1987 Art Acrtupinamba
1987 Art Acrtupinamba
1987 Art Acrtupinamba
RESUMO
A trajetória da psicologia organizacional pode ser traçada a par-
tirt da própria evolução da psicologia como ciência e profissão no Bra-
sil.
Neste trabalho nós temos por objetivo compreender a situação
desta área da psicologia no âmbito das universidades e do mercado de
trabalho, caracterizando e criticando os modelos de formação e de
atuação do psicólogo organizacional no Brasil, sugerindo paralelamente
possibilidades de sair de um impasse ideológico que apronta a formação
e a atuação destes profissionais.
Para a efetivação deste projeto, consideramos, além da nossa ex-
periência como professor e supervisor de estágio nesta área do Curso de
Psicologia da Universidade Federal do Ceará, as idéias dos diversos au-
tores que formam o livro publicado pelo Conselho Federal de Psicologia
em 1988, que, de acordo com seu r.refácio, pode ser considerado "um
marco na história da psicologia braslleira"**.
A partir da demarcação e caracterização do papel do psicólogo
brasileiro em diferentes fases, avaliamos esta prática no curso de psico-
logia da UFC*** e sugerimos novas perspectivas de ação, quer seja a ní-
vel acadêmico ou profissional.
ABSTRACT
Fund. Med. 11,2 25,6 16,7 5,3 6,5 5,9 15,8 21,1 18,9 15,0
Fatores de_ordem econômica são certamente contributivos para este esta- Proc. Bás. 4,5 3,7 4,2 21,1 2,2 10,7 18,1 14,0 17,9 10,4
P. Fisiol. 50,0 41,3 45,2 9,6
tuto. Aos homens. sao reservadas profissões que se coadunem com o exercício do P. Comparo 7,9 41,3 26,2 2,6 1,1 5,8
poder e em especial com o domínio econômico advindos do exercício profissional P. Social 27,6 15,9 23,1 2,6 1,2 10,5 22,8 15,8 15,2
além destes aspectos referentes ao "caráter" masculino. ' P. Desenv. 25,4 14,6 21,3 28,9 28,1 28,1 18,5
P. Cogn. 5,2 4,9 5,1 7,9 3,1 3,5
. Schein (I 982~ utiliza-se .de estudos que visam a delimitar as profissões e P. Ensino 8,9 6,1 7,9 13,1 7,0 9,5 6,7
~elaclOná-las com motivos pessoais da escolha profissional. O autor sugere que ao P. Desenvolv. 25,4 14,6 21,3 28,9 28,1 28,4 18,5
m~és de procurar encontrar "um conjunto único de motivos ou valores que deter- P. Cogn. 5,2 4,9 5,1 7,9 3,1 9,5
mm~ a escolha ~a profissão, talvez seja ~ais produtivo compreender que uma de- P. Ensino 8,9 6,1 7,9 13,1 7,0 9,5 6,7
te~ada profissao pode atender a uma séne de necessidades e utilizar uma série de P. Clínica 13,4 18,3 15,3 10,5 6,5 8,3 2,6 7,0 5,3 11,3
aptidões" (p. 67). P. Trab. 3,0 1,9 1,0
NSA 0,7 11,0 4,6 2,6 2,2 2,4 3,0
E~ suma, o autor aponta p~a o fato de que nossa imagem ocupacional é 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Total
uma parte Imp'?rtante de nossa auto-Imagem, talvez a mais importante. Urna com-
plexa correlaçao de fatores individuais e sociais devem ser considerados para se Existe um fenômeno paralelo à produção científica nesta área quando se
compreender o fenômeno da escolha profissional. consideram os trabalhos no contexto organizacional. Os profissionais da área se es-
Não ~ difícil, a despeito desta complexidade de fatores deterrninantes da forçam em criar instrumentos, manuais, adaptar os já existentes, pesquisar e escre-
escolh~ profissíonal, fazer .uma possível correlação entre este pequeno contingente ver sobre novas formas de intervenção organizacional, teorizar sobre fenômenos
m~c~lino qu~ ~pta pela. psicologia e sua direção às áreas que parecem corresponder organizacionais etc., sendo que esta produção muitas vezes foge aos padrões
mais ~ des~n~oes mencionadas anteriormente sobre profissões masculinas. No caso científicos estabelecidos ou é inacabada quanto a estes critérios científicos tradicio-
~ psicologia, Importante se faz investigar certos setores da área clínica e organiza- nais, tendo em vista os objetivos limitados às fronteiras da organização, omitindo
cional em contrapartida à área escolar como mantenedores destas expectativas. por vezes uma produção que poderia contribuir para o avanço ou novas descobertas
neste campo do conhecimento.
A nível dos cursos de graduação, naqueles cursos onde existe a disciplina
2 - Produção científica em Psicologia de "Monografia", esta produção não-cadastrada, exceto quando transcende os limi-
tes do próprio curso e passam a compor anais de reuniões científicas, nos impede de
. . Do ponto de vista hist6rico, a produção científica na área da psicologia or- calcular a quantidade e qualidade destes trabalhos. No caso específico do Curso de
garnzaclOn~ sofr.e uma d~fasagem semelhante, mas não proporcional às demais Psicologia da UFC, identificamos uma afluência mínima de trabalhos que versem
área~ da p~lcologIa no Bras~. Até me.ados de 1960, segundo Matos (1988), esta pro- sobre temas de psicologia organizacional. No ano de 1989, das 52 monografias
duçao, e!a ISolada e ~sJX>rádlca,relacionando-se principalmente a relatos de ativida- aprovadas, duas foram formalmente registradas e apresentadas na SBPC, ambas na
des .c~cas e à. afençao de testes e escalas, s6 se solidificando a partir de 1980 com área clínica e apenas 03 estavam diretamente voltadas para a área em questão.
a cnaçao dos diferentes cursos de pós- graduação no Brasil. A "Revista de Psicologia" da Universidade Federal do Ceará, nos seus seis
_ ':'- ~rática pr~fissional, não tendo este respaldo da produção científica até anos de existência, tem três artigos que podem ser considerados corno pertinentes ao
en~ao se limita~a à aplicação ou re~tição de instrumentos e à viabilização de t~rias nosso tema, sendo que dois destes artigos já foram publicados e um terceiro está no
onund~ de países ~ desenvolvidos, onde muitas vezes resultava urna adaptação prelo.
grosse~a deste matenal carente de um redimensionamento face às idiossincrasias Somem-se a estes fatores a existência de poucos cursos de pós-graduação
culturais etc.
que tenham explícito o seu direcionamento para a psicologia organizacional em es-
. A .SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entidade que pecífico, ainda o fato de que no mercado de trabalho onde estes profissionais se en-
Visa a aglutínar os e~forços dos diversos centros produtores de ciência no País e que contram inseridos a correlação entre sucesso profissional e produção científica é
Fe servir de ~ermometro para a situação da ciência no Brasil, pode nos dar uma duvidosa; o pragmatismo e o teor eminentemente técnico do seu, desempenho pro-
Idéia da evoluçao desta produção científica no âmbito da Psicologia 'nos anos mais fissional desestimulam ou distanciam-no deste tipo de produção. E estabelecida uma
r~entes. Observ~-se a produção científica por vezes insignificante ou mesmo ine- contradição entre a demanda organizacional contra a entropia e a exigência da per-
xistente, no que diz respeito à psicologia organizacional: formance do psícõlogo.
(7) Ibidem, p. 40. (8) MATOS, Maria A. "Produção e Formação Científica em Psicologia", In: Quem 60 Psic6lo-
go Braileiro? CFP,Edicon, SP, 1988, p. 113.
98 Rev. de Psicologia, 5 (2):pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 99
desenvolvimento geral da psicologia organizacional no Brasil e a experiência da
3 - As quatro fases da psicologia organizacional no Brasil? UFC:
A descaracterização da psicologia organizacional se intensifica a partir do I - Fase preliminar: as bases científicas e universitárias
"clinicismo" que permeia a formação e os currículos de psicologia nas universidades A Psicologia Experimental penetra nos domínios da Filosofi~, E?ucação e
brasileiras 1O. Psiquiatria, sendo ensinada nas universidades, sobretudo quanto à aplicaçao de tes-
Para compreender esta afirmação, é necessário que se leve em conta a in- tes psicológicos na educação e na clínica. ... . ..
serção deste psicólogo a ser formado num mercado de trabalho e, do ponto de vista Nesta fase, as primeiras gerações de fut~ros pSlc~l~gos m~ustnaIs a~q~;
"sistêmico", numa sociedade que pressupõe valorações gradativas e status diferen- ram os fundamentos científicos, mas sob um pnsma de diagnóstlc? prescntí".el ,
ciados às diferentes áreas de atuação profissional. Tampouco podemos negligenciar com predominância da psicometria. Isto e.xplica a Psicologia In~ustrial e Orgaruza-
questões de ordem político-econômicas no desenvolvimento da sociedade brasileira, ciona! ter começado por urna fase predommantemente psicométrica.
que acompanham e de certa forma determinam a estrutura e o conteúdo dos currí-
culos acadêmicos. A grosso modo, podem-se detectar estas diferenças ainda hoje 11e 111- Fase psicotécnica e fase educacional
quando se faz uma comparação dos diferentes currículos e suas filosofias subjacen- do treinamento nas organizações
tes entre as diferentes universidades. Some-se a este fato o escasso avanço da pro- Fase bastante técnica, objetivando a aplicação da psicologia expe~ntal
dução científica específica, especialmente quando se compara com as demais áreas no âmbito do trabalho, predominando trabalhos de seleção profissional, VISandoa
da psicologia. adaptar o homem ao trabalho, segundo conc_eitostayloristas. . . _
Como vimos anteriormente, a psicologia industrial/organizacional iniciou a Tendo sido constatado que a seleçao com os recursos psícotécnícos nao era
sua participação nos currículos dos cursos de graduação com o estudo e desenvol- suficiente para a alocação adequada e rendimento .do empre~a~o, outros fatores fo-
vimento de atividades na área psicométrica, o que é constatável, por exemplo, nos ram detectados dentro da organização que podenam contnbwr para este trabalho.
cursos de psicologia da USP, UFRJ e UFPell. Podemos observar que a formação Houve desta forma urna expansão do papel do psicólog? n;s~e setor. Pod~mo~ con-
do psicólogo foi precedida pela prática profissional que desta forma influenciava siderar aqui um rudimento do que seja uma abordagem SlS.tenucada orgamzaçao.
sobremodo os futuros currículos. Esta terceira fase continua, contudo, caractenzando uma expansao d~s
Bastos (1988) questiona o modelo de atuação do psicólogo em função do métodos anteriores; novas técnicas serão aplicadas em outros setores da orgam-
contexto histórico-social em que a profissão surgiu e se desenvolveu, relacionando
zação. .. balh d
ainda este modelo à própria origem social destes profissionais. Este modelo de Podemos traçar um paralelo entre estas fases e o iníCl(:~do tr~ o e su-
atuação é reproduzido pelas instituições de ensino, o que significa um reforço na pervisão de estágio em psicologia orgcu:m~cional ~o curso de I?sl~logIa da U~C .no
manutenção desta praxis. Isto resulta numa prática questionável quanto a sua ade- ano de 1977, quando a preocupação principal sena a de capaclt~çao dos ~sta!?ários
quação à realidade social ou às possibilidades de contribuir na superação dos cruciais para transferir técnicas para o contexto das ~mp~as. ~ própna denomm~çao d~
problemas do homem brasileiro. disciplinas básicas e de apoio ao fu~ro estágio: P~colo~ do Trabalho e PSlcolo~
A promoção de urna identidade básica dos profissionais é intenção dos da Indústria, juntamente com a bibliografia sugenda, dao margem a esta concepçao
cursos de formação. Bastos (1988) concorda com a existência desta identidade e do trabalho desenvolvido neste período.
mostra a dificuldade para o estabelecimento de critérios que sejam divisores das di- A área de psicologia organizacional ganha ainda nes~ mesma é~ca ';1m
ferentes áreas de atuação. impulso "politizador" no que tange à concepção do papel do psicólogo O~g~clO-
Neste "gerneralisrno" da graduação, é possível defmir a nível formal, nal. Desenvolvem-se então pré-concepções do que se dev: e ;;e pode .atm~ com o
através de grupos de disciplinas e estágios, o encaminhamento do profissional para trabalho desenvolvido nesta área O caráter ideológico atribuído à Psicologia c~mo
diferentes áreas de estudo e de atuação. Podemos observar a nível da UFC, tomando reforçadora das relações de exploração .no ~terior ~ empresa e. seu C?mprOlmSso
como exemplo o curso de graduação em psicologia, certas tendências na formação com a manutenção do status quo organizacional, aliados a ~ distanc~ament~ ~
do psicólogo organizacional, mais especificamente no que diz respeito à prática do técnicas até então desenvolvidas e aplicadas, ferramentas consideradas imprescindí-
estágio, em semelhança ao caminho seguido pela própria psicologia organizacional veis para a atuação na época, acentuaram as dificuldades na c~n~iliação entre poten-
no Brasil. cialidades do mercado de trabalho e ideologia dos novos estagiários.
Transcrevemos a seguir os "divisores da psicologia organizacional" no IV - Fase psicossociol6gica:
Brasil conforme a concepção de Pierre Weil (1974), traçando um paralelo entre o
Problemas da fase anterior que foram sendo sentidos no Brasil, EUA e
Europa:
(9) Baseado no trabalho apresentado com a Prol! Maria de Fátima de Sena e Silva no Encontro a) eficientes métodos de recru~ent.?, sel~ã~ e trein~n~ ~? inefi-
Nacional de Administradores e Psicólogos em Salvador, Bahia, em 1987. cientes se não houver na orgamzaçao um clima organIzaC~ona! .resul-
(10) BATITUCCI, Márcio D. "Psicologia Organizacional: Urna Saída para uma Profissão em tante de uma "cultura organizacional", favorecendo e apoiando as mu-
Crise no Brasil", em Arq_iws Brasileir08 de Psicologia Aplic •••• Rio de Janeiro
30(1-2): 137-156, jan.-jun. 1978. ' danças propostas; _
(11) USP: Universidade de São Paulo; UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro: UFPe· b) o treinador pode funcionar como agente de evoluçao (ou mesmo de re-
Universidade Federal de Pernarnbuco. ' .
102
Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 Rev. de Psicologia, 5 (2): pág, 95-104, Jul/Dez. 1987 103
Bibliografia