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Simulação em Escoamento Bifásico

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA (PEQ – UFS)

SÁVIO SAYANNE ANDRADE SILVA

SIMULAÇÃO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS APLICANDO A TÉCNICA DE


FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

São Cristóvão - SE
2017
SÁVIO SAYANNE ANDRADE SILVA

SIMULAÇÃO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS APLICANDO A TÉCNICA DE


FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Engenharia Química, como
requisito à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Química.

Orientador: Prof. Dr. Rogério Luz Pagano

Coorientador: Prof. Dr. Pedro Leite de Santana

São Cristóvão - SE
2017
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Silva, Sávio Sayanne Andrade


S586s Simulação de escoamentos bifásicos aplicando a técnica de
fluidodinâmica computacional / Sávio Sayanne Andrade Silva ;
orientador Rogério Luz Pagano. – São Cristóvão, 2017.
124 f. : il.

Dissertação (mestrado em Engenharia Química) –


Universidade Federal de Sergipe, 2017.

1. Engenharia química. 2. Escoamento bifásico. 3.


Fluidodinâmica computacional. I. Pagano, Rogério Luz, orient. II.
Título

CDU: 66.0: 556.16


SAVIO SAYANNE ANDRADE SILVA

SIMULAÇÃO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS


APLICANDO A TÉCNICA DA FLUIDODINÂMICA
COMPUTACIONAL

Dissertação de Mestrado aprovada no Programa de Pós-Graduação em Ciência e


Engenharia de Processos Químicos da Universidade Federal de Sergipe

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________
Prof. Dr. Rogério Luz Pagano – Orientador
PEQ / UFS

_________________________________________
Prof. Dr. Pedro Leite de Santana - Coorientador
PEQ / UFS

_________________________________________
Prof. Dr. Antônio Santos Silva – Membro interno
PEQ / UFS

_________________________________________
Prof. Dr. Acto de Lima Cunha – Membro externo
NUPETRO / UFS

_________________________________________
Prof. Dr. Ricardo de Andrade Medronho – Membro externo
EQ / URFJ
AGRADECIMENTOS

Tantas palavras poderiam ser ditas nessa única página, porém qualquer coisa escrita
jamais descreveria o que desejo para todos que se fizeram presente nesse momento mais que
especial. Pra tentar expressar tal sentimento irei tentar descrever alguns parágrafos.
Uma certo dia sentado sozinho como costumo fazer em momentos de dificuldade, me
questionei sobre o real sentido de tudo que acontecia naquele momento em minha vida, depois
de muito pensar sobre tal questionamento descobri que o ato de perder é algo fundamental na
vida. Nos primeiros momentos após tal perda é normal sentirmos tristeza, raiva ou algo
parecido, porém, assim como as lágrimas, esses sentimentos cessam ao passar do tempo e é
exatamente nessa hora que chega aquele momento de plena consciência em que você começa a
assimilar tal fato, e descobre que tudo tem um fundamento.
“Yesterday.... Oh, I believe in yesterday” já diziam os Beatles, hoje mais que nunca
posso dizer o quanto fui e serei eterno aprendiz do ontem, a evolução deve ser sempre continua.
Sei que tenho muito a aprender e que talvez não sou o melhor, porém ando com a cabeça erguida
sabendo que lutei para que o melhor fosse feito.
Obrigado a todos colegas do LAMSIM e UFS que não me deixaram desistir mesmo nos
momentos mais difíceis. A todos que fazem e fizeram parte da Republica Etanóis em São
Carlos-SP que me receberam de braços abertos nos meses que estive por lá, aprendi grandes
lições que levarei pra toda minha vida.
A toda minha família em especial a minha esposa (Camila Felix), sogros (Francisco e
Elza), minhas avós (Severina e Creuza), pais (Sergio e Sônia) e irmãos (Savylle e Safira) que
foram fundamentais nessa caminhada.
Agradecer também a todos professores do Departamento de Engenharia Química –UFS
que contribuíram de forma direta ou indireta para o desenvolvimento desta pessoa que vós fala,
em especial aos professores José da Paixão, Giselia Cardoso, Antônio Santos Silva, como
também aos professor do Departamento de Engenharia de Petróleo da UFS Acto de Lima Cunha
e do Departamento de Engenharia Química da UFRJ Ricardo Andrade Medronho pelas valiosas
correções e sugestões. Aos meus orientadores, Professores Rogerio Luz Pagano e Pedro Leite
de Santana pela confiança, orientação e principalmente paciência com meus erros.
Ao Dr. Thomas Hohne do Helmoholtz-Zentrum Dresden-Rossendorf (HZDR) do
Institute of Fluid Dynamics, a Capes, PETROBRAS, PRH-ANP 45 e ao PEQ/UFS pelo suporte
financeiro e colaboração.
Alguns agradecimentos adicionais devem ser feitos aos criadores do team viewer como
também aos colegas participantes dos fóruns de discursões sobre CFD. De modo geral, quero
agradecer a todos que de forma direta ou indiretamente participaram deste trabalho, saibam que
têm minha eterna gratidão.
E por último me auto agradeço pela teimosia em concluir esse mestrado, embora
algumas vezes a dúvida tomasse conta.
“Grandes sonhos se materializam através de pequenos detalhes e diversas atitudes”
Sávio Sayanne
RESUMO

Escoamentos bifásicos podem ser encontrados nas mais diferentes áreas da indústria química,
alimentícia, de conversão energética, processamento de materiais, bem como nas de petróleo e
gás. Nesta última em particular, em setores como produção e transporte, esses escoamentos
percorrem grandes distâncias em trechos ascendente ou descendente, resultando em
modificações nas propriedades da mistura. O correto entendimento do comportamento dessa
mistura em cada trecho do escoamento é de fundamental importância para que problemas
relacionados com a garantia do escoamento possam ser previstos e antecipados, assegurando
também a viabilidade técnica e econômica do campo petrolífero. Devido aos recentes avanços
tecnológicos em áreas como modelagem e simulação, aplicações de técnicas alternativas como
a fluidodinâmica computacional (CFD) vêm sendo de grande valia nessas investigações, devido
principalmente ao seu baixo custo quando comparada com a construção de aparatos
experimentais. Diante deste contexto, este trabalho teve como finalidade a aplicação da técnica
de fluidodinâmica computacional para a reprodução do escoamento bifásico presente em
tubulações industriais, tendo como base a implementação de um modelo algébrico interfacial
(AIAD). A partir dos resultados reportados referente ao comportamento ondulatório da
interface líquido/gás foi possível validar qualitativamente tal modelo. Então, um estudo
paramétrico foi realizado visando determinar o comportamento da interface óleo/gás ao longo
do tempo, como também os efeitos da viscosidade do óleo e da altura do duto. Os resultados
mostraram que a transferência de quantidade de movimento exerce grande influência no
comportamento da interface líquido/gás, além disso, o aumento da viscosidade da fase líquida
juntamente com equilíbrio entre a velocidade de injeção das fases são fundamentais para uma
estratificação do escoamento de forma mais rápida.

Palavras-chave: CFD; AIAD; convergência de malha; coeficiente de arraste.


ABSTRACT

Two-phase flows can be found in the most different fields of the chemical, food, energy
conversion, materials processing, as well as in the oil and gas industry. In this last one, in
particular, in sectors such as manufacturing and transport, these flows travel great distances in
lines upward or downward, resulting in changes in the mixture properties. The correct
understanding of this mixture behavior in each section of the flow has fundamental importance
in order that problems related to the assurance of the flow could be foreseen and anticipated,
also providing technical and economic viability of the oil field. Due to recent technological
advances in areas such as modeling and simulation, application of alternative techniques such
as computational fluid dynamics (CFD) has been of great value in these investigations, mainly
due to its low cost when compared with the construction of experimental apparatus. In this
context, the purpose of this work was to apply computational fluid dynamics to reproduction of
the biphasic flow present in industrial pipes, based on the implementation of an interfacial
algebraic model (AIAD). From the results reported on the wave behavior it was possible to
qualitatively validate such model. Then, a parametric study was carried out to determine the
behavior of the oil/gas interface over time, as well as the effects of oil viscosity and duct height.
The results demonstrate that the transfer of the amount of movement has a great influence on
the behavior of the liquid/gas interface, in addition, the increase of the viscosity of the liquid
phase together with the equilibrium between the injection velocity of the phases are
fundamental for a stratification of the flow of form faster.

Keywords: CFD; AIAD; mesh convergence; drag coefficient.


SÍMBOLOS

Letras Latinas

Símbolo Descrição
A área da seção transversal 𝑚2
𝐴𝑑𝑒𝑛𝑠 densidade da área interfacial 𝑚−1
C constante do fator de atrito ---
𝐶𝑝 capacidade calorífica 𝐽 𝑘𝑔−1 𝐾 −1
𝐶𝐷 coeficiente adimensional de arrasto ---
D diâmetro 𝑚
f função mistura ---
𝐹𝐷 força de arraste 𝑁
𝐹𝑟 número de Froude ---
𝑓𝑓 fator de Fanning ---
G fluxo mássico 𝑘𝑔 𝑚−2 𝑠 −1
GCI índice de convergência de malha ---
𝑔 aceleração da gravidade 𝑚 𝑠 −2
𝐻𝐿 holdup ---
L comprimento 𝑚
m, n constantes de correlação do fator de fricão ---
P pressão 𝑃𝑎
p ordem de precisão para o teste de malha ---
𝑃𝑟 número de Prandlt ---
Q vazão volumétrica 𝑚3 𝑠 −1
r razão entre malhas ---
𝑅𝑒 número adimensional de Reynolds ---
T, F,K grupo de adimensionais ---
t tempo 𝑠
𝑣 velocidade 𝑚 𝑠 −1
𝑋2 , 𝑌 parâmetros de Lockhart e Martinelli ---
W vazão mássica 𝑘𝑔 𝑠 −1
𝑊𝑒 número de Weber ---
Letras Gregas

Símbolo Descrição
𝛼 fração volumétrica da fase ---
𝜀 fração volumétrica da fase menos densa ---
𝜖𝑡 energia cinética turbulenta 𝐽 𝑘𝑔−1
𝜉 relação de deslizamento ---

𝜑 fração volumétrica da fase mais densa ---


𝜓, 𝜆 fatores de Baker ---
𝜙 propriedade ---
𝜅 condutividade térmica 𝑊 𝑚−1 𝐾 −1
𝜆 fator de interpolação
𝜇 viscosidade dinâmica 𝑘𝑔 𝑚−1 𝑠 −1
𝜌 massa específica 𝑘𝑔 𝑚−3
σ tensão superficial 𝑁 𝑚−1
𝜃 ângulo de inclinação 𝑟𝑎𝑑
𝜏 tensão de cisalhamento 𝑁 𝑚−2
𝜈 velocidade real 𝑚 𝑠 −1

Subscritos

Símbolo Descrição
A componente de aceleração ---
B bolhas ---
D gotas ---
FS superfície livre ---
F componente de atrito ---
G fase gasosa ---
L fase líquida ---
M mistura ---
no-slip sem deslizamento ---
S superficial ---
slip deslizamento ---
Grav componente gravitacional ---
Λ fase contínua ---
β fase dispersa ---
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Padrão de escoamento em tubulações verticais ....................................................... 9

Figura 2 - Padrão de escoamento em tubulações horizontais ................................................. 11

Figura 3 - Padrão de escoamento em tubulações inclinadas .................................................. 13

Figura 4 - Mapa de Baker ..................................................................................................... 15

Figura 5 - Mapa para escoamento horizontal de Beggs e Brill (1973) ................................... 16

Figura 6 - Mapa para escoamento horizontal proposto por Mandhane et al. (1974)............... 17

Figura 7 - Equilíbrio do escoamento estratificado ................................................................. 18

Figura 8 - Equilíbrio do nível de líquido em escoamentos estratificados ............................... 21

Figura 9 - Esquema simplificado da análise de estabilidade Kelvin-Helmholtz ..................... 22

Figura 10 - Mapa para padrão de escoamento horizontal e ligeiramente inclinado (Taitel e


Dukler, 1976) ....................................................................................................................... 25

Figura 11 - Mapa para padrão para escoamento horizontal (Taitel e Dukler,1976) ................ 26

Figura 12 - Comparação do modelo Taitel e Dukler (1976) com o mapa de Mandhane (1974)
............................................................................................................................................ 26

Figura 13 - Modelo de fases separadas (Lockhart e Martinelli, 1949) ................................... 34

Figura 14 - Comportamento da velocidade em um ponto no escoamento turbulento ............. 37

Figura 15 - Comparação entre os perfis de velocidade no interior de uma canalização para uma
mesma vazão ....................................................................................................................... 38

Figura 16 - Representação esquemática das escalas de turbulência e sua relação com os seus
respectivos modelos. ............................................................................................................ 39

Figura 17 - Três volumes de controle com três pontos nodais (W, P e E) e duas interfaces (w e
e) ......................................................................................................................................... 50

Figura 18 - Esquema de uma malha 2D para método de volume finitos ................................ 53


Figura 19 - Elementos de malha : (a) hexaédrica, (b) tetraédrica, (c) prismática e (d) piramidal.
............................................................................................................................................ 54

Figura 20 - Exemplos de malha estruturada (a) e não-estruturada (b) .................................... 54

Figura 21 - Geometria do canal considerada ......................................................................... 58

Figura 22 - Tela principal do sub-pacote Geometry .............................................................. 59

Figura 23 - Geometria utilizada nas simulações .................................................................... 60

Figura 24 - Estrutura de malha do canal próximo à lâmina ................................................... 61

Figura 25 - Tela principal do CFX-pré ................................................................................. 62

Figura 26 - Interface do setup............................................................................................... 70

Figura 27 - Tela principal do sub-pacote solver .................................................................... 72

Figura 28 - Análise do padrão pelo mapa de Baker ............................................................... 76

Figura 29 - Análise do padrão pelo mapa proposto por Mandhane et al. (1974) .................... 77

Figura 30 - Visão do refinamento da malha M1 próximo à lâmina ........................................ 78

Figura 31 - Visão do refinamento da malha M2 próximo à lâmina ........................................ 78

Figura 32 - Visão do refinamento da malha M3 próximo à lâmina ........................................ 79

Figura 33 - Visão do refinamento da malha M4 próximo à lâmina ........................................ 79

Figura 34 - Visão do refinamento da malha M5 próximo à lâmina ........................................ 79

Figura 35 - Posição da linha traçada para o estudo de malha ao longo do duto ...................... 80

Figura 36 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M1 e M2 ........... 81

Figura 37 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M2 e M3 ........... 81

Figura 38 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M3 e M4 ........... 82

Figura 39 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M4 e M5 ........... 82

Figura 40 - Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M1
e M2 .................................................................................................................................... 83
Figura 41 - Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M2
e M3 .................................................................................................................................... 84

Figura 42 - Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M3
e M4 .................................................................................................................................... 84

Figura 43 - Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M4
e M5 .................................................................................................................................... 85

Figura 44 - Campo de fração volumétrica com 𝑣𝑎𝑟 = 5 𝑚/𝑠 e 𝑣á𝑔𝑢𝑎 = 1 𝑚/𝑠 .................... 87

Figura 45 - Estrutura da fração de água juntamente com o arraste de gotas no instante t = 0,1 s
............................................................................................................................................ 87

Figura 46 - Campo de velocidade do gás próximo à lâmina .................................................. 88

Figura 47 - Estrutura da fração de líquido calculada e da isosurface a 50% .......................... 89

Figura 48 - Sequência de imagens calculadas pelo CFX ....................................................... 90

Figura 49 - Sequência de imagens registradas por Bartosiewcz et al. (2010)......................... 90

Figura 50 - Posição dos pontos a 1 e 2 metros após a lâmina. ............................................... 91

Figura 51 - Velocidade real da água no centro do duto, 1 metro após a lâmina ..................... 92

Figura 52 - Velocidade real da água no centro do duto, 2 metro após a lâmina ..................... 92

Figura 53 - Fração volumétrica de líquido no duto com diâmetros de 0,05 m (a), 0,1 m (b) e 0,2
m (c). ................................................................................................................................... 94

Figura 54 - Fração volumétrica de óleo no instante de tempo igual a 0,3 segundos ............... 96

Figura 55 - Posição das linhas traçadas ao longo da altura do duto e após 1 e 2 metros da lâmina
............................................................................................................................................ 97

Figura 56 - Fração volumétrica de óleo em função da altura após 1 metro da lâmina em t = 4 s


............................................................................................................................................ 98

Figura 57 - Fração volumétrica de óleo em função da altura após 1 metro da lâmina em t = 4 s


............................................................................................................................................ 98
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Constantes para cálculo dos fatores de atrito ........................................................ 19

Tabela 2 - Parâmetros para o modelo de fases separadas. ..................................................... 33

Tabela 3 - Coeficiente de correlação de Chisholm (1967) para perda de carga. ..................... 34

Tabela 4 - Modelos de turbulência com as respectivas quantidades de equações extras......... 40

Tabela 5 - Dimensões utilizadas para construção do canal. ................................................... 59

Tabela 6 - Configurações utilizadas no CFX-pré. ................................................................. 62

Tabela 7 - Valores das constantes para o modelo de turbulência k-ω .................................... 66

Tabela 8 - Configurações adicionais implementadas no SETUP. .......................................... 71

Tabela 9 - Propriedades físico-químicas dos fluidos ............................................................. 75

Tabela 10 - Parâmetros para as fases em escoamento ........................................................... 75

Tabela 11 - Valores para os fatores de Baker ........................................................................ 76

Tabela 12 - Característica da malha ...................................................................................... 78

Tabela 13 - Valores absolutos de GCI para a pressão extrapolada entre as malhas ................ 83

Tabela 14 - Valores de GCI para a velocidade real da fase líquida extrapolada entre as malhas
............................................................................................................................................ 85

Tabela 15 - Tempo de solução para cada malha .................................................................... 85

Tabela 16 - Dados referentes ao estudo do efeito da velocidade ............................................ 91

Tabela 17 - Parâmetros referentes ao estudo da variação geométrica do duto ........................ 93

Tabela 18 - Propriedades físicas dos fluidos para o estudo do efeito da viscosidade.............. 95

Tabela 19 - Dados utilizados nas simulações ........................................................................ 95


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1

2. REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................................... 4

2.1 ESCOAMENTO MULTIFÁSICO ............................................................................... 4

2.2 PARÂMETROS GERAIS DO ESCOAMENTO ......................................................... 5

2.3 PADRÕES DE ESCOAMENTO ................................................................................. 8

2.4 MAPAS DE ESCOAMENTOS ................................................................................. 14

2.4.1 Modelo teórico de Taitel e Dukler ........................................................................ 17

2.4.2 Transição do escoamento estratificado.................................................................. 21

2.5 GRADIENTE DE PRESSÃO .................................................................................... 28

2.5.1 Correlação de Lockhart e Martinelli ..................................................................... 30

2.6 MODELO DE TURBULÊNCIA ............................................................................... 35

2.7 MODELO DE DOIS FLUIDOS ................................................................................ 40

2.7.1 Modelo interfacial ................................................................................................ 41

2.8 FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL (CFD) ................................................... 45

2.8.1 Estrutura do código CFD ...................................................................................... 46

2.9 MÉTODOS NUMÉRICOS ........................................................................................ 48

2.10 FUNÇÕES DE INTERPOLAÇÃO .......................................................................... 50

2.11 ACOPLAMENTO PRESSÃO-VELOCIDADE ...................................................... 52

2.12 MALHA NUMÉRICA............................................................................................. 53

2.13 ANÁLISE PARA O TESTE DA MALHA............................................................... 55

2.13.1 Extrapolação de Richardson generalizada ........................................................... 56

3. METODOLOGIA ......................................................................................................... 58

3.1 MODELO PROPOSTO ............................................................................................. 58

3.2 DOMÍNIO COMPUTACIONAL .............................................................................. 58

3.3 MALHA NUMÉRICA .............................................................................................. 60


3.4 CONFIGURAÇÕES DA SIMULAÇÃO ................................................................... 60

3.5 EQUAÇÕES MATEMÁTICAS ................................................................................ 62

3.5.1 Equações de conservação de massa ...................................................................... 63

3.5.2 Equações de conservação da quantidade de movimento ........................................ 63

3.6 EQUAÇÕES DE FECHAMENTO ............................................................................ 64

3.6.1 Turbulência .......................................................................................................... 64

3.6.2 Amortecimento da turbulência .............................................................................. 66

3.6.3 Implementação do modelo algebraic interfacial área density (AIAD) .................. 67

3.7 CONDIÇÕES DE CONTORNO ............................................................................... 70

3.8 TESTE DE MALHA ................................................................................................. 72

4. RESULTADOS.............................................................................................................. 75

4.1 VERIFICAÇÃO DO PADRÃO DE ESCOAMENTO................................................ 75

4.1.1 Mapa de Baker ..................................................................................................... 75

4.1.2 Mapa de Mandhane .............................................................................................. 76

4.2 TESTE DE MALHA ................................................................................................. 77

4.3 ANÁLISES QUALITATIVAS DOS RESULTADOS ............................................... 86

4.4 DESCRIÇÃO DA INTERFACE PARA SIMULAÇÕES EM CFD ............................. 88

4.5 VALIDAÇÃO DO MODELO ................................................................................... 89

4.6 ESTUDO PARÂMETRICO ...................................................................................... 90

4.6.1 Variação da velocidade superficial do gás ............................................................ 90

4.6.2 Variação da altura do canal................................................................................... 92

4.6.3 Variação da viscosidade ....................................................................................... 94

5. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 99

6. SUGESTÕES................................................................................................................ 100

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. ..101

APÊNDICE – Parâmetros usados no software computacional CFX ............................. 108


1

1. INTRODUÇÃO

Estudos envolvendo a temática sobre escoamentos do tipo multifásico são fundamentais


devido à sua grande aplicação em diversos ramos da indústria, seja ela química, alimentícia, de
conversão de energias e, principalmente, petrolíferas. Quando nos referimos a esta última em
particular, o escoamento multifásico é comumente encontrado durante toda a linha de produção
e transporte do petróleo. Sua ocorrência se mostra predominante desde a extração do petróleo
das rochas sedimentares, percorrendo colunas de produção, risers e linhas de transferência, até
a chegada nas unidades de refino. Identificar o comportamento das frações como também
mensurar parâmetros como queda de pressão são determinantes para que se possa garantir a
segurança e eficiência desses escoamentos (SHOHAM, 2005).

Devido à crescente demanda por fontes de energia e às recentes descobertas de petróleo


em camadas do pré-sal, setores de exploração e produção de empresas petrolíferas têm realizado
grandes investimentos em estudos, afim de garantir uma produção de maneira economicamente
viável. Segundo o anuário divulgado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP), a produção mundial de petróleo em 2016 obteve um aumento de 446
mil barris/dia (2,4%) em relação a 2015, passando de 91,7 milhões de barris/dia para 92,2
milhões de barris/dia. Entre os países que não fazem parte da Opep (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo), o Brasil foi o maior responsável pelo crescimento da produção
contribuindo com cerca de 3,2%, o que equivale a 80 mil barris/dia (ANP, 2017).

Grandes quantidades de energia ainda são consumidas anualmente pela indústria


petrolífera, basicamente em setores de produção e transporte de petróleo, para coletar fluidos
produzidos. O conhecimento dos fenômenos físicos que atuam durante o escoamento
multifásico é fundamental na predição da viabilidade técnica e econômica de um determinado
campo, principalmente na produção offshore, onde longas distâncias estão envolvidas
(DANTAS, 2011).

Segundo Rosa (2012), é possível definir um escoamento multifásico como sendo aquele
no qual duas ou mais fases escoam de forma simultânea, tendo sua classificação de acordo com
o estado físico das diferentes fases presentes como: sólido-gás, sólido-líquido, líquido-gás ou
líquido-líquido-gás.
2

Durante o escoamento multifásico, o comportamento apresentado pelas fases presentes


é muito mais complexo que no escoamento monofásico. A diferença de densidade pode resultar
em diferentes velocidades para cada fase, gerando uma velocidade relativa na superfície entre
ambas, ocasionando modificações geométricas na interface. Os diferentes arranjos produzidos
pela interface nesses tipos de escoamentos são denominados padrões de escoamento. A
depender das condições operacionais (pressão e vazão), propriedades físicas dos fluidos e
configuração geométrica do duto, é possível caracterizar determinados padrões (BRENNER,
2005).

A determinação desses padrões consiste no problema principal dos escoamentos


multifásicos, pois sua identificação é fundamental para o desenvolvimento de modelos
matemáticos. Além disso, parâmetros importantes como queda de pressão e fração de líquido
são fortemente dependentes desses padrões (SHOHAM, 2005).

Os padrões para escoamento horizontal (tampão, estratificado, ondulado, pistonado,


bolhas, anular) são tidos como mais complexos que aqueles para escoamento vertical (bolhas,
pistonado, agitado, anular, disperso) devido ao efeito da gravidade. As classificações desses
padrões têm como base observações de vários parâmetros e propriedades do escoamento, mas
essas classificações são altamente subjetivas e podem diferir dependendo do autor (DANTAS,
2011).

Na indústria petrolífera, a presença do padrão estratificado é comumente encontrada em


poços de petróleo e gasodutos (PEREIRA et al., 2014). Esse padrão de escoamento considera
uma fase líquida e uma fase gasosa separada por uma interface, sendo que a partir de
turbulências geradas nas proximidades dessa interface tem-se a formação de pequenas
ondulações. Segundo Feroni (2015), a deformação da interface depende da velocidade de
escoamento da fase gasosa sobre a superfície líquida, podendo ser plana com pequenas
perturbações (ondas capilares ou ripples) ou com grandes perturbações (ondas). Na literatura,
é possível encontrar diversos trabalhos relatando estudos direcionados a esses escoamentos,
mas pouca atenção tem sido dada ao estudo da interface observada nos escoamentos
estratificados (THIBAULT et al., 2016; PARK et al., 2016).

De acordo com Ishii e Hibiki (2011), a descrição do escoamento multifásico pode ser
realizada por dois tipos de abordagem. Na primeira, denominada One-fluid, a interface entre as
fases é fielmente rastreada, e as propriedades materiais globais são resultados da soma daquelas
3

propriedades referentes às fases puras, ponderadas pela fração volumétrica de cada uma. A
segunda abordagem refere-se ao Two-fluid na qual as fases escoam de maneira interprenetrante.
Nesta abordagem, cada fase é modelada usando um conjunto de equações de conservação de
massa, momento e energia. Na área de petróleo, a abordagem Two-fluid é considerada a mais
acurada para lidar com escoamentos bifásicos.

A necessidade de um correto entendimento acerca dos fenômenos que ocorrem no


escoamento gera a necessidade de um conhecimento mais aprofundado em campos teóricos e
experimentais. Porém, construir aparatos experimentais para testes com base em métodos de
cálculo e projeto apresenta limitações e demanda aperfeiçoamento. A solução para problemas
dessa natureza é o emprego de técnicas alternativas de baixo custo, como a fluidodinâmica
computacional, uma técnica bastante utilizada em meios acadêmicos e industriais. Trata-se de
uma simulação numérica capaz de prever fenômenos físico-químicos que venham a se
apresentar durante o escoamento.

Diante deste contexto, com o propósito de contribuir para a pesquisa e desenvolvimento


de sistemas em que seja possível garantir o escoamento e transporte do fluido produzido, este
trabalho tem como objetivo geral fornecer informações sobre o comportamento interfacial do
escoamento bifásico bidimensional através da aplicação da técnica da fluidodinâmica
computacional (CFD). Para isso será implementado um modelo denominado Algebraic
Interfacial Area Density visando descrever não só a interface mas também todas as morfologias
presentes nesses escoamentos multifásicos. Para tal, propõe-se como objetivos específicos:

 Realizar a modelagem do duto e implementar o modelo interfacial algébrico no


software CFX;
 Predizer a partir de mapas empíricos os possíveis padrões de escoamento
desenvolvidos;
 Definir um modelo matemático capaz de prever o escoamento multifásico em
dutos horizontais no regime transiente;
 Realizar simulações de estudo de caso, analisando os campos de velocidades,
pressões e frações volumétrica das fases.
4

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 ESCOAMENTO MULTIFÁSICO

A presença de escoamentos multifásicos em tubulações tem sido cada vez mais


frequente no meio industrial, principalmente na indústria petroquímica com a ocorrência de
múltiplas fases, tais como óleo-água-gás. A existência e interação que ocorre entre ambas as
fases, juntamente com o número de equações matemáticas adicionais são alguns dos principais
fatores que faz com que estudos deste tipo de escoamento possuam uma maior complexidade
quando comparado com escoamento do tipo monofásico.

Diversas definições relacionadas com esses escoamentos podem ser encontradas na


literatura. Nesse contexto Vij e Dunn (1996) definiram um escoamento bifásico como um fluxo
simultâneo de duas fases separadas uma da outra por uma interface distinta, podendo essas fases
serem um sólido, um líquido ou um gás.

Ishii e Hibiki (2011) descrevem um sistema multifásico como uma região onde
coexistem dois ou mais fluidos imiscíveis separados por uma interface. A complexidade que
acompanha esses escoamentos tem origem devido à existência dessas múltiplas, deformáveis e
móveis regiões. Como consequência, tem-se uma significativa descontinuidade das
propriedades do fluido e dos campos próximos à interface.

Segundo Nascimento (2013), quando se analisa um escoamento multifásico trata-se de


um escoamento simultâneo composto por duas ou mais fases com propriedades diferentes e
imiscíveis em uma tubulação. Nesse tipo de escoamento não se faz distinção rigorosa do
conceito de fase e componente, mas sim do número de interfaces presentes no escoamento.

O escoamento multifásico, mais especificadamente o bifásico, líquido-gás, tem sido


tema de diversas publicações na literatura, tendo sua aplicação mais clássica voltada para a
indústria petrolífera. Comumente, escoamentos trifásicos líquido-líquido-gás (óleo-água-gás)
são tratados como sendo um escoamento bifásico do tipo líquido-gás, no qual a fase líquida é
considerada única, mesmo apresentando diferentes fluidos no estado líquido. Quando se trata
de escoamentos com mais de uma fase, faz-se necessário, para que se tenha uma correta
descrição, um completo entendimento do comportamento de propriedades como vazões,
velocidades e configurações de cada fase no interior do tubo. Na literatura, é possível encontrar
5

diversas notações para possíveis características e propriedades, sejam quais forem os sistemas
sólido-líquido, sólido-gás ou líquido-gás.

O estudo do escoamento bifásico traz consigo inicialmente a necessidade de definir


alguns termos básicos referentes ao escoamento. A seguir, tem-se uma descrição das principais
características desses escoamentos, evidenciando-se as propriedades juntamente com suas
respectivas equações.

2.2 PARÂMETROS GERAIS DO ESCOAMENTO

Durante a modelagem, devido à recorrente determinação de algumas propriedades, faz-se


necessário a definição de determinadas terminologias como os subscritos L e G para as fases
líquida e gasosa, respectivamente. Por definição 𝜑 será utilizado para representar a fração
volumétrica da fase mais densa e 𝜀 representará a fração volumétrica da fase menos densa.

 Vazão mássica (𝑘𝑔⁄𝑠) e fluxo mássico (𝑘𝑔⁄𝑚2 𝑠)

𝑊 = 𝑊𝐿 + 𝑊𝐺 (1)

𝑊𝐿 + 𝑊𝐺
𝐺= = 𝐺𝐿 + 𝐺𝐺 (2)
𝐴

 Vazão Volumétrica (𝑚3 ⁄𝑠)

𝑄 = 𝑄𝐿 + 𝑄𝐺 (3)

 Velocidade Superficial (Superficial velocity)

Assumindo um escoamento bifásico líquido-gás escoando em uma tubulação de seção


transversal A, trata-se das velocidades com que as fases estariam escoando isoladamente. São
calculadas pela razão da vazão volumétrica Q da fase e a área da secção transversal da
tubulação.

𝑄𝐿
𝑣𝑆𝐿 = (4)
𝐴

𝑄𝐺
𝑣𝑆𝐺 = (5)
𝐴
6

Na modelagem fenomenológica, a velocidade superficial é uma variável que aparece de


forma recorrente, principalmente nas coordenadas dos mapas de escoamento. Para uma
determinada tubulação com diâmetro definido e constante, a velocidade superficial representa
diretamente a vazão da fase (FILHO, 2010).

A velocidade de mistura (𝑣𝑀 ) é a soma das velocidades superficiais das fases


envolvidas:

𝑄𝐿 + 𝑄𝐺
𝑣𝑀 = = 𝑣𝑆𝐿 + 𝑣𝑆𝐺 (6)
𝐴

 Velocidade de deslizamento (Slip velocity) e relação de deslizamento

Uma característica importante em escoamentos bifásicos é o deslizamento de uma fase


sobre a outra, devido à presença de diferentes densidades e/ou viscosidades dos fluidos. O fluido
menos denso e/ou viscoso tende a escoar com maior velocidade. Logo, a velocidade de
deslizamento (𝑣𝑠𝑙𝑖𝑝 ) pode ser definida como a velocidade relativa entre ambas as fases e pode
ser calculada a partir da seguinte expressão:

𝑣𝑠𝑙𝑖𝑝 = 𝑣𝐺 − 𝑣𝐿 (7)

Enquanto a relação de deslizamento será dada por:

𝑣𝐺 𝑣𝑠𝑙𝑖𝑝
𝜉= =1+ (8)
𝑣𝐿 𝑣𝐿

 Fração volumétrica de líquido (Líquid holdup)

Devido a fatores como as forças gravitacionais, as fases presentes em um escoamento


multifásico tendem a se mover em diferentes velocidades, o que faz com que a fase gasosa, por
ser menos densa araste uma determinada parte de líquido, sendo este líquido que foi deixado
naquela região denominada liquid holdup (HL), ou seja, trata-se da fração da seção de
escoamento que se encontra ocupada por líquido num determinado instante de tempo. Seu valor
pode variar entre 0 quando se tem a presença apenas de gás escoando e 1 quando se tem apenas
líquido.

Á𝑟𝑒𝑎 𝑜𝑐𝑢𝑝𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜


𝐻𝐿 = (9)
Á𝑟𝑒𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑑𝑢𝑡𝑜
7

Já o liquid holdup sem o deslizamento pode ser calculado pela seguinte expressão:

𝑄𝐿 𝑣𝑆𝐿
𝜆𝐿 = = (10)
𝑄𝐿 + 𝑄𝐺 𝑣𝑆𝐿 + 𝑣𝑆𝐺

 Fração de vazios (void fraction)

Outro termo bastante utilizado é o void fraction (𝛼𝐺 ) que se refere a fração volumétrica
da fase gasosa na seção transversal do tubo.

𝛼𝐺 = 1 − 𝐻𝐿 (11)

 Velocidade real (Actual velocity)

A velocidade real (𝑣) define a velocidade com que os fluidos apresentam-se escoando
juntos na mesma tubulação. As Equações (12) e (13) abaixo descrevem a velocidade real da
fase líquida e gasosa:

𝑣𝑆𝐿
𝑣𝐿 =
𝐻𝐿 (12)

𝑣𝑆𝐺
𝑣𝐺 = (13)
1 − 𝐻𝐿

 Fração mássica

A fração mássica x da fase gasosa, comumente chamada de qualidade é dada por:

𝑊𝐺 𝑊𝐺
𝑥= = (14)
𝑊𝐺 + 𝑊𝐿 𝑊𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

Então, a relação entre a qualidade e o holdup pode ser escrita como:

𝑊𝐺 𝜌𝐺 𝑣𝐺 𝐴𝛼
= (15)
𝑊𝐺 + 𝑊𝐿 𝜌𝐺 𝑣𝐺 𝐴(1 − 𝐻𝐿 )+𝜌𝐿 𝑣𝐿 𝐴

 Propriedades médias dos fluidos

Propriedades da mistura como densidade, viscosidade e tensão superficial são definidas


a partir da fração volumétrica das fases presentes na mistura. Assumindo a condição de
deslizamento (slip) e não deslizamento (no-slip), temos os seguintes conjuntos de expressões:
8

𝜌𝑀(𝑠𝑙𝑖𝑝) = 𝜌𝐿 𝐻𝐿 + 𝜌𝐺 (1 − 𝐻𝐿 )
(16)

𝜇𝑀(𝑠𝑙𝑖𝑝) = 𝜇𝐿 𝐻𝐿 + 𝜇𝐺 (1 − 𝐻𝐿 ) (17)

Adotando que a fase líquida contém óleo e água, o cálculo das propriedades como
viscosidade, densidade e tensão superficial referentes às condições de não-deslizamento tem
como base uma média da taxa volumétrica de água.

𝜌𝐿(𝑛𝑜𝑠𝑙𝑖𝑝) = 𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑓𝐴𝐶 + 𝜌ó𝑙𝑒𝑜 (1 − 𝑓𝐴𝐶 )


(18)

𝜇𝐿(𝑛𝑜𝑠𝑙𝑖𝑝) = 𝜇á𝑔𝑢𝑎 𝑓𝐴𝐶 + 𝜇ó𝑙𝑒𝑜 (1 − 𝑓𝐴𝐶 )


(19)

𝜏𝐿𝐺(𝑛𝑜−𝑠𝑙𝑖𝑝) = 𝜎á𝑔𝑢𝑎 𝑓𝐴𝐶 + 𝜎ó𝑙𝑒𝑜 (1 − 𝑓𝐴𝐶 )


(20)

sendo que 𝑓𝐴𝐶 refere-se a uma relação entre ao fluxo volumétrico de água juntamente com fluxo
volumétrico total da fase líquida, podendo ser descrito pela seguinte expressão:

𝑄á𝑔𝑢𝑎
𝑓𝐴𝐶 = (21)
𝑄á𝑔𝑢𝑎 + 𝑄𝑜𝑙é𝑜

 Número de Froude

O número de Froude é um número adimensional que relaciona o efeito das forças de


inércia e gravitacional que atuam no fluido.

2
𝜐2
𝐹𝑟 = (22)
𝑔𝐷

Para escoamentos bifásicos, pode ser descrito da seguinte forma:

𝑣𝑀 2 (𝑣𝑆𝐺 + 𝑣𝑆𝐿 )2
𝐹𝑟 2 = = (23)
𝑔𝐷 𝑔𝐷

2.3 PADRÕES DE ESCOAMENTO

A principal diferença entre os escoamentos monofásicos e multifásicos deve-se à


existência de padrões de escoamento, ou seja, às diferentes distribuições geométricas que a
interface entre as fases pode assumir ao longo do duto. Em escoamentos bifásicos, em particular
9

do tipo líquido-gás, a distribuição espacial da interface entre as fases presentes pode assumir
uma variedade de configurações, a depender de parâmetros como geometria do duto (diâmetro,
inclinação), condições operacionais (temperatura, vazão, pressão) e propriedades físicas dos
fluidos.

Para que se tenha uma descrição realística desses padrões, é importante o


desenvolvimento de modelos matemáticos que consigam reproduzir de forma precisa, e
completa o comportamento da interface. Variáveis como queda de pressão, holdup, coeficientes
de transferência de calor e massa, tempo de residência são fortemente dependentes desses
padrões (SHOHAM, 2005).

Ainda não se tem uma concordância entre pesquisadores quanto a uma definição e
classificação universal para esses padrões. Essa não concordância deve-se, principalmente, ao
fato de que a descrição desses padrões tem sido determinada, na maioria das situações, por
observações visuais. Além disso, esses padrões são fortemente dependentes do ângulo de
inclinação, e o que se tem relatado é para uma única inclinação ou uma faixa limitada de
ângulos. Em Shoham (2005), é possível obter uma apresentação dessas diferentes distribuições
que esses padrões de escoamento podem assumir em tubos horizontais, verticais e inclinados.
A Figura 1 apresenta os possíveis padrões para o escoamento em tubulações verticais.
Direção do escoamento

Bolhas Pistonado Agitado Anular Bolhas


dispersas
Figura 1 - Padrão de escoamento em tubulações verticais
Fonte: Shoham (2005).

 Escoamento de bolhas (Bubbly flow): Neste padrão, a fase gasosa encontra-se em forma
de bolhas dispersas na fase líquida contínua, bolhas estas que podem assumir as mais
10

diferentes formas geométricas, desde esféricas, a alongadas em pequenos ou grandes


diâmetros. As forças atuantes nessas bolhas dependem fortemente do formato das
mesmas. O escoamento tem como característica o deslizamento entre ambas as fases, e
isto ocorre devido às baixas velocidades da fase líquida.

 Escoamento pistonado (Slug flow): Grande parte da fase gasosa encontra-se em forma
de bolsões denominados “Bolhas de Taylor” e tendem a ocupar toda a seção transversal
do tubo devido ao aumento da velocidade na fase gasosa. Entre a bolha de Taylor e a
parede é possível observar ainda uma pequena película de líquido que flui no sentido
concorrente ao escoamento.

 Escoamento agitado (Churn flow): Esse escoamento é caracterizado pelo movimento


desordenado da fase líquida. Ocorre devido as altas vazões na fase gasosa e os bolsões
produzidos durante o escoamento pistonado tornam-se instáveis ao entrar em contato
com a parede do tubo, quando então esses bolsões são destruídos dando lugar a um
escoamento desordenado no centro do tubo.

 Escoamento anular (Annular flow): Este padrão é caracterizado por altas vazões da fase
gasosa no centro do duto, onde também se tem o arraste de gotas. Em torno da parede
interna do duto tem-se uma película de líquido uniforme que flui lentamente. A estrutura
ondulada da interface associada ao fluxo resulta numa elevada tensão de cisalhamento
interfacial.

 Escoamento bolhas dispersas (Bubble-disperse flow): Padrão de escoamento que ocorre


em elevadas vazões da fase gasosa. A película de líquido contida durante o escoamento
anular é afinada e destruída devido à tensão imposta pelo gás residente no centro. O
líquido como fase dominante arrasta bolhas de gás sem que ocorra nenhum deslizamento
entre as fases.

Para escoamento em dutos horizontais ou inclinados, os padrões de escoamento adotam


formas mais complexas que os verticais. A Figura 2 apresenta os padrões de escoamentos
horizontais mais facilmente encontrados e, em seguida, suas classificações são descritas
(SHOHAM, 2005; BRENNEN, 2005).
11

Estratificado suave

Estratificado
Estratificado-
ondulado

Bolhas-alongadas

Intermitente

Pistonado

Anular
Anular

Anular-ondulado

Bolhas-dispersas

Direção do escoamento

Figura 2 - Padrão de escoamento em tubulações horizontais.


Fonte: Shoham (2005).

 Estratificado (Stratified): Este padrão é desenvolvido devido às baixas taxas de


escoamento das fases de líquido e gás. Sua principal característica deve-se a uma
pequena interface formada entre ambas as fases devido à gravidade. O padrão
estratificado é divido em Estratificado-suave (Stratified-smooth) onde a interface é
completamente lisa, e Estratificado-ondulado (Stratified-wavy), no qual, devido às
elevadas vazões de gás, ocorre a formação na interface de pequenas oscilações
denominadas de ondas. Neste último tipo em particular, quando essas ondas adquirem
amplitudes elevadas, o líquido aumenta junto fazendo com que em alguns casos alcance
a parte superior do duto realizando a transição para o que se chama de escoamento do
tipo intermitente.

 Intermitente (Intermittent): É caracterizado por bolsões de gás que ocupam grande parte
da seção transversal do duto, juntamente com uma camada estratificada de líquido que
escoa na parte inferior. O padrão de escoamento intermitente é dividido em pistonado
12

(Slug) e de bolhas-alongadas (Elongated-bubble). Ambos possuem o mesmo


mecanismo de escoamento. O escoamento de bolhas-alongadas (Elongated-bubble)
ocorre devido a baixas vazões da fase gasosa. Já no escoamento pistonado (Slug), a
principal característica é a formação de redemoinhos próximos à película de líquido,
que ocorrem devido a vazões relativamente altas da fase gasosa.

 Anular (Annular): O escoamento ocorre em elevadas vazões da fase gasosa que escoa
na região central, enquanto o líquido forma uma película fina na parede da superfície
interna do tubo. Este escoamento ocorre na fronteira de transição entre estratificado-
ondulado, pistonado e anular. Comumente é classificado em anular (Annular) e anular-
ondulado (Wavy-Annular). A diferença entre ambos é mais distinguível em escoamentos
ascendentes inclinados, pois nos escoamentos anular-ondulado (Wavy-Annular) o
líquido se move para frente na forma de ondas que sobrepõem o filme líquido.

 Bolhas-dispersas (Dispersed-Bubble): Ocorre devido as taxas elevadas de escoamento


da fase líquida, a presença da fase gasosa dá-se na forma de bolhas dispersas
uniformemente em toda área da seção transversal. Similar ao descrito nas tubulações
verticais, ocorre quando se tem um efeito gravitacional significante, e por isso as bolhas
presentes tendem a se manter na parte superior do duto.

Aplicações do estudo desses padrões são facilmente encontrados na literatura. Yusuf et


al. (2012) realizaram um estudo visando descrever o efeito da viscosidade na estrutura do
escoamento horizontal óleo-água. O estudo experimental foi realizado numa seção de teste com
um tubo de acrílico de 25,4 mm de diâmetro, sendo unido por uma tubulação do tipo U-bend
com duas seções de 8 m de comprimento. Os fluidos utilizados para teste foram óleo e água
com uma densidade de 0,875 g/cm3 e 0,998 g/cm3 e viscosidade 12 cP e 1 cP, respectivamente.
A tensão interfacial entre ambas foi de 20,1 mN/m. De modo geral, seis padrões de escoamento
foram identificados, o escoamento estratificado sofreu transição para o escoamento de bolhas
quando a velocidade superficial da água era menor que 0,1 m/s, e em velocidades maiores tinha-
se a transição para o escoamento anular. Em baixas velocidades de óleo, a velocidade superficial
da água necessária para iniciar a transição do fluxo não-estratificado aumentou à medida que o
valor da viscosidade de óleo foi elevado.

Segundo Shoham (2005), o padrão dominante para um escoamento descendente em


tubulações inclinadas é o ondulado-estratificado, pois o mesmo ocorre, desde o escoamento
horizontal até inclinações de 80°, conforme apresentado na Figura 3. No escoamento horizontal,
13

inclinado e vertical ascendente o escoamento de bolhas-dispersas e anular ocorre devido a altas


vazões de líquido e gás, respectivamente. Já no escoamento vertical descendente, o padrão
estratificado desaparece e o regime anular surge com a formação de um filme de líquido
próximo à parede do duto. Já o padrão slug formado nesses escoamentos é semelhante ao que
ocorre no fluxo ascendente, exceto devido à maior instabilidade das bolhas de Taylor.

Figura 3 - Padrão de escoamento em tubulações inclinadas.


Fonte: Shoham, (2005).

O principal efeito das pequenas inclinações em relação aos padrões de escoamento


horizontal é observado na transição entre o fluxo estratificado e o não-estratificado. A transição
do estratificado para o intermitente é muito sensível, mesmo para inclinações ascendentes
menores que 1°. Para inclinações ascendentes superiores a 20º, o fluxo estratificado não é
observado, tendo como predominância a presença de fluxo intermitente ocorrendo ao longo de
uma gama mais ampla de condições.

A predição desses padrões ainda é bastante incerta, devido às diversas transições que
podem ocorrer durante o escoamento. Porém, na literatura é possível encontrar diversos tipos
14

de mapas que podem ajuda a prever a formação desses padrões a depender de variáveis como
vazão e velocidade superficial, por exemplo.

Qualquer tentativa de ter uma solução geral e exclusiva para todos os padrões de
escoamento é extremamente complicada. No entanto, o estudo do comportamento desses
escoamentos torna um pouco mais fácil a análise de cada padrão separadamente, pois só assim
é possível o desenvolvimento de modelos específicos para cada padrão. Estes modelos auxiliam
na predição de importantes variáveis como queda de pressão, holdup, e coeficientes de
transferência de calor e massa.

2.4 MAPAS DE ESCOAMENTOS

As primeiras abordagens para predição de padrões de escoamento foram empíricas. A


identificação desses padrões foram realizadas, principalmente, por testes visuais em laboratório.
Normalmente suas representações foram feitas em mapas bidimensionais, utilizando variáveis
como velocidade superficial, fluxo de massa ou momento como coordenadas para mapear as
mudanças de cada padrão durante o escoamento. Esses mapas possuem linhas de transição que
delimitam regiões nas quais ocorre a formação de um determinado padrão específico (TAITEL
et al. 1976). Na maioria desses mapas, as coordenadas foram escolhidas arbitrariamente, sem
uma base física. Logo, é esperado que esses mapas possuam uma certa confiança apenas na
faixa de condições semelhantes àquelas para as quais os dados foram adquiridos, sendo que
uma extensão a outras condições de fluxo é incerta.

Um dos pioneiros a propor mapas que correlacionam regimes de escoamento foi Baker
(1954). As Equações (24) e (25) fornecem os valores para os fatores 𝜆 e 𝜓 tendo como base o
fluxo mássico das fases (GG e GL). De posse das propriedades e velocidades superficiais de
ambas as fases, juntamente com a área da seção reta do tubo, é possível determinar o padrão de
escoamento no mapa de Baker, apresentado na Figura 4.

𝜌𝐺 𝜌𝐿 0,5
𝜆 = [( )( )] (24)
0,075 62,5

1
73 62,3 2 3 (25)
𝜓= [𝜇 ( ) ]
𝜎 𝐿 𝜌𝐿
15

Figura 4 - Mapa de Baker.


Fonte: Perry (1997).

O mapa de Baker foi de grande valia na época. Porém, o trabalho foi realizado à
temperatura e pressão constantes de 20ºC e 1 atm, o que faz com que se tenha uma aplicação
limitada, podendo esses resultados serem usados apenas para sistemas com condições
operacionais similares.

Com a constatação de que o mapa de Baker era deficiente para predizer padrões de
escoamento em diferentes condições operacionais, Beggs e Brill (1973) desenvolveram um
novo método para prever regimes de escoamento em sistemas bifásicos. Suas correlações
possibilitaram aplicações para quase todos os intervalos dos ângulos de inclinação, porém só
não é recomendado para o escoamento vertical ascendente porque não prevê a queda de pressão
(SHOHAM, 2005).

O estudo experimental realizado por Beggs e Brill foi feito em dutos de acrílico com 90
ft de comprimento e diâmetros de 1 e 1,5 in, com ângulos de inclinação que podiam variar entre
0º e 90º. Para cada diâmetro da tubulação, as vazões de gás e líquido eram variadas para que se
pudesse observar o tipo de escoamento (MARTINS, 2011). Quatro tipos foram considerados
como forma de simplificação dos limites: segregado, intermitente, transição e distribuído. O
mapa foi desenvolvido tendo como coordenadas o número de Froude e o holdup de líquido
conforme apresentado na Figura 5.
16

Figura 5 - Mapa para escoamento horizontal de Beggs e Brill (1973).


Fonte: Shoham (2005).

Os autores também ajustaram equações às linhas de transição da Figura 5, para que o


tipo de regime pudesse ser determinado sem a necessidade da referência no gráfico. Os padrões
de escoamentos descritos neste trabalho, podem ser determinado a partir das seguintes
expressões:

𝐿1 = 316𝐻𝐿−0,302 , 𝐿2 = 0,0009252𝐻𝐿−2,4684 , 𝐿3 = 0,10𝐻𝐿−1,4516 , 𝐿4 = 0,5𝐻𝐿−6,738 (26)

 Segregado: 𝐻𝐿 < 0,01 𝑒 𝐹𝑟𝑀2 < 𝐿1 , 𝑜𝑢 𝐻𝐿 ≥ 0,01 𝑒 𝐹𝑟𝑀2 < 𝐿2 .


 Transição: 𝐻𝐿 ≥ 0,01 𝑒 𝐿2 ≤ 𝐹𝑟𝑀2 ≤ 𝐿3 .
 Intermitente: 0,01 ≤ 𝐻𝐿 ≤ 0,4 𝑒 𝐿3 ≤ 𝐹𝑟𝑀2 ≤ 𝐿1 , 𝑜𝑢 𝐻𝐿 ≥ 0,4 𝑒 𝐿3 ≤ 𝐹𝑟𝑀2 ≤ 𝐿4 .
 Distribuído: 𝐻𝐿 < 0,4 𝑒 𝐹𝑟𝑀2 ≥ 𝐿1 , 𝑜𝑢 𝐻𝐿 ≥ 0,4 𝑒 𝐹𝑟𝑀2 ≤ 𝐿4 .

Outro mapa que possui bastante aceitação foi elaborado por Mandhane et al. (1974),
tendo como base 1.178 observações de diversos pesquisadores, todas referentes a um
escoamento ar-água em tubos de pequeno diâmetro (SHOHAM, 2005). A coordenada
horizontal faz referência à velocidade superficial do ar. Já a coordenada vertical faz referência
à velocidade superficial do líquido.

Este é o mapa mais simples de ser utilizado, além de ser o que possui melhor
concordância com os demais mapas e dados experimentais disponíveis para escoamento
bifásico ar-água (FILHO, 2010).
17

A Figura 6, adaptado de Oliveira et al. (2010), apresenta o mapa de escoamento


produzido por Mandhane et al. (1974), juntamente com as linhas que delimitam as regiões de
regime estratificado (stratified flow), ondulado (stratified-wavy flow), bolhas alongadas
(elongated bubble), pistonado (slug flow), de bolhas (dispersed flow) e anular (annular).

Figura 6 - Mapa para escoamento horizontal proposto por Mandhane et al. (1974).
Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2010).

Não é fácil representar todas as transições possíveis para um escoamento em termos de


um único conjunto de parâmetros; sempre há a necessidade de prever padrões em pressões
superiores ou em tubos de diâmetro maiores do que os utilizados na grande maioria dos mapas
existentes.

2.4.1 Modelo Teórico de Taitel e Dukler

Na tentativa de representar todos os padrões, Taitel e Dukler (1976) propuseram em seu


trabalho um modelo teórico para predizer as transições entre esses padrões, levando em
consideração os mecanismos físicos e o efeito das variáveis. Para isso, foi imposto inicialmente
que o padrão a escoar é do tipo estratificado, em seguida a partir de uma análise da estabilidade
para o escoamento é possível determinar se o padrão após desenvolvido mantem-se estável. Se
18

for estável, o escoamento estratificado ocorre. Caso o escoamento não seja estável, há um
escoamento não-estratificado ocorrendo, assim o padrão de escoamento resultante deverá ser
determinado.

Inicialmente o modelo visa determinar relações matemáticas tendo como referência o


holdup (𝐻𝐿 ) no tubo para um dado conjunto de condições (diâmetro e inclinação do tubo,
propriedades físicas dos fluidos etc.) dentro de um volume de controle que possui um
comprimento axial ∆𝐿, conforme visto na Figura 7.

Figura 7 - Equilíbrio do escoamento estratificado.


Fonte: Shoham (2005).

A equação do balanço de momento para as fases líquida e gasosa é definida pelas


seguintes expressões (SHOHAM, 2005):

𝑑𝑝
−𝐴𝐿 | − 𝜏𝑊𝐿 𝑆𝐿 + 𝜏𝐼 𝑆𝐼 − 𝜌𝐿 𝐴𝐿 𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 = 0 (27)
𝑑𝐿 𝐿
𝑑𝑝
−𝐴𝐺 | − 𝜏𝑊𝐺 𝑆𝐺 − 𝜏𝐼 𝑆𝐼 − 𝜌𝐺 𝐴𝐺 𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 = 0 (28)
𝑑𝐿 𝐺

Eliminando os termos de queda de pressão e combinando as equações de momento de


ambas as fases, tem-se a equação implícita para a altura de nível de líquido na tubulação:

𝑆𝐺 𝑆𝐿 1 1
𝜏𝑊𝐺 − 𝜏𝑊𝐿 + 𝜏𝐼 𝑆𝐼 ( + ) − (𝜌𝐿 − 𝜌𝐺 )𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 = 0 (29)
𝐴𝐺 𝐴𝐿 𝐴𝐿 𝐴𝐺

Afim de resolver a equação acima faz-se necessária a determinação das variáveis


geométricas (diâmetro, perímetro e área de ambas as fases), velocidades físicas e a tensão de
cisalhamento presentes no escoamento. A tensão de cisalhamento é dada por:

𝜌𝐿 𝑣𝐿2
𝜏𝑊𝐿 = 𝑓𝐿 (30)
2
19

𝜌𝐺 𝑣𝐺2
𝜏𝑊𝐺 = 𝑓𝐺 (31)
2
𝜌𝐺 (𝑣𝐺 − 𝑣𝐼 )2
𝜏𝐼 = 𝑓𝐼 (32)
2

Os fatores de atrito do gás e do líquido são definidos com base em seus respectivos
números de Reynolds, dados pelas seguintes expressões:

𝑑𝐿 𝑣𝐿 𝜌𝐿 −𝑛
𝑓𝐿 = 𝐶𝐿 (𝑅𝑒𝐿 )−𝑛 = 𝐶𝐿 ( ) (33)
𝜇𝐿
𝑑𝐺 𝑣𝐺 𝜌𝐺 −𝑚
𝑓𝐺 = 𝐶𝐺 (𝑅𝑒𝐺 )−𝑚 = 𝐶𝐺 ( ) (34)
𝜇𝐺

Para que ocorram transições no padrão estratificado, a velocidade do gás tem de ser
maior que a do líquido. Neste modelo, como é assumido que existe uma interface suave (𝑓𝐼 ≈
𝑓𝐺 ), negligencia-se a velocidade da interface, pois 𝑣𝐺 ≫ 𝑣𝐼 . Com estas aproximações, a tensão
de cisalhamento interfacial é igual à tensão de cisalhamento da fase gasosa (SHOHAM, 2005).

A Tabela 1 mostra os valores adotados por Taitel e Dukler (1976) para constantes
utilizadas no cálculo dos fatores de atrito.

Tabela 1 - Constantes para cálculo dos fatores de atrito.


Constantes Escoamento Turbulento Escoamento Laminar
CL 0,046 16
CG 0,046 16
m 0,2 1,0
n 0,2 1,0
Fonte: Shoham (2005).

É necessário transformar as equações para sua forma adimensional, visto que a solução
final para o nível de líquido é apresentada como adimensional. Então, a partir de agora essas
variáveis adimensionais serão designadas por um til (~). Variáveis como comprimento, área, e
velocidades superficiais assumem a seguinte forma:

𝑆̃𝐿 ̃ 𝑆̃𝐼
2 𝑆𝐺 𝑆̃𝐼
𝑋 2 [(𝑣 ̃ −𝑛 ̃𝐿 2
𝐿 𝐿) 𝑣
̃𝑑 ̃
] − [(𝑣̃𝑑
𝐺 𝐺 )
−𝑚
𝑣
̃𝐺 ( + + )] + 4𝑌 = 0 (35)
̃𝐿
𝐴 ̃𝐺 𝐴
𝐴 ̃𝐿 𝐴̃𝐺

sendo:
20

4𝐶𝐿 𝑣𝑆𝐿 𝜌𝐿 𝑑 −𝑛 𝜌𝐿 𝑣𝑆𝐿 2 𝑑𝑝


− 𝑑𝐿 |
( )
𝑑 𝜇𝐿 2 𝑆𝐿
𝑋2 = −𝑚 = (36)
4𝐶𝐺 𝑣𝑆𝐺 𝜌𝐺 𝑑 𝜌𝐺 𝑣𝑆𝐺 2 − 𝑑𝑝|
𝑑 ( 𝜇𝐺 ) 2 𝑑𝐿 𝑆𝐺
(𝜌𝐿 − 𝜌𝐺 )𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 (𝜌𝐿 − 𝜌𝐺 )𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃
𝑌= −𝑚 =
4𝐶𝐺 𝑣𝑆𝐺 𝜌𝐺 𝑑 𝜌𝐺 𝑣𝑆𝐺 2 𝑑𝑝 (37)
( ) − 𝑑𝐿 |
𝑑 𝜇𝐺 2 𝑆𝐺

O parâmetro X faz referência ao adimensional de Lockhart e Martinelli, seu cálculo é


feito tendo como base as propriedades do fluido e diâmetro do duto. Já o Y representa as forças
relativas que atuam sobre o líquido na direção do escoamento devido à gravidade e o termo de
queda de pressão.

̃𝐿 = ℎ𝐿) com as variáveis geométricas da


A relação do nível de líquido adimensional (ℎ 𝐷

tubulação tem-se a partir das seguintes expressões:

̃𝐿 − 1) + ( 2ℎ
̃𝐿 = 0,25 |𝜋 − 𝑐𝑜𝑠 −1 (2ℎ
𝐴 ̃𝐿 − 1)2 |
̃𝐿 − 1)√1 − (2ℎ (38)

̃𝐿 − 1) − ( 2ℎ
̃𝐺 = 0,25 |𝑐𝑜𝑠 −1 (2ℎ
𝐴 ̃𝐿 − 1)2 |
̃𝐿 − 1)√1 − (2ℎ (39)

̃𝐿 − 1)
𝑠̃𝐿 = 𝜋 − 𝑐𝑜𝑠 −1 (2ℎ (40)
−1 ̃
𝐺 = 𝑐𝑜𝑠 (2ℎ𝐿 − 1)
𝑠̃ (41)

̃𝐿 − 1)2
𝑠̃𝐼 = √1 − (2ℎ (42)

4𝐴̃𝐿
̃𝐿 =
𝑑 (43)
𝑆̃𝐿
̃𝐺
4𝐴
𝑑̃𝐺 = (44)
𝑆̃ ̃
𝐺 + 𝑆𝐼

Para as velocidades físicas tem-se:

̃𝑃
𝐴 ̃𝑃
𝐴
𝑣
̃𝐿 = 𝑒 𝑣̃𝐺 = (45)
̃𝐿
𝐴 ̃𝐺
𝐴

̃𝐿 para todas as condições (tamanho e


Cada par X-Y corresponde a um único valor de ℎ
inclinação do duto, taxas de escoamento e propriedades do fluido) em que o escoamento
21

estratificado existe. Para altas velocidades de ambas as fases, pode haver mais de uma solução
̃𝐿 deve ser utilizado (NASCIMENTO, 2013).
numérica, e neste caso o menor valor de ℎ

Na Figura 8, as linhas cheias representam o caso em que ambas as fases estão em


escoamento turbulento, enquanto que as linhas tracejadas correspondem o caso em que se tem
a fase líquida turbulenta e a fase gasosa laminar. A determinação das condições de escoamento
de ambas as fases, seja em regime turbulento ou laminar, deve se basear no número de
Reynolds, velocidade e diâmetro hidráulico real de cada fase, e não sobre o número de Reynolds
superficial que tem como base a velocidade superficial e o diâmetro do duto (SHOHAM, 2005).

Figura 8 - Equilíbrio do nível de líquido em escoamentos estratificados.


Fonte: Shoham (2005).

2.4.2 Transição do Escoamento Estratificado

Em diversos experimentos e estudos analíticos tem-se descrito uma gama de condições


em que o padrão intermitente é observado, no qual nota-se como característica que o fluxo na
entrada do tubo é inicialmente estratificado. À medida que se aumenta a vazão de líquido,
dentro do tubo tem-se a formação de uma onda que cresce continuamente, tendendo a bloquear
o escoamento. Em baixas vazões de gás, o bloqueio forma uma ponte, e acontece a formação
do escoamento em golfadas (Slug flow). Em vazões elevadas de gás não se tem líquido
escoando para manter ou formar essas pontes, e todo líquido é arrastado de modo que se forma
um anel ao redor da parte interna do tubo. Esta transição pode ser definida como a transição do
escoamento estratificado para o escoamento intermitente ou anular (NASCIMENTO, 2013).
22

A transição do regime estratificado é frequentemente modelada utilizando como base a


análise de instabilidade de Kelvin-Helmholtz. Essa teoria relata que a transição ocorre
inicialmente devido ao desprendimento de uma parcela da fase líquida próximo a interface, à
medida que a velocidade do gás aumenta, a pressão na interface sobre essa onda tende a
diminuir, e como consequência disso sua amplitude aumenta. A Figura 9 mostra uma
representação esquemática dessa teoria, onde as alturas de equilíbrio de líquido e gás são ℎ𝐿 e
ℎ𝐺 , respectivamente, enquanto que as alturas respectivas associadas com o pico da onda são ℎ′𝐿
e ℎ′𝐺 .

Figura 9 - Esquema simplificado da análise de estabilidade Kelvin-Helmholtz.


Fonte: Shoham (2005).

De acordo com essa teoria para escoamento entre placas paralelas infinitas, as ondas
irão crescer quando as forças de sucção que provocam o crescimento das ondas for maior que
as forças gravitacionais que estabilizam o escoamento.

−0,5
𝑔(𝜌𝐿 − 𝜌𝐺 )ℎ𝐺
𝑣𝐺 > 𝐶1 [ ] (46)
𝜌𝐺

sendo que ℎ𝐺 a distância entre a placa superior e o nível de líquido em equilíbrio. Já o valor
para 𝐶1 depende do tamanho da onda.

−0,5
2
𝐶1 = [ ] (47)
(ℎ𝐺 ⁄ℎ′𝐺 )(ℎ𝐺 ⁄ℎ′𝐺 + 1)

Para uma onda infinitesimal ℎ𝐺 ⁄ℎ′𝐺 → 1 e 𝐶1 → 1, e a Equação (47) é reduzida à


equação original de Kelvin-Helmholtz desenvolvida para o crescimento de onda em fluxos
invíscidos. Para escoamentos em tubos circulares com pequenas ondas finitas, o resultado pode
ser obtido a partir de uma expansão da série de Taylor para 𝐴𝐺 , que produz (SHOHAM, 2005):

−0,5
(𝜌𝐿 − 𝜌𝐺 )𝑔 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝐴𝐺
𝑣𝐺 > 𝐶2 [ ] (48)
𝜌𝐺 𝑆
23

sendo

(𝐴′𝐺 ⁄𝐴𝐺 )2
𝐶22 = 2 (49)
(1 + 𝐴′𝐺 ⁄𝐴𝐺 )

Quando o nível de líquido em equilíbrio aproxima-se do topo do tubo, 𝐴𝐺 é pequeno e


a aparência de uma onda mesmo de pequena amplitude tende a aproximar 𝐴′𝐺 ⁄𝐴𝐺 e 𝐶2 de zero.
De forma recíproca, para baixos níveis de líquido, a aparência de uma onda de amplitude finita
pequena irá causar pouco efeito no tamanho da lacuna de gás, e 𝐶2 irá se aproximar de 1,0
(NASCIMENTO, 2013). Por esta razão especula-se que 𝐶2 pode ser estimado como:

ℎ𝐿
𝐶2 = 1 − (50)
𝐷

Recentemente, Tzotzi et al. (2013) estudaram o efeito das propriedades sobre os padrões
de escoamento, usando observações visuais e sonda de condutividade. Foram utilizados dois
tipos de gases no estudo, CO2 e He em condições atmosféricas em um longo tubo de 12,75 m
com um diâmetro de 0,024 m em tubos com inclinações descendentes de 0°, 0,25° e 1°. Os
estudos se concentraram em sub-regiões estratificadas e concluíram que a densidade do gás
afeta fortemente a transição para ondas de Kelvin-Helmholtz, enquanto que a transição de
estratificado para golfadas permanece inalterada.

Park et al. (2016) estudaram a formação de ondas em uma interface óleo-água. O estudo
foi realizado em uma secção de ensaio acrílico com 8 metros de comprimento com 37
milímetros de diâmetro. Os dois fluidos foram armazenados separados em tanques e conduzidos
por bombas até a seção de teste. Uma haste com diâmetro externo de 5 mm foi introduzida a
460 mm da entrada. Os padrões de escoamento e as características interfaciais das ondas foram
obtidos a partir de gravações com uma câmera de alta velocidade. A distância para captação
das imagens foram iguais a 40,0; 55,9; 71,8; 87,7 e 103,6 mm, tendo como referência a haste. As
experiências foram conduzidas para velocidades de mistura que variam entre 0,62 e 2,17 m / s
e taxas de escoamento de óleo-água entre 0,29 e 3,50. Nos sistemas com e sem haste, foram
observados três padrões de escoamento diferentes. Os padrões de escoamento quando não se
tinha nenhuma haste mostrou boa concordância com padrões identificados em estudos
anteriores no mesmo sistema. A transição do escoamento estratificado para não estratificado
ocorre com o aumento da velocidade de mistura em ambos os casos. O momento inicial de
transição foi considerado quando ocorreu o primeiro aparecimento de uma gota de óleo ou
24

água. Esta transição é retardada para velocidades mais elevadas de mistura, onde as velocidades
relativas entre as duas fases são baixas. Enquanto o comprimento médio da onda e frequência
se mantiveram constantes, a posição média da interface aumentou gradualmente com a distância
da haste. Quanto mais distante a haste se encontrava, maior a velocidade de mistura, e
consequentemente maior a altura para a interface. Com o estudo foi possível concluir, que a
presença da haste num tubo proporciona melhoria no controle dos padrões de escoamento, além
de realizar melhorias na mistura das fases presentes, o que aumenta as taxas de transferência de
calor e massa.

Em casos onde há uma condição de escoamento instável, tem-se a ocorrência da


transição do padrão estratificado para outros padrões de escoamento. Logo, como resultado da
teoria de Taitel e Dukler, tendo como base os fenômenos físicos do escoamento, juntamente
com condições operacionais como taxa de escoamento de líquido, diâmetro e inclinação do
duto, é possível prever essas transições para diferentes padrões de escoamento a partir de um
grupo de três adimensionais:

0,5
𝑑𝑝
− 𝑑𝐿 |
𝑆𝐿 (51)
𝑇= [ ]
(𝜌𝐿 − 𝜌𝐺 )𝑔 𝑐𝑜𝑠 𝜃

𝜌𝐺 𝑣𝑆𝐺
𝐹= √ (52)
𝜌𝐿 − 𝜌𝐺 √𝑔 𝑑 𝑐𝑜𝑠 𝜃
1⁄
𝑣𝑆𝐿 𝜌𝐿 𝑑 2
𝐾 = 𝐹[ ] = 𝐹 2 𝑅𝑒𝑆𝐿 (53)
𝜇𝐿

Sendo os critérios para transição entre os padrões de escoamentos:

̃𝐺
8𝐴
𝑇2 ≥ [ −𝑛 ] (54)
𝑆̃𝐼 𝑣̃𝐿2 (𝑣̃𝐿 − 𝑑̃𝐿 )

1 𝑣̃𝐺2 𝑆̃𝐼
𝐹2 [ 2 ̃ ]≥ 1 (55)
(1 − ℎ̃𝐿 ) 𝐴 𝐺

2
𝐾≥[ ] (56)
√𝑣
̃𝑣
𝐿 ̃√𝑆
𝐺
25

Segundo Taitel e Dukler (1976), as diferentes transições eram controladas pelo


agrupamento abaixo:

i. Transição de estratificado para anular - X, F.


ii. Transição de estratificado para intermitente - X, F.
iii. Transição entre os padrões intermitente para bolhas - X, T.
iv. Transição de estratificado suave para estratificado ondulado - X, K.

̃𝐿 , se ℎ
Para a predição da transição para o padrão anular é necessário checar o ℎ ̃𝐿 < 0,35,
e o critério da Equação (55) for satisfeito, a transição ocorre para o padrão anular.

Todos os critérios de transição são função de um parâmetro adimensional (F, K ou T) e


̃𝐿 , que por sua vez depende dos parâmetros X e Y. Para um duto horizontal Y = 0, ou seja
do ℎ
̃𝐿 = 𝑓(𝑋). Essas transições podem também ser representadas a partir de um mapa

bidimensional, como pode ser visto nas Figuras 10 e 11.

Figura 10 - Mapa para padrão de escoamento horizontal e ligeiramente inclinado


(Taitel e Dukler, 1976).
Fonte: Shoham (2005).
26

Figura 11 - Mapa para padrão para escoamento horizontal (Taitel e Dukler, 1976).
Fonte: Shoham (2005).

O modelo teórico produzido por Taitel e Dukler (1976) foi comparado com dados
experimentais para escoamento água-ar em condições atmosféricas em tubos horizontais com
2,5 cm de diâmetro e ligeiramente inclinados, mostrando uma concordância bastante satisfatória
com os dados relativos ao regime estratificado e as fronteiras de transição para o não-
estratificado do mapa de Mandhane et al., (1974). Porém, para tubos com diâmetros maiores, o
estudo mostrou uma alta sensibilidade nas regiões de transição previstas pelo modelo, isto
ocorreu devido à inclinação do tubo (SHOHAM, 2005).

Figura 12 - Comparação do modelo Taitel e Dukler (1976) com o mapa de Mandhane (1974).
Fonte: Shoham (2005).
27

Alguns estudos envolvendo o cálculo do holdup podem ser encontrados na literatura,


como o descrito por Thibault et al. (2016), onde se relata o problema da ocorrência de múltiplas
soluções para holdup em um escoamento estratificado. Para seu estudo, um modelo de
escoamento monodimensional estacionário foi adotado para acompanhar a evolução do holdup
longitudinalmente através do canal. A possibilidade de ocorrer choques hidráulicos durante a
evolução do sistema também foi investigada, e um modelo de segunda ordem foi proposto,
incluindo-se então os efeitos de difusão da tensão viscosa ao longo do tubo devido gradientes
na interface. O modelo foi aplicado a um escoamento laminar-laminar, num canal 2D inclinado,
onde o óleo e a água fluí am simultaneamente. Seus resultados mostraram que quando é
esperada uma única solução, então o modelo numérico converge para a mesma. Para outras
condições de operação, onde existem três soluções, a solução mais elevada e a inferior são
obtidas como equilíbrios estáveis, enquanto a solução intermediária é instável. Para saber se o
choque hidráulico poderia ocorrer, dois mapas foram elaborados. O primeiro comparou as
curvas de estado crítico ao longo das velocidades superficiais de ambas as fases. Desse modo,
foi possível ver que o estado de funcionamento do sistema pode sofrer choques hidráulicos em
condições de ocorrência do holdup. O segundo mapa plotado, demonstrou a evolução
longitudinal da trajetória do holdup com o número de Froude. Em condições de escoamento
crítico, os gradientes na interface finita foram previstos por modelos de primeira ordem, o que
levou a uma divergência numérica nos resultados. Por outro lado, a inclusão do termo de difusão
da tensão viscosa no modelo de segunda ordem manteve o nível do gradiente da interface finita
próximo, e na condição de escoamento crítico.

Schleicher et al. (2015) descreveram o estudo com diversos escoamentos estratificados


bifásicos sob condições de baixa carga de líquido. A partir de um novo algoritmo para descrição
da estrutura da interface, sua distribuição espacial foi melhorada a partir da implementação de
sensores wire-mesh (WMS) na tubulação. Para o experimento, foram utilizados tubulações de
56,4 m de comprimento com 3 e 6 polegadas de diâmetro, onde ocorre o escoamento
estratificado bifásico de óleo-ar e água-ar, respectivamente. O emprego dos sensores WMS
consiste de dois planos de fios paralelos, posicionados perpendicularmente uns aos outros
dentro da tubulação. Para o escoamento, os dados foram coletados com uma camada dupla de
32x32 e 16x16 eletrodos, para tubulação de 6 e 3 polegadas, respectivamente. Para o
experimento ar-óleo a velocidade superficial variou entre 9,2 𝑚/𝑠 ≤ 𝑣𝑆𝐺 ≤ 15 𝑚/𝑠 e
0,01 𝑚/𝑠 ≤ 𝑣𝑆𝐿 ≤ 0,02 𝑚/𝑠, respectivamente. Já nos experimentos envolvendo água-ar as
velocidades superficiais variaram entre 9,21 𝑚/𝑠 ≤ 𝑣𝑆𝐺 ≤ 33,5 𝑚/𝑠 e 0,03 𝑚/𝑠 ≤ 𝑣𝑆𝐿 ≤
28

0,2 𝑚/𝑠. Após 17 m da entrada da seção de teste, estava localizado o WMS para assegurar que
o escoamento das duas fases esteja totalmente desenvolvido por toda a tubulação. A saída da
seção de teste estava ligada a um separador, onde o ar e o líquido eram bombeados de volta
para o tanque de recirculação, mantendo o fluxo estratificado dentro da seção de teste. Com
base na curva interpolada pelo algoritmo foi verificado o centro de massa de cada pixel obtido,
tendo valores de 0 e 1 selecionados para representar a fase gasosa e líquida, respectivamente.
Visualizada a interface ondulada, notou-se que nos primeiros 0,5 s, para as condições 𝑣𝑆𝐺 =
9,2𝑚/𝑠 𝑒 𝑣𝑆𝐿 = 0,2 𝑚/𝑠 as características ondulatórias do escoamento obtido no conjunto de
dados é bem mais rápida que as originais sem sensores WMS. Valores obtidos para o holdup a
partir do conjunto de dados, e dos WMS foram comparados com estudos com o método Quick
Closing Valve (QCV). O desvio máximo entre o WMS e QCV foi de 1,74%, já o desvio absoluto
foi de 0,56%. As medições para o escoamento água-ar foram tratadas de forma semelhante,
porém não foi possível a comparação ao método QCV devido à ausência de estudos.

2.5 GRADIENTE DE PRESSÃO

Segundo Shoham (2005), dentre os modelos determinísticos disponíveis na literatura


para a quantificação do termo de queda de pressão total de um escoamento bifásico líquido-gás,
tem-se dois como os principais, o Modelo Homogêneo e o Modelo de Fases Separadas. No
modelo homogêneo, o escoamento é tratado como monofásico. A premissa básica do Modelo
Homogêneo é que as fases estão tão intimamente misturadas que é possível admitir que a
mistura é homogênea. Já no modelo de fases separadas, as fases de líquido e gás são tratadas
separadamente, onde há a possibilidade da existência de uma velocidade relativa e uma relação
de deslizamento entre as fases. A utilização da possibilidade de velocidades diferentes é
importante quando as massas específicas são consideravelmente diferentes, pois essas sofrem
uma influência significativa do campo gravitacional ou de grandes variações de pressão.

Os padrões bubble flow, slug flow e churn flow, principalmente sob altas pressões,
apresentam a formação de uma grande área interfacial, e condições como esta fazem com que
a aplicação do modelo homogêneo ao problema torne-se válida. Já para situações de rápida
aceleração do escoamento ou altas variações de pressão, como em descargas flash líquido-
vapor, o modelo não é aconselhável. Outro exemplo da não validade desse modelo homogêneo
é a produção de petróleo, ´pois as condições de pressão no reservatório e na descarga durante a
produção são muito elevadas (DANTAS, 2011).
29

Em seu estudo, Correia et al. (2011) compararam dois simuladores de fluxo multifásico
comerciais utilizando modelo homogêneo juntamente com uma base de dados experimentais
obtidas em campos de petróleo para escoamentos do tipo gás-líquido. Os desvios entre os dados
experimentais da fração de volume e as previsões eram de cerca de 200% para o fluxo
estratificado. As comparações com dados de campo mostraram uma elevada estimativa na
queda de pressão, que chegou a cerca de 100% na região dominada pela gravidade, onde o fluxo
estratificado era esperado.

Para ambos os modelos, o cálculo do gradiente de pressão total em escoamentos


compreende três componentes: aceleração, atrito e gravitacional.

𝑑𝑝 𝑑𝑝 𝑑𝑝 𝑑𝑝
− = −( ) −( ) −( ) (57)
𝑑𝐿 𝑑𝐿 𝐹 𝑑𝐿 𝐺𝑟𝑎𝑣 𝑑𝐿 𝐴

O tratamento dessas componentes em escoamentos bifásicos é similar às correlações


descritas para os escoamentos monofásicos, tendo apenas modificações com relação à massa
específica e ao fator de atrito, que são definidos em função das propriedades da mistura. A
componente gravitacional da expressão equivale à força hidrostática exercida dentro do duto,
podendo ser expressa da seguinte forma:

𝑑𝑝
− | = 𝜌𝑀 𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 = [(1 − 𝐻𝐿 )𝜌𝐺 + 𝐻𝐿 𝜌𝐿 ]𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 (58)
𝑑𝐿 𝐺𝑟𝑎𝑣

Normalmente, o termo de queda de pressão por aceleração para o escoamento bifásico


possui uma complexidade maior na descrição quando comparado a escoamentos do tipo
monofásico, o que ocorre devido a possível diferença entre as velocidades das fases de líquido
e gás. Além disso, esse termo em escoamentos monofásicos é considerado desprezível em
condições em que se têm pressões relativamente baixas e fluidos compressíveis.

𝑑𝑝 2 (
𝑑𝑥 𝑑𝑝 𝑑𝑣𝐺 𝑑𝑣𝐿 𝐺 2 1 𝑑𝐴
− | = 𝐺 [ 𝑣𝐺 − 𝑣𝐿 ) + (𝑥 (
+ 1−𝑥 ) )] − (59)
𝑑𝐿 𝐴 𝑑𝐿 𝑑𝐿 𝑑𝑝 𝑑𝑝 𝜌𝑀 𝐴 𝑑𝐿

O gradiente de pressão devido ao atrito é descrito pela Equação (62). Trata-se de uma
expressão que tem como base a tensão de cisalhamento em termos de um fator de atrito. Logo,
a tensão média de cisalhamento na parede do duto pode ser calculada a partir do coeficiente de
atrito de Fanning.
30

1 2
𝜏𝑤 = 𝑓𝐹 𝜌𝑀 𝑣𝑀 (60)
2

Assim o termo referente ao gradiente de pressão devido ao atrito é:

𝑑𝑝 𝜋𝐷2 𝑑𝑝
= 𝜋𝐷𝜏𝑤 = ( ) (61)
𝑑𝐿 4 𝑑𝐿 𝐹
𝑑𝑝 4𝜏𝑤 2 2
2 𝐺2
− | = = 𝑓𝐹 𝜌𝑀 𝑣𝑀 = 𝑓𝐹 (62)
𝑑𝐿 𝐹 𝐷 𝐷 𝐷 𝜌𝑀

Tem-se, então, o gradiente de pressão total:

𝑑𝑝 2 2
𝑑𝑥 𝑑𝑝 𝑑𝑣𝐺 𝑑𝑣𝐿 𝐺 2 1 𝑑𝐴
− = 𝑓𝐹 𝜌𝑀 𝑣𝑀 + 𝜌𝑀 𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 + 𝐺 2 [(𝑣𝐺 − 𝑣𝐿 ) + (𝑥 + (1 − 𝑥) )] − (63)
𝑑𝐿 𝐷 𝑑𝐿 𝑑𝐿 𝑑𝑝 𝑑𝑝 𝜌𝑀 𝐴 𝑑𝐿

Rearranjando a expressão:

2 𝑑𝑥 𝐺 2 1 𝑑𝐴
𝑓𝐹 𝜌𝑀 𝑣2𝑀 + 𝜌𝑀 𝑔 𝑠𝑖𝑛 𝜃 + 𝐺 2 (𝑣𝐺 − 𝑣𝐿 )
𝑑𝑝 𝐷 𝑑𝐿 − 𝜌𝑀 𝐴 𝑑𝐿
− = (64)
𝑑𝐿 𝑑𝑣 𝑑𝑣
1 + 𝐺 2 (𝑥 𝑑𝑝𝐺 + (1 − 𝑥 ) 𝑑𝑝𝐿 )

A expressão da queda de pressão para o modelo de fases separadas é razoavelmente


mais complicada que a do modelo homogêneo. Como descrito acima, para a determinação do
termo de atrito faz se necessário o cálculo de uma tensão de cisalhamento ponderada por suas
respectivas fases. Esse cálculo é realizado comumente através da correlação de Lockhart e
Martinelli.

2.5.1 Correlação de Lockhart e Martinelli

Tendo sua origem com base no trabalho de Lockhart e Martinelli publicado em 1949, a
correlação de Lockhart e Martinelli foi a primeira abordagem empírica que permitiu calcular,
com grau aceitável de precisão, o gradiente de pressão no escoamento bifásico. Trata-se de um
modelo simples, que pode ser empregado nos mais diversos padrões de escoamento, e se baseia
em duas premissas fundamentais. A primeira é que a pressão é uniforme na seção transversal
do escoamento, e o gradiente de pressão das fases de líquido e gás são iguais. A segunda impõe
que o volume total da tubulação é igual à soma dos volumes ocupados pelas fases de líquido e
gás. A principal desvantagem dessa abordagem, deve-se ao cálculo da perda de carga por atrito
no qual torna-se limitado apenas a escoamentos em tubos horizontais.
31

O gradiente de pressão por atrito da fase líquida pode ser descrito utilizando o conceito
de diâmetro hidráulico a partir do fator de atrito de Fanning. A fase gasosa também é tratada de
forma similar. A seguir são apresentadas as equações que descrevem a perda de carga da mistura
bifásica líquido-gás.

𝑑𝑝 𝑑𝑝 2
− | =− | = 𝑓 𝜌 𝑣2 (65)
𝑑𝐿 𝑇𝑃 𝑑𝐿 𝐿 𝐷𝐿 𝐿 𝐿 𝑆𝐿
𝑑𝑝 𝑑𝑝 2
− | =− | = 𝑓 𝜌 𝑣2 (66)
𝑑𝐿 𝑇𝑃 𝑑𝐿 𝐺 𝐷𝐺 𝐺 𝐺 𝑆𝐺

Nas equações acima, 𝑓𝐿 e 𝑓𝐺 são coeficientes de atrito relativos ao escoamento líquido


e gás, respectivamente, os quais são calculados a partir das seguintes expressões:

𝑄𝐿 𝜌𝐿 𝐷𝐿 −𝑛
𝑓𝐿 = 𝐶𝐿 (𝑅𝑒𝐿 )−𝑛 = 𝐶𝐿 [( ) ] (67)
𝐴𝐿 𝜇𝐿
𝑄𝐺 𝜌𝐺 𝐷𝐺 −𝑚
𝑓𝐺 = 𝐶𝐺 (𝑅𝑒𝐺 )−𝑚 = 𝐶𝐺 [( ) ] (68)
𝐴𝐺 𝜇𝐺

A área efetiva de cada fase é definida a partir do diâmetro hidráulico, assim como no
modelo homogêneo. Os parâmetros a e b correlacionam a área da secção transversal efetiva do
escoamento da fase líquida e gasosa e as áreas das circunferências de diâmetro 𝐷𝐿 e 𝐷𝐺 .

𝜋
𝐴𝐿 = 𝑎 ( 𝐷𝐿2 ) (69)
4
𝜋
𝐴𝐺 = 𝑏 ( 𝐷𝐺2 ) (70)
4

É possível definir a velocidade de escoamento para cada fase como:

𝑄𝐿
𝑣𝑆𝐿 = 𝜋 (71)
𝑎 (4 𝐷𝐿2 )
𝑄𝐺
𝑣𝑆𝐺 = 𝜋 (72)
𝑏 ( 4 𝐷𝐺2 )

Aplicando as expressões descritas acima nas Equações (65) e (66), têm-se:

−𝑛 2
𝑑𝑝 2 𝑄𝐿 𝜌𝐿 𝐷 𝑄𝐿 𝑛−2
𝐷 2
− | = { 𝐶𝐿 [(𝜋 ) ] 𝜌𝐿 (𝜋 ) } 𝑎 ( ) (73)
𝑑𝐿 𝐿 𝐷 𝐷 𝜇𝐿 𝐷 2 𝐷𝐿
4 4
32

−𝑚 2
𝑑𝑝 2 𝑄𝐺 𝜌𝐺 𝐷 𝑄𝐺 𝐷 2
− | = { 𝐶𝐺 [(𝜋 ) ] 𝜌𝐺 (𝜋 ) } 𝑏𝑛−2 ( ) (74)
𝑑𝐿 𝐺 𝐷 𝐷2 𝜇𝐺 𝐷2 𝐷𝐺
4 4

As Equações (73) e (74) descrevem o que poderia ocorrer com os gradientes de pressão
caso cada fase escoasse sozinha na tubulação, ou seja, o gradiente de pressão superficial da fase
líquida e gasosa, respectivamente. Definindo-se as expressões de forma adimensional, têm-se:

𝑑𝑃
− 𝑑𝐿 | 𝐷 (5−𝑛)/2
𝐿
𝜙𝐿 = √ = 𝑎(𝑛−2)⁄2 ( ) (75)
𝑑𝑃 𝐷𝐿
− 𝑑𝐿 |
𝑆𝐿

𝑑𝑃
− 𝑑𝐿 | 𝐷 (5−𝑚)/2
𝐺 (5−𝑚)⁄2
𝜙𝐺 = √ =𝑏 ( ) (76)
𝑑𝑃 𝐷𝐺
− 𝑑𝐿 |
𝑆𝐺

Supondo que os gradientes de pressão das fases são iguais durante o escoamento
estacionário, têm-se a igualdade das equações:

𝑑𝑃 𝑑𝑃
− | =− | (77)
𝑑𝐿 𝐺 𝑑𝐿 𝐿

𝑑𝑃
𝜙𝐺 − 𝑑𝐿 |
𝑆𝐿 (78)
=√
𝜙𝐿 𝑑𝑃
− 𝑑𝐿 |
𝑆𝐺

𝑑𝑃
− 𝑑𝐿 |
𝑆𝐿
𝑋2 = (79)
𝑑𝑃
− 𝑑𝐿 |
𝑆𝐺

O parâmetro de Lockhart e Martinelli é definido pela a expressão descrita na Equação


(79), correspondendo à raiz entre os gradientes de pressão superficial das fases líquida e gasosa,
tendo como dependência apenas suas respectivas taxas de escoamento e propriedades. A sua
forma mais comumente encontrada na literatura é:
33

2 𝑣𝑆𝐿 𝜌𝐿 𝐷 −𝑛 2
𝐶𝐿 [ ] 𝜌𝐿 𝑣𝑆𝐿
𝐷 𝜇 𝐿
𝑋2 = (80)
2 𝑣𝑆𝐺 𝜌𝐺 𝐷 −𝑚 2
[ ] 𝜌𝐺 𝑣𝑆𝐺
𝐷 𝐶𝐺 𝜇𝐺

A Figura 13 é resultado de estudos empíricos realizados por Lockhart e Martinelli tendo


como base o escoamento de uma mistura gás-líquido em tubos horizontais com diâmetros
variando entre 0,15 a 2,54 cm, para condições atmosféricas. No experimento, foi utilizado ar
para a fase gasosa, enquanto na fase líquida vários tipos de óleos como querosene, óleo para
motores e água. Foram propostas quatro relações a depender do comportamento de cada fase,
conforme apresentado na Tabela 2 (SHOHAM, 2005).

Tabela 2 - Parâmetros para o modelo de fases separadas.


Líquido Gás Parâmetro
Turbulento Turbulento 𝜙𝐿, 𝑇𝑢𝑟−𝑇𝑢𝑟 ; 𝜙𝐺, 𝑇𝑢𝑟−𝑇𝑢𝑟 ; 𝐻𝐿, 𝑇𝑢𝑟−𝑇𝑢𝑟
Laminar Turbulento 𝜙𝐿, 𝐿𝑎𝑚−𝑇𝑢𝑟 ; 𝜙𝐺, 𝐿𝑎𝑚−𝑇𝑢𝑟 ; 𝐻𝐿, 𝐿𝑎𝑚−𝑇𝑢𝑟
Turbulento Laminar 𝜙𝐿, 𝑇𝑢𝑟−𝐿𝑎𝑚 ; 𝜙𝐺, 𝑇𝑢𝑟−𝐿𝑎𝑚 ; 𝐻𝐿, 𝑇𝑢𝑟−𝑙𝑎𝑚
Laminar Laminar 𝜙𝐿, 𝐿𝑎𝑚−𝐿𝑎𝑚 ; 𝜙𝐺, 𝐿𝑎𝑚−𝐿𝑎𝑚 ; 𝐻𝐿, 𝐿𝑎𝑚−𝐿𝑎𝑚
Fonte: Shoham (2005).

O critério de classificação assumido por Lockhart e Martinelli para o cálculo do número


adimensional de Reynolds de cada fase foi definido por Taitel e Dukler (1976):

𝑅𝑒𝐿 > 2000 Escoamento Turbulento


𝑅𝑒𝐺 > 2000 Escoamento Turbulento
𝑅𝑒𝐿 < 1000 Escoamento Laminar
𝑅𝑒𝐺 < 1000 Escoamento Laminar
1000 < 𝑅𝑒𝐿,𝐺 < 2000 Escoamento Transição
34

Figura 13 - Modelo de fases separadas (Lockhart e Martinelli, 1949)


Fonte: Shoham (2005).

Chisholm (1967) transformou essas relações em fórmulas sugerindo a implementação


de um parâmetro adimensional C, cujo valor é definido a depender da ocorrência de quatro
combinações de regimes de escoamento.

Tabela 3 - Coeficiente de correlação de Chisholm (1967) para perda de carga.


Líquido Gás C
Turbulento Turbulento 20
Laminar Turbulento 12
Turbulento Laminar 10
Laminar Laminar 5
Fonte: Shoham (2005).

As curvas descritas na Figura 13 podem ser representadas pelas das Equações (81) e
(82). Os termos 𝜙 e X fazem referência aos gradientes de pressão descritos na Equação (75).

𝐶 1
𝜙𝐿2 = 1 + + 2 (81)
𝑋 𝑋
𝜙𝐺2 = 1 + 𝐶𝑋 + 𝑋 2 (82)

Aplicações deste procedimento para o cálculo da queda de pressão em escoamentos


multifásicos são comumente encontrado na literatura como relatado por Yusuf et al. (2012) que
realizaram um estudo visando descrever o gradiente de pressão nos diferentes padrões de
35

escoamento horizontal óleo-água. Foi relatado que a medida que se aumentava a velocidade de
escoamento do óleo, a diferença entre os valores do gradiente de pressão reportado eram
maiores. O efeito da viscosidade do óleo no gradiente de pressão também foi investigado
usando o modelo de dois fluidos, tendo apresentado a melhor previsão quando se têm baixos
valores.

Rodriguez e Baldani (2012) usaram um código comercial para realizar a simulação de um


fluxo estratificado ondulado líquido-líquido, onde foi possível captar as principais
características qualitativas do fluxo estudado. No entanto, a previsão do gradiente de pressão
foi imprecisa. Os resultados sugerem que softwares comerciais, comumente utilizados pelas
empresas de petróleo e gás para fins de projeto, possuem limitações para prever gradiente de
pressão e a fração de volume no fluxo estratificado com boa precisão. Pode-se especular que
parte das razões para os maus resultados tem a ver com os modelos disponíveis para o fluxo
estratificado, que precisam ser melhorados.

2.6 MODELO DE TURBULÊNCIA

Muitas teorias e conceitos têm sido estudados extensivamente na tentativa de obter uma
descrição universal adequada para problemas práticos sobre o fenômeno da turbulência. Porém,
a turbulência permanece sendo um fator complicador nas análises para fenômenos de transporte
por não permitir uma abordagem analítica. Na prática, a maioria dos escoamentos que são
encontrados estão em regimes turbulentos, sendo de fundamental importância o entendimento
dos mecanismos físicos que governam este tipo de escoamento.

A turbulência é um fenômeno caracterizado pelo aparente estado randômico, caótico e


rotacional do movimento do fluido. Quando presente, a turbulência usualmente intensifica
todos os outros fenômenos, resultando no aumento das taxas de transferência de calor, massa e
quantidade de movimento (GETREUER et al. 2007; MURIEL, 2009).

Os primeiros estudos sobre instabilidade e turbulência de escoamentos foram


desenvolvidos por Osborne Reynolds e Lorde Rayleigh no século XIX. Reynolds (1883), na
sua famosa investigação de escoamentos no interior de tubos, estabeleceu claramente, que é
possível classificar um escoamento segundo o tipo de movimento e velocidade da partícula
deste fluido, podendo ser laminar quando as partículas pertencentes ao fluxo se movem de
forma ordenada em camadas, ou turbulento quando as partículas no escoamento se misturam
36

rapidamente devido às flutuações aleatórias do campo tridimensional de velocidade (FOX et


al., 2006). A equação que define o número adimensional de Reynolds é a seguinte:

𝑣𝐿𝜌
𝑅𝑒 = (83)
𝜇

sendo v uma velocidade característica, 𝜌 a massa especifica do fluido, L um comprimento


característico e 𝜇 a viscosidade do fluido. Assim, com o aumento da viscosidade ou a
diminuição do comprimento característico, quando se tem velocidades iguais, o valor de
Reynolds tende a diminuir indicando um escoamento laminar. Em alguns casos, devido a
grandes oscilações ocasionadas por variáveis como pressão e velocidade esses valores de
Reynolds são superiores a 2300, o que indica a ocorrência de um escoamento turbulento.

Em paralelo aos trabalhos experimentais de Reynolds, Lord Rayleigh desenvolvia suas


investigações teóricas sobre instabilidades de escoamentos paralelos de fluidos não viscosos.
Foram seus estudos que deram origem a vários outros trabalhos, que permitiram determinar
quando pequenas perturbações em uma sequência de ondas infinitas e de amplitude uniforme
são amplificadas ou amortece com o tempo. Entre seus importantes resultados, destaca-se a
demonstração de que a condição necessária para que um escoamento paralelo seja instável é a
presença de uma região inflexional no campo de velocidade (BORTOLOTI, 2013).

Outro procedimento mais comumente utilizado para a determinação dos efeitos de


turbulência tem sido a modificação das equações de Navier-Stokes obtendo-se, a partir da
introdução de quantidades médias e flutuantes, um conjunto de equações denominadas RANS
(Reynolds Averaged Navier Stokes) (ROSA, 2012). Isso é muito mais eficaz, tendo em vista
que uma simulação baseada na descrição completa do movimento de todas as partículas do
fluido é provavelmente impossível, devido ao movimento aleatório das mesmas durante o
escoamento turbulento. Logo, o modelo do tipo RANS, assim como a grande maioria dos
modelos, tem como base geral solucionar um conjunto de equações de transporte introduzindo
quantidades médias e flutuantes. Isto é, todas as variáveis podem ser escritas como a soma de
sua média e sua flutuação:

𝜙 = 𝜙𝑚 + 𝜙 ′ (84)

sendo ϕ a variável em um determinado instante de tempo t, ϕ𝑚 a média temporal da variável e


ϕ′ a flutuação turbulenta em determinado instante de tempo. Assim, por exemplo, decompondo
37

a variável da velocidade têm-se a soma de um valor médio (𝑢𝑚 , 𝜈𝑚 , 𝑤𝑚 ) mais uma flutuação
(𝑢′ , 𝑣 ′ , 𝑤 ′ ):

𝑢 = 𝑢𝑚 + 𝑢 ′ (85)
𝜈 = 𝜈𝑚 + 𝑣 ′ (86)
𝑤 = 𝑤𝑚 + 𝑤 ′ (87)

Em seguida, a equação da velocidade instantânea é integrada em um espaço de tempo


grande o suficiente para captar mudanças na função, mas pequeno o bastante para assimilar as
flutuações da variável média nesses mesmos períodos.

1 ∆𝑡 (88)
𝑢̅ = 𝑢𝑚 = ∫ 𝑢(𝑡) 𝑑𝑡
∆𝑡 0

Na Figura 14 têm-se a curva que demonstra o comportamento da flutuação da


velocidade em um escoamento turbulento.

Figura 14 - Comportamento da velocidade em um ponto no escoamento turbulento


Fonte: Versteeg e Malalasekera (2007).

Para avaliar a tensão de cisalhamento total em um escoamento turbulento é apropriado


ponderar sua contribuição em duas partes, uma devido à componente laminar (expressa como
𝑑𝑢
̅
𝜏𝑙𝑎𝑚 = −𝜇 𝑑𝑟 , onde µ é o coeficiente de viscosidade dinâmica molecular do fluido e u(r) é a

função que define o perfil de velocidade do escoamento) e outra ao componente turbulento,


descrito por 𝜏𝑡𝑢𝑟𝑏 .

𝜏𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝜏𝑙𝑎𝑚 + 𝜏𝑡𝑢𝑟𝑏 (89)


38

O comportamento turbulento típico da velocidade média é mais achatado que o


comportamento aproximadamente parabólico do escoamento laminar, isto pode ser visualizado
na Figura 15. A transição do regime laminar para o turbulento, especificamente em tubos
cilíndricos, por exemplo, ocorre em um número de Reynolds crítico, maior que 2100.

Figura 15 - Comparação entre os perfis de velocidade no interior de uma canalização para uma
mesma vazão: i) escoamento laminar; ii) escoamento turbulento.
Fonte: adaptado de Tritton (1988).

Existem várias abordagens utilizadas para modelagem dos fenômenos turbulentos, eles
se diferenciam principalmente pela forma como é considerado o fenômeno da turbulência, sua
complexidade para modelagem, precisão e custos computacionais envolvidos na solução.
Dentre os mais conhecidos está a simulação numérica direta normalmente conhecida na
literatura inglesa como Direct Numerical Simulation (DNS), consiste basicamente em resolver
as equações de Navier-Stokes por completo, ou seja, para todas as escalas temporais e espaciais
do movimento. A principal vantagem dessa abordagem deve-se a sua vasta aplicação nos mais
diversos tipos de escoamentos, muitas vezes substituindo experimentos físicos por serem
capazes de representar o fenômeno da turbulência por completo. Porém a necessidade de um
alto custo computacional restringe sua utilização para aplicações em domínios pequenos ou em
casos onde têrm-se valores para o número de Reynolds baixo. Um outra abordagem conhecida
é a simulação de grandes escalas ou Large Eddy Simulation (LES). Nesta técnica, um filtro
espacial separa os grandes vórtices que realizam o transporte de energia e movimento, dos
pequenos vórtices onde predomina a isotropia. Uma representação esquemática de todas as
abordagens acima relatadas pode ser visualizada a partir da Figura 16.
39

Figura 16 - Representação esquemática das escalas de turbulência e sua relação com os seus
respectivos modelos.
Fonte: Ranade (2002).

Problemas que envolvem escoamentos turbulentos em sua maioria podem ser resolvidos
pela aplicação do conjunto de equações RANS (Reynolds-Averaged Navier-Stokes) um modelo
simples e de custo computacional relativamente baixo quando comparado com outros. Esse
modelo tem como base a introdução de novas incógnitas no sistema da equação da quantidade
de movimento. Estas incógnitas são os 6 tensores de Reynolds ̅̅̅̅̅
(−𝜌𝑢 ′2, −

̅̅̅̅
𝜌𝑣 ̅̅̅̅̅
′ 2 , −𝜌𝑤 ′ 2 , −𝜌𝑢
̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅
′ 𝑣 ′ , −𝜌𝑢 ̅̅̅̅̅̅
′ 𝑤 ′ , 𝜌𝑣 ′ 𝑤 ′ ). Da mesma forma, as equações transporte escalar do tempo

médio mostram termos extras contendo ̅̅̅̅̅̅


𝑢′ 𝜑′ , ̅̅̅̅̅̅
𝑣 ′ 𝜑′ 𝑒 ̅̅̅̅̅̅̅
𝑤 ′ 𝜑′ (VERSTEEG e MALALASEKERA,
2007).

Segundo Lopes (2000), a aplicação da abordagem LES tem substituído a RANS em


escoamentos complexos, quando a transferência de calor ou a estratificação influência na
geração de turbulência. Porém, quando as tensões normais a direção do escoamento determina
o perfil do comportamento deste escoamento, a abordagem RANS ainda pode ser utilizada pois
reproduz resultados satisfatórios.

A maioria dos cálculos de escoamento turbulento voltados à engenharia tem sido


realizadas com procedimentos baseados no modelo RANS (Reynolds-Averaged Navier-Stokes),
principalmente pelo fato dessas aplicações em sua grande maioria não requerer a resolução de
flutuações turbulentas. A classificação do modelo RANS é dada em função da quantidade de
equações adicionais que precisam serem resolvidas, juntamente com as equações de fluxo. Na
Tabela 4 é possível verificar alguns desses modelos utilizados nos códigos comerciais CFD
atualmente.
40

Tabela 4 - Modelos de turbulência com as suas respectivas quantidades de equações extras.


Número de Equações de Transporte Extra Modelo de Turbulência
Nenhuma Comprimento de Mistura
Uma Spalart-Allmaras
Duas k-𝜀
k-ω
Tensores Algébricos
Sete Tensores de Reynolds
Fonte: Versteeg e Malalasekera (2007).

Nos últimos anos, alguns estudos vêm sendo realizados para investigar as características
fundamentais dos escoamentos turbulento em canais, que vão desde a decomposição da
turbulência (FLORES e RILEY, 2011; DONDA et al., 2015), a teorias de similaridades (SHAH
et al., 2014; MELLADO e AMSORGE, 2014; BASU e HE, 2015).

2.7 MODELO DE DOIS FLUIDOS

O modelo de dois fluidos (two fluid model) é de um dos modelos mais utilizados para
descrever escoamentos multifásico, e em sua abordagem definem-se as variáveis de cada fase
com seu próprio conjunto de equações governantes. De forma geral, na maioria das aplicações,
dois tipos de padrões de escoamentos podem ser encontrados, os escoamentos dispersos onde
uma fase é contínua e a outra dispersa, e o escoamento de fases separadas onde ambas as fases
são contínuas.

O primeiro caso engloba escoamentos em padrão de bolhas, gotas ou partículas sólidas,


enquanto no segundo caso podem ser considerados aqueles padrões onde nenhuma das fases
adota a forma dispersa, como estratificado anular, ou pistonado. Entretanto, a aplicação mais
comum encontrada está relacionada aos escoamentos com superfície livre. Escoamentos no
padrão anular, ou estratificado podem também ser modelados desta maneira (PALADINO,
2005).

O modelo de dois fluidos tem um bom desempenho para escoamentos bifásicos, nos
quais as fases estão relativamente desacopladas, isto é, quando o padrão é estratificado, liso,
ondulado ou anular. Escoamentos no qual as fases estão fortemente acopladas, tal como
disperso em bolhas, disperso em gotas e agitado podem ainda ser previstos pelo modelo, porém
têm-se equações constitutivas mais complexas, que nem sempre representam todos os
fenômenos físicos relativos às interações entre bolhas e fluido, podendo induzir a um mau
41

condicionamento do sistema e, eventualmente, levando à instabilidades numéricas (ROSA,


2012).

Rodriguez e Castro (2014) apresentaram em seu trabalho uma modelagem para o


escoamento estratificado ondulado líquido-líquido a partir de um modelo de dois fluidos
unidimensional. Além disso, analisaram a estabilidade do escoamento após a inclusão de um
termo de tensão interfacial. A seção de teste era composta por um tubo de vidro de boro silicato,
com as dimensões de 2,62 cm de diâmetro e 12 m de comprimento. As velocidades superficiais
de óleo e água variaram de 0,02 m/s a 0,18 m/s e 0,05 m/s a 0,16 m/s, respectivamente A seção
de teste foi instalada na horizontal e em inclinações ascendentes e descendentes de 10º e 20º.
Os resultados mostraram que um novo termo de tensão interfacial pode ser usado para incluir
os efeitos tridimensionais de arraste de uma determinada fase sobre a outra. Esse novo termo
de tensão interfacial desempenha um papel importante, podendo ser tão relevante quanto o
termo inercial. As ondas interfaciais observadas foram de natureza cinemática, tendo uma
média de onda de 230 m-1 e com uma velocidade 0,22 m /s. O critério de estabilidade proposto
foi previsto com boa precisão para os limites de transição no escoamento de óleo-água. No
entanto, a região estratificada de escoamento pôde ser razoavelmente prevista.

2.7.1 Modelo Interfacial

Dependendo das considerações do modelo a ser estudado, um modelo de transferência


interfacial pode ser adicionado ao modelo original. Neste modelo, cada fluido possui seu
próprio campo de velocidade, temperatura e turbulência, mas compartilham o mesmo campo
de pressão. Dessa forma, este modelo considera um sistema de equações de conservação para
cada fase, podendo calcular diferentes campos de velocidades para as diferentes fases.

A transferência interfacial das equações de quantidade de movimento, calor e massa é


diretamente dependente da área superficial de contato das duas fases. Além disso, está
fortemente relacionada com a concentração da densidade de área interfacial (Interfacial Area
Density-IAC), bem como os mecanismos de transferência locais (ISHII e HIBIKI, 2011).

As relações constitutivas para a densidade de área interfacial (Interfacial Area Density-


IAC) podem ser determinadas a partir da descrição de correlações dependentes do regime de
escoamento e de modelos baseados em mecanismos físicos do escoamento bifásico (YU et al.,
42

2002 ; OZAR et al., 2012). A densidade de área interfacial, dada pela Equação (90), expressa
a razão entre as áreas interfaciais contidas em um volume (ROSA, 2012).

𝑚
1
𝐴𝑖,𝑘 = ∑ [∫ 𝑑𝑠𝑗 ] (90)
∆∀
𝑗=1

sendo que j o número de interfaces contidas no volume ∀, em que 1 ≤ 𝑗 ≤ 𝑚 e 𝑑𝑠𝑗 o elemento


de área da interface j pertencente à fase.

A modelagem da transferência de movimento interfacial pode ser realizada usando três


modelos (ANSYS CFX-THEORY REFERENCE FOR ANSYS WORKBENCH, 2009):

 Modelo de partículas: assume que uma das fases é contínua (fase Λ) e a outra dispersa
(fase β). A densidade de área interfacial é determinada assumindo que a fase β dispersa
está presente na forma de partículas esféricas com um diâmetro médio 𝑑𝛽 .

6𝛼𝛽
𝐴𝛬𝛽 = (91)
𝑑𝛽

Os coeficientes de transferência podem ser obtidos a partir também de correlações entre


o número de Reynolds das partículas e o número de Prandtl do fluido.

𝜌𝛬 |𝑣𝛽 − 𝑣𝛬 | 𝑑𝛽
𝑅𝑒𝛬𝛽 = (92)
𝜇𝛬
𝜇𝛬 𝐶𝑃𝛬
𝑃𝑟𝛬𝛽 = (93)
𝜅𝛬

 Modelo de mistura: é considerado um modelo mais simples, pois trata ambas as fases Λ
e β de forma simétrica e contínuas. A densidade de área interfacial é calculada a partir
da expressão:

6𝛼𝛬 𝛼𝛽
𝐴𝛬𝛽 = (94)
𝑑𝛬𝛽

Assim como o modelo de partícula, os coeficientes de transferência entre as fases são


obtidos a partir do número de Reynolds e Prandlt, porém agora sendo da mistura.
43

𝜌𝛬𝛽 |𝑣𝛽 − 𝑣𝛬 | 𝑑𝛬𝛽


𝑅𝑒𝛬𝛽 = (95)
𝜇𝛬𝛽
𝜇𝛬𝛽 𝐶𝑃𝛬𝛽
𝑃𝑟𝛬𝛽 = (96)
𝜅𝛬𝛽

As propriedades de mistura 𝐶𝑃Λ𝛽 ,𝜇Λ𝛽 , 𝜌Λ𝛽 , 𝜅Λ𝛽 , são definidas pelas seguintes
expressões:

𝐶𝑃𝛬𝛽 = 𝐶𝑃𝛬 𝛼𝛬 + 𝐶𝑃𝛽 𝛼𝛽 (97)


𝜇𝛬𝛽 = 𝜇𝛬 𝛼𝛬 + 𝜇𝛽 𝛼𝛽 (98)
𝜌𝛬𝛽 = 𝜌𝛬 𝛼𝛬 + 𝜌𝛽 𝛼𝛽 (99)
𝜅𝛬𝛽 = 𝜅𝛬 𝛼𝛬 + 𝜅𝛽 𝛼𝛽 (100)

 Modelo de superfície livre: o modelo busca definir a interface entre os fluidos. Se existir
apenas duas fases na simulação, a seguinte equação é usada para o cálculo da densidade
da área interfacial:

𝐴𝛬𝛽 = |𝛻𝛼𝛬 | (101)

Quando existe a presença de mais de duas fases, tem-se a seguinte expressão:

2|𝛻𝛼𝛬 ||𝛻𝛼𝛽 |
𝐴𝛬𝛽 = (102)
|𝛻𝛼𝛬 | + |𝛻𝛼𝛽 |

O modelo de arraste para superfícies livres em um sistema multifásico com base na tensão
de cisalhamento foi aplicado nos trabalhos de Porombka e Hohne (2015), com todas as fases
do fluxo tratadas como contínuas. No trabalho, o método de simulação direta (DNS) foi
utilizado para resolver todas as escalas espaciais e temporais envolvidas no escoamento. A
análise do amortecimento de turbulências foi observada adotando o modelo de turbulência k-
𝜔, devido à menor sensibilidade ao refinamento da malha. Os resultados do estudo mostraram
que o novo modelo de arraste descreveu os dados experimentais com boa precisão, entretanto
medidas mais precisas da tensão de cisalhamento no fluxo estratificado ainda são necessárias
para realmente validar o modelo em um posterior estudo.

De um modo geral, as forças interfaciais são comumente divididas em dois tipos: força de
arraste e outras forças (Drag Force e Non-drag Forces). Na grande maioria das aplicações a
força de arraste tem uma maior parcela na contribuição da transferência da quantidade de
44

movimento interfacial, enquanto as outras forças são pouco consideradas. Na literatura, este
tipo de força tem sido bastante explorada por diversos pesquisadores da área, como Yusuf et al.
(2012) que relataram em seu trabalho o efeito exercido por um polímeros (DRP) para redução
do arraste em padrões de escoamento e queda de pressão, utilizando um óleo mineral escoando
em um tubo de acrílico com 8 metros de comprimento. Observou-se que a adição de DRP
influenciou nos padrões de escoamento e nas suas transições. Em particular, o padrão de
escoamento estratificado sofreu uma redução no atrito como também um aumento na
velocidade superficial do óleo após elevação da concentração do polímero de 2 para 10 ppm.
Fixando-se a velocidade do óleo, observou-se que essa redução no atrito é aumentada até a
velocidade superficial da água atingir 1,3 m/s.

A força de arraste pode ser calculada pela seguinte expressão:

1
|𝐹𝐷 | = 𝐴𝐶𝐷 𝜌𝐿𝐺 |𝑣𝐿 − 𝑣𝐺 |2 (103)
2

Devido a sua aplicação em vários tipos de simulação, o coeficiente de arraste possui


inúmeras correlações disponíveis na literatura que são utilizadas a depender do regime de
escoamento. Esse regime é definido a partir do número de Reynolds para a partícula:

Segundo Paladino (2005), a força de arraste sobre um corpo pode ser separada em duas
parcelas, a força devida ao cisalhamento superficial e aquela exercida pela distribuição de
tensões normais assimétricas sobre a superfície do corpo, chamada de arraste de forma. Assim,
para baixos valores do 𝑅𝑒𝑝 o arraste é devido principalmente ao atrito superficial. Quando o
valor do 𝑅𝑒𝑝 aumenta, a força de arrasto vai tendo maior influência no comportamento do
escoamento, até que para altos valores deste número o arraste é dominado por este fenômeno.
Abaixo são descritos algumas das correlações para os regimes mais conhecidos na literatura.

 Regime de Stokes: neste regime o valor do 𝑅𝑒𝑝 torna-se aproximadamente igual a


1, a expressão que descreve o coeficiente de arraste é

24
𝐶𝐷 = (104)
𝑅𝑒𝑝

 Região viscosa: neste regime 1 < 𝑅𝑒𝑝 < 1000, e tanto a força devido ao
cisalhamento quanto ao arraste são relevantes. Dentre as correlações mais utilizadas
encontram-se:
45

o Schiller-Naumann (1933): aplicável em casos de esferas sólidas ou partículas fluidas


pequenas e esféricas.

24
𝐶𝐷 = (1 + 0,15 × 𝑅𝑒 0,687 ) (105)
𝑅𝑒𝑝

o Ishii-Zuber (1979): adequada para escoamento com altas concentrações de


partículas. Sua aplicação é mais comum quando envolve gotas e bolhas ou para
qualquer conjunto líquido-líquido; sólido-líquido.

24
𝐶𝐷 = (1 + 0,1 × 𝑅𝑒 0,75 ) (106)
𝑅𝑒𝑝

 Região turbulenta: para 1000 < 𝑅𝑒𝑝 < 2 ∙ 105 , o coeficiente passa aqui a ser
independente dos valores de Reynolds, assumindo o valor aproximado de:

𝐶𝐷 = 0,44 (107)

Li et al. (2015) descreveram o estudo da dinâmica do escoamento em uma coluna com


uma mistura trifásica. As forças de arraste interfacial entre as três fases foram determinadas a
partir de diferentes modelos. O modelo de Zhang-Vanderheyden foi utilizado como o modelo
de arraste para a interação gás-líquido, já o modelo de Schiller-Naumann foi utilizado para o
líquido-sólido, enquanto a interação entre o gás–sólido foi negligenciada. O estudo da
sensibilidade desses diferentes modelos de arraste quando comparados com testes
experimentais mostrou com melhor predição em condições de não-deslizamento próximo da
parede, a um time step de 0,001 s, e um assumindo modelo de segunda ordem Upwind para
discretização da equação de momento.

2.8 FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL (CFD)

Nas últimas décadas, a utilização da Fluidodinâmica Computacional (CFD) tem se


mostrado como uma ferramenta extremamente vantajosa para a modelagem de sistemas de
escoamentos, sendo utilizada com o objetivo de se chegar a um melhor entendimento de eventos
físicos que ocorrem durante o escoamento de fluidos, sendo possível com ela a obtenção
detalhada de um determinado campo de fluxo. Suas aplicações atingem as mais variadas áreas
de estudo, tais como projetos industriais de engenharia em áreas como automotiva,
aeroespacial, ambiental, naval, biomédica, processos químicos, etc.
46

O pacote ANSYS WORKBENCH reúne diversas dessas ferramentas para análise dos
mais variados tipos de sistemas, permitindo desde projetar e otimizar equipamentos até
solucionar problemas já existentes. O software ANSYS CFX é um deles, bastante empregado
em meios acadêmicos, principalmente, em áreas como a engenharia.

Com base nos trabalhos disponíveis na literatura, nota-se uma alta aplicabilidade em
várias linhas de pesquisas, principalmente, quando se trata de simulações direcionadas a
escoamento de fluidos na engenharia química, como relatado em Lí et al. (2015). Eckhard et
al. (2009) que relatam a utilização da fluidodinâmica computacional com o auxílio do software
ANSYS CFX para determinação de parâmetros de propagação de ondas de pressão em reatores,
bem como a simulação de modelos de distribuição de escoamentos borbulhantes em tubulações.
Deendarlianto et al. (2011) realizaram alguns estudos em CFD utilizando o ANSYS CFX para
o estudo dos fenômenos que limitam o fluxo contracorrente em um escoamento multifásico. Na
simulação desenvolvida, o fluxo foi considerado em regime transiente e, desse modo, no
trabalho foram utilizados códigos multifásicos para resolver as equações dos fenômenos de
transporte que constituem o modelo, através de uma abordagem Euler-Euler. A malha adequada
para cada campo de fluxo foi desenvolvida, considerando o refinamento do local e outros
parâmetros.

Höhne et al. (2011) realizaram simulações numéricas em contracorrente para


escoamento bifásico. Cada simulação foi obtida com o ANSYS CFX 12.1, adotando o modelo
de turbulência k-𝜔. Os resultados apresentados no trabalho permitiram concluir que as
características do fluxo contracorrente ar e água tiveram um bom resultado e a simulação
conseguiu reproduzir a ocorrência de ondas.

2.8.1 Estrutura do código CFD

A forma de expressão para explicação de fenômenos físicos e químicos na ciência é feita


através de modelos matemáticos, ou seja, um conjunto de equações e relações matemáticas que
descrevem o comportamento de um determinado sistema. Muitas vezes quando não se tem uma
solução analítica ou ainda não se tem um método matemático é possível solucionar essas
equações matemáticas recorrendo a uma solução numérica.

Segundo Versteeg e Malalasekera (2007), para solucionar os problemas de


fluidodinâmica os códigos que fazem parte do pacote comercial do CFD são estruturados em
torno de algoritmos numéricos, incluídos em uma interface sofisticada e simples que facilita ao
47

usuário a implementação de parâmetros e a análise dos resultados relativos ao seu problema. A


estrutura de códigos do tipo CFD é baseada em métodos numéricos para solução das equações
diferenciais de conservação de massa, quantidade de movimento e calor, além das equações de
estado. A metodologia para soluções com CFD é composta de 3 etapas: pré-processamento,
solução, pós-processamento.

i) Pré-Processador

Essa primeira etapa consiste na entrada de dados que serão utilizados no solver para
determinar a solução do problema. Tem-se como primeiro estágio nesta etapa, a identificação
da região de interesse do problema para que possa ser realizada a criação de um modelo
geométrico. Essa geometria criada deve seguir alto grau de detalhamento, respeitando as
dimensões reais do sistema. Em seguida, deve ser gerada a malha numérica para a geometria
criada.

É necessária a seleção dos fenômenos físicos e químicos que ocorrem no sistema, como
também a definição das propriedades do fluido juntamente com suas respectivas condições de
contorno. Parâmetros de simulação como tempo de execução, quantidade de iterações, precisão
desejada, entre outros, também serão solicitados. A solução mostrada pelo CFX é totalmente
dependente das condições escolhidas pelo usuário durante a etapa do pré-processamento.

As soluções no cálculo de variáveis em problemas que envolvem o CFX são definidas


pelos nós de cada vértice dos elementos de controle. A quantidade de nós gerados para a malha
está diretamente ligada à precisão da solução, pois quanto maior o número de nós, mais refinada
a malha, sendo assim maior o esforço computacional e o tempo para processamento. É
necessário que se encontre um equilíbrio entre o tempo de processamento e malha, sendo o
refinamento da malha apenas em regiões de grande importância uma solução para o alto tempo
de processamento.

ii) Solucionador (Solver)

No softwares do tipo CFX, o componente que processa a solução numérica para o


problema é o solver. Existem diversos métodos numéricos para solução de um sistema de
equações diferenciais. Versteeg e Malalasekera (2007) descrevem três desses modelos: Método
de diferenças finitas, Método de elementos finitos e Método dos volumes finitos, sendo este
último método o mais utilizado. De forma geral, o algoritmo consiste em:
48

 Integração: tem-se a integração das equações diferenciais parciais (EDP’s) que


regem o fluxo do fluido por todo o volume de controle.
 Discretização: essas EDP’s são convertidas em equações algébricas.
 Solução de equações algébricas: as equações são resolvidas por um método
iterativo.

iii) Pós-processador

Os resultados produzidos no solver são transferidos para o pós-processador, no qual


serão apresentados e visualizados de forma interativa. Atualmente, são fornecidos no mercado
pacotes de CFD com ferramentas para visualização de informações como:

 Gráficos 3D e 2D;
 Manipulação visual de resultados;
 Escala de cores para contornos;
 Trajetória da partícula;
 Exibição de malha e vetores;
 Visualização da variação de temperatura, pressão e velocidades.
 Animações de variáveis escalares.

Os resultados e dados produzidos no CFX podem ainda ser exportados para


manipulação externa.

Pesquisas envolvendo simulações com códigos tipo CFD juntamente com testes
experimentais para escoamento multifásico contracorrente estratificado foram realizadas por
Valleé et al. (2008) utilizando o ANSYS CFX a partir de uma abordagem Euler-Euler. A
turbulência de cada fase foi modelada baseando-se no transporte da tensão de cisalhamento
(SST) e utilizando o modelo k-𝜔. Seus resultados mostraram que o comportamento da geração
de ondas e a sua propagação na estrutura experimental foi reproduzida de forma satisfatória.
Entretanto, foram observados alguns desvios que indicaram uma pequena instabilidade causada
pela pressão ou devido ao aumento da quantidade de movimento entre as fases do escoamento.

2.9 MÉTODOS NUMÉRICOS

Os métodos numéricos têm como base a transformação das equações de conservação


em equações algébricas, de modo que para cada ponto da malha construída é determinado um
49

valor para as variáveis desconhecidas. Dentre os métodos numéricos existentes, serão descritos
os três mais utilizados e conhecidos que são: Método das Diferenças Finitas, Método dos
Elementos Finitos e Método dos Volumes Finitos.

No método das diferenças finitas, as derivadas das EDP’s são aproximadas por
diferenças, as quais, geralmente, são obtidas utilizando-se das expansões da série de Taylor em
torno dos pontos distribuídos no domínio. Trata-se de um método geralmente baseado em
sistemas de coordenadas ortogonais, como o cartesiano, cilíndrico e esférico. No método dos
elementos finitos são empregadas funções de interpolação e as equações discretizadas são
solucionadas através da minimização de um resíduo ponderado (ROCHA, 2008).

Abushaikha et al. (2015) apresentaram um novo método de elementos finitos que


melhora a modelagem de escoamento multifásico em reservatórios, chamado de método de
controle de interface para volume de Elementos Finitos (ICVFE). O método calcula a pressão
na interface de cada elemento, ao invés dos nós, e constrói o volume de controle em torno deles.
No entanto, isso é numericamente dispendioso visto que aumenta em 9 vezes mais os números
de nós em uma malha com elementos tetraédricos, embora se obtenha uma melhor convergência
quando comparado com outros métodos.

Recentemente, um novo método algébrico de captura da interface com base no método


dos volumes finitos sobre malhas adaptativas não estruturadas foi desenvolvido por Pavlidis et
al. (2016). Alguns exemplos da sua aplicação para os fluxos multifásicos em duas dimensões
podem ser encontradas em Xie et al. (2014) e Pavlidis et al. (2014).

Para problemas de fluidodinâmica computacional, o método mais comumente utilizado


é o Método dos Volumes Finitos (MVF) devido à sua generalidade e facilidade de aplicação
aos mais diversos tipos de malhas numéricas. Trata-se de uma técnica numérica capaz de
resolver equações diferenciais parciais, desde que seja oriunda do balanço infinitesimal de uma
propriedade genérica 𝜙 (BINELI, 2009; VERSTEEG e MALALASEKERA, 2007; MALISKA,
2004).

Segundo Versteeg e Malalasekera (2007), para obtenção dessas soluções, inicialmente,


é necessário a integração das equações de conservação presente em todo o volume de controle,
em seguida, é realizada a discretização dessas equações resultando em um conjunto de equações
algébricas que serão solucionadas após ser aplicado um método iterativo.
50

Durante a aplicação de um método numérico, a resolução das integrais de superfície só


é possível se o valor do integrando for conhecido. Como este não é o caso, já que se conhece
apenas o valor no centro do volume de controle, esquemas de interpolação serão utilizados para
definir as propriedades das faces. Assim, como ilustrado na Figura 17, as faces recebem nomes
de pontos cardeais, (n - Norte, s - Sul, w - Oeste, e - Leste) e o ponto nodal é representado pela
letra P.

Figura 17 - Três volumes de controle com três pontos nodais (W, P e E) e duas interfaces (w e e).
Fonte: Elias (2010).

Recentemente, um novo método algébrico de captura de interface com base no método


dos volumes finitos sobre malhas adaptativas não estruturada foi desenvolvido por Pavlidis et
al. (2016), alguns exemplos da sua aplicação para os fluxos multifásico em duas dimensões
podem ser encontradas em Xie et al. (2014) e Pavlidis et al. (2014).

2.10 FUNÇÕES DE INTERPOLAÇÃO

As estimativas dos fluxos advectivos e difusivos das propriedades devem ser avaliadas nas
fronteiras do volume de controle, e estes cálculos serão realizados em função dos valores da
função ϕ nos pontos nodais. A tentativa é sempre propor uma função de interpolação com menor
erro possível e que não envolva muitos pontos nodais para que a matriz não possua uma
estrutura muito complexa.

𝜕𝜙 𝜕𝜙
𝜌𝜙𝜈⃗|𝑒 − 𝜌𝜙𝜈⃗|𝑤 = 𝛤 𝜙 | − 𝛤𝜙 | (108)
𝜕𝑥 𝑒 𝜕𝑥 𝑤

 Diferenças centrais (Central Difference Scheme – CDS)

O esquema de diferença central é uma aproximação que vem sendo usada para representar
os termos de difusão. Este esquema também pode ser usado para calcular, através de
51

interpolação linear, o valor de ϕ nas faces das células para os termos advectivos. No ponto da
malha cartesiana, o valor é expresso pela Equação (109).

𝜙𝑒 = 𝜙𝐸 𝜆𝑒 + 𝜙𝑃 (1 − 𝜆𝑒 ) (109)

Sendo 𝜆𝑒 o fator de interpolação, definido como:

𝑥𝑒 − 𝑥𝑝
𝜆𝑒 = (110)
𝑥𝐸 − 𝑥𝑃

Logo, é possível, a partir da simplificação, uma aproximação mais simples do gradiente:

𝜕𝜙 𝜙𝐸 − 𝜙𝑃
| ≅ (111)
𝜕𝑥 𝑒 𝑥𝐸 − 𝑥𝑃

O esquema das diferenças centrais é a formulação que se chega naturalmente ao se aplicar


o método dos volumes finitos às equações de conservação.

 Upwind (Upwind Difference Scheme – UDS)

Um dos problemas do esquema das diferenças centrais é sua instabilidade em identificar a


direção do escoamento. O esquema upwind é um método bastante utilizado para corrigir este
tipo de problema. Este esquema leva em conta a direção do escoamento para estimar o valor da
propriedade ϕ na face. Para fazer isto é assumido que o valor da propriedade da face é igual ao
valor da mesma no ponto anterior, ou seja, aproxima-se o valor de 𝜙e por seu valor à montante
da face .

𝜙 , 𝑠𝑒 (𝑣⃗ 𝑛⃗⃗) > 0


𝜙𝑒 = { 𝑃 (112)
𝜙𝐸 , 𝑠𝑒 (𝑣⃗ 𝑛⃗⃗) < 0

Este esquema é de primeira ordem, sendo, portanto, necessárias malhas refinadas para a
obtenção de soluções precisas. É uma única aproximação que não gera resultados oscilatórios,
ou seja, a solução numérica pode apresentar erros de dissipação numérica (ROSA, 2008).

 Higher Upwind
52

Com a finalidade de aumentar ainda mais a precisão da solução, o esquema Higher upwind
introduz mais um termo a oeste da célula numérica 𝜙𝑊𝑊 . É possível ter sua representação
matemática a partir da seguinte expressão:

1
𝜙𝑤 = 𝜙𝑃 + (𝜙𝑊 − 𝜙𝑊𝑊 ) (113)
2
3 1
𝜙𝑒 = 𝜙𝑃 − 𝜙𝑊 (114)
2 2

sendo W referente ao centro do volume de controle posicionado á direita do volume de controle


que está sendo calculado, WW posicionado dois volume de controle à direita.

Também denominado de esquema upwind de segunda ordem, fornece valores mais precisos
do que o esquema upwind de primeira ordem, porém é necessário para tal precisão um maior
esforço computacional.

 Quick (Quadratic Upwind Difference)

Este esquema também é baseado no upwind, no entanto utiliza uma expressão de terceira
ordem considerando os dois pontos anteriores e um posterior à face em questão.

3 3 1
𝜙𝑝 = 𝜙𝐸 + 𝜙𝑃 − 𝜙𝑊 (115)
8 4 8

2.11 ACOPLAMENTO PRESSÃO-VELOCIDADE

Quando o escoamento é compressível, a equação de estado que relaciona a massa


específica com a pressão e a temperatura é empregada para o fechamento do problema na
determinação dos campos de velocidade. Para escoamentos incompressíveis, a massa específica
não varia com a temperatura e a pressão. Neste caso, não se tem uma equação explícita para o
cálculo de pressão, e a solução para esse problema pode ser obtida por duas abordagens. Uma
delas é a solução acoplada da pressão-velocidade, que consiste em resolver as equações da
continuidade e de movimento simultaneamente numa única matriz. A outra alternativa é utilizar
uma abordagem segregada, sendo necessário determinar um campo de velocidade que satisfaça
à equação de conservação da massa, quando inserido nas equações de quantidade de
movimento. Na literatura existem diversos métodos que podem ser empregados neste tipo de
solução: SIMPLE (Semi Implict Linked Equations), SIMPLEC (Simple-Consistent), PRIME
53

(Presure Implicit Momentum Explicit) e PISO (Pressure-Implicit with Splitting of Operators)


(MALISKA, 2004).

2.12 MALHA NUMÉRICA

Como é impossível obter soluções numéricas sobre uma região contínua devido ao número
infinito de pontos da mesma, inicialmente é necessário discretizar o domínio dividindo-o em
pontos (nós), e esse conjunto de pontos discretos é denominado malha computacional. A Figura
18 apresenta a distribuição desses nós quando o método de volumes finitos é aplicado a uma
malha computacional 2D.

Figura 18 - Esquema de uma Malha 2D para método de volume finitos

Segundo Versteeg e Malalasekera (2007), a geração de uma malha, embora pareça trivial
devido à simplicidade dos algoritmos de produção, é na verdade uma tarefa extremamente
difícil e importante na simulação numérica, requerendo bastante cuidado na sua elaboração,
visto que uma boa malha gerada é fundamental na produção de uma descrição física realística,
de modo que se tenha um custo computacional baixo. Na construção de uma malha
computacional têm-se quatro tipos básicos de elementos tridimensionais: os hexaédricos e os
tetraédricos, que são os principais, e os elementos prismáticos e piramidais, que são usados com
menor frequência, conforme apresentado na Figura 19.
54

(a) (b) (c) (d)


Figura 19 - Elementos de malha: (a) hexaédrica, (b) tetraédrica, (c) prismática, e (d) piramidal.
Fonte: Elias (2010)

Os elementos tetraédricos são bem mais versáteis que os hexaédricos na representação


de geometrias complexas, porém a sua principal desvantagem ocorre com problemas próximo
à região da camada limite, onde o refinamento é importante principalmente devido as altas
turbulências.

O tipo de malha adequada para um determinado escoamento depende da complexidade


e geometria do domínio. De acordo com a topologia, é possível classificar uma malha como
estruturada, não-estruturada e híbrida, conforme pode ser observado na Figura 20. As malhas
estruturadas apresentam regularidade na distribuição espacial de seus pontos. Já as malhas não-
estruturadas são caracterizadas pela ausência de regularidade na distribuição espacial de seus
pontos (malha tetraédrica, por exemplo), e devido a isto, tem-se como sua principal vantagem
o fato da fácil adaptação a qualquer tipo de geometria desde as mais simples até as mais
complexas. As malhas híbridas são uma combinação entre as malhas estruturadas e não-
estruturadas.

(a) (b)
Figura 20 - Exemplos de malha estruturada (a) e não-estruturada (b).
Fonte: Elias (2010)
55

2.13 ESTUDO PARA O TESTE DE MALHA

Com a crescente aplicação da fluidodinâmica computacional (CFD) em todos os campos


da engenharia e da indústria, a necessidade de precisão e confiança nos resultados produzidos
por esses códigos se torna cada vez maior, e a verificação e validação são palavras-chave na
construção desses resultados confiáveis. De modo geral, a verificação tem como objetivo
identificar possíveis inconsistências e erros na codificação do algoritmo, enquanto a validação
preocupa-se em quantificar os diferentes tipos de erros numéricos da solução computacional.

A redução desses erros eleva a acurácia dos cálculos quando a distância entre dois nós
da malha tende ao contínuo, e isso ocorre devido à solução numérica ser sensível a este
espaçamento. No entanto, este procedimento é inversamente proporcional ao custo
computacional, isto é, quanto menor essa distância entre os nós, maior é a acurácia e maior será
o custo computacional (NOVAK, 2012).

É possível ter grandes reduções em tempo de execução nas simulações de escoamento


multifásico ao se utilizar um refinamento de malha adaptativo (GOURMA et al., 2013;
BROWN et al., 2015). Frequentemente, malhas ótimas são malhas híbridas, isto é, malhas que
possuem malhas do tipo estruturada como também não-estruturada (ROCHA, 2008).

Diversos trabalhos descritos na literatura relatam a influência do refinamento de malha


nos resultados computacionais. Padoin et al. (2014) relataram em seus estudos a influência de
dois tipos de malhas na transferência de calor e massa de um fluxo multifásico. Eça e Hoeskstra,
(2014) descreveram que a estimativa de incertezas numéricas em cálculos de CFD para
refinamento de malha é possível a partir do método de mínimos quadrados.

2.13.1 Extrapolação de Richardson Generalizada

Na literatura, diversos métodos têm sido propostos para a redução de possíveis erros nas
soluções produzidas, tais como método da extrapolação dos mínimos quadrados, estimadores
de erro com base em elementos finitos. Porém, o mais amplamente utilizado e aceito na
literatura é o modelo de extrapolação de Richardson, isso devido a sua facilidade de aplicação
e verificação de soluções numéricas dos mais variados tipos de discretização (WAHBA, 2013).

O método de extrapolação de Richardson visa fornecer uma estimativa melhorada para


a solução exata a partir das soluções numéricas obtidas em malhas refinadas. Com a
56

extrapolação Richardson generalizada o erro de discretização, 𝛿𝑖 , de qualquer parâmetro local


ou integral da malha i pode ser aproximado como:

𝑝
𝛿𝑖 = 𝑓𝑖 − 𝑓𝑒𝑥 ≈ 𝛼ℎ𝑖 (116)

sendo, 𝑓𝑖 a solução numérica da malha i e ℎ𝑖 o espaçamento da malha característica.

Há três incógnitas na Equação (116), a solução exata, 𝑓𝑒𝑥 , a ordem observada ou


aparente de precisão, 𝑝, e a constante 𝛼, que podem ser calculados com o auxílio das soluções
de mais duas malhas. Com base na relação entre as mudanças de solução, 𝑅 = (𝑓2 − 𝑓1 )/(𝑓3 −
𝑓2 ), em que o índice 1 refere-se a malha refinada, e o índice 3 para a menos refinada.

As malhas computacionais são classificadas da seguinte forma por Roache (1994): para
valores 0 < 𝑅 < 1, convergência monotônica; -1 < 𝑅 < 0, convergência oscilatória; |𝑅| > 1,
divergência.

Para malhas com convergência monotônica 𝑝 é calculado de forma iterativa pela


seguinte relação:

1 𝑝 𝑝
{𝑙𝑛 ( ) − [𝑙𝑛(𝑟32 − 1) − 𝑙𝑛(𝑟21 − 1)]}
𝑝= 𝑅 (117)
𝑙𝑛 𝑟21

tendo como razões de refinamento 𝑟21 = ℎ2 /ℎ1 e 𝑟32 = ℎ3 /ℎ2 .

1
𝑙𝑛( )
𝑅
Para quando 𝑟21 = 𝑟32 a ordem de precisão será igual a . Para casos em que a
𝑙𝑛 𝑟21

ordem de precisão, 𝑝, é maior do que a ordem teórica, a relação para a estimativa do erro, 𝛿𝑖′ , é
resolvida com três malhas e a série é truncada no segundo termo.

𝛿𝑖′ = 𝑓𝑖 − 𝑓𝑒𝑥 ≈ 𝛼1 ℎ𝑖 + 𝛼2 ℎ𝑖2 (118)

Por conseguinte, a incerteza numérica, 𝑈𝑖 , na melhor malha é estimada a partir do índice


de convergência de malha (GCI) proposto por Roache (1994) e estendido por Eça e Hoekstra
(2004).

Para 0,5 < 𝑝 ≤ 2:

𝑈𝑖 = 1,25 |𝛿𝑖 | (119)


57

Para 2 < 𝑝 ≤ 3:

𝑈𝑖 = 1,25 𝑚𝑎𝑥 (|𝛿𝑖 |, |𝛿𝑖′ |) (120)

Para 𝑝 ≤ 0,5 ou 𝑝> 3:

𝑈𝑖 = 3 𝑚𝑎𝑥 (|𝑓3 − 𝑓2 |, |𝑓2 − 𝑓1 |) (121)

Nenhuma estimativa de incerteza numérica é feita para os casos com divergência


monotônica ou oscilatória (EÇA e HOEKSTRA, 2004).
58

3. METODOLOGIA

O presente trabalho tem o intuito de realizar o estudo de escoamentos bifásicos do tipo


líquido-gás, comumente encontrados em tubulações, aplicando a técnica de fluidodinâmica
computacional. Neste capítulo, serão descritas as etapas necessárias para o desenvolvimento
desse estudo, expondo detalhadamente todo processo de modelagem usando o pacote comercial
ANSYS/CFX® 14 juntamente com as condições iniciais e de contorno implementadas.

3.1 MODELO PROPOSTO

O modelo desenvolvido neste estudo descreve um duto horizontal com escoamento


bifásico líquido-gás. A configuração do duto contém duas entradas bem definidas, onde ambos
os fluidos são injetados de modo concorrente, sendo separados por uma pequena lâmina que
proporciona condições de contorno bem definidas para o modelo, oferecendo boas
possibilidades para validação, conforme pode ser observado na Figura 21.

Figura 21 - Geometria do canal considerada.

3.2 DOMÍNIO COMPUTACIONAL

Inicialmente, para a criação do volume de controle foi utilizado o sub-pacote Geometria


(Geometry) versão 14.0, presente no pacote comercial da ANSYS Inc. Uma interface bastante
interativa, na qual é possível descrever sólidos de diversos formatos em 2D ou 3D, conforme
pode ser observado na Figura 22.
59

Figura 22 - Tela principal do sub-pacote Geometry.

A geometria utilizada neste estudo foi de um canal retangular de seção transversal


constante. As dimensões adotadas para a construção deste canal estão definidas na Tabela 5.

Tabela 5 - Dimensões utilizadas para construção do canal.


Dimensões Dados
Espessura do canal 0,03 m
Comprimento do canal 2,5 m
Comprimento da Lâmina 0,1 m
Espessura da lâmina 0,001 m
Altura do canal 0,1 m
Fonte: Hohne (2009).

A geometria de entrada foi definida de forma que se tenha uma injeção separada dos
fluidos para dentro do canal, o ar flui através da parte superior e a água através da parte inferior,
proporcionando perfis de velocidade homogêneos. Os fluidos entram em contato após uma
lâmina de 0,1 metro que separa ambas as fases. A Figura 23 mostra a geometria gerada no
software.
60

Figura 23 - Geometria utilizada nas simulações.

3.3 MALHA NUMÉRICA

Utilizando o sub-pacote Mesh (Meshing) foi gerada a malha a partir da geometria


elaborada no Geometry. A geração de malha é um dos aspectos mais difíceis para
implementação durante um processo de simulação, visto que interfere diretamente nos
resultados obtidos como também no tempo computacional para a solução.

A malha criada no Meshing para o domínio foi do tipo não estruturada, ou seja, não se
tem uma distribuição regular dos elementos. A malha construída apresenta 1,2 x 10 6 elementos
hexaédricos e pode ser visualizada na Figura 24.
61

Figura 24 - Estrutura de malha do canal próximo à lâmina.

Uma maneira simples e rápida de analisar a malha gerada é através dos element quality,
aspect ratio, e skewness. O element quality é um fator de qualidade para cada elemento, e seu
valor pode variar de 0 a 1. O aspect ration relaciona as dimensões características de cada
elemento, sendo aconselhado que o intervalo entre os elementos esteja entre os valores de 20 a
50. O skewness determina o quão perto do ideal uma face ou célula está, e seu valor varia de 0
a 1, sendo seu valor máximo descrito para células com alta assimetria, o que indica células de
baixa qualidade (ANSYS, 2009).

3.4 CONFIGURAÇÕES DA SIMULAÇÃO

Nesta etapa o sub-pacote CFX-Pré foi utilizado para a definição dos modelos
matemáticos, hipóteses simplificadoras, condições de contorno e propriedades dos fluidos, esse
sub-pacote pode ser visualizado na Figura 25.
62

Figura 25 - Tela principal do CFX-Pré.

Antes de iniciar toda simulação computacional é necessário especificar informações


acerca do processo e de como este será tratado, resolvido e analisado. Deste modo, o primeiro
passo é informar ao programa em qual regime ocorrerá o escoamento, se transiente com as
propriedades variando ao longo do tempo ou estacionário com as propriedades constantes ao
longo do tempo. Algumas destas informações estão disponíveis na Tabela 6.

Tabela 6 - Configurações utilizadas no CFX-Pre.


Modelagem Duto
Tipo de escoamento Bifásico líquido-gás
Regime Transiente
Geometria Tridimensional (3-D)
Modelo de turbulência k−ω
Fonte: Hohne (2009).

3.5 EQUAÇÕES MATEMÁTICAS

A fluidodinâmica computacional é fundamentalmente baseada nas leis físicas de


conservação. Esta seção irá descrever as equações de conservação que governam o processo
juntamente com suas respectivas equações auxiliares. Para resolução dessas equações para o
sistema considerado, foram adotadas algumas hipóteses:
63

 Os fluidos são considerados newtonianos e incompressíveis.


 Sistema isotérmico.
 Sem geração e consumo de espécies.
 O líquido se encontra inicialmente completamente estratificado apresentando uma
superfície plana.

As hipóteses adotadas têm como finalidade reduzir o esforço computacional


viabilizando a análise do problema. Vale ressaltar também que o modelo assim estabelecido
possibilita a análise do escoamento sem a utilização do balanço de energia.

Todas as equações utilizadas pelo software da ANSYS Inc. são apresentadas a seguir:

3.5.1 Equação de Conservação da Massa

A equação de conservação da massa ou equação da continuidade estabelece que a massa


presente no escoamento não pode ser criada nem destruída, somente conservada. Neste
trabalho, um modelo de dois fluidos foi adotado, ou seja, para cada fase presente um conjunto
de equação de conservação é utilizado.

A equação de conservação da massa para o problema descrito pode ser definida


matematicamente da seguinte forma para cada fase:

𝜕(𝛼𝐿 𝜌𝐿 )
+ 𝛻 ∙ (𝛼𝐿 𝜌𝐿 𝑣⃗𝐿 ) = 0 (122)
𝜕𝑡
𝜕(𝛼𝐺 𝜌𝐺 )
+ 𝛻 ∙ (𝛼𝐺 𝜌𝐺 𝑣⃗𝐺 ) = 0 (123)
𝜕𝑡

O primeiro termo das Equações (122) e (123) fazem referência à taxa de variação de
massa por unidade de volume ao longo do tempo. O segundo indica um termo advectivo, que
representa a taxa líquida do fluxo de massa através das fronteiras do volume de controle.

3.5.2 Equação de Conservação da Quantidade de Movimento

A lei de conservação da quantidade de movimento é baseada na 2ª lei de Newton na


qual a taxa de variação de movimento em uma partícula equivale à soma das forças internas e
externas que atuam nessa partícula. Sabendo disto, é possível descrever as equações da
quantidade movimento para cada fase, como:
64

𝜕(𝛼𝐿 𝜌𝐿 )
+ 𝛻 ∙ (𝛼𝐿 𝜌𝐿 𝑣⃗𝐿 𝑣⃗𝐿 ) = −𝛼𝐿 𝛻𝑃𝐿 + 𝛼𝐿 𝜌𝐿 𝑔⃗ + 𝛻 (𝜏̿𝐿 ) (124)
𝜕𝑡
𝜕(𝛼𝐺 𝜌𝐺 )
+ 𝛻 ∙ (𝛼𝐺 𝜌𝐺 𝑣⃗𝐺 𝑣⃗𝐺 ) = −𝛼𝐺 𝛻𝑃𝐺 + 𝛼𝐺 𝜌𝐺 𝑔⃗ + 𝛻 (𝜏̿𝐺 ) (125)
𝜕𝑡

Nas equações acima os termos têm o seguinte significado:

𝜕(𝛼𝐿,𝐺 𝜌𝐿,𝐺 )
indica a transferência da quantidade de movimento devido transporte
𝜕𝑡
advectivo;
∇ ∙ (𝛼𝐿,𝐺 𝜌𝐿,𝐺 𝑣⃗𝐿,𝐺 𝑣⃗𝐿,𝐺 ) indica a transferência da quantidade de movimento devido
transporte convectivo;
𝛼𝐿,𝐺 𝜌𝐿,𝐺 𝑔⃗ é o termo de força gravitacional, e
𝛼𝐿,𝐺 ∇𝑃𝐿,𝐺 é o divergente de contribuição da pressão
∇ 𝜏̿𝐿,𝐺 é o tensor referente a cada fase.

3.6 EQUAÇÕES DE FECHAMENTO

Para a solução numérica das equações de conservação acima descritas é necessário


definir algumas equações constitutivas, que serão apresentadas a seguir.

3.6.1 Turbulência

Escoamentos turbulentos ocorrem quando as forças de inércia presentes no fluido são


mais significativas que as forças viscosas. O estudo desses escoamentos é caracterizado pelo
elevado número de Reynolds, porém até o momento ainda não há um modelo único capaz de
descrever com exatidão esse comportamento desordenado. Os modelos existentes possuem
informações empíricas, o que os tornam específicos para determinados problemas (ANSYS,
2009).

Logo, diante dos atuais modelos, o k-ω foi apresenta a robustez necessária para uma
análise do problema proposto, tendo sido aplicado com êxito em diferentes trabalhos. O modelo
de turbulência k-ω foi introduzido pela primeira vez por Kolmogorov (1942), porém a sugestão
mais popular para melhorias para o modelo veio de Wilcox (1994) que formulou o k-ω para ser
um modelo alternativo ao modelo de turbulência k-𝜀 para baixos valores de Reynolds.
65

O modelo k-ω é um modelo preciso e robusto, pois não envolve as funções complexas
não lineares de amortecimento, as quais são necessárias no modelo k-𝜀. Basicamente, o modelo
assume que a viscosidade turbulenta está relacionada à energia cinética de turbulência e à
frequência turbulenta pela expressão:

𝑘
𝜇𝑡 = 𝜌 (126)
𝜔

sendo:

𝑘 é a energia cinética turbulenta;


𝜔 é a frequência específica.

Já modelo padrão dos Tensores de Reynolds no ANSYS CFX baseia-se na equação de


dissipação. Essa equação tem sido tradicionalmente formulada com base em estudos físicos dos
processos de convecção, difusão, produção e dissipação. Sua principal vantagem deve-se ao
tratamento mais preciso em regiões próximas a parede do solido.

𝜕𝜔 𝜕𝜔 𝜕 𝜕𝜔
𝜌 ⃗⃗⃗⃗𝑗
+ 𝜌𝑈 = ((𝜇 + 𝜎𝜇𝑡 ) ) + 𝑃𝜔 − 𝐷𝜔 (127)
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

A produção e dissipação da equação ω no modelo é obtida de forma análoga as equações


do modelo k-𝜀, usando como base os mesmo termos de produção e dissipação da equação
épsilon do modelo.

𝜔 ⃗⃗⃗⃗𝑖
𝜕𝑈 𝜔
𝑃𝜔 = 𝛼 𝜏𝑖𝑗 = 𝛼 𝑃𝐾 (128)
𝑘 𝜕𝑥𝑗 𝑘
𝐷𝜔 = 𝛽𝜌𝜔2 (129)

O modelo de Wilcox tenta prever a turbulência a partir de duas equações diferenciais


parciais, uma para k e outra para ω, tendo a primeira variável como sendo a energia cinética
turbulenta, enquanto a segunda, como sendo a taxa de dissipação especifica (da energia cinética
turbulenta em energia térmica interna), respectivamente.

Equação para k:
66

𝜕(𝜌𝑘) 𝜕 𝜕 𝜇𝑡 𝜕𝑘 ⃗⃗⃗⃗𝑖
𝜕𝑈
+ ⃗⃗⃗⃗𝑖 𝑘) =
(𝜌𝑈 ((𝜇 + ) ) + 𝜏𝑖𝑗 − 𝛽 ′ 𝜌𝑘𝜔 (130)
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜎𝑘 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗

Equação para ω:

𝜕(𝜌𝜔) 𝜕 𝜕 𝜇𝑡 𝜕𝜔 𝜔 ⃗⃗⃗⃗𝑖
𝜕𝑈
+ ⃗⃗⃗⃗𝑗 𝜔) =
(𝜌𝑈 ((𝜇 + ) ) + 𝛼 𝜏𝑖𝑗 − 𝛽𝜌𝜔2 (131)
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑥𝑗 𝜎𝜔 𝜕𝑥𝑗 𝑘 𝜕𝑥𝑗

As variáveis independentes 𝜌 (densidade) e o 𝑈 (vetor velocidade) são tratadas como


quantidades conhecidas pelas equações de Navier-Stokes. Os coeficientes 𝛽 e 𝛼 da equação-ω,
como também os números de Prandtl de turbulência, 𝜎k e 𝜎ω correspondem às constantes do
modelo ω, indicadas na Tabela 7.

Tabela 7 - Valores das constantes para o modelo de turbulência k-ω.


Constante 𝝈𝐤 𝝈𝛚 𝜷 𝜷′ 𝜶
Valor 2,0 2,0 0,075 0,09 0,553
Fonte: Ansys (2009).

3.6.2 Amortecimento da turbulência

Devido aos elevados gradientes de velocidade na superfície livre, especialmente na fase


gasosa, tem-se uma elevada turbulência ao longo do escoamento bifásico mesmo quando se
utilizam modelos de turbulência como o k-ε ou k-ω (ANSYS, 2009). Logo, o amortecimento
da turbulência é necessário nessas regiões próximas à interface.

Alguns modelos empíricos que abordam a anisotropia da turbulência na superfície livre


são sugeridos na literatura. No entanto, nenhum modelo é aplicável a uma ampla gama de
condições de escoamento e todos eles são não-locais, solicitando, por exemplo, especificação
explícita da espessura da camada de líquido, da amplitude e do período de ondas de superfície,
etc.

Egorov (2004) propôs um procedimento de amortecimento da turbulência dependente


apenas da malha. Este procedimento fornece um amortecimento para a turbulência na parede
em ambas as fases. Ele se baseia na modificação da equação ω, formulada por Wilcox. A fim
de imitar o amortecimento da turbulência perto da superfície livre, Egorov introduziu o seguinte
termo no lado direito das equações de ambas as fases:
67

2
6𝜇𝐿,𝐺
𝑠𝐷,(𝐿,𝐺) = 𝐴𝑑𝑒𝑛𝑠 ∆𝑦𝛽𝜌𝐿,𝐺 (𝐵 ) (132)
𝛽𝜌𝐿,𝐺 ∆𝑛2

O fator 𝐴𝑑𝑒𝑛𝑠 que descreve a densidade de área interfacial, ativa o uso do termo fonte
somente na superfície livre, cancelando o termo padrão ω de dissipação e substituindo-o pelo
novo termo −𝛼𝐿,𝐺 𝛽𝜌𝐿,𝐺 ω2𝐿,𝐺 , termo este que impõe um alto valor para ω exigindo assim o
amortecimento da turbulência (HOHNE e VALLÉE, 2010).

3.6.3 Implementação do Modelo Algebraic Interfacial Area Density (AIAD)

As equações descritas a seguir foram implementadas no pacote computacional


ANSYS/CFX® versão 14 através de comandos de linguagem CCL (CEL command Language).

A modelagem dos fenômenos interfaciais que ocorrem durante o escoamento foi


realizada pelo modelo Algebraic Interfacial Area Density (AIAD), um modelo que permite
detectar a mudança morfológica de cada fase presente no escoamento. Esse modelo tem como
base um conjunto de funções e correlações capazes de definir um coeficiente de arraste. As
descrições relatadas a seguir podem ser encontradas em estudos realizados por Hohne e Vallée,
(2010) e Hohne et al. (2011). .

A abordagem do modelo AIAD vem definir inicialmente as funções de mistura a partir


das frações volumétricas, de modo que haja uma diferença entre as morfologias da superfície
livre, de gotas e bolhas dispersas. As funções de mistura que definem essas morfologias são
descritas pelas Equações (133), (134) e (135):

𝑓𝐷 = [1 + 𝑒 𝑎𝐷(𝛼𝐿 −𝛼𝐷,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡 ) ]−1 (133)

𝑓𝐵 = [1 + 𝑒 𝑎𝐵(𝛼𝐺 −𝛼𝐵,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡 ) ]−1 (134)


𝑓𝐹𝑆 = 1 − 𝑓𝐵 − 𝑓𝐷 (135)

sendo 𝑓𝐷 e 𝑓𝐵 os coeficientes de mistura para gotículas e bolhas, respectivamente e 𝛼𝐷,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡 e


𝛼𝐵,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡 os limitadores da fração de volume.

Para as simulações foram assumidas os valores de 𝛼𝐷,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡 = 𝛼𝐵,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡 = 0,3 e 𝑓𝐷 =


𝑓𝐵 = 70, respectivamente, como descrito por Hohne e Vallée (2010) e Hohne (2014).
68

Para o presente trabalho adotou-se que as morfologias das gotas e bolhas assumiam
formas esféricas com diâmetros constantes. As Equações (136) e (137) descrevem a densidade
de área interfacial (IAD) para bolhas e gotas:

6𝛼𝐺
𝐴𝐵 = (136)
𝑑𝐵
6𝛼𝐿
𝐴𝐷 = (137)
𝑑𝐷

sendo 𝑑𝐵 e 𝑑𝐷 o diâmetro da bolha e gota, respectivamente.

Na abordagem do modelo interfacial AIAD, a superfície livre é definida como o valor


absoluto do gradiente da fração de líquido nas direções x, y e z.

𝜕𝛼𝐿 2 𝜕𝛼𝐿 2 𝜕𝛼𝐿 2


𝐴𝐹𝑆 = |𝛻𝛼𝐿 | = √( ) +( ) +( ) (138)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

A densidade da área interfacial local é calculada pelo somatório da área 𝐴𝑗 de cada


morfologia, ponderada por suas respectivas funções de mistura 𝑓𝑗 :

𝐴𝑑𝑒𝑛𝑠 = ∑ 𝑓𝑗 𝐴𝑗 , 𝑗 = 𝐹𝑆, 𝐵, 𝐷 (139)


𝑗

É possível descrever a força de arraste através de uma correlação que envolve a


velocidade relativa entre as fases, a média da densidade dos fluidos 𝜌𝐿𝐺 , a área A e o coeficiente
de arraste adimensional 𝐶𝐷 :

1
|𝐹𝐷 | = 𝐴𝐶𝐷 𝜌𝐿𝐺 |𝑣𝐿 − 𝑣𝐺 |2 (140)
2

Para fluxos dispersos, a densidade da fase contínua 𝜌𝐿𝐺 é a densidade média, e seu
cálculo pode ser realizado pela seguinte equação:

𝜌𝐿𝐺 = 𝛼𝐿 𝜌𝐿 + 𝛼𝐺 𝜌𝐺 (141)

Em simulações que visam descrever escoamentos com superfície livre, normalmente a


Equação (140) relatada anteriormente não demonstra um comportamento físico realista, o que
se deve à grande similaridade entre as velocidades de ambos os fluidos próximos à interface. A
69

fim de corrigir isso, Hohne e Valle (2010) assumiram em seu trabalho que a tensão de
cisalhamento perto da superfície comporta-se de forma similar à tensão de cisalhamento
próxima as paredes em ambas regiões líquido e gás.

Sabendo que a tensão de cisalhamento na parede é o produto da tensão de cisalhamento


viscosa e o vetor normal a superfície, tem-se para o cálculo da tensão na interface, a tensão de
cisalhamento ponderada pelos gradientes de velocidade, referente ao vetor normal a superfície:

𝜏𝑥𝑥 𝜏𝑥𝑦 𝜏𝑥𝑧 𝑛𝑥


𝜏
𝜏𝑤 = [ 𝑦𝑥 𝜏𝑦𝑦 𝜏𝑦𝑧 ] . [𝑛𝑦 ] (142)
𝜏𝑧𝑥 𝜏𝑧𝑦 𝜏𝑧𝑧 𝑛𝑧

𝜏𝑤,𝑥 = 𝜏𝑥𝑥 𝑛𝑥 + 𝜏𝑥𝑦 𝑛𝑦 + 𝜏𝑥𝑧 𝑛𝑧 (143)

𝜏𝑤,𝑦 = 𝜏𝑦𝑥 𝑛𝑥 + 𝜏𝑦𝑦 𝑛𝑦 + 𝜏𝑦𝑧 𝑛𝑧 (144)

𝜏𝑤,𝑧 = 𝜏𝑧𝑥 𝑛𝑥 + 𝜏𝑧𝑦 𝑛𝑦 + 𝜏𝑧𝑧 𝑛𝑧 (145)

τw = √𝜏𝑤,𝑥 2 + 𝜏𝑤,𝑦 2 + 𝜏𝑤,𝑧 2 (146)

Assumindo que a força de arraste, 𝐹𝐷 , é igual à força da tensão de cisalhamento que atua
na superfície livre, como resultado tem-se um novo coeficiente de arraste dependente da tensão
de cisalhamento na parede, da densidade da mistura, da viscosidade e da velocidade relativa de
ambas as fases:

𝐹𝑤 = 𝜏𝑖 𝐴𝑑𝑒𝑛𝑠 = 𝐹𝐷 (147)
2(𝛼𝐿 𝜏𝑊,𝐿 + 𝛼𝐺 𝜏𝑊,𝐺 )
𝐶𝐷,𝐹𝑆 = (148)
𝜌|𝑣𝐿 − 𝑣𝐺 |2

O modelo AIAD faz uso de três diferentes coeficientes de arraste: 𝐶𝐷,𝐵 = 0,44 para
bolhas, 𝐶𝐷,𝐷 = 0,44 para gotículas e 𝐶𝐷,𝐹𝑆 calculado pela Equação (148) (HOHNE e VALLÉE,
2010). O coeficiente de arraste total é calculado similarmente ao da densidade de área
interfacial, com a soma ponderada pelos coeficientes de arraste para todas as morfologias:

𝐶𝐷 = ∑ 𝑓𝑗 𝐶𝐷 𝑗 , 𝑗 = 𝐹𝑆, 𝐵, 𝐷 (149)
𝑗
70

3.7 CONDIÇÕES DE CONTORNO

Para resolução das equações numéricas envolvidas na simulação é necessária a definição


de condições de contorno, e para isto, em cada face externa da geometria criada, foi definida
uma condição de contorno (Boundary). As regiões 2-D foram definidas com o inlet, outlet,
opening, symmetry plane ou wall (entrada, saída, abertura, plano de simetria ou parede), como
apresentado na Figura 26 abaixo.

Figura 26 - Interface do Setup.

 Entrada de Líquido: na região de “entrada de líquido” foi adotada uma condição de


velocidade superficial de líquido igual a 1 m/s. A fração de líquido na região de “entrada
de líquido” foi considerada igual a 1, visto que o arraste de gás é bastante pequeno.
 Entrada de Gás: a velocidade superficial de gás também foi definida na entrada, como
sendo igual a 5 m/s. A fração volumétrica na região de “entrada de gás” foi considerada
1.
 Saída: a condição para a “saída” do duto foi definida como sendo controlada pela
pressão.
 Parede: foi assumida a condição de não deslizamento na parede, ou seja, a velocidade
em todo domínio para ambas as fases na parede é igual a zero.
71

 Simetria: esta condição foi implementada nas paredes laterais do duto, visando reduzir
o tempo computacional.

Outras condições adicionais também foram inseridas no sub-pacote CFX-Pré, e essas


informações estão indicadas na Tabela 8.

Tabela 8 - Configurações adicionais implementadas no SETUP.


Configurações Duto
Morfologia dos fluidos Fluido contínuo
Regime de escoamento Subsônico
Pressão 1 bar
Temperatura 25ºC
Intensidade da turbulência de entrada para ambas as fases Medium (Intensity=5%)
Método de discretização High Resolution
RMS (Raiz do desvio Quadrático
Critério de convergência
Médio)
Resíduo para convergência 1x10-4
Time step 0,001 s
Tempo total 10 s
Fonte: Hohne, (2009).

Toda a simulação foi executada em uma estação de trabalho IBM com processador Intel
Xeon® E5-2620 2 GHz e 8 GB de memória RAM. A Figura 27 apresenta o Solver em execução
descrevendo o valor do erro residual para equações de conservação.
72

Figura 27 - Tela principal do sub-pacote Solver.

Ao término da simulação como CFX-Post é possível qualificar e quantificar todos os


resultados de forma interativa através de técnicas como renderização do volume (volume
redering), linhas de corrente (streamlines), perfis e vetores de velocidade.

3.8 TESTE DE MALHA

O estudo de convergência de malha tem como principal objetivo chegar a uma malha
próxima ao “ideal”, ou seja, uma malha que consiga descrever de forma realística um
determinado problema utilizando o mínimo de esforço computacional. Para que isso ocorra é
necessário determinar até que ponto o refinamento da malha exerce influência nos resultados
finais das soluções produzidas, a partir da discretização das equações de conservação da massa
e da quantidade de movimento envolvidas.

O método GCM (Grid Convergence Method) é um método proposto pela American


Society of Mechanical Engineers, que consiste em analisar o valor de uma determinada variável
𝜙 em uma faixa de pontos do modelo geométrico (ROACHE, 1994). A descrição dessa
metodologia pode ser vista a seguir, e sua aplicação foi feita para diferentes refinos de malha.

1º Passo: Define-se uma célula representativa para cálculos tridimensionais:


73

1
N 3
1 (150)
h= [ ∑(Vi )]
N
i=1

sendo 𝑉𝑖 o volume de cada elemento da célula e 𝑁 o número total de células usadas para os
cálculos.

2° Passo: Selecionar diferentes refinos de malha, sendo que é aconselhável que a razão entre o
refino da malha mais grosseiro e a malha mais refinada seja maior que 1,3. Este valor foi
baseado em estudos empíricos.

ℎ𝑔𝑟𝑜𝑠𝑠𝑒𝑖𝑟𝑜
𝑟= > 1,3 (151)
ℎ𝑟𝑒𝑓𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜

3° Passo: A sequência de refino deve ser ordenada da seguinte forma: ℎ1<ℎ2<ℎ3<ℎ4<ℎ5. Os


cálculos são realizados comparando as malhas aos pares, ou seja, são comparadas as malhas 1
e 2 como 𝑟21=ℎ2/ℎ1, em seguida 2 e 3, e assim por diante. Desta forma, os passos 3, 4 e 5 devem
ser repetidos para cada par de malhas. Para as duas primeiras malhas, por exemplo, calcula-se
o parâmetro de ordem aparente “p” utilizando as equações apresentadas a seguir:

1
𝑝= |𝑙𝑛|𝑒32 /𝑒21 | + 𝑞(𝑝)| (152)
𝑙𝑛(𝑟21 )
𝑝
𝑟 −𝑠
𝑞(𝑝) = 𝑙𝑛 ( 21
𝑝 ) (153)
𝑟32 − 𝑠
𝑒32
𝑠 = 1. 𝑠𝑔𝑛 ( ) (154)
𝑒21

sendo 𝑒32 = 𝜙3 − 𝜙2 , 𝑒21 = 𝜙2 − 𝜙1 , e 𝜙 faz referência ao valor da variável a ser definida


em um determinado ponto no volume de controle considerado na análise.

4° Passo: Calcular o valor extrapolado da variável.

𝑝
(𝑟 𝜙1 − 𝜙2 )
21
𝜙𝑒𝑥𝑡 = 21 𝑝 (155)
(𝑟21 − 1)

32
O cálculo de 𝜙𝑒𝑥𝑡 e feito de forma equivalente.

5° Passo: Calcular a estimativa de erro para cada mudança de refino da malha a partir dos
seguintes parâmetros.
74

Erro aproximado:

𝜙1 − 𝜙2
𝑒𝑎21 = | | (156)
𝜙1

Erro extrapolado:

21
21
𝜙𝑒𝑥𝑡 − 𝜙1
𝑒𝑒𝑥𝑡 =| 21 | (157)
𝜙𝑒𝑥𝑡

Índice de convergência da malha:

1,25. 𝑒𝑎21
𝐺𝐶𝐼21 = 𝑝 (158)
𝑟21 − 1

Os índices 𝐺𝐶𝐼21 correspondem à incerteza numérica da solução refinada para a variável


𝜙. É importante destacar que este índice não inclui os erros relativos à modelagem.
75

4 RESULTADOS

Nesta seção serão apresentados e discutidos resultados obtidos durante as simulações


com o modelo proposto. A geometria construída como também as condições experimentais
impostas ao trabalho foram baseadas em Hohne (2010).

4.1 VERIFICAÇÃO DO PADRÃO DE ESCOAMENTO

Segundo Shoham (2005), o desenvolvimento do padrão estratificado é comum em baixos


fluxos de gás e líquido. Além disso, a interface formada entre as fases é bem definida, tendo-se
a fase gasosa na região superior do duto e a fase líquida abaixo devido ao efeito da gravidade.

Com a finalidade de caracterizar o escoamento e identificar o padrão desenvolvido foram


utilizados como base os mapas abordados na Seção 1.4. Os fluidos utilizados e suas respectivas
propriedades físico-químicas estão apresentadas na Tabela 9.

Tabela 9 - Propriedades físico-químicas dos fluidos.


Propriedades Água Ar
Massa Específica (lbm/ft3) 62,24 7,30 𝑥10−2
Viscosidade Dinâmica (cP) 8,89 𝑥10−1 1,83 𝑥10−2
Tensão Superficial (dina/cm) 71,97

4.1.1 Mapa de Baker

Para verificar a condição no mapa de Baker, inicialmente, é realizado o cálculo dos


fluxos mássicos de ambas as fases a partir de suas respectivas velocidades superficiais. O
cálculo dos parâmetros adimensionais λ e ψ são realizados através das Equações (24) e (25),
respectivamente, levando em consideração as informações das propriedades dos fluidos
apresentadas na Tabela 10.

Tabela 10 - Parâmetros para as fases em escoamento.

FASE LÍQUIDA FASE GASOSA


𝐺𝐿 𝑊𝐿 𝑄𝐿 𝑣𝑆𝐿 𝐺𝐺 𝑊𝐺 𝑄𝐺 𝑣𝑆𝐺
(lbm/ft2s) (lbm/s) (ft3/s) (ft/s) (lbm/ft2s) (lbm/s) (ft3/s) (ft/s)

204,14 3,24 5,22 𝑥10−2 3,28 1,17 1,86 𝑥10−2 2,50 𝑥10−2 16,40
76

De acordo com os valores calculados para os pontos no mapa de Baker correspondentes


a escoamentos bifásicos líquido-gás, encontra-se que nas condições dadas para o sistema, o
escoamento tende a assumir um padrão intermitente do tipo pistonado (slug), o que pode ser
confirmado pelo mapa na Figura 28.

Tabela 11 - Valores para os fatores de Baker.

Padrão de 𝑮𝑳 𝝀𝝍 𝑮𝑮
𝝀 𝝍
escoamento 𝑮𝑮 𝝀

Pistonado 0,98 0,97 167,69 1,18

Figura 28 - Análise do padrão pelo mapa de Baker.


Fonte: Perry (1997).

4.1.2 Mapa de Mandhane

A identificação do padrão de escoamento no mapa de Mandhane foi realizada através


da combinação entre as velocidades superficiais de ambas as fases, seus valores podem ser
consultados na seção 3.7.
77

Figura 29 - Análise do padrão pelo mapa proposto por Mandhane et al. (1974).
Fonte: Retirado de Oliveira et al. (2010).

De acordo com a análise do mapa da Figura 29, o possível padrão de escoamento


formado será do tipo pistonado (slug).

É importante ressaltar que ambos os mapas foram produzidos em condições


operacionais e dimensões geométricas diferentes das descritas neste trabalho, logo é possível
que haja uma discrepância entre o possível comportamento descrito entre os mapas.

4.2 TESTE DE MALHA

Na literatura, a grande maioria dos estudos envolvendo a geração da malha


computacional não possui metodologia definida, as diferentes malhas reproduzidas são
realizadas de forma aleatória. Diante disto, a fim de garantir uma boa qualidade à malha e uma
grande acurácia aos resultados, para este trabalho foi aplicada a metodologia para análise de
convergência de malha, conforme descrito na seção 3.8.

Para aplicação dessa metodologia foram geradas 5 malhas com diferentes refinamentos,
conforme mostrado na Tabela 12, tendo como malha 1 a mais grosseira e a malha 5 a mais
78

refinada. Por convenção, está descrita também na Tabela 12 a simbologia para cada malha a
fim de facilitar a leitura dos gráficos.

Tabela 12 - Características da malha.


Simbologia Número de nós Número de elementos
Malha 1 M1 10.757 42.788
Malha 2 M2 23.171 98.865
Malha 3 M3 52.356 217.206
Malha 4 M4 100.234 477.202
Malha 5 M5 258.814 1297.703

Por meio desse estudo é possível determinar até que ponto o refinamento exerce
influência no comportamento do escoamento. No caso da realização de um refinamento maior,
os resultados tratados no CFX-Post não terão grandes alterações, ou seja, haverá apenas um
acréscimo de tempo e esforço computacional ao problema. Nas figuras a seguir são
apresentadas visualizações das malhas criadas no sub-pacote Mesh (Meshing).

Figura 30 - Visão do refinamento da M1 próximo à lâmina. Figura 31 - Visão do refinamento da M2 próximo à lamina.
79

Figura 32 - Visão do refinamento da M3 próximo à lâmina. Figura 33 - Visão do refinamento da M4 próximo à lâmina.

Figura 34 - Visão do refinamento da M5 próximo à lâmina.

No CFX-Post foi produzida uma linha ao longo do comprimento do duto na altura de


0,5 cm bem próximo a interface de contato entre as fases, conforme apresentado na Figura 35.
Em seguida, nessa linha foi gerados 11 pontos, deste modo, é possível extrair para cada ponto
um valor referente a uma determinada variável.
80

Figura 35 - Posição da linha traçada para o estudo de malha ao longo do duto.

As Figuras 36 e 37 mostram que a influência do refinamento de malha no escoamento


ainda é considerável, a influência é visível devido às altas diferenças de valores da pressão
extrapolada nos primeiros metros do duto. As grandes diferenças entre os valores da variável
extrapolada, como também as altas variações do GCI entre as malhas, devem-se ao fato do
baixo número de elementos no qual o volume de controle foi dividido. Para um estudo deste
tipo, envolvendo a descrição interfacial de dois fluidos, é necessário um grande número de
elementos para o volume de controle, ou seja, um refinamento extremamente alto.

As Figuras 36 e 37 apresentam o perfil de pressão extrapolado entre as malhas M1 e


M2, M2 e M3 próximo à interface líquido-gás ao longo do duto retangular. Os valores para
ordem de precisão, 𝑝, calculados para cada ponto, variaram entre 0,685 e 6,713 apresentando
um valor 𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 = 1,901. Os valores para o GCI foram estimados com 𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 e plotados como
barras de erros juntamente com o valor extrapolado entre as malhas.
81

240 21
210

180

150
Pressao (Pa)

120

90

60

30

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
L (m)

Figura 36 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M1 e M2.

240 32

210

180

150
Pressao (Pa)

120

90

60

30

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
L (m)

Figura 37 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M2 e M3.

As Figuras 38 e 39 apresentam o perfil de pressão extrapolado entre as malhas M3 e


M4, além de M4 e M5 ambos próximos a interface líquido-gás ao longo do duto retangular. Os
valores para ordem de precisão, 𝑝, calculados para cada ponto variaram entre 0,161 e 7,334
apresentando um valor para 𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 = 3,864. Os valores para o GCI foram estimados com
𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 e plotados como barras de erros juntamente com o valor extrapolado entre as malhas.
82

80
43
70

60

50
Pressao (Pa)

40

30

20

10

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
L (m)

Figura 38 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M3 e M4.

30
54

25

20
Pressao (Pa)

15

10

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
L (m)

Figura 39 - Perfil de pressão extrapolado ao longo do duto entre as malhas M4 e M5 .

A Tabela 13 descreve os valores mínimos, máximos e médios do índice de convergência


de malha, GCI, obtidos durante o estudo de malha. É possível perceber que como esperado para
este tipo de estudo, os valores de GCI tendem a diminuir com o aumento do refinamento da
83

malha. Observando os valores, tem-se que o menor erro médio ocorreu entre as malhas M4 e
M5 com um valor aproximadamente igual a 5,8%.

Tabela 13 - Valores absolutos de GCI para a pressão extrapolada entre as malhas.


Mínimo Máximo Médio
GCI21 4,82 𝑥 10−2 6,51 𝑥 10−1 4,60 𝑥 10−1
GCI32 2,95 𝑥 10−1 6,85 𝑥 10−1 5,50 𝑥 10−1
GCI43 4,10 𝑥 10−2 1,54 𝑥 10−1 9,81 𝑥 10−2
GCI54 1,65 𝑥 10−2 1,20 𝑥 10−1 5,87 𝑥 10−2

De forma análoga, foram realizados cálculos para a velocidade real de escoamento da


fase líquida ao longo do duto. As Figuras 40 e 41 mostram a comparação entre as malhas M1-
M2, M2-M3, M3-M4 e M4-M5, respectivamente.

As Figuras 40 e 41 apresentam o perfil de velocidade real extrapolado entre as malhas


M1 e M2, M2 e M3 próximo à interface líquido-gás ao longo do duto retangular. Os valores
para ordem de precisão, 𝑝, calculados para cada ponto variaram entre 0,263 e 8,057
apresentando um valor 𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 = 2,203. Os valores para o GCI foram estimados com 𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 e
plotados como barras de erros juntamente com o valor extrapolado entre as malhas.

4,0
Velocidade Real da fase líquida (m/s)

21
3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

L (m)

Figura 40 - Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M1 e M2.
84

3,0
32

Velocidade Real da fase líquida (m/s)


2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
L (m)

Figura 41 – Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M2 e M3.

Nas Figuras 42 e 43 tem-se o perfil do valor extrapolado da velocidade real da fase


líquida ao longo do duto retangular entre as malhas M3-M4 e M4-M5, próximo à interface. Os
valores para ordem de precisão, 𝑝, calculados para cada ponto variaram entre 1,429 e 5,706
apresentando um valor 𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 = 3,971. Os valores para o GCI foram estimados com 𝑝𝑚é𝑑𝑖𝑜 e
plotados como barras de erros juntamente com o valor extrapolado entre as malhas.

3,0
43
Velocidade Real da fase líquida (m/s)

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

L (m)

Figura 42 - Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M3 e M4.
85

2,0
54
Velocidade Real da fase líquida (m/s)
1,5

1,0

0,5

0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

L (m)
Figura 43 - Perfil extrapolado da velocidade real da água ao longo do duto entre as malhas M4 e M5.

Da mesma forma que explanado na Tabela 13, a Tabela 14 indica os valores para o
índice de convergência de malha, ou seja, GCI. Observando o erro entre os conjuntos de malha
analisados, percebe-se que entre todos os valores mínimos, máximos e médios de GCI das
malhas M3 e M4, M4 e M5 são os menores descritos.

Tabela 14 - Valores de GCI para a velocidade real da fase liquida extrapolada entre as malhas.
Mínimo Máximo Médio
GCI21 8,63 𝑥 10−2 3,64 𝑥 10−1 1,58 𝑥 10−1
GCI32 5,25 𝑥 10−2 2,86 𝑥 10−1 1,43 𝑥 10−1
GCI43 1,67 𝑥 10−2 6,69 𝑥 10−2 7,25 𝑥 10−2
GCI54 6,74 𝑥 10−3 2,08 𝑥 10−1 4,11 𝑥 10−2

Outro parâmetro inerente ao software ANSYS/CFX® que deve ser levado em conta na
busca do melhor refinamento é o tempo computacional necessário para que o software
solucione as equações de conservação da massa, de movimento e de turbulência até um critério
de convergência RMS (Root Mean Square) que para essa simulação foi definido 1 x 10-4. A
Tabela 15 descreve os valores referentes ao tempo necessário para a resolução em cada malha.

Tabela 15 - Tempo de solução para cada malha.


M1 M2 M3 M4 M5
Tempo
08 ∶ 47 ∶ 44 15 ∶ 05 ∶ 38 32 ∶ 55 ∶ 11 62 ∶ 23 ∶ 07 215 ∶ 30 ∶ 22
(hh:mm:ss)
86

Com base nos valores de GCI descritos nas Tabelas 13 e 14, tem-se que o menor erro
médio, máximo e mínimo está entre as malhas M4 e M5 com o valor igual a 5,8%, 12% e 8%,
e 4%, 20% e 6 %, respectivamente. Porém é importante ressaltar que devido à quantidade
elevada de elementos necessários para tal simulação, seu tempo computacional foi
extremamente alto. Logo, levando em consideração os valores de GCI e o tempo computacional
tem-se que a malha que se mostrou mais adequada para a simulação foi a M4, pois seus valores
de GCI médio, máximo e mínimo estão próximos de 7,2%, 6,7% e 1,6% respectivamente, se
comparados com a malha 3. Além disso seu tempo computacional foi cerca de 3 vezes menor
se comparado com a malha 5.

4.3 ANÁLISE QUALITATIVA DOS RESULTADOS

Na Figura 44 é possível observar a variação temporal da fração volumétrica e da superfície


livre durante os primeiros 5 s. A primeira onda visualizada desenvolve-se nos primeiros
instantes da simulação, induzida principalmente por instabilidades ocasionadas pelo contato
inicial entre as fases, sendo que os principais fatores de tal instabilidade estão o efeito de borda
da lâmina e as diferentes velocidades com que as fases se encontram. Após deixarem a lâmina,
devido a esse choque inicial, a transferência de movimento ao longo da interface aumenta, como
consequência, a estrutura da interface a jusante da primeira onda começa a assumir uma forma
côncava, devido ao não equilíbrio entre as fases naquela região. Além disso, devido a elevada
amplitude dessa onda tem-se o contato com a parede superior do duto, o que ocasiona o
fechamento da seção transversal. A incidência da fase líquida na superfície livre após o
fechamento do canal, faz com que ocorra a formação de ondas com amplitudes menores. Com
a aglomeração dessas pequenas ondas tem-se o surgimento de ondas com amplitudes maiores
e mais rápidas.
87

t = 0,1 s

t = 0,2 s
t = 0,3 s
t = 0,4 s
t = 0,5 s
t = 0,6 s
t = 0,7 s
t = 0,8 s
t = 0,9 s
t = 1,0s
t = 2,0s
t = 3,0 s
t = 4,0s
t = 5,0s

Figura 44 - Campo de fração volumétrica com 𝒗𝒂𝒓 = 𝟓 𝒎/𝒔 e 𝒗á𝒈𝒖𝒂 = 𝟏 𝒎/𝒔.

A Figura 45 apresenta detalhadamente a estrutura interfacial da primeira onda, como


também permite visualizar regiões onde ocorre a presença e arraste de gotas. Como esperado,
a presença dessas gotas é observada na parte superior à frente da crista da onda, e após serem
produzidas elas incidem sobre a superfície livre e coalescem.

Figura 45 - Estrutura da fração de água juntamente com o arraste de gotas no instante t = 0,1 s.
88

Se analisarmos detalhadamente o final da lâmina, Figura 46, percebemos regiões onde


se tem a presença de vetores com velocidades menores próximo à parede, e vetores com uma
velocidade superior mais ao centro da região do gás. Segundo Hohne (2014), essa distribuição
da velocidade pode ser equilibrada com a utilização de uma lâmina móvel juntamente com a
implementação de filtros de inox introduzidos anteriormente a entrada, o que ajudará a reduzir
a transferência de movimento ocasionada nessa região.

Figura 46 - Campo de velocidade do gás próximo a lâmina.

4.4 DESCRIÇÃO DA INTERFACE PARA SIMULAÇÕES EM CFD

Comumente, a descrição da interface produzida pelo modelo de dois fluidos não é


visivelmente nítida. No entanto, o CFX-Post possui uma função que permite descrever a
interface a partir de uma determinada região, e que é chamada de isosurface.

Para as imagens apresentadas na Figura 47, a seguir foram definidas uma isosurface com
50% da fração de líquido, onde é possível visualizar o comportamento ondulatório da interface
do escoamento ao longo do duto de forma mais detalhada. Observa-se que a interface das ondas
produzidas apresenta uma geometria convexa em seu perímetro interfacial, e além disso, tem-
se também um aumento da fração volumétrica de gás na parte de trás da onda, o que ocorre
89

devido ao transporte de movimento ocasionado, principalmente, devido às instabilidades


produzidas nos segundos iniciais.

Figura 47 - Estrutura da fração de líquido calculada e da isosurface a 50%.

4.5 VALIDAÇÃO DO MODELO

Com a finalidade de garantir a validação do modelo algébrico, foi realizada uma


comparações qualitativas com o trabalho proposto por Bartosiewcz et al. (2010), no qual o
escoamento é do tipo bifásico e as fases escoam de forma concorrente em um duto. As
aplicações do seu trabalho envolvem geralmente questões relacionadas com a segurança dos
reatores nucleares.

Analisando as Figuras 48 e 49, é possível perceber que a formação da primeira onda


ocorre de forma mais tardia na simulação quando comparado com a primeira onda
experimental. O fechamento da seção transversal ocorre em ambos os casos, e, como esperado,
a interface à jusante tende a assumir uma forma côncava. Porém, no estudo experimental essa
aglomeração local da fração de líquido ocorre de forma mais suave que na simulação. Além
disso, o fenômeno de propagação das ondas ocorre em ambos os casos, tendo apenas como
diferença a amplitude, que para o estudo experimental é bem menor que na simulação. De modo
geral, tendo como base o que foi descrito anteriormente e sabendo da dificuldade de reprodução
por modelos determinísticos dessas ondas, é possível dizer que o modelo conseguiu descrever
o comportamento ondulatório similar ao obtido experimentalmente por Bartosiewcz et al.
(2010).
90

Figura 48 – Sequência de imagens calculadas pelo CFX.

Figura 49 – Sequência de imagens registradas por Bartosiewcz et al. (2010).

4.6 ESTUDO PARAMÉTRICO

É comum encontrar na literatura diversos trabalhos descrevendo a influência de certas


variáveis. Conforme descrito anteriormente na revisão bibliográfica deste trabalho, as
principais variáveis que afetam o comportamento físico de um escoamento são: a geometria do
duto (diâmetro, inclinação), as condições operacionais (temperatura, vazão, pressão) e as
propriedades físicas dos fluidos que estão a escoar.

Para realizar um estudo foram escolhidas algumas dessas variáveis, sendo que os
mesmos foram analisados de forma independente. Assim, as influências das variáveis
escolhidas sobre o comportamento do escoamento foram discutidas.

4.6.1 Variação da velocidade superficial do gás

Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos no estudo do comportamento da


interface líquido-gás ao longo do tempo de simulação, considerando-se a variação apenas da
velocidade de gás que é introduzido. A solução numérica foi obtida admitindo-se que
inicialmente o duto se encontrava ocupado com frações iguais de água-ar (50%) e que, no
instante de tempo inicial foram impostas as velocidades para injeção de ambos os fluidos,
conforme a Tabela 16.
91

Tabela 16 - Dados referentes ao estudo do efeito da velocidade.


Velocidade da água Velocidade do ar
Casos estudados
(m/s) (m/s)
Caso 1 5,0 5,0
Caso 2 1,0 5,0
Caso 3 1,0 2,0

Para ilustrar o efeito da velocidade da fase líquida, foi plotado um conjunto de gráficos,
e os valores foram retirados como ilustrado nos pontos da Figura 50 ao longo de todo tempo de
simulação.

Figura 50 - Posição dos pontos a 1 e 2 metros após a lâmina.

A partir das Figuras 51 e 52, é possível constatar que para os casos 1 e 3 a variação da
velocidade no centro ocorre apenas nos instantes iniciais. De modo geral, para ambos os casos
as condições de contorno impostas sobre a seção de entrada mantêm o perfil estratificado do
escoamento praticamente por todo o tempo de simulação. Para o caso 2, é visível que a variação
da velocidade da água é maior devido a uma maior diferença de velocidade entre as fases, e à
medida que se afasta mais da lâmina essa variação aumenta devido à propagação da onda
desenvolvida nos segundos iniciais, porém, após 4 segundos, essa velocidade tende a estabilizar
fazendo com que as perturbações próximas à interface cessem e o comportamento estratificado
seja também desenvolvido. Além disso, em ambos os gráficos, para todos os casos é notável
que a velocidade que controla o escoamento na proximidade da interface é a da fase mais densa,
no caso a fase líquida.
92

Caso 1

Velocidade Real da água (m/s)


4 Caso 2
Caso 3

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tempo (s)

Figura 51 – Velocidade real da água no centro do duto, 1 metro após lâmina.

Caso 1
4
Velocidade Real da água (m/s)

Caso 2
Caso 3

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tempo (s)

Figura 52 – Velocidade real da água no centro do duto, 2 metros após lâmina.

4.6.2 Variação da altura do canal

Esta seção tem a finalidade de avaliar o comportamento de ambas as fases durante o


escoamento em diferentes alturas. Foram estudados 3 casos, considerando como padrão base o
caso 2 descrito neste trabalho. Os parâmetros referentes a esse estudo são dados na Tabela 17.
93

Tabela 17 - Parâmetros referentes ao estudo da variação geométrica do duto.

Dimensões geométricas do
duto
Casos Velocidade da água Velocidade do ar
estudados (m/s) (m/s)
Comprimento Altura
(m) (m)

Caso 2 2,5 0,10 1,0 5,0


Caso 4 2,5 0,05 1,0 5,0
Caso 5 2,5 0,20 1,0 5,0

Devido a condição de simetria adicionada no setup do software para reduzir o tempo


computacional da simulação, as variações das propriedades nas paredes laterais do duto é nula,
ou seja, qualquer alteração na largura do canal não influenciará no comportamento do
escoamento. Para o caso 4, a altura foi reduzida em 50% e no caso 5 aumentada,
comparativamente com o caso 2. Nota-se que a onda formada inicialmente entra em contato
com a parede superior mais rápido em casos com diâmetro hidráulico menor. Esse “choque”
faz com que haja um aumento da transferência da quantidade de movimento, e isto ocorre
devido à presença da fase gasosa que está retida na parte anterior dessa região.

A Figura 53 ilustra o comportamento das frações volumétrica dos fluidos no duto.


Observa-se que em todos os casos, o fechamento da seção transversal do duto faz com que a
fase líquida seja removida parcialmente do duto. Essa remoção para diâmetros menores é
controlada por padrões do tipo intermitente, onde a interface lisa entre as fases é deformada e
começa a surgir com isso algumas bolhas aprisionadas na fase líquida. Para diâmetros maiores
essa remoção de líquido, embora ainda deforme a interface, é descrita de forma mais suave e
menor, o que se deve à ausência de zonas com grande turbulência como as geradas no instante
t = 0,3s da Figura 53 (a).
94

t = 0,3 s

t = 0,8 s

t = 1,2 s
(a)

t = 0,3 s

t = 0,8 s

t = 1,2 s
(b)

t = 0,3 s

t = 0,8 s

t = 1,2 s
(c)

Figura 53 - Fração volumétrica de líquido ao longo do duto com diâmetros de 0,05 m (a), 0,1 m (b) e 0,2 m (c).

4.6.3 Variação da viscosidade

Diversos autores, como Yusuf et al. (2012), Rodriguez e Castro (2014) e Scheleicher et
al. (2015) reportaram em seus trabalhos a influência da viscosidade na formação de diversos
padrões de escoamento. Os resultados que serão apresentados a seguir descrevem o estudo do
comportamento interfacial do escoamento líquido-gás ao longo do duto. Foram avaliados 5
casos, e todas as dimensões geométricas do duto, como também condições iniciais foram
similares ao estudo de caso 2 mostrado anteriormente. A única mudança refere-se aos fluidos e
95

suas propriedades físicas que foram definidas com base em Copergás (2017), com os valores
indicado na Tabela 18.

Tabela 18 - Propriedades físicas dos fluidos para o estudo do efeito da viscosidade.


Propriedades Gás natural Óleo

Massa específica (𝑘𝑔⁄𝑚3 ) 0,783 925

0,001
0,1
Viscosidade dinâmica (𝑃𝑎. 𝑠) 1,08 𝑥 10−5 1,0
5
10

Na Tabela 19, estão apresentados os dados e condições utilizadas em cada caso, como
também os valores referentes à variação da viscosidade da fase líquida.

Tabela 19 - Dados utilizados nas simulações.


Velocidade do Velocidade do Viscosidade
Casos estudados Gás Natural óleo dinâmica do óleo
(m/s) (m/s) (𝑃𝑎. 𝑠)
Caso 6 5 1 0,001
Caso 7 5 1 0,1
Caso 8 5 1 1,0

Caso 9 5 1 5

Caso 10 5 1 10

Com o estudo da viscosidade é possível perceber que a estabilidade do escoamento tende


a ser maior quando se tem maiores valores de viscosidade. Na Figura 54, tem-se uma
comparação entre os casos estudados, nota-se que a instabilidade ocasionada no escoamento
devido ao seu primeiro contato após a lamina é reduzida. É possível também perceber a
diferença entre a amplitude da onda. Para os casos 9 e 10 tem-se uma amplitude menor devido
a estrutura convexa da interface, ocasionada principalmente devido um maior equilíbrio local
entre as fases a jusante da onda. Em casos com baixos valores de viscosidade, como nos casos
6, 7, e 8, a transferência da quantidade de movimento é maior, logo, a propagação da onda após
o fechamento do canal é mais intensa.
96

A velocidade com a qual a fase líquida escoa também tende a se reduzir, e isto ocorre
devido à dificuldade da transferência de movimento ao longo da interface à medida que se
aumenta a viscosidade. De modo geral, para casos com níveis elevados de viscosidade, como
os casos 9 e 10, o comportamento estratificado da interface líquido/gás tende a ocorrer mais
rápido, podendo até não ocorrer o fechamento do canal, porém a velocidade na qual as fases
escoam próximo à interface líquido/gás é relativamente menor que nos casos 6, 7 e 8.

Caso 6

Caso 7

Caso 8

Caso 9

Caso 10

Figura 54 - Fração volumétrica de óleo ao longo do duto no instante de tempo igual a 0,3 segundos.

A Figura 55 é uma representação esquemática do domínio de estudo mostrando as duas


linhas verticais traçadas para a coleta dos dados da fração volumétrica.
97

Figura 55 - Posição das linhas traçadas ao longo da altura do duto e após 1 e 2 metros da lâmina.

As Figuras 56 e 57 descrevem as frações volumétricas do óleo no instante de tempo de


5 segundos. É observado que nos casos 8, 9 e 10, os quais possuem os maiores valores para a
viscosidade do óleo, as frações volumétricas do óleo tendem a diminuir de forma mais estável
ao longo da altura do duto. Já para os casos 6 e 7, onde se tem baixos valores de viscosidade do
fluido, essa fração tende a diminuir de forma mais acentuada no gráfico, e isto ocorre
principalmente porque a interface líquido/gás para esses valores de baixa viscosidade do óleo é
mais suscetível às transferências da quantidade de movimento, ou seja, com o aumento dessa
transferência ao longo da interface tem-se a formação de regiões de baixo nível de líquido.
Além disso, essa diminuição da fração volumétrica de óleo à medida que se aproxima da face
superior do duto é comum, o que ocorre porque a região superior possui a predominância do
fluido menos denso, neste caso o gás natural.
98

1,0 Caso 6
Caso 7
Caso 8
0,8
Fração volumétrica de óleo Caso 9
Caso 10
0,6

0,4

0,2

0,0
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10
Y (m)

Figura 56 - Fração volumétrica de óleo em função da altura após 1 metro da lâmina em t = 4 s.

1,0 Caso 6
Caso 7
Caso 8
Fração volumétrica de óleo

0,8 Caso 9
Caso 10

0,6

0,4

0,2

0,0
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10
Y (m)

Figura 57 - Fração volumétrica de óleo em função da altura após 2 metros da lâmina em t = 4 s.


99

5 CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou um estudo fluidodinâmico para a descrição da interface presente


em escoamentos bifásicos. Para isso, foi realizada a modificação do coeficiente de arraste com
a implementação de um modelo algébrico para a descrição da interface, utilizando-se um
software de CFD. De modo geral, a fluidodinâmica computacional mostrou-se uma técnica útil
na análise do escoamento bifásico. É importante também mencionar que o modelo algébrico
implementado alcançou bons resultados, pois conseguiu reproduzir o comportamento
ondulatório da interface comum em diversos de padrões de escoamento, porém, ainda é
necessário reprodução em tempos maiores para que seja possível obter uma conclusão mais
ampla. Além disto, dentre os principais resultados deste trabalho podem ser destacados os
seguintes pontos:

 Embora a aplicação do modelo de dois fluidos em regime transiente mostre-se


extremamente trabalhosa, o procedimento numérico utilizado pelo software para a
solução do sistema de equações algébricas referente ao modelo apesar de apresentar
um resíduo oscilatório manteve-se dentro do valor numérico.
 O estudo de convergência de malha proposto mostrou que o refinamento correto
pode levar a resultados coerentes sem a necessidade de um alto esforço e tempo
computacional.
 A estratificação do escoamento em dutos horizontais ocorreu em tempos
relativamente maiores quando a diferença de velocidade entre as fases foi elevada,
e, além disso, a velocidade real em que ocorre essa estratificação tende a ser a
velocidade superficial da fase mais densa.
 À medida que se aumentou a altura do canal, a transferência de quantidade de
movimento à jusante da onda foi reduzida, o que ocorreu devido a um equilíbrio
maior entre as fases. Em estudos envolvendo uma altura menor, essa transferência
de quantidade de movimento mostrou-se maior, chegando a ocasionar regiões com
elevada turbulência que deformaram a interface.
 Para casos com elevada viscosidade, a estratificação ocorreu de forma mais rápida,
porém o transporte desses fluidos ao longo da tubulação ocorreu de forma mais
lenta, e isto se deve à dificuldade de transferir movimento entre fluidos com elevada
viscosidade.
100

6 SUGESTÕES

Para a indústria de petróleo, a modelagem desses fenômenos interfaciais é de grande


importância, pois permite prever o comportamento de cada fluido presente em um escoamento.
Diante disto, como sugestões para trabalhos futuros, tendo em vista a continuidade do estudo,
propõem-se:

 Realizar estudo experimental para que seja possível uma comparação qualitativa e
quantitativa mais detalhada;
 Realizar as mesmas investigações do presente estudo com tempos maiores para
diferentes geometrias, fluidos e ângulos de inclinação, tanto do duto como da
lâmina, objetivando determinar a influência no comportamento da interface.
 Realizar a otimização do escoamento visando garantir melhores condições para o
transporte dos fluidos.
 Aplicar diferentes modelos de turbulência e compará-los.
 Estudar sistemas não-isotérmicos, uma vez que variações simultâneas de
temperatura e pressão podem ocasionar a evaporação e condensação, sendo,
importante levar em consideração o fenômeno da transferência de calor.
101

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Applied Mathematics and Computation. v. 225, p. 829–842, 2013.

WILCOX, D. C. Turbulence modelling for CFD. La Cañada, California: DCW Industries Inc,
1994, 522p.
107

XIE, Z.; PAVLIDIS, D.; GOMES, J. L. M. A.; PERCIVAL, J. R.; PAIN, C. C.; MATAR, O.
K. Adaptive unstructured mesh modeling of multiphase flows. International Journal
Multiphase Flow. v. 67, p. 104-110, 2014.
108

APÊNDICE – Parâmetros usados no aplicativo computacional


CFX

LIBRARY:
CEL:
EXPRESSIONS:
AreaDensBubb = 6.0* max(FLUIDAIR.vf,MinVFBubb) / BubbDiam
AreaDensDrop = 6.0* max(FLUIDWATER.vf,MinVFDrop) / DropDiam
AreaDensSurf = max(10e-4 [m^-1] ,sqrt((FLUIDAIR.VolumeFraction.Gradient
X)^2+(FLUIDAIR.Volume Fraction.Gradient Y)^2+(FLUIDAIR.Volume Fraction.Gradient
Z)^2))
AreaDensity = WeightDrop*AreaDensDrop+WeightBubb*AreaDensBubb+
WeightSurf*AreaDensSurf
BubbDiam = 0.002 [m]
CoefBubb = 50.0
CoefDrop = 50.0
DenGas = 1.185 [kg m^-3]
DenLiq = 997.0 [kg m^-3]
DragCoeff = WeightDrop*DragCoeffDrop
+WeightBubb*DragCoeffBubb+WeightSurf*DragCoeffSurf
DragCoeffBubb = 0.44
DragCoeffDrop = 0.44
DragCoeffSurf = min(10e4, max(10e-3 , 2*(WSSAIR + WSSW)/max(10e-4 [kg m^-1 s^-
2],(FLUIDAIR.vf*DenGas+ FLUIDWATER.vf*DenLiq)*SlipVel^2)))
DropDiam = 0.001 [m]
GridCellSize = 1[mm]
HighCoefTurb = 100.0
HydroP = waterDen*g * (waterHt - y)* waterVF
InterLenBubb = BubbDiam
InterLenDrop = DropDiam
InterLenScale=WeightDrop*InterLenDrop+WeightBubb*InterLenBubb+WeightSurf*InterLe
nSurf
InterLenSurf = FLUIDAIR.Volume Fraction*(1- FLUIDAIR.VolumeFraction)/AreaDensSurf
LimitVFBubb = 0.3
LimitVFDrop = 0.3
MinVFBubb = 1.E-7
MinVFDrop = 1.E-7
MinVFforFS = 1.0E-4
MinVolFrac = 1.E-15
OmegaDampGas = HighCoefTurb * 6.0*(ViscGas/DenGas)/ ( 0.075*(InterLenScale^2))
OmegaDampLiq = HighCoefTurb * 6.0*(ViscLiq/DenLiq)/ ( 0.075 *(InterLenScale^2))
SlipVel = sqrt((FLUIDWATER.u- FLUIDAIR.u)^2+(FLUIDWATER.v-
FLUIDAIR.v)^2+(FLUIDWATER.w- FLUIDAIR.w)^2 )
SmWaTurb = abs(WeightSurf*2/3*waterDen*VELBET*(0.5*(ubound^2-lbound^2)))
VELBET = (FLUIDWATER.Velocity u.Gradient X)+(FLUIDWATER.Velocity v.Gradient
Y)+(FLUIDWATER.Velocity w.Gradient Z)
ViscGas = 1.831E-05 [kg m^-1 s^-1]
ViscLiq = 8.899E-4 [kg m^-1 s^-1]
WSSAIR = FLUIDAIR.Volume Fraction*WSSGas
109

WSSGas = sqrt(WSSxGas^2+ WSSyGas^2+ WSSzGas^2)


WSSLiq = sqrt(WSSxLiq^2+ WSSyLiq^2+ WSSzLiq^2)
WSSW = FLUIDWATER.Volume Fraction*WSSLiq
WSSxGas = (FLUIDAIR.VolumeFraction.Gradient
X/AreaDensSurf*ViscGas*(2*FLUIDAIR.Velocity u.Gradient X))+( FLUIDAIR.Volume
Fraction.Gradient Y/AreaDensSurf*ViscGas*( FLUIDAIR.Velocity u.Gradient
Y+FLUIDAIR.Velocity v.Gradient X))+( FLUIDAIR.Volume Fraction.Gradient
Z/AreaDensSurf*ViscGas*( FLUIDAIR.Velocity u.Gradient Z+FLUIDAIR.Velocity
w.Gradient X))
WSSxLiq = (FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient X/AreaDensSurf*ViscLiq*(2*
FLUIDWATER .Velocity u.Gradient X))+(FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient
Y/AreaDensSurf*ViscLiq*( FLUIDWATER.Velocity u.Gradient
Y+FLUIDWATER.Velocity v.Gradient X))+( FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient
Z/AreaDensSurf*ViscLiq*(FLUIDWATER.Velocity u.Gradient Z +FLUIDWATER.Velocity
w.Gradient X))
WSSyGas = (FLUIDAIR.Volume Fraction.Gradient X/AreaDensSurf*ViscGas *(
FLUIDAIR.Velocity v.Gradient X + FLUIDAIR.Velocity u.Gradient
Y))+(FLUIDAIR.Volume Fraction.Gradient
Y/AreaDensSurf*ViscGas*(2*FLUIDAIR.Velocity v.Gradient X))+(FLUIDAIR.Volume
Fraction.Gradient Z/AreaDensSurf*ViscGas*( FLUIDAIR.Velocity v.Gradient Z
+FLUIDAIR.Velocity w.Gradient Y))
WSSyLiq = (FLUIDWATER.Volume
Fraction.GradientX/AreaDensSurf*ViscLiq*(FLUIDWATER.Velocity v.Gradient X +
FLUIDWATER.Velocity u.Gradient Y))+( FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient
Y/AreaDensSurf*ViscLiq *(2* FLUIDWATER.Velocity v.Gradient X))+(
FLUIDWATER.VolumeFraction.Gradient Z/AreaDensSurf*ViscLiq*(
FLUIDWATER.Velocity v.Gradient Z + FLUIDWATER.Velocity w.Gradient Y))
WSSzGas = (FLUIDAIR.Volume Fraction.Gradient X/AreaDensSurf*ViscGas*(
FLUIDAIR.Velocity w.Gradient X + FLUIDAIR.Velocity u.Gradient Z))+(FLUIDAIR.
Volume Fraction.Gradient Y/AreaDensSurf*ViscGas*(FLUIDAIR.Velocity w.Gradient Y +
FLUIDAIR.Velocity v.Gradient Z))+(FLUIDAIR.Volume Fraction.Gradient
Z/AreaDensSurf*ViscGas*(2*LUIDAIR.Velocity w.Gradient Z))
WSSzLiq = (FLUIDWATER.VolumeFraction.Gradient
X/AreaDensSurf*ViscLiq*(FLUIDWATER.Velocity w.GradientX+FLUIDWATER.Velocity
u.Gradient Z))+(FLUIDWATER.VolumeFraction.Gradient
Y/AreaDensSurf*ViscLiq*(FLUIDWATER.Velocity w.Gradient
Y+FLUIDWATER.Velocity .Gradient Z))+(FLUIDWATER.VolumeFraction.Gradient
Z/AreaDensSurf*ViscLiq*(2* FLUIDWATER.Velocity w.Gradient Z))
WeightBubb = 1.0/(1.0+exp(CoefBubb*(FLUIDAIR.vf-LimitVFBubb)) )
WeightDrop = 1.0/(1.0+exp(CoefDrop*(FLUIDWATER.vf-LimitVFDrop)) )
WeightSurf = 1.0-WeightDrop-WeightBubb
flowProfileA= 5 [m s^-1]
flowProfile W= 1 [m s^-1]
gn = max(0[m s^-2], gx*inorm x+gy*inorm y+gz*inorm z)
gravy = 9.81 [m s^-2]
gx = 0 [m s^-2]
gy = -gravy
gz = 0 [m s^-2]
110

inorm x = FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient X/max(sqrt(FLUIDWATER.Volume


Fraction.Gradient X^2+FLUIDWATER.VolumeFraction.Gradient Y^2+
FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient Z^2),0.00005[m^-1])
inorm y = FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient Y/max(sqrt(FLUIDWATER.Volume
Fraction.Gradient X^2+ FLUIDWATER.VolumeFraction.Gradient Y^2+
FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient Z^2),0.00005[m^-1])
inorm z = FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient Z/max(sqrt(FLUIDWATER.Volume
Fraction.Gradient X^2+FLUIDWATER.VolumeFraction.Gradient Y^2+
FLUIDWATER.Volume Fraction.Gradient Z^2),0.00005[m^-1])
surfacetension = 0.072 [N m^-1]
waterDen = 998 [kg m^-3]
waterHt = 5 [cm]
waterVF = step((waterHt - y) / 1[m]) * step((0.01[m] + y) / 1[m])*step((0.028[m] + x) / 1[m])
waterVol = volumeInt(FLUIDWATER.Volume Fraction)@Default Domain
END
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensB
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [m^-1 ]
Variable Type = Specific
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensD
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [m^-1 ]
Variable Type = Specific
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensS
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [m^-1 ]
Variable Type = Specific
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensVar
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [m^-1]
Variable Type = Unspecified
END
ADDITIONAL VARIABLE: Drag
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [ ]
Variable Type = Specific
END
ADDITIONAL VARIABLE: InterLengths
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [m ]
111

Variable Type = Unspecified


END
ADDITIONAL VARIABLE: SlipVelocity
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [m s^-1 ]
Variable Type = Unspecified
END
ADDITIONAL VARIABLE: SmallWaveTurbulence
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [kg m^-1 s^-3]
Variable Type = Unspecified
END
ADDITIONAL VARIABLE: WSSAIRV
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [kg m^-1s^-2]
Variable Type = Unspecified
END
ADDITIONAL VARIABLE: WSSWV
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [kg m^-1s^-2 ]
Variable Type = Unspecified
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightBubble
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [ ]
Variable Type = Unspecified
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightDroplet
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [ ]
Variable Type = Unspecified
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightSurface
Option = Definition
Tensor Type = SCALAR
Units = [ ]
Variable Type = Unspecified
END

MATERIAL: Air at 25 C
Material Description = Air at 25 C and 1 atm (dry)
Material Group = Air Data, Constant Property Gases
Option = Pure Substance
Thermodynamic State = Gas
112

PROPERTIES:
Option = General Material
EQUATION OF STATE:
Density = 1.185 [kg m^-3]
Molar Mass = 28.96 [kg kmol^-1]
Option = Value
END
SPECIFIC HEAT CAPACITY:
Option = Value
Specific Heat Capacity = 1.0044E+03 [J kg^-1 K^-1]
Specific Heat Type = Constant Pressure
END
REFERENCE STATE:
Option = Specified Point
Reference Pressure = 1 [atm]
Reference Specific Enthalpy = 0. [J/kg]
Reference Specific Entropy = 0. [J/kg/K]
Reference Temperature = 25 [C]
END
DYNAMIC VISCOSITY:
Dynamic Viscosity = 1.831E-05 [kg m^-1 s^-1]
Option = Value
END
THERMAL CONDUCTIVITY:
Option = Value
Thermal Conductivity = 2.61E-02 [W m^-1 K^-1]
END
ABSORPTION COEFFICIENT:
Absorption Coefficient = 0.01 [m^-1]
Option = Value
END
SCATTERING COEFFICIENT:
Option = Value
Scattering Coefficient = 0.0 [m^-1]
END
REFRACTIVE INDEX:
Option = Value
Refractive Index = 1.0 [m m^-1]
END
THERMAL EXPANSIVITY:
Option = Value
Thermal Expansivity = 0.003356 [K^-1]
END
END
END

MATERIAL: Water
Material Description = Water (liquid)
Material Group = Water Data, Constant Property Liquids
Option = Pure Substance
113

Thermodynamic State = Liquid


PROPERTIES:
Option = General Material
EQUATION OF STATE:
Density = 997.0 [kg m^-3]
Molar Mass = 18.02 [kg kmol^-1]
Option = Value
END
SPECIFIC HEAT CAPACITY:
Option = Value
Specific Heat Capacity = 4181.7 [J kg^-1 K^-1]
Specific Heat Type = Constant Pressure
END
REFERENCE STATE:
Option = Specified Point
Reference Pressure = 1 [atm]
Reference Specific Enthalpy = 0.0 [J/kg]
Reference Specific Entropy = 0.0 [J/kg/K]
Reference Temperature = 25 [C]
END
DYNAMIC VISCOSITY:
Dynamic Viscosity = 8.899E-4 [kg m^-1 s^-1]
Option = Value
END
THERMAL CONDUCTIVITY:
Option = Value
Thermal Conductivity = 0.6069 [W m^-1 K^-1]
END
ABSORPTION COEFFICIENT:
Absorption Coefficient = 1.0 [m^-1]
Option = Value
END
SCATTERING COEFFICIENT:
Option = Value
Scattering Coefficient = 0.0 [m^-1]
END
REFRACTIVE INDEX:
Option = Value
Refractive Index = 1.0 [m m^-1]
END
THERMAL EXPANSIVITY:
Option = Value
Thermal Expansivity = 2.57E-04 [K^-1]
END
END
END

FLOW: Flow Analysis 1


SOLUTION UNITS:
Angle Units = [rad]
114

Length Units = [m]


Mass Units = [kg]
Solid Angle Units = [sr]
Temperature Units = [K]
Time Units = [s]
END
ANALYSIS TYPE:
Option = Transient
EXTERNAL SOLVER COUPLING:
Option = None
END
INITIAL TIME:
Option = Automatic with Value
Time = 0 [s]
END
TIME DURATION:
Option = Total Time
Total Time = 10 [s]
END
TIME STEPS:
Option = Timesteps
Timesteps = 0.001 [s]
END
END

DOMAIN: Default Domain


Coord Frame = Coord 0
Domain Type = Fluid
Location = B28

BOUNDARY: INLETA
Boundary Type = INLET
Location = F38.28
BOUNDARY CONDITIONS:
FLOW REGIME:
Option = Normal to Boundary Condition
END
MASS AND MOMENTUM:
Normal Speed = flowProfileA
Option = Normal Speed
END
TURBULENCE:
Option = Medium Intensity and Eddy Viscosity Ratio
END
END
FLUID: FLUIDAIR
BOUNDARY CONDITIONS:
VOLUME FRACTION:
Option = Value
Volume Fraction = 1
115

END
END
END
FLUID: FLUIDWATER
BOUNDARY CONDITIONS:
VOLUME FRACTION:
Option = Value
Volume Fraction = 0
END
END
END
END

BOUNDARY: INLETW
Boundary Type = INLET
Location = F29.28
BOUNDARY CONDITIONS:
FLOW REGIME:
Option = Normal to Boundary Condition
END
MASS AND MOMENTUM:
Normal Speed = flowProfileW
Option = Normal Speed
END
TURBULENCE:
Option = Medium Intensity and Eddy Viscosity Ratio
END
END
FLUID: FLUIDAIR
BOUNDARY CONDITIONS:
VOLUME FRACTION:
Option = Value
Volume Fraction = 0
END
END
END
FLUID: FLUIDWATER
BOUNDARY CONDITIONS:
VOLUME FRACTION:
Option = Value
Volume Fraction = 1
END
END
END
END

BOUNDARY: Laminawall
Boundary Type = WALL
Location = F77.28,F78.28,F79.28
BOUNDARY CONDITIONS:
116

MASS AND MOMENTUM:


Option = No Slip Wall
END
WALL CONTACT MODEL:
Option = Use Volume Fraction
END
WALL ROUGHNESS:
Option = Smooth Wall
END
END
END

BOUNDARY: OUTLET
Boundary Type = OUTLET
Location = F30.28
BOUNDARY CONDITIONS:
FLOW DIRECTION:
Option = Normal to Boundary Condition
END
FLOW REGIME:
Option = Subsonic
END
MASS AND MOMENTUM:
Option = Opening Pressure and Direction
Relative Pressure = 1 [Pa]
END
TURBULENCE:
Option = Medium Intensity and Eddy Viscosity Ratio
END
END
FLUID: FLUIDAIR
BOUNDARY CONDITIONS:
VOLUME FRACTION:
Option = Value
Volume Fraction = 1
END
END
END
FLUID: FLUIDWATER
BOUNDARY CONDITIONS:
VOLUME FRACTION:
Option = Value
Volume Fraction = 0
END
END
END
END
BOUNDARY: SYM
Boundary Type = SYMMETRY
Location = F34.28
117

END
BOUNDARY: SYM2
Boundary Type = SYMMETRY
Location = F32.28
END

BOUNDARY: WALL
Boundary Type = WALL
Location = F31.28,F33.28
BOUNDARY CONDITIONS:
MASS AND MOMENTUM:
Option = No Slip Wall
END
WALL CONTACT MODEL:
Option = Use Volume Fraction
END
WALL ROUGHNESS:
Option = Smooth Wall
END
END
END

DOMAIN MODELS:
BUOYANCY MODEL:
Buoyancy Reference Density = 1.185 [kg m^-3]
Gravity X Component = 0 [m s^-2]
Gravity Y Component = -g
Gravity Z Component = 0 [m s^-2]
Option = Buoyant
BUOYANCY REFERENCE LOCATION:
Option = Automatic
END
END
DOMAIN MOTION:
Option = Stationary
END
MESH DEFORMATION:
Option = None
END
REFERENCE PRESSURE:
Reference Pressure = 1 [bar]
END
END
FLUID DEFINITION: FLUIDAIR
Material = Air at 25 C
Option = Material Library
MORPHOLOGY:
Option = Continuous Fluid
END
END
118

FLUID DEFINITION: FLUIDWATER


Material = Water
Option = Material Library
MORPHOLOGY:
Option = Continuous Fluid
END
END
FLUID MODELS:
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensB
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensD
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensS
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensVar
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: Drag
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: InterLengths
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: SlipVelocity
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: SmallWaveTurbulence
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: WSSAIRV
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: WSSWV
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightBubble
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightDroplet
Option = Fluid Dependent
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightSurface
Option = Fluid Dependent
END
COMBUSTION MODEL:
Option = None
END
119

FLUID: FLUIDAIR
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensB
Additional Variable Value = AreaDensBubb
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensD
Additional Variable Value = AreaDensDrop
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensS
Additional Variable Value = AreaDensSurf
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: AreaDensVar
Additional Variable Value = AreaDensity
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: Drag
Additional Variable Value = DragCoeff
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: SlipVelocity
Additional Variable Value = SlipVel
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: SmallWaveTurbulence
Additional Variable Value = SmWaTurb
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: WSSAIRV
Additional Variable Value = WSSAIR
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: WSSWV
Additional Variable Value = WSSW
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightBubble
Additional Variable Value = WeightBubb
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightDroplet
Additional Variable Value = WeightDrop
Option = Algebraic Equation
END
ADDITIONAL VARIABLE: WeightSurface
Additional Variable Value = WeightSurf
Option = Algebraic Equation
END
FLUID BUOYANCY MODEL:
120

Option = Density Difference


END
TURBULENCE MODEL:
Option = k omega
BUOYANCY TURBULENCE:
Option = None
END
END
TURBULENT WALL FUNCTIONS:
Option = Automatic
END
END
FLUID: FLUIDWATER
FLUID BUOYANCY MODEL:
Option = Density Difference
END
TURBULENCE MODEL:
Option = k omega
BUOYANCY TURBULENCE:
Option = None
END
END
TURBULENT WALL FUNCTIONS:
Option = Automatic
END
END
HEAT TRANSFER MODEL:
Homogeneous Model = On
Option = None
END
THERMAL RADIATION MODEL:
Option = None
END
TURBULENCE MODEL:
Homogeneous Model = False
Option = Fluid Dependent
END
END
FLUID PAIR: FLUIDAIR | FLUIDWATER
Surface Tension Coefficient = surfacetension
INTERPHASE TRANSFER MODEL:
Interface Length Scale = GridCellSize
Minimum Volume Fraction for Area Density = 1E-9
Option = Mixture Model
END
MASS TRANSFER:
Option = None
END
MOMENTUM TRANSFER:
DRAG FORCE:
121

Drag Coefficient = DragCoeff


Option = Drag Coefficient
END
END
END
MULTIPHASE MODELS:
Homogeneous Model = Off
FREE SURFACE MODEL:
Option = None
END
END

SUBDOMAIN: Subdomain 1
Coord Frame = Coord 0
Location = B28
FLUID: FLUIDAIR
SOURCES:
EQUATION SOURCE: tef
Option = Source
Source = (FLUIDAIR.Volume Fraction*FLUIDWATER.Volume \
Fraction)*0.075*DenGas*OmegaDampGas^2
END
END
END
FLUID: FLUIDWATER
SOURCES:
EQUATION SOURCE: ke
Option = Source
Source = SmWaTurb
END
EQUATION SOURCE: tef
Option = Source
Source = (FLUIDAIR.Volume Fraction*FLUIDWATER.Volume \
Fraction)*0.075*DenLiq*OmegaDampLiq^2
END
END
END
END
END

INITIALISATION:
Option = Automatic
FLUID: FLUIDAIR
INITIAL CONDITIONS:
Velocity Type = Cartesian
CARTESIAN VELOCITY COMPONENTS:
Option = Automatic with Value
U = 0 [m s^-1]
V = 0 [m s^-1]
W = 5 [m s^-1]
122

END
TURBULENCE INITIAL CONDITIONS:
Option = Medium Intensity and Eddy Viscosity Ratio
END
VOLUME FRACTION:
Option = Automatic with Value
Volume Fraction = 1-waterVF
END
END
END
FLUID: FLUIDWATER
INITIAL CONDITIONS:
Velocity Type = Cartesian
CARTESIAN VELOCITY COMPONENTS:
Option = Automatic with Value
U = 0 [m s^-1]
V = 0 [m s^-1]
W = 1 [m s^-1]
END
TURBULENCE INITIAL CONDITIONS:
Option = Medium Intensity and Eddy Viscosity Ratio
END
VOLUME FRACTION:
Option = Automatic with Value
Volume Fraction = waterVF
END
END
END
INITIAL CONDITIONS:
STATIC PRESSURE:
Option = Automatic with Value
Relative Pressure = HydroP
END
END
END

OUTPUT CONTROL:
BACKUP RESULTS: Backup Results 1
File Compression Level = Default
Option = Standard
OUTPUT FREQUENCY:
Option = Timestep Interval
Timestep Interval = 10
END
END
MONITOR OBJECTS:
MONITOR BALANCES:
Option = Full
END
MONITOR FORCES:
123

Option = Full
END
MONITOR PARTICLES:
Option = Full
END
MONITOR POINT: Water Volume
Coord Frame = Coord 0
Expression Value = waterVol
Option = Expression
END
MONITOR RESIDUALS:
Option = Full
END
MONITOR TOTALS:
Option = Full
END
END
RESULTS:
File Compression Level = Default
Option = Standard
END
TRANSIENT RESULTS: Transient Results 1
File Compression Level = Default
Include Mesh = No
Option = Selected Variables
Output Variables List =
FLUIDAIR.AreaDensB,FLUIDAIR.AreaDensD,FLUIDAIR.AreaDensS,FLUIDAIR.AreaDe
nsVar,FLUIDAIR.Drag,FLUIDAIR.SlipVelocity,FLUIDAIR.Velocity,FLUIDAIRVolumeFr
action,FLUIDAIR.WSSAIRV,FLUIDAIR.WSSWV,FLUIDWATER.Velocity,FLUIDWATE
R.Volume Fraction,FLUIDAIR.SmallWaveTurbulence
OUTPUT FREQUENCY:
Option = Time Interval
Time Interval = 0.02 [s]
END
END
END

SOLVER CONTROL:
Turbulence Numerics = First Order
ADVECTION SCHEME:
Option = High Resolution
END
CONVERGENCE CONTROL:
Maximum Number of Coefficient Loops = 15
Minimum Number of Coefficient Loops = 2
Timescale Control = Coefficient Loops
END
CONVERGENCE CRITERIA:
Residual Target = 1.E-4
Residual Type = RMS
124

END
TRANSIENT SCHEME:
Option = Second Order Backward Euler
TIMESTEP INITIALISATION:
Option = Automatic
END
END
END
END
Version = 14.0
END

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