusteiros af-
leite
firmavam ser da virgem Maria! e que esta preciosidade foi mais tarde

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D£ D. 1SAB£L D£ ARAGÃO 213
Affirmam que a rainha concorreu para a reparaçSío do
convento e igreja de S. Francisco de Bragança, que foi a

primeira casa religiosa em que entrára ao chegar a Por-


tugal. Na capella-mór existiam antigamente, segoado atra-
diçio, o seu retrato e o de seu esposo, os quaes no sé-
culo xYii já tinham desapparecido i.

Asseveram que D. Isabel concorrera para a fundação


do convento da Trindade de Lisboa, em cuja igreja man-
dára fazer uma capella* da invocação da immacuiada con-
cejçSo K A rainha deixou á:000 lihras para redempção
de captíYos, sendo premei que essa somma fosse entre-
gue á ordem da Trindade, que se occupava desse mister.
Frei Manuel da Esperança attribuea 1). Isabel o ter insti-

tuído em Alemquer a festa do Espirito Santo, e Brandão


suppõe que íôra a mesma rainha quem a instituiu em
Cintra, onde se cel^nrava na sala dos inliiites nos pagos
daquellaTiUa, dos quaes ella estata de posse por concessão
da ordem do Templo ou de Christo, aquém perteuciam 3.

transferida para a cathedral (vide Agiol. Lnsit. T. 2 p. 375; Chron. dos


' Coo. Regr. L. 5 c. 13 § 17 e 18). Pretendenu que foi por ordem desta rai-

nha que a procissão de corpus christi, que se fazia na mesma villa. se di-
«rigisse para a igreja de S. Francisco (vide Esperança, Uist. Seraf. P. 1
p. 380).
1 Esper., Hist. Seraf. P. 1 p. 50. Dizem (Tejt-se o jornal «Panorami»
.Tol. i da i.* serie p. 414 que Umbem fiindán o flooYento de
eol. 1.*)
.S. Francisco de Beja ; mas disto doTidamos, porque, to passo que ne-
ahuma noticia anthentiea achámos de tal, em sens testamentos náo fas
ella menção especial deste convento, o que parece não ommittiria se
fosse funtlarào sun, visto qiie deixa um legado a U^das as fundações
em que tivera parte.
2 Mon. Lusit. P. 4, nas advertências feitas a p. 507 tia ediç. de 1715,
e P. 6 L. 19 c.23.— Cliron. dos Goneg. Regr. L. 4 c. 7 § 17.
.8 37.— Mon. LosU. P. .6 L. 18 c. 4S. É tn*
Hist. Seraf. P. 1 L. 1 c.
.dição qoe esta rainha ftindára a igreja do Eapirito Santo em Alemquer,
o.qne é de tal modo confundido com as patranlias dos mílsgreiros, que,
. na falta de noticias autbenticas. nada podemos aflirmar a. este respeito.
Yide fisper., Uist. Seraí. P. i L. 9 c. 17.

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214 MEMORIAS

GMrilMÉii i miBMeQSd de tni ftofo dMUM do


«MyltêfrD de Aleobaca» x\m o M D. Dínii mattdárft fo-
4e^ como consta de uma inscripção ^
Do primeiro testamento de D. Isabel, confiece-sè que
Mites da iai4 tiftha ella filodado uma altergaría em Odl-
ellas» para os pobres.
Ao moetefro das GHIift de Gòiaibrti deo a igreja^ lla-
ç3o, que estaim m tatm de Ábraotes» vMlà que lhe per-
tencia 2.

A rainha D. Isabel de Aragão teve sómente um úlho «


mna filha.

D. GodBMca foi' â pfiffiíôigeiíila* baseeihdo n 9 ée jn-


neiro de IMX Depois
de obter do papa dispensa de pa-
VBDtêsoo, casou, em janeiro de IMSSy som fMiãAdo vr 4e
€astellá, tendo-se feito os esponsaes anteriorttiente, eto
4297. Este monarcha fallecôu em setemhro de 131%
•kai joven viuva segiriii-o ao tomtUo a f8 de novembM do

1 Citada na Moíi. Lusit. P. 6 L. 19 c. 44 ad fiti.

a Nova Malta Portug. P. 2 § Í70 p. 385.


8 b. 47.— âtíhO iiiM«nteo
Mon. Lusit. P.5 L. 17 c. 1 e 63. e P. 6 L. 18
T. 1 wnáBjiÊiuiro dia 3 § Yu^fUmè, Reya. Cilh«L T.ft^ SBI, 'è'ia|K.

—SooM, Hi0t. Oeneal. T. 1 p. S88 e seg. No evtorio de SarfUi
éft CoiBftHrt'0BeaSI»iiB0s tfili'dl»tumento que talves mii^ fliMfeioiar-
ie éHiiDBtranetitd òriginal pelo qual Pedro Esteves, aldaoi^rlfe qte
:

íòn de Santarém, perfilhava e adoptava esta infanta D. Congtança.


Hjiie então contava poucos mezes, afim de qoe, depors da morte del>e,

=eHa herdasse todos os seus bens, com a clausola que fosse obrigada a
pagar as suas dividas e dar o terço por eua alooa, coBfonii»a dí^lMMçio
qoê elle fitease por testamento. Datado de Obide»,« 11 dlk amabn
la^ra de 4819(1. D. ÍV») ; «Stm as terteimmlnísiagliit idoHiiia» ir«f<t-
ttr GontalwtCdlfiéUtmvg áiet^ãomM^gine (HeijiebSfe)^ASer étote Pe-
*dro BstévflBÒ mestno que depois f^ra A^erclefigb« o1r»idt»ridtiiraiaha»
o que é provarvel, a infanta nfio logrou a herança ;^rque«l}e Tiveo moi-
losannos depois que elta falleceu.Veja-«e<a Relaçâò no fim da ínthodoc-
>çÍo.Esse costume de perfilhar ou adoptar os -filhos doe podepdsM '«ra
aaaaz commum uas pessoas que-aào tiulium herUáros, aOado mb -meio Aa

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DE D. l^ABfiL DE ARAGÃO SIS

D. Affonso nasceu em C!oimbni a 8 de feyereiro de


1291 : herdou o sceptro, sendo o iv do nome ^
Cerca de dous séculosdepois da morte de D. Isabel,
iiouveo peusaunaoio de impetrar a sua caoonisação. Nas
waiB wgow oiostroa a santa sé baalaate repi^piancía
ÚÊmiU) papa» o imUmámm, b finam precím os jeafor*
Ç08 de seis reinados para conseguir aqui lio que Poriugai,
no seu fervor religioso, pundonor nacional, e veneraçãjo*
para com a memoria desta rainha, tanto anhelava.
0 rei D. jtfaouei alcançou de Leão x a beatificação de
D. Uabel, comoedida por brove de 15 de abrii de I5i#»
IbmtABdo o culto ao bispado de Coimbra ; MmilacSp que
foi depois apitada, a pedido de Jo9o iii, para o logar
Ottde a corte de Portugal tivesse o seu assento. Em 22 de
seíejagjbro de 1552 concedeu o núncio, que residia neste
jeino, indulgências áqueiies 4|ue yisilaasem ai^eja QQ4ia
consagrado i rainha» 0 no oitaY^io.
D. Jo9o III a9o se .cançava de instar pela canonisapio;
porém, o mais que pôde cons^uir foi que em 1556
Paulo IV estatuisse que o dia de D. Isabel fosse festivo, e
em todo o reino como de santa beatificada,
se celebrasse
com capeUa alta e imagem da mesma rainha, decla-
rando que nem por isso seria contada entre os san-
tos da igreja até se feriftcar a sua soiemne canonisaçio,
privilegio este que o devoto rei participou logo por cir-
cular dirigida aos prelados portuguezes ^. O rei D. Se-

gRtqgiiHr jo f«v«r daqueUes, objeolo de inesUiiMival Tanuetai osmís

tompos 4omrdeD«d(M —
Viterbo eila uiiia carta de ViceateDoiiiiagiiei,
4e laM, pela qual adoptava Pedro Affonso. filho bastardo de D. Dl9i#,
por seu verdadeiro herdeiro Elucíd- T. i p. 56 verbo Adautar.
:

1 ChroD. Conimb. ad ser. 1329, vid. Porl. Monum. Hist. srrip. jrol. t
p. 4 col. % —
Brev. Ghron. Àlcob. Ibid. p. 21 col. 2. —
Leoda de Saot^
iaabel, p. 501 col. 1. —
Mon. Lu&it. P. 5. L. 17 c. J.
t Vjc^a^-s^ ao|>re tudo o que dúepooa ao texto., Sousa, Hist^6eoe«).

Mi de Soisa, Aomei de D. Joio iii p. 441.'- A cjirmkt do rei •fw.4&-

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246 MeMORlAS

bastião, e sua mãe D. Catliarina, continuaram a empregar


.todas as diligencias para o mesmo Qm, mas sem melhor
resultado.
Passaram-se muitos annos, até que, reíDaudo Filip-
pe iit — II de Portugal —o negocio avançou mais um
passo. Em consequência das instancias feitas por este rei,

o papa Paulo v nomeou uma commissão para formar os


* processos da canonisação. Como uma das bases impor-
tantes em que estribassem os seus argumentos, os com-
míssarios quizeram verificar o estado do corpo, que, no
'^zer do vulgo, se achava incorrupto. Com este intuito
mandaram abrir o tumulo em março ou abril de 1612 e,

com elfeito, acliaram-no inteiro e era perfeito estado de


conservação, facto que se apressaram a levar ao conheci-
ntènto da cúria romana como notável prodígio, interpre-
tando como manifestado divina uma circumstaiicia bas-
que era muito natural se désse n'um corpo
tante vulgar, e
embalsamado, nu preparado d outro modo depois da morte,
com o fim de livral-o da putrefacção, segundo o costume
seguido não só a respeito dos corpos de príncipes, mas

?er608 bispos, datada de julho de 15M, acha-se oa Golleeç. de S. Vi-


cente. T. 9ff. 69, 1Í9, tõl-ins, 302, 304, e 337 a 351, 00 Arch. Nacional.

1 Sousa (Hi8t. Geneal. T. 1 p. 224) diz 6 de março ; a Relaç. feita em


CoDsist. Secreto (publ. em Évora, 1625) refere a data de 25 de abril. No
Âgiol. Lusit. T de uma testemunha
2 p. 318 transcrp.vo-se uina carta
ocular descrevendo o acto de abertura do tumulo, da qual se deduz que ti-
fera logar a 26 de mar<j0 ignoramos, porém, se a carta é genuína. No
:

Arch. Nacion. gav. 11 maç. 1 n.^ Ui eneontra-se outra oarta similhante.


datada de 30 de março, eserípta por diversa testemunha, que declara a
mesma data, segunda feira 36 ds marfo. A. carta não é original, más co-
pia feita a 3 de março de 1617, e assignada por Gaspar Álvares de Lou-
sada Machado, escrivão da Torre do Tombo, cuja fama de falsario é
•assaz notória. Isto comtudo não quer dizer que a carta fosse uma com-
posição sua, mas está sujeita á suspeição e o certo é que a'^ de março
;

de 1612 foi uma terça feira c não segunda feira, porque as dominicaes
foram GP. Nisto, comtudo, podia engaaar-w o author da carta, que as-
*
cretia a 10 de março.

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DB D. ISABEL BE ARAGÃO 217

ou poderosos. Se a conser-
até dos de particulares ricos
açSo dos corpos embalsamados nem sempre se alcançaTa,
era isso meramente devido ao modo menos efficas dos
preparos. Apesar de tndo, nem Paulo v, nem seusueces-
sor Gregorio \v [)ro(',l;uBai ;irii a canonisação, e Filippe iii

morreu em lOál, sem a ver realisada ^


Finalmente, depois de mais de um século de incança-
veis diligencias da parte de Portugal, Urbano viii ceie»
brou, a 28 de maio de 1625, o acto solmne que dava
d'ahi em diante a D. Isabel de Aragão, rainha que fòra
de Portugal, um logar entre os innumeraveis santos do
breviário romano, onde eiia figura a 4 de julho, dia do
seu fallecimento ^,

1. Em ISIS parece que o papi concedeu qoe o ooiuf de reinha sa ce-


lebrasse, no seu dia, em todo o reino de Aragflo: Dormer, Oitcnrsoe
Vários p. 110.
2 Sousa, Hi8t Geneal. T. l pp. 2á3 — 227. — Chnm. dos Coneg. Regr,
L. 10 c. 36 § 13.— Agiol. Lueit. sob 4 de julho, e pp. 309 e 3<8 do lom. 2.
Para as particularidades, festas, ceremooias etc. veja-se Corrêa de La-
cerda, Hist. de Saota babel. A canooita^ fot baseada sobre a RelaçSo
feita em Gouaistorio Secreto a 13 de janeiro de 1C9S. Esta Relação foi ver-
tida em vulgv, e impressa em Ema
no meamo anno, e é assaz rara. Pite-
mos todas as diligencias para descobrir no Archivo Nacional alguma ror*
respondencia entre a côrte e os embaixadores em Roma, a respeito deste
,
negocio, uas nada encontrámos. Pôde ser acaso, e talvez o não Beja.

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NOTAS E DOCUMENTOS
I

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I

DOUS FRAGMENTOS DO TESTAMENTO DE D. MAFALDA


DE MAUaiANNA, E DOCUMENTOS RELATIVOS Á ALBERGARU
D£ CANAYEZES, pag. 50 6 51

O primeiro documento que passlimos a transcrever existe


no Archivo Nacional, gav. 16 maç. 2 n.® 16 ; acha-ae
também registrado a f. 81 verso do L. 2 do Alem Doaro. É em
caractéres dos fins do século xv, e escripto n'ttm pequeno ca-
derno de pergaminho juntamente com outms documentos,
que pela letra mostram ter sido ahi registrados muito ante-
riormente, alguns talvez no tempo de 1). AíTonsoii. Deve ser-
o mesmo caderno de que falia Brandão (Mon. I.usit. P. 3 L. 1
c. 38) ao transcrever um dos fragmentos do testamento da

rainha. Pelo contexto \è-se que o seguildo fragmento (que o


copista tirou de um registro) devia ter precedido o primeiro,
no testamento original, formando provavelmente parte do
que elle declara nfio podéra ler. È evidente que esses dons
fragmentos são traducçôes do latim, em que se acharia exa-
rado o original.
CopiâmoB o segundo documento da Chancellaria de D. Pe-~

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222 NOTAS £ DOCUMENTOS

dro I, L. 1 . f. 87 verso, no Arch. Xacion. A data da cnrta


regia tlt; l). Pedro era de l'{í)3) deve ntlribuir-se a erro
de quem a regi^ítroii, poisque esse rei subiu ao sólio só-
mente na era de 13Uo (A. D. 1357).

BOCUmiTO 1

Cstss scripturas me deu gonçallo goncallues as quaacs


ficarom com outras da torre de (que?) seu podre gonçallo
steueoz tyoha em huroa arca. K estas perteecem a alberga-
ria do Caoaueses que a Raj^nha dona mafalda. As qoaaes
fei
eu aqui fii treladar. porque eram ja velhas Specialmente o tes*
tamento da dita Rainha que era muitos lugares era caduco.
i.« Nen eu ho pude leer Se nom em partes. E primeiramente
fragmento. segue o dicto testamento, assi como se pode leer. — In
nomine sancte et Indiuidue trinitatis etc. —E o mais do
dicto testamento se nom podia leer ataa esto que se se-
gue. — E destas portageens que eu assi leixo ao meu spi-
talde caoaueses se repa irara sempre bem e compridamente o
paaçoque pera ello leixo ordenado. O qualstara sempre limpo
e bem repairado de telha o madeira E com boas portas fe*
chadas porque os peregrinos que bi albergaram non rece-
bam alguum desaguisado E seram hi camas boas e limpas
em que se possam bem albergar noue desses peregrynos. aos
quaaes seram dadas raçoSes dentrada ou de sayda e lume
e nuga e sal qunnlo lhe fezer mester. E finando se alguum
desses peregrvnos sejn cri torrado com tres missas de sobre
altar. E com pano e cera \í porque esto nunca pereça todo
se deue bem recadar assi as portageens como as outras ren-
das. £ porque me Ellley deu priuillegios per que se esta cousa
milhor firmasse non sera escuso nenhuum da dieta portagem
por rezom da obra seer pera bem dos mingados. que tenho
que sera prol das almas delRey e minha E dos Reis e Rai-
nhas que de nos vierem se elles meterem hi todo bempera
%• que se faça o seruiço de deus. E no liuro das doações —
fragmento, sta outra verba que diz. —
E a portagem que eu assi dou

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N0TA8 B DOCmOENTOS

aa minba albergaria de canaueses se deue tirar dello8 pou-


«adoiròsatee ponte, de que nomdeue seer scusada nehuma
pessoa. E pagaran de besta mayor que passar com carrega
XI III dinheiros K
de besta pequena que seja asno vii di-
nheiros boy ou vaca que vem de feira ou de mercado xvi
dinheiros Ede porco xi dinheiros Ede carneiro ou cahram
111 dinheiros coelho ou jincnra de manteiga i dinheiro. E

de iiKTcadnrln cm cjiie moiilar soma de moeda de cada ma-


ravodim iii diolieiros o comf»rndor e vendedor de car-
l']

rej;a carrada que abrirem vii soldos e ii dinheiros. E de


casa mouida vii soldos eii dinheiros. —E mais foi achada
hí outra carta deitiey dom Denis que perteecia a a dieta

albergaria que diz assi. — Dom denis pella graça de deus Garudo
Key de portugal e do algarue a quantos esta carta vi- D. Dinb.
rem fago saber que a mym se enuiarom agrauar alguuns
moradores da terra da tieira de martim iohanes morador
em guimara&es albergueiro de canaueses per vaasco períz
meu cleri{;o dizendo que lhe retijnha suas bestas e carre-
em essa ponte demandando lhe mayores portageens dasque
{^as

os outros seus antecessores leuauam fiuendo lhe sohrc ello


demandas per que faziam despezas K eu mandei sohre ello

cilur o dicto martim .Iohanes perante minha corte E lhe


íiz pergunta como leuaua as dietas portageens ou quem lhe
dera o dicto oíBciol']elle me mostrou huma carta da Uainha

dona brealíz minha madre a que deus de perdom em que


lhe daua cuidado do dicto encarrego porque hp fezesse bem
e como deuia. E mostrou outrossi o testamento, da Rai-
nha dona mafalda pello procurador do concelho desse logo de
Oannoeses. O qual visto per minha corte se mostrou que essa
portagem deue hl seer sacada. E que com os dinheiros que dali
sairem deue o all)ergueiro leer hi sempre casa limpa e fe-
ciiada e cuberta de telha. K com camas em que possam
jazer ix peregrinos E que lhes deue dar lume e auga e .

sal. li Keçoões de entrada ou de saída. E que se alguum


falecer que seia enterrado com iii missas de sobre altar e
pano e *cera. E porque esta cousa he snncla c boa. E foi

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NOTAS E DOCUMENTOS

n^tsi dotnda per a liainhn dotin malalda minha tres nuoo


non sorn ^luisaílo que por mvm íkmh por outro nebuiim Hey
losse tirado noiíi innl parado ante lhe deuo de dar ajuda com
Ioda rezom. Porem mando a uos do dicto
Juizes e officiaaes
logo dc canaueses e ao roeu meirinho daalem dos montes
que façades sempre comprir e guardar as cousas contheu-
das em o dicto testamento E leixar sacara dieta portagem
Eropero que se nom leuem ende mais do contheudo em psta
minha carta asaher de toda besta mayor xiiii dinheiros.
E de asno o meo desto e de hoy ou de vaca que vier de
feira ou de mercado xvi dinheiros lí de porco xi dinhei-

ros. K de carneiro ou de cabram iii dinheiros K de coe-

lho e de pucara de manteiga dinheiro. K de mercadaria


i

em que montar soma de moeda dt; cndn marauidi iii di-


nheiros. O comprador e o uendedor de carre«^a carrada que
abrir vu soldos e ii £ de casa mouida yii sol*
dinheiros.
dos e II dinheiros. £
que o dicto raartím Johanes
posto
queira mais leuar ou outro alguum que depois delle Vier vos
nom lho deuedes de consentir. £ esse testamento com esta
minha carta seja gardada na arca desse concelho. K eu mando
que fique ende o trelado desse testamento com as minhas
cartas em deposito Como quer que se delie nom pode leer
em toda parte. K em testemunho desta cousa mandei ende
fazer eslns duas cartas dada em Coimbra a x\ dias de no-
uembro lílRey ho mandou per o chançarel. francisque an-
nes n fez Kra de mil e trezentos trinta e dous anos.

ocDMimon

Principio ji^pQ \
mcus ouençaaes daalem dos mon-
UOS
^

D Pedro^^
^ 9àuàe que o albergueyro de canaueses me
faço vos saber
enuiou mostrar huma carta delrrey meu padre a que deus
Carta de D. de perdom que dizia em esta maneira - Don afonso por la
Affaaso iv. gi^^ç» de deus rey de portuga e do algarue a uos morado-
I

res da pouoa de canaueses que he junto com o Rio de ta-


mega Saúde faço uos saber que ui n querella que me en-

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NOTAS £ DOCUMENTOS Í25

uiasles 6m que aos quexauades dos albergaeyros desse lu-


gar diiendo que per leuarem as rendas dessa albergaria nom
queriam meter hi as ooras (honras ?] de hospitalidade que a
Kainba dona mafalda hi leixara hordenado. E porem man-
dey a martim GimldeE meu de criacom que esguardase so-
bre ello e que soubese quaaes e quantos eram as rendas
dessa albergaria E esso meesmo as cousas que se hi auiam
de os por por deus K o dito martim giraklez achou que uos
todos juntamente deuedes a dar a essa albergaria cento o
vinte e sete soldos e hiium dinbeyro e buma mealha cada
huum a quem mais e a quem menos segundo os aforamen-
tos que uossos ontecesores primeiramente fizerem com a
dita Rainha. Item achou mais que se deue hi pngnr porta-
gem assy das cousas que pasarem como das que vierem pera
o lugar a qual se deue tirar dellos pousadoyros atee ponte.
E desta portagem nom deue seèr nehuum escusado ainda
que aia priuylegios porem o seruiço de
fjorque pereceria
deus e as cousas que hi a Kainha hordenou nom se fariam
110 que a nossa olma receberia dnnipno E esta porta-
gem deue seer bem parada de guisa que nenhuum nom passe
que nom pngtie e seo contrayro íizese perdoría essas mer-
chandias Item achou que deue essa albergaria dauer humas
acenhas no Rio que se chama de paacço C que nom ham
ende hi estar outras moendas E huum meo casal em uilla
noua E deue hauer em esse lugar fornos em quo uos outros
os moradores cozades uosso pnm que seiam da dita alberga-
ria e nehuum de uos nom deue faier hi outro forno E deue
o albergueyro os firmar uossos jui/es e receber as dizimas
dos preytos sentenciados e }»oor clérigo na Igreia de sam pe-
dro do dito logar que he cabeça da capeeila de sancta ma-
ria que seia delia abade E o albergueyro que na dita al-
bergaria ouuedes de poer deue seer homem conhecido e de
boa fazenda e che^do aos feitos de deus. o qual deue teer hi
casa cuberta de talha e repayrada de portas com tres leitos com
sua roupa pera os pelegriins que per hi pasarem os qniiac
receba com caridade e com «mor e lhos apresente lume es
15

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1)6 NOTAS K DOGtmtlITOS

agoa e sal E deue esse albergoeyro visitar ameude e<t<<a

eaaa e teer hi mentes que essa roupa seia limpa e lodauia


que todo faça coro caridade e com prol de sua alma K das
fendas sobiedictas deue de conprír direitamente estas cou-
sas e mandar diter pola alma da dita Rainha cinquoenta e
duas misas em cada hlium anno de guisa que seia cada so-
mnna liuma K pagadas as sohrtMiitas cousas bem e (ielmenle
deue esse all)ergue\ ro daiicr o (jue lii reiíianecer por seu
trabalho porem nos dcuedes de hi poer líd homem que con-
pra todo P (jiinrido el tal nomcomo be
fosse nem fizese

guisado deuedello de mostrar aos meus corregedores que unào


per essa comarca ao qual eu ninndo que faça todo bem com-
prire guardar bem ai nom façades dante na villa de monte
moor o nouo xx dias dabríl eirrey o mandou per Johane
anões mellam e per domingo paaez oouidores dos seos fei-
tos steuam martins a fex era de mil iii* Ixxix ( 1 379) anos.
SiVpedro*
— ^«cwlo me o dicto albergueyro como lhe uos punhades
*
embargo em algumas das dietas cousas o que eu nom tiue
por bem o que uos defendo que ninis nom façades nem lhe
embarguedes seus dirreitos ca doutra guisa fariades erro e
eu tornaria a uos por ello bem al nom façndes danle em a
uilla de santarem xxv dias de nouembro cirn y o mandou
per lourenço calado domingos afons a iei era de mil iii^ e
Ixliii (1393) anos.

u
I

QONTOS RELATIVOS AOS PARTOS DE P. MAFALDA, pag. ttô

Na vida de S. Theotonio (§ 1 9, vid. Port. Monum. Hist.


scrip. vol. que é obra coeva a D. Mafalda, se
I
p. S.Hj,

conta que, achando-se a mulher de Alfonso Henriques quasi


nas agonias da morle pela diííicuidnde do parto, mandára
chamar o celebre prior Theotonio ; e ao deitar-lhe este a
bençào, fazendo o signai da cruz, nascêra logo o menino, sal-
vando-se a mãe. Pelos annos de 1627 «o prior geral de Santa

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NOTAS E DOCUMENTOS 227

Cruz, D. Miguel de St." Agostinho, mandou fazer, como nos


assegura l>. Nicolau de St/ Maria (Ghron. do§ Coneg. Ke-
^r. í.. fO c. i'2 § \], um painel representaiulo esse pre-
tendido inilnjíre. O painel ainda se conserva ; vimo-!o na
Capella de S. Theotonio em Siuita C-niz de Coimbra, sendo o
que fica á esquerda da imagem do sanlo por cima do altar:
nào nos pareceu nolavel quanto á parle artística.
No texto (p. 'i7) referimo-nosde passagem á fundação do
mosteiro da t>09ta de Guimarães, altriíniida sem sufficíente au*

Itioridade á rainha D. Mafalda. Discreparam os authores


sobre qual das santas Marinha ou Marj^arida fosse o orago
desse mosteiro, parecendo ter havido diversas com esses no-
mes em differenies patzes. Os escríptores monásticos apra-
ziam-se }j;erahncnle em dissertar sobre futilidades dessa na-
tureza, e alguns enclieram largas paginas pam determinar
n duvidi sobre o orago do mosteiro da Costa. Apontaremos
iipenasque I). Dinis, em seu testamento, falia no « moesteiro
de Sl*^ Marinha da Costa» (Mon. Lusit, IV 6, Appen.uU.
docum.), e sem curar do mais que dizem a tal respeito, ve-
nhamos lenda que in\entaram. Contam, pois, que a rainha
{\

D. Mafalda invoc&ra St.* Marinha ou Margarida no meio das


dòres- de uin parto demorado, promettendó edificar-lhe um
mosteiro se lhe valesse naquella extremidade. Livre do pe-
rigo, ficou tfto reconhecida ò santa, a cuja intercessão não
deixou de attribuir piamente o ter sido salva, que iiAo só
cumpriu a promessa, mas teve desejos de possuir uma
reliquia sua. O bispo de Orense, com a costuin.^da facilidade,
obteve logo satisfazer a rainha, enviando-lbe uma porção
do craneo da martyr, ou cousa equivalente, que a devota
ft). Mafalda nunca qiiiz largar de %\ em quanto viveu, vindo

a mesma relíquia a parar fí na 1 mente em S. Vicente de


Lishoa. (Vid. Kstaço. Var. Antig. c. 25 § 17 e segg. —
Cbron. dos Coneg. Regr. L. 6 c. 12 § 7 e segg., e L. 8
C.Í3S2).
Na Chronica dos Cónegos Regrnntes (L. 12 c. 6 § 3) se
• menciona outro caso, mas desacompanhado de milagres:

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NOTAS £ DOCUMENTOS

Certa D. Felicinna, dontelln da rainha l). Mafalda, vendo sm


ama ameaçada da morte por causa de um parlo, se assustou de
maueira que foz voto de nâo casar ; e proj)ondo-se-lhe mais
larde um partido o recusou, recolliendo-se ao convénio daí*
Donas de S. Joào, ondese fez coiiega, afim de escapar ás in-
stancias dos seus.

MOBTE DE D. MAFALDA B DE D. DULCE

A, pag. 54

6nindSo(Mon. Liisit. P. 3 L. 10 c. 38), authorísando-so


com um registro que elle intitula Livro dos Óbitos de Santa
Cruz, morte de D. Mafalda a 4 de novembro de
lixa a
1 157 ; o mesmo
faz D. Nicolau de Santa Maria (Chron. dos

Coneíí. Hogr. L. 12 c. 4 § 9), citando textualmente o


mesmo livro por esta forma « Pridie nonas Nouembris obiit
:

Domna Mahalda inclyta Portugaliae Hegina Canónica San--


ct<B Crucis Era 1 195. » Ora, o Livro dos Óbitos de Santa
Cruz existe actualmente no Archivo Nacional da Torre da
Tombo. Não dos achar nelle a citac&o dos dous
foi possível

aothores ; mas a 84, sob o mes de dêzmbro^ lè-sê o


foi.

seguinte : a Nons. obitt Do'mna Mafalda port. regina ; » isto


responde a de deiembro, não se achando apontada a era.
l)'aqui se vê que o obituário que serviu a Brandão e Ni-
colau de Santa Maria, nâo era o(|ueestá no Arcliivo iNacio-
nal ; facto que se conhece, ainda com maior evidencia, ao
confrontar esses obituários em outras passajiçens. De feito, o li-
vro citado por Brandão pòe os óbitos de D. Dulce e D. Ur-
raca respectivamente sob Kal. sept. e iii Non. novem., ao

passo que o do Archivo Nacional coUoca-os sob vii Kal, Sept.


e VI ti. novem. Ainda mais, o primeiro refere a morte dos
infantes D. Henrique e D. Raimundo, filhos de Sancho i,
sob VI iéL auguiíu e vii id, martii respectÍTamente, quando
similhantes assentos nllo se acham no obituário que está

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NOTAS E DOCUMENTOS 229

nò Archivo, nem tio pouco achamos o de D. JoftOt filho de


D. Affonso Henriques, a 25 de agosto ou viii Kal, Seplem«
como refere Brandão.
Fica pois demonstrado que o obituário na Torre do Tombo
n8o é o mesmo de que se serviram os dous mencionados escri-
ptores qual csle Tosse, f^rém, é o que ignoramos, nem en-
;

tendemos como podesse haver dous obituários ori*;inaes de


Santa Cruz. Tractemos agora das diversas fontes que dizem
respeito h morte de D. Mafalda.
3 d mencionámos duas. Cunha (Hist. Eccies. de Braga T. 2
c. 14 § 13) cita uma noticia obituária onde falta a era«
mas que concorda no mei e dia com o Obituário de Santa Crui
DO Archivo Nacional, poisque resa deste modo : « Obiit Dona
Mafalda, ínclyta Regina Portugalli® coniux D. Alfonsi,
Portugalliffi Régis, Canónica S. Crucis, Nonis Decembris.
Depois, temos o Calendário da Sé de Coimbra, de que existe
uma copia antiga no Archivo Nacional, lendo-se a foi. t 1
4,
o seguinte: « Nons. decembr. e. M
c L x v (1195) obiit
Itegina domna Mafalda que dedit huic ecclesie duas Capas
sericns et Mantilia sericata et duas pixides eboris et in morte
sua dedit ibi unum scortium argenteum continens viiii Man-
chas et iacet in Mon. snncte Crucis.» OChroDÍcon Conim-
bricense ou Livro da Noa de Santa Cruz apenas diz : « In era
M.* c* LXL.* V* Obiit doinna mahalda portugalensis re-
gtna » (víd. Port. Monum. Hist scrip. vol. 1 p. 2 col. 2)
Finalmente, temos a Chronica dos Godos, que nos dit : « Era
Mcxcvi. tertio Non. Decembris feria quarta, hora dieí
tertia obiit famuin Dei lllustrissima, clarissimo, et nobilis-
simo genere orta Hegina D. Matilda, ciarissimi Comitis Ama-
dei íilia, uxor D. Alfonsi Portugallensium Kegis, cui sit uera
requies. Amen. x\x." anno regni Régis D. Alfonsi (vid.
»
Fort. Monum. Hist. scrip. vol. 1 p. 15 col. 1).
Eis ahi seis autboridades diversas que^quasi todas se coo*
iradizem n*um ou n*outro ponto, deixando-nos perplexos
onde ir procurar a verdade. Vários motivos, comtudo, fa-

iem pesar a balança a favor da Chronicã doa Godos. Vé-se

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880 NOTAS K BOOI7IBENT08

que quatro desses doeamentos concorda m no mez,


zemhro; Iret delles no dia, nonas do dito inet, ou 5
de dezembrot affirmando a Cbroníca do8 Godos que fòin doos
dias mais cedo, 3 das nonas, que cahe no dia 3. Ndo se
neneionando o mes de novembro senio unicamente no obí-
toario citado por Brandão, pouoD conceito deve merecer.
Quanto ao anno, temos o Chron. Conimb., o obit de Bran- **

dido, e o Cnleml.® da Sé de Coimbra, que todos referem a

era d(? 195, ou anno de


I 157. Esta ultima n?ithoridade
I

teria bastante peso se o extracto que dplla demos houvps^e


sido transcripto do calendário original. Mas o que eslA na
Torre do Tombo é, não só uma copia, mas copia feita
com muito desleixo, como tivemos occasiílo de verificar a
outro propósito ; ootAmos, mesmo, togares onde os nomes dos
meies se acham trocados —
nada ha mais natural do que
suppòr que o pouco diligente amanuense que a transcreveu,
deixasse de pôr um i depois do v, na data da era. A no-
ticia do Chronicon Coriiml). é muito suct^inta para influir na
questão ; e o obituário citndo por Brandão c Santa Maria dis-
corda tantas vezes de outros, que merecem pelo menos tanto
credito como aquelle, que nào lhe podemos reconhecer a

infallibilidíide. Pereira de Figueiredo (Elog. dos Beis, nota


t7 ao 1.** reinado, p. 300) já observou que a autboridade
da Chronica dos Godos era preferível pela rasâo de nos indi-
car a data com mais individuação, mencionando-se mesmo
a hora do passamento; e a isto só accreseentaremos que
nSo ha duvida alguma que o dia 3 de deiembro de 1 1 58
cahiu em uma quarta feira* como dii a Chronica, porque a
letra dominical desse anno foi E. A única cousa que deshar-
monisa, é o referir-se essa data ao 30." anno do reinado de
Aífonso Henriques, quando desde junho de 1158 era já
principiado o 31 porém, erros triviaes dessa espécie sâo de-
masiadamente vulgares nos chronicons para fazerem peso.
Accresce que ha dous diplomas datados de o d abril de 1158
em que 1). Alafalda figura. Hibeiro (Dissert. Chronol. T. 3
P. i p. 142 e seg. o.*" 448 e seg.] dá-os por duvidosos, roar-

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NOTA» E IH)GUlllllTOt

cando-oii com um «, levado a isso provavelmente por w


achar preoccufNido com a idéa de O. Mafalda haver falle-
«ido no anno anlecedenté, fwtú que iifto declare explicita-
mente qual a sua o|Hniio a este respeito. ViCerbo (Eluci-
dário, T. 1 p. 3Í6 e seg., verbo ema) era igualm^oie desU
parecH* ; mas, para fugir á necessidade de dar os dous di-
plomas por menos genuínos, imaginou que estes seriam jà
lavrado» nas vésperas do fallecimento da rainha, demoran-
do-se o expediente al;:uns mezes por causa do luclo da C(kte,
conjectura esta um tanto forcada, e que se torna desneces-
sária pnra salvar a genuinidade dos documentos, admiltida que
seja a exaccào do (|ue refere a Chronica dos (lodos. A única
duvida que se ofterece, é que no rodado de um dos mesmos,
documentos falta a menção da rainha, achando^ apenas;
« Kex Alfonsus cum o que era irregular vi-
filíis suis, »
Yendo ainda D. Mafalda. Porém, a isto se pôde responder
que os notários se desviatam ás veies, por descuido, du re-
gras de chancellaria.
Emfim, ha outro documento de f 1 58 em que a rainha figu-
ra. E a carta de doação de Atouguia passada por AÍTonso Hen-
riques e sua mulher a favor de Guilherme de rornihus^òe que
existem no Archivo Nacional da Torre do Tombo ^Gav. 1 I

maç. 7 n.** 12; duas copias em letra do nieiado do século xiii,


faltando-lhes porém, a data do mez e dia. Principia assim : « In

nomine patriset íilii et spiritus sancti amcn. Hec est carta


donationis et perpetue fírmitudinis quam ego Alfonsus Por-
lugalie KoK Gomitis Rnrrici et Regine Yarasie filius ma-
gni queque Régis Alfonsi nepos, ima cum ttaunre mea Jls-
^*mi donuia Mahàlãa filia de Mo-
comitis Aroadei et (sic}

riana, facimus uohis Vilhelmo de ooroibus » etc. ; e acaha


assim: « facta carta b. m.* c* lx.* vi.* (1196) Ego Al-
fonsus Portugalie Rex una mm
iixore mea domna Mahalda
Regina in presentia testium iidoneorum hanc cartam pro-
priis manibus roboramus =
Albertus Cancellarius noluit:»
seguem-se as testemunhas em duas colum nas. £ quanto basta
para provar que D. Mafalda vivia ainda em 1158.

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NOTAS E OOCUME?ITOS

B, pag. 65

Até boje, tein-se aasignalado a data do t/ de aetembro


ao fallecimento de D. Dolce, seguindo-se ii'Í8to o que refere
Brandão (Mon. Luait. P. 4L. 12 c.2l), e Nicolau de Santa
Maria (Chron. dos Coneg. Begr. L. 1 2 c. 4 § 9), os qaaes se
abonnm com o mesmo Livro dos Óbitos de que foliámos na
primeira parte desla nota. Kste ultimo author cita na inte-
gra o assento respectivo a 1). Dulce, deste modo « Kalend. ;

Septembrisobiit Regina Domna Dulcia Canónica Sanclae Cru-


éis Era 1236. n Hibeiro íDissert. Cbronol. T. 2 p. 163 e
seg.)* recommendando a devida cautela do uso dos obituarioa»
indica os motivos por que muitas veies discordam entre si^
deixando nBo raro de assentar o óbito na verdadeira data em
que tivera logar. Por isso mesmo, achando-se doas que con-
cordem, contradizendo outro que nSo tenha mais apoioque a
própria affirmativa, a questão resolve-se facilmente ; é o que
acontece neste caso. No Obituário de Santa Cruz, que está no
Arch. Nacioií., lè-se : « vii Kalciid. (septembris) obiit Domna
Dulcia porlugalensis Uegina ;» e no Necrológio do mosteiro

de S. Jorge, que existe no mesmo Archivo, encadernado


junto com outro MS. , encontra-se o mesmo assento
«vil Kalend. (septembris) obiit Domna Dulcia Regina por-
'
tugalíe. As 7 das calendas de setembro corresponde a 26

de agosto. Como o obituário citado por Brandãoèa única au-


thoridade em que se estriba a data do l.^de setembro, é li-
cito dar a preferencia aos dous obituários qúe acabamos de ci-
tar. Ambos elles omittem a.era ; porém, sobre este ponto nSo
ha questão, poisque o ultimo documento conhecido em que
a rainba figura 6 datado de julho da era de 1236, anno de
1198 ^Disserl. Cbronol. T. 3 P. 1 p. 197 n. 646).

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NOTAS E DOCUMENTOS 233

IV

SBPOLTUHAS WB D, lUFALDÀ E DE D. DULCE, pag. 54 6 65.

Em vista das provas que temos, nào pôde haver duvida al-
guma de que os restos raortaes das duas rainhas foram de-
positados no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Citaremos
aqui os monunieritos por onde se conhece o facto : « Kt quia
Paler meus et Mater prsdicto Monasterio
(Sanctae Cruéis) tumulati jacent, » diz Sancho i n*uma carta
ao papa (Mon. Lusít. P« 4 L. 12 c. i).^ — u Monasterio
Sancte Crucis ubi pater meus el mater mea, avi nm^ et fra-
tres mei tamulati jacent, >» diz Alfonso ii n^uma confinnacfto
de privilégios citada pelo sr.^Hercalano (Hist. de Portog. T. i
p. 440, nota 3, l.^ediçAo). — « Kegina domna Mafalda....
iacet in Mon. sancte Crucis » (Livro das Calend. da Sé
de Coimbra, no Arcb. Nacion.) — « et sepelitur (aldefon-
sus) in Monasterio saneie crucis, qbi etiam sepulta est Re-
gina mafalda uxor illius rex sancius se-
pultus est in Monasterio sancte crucis cum Regina dulcia de
aragonia uxore ma, » diz um chronicon do sec. xiv (vide
Porlug. Monuro. Hist. scrip. vol. 1 p. 21 co). 1). —« Mor-
reo a Rainha dona aldonça e soterrarom na no mosteiro de
santa clns na capeela dos Reis, » declara uma chroníca do
mesmo mosteiro (vide ibid. p. 31 ool. 2,in prin.) : esta ul-
lima aothoridade é, porém, muito mais recente que as outras,
pertencendo aos fins do século xv.
Fica pois provado que as rainhas foram sepultadas em Santa
Cruz mas nâo ha a mesma certeza de que os seus restos es-
;

tejam actualmente juntos aos de seus esposos. Aííirma Nico-


lau de Santa Maria (Chron. dos Coneg. Regr. L. 9 c. 3 1 § 10
e segg.) que ao abrir-se os dous túmulos antigos de D. Aflbnso
Henriques e D. Sancho i, acharam, no daquelle, dous ataúdes
M
n*um estava o corpo do rei ; no outro o de D. afolda, e duas
caveiras de crianças, e que
foram trasladados assim para
o novo mausoléu erigido por ordem de D. Manuel. Se-

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SM MOTAS 1 DOCUMINTOS

gundo o mesmo author, no tumulo de 1). Sancho acha-


ram Ires ataúdes, além do do monnrchn em um encontra- :

ram o corpo de I). Dulce já mui lo desfeito, e al{<uns ossos


pequeoos; outro ntaudr conliolia dous corpos, que I). Nico-
lau chama os restos das inlanUs D. Branca e D. Berengária»

.
quando é certo que esta casou em Oinamarca e ali faileceu*
No uUiino estava outro corpo, que o mesmo author dia lòm
de l>. Constança Sanches, Giba natural de D. Sancho i e de D.
Maria Paes Riheíra, constando ao contrario queellaae mau*
dàra sepultar era um monumento separado, que se construirá
durante a sua vida, e cujo epitaphio Iraz Brandão na Mon.
Lusit. (P. íL. l o c. 36; veja-se lamhem o testamento de
D. Constança, Hist. (ieneal. T. 1 das Pro\as p. 21). Todos
esses corpos foram depositados, segundo diz o referido au-
tbor,no novo jazigo de D. Sancho i. i*^ provável que D. Ni-
colau tirasse essas noticias de uma memoria de Santa Crus
que Brandão também viu, e considerou pouco aothentica
(Mon. Lusit P. 3 L. to c. 38 e L. 1 1 c. 38). Se as cintas
das duas rainhas houvessem sido encerradas nos novos tú-
mulos, é de presumir que os epilaphios, que o vei D.. Ma-
nuelmandou lavrar nelles, tivessem registrado o facto ; mas
nem uma palavra se lé a similhante respeito. Km 1832 D.
Miguel mandou abrir o mausoléu de D. Affbnso Henri-
ques : examinou-se o interior, e acharam ahi unicamente o
corpo daquelle monarcha. Uma testemunha ocular é quem
no-lo certificou ; é empregado ha muitos annos na igreja de
Santa Cruz. A um amigo nosso fez a mesma deciaraçào outro
individuo que se açbára presente âquelle exame. O que pa-
rece mais de crer, é que os ossos de D. Mafalda e de Duloe i),

continuam a jazec no sitio em que primitivamente foram se-


pultedoa, ou telves estiam confundidos com outros debaixo
das lages de Santa Crus.
O author da Descrtpc9o dodistricto de Lamego (Inedit. da
Hist. Portug. T. 5 p. 565) diz que a rainha D. Mafalda
jazia no mosteiro de Villa Boa do Bispo, a umas sete le-
goas do l'orto ; e adiante, a p. 6 2, refere que outros afiir-

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NOTAS R DOCUMENTOS Í35

mafam estar sepultada em Arouca. Vè-se que o hom Kui


Fernandes confundiu iis duas Mafaidas. Que os restos morlaes
da mulher de AíToiíso Henriques existem em Santa Crus ó o
que i»e nAo pôde negar á vista dos documentos que mencio-
námos. È igualmente certo que D. Mafalda, filha de Sancho i,
foi enterrada em Arooen (vide Sousa, Hist. Geneal. T. t
fi. 118 . V. jmis de crer que essa l). Mafalda, que se dizia se-
pulladn em Villa Boa do Bispo, fosse a filha de AíToiíso Hen-
riques p de sun mulher, o que se torna tanto mais provável
quanto nSo ha noticia al^'uma u respeito da sua morte e enter-
ro.Por informaçAes que nos vieram do próprio locai consta, que
omosteirode Villa Boa do Bispo é hoje propriedade partieu*
lar, nâo existindo já vestigíos do tumulo da referida D. Ma-
falda. Isto, porém, nào é motivo sufficiente para que se po-
nha em duvida a exacto da noticia do author da memoria
écerca de Lamego, pois nSo seria esse o único monumento
de eras remotas que houvesse desapparecído nestes últimos
tempos attendainos, de mais a mais, a que entào as sej)ullu-
;

ras eram de fahrica mui sinijela, e nào raro sem epilajihios,


ahrindo assim a [>orla ao esquecimento, e, até, a sua total
perda.
V
D. UMAGAE os GINGO IIABTTRES DE MÁBBOGOS, pag. 73

LENDA
*

Em 1219 mandiiu jS. Francisco vários frades da sua or-


dem a diversas partes do mundo pregar a fé aos infiéis. Para
a Hespnnha-mussulmana despachou seis, um dos quaes adoe-
ceu no caminho, proseguindo os outros cinco a sua viagem
atravez da peninsula até Coimhra, d'onde projectavam diri-
gir-se aos estados dos sarracenos para ahi desempenharei^ a
sua misslio. Achava-se entdo' a côrte residindo naquella ci-^
dade, e esciúado é dizer que os cinco frades foram recebidos
com todas as attençôes, mórmente da parte da rainha O.

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236 NOTAS E DOCUMENTOS

Urrncn. A curiosidade reminína despcrtou-lhe o desejo de


saber qual seria o termo da sua vida, ou« segundo outra
YendOt qual morreria primeiro, se ella, se e marido. Pe-
diu aos minoritas lhe revelassem o arcano. Escusaram-se éU
les dizendo 'que ntko tinham poder para tanto: mas persis-

tindo a rainha na sua exigência, pediram a Deus que os ií-


luminasse. Conhecedores enlâo do seu futuro martyrio, reve-
laram n 1). rrracn que dos dons, a rainha, ou o rei, morre-
ria nquelle que primeiro visse os reslos morlaes dclles frades
íio chegarem d' Africa, onde deviam padecer pela fé. Satis-
feita a sua curiosidade, a rainha facilitou-lhes a jornada, re-
commondando-os á infanta D. Sancha, que residia em Alem-
quer. Esta princesa, depois de os hospedar por algum tempo,
ministrou-lhes os meios necessários para seguirem viagem
de Lisboa a Sevilha. Ali no meio dos sarracenos deram prin-
cipio â missilo que lhes fòra encarregada pelo instituidor da
ordem ; e depois de vários successos, que passaremos em si-
lencio, clieguram por (iin a i\Iarroros, onde pouco tardou que
nào padecessem o miirhrio que esperavam, fendo todos de-
gollados a t (> 220. Ao caho de bastante tempo,
de janeiro de 1

as cinzas dos cinco marlyres foram devotamente recolhidas


{)elos christàos com o auxilio do infante D. Pedro, irmàode

l). Aífonso II, que entdo se achava fóra do reino por desin-

.
teilígencias com aquelle soberano, e que agora se propunha
de conduzir os restos dos martyres para a sua pátria.
Divulgando-se que os corpos se achavam perto de Coinn
bra, todos se preparam para ir ao encontro da procissão, que
se ordenára. D. Urraca, que nunca havia commun içado a
pessoa alguma o vaticínio que a sua curiosidade provocára,
disse ao rei que fosse adiante, e que ella o seguiria em breve.
I). Alfonso poz-se a caminho, seguido de alguns dos seus.

Pouco teria andado quando lhe appareceu um porco mon-


tez, ou outra espécie de caça grossa, e apesar da solemnidade
do podendo resistir á tentação, entregou-se ao seu
acto, não
passatempo favorito: enterrando, pois, os acicates lias ilhar-
gas do Cavallo, e seguindo o animal feros, desviou-se intei-

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NOTAS E DOCUMENTOS

ramente do caminho que devia ter tomado. No entretaoto a


rainho, ao cabo de trea horas de espera, julgando que o es-
poso, que tanto amava, e cujos dias desejava com tanto des*
vello ver conservados, teria tido tempo de presencear o prés-
tito fúnebre, resolveu saliir-lhe ao encontro. Qual nào foi,
porém, o seu terror ao aproximar-se da procissão, vendo que
lhe faltava D. Aifonso 1 entào com voz submissa e resignada
exclamou « Ai, que ninguém pôde fugir aojuizode Deus, e
:

eu que cuidava enganar é que fui enganada^ e hei-de mor*


rer antes que meu caríssimo esposo o rei » etc. ;e contou en-
tão aos circumstantes o seu segredo. De feito, acahadas as
exéquias no mosteiro de Santa Cruz, pouco tardou que a rai-
nha nUo fallecesse. Estando uma noote o seu confessor, Pe-
dro Nunes, cónego do mesmo mosteiro, na igreja, absorto
em fervorosas orações, lhe appareceu de repente uma mul-
tidão de frades menores, um dos quaes dava mais na vista
que os outros : todos, porém, cantavam matinas com singu-
lar melodia. Perguntando Pedro Nunes maravilhado, a si-
gnifícac&o do quevia, respondeu-lhe um dos frades que o

que mais resplandecia era o padre S. Francisco (ainda vivo


na Itália), e os outros cinco que se tornavam notáveis, eram
os martyres de Marrocos» accrescentando que vinham todos
celebrar as exéquias da rainha D. Urraca, que acahava de
expirar o que faziam em testemunho de gratidão pelo amor
;

que a mesma rainha mostrara para com a mesma ordem


que elle confessor seria testem uíiba do facto, etc. Acabada
a pratica, desappnrcceu a visào, ao tempo que os criados do
paço vinham ao convento annunciar a morte da rainha, fi-
cando o cónego certo de, que nãp assistia a um sonho. £
assim SC cumpriu a prophecia dos cinco martyres de Mar-
rocos (Vide Legen. (!.**) Marty. Maroch., lec xLiv et seq.
et Legen. (2.*), lec. i, vii et viii, ín Portug. Monum. Hist.
scríp. vol. 1 pp. 112, 113, et 116).
Esta ultima versfto nSo faz alluAo alguma á pretendida
astúcia da rainha para escapar â morte, dizendo apenas que
fallecéra pouco depois das exéquias dos martyres, segundo

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^)»8 XOTAS E UOCUMEiNTOS

a predieçlo deites. Eicriptores de teooloft subsequentes en-


careceram muito fi lenda primitiva : vejn-se frei Marcos de
Lisboa* Cbron. dos Menor. P. í L. 4 c. 1 até 29. — Espe-
rança, Hist. Soraf. P. I L. 3 c. 3 a 10.

VI

TESTAMENTO DE D. LHRACA, pag. 75

«Sou^a publicou este rlocumento, com algumas inexacçôea


importantes, na Historia Genealógica (T. I das Provas p. 37).
Nós o extrahímos de novo do Liv. 3 da Chanceilaria de
I). Aífi)nso II, onde se acba registrado a f. 10 verso: do

original nUo ha noticia algum».

Nomine patris el filii et spiritus sancli amen. E«ío Re*


gina Portugalie Homina Vrrara. Timens diem inorlis mee
facio testamentum do rehus meis scilicet de modif^nle om-
nium rerum mobilium et in mobilium uiri hum regis do-
inini A. quam íirmiter inihi cessil et dedil. El ego íirmiter

meo Kegi domino A.medieta-


conoessi et dedi eidem viro
tem omnium rerum méarum mobilium et ejus consilío el
benef)Iacito testamentum menm talitcfr dispono. In primis
mando de ista medietete duas tertias omnibus filíis meis,
quas dívidant eqoaliCer in se. I)e alia tertia solvant debite
mes que inuenientur scripte 'sub stgílio meo et deposite pe-
nes ttlos f|ui debent consernare istud menm testamentum, et
facio lestamentum meum pro anima mea sicut inferius est
nolatum. In. primis ergo si usquead Kalendas proximi agusti
qui est in Era m." ii^ lii* (12f)2) decessero, mando cor-
pus meum in monasterio alcupacie, rt mando ibi mecum
duo milia morabitinos, supplicans abbali et conuentu eius-
dem loci ut faciant anniuersarium in die obitus mei et três

commemoraciones in tribus partibu^ anni, et singulís diebus


celebrent unam missam pro anima mea in perpetuum. Dom-
no pape Mil morabitinos cuius sanctiteti flexis genibus sup-

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t

NOTAS E DOCI MKMOS 239

plícOf ot teBtameiituin meum inuioliibiliter facias obaeruari.

Archiepiscopo BniGareiwí niille auivoa intuitu penone sue.


Capitulo Bracharenai inilteccc morabi tinos supplicans eidem
Caj>itulo ul faciant anniuersariuni in dir ohilus mci et singu-
lis íliebus celebrent unam missam pro anima mea in per-
petuum. Domno S. Vlixbonensi episcopo ccc morabitinos
intuitu persoue suo. Capitulo eiusdom pcclrsi»^ D ccc mora-
bitinos supplicans cidem capitulo, ut íaciant anniuersarium
ín die obitus mei et singulis diebus celebrent unam missam
pro anima mea in perpetuam. Capilulo Colimbriensi occc
morabitinos supplicans eidçm Capitulo ut faciant anni versa-
rium ín die obitus mei et singulis diebus celebrent unam
missam pro anima mea in perpetuum. Mando etiam quod
in illn pecunia quam superius mandaui Bracarensi Vlfxbõ-
nensi Colimbriensí capilulis et monnsterio alcupacie, emant
uel excolant beredilates nominnliin ad nnniuersai ia moa per-
tinentes, unde in diebus aniuersnriorum nieorum ct com-
memorntionum comniunoin habennl rolectionom, et alio modo
predicta |H*ccunia non expedatur sic iNIando etiam quod .

Episcopo c morabitinos, Johanni pelagii abbati roeo


visonsi
Ibesaurario Bracarensi c morabitinos. Monnsterio sancte cru-
éis cc morabitinos, Prior de vimaranensi (sic) c morabiti-
nos. Mando quatuor mi lia aureorum ut diuidanlur in domo
mea, et secundum arbitrium domini S. Archiépiscopi bra-
carensis, et domini S. vlixbonensis episcòpi, et Johannis pe-
lagii thesaurarii Rracarensis. Mando etiam fieri 111 cartas
apertas et per omnia símiles de tota Isla mea munda preter islos

milia aureorum (pii debent diuidi indonio mea prout


supradictum esl, fjuarum unam tonel domnus S. Arcbie-
píscopus Bracarensis, aliam dominus S. Vlixbonensis e[)is~

copus, tertio (sic e^^o laciam conseruari in mea arca. Quar-


tain Joiíannns pelagii. lhesaurarius tíracaronsts. £t mando

quod- tola ista mea manda adimplealur per Archiepiscopum


Bracarensem, et per dom ir um S. vlixbonensem episcopum,
et perJobannem jieiagii tesauraríum bracarensem, si dom-
nus Rex eis totain medtetatem meam dederít, prout mihl

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I

S40 N0TA8 1 DOGUIIBNTOS

Goncenit etfiriniter promisit, alias autecn ipsi non tenean^

quod quicquíd exceptn supradíctis superfuerit


tur. íta ter-

tíam qaam mando diuidí ad opus anime mee, detur pro anima
mea proot ntsum fuerít Arehíepiscopo et episcopo et The-^
sanrario suprndictis. Verum quia crrore scriptorum inlermis-
sum fuitsuperius capilulum portu^zalonsem, innndo oidein ca-
pítulo DCCC mnrabitinos supplicaiis ipsi capilulo ut faciarit
. anniuersarium In die obitus mei, et singulis diebus celebrciit
unam missaro pro anima mea in perpetuum, ct mando quod
emaot uel excolaat io tsta pecuoia aliquam beredítatem n(H
minatim ad meum anniuersarium pertinentem, unde in
die anniuersarii mei communem et conpetentem babeant
refeetionem, et alio modo predicta pecunia nullatenus ex*
pendatur. ffiicto testamento apud Colimbriam xvii^ KIs. Juiii
E. ii.*GG.* LTiA Testes qui presentes fuerunt dominus S«
Bracarensis archiepiscopus, et dominus S. vlixbonensis epis*
copus Prior alcupacio domruis F. domnus Kodericus gar-
sie. domnus Petrus monacus al-
johaiines. (i/)innus l^elagius
cupacie presbiter. domnus Petrus i\Ienendi presbiter. dom-
nus Johnnnes decanus paleritinus. domnus Nicholaus pres-
biter. domnus Dominicus monacus alcupacie presbiter. dom-
nus Petrus roderici capellanus domni Kegis. I^t sciendum
estquodpretertotam meam medietatem quam debeo babere
domnus Rex dimísit mibi quando decessero totós morabi-
tinos et omnia alia que sibí debebam et liberauit omnes^li-
deiusaores meos in presencia istorum supradictorum testium.

VII

DIPLOMA DE D. AFFOiNSO II ÁCERCA DA APPLICAÇÃO QUE


DEVIAM TEa CERTOS RENDIMENTOS DE D. URRACA, pag. 77

A primeira metade deste documento, cujo original existe


no Arch. Nacion. da Torre do Tombo (gav. 1 3 raaç. 9 n." 8),
está a tal ponto deteriorada que em alguns logares as pa*
lavras desappareceram completamente, e« enrtre estas, algumas

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NOTAS E DOCUMENTOS 241

de máxima importância o verdadeiro sentido daa pas-


pftra

sagens que roais nos interessam. As lacunas que nos pare-


ceram susceptíveis de serem suppridas, em vista do sentido
do principio e fim do documento, vSosubstituidas entre pa-
renlhesis. O que vai em itálico indica lacunas no original, mas
que foram suppridas com o que encontrámos no Liv. 1.° de
Reis f. I2i, onde o documento foi registrado em tempo em
que, provavelmente, se podiam ler esses vocábulos e letras hoje
sumidas. Vé-se que falta um nome entre os personagens que

o reiincumbiu das suas ordens ; porque só tres se léem« ao


passo que no fim do documento dis-se : « et isti iiiior su*
pranomínati 1». Conjecturamos que o nome que falta fosse
prior HospUalis : a lacuna no original, entre tmpU e Abbag,
admittia-o. O que nos faz suspeitar esse nome de pre-
ferencia a outro, é que os quatro testamenteiros principaes
de I). Alfonso ii foram: o abi);ide dWIcobaça, o prior de
Santa Cruz, o mestre d<» Templo o o prior do Hospital (ve-
ja-se o testamento, lavrado d'abi a onze mezes Hist. Ge- :

iieal. T. das Provas p 3Vj, isto é, os mesmos, excepto


I

o ultimo, que se acham indicados no diploma.


A extensão da lacuna que existe entre TWrei ueíerei e
Obidm fas suspeitar que ahi se achava o nome d'ontra
vília. Nota-ae que o rei usa sempre do vocábulo Isrra no sin-

gular. Devemos d*ahí concluir que se Iractava de uma única


propriedade ou antes de um districto situado entre as tres
villas ? Tanto nma, como outra cousa f(\ra difficil suppôr por-
que uma dessas vill;is. Lafòes, está na Beira, muito affastada
das outras duas. Apesor disso, íerra, do modo porque é ahi
empregada, parece significar distrietOt ou alguma grande
propriedade
De uma nota no fím do testameuto da rainha, depois
mesmo das testemunhas, conhece-se que o rei quitára a sua
mulher tudo quanto ella lhe devia ; é pois de crer que as
dividas mencionadas neste documento fossem sómente as que
ella contrahira com diversos.
Este diploma tem pendente o aello de chumbo de D. Af-
16

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242 NOráS B OCNHIMENTOS

fonffo II, que se pôde ver em gravura no tom. 4.** da Histo-


ria Genealógica.

A. Fortogalie Rex uníue rsis ad quos liUer(e perueneríiit)


MÍatis quod ego mando quod %mn quam Regina domna
Vrraca de me t^^enebal ante ejus objitum Turres
ueleres (Ibidus. Alnfoe. ut ma^isler ttíiiip i

Abbas nlrohaltc. Prior sancte crucis (tenean)l


illain et per frucliis ipsius terre jxTsoIuanííir Mobitai Re-
gin(e) tis inea babere qucxJ cxieril de
ipsa terra dent o(miiin aniuersa)ria per illa. In pritnus
dent ad ii mil morabitinos pro suo aniuersarío et
cantent ibi um duas missas (et íací)aiit ei iiii^r
aniuersaria in quolibet anno ad ecciesiam amuer-
sario et cantent ibi pro illa cotidieunam missam et faciant
eí in quolibet anno amuersaria. Ad sauctum Jaco-
bum de Gallecia et ad ecciesiam de Tolelo et ad sanctam
inariam de Rocomador el ad sanctam crucem de Colimbria
simibter uniciiique illorum niille morabitiiios elinuinnibus
istis locis cafílent cotidie pro illa unam missani el ínciarit

quaUior amuersaria quobbel anno. Kt ad omnes Episco-


iii

palus mei regnl et ad episcopalum Tudenseni unicuique ii-


Jorum ccr. morabitinos* et in omnibus istis locis faciant in
quolibet anno pro iila quatuor anniuersaria sine missis. Alando
etíam ut dent ecciesie Vimaranensi c morabitinos. Ad san-
ctum Tirsuro c morabitinos. Ad sanctum Johanem de Ta-
rouca c morabitinos. Ad sanctam Mariam de Tomar que
est de templo c nwrabitinos. Ad sanctum Johanem hospi-
talis de Sanctarene c morabitinos. Et sciendum est quod si

ego uoluero recipere mibi ipsam trrram, et persohiere om-


nia sna debita, el facere omniii isla aniuersaria, debeo il-
lam recipere. Kt de hoc mandaui íieri v cartas probatos
quarum ego unam leiíeo, et isti iiu.or supranominati singu-
las et fuerunt facleapud Colimbriam septima die Decembris.

rege mandante. Era m.* cg/ l**. viu.*.

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NOTAS E DOCUMENTOS 243

Vllí

BULLA DE INNOCENCIO IT ÁCERCA DE D. MECIA LOPES


DE HARO, pag. 88 6 94

i^^xUahimos esle dofcumeiito da nota xxviii inserta no


fim (lo tomo 2 da Historia de Portugal do sr. Herculano,
<le quem sào os parentlieses que nelle se observam. O au-
thor achou este importante diploma, por copia, na Gollecç.
de Docum. de Koma na Bibliolh. da Ajiuia (Gollect. Gener.
voi. 46, aliós Symmict vol. 39 f. I).

Archiephcopo compostellano et episcopo astorícensi, ete.s=B


Sua nobÍ9 dilectissíme fili (síc) nobilis vir comes Bolonie
pe: mo: (p'^titione monstravit ?) quod charissimus in ChiUto
fílitis noflter S. rex Portugallie illustris, (rater ejus, com no-
bili muliere Mentia Lupi quarta eidem regi consanguinita-
tis et nllinitatis linea attineiite. matrimonium, immô veriíis

conluheriiium de facto, contraxit in animae suee periculum,


etscandalum plurimorum ; mandamiis qiiateniis ifíquisita su-
per iis, vocatis qui fuerint evocandi, diligentiíis veritate, si

rem inveneritis it<i esse, celebretis divortium, mediaote jus-


titia inter eos, predictum regem postmodàm quod eam di-
roittat mo: pre:(modo predicto7)dÍ9trictíonequa convenit,
ap : post : (appelatione postposita) oompellentes, attentíàs pro-
visuri ne in personam ejusdem regis exçomunicationis len-
lentiam proferatis etc., % idm februarii anoo ii.

IX

DOAÇÃO DE D. MECU LOPES DE HARO, pag. 99

Este documento é cornado da iMonarchia Lusitana P. 6


Append. escrit. 38. Francisco BrandSío declara que o achára
no cartório* de Alcobaça no Liv 4 dos Dourados f. 166,
o ^ual procurâmoa debalde na Bibliotheca Nacional de Lia-
244 NOTAS £ DOCUMENTOS

boa, para onde íbram transferidos os restos daquelle cartó-


rio. No texto da mesma 8/ Parte da Mon. Lusit. (L. 17
c. ti), engana-se duas teses BiéndSo tradtitindo a era de
1284 em an (10 de Chrislo de 12S6, quando devia ser 12i6.
Barbosa deixoii-^e illudir por este engano veja-se Catai, das
:

*
lUinh. p. 168.

In Dei nomirie. Nolum sit omnibus hominibus Iam prae-

sentibus. quam quod ego M. Dei gral ia Regina Por-


iuturis,

liig.de beneplácito & voluntate mea facio cartam donatíonis«


ii perpetua* fírroitudinis ti bi Pelagio Petri, & vxorituaeMa-
risGonsalui de vno roolendíno de Turríbus nouiSf qui foit
de Petro Pereira, sícut diuidebat cum Ddna Maria, & Du-
rando Menendi, cnm aliis roolendinis in termino de Ou-
rem, qui voeantur de Stephano Velío, & de vno meo re-
galengo, quod habeo in termino de >urem, quod vocatur pr©-
(

stimonium: do tibi,&vxori tuan praedictos molendinos, &rega-


lengum, & sicut eos babeo, & babere debeo cum tolis suis per-
tinentiis, pró seruitio quod mibi fecisti, & amisisti propter me
quantum in Leirena babuisti, habeascum ipsos molendinos, &
regalengum, ài omois posteritas tua conctis temporibussscu-
lorum. Et si aliquis homofenerit tam ez parte mea, quam ex-
tranea, quihoc factum meum irrompere voluerít, quantum
qu»sierit, tantum in duplo componatt ^ domino tememille
morabitínos. Faeta carta donationis tertin Nonas Septembris.
E. II.CCLXXXIIII. Ego Re^na D. M. priedictam bane cartam
roboro, & confirmo. Qui priesentes Tuerunt Dtdacus Lupi
de Salzedo. Sancius Lúpus, Garcia Sancii, Martino Figueiroo.
D. SiUioster Capellanus Domina? Regin;p, Petrus Abbas Can-
cellurius eiusdem, Sancius Petri, Ortio Ortiz, loannes Garciae,
loannes Dominici, iMartim Gutierres iudex de Ourem D. Mat-
theus, loannes Michael, Dominicus Pelagii, Dominicus Pe-
tri, Petrus Petri, Petrus de Festa, & Gonsaiuus Plagi, qui tunc

erant Maiordomi de Ourem. Domnus Egidius praesbiter. Mart.


de Deo. Onego Ortii, qui tunc erat praetor de Ourem. Mar^
tinusnotauit«£t vt pr»dicta donatio maiorem obtineat fir-

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IMOTAS £ DOCUMENTOS 245
mitatem, dedi ei in testimonio istam meam Gartim apertam
sigillo meo commuDitam.

X
DIPLOMA DE D. MECIA LOPES DE HARO, pag. lOi

Jeronymo Gudiei encontrou este diploma no convento de


Benavides e tral-o impresso no seu « Compendio.... de kia
Girones» (cap. 14 ad íin. f. 54 verso —
Alcala 1577),
d*onde nós .o copiámos. Affirma o mesmo author que o selío
de D. Rodrigo se havia perdido ; mas que o da rainha exis-
tia, tendo de oma parte dous lobos, cada am com um cor-

deiro na bocca, e aspas por orla, que sào as armas de Haro,


e da outra parte as do reino de Portugal.
Este documento é datado do mez de fevereiro, dia de S.
Matbias, n'ura sabbado, era de 1295 istoé, anno de 1257,
;

a 24 de fevereiro, que, nesse anno, cahiu eíiectivamente ao


sabbado, porque a letra dominical foi G.

IN D£i NOMIN£. Conocida cosa sea a todos los que


agora son, y que seran adelante, como yo reyna dofia Men-
cia, é yo don Rodrigo Gonçalnez fijo de don Gonçalo Gon-

çaluez, mansesores de dofia Teresa Arias, entregamos al abad


don f^azaro conuento de Beneuiaas de ias iglesias de
y al

Villacis con todas sus pertenencias, e con todos sus dere-


chos, assi como dona Teresa Arias lo mandò, e como laselta
tenia, assi las damos y otorgamos al abad y al conuento de
Beneuiuas. Facta carta in mense Februarii, en el dia de
San Mathias, sábado a hora de visperas Era de mill y do-
lientos y nonenta y cinco, regnante el rey don Alfonso con la

reyna dona Violante en Castilla, en Toledo, en Leon, en Ga-


lícia, Cordoua (sic), en Murcia, en laen, en SeuíUa, etc. (Aqui

seguiam as testemunhas, omittidas por Gudiei). E porque esta


carta sea más 6rme, yo reyna dona Mencia, e yo don Ro-
drigo Gonçaloex mandamos hi ponernuestrosselloscolgados.
246 NOTAS B DOGITMRNTOS

XI

DOAÇÃO DB BLCHB A D. BBATRIZ DB GUSMAN, pag. IfO


Odocumento que aqui produzimos é copia de uma pu-


blica fórma que se acha no Archivo Nacional, gav. 4 maço 11

n." 1 o. No Liv. de Kxtras. f. 87 verso ostá registrada ou-


1

tra publica fórma (dat. Alemquer 26 de jatieiro era de 326^ 1

contendo a mesma doaçdo, em que se encontram algumas


leves alterações na ordem dos coofirmantes.
Talvet à primeira vista se possa estranhar que um do-
curoento emanado da chaDeellaria do iníante-herdeíro de
Castella* ae achasse exarado na língua portuguesa* e nSo em
castelhano. Mas é facíl de entender que o original era em
latim, sendo traduzido em português quando a rainha o man-
dou publicar por esta fórma porque nào só ha muitos exem-
;

plos idênticos em relação Aquelles lempos, mas também o


achar-se a data c os nomes dos coiifiriiiautcs cm latim, j)ersiia-
de que o corpo do documento fòra escripto no mesmo idioma.

Sabbam quantos este stromento virem que na villa de Tor-


res uedras en presença de mim Jobam martiis publico Ta-
belion da dieta villa e das testemunhas queadeante sôn sentas
a muy nobre Senhor donna Beatris pella graça dedeos Ray-
nha de Portugal e do Algarue mostrou a mim sobredicto huma
carta seellada do seelo de chumbo de Rey dom Afonso de
Castella Da qual carta tal he o Teor. —
Conhosuda cousa seya
a todos quantos esta carta uvrcm como eu Jnfantedom Af-
fonso filho de Rey don fernando hordeyro en Castella e en
'iolledo de Leon e de Galliza deCordoua e de murça com plazer
dei Hey meu padre e da Kaynha donna Berenguela dou c ou-
torgo a Donna Beatriz mha filha e a todolos outros filhos que eu
ende Donna Moor guylhelmes ouner Elcbe por herda com
montes e com fontes e com pastos com entradas e com ssay-
das e com todos e com todos (sic) seus termhos e com to-
das sas pertéenças assy como Elehe as ouot eo tenpo dos

Oigitízed by
• NOTAS E DUGUMENT06 247
*

mouros que ha ayam pera dar e pera uender e pera


enpenhar e pera a cambhar e pera fazer delia come
de sseu Deroays mando e outorgo que donna mayor ^uy>
Ihelme tenha Elche e la esquime en todos Ids seos dias e
que leue ende Iodas aquellas rrendas p todos aquelles de-
reytos que eu liy ey e deuo a auer mays que ella nem
ornem por ella nom ayn poder de dar nem de uender nem de
enpenliar nem de cambliar nem alhear Klche nem nemhuma
daquetias coussas que ha Elcheea sseus termhos perteenssem
e depolos dias de donna mayor guilhelme que fiique Elche
linre e quite e entrega mente assy como ssobre dicto he a
donna Beatriz mha filha e a sseus irmftoa aquelles que eu en
donna mayor guylhelme ouuer e por que essta mha doaçom
sseya firme e mais estauil mandey fiater essta carta sseelada
do mey seello de piomo ffeyta npud GuadnlFajaram In-
fante exp. ultima dies mensis Decembrís Kra millesima Du-
zentesima outngcsima s» cunda íiondi: sal nus Concheiísis Epis-
copiis confirmai niíirtinus marlini magister ordinis Tenpli
in Inlms regnis hysparms (sicj pallaí2:iu8 petri
petrus Johanis iiia;^i§ter milicie ordinis de aícanta coníir-
mnt Gnndissaluus Hamigii iiliusdompni Hamigi frubelascoD-
fírmat alferiz domni regis supradicti confirmai et Lu-

pas lupi frater eius filius dompni lupi dídaçi de faro confirmai
et Alfonssus (eli tunç tenens Corduban confirmai et Johanes
alfonsi Johanes garcie filius don: pui garçie ferrandi con-
firmai petrus nunii de Gomnn confirmai et nunius guillelmt
et frater etus petrus de Gocmam confirmai egidit ualrríei
confirmai ffernanilus rroderici maçanede confirinat petrus lupi
de farana confirmat. — A qual ( arta lenda e Dona Beairiz
Raynha de portii^ il o do aii^arue [ledvo a niim sobre dicto Ta-
belion que Ihy dessí» ende o (por feyto (Fov en Torres uedras
sseie dias. mes de Julho Ern de mil e trenentos e irinia e ires
..

testemunhas ÍTrey Domingos gallego e vícente Romeu e Eu Jo^

ham mariiiz Tabeliom da dicla viila per mandado daudila


Raynha donna Beairiz este teor screuy e meu signal hy puay '

> (Logar do signal publico).

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248 NOTAS E DOGUMRNTOS

XII

OmTAÇÃO Dl D. BEATlllZ DE GUSMAN A FAVOR


DE NUNO SUEIRO, pag. 114

O originnl deste documento acha-se na Collecçâo Especial,


caixn 72, no Archivo Nacional. Mostra ter trazido um sei lo
pendente, que hoje falta.

B. dei gratia Regina Portugniie. Vniuerssis presentes lit-


tens ÍDSpeciuris Sa lutem in Christo. Noueritis quod frater
Potros dictus neto Magister de Afeysanini oenit ad contom
et ed recabedum mecum pro Nuno sueríi quondsm meo al-
moxarifo de Turribas ueteribos et pro domna Kluira uxore
sua apud Santarenam feria tercía quarto Kalendas febrnarií
in era Millesima ducentesima nonagésima septima et com-
pulouit per ante domnum Johannem d'.\uoim meum maior-
domum per ante Durandum pelagii meum cancellarium de
omnibus rendis scilicet tam de pane qunm de uino quam
de denariis quam de omnibus aliis rebus quas ipse Nunus
sueríi recepii et expeodit in ipso meo almoxarifatu de Tur-
ribas ueteribos scilicet de Era. m * cc." Lx.* prima (1291)
et secunda et tercia et quarta et quinta usque ad feríam ter-
ciam quarto Kalendas febroariisupradictam. et omnibus oon-
potatis tam receptís quam expenssis ín supradicto tempo
dum dictus Nunus sueríi fuit meus AIrooxarifus de turribus
ueteribus. inuentum fuit quod iy>se Almoxnrifus dedil mihi
b(mum contum et honum recnhedum. et quidquid de meis
rendis recepit lotum mihi dedit et nicliil inde tenetur ipse
nec aliquis pro eo mihi dare neo tornare et de omnibus que
ipse Nunus suerii recepit et expendit vn meo seruicio dum
fuit meus almoxarifus do ipi^um et uxorem suam et beredes
suos pro liberis et pro quitis. Et ne istud possit postes in
dubiun. deuenire dedi uxori sue domne Kluire et beredibus
suis istam meam cartam apertam meosigillo pendente sigilla-
tem in testimoniom hojus rei. que fuit facta apud Santarenam

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*

HOTAS E DOGUamiTOS' 5149-


I

feria quarta tercio Kalendas februarii io Era Millesíma du-


centetima nonagésima septima.

XIII

PRIVILEGIO DADO POR D. BEATRIZ DE GUSMAN AOS QUK


LAVRASSEM TERRAS D£ ALCOBAÇA, pag. 136

O original deste (lociimeiito existe na mesma collecç.ào e


caixa que o transcripto na precedente nota. Vò-sequc linha
um sello pendente, que já nuo existe. O per^^aminhoestà
bastanle deteriorado, baveudo alguos logares i ilegíveis.

B. dei gratia Regina Portugelie et Algarbíi Vobis meo


Almoxarirodc Turribusueteribus saltttem el gratiam. Scia-
tis quod ego teneo pro bono et mando

que arauerint beredítates et víneas Alcobatie quod non d(ent


iogadam ?) ffiratribus quos inde perce-

perinl Si autem arauerint in suis hereditatibus ff


aliis dent inde iogadam sicut est mos et consuetudine terre.

Vnde mando uobis quod faciatis hoc ila seruare et adinplere


Vnde al non ÍTaciatis. Kl mando quod iste ffrater uel alter
pro eo teneal i^^tam cartam. Dat. Vlixbon. xvi die Oclobria
Regina mandante per Domnum Johanem de Auoyno maior-
domum suum et per ffernandum fernandi cuguminuin* l>o-
mínicus Alfonsi noti^it. £ra m.^ ccc* xii.*.

XIV

« DOAÇÁO DA KIREJA DE S. I^EDRO DE TORRES VEDRAS


FEITA POR D. BEATRIZ DE GUSMAN, pag. 136

O documento original acha-se na referida Collecç. Espéc.


caixa 72. Tem pendente um fragmento do sello da raínhat
do qual damos um fac-simile na Introducção.

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«

"jOSO NOTAS S DOCOHKIITO»

In cbmpti nomioe eteítngntia, Amen. Quooiaiii coutue-


tudine approbata que pro l^sincipitatlegisáiictorítate di-
discímus pro acta et Reguin et principum scripto commeri-
darí debeant ut commendata ab hominum memoria non de-
cidant et omnibus pretérita presencíaliter consistani iccirco.
Ego líentriz dei gralin Hc^ina Portugalie et Algarbii Dono et
concedo vobis dom no Tclro Abbati et conuenlui Alcobacie et
omnibus successoribus urstris Ecclesiam sancti Petri de
Turribus ueleribus vlixbononsis diocesis et iuspalronatus
eiusdem Ecciesic cum omni lure quod habeo et habere de-
beo et mihi de iurc competit in endem quod uos et omnes
successores vcstri post roortem Johannis maniz (sic) modo
Rectoris ficclesie supradictehabeatisetpossidealis predictam
Ecclesiam libere paciíice et quiete, tamquam domini et pa-
troni iore hereditário in perpetuum possidendam. et hoc facio
uobis ad honorem dei et beate uirginis Marie matrís eiu9 et pro
remédio pecatorum meorum et pro anima venerabilis boneme-
inorie Illustrisdomini AIlFonsi IJegis Portugniie et Aignrbii
mariti mei et pro ninlto servicio qnod uos et antecessores
uestri mihi foci^tis (Hfucietis danledeo, et ut Conuentus Al-
cobacie de cetro in vindemiis non laborei, sed in perpetuum
excusetur Et abhac die in antea aufero predictam Ecclesiam
et iuspatronatus cum omni iure suo quod mi-
ejusdem Eccle^ie
hi meo dominío et de mea potes ta te. et
competit in eadem de
eametjuspatronatus eiusdem transfero in uestrem dominium
et in uestrem potestatem. iure hereditário in perpetuum ha-
bendam et etiam possídendam. Si quisautero demeis propin-
quis quaro de extraneis ístam meam donacionem et conces-
sionem infringereattemptauerit ue) iti abquodiminuere uoloe-
rit. non sit ei licitum. si pro sola tem])tacione iram dei patris

omnipotentis et beate uirginis malris eius et omnium sancto-


rum incurrat. et maledicioném meam babeat in elernum. do-
nacione concessione ista in suo robore permanente. In cuius rei
testimoaium dedi uobis domuoPetro et Conuentui Alcobacieis-
taro meam cartam apertam meo sigillosigiilatam. Datam apud
Palmeiam xxvii die liarcii. Regina mandante per Petrum

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NOTAS* E !N)CUlllBflTOS ÍSI

iohanis toam portarium. Rodericus fernaiidi notuU. Era


ccc xviiA
XV
PROYIDENCIA DE D. BEATRIZ DE GUSMAN ÁGBRGA
. DA ALBERGABU DA GEIGEIRA (ASSEICEIRA), pag. il9

Copiámos este documento do Liv. dos Mestrados f. 85,


DO Ârch.Nacion. Acha-se incluído em uma carta do mestre do
Templo de 31 do mesmo mes e era, a qual julgamos escu-
sado reproduzir. Pelo que nesta diz o mestre se conhece que
a albergaria de que tracta o diploma de D. Beatriz era a da
Asseiceira.

Dona Beatriz pela prora de deus Ucyiilia de Portugal e


do Al"arue a uos alcayde e iuizes e concelho de Torres no-
nas saúde e graça. Sabedeque dom Lourenço martiis mees-
tre do Tempre mi mandou diíer que uos lhembargauades
a albergaria de Pedro ferreyro com todos seus dereitos e com
todas sas perteemças. £ ese mestre emuyou ami mostrar
huuma carta em que era comtehudo que Pedro ferreyro e sa
molher deram essa Albergaria com todalas cousas dauam di-
tas aa Ordem do Tempre vnde vos eu mando que desaqui
adennte iion emhargúedes nem filhedes essa Albergaria nem
nas pertecmças dela. E lexade esse meslre e os freires do
Tempre com essa Albergaria estar em paz. Dal. em torres
noiías \i\ dias de d(*z(MnbroReynha o mandou per niartim
a

paiz seu sobreiuiz. Pedro uicente a fez Era m." ccc' xíx,

XVI
QUITAÇÃO DE D. BEATRIZ DE GUSMAN A FATOR
DE FREI PEDRO, pHg. 129

Q original acha-se na Gollecç. Espec. caixa 72, no Arch.


Nacion. : tem um cordão vermelho d'onde pendia o sello, que
boje falta.

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WÈ NOTAS E DOCUMENTOS

Sabham quantos esta carta airem que Eu demna Beatrit


pela graçn de deus Reyna de Portugal e do Algarue conosco
e outorgo que rrecebi corilo e rrecado de uos ÍFrey Pedro uee-
dor dos meos gaados per dante Domingos uicente meo clé-
rigo. Pedro flernandez meo Vassalo. Stevam pereze Saluado
domingues meo escriurjo das vacas, dos porcos, dasouellas. e
das cabras, e de todas ilas outras (lousas que uos por mim ou-
uestes daueer. e que de mim teuestes. E contadas todas es-
tas cousas também a Kecepla. como a despesa delas achado
fuy que me désies boa conta e^bon meado, segundo como
'

he coDtehudo pelas perteas (sic) no Rool da Recabedaçom.


B eu dou uos por liure e por quite de todo. assi das vacas
como dos porcos, como das ouellas. como das cabras, como
dos asnos como de todas lias outras cousas que uos por mim
rrecebesies nas pousadas de todos estes Guaados desuso di-
tos. E por tal que esto nom uena en Duuida dou uos esta mha
Dada enTorres no-
carta aberta que tenades en testemunyo.
uasvii dias de Dezembro, a Keyna o mandou. Stevam Peres
a ífes. Era de miii. ccc. xxiu annos.

XVII

COMPRAS FEITAS POK D. BEATRIZ DE GUSMAN EM


TORRES VEDRAS, pag. 129

As tres escripturas de venda que passamos a transcrever


— nas quaes vem indicado o sitio exacto em que se achavam
os paços da rainha — existem no Archivo Nacional ; doe.
i.^ na gav. 3; doe. 2.** na gav. 13 maç.
3 maç. 6 n.""

9 n.*27 doo. 3.** na gav. 13 maç. 9 n.** 29, e. este ulti-


;

mo, registrado no Mv. 1 dos Bens dos l^roprios f. 66 verso.

DOOUMBHIO I

En nome de deus amen esta e a carrta de uendison e


de perduraoil ffirmidon a qual mandamos iSiíer beu vicente

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NOTAS K DOCUMENTOS âo3

inarlii dicto borrecoe sm molber Doniia martii aa mui


nobre Senhora Donna Reatríi pella graça de deos Raynha
de portugal e do Algaru« doma nossa casa a qaal nos ane-
mos na Villa de Torres uedras na ífregizia de Santa Maria
da qual estes son os lermhos. en ouriente e en ousiente e
en agion nossa Senhora Hajnha e en aurego a rua prouica
uendemos a uos e outorgamos a dita caza con todas ssas
entradas e saydas e con todos sseos dereytos e perlenssas.
per cento libras que de uos recebemos ca tanto a dos e a
nos ben aprouge e do preso nemigalha en deuida £Scott pêra
dar e dea este dia adeante ayadea nos e Ioda uossa gevra-
aon a dita casa e çc assi ueer dos nossos prouincos como
dos stranboa que este nosso íFeyto tentar ou britar quiíer
DOO Ihís ceya outorgado e se nos en conçelho outorgar non
quizermos. ou deíTender non podermos comphonbamos a uos
dobrado e quanto íTor melhorrado e ao í?enhor da terra ou-
tro tanto e nos que esta carta mandamos íFazer perdante
omeens boons a outorgamos fteyta íiby en Torres uedras
quatorze dias da Bril da Era ccc" xxxi'^ anos teste-
munhas Domingos uicente crelligo. pêro eanes almoxarife.
Roj gonsaluez scrifam da Raynha stevaiii perdígeyro Mar-
tim domingos scriuam. e eu Gil martia prubico tabellion
rogado das partes de suto ditas a todas estas couzas pre-
sente íftti e esta carta con mha mafto screui e ella meu
asígnal pusai— (Logar do signal publico).

IKKJUMKMO II

En nome de deos amen esta he a carta de uendiçom e


de perdura uil ffirmidon a qual mandamos ffazer eu Tareiya
periz molher que fluy de meen gonsaluiz e eu Roy meendis
seu fílho. aa muy nobre Senhor Dona Rea Íris pela graça
de deos Reynha de portuga! e do Algarue duma nossa casa
que nos auemos na villa de Torres uedras na ffiregesia de
Sancta maria da qual casa estes son os termhos A ouriente
e A agion nossa Senhor a Reynha A onssiente a casa da

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I

S54 NOTAS I Docomifros

mercee. A
aurego a rrua. vendemos a nos e outorgamos
a dieta casa com entradas e com saídas e com todos seus
dereyios e perteenças por preço nomeado que de uos rreoe-
bemos conuem a ssaber Noueenta libras ca tanto a dos e
a vos ben aprouge e do preço nemigaiba en deuída fficou
pera dar poren des este dia adeante aiades uos e toda a
nossa ieeraçom ífbfí depôs uos descenderem a dieta casa li-

uremente pera todo e se peruenlura ueerem assi dos nos-


sos prouincos come dos st ranhos que este nosso íTeyto ten-
tar ou quiserem e o nos en concellio outor;:ar non qui-
sermos ou <leíFender noni podermos componhamos a uos a
dieta cassa dobrada e quanto íTor melhorada e ao Senhorio
da terra outro tanto. E nos que esta carta mandamos íTazer
perdaote homeens boons a outorgamos e rreuorranios.'íreyta
a carta en Torres uedras Dez e oyto dias de mayo. Era
de mil e trezentos e trinta e sete annos. os qne fforom pre-
sentes Roy giraldis Pero annes de Guymaraâes vicente gil
martin steuaes Domingos rrodrigis dicto corpete E eu
Gil martyz publico Tabelíon da dieta villa a esta outorgas-
son presente (Tuy e esta carta com mha maão screuy e ella
meu signal pugy que tal he — (Lç^ar do signal publico).

* DOCl>>iKNTO III

Mn nome de deos ameii esta he a carta de vendiçon e


da perdurauil firmidon a qual mandamos fazer Ku Maria
duraes moihcr que fuy de meon iiermigiz E eu Joham Gon-
saluiz Testainenteyro do dicto meen hermigiz e Tetor de
seos filhos a uos muy nobre Senhor Donna Beatriz pela
graça de deos Raynba de Portugal e do Algarue de todo
o dereyto que eu maría durtles e meen hermigiz meu ma-
rido auyamos en hnnm campo o qual camp» he na ffree-
guezia de sancta maria convém a ssaber a meyadade do
dicto campo do qual campo estes sen os termhos a ouriente
e a aurego rrua prouega a ouçiente a casa de san vicente
a guyon hereos de meen hermigiz vendemos a uos e outor-

*
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MOTAS B DOGDWNTÒS 255 .

gMM O dicto campo com eotradas e com saydus e com


todos seos dereytos e pertenças per ptego nomeado que de
iioê rreceberoos con?efi a «aberOnie libras e meya ca Tanto

o nos e a nos ben aprougue e do preço en deuyda nemí-


galha ficoa por dar poren des este dia adeante aiades uos
e toda uossa geeraçam pera todo senpre o dicto campo E
sse alguém ueer assy dos nossos prouyncos como dos estra-
nhos que eeste nosso feyto tentar ou britar quizer \i nos o
dictocampo en concelho outorgar nom quizermos ou defen-
der nom podermos componhamos ele a uos dobrado Equaoto
for melhorado ao Senhor da terra outro tanto feyta tby a
carta em Torres uedras tres dins de Juyolio Era de mil e
£ eu Joham gonsaluiz vendo cdmo
trezentos e trinta e sete
Testamenteyro e como Tetor pera pagar a manda de meen
hermígii e as deuydas de seus (ilhos cuyo Tetor eu soon.
Testemunhas Pero guymarSes aleayde e Roy rreymondo e
Cibrâo dominguez e aiiunso fernandiz e domingos dominguiz
filho de Domingos Gomez E eu Joham martiis Tabelion da
dieta vil la a estas cousas fuy e esta carta screuy e meu
signal hy pugy. — (Logar do sigoal publico}.

XVIII

DOAÇÃO DA QUINTA DA RBBALDElRA POR D. BBATRIZ


DE GUSMAN, pSg. i '.i I

O documentooriginal nfto se encontra hoje : a copia que


damos é de um registro antigo pertencente A ordem
tirada
de Santiago, que se acha no Arcli. Nación. gav. 5 maç. 1
n.® 43. Ficou também registrado no Livro dos Copos í. 158
(aliàs 189) no mesmo Archivo.

Sabham quantos esta cnrta virem que eu Dona Beatrii


pela graça de deus Kaynha de Portugal e do Algarue de
roha boa e liure vontade e por mha alma e en remymento
de meus pecados com todo meu siso comprido e en toda

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:í56 . 2«0TAS £ DOCUMENTOS

mha rnemorya dou aa Ordem dc santiago a mha Quyntaft


da Rabaldeyra com todolos seus (iasaaes e com todos seus
dereytos e perteenças, também Casas como vinhas herdades,
montes, foíites, Ressios, apastoamenlos, arotos e por arron-
per, com todas sas entradas e saydas, assy como eu a dilta
quíntaã melhor ey e de direyto deuo auer. \ qual quintal
eu dou aa aobreditta Ordem por mba Alma e en remy mento
de roeoa pecados, e por muyto seruíço que da ditta Ordem
Receby, e per Raiom da Arruda que da ditta Ordem tiue e
tenho* e de que oouy e ey as Rendas passa per gram
tempo, por en deseste dya adeante aia a ditta ordem« a so-
breditta qainta& liuremente para todo senpre e feça dela e
en ela assy como de seu auer próprio, aa tal preyto e so tal
condiçom que a dita Ordem aia e possuya a ditta quintaã
Ordem a nom possa vender
para todt) senpre e que a ditta
nem nem Apenhorar nem escambhar nem emplazar nem
dar
enalhear en nenhuma puvssa. E tanto que alguum Meestre
ou Commendador ou Alguum outro poderoso da ditta ordem
quiser a ditta quintaà ou parte dela en Alguma guisa en-
alhear, mando que non ualha, e a ditta doaçom non Iby seia
outorgada. K Rogo qualquer que ÍFor Rey en Portugal que
faça que essa quintaã que seruha aa ditta Ordem por mha
Alma assy como de suso dítto he. K^sse a ditta Ordem by
al quiser fazer Rogo a qual quer que (Tor Rey en Portu-
gal que el a possa dar por mha Alma en outro logar, aiy
hu el por bem teuer. E sse a ditta quiser manteer a ditta
quintas assy como eu mando, todos aqueles que contra
esta mha doaçom ueerem aia a maldíçom de deus e de
sancta Maria sa madre e a minha. E aqueles que a man-
teuerem assy como de suso ditto he aiam Abeencom de
deus e a de sancta Maria sa madre e A mynha para todo
senpre. E mando e outorgo que todos aqueles assy dos
meus prouincos como dos stranyos que contra esta mha
doaçom ueerem que quamto demandarem que tanto aa ditta
Ordem' endobro componham e demays todo aquelo que se
poder saber que das Rendas da Arruda ouuy en quanto a

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NOTAS B DOGIWBNTOS $XÍJ

eo teoi. B por esta doaçom seer mays firme e mays ataoil


mando en ela poer este roeu Seelo pendente E mando A
uos Gil martiiz meu tabelhom que
dedes ende aa ditta Or-
dem huum strumento da entrega da ditta doaçom e que Ihy
metades hy o teor da carta de El Rey meu filho, e da
Iffante dona blanca mha filha, e o teor desta corta mha
da doaçom en testemoyno desta cousa. E mando a loham
martiiz tabelhom que ponha hy o seu sinal. En testemonho
desta cousa dou aa ditta Ordem esta mha carta com meu
seelo pendente, feita foy esta carta en Torres uedras feria
tercia quatone dias do mes de Junyo, d^ Era de mil e
tietentos e trynta e oyto Anos. Eu xpouam (Christovam)
eanes a screuy por mandado da Reynha. E eu loham mar-
tiiz publico tabellyom de Torres uedras a Rogo e a man-

dado da rouy noble senhor a Beyna dona Beatriz em esta


carta meu signal pugy en testemonho de uerdade. E eu
Gil martiiz publico tabelhom de Torres uedras a Rogo e a
mandado da muy nobre senhor a Reyna dona Beatriz em
esta carta meu sinal pugy en testemonho de uerdade.

XIX
LENDA DE SANTA ISABEL» pag. 140

A Lenda ou Relação da vida de Santa Isabel foi impressa,


conforme o MS. de Santa Clarâ de Coimbra, por frei Fran-
cisco Brandão na Monarehia Lusitana P. 6, formando o pri-
meiro <locumento do appcndice ^ Seu authorc desconhecido;
mas nào se pôde duvidar que foi composta pouco depois da
morte da rainha está-o revelando a linguagem, que é a ge-
:

nuína daquella epocha. Além disso o author, mencionando logo


DO principio os filhos de D. Pedro ui de Aragão, áh : o... e

1 Frei Marcos de Lisboa (Chroa. dos Frades Menores P. 2. ff. 194—198


da edição de 1562) pretende seguir a mesma Lenda no breve compendio
que elle deu da vida da r§inha, accrescentando-lhe, porém, vários mi-
Ugrae qileeorremYolgaraeiíM, mas qne nio se aehaiB na dita memoria.

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Stt8 NOTAS B DOcmíBims

D. FradcTic, que hora chamíio Rey em Sicilin », rnostramío


que tempo em que se. começíira
este príncipe ainda vivia ao
8 compôr a Lenda p como elle morreu em
; 337, nniio 1

immediato ao da morte de sua irmão D. Isabel, é de crer


que o author encetasse a sua narrativa pouco depois do fal-
kscimento dessa rainha. Porém, isso fôra diííicil acreditar
se admittíssemos como original o MS. de Santa Clara;
porque no antepenúltimo $ reíere-se A era de 1420
(A. D. 138Í)« e no § seguinte A era de 1 438 (A. D. 1 400).
o que provaria que o MS. nfto podia pertencer a uma data
anterior a esta ultima. Outra circumstancia que salta â
vista é a diíTerença no estylo, que facilmente se nota des-
de o antepenúltimo § ao comparar-se com o que precede.
De mais, no íim aclia-se, em linguaj^em ainda mais mo-
derna, o seguinte assento : «Outros muitos (milagres) estào
escritos em sua vida que os mordomos fizerào impri-
mir, como se vé nella, e alguns outros encuberios em nosso
tempo de agora em gente graoe* e conhecida deuota desta
santa Rainha ». Tudo isso ter-nos-hía levado a suspeitar da
pretendida antiguidade do MS. que servira de norma a
Brand&o, a não ser o estjlo caracteristico da máxima
parte da obra. Inclinávamos, portanto, a rejeitar só oa últi-
mos paragrapbos que nSo hannonisavam com o resto, ten-
do-os por espúrios. Mas a isso se oppunha a reconhecida
respeitabilidade dos Brandões, cuja authoridade é sempre
de grande peso, devendo-sc presumir que se a letra no
fim da memoria mostrasse ser de outro punho que o resto,
nho houvera Francisco Brandão deixado de o mencionar.
Todas essas duvidas foram emfim reconciliadas pela ins-
pecção do MS. conservado em Santa Clara. A nosso pedido
o sr. dr, Antonio Ayres de Gouvéa teve a bondade de exa-
minar esse monumento, e de nos remetter delle uma des-
cripcfio íiel, como mais tarde» A nossa ida a Coimbra, tive-
mos occasiao de verificar.
Ê, pois, um delgado volume com 28 meias folhas de pa-
pel escríptas, e algumas no fim em branco, com duas de

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t

NOTAS E DOCUMENTOS

[lergamtnho no principio, tendo a primeira as armas de Por-


tugal e de Aragão unidas no mesmo escudo. Na segunda fo-
lha do nergiiminho estA pintado a côres o retrato em corpo
inteiro da rainha, trajando o habito de Santa Clara. A le-
tra é em caracteres romanos, lendo as maiúsculas cetraria, e
sendo o titulo em diversa letrn. Está encadernado em duas
iaboinhas de madeira cuhertas de couro com dourados no
centro e nas extremidades. Na primeira folha de pergami*
riho, sob as armas, vé-se a dat» de 1 õ92; e na margem, ao
lado du ultimo
muitos
§
estfto escritos»,
citado acima
— lô-se
— qne
èm
começa: «Outros
diversa letra a seguinte
cota : « etU eap.^ não está no Uicro antigo ».

D^aqui se conhece, com a maior evidencia, que o MS.


existente em Santa Clara nào sómente foi escripto nos
primeiros tempos dos Pilippes (nào sendo mesmo necessá-
rio a data para o colligir), mas que também existia uma
memoria mais antiga, provavelmente o original, cujo des-
tino se ignora, da -qual se copiára a que hoje se conserva.
Vé-se igualmente que o ultimo § foi additamento, certa-
mente do copista ; e nós suspeitamos que os dous an-
teriores, referindo-se ás eras de 1420 e 1438, foram ad-
diçOes feitas no próprio original antes de se fazer a copia.
Rntendemos que a Lenda, no seu estado original, devia ter
concluído onde se lé : « feito per Marttm Esteues Tabaliom
de Coimbra» (p. 533 eol. f, ediç. de 1672 da 6.* Parte
da Mon. Lusit.).
Admittida a genuinidade da Lenda até ao logar que aca-
bamos de apontar, e também o ser coeva á morte da rai-
nha, levanta-se a questão sobre o credito que merece. Mui-
tos factos alii referidos merecem-no de certo, comprovan-
do-se por documentos; e no texto do nosso trabalho ti«
vemos occasifto de apontar alguns que se acham nesse caso.
Mas por isso que essa memoria é coeva, e que encerra fa-
ctos reconhecidos, segue-se d^ahi que lhe devemos prestar
implícita fé em tudo quanto narra? Parece-nos que nesta
idade, em que tanto tem progredido as legras da boa cri-

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200 NOTAS E DOCUMENTOS

Dingaeni se lembrará de mtenCar similhante doutrina.


tics,
Nas memorias de contemporaneos foi costume em todos os
tempos faierapparecer verdades de envolta com mentiras, oro
lisonjeiras, oro calomniosas, segundo o espirito que guiava o
author ; e os exemplos iifto faltam ainda na actualidade. Se
ern mister ncceitar quantos boatos circulam no publico,
a latitude da credulidade nào teria limites. Os casos sobre-
naluraes, que svvm narrados na Lenda a respeito de D. Isa-
bel, sào: 1/^ o ter salvado a fdha, D. Constança, do purga-
tório mandando dizer missas durante um anno (p. 499 coL 2«
e seg.); 2." o ter sido visitada no leito da morte por uma
dama, que nioguem teria visto a não ser a moribunda, eon-
cluíndo-se logo que devia ser ama messageira que viera
Consolal-a da parte de Deus e da virgem Maria (p. 622
coí. 1);supposiçSo que mais tarde os authores monásticos en-
careceram, affirmanido que fÒra inquestionavelmente a Virgem
em própria pessoa. Finalmente, as ultimas folhas da memo-
ria sào dedicadas a fazer conhecer varias curas milagrosas
eíTeituadas por intercessno da rainha, tanto em vida como
depois da morte. E nHo cuidem que essas suppostas curas
eram invençiles do author da Lenda : salvemos ao menos
a sua memoria da pecha de falsario. Encontrámos no car-
tório de Santa Clara de Coimbra um pergaminho assaz ex-
tenso, contendo os depoimentos (similhantes a alguns ci-
tados na Lenda) de duas mulheres que declararem terem
sido curadas deside que se metterom a orar junto do tumulo
da rainha, uma, Catalina Lourenço, de um tumor no olho
esquerdo, a outra, Dominga Domingues, de uma sanguesuga
que a atormentava havia muito tempo. E o instrumento
original, lavrado pelo tabclliao Martim AÍTonso mencionado
varias vezes na Lenda como tendo feito outros taes. Os as-

sistentes foram o bispo de Lamego (que fora confessor da


rainha, e figura também em outros documentos similhan-
tes referidos na Lenda), D. Isabel de Cardona, abbadessa
de Santa Clara (sobrinha da rainha), e vários eccFmas(icos
— a qualidade destas testemunhas é assaz significativa, e

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NOTAS B DOGUMBNTOS 961

dispcnsa-nos de todo o commeDto. O documento é datado


do convento de Santa Clara, a ^7 de julho da era de 137 i
(A. D. 1336), isto quinie dias depoíi do enterro da
rainha, não cabendo a menor duvida sobre a sua genuini-
dade, em vista da letra em que está escripto e outros si-
gnaes característicos. Offereceraos este documento aos pro^
pugnadores de milagres, se o julgarem aproveitável.
Eis ao que se limitam os prodígios relatados na Lenda,
e que ao depois foram multiplicados até ao infinito. Ora,
que ha de estranho que naquella epocha de superstição e
credulidade, corressem entre o povo alguns casos dessa na-
tureza (e que o clero tòmaria a seu cargo propagar) a res-
peito de uma rainha que se tinha, tornado muito conspícua,
tanto pelo rigor com que seguia os preceitos da igreja, como
pelo valioso auulio que prestava ás ordens religiosas, e es-
molas com que acudia â miséria do povo — diante do qual
se abaixava, segundo o estylo do tèmpo, aos misteres os mais
humildes para mostrar a sua grande devoçSo e piedade?
Nfto é mesmo preciso explicar esses milagres por coinci-
dências ou sonhos exaggerados (o que, porém, n9o fdra dif-
ficilquanto a alguns); basta aíBgurar-se a impressão que
devia causar no povo —
nimiamente dado a crenças absur-
das, e sobretudo então —
a vista de uma rainha, que, tendo

como consorte praticado os deveres da religião com mais


rigor, talvez, que o commum dos seus contemporâneos, depois
de viuva não se contentou com menos que ciausurar-se» a
bem dizer, como freira, não professando unicamente com
o intuito de conservar os seus rendimentos para dispendel-os
em obras de caridade ; quer fosse esse ou não o verdadeiro
motivo, assim o acreditavam vulgarmente e nol-o assegura
a Lenda. Attendendo-se a toes circumstancias, facilmente
se concebe que o author da Lenda, nessas passagens, só se
fei o echo das vozes populares. Pdmos aqui remate éis nos-
sas reflexões, porque alias seria suppòr pouca intelligencia
no leitor.

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MOTAS B IKmiPDITaS

XX
C41TA AÂ BAINHA D. 18ABBL AO BBI BB ABAOAO» pag. 149

Diogo Joseph Dormer nos seus « Discursos Vários de


Hisloría » (Çamgoça 1683) affirroa que Zurita, author dos
Anoaes de Ara{^o, achára, e arrecadára no Archivo da
DeputaçAo, duas cartas originaes da esposa de D. Dinfs de
Portuga! ao rei de Aragão seu irmíio, e que depois, ten-
do-se desencaminhado essas cartas, se procedeu a pesquizas,
mas que só foram encontradas ao cabo de bastante tempo,
em 1681, conservando-se d'ahi em diante com mais cau-
tela n*uma rica carteira etc. Dormer pubbcou essas cartas

pela primeira \ei em separado em


683, reproduzi ndo-as
1

no mesmo anno na obra supracitada, d^oode as copiámos


fielmente, supprimindo apenas os accentos que ahi se no*
tam sobre os e. quando esta letra figura como conjuncção.
Uma delias acha-se a p. 10^ da mesma obra, é a que da-
mos nesta nota; a outra acha-«e a p. 126, e vai transcri-
pta adiante na nota XXIII. Ambas tinham pendente o
sello fvid. Introd. p. L, eEst. iii íig. 10-b), e a similhança
deste com um c\emí)li>r que existe na Torre do Tombo
provaria a genuinidade das cartas se tanto fosse necessário.
Nem uma nem outra cnrla tem a data do anno. A desta
nolii de\e ser de l .'i02 ou de 1303. Nào nos atrevemos a
decidir de qual destes aonos seja, porque depende isso da
verdadeira data da entrevista de D. Dinis com Fernando iv

em Badajoz, questão que nâo pretendemos discutir, apontando


apenas que a chronica deste ultimo rei (cáp. 19} dia que
fôra em 301,
1 ao passo que Brandão (Mon. Lusit. P. 6 L.
1 8 c. d) emenda esta data par» 1 303. Fosse qual fosse, a carta

de D. Isabel, datada de Santarém a 14 de dezembro, foi


escripta antes daquella entrevista como se vê do seu tbeor.
O que faria crer que pertencesse a 1302, é que Brandão
mostra por documentos que em todo o mez de dezembro
deste anno a còrte esteve cm Santarém, ao passo que a

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NOTAS È DooranofTOs 263
%0 de dezembro de 1303 se nchavn em Évora (Mon. LiH
sit. L. 18 c. 7). Por outro lado, Ramon de Monlros, que
se menciona na carta, viera a Portogal segundo Zurita (An-
naes de Aragão T. 1 L. 6 c. ft9 f. 412) em 1303; e o
próprio Brandfto confessa^que dBo se explicava racilmenie
pelos documentos que tinha á vista, a ida de D. Dinis a
Badajoz na primavera de 1303, epocha em q,ue elle con-
jectura se realisára. De fórma que este ponto é ainda du-
vidoso. Eis a carta:

Ao muyt alto, e muy nobre Dom lame, peln ^^raça de


Deus Rey Daragon, de Valença, de Murça, de Cerdenha,
de Corcega, Conde de Barcelona, e da Santa Egresia de Ro-
ma Sinaleyro, Almirante, e Capitan general. Dona Isabel por
essa meesma graça Beynha de Portugal, e do Algarve, saúde
come a Irmaao que amamos muy de coraçon, e de quien
mujto fiamos, e para quien qoerriamos que Deus desse tanta
vida, e tanta saúde, com onrra té, por muy tos anos, e booa,
como para nos meesma. Rey Irmaao, fasemoavos saber, que vi-
mos vossa carta de creença que nos envyastes por Remon de
Montrros, Arcediagoo da Guardia, vosso Clérigo, e el falou
con nosco da vossa prol ben, e muy conpridamente; e grades-
cemosvos muyto quanto nos por el envyastes dizir; e dete-
vemoslo con nosco ata agora por razon que el Rey 1). Fer-

nando cnvyara dizir al Rey de Portugual por muytas vezes,


que se veeria con el ; e quiséramos y falar sobre vista de
el Rey D. Fernando, e vossa, ede el Rey de Portugual que ;

vos vissedes todos tres dissiamos ; e que veessen vosso feyto,


e o dei Rey D. Fernando a bona avininça. £ esto tenbo en
que seria gran serviço de Deus, e grande prol vossa, e da vos-
sa onrra, e da sua de! R^
Don Fernando ; de si & entendo,
que seeria a grande praier dei Rey de Portugual. E bu se todo
esto fezese, querendo Deus, tenho que non caya tanto an-
chuun homen, nen ancbuna molher no Mundo, como a mi
non tomaria y tan gran prazer, se voontade fosse de Deus desse
fazer. £ agora as vistas dei Rey Don Fernando, e dei Rey de

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264 NOTAS K DOOUHBNTOS .

Portdgual delong^ronse mays; e diiennos, que el Rey D. Fer-


nando que se vay alo chegando contra easa vossa fronteyra.
E ora Remon de Montrros vayse a vos, e sobre esto nos
avemos eon el falado cousas que vos dissesse : porque vos
rogamoB Irmaao, que o creades do que vos el de nossa parte
disser, e gradescervolo emes moyto. Outrosi, Irmaao, vos
gradesceinos muyto porque nos fezestes saber de vos, e da
líeynha Daragon vossa molher, e dos líTaiites vossos filhos,
que erades con saúde. E ro^íovos, lamaao, que assi o fazades
senpre, cada que o vos poderdes fazer, e íiizernoscdes y muy
grau prazer. Oulrosi vos fazemos saber dei Rey de Portu-
f;ual,e de nos, e de nossos fdhos que avemos saúde loado à
Deus, e envyamosvolo dizir, porque somos cierta que vos
prazerá. Dat. en Sanctaren quatuorze dias de Dezembre.
A Re^nba o mandou. Joban Lompreto a fes.

XXI
PROTESTO DA RAINHA D. ISABEL CONTRA A LEGITIMAÇÃO
DOS SOBRINHOS, pag. 151

o orij^inal deste documento, em que a rainha protesta


contra a legitimação dos sobrinhos, conserva -se no Arcliivo
Nacional da Torre do Tombo gav, 17 maço 7 ii." 22, e
d'ahi oeopiàmos. Tem peodente em cera vermelha o sello
do bispo de Lisboa. A
copia que RrandUo deu (Mon. Lu-
sit. P. 5 L. 1 7 c. 35) tem alguns erros e omissões. Tem

o doe. no verso o seguinte : « stromento de.protestaçom que


fk* a Raynha donna Issabell a el Rey dom denis que nom
L^timasse os flBlbos de dom Afonso seu Irmaao «•

Sabham quantos este estromento virem que dante o


muytalto e mu) noble senor don Denis pela graça de deus
Key de Portugal e do algarue presentes, dou Oane Bispo
de Lixboa e as testemoynhas adeantf scritas e em pre-
sença de mi (jil uàcente publico rabeiliom de Coimbra.

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NOTAS E DOCUMENTOS 265

a moytalta flcnor dona Isabel pela graça de deus Reynha de


Portugal e do algarue disse protestando dante o sobredito Rej
que o Infante don Afonso seu Irmão det Rey rogara a ela
que Ihi prouguesse de rogar El Rey que Ihi legitimasse os
seus filhos que auí» de dona Yolante pêra herdarem em
todolos seus beens e que ela nunca hy quisera consentir
dizendo que El Rey sabia ben quanta perda e quanto dano
ueera ia ao seu Reyno da doaçom que fezera El Rey don
Afonso seu padre ao dito don Afonso dos Castelos de mar-
uam de Portalegre e darronches e que o dito don Afonso
perdera o dereito que en eles aoia mouendo
tal guerra con-

tra £1 Rey como a el fez por uezes e ditendo e protes-


tando que El Rey sabia ben que en a doacom que el Rey
don Afonso sen padre fezera ao Infante don Afonso era
conteúdo e mandara que depôs morte desse don Afonso
que se tomasse todo o donadío aa coroa do Reyno se don
Afonso nom ouuesse filho leedimo. e que el Rey sabia ben
que os nom auia. E dizendo essa Reynha que oyra dizer
que o dito Rey queria leedimar os filhos do dito Infante"
don Afonso porem ca Ihi pedia por mercee em nome seu.
e de seus filhos infante don Afonso e Infante dona Cos-
tança que nom quisesse ir contra a doaçom qual cl Rey
don Afonso fezera. ca era alheamento e perda do Reyilo. e
que o nom podia fazer de dereyto. mayormeote que dereyto
e costume era do Reyno. de nom poder albear Castelo ne-
nhuum de sy que tal cousa nom podia fazer sen os Pre-
lados e Ricos homens e os ontros homens boons do Reyno
des hy que o nom podia fazer sen outorgamento seu dela
e de seus filhos, dizendo e protestando por si e por seus fi-
lhos e por todo o Hoyno que o contradizia, c pedindolhi
por mercee que se o quisesse fazer que ouuosse by ante
conselho con sa Corte c con os do Reyno. E rogou a dauan-
dito Bispo que tal cousa come tam danosa ao Reyno
esta e

que a fezesse saber aos outros Prelados do Reyno e que o


estraynhasse. e que posesse seu seclo en esta protestaçom.
que ela fazia, e como o dizia Al Rey. £ el R^ disse que

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266 NOTAS E DOCUMOiTOS

nom era seo entendiniento dei leedimar es filhos do Infonle


don Afonso seu Irmão pêra seerem herdeyros en os dauan-
ditos Castelos, ca nom povlia de dereyto nem ualrria ainda
que lho ma>s pcro que a Heynha sabia muy ben. e
fezesse.
lodolos outros do Ueyno o sabiam qual íruerra e quam pe-
rigosa el auia con o senhorio de Castela e de Leon e que per
razom dessa guerra e |K)rqueera certo que o dito don Afonso
seu IrmAo aiidaua leuantado contra el per raiom que ihi
nom quisera bier esta leedimaçom e que Ibi queria porem
faier guerra, que cl por eslo. e porque auia medo de Ibi
uyr dano dos Castelos que don Afonso auia en o seu se-
nhorio qumodolhi meter hy outro senhorio ao tempo da
guerra em que estaua que Ihi queria leedimar os filhos por
nom uyr ende este mal ao Reyno per raiom dos ditos Cas-
telos e que per tal leedi maçom qual Ihis el queria dar nom
eram eles herdados en o donadio que don Afonso seu pa-
dre deles auia. E esse Hey disse aa Ueynha sobredita que
nom leyxasse a consentir en esta leedimaçom. que el que-
ria fazer a filhos de don Afonso. K a Keynha disse que
ainda por esto nom consenteria hy a nenhuma guisa, e se
hy coDsentísse. que o faria com medo dei Rey. e per sa pre-
ma, e otttrossi com medo da guerra do dito don Afonso, e
que porem dizia e protestaua que nom ualesie seu consen-
timento se ela hy consentisse. B desta protestaçom como-e
a dauandita senhor Reynha faiia. pediu a mi dito JTabel-
liom houm testemovnho. £ eu dauandito Tabelliom.de
mandado da dita senhor Reynha. a esta protestaçom pre-
sente fui. e este estromento ende feyto com mh a mão pró-
pria screui. e este meu sig Logar do signal
) nal em el|

pusi em testemoynho desta cousa. Ksto foy feyto em Coim-


bra na alcaçoua. sex dias andados de feuereyro. da Kra de
mill. trezentos, e trynta e cinquo annos. Que presentes fo-
rom don Joham simham. íTrey Afonso rodriguez. da ordem
dos frades meores. Pedro salgado Thesoureyro. Ayres Mar-
tins scríuam do dito senhor El Rey. testemoynhas.
E o dauandito senor Bispo de Lixboo.'qtte presente siia

»
«

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NOTAS B DOCUMENTOS 267

a petiçomda dita íienor Keynba fei seelar este instromctito


do seu seelo pendente.

XXII

LEGITIMAÇÃO DOS FILHOS DO INFÂNT£ D. AFFONSO, pag. 152

Do Instrumento do julgamento de D. Isabel, filha do


infante D. AíTonso, reclamando Tintra, Ourem e Armamar,
e que se acha registrado na Chíincollaria de D. Dinis L. H
ff.87 — 95, extrahimos o sogjiinte documento, que ij^nnl-

mente existe na mesma Chancellaria L. 2 f. 129, d'onde


a transcre?eu Sousa na Hist. GeneaL T. I das Provas p. 6i.

Sabham quantos esta carta uyrem que eu Don Denis


pela graça de deus Key de Portugal e do algarue querendo
faser graça e bem e nierçee a meus sobrinhos filhos e fi-

lhas do don Aflbnso meu Irmado e de donna Vio-


InffiiBte
lante, despenso com eles e faço os lydimos que wn ne-
nhuum embargo possam hauer e herdar tbdolos beens e he-
ranças e honrras e senhorios de seu padre e as que agora
. el trage a sa maào assy como boons filhos lydimos herdam.
En teslemoynho desta cousa mandey fazer esta carta e see-
lar do meu seelo de Chumbo que tenha (sic) filhos e filhas
de don AíFonso. Dante cn Coymbra. Oyto dias de feue-
reyro. EiRey o mandou fernam perez aífes. Era de mil e
treientos e Trinta e Gínquo annos.

xxm
OUTRA CARTA DA RAINHA D. ISABEL AO REI DE ARAGÃO,
pag. 164 e 166

Transcrevemos esta carta que pertence ao anno de


1321 — dos «Discursos Vários de Historia» de Dornier,
pag. ItiO. Veja-se o que dissémos na nota XX. Dom frei

Sancho, que se meiiciona nesta carta, era coramendador

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368 NOTAS B IKXnillIlfTOS

de Miravele oa ordem de S. João; e innSo bastardo da


rainha*

Ao moyt alto» e may nobre Dom lame» pela graça de


Deus Rey Daragon» de Valença» de Gòrc^a» e de Gerde-
nhn, e Conde de Rireelona, e da Santa Egresía de Roma
Almirante, e Sinalcjro, Capitan general. Dona Isabel, por
essa niecsma graça Reynha de Portugual, e do Algarve,
saúde corae a Irmaao de quien muyto fio, e para quien tanta
vida, e saúde, com onrra querria, por muytos anos, e boos,
come para mi meesma. Rey Irmaao vy vossa carta que me
invastes por Dom Fray Sancho vosso Irmaao» e^meu, e
el disse a el Rey o que Ihi vos mandastes ben» e eonpri-
demente, e a mi outrosi. £ gradescavos Deus o boon ta-
Ian qne vos mostrados contra el Rey, e contra mi» e con-
tra o Iffante Dom Affonso nosso filho, en quentes sa-
ber parte de nossa fasenda, e de vos sentirdes dela, e fo-
zedes gran dreito, e gran razon. C Irmaao sabede, que
veendo eu as cousas en como passaban, e receando de
vinire ao estado em que estàn, pedi por muytas vezes a el
Rey, e roguey nlguuns de seu Conselho, que tevessen por
ben, que estes feytos non fossen cada dia para peyor como
foron, e que me dessen legar, e que eu que trabalharia hy
« quanto- podesse, de guisa que o líTante, e os outros ouves*
sen ben, e mercee dei Rey, e que todos vivessen como de-
vian, e a serviço dei Rey, e que a todos fezesse mercee. £
.

sabe Deus, que esta foy senpre a minha voontade, e seria


cada que podesse, e Deus per ben tevesse : mais tantos fo-
ron senpre os estorvadores da parte do fie n, que non podi
by rem fazer. E sabe Deus, que ey eu ende gran pesar no
corazon polo dei Rey primeiramente, a quien eu deseio
;

vida, e saúde, e onrra, como a minha meesma e polo do


;

Iffante; e polo meu, que vivo vida muyto amargosa. E se


per Deus non ven hy alguna nvininça, ou ben antreles,
non creo que por obra Domcns se possa hy fazer rem:
moormente bu nenhuunos trabalhan salvando en meter dis-

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NOTAS E DOCUMENTOS ' 269

cordia. Dom Pray Sancho voa dirá o nscado que achou en


el Rej, e no Iffante outrosi» do estado da terra en que es-
tado estô. E rogo vos Trmaao, que senpre vos nembredes
de mi, e me fazades saber da' vossa saúde, c do vosso boon
estado, e dos KTnntes vossos fillio?, ca o iion podedes en-
viar dizir a cousa do Mundo a que mais [)raza cnd(% nen
^rjue mais conpra a vossa vida que a mi. Dat. en Alanqiior
x\iii dias de l)czemhre. A Reynha o mandou. loham Sans
a fez.

XXIV
DOAÇÕES DA BAINHA D. ISABEL AO CONVENTO DE SANTA
CLARA, pag. 166

Copiámos os dous documentos que se seguem dos ori-


ginaes. existentes no cartório de Santa Clara de Coimbra.
Anibos conservam o sello da rainha em cera vermelha, pen-
dente de cordíio de linho da mesmn còr. São conformes ao
fac-simile nn estampa iv na Introducçâo, o qual se tirou
do sello do segundo documento.
Pela segunda doaçào a rainha dá ao convento certos bens
em Torres Novas e seu termo, que diz comprara a Aífonso
Guilheime: encontrámos, eíTecttvamente, no mesmo cartó-
rio, a carta de venda desses bens, datada de 7 d'abril da
era de 1358 (A. D. 1320), e delia consta que D. Isabel fi-
lera a compra por 1800 libras. De outro instrumento (an-
nexo a este ultimo) datado de Torres Novas a 28 d^agosto
da era de (360 (A. D. 1322), consta que nesse dia o pro-
curador do convento de Santa Clara de Coimbra tomara
posse de todos os bens comprados a AÍTonso Guilheime, salvo
as casas da villa ; isso em virtude de uma ordem da rainha
escripta ao aimoxarife e escrivão de Torres Novas.

DOAçIo in ma m MORnmnHHPBLvo
EN nome de deus Amen. Eu Dona Isabel pela graça
de deus Reynha de Portugal e do Algarue. A quantos esta

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NOTAS 1 MCOMBimB
carta uirem fago saber, que eu coo todo meu siso e meu en-
lendímenlo a louuor de deus e da uirgem santa Maria sa m-
'
dre, e da santa Clara e de santa Helis.ibeth por mha alma,
e en Kemy mento de meus pecados, dou doo e outorgo pera
todo sempre ao meo Moesteiro de santa Clara e de santa He-
lisabeth dapar de Coimbra, todolos beens que ea ey en
Monte mooronelhoe en seus termhos, casas, quíntaS, herda»^
mentos, vinhas, e Gaados que a mi deu Martin doniinguiz e
sa molher dona Auizibona desse logar como lie conteúdo en
huum slromenlo qtie lie feito dessa doaçom per mHo de íTran-
cisco martins tabaliom de Sanlaren assi comoo eles auiam
e eu mais compridamenle de dereito deuo auer. tenho por
i*!

ben e mando que o dito Mocsteiro aia e posauya as sobredi-


tas cousas pera todo sempre. K faça en esses beens e deles
assi como de sa cousa própria. Co testemuynho desto man-

dei dar ao dito meu Moesteiro esta carta aberta e seelada do


meu seelo pendente. Dal. en Santaren vynte e huum dia de
Abril. A Keynba o mandou Steuam traticoso a í!ei. Kra Mil,
tr^aentos, Cínquoenta e noue Anos.

DOAÇÃO DB BBRS BM T0BBB8 NOVAS

En nome de deus Amem. Eu Dona Isabel pela graça de


deus Keynha de Portugal e do Algarue. A quantos esta
carta virem faço saber que eu con todo meu ssiso e meu en-
tendimento a louiior de deus e da virgem santa Maria sa
madre e de santa Clara e de santa Helísabeth por mha alma,
e eh Remymento de meus pecados, dou, doo, e outorgo
pera todo sempre ao meu Moesteiro de santa Clara e de santa
Helisabeth de par de Coimbra, a mha quintal de ffungalhai
e o Casal que chamam de Paay aluo, e o Casal das Corua-
ceiras termho de Torres nouas, e as casas que ey en essa
vila de Torres nouas, con seus Ressios e con seus Pardeey-
ros. A qual quintal, Casaaes, herdamentos c Casas, eu com-
prei de AÍTonso guilhelme. Dou ao dito Moesteiro as cousas
de suso ditas con todas sas perteengas edereytos, con entra-'
NOTAS E DOCUMENTOS 271

das e asaydas, en Monte e en flbnle Roto e por Romper, aasi


comoo eu ej e de dereyto mais compridamente deuo auer.
E tenho por ben e mando que o dito Moesteiro aia e possuya
M ditos herdamenlos e casa** pera todo sempre. E (Taça en
eles 6 deles, assi como de ssa cousa própria. Kn testomiiynlio
desta cousa mandey dar ao dito Meu Moesteiro esta caria
nberta,e seeinda do meu seelo Pendente. Datn en Santnren,
vynle e quatro dias de Abril. A Reynha o mandou. Steuam de
Trancoso a ífez. Era Mill, trezentos, Cinquoenta e Noue
Anos.
XXV
VOTO DA RAINHA D. I8ABIL DK VESTIR O HABITO DE SANTA
CLARA, pag. 171 e seg.

A copia que aqui damos é extrahída do documento ori-


- f;inal, que achámos no cartório de Santa (liara de Coimbra.
Tem o sello da rainha em cera vermelha, bastante deterio-
rado ; é similbanle ao da estampa iv na ínlroducção, e
pende de de Ian verde. Sousa, para o transumpto que deu
fita

deste documento na Historia Genealógica (T. 1 das Provas •

p. 113), serviu-se de uma publica fórma feita em 1604, a


pedido da abbadessa de Santa Clara, a qual ainda se conserya
no cartório, encadernada com outros documentos que foram
trasladados ao mesmo tempo^ e que teremos de mencionar
na DOta XXVII,

IN nomine domni amen. Nouerint vniuerssi presentes nos*


quod Nos Helisabeth dei gracia Re-
tras litteras inspecturi,
gina Portugália et Algarbii, ad declaracionem conserua-
cionem et defenssionem status bonorum et iurium nostro-
rum, dicimus denunciamos et protestamur expresse, quod si
contmgat nos de bac uita migrare superstite et Relicto
serenissimo príncipe et domno domno Dionísio dei gracia
lUustri Rege Portugalie et Algarbii mnrito nostro legitimo,
quod cum nodosa cordula habili ad cingendum, et com

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tJt NOTAS B DOCUMiNTOB

qindam ueste in una nostra Archa repositis, qae uiden-


tur esse de habito et ad instar habttaa aororam aeu mo-
nialinm ordinis aante Clare folumns et íntendimoa se-
peKrí in Monasterio sante Clare apod Colimbriam, et de
nostrts bonis distribui proat apparebit in téstamento noa-
tro plenius contineri. Si uero preíntum domnum mari-
tum nostrum premori quod absit et post ipsum uiuere nos
contingat, volumus proponímus et intendimus predictas
uestem et cordulam ac uellum viduytatis licet instar ha-
beat ordinis supradicti, assumere accipere ct induere,
non in habitum Religiosum proba torium uel professoriuro,
nec causa probacionis uel professionia seu obedientíe ali-
cuius ordinis regule uel persone, sed solum causa et in
signum viduitatis et humilitatis, illís intencione mente
oorde et animo« vt quandocumque et quocienscumque uo-
luerimus, possimos ipaas licite et libere dimittere sine
nola, et alias quascumqne seculares et laycales quas no- •

bis competere uiderimus et uoluerimus assumere et in-


duere, et de nostris rebus bonis iuribus et persona, dis-
ponere ct facere libere ueile nostrum. Quodque licet hu-
iusmodi cordulam uestem et uellum ut premittitur assumere
et induere proponamus, tamen ponos lineos quibus ad
presens utimur et uti consueuimus^ et alia nobis seculari
et layce uidue competência non intendimus dimittere, sed
prout voluerimus illis uti. Quodque domnas et domicellas
lajcas et seculares, ac prouit decens uiderimus solitam domum
nostram tenere et nutrire et de bonis nostris propriis quan-
do nobis uidebitur huiusmodi domicellas et domnas marita-
re, et ín Castrís et locís nostris et alibi quando et nbi
inter ipsas prout voluerimus uiuere proponimus et intendi-
mus leinporil)n8 sticcessiiiis quibus deus dederit nobis uitam.
Quodque uotum aliquod siuiplex uel solempne tacitum uel
expressurn sine piofessioiíem aut obedienciam non emisimus
nec fecimus, et in recepcione cordule vestis ac velli predi-
clorum, uel aliud emittere uel facere non intendimus nec
|iroponimus, nullique ordini liegule coUegio uel persone nos

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r

NOTAS B Bocmiiirrot t7S


uel nostra bona aliqualíter oblígaoimas obligamus intea-
dimus uel proponiini» oblígare, sed una cum omoibus dos-
tria booís omnino libera remanere et de' ipsis uendere do-
nare locare pignorare et aliud qaaiitercumque difpodére
íd oita et 10 morte, proat nobís placuerít et uisani fuerit
expedire. IN quorum omnium fídem et testimonium pre-
sentes nostras patentes literas fieri iussimus, et nostri con-
sueti sigilli munimine roborari. Dat. Santarene, secunda
die Januarii, Era raillesima TreceDtesjma sexagésima ter-
cia.

DIGLABAÇOBS da HAINHA d. ISABEL AO TOMAB 0 BABITO


DB SÁNTA GLABA» pag. 181

As nossas buscas no cartório de Santa Clara de Coimbra


nSo deram em resultado o encontrarmos este liocumenlo,
por isso transcrevemos aqui a copia que delle nos deu Fran-
cisco BrandSo na Monarchia Lusitana (P. 6 L. 19 c. 43).
Declara este aulhor que o original estava no referido car-
tório, e que tinha pendente de fita amarella o seilo da
rainha.

In nomine Domini Amen. Conhoscão quantos esta nossa


Dona Isabel mulher em ou-
presente carta virem, que nós
tro tempo do muito alto, & mui nobre Uey, & Senhor
Dom Dinis pela graça de Deos Rey de Portugal, d do
Aigarue, d Rainha dos ditos Reynes: aúendo feusa em
nosso Senhor lesu Christof & na Virgem Santa Maria sá
Madre, & na Corte Celestial, & auendodeuoçom na Ordem
de Santa Clara, como sempre aquelles, & aquellas onde nos
vehemos, auiamos posto em nossa vontade, que se acon-
tecesse que nós moressemos antes que o dito Key Dom Di-
nis nosso marido lidimo, que auiamos deuoçom de morrer
no auito de Santa Clara, o qual auito conuero a saber huma
corda com noos para cingir, òi hum veo branco, 6l huma
18

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S74 J«OfAB I DOGimilTOB

festidurn que tinhamot ja tempo ha em nossn «irca para


esto. E o dito Senhor Rey Dom Dinis pri-
ae por vontura
meiro morresse, o que Deos nom qoiíesse, & contecesse que
n6a f iuessemos depois» queríamos, & entendíamos de filhar,
& receber, & festir este auito segundo como dito» he : ao-
bmente per ratom de trestesa, & de doo, & domihiade, &
nom per Religiom, nem per professom, nem por obedeença
dalguma ordem estremada mente. Porque somos em tal idade,
& em lai estado, & auemos tais enfermidades que nom po-
deriamos sosteer, nem comprir nqucllo que he de ordera,
mais aquello que nos Deos "der graça que possamos fazer,
& sosteer que aquello façamos sem outrn obligaçom, se-
gundo .como cootheudo he em huma prolestarom, áL de-
claraçom que fiaemofi em vida do dito Senhor Key nosso
marido. E dissemos, & falamos com o mui alto, & mui no-
bre Dom Afonso filho primeiro herdeiro do dito Senhor
Rey Dom Dinis, & nosso, à. com Fr. Joaio de Alcami da
Ordem de Sam Francisco. E porque Deos teoe por bem
que o dito Senhòr Rey Dom Dinis nosso marido Hdimo
morresse ante que nos, .em a qoal morte nos teemos que
somos assi tomem (também?) morta com el, & deuemos
segundo boô costume mudar nossa vida & nosso auito em
doo, & em Iresteia, & en humildade, recebemos & vesti-
mos primeiramente, & presentemente a dita vestidura, &
corda, & veeo sobreditos, solamente polas razoens sobreditas,
e nom por ai : os quais recebemos das m?Íos de Marqueza
Rodrigues, & de Orraca Vasquis Donas segrares de nossa
casa, & de Eteuaya Martins, 6l Constança Martins, & Ma«
ria Annes, & Maria Martins, & loanna Peres Segrares nos-
sas Camareiras, as quais nos seruem, & som nadas de ser-
uír em nossa Gamara, &
de nos ministrar em aquello que
nos compre. E çomo quer^ que este auito como dito be,
filhemos, & entendemos de trager nés nom entendemos
nem queremos leixar nossas Donas, nem nossas Doniellas,
nem nossa caza mais entendemos trazer, & criar Donas, &
Donzellas leigas, & segrares & manleer a nossa caza, aisi

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còmo virmos que nos conueaif & por bem teuermos, &
como auemos acustumado. B as ditas Donas« & Donzellas,
& outras quoaesqiier qtm por bem leuermos eriar« & easar
dos nossos bens próprios, assi como nos semelhar, & nos
nossos Gastellos, & togares, & dalhur ant essas, ou assi como
quisermos, &
pudermos segundo a nossa entençom de suso
dita viuer em
quanto Deos leuer por bem E de mais de-
zemos que voto algum simples, ou solene, calado, ou ex-
presso, ou profissom. ou obedeença caindo, ou expressa,
nom auemos demostrada, nem feita per nlguma maneira,
nem queremos, nem entendemos demostrar, nem fazer em
este recebimento da corda, & vestidura, & veeo sobreditos,
nem em outra maneira. £ outro si nom demostramos, nem*
entendemos, nem propoemos, nem queremos faser, nem fa-
iemos a nenhuma Ordem, nem regia, nem pessoa alguma obli-
gaçom de nos, nem dos nossos bens, nem dos nossos direitos
por todalas cousas sobreditas, nem por alguma delias ; mais
entendemos, & queremos com todos nossos bens, & direitos
moueis, & de raiz de todo em todo liuremente(icar, & desses

vender, doar, alon^^nr, apenhorar, emprazar, & emprazamen-


tos teer, & fazer Igrejas, & Mosteiros, & Espitaes, & outros
piedosos logares, 6: esmolas, dos outros cada que quizer-
mos despoer em nossa vida, & em nossa morto, assi como a
nos prouguer, & por bem teuermos, & como nos Deos der
graça de faier. E estas cousas sobreditas, & cada buma del-
ias dizemos & protestamos a maior declaraçom da nossa
vontade, & da nossa entençom, & agradamento do nosso
estado, didos nossos bens, & direitos. B assi em todo, & per .

todo ditemos a vos ditas Donas Camareiras, que das sobre-


ditas cousas, & de cada buma. delias mandamos faier, &
seellar nossa carta com nosso sello em testemunho de ver-
dade. Dat en Santarém no Castello nos paços do sobredito
Hey em nosàa Camara oito dias de Taneiro. A Revnha o
mandou. Pero Soares a fez £ra de mil & trezentos 6l ses-
senta 6l iro» annos.
• ...

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t76 NOTAS* OOCUHBMTaS

xxvu
TI8TÀMBNT08 DA RAINHA D. ISABEL, pag. 179 6 208

Sousa publicou estes teslnmentos na Hislorin (ieneal<»gic.i


T. I das Frovns p. 114 e segg. e frei Vanuel dos Santos
;

já dado copia do primeiro, na Alcobaça Illuslrada


linha
(Appcndice, sendo o 22.® na ordem dos documentos'. Foi
esta extrahida dc outra copia existente no carlnrio de Al-
cobaça, e é conforme ao exemplar de Sousa, excepto D*al-
gumas variantes de |)ouca monta. A copia que deu Sousa,
tanto d*uiii como d'oulro testamento, foi tirada dc um vo-
lume encadernodo do cartório de Santa Clara de Coimbra,
que é um traslado em publica fórma extrahido a pedido
da abbadessa, e por ordem do desembargador com alçada
em' Coimbra, Gaspar Dias de Faria, por elle assignado e
por vários tabellíHes. É datado de 3 de setembro de 1604, e
contem quatro documentos declnra-se que os originaes fo-
;

ram todos devolvidos ao convento. Esses documentos sào :

1,** o primeiro testamento de I). Isabel, extrahido do ori-


ginal ;
2." o voto de vestir o habito, tirado do original
(vide ante, fiola XXV i;
3." o segundo testamento da rai-
nha em publica fórma de de julho de 1336; i." um di-
ploma de D. João i, datado de Tentúgal a 2^ de novem-
bro de 1424, anno de Christo, incluindo na integra o do-
cumento precedente tirado do original. O volume acaba a
foi. i8.
Encontrámos no cartório do dito convento o original do
primeiro testamento, n^ilm estado assaa deteriorado; mas
uma grande porção do documento é legível, e na copia que
adiante produzimos seguimol-o até onde nos foi possível,
supprindo as lacunas pelo texto do traslado do referido vo-
lume. Nota se uma circumstancia é que este primeiro
:

testamento veiu depois a transformar-se em minuta do


segundo. Com eíTeito, comparando entre si os dous tes-
tamentos, vô-6e que, ao passo que no de 1 327 se cooser-

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NOTAt B DOCUMBNTOt t77

varam muitas verbal do de 131 4, outras foram omiltic^ai


ou modificadas. Isto posto, acontece que» no original deste
ttilímo, todas essas alteraçdes foram escriptas por cima das
primitivas verbas, que vAo riscadas, mas de um modo que
as deixa perfeitamente legiveis. Comparámos, até onde po-
dêmos, as ditas alterações com os logares respectivos do
segundo testamento, e vimos que correspondiam entre si

invariavelmente. Além disso, pelos furos se deixa ver que


este documento trazia sello ptMidenle; mas nSo existindo
elle hoje, nem mesmo vesligios de cordào ou fita, é muito
de presumir que, resolvida a rainha a fazer segundo testa- .

menlo, o primeiro se considerasse inutilisado, tirando-se^


lhe esses signaes de legalidade, e fazendo nelle o notário
as alterações que a rainha ia dictando. No verso deste per-
gaminho em letra do século passado: « Inútil por se
lê-se,

nlko ler » 1 Felitmente nfio se Jembraram de o queimar.


Procurámos com toda a diligencia, no cartório de Santa
Clara, o original da publica fórma de $ de julho de 1336,
em que, por ordem de D. Affonso iv, fdra trasladado o se-
gundo testamento de sua mãe ; mas n9o appareceu, sendo
provável que se perdesse no incêndio que recentemente ahi
Decorreu, lambem nào se encontra o original do próprio
testamento ; a rasâo, porém, sahemol-n nós ; porque em
outro documento vem historiado o seu destino.
Dissémos que o ultimo documento trasladado no volume,
era um diploma de D. João i ; o original também se per* ,

deu, pelo menos não demos com ejle, apesar de todo o


cuidado que piuiemos em nossas buscas Esse diploma in-
clue na integra a publica fórma (datada de 5 de julho de
13,36) do segundo testamento, e comparando este com o
trasladado em separado, no mesmo volume, acfaam-se confop*
ines. Pelas explicações feitas por D. Jo&o i no preambulo,
eonhece-se que, tendo a abbadessa de Santa Clara pedido
ao rei houvesse de approvar e confirmar o segundo testa-
mento de D. Isabel, o monarrha exisírn que lhe mostras-
sem primeiro o testamento original. A abbadessa remetteu, em

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eonseqoeneis, o documeoto á rainha D. Filippa, que se en-^
carregou de alcançar de sen marido o que a prelada dese-
java.Das ratos da rainha passou ás dos oSiciaes competen-
sem duvida, o gunrdnrem até se despa-
tes da còrle, para,
char o negocio o que porém se não fez, porque o docu-
;

mento perdeu-se sem que se saiba como. Passado algum


tempo, npparpceu felizmente a publica fórma mandada pas-
sar por I). AlTonso iv: foi logo enviada no rei, que á vista
delia consentiu em mandar o despacho, porque, se*
fazer
gundo elle declara, estará certo que devia ser conforme ao
original, e qne esteva bem jembrado qoe «te fora entre-
gue á rainha soa mulher, e que se perdéra nas m&oa dos
officiaes. Fez portanto expedir o diploma de 25 de optem-

foro de 142i, pelo qual confirma, para todos oa eflfeitos


necessários, a meama publica fórma.
Em vista do que acabamos de expòr, não temos outra
alternativa sendo transcrever o segundo testamento confor-
me se acha a foi. 24 verso do mencionado volume, escri-
pto em 1604. Estamos convencidos de que em substancia
nào discrepa do original : a uiiica cousa em quo se po<lerci

fazer reparo, 6 que a orthographia de certas palavras 6 mo-


derna. DeixÂmol-aa todavia intactas; aliás nfto fòra copia
fiel.

Em nome de Deus filho, e spirito santo. Cu


Padre, e
Dona Deus Kaynha de Portugal e do
Isabel pela graga de
Algarve, temendo dia de mha morte, e paiando mentes na
piedade de Jesu Christo nosso Senhor que ueo morrer por
nos saluar que a compi idnincnte aaqueles que lazem por

el aquelo que deuem fiando da sa merçee mui grande.


Em lodo meu siso, e en todo meu acordo compridamente,
e en mha saúde, sen constrangimento de nengum, mais de mha
liure e boa uontade, faço este meu testamento, e quero que seia
a mha postromeira uontade, se eu ai non ordenhar despois.
Primeiramente mando a mha alma a Deus, e peço-lht que

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NOTAi S 1M)C0IIUIT08 tí9

Ihi ajamerçee na hora que m


partir do meu corpo, e que
me perdoe os meus pecados pela sa gram miseríooniia, e
a saneta Maria Virgem piedosa, e uogada dos pecadores. B
mando soterrar o meu corpo em Alcobaça a so os degraos
dante o altnr maior ali hu se El rey manda soterrar, e mando

hi huma capei la comprida asi como deue de ser con cales,


e con vestimenta pera o da Missa e pera o do Euangelho,
e pera o da pistola, e humn capa, e liumas enpolas de prata
de marco e meo, e todo esto seia das melhores uestimentas
que acharem na mba capelia, e a mha Crux de ouro, e mando
hi tres mil libras pera comprarem meos lestamenteyros her-
damentos, que fiquem a Alcobaça cm esta oondiçon que me
'
tenham dous capellaes que cantem duas missas cada dia por
mi pera sempre, se Ihi eu ahte^non der este herdamento en
mha uída'. Item mando a esse Mosteiro de Alcobaça huma
das rohas camas comprida de quatro almadraques, e huma
coçedra grande, e hum chumaço, e duas colchas, e huiii ali-
fafe, e todo esto dos melhores que eu ouuer naquele tempo,
e esto seia pera a enfermaria. Item mando ao Moesteyro de
Odiuelas huma capella, ehuma crux de ouro e façan-a do
ouro que açharem nas mhas donas (doas), se a eu ante non
fezer,e a cruz que fezerem seia de tres marcos douro,
e se non aciiarem tanto ouro eo que a possa auer, den-
hi
Ihy tanto do meu per que a elas possam auer e deolbys
ooue pedras l!oas das mhas pera ella ^ das dos meus
panos e a capella seia comprida como- a de Alcobaça.
Item mando a esse Moesteyro de Odiuellas as mhas religu.
Item huma das mhas camas pera a enfermaria e seia com-
prida como a d Alcobaça, e se^is camas non acharem compri-
das na hora de mha morte mando que se compram e refa -

çnm pelos meus dinheiros segundo a medida da mha cama.


Item mando a esse Moesteyro de Odiuelas pera comprarem
herdamento porá a enfermaria mil libras. Item mando que
os panos do sirgo que acharem a mha morte do meu vestir

1 No original, depois de«Ua Mgoein-se algumM paltvns indedfra-


oii, e qae liltam também nt poblica fdrma do aano de 1604.
»

MO NOTAI I B0CUMIIITO8

que façtiii en feitimeiitas pera a mha Albeigaria dOdinellM»


6 os panos, e as penas outras (outro si ?) fkjueni a essa Al-
bergaria, e leixo a essa Albergaria seis mil libras : E mando
que das duas mil libras comprem berdamentos pera três ca-
pellaes que cantem cnda dia, e das outras quatro mil libras
com|)rcm limiainenlos pera essa Alberírnria en que se man-
tenham os pobres. Item mando que toda a liteira que ficar
na mha casa aa hora de mha morte que a dem aa Alberga-
ria de Odiuellas tirando o direito dos meus reposteiros. Item

mando que as mbas pedras, ê as mhas coroas, eas mhas brochas


as quaaes sou escritas eo buma mba carta selada com meu
seloque EIrey as aia en ssa uida e despois ssa morte fiquem
ao Inffante Don Affoosso meu íilbo primeyro berdeyro, e
que eles tenbam por bem de comprirem delas esto que eu
mando pera a cmx. Item mando ao Infiante Don Aflbnsso
meu (ilbo primeyro berdeyro toda a mhn prata e a mba
copa de ouro. R mando que a primeyra cousa que se feter
do meu testamento tirado o (jue íezer mester pera o soter-
ramento sela esta que se paguem Iodas as mhas diuidas sa-
budas o mais cedo que [)oderein meus testamenteyros. K
mando que todos aqueles ou aquelas que poserem com ver-
dade, ou per seu iuramento que alguma couza ouue deles
como 000 deuia, ou prenderon algum mal, ou alguma perda
per my
que Ibo dem, o Ibo correjon assy como for dereito.
Item mando que se uenda todo o roeu alíofar, saluo aquele
que be mui grado que be delrey, que o tomo (tomem?)
cott as pedras e pon as coroas, e con as brocbas de suso di-
tas, e do que uenderem dem meus testamenteyros por mha
alma aquelo que por elo derem assi como eu mando en este
meu testamento. Item mando pera missas cantar de sacrifí-
cio mil libras, e que seiau) cantadas o mais cedo que pode-
rem. ItfMU mando pera aquelas cousas que ouuerem mester
pera mha sepultura, e pera o sábado» e pt:ra os trinta dias,
e perao anno, e pera os doos, duas mil libras. Item mando
pera caliuos tirar mil libras. Item mando pera pobres
uestir mil libras. Item mando aos frades pregadores, e meo-

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NOTAS DOGuimrros

res de todo ^ Senhorio delRey de Portugal a cada hom


conaento cínquoenta libras. Item aas Donas de Santa Clara
de Lixbona duzentas libras. Item nas Donas de Santa Clara
de Santarém trezentas libras Item nas Donas de Sam Do-
mingos de Santarém duzentas libras. Item mando a lodalas
Knparadeadas de Lixhonn, c do Sr.:;tarem, e de í eyrena, e
dObidos, e de Coimbra duzentas librai. Item aos Gafes des-
sas mesmas uillas cem libras. Item n todalas donas que co*
migo andarem na ora d» mha morto duzentas duzentas li-
bras, e senhas mulas con sas' Selas. Item mando a todalas
donzelas que comigo andarem en aquel tempo de mha morte
trezentas trezentas libras e senhas mulas con sas selas. Item
mando a dona Marquesa mha Av i (juinhentas libras, e se
ela ante morrer deenas a seus filhos, e a seus netos. Item
mando dona Guilhamona trezentas libras. Item aas Coui-
a
Iheyras do meu corpo cen cen libras. E pelas outras
mhas creadas que me seruirem em aquel tenpo de mba
morte uartam trezentas libras comi» uirem meus testamen-
teyros que be ben. Item mando a meu^ creados homees de
pee que me seruirein a tem;)o de mha morlc trezentas li-
bras. Item mando ao iMoesteyro de Santa Crux de Coimbra
quinhentas libras pera a enfermaria. Item mando ao Mões-
ieyro d Almoster quinhentas libras. Item leixoa aquel logar
que está em Coimbra que se chama de Santa Isabel que fez
Dona Maior Diaz se se fezer hy alguma cousa a seruiço de
Deus quinhentas libras. Item mando ao Ospital dos maninhos
de Lisbona Cem libras. Item a todolos Ospitaes e Albergarias
do Senhorio do Rey no de Portugal quinhentas libras pera
roupa, e mando aos meus testamenteyros que as compren
pera eles comoviren que he bem. Item mando ao Moesleyro
de Santos cínquoenta libras pera pitamja. Item aoMoesteyro
de Cheias cinquoenta libras pera pitança. Item ao IMoesteyro
das Celas da Pofile de Coimbra cinquoenta libras pera pi-
tança. Item ao Moesteyro das Celas de guimàr?\es de Coim-
bra cinquoenta libras pera pitanga. Item ao Moesteyro de
LoruSo cinquoenta libras pera pitança. Item ao Moesteyro
»

HÒTAS B BOcumNm
d A rouca cinquoenU iibras pera pitança. ilem mando a Don
Heiínon de Cardona, e a Dona Beatriz e a seus filhos quaea-
mha morte ficar doas mil libras. Item
qoer deles que despois
maodo a Don Pedro meu Irmão e a sea (9ho qualquer deles que
despois mha morte ficar mil libras. Item mando ao Ospi-
tal de Roças uales quinbentes lil^as pera os enflfermós. Item
mando aa Sáncta Misericórdia de Recamador huma ues-
timenta boa, e hum cálix con que cante bum clérigo.
Item mando a Sanctas Cruzes hu jnz meu Padre quinhen-
tas libras pera a enfermaria. Item mando ao Moesteyro de
Sam Francisco de Barcelona hu jaz mha madre quinhen-
tas libras. Item mando que meus testa me n tey ros tomen qui-
nhentas libras de meu auer pera despenderem andando so-
bre este meu testamento. E laço meus testamenteyros meu
senhor ElRey, e o lífante doo Afonso meu fiiho, e don Mar- .

tinbo Bispo de Viseu, e frey Marty m Scola, e Mestre Martinho


meu físico. £ peço por raercee a EiRey meu senhor, e ao Ifante
don Afonso meu filbo que tenbam por beo de tomarem
este meu testemento en sy e de mbo comprirem aasy como
eu el be contbeudo de guisa que seia a seruiço de Deua
e saluamento da mba alma. E Nos Rey don Dinis, e o lí-
fante don Affonso entendendo que a uontade de uos de suso
dita Raynha he boa e a seruiço de deus e a saluamento
da uossa alma, e querendo fazer per uos o que deuemos,
outorgamos, e louuamos este nosso testamento e promete-
mos a fazer comprir e ^^u a rd ar tíwjalas cousas que en el son
contendas. E por esto seer mais firme mandamos poer os
nossos Seelos E mandamos a Joham martinz Tabellion
de Santerem que o escreuesse em publica forma, e posesse
en el seu sinal. Feito foy dezanoue dias de Abril Era de
mil e trezentos e cinquoetita e dous annos. Testemunhas
Mestre Martinho físico delRey. frey Vicente, frey Francisco
de Buora frade meor. Afonso Dominguei tebellion. E eu
Joham martinz tebellion de suso dito de mandado de noaso
Senhor EIRey, e do Iffante don A%nso seu filho, e a rogo
da Reynha esto manda escreuy e meu sinal en ela pugi.

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NOTAS B DOCUMENTOS 283

E eu Aflfonso domíoKuei publieo tabeilion de Santarém


ao ootorgamento de todas estas cousas de soso ditas, e scrí-
tas presente fuy e en este testamento este (?) sobscreuy
esto com inha mHo, e este meu sinal pugi en testemunho
de uerdade

Em nome de Deos nm«^n. Snyhaom quantos oste estro-


mento uirem que em [iteseuça de mim Marlim domingues
tnhalíom geral de nosso senhor Kl-rey nos Heytios de Por-
tugal, e do Algarue, e das testemunhas que adiante son es-
critas, a esto especialmente chamadas, e rogadas. EsteuHo
dade clérigo, e chanceler da Raynba Dona Isabel ia péssada,
mostrou perante Pero dosem chanceler do muito alto, e
muy nobre ranhor Dom Afonso pela graça de Deos Rey de
Portugal, e do Al^arue hum estromento de testemento da
dita Kayuha o qual em escrito per mSlo de Pedre amies ta-
balino geral nos ditos Reynos, e de seu sinal asinado, e se-
lado com tres selos [)endenlos dos quaes hum era da dita
Rayrdia, e o outro era do chumbo de noso senhor KlUey,
e o outro era da Rainha Dona Rrcnliz, do qual estromento
de testamento o teor tal he. —
Em nome de Deos Padre, e fi-
Eu Dona Isabel peia graça de Deos
lho e spirito sancto.
Raynba de Portugal e do Algarue, temendo o dia da mi-
nha morte e parando mentes na piedade de Jhu Christo
noso Senhor queueopor nos saluar compridamente aqueles,
que faiem' por el o que deuem, fiando da sa merçe mui
grande, em todo meu siso, e en todo meu acordo compri-
damente, e em minha sande, sem constrangimento de ne-
nhum, mas de minha boa e liure uontade faço meu teste-
mento, e quero que seía esta a minha postumeira uontade,
se eu al nom ordenhar depois. Primeiramente mando a
minha alma a Deos, o perolhe que me aja merçe na hora
que se partir de meu corpo, e perolhe que me perdoe os
meus pecados pclla sua grào piedade, e misericórdia, e a
1 H« mais «Iguints paUvras no fim que se nio lAein.
/

S84 MOTAS ikm:uii£ntos

lanU Mftría uirgem piadoM e uogada áoê pecadores. E nMudo


fotemr o meu corpo em o meu Mosteiro de Sancta Clara, e
de Sotila Isabel de Coimbra em o meogêo^ do Coro. E se
acontecer que eu saia deste mundo ante que essa Igreia sela
feita, mandome em tanto deitar em o coro da oulra Igreia ue-

Iba açima da líTantr» Dona Isabel minha nela, de guisa que fi-
que ella antre mim e a grade, e assi he minha uontade
de iaiermos em a oulra pois que for acimada, e mando
quatro mil libras pera aquelas cousas que ouuerem mister
pera a minha sepultura, e pera o sábado, e pera os triota
dias, e para o ano, e pera os doos, e despois desto mando
que a primeira cousa que se fexer do meu testamento .seja
esta que se paguem todas as minhas diuidas aabudas o mais
cedo, que poderem meus testamenteiros, e mando que lo-
dos aquelles, ou aquellas que poserem com uerdade, ou per
seu juramento que alj;nma cousa ouue delles como non
deuia,ou prenderem algum mal, ou alguma perda per mym
que lho dem, e lho corregão assi como for dereito. E mando
a minha coroa das esmeraldas á Rainha Dona Breatis mi-
nha fiiU i, e rogolhe que a leixc 6 líliintá Dona Maria sa
filha. Item mando ha lífanla Dona Muria minha neta a
minha coroa pequena que tem as pedras furadas, e a mi-
nha brocha redonda, e a crux de lígiio Domini que anda
em tres pedras çafiras furadas, e as religas que andão na
coroa do ouro, so o iaspe, e as outras religas de São Ber-
tolameu que and&o so o cristal, e andão na cadea do ouro,
e os teixe^ das águias. Item mando á Iflanta Dona Leo-
nor minha nela outra coroa de balaisses grandes que estão
em rosa e os teixeês das figuras dos paâos com pedras.
Item mando ao Mosteiro de Odiuellas pera a enfermaria
mil lihras |)ela alma delRey, e pela minha. Item mando ao
Mosteiro de Almoster mil libras. Item mando ao Mosteiro
de Alcobaça cem^ libras pera pitança. Item mando aos ca-
bidos das Sees de Lixboa, e de Coimbra çem çem libras

1 Havia d» ier meogw no original ; signifiea fMfo. Oflopiate leu Y


•B Tti do o.

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^OTAS E DOClMENTOà 286

que me faç9o senhos aníoersnrios, qunndo ouuirem diíer do


meu passamento. Item mando pera cantar missas de sa-
crifício mil libras, e seiào cantadas o mais cedo que pode-
rem. Item mando pera Item mnndo
capliiios tirar mil libras.
pera pobres Item mando aos frades pre-
uestir, mil libras.
gadores, e meores de todo o senhorio delHey de Portugal,
a cada huum conueiito cinquoenta libras. Item mando és
DonasdeSanfa Clara de Lisboa duzentas libras. Item mando
á8 Donas de Santa Clara de Santarém cem libras, liem
mando és Donas de Sam Domingos de Santarém cem li-
bras. Item mando a todalas emparadeandas de Lisboa, de
Santarém, de Óbidos, de Leiria e de Coimbra duzentas li-
brns. Item mando aos gafes dns ditas vilas duzentas libras.
Item mando a todalas donas que comigo andarem na bora
da minlia morte duzentas libras a cada buma. Item mando
a todalas donzelas que comigo andarem en aquel tempo da
minha morte trezentas trezentas libras. Item mando a fi-
lhos, e netos de Dona Marqueza, que foi minha Âma ^ qui-
nhentas libras. Item mando a Dona Guilbamona cem li-
bras. Item mando a Maria Suares cem libras. Item mando
áa couilheiras do meu corpo cem cem libras, e pelas ou-
tras minhas criadas que me seruirem en aquel tempo de
rainha morte partão trezentas libras coma meus testamen-
teiros tiuerem por bem. Item mando aos meus criados ho-
mens de pee que mc seruirem em tempo de minha morte
trezentas libras. Item mando ao hospital dos meninos de
Lisboa cem libras. Item ao bospital dos meninos de
Santarém mil libras. Item mando a todolos hospitais,
e albergarias do senhorio do Koyno de Portugal quinhen-
mando aos meus testameiros (8Íc\ que as par-
tas libras, e
tâo por elles como uirem que he bem. Item mando ao
Mosteiro de Santos cem libras. Item mando ao iMosteiro
dacheias cem libras. Item mando ao mosteiro das Celas
de Goymbra duzentas libras. Item mando ap Mosteiro das
1 Isso deve ser erro do copUta, poisque o original do l.*^teitamento
diz Áya.
NOTAS I IM)CUIUUIT06

CellM de Guimarlis da par de Goyrobra oen librai. Item


mando a minha sobrinha Dona Isabel qye jai ^ oo ono
Moetciro de Santa Clara de Coymbra quinhentas libras.
Item mando a Dom Afonso filho de Dom Pedro meu Ir^
mào quinhentas libras. Item mando ao hospital de Roças
iinies quinhentas libras pcra os enfermos. Item mando a

Sancta l\lnria de Hccomador trezentas libras Item mando


ao Mosteiro de Sn neta Cruz cem libras pêra pitança e os
frades façAo aniuersario asi como me hào posto. Item mando
aos meus testamenteiros que tomem quinhentas libras do
meu auer pera desjienderem andando sobreste meu testa-
mento. £ mando a Cl Rey meu filho todalas casas e ade-
gas que comprei dentn» nas uilas que eu tíue delBey seu
Padre, e dei, e as outras benfeitorias que eu em ellas fii
que as aia com bençom, e asi ael comu è Raynha, como
a seus filhos, doulhes a minha bençom, e a de Deos que
a ajfio pera sempre compridamente. E faço meus testamen-
teiros EIRey Dom Afonso meu filho, e a Raynha Dona
Breatiz minlia filha sa molher, e o líTante Dom Fedro meu
neto filho primeiro herdeiro do dito l{ey Dom Afonso, e
a Ifanta Dona Maria minha neta, que eu criei, se for em
Portugal, e Dona Vataça, e o GuardiHo de Coymbra e de
Leiria que en esse tempo forem, e frey Francisco de Kuo-
ra, e frey Saluado que anda em casa delRey, e frey Afonso
Vehegas. e a Abadesa do dito Mosteiro de Sancta Clara, e
de Sancta Isabel de Coymbra que en esse tempo for Aba*
desa, en cuia mfto eu íeixo meu corpo, e todalas outras
cousas que eu entom ouuer. £ mando a minha capella a
esse Mosteiro asi como a acharem que a eu em esse tempo
tiuer com cruies de ouro, e de prata e com calites, e to-
rihulos, e vestimentas e todalas outras cousas que a essa
capella (lertençem e com todalas outras cousas que eu en-

1 Quer dizer qae Tivia recolhidt no mosteiro


poiaqae era a esse
;

tempo freira e veiu a ser mais tarde segunda abbadcssa


era D. Isabel
:

de Cardona, de
filha D. Beatriz, irouD busUrda da raiaba» e de aen
marido D. Raimuodo de Cardona.

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NOTAS E DOGUM£NTOS 887

toro oauer, pagado este meu testamento como ea mando


lambem prata, como ouro, auer monel. Item mando ao
dito meu Mosteiro de Santa Clara, e de Santa Isabel doze
mil libras pera a obra desse mosteiro e pera mantimento
da Abbadessa, e das donas desse Mosteiro e se mais fica-
rem de trinta e sex mil libras que eu ey dauer depôs mi-
nha morte das Rendas das minhas terras per cartas delUey
a que Deps perdoe, e deste Rey meu filho, a que eu peço
que me as faça comprír asi como eu dei fio. e a aqueles
que depôs el ueerem, pela bençom de Deos e minha, pla<-
me, e mando que as aia o dito Mosteiro pera essa obra e
pera mantimento da Abbadesa e conuento» ou o que hi
Dcharem. Item mando que fique ao dito Mosteiro a mínba
brocha grande do Camafeo furada no metogoo, e a minha
coroa das pedras amarelas, que chamào citrinas, e o en-
toucado, e o oral, e o veo, e a Santa que eu mandaua poer
•ás noiuas que casauâo de minha casa, que a Abbadesa as

empreste a aquellas que casarem, e que lhas tornem depois.


E pagando os ditos testamenteiros meus o dito meu testa-
mento, como aqu\ he conteúdo. Mando que- todalas cou-
sas, que mi acharem ha minha morte, que fiquem ao dito
roeu Mosteiro de Santa Clara, e de Santa Isabel, asi como
me as outorgarom EIRey Dom Dinis a que Deos perdoe,
e iSIRey Dom Afonso meu filho per sas cartas pera man-
timento do dito Mosteiro e hospital, e pera fatimento do
dito Mosteiro e das casas da minha morada que son outras
açerca do dito Mosteiro as quaes mando que fiquem ao
Mosteiro. E mando que se alguma ouucr do meu linha-
gem a mais chegada que queira ficar em essas minhas ca-
sas dapar do dito Mosteiro e hospital, fique em ellas se
me uencer de dias, a praziraento delRey, e da Abbadesa,
que seia tal queenlendom que he pera esto. £ mando
clles

lhe çem marcos de prata, e mando, e outorgo que seia tes-


tamenteira com 06 de suso ditos, e que non aia mór po-
der no Mosteiro, nem en essas casas, nen no hospital, se-
m>n pera lhes bier bem, e deíendimento. E mando a Dona'

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S88 MUTAS S DOCDHENTM

VataçA cem marcos de prata. E peço a ElRey Afonso Dom


meu fiiho, e á Raynha Dona Breatis, e ao Doro Iffiinte

Pedro meu neto, e á lílanta Dona Maria minha neta, que


teuhão por bem de tomarem este meu testamento en si,
asi como eu delles fio com os outros testamenteiros de suso
ditos, e de me o comprirem asi como cm el he conteúdo,
em guisa, c[ue sela a seruiço de Deus, e a saluamenlo de
minha alma. E pe(;olhes que seiào em meu soterramento,
asicomo eu faria em todo seu bem, e em toda sa honra
cada que eu podesse. £ outrosim peço e rogo ós ditos Rey
meu e á Rainha sa molher minha filha pela feuia
filho,

que en elles ey, e Ifantes meus netos, e os outros que de*


pos elles ueerem pela minha bençom, que ai9o em sa en-
comenda, .e só seu defendimento e mercê o dito meo Mos*
feiro, e casas, e hospital, e que non sofrdo a nhum que
pouse em elles, senon elles quando lhes comprir, e os ou-
tros Keys, e IITantes herdeiros com sas molheres que de*
pos elles ueherem pêra fazerem merçe áquelles que hi ui-
uerem, e esses que hi uiuerem pêra rogarem a Deos por
elles, e que non sofrào a nhum que en elles, nem em cada

huma das sas cousas façam mal, e que os queirâo manter


per aquelo que eu leixo hi, e pelo mais que elles hi farão
de guisa que o seruiço de Deos ua adiante. Outro si lhes
encomendo o Mosteiro de Sanlti Ana das cellas da ponte,
e o .Mosteiro de Almoster, e o hospital dos meninos de
Santarém. =E
eu Rey Dom Afonso, e en Raynha Dona Brea-
tis nossos filhos que a todo esto presentes fomos, enten*

dendo que a uossa uontade de oos suso dita Raynha nossa


madre he boa, e a seruiço de Deos, e a saluamento da
uossa alma, e querendo por uós faier o que deueroos, ou-
torgamos, e louuamos e queremos em nos filhar este tes-
tamento e guardar todalas cousas, e cada huma delias que
en el son teudas. Em testemonio d*esto mandamos aqui
poer os nosos selos. Feito foi aquesto em Coimbra nas ca-
sas da morada da ditn Rnvnha Dona Isabel, vinte e dous
dias, de Dezembro Era de mil e treientos e sesenta e cin-

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NOTAS E DOCUMENTOS 280

quo annos. Testem iin lias que prczentes forào os honrados


haroens Lopo leraaiidez Pacheco meirinho moor delliey
Gonçalo pirez Ribeiro mordomo mor da dita Rnynha Dona
Isabel. Gonçalo fcrnandez Ghançinho. Miguel biuas abbade
de Trasmires chanceler dei Rey. Esteuào dade chantre de
Viseu chanceler, Vasco Marlinz de Caramque, e Pero Es-
teuez, clerigOt e otiuidor da dita Uaynha Dona Isabel. E
eu Pedre anes publico UbalioD geral nos Rey nos de Por-
tugal e dc Algarue todalas ditas cousas e a cada homa del-
ias com as ditas testemunhas presente fui, e a rogo da dita
Kaynha Dona Isabel, e de mandado do dito senhor Rey
Dom Afonso, e da dita Raynha Dona Breatíz sa molber,
este estromento com minha mHo escreui, como por mi
passou, e en el meu sinal pugi en testemunho de uerdadc.
E eu Dona Marin Ifante filha do dito senhor Rey Dom
Afonso a todalas ditas cousas presente fui, e recebo em my
o dito testamento, como en el he conteúdo, e mandei eo
el poer o meu selo
O qual estromento asi mostrado IhoSo uicente clérigo
e fernão gonçalues Cogominho vasalo delRey, disserom que
porque nosso senhor ElRey he testamenteiro da dita Ray-
nha Dona Isabel sa madre, e lhe cumpria de auer o treslado
do testamento para o faier comprir asi como en el he eon*
teudo, e deshi porque se temião de se perder o dito testa-
mento por agoQ ou por fogo, ou por ma guarda, ou por
outra alguma maneira. Por ende em nome de nosso Senhor
EIRei, e por el pedirom- ao dito chanceler que ^esse a mym
mortym Dominguez tabelion de suso dito poder de sa au-
toridade de tresladar o dito testamento era publica forma,
e que com o theor dei, lhes desse hum publico estromento.
E enlon o dito Pero dosem chanceler, uendo o dito testa-
mento, e os ditos selos de que era selado, e aquelo que os
ditos lhoào Vicente e Fernão gonçalues deziSo, deu a mym
sobredito tabelíom poder de sa autoridade de tresladar o
.dito estromento em publica forma, e que com o theor dei desse
aos ditos lhoSo vicente, e fernfto gonçalues hum estromento,

i

290 NOTAS £ D0CIJII&NTOS

OU mais se comprisse. feito foy este estromento era Estre-


moz clnnuo dias de Julho, Era de mil e trezentos e se-
tenta e quatro annos. Testemunhas Paay de Moura caua-
Francisque annei clérigo. Afonse annes eseríuãis dei-
leíro.
Rey, e Domingue annes, e outros. E eu Martym domingaes
tabeliom de suso dito a rogo dos ditos lho9o vicente, e Fer-
não goncftiues a estas cousas com as ditas testemunhas pre-
sente fui, e ende este estromento de mandado, e autoridade

do dito chanceler, com o theor do dito testamento escreui,


. e meu sinal bi pugi, que tal he. &c.

XXVIII
GODICILLO DA BAINHA D. ISABEL, pag. ÍOS
Com quanto a fórma deste documento seja a de doaçSo,
desif»níimol-o codicillo, porque o seu fim é mais conforme
aos desta natureza. Copiâmol-o do original no cartório de
'
Santa Clara de Coimbra. Um pouco antes do fim do doca*
mento declara-se que a rainha lhe mandára afiixar o seu
sdlo pendente ; é comtudo certo que hoje nio tras sello,
nem mostra signaes de o ter tido nunca. Nfto se pôde du-
vidar que seja o original, porque, além de outros signaes
característicos, obsenra-^e, na linha 13.', que o espaço
desde a palavra irnn atéeia, fôra anteriormente raspado,

conforme a declaração do tabellião no fim do documento,


ató agora inédito.

En nome de Deus amen. Sabham quantos este slro-


mento uirem que Nos dona Isabel pela graça de Deus
'

Raynha de Portugal e do Algarue querendo a nossa pes-


soa e as nossas obras e os nossos beens poer en seruiço de
Deus por saúde de nossa alma, damos como sse adeante
segue pera todo senpre ao Moesteiro de santa Clara de
Coimbra, dona Maria gonçalues Abadessa desse Moesteiío,
Becebendooen nome de sseuGonuento e de sseu Moesteira^
o Paaco con huma vinha e contodos seus dereytos, que nos

*
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9

IfOTAS E DOCUMENTOS 291

<liln Baynha ouuemos do Moesteiro dc sauta Ana da par

da Ponte de Coimbra, por Cento e Cinquocenta librai de


Portugal ; Aa qaaaes ha dauer cada ano de renda o dito Moes-
teiro de santa Ana, por o dito Paaço e uinfaa. O
qual Paaço
e a he sobre o Moesteiro de santa Clara, con«>
dita vinba
ira o mcyo dia, tirando ranys A ouriente e mays chegado
contra o Ryo de Mondego, ca o dito Moesteiro de santa
Clnrn. E parle o dito Paaçb e vinha com o dito Moesteiro
de santa Clara. E este Paaço e vinha contõdos sscus de-
reytos nos dita Raynha demos oíFerecendo per huma carta
<jue tynhamos maíio sobrelo Altar de ssanta Clara cn
na Egrégia do dito Moesteiro, nas mailos da dila abadessa
recebendoo en nome de aseu Moesteiro de santa Clara e
do sseu Conaento. Assy qne daqui Adeante ífaça delias
(sic) como por bem teuerem, con os encaregos e maneiras

que Adeante son scritas, e como Elrey dom Aflbnso e A


Raynha dona Beatris e o lílfonte don Pedro filho primeiro
herdeiro, que Nos dita Baynha dona Issabel ieyxamos pur .

nossos testamenteiros teuerem por bem, e que son nos


Aiudadores A esto, ca tam bem aíTazemospur elles como por
nos. Estes som os encaregos. Con nem assaher que Nos dita
Raynha dona Issabel tenhamos este Paaço en toda nossa
vida pera nossa morada, e poys seerem by stas moradas
pera pobres no Paaço deanteiro que he mais chegado Ao
Moesteiro, Assy como nos ordinhamos. B dessy Adeante
poys da nossa morte chamarsse pera sempre, o Espital de
«santa Helisabet. £ des pos a morte a nofisa (fique este Es-
pital a huma nossa parenta, qual nos scolhermos, e non
na Auendo hy, tenha Abadessa delias (sic) as chaues e po-
nha hy duas flfreyras meoretas das que andam fora. E ro-
gamos e pedimos ao dito Hey dom AíToiíso nosso ffilho,
e aos outros que des pos cl Reynarem que non ssofram a
nemhuum que pousse nas ditas nossas Cassas, snhio elles e
as Raynhas ssas molheres o os IlTantes herdeiros de Por-
tugal con sas molheres, c El Rey e Abadessa ordinhem
coroo uirem por bem, pera manteer o Espital, Assy como

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292 NOTAS E DOCUMENTOS

conteúdo nu nosso tcstaracnlo. Item se contecer coussa que


Deus noR quer, que alguma destas pessoas ou outra pessoa
que aia de uiuer no dito Espítal, íeiesse ou dissesse alguma
coussa qual non deuya, que a dita Abadessa ssem sseu Gonnento
a possa correger e castigar e deytar do dito Espilal e me-
ter hy tal que ssein pera esto, como uyr em ssa Alma que
bem seera. Item mandamos e ordinhamos que a dita Aba-
(lessíi, \\c^i\ c gunrde pera ssy, ou por outra pessoa ydo-
nea o dito Kspilal o as pessoas que hy oimcrem de uiuer
e as conslrenjía que non receba no dito Kspital nenbuma
pessoa ncnumaa mays lon^e que o Mocsteiro de santa
Clara, ssem licença da dita Abadessa ou pesoa a que o ela
cometa. E aguarde a abadessa e Conuento e Moesleiro de
santa Clara as cousas dessuso ditas. Item mandamos e
ordinhamos que en este Espital sseia pertf senpre químe
homeeiís e quinie roolheres pobres de uergonha e de boa
uyda^ as quaaes poys a morte nossa escolhera a dita Aba-
dessa de santa Clara e sseu Conuento, ou con a mayor
parle, assy que senpre sseia homeens e molheres de Gin-
quoeenta anos ou de mays. Outrossy mandamos e ordinha-
mos que os ditos pobres aia cada huum dclles en ssa uida pera
sseu comer e pera sseu beuer trynta e duas on^as de pam
cozido e buma tagara de vinbo comunal e dous aralacs de
carneyro ou de porco ou de uaca como por bem teuer a
dita Abadessa, guardando necesidade de doença aos ditos
pobres. E ao dia que ouuerem de comer pescado darenlho
como uirem que seera conuenhauil, e darem a cada huum
dos ditos pobres pera uestyr pelotes essayas em cada huum
ano, e de dous em dous anos pelicos e ceramos destanferee
ou doutro pano que sseia de preço de quiniQ soldos de di-
nheiros uelhos portugueies o couedo. £ de a dita Abadessa
aos ditos bomeens e molheres en cada huum ano Camissas
e calçaduras assy como que Ihys conuir. Item Ibys de
quando uyr que conprem ssenhos almadraques e ssenhas
colchas e ssenbos chumaços e cubertas segundo uyr que
Ihys conprír. Item de a dita abadessa con sseu Conuento de

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NOTAS £ DOCUMENTOS

ssanla Clara ao dilo Moesteiro de snula Ana Ceíito e Cin-


quoenta libras cada ano ata que sseia entregado o dito Moes-
teiro de ssanta Ana de tantas terras e de tantas possissòes
que ualham comunaimcnle cada ano ssegundo comunol es-
iimaçon, as ditas Ccnlo e Cinquceenta libras, como mais
conpridamente he conteúdo en huum stromento ífeito per
ina0o do tabellion adeante nomeado. E sse acontecer que
Nos Rajnha dona Issabel em nossa uida ou a dita Abadessa
con sseu Gonuento dermos ao dito Moesteiro de santa Ana
as ditas possissões que ualham as ditas Cento e Cinquocenta
libraSf ou parte delias, que nos e a dita Abadessa (S Gon-
uento de snnta Clara seiamos quites da dita obligaçon, na
quantea que os ditos herdamentos e possissòes que Iby nos
dermos uaicrenn en todo ou en parte dellcs. Item Todos
estes encaregos do Kspilal sussodito e das ditas Cento eCin-
quoeenta lil)rns, savam dos beens que nos daremos ao dito
Moesteiro de santa Clara. Outro ssy ordiídiamos que no dito
Moesteiro de santa Clara aia Cinquoeenta donas meoretas,
e que no Espitai aia Irynta pobres como ssusso dito hc,
per conto e non seerem meos. E sse mercee de deus ÍFor
de non sseerem mays non tolhemos nos esto. GapélaRes
pera o dito Moesteiro e Espitai e ssergentes sseram quantos
ttírem que conprem em guissa que per donas, pobres* Ga-
pelaaens e sergentes^ seram Cento rações, como Abadessa
uyr que conprem. E mandamos que no dito Espitai aia
Capeiam e raoozynho que cante Myssa e diga as oras canó-
nicas de cada dia e íTara os sagramentos da ssanta Egrégia
aos pobres e aos outros que no Espitai uiuerem. E esse Ca-
peiam e Moozynlio aia do Moesteyro soldadas e Kaçoensassy
como ouuerem cada buum dos capelaons e Moozynhos desse
Moesteiro, o qual capeiam sern hy posto pela Abbadessa. En
testemuynho desto ílczemolo ende sseerífeito este stromento
per meão de Berlolameu perez publico tabellion dciUey en
Coimbra. E a moor (llrmydocn ífezemolo seelar do nosso
flseelo pendente. (íeito (íoy esto no dito nosso Paaço da-
pars de Coimbra, doze dias de Março, Era de Mil trezentos,

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^4 NOTAS fi IHKIUMSxNTOS

ssasceiíla c ssex anos. leslemunlias que presentes ÍToiom,


Sleuam dadc chantre de V^isseu noso chanceler, Pero sleueez
nosso ouuydor, Joham Anes, Pero soares, nosos clérigos e
outros testemunhas. E eu Berlolameu perez tabcllion sohre
dito, con as ditu^ testem unbas^ a estas cousas desuso dita»
como dito he presente íToy* e de mandado e douturídnde
do dito senhor Rey, e a rogo da dita Raynha dona Issabel sa
madre, este estromento, con a rasura posta, nas treie li-
nhas, ha diz : saem licença da dita Abbadessa ou pesoa a
que o ela, coo mha mafto oronrin scr tuy e este meu sí-
gnal hy pogi que tal Log>rdotignti
| he, en testerouyhho
|

das ditas cousi^as.


XXIX
BOAÇÂO rBITA POR D. ISABEL AO CONTENTO DE SANTA
CLABA DE BENS EM PORTO DE MOZ, pag. 196

O do documento que passamos a transcrever


original
existe no de Coimbra. Tem pen-
cartório de Santa Clara
dente, por fios entrançados de retrot carmesim, o sello da
rainha em cera vermelha, similhante ao fac-simile na es-
tampa iT, íig. 11, na introdocçfto, tendo as orlas desappa-
recído de todo.
Encontrámos no mesmo cartório o instrumento pelo
qual os testamenteiros de Marquesa Rodrigues cederam & rai-
nha os hensque nquclla possuirá em Benavente, em cumpri-
mento de seu testamento. K datado de 27 de novembro
da era de 1368 (/V. D. 1330 Igualmente se nos depa-
.

rou o escambo que a mesma princesa fizera com Jo«lo Ro-


e sua mulher àlaria Peres, dos di-
drigues, seu estribeiro,
tos bens em troca dos que estes poasuiam em Porto de
Mox. Ê datado dos paços da rainha èm Coimbra, a 29 de
novembro da mesma era.

Dona Isabel pc!a graça de deus Beynha de Portugal e do


Algarue, A quantos esta carta virem faço saber que esguar-
dando e consyrando en couio Marquesa rodriguiz dona de

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NOTAS IMMSUIIBNTOS ^5
raha casa e mha collaça escolheu a ssa morte sepultura no
meu Moesteiro de santa clara de Coimbra en que he soter-
rada e en como a mi essa Marquesa rrodriguiz lexou eir
seu testamento os beeos que auya en B^^naueote. Os quaaes
a mi eDiregarom Steuani dade chantre de viseu e Pero
sanchei chantre de Lisboa qoe ela lexoo por seus testa-
menteiros e Os quaes beens eu dei a Joham rrodríguii meu
Estrabeiro e a Maria perei sa molher en scanbho, por to-
dolos beens que eles auiam o de dereyto aoer podiam eo
Porto de Moos e en seu termho segundo he contehodo en
stromcntos que ende Bertolamcni perez tnbeliom delRey
en Coimbra IFez. E pêra seerem lehudas de rogar a deus
as donas desse Moesteiro por alma da dita Marquesa rro-
driguiz, dou e outorgo pêra sempre os ditos beens que fo-
rom dos ditos Joham rrodriguiz e de sa molher, que eles
auyam Kn Porto de Moos e en seu termho e que derom a mi
en scambho pola Alma da dita Marquesa rrodriguiz, a Abba-
dessa e Gonuento desse Moesteiro que aiam eslremadamente
OB ditos beens pera a Enffermaria desse Moesteiro, e que fa-
cam deles daqui adeante pera sempre como de sa própria
posstssom. £ per esta carta tolho de mi toda sa possissom
e propriedade que eu ey e auer posso en os ditos beens qoe
forom de Joham rrodriguiz e de sa molher e ponho toda
essa posse e propriedade desses beens na dita Abbadessa e
Gonuento pera fazerem e vsarem deles como de sa própria
possissom.En testemonho desto mandey dar cstn carta see-
lada con meu seelo aa dita Abadessa c conuento. Dat. en
Coimbra, quinze dias de Dezembro. A Keynha o mandou.
Gonçalo martins a ffes. Era de Miil trezentos sesseenta e
oyto Anos.
XXX
DA VIDA QD£ LEVAVA A BAINUA D. ISABKL, pag. 198
Para satisfa^ dos curiosos extrahimos da Lenda de
Santa Isabela descri pçào que ahi se faz dos deveres e obri-

gações a que a piedosa rainha se votara. Servimo-nos do

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NOTAS K BOCmaMTOS

exempinr impresso nn 6.' Parté dn Monarchia Lusitana»


de 1672 (p. 507 e acg., ep. ôl7 eseg.).
ed^ifto

n QVIMTO CAtftlA

Vitiendo esta Rainha casada com EIRey seu marido,


despendia seu tempo, e iaiia vida sua por maneira que se
segue. Ella em cada horo dia reiana as horas Ganonicas, e
as horas de Santa Maria, e dos passados, e finia comemo-
ra çdo de muitos Santos, e santas t e saiase á GapeHa queella
consigo trngia mui rica« c mui bem apostada e dizíão os
seus Capellaens, e Clérigos quo ella tragia, que bem sabiam
oííiciar, e cantar buma Missa officiada, segundo está ordenado
pella santa Igreja digam Missas por cada bum dia do
que se
anno. A mui bumildosamente oíferecer
esta Missa bia ella
poendo osgeolbos ante o Sacerdote que a dixia, e beijando
a mio, e offerecendo do seu hauer certa oontia em cada
hum dia, acrecentando em a oflerta segundo a festa, eo dia
era. Depois que era ora para diaerem Vésperas, vinhfto seus
Clérigos, e ditiSo Vésperas, e rezauSo em sá presença ; se
físes^, 00 dissessem Vésperas dalgum Santo, a que, se-
gundo a ordinaçom da Igreja boouessem de diser noue li-
çoens, diriSo Vésperas cantando, e officiando. E s Rainha
em aquelle tempo jejuaua tresdias na domaa, e vésperas dos
Santos, e Auento, e Quaresma de guisa que ella^ fazia al>-
stinencia per jejum per mais tempo que as tres parles do
anno e jrjuàrn mais senom que a rcprebendia EIRey, e nom
;

no queria consentir, c defendia a ella que nom jejuasse. E


seu jejum era f>or esta guisa. Ella jejuaua des a festa de Sam
loão Baptista atã dia de Santa Maria de Agosto, e a Qua«
resma que dizem dos Anjos, que fazem des dia de Santa Mft^
ria de Agosto atà Sam Miguel de Setembro, e o Âuento, e
Quaresma, e as sestas feiras, e os sabbados, e as vigiliasdos
Apóstolos, e as de Santa Maria em pam, e agoa ; e os diasque
dísem de Santa Maria per todo o anno a pam, e agoa, e mui-
tas vésperas de Santos, e Santas em que ella bauiadcuacom

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NOTAS fi DOCUMENTOS 297.

e a que dia fazia vigília, e jejuaua. K ella hia a quaesquer


logares, e Igrejas de deuaçom hu soubesse que morauào Re-
ligiosos, ou Religiosas que fizessem boa vida, segundo an-
daua por o Reyno ;e por muitas vezes hia a muitas Igre-
jas de pO, ainda que muito alongadas fossem, dando âs Igre-
jas quanto lhes oompria ; e por qualquer logo ella fosse oom
parecia pobre que delia esmola nom cecebesse. E polas es-
molas que quando sahiSo que vinha de bumlogar
ella fatia,
para outro assentauamse per os caminhos em nas entradas
das VÍI]as«, e legares muitos homens, e molheres, e moços
para receber aqnella esmola ; e por muitos que fossem nom
parteria nenhum sem esmola, assi o mandaua ella faier por
aquelles que aquella esmola hauiào a dar e muitos, e mui-
; ^

las a que aquella esmola nom era mui comprideira se a*-

scfitauào alli com os pobres para receber esmola, hauendo de-


uaçom em cila. Muitos pobres que via vir per caminho man-
daua dar de vestir cm sá casa visitaua as enfermas poendo
;

em ellas as màos mui sem nojo, e mandando delias pençar,


segundo á dor que hauia, oudemandaua. £em cada huma
Quaresma fazia estremadas esmolas a homens, e a mulhe-
res enuergõçados ; e em dia que se diz, Csena Domini, lauaoa
a certas mulheres pobres gafas os pés, e lhos beijaua, e ves-
tiaas dequecas, de pelotes, e ceromees, e ãaualhes de tàU
çar, e contas por amor de Deos ; e assi em aqoel dia fosia
entrar hum Clérigo ordenado de Missa, e hum gafo os mais
pobres que achassem, e daualhes de vestir. E em na sesta
feira maior seguinte vestia panos mui refeçes, segundo a seu
estado, e ouuia sás horas, e prépiar a paixom, teendo gram
tristeza, e dor nembrandose dn morte de nosso Senhor que por

nòs peccadores recebera, mandando fazer era aquelle dia mui-


tas esmolas, e per muitas vezes se confcssaua a seus Confes-
sores ; e nunca erraua que por as festas de Natal, Paschoa, e
Pentecosle recebesse o corpo de Deos nosso Senhor com gran-
de humildade e reuerenpia. Em cada bum anno daua cer-
tos moos de trigo em os seus celeiros aos Mosteiros que haoia
em Portugal de Frades Prégadores, e Meores, e Gorreado-

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298 «OTAft £ AOCiniBMTOft

res, e Carmelitas, segundo via que compiia, e o logar era.


£ assi hauião delia as Donas dalgumas Ordens a que ella en-
tendia que era compridoira sâ esmola ; e daua nos Mostei-
ros por as Villas por hu hia esmolas ao que via que com-
pria, e pítanças ; que
e isto fazia a muitos Fraires, e Freiras
eram dos Mosteiros fora de PorUigai que a dia vinham de-
mandar esmola e muitos Keligioses, e Religiosas haoia em
;

DO Rejno de Portugal, e fóra, qae em cada ham anuo es-


mola delia para se vestirem recebiam.
Nom aomente o seo hauer era partido com os pobres,
mas com oatra muitos» e muitas a qoe ella daua o seu hauer
bem francamente, diaendo que alguns que parecia que nom
hauia mister darem a elles, que era mais compridoiro, que
a alguns pobres. E dizido aquelles a que do seu hauer daua,
que a diante hiào com ello que lhes dauam. Per alguns lo-
gares do senhorio de Portugal foi, que lhe disserem que
bauia hi mulheres de buem logo, e outras que eram man-
cebas, e pobres, e com a mengoa que nom hauiam onde o ves-
tir houuessem, que veria a fazer de seu dano, e mandaua esta

Rainha filhar peças de panos, e mandaua chamar alguma


boa Dona daquelia Villa de que ella (iana, e mandaua a ella
que partisse aquelles panos por aqueiias moças a que visse
que eompría ; e esto faiia ella escondídameirte, segundo sa-
bem alguns, e algumas de sA casa. B a muitas daua do seu
haaer para as casarem, e nom virem per miogoa a faaerem
dano nos corpos. E per hu hia, e achaua que se começaua
Igreja, ou Espítal, e pontes, ou fontes queria ella hi do seo
hauer poor pera ajudar a fazer, e para ser quinhoeira em
toda a boa obra que se iizesse.

M QOAHTO VIUVA
'E des que esta Rainha foi veuua despendia seu tempo
em esta maneira. Ella tinha consigo sinco. Donas da Or-
• dem de Santa Clara que sabi&o leer, e reiar, e eiguiase a
Bainha gram manh&a, e aquellas Donas da Ordem, e re-

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NOTAS B DOCUMKNTOfl 209
xaurio as Matinas muito a ponto, e mui bem, aguardando
cm rezar o costume da Igreja de Roma ; depois que Mati-
nas fossem ditas, rezauão Prima ; depois que Prima fosie
renda, e dia fom claro aguisauão bum Altar qoeella sempre
comsigo tragia, e a camará tiaba por oratório, e alli on-
aia huma Missa calada com gram deoaçom. E depois qoe
aqoella Missa (cise dita vinhase para seu paço ha Capella
tinha, e ho estauSo jà prestes seus Capellles, e Clérigos para
diser Missas, e olficiar, e hu atendi&o Dooas e donzeUas, e
outras mulheres que na casa viuilko. E começauBo aquelles
Capellàes, e Clérigos, e dizimo logo Missa olliciadaque se diz
por 08 passados por a alma delRey D. Dinis. E acabada
aquella Missa, que se dizia por ElKey, diziam os Clérigos
todos hum Responso por ElRey, e faziuo aquelles, e aquel-
las que hi siam por EIRey Dom Dinis oraçom e dito aquelle :

Responso por EIRey, oomeçauão os Clérigos de oí&ciar outra


Missa, segando o dia qoe era. E ditas assi esias Missas, e
acabadas as outras horas que se por o dia deoem a renr
por aquelles Clérigos, oomeçaoa a Rainha a reiar com sés
Donas Terça, Sexta, e Noa, se feita fosse. Ante que resasso
ooaia prègaçom. E qaando as Missas erom acabaidas, e ho-
ras rezadas era já gram dia, bia a comer; edesque comia*
mandaua vir ante si aquelles que por ella hauiHo de mandar
nquellas obras, e lauores que fazia, e sabia como se fazia, e
mandava fazer aquello que visse por agulsado e liuraua al- ;

gumas petiçoens que a ella daua, e as mais petiçoens que ella


bauia de liurar erão de muitos, e muitas. Religiosas, e segraes,
e ricos, e pobres, que pedi&o a ella que lhes fizesse mercê. £
mandaua ella do seu hauer, e pam dos celeiros dar a aquelles
a qoe via que era aguisado de o dar a quem compria. B coo-
siraaa mui bem todo ca tem o que desse a estes que assi pedião
haaía per ella de ser que pessoa era, e se lhe compria, e lu-
gar dos Religiosos qual era, e se erom muitos ou poucos ; e
assi segundo o logar, e pessoas, e mister a elles fizesse, assi
seria o que a elles dessem. \í por esta Rainlia se fazião as
três obras dc charidade, ca cila nos miogoados, c pobres acor-
/

300 NOTAS E DOCUMENTOS

ria com esmolas, e se era alguém per qiie ella deiiesse de ha-
uer sanha, perdoaua o rancor, e a salisfaçom. E eslo foi cousa
marauilhosa, que nunca a viromsanhada. Oulrosi per cila nom
mingaua de tornarem alguns de peccadoresn pendença.e ar-
rependessem do peccado que faziao, e daualhes de vestir, e
de seu auer, e queria delias fazer hum Esprital, e teue cm
Coimbra as casas feitas pera ellas, senom porque achaua
dalgumas que erom pniuicas, e mandanaas manteer em sá
Villa, a que dizem Torres nouas, pera se partirem daqoelle
publico peccado« e daualhes de comer, e de vestir, que de-
pois leixassem todo o que lhes fazia, se tomassem a peoear.
E as sete obras de misericórdia, que ella ?estia nàs, e aos
que haoi&o fame, ou sede mandaualhes acorrer com comer, e
beuer. E o enfermo visitaua, e fasia tsitar. E os mortos fasia
enterrar, e lhes daua pera sepulturas o que mister hauião
por os apressados pagaua ; e corregia os que em perdiçom es-
tauão. Conselhaua pera perseuernrem. Em ella mantinha a
espiritualidade remia catiuos pagando por elles do seu ha-
:

uer, a outros dando ajuda pera se remirem. E liuraua aquello


também das obras que cila lazia, e co que a ella pedião. Co-
lhersia a sá camará, e saeria a rezar Noa por ella, c sàs
Freiras, vinhão os Capellaens, e Clérigos, e diú&o ante ella
Vésperas, Se se seguia alguma festa as Vésperas ofíiciadas,
e per os outros dias séerião caladas. E des que ouuiom as
Vésperas que se dixiom pellos seus Clérigos tornaua a dizer
Vésperas com sés Freiras ;assi era entenduda, e costumada
em rezar, que se os seus Clérigos errauam em s6 presença
em leer, ou em o canto, ella os corregia« e emendaua, e ella
lia mui bem em Latim, e linguagem. E ouuidas, e ditas assi

Vésperas, se dia fosse em que jejuar ella nom houuesse, iria


a cear, ca ella jejuaua os mais dos dias dadomaa.Edes que
ceasse dizia Completas, e as horas dos passados, e ficaua em sá
camará, e as Freiras colhiamse a seu logar ; c segundo dauam
testemunho aquelles que em sá camará (icauão, ella a maior
parte da noitedespeudía em contemplar, e em orar, e em rezar,
erguendose por vezes de sá cama, e filhando outra mui refes.

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NOTAS B DOCÚMENTOS 301

XXXI
DOCUMENTO ADMINISTRATIVO DA BAINHA D. ISABEL, pag. 199.

Copiámos o seguinte documento do original, que se acha


na CollecçAo Especial, caixa 72, qo Arcbivo Nacional da
Torre do Tombo. Tem pendente o sello que vai estampado
na Iniroducção desta obra, sob íig/ 10-a.

Domna Isabel pola graça de Deos Reyna de Portugal


e do Algarue A aos Alcayde e Alnazlis e Concelho de Ley-
rena saúde. Sabede que os moradores das Paredes mi en-
uiarom dizer por Affonso annes seu procurador que uos Ihis
enbargades as uendas de pnm que dizem que am mester
para seu malymento. e eles dizem que por que son liomeens
de ssobre mar que non podem uiir a essa vila de cada uez
polo pam que ihis faz mester, e que pero son de uosso
termbo e uossos vizinhos que os enbargades dizendo que
lenam esse pam para regatar e lho non queredes leixar e
que por esta razom non podiam aner matymento quando
Ihis compria. £ pidíromme que poys uossos uizinhos eram
e o pam querhim tanto para seu matymento e non pera
aal que vos mandasse que os non enbargassedes E sobre
esto Pedro steuez e Lourenço peres meus oquidores feze-
rom perante si uiir Vicente martinze Lourenço annes Al-
uaziis e Vaasco martinz procorador de uos concelho e ou-
tros moytos homeens boons desse Concelho e fezerom a el-
les pergunta por que lho cnbargauam. e eles diserom que
Ihis non enbargauam que ho leuassem para seu matymento

aguisadamente mays que Ihis enbargauam que o non leuas-


sem para o regatar nem para fora desse termbo E os ditos
meus ouuidores uisto o que sobre çsto diziades mandarom
que daqui adeante. non enbarguedes aos moradores das
Paredes aquel pam que aguisadamente ounefem mester para
seo matymento E quando comprassem esses moradores das
paredes se uos quiserdes jurem aos sanctos Euangelhos que
o non querem do termho dessa vila tirar nem o querem

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302 NOTAS £ DOCUMENTOS

regalar nem a ootrem uender Pòr que aos mando que des
aqui adeante aos ditos moradores das paredes nossos Visi-
nhos non enbarguedes aqUel pam que agoísadamente ou-
uerein mester para maiy mento seu e dos seus. Vnde ai non
inçados se non a uos me lornaria eu porem e peytarmides
08 meus encoulos. K os moradores das Paredes tenham
esta carta Dat. <mi l.eyrena vynte e dons dias de Outubro
a Reyna o mandou por Pedro csleuez e Lourenço porei
seus ouuildoros martim foiítarcada alíez Kra de mill e tre-
lentos e saseenta e noue anoâ==s(assígnado; P." stephani
iiidit s=s (aasignado) £ pèz auyo.

xxxn
IIILA6BI8 DE SANTA IftAm» pag. SM)4

Os milagres attribuidos a esta rainha SSo em grande no-


meroy contando-se entre elles alguns de extravogante ezag-
geração. Passaram felizmente os tempos em que se podia
impunemente sobrecarregar os textos de invenções t ao absur-
das. Parece-nos todavia opportuno lançar aqui alguns dos
mais notáveis para satisfação dos curiosos.
É realmente para admirar nào tanto a fecundidade d'in-
genho dos escriptores ecclesiasticos, como o desvario das
suas imaginações, que os cegava a ponto de nào attentorem
na leveza que muitas vezes presidia á escolha do assumpto
em que fundavam os seus contos. O author ou authoret
daqiielie a que damos o primeiro legar, nfto viram que do
gérmen que lançavam podiam crescer suspeitas contra a
*
castidade de uma rainha, que — com quanto se lhe notas-
sem algumas imperfeições, a que todo o mortal sem exce*
pção está mais ou menos sujeito — sempre se mostrou es-
posa virtuosa. A base desta invenção é a desconfiança do
próprio marido: embora ella tivesse origem na calumnia,
embora se dissipasse com o triumpho da virtude, é sempre
grave a mioima suspeita contra o caracter individual. Ês-

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MOTAS B DOCUMENTOS 303

queceram-se de que poderia haver algoem, que, sem dar


inteiro credito ao maravilhoso do sacoesso (qae aliás se po-
deria explicar pela coincidência), nfto descresse do mais.
R nSa se diga que escreviam para os tempos em que a in*
crednlidade nfto existia. Incrédulos, ou, para melhor diíer,
homens que usem das faculdades mentaes com que Deus
os dotou (porque incrédulos somos nós todos, rejeitando uns
a superstição c o maravilhoso, ao passo que outros negam
as leis divinas, patentes na sublime obra do universo), hou-
ve-os sempre ; aliás que significariam todas aquellas perse-
guições dos séculos passados? e sobre tudo aquelie mons-
truoso parto da igreja romana, fructo da sua unido com o
despotismo secular—«a inquisição? Apesar dos desespera-»
dos esfori^ de homens delirantes, que tentavam o impos-
sívelem nome de Deus, nunca felismente as trevas se con-
densaram tanto sobre este mondo qoe a Hu mo brotasse
de alguma parte.
• pagem
Entre 06 eriadofi de santa rainha, havia um pagem que,
por sua devoção e bons qualidades, fAra por cila preferido
para ser o intermédio das suas obras caritativas, entendendo
que assim as praticava mais a occultas. Não escapou isso a
outro pagem, que, oii por odio, ou por ciúme do valimento
que gosava o companheiro, resolveu aproveitar o ensejo
para o perder. Por insinuações malévolas soube infundir no
animo de D. Dinis suspeitas de que a confiança que D. Isa-
bel depositava no pagem nascia de uma affeiç&o illicita ; e
posto que o rei n5o acreditasse inteimmente na infidelidade
da esposa, todavia julgou prudente desfaser-se do valido.
Neste intuito ordenou a certo individuo, que tinha um forno
de cal, lançasse As chammas um pagem da rainha, que no
dia seguinte viria perguntai^he, da parte delle eeí, se fisera
o que lhe llíWv enoommendado. De feito, no dia indicado
o rei mandou o pobre pagem ao forneiro com o recado con-
vencionado. Porém, antes de chegar ao seu destino, acon-

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304 NOTAS E iJOCUMEiNTOS ^

teeeu passar por uma á hora da mitta ; e, não lhe


igreja
permittindo a soa. grande devocSo conlinaar o sen caminho
sem ofiereeer ao Senhor os seus fervorosos votos* entrou
no templo. Acabada a missa, ficou o pngem a ouvir ou-
tras, sem se lembrar ou lhe importar o recado de que fora
incumbido.
Neste meio tempo, impaciente o rei por saber o fira da
historia, despachou o pagem dilTíimador para que fosse in-
dagar se as suas ordens haviam sido executadas. Partiu este
a toda a pressa, e apenas dera o seu recado, foi lançado às
diammas pelo foraeiro, cuidando ser o que ae destinava ao
sopplicio.
Mal pensando que acabára de escapar a uma sorte hor-
rively o OQtro pagem, em sahindo da igreja, dirigi u«se ao
iomo, onde, em resposta á sua pergunta, recebeu a segu-
rança do inteiro cumprimento das ordens reaes*
Grande foi a cólera do monarcha ao ver chegar em carne
e osso o mancebo que votara á morte, e saber, pela res-
posta que trazia, que o outro havia padecido em logar deste.
Porém, n3o foi menos a sua admiração quando soube a
causa que demorára o devoto pagem, reconhecendo logo
que ludo havia sido assim disposto pela Providencia divina
para que a innocencia sahisse tríumphante, e recebesse a
maldade o condigno castigo.
»

1 BO mm m tt mmm Ao Vejo

Fandando-se este prodigio sobre outro muito mais poético,


tão será fóra de propósito narrar primeiro este,8ervindo-]iQ8
das palavras do immortal Almeida-Garrett na sua primorosa
obra intitulada a Viagens na minha Terra » (cap. 30).

« A milagrosa Sancta Iria — Sancta Irene — que deu o


seu nome a Santarém, donzclla nobre, natural da antiga
Nabancia (Thomar), e freira no convento dupplex (de fra-
des e de freiras) henedictino que pastoreava o sancto abbade

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NOTAS £ DOCUMENTOS 305

Ceiiq, floreceu pelo§ meados do septimo Namoroo'^


século.
se d'ella extremosamente o joven Britaldo, íilbo do conde
ou cônsul Gastinaldo que governava aquellas terras, e nSo
podendo conseguir nada de sua virtude, cahiu inr("^rmo de
moléstia que nenhum physicu acertava a conhecer, quanto
mais a curar.
« É sabido que a mais sancta lhe não pêza de que este-

jam a morrer por elia ; e« mais ou menos, sempre syropa-


tbisa com as víctimas que fai.
« Sancta iria resolveu consolar o pobre Britaldo ; e já que
mais nlio podia por sua muita virtude, quiz ver se lhe ti-
rava aqnella louca paixSo e o convertia. Sahiu, uma bonita
manhan, do seu convento —
^òe nfto guardavam ainda as
freiras tam absoluta e estreita clausura —
e foi -se a casa
do namorado Britaldo, j»

« Consolou como mulher e ralhou como sancta, e por-


fim, impondo-lhe na cabeça as lindas e bemdittas màos, n*um
instante o sarou de todo achaque do corpo; e se lhe ni\o
curou o d'alma também, pelo menos ih o adormentou, que
parecia acabado.
« Mas como o demo, em chegando a entrar n'um corpo

humano, parece que não sâi d'elle senuo para se ir tnctter


n'outio ; tam depressa o inimigo deixou ao pobre Britaldo,
como logo se foi incaixar em não menor personagem do
que o monge Remigio, que era o mestre e director da '

bella Iria.
«Arde o frade em concupiscência, e íilko obtendo nada
com rogos e lamentos, jurou vingar-se. Disfarçou porém,
fingiu-^ emendado, e deu*lfae, quando ella menos cuidava,
uma bebida de sua diabólica preparaçHo, que apenas a san-
eia a havia tomado, lhe apparecernm logo e continuaram
a crescer lodos os signaes da mais apparenle maternida-
de. »
« Corre a fama do supposto estado da donzella, chovem
as injúrias e os insultos dos que mais a tinham respeitado
até então. £ Britaldo, que se julga escarnecido pela hypo-
20

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306 NOTAS E DOCUMENTOâ

erisia d^aquelia mulher artificiosa, em vei de a esquecer com


despréio — sente reviver-lhe, senSo tam pura, muito mais
aldente, toda a antign paixfio.»
« Tam mysterioso é o coração do homem ! — tam yíI !

dirSo os ascéticos — tam inexplicável ! direi eu com os mais


loirrnntes. »

«Novas lentall>as, promessas» ameaças do furioso aman-


te... A saneia resiste a tudo, forte na sua virtude. »
« Costumava a devota douiclla ir todas as noites a uma
occulta lapa que jaiia m> fim da côrca e juncto ao rio
Nabão, para allí estar mais só com Deus, e desabafar com
Elie A sua vontade. Soube-o Britaldo, espreitou a occasi&o
e allí a fet apunhalar por um seu criado ctqo nome a le-
genda nos conservou (wra maior testimunbo de verdade:
chamava-se Banam.
« Banam é um verdadeiro nome de mellodrama. »
!

« Morta a innocente, Banam despiu-lhc o hòbito e lan-

çou o corpo ao rio, que depressa a levou às arrebatadas


correntes do Zêzere em que desagua e logo este ao Tejo
;

— que defronte da antiga Scalabicastro lhe deu sepultura


em suas louras áreas, para maior glória da sancta e per>
pétua honra da nobiUissima villa que boje tem o seu nome.
Mas emquanto ia navegando o corpo da sancta, teve
Gélio, o ebbade do ponvento, ama revelação que lhe desco-
briu a verdade e os mibigres do caso; e communicando^a
logo aos monges e ao povo de Nabancia, sahiu com todos
de crux alçada, e foi por esses campos da Golegan fóra, até
.chegar h Bibeira de Santarém. Ahí bensendo as aguas do
rio, éslas se retiram cortezes e deixaram ver o sepulçhro
que era de fmo alabastro, obrado á maravilha pelas mãos
dos anjos.
« Chegaram ao pé do tumulo, abriram-n'o, viram e to-
caram o corpo da saneia, mas n5o o poderam tirar, por mais
diligencias que fízeram. Conheceu-se que era milagre ; e
conlentando-se de levar relíquias dos cabellos e da túnica,
voltaram todos para a sua terra.

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«

NOTAS E DOGUMKNTOS 307

O nosso aullior podia ter accrcscenlado que, segundo a


legenda, os tres malvados Britaldo, Kcinigio e Bnnam [o-
ram todos absolvidos pelo santo padre em 'Koma
Tal é a historia de Sanla Iria eonlada pelos escríptores
o foi por diverso modo pelo pQTO
oionastiqos, <}ue tambein
n'Qm romance ou xacara que se pôde ler na mesma obra
(cap. 29), julgando o illustre poeta ser essa uma das mais
antigas composições de toda a Péninsola.

Mais de seis séculos e meio depois, fazendo a santa rai-


nha repelidos votos para que lhe fosse patenteado o nvila-
groso tumulo que as agoas encobriam^ (oi-ibe isso um dia
outorgado.
Passeando elia em certa occasião com o rei e vários per-
sonagens da oôrte pelas praias do Tejo, abriraro-se as agoas
do rio, qual outro mar Roxo, deixando a descoberto o se**
polcro. Entroa a rainba a pé enxuto no leito do rio e foi re->
aar fiquelle sacrosanto monomento. Ha opiniOes sobre se o
rei e o sen séquito gosaram ou alio o mesmo privilegio. Di-
aem uns que sim ; que tentaram abrir o tumulo, e que não
o tendo conseguido, mandára o rei erigir á pressa um pa-
drão tào alto que a todo o tempo apparecesse á superficie
das agoas, para marcar o sitio onde se achava enterrada a
santa. Quiros, porém, aíBrmam que, dispondo-se D. Dinís
n seguir os passos de sua bemaventurada mulher, o liquido
se agitárn vm demasia, por onde entendeu que lhe não se-*
ria permittido avançar. Conten(ou-se pois de esperar na praia
« volta da rainha, cuja demora foi longa» experimentando
assim a paciência de seu real consorte.
Tanto vai uma como outiva versKo ; mas oque parece certo
é que em 16i4 se mandou construir o pequeno monumento
que hoje se vê em secco, e que sobitítiiiu, dizem, o primi-
tivo, se é que o houve.
Escobar, na sua Phcnix de Portugal (pog. G3), para nào
desmentir o rifào — quem conta um conto, accrescenta-lhe
um ponto — nuo quíz que o pTodigio acabasse aqui ; accres-

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I

308 MOTAS fi DOCUMENTOS

centou, pois, que chegando Santa Isabel á praia, ouvira os


lamentos de uma aíTIicta màe, que apontava para o filho que
se nfo^avn. Parece que este havia seguido a rainha, e na
volta fôra suhmcri^ido pelas agoas. Esta, tanto que viu o
caso, recuando respeitoso o rio, foi buscar o menioo» que
entregou s^o e salvo a sua mDe.
Provavelmente esta ampliação é derivada de um mila-
gre attríbuido ó própria Santa Iria, referido na Benedictina
Lusitana (Trat 2 F. i c. 12), onde também vem citado

um documento de 132õ por onde se pretende provar o mi-


lagre de Santa Isabel. Este documento acha-se por integra
na Monarchia Lusitana (P. 6 L. 19 c. 44).

D« CSonstança mo Purgatório

Pouco depois da morte de D. Constança, mulher de


D. Fernando iv de Castella, e filha de Santa Isabel, caminhava
esta de Santarém para Lisboa em companhia do rei e da
corte. Eis que ao passar perlo de Pontével, lhe sabe ao en-
contro um ermitão, que lhe declara que D. Constança lhe
apparecêra em sonhos, certificando-o
de que ella estava con-
demnnda ao purgatório, e que o único meio de a livrar era
mandar dizer uma missa diária durante, um anno por um
sacerdote de vida honesta. Apesar dos motejos dos aniícos,
que afugentaram o pobre ermitfto, n8o deixou a rainha de
mandar dizer as missas, eficarregando delias a Fernão Men-
des, homem de condocta exemplar. Acabado o anno, dia
por dia, teve Santa Isabel o indisivel prazer de ver em so-
nhos afilha, que, cora semblante alegre, lhe assegurou que
estava livre das penas que padecéra, e que ia lograr a presença
divina.
o dinlieftro conwertldo em roMia

Ao tempo em que andavaqa com obras no convento de


Santa Clara de Coimbra, succedeu um dia que a rainha se
lembrasse de ir pagar por suas reaes e delicadas mãos os

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MOTAS K DOCUlIfiNTOS 309

ordenados aos obreiros. Conduzia no regaro o dinheiro para


esse fim quando deu inespcradomenle com o rei, que lhe
perguntou o que levava. Nào querendo, talvez, que o ma-
rido soubesse que ella se empregava em misteres, que IHo
pouco çoodiziam com a reaiesa, ou, como outros dizem, por
encobrir os gastos que faiia, Sdo
respondeu Santa Isabel :

rosasy senhor. Era ínTerno ; rosas no inverno l disse D. Dinis
oomsigo, e querendo ver com os próprios olhos cousa tSo
estranha, achou-se a rainha perplexa sem saber o que íi-.
zesse ; por fim não teve remédio senSo abrir o regaço. Qual
nfio seria a confusão da pia Isabel julgando que fôra apanha-
da em flagrante mentira Mas qual, ser-lhe-hia permittido
!

mentir ? Convencei- vos, rei incrédulo !... Eram rosas cora ef-
feito, nada mais havia no regaço da rainha
O padre Antonio Vieira nuo duvidou comparar este pro-
digio ú inslituirfio do sacramento, dizendo (no serrnHo da
rainha Santa Isabel, ad fín.) : uèlas quantas vezes fez Deus
esta maravilha ? Uma só vei, e no maior milagre dos seus
milagres, e na maior obra da sua omnipotência. Na insti-

tuição do Divinissimo Sacramento quiz Christo que o pão


se convertesse e transubstanciasse em seu Corpo... » Po-
rém essa maravilha não se limitou a um só exemplo, como
pretende o eloquente prégador, pois o que se conta de
Santa Rosa de Viterbo é em tudo similhante á de Santa
Isabel, com a diíTerença que aquella levava pào para os
pobres, cm logar de dinheiro, quando encontrou o pae cu-
biçoso.
Muitos concordarão que foi mal escolhido o assumpto
deste pequeno conto.

JUi raaa» eoBTOrtites em dinheiro

Uma noite, èm Alemquer, teve a rainha uma visão, na


qual a incumbiu Deus da fundação de uma igreja naquella
villa sob a invocado do Espirito Santo. Na manhan se-
guinte den as suas ordens para que se cumprisse o man-

Digitizeu by LiOOgle
310 NO I AS E DUCUMEMOá

dalo ilívino, iodicand» «o mesmo tempo o local que Ibe


fiira determinado. Quando ali chegaram os pedreiros, acha-
ram 08 alicerces já delineados. Com isto ficou a rainh»
cni|vencida de que a visão n9o fdra uma illus5o, e man-
tiou sejíuir o risco lào niysleriosaincnle troçado diante mHo.
Indo Sinita hal>el de tarde inspeccionar os trabalhos, viu
passar uma moça com rosas, e comprando~as deu a cada
operário uma, declarando que assim lhes pagava os seuív
jornaes. Ní\o sei se ficaram contentes com a paga, mais mi-
mosa do que substanciai ; porém, no recollierem-se, em logar
das rosas, achou cada um sua dobra no sitio em que ha-
viam depositado aquellas. Divulgado o milagret resolveu o
rei ajudar a esposa no proseguimcnio da santa empresa.

ApMi smâ^ibi mmÍÊm eaai viaUs

Soeceden adoecer a raipha em Alemqner. Os medico»


receitaram-lhe vinho; mas ella recusou tomaUo, pois era
tHo abstinente que nunca o bebia. Em logar de vinho to-
mava agoa, que ao tocar-lhe nos beiços se transformava
em vinho.
A raiiUba lavadeira

Em outra occasiao orava a rainha nas ribeiras do rio


de Alemquer, occupnndo-se ao mesmo tempo no delicado
e odorifero mister de lavar a roupa ou os pannos do hos-
pital O simples contacto das màos da real lavadeira com-
!

municava ás agoas daquella corrente a virtude curativa.

O aaaunalew M mm wêMo
Santa Isabel havia mandado construir, na igreja de Santa
Clara, uma capella assente sobre aroos, afim de que as
inundações do Mondego nSo a podessem prejudicar. Para
ali ordenou que fosse transportado o mausoléu que mao-
dàni faièr para si ; mas o seu peso era tanto que fora m

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1

NOTAS £ DOGUMfiMTOS 311

baldados todos os esforços para o mover do sitio em que


jazia. Contando a rainha com o auxilio divino cm matéria
de tanta transcendência, encostou o bordão que trouxera
de Santiago de Composlella, ao cenotaphio, e, oh prodi-
gio, eis que a vasta mole se levanta, e, voando pelas na-
ves do templo» vai collocar-se exactamente no logar de-
terminado da Capella superior

AppAvece A nUBta m Víw^mm avia


Santa Isabel achava-ae em Estremoz moribunda ; espe-
rava-se a cada momento que désse os últimos arrancos. A
rainha D. Beatrit de Castella estava assentada junto do
leito da sogra : de repente pediu-lhe esta que se levantdsse,
e cedesse o seu logar á senhora que se approximava. D. Bea-
triz, nlío vendo pessoa alguma, perguntou quem era, e onde

estava. Respondeu a rainha-màe que era uma dama ves-


tida de branco; porém nem a nora, nem as pessoas pre-
sentes perceberam a appariçlio. Não tardou em divulgar-se
que Deus e sua Mae haviam mandado confortar Santa Isa-
bel nos seus últimos momentos. Mais tarde os sábios tbeo-
logoSy penetrando os arcanos do passado, descobriram que
a dama das vestidura^ brancas era a própria Virgem Maria.

xxxni
SOBRE O VALOR INTRÍNSECO E REPRESENTATIVO DA MOEDA
NOS PBIMBIBOS 8BCDL0S DA MONARGHIA,
E NOMBADAMINTB NO Xin

A nossa primeira tentativa sobre este assumpto, assaz dif-


ficil e complicado por falta de dados seguros, sahiu impressa
ha mais de trcs annos no jornal « Pqinorama. » Examinan-
do-a, porém, agora pausadamente reconhecemos que os seus

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312 NOTAS £ DOCUMKiNXOi

resiiltsdos eram deficientes por termos baseado o valor* ín-


l^iIJ^eco da moeda sobre a prata, devendo-o ser aliás sa-
bre o ouro, por isso que a relação actual entre os dous
inctaes é superior A daquelles tempos. E como iifio julgá-
mos ocioso procurar adquirir uma idéa quanto possivel
>erdadeira dos recursos pecuniários de que dispunham as
rainhas de Portugal da primeira epocha, pareceu-nos op-
portuna a occasião para refuodir aquelle trabalho, e apre-
sentar aos nossos leitores algumas novas considerações a este
respeito.
Para formarmos uma do valor representativo da
idéa
moeda em comparar os preços
diíferentes epocbas, basta
dessas epochas, em relato a certos géneros, com os que
hoje tôem os mesmos género». Existe um documento aalben*
tico que DOS ministra algumas informações para chegarmos a
um tal ou qual resultado. £ a lei de D. AÍTonso iii de
tí6 de dezembro de 1253, impressa na integra por Joào
Polro Kil)eiro (Dissert. Chronol. T. 3 P. 2 p. oi), doaxxi),
e recoM temente pela Academia Heal das Sciencias de Lis-
boa (l ort. IVIonum. Hist. leges et consuct. vol. I p. 192
e segg.), regulando o preço por que deviam ser pagos, na
província de Entre Douro e Minho, os géneros e mercado-
rias na mesma designados. Posto que esta lei ou taxa
unicamente se referia ao mercado do Minho, é de crer
que CS das outras provincias do reino não estivessem em
circumstancias mui diversas, salvo a que resultasse de ser
o Minho a província mais poj)ulosa. O que deu logar 6
sua publicaçfto foi a progressiva carestia de preços mo-
tivada pelo receio que bonve de que D. Aífonso iii pre-
tendia quebrar moeda, isto é, depreciai-a em benefício do
fisco.

A primeira dilíiculdade a vencer no assumpto de que


nos ()cru[»nmos, é estabelecer com alguma segurança o va-
lor inlniiseco da moeda naquelic remolo peiiodo, mos-
trando qual o correspondente a cada uma das diversas

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MOm £ OOCUMKNTOS 313

tnocdns mencionadas na lei de 1253 coaiparudus com as

que actualmente correm.


Esse diploma diz-nos que o marco de prata valia 12 li-
bras de moeda portugueza, e que a onça de ouro valia 1
libras, correspondendo, portanto, o marco deste ultimo me-
tal a 88
libras. Aqui se offerecem dons pontos duvidosos:
teria o marco então o' mesmo peso que boje tem ? Qual se-
ria o toque do metal respectivo ? O dociimento não resolve
as duvidas ; quanto porém á primeira, parece que o marco
em uso era o de Colónia (docum. citado na Híst. de Por-
tug. do sr. Herculano, T. 3 p. 70, nota 4], o qual còn-
tinha mais 4,205 grammas de metal que o nosso marco
actual, que, baseando-se o calculo soBre a lei de ^9 de
julho de 1854, pesa 229, õ6i grammas, ao passo que o
de Colónia pesava 233,769 grainiuas (.Mcm. dns Moedas
do sr. Manuel Bernardo Lopes Ternandes p. 4) Quanto
ao segundo ponto, parece que os raros e\emj)lares que exis-
tem da moeda d'ouro cunhada por Sancho i ouiisHode 24
quilates. A respeito da prata só consta que no tempo de
D. Dinis este metal tinha o mesmo toque que hoje, isto é,
11 dinheiros, segando declara Fernfto Lopes (vid. íbid«
p. 43); e é provável que já nesse tempo o ouro tivesse
também o mesmo toque que hoje tem, 22 quilates.
A estimativa acima mencionada, de 88 libras por marco
de ouro, concorda, com pouca differença, com o que nos re-
vela um documento de 1213, àcerca do censo que D. Af-
«fonso II pagára ao papa em 28 annos, a ras?^o de 2 marcos
por anno. Pagou, pois, íí6 marcos de ouro, que, diz o docu-
mento, prefaziam 3:360 maravedis portuguezes d'onde se :

colhe que cada marco valia 60 maravedis (Nova Malta Portug.


P. 3 p. 57a c»)l. 1 . —
llist. de Portu;:. do sr. Herculano, T. 2

p. 178, e nota x no íim do mesmo tomo). As 88 libras


eram equivalentes a 58Vs maravedis allonsins, —
que cons-

1 Se not Báo enganamos nos nossos cálculos, escapou ao ilLustre au-


thor um leve «rro no peio do marco porluguez, tendo de se aeereweií-
ter meie 0,194 ao peão deiigaado na citada Memoria.

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314 NOTAS B DOtolUmiOft

Uvam de 30 soldos, e a libra de 20, — a diíTerença é ape-


nas 1Ví dc maravedi. É verdade que Innocencio iii, cm
uma carta anterior de alguns annos, calculava o marco
de ouro a rasSo de õO áureos (Híst. de Portug. cit., no-
ta XXVI no fim do T. 1.^), e que oa escriptores téem ge-
nlmente considerado esta moeda como igual em valor
ao marafedL Pôde ler que falesse ô mesmo que alguma
das espécies de maiiTedis, porque os havia de diversos
valorai. Nho é oomtudo possível conciliar as duaS estima-
tivas — de 60 maravedis, e 50 áureos ao marco sup- —
pondo que estes últimos seriam os maravedis de 30 sol-
dos, e aquelles os denominados velhos dc 27 soldos ou os
novoi de 22. Mas se attribuirmos ao áureo mencionado
por Innocencio, o peso, ou antes o valor, de 36 soldos
portuguezes, veremos que os 50 áureos, que elle calcu-
lava por um marco, corresponderiam exactamente a 60
maravedis alfonsins, que eram de 30 soldos ^
Para acharmos o valor intrinsecoda libra de 1253 com-
parada com a moeda boje corrente, parece, á primeira
vista, que o único procesio a seguir é dividir o valor ac-
tual do marco de prata por 12, ou o de ouro por 88; e
effectivaroente seria isso sufficiente, — levando em conta
a diflferença entre o marco de Colónia e o nosso,— se vís- ^

semos que a rclaçuo dos dous metaes era entào a mesma


que hoje. Mas é o que níio acontece essa relaçno parece
:

ter sido cerca de metade menos em desfavor do ouro. De


leito, pela lei monetária de 29 de julho de 1854, um

marco, ou 229,564^70 grammas, de prata cunhada pro-


duzem 9|^t80 réis, e o de ouro 129M05 réis. Segue-se
que este metal está para aquelle na rasto de 14,9 para 1
em quanto que, no anuo de 1253 o marco de ouro— 88
i Antonio Caetano do Amaral (Mem. de Litter. Portug. T. 7 p. 208.
nota 265) diz que D. Affonso vi do Castella fôra quem mandára cunhar
08 maravedis denominados alfonsim» e qac correspondiam aos áureos,
pesando • sexta parle do uma ooça de oino ; qaer dixer que n'Biii marco
enlrariani 48 áureos ou mara?edis : assim seria, lakes. no principio.

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NOTAS £ POCUIUI^TOS - 315

libras "era Qm relaçfto ao de prata — 12 libras — como


de 7,33 para 1 . Logo, baseando^ o calculo sobre a re-
lação actual, o resultado ha-de forçosamente discrepar:
com eíTeilo, dividindo-se 9^180 por 12, dá 765 réis, e
t29)íi'05 por 88, dá réis e uma iVacçáo por li-

bra. —Para sahirraos desta diíBculdade nuo vemos outro


meio senão reduzir a nossa relação de 14,9: I á da(}uelle
periodo, 7,33 1. :

Aqui occorrem algumas duvidas. Esta ultima relação,


que é muito baiia, podia (wovir de diversas causas
í
° leria origem na escacei da prata
2J* teria o ouro sido alterado no tòque
3.** finalmeote podia a relação ter sido arbitrariamente
estatuída pelo rei. Em França era expediente com fre-
quência adoptado pelo soberano fixar arbitrariamente a re-
lação entre os dous metaes. No tempo de Carlos vii (Í422
— 1461) a relação verdadeira no mercado foi algumas ve-
zes de 10:1,mas decretou-sc a de 3V«: 1- Um século an-
tes,no reinado de Joào, entre outras alterações forçadas,
chegou este soberano a termos de pôr os dous metaes ao
par, isto 6, de 1:1! (Veja-se a terceira parte da interes-
sante memoria do Miguel Chevalier « /)e la baíssepro-
sr,

bable de Vor no «Revue des Deux Mondes» de 15 de ou-


»,

tubro de 1857). Essas interferências, que chamaremos cri-


minosas, do poder em matéria que unicamente deveria ser
regulada pelo commercio» foram uma das causas que po-
derosamente ínfluiram nas desgraças do tempo.
NBo nos parece comtudo que a D. Aflfonso lu se possa
attriboír tio excessiva pratica na epocha a que noa refe*
rimos, sendo provável que a causa d^aquella relaçfio de
7,33 : 1 fosse principalmente devida nessa occasiâo á es-
cacez relativa da prato, sem negarmos a possibilidade de
um tal ou qual arbitrio na relação fixada por aquelle mo-
narcha. Segundo alcançámos, a relação dos dous metaes em
Portugal no fim do reinado de D. Alfonso Henriques, com
quanto mais elevada, não fazia differença notável. Dc um

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316 NOTAS E DOCUMENTO!

documento registrado no Livro Preto de Santa Cruz de


Coimbra (veja-se a copia no Archivo Nacional f. 20 verso
e 21), sem data, mas pertencente aos fins do reinado do
noflso primeiro rei, coUigimos que a relaçlo entre o ouro
e a prata era nesse tempo de 8,465 : 1 ; porque aht se dit
que 9 maravedis eram i^uaes a marco de prata, e 700I

maravedis a 9 marcos e onça e meia de ouro. K verdade

— —
que em Inglaterra no anno de 1257, quatro annos de-
pois da lei de 1). Afibnso iii, a relação entre os dous
metaes era de 9 "/i9i : como demonstra lord Liverpool
(Treatise on the Coins, p. !i8, 2.° edição); mas se a re-

laç&o entre o ouro e a prata ó iioje muitas vezes diversa


em vários paizés, o que nio seria nos tempos antigos ?
Vimos acima que o marco de Colónia, entSo em uso,
pesava 4,205 grammas mais que o nosso marco actual:' este
excesso equivale, no marco de ouro, a 2|f 370,00062 réis
da moeda hoje corrente, visto que pela lei monetária em
vigor 1 ,774 gram. é o peso de 1 jOOO réis, on um decimo
de coroa ^. Importa pois addicionar aquella quantia ao nosso
marco, que, sendo de ouro, vale 129)^405 réis, vindo assim
0 marco de Colónia deste metal a ser igual a 131;^77o réis
da moeda moderna, desprezando a fracç3o.
Isto posto, só resta assentar a seguinte proporção:

Libras Réia Libras

88 : 131^775 :: 12 : para
um quarto termo, que corresponde a réis 17|f 969,31 8;
valor que attribuiriamos ao marco de prata para equiparar
,

a nossa relaçUo á de 1253. De maneira que, dividindo


íZíflU por 88 libras ou 17if;969,3l8 réis por
réis
12 libras, achamos que o resultado é idêntico, isto é, réis
1 j(497,443 —
valor intrínseco da libra, segundo a taxa de
1â63, se fosse então moeda cunhada ; porque, como logo ve*
remos, a libra era unicamente moeda de conta.—«D*onde
1 No marco de prata o excesso equivale, segundo a relação actual, h
|168,S08 réis ;
por quanto 1$000 réis deste metal pesam 35 grammai.

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NOTAS E DOGUMBlfTOS 317

concluímos que, sendo a relaçdo de iníSerior á ac-

tual, a base do nosso calculo deve ser o ouro, e nSo a


prata, que só poderia servir de base quando essa relação
fosse superior à nossa.
Sabemos que a libra era de 20 de 12
soldos, e o soldo
dinheiros : logo o soldo valeria boje em
74,872, e o réis

dinheiro 6,239. Do citado diploma de D. AÍFonso ui consta


que 30 soldos faziam ura maravedi ou morabitino alfon-'
Jim 1 ; 27 soldos um maravedi velho, e 22 soldos um ma-
ravedi novo. Havia também maravedis de 15 soldos, que
eram os commummente usados na Beira, Estremadura e
Alemtejo. Assim o valor intrínseco dessas diversas moedas,
reduiído á moeda actual, é o seguinte

Maravedi alfonsim 30 soldos SJÍ246,16 réis


» velho 27 » 2^21,544 »
» novo 22 » Ij|6i7,184 »
n de lô soldos 1^123,08 »

Libra 20 soldos 1^497,443 »

Soldo 74,872 »
Dinheiro.... 6,239 »

Este valor, porém, não durou muito tempo. Passados


poucos annos o rei principiou a cunhar moeda mais fraca,
e a augmentar o valor nominal da antiga. A agitação que
isso causou fez com que elle suspeodesse o expediente ado-
ptado, convocando côrtes em abril de 1261. Resultou

1 Gomo am maravedi ^fonsim tinha 30 aoldoa, e ama libra SO, to-


gae-se que aquella moeda conespondia a libra e meia. Ora, Viterbo
(Elucid. T. 2 p. 92 col. 2) diz que no foral de Penalva, dado por D. Ma-
nuel, se declarava que D. AfTonso ui ordenára que certos maravedis de
ouro do tempo de D. Saucboii valessem2Yt libras. Houve certamente iue-
xacçâo da parte de qaemredigia o Aoeumtnto dê D, Manuel porque alo ;

eonsta qno existisBe maravedi do valor de 50 soldos. Nisto aos pareee se


engaooa o sr. Lopes Fernandes, acceitando esta estimativa e dando
mais valor a esse doenmento do qoe na realidade merece : Mem. das Moe-
das, p. 38. 41,44.

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318 NOTAS S DOCUMENTOS

que a moeda felha foi reduzida a seu valor antigo, fixan-


do-se porém a rclaçAo entre a moeda antiga e a nova na
rasao de i para 3 í^) d*onde parece que se deve concluir
:

que, deixando na apparcncia intacto o valor da moeda an-


tiga, se augroentava a moeda nova um quarto mais do seu

justo valor similhaate medida foria com que em breve a


:

moeda antiga desapparecesse da cireulação. Parece que este


novo accordo só veia a ter effisito a contar do 1." de abril
de 1270. Consta qoe dessa data em diante se davam 14
libras por nm marco de prata ^, o que« porém, lAo oorret-
ponde exactamente ao valor 6xado pelas edites de 1 261.
Podémos averiguar com mais certeia o valor intrínseco
da moeda no tempo de D. Dinis, e temos dados para sa-
ber mui approximadamente a relação entre o ouro e a prata.
Consta que os francos d'ouro (moeda cunhada em França)
tinham curso oeste reino com o valor de 2 Vs libras, e que
de um marco franccz de ouro se cunhavam 63 daquellas
moedas (Mem. do Lopes Fernandes p. 43 e seg.) ; se-
sr.

gue-se portanto que um


marco francez de ouro valia 157 Vi-
libras portugueias. Por outro lado, sabe-se que oo marco
português de prata, ou para mdhor diíer no de Colónia,
entravam 14 libras : o marco franeei pesa 244,75 gram-
mas, isto é, 10,99 grammas mais que o de Colónia, ou por
f outra,o excesso no marco francês é 0,047 por conseguinte ;

entraria neste 14 libras 13 soldos e uma fracção da moeda


portugueza. Comparando, pois, este valor do marco de
prata com o do marco de ouro, representado por 1 57 Vt H-

1 ffist de Portugal do w. Hereolaao, T. 8p. 68 e segg. Ai aetu das


«anet disem : « ámoáêelm denarii d*iDoiiela nova valeant per caoÉbtaia
. . . .sexdtriim deoarios de ueteribus denariia» .

Docom. no Elucid. T. 2 p. 117 e seg.


2 —
Pernfto Lopes (Chron. de
D. FerDando cap. 55, cit. pelo sr. Manuel Bernardo Lopes Fernandes na
sua Mem. p. 43) affirma também qoe no tempo de D. Dinis um marco de
prata de lei de onxe dinheiros continha 14 libras da moeda antiga. Só no
tempo de D. Affonso iv é que o valor da libra se tornou a alterar, sendo
fixado por este soberano na raalo de 18 libras e U
soldos por marco de
prata de oníe dinheiros : Mem. cit. p. 48 e seg.

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NOTAS B DOCUMENTOS 319
bras , no reinado
\é-se que a relação entre os dous melaes
de D. Dinis era de 10.75 : 1 i^l
Sendo esta relaçUo inferior á actual, vè-se, pelo qoe já
/demonstrámos, que unicamente o ouro pôde servir de btoe .

para calcular o valor da moeda no tempo de D. Dinis.


Como náo achamos mencionado o numpro de moedas por-
tuguesas de qualquer denomina çilo, que entravam n'umr
raarco d'ouro de Colónia naquelle tempo, temos de recor-
rer a meios indirectos. JA dissúmos que 1 ^7 V« libras por-
tuguezas correspondiam a um marco francoz de ouro, e
que este tem 0,0 i7 mais que o de Colónia este excesso :

corrcspotide em réis a e uma fracção, que addicio-


nado a eslc ultimo —
131^^775 réis —
dá o valor em réis
do marco francez, isto é, 137jj968, e dividindo esta somma
por 1Ô7 Va libras portuguezas, segue-se que cada uma des-
tas valeria no tempo de D. Dinis 875,98 réis. Temos pois
os seguintes valores:

Maravedí alfonsim li^S 13,97 réis


Maravedi velho Ml 82,57 »
» novo 963,57 »
» de 1 5 soldos 656,98 »
Lihra 875,98 »
Soldo 43,799 ».
Dinheiro 3,64 »

O sr. Lopes Fernandes, na Memoria citada fpp. 4t, 44


— 46), mostra com bastante evidencia que a libra era moeda
de conta e nào eíTectiva, sendo a moeda cunhada a deno-
minada dinheiro ^. Nisto concordamos inteiramente, e po-
deriamos ajuntar ás provas produzidas por esse cavalheiro
muitas outras que temos encontrado. O sr. Lopes Feman-

1 Por outro calculo achámos que a rela$&o no tempo de Pedro i


era quasi amesma, isto é, 10,78.
% Gompunba-se de oníe partei de cobre e nma de-prata para, segun-
do se deereton nas cartes de 1S61.

<

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320 NOTAS B DOGOMENTOS

des é tombem de opinião que os maravedis velhos^ de 27


soldos, e os de 1 5 soldos eram igualmente moeda de conta
(p. 13 e 44, nota 2) é muito possível que assim fosse,
; O
maravedi novo de 22 soldos era moeda canhada e de ouro,
como se vê de vários documentos ^.
0 qae também perece provável, segundo a opiniSo do
citado anthoT a pa^;. 41, é que o calculo pela libra fôra

introdusida por Alfonso iii, que residira por muito ten^-

po nos onde aquella denominação estava em uso.


paizes
Um único documento viu citado o sr. Lopes Fernandes

onde se fizesse nienrâo de libras antes da vindn do conde
^ de Bolonha ; \)or(m esse documento (a sup[)u^ta provisão
feita por AíTonso Henriques, nomeando Pedro Alíartie chro-
- nista do reinoi nnda prova, sendo hoje considerado como
apocr^pho. M mais uma das patranhas com que a Nicolau
de Santa Maria aprouve rechear a sua chronica dos Cóne-
gos Regrantes.

Estabelecido assim o valor intrínseco da moeda» vejamos


agora o que temos de fazer para averiguar o seu valor re-
presentativo*
A
de 1253 dá o preço de uma infinidade de obje-
lei

ctos taes como animaea domésticos, metaes, 'manufacturas,


armas^ guarnições de cavallaría» vestidos, pelles, salários de
trabalhadores mraes, etc. Ê de simples intuição que mui-
tos desses objectos n5o podem servir de base ao nosso cal-
culo, que deve formar-se exclusivamente das espécies que
. é natural tivessem naquellas eras a mesma relação com a
socieda(!e que hoje tèem. E j)reciso que nos lembremos do
atrazo da industria e do commercio; das ditfículdades da
1 Á lei
de 1253 diz € morabiliuns novas de auro valeat viginli et daos
•olidos >. O m(>smo se conhece de um documento citado na nota viii no
fim do tomo 3.° da Hist. de Porlug. do sr. Herculano, veja-se no fim da

dita nota. Yeja-se também a Meiu. das Moedas ciU p. 28. —


N'uma quita-
ção de D. Diais a seu lheioureíro, datada do 1281, meiícioaam-se mora"
hitinús dê ouro, maa sem lhet dar una denominaçAo carta : Diasert.
Chronol. T. 2 p. 239.

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NOTAS B DOGUMBNTOB 321

navogAçiio^ realçadas peia impunidade com que os corsários


infestavam os mares que os transportes por terra tinham de
;

encontrar olistaculos ainda maiores, não só pela falta de ca-


minhoSf como tombein pelas extorçôes commettidas pelos
senhores feudoes na passagem por suas terras, pelos rou-
bos dos salteadores, e pelo oneroso imposto das portagens,
etc. Todas estas e outras causas deviam encarecer enorme»
mente os géneros em chegando ao mercado. Entendemos
que (leuamos rejeitar tudo quanto fosse producçrioda indus-
tria fabril, e mórn^ente o que viesse do estrangeiro, como

armas, fazendas manufacturadas, melaes, especiarias, etc.


Dan-mos um só exemplo desta ultima classe: uma arroba de
pimenta no século xiii custava 1 5 libras, isto é, '22|íi55 réis,
ao passo' que hoje custaria i^penas 3j^o00 réis 1 Ainda mais,
certas mercadorias, com quanto nSo proviessem da indus-
tria, nik> deixariam de ser caras por círcumstancias espe- •

ciaes, como por exemplo a Ian, que é, por assim diíer, uma
produecSo espontânea. De- feito, é bem sabido que a Ian era
a matéria de que os antigos principalmente se vestiam;
poisque, além dos usos a que ainda é destinada, servia para
delia se fabricarem fazendas a que boje se applica o algo-
dão, sendo este entí\o desconbccido, e a seda pouco usada
pela sua carestia. O linbo estava em uso, é verdade, mas
muito menos que a Ian, e era muito caro; serviam-se tam-
bém de pelles, como se deprehende da mesma lei de 253, 1

mas devia ser em muito menor escala em Portugal do que


nos paiies do norte. Ora, tendo-se generalisado nestes últi-
mos tempos a um ponto extraordinário o uso de foiéndas
de algod&o, linho e ^a, deprociando-se assim pela com-
petência o valor da Ian, é evidente que esta devia ser pro-
porcionalmente muito mais cara do que hoje. Esta hypo-
these é indirectamente apoiada por um facto que merece
attençl^o. Um carneiro vivo custava, segundo a lei de 1 253,
6 soldos e 9 dinheiros, ou 498 réis, ao passo que o seu
preço hoje é de 3^000 réis, pouco mais ou menos, sendo
o augmento, portanto, de 600 por cento ; por outro lado o

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NOTAS K DOCUMBNT06

arrotei de carneiro em 1304 custava 4 dinheiros (dociim.


no Elucid. T. 1 p. 397), isto é, cerca de 1 i réis e cus-
tando hoje na província ôO réis, o augmento ò apenas de
360 por eento. O molívo desta differença provinha, a nosso
ver, da repugnaneia que havia em abater o gado ovelbum
por causa das lans, o que' se torna mais crivei ao saber-
mos pélo citado documento de 1304 que a carne de vacca
custava metade menos que a de carneiro» o que boje está
longe de acontecer K
artig«ts que se devem con-
Entendemos, portanto, que os
siderar como nJio tendo mudado notavelmente a sua rela-
Ç4lo com a sociedade moderna sào os cereaes e os animaes

domésticos, formando os mesmos arli^jos a base mais se-


gura para se averiguar o preço do dinheiro nas epochas
passadas; porque sAo aquelles cujas circumstnncias sHo me-
nos susceptíveis de ser modificadas pelas exigências do pro-
gieiso. Assim mesmo, esta ultima ciasse nào se acha intei-
ramente isenta da ínttuencia dn civilisaçrio. Daremos um
eiemplo. O cavallo na idade media dèvía ter um valor .

muito mais subido do que agora tem, por ser mais procu-
rado ; e iflso sem mesmo levar em conta a moderna appli-
caçSo do vapor como potencia motriz. Ninguém d*entre as
classes mais elevadas poderia prescindir de um ou mais ca-
vallos! ainda mais, estes animaes eram um distinctivo e
uma exigência para certa classe enlre os pleheos. A maio-
ria dos habitantes livres de alguns concelhos —
os que tinham
foraes do typode Salamniica —
eram cavalleiros, achando-se
os peòes em raiiiorin (Hisl. de l'ortug. do sr. Herculano
T. 4 passim). Os contínuos íossados e correrias deviam ía-

1 Calcula-se pelos valores Uados a pag. 319 por ser o dociuuento do


tempo deD.Dinls.
S De nm doeumento de 1145 (LWro Preto f. 184, no Areh. Naeion.)
coDsta fse nesse anuo se pigavs 1 dtnhetro por doas arreteis de eane
de Taeca, ou por arrátel e meio deeameiro. —
NSo obstante ser a Ian
ingleza na idade media a melhor que se conhecia, assim mesmo 03 ingle»
zes oáo deixavam de a importar de Hespanha, e naturalmeate de Portu»
gal liaUam» Middle Ages vol. i chap. 9 P. S.
;

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/

NOTAS B Doeimmot
ter notavei estrago nas cavalgaduras, tornando-as awini
imiis cnrns. Com eíTeito, pela lei de 1253, sabemos que o
Cavallo de guerra ou de tornéo, ronrinus de bafordo^ valia
»0 (i^ffS^O réis), e um cavallo Dfto de guerra, me-
libras
tade. Havia-os comtudo mais baratos, custando ás veses
10 maravedis* 300, 200 até 100 soldos (vid. Hist. de Por-
tug. T. 4 p. 421 ; Elucid. T. I pp. 1 19 e 322; Mem. do
sr. Lopes Fernandes p. 26) ; mas estes deviam ser de raça
muito inferior. As bestas muares estavam nas mesmas cir-
cumstancias; fíoisque o seu uso no serviço militnr era mui
fíeral ^Hist. de Porlug. T. 4 p. 325, nota), o segundo a lei

de 2r)3 o seu preço era aind superior ao dos cavalios, cus-


f i

tando 60 libras, ou 89ii:820 réis.


O preço dos cereaes é talvez o que deva ser preferido
como base para calcular o valor da moeda, ou pelo <mem»
deverft ser considerado conjuDCtamente com os preços dos
animaes vivos. Mas para isso é indispensável servirmo-nos
dos preços correntes em annos de colheita normal ; porque
se disserem respeito a annos de abundância extraordinária,
ou de escaceí o resultado será vicioso. Eis a grande dif-
(iculdnde, mórraente quanto aos séculos mais remotos, era
relaçJio aos quaes faltam noticias sobre o assumpto. A lei

de 1253 nío nos subministra nefiíuimas; e as espécies que


achámos em outros jogares sHo pouquissimas, e relativas a
annos isolados, quando fôra necessário, para descobrir o
preço normal, tomara media de uma serie de colheitas con-
secutivas.
Pelo que deixamos dito, pareceoHios que os dados mais
seguros eram os preços dos gados e outros animaes, cujas
circumstancias é licito suppôr nUo hajam soffirido grande

mudançif com o andar dos tempos em reNçáo ao homem


e se tomarmos o termo médio do augmento desses preços,
o resultado nos mostrará o valor representativo da moeda
naqnellas eras. E o que procurámos conseguir na tabeliã
junta, onde calculámos pelo valor da moeda que deduzimos
da lei de D. Allonso iii (vide ante pag. 317), por isso que os

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324 NOTAS E DOCUMENTOS

preços foram tirados dessM mesma lei. Despro7Íimos as frac-


ções, por quanto tão rigorosa exacção não vinha a propó-
sito n*unia matéria onde ella não é possível com os esca-
ços dados que temos : bastará que o multado seja appro-
limativo.

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NOTAS £ DOCUMINTOS 325
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326 NOTAS E DOCIIM£NTOS r

somma de SKIO por 8, vè-se que o (er-


Dividindo esto
mo médio do augmento de preço desses artigos é 688, ou,
abstrabindo da fracção, 700 por cento ^ quer dizer que, ;

por esté calculo, a moeda nomeiado do século xiu valia? ve>


zes mais do que hoje.
Nenhumas noticias achámos sobre o preço dos cereaes
anterior ao século xiv, e as que temos relativas a esse sé-
culo confundem-se com medidas e moedas que nfio leria
fácil determinar. Gomtudo julgamos a propósito referir al-
gumas dessas noticias. Consta que em 1323 (reinado de
D. Dinis) um moio (medida de Panoias) de pfio valia I ma-
ravedi; nlo se aponta a espécie de grUo (Elucid. T. S
p. 221 col. 1). Tendo o moio da Guarda, próximo da qual
se acha Panoias, 64 alqueires de Lisboa, pouco mais ou
menos e regulando-nos pelo marnvedi vellio, vinha cada al-
;

queire daquella espécie de grHo, qualquer que elle fosse, a cus-


tar 1 8 réis e uma fracção; e pelo maravedi de 1 5 soldos, pouco
mais de 10 réis cada alqueire compare-se agora qualquer
:

destas cifras com a de 380 réis, preço médio actual da


mesma medida de milho ou centeio! De um diploma do
bispo de Lamego de 1334 (ibid* T. 1 p. 30S) se vê que
a teiga de pdo custava ás vezes meio maravedi, e nâab, e
outras vezesum quarto de maravedi, « meyo< do dito meyo
mamedi ». A de Lamego tinha 4 alqueires (íbid. T. 2
teiga
p. 343 e Queixa-se o bispo da carestia do grlio na-
seg.).

quelle tempo, mostrando assim que os preços nllo eram os


da colheita normal, pelo menos os mais elevados que men-
ciona. Também aqui falta a indicaçAo da espécie de grfto
a que elle se referia. Póde-se comtudo suspeitar, pelo que
diz um pouco adiante, que se tractava de centeio. Toman-
do-se o preço mais baixe mencionado no documento, e cal-
culando-se pelo maravedi velho, viria cada alqueire a custar 74
réis, ou peio de 15 soldos, custaria 41 réis. Aifirmam que

1 £ eCteclivameute, se deixasse de figurar Da tabeliã o preço do car-


neiro^o qoe seria licito, porque eabemoli « eeiea di dindBoiçfto de seu
alor proporeiODel— o termo médio serie 701 por eento.

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I

NOTAft E DOCUMENTOS 327

na grande fome de 1333, o trigo em Coimbra chegára ao


preço de 20 soldos, o milho a 13, e o centeio a 16 o al-
queire que era menor e ainda é inferior, de cerca meia
oitava, ao de Lisboa. Os mencionados preços correspondem
a — —
860 559 688 réis respectivamente e, sem mesmo to-;

mar em conta a ioCerioridade do alqueire de Goimlira, eram


exborbitantes para aqiielles tempos. Encootram-w algumas
outras indicações da mesma natureiat mas temos por escu-
sado por nfio tenderem a esclarecer a questão
referil-as
mais que as apontadas, que« como é bcil de suppòr,
d()

nfto podem adoptar-se como base pira se avaliar o dinheiro


dVntSo. O primeiro exemplo mostra uma abundância ex-
traordinária, ao passo que o ultimo é ao revez.
Voltemos á lei de 1253. Ella nos dá a conhecer que o
salário que se pagava ao criado rústico por anno era 3 li-
bras em dinheiro (4;^491 rs.), 20 alqueires de alguma das
espécies de cereaes, pane, e para seu vestuário 12 covados
de burel (a 2 soldos a vara =
l!^065 rs.), 6 varas de bra-
gal (a 1 soldo a vara =3 444 rs.) e dous pares de sapa-
tos (a soldo e meio o par »
222 rs.) ^. De modo que
vinha a ser o mesmo que se elle recebesse ao todo 6if222 rs.
e 20 alqueires de cereaes* Um trabalhador rural poderá
ganhar hoje 240 réis por dia« e ao cabo de um anno
(260 dias úteis) terá vencido 62iií400 réis* Se dedusirmos
desta quantia 12fjí000 réis, custo de 20 alqueires de tritão
a 000 réis, ficam 50^400 réis, somma que, comparada
com os 6|^222 réis dos tempos antigos, mostraria por
esta fórma que o dinheiro tinha no mercado d entõo para
cima de 8 vezes mais valor, suppondo-se que aquella classe
de gente tivesse nesse tempo as mesmas exigências ma-
teriaes que hoje tem, o que todavia é diflicíl de admittir.

1 PorL Monum. Hist. scrip. vol. 1 p. tl col. 3 ad mt, ia71« — Na


Lenda de SanU Isabel, p. SiO col. S, dis«se que o trigo estava nessa oe-
oasifio a 15 soldos.
a Os valores a pag. 317 serviram de base para ealea calculoa, porque
os preços são tirados da lei de Affonao iii.

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328 N NOTAS E DOCUMENTOS

No entretanto porece-nos qoe o preço dciii salaríos também


pôde entrar no nosso calooío juntamente com o dosanimae» .

domésticos.
*
Mostrámos que o dinheiro, sendo regulndo pelo pre(;o do
gftdo^ eni 7 vezes mais caro no meiado do século xiii do
que hoje, e mais de 8 vezes se fosse calcuhido peh» preço
dos salários. AdopUndo-se as duas estimativas, o termo mé-
dio será de 7 V».
Se este resultado é vicioso, o que é muito possível, pelo
menos é certo que pecca por moderado, não por excessivo.
Dos cálculos e dados que apresenta um profundo historiador
inglet (Hallam, Middie Ages vol. 2 cbap. ix part. 2, p. 429 e
seg. da 9* edi^o —
1848) inferimos que, tomando por ba*
se o preço do gado e dos cereaes em Inglaterra nos fins do
século XIII, o dtnbeiro naquelle paii tinha entfto um valor
representativo de 8,7 vetes mais doqne em 1816 (epoeha
em que Hallam escrevia), o que nào diííere muito do resul-
tado dos nossos cálculos V
Parece-nos que se pôde acceilnr como mui approximada
da verdade a nossa estimativa, e que delia podemos fazer a
conveniente applicaçAo pelo menos até todo o reinado de
D. Dinis, e talvez mesmo de seu successor. Para se co~
nhecer, pois, o que realmente valia então no mercado qual-
quer somma, será necessário em primeiro logar reduiir a de-
nominaçHo antiga á moderna em réis. e depois multiplicar
o resultado por 7 Vs* Por este meio poderemos formar algu-
1 o que Hallam;diz é que o valor nominal dos géneros tinha augmen-
tado 24 ou 25 vezes. Mas é preciso náo esquecer que os inglezes, ao re-
vei dos portusueses, têem até hoje eomervado áa luaa moedas a meamt
denomioaçio que tinham no começo da monarchla : e não aó isso, mas
até a actual subdivisão foi cíTeitúada poaco depois da conquista pelos
normandos (poisquena subdivisândo? sn^oniosa libra era de48shillÍDgs,
o shilling de 5 peiíce). A única alteração tem sido no peso. Ora, como
a libra sterlina, no fim do século xiii e principio do seguinte, era igual
em peso a â libras 17 shillings e 5 pcuce da moeda de 1816 (como o
mesmo anthor indica n'oma tabeliã a p. 431), segoe-ae que o peso da-
qaella antiga moeda era 2,871 Teses maior que o desta ultima epoeha,
e portanto 30 dividido por 3,871 dá 8,7.

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NOTAS E IH)CUMBNT08

ma idéa do estado económico dos noasm antepassados na-


quelle periodo» e medir o seu ou progresso em rela-
atraio
ção & industria e ao commereio. As seguintes cifras sSo as-
saz significativas : um quintal de chumi)o (qite vinha de fo-
ra), era 1253, custava 50 soldos, que intrinsecamente cor-

respondiam a 3)^700 réis, quantia que uaquelle tempo va-


leria no mercado o que hoje vale a de 27^5750 réis ; ora,
um quintal de chumbo custa hoje proximamente G r^is /

Se o nosso incançavel Viterbo se houvesse lembrado que o


valor do dinheiro está tào sujeito a mudanças como qualquer
outro género do mercado, nào achòra motivo para exclamar
Ó imporá l Ó mores! (Elucid. T. 2 p. 2it col. 2), nem
para encarecer tanto a fragalidade e moderaçSo dos antigos
portuguetes, em desabono dos de seu tempo. Poisque —
achando elle n'um documento de 1296 (reinado de D, Di-
nis) que toda a igreja, cujos reditos nSo excedessem 80 li-
bras por anno, seria isenta de prestimonio, para que os pa-
rochos podessem exercer a hospitalidade —
pretende que es-
sas 80 libras eram apenas equivalentes a iS^^^ réis (deve
ser erro d'impressuo por 13^280) A verdade, porém, é
!

que essa som ma correspondia intrinsecamente a 70^000 réis,


e que valeria no mercado da epocha tanto quanto boje po-
deria valer a quantia de 525«{000 réis. Que tal era a fru-
galidade
I

Parece-nos que ha mais certeza nos valores que altribui- *

mos á moeda em tempo de D. Dinis do que nos que se de-


duzem dos dados ministrados |)ela lei de í253, que só —
devem servir para calcular os preços dos géneros menciona-
dos na mesma lei. Pode ser que a relação entre os metaes
estatuída era I2.')3 fosse algum tanto íicticia, ao passo que
essa que alcançamos relativamente ao tempo de D. Dinis,
tem visos de ser a verdadeira relação do mercado. Por esta
rasão vamos adoptar os ditos valores do reinado de D. Dinis
(vide ante p. 3 1 9) nos seguintes cálculos, com quanto alguns

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330 NOTAS E DOCUMENTOS

delle» se refirum a tein^ios aoteríores. De9|iretáiiMM as Trac-

hhpo ra ». HAruDA, pag. 51

Os 127 soldos e 1 dinheiro e meio, que os moradores de


Canaveies pagavam á albergaria, correspondiam intrinseca-
mente a réis, cujo valor representativo seria de
40if987 réis.
ooanAt M ». Buua, ptg. 64 ,

A rainha comprou a maior parte das courellas a rasào de


1 soldo cada uma, isto é,43 réis, que representariam hoje
322 réis. Comprou duas herdades por 1 maravedi : sendo
dos denominados velhos, corresponderia intrinsecamente a
1if f 82 réis, com o valor representativo de réis.* As

herdades deviam ser bem pequenas, e a terra bem barata.

BttAlIÇA M •. QUAflA, p«g. IS

No texto cniculâmos os áureos mencionados


no testamento
desta rainha, a o que foi talvet menos bem pen-
36 soldos,
sado da nossa parte. Com quanto |>areça ser esse o valor do
áureo a que allude Innocencio iii (vide ante p. 31l),é mais
provável que o dn que falia D. Urraca fòsse o maravedi al-
fonsim de 30 soldos, e que os maravedlê por ella menciona-
dos fossem ou os denominados velhos, de 27 soldos, ou os
de IS soldos. Deste modo os 5:0()0 áureos corresponderiam
a o:ooí) manivedis velhos, ou a 10:000 maravedis de 15
soldos, que addicionndos aos 7:^00 dá um total de i 3:055

^ na primeira hypothese, ou 17:o00 na segunda, para os le-


gados da rainha ; e considerando qualquer destas som mas
como a terça parte da beranga, segue-se que seria ao todo
de 39:165 maravedis velhos, ou de 52:500 maravedis de
15 soldos. A primeira destas duas ultimas quantias corres-
ponderia intrinsecamente a 46:293|f030 róis, e teria um
valor representativo de 347:197^^725 réis : a segunda cor-
responderia do mesmo modo a 34:440^000 réis, cujo va-
lor representativo seria 258:300 jO()0 réis.

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^TA8 E DOCITHBNTOS 331
RB^^DIMBNTOS Dl D. BSATIU, pag. 11J(

Vimos no texto qiie a rainha devia receber cada anno


de Alemquer —se antes ou depois de ser senhora da villa
é o que nlio consta —1799 libras 13 soldos e 4 dinhei-
ros: valor 1:074^^696 réis, e representativo
intrínseco
ll:810j^220 réis. Suppnbamos que D. Beatriz recebia
pouco mais ou menos igual quantia das outras duas villas
que houvera da corda. Torres Vedras e Torres Novas, cal-
cularíamos assim que o total dos seus rendimentos no valor
intrinseco orçaria por 4:700j|[000 réis. e no representativo
excederia a 35 contos de réis. Devia, porém, ser ainda maior
porque tinha também a villa de Arruda por cess9o da ordem
de Santiago, e provavelmente outros diversos proventos.

inmnmTM bi saíra itAML, iwg.i80

Orçando os rendimèntos annuaes desta rainha em doie


mil libi*as, vé-se que correspondiam intrinsecamente a
10:500)^000 réis, somma que naquelles tempos inQuiria
no mercado tanto quanto hoje a de 78:7õ0.j000 réis. Era,
portanto, superior â que figura na actual lista civil. Mas já
mostrámos que os rendimentos desta rainha deviam ser ainda
mais avultados.

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I

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índice

Pag.
Advertência v
SOBIB 08 RKTRAT08 II

INTRODUCÇÂO:

Dotes e arrhas xiii

Senhorio e jurisdicção das rainhas em suas terras ixiv


Sobre o modo porque as rainhas flguravam nos diplomas pú-
blicos XXXI
Carência absoluta de assignaturas — Formulas confirmatórias e
sígnaes que as suppriam xxxv
Sfragistica xliu
Relação dos oíficiaes e mais empregados da casa das raí- | lii a
ntías í Lxxi

D. THERESA :

1_ (1095— 1114) 1
Ú — (1114 — 1130) 12
D. MAFALDA DR HAURIANRA (1146— 1158) ^
D. DULCK DB ARAGÃO (1174—1198) » 5â
D. URRACA DB CASTBLLA (1209 1220)— 71

D. MECIA LOPES DE HARO :

I— (Até 1240) 8â
II— (1240 — 1248) S&
in — (1248 — 1270) iOl

D.REATRIZ DE GUSMAN:

I— (1253 — 1258) 105


n — (1258— 1279) IM
— (1279 - 1300)
III m •

D. ISAREL DE ARAGÃO (a rainha santa) :

1^(1271 -1325) 139


II - (1325 - 1336) 181

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334 INDIOE

• NOTAS E DOCUMENTOS:
Pag.
I — Dous fragmftntos do testamento «le D. Mafahla de Maa-
rianna, e tloriimpntos relativos á albergaria de Caria-
veze« ^ 221
II— Contos nlativoi aos partos de D. Mafalda Í96
ni — Morte de D. Mafalda e de D. Dolce,
A - 338
B 232
lY — Sepulturas de D. Mafalda e de D. Dulce 233
V — D. Urraca e os cinco martyres de Marrocos (Leoda).... 235
VI — Testamento de D. Urraca 238
Vil — Diploma de D. Atlonso ácerca da applicaçâo que de-
it

iam
ler certos rendimentos de D. Urraca tIO
YIII— Bnlla de Inuoceiício ir ácerca de U. Mecia Lopes de
Haro m
IX— Doação de D. Mcria Lopes de Haro 243
X —
Diploma de I). Mecia Lopps de Haro 245
XI —
Doaçi'io de Elche a I). IJealriz de Gusman 246
XII— Quitação de D. Beatriz de Gusman a favor de Nuno
Sueiro 248
Xni— Privilegio dado por D. Beatrii de Gusman aos qae la-
vrassem terrss de Âleobsça 249
XIV — Doação da igreja de S. Pedro de Torres Vedras feita
por D. Beatriz de Gusman 249
XV — Providencia de O. Beatriz de Gusman ácerca da al-
bergaria d'Asseiceira • 2SI
XVI — Quiiaçáo de D. Beatriz de Gusman a favor de frei Pe-
dro Kl
XVlI—Compras feitas p<ir D. Beatriz de Gosmao em Torres
Vedras «I
XVIll— Doação da quíoU da Rebaldeira por D. Beatris de
Gusman 255
XIX— Lenda de Santa Isabel 257
XX — Carla da rainha D. Isabel ao rei de Aragão 262
XXI— Protesto da raiuha D. Isabel contra a legilimaç&o dos
sobrinhos t64
XXH— Legitimação dos flllios do tobnte D. Áffonso 267
XXIII — Galra carta da rainha D. Isabel ao rei de Aragão .... 117
XXIY~ Doações da rainha D. Isabel ao convento de Santa
Clara SI9
XXV — Voto da rainha D* Isabel de vestir o habito de Santa
Clara J7l
XXVI — Declarações da rainha D. Isabel ao tomar o habito de
Sauta Clara 173

)ogle
índios 335

Pag.
XX VII— Teotamentos da rainha D. Isabel 276
XXVllI — Codicilio da rainha D. Isabel S90
XXIX — DoaçAo por D. laabel ao convento de Sanu Clara
feila
de bena èm Porto de Mot 294
\'XX — Da vida que levava a rainha D. Isabel 295
XXXI — Documento administrativo da raiuha D. laabel 301
XXXII — Milagres de Síinla K;.bel 302
XXXill — Sobre o valor iiilruisoco e representativo da iiuieda
nos primeiros séculos da monarchia, e Doajeada»
mente no xiii,

A 311

ERKATAS
Pag. tdn. Krrút
XIV 7 d^arrahas d*arrhas
xxiii SÕ «nie o que se o que
L 38 v6*»e igualmente que N. B. Isto foi engano
havia dnaa orlaa o sello tem 86 uma
orla.
t 11 rematada , loucura rematada loucura ar-
arriaear riaear
15 22 evitir evitar
33 (nota) 18 o que fosse talvez de- o que talvez fosse de-
vido ao ter o ama- vido a ter ao ama-
nuense esquecido nuense eaqnecido
33 33 guarnecida favorecida
47 , B do rio no rio
81 14 ao albergneiro á albergaria
84 8 coDfeasar coDfeaaar
86 3 a nm 38 af8
a (nota) 10 consta constam
81 7 ser confirmado ter confirmado
83 14 ae deapoaán I8ra deapoaada
» 13 motivos motivo
36 9 á rainha a rainha
74 3 e 4 ae eatabelecer ae eatalwleeeram
93 4 ravelar um único ex- revelarem um único
emplo que faz em exemplo conducen-
aen te ao aeu
a (nota) 8 e 9 cisternense ciaterciense
96 21 e i2 lhe houvera feito para lhe fizesse para a in-
lhe indnair
*
duzir
100 8 a Toledo era Toledo
» 13 ajudaaae coDtribuiase

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«

336 ERRATAS

Emendai
m
111 fnnta) 15
14
elC
èm posse
fonsripncla
na poste
esrnipulo
115 (uotai 7 peohures penhoras
117 7 por am breve {)or breve
117 (noU) 9 bestas )éstas
a velha raioba a rainha-niAe
» 14 em posse de posse
131 (ootaj 13 Torres VedrM Torres Novts
134 (nota) 3 escreveu deu
140 (nota) S p. 110 p.112
141 (nota 12 de Roe« de la Roea
145 (aoUi) 5 nobis uobis
180 9 e 16 devolveriam se devolveriam
171 (nota) -B das letras da letra
194 (oou) 14 assigna-la
1» 6e N. B. Pôde «cr que D.Martinho fosse bispo de
Viseu e náo da Guarda : veja-se o testam,
de Santa IsabRi (nota xxvii, pag. 282), v. a
lista de Ribeiro (Dissert. Cbronol. T.
p.
903). por onde se vê que desde tS14 até 13âl.
o bispo de Visea ae chamava Martinho.
2i5 peoult. 08 quaae os quaaes
alt. lume 08 lume e
233 ao abrir-8c ao abrirera-te
236 de conduzir conduzir
242 SI 'Cgnl regni
261 SI menos que raenoadoqne
264 9 lamaao Irmaao
Estampa I fig. 3.'^ N. B. Âs duas cruzes nesta figara deriam ser
pretaa em vez de brancas.

Os erros de pontuação, variantes na orlhographia de alguns vocábulos,


o
e outros por trivíaes se não apontam. » ^

Oigitízed by Google
FEB 2 9 1956

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