Tese de Acusação
Tese de Acusação
Tese de Acusação
Nesse contexto, argumentamos que a ação dos réus, ao ceifar a vida de Roger Whetmore
de maneira traiçoeira e dissimulada, violou os princípios fundamentais de igualdade e
liberdade, bem como os direitos básicos de cada indivíduo à vida e à segurança.
Os réus afirmam que, dentre os cinco participantes, apenas Roger desistiu do acordo,
mesmo sendo o autor da ideia. Ele propôs uma espera de mais uma semana antes de
considerar o ato canibal, caso fosse necessário.Mesmo diante do acordo previamente
estabelecido, no qual Roger expressou sua intenção de desistir, optando por aguardar mais
uma semana após uma reflexão, os acusados não aceitaram essa mudança e o acusaram
de violar o pacto. Em seguida, eles procederam ao lançamento dos dados para determinar
a vítima. Quando chegou a vez de Roger, um dos acusados lançou os dados em seu lugar,
resultando em uma reviravolta desfavorável para Roger. Nesse momento, ele foi morto com
base em um simples lançamento de dados. A pergunta que surge é se deveríamos
realmente decidir questões de vida e morte por meio de um jogo.
A defesa pode alegar que Roger propôs o jogo, mas isso não justifica a violação de seu
direito à vida e à dignidade.
Em última análise, o discurso sugere que a ação dos réus não respeitou os direitos
fundamentais e a dignidade humana, independentemente das circunstâncias difíceis na
caverna.
Usando Thomas Hobbes: "Ninguém fica obrigado pelas próprias palavras a matar-se a si
mesmo ou a outrem". Portanto, mesmo que alguém tenha proposto o acordo, ninguém
estava obrigado a se sacrificar pelos outros.
Mesmo que Roger tenha ido até o fim e aceitado dar sua vida para salvar os outros, o que,
de acordo com o que sabemos, não aconteceu, podemos recorrer às palavras do renomado
jurista Damásio de Jesus, que ensina que para que se afaste a tipicidade e antijuridicidade
do ato, "é necessário que o bem jurídico seja disponível", tratando-se de um bem jurídico
indisponível. E qual bem jurídico estamos discutindo se não o mais valioso de todos: a vida?
Portanto, não há dúvida de que, de acordo com os fatos apresentados nos autos, houve
presença evidente de dolo na conduta dos réus, que cometeram o delito tipificado no artigo
121, parágrafo 2º, incisos III e IV, que se refere ao homicídio triplamente qualificado,
especialmente por meio insidioso (torpe) e meio cruel.
Caros jurados, não se deixem iludir pela ideia de legítima defesa, que exige requisitos
incontestáveis para ser aplicada. A legítima defesa pressupõe uma agressão injusta, atual
ou iminente, em defesa de direito próprio ou alheio, usando meios moderados e
necessários. Não há, neste caso, nenhuma ação de Roger que pudesse justificar a legítima
defesa.
Outra possibilidade que poderia ser alegada é o estado de necessidade, mas tampouco
existem elementos mínimos para que esta alegação seja válida. Como bem ilustra Damásio
de Jesus, o estado de necessidade envolve uma situação de perigo atual de interesses
protegidos pelo direito, em que o agente, para salvar um bem próprio ou de terceiro, não
tem outro meio senão lesar o interesse de outrem. Contudo, esse perigo deve ser atual, não
futuro.
Adicionalmente, é relevante mencionar que Roger propôs aguardar por mais sete dias,
sinalizando a possibilidade de um resgate oportuno. É importante destacar que sua vida foi
ceifada no 23º dia, quando ainda havia provisões de comida disponíveis. Mesmo se essas
provisões se esgotaram após alguns dias, não existem registros de que indivíduos
saudáveis tenham sucumbido à inanição em um período tão curto.
É fundamental ressaltar que a vida é um bem inalienável. Tirar a vida de alguém, mesmo
em nome da própria sobrevivência, configura-se como homicídio. Cada vida possui um valor
intrínseco que não pode ser mensurado, estando todas em perfeita equidade e relevância.
TESE DE ACUSAÇÃO
Deixamos aos senhores jurados as perguntas que provavelmente nunca terão resposta, já
que os acusados se recusam a respondê-las.
● Por que o ato não foi informado às autoridades, uma vez que essa informação
poderia ter poupado 10 vidas?
Diante dos fatos apresentados, a condenação seria a única forma de se valer a justiça, não
somente pela morte de seu companheiro, mas também a morte dos outros envolvidos no
resgate, bem como dos esforços de toda equipe que se empenharam aos extremos para
salvar suas vidas.
Sendo assim Excelentíssimos, peco-lhes a pena máxima prevista nos Arts. 121 inciso II, III,
IV, 211 e 288. Que se cumpram às exigências cíveis proposta pelos familiares declaradas
no processo. Se a lei bastasse não haveria necessidade de tribunais. “Que Deus tenha
piedade de suas almas”.
TESE DE ACUSAÇÃO
PERGUNTAS:
1) Por favor, descreva seu relacionamento com seu filho (vítima) antes do incidente da
caverna.
Resposta: Meu relacionamento com meu filho era extremamente próximo e afetuoso antes
do incidente na caverna. Éramos uma família unida, e meu filho e eu significamos muitos
momentos felizes juntos. Ele era o centro da minha vida, e eu o amava profundamente. Seu
desaparecimento na caverna foi um golpe devastador para mim e para toda a nossa
família."
4) Você acredita que os exploradores deveriam ser responsabilizados por suas ações?
Resposta: Sim, eu confio firmemente que os exploradores devem ser responsabilizados por
suas ações. O que aconteceu na caverna foi uma tragédia, e o canibalismo é um ato
inaceitável, mesmo em situações extremas. Eles não podem sair impunes depois de tomar
uma decisão tão terrível que afeiçoou profundamente minha família e a sociedade como um
todo. A justiça deve ser feita para que casos como esse não ocorram impunemente."
TESE DE ACUSAÇÃO
1) Doutora, com base em sua experiência médica, é possível que um ser humano sobreviva
sem comida por um período prolongado?
Resposta: Sim, com base na minha experiência médica, é possível que um ser humano
sobreviva sem comida por um período prolongado. O corpo humano é capaz de recorrer às
reservas de energia e adaptar-se a situações de inanição. Em condições ideais, um ser
humano saudável pode sobreviver por várias semanas sem comida.
2) Existem casos documentados de pessoas que sobreviveram sem comida por períodos
excepcionalmente longos?
Resposta: Um ilusionista carioca, Erikson Leif passou 51 dias, 22 horas e 30 minutos sem
comer alocado em uma cabine de vidro, a 9 m do chão, em Curitiba (PR). Leif entrou na
caixa com 103kg e saiu com 78,5 kg. Com o feito, assumiu o recorde oficial de jejum mais
prolongado.
3) Havia algum indício médico de que os exploradores estavam em um estado tão crítico
que justificaria o canibalismo como única opção de sobrevivência?
Resposta: Não havia declarações de médicos que justificassem o canibalismo como a única
opção de sobrevivência para os exploradores. Embora eles estivessem em uma situação de
inanição e desnutrição, não havia evidência de que estavam em um estado tão crítico que o
canibalismo era a única alternativa para sobreviver. Com os cuidados médicos adequados,
é possível que tenham sido reabilitados e sobrevividos sem recorrer a essa prática
extrema."
Caso absolvidos, o fato poderia justificar uma insegurança jurídica ao estado de direito. Isto,
ao passo em que, a ação “justificada”, poderia legitimar futuras situações em casos
semelhantes;
Inclusive, legitimando que indivíduos em estado de inanição, como ocorre não só em
território nacional, mas a nível global, possuam respaldo legal, para realizar tal atrocidade.
A fonte primária do direito brasileiro é a constituição, em que resguarda a vida como um
direito supremo, não havendo jurisprudências que legitimem o ato canibal ou homicida.
Afinal, este ato não é de natureza humana, mas animal;
TESE DE ACUSAÇÃO
A real vítima foi Roger que, por sua vez, teve a sua vida ceifada,através de método cruel e
sem direito a defesa. Este que, novamente possuí as suas vontades e direitos lesados, ao
passo em que a legitimidade do direito de sua vida se encontra questionado, de forma
contínua;
Ainda, a absolvição dos réus representaria a anulação de todos os sacrifícios realizados em
detrimento do resgate de todos os envolvidos. Isto, haja visto que os profissionais
envolvidos no resgate, tomaram atitude imprudente, perante a urgência relatada pelos
exploradores. A mesma iminente necessidade que, ao canalizarem o colega e não
comunicarem aos trabalhadores, o submeteram a um prazo estritamente reduzido, mesmo
que este estivesse sido prolongado, diante do inescrupuloso crime.