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Capítulo ENFERMAGEM - CP

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CAPÍTULO I - ENFERMAGEM

CONTEXTUALIZAÇÃO
Enquanto base epistemológica da enfermagem, o cuidado se configura como um ato
intencional, produzido através do encontro e da interação entre seres humanos, por meio de
atitudes que envolvem zelo, solidariedade e amor, bem como expressa o “saber-fazer”
alicerçado na ciência, arte e ética (Vale; Pagliuca, 2011).
Neste sentido, a enfermagem pode ser entendida como a ciência do cuidado integral,
visto que enfatiza a assistência multidimensional dos sujeitos, famílias e comunidade
(Castilho; Silva; Pinto, 2021). Além disso, é uma profissão com amplo espectro de atuação,
que interage com diferentes setores e contextos sociais, sendo assim, de grande impacto no
sistema de saúde, tanto nacional, quanto internacional (Guimarães; Magni, 2020).
Dentre suas áreas de atuação é possível destacar os cuidados paliativos, reconhecidos
como especialidade pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) por intermédio da
portaria n.º 165 de 2022. Ainda, é válido destacar a portaria n.º 3.681 de 2024, que institui a
Política Nacional de Cuidados Paliativos e menciona os profissionais de enfermagem como
parte integrante na oferta desses cuidados (Brasil, 2024).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (2018), os cuidados paliativos
podem ser definidos como o conjunto de ações que visam a melhoria e manutenção da
qualidade de vida dos indivíduos (em qualquer fase da vida) e suas famílias diante de
condições ameaçadoras de vida, através da avaliação, identificação precoce e manejo de
sintomas ou sofrimento provocados por tais condições.
Ademais, é imprescindível que esses cuidados sejam iniciados o mais precocemente
possível a fim de mitigar e prevenir sintomas de difícil controle. Para isso é essencial a
assistência multidimensional, abrangendo aspectos físicos, sociais, psicológicos e espirituais,
com a atuação de uma equipe multiprofissional, que trabalhe de forma interdisciplinar,
possibilitando a integralidade do cuidado (Castilho; Silva; Pinto, 2021; Ospina; Meza;
Garcia, 2022).
Ainda, dado que as Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT), como câncer,
representam atualmente a principal causa de adoecimento e morte na população e que essas
condições resultam em altas taxas de morbimortalidade, a integração precoce dos cuidados
paliativos faz-se crucial (Bittencourt, et al., 2021).
Logo, tais cuidados devem ser integrados às Redes de Atenção à Saúde, sendo
ofertados de forma contínua e em todos os níveis de atenção. Nesse contexto, o enfermeiro
desempenha um papel fundamental ao atuar junto a equipe multiprofissional através do
planejamento e efetivação de ações voltadas à qualidade da assistência. Acrescenta-se ainda,
que devido às diversas e complexas dimensões que os cuidados paliativos envolvem, a
atuação de uma equipe multiprofissional torna-se indispensável (Castro et al., 2021).
Além disso, é importante pontuar que o cuidado de enfermagem é essencial, uma vez
que é geralmente o profissional mais próximo do paciente, sendo responsável por contribuir
com o alívio dos sintomas por meio da promoção de ações e busca de medidas que irão
promover o alívio da dor, bem como o apoio aos familiares (Almeida et al., 2020; Sousa et
al., 2021).
E, apesar dos avanços consideráveis nos tratamentos disponíveis para o câncer, essa
ainda é frequentemente associada à percepção de finitude, morte, dor e sofrimento. Portanto,
o profissional de enfermagem deve estar apto a apoiar o paciente desde o diagnóstico,
auxiliando-o a partir do olhar holístico e de uma assistência individualizada com
comunicação eficaz e suporte psicossocial (Crize et al., 2018).
Deste modo, com base no exposto e considerando os múltiplos locais de atuação
da enfermagem e a sua importância para o cuidado nos diferentes contextos de saúde, bem
como no âmbito dos cuidados paliativos, o objetivo do capítulo é descrever as atribuições da
profissão dentro desses cuidados, destacando sua atuação no contexto ambulatorial.

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO EM CUIDADOS PALIATIVOS: FOCO NO


CUIDADO AMBULATORIAL AO PACIENTE COM CÂNCER

As competências do enfermeiro que atua em cuidados paliativos, especialmente


em nível ambulatorial a pacientes com câncer, são fundamentais para garantir a qualidade de
vida e o bem-estar desses indivíduos. No âmbito físico, o enfermeiro desempenha um papel
crucial ao elaborar e implementar ações de enfermagem pertinentes ao plano interdisciplinar
de cuidados do paciente. Isso inclui a identificação das necessidades específicas de cada
paciente e a coordenação com outros profissionais de saúde para oferecer um cuidado
integral.
A avaliação de sinais e sintomas prevalentes nos pacientes com câncer é uma
competência essencial. A dor, sendo um dos sintomas mais comuns, requer uma avaliação
precisa utilizando escalas validadas, como a Escala Visual Numérica (EVN). Outras escalas,
como a "Palliative Performance Scale" - versão 2, permitem ao enfermeiro monitorar a
evolução do paciente, ajustando as intervenções conforme necessário (Castilho; Silva: Pinto,
2021).
O manejo de sintomas através de intervenções não-farmacológicas, respaldadas
na literatura, é outra dimensão importante do cuidado de enfermagem. Técnicas como
terapias de relaxamento, massagens e aplicação de calor ou frio podem ser utilizadas para
aliviar desconfortos físicos (Carvalho et al, 2022). Além disso, o enfermeiro auxilia no
manejo de sintomas por meio de intervenções farmacológicas, orientando familiares e
pacientes sobre a correta administração dos medicamentos, seus possíveis efeitos colaterais e
a segurança no uso de medicações no domicílio.
Orientar familiares, cuidadores e pacientes sobre fatores que podem piorar ou
melhorar sintomas como a dor é também uma competência vital. O enfermeiro educa sobre a
importância da aderência ao tratamento, hábitos de vida saudáveis e a identificação precoce
de sinais de agravamento. A realização de procedimentos de enfermagem, como a
hipodermóclise, curativos, cuidados com sondas e ostomias, faz parte das habilidades
técnicas necessárias para atender às necessidades físicas dos pacientes.
Além disso, o enfermeiro tem o papel de orientar os familiares e cuidadores sobre
a realização dos cuidados aos pacientes, capacitando-os para desempenharem atividades
básicas de cuidado no domicílio. Fornece orientações sobre o manejo de intercorrências,
atuando como um elo entre o paciente e outros integrantes da equipe, e, assim, assegura uma
comunicação eficaz e uma resposta rápida a eventuais complicações.
As competências do enfermeiro que atua em cuidados paliativos em nível
ambulatorial com pacientes oncológicos vão além do cuidado físico, abrangendo também as
dimensões psicossociais, que são fundamentais para oferecer uma assistência integral e
humanizada. No contexto psicossocial, o enfermeiro deve aplicar técnicas de comunicação
adequada e compassiva em todas as interações com os pacientes, seus familiares e
cuidadores. A escuta ativa, o respeito e a empatia são essenciais para criar um ambiente de
confiança, no qual o paciente e sua rede de apoio se sintam acolhidos e compreendidos em
suas angústias.
Participar de reuniões familiares em conjunto com a equipe multidisciplinar é
outra competência crucial. Nessas reuniões, a equipe busca ajudar pacientes, familiares e
pessoas próximas, explicando o processo da doença e as opções de cuidado de forma clara e
acessível. Isso ajuda os pacientes e seus familiares a vivenciarem a fase final da vida com
maior segurança e confiança, diminuindo o medo do desconhecido e promovendo uma maior
aceitação e compreensão sobre o que está por vir.
O acolhimento das dúvidas, preocupações e medos dos pacientes, familiares e
cuidadores é uma parte integral do cuidado psicossocial. O diagnóstico de câncer e a
progressão da doença trazem consigo uma carga emocional significativa, e o enfermeiro atua
como suporte, ajudando-os a lidar com as incertezas e as emoções que emergem. O
enfermeiro oferece um espaço seguro para que essas questões sejam expressas e trabalha em
parceria com a equipe para proporcionar conforto emocional, além de suporte psicológico
adequado, quando necessário.
Outra competência importante é orientar os familiares e pacientes sobre os
recursos disponíveis na rede de atenção à saúde. Isso inclui o acesso gratuito a medicamentos
para controle da dor e de outros sintomas, além do fornecimento de insumos necessários para
os cuidados em fases mais avançadas da doença. O enfermeiro deve estar bem-informado
sobre os serviços e programas disponíveis para garantir que os pacientes recebam o suporte
necessário, minimizando o impacto financeiro e logístico que o tratamento pode causar.
Quando o óbito do paciente ocorre, o enfermeiro tem a responsabilidade de
orientar os familiares sobre os procedimentos a serem realizados. Esse apoio é fundamental,
pois esse é um momento de extrema fragilidade emocional para a família. Ao fornecer
orientações claras e sensíveis, o enfermeiro alivia parte do fardo emocional que os familiares
enfrentam, garantindo que as ações necessárias sejam realizadas de maneira tranquila e sem
pressões adicionais.
Referente aos aspectos psicossociais, cumpre também destacar a participação
ativa do enfermeiro na concepção e execução de grupos de apoio para pacientes e familiares
organizados pelo serviço, como uma competência que enriquece a assistência de enfermagem
em cuidados paliativos. Esses grupos oferecem um espaço para a troca de experiências,
suporte emocional mútuo e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. A presença do
enfermeiro nesses encontros fortalece os laços com os pacientes e suas famílias, garantindo
que se sintam amparados durante todo o processo.
Essas dimensões do cuidado psicossocial demonstram o papel central do
enfermeiro em cuidados paliativos, indo além do tratamento de sintomas físicos e incluindo o
suporte emocional e social que pacientes e familiares necessitam, especialmente em
momentos tão delicados.
Como último aspecto das atividades do enfermeiro em âmbito ambulatorial ao
paciente com câncer, destacam-se as dimensões gerenciais do cuidado, as quais são
fundamentais para garantir uma assistência organizada, segura e eficaz. O enfermeiro, nesse
contexto, atua como elo entre os diversos membros da equipe interdisciplinar, gerenciando o
cuidado prestado ao paciente de maneira integral. A interação constante com médicos,
psicólogos, fisioterapeutas e outros profissionais é essencial para coordenar e integrar as
diferentes abordagens terapêuticas, garantindo que todos trabalhem de forma harmoniosa em
prol do bem-estar do paciente.
Uma das principais responsabilidades gerenciais do enfermeiro é treinar os
integrantes da equipe sobre procedimentos específicos, de acordo com suas competências e as
necessidades do serviço (Sousa, 2021). Isso inclui capacitar outros profissionais de saúde e
cuidadores familiares sobre intervenções de enfermagem, como o manejo de sondas,
curativos e administração de medicamentos. Ao oferecer treinamento contínuo, o enfermeiro
contribui para a segurança do paciente, minimizando riscos e melhorando a qualidade do
cuidado prestado.
Manter as informações dos pacientes e das atividades do setor atualizadas,
conforme os protocolos institucionais, é outra ação gerencial essencial. Esses registros são
fundamentais não só para o acompanhamento do paciente, mas também para auditorias e
avaliações de qualidade do serviço.
O enfermeiro também tem um papel importante na execução de atividades de
educação em Cuidados Paliativos voltadas para a comunidade. Essas ações educativas podem
incluir palestras, workshops e campanhas de conscientização sobre o que são os cuidados
paliativos, os direitos dos pacientes e a importância de um acompanhamento humanizado. Ao
promover essas atividades, o enfermeiro ajuda a desmistificar o tema e a oferecer suporte
informativo tanto para pacientes quanto para a sociedade.
Além disso, o acompanhamento de estudantes de graduação e residentes que
estão em estágio ou em programas de residência no serviço é uma dimensão relevante do
papel gerencial do enfermeiro. A orientação desses futuros profissionais é fundamental para
garantir que desenvolvam uma visão ética, técnica e humana dos cuidados paliativos. O
enfermeiro atua como preceptor, facilitando o aprendizado prático e teórico, e orienta sobre
as melhores práticas de cuidado e conduta, garantindo a formação de profissionais
competentes e sensíveis às necessidades dos pacientes.
Essas competências gerenciais do enfermeiro em cuidados paliativos garantem
que o cuidado prestado seja coordenado, baseado em protocolos e oferecido por uma equipe
bem treinada e informada. A organização e a liderança exercidas pelo enfermeiro em nível
ambulatorial contribuem diretamente para a qualidade do serviço, promovendo um ambiente
de trabalho eficiente e centrado no paciente.
Em suma, as competências do enfermeiro em cuidados paliativos no nível
ambulatorial abrangem uma série de habilidades técnicas e interpessoais que visam à
promoção do conforto e qualidade de vida dos pacientes com câncer. Através de uma
abordagem holística e centrada no paciente, o enfermeiro contribui significativamente para o
alívio do sofrimento e o apoio à família durante todo o processo de cuidado.

Considerações finais
Diante da necessidade de compreender a atuação da enfermagem nos cuidados
paliativos frente ao paciente com câncer no contexto ambulatorial, o capítulo possibilitou
destacar que a assistência do profissional de enfermagem é complexa e multifacetada,
envolvendo tanto aspectos clínicos e habilidades técnicas, bem como a abordagem
compassiva e centrada no paciente.
Além disso, é possível ressaltar que enquanto integrante da equipe multiprofissional,
o enfermeiro é essencial no gerenciamento do cuidado, auxiliando na avaliação e manejo dos
sintomas, sejam eles físicos, sócio-familiares, psicológicos ou espirituais. A comunicação e
acolhimento também integram a gama de cuidados da enfermagem e faz-se primordial, tendo
em vista o compartilhamento das decisões para o planejamento e individualização do
cuidado.

Referências

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