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Referencial teorico

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1.

A governança pública no Brasil

A partir dos anos 1990 é possível observar um processo de reestruturação do


Estado, após a crise econômica e financeira de 1980 a desconfiança da
população nos governos brasileiros impulsionava a busca por mais
transparência e participação na gestão, que passa a buscar uma nova relação
Estado-Sociedade, mais orientada aos aspectos sociais e fiscais do governo
(Oliveira; Pisa, 2015). Para Salto (2016) seria uma crise de confiança no papel
do Estado como provedor de serviços (Salto; Almeirda,2016).

Para a maioria dos autores, o conceito norteador de governança pública é


pautado na aproximação entre o governo e a sociedade civil (Buscar
referencial). Assim se a governança em sua origem surge da necessidade dos
proprietários (principais) de gerirem suas propriedades a distância, delegando a
terceiros (agentes) o poder de administrar esses bens, na governança pública
essa relação se dá entre os cidadãos (principais) e os gestores públicos
(agentes) unindo o governo e sociedade.

Entre os princípios que sustentam a boa governança pública estão:


transparência, accountability, responsabilidade, participação, capacidade de
resposta e eficiência com os recursos públicos. O simples fato da existência
destes princípios não significa que estes conduziram o comportamento do setor
público na administração, nesta perspectiva, a governança enquanto um novo
modelo de gestão, requer estruturas e processos próprios, partindo de
diagnósticos locais e que levem em consideração a estruturação e a força de
seus atores. Para Tavares e Bittencourt (2022), a governança pública está
pautada na capacidade do estado de articular e executar as intervenções
públicas.

Em seu artigo “nome do artigo”, Teixeira e Gomes sistematizaram as principais


abordagens conceituais para a governança pública, além de apresentarem a
diversidade conceitual presente na literatura, os autores ainda mencionam a
dificuldade do estado em alcançar melhores resultados uma vez que as
organizações não sabem como desenvolver tais atividades. “No estado
brasileiro, caracterizado grandemente por sua força normativa escrita, é sabido
que os princípios de governança pública terão maior poder quando
consagrados na Lei (TEIXEIRA; GOMES 2019)”.

Em 2016, o Poder Executivo Federal instituiu a Política de Governança Digital-


PGD, por meio do Decreto 8.638, que alcança órgãos e as entidades da
Administração Pública Federal, esta política ficou vigente até 2020 quando
revogado e substituído pelo Decreto 10.332, que institui a Estratégia de
Governo Digital para o período de 2020 a 2022, no âmbito dos órgãos e das
entidades da administração pública federal direta.

Diante do exposto, faz-se importante compreender como o uso da tecnologia


impacta a governança pública e as estratégias de governo no Brasil.

1.1 O uso da tecnologia na governança pública

É cada vez mais frequente o uso da tecnologia empregada a diversos


setores da administração pública, as TICs (tecnologias da informação e
comunicação), como são chamadas na literatura, proporcionam uma
aproximação entre estado e sociedade, seja pela agilidade na troca de
informações ou pelo espaço de voz que proporciona a sociedade. Para Meijer
(2016) a combinação entre governança e tecnologia resulta em um melhor uso
da informação e da comunicação; assim como os dados abertos e as mídias
sociais criam uma governança colaborativa.
Não cabendo aqui apenas uma visão positivada sobre a tecnologia
empregada aos mecanismos de gestão pública e governança, Filho e Martins
(2017) chamam a atenção para a dificuldade financeira dos governos locais no
Brasil em criar e gerir suas próprias plataformas. “O retrato parece ser de um
governo que tem pouco recurso financeiro (orçamento) para custear o
desenvolvimento de tecnologias e pouco recurso humano (servidores
especializados) para tal tarefa” (FILHO, MARTINS 2017 p. 226). Ruedger
(2002) traz para a discussão a expansão do uso da Internet contraposta à
questão da exclusão digital. “À própria escassez de provimento de meios
físicos de acesso, produzem, a chamada Exclusão Digital, que contraria a
perspectiva otimista de ampliação do acesso amplo e democrático ao Estado
por mecanismos de governo eletrônico” (RUEDGER, 2002 p32).
A união das TICs em estratégias de participação e coprodução de
serviços pela população podem ser consideradas a base ou o caminho para o
crescimento da governança na administração pública, embora seja importante
ressaltar que apenas a implantação dessas tecnologias em mecanismos do
governo não garante a governança publica digital. Neste contexto é pertinente
aprofundar essas reflexões no que tange o governo digital e o caminho para a
governança publica digital.

2. O Governo digital

O termo Governo digital ou Governo eletrônico, tem seu foco principal no


uso das TICs em um amplo arco de funções no governo, essas funções são
reconhecidas por sua forma de interação, 1) aplicações web com foco para o
segmento governo-negócio (G2B)1; 2) aplicações web voltadas para a relação
governo-cidadão (G2C)2; e 3) aplicações web referentes a estratégias governo-
governo (G2G)3. O redesenho dessas estruturas organizacionais tem
encontrado nas TIC uma ferramenta vital de apoio, buscando agilidade,
eficiência e transparência de seus participes.
Em suma pode-se dizer que o governo eletrônico atua no sentido de
simplificar os procedimentos administrativos, tornando os processos de
produção legislativa mais transparentes, aproximando o governo do cidadão
através do uso da internet, buscando a melhoria de sua eficácia, eficiência e
competitividade. (ALVES, SANTOS 2008). Mas Junior e Rodrigues observam
uma mudança de comportamento na comunicação e enfoque dado ao
governo digital nos sites oficiais do governo brasileiro.
“à visão que apresentava o cidadão-usuário como um mero “cliente”
dos serviços públicos foi superada. Prioriza-se, agora, a promoção da
cidadania, ou seja, que as políticas de governo eletrônico tenham como
referência os direitos coletivos, incorporando a promoção da
participação e do controle social e a indissociabilidade entre a
prestação de serviços e sua afirmação como direito dos indivíduos e da
sociedade.” (FRANCISCO, JUNIOR, RODRIGUES 2008 p.96)

Essas ações, de acordo com o nível de relacionamento e interação que produzem, são
1. 2. 3.
tecnicamente reconhecidas pelas siglas G2G (Govern to Govern), G2C (Govern to Consumer)
e G2B (Govern to Business).
Mesmo que o governo digital vise a comunicação direta entre estado e
sociedade, essa política foi desenhada e aplicada com uma visão limitante a
luz do seu potencial, onde o cidadão é um mero fornecedor de informações,
não desenvolvendo seu dever cívico, enquanto ente político. Como já exposto,
é necessário ampliar a abrangência do governo digital para além dos serviços
comuns. Para Ruedger (2002)” requer-se um norte, e em nível crescente,
novas formas de inserção cívica nos assuntos do estado, transformando o
governo eletrônico em um canal de gestão eficiente e democrático das
organizações públicas” (RUEDGER 2002 p.42). Essa participação política e
digital da sociedade visa a transformação desses mecanismos de governo
digital em mecanismos políticos de governança publica digital. (Filho, Martins
2017). Seria assim o governo eletrônico um suporte a governança publica
digital?

3. A Governança Pública Digital

Assim como a utilização das TICs na administração pública deu origem


ao governo digital, modificando a forma de interagir dos gestores, cidadãos e
empresas, o uso dessas tecnologias no contexto da governança pública,
também resultou na sua derivação para governança pública digital (Tavares e
Bittencourt, 2022). Este marco passa a discutir a incorporação de tecnologias
digitais pelo Estado para além da prestação eletrônica de serviços ou da
melhoria administrativa e otimização de recursos (mecanismos do governo
digital), e passa a se preocupar com o modo como a internet pode melhorar a
capacidade do Estado de formular e implementar suas políticas (RUEDGER
2002). O cidadão como protagonista das ações do estado como peça
integrante na construção de políticas públicas que já nascem em plataformas
digitais.
Assim a governança digital representa também uma mudança no
aspecto geográfico, social e temporal na gestão, na medida em que qualquer
cidadão, de qualquer localidade, poderá a qualquer momento ter acesso, via
internet, aos principais órgãos, departamentos e instituições do governo, que
passa a integrar um novo território na busca por eficiência e evolução, o
ambiente virtual. Instituída pelo Decreto 8.638 de 15 de janeiro de 2016, a
política de Governança Digital tem como finalidades:

“Gerar benefícios para a sociedade mediante o uso da informação e


dos recursos de tecnologia da informação e comunicação na prestação de
serviços públicos, incentivar a participação da população na formulação, na
implantação, no monitoramento e na avaliação das políticas públicas e dos
serviços públicos disponibilizados em meio digital e garantir a obtenção de
informações pela sociedade, observadas as restrições previstas” (BRASIL,
2016).

Após a criação do Decreto que implantou a política de Governança


Digital, o governo federal institui a Estratégia de Governo Digital, revogando o
decreto anterior, nesse contexto essa analise se propõe a analisar as principais
diferenças entre essas duas políticas digitais.

REFERENCIAS:

FRANCISCO, Irineu; JUNIOR, Barreto; RODRIGUES, Cristina Barbosa.


Governo eletrônico, cidadania e inclusão digital. Revista Direito E Justiça 12.19
(2008): 91-112.
TEIXEIRA, Alex Fabiane; GOMES, Ricardo Corrêa. Governança pública:
uma revisão conceitual. Revista do Serviço Público, Brasilia, v. 70, n. 4, p. 519-
550, 2019.
RUEDIGER, Marco Aurélio. Governo Eletrônico E Democracia: Uma
Análise Preliminar Dos Impactos E Potencialidades Na Gestão
Pública. Organizações & Sociedade v9, n. 25, p. 29-43, 2002.
TAVARES, André Afonso. BITENCOURT, Caroline Muler. Avaliação de
políticas públicas e interoperabilidade na perspectiva da governança pública
digital. Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 13, n. 3, p. 687-723,
2022.
LEÃO, Paulo Alcântara Saraiva. OLIVEIRA, Joaquim Castro. FILHO,
João Corte Magalhães. O Governo Eletrônico E a Nova Administração
Pública. Revista Controle v. 7, n. 1, p.285-300, 2009.
BRAGA, Lamartine Vieira. ALVES, Welington Souza. FIGUEIREDO,
Rejane Maria da Costa. SANTOS, Rildo Ribeiro. O papel do Governo
Eletrônico no fortalecimento da governança do setor público. Revista do
Serviço Público, Brasília, v 59, n1, p. 05-21, 2008.
FILHO, Henrique C.P.P. MARTINS, Ricardo A.P. Governança digital
como um vetor para uma nova geração de tecnologias de participação social
no Brasil. Liinc em Revista. Rio de Janeiro, v.13, n.1, p.223-236, 2017.

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