Geriatria Prática Clínica 2ed 2023
Geriatria Prática Clínica 2ed 2023
Geriatria Prática Clínica 2ed 2023
G319
2. ed.
Apêndice
Inclui bibliografia e índice
ISBN 9786555767155
Edição – 2023
Daniel Apolinario
Doutor em Ciências pelo Departamento de Neurologia da
FMUSP. Gerente de Práticas Médicas do Hospital do
Coração (HCor) de São Paulo.
Eduardo Ferriolli
Professor Titular da Disciplina de Geriatria da Faculdade
de Medicina da USP.
Erika Satomi
Médica Geriatra. Especialista em Medicina do Sono e
Cuidados Paliativos. Doutora pelo Programa de Ciências
Médicas da Faculdade de Medicina da USP. Responsável
pelo Serviço de Cuidados Paliativos e Suporte ao Paciente
do Hospital Israelita Albert Einstein.
Fernando Nobre
Doutor pela USP. Colaborador da Seção de Cardiologia da
USP Ribeirão Preto. Ex-presidente do Departamento de
Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de
Cardiologia. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de
Hipertensão. Fellow do American College of Cardiology.
Fellow da European Society of Cardiology. Member of
Inter-American Society of Hypertension.
Helena Palocci
Médica-residente de Geriatria pela Faculdade de Medicina
da USP. Residência em Clínica Médica pelo Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
(FMRP) da USP.
Marcelo Valente
Professor do Setor de Geriatria da Santa Casa de São Paulo
e da Faculdade de Medicina do ABC. Presidente da
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Sami Liberman
Professor Doutor em Geriatria. Médico Assistente do
Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da USP.
Prefácio
Apresentação
2. Imunossenescência
José Renato G. Amaral
8. Atividade física
Natalia Oliveira Trajano da Silva; José Renato G. Amaral
24. Osteoporose
Maria do Carmo Sitta; Tabatha Loureiro de Proença Sé
25. Sarcopenia, dinapenia e síndrome da fragilidade
Olga Laura Sena Almeida; Victor de Carvalho Brito Pontes; Eduardo Ferriolli
Apêndice
Escalas práticas para avaliação geriátrica
Daniel Ossamu Goldschmidt Kiminami; Paulo de Oliveira Duarte
Prefácio
INTRODUÇÃO E CONCEITOS
A avaliação geriátrica ampla (AGA) – também conhecida
como avaliação geriátrica multidimensional (AGM) ou
avaliação geriátrica global (AGG) – é definida como um
processo diagnóstico multidimensional, preferencialmente
interdisciplinar, que complementa o exame clínico
tradicional. Ela serve de base para a determinação das
deficiências, incapacidades e desvantagens do indivíduo
idoso, possibilitando o estabelecimento de um plano de
cuidado individualizado tanto do ponto de vista médico
como do psicossocial e do funcional, visando restaurar ou
mesmo preservar a saúde do paciente.
Marjory Warren (1897-1960), considerada a “mãe da
geriatria”, foi quem estabeleceu os conceitos iniciais da
AGA. Seus artigos chamam a atenção pela relevância dada
aos aspectos mais amplos em relação à saúde do idoso, com
atenção a diversas questões: médica, social e funcional,
com o envolvimento de equipes multidisciplinares e a
importância do ambiente físico e da reabilitação no
processo de saúde. Desde então, diversos autores vêm
contribuindo para o aprimoramento da AGA.
O cuidado em saúde de um idoso estende-se para além
do tratamento médico tradicional da doença. Requer a
avaliação de vários problemas, incluindo componentes
físicos, cognitivos, afetivos, sociais, financeiros, ambientais
e espirituais que influenciam a saúde do idoso.
Condições geriátricas como fragilidade,
comprometimento funcional e demência são comuns, mas
frequentemente não são reconhecidas ou sequer tratadas
de maneira adequada. A identificação de condições
geriátricas por meio da realização de uma avaliação
geriátrica pode ajudar os serviços de saúde a gerenciar
essas condições e prevenir ou retardar suas complicações.
“Síndrome geriátrica” é um termo usado para se referir
a condições de saúde comuns em idosos que não se
encaixam em categorias de doenças “órgão-específicas” e
que frequentemente têm causas multifatoriais. A lista inclui
condições como comprometimento cognitivo, alterações do
humor, delirium, incontinências, desnutrição, fragilidade,
quedas, tonturas, distúrbios da marcha, lesões por pressão,
distúrbios do sono, iatrogenias, déficits sensoriais e até
mesmo insuficiência do suporte familiar e social. Essas
condições repercutem de forma importante na
funcionalidade e qualidade de vida dos idosos. Por meio da
AGA, essas síndromes geriátricas podem ser mais bem
identificadas, permitindo o desenvolvimento de um plano
global de tratamento e acompanhamento a médio e longo
prazos.
Convém ressaltar que a AGA detecta as deficiências,
incapacidades e desvantagens, mas é imprecisa quando
realizada isolada do exame clínico tradicional para
diagnosticar o dano ou lesão responsável por elas.
Portanto, a avaliação médica se torna imprescindível.
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Metanálises de estudos randomizados envolvendo a AGA
demonstraram diminuição do número de admissões
hospitalares e em instituições de longa permanência (ILP),
melhora da capacidade funcional, cognitiva e diminuição da
mortalidade geral. Esses benefícios são demonstrados
principalmente em unidades de pacientes hospitalizados.
Em condições ambulatoriais é mais difícil demonstrar tais
benefícios, tendo em vista o maior desafio de selecionar os
pacientes com maior risco de declínio funcional,
institucionalização ou morte nesses estudos.
Mesmo que inconsistências existam sobre os benefícios
da AGA, sabe-se que esse modelo global de atenção à saúde
promove a identificação de condições não detectadas pela
avaliação tradicional, melhora a satisfação com os cuidados
recebidos e impacta positivamente na qualidade de vida
dos idosos. O Quadro 1 demonstra os benefícios da AGA em
diferentes cenários de assistência.
De maneira geral, as evidências apontam a importância
de identificar os pacientes apropriados. Em geral, os
pacientes que mais serão beneficiados com a AGA são
aqueles idosos com:
Idade acima de 80 anos.
Comorbidades médicas crônicas, como insuficiência
cardíaca (IC), doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC) e câncer.
Cenário Desfecho
Maior sobrevida
Melhor custo-efetividade
Maior sobrevida
Maior sobrevida
Capacidade funcional.
Instabilidade postural, da marcha e quedas.
Cognição.
Humor.
Polifarmácia.
Suporte financeiro e social.
Metas de cuidado.
Preferências do paciente e de familiares.
CAPACIDADE FUNCIONAL
Pode ser definida pela capacidade do indivíduo de
executar tarefas cotidianas (básicas ou mais complexas)
necessárias para a vida independente na comunidade. Ela é
bastante heterogênea nos idosos, tendo em vista que
depende, além das condições clínicas, de suas condições
sociais, psicológicas, cognitivas, ambientais e até
espirituais (Figura 1).
FIGURA 1 Determinantes do estado funcional.
1. Suporte social.
2. Uso do sistema de saúde.
3. Quedas.
4. Medicações.
5. Funcionalidade.
6. Cognição.
7. Autopercepção de saúde.
8. Sintomas depressivos.
9. Nutrição.
10. Velocidade de marcha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda é necessária a demonstração mais robusta de que
toda essa gama de informações trazida pela AGA, bem
como sua capacidade de estimar prognóstico, reflete-se em
cuidado mais adequado no seguimento de longo prazo de
pacientes em nível de cuidado mais básico. Mas já está bem
demonstrado que a aplicação da AGA em situações críticas
ou específicas, como a avaliação pré-operatória e o cuidado
agudo do paciente internado, tem um impacto mais positivo
na tomada de decisões e nos desfechos do que no ambiente
ambulatorial de rotina.
Não obstante, a AGA pode ser bastante útil na tomada
de decisões mais corriqueiras na prática clínica diária,
como na avaliação da pertinência de efetuar rastreio de
neoplasias, objetivos e metas terapêuticas, iniciar ou não
medicamentos com fins profiláticos.
DIMENSÃO CLÍNICA
Visão normal [ ] Audição normal [ Continência Sono normal [ ]
Déficit visual [ ] ] fecal [ ] Distúrbio do sono [ ]
Usa corretores [ ] Déficit auditivo [ ] Incontinência Qual? ______________
Usa corretores [ ] fecal [ ]
Tempo:
____________
Continência
urinária [ ]
Incontinência
urinária [ ]
Tempo:
____________
DIMENSÃO FUNCIONAL
ESTADO FUNCIONAL
COGNIÇÃO Normal [ ]
Déficit [ ]
HUMOR Normal [ ]
Alterado [ ]
Cuidador Formal [ ]
Informal (familiar) [ ]
Informal (amigos/outros) [
]
OUTRAS AVALIAÇÕES
Dimensão avaliada Escores do paciente Interpretação
OBSERVAÇÕES: _____________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
INTRODUÇÃO
O sistema imune é um conjunto de estruturas e
processos cujo objetivo é proteger o organismo contra
doenças, sejam elas causadas por patógenos exógenos ou
disfunções endógenas. Para fins de estudo, costuma-se
dividir o sistema imune em dois ramos principais: a
imunidade inata e a imunidade adaptativa.
Imunidade inata é um termo que se refere às estruturas
e aos mecanismos de defesa que todos os seres vivos
possuem, desde o nascimento, e cuja resposta à agressão é
rápida e inespecífica, e também sem modulação de
intensidade ou formação de memória imune. Já a
imunidade adaptativa, uma característica da maioria dos
vertebrados, é aquela resposta tardia e específica, com
modulação de intensidade da resposta e formação de
memória. As alterações do sistema imune no processo de
envelhecimento são denominadas imunossenescência.
Imunidade inata
REPERCUSSÕES CLÍNICAS
Como vimos, o envelhecimento cursa com menor
eficácia global da função imune e maior risco de
inflamação, infecções, autoimunidade e neoplasias.
Infecções
O risco de complicações infecciosas aumenta
proporcionalmente à idade e também em função de
fragilidade e de comorbidades, que são condições
associadas à aceleração do processo de imunossenescência.
Além da menor resposta adaptativa, a propensão a quadros
inflamatórios mais exacerbados e a menor resposta à
vacinação concorrem para a maior gravidade das infecções.
Outros fatores comumente envolvidos, e passíveis de
intervenção para a profilaxia de infecções, são:
Células T Contagem:
CD3+. –
CD4+. –
CD8+. –
célula T de ↑
memória. –
célula T virgem
Menor proliferação celular
(naïve).
Função.
Células B Contagem –
Função Anticorpos menos
potentes e menos
específicos
(hipergamaglobulinemia)
Inflamação
Aterosclerose/doença cardiovascular.
Diabetes tipo 2.
Disfunção renal crônica.
Depressão.
Demência.
Osteoporose/sarcopenia.
Fragilidade.
Neoplasias
Autoimunidade
Resposta à vacinação
História/exame:
Infecções recorrentes.
Herpes-zóster.
Uso de medicamento imunossupressor/imunomodulador.
Câncer.
Autoimunidade.
Doenças sistêmicas (diabetes, doença renal ou hepática avançadas etc.).
Perda de proteínas.
Asplenia.
Desnutrição.
Soropositividade para CMV, EBV, HIV.
Laboratório:
Hemograma.
Função renal e hepática, incluindo eletroforese de proteínas e urina I.
Eletrólitos.
Glicemia.
Colesterol (para avaliar o estado nutricional).
Imunoglobulinas séricas.
Nutrição
Atividade física
Prevenção de infecções
DEFINIÇÃO
Embora ainda motivo de debate, a definição atual mais
aceita de multimorbidade é a presença de duas ou mais
condições crônicas (orgânicas ou psiquiátricas) em um
mesmo indivíduo. Tais condições poderão interagir ou não
diretamente entre si.
MULTIMORBIDADE NO BRASIL
A multimorbidade tem se tornado cada vez mais comum.
Isso ocorre devido a múltiplos fatores, com destaque para o
envelhecimento populacional e a alta prevalência de fatores
de risco, como sedentarismo, tabagismo, etilismo e
obesidade. Embora não restrita à pessoa idosa, é bastante
prevalente nessa população. Segundo dados do Estudo
Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil),
realizado nos anos de 2015 e 2016, que envolveu 9.412
brasileiros, a prevalência da multimorbidade para
indivíduos com idade maior ou igual a 50 anos aproxima-se
dos 67,8%. Em média os indivíduos estudados tinham 2,66
morbidades, sendo a hipertensão arterial sistêmica
(52,2%), problemas de coluna (40,8%) e a dislipidemia
(30,5%) as condições mais frequentes. Observou-se
também o aumento da multimorbidade com a idade, com
taxas de 58,8, 73,4, 79 e 82,4% quando consideradas as
faixas etárias de 50-59, 60-69, 70-79 e ≥ 80 anos,
respectivamente (Figura 1).
IMPACTO DA MULTIMORBIDADE
A multimorbidade associa-se a morte prematura, pior
funcionalidade, pior qualidade de vida, fragilidade,
polifarmácia, maiores taxas de efeitos adversos a
medicamentos, maior risco para depressão, estresse de
familiares e maior uso de serviços de saúde, incluindo
admissões em serviços de emergência. Para demonstrar a
complexidade do tratamento de pacientes multimórbidos, a
título de exemplo, tomando como base uma pessoa idosa de
79 anos portadora de cinco condições crônicas comuns
(hipertensão, diabetes, osteoporose, osteoartrite e doença
pulmonar obstrutiva crônica), caso fosse tratada segundo
diretrizes internacionais disponíveis para cada uma dessas
condições, receberia 12 medicações diferentes (19 doses
por dia), seria instruída a realizar 14 medidas não
farmacológicas e encaminhada a diferentes especialistas.
Tal plano de tratamento não só seria inviável como
claramente traria impacto negativo sobre sua qualidade de
vida. Esse caso, mesmo que hipotético, ilustra o desafio do
manejo de pessoas com multimorbidade.
A medicina moderna e serviços de saúde não estão
preparados para lidar com a multimorbidade, com
necessidade urgente de melhorias em medidas preventivas,
manejo e reconfiguração dos sistemas de saúde, visando a
um equilíbrio entre cuidados ultraespecializados voltados
para as doenças e cuidados centrados no paciente
prestados por médicos generalistas, médicos de família e
geriatras.
POLIFARMÁCIA
Especial atenção deverá ser dada à polifarmácia, desafio
comum em pacientes com multimorbidade. Considerar
tratamentos não medicamentosos sempre que possível em
detrimento ao acréscimo de mais medicações (p. ex.,
tratamento de insônia com higiene do sono, tratamento de
refluxo com medidas dietéticas e posturais etc.). Buscar
seguir o lema do inglês “start low, go slow, but go”, que
significa iniciar, modificar ou suspender tratamentos de
forma lenta e gradual, com reavaliações, até o objetivo
final, evitando subtratamentos. Em cada consulta, avaliar:
Aderência terapêutica e adequação posológica.
Interações medicamentosas.
Adequação das doses para possível disfunção renal ou
hepática.
Presença de efeitos colaterais e riscos das medicações;
instrumentos como critérios de Beers e Stopp/Start
poderão ser de grande valia nessa avaliação.
Possibilidade de suspensão de medicamentos que não
mais se adéquam ao plano terapêutico do paciente.
DECISÃO COMPARTILHADA
A melhor forma de abordar a multimorbidade à luz da
MBE é por meio da valorização dos desejos e objetivos do
indivíduo, modificando o princípio paternalista da relação
médico- paciente, em uma abordagem holística, na qual o
médico traz o conhecimento científico e a experiência
clínica e o paciente, sua biografia, condição social,
econômica, espiritual e psicológica, para juntos chegarem a
uma linha de tratamento que seja viável e razoável,
condizente com os desejos e objetivos do paciente. Tal
forma de abordagem é conhecida como decisão
compartilhada.
Embora possa ser usada em decisões simples, a decisão
compartilhada é de especial importância nos casos mais
complexos, nos quais a intervenção médica pode melhorar
uma condição à custa de possíveis efeitos colaterais
significativos, risco de piora de outra morbidade ou de
impacto negativo na qualidade de vida. Para uma decisão
compartilhada adequada, sugere-se adotar os seguintes
passos:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A multimorbidade é definida como presença de duas ou
mais doenças crônicas (orgânicas ou psiquiátricas) em
um mesmo indivíduo e ocorre em mais da metade da
população nacional acima de 60 anos.
Associa-se a elevada morbidade, mortalidade, pior
qualidade de vida e gastos com serviços de saúde.
São vários os desafios no manejo de indivíduos com
multimorbidade.
O manejo envolve atenção e valorização dos objetivos e
prioridades de cada paciente; otimização e simplificação
terapêutica com menor impacto negativo possível em sua
qualidade de vida; evitar intervenções desnecessárias;
decisão compartilhada sempre que possível,
especialmente quando diante de questões difíceis sobre
o manejo.
São aguardados com expectativa estudos adequados que
possam clarear ainda mais o entendimento quanto à
multimorbidade, para que se possa adequar
progressivamente a terapêutica aos objetivos e desejos
do paciente e sua complexidade, de forma segura, clara e
mais bem informada.
*
Diferentes índices estão disponibilizados em eprognosis.ucsf.edu (acesso em
jan 2023).
BIBLIOGRAFIA
American Geriatrics Society 2015 Beers Criteria Update Expert Panel.
American Geriatrics Society 2015 updated Beers criteria for potentially
inappropriate medication use in older adults. J Am Geriatr Soc.
2015;63(11):2227-46.
American Geriatrics Society Expert Panel on the Care of Older Adults with
Multimorbidity. Patient-centered care for older adults with multiple chronic
conditions: a stepwise approach from the American Geriatrics Society:
American Geriatrics Society Expert Panel on the Care of Older Adults with
Multimorbidity. J Am Geriatr Soc. 2012;60(10):1957-68.
Barstow C, Shahan B, Roberts M. Evaluating medical decision-making capacity
in practice. Am Fam Physician. 2018; 98(1)40-6.
Boyd CM, Darer J, Boult C, Fried LP, Boult L, Wu AW. Clinical practice
guidelines and quality of care for older patients with multiple comorbid
diseases. JAMA. 2005;294(6):716-24.
Ioannidis JPA. Why most published research findings are false. PLoS Med.
2005;2(8):e124.
Mercer SW, Smith SM, Wyke S, O’Dowd T, Watt GC. Multimorbidity in primary
care: developing the research agenda. Fam Pract. 2009;26(2):79-80.
Muth C, van den Akker M, Blom JW, Mallen CD, Rochon J, Schellevis FG, et al.
The Ariadne principles: how to handle multimorbidity in primary care
consultations. BMC Med. 2014;12(223).
Nunes BP, Batista SRR, Andrade FB de, Souza Junior PRB de, Lima-Costa MF,
Facchini LA, et al. Multimorbidade em indivíduos com 50 anos ou mais de
idade: ELSI-Brasil. Rev Saúde Pública. 2018;52(Suppl 2):10s.
O’Mahony D, O’Sullivan D, Byrne S, O’Connor MN, Ryan C, Gallagher P.
Stopp/Start criteria for potentially inappropriate prescribing in older people:
version 2. Age Ageing. 2014;44(2):213-8.
Ramaswamy R. Complex care: treating an older patient with multiple
comorbidities. Am Fam Physician. 2014; 89(5):393-4.
Skou ST, Mair FS, Fortin M, Guthrie B, Nunes BP, Miranda JJ, et al.
Multimorbidity. Nat Rev Dis Primers. 2022; 8(1):48.
Taylor LJ, Nabozny MJ, Steffens NM, Tucholka JL, Brasel KJ, Johnson SK, et al.
A framework to improve surgeon communication in high-stakes surgical
decisions best case/worst case. JAMA Surg. 2017;152(6):531-8.
Van Spall HG, Toren A, Kiss A, Fowler RA. Eligibility criteria of randomized
controlled trials published in high-impact general medical journals: a
systematic review. JAMA. 2007;297(11):1233-40.
Wellbery C, McAteer R. When medicine reverses itself: avoiding practice
pitfalls. Am Fam Physician. 2013;88(11):737-8.
Yourman LC, Lee SJ, Schonberg MA, Widera EW, Smith AK. Prognostic indices
for older adults: a systematic review. JAMA. 2012;307(2):182-92.
Rastreamento por exames complementares 4
em geriatria
INTRODUÇÃO
O conhecimento sobre o funcionamento do corpo
humano e das doenças que o acometem tem levado à
constante busca por tratamentos que possam reverter ou
amenizar os danos causados e os sintomas decorrentes. À
medida que tratamentos eficazes para diversas condições
são descobertos e estabelecidos, inicia-se a busca por
meios de diagnosticá-las em estágios em que seus
portadores ainda possam ser beneficiados pelos respectivos
tratamentos. Com o crescente aumento dos métodos
diagnósticos desenvolvidos, atualmente é possível detectar
diversas condições muito antes de haver manifestações
clínicas, o que pode trazer grandes vantagens, mas também
se pode chegar ao extremo de diagnosticar potenciais
condições que nunca viriam a se manifestar.
A experiência do rastreamento de diversas condições
tem ensinado muitas lições, e atualmente apenas algumas
apresentam claros benefícios de serem rastreadas. Até o
momento não existe evidência consistente de que o
rastreamento leve à redução da mortalidade geral, e há
evidência para redução de mortalidade específica para
pouquíssimas condições.
Mundialmente, existe elevado entusiasmo da população
quanto aos benefícios do rastreamento, particularmente em
relação às doenças neoplásicas, pelo grande sentimento de
medo. Entretanto, com o avanço dos estudos na área, cada
vez mais o rastreamento de diversos tipos de câncer tem
sido questionado e tem aumentado a preocupação com os
efeitos do sobrediagnóstico e do supertratamento.
As doenças oncológicas para as quais o rastreamento
mais demonstrou sucesso foram câncer de colo uterino,
mama e colorretal. Acredita-se que isso se deva ao fato de
serem doenças de comportamento mais homogêneo,
crescimento mais lento e com precursores passíveis de
identificação e remoção por procedimentos com baixas
taxas de complicações, o que minimiza os riscos
relacionados com o rastreamento. Crescente atenção tem
sido dada a meios de identificar os indivíduos que mais se
beneficiariam do rastreamento de cada condição.
Em termos econômicos, a expectativa racional seria a de
que os programas de rastreamento gerariam um aumento
inicial de custos com sua implementação, porém, a longo
prazo, levariam à redução dos custos totais, devido ao
tratamento menos dispendioso das condições quando
precocemente detectadas. Entretanto, análises financeiras
não têm confirmado essa projeção econômica, evidenciando
que, devido às elevadas taxas de sobrediagnóstico,
sobretratamento e complicações dos testes de rastreio, os
custos se elevam não apenas a curto, mas também a longo
prazo.
O reconhecimento dessas limitações é o primeiro passo
em direção a uma abordagem assertiva na execução do
rastreamento clínico, porém se deve levar em conta que
sua aplicação na população idosa apresenta alguns desafios
adicionais. À medida que idade e morbidade aumentam, os
benefícios do rastreamento se tornam mais incertos, a
probabilidade de danos se eleva e a janela de tempo em
que os benefícios superam os danos pode não ser atingida
pelo paciente. Logo, as decisões a respeito do rastreamento
clínico em pessoas idosas devem ponderar o horizonte
temporal para que os benefícios se manifestem, o potencial
de danos que podem ocorrer nesse intervalo de tempo e a
expectativa de vida do paciente.
A população idosa apresenta elevado grau de
heterogeneidade em relação a estado de saúde, trajetória,
funcionalidade e expectativa de vida, gerando grande
variação na relação entre danos e benefícios de cada
intervenção para indivíduos dentro da mesma faixa etária.
Essa heterogeneidade traz a necessidade de decisões cada
vez mais individualizadas, alinhando a opinião médica,
baseada em variáveis clínicas, evidências, estimativas e
probabilidades, com a opinião do paciente, suas crenças,
valores e expectativas.
PRINCÍPIOS DO RASTREAMENTO
Conceitos
O que é rastreamento?
No contexto da medicina, rastreamento são ações que
visam à detecção precoce de doenças ou outras condições
de risco com o objetivo de evitar que estas causem algum
mal ao indivíduo, ou algum mal maior do que o que
eventualmente já tenha sido causado. Muitas vezes o
entendimento do rastreamento consiste em um conjunto de
exames e testes realizados em uma população, e os
pacientes tendem a procurar o profissional depositando sua
confiança na realização de uma grande lista deles, tendo-os
como precisos, absolutos, autossuficientes e inócuos.
Entretanto, em seu conceito, o rastreamento clínico não
se restringe a exames complementares. É iniciado na
anamnese, quando queixas, antecedentes e hábitos são
explorados. Continua durante o exame físico sistematizado,
ao serem realizadas inspeção, percussão, palpação e
ausculta. Apenas após essas etapas, que não devem ser
negligenciadas, haverá a solicitação individualizada e
racional de exames complementares, quando julgados
necessários. Com poucas exceções, os testes utilizados no
rastreamento não firmam diagnóstico, sendo necessário,
quando positivos, prosseguir na investigação com outros
testes específicos para esse fim.
Modalidades de rastreamento
O rastreamento é subdividido em primário, secundário e
vigilância pós-tratamento:
A favor Contra
2. Quem rastrear:
– American Diabetes Association (ADA) e Sociedade
Brasileira de Diabetes (SBD): recomendam rastrear
todos os indivíduos acima de 45 anos, ou antes, em
indivíduos com fatores de risco (Quadro 2).
– United States Preventive Services Task Force
(USPSTF): recomenda rastrear indivíduos entre 35 e
70 anos de idade com sobrepeso ou obesidade.
Recomenda também considerar o rastreamento fora
desse grupo para pacientes com outros fatores de
risco (Quadro 2).
3. Exames de rastreio: glicemia de jejum, teste oral de
tolerância à glicose ou hemoglobina glicosilada.
4. Periodicidade: até a cada 3 ou 4 anos na população geral
e a cada ano em indivíduos com pré-diabetes ou com
fatores de risco (Quadro 2).
5. Quando interromper: término do rastreio não definido.
Pode ser considerado em pacientes com baixa
expectativa de vida, sem foco na prevenção das
consequências a longo prazo, mas visando evitar
possíveis desconfortos imediatos decorrentes da
hiperglicemia, como polidipsia, poliúria, polifagia,
desidratação e alterações neurológicas.
Dislipidemia
Disfunção tireoidiana
Osteoporose
Hipotireoidismo Hipertireoidismo
Sexo.
Idade (40-90 anos).
Peso, altura e IMC.
Fratura prévia.
Pais com história de fratura de quadril.
Tabagismo atual.
Consumo ≥ 3 doses de álcool por dia.
Uso de glicocorticoides (atual ou prévio, > 3 meses com dose equivalente
igual ou superior a 5 mg/dia de prednisolona).
Artrite reumatoide.
Osteoporose secundária (diabetes mellitus, osteogênese imperfeita em
adulto, hipertireoidismo não tratado, hipogonadismo ou menopausa
precoce – antes dos 45 anos –, má nutrição crônica, má absorção ou
doença hepática crônica).
Densidade mineral óssea do colo do fêmur (opcional, se já houver realizado
o exame).
Neoplasia de pulmão
1. Por que rastrear: o câncer de pulmão é o mais comum
no mundo desde 1985 tanto em incidência quanto em
mortalidade, tendo se tornado uma das principais
causas de morte evitáveis. No Brasil, é o segundo mais
comum em homens e o terceiro em mulheres (sem
contar o câncer de pele não melanoma). Cerca de 13%
de todos os casos novos de câncer são de pulmão. Em
85% dos casos está associado ao consumo de derivados
do tabaco. Apresenta prognóstico ruim. Noventa por
cento dos indivíduos diagnosticados falecem por causa
da doença. Apenas 16% são diagnosticados em estágio
inicial, quando em geral podem ser tratados com
ressecção cirúrgica. A cessação do tabagismo é a
melhor medida de prevenção para o câncer de pulmão.
O rastreamento deve ser uma medida paralela às
intervenções para cessar o hábito.
Idade (≥ 65 anos).
Sexo masculino.
Tabagismo atual ou prévio.
Hipertensão arterial sistêmica.
Hipercolesterolemia.
Doença aterosclerótica.
Doença arterial coronariana.
Doença cerebrovascular.
História pessoal de outro aneurisma vascular.
História familiar de parente de primeiro grau com AAA.
Neoplasia de mama
Idade (≥ anos).
Tabagismo.
Exposições ocupacionais (asbesto, sílica, urânio, cromo, agentes
alquilantes, radônio).
Exposição à poluição do ar.
Antecedente pessoal de fibrose pulmonar ou doença pulmonar obstrutiva
crônica.
História familiar de neoplasia de pulmão.
Neoplasia colorretal
Neoplasia de próstata
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática do geriatra envolve ações e recomendações
tanto individuais quanto populacionais para promoção de
saúde, prevenção e tratamento de doenças e agravos. As
etapas da aplicação do rastreamento clínico envolvem
ações que vão desde a anamnese e o exame físico até a
realização e interpretação dos exames complementares. A
recomendação dos exames de rastreio indicados para cada
grupo de risco e faixa etária se baseia em evidências de
estudos populacionais. Entretanto, devido à grande
heterogeneidade da população idosa, sua aplicação deve
ser individualizada, levando em conta aspectos particulares
de cada paciente, como funcionalidade, expectativa de vida,
desejos, valores e preferências.
Por ser um ramo do conhecimento que está em franca
evolução, há necessidade de consulta frequente às
recomendações nacionais e internacionais, que estão em
constante atualização de acordo com pesquisas e
evidências mais recentes. Há uma grande busca por
encontrar meios de refinar melhor os critérios de seleção
do paciente elegível a cada rastreamento, com tendência à
individualização da conduta, promovendo a decisão
compartilhada entre o médico e o paciente a ser rastreado.
Dessa forma, além do conhecimento técnico e da
constante atualização, é necessário ao profissional que
aplica o rastreamento desenvolver habilidades de análise
crítica das evidências, julgamento clínico e comunicação
eficaz, que o capacitem a ofertar a informação precisa e
atualizada em linguagem e dosagem adequadas para
auxiliar cada paciente a tomar as melhores decisões. O
momento de ofertar o rastreamento para o paciente pode,
assim, se tornar uma valiosa oportunidade de promover
importantes discussões sobre promoção de saúde,
prevenção de agravos, autonomia, independência,
funcionalidade, autocuidado, expectativas, receios, valores,
diretivas antecipadas e finitude, sempre respeitando e
incentivando o protagonismo da pessoa idosa e o exercício
de sua autonomia.
QUADRO 10 Situações que levam a rastreamento individualizado para
câncer de colo de útero
Imunossupressão.
Exposição intrauterina a dietilbestrol.
BIBLIOGRAFIA
Almeida LM. Da prevenção primordial à prevenção quaternária. Rev Port Sau
Pub. 2005;23(1):91-6. Available:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2996950/mod_resource/content/1/t
exto%20sobre%20niveis%20de%20preven-epi%20graduacão.pdf. (Acesso
fev 2023.)
Clarfield AM. Screening in frail older people: an ounce of prevention or a pound
of trouble? J Am Geriatr Soc. 2010;58(10):2016-21.
Cunningham J. Discussing cancer screening with elderly patients. JAMA.
2001;286(10):1175-6.
Eckstrom E, Feeny DH, Walter LC, Perdue LA, Whitlock EP. Individualizing
cancer screening in older adults: a narrative review and framework for
future research. J Gen Intern Med. 2013;28(2):292-8.
Hackl F, Halla M, Hummer M, Pruckner GJ. The effectiveness of health
screening. Health Econ. 2015;24(8):913-35.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Estatísticas
de câncer. Rio de Janeiro: Inca; 2019. Available:
https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer. (Acesso fev 2023.)
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Estimativa
2018: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, Inca; 2017. Available:
https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2018-incidencia-de-
cancer-no-brasil. (Acesso fev 2023.)
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Mortalidade.
Rio de Janeiro: Inca; 2019. Available: https://www.inca.gov.br/numeros-de-
cancer/mortalidade. (Acesso fev 2023.)
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Tipos de
câncer. Rio de Janeiro: Inca; 2019. Available: https://www.inca.gov.br/tipos-
de-cancer. (Acesso fev 2023.)
Kimberley LT, Harris RP, Schoenbom NL. Individualized approach to cancer
screening in older adults. Clinics in Geriatric Medicine. 2018;34(1):11-2.
Lee KT, Harris RP, Schoenborn NL. Individualized approach to cancer screening
in older adults. Clin Geriatr Med. 2017;34(1):11-23.
Martins L. Prevenção de doenças e promoção da saúde na terceira idade. Rio
de Janeiro: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; [s.d.].
Available: https://sbgg.org.br/prevencao-de-doencas-e-promocao-da-saude-
na-terceira-idade/. (Acesso fev 2023.)
Ministério da Saúde, Brasil. Rastreamento. Cadernos de Atenção Primária, 29.
Brasília: Ministério da Saúde; 2010. Available:
http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2016/05/Cadernos-de-
Atenção-Primária-n-29-rastreamento.pdf. (Acesso fev 2023.)
Morabia A, Zhang FF. History of medical screening: from concepts to action.
Postgrad Med J. 2004;80(946):463-9.
National Health System (NHS). NHS screening. United Kingdom: NHS; 2012.
Available: https://www.nhs.uk/conditions/nhs-screening/. (Acesso fev 2023.)
Norman AH, Tesser CD. Quaternary prevention in primary care: a necessity for
the Brazilian Unified National Health System. Cad Saúde Pública.
2009;25(9):2012-20.
Oliveira JEP de, Montenegro Junior, RM, Vencio S, organizadores. Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Diabetes 2017-2018. São Paulo: Clannad; 2017.
Pandve HT. Changing concept of disease prevention: From primordial to
quaternary. Arch Med Health Sci. 2014;2(2):254-6.
Rembold CM. Number needed to screen: development of a statistic for disease
screening BMJ. 1998;317:307.
Saquib N, Saquib J, Ioannidis JPA. Does screening for disease save lives in
asymptomatic adults? Systematic review of meta-analyses and randomized
trials. Int J Epidemiol. 2015;44(1):264-77.
Schoenborn NL, Lee K, Pollack CE, Armacost K, Dy SM, Bridges JFP, et al.
Older adults’ views and communication preferences about cancer screening
cessation. JAMA Intern Med. 2017;177(8):1121-8.
Schoenborn NL, Xue QL, Pollack CE, Janssen EM, Bridges JFP, Wolff AC, et al.
Demographic, health, and attitudinal factors predictive of cancer screening
decisions in older adults. Prev Med Rep. 2019;13:244-8.
Schonberg MA. Prevention. In: Geriatrics Review Syllabus (GRS). Updated in
January, 2015. Available:
https://geriatricscareonline.org/FullText/B003/B003_VOL001_PART001_SEC
002CH010/. (Acesso fev 2023.)
Shieh Y, Eklund M, Sawaya GF, Black WC, Kramer BS, Esserman LJ. Population-
based screening for cancer: hope and hype. Nat Rev Clin Oncol.
2016;13(9):550-65.
United States Preventive Services Task Force. Final recommendation
statement: prostate cancer: screening. United States: United States
Preventive Services Task Force; 2018. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Document/Recommend
ationStatementFinal/prostate-cancer-screening1. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary:
abdominal aortic aneurysm: screening. United States: United States
Preventive Services Task Force; 2019. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/abdo
minal-aortic-aneurysm-screening. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary: breast
cancer: screening. United States: United States Preventive Services Task
Force; 2018. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Document/UpdateSum
maryFinal/breast-cancer-screening1. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary: cervical
cancer: screening. United States: United States Preventive Services Task
Force; 2018. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Document/UpdateSum
maryFinal/cervical-cancer-screening2. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary:
colorectal cancer: screening. United States: United States Preventive
Services Task Force; 2021. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/color
ectal-cancer-screening. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary: hepatitis
B virus infection in adolescents and adults: screening. United States: United
States Preventive Services Task Force; 2020. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/hepa
titis-b-virus-infection-screening. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary: hepatitis
C virus infection in adolescents and adults: screening. United States: United
States Preventive Services Task Force; 2020. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/hepa
titis-c-screening. Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary: human
immunodeficiency virus (HIV) infection: screening. United States: United
States Preventive Services Task Force; 2018. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Document/UpdateSum
maryFinal/human-immunodeficiency-virus-hiv-infection-screening. (Acesso
fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Is prostate cancer screening
right for you? Understanding the potential benefits vs risk for men 55-69
years. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Home/GetFileByToken/HV9R
Gq3wLyh6PyK4oxVtde. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary: lung
cancer: screening. United States: United States Preventive Services Task
Force; 2021. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/lung-
cancer-screening. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary:
osteoporosis to prevent fractures: screening. United States: United States
Preventive Services Task Force; 2018. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Document/UpdateSum
maryFinal/osteoporosis-screening1. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final update summary: statin
use for the primary prevention of cardiovascular disease in adults:
preventive medication. United States: United States Preventive Services
Task Force; 2016. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Document/UpdateSum
maryFinal/statin-use-in-adults-preventive-medication1. (Acesso fev 2023.)
United States Preventive Services Task Force. Final Update Summary: thyroid
dysfunction: screening. United States: United States Preventive Services
Task Force; 2016.
United States Preventive Services Task Force. Prediabetes and type 2 diabetes:
Screening United States: United States Preventive Services Task Force;
2021. Available:
https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/scree
ning-for-prediabetes-and-type-2-diabetes. (Acesso fev 2023.)
von Ristow A, Estensoro AE. Aneurisma da aorta abdominal. Diretrizes SBACV.
São Paulo: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular; 2015.
Available: https://www.sbacv.org.br/lib/media/pdf/diretrizes/aneurismas-da-
aorta-abdominal.pdf. (Acesso fev 2023.)
Walter LC, Covinsky KE. Cancer screening in elderly patients: a framework for
individualized decision making. JAMA. 2001;285(21):2750-6.
World Cancer Research Fund International, American Institute for Cancer
Research. Worldwide cancer data. London: WCRF International; 2018.
Available: https://www.wcrf.org/dietandcancer/cancer-trends/worldwide-
cancer-data. (Acesso fev 2023.)
Instabilidade postural e quedas 5
INTRODUÇÃO
A manutenção da postura bípede impõe à espécie
humana alto custo de investimentos para manutenção do
equilíbrio estático e durante deslocamentos. O corpo se
apresenta como um pêndulo invertido, com a massa
concentrada acima de uma base de sustentação sobre
membros articulados e pés relativamente estreitos. Dessa
forma, forças gravitacionais e ambientais atuando sobre o
corpo, aqui representado por um ponto central (centro de
massa) que equivale aos vetores atuantes, exigem
constantemente ajustes no sistema musculoesquelético. Na
necessidade de deslocamentos corporais (equilíbrio
dinâmico), o desequilíbrio autoinduzido necessário para o
movimento coloca a resposta corporal sob ainda maior
desafio.
O equilíbrio postural ocorre quando todas as forças que
atuam sobre o corpo conseguem ser balanceadas, tanto em
situações estáticas quanto em dinâmicas. Para a
manutenção desse equilíbrio, é necessário (através de
forças de compensação do sistema musculoesquelético) o
controle da projeção do centro de massa em relação à base
de sustentação (lembre-se do pêndulo). Quando essa
atuação não é suficiente, pode ocorrer a queda – definida
aqui como “evento não intencional que leva uma pessoa
inadvertidamente a cair ao chão em um mesmo nível ou em
outro inferior”. Esse fenômeno, apesar de acompanhar a
espécie humana desde o início da sua luta a caminho da
independência funcional, assume uma importância especial
quando se trata da população idosa.
Lesões físicas.
Fraturas.
Imobilidade.
Institucionalização.
Incapacidade.
Dependência.
Transtornos de humor.
Síndrome pós-queda.
Isolamento social.
Morte.
Morar sozinho.
Anticoagulação.
SÍNDROME PÓS-QUEDA
Dentre as complicações das quedas entre idosos, uma
das mais temidas é a síndrome pós-queda, uma condição de
medo limitante de cair novamente que pode evoluir para
quadros graves de fragilidade e imobilidade. Sua
ocorrência é proporcionalmente maior entre idosos,
comprometendo até 50% dos pacientes após fratura de
quadril (Quadro 3).
QUADRO 4 Red flags – fatos da história clínica que devem levantar suspeita
sobre doenças ou condições potencialmente mais graves associadas a quedas
Red flags:
Cefaleia intensa.
TREINO DE EQUILÍBRIO
O treino para a melhora do equilíbrio pode envolver
exercícios com posições estacionárias (tandem, unipodal,
limite de estabilidade nas diagonais dos planos do corpo),
exercícios dinâmicos (que envolvem marcha, sentar e
levantar, agachar, subir e descer degrau, passo para a
frente, para trás e lateral, passo rápido, mudança de
direção), estratégias reativas, ajustes posturais
antecipatórios e exercícios associando duplas tarefas
(motora, cognitiva e motora-cognitiva), estes últimos
particularmente importantes, pois ocorre aumento da
instabilidade postural nessas situações. Os exercícios
devem ser prescritos com progressão de dificuldade e
acompanhados por profissionais qualificados para diminuir
o risco de danos e lesões. A tomada de decisão sobre quais
exercícios realizar depende das necessidades de cada
idoso.
O desempenho adequado na realização de atividades
funcionais rotineiras, além de melhorar a independência do
idoso, é importante para reduzir o risco de quedas. Dentre
as atividades rotineiras, a marcha representa 55% das
quedas em idosos, e estas estão frequentemente associadas
a um controle postural ineficiente. Entretanto,
considerando que a caminhada isolada não demonstrou ser
eficiente para a prevenção de quedas, além de aumentar o
risco entre idosos com instabilidade postural, não deve ser
orientada como única intervenção, sendo essencial incluir
atividades que desafiem o equilíbrio. Além disso, pessoas
com histórico de quedas apresentam dificuldade para a
realização de outras tarefas rotineiras além da marcha,
como levantar da cadeira, subir degrau e agachar. Dessa
forma, os exercícios voltados para a melhora da
instabilidade postural também incluem exercícios
funcionais para necessidades individualizadas.
Revisão sistemática e metanálise recente mostrou que
os exercícios de equilíbrio postural apresentam qualidade
de evidência forte para a diminuição do risco de quedas,
sendo preferíveis os exercícios de equilíbrio mais
desafiadores. Programas de exercícios/Tai Chi são mais
efetivos em indivíduos idosos independentes da
comunidade sem fragilidade. Efeitos mais benéficos de
programas de intervenção física para idosos da
comunidade foram atribuídos à prática dos exercícios
multicomponentes envolvendo equilíbrio e fortalecimento
muscular, em média 3 vezes por semana, com duração de 3
horas semanais, no mínimo por 12-13 semanas. Exercícios
ideais de caráter progressivo e de intensidade suficiente
para ganhos objetivos (redução de risco de quedas de 42%
OR 0,58, 95% IC 0,48 a 0,69).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A instabilidade postural e as quedas apresentam-se
como síndrome geriátrica com grande impacto no
envelhecimento, afetando primordialmente aspectos
vinculados à manutenção da independência e à
funcionalidade e, em última instância, a qualidade de vida.
Devem ser questionadas e avaliadas em todas as
oportunidades, sendo necessária a sensibilização dos
profissionais atuantes na atenção ao idoso, assim como a
qualificação de serviços de reabilitação.
BIBLIOGRAFIA
Alexandre TS, Meira DM, Rico NC, Mizuta SK. Accuracy of timed up and go test
for screening risk of falls among community-dwelling elderly. Rev Bras
Fisioterapia. 2012;16(5):381-8.
American Geriatrics Society and British Geriatrics Society. Panel on Prevention
of Falls in Older Persons, American Geriatrics Society and British Geriatrics
Society. Summary of the Updated American Geriatrics Society/British J Am
Geriatr Soc. 2011;59(1):148-57.
Cunha PTS, Artifon AN, Lima DP, Marques WV, Rahal MA, Ribeiro RR. Fratura
de quadril em idosos: tempo de abordagem cirúrgica e sua associação
quanto a delirium e infecção. Acta Ortop Bras. 2008;16:173-6
Deshpande N, Metter EJ, Lauretani F, Bandinelli S, Guralnik J, Ferrucci L.
Activity restriction induced by fear of falling and objective and subjective
measures of physical function: a prospective cohort study. J Am Geriatr Soc.
2008;56:615.
Guimarães FAM, Lima RR, Souza ACS, Livani B, Belangero WD. Avaliação da
qualidade de vida em pacientes idosos um ano após o tratamento cirúrgico
de fraturas transtrocanterianas do fêmur. Rev Bras Ortop. 2011;46(Suppl
1):48-54.
International Osteoporosis Foundation. The Latin America Regional Audit:
epidemiology, costs & burden of osteoporosis in 2012. Available:
https://www.iofbonehealth.org/.../2012-Latin_America_Audit-Brazil-
PT_0_0_0.pdf (acesso jan 2023).
Kiel DP. Falls in older persons: risk factors and patient evaluation – UpToDate,
last literature review, Jan. 2108. Last updated Nov. 2016.
Komatsu RS, Ramos LR, Szejnfeld VL. Incidence of proximal femur fractures in
Marilia, Brazil. J Nutr Health Aging. 2004;8(5):362-7.
Martinikorena I, Martínez-Ramírez A, Gómez M, Lecumberri P, Casas-Herrero
A, Cadore EL, et al. Gait variability related to muscle quality and muscle
power output in frail nonagenarian older adults. J Am Med Dir Assoc.
2016;17(2):162-7.
Montero-Odasso M, Sarquis-Adamson Y, Song HY, Bray NW, Pieruccini-Faria F,
Speechley M. Polypharmacy, gait performance, and falls in community-
dwelling older adults: results from the Gait and brain study. JAGS. 2019.
Available: https://doi.org/10.1111/jgs.15774 (acesso jan 2023).
Montero-Odasso M, Schapira M, Soriano ER, Varela M, Kaplan R, Camera LA,
et al. Gait velocity as a single predictor of adverse events in healthy seniors
aged 75 years and older. J Geront Series A Biolog Sci Med Sci.
2005;60(10):1304-9.
Oliveira PP, Marinheiro LP, Wender MC, Roisenberg F, Lacativa PG. Prevalence
of vertebral fractures and risk factors in women over 60 years of age in
Chapeco, Santa Catarina State, Brazil. Cad Saúde Pública. 2010;26:1777-87.
Perracini MR, Fló CM. Funcionalidade e envelhecimento. In: Fisioterapia:
teoria e prática clínica. 2.ed. Rio de Janeiro: Gen/Guanabara-Kogan; 2011.
Rubenstein LZ, Josephson KR. Falls and their prevention in elderly people:
what does the evidence show? Medical Clinics of North
America.2006;90(5):807-24.
Sherrington, et al. Integrated care for older people: guidelines on community-
level interventions to manage declines in intrinsic capacity. Geneva: World
Health Organization; 2017.
Sherrington C, Michaleff ZA, Fairhall N, Paul SS, Tiedemann A, Whitney J, et al.
Exercise to prevent falls in older adults: an updated systematic review and
meta-analysis. Br J Sports Med. 2017;51(24):1750-8.
Studenski S, Perera S, Wallace D, Chandler JM, Duncan PW, Rooney E, et al.
Physical performance measures in the clinical setting. J Am Geriat Soc.
2003;51(3):314-22.
6 Iatrogenia, polifarmácia e desprescrição no idoso
INTRODUÇÃO
Com o envelhecimento da população, o desenvolvimento de
novos fármacos, a demonstração de benefícios do tratamento
farmacológico para uma série de situações, mesmo em idades
avançadas, e o emprego de combinação de drogas para o
tratamento de condições crônicas comuns, vê-se um cenário em
que os idosos representam o principal grupo consumidor de
medicamentos. Por outro lado, a própria existência das
condições crônicas, bem como as alterações fisiológicas do
envelhecimento, implica risco aumentado de interações
medicamentosas e efeitos adversos.
Dessa forma, os idosos são o grupo populacional que mais se
submete à farmacoterapia e os mais suscetíveis a suas
complicações. Portanto, o estudo do tratamento farmacológico
em geriatria implica discutir alterações farmacocinéticas e
farmacodinâmicas no envelhecimento, o problema da
polifarmácia, o conceito de iatrogenia e as estratégias de
desprescrição.
ALTERAÇÕES FARMACOLÓGICAS
A farmacocinética está relacionada com os processos que
determinam a concentração de uma droga no corpo a partir de
sua entrada. A farmacodinâmica estuda o que a droga faz no
corpo. O envelhecimento altera principalmente os componentes
da farmacocinética – biodisponibilidade, distribuição e clearance.
A biodisponibilidade é a fração da droga que atinge a
circulação após sua administração. Uma droga injetável tem,
portanto, biodisponibilidade de 100%, e isso não se altera com a
idade. Entretanto, drogas com outras vias de administração
dependem dos mecanismos de absorção, e, como a maior parte
dos medicamentos prescritos é de uso oral, alterações do trato
digestório como diminuição da superfície absortiva, aumento do
pH gástrico, diminuição do fluxo sanguíneo esplâncnico e menor
peristalse podem comprometer sua absorção e reduzir a
biodisponibilidade. Uma vascularização cutânea reduzida
também pode comprometer a absorção de fármacos
transdérmicos, bem como a menor massa muscular pode
retardar a absorção de drogas administradas através desse
tecido. Na prática, as alterações da absorção têm pouca
repercussão na biodisponibilidade das drogas.
Já a distribuição, o volume pelo qual a droga se distribui para
atingir a concentração plasmática, depende de fatores como
nível de proteínas séricas ligantes e proporção de água e
gordura. É sabido que o envelhecimento cursa com o aumento
proporcional de tecido gorduroso a expensas da perda de massa
magra, e que condições que resultam em mau estado nutricional
alteram a concentração das proteínas plasmáticas. Portanto, na
prática clínica, a distribuição das drogas pode estar bastante
alterada no envelhecimento, sobretudo em pacientes frágeis.
Drogas hidrofílicas (p. ex., digoxina) terão seu volume de
distribuição diminuído, de maneira que uma dose menor do que
a habitual deverá ser necessária para determinada concentração
plasmática, ocorrendo o inverso com as lipofílicas. Por outro
lado, as drogas lipofílicas, com maior volume de distribuição,
terão sua meia-vida aumentada e podem se acumular, resultando
em toxicidade (p. ex., benzodiazepínicos). A menor concentração
de proteínas plasmáticas compromete a eficácia de drogas que
dependem de transportadores (p. ex., furosemida) e implica
maior concentração da fração livre de determinadas drogas,
como a varfarina.
A transformação da droga de sua forma inativa em ativa, ou
seja, seu metabolismo, ocorre principalmente no fígado e nos
rins, mas também pode ter sede nos pulmões ou no intestino. A
eliminação da droga do organismo, cuja taxa é denominada
clearance, depende fundamentalmente das funções hepática e
renal. Ambas diminuem em função do envelhecimento. É possível
inferir o clearance renal a partir do cálculo do clearance de
creatinina ou do emprego de fórmulas que o estimam, como o
Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI), o
Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) ou a equação de
Cockroft-Gault. Esta última, embora mais fácil de usar por
envolver funções aritméticas mais simples, tende a subestimar a
função renal dos idosos. O clearance hepático não é passível de
estimativa, mas condições que resultam em menor fluxo
sanguíneo hepático devem levar o clínico a pensar em redução
mais acentuada de tal função.
A diminuição do clearance de fármacos resulta de modo geral
no aumento de sua meia-vida. Para drogas de alto índice
terapêutico, como as penicilinas, tais alterações não trazem
implicações práticas. Por outro lado, drogas de baixo índice
terapêutico (p. ex., digoxina, lítio, aminoglicosídeos) podem ser
tóxicas mesmo em doses habituais.
As alterações farmacodinâmicas são mais complexas que as
farmacocinéticas, uma vez que os efeitos das drogas no
organismo dependem de sua interação com os receptores, e a
quantidade e atividade dos receptores podem estar aumentadas,
diminuídas ou inalteradas no envelhecimento. Por exemplo, os
receptores beta-adrenérgicos estão entre os mais bem
estudados, e a resposta a sua ativação é reduzida no
envelhecimento, bem como sua densidade, de modo que idosos
são menos sensíveis ao efeito de betabloqueadores ou beta-
agonistas em comparação a jovens. Por outro lado, a
sensibilidade a benzodiazepínicos aumenta com a idade, porque
há um aumento da sensibilidade dos receptores Gaba. As funções
dopaminérgica e colinérgica centrais diminuem, o que aumenta a
sensibilidade a efeitos extrapiramidais e reações adversas como
confusão mental.
Em suma, o emprego de alguns grupos farmacológicos,
sobretudo os de maior toxicidade, requer maior atenção quando
destinado a idosos, sob pena de maior risco de efeitos adversos.
Para além das características do fármaco, há que atentar para as
características do paciente: dada a heterogeneidade da
população idosa, há uma grande variabilidade na magnitude das
alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas nessa
população.
POLIFARMÁCIA
Embora não haja um consenso a esse respeito, de modo geral
se define polifarmácia como o uso de 5 ou mais medicações
concomitantemente, reservando-se o termo polifarmácia
excessiva para quando o número de fármacos iguala ou supera a
dezena. Vários estudos retrospectivos têm demonstrado que a
tendência histórica tem sido no sentido de progressivo aumento
do uso de medicamentos, sobretudo na população idosa. Dessa
forma, há 10 anos o limite de 4 ou mais fármacos chamava a
atenção o suficiente para ser chamado de polifarmácia;
atualmente, contudo, usar mais do que 4 fármacos se tornou
lugar-comum entre idosos.
Um estudo conduzido na Irlanda constatou que entre 1997 e
2012 a prevalência do uso de 5 ou mais medicamentos entre
indivíduos de 65 anos de idade ou mais subiu de 17,8 para 60,4%
(Figura 1). Outro estudo britânico concluiu que nessa mesma
faixa etária 1 em cada 6 pacientes recebe mais do que 10
medicamentos.
No atual paradigma clínico, cada vez mais condições crônicas
são tratadas com combinações de medicamentos, e tal prática
tem benefício demonstrado – por mais consciente do problema
que o profissional da saúde seja, quantos pacientes portadores
de diabetes e hipertensão é possível tratar adequadamente de
acordo com todas as diretrizes com menos de 4 drogas?
Provavelmente, o maior desafio contemporâneo em termos de
regimes terapêuticos seja diferenciar a “boa polifarmácia” ou
“polifarmácia necessária” da má polifarmácia.
Como é previsível, na prática os casos não se distinguem
simplesmente entre “boa” ou “má” polifarmácia: pacientes em
uso de muitos fármacos incluem em sua prescrição esquemas
justificados e drogas desnecessárias. Mais ainda: pacientes em
regime polifarmacêutico têm maior risco de terem condições
subtratadas, possivelmente por receio do assistente de agravar o
problema. Trata-se de um exemplo do paradoxo risco-
tratamento: pacientes com muitos fatores de risco demandam
muito tratamento, o que expõe a novos riscos, e a polifarmácia
traz consigo alguns riscos claros:
Erros de prescrição.
Dificuldade de adesão.
Prescrição de medicamentos potencialmente inapropriados.
Reação adversa a medicamentos.
Interação medicamentosa.
FIGURA 1 Consumo de medicamentos na atenção primária na Irlanda.
IATROGENIA
Considera-se iatrogenia a consequência prejudicial à saúde de
um paciente de uma ação praticada pelo médico ou outro
membro da equipe assistencial, seja essa ação certa ou errada,
justificada ou não. A iatrogenia pode se dar em um procedimento
diagnóstico ou, mais comumente, em decorrência do tratamento.
Ocorrências que afetem o paciente sob cuidados de saúde (p. ex.,
quedas, infecções hospitalares e úlceras de pressão) também são
consideradas iatrogênicas.
Por conseguinte, a maior exposição aos cuidados com a saúde
aumenta o risco de iatrogenia; sendo a população idosa o grupo
mais exposto, é também quem mais sofre iatrogenia. E, por
serem os idosos mais vulneráveis a complicações, justamente
neles a iatrogenia tende a ter maior gravidade. A seguir, são
listados os principais fatores de risco para iatrogenia:
Polifarmácia.
Multimorbidade.
Grau de complexidade das doenças.
Má condição clínica no momento da admissão.
Tempo de internação.
Baixo desempenho funcional.
Alteração do metabolismo e excreção hepática e renal.
Má adesão ao tratamento.
Déficit cognitivo.
Tempo de internação.
Uso de medicações potencialmente inapropriadas para idosos.
DESPRESCRIÇÃO
É o processo de retirada de medicamentos inapropriados,
supervisionado por um profissional de saúde, com o objetivo de
administrar a polifarmácia e melhorar desfechos. Embora o
conceito inicial de desprescrição tenha sido proposto
inicialmente em 2003, é na última década que o tema tem sido
mais estudado.
Meclizina Ziprasidona
Oxibutinina
Perfenazina
Prometazina
Tioridazina
Tiotixeno
Tizanidina
Trifluoperazina
INTRODUÇÃO
Estima-se que o número de idosos, no Brasil, aumentará
de 30 milhões em 2020 para cerca de 65 milhões até 2050.
Consequentemente, espera-se aumento expressivo da
demanda por procedimentos cirúrgicos pela maior
prevalência de doenças nessa população, tais como
doenças ateroscleróticas, neoplasias, doenças
osteoarticulares, catarata, distúrbios do assoalho pélvico
etc. Concomitante ao aumento da demanda, com o avanço
da tecnologia e das técnicas cirúrgicas e anestésicas,
procedimentos que há pouco tempo eram contraindicados
nos mais idosos vêm se tornando mais frequentes graças ao
alto nível de segurança conquistado em alguns centros.
Neste capítulo, discorreremos sobre os principais desafios
das cirurgias na população idosa e das possíveis
contribuições da geriatria especificamente no contexto pré-
operatório.
Expectativa de vida
Emergências cirúrgicas
Rede de suporte
Fragilidade
Risco de quedas
Cognição
Escala Considerações
QUADRO 2 Ferramentas para avaliação de fragilidade no pré-operatório
Depressão
Nutrição
Medicações e polifarmácia
PAPEL DA PRÉ-HABILITAÇÃO
A pré-habilitação objetiva aumentar as reservas
fisiológicas previamente a algum insulto agudo, como a
cirurgia, visando a melhor e mais rápida recuperação,
possivelmente reduzindo também eventos adversos (Figura
2).
Inicialmente, os estudos focaram isoladamente
programas voltados em exercícios físicos, no entanto novos
estudos têm sugerido benefício superior ao adicionar
estratégias visando a otimização nutricional e psicológica
(controle de ansiedade), conhecido como pré-habilitação
“trimodal”. Não há no momento de forma clara como e por
quanto tempo realizá-la. É consenso, no entanto, que a pré-
habilitação deverá ser individualizada, considerando a
capacidade basal, nutrição, cognição e sintomas de humor
de cada paciente e o tempo razoável para postergar o
procedimento cirúrgico, o que poderá ser um desafio no
contexto oncológico.
Embora resultados de estudos iniciais em cirurgias
abdominais sejam promissores, muito ainda precisa ser
estudado. Mais pesquisas sobre pré-habilitação para os
pacientes idosos são necessárias, principalmente quanto a
eficácia e segurança de diferentes tipos de exercício, e a
exigência mínima de proteínas e outros nutrientes a fim de
aumentar a força muscular e as reservas fisiológicas,
especialmente na população idosa frágil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A demanda por tratamentos cirúrgicos está sendo
alavancada pelo envelhecimento populacional.
A geriatria tem muito a oferecer no pré-operatório de
idosos candidatos a procedimentos cirúrgicos.
A atenção e o manejo das questões específicas dos idosos
se tornam imprescindíveis no contexto pré- operatório ao
permitirem a redução de riscos e procedimentos mais
seguros.
Os desejos e valores dos idosos deverão ser explorados e
alinhados com as expectativas cirúrgicas.
FIGURA 2 Modelo da pré-habilitação no contexto operatório.
BIBLIOGRAFIA
Bilimoria KY, Liu Y, Paruch JL, Zhou L, Kmiecik TE, Ko CY, et al. Development
and evaluation of the universal ACS NSQIP surgical risk calculator: a
decision aid and informed consent tool for patients and surgeons. Journal of
the American College of Surgeons. 2013;217(5):833-42e3.
Carli F, Silver JK, Feldman LS, McKee A, Gilman S, Gillis C, et al. Surgical
prehabilitation in patients with cancer state-of-the-science and
recommendations for future research from a panel of subject matter
experts. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2017;28:49-64.
Carli F, Zavorsky GS. Optimizing functional exercise capacity in the elderly
surgical population. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2005;8(1):23-32.
Chow WB, Rosenthal RA, Merkow RP, Ko CY, Esnaola NF. American College of
Surgeons National Surgical Quality Improvement Program; American
Geriatrics Society. Optimal preoperative assessment of the geriatric surgical
patient: a best practices guideline from the American College of Surgeons
National Surgical Quality Improvement Program and the American
Geriatrics Society. J Am Coll Surg. 2012;215(4):453-66.
Colburn JL, Mohanty S, Burton JR. Surgical guidelines for perioperative
management of older adults: what geriatricians need to know. J Am Geriatr
Soc. 2017;65(6):1339-46.
Kumar C, Salzman B, Colburn JL. Preoperative assessment in older adults: a
comprehensive approach. Am Fam Physician. 2018;98(4):214-20.
Lawrence VA, Hazuda HP, Cornell JE, Pederson T, Bradshaw PT, Mulrow CD, et
al. Functional independence after major abdominal surgery in the elderly. J
Am Coll Surg. 2004;199(5):762-72.
Makary MA, Segev DL, Pronovost PJ, Syin D, Bandeen-Roche K, Patel P, et al.
Frailty as a predictor of surgical outcomes in older patients. J Am Coll Surg.
2010;210:901e908.
McIsaac DI, Taljaard M, Bryson GL, Beaulé PE, Gagné S, Hamilton G, et al.
Frailty as a predictor of death or new disability after surgery: a prospective
cohort study. Ann Surg. 2020;271(2):283-89.
Mrdutt MM, Papaconstantinou HT, Robinson BD, Bird ET, Isbell CL.
Preoperative frailty and surgical outcomes across diverse surgical
subspecialties in a large health care system. Journal of the American College
of Surgeons. 2019;228(4):482-90.
Reves JG, Barnett SR, McSwain JR, Rooke GA. Geriatric anesthesiology.
Springer International Publishing AG, 2018.
Rosenthal RA, Zenilman ME, Katlic MR. Principles and practice of geriatric
surgery. 3.ed. Springer Nature Switzerland AG, 2020.
Taylor LJ, Nabozny MJ, Steffens NM, Tucholka JL, Brasel KJ, Johnson SK, et al.
A framework to improve surgeon communication in high-stakes surgical
decisions: best case/worst case. JAMA Surg. 2017;152(6):531-8.
Weimann A, Braga M, Carli F, Higashiguchi T, Hübner M, Klek S, et al. Espen
practical guideline: clinical nutrition in surgery. Clin Nutr. 2021;40(7):4745-
61.
8 Atividade física
INTRODUÇÃO
Ao envelhecer, fisiologicamente ocorre redução de
massa muscular. É estimado que, a partir da quinta década
de vida, ocorra perda de 1-2% de massa muscular por ano.
Fibras musculares de contração rápida têm diminuição de
quantidade e volume; além disso, com o envelhecimento
ocorre aumento de gordura corporal e redução de massa
óssea. Essas alterações, associadas à inatividade física,
contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia, a qual
aumenta o risco do indivíduo desenvolver uma das
síndromes geriátricas mais temidas, a fragilidade.
Atualmente, é esperado que até 2060 o número de
indivíduos com mais de 65 anos ultrapassará os 98 milhões.
Assim, para que essa população possa continuar
contribuindo para sociedade, precisamos de medidas para
incentivar o envelhecimento ativo, e uma das principais
delas é a promoção da prática de atividade física. Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), se a população
mundial fosse fisicamente mais ativa, cerca de 4 milhões de
mortes por ano poderiam ser evitadas.
BENEFÍCIOS
Os benefícios da atividade física estão descritos no
Quadro 1.
Não é de hoje que os profissionais e leigos sabem que
atividade física reduz o risco de doenças cardíacas,
auxiliando no controle de morbidades como diabetes tipo 2
e hipertensão arterial sistêmica. Em 2008, Peterson et al.
mostraram que a aptidão aeróbica é preditor de morbidade
e mortalidade associadas a doenças cardiovasculares. Com
os anos de estudos, ser fisicamente ativo mostrou benefício
não só na redução da mortalidade de doenças relacionadas
ao coração, mas também como um forte aliado para
melhorar a saúde mental, auxiliando no controle de
sintomas de ansiedade, depressão e distúrbios do sono.
Prevenção de quedas.
Equilíbrio e flexibilidade
CONTRAINDICAÇÕES
Ao contrário do que muitos pensam, as contraindicações
cardiovasculares absolutas para prescrição de atividade
física para idosos não são muitas, conforme apresentado no
Quadro 2.
Angina instável.
Taquicardia ventricular.
Miocardite.
RECOMENDAÇÕES
Para prescrever atividade física para indivíduos acima
de 60 anos, utilizamos as orientações da Organização
Mundial da Saúde (OMS), publicadas no novo Guideline em
2020.
Recomenda-se que idosos realizem ao menos 150-300
minutos por semana de atividade física aeróbica de
intensidade moderada ou 75-150 minutos por semana de
atividade física aeróbica de intensidade vigorosa ou uma
combinação dessas atividades ao longo da semana,
podendo otimizar essas orientações para mais de 300
minutos semanais de atividade aeróbica moderada ou fazer
mais de 150 minutos por semana de atividade aeróbica
vigorosa.
FIGURA 1 Fluxograma adaptado para prescrição de exercícios físicos, segundo
o Colégio Americano de Medicina do Esporte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o envelhecimento da população mundial, medidas
para garantir a funcionalidade e a qualidade de vida desses
indivíduos são necessárias. A melhor maneira de atingir
esse objetivo é manter-se ativo.
Vários são os benefícios da atividade física regular, como
controle de dor, sintomas de ansiedade, depressão e
distúrbios do sono; redução de quedas, fraturas, risco de
declínio cognitivo e de doenças oncológicas; além de
diminuir a mortalidade por todas as causas.
Programas de incentivo à atividade física e de redução
do comportamento sedentário são necessários, assim como
seu estímulo por intermédio dos profissionais de saúde.
BIBLIOGRAFIA
American College of Sports Medicine. ACSM’s guidelines for exercise testing
and prescription. 10th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2018.
Arraix GA, Wigle DT, Mao Y. Risk assessment of physical activity and physical
fitness in the Canada Health Survey Follow Up Study. J Clin Epidemiol.
1992;45(4):419-28.
Benedetti TRB, Antunes PC, Rodriguez-Añez CR, Mazo GZ, Petroski ÉL.
Reprodutibilidade e validade do Questionário Internacional de Atividade
Física (IPAQ) em homens idosos. Rev Bras Med Esporte. 2007;1:11-6.
Curry SJ, Krist AH, Owens DK, Barry MJ, Caughey AB, Davidson KW, et al.
Screening for cardiovascular disease risk with electrocardiography. JAMA.
2018;319(22):2308.
Eckstrom E, Neukam S, Kalin L, Wright J. Physical activity and healthy aging.
Clin Geriatr Med. 2020;36(4):671-83.
Hirase T, Kataoka H, Inokuchi S, Nakano J, Sakamoto J, Okita M, et al. Effects
of exercise training combined with increased physical activity to prevent
chronic pain in community-dwelling older adults: a preliminary randomized
controlled trial. Pain Res Manag. 2018;2132039.
Huang Z-G, Feng YH, Li Y-H, Lv C-S. Systematic review and meta-analysis: Tai
Chi for preventing falls in older adults. BMJ Open. 2017;7:e013661.
McArdle A, Vasilaki, Jackson M. Exercise and skeletal muscle ageing: cellular
and molecular mechanisms. Ageing Res Rev. 2002;1(1):79-93.
Projeto Vivifrail. Available: https://vivifrail.com/ (acesso 29 nov 2022).
Naugle KM, Ohlman T, Naugle KE, Riley ZA, Keith NR. Physical activity
behavior predicts endogenous pain modulation in older adults. Pain.
2017;158(3):383-90.
Peterson PN, Magid DJ, Ross C, Ho PM, Rumsfeld JS, Lauer MS, et al.
Association of exercise capacity on treadmill with future cardiac events in
patients referred for exercise testing. Arch Intern Med. 2008;168(2):174-9.
Raman G, Zhang Y, Minichiello VJ, D’Ambrosio CM, Wang C. Tai chi improves
sleep quality in healthy adults and patients with chronic conditions: a
systematic review and meta-analysis. J Sleep Disord Ther. 2013;2(6):141.
Ren X, Li Y, Yang X, Li J, Li H, Yuan Z, et al. The effects of tai chi training in
patients with heart failure: a systematic review and meta-analysis. Front
Physiol. 2017;8:989.
Rezende LFM, Lee DH, Louzada MLDC, Song M, Giovannucci E, Eluf-Neto J.
Proportion of cancer cases and deaths attributable to lifestyle risk factors in
Brazil. Cancer Epidemiol. 2019;59:148-57.
Sherrington C, Fairhall N, Kwok W, Wallbank G, Tiedemann A, Michaleff Z, et
al. Evidence on physical activity and falls prevention for people 1 aged 65+
years. Int J Behav Nutr Phys Act. 2020;17(1):144.
Wayne PM, Walsh JN, Taylor-Piliae RE, Wells RE, Papp KV, Donovan NJ, et al.
Effect of tai chi on cognitive performance in older adults: systematic review
and meta-analysis. J Am Geriatr Soc. 2014;62:25-39.
WHO Guidelines on Physical Activity and Sedentary Behaviour: at a glance.
Genebra: OMS; 2020.
World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research.
Continuous Update Project Expert Report 2018. Physical activity and the
risk of cancer. 2018. Available in: http://www.dietandcancerreport.org/.
SEÇÃO II
Fernando Nobre
Décio Mion Júnior
INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o maior fator de
risco para doença vascular aterosclerótica e para quase
todas as outras manifestações de doenças cardiovasculares
(DCV), aumentando de modo contínuo e gradual a chance
de mortalidade, doença arterial coronariana (DAC),
insuficiência cardíaca (IC), hipertrofia ventricular esquerda
(HVE), fibrilação atrial (FA), acidente vascular encefálico
(AVE), doença arterial periférica (DAP) e doença renal
crônica (DRC), como expresso na Figura 1.
FIGURA 1 Risco relativo para as principais e possíveis manifestações da
hipertensão arterial sistêmica.
AVE: acidente vascular encefálico; DAC: doença arterial coronariana; DAP:
doença arterial periférica; DRC: doença renal crônica; IAM: infarto agudo do
miocárdio; IC: insuficiência cardíaca.
CONCEITOS
A classificação de hipertensão arterial em pacientes
idosos e muito idosos deve obedecer aos mesmos critérios
adotados na população adulta em geral (Tabela 1).
EPIDEMIOLOGIA
As populações idosas estão em franco crescimento em
todo o mundo, e o Brasil não é uma exceção. A Figura 2
exibe a distribuição da população brasileira por faixa etária
em 2016 e a projeção entre 2000 e 2035 em todo o planeta.
Assim, há uma conjunção de dois fatores comuns na
população: hipertensão arterial e indivíduos idosos,
tornando a HAS um tema recorrente entre os idosos.
FISIOPATOLOGIA
A manutenção da pressão arterial (PA) é resultado do
débito cardíaco (DC) e da resistência vascular periférica
(RVP).
Normal ≤ 120 ≤ 80
DIAGNÓSTICO
Com o advento da monitorização ambulatorial da
pressão arterial (MAPA), permitindo o registro da PA fora
do consultório, foi possível definir quatro padrões de
comportamento dessa variável (Figura 5):
Hipertensão.
Normotensão.
Hipertensão do avental branco (HAB).
Hipertensão mascarada (HM).
FIGURA 3 Fisiopatologia da elevação da pressão arterial sistólica no paciente
idoso, concorrendo para o aparecimento da hipertensão sistólica isolada comum
nesses indivíduos.
Hipertensão mascarada
Medida casual
MAPA
TRATAMENTO
O tratamento da HAS tem por objetivo reduzir a
morbidade e a mortalidade impostas pela doença em
qualquer idade, incluindo idosos e muito idosos.
Qualquer medicamento que reduza a PA para valores
desejáveis às condições daquele paciente (Quadro 3) pode
ser empregado para o tratamento, considerando,
entretanto, que em certos casos haverá benefícios especiais
com algumas classes específicas de medicamentos, como
antagonistas de canais de cálcio e diuréticos tiazídicos em
baixas doses em idosos, fármacos que bloqueiam o sistema
renina-angiotensina em pacientes com diabetes ou
insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida. A
maioria das diretrizes faz referências a essas indicações
preferenciais. Para o início do tratamento medicamentoso e
para a instituição de medidas não medicamentosas ou de
mudanças de estilo de vida, devem ser seguidas as
orientações expressas no Quadro 4.
Sem prejuízo das orientações para mudanças de estilo
de vida que devem ser fornecidas e mantidas em todos os
níveis de alterações da PA, o tratamento medicamentoso
deverá ser instituído segundo as orientações expressas na
Figura 10.
DCV: doença cardiovascular; DM: diabetes mellitus; DRC: doença renal crônica;
HAS: hipertensão arterial sistêmica; LOA: lesão em órgão-alvo; PAD: pressão
arterial diastólica; PAS: pressão arterial sistólica.
1. Idosos com PAS ≥ 160 mmHg: há sólidas evidências para reduzir a PAS
entre 140-150 mmHg.
2. Em idosos (porém < 80 anos) com bom estado de saúde, pode ser
considerada PAS < 140 mmHg, se bem tolerada.
3. Em muito idosos saudáveis (> 80 anos) com PAS inicial ≥ 160 mmHg, é
recomendado nível entre 140-150 mmHg.
4. Em pacientes idosos frágeis, é recomendado monitorar o tratamento de
conformidade com as comorbidades presentes e os efeitos adversos do
tratamento anti-hipertensivo.
5. A tolerabilidade ao tratamento deverá ser sempre bem avaliada.
6. Todos os medicamentos anti-hipertensivos podem ser utilizados em idosos,
apesar de diuréticos e antagonistas dos canais de cálcio serem preferíveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
HAS é uma doença comum na população em geral e em
particular nos idosos, tendo grande impacto na saúde
cardiovascular.
Os pacientes idosos estão aumentando em todo o
mundo, inclusive no Brasil. Assim, a associação das duas
condições torna-se relevante, e é preciso estar atento para
o diagnóstico das alterações de PA nessa população
especial de pessoas.
Esse grupo de indivíduos tem fisiopatologia peculiar,
com elevação da PA fundamentalmente devida à elevação
da RVP, apresentando-se frequentemente com PAS elevada
e manutenção, ou mesmo redução, da PAD, com
consequente aumento da pressão de pulso, um importante
marcador de risco cardiovascular.
O diagnóstico deve ser cuidadosamente conduzido,
sobretudo para que seja definido a quais grupos de
comportamento esses pacientes pertencem: normotensão,
hipertensão do avental branco, hipertensão mascarada e
hipertensão arterial sistêmica.
O tratamento deve seguir as orientações das principais
diretrizes, em busca de metas de controle que se
correlacionem com o melhor prognóstico, devendo ser
aplicado de forma racional e cuidadosa tanto aos idosos e
mesmo nos muito idosos com idades ≥ 80 anos.
Como de resto em toda medicina, deve-se individualizar
as condutas e buscar o tratamento do idoso com HAS e não
a hipertensão arterial sistêmica do idoso.
BIBLIOGRAFIA
Banegas JR, Ruilope LM, de la Sierra A, Vinyoles E, Gorostidi M, de la Cruz JJ,
et al. Relationship between clinic and ambulatory blood-pressure
measurements and mortality. N Engl J Med. 2018;378(16):1509-20.
Beckett NS, Peters R, Fletcher AE, Staessen JA, Liu L, Dumitrascu D, et al., for
the Hyvet Study Group. Treatment of hypertension in patients 80 years of
age or older. N Engl J Med. 2008;358:1887-98.
Bobrie G, Clerson P, Ménard J, Postel-Vinay N, Chatellier G, Plouin P-F. Masked
hypertension: a systematic review. J Hypertens. 2008;26(9):1715-25.
Briasoulis A, Androulakis E, Palla M, Papageorgiou N, Tousoulis D. White-coat
hypertension and cardiovascular events: a meta-analysis. J Hypertens.
2016;34(4):593-99.
Denardo SJ, Gong Y, Nichols WW, Messerli FH, Bavry AA, Cooper-Dehoff RM, et
al. Blood pressure and outcomes in very old hypertensive coronary artery
disease patients: an Invest substudy. Am J Med. 2010;123(8):719-26.
Fagard RH, Cornelissen VA. Incidence of cardiovascular events in white-coat,
masked and sustained hypertension versus true normotension: a meta-
analysis. J Hypertens. 2007;25(11):2193-8.
Franklin SS, Khan SA, Wong ND, Larson MG, Levy D. Is pulse pressure useful
in predicting risk for coronary heart disease? The Framingham Heart Study.
Circulation. 1999;100(4):354-60.
Grassi G, Seravalle G, Trevano FQ, Dell’oro R, Bolla G, Cuspidi C, et al.
Neurogenic abnormalities in masked hypertension. Hypertension.
2007;50(3):537-42.
Huang Y, Huang W, Mai W, Cai X, An D, Liu Z, et al. White-coat hypertension is
a risk factor for cardiovascular diseases and total mortality. J Hypertens.
2017;35(4):677-88.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Instituto Pesquisas Aplicadas – Projeção 2000-2035.
Laurent S, Cockcroft J, Van Bortel L, Boutouyrie P, Giannattasio C, Hayoz D, et
al. Expert consensus document on arterial stiffness: methodological issues
and clinical applications. Eur Heart J. 2006;27(21):2588-605.
Lewington S, Clarke R, Qizilbash N, Peto R, Collins R; Prospective Studies
Collaboration. Age-specific relevance of usual blood pressure to vascular
mortality: a meta-analysis of individual data for one million adults in 61
prospective studies. Lancet. 2002;360(9349):1903-13.
Lurbe E, Redon J, Kesani A, Pascual JM, Tacons J, Alvarez V, et al. Increase in
nocturnal blood pressure and progression to microalbuminuria in type 1
diabetes. N Engl J Med. 2002;347(11):797-805.
Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL, Rodrigues CIS, Brandão AA, Neves
MFT, et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol.
2016;107(3 Supl 3):1-83.
Mancia G, Bombelli M, Cuspidi C, Facchetti R, Grassi G. Cardiovascular risk
associated with white-coat hypertension: pro side of the argument.
Hypertension. 2017;70(4):668-75.
Nobre F, Mion D. Monitorização ambulatorial da pressão arterial: cinco
décadas de mais luzes e menos sombras. Arq Bras Cardiol. 2016;106(6):528-
37.
Nobre F, Mion Júnior D, Gomes MAM, Barbosa ECD, Rodrigues CIS, Neves
MFT, et al. 6ª Diretriz de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial e
4ª Diretriz de Monitorização Residencial da Pressão Arterial. Arq Bras
Cardiol. 2018;110(5 Supl 1):1-29.
Sprint Research Group, Wright JT Jr, Williamson JD, Whelton PK, Snyder JK,
Sink KM, et al. A randomized trial of intensive versus standard blood-
pressure control. The Sprint Research Group. N Engl J Med.
2015;373(22):2103-16.
Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, Casey DE Jr, Collins KJ, Dennison
Himmelfarb C, et al. 2017
ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA Guideline for
the prevention, detection, evaluation, and management of high blood
pressure in adults. J Am Coll Cardiol. 2018;71(19):e127-e248.
Wijkman M, Länne T, Engvall J, Lindström T, Östgren CJ, Nystrom FH. Masked
nocturnal hypertension: a novel marker of risk in type 2 diabetes.
Diabetologia. 2009;52(7): 1258-64.
Williams B, Mancia G, Spiering W, Agabiti Rosei E, Azizi M, Burnier M, et al.
2018 ESC/ESH guidelines for the management of arterial hypertension. The
Task Force for the management of arterial hypertension of the European
Society of Cardiology and the European Society of Hypertension. J
Hypertens. 2018;36(10):1953-2041.
10 Diabetes mellitus
Marcelo Valente
INTRODUÇÃO
O diabetes é uma doença de elevada prevalência na
população idosa. Estima-se que nos EUA aproximadamente
50% das pessoas com idade maior ou igual a 65 anos tenha
pré-diabetes e 25% da população idosa tenha diabetes. No
Brasil, a prevalência de diabetes entre adultos na faixa
etária de 20 a 79 anos era de 10,5% em 2021.
Considerando apenas idosos com idade maior ou igual a 65
anos, a prevalência atingia 19% em 2019.
Idosos com diabetes têm elevadas taxas de perda de
capacidade funcional, multimorbidades e mortes
prematuras quando comparados a idosos sem diabetes.
Além disso, apresentam maior risco de adquirir síndromes
geriátricas, como demência, fragilidade, queda e
polifarmácia, que terão impacto direto no cuidado com o
diabetes.
1. Independente 7-7,5%
(independente, sem prejuízo nas AVD e sem auxílio
de cuidadores)
2. Dependente 7-8%
(indivíduos com prejuízo nas AVD, auxílio de
cuidadores e risco de institucionalização)
QUADRO 1 Metas de tratamento − International Diabetes Federation (IDF)
Biguanidas
Sulfonilureias
Glinidas
Glitazonas
Inibidores da alfaglicosidase
Inibidores da DPP-4
Insulinas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento de idosos com diabetes deve obedecer aos
mesmos princípios aplicados a indivíduos mais jovens.
Não há evidências de que o controle glicêmico rigoroso
em idosos evite eventos cardiovasculares.
A terapia intensificada em idosos com diabetes está
associada a maior risco de hipoglicemia.
A escolha do melhor esquema de tratamento
medicamentoso para o diabetes no idoso deve ser baseado
na análise dos seguintes fatores: duração do diabetes,
presença de complicações macro e microvasculares,
presença de doença cardiovascular, presença de demência
ou fragilidade, capacidade funcional, risco de hipoglicemia,
suporte social e financeiro, expectativa de vida e
preferências do paciente.
Quando a insulinoterapia é necessária em pacientes
idosos, as insulinas basais mais modernas devem constituir
a primeira opção, em virtude da menor incidência de
hipoglicemias.
BIBLIOGRAFIA
Abdelhafiz AH, Rodriguez-Mañas L, Morley JE, Sinclair AJ. Hypoglycemia in
older people: a less well recognized risk fator for frailty. Aging Dis.
2015;6(2):156-67.
American Diabetes Association (ADA) standards of medical care in diabetes.
Diabetes Care. 2019;42(Suppl 1):S139-S147.
Bellary S, Kyrou I, Brown JE, Bailey CJ. Type 2 diabetes mellitus in older adults:
clinical considerations and management. Nat Rev Endocrinol.
2021;17(9):534-48.
Centers for Disease Control and Prevention (CDC). National Diabetes Statistics
Report 2022. Available: https://www.cdc.gov/diabetes/data/statistics-
report/diagnosed-undiagnosed-diabetes.html (acesso 30 de nov 2022).
Chia CW, Egan JM, Ferrucci L. Age-related changes in glucose metabolism,
hyperglycemia, and cardiovascular risk. Circ Res. 2018;14:123(7):886-904.
Dunning T, Sinclair A, Colagiuri S. New IDF Guideline for managing type 2
diabetes in older people. Diabetes Res Clin Pract. 2014;103(3):538-40.
Lyra R, Albuquerque L, Cavalcanti S, Tambascia M, Valente F, Bertoluci M.
Tratamento farmacológico da hiperglicemia no DM2. Diretriz Oficial da
Sociedade Brasileira de Diabetes (2022).
Meneilly GS. Pathophysiology of diabetes in the elderly. In: Sinclair AJ Diabetes
in Olde Age 2009.
Pititto B, Dias M, Moura F, Lamounier R, Calliari S, Bertoluci M. Metas no
tratamento do diabetes. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes
(2022).
Scheen AJ. Diabetes mellitus in the elderly: insulin resistance and/or impaired
insulin secretion? Diabetes Metab. 2005;31:5S27-5S34.
The IDF Diabetes Atlas 9th edition. 2019. Available:
https://diabetesatlas.org/atlas/ninth-edition (acesso 30 nov 2022).
The IDF Diabetes Atlas 10th edition. 2021. Available:
https://diabetesatlas.org/idfawp/resource-
files/2021/07/IDF_Atlas_10th_Edition_2021.pdf (acesso 30 nov 2022).
Insulinoterapia no idoso 11
INTRODUÇÃO
O aumento da expectativa de vida populacional está
atrelado a maior prevalência de diabetes mellitus (DM) no
idoso, sobretudo o DM tipo 2 (DM2). No entanto, devido ao
envelhecimento dos pacientes, o número de portadores de
DM tipo 1 (DM1) e outros tipos de DM também tem se
elevado. Diante desse cenário, torna-se imprescindível que
o geriatra seja capaz de manejar o tratamento do idoso em
insulinoterapia, seja ele DM1, DM2 ou pancreatectomizado,
e reconhecer as peculiaridades que existem por trás de
cada paciente, independentemente de sua faixa etária.
Os consensos elaborados para orientar o tratamento de
pacientes idosos portadores de DM geralmente dividem
esse grupo em três grandes categorias:
TIPOS DE INSULINA
Desde o desenvolvimento da primeira insulina derivada
de extrato pancreático de origem canina, em 1921, o
tratamento do DM vem sofrendo evoluções constantes a
partir do desenvolvimento da tecnologia de DNA
recombinante. As insulinas são diferenciadas de acordo
com seu perfil de ação farmacocinética em: ultrarrápidas
(UR), rápidas, intermediárias, longas, ultralongas e pré-
misturas (Quadro 1 e Figura 1).
INSULINIZANDO O IDOSO
Não existe uma orientação específica quanto à maneira
adequada de iniciar a insulinização do paciente idoso. De
forma geral, conforme a última diretriz da Associação
Americana de Diabetes (ADA), deve-se iniciar a insulina
para pacientes que apresentem glicemia de jejum ≥ 300
mg/dL, HbA1c > 10% ou diante de sintomas
hiperglicêmicos (poliúria, polidipsia, polifagia). No entanto,
pacientes idosos geralmente relatam queixas inespecíficas
diante de tal descontrole, como fadiga e perda ponderal, o
que pode passar despercebido a um olhar menos atento e
cuidadoso. Conforme sugestão da Diretriz Luso-Americana
para tratamento do DM2, também se deve considerar o
início de insulina para aqueles que não atinjam o controle
glicêmico desejado apesar de estarem em uso otimizado de
até quatro classes de antidiabéticos orais.
A ADA sugere que, para pacientes adultos que
necessitem de terapia injetável com insulina, a dose inicial
de insulina basal prescrita seja de 10 unidades (UI) ou 0,1-
0,2 UI/kg/dia. Em caso de utilização da NPH, é necessário
que seja aplicada antes de dormir (bed time). Em média a
cada 3 dias, realiza-se uma titulação da dose de acordo com
a glicemia de jejum alvo. Se houver necessidade de
aumento progressivo da dose de insulina basal, pode-se
dividi-la em 2 vezes ao dia (2/3 pela manhã e 1/3 bed time).
Caso o paciente mantenha a HbA1c fora do alvo desejado
apesar do uso de > 0,5 UI/kg/dia de insulina basal ou
apresente importante descontrole glicêmico pós-prandial,
será necessário adicionar uma insulina prandial. Tal dose
poderá ser fixa (4 UI) ou calculada a partir da insulina
basal (10% da dose) antes da(s) refeição(ões) em que
ocorre maior excursão glicêmica. A dose poderá ser
aumentada ou reduzida em 10-20% de acordo com a
necessidade.
APLICAÇÃO DA INSULINA
Agulhas de 4 mm de comprimento para uso com caneta
injetora e de 6 mm para as seringas devem ser as escolhas
de primeira linha, visto que são mais seguras, confortáveis
e menos dolorosas. As agulhas de 4 mm devem ser
inseridas de forma perpendicular, sem necessidade de
prega subcutânea, devido ao baixo risco de administração
intramuscular. Já as de 6 mm necessitam da prega, a qual
deve ser realizada delicadamente com os dedos polegar e
indicador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o envelhecimento populacional, o número de
pacientes idosos portadores de DM em insulinoterapia vem
aumentando substancialmente. O surgimento de insulinas
análogas mais fisiológicas e de dispositivos que
possibilitam a monitorização contínua da glicose intersticial
tem impactado de forma positiva o tratamento do DM como
um todo, sobretudo no idoso. Levando em consideração a
heterogeneidade desse grupo, os alvos glicêmicos devem
ser criteriosamente definidos para que os pacientes,
principalmente os mais frágeis e/ou portadores de outras
síndromes geriátricas, não sejam submetidos a um controle
glicêmico rigoroso e desnecessário.
INTRODUÇÃO
Denominam-se dislipidemias alterações isoladas ou
combinadas do metabolismo das proteínas transportadoras
de lipídios, que são insolúveis no plasma, e dos
triglicerídeos. As principais lipoproteínas são a de alta
densidade (HDL colesterol ou HDL-c) e a de baixa
densidade (LDL colesterol ou LDL-c).
Tais alterações são fatores de risco para a doença
aterosclerótica: 70% das manifestações precoces de doença
coronariana associam-se à dislipidemia. Como o risco
absoluto de doença aterosclerótica aumenta com a idade e
diante das evidências do benefício do tratamento das
dislipidemias em idosos, trata-se de um tema importante
para a prática geriátrica e cardiológica.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Segundo a diretriz brasileira, as dislipidemias
classificam-se quanto à etiologia ou quanto à dosagem
laboratorial. Em relação à etiologia, podem ser primárias,
quando o distúrbio é de origem genética, ou secundárias,
decorrentes de estilo de vida inadequado, de certas
patologias ou de medicamentos. Na população idosa, a
grande maioria dos casos é de etiologia secundária. Quanto
à dosagem laboratorial, classificam-se da seguinte maneira:
TRATAMENTO
Medicamentos hipolipemiantes
Estatinas
São inibidores competitivos da 3-hidroxi-3metilglutaril
coenzima A (HMG-CoA) redutase, enzima que atua no
controle da taxa da síntese do colesterol. Essa inibição leva
ao aumento da expressão do receptor hepático de LDL e ao
aumento da depuração dessa partícula da circulação.
É a classe de medicamentos hipolipemiantes mais
estudada, demonstrando 25% de redução de risco relativo
de desfechos cardiovasculares, com baixo risco de eventos
adversos (musculoesqueléticos < 0,1%; lesão hepática
grave: 0,001%; diabetes mellitus: 0,2%/ano).
A Figura 1 ilustra as estatinas disponíveis e suas
respectivas potências.
Ezetimiba
Fármaco que inibe a absorção de colesterol na borda em
escova do intestino delgado, levando à diminuição dos
níveis de colesterol hepático e ao estímulo à síntese do
receptor de LDL, com consequente redução do nível
plasmático de LDL-c de 10 a 25%. A dose empregada é de
10 mg/dia.
Fibratos
Estimulam os receptores nucleares denominados
receptores ativados por proliferadores peroxissomais alfa
(PPAR-alfa, peroxisome proliferator-activated receptor
alpha), o que leva ao aumento da produção e da ação da
LPL (lipase lipoproteica), responsável pela hidrólise
intravascular dos triglicerídeos, reduzindo assim suas taxas
séricas de 30 a 60%.
Os efeitos colaterais são infrequentes: distúrbios
gastrointestinais, mialgia, astenia, litíase biliar, diminuição
de libido, erupção cutânea, prurido, cefaleia e perturbação
do sono. Casos de rabdomiólise têm sido descritos com a
associação de estatinas com genfibrozila.
Prevenção primária
O tratamento das dislipidemias é uma estratégia de
prevenção primária de eventos clínicos decorrentes de
doença aterosclerótica. Nesse contexto se encaixa o
tratamento com estatinas para redução do LDL-c, dada a
estreita e comprovada relação entre seus valores e o risco
de eventos cardiovasculares e a mortalidade decorrente
deles.
Primeiramente, recomenda-se para todos os pacientes
sob risco de desenvolver doenças cardiovasculares
mudanças de estilo de vida: alimentação saudável com
pouca gordura saturada, exercício físico e perda de peso.
Para avaliar a indicação de iniciar o tratamento com
estatinas, é recomendada a avaliação do risco
cardiovascular em 10 anos utilizando as calculadoras de
risco. As diversas diretrizes oferecem calculadoras
diferentes, cada uma englobando uma faixa etária um
pouco diferente e categorizando os pacientes em diferentes
níveis de risco. Entre os diversos algoritmos existentes, a
diretriz brasileira recomenda o Escore de Risco Global
(ERG), que estima o risco de infarto do miocárdio, acidente
vascular encefálico, insuficiência cardíaca, fatais ou não
fatais, ou insuficiência vascular periférica em 10 anos.*
Entretanto, indivíduos com condições de alto risco não
necessitam dessa avaliação para iniciar o tratamento com
estatinas, como portadores de aterosclerose na forma
subclínica (ultrassonografia de carótidas com presença de
placa, índice tornozelo-braquial < 0,9, escore de cálcio
arterial coronariano > 100, ou presença de placas
ateroscleróticas na angiotomografia de coronárias);
aneurisma de aorta abdominal; doença renal crônica com
taxa de filtração glomerular < 60 mL/minuto e
concentrações de LDL-c ≥ 190 mg/dL.
São também considerados de alto risco pacientes com
diabetes mellitus tipos 1 ou 2, com LDL-c entre 70 e 189
mg/dL e doença aterosclerótica subclínica ou presença de
estratificadores de risco (idade ≥ 48 anos no homem e ≥ 54
anos na mulher, diagnóstico há mais de 10 anos, história
familiar de parente de primeiro grau com doença
cardiovascular prematura, tabagismo, hipertensão arterial
sistêmica, síndrome metabólica, albuminúria > 30 mg/g de
creatinina e/ou retinopatia, taxa de filtração glomerular <
60 mL/minuto).
Para aqueles que são submetidos ao cálculo de risco, as
seguintes categorias são possíveis, de acordo com o ERG:
Prevenção secundária
A prevenção secundária tem como objetivo evitar novos
eventos cardiovasculares naqueles pacientes com doença
cardiovascular estabelecida, portanto considerados com
risco cardiovascular alto ou muito alto. Esses pacientes
apresentam alto risco de desenvolver eventos vasculares
ateroscleróticos futuros.
Existe ainda um subgrupo classificado como de muito
alto risco, que são aqueles com infarto agudo do miocárdio
(IAM) no último ano, hipercolesterolemia familiar, diabetes
com lesão em órgão-alvo, doença renal crônica em estágio
avançado, doença aterosclerótica múltipla ou obstrução
arterial acima de 50% em qualquer território.
É consenso das diversas diretrizes que esses pacientes
se beneficiam do tratamento com estatina de alta potência,
pois reduzem o risco de novos eventos em cerca de 20%,
com um número de pacientes necessários para tratar
(NNT) de 33 a 100 a cada 10 anos de tratamento para cada
redução de 38,7 mg/dL de LDL-c. São consideradas
estatinas de alta potência: atorvastatina 40 a 80 mg ou
rosuvastatina 20 a 40 mg. É esperado que elas reduzam o
LDL-c em 50% ou mais.
Diversos ensaios clínicos têm mostrado que a magnitude
de redução do risco cardiovascular é proporcional ao grau
de redução do LDL-c. Entretanto, ainda há divergências no
que tange às metas de LDL-c a serem atingidas. Apesar de
alguns estudos terem mostrado segurança de manter níveis
muito baixos de LDL-c, como 30 mg/dL, ainda não se sabe
ao certo a partir de que valor se perde o benefício adicional
da terapia.
Na prevenção secundária, a terapia inicial deve
consistir, portanto, em estatina de alta potência,
independentemente do valor de base do LDL-c, visando à
redução de pelo menos 50%. Após o início da terapia, esses
pacientes devem ser reavaliados com dosagem do perfil
lipídico em 4 a 12 semanas inicialmente; em seguida, a
cada 3 a 12 meses. Se essa meta não for atingida ou o
paciente mantiver LDL-c ≥ 70 mg/dL, uma vez confirmada
a adequada adesão medicamentosa, parte-se para a terapia
dupla ou tripla.
A segunda droga de escolha, em geral, será a ezetimiba,
devido ao menor custo e maior facilidade de uso. Se ainda
assim o paciente mantiver LDL-c ≥ 70 mg/dL, deve-se
considerar um inibidor da PCSK-9, que pode ser adicionado
à terapia dupla ou substituir a ezetimiba. Em pacientes de
muito alto risco, pode-se considerar o inibidor da PCSK-9
como segunda droga. Naqueles com efeitos colaterais
importantes com a estatina, a primeira estratégia é trocar
por outra estatina ou reduzir a dose.
O estudo Improve-it, que comparou sinvastatina e
sinvastatina mais ezetimiba em pacientes com síndrome
coronariana aguda, mostrou que a terapia dupla levou à
maior redução do LDL-c e do desfecho primário composto
(mortalidade cardiovascular, infarto não fatal, angina
instável com necessidade de hospitalização, nova
revascularização miocárdica e acidente vascular cerebral –
AVC não fatal) em um seguimento de 6 anos, com NNT de
50 para prevenir evento cardiovascular maior em 7 anos.
O estudo Fourier, por sua vez, comparou pacientes com
doença cardiovascular estabelecida no uso de estatina de
potência moderada a alta associada a inibidor da PCSK-9
(evolocumabe) ou placebo. Após acompanhamento de 2,2
anos, a adição do evolocumabe reduziu o risco do desfecho
primário combinado: mortalidade cardiovascular, IAM,
AVC, angina instável e revascularização miocárdica.
Entretanto, analisados separadamente, não houve redução
de mortalidade cardiovascular ou por todas as causas. O
Fourier foi um estudo de grande importância também por
mostrar segurança em atingir níveis de LDL-c tão baixos
quanto 30 mg/dL.
Apesar de a maioria dos estudos ter incluído uma
parcela menor de idosos com 75 anos ou mais, os
benefícios das estatinas na prevenção secundária são
evidentes em análises de subgrupo. Ademais, essa é a
população que apresenta maior risco absoluto de eventos
cardiovasculares, portanto a que tende a apresentar maior
benefício.
Metanálise que visou avaliar os benefícios e a segurança
das estatinas em pacientes de diferentes faixas etárias
demonstrou que a redução de risco relativo de eventos
cardiovasculares era semelhante nos pacientes jovens e
naqueles com mais de 75 anos no cenário da prevenção
secundária. Essa metanálise também corroborou a
segurança com o uso das estatinas, na medida em que não
houve aumento na incidência de câncer e na mortalidade
por causas não vasculares.
No cenário da prevenção secundária, os benefícios das
estatinas são mais consistentes e podem ser observados em
um intervalo de tempo mais curto. Ainda assim, em se
tratando dos grandes idosos, o tratamento deve ser
individualizado, com base nos dados da avaliação geriátrica
ampla e no grau de fragilidade. Indivíduos com doenças
crônicas avançadas e expectativa de vida limitada não
viverão tempo suficiente para se beneficiar da ação das
estatinas, portanto seu emprego constitui medida fútil.
Ademais, deve-se lembrar que os idosos são mais
suscetíveis aos efeitos colaterais dos medicamentos e às
interações medicamentosas devido à polifarmácia.
Portanto, idealmente, a máxima start low, go slow, but go
deve ser seguida, ou seja, iniciar estatina em baixa dose,
aumentando lentamente conforme a tolerância e tentando
chegar à dose-alvo. Por outro lado, não subtratar pacientes
idosos apenas em função da idade.
*
A calculadora pode ser obtida no site do Departamento de Aterosclerose da
Sociedade Brasileira de Cardiologia: departamentos.cardiol.br. (Acesso jan
2023.)
BIBLIOGRAFIA
Arsenault BJ, Perrot N, Puri R. Therapeutic agents targeting cardiometabolic
risk for preventing and treating atherosclerotic cardiovascular diseases. Clin
Pharmacol Ther. 2018;104(2): 257-68.
Cannon CP, Blazing MA, Giugliano RP, McCagg A, White JA, Theroux P, et al.
Ezetimibe added to statin therapy after acute coronary syndromes. N Engl J
Med. 2015;372(25):2387-97.
Cholesterol Treatment Trialists Collaboration. Efficacy and safety of statin
therapy in older people: a meta-analysis of individual participant data from
28 randomised controlled trials. Lancet. 2019;393(10170):407-15.
Everett BM, Mora S, Glynn RJ, MacFadyen J, Ridker PM. Safety profile of
subjects treated to very low low-density lipoprotein cholesterol levels (< 30
mg/dL) with rosuvastatin 20 mg daily (from Jupiter). Am J Cardiol.
2014;114(11):1682-9.
Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A, et
al. Atualização da Diretriz brasileira de dislipidemias e prevenção da
aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol. 2017;109(2 Suppl 1):1-76.
Ference BA, Ginsberg HN, Graham I, Ray KK, Packard CJ, Bruckert E, et al.
Low-density lipoproteins cause atherosclerotic cardiovascular disease. 1.
Evidence from genetic, epidemiologic, and clinical studies: a consensus
statement from the European Atherosclerosis Society Consensus Panel. Eur
Heart J. 2017;38(32):2459-72.
Grundy SM, Stone NJ, Bailey AL, Beam C, Birtcher KK, Blumenthal RS, et al.
2018 AHA/ACC/AACVPR/AAPA/ABC/ACPM/
ADA/AGS/APhA/ASPC/NLA/PCNA Guideline on the management of blood
cholesterol: executive summary: a report of the American College of
Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice
Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2019;73(24):3168-209.
Hsia J, MacFadyen JG, Monyak J, Ridker PM. Cardiovascular event reduction
and adverse events among subjects attaining low-density lipoprotein
cholesterol < 50 mg/dL with rosuvastatin. The Jupiter Trial (Justification for
the use of statins in prevention: an intervention trial evaluating
rosuvastatin). J Am Coll Cardiol. 2011;57(16):1666-75.
Jenkins DJ, Kendall CW, Marchie A, Faulkner DA, Wong JM, de Souza R, et al.
Effects of a dietary portfolio of cholesterol-lowering foods vs lovastatin on
serum lipids and C-reactive protein. JAMA. 2003;290(4):502-10.
Koskinas KC, Siontis GCM, Piccolo R, Mavridis D, Räber L, Mach F, et al. Effect
of statins and non-statin LDL-lowering medications on cardiovascular
outcomes in secondary prevention: a meta-analysis of randomized trials. Eur
Heart J. 2018;39(14): 1172-80.
Martin SS, Joshi PH, Michos ED. Lipids in coronary heart disease: from
epidemiology to therapeutics. In: Aronow WS, McClung JA, editors.
Translational research in coronary artery disease. Boston: Academic Press;
2016. p.67-80.
Newman CB, Preiss D, Tobert JA, Jacobson TA, Page RL 2nd, Goldstein LB, et
al. Statin safety and associated adverse events: a scientific statement from
the American Heart Association. Arterioscler Thromb Vasc Biol.
2019;39(2):e38-e81.
Nissen SE, Stroes E, Dent-Acosta RE, Rosenson RS, Lehman SJ, Sattar N, et al.
Efficacy and tolerability of evolocumab vs ezetimibe in patients with muscle-
related statin intolerance: the GAUSS-3 randomized clinical trial. JAMA.
2016;315(15): 1580-90.
O’Donoghue ML, Fazio S, Giugliano RP, Stroes ESG, Kanevsky E, Gouni-
Berthold I, et al. Lipoprotein(a), PCSK9 inhibition, and cardiovascular risk:
insights from the Fourier trial. Circulation. 2019;139(12):1483-92.
Ramos R, Comas-Cufí M, Martí-Lluch R, Balló E, Ponjoan A, Alves-Cabratosa L,
et al. Statins for primary prevention of cardiovascular events and mortality
in old and very old adults with and without type 2 diabetes: retrospective
cohort study. Br Med J. 2018;362:k3359.
Ray KK, Landmesser U, Leiter LA, Kallend D, Dufour R, Karakas M, et al.
Inclisiran in patients at high cardiovascular risk with elevated LDL
cholesterol. N Engl J Med. 2017;376(15):1430-40.
Ridker PM, Danielson E, Fonseca FA, Genest J, Gotto AM Jr, Kastelein JJ, et al.
Rosuvastatin to prevent vascular events in men and women with elevated C-
reactive protein. N Engl J Med. 2008;359(21):2195-207.
Sabatine MS, Giugliano RP, Keech AC, Honarpour N, Wiviott SD, Murphy SA, et
al. Evolocumab and clinical outcomes in patients with cardiovascular
disease. N Engl J Med. 2017;376(18): 1713-22.
Sabatine MS, Wiviott SD, Im K, Murphy SA, Giugliano RP. Efficacy and safety of
further lowering of low-density lipoprotein cholesterol in patients starting
with very low levels: a meta-analysis. JAMA Cardiol. 2018;3(9):823-8.
Soran H, Kwok S, Adam S, Ho JH, Durrington PN. Evidence for more intensive
cholesterol lowering. Curr Opin Lipidol. 2017;28(4):291-9.
13 Doença arterial coronariana em idosos
DEFINIÇÃO
A doença arterial coronariana (DAC), também conhecida
como doença cardíaca isquêmica, é definida pela presença
de um ou mais sintomas, sinais ou complicações
cardiovasculares decorrentes da oferta insuficiente de
sangue e oxigênio ao miocárdio por um mecanismo
obstrutivo arterial. A causa mais comum é a obstrução das
artérias coronarianas epicárdicas devido à aterosclerose.
Há evidências mostrando uma forte ligação entre o
envelhecimento e a doença aterotrombótica, com aumento
significativo do risco de doença cardiovascular em idosos.
Essa associação é de grande importância, visto que a
prevalência populacional de idosos vem crescendo de modo
exponencial, especialmente no Brasil. Além disso, há ainda
uma sub-representatividade dessa população nos ensaios
clínicos, com pouca evidência da segurança e eficácia de
alguns tratamentos nessa faixa etária.
O espectro clínico da DAC varia desde a isquemia
silenciosa em pacientes assintomáticos, condição mais
prevalente em idosos, até manifestações clínicas mais
graves da doença, como a síndrome coronariana aguda
(SCA). O diagnóstico e a abordagem dessas condições
serão descritos em detalhes no decorrer deste capítulo.
EPIDEMIOLOGIA
Doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito
em homens e mulheres idosas. Mais de 80% de todas as
mortes atribuídas a causas cardiovasculares ocorrem em
pessoas com mais de 65 anos. No Brasil, dados do
Ministério da Saúde (DATASUS) mostram que as doenças
cardiovasculares são a principal causa de morte em
qualquer faixa etária, porém com maior prevalência com o
envelhecimento. O registro Nhanes (National Health and
Nutrition Examination Survey) reportou maior prevalência
de DAC em homens (30,6%) comparados com mulheres
(21,7%) octogenários, com dados semelhantes mostrados
também no FHS (Framingham Heart Study).
Aproximadamente metade dos pacientes apresenta um
evento de SCA como a primeira manifestação da doença
aterosclerótica. A idade média do primeiro episódio de SCA
é de 65 anos nos homens e de 70 anos nas mulheres. A
prevalência e a incidência de infarto agudo do miocárdio
(IAM) aumentam dramaticamente com a idade, sendo 7
vezes mais prevalente e 10 vezes mais incidente em idosos
entre 65 e 74 anos, com aumento da incidência ainda maior
naqueles com mais de 80 anos. Um dado que chama a
atenção é que mais de 40% dos infartos são clinicamente
silenciosos em pacientes com 75 anos ou mais,
especialmente nas mulheres, o que retarda o início do
tratamento e aumenta a mortalidade. Além disso, há
predominância de SCA sem supradesnivelamento do
segmento ST nessa faixa etária, diferente do que ocorre em
pacientes mais jovens. É importante destacar também que
pacientes com mais de 85 anos têm lesões vasculares mais
complexas, com maior acometimento triarterial e de tronco
da artéria coronária esquerda, além de maior taxa de
calcificação, tortuosidade e lesões ostiais. Octogenários
representam 20% das hospitalizações por infarto e 30% de
todas as mortes hospitalares por SCA.
A idade é um fator de risco independente para desfechos
adversos na SCA. As principais razões para essa evolução
desfavorável são atraso na chegada ao hospital, maior
dificuldade diagnóstica, menor probabilidade de receber
tratamento intervencionista, menor taxa de uso de
betabloqueador e maior número de comorbidades
associadas. Em estudo de banco de dados nacional, a
utilização de terapias comprovadamente eficazes após SCA
aumentou nos últimos 15 anos tanto nos muito idosos
(idade > 80 anos) quanto nos mais jovens (< 50 anos),
sendo tal aumento associado à melhora da sobrevida pós-
alta nos dois grupos.
Sabe-se que a DAC em idosos está associada a pior
prognóstico, com elevada morbimortalidade e aumento do
risco de perda de funcionalidade, déficit cognitivo e custos
em saúde. O aumento da vulnerabilidade do idoso com DAC
é consequência de vários fatores: doença coronariana mais
extensa e mais grave, diminuição da reserva cardíaca, além
do aumento da prevalência e associação de fatores de risco
cardiovasculares, multimorbidades e doença subclínica.
FISIOPATOLOGIA
O evento inicial da doença aterosclerótica é a lesão
endotelial, que pode ser química, mecânica ou inflamatória.
O principal fator envolvido nesse processo é a
hipercolesterolemia. Sabe-se que a lipoproteína de baixa
densidade (LDL) difunde-se na parede das artérias
coronarianas, sofrendo oxidação e desencadeando uma
severa resposta inflamatória que leva à disfunção
endotelial. Esse processo inflamatório perturba o equilíbrio
entre o óxido nítrico, agente vasodilatador e
antiproliferativo, e a endotelina, agente vasoconstritor,
além de liberar fatores quimiotáticos e de crescimento no
local da aterosclerose, atraindo ainda mais células
inflamatórias. O resultado é que a LDL oxidada é absorvida
pelos macrófagos, levando ao desenvolvimento de um
núcleo lipídico envolvido por células musculares lisas e
tecido fibroso, que forma a placa aterosclerótica.
Existem dois tipos de placa aterosclerótica, que levarão
a diferentes manifestações clínicas da DAC: a placa estável
e a instável. A placa estável tem um pequeno núcleo
lipídico, com poucas células inflamatórias, e é coberta por
uma capa fibrosa espessa. Essa placa é de crescimento
lento e tipicamente causa a angina estável, que se
manifesta quando há aumento da demanda miocárdica e é
de caráter mais crônico. A placa instável é de maior risco
para evento cardiovascular grave e consiste em um grande
núcleo lipídico trombogênico coberto por uma fina capa
fibrosa. O processo inflamatório na periferia da placa leva à
liberação de metaloproteinases que degradam a capa
fibrosa, com consequente ruptura da placa, causando a
SCA. A Figura 1 ilustra o vaso coronariano não
aterosclerótico comparado ao vaso acometido pelas
diferentes placas descritas.
Existem inúmeras alterações que ocorrem com o
envelhecimento e que contribuem para o desenvolvimento
de DAC no idoso. O Quadro 1 resume as principais
alterações relacionadas à idade que alteram o balanço
homeostático, favorecendo o dano e dificultando o reparo
tecidual, o que leva a alterações na estrutura vascular e
cardíaca, com impacto direto na ocorrência, apresentação e
manifestações da DAC no idoso.
Diabetes mellitus.
Hipertensão arterial sistêmica.
Dislipidemia.
Tabagismo.
Obesidade.
Sedentarismo.
História familiar positiva em parentes de primeiro grau do sexo masculino
antes dos 55 anos e do sexo feminino antes dos 65 anos.
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico clássico da DAC crônica manifesta-se
como uma angina estável, caracterizada por dor
retroesternal ou precordial, em aperto, difusa, irradiada
para o ombro ou braço esquerdos, epigástrio e/ou pescoço.
Costuma apresentar-se de forma crônica, ter duração
menor que 20 minutos, ser tipicamente desencadeada pelo
esforço ou estresse emocional, com melhora ao repouso ou
com uso de nitrato. Entretanto, em idosos, a dor precordial
típica ocorre em apenas metade dos pacientes e, após os 80
anos de idade, somente uma minoria de pacientes
apresenta o quadro clínico clássico.
Grande parte dos idosos com DAC crônica não relaciona
os sintomas cardiovasculares ao esforço físico, o que pode
ser atribuído à atividade física limitada, déficit cognitivo ou
perceção de dor alterada por outras condições clínicas.
Além disso, a isquemia silenciosa ocorre com maior
frequência nesses pacientes, manifestando-se de forma
assintomática ou com sintomas atípicos como dispneia,
ortopneia, dispneia paroxística noturna e arritmias
cardíacas, os quais são descritos como “equivalentes
anginosos”. A DAC crônica pode, ainda, manifestar-se
nesses pacientes como dor no ombro ou nas costas,
fraqueza, fadiga, desconforto epigástrico e dor pós-prandial
ou noturna, tornando necessário o diagnóstico diferencial
com doenças osteomusculares, doença ulcerosa péptica,
doença do refluxo gastroesofágico, colelitíase, depressão e
ansiedade.
A SCA pode manifestar-se de diferentes maneiras, como
angina em repouso com duração maior que 20 minutos,
angina aos esforços com aumento progressivo da
intensidade (“angina em crescendo”) ou angina de início
recente, em menos de 2 meses. A ocorrência dor anginosa
2 semanas após um IAM, bem como a presença de B3,
sopro mitral, crepitações pulmonares ou hipotensão
arterial ao exame físico durante um episódio de dor
retroesternal, também são sugestivos de SCA.
Em idosos com SCA, a apresentação com sintomas
atípicos também é mais comum. A dor torácica é relatada
em apenas 40% daqueles ≥ 80 anos quando comparados a
80% nos ≤ 65 anos de idade. Os sintomas comuns nessa
faixa etária são: dispneia (29,4%), sudorese (26,2%),
náuseas e vômitos (24,3%), síncope e pré-síncope (19,1%).
Nesses pacientes, principalmente naqueles com estado
cognitivo mais comprometido, o delirium deve ser também
valorizado como possível manifestação de SCA.
O Quadro 3 resume as principais manifestações clínicas
atípicas de DAC no idoso.
DIAGNÓSTICO
Exame Especificidades
QUADRO 4 Exames diagnósticos não invasivos para estratificação
cardiovascular no idoso
TRATAMENTO
A transição demográfica com aumento da população
idosa representa um grande desafio dentro do tratamento
das doenças cardiovasculares, uma vez que os pacientes
idosos não têm representatividade em ensaios clínicos. Isso
torna as decisões terapêuticas nessa população mais
difíceis, visto que não há respaldo suficiente na literatura
médica quanto à eficácia e segurança dos tratamentos
disponíveis como em pacientes mais jovens. Pacientes com
idade igual ou superior a 75 anos correspondem a apenas
10% dos pacientes avaliados em ensaios clínicos. Além
disso, as apresentações atípicas da DAC em idosos, com
consequente atraso no diagnóstico, repercutem muitas
vezes em tratamento inadequado.
Doença terminal.
Lesão vascular ou neoplasia no sistema nervoso central.
História prévia de coagulopatia hemorrágica.
Acidente vascular hemorrágico prévio.
Acidente vascular isquêmico nos últimos 3 meses.
Trauma significante na cabeça ou rosto nos últimos 3 meses.
Sangramento ativo ou diátese hemorrágica (exceto menstruação).
Dissecção aguda de aorta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A DAC é uma condição muito prevalente em idosos, com
elevada morbimortalidade, e pode se manifestar de forma
aguda ou crônica. As manifestações clínicas no idoso são,
com frequência, atípicas, o que dificulta o diagnóstico e
atrasa o tratamento, piorando o prognóstico nesses
pacientes. Quando confirmada, o tratamento deve ser
prontamente instituído, considerando as particularidades e
a funcionalidade do idoso para a tomada de decisão. A
individualização terapêutica deve ser sempre realizada,
evitando iatrogenias, promovendo o aumento da sobrevida
e preservando a qualidade de vida do paciente.
BIBLIOGRAFIA
Alexander KP, Newby LK, Cannon CP, Armstrong PW, Gibler WB, Rich MW, et
al. Acute coronary care in the elderly, part I: Non-ST-segment-elevation
acute coronary syndromes: a scientific statement for healthcare
professionals from the American Heart Association Council on Clinical
Cardiology: in collaboration with the Society of Geriatric Cardiology.
Circulation. 2007;115(19):2549-69.
Avezum Junior A, Piegas LS, Timerman A, Feitosa GS, Nicolau JC, Mattos LAP,
et al. V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre tratamento do
infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento. Arq Bras
Cardiol. 2015 Aug;105(2 Suppl 1):1-105.
Badimon L, Bugiardini R, Cubedo J. Pathophysiology of acute coronary
syndromes in the elderly. Int J Cardiol. 2016;222:1105-9.
de La Torre Hernandez JM, Gomez Hospital JA, Baz JA, Brugaletta S, Perez de
Prado A, Linares JA, et al. Multivessel disease in patients over 75 years old
with ST elevated myocardial infarction: current management strategies and
related clinical outcomes in the Estrofa MI+75 nation-wide registry.
Cardiovasc Revasc Med. 2018;19(5 Pt B):580-8.
Cesar LA, Ferreira JF, Armaganijan D, Gowdak LH, Mansur AP, Bodanese LC S.
Diretriz de doença coronária estável. Arquivos Brasileiros de Cardiologia.
2014;103(2).
Feitosa-Filho GS, Peixoto JM, Pinheiro JES, Afiune Neto A, Albuquerque ALT,
Cattani AC, et al. Atualização das diretrizes em cardiogeriatria da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2019;112(5):649-705.
Jackson CF, Wenger NK. Cardiovascular disease in the elderly. Rev Esp Cardiol.
2011;64(8):697-712.
Madhavan MV, Gersh BJ, Alexander KP, Granger CB, Stone GW. Coronary artery
disease in patients ≥ 80 years of age. Journal of the American College of
Cardiology. 2018;71(18):2015-40.
Nicolau JC, Feitosa Filho, GS, Petriz JL, Furtado RHM, Précoma DB, Lemke W,
et al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre angina instável
e infarto agudo do miocárdio sem supradesnível do segmento ST – 2021.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2021; 17(1):181-264.
Roger VL, Go AS, Lloyd-Jones DM, Benjamin EJ, Berry JD, Borden WB, et al.
Heart disease and stroke statistics – 2012 update. Circulation. 2012;125:e2-
220.
Skolnick AH, Alexander KP, Chen AY, Roe MT, Pollack CV Jr, Ohman EM, et al.
Characteristics, management, and outcomes of 5,557 patients age > or = 90
years with acute coronary syndromes: results from the CRUSADE Initiative.
J Am Coll Cardiol. 2007;49(17):1790-7.
Wenger NK, Helmy T, Patel AD, Lerakis S. Evidence based management of
coronary artery disease in the elderly: current perspectives. Medscape
General Medicine. 2005;7(2):75.
Yazdanyar A, Newman AB. The burden of cardiovascular disease in the elderly:
morbidity, mortality, and costs. Clin Geriatr Med. 2009;25(4):563-77.
14 Insuficiência cardíaca
INTRODUÇÃO
A insuficiência cardíaca (IC) pode ser definida como uma
síndrome clínica complexa, na qual o coração é incapaz de
bombear sangue suficiente para atender às necessidades
metabólicas do organismo, ou pode fazê-lo somente com
elevações das pressões de enchimento. Atualmente, a IC é
considerada epidemia global com elevada morbidade e
mortalidade. Além da alta prevalência, a IC é uma condição
de mau prognóstico quando atinge suas fases clínicas mais
avançadas, sendo que apenas 50% dos pacientes
sobrevivem 5 anos. Essa sobrevida é menor em
comparação com diversos tipos de cânceres (neoplasia de
mama, útero, próstata e linfoma não Hodgkin).
A IC acomete 1 a 2% da população adulta, atingindo
aproximadamente 23 milhões de pessoas ao redor do
mundo. Vale salientar que as principais causas de IC estão
ligadas a doenças crônico-degenerativas como hipertensão
arterial, diabetes mellitus e doença arterial coronária,
sendo, portanto, uma condição com incidência fortemente
ligada ao envelhecimento da população. De fato, a
prevalência da IC dobra a cada década de vida, atingindo
aproximadamente 10% da população após os 80 anos de
idade. Estima-se que na população acima dos 40 anos de
idade o risco de desenvolver a doença ao longo da vida seja
em torno de 20%.
No Brasil, não há levantamentos estatísticos
populacionais sobre a prevalência da IC. Resultados do I
Registro Brasileiro de IC (Registro Breathe) salientam a
importância da síndrome no nosso meio, mostrando elevada
taxa de mortalidade intra-hospitalar e a contribuição de
etiologias consideradas como doenças negligenciadas, tais
como a doença reumática e a doença de Chagas.
CLASSIFICAÇÃO
A IC pode ser classificada de acordo com o grau de
incapacidade física causada pela doença (classe funcional
pela New York Heart Association – NYHA e/ou escala de
atividade específica – SAS). A determinação da classe
funcional permite a avaliação da evolução da doença, do
prognóstico e a monitoração ao longo do tempo do efeito de
medidas terapêuticas, devendo ser obtida na abordagem
inicial e repetida a cada consulta de acompanhamento.
A mais amplamente conhecida classificação funcional é
a da New York Heart Association (NYHA), que, no entanto,
apresenta algumas limitações. O emprego de parâmetros
vagos e subjetivos na caracterização da capacidade física a
torna um instrumento de baixa reprodutibilidade na prática
clínica. É comum que classes intermediárias sejam
artificialmente criadas (p. ex., classe II/III), representando
a imprecisão dos parâmetros utilizados.
Para tornar mais objetiva e aumentar a
reprodutibilidade da classificação funcional da NYHA,
Goldman et al. propuseram uma abordagem apoiada em
uma escala de atividades físicas específicas, com gasto
metabólico de oxigênio previamente conhecido. O Quadro 1
resume os aspectos usados nas duas abordagens para
determinação da classe funcional. A Figura 1 mostra uma
proposta simplificada de perguntas no formato de um
algoritmo para rápida determinação da classe funcional
baseada na escala de atividades específicas.
A síndrome de IC também pode ser classificada como IC
aguda, caracterizada pelo rápido início ou agravamento de
sintomas até manifestações graves em repouso ou mínimos
esforços, ocorrendo ao longo de 1 a 2 semanas; enquanto
IC crônica se refere a sintomas estáveis e persistentes por
pelo menos 3 meses.
A IC pode ainda ser classificada de acordo com seu
estágio evolutivo ou a gravidade do acometimento
estrutural/funcional do coração (Figura 2). Essa
classificação é mais recente e salienta o conceito de que a
IC, na grande maioria das vezes, desenvolve-se a partir de,
ou é agravada, por fatores de risco não controlados agindo
longo tempo antes do início da doença, como hipertensão
arterial, diabetes mellitus, etilismo, agentes cardiotóxicos.
Essa classificação realça a importância da prevenção da IC,
mediante o controle desses fatores de risco. Além disso, as
recomendações terapêuticas podem ser graduadas
conforme o estágio evolutivo em que se encontra um dado
paciente.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
As manifestações cardinais da síndrome clínica de IC
são dispneia, edema e fadiga aos esforços. A dispneia surge
inicialmente desencadeada aos esforços físicos. Nas fases
mais avançadas, a dispneia pode ocorrer em repouso,
caracteristicamente acompanhada de ortopneia e dispneia
paroxística noturna.
Emergência
NT-pró-BNP
Ambulatório
EXAMES COMPLEMENTARES
A avaliação diagnóstica complementar laboratorial de
rotina pode contribuir para identificar distúrbios
metabólicos ou condições subjacentes que devem receber
atenção terapêutica. Os exames complementares devem
incluir função renal, eletrólitos, função hepática, dosagem
de hormônio estimulador da tireoide (TSH), glicemia, ácido
úrico, sorologia para doença de Chagas (na presença de
epidemiologia positiva), perfil de ferro (ferro sérico,
ferritina e saturação de transferrina).
O ECG de repouso deve ser pedido em todos os casos e
pode trazer informação útil sobre a etiologia (presença de
zonas eletroinativas na cardiopatia isquêmica), presença de
arritmias (fibrilação e flutter atriais), presença de complexo
QRS alargado (acima de 150 ms implica mau prognóstico).
A radiografia simples do tórax deve ser obtida de rotina,
podendo informar sobre o grau de cardiomegalia, presença
e intensidade da congestão pulmonar e derrame pleural.
Informa ainda sobre comorbidades associadas, como
doenças da aorta e do parênquima pulmonar.
O ecocardiograma é exame de imagem extremamente
útil, e deve ser obtido em todos os casos por fornecer
informações-chave de valor prognóstico que orientam a
terapia, como o grau de remodelamento cardíaco, a
presença de hipertrofia, o valor da fração de ejeção, o
estado do aparelho valvar e do pericárdio.
Exames de medicina nuclear podem ser também úteis
nos pacientes com IC para avaliar sequencialmente a
fração de ejeção dos ventrículos direito e esquerdo,
mediante o emprego da ventriculografia nuclear,
particularmente naqueles pacientes sem janela acústica
para realização de ecocardiograma; e avaliação da
presença de viabilidade miocárdica e isquemia pelo
emprego da cintilografia de perfusão miocárdica.
A RMC fornece informações anatômicas e funcionais,
assim como avaliação de fibrose miocárdica e viabilidade.
Devido a sua alta resolução espacial, permite avaliação
precisa dos volumes ventriculares, da função sistólica
ventricular, da massa e espessura do miocárdio, sendo
considerada padrão-ouro na avaliação desses parâmetros.
É excelente opção quando o ecocardiograma não oferece
diagnóstico preciso da etiologia da cardiopatia. Além das
informações anatômicas e funcionais, a RMC permite
diferenciação entre miocardiopatia isquêmica e não
isquêmica.
Fibrose miocárdica pode ser identificada por gadolínio
com a técnica de realce tardio. Na miocardiopatia
isquêmica o realce tardio encontra-se no subendocárdio ou
tem apresentação transmural, enquanto na miocardiopatia
não isquêmica localiza-se no mesocárdio e no epicárdio. O
realce tardio também está presente em outras
miocardiopatias que cursam com insuficiência cardíaca,
como miocardite, sarcoidose, miocardiopatias infiltrativas e
miocardiopatia hipertrófica.
A RMC com gadolínio está contraindicada em
portadores de insuficiência renal avançada com clearance
de creatinina < 30 mL/kg/minuto. Os agentes de contraste
contendo gadolínio são excretados inalterados quase
exclusivamente pelos rins. Nessa situação pode-se
desenvolver fibrose nefrogênica sistêmica caracterizada
pelo espessamento e endurecimento irreversível da pele
que recobre as extremidades e tronco e fibrose de outras
estruturas profundas como músculo, fáscia, pulmão e
coração.
O teste cardiopulmonar (TCP), atualmente, é
considerado o método padrão-ouro na avaliação funcional
cardiorrespiratória. pois permite avaliar a capacidade
funcional de forma objetiva pela medida direta do consumo
de oxigênio ( O2). Além disso, a mensuração da produção
de gás carbônico ( CO2) e da ventilação minuto ( E),
somada a variáveis obtidas a partir dessas medidas em
conjunto com a monitorização eletrocardiográfica,
hemodinâmica (frequência cardíaca e pressão arterial) e
oximetria de pulso, permite uma análise integrada dos
sistemas cardiovascular, pulmonar, metabólico e
musculoesquelético.
O TCP também pode ser muito útil no diagnóstico
diferencial de dispneia, principalmente por discriminar a
dispneia de origem cardíaca da dispneia de origem
pulmonar. No contexto da IC, o TCP propicia informações
diagnósticas e prognósticas, sendo o método recomendado
para triagem de pacientes candidatos a transplante
cardíaco.
As principais variáveis prognósticas obtidas pelo TCP
são: o VO2 pico, relação entre VE e produção de CO2
(VE/VCO2 slope), ventilação oscilatória e inclinação da
eficiência da captação do oxigênio (OUES).
Terapia medicamentosa
Mecanismos de ação:
Efeito vasodilatador arteriolar e venoso, reduz a pré e a pós-carga ventricular
esquerda, dessa forma contribuindo para a facilitação da ejeção ventricular,
aumento do débito cardíaco e redução dos sintomas. Bloqueiam a ação da
angiotensina-2 sobre o miocárdio, reduzindo assim a extensão da fibrose
intersticial, da apoptose e evitando/retardando o remodelamento reverso e a
perda progressiva da função sistólica.
Inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA) e
bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA)
Principais indicações:
Potencialmente empregados em todos os pacientes com FEVE < 40%.
Terapia de primeira linha em pacientes sintomáticos (CF II-IV NYHA) em
associação com betabloqueadores e antagonistas da aldosterona.
Assintomáticos (CF I – NYHA) com FEVE < 40%.
Contraindicações:
Angioedema, estenose de artéria renal bilateral e gestantes.
Medicações e doses:
iECA Dose inicial Dose-alvo Frequência ao dia
Captopril 6,25 mg 50 mg 3 vezes ao dia
Enalapril 2,5 mg 10-20 mg 2 vezes ao dia
Lisinopril 2,5-5 mg 40 mg 1 vez ao dia
Perindopril 2 mg 16 mg 1 vez ao dia
Ramipril 1,5-2,5 mg 10 mg 1 vez ao dia
BRA
Candesartana 4-8mg 32 mg 1 vez ao dia
Losartana 25 mg 100-150 mg 1 vez ao dia
Valsartana 40 mg 160 mg 2 vezes ao dia
Como usar?
Iniciar de preferência o iECA com baixa dose e progredir até a dose máxima
tolerada.
Reservar o uso do BRA para os pacientes intolerantes ao iECA por tosse ou
angioedema.
Valores de pressão entre 90 e 100 mmHg não contraindicam o início ou
progressão da terapia.
Checar função renal e eletrólitos no início e a cada 2 semanas após ajuste
da dose.
Incrementar (dobrar) a dose a cada 2 semanas se possível.
Não iniciar iECA ou BRA se potássio > 5,5 mEq/L e/ou creatinina > 2,5 mg.
Inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA) e
bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA)
Resolvendo problemas:
Deve-se interromper o tratamento se potássio sérico > 6 mEq/L e reduzir a
dose se > 5,5 mEq/L.
O aumento de creatinina de até 50% dos valores basais, desde que abaixo de
3 mg, ainda é aceitável.
Se houver hipotensão sintomática, considerar a retirada dos nitratos,
bloqueadores dos canais de cálcio e diuréticos (se não houver sinais de
congestão).
Caso ocorra tosse seca persistente (20% dos pacientes), pode ser feita a troca
do iECA por BRA.
Betabloqueadores
Mecanismo de ação:
Inibem a hiperatividade adrenérgica, promovem a recuperação energética da
fibra cardíaca, inibem apoptose, reduzem o estresse parietal e o consumo
miocárdico de oxigênio, reduzem isquemias e arritmias. A longo prazo,
aumentam o volume sistólico ejetado, promovem remodelamento reverso,
aumento da fração de ejeção e melhoram a performance diastólica.
Principais indicações:
Potencialmente em todos os pacientes estáveis com FEVE < 40%.
Terapia de primeira linha em pacientes sintomáticos (CF II-IV NYHA) em
associação com iECA e antagonistas da aldosterona.
Assintomáticos (CF I – NYHA) com FEVE < 40% após infarto agudo do
miocárdio.
Betabloqueadores
Contraindicações absolutas:
Bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus (na ausência de
marca-passo permanente).
IC descompensada ou choque circulatório.
Contraindicações relativas:
Asma é contraindicação relativa [é possível prescrever bloqueador beta-2-
seletivo (bisoprolol) e monitorizar].
Frequência cardíaca < 50 bpm, intervalo PR > 0,24 segundo.
Nos pacientes com obstrução arterial periférica sintomática, usar o
carvedilol, que possui ação vasodilatadora periférica mediante bloqueio
simultâneo dos receptores alfa-1-adrenérgicos.
Hipoperfusão periférica
DPOC não é contraindicação.
Medicações e doses:
Dose Dose-alvo Frequência ao
inicial dia
Bisoprolol 1,25 mg 10 mg 1 vez ao dia
Carvedilol 3,125 mg 25 mg (< 85 kg) e 50 mg (> 85 2 vezes ao dia
kg)
Succinato 12,5-25 mg 200 mg 1 vez ao dia
de
Metoprolol
Como usar?
Iniciar baixa dose e progredir até a dose máxima tolerada.
Incrementar (dobrar) a dose a cada 2 semanas se possível.
Carvedilol promove vasodilatação arterial periférica (ação
alfabloqueadora), conferindo melhor tolerância na fase de titulação da
droga em pacientes com disfunção ventricular grave.
Bisoprolol é o agente de escolha em pacientes com antecedentes de asma
brônquica ou DPOC, ou que apresentaram sibilância e broncoespasmo com
uso de carvedilol ou metoprolol.
Betabloqueadores
Resolvendo problemas:
Se houver piora da classe funcional e aumento dos sinais de congestão
(edema, dispneia) com um aumento programado da dose, pode-se tentar
aumentar a dose de diuréticos ou dos vasodilatadores para compensação
do quadro e garantir o uso da droga.
Caso ocorra hipotensão sintomática (ou PAS < 85 mmHg), deve-se cogitar
a redução da dose dos diuréticos ou vasodilatadores (iECA/BRA), se em
doses altas, dando prioridade para o emprego do betabloqueador.
Reduzir a dose ou suspender a medicação se houver bradicardia
importante, hipotensão arterial grave, alargamento do intervalo PR > 0,28
segundo, broncoespasmo grave ou agudização de DPOC.
No desenvolvimento de bradicardia, considerar a suspensão de outras
drogas concomitantes que possam estar contribuindo para redução da
frequência cardíaca como digital e amiodarona, priorizando a manutenção
do uso de betabloqueador.
Mecanismo de ação:
Bloqueiam a ação da aldosterona sobre o miocárdio, com efeito
antirremodelamento, antifibróticos, aumentam a captação miocárdica de
norepinefrina, diminuem a perda de potássio, além de ação antiarrítmica com
diminuição de morte súbita.
Principais indicações:
Terapia de primeira linha em pacientes sintomáticos (CF II-IV NYHA) com FEVE
≤ 35% em associação com iECA e betabloqueador.
Assintomáticos (CF I – NYHA) com FEVE ≤ 40% após infarto agudo do
miocárdio.
Contraindicações absolutas:
Uso simultâneo da combinação de iECA com BRA, ou outro diurético
poupador de potássio (amilorida).
Doença de Addison, hiperpotassemia ou outras condições associadas com
anúria; uso de eplerenona concomitante; hiperpotassemia.
Medicações e doses:
Dose inicial Dose-alvo Frequência ao dia
Espironolactona 25 m 25-50 mg 1 vez ao dia
Como usar?
Recomenda-se a introdução da espironolactona após a otimização das
doses de iECA ou BRA, devido ao risco de hiperpotassemia.
Não iniciar se potássio > 5 mEq/L e/ou creatinina > 2,5 mg.
Checar potássio sérico 1 semana e 4 semanas após o início ou aumento de
dose.
Resolvendo problemas:
A ginecomastia é frequente; se acentuada e dolorosa pode ser considerada
a interrupção do medicamento.
Recomenda-se reduzir a dose à metade se potássio sérico > 5,5 mEq/L e
interromper o uso se > 6 mEq/L.
Caso a creatinina eleve-se > 2,5 mg/dL durante o tratamento, deve-se
reduzir a dose pela metade.
Caso a creatinina > 3,5 mg/dL, deve-se suspender a droga.
Cuidado com o uso de sal com baixo conteúdo de sódio e alto conteúdo de
potássio.
Mecanismo de ação:
Duplo mecanismo de ação:
1. Bloqueiam a neprilisina (endopeptidase neutra que degrada peptídeos
vasoativos como o BNP, bradicinina e adrenomedulina), produzindo aumento
dos níveis séricos e potencializando a ação do BNP endógeno com efeito
natriurético, antifibróticos miocárdicos, efeito vasodilatador periférico
(aumento da produção de óxido nítrico), reduzindo a liberação de renina e
angiotensina-II.
2. Bloqueiam os receptores da angiotensina, trazendo os efeitos benéficos dos
BRA.
Principais indicações:
Em substituição ao iECA (ou BRA), para pacientes com ICFER sintomática
(FEVE ≤ 40%), já em uso de terapia tripla otimizada para reduzir
mortalidade e morbidade.
Potencialmente em todos os pacientes com ICFER sem prescrição prévia de
iECA ou BRA.
Contraindicações:
Concomitante ou dentro de 36 horas da última dose de iECA.
Concomitante ao BRA.
História pregressa de angioedema.
Gestantes e lactantes.
Insuficiência hepática grave (Child-Pugh C).
Uso concomitante de alisquereno em pacientes com diabetes.
Hipersensibilidade ao iECA e/ou BRA.
Potássio > 5,5 mEq/L.
Medicações e doses:
Dose inicial Dose-alvo Frequência ao dia
Sacubitril/valsartana 24/26 ou 49/51 mg 97/103 mg 2 vezes ao dia
Como prescrever?
Pacientes em uso de iECA: deve-se suspender 36 horas antes do início do
sacubitril/valsartana.
Pacientes em uso de BRA: não é necessário o período de 36 horas.
Qual dose deve ser prescrita?
Dose moderada ou alta de IECA ou BRA => iniciar 49/51 mg 12/12 horas.
(Equivalente ≥ 10 mg por dia de enalapril ou ≥ 50 mg por dia de losartana)
Baixa dose de IECA ou BRA => iniciar 24/26 mg 12/12 horas.
(Equivalente < 10 mg por dia de enalapril ou < 50 mg por dia de losartana)
ou
Sem uso prévio de iECA ou BRA ou
Doença renal crônica (clearance de creatinina < 30 mL/minuto/1,73 m2)
Idosos (idade ≥ 75 anos)
Insuficiência hepática moderada (Child Pugh B)
Como usar?
Checar função renal e eletrólitos no início e 2 semanas após ajuste da dose.
Incrementar (dobrar) a dose a cada 2 semanas se possível, na ausência de
hipotensão arterial sintomática, piora da função renal ou hiperpotassemia.
Resolvendo problemas:
Deve-se interromper o tratamento se potássio sérico > 6 mEq/L, ou reduzir
dose se potássio > 5,5 mEq/L, devendo-se rever e corrigir outros fatores
indutores de hiperpotassemia (uso de espironolactona, alimentos ricos em
potássio, uso concomitante de Aine).
Se houver hipotensão sintomática, considerar a retirada dos nitratos,
bloqueadores dos canais de cálcio, anlodipino ou outros hipotensores que
não têm impacto em aumentar sobrevida.
Se houver hipotensão sintomática, é recomendado que se reduza a dose do
diurético de alça, se não houver sinais de congestão.
iSGLT2
Por que prescrever?
Aumenta a sobrevida, melhora os sintomas e reduz a hospitalização.
Mecanismo de ação:
Vasoconstrição da arteríola aferente, diminuindo a pressão intraglomerular
com melhora da função renal, natriurese, aumento do metabolismo energético
cardíaco, diminuição da pré e pós-carga e diminuição da atividade simpática.
Principais indicações:
Terapia de primeira linha em pacientes com FEVE ≤ 40%.
Contraindicações absolutas:
Alergia.
Gravidez e aleitamento materno.
Taxa de filtração glomerular < 20 mL/minuto/ 1,73 m2.
Sintomas de hipotensão: pressão arterial sistólica < 95 mmHg.
Medicações e doses:
Dose inicial Dose-alvo Frequência ao dia
Dapagliflozina 10 mg 10 mg 1 vez ao dia
Empagliflozina 10 mg 10 mg 1 vez ao dia
Como usar?
Verifique a função renal ao iniciar a terapia e monitore regularmente. Sabe-
se que a TFG diminui ligeiramente após o início, mas os inibidores de SGLT-
2 parecem ser renoprotetores.
Monitore a glicemia regularmente, sobretudo quando o paciente é
diabético. Considere a modificação de outras drogas diabéticas.
Identificar os fatores de risco que predispõem à cetoacidose diabética e
elimine-os, se possível.
Monitore o equilíbrio hidroeletrolítico regularmente, sobretudo quando um
paciente está tomando diuréticos, é idoso e/ou frágil. Considere um ajuste
de terapia diurética e fluido.
Resolvendo problemas:
Infecções geniturinárias:
Os pacientes devem ser monitorados no contexto de sintomas e sinais de
infecções fúngicas geniturinárias.
Hipoglicemia:
Outros medicamentos para diabetes (particularmente derivados de insulina
e/ou sulfonilureia) podem predispor à hipoglicemia; neste caso, a estratégia de
tratamento do diabético precisa ser modificada.
Desidratação, hipotensão e insuficiência renal pré-renal:
Os inibidores de SGLT-2 podem intensificar a diurese, principalmente
quando acompanhados de Sac/Val e terapia diurética.
O equilíbrio de fluidos precisa ser monitorado. As doses de diuréticos
juntamente com a ingestão de líquidos devem ser equilibradas para evitar
desidratação, hipotensão sintomática e insuficiência renal pré-renal.
Pacientes idosos e frágeis correm um risco particular de desenvolver essas
complicações.
Diuréticos de alça
Mecanismo de ação:
Os diuréticos de alça atuam na alça de Henle e produzem efeito potente sobre
a excreção de água e sódio, mantendo sua eficácia mesmo na situação de
queda da função renal leve a moderada (muito frequente nos pacientes com
IC).
Principais indicações:
Potencialmente em todos os pacientes com sinais e sintomas de congestão
volêmica, independentemente da fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Devem ser prescritos em combinação com iECA, betabloqueador e
antagonista da aldosterona.
Contraindicações absolutas:
Pacientes euvolêmicos.
Hipersensibilidade à medicação.
Medicações e doses:
Diuréticos de alça Dose inicial Dose máxima diária
Furosemida 20-40 mg 40-240 mg (dividida em 2 doses diárias)
Bumetanida 0,5-2 mg 10 mg (dividida em 2 doses diárias)
Diuréticos de alça
Como usar?
Recomenda-se utilizar a menor dose necessária para obter a resolução
progressiva dos sinais/sintomas de congestão ou efeito clínico desejado
(redução de peso corpóreo: 1 a 2 kg/dia nos pacientes hospitalizados).
Monitorizar sinais clínicos de congestão e o peso a cada consulta.
Em pacientes com IC sintomática é usual que se mantenha por longo
tempo a dose de diurético de alça que foi cuidadosamente ajustada para
atingir o estado de euvolemia, não sendo necessária a retirada do diurético
ou redução da dose, uma vez que a própria redução da volemia provoca
uma redução do efeito diurético e a manutenção de um estado de
euvolemia.
Naqueles pacientes em estado euvolêmico, isto é, sem sinais congestão e
assintomáticos (CF-I), tardiamente (> 6 meses) após a titulação até a dose
máxima de iECA/BRA e betabloqueador, a cuidadosa redução ou suspensão
do diurético deve ser considerada, devendo-se monitorar a recrudescência
do quadro congestivo.
Checar função renal e eletrólitos 1 a 2 semanas após início ou aumento de
dose.
Resolvendo problemas:
Assintomáticos e com hipotensão arterial: reduzir a dose se não houver
sinais e sintomas de congestão.
Hipotensão sintomática: reduzir a dose se não houver sinais e sintomas de
congestão e considerar a retirada dos nitratos, bloqueadores dos canais de
cálcio.
Hipocalemia e hipomagnesemia: considerar aumento da dose de iECA ou
BRA, prescrição de antagonista da aldosterona e suplementos de potássio e
magnésio.
Nos casos refratários ao tratamento com diuréticos de alça (resistência ao
diurético), a associação com diurético tiazídico, promovendo o bloqueio
sequencial do néfron, pode produzir aumento do efeito diurético.
Os efeitos adversos mais frequentes são distúrbios eletrolíticos
(hipomagnesemia e hipocalcemia) e metabólicos (hiperuricemia,
hiperglicemia e hiperlipidemia).
Diuréticos tiazídicos
Diuréticos tiazídicos
Mecanismo de ação:
Os diuréticos tiazídicos agem no túbulo contorcido distal e têm ação
natriurética modesta quando usados isoladamente, mas podem potencializar
grandemente o efeito dos diuréticos de alça.
Principais indicações:
Síndrome de resistência diurética em pacientes com congestão refratária
apesar do uso de doses elevadas de diuréticos de alça.
Contraindicações:
Pacientes euvolêmicos.
Hipersensibilidade à medicação.
Medicações e doses:
Tiazídicos Dose inicial Dose máxima diária
Hidroclorotiazida 50 mg 200 mg
Clortalidona 50 mg 200 mg
Como usar?
Deve-se iniciar com a dose de 50 a 100 mg ao dia, podendo-se progredir
até 200 mg ao dia.
O efeito de bloqueio do néfron ocorre a partir de um “limiar de dose”,
sendo que alguns pacientes não respondem à dose de 50 mg e necessitam
de doses maiores, de 100 a 200 mg/dia.
Ao atingir o efeito de bloqueio do néfron, a diurese exibe incremento
importante (praticamente dobra o volume urinário em 24 horas).
Quando os sinais e sintomas de hipervolemia se resolvem, o diurético
tiazídico deve ser suspenso, uma vez que não há fenômeno de “frenagem
diurética” quando se usa a associação de diuréticos de alça + tiazídicos
para bloqueio sequencial do néfron.
Quando o efeito diurético precisa ser reduzido para garantir um ritmo mais
brando de retirada de volume, deve-se manter a dose por tomada que
alcançou o efeito de bloqueio e reduzir a frequência de administração do
diurético tiazídico, que passa a ser administrado em dias alternados ou a
cada 3 dias, uma vez que redução da dose abaixo de 50 mg/dia não produz
bloqueio do néfron.
Monitorizar sinais clínicos de congestão e o peso a cada consulta.
Checar função renal e eletrólitos 1 a 2 semanas após início ou aumento de
dose.
Resolvendo problemas:
É comum o desenvolvimento de hiponatremia, situação em que o diurético
tiazídico pode ser substituído por acetazolamida (250 mg a 2 g/dia), que se
associa a menor espoliação de sódio.
A hipocalemia também pode ocorrer com frequência e deve ser manejada
com o uso concomitante de doses mais elevadas de espironolactona ou
reposição de potássio.
Outros efeitos adversos frequentes são distúrbios eletrolíticos
(hipomagnesemia e hipocalcemia) e metabólicos (hiperuricemia,
hiperglicemia e hiperlipidemia).
Ivabradina
Mecanismo de ação:
Inibe especificamente o canal If do nó sinusal, modulando suas correntes
iônicas e reduzindo a frequência cardíaca no repouso e durante o esforço. É
um agente bradicardizante puro, sem outros efeitos cardiovasculares de
hipotensão ou fadiga, sem indução de broncoespasmo.
Principais indicações:
Pode ser adicionada à terapia-padrão em doses máximas toleradas (iECA/BRA,
betabloqueador, diuréticos) para controle de sintomas e redução do número
de internações em pacientes com ICFER crônica em ritmo sinusal, que
persistem com FC ≥ 70 bpm.
Contraindicações:
Pacientes instáveis (síndrome coronariana aguda, AVC, AIT, hipotensão
grave).
Doença do nó sinusal.
Bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus.
Frequência cardíaca < 60 bpm.
Fibrilação atrial.
Gestantes e lactantes.
Insuficiência hepática grave.
Medicações e doses:
Dose inicial Dose-alvo Frequência ao dia
Ivabradina 2,5-5 mg 7,5 mg 2 vezes ao dia
Como prescrever?
Idade ≥ 75 anos: iniciar 2,5 mg 12/12 horas.
Idade < 75 anos: iniciar 5 mg 12/12 horas.
Como usar?
Reavaliar a FC após 2 a 4 semanas.
Aumentar a dose em 2,5 mg/tomada caso FC ainda > 60 bpm.
Diminuir a dose caso FC < 50 bpm.
FC ideal (50 a 60 bpm).
Ivabradina
Resolvendo problemas:
Deve-se interromper ou diminuir a dose se FC < 50 bpm e sintomas de
bradicardia.
A ivabradina pode também interagir com a corrente Ih da retina, que é
muito semelhante à corrente If cardíaca, produzindo fenômenos visuais
luminosos transitórios chamados de fosfenos que geralmente desaparecem
durante o tratamento, raramente causa de descontinuidade da medicação.
Cuidado com a interação com medicações que inibem a isoenzima CYP3A4
do citocromo P450. Exemplo: antifúngicos (cetoconazol, itraconazol),
antibióticos macrolídeos e inibidores da protease (nelfinavir e ritonavir).
Digoxina
Mecanismo de ação:
Efeito inotrópico positivo, produz leve natriurese e associa-se à redução da
taxa de condução atrioventricular do estímulo elétrico cardíaco.
Principais indicações:
A digoxina pode ser adicionada à terapia-padrão (iECA/BRA,
betabloqueador, diuréticos) para controle de sintomas e redução do
número de internações em pacientes com ICFER (FEVE ≤ 45%) em ritmo
sinusal ou com fibrilação atrial controle de frequência ventricular, que
persistam gravemente sintomáticos (CF III-IV), que tenham internações
hospitalares recentes.
Contraindicações:
Doença do nó sinusal.
Bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus.
Intolerância pregressa à digoxina.
Disfunção do VE assintomática ou ICFEP em ritmo sinusal.
Síndrome de pré-excitação ventricular.
Disfunção hepática e cirrose hepática.
Medicações e doses
Dose Dose de Frequência ao dia
inicial manutenção
Digoxina 0,25 mg 0,125-0,25 mg 1 vez ao dia, ou dias
alternados
Como usar?
Análises post hoc de estudos clínicos recentes e registros têm sugerido que
a digoxina pode associar-se a risco aumentado de morte súbita em
pacientes com fibrilação atrial quando os níveis séricos ultrapassam 1,2
ng/mL, sendo sugerida a monitoração do seu nível sérico.
Mulheres, idosos e pacientes com disfunção renal ou massa magra
reduzida devem receber doses reduzidas de 0,125 mg/dia.
Alguns medicamentos podem elevar o nível sérico da digoxina e predispor
à intoxicação: amiodarona, diltiazen, verapamil, quinidina, e alguns
antibióticos.
Recomenda-se monitorar regularmente a digoxinemia, sendo o nível sérico
ideal entre 0,7 e 0,9 ng/mL.
Resolvendo problemas:
Deve-se reduzir a dose caso identifique digoxinemia > 0,9 ng/mL.
Mulheres, idosos e pacientes com disfunção renal ou massa magra
reduzida, aspectos associados a maior risco de intoxicação digitálica,
devem receber doses reduzidas de 0,125 mg/dia e em dias alternados.
Devem-se reconhecer manifestações de intoxicação digitálica:
náuseas/vômitos, visão amarelada (xantopsia), arritmia ventricular e
distúrbios de condução AV, taquicardia atrial com bloqueio AV.
Mecanismo de ação:
Hidralazina (HDLZ) é um vasodilatador arteriolar direto, e o nitrato é um
vasodilatador venoso mediado por óxido nítrico, os quais oferecem os efeitos
hemodinâmicos da mesma natureza que os iECA/BRA. A combinação das
drogas também age no miocárdio, reduzindo o estresse oxidativo, diminuindo
lesão das fibras miocárdicas e associando-se à indução de remodelamento
reverso.
Principais indicações:
Disfunção sistólica sintomática em classe funcional II-IV (NYHA), com
contraindicações ao IECA/BRA (insuficiência renal e/ou hipercalemia)
independentemente da etnia.
Disfunção sistólica sintomática para negros autodeclarados (maior força de
indicação e evidência de benefícios) ou não negros em classe funcional III-
IV (NYHA), apesar da terapêutica otimizada.
Contraindicações:
Hidralazina: doença arterial coronariana grave sintomática e lesões
valvares com estenose grave.
Hidralazina: alergia ou síndrome lupus-like induzida.
Nitrato: uso concomitante com sildenafila e tadalafila.
Medicações e doses:
Dose Dose- Frequência ao
inicial alvo dia
Hidralazina + dinitrato de 25/10 mg 100/40 3 vezes ao dia
isossorbida mg
Como usar?
Usar com cuidado ou evitar o uso se pressão arterial sistólica < 90 mmHg,
ou na presença de hipotensão sintomática.
É usual que a pressão arterial apresente aumento paradoxal após a
introdução das drogas, traduzindo aumento do volume sistólico ejetado em
face da redução da impedância ejetiva do VE.
A dose deve ser titulada a cada 2 a 4 semanas, com monitoração de
sintomas hipotensivos e níveis de PA ≥ 90 mmHg.
Deve-se prescrever a combinação de hidralazina + nitrato a cada 8 horas.
Não é necessário prescrever doses assimétricas do nitrato.
Resolvendo problemas:
O efeito colateral mais frequente é a hipotensão, mas usualmente se alivia
com o tempo. Para reduzir a intensidade desse efeito colateral, deve-se
cogitar a redução da dose de outros agentes hipotensores eventualmente
em uso (que não iECA/BRA, betabloqueador/espironolactona).
Raramente pode ocorrer a síndrome semelhante a lúpus (lupus-like)
(artralgia, exantema cutâneo, febre, pericardite/pleurite), o que indica a
suspensão.
Vacinação
Portadores de IC devem receber anualmente vacinação
para influenza. Atualmente, também está indicada a vacina
para Covid-19. De modo adicional, a vacinação para
pneumococo polivalente deve ser realizada em dose única
com possibilidade de reforço a cada 5 anos.
Reabilitação cardiovascular
A reabilitação cardiovascular, conduzida em sessões de
treinamento monitoradas por profissional experiente e
incluindo exercícios aeróbios e resistidos, pode aumentar a
capacidade aeróbica e recuperar a massa muscular,
produzindo melhora dos sintomas e aumento da capacidade
de esforço. Pode ser indicada em pacientes com IC
moderadamente sintomática (CF II-III) e clinicamente
estáveis. De maneira geral a reabilitação cardiovascular
acompanha-se de redução de hospitalização e sintomas,
melhora na qualidade de vida e na autoestima dos
pacientes.
Os pacientes que mais se beneficiam do programa de
reabilitação são aqueles que, apesar da terapia
farmacológica otimizada, persistem com sintomas de fadiga
e dispneia na ausência de outros sinais de hipervolemia ao
exame físico (pacientes “secos). Esse quadro de “dispneia
residual” ou “dispneia seca” pode dever-se à exacerbação
de reflexos originados na musculatura periférica que
provocam hiperventilação desproporcional aos esforços
desenvolvidos e decorrem da presença de hipoperfusão e
atrofia da musculatura esquelética, secundárias à IC, que
podem ser mitigados pelo treinamento físico.
Cardiodesfibrilador implantável
O implante de cardiodesfibrilador implantável (CDI) tem
o objetivo de prevenir a morte súbita, uma vez que cerca de
80% são decorrentes de arritmias ventriculares como
taquicardia ventricular (TV) e fibrilação ventricular (FV).
As indicações para implante de CDI podem ser divididas
em prevenção primária e secundária. Na prevenção
primária, recomenda-se o implante de CDI em pacientes
com disfunção sistólica (FEVE ≤ 35%) sintomática em
classe funcional II-III (NYHA) de etiologia isquêmica, pelo
menos 40 dias após o infarto e 90 dias após cirurgia de
revascularização miocárdica com terapêutica otimizada e
com boa expectativa de vida em 1 ano. Na etiologia não
isquêmica, a indicação é semelhante à etiologia isquêmica,
porém a terapêutica otimizada deve ter mais de 6 meses de
evolução.
Na prevenção secundária, recomenda-se o implante de
CDI em pacientes sobreviventes de parada cardíaca devido
a FV ou TV sustentada, na presença de TV sustentada
estável ou instável e na presença de síncope recorrente
com indução de taquicardia ventricular instável ou FV no
estudo eletrofisiológico invasivo.
Transplante cardíaco
O transplante cardíaco é um tratamento alternativo que
pode restabelecer a sobrevida em níveis aceitáveis a longo
prazo e deve ser considerado em portadores de IC exibindo
mau prognóstico com CF III ou IV persistente com sintomas
incapacitantes (estágio D) e sem alternativa de tratamento
clínico ou cirúrgico. Um dos grandes desafios encontra-se
na seleção de candidatos que mais se beneficiem do
procedimento em termos de sobrevida e qualidade de vida,
uma vez que o número de doadores é muito escasso. Dados
da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO)
revelam um número de 150 a 200 transplantes cardíacos
realizados no Brasil nos últimos anos.
Classe de Indicação
recomendação
QUADRO 2 Indicações de transplante cardíaco
PARTICULARIDADES NO TRATAMENTO DA
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NO IDOSO
À luz das evidências atuais, apenas um estudo
multicêntrico randomizado e placebo-controlado foi
realizado em indivíduos portadores de IC e com idade > 70
anos, o estudo Seniors (Study of effects of nebivolol
intervention on outcomes and rehospitalization in seniors
with heart failure), que demonstrou eficácia do nebivolol
em reduzir hospitalizações por IC. Na maioria dos outros
estudos, os muitos idosos são excluídos ou sub-
representados. Apesar disso, subanálises de estudos com
iECA (Heart outcomes prevention evaluation – Hope), BRA
(Candesartan in heart failure: assessment of reduction in
mortality and morbidity – Charm-Alternative) e
betabloqueadores (Organized program to initiate lifesaving
treatment in hospitalized patients with heart failure –
Optimize-HF) e com sacubitril/valsartana (Paradigm-HF)
observaram eficácia semelhante aos relatados no grupo
geral.
Recentemente, análise post hoc do estudo Dapa-HF
também mostrou efeitos consistentes em todas as
categorias de idade para todos os resultados do estudo. É
importante salientar que a magnitude do efeito da
dapagliflozina na redução do desfecho composto de morte e
internação por IC e o desfecho secundário de visita urgente
por IC e hospitalização foi numericamente maior naqueles
com idade maior que 75 anos em comparação com
categorias de idade mais jovem. Dessa forma, recomenda-
se tratamento análogo aos indivíduos portadores de IC com
idade > 70 anos em comparação com os indivíduos mais
jovens, porém com maior atenção para interações
medicamentosas e tolerabilidade.
Uso de medicações que interferem com boa evolução da IC: AINH (causam
disfunção renal e hipervolemia), drogas inotrópicas negativas como
propafenona e bloqueadores de canal de cálcio (exceção para anlodipina).
Quadro clínico
BIBLIOGRAFIA
AJS, Tsutsui H, Abdelhamid CM, Adamopoulos S, Albert N, et al. Universal
definition and classification of heart failure: a report of the Heart Failure
Society of America, Heart Failure Association of the European Society of
Cardiology, Japanese Heart Failure Society and Writing Committee of the
Universal Definition of Heart Failure: endorsed by Canadian Heart Failure
Society, Heart Failure Association of India, the Cardiac Society of Australia
and New Zealand, and the Chinese Heart Failure Association. Eur J Heart
Fail. 2021 Feb 19.
Albuquerque DC, Neto JD, Bacal F, Rohde LE, Bernardez-Pereira S, Berwanger
O, et al.; Investigadores Estudo Breathe. I Brazilian Registry of Heart
Failure: clinical aspects, care quality and hospitalization outcomes. Arq Bras
Cardiol. 2015;104(6):433-42.
Bacal F, Marcondes-Braga FG, Rohde LEP, Xavier Júnior JL, de Souza Brito F,
Moura LZ, et al. 3ª diretriz brasileira de transplante cardíaco. Arq Bras
Cardiol. 2018;111(2): 230-89.
Ainsworth BE, Haskell WL, Whitt MC, Irwin ML, Swartz AM, Strath SJ, et al.
Compendium of physical activities: an update of activity codes and MET
intensities. Med Sci Sports Exerc. 2000;32(9 Suppl):S498-504.
Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca. Diretriz Brasileira
de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol.
2018;111(3):436-539.
Edelmann F, Gelbrich G, Düngen H-D, Fröhling S, Wachter R, Stahrenberg R, et
al. Exercise training improves exercise capacity and diastolic function in
patients with heart failure with preserved ejection fraction. J Am Coll
Cardiol. 2011;58(17):1780-91.
Feitosa-Filho GS, Peixoto JM, Pinheiro JES, Afiune Neto A, Albuquerque ALT,
Cattani AC, et al. Atualização das diretrizes em cardiogeriatria da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2019;112(5):649-705.
Goldman L, Hashimoto B, Cook EF, Loscalzo A. Comparative reproducibility
and validity of systems for assessing cardiovascular functional class:
advantages of a new specific activity scale. Circulation. 1981;64:1227-34.
Goodlin SJ. Palliative care in congestive heart failure. J Am Coll Cardiol.
2009;54(5):386-96.
Jessup M, Brozena S. Heart failure. N Engl J Med. 2003 May 15;348(20):2007-
18. Review.
Komajda M, Lam CS. Heart failure with preserved ejection fraction: a clinical
dilemma. Eur Heart J. 2014;35(16): 1022-32.
Lam CSP, Voors AA, de Boer RA, Solomon SD, van Veldhuisen DJ. Heart failure
with preserved ejection fraction: from mechanisms to therapies. Eur Heart J.
2018; 39(30):2780-92.
Martinez FA, Serenelli M, Nicolau JC, Petrie MC, Chiang C-E, Tereshchenko S,
et al. Efficacy and safety of dapagliflozin in heart failure with reduced
ejection fraction according to age: insights from DAPA-HF. Circulation.
2020;141:100-11.
Pearson MJ, Mungovan SF, Smart NA. Effect of exercise on diastolic function in
heart failure patients: a systematic review and meta-analysis. Heart Fail Rev.
2017;22(2):229-42.
Pieske B et al. Heart Failure Association (HFA) of the European Society of
Cardiology (ESC). Eur J Heart Fail. 2020;22:391-42.
Reddy YNV, Carter RE, Obokata M, Redfield MM, Borlaug BA. A simple,
evidence based approach to help guide diagnosis of heart failure with
preserved ejection fraction. Circulation. 2018;138(9):861-70.
Redfield MM. Heart failure with preserved ejection fraction. N Engl J Med.
2016;375(19):1868-77. Review.
Shah SJ, Katz DH, Deo RC. Phenotypic spectrum of heart failure with preserved
ejection fraction. Heart Fail Clin. 2014;10(3):407-18.
Simões MV, Fernandes F, Marcondes-Braga FG, Scheinberg P, Correia EB,
Rohde LEP, et al. Position statement on diagnosis and treatment of cardiac
amyloidosis – 2021. Arq Bras Cardiol. 2021;117(3):561-98.
Thibodeau JT, Turer AT, Gualano SK, Ayers CR, Velez-Martinez M, Mishkin JD,
et al. Characterization of a novel symptom of advanced heart failure:
bendopnea. JACC Heart Fail. 2014;2(1):24-31.
Ziaeian B, Fonarow GC. Epidemiology and aetiology of heart failure. Nat Rev
Cardiol. 2016;13(6):368-78.
Acidente vascular cerebral isquêmico 15
INTRODUÇÃO
Globalmente, o acidente vascular cerebral (AVC) está
entre as principais causas de óbito e de incapacidade
permanente. Dentre a população, indivíduos mais idosos
que sofrem um AVC têm maior risco de mortalidade, maior
incapacidade, hospitalização mais prologada e são menos
propensos a receber alta para domicílio. De fato, entre
aqueles acima de 65 anos, após 6 meses de um AVC
isquêmico, cerca de 26% ficam dependentes para
atividades de vida diária, 30% permanecem incapazes de
deambular sem assistência e 46% apresentam déficits
cognitivos. Estima-se que, entre 2010 e 2050, o número de
casos de AVC mais que dobrará, com maior aumento entre
os idosos acima de 75 anos e grupos minoritários,
particularmente hispânicos.
Define-se o AVC como um episódio agudo decorrente de
disfunção focal do cérebro, retina ou medula espinhal com
duração superior a 24 horas, ou com qualquer duração, se
imagem (tomografia computadorizada ou ressonância
nuclear magnética) ou autópsia mostrarem infarto focal ou
hemorragia relevante para os sintomas. Cabe ressaltar que,
em alguns casos, quando há melhora espontânea dos
déficits neurológicos, principalmente nas primeiras horas,
podemos estar diante de um ataque isquêmico transitório
(AIT). Além da reversão completa dos déficits, para que se
defina um AIT é necessário exame de neuroimagem que
comprove a ausência de lesão tecidual. Após um AIT, o
risco de AVC isquêmico é de 3 a 15% em 90 dias.
O AVC pode ser dividido em duas principais categorias:
EPIDEMIOLOGIA
Nos últimos anos, a população mundial tem
experimentado uma importante mudança em sua estrutura
demográfica. O envelhecimento populacional com o
aumento da expectativa de vida traz consigo grandes
impactos na saúde pública. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) estima que para o ano de 2025 a população
mundial será composta por cerca de 828 milhões de
pessoas acima de 65 anos, com aumento ainda mais
expressivo na América Latina, acarretando, portanto,
elevadas taxas de prevalência e incidência de doenças
crônicas não transmissíveis.
Em 2020, segundo dados do Sistema de Informação de
Mortalidade, o AVC foi responsável por cerca de 99 mil
óbitos, sendo a segunda causa de mortalidade no Brasil.
Contudo, em 2022, segundo dados da Associação dos
Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen), houve
um aumento de 8,3% de óbitos por AVC. Em consequência
disso, o AVC retornou como principal causa de óbito no
Brasil. Globalmente, permanece como segunda causa,
sendo responsável por cerca de 6,6 milhões de óbitos no
mundo.
FATORES DE RISCO
O AVC apresenta múltiplos fatores de risco, sendo seu
reconhecimento fundamental para a implementação de
estratégias públicas e individuais de prevenção primária e
secundária. Os fatores de risco podem ser divididos em não
modificáveis e modificáveis. Entre os não modificáveis
incluem-se idade, raça, sexo e hereditariedade.
Considerando a importância desses fatores na faixa etária
geriátrica, destacamos que o risco de AVC dobra a cada
década após os 55 anos, com discreta prevalência na
população masculina idosa.
Quanto aos fatores de risco modificáveis, demonstrou-se
que hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus
dislipidemia, tabagismo, alcoolismo, obesidade,
sedentarismo, causas cardíacas, fatores dietéticos e
psicossociais combinados representam um risco atribuível
populacional maior que 90% para a ocorrência de AVC.
Portanto, o controle adequado desses fatores seria capaz
de reduzir de forma expressiva a incidência do AVC na
população. Por sua extrema importância, ressaltaremos a
seguir alguns dos principais fatores de risco modificáveis.
Hipertensão arterial
Diabetes mellitus
Dislipidemia
Tabagismo
Alcoolismo
Fibrilação atrial
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
As manifestações clínicas do AVC caracterizam-se por
déficits neurológicos focais de início súbito, que podem
envolver sintomas leves até manifestações graves e
incapacitantes. Os déficits mais comuns incluem alteração
de linguagem, tais como dificuldade para se expressar ou
para compreender; dificuldade na articulação da fala;
redução de força e/ou sensibilidade em um membro ou
hemicorpo; incoordenação motora e desequilíbrio; tontura
e alteração visual. É importante salientar que os sintomas
têm instalação súbita e geralmente são persistentes,
portanto esse é um dado relevante para que seja feita a
adequada suspeita diagnóstica, tendo em vista que é um
quadro que requer atenção imediata.
Para avaliação clínica do AVC, utilizamos a National
Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS), uma escala que
avalia o exame físico neurológico por estes itens:
DIAGNÓSTICO
Diante de um paciente com quadro clínico suspeito, a
realização de neuroimagem é obrigatória. A tomografia
computadorizada (TC) de crânio sem contraste é o exame
de escolha na fase aguda, tanto por sua disponibilidade
quanto pela rápida aquisição de imagem, devendo ser
realizada, idealmente, em até 25 minutos após a admissão
hospitalar. O objetivo principal da TC de crânio é excluir a
presença de sangue ou outras lesões que contraindiquem a
realização da terapia de reperfusão.
Geralmente, nas primeiras horas do AVC isquêmico, a
TC de crânio será normal ou terá apenas alterações
precoces, como a perda da diferenciação de substância
branca e cinzenta. Isso indica que a lesão isquêmica ainda
não está estabelecida e, provavelmente, o paciente terá
benefício do tratamento, caso seja elegível. A TC de crânio
deve ser repetida após 12 a 24 horas do início dos
sintomas, ou antes em caso de piora neurológica, para
avaliação da área isquêmica em formação e de possíveis
complicações. Além da TC de crânio, também é indicada a
realização da angiotomografia (ângio-TC) de vasos
cervicais e intracranianos, principalmente para
identificação de oclusão proximal de grandes vasos, o que
pode denotar a necessidade de trombectomia mecânica.
TRATAMENTO ESPECÍFICO
O tratamento específico do AVC isquêmico consiste nas
terapias de recanalização, que visam à recuperação da
perfusão do tecido cerebral antes que a região de
penumbra, a qual sofre redução do fluxo, mas sem morte
neuronal, torne-se uma região isquemiada. Para isso,
existem duas terapias, que podem ser realizadas a
depender das indicações e contraindicações: a trombólise
endovenosa e a trombectomia mecânica (TM). Antes da
inovação que essas terapias provocaram no tratamento do
AVC isquêmico, os pacientes acometidos não tinham
nenhum tratamento específico, e com isso não eram tidos
como casos de urgência. Esses tratamentos mudaram
sobremaneira o atendimento ao paciente com AVC,
tornando-o uma emergência médica.
Trombólise endovenosa
Trombectomia mecânica
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O AVC está entre as principais causas de óbito e
incapacidade no mundo.
Com o controle dos fatores de risco modificáveis, há uma
redução de até 90% do risco de AVC.
O AVC é uma emergência médica. O rápido
reconhecimento de seus sintomas e a transferência do
paciente para um centro de referência são essenciais.
O tratamento de fase aguda do AVC isquêmico consiste
na tentativa de recanalização arterial por meio da
trombólise endovenosa e/ou trombectomia mecânica.
Estudos em andamento no Brasil investigam o uso de
tenecteplase, bem como a extensão da janela
terapêutica.
A investigação etiológica é fundamental para a
instituição adequada da profilaxia secundária.
BIBLIOGRAFIA
Adams HP Jr, Bendixen BH, Kappelle LJ, Biller J, Love BB, Gordon DL, et al.
Classification of subtype of acute ischemic stroke: definitions for use in a
multicenter clinical trial. Toast. Trial of Org 10172 in Acute Stroke
Treatment. Stroke. 1993;24(1):35-41.
Albers GW, Bernstein R, Brachmann J, Camm AJ, Fromm P, Goto S, et al.
Reexamination of the embolic stroke of undetermined source concept.
Stroke. 2021;52(8):2715-22.
Albers GW, Marks MP, Kemp S, Christensen S, Tsai JP, Ortega-Gutierrez S, et
al.; Defuse 3 Investigators. Thrombectomy for stroke at 6 to 16 hours with
selection by perfusion imaging. N Engl J Med. 2018;378(8):708-18.
Almeida PMV, Bazan R, Pontes-Neto OM, Minelli C, Corrente JE, Modolo GP, et
al. Translation, cross-cultural adaptation and validation of the Cincinnati
prehospital stroke scale in Brazil. Arq Neuropsiquiatr. 2021;79(4):272-7.
Amarenco P, Bogousslavsky J, Caplan LR, Donnan GA, Wolff ME, Hennerici MG.
The ASCOD phenotyping of ischemic stroke (Updated Asco Phenotyping).
Cerebrovasc Dis. 2013;36(1):1-5.
Amarenco P, Kim JS, Labreuche J, Charles H, Abtan J, Béjot Y, et al.; Treat
stroke to target investigators: a comparison of two LDL cholesterol targets
after ischemic stroke. N Engl J Med. 2020;382(1):9.
Boehme AK, Esenwa C, Elkind MS. Stroke risk factors, genetics, and
prevention. Circ Res. 2017;120(3):472-95.
Brasil. Ministério da Saúde. Mortalidade. 2020. Available:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def.
Brasil. Sistema de Registro Civil Nacional – CRC Nacional, 2022. Available:
https://sistema.registrocivil.org.br/portal/?
CFID=85998223&CFTOKEN=ec5ff77fad30c025-78639683-CC61-CCC3-
F5D1A3376218610A.
Campbell BCV, Mitchell PJ, Churilov L, Yassi N, Kleinig TJ, Dowling RJ, et al.;
Extend-IA TNK Investigators. Tenecteplase versus alteplase before
thrombectomy for ischemic stroke. N Engl J Med. 2018;378(17):1573-82.
Chen Q, Yi Z, Cheng J. Atrial fibrillation in aging population. Aging Med
(Milton). 2018;1(1):67-74.
Cincura C, Pontes-Neto OM, Neville IS, Mendes HF, Menezes DF, Mariano DC,
et al. Validation of the National Institutes of Health Stroke Scale, modified
Rankin Scale and Barthel Index in Brazil: the role of cultural adaptation and
structured interviewing. Cerebrovasc Dis. 2009;27(2):119-22.
Cole JW. Large artery atherosclerotic occlusive disease. Continuum (Minneap
Minn). 2017;23(1, Cerebrovascular Disease):133-57.
GBD 2019 Stroke Collaborators. Global, regional, and national burden of stroke
and its risk factors, 1990-2019: a systematic analysis for the Global Burden
of Disease Study 2019. Lancet Neurol. 2021;20(10):795-820.
Go AS, Mozaffarian D, Roger VL, Benjamin EJ, Berry JD, Blaha MJ, et al.;
American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics
Subcommittee. Heart disease and stroke statistics – 2014 update: a report
from the American Heart Association. Circulation. 2014;129(3):e28-e292.
Goyal M, Menon BK, van Zwam WH, Dippel DW, Mitchell PJ, Demchuk AM, et
al.; Hermes collaborators. Endovascular thrombectomy after large-vessel
ischaemic stroke: a meta-analysis of individual patient data from five
randomised trials. Lancet. 2016;387(10029):1723-31.
Hacke W, Kaste M, Bluhmki E, Brozman M, Dávalos A, Guidetti D, et al.; ECASS
Investigators. Thrombolysis with alteplase 3 to 4.5 hours after acute
ischemic stroke. N Engl J Med. 2008;359(13):1317-29.
Intensive blood-glucose control with sulphonylureas or insulin compared with
conventional treatment and risk of complications in patients with type 2
diabetes (UKPDS 33). UK Prospective Diabetes Study (UKPDS) Group.
Lancet. 1998;352(9131):837-53.
Johnston SC, Rothwell PM, Nguyen-Huynh MN, Giles MF, Elkins JS, Bernstein
AL, et al. Validation and refinement of scores to predict very early stroke
risk after transient ischaemic attack. Lancet. 2007;369(9558):283-92.
Jovin TG, Li C, Wu L, Wu C, Chen J, Jiang C, et al.; Baoche Investigators. Trial of
thrombectomy 6 to 24 hours after stroke due to basilar-artery occlusion. N
Engl J Med. 2022;387(15):1373-84.
Kitagawa K, Yamamoto Y, Arima H, Maeda T, Sunami N, Kanzawa T, et al.;
Recurrent Stroke Prevention Clinical Outcome (Respect) Study Group.
Effect of standard vs intensive blood pressure control on the risk of
recurrent stroke: a randomized clinical trial and meta-analysis. JAMA
Neurol. 2019;76(11):1309-18.
Kleindorfer DO, Towfighi A, Chaturvedi S, Cockroft KM, Gutierrez J, Lombardi-
Hill D, et al. 2021 guideline for the prevention of stroke in patients with
stroke and transient ischemic attack: a guideline from the American Heart
Association/American Stroke Association. Stroke. 2021;52(7):e364-e467.
Langezaal LCM, van der Hoeven EJRJ, Mont’Alverne FJA, de Carvalho JJF, Lima
FO, Dippel DWJ, et al.; Basics Study Group. Endovascular therapy for stroke
due to basilar-artery occlusion. N Engl J Med. 2021;384(20):1910-20.
Levine DA, Perkins AJ, Sico JJ, Myers LJ, Phipps MS, Zhang Y, et al. Hospital
factors, performance on process measures after transient ischemic attack,
and 90-day ischemic stroke incidence. Stroke. 2021;52(7):2371-8.
Liu X, Dai Q, Ye R, Zi W, Liu Y, Wang H, et al.; Best Trial Investigators.
Endovascular treatment versus standard medical treatment for
vertebrobasilar artery occlusion (Best): an open-label, randomised
controlled trial. Lancet Neurol. 2020;19(2):115-22.
Ma H, Campbell BCV, Parsons MW, Churilov L, Levi CR, Hsu C, et al.; Extend
Investigators. Thrombolysis guided by perfusion imaging up to 9 hours after
onset of stroke. N Engl J Med. 2019;380:1795-1803.
Martins SO, et al. Manual de rotinas para atenção ao AVC. Brasília: Editora do
Ministério da Saúde; 2013.
Martins SO, Mont’Alverne F, Rebello LC, Abud DG, Silva GS, Lima FO, et al.;
Resilient Investigators. Thrombectomy for stroke in the public health care
system of Brazil. N Engl J Med. 2020;382(24):2316-26.
Mathews S, De Jesus O. Thrombectomy. 2022 Aug 22. In: StatPearls [Internet].
Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022.
Menon BK. Neuroimaging in acute stroke. Continuum (Minneap Minn).
2020;26(2):287-309.
Meschia JF, Bushnell C, Boden-Albala B, Braun LT, Bravata DM, Chaturvedi S,
et al.; American Heart Association Stroke Council; Council on
Cardiovascular and Stroke Nursing; Council on Clinical Cardiology; Council
on Functional Genomics and Translational Biology; Council on Hypertension.
Guidelines for the primary prevention of stroke: a statement for healthcare
professionals from the American Heart Association/American Stroke
Association. Stroke. 2014 Dec;45(12):3754-832.
National Institute of Neurological Disorders and Stroke rt-PA Stroke Study
Group. Tissue plasminogen activator for acute ischemic stroke. N Engl J
Med. 1995;333(24):1581-7.
Nogueira RG, Jadhav AP, Haussen DC, Bonafe A, Budzik RF, Bhuva P, et al.;
Dawn Trial Investigators. Thrombectomy 6 to 24 hours after stroke with a
mismatch between deficit and infarct. N Engl J Med. 2018;378(1):11-21.
O’Donnell MJ, Chin SL, Rangarajan S, Xavier D, Liu L, Zhang H, et al.;
Interstroke investigators. Global and regional effects of potentially
modifiable risk factors associated with acute stroke in 32 countries
(Interstroke): a case-control study. Lancet. 2016;388(10046):761-75.
Penumbra Pivotal Stroke Trial Investigators. The penumbra pivotal stroke trial:
safety and effectiveness of a new generation of mechanical devices for clot
removal in intracranial large vessel occlusive disease. Stroke.
2009;40(8):2761-8.
Pérez de la Ossa N, Abilleira S, Jovin TG, García-Tornel Á, Jimenez X, Urra X, et
al.; Racecat Trial Investigators. Effect of direct transportation to
thrombectomy-capable center vs local stroke center on neurological
outcomes in patients with suspected large-vessel occlusion stroke in
nonurban areas: The Racecat randomized clinical trial. JAMA. 2022;327(18):
1782-94.
Pontes-Neto OM, Silva GS, Feitosa MR, de Figueiredo NL, Fiorot JA Jr, Rocha
TN, et al. Stroke awareness in Brazil: alarming results in a community-based
study. Stroke. 2008;39(2):292-6.
Renú A, Millán M, San Román L, Blasco J, Martí-Fàbregas J, Terceño M, et al.;
Choice Investigators. Effect of intra-arterial alteplase vs placebo following
successful thrombectomy on functional outcomes in patients with large
vessel occlusion acute ischemic stroke: the Choice randomized clinical trial.
JAMA. 2022;327(9):826-35.
Rha JH, Saver JL. The impact of recanalization on ischemic stroke outcome: a
meta-analysis. Stroke. 2007;38(3):967-73.
Rost NS, Etherton M. Cerebral small vessel disease. Continuum (Minneap
Minn). 2020;26(2):332-52.
Sacco RL, Kasner SE, Broderick JP, Caplan LR, Connors JJ, Culebras A, et al.;
American Heart Association Stroke Council, Council on Cardiovascular
Surgery and Anesthesia; Council on Cardiovascular Radiology and
Intervention; Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; Council on
Epidemiology and Prevention; Council on Peripheral Vascular Disease;
Council on Nutrition, Physical Activity and Metabolism. An updated
definition of stroke for the 21st century: a statement for healthcare
professionals from the American Heart Association/American Stroke
Association. Stroke. 2013; 44(7):2064-89.
Smith WS, Sung G, Saver J, Budzik R, Duckwiler G, Liebeskind DS, et al.
Mechanical thrombectomy for acute ischemic stroke: final results of the
Multi MERCI trial. Stroke. 2008; 39(4):1205-12.
Tao C, Nogueira RG, Zhu Y, Sun J, Han H, Yuan G, et al.; Attention
Investigators. Trial of endovascular treatment of acute basilar-artery
occlusion. N Engl J Med. 2022;387(15):1361-72.
Thomalla G, Simonsen CZ, Boutitie F, Andersen G, Berthezene Y, Cheng B, et
al.; Wake-Up Investigators. MRI-guided thrombolysis for stroke with
unknown time of onset. N Engl J Med. 2018 Aug 16;379(7):611-22.
Tsao CW, Aday AW, Almarzooq ZI, Alonso A, Beaton AZ, Bittencourt MS, et al.
Heart disease and stroke statistics – 2022 update: a report from the
American Heart Association. Circulation. 2022;145(8):e153-e639.
WHO steps stroke manual: the WHO STEPwise approach to stroke surveillance
/ Noncommunicable diseases and mental health, World Health Organization.
Available: https://apps.who.int/iris/handle/10665/43420.
16 Desafios da anticoagulação no idoso
INTRODUÇÃO
Com o envelhecimento populacional, os eventos tromboembólicos
passam a ser importantes causas de morbidade e mortalidade na
população idosa. Em parcela desses pacientes o tratamento a curto ou
longo prazo com medicamento anticoagulante provavelmente será
necessário em algum momento da vida.
Essa faixa etária representa grupo com alto risco tromboembólico,
mas também está associada a alto risco hemorrágico. Assim, há uma
tendência a subutilizar os anticoagulantes nessa parcela da população,
seja por subestimar o risco tromboembólico e/ou superestimar o risco
de sangramento. Porém, os pacientes com maior risco hemorrágico
muitas vezes são aqueles que terão maior benefício com a terapia
anticoagulante.
Contribuem para o maior risco de sangramento na população
geriátrica a idade avançada e a presença de fatores fisiológicos
(redução da função renal) e patológicos (multimorbidades: doenças
cardiovasculares, pulmonares, renais e demências; risco aumentado de
quedas; baixo peso, fragilidade e polifarmácia com interações
farmacológicas). Por essas condições, a tomada de decisão clínica sobre
a anticoagulação se torna ainda mais desafiadora.
Entre as condições clínicas relacionadas a fenômenos
tromboembólicos e que apresentam elevada prevalência na população
idosa tem-se: trombose venosa profunda (TVP), embolia pulmonar (EP)
e acidente vascular encefálico (AVE) decorrente de fibrilação atrial
(FA).
TROMBOSE VENOSA PROFUNDA E EMBOLIA PULMONAR
Epidemiologia
Etiologia e fisiopatologia
Cirurgia Obesidade
FIBRILAÇÃO ATRIAL
A prevalência da FA aumenta com a idade. Em 2016 existiam cerca
de 3 milhões de indivíduos com FA nos EUA, com projeções de dobrar
no ano de 2050, com mais de 50% dos indivíduos afetados tendo mais
de 80 anos de idade. A FA é mais comum em homens do que em
mulheres de todas as idades. A prevalência é de 0,5% na população
entre 50 e 59 anos e de 8,8% nos maiores de 80 anos. Em idosos, a FA
ocorre mais comumente no quadro de anomalias valvares, hipertensão,
doença arterial coronariana (DAC) ou insuficiência cardíaca. Pode
ocorrer em idosos com doenças sistêmicas, como pneumonia, e após
cirurgia cardíaca e não cardíaca. São condições precipitantes
adicionais da FA: hipertireoidismo (incluindo subclínico), doença
pulmonar aguda ou crônica, distúrbios respiratórios relacionados com o
sono, EP e doença pericárdica.
A FA não ameaça a vida de imediato, mas pode resultar em
complicações significativas quando não tratada adequadamente, sendo
a principal complicação o AVE. Alterações cognitivas, insuficiência
cardíaca e implicações socioeconômicas também são consequências
importantes da FA. Em pacientes com insuficiência cardíaca, a FA foi
considerada fator de risco independente para mortalidade.
As diretrizes nacionais e internacionais sobre FA recomendam que
se utilize o escore CHA2DS2-VASc para a estratificação de risco (cuja
sigla é explicada na Tabela 1), estimando o risco anual de AVE nesses
pacientes (Tabela 2).
CH2DS2-VASc Pontuação
Hypertension (hipertensão) 1
Diabetes mellitus 1
0 0
1 1,3
2 2,2
3 3,2
4 4
5 6,7
6 9,8
7 9,6
8 6,7
9 15,2
Escore Conduta
> 65 anos 1
História de sangramento 1
RNI lábil 1
TABELA 3 Fatores de risco de sangramento
Abuso de álcool 1
Disfunção renal 1
Disfunção hepática 1
ACO: anticoagulante oral; Aine: anti-inflamatórios não esteroides; RNI: razão normalizada
internacional.
Pontuação maior que 3 indica maior risco de hemorragia pelo ACO. Deve-se destacar, contudo,
que esse escore não contraindica o uso de ACO, mas orienta quanto à necessidade de
cuidados especiais para tornar o tratamento mais seguro. Estudos mostram 40% de não
utilização das recomendações sobre ACO da Sociedade Europeia de Cardiologia, associando-se,
portanto, a maiores desfechos desfavoráveis.
0 1,13
1 1,02
2 1,88
3 3,74
4 8,7
5 12,5
6-9 >1
Controle pressórico
Antagonistas da vitamina K
O medicamento mais estudado entre os antagonistas da vitamina K
(AVK) é a varfarina. Os AVK levam à inibição da produção hepática de
fatores coagulantes (fatores II, VII, IX e X) e anticoagulantes (proteínas
C e S), predominando em longo prazo a função anticoagulante.
Os AVK apresentam características que interferem diretamente na
eficácia, riscos de anticoagulação e sangramento, embora com baixo
custo, ampla disponibilidade e grande experiência clínica. Apresentam
elevada interação com alimentos ricos em vitamina K (couve, espinafre,
brócolis), sendo necessário manter ingestão estável desses alimentos,
podendo restringir o hábito alimentar do paciente.
Ocorre também importante interação farmacológica, pela
similaridade de metabolização entre os fármacos pelo CIP2C9 hepático,
sendo necessária maior vigília em relação a medicamentos de uso
contínuo e habituais. São exemplos de medicamentos que aumentam a
metabolização da varfarina: azatioprina, barbitúricos, carbamazepina,
fenitoína, rifampicina. Associações de uso com outros medicamentos
que aumentam o RNI: ácido acetilsalicílico, anti-inflamatório não
esteroide (Aine), clopidogrel, inibidores seletivos da receptação da
serotonina, tiroxina. Outros medicamentos diminuem a metabolização
da varfarina: amiodarona, celecoxibe, eritromicina, flucinazol,
isoniazida, piroxicam, tamoxifeno.
A aderência ao uso dos AVK é afetada diretamente pela necessidade
de monitorização laboratorial, que deve ser estrita, uma vez que
estudos mostram que pacientes idosos mantêm a razão normalizada
internacional (RNI) fora do alvo terapêutico 50 a 60% do tempo,
estando esse dado diretamente relacionado com os riscos de TEV e
sangramento (hemorragia intracraniana), observados com RNI < 1,9 e
> 3,1, respectivamente.
Nos primeiros dias de uso de AVK o paciente pode apresentar um
estado de hipercoagulação devido ao efeito da varfarina sobre as
proteínas C e S, tornando necessária a utilização concomitante de
heparina, que deve ser mantida até o RNI atingir a faixa terapêutica
por 24 horas. O nível preconizado de RNI para anticoagulação é a
manutenção entre 2 e 3, porém, para portadores de prótese valvar na
posição mitral ou prótese metálica, o RNI deve ser mantido entre 2,5 e
3,5.
A recomendação atual para o início do uso de varfarina é:
Usar doses iniciais baixas para pacientes idosos < 85 anos (3 a 4 mg)
e 2,5 mg para pacientes idosos ≥ 85 anos, pacientes com síndrome
de fragilidade, desnutrição ou doença hepática e insuficiência renal
moderada a avançada (depuração de creatinina < 30 mL/minuto).
Mensurar o RNI em 3 dias. Se houver reajuste de dose, nova
mensuração em 7 dias. Se a dose permanecer estável, mensurar em
14 dias.
Na sequência a mensuração do INR é semanal durante os primeiros
90 dias em pacientes com maiores riscos, quaisquer que sejam, > 85
anos, fragilidade, insuficiência hepática ou renal, história de quedas,
comprometimento cognitivo, baixa escolaridade e tratamento inicial.
Condição Conduta
S Sexo (feminino) 1
A Idade (≤ 60 anos) 1
AVC: acidente vascular cerebral; DAC: doença arterial coronariana; DAP: doença arterial
periférica; ICC: insuficiência cardíaca congestiva.
Heparinas
O grupo das heparinas é composto predominantemente por heparina
não fracionada (HNF), heparina de baixo peso molecular (HBPM) e
fondaparinux. Atuam indiretamente, ligando-se à antitrombina, levando
a uma alteração conformacional dessa proteína e potencializando sua
ação inativadora dos fatores de coagulação, especialmente o fator Xa.
As heparinas mantêm sua importância clínica em cenários
específicos como: início da anticoagulação de TEV agudos previamente
à transição para cumarínicos e inibidores da trombina (inibidores do
fator Xa não necessitam do uso prévio de heparina), neoplasias,
síndrome coronariana aguda (SCA), profilaxia e ponte para cirurgias e
procedimentos. Tem-se que a via de administração parenteral dificulta
seu uso ambulatorial.
A HNF é uma mistura de glicosaminoglicanos, os quais ativam a
antitrombina para inativar a trombina (fator IIa) e o fator X ativado
(fator Xa), prevenindo a formação e a potencial disseminação de
trombos. A HNF pode ser administrada tanto por via subcutânea (SC)
como intravenosa (IV), e nesse caso é mais seguro o uso de bomba de
infusão. Pacientes idosos necessitam de doses menores da HNF para
atingir níveis terapêuticos de tempo de tromboplastina parcial ativada
(TTPa). A dose inicial de tratamento deve ser ajustada conforme o peso
do paciente.
Os efeitos adversos possíveis com o uso de HNF são risco de
hemorragia e trombocitopenia induzida pela heparina. A
trombocitopenia induzida pela heparina ocorre por volta de 14 dias
após o início da anticoagulação ou mesmo após sua suspensão e é
caracterizada pela queda de 50% da contagem de plaquetas ou valores
inferiores a 150 × 103/mcL.
Fondaparinux sódico
Dose-padrão 10 mg, 60 mg, 1x/dia. 15 mg, 2 x/dia, 150 mg, 2 x/dia. Dose
2x/dia, por 7 por 7 dias. ajustada
dias. Depois, 20 mg, pelo RNI
Depois, 5 1 x/dia. (RNI ideal:
mg, 2x/dia 2-3).
Redução de 2,5 mg, 2 30 mg, 1 15 mg, 1 x/dia, 110 mg, 2 x/dia, Dose
dose x/dia, se pelo x/dia, se se: se: ajustada
menos dois: qualquer: Clcr < 50 80 anos. pelo RNI.
> 80 Clcr < 50 mL/minuto. Uso de
anos. mL/minuto. verapamil.
Peso < 60 Peso < 60 Considerar se:
kg. kg. 75-80 anos.
Creatinina Clcr 30-50 mL.
> 1,33 Gastrite.
mg/dL.
Meia-vida 8-15 horas 10-14 horas 5-9 horas 12-18 horas 36-60
horas
Clcr: clearance de creatinina; FDA: Food and Drug Administration; RNI: razão normalizada
internacional; SNC: sistema nervoso central.
Indicação da prevenção
ACD: anticoagulantes orais diretos; HBPM: heparina de baixo peso molecular; HNF: heparina
não fracionada; RNI: razão normalizada internacional; TEV: tromboembolismo venoso.
Posologia
Tratamento do TEV:
– Enoxaparina (SC):
• 1 mg/kg, 2 vezes ao dia.
• 1,5 mg/kg, 1 vez ao dia, para os idosos com nefropatias.
– Dalteparina (SC):
• 200 UI/kg/dia, em uma única tomada.
• 100 Ul/kg, 2 vezes ao dia, em idosos com alto risco para
eventos hemorrágicos.
Profilaxia:
– Enoxaparina: 40 mg, se 1 vez ao dia.
– Dalteparina: 5.000 UI, se 1 vez ao dia.
Pacientes nefropatas: dose da HBPM a partir da dosagem da
atividade anti-Xa.
Prevenção de fenômenos tromboembólicos no paciente com fibrilação
atrial
Neoplasias
Déficit cognitivo
A ocorrência de eventos tromboembólicos está associada a risco
para demência 2 a 3 vezes maior, pela presença de infartos cerebrais
silenciosos e redução volumétrica encefálica, muitas vezes devido à FA.
Assim, em pacientes com demência, é necessária uma avaliação
individualizada do benefício da anticoagulação.
Fatores de risco para AVE e trombose sistêmica em portadores de
FA e de eventos tromboembólicos devem ser levados em conta, assim
como a fase de demência em que o paciente se encontra. Nesses
pacientes o envolvimento da família ou cuidador é fundamental para
aumentar a aderência na terapêutica.
Fragilidade
Síndrome da fragilidade.
Idade > 90 anos.
Câncer.
Desnutrição ou disfagia.
Polifarmácia.
Anticoagulante utilizado.
Função renal do paciente, risco de tromboembolia, indicação prévia
da anticoagulação, tempo decorrido desde o episódio trombótico e
tipo de procedimento.
Tipo de cirurgia (risco de sangramento baixo ou alto).
Caráter da cirurgia (eletiva ou de urgência).
Tipo de anestesia (geral, espinhal ou regional).
HBPM SC 24 horas.
AAS: ácido acetilsalicílico; Clcr: clearance de creatinina; HBPM: heparina de baixo peso
molecular; HNF: heparina não fracionada; IV: intravenoso; RNI: razão normalizada
internacional; SC: subcutâneo.
Dabigatrana Sobrepor varfarina com dabigatrana por 3 dias (função renal normal); 2
dias (CrCl 30-50 mL/minuto); ou 1 dia (CrCl 15-30 mL/minuto); observar que
a dabigatrana pode contribuir para a elevação do INR.
OU
Sobrepor varfarina com dabigatrana até que o INR seja terapêutico com
varfarina.*
Edoxabana Reduzir a dose pela metade (p. ex., 60-30 mg/dia ou 30-15 mg/dia) e iniciar
varfarina concomitantemente. Descontinuar edoxaban quando o INR for ≥
2; observar que o edoxaban pode contribuir para a elevação do INR*
OU
Descontinuar edoxaban e iniciar anticoagulante parenteral com varfarina;
continuar o agente parenteral até que o INR seja terapêutico com
varfarina*
OU
Sobrepor a varfarina com edoxaban até que o INR seja terapêutico com a
varfarina, testando imediatamente antes da próxima dose de edoxaban
para minimizar o efeito do edoxaban na elevação do INR.*
CrCl: depuração de creatinina; DOAC: anticoagulante oral direto; INR: razão normalizada
internacional; ASH: Diretriz de prática clínica da Sociedade Americana de Hematologia; PI:
bula; PT: tempo de protrombina.
* Dois a três dias de sobreposição após o INR se tornar terapêutico podem ser necessários em
indivíduos com maior risco de trombose, porque o PT/INR entrará na faixa terapêutica antes
que ocorra a anticoagulação completa. Em indivíduos com sobreposição de varfarina e um
DOAC, o DOAC pode contribuir para a elevação do INR.
Indivíduos que mudam de um DOAC para varfarina são mais propensos a necessitar de
anticoagulação contínua se tiverem um evento tromboembólico recente ou se apresentarem
risco especialmente alto de tromboembolismo.
Qualquer DOAC Iniciar o segundo DOAC quando a próxima dose do primeiro DOAC deveria
ter vencido; não se sobreponha
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A população idosa apresenta maior incidência de TEV e é o grupo
com maior benefício do uso da anticoagulação. Assim, não se deve
subestimar o risco tromboembólico dessa população, a despeito do
maior risco de sangramento.
O escore CHA2DS2-VASc deve ser utilizado para avaliação de risco
para fenômenos tromboembólicos em pacientes portadores de FA.
A idade, o risco de queda e o déficit cognitivo não devem ser
barreiras para a anticoagulação. A avaliação de risco de
sangramento deve ser realizada de forma cautelosa.
Embora os cumarínicos ainda sejam opções efetivas e seguras, os
ACD apresentam vantagens como facilidade posológica e de
monitorização, menos interações e menor risco de sangramento em
algumas situações.
A escolha da terapia anticoagulante deve ser realizada de forma
individualizada, levando em consideração fatores como função renal,
interações medicamentosas, risco de sangramento e desejo do
paciente.
A HBPM continua sendo a terapia de escolha em pacientes com TEV
associados a neoplasias, tanto para tratamento na fase aguda quanto
na manutenção. O tempo de tratamento deve ser de no mínimo 3
meses, devendo ser individualizado em relação ao risco de
recorrência e risco de sangramento.
BIBLIOGRAFIA
Baron TH, Kamath PS, McBane RD. Management of antithrombotic therapy in patients
undergoing invasive procedures. N Engl J Med. 2013;368(22):2113-24.
Best JG, Bell R, Haque M, Chandratheva A, Werring DJ. Atrial fibrillation and stroke: a practical
guide. Pract Neurol. 2019;19(3):208-24.
Bethishou L, Gregorian T, Won K, Lopez K, Tsu LV. Management of venous thromboembolism in
the elderly: a review of the non-vitamin K oral anticoagulants. Consult Pharm.
2018;33(5):248-61.
Borges JL. Anticoagulantes orais no idoso com fibrilação atrial. In: Manual de cardiogeriatria.
4ª ed. São Paulo: Jairo Lins Borges; 2018. p.205-21.
Chan NC, Eikelboom JW. How I manage anticoagulant therapy in older individuals with atrial
fibrillation or venous thromboembolism. Blood. 2019;133(21):2269-78.
Chen ST, Patel MR. Comparison of anticoagulant therapy for atrial fibrillation: novel oral
anticoagulants versus vitamin K antagonists. Prog Cardiovasc Dis. 2018;60(4-5):514-23.
Diener H-C, Aisenberg J, Ansell J, Atar D, Breithardt G, Eikelboom J, et al. Choosing a particular
oral anticoagulant and dose for stroke prevention in individual patients with non-valvular
atrial fibrillation: part 1. Eur Heart J. 2017;38(12):852-9.
Díez-Villanueva P, Alfonso F. Atrial fibrillation in the elderly. J Geriatr Cardiol. 2019;16(1):49-53.
Djulbegovic M, Lee AI. An update on the “novel” and direct oral anticoagulants, and long-term
anticoagulant therapy. Clin Chest Med. 2018;39(3):583-93.
Feitosa-Filho GS, Peixoto JM, Pinheiro JES, Afiune Neto A, de Albuquerque ALT, Cattani ÁC, et
al. Updated geriatric cardiology guidelines of the Brazilian Society of Cardiology – 2019. Arq
Bras Cardiol. 2019 May;112(5):649-705.
Hindricks G, Potpara T, Dagres N, Arbelo E, Bax JJ, Blomström-Lundqvist C, et al. 2020 ESC
guidelines for the diagnosis and management of atrial fibrillation developed in collaboration
with the European Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS): The Task Force for the
diagnosis and management of atrial fibrillation of the European Society of Cardiology (ESC)
developed with the special contribution of the European Heart Rhythm Association (EHRA)
of the ESC. Eur Heart J. 2021; 42(5):373-498.
January CT, Wann LS, Calkins H, Chen LY, Cigarroa JE, Cleveland JC, et al. 2019 AHA/ACC/HRS
FOCUSED UPDATE of the 2014 AHA/ACC/HRS guideline for the management of patients
with atrial fibrillation: a report of the American College of Cardiology/American Heart
Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society.
Circulation. 2019;74(1): 104-32.
Kearon C, Akl EA, Ornelas J, Blaivas A, Jimenez D, Bounameaux H, et al. Antithrombotic therapy
for VTE disease: Chest guideline and expert panel report. Chest. 2016;149(2):315-52.
Kim D, Yang PS, Sung JH, Jang E, Yu HT, Kim TH, et al. Effectiveness and safety of
anticoagulation therapy in frail patients with atrial fibrillation. Stroke. 2022 ;53(6):1873-82.
Lee AYY. When can we stop anticoagulation in patients with cancer-associated thrombosis?
Blood. 2017;130(23):2484-90.
Lip GYH, Nieuwlaat R, Pisters R, Lane DA, Crijns HJ. Refining clinical risk stratification for
predicting stroke and thromboembolism in atrial fibrillation using a novel risk factor-based
approach: the euro heart survey on atrial fibrillation. Chest. 2010;137(2):263-72.
Magalhães L, Figueiredo M, Cintra F, Saad E, Kuniyoshi R, Teixeira R, et al. II diretrizes
brasileiras de fibrilação atrial. Arq Bras Cardiol. 2016;106(4 Suppl 2):1-22.
Massaro AR, Lip GYH. Prevenção do acidente vascular cerebral na fibrilação atrial: foco na
América Latina. Arq Bras Cardiol. 2016;107(6):576-89.
Ng KH, Hart RG, Eikelboom JW. Anticoagulation in patients aged ≥ 75 years with atrial
fibrillation: role of novel oral anticoagulants. Cardiol Ther. 2013;2(2):135-49.
Proietti M, Nobili A, Raparelli V, Napoleone L, Mannucci PM, Lip GYH, et al. Adherence to
antithrombotic therapy guidelines improves mortality among elderly patients with atrial
fibrillation: insights from the Reposi study. Clin Res Cardiol. 2016;105(11):912-20.
Robert-Ebadi H, Le Gal G, Righini M. Use of anticoagulants in elderly patients: practical
recommendations. Clin Interv Aging. 2009;4:165-77.
Rohla M, Weiss TW, Pecen L, Patti G, Siller-Matula JM, Schnabel RB, et al. Risk factors for
thromboembolic and bleeding events in anticoagulated patients with atrial fibrillation: the
prospective, multicentre observational Prevention of thromboembolic events – European
Registry in Atrial Fibrillation (Prefer in AF). BMJ Open. 2019;9(3):e022478.
Silverstein RL, Bauer KA, Cushman M, Esmon CT, Ershler WB, Tracy RP. Venous thrombosis in
the elderly: more questions than answers. Blood. 2007;110(9):3097-101.
Singer DE, Chang Y, Fang MC, Borowsky LH, Pomernacki NK, Udaltsova N, et al. Should
patient characteristics influence target anticoagulation intensity for stroke prevention in
nonvalvular atrial fibrillation?: the Atria study. Circ Cardiovasc Qual Outcomes.
2009;2(4):297-304.
Wigle P, Hein B, Bloomfield HE, Tubb M, Doherty M. Updated guidelines on outpatient
anticoagulation. Am Fam Physician. 2013;87(8):556-66.
Witt DM, Nieuwlaat R, Clark NP, Ansell J, Holbrook A, Skov J, et al. American Society of
Hematology 2018 guidelines for management of venous thromboembolism: optimal
management of anticoagulation therapy. Blood Adv. 2018;2:3257.
Xu Y, Schulman S, Dowlatshahi D, Holbrook AM, Simpson CS, Shepherd LE, et al. Direct oral
anticoagulant- or warfarin-related major bleeding: characteristics, reversal strategies, and
outcomes from a multicenter observational study. Chest. 2017;152(1):81-91.
Yoo HH, Nunes-Nogueira VS, Fortes Villas Boas PJ, Broderick C. Outpatient versus inpatient
treatment for acute pulmonary embolism. Cochrane Database Syst Rev. 2019;3:CD010019.
You JJ, Singer DE, Howard PA, Lane DA, Eckman MH, Fang MC, et al. Antithrombotic therapy
for atrial fibrillation: antithrombotic therapy and prevention of thrombosis, 9th ed. American
College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141(2
Suppl):e531S-75S.
SEÇÃO III
INTRODUÇÃO
Sendo asma um assunto muito amplo e a fim de
enfatizar peculiaridades do idoso, opto neste capítulo por
não abordar exacerbações agudas de asma e não expor
explícita e detalhadamente os esquemas terapêuticos e os
passos do tratamento mais aceitos.
Há documentos de qualidade que apresentam
adequadamente esses pontos, sendo o mais bem aceito o da
Global Initiative for Asthma (GINA), atualizado anualmente
e disponível em https://ginasthma.org. Pela carência de
textos sobre particularidades do idoso asmático e a
abundância de textos gerais, considero mais proveitoso
fornecer aqui informações e opiniões específicas sobre
asma nessa população, que podem complementar os textos
gerais.
EPIDEMIOLOGIA
Apesar das inúmeras dificuldades em diagnosticar asma
no idoso, estima-se que a doença tenha uma prevalência
entre 4 e 13% em indivíduos com 65 anos ou mais, com
grande variabilidade entre países/regiões geográficas.
Independentemente da prevalência, sabe-se que idosos têm
maior morbidade e mortalidade por asma do que não
idosos. Particularidades do idoso e lacunas do
conhecimento da doença nessa faixa etária contribuem
para esse quadro.
A definição mais aceita e atual (endossada pelo
documento GINA) será usada nos tópicos subsequentes:
FISIOPATOLOGIA: INFLAMAÇÃO
“A asma é uma doença heterogênea, geralmente caracterizada por
inflamação crônica de vias aéreas.”
QUADRO CLÍNICO
“... É definida por história de sintomas respiratórios como chiado, falta de
ar, aperto no peito e tosse que variam no tempo e em intensidade, ...”
FENÓTIPOS/ENDÓTIPOS
“A asma é uma doença heterogênea, ...”
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de asma no idoso deve ser feito da mesma
forma que no não idoso: história clínica, exame físico e
exames de função pulmonar (comumente, espirometria)
sugestivos/compatíveis. As particularidades clínicas e
espirométricas do idoso explicitadas previamente devem
ser levadas em consideração, assim como a maior
prevalência de comorbidades. Portanto, é importante que
sejam realizados exames subsidiários que descartem outras
doenças potencialmente responsáveis pelo quadro. É
recomendável que sejam feitos ao menos radiografia de
tórax e eletrocardiograma para uma triagem simples de
outras doenças respiratórias (doenças intersticiais, p. ex.) e
cardiovasculares (arritmias, insuficiência cardíaca). A
quantidade e a natureza de outros exames necessários
devem ser individualizadas. A pouca percepção/pouco
relato de sintomas dificultam o diagnóstico de asma no
idoso, além de dificultar sobremaneira a avaliação de
controle clínico durante o acompanhamento. Assim, o uso
de parâmetros mais objetivos de acometimento fisiológico
(espirometria é o mais usado) deve ser encorajado entre os
médicos.
Uma das maiores dificuldades em diagnóstico
diferencial no idoso é distinguir entre asma e DPOC, já que
ambas compartilham várias características. Entre os
pneumologistas muito se discute quanto a critérios
diagnósticos de uma sobreposição asma-DPOC. Ainda não
há consenso mesmo sobre se essa sobreposição deve ser
considerada uma entidade nosológica à parte; considero
que, se a dúvida entre diagnóstico de asma ou DPOC
persistir, o paciente deve ser encaminhado a um
especialista.
TRATAMENTO
Não há protocolo específico para tratamento de idosos
asmáticos, portanto a terapêutica segue os consensos mais
aceitos mundialmente, como o GINA. A seguir, alguns
aspectos do tratamento relevantes para o geriatra.
Dispositivos inalatórios
1. Medicações de controle.
2. Medicações de alívio.
Medicações de controle
Usadas para evitar sintomas. À exceção de casos mais
leves, devem ser usadas diariamente, independentemente
de haver sintomas. Por vezes, é difícil que o paciente
compreenda ou aceite o uso diário de uma medicação
estando assintomático (vide tratamento de outras doenças
crônicas como hipertensão arterial sistêmica), portanto o
uso assíduo deve ser reforçado a cada consulta. Estudos
duplo-cegos randomizados placebo-controlados em asma
muito comumente não incluem idosos; no entanto, um
princípio deve ser sempre levado em conta: para
tratamento de manutenção sempre deve haver
corticosteroide inalado (CEi). É uma classe de droga que
comprovadamente reduziu a mortalidade, a frequência de
sintomas, de exacerbações e que promove melhora de
qualidade de vida de asmáticos. É errado prescrever outras
classes de droga inaladas de controle sem associação com
eles (uma grande diferença em relação ao tratamento da
DPOC, diga-se).
O médico que prescreve medicações para idosos pode
preocupar-se com potenciais efeitos colaterais. Metanálises
e revisões sistemáticas de literatura avaliando efeitos
colaterais de CEi (fraturas, desenvolvimento de catarata e
outros) mostram que boa parte dos estudos de qualidade
não contempla especificamente idosos; alguns incluem
indivíduos com outras doenças, como DPOC; o tipo de CEi
testado nem sempre foi o mesmo etc.
A maioria dos grandes estudos que testaram eficácia e
segurança de medicações para asma excluiu idosos, o que
reduz ainda mais o conhecimento a respeito. No entanto,
diante de uma conduta que comprovadamente tem
benefício versus efeitos colaterais não homogênea e
plenamente conhecidos, recomenda-se o tratamento com
essas drogas em idosos. Certamente é preciso rever
paciente a paciente e consulta a consulta se há indícios de
efeitos colaterais atribuíveis aos corticosteroides,
principalmente se prescritas doses equivalentes ou maiores
do que 1.000 mcg/dia de budesonida (o documento GINA
conta com uma excelente tabela de equivalência de doses
que pode ser consultada por qualquer médico).
Medicações de alívio
Usadas para alívio de sintomas quando eles surgem.
Beta-agonistas e anticolinérgicos inalados são as principais
drogas, e recentemente vem crescendo a tendência a
sempre administrar CEi quando se usa um beta-agonista de
alívio. A proposta de tratamento preferencial do GINA
(“caminho 1”, naquele documento) é de uso de formoterol
(beta-agonista de ação prolongada) + CEi em baixa dose
para alívio. Essa suposta mudança de paradigma tem
gerado dúvidas e ansiedade entre os médicos prescritores,
principalmente porque nem sempre há acesso a
formulações adequadas de forma universal. O uso de
formoterol + budesonida como alívio em todos os passos do
tratamento (“caminho 1”) traz vantagens como:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que haja muitas lacunas no conhecimento sobre
asma no idoso, alguns pontos principais são de grande
importância para o geriatra:
O diagnóstico e o tratamento devem seguir, via de regra,
os protocolos usados para não idosos.
É preciso insistir em caracterização meticulosa de
sintomas, mesmo que atípicos, uma vez que a doença é
heterogênea e idosos tendem a perceber/relatar menos
sintomas do que não idosos.
Sempre que os pacientes tiverem condição, tentar
documentar objetivamente a obstrução de vias aéreas e
hiper-responsividade brônquica por espirometria.
A cada consulta, a adesão e a técnica do uso de
dispositivos inalatórios devem ser checadas.
Se indicado tratamento com medicações de controle,
corticosteroide inalado deve ser usado.
BIBLIOGRAFIA
Baptist AP, Busse PJ. Asthma over the age of 65: all’s well that ends well. J
Allergy Clin Immunol Pract. 2018;6(3):764-73.
Barnes PJ, Szefler SJ, Reddel HK, Chipps BE. Symptoms and perception of
airway obstruction in asthmatic patients: clinical implications for use of
reliever medications. J Allergy Clin Immunol. 2019;144(5):1180-6.
Bezerra de Menezes M, Ponte EV, Bertagni Mingotti CF, Carvalho Pinto RM,
Bagatin E, Bião Lima V, et al. Provision of inhaled corticosteroids is
associated with decrease in hospital admissions in Brazil: a longitudinal
nationwide study. Respir Med. 2020;166:105950.
Brito TS, Luiz RR, Silva JRLE, Campos HDS. Asthma mortality in Brazil, 1980-
2012: a regional perspective. J Bras Pneumol. 2018;44(5):354-60.
Dunn RM, Busse PJ, Wechsler ME. Asthma in the elderly and late-onset adult
asthma. Allergy. 2018;73(2):284-94.
Fulop T, Larbi A, Dupuis G, Le Page A, Frost EH, Cohen AA, et al.
Immunosenescence and inflamm-aging as two sides of the same coin: friends
or foes? Front Immunol. 2018; 8:1960.
Global Initiative for Asthma (GINA). Global strategy for asthma management
and prevention. 2022. Available: https://ginasthma.org/wp-
content/uploads/2021/05/GINA-Main-Report-2021-V2-WMS.pdf . (Acesso fev
2023.)
González-Díaz SN, Villarreal-Gonzalez RV, Lira-Quezada CE, Guzman-Avilan RI.
Outcome measures to be considered on asthma in elderly. Curr Opin Allergy
Clin Immunol. 2019;19(3):209-15.
Herscher ML, Wisnivesky JP, Busse PJ, Hanania NA, Sheng T, Wolf MS, et al.
Characteristics and outcomes of older adults with long-standing versus late-
onset asthma. J Asthma. 2017;4(3):223-9.
Mattishent K, Thavarajah M, Blanco P, Gilbert D, Wilson AM, Loke YK. Meta-
review: adverse effects of inhaled corticosteroids relevant to older patients.
Drugs. 2014;74(5): 539-47.
Moore WC, Meyers DA, Wenzel SE, Teague WG, Li H, Li X, et al.; National
Heart, Lung, and Blood Institute’s Severe Asthma Research Program.
Identification of asthma phenotypes using cluster analysis in the Severe
Asthma Research Program. Am J Respir Crit Care Med. 2010; 181(4):315-23.
Mortimer K, Reddel HK, Pitrez PM, Bateman ED. Asthma management in low
and middle income countries: case for change. Eur Respir J.
2022;60(3):2103179.
Ozseker ZF, Aksu K, Mutlu LC, Mutlu P, Ozturk C; Turkish Respiratory Society,
Asthma, Allergic Respiratory Disease Scientific Committee. Expert Opinion
on Practice Patterns in Mild Asthma After the GINA 2019 updates: a major
shift in treatment paradigms from a long-standing Saba-only approach to a
risk reduction-based strategy with the use of symptom-driven (as-needed)
low-dose ICS/Laba. Curr Allergy Asthma Rep. 2022;22(10):123-34.
Pawelec G. Age and immunity: what is “immunosenescence”? Exp Gerontol.
2018 May;105:4-9.
Pennington E, Yaqoob ZJ, Al-Kindi SG, Zein J. Trends in asthma mortality in the
United States: 1999 to 2015. Am J Respir Crit Care Med.
2019;199(12):1575-7.
Shaw DE, Gaynor CM, Fogarty AW. Changes in asthma mortality in England
and Wales since 2001. Thorax. 2019; 74(12):1174-5.
Singh D, Garcia G, Maneechotesuwan K, Daley-Yates P, Irusen E, Aggarwal B,
et al. New versus old: the impact of changing patterns of inhaled
corticosteroid prescribing and dosing regimens in asthma management. Adv
Ther. 2022;39(5):1895-914.
Stanojevic S, Kaminsky DA, Miller MR, Thompson B, Aliverti A, Barjaktarevic I,
et al. ERS/ATS technical standard on interpretive strategies for routine lung
function tests. Eur Respir J. 2022;60(1):2101499.
Westerik JA, Carter V, Chrystyn H, Burden A, Thompson SL, Ryan D, et al.
Characteristics of patients making serious inhaler errors with a dry powder
inhaler and association with asthma-related events in a primary care setting.
J Asthma. 2016;53(3):321-9.
Yáñez A, Cho SH, Soriano JB, Rosenwasser LJ, Rodrigo GJ, Rabe KF, et al.
Asthma in the elderly: what we know and what we have yet to know. World
Allergy Organ J. 2014;7(1):8.
18 Doença pulmonar obstrutiva crônica no idoso
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma
condição pulmonar heterogênea caracterizada por
sintomas respiratórios crônicos (tosse, dispneia e
expectoração) secundários a anormalidades nas vias aéreas
(bronquite, bronquiolite) e/ou alvéolos (enfisema), que
causam obstrução aérea persistente e frequentemente
progressiva. Tais alterações são associadas à exposição
significativa a partículas e gases tóxicos.
A DPOC é uma doença prevalente na população idosa,
com elevada morbidade e mortalidade. É subdiagnosticada
nas faixas etárias mais elevadas devido à inespecificidade
dos sintomas (frequentemente a dispneia é atribuída a
patologias cardiovasculares) e à subutilização de testes de
função pulmonar, especialmente na atenção primária.
Idosos com tosse produtiva crônica e dispneia deveriam ser
avaliados por espirometria, principalmente na presença de
fatores de risco para a doença, como a exposição ao
tabagismo e a queima de biomassa.
Evidências clínicas e patológicas de acometimento de
vias aéreas (bronquite crônica) e de parênquima pulmonar
(enfisema) habitualmente estão presentes em todos os
pacientes, porém com variação significativa na magnitude
de cada componente entre indivíduos, de modo que a
apresentação clínica e radiológica é bastante heterogênea.
EPIDEMIOLOGIA
A prevalência, a morbidade e a mortalidade da DPOC
variam bastante entre diferentes países. Um estudo
populacional realizado em cinco capitais da América Latina
mostrou uma prevalência de DPOC de 15,8% na cidade de
São Paulo em indivíduos com mais de 40 anos. É
consideravelmente maior no sexo masculino, porém há uma
tendência à redução dessa diferença devido ao aumento
progressivo de mulheres fumantes observado nas últimas
décadas. Apesar da elevada prevalência, apenas 1 em cada
8 pacientes com DPOC detectado na pesquisa já havia
recebido o diagnóstico da doença, evidenciando a grande
quantidade de casos subdiagnosticados e, portanto,
subtratados no país. A prevalência da doença aumenta com
a idade. Dos 40 aos 59 anos, fica em torno de 9,2%,
elevando-se para 22,6% entre 60 e 79 anos. Em 1990, era a
sexta causa de morte e passou para a quarta desde os anos
2000. Em 2019, causou mais de 3 milhões de mortes e
passou a ser a terceira causa de morte no mundo.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A maioria dos pacientes portadores de DPOC tem
história atual ou pregressa de tabagismo, que é
reconhecido como o mais importante fator para o
desenvolvimento da doença, principalmente em países
desenvolvidos. Entretanto, de 1/4 até 1/3 dos pacientes
nunca fumaram, sendo o quadro atribuído a tabagismo
passivo, poeira ocupacional, fumaça química, combustão de
biomassa (lenha, carvão vegetal, esterco de animais e
restos de lavoura) e poluição ambiental. No Brasil e nos
demais países em desenvolvimento, ainda é bastante
comum o diagnóstico de DPOC em pacientes com histórico
de exposição a fogão a lenha. A queima de biomassa em
ambientes internos é um fator de risco importante em
mulheres não fumantes que são expostas a concentrações
elevadas de poluentes durante o ato de cozinhar,
principalmente em áreas rurais. O Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) estimou em 40,9% a
proporção de moradores rurais e em 2,6% a de moradores
da zona urbana que utilizavam fogão a lenha no país.
Com o avançar da idade, ocorrem alterações na parede
torácica e na arquitetura do parênquima pulmonar que
modificam a fisiologia respiratória e aumentam o trabalho
para respirar (Quadro 1). Portanto, a população idosa é
particularmente suscetível a doenças que cursem com
perda de função pulmonar, pois o sinergismo das alterações
fisiológicas e patológicas pode levar a apresentações
clínicas mais graves nesse grupo de pacientes.
A partir dos 30 anos de idade, indivíduos saudáveis não
fumantes perdem cerca de 30 mL/ano do volume
expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1). A
capacidade vital forçada (CVF) também declina com a
idade, com aceleração da queda de VEF1 e CVF a partir dos
65 anos. A relação VEF1/CVF também é reduzida em idosos,
podendo levar a falsos diagnósticos de obstrução
brônquica. O volume residual (VR), que é o volume de ar
que persiste nos pulmões após uma expiração completa,
eleva-se aproximadamente 50% entre 20 e 70 anos de
idade. A força da contração diafragmática é 25% menor na
oitava década de vida em comparação à terceira.
A relação entre a ventilação alveolar (V) e a perfusão
capilar pulmonar (Q) determina a capacidade do pulmão de
realizar trocas gasosas de oxigênio (O2) e gás carbônico
(CO2). As alterações fisiológicas tanto na ventilação quanto
na perfusão pulmonar existentes nos idosos promovem um
desequilíbrio V/Q, com consequente prejuízo nas trocas
gasosas. A pressão arterial de O2 (PaO2) costuma ser
reduzida nessa população, enquanto a pressão arterial de
CO2 (PaCO2) geralmente se encontra preservada devido ao
aumento compensatório no volume-minuto (volume
corrente x frequência respiratória).
O aumento do número de células inflamatórias, que
resulta em produção anormal de citocinas pró-
inflamatórias, e o desequilíbrio entre a formação de
radicais livres e a capacidade antioxidante, resultando em
sobrecarga oxidativa, provavelmente são mecanismos
envolvidos na inflamação local e sistêmica de pacientes
portadores de DPOC.
TRATAMENTO
O tratamento na DPOC tem como objetivo reduzir os
sintomas respiratórios, a limitação das atividades, a piora
da função pulmonar, o número de exacerbações e melhorar
a qualidade de vida. Divide-se em tratamento não
farmacológico, baseado na promoção da cessação do
tabagismo, vacinação, exercício físico com reabilitação
pulmonar e tratamento farmacológico.
Aproximadamente 12% da população acima de 65 anos
na Europa, 9% nos EUA e 7,4% no Brasil (Vigitel 2021) são
tabagistas. A cessação do tabagismo melhora a dispneia e
outros sintomas respiratórios, reduz a progressão da piora
da função pulmonar, aumenta a sobrevida e reduz o risco
para doenças cardiovasculares e neoplasia em pacientes
com DPOC. Para melhor taxa de sucesso, deve-se combinar
a terapia farmacológica específica com a terapia cognitivo-
comportamental, focada na mudança de hábitos
relacionados com o tabagismo, que pode ser oferecida em
grupo ou de forma individual. São drogas de primeira linha
para tratamento de tabagismo: vareniclina, bupropiona e
terapia de reposição de nicotina. Nortriptilina e clonidina
são considerados tratamentos de segunda linha, e seu uso
deve ser desencorajado em pacientes idosos devido ao
perfil desfavorável de efeitos colaterais nessa população.
Infecções traqueobrônquicas virais ou bacterianas estão
envolvidas em 50 a 70% das exacerbações. Vacinação anti-
influenza e antipneumocócica tem mostrado resultados
positivos na prevenção de exacerbação em pacientes com
DPOC. A vacina anti-influenza deve ser administrada
anualmente. No mercado existem duas vacinas
antipneumocócicas: uma vacina pneumocócica
polissacarídica 23-valente (VPP-23) não conjugada a
carreador proteico, que possui antígenos da parede de 23
sorotipos pneumocócicos, e a pneumocócica conjugada 13-
valente (VPC-13), que utiliza um carreador proteico para os
antígenos polissacarídeos. Esta última formulação aumenta
o efeito imunogênico e confere proteção mais duradoura.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
recomenda atualmente para idosos (> 60 anos) vacinação
sequencial antipneumocócica, iniciando com uma dose da
VPC-13 seguida de uma dose da VPP-23 após 6 a 12 meses
e uma segunda dose da VPP-23 5 anos depois da primeira.
Se a segunda dose de VPP-23 for aplicada antes dos 65
anos, é recomendada uma terceira dose depois dessa idade,
com intervalo mínimo de 5 anos da última dose. Portadores
de DPOC devem ser imunizados contra SARS-CoV-2 (covid-
19) em linha com as recomendações nacionais. O Center of
Disease Control (CDC) tem recomendado a vacina tríplice
bacteriana (dPTa) para indivíduos que não tenham recebido
a vacinação na adolescência e a vacina para herpes-zóster
rotineiramente, recomendação também presente no Global
Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD).
Pacientes com DPOC têm perda na quantidade e na
qualidade da musculatura e estão dentro de uma espiral da
dispneia (Figura 3). Quebrar essa espiral é um desafio ao
tratamento da doença, devido à grande resistência e às
dificuldades para a realização de exercícios físicos. Quando
praticados regularmente, proporcionam significativa
melhora sintomática e de qualidade de vida. O treinamento
físico é o melhor meio disponível para melhorar a função
muscular na DPOC, e todo paciente com DPOC deve ser
estimulado a realizar esse tipo de atividade.
Um conceito maior do que apenas exercício físico é a
reabilitação pulmonar, que, segundo a recomendação
conjunta da American Thoracic Society (ATS) e da
European Respiratory Society (ERS), “é uma intervenção
abrangente baseada em uma avaliação completa do
paciente, seguida por terapias personalizadas que incluem,
mas não limitadas a, treinamento físico, educação e
mudança de comportamento, projetadas para melhorar a
condição física e psicológica de pessoas com doença
respiratória crônica e promover a adesão a longo prazo aos
comportamentos de melhoria da saúde”. É objetivo da
reabilitação a minimização do impacto dos sintomas,
aumento da capacidade de exercício, promoção da
autonomia e da participação em atividades cotidianas e
melhora da qualidade de vida relacionada com a saúde.
Beta-2-agonistas
Anticolinérgicos
QUADRO 2 Medicações inalatórias utilizadas na terapia da DPOC
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A DPOC é uma doença prevalente na população idosa
com elevada morbidade e mortalidade e tendência de
aumento nas próximas décadas.
É subdiagnosticada em idosos devido a sintomas
inespecíficos e à subutilização de testes de função
pulmonar.
Sintomas clínicos de dispneia, tosse crônica e
expectoração devem levar à solicitação de espirometria
na avaliação de pacientes idosos.
É uma doença sistêmica associada a fadiga, hiporexia,
sarcopenia, osteopenia, ansiedade e depressão.
Os objetivos do tratamento são melhorar sintomas e
prevenir piora da função pulmonar e exacerbações.
Cessação do tabagismo, medicações inalatórias e
reabilitação pulmonar são a chave do tratamento
individualizado de pacientes idosos com DPOC.
BIBLIOGRAFIA
Arbex MA, Santos UP, Martins C, Saldiva PHN, Pereira AA, Braga ALF. A
poluição do ar e o sistema respiratório. J Bras Pneumol. 2012;38(5):643-55.
Bock K, Bendstrup E, Hilberg O, Løkke A. Screening tools for evaluation of
depression in chronic obstructive pulmonary disease (COPD): a systematic
review. Eur Clin Respir J. 2017;4(1):1332931.
Byun MK, Cho EN, Chang J, Ahn CM, Kim HJ. Sarcopenia correlates with
systemic inflammation in COPD. Int J Chron Obstruct Pulmon Dis.
2017;12:669-75.
Cazzola M, Calzetta L, Page C, Jardim J, Chuchalin AG, Rogliani P, et al.
Influence of N-acetylcysteine on chronic bronchitis or COPD exacerbations:
a meta-analysis. Eur Respir Rev. 2015;24(137):451-61.
Cazzola M, Matera MG. Bronchodilators: current and future. Clin Chest Med.
2014;35(1):191-201.
Celli BR, Halbert RJ, Nordyke RJ, Schau B. Airway obstruction in never
smokers: results from the third national health and nutrition examination
survey. Am J Med. 2005; 118(12):1364-72.
Froes F, Roche N, Blasi F. Pneumococcal vaccination and chronic respiratory
diseases. Int J Chron Obstruct Pulmon Dis. 2017;12:3457-68.
(Gold) Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global Strategy
for the Diagnosis, Management and Prevention of Chronic Obstructive
Pulmonary Disease: 2023 Report. Gold; 2023. Available: https://goldcopd.org
(acesso 2023 jan 28).
Hung WW, Wisnivesky JP, Siu AL, Ross JS. Cognitive decline among patients
with chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med.
2009;180(2):134-7.
Jaramillo JD, Wilson C, Stinson DS, Lynch DA, Bowler RP, Lutz S, et al. Reduced
bone density and vertebral fractures in smokers. men and COPD patients at
increased risk. Ann Am Thorac Soc. 2015;12(5):648-56.
Jones SE, Maddocks M, Kon SSC, Canavan JL, Nolan CM, Clark AL, et al.
Sarcopenia in COPD: prevalence, clinical correlates and response to
pulmonary rehabilitation. Thorax. 2015;70:213-18.
Kopsaftis Z, Wood-Baker R, Poole P. Influenza vaccine for chronic obstructive
pulmonary disease (COPD). Cochrane Database Syst Rev. 2018;6:CD002733.
Lipson DA, Barnhart F, Brealey N, Brooks J, Criner GJ, Day NC, et al; Impact
Investigators. Once-Daily Single-Inhaler Triple versus Dual Therapy in
Patients with COPD. N Engl J Med. 2018;378(18):1671-80.
Lopez-Campos JL, Tan W, Soriano JB. Global burden of COPD. Respirology.
2016;21(1):14-23.
Menezes AM, Perez-Padilla R, Jardim JR, Muiño A, Lopez MV, Valdivia G, et al.
Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the
Platino study): a prevalence study. Lancet. 2005;366(9500):1875-81.
Moreira MA, Barbosa MA, Jardim JR, Queiroz MC, Inácio LU. Doença pulmonar
obstrutiva crônica em mulheres expostas à fumaça de fogão a lenha. Revista
da Associação Médica Brasileira. 2013;59(6):607-13.
National Lung Screening Trial Research Team. Reduced lung-cancer mortality
with low-dose computed tomographic screening. N Engl J Med.
2011;365(5):395-409.
Pradella CO, Belmonte GM, Maia MN, Delgado CS, Luise APT, Nascimento OA,
et al. Home-based pulmonary rehabilitation for subjects with COPD: a
randomized study. Respir Care. 2014;60(4):526-32.
Rabe KF, Martinez FJ, Ferguson GT, Wang C, Singh D, Wedzicha JA, et al; Ethos
Investigators. Triple Inhaled Therapy at Two Glucocorticoid Doses in
Moderate-to-Very-Severe COPD. N Engl J Med. 2020;383(1):35-48.
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Calendário de vacinação do idoso.
Recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) –
2019/2020.
Singh D, Agusti A, Martinez FJ, Papi A, Pavord ID, Wedzicha JA, et al. Blood
eosinophils and chronic obstructive pulmonary disease: a global initiative for
Chronic Obstructive Lung Disease Science Committee 2022 review. Am J
Respir Crit Care Med. 2022;206(1):17-24.
Skloot GS. The effects of aging on lung structure and function. Clin Geriatr
Med. 2017;33(4):447-57.
Spruit MA, Singh SJ, Garvey C, ZuWallack R, Nici L, Rochester C, et al. An
official American Thoracic Society / European Respiratory Society
statement: key concepts and advances in pulmonary rehabilitation. Am J
Respir Crit Care Med. 2013;188(8):e13-e64.
Walters JA, Tang JN, Poole P, Wood-Baker R. Pneumococcal vaccines for
preventing pneumonia in chronic obstructive pulmonary disease. Cochrane
Database Syst Rev. 2017;1:CD001390.
Wedzicha JA, Banerji D, Chapman KR, Vestbo J, Roche N, Ayers RT, et al.
Indacaterol-glycopyrronium versus salmeterol-fluticasone for COPD. N Engl
J Med. 2016; 374(23):2222-34.
Wilson ME, Dobler CC, Morrow AS, Beuschel B, Alsawas M, Benkhadra R, et al.
Association of Home Noninvasive Positive Pressure Ventilation with Clinical
Outcomes in Chronic Obstructive Pulmonary Disease: a systematic review
and meta-analysis. JAMA. 2020;323(5):455-65.
Pneumonia no idoso 19
DEFINIÇÕES E EPIDEMIOLOGIA
As infecções do trato respiratório inferior continuam
sendo uma das principais causas de mortalidade em todas
as idades – a quarta causa de mortalidade global – e a
principal entre as doenças infecciosas. Embora a
mortalidade esteja decaindo ao longo dos anos, o impacto
ainda é imenso: 2,5 milhões de mortes somente em 2019.
No Brasil, há mais de 600 mil internações ao ano devido à
pneumonia. Em 2022, houve mais de 45 mil mortes
decorrentes da doença. É causada por diversos agentes
patológicos, principalmente vírus e bactérias, embora
também possa decorrer de outros microrganismos, como
riquétsias, micobactérias, fungos e leveduras. O
envelhecimento está associado à deterioração orgânica, o
que não só aumenta o risco de adquirir a doença como
também determina quadro clínico e prognóstico distintos.
Assim, 80% das pneumonias em idosos são tratadas em
ambiente hospitalar.
A pneumonia constitui diagnóstico diferencial de quase
todas as demais doenças respiratórias. É definida por
infecção do parênquima pulmonar, em que a consolidação
da parte afetada e o preenchimento dos espaços alveolares
com exsudato composto por células inflamatórias e fibrina
são característicos. É frequentemente dividida pelo local de
infecção: pneumonia adquirida na comunidade (PAC) e
pneumonia adquirida no hospital (nosocomial), este último
termo utilizado quando a infecção se dá após 48 horas da
internação hospitalar.
A incidência está entre 8 e 18 a cada mil indivíduos
idosos; entretanto, portadores de doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) e em uso crônico de corticoide
sistêmico tiveram incidência maior, de 46 e 40 a cada mil
indivíduos, respectivamente. O risco de PAC é 4 vezes
maior nos indivíduos maiores de 65 anos e 10 vezes maior
naqueles acima de 85 anos, em comparação a adultos
abaixo de 45 anos e entre 50 e 64 anos, respectivamente.
Idosos com morbidades associadas, como cardiopatas,
diabéticos, dependentes de bebida alcoólica e asmáticos,
têm de 3 a 6 vezes maior risco de pneumonia do que
indivíduos mais jovens. Quando institucionalizados, esse
risco aumenta 11 vezes.
Devido ao desenvolvimento geralmente agudo da doença
e aos sintomas por vezes inespecíficos, aproximadamente
75% dos diagnósticos de pneumonia são realizados em
serviços de urgência e emergência. Ainda, a pneumonia
corresponde a 30 a 40% das internações em idosos, e o
risco de hospitalização é 9 vezes maior nos indivíduos entre
65 e 79 anos, e 25 vezes maior naqueles acima de 80 anos
quando comparados a adultos jovens.
Desnutrição
Fragilidade
Imunodepressãob
AST/TGO e
ALT/TGP
Glicemia
Gasometria
arteriala
Radiografia
do tóraxb
QUADRO 4 Exames recomendados para idosos com suspeita de PAC
I 0 0,1% Ambulatorial
0 0,7 Ambulatorial
1 2,1 Ambulatorial
3 14,5 Internação
FiO2: fração inspirada de O2; FR: frequência respiratória; PaO2: pressão arterial
parcial de oxigênio; PAS: pressão arterial sistólica; VM: ventilação mecânica.
PREVENÇÃO
Influenza é uma infecção viral com manifestação
sistêmica e alto potencial para evolução desfavorável,
devido à forte associação entre infecção por influenza e
pneumonia bacteriana secundária. A vacina contra
influenza diminui a intensidade dos sintomas, a
necessidade de internação e a mortalidade pela doença.
Dados epidemiológicos de 2017 mostraram que quase 30%
das infecções por influenza foram causadas pelo subtipo B
e que esse número tem aumentado no decorrer dos últimos
anos.
Existem dois tipos de vacinas:
PROGNÓSTICO
As taxas de mortalidade na pneumonia permanecem
altas, apesar das opções de tratamento efetivo, aumento
das taxas de vacinação e aumento da disponibilidade de
testes diagnósticos. A taxa de mortalidade varia de 4,9 a
48% e se eleva com a idade e a gravidade da doença. Foi
observada taxa em torno de 30% em 2 a 5 anos, mesmo
naqueles sem comorbidades. Estudo realizado nos EUA em
2020 demonstrou taxa de mortalidade de 30% em 1 ano. A
idade é um preditor independente de mortalidade, mesmo
após o ajuste para comorbidades.
Outros preditores de mortalidade em idosos são: residir
em ILP, doença cerebrovascular, hepatopatia crônica, falha
de tratamento, imunossupressão, desnutrição e pneumonia
grave de acordo com o índice CURB-65. Além disso, a
admissão no hospital foi associada a um aumento da
mortalidade em comparação com pacientes que foram
tratados ambulatorialmente. Em uma revisão retrospectiva
recente de 2.320 adultos hospitalizados com PAC em cinco
centros de atendimento terciário nos EUA, 52 (2,2%)
morreram durante a internação. Cerca de metade dessas
mortes foi diretamente atribuível a PAC e mais de 60%
ocorreram em pacientes com idade acima de 65 anos e
naqueles com múltiplas comorbidades.
Em pacientes que receberam alta após a PAC, a taxa de
readmissão em 30 dias foi de 16 a 20% e a pneumonia foi
um dos principais motivos de reinternação. Os fatores para
readmissão são: idade, DPOC, tabagismo, alta pontuação
no PSI e admissão prévia à UTI. Além disso, a falha na
comunicação com pacientes acerca de sua doença e quanto
às recomendações de tratamento no momento da alta
também foi associada a risco maior de readmissão.
A causa da alta mortalidade é multifatorial, mas o
aumento da doença cardíaca, incluindo o infarto agudo do
miocárdio (IAM) e a insuficiência cardíaca, é um fato
relevante. Até 20% dos pacientes com pneumonia
pneumocócica bacterêmica podem apresentar essas
complicações cardiovasculares. A mais comum é a
insuficiência cardíaca, seguida por arritmia cardíaca e IAM.
Idade avançada, residência em ILP, doença cardiovascular
preexistente e gravidade da pneumonia estão associadas a
sua ocorrência. Esse risco não é apenas agudo como se
estende por vários meses até anos depois do tratamento da
pneumonia. O aumento da incidência de acidente vascular
encefálico (AVE) nos 6 meses após PAC, particularmente
nos primeiros 30 dias, também foi observado. A
hospitalização por pneumonia em idosos também está
associada a comprometimentos funcionais e cognitivos
subsequentes. Um estudo de coorte prospectivo com 1.434
pacientes de 50 anos ou mais demonstrou maior risco de
declínio funcional, comprometimento cognitivo e transtorno
depressivo.
Um aspecto importante quando se considera o
tratamento da pneumonia é que a infecção pode ser uma
complicação comum em pacientes idosos com fragilidade
importante e um prognóstico de vida limitado, sendo
frequentemente a causa final do óbito. A identificação
desses pacientes é muito importante para fornecer
tratamento paliativo adequado. Não foram demonstrados
benefícios claros do tratamento com antibiótico intravenoso
em pacientes com demência avançada ou portadores de
outras indicações de cuidados paliativos. Portanto, a
abordagem do paciente e/ou familiares e a implementação
do tratamento paliativo deve ser considerada
individualmente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A PAC em idosos é importante causa de internação e
mortalidade. Idosos apresentam alterações correlacionadas
à idade que aumentam o risco de pneumonia, assim como
suas complicações. O quadro clínico frequentemente se
apresenta de modo atípico e o laboratório e os exames de
imagem podem resultar em pouca ou nenhuma alteração,
mesmo diante de doença grave.
O diagnóstico e o início do tratamento precoces são
importantes definidores de prognóstico. Há diversas
escalas para auxílio na definição do local de tratamento,
tendo sido citadas neste capítulo as principais. A
reabilitação é tratamento adjuvante capaz de reduzir tempo
de internação e mortalidade. Ainda, a vacinação constitui
medida efetiva de prevenção e deve ser realizada sempre
que possível.
Por último, deve-se sempre procurar conhecer o perfil
de resistência bacteriana local e considerar germes
multirresistentes como fatores de risco.
BIBLIOGRAFIA
Alicino C, Ludici R, Alberti M, Durando P. The dangerous synergism between
influenza and Streptococcus pneumoniae and innovative perspectives of
vaccine prevention. J Prev Med Hyg. 2011;52(3):102-6.
Almirall J, Serra-Prat M, Bolíbar I, Balasso V. Risk factors for community-
acquired pneumonia in adults: a systematic review of observational studies.
Respiration. 2017;94(3): 299-311.
Arnold FW, Vega AMR, Salunkhe V, Furmanek S, Furman C, Morton L, et al.
Older adults hospitalized for pneumonia in the United States: incidence,
epidemiology, and outcomes. Journal of the American Geriatrics Society.
2020;68(5):1007-14.
Bartlett JG. Diagnostic approach to community-acquired pneumonia in adults.
UpToDate. 2018. Available: https://www.uptodate.com/ (acesso 2019 out 18).
Centro de Vigilância Epidemiológica. Informe Técnico de Influenza 2018.
Available: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/201912/27150713-boletim-
inluenza-2018-06-09-1.pdf. (Acesso jan 2023.)
Corrales-Medina VF, Musher DM, Wells GA, Chirinos JA, Chen L, Fine MJ.
Cardiac complications in patients with community-acquired pneumonia:
incidence, timing, risk factors, and association with short-term mortality.
Circulation. 2012;125(6):773-81.
Corrêa RA, Costa AN, Lundgren F, Michelin L, Figueiredo MR, Holanda M, et
al. Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade
2018. J Bras Pneumol. 2018;44(5):405-23.
Dalager-Pedersen M, Søgaard M, Schønheyder HC, Nielsen H, Thomsen RW.
Risk for myocardial infarction and stroke after community-acquired
bacteremia: a 20-year population-based cohort study. Circulation.
2014;129(13):1387-96.
Davydow DS, Hough CL, Levine DA, Langa KM, Iwashyna TJ. Functional
disability, cognitive impairment, and depression after hospitalization for
pneumonia. Am J Med. 2013;126(7):615-24.e5.
Dinh A, Ropers J, Duran C, Davido B, Deconinck L, Matt M, et al. Discontinuing
β-lactam treatment after 3 days for patients with community-acquired
pneumonia in non-critical care wards (PTC): a double-blind, randomised,
placebo-controlled, non-inferiority trial. Lancet. 2021; 397(10280):1195-203.
Ferraz RO, Oliveira-Friestino JK, Francisco PMSB. Tendência de mortalidade
por pneumonia nas regiões brasileiras no período entre 1996 e 2012. J Bras
Pneumol. 2017;43(4): 274-9.
Froes F, Roche N, Blasi F. Pneumococcal vaccination and chronic respiratory
diseases. Int J Chron Obstruct Pulmon Dis. 2017;12:3457-3468.
Garin N, Genne D, Carballo S, Chuard C, Eich G, Hugli O, et al. β-lactam
monotherapy vs β-lactam-macrolide combination treatment in moderately
severe community-acquired pneumonia: a randomized noninferiority trial.
JAMA Intern Med. 2014;174(12):1894-901.
González-Castillo J, Martín-Sánchez FJ, Llinares P, Menéndez R, Mujal A, Navas
E, et al. Guidelines for the management of community-acquired pneumonia
in the elderly patient. Rev Esp Quimioter. 2014;27(1):69-86.
Heffner JE. Diagnostic evaluation of a pleural effusion in adults: initial testing.
UpToDate. 2018. Available: https://www.uptodate.com/. (Acesso jan 2023.)
Henig O, Kaye KS. Bacterial pneumonia in older adults. Infect Dis Clin North
Am. 2017;31(4):689-713.
Jain S, Self WH, Wunderink RG, Fakhran S, Balk R, Bramley AM, et al.
Community-acquired pneumonia requiring hospitalization among U.S.
adults. N Engl J Med. 2015; 373(5):415-27.
Julián-Jiménez A, Valero IA, López AB. Recomendaciones para la atención del
paciente con neumonía adquirida en la comunidad en los servicios de
urgencias. Rev Esp Quimioter 2018;31(2):186-202. Available:
https://seq.es/wp-content/uploads/2018/04/julian05apr2018.pdf. (Acesso jan
2023.)
Lim WS, van der Eerden MM, Laing R, Boersma WG, Karalus N, Town GI, et al.
Defining community acquired pneumonia severity on presentation to
hospital: an international derivation and validation study. Thorax.
2003;58(5): 377-82.
Metlay JP, Waterer GW, Long AC, Anzueto A, Brozek J, Crothers K, et al.
Diagnosis and treatment of adults with community-acquired pneumonia: an
official clinical practice guideline of the American Thoracic Society and
Infectious Diseases Society of America. American Journal of Respiratory and
Critical Care Med, 2019;200(7): e45-e67.
Momosaki R, Yasunaga H, Matsui H, Horiguchi H, Fushimi K, Abo M. Effect of
dysphagia rehabilitation on oral intake in elderly patients with aspiration
pneumonia. Geriatr Gerontol Int. 2015;15(6):694-9.
Momosaki R, Yasunaga H, Matsui H, Horiguchi H, Fushimi K, Abo M. Effect of
early rehabilitation by physical therapists on in-hospital mortality after
aspiration pneumonia in the elderly. Arch Phys Med Rehabil. 2015;96(2):
205-9.
Mundy LM, Leet TL, Darst K, Schnitzler MA, Dunagan WC. Early mobilization
of patients hospitalized with community-acquired pneumonia. Chest.
2003;124(3):883-9.
Musher DM. Pneumococcal vaccination in adults. UpToDate. 2018. Available
https://www.uptodate.com/. (Acesso jan 2023.)
Postma DF, van Werkhoven CH, van Elden LJ, Thijsen SF, Hoepelman AI,
Kluytmans JA, et al. Antibiotic treatment strategies for community-acquired
pneumonia in adults. N Engl J Med. 2015;372(14):1312-23.
Ramirez JA. Overview of community-acquired pneumonia in adults. UpToDate.
2018. Available: https://www.uptodate.com/. (Acesso jan 2023.)
Ruuskanen O, Lahti E, Jennings LC, Murdoch DR. Viral pneumonia. Lancet.
2011;377(9773):1264-75.
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Calendário de vacinação do idoso.
Recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) –
2018/2019.
Stedman’s medical dictionary. 27th ed. Baltimore: Lippincott, Williams and
Wilkins; 2003.
Stupka JE, Mortensen EM, Anzueto A, Restrepo MI. Community-acquired
pneumonia in elderly patients. Aging Health. 2009;5(6):763-74.
Sistema Único de Saúde (SUS). Portal da Saúde. Available:
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205. (Acesso jan
2023.)
Tin Tin Htar M, Stuurman AL, Ferreira G, Alicino C, Bollaerts K, Paganino C, et
al. Effectiveness of pneumococcal vaccines in preventing pneumonia in
adults, a systematic review and meta-analyses of observational studies. PloS
One. 2017;12(5):e0177985.
Vila-Corcoles A, Ochoa-Gondar O, Rodriguez-Blanco T, Raga-Luria X, Gomez-
Bertomeu F, EPIVAC Study Group. Epidemiology of community-acquired
pneumonia in older adults: a population-based study. Respir Med.
2009;103(2):309-16.
Von Baum H, Welte T, Marre R, Suttorp N, Ewig S, Capnetz Study Group
(2010). Community-acquired pneumonia through Enterobacteriaceae and
Pseudomonas aeruginosa: diagnosis, incidence and predictors. Eur Respir J.
2010;35(3):598-605.
Wang Y, Zhang S, Li L, Xie J. The usefulness of serum procalcitonin, C-reactive
protein, soluble triggering receptor expressed on myeloid cells 1 and
Clinical Pulmonary Infection Score for evaluation of severity and prognosis
of community-acquired pneumonia in elderly patients. Arch Gerontol Geriatr.
2019;80:53-7.
Waterer GW, Self WH, Courtney DM, Grijalva CG, Balk RA, Girard TD, et al. In-
hospital deaths among adults with community-acquired pneumonia. Chest.
2018;154(3):628-35.
World Health Organization (WHO). The top 10 causes of death. 2020 Available:
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/the-top-10-causes-of-
death. (Acesso jan 2023.)
Wunderink RG, Waterer G. Advances in the causes and management of
community acquired pneumonia in adults. BMJ. 2017;358:j2471.
20 Constipação intestinal no idoso
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
A constipação intestinal é uma queixa comum em
consultórios e enfermarias que prestam atendimento a
idosos e traz grande impacto na qualidade de vida dos
pacientes. A incidência de constipação intestinal em idosos
varia entre 24 e 54%, e dentre estes 10 a 19% fazem uso
diário de laxativos. Cerca de 30% dos pacientes internados
na enfermaria de Geriatria do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-
FMUSP) refere constipação intestinal, sendo esse um dos
principais fatores associados a delirium no ambiente
hospitalar.
A idade é considerada um fator de risco importante para
a constipação, e sua prevalência aumenta de forma
progressiva após os 60 anos. São outros fatores de risco:
gênero feminino, inatividade física, medicamentos
concomitantes, baixo poder aquisitivo, ansiedade e
depressão. Segundo os critérios de Roma IV, constipação
crônica funcional, também conhecida como constipação
crônica idiopática, é definida pela presença de pelo menos
dois dos seguintes:
Esforço evacuatório.
Uso de manobras digitais.
Sensação de evacuação incompleta.
Fezes endurecidas e irregulares.
Sensação de obstrução anorretal ou bloqueio de 25% dos
movimentos intestinais.
Frequência de evacuações inferior a 3 por semana.
Causa Exemplo
Medicamento Opioides.
Anti-hipertensivos (bloqueadores dos canais de
cálcio, diuréticos, betabloqueadores,
hidralazina, clonidina, metildopa etc.).
Benzodiazepínicos.
Antidepressivos tricíclicos e ISRS.
Inibidores da bomba de prótons.
Preparações de ferro.
Drogas antiepilépticas (carbamazepina,
fenitoína etc.).
Suplementos de cálcio.
Contraste baritado.
Hipolipemiantes (estatinas, colestiramina).
Antiparkinsonianos (anticolinérgicos e
dopaminérgicos).
Aine.
Anti-histamínicos anti-H1.
Anticolinérgicos antiespasmódicos (p. ex.,
escopolamina).
Agentes citostáticos.
QUADRO 1 Constipação em adultos idosos
Miogênico Dermatomiosite.
Polimiosite.
Esclerodermia.
Amiloidose.
Pseudo-obstrução intestinal.
ACHADOS CLÍNICOS
A avaliação inicial de idosos com constipação deve
apresentar história clínica detalhada e exame físico com
foco em excluir causas secundárias. É importante
caracterizar o início e a duração dos sintomas, a forma e
consistência das fezes com auxílio da escala de Bristol
(Figura 1), comorbidades e cirurgias prévias, bem como
estar atento aos sinais de alarme (Quadro 2), que levarão a
uma investigação mais extensiva.
Devem ser parte do exame físico: inspeção da região
perianal e do reto e realização do toque retal. O toque
retal, que deve avaliar o tônus do esfíncter anal e a
presença de fezes na ampola retal, é uma ferramenta
importante na identificação de complicações relacionadas
com constipação crônica, como hemorroidas, fissuras anais,
prolapso anal, úlceras retais, impactação e incontinência
fecais.
FIGURA 1 Escala de Bristol.
Hematoquezia.
Pesquisa de sangue oculto nas fezes positiva.
Sintomas de obstrução.
Início agudo da constipação.
Constipação não responsiva ao tratamento.
Perda ponderal superior a 4,5 kg.
Alteração no calibre das fezes.
História familiar de câncer colorretal.
Doença inflamatória intestinal.
EXAMES COMPLEMENTARES
Pacientes que preenchem critérios de Roma IV para
constipação crônica idiopática não necessitam ser
submetidos a testes diagnósticos adicionais, que se tornam
importantes na presença de sinais de alarme (Quadro 2),
suspeita de causa orgânica, início dos sintomas após os 50
anos e na ausência de resposta ao tratamento. Nessas
situações devem ser solicitados exames laboratoriais, como
hemograma, perfil metabólico com dosagem de eletrólitos e
função tireoidiana, entre outros, de acordo com a etiologia
presumível, e colonoscopia. São realizadas a cada ano na
enfermaria de geriatria do HC-FMUSP 150 colonoscopias;
em 75% delas é encontrada alguma alteração, e em 10 a
15% são encontradas lesões neoplásicas.
Outros testes complementares podem ser solicitados de
forma individualizada de acordo com a hipótese
diagnóstica, como o estudo de trânsito colônico por meio de
cápsulas radiopacas, ressonância nuclear magnética na
suspeita de retocele, manometria anorretal e teste de
expulsão do balão nos casos de defecação dissinérgica, ou
ainda a defecografia.
TRATAMENTO
Medidas gerais
Laxativos
PEG: polietilenoglicol.
* O uso de PEG é preferível ao uso de lactulona, por ter sido superior em
alguns estudos nos seguintes aspectos: aumento da frequência de
evacuações, alteração da consistência das evacuações e melhora do
desconforto abdominal.
Secretagogos colônicos
Antagonistas de opioides
Probióticos
Impactação fecal
Cirurgia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constipação é uma queixa comum na população idosa e
traz grande impacto na qualidade de vida dos pacientes.
Trata-se de um sintoma que pode estar associado a
múltiplas doenças e medicamentos ou ser consequência
da alteração funcional do cólon e da região anorretal.
Devem ser parte do exame físico a inspeção das regiões
perianal e retal e a realização do toque retal.
Pacientes que preenchem os critérios de Roma IV para
constipação crônica idiopática não necessitam ser
submetidos a testes diagnósticos adicionais, que se
tornam importantes na presença de sinais de alarme.
O uso de laxativos em idosos deve ser individualizado,
devendo-se ter em mente a história clínica do paciente,
suas comorbidades, interações medicamentosas, custos e
efeitos colaterais.
BIBLIOGRAFIA
ASGE Standards of Practice Committee, Early DS, Ben-Menachem T, Decker
GA, Evans JA, Fanelli RD, et al. Appropriate use of GI endoscopy.
Gastrointest Endosc. 2012;75(6):1127-31.
Baffy N, Foxx-Orenstein A, Harris LA, Sterler S. Intractable constipation in the
elderly. Curr Treat Options Gastroenterol. 2017;15(3):363-81.
Costilla VC, Foxx-Orenstein AE. Constipation: understanding mechanisms and
management. Clin Geriatr Med. 2014;30(1):107-15.
Crockett SD, Greer KB, Heidelbaugh JJ, Falck-Ytter Y, Hanson BJ, et al.;
American Gastroenterological Association Institute Clinical Guidelines
Committee. American Gastroenterological Association Institute guideline on
the medical management of opioid-induced constipation. Gastroenterology.
2019;156(1):218-26.
Deb B, Prichard DO, Bharucha AE. Constipation and fecal incontinence in the
elderly. Curr Gastroenterol Rep. 2020;22(11):54.
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(HC-FMUSP). Research Electronica Data Capture. Vanderbilt Universtity,
2019. Available: https://redcap.hc.fm.usp.br/.
Kang SJ, Cho YS, Lee TH, Kim SE, Ryu HS, Kim JW, et al.; Constipation
Research Group of the Korean Society of Neurogastroenterology and
Motility. Medical management of constipation in elderly patients: systematic
review. J Neurogastroenterol Motil. 2021;27(4):495-512.
Koliani-Pace J, Lacy BE. Update on the management of chronic constipation.
Curr Treat Options Gastroenterol. 2017;15(1):126-34.
Krogh K, Chiarioni G,Whitehead W. Management of chronic constipation in
adults. United European Gastroenterol J. 2017;5(4):465-72.
Leppert W, Zaiaczkowska R, Wordliczek J. The role of oxycodone/naloxone in
the management of patients with pain and opioid-induced constipation.
Expert Opin Pharmacother. 2019:20(5):511-22.
Lewis SJ, Heaton KW. Stool form scale as a useful guide to intestinal transit
time. Scand J Gastroenterol. 1997; 32(9):920-4.
Lucak S, Lunsford TN, Harris LA. Evaluation and treatment of constipation in
the geriatric population. Clin Geriatr Med. 2021;37(1):85-102.
Rao SSC. Constipation in older adults. UpTodate. 2019 [updated 2018 May 21].
Available: https://www.uptodate.com/contents/constipation-in-the-older-
adult.
Serra J, Mascort-Roca J, Marzo-Castillejo M, Delgado Aros S, Ferrándiz Santos
J, Rey Diaz Rubio E, et al. Clinical practice guidelines for the management of
constipation in adults. Part 1: Definiton, aetiology and clinical
manifestations. Gastroenterol Hepatol. 2017;40(3):132-40.
Serra J, Mascort-Roca J, Marzo-Castillejo M, Delgado Aros S, Ferrándiz Santos
J, Rey Diaz Rubio E, et al. Clinical practice guidelines for the management of
constipation in adults. Part 2: Diagnosis and treatment. Gastroenterol
Hepatol. 2017;40(4):303-16.
Serra J, Pohl D, Azpiroz F, Chiarioni G, Ducrotté P, Gourcerol G, et al.;
Functional Constipation Guidelines Working Group. European Society of
Neurogastroenterology and Motility guidelines on functional constipation in
adults. Neurogastroenterol Motil. 2020;32(2):e13762.
21 Diarreia no idoso
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
A diarreia é um sintoma comum em todas as faixas
etárias, inclusive nos idosos. Sua definição, embora varie
entre as diretrizes, consiste na presença de fezes com
consistência amolecida ou aquosa e frequência de
evacuações aumentada, tipicamente mais de 3 vezes ao dia.
Portanto, trata-se de um sintoma que reflete um aumento
no teor líquido das fezes, usualmente relacionado a um
distúrbio de absorção intestinal ou, ainda, a uma secreção
ativa e anormal de água pelo trato gastrointestinal.
Para melhor caracterização dessa manifestação, pode-se
utilizar a escala de Bristol, que facilita a visualização da
consistência e forma das fezes. Geralmente o paciente dirá
que suas evacuações se assemelham àquelas de números 6
ou 7.
Deve-se questionar também sobre a frequência e o
volume das evacuações. Isso porque a diarreia que se
origina por disfunções do intestino delgado usualmente é
volumosa, associada a cólicas e distensões, porém com
baixa frequência, enquanto as disfunções do intestino
grosso cursam com fezes de baixo volume e alta
frequência, tipicamente acompanhadas de dor ao evacuar e
produtos patológicos visíveis nas fezes.
Alguns autores classificam ainda as diarreias em
secretórias ou osmóticas. As primeiras se relacionam a
grandes volumes de fezes aquosas que persistem no jejum,
pois são consequência da hiperprodução do intestino
delgado. Já as osmóticas são menos volumosas e
desaparecem no jejum e, consequentemente, no período
noturno. Esta última classificação tem aplicação limitada,
mas pode auxiliar na diferenciação de distúrbios motores e
disabsortivos do trato digestivo.
Além disso, é importante também definir o início dos
sintomas: classifica-se como diarreia aguda aquela com 2
semanas ou menos de duração, como subaguda ou
persistente aquela com duração entre 14 e 30 dias e, por
fim, como crônica quando o quadro se arrasta por mais de
1 mês. Por fim, deve-se questionar o doente sobre a
presença de sinais de quebra de barreira mucosa intestinal,
como sangramento, pus ou muco nas fezes, que
caracterizam a diarreia invasiva ou inflamatória.
DIARREIAS AGUDAS
Etiologias
Avaliação clínica
Abordagem e tratamento
O primeiro passo no tratamento do paciente idoso com
diarreia aguda é o manejo da desidratação, visto que ela é
a maior responsável pela morbidade nessa população. A
reposição de fluidos deve, se possível, ocorrer pela via oral,
com soros de reidratação que contenham sais, água e
açúcar. Isso porque, na maioria das doenças diarreicas, a
absorção intestinal de glicose via cotransporte sódio-
glicose permanece intacta. Assim, mesmo na vigência de
hipersecreção do delgado por infecção aguda, o intestino
continua capaz de absorver água desde que ela esteja
associada a glicose e sal. Caso não seja possível a reposição
oral, deve-se realizar hidratação venosa.
Na população idosa, o médico deve atentar para
comorbidades que predisponham à congestão sistêmica,
como insuficiência cardíaca e renal, e, a partir daí, realizar
a reidratação em alíquotas, evitando a hipervolemia. Da
mesma forma, é importante manter a nutrição desses
doentes, mesmo adaptando a dieta conforme a aceitação
com formulações mais brandas. Isso porque o jejum
prolongado pode predispor a quebras na barreira mucosa
dos enterócitos, facilitando a invasão de novos ou mais
patógenos.
Conforme discutido, dado o baixo rendimento dos
métodos diagnósticos para as diarreias agudas, o
tratamento empírico com antibióticos é frequentemente
adotado. É fundamental, contudo, compreender que a
maioria dos quadros agudos tem etiologia viral e que o uso
indiscriminado da antibioticoterapia promove efeitos
colaterais, aumento da resistência bacteriana, aumento do
risco de infecção posterior por Clostridioides difficile e,
ainda, erradicação da flora intestinal normal. Portanto, os
antibióticos devem ser reservados para pacientes com
doença grave (sinais de toxemia, desidratação grave, mais
de 6 evacuações por dia), sinais de diarreia invasiva (febre,
mucorreia e hematoquezia) ou em pacientes de altíssimo
risco (idosos frágeis, imunocomprometidos e com
comorbidades caquetizantes avançadas como insuficiência
cardíaca).
Recomenda-se o uso de azitromicina ou fluoquinolonas
(ciprofloxacino, levofloxacino, norfloxacino etc.) por 3 a 5
dias. Todavia, deve-se atentar na população idosa para os
riscos da utilização destas últimas, pois essa classe pode
estar relacionada à ocorrência de lesões do tecido
conjuntivo, especialmente na aorta e em tendões. Por isso,
tanto a agência americana Food and Drug Administration
(FDA) quanto o Ministério da Saúde recomendam que essas
medicações sejam evitadas em pacientes com doença
aterosclerótica documentada e idosos frágeis.
O uso de antidiarreicos pode ser feito naqueles
pacientes sem sinais de diarreia invasiva (afebris, com
fezes aquosas sem produtos patológicos). A loperamida é o
agente antimotilidade mais utilizado. A dose habitual é de 4
mg (2 comprimidos) de imediato, depois 2 mg após cada
evacuação até uma dose máxima de 16 mg/dia. A
racecadotrila é outra opção, embora menos disponível. Já o
uso de probióticos é controverso e tem grande
heterogeneidade de estudos clínicos, não havendo
nenhuma recomendação formal para seu uso.
Na suspeita de etiologia parasitária, a terapia empírica
pode ser feita com nitazoxanida por 3 dias ou albendazol
por 5 dias. Assim, haverá cobertura de protozoários e
helmintos.
DIARREIAS CRÔNICAS
A ocorrência de diarreia por períodos prolongados
(maiores que 30 dias) é bastante frequente em idosos,
ocorrendo em até 14% da população geriátrica, ao passo
que na população geral ocorre em uma frequência de 5%.
Importante destacar que há aumento da prevalência na
presença de comorbidades, tanto as diretamente
relacionadas ao trato gastrointestinal (como a doença
inflamatória intestinal) como as que se relacionam de
maneira indireta (como o diabetes mellitus). Outros fatores
também contribuem de maneira importante, como o
frequente uso de medicamentos, por vezes de maneira
desnecessária e sem a devida orientação médica.
BIBLIOGRAFIA
Ananthakrishnan AN, McGinley EL, Binion DG. Inflammatory bowel disease in
the elderly is associated with worse outcomes: a national study of
hospitalizations. Inflamm Bowel Dis. 2009;15(2):182-9.
Arasaradnam RP, Brown S, Forbes A, Fox MR, Hungin P, Kelman L, et al.
Guidelines for the investigation of chronic diarrhoea in adults: British
Society of Gastroenterology. 3rd edition. Gut. 2018;67:1380.
Avery ME, Snyder JD. Oral therapy for acute diarrhea: the underused simple
solution. N Engl J Med. 1990;323:891.
Brasil. Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico especial. 2021. Available:
https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-
conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2021/boletim-
epidemiologico-especial-hiv-aids-2021.pdf/view.
Costa S, Gattoni S, Nicolardi ML, Costetti M, Maimaris S, Schiepatti A, et al.
Prevalence and clinical features of bile acid diarrhea in patients with
chronic diarrhea. J Dig Dis. 2021;22:108.
Dryden MS, Gabb RJ, Wright SK. Empirical treatment of severe acute
community: acquired gastroenteritis with ciproftoxacin. Clin Infect Dis.
1996;22:1019.
Dutra B, Siddiqui S, Everett J. A clinical aproach to chronic diarrhea.
Gastroenterology. 2022;162:707.
Gardner TB, Adler DG, Forsmark CE, Sauer BG, Taylor JR, Whitcomb DC. ACG
clinical guideline: chronic pancreatitis. Am J Gastroenterol. 2020;115:322.
Gomez-Escudero O, Remes-Troche JM. Aproach to the adult patient with
chronic diarrhea: a literature review. Rev Gastroenterol Mex (Engl Ed).
2021.
Guerrant RL, Van Gilder T, Steiner TS, Thielman NM, Slutsker L, Tauxe RV, et
al. Practice guidelines for the management of infectious diarrhea. Clin Infect
Dis. 2001;32: 331.
Kelly CR, Fisher M, Allegretti JR, LaPlante K, Stewart DB, Limketkai BN, et al.
ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis and treatment of
Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021;116:1124.
Lacy BE, Pimentel M, Brenner DM, Chey WD, Keefer LA, Long MD, et al. ACG
clinical guideline: management of irritable bowel syndrome. Am J
Gastroenterology. 2021;116:17.
Miehlke S, Guagnozzi D, Zabana Y, Tontini GE, Fiehn A-MK, Wildt S, et al.
European guidelines on microscopic colitis: United European
Gastroenterology and European Microscopic Colitis Group statements and
recommendations. United European Gastroenterol J. 2020;
2050640620951905.
Pimentel M, Saad RJ, Long MD, Rao SSC. ACG clinical guideline: small
intestinal bacterial overgrowth. Am J Gastroenteorol. 2020;115:165.
Riddle MS, DuPont HL, Connor BA. ACG clinical guideline: diagnosis,
treatment, and prevention of acute diarrheal infections in adults. Am J
Gastroenterol. 2016;111:602.
Rubin DT, Ananthakrishnan AN, Siegel CA, Sauer BG, Long MD. ACG clinical
guideline: ulcerative colitis in adults. Am J Gastroenrol. 2019;114: 384.
Thielman NM, Guerrant RL. Clinical practice: acute infectious diarrhea. N Engl
J Med. 2004;350:38.
U.S. Food & Drug Administration. FDA warns about increased risk of ruptures
or tears in the aorta blood vessel with fluoroquinolone antibiotics in certain
patients. Available: https://www.fda.gov/drugs/drug-safety-and-
availability/fda-warns-about-increased-risk-ruptures-or-tears-aorta-blood-
vessel-fluoroquinolone-antibiotics.
SEÇÃO IV
Doenças osteomioarticulares
Lombalgias: princípios básicos, avaliação, 22
tratamento e reabilitação
INTRODUÇÃO
Não há dúvida da enorme importância epidemiológica
da ocorrência de dores lombares na população. É possível
afirmar que todo ser humano experimentará pelo menos
um episódio de dor lombar durante sua vida. Essa queixa é
uma das principais causas de procura pelo médico e uma
das principais causas de afastamento temporário ou
definitivo do trabalho. Sua incidência e prevalência
aumentam com o envelhecimento.
Estima-se que 13,5% da população brasileira seja
acometida por lombalgia não específica. Vinte a 30% dos
casos são recorrentes ou crônicos, gerando incapacidade
funcional e diminuição da participação social. Por isso não
há como questionar o enorme impacto sobre a saúde
populacional e seus consequentes custos econômicos
associados.
Portanto, todo médico, independentemente de sua
especialidade, deveria dominar os princípios básicos da
abordagem e tratamento inicial das lombalgias.
FISIOPATOLOGIA
A causa das dores lombares é certamente um dos
grandes mistérios da medicina. Muitos atribuem a causa a
uma ou outra estrutura, mas essa disputa continuará sem
vencedores. Múltiplas estruturas podem gerar dor, porém o
consenso é de que as causas são multifatoriais e se
sobrepõem. Quanto mais crônica a queixa, mais difícil será
apontar uma causa específica.
As principais fontes nociceptivas são os discos
intervertebrais, as facetas articulares e as alterações
degenerativas dos platôs vertebrais. No entanto, há vasta
investigação sobre a grande incidência de alterações
dessas estruturas identificadas por exames de imagem em
pacientes assintomáticos. É possível concluir que os
achados de exames, especialmente em população mais
idosa, devem ser interpretados com parcimônia. Vale,
contudo, ressaltar que, de forma primária (como principal
causa) ou secundária, a dor de origem muscular, em
especial a síndrome dolorosa miofascial, deve ser
considerada, na maior parte dos casos, de lombalgia.
Acredita-se que a soma de alterações posturais,
alterações degenerativas e a predisposição de ordem física,
emocional e social (Quadros 1 e 2) possa desencadear
processos que culminem com a manifestação dolorosa.
Outro conceito importante para o entendimento do
quadro de dor é o fenômeno da sensibilização central.
Quando há um estímulo nociceptivo periférico persistente,
as vias supressoras de dor nos níveis periférico, medular e
encefálico sofrem transformações funcionais e metabólicas.
Essas alterações podem não reverter mesmo após a
retirada do fator desencadeante inicial. Portanto, deve-se
considerar esse fenômeno na instituição de tratamento, isto
é, promover ações voltadas às alterações no sistema
nervoso central, principalmente nos casos mais crônicos.
Coordenação motora.
Fatores Depressão.
psicológicos
Ansiedade.
Catastrofismo.
Baixa autoestima.
INVESTIGAÇÃO
A quase totalidade das lombalgias terá causa
inespecífica. A investigação com exames complementares
deve ser direcionada a descartar causas específicas de dor
lombar quando há suspeita de fratura vertebral, doenças
inflamatórias, neoplasias, infecções e causas intra-
abdominais. Cerca de 1% dos casos de lombalgia estarão
relacionados com essas causas.
É recomendável que o clínico esteja atento às chamadas
bandeiras vermelhas (Quadro 3), conjunto de sinais e
sintomas que devem alertar para a possibilidade de causas
específicas de dor lombar. No entanto, investigações
recentes demonstram que até 80% das lombalgias não
específicas podem ter pelo menos uma bandeira vermelha;
portanto, mesmo com esses sinais o médico deve manter o
espírito crítico para solicitar exames. A realização de
exames está diretamente relacionada com maior ocorrência
de iatrogenia e intervenções mais agressivas e
desnecessárias.
Fratura vertebral
Espondiloartrite axial
Acomete principalmente homens entre os 20 e os 40
anos de idade. Relaciona-se com a presença de HLA-B27.
Características clínicas incluem rigidez matinal lombar e
melhora com o exercício, mas não com o repouso. Muitas
vezes tem seu diagnóstico tardio.
Traumatismo grave.
Traumatismo moderado em pacientes > 50 anos.
Perda de peso.
Febre.
Uso de drogas intravenosas.
Imunossupressão.
História pessoal de câncer.
Osteoporose.
Uso crônico de corticoide.
Idade > 70 anos.
Déficit neurológico progressivo ou incapacitante.
Perda de controle esfincteriano.
Dor noturna (que desperta o paciente).
Sem melhora ao repouso ou ao decúbito dorsal horizontal.
Duração > 6 semanas
Neoplasias
Infecções
Dor discogênica
Dor axial sem irradiação, com piora ao sentar e aos
movimentos de flexão e torção, e melhora ao repouso
deitado ou ao andar. Correlaciona-se com alterações de
Modic tipo 1 e desidratação de discos intervertebrais na
ressonância magnética.
Síndrome facetária
Dor localizada não axialmente e geralmente sem
irradiação para membros inferiores. Acomete indivíduos
mais idosos. Piora com hiperextensão, rotação e
lateralização da coluna, assim como ao mudar da posição
sentada para em pé. Pode ocorrer rigidez matinal. Não
piora com a manobra de Valsalva.
Dor sacroilíaca
Dor não axial que piora na posição sentada. Pode estar
relacionada com a síndrome facetária e ter origem
degenerativa ou inflamatória. A piora é desencadeada por
manobras de estresse da articulação sacroilíaca.
Dor radicular
Há alteração sensitiva (hipoestesia ou dor de
característica neuropática), diminuição de força e
diminuição ou ausência de reflexos profundos em
distribuição dermatoméria na raiz acometida. A intensidade
da apresentação e o acometimento muscular estão
relacionados com a intensidade da compressão. Pode ser
mimetizada por acometimento miofascial ou ainda por
compressão por síndrome dolorosa miofascial de músculo
piriforme. Sintomas de dor periféricos são de maior
intensidade que os de dor lombar.
TRATAMENTO
Ainda que esta condição clínica tenha alta prevalência e
que haja muitos estudos publicados, existem poucas
evidências para a maioria das recomendações devido a seu
amplo espectro de apresentações e às múltiplas
intervenções terapêuticas possíveis. Portanto, sempre se
deve escolher com sabedoria os tratamentos que
potencialmente tragam conforto e envolvam menor risco de
complicações secundárias.
A seguir, serão apresentadas as principais possibilidades
terapêuticas baseadas em nossa prática clínica e na
literatura consultada.
Medicação analgésica
Meios físicos
Muitas vezes pacientes são encaminhados para a
fisioterapia e submetidos somente a tratamentos
analgésicos passivos, através de meios físicos como
ultrassom, ondas curtas, laser, compressas e eletroterapia.
É sempre importante investigar a que modalidade de
fisioterapia o paciente foi submetido, pois tais meios físicos
não modificam a evolução da doença e devem apenas servir
de ponte para facilitar a realização de exercícios
terapêuticos.
Coletes e taping
Educação em saúde
Psicoterapia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A lombalgia inespecífica é uma condição clínica muito
comum, e todo médico deveria estar minimamente
capacitado para seu atendimento. Uma intervenção
adequada deve visar ao conforto do paciente, evitar
condutas agressivas que aumentem a morbimortalidade
relacionada e identificar precocemente causas específicas
de lombalgia de evolução diferenciadas, como as relativas a
câncer, infecções e doenças inflamatórias.
As principais medidas terapêuticas para o tratamento
das lombalgias envolvem o uso de medicações analgésicas
adequadas, exercícios terapêuticos, orientações sobre a
evolução da doença e medidas posturais. Pacientes com dor
crônica demandam abordagens mais complexas,
geralmente com mais de uma modalidade terapêutica,
envolvendo uma equipe multiprofissional mais ampla e
maior enfoque em medidas de suporte psicológico.
BIBLIOGRAFIA
Allegri M, Montella S, Salici F, Valente A, Marchesini M, Compagnone C, et al.
Mechanisms of low back pain: a guide for diagnosis and therapy. Version 2.
F1000Res. 2016;5(F1000 Faculty Rev):1530.
Chou R, Deyo R, Friedly J, Skelly A, Hashimoto R, Weimer M, et al.
Nonpharmacologic therapies for low back pain: a systematic review for an
American College of Physicians Clinical Practice Guideline. Ann Intern Med.
2017; 166(7):493-505.
Danve A, Deodhar A. Axial spondyloarthritis in the USA: diagnostic challenges
and missed opportunities. Clin Rheumatol. 2019;38(3):625-34.
den Boer C, Dries L, Terluin B, van der Wouden JC, Blankestein AH, van Wilgen
CP, et al. Central sensitization on chronic pain and medically unexplained
symptom research: a systematic review of definitions, operationalizations
and measurement instruments. J Psychom Res. 2019;117:32-40.
Donnelly JM, de las Peñas CF, Finnegan M, Freeman JL. Travell and Simmons’
miofascial pain and dysfunction: the trigger point manual. 3rd ed.
Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2019.
Falcetta FS, Dal Pizzol A, Assman JB, Della Giustina A, Franzoi M, Georg AE, et
al. Mal de Pott: uma doença milenar em um novo século. Rev HCPA.
2009;29(2):170-3. Available:
https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/8643/5818 (acesso fev 2023).
Gentile L, Benazzo F, de Rosa F, Bonano S, Dallagiacoma G, Franceschetti G, et
al. A systematic review: characteristics, complications and treatment of
spondylodiscitis. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2019;23(2 Suppl):117-28.
Greve JMA. Reabilitação nas algias vertebrais. In: Greve JMA, Amatuzzi MM,
editores. Medicina de reabilitação aplicada à ortopedia e traumatologia. São
Paulo: Roca; 1995. p.135-57.
Hartvigsen J, Hancock M, Kongsted A, Louw Q, Ferreira ML, Genevay S, et al.
What low back pain is and why we need to pay attention. Lancet.
2018;391(10137):2356-67.
Joaquim AF, Maturana FAP, Anderle DV, Zambelli HJL, Maldaun MVC.
Metástases da coluna vertebral. Rev Neurocienc. 2007;15(3):240-5.
Available:
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2007/RN%2015%2003/Page
s%20from%20RN%2015%2003-12.pdf (acesso 2019 nov 1).
Ministério da Saúde. Portaria SAS/MS n. 1.083, de 2 de outubro de 2012.
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dor Crônica. Available:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2012/prt1083_02_10_2012.ht
ml (acesso fev 2023).
Nascimento PRC, Costa LOP. Low back pain prevalence in Brazil: a systematic
review. Cad Saúde Pública. 2015; 31(6):1141-55.
See S, Ginzburg R. Choosing a skeletal muscle relaxant. Am Fam Physician.
2008;78(3):365-70. Available: https://www.aafp.org/afp/2008/0801/p365.html
(acesso fev 2023).
Stochkendahl MJ, Kjaer P, Hartvigsen, Kongsted A, Aaboe J, Andersen M, et al.
National clinical guidelines for non-surgical treatment of patients with
recent onset low back pain or lumbar radiculopathy. Eur Spine J.
2017;27(1):60-75.
Vilar MCH, Kaziyama HHS. Reabilitação em lombalgia: diagnóstico e
tratamento. In: Greve JMA, Amatuzzi MM, editores. Medicina de reabilitação
aplicada à ortopedia e traumatologia. São Paulo: Roca; 1995. p.103-25.
Princípios do tratamento e reabilitação da 23
osteoartrite
INTRODUÇÃO
Osteoartrite é uma doença progressiva, dinâmica e
complexa que envolve processos inflamatórios,
biomecânicos e degenerativos da cartilagem, do osso
subcondral, assim como de toda a estrutura osteoarticular,
composta pela membrana sinovial, meniscos, ligamentos,
musculatura e gordura periarticular.
Segundo o Colégio Americano de Reumatologia (ACR),
pode-se definir a osteoartrite como “um grupo heterogêneo
de condições que levam a sinais e sintomas articulares, que
estão associados com defeitos na integridade da cartilagem
articular, além de mudanças relacionadas com o osso
subjacente à margem articular”. Embora seja mais
comumente relatada nos joelhos, pode ocorrer em qualquer
articulação do corpo; 5 a 25% das pessoas com osteoartrite
apresentam acometimento de várias articulações.
A osteoartrite é umas das principais causas de dor
crônica, sendo caracterizada por artralgia, rigidez,
restrição de movimento, crepitação, efusão ocasional,
graus variáveis de inflamação local e sofrimento
psicológico, resultando em perda de funcionalidade e da
qualidade de vida. O sintoma de dor está relacionado a
citocinas catabólicas e inflamatórias que levam à
sensibilização das vias nociceptivas pela ativação de nervos
aferentes primários em resposta à lesão tecidual. Além dos
mecanismos de dor nociceptiva periféricos, há o
componente neuropático central em pacientes com
osteoartrite.
No exame físico podem ser encontrados dor à palpação,
alargamento articular, aumento da temperatura local e
derrame articular na fase aguda. Em estágios mais
avançados o paciente pode evoluir com importante
limitação de movimento e instabilidade da marcha.
EPIDEMIOLOGIA
A osteoartrite é uma doença muito comum, sendo o
distúrbio articular mais prevalente no ser humano, com
alto custo individual, social e financeiro. Pode acometer
cerca de 6 a 12% da população adulta e mais de um terço
da população acima dos 65 anos de idade, com
predominância no sexo feminino e em indivíduos com
excesso de peso. É uma das dez principais causas de
incapacidade no mundo, e a principal causa na população
idosa.
As articulações mais acometidas são joelho, quadril e
mão. Aproximadamente 30% dos indivíduos maiores de 45
anos possuem evidência radiográfica de osteoartrite de
joelho, e metade destes apresenta sintomas. Em relação
aos fatores de risco, pode-se considerar que a idade, o sexo
feminino e a obesidade são fatores que aumentam a
probabilidade de desenvolver osteoartrite.
Com os crescentes índices de obesidade e a tendência
de envelhecimento populacional, a osteoartrite tende a ser
um problema clínico cada vez maior. A prevalência mundial
da osteoartrite de joelho é de aproximadamente 3,8%. Nos
EUA a prevalência é de 12,1%, e no Canadá, de 10,5%. Nos
EUA, estima-se por volta de 54 milhões de pacientes com
osteoartrite clínica, que corresponde a um custo anual
direto e indireto de cerca de 15 mil dólares por pessoa. Há
poucos dados consistentes da população brasileira, mas
estima-se a ocorrência em 4,14% da população adulta.
Em uma população de pacientes brasileiros com
obesidade mórbida foi observada ocorrência de 63,1% de
acometimento no joelho e de 40,8% nos quadris. No Brasil,
a osteoartrite ocupa o terceiro lugar na lista dos segurados
da Previdência Social, com 65% das causas de
incapacidade. Em estudo nacional recente publicado em
2022, foi identificado registro de 74.730 internações
hospitalares de indivíduos acima de 50 anos por
osteoartrite entre 2017 e 2021.
ETIOLOGIA
A etiologia da osteoartrite é bastante complexa e
envolve múltiplos fatores de origem biomecânica,
bioquímica e neuromuscular. Existem três fatores que
levam à degeneração articular na osteoartrite: lesão
cartilaginosa, remodelação de osso subcondral e
inflamação sinovial. Esses fenômenos ocorrem de maneira
independente e se integram em uma complexa cadeia de
reações mediadas por inúmeras vias. Isso explica a
necessidade de tratamentos multimodais e a falta de
resposta uniforme a medicações isoladas. A intensidade da
ocorrência desses fenômenos pode variar de indivíduo para
indivíduo.
FATORES DE RISCO
A identificação de fatores de risco (Quadro 1) é de
extrema importância para detectar indivíduos com
potencial para o desenvolvimento da doença. Sabe-se que
os principais fatores relacionados à osteoartrite são: idade,
obesidade, sexo feminino e injúria articular prévia.
QUADRO CLÍNICO
A história natural da osteoartrite costuma apresentar-se
de forma insidiosa como dor protocinética, com melhora ao
repouso, presença de crepitação, aumento do volume
articular, rigidez articular menor que 30 minutos, piora
pela manhã e após períodos prolongados de imobilidade.
Ao longo do tempo, essas alterações podem levar a
diminuição da amplitude articular e deformidades.
O acometimento em membros inferiores pode levar a
diminuição da mobilidade, ocasionando alterações
secundárias como perda da propriocepção e sarcopenia.
Essas alterações levam a um aumento de 2,5 vezes do risco
de queda, fraturas e de morbimortalidade.
Gastrocnêmio Semitendinoso
As radiografias de quadril e joelho são tipicamente
avaliadas utilizando a classificação Kellgren Lawrence:
TRATAMENTO
O tratamento da osteoartrite deve respeitar toda a
complexidade da doença, por isso é recomendável utilizar
diversas estratégias terapêuticas associadas à abordagem
multiprofissional. Os principais objetivos do tratamento
são:
Alívio da dor.
Diminuição da incapacidade.
Desaceleração da progressão da doença.
Promoção de estratégias de enfrentamento.
Impedimento de complicações secundárias.
Retardo do tratamento cirúrgico.
Exercício físico
Perda de peso
Programa educativo
Terapia cognitivo-comportamental
Tratamento farmacológico
Meios físicos
Bengala.
Joelheira elástica: seu mecanismo de ação é
desconhecido, mas auxilia na instabilidade articular.
Joelheira com suporte antivaro no joelho.
Palmilhas antivaro ou antivalgo: em especial na
osteoartrite unicompartimental de joelho.
Taping lateral de patela.
Splint para base de polegar.
Calçado biomecânico: os resultados dos ensaios clínicos
realizados ainda não comprovaram benefício no controle
de sintomas com o uso desses dispositivos, porém podem
ser um auxílio adicional para melhoria da marcha e
estabilidade articular.
Nutracêuticos e fitoterápicos
Terapias intra-articulares
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A osteoartrite é uma doença de etiologia complexa e não
totalmente esclarecida. Há alta prevalência populacional e
expectativa de aumento dos casos pelo envelhecimento
populacional e pelo aumento nos casos de obesidade. É a
doença que mais causa incapacidade em idosos, e seu
impacto social e econômico é enorme.
O tratamento envolve uma série de ações integradas e
necessita de atenção multiprofissional. A realização de
exercícios e o controle do peso são as principais medidas.
São terapias complementares: educação do paciente, uso
de medicações analgésicas, medidas de proteção articular e
postural além de eventuais procedimentos mais invasivos,
como infiltrações articulares, que podem prorrogar a
indicação de prótese.
BIBLIOGRAFIA
Altman R, Asch E, Bloch D, Bole G, Borenstein D, Brandt K, et al. Development
of criteria for the classification and reporting of osteoarthritis: classification
of osteoarthritis of the knee. Diagnostic and Therapeutic Criteria Committee
of the American Rheumatism Association. Arthritis Rheum. 1986;29(8):1039-
49.
Bannuru RR, Osani MC, Vaysbrot EE, et al. Oarsi guidelines for the non-
surgical management of knee, hip, and polyarticular osteoarthritis.
Osteoarthritis Cartilage. 2019;27(11):1578-89.
Bastick AN, Runhaar J, Belo JN, Bierma-Zeinstra SM. Prognostic factors for
progression of clinical osteoarthritis of the knee: a systematic review of
observational studies. Arthritis Res Ther. 2015;17:152.
Bello AE, Oesser S. Collagen hidrolysate for treatment of osteoarthritis and
other joints disorders: a review of literature Curr Med Res Opin. 2006.
22(11):2221-32.
Bertolini FM, Leopoldino AAO, Mesquita JVD, Cousin E, Passos VMA. Aumento
da carga de osteoartrite no Brasil de 2000 a 2017: resultados do Estudo
Global de Carga de Doenças (GBD). Acta Fisiátrica. 2020;27(2):76-81.
Available: https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/169409.
Bowden JL, Hunter DJ, Deveza LA, Duong V, Dziedzic KS, et al. Core and
adjunctive interventions for osteoarthritis: efficacy and models for
implementation. Nature Reviews Rheumatology. 2020;16(8):434-47.
Campos GC, Sousa EB, Hamdan PC, Almeida Jr CS, Tieppo AM, Rezende MU, et
al. Brazilian Consensus Statement on Viscosupplementation of the Knee
(Cobravi). Acta Ortop Bras. 2019;27(4):230-6.
Collins NJ, Hart HF, Mills KAG. Osteoarthritis year in review 2018:
rehabilitation and outcomes. Osteoarthritis Cartilage. 2019;27(3):378-91.
Costa T, Rodrigues-Manica S, Lopes C, Gomes J, Marona J, Falcão S, et al.
Ozone therapy in knee osteoarthritis: a systematic review. Acta Med Port.
2018;31(10):576-80.
Donnelly JM, de las Peñas CF, Finnegan M, Freeman JL. Travell and Simmons’
miofascial pain and dysfunction: the trigger point manual. 3rd ed.
Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2019.
Eckstein F, Le Graverand MP. Plain radiography or magnetic resonance
imaging (MRI): which is better in assessing outcome in clinical trials of
disease-modifying osteoarthritis drugs? Summary of a debate held at the
World Congress of Osteoarthritis 2014. Semin Arthritis Rheum.
2015;45(3):251-6.
Honvo G, Reginster JY, Rabenda V, Geerinck A, Mkinsi O, Charles A, et al.
Safety of symptomatic slow-acting drugs for osteoarthritis out-comes: a
systematic review and meta-analysis. Drugs Aging. 2019;36(Suppl 1):65-99.
Hoops ML, Rosenblatt NJ, Hurt CP, Crensshaw J, Grabiner MD. Does lower
extremity osteoarthritis exacerbate risk factors for fall in older adults?
Women’s Health (London). 2012;8(6):685-98.
Hunter DJ, Bierma-Zeinstra S. Osteoarthritis. Lancet. 2019;393(10182):1745-
59.
Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HH, Targino RA, Hsing WT, Souza LPM, et
al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability and quality of
life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis
Rheum. 2008;59(10):1424-31.
Jordan JM, Helmick CG, Renner JB, Luta G, Dragomir AD, Woodard J, et al.
Prevalence of knee symptoms and radiographic and symptomatic knee
osteoarthritis in African Americans and Caucasians: the Johnston County
Osteoarthritis Project. J Rheumatology. 2007;34(1):172-80.
Jüni P, Hari R, Rutjes AW, Fischer R, Silleta MG, Reichenbach S, et al. Intra-
articular corticosteroid for knee osteoarthritis. Cochrane Database Syst Rev.
2015;CD005328.
Liu X, Eyles J, McLachlan AJ, Mobasheri A. Which supplements can I
recommend to my osteoarthritis patients?. Rheumatology (Oxford).
2018;57(Suppl_4):iv75-iv87.
Katz JN, Arant KR, Loeser RF. Diagnosis and treatment of hip and knee
osteoarthritis: a review. JAMA. 2021; 325(6):568-78.
Kolasinski SL, Neogi T, Hochberg MC, Oatis C, Guyatt G, Block J, et al. 2019
American College of Rheumatology/Arthritis Foundation Guideline for the
Management of Osteoarthritis of the Hand, Hip, and Knee. Arthritis Care
Res (Hoboken). 2020;72(2):149-62.
Kongtharvonskul J, Anothaisintawee T, McVoy M, Attia J, Woratanarat P,
Thakkinstian A. Efficacy and safety of glucosamine, diacerein and NSAIDs in
osteoarthritis of knee: a systematic review and network meta-analysis. Eur J
Med Res. 2015;20:24.
Kraus VB, Blanco FJ, Englund M, Karsdal MA, Lohmander LS. Call for
standardized definitions of osteoarthritis and risk stratification for clinical
trials and clinical use. Osteoarthritis Cartilage. 2015;23(8):1233-41.
Kroon FPB, Carmona L, Schoones JW, Kloppenburg M. Efficacy and safety of
non-pharmacological, pharmacological and surgical treatment for hand
osteoarthritis: a systematic literature review infor-ming the 2018 update of
the Eular recommendations for the management of hand osteoarthritis.
RMD Open. 2018;4(2):e000734.
Migliore A, Procopio S. Effectiveness and utility of hialuronic acid in
osteoarthritis. Clin Cases Miner Bone Metab. 2015;12(1):31-3.
Miller RE, Tran PB, Obeidat AM, Raghu P, Ishihara S, Miller RJ, et al. The role
of peripheral nociceptive neurons in the pathophysiology of osteoarthritis
pain. Curr Osteoporos Rep. 2015;13(5):318-26.
Neogi T. The epidemiology and impact of pain in osteoarthritis. Osteoarthritis
Cartilage. 2013;21(9):1145-53.
Oo WM, Yu SP, Daniel MS, Hunter DJ. Disease-modifying drugs in osteoarthritis:
current understanding and future therapeutics. Expert Opin Emerg Drugs.
2018; 23(4):331-47.
Ornetti P, Nourissat G, Berenbaum F, Sellam J, Richette P, Chevalier X. Does
platelet-rich plasma have a role in the treatment of osteoarthritis? Joint
Bone Spine. 2016; 83(1):31-6.
Pacca DM, Campos GC, Zorzi AR, Chaim EA, Miranda JB. Prevalence of joint
pain and osteoarthritis in obese Brazilian population. Arq Bras Cir Dig.
2018;31(1):e1344.
Reist L, Erlenwein J, Meissner W, Stammschulte T, Stuber F, Stamer VM.
Dypirone is the preferred nonopioid analgesic for the treatment of acute and
chronic pain: a survey of clinical practice in German-speaking countries.
2018;22(6):1103-12.
Robago D, Nourani B. Prolotherapy for osteoarthritis and tendinopathy:
descriptive review. Curr Rheumatol Rep. 2017;19(6):34.
Senna ER, Barros ALP, Silva EO, Costa IF, Pereira LVB, Ciconelli RM, et al.
Prevalence of rheumatic diseases in Brazil: a study using the Copcord
approach. J Rheumatol. 2004;31(3):594-7.
Souza, FMD, Matos MA, Rocha FA, Silveira Junior PFA, Stecca TM, Gehhlen
SHJ, et al. Análise das características epidemiológicas e hospitalares da
osteoartrite referente aos casos registrados no Brasil nos últimos 5 anos.
Research, Society and Development. 2022;11(16):e292111638383-
e292111638383.
The Royal Australian College of General Practitioners. Guideline for the
management of knee and hip osteoarthritis. 2nd ed. East Melbourne:
RACGP; 2018.
Vuik FE, Koehestanie P, Herbers AH, Terhaar Sive Droste JS. Chronic use of
metamizole: not so safe after all?. Neth J Med. 2017;75(2):81-3.
Walzer SM, Weinmann D, Toegel S. Medical plant extracts for treating knee
osteoarthristis: a snapshot of recent clinical trials and their biological
background. Current Rheumatol Rep. 2015;17(8):54.
Wang ZY, Shi SY, Li SJ, Chen F, Chen H, Lin HZ, et al. Efficacy and safety of
duloxetine on osteoarthritis knee pain: a meta-analysis of randomized
controlled trials. Pain Med. 2015;16(7):1373-85.
Yu SP, Hunter DJ. What is the selection process for osteoarthritis
pharmacotherapy?. Expert Opinion on Pharmacotherapy. 2020;21(12):1393-
7.
Zafar H, Algadir A, Anwer S, Al-Eisa E. Therapeutics effects of whole body
vibration training in knee osteoarthritis: a systematic review and meta-
analysis. Arch Phys Med Rehabil. 2015;96(8):1525-32.
Zeng C, Dubreuil M, LaRochelle MR, Lu N, Wei J, Choi HK, et al. Association of
tramadol with all-cause mortality among patients with osteoarthritis. JAMA.
2019;321(10): 969-82.
Zhong Z, Liu B, Liu G, Chen J, Li Y, Chen J, et al. A randomized controlled trial
on the effects of low-dose extracorporeal shockwave therapy in patients with
knee osteoarthritis. Arch Phys Med Rehabil. 2019;100(9): 1695-702.
24 Osteoporose
INTRODUÇÃO
A osteoporose é uma doença osteometabólica que se
caracteriza pela redução da massa óssea e alteração de sua
microarquitetura, resultando em fragilidade óssea e
suscetibilidade a fraturas.
As fraturas e suas complicações são as principais
manifestações clínicas, tornando essa doença um
importante problema de saúde pública, principalmente por
estar relacionada ao envelhecimento da população, uma
vez que sua prevalência aumenta exponencialmente a
partir dos 50 anos. Até o surgimento da primeira fratura, as
manifestações clínicas são bem inespecíficas. Diante desse
fato, a investigação na prática ambulatorial se realiza por
meio de fatores preditivos para futuras fraturas e exclusão
de causas secundárias, acrescidas de exame complementar
como a densitometria óssea (DXA), ferramentas como
calculadora FRAX e rastreio de fraturas de fragilidade. As
fraturas típicas ocorrem no colo do fêmur, vértebras e
antebraço, porém todos os ossos são suscetíveis.
A fratura de colo de fêmur é a mais grave manifestação
da osteoporose; 5 a 20% das vítimas desse tipo de fratura
falecerão no mesmo ano em que ocorreu o evento e cerca
de 50% dos sobreviventes ficarão incapacitados ou
dependentes de modo permanente.
A osteoporose pode ser classificada em primária ou
secundária. A primária pode ser de dividida em:
FATORES DE RISCO
Os fatores de risco mais importantes para a redução da
densidade mineral óssea (DMO) na osteoporose primária
estão relacionados principalmente a:
Normal: ≥ −1.
Osteopenia: −1 a −2,5.
Osteoporose: ≤ −2,5.
TRATAMENTO
Tratamento farmacológico
Cálcio e vitamina D
A ingesta adequada de cálcio é fundamental para a
saúde óssea. A via preconizada é preferencialmente pela
ingesta alimentar. A recomendação diária varia de acordo
com a faixa etária e as condições clínicas: para adultos até
70 anos de idade, a dose recomendada é de 1.000 mg/dia,
para mulheres na pós-menopausa (> 50 anos) e para
homens > 70 anos, segundo o Institute of Medicine (IOM),
a dose recomendada é de 1.200 mg/dia. A recomendação
de ingesta é preferencialmente pela via alimentar, porém,
se houver necessidade de suplementação, é importante
saber a posologia para orientação de efeitos colaterais e
dosagem adequada. São as opções de suplementação:
carbonato de cálcio (40% de cálcio elementar), essa forma
de apresentação depende da acidez gástrica para melhor
absorção, sendo indicada sua ingestão durante as
refeições; e citrato de cálcio (21% de Ca elementar) pode
ser ingerido em qualquer horário do dia, não depende da
acidez gástrica, ou lactobionato + gliconato de cálcio (em
pó) 500 mg de cálcio elementar, também não depende da
acidez gástrica (sua absorção intestinal é melhor que do
carbonato de cálcio). Citrato e gliconato de cálcio podem
ser indicados para pacientes com acloridria, por apresentar
melhor absorção. É importante saber que o nosso intestino
consegue absorver apenas 1.000 mg de cálcio durante cada
refeição, sendo inadequado usar dosagens muito superiores
a essa. A suplementação deve ser controlada por meio de
solicitação laboratorial de cálcio sérico, paratormônio
(PTH) e calciúria de 24 h. Esta última ajuda a adequação da
dose: taxas de 2 a 4 mg de calciúria/kg/dia são ideais, mas
em pacientes com nefrolitíase deve-se manter a calciúria <
200 mg/24 h. Os efeitos colaterais mais comuns são
constipação intestinal, dispepsia e urolitíase. Efeitos
cardiovasculares ainda não foram comprovados em estudos
clínicos.
A vitamina D tem um papel importantíssimo no
metabolismo mineral ósseo, sendo imprescindível sua
manutenção adequada em pacientes com perda de massa
óssea acentuada. Atualmente, recomendam-se níveis
superiores a 30 ng/mL em indivíduos mais vulneráveis à
deficiência de vitamina D, como: idosos > 60 anos,
mulheres pós-menopausa, doenças como
hiperparatireoidismo primário e secundário, doenças
ósseas como osteomalácia e raquitismo, doença renal
crônica e má absorção intestinal (incluindo cirurgias
bariátricas). Pacientes com osteopenia ou osteoporose,
segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM), deverão manter níveis idealmente de
vitamina D, entre 30 e 60 ng/mL.
A suplementação de vitamina D3 (colecalciferol) para
indivíduos sem doença óssea é sugerida na dose diária de
400 a 800 UI, especialmente em pacientes com baixa
ingestão de alimentos ricos em vitamina D (salmão, atum,
sardinha e ovos), baixa exposição ao sol ou com má-
absorção.
Considera-se deficiência de vitamina D, valores < 20
ng/mL para a população geral e < 30 ng/mL para pacientes
com risco aumentado ou doença óssea estabelecida. O
tratamento consiste em:
Deficiências graves < 20 ng/ml: doses elevadas de
vitamina D3 (calcitriol) ou colecalciferol 50.000 UI por
semana, ou 7.000 UI diária, durante 6 a 8 semanas.
Deficiências leves 20-30 ng/mL: doses de 7.000 UI
semanal ou de 1.000 UI dia são suficientes.
Calcitonina
A calcitonina do salmão (Fortical®) atua como inibidor
de receptores dos osteoclastos, com efeito antirreabsortivo
e hipocalcemiante. Porém seu uso de forma contínua
favorece muito a taquifilaxia. Trata-se de medicação pouco
utilizada na atualidade por ter seu efeito limitado, não
demonstrando eficiência para diminuir a prevalência de
novas fraturas. Apresenta importante ação analgésica
óssea, pela liberação de endorfinas, e um mecanismo de
acomodação do receptor após 2 a 3 anos de uso e perde
sua ação de inibir a reabsorção óssea. É utilizada na forma
injetável (subcutâneo ou intramuscular), na dose de 50 a
100 UI/dia. Na forma de spray nasal, a dosagem eficiente é
de 100 a 200 UI/dia. Demonstrou efeito protetor na fratura
vertebral apenas. Não demonstrou eficiência para diminuir
a prevalência de novas fraturas.
Bifosfonatos
Os bifosfonatos são potentes inibidores da reabsorção
óssea e comprovadamente aumentam a massa óssea e
diminuem a frequência de novas fraturas. São
antirreabsortivos usados para o tratamento da osteoporose
e doenças que aumentam o remodelamento ósseo. São
efetivos para prevenir a perda óssea associada à deficiência
de estrógenos, ao uso de glicocorticoides e à imobilidade.
São considerados um tratamento de primeira linha na
osteoporose e na prevenção de fraturas.
Os bifosfonatos são análogos do pirofosfato e se ligam
aos cristais de hidroxiapatita na superfície óssea,
particularmente em sítios de remodelação ativa. Essa
classe de medicamentos inibe diretamente os osteoclastos,
diminuindo a ação reabsortiva e a produção de enzimas
lisossomais. Diminuem também a reabsorção óssea e
reduzem o turnover ósseo, principalmente durante os 2
primeiros anos de tratamento. Há diminuição tanto dos
marcadores de reabsorção quanto de formação óssea,
mostrando diminuição do processo de remodelação. O
predomínio do bloqueio da reabsorção sobre a formação
leva a aumento da DMO, que ocorre por meio de um
aumento do processo da mineralização óssea.
Os bifosfonatos são absorvidos no intestino delgado, e,
em condições ideais, menos de 5% da dose oral do
alendronato de sódio é absorvida (a absorção varia e 0,5 a
7%). A absorção é significativamente reduzida se forem
administrados com alimentos que contêm cálcio ou bebidas
que não a água. Cerca de 20 a 50% dos bifosfonatos
absorvidos se ligam à superfície óssea após 12 a 24 horas
de sua administração. Não são metabolizados no organismo
e são excretados de forma intacta pela urina. Devido à
eliminação renal, não devem ser usados em pacientes com
insuficiência renal grave (clearance de creatinina inferior a
35 ml/minuto). A hipocalcemia é rara.
Podem ocorrer alguns efeitos colaterais no trato
gastrointestinal, como esofagite, náuseas e vômitos. Um
efeito colateral grave e raro relacionado com bifosfonatos é
a osteonecrose de mandíbula, relatada principalmente em
pacientes com câncer e que fazem uso de altas doses por
via intravenosa.
Há relatos de aumento da frequência de fraturas
diafisárias e atípicas de fêmur, que podem estar
relacionadas com o uso prolongado de bifosfonatos (> 10
anos), e ainda se questiona qual o tempo de seu uso mais
apropriado. Embora não haja consenso, é razoável
considerar intercalar o uso por 5 a 10 anos com períodos
de descanso (“holiday”) para que não haja desaceleração
intensa do mecanismo de metabolismo ósseo. Dessa classe,
estão disponíveis alendronato de sódio, risedronato de
sódio, ibandronato de sódio e ácido zoledrônico.
Alendronato de sódio
O alendronato de sódio está disponível em comprimidos
de 10 mg para uso diário e de 70 mg para uso semanal,
sendo que esta última posologia é a mais utilizada. Deve
ser tomado com água, com grande intervalo da dose do
comprimido de cálcio e também do horário das refeições.
Recomenda-se preferencialmente o uso em jejum e 30
minutos antes da refeição. O comprimido não deve ser
ingerido na posição deitada, pelo risco de úlcera esofágica.
Contraindicações absolutas para o uso do alendronato são:
insuficiência renal grave e doenças do trato
gastrointestinal alto, como acalásia e estenose de esôfago.
A doença do refluxo gastroesofágico é considerada
contraindicação relativa. Os maiores inconvenientes são os
efeitos colaterais digestivos, como gastrite e esofagite. O
comprimido de uso semanal passou a ser alternativa
segura, pois ameniza os efeitos dispépticos indesejáveis e
aumenta a aderência ao tratamento. Essa medicação
demonstrou redução de fratura vertebral, não vertebral e
colo de fêmur.
Risedronato de sódio
O risedronato está disponível nas apresentações de 5 mg
para uso diário, 35 mg para uso semanal e 150 mg para uso
mensal e tem se mostrado eficaz em aumentar a DMO de
coluna e fêmur e proteção a qualquer tipo de fratura. O
risedronato também é eficaz para prevenir a perda da
massa óssea em pacientes com uso crônico de corticoides.
São válidas as mesmas recomendações citadas para o
alendronato. Até o momento, é o bifosfonato que melhor
demonstrou redução de fraturas de fêmur.
Ibandronato de sódio
O ibandronato apresenta as mesmas características
farmacológicas dos demais bifosfonatos e pode ser usado
na dose mensal de 150 mg por via oral ou 3 mg por via
intravenosa a cada 3 meses. Apresenta a vantagem de
melhorar a aderência e a tolerância ao tratamento via oral,
porém estudos recentes demonstraram menor eficácia em
prevenção de fraturas de quadril. É considerada a
medicação de menos valia dos bifosfonatos.
Teriparatida
A teriparatida (Forteo®) é um paratormônio
recombinante sintético (PTH 1-34), que tem efeito
anabólico ósseo, por meio da inibição da esclerostina e da
ação nos osteoblastos por meio da via IGF-1 e da redução
expressão do RANKL. O PTH, quando usado de forma
intermitente (forma contínua causa hiperparatireodismo
com efeito reabsortivo ósseo), exerce função anabólica,
com aumento principalmente do osso trabecular. É
recomendado para osteoporose grave, muito alto risco de
fraturas e osteoporose induzida por glicocorticoides. Sua
posologia consiste em injeções subcutâneas na dose de 20
mcg/dia por 24 meses. Esse tempo foi determinado pelo
risco de osteossarcoma e pico máximo de aumento da
densidade mineral óssea, após esse período é necessária
reintrodução de outra terapia como os antirreabsortivos
para evitar perda de massa óssea. São contraindicações
absolutas os casos de hipercalcemia não esclarecidos,
hiperparatireoidismo e doença de Paget. Como efeitos
colaterais, pode haver hipercalcemia transitória, mas o
cálcio não apresenta oscilações significativas nas 24 horas,
vertigem, cãibras, náuseas, vômitos e hipercalciúria.
Denosumabe
®
O denosumabe (Prolia ) é um anticorpo monoclonal
humano e faz parte da classe dos imunobiológicos, com
efeito anti-RANKL (proteína reguladora dos osteoclastos).
Tem ação antirreabsortiva e supressora na remodelação
óssea. É opção de tratamento para os pacientes com
doença renal crônica (ClCr < 30 mL/min), pacientes que
estão fazendo o holiday dos bifosfonatos, como também
alternativa segura para pacientes com intolerância
gástrica, má adesão terapêutica dos antirreabsortivos ou
falha terapêutica de outras drogas, sendo sua indicação
individualizada. Sua posologia é mais tolerável, podendo
ser administrado 60 mg, a cada 6 meses, por via
subcutânea, e pode ser usada por até 3 anos descritos pela
maioria das diretrizes. Porém não existe consenso sobre o
tempo para a sua descontinuação. Os principais efeitos
colaterais são: rash cutâneo, alergias e infecção de pele
(eczema, celulite, dermatite). Além do custo ser elevado, o
principal fator negativo é que, após a suspensão da droga,
a perda de massa óssea é rápida e todo o ganho durante o
tratamento se torna reversível, principalmente por não
apresentar efeito residual, apresentando assim risco de
múltiplas fraturas. Para suspensão do tratamento, é
necessário um plano terapêutico, para evitar perda de
massa óssea importante e risco de fraturas. Contraindicado
em pacientes imunossuprimidos ou com doenças crônicas
dermatológicas.
Romosozumabe
É um anticorpo monoclonal, com efeito bloqueador da
proteína esclerostina (responsável por inibir a formação
óssea, liberada pelos osteócitos e osteoblastos), sendo
assim, ao ser bloqueada pelo romosozumabe, permite não
só a formação como também a não reabsorção óssea. Essa
medicação tem efeito duplo de atuação, anabólico e
antirreabsortivo, e é a droga mais nova para tratamento de
osteoporose, porém indicada apenas para pacientes com
osteoporose grave ou com muito alto risco de
desenvolvimento de novas fraturas. É uma droga injetável,
subcutânea, mensal com dosagem de 210 mg. Estudos
recentes com mulheres pós-menopausa demonstraram
aumento da densidade mineral óssea nos primeiros 12
meses de tratamento e redução significativa de fraturas.
Atualmente, o tempo de tratamento preconizado é de 1 ano,
visto que estudos com utilização da droga por 2 anos não
demonstraram aumentos significativos de massa óssea após
esse período. É necessária a reintrodução de outra terapia,
como os bifosfonatos, para evitar perda de massa óssea. Os
principais efeitos colaterais consistem em cefaleia,
artralgias e reações cutâneas no local da aplicação. Essa
medicação já está disponível no Brasil, com um fator
desfavorável de ter alto custo.
Outros tratamentos
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
Pacientes em tratamento deverão ser acompanhados
quanto à tolerância e à aderência terapêutica desde o
primeiro mês após seu início, sendo necessárias, na
sequência, avaliações anuais para verificar a eficácia da
medicação escolhida, por meio da densitometria óssea,
para comparação de ganho ou perda de DMO. As
radiografias (coluna torácica e lombar) deverão ser
solicitadas nos intervalos de 3, 5 e 10 anos a contar do
início do tratamento, com o objetivo de rastreio de novas
fraturas.
A individualização e estratificação de risco anual devem
nortear a decisão terapêutica. As classes de medicações
não reabsortivas e anabólicas óssea necessitam de
intervalos (holiday) para evitarem efeitos colaterais graves
de uso prolongado. No caso dos bifosfonatos, são
preconizados para os usos orais pausas de 5-10 anos e,
para os injetáveis, pausas de 3 anos. No caso dos
anabólicos, cada medicação apresentará determinação do
tempo de uso e exige plano terapêutico para que o paciente
não tenha perda de massa óssea e aumento do risco de
fraturas. Importante destacar que o tempo dessas pausas
atualmente tem sido ponderado de acordo com a
estratificação de risco do paciente, observando-se a melhor
terapêutica e o melhor manejo do tempo de administração
de cada classe de forma individualizada. A seguir, encontra-
se um resumo do acompanhamento ambulatorial:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os métodos para aferição da densidade óssea são
capazes de detectar pacientes com maior risco de fratura,
que podem se beneficiar dos tratamentos disponíveis. No
seguimento com DXA, somente após 1 ano se pode ter
noção real da eficiência do tratamento instituído. Os
marcadores bioquímicos, quando disponíveis, podem
revelar após 3 meses se o tratamento instituído está
modificando o metabolismo ósseo, principalmente com
diminuição dos marcadores de reabsorção óssea.
Com base nas evidências atuais e na análise de custo-
benefício, sugere-se a medida da DMO em mulheres com
mais de 65 anos ou antes dos 65 anos, mas com fatores de
risco para osteoporose e fratura, permitindo eleger as
pacientes que possam se beneficiar do tratamento
medicamentoso preventivo.
Para o tratamento, as doses necessitam ser adaptadas
para cada paciente e os medicamentos podem ser
combinados de acordo com a gravidade da osteoporose e as
doenças preexistentes. Há evidências de que o tratamento
é eficaz e mais longo em mulheres com osteoporose e com
maior número de fatores de risco em relação às mulheres
sem osteoporose.
Os medicamentos antirreabsortivos agem nos
osteoclastos, inibindo o processo de reabsorção e
diminuindo a perda de massa óssea. Ao se inibir a
reabsorção, pode haver uma diminuição da remodelação
óssea, mas existe ganho de DMO por meio de um processo
de mineralização secundária. Há evidências de que os
medicamentos antirreabsortivos, como alendronato,
risedronato e raloxifeno, contribuem para a diminuição do
número de novas fraturas no período pós-menopausa, em
que predomina o aumento da reabsorção óssea. Há,
entretanto, situações em que predomina a diminuição do
processo de formação óssea, e nesses casos, ao se inibir a
reabsorção, haverá bloqueio ainda maior da formação e da
remodelação óssea. Esse processo é particularmente
importante no homem e na mulher idosa após os 85 anos.
Em caso de osteoporose grave ou de fraturas na
vigência do tratamento antirreabsortivo deve-se optar pelo
uso da teriparatida. Quando há dúvida sobre a disfunção do
metabolismo ósseo, seus marcadores bioquímicos são
fundamentais para colaborar na decisão da terapêutica
mais racional.
Há boas perspectivas de tratamento e reversão da
osteoporose, mas a melhor medida ainda é a prevenção
com dieta rica em cálcio, sol (fonte de vitamina D),
suplementação de vitamina D e atividade física. Toda
fratura osteoporótica representa uma oportunidade perdida
de fazer a prevenção ou a detecção precoce de uma doença
que, além da alta mortalidade, interfere radicalmente na
qualidade de vida do indivíduo.
BIBLIOGRAFIA
Bonaiuti D, Shea B, Iovine R, Negrini S, Robinson V, Kemper HC, et al. Exercise
for preventing and treating osteoporosis in postmenopausal women.
Cochrane Database Syst Rev. 2002;(3):CD000333.
Centre for Metabolic Bone Diseases, University of Sheffield, UK. FRAX®
Fracture Risk Assessment Tool. Sheffield, UK: University of Sheffield; 2008.
Available: http://www.shef.ac.uk/FRAX (acesso fev 2023).
Cummings SR, Eckert S, Krueger KA, Grady D, Powles TJ, Cauley JA, et al. The
effect of raloxifene on risk of breast cancer in postmenopausal women:
results from the More randomized trial. JAMA. 1999;281(23):2189-97.
Favus MJ. Bisphosphonates for osteoporosis. N Engl J Med. 2010;363(21):2027-
35.
Gass M, Dawson-Hughes B. Preventing osteoporosis-related fractures: an
overview. Am J Med. 2006;119(4 Suppl 1):S3-S11.
Holick MF, Binkley NC, Bischoff-Ferrari HA, Gordon CM, Hanley DA, Heaney
RP, et al. Evolution, treatment and prevention of vitamin D deficiency: an
Endocrine Society Clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab.
2011;96(7):1911-30.
Jackson RD, Lacroix AZ, Gass M, Wallace RB, Robbins J, Lewis CE, et al.
Calcium plus vitamin D supplementation and the risk of fractures. N Engl J
Med. 2006;354:669-83.
Kanis, JA, Borgstrom F, De Laet C, Johansson H, Johnell O, Jonsson B, et al.
Assessment of fracture risk. Osteoporos Int. 2005;16(6):581-9.
Kanis JA, Burlet N, Cooper C, Delmas PD, Reginster JY, Borgstrom F, et al.
European guidance for the diagnosis and management of osteoporosis in
postmenopausal women. Osteoporos Int. 2008;19(4):399-428.
Kanis JA, Johnell O, Black DM, Downs RW Jr, Sarkar S, Fuerst T, et al. Effect of
raloxifene on the risk of new vertebral fracture in postmenopausal women
with osteopenia or osteoporosis: a reanalysis of the Multiple Outcomes of
Raloxifene Evaluation trial. Bone. 2003;33(3):293-300.
Kanis JA, Johnell O, Oden A, Dawson A, De Laet C, Jonsson B. Ten year
probabilities of osteoporotic fractures according to BMD and diagnostic
thresholds. Osteoporos Int. 2001;12(12):989-95.
Lewiecki EM, Binkley N, Bilezikian JP, Kendler DL, Leib ES, Petak SM. Official
positions of the International Society for Clinical Densitometry. Osteoporos
Int. 2006;17(11): 1700-1.
Liberman UA. Long-term safety of bisphosphonate therapy for osteoporosis: a
review of the evidence. Drugs Aging. 2006;23(4):289-98.
Meunier PJ, Roux C, Seeman E, Ortolani S, Badurski JE, Spector TD, et al. The
effects of strontium ranelate on the risk of vertebral fracture in women with
postmenopausal osteoporosis. N Eng J Med. 2004;350(5):459-68.
Moylan KC, Binder EF. Falls in older adults: risk assessment, management, and
prevention. Am J Med. 2006;120(6):493.e1-e6.
National Osteoporosis Foundation (NOF). Clinician’s guide for prevention and
treatment of osteoporosis. Washington, DC: National Osteoporosis
Foundation; 2010.
Neer RM, Arnaud CD, Zanchetta JR, Prince R, Gaich GA, Reginster JY, et al.
Effect of parathyroid hormone (1-34) on fractures and bone mineral density
in postmenopausal women with osteoporosis. N Eng J Med. 2001; 344(19):
1434-41.
Papapoulos SE. Ibandronate: a potent new bisphosphonate in the management
of postmenopausal osteoporosis. Int J Clin Pract. 2003;57(5):417-22.
Park-Wyllie LY, Mamdani MM, Juurlink DN, Hawker GA, Gunraj N, Austin PC, et
al. Biphosphonate use and risk of subtrochanteric or femoral shaft fractures
in older women. JAMA. 2011;305(8):783-9.
Qaseem A, Snow V, Shekelle P, Hopkins Jr R, Forciea MA, Owens DK, et al.
Pharmacologic treatment of low bone density or osteoporosis to prevent
fractures: a clinical practice guideline from the American College of
Physicians. Ann Int Med. 2008;149(6):404-15.
Rossouw JE, Anderson GL, Prentice RL, LaCroix AZ, Kooperberg C, Stefanick
ML, et al. Risks and benefits of estrogen plus progestin in healthy
postmenopausal women: principal results from the Women’s Health
Initiative randomized controlled trial. JAMA. 2002;288(3):321-33.
Sitta MC. Osteoporose. In: Jacob-Filho W, Kilichi EL. Geriatria e gerontologia
básicas. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011. p.353-76.
Sitta MC, Cassis SVA, Horie NC, Moyses RMA, Jorgetti V, Garcez-Leme LE.
Osteomalacia and vitamin D deficiency in the elderly. Clinics.
2009;64(2):156-8.
Unger MD, Crupari L, Titan SM, Magalhães MCT, Sassaki AL, Reis LM, et al.
Vitamin D status in a sunny country: where has the sun gone? Clin Nutr.
2010;29(6):784-8.
Vieira IO, Graciolli FG, Reis LM, Moyses RMA, Jorgetti V. Nefrologia clínica:
citocinas e osteodistrofia renal. J Bras Nefrol. 2001;23(4):224-9. Available:
http://bjn.org.br/export-pdf/487/23-04-06.pdf (acesso fev 2023).
Whitaker M, Guo J, Kehoe T, Benson G. Biphosphonates for osteoporosis: where
do we go from here?. N Eng J Med. 2012;366(22):2048-51.
Sarcopenia, dinapenia e síndrome da 25
fragilidade
SARCOPENIA E DINAPENIA
Definição
Epidemiologia
Fisiopatologia e classificação
Diagnóstico
O Consenso Europeu de Sarcopenia revisado
(EWGSOP2) destacou a força muscular como preditor
importante de desfechos adversos, que antecede a redução
da massa muscular, tornando o diagnóstico de sarcopenia
provável quando a presença de baixa força muscular
estiver presente. Dessa forma, em sua definição atual, o
EWGSOP2 definiu baixa força muscular como parâmetro
primário de sarcopenia, cujo diagnóstico é confirmado pela
presença de redução de massa muscular associada. Caso o
baixo desempenho físico também esteja presente, a
sarcopenia é considerada grave. O Quadro 3 descreve os
critérios diagnósticos de sarcopenia segundo o EWGSOP2.
Existem diversas maneiras de mensurar os parâmetros
físicos exigidos para o diagnóstico de sarcopenia. A seguir,
serão descritos os métodos recomendados pelo EWGSOP2
para identificação de cada critério diagnóstico.
1. Força muscular:
– Força de preensão palmar: é um importante preditor
de desfechos clínicos desfavoráveis, como maior
tempo de internação hospitalar, piora da
funcionalidade, piora da qualidade de vida
relacionada à saúde e morte. Correlaciona-se
moderadamente com a força em outros segmentos do
corpo, de modo que serve como substituto confiável
para medidas mais complexas de força do braço e da
perna. Por ser um método de aferição simples e de
baixo custo, é recomendado para uso rotineiro na
prática hospitalar, em ambientes clínicos
especializados e na saúde comunitária. O uso de um
dinamômetro portátil bem calibrado é recomendado
para a medida da força de preensão manual. Os
pontos de corte atualmente recomendados são de 27
kgf em homens e de 16 kgf em mulheres. Valores
inferiores a eles, quando presentes, sugerem baixa
força muscular.
– Teste de levantar-se e sentar na cadeira 5 vezes sem
usar as mãos: pode ser usado para avaliar a força dos
músculos das pernas, especialmente do grupo
muscular do quadríceps. Esse teste mede a
quantidade de tempo necessária para um paciente
levantar-se e sentar na cadeira 5 vezes sem usar o
apoio dos braços. O ponto de corte atualmente
recomendado é de 15 segundos. Valores acima disso
sugerem baixa força muscular.
2. Massa muscular esquelética:
– Ressonância magnética (RM) e tomografia
computadorizada (TC): são métodos de imagem de
elevada precisão e considerados o padrão-ouro para
estimativa da massa muscular, especialmente em
pesquisas. Apresentam uso limitado na prática
clínica devido a seu custo elevado e baixa
disponibilidade. Além disso, os pontos de corte ainda
não estão bem definidos.
– Absorciometria de raios x de dupla energia (DXA): é
um método não invasivo amplamente utilizado para
determinar a quantidade de massa muscular, medida
pela massa magra corporal total ou massa muscular
esquelética apendicular. A massa muscular se
correlaciona com o tamanho do corpo. Dessa forma,
a quantificação da massa muscular esquelética
apendicular deve ser ajustada para o tamanho
corporal do indivíduo, utilizando fórmulas
específicas, corrigidas para o peso, altura ou índice
de massa corporal (IMC). Os pontos de corte
recomendados são de 20 kg ou 7,0 kg/m2 para
2
homens e de 15 kg ou 6 kg/m para mulheres.
– Bioimpedância elétrica (BIA): é usada para
estimativa da massa muscular esquelética total ou
apendicular. O equipamento da BIA não mede a
massa muscular diretamente, obtendo uma
estimativa com base na condutividade elétrica do
corpo inteiro, por meio de uma equação de conversão
que é calibrada com uma referência de massa magra
medida por DXA em uma população específica. O
equipamento da BIA é portátil, de fácil aplicação e
amplamente disponível.
– Medidas antropométricas: embora a antropometria
seja usada com frequência para avaliar o estado
nutricional de idosos, não é uma boa ferramenta para
mensuração da sua massa muscular. Apesar disso, a
circunferência da panturrilha pode ser usada como
um substituto diagnóstico para mensuração em
locais onde não existem outros métodos diagnósticos
disponíveis. O ponto de corte utilizado é de 31 cm.
Valores abaixo disso predizem baixa massa muscular
e baixo desempenho físico, com redução da
sobrevida em idosos.
3. Desempenho físico:
– Teste de velocidade de marcha (TVM): consiste na
medida do tempo que o paciente leva para percorrer
uma distância de 4 m em sua velocidade habitual. É
considerado um teste rápido, seguro e altamente
confiável para a predição de resultados adversos,
como incapacidade, comprometimento cognitivo,
necessidade de institucionalização, quedas e
mortalidade. É fácil de ser realizado e altamente
recomendado para uso na prática clínica. O ponto de
corte é de 0,8 m/s. Valores ≤ 0,8 m/s sugerem
sarcopenia grave.
– Short Physical Performance Battery (SPPB): consiste
em uma bateria de testes que incluem avaliação da
velocidade de marcha, do equilíbrio e do tempo para
levantar-se e se sentar na cadeira. A pontuação
máxima é de 12 pontos, e uma pontuação ≤ 8 pontos
indica pior desempenho físico. É mais utilizado em
pesquisa devido à necessidade de um tempo maior
para execução do teste.
– Teste Timed-Up and Go (TUG): consiste no tempo
que a pessoa gasta para levantar de uma cadeira
com braços, andar uma distância de 3 m, virar,
retornar e se sentar novamente. Considera-se pior
desempenho físico um ponto de corte ≥ 20 segundos.
É um teste que prediz mortalidade e é de fácil
aplicação na prática diária.
– Teste de caminhada de 400 m: avalia a capacidade de
caminhar da pessoa e sua resistência física. Os
participantes devem completar 20 voltas de 20 m o
mais rápido possível, sendo permitidas até duas
paradas de descanso durante o teste. Considera-se
um marcador de pior desempenho físico se a pessoa
não consegue completar o percurso ou o faz em um
tempo ≥ 6 minutos.
Tratamento
Tratamento farmacológico
SÍNDROME DA FRAGILIDADE
Definição
Epidemiologia
Fisiopatologia
Fadiga.
Resistência (capacidade de subir um lance de escadas).
Deambulação (capacidade de andar um quarteirão).
Comorbidade (≥ doenças).
Perda de peso (> 5%).
Tratamento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sarcopenia e síndrome da fragilidade são condições de
reconhecimento relativamente recente, porém de suma
importância no cuidado à saúde do idoso. Apesar de
semelhantes em alguns aspectos, a sarcopenia refere-se à
perda de função de um sistema específico (o muscular),
enquanto a síndrome da fragilidade acomete múltiplos
sistemas, ambas levando a aumento do risco de perdas
funcionais, morbidade e mortalidade.
A dinapenia, por sua vez, refere-se exclusivamente à
perda de função neuromuscular e não é um termo
atualmente empregado na prática clínica. Pela importância
clínica dessas condições, o geriatra deve estar sempre
atento a sua presença, para diagnóstico e intervenções
precoces. O tratamento de ambas se baseia na realização
de atividade física e na intervenção nutricional. Não há
medicações disponíveis até o presente momento para o
tratamento específico dessas condições.
Para o tratamento da síndrome da fragilidade, é
essencial a aplicação da AGA, com planejamento e
implementação de uma intervenção individualizada.
BIBLIOGRAFIA
Abellan Van Kan G, Rolland YM, Morley JE, Vellas B. Frailty: toward a clinical
definition. J Am Med Dir Assoc. 2008;9(2):71-2.
Alves NMC, Pfrimer K, Santos PC, de Freitas EC, Neves T, Pessini RA, et al.
Randomised controlled trial of fish oil supplementation on responsiveness to
resistance exercise training in sarcopenic older women. Nutrients.
2022;14(14):2844.
Barbosa-Silva TG, Menezes AM, Bielemann RM, Malmstrom TK, Gonzalez MC;
Grupo de Estudos em Composição Corporal e Nutrição (Coconut).
Enhancing Sarc-F: improving sarcopenia screening in the clinical practice. J
Am Med Dir Assoc. 2016;17(12):1136-41.
Bauer J, Biolo G, Cederholm T, Cesari M, Cruz-Jentoft AJ, Morley JE, et al.
Evidence-based recommendations for optimal dietary protein intake in older
people: a position paper from the Prot-Age Study Group. J Am Med Dir
Assoc. 2013;14(8):542-59.
Calado LB, Ferriolli E, Moriguti JC, Martinez EZ, Lima NKC. Frailty syndrome
in an independent urban population in Brazil (Fibra study): a cross-sectional
populational study. São Paulo Med J. 2016;134(5):385-92.
Calvani R, Picca A, Marini F, Biancolillo A, Cesari M, Pesce V, et al. The
“Biomarkers associated with sarcopenia and physical frailty in elderly
persons” (Biosphere) study: rationale, design and methods. Eur J Intern
Med. 2018;56:19-25.
Clark BC, Manini TM. Sarcopenia ≠ dynapenia. J Gerontol A Biol Sci Med Sci.
2008;63(8):829-34.
Clegg A, Young J, Iliffe S, Rikkert MO, Rockwood K. Frailty in elderly people.
Lancet. 2013;381(9868):752-62.
Collard RM, Boter H, Schoevers RA, Oude Voshaar RC. Prevalence of frailty in
community-dwelling older persons: a systematic review. J Am Geriatr Soc.
2012;60(8):1487-92.
Cruz-Jentoft AJ, Bahat G, Bauer J, Boirie Y, Bruyère O, Cederholm T, et al.
Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age
Ageing. 2019;48(1):16-31.
Cruz-Jentoft AJ, Baeyens JP, Bauer JM, Boirie Y, Cederholm T, Landi F, et al.
Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis. Report of the
European Working Group on Sarcopenia in Older People. Age Ageing.
2010a;19(4):412-23.
Cruz-Jentoft AJ, Landi F, Schneider SM, Zúñiga C, Arai H, Boirie Y, et al.
Prevalence of and interventions for sarcopenia in ageing adults: a systematic
review. Report of the International Sarcopenia Initiative (EWGSOP and
IWGS). Age Ageing. 2014;43(6):748-59.
Cruz-Jentoft A, Landi F, Topinková E, Michel JP. Understanding sarcopenia as a
geriatric syndrome. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2010b;13(1):1-7.
Da Boit M, Sibson R, Sivasubramaniam S, Meakin JR, Greig CA, Aspden RM.
Sex differences in the effect of fish-oil supplementation on the adaptive
response to resistance exercise training in older people: a randomized
controlled trial. Am J Clin Nutr. 2017;105(1):151-8.
Dent E, Morley JE, Cruz-Jentoft AJ, Arai H, Kritchevsky SB, Guralnik J.
International clinical practice guidelines for sarcopenia (ICFSR): screening,
diagnosis and management. J Nutr Health Aging. 2018;22(10):1148-61.
Diz JB, Leopoldino AA, Moreira BS, Henschke N, Dias RC, Pereira LS, et al.
Prevalence of sarcopenia in older Brazilians: a systematic review and meta-
analysis. Geriatr Gerontol Int. 2017;17(1):5-16.
Ensrud KE, Ewing SK, Taylor BC, Fink HA, Cawthon PM, Stone KL, et al.
Comparison of 2 frailty indexes for prediction of falls, disability, fractures,
and death in older women. Arch Intern Med. 2008;168(4):382-9.
Ensrud KE, Ewing SK, Taylor BC, Fink HA, Stone KL, Cauley JA, et al. Frailty
and risk of falls, fracture, and mortality in older women: the study of
osteoporoic fractures. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2007;62(7):744-51.
Fitschen PJ, Wilson GJ, Wilson JM, Wilund KR. Efficacy of β-hydroxy-β-
methylbutyrate supplementation in elderly and clinical populations.
Nutrition. 2013;9(1):29-36.
Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al.
Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med
Sci. 2001;56(3):M146-56.
Gillick M. Pinning down frailty. J Gerontol A Sci Med Sci. 2001;56(3):M134-5.
Goates S, Du K, Arensberg MB, Gaillard T, Guralnik J, Pereira SL. Economic
impact of hospitalizations in US adults with sarcopenia. J. Frailty & Aging.
2019;8(2):93-99.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Projeção da população do
Brasil e das Unidades da Federação. Available:
https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index/html (acesso jan
2023).
Janssen I, Shepard DS, Katsmarzyk PT, Roubenoff R. The healthcare costs of
sarcopenia in the United States. J Am Geriatr Soc. 2004;52(1):80-5.
Malmstrom TK, Morley JE. Sarc-F: a simple questionnaire to rapidly diagnose
sarcopenia. J Am Med Dir Assoc. 2013;14(8):531-2.
Mayhew AJ, Amog K, Phillips S, Parise G, McNicholas PD, de Souza RJ, et al.
The prevalence of sarcopenia in community-dwelling older adults, an
exploration of differences between studies and within definitions: a
systematic review and meta-analyses, Age Ageing 2019;48(1):48-56.
Mitnitski AB, Mogilner AJ, Rockwood K. Accumulation of deficits as a proxy
measure of aging. Scientific World Journal. 2001;1:323-36.
Morley JE, Malmstrom TK, Miller DK. A simple frailty questionnaire (frail)
predicts outcomes in middle aged African Americans. J Nutr Health Aging.
2012;16(7):601-8.
Morley JE, Vellas B, Abellan van Kan G, Anker SD, Bauer JM, Bernabei R, et al.
Frailty consensus: a call to action. J Am Med Dir Assoc. 2013;14(6):392-7.
Peel NM, Kuys SS, Klein K. Gait speed as a measure in geriatric assessment in
clinical settings: a systematic review. J Gerontol A Biol Sci Med Sci.
2013;68(1):39-46.
Podsiadlo D, Richardson S. The timed “Up & Go”: a test of basic functional
mobility for frail elderly persons. J Am Geriatr Soc. 1991;39(2):142-8.
Rockwood K, Mitnitski A. Frailty in relation to the accumulation of deficits. J
Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2007; 62(7):722-7.
Rodacki CL, Rodacki AL, Pereira G, Naliwaiko K, Coelho I, Pequito D, et al.
Fish-oil supplementation enhances the effects of strength training in elderly
women. Am J Clin Nutr. 2012;95(2):428-36.
Rosenberg I. Summary comments: epidemiological and methodological
problems in determining nutritional status of older persons. Am J Clin Nutr.
1989;50(5):1231-3.
Silva SL, Silva VG, Máximo LS, Dias JMD, Dias RC. Comparação entre
diferentes pontos de corte na classificação do perfil de fragilidade de idosos
comunitários. Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):130-5.
Turner G, Clegg A. Best practice guidelines for the management of frailty: a
British Geriatrics Society, Age UK and Royal College of General
Practitioners report. Age Ageing. 2014;43(6):744-7.
Tonturas no idoso 26
INTRODUÇÃO
A mobilidade é uma função humana básica necessária
para a independência, a interação social e a execução das
atividades da vida diária. Com o envelhecimento normal,
ocorrem apenas pequenas alterações na marcha e no
equilíbrio, que não são suficientes para afetar de maneira
significativa a mobilidade de indivíduos idosos. Entretanto,
atualmente é frequente que os idosos apresentem o que se
chama de “envelhecimento patológico”, com a presença de
doenças associadas e hábitos de vida pouco saudáveis.
Nesse caso, pode haver alterações da marcha e do
equilíbrio bastante significativas, devidas, porém, a
comorbidades e não ao envelhecimento.
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
A prevalência de alteração significativa na marcha e/ou
no equilíbrio em indivíduos idosos não é grande. Imagens
estereotipadas do envelhecimento utilizando como símbolo
o idoso com bengala não refletem em absoluto o que se
encontra na população em geral. A noção disseminada de
que todo idoso apresenta uma marcha peculiar e diferente
da do jovem está incorreta.
Na realidade, sabe-se que apenas um quarto dos
pacientes acima dos 65 anos de idade apresentam alguma
limitação para a execução das atividades da vida diária,
como limpar a casa, lavar roupas ou fazer compras. Mesmo
entre os pacientes acima dos 85 anos, apenas metade
apresenta alguma limitação funcional. Entretanto, um terço
dos idosos que vivem na comunidade relatam ao menos
uma queda no ano anterior, e a incidência aumenta com a
idade. Todos os anos nos EUA ocorrem 250 mil fraturas de
quadril e 10 mil mortes como resultado de quedas em
idosos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A mobilidade depende do bom funcionamento de três
esferas:
QUADRO CLÍNICO
A tontura é uma das principais queixas do idoso
ambulatorial. É a mais comum para visitas ao médico na
população acima dos 75 anos e a terceira razão mais
comum para a visita em pacientes acima dos 65 anos.
Há apenas um pequeno declínio da função vestibular
com a idade. Entretanto, há também um declínio dos
mecanismos compensatórios (principalmente dos sistemas
neuromuscular e visual e também da propriocepção), o que
deixa os idosos vulneráveis a condições de instabilidade
postural às quais uma pessoa jovem poderia facilmente se
adaptar.
Em pacientes jovens, geralmente o principal tipo de
tontura é a vertigem; em idosos, é a tontura tipo
desequilíbrio. Torna-se mais frequente em idosos a
presença de mais de um tipo de tontura, seja por
associação de doenças, seja porque a tontura leva o idoso a
limitar em demasiado suas atividades, acarretando um
quadro de desequilíbrio por descondicionamento físico.
Apesar de haver aumento da prevalência de causas
centrais de vertigem, as causas periféricas ainda são as
mais comuns no idoso – sendo a vertigem posicional
paroxística benigna (VPPB) a mais comum –, assim como no
jovem, e não a chamada “labirintite”. As causas de pré-
síncope são as mesmas, mas a prevalência de doenças
cardíacas e de hipotensão postural aumenta. Na tontura
tipo desequilíbrio do idoso surge o déficit sensorial
múltiplo, causa pouco presente em jovens e que,
juntamente com a fraqueza de membros inferiores e o uso
de medicações, constitui a maioria dos diagnósticos. As
doenças neurológicas, diferentemente do que ocorre com
os jovens, não são a causa principal de desequilíbrio no
idoso.
Independentemente do tipo de tontura no idoso, sua
causa costuma ser multifatorial. Déficits visuais são muito
comuns, e a perda de força muscular é quase regra, de
modo que tais deficiências também podem ser cofatores ou
uma das causas.
Além da possibilidade de mais de um diagnóstico como
causa principal, comumente alguma medicação em uso tem
papel causal ou é cofator na tontura. Em qualquer tipo de
tontura no idoso, as medicações e seus efeitos colaterais
têm um papel muito maior que no jovem, seja pelo maior
número de medicações em uso, seja pela maior
sensibilidade do idoso aos efeitos colaterais. Uma revisão
detalhada deve ser realizada, e medicações que possam
estar implicadas devem ter sua indicação discutida. É
comum que o idoso faça uso crônico de antivertiginosos, o
que é deletério e muitas vezes mal indicado para pacientes
que não apresentam nem nunca apresentaram vertigem. O
uso crônico de medicações sedativas é igualmente ruim, e a
consulta por queixa de tontura é um ótimo momento para
trabalhar em sua cessação, se for possível.
O sistema musculoesquelético é um órgão de choque no
idoso. O envelhecimento normal reduz a massa muscular, o
que é agravado pelo frequente sedentarismo. Pode-se dizer
que o idoso não tem reserva funcional no sistema muscular.
A maioria dos idosos normais não consegue se levantar
rapidamente de uma cadeira e o faz utilizando 100% da
capacidade muscular do quadríceps, daí a afirmação de que
a reserva é zero. Dessa forma, trabalhar para melhorar o
sistema musculoesquelético é benéfico em qualquer idoso,
sobretudo naqueles com tontura, e é um dos pilares do
tratamento do desequilíbrio no idoso.
O sistema visual é outro muito afetado em idosos e
também não se deve ao envelhecimento normal. Deve-se
testar sistematicamente a acuidade visual do idoso com
tontura e lembrá-lo da necessidade da consulta anual com o
oftalmologista. Mesmo quando o déficit visual não está
diretamente implicado na tontura, a melhora da visão
geralmente traz alívio ao quadro de tontura, por ser um dos
órgãos do sistema vestibular que mais conseguem
compensar o déficit de outros, além de contribuir
significativamente para a segurança do paciente com
tontura.
Para determinar a causa da queixa de tontura no idoso,
primeiro se deve discernir o tipo de tontura. Queixas de
tontura tipo vertigem elicitam determinada abordagem,
descrita no tópico seguinte. Se há queixa de pré-síncope
e/ou síncope, há a necessidade de uma investigação mais
detalhada se a causa não for evidente. O Quadro 2 lista
algumas das principais causas de pré-síncope no idoso.
Não havendo descrição de quadros de vertigem ou pré-
síncope, a pergunta seguinte é se a tontura afeta o
equilíbrio do paciente. Se a tontura é apenas um sintoma
referido e o equilíbrio está mantido, chama-se tontura tipo
atordoamento, cujas causas principais são psicológicas ou
psiquiátricas. Havendo sinal ou sintoma de prejuízo do
equilíbrio e não havendo vertigem ou pré-síncopes no
momento em questão, chama-se tontura tipo desequilíbrio,
o tipo mais comum de tontura no idoso, e sua abordagem é
descrita em um dos tópicos a seguir. É importante ressaltar
novamente que muitos idosos relatam mais de um tipo de
tontura, e cabe ao médico discernir separadamente se há
episódios vertiginosos, pré-sincopais ou de desequilíbrio e
abordar cada uma dessas queixas da maneira apropriada.
VERTIGEM NO IDOSO
Vertigem é a sensação de movimento ilusório, não
necessariamente rotatório, do paciente em relação ao
ambiente ou o contrário. Perguntar ao paciente se ele sente
“rodar” não é, portanto, adequado, devendo-se perguntar
se há sensação de movimento durante a tontura. Sintomas
associados, como náusea e vômitos, e sintomas
autonômicos, como sudorese fria, são indicativos de
vertigem, mesmo que o paciente não descreva sua tontura
como tal, e sugerem causa periférica, apesar de poderem
ser vistos em doenças vestibulares centrais.
DESEQUILÍBRIO NO IDOSO
Desequilíbrio é a sensação de perda do equilíbrio sem a
sensação de movimento ilusório (chamada vertigem) ou a
iminência de perda da consciência (chamada pré-síncope).
É o tipo mais comum de tontura nos idosos. Tipicamente,
os pacientes não relatam sintomas quando sentados ou
deitados, mas sentem-se desequilibrados ao levantar ou
andar. Casos graves podem gerar sintomas com o paciente
sentado, ou seja, dificuldade de se equilibrar sentado em
uma cadeira.
O desequilíbrio usualmente se instala quando há
disfunção da integração entre os dados gerados pelos
órgãos sensoriais envolvidos no equilíbrio e o sistema
efetor musculoesquelético. Os órgãos sensoriais principais
são os órgãos do ouvido interno, a visão e o sistema
proprioceptivo. É importante ressaltar que frequentemente
a visão ou a propriocepção têm um papel mais importante
no quadro do idoso do que os labirintos. Muitos casos
prontamente nomeados de “labirintite” têm seu principal
fator causal centrado no sistema visual ou proprioceptor,
na integração realizada pelo SNC ou no sistema
musculoesquelético.
Doenças neurológicas, juntamente com medicações, são
as principais causas de desequilíbrio em pacientes jovens.
No idoso, o diagnóstico mais importante é o déficit
sensorial múltiplo, e a fraqueza de membros inferiores
pode ser a causa ou estar associada a ela. Como esse
paciente geralmente utiliza mais de uma medicação, uma
delas pode ser a causa ou um cofator.
O déficit sensorial múltiplo pode incluir baixa acuidade
visual, descondicionamento físico com pobre controle
postural, uso de medicações, doença da coluna cervical,
hipofunção vestibular uni ou bilateral e neuropatia
periférica leve, entre outros. O tratamento consiste em
identificar e corrigir as alterações passíveis de intervenção.
A correção da visão é muito importante, pois o sistema
visual consegue compensar significativamente déficits em
outros sistemas. Fisioterapia ou atividade física devem ser
indicadas para melhora da força muscular e da
coordenação. Os medicamentos em uso devem ser revistos,
e aqueles não essenciais devem ser retirados ou ter sua
dose reduzida quando possível.
Fraqueza muscular suficiente para causar desequilíbrio
pode decorrer apenas de descondicionamento físico em
pacientes idosos. Perda significativa da força muscular
necessária para realizar uma tarefa rotineira pode ocorrer
após poucos meses do abandono dessa tarefa. Essa é uma
complicação comum do idoso com tontura de qualquer tipo,
que limita suas atividades por medo de cair ou receio dos
familiares de que o idoso sofra quedas e acaba agravando
ou associando o desequilíbrio à queixa de tontura.
Pacientes com história de limitação das atividades
diárias anterior ao início do quadro de desequilíbrio podem
ter o descondicionamento físico como cofator ou até mesmo
causa principal do sintoma e podem ser orientados a fazer
caminhadas ou a retomar suas atividades como parte do
tratamento. É importante explicar para o paciente que a
obtenção do recondicionamento geralmente demora
semanas ou meses.
TRATAMENTO
Uma vez identificadas as causas para alteração do
equilíbrio ou quedas do paciente, o tratamento é
direcionado às causas. O tratamento das causas específicas
é abordado nos respectivos tópicos. Além disso, algumas
medidas gerais se aplicam à maioria dos casos:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O prognóstico do idoso com queixa de tontura é variável,
dependendo das doenças ou condições causadoras. Muitas
causas dispõem de tratamento adequado, ainda que
parcial, e outras são irreversíveis, principalmente doenças
neurológicas. Entretanto, a atuação nos mecanismos
compensatórios traz resultados na maioria dos casos.
Trabalhar para melhorar a visão e a força muscular dos
pacientes em geral diminui ou até elimina o problema,
mesmo sem a solução da causa de base. O mesmo ocorre
quando as medicações em uso são revistas. Reduzindo-se
os riscos ambientais, as quedas podem ser diminuídas
significativamente ou até eliminadas.
Alterações do equilíbrio são comuns na terceira idade,
mas não são parte do envelhecimento normal. A maioria
dos idosos não tem alterações notáveis do equilíbrio. Um
terço dos idosos vivendo em comunidade sofreram queda
no ano anterior. Muitos não relatam a queda
espontaneamente, por isso se deve perguntar sempre. O
principal tipo de tontura no idoso é o desequilíbrio, que é
multifatorial.
As causas mais comuns de vertigem no idoso são VPPB e
doença de Menière, seguidas pela vestibulopatia periférica
(“labirintite”). Deve-se atentar para o diagnóstico das duas
primeiras e questionar o excesso de diagnósticos de
“labirintite”. Na abordagem do idoso com alteração do
equilíbrio e/ou quedas, é importante:
BIBLIOGRAFIA
Baker SP, Harvey AH. Fall injuries in the elderly. Clin Geriatr Med.
1985;1(3):501-12.
Capezuti E. Falls. In: Lavizzo-Mourey RJ, Forciea MA. Geriatric secrets.
Philadelphia: Hanley & Belfus; 1996. p. 110-5.
Eaton DA, Roland PS. Dizziness in the older adult, part 1: evaluation and
general treatment strategies. Geriatrics. 2003;58(4):28-36.
Eaton DA, Roland PS. Dizziness in the older adult, part 2: treatments for causes
of the four most common symptoms. Geriatrics. 2003;58(4):46-52.
Fuller GF. Falls in the elderly. Am Fam Physician 2000;61(7):2159-68, 2173-4.
Furman JM, Cass SP. Benign paroxysmal positional vertigo. N Eng J Med.
1999;341(21):1590-6.
Gates S, Fisher JD, Cooke MW, Carter YH, Lamb SE. Multifactorial assessment
and targeted intervention for preventing falls and injuries among older
people in community and emergency care settings: systematic review and
meta-analysis. BMJ. 2008;336(7636):130-3.
Suskind DL, Knox GW. Dizziness and vertigo. In: Lavizzo-Mourey RJ, Forciea
MA. Geriatric secrets. Philadelphia: Hanley & Belfus; 1996. p. 22-5.
SEÇÃO V
INTRODUÇÃO
O câncer de mama é o tumor mais frequente no sexo
feminino, excluindo os tumores de pele não melanoma.
Dados norte-americanos de epidemiologia do câncer
(Surveillance, Epidemiology, and End Results Program –
SEER) apontam para mais de 278 mil casos novos de
câncer de mama nos EUA em 2022, sendo que a
mortalidade no mesmo período ultrapassa 43 mil casos. No
Brasil, os dados epidemiológicos de câncer são fornecidos
pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) e apontam que,
para o triênio 2023-2025, o número de casos novos de
câncer de mama feminino previsto é de 74 mil por ano, o
que corresponde a 10,5% de todos os tumores malignos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) distingue a
definição de idoso de acordo com o nível socioeconômico de
cada população. Nos países desenvolvidos, consideram-se
idosas todas as pessoas acima de 65 anos, sendo que a
faixa etária considerada nos países em desenvolvimento é
de 60 anos. Assim como a tendência mundial das últimas
décadas, a expectativa de vida do brasileiro também está
em crescimento. No início do século XXI, a expectativa de
mulher brasileira estava entre 73 e 74 anos, e dados
projetados para 2050 apontam que essa expectativa
ultrapassará os 80 anos. Com isso, é esperado que o
número de casos novos de câncer de maneira geral e, por
conseguinte, de mama aumente exponencialmente nos
próximos anos, visto que um dos principais fatores de risco
para o desenvolvimento de qualquer câncer é a idade.
Função cognitiva.
Presença e grau de gravidade de suas comorbidades.
Estado emocional e nutricional.
Nível de dependência cotidiana.
presença de síndrome geriátricas.
Uso de fármacos.
Condições socioeconômicas.
Mastectomia (55) 82
Tamoxifeno (132) 51
Miscelânea (9) 42
Morte por outra 14,1 19,5 27,5 40,7 53,9 67,4 <
causa 00,001
Radioterapia
Quimioterapia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pacientes idosas com diagnóstico de câncer de mama,
sobretudo aquelas com mais de 75 anos, devem sempre
passar em avaliação com um geriatra (se possível
oncogeriatra), a fim de ter uma boa avaliação clínica que
permita realizar o melhor tratamento oncológico
disponível. Deve-se considerar não mais sua idade
cronológica, mas sua funcionalidade, utilizando as diversas
ferramentas disponíveis no momento.
O screening com mamografia anual deve ser realizado
independentemente da idade da paciente, levando em
consideração sua expectativa de vida. O ideal é
interromper a realização da mamografia quando a
expectativa de vida for menor do que 7 anos, sempre
discutindo com a paciente e familiares as decisões
tomadas.
Com relação ao tratamento oncológico geral,
independentemente se cirurgia, radioterapia e/ou
quimioterapia, nenhum dos tratamentos deve ser suprimido
da paciente considerando apenas a idade cronológica.
Vários estudos demonstraram que há um prejuízo em
termos de sobrevida global e sobrevida livre de progressão
se os tratamentos não forem realizados. Deve-se ficar
atento, pois a paciente idosa com câncer de mama é mais
frágil quando comparada com outra de menor idade;
porém, os efeitos colaterais (cirúrgicos, radioterapêuticos e
sobretudo quimioterápicos) podem ser manejados por
equipes multidisciplinares, minimizando o risco de
subtratamento e piores desfechos câncer-específicos.
Os novos agentes no tratamento sistêmico do câncer de
mama (inibidores de CDK4/6, inibidores de checkpoint
imune e terapia alvo anti-Her-2) mostram eficácia similar
na população idosa quando comparada à população jovem,
porém aumento da toxicidade principalmente quando
avaliados fora de contexto de estudo clínico. Assim, é
indispensável o acompanhamento rigoroso dessas
pacientes ao utilizar esses novos medicamentos.
BIBLIOGRAFIA
Balducci L, Extermann M. Management of cancer in the older person: a
practical approach. Oncologist. 2000;5(3):224-37.
Bouchardy C, Rapiti E, Fioretta G, Laissue P, Neyroud-Caspar I, Schafer P, et al.
Undertreatment strongly decreases prognosis of breast cancer in elderly
women. J Clin Oncol. 2003;21(19):3580-7.
Chavez-MacGregor M, Zhang N, Buchholz TA, Zhang Y, Niu J, Elting L, et al.
Trastuzumab-related cardiotoxicity among older patients with breast cancer.
J Clin Oncol. 2013; 31(33):4222-8.
Hughes KS, Schnaper LA, Berry D, Cirrincione C, McCormick B, Shank B, et al.
Lumpectomy plus tamoxifen with or without irradiation in women 70 years
of age or older with early breast cancer. N Engl J Med. 2004;351(10):971-7.
Goldner M, Franzoi MA, Lago LD, Pondé N. Anti-HER2 therapy for breast
cancer in older patients. Future Oncology. 2020;16(19):1393-407.
Hind D, Wyld L, Reed MW. Surgery, with or without tamoxifen, vs tamoxifen
alone for older women with operable breast cancer: Cochrane review.
British Journal of Cancer. 2007;96(7):1025-9.
Howie LJ, Singh H, Bloomquist E, Wedam S, Amiri-Kordestani L, Tang S, et al.
Outcomes of older women with hormone receptor-positive, human epidermal
growth factor receptor-negative metastatic breast cancer treated with a
CDK4/6 inhibitor and an aromatase inhibitor: an FDA pooled analysis.
Journal of Clinical Oncology. 2019;37(36):3475-83.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Estimativa:
incidência de câncer no Brasil. Available:
https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2020-incidencia-de-
cancer-no-brasil (acesso jan 2023).
International Breast Cancer Study Group, Rudenstam CM, Zahrieh D, Forbes
JF, Crivellari D, Holmberg SB, et al. Randomized trial comparing axillary
clearance versus no axillary clearance in older patients with breast cancer:
first results of International Breast Cancer Study Group Trial 10-93. J Clin
Oncol. 2006;24(3):337-44.
Kanesvaran R, Cordoba R, Maggiore R. Immunotherapy in older adults with
advanced cancers: implications for clinical decision-making and future
research. American Society of Clinical Oncology Educational Book. 2018;
(38):400-14.
Kimmick GG, Balducci L. Breast cancer and aging: clinical interactions.
Hematol Oncol Clin North Am. 2000; 14(1):213-34.
Lee CH, Dershaw DD, Kopans D, Evans P, Monsees B, Monticciolo D, et al.
Breast cancer screening with imaging: recommendations from the Society of
Breast Imaging and the ACR on the use of mammography, breast MRI,
breast ultrasound, and other technologies for the detection of clinically
occult breast cancer. J Am Coll Radiol. 2010;7(1):18-27.
Martelli G, Miceli R, Daidone MG, Vetrella G, Cerrotta AM, Piromalli D, et al.
Axillary dissection versus no axillary dissection in elderly patients with
breast cancer and no palpable axillary nodes: results after 15 years of
follow-up. Ann Surg Oncol. 2011;18(1):125-33.
Miles D, Baselga J, Amadori D, Sunpaweravong P, Semiglazov V, Knott A, et al.
Treatment of older patients with HER2-positive metastatic breast cancer
with pertuzumab, trastuzumab, and docetaxel: subgroup analyses from a
randomized, double-blind, placebo-controlled phase III trial (Cleopatra).
Breast Cancer Res Treat. 2013;142(1):89-99.
Miller WR, Dixon JM, Cameron DA, Anderson TJ. Biological and clinical effects
of aromatase inhibitors in neoadjuvant therapy. The Journal of Steroid
Biochemistry and Molecular Biology. 2001;79(1-5):103-7.
Meneveau MO, Keim-Malpass J, Camacho TF, Anderson RT, Showalter SL.
Predicting adjuvant endocrine therapy initiation and adherence among older
women with early-stage breast cancer. Breast Cancer Research and
Treatment. 2020;184(3):805-16.
Muss HB, Berry DA, Cirrincione CT, Theodoulou M, Mauer AM, Kornblith AB, et
al. Adjuvant chemotherapy in older women with early-stage breast cancer. N
Engl J Med. 2009;360(20):2055-65.
Powell CA, Modi S, Iwata H, Takahashi S, Smit EF, Siena S, et al. Pooled
analysis of drug-related interstitial lung disease and/or pneumonitis in nine
trastuzumab deruxtecan monotherapy studies. Esmo Open. 2022;7(4):
100554.
Schonberg MA, Marcantonio ER, Li D, Silliman RA, Ngo L, McCarthy EP. Breast
cancer among the oldest old: tumor characteristics, treatment choices, and
survival. J Clin Oncol. 2010;28(12):2038-45.
Siegel RL, Miller KD, Fuchs HE, Jemal A. Cancer statistics, 2022. CA: A Cancer
Journal for Clinicians. 2022;72(1):7-33.
Stuck AE, Siu AL, Wieland GD, Adams J, Rubenstein LZ. Comprehensive
geriatric assessment: a meta-analysis of controlled trials. Lancet.
1993;342(8878):1032-6.
World Health Organization (WHO). Active ageing: a policy framework. Geneva:
World Health Organization; 2002.
Yang CC, Chen PC, Hsu CW, Chang SL, Lee CC. Validity of the age-adjusted
Charlson Comorbidity Index on clinical outcomes for patients with
nasopharyngeal cancer post radiation treatment: a 5-year nationwide cohort
study. PloS One. 2015;10(1):e0117323.
Câncer de cólon 28
INTRODUÇÃO
No Brasil, segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer
(INCA), o câncer colorretal é a segunda neoplasia maligna mais
incidente em homens (perde para câncer de próstata) e em
mulheres (perde para o câncer de mama), excluindo o câncer de
pele não melanoma. Estima-se, para cada ano do triênio de
2020-2022, 20.520 casos de câncer colorretal em homens, e
20.470 casos em mulheres. Esses valores correspondem a um
risco estimado de 19,63 casos novos a cada 100 mil homens e
19,03 casos para cada 100 mil mulheres. Trata-se de um câncer
passível de tratamento, e com alta chance de cura se
diagnosticado precocemente, entretanto, a demora no
diagnóstico o torna responsável pela terceira causa de
mortalidade por câncer.
FATORES DE RISCO
O principal fator de risco para o câncer colorretal (CCR) é a
idade; 70% dos casos envolvem pacientes acima de 65 anos.
Entre outros fatores de risco, podemos citar: obesidade,
sedentarismo, tabagismo prolongado, alto consumo de carne
vermelha ou processada, baixa ingesta de cálcio, consumo
excessivo de álcool e alimentação pobre em frutas e fibras.
Existem fatores de origem hereditária que aumentam o risco,
como: histórico familiar de câncer colorretal e/ou pólipos
adenomatosos, algumas condições genéticas, como a polipose
adenomatosa familiar e o câncer colorretal hereditário sem
polipose, histórico de doença inflamatória intestinal crônica
(retocolite ulcerativa ou doença de Crohn) e diabetes tipo 2; e
ainda fatores como a exposição ocupacional à radiação
ionizante.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Para reduzir a morbimortalidade, é importante o diagnóstico
precoce das lesões, com aumento na taxa de sobrevida em 5
anos para cerca de 90% e isso é possível por meio do rastreio de
câncer colorretal.
T – Tumor primário.
Tx: Tumor primário não pode ser acessado.
T0: Sem evidência de tumor primário.
Tis: Carcinoma in situ, carcinoma intramucosa.
T1: Tumor invade a submucosa.
T2: Tumor invade a muscular própria.
T3: Tumor atravessa a muscular própria, atingindo tecidos pericólicos.
T4:
a Tumor invade o peritônio visceral.
b Tumor invade outros órgãos ou estruturas adjacentes e/ou perfura o peritônio
visceral.
QUADRO 1 Estadiamento de acordo com a AJCC 8ª edição
N – Linfonodos.
Nx: Linfonodos regionais não podem ser avaliados.
N0: Ausência de metástases em linfonodos regionais.
N1: Metástase em 1 a 3 linfonodos regionais:
a Metástase em 1 linfonodos regional.
b Metástase em 2-3 linfonodos regionais.
c Depósitos tumorais na subserosa mesentérica ou em tecidos pericólicos ou
perirretais não peritonizados sem a presença de metástases linfonodais.
N2: Metástase em 4 ou mais linfonodos regionais:
a Metástase em 4-6 linfonodos regionais.
b Metástase em 7 ou mais linfonodos regionais.
M – Metástases a distância.
M0: Ausência de metástases a distância.
M1: Presença de metástase a distância:
a Metástase confinada a um órgão ou sítio (p. ex., fígado, pulmão, ovário, linfonodo
não regional).
b Metástases em mais de um órgão ou sítio.
c Metástases na superfície peritoneal isolada, ou acompanhada de metástase em
outros órgãos ou sítios.
QUIMIOTERAPIA ADJUVANTE
Tem como objetivo erradicar micrometástases, diminuir o
risco de recidivas e melhorar a sobrevida global.
DOENÇA METASTÁTICA
Nos pacientes idosos com estádio IV, o tratamento é
geralmente paliativo, com o objetivo de melhorar a qualidade
de vida, sendo utilizadas as novas classes quimioterápicas, os
anticorpos monoclonais e o inibidor oral de multiquinase
regorafenib. As opções mais utilizadas são o Folfox (5-FU/LCV
e oxaliplatina) e o Folfiri (5-FU/LCV e irinotecano), tendo
como opção o XELOX (capecitabina e oxaliplatina). A adição
do anticorpo monoclonal anti-VEGF, bevacizumabe em idosos,
parece ter o mesmo benefício encontrado na população mais
jovem; cetuximabe e panitunumabe podem ser incorporados à
quimioterapia se RAS selvagem e BRAF selvagem. Em caso de
metástase exclusivamente hepática, os pacientes podem ser
cirurgicamente curados.
Mais recentemente, os inibidores de checkpoint imunológico,
como pembrolizumabe, foi aprovado como primeira linha
metastática em pacientes com instabilidade microssatélites,
no estudo de fase III Keynote-177.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de o câncer colorretal ser a segunda neoplasia
maligna mais incidente em homens e mulheres, e de a idade ser
o principal fator de risco, o diagnóstico precoce aumenta a taxa
de sobrevida consideravelmente. O geriatra pode auxiliar o
oncologista desde o diagnóstico precoce quando exames de
rastreio são indicados, até a tomada de decisão do tratamento
oncológico, além do acompanhamento da saúde mental, status
nutricional, controle álgico, melhorando o prognóstico e a
qualidade de vida do paciente idoso.
BIBLIOGRAFIA
AJCC cancer staging manual. 8th ed. (2017) published by Springer International
Publishing. Corrected at 4th printing, 2018.
American Cancer Society. Cancer Facts & Figures 2019. Atlanta: American Cancer
Society; 2019.
Colorectal cancer early detection, diagnosis, and staging. American Cancer Society.
Last Medical Review: June 29, 2020.cancer.org. 1.800.227.2345.
Dale W, Williams GR, Mackenzie AR, Soto-Perez-de-Celis E, Maggiore RJ, Merrill JK, et
al. How is geriatric assessment used in clinical practice for older adults with
cancer? A survey of cancer providers by the American Society of Clinical Oncology.
JCO Oncology Practice. 2020;17(6): 336-44.
Extermann M, Boler I, Reich R, Lyman GH, Brown RH, DeFelice J, et al. The
Chemotherapy risk assessment scale for high-age patients (Crash) score: design
and validation. Journal of Clinical Oncology. 2010;28(15).
External validation of an index to predict up to 9-year mortality of community-dwelling
adults aged 65 and older. J Am Geriatr Soc. 2011;59(8):1444-51.
Hurria A, Leung D, Trainor K, Borgen P, Norton L, Hudis C, et al. Factors influencing
treatment patterns of breast cancer patients age 75 and older. Crit Rev Oncol
Hematol. 2003;46:121.
Hurria A, Mohile S, Gajra A, Klepin H, Muss H, Chapman A, et al. Validation of a
prediction tool for chemotherapy toxicity in older adults with cancer. J Clin Oncol.
2016;34(20):2366-71.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Tipos de câncer. Rio
de Janeiro: Inca; 2019.
Karnakis T, del Giglio A, Kaliks R, Jacob-Filho W. Oncogeriatria: uma abordagem
multidisciplinar. Barueri: Manole; 2012.
Karnakis T, Gattás-Vernaglia IF, Hughes SFS, Aliberti MJR. Rapid geriatric risk
screening and survival in older adults with cancer: prognostic value of the IADL-
modified G8. J Geriatr Oncol. 2022;13(3):381-3.
Localised colon cancer: Esmo clinical practice guidelines for diagnosis, treatment and
follow-up.G. Argilés et al. Annals of Oncology. 2020;31(10).
Papamichael D, Audisio RA, Glimelius B, de Gramont A, Glyne-Jones R, Haller D, et al.
Treatment of colorectal cancer in older patients: International Society of Geriatric
Oncology (SIOG) consensus recommendations 2013. Annals of Oncology.
2015;26:463-76.
Ramsdale E, Sanoff H, Muss H. Approach to the older patient with stage II/III
colorectal cancer: who should get curative-intent therapy? American Society of
Clinical Oncology. 2013.
Repetto L, Fratino L, Audisio RA, Venturino A, Gianni W, Vercelli M, et al.
Comprehensive geriatric assessment adds information to Eastern Cooperative
Oncology Group performance status in elderly cancer patients: an Italian Group for
Geriatric Oncology Study. J Clin Oncol. 2002; 20:494.
Sung H, Ferlay J, Siegel R, Laversanne M, Soerjomataram I, Jemal A, et al. Global
cancer statistics 2020: Globocan estimates of incidence and mortality worldwide
for 36 cancers in 185 countries. CA Câncer J Clin. 2021;71(3): 209-49.
Surveillance, epidemiology, and end results (SEER) cancer statistics review, 1975-
2015.
U.S. Preventive Services Task Force Issues Draft Recommendation on Screening for
Colorectal Cancer, 2020.
APÊNDICES
2. Em geral, comparando com outras pessoas de sua idade, você diria que a sua saúde
é:
3. Em média, quanta dificuldade você tem para fazer as seguintes atividades físicas:
Curvar-se, agachar [ ] [] [] [ ]* [ ]*
ou ajoelhar-se
Levantar ou [] [] [] [ ]* [ ]*
carregar objetos
com peso
aproximado de 5
kg?
Elevar ou estender [ ] [] [] [ ]* [ ]*
os braços acima
do nível do ombro?
Escrever ou [] [] [] [ ]* [ ]*
manusear e
segurar pequenos
objetos?
Andar 400 m [] [] [] [ ]* [ ]*
(aproximadamente
4 quarteirões)?
Fazer serviço [] [] [] [ ]* [ ]*
doméstico pesado
como esfregar o
chão ou limpar
janelas?
PONTUAÇÃO: 1 ponto para cada resposta
“muita dificuldade” ou “incapaz de fazer” nas
questões 3a até 3f. Considerar no máximo 2
pontos.
4. Por causa de sua saúde ou condição física, você tem alguma dificuldade para:
a. fazer compras de itens pessoais (como produtos de higiene pessoal ou
medicamentos)?
[ ] SIM → Você recebe ajuda para fazer compras? [ ] SIM* [ ] NÃO
[ ] NÃO
[ ] NÃO FAÇO COMPRAS → isso acontece por causa de sua [ ] SIM* [ ] NÃO
saúde?
b. lidar com dinheiro (como controlar suas despesas ou pagar contas)?
[ ] SIM → Você recebe ajuda para lidar com dinheiro? [ ] SIM* [ ] NÃO
[ ] NÃO
[ ] NÃO LIDO COM DINHEIRO → isso acontece por causa de [ ] SIM* [ ] NÃO
sua saúde?
c. atravessar o quarto andando? É PERMITIDO O USO DE BENGALA OU ANDADOR.
[ ] SIM → Você recebe ajuda para andar? [ ] SIM* [ ] NÃO
[ ] NÃO
[ ] NÃO ANDO → isso acontece por causa de sua saúde? [ ] SIM* [ ] NÃO
d. realizar tarefas domésticas leves (como lavar louça ou fazer limpeza leve)?
[ ] SIM → Você recebe ajuda para tarefas domésticas leves? [ ] SIM* [ ] NÃO
[ ] NÃO
[ ] NÃO
Itens Escore
> 3 kg 0
Paciente não sabe informar 1
1-3 kg 2
Sem perda de peso 3
3 Mobilidade
4 Problemas neuropsicológicos
< 18,5 0
18,5 ≥ IMC < 21 1
21 ≥ IMC < 23 2
≥ 23 3
Sim 0
Não 1
Pior 0
Paciente não soube informar 0.5
Igual 1
Melhor 2
8 Idade (anos)
> 85 0
80-85 1
< 80 2
Total ___/17
A pontuação total é a soma dos escores em cada um dos 8 itens.
Um escore total ≤ 14 é considerado normal.
Doenças da próstata 29
INTRODUÇÃO
Até poucos anos, homens com idade superior a 40 anos
que apresentavam sintomas urinários recebiam o
diagnóstico de prostatismo. Tratava-se de denominação
inapropriada, já que os sintomas muitas vezes não estavam
relacionados com problemas na próstata. Assim, o termo foi
gradualmente substituído por “sintomas do trato urinário
inferior” (LUTS, lower urinary tract symptoms). Estão
incluídos variados sintomas que são divididos em três
categorias pela International Continence Society (ICS)
(Quadro 1):
1. Armazenamento.
2. Esvaziamento.
3. Pós-miccionais.
Noctúria Intermitência
Gotejamento terminal
Tratamento
Tratamento medicamentoso
Nos casos em que as mudanças de estilo de vida não são
suficientes, o tratamento deve ser discutido
individualmente com o paciente, expondo os prós e contras
de cada terapêutica. Normalmente, o tratamento
medicamentoso é preferido, deixando as abordagens
cirúrgicas para quadros refratários, no entanto as
mudanças de estilo de vida devem ser sempre mantidas. A
resposta entre o início do tratamento medicamentoso e a
melhora dos sintomas depende do medicamento escolhido.
É importante estar atento também a outras medicações
que podem piorar os sintomas do HPB. A multimorbidade e
a polifarmácia estão comumente presentes nesses
pacientes. Diuréticos e medicamentos anticolinérgicos
costumam piorar os sintomas de LUTS, assim como outros
vasodilatadores podem intensificar os efeitos colaterais das
medicações utilizadas no tratamento da HPB.
Os principais medicamentos para auxílio no alívio dos
sintomas da HPB são os alfabloqueadores e os inibidores da
fosfodiesterase.
Alfabloqueadores: costumam ser os agentes
farmacológicos iniciais nos pacientes com HPB, e seus
efeitos costumam ser percebidos em alguns dias. O
medicamento age relaxando a musculatura lisa da uretra
prostática e do colo vesical e diminui a resistência do trato
urinário inferior. Tontura e congestão nasal são os efeitos
adversos mais comuns, assim como a hipotensão postural,
percebida principalmente entre os alfabloqueadores menos
seletivos e com mais efeitos sistêmicos, como a doxazosina.
Já os mais seletivos da próstata, como a tansulosina,
causam menos hipotensão postural, porém estão mais
associados a distúrbios ejaculatórios, como a ejaculação
retrógrada e a anejaculação. Devido ao efeito hipotensor,
recomenda-se seu uso à noite, antes de dormir, e em idosos
essa introdução deve ser feita com reavaliação precoce,
dado o aumento do risco de quedas associado.
Inibidores da fosfodiesterase: costumam ser os
agentes de escolha em indivíduos com sintomas de HPB
associados a disfunção erétil. Estudos demonstraram
melhora dos sintomas de LUTS com a medicação. Os
principais efeitos adversos são cefaleia, pletora, congestão
nasal, sinusite, mialgia e dispepsia. Não há benefício em
associar os inibidores da fosfodiesterase com os
alfabloqueadores. A tadalafila 5 mg ao dia é o principal
inibidor da fosfodiesterase utilizado no tratamento da HPB.
Agonistas beta-3 e antimuscarínicos: por vezes, o
aumento do volume prostático e a consequente obstrução
podem ocasionar modificação da estrutura detrusora,
gerando contrações não inibidas, que levam à
preponderância dos sintomas de armazenamento e
urgência. A inibição dos receptores muscarínicos ou o
estímulo dos receptores adrenérgicos beta-3 impedem a
contração exagerada, controlando o componente vesical do
LUTS.
A mirabegrona é a principal representante dos agonistas
de beta-3, e na população idosa é o medicamento de
escolha diante do seu perfil com poucos efeitos adversos
(aumento pressórico). Já os antimuscarínicos levam a boca
seca, aumento do risco de quedas e piora cognitiva, e tem
seu uso restrito a indivíduos com sintomas irritativos mas
sem resíduo pós-miccional elevado devido ao aumento do
risco de obstrução urinária aguda associada.
Em homens com sintomas de bexiga hiperativa, as
principais classes de droga para tratamento são os
agonistas beta-3-adrenérgicos e os anticolinérgicos.
Inibidores da 5-alfarredutase: o bloqueio da ação da
di-hidrotestosterona possibilita a diminuição do estímulo
sobre o estroma, levando a redução de volume prostático e
consequentemente das chances de retenção urinária e
necessidade de cirurgia. Essa classe de medicamentos está
indicada nos pacientes com aumento prostático ao toque
retal ou por via ultrassonográfica (próstata com tamanho
maior que 35 g), no entanto são mais efetivos em impedir a
progressão da doença do que na melhora dos sintomas.
Quando pensamos em redução de progressão da HPB, a
principal classe é a dos inibidores da 5-alfarredutase.
O PSA também pode ser usado como um parâmetro de
aumento prostático, e pacientes com valores abaixo de 1,5
ng/mL não costumam se beneficiar do uso da medicação. O
máximo efeito de melhora de sintomas ocorre após 6 a 12
meses do uso da medicação, e consegue-se manter a
redução do tamanho prostático a longo prazo, reduzindo a
necessidade de cirurgia prostática.
O tratamento deve ser mantido indefinidamente para
prevenção de recidivas. O principal efeito adverso é a
diminuição da libido, disfunção erétil, distúrbios
ejaculatórios, ginecomastia e dor mamária. Como o PSA é
reduzido com o uso dessa classe de medicamento, deve ser
medido antes do início do uso. Estima-se que o valor do
PSA em um homem em uso crônico do inibidor de 5-
alfarredutase esteja reduzido pela metade. A finasterida e a
dutasterida são as duas principais drogas dessa classe.
A combinação do inibidor da 5-alfarredutase com o
alfabloqueador é indicada em indivíduos com sintomas de
HPB moderados a graves e com evidência de aumento
prostático. Há estudos demonstrando melhor progressão
clínica sintomática, assim como redução no número de
complicações.
Tratamento cirúrgico
Continua sendo a modalidade mais eficiente para alívio
dos sintomas e complicações da doença. Deve ser indicado
nos casos de sintomas refratários ao tratamento clínico
medicamentoso. Outra indicação clássica é o paciente com
retenção urinária aguda que falham à retirada do cateter
vesical de demora em pelo menos duas tentativas após o
ajuste de medicações. Presença de hematúria recorrente,
cálculos vesicais e hidronefrose bilateral com disfunção
renal são outras indicações cirúrgicas.
A partir do momento em que há a indicação cirúrgica é
importante a avaliação quanto à estratificação de risco do
paciente, identificando a presença ou não de fragilidade,
assim como o comprometimento cognitivo. Nesse contexto,
os riscos e benefícios devem ser levados em conta, assim
como a melhora de condições pré-operatórias e a
consequente melhora do desfecho cirúrgico, como correção
de status nutricional inadequado e cessação de tabagismo.
As complicações sexuais dos procedimentos como
disfunções ejaculatórias devem estar claras ao paciente.
As principais formas de tratamento cirúrgico da HPB
são: incisão transuretral da próstata, ressecção
endoscópica da próstata, vaporização da próstata (com
cautério elétrico ou laser), enucleação da próstata por
cirurgia aberta, laser, laparoscopia ou robô-assistida.
Técnicas menos invasivas para pacientes críticos com alto
risco cirúrgico podem ser empregadas, apesar dos menores
índices de sucesso, como embolização prostática, lift de
uretra prostática ou radiofrequência com transmissão
convectiva de calor. A escolha do método dependerá
basicamente de fatores como volume prostático, tecnologia
e recursos disponíveis, experiência do cirurgião e presença
de complicações locais.
NEOPLASIA DE PRÓSTATA
No passado, antes do advento do PSA sérico, o
urologista habitualmente fazia o diagnóstico de câncer de
próstata com base na alteração no exame digital da
próstata por toque retal, sintomas miccionais ou sintomas
decorrentes de metástases ósseas. O surgimento do PSA
possibilitou o diagnóstico precoce em pacientes
assintomáticos, levando à redução da mortalidade e à
diminuição de doença localmente avançada, mas também
aumentou a frequência de pacientes com doença de baixo
volume e baixo risco, ocasionando tratamento em pacientes
com tumores possivelmente indolentes.
O PSA, no entanto, não é específico da neoplasia
prostática, e em caso de aumento é importante pensar no
diagnóstico diferencial de prostatite ou manipulação
prostática, que causam aumento transitório desse
marcador, assim como a HPB, que é causa de aumento
persistente. Por isso, em caso de PSA aumentado é
importante uma nova dosagem após algumas semanas que
confirme que os níveis se mantêm elevados. Uma
ferramenta utilizada para reduzir a incidência de falsos
positivos do câncer de próstata é a dosagem da parcela
livre do PSA, pois o câncer de próstata está associado a
menor porcentagem da fração livre do PSA. Uma relação
PSA livre/PSA total inferior a 0,15 é altamente suspeita de
câncer.
A neoplasia de próstata é o segundo câncer mais
diagnosticado em homens. No entanto, sem a realização do
screening diagnóstico a maior parte das neoplasias
prostáticas não se torna clinicamente evidente. A
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
recomenda “o não rastreio para câncer de próstata, mama
ou colorretal em idosos assintomáticos com expectativa de
vida inferior a 10 anos, ou seja, idosos fisicamente
vulneráveis” (vide as “Dez recomendações para escolhas
sensatas em saúde”, disponíveis no site da SBGG).
A American Geriatrics Society (AGS) também dispõe
sobre o assunto de modo parecido, mas não estabelece um
limite de sobrevida estimada, apenas orientando que “não
se recomende rastreio para câncer de próstata, mama ou
colorretal sem considerar a expectativa de vida e os riscos
da investigação, do sobrediagnóstico e do excesso de
tratamento” (tanto as recomendações da SBGG como as da
AGS foram feitas em parceria com a organização Choosing
Wisely).
A U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF)
recomenda que se discutam os riscos e benefícios do
rastreio do câncer de próstata com homens de 55 a 69
anos, e que não se realize o rastreio a partir dos 70 anos. Já
as diretrizes das Sociedades de Urologia recomendam que
o rastreamento de neoplasia de próstata deve ser realizado
com base no histórico clínico, exame digital retal da
próstata e dosagem de PSA sérico a partir dos 50 anos, e
após os 75 anos se paciente tiver expectativa de vida
superior a 10 anos.
Em casos de toque suspeito ou elevação do PSA (valores
entre 2,5 e 4 ng/mL possuem risco intermediário de cerca
de 24%, e valores acima de 4 ng/mL possuem risco mais
acentuado, de cerca de 40%), deve ser realizada biópsia da
próstata guiada por US transretal, com retirada de pelo
menos 12 fragmentos. Em casos indicados, a realização do
procedimento com fusão de imagens combinadas de
ressonância da próstata pode melhorar a punção e o
resultado do exame.
A ressonância magnética passou a ser uma importante
ferramenta para avaliação de pacientes com neoplasia de
próstata, possibilitando não apenas o auxílio no diagnóstico
em casos mais complexos, mas também um melhor
estadiamento e planejamento cirúrgico, se necessário.
Tipicamente, lesões de alto risco na ressonância
apresentam alto sinal nas imagens ponderadas em T2,
realce aumentado na fase de captação e maior restrição na
fase de difusão.
A cintilografia óssea é outro exame importante na
avaliação de estadiamento dos pacientes, pois permite a
identificação de possíveis lesões ósseas metastáticas,
principalmente em pacientes de alto risco. O surgimento da
tomografia computadorizada de emissão de pósitrons
(PET/CT, positron emission tomography, computed
tomography) com antígeno da membrana prostático
específico (PSMA-68Ga, prostate-specific membrane
antigen), presente em uma quantidade muito maior nas
células neoplásicas, vem mudando consideravelmente a
avaliação de metástases locais ou a distância e no
seguimento de pacientes com recidiva bioquímica, por
possuir ótimas taxas de especificidade de valor preditivo
negativo.
O tratamento de pacientes com neoplasia de próstata
dependerá do risco acarretado pela neoplasia, avaliado por
diversas variáveis. Entre elas as mais comumente utilizadas
na prática clínica são: valor de PSA, diferenciação
histológica e estadiamento, conforme demonstrado na
Tabela 1.
Pacientes com baixo risco têm doença de baixo potencial
biológico para levá-los a óbito, podendo ser submetidos a
vigilância ativa, seguimento de perto com realização de
exames periódicos para acompanhamento do PSA, toque
retal e repetição da biópsia prostática periodicamente, a
fim de avaliar se há alguma mudança no padrão alterando a
classificação de risco do paciente. Nesse caso deve ser
proposto tratamento com intuito curativo ao paciente. O
objetivo de sua aplicação é a manutenção da qualidade de
vida, na comparação com os tratamentos ativos, sem trazer
prejuízo à sobrevida, quando os pacientes são
adequadamente selecionados e cuidadosamente
acompanhados.
PROSTATITE
A prostatite é o terceiro diagnóstico mais comum de
acometimento prostático em pacientes idosos. Sua
prevalência varia de 2,2 a 16%, podendo acometer em
média 7% em sua forma crônica. Ela é responsável por 6 a
8% das visitas ambulatoriais de homens ao urologista.
As enterobactérias, especialmente a Escherichia coli,
são patógenos predominantes na prostatite bacteriana
aguda, e o acometimento costuma ocorrer por via uretral
ou por inoculação direta após biópsia prostática transretal
ou após manipulação uretral, como após cateterização ou
cistoscopia. Em homens sexualmente ativos, infecções
urogenitais causadas por Neisseria gonorrhoeae e
Chlamydia trachomatis. Nos casos de acometimento
crônico, o espectro é mais amplo, contando com germes
atípicos.
Os pacientes idosos, por apresentarem quadros de
imunodeficiência em alguns casos, podem ser acometidos
por outros germes, como Mycobacterium tuberculosis,
Candida sp. e outros patógenos raros. A classificação dos
tipos de prostatite leva em consideração o quadro clínico,
conforme mostrado no Quadro 2.
O diagnóstico da prostatite deve considerar a história
clínica com abordagem de sintomas associados e seu tempo
de início. Além dos sintomas semelhantes aos de cistite, o
homem pode apresentar também sintomas de esvaziamento
com hesitação e retenção urinária aguda. Exame físico é
importante na caracterização das queixas e permite
diferenciação entre os diagnósticos diferenciais. Nos
quadros agudos, além de sintomas de toxemia, o toque
retal costuma apresentar a próstata dolorosa e amolecida,
e os níveis de PSA tendem a ser elevados. É necessária a
avaliação urinária com urocultura, e a massagem prostática
deve ser desencorajada pelo risco de urosepse.
Em pacientes nas categorias II e III, o exame físico
apresenta poucos achados característicos, e a pesquisa de
pontos dolorosos de gatilho na pelve pode auxiliar na
investigação. O toque permite a avaliação de presença de
nódulos na próstata e a avaliação de coleta de urina após
massagem prostática. Nos casos crônicos o PSA pode estar
um pouco elevado.
Exames de imagem como US transretal e ressonância
magnética podem ser úteis em casos de suspeita de
diagnósticos diferenciais ou outras lesões prostáticas com
cistos prostáticos.
Quando confirmados os quadros de prostatite
bacteriana, devem ser tratados com antibiótico,
preferencialmente guiados pela cultura. Como em boa
parte dos casos a cultura pode não demonstrar a presença
de bactérias, mas ainda assim ser a causa do quadro de
prostatite, tratamentos empíricos podem ser instituídos em
algumas situações com alta suspeita de processo
infeccioso.
Na prostatite bacteriana crônica pode-se iniciar o
tratamento com medicação parenteral, uso de penicilinas
de amplo espectro, cefalosporinas de terceira geração ou
fluoroquinolonas (estas devem ser evitadas em pacientes
idosos). Após a melhora dos parâmetros infecciosos, deve
ser mantida terapia oral entre 2 e 4 semanas. Em caso de
presença de germes atípicos (Chlamydia trachomatis e
Mycoplasma), há a possibilidade de tratamento com
azitromicina e doxiciclina. A presença de Trichomonas
vaginalis deve ser tratada com metronidazol.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sintomas do trato urinário inferior (LUTS) são
extremamente prevalentes na população geriátrica e
merecem especial atenção quanto maior for a idade do
paciente, tendo em vista o significativo impacto negativo na
qualidade de vida, atividades sociais, laborais e mesmo na
vida sexual do paciente.
Uma vez que o paciente idoso se torna sintomático, uma
avaliação cuidadosa deve ser realizada para determinar as
causas de LUTS a fim de que se possa intervir de forma
eficaz no alívio desses sintomas.
Atualmente se recomenda que sejam discutidos com
cada paciente os possíveis riscos e benefícios de se
submeter ou não ao rastreamento (paciente assintomático)
do câncer de próstata, com base em sua história familiar,
raça e etnia, comorbidades e principalmente seus valores
em relação aos possíveis desfechos a partir do
rastreamento, diagnóstico e tratamento.
BIBLIOGRAFIA
Abrams P. New words for old: lower urinary tract symptoms for “prostatism”.
BMJ. 1994;308(6934):929-30.
Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulmsten U, et al. The
standardisation of terminology of lower urinary tract function: report from
the Standardisation Sub-committee of the International Continence Society.
Urology. 2003;61(1):37-49.
Barry MJ. Clinical practice. Prostate-specific-antigen testing for early diagnosis
of prostate cancer. N Engl J Med. 2001;344:1373.
Catalona WJ, Misop H. Definitive therapy for localized prostate cancer. In: Wein
AJ, editor-in-chief. Campbell-Walsh Urology. 11th ed. Philadelphia: Elsevier;
2015.
Gravas S, Cornu JN, Drake MJ, et al. Treatment of non-neurogenic male LUTS.
EAU; 2018.
Lepor H. Nonoperative management of benign prostatic hyperplasia. J Urol.
1989;141:1283.
Merriel SWD, Pocock L, Gilbert E, Creavin S, Walter FM, Spencer A, et al.
Systematic review and meta-analysis of the diagnostic accuracy of prostate-
specific antigen (PSA) for the detection of prostate cancer in symptomatic
patients. BMC Med. 2022;20:54.
National Institute of Health (NIH). Disponível em: https://www.nih.gov/. (Acesso
fev 2023.)
Nieminen T, Tammela TL, Kööbi T, Kähönen M. The effects of tamsulosin and
sildenafil in separate and combined regimens on detailed hemodynamics in
patients with benign prostatic enlargement. J Urol. 2006;176:2551.
Pattanaik S, Mavuduru RS, Panda A, Mathew JL, Agarwal MM, Hwang EC, et al.
Phosphodiesterase inhibitors for lower urinary tract symptoms consistent
with benign prostatic hyperplasia. Cochrane Database Syst ver.
2018;11:CD010060.
Porst H, Kim ED, Casabé AR, Mirone V, Secrest RJ, Xu L, et al. Efficacy and
safety of tadalafil once daily in the treatment of men with lower urinary tract
symptoms suggestive of benign prostatic hyperplasia: results of an
international randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Eur Urol.
2011;60:1105.
Sanda MG, Chen RC, Crispino T, Freedland S, Greene K, Klotz LH, et al.
Clinically localized prostate cancer: AUA/ASTRO/SUO guideline, American
Urology Association, 2017. Available:
https://www.auanet.org/Documents/education/clinical-guidance/Clinically-
Localized-Prostate-Cancer.pdf. (Acesso fev 2023.)
Soler R, Gomes CM, Averbeck MA, Koyama M. The prevalence of lower urinary
tract symptoms (LUTS) in Brazil: results from the epidemiology of LUTS
(Brazil LUTS) study. Neurourol Urodyn. 2018;37(4):1356-64.
Uroweb, et al. EAU – European Association of Urology. Bacterial Prostatitis.
2018;3-11.
Anemia no idoso 30
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
A anemia é achado frequente na população idosa, e sua
prevalência aumenta progressivamente de acordo com o
envelhecimento, o que possivelmente reflete o acúmulo de
disfunções orgânicas crônicas associadas às comorbidades.
A anemia não caracteriza patologia primariamente, mas
sim achado laboratorial e, por vezes, clínico, que traduz
redução da massa eritrocitária corporal. A anemia é
definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
valores de hemoglobina abaixo de 13 g/dL para homens e
de 12 g/dL para mulheres, porém com base em estudos
populacionais que não levaram em conta pacientes com
mais de 65 anos. Com base na avaliação clínica, podemos
encontrar diferentes causas para a anemia, sendo a
deficiência de ferro e a inflamação crônica as etiologias
mais frequentes no idoso.
Além dessas causas, quando pacientes idosos são
submetidos à extensa investigação da anemia e não se
encontra a etiologia, pode-se caracterizar uma condição
clínica chamada de anemia inexplicada do idoso (UAE –
unexplained anemia in the elderly), associada ao conceito
do inflammaging, exemplificado adiante.
Apesar de a prevalência da anemia ser cada vez maior,
paralelamente ao envelhecimento, não se pode categorizá-
la como um processo natural, de modo que é importante
investigar sempre sua etiologia. Já foi demonstrado que
grande parcela dos pacientes idosos apresenta valor de
hemoglobina dentro da normalidade e que a maior parte
dos pacientes em investigação de anemia, em contexto
hospitalar, apresenta fator etiológico identificável.
ETIOLOGIAS
Grandes estudos epidemiológicos de âmbito nacional são
necessários para determinar o perfil populacional entre
idosos.
Um dos maiores trabalhos que avaliaram a etiologia de
anemia em pacientes não institucionalizados – Third
National Health and Nutrition Examination Survey (Nhanes
III) – demonstrou que cerca de 10% dos pacientes acima de
65 eram anêmicos, sendo as principais etiologias:
QUADRO CLÍNICO
Habitualmente, pacientes com anemia leve são
assintomáticos. À medida que os níveis de hemoglobina
progressivamente se reduzem, os pacientes podem
apresentar sonolência, fraqueza muscular, cefaleia,
irritabilidade, palidez cutaneomucosa, intolerância aos
esforços e prejuízo cognitivo, mais ou menos acentuados a
depender dos níveis da concentração de hemoglobina e do
estado clínico do paciente.
A avaliação clínica deve considerar alguns aspectos
subjetivos relacionados a determinados sintomas, além do
tempo de instalação (e de progressão) da anemia, da
presença de comorbidades e da baixa reserva funcional,
que podem afetar a magnitude e as características das
manifestações clínicas, que podem diferir em pacientes
com o mesmo nível de hemoglobina. Como a anemia pode
acarretar distúrbios cognitivos e aumentar o grau de
dependência do idoso, é importante considerar a
possibilidade de a anemia ser fator subjacente à condição
do paciente, de modo que sua identificação, assim como
sua causa, devem ser sistematicamente investigadas.
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
O primeiro passo é proceder à avaliação completa, com
história clínica e exame físico, seguido de investigação
laboratorial, com hemograma completo, contagem de
reticulócitos e, idealmente, análise morfológica do sangue
periférico. A depender das características da anemia,
podem estar indicadas a dosagem de vitamina B12, ácido
fólico, ferro sérico, saturação da transferrina ou a
capacidade de ligação do ferro, ferritina, função hepática e
aminotransferases, função renal e hormônio estimulador da
tireoide (TSH). Atenção especial deve ser dada aos
seguintes cenários:
Etiologia Percentual
Neoplasia mielodisplásica 5%
EXAMES LABORATORIAIS
A avaliação laboratorial deverá ser solicitada de acordo
com a suspeita clínica. A análise inicial para investigação
de anemia inclui, além do hemograma completo, a
contagem de reticulócitos e a análise morfológica do
sangue periférico. Os principais exames a serem
solicitados, valor de referências e interpretação estão
resumidos no Quadro 1.
DIAGNÓSTICO
A avaliação diagnóstica deve seguir um raciocínio das
potenciais causas, que determinam a necessidade de
confirmação por meio de exames laboratoriais. Haja vista
as inúmeras possibilidades diagnósticas nas quais a anemia
é manifesta, isolada ou não, segue abaixo um fluxograma
para guiar a investigação. A Figura 3 apresenta início de
investigação com base na análise morfológica, enquanto na
Figura 4 está exemplificada a avaliação das anemias
microcíticas e na Figura 5 condições macrocíticas.
Ferro sérico 60-180 ug/dL A dosagem isolada do ferro sérico não deve
ser usada como sinônimo para diagnóstico de
anemia ferropriva devido a flutuações
fisiológicas durante o dia, bem como durante
o período pós-prandial.
TIBC 228-428 ug/dL TIBC deve ser utilizado para cálculo do índice
(capacidade de saturação da transferrina (IS) conforme a
total de seguinte fórmula:
ligação do IS (%) = Fe sérico / TIBC x 100 (referência 25-
ferro) 45%)
Vitamina B12 > 300 pg/mL Concentração < 200 pg/mL são compatíveis
com deficiência de vitamina B12 e confirmam
diagnóstico em contexto clínico adequado.
Valores limítrofes podem indicar a
necessidade de teste terapêutico.
QUADRO 2
TRATAMENTO
Deve ser sempre pautado na etiologia da anemia e não
apenas em suplementação ou suporte transfusional,
exceto quando a causa da anemia não puder ser
debelada ou mitigada.
Pacientes idosos podem potencialmente apresentar
etiologia multifatorial (anemia devido a sangramento
gastrointestinal, associada a hipotireoidismo e doença
renal crônica).
Reposição oral de 150-200 mg de ferro elementar por dia
para os casos de ferropenia com ou sem anemia (na
composição do sulfato ferroso, formulação amplamente
disponível, 20% da dose é equivalente ao ferro
elementar). Estudos recentes demonstram que, em casos
de intolerância gastrointestinal, as tomadas podem ser
em dose única e em dias alternados, sem prejuízo
terapêutico. Estudo clínico randomizado com pacientes
acima de 80 anos evidenciou eficácia semelhante na
tomada de 15, 50 ou 150 mg de ferro elementar por dia,
com menor incidência de eventos adversos no grupo que
recebeu menor dose.
Para a reposição de ferro por via parenteral, pode ser
calculada a quantidade a ser reposta com a seguinte
fórmula: Fe (ferro elementar a ser reposto) = peso × 2,1
(Hb alvo – Hb atual) + reserva; presumindo a reserva
como 500 mg e dividindo a doses com administração de
100-200 mg/dose em intervalos de 2-3 dias até completar
o tratamento. Existem ainda as opções de uso da
carboximaltose férrica ou derisolmaltose férrica. A
vantagem é que podem ser administrados em doses de
até 1.000 mg de ferro infundidos em apenas 15 minutos,
com risco mínimo de reação adversa. Esta posologia
facilita o tratamento e a necessidade do paciente ter de
retornar ao serviço várias vezes durante a terapia, além
de proporcionar tempo menor para o aumento da
hemoglobina.
A reposição de ácido fólico deve ser realizada via oral em
dose de 5 mg/semana.
A reposição de vitamina B12 habitualmente é realizada
via intramuscular (ampolas de 5.000 mcg), com doses
diárias, por 7 dias, seguidas de doses semanais durante
4 semanas e, então, mensais por, ao menos, 6 meses.
Estudos recentes demonstram desfechos clínicos
semelhantes com reposição por via sublingual diária de
vitamina B12 (considerar adesão e disponibilidade).
Recomenda-se a investigação do aparelho digestivo com
endoscopia. Pacientes com histórico de cirurgias
envolvendo estômago ou íleo terminal podem necessitar
de reposição perene.
Pacientes que apresentam valores limítrofes de vitamina
B12, ácido fólico ou ferritina podem ser submetidos a
teste terapêutico, com reavaliação após 3-4 semanas,
visto que a presença ou ausência de resposta pode
confirmar ou afastar determinada hipótese diagnóstica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A anemia não é em si uma doença, mas sim uma de suas
manifestações. A investigação deve ser sempre iniciada
com realização de hemograma completo, contagem de
reticulócitos e análise morfológica do sangue periférico.
Demais exames devem ser solicitados em contexto clínico
apropriado, para evitar desperdícios com exames
irrelevantes ou dolorosos.
Os casos de anemia ferropriva devem ter tratamento
baseado na reposição de ferro, bem como necessitam de
investigação do trato gastrointestinal com endoscopia e
colonoscopia para avaliação de sangramentos e neoplasias.
A presença de células imaturas no sangue periférico
(blastos), bem como a presença de demais citopenias de
instalação aguda, requer interconsulta imediata com
serviço de hematologia, visto aumento da incidência de
leucemias agudas na população idosa.
Alguns pacientes permanecem sem diagnóstico
etiológico definitivo após extensa avaliação clínica e
laboratorial, sendo compreendido cada vez mais o conceito
de inflammaging associado à senilidade.
BIBLIOGRAFIA
Ania BJ, Suman VJ, Fairbanks VF, Melton LJ. Prevalence of anemia in medical
practice: community versus referral patients. Mayo Clin Proc. 1994;69:730-
5.
Bach V, Schruckmayer G, Sam I, Kemmler G, Stauder R. Prevalence and
possible causes of anemia in the elderly: a cross-sectional analysis of a large
European university hospital cohort. Clin Interv Aging. 2014;9:1187-96.
Chaves PH, Carlson MC, Ferrucci L, Guralnik JM, Semba R, Fried LP.
Association between mild anemia and executive function impairment in
community-dwelling older women: The Women’s Health and Aging Study II.
J Am Geriatr Soc. 2006;54(9):1429.
Ferrucci L, Guralnik JM, Bandinelli S, Semba RD, Lauretani F, Corsi A, et al.
Unexplained anaemia in older persons is characterised by low erythropoietin
and low levels of pro-inflammatory markers Br J Haematol. 2007;
136(6):849.
Guralnik JM, Eisenstaedt RS, Ferrucci L, Klein HG, Woodman RC. Prevalence of
anemia in persons 65 years and older in the United States: evidence for a
high rate of unexplained anemia. Blood. 2004;104(8):2263.
Joosten E, Pelemans W, Hiele M, Noyen J, Verhaeghe R, Boogaerts MA.
Prevalence and causes of anaemia in a geriatric hospitalized population.
Gerontology. 1992;38:111-7.
Mindell J, Moody A, Ali A, Hirani V. Using longitudinal data from the Health
Survey for England to resolve discrepancies in thresholds for haemoglobin
in older adults. Br J Haematol. 2013;160(3):368.
Penninx BW, Pluijm SM, Lips P, Woodman R, Miedema K, Guralnik JM, et al.
Late-life anemia is associated with increased risk of recurrent falls. J Am
Geriatr Soc. 2005;53(12):2106.
Rimon E, Kagansky N, Kagansky M, Mechnick L, Mashiah T, Namir M, et al.
Are we giving too much iron? Low-dose iron therapy is effective in
octogenarians. Am J Med. 2005;118(10):1142.
Stauder R, Valent P, Theurl I. Anemia at older age: etiologies, clinical
implications, and management. Blood. 2017: blood-2017-07-746446.
31 Principais patologias da tireoide em idosos
INTRODUÇÃO
As patologias da tireoide são comuns na população
geral, aumentando sua incidência com o avançar da idade.
Há uma tendência de aumento dos níveis do hormônio
estimulador da tireoide (TSH, do inglês thyroid stimulating
hormone) com a idade, consequência de alterações
intrínsecas do metabolismo tireoidiano e do controle do
eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. Esses dois fatores muitas
vezes levam a uma apresentação clínica atípica das
disfunções tireoidianas no indivíduo idoso, gerando
dificuldade em distinguir a senescência da senilidade. Por
outro lado, sabe-se que o aumento dos níveis de TSH está
associado a um aumento na longevidade, podendo
constituir um fator de adaptação do organismo.
A avaliação tireoidiana inclui a investigação de
alterações funcionais e anatômicas. Patologias não
tireoidianas podem se apresentar com sintomatologia
semelhante à de doenças próprias da tireoide, devendo
sempre ser levado em consideração que a apresentação
clínica das disfunções tireoidianas nos idosos é
frequentemente atípica. As alterações funcionais da
tireoide são comuns na população idosa e mais prevalentes
no sexo feminino.
A avaliação laboratorial da tireoide inclui
primordialmente a dosagem de T4 livre e TSH, o que
possibilita o diagnóstico e a condução clínica da maior
parte dos casos. É importante ressaltar que a solicitação de
exames deve ser feita após a avaliação clínica do paciente e
a formulação de uma hipótese diagnóstica, objetivando
promover a adequada interpretação dos resultados
laboratoriais. A Figura 1 ilustra a correta interpretação das
diversas condições existentes ao se avaliar a função
tireoidiana.
A tireoide sofre várias alterações funcionais e
anatômicas com a idade: há redução do peso da glândula,
do tamanho dos folículos e do conteúdo de coloide, além de
aumento de fibrose, frequentemente com infiltração
linfocítica acentuada. Sabe-se, ainda, que a meia-vida do
hormônio T4 livre aumenta para 9,3 dias na sétima década
de vida e que sua concentração sérica não é afetada.
O TSH pode aumentar ou diminuir com a idade em
função da ingestão de iodo. Entretanto, em geral, com o
passar da idade tende a ocorrer um leve aumento do TSH,
sugerindo a presença de um “set point alterado” do eixo
hipotálamo-hipófise-tireoide nos idosos, quando
comparados com indivíduos mais jovens (Figura 2).
Há também um aumento dependente da idade na
prevalência de anticorpos antitireoidianos. Por fim, é
importante relembrar que há diversas drogas que podem
induzir alterações da função tireoidiana e são utilizadas
com certa frequência em idosos, como a amiodarona e o
lítio.
FIGURA 1 Interpretação das diversas condições existentes ao se avaliar a
função tireoidiana.
ATD: medicamentos antitireoidianos (antithyroid drugs); FDH: hipertiroxinemia
disalbuminêmica familiar (familial dysalbuminemic hyperthyroxinemia); T3l: T3
livre; T4l: T4 livre; NTI: doença não tireoidiana (non-thyroid disease); TKI:
inibidor da tirosina quinase (tyrosine kinase inhibitor); TSH: hormônio
tireoestimulante. * Poderá estar total ou parcialmente suprimido.
Fonte: adaptada de Koulouri et al. (2013).
FIGURA 2 Distribuição dos valores de TSH por idade em uma população
saudável dos EUA.
Fonte: Surks et al. (2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alterações estruturais e funcionais da tireoide são a
regra no envelhecimento, e é importante ter isso em mente
ante a interpretação de exames e o estabelecimento de
diagnósticos. Os níveis de TSH tendem a se elevar, sem que
isso represente um problema a ser corrigido. A detecção de
nódulos é bastante comum, porém o rastreio de neoplasia
de tireoide mais frequentemente leva a uma cascata
iatrogênica de consequências potencialmente graves que
propriamente a algum efeito benéfico para o paciente, pelo
que tal conduta é contraindicada.
As disfunções da tireoide fazem diagnóstico diferencial
com uma série de doenças comuns na terceira idade, e a
função da tireoide também pode ser afetada por
medicamentos de uso comum. Portanto, a compreensão
desses elementos é essencial para o adequado manejo das
alterações patológicas e a prevenção de iatrogenias.
BIBLIOGRAFIA
Bremner AP, Feddema P, Leedman PJ, Brown SJ, Beilby JP, Lim EM, et al. Age-
related changes in thyroid function: a longitudinal study of a community-
based cohort. J Clin Endocrinol Metab. 2012;97(5):1554-62.
Brenta G, Vaisman M, Sgarbi JA, Bergoglio LM, Andrada NC, Bravo PP, et al.
Task Force on Hypothyroidism of the Latin American Thyroid Society
(LATS). Clinical practice guidelines for the management of hypothyroidism.
Arq Bras Endocrinol Metabol. 2013;57(4):265-91.
Fontes R, Coeli CR, Aguiar F, Vaisman M. Reference interval of thyroid
stimulating hormone and free thyroxine in a reference population over 60
years old and in very old subjects (over 80 years): comparison to young
subjects. Thyroid Res. 2013;24;6(1):13.
Goichot B, Caron P, Landron F, Bouée S. Clinical presentation of
hyperthyroidism in a large representative sample of outpatients in France:
relationships with age, aetiology, and hormonal parameters. Clin Endocrinol
(Oxf). 2016;84(3):445-51.
Haugen BR, Alexander EK, Bible KC, Doherty GM, Mandel SJ, Nikiforov FP, et
al. 2015 American Thyroid Association Management guidelines for adult
patients with thyroid nodules and differentiated thyroid cancer: The
American Thyroid Association Guidelines Task Force on Thyroid Nodules
and Differentiated Thyroid Cancer. Thyroid. 2016;26(1):1-133.
Jonklaas J, Bianco AC, Bauer AJ, Burman KD, Cappola AR, Celi FS, et al.
Guidelines for the treatment of hypothyroidism: prepared by the American
Thyroid Association Task Force on thyroid hormone replacement. Thyroid.
2014;24(12):1670-751.
Koulouri O, Moran C, Halsall D, Chatterjee K, Gurnell M. Pitfalls in the
measurement and interpretation of thyroid function tests. Best Pract Res
Clin Endocrinol Metab. 2013;27(6):745-62.
Maia AL, Scheffel RS, Meyer EL, Mazeto GM, Carvalho GA, Graf H, et al.
Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism. The Brazilian consensus
for the diagnosis and treatment of hyperthyroidism: recommendations by
the Thyroid Department of the Brazilian Society of Endocrinology and
Metabolism. Arq Bras Endocrinol Metabol 2013;57(3):205-32.
Mariotti S, Franceschi C, Cossarizza A, Pinchera A. The aging thyroid. Endocr
Rev. 1995;16:686-715.
Meyerovitch J, Rotman-Pikielny P, Sherf M, Battat E, Levy Y, Surks MI. Serum
thyrotropin measurements in the community: five-year follow-up in a large
network of primary care physicians. Arch Intern Med. 2007;167(14): 1533-8.
Ross DS, Burch HB, Cooper DS, Greenlee MC, Laurberg P, Maia AL, et al. 2016
American Thyroid Association guidelines for diagnosis and management of
hyperthyroidism and other causes of thyrotoxicosis. Thyroid. 2016;26(10):
1343-421.
Sgarbi JA, Teixeira PF, Maciel LM, Mazeto GM, Vaisman M, Montenegro Junior
RM, et al. Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism. The Brazilian
consensus for the clinical approach and treatment of subclinical
hypothyroidism in adults: recommendations of the thyroid Department of the
Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism. Arq Bras Endocrinol
Metabol. 2013; 57(3):166-83.
Stott DJ, Rodondi N, Kearney PM, Ford I, Westendorp RGJ, Mooijaart SP, et al.;
Trust Study Group. Thyroid Hormone Therapy for Older Adults with
Subclinical Hypothyroidism. N Engl J Med. 2017;376(26):2534-44.
Surks MI, Hollowell JG. Age-specific distribution of serum thyrotropin and
antithyroid antibodies in the US population: implications for the prevalence
of subclinical hypothyroidism. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92(12): 4575-
82.
Tessler FN, Middleton WD, Grant EG, Reading CC, Scoutt LM, Stavros AT, et al.
American College of Radiology. ACR thyroid imaging, reporting and data
system (TI-Rads): white paper of the ACR TI-RADS Committee. JACR.
2017;14(5):587-595.
32 Incontinência urinária
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, tem ocorrido aumento significativo
da longevidade em ambos os sexos, com consequente
aumento das doenças próprias do idoso. O número de
consultas de pacientes idosos em consultórios urológicos,
que entre 1975 e 1986 nos EUA representava 28% do
movimento de consultórios urológicos, atualmente
representa 44% da demanda, correspondendo a 9,9
milhões de consultas anuais. O motivo que mais
frequentemente leva esses pacientes a procurar auxílio
médico são os sintomas do trato urinário inferior (TUI)
causados por diferentes disfunções miccionais. Com o
aumento da longevidade da população e,
consequentemente, da prevalência de comorbidades, a
preocupação deixou de ser apenas com doenças que
colocam em risco a sobrevida do paciente, mas também
com aquelas que impliquem limitações de suas atividades
normais.
A presença de sintomas do TUI é causa de morbidade e
redução da qualidade de vida em idosos de ambos os sexos.
O desconforto causado por esses sintomas aumenta com a
idade. A incontinência urinária é o problema mais comum e
afeta 15 a 35% dos idosos vivendo comunitariamente e 22 a
90% dos idosos institucionalizados em casas de repouso.
O TUI sofre diversas alterações durante o
envelhecimento. Tais alterações incluem a diminuição da
contratilidade detrusora, da capacidade vesical funcional,
da habilidade em postergar a micção e do fluxo urinário.
Ocorre também um aumento da prevalência de
hiperatividade detrusora e do volume urinário residual pós-
miccional. Também ocorre aumento da produção de urina
durante a noite e dos distúrbios do sono, favorecendo o
aparecimento de noctúria em ambos os sexos.
Incontinência urinária é definida como a perda de urina
fora da micção normal. Embora possa ocorrer em todas as
faixas etárias, a ocorrência de incontinência urinária
aumenta com o decorrer da idade. Calcula-se que 8 a 34%
das pessoas acima de 65 anos tenham algum grau de
incontinência urinária; em casas de repouso essa condição
atinge cerca de 50% dos pacientes. Os principais fatores de
risco para aumento de sua prevalência são dificuldade de
locomoção de alguns pacientes idosos, déficit cognitivo e
necessidade de ajuda para cuidados.
Em muitos casos, deve-se tentar distinguir se a causa
das perdas urinárias é decorrente de alterações do TUI ou
de distúrbios transitórios (delírio, medicamentos, infecção
urinária, atrofia vaginal, produção excessiva de urina,
déficit de mobilidade ou obstipação crônica), os quais,
quando corrigidos, poderão levar a melhora dos sintomas
de incontinência. Em casos de alterações anatômicas ou
funcionais do TUI, os sintomas tendem a apresentar caráter
permanente.
A incontinência por urgência constitui a principal causa
de incontinência urinária em pacientes idosos de ambos os
sexos (cerca de 60%); geralmente decorre de
hiperatividade detrusora e se manifesta clinicamente por
perda urinária precedida de desejo imperioso de urinar. A
incontinência urinária de esforço (IUE) representa 30% das
causas de incontinência em pacientes idosos do sexo
feminino; decorre de deficiência esfincteriana, de modo que
durante manobras de esforço (tosse, espirro etc.) a pressão
intravesical supera a pressão esfincteriana, gerando
perdas. Caracteriza-se clinicamente por perdas urinárias
relacionadas com aumentos da pressão intra-abdominal não
precedidas de desejo miccional.
A incontinência mista decorre da associação de
incontinência por urgência à incontinência de esforço. A
incontinência paradoxal representa importante causa de
incontinência urinária em homens idosos; decorre de
hiperdistensão vesical, geralmente secundária a um mau
esvaziamento, seja por obstrução, seja por
hipocontratilidade detrusora, permanecendo com a bexiga
cheia e perdendo urina por transbordamento. Manifesta-se
clinicamente por perdas em gotejamento associado a globo
vesical palpável (bexigoma). A incontinência total decorre
de lesão esfincteriana em consequência de cirurgias para
tratamento de hiperplasia prostática benigna e,
principalmente, câncer de próstata. Manifesta-se
clinicamente por perdas urinárias contínuas sem globo
vesical palpável ou resíduo significativo.
Medidas gerais
Incontinência de urgência
BIBLIOGRAFIA
De Lancey J. The pathophysiology of stress urinary incontinence in women and
its implications for surgical treatment. World J Urol. 1997;15(5):268-74.
Ficarra V, Novara G, Rosen RC, Artibani W, Carroll PR, Costello A, et al.
Systematic review and meta-analysis of studies reporting urinary continence
after robot-assisted radical prostatectomy. Eur Urol. 2012;62(3):405-17.
Hampel C, Wienhold D, Benken N, Eggersmann C, Thüroff JW. Definition of
overactive bladder and epidemiology of urinary incontinence. Urology.
1997:50(6A Suppl):4-14.
Hannestad YS, Rortveit G, Sandvik H, Hunskaar S; Norwegian Epincont study.
A community-based epidemiological survey of female urinary incontinence:
the Norwegian Epincont study. Epidemiology of incontinence in the County
of Nord-Trøndelag. J Clin Epidemiol. 2000; 53(11):1150-7.
Kreder KJ, Webster GD. Evaluation and management of incontinence after
implantation of the artificial urinary sphincter. Urol Clin North Am.
1991;18(2):375-81.
Wein AJ. Pharmacology of incontinence. Urol Clin North Am. 1995;22(3):557-
77.
Wein AJ, Kavoussi LR, Partin AW, Peters CA. Campbell-Walsh Urology. 11th ed.
Philadelphia: Elsevier; 2016.
Harding CK, et al. European Association of Urology Guidelines on management
of non-neurogenic female lower urinary tract symptoms. EAU guidelines.
Edn. presented at the EAU Annual Congress Amsterdam. Eur Urol. 2022.
33 Insuficiência renal crônica
DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
A insuficiência renal crônica (IRC) é caracterizada por
perda ou ineficiência das funções dos rins (reguladoras,
excretoras e endócrinas), mantida por 3 meses ou mais.
Atualmente, acomete cerca de 700 milhões de pessoas no
mundo todo, e o aumento de sua incidência tem grande
relação com o envelhecimento populacional.
Sabe-se que a prevalência da IRC aumenta com a idade,
chegando a atingir cerca de um terço da população idosa, o
que pode ser explicado tanto pelo fato de a taxa de filtração
glomerular (TFG) diminuir com o envelhecimento como
pela maior prevalência de doenças que têm os rins entre
seus órgãos-alvo, além da exposição a outros fatores de
risco, como explicado a seguir.
FISIOPATOLOGIA
A IRC ocorre em decorrência de fatores desencadeantes,
que podem ser uma alteração renal estrutural de base, uma
doença sistêmica com acometimento renal ou exposição a
toxinas que levem à redução dos néfrons funcionantes, e
levam a um conjunto de mecanismos que envolvem o
processo de hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons viáveis
remanescentes, evoluindo com a esclerose e a redução da
função dos rins.
O envelhecimento está relacionado a alterações
estruturais e fisiológicas que impactam no funcionamento
dos rins. Durante o processo de envelhecimento, a cada
ano a massa renal diminui cerca de 10% e a TFG decresce
em cerca de 1 mL/minuto/1,73 cm³, bem como o fluxo
sanguíneo renal também diminui.
Também ocorre desequilíbrio entre fatores
vasodilatadores e vasoconstritores relacionado à
senescência, com comprometimento da autorregulação
renal. As alterações estruturais vasculares ocorrem em
toda a árvore renal e são semelhantes às vistas em vasos
sistêmicos, incluindo arteriosclerose e hipertrofia das
camadas média e íntima. Essas alterações levam a fibrose
intersticial glomerular e a atrofia dos túbulos, e como
consequência, hipertrofia compensatória nos glomérulos
restantes, que passam a trabalhar em regime de
hiperfiltração. Esse mecanismo adaptativo, embora
inicialmente benéfico, com o tempo causa danos aos
glomérulos das unidades remanescentes, resultando em
proteinúria e disfunção renal progressiva, o que parece ser
o principal responsável pelo desenvolvimento de IRC
mesmo naqueles em que a doença de base está curada ou o
fator desencadeante, resolvido.
FATORES DE RISCO
Além da própria idade, doenças crônicas que cursam
com acometimento renal, como diabetes mellitus e
hipertensão arterial (que são as principais causas de IRC
no Brasil e no mundo), são os principais fatores de risco
para a IRC. Outros fatores de risco bem definidos para a
IRC são doença cardiovascular, tabagismo, doença
estrutural do trato urinário, etilismo, história familiar de
doença renal, doença renal hereditária e uso de drogas
potencialmente nefrotóxicas.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da IRC se baseia principalmente em
exames laboratoriais e de imagem, uma vez que nos
estágios iniciais a IRC é em geral assintomática. Os
principais exames são a dosagem da creatinina sérica, a
dosagem da albuminúria em 24 horas e/ou a relação
albumina/creatinina em amostra isolada de urina, e a
realização da ultrassonografia (US) de rins e vias urinárias.
Portanto, os portadores de condições potencialmente
lesivas aos rins devem ser rastreados para disfunção renal
por meio desses exames.
A dosagem da creatinina sérica é útil para a avaliação
da TFG estimada por equações. Na população idosa, a
estimativa da TFG por meio de equações tem sido
desafiadora. A fórmula mais usada e recomendada
atualmente é a CKD Epidemiology Collaboration Equation
(CKD-EPI), apesar de a população idosa ter sido apenas
uma pequena parte da coorte incluída na validação dessa
equação. Por esse motivo, foram desenvolvidas duas
fórmulas para a estimativa da TFG em idosos, a Berlin
Initiative Study (BIS)-1, baseada na creatinina sérica, e a
BIS-2, baseada na creatinina e na cistatina séricas. No
entanto, estudos mais recentes não confirmaram a
superioridade dessas fórmulas em relação à CKD-EPI para
o diagnóstico de IRC nessa população. Para seu cálculo,
basta saber a creatinina sérica, a idade e o sexo do
paciente; sua fórmula, bem como ferramentas de cálculo,
são amplamente disponíveis na internet, sem custo.
A alteração na relação albumina/creatinina na urina
pode ser um marcador mais precoce da presença de dano
renal, definido por excreção de albumina maior ou igual a
30 mg/dia ou equivalente.
A ultrassonografia de rins e vias urinárias é importante
para a corroboração da cronicidade das alterações
laboratoriais e para avaliação de presença de alterações
estruturais que possam causar ou contribuir para a lesão
renal, sobretudo em pacientes com suspeita de obstrução
das vias urinárias, história familiar de doença policística ou
rápida progressão da perda de função renal.
COMPLICAÇÕES
As complicações relacionadas à IRC são mais
prevalentes a partir do estágio 3, e incluem:
ENCAMINHAMENTO AO ESPECIALISTA
O encaminhamento ao nefrologista é indicado nos
seguintes casos:
BIBLIOGRAFIA
Abreu PF, Ramos LR, Sesso RC. Abnormalities of renal function in the elderly.
Ger Nephrol and Urol. 1999:9:141-5.
Amaral TLM, Amaral CA, Vasconcellos MTL, Monteiro GTR. Prevalence and
factors associated to chronic kidney disease in older adults. Rev Saúde
Pública. 2019;53:44.
Beddhu S, Shen J, Cheung AK, Kimmel PL, Chertow GM, Wei GT, et al.
Implications of early decline in eGFR due to intensive BP control for
cardiovascular outcomes in Sprint. Journal of the American Society of
Nephrology, ASN. 2019;2018121261.
Cheung AK, et al. Kdigo 2021 clinical practice guideline for the management of
blood pressure in chronic kidney disease. Kidney International, Volume 99,
Issue 3, S1-S87.
Doença renal crônica em pacientes idosos. Braz J Nephrol. 2009;31(1 Suppl.
1):59-65.
GBD Chronic Kidney Disease Collaboration. Global, regional, and national
burden of chronic kidney disease, 1990-2017: a systematic analysis for the
Global Burden of Disease Study 2017. Lancet. 2020;395:709.
Kidney Disease: Improving Global Outcomes: Kdigo 2012 clinical practice
guideline for the evaluation and management of chronic kidney disease.
Kidney International Supplements. 2013;3:19-62.
Levey AS, Eckardt KU, Dorman NM, Christiansen SL, Hoorn EJ, et al.
Nomenclature for kidney function and disease: report of a kidney disease:
Improving Global Outcomes (Kdigo) Consensus Conference. Kidney Int.
2020;97:1117.
Levey AS, Stevens LA, Schmid CH, Zhang Y (Lucy), Castro AF, Feldman HI, et
al. A New Equation to Estimate Glomerular Filtration Rate. Annals of
Internal Medicine. 2009;150(9):604.
Tavares APS, Santos CGS, Tzanno-Martins C, Barros Neto J, Silva AMM, Lotaif
L, et al. Kidney supportive care: an update of the current state of the art of
palliative care in CKD patients. Braz J Nephrol (J Bras Nefrol). 2021;43(1):
74-87.
Tótoli C, Carvalho AB, Ammirati AL, Draibe SA, Canziani MEF. Associated
factors related to chronic kidney disease progression in elderly patients.
PloS One. 2019;14(7): e0219956.
Infecção urinária e bacteriúria assintomática 34
INTRODUÇÃO
As infecções do trato urinário (ITU) são condições
altamente prevalentes, responsáveis por cerca de 8 milhões
de atendimentos ambulatoriais e 100 mil internações de
idosos anualmente. Contudo, apesar de sua importância,
equívocos conceituais ainda são frequentes, que levam à
indicação de tratamentos por vezes inadequados. A
população geriátrica está particularmente sujeita a essas
dificuldades, visto que muitas vezes apresenta
manifestações atípicas e a interpretação dos exames
complementares pode ser complicada.
Dessa forma, conceitua-se bacteriúria como a presença
de pelo menos 100 mil unidades formadoras de colônia por
mL de um mesmo agente infeccioso em cultura de urina
colhida sob técnica asséptica em duas amostras
consecutivas em mulheres ou uma amostra em homens.
Quando a bacteriúria associa-se a sintomas compatíveis,
sejam eles baixos (cistite), altos (pielonefrite), sistêmicos
(sepse de foco urinário) ou atípicos (como ocorre
frequentemente em idosos), conceituam-se as infecções de
trato urinário. Na ausência desses sintomas, fala-se em
bacteriúria assintomática.
PATOGÊNESE
A maioria das ITU inicia-se por colonização ascendente
do trato urinário (> 95%), particularmente em mulheres
(uretra mais curta). Certos fatores são facilitadores, como
obstrução do trato urinário, tanto por fatores anatômicos
(HPB, litíase e estenoses) quanto por fatores funcionais
(DM, bexiga neurogênica e imunossenescência).
Considerando a proximidade do trato urinário com a
região anorretal, os agentes etiológicos mais comuns na
colonização ascendente são enterobactérias e outros
germes colonizadores do intestino. Em ordem de
prevalência, os agentes mais comuns são: Escherichia coli,
Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus saprophyticus,
Enterococcus, Proteus e Pseudomonas (Figura 1).
A minoria dos casos (< 5%) de ITU ocorre por
disseminação hematogênica e habitualmente é mais grave.
CLASSIFICAÇÃO
As infecções do trato urinário podem ser classificadas:
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A apresentação clínica das ITU pode ser desde
inexistente (bacteriúria assintomática), variando desde
sintomas típicos a depender de sua localização até
sintomas atípicos, muito frequente em idosos.
Infecção urinária
QUADRO 1 Classificação de infecção urinária
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames complementares são desnecessários para
indicar tratamento em pacientes com sintomatologia típica.
Contudo, eles são importantes para documentar o
diagnóstico e identificar o agente etiológico e sua
suscetibilidade por meio de cultura com teste de
sensibilidade de antimicrobianos.
Exames de urina (urina tipo 1, urina rotina ou EAS) são
exames simples, de baixo custo, que, em situações de ITU,
demonstram urina turva, com odor fétido, com leucocitúria,
nitrito positivo, leucócito esterase positiva e cilindros
leucocitários (em casos de pielonefrite). Hematúria e
proteinúria discretas e transitórias podem ocorrer.
O Gram de gota tem resultado rápido e pode direcionar
o agente etiológico mesmo antes do resultado da
urocultura. Contudo, a urocultura, com achado do germe
específico, é a melhor forma de documentar a ITU e
direcionar seu tratamento por meio do teste de
sensibilidade antimicrobiana.
Exames laboratoriais também são úteis, especialmente
em pacientes com manifestações atípicas, em busca de
sinais sistêmicos de infecção, como leucocitose e aumento
de marcadores inflamatórios – proteína C-reativa (PCR) e
velocidade de hemossedimentação (VHS).
Exames de imagem são úteis especialmente quando se
suspeita de ITU complicada, como obstrução do trato
urinário e abscesso. Desses, são frequentemente usados o
ultrassom de rins e vias urinárias e a tomografia
computadorizada.
DIAGNÓSTICO
Para estabelecer o diagnóstico de ITU no idoso,
inicialmente devem ser avaliadas algumas características
do paciente, como sua capacidade de fornecer informações,
se vive na comunidade ou em instituição de longa
permanência e se possui algum tipo de cateter vesical.
Em face dessas informações, consideram-se as
possibilidades a seguir.
Paciente da comunidade
Clínicos:
– Disúria de início recente ou quadro álgico em região
genital.
– Febre ou leucocitose associada a pelo menos um dos
seguintes sintomas: dor lombar aguda, dor
suprapúbica, hematúria macroscópica, surgimento de
urgência ou polaciúria.
– Na ausência de febre, a presença de pelos menos dois
dos sintomas acima.
Laboratoriais:
– Urocultura com crescimento ≥ 100 mil unidades
formadoras de colônias (UFC), com um único
microrganismo isolado na amostra.
TRATAMENTO
Para indicar o tratamento correto para a ITU, deve-se
inicialmente estabelecer corretamente o diagnóstico. Dessa
forma, todas as bacteriúrias sintomáticas devem ser
tratadas o mais precocemente possível, de modo a reduzir
o risco de complicações e a duração dos sintomas. Apenas
em situações particulares as bacteriúrias assintomáticas
serão tratadas.
A primeira etapa é esclarecer corretamente o tipo de
ITU: se sintomática ou não, sua localização/gravidade, a
presença de complicações e/ou se se trata de recidiva ou
infecção.
Deve-se incentivar o tratamento não medicamentoso, o
controle de comorbidades associadas (p. ex., DM), a
revisita à prescrição (p. ex., inibidores de SGLT-2),
orientações comportamentais/higiene e hidratação
satisfatória.
Para cistites não complicadas (mulheres, com primeira
ITU, sem fatores obstrutivos e E. coli como agente
provável), o tratamento empírico com antibiótico oral por 3
a 5 dias é a primeira escolha. Pela IDSA (Infectious
Diseases Society of America – Sociedade Americana de
Doenças Infecciosas), as melhores opções nessa situação
são: sulfametoxazol + trimetropina (800/160 mg de 12/12
horas), fosfomicina (3 g em dose única), nitrofurantoína
(100 mg de 6/6 horas) e norfloxacino (400 mg de 12/12
horas).
Para mais detalhes quanto à eficácia e aos efeitos
colaterais comuns, ver o Quadro 2. Ressalta-se que
quinolonas têm sido cada vez menos utilizadas em idosos,
pelo risco aumentado de delirium, complicações
osteomusculares e cardiovasculares.
Para ITU baixas complicadas (em homens, com
alterações anatômicas ou funcionais associadas e/ou
situações de recidiva e infecção), deve-se idealmente
direcionar o tratamento por cultura, com tratamento
antibiótico oral por 7 a 10 dias. Em casos de prostatite
documentada, esse tratamento pode ser estendido por até
28 dias. Além disso, é fundamental a abordagem de fatores
complicadores, quando possível.
Para pielonefrites, alguns cuidados são necessários. É
obrigatória a coleta de urocultura com antibiograma, e
recomendável também a coleta de hemoculturas.
Recomenda-se considerar antibioticoterapia endovenosa
por pelo menos 48 horas, podendo ser descalonada para
antibiótico oral e alta hospitalar a depender da evolução do
paciente. Apenas em casos particulares não complicados,
sem repercussão sistêmica, sem complicadores clínicos e
com garantia de aderência o tratamento ambulatorial pode
ser considerado desde o princípio, o que é incomum na
população geriátrica.
BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA
Definida como a presença de bacteriúria significativa,
com ou sem piúria, na ausência de sinais e sintomas
indicativos de ITU, trata-se de uma condição muito
prevalente na população geriátrica, podendo atingir até
50% dos residentes de instituições de longa permanência e
até 20% das mulheres idosas da comunidade.
A bacteriúria assintomática geralmente é uma condição
benigna, visto que sua ocorrência não aumenta a
mortalidade nem causa lesão renal. Além disso, administrar
antibióticos nessas condições não reduz as taxas de
complicações, aumenta as possibilidades iatrogênicas e
pode, paradoxalmente, aumentar o risco de ITU.
De acordo com o consenso sobre bacteriúria
assintomática da ISDA de 2013, a única indicação de
rastreio de bacteriúria assintomática em pacientes idosos é
no pré-operatório de procedimentos urológicos invasivos.
O Quadro 3 detalha recomendações adicionais sobre
diagnóstico de bacteriúria assintomática.
MEDIDAS PREVENTIVAS
Muito se fala sobre antibioticoprofilaxia de ITU, porém
há evidências na literatura de que a estratégia mais
importante para reduzir o risco de reinfecção e recidiva de
ITU é não farmacológica. Especialmente em idosos, em que
fatores comportamentais e higiênicos são bastante
prevalentes, deve-se ter especial atenção a essas
recomendações. Dessa forma, recomenda-se manter boa
hidratação, micções frequentes, urinar sempre ao deitar-se
e após a relação sexual, depletar completamente o volume
da bexiga em todas as micções, evitar ducha íntima,
higiene anal anteroposterior, tratamento da constipação,
evitar o uso de fraldas ou, quando inevitável, garantir
trocas frequentes e evitar o uso de sondas vesicais de
demora quando possível, trocando-as por cateterismo
vesical intermitente sob técnica asséptica.
O uso de extratos de cranberry não conta com um nível
de recomendação significativo, sendo seu papel na
prevenção de ITU controverso em metanálises previamente
publicadas. Por isso, alguns especialistas justificam que,
devido ao baixo risco de efeitos colaterais, o cranberry
pode ser tentado.
Mulheres no pós-menopausa 1A A
Idosos institucionalizados 1A A
DM: diabetes mellitus; ITU: infecção do trato urinário; SVD: sonda vesical de
demora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ITU representam um problema de saúde pública para
a população geriátrica. Por um lado, são inúmeros os
desafios em seu diagnóstico, principalmente em indivíduos
com déficit cognitivo ou dificuldade em comunicação. Por
outro, os riscos do tratamento desnecessário de casos de
bacteriúria assintomática também são alarmantes.
BIBLIOGRAFIA
Avorn J, Monane M, Gurwitz JH, Glynn RJ, Choodnovskiy I, Lipsitz LA.
Reduction of bacteriuria and pyuria after ingestion of cranberry juice. JAMA.
1994;271(10):751-4.
Bauer HW, Alloussi S, Egger G, Blümlein HM, Cozma G, Schulman CC, et al. A
long-term, multicenter, double-blind study of an Escherichia coli extract
(OM-89) in female patients with recurrent urinary tract infections. Eur Urol.
2005;47(4):542-8.
Beveridge LA, Davey PG, Phillips G, McMurdo ME. Optimal management of
urinary tract infections in older people. Clin Interv Aging. 2011;6:173-80.
Cai T, Nesi G, Mazzoli S, Meacci F, Lanzafame P, Caciagli P, et al. Asymptomatic
bacteriuria treatment is associated with a higher prevalence of antibiotic
resistant strains in women with urinary tract infections. Clin Infect Dis.
2015;61(11):1655-61.
Drekonja DM, Rector TS, Cutting A, Johnson JR. Urinary tract infection in male
veterans: treatment patterns and outcomes. JAMA Intern Med.
2013;173(1):62-8.
Eriksen B. A randomized, open, parallel-group study on the preventive effect of
an estradiol-releasinng vaginal ring (Estring) on recurrent urinary tract
infections in postmenopausal women. Am J Obstet Gynecol. 1999;180(5):
1072-9.
Foxman B. Epidemiology of urinary tract infections: incidence, morbidity, and
economic costs. Dis Mon. 2003; 49(2):53-70.
Hooton TM, Bradley SF, Cardenas DD, Colgan R, Geerlings SE, Rice JC, et al.
Diagnosis, prevention, and treatment of catheter-associated urinary tract
infection in adults: 2009 international clinical practice guidelines from the
Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2010;50(5):625-63.
Jepson RG, Craig JC. Cranberries for preventing urinary tract infections.
Cochrane Database Syst Rev. 2008;(1): CD001321.
Li D, Wang T, Shen S, Fang Z, Dong Y, Tang H. Urinary tract and genital
infections in patients with type 2 diabetes treated with sodium-glucose co-
transporter 2 inhibitors: a meta-analysis of randomized controlled trials.
Diabetes Obes Metab. 2017;19(3):348-55.
Litwin MS, Saigal CS, Yano EM, Avila C, Geschwind SA, Hanley JM, et al.
Urologic diseases in America Project: analytical methods and principal
findings. J Urol. 2005;173(3):933-7.
Nicolle LE. Urinary tract infections in the older adult. Clin Geriatr Med.
2016;32(3):523-38.
Rahn DD, Carberry C, Sanses TV, Mamik MM, Ward RM, Meriwether KV, et al.
Vaginal estrogen for genitourinary syndrome of menopause: a systematic
review. Obstet Gynecol. 2014;124(6):1147-56.
Raz R, Stamm WE. A controlled trial of intravaginal estriol in postmenopausal
women with recurrent urinary tract infections. N Engl J Med.
1993;329(11):753-6.
Ruben FL, Dearwater SR, Norden CW, Kuller LH, Gartner K, Shalley A, et al.
Clinical infections in the noninstitutionalized geriatric age group: methods
utilized and incidence of infections. The Pittsburgh Good Health Study. Am J
Epidemiol. 1995;141(2):145-57.
Sexualidade 35
INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os países da
América Latina vêm aumentando significativamente a expectativa de
vida nas últimas duas décadas. No Brasil a expectativa de vida ao
nascer já alcança os 76 anos.
A proporção de idosos com vida sexual ativa vem aumentando,
reforçando a necessidade de preparo dos profissionais e a importância
da abordagem ativa do assunto. Porém, mitos de que os idosos são
pessoas assexuadas por falta de interesse sexual dificultam a
abordagem sobre como o envelhecimento pode modificar as
capacidades sexuais, retardando os esclarecimentos para promoção de
melhores condições de saúde.
Aqueles idosos que residem em instituições de longa permanência
tendem a enfrentar ainda mais barreiras (menor qualidade de saúde,
maior índice de disfunção sexual, dificuldade de parceiros, ausência de
privacidade e repreensão dos profissionais que trabalham nessas
instituições) no aspecto da sexualidade quando comparados aos da
população geral. A sexualidade não se restringe ao fator biológico,
sendo na verdade biopsicossociocultural. Por conta disso, acaba por
constituir um relevante indicador de saúde.
ABORDAGEM DA SEXUALIDADE
Para avaliar a sexualidade no idoso é necessário questionar não
apenas sobre a saúde física, mas também sobre a saúde psicológica e a
satisfação do idoso durante a intimidade sexual. A anamnese deve
apresentar linguagem acessível, evitar julgamentos quanto à
orientação sexual, garantindo, inclusive, a privacidade do paciente. A
história médica inclui comorbidades, medicações em uso e fatores de
risco orgânicos e psicológicos para disfunção sexual. Na história
sexual, é importante verificar a presença de relacionamentos
(conjugais ou extraconjugais), frequência e qualidade dos atos sexuais
(prévia e atual), antecedente de infecções sexualmente transmissíveis
(IST), uso de preservativos e prática de masturbação. O exame físico
também deve ser completo, incluindo avaliação uroginecológica. Em
casos específicos, podem ser necessários exames (p. ex., para
investigar disfunções hormonais e painel sorológico de IST se houver
comportamento de risco).
Disfunção erétil
Etiologia
A aquisição e a manutenção da ereção peniana é, primariamente,
um fenômeno vascular, desencadeado por sinais neurológicos e
facilitado apenas na presença de um meio hormonal apropriado e
fatores psicológicos.
A DE pode ter causas vasculares (diabetes mellitus, hipertensão
arterial sistêmica, dislipidemia, doença coronariana e cerebrovascular,
pós-radioterapia, tabagismo), neurogênicas (doença de Parkinson,
esclerose múltipla, demências em geral, etilismo, pós-prostatectomia),
anatômicas (fratura peniana e doença de Peyronie), endócrinas (hiper
e hipotireoidismo, hiperprolactinemia e deficiência de testosterona,
sendo a última controversa como causa isolada de DE), psicogênicas
(transtornos ansiosos e depressivos), medicamentosas (Tabela 3) ou
mistas, mais comum em idosos, que costumam ter mais fatores
orgânicos do que psicogênicos, ao contrário dos jovens.
Diagnóstico
O Índice Internacional de Função Erétil (IIEF) é um escore
composto de 15 questões em cinco domínios: função erétil, orgasmo,
desejo sexual, satisfação sexual e satisfação geral. Foi validado para
diagnosticar e graduar a DE e verificar a efetividade do tratamento.
Cada questão tem valor que varia de 1 a 5 e a soma das respostas gera
um escore final para cada domínio, com valores baixos indicando
qualidade da vida sexual ruim. Exames específicos, como o Doppler
peniano, a arteriografia pélvica e os estudos neuroendocrinológicos,
são solicitados apenas para casos de exceção entre os idosos.
Espironolactona Excitação
Metoclopramida Excitação
Tratamento
Mudança no estilo de vida
A atividade física aeróbica por cerca de 3 horas/semana melhora o
desempenho sexual inclusive entre idosos, assim como redução de
massa gorda, cessação de tabagismo ou etilismo e controle dos fatores
de risco cardiovasculares auxiliam no tratamento da DE.
Terapêutica de primeira linha: inibidores da fosfodiesterase-5
A eficácia, associada à facilidade de uso e o perfil de poucos efeitos
colaterais dos inibidores da fosfodiesterase-5 (iFDE5), se baseia no
papel do óxido nítrico na vasodilatação peniana, mediada por
guanosina monofosfato cíclico (GMPc), responsável por iniciar e
manter uma ereção. A perda da ereção é relacionada com o
catabolismo do GMPc pela enzima fosfodiesterase-5; os iFDE5
garantem maior atuação do GMPc, resultando em ereções mais
efetivas e duradouras.
Os iFDE5 não serão eficazes se o idoso não realizar os estímulos
físicos e emocionais necessários para o início de uma ereção
adequada. São contraindicados em pacientes sob uso de nitratos e
devem ser prescritos com bastante cautela em pacientes que tomam
bloqueadores alfa-adrenérgicos pelo risco de hipotensão. A Tabela 4
mostra as principais medicações desta classe.
Terapêuticas de segunda linha
Dispositivos de ereção a vácuo
Os dispositivos não são invasivos, têm baixas taxas de complicações
e não têm restrições na frequência de utilização. Contudo, exigem boa
destreza manual, levam à perda do ângulo agudo da ereção e induzem
a descoloração do pênis. Os dispositivos podem causar contusão pela
constrição e interferem na ejaculação, sendo comuns queixas de dor
ou falta de ejaculação anterógrada (40% dos casos). Pacientes em
anticoagulação ou com discrasias sanguíneas devem ter cautela no
uso.
Dispositivo intrauretral com alprostadil
O supositório de alprostadil (prostaglandina E1) produz
relaxamento e dilatação arteriolar, com consequente ereção. Após sua
administração e massagem local, a ereção ocorre em 15 minutos, com
duração de 30 a 60 minutos. A resposta terapêutica efetiva ocorre em
torno de 60% dos pacientes. O inconveniente é a necessidade de
habilidade na técnica de aplicação, o que restringe seu uso. O efeito
adverso mais frequente é a dor peniana durante a aplicação. Também
podem ocorrer taquicardia, tontura e síncope pelo escape de
alprostadil para a circulação. Na parceira podem ocorrer prurido,
desconforto vaginal e indução de trabalho de parto, sendo
contraindicado na gravidez.
Hipogonadismo masculino
Etiologia e diagnóstico
A deficiência androgênica do envelhecimento masculino (DAEM),
com componentes de hipogonadismo primário e secundário, não
ocorre em todos os idosos. Não se deve fazer rastreamento de DAEM
em homens assintomáticos e sem queixas, exceto em diabéticos e
obesos. O critério para diagnóstico da DAEM baseia-se na coexistência
de níveis séricos baixos de testosterona total ou livre com sinais e
sintomas compatíveis com hipogonadismo. Os sintomas mais comuns
são: diminuição da libido, DE, aumento da gordura visceral, perda de
massa muscular, perda de massa óssea, diminuição dos pelos,
depressão, desânimo, dificuldade de concentração, perda da memória,
irritabilidade, declínio do sono e anemia.
Os níveis séricos normais de testosterona total variam entre 300 e
800 ng/dL. Considera-se hipogonadismo valores menores que 231
ng/dL, mas as repercussões clínicas tendem a aparecer com níveis
inferiores a 150 ng/dL. A distinção entre hipogonadismo primário e
secundário se faz pela dosagem de hormônio folículo estimulante
(FSH, follicle-stimulating hormone) e hormônio luteinizante (LH,
luteinizing hormone), que estarão aumentados apenas no
hipogonadismo primário. Em alguns casos serão necessários a
dosagem de SHBG e o exame da testosterona livre (que pode ser
dosada pelo método de diálise ou calculada).
Tratamento
O tratamento do hipogonadismo se baseia na reposição de
testosterona, com o objetivo de atingir níveis séricos normais (300-400
ng/dL em idosos, diferente do patamar de 500-600 ng/dL em jovens).
No entanto, tem benefício comprovado somente para idosos com
hipogonadismo sintomático. As opções de tratamento são descritas na
Tabela 5.
Ejaculação retardada
Ejaculação precoce
Ejaculação retrógrada
Medidas farmacológicas
A reposição de testosterona pode ser tentada por 3 a 6 meses em
mulheres na pós-menopausa com transtorno do desejo hipoativo, que
não obtiveram resultados com as medidas não farmacológicas. A
referida reposição deve ser suspensa se a melhora não for atingida e
não deve ser utilizada por mais de 24 meses diante da ausência de
estudos de segurança e eficácia.
Os estrogênios sistêmicos (combinados ou não com progesterona)
só beneficiam pacientes com disfunção sexual associada ao climatério
sintomático, devendo ser usados por poucos anos e contraindicados
fora desse contexto. O estrogênio tópico pode ser usado em casos de
incontinência urinária e para atrofia vaginal, com melhora da
dispareunia.
O ospemifeno é uma medicação oral aprovada pela FDA como
alternativa ao uso de lubrificantes vaginais no tratamento da
dispareunia associada à atrofia genital. No entanto, exige uso diário e
não tem segurança comprovada para pacientes com fatores de risco
para neoplasia mamária ou embolia pulmonar.
A tibolona é um esteroide sintético com propriedades estrogênicas,
progestagênicas e androgênicas, aprovada para uso em mulheres
menopausadas na Europa, porém está associada ao risco de neoplasia
de mama e acidente vascular cerebral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação em saúde é a melhor estratégia para a construção de
conceitos que visualizem o idoso como um indivíduo livre para
vivenciar sua sexualidade, desprendida de mitos e preconceitos que
se solidificaram socialmente. É importante ressaltar que tais ações
educativas devem envolver tanto idosos como não idosos, pois o
envelhecimento é inerente ao ser humano e questões sobre a
sexualidade precisam ser discutidas no percurso de todas as etapas
da vida.
A maioria dos homens e mulheres com mais de 60 anos relataram
em pesquisas que eles têm relações sexuais pelo menos uma vez por
mês. O preditor mais influente da atividade sexual parece ser a
saúde física em homens mais velhos e a qualidade da relação
conjugal em mulheres mais velhas.
Os princípios gerais de tratamento das disfunções sexuais devem
incluir tratamento de doenças crônicas, adaptações com tratamento
para limitações físicas ou dor, educação, psicoterapia individual ou
de casal, terapia farmacológica, além de informações sobre o
envelhecimento normal.
BIBLIOGRAFIA
Agronin M. Sexual dysfunction in older adults. UpToDate. Waltham (U.S.): Wolters Kluwer,
2017 [updated 2017 Oct 24; cited 2019 Nov. 19]. Available from:
https://www.uptodate.com/contents/sexual-dysfunction-in-older-adults.
Alencar DL, Marques APO, Leal MCC, Vieira JCM. Fatores que interferem na sexualidade de
idosos: uma revisão integrativa. Ciênc Saúde Coletiva. 2014;19(8):3533-42.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014198.12092013.
Allen NE, Key TJ, Dossus L, Rinaldi S, Cust A, Lukanova A, et al. Endogenous sex hormones
and endometrial cancer risk in women in the European Prospective Investigation into
Cancer and Nutrition (EPIC). Endocr Relat Cancer 2008;15(2):485-97.
https://doi.org/10.1677/ERC-07-0064.
Becher E, Torres LO, Glina S. Consenso Latino-Americano sobre DAEM. São Paulo: PlanMark;
2013.
Bhasin S, Cunningham GR, Hayes FJ, Matsumoto AM, Snyder PJ, Swerdloff RS, et al.
Testosterone therapy in men with androgen deficiency syndromes: an Endocrine Society
clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab, 2010;95(6):2536-59.
https://doi.org/10.1210/jc.2009-2354.
Boolell M, Gepi-Attee S, Gingell JC, Allen MJ. Sildenafil, a novel effective oral therapy for male
erectile dysfunction. Br J Urol. 1996;78(2):257-61.
Burke RM, Evans JD. Avanafil for treatment of erectile dysfunction: review of its potential.
Vasc Health Risk Manag. 2012;8:517-23.
Canguven O, Bailen J, Fredriksson W, Bock D, Burnett AL. Combination of vacuum erection
device and PDE5 inhibitors as salvage therapy in PDE5 inhibitor nonresponders with
erectile dysfunction. J Sex Med. 2009; 6(9):2561-7.
Caruso S, Rugolo S, Agnello C, Intelisano G, Di Mari L, Cianci A. Sildenafil improves sexual
functioning in premenopausal women with type 1 diabetes who are affected by sexual
arousal disorder: a double-blind, crossover, placebo-controlled pilot study. Fertil Steril.
2006;85(5):1496-501.
Cunningham GR, Rosen RC. Overview of male sexual dysfunction. UpToDate. Waltham (U.S.):
UpToDate; 2018 [updated 2019 Apr 18; cited 2019 Nov 19]. Available from:
https://www.uptodate.com/contents/overview-of-male-sexual-dysfunction.
Ernst E, Pittler MH. Yohimbine for erectile dysfunction: a systematic review and meta-analysis
of randomized clinical trials. J Urol. 1998;159(2):433-6.
Fink HA, Mac Donald R, Rutks IR, Nelson DB, Wilt TJ. Sildenafil for male erectile dysfunction:
a systematic review and meta-analysis. Arch Intern Med. 2002;162(12):1349-60.
Gonzáles AI, Sties SW, Wittkopf PG, Mara LS de, Ulbrich AZ, Cardoso FL, et al. Validação do
Índice Internacional de Função Erétil (IIFE) para uso no Brasil. Arq Bras Cardiol.
2013;101(2):176-82.
Gruenwald I, Shenfeld O, Chen J, Raviv G, Richter S, Cohen A, et al. Positive effect of
counseling and dose adjustment in patients with erectile dysfunction who failed treatment
with sildenafil. Eur Urol. 2006;50(1):134-40.
Hirsch M, Birnbaum RJ. Sexual dysfunction caused by selective serotonin reuptake inhibitors
(SSRIs): management. UpToDate. Waltham (U.S.): UpToDate; 2019 [updated 2019 Oct 22;
cited 2019 Nov. 19]. Available from: http://www.uptodate.com/contents/sexual-dysfunction-
caused-by-selective-serotonin-reuptake-inhibitors-ssris-management.
[IBGE] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tábua completa de mortalidade para o
Brasil – 2017: breve análise da evolução da mortalidade no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE;
2018 [citado em 2019 Nov 19]. Disponível em:
http://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101628.
Khera M, Cunningham GR. Treatment of male sexual dysfunction. UpToDate. Waltham (U.S.):
UpToDate; 2019 [updated 2019 Ago 28; cited 2019 Nov. 19]. Available from:
https://www.uptodate.com/contents/treatment-of-male-sexual-dysfunction.
Labrie F, Archer D, Bouchard C, Fortier M, Cusan L, Gomez JL et al. Effect of intravaginal
dehydroepiandrosterone (Prasterone) on libido and sexual dysfunction in postmenopausal
women. Menopause. 2009;16(5):923-31.
Lewis RW, Fugl-Meyer KS, Bosch R, et al. Epidemiology/risk factors of sexual dysfunction. J
Sex Med. 2004;1(1):35-9.
Modelska K, Cummings S. Female sexual dysfunction in postmenopausal women: systematic
review of placebo-controlled trials. Am J Obstet Gynecol. 2003; 188(1):286-93.
Morgentaler A, Zitzmann M, Traish AM, Fox AW, Jones TH, Maggi M, et al. Fundamental
concepts regarding testosterone deficiency and treatment: international expert consensus
resolutions. Mayo Clin Proc. 2016;91(7):881-96.
Nijland EA, Weijmar Schultz WC, Nathorst-Boös J, Helmond FA, Van Lunsen RH, Palacios S, et
al. Tibolone and transdermal E2/NETA for the treatment of female sexual dysfunction in
naturally menopausal women: results of a randomized active-controlled trial. J Sex Med.
2008;5(3):646-56.
Pace G, Silvestri V, Gualá L, Vicentini C. Body mass index, urinary incontinence, and female
sexual dysfunction: how they affect female postmenopausal health. Menopause.
2009;16(6):1188-92.
Palacios S, Castaño R, Grazziotin A. Epidemiology of female sexual dysfunction. Maturitas.
2009;63(2):119-23.
Rozendo AS, Alves JM. Sexualidade na terceira idade: tabus e realidade. Kairós Gerontologia.
2015;18(3):95-107 [citado em 2019 Nov 19]. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/kairos/article/view/26210.
Sarris AB, Nakamura MC, Fernandes GR, Staichak RL, Pupulim AF, Sobreiro BP.
Fisiopatologia, avaliação e tratamento da disfunção erétil: artigo de revisão. Rev Med (São
Paulo). 2016;95(1):18-29.
Sayuk GS, Gott BM, Nix BD, Lustman PJ. Improvement in sexual functioning in patients with
type 2 diabetes and depression treated with bupropion. Diabetes Care. 2011;34(2):332-4.
Shifren JL. Overview of sexual dysfunction in women: epidemiology, risk factors, and
evaluation. Waltham (U.S.): UpToDate; 2019 [updated 2019 Oct 23; cited 2019 Nov. 19].
Available from: https://www.uptodate.com/contents/overview-of-sexual-dysfunction-in-
women-epidemiology-risk-factors-and-evaluation.
Spitzer M, Basaria S, Travison TG, Davda MN, Paley A, Cohen B, et al. Effect of testosterone
replacement on response to sildenafil citrate in men with erectile dysfunction: a parallel,
randomized trial. Ann Intern Med. 2012;157(10):681-91.
Tsertsvadze A, Fink HA, Yazdi F, MacDonald R, Bella AJ, Ansari MT, et al. Oral
phosphodiesterase-5 inhibitors and hormonal treatments for erectile dysfunction: a
systematic review and meta-analysis. Ann Intern Med. 2009;151(9):650-61.
van Anders SM. Testosterone and sexual desire in healthy women and men. Arch Sex Behav.
2012;41(6):1471-84.
Wierman ME, Arlt W, Basson R, Davis SR, Miller KK, Murad MH, et al. Androgen therapy in
women: a reappraisal: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol
Metab. 2014;99(10):3489-510.
SEÇÃO VI
Neuropsiquiatria geriátrica
Envelhecimento cognitivo, comprometimento 36
cognitivo leve e principais aspectos da
avaliação cognitiva
Daniel Apolinario
Paula Schimidt Brum
ENVELHECIMENTO CEREBRAL
Aspectos estruturais
Aspectos funcionais
Reserva cognitiva
A ideia subjacente à existência de uma reserva cognitiva
deriva de observações sobre a discrepância entre a carga
de lesões patológicas no encéfalo e as manifestações
clínicas (comprometimento cognitivo). Evidências
acumuladas nos últimos anos indicam que indivíduos mais
escolarizados, com maior envolvimento em atividades
intelectualmente estimulantes e maior engajamento em
atividades sociais resistem melhor às lesões
neuropatológicas e apresentam menor risco de declínio
cognitivo.
O indivíduo com reserva cognitiva mais alta seria capaz
de tolerar uma quantidade maior de agressões
neuropatológicas antes de desenvolver sintomas. Achados
de neuroimagem funcional sugerem que o encéfalo de uma
pessoa com maior reserva cognitiva pode contornar o efeito
de lesões neuropatológicas através da ativação de recursos
de processamento mais econômicos, estabelecimento de
vias neurais alternativas e outros mecanismos
compensatórios. Há ainda evidências experimentais que
reforçam a plausibilidade biológica da teoria da reserva
cognitiva. Animais alocados em ambientes mais
estimulantes apresentam neurogênese intensificada e
níveis mais elevados de fator neurotrófico derivado do
cérebro (BDNF, brain-derived neurotrophic factor),
elementos importantes para a manutenção da plasticidade
cerebral. Em suma, há um corpo de evidências bem
sedimentado indicando que o envolvimento em atividades
intelectualmente estimulantes e de interação social podem
modificar o declínio cognitivo associado ao envelhecimento
e reduzir o risco de transtornos neurocognitivos.
QUEIXAS COGNITIVAS
As queixas cognitivas são comuns entre os idosos,
constituem uma fonte importante de preocupação e
frequentemente determinam procura de atendimento
médico. Em estudos populacionais, cerca de metade das
pessoas idosas afirma apresentar dificuldade em tarefas
com demanda cognitiva.
Abordagem do CCL
Avaliação neuropsicológica
A avaliação neuropsicológica é realizada por um
profissional especializado, geralmente psicólogo com curso
de pós-graduação nessa área. Consiste na aplicação de um
conjunto amplo de testes que podem tomar de 1 a 6 horas,
selecionados para avaliar de forma aprofundada os
principais domínios cognitivos, como aprendizado,
memória, linguagem, atenção, funções executivas, funções
visuoespaciais, cognição social e inteligência pré-mórbida.
Como resultado tem-se um relatório que incorpora
impressões subjetivas do examinador e medidas objetivas
com percentil e z-escores corrigidos para idade e
escolaridade. O déficit em um determinado domínio é
definido através de um z-escore ≤ -1,5 (percentil ≤ 7) em
um dos testes que representam o domínio ou através de
dois testes com z-escore < -1,0 (percentil ≤ 16) no mesmo
domínio.
A avaliação neuropsicológica é especialmente útil nas
seguintes situações clínicas:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo foram descritas as principais alterações
estruturais e funcionais do envelhecimento cerebral, foram
feitas sugestões para a abordagem das queixas cognitivas,
foi apresentado o conceito de DCS, foi revisada a
abordagem do CCL e foram feitas recomendações práticas
sobre a avaliação cognitiva do idoso.
*
As versões do MoCA para o Brasil podem ser encontradas no seguinte endereço
eletrônico: mocatest.org.
BIBLIOGRAFIA
Abner EL, Kryscio RJ, Schmitt FA, Fardo DW, Moga DC, Ighodaro ET, et al.
Outcomes after diagnosis of mild cognitive impairment in a large autopsy
series. Ann Neurol. 2017;81(4):549-59.
Apolinario D, Lichtenthaler DG, Magaldi RM, Soares AT, Busse AL, Amaral JR,
et al. Using temporal orientation, category fluency, and word recall for
detecting cognitive impairment: the 10-point cognitive screener (10-CS). Int
J Geriatr Psychiatry. 2016;31(1):4-12.
Apolinario D, Miranda RB, Suemoto CK, Magaldi RM, Busse AL, Soares AT, al.
Characterizing spontaneously reported cognitive complaints: the
development and reliability of a classification instrument. Int
Psychogeriatrics. 2013;25(1):157-66.
Bhome R, Berry AJ, Huntley JD, Howard RJ. Interventions for subjective
cognitive decline: systematic review and meta-analysis. BMJ Open.
2018;8(7):e021610.
Blennow K, Zetterberg H. Biomarkers for Alzheimer’s disease: current status
and prospects for the future. J Intern Med. 2018;284(6):643-63.
Borson S, Scanlan JM, Chen P, Ganguli M. The Mini-Cog as a screen for
dementia: validation in a population-based sample. J Am Geriatr Soc.
2003;51(10):1451-4.
Boyle PA, Wilson RS, Yu L, Barr AM, Honer WG, Schneider JA, et al. Much of
late life cognitive decline is not due to common neurodegenerative
pathologies. Ann Neurol. 2013;74(3):478-89.
Boyle PA, Yu L, Wilson RS, Schneider JA, Bennett DA. Relation of
neuropathology with cognitive decline among older persons without
dementia. Front Aging Neurosci. 2013;5:50.
Brodaty H, Pond D, Kemp NM, Luscombe G, Harding L, Berman K, et al. The
GPCOG: A new screening test for dementia designed for general practice. J
Am Geriatr Soc. 2002;50(3):530-4.
Burmester B, Leathem J, Merrick P. Subjective cognitive complaints and
objective cognitive function in aging: a systematic review and meta-analysis
of recent cross-sectional findings. Neuropsychol Rev. 2016;26(4):376-93.
Busse A, Hensel A, Guhne U, Angermeyer MC, Riedel-Heller SG. Mild cognitive
impairment: long-term course of four clinical subtypes. Neurology.
2006;67(12):2176-85.
Daffner KR. Promoting successful cognitive aging: a comprehensive review. J
Alzheimers Dis. 2010;19(4): 1101-22.
Filippi M, Agosta F, Barkhof F, Dubois B, Fox NC, Frisoni GB, et al. EFNS task
force: the use of neuroimaging in the diagnosis of dementia. Eur J Neurol.
2012;19(12): e131-40, 1487-501.
Fjell AM, McEvoy L, Holland D, Dale AM, Walhovd KB, Alzheimer’s Disease
Neuroimaging Initiative. What is normal in normal aging? Effects of aging,
amyloid and Alzheimer’s disease on the cerebral cortex and the
hippocampus. Prog Neurobiol. 2014;117:20-40.
Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. “Mini-mental state”. A practical method
for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res.
1975;12(3):189-98.
Han JW, Kim TH, Lee SB, Park JH, Lee JJ, Huh Y, et al. Predictive validity and
diagnostic stability of mild cognitive impairment subtypes. Alzheimer’s
Dement. 2012;8(6):553-9.
Hsieh S, Schubert S, Hoon C, Mioshi E, Hodges JR. Validation of the
Addenbrooke’s Cognitive Examination III in frontotemporal dementia and
Alzheimer’s disease. Dement Geriatr Cogn Disord. 2013;36(3-4):242-50.
Ince PG. Pathological correlates of late-onset dementia in a multicentre,
community-based population in England and Wales. Lancet.
2001;357(9251):169-75.
Jekel K, Damian M, Wattmo C, Hausner L, Bullock R, Connelly PJ, et al. Mild
cognitive impairment and deficits in instrumental activities of daily living: a
systematic review. Alzheimers Res Ther. 2015;7(1):17.
Jessen F, Amariglio RE, van Boxtel M, Breteler M, Ceccaldi M, Chételat G, et al.
A conceptual framework for research on subjective cognitive decline in
preclinical Alzheimer’s disease. Alzheimer’s Dement. 2014;10(6): 844-52.
Jessen F, Wolfsgruber S, Wiese B, Bickel H, Mösch E, Kaduszkiewicz H, et al.
AD dementia risk in late MCI, in early MCI, and in subjective memory
impairment. Alzheimer’s Dement. 2014;10(1):76-83.
Julayanont P, Tangwongchai S, Hemrungrojn S, Tunvirachaisakul C,
Phanthumchinda K, Hongsawat J, et al. The Montreal cognitive assessment –
Basic: a screening tool for mild cognitive impairment in illiterate and low-
educated elderly adults. J Am Geriatr Soc. 2015;63(12):2550-4.
Köhler CA, Magalhaes TF, Oliveira JM, Alves GS, Knochel C, Oertel-Knöchel V,
et al. Neuropsychiatric disturbances in mild cognitive impairment (MCI): a
systematic review of population-based studies. Curr Alzheimer Res.
2016;13(10):1066-82.
Mitchell AJ, Beaumont H, Ferguson D, Yadegarfar M, Stubbs B. Risk of
dementia and mild cognitive impairment in older people with subjective
memory complaints: meta-analysis. Acta Psychiatr Scand. 2014;130(6):439-
51.
Mitchell AJ, Shiri-Feshki M. Rate of progression of mild cognitive impairment to
dementia: meta-analysis of 41 robust inception cohort studies. Acta
Psychiatr Scand. 2009;119(4):252-65.
Mitchell AJ, Shiri-Feshki M. Temporal trends in the long term risk of
progression of mild cognitive impairment: a pooled analysis. J Neurol
Neurosurg Psychiatry. 2008;79(12):1386-91.
Nasreddine ZS, Phillips NA, Bédirian V, Charbonneau S, Whitehead V, Collin I,
et al. The Montreal Cognitive Assessment, MoCA: a brief screening tool for
mild cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2005;53(4):695-9.
Peters R. Ageing and the brain. Postgrad Med J. 2006;82(964):84-8.
Salthouse TA. Selective review of cognitive aging. J Int Neuropsychol Soc.
2010;16(5):754-60.
Shan ZY, Liu JZ, Sahgal V, Wang B, Yue GH. Selective atrophy of left
hemisphere and frontal lobe of the brain in old men. J Gerontol A Biol Sci
Med Sci. 2005;60(2):165-74.
Slot RER, Sikkes SAM, Berkhof J, Brodaty H, Buckley R, Cavedo E, et al.
Subjective cognitive decline and rates of incident Alzheimer’s disease and
non-Alzheimer’s disease dementia. Alzheimer’s Dement. 2019;15(3):465-76.
Sorbi S, Hort J, Erkinjuntti T, Fladby T, Gainotti G, Gurvit H, et al. EFNS-ENS
Guidelines on the diagnosis and management of disorders associated with
dementia. Eur J Neurol. 2012;19(9):1159-79.
Stern Y. Cognitive reserve in ageing and Alzheimer’s disease. Lancet Neurol.
2012;11(11):1006-12.
Taragano FE, Allegri RF, Krupitzki H, Sarasola DR, Serrano CM, Loñ L, et al.
Mild behavioral impairment and risk of dementia: a prospective cohort study
of 358 patients. J Clin Psychiatry. 2009;70(4):584-92.
Visser PJ, Kester A, Jolles J, Verhey F. Ten-year risk of dementia in subjects with
mild cognitive impairment. Neurology. 2006;67(7):1201-7.
Winblad B, Palmer K, Kivipelto M, Jelic V, Fratiglioni L, Wahlund LO, et al. Mild
cognitive impairment – beyond controversies, towards a consensus: report of
the International Working Group on Mild Cognitive Impairment. J Intern
Med. 2004;256(3):240-46.
Yaffe K, Petersen RC, Lindquist K, Kramer J, Miller B. Subtype of mild cognitive
impairment and progression to dementia and death. Dement Geriatr Cogn
Disord. 2006;22(4):312-9. https://doi.org/10.1159/000095427.
Doença de Alzheimer: diagnóstico, 37
classificação e tratamento
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais comum de
demência neurodegenerativa no mundo e se caracteriza
pela progressão lenta de seus sintomas. O primeiro caso de
DA foi descrito pelo psiquiatra e neurologista alemão Alois
Alzheimer, em 3 de novembro de 1906, na paciente
chamada Auguste Deter, e a patologia passou a receber
essa nomenclatura por Kraepelin, em 1910. A demência
pode ser definida como uma síndrome, caracterizada por
um declínio cognitivo ou comportamental, cujos sintomas
interferem nas atividades de vida diária (AVD), não são
explicáveis por delirium ou transtorno psiquiátrico maior e
levam a prejuízo funcional em relação a níveis prévios.
A DA consiste em um transtorno progressivo e
irreversível que altera a função cognitiva, incluindo os
seguintes domínios: memória, funções executivas,
habilidades visuoespaciais, linguagem e personalidade ou
comportamento, caracterizando-se por evolução lenta e
gradual. Acarreta prejuízo funcional e perda de autonomia
progressiva, causando aos pacientes dependência e
necessidade de cuidados. Essas alterações cursam com
importante impacto na qualidade de vida do paciente e de
sua família. Não só causa sofrimento importante para
pacientes e cuidadores como também ocasiona grande ônus
econômico para a sociedade. Os principais desafios atuais
consistem na falta de biomarcadores confiáveis para
diagnóstico precoce e na ausência de estratégias eficazes
para prevenção e tratamento.
EPIDEMIOLOGIA
A DA é reconhecida como importante problema de saúde
pública mundial. Sua incidência e prevalência aumentam
progressivamente com a idade no mundo. Estima-se que
existam, atualmente, cerca de 50 milhões de pessoas
acometidas por alguma forma de demência no mundo, 10
milhões de novos diagnósticos por ano e cerca de 60%
devidos à DA. No Brasil, por sua vez, são estimados cerca
de 1,7 milhão de idosos com demência.
Uma revisão sistemática incluindo 273 estudos estimou
que cerca de 74,7 milhões de indivíduos estariam
acometidos com a doença em 2030 e 131,5 milhões em
2050. Atualmente, cerca de 60% das pessoas com
diagnóstico de demência residem em países com baixa ou
média renda. Projeções sugerem que, entre 2015 e 2050,
haverá um incremento em 116% do número de pessoas
com demência em países de alta renda e de 264% em
países de baixa renda. Trata-se de doença que causa
grande impacto financeiro: em 2015, o gasto anual em todo
o mundo foi avaliado em torno de 818 bilhões de dólares,
com previsão de aumentar para aproximadamente 2
trilhões de dólares em 2030, o que corresponde a cerca de
1,09% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Ainda não se conhece a verdadeira etiologia da DA, a
despeito de esforços contínuos da comunidade científica,
porém se sabe que há componentes genéticos e ambientais
envolvidos em sua gênese, agindo por meio de interações
complexas. O principal fator de risco é a idade avançada.
Há aumento progressivo de diagnóstico de demências,
dentre elas a DA, a partir de 60 anos de idade. Outros
fatores de risco associados são: traumatismo craniano,
gênero feminino (após 80 anos de idade), nível educacional,
condição socioeconômica, história familiar positiva, história
prévia de depressão, síndrome de Down, tabagismo,
obesidade, sedentarismo, diabetes mellitus, hipertensão
arterial sistêmica e gene de suscetibilidade (genótipo Apoε
4).
Em nível celular, a DA é caracterizada pela perda
progressiva de neurônios corticais, relacionada com a
deposição de proteínas anormais, principalmente no córtex
entorrinal, no hipocampo e no córtex cingulado posterior.
De acordo com a hipótese amiloide, a patogênese da DA é
explicada por acúmulo, agregação e toxicidade de peptídeo
β-amiloide (Aβ) no cérebro, produzido pela proteína
precursora amiloide (PPA). A PPA parece estar envolvida na
plasticidade neuronal e na formação de sinapses. Outro
possível mecanismo estudado como causa de DA é a
formação de emaranhados neurofibrilares, constituídos de
agregação anormal da proteína tau hiperfosforilada (p-tau).
Os principais achados patológicos encontrados na DA
são a degeneração sináptica e a perda neuronal, com a
deposição de placas senis e de emaranhados
neurofibrilares no córtex cerebral. As placas senis são
lesões extracelulares contendo o peptídeo Aβ, que se
origina a partir da proteína PPA. Os emaranhados
neurofibrilares são inclusões intraneurais verificadas nos
citoplasmas dos neurônios, compostas de bandas de
elementos citoesqueléticos anormais, cujo componente
principal é a p-tau, que estabiliza o sistema de
microtúbulos neuronais.
Em pessoas sem diagnóstico de demência, a PPA é
clivada pela ação da enzima α-secretase. Na DA, ocorre a
liberação do peptídeo Aβ da PPA a partir de vias anormais e
alternativas, envolvendo a ação das atividades das enzimas
β-secretase e γ-secretase, por um processo denominado
endoproteólise, sem a ação da enzima α-secretase. A
sequência bioquímica de Aβ nos depósitos de amiloide da
DA apresentam-se em com variações de comprimento,
sendo que a maioria dos peptídeos Aβ termina no
aminoácido 40 e são denominados Aβ40. Outra fração de
Aβ, resultante de divisões em diferentes pontos quando o
Aβ é clivado, que termina geralmente no aminoácido 42, é
denominada Aβ42.
A proteína tau, em condições fisiológicas, estabiliza o
sistema de microtúbulos no interior dos neurônios,
formados pelas proteínas α e β tubulinas, a fim de
transportar substâncias do corpo celular para a terminação
sináptica. Na DA, ocorre um processo de fosforilação
anormal da proteína tau, que instabiliza as tubulinas e
produz distrofia e edema dos microtúbulos, o que causa a
morte neuronal.
Mutações em genes que codificam a PPA, a presenilina 1
e a presenilina 2, que constituem outras enzimas que
compõem o complexo da γ-secretase, também podem ser
causa de DA. As formas genéticas de DA são raras, e o
padrão de herança é autossômico dominante. O gene da
PPA se localiza no cromossomo 21, cuja trissomia define o
diagnóstico da síndrome de Down, frequentemente
associada à DA.
A compreensão atual do papel de Aβ em DA se
concentra em sua contribuição para patologia e sintomas
cerebrais. Entretanto, embora a maior parte dos peptídeos
Aβ seja gerada no cérebro, uma quantidade considerável de
Aβ é também produzida em sistemas periféricos. Por isso,
propõe-se que a DA possa não ser apenas um distúrbio
cerebral, pois hoje já se sabe que fatores sistêmicos podem
interagir com o cérebro para modificar o processo da DA.
QUADRO CLÍNICO
A DA se caracteriza, na maioria dos casos, pela perda
progressiva de memória e de outras funções cognitivas e
costuma ter início após os 60 anos de idade. Alterações na
memória e na realização de AVD são as primeiras
alterações observadas. Em fases posteriores, outros
sintomas neuropsiquiátricos se manifestam, como
depressão, agitação psicomotora e alucinações. As formas
de progressão são variáveis entre indivíduos diferentes, e
os sintomas pioram gradual e continuamente. A duração da
doença, desde seu início até a morte, é de
aproximadamente 12 anos, entretanto em alguns pacientes
pode ser mais curta ou mais longa, variando entre 2-25
anos e tendo como fatores que alteram a sobrevida:
gravidade da doença, gênero e idade. Sua evolução clínica
pode ser dividida em 3 estágios, conforme descrito no
Quadro 1.
Em geral, a DA manifesta-se inicialmente com a forma
típica amnéstica, em cerca de 85% dos casos. Entretanto,
há outras apresentações menos frequentes, que iniciam
com predomínio de alterações da linguagem, das
habilidades visuoespaciais e das funções executivas ou
motoras complexas. As formas atípicas mais comuns são: a
variante logopênica da afasia progressiva primária (vlAPP)
e a visuoespacial-apráxica da atrofia cortical posterior.
O aumento progressivo de estudos científicos a respeito
da doença sugere que ela se manifesta além do cérebro.
Essas alterações sistêmicas podem não estar apenas
relacionadas com efeitos secundários da degeneração do
cérebro, mas também podem refletir processos ligados à
progressão da doença. Um número crescente de estudos
indica que uma série de anormalidades sistêmicas pode
exacerbar a progressão da DA.
Atualmente, sabe-se que pacientes com diabetes
mellitus são aproximadamente 1,4-2 vezes mais propensos
a desenvolver DA do que indivíduos saudáveis. Também, há
algumas evidências que sugerem que o metabolismo
lipídico anormal está associado com um risco aumentado
de DA. Há, ainda, estudos indicando que doença
cardiovascular é uma das principais comorbidades em
pacientes com DA esporádica. Além disso, há trabalhos
mostrando que a disfunção renal aumenta o risco de
comprometimento cognitivo e de demência, sugerindo que
a melhora da função renal pode ser uma abordagem
promissora para a prevenção e tratamento da DA. Por sua
vez, os distúrbios respiratórios do sono estão associados
com risco aumentado de comprometimento cognitivo leve
ou de demência de início precoce.
DIAGNÓSTICO
Não existe ainda um exame específico para detectar a
DA, portanto o diagnóstico é baseado na história clínica
obtida do paciente e de sua família. A avaliação clínica deve
se iniciar pela anamnese, que deve ser direcionada para
identificar os domínios cognitivos afetados, o impacto na
funcionalidade do paciente e os sintomas comportamentais
presentes. Os domínios cognitivos a serem investigados
são: memória, atenção, funções visuoespaciais, praxias,
funções executivas e linguagem.
O processo fisiopatológico da doença inicia antes dos
sintomas aparecerem. No espectro sindrômico do declínio
cognitivo, estão o comprometimento cognitivo leve (CCL),
em que o paciente não apresenta prejuízo de autonomia, o
declínio cognitivo subjetivo (DCS), nos indivíduos que
apresentam desempenho normal nos testes
neuropsicológicos a despeito de apresentarem queixas
cognitivas, e a demência, como apresentado na Figura 1.
Em 2011, o National Institute on Aging and Alzheimer’s
Association Disease and Related Disorders Association
(NIA-AA) e a Academia Brasileira de Neurologia criaram
conjuntos separados de diretrizes diagnósticas para os
estágios sintomáticos ou clínicos da DA, que incluíam
comprometimento cognitivo leve (CCL) e demência. Os
critérios definidos pelo NIA-AA para diagnóstico de DA
estão listados no Quadro 2. Na prática clínica, para o
diagnóstico de demência, é necessário que haja sintomas
cognitivos ou comportamentais que comprometam a
funcionalidade do paciente em comparação com sua
condição prévia e interfiram com a habilidade na realização
de atividades usuais. O comprometimento da cognição é
identificado por meio da realização de anamnese com o
paciente e com familiares ou cuidadores.
FIGURA 1 Continuum do declínio cognitivo no envelhecimento normal e
patológico.
Fonte: Consenso de Demências. Dementia and Neuropsychology, setembro de
2022.
Orientação:
Registro:
Dizer três palavras: vaso, carro, tijolo. Pedir para prestar atenção, pois terá
que repetir mais tarde. Pergunte pelas três palavras após tê-las nomeado.
Repetir até que evoque corretamente e anotar o número de vezes.
Atenção e cálculo
Evocação:
Linguagem:
AVC: acidente vascular cerebral; DA: doença de Alzheimer; REM: rapid eye
movement.
Fonte: adaptado de McKhann et al. (2011) e Frota et al. (2011).
Na avaliação de um quadro de demência, é importante a
avaliação da funcionalidade do paciente. O instrumento
mais usado no Brasil é o Questionário de Atividades
Funcionais (QAF) de Pfeffer (material suplementar),
constituído de 10 questões voltadas para avaliação de
atividades instrumentais. A escala de Katz pode ser
utilizada para avaliação de atividades básicas da vida
diária.
A punção lombar deve ser realizada em idade inferior a
65 anos (demência de início pré-senil); em casos de
apresentação ou curso clínico atípicos; na presença de
hidrocefalia ou imunossupressão; se houver a hipótese
diagnóstica de câncer metastático, de vasculite, doença
priônica ou infecção do sistema nervoso central; e também
em pacientes com sorologia sérica positiva para sífilis.
Exames laboratoriais e de neuroimagem, como RM e
tomografia por emissão de pósitrons amiloide (PET), podem
ser complementares ao diagnóstico. Vários radiotraçadores
PET podem ser usados para detectar Aβ no cérebro, e
alguns biomarcadores para DA foram validados para uso
diagnóstico em pesquisas, incluindo os níveis de Aβ42, tau
total e tau fosforilada no líquido cefalorraquidiano (LCR).
No entanto, essas abordagens são invasivas ou caras, o que
as torna inviáveis na prática clínica.
FIGURA 3 Montreal Cognitive Assessment.
TRATAMENTO
Atualmente, não existem medicamentos eficazes para
prevenção ou tratamento da DA. Intervenções
modificadoras da doença devem envolver alvos
biologicamente definidos, e a síndrome demencial ainda
não denota um alvo biológico específico. Além disso, a fim
de descobrir intervenções que previnam ou retardem o
início dos sintomas, é necessária uma definição biológica
da doença que inclua a fase pré-clínica.
Os principais objetivos do tratamento incluem a melhora
da qualidade de vida, do desempenho funcional e da
autonomia dos pacientes. Os cuidados com o paciente com
diagnóstico de DA devem ser individualizados e envolver
uma equipe interdisciplinar, a fim de contemplar as
peculiaridades de condutas de cada profissional. Os
familiares e cuidadores são elementos muito importantes
para oferecer os cuidados domiciliares contínuos, por isso
precisam ser abordados e assistidos pelos profissionais de
saúde.
As medicações disponíveis para tratamento sintomático
de DA, na atualidade, são os inibidores da
acetilcolinesterase (iAchE), fármacos colinomiméticos, e a
memantina, um antagonista não competitivo de afinidade
moderada dos receptores NMDA (N-metil-d-aspartato) de
glutamato. Os objetivos do tratamento farmacológico
incluem estabilizar o comprometimento cognitivo e o
comportamento dos pacientes. São iAchE a donepezila, a
rivastigmina e a galantamina. Sua prescrição deve ser
iniciada na menor dose possível e escalonada a cada 4
semanas até a dose máxima tolerada pelo paciente. Sua
utilização tem por resultados a melhora da cognição e do
funcionamento global dos indivíduos. Estão indicados nas
fases leve e intermediária. Os principais efeitos adversos
descritos são perda de peso, dor abdominal, náuseas,
vômitos, anorexia, diarreia, síncope, cefaleia, tontura,
fadiga, sonolência e bradicardia. A memantina é indicada
nas fases intermediária e avançada da DA. Seus efeitos
colaterais mais comuns incluem cefaleia, alucinações,
insônia, agitação, diarreia e incontinência urinária. A dose
diária recomendada é de 20 mg ao dia, e o tratamento deve
ser iniciado com 5 mg ao dia durante a primeira semana,
com aumento de 5 mg a cada semana até a dose máxima de
manutenção a ser utilizada.
A donepezila é um derivado da piperidina, um inibidor
reversível da colinesterase, sua via de eliminação é
hepática, tem meia-vida de cerca de 70 horas e é
administrada em dose única diária. A rivastigmina é um
inibidor pseudoirreversível da colinesterase, com
metabolização renal e meia-vida plasmática de
aproximadamente 1 hora, porém com persistência de efeito
inibidor enzimático em torno de 10-12 horas. Deve ser
administrada por via oral, 2 vezes ao dia, e em forma
transdérmica de liberação contínua com troca do adesivo a
cada 24 horas. A galantamina é um inibidor reversível da
colinesterase, tem meia-vida de 7 horas e metabolização
hepática e renal. É administrada 1 vez ao dia por via oral.
FIGURA 4 Visão geral do tratamento farmacológico da doença de Alzheimer.
Fonte: Consenso de Demências. Dementia and Neuropsychology, setembro de
2022.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por se tratar de doença com alta prevalência em todo o
mundo, a doença de Alzheimer, caracterizada por uma
disfunção neurodegenerativa crônica e progressiva, precisa
ser reconhecida pela identificação de alterações nos
domínios cognitivos de idosos que apresentem também
comprometimento de funcionalidade. Dentre os testes
cognitivos utilizados, o MEEM e o MoCA são os mais
difundidos e o diagnóstico pode ser detectado por meio da
anamnese e da realização de exames que investiguem os
possíveis diagnósticos diferenciais. É uma doença que
causa grande sofrimento aos pacientes e a seus familiares.
Ainda não são conhecidos biomarcadores confiáveis para
diagnóstico precoce, nem estratégias eficazes para
tratamento. É importante que a comunidade científica
persista na busca de evidências que identifiquem o
processo fisiopatológico da DA.
BIBLIOGRAFIA
Bertolucci PHF, Mathias SC, Brucki SMD, Carrilho PEM. Proposta de
padronização do Miniexame do Estado Mental (MEEM): estudo piloto
cooperativo (FMUSP/EPM). Arq Neuropsiquiatr. 1994;52:225.
Caramelli P, Teixeira AL, Buchpiguel CA, Lee HW, Livramento JA, Fernandez LL,
et al. Diagnosis of Alzheimer’s disease in Brazil: supplementary exams.
Dement Neuropsychol. 2011;5(3):167-77.
Chaves MLF, Godinho CC, Porto CS, Mansur L, Carthery-Goulart MT, Yassuda
MS, et al. Cognitive, functional and behavioral assessment: Alzheimer’s
disease. Dement Neuropsychol. 2011;5(3):153-66.
Deckers K, Camerino I, Van Boxtel MP, Verhey FR, Irving K, Brayne C, et al.
Dementia risk in renal dysfunction: a systematic review and meta-analysis of
prospective studies. Neurology. 2017;88:198-208.
Dias NS, Barbosa IG, Kuang W, Teixeira AL. Depressive disorders in theelderly
and dementia: an update. Dement Neuropsychol. 2020;14(1):1-6.
Freitas E, Py L, et al. Doença de Alzheimer. In: Tratado de geriatria e
gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2022. p.1469-586
Frota NAF, Nitrini R, Damasceno BP, Forlenza O, Dias-Tosta E, Silva AB, et al.
Critérios para o diagnóstico de doença de Alzheimer. Dement Neuropsychol.
2011;5(Suppl 1):5-10.
Gauthier S, Rosa-Neto P, Morais JA, Webster C. World Alzheimer Report 2021:
Journey through the diagnosis of dementia. London: Alzheimer’s Disease
International (UK). 2021.
Ikonomovic M, Abrahamson E, Kofler J, Paljug W, Debnath ML, Price J, et al.
Neuropathology and biochemical correlations of [F-18]AV-1451 and [C-
11]PiB PET imaging in a subject with Alzheimer’s disease. In: Johnson KA,
Jagust WE, Klunk WE, Mathis CA, editors. 11th Human Amyloid Imaging.
Miami: 2017;157.
Jefferson AL, Beiser AS, Himali JJ, Seshadri S, O’Donnell CJ, Mammig WJ, et al.
Low cardiac index is associated with incident dementia and Alzheimer
disease: the Framingham Heart Study. Circulation. 2015;131: 1333-9.
Jun WI, Ben JG, Colin LM, Yan-Jiang W. A systemic view of Alzheimer disease:
insights from amyloid-β metabolism beyond the brain. Nature Reviews
Neurology. 2017;13: 612-23.
Lesman-Segev OHL, La Joie R, Iaccarino L, Lobach I, Rosen HJ, Seo SW, et al.
Diagnostic accuracy of amyloid versus 18f-fluorodeoxyglucose positron
emission tomography in autopsy-confirmed dementia. Ann Neurol. 2021;
89(2):389-401.
Loeffler T, Schilcher I, Flunkert S, Hutter-Paier B. Neurofilament-light chain as
biomarker of neurodegenerative and rare diseases with high translational
value. Front Neurosci. 2020;14:579.
Louzada LL, Machado FV, Quintas JL, Ribeiro GA, Silva MV, Mendonça-Silva
DL, et al. The efficacy and safety of zolpidem and zopiclone to treat insomnia
in Alzheimer’s disease: a randomized, triple-blind, placebo-controlled trial.
Neuropsychopharmacology. 2022;47(2):570-9.
McKhann GM, Knopman DS, Chertkow H, Hyman BT, Jack CR, Kawas CH, et al.
The diagnosis of dementia due to Alzheimer’s disease: recommendations
from the National Institute on Aging-Alzheimer’s Association workgroups on
diagnostic guidelines for Alzheimer’s disease. Alzheimers Dement.
2011;7(3):263-9.
Melo SC, Champs APS, Goulart RF, Malta DC, Passos VMA. Dementias in Brazil:
increasing burden in the 2000-2016 period. Estimates from the Global
Burden of Disease Study 2016. Arq Neuropsiquiatr. 2020;78(12):762-71.
Nelson PT, Head E, Schmitt FA, Davis PR, Neltner JH, Jicha GA, et al.
Alzheimer’s disease is not “brain aging”: neuropathological, genetic, and
epidemiological human studies. Acta Neuropathol. 2011;121:571-87.
Nishihira J, Tokashiki T, Higashiuesato Y, Willcox DC, Mattek N, Shinto L, et al.
Associations between serum omega-3 fatty acid levels and cognitive
functions among community-dwelling octogenarians in Okinawa, Japan: the
Kocoa study. J Alzheimers Dis. 2016;51:857-66.
Palmqvist SJ, Janelidze S, Quiroz YT, Zetterberg H, Lopera F, Stomrud E, et al.
Discriminative accuracy of plasma phospho-tau217 for Alzheimer disease vs
other neurodegenerative disorders. JAMA Ann Neurol. 2021;89(2): 389-401.
Pfeffer RI, Kurosaki TT, Harrah CH Jr, Chance JM, Filos S. Measurement of
functional activities in older adults in the community. J Gerontol.
1982;37(3):323-9.
Prince M, Wimo A, Guerchet M, GemmaClaire A, Wu YT, Prina M. World
Alzheimer Report 2015. The global impact of dementia: an analysis of
prevalence, incidence, cost & trends. London: Alzheimer’s Disease
International. 2015.
Rusanen M, Kivipelto M, Levalahti E, Laatikainen T, Tuomileto J, Soininen H, et
al. Heart diseases and long-term risk of dementia and Alzheimer’s disease: a
population-based Caide study. J Alzheimers. 2014;42:183-91.
Seo SW, Ayakta N, Grinberg LT, Villeneuve S, Lehmann M, Reed B et al.
Regional correlations between [11C]PIB PET and post-mortem burden of
amyloid-beta pathology in a diverse neuropathological cohort. Neuroimage
Clin. 2017;13:130-7.
Smid J, Studart-Neto A, César-Freitas KG, Dourado MCN, Kochmann R, Breno
JAP, et al. Consenso de Demências. Recomendações do Departamento
Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia
Brasileira de Neurologia. Dementia and Neuropsychology. 2022;16:1-17.
Smid J, Studart-Neto A, Cesar-Freitas KG, Dourado MCN, Kochhann R, Barbosa
BJAP, et al. Declínio cognitivo subjetivo, comprometimento cognitivo leve e
demência: diagnóstico sindrômico. Dem Neuropsy. 2022;16:1-17.
Thijssen EH, La Joie R, Wolf A, Strom A, Wang P, Iaccarino L, et al. Diagnostic
value of plasma phosphorylated tau181 in Alzheimer’s disease and
frontotemporal lobar degeneration. Nat Med. 2020;26(3):387-97.
Xu W, Lan T, Hui-Fu W, Ten J, Meng-Shan T, Lin T, et al. Meta-analysis of
modifiable risk factors for Alzheimer’s disease. J Neurol Neurosurg
Psychiatry. 2015;86:1299-306.
Yassine HN, Feng Q, Azizkhanian I, Rawat V, Castor K, Fonteh AN, et al.
Association of serum docosahexaenoic acid with cerebral amyloidosis. JAMA
Neurol. 2016;73:1208-16.
Zwan MD, Bouwman FH, Konijnenberg E, van der Flier WM, Lammertsma AA,
Verhey FR, et al. Diagnostic impact of [18F]flutemetamol PET in early-onset
dementia. Alzheimers Res Ther. 2017;9:2.
38 Doença de Parkinson no idoso
INTRODUÇÃO
A doença de Parkinson é a segunda condição
neurodegenerativa mais frequente depois da doença de
Alzheimer. A doença foi descrita pela primeira vez por
James Parkinson em seu Ensaio sobre a paralisia aguda, de
1817, características que décadas depois, por iniciativa de
Charcot, passaram a ser conhecidas por seu nome. As
manifestações clínicas são predominantemente motoras e
incluem: tremor de repouso, bradicinesia, rigidez muscular
e alterações posturais. Distúrbios não motores são
frequentes e podem ocorrer muitos anos antes do início dos
sinais motores, como anosmia, obstipação intestinal e
depressão. Em fases mais avançadas, transtornos
cognitivos, psiquiátricos e disfunções autonômicas são
comuns. Trata-se de uma doença degenerativa de evolução
crônica e progressiva.
Os termos “doença de Parkinson” e “parkinsonismo”
referem-se a condições diversas. A doença de Parkinson
constitui uma entidade nosológica com características
clínicas, anatomopatológicas e bioquímicas bem definidas.
Por outro lado, parkinsonismo ou síndrome parkinsoniana
são termos mais abrangentes, que compreendem uma série
de condições (inclusive a doença de Parkinson) que têm em
comum combinações variáveis de sinais e sintomas
presentes na doença de Parkinson.
EPIDEMIOLOGIA
Estimativas da incidência da doença de Parkinson
variam entre 5 e 35 casos por 100 mil pessoas/ano, a
depender das características demográficas das populações
estudadas. A incidência média em estudos que levam em
conta dados neuropatológicos para o diagnóstico é de 21
casos por 100 mil indivíduos/ano. É menos comum antes
dos 50 anos de idade, mas a incidência aumenta 5 a 10
vezes após a sexta década. A prevalência estimada é de 94
casos por 100 mil pessoas, ou aproximadamente 0,3% na
população geral de 40 anos ou mais e maiores que 3% em
indivíduos acima de 80 anos de idade. É duas vezes mais
comum no sexo masculino na maioria das populações
estudadas.
Indivíduos idosos podem apresentar sinais de
parkinsonismo secundário devido ao uso de certos
medicamentos com efeitos adversos que podem provocar
rigidez, bradicinesia e tremor.
FATORES DE RISCO
Alguns fatores de risco são:
Idade.
Sexo masculino.
História familiar em parentes de primeiro grau.
Exposições ambientais (herbicidas, pesticidas e metais
pesados).
Comorbidades: obesidade, diabetes tipo 2, síndrome
metabólica, história de traumatismo cranioencefálico,
história de melanoma e câncer de próstata.
Sintomas motores
Tremor
É o sintoma mais frequente e o que mais chama a
atenção, embora não seja o mais incapacitante. É ainda o
sintoma de apresentação em aproximadamente 70 a 80%
dos pacientes com doença de Parkinson, e a porcentagem
de pacientes com tremor em algum momento do curso da
doença é alta, variando de 79 a 100%.
O tremor é rítmico, relativamente lento quando
comparado com outros tipos de tremor (4 a 7 Hz) e ocorre
principalmente quando o membro está em repouso. Quando
o paciente movimenta um membro, o tremor ali presente
cessa de imediato para retornar logo após o fim do
movimento.
No início da doença, o tremor ocorre em um lado e
assim permanece por períodos variáveis. Após algum
tempo, o outro lado também é acometido, podendo
aparecer na cabeça, mandíbula, lábio e membros
inferiores. Podem se agravar com o estresse emocional e
desaparecem durante o sono. Deve ser diferenciado do
tremor essencial que se caracteriza por ser de alta
frequência, piora com as atitudes e movimentos
voluntários, além de se intensificar muito em situações
associadas a maior ansiedade.
Rigidez
A rigidez muscular decorre do aumento da resistência
que os músculos oferecem quando um segmento do corpo é
deslocado passivamente. Em outras palavras: para cada
grupo de músculos existe outro que possui atividade
antagonista. Dessa forma, quando um músculo é ativado
para realizar determinado movimento, em condições
normais, seu antagonista é inibido para facilitar esse
movimento. Na doença de Parkinson, essa inibição não é
feita de modo eficaz, provavelmente como resultado de
anormalidade de influências descendentes que chegam à
medula espinal. Como consequência, os músculos ficam
mais tensos e contraídos e o paciente se sente rígido e com
pouca mobilidade.
Quando determinado membro é deslocado passivamente
pelo examinador, observam-se, superpostos à rigidez,
curtos períodos de liberação rítmicos e intermitentes,
fenômeno que recebe o nome de sinal da roda dentada. A
rigidez é responsável pelas alterações posturais do
indivíduo. A postura geral do paciente se modifica: existe
predominância dos músculos flexores, de modo que a
cabeça permanece fletida sobre o tronco, este, sobre o
abdome, os joelhos parcialmente fletidos e os membros
superiores são mantidos ligeiramente à frente com os
antebraços semifletidos na altura do cotovelo.
Acinesia e bradicinesia
O termo acinesia refere-se à redução da quantidade de
movimento, enquanto a bradicinesia significa lentidão na
execução do movimento. O paciente apresenta redução da
movimentação espontânea em todas as esferas; os termos
“fraqueza”, “cansaço” e “incoordenação” são bastante
utilizados pelos pacientes para descrevê-la. Nos braços, a
bradicinesia geralmente começa distalmente com
diminuição da destreza manual dos dedos, com dificuldade
em realizar tarefas simples, como abotoar roupas, amarrar
cadarços, digitar ou tirar moedas do bolso. Nas pernas,
queixas comuns relacionadas à bradicinesia ao caminhar
incluem arrastar as pernas, passos mais curtos (arrastados)
ou sensação de instabilidade. Os pacientes também podem
ter dificuldade em se levantar de uma cadeira ou sair de
um carro. À medida que a doença progride, pode ocorrer
congelamento da marcha e festinação. A mímica facial, por
sua vez, torna-se menos expressiva, transmitindo com
menor intensidade sentimentos e emoções que por sua vez
se mantêm preservados. A caligrafia torna-se menos legível
e de tamanho reduzido, fenômeno conhecido por
micrografia. As atividades diárias, antes realizadas com
rapidez e desembaraço, são agora lentificadas, à custa de
muito esforço, inclusive o caminhar. A bradicinesia é a
principal causa de incapacidade na doença de Parkinson.
Instabilidade postural
A instabilidade postural é um comprometimento dos
reflexos posturais mediados centralmente que causam
sensação de desequilíbrio e grande risco de quedas. É
testada clinicamente com o teste de “puxar”, no qual o
examinador fica atrás do paciente e o puxa firmemente
pelos ombros. Pacientes com reflexos posturais normais
devem ser capazes de manter o equilíbrio e a retropulsão
não mais do que um passo. Pacientes com doença de
Parkinson e instabilidade postural, por outro lado, tendem
a cair ou dar vários passos para trás.
Como a instabilidade postural geralmente não aparece
no curso inicial da doença, os pacientes com sinais
parkinsonianos que caem no início do curso da doença
precisam ser investigados para outras síndromes
parkinsonianas para diagnóstico diferencial, como paralisia
supranuclear progressiva ou atrofia de múltiplos sistemas.
Depressão
Sintomas depressivos ocorrem em 40 a 50% dos
pacientes, ocasionalmente como queixa inicial. Embora
considerada reativa a uma condição que limita a atividade
normal, pacientes com doença de Parkinson costumam ter
depressão mais frequentemente se comparados com
pacientes portadores de outras doenças ainda mais
incapacitantes.
Em alguns pacientes, a depressão é acompanhada de
ansiedade e raramente de episódios de agitação. A
intensidade dos sintomas depressivos pode variar desde
quadros leves até aqueles mais graves, em que a depressão
se torna o sintoma mais importante e um dos fatores
determinantes de incapacidade. Nesses casos, o tratamento
específico com medicamentos antidepressivos e
psicoterapia de apoio é fundamental para o controle dos
sintomas.
Alterações emocionais também são comuns. Pacientes
podem sentir-se inseguros e temerosos quando submetidos
a situações novas. Podem evitar sair ou viajar, e muitos
tendem a se retrair e a evitar contatos sociais. Alguns
perdem a motivação e ficam excessivamente dependentes
dos familiares.
Distúrbios do sono
Compreendem ampla gama de sintomas que incluem:
dificuldade em conciliar o sono, sono fragmentado,
inversão do ciclo vigília-sono, síndrome das pernas
inquietas. Esse fenômeno ocorre como resultado de uma
combinação de fatores (que incluem frequentes cochilos
durante o dia e dificuldade progressiva para dormir à
noite). São frequentes os sonhos “reais” ou “vívidos” (em
que o paciente tem dificuldade em distinguir o sonho da
realidade) e o distúrbio de comportamento do sono REM
(rapid eye movement, em que o paciente parece “atuar”
durante o sonho, com movimentos dos membros e
verbalizações).
Distúrbios cognitivos
Durante os primeiros anos da doença, a maior parte dos
pacientes não apresenta declínio intelectual. Isso significa
que a capacidade de raciocínio, percepção e julgamento de
modo geral se encontram conservadas. Entretanto, alguns
pacientes relatam dificuldades com a memória (geralmente
na forma de “brancos” momentâneos), cálculos e em
atividades que requerem orientação espacial. Tais
alterações podem ocorrer em qualquer estágio da doença,
mas são mais intensas nas fases mais evoluídas e nos
pacientes mais idosos.
Demência pode ocorrer em mais da metade dos
pacientes nos casos mais avançados. Quando ocorre no
início da doença, deve-se levar em conta a possibilidade de
outros diagnósticos, como a doença de corpos de Lewy. Em
pacientes idosos, os próprios medicamentos
antiparkinsonianos podem contribuir para a produção de
alterações mentais. Por exemplo, o uso de anticolinérgicos
pode resultar em distúrbios de memória e, em casos mais
graves, confusão mental e alucinações.
Disfunção autonômica
Problemas autonômicos na doença de Parkinson incluem
ortostase, constipação, disfagia, diaforese, dificuldades
urinárias e disfunção sexual.
A hipotensão ortostática é muito comum, mesmo
relativamente cedo no curso da doença, com uma
prevalência cumulativa de aproximadamente 60%. Os
fatores de risco incluem idade avançada, disfunção
cognitiva e maior duração da doença. Além da doença em
si, a hipotensão ortostática pode ser agravada ou causada
por agentes antiparkinsonianos, incluindo levodopa,
agonistas da dopamina e inibidores da monoamina oxidase
tipo B (MAO B) e outras drogas, particularmente
bloqueadores alfa-adrenérgicos, como tansulosina para
prostatismo.
Sintomas urinários comuns incluem frequência,
urgência e incontinência de urgência, e podem surgir como
resultado da própria doença ou pela ação de alguns
medicamentos. Na avaliação urodinâmica pode-se
evidenciar a redução da capacidade de armazenamento da
bexiga devido às contrações involuntárias do músculo
detrusor nos estágios iniciais do enchimento da bexiga.
A disfunção sexual pode variar de hipoatividade a
hipersexualidade e pode afetar até 25% dos pacientes. O
comportamento sexual hipoativo na doença de Parkinson
geralmente se manifesta como diminuição do interesse e
impulso e pode ser multifatorial, entre eles a depressão, a
rigidez axial e a bradicinesia. Pacientes do sexo masculino
podem ter incapacidade de atingir ou manter uma ereção,
enquanto pacientes do sexo feminino podem apresentar
aperto vaginal, secura, incapacidade de atingir o orgasmo
ou micção involuntária durante o sexo.
Distúrbios da fala
Podem estar presentes no início da doença e tendem a
se agravar com o passar do tempo. A voz fica mais fraca, o
volume de voz diminui e pode haver rouquidão. Outra
característica marcante é o que se denomina fala
monótona: as frases são emitidas de modo constante,
pausado, com perda da entonação e cadência naturais que
conferem à fala sua musicalidade e capacidade de
expressão emocional. Alguns pacientes tendem a acelerar o
ritmo da fala, de modo a encurtar o tempo de emissão de
uma frase, embaralhando as palavras e dificultando sua
compreensão.
Sialorreia
Ao contrário do que se imaginava, esse sintoma não
decorre do aumento de produção de saliva, mas da maior
dificuldade em degluti-la. Em condições normais, engole-se
saliva automaticamente à medida que vai sendo produzida.
Na doença de Parkinson, esse comportamento motor
automático (assim como vários outros) deixa de ser
realizado, o que leva a acúmulo de saliva, que pode
escorrer pelo canto da boca. Medicações anticolinérgicas
são benéficas, mas não devem ser indicadas para o idoso.
Injeções de toxina botulínica nas glândulas
submandibulares são consideradas o tratamento mais
eficaz e seguro.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da doença de Parkinson é essencialmente
clínico. As primeiras manifestações ocorrem em um dos
lados do corpo, geralmente nos membros superiores.
Discreto tremor em um dos dedos da mão ou diminuição do
balanço automático do braço durante a marcha geralmente
constituem as primeiras manifestações motoras.
Bradicinesia mais tremor ou rigidez deve estar presente
para considerar o diagnóstico. Além disso, uma resposta
satisfatória com levodopa corrobora positivamente o
diagnóstico. Embora não existam marcadores biológicos
para a doença de Parkinson, recentemente têm sido
utilizados exames de imagem que podem auxiliar no
diagnóstico clínico em casos mais complexos quando há
dúvidas diagnósticas.
O exame de tomografia computadorizada com emissão
de fótons (SPECT-CT, single photon emission computed
tomography), com utilização de isótopos radioativos, como
o [99mTc] Trodat, permite a estimativa de depleção
dopaminérgica pré-sináptica presente na doença de
Parkinson e outros parkinsonismos neurodegenerativos (p.
ex., atrofia de múltiplos sistemas, paralisia supranuclear
progressiva). Esse exame é altamente preciso (98 a 100%
de sensibilidade e especificidade) na detecção de perda de
células nigroestriatais em indivíduos com parkinsonismo,
útil na distinção entre doença de Parkinson e tremor
essencial.
A ressonância magnética pode ser considerada para
excluir diagnósticos diferenciais como outras síndromes
parkinsonianas, acidente vascular encefálico ou
hidrocefalia. Técnicas avançadas têm potencial diagnóstico
e prognóstico futuro em pesquisas.
O exame de ultrassom com Doppler transcraniano de
estruturas cerebrais profundas pode revelar aumento da
ecogenicidade da substância negra sugestiva da doença de
Parkinson. Essa alteração ocorre em mais de 90% dos
pacientes com doença de Parkinson e sugere
comprometimento funcional do sistema dopaminérgico
nigroestriatal. Entretanto, o alto índice de falsos positivos
limita a utilização do método como teste diagnóstico.
Diagnóstico diferencial
Anti-hipertensivos e Antidepressivos:
antiarrítmicos: Lítio.
Metildopa. Sertralina.
Reserpina. Fluoxetina.
Amiodarona. Paroxetina.
TRATAMENTO
Tratamento farmacológico
Levodopa
É o medicamento mais eficaz no alívio dos sintomas
parkinsonianos, mas nem sempre deve ser administrada no
início da doença. Nessa fase, a maioria dos especialistas
prefere iniciar o tratamento com medicamentos menos
potentes e reservar a levodopa para as fases mais
avançadas. A levodopa é um aminoácido (3,4-di-
hidroxifenilalanina) que se transforma em dopamina pela
ação da enzima dopadescarboxilase.
A levodopa é rapidamente absorvida na porção proximal
do intestino delgado. Alguns fatores, como redução da
motilidade do estômago e ingestão de alimentos ricos em
proteínas próxima do horário da tomada da medicação,
podem retardar ou mesmo reduzir a absorção da levodopa.
Parte dela é metabolizada em dopamina antes de conseguir
atingir o cérebro. A enzima responsável por essa
transformação é a dopadescarboxilase. Por esse motivo, a
levodopa é sempre administrada com uma substância que
inibe a dopadescarboxilase periférica.
Os medicamentos à base de levodopa disponíveis no
mercado já vêm associados a um inibidor da
dopadescarboxilase. Existem dois inibidores utilizados
clinicamente: carbidopa e benserazida.
Em geral, após 20 a 30 minutos da tomada da
medicação o efeito antiparkinsoniano começa a aparecer.
Como discutido anteriormente, alguns fatores, como a
dieta, podem retardar o início do efeito terapêutico. A
duração do efeito de cada dose também é variável e
depende, entre outros fatores, do estágio da doença. Nas
fases iniciais, quando ainda existem células cerebrais
capazes de funcionar como “depósitos” e armazenar a
dopamina produzida pela levodopa, cada dose pode ser
eficaz durante mais de 6 horas, de modo que 2 a 3
tomadas/dia podem ser suficientes para o controle dos
sintomas.
Nos primeiros 5 anos de tratamento com levodopa os
sintomas podem ser controlados com relativa facilidade.
Após esse período, muitos pacientes começam a
experimentar complicações do tratamento. À medida que a
doença progride e mais células cerebrais degeneram, o
cérebro perde a capacidade de armazenamento de
dopamina e a duração do efeito torna-se progressivamente
menor. Observa-se então o fenômeno de “deterioração do
fim da dose”, em que os sintomas voltam a aparecer antes
da próxima tomada da medicação. O tempo de benefício vai
sendo encurtado progressivamente ao longo do tempo, o
que exige o encurtamento progressivo dos intervalos de
administração da levodopa.
Outra complicação da levodopaterapia é representada
pelo aparecimento de discinesias. Discinesias são
movimentos involuntários anormais de natureza contínua,
em forma de dança, que podem acometer membros, tronco
ou face e lembram os movimentos da coreia. Podem ocorrer
em várias situações. A mais fácil de ser corrigida é a que
ocorre quando a levodopa é utilizada em excesso, o que
resulta em estimulação excessiva dos receptores de
dopamina. Nesses casos, a simples redução da dose basta
para resolver o problema. Entretanto, na maioria das vezes,
a situação é mais complexa, pois as discinesias resultam de
alterações na maneira como os receptores respondem à
dopamina, e sua resolução vai depender de ajustes mais
complexos que envolvem reorganização das tomadas
diárias e associação com outros medicamentos. Essa fase
do tratamento costuma ser crítica, e o contato com o
neurologista deve ser constante, pois ajustes frequentes
podem ser necessários.
Podem ocorrer distúrbios psiquiátricos na forma de
alucinações, principalmente quando são utilizadas doses
mais altas. As alucinações são quase sempre visuais, como
a percepção de pessoas estranhas ou já falecidas dentro de
casa. São também comuns os delírios, que são ideias ou
crenças falsas e sem qualquer embasamento lógico que são
interpretadas como verdadeiras. Exemplo comum de delírio
produzido pelo uso de medicação antiparkinsoniana são os
chamados delírios persecutórios, em que ocorre a
percepção ilógica de que alguém, geralmente conhecido ou
familiar, esteja conspirando contra sua pessoa. Em alguns
casos, a simples redução da medicação antiparkinsoniana
pode resolver esses sintomas. Outras vezes, entretanto,
torna-se necessário o emprego de medicação antipsicótica
específica.
Náuseas e vômitos podem ocorrer no início do
tratamento. Podem ser evitados com o uso de doses
pequenas no início, seguidas de aumento gradual. Outras
vezes, pode ser necessário o uso de um antiemético como a
domperidona.
Os medicamentos que contêm levodopa disponíveis no
mercado são: Prolopa® (levodopa 200 mg e benserazida 50
mg), Prolopa® BD (levodopa 100 mg e benserazida 25 mg),
Prolopa® DR (levodopa 200 mg e benserazida 50 mg,
®
comprimido de dupla liberação), Prolopa HBS (levodopa
100 mg e benserazida 25 mg, cápsula de liberação lenta),
Prolopa® dispersível (levodopa 100 mg e benserazida 25
mg, comprimido dispersível), Levocarb e Carbidol®
(levodopa 250 mg e carbidopa 25 mg).
Agonistas da dopamina
São substâncias que têm ação semelhante à da
dopamina. Diferem da levodopa por não necessitarem de
transformação enzimática para serem ativas. Por outro
lado, como são substâncias que apenas mimetizam a ação
da dopamina, seu efeito antiparkinsoniano não é tão
potente.
O efeito farmacológico dos agonistas tem como base sua
ação nos chamados receptores da dopamina. Esses
receptores, localizados nas células do estriado, são
diretamente influenciados pela dopamina, que
normalmente é produzida na substância negra. Quando
ativados por um agonista, esses receptores respondem de
maneira semelhante, de modo que a função motora pode
ser restabelecida a partir desse modo alternativo de
estimulação. Os primeiros agonistas utilizados eram
derivados da ergotamina, como a bromocriptina.
Entretanto, os efeitos colaterais relacionados com a
ergotamina (isquemia de extremidades, fibrose intersticial)
levaram ao desenvolvimento de novas alternativas. Em
nosso meio estão disponíveis dois agonistas não
ergolínicos: pramipexol e rotigotina.
O pramipexol tem alta afinidade por receptores
dopaminérgicos D2 e D3. Estudos farmacocinéticos
demonstram que o pramipexol é rápida e eficazmente
absorvido após a ingestão, alcança picos plasmáticos em 1
a 3 horas e sua meia-vida é de 8 a 12 horas. O pramipexol
deve ser titulado gradativamente até a obtenção de efeito
terapêutico adequado. A dose inicial é de 0,375 mg/dia,
com incrementos semanais até a dose máxima de 4,5
mg/dia em 3 tomadas. Existem duas formulações
disponíveis que diferem no modo de absorção. A
formulação de absorção rápida deve ser administrada 3
vezes/dia, e a apresentação de absorção prolongada deve
ser administrada 1 vez/dia pela manhã. As seguintes
posologias estão disponíveis para a formulação de liberação
prolongada: 0,375, 0,75, 1,5 e 3 mg.
A rotigotina tem afinidade por receptores D3, D2 e D1. É
administrada em forma de adesivo transdérmico e
possibilita a estimulação dopaminérgica eficaz e de
potência equivalente aos agonistas utilizados por via oral.
Os adesivos liberam 2, 4, 6 ou 8 mg de substância ativa em
24 horas. A dose inicial recomendada é de adesivo de 2 mg,
aplicado 1 vez/dia, a qual, de acordo com a tolerância, pode
ser aumentada em 2 mg/semana até, em média, 8 mg/dia. A
menor dose eficaz é de 4 mg/dia. Os efeitos colaterais mais
frequentes incluem hipotensão ortostática, taquicardia,
sonolência, insônia, sonhos anormais, alucinações
(raramente reações paranoides), dermatite de contato e
prurido nos locais de aplicação. Episódios de sonolência
irresistível, transtornos de controle do impulso, como
hipersexualidade e jogo patológico, são efeitos adversos
comuns a todos os agonistas da dopamina.
Inibidores da monoaminoxidase-B
A enzima monoaminoxidase-B (MAO-B) ocorre
principalmente no cérebro e age na transformação da
dopamina em seu metabólito, o ácido homovanílico. É,
portanto, uma das enzimas responsáveis pela remoção
natural da dopamina após ter sido utilizada pelo seu
receptor. Medicamentos inibidores da MAO-B, como a
selegilina, atuam reduzindo a velocidade de remoção da
dopamina, aumentando seu tempo de vida útil e elevando
seus níveis. O efeito sintomático obtido com a selegilina é
discreto, mas muitas vezes suficiente para o controle dos
sintomas iniciais da doença. Quando administrado em
conjunto com a levodopa, pode potencializar sua eficácia,
aumentando a duração do efeito antiparkinsoniano. Deve
ser administrada na primeira parte do dia em uma ou duas
tomadas. Quando administrada à noite, pode causar
insônia.
Mais recentemente, a razagilina e a safinamida vieram
integrar o arsenal de inibidores da MAO-B disponíveis para
o tratamento de Parkinson. Têm sido usadas principalmente
como adjuvantes à levodopaterapia, podendo auxiliar no
controle de complicações motoras como discinesias ou
“wearing-off”.
As doses habituais dos inibidores da MAO-B são:
Selegilina: 5 a 10 mg/dia.
Rasagilina: 0,5 a 1 mg/dia.
Safinamida: 50 a 100 mg/dia.
Inibidores da catecol-O-metiltransferase
Outra enzima importante no metabolismo da dopamina é
a catecol-O-metiltransferase (COMT). Ocorre tanto no
cérebro quanto fora dele e é responsável, junto com a
MAO-B, pela remoção de dopamina. Entretanto, essa
enzima atua também sobre a levodopa, transformando-a em
3-O-metildopa, uma substância sem efeito terapêutico.
Dessa forma, parte da levodopa é perdida, pois somente a
porção restante vai entrar no cérebro e ser transformada
em dopamina.
Medicamentos que inibem a COMT, como a entacapona
e a tolcapona, são utilizados para aumentar a eficácia da
levodopa nas fases em que ocorrem oscilações importantes
do efeito terapêutico. Sua administração deve ser feita
concomitantemente às tomadas de levodopa. É necessário o
controle das enzimas hepáticas durante seu uso devido à
hepatotoxicidade que esses medicamentos podem
apresentar, principalmente na fase inicial do tratamento.
Amantadina
Originalmente um antiviral, teve sua ação
antiparkinsoniana descoberta por acaso. Apresenta ação
apenas moderada e tem sido ainda hoje bastante utilizada
nas fases iniciais da doença. Seu perfil farmacológico é
curioso – foi considerada durante muitos anos apenas como
tendo leve ação anticolinérgica e dopaminérgica.
Atualmente, sabe-se que a amantadina atua também como
antagonista de receptores excitatórios. Tais receptores
existem normalmente em várias regiões do cérebro,
incluindo os gânglios da base, e respondem a determinados
neurotransmissores excitatórios, como o glutamato. Em
determinadas situações, essa transmissão excitatória torna-
se exagerada, podendo levar a dano celular em um
processo denominado excitotoxicidade. O uso da
amantadina ampliou-se nos últimos anos como adjuvante
nos casos de flutuações motoras importantes, e há quem
defenda a possibilidade de que possa atuar como droga
neuroprotetora.
Efeitos colaterais da amantadina incluem alterações
vasculares periféricas na forma de manchas cutâneas nas
pernas (livedo reticular), edema de membros inferiores,
secura da boca, obstipação intestinal, confusão mental e
alucinações. Esses efeitos adversos limitam sua indicação
no idoso.
Anticolinérgicos
São substâncias que inibem a ação da acetilcolina.
Foram os primeiros medicamentos utilizados no tratamento
da doença de Parkinson. Anticolinérgicos atuam como
antiparkinsonianos ao restabelecer o equilíbrio entre
acetilcolina e dopamina que ocorre na doença de
Parkinson. Têm ação apenas moderada e agem
principalmente contra o tremor. Nem sempre são bem
tolerados, principalmente em pacientes idosos. Entretanto,
pode ser uma boa opção em pacientes jovens em quem se
deseja adiar a introdução da levodopa e quando o tremor é
o sintoma predominante.
Estão disponíveis em nosso meio o biperideno e o
triexifenidil, que são equivalentes, mas podem ser
tolerados de modo diverso em cada paciente. Os efeitos
colaterais podem ser periféricos e centrais. Os periféricos
incluem boca seca, borramento visual, obstipação intestinal
e retenção urinária. Os efeitos centrais são mais frequentes
em idosos e incluem: sonolência, perda de memória,
confusão e alucinações. Por essas considerações, não
devem ser prescritos para o idoso.
Estratégias de resgate sob demanda
Deterioração de fim de dose
Esse fenômeno ocorre quando o efeito da dose
administrada se torna progressivamente mais curto e passa
a ter duração inferior a 4 horas. Nesses casos, as
estratégias terapêuticas incluem as seguintes:
Fenômeno on-off
Nas fases mais avançadas da doença de Parkinson
alguns pacientes apresentam períodos off, que aparecem
de modo abrupto e imprevisível, sem relação aparente com
a tomada de medicamentos. Quando retornam à fase on, o
benefício terapêutico costuma ser consideravelmente
prejudicado pela ocorrência de discinesias. O tratamento
de pacientes nessa fase constitui grande desafio, mesmo
para o clínico experimentado. Algumas medidas podem ser
tentadas, mas nem sempre os benefícios são evidentes. A
abordagem desses casos inclui:
Discinesias
São movimentos involuntários anormais, geralmente
com características coreiformes, mas podem se manifestar
como distonia, mioclonias ou tiques. A emergência de
discinesias está relacionada com o uso crônico da levodopa,
mas pode ocorrer ou se agravar com outros
dopaminérgicos, desde que tenha havido exposição prévia à
levodopa. São mais comuns e mais intensas em pacientes
mais jovens e podem acometer qualquer região do corpo.
As discinesias são reversíveis e desaparecem com a
redução ou retirada da medicação dopaminérgica.
Entretanto, muitas vezes, a simples redução da dose
resulta em piora do quadro e reaparecimento dos sintomas
da doença de Parkinson. Em certos casos, os limites entre a
dose mínima requerida para o controle da doença de
Parkinson e a dose máxima permitida pelas discinesias são
bastante estreitos.
Discinesia de pico de dose é a forma mais comum de
discinesia. Está diretamente relacionada com o pico de
concentração plasmática e costuma ocorrer de forma
previsível. No início, é bem controlada com a redução das
doses individuais e do intervalo entre as tomadas.
Eventualmente, torna-se necessária a redução da dose total
de levodopa ou a retirada da selegilina. É comum o
aparecimento de discinesias após a introdução de
inibidores da COMT no regime terapêutico, o que pode ser
evitado tendo-se sempre em mente a necessidade de
redução da levodopa quando um inibidor da COMT for
administrado.
Nas fases mais avançadas da doença de Parkinson, as
discinesias tornam-se mais intensas e prolongadas, muitas
vezes persistindo durante todo o tempo do período on.
Nesses casos, a associação de um agonista da dopamina
permite a redução da dose da levodopa e a melhora das
discinesias sem prejuízo do efeito antiparkinsoniano.
Quedas
Raramente se observam quedas nas fases iniciais da
doença de Parkinson, particularmente em pacientes não
idosos. Quando ocorrem nessas condições, deve ser
reavaliado o diagnóstico de doença de Parkinson, sendo
consideradas outras possibilidades diagnósticas, por
exemplo, a paralisia supranuclear progressiva ou outras
formas de parkinsonismo atípico. Entretanto, nas fases
mais avançadas de doença de Parkinson, particularmente
nos indivíduos mais idosos, as quedas tornam-se mais
frequentes e motivo de preocupação constante em virtude
de seu potencial de morbidade e mortalidade.
De modo geral, as quedas relacionadas com a doença de
Parkinson podem ser atribuídas a quatro causas básicas:
1. Bloqueios motores.
2. Instabilidade postural.
3. Discinesias.
4. Hipotensão postural.
Tratamento cirúrgico
Cuidados paliativos
BIBLIOGRAFIA
Araki I, Kitahara M, Oida T, Kuno S. Voiding dysfunction and Parkinson’s
disease: urodynamic abnormalities and urinary symptoms. J Urol.
2000;164:1640.
Armstrong MJ, Okun MS. Diagnosis and treatment of Parkinson disease: a
review. JAMA. 2020;323(6):548-60.
Asahina M, Vichayanrat E, Low DA, Iodice V, Mathias CJ. Autonomic
dysfunction in parkinsonian disorders: assessment and pathophysiology. J
Neurol Neurosurg Psychiatry. 2013;84:674.
Ascherio A, Schwarzchild MA. The epidemiology of Parkinson’s disease: risk
factors and prevention. Lancet Neurol. 2016;15(12):1257-72.
Bajaj N, Hauser RA, Grachev ID. Clinical utility of dopamine transporter single
photon emission CT (DaT-SPECT) with (123I) ioflupane in diagnosis of
parkinsonian syndromes. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2013;84(11):1288-
95.
Barbosa ER, Limongi JCP, Cummings J. Parkinson’s disease. In: Miguel EC,
Rauch SL, Leckman JF, editors. The psychiatrics clinics of North America:
neuropsychiatry of the basal ganglia. Philadelphia: WB Saunders; 1997.
Brown RG, Jahanshahi M, Quinn N, Marsden CD. Sexual function in patients
with Parkinson’s disease and their partners. J Neurol Neurosurg Psychiatry.
1990;53:480.
Connolly BS, Lang AE. Pharmacological treatment of Parkinson’s disease: a
review. JAMA. 2014;311(16):1670-83.
Dhall R, Kreitzman DL. Advances in levodopa therapy for Parkinson’s disease:
review of Rytary (carbidopa and levodopa) clinical efficacy and safety.
Neurology. 2016;86 (14 Suppl 1):S13-24.
Dickson DW, Braak H, Duda JE, Duyckaerts C, Gasser T, Halliday GM, et al.
Neuropathological assessment of Parkinson’s disease: refining the
diagnostic criteria. Lancet Neurol. 2009;8(12):1150-7.
Findley LJ, Gresty MA, Halmagyi GM. Tremor, the cogwheel phenomenon and
clonus in Parkinson’s disease. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1981; 44:534.
Grimes D, Fitzpatrick M, Gordon J, Miysaki J, Fon EA, Schlossmacher M, et al.
Canadian guideline for Parkinson disease. CMAJ. 2019 Sep 9;191:E989-
1004.
Halliday GM, Holton JL, Revesz T, Dickson DW. Neuropathology underlying
clinical variability in patients with synucleinopathies. Acta Neuropathol.
2011;122(2):187-204.
Hand A, Gray WK, Chandler BJ, Walker RW. Sexual and relationship dysfunction
in people with Parkinson’s disease. Parkinsonism Relat Disord. 2010;16:172.
Hiorth YH, Pedersen KF, Dalen I, Tynes O-B, Alves G. Orthostatic hypotension
in Parkinson disease: a 7-year prospective population-based study.
Neurology. 2019;93:e1526. http
Hoehn MM, Yahr MD. Parkinsonism: onset, progression and mortality.
Neurology. 1967; 7:427.
Isaacson SH, Fisher S, Gupta F, Hermanowicz N, Kremens DE, Lew MF, et al.
Clinical utility of DaTscanTM imaging in the evaluation of patients with
parkinsonism: a US perspective. Expert Rev Neurother. 2017;17(3):219-225.
Jellinger KA, Korczyn AD. Are dementia with Lewy bodies and Parkinson’s
disease dementia the same disease? BMC Med. 2018;16(1):34.
Kalia LV, Lang AE. Parkinson’s disease. Lancet. 2015; 386(9996):896-912.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(14)61393-3.
Koller WC, Vetere-Overfield B, Williamson A, et al. Sexual dysfunction in
Parkinson’s disease. Clin Neuropharmacol. 1990;13:461.
Kouli A, Torsney KM, Kuan WL. Parkinson’s disease: etiology, europathology,
and pathogenesis. In: Stoker TB, Greenland JC, editors. Parkinson’s disease:
pathogenesis and clinical aspects. Brisbane: Codon Publications; 2018.
Available: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK536722/.
Lang AE. When and how should treatment be started in Parkinson disease?
Neurology. 2009;72(7 Suppl):S39-43.
Lemack GE, Dewey RB Jr, Roehrborn CG, O’Suilleabhlain PE, Zimmem PE.
Questionnaire-based assessment of bladder dysfunction in patients with mild
to moderate Parkinson’s disease. Urology. 2000;56:250.
Limongi JCP. Conhecendo melhor a doença de Parkinson. São Paulo: Plexus;
2001.
Louis ED, Klatka LA, Liu Y, Fahn S. Comparison of extrapyramidal features in
31 pathologically confirmed cases of diffuse Lewy body disease and 34
pathologically confirmed cases of Parkinson’s disease. Neurology.
1997;48:376.
Martin WE, Loewenson RB, Resch JA, Baker AB. Parkinson’s disease. clinical
analysis of 100 patients. Neurology. 1973;23:783.
Olanow CW, Stern MB, Sethi K. The scientific and clinical basis for the
treatment of Parkinson disease. Neurology. 2009;72(21 Suppl 4):S1-136.
Pagano G, Ferrara N, Brooks DJ, Pavese N. Age at onset and Parkinson disease
phenotype. Neurology. 2016;86:1400.
Pahwa R, Factor SA, Lyons KE, Ondo WG, Gronseth G, Bronte-Stewart H, et al.
Practice parameter: treatment of Parkinson disease with motor fluctuations
and dyskinesia (an evidence-based review): report of the Quality Standards
Subcommittee of the American Academy of Neurology. Neurology.
2006;66(7):983-95.
Postuma RB, Berg D, Stern M, Poewe W, Olanow CW, Oertel W, et al. MDS
clinical diagnostic criteria for Parkinson’s disease. Mov Disor.
2015;30(12):1591-601.
Prange S, Metereau E, Thobois S. Structural imaging in Parkinson’s disease:
new developments. Curr Neurol Neurosci Rep. 2019;19(8):50.
Pringsheim T, Jette N, Frolkis A, Steeves TD. The prevalence of Parkinson’s
disease: a systematic review and meta-analysis. Mov Disord.
2014;29(13):1583-90.
Rajput AH, Rozdilsky B, Ang L. Occurrence of resting tremor in Parkinson’s
disease. Neurology. 1991;41:1298.
Roger G, Davies D, Pink J, Cooper P. Parkinson’s disease: summary of updated
Nice guidance. BMJ. 2017;358:j1951.
Scott GD, Lim MM, Drake MG, Woltjer R, Quinn JF. Onset of skin, gut, and
genitourinary prodromal Parkinson’s disease: a study of 1.5 million veterans.
Mov Disord. 2021;36:2094.
Senard JM, Raï S, Lapeyre-Mestre M, et al. Prevalence of orthostatic
hypotension in Parkinson’s disease. J Neurol Neurosurg Psychiatry.
1997;63:584.
Stoessl AJ, Lehericy S, Strafella AP. Imaging insights into basal ganglia
function, Parkinson’s disease, and dystonia. Lancet. 2014;384(9942):532-44.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(14)60041-6.
Suwijn SR, van Boheemen CJ, de Haan RJ, Tissingh G, Booij J, de Bie RM. The
diagnostic accuracy of dopamine transporter SPECT imaging to detect
nigrostriatal cell loss in patients with Parkinson’s disease or clinically
uncertain parkinsonism: a systematic review. EJNMMI Res. 2015;5:12.
Twelves D, Perkins KS, Counsell C. Systematic review of incidence studies of
Parkinson’s disease. Mov Disord. 2003;18(1):19-31.
Walton-Hadlock JL, Fahn S, Keiburtz K, Tanner CM, Parkinson Study Group.
Levodopa and the progression of Parkinson’s disease. N Engl J Med.
2005;352(13):1386.
Diagnóstico e tratamento das demências vasculares e 39
potencialmente reversíveis
DEMÊNCIA VASCULAR
Definição
Dados epidemiológicos
Etiologia e fisiopatologia
FIGURA 1 Imagem axial FLAIR demonstra infarto recente em área estratégica envolvendo o tálamo
direito.
Fonte: acervo pessoal de Roberta Diehl Rodriguez.
Quadro clínico
FIGURA 2 A. Arteriolosclerose hialina caracterizada pelo depósito de material hialino entre o endotélio
e a camada média (aumento de 100 vezes). B. Microinfarto crônico em córtex temporal com cavitação
(seta) (aumento de 25 vezes).
Fonte: Biobanco para Estudos em Envelhecimento da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. Imagens cedidas por Roberta Diehl Rodriguez.
Diagnóstico
FIGURA 3 Imagens axiais FLAIR demonstram microangiopatia como hipersinal confluente (A e B),
além de espaços perivasculares proeminentes em núcleos da base (A).
Fonte: acervo pessoal de Roberta Diehl Rodriguez.
Problema Orientação
TABELA 2 Tratamento não farmacológico dos sintomas comportamentais em pacientes com
demência
Agitação, agressividade ou delírios Não discutir com o paciente, respeitar sua opinião mesmo
quando incorreta.
Evitar ameaças ou censura.
Redirecionar a atenção do paciente para uma atividade
prazerosa.
Reconhecer que o paciente está chateado, tranquilizá-lo e
oferecer ajuda.
Evitar expor o paciente a situações que parecem desencadear o
comportamento agressivo ou agitado.
Déficits sensoriais (visuais e/ou Falar lenta e calmamente em um tom de voz normal.
auditivos) Avaliar e otimizar visão e audição através do uso de óculos e
prótese.
Desorientação temporal e espacial Orientar o paciente quanto a local e data atuais sempre que
necessário.
Definição
Dados epidemiológicos
Etiologia e fisiopatologia
Quadro clínico
As etiologias relacionadas com o surgimento de demências de caráter
reversível estão associadas a um início de sintomatologia pré-senil ou na
fase adulta intermediária. Os estudos costumam indicar o início dos
sintomas em média antes dos 70 anos e sinalizam uma redução da incidência
das causas reversíveis nos idosos mais velhos, enquanto se observa um
aumento significativo das causas irreversíveis. Para cada etiologia os
estudos sugerem uma idade média de aparecimento dos sintomas, portanto
há grande variabilidade. Por exemplo, quadros relacionados com
hidrocefalia de pressão normal possuem maior incidência de diagnóstico
entre os 60 e 79 anos, enquanto quadros relacionados com tumores tendem
a ter maior incidência em jovens adultos (a partir dos 30 anos) até o início
da fase idosa (70 anos).
Em geral, os sintomas são caracterizados de forma mais recente, ou seja,
são observados como iniciados mais rapidamente, porém com intensidade
mais leve do que aqueles caracterizados por pacientes com quadros
neurodegenerativos. A percepção subjetiva dos sintomas sinaliza uma
diferença para esses dois grandes grupos de demências. Pacientes com
demências reversíveis tendem a observar a presença dos sintomas de forma
mais rápida, uma vez que o aparecimento de queixas é em sua maioria
incompatível com o desempenho cognitivo esperado para aquela etapa do
desenvolvimento. Ao mesmo tempo, em um primeiro momento, quadros
neurodegenerativos que acometem pessoas mais idosas tendem a ter seus
sintomas caracterizados popularmente como esperados para aquela fase do
desenvolvimento.
Diagnóstico
Tratamento
BIBLIOGRAFIA
Allan LM, Rowan EN, Firbank MJ, Thomas AJ, Parry SW, Polvikoski TM, et al. Long term incidence of
dementia, predictors of mortality and pathological diagnosis in older stroke survivors. Brain.
2011;134(Pt 12):3716-27. https://doi.org/10.1093/brain/awr273.
Amenta F, Di Tullio MA, Tomassoni D. The cholinergic approach for the treatment of vascular
dementia: evidence from pre-clinical and clinical studies. Clin Exp Hypertens. 2002;24(7-8):697-
713. https://doi.org/10.1081/ceh-120015346.
American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5®). 5th
ed. American Psychiatric Pub; 2013. https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596.
Areosa SA, Grimley EV. Effect of the treatment of Type II diabetes mellitus on the development of
cognitive impairment and dementia. Cochrane Database Syst Rev. 2002;(4):CD003804.
https://doi.org/10.1002/14651858.CD003804.
Ballard C, Corbett A, Chitramohan R, Aarsland D. Management of agitation and aggression associated
with Alzheimer’s disease: controversies and possible solutions. Cur Opin Psychiatry.
2009;22(6):532-40. https://doi.org/10.1097/YCO.0b013e32833111f9.
Barker WW, Luis CA, Kashuba A, Luis M, Harwood DG, Loewenstein D, et al. Relative frequencies of
Alzheimer disease, Lewy body, vascular and frontotemporal dementia, and hippocampal sclerosis in
the State of Florida Brain Bank. Alzheimer Dis Assoc Disord. 2002;16(4):203-12.
https://doi.org/10.1097/00002093-200210000-00001.
Bello VME, Schultz RR. Prevalence of treatable and reversible dementias: a study in a dementia
outpatient clinic. Dement Neuropsychol. 2011;5(1):44-7. http://dx.doi.org/10.1590/S1980-
57642011DN05010008.
Brunnström H, Gustafson L, Passant U, Englund E. Prevalence of dementia subtypes: a 30-year
retrospective survey of neuropathological reports. Arch Gerontol Geriatr. 2009;49(1):146-9.
https://doi.org/10.1016/j.archger.2008.06.005.
Burke D, Sengoz A, Schwartz R. Potentially reversible cognitive impairment in patients presenting to a
memory disorders clinic. J Clin Neurosci. 2000;7(2):120-3. https://doi.org/10.1054/jocn.1999.0162.
Clarfield AM. The decreasing prevalence of reversible dementias: an updated meta-analysis. Arch
Intern Med. 2003;163(18):2219-29. https://doi.org/10.1001/archinte.163.18.2219.
Diamond A. Executive functions. Annu Rev Psychol. 2013;64:135-68. https://doi.org/10.1146/annurev-
psych-113011-143750.
James BD, Bennett DA, Boyle PA, Leurgans S, Schneider JA. Dementia from Alzheimer disease and
mixed pathologies in the oldest old. JAMA. 2012;307(17):1798-800.
https://doi.org/10.1001/jama.2012.3556.
Jellinger KA, Attems J. Prevalence and pathology of vascular dementia in the oldest-old. J Alzheimers
Dis. 2010;21(4):1283-93. https://doi.org/10.3233/jad-2010-100603.
Jorm AF, Jolley D. The incidence of dementia: a meta-analysis. Neurology. 1998;51(3):728-33.
https://doi.org/10.1212/wnl.51.3.728.
Kua EH, Ho E, Tan HH, Tsoi C, Thng C, Mahendran R. The natural history of dementia.
Psychogeriatrics. 2014;14(3):196-201. https://doi.org/10.1111/psyg.12053.
McGuinness B, Craig D, Bullock R, Malouf R, Passmore P. Statins for the treatment of dementia.
Cochrane Database Syst Rev. 2014;(7):CD007514.
https://doi.org/10.1002/14651858.CD007514.pub3.
McGuinness B, Todd S, Passmore P, Bullock R. Blood pressure lowering in patients without prior
cerebrovascular disease for prevention of cognitive impairment and dementia. Cochrane Database
Syst Rev. 2009;(4):CD004034. https://doi.org/10.1002/14651858.CD004034.pub3.
McKinney PA. Brain tumours: incidence, survival, and aetiology. J Neurol Neurosurg Psychiatry.
2004;75(Suppl 2):ii12-ii7. https://dx.doi.org/10.1136%2Fjnnp.2004.040741.
Moll van Charante EP, Richard E, Eurelings LS, van Dalen JW, Ligthart SA, van Bussel EF, et al.
Effectiveness of a 6-year multidomain vascular care intervention to prevent dementia (preDIVA): a
cluster-randomised controlled trial. Lancet. 2016;388(10046):797-805.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30950-3.
Ngandu T, Lehtisalo J, Solomon A, Levälahti E, Ahtiluoto S, Antikainen R, et al. A 2 year multidomain
intervention of diet, exercise, cognitive training, and vascular risk monitoring versus control to
prevent cognitive decline in at-risk elderly people (FINGER): a randomised controlled trial. Lancet.
2015;385(9984):2255-63. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)60461-5.
Ngo J, Holroyd-Leduc JM. Systematic review of recent dementia practice guidelines. Age Ageing.
2015;44(1):25-33. https://doi.org/10.1093/ageing/afu143.
O’Brien JT, Thomas A. Vascular dementia. Lancet. 2015;386(10004):1698-706.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)00463-8.
Pearce LA, McClure LA, Anderson DC, Jacova C, Sharma M, Hart RG, et al. Effects of long-term blood
pressure lowering and dual antiplatelet treatment on cognitive function in patients with recent
lacunar stroke: a secondary analysis from the SPS3 randomised trial. Lancet Neurol.
2014;13(12):1177-85. https://doi.org/10.1016/S1474-4422(14)70224-8.
Pendlebury ST, Rothwell PM. Prevalence, incidence, and factors associated with pre-stroke and post-
stroke dementia: a systematic review and meta-analysis. Lancet Neurol. 2009;8(11):1006-18.
https://doi.org/10.1016/S1474-4422(09)70236-4.
Roman GC, Tatemichi TK, Erkinjuntti T, Cummings JL, Masdeu JC, Garcia JH, et al. Vascular dementia:
diagnostic criteria for research studies. Report of the NINDS-AIREN International Workshop.
Neurology. 1993;43(2):250-60. https://doi.org/10.1212/wnl.43.2.250.
Roman GC. Vascular dementia prevention: a risk factor analysis. Cerebrovasc Dis. 2005;20(Suppl
2):91-100. https://doi.org/10.1159/000089361.
Shprecher D, Schwalb J, Kurlan R. Normal pressure hydrocephalus: diagnosis and treatment. Curr
Neurol Neurosci Rep. 2008;8(5):371-6. https://doi.org/10.1007/s11910-008-0058-2.
Suemoto CK, Ferretti-Rebustini RE, Rodriguez RD, Leite RE, Soterio L, Brucki SM, et al.
Neuropathological diagnoses and clinical correlates in older adults in Brazil: A cross-sectional
study. PLoS Med. 2017;14(3):e1002267. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002267.
Takada LT, Caramelli P, Radanovic M, Anghinah R, Hartmann AP, Guariglia CC, et al. Prevalence of
potentially reversible dementias in a dementia outpatient clinic of a tertiary university-affiliated
hospital in Brazil. Arq Neuropsiquiatr. 2003;61(4):925-9. https://doi.org/10.1590/s0004-
282x2003000600007.
Vasquez BP, Zakzanis KK. The neuropsychological profile of vascular cognitive impairment not
demented: a meta-analysis. J Neuropsychol. 2015;9(1):109-36. https://doi.org/10.1111/jnp.12039.
Walstra GJ, Teunisse S, van Gool WA, van Crevel H. Reversible dementia in elderly patients referred to
a memory clinic. J Neurol. 1997;244(1):17-22. https://doi.org/10.1007/pl00007724.
Zarow C, Wang L, Chui HC, Weiner MW, Csernansky JG. MRI shows more severe hippocampal atrophy
and shape deformation in hippocampal sclerosis than in Alzheimer’s disease. Int J Alzheimers Dis.
2011;2011:483972. https://doi.org/10.4061/2011/483972.
40 Demência com corpúsculos de Lewy
INTRODUÇÃO
A demência com corpúsculos de Lewy (DCL) – assim
denominada na quinta edição do Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders (DSM-5) – recebeu vários
nomes ao longo dos anos, como doença dos corpúsculos de
Lewy difusos, doença de Alzheimer (DA) variante com
corpúsculos de Lewy, doença dos corpúsculos de Lewy
cortical e demência senil de corpúsculos de Lewy, muito
por não se saber ao certo se é uma entidade com achado
compartilhado de corpúsculos de Lewy corticais ou se
representa um espectro da mesma doença, com
apresentações clínicas variáveis.
Uma diferença importante entre a demência na doença
de Parkinson (DP) e a DCL está no tempo entre o início da
alteração cognitiva e os sintomas motores prévios, que na
primeira geralmente acontece após 1 ano de evolução e na
segunda com menos de 1 ano.
EPIDEMIOLOGIA
A DCL é a terceira causa mais comum de demência,
atrás apenas da DA e da demência vascular. A prevalência
da doença aumenta com a idade, sendo mais comum em
homens 4:1. Pela apresentação clínica com sinais e
sintomas muito variáveis, é um desafio diagnóstico na
prática clínica atual. Um estudo de revisão de 2016
mostrou taxa de prevalência variando entre 0,3 e 24,4%.
Esses valores provavelmente são subestimados, tendo em
vista alguns estudos que mostraram maior prevalência
quando se tem o foco na identificação da doença incluindo
exame neurológico.
FISIOPATOLOGIA
Atualmente, é classificada como sinucleinopatia devido
ao fato de as inclusões neuronais de alfassinucleína
atuarem na perda neuronal e, consequentemente, nos
achados clínicos. Está associada a alterações patológicas
que se sobrepõem a outras doenças neurodegenerativas,
como DA e DP. A atrofia cortical é menos importante do que
na DA, porém com atrofia inicial importante nas áreas
límbicas, como amígdalas e giro do cíngulo. Pode
apresentar deposição de proteína beta-amiloide e placas
senis, mas alterações da proteína tau e emaranhados
neurofibrilares são incomuns. A princípio há perda
neuronal colinérgica significativa, responsável pela clínica
da doença, associada também a um déficit dopaminérgico
por morte neuronal e participação da alfassinucleína no
metabolismo de dopamina. A DCL e DP são duas
expressões diferentes de um mesmo problema subjacente.
Apesar de a DCL ser considerada uma doença
esporádica, alguns estudos têm fornecido embasamento
para considerar fatores genéticos desempenhando um
papel de até 60% de suscetibilidade da doença.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
A apresentação clínica ocorre com alteração cognitiva
progressiva, incapacitante, com curso flutuante e
inicialmente com alteração de atenção e funções executiva
e visuoespacial, ao contrário da DA, que se inicia com
preservação de memória episódica. Um estudo
acompanhado de confirmação neuropatológica mostrou que
a ausência de comprometimento visuoespacial no estágio
inicial ajuda a excluir o diagnóstico de DCL com valor
preditivo negativo de 90%. Até 85% dos pacientes podem
apresentar alterações comportamentais do sono REM
(rapid eye movement, ou movimento ocular rápido),
caracterizadas por sonhos vívidos e assustadores
acompanhados de intensa atividade motora, como
movimentos repetidos de tronco e membros e vocalizações,
podendo preceder a alteração cognitiva em até duas
décadas (Figura 1).
FIGURA 1 Modelo hipotético prodrômico da doença de Alzheimer (A) e
demência com corpúsculos de Lewy (B).
CCL: comprometimento cognitivo leve.
DIAGNÓSTICO
A suspeita diagnóstica de DCL se apresenta após a
realização de anamnese minuciosa e exame físico completo,
com achados de sinais, sintomas e evolução compatível com
a doença. Atualmente o diagnóstico é realizado a partir de
critérios clínicos propostos por um consórcio de
especialistas, com a última atualização em 2017, sendo
incorporados como critérios a avaliação com
polissonografia, cintilografia miocárdica, novos exames de
neuroimagem e eletrofisiologia. Essas alterações têm como
objetivo melhorar os subdiagnósticos realizados com os
critérios propostos anteriormente, que mostravam
especificidade de 95%, mas com sensibilidade de apenas
32% quando comparados à realização de autópsias.
Com isso, é proposta a classificação em demência com
corpúsculos de Lewy provável, possível ou menos provável
com base nos critérios descritos no Quadro 1.
Critérios de suporte:
Sensibilidade grave a antipsicóticos, instabilidade postural, quedas repetidas,
síncope ou outros episódios transitórios de falta de resposta, disfunção
anatômica grave (p. ex., constipação, hipotensão ortostática, incontinência
urinária), hipersonia, alucinações em outras modalidades, delírios
sistematizados, apatia, ansiedade e depressão.
Biomarcadores indicativos:
Captação reduzida de dopamina nos gânglios basais demonstrada por
SPECT ou PET.
Cintilografia miocárdica anormal (baixa captação de iodo 123-MIBG).
Confirmação polissonográfica de alteração do sono REM sem atonia.
QUADRO 1 Critérios revisados para o diagnóstico de demência com
corpúsculos de Lewy possível e provável
Biomarcadores de suporte:
Preservação relativa das estruturas do lobo temporal medial na TC ou RM.
Baixa captação generalizada no SPECT ou PET perfusão ou metabolismo
com redução de atividade occipital.
Atividade de onda lenta posterior proeminente no EEG com flutuações
periódicas no período pré-alfa ou faixa teta.
DCL provável:
a. Dois ou mais critérios principais, com ou sem a presença de biomarcadores;
ou
b. Um critério principal associado a pelo menos um biomarcador indicativo.
DCL possível:
a. Um critério principal na ausência de biomarcadores indicativos; ou
b. Um ou mais biomarcadores indicativos na ausência de critérios principais.
EXAMES COMPLEMENTARES
Além da anamnese e do exame físico, exames
complementares como biomarcadores indicativos ou de
suporte para diagnóstico de DCL provável ou possível
auxiliam no diagnóstico diferencial da etiologia da
síndrome demencial. Os exames inicialmente mais
solicitados são ressonância magnética (RM) e tomografia
computadorizada (TC), que mostram menor atrofia da
região mesial temporal do que na DA (Figura 2).
O uso de SPECT (single photon emission computed
tomography – tomografia computadorizada com emissão de
fótons) e de PET (positron emission tomography –
tomografia de emissão de pósitrons) mostra redução da
perfusão e do metabolismo global na DCL, sendo mais
marcado na região occipital. Dois estudos demonstraram
que o hipometabolismo occipital é o achado que melhor
distingue entre essas duas doenças, com alta taxa de
sensibilidade e especificidade (Figura 3).
O uso de ligantes específicos relacionados com cada
uma das técnicas também auxilia no diagnóstico
diferencial. A SPECT com transportador de dopamina
demonstrou baixa atividade desse neurotransmissor em
caudado e putâmen quando comparado com pacientes com
DA. PET com marcador amiloide demonstrou aumento de
deposição dessa substância em relação aos pacientes-
controle ou com demência na DP. Em ambas as técnicas foi
demonstrada redução cortical da atividade da
acetilcolinesterase em comparação com o grupo controle
ou pacientes com DA.
TRATAMENTO
O manejo dos pacientes com DCL atualmente é um
desafio devido à rápida progressão da doença em
comparação com a DA, com sobrevida média de 6 anos, à
ausência de drogas modificadoras de sua evolução e aos
poucos estudos randomizados que embasam o uso de
drogas para manejo de sintomas. Além disso, a droga usada
no tratamento de um sintoma pode contribuir para piora
importante de outro sintoma que também compõe o quadro
clínico da doença. Portanto, orientar familiares e
cuidadores quanto à evolução da doença e às limitações no
tratamento e até mesmo no manejo de sintomas se torna
peça fundamental para conduzir o caso com foco na
manutenção da qualidade de vida.
Evidências crescentes sugerem que os cuidadores
devem ser orientados sobre estratégias de distração e
direcionamento, agindo de forma calma e tranquilizadora
nos momentos de maior ansiedade (Quadro 2).
Uma revisão sistemática mostrou benefício a curto prazo
na implementação de atividades, musicoterapia,
intervenções sensoriais como massagem e treinamento de
habilidades de comunicação centrada na pessoa, mas
outras medidas, como terapia cognitivo-comportamental e
estimulação cognitiva, ainda carecem de estudos que
comprovem seus benefícios
Os anticolinesterásicos ainda são a primeira linha
terapêutica, com estudos mostrando benefício do uso de
donepezila e rivastigmina não apenas na cognição, mas
também nas flutuações, sintomas psicóticos e até mesmo
parkinsonianos. Em alguns casos podem apresentar
resposta importante, mas efêmera. A memantina surge
como droga de segunda linha, em especial para os sintomas
cognitivos, neuropsiquiátricos e distúrbios do sono REM.
O uso de neurolépticos é limitado pelo potencial de
hipersensibilidade, que pode induzir a piora de
parkinsonismo, confusão mental e disfunções autonômicas.
Estudos randomizados e controlados por placebo sugerem
eficácia limitada dessa classe de medicamentos. Se a
terapia antipsicótica for necessária, dar preferência ao uso
da classe de atípicos em doses muito baixas.
BIBLIOGRAFIA
Cagnin A, Gnoato F, Jelcic N, Favaretto S, Zarantonello G, Ermani M, et al.
Clinical and cognitive correlates of visual hallucinations in dementia with
Lewy bodies. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2013;84(5):505-10.
Ceravolo R, Volterrani D, Gambaccini G, Rossi C, Logi C, Manca G, et al.
Dopaminergic degeneration and perfusional impairment in Lewy body
dementia and Alzheimer’s disease. Neurol Sci. 2003;24(3):162-3.
Donadio V, Incensi A, Rizzo G, Capellari S, Pantieri R, Stanzani Maserati M, et
al. A new potential biomarker for dementia with Lewy bodies: skin nerve α-
synuclein deposits. Neurology. 2017;89(4):318-26.
Donaghy P, Thomas AJ, O’Brien JT. Amyloid PET Imaging in Lewy body
disorders. Am J Geriatr Psychiatry. 2015; 23(1):23-37.
Elahi FM, Miller BL. A clinicopathological approach to the diagnosis of
dementia. Nat Rev Neurol. 2017;13(8):457-76.
Ferman TJ, Boeve BF, Smith GE, Lin S-C, Silber MH, Pedraza O, et al. Inclusion
of RBD improves the diagnostic classification of dementia with Lewy bodies.
Neurology. 2011;77(9):875-82.
Gao N, Li YH, Li X, Yu S, Fu GL, Chen B. Effect of alpha-synuclein on the
promoter activity of tyrosine hydroxylase gene. Neurosci Bull.
2007;23(1):53-7.
Gitlin LN, Kales HC, Lyketsos CG. Nonpharmacologic management of
behavioral symptoms in dementia. JAMA. 2012;308:2020.
Guerreiro R, Escott-Price V, Hernandez DG, Kun-Rodrigues C, Ross AO, Orme T,
et al. Heritability and genetic variance of dementia with Lewy bodies.
Neurobiol Dis 2019; 127:492
Howlett DR, Whitfield D, Johnson M, Attems J, O’Brien JT, Aarsland D, et al.
Regional multiple pathology scores are associated with cognitive decline in
Lewy body dementias. Brain Pathol. 2015;25(4):401-8.
Ikeda M, Mori E, Matsuo K, Nakagawa M, Kosaka K. Donepezil for dementia
with Lewy bodies: a randomized, placebo-controlled, confirmatory phase III
trial. Alzheimers Res Ther. 2015;7(1):4.
Jellinger KA, Attems J. Prevalence and impact of vascular and Alzheimer
pathologies in Lewy body disease. Acta Neuropathol. 2008;115(4):427-36.
Kurlan R, Cummings J, Raman R, Thal L; Alzheimer’s Disease Cooperative
Study Group. Quetiapine for agitation or psychosis in patients with dementia
and parkinsonism. Neurology. 2007;68(17):1356-63.
Livingston G, Kelly L, Lewis-Holmes E, Baio G, Morris S, Patel N, et al. Non-
pharmacological interventions for agitation in dementia: systematic review
of randomised controlled trials. Br J Psychiatry. 2014;205:436.
Lowe J. Neuropathology of dementia with Lewy bodies. Handb Clin Neurol.
2008;89:321-30. https://doi.org/10.1016/S0072-9752(07)01231-6.
MacDonald S, Shah AS, Tousi B. Current therapies and drug development
pipeline in Lewy body dementia: an update. Drugs Aging. 2022;39:505-22.
McKeith I, Del Ser T, Spano P, Emre M, Wesnes K, Anand R, et al. Efficacy of
rivastigmine in dementia with Lewy bodies: a randomised, double-blind,
placebo-controlled international study. Lancet. 2000;356(9247):2031-6.
McKeith IG, Boeve BF, Dickson DW, Halliday G, Taylor JP, Weintraub D, et al.
Diagnosis and management of dementia with Lewy bodies: fourth consensus
report of the DLB Consortium. Neurology. 2017;89(1):88-100.
Minoshima S, Foster NL, Sima AA, Frey KA, Albin RL, Kuhl DE. Alzheimer’s
disease versus dementia with Lewy bodies: cerebral metabolic distinction
with autopsy confirmation. Ann Neurol. 2001;50(3):358-65.
Mori E, Ikeda M, Kosaka K; Donepezil-DLB Study Investigators. Donepezil for
dementia with Lewy bodies: a randomized, placebo-controlled trial. Ann
Neurol. 2012; 72(1):41-52.
MRI appearance of dementia with Lewy bodies compared with Alzheimer
disease. Graphic 61076 Version 7.0. UpToDate. © 2023. Available:
https://www.uptodate.com/contents/image?
imageKey=NEURO%2F61076&topicKey=NEURO%2F5088&search=dement
ia%20with%20lewy%20bodies&rank=1~107&source=see_link.
Paparrigopoulos TJ. REM sleep behaviour disorder: clinical profiles and
pathophysiology. Int Rev Psychiatry. 2005; 17(4):293-300.
Parkkinen L, Pirttilä T, Alafuzoff I. Applicability of current
staging/categorization of alpha-synuclein pathology and their clinical
relevance. Acta Neuropathol. 2008; 115(4):399-407.
Perry EK, Marshall E, Perry RH, Irving D, Smith CJ, Blessed G, et al.
Cholinergic and dopaminergic activities in senile dementia of Lewy body
type. Alzheimer Dis Assoc Disord. 1990;4(2):87-95.
Savica R, Grossardt BR, Bower JH, Boeve BF, Ahlskog JE, Rocca WA. Incidence
of dementia with Lewy bodies and Parkinson disease dementia. JAMA
Neurol. 2013;70(11): 1396-402.
Taylor JP, O’Brien J. Neuroimaging of dementia with Lewy bodies.
Neuroimaging Clin N Am. 2012;22(1):67-81.
Teune LK, Bartels AL, de Jong BM, Willemsen AT, Eshuis SA, de Vries JJ, et al.
Typical cerebral metabolic patterns in neurodegenerative brain diseases.
Mov Disord. 2010; 25(14):2395-404.
Tiraboschi P, Salmon DP, Hansen LA, Hofstetter RC, Thal LJ, Corey-Bloom J.
What best differentiates Lewy body from Alzheimer’s disease in early-stage
dementia? Brain. 2006;129(Pt 3):729-35.
Vann Jones SA, O’Brien JT. The prevalence and incidence of dementia with
Lewy bodies: a systematic review of population and clinical studies. Psychol
Med. 2014; 44(4):673-83.
Wakisaka Y, Furuta A, Tanizaki Y, Kiyohara Y, Iida M, Iwaki T. Age-associated
prevalence and risk factors of Lewy body pathology in a general population:
the Hisayama study. Acta Neuropathol. 2003;106(4):374-82.
Walker Z, Possin KL, Boeve BF, Aarsland D. Lewy body dementias. Lancet.
2015;386(10004):1683-97.
Yoshita M, Taki J, Yokoyama K, Noguchi-Shinohara M, Matsumoto Y, Nakajima
K, et al. Value of 123I-MIBG radioactivity in the differential diagnosis of DLB
from AD. Neurology. 2006;66(12):1850-4.
Yu S, Uéda K, Chan P. Alpha-synuclein and dopamine metabolism. Mol
Neurobiol. 2005;31(1-3):243-54.
41 Demência frontotemporal
INTRODUÇÃO
O termo demência frontotemporal (DFT) é utilizado para
designar uma condição clínica neurodegenerativa com
alteração comportamental, de função executiva e
linguagem, associada a uma degeneração focal do lobo
frontal ou temporal. Essa nomenclatura passou a ser
utilizada recentemente, a partir de 1994, mas a primeira
descrição de um paciente com essas características foi feita
por Arnold Pick em 1892.
No diagnóstico de DFT estão várias síndromes clínicas,
entre elas a variante comportamental (DFTvc), afasia
progressiva primária variante semântica (APPvs) e afasia
progressiva primária variante não fluente ou agramática
(APPnf). A terceira variante da afasia progressiva primária,
a logopênica (APPl), é tipicamente associada à doença de
Alzheimer (DA), portanto não é incluída como síndrome da
DFT.
A Figura 1 resume a sobreposição de distúrbios do
espectro de DFT (DFTvc, paralisia supranuclear
progressiva – PSP, degeneração corticobasal – DCB, doença
do neurônio motor – DFT-DNM, APPvc, APPnf) e sua
neuropatologia (DLFT-tau, DLFT-TDP, DLFT-FET, DLFT-
UPS), com uma pequena porção de síndromes causadas por
anormalidade da DA. A síndrome clínica da APPl está
altamente correlacionada com as alterações da DA.
EPIDEMIOLOGIA
Há escassez de dados quanto à real prevalência e
incidência dessa doença, principalmente no Brasil. Além
disso, pela nomenclatura e critérios diagnósticos recentes
esses dados provavelmente são subestimados. Com os
dados disponíveis no momento, a DFT seria a terceira
causa de demência neurodegenerativa na população idosa
e com incidência similar à DA antes dos 65 anos. Uma
metanálise de 73 artigos mostrou prevalência de 3 a 26%
nessa população.
A média de idade de início da doença é de 58 anos,
existindo relatos de diagnóstico dos 20 aos 80 anos,
embora o início antes dos 40 ou após os 75 anos seja
incomum. A doença parece afetar proporcionalmente
homens e mulheres. Apresenta alta taxa de história familiar
positiva para demência ou alterações psiquiátricas, com
padrão autossômico dominante de 10 a 25% dos casos.
FISIOPATOLOGIA
A alteração patológica da DFT é caracterizada por perda
neuronal, gliose e alterações microvasculares nos lobos
frontal, temporal anterior, córtex do cingulado anterior e da
ínsula. Corpos de inclusão também são encontrados na
microscopia, e a classificação neuropatológica é
subdividida de acordo com as proteínas encontradas. Em
aproximadamente metade dos casos é encontrada
hiperfosforilação da proteína tau. Nos casos restantes,
anteriormente definidos como demência sem histopatologia
definida, atualmente estão envolvidas as proteínas TDP-43
(transactive response DNA-binding protein with molecular
weight 43kDa) e FUS (fused in sarcoma). Em geral, as
síndromes clínicas da DFT se correlacionam relativamente
bem com o padrão de atrofia cerebral, mas não com o
subtipo patológico subjacente.
FIGURA 1 Correlações clínicas e patológicas nos distúrbios do espectro da
doença frontotemporal.
3R: proteína tau 3R; 4R: proteína tau 4R; aDLFT-U: degeneração de lobo
frontotemporal atípica-ubiquitina positiva; APP: afasia progressiva primária;
APPl: afasia progressiva primária logopênica; APPnf: afasia progressiva primária
variante não fluente; APPvs: afasia progressiva primária variante semântica; DA:
doença de Alzheimer; DCB: degeneração corticobasal; DCIB: doença por corpos
de inclusão basofílicos; DFIIN: doença com filamentos de inclusão intermediários
neuronais; DFLT-FET: degeneração de lobo frontotemporal relacionada às
proteínas da família FET (FUS, EWS e TAF15); DFLT-tau: degeneração de lobo
frontotemporal relacionada à proteína tau; DFLT-TDP: degeneração de lobo
frontotemporal relacionada à proteína 43; DFLT-UPS: degeneração de lobo
frontotemporal – sistema ubiquitina-proteassoma; DFT-DNM: demência
frontotemporal – doença do neurônio motor; DFTvc: demência frontotemporal
variante comportamental; DGA: doença com grãos argirofílicos; Pick: doença de
Pick; PSP: paralisia supranuclear progressiva; TGG: taupatia glial globular.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de DFT é clínico, mas exames
laboratoriais e de imagem são necessários para excluir
outras causas para os sintomas apresentados. Como os
pacientes têm pouco ou nenhum insight da doença, a
presença do familiar no momento da história clínica se
torna essencial ao diagnóstico. Comportamento social
inadequado, transtornos alimentares, comportamentos
estereotipados e apatia na ausência de alteração de
memória ou déficit visuoespacial significativo são muito
específicos e sensíveis para o diagnóstico de DFTvc.
I. Doença neurodegenerativa
O sintoma a seguir deve estar presente para atender aos critérios de DFTvc:
A. Deterioração progressiva da cognição ou do comportamento por
observação ou histórico.
QUADRO 1 Consenso internacional dos critérios diagnósticos da variante
comportamental da demência frontotemporal
Todos os seguintes sintomas (A-C) devem estar presentes para atender aos
critérios:
A. Atende aos critérios para possível DFTvc.
B. Apresenta declínio funcional significativo (por relatório do cuidador, Escala
de Avaliação de Demência Clínica ou Questionário de Atividades
Funcionais).
C. Resultados de imagem consistentes com DFTvc [um dos seguintes
sintomas (C.1-C.2) deve estar presente].
C.1 Atrofia frontal e/ou frontotemporal na RM ou TC.
C.2 Hipoperfusão ou hipometabolismo frontal ou frontotemporal em PET ou
SPECT.
Variante semântica
1. Os déficits são mais bem explicados por outras doenças não degenerativas
do sistema nervoso central ou outras condições clínicas.
2. O distúrbio cognitivo é mais bem explicado por um diagnóstico psiquiátrico.
3. Alteração proeminente inicial de memória episódica, memória visual e
visuopercepção.
4. Distúrbio comportamental inicial proeminente.
Pelo menos três dos critérios de diagnóstico a seguir devem estar presentes:
1. Reconhecimento de objetos prejudicado, particularmente para itens de
baixa frequência ou de baixa familiaridade.
2. Dislexia de superfície ou disgrafia.
3. Repetição poupada.
4. Produção de fala poupada.
EXAMES COMPLEMENTARES
Com o avanço dos exames de neuroimagem, atualmente
existem muitas opções para contribuir com o diagnóstico
de DFT e suas possíveis subclassificações. A ressonância
magnética pode contribuir, além do diagnóstico diferencial
de outras doenças, com o direcionamento para o subtipo da
DFT (Figura 4). PET, SPECT e RNM funcionais podem
demonstrar hipoperfusão e hipometabolismo nas áreas já
citadas.
TRATAMENTO
Atualmente, não existe droga modificadora da doença;
portanto, o foco do tratamento deve ser dirigido ao manejo
dos sintomas. Os inibidores seletivos de recaptação de
serotonina (particularmente sertralina, paroxetina e
citalopram) podem ser usados para tratar agitação,
desinibição, estereotipias, obsessões/compulsões,
distúrbios alimentares e depressão (grau C; nível de
evidência 4). A trazodona pode ser usada nas doses de 150
a 300 mg por dia para tratar sintomas neuropsiquiátricos
(grau B; nível de evidência 2b).
Antipsicóticos podem ser usados com cautela para tratar
alucinações e casos extremos de agitação em pacientes
com qualquer subtipo de DFT (grau C; nível de evidência
4). Os anticolinesterásicos não são recomendados para
retardar o declínio cognitivo em pacientes com DFTvc
(grau C; nível de evidência 4). No entanto, a galantamina
(16 a 24 mg por dia) pode ser particularmente eficaz nas
variantes APP (grau B; nível de evidência 2b). A memantina
(20 mg por dia) não é recomendada em ambos os subtipos
de DFT e ainda está associada a piora do desempenho
cognitivo (nota A; nível de evidência 1a).
Nas variantes linguísticas do DFT, a fluência da fala
pode ser melhorada com o uso de bromocriptina (grau B;
nível de evidência 2b) ou carbidopa/levodopa e amantadina
(grau C; nível de evidência 4). Carbidopa/levodopa e
amantadina podem melhorar os sintomas parkinsonianos,
como bradicinesia e rigidez (grau C; nível de evidência 4).
A ocitocina intranasal pode ser eficiente para melhorar a
empatia e a relação paciente-cuidador, mas necessita de
estudos maiores para confirmar esse achado. O lítio (dose a
ser ajustada de acordo com as concentrações séricas) pode
ser recomendado para tratar agitação em pacientes com
DFT (grau C; nível de evidência 4). Entre as drogas
antiepilépticas, o topiramato (100 a 150 mg por dia) pode
ser usado para reduzir distúrbios alimentares e transtorno
por uso de álcool em pacientes com DFT (grau C; nível de
evidência 4). Estimulantes podem melhorar humor, apatia e
controle de impulso em pacientes com DFTvc sem
distúrbios comportamentais exacerbados (grau C; nível de
evidência 4).
Poucos estudos são direcionados ao tratamento não
farmacológico da doença, mas técnicas de distração e
redirecionamento podem contribuir com o manejo de
sintomas comportamentais, assim como reabilitação de
linguagem ou técnicas de comunicação alternativa podem
contribuir com a afasia. Além disso, a orientação dirigida à
família e aos cuidadores quanto à apresentação clínica,
evolução e prognóstico da doença deve ser o foco principal
nas consultas de retorno, bem como avaliação sistemática e
manejo de possível estresse do cuidador.
O Quadro 5 resume as principais medidas não
farmacológicas e farmacológicas a serem testadas no
manejo dos sintomas apresentados pelos pacientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A demência frontotemporal engloba várias síndromes
clínicas.
QUADRO 5 Checklist e estratégias possíveis no manejo de sintomas na
demência frontotemporal
BIBLIOGRAFIA
Asmal L, Flegar SJ, Wang J, Rummel-Kluge C, Komossa K, Leucht S. Quetiapine
versus other atypical antipsychotics for schizophrenia. Cochrane Database
Syst ver. 2013;11:CD006625.
Bang J, Spina S, Miller BL. Frontotemporal dementia. Lancet.
2015;386(10004):1672-82.
Boxer AL, Knopman DS, Kaufer DI, Grossman M, Onyike C, Graf-Radford N, et
al. Memantine in patients with frontotemporal lobar degeneration: a
multicentre, randomised, double-blind, placebo-controlled trial. Lancet
Neurol. 2013;12:149-56.
Goldman JS, Rademakers R, Huey ED, Boxer AL, Mayeux R, Miller B, et al. An
algorithm for genetic testing of frontotemporal lobar degeneration.
Neurology. 2011;76:475-83.
Gorno-Tempini ML, Hillis AE, Weintraub S, Kertesz A, Mendez M, Cappa SF, et
al. Classification of primary progressive aphasia and its variants. Neurology.
2011;76:1006-14.
Hodges JR, Davies RR, Xuereb JH, Casey B, Broe M, Bak TH, et al.
Clinicopathological correlates in frontotemporal dementia. Ann Neurol.
2004;56:399.
Johnson JK, Diehl J, Mendez MF, Neuhaus J, Shapira JS, Forman M, et al.
Frontotemporal lobar degeneration: demographic characteristics of 353
patients. Arch Neurol. 2005;62:925.
Karageorgiou E, Miller BL. Frontotemporal lobar degeneration: a clinical
approach. Semin Neurol. 2014;34:189-201.
Khoury R, Liu Y, Sheheryar Q, Grossberg GT. Pharmacotherapy for
frontotemporal dementia. CNS Drugs. 2021;35(4):425-38.
Knibb JA, Xuereb JH, Patterson K, Hodges JR. Clinical and pathological
characterization of progressive aphasia. Ann Neurol. 2006;59:156.
Knopman DS, Mastri AR, Frey WH 2nd, Sung JH, Rustan T. Dementia lacking
distinctive histologic features: a common non-Alzheimer degenerative
dementia. Neurology. 1990;40:251.
Le Ber I. Genetics of frontotemporal lobar degeneration: an up-date and
diagnosis algorithm. Rev Neurol. 2013;169:811-19.
Le Ber I, Guedj E, Gabelle A, Verpillat P, Volteau M, Thomas-Anterion C, et al.;
the French research network on FTD/FTD-MND. Demographic, neurological
and behavioural characteristics and brain perfusion SPECT in frontal variant
of frontotemporal dementia. Brain. 2006;129:3051-65.
Lebert F, Stekke W, Hasenbroekx C, Pasquier F. Frontotemporal dementia: a
randomised, controlled trial with trazodone. Dement Geriatr Cogn Disord.
2004;17:355-59.
Maruyama M, Shimada H, Suhara T, Shinotoh H, Ji B, Maeda J, et al. Imaging of
tau pathology in a tauopathy mouse model and in Alzheimer patients
compared to normal controls. Neuron. 2013;79:1094-108.
Mendez MF, Shapira JS, McMurtray A, Licht E. Preliminary findings: behavioral
worsening on donepezil in patients with frontotemporal dementia. Am J
Geriatr Psychiatry. 2007;15:84-7.
Mesulam MM, Weintraub S, Rogalski EJ, Wieneke C, Geula C, Bigio EG.
Asymmetry and heterogeneity of Alzheimer’s and frontotemporal pathology
in primary progressive aphasia. Brain. 2014;137:1176.
Neary D, Snowden JS, Gustafson L, Passant U, Stuss D, Black S, et al.
Frontotemporal lobar degeneration: a consensus on clinical diagnostic
criteria. Neurology. 1998;51:1546-54.
Olney NT, Spina S, Miller BL. Frontotemporal dementia. Neurol Clin.
2017;35(2):339-74.
Pick A. Uber die Beziehungen der senilen Hirnatrophie zur Aphasie. Prager
Med Wochenschr. 1892;17:165-7.
Piguet O, Hornberger M, Mioshi E, Hodges JR. Behavioural-variant
frontotemporal dementia: diagnosis, clinical staging, and management.
Lancet Neurol. 2011;10:162.
Rascovsky K, Hodges JR, Kipps CM, Johnson JK, Seeley WW, Mendes MF, et al.
Diagnostic criteria for the behavioral variant of frontotemporal dementia
(bvFTD): current limitations and future directions. Alzheimer Dis Assoc
Disord. 2007;21:S14.
Rascovsky K, Hodges JR, Knopman D, Mendez MF, Kramer JH, Neuhaus J, et al.
Sensitivity of revised diagnostic criteria for the behavioural variant of
frontotemporal dementia. Brain. 2011;134:2456-77.
Robinson KM. Rehabilitation applications in caring for patients with Pick’s
disease and frontotemporal dementias. Neurology. 2001;56:S56.
Rosen HJ, Gorno-Tempini ML, Goldman WP, Perry RJ, Schuff N, Weiner M, et al.
Patterns of brain atrophy in frontotemporal dementia and semantic
dementia. Neurology. 2002;58:198-208.
Rosso SM, Donker Kaat L, Baks T, Joosse M, de Koning I, Pijnenburg Y, et al.
Frontotemporal dementia in The Netherlands: patient characteristics and
prevalence estimates from a population-based study. Brain. 2003; 126:2016.
Sivasathiaseelan H, Marshall CR, Agustus JL, Benhamou E, Bond RL, van
Leeuwen JEP, et al. Frontotemporal dementia: a clinical review. Semin
Neurol. 2019;39(2): 251-63.
Talerico KA, Evans LK. Responding to safety issues in frontotemporal
dementias. Neurology. 2001;56:S52.
Tartaglia M, Mackenzie I. Recent advances in frontotemporal dementia.
Canadian Journal of Neurological Sciences. 2022;1-10.
Urwin H, Josephs KA, Rohrer JD, Mackenzie IR, Neumann M, Authier A, et al.
FUS pathology defines the majority of tau- and TDP-43-negative
frontotemporal lobar degeneration. Acta Neuropathol. 2010;120:33.
Vieira RT, Caixeta L, Machado S, Silva AC, Nardi AE, Arias-Carrión O, et al.
Epidemiology of early-onset dementia: a review of the literature. Clin Pract
Epidemiol Ment Health. 2013;9:88-95.
Williamson C, Alcantar O, Rothlind J, Cahn-Weiner D, Miller BL, Rosen HJ.
Standardised measurement of self-awareness deficits in FTD and AD. J
Neurol Neurosurg Psychiatry. 2010;81:140.
Manejo das manifestações neurocomportamentais 42
associadas às demências
INTRODUÇÃO
Pacientes com demência apresentam comprometimento da
memória e de outras funções cognitivas, principalmente em fase
avançada, impedindo assim que se estabeleça uma relação
adequada de seus estados emocionais e tornando certos tipos de
comportamentos mais observados por familiares e cuidadores.
Os sintomas de comprometimento cognitivo podem estar
acompanhados de sintomas comportamentais e psicológicos, que
tendem a aparecer em qualquer fase da doença. Estima-se que
quase todos os indivíduos portadores de demências
desenvolverão esses sintomas à medida que suas doenças
progridem. Os sintomas comportamentais e psicológicos podem
ser os primeiros sinais e sintomas neuropsiquiátricos; embora
haja flutuação, tendem a se agravar ao longo do curso da doença.
Estão associados com vários desfechos negativos, como declínio
cognitivo mais rápido, prejuízo funcional e reduzida capacidade
de executar as atividades básicas de vida diária (ABVD),
aumentando assim o risco de quedas, fraturas e
institucionalização.
Os sintomas comportamentais e psicológicos das demências
(SCPD) compreendem um amplo espectro de sintomas não
cognitivos, sinais e sintomas de distúrbios da percepção,
pensamento, humor e comportamento. São extremamente
relevantes porque causam profundo impacto, angústia e
incapacidade ao paciente e seus familiares/cuidadores, tornando
a relação desgastante e exaustiva. Tendem a ser mais
devastadores que os sintomas cognitivos e apresentam pior
prognóstico, má qualidade de vida e institucionalização precoce,
além do alto custo com os cuidados. Cerca de 30% dos custos
com os cuidados de pacientes demenciados que vivem na
comunidade estão diretamente atribuídos ao manejo dos
sintomas comportamentais e psicológicos.
Sintomas comportamentais e psicológicos das demências
representam um significativo desafio para os cuidados e o
manejo dos portadores de doenças neurológicas progressivas.
Esses sintomas neuropsiquiátricos incluem apatia,
agressividade/agitação, ansiedade, depressão, sintomas
psicóticos, desinibição, euforia e alterações do sono. Podem estar
presentes em todos os estágios da demência, mas tendem a
aumentar progressivamente com o declínio cognitivo,
principalmente a partir da fase moderada da doença.
As alterações comportamentais e psicológicas podem ser
resultantes do comprometimento de áreas cerebrais específicas e
de prejuízo nos circuitos cerebrais, secundário ao déficit
cognitivo e ao sofrimento pela doença e pelas comorbidades
psiquiátricas. Os comportamentos podem ser extremamente
estressantes para o paciente e sua família. Um apropriado
manejo pode melhorar significativamente a qualidade de vida de
todos os envolvidos.
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
A prevalência dos SCPD pode variar bastante, dependendo do
tipo de amostra estudada e dos métodos utilizados para avaliá-
los. Em alguns estudos, a prevalência varia entre 60-90%,
podendo apresentar episódios periódicos (flutuantes) ou crônicos
(alternando períodos de exacerbação seguidos de remissão
parcial). Geralmente, surgem ao longo da evolução da demência
de maneira não linear, podendo também evoluir linearmente por
um período de tempo e subsequentemente diminuir sua
frequência.
Em residentes de instituições de longa permanência, a
prevalência é elevada. Estima-se que ocorra em cerca de 78%,
mas esse número pode ser ainda maior por conta da
subnotificação dos sintomas. A frequência dos SCPD se eleva na
fase moderada e decai na fase avançada. A intensidade dos
diferentes tipos de SCPD pode variar nas fases de um quadro
demencial, embora desilusões, alucinações, apatia e
irritabilidade sejam reportadas em todas as fases de modo
similar. Depressão e ansiedade são mais comuns durante a fase
inicial e moderada da demência. Já na fase avançada dos quadros
demenciais, pela perda da condição física, permite que ocorra
menos agressão e a apatia torna-se mais prevalente.
Apatia, depressão, agitação e ansiedade parecem ser os
sintomas mais prevalentes, embora os transtornos do sono
causem mais angústia aos cuidadores. Agitação é o sintoma mais
associado a pior qualidade de vida do cuidador, podendo levar à
sobrecarga do cuidado. Embora os sintomas psicológicos e
comportamentais estejam presentes em todas as demências, a
frequência e a distribuição podem variar de acordo com o tipo e
a gravidade da demência.
A prevalência de agitação situa-se em torno de 30-50% na
demência na doença de Alzheimer, sendo a terceira mais comum
manifestação neuropsiquiátrica, atrás da apatia e da depressão.
Impacta negativamente a cognição, o estado funcional e a
qualidade de vida do paciente e do cuidador e está associada a
maior taxa de admissões, elevado uso de medicamentos, período
de internamento prolongado e maior mortalidade.
ETIOLOGIA/FISIOPATOLOGIA
Múltiplas etiologias para SCPD são estudadas, como causas
genéticas, psicossociais, neurobiológicas, clínicas e físicas que
parecem interagir de forma dinâmica para dar origem a
comportamentos desafiadores. Então, a etiologia dos SCPD é
complexa, multifatorial e não completamente compreendida.
Fatores genéticos, neuroendócrinos, neuropatológicos e de
neuroimagem têm sido investigados, e existe alguma evidência
de que a patologia de certas áreas cerebrais contribui para o
surgimento dos sintomas específicos psicológicos e
comportamentais. Por exemplo, acentuada disfunção do lobo
frontal em algumas pessoas responde a estímulos ambientais, e
isso também é relatado aos sintomas psicóticos. Atrofia no giro
cingular anterior está associada com apatia, e estudos de
neuropatologia confirmam a importância dessa área na
manifestação da apatia.
Fatores como dor, desidratação, infecção, constipação e troca
de medicações, assim como fatores ambientais como alteração da
temperatura e da rotina, podem exacerbar os sintomas
comportamentais e psicológicos das demências. SCPD também
podem ser um meio de comunicar uma necessidade não
satisfeita. Outros fatores, como depressão, solidão,
comprometimento cognitivo e sensorial e até mesmo o modo
como é realizado o cuidado pessoal pelo cuidador, podem
contribuir para o surgimento dos sintomas comportamentais e
psicológicos. Então, a etiopatogenia provavelmente resulta da
interação entre fatores biológicos (alterações estruturais,
comorbidades e medicações), fatores psicológicos (história
pessoal, personalidade) e fatores sociais (rede de apoio, arranjos
pessoais).
Em pacientes com doença de Alzheimer e sintomas
depressivos, há redução significativa do metabolismo no córtex
frontal superior direito (medido por meio de tomografia por
emissão de prótons – PET) e maiores densidades de placas senis
e emaranhados neurofibrilares na formação hipocampal em
comparação com casos de pacientes com doença de Alzheimer
sem depressão. Delírios parecem estar relacionados com a menor
atividade em áreas corticais pré-frontais, principalmente a
direita, achado observado em dois estudos, um utilizando
tomografia computadorizada de emissão de fóton único (SPECT)
e o outro PET. Também ocorre associação entre maior
comprometimento de áreas frontais e temporais direitas e maior
intensidade das manifestações neuropsiquiátricas na demência
frontotemporal. Já na demência por corpúsculos de Lewy, é
observado hipofluxo occipital ao SPECT, o que indica
acometimento de áreas corticais primárias e secundárias ao
processamento visual. Compreender a neurobiologia no contexto
da demência de Alzheimer poderia contribuir para o
desenvolvimento de novas terapias. A maior parte dos estudos
para tentar mapear a progressão da doença de Alzheimer
concentra-se no córtex cerebral. No entanto, para os SCPD,
síndromes distintas têm diferentes bases neurobiológicas.
Apatia
Depressão
Ansiedade
Agitação e agressividade
Sintomas psicóticos
Transtornos do sono
DIAGNÓSTICO
A abordagem deve seguir os seguintes passos:
TRATAMENTO
O manejo dos sintomas comportamentais e psicológicos
envolve tanto abordagem farmacológica como abordagem não
farmacológica. A terapia farmacológica é essencialmente
sintomática e não exerce impacto satisfatório na evolução das
doenças neurodegenerativas. Já as intervenções não
farmacológicas são preferíveis e devem ser a primeira linha de
tratamento. Então, o primeiro passo no manejo desses sintomas
consiste sempre em realizar uma avaliação cuidadosa e a
correção de qualquer fator desencadeante físico, psicossocial e
ambiental, além da abordagem não farmacológica.
Entretanto, quando a abordagem não farmacológica não é
suficiente para reduzir ou controlar os sintomas ou quando estes
são muito intensos e ocasionam sofrimento ao paciente e a seus
familiares/cuidadores, existe a indicação de iniciar um
tratamento farmacológico. O manejo desses sintomas requer uma
abordagem direcionada, com foco em um comportamento
específico e com planejamento individualizado de intervenções.
Sempre considerar fatores que possam estar causando ou
exacerbando esse tipo de comportamento.
Tratamento farmacológico
Neurolépticos
São sempre usados para o tratamento de sintomas graves e
refratários, embora a FDA não tenha aprovado seu uso pela baixa
evidência de benefício e alta capacidade de causar prejuízo.
Devem ser considerados se o comportamento expõe a risco o
paciente e outros. Só há dois medicamentos licenciados para o
tratamento dos SCPD em demência: pimavanserina (psicose
associada na doença de Parkinson) e risperidona, para
tratamento de agressividade (somente no Canadá e no Reino
Unido). No restante dos casos, o uso dos neurolépticos
permanece off-label e guiado pelo julgamento clínico.
São os medicamentos de primeira escolha quando há sintomas
como delírio, alucinações e agitação importante. Há também boa
resposta quando existe hostilidade, agressão física e
comportamento violento. Os neurolépticos atípicos (risperidona,
olanzapina, quetiapina e aripiprazol) são preferíveis em relação
aos convencionais ou de primeira geração (clorpromazina,
levomepromazina e haloperidol) por apresentarem menor efeito
indesejado sobre a cognição e o sistema extrapiramidal.
A propriedade farmacológica marcante dessa classe é o
antagonismo do receptor dopaminérgico D2. Os atípicos possuem
um antagonismo inferior ao dos receptores dopaminérgicos,
portanto são mais seguros e têm menos efeitos anticolinérgicos.
São os medicamentos mais eficazes para o controle das
manifestações psicóticas em idosos portadores de quadros
demenciais. Entretanto, apresentam risco aumentado de acidente
vascular encefálico (AVE) e de mortalidade para eventos
cardíacos. A FDA alertou que os neurolépticos típicos também
estão associados a maior mortalidade; o risco de morte é
proporcional ao aumento da dose. Mesmo assim, os benefícios
superam os riscos, desde que o uso seja cauteloso, a duração seja
a menor possível e a família esteja informada dos possíveis
riscos.
Os efeitos antidopaminérgicos são mais comuns entre os
neurolépticos de primeira geração (típicos), mas também podem
ocorrer com os de segunda geração (atípicos). Alguns efeitos
adversos incluem efeitos anticolinérgicos, manifestações
extrapiramidais, síndrome neuroléptica maligna,
hiperprolactinemia, hipotensão postural, sedação e
prolongamento do intervalo QT. O uso prolongado está associado
com aumento do risco de síndrome metabólica, obesidade,
diabetes, hipertensão e dislipidemia. O aumento do risco de AVE,
eventos cardiovasculares e morte é uma importante preocupação
clínica, e ainda não se sabe se esse risco é efeito da classe ou de
alguma droga específica.
A escolha do neuroléptico deve ser realizada na análise dos
riscos e benefícios de cada paciente (Tabela 1). Na demência por
corpúsculos de Lewy, há sensibilidade aos neurolétpticos,
portanto seu uso deve ser mais restrito a casos de difícil controle
de SCPD. Nesses casos, pode-se usar antipsicóticos que causem
menos movimentos extrapiramidais e em doses baixas, por
exemplo, 12,5-25 mg de quetiapina ou 6,25-25 mg de clozapina.
A risperidona é o mais estudado, e sua eficácia nos SCPD é bem
estabelecida. É o único com uso aprovado nas agências
reguladoras no Reino Unido, Austrália e Canadá; em doses baixas
apresenta menos efeitos extrapiramidais e se destaca para tratar
agressividade. A olanzapina também é eficaz para o tratamento
da agitação e da agressividade nas doses de 5-10 mg/dia.
Aripiprazol melhora a psicose e a agitação sem gerar ganho de
peso. Aripiprazol também causa pouca sedação, não eleva os
níveis de prolactina nem prolonga o intervalo QT. Quetiapina e
clozapina estão indicados quando há parkinsonismo associado,
por causarem menos efeitos extrapiramidais. Por conta disso, os
antipsicóticos atípicos são os mais administrados. Principalmente
risperidona, aripiprazol e olanzapina foram avaliados em vários
estudos e mostraram melhora nos sintomas de agitação grave,
agressão e psicose.
Benzodiazepínicos
O sintoma que melhor responde é a ansiedade aguda. Os de
meia-vida longa (diazepam) não são indicados, pelo risco maior
de quedas. Já os de meia-vida curta constituem a melhor escolha,
mas devem ser utilizados por tempo limitado e em baixas doses.
Os efeitos colaterais mais comuns são sonolência excessiva,
ataxia, amnésia e confusão mental, além da dependência. Os
benzodiazepínicos apresentam benefícios modestos, com
indicação no tratamento de pacientes com ansiedade aguda ou
para aqueles que necessitem de sedação para procedimentos
pontuais. Um planejamento cuidadoso deve ser feito para a
retirada após um uso prolongado, pois a dependência e a
abstinência poderão acontecer. Quando empregados por um
período superior a 3-6 semanas, já pode haver a necessidade de
redução gradual da dose para suspendê-los.
Inibidores da acetilcolinesterase/memantina
São ferramentas no tratamento dos SCPD, mas exercem um
efeito discreto, que pode ser observado após várias semanas de
uso. Parecem ter efeito positivo principalmente na depressão e
na ansiedade. Os medicamentos disponíveis são os inibidores da
acetilcolinesterase (rivastigmina, donepezila e galantamina) e a
memantina (antagonista receptor do glutamato). A memantina é
mais efetiva na agitação, nas alucinações e na agressividade.
Sertralina 10 20-30
Citalopram 25 50-100
Canabinoides
Existem mais de 100 componentes químicos que derivam da
planta Cannabis, incluindo o principal componente ativo
canabinoide 9-tetra-hidrocanabidiol (THC) e o canabidiol (CBD).
Ainda não são recomendados para controle farmacológico de
SCPD devido à baixa evidência de eficácia e pelas reações
adversas, como piora cognitiva. Os efeitos adversos mais
relatados foram tontura, náusea, fadiga, boca seca, sonolência,
desorientação, confusão mental e alucinações.
Pesquisas sobre uso de Cannabis medicinal para aliviar os
sintomas neuropsiquiátricos associados a demência de Alzheimer
são limitadas. Não há evidência de qualidade suficiente que
sugira algum impacto no controle desses sintomas nem
segurança ou efetividade. Além disso, a dosagem ideal, assim
como a proporção de THC (nabilona) e o tipo de canabidiol
medicinal. ainda precisam ser estabelecidos. Futuras pesquisas
devem avaliar o significado clínico por meio de resultados
padronizados, da identificação de efeitos adversos menores e
maiores, além de desfechos a longo prazo. A maior parte dos
estudos até o momento apresentou limitações metodológicas,
como pequena amostra de participantes, período curto de
acompanhamento, e poucos foram os ensaios clínicos
randomizados e controlados com placebo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os SCPD afetam quase todos os indivíduos portadores de
demências ao longo do curso da doença. Embora possa haver
flutuação, raramente desaparecem. Estão associados a prejuízo
das ABVD, pior qualidade de vida, institucionalização precoce e
aumento da mortalidade. Causam bastante impacto também na
vida dos cuidadores, podendo levar a um quadro de
sobrecarga/estresse emocional.
Os sintomas comportamentais e psicológicos estão entre os
maiores desafios dos cuidados de pacientes com demência e
ainda permanecem com tratamento subótimo.
As medicações psicotrópicas são atualmente as mais
utilizadas, principalmente os neurolépticos, entretanto se deve
sempre avaliar o risco x benefício de sua administração. Essas
medicações podem não ter efeitos consideráveis sobre alguns
sintomas mais estressantes para os familiares, o que pode
acarretar maior risco de hospitalização e até mesmo
institucionalização.
Estratégias não farmacológicas apresentam substancial
evidência como primeira linha de tratamento, mas ainda
precisam ser mais bem utilizadas.
BIBLIOGRAFIA
Abraha I, Rimland JM, Trotta FM, Dell’Aquila G, Cruz-Jentoff A, Petrovic M, et al.
Systematic review of systematic reviews of non-pharmacological interventions to
treat behavioural disturbances in older patients with dementia. The Senator –
OnTop series. BMJ Open. 2017;7:1-28.
Azermai M. Dealing with behavioural and psychological symptoms of dementia: a
general overview. Psychology Research and Behavior Management. 2015;8:181-5.
Baldaçara L. Transtornos do comportamento nas demências. In: Caixeta L. Psiquiatria
geriátrica. Porto Alegre: Artmed; 2016. p.475-82.
Bottino CMC, Caramelli P. Tratando os sintomas comportamentais e psicológicos da
demência (SCPD). J Bras Psiquiatr. 2007;56(2):83-7.
Braga ILS, Filho CMA. Alterações comportamentais causadas por distúrbios cognitivos.
In: Tommaso ABG, Moraes NS, Cruz EC, Kairalla MC, Cendorogio MS. Geriatria:
guia prático. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p.274-81.
Caldas GHO, Pires SL, Gorzoni ML. Neuropsychiatric symptoms and severity of
dementia. Dement Neuropsychol. 2013;7(2):171-5.
Calsolaro V, Femminella GD, Rogani S, Esposito S, Franchi R, Okoye C, et al. Behavioral
and psychological symptoms in dementia (BPSD) and the use of antipsychotics.
Pharmaceuticals. 2021;14(246):1-13.
Carrarani C, Russo M, Dono F, Barbone F, Rispoli MG, Ferri L, et al. Agitation and
dementia: prevention and treatment strategies in acute and chronic conditions.
Frontier in Neurology. 2021;12:644317. p.1-18.
Graczyk M, Lukowicz M, Dzierzanowski T. Prospects for the use of cannabinoids in
psychiatric disorders. Frontiers in Psychiatry. 2021;12:620073. p.1-9.
Kales HC, Gitlin LN, Lyketsos CG. Management of neuropsychiatric symptoms of
dementia in clinical settings: recommendations from a multidisciplinary expert
panel. J Am Geriatric Soc. 2014;62(4):762-9.
Lam HL, Li WTV, Laher I, Wang RY. Effects of music therapy and patients with
dementia: a systematic review. Geriatrics. 2020;5(62):1-14.
Lanctot KL, Amatniek J, Ancoli-Israel S, Arnold SE, Ballard C, Cohen-Mansfield J, et al.
Neuropsychiatric signs and symptoms of Alzheimer’s disease: new treatment
paradigms. Alzheimer and Dementia. 2017;3(3)440-9.
Levy C, Galenbeck E, Magid K. Cannabis for symptom management in older adults.
Med Clin N Am. 2020;104:471-89.
Loi SM, Westphal A, Ames D, Lautenschlager NT. Minimising psychotropic use for
behavioral disturbance in residential aged care. AFP. 2015;44(4):180-4.
Machado JCB. Doença de Alzheimer. In: Freitas EV, Py L. Tratado de geriatria e
gerontologia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2022. p.1469-86.
Magierski R, Sobow T, Schwertner E, Religa D. Pharmacotherapy of behavioral and
psychological symptoms of dementia: state of the art and future progress. Frontier
in Pharmacology. 2020;11:1168. p.1-15.
Masopust J, Protopopová D, Valis M, Pavelek Z, Klímová. Treatment of behavioral and
psychological symptoms of dementias with psychopharmaceuticals: a review.
Neuropsychiatric Disease and Treatment. 2018;I4:I211-I220.
Mendonça A, Couto FS. Sintomas psiquiátricos e comportamentais da demência. Rev
Port Clin Geral. 2010;26:55-60.
Outen JD, Burbanullab MH,Vandrey R, Amjad H, Harper DG, Patrick RE, et al.
Cannabinoids for agitation in Alzheimer’s disease. Am J Geriatric Psychiatry. 2021;
p.1-11.
Ryan NP, Scott L, McPhee M, Mathers S, Davis M-C, Maule R, et al. Evaluating the
utility of a structured clinical protocol for reducing the impact of behavioural and
psychological symptoms of dementia in progressive neurological diseases: a pilot
study. Behavioural Neurology. 2018.
Saab AAG, Aranha VC. Tratamento dos sintomas psicológicos e comportamentais na
demência. In: Ventura MM, Mendonça LP, Couto TV. Cuidado integral ao idoso
hospitalizado: abordagem interdisciplinar e discussão de protocolos. São Paulo:
Zagodoni; 2015. p.103-15.
Siqueira-Neto JI, Pontes-Neto OM, Vale FAC, Santos JV, Sales PMG, Santos AC.
Neuropsychiatric symptoms (NPS) in patients with pure vascular dementia (VaD)
and mixed dementia (MD) from a memory outpatient clinic in Southeast Brazil.
Dement Neuropsychol. 2013;7(3):263-8.
Tamai S. Tratamento dos transtornos do comportamento de pacientes com demência.
Revista Brasileira de Psiquiatria. 2002;24(Suppl I):15-21.
Tampi RR, Young JJ, Tampi DJ. Cannabinoids for the treatment of behavioral and
psychological symptoms of dementia. Neurodegenerative Disease Management.
2018;8(4): 211-3.
The Best Practice Advocacy Centre New Zealand. Managing the behavioural and
psychological symptoms of dementia. 2020. p.1-9.
Tyler RR, Derrick JT, Katherine EC. Behavioral disorders in dementia: appropriate
nondrug interventions and antipsychotic use. American Family Physician.
2016;94(4): 276-82.
Watt J A, Goodarzi Z, Veroniki AA, Nincic V, Khan PA, Ghassemi M, et al. Comparative
efficacy of interventions for reducing symptoms of depression in people with
dementia: systematic review and network meta-analysis. BMJ. 2021;372:n532. p.1-
13.
Zhang Y, Cai J, An L, Hui F, Ren T, Ma H, et al. Does music therapy enhance
behavioural and cognitive function in elderly dementia patients? A systematic
review and meta-analysis. Ageing Research Reviews. 2017;35:1-11.
Delirium no idoso 43
INTRODUÇÃO
Delirium é uma síndrome neuropsiquiátrica constituída
pela alteração aguda e flutuante do estado mental,
associada à dificuldade em focar, manter ou alternar a
atenção, e que geralmente se associa a uma condição
orgânica subjacente, correspondendo ao que seria um
quadro de insuficiência cerebral aguda. Ele aparece
quando o indivíduo é incapaz de manter a homeostase
cerebral em face de um ou mais agentes nocivos (Quadro
1).
Com o envelhecimento populacional, o delirium tem
importância crescente na atenção à saúde do idoso. Até
50% dos idosos hospitalizados são afetados pelo delirium
durante a internação e estima-se que mais de USD 160
bilhões sejam gastos anualmente nos EUA com o distúrbio.
Além disso, o delirium muitas vezes representa o ponto
inicial de uma cascata de eventos que leva a complicações
clínicas e prognóstico desfavorável, incluindo declínio
cognitivo e funcional, prolongamento de hospitalizações,
maior risco de institucionalização e maior
morbimortalidade.
A implementação de medidas de prevenção e o
reconhecimento precoce do delirium são fundamentais
para a redução desses desfechos, que revelam o evidente
impacto do delirium na saúde do idoso.
EPIDEMIOLOGIA
A prevalência de delirium na comunidade é baixa (1 a
2%), podendo chegar até 40% nas instituições de longa
permanência. Sua instalação costuma determinar a ida dos
pacientes às unidades de pronto atendimento, onde a
prevalência é de aproximadamente 25%. No entanto,
apenas 24 a 35% dos casos de delirium são identificados
nesse cenário. A frequência de delirium muda de acordo
com o ambiente estudado e o método de avaliação, com as
maiores incidências ocorrendo em unidades de terapia
intensiva (UTI), cuidados pós-operatórios e cuidados
paliativos. Contudo, é um distúrbio que acomete
especialmente indivíduos idosos, com incidência acumulada
descrita entre 29 e 64% em enfermarias gerais e
geriátricas.
FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA
Os mecanismos que levam à instalação de delirium são
complexos e ainda pouco compreendidos. Com o
envelhecimento, há uma redução da população neuronal,
do fluxo sanguíneo e de neurotransmissores reguladores do
estresse, bem como anormalidades da transmissão
colinérgica. Há também uma alteração da resposta das
células da glia aos estímulos nosológicos. Assim, alterações
metabólicas cerebrais, resultantes de hipóxia, hipo ou
hiperglicemia, inflamação sistêmica, estresse, privação de
sono, uso de medicamentos e aumento da permeabilidade
da barreira hematoencefálica, podem se combinar, levando
à perda de homeostase neurológica e ao desencadeamento
do delirium.
No entanto, o comprometimento de mecanismos
compensatórios explica apenas em parte a maior
suscetibilidade de idosos ao desenvolvimento de delirium.
Conhecendo a natureza multifatorial da síndrome, é pouco
provável que exista um único conjunto de componentes
contribuindo para sua instalação. O mais plausível é que
diferentes conjunções de fatores possam atuar
simultaneamente e compor estruturas causais variáveis,
levando à desorganização de redes neurais complexas e à
consequente insuficiência cerebral aguda. O intricado
equilíbrio entre fatores psicológicos, neurológicos e
imunológicos parece ter particular relevância para esse
processo, e estudos indicam que ativação imune e
inflamação crônicas, características da imunossenescência,
desempenham um papel central na fisiopatologia do
delirium.
Do ponto de vista clínico, o desenvolvimento do delirium
depende de uma complexa relação entre fatores que
conferem vulnerabilidade ao paciente e a exposição a
agentes nocivos, conhecidos respectivamente como fatores
predisponentes (Quadro 2) e fatores precipitantes (Quadro
3).
Características Idade
demográficas
Sexo masculino
Depressão maior
Imobilidade
História de quedas
Sedentarismo
Hipoacusia
Hepatopatia crônica
Doenças metabólicas
Doenças neurológicas
Aids
Desnutrição
Hipoalbuminemia
Fratura ou trauma
Drogas Polifarmácia
Etilismo
Uremia
Hipoglicemia, hiperglicemia
Hipoxemia, hipercapnia
Febre, hipotermia
Hipoperfusão, choque
Dor
QUADRO 3 Fatores precipitantes da ocorrência de delirium
Retenção urinária
Anemia aguda
Encefalopatia hipertensiva
Insuficiência adrenal
Convulsão
Trauma cranioencefálico
Sangramento intracraniano
Cirurgias ortopédicas
Ação anti-histamínica
Opioides
Quinolonas
Ambiente Hospitalização
QUADRO 3 Fatores precipitantes da ocorrência de delirium
Admissão em UTI
Contenção física
Sondas e cateteres
Privação de sono
QUADRO CLÍNICO
As principais características do delirium são a instalação
aguda e o curso flutuante. Aguda, pois as alterações da
cognição e da atenção tornam-se evidentes em algumas
horas ou poucos dias. Curso flutuante, porque seus
sintomas variam de intensidade ao longo do dia, podendo
inclusive cursar com períodos assintomáticos e intervalos
de lucidez. No entanto, em idosos, o início do quadro pode
ser insidioso, precedido por alguns dias de irritabilidade,
insônia e diminuição da concentração.
A alteração da atenção se caracteriza pela dificuldade
em focar, manter ou alternar a atenção. Percebe-se que os
pacientes afetados têm dificuldades para realizar tarefas
que exijam algum foco, como recitar os meses de trás para
a frente, obedecer a comandos com múltiplas etapas ou
acompanhar uma conversa, sendo facilmente distraídos.
O delirium representa uma disfunção global da
cognição, cursando com o comprometimento de outros
domínios cognitivos além da atenção. Pacientes com
delirium podem, por exemplo, apresentar alterações de
memória, principalmente da memória recente, com
dificuldades para assimilar novas informações. Também se
observam com frequência:
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de delirium é clínico e engloba duas
etapas essenciais: a detecção do delirium e o
esclarecimento de suas causas (Quadro 5).
Academicamente, o delirium é definido pela presença
dos critérios da quinta edição do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).
No entanto, inúmeros instrumentos foram desenvolvidos
nos últimos anos para uma melhor sistematização do
diagnóstico de delirium na prática clínica. Destacam-se
dentre esses instrumentos o Confusion Assessment Method
(CAM), instrumento validado para o português e que
abrange nove itens de avaliação:
SIM NÃO
2. Distúrbio de atenção
a. O paciente teve dificuldade em focalizar sua atenção, por exemplo, distraiu-
se facilmente ou teve dificuldade em acompanhar o que estava sendo dito?
□ Ausente a todo momento da entrevista.
□ Presente em algum momento da entrevista, porém levemente.
□ Presente em algum momento da entrevista, de maneira marcante.
□ Incerto.
QUADRO 4 Critérios empregados na versão curta do Confusion Assessment
Method para diagnóstico de delirium
ECG: eletrocardiograma.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
O plano de cuidados para pacientes com delirium se
fundamenta em quatro princípios básicos:
1. Evitar fatores precipitantes que desencadeiam e
agravam o estado confusional.
2. Identificar e tratar a causa do delirium, como doenças
agudas e descompensações de doenças crônicas.
3. Promover medidas de suporte e reabilitação para evitar
declínio físico e cognitivo.
4. Controlar sintomas psicomotores que coloquem em risco
o paciente, seu tratamento ou a equipe assistencial.
1. Déficit cognitivo.
2. Privação de sono.
3. Imobilidade.
4. Déficit visual.
5. Hipoacusia.
6. Desidratação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O delirium, que pode ser considerado uma insuficiência
orgânica, é um problema comum e potencialmente grave
em pacientes idosos, com impacto em mortalidade,
funcionalidade e cognição. O diagnóstico de delirium é
clínico e pode ser sistematizado com o Confusion
Assessment Method (CAM), que avalia tempo de instalação,
flutuação de sintomas, déficit de atenção, desorganização
do pensamento e nível de consciência.
Múltiplos fatores precipitantes e desencadeantes podem
interagir para produzir um quadro de delirium e devem ser
conhecidos tanto para a implementação de medidas
preventivas como de tratamento. A melhor estratégia de
combate ao delirium é a prevenção e o Hospital Elder Life
Program, o modelo de programa a ser implementado para
tanto. O tratamento de delirium se fundamenta na reversão
de fatores desencadeantes, e o tratamento medicamentoso
deve se restringir a pacientes com agitação perigosa.
BIBLIOGRAFIA
Avelino-Silva TJ, Campora F, Curiati JAE, Jacob-Filho W. Association between
delirium superimposed on dementia and mortality in hospitalized older
adults: a prospective cohort study. PLoS Med. 2017;14(3):e1002264.
Avelino-Silva TJ, Campora F, Curiati JAE, Jacob-Filho W. Prognostic effects of
delirium motor subtypes in hospitalized older adults: a prospective cohort
study. PLoS One. 2018;13(1):e0191092.
Fabbri RMA, Moreira MA, Garrido R, Almeida OP. Validity and reliability of the
Portuguese version of the Confusion Assessment Method (CAM) for the
detection of delirium in the elderly. Arq Neuropsiquiatr. 2001;59(2-A):175-9.
Faria, RSB, Moreno, RP. Delirium na unidade de cuidados intensivos: uma
realidade subdiagnosticada. Revista Brasileira de Terapia Intensiva.
2013;25(2):137-47.
Freitas EV, Py L. Tratado de geriatria e gerontologia. 5.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2022.
Furlaneto ME, Garcez-Leme LE. Delirium in elderly individuals with hip
fracture. Clínicas (São Paulo). 2006 ;61(1):35-40.
Garcez FB, Aliberti MJR, Poco PCE, Hiratsuka M, Takahashi SF, Coelho VA, et
al. Delirium and adverse outcomes in hospitalized patients with Covid-19.
Journal of the American Geriatrics Society. 2020;68(11):2440-6.
Gower, LEJ, Gatewood, MOK, Kang, CSK. Emergency department management
of delirium in the elderly. Western Journal of Emergency Medicine.
2012;13(2).
Hshieh TT, Inouye SK, Ohm ES. Delirium in the elderly. Clinics in Geriatric
Medicine. 2020;36(2):183-99.
Hshieh TT, Yang T, Gartaganis SL, Yue J, Inouye SK. Hospital Elder Life
Program: systematic review and meta-analysis of effectiveness. Am J Geriatr
Psychiatry. 2018;26(10): 1015-33.
Inouye SK, Bogardus ST Jr, Charpentier PA, Leo-Summers L, Acampora D,
Holford TR, et al. A multicomponent intervention to prevent delirium in
hospitalized older patients. N Engl J Med. 1999;340(9):669-76.
Inouye SK, Westendorp RG, Saczynski JS. Delirium in elderly people. Lancet.
2014;383(9920):911-22.
Inouye SK, Westendorp RGJ, Saczynski JS. Delirium in elderly people. Lancet.
2014;383(9920):911-22.
Maldonado JR. Neuropathogenesis of delirium: review of current etiologic
theories and common pathways. Am J Geriatr Psychiatry. 2013;21(12):1190-
222.
Mittal, V, Muralee, S. Williamson, D, McEnerney, N, Thomas, J, et al. Delirium in
the elderly: a comprehensive review. American Journal of Alzheimer’s
Disease and Other Dementias. 2011;26(2):97-109.
Savikko N, Pitkälä KH, Strandberg TE, Tilvis RS, Laurila JV. Diagnostic
agreement on delirium between the Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders, Fourth Edition; International Classification of Diseases,
Tenth Revision; Confusion Assessment Method (CAM); and the Five-Item
CAM in Older Adults with Dem. J Am Geriatr Soc. 2013;61(4):662-4.
Silva TJA, Jerussalmy CS, Farfel JM, Curiati JAE, Jacob-Filho W. Predictors of in-
hospital mortality among older patients. Clinics. 2009;64(7):613-8.
Tomasi CD, Grandi C, Salluh J, Soares M, Giombelli VR, Cascaes S, et al.
Comparison of CAM-ICU and ICDSC for the detection of delirium in critically
ill patients focusing on relevant clinical outcomes. J Crit Care.
2012;27(2):212-7.
Wilson JE, Mart MF, Cunningham C, Shehabi Y, Girard TD, et al. Delirium.
Nature Reviews: Disease Primers. 2000;6(9).
Depressão no idoso 44
INTRODUÇÃO
A depressão maior está entre os transtornos mentais
que mais acometem a população mundial. Caracteriza-se
pela presença de sintomas cardinais como humor
deprimido ou perda de interesse de forma acentuada,
ocasionando prejuízo no dia a dia por período maior do que
2 semanas.
Os transtornos depressivos, segundo o Manual de
Diagnóstico e Estatística em Saúde Mental, na sua quinta e
mais recente atualização (DSM-5), são divididos em:
transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno
depressivo persistente, transtorno disfórico pré-menstrual
e transtorno de depressão maior.
A depressão maior é o transtorno mental que mais
acomete a população idosa, e sua prevalência pode variar a
depender do ambiente em que o indivíduo está inserido.
Apresenta impacto altamente expressivo na
morbimortalidade nessa faixa etária, podendo se
manifestar como episódio único ou de forma recorrente.
A transição demográfica acentua os contrastes
observados nas formas de apresentações e abordagens de
todas enfermidades, não sendo diferente nas
psicopatologias. A forma acelerada desse fenômeno, típica
de países em desenvolvimento como o Brasil, redunda na
necessidade de rápida adaptação dos serviços de saúde em
seu enfrentamento.
Este capítulo abordará, com enfoque na prática clínica,
os aspectos relevantes dos transtornos depressivos na
população geriátrica.
EPIDEMIOLOGIA DA DEPRESSÃO
A prevalência de depressão maior em idosos apresenta
variações de acordo com a metodologia e os critérios
adotados para o diagnóstico. Por exemplo, existem
diferenças expressivas na prevalência de transtornos
depressivos de acordo com o local do estudo (comunidade,
instituição de longa permanência – ILP, unidades de
atenção básica, entre outros). Quando há rastreio de
transtornos depressivos na comunidade, a prevalência
varia de 4,8 a 14,6%; contudo, nas pesquisas realizadas em
ILP ou hospitais, a prevalência pode chegar a 22%.
Muitos fatores favorecem a instalação de sintomas
depressivos em idosos. O Quadro 1 apresenta alguns
fatores que corroboram a alta incidência de transtornos de
ansiedade e depressão na população idosa.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A depressão manifesta-se a partir da interação entre
fatores sociais, psicológicos, biológicos, genéticos e
epigenéticos.
Fatores estressores, bem como vivências e demandas
externas relacionadas com o contexto, podem contribuir
para o desencadeamento ou a manutenção do episódio
depressivo. Além disso, doenças cardiovasculares e de
transtornos de uso de substâncias, como determinados
medicamentos e álcool, são considerados fatores de risco e
podem influenciar no prognóstico do transtorno. Nessa
faixa etária, devem ser destacadas ainda a existência de um
número cada vez maior de idosos morando sozinhos, a
presença de comorbidades clínicas, a polifarmácia e as
inúmeras mudanças presentes no envelhecimento.
Em relação aos fatores endógenos, a fisiopatologia é
complexa. Norepinefrina, serotonina e dopamina são os
principais neurotransmissores associados à modulação do
humor. A deficiência e o funcionamento inadequado de um
ou mais desses neurotransmissores resultam na
suprarregulação compensatória dos receptores pós-
sinápticos, induzindo à depressão. Com o envelhecimento,
existe decréscimo desses neurotransmissores, o que pode
contribuir para maior prevalência de depressão.
Entretanto, ainda não existem evidências definitivas quanto
à fisiopatologia da depressão.
Além disso, as lesões cerebrais decorrentes de eventos
vasculares podem levar a sintomas depressivos
clinicamente significativos e depressão. Esse quadro é
frequentemente denominado depressão vascular e pode ser
acompanhado de declínio cognitivo, especialmente
alterações do funcionamento executivo e atenção.
QUADRO CLÍNICO
Na população idosa, a depressão maior apresenta
características clínicas particulares, dificultando o
diagnóstico diferencial e, consequentemente, o tratamento
desses transtornos em idosos. Na anamnese, é fundamental
obter informações acerca da vivência de episódios
anteriores ou saber se o primeiro episódio ocorreu na
velhice, uma vez que essas informações podem influenciar
no tratamento e no prognóstico do paciente.
De maneira geral, sintomas como alterações de sono e
psicomotoras, sintomas somáticos, fadiga ou perda de
energia e anedonia são mais prevalentes em idosos. Em
contrapartida, os idosos com depressão geralmente não
apresentam sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva
ou inapropriada.
A depressão de início tardio pode anteceder a redução
da função cognitiva, acometendo especialmente a atenção,
a memória de trabalho, a memória episódica, a função
executiva e a velocidade de processamento.
Outro aspecto fundamental é o diagnóstico diferencial
entre depressão e demência. Alguns pacientes com
depressão têm sintomas acentuados de disfunção cognitiva,
de difícil diferenciação dos sintomas da demência. Esse
quadro clínico é conhecido como pseudodemência, em que
sintomas depressivos estão associados a um déficit
cognitivo reversível, uma vez que, tratados os sintomas da
depressão, esse prejuízo pode ser revertido.
Por fim, sabe-se que a prevalência de tentativas de
suicídio no idoso é menor quando comparada com outras
faixas etárias. Entretanto, os índices de morte em
decorrência do suicídio são maiores nessa população, uma
vez que os idosos utilizam métodos mais letais para o
suicídio, comunicam menos sua intenção e apresentam
saúde mais frágil. Em idosos, o transtorno psiquiátrico está
presente em 71 a 97% dos casos de suicídio, sendo a
depressão maior o transtorno mais associado.
Sintomas fundamentais:
Humor deprimido.
Perda de interesse.
Fatigabilidade.
Sintomas acessórios:
QUADRO 3 Critérios para o diagnóstico de episódio depressivo de acordo
com a CID-10
Escala:
Leve: dois sintomas fundamentais + dois sintomas acessórios.
Moderado: dois sintomas fundamentais + três a quatro sintomas acessórios.
Grave: três sintomas fundamentais + quatro ou mais sintomas acessórios.
TRATAMENTO
O tratamento da depressão no idoso é, assim como em
qualquer faixa etária, subdividido em medidas não
farmacológicas e farmacológicas, que devem, via de regra,
ser oferecidos em conjunto ao paciente.
Psicoterapia
É a modalidade mais utilizada no tratamento da
depressão. Esse método tem amplo respaldo científico,
sendo sua eficácia demonstrada, de forma contundente, por
meio de diversos ensaios clínicos controlados.
Diante das diversas abordagens, como psicoterapia
grupal, psicoterapia interpessoal, psicodinâmica e terapia
cognitivo-comportamental (TCC), a TCC associada ao uso
de medicamentos apresenta resultados significativos em
curto e longo prazos. Um estudo com o objetivo de
identificar a eficácia da TCC em idosos com depressão
apresentou redução de 70% dos sintomas da doença.
Apesar da eficácia comprovada e semelhante à da
população adulta jovem, a efetividade da psicoterapia no
idoso, por outro lado, é menor. Fatores culturais,
financeiros e funcionais da população geriátrica são
determinantes na menor adesão observada nessa faixa
etária. Políticas de esclarecimento e acesso a essa
modalidade devem ser intensificadas.
Eletroconvulsoterapia
Também eficaz no paciente idoso, deve ser considerada
em situações de depressão refratária e intolerância a
sucessivas tentativas farmacológicas. Importante ressaltar
que, por demandar procedimento anestésico, não
raramente idosos apresentam contraindicação a sua
aplicação, pelas condições clínicas, em especial as doenças
cardiovasculares e respiratórias, altamente prevalentes
nessa faixa etária.
Tratamento farmacológico
Antidepressivos
A instituição da terapia com antidepressivos deve
sempre ser considerada no idoso com sintomas
depressivos, havendo ou não preenchidos os critérios
diagnósticos clássicos anteriormente descritos. Com baixa
sensibilidade, tais ferramentas, embora úteis, não devem
ser necessariamente positivas para iniciar-se a
farmacoterapia. A repercussão funcional global no paciente
deve ser imperativa nessa tomada de decisão.
Na escolha do medicamento antidepressivo e de sua
dose, diversos fatores devem ser considerados, como
interações medicamentosas, potencial de efeitos colaterais,
sintomas de ansiedade e depressão, gravidade do quadro,
história prévia de depressão e presença de outras
comorbidades clínicas.
Os antidepressivos são classificados de diversas formas,
havendo classes bem definidas e outros medicamentos mais
modernos e com efeitos farmacológicos mais complexos,
impossibilitando suas classificações de forma agrupada.
Seus mecanismos de ação atuam nos mecanismos
fisiopatológicos descritos anteriormente, promovendo
ajustes nas referidas vias neurotransmissoras.
Em linhas gerais, procura-se subdividir os
antidepressivos em classes, de forma simples e didática,
respeitando seus mecanismos de ação e a ordem
cronológica de desenvolvimento. São elas:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em razão da alta prevalência de depressão em
indivíduos idosos, é essencial a formação de profissionais
capacitados para atender a essa demanda, bem como a
formulação de políticas públicas que visem ao acesso a
serviços especializados e ao monitoramento desse
transtorno. Além disso, políticas de promoção à saúde e
prevenção com o objetivo de intervir nos fatores de risco e
precipitantes podem auxiliar na mudança desse perfil
epidemiológico.
Mirtazapina – 30 (15-45)
QUADRO 4 Antidepressivos utilizados e doses recomendadas no tratamento
de depressão em idosos
Nortriptilina – 50 (50-150)
Agomelatina – 25 (25-50)
Vortioxetina – 10 (5-20)
BIBLIOGRAFIA
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders (DSM-5®). 5.ed. American Psychiatric Pub; 2013.
Aziz R, Steffens DC. What are the causes of late-life depression? Psychiatr Clin
North Am. 2013;36(4):497-516.
Beck AT. The current state of cognitive therapy: a 40-year retrospective. Arch
Gen Psychiatry. 2005;62(9):953-9.
Bryant C, Jackson H, Ames D. The prevalence of anxiety in older adults:
methodological issues and a review of the literature. J Affect Disord.
2008;109(3):233-50.
Bunce D, Batterham PJ, Christensen H, Mackinnon AJ. Causal associations
between depression symptoms and cognition in a community-based cohort
of older adults. Am J Geriatr Psychiatry. 2014;22(12):1583-91.
Butters MA, Bhalla RK, Andreescu C, Wetherell JL, Mantella R, Begley AE, et al.
Changes in neuropsychological functioning following treatment for late-life
generalised anxiety disorder. Br J Psychiatry. 2011;199(3):211-8.
Butters MA, Whyte EM, Nebes RD, Begley AE, Dew MA, Mulsant BH, et al. The
nature and determinants of neuropsychological functioning in late-life
depression. Arch Gen Psychiatry. 2004;61(6):587-95.
Conwell Y, Van Orden K, Caine ED. Suicide in older adults. Psychiatr Clin North
Am. 2011;34(2):451-68.
Fiske A, Wetherell JL, Gatz M. Depression in older adults. Annu Rev Clin
Psychol. 2009;5:363-89.
Hogan MJ. Divided attention in older but not younger adults is impaired by
anxiety. Exp Aging Res. 2003; 29(2):111-36.
Mantella RC, Butters MA, Dew MA, Mulsant BH, Begley AE, Tracey B, et al.
Cognitive impairment in late-life generalized anxiety disorder. Am J Geriatr
Psychiatry. 2007; 15(8):673-9.
Nardi TT, Oliveira RG. A terapia cognitivo-comportamental e o envelhecimento.
In: Andretta I, Oliveira MDS, organizers. Manual prático de terapia
cognitivo-comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2011. p.507-18.
Organização Mundial da Saúde. CID-10: Classificação Estatística Internacional
de Doenças [disquete]. v.1. São Paulo: Edusp; 1994.
Siep N, Roefs A, Roebroeck A, Havermans R, Bonte M, Jansen A. Fighting food
temptations: the modulating effects of short-term cognitive reappraisal,
suppression, and up-regulation on mesocorticolimbic activity related to
appetitive motivation. Neuroimage. 2012;60(1):213-20.
Viana MC, Andrade LH. Lifetime prevalence, age and gender distribution and
age-of-onset of psychiatric disorders in the São Paulo Metropolitan Area,
Brazil: results from the São Paulo Megacity Mental Health Survey. Rev Bras
Psiquiatr. 2012;34(3):249-60.
45 Ansiedade no idoso
INTRODUÇÃO
Os transtornos de ansiedade estão entre as
psicopatologias que mais acometem a população mundial.
A ansiedade é uma emoção normal dos indivíduos, que
auxilia na identificação de determinadas ameaças no meio
e proporciona comportamentos de cautela, esquiva,
enfretamento ou fuga.
O medo é uma resposta emocional a uma ameaça real ou
percebida, gerando excitabilidade autonômica aumentada,
pensamentos de perigo imediato e comportamentos de luta
ou fuga.
Considera-se a ansiedade patológica quando o indivíduo
passa a apresentar preocupação e medo de forma excessiva
e não adaptativa, com prejuízo social significativo.
O Manual Diagnóstico e Estatística de Saúde Mental, na
sua quinta e mais recente atualização (DSM-5), divide os
transtornos de ansiedade em: agorafobia, transtorno de
pânico, transtorno de ansiedade social ou fobia social e
transtorno de ansiedade generalizada. Desses, o transtorno
de ansiedade generalizada (TAG) é o mais prevalente na
população idosa.
Deve-se destacar a ocorrência frequente de sintomas de
ansiedade e depressivos de forma comórbida, resultando
em quadros mais graves e crônicos. Do ponto de vista
causal, sempre devem ser levados em consideração fatores
ambientais, sociais e biológicos, tendo a idade um papel
fundamental nesses três componentes.
A transição demográfica acentua os contrastes
observados nas formas de apresentações e abordagens de
todas as enfermidades, não sendo diferente nas
psicopatologias. A forma acelerada desse fenômeno,
observada em países em desenvolvimento, como o Brasil,
redunda na necessidade de rápida adaptação dos serviços
de saúde no seu enfrentamento.
Este capítulo abordará, com enfoque na prática clínica,
os aspectos relevantes dos transtornos ansiosos na
população geriátrica.
EPIDEMIOLOGIA DA ANSIEDADE
Os transtornos de ansiedade apresentam variações na
prevalência de acordo com os critérios adotados para sua
identificação e local do estudo. Quando se trata da
prevalência desse transtorno identificado em estudos
realizados na comunidade, a taxa é de aproximadamente
15%, enquanto em estudos que controlam de forma mais
rigorosa o cenário clínico, a prevalência chega a 28%. Em
idosos acima de 65 anos, o TAG é o mais prevalente e afeta
cerca de 4,5% dessa população, seguido do transtorno de
ansiedade da separação (2,7%) e da agorafobia (2,4%).
O Quadro 1 apresenta alguns fatores que corroboram a
alta incidência de transtornos de ansiedade e depressão na
população idosa.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A etiologia da ansiedade é multifatorial e envolve
aspectos psicológicos, biológicos e sociais. A ansiedade
normalmente surge em resposta a eventos estressores, mas
também pode ser consequência de alterações genéticas.
Ademais, na presença de outras comorbidades clínicas, a
ansiedade pode surgir como sintoma somático ou efeito
colateral de medicamentos, o que é especialmente
importante no idoso.
No que se refere à fisiopatologia, a amígdala
desempenha função principal nos circuitos subjacentes aos
sintomas de ansiedade e medo, e disfunções desses
circuitos estão associadas aos sintomas. A regulação desses
circuitos é mediada por neurotransmissores como
serotonina, ácido gama-aminobutírico (GABA, gamma-
aminobutyric acid), noradrenalina e outros. A amígdala
mantém conexões com diversas regiões cerebrais,
integrando informações sensoriais e cognitivas e
possibilitando, dessa forma, a resposta ao medo. Respostas
autonômicas e cardiovasculares, como aumento da
frequência cardíaca e da pressão arterial, estão
relacionadas com os sentimentos de medo e são mediadas
por conexões entre a amígdala e o locus coeruleus. Na
ansiedade, essas respostas podem se manifestar de
maneira contínua e inadequada, aumentando o risco de
problema cardiovascular, de isquemia cardíaca e de morte
súbita.
Eventos estressores crônicos podem resultar em
alteração endócrina, na qual o eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal (HPA, hypothalamus-pituitary-adrenal) é ativado,
ocasionando aumento da síntese e da liberação de cortisol.
O frequente aumento de cortisol pode piorar outras
manifestações clínicas, dificultando a terapêutica de
doenças crônicas já frequentes nos idosos.
QUADRO CLÍNICO
Na população idosa, a ansiedade tem características
clínicas particulares, dificultando o diagnóstico diferencial
e, consequentemente, o tratamento desses transtornos
nessa faixa etária. Na anamnese, é fundamental obter
informações acerca da vivência de episódios anteriores,
bem como procurar especificar em quais momentos da vida
ocorreram.
Assim como em quadros depressivos, os transtornos de
ansiedade podem afetar a função cognitiva em idosos,
especialmente os domínios de memória e atenção.
Para o diagnóstico de TAG, o DSM-5 estabelece como
critério a presença de três ou mais dos sintomas
apresentados no Quadro 2, ocorrendo na maioria dos dias
por no mínimo 6 meses. As características fundamentais
são ansiedade e preocupação excessivas, resultando em
prejuízo social significativo. Assim como na depressão
maior, deve-se excluir a presença da perturbação devido a
efeitos fisiológicos de substâncias e a outra condição
médica, por exemplo, doenças cardíacas e hipertireoidismo.
TRATAMENTO
O tratamento dos transtornos de ansiedade é diverso e
multidimensional, sendo a farmacoterapia e a psicoterapia
seus dois grandes pilares. Os medicamentos utilizados são
chamados de psicotrópicos ou psicofármacos pela ação no
sistema nervoso central (SNC), e tanto na depressão
quanto nos transtornos de ansiedade deve ser dada
preferência aos antidepressivos.
Os antidepressivos utilizados no tratamento desses
quadros psicopatológicos no Brasil são apresentados no
Quadro 3. Na escolha do antidepressivo e da dose, diversos
fatores devem ser considerados, como interações
medicamentosas, potencial de efeitos colaterais, sintomas
de ansiedade e depressão, gravidade do quadro, história
prévia de depressão e presença de outras comorbidades
clínicas. Os benzodiazepínicos também são muito utilizados
nesses transtornos, porém são potencialmente inadequados
e devem ser usados de forma bastante criteriosa em idosos,
uma vez que essa classe acarreta aumento na incidência de
quedas, piora do déficit cognitivo e reação paradoxal mais
frequente.
Mirtazapina – 30 (15-45)
Nortriptilina – 50 (50-150)
Agomelatina – 25 (25-50)
Vortioxetina – 10 (5-20)
Depressão Ansiedade
Monitoramento de humor
Ativação comportamental
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela alta prevalência dos transtornos ansiosos em
indivíduos de 60 anos ou mais, é essencial a formação de
profissionais capacitados para atender a essa demanda,
bem como a formulação de políticas públicas que visem ao
acesso a serviços especializados e a seu adequado
monitoramento. Além disso, políticas de promoção à saúde
e prevenção com o objetivo de intervir nos fatores
precipitantes e de risco para a ocorrência desses
transtornos podem auxiliar na mudança desse perfil
epidemiológico.
A entrevista clínica detalhada e cuidadosa utilizando os
critérios do DSM-5 é padrão-ouro para diagnóstico dos
transtornos psiquiátricos. Entretanto, deve-se ressaltar que
os transtornos possuem diversas consequências sociais,
ambientais e psicológicas, que precisam ser levadas em
consideração dentro e fora do ambiente clínico.
Por fim, a utilização da TCC tem apresentado resultados
positivos na terapêutica desses transtornos e, quando
associada ao uso de antidepressivos, possibilita a
diminuição das recaídas e auxilia na minimização dos sinais
e sintomas da depressão maior e ansiedade em idosos.
BIBLIOGRAFIA
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders (DSM-5®). 5th ed. American Psychiatric Pub; 2013.
Aziz R, Steffens DC. What are the causes of late-life depression? Psychiatr Clin
North Am. 2013;36(4):497-516.
Beck AT. The current state of cognitive therapy: a 40-year retrospective. Arch
Gen Psychiatry. 2005;62(9):953-9.
Bryant C, Jackson H, Ames D. The prevalence of anxiety in older adults:
methodological issues and a review of the literature. J Affect Disord.
2008;109(3):233-50.
Bunce D, Batterham PJ, Christensen H, Mackinnon AJ. Causal associations
between depression symptoms and cognition in a community-based cohort
of older adults. Am J Geriatr Psychiatry. 2014;22(12):1583-91.
Butters MA, Bhalla RK, Andreescu C, Wetherell JL, Mantella R, Begley AE, et al.
Changes in neuropsychological functioning following treatment for late-life
generalised anxiety disorder. Br J Psychiatry. 2011;199(3):211-8.
Butters MA, Whyte EM, Nebes RD, Begley AE, Dew MA, Mulsant BH, et al. The
nature and determinants of neuropsychological functioning in late-life
depression. Arch Gen Psychiatry. 2004;61(6):587-95.
Conwell Y, Van Orden K, Caine ED. Suicide in older adults. Psychiatr Clin North
Am. 2011;34(2):451-68.
Fiske A, Wetherell JL, Gatz M. Depression in older adults. Annu Rev Clin
Psychol. 2009;5:363-89.
Hogan MJ. Divided attention in older but not younger adults is impaired by
anxiety. Exp Aging Res. 2003; 29(2):111-36.
Mantella RC, Butters MA, Dew MA, Mulsant BH, Begley AE, Tracey B, et al.
Cognitive impairment in late-life generalized anxiety disorder. Am J Geriatr
Psychiatry. 2007; 15(8):673-9.
Nardi TT, Oliveira RG. A terapia cognitivo-comportamental e o envelhecimento.
In: Andretta I, Oliveira MDS, organizadores. Manual prático de terapia
cognitivo-comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2011. p.507-18.
Organização Mundial da Saúde (OMS). CID-10: Classificação Estatística
Internacional de Doenças [disquete]. v.1. São Paulo: Edusp; 1994.
Siep N, Roefs A, Roebroeck A, Havermans R, Bonte M, Jansen A. Fighting food
temptations: the modulating effects of short-term cognitive reappraisal,
suppression, and up-regulation on mesocorticolimbic activity related to
appetitive motivation. Neuroimage. 2012;60(1):213-20.
Viana MC, Andrade LH. Lifetime prevalence, age and gender distribution and
age-of-onset of psychiatric disorders in the São Paulo Metropolitan Area,
Brazil: results from the São Paulo Megacity Mental Health Survey. Rev Bras
Psiquiatr. 2012;34(3):249-60.
Distúrbios do sono mais frequentes na terceira 46
idade
Erika Satomi
INTRODUÇÃO
Queixas relacionadas ao sono são frequentes no
consultório daqueles que atendem a população idosa. É
estimado que ao menos metade dos idosos tenha ao menos
uma queixa, sendo as mais comuns insônias e sonolência
diurna, e muitas queixas de sono podem ser indicadoras de
saúde precária. Em um estudo com 3 anos de
acompanhamento, idosos tiveram a resolução de seus
sintomas de sono com a melhora da saúde, sugerindo que
sono de má qualidade não é consequência do
envelhecimento normal. Apesar da elevada prevalência de
queixas de sono, muitas vezes crônicas, em cerca de
metade dos casos o problema não é diagnosticado.
Alguns distúrbios frequentes na população idosa
costumam ter impacto negativo no sono, como síndromes
dolorosas; osteoartrite; doenças do trato digestivo,
pulmonares, cardíacas, renais, urológicas e
neuropsiquiátricas. Nessas situações, tanto os sintomas das
doenças como complicações a elas relacionadas, ansiedade
pela condição e efeitos adversos relacionados a seu
tratamento contribuem para piora do sono. Por outro lado,
nem sempre queixas de sono são acompanhadas por
doenças sistêmicas, e as alterações do sono podem trazer
diversas complicações, como piora da qualidade de vida e
do risco cardiovascular, piora cognitiva, aumento do risco
de quedas, de institucionalização e da mortalidade.
INSÔNIA
A insônia é definida como uma queixa de perturbação do
sono na presença da oportunidade adequada para o sono
por pelo menos 1 mês. A queixa pode consistir em
dificuldade para iniciar o sono, para mantê-lo, despertar
muito precoce ou sono não restaurativo ou de má
qualidade. Além disso, a dificuldade em relação ao sono
deve surtir efeito negativo nas funções diárias.
A insônia pode ser classificada como primária ou
comórbida. A primeira implica que não foi identificada
nenhuma outra causa para a alteração do sono. A segunda
é a mais comum e associada a doenças psiquiátricas (p. ex.,
ansiedade, depressão, abuso de substâncias), doenças
sistêmicas (p. ex., cardiopulmonares, neurológicas),
medicações e outros distúrbios primários do sono (p. ex.,
síndrome da apneia obstrutiva do sono, síndrome das
pernas inquietas). Por esse motivo, idosos com pior
qualidade de saúde e em uso de polifarmácia estão mais
vulneráveis a apresentar esse problema. Nesses casos, a
anamnese detalhada é essencial, incluindo avaliação de
descompensação de comorbidades, uso de medicações,
horário de ingesta destas e investigação dirigida à queixa
de sono e sua repercussão diurna (Quadros 2 e 3). Nessa
população é comum que a insônia seja multifatorial.
Apesar da alta frequência da prescrição de medicações
para o tratamento da insônia, terapias não farmacológicas
demonstraram serem tão eficazes quanto, mais duradouras
e mais seguras. Dentre elas, terapia cognitivo-
comportamental multimodal, incluindo instruções de
higiene do sono, controle de estímulo e terapia de restrição
de sono com reestruturação cognitiva, parece ser a mais
eficaz. Outras modalidades, como terapia de relaxamento,
massagem, atividade física, cronoterapia e terapia de luz,
são usadas para tratamento da insônia.
Betabloqueadores.
Broncodilatadores.
Corticosteroides.
Descongestionantes.
Diuréticos.
Inibidor de recaptação de serotonina/inibidor de recaptação de serotonina e
noradrenalina.
Medicações que contenham cafeína ou nicotina.
Sentado e lendo.
Assistindo à TV.
Sentado quieto, em um lugar público (p. ex., em um teatro, reunião ou
palestra).
Andando de carro por uma hora sem parar, como passageiro.
Sentado quieto após o almoço sem bebida de álcool.
Em um carro parado no trânsito por alguns minutos.
BIBLIOGRAFIA
Allen RP, Picchietti DL, Garcia-Borreguero WG, Ondo AS, Walters JW,
Winkelman M, et al. Restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease diagnostic
criteria: Updated International Restless Legs Syndrome Study Group
(IRLSSG) Consensus Criteria: history, rationale, description, and
significance. Sleep Med. 2014;15(8) 860-73.
American Academy of Sleep Medicine. International Classification of Sleep
Disorders: diagnostic and cosing manual. 2nd ed. Westchester, IL, 2005.
Berry RB, Light RW. Effect of Hyperoxia on the arousal response to airway
occlusion during sleep in normal subjects. Am Rev Respir Dis. 1992;146(2).
Berry SD, Lee Y, Cai S, Dore DD. Nonbenzodiazepine sleep medication use and
hip fractures in nursing home residents. JAMA Intern Med. 2013;173(9):754-
61.
Bertolazi AN, Fagondes SC, Hoff LS, Pedro VD, Menna Barreto SS, Johns MW.
Portuguese-language version of the Epworth Sleepiness Scale: validation for
use in Brazil. J Bras Pneumol. 2009;35(9):877-83.
Bloom HG, Ahmed I, Alessi CA, Ancoli-Israel C, Buysse CJ, Kryger MH, et al.
Evidence-based recommendations for the assessment and management of
sleep disorders in older persons. J Am Geriatr Soc. 2009;57(5):761-89.
Collop NA, Anderson WM, Boehlecke B, Claman D, Goldberg R, Gottlieb DJ, et
al. Clinical guidelines for the use of unattended portable monitors in the
diagnosis of obstructive sleep apnea in adult patients. Portable Monitoring
Task Force of the American Academy of Sleep Medicine. J Clin Sleep Med.
2007;3(7):737-47.
Darcourt G, Pringuey D, Sallière D, Lavoisy J. The safety and tolerability of
zolpidem: an update. J Psychopharmacol. 1999;13(1):81-3.
Epstein LJ, Kristo D, Strollo PJ, Friedman N, Malhotra A, Patil SP, et al. Clinical
guideline for the evaluation, management, and long-term care of obstructive
sleep apnea in adults. J Clin Sleep Med. 2009;5(3):263-76.
Foley DJ, Monjan AA, Brown SL, Simonsick EM, Wallace RB, Blazer DG. Sleep
complaints among elderly persons: an epidemiologic study of three
communities. Sleep. 1995 Jul;18(6):425-32.
Foley DJ, Monjan A, Simonsick EM, Wallace RB, Blazer DG. Incidence and
remission of insomnia among elderly adults: an epidemiologic study of 6,800
persons over three years. Sleep. 1999;22(Suppl 2):S366-72
Gay P, Weaver T, Loube D, Iber C; Positive Airway Pressure Task Force,
Standards of Practice Committee, and American Academy of Sleep
Medicine. Evaluation of positive airway pressure treatment for sleep related
breathing disorders in adults. Sleep. 2006;29(3):381-401.
Hirshkowitz M, Whiton K, Albert SM, Alessi C, Bruni O, DonCarlos L, et al.
National Sleep Foundation’s Updated Sleep Duration Recommendations:
final report. Sleep Health. 2015;1(4):233-43.
Javaheri S, Barbe F, Campos-Rodriguez F, Dempsey JA, Khayat R, Malhotra A,
M. A. Martinez-Garcia, et al. Sleep apnea: types, mechanisms, and clinical
cardiovascular consequences. J Am Coll Cardiol. 2017;69(7):841-58.
Johns MW. A new method for measuring daytime sleepiness: The Epworth
Sleepiness Scale. Sleep. 1991;14(6):540-5.
Krystal AD, Durrence HH, Scharf M, Jochelson P, Rogowski R, Ludington E, et
al. Efficacy and safety of doxepin 1 mg and 3 mg in a 12-week sleep
laboratory and outpatient trial of elderly subjects with chronic primary
insomnia. Sleep. 2010;33(11):1553-61.
Kushida CA, Morgenthaler TI, Littner MR, Alessi CA, Bailey D, Coleman J, et al.
Practice parameters for the treatment of snoring and obstructive sleep
apnea with oral appliances: an update for 2005. Sleep. 2006;29(2):240-3.
Littner MR, Kushida C, Anderson MW, Bailey D, Berry RB, Hirshkowitz M, et al.
Practice parameters for the dopaminergic treatment of restless legs
syndrome and periodic limb movement disorder. Sleep. 2004;27(3):557-9.
Masters PA. In the clinic: insomnia. Ann Intern Med. 2014;161(7):ITC1-15; quiz
ITC16.
McCall WV. Diagnosis and management of insomnia in older people. J Am
Geriatr Soc. 2005;53(7 Suppl):S272-7.
McCurry SM, Logsdon RG, Teri L, Vitiello MV. Evidence-based psychological
treatments for insomnia in older adults. Psychol Aging. 2007;22(1):18-27.
Mehra R, Stone KL, Blackwell T, Ancoli Israel S, Dam TT, Stefanick ML, S. et
al.; Osteoporotic Fractures in Men Study. Prevalence and correlates of sleep-
disordered breathing in older men: osteoporotic fractures in men sleep
study. J Am Geriatr Soc. 2007;55(9):1356-64.
Mitchell MD, Gehrman P, Perlis M, Umscheid CA. Comparative effectiveness of
cognitive behavioral therapy for insomnia: a systematic review. BMC Fam
Pract. 2012; 13:40.
National Institutes of Health (NIH). National Institutes of Health State of the
Science Conference Statement on Manifestations and Management of
Chronic Insomnia in Adults, June 13-15, 2005. Sleep. 2005;28(9):1049-57.
O’Keeffe ST, Gavin K, Lavan JN. Iron status and restless legs syndrome in the
elderly. Age Ageing. 1994;23(3):200-3.
Ohayon MM, Carskadon MA, Guilleminault C, Vitiello MV. Meta-analysis of
quantitative sleep parameters from childhood to old age in healthy
individuals: developing normative sleep values across the human lifespan.
Sleep. 2004;27(7):1255-73.
Ohayon M, Wickwire EM, Hirshkowitz M, Albert SM, Avidan A, Daly FJ, et al.
National Sleep Foundation’s Sleep Quality Recommendations: first report.
Sleep Health. 2017;3(1):6-19.
Peppard PE, Young T, Barnet JH, Palta M, Hagen EW, Hla KM. Increased
prevalence of sleep-disordered breathing in adults. Am J Epidemiol.
2013;177(9):1006-14.
Peppard PE, Young T, Palta M, Dempsey J, Skatrud J. Longitudinal study of
moderate weight change and sleep-disordered breathing. JAMA.
2000;284(23):3015-21.
Sateia MJ, Buysse DJ, Krystal AD, Neubauer DN, Heald JL. Clinical practice
guideline for the pharmacologic treatment of chronic insomnia in adults: an
American Academy of Sleep Medicine Clinical practice guideline. J Clin
Sleep Med. 2017;13(2):307-49.
Wortelboer U, Cohrs S, Rodenbeck A, Rüther E. Tolerability of hypnosedatives
in older patients. Drugs Aging. 2002;19(7):529-39.
Young T, Palta M, Dempsey J, Skatrud J, Weber S, Badr S. The occurrence of
sleep-disordered breathing among middle-aged adults. N Engl J Med.
1993;328(17):1230-5.
Neuroimagem nas demências 47
INTRODUÇÃO
O significativo aumento na expectativa de vida da
população foi acompanhado de maior incidência de
doenças crônicas e de processos degenerativos, incluindo o
acometimento do sistema nervoso central, tornando a
demência um problema cada vez mais prevalente em uma
população com maior porcentagem de idosos.
O termo demência se refere a uma síndrome clínica em
vez de uma doença específica, e se caracteriza por uma
condição adquirida que causa declínio cognitivo suficiente
para comprometer as atividades da vida diária de uma
pessoa. Várias doenças podem levar a perdas cognitivas e
acarretar demência, incluindo trauma, infecções, doenças
inflamatórias, entre outras. Aqui, serão ressaltadas as
doenças neurodegenerativas e vasculares, que
classicamente têm aumento significativo de sua incidência
com o envelhecimento.
As doenças neurodegenerativas se caracterizam pela
disfunção e perda neuronal progressiva. O acometimento
dos sistemas funcionais difere entre as doenças
neurodegenerativas e está associado a largo espectro de
manifestações clínicas. Enquanto a compreensão clássica
de doenças neurodegenerativas enfatiza predileções
regionais ou lobares, como o envolvimento dos lobos
temporal e parietal em doença de Alzheimer (DA) ou dos
lobos frontotemporais em demência frontotemporal (DFT),
estudos têm demonstrado que doenças neurodegenerativas
resultando em demências atingem em larga escala redes
neurais. Contudo, o conceito de localização regional de
doenças neurodegenerativas continua sendo uma
ferramenta útil ao interpretar imagens de pacientes com
um quadro neurodegenerativo.
Nesse contexto, médicos nucleares e radiologistas se
tornaram membros essenciais da equipe multidisciplinar
responsável pelo cuidado dessa população com doenças
neurodegenerativas.
O intuito deste capítulo é discutir o papel das diferentes
técnicas de neuroimagem, incluindo a tomografia
computadorizada (TC), a ressonância magnética (RM), a
tomografia com emissão de pósitrons (PET) e a tomografia
computadorizada com emissão de fóton único (SPECT) no
auxílio ao diagnóstico das etiologias neurodegenerativas
mais frequentes que levam à demência.
SPECT cerebral
Doença de Alzheimer
Neuroimagem estrutural
Como uma entidade neurodegenerativa, a DA está
inevitavelmente associada a atrofia cerebral, e sua
distribuição observada nos estudos de neuroimagem
estrutural reflete a fisiopatologia da doença, que mais
frequentemente acomete as regiões temporal mesial
(Figuras 3 e 4) e parietal e mais raramente em maior grau
a região frontal.
O estudo de neuroimagem reflete as alterações
neuropatológicas do acometimento do córtex entorrinal e
do hipocampo e em seguida de regiões corticais
associativas, como o cíngulo e a região parietal, geralmente
de maneira bilateral e simétrica (Figura 5). Em
consequência da atrofia, pode ser observado aumento da
distância fimbriossubicular, alargamento do sulco
hipocampal, assim como do corno temporal do ventrículo
lateral e da fissura coroide. Importante ressaltar que o
acometimento hipocampal ocorre no decorrer da doença,
assim como sua progressão, portanto a ausência de atrofia
temporal mesial não exclui o diagnóstico de DA.
Neuroimagem funcional
Os achados típicos incluem diminuição da captação de
18
[ F]-FDG no córtex de associação parietal, temporal, no
cíngulo posterior e pré-cúneo, e ainda na região de
associação frontal em indivíduos em estágio mais avançado
da doença, ou como variante frontal da DA, com
preservação relativa de captação no córtex sensório-motor
primário, no córtex visual, gânglios da base, tálamos,
tronco encefálico e cerebelo (Figura 8). A diminuição da
captação de [18F]-FDG no cíngulo posterior é considerada
um sinal precoce de DA.
FIGURA 6 Escala MTA para avaliação de atrofia temporal mesial.
MTA 0: sem atrofia.
MTA 1: alargamento da fissura coroide.
MTA 2: também há alargamento do corno temporal do ventrículo lateral.
MTA 3: perda moderada do volume do hipocampo (perda em altura).
MTA 4: perda acentuada do volume do hipocampo.
Abaixo de 75 anos: escore 2 ou mais é anormal.
Acima de 75 anos: escore 3 ou mais é anormal.
Escala de ERICA
Neuroimagem estrutural
A avaliação por métodos estruturais de neuroimagem
habitualmente não é específica, sendo o achado mais
frequente a atrofia encefálica global, com alargamento dos
ventrículos cerebrais, sulcos corticais e fissuras (Figura 9).
Em comparação com a DA, há relativa preservação das
estruturas temporais mesiais, que podem apresentar
atrofia, porém esta ocorre de forma proporcional às demais
regiões do parênquima encefálico. Adicionalmente, a perda
do hipersinal da região do nigrossomo 1 na sequência de
suscetibilidade magnética de alta resolução é descrita
como útil no diagnóstico de doenças parkinsonianas
neurodegenerativas, dando suporte ao diagnóstico de DCL.
Neuroimagem funcional
No padrão clássico de PET-FDG é relatada diminuição da
captação de [18F]-FDG no lobo occipital em DCL, em
particular no córtex visual primário. Alteração semelhante
é vista em DP com demência. A diminuição da captação de
18
[ F]-FDG no córtex occipital é considerada um
biomarcador de “suporte” para DCL. Tal como referido
previamente, hipometabolismo no córtex de associação
visual também pode ser observado na DA. Desse modo, a
atividade no córtex visual primário pode diferenciar com
mais precisão DCL de DA. O sinal da “ilha do cíngulo”, em
que a captação de [18F]-FDG está preservada no cíngulo
posterior na DCL, foi relatado e pode ajudar na
interpretação de imagens (Figura 10). No entanto, esse
sinal não foi validado por resultados de autópsia.
Se houver suspeita clínica de DCL, outras ferramentas,
como DAT-SPECT ou cintilografia miocárdica com [I-123]-
metaiodobenzilguanidina (MIBG), devem ser consideradas,
sobretudo para diferenciar de DA.
Neuroimagem estrutural
Os exames de imagem podem dar importante suporte ao
diagnóstico, demonstrando a atrofia simétrica ou
assimétrica dos lobos frontais e temporais, com um
gradiente anteroposterior (Figura 11) e com acometimento
inicial habitualmente relacionado ao córtex orbitofrontal.
As imagens estruturais também podem demonstrar atrofia
na região anterior do lobo temporal, com redução da
amígdala e da cabeça do hipocampo. Na evolução da
doença, a atrofia pode se estender até a região dorsolateral
do córtex frontal, e os giros apresentam redução
progressiva em sua espessura. Estágios avançados
assumem um aspecto de “lâmina de faca”. O acometimento
subcortical e profundo, com áreas de gliose e
desmielinização, principalmente nos casos mais avançados,
podem ser observadas como áreas de hipersinal T2/FLAIR.
Em períodos iniciais da doença, o aspecto em imagem
estrutural pode estar normal.
Neuroimagem funcional
No PET-FDG pode ser observado hipometabolismo
temporal anterior e frontal, e ainda hipometabolismo no
núcleo caudado. O envolvimento do lobo temporal anterior
difere do padrão em DA, em que o lobo temporal médio-
posterior é normalmente envolvido. O envolvimento
assimétrico dos hemisférios é comum (Quadro 2).
ACP: atrofia cortical posterior; DA: doença de Alzheimer; DCL: demência por
corpos de Lewy; DFT: demência frontotemporal.
ACP: atrofia cortical posterior; DA: doença de Alzheimer; DCL: demência por
corpos de Lewy; DFT: demência frontotemporal.
FIGURA 12 Ressonância magnética na afasia primária progressiva, variante
não fluente. A e B: coronal e sagital T1, exame inicial de 2014, sem alterações.
C e D: coronal e sagital T1. Exame de 2019 demonstrando a atrofia ao redor da
fissura de Sylvius (setas) no hemisfério cerebral esquerdo (dominante).
Degeneração corticobasal
Neuroimagem estrutural
Os exames de neuroimagem estrutural têm como
principal achado a atrofia cortical assimétrica, mais
evidente na região rolândica (Figura 14). A atrofia cortical
torna-se mais acentuada com a progressão da doença.
Regiões com hipersinal T2/FLAIR na substância subjacente
às regiões atróficas também são descritas, assim como
atrofia e alteração de sinal dos núcleos da base.
Neuroimagem funcional
A DCB, assim como a paralisia supranuclear progressiva
(PSP) e a atrofia de múltiplos sistemas (AMS), compõe um
grupo de doenças parkinsonianas atípicas, em que o DAT-
SPECT geralmente mostra déficit de transportador
dopaminérgico. Isoladamente, o DAT-SPECT tem papel
limitado no diagnóstico diferencial entre PSP, DCB e AMS,
enquanto os padrões de alteração no PET-FDG auxiliam
nesse diagnóstico em síndromes parkinsonianas. Na DCB, o
PET-FDG mostra diminuição da atividade glicolítica nas
regiões frontoparietais (córtex sensório-motor)
assimetricamente, com envolvimento do corpo estriado ou
tálamo ipsilateral ao lado afetado.
Síndromes parkinsonianas
Doença de Parkinson
A DP é a segunda doença neurodegenerativa mais
comum, sendo superada apenas pela DA, e teve um
aumento significativo de sua prevalência nas últimas três
décadas. A DP faz parte do grupo das sinucleinopatias, nas
quais há deposição da proteína alfassinucleína, agregando-
se de forma anômala ao tecido neuronal e formando os
corpos de Lewy, característica patológica desse grupo de
doenças.
Apesar desses marcadores patológicos, a fisiopatologia
da doença não está totalmente esclarecida, devido ao
acometimento de múltiplas vias no processo
neurodegenerativo. Ainda não existe um biomarcador que
possa definir o diagnóstico de DP. O diagnóstico é baseado
nos sintomas clínicos, com a presença de parkinsonismo,
uma designação sindrômica, com um conjunto de sintomas
motores. A bradicinesia é uma característica fundamental,
mas compreende outros achados, como o tremor de
repouso, um movimento involuntário e rítmico, e a rigidez,
com aumento do tônus muscular e da resistência na
movimentação passiva.
Os distúrbios motores causam incapacidade progressiva,
com prejuízo das atividades diárias e redução na qualidade
de vida. Há também alteração de postura, tipicamente
fletida, e na marcha, que é lenta, de base estreita e com
passos curtos. Apesar de ser considerada desordem
motora, uma série de sintomas não motores pode estar
presente, com hiposmia, constipação, disfunção urinária,
hipotensão ortostática, perda de memória e distúrbios do
sono. O diagnóstico clínico é suportado por reposta clara à
terapêutica dopaminérgica.
Neuroimagem estrutural
As neuroimagens estruturais habitualmente não
demonstram alterações significativas na DP. Apesar disso,
devem fazer parte do processo diagnóstico, pois auxiliam
na distinção de formas secundárias e atípicas de síndromes
parkinsonianas, já que alguns achados em neuroimagem
estrutural, apesar de apresentarem baixa sensibilidade,
podem ser específicos para algumas entidades.
Algumas técnicas mais recentes em neuroimagem, como
a sequência para avaliação de neuromelanina e a técnica
de suscetibilidade magnética, têm potencial para a
avaliação da doença nigral na DP. A avaliação da
neuromelanina tem demonstrado sensibilidade e
especificidade acima de 80% na diferenciação de DP e
indivíduos-controle. Já a técnica de suscetibilidade
magnética, com perda da área de hipersinal nigral dorsal,
referida como correspondente à região do nigrossomo-1 em
pacientes com DP, tem demonstrado alta sensibilidade e
especificidade para diferenciação de indivíduos controle,
sendo sugerida como um potencial biomarcador. Apesar de
potencial marcador precoce da DP, o achado não é indicado
para diferenciar a DP de outras síndromes parkinsonianas
degenerativas.
Neuroimagem funcional
Pelo consenso europeu, o PET-FDG é recomendado para
uso clínico na avaliação de DP com déficit cognitivo,
inclusive pelo valor prognóstico que o PET possui em
determinar futuros déficits cognitivos. Nesses casos, o PET-
FDG demonstra áreas de hipometabolismo, com uma
correlação entre estado mental e a extensão de
envolvimento cortical e subcortical na transição de DP para
demência de Parkinson, como no parietal lateral, occipital,
córtex de associação temporal, cíngulo anterior, pré-cúneo
e núcleo caudado. Nos pacientes com DP foi identificado
esse padrão cognitivo, que porém não se correlaciona com
o déficit motor.
Neuroimagem funcional
O estudo de PET-FDG demonstra hipometabolismo
bilateral no cerebelo, na ponte e no putâmen. A
lateralidade dos sintomas se correlaciona com a
apresentação clínica. No caso de hipometabolismo
cerebelar isolado, deve-se considerar outras etiologias,
como ataxia espinocerebelar ou síndrome paraneoplásica.
Neuroimagem estrutural
A neuroimagem estrutural tem um importante papel na
exclusão de outras doenças, como leucoencefalopatias,
doença vascular, hidrocefalia e neoplasias. Pode também
demonstrar alterações que dão suporte ao diagnóstico
clínico. A atrofia predominante no mesencéfalo (Figura 17),
com perda da convexidade superior do tegmento
mesencefálico, retificação ou aspecto côncavo, mostra um
aspecto em imagens sagitais denominado “sinal do
pinguim” ou “ sinal do beija-flor”. Quando observada no
plano axial, a atrofia determina um aspecto referido como
“sinal do Mickey Mouse”. Pode ocorrer a presença de
hipersinal T2/FLAIR no mesencéfalo, com alta
especificidade para a entidade.
FIGURA 17 Ressonância magnética na PSP. A: sagital T1 demonstrando a
significativa redução de volume do mesencéfalo (seta). B: axial FLAIR
demonstrando o hipersinal no mesencéfalo (ponta de seta).
Neuroimagem funcional
Estudo de PET-FDG mostra hipometabolismo glicolítico
no lobo frontal medial e dorsolateral, no cíngulo anterior e
no núcleo caudado (particularmente contralateral ao lado
clinicamente mais afetado).
Demência vascular
Topográfico
QUADRO 4 Definições operacionais pela parte radiológica dos critérios de
NINDS-AIREN
Doença de Huntington
Doença de Creutzfeldt-Jakob
Amiloide
Tau
OUTROS MÉTODOS
MIBG cardíaco
BIBLIOGRAFIA
Bir SC, Khan MW, Javalkar V, Toledo EG, Kelley RE. Emerging Concepts in
Vascular Dementia: A Review. J Stroke Cerebrovasc Dis. 2021;30(8):105864.
Burkett BJ, Babcock JC, Lowe VJ, Graff-Radford J, Subramaniam RM, Johnson
DR. PET Imaging of Dementia: Update 2022. Clin Nucl Med.
2022;47(9):763-73.
Cabreira V, Massano J. Doença de parkinson: revisão clínica e atualização
[Parkinson’s disease: clinical review and update]. Acta Med Port.
2019;32(10):661-670.
Constantinides VC, Paraskevas GP, Paraskevas PG, Stefanis L, Kapaki E.
Corticobasal degeneration and corticobasal syndrome: A review. Clin Park
Relat Disord. 2019;1:66-71.
Dave A, Hansen N, Downey R, Johnson C. FDG-PET imaging of dementia and
neurodegenerative disease. Semin Ultrasound CT MR. 2020;41(6):562-71.
Deutschländer AB, Ross OA, Dickson DW, Wszolek ZK. Atypical parkinsonian
syndromes: a general neurologist’s perspective. Eur J Neurol.
2018;25(1):41-58.
Dubois B, Villain N, Frisoni GB, et al. Clinical diagnosis of Alzheimer’s disease:
recommendations of the International Working Group. Lancet Neurol.
2021;20(6):484-96.
Ferrando R, Damian A. Brain SPECT as a biomarker of neurodegeneration in
dementia in the era of molecular imaging: still a valid option?. Front Neurol.
2021;12:629442.
Gilman S, Wenning GK, Low PA, et al. Second consensus statement on the
diagnosis of multiple system atrophy. Neurology. 2008;71(9):670-6.
Haeger A, Mangin JF, Vignaud A, et al. Imaging the aging brain: study design
and baseline findings of the SENIOR cohort. Alzheimers Res Ther.
2020;12(1):77.
Höglinger GU, Respondek G, Stamelou M, et al. Clinical diagnosis of
progressive supranuclear palsy: The movement disorder society criteria.
Mov Disord. 2017;32(6): 853-64.
Ismail Z, Black SE, Camicioli R, et al. Recommendations of the 5th Canadian
Consensus Conference on the diagnosis and treatment of dementia.
Alzheimers Dement. 2020; 16(8):1182-95.
Jack CR Jr, Bennett DA, Blennow K, et al. NIA-AA Research Framework: Toward
a biological definition of Alzheimer’s disease. Alzheimers Dement.
2018;14(4):535-62.
James OG, Doraiswamy PM, Borges-Neto S. PET Imaging of Tau Pathology in
Alzheimer’s Disease and Tauopathies. Front Neurol. 2015;6:38.
Kanekar S, Poot JD. Neuroimaging of vascular dementia. Radiol Clin North Am.
2014;52(2):383-401.
Kerwin D, Abdelnour C, Caramelli P, et al. Alzheimer’s disease diagnosis and
management: Perspectives from around the world. Alzheimers Dement
(Amst). 2022;14(1): e12334.
Kovacs GG. Concepts and classification of neurodegenerative diseases. Handb
Clin Neurol. 2017;145:301-7.
Lizarraga KJ, Gorgulho A, Chen W, De Salles AA. Molecular imaging of
movement disorders. World J Radiol. 2016; 8(3):226-39.
McKeith IG, Boeve BF, Dickson DW, et al. Diagnosis and management of
dementia with Lewy bodies: Fourth consensus report of the DLB
Consortium. Neurology. 2017;89(1):88-100.
Minoshima S, Drzezga AE, Barthel H, et al. SNMMI procedure standard/EANM
practice guideline for amyloid PET imaging of the brain 1.0. J Nucl Med.
2016;57(8):1316-22.
Nakajima M, Yamada S, Miyajima M, et al. Guidelines for management of
idiopathic normal pressure hydrocephalus (third edition): endorsed by the
Japanese Society of Normal Pressure Hydrocephalus. Neurol Med Chir
(Tokyo). 2021;61(2):63-97.
O’Brien JT, Thomas A. Vascular dementia. Lancet. 2015;386(10004):1698-706.
Oliveira LM, Nitrini R, Román GC. Normal-pressure hydrocephalus: a critical
review [published correction appears in dement neuropsychol.
2019;13(3):361]. Dement Neuropsychol. 2019;13(2):133-43.
Pan XD, Chen XC. Clinic, neuropathology and molecular genetics of
frontotemporal dementia: a mini-review. Transl Neurodegener. 2013;2(1):8.
Patel KP, Wymer DT, Bhatia VK, Duara R, Rajadhyaksha CD. Multimodality
imaging of dementia: clinical importance and role of integrated anatomic
and molecular imaging. Radiographics. 2020;40(1):200-22.
Peterson BS. Editorial: Biomarkers in precision medicine for mental illnesses. J
Child Psychol Psychiatry. 2020;61(12): 1279-81.
Quigley H, Colloby SJ, O’Brien JT. PET imaging of brain amyloid in dementia: a
review. Int J Geriatr Psychiatry. 2011;26(10):991-99.
Raposo Rodríguez L, Tovar Salazar DJ, Fernández García N, Pastor Hernández
L, Fernández Guinea Ó. Magnetic resonance imaging in dementia.
Resonancia magnética en las demencias. Radiologia (Engl Ed). 2018;60(6):
476-84.
Renard D, Castelnovo G, Collombier L, Thouvenot E, Boudousq V. FDG-PET in
Creutzfeldt-Jakob disease: analysis of clinical-PET correlation. Prion.
2017;11(6):440-53.
Sachdev P, Kalaria R, O’Brien J, et al. Diagnostic criteria for vascular cognitive
disorders: a VASCOG statement. Alzheimer Dis Assoc Disord.
2014;28(3):206-18.
Sakakibara R, Tateno F, Kishi M, Tsuyusaki Y, Terada H, Inaoka T. MIBG
myocardial scintigraphy in pre-motor Parkinson’s disease: a review.
Parkinsonism Relat Disord. 2014; 20(3):267-73.
Sorbi S, Hort J, Erkinjuntti T, et al. EFNS-ENS Guidelines on the diagnosis and
management of disorders associated with dementia. Eur J Neurol.
2012;19(9):1159-79.
Tian M, Civelek AC, Carrio I, et al. International consensus on the use of tau
PET imaging agent 18F-flortaucipir in Alzheimer’s disease. Eur J Nucl Med
Mol Imaging. 2022;49(3):895-904.
Tolosa E, Garrido A, Scholz SW, Poewe W. Challenges in the diagnosis of
Parkinson’s disease. Lancet Neurol. 2021; 20(5):385-97.
Verma A, Hesterman JY, Chazen JL, et al. Intrathecal 99mTc-DTPA imaging of
molecular passage from lumbar cerebrospinal fluid to brain and periphery in
humans. Alzheimers Dement (Amst). 2020;12(1):e12030.
Villain N, Dubois B. Alzheimer’s disease including focal presentations. Semin
Neurol. 2019;39(2):213-26.
Walker Z, Gandolfo F, Orini S, et al. Clinical utility of FDG PET in Parkinson’s
disease and atypical parkinsonism associated with dementia. Eur J Nucl Med
Mol Imaging. 2018;45(9):1534-45.
Xia C, Dickerson BC. Multimodal PET imaging of amyloid and tau pathology in
alzheimer disease and non-alzheimer disease dementias. PET Clin.
2017;12(3):351-9.
SEÇÃO VII
INTRODUÇÃO
A perda de pelo menos 5% do peso habitual de um idoso
em um período de 6 a 12 meses sem o propósito de
emagrecimento deve ser motivo de preocupação. A perda
involuntária de peso é uma queixa frequente na prática
clínica, que acomete em torno de 15 a 20% da população
idosa comunitária e entre 50 e 65% dos institucionalizados
e hospitalizados. É associada a maior mortalidade e
desfechos adversos relacionados com sarcopenia e
síndrome da fragilidade. A perda de peso pode estar ou não
relacionada com condições como desnutrição ou caquexia,
e sua etiologia pode compreender desde alterações de fácil
correção até doenças sistêmicas graves.
Um dos fenômenos mais conhecidos do envelhecimento
é o relativo a aumento da gordura corporal à custa de
perda de massa magra. Tal alteração está no cerne do
aumento da resistência à insulina que se observa na
senescência e provavelmente é uma das principais causas
para a discrepância observada no desempenho funcional
entre homens e mulheres, que são mais afetadas pela
fragilidade, pois, em comparação com os homens, têm em
média menos reserva musculoesquelética.
Apenas em função da alteração de composição corporal
seria esperada perda de pelo menos 100 g/ano a partir dos
60 anos. Na prática, as trajetórias de evolução do peso ao
longo da vida têm grande variação, mas de fato o peso
médio dos idosos é menor do que o dos adultos e há
proporcionalmente mais indivíduos de baixo peso entre
idosos e mais de sobrepeso entre adultos. Na média é mais
comum que idosos percam peso do que ganhem.
Embora possam ser contraintuitivos ou eventualmente
mal interpretados, tais fatos são bem estudados e
documentados. Como nas primeiras décadas do
envelhecimento o menor gasto energético basal decorrente
das alterações da composição corporal não é acompanhado
de redução proporcional de apetite, é comum que o pico da
massa corporal do indivíduo ocorra entre 55 e 65 anos, o
que geralmente se associa a aumento da circunferência
abdominal (o chamado spread da meia-idade). Muitos
idosos mais jovens, particularmente os mais atentos à
saúde, receiam continuar ganhando peso nas fases mais
avançadas da vida, e muitos profissionais de saúde
recomendam metas de peso, em desacordo com as
melhores evidências de benefício à saúde e à longevidade.
As maiores taxas de sobrevida são observadas em
indivíduos que envelhecem com índices de massa corporal
2
(IMC) que correspondem a sobrepeso, entre 25 e 30 kg/m .
Mesmo os efeitos adversos da obesidade parecem ser
atenuados no envelhecimento, enquanto o baixo peso, já
2
abaixo de 22 kg/m , reiteradamente se mostra associado a
desfechos negativos, sendo crítico um valor em torno de
18,5 kg/m2. Em suma, dados observacionais mostram que o
peso médio dos idosos é menor do que o dos adultos,
entretanto, na população idosa, os IMC mais vantajosos
(associados a melhores desfechos) são maiores do que na
população adulta.
Sociais Pobreza
Morar só
Isolamento emocional
Desinformação nutricional
Psíquicas Demência
Depressão
Luto
Anorexia ou bulimia
Alcoolismo
Manipulação
Fobias
Neoplasia
QUADRO 1 Causas comuns de perda involuntária de peso em idosos
Efeito de drogas
Incapacidade funcional
1. Dentição.
2. Disfagia.
3. Disgeusia.
4. Disfunção.
5. Drogas.
6. Depressão.
7. Demência.
8. Diarreia.
9. Doença.
Efeito Droga
Neoplasias (16-36%).
Transtorno psiquiátrico (9-42%).
Doença gastroinestinal (6-19%).
Doença endócrina (4-11%).
Doença cardiovascular (2-9%).
Distúrbio nutricional ou alcoolismo (4-8%).
Doença respiratória (± 6%).
Distúrbio neurológico (2-7%).
Infecção crônica (2-5%).
Doença renal (4%).
Doença do tecido conjuntivo (2-4%).
Induzida por medicamentos (2%).
Causa desconhecida (10-36%).
AVALIAÇÃO CLÍNICA
A perda involuntária de peso pode ser uma queixa
espontânea do paciente ou de seu responsável ou pode ser
detectada pelo clínico atento que o acompanha. Boa parte
dos pacientes não dá a devida importância à perda de peso
ou mesmo não se apercebe dela, enquanto até metade dos
pacientes que se queixam de terem emagrecido muito não
tem registro documentado de tal ocorrência. Diante disso, é
fundamental que se tenha o registro do peso do indivíduo a
cada consulta, e, na ausência de melhores informações,
roupas largas ou próteses dentárias frouxas podem ser
bons indícios de emagrecimento recente.
Uma anamnese detalhada pode apontar problemas
evidentes, como questões familiares ou sociais, efeitos
adversos de medicamentos, sintomas depressivos ou
psicóticos, disfunções cognitivas ou problemas clínicos. O
exame físico deve abranger inspeção cuidadosa da
cavidade oral, observação do trofismo muscular e da
adequação das vestes, palpação de cadeias ganglionares e
pesquisa de massas palpáveis. Além da avaliação de peso e
altura, a obtenção de algumas medidas antropométricas,
como a aferição da circunferência braquial (no ponto médio
entre olécrano e acrômio) e da circunferência da
panturrilha (o maior perímetro da panturrilha com o
indivíduo em pé), pode ajudar a estimar o estado
nutricional: a circunferência de panturrilha inferior a 31
cm sugere desnutrição em ambos os sexos. Se possível (p.
ex., no caso de pacientes internados), a observação do
paciente se alimentando pode auxiliar o clínico a
compreender melhor os eventuais entraves à boa nutrição.
A Figura 1 resume uma proposta de avaliação
sistematizada da queixa. Para todos os casos é
recomendada avaliação laboratorial sucinta, que deve
abranger hemograma, marcadores de doença inflamatória,
parâmetros do metabolismo glicêmico e de função
tireoidiana, de função renal e marcadores de afecções
digestivas, além de dosagem de albumina e radiografia de
tórax. Pela avaliação inicial, a maioria das etiologias já
poderá ser classificada como social, psiquiátrica, doença
sistêmica, doença do aparelho digestório, infecção crônica
ou neoplasia maligna. Para a definição mais precisa das
doenças desses três últimos grupos podem ser necessários
exames mais específicos.
Uma vez que é de alta prevalência entre portadores de
perda involuntária de peso e por se tratar de uma doença
potencialmente letal, é legítima a preocupação de
pesquisar a presença de câncer. Em geral, com os exames
sugeridos na Figura 1 acrescidos de exames de rastreio
para as neoplasias mais comuns, é possível ter uma
avaliação abrangente de potenciais focos de câncer.
Estudos prévios tentaram estabelecer quais os melhores
preditores de neoplasia entre indivíduos que se apresentam
com perda involuntária de peso, e entre os parâmetros
mais consistentes estão idade avançada, baixos níveis de
albumina sérica e níveis aumentados de fosfatase alcalina.
Foi demonstrado que uma avaliação inicial composta por
exames laboratoriais (hemograma, proteína C-reativa,
aminotransferases, desidrogenase láctica, fosfatase
alcalina, albumina e ferritina), radiografia de tórax e
ultrassonografia de abdome, quando resulta em achados
completamente normais, aponta para baixa probabilidade
de doença orgânica, particularmente neoplasia. Na maioria
dos casos em que foi feito o diagnóstico de neoplasia, o
exame físico já evidenciou alterações sugestivas, e, quando
a neoplasia se manifesta, a princípio, pela perda de peso ou
caquexia, isso geralmente indica mau prognóstico. Por
outro lado, também tem sido demonstrado que uma
avaliação inicial negativa se associa a bom prognóstico, ou
seja, a significativa proporção de pacientes para quem não
se estabelece um diagnóstico orgânico (o que inclui aqueles
com doenças psiquiátricas e os casos em que não se chegou
a diagnóstico evidente) evolui no longo prazo com
estabilização ou melhora de seu quadro clínico.
DIAGNÓSTICO DE DESNUTRIÇÃO
A Academia de Nutrição e Dietética e a Sociedade
Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (Aspen), em
2012, propuseram os seguintes critérios, com pelo menos
duas destas seis características:
FIGURA 1 Avaliação da perda involuntária de peso.
ALT: alanina aminotransferase; AST: aspartato aminotransferase; CMV:
citomegalovírus; GGT: gamaglutamiltransferase; HIV: vírus da imunodeficiência
humana; PCR: proteína C-reativa; PSA: prostate-specific antigen (antígeno
prostático específico); PSOF: pesquisa de sangue oculto nas fezes; TC:
tomografia computadorizada; TSH: thyroid stimulating hormone (hormônio
estimulador da tireoide); USG: ultrassonografia; VHS: velocidade de
hemossedimentação.
Triagem:
Diagnóstico
TRATAMENTO
O tratamento da desnutrição requer a reversão de sua
causa e a adequada recuperação nutricional. Para a
estimativa de quantidade de energia a ser fornecida para
idosos, podem ser usadas as seguintes equações:
Sedentário = 1.
Baixa atividade = 1,12.
Ativo = 1,27.
Muito ativo = 1,45.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A perda involuntária de peso e a desnutrição são
situações comuns na população idosa, e associam-se a
risco de fragilidade, adoecimento e mortalidade, de
modo que é mister que o geriatra saiba reconhecê-las e
tratá-las.
A perda involuntária de peso é um dos principais
marcadores de fragilidade.
A investigação da perda de peso já foi bastante estudada,
e há vários algoritmos propostos para sua execução;
neste capítulo apresentamos nossa sugestão. No sentido
de evitar desperdícios e iatrogenias diagnósticas,
convém lembrar que a investigação da perda de peso não
precisa ser exaustiva, e que frequentemente causas não
orgânicas podem ser responsáveis pelo quadro. Além
disso, uma investigação inicial negativa geralmente
indica bom prognóstico.
Alguma perda progressiva de peso, bem como certa
perda de apetite e saciedade mais precoce, são comuns
no envelhecimento. A desnutrição, porém, não deve ser
encarada como “natural”, devendo ser identificada e
tratada.
O tratamento da desnutrição começa com a identificação
das necessidades nutricionais do indivíduo, passa pela
retirada de eventuais restrições desnecessárias e pode
incluir o uso de suplementos nutricionais.
O uso de estimulantes do apetite não costuma ser
recomendado, pelos efeitos adversos a eles associados e
pela escassez de evidências clínicas que amparem seu
emprego.
BIBLIOGRAFIA
Abellan van Kan G. Epidemiology and consequences of sarcopenia J Nutr
Health Aging. 2009;13(8):708-12.
Agarwal E, Miller M, Yaxley A. Malnutrition in the elderly: a narrative review.
Maturitas. 2013;76:296-302.
Alibhai SMH, Greenwood C, Payette H. An approach to the management of
unintentional weight loss in elderly people. CMAJ. 2005;172(6):773-80.
American Geriatrics Society Ethics Committee and Clinical Practice and
Models of Care Committee. American Geriatrics Society feeding tubes in
advanced dementia position statement. J Am Geriatr Soc. 2014;62(8):1590-3.
Baicus C, Rimbas M, Baicus A, Caraiola S, Grupul de Studiu al Scaderii
Ponderale Involuntare. Cancer and involuntary weight loss: failure to
validate a prediction score. PLoS One. 2014;9(4):e95286.
Bouras EP, Lange SM, Scolapio JS. Rational approach to patients with
unintentional weight loss. Mayo Clin Proc. 2001;76(9):923-9.
Chapman IM. Weight loss in older persons. Med Clin North Am.
2011;95(3):579-93.
Clegg ME, Williams EA. Optimizing nutrition in older people. Maturitas.
2018;112:34-8.
Coppini LZ, Sampaio H, Marco D, Martini C. Recomendações nutricionais para
adultos em terapia nutricional enteral e parenteral. Projeto Diretrizes.
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral/Sociedade Brasileira
de Clínica Médica/Associação Brasileira de Nutrologia; 2011. Available:
https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/recomendacoes_nutricionais_de_a
dultos_em_terapia_nutricional_enteral_e_parenteral.pdf. (Acesso fev 2023.)
Evans TA, Gupta R. Approach to the patient with weight loss. UpToDate.
Waltham (U.S.): Wolters Kluwer; 2019 [updated 2019 May 17]. Available:
https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-patient-with-
unintentional-weight-loss. (Acesso fev 2023.)
Gaddey HL, Holder K. Unintentional weight loss in older adults. Am Fam
Physician. 2014;89(9):718-22.
Gammack JK, Sanford AM. Caloric supplements for the elderly. Curr Opin Clin
Nutr Metab Care. 2015;18(1):32-6.
Hernández, JL, Matorras, P, Riancho, JA, González-Macías, J. Involuntary weight
loss without specific symptoms: a clinical prediction score for malignant
neoplasm. QJM. 2003;96(9):649-55.
Huffman GB. Evaluating and treating unintentional weight loss in the elderly.
Am Fam Physician. 2002;65(4):640-50.
Institute of Medicine of the National Academies. Dietary reference intakes for
energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino
acids. Washington: The National Academies Press; 2005. Available:
https://www.nap.edu/read/10490/chapter/1. (Acesso fev 2023.)
Jensen GL, Cederholm T, Correia MITD, Gonzalez MC, Fukushima R,
Higashiguchi T, et al. GLIM Criteria for the diagnosis of malnutrition: a
consensus report from the global clinical nutrition community. JPEN.
2019;43(1):32-40.
Jensen GL, Compher C, Sullivan DH. Recognizing malnutrition in adults:
definitions and characteristics, screening, assessment, and team approach.
JPEN. 2013;37(6:)802-7.
Loprinzi CL, Jatoi A. Pharmacologic management of cancer anorexia/cachexia.
UpToDate. Waltham (U.S.): Wolters Kluwer; 2019 [cited 2020 Jan 7].
Available: https://www.uptodate.com/contents/pharmacologic-management-
of-cancer-anorexia-cachexia. (Acesso fev 2023.)
Marton KI, Sox Jr HC, Krupp JR. Involuntary weight loss: diagnostic and
prognostic significance. Ann Int Med. 1981;95(5):568-74.
Mathus-Vliegen EM; Obesity Management Task Force of the European
Association for the Study of Obesity. Prevalence, pathophysiology, health
consequences and treatment options of obesity in the elderly: a guideline.
Obes Facts. 2012;5(3):460-83.
McMinn J, Steel C, Bowman A. Investigation and management of unintentional
weight loss in older adults. BMJ. 2011;342:d1732.
Mendes BCF, Amaral JRG. Perda de peso involuntária. In: Sociedade Brasileira
de Geriatria e Gerontologia, Kitner D, Jaluul O, editores. Programa de
Atualização em Geriatria e Gerontologia (Proger). Ciclo 2. Porto Alegre:
Artmed Panamericana; 2016.
Metalidis C, Knockaert DC, Bobbaers H, Vanderschueren S. Involuntary weight
loss: does a negative baseline evaluation provide adequate reassurance? Eur
J Intern Med. 2008:19(5):345-9.
Milne AC, Potter J, Vivanti A, Avenell A. Protein and energy supplementation in
elderly people at risk from malnutrition. Cochrane Database Syst Rev.
2009;15(2): CD003288.
Mithal A, Bonjour J-P, Boonen S, Burckhardt P, Degens H, El Haji F. Impact of
nutrition on muscle mass, strength, and performance in older adults.
Osteoporos Int. 2013;24: 1555-6.
Moriguti JC, Moriguti EK, Ferriolli E, de Castilho Cação J, Iucif Jr N, Marchini
JS. Involuntary weight loss in elderly individuals: assessment and treatment.
Sao Paulo Med J. 2001;119(2):72-7.
Morley JE. Anorexia of aging: a true geriatric syndrome. J Nutr Health Aging.
2012;16(5):422-5.
Mueller C, Compher C, Ellen MD. Nutrition screening, assessment, and
intervention in adults. JPEN. 2011;35(1):16-24.
Póvoa TR, Moriguti JC. Perda involuntária de peso. In: Moriguti JC, Lima NKC,
Ferriolli E, editores. Desafios do diagnóstico diferencial em geriatria. São
Paulo: Atheneu; 2012. p.723-37.
Ritchie C, Yukawa M. Geriatric nutrition: nutritional issues in older adults.
UpToDate. Waltham (U.S.): Wolters Kluwer; 2019 [cited 2020 Jan 7].
Available: https://www.uptodate.com/contents/geriatric-nutrition-nutritional-
issues-in-older-adults. (Acesso fev 2023.)
Robbins LJ. Evaluation of weight loss in the elderly. Geriatrics. 1989;44(4):31-4,
37.
Shuetz P, Tribolet P, Gressies C. Nutrition issues in the general medical ward
patient: from general screening to specific diagnosis and individualized
treatment. JPEN. 2022;1-8.
Soenen S, Chapman IM. Body weight, anorexia, and undernutrition in older
people. J Am Med Dir Assoc. 2013; 14(9):642-8.
Somes GW, Kritchevsky SB, Shorr RI, Pahor M, Applegate WB. Body mass
index, weight change, and death in older adults: the systolic hypertension in
the elderly program. Am J Epidemiol. 2002;156(2):132-8.
Sternberg SA, Wershof Schwartz A, Karunananthan S, Bergman H, Mark
Clarfield A. The identification of frailty: a systematic literature review. J Am
Ger Soc. 2011;59(11): 2129-38.
Sullivan DH, Johnson LE. Nutrition and aging. In: Halter JB, Ouslander JG,
Tinetti ME, Studenski S, High KP, Asthana S, editors. Hazzard’s geriatric
medicine and gerontology. 6th ed. New York: MacGraw-Hill; 2009. p.439-57.
Volkert D, Beck AM, Cederholm T, Jentoft AC, Goisser S, Hooper L et al. Espen
guideline on clinical nutrition and hydration in geriatrics. Clinical Nutrition.
2019;38:10-47.
White JV, Guenter P, Jensen G, Malone A, Schofield M; Academy Malnutrition
Work Group; et al. Consensus statement: Academy of Nutrition and Dietetics
and American Society for Parenteral and Enteral Nutrition: characteristics
recommended for the identification and documentation of adult malnutrition
(undernutrition). JPEN. 2012;36(3):275-83.
Willett WC, Dietz WH, Colditz GA. Guidelines for healthy weight. N Engl J Med.
1999;341(6):427-34.
Wise GR, Craig D. Evaluation of involuntary weight loss: where do you start?
Postgrad Med. 1994;95(4):143-6, 149-50.
49 Manejo das lesões por pressão
INTRODUÇÃO
Lesões de pele e tecidos moles induzidas por pressão estão entre
as condições mais comuns encontradas em pacientes hospitalizados
ou que requerem cuidados institucionais de longo prazo. Por
definição, trata-se de um dano localizado na pele e/ou tecidos moles
subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea ou
relacionada ao uso de dispositivo médico ou a outro artefato. A
lesão ocorre como resultado da pressão intensa e/ou prolongada em
combinação com o cisalhamento, mas é, adicionalmente,
influenciada pelo microclima, nutrição, perfusão, comorbidades e
pela sua condição. A pele superficial é menos suscetível ao dano
induzido por pressão do que os tecidos mais profundos, portanto a
aparência externa pode subestimar a extensão do dano.
A alteração da nomenclatura “úlcera por pressão” por “lesão por
pressão” foi realizada desde 2016, pela National Pressure Ulcer
Advisory Panel (NPUAP), uma organização norte-americana
dedicada à prevenção e ao tratamento de lesões por pressão. Além
disso, a mesma instituição realizou algumas mudanças nos termos
classificatórios e acrescentou duas novas definições.
A Política Nacional de Segurança do Paciente, criada pelo
Ministério da Saúde em 2013, possui um de seus eixos com a
temática da prevenção de lesões por pressão, visto que os danos
decorrentes dificultam o processo de recuperação funcional,
frequentemente causando dor e levando ao desenvolvimento de
infecções graves. Ainda, estão associadas a internações
prolongadas, sepse e mortalidade.
Quanto à etiologia, as lesões podem ser causadas por fatores
internos e externos. Os fatores externos são aqueles que impedem a
circulação sobre a superfície da pele, como a pressão, o
cisalhamento e a fricção, sendo o primeiro fator o mais importante,
uma vez que um tecido mole é comprimido entre uma saliência
óssea e uma superfície dura, causando a isquemia.
Já os fatores intrínsecos incluem idade extrema, má nutrição,
imobilidade, alteração do nível de consciência, incontinência
urinária ou fecal, peso corporal, diminuição da sensibilidade à dor,
desidratação, alterações respiratórias, hipertermia, uso de
medicamentos (analgésicos, esteroides e sedativos), presença de
doenças crônicas como o diabetes, alterações circulatórias e
etilismo.
CLASSIFICAÇÃO E ETIOLOGIA
A classificação atualmente adotada engloba os seguintes
estágios:
AVALIAÇÃO CLÍNICA
O manejo das lesões de pele e tecidos moles induzidas por
pressão começa com a avaliação clínica da ferida e uma avaliação
abrangente da condição médica geral do paciente e dos fatores de
risco para identificar condições reversíveis.
As áreas identificadas de danos na pele devem ser avaliadas
quanto ao comprimento, largura e profundidade; presença de
fístulas, tecido necrótico ou exsudato; e evidências de cicatrização,
como a presença de granulação.
A dor é frequentemente associada a lesões de pele e tecidos
moles induzidas por pressão, e a dor pode ser uma manifestação
precoce de uma ferida em desenvolvimento. Uma avaliação
abrangente da dor deve ser realizada em todos os indivíduos com
lesões de pele e tecidos moles induzidas por pressão.
As infecções prejudicam a cicatrização de feridas. A
possibilidade de infecção deve ser considerada mesmo na ausência
de sinais sistêmicos, como febre e leucocitose. A infecção das lesões
por pressão pode apresentar sinais locais de envolvimento dos
tecidos moles, como calor, eritema, sensibilidade local, secreção
purulenta e presença de odor fétido. No entanto, as manifestações
da infecção podem ser variáveis, sendo o atraso na cicatrização da
ferida o único sinal de infecção.
Tais lesões podem servir como reservatórios para organismos
resistentes, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina,
enterococos resistentes à vancomicina e bacilos Gram-negativos
multirresistentes.
Outras complicações possíveis são:
CUIDADOS GERAIS
Após a avaliação adequada, o manejo da lesão se inicia com a
limpeza, a partir do uso de soro fisiológico (SF) 0,9%,
preferencialmente morno, em jato.
O desbridamento que visa à remoção do tecido desvitalizado,
quando houver necessidade, deverá ocorrer sem agredir o tecido de
granulação, por meio de um dos processos a seguir:
TRATAMENTO
O tratamento de feridas segue os princípios gerais de tratamento
de feridas, que incluem desbridamento do tecido necrótico e
curativos apropriados ou tamponamento para promover a
cicatrização do leito da ferida e cobertura da ferida, quando
indicado.
O tratamento específico é orientado pelo estágio da lesão
cutânea. O desenvolvimento de lesão por pressão deve ser
considerado uma indicação de que o paciente está em alto risco
para outras lesões induzidas por pressão, e medidas preventivas
intensivas devem ser tomadas.
Em suma,
INICIATIVAS DE QUALIDADE
Os principais componentes de iniciativas de prevenção bem-
sucedidas estão listados a seguir:
BIBLIOGRAFIA
Brasil. Anvisa. Práticas seguras para prevenção de lesão por pressão em serviços de
saúde. Nota Técnica GVIMS/GGTES n. 03/2017. Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. Brasília, 2017.
Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo para prevenção de úlcera por pressão. Programa
Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, 2013.
Correia ASB, Santos IBC. Lesão por pressão: medidas terapêuticas utilizadas por
profissionais de enfermagem. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. 2019;23(1):33-
42. Available: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2019/08/1008168/36793-109434-1-
pb.pdf. (acesso jan 2023).
Cramer EM, Seneviratne MG, Sharifi H, Ozturk A, Hernandez-Boussard T. Predicting the
incidence of pressure ulcers in the intensive care unit using machine learning. EGEMS
(Wash DC). 2019;7:49.
European Pressure Ulcer, National Pressure Injury, and Pan Pacific. Prevention and
treatment of pressure ulcers/injuries: clinical practice guideline. EPUAP/NPIAP/PPPIA,
2019.
Kottner J, Cuddigan J, Carville K, Balzer K, Berlowitz D, Law S, et al. Pressure ulcer/injury
classification today: an international perspective. J Tissue Viability. 2020;29:197.
Labeau SO, Afonso E, Benbenishty J, Blackwood B, Boulanger C, Brett SJ, et al. Prevalence,
associated factors and outcomes of pressure injuries in adult intensive care unit
patients: the DecubICUs study. Intensive Care Med. 2021;47:160.
Lyder CH. Pressure ulcer prevention and management. JAMA. 2003; 89:223.
Paranhos WY, Santos VLCG. Avaliação de risco para úlceras de pressão por meio da Escala
de Braden, na língua portuguesa. Rev Esc Enferm USP. 1999;33(nº esp):191-206.
Available: http://143.107.173.8/reeusp/upload/pdf/799.pdf.
VanGilder CA, Cox J, Edsberg LE, Koloms K. Pressure injury prevalence in acute care
hospitals with unit-specific analysis: results from the International Pressure Ulcer
Prevalence (IPUP) Survey Database. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2021;48:492.
50 Maus-tratos em idosos
INTRODUÇÃO
Maus-tratos (MT) em idosos é uma situação frequente,
apesar de menos divulgada e conhecida do que o ideal.
Trata-se de problema de saúde pública, com consequências
individuais e para a sociedade, sendo considerada a
condição geriátrica prevalente mais passível de medidas
preventivas. Estima-se que 1 em cada 10 idosos venha a
sofrer algum tipo de abuso por alguém “de confiança” a
cada ano, embora o número de casos relatados a
autoridades seja bem menor. Outros dados mostram que o
número de casos não relatados pode ser ainda maior,
chegando a um caso relatado a cada 24 ocorrências.
Causas para subnotificação incluem ausência de
ferramentas adequadas de rastreio, ausência de
treinamento formal e ações educativas em relação aos
sinais de MT, bem como ausência de habilidades de
reconhecimento e para reportar as ocorrências.
As consequências negativas associadas a MT são:
aumento de mortalidade (2-3 vezes maior risco de morte),
maior incidência de demência (desfecho e fator de risco) e
depressão. Outros desfechos negativos são idas frequentes
a setores de emergência, hospitalização e
institucionalização. Estima-se custo anual de USD 5,3
bilhões nos Estados Unidos, com tendência a crescimento
desse valor com o envelhecimento da população. Os
abusadores costumam ser pessoas próximas à vítima, como
cônjuge ou filho adulto, em cerca de 25% dos casos.
Muitas vezes as vítimas de MT são incapazes de
denunciar por razões como isolamento social, presença de
doença grave, demência ou podem mesmo evitar a
denúncia por medo de represálias, sensação de culpa,
desejo de proteger o abusador, crenças culturais ou medo
de institucionalização, contribuindo para a subnotificação e
o sub-reconhecimento de casos. Enquanto isso, entre
profissionais de atendimento a idosos, é possível citar os
seguintes fatores: falta de conscientização acerca de MT,
treinamento inadequado, informação insuficiente sobre
recursos disponíveis para lidar com MT, falta de tempo
para conduzir uma avaliação detalhada, preocupação sobre
envolvimento com o sistema legal e desejo de não quebrar
o segredo médico. Ademais, é frequente a dúvida se as
lesões vistas são causadas por abuso ou sequelas de
acidentes ou outras morbidades, contribuindo para a
subnotificação.
São definidos como “ações intencionais que causam
dano ou sério risco a um idoso, causado por cuidador ou
outra pessoa em relação de confiança com o mesmo, ou
falha do cuidador na satisfação das necessidades básicas e
de proteção do paciente”. A Tabela 1 apresenta os fatores
de risco para MT.
Vítima Abusador
SUBTIPOS
Os tipos de MT mais frequentemente descritos são:
abuso sexual, emocional ou psicológico, negligência,
exploração financeira e abuso físico, podendo ainda ser
citado o abandono.
Abuso físico consiste na inflição de dor ou dano físico ao
idoso, podendo resultar em contusões, hematomas,
ferimentos, entre outros. Abuso sexual ocorre quando há
toque ou atividade sexual não consentida com idosos, que
são comumente vulneráveis e inaptos para entender ou dar
consentimento, ou em caso de atos forçados. MT
psicológicos incluem ataques verbais, ameaças, assédio ou
intimidação, frequentemente levando a resignação,
desesperança, medo, ansiedade e comportamento arredio.
Negligência ocorre quando da falha do cuidador ou do
próprio idoso (autonegligência) em prover suas
necessidades básicas de vida, levando-o a situações de
risco e vulnerabilidade. Abuso financeiro ocorre pelo mau
uso ou uso indevido dos recursos do idoso para vantagem
de terceiro ou benefícios indevidos.
Negligência
Rastreio
É recomendado o questionamento sobre MT em
pacientes idosos, sendo parte da avaliação rotineira.
Paciente e cuidador devem ser entrevistados
separadamente quando possível. Ficar atento a possível
relutância por parte do cuidador para deixar o paciente
sozinho, pois pode ser um indicador de MT.
Sugestões de perguntas para pacientes ao rastrear
negligência e abuso:
Exame físico
Avaliação física pode auxiliar na suspeita de negligência
(e de autonegligência); sinais sugestivos são relacionados
com higiene precária: unhas mal cuidadas e sujas, má
higiene cutânea, cabelos desgrenhados, dentição precária,
lesões sugestivas de câncer de pele não tratadas ou não
investigadas, dermatite de fraldas, intertrigo, lesões
associadas a maceração cutânea, úlceras por pressão, entre
outras.
Autonegligência
Definição
A autonegligência seria definida como o comportamento
de uma pessoa idosa que ameaça a si própria, sua saúde e
sua segurança. Geralmente se manifesta através da recusa
ou falha em prover a si mesmo cuidados com alimentação,
roupas, higiene, bem como questões de segurança. Outra
definição propõem identificar autonegligência quando
presente pelo menos uma das seguintes situações: descuido
persistente com a higiene pessoal ou do ambiente; recusa
repetida de serviços ou tratamentos que poderiam
melhorar sua qualidade de vida; e ameaça à própria
segurança por comportamentos de risco.
Em relação à gravidade do quadro, três domínios de
indicadores são descritos: 1) higiene pessoal (p. ex., cabelo
descuidado, roupas sujas, pele e unhas em condições
precárias); 2) funcionalidade (p. ex., declínio cognitivo e em
atividades da vida diária); e 3) ambiente negligenciado
(evidência de incapacidade para cuidar da casa e dos
recursos existentes).
Modelo
A Figura 1 apresenta um modelo que correlaciona
diversos aspectos da autonegligência.
Avaliação e abordagem
Emprego de avaliação geriátrica ampla com análise
médica, funcional e psicossocial é considerado
fundamental. Informações sobre as habilidades funcionais
do idoso devem ser buscadas, sendo muitas vezes
necessárias informações de terceiros como vizinhos,
locatários, amigos, familiares etc. A avaliação proposta
inclui o rastreio através de checklist simplificado, composto
por duas questões: 1) o indivíduo entende suas
circunstâncias? 2) o indivíduo está falhando em
autocuidado e autoproteção? Cada uma dessas questões
deve ser respondida em relação aos seguintes domínios:
atividades da vida diária (básicas e instrumentais), controle
e organização da casa ou habitação, e autoproteção. A
Figura 2 apresenta uma proposta de abordagem para
autonegligência.
FIGURA 1 Autonegligência: modelo.
FIGURA 2 Autonegligência: avaliação.
AVALIAÇÃO
Quando ocorre a suspeita de MT deve ser coletada
história clínica detalhada, com particular atenção a
aspectos culturais e psicossociais. Assim, aspectos
detalhados de exame físico geral e cutâneo que possam
corroborar com a suspeita devem ser documentados, bem
como avaliação de funcionalidade, aspectos do
comportamento do paciente, como reage aos
questionamentos, dinâmica e conflitos familiares. A
documentação fotográfica é particularmente importante em
casos de lesões ao exame físico.
Avaliação clínica
Diversos instrumentos se propõem ao rastreio e à
identificação de MT, cada um com vantagens e
desvantagens em aspectos como tempo e facilidade para
aplicação, confiabilidade interaplicadores, validade em
diferentes populações e cenários, entre outros. No entanto,
tal heterogeneidade não invalida seu uso como tentativa de
rastreio e, se bem utilizados, podem ser de grande auxílio
na identificação de casos de MT.
Entre os instrumentos citados, estão Conflict Tactics
Scale, Elder Abuse Assessment Instrument, Brief Abuse
Screen for the Elderly, Geriatric Mistreatment Scale, entre
outros. Aqui serão descritos brevemente dois desses
instrumentos, sem prejuízo ou demérito em relação aos
demais.
Desenvolvido em 2008, o instrumento Elder Abuse
Suspicion Index (EASI) consiste em seis questões para
rastreio de MT (Tabela 2) e encontra-se validado para uso
em idosos cognitivamente preservados. As cinco primeiras
questões são respondidas pelo paciente e a sexta pergunta
pelo aplicador do instrumento. Qualquer resposta positiva,
exceto para a primeira questão, enseja investigação
adicional.
3. Tem se sentido triste por algo dito por alguém que o fez se sentir
envergonhado ou ameaçado?
TABELA 2 Questões do Elder Abuse Suspicion Index
4. Alguém tentou forçá-lo a assinar papéis ou usar seu dinheiro contra sua
vontade?
Cuidadores
Grupos de suporte
Serviços de transporte
PREVENÇÃO
As medidas de prevenção são fundamentais para
diminuir a prevalência de MT em idosos. Trata-se do
conjunto de ações mais efetivo e importante na redução do
impacto que o problema pode causar. Estratégias para
prevenção incluem: discussão e conscientização acerca de
ageísmo; divulgação de indicadores subjetivos e objetivos
de MT; incrementar o rastreio de MT nos diversos cenários
clínicos; estabelecer detecção e prevenção de MT em
idosos como rotina no cuidado de sáude.
O termo ageísmo foi cunhado em 1969 e se refere ao
comportamento de discriminação contra idosos
simplesmente pela idade e pelo processo de
envelhecimento em si. Pode levar a desatenção e
negligência com problemas de saúde dos idosos, bem como
aceitação e equalização do envelhecimento como condição
de estado de saúde inferior. O ageísmo tem sido ligado a
declínio funcional, depressão, isolamento, incrementando o
risco de MT e mortalidade precoce, relacionando de forma
errônea o achado de sinais de MT com o envelhecimento
em si e mascarando uma possível suspeição da situação
real que ocasionou os sinais encontrados.
Quando da avaliação inicial do idoso suspeito de MT,
alguns sinais e lesões podem já ter desaparecido, estando
em estágio subclínico de difícil identificação, requerendo
maior índice de suspeição e detalhamento na avaliação
clínica e física. Os principais indicadores de MT, que devem
ser conhecidos e pesquisados estão descritos na Tabela 5.
A otimização do rastreio de MT em idosos deve lançar
mão de ferramentas de avaliação abrangentes, sendo a
avaliação geriátrica ampla (AGA) de conhecimento dos
profissionais que lidam comumente com idosos, capaz de
fornecer um perfil detalhado do estado de saúde e
funcionalidade do paciente através da avaliação da saúde
física e mental, bem-estar, aspectos psicossociais e
domínios cognitivos, áreas diretamente relacionadas com o
risco de MT. Em conjunto, uma avaliação periódica de
fatores de risco para MT permite melhor vigilância.
Medidas propostas para combate aos MT incluem:
campanhas informativas e de conscientização sobre o tema;
treinamento educativo direcionado a profissionais que
lidam diretamente com idosos, focando no papel dos
cuidadores acerca da abordagem de casos suspeitos;
divulgação de informação legal acerca da proteção do
idoso.
Profissionais de saúde se encontram em posição vital
para o rastreio e prevenção de MT. A avaliação funcional,
cognitiva e de bem-estar psicossocial é fundamental para
entender e identificar possíveis fatores predisponentes e
precipitantes associados à ocorrência de MT. Estima-se que
a presença de 3 a 4 fatores de risco leve a aumento de 4
vezes no risco de um idoso sofrer MT, com elevação
exponencial para mais de 20 vezes em relação a idosos sem
fatores de risco naqueles com 5 ou mais fatores de risco
presentes. Detecção e intervenção precoces, como
tratamento efetivo de problemas subjacentes,
disponibilização de serviços comunitários e envolvimento
de familiares podem retardar e evitar casos de MT.
Ferramentas de rastreio de MT em idosos devem ser
capazes de prover avaliação multidisciplinar objetiva; no
entanto a definição de uma ferramenta ideal ainda é uma
necessidade e testagens adicionais dos instrumentos
propostos são necessárias para atestar sua validade e
confiabilidade.
Setores de emergência são locais onde vítimas de MT
são atendidas com frequência e por essa razão o rastreio e
a vigilância têm maior chance de identificar casos. Nesse
contexto, alterações radiológicas descritas podem auxiliar
na suspeita inicial de MT (Tabela 6).
PANORAMA NACIONAL
A identificação de sinais de violência contra pessoas
idosas, frequentemente negligenciada, deve ser notificada
por meio de ficha de notificação compulsória. O
preenchimento possibilita auxiliar as vítimas na defesa de
seus direitos, resguarda os profissionais para que não se
configure omissão e ainda contribui para o registro
epidemiológico desses agravos externos à saúde. A
notificação compulsória é registrada na Vigilância de
Violência Interpessoal e Autoprovocada do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (VIVA-SINAN) do
Ministério da Saúde.
O art. 19 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso)
prevê que casos de suspeita ou confirmação de violência
praticada contra idosos serão objeto de notificação
compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à
autoridade sanitária, bem como serão obrigatoriamente
comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos:
Conselho Municipal ou Estadual dos Direitos do Idoso,
Delegacias de Polícia e Ministério Público. Qualquer pessoa
pode fazer a denúncia de MT. O Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos disponibiliza ferramentas
para facilitar o registro da denúncia:
Disque 100, com discagem gratuita e funcionamento 24
horas/dia.
Aplicativo Proteja Brasil, que pode ser baixado
gratuitamente para o celular.
Ouvidoria On-line, em que se registra a denúncia
preenchendo o formulário disponível em
http://www.humanizaredes.gov.br/ouvidoria-online/.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MT em idosos é um tema relevante, porém pouco
discutido e com baixo nível de conhecimento e
conscientização por profissionais de saúde e pela
população em geral. Melhorias nesse sentido ensejam
treinamento específico aos profissionais envolvidos e
aperfeiçoamento nas estruturas e fluxos de acolhimento de
denúncias. Diante da importância da temática e com o
objetivo de sensibilizar a sociedade para o combate das
diversas formas de violência cometida contra o idoso, a
Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Rede
Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa
(INPES), instituiu em 2006 a data de 15 de junho como Dia
Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa
Idosa.
Para o sucesso na abordagem de MT torna-se essencial o
envolvimento de profissionais de diferentes áreas, sendo de
particular importância o serviço social e a enfermagem,
além da equipe médica. Tais profissionais devem rastrear e
avaliar os abusos em potencial. Pode ser difícil firmar o
diagnóstico de MT, mas conhecer sinais e sintomas e
manter alto índice de suspeição pode ajudar a identificar
vítimas e abusadores. O conhecimento dos tipos de abuso,
fluxos de atendimento, serviços envolvidos na assistência
aos idosos e leis de proteção é de fundamental importância.
Em conjunto a equipe terá melhores condições de
identificar casos e fornecer suporte aos idosos. Para tanto,
a avaliação do idoso pelos componentes da equipe permite
diferentes olhares sobre cada caso, com preenchimento de
lacunas que atendimentos isolados poderiam deixar.
BIBLIOGRAFIA
Bonnie RJ, Wallace RB, editors. Elder mistreatment: abuse, neglect, and
exploitation in an aging America. National Academies Press: Washington;
2003 [cited 2020 Jan 8]. Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK98802/.
Burnett, J, Achenbaum WA, Murphy KP. Prevention and early identification of
elder abuse. Clin Geriatr Med. 2014;30(4):743-59.
https://doi.org/10.1016/j.cger. 2014.08.013.
Chokkanathan S. Experiences of elder mistreatment: a latent profile analysis. J
Interpers Violence. 2017: 886260 517742912.
https://doi.org/10.1177/0886260517742912.
Corbi G, Grattagliano I, Ivshina E, Ferrara N, Solimeno Cipriano A,
Campobasso CP. Elderly abuse: risk factors and nursing role. Intern Emerg
Med. 2015;10(3):297-303. https://doi.org/10.1007/s11739-014-1126-z.
del Carmen T, LoFaso VM. Elder neglect. Clin Geriatr Med. 2014;30(4):769-77.
https://doi.org/10.1016/j.cger.2014.08.006.
Dong XQ. Elder abuse: systematic review and implications for practice. J Am
Geriatr Soc. 2015;63(6):1214-38. https://doi.org/10.1111/jgs.13454.
Dyer CB, Goodwin JS, Pickens-Pace S, Burnett J, Kelly PA. Self-neglect among
the elderly: a model based on more than 500 patients seen by a geriatric
medicine team. Am J Public Health. 2007;97(9):1671-6.
https://doi.org/10.2105/AJPH.2006.097113.
Gallione C, Dal Molin A, Cristina FVB, Ferns H, Mattioli M, Suardi B. Screening
tools for identification of elder abuse: a systematic review. J Clin Nurs.
2017;26(15-16):2154-76. https://doi.org/10.1111/jocn.13721.
Gibbs LM., Understanding the medical markers of elder abuse and neglect:
physical examination findings. Clin Geriatr Med. 2014;30(4):687-712.
https://doi.org/10.1016/j.cger.2014.08.002.
Hoover RM, Polson M. Detecting elder abuse and neglect: assessment and
intervention. Am Fam Physician. 2014;89(6):453-60.
LoFaso VM, Rosen T. Medical and laboratory indicators of elder abuse and
neglect. Clin Geriatr Med. 2014;30(4):713-28.
https://doi.org/10.1016/j.cger.2014.08.003.
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disque 100. [citado
em 2020 Jan 8]. Disponível em: http://www.mdh.gov.br/informacao-ao-
cidadao/disque-100.
Mosqueda L, Dong X. Elder abuse and self-neglect: “I don’t care anything about
going to the doctor, to be honest...”. JAMA. 2011;306(5):532-40.
https://doi.org/10.1001/jama.2011.1085.
Powers JS. Common presentations of elder abuse in health care settings. Clin
Geriatr Med. 2014;30(4):729-41. https://doi.org/10.1016/j.cger.2014.08.004.
Reyes-Ortiz CA, Burnett J, Flores DV, Halphen JM, Dyer CB. Medical
implications of elder abuse: self-neglect. Clin Geriatr Med. 2014;30(4):807-
23. https://doi.org/10.1016/j.cger.2014.08.008.
Rosen T, Bloemen EM, LoFaso VM, Clark S, Flomenbaum NE, Lachs MS.
Emergency department presentations for injuries in older adults
independently known to be victims of elder abuse. J Emerg Med.
2016;50(3):518-26. https://doi.org/10.1016/j.jemermed.2015.10.037.
Wong NZ, Rosen T, Sanchez AM, Bloemen EM, Mennitt KW, Hentel K, et al.
Imaging findings in elder abuse: a role for radiologists in detection. Can
Assoc Radiol J. 2017;68(1):16-20. https://doi.org/10.1016/j.carj.2016.06.001.
Yaffe MJ, Tazkarji B. Understanding elder abuse in family practice. Can Fam
Physician. 2012;58(12):1336-40, e695-8.
Cuidados paliativos e comunicação 51
INTRODUÇÃO
De acordo com a International Association for Hospice &
Palliative Care (IAHPC), os cuidados paliativos são
cuidados holísticos de pessoas com importante sofrimento
relacionado à saúde devido a doenças graves e
especialmente daqueles próximos ao fim da vida. Seu
objetivo consiste em melhorar a qualidade de vida e reduzir
o sofrimento não apenas de pacientes, mas também de seus
familiares e cuidadores.
Pode-se afirmar que os cuidados paliativos surgiram
como resposta ao fracasso histórico da prática médica
tradicional em promover o alívio do sofrimento em
circunstâncias relacionadas a doenças graves e ao fim da
vida. Muito além da atenção à saúde de pessoas próximas
da morte, o desenvolvimento dos cuidados paliativos
contribuiu enormemente para o aprimoramento de diversas
áreas dentro da medicina, envolvendo desde o manejo de
uma variedade de sintomas e a comunicação na saúde de
forma geral até a abordagem da espiritualidade como
dimensão dos indivíduos.
Neste capítulo, abordaremos os princípios fundamentais
dos cuidados paliativos dentro da geriatria com ênfase
sobre aspectos relacionados à comunicação. Desejamos
que, ao término da leitura, torne-se evidente que a boa
prática da geriatria deve ser compreendida como
indissociável dos cuidados paliativos. De fato, da mesma
forma como a pediatria pode ser pensada como cuidados no
início de vida, em grande medida, a geriatria pode ser
concebida como cuidados no fim da vida em seu sentido
mais amplo.
Escuta compassiva/empática
A escuta compassiva/empática, já mencionada
previamente como elemento estruturante dos cuidados
paliativos, tem caráter terapêutico e, por si só, pode
contribuir para a redução do sofrimento das pessoas. Em
sua essência, ela consiste em estar presente de forma
integral para o sofrimento alheio. O primeiro elemento
necessário para exercitar esse tipo de escuta envolve a
postura interna descrita no princípio anterior. O segundo
componente envolve, a partir da escuta atenta, tentar
imaginar como nosso interlocutor está se sentindo e as
necessidades que se encontram por trás desses
sentimentos. O mais importante não é que consigamos
“acertar” exatamente os sentimentos e as necessidades dos
pacientes e de seus familiares, mas o esforço, ainda que
silencioso, por compreendê-los. Tal intencionalidade e
esforço exercem seu papel terapêutico provavelmente
através do tipo de conexão que possibilitam com
pacientes/familiares, a qual lhes transmite a segurança de
não estarem sozinhos em seu sofrimento, bem como de seu
valor (dignidade) como indivíduos.
Esse tipo de escuta requer um esforço consciente para
resistir a três hábitos comuns e que costumam interrompê-
la: (1) julgar, (2) tentar minimizar a situação e (3) dar
conselhos/propor soluções. Com isso, não queremos dizer
que conselhos e proposições de soluções não possam ser
úteis, mas que, em situações complexas e de grande
sofrimento, idealmente, o primeiro esforço deveria ser o da
escuta compassiva. Uma vez que a conexão almejada por
meio desse tipo de escuta tenha sido estabelecida, haverá
espaço para aconselhamento e discussão de outras
estratégias para lidar com os problemas existentes e uma
chance maior de que estes sejam levados em consideração.
A escuta compassiva requer que nos esforcemos para
tentar compreender o que se encontra por trás das
palavras e gestos de nossos pacientes e de seus familiares.
Por exemplo, quando um paciente recusa um procedimento
potencialmente útil ou solicita uma intervenção
potencialmente inapropriada, antes de manifestarmos
nossa opinião e tentarmos “educar” o paciente, devemos
buscar entender o que está por trás desses
posicionamentos, tateando os motivos e sentimentos que os
originaram. Ao fazer isso, frequentemente encontraremos
medos, crenças e sofrimentos dos mais diversos. É a partir
dessa compreensão que podemos começar a construir
respostas verbais e não verbais adequadas para endereçar
tais questões.
Outro exemplo que nos parece relevante é o de uma
filha que agride verbalmente um profissional de saúde que
está cuidando de seu pai moribundo. No mais das vezes, em
situações como essa, por trás das palavras ríspidas
encontra-se enorme sofrimento diante da percepção de
morte iminente do paciente. Se o profissional se restringir
à superfície das palavras ditas, sua reação poderá ser
defensiva ou, até mesmo, um improdutivo “contra-ataque”.
Por outro lado, se o profissional conseguir compreender e
se conectar com o sofrimento que se esconde por trás das
palavras da filha, é possível que ele nem sequer se sinta
atacado e que consiga construir uma resposta baseada na
compaixão engendrada pelo reconhecimento daquele
sofrimento, que corresponde a um passo essencial para
conquistar a confiança necessária, conforme descrito no
primeiro princípio elencado nesta seção.
Humildade cultural
O princípio da humildade cultural, proposto
originalmente dentro do contexto da área de educação
médica, integra-se à escuta compassiva ao ratificar a
necessidade de adotarmos uma atitude respeitosa de
abertura e curiosidade genuína perante os pontos de vista
de pacientes e de seus entes queridos, evitando
julgamentos e assumindo uma postura de reflexão crítica
sobre como nossa própria cultura pessoal e profissional
pode estar influenciando nossa interação com eles. Sem a
devida humildade cultural, aumenta o risco de incorrermos
em posturas paternalistas em que acabamos impondo
nossos valores de forma velada aos nossos pacientes.
A humildade cultural se manifesta, por exemplo,
quando, ao realizarmos discussões sobre objetivos de
cuidados, esclarecemos que pessoas diferentes veem a vida
e o mundo de formas diferentes e que uma mesma situação
de adoecimento pode representar para algumas pessoas
uma condição aceitável, enquanto outras pessoas a
perceberiam como um estado pior que a própria morte.
“Você poderia me contar como sua mãe era? Quais eram as coisas mais
importantes para ela? Em relação à saúde, ela tinha algum medo
específico?”
“Quando ela começou a ficar doente e ter dificuldade de se cuidar sozinha,
quais eram as maiores preocupações dela?”
“Quão importante sua mãe considerava sua própria autonomia? Como ela
se sentia quando precisava pedir ajuda dos filhos para alguma tarefa que
tinha dificuldade de fazer sozinha?”
“Ela chegou a ver alguém em uma situação semelhante à situação em que
ela está hoje ou alguém que estivesse acamado e incapaz de se comunicar
seja pessoalmente ou mesmo na TV? Nesse caso, ela chegou a fazer algum
comentário do tipo: ‘se algo assim acontecesse comigo...’?”
“Com base no que você conhece da sua mãe, existe alguma situação de
saúde que você acha que ela consideraria como um estado pior do que a
morte? Por quê?”
RECOMENDAÇÕES DE CUIDADOS
A paciente acima é portadora de demência na doença de Alzheimer em fase
avançada (FAST 7c). Hoje, [data], realizei discussão de planejamento
antecipado de cuidados com [Ciclana], filha da paciente. A filha demonstra
compreender que a paciente se encontra em fase avançada da demência e
informa que, pelo que conhece de sua mãe, entende que, no presente
momento da evolução de sua doença, deve ser dada prioridade total ao
conforto da paciente em detrimento de intervenções com o intuito de
prolongar a vida.
Em função disso, recomendo que, em caso de intercorrências, a
paciente não seja submetida a passagem de sonda de alimentação,
ventilação mecânica ou reanimação cardiopulmonar. A paciente deve
receber medicamentos para tratamento da dor e de quaisquer
sintomas desconfortáveis. Em caso de dúvida, favor entrar em
contato comigo pelo número [99-99999999].
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo aborda princípios de comunicação em
cuidados paliativos e sua aplicação por meio de protocolos
de comunicação relacionados a três situações comuns à
prática da geriatria. Ratifica-se que os passos descritos nos
protocolos e os exemplos mencionados ao longo do texto
têm caráter didático e ilustrativo, com o objetivo de
facilitar sua aplicação na prática clínica dos leitores.
É por meio da prática e da reflexão sobre ela que é
possível aprimorar-se nas complexas tarefas de
comunicação que envolvem os cuidados paliativos.
BIBLIOGRAFIA
Back AL, Arnold RM, Quill TE. Hope for the best, and prepare for the worst.
Ann Intern Med. 2003;138(5):439.
Baile WF, Buckman R, Lenzi R, Glober G, Beale EA, Kudelka AP. Spikes – a six-
step protocol for delivering bad news: application to the patient with cancer.
The Oncologist. 2000;5(4):302-11.
Bond T. The Compassion book: lessons from the compassion course. One
Human Publishing; 2017.
Cassel EJ. The nature of suffering and the goals of medicine. N Engl J Med.
1982;306(11):639-45.
Chochinov HM. Dignity and the Eye of the beholder. J Clin Oncol.
2004;22(7):1336-40.
Chochinov HM. Dignity-conserving care – a new model for palliative care:
helping the patient feel valued. JAMA. 2002;287(17):2253-60.
Emanuel LL, Librach SL, orgs. Palliative care: core skills and clinical
competencies. 2.ed. Philadelphia: Saunders; 2011.
Goold SD, Williams B, Arnold RM. Conflicts Regarding decisions to limit
treatment: a differential diagnosis. JAMA. 2000;283(7):909-14.
Graham B, Endacott R, Smith JE, Latour JM. “They do not care how much you
know until they know how much you care”: a qualitative meta-synthesis of
patient experience in the emergency department. Emerg Med J.
2019;36(6):355-63.
Gunten CF von, Ferris FD, Emanuel LL. Ensuring competency in end-of-life
care: communication and relational skills. JAMA. 2000;284(23):3051-7.
Institute of Medicine (U.S.). Approaching death: improving care at the end of
life. Field MJ, Cassel CK, orgs. Washington, DC: National Academy Press;
1997.
International Association for Hospice and Palliative Care. Palliative Care
Definition – International Association for Hospice & Palliative Care. 2018.
Available: https://hospicecare.com/what-we-do/projects/consensus-based-
definition-of-palliative-care/definition/ (acesso jan 2023).
Kane R, Ouslander J, Resnick B, Malone M. Essentials of clinical geriatric. 8th
ed. New York: McGraw-Hill Education / Medical; 2017.
Mehta A, Chan LS. Understanding of the concept of “total pain”: a prerequisite
for pain control. J Hosp Palliat Nurs. 2008;10(1):26-32.
Nakagawa S. Communication: the most challenging procedure. JAMA Intern
Med. 2015;175(8):1268.
Neumann M, Edelhäuser F, Tauschel D, Fischer MR, Wirtz M, Woopen C, et al.
Empathy decline and its reasons: a systematic review of studies with
medical students and residents. Acad Med. 2011;86(8):996-1009.
Pfeifer MP, Sidorov JE, Smith AC, Boero JF, Evans AT, Settle MB, et al. The
discussion of end-of-life medical care by primary care patients and
physicians: a multicenter study using structured qualitative interviews. J
Gen Intern Med. 1994;9(2):82-8.
Rosenberg MB. Comunicação não violenta. São Paulo: Ágora; 2006.
Rosenberg A, Arnold RM, Schenker Y. Holding hope for patients with serious
illness. JAMA. 2021;326(13):1259.
Saunders C. Cicely Saunders. The Lancet. 1997;349(9068):1850.
Scheunemann LP, Arnold RM, White DB. The facilitated values history: helping
surrogates make authentic decisions for incapacitated patients with
advanced illness. Am J Respir Crit Care Med. 2012;186(6):480-6.
Sudore RL, Fried TR. Redefining the “planning” in advance care planning:
preparing for end-of-life decision making. Ann Intern Med. 2010;153(4):256-
61.
Sudore RL, Lum HD, You JJ, Hanson LC, Meier DE, Pantilat SZ, et al. Defining
advance care planning for adults: a consensus definition from a
multidisciplinary Delphi panel. J Pain Symptom Manage. 2017;53(5):821-
32.e1.
Tervalon M, Murray-García J. Cultural humility versus cultural competence: a
critical distinction in defining physician training outcomes in multicultural
education. J Health Care Poor Underserved. 1998;9(2):117-25.
Vidal EI de O, Kovacs MJ, Silva JJ da, Silva LM da, Sacardo DP, Bersani AL de F,
et al. Posicionamento da ANCP e SBGG sobre tomada de decisão
compartilhada em cuidados paliativos. Cad Saúde Pública. 2022;38(9):
e00130022.
Vollrath AM, Von Gunten C. Negotiating goals of care: changing goals along the
trajectory of illness. In: Emanuel LL, Librach SL, orgs. Palliative care: core
skills and clinical competencies. 2nd ed. Philadelphia: Saunders; 2011. p.56-
79.
52 Manejo da dor aguda e crônica no idoso
INTRODUÇÃO
Definida pela International Association for the Study of Pain
(IASP) como uma experiência sensitiva e emocional
desagradável associada ou relacionada com lesão real ou
potencial dos tecidos, a dor apresenta alta prevalência em
idosos, acometendo 25-50% dos que vivem na comunidade e até
80% dos institucionalizados. No entanto, dentre os idosos,
apenas 50% recebem tratamento adequado para dor.
Apesar de prevalente, os idosos tendem a ser hesitantes em
relatar dor, seja pela percepção de que ela ocorre de forma
natural com o envelhecimento, seja pelo medo do seu significado
ou pelo temor de perder sua independência. Dessa forma, a fim
de evitar a subnotificação e especialmente o subtratamento, é
necessário o questionamento ativo e rotineiro sobre dor durante
a consulta.
A abordagem da dor em idosos é desafiadora, tendo em vista
a presença frequente de comorbidades, polifarmácia, dificuldade
de comunicação, alteração cognitiva, redução da reserva
fisiológica, perda funcional e ponderal, além da possibilidade de
apresentações atípicas de dor.
FISIOPATOLOGIA DA DOR
A dor resulta da ativação de terminações periféricas de
neurônios aferentes primários nociceptores, que são
responsáveis pela detecção e transmissão de estímulos
dolorosos. Esses neurônios possuem o corpo celular localizado
no gânglio da raiz dorsal da medula espinal, e seu
prolongamento percorre o nervo até atingir o órgão periférico, o
que constitui a fibra sensitiva. Existem dois tipos de fibras
sensitivas nervosas aferentes relacionadas com a nocicepção:
fibras A-delta mielinizadas e fibras C amielínicas. As fibras A-
delta são de maior diâmetro e conduzem rapidamente, sendo
despolarizadas por estímulos mecânicos e térmicos breves. As
fibras C são menores e conduzem lentamente, sendo
despolarizadas por estímulos químicos ou eventualmente por
estímulos mecânicos e térmicos persistentes.
Uma vez captado pelo sistema nervoso periférico, o estímulo
sensitivo é processado pelo sistema nervoso central (SNC). A dor
é considerada uma experiência multidimensional, ou seja,
apresenta não apenas um componente sensitivo, mas também
componentes afetivo e cognitivo associados. Essa experiência
multidimensional é explicada por conta de sua regulação
complexa e do envolvimento de diversas áreas cerebrais, como
córtex somatossensitivo, córtex insular, córtex pré-frontal,
hipocampo e amígdala. A ascendência dos estímulos
nociceptivos pelo SNC sofre ações modulatórias (excitatórias ou
inibitórias) de origem segmentar local e supraespinal, sendo
atualmente bastante estudadas por sua relação com a origem de
processos álgicos e também por serem alvo de tratamentos para
o controle da dor. O controle supraespinal, conhecido como
controle inibitório descendente da dor, é constituído
basicamente por neurônios serotoninérgicos e noradrenérgicos,
e é regulado pelos seguintes núcleos do tronco encefálico:
substância cinzenta periaquedutal, bulbo rostral ventromedial e
tegumento pontino dorsolateral.
A dor que se torna persistente envolve os processos
fisiopatológicos de sensibilização periférica e central,
esquematizados na Figura 1. A sensibilização periférica se
desenvolve no local da lesão tecidual ou do processo inflamatório
persistente e se caracteriza pela liberação de substâncias
inflamatórias e algiogênicas, resultando na redução do limiar
dos nociceptores locais. Já a sensibilização central se caracteriza
pelo aumento da excitabilidade dos neurônios da coluna dorsal
da medula espinal, desencadeando uma facilitação do SNC a
estímulos nociceptivos, com redução do limiar da dor e aumento
de área receptiva. Existem características clínicas sugestivas de
sensibilização periférica, como alodínea e hiperalgesia primária,
restritas ao local lesado e de curta duração. Já a hiperalgesia
secundária, caracterizada por dor na área circunjacente à lesão,
é considerada uma consequência da sensibilização central.
NOCICEPÇÃO NO ENVELHECIMENTO
No processo de envelhecimento, são descritas alterações
estruturais no sistema nociceptivo em diversos locais do sistema
nervoso e que podem explicar em parte a maior prevalência de
dor persistente nessa faixa etária:
CLASSIFICAÇÃO DA DOR
As síndromes dolorosas podem ser classificadas de acordo
com o tempo de instalação e a fisiopatologia.
Tempo de instalação
Aguda: resultado da estimulação do sistema somatossensorial
por estímulos nociceptivos, geralmente resultando em reações
de hiperatividade autonômica (taquicardia, hipertensão
arterial, sudorese etc.) (p. ex., dor após trauma, dor visceral e
dor no perioperatório).
Crônica ou persistente: dor que persiste além da solução de
seu processo etiológico (em linhas gerais utiliza-se o corte de
3 meses). Atualmente, a dor persistente é considerada um
estado patológico bem definido, e não apenas um sintoma,
sendo caracterizada pela disfunção do sistema
somatossensorial e acompanhada dos processos de
sensibilização periférica e central descritos na fisiopatologia
da dor. Os termos dor persistente e dor crônica são
frequentemente usados de forma intercambiável, no entanto,
pela conotação negativa do último, o termo dor persistente
vem sendo mais utilizado na literatura atual. As principais
causas de dor persistente em idosos são: doenças
osteoarticulares (especialmente as degenerativas), síndrome
dolorosa miofascial, neuropatias e doença vascular periférica.
Fisiopatologia
21. Você tem dor que nunca some por ( ) Não ( ) Sim
completo?
23. Você tem dor várias vezes por semana? ( ) Não ( ) Sim
[] [] [] AJUSTE
Dor suave (≤ Dor Dor severa (pontuação total × 2,38)
30) moderada (≥ 70) (0-100):
(30-69)
TRATAMENTO DA DOR
O controle da dor é um direito humano fundamental e, para
um tratamento eficaz, deve ser multimodal, multidimensional e
interdisciplinar. A Figura 4 ilustra as diversas modalidades e
dimensões do tratamento da dor. A indicação de cada
modalidade de tratamento depende da etiologia, do tipo
(nociceptiva, neuropática, mista), da intensidade e duração
(aguda ou persistente) da dor. Um dos passos mais importantes
do tratamento, especialmente da dor persistente, é a educação e
a orientação do paciente e de familiares quanto à etiologia da
dor, às expectativas e à importância da multimodalidade para
seu tratamento. É importante ressaltar que o tratamento envolve
tanto medidas específicas voltadas para a etiologia (p. ex.,
orientações e condutas específicas para osteoartrose) quanto
medidas voltadas para o tratamento geral da dor, que serão
descritas a seguir.
FIGURA 4 Tratamento multimodal, multidimensional e interdisciplinar da dor.
Comportamento 0 1 2 Pontuação
Total
Analgésicos simples
Paracetamol
Historicamente, é considerado um analgésico seguro, com
poucos efeitos colaterais. Em idosos, recomenda-se dose máxima
de 2 g/dia, divididos em intervalos de 6-8 horas, pelo risco de
hepatotoxicidade. O mecanismo de ação não é bem definido, mas
acredita-se que possui metabólito com ação no receptor
canabinoide ou da ciclo-oxigenase 3 (COX-3). Seus efeitos mais
evidentes são analgésicos e antipiréticos, com ação anti-
inflamatória pouco significativa.
Dipirona
Apresenta como mecanismo de ação a inibição da COX-3, com
efeito analgésico e antipirético. Em idosos, tem dose teto de 4
g/dia, divididos em intervalos de 6-8 horas. Pelo seu raro efeito
adverso de granulocitopenia, seu uso não é permitido nos EUA.
Reações de hipersensibilidade são os efeitos adversos mais
comumente encontrados.
Viminol
Analgésico não narcótico e não inflamatório, com mecanismo
de ação central pouco esclarecido. Pode ser usado na dose de 70
mg, com dose teto de 560 mg/dia, divididos em intervalos de 6-8
horas. Efeitos adversos descritos incluem: náuseas, constipação
e retenção urinária.
Anti-inflamatórios hormonais
Eficazes no controle da dor inflamatória e por lesão tumoral
óssea, compressão radicular e de partes moles, agem inibindo a
produção de prostaglandinas, com consequente redução de
edema e inflamação. Devem ser reservados para essas situações
específicas e por curto intervalo de tempo. São efeitos colaterais
comuns: descontrole glicêmico, insônia, agitação psicomotora,
hemorragia gastrointestinal.
Opioides
Classificados em fortes ou fracos, podem ser usados em dores
tipo nociceptiva ou neuropática. Os opioides podem também ser
classificados em típicos ou atípicos. Opioides atípicos
proporcionam analgesia não só por atividade opioide, mas
também por atividade não opioide, e, portanto, podem ter
atributos diferentes dos opioides convencionais. São exemplos
de opioides atípicos: tramadol, buprenorfina, metadona e
tapentadol.
Em idosos, são recomendadas doses iniciais mais baixas do
que doses terapêuticas, com titulação de 30-50% da dose diária,
conforme a demanda. Não devem ser utilizados dois opioides
simultaneamente, e, caso se opte pela rotação de opioide, deve
ser respeitada a equipotência analgésica (Quadro 3) e a redução
de 25-50% da dose (com exceção da conversão para a metadona,
em que a dose deve ser reduzida em 75-90%, e da conversão
para a fentanila, em que não há a necessidade de redução da
dose). Sempre que um opioide é prescrito, o paciente deve ser
orientado sobre o uso da dose de resgate, geralmente 1/6 da
dose total diária prescrita.
Os efeitos adversos mais comuns são: constipação intestinal
(o que motiva a prescrição simultânea de laxativos e ajuste da
dieta), náuseas e vômitos, confusão mental, euforia, bradicardia,
hipotensão, miose, supressão do reflexo da tosse, prurido (por
liberação histamínica), imunossupressão, hiperalgesia, boca
seca, retenção urinária e mioclonia. A depressão respiratória e a
sedação são raras e podem ser revertidas com o antagonista
naloxona. O risco de dependência de opioides, apesar de baixo,
vem sendo discutido intensamente nos últimos anos,
especialmente no tratamento da dor persistente não oncológica.
Estudos recentes têm mostrado que a terapia analgésica com
opioide não é superior, além de ser desaconselhada quando
comparada a um esquema de tratamento multimodal para dores
persistentes osteomusculares, como lombalgia e osteoartrose de
joelhos.
Codeína 10 mg VO Morfina 1 mg VO
QUADRO 3 Equipotência de opioides
Tramadol 5 mg VO Morfina 1 mg VO
Oxicodona 20 mg VO Morfina 30 mg VO
Morfina 20 mg IV Morfina 30 mg VO
Opioides fracos
Codeína
É um derivado natural do ópio, agonista de receptor mu, que
é metabolizada in vivo em morfina via CIP2D6, isoenzima do
sistema enzimático P450. Seus metabólitos são excretados por
via renal, o que justifica cautela no uso em pacientes com
disfunção desse órgão. Tem apresentações em comprimido (7,5,
30 ou 60 mg) e solução VO (3 mg/mL), com posologia indicada a
cada 4-6 horas; há associações com paracetamol ou diclofenaco.
Possui ação antitussígena, o que por vezes justifica sua escolha
entre os demais opioides. Doses acima de 360 mg/dia atingem
teto terapêutico, estando indicada mudança para opioide forte.
Uma observação importante é que 6-10% dos caucasianos
têm algum grau de deficiência do CIP2AD6, sendo
metabolizadores fracos e acarretando, portanto, efeito
analgésico deficitário. Por outro lado, 16-29% dos africanos do
norte, etíopes e árabes e 3-6,5% dos afro-americanos são
metabolizadores ultrarrápidos e, com isso, apresentam maior
risco de desenvolver efeitos colaterais de toxicidade por opioide
mesmo em doses baixas.
Tramadol
Análogo sintético da codeína, apresenta, além de ação em
receptores opioides, mecanismo extra de inibição da recaptação
de serotonina e noradrenalina e antagonismo aos receptores n-
metil-d-aspartato (NMDA). Por conta desse mecanismo adicional,
o tramadol é indicado também no tratamento da dor
neuropática. Deve ser usado com cautela na insuficiência
hepática ou renal. A via de escolha desse fármaco é VO, por
possuir biodisponibilidade 3 vezes maior do que a parenteral. As
apresentações disponíveis são em solução VO de 50 ou 100
mg/mL, comprimido de liberação lenta de 100 ou de 37,5 mg
(associado a 325 mg de paracetamol) e comprimido de liberação
imediata de 50 e 100 mg. Doses maiores que 400 mg/dia podem
reduzir o limiar convulsivo, devendo ser evitadas. Outro efeito
colateral a ser observado é a síndrome serotoninérgica,
especialmente quando há associação de tramadol com
antidepressivos.
Opioides fortes
Morfina
Eficaz e segura, essa é a droga de escolha no tratamento da
dor moderada a forte, tem meia-vida útil de 2-4 horas e a dose é
titulada de acordo com a necessidade do paciente. Em idosos,
recomenda-se iniciar com 2,5-5 mg a cada 6-8 horas e ajustar
conforme a tolerância. Não apresenta teto posológico, sendo a
dose limite aquela que proporciona alívio completo da dor com
efeitos adversos controláveis. Inicialmente são utilizadas
formulações de ação rápida e após atingir analgesia efetiva são
substituídas por formulações de ação lenta para facilitar a
posologia, reservando-se os de ação rápida para resgate. No
Brasil estão disponíveis: supositório, comprimido de liberação
imediata de 10 e 30 mg, solução VO de 10 mg/mL, comprimido
de liberação lenta de 30, 60 e 100 mg e ampolas de 2 e 10
mg/mL. A dose de morfina VO não precisa ser convertida se a via
de administração for modificada para retal; entretanto, se a VO
for substituída para subcutânea (SC), a dose deverá ser reduzida
pela metade; caso haja conversão da VO para intravenosa (IV), a
dose total deve ser reduzida em um terço.
Oxicodona
Apresenta potência analgésica 1,5-2 vezes maior do que a
morfina VO. As formulações disponíveis são comprimidos
revestidos VO de 10, 20 e 40 mg, que têm por característica uma
dupla camada de liberação que possibilita primeiro pico em 1
hora e segundo pico após 6 horas, sendo administrados a cada
12 horas (por conta dessa propriedade não é possível partir a
medicação ao meio para doses inferiores a 10 mg). Não há no
Brasil formulações de liberação imediata, por isso a dose de
resgate deve ser feita com morfina de ação rápida. O alto custo
da medicação acaba sendo uma das barreiras ao seu uso em
nosso meio.
Metadona
Na prática clínica, apresenta-se como boa alternativa ao uso
de morfina, com ganho adicional em casos de dor neuropática,
por seu antagonismo aos receptores NMDA e inibição à
recaptação de serotonina e noradrenalina. Além disso, pode ser
usada em pacientes com insuficiência renal ou hepática sem
ajuste de dose. Em idosos que nunca utilizaram opioides, inicia-
se a metadona com dose de 2,5 mg a cada 8-12 horas, com
ajuste a cada 5-7 dias, pois essa droga apresenta meia-vida
longa e imprevisível, com risco de acúmulo e toxicidade
graduais, sendo a náusea um sinal de alerta para intoxicação.
Outro efeito adverso é a arritmia, principalmente do tipo torsade
de pointes, o que justifica evitar a associação da metadona com
drogas que competem com ela pela isoenzima metabolizadora do
CIP3A4.
Tapentadol
Opioide forte com ação analgésica central por meio de dois
mecanismos: (1) agonista sobre receptores opioides e (2) ação
inibitória sobre a recaptação da noradrenalina. Indicado para
pacientes com dor aguda e crônica de moderada a forte
intensidade, em especial quando há componente de dor
neuropática, como nas lombalgias. A posologia pode ser iniciada
com 50 mg via oral 2 vezes ao dia, com progressão de dose a
cada 3 dias, até a dosagem máxima diária de 250 mg 2 vezes ao
dia. O tapentadol pode ser usado em pacientes com insuficiência
renal ou hepática leve a moderada sem ajuste de dose. Pelo seu
duplo mecanismo de ação, estudos relatam menor frequência de
efeitos colaterais, como náuseas e constipação, quando
comparados a outros opioides típicos, como a morfina, além de
boa tolerabilidade para pacientes idosos.
Fentanila
Este opioide sintético é 100 vezes mais potente do que a
morfina. Embora tenha apresentações pelas vias intramuscular
(IM), IV e transdérmica (TD), somente esta última é usada no
manejo da dor crônica de forte intensidade em idosos. Opioide
de escolha em caso de insuficiência renal, hepática ou em
pacientes com impossibilidade de medicação VO ou IV, apresenta
baixa liberação histamínica e depressão cardiovascular e
menores efeitos nauseantes, obstipantes e sedativos. Existem
disponíveis adesivos com liberação de 25, 50, 75 e 100
mcg/hora, que, após aplicados, levam 24 horas para agir e
mantêm liberação contínua por 72 horas. O resgate pode ser
feito com morfina de ação rápida, e na conversão deve-se
calcular a dose total de morfina usada em 72 horas.
Buprenorfina
Essa droga é 30-60 vezes mais potente do que a morfina e é
menos sedativa, nauseante e obstipante, além de causar menos
efeito disfórico por seu antagonismo kappa. Está disponível no
Brasil em adesivos de 5, 10 e 20 mg, que podem ser combinados
entre si. Demora 3 dias para atingir o pico de ação, e o adesivo
precisa ser trocado a cada 7 dias. O resgate pode ser feito com a
formulação sublingual (dose inicial: 0,2-0,8 mg a cada 8 horas;
dose equivalente de buprenorfina transdérmica 5 mg: 0,12
mg/dia buprenorfina sublingual). Não causa hiperalgesia
induzida por opioide, efeito adverso caracterizado por
sensibilização nociceptiva com resposta paradoxal, ou seja,
aumento da sensibilidade à dor causado pela exposição a
opioides, podendo gerar inclusive alodinia, geralmente
suspeitada na ocorrência de dor abdominal forte.
Medicações adjuvantes
São drogas cujo efeito primário não consiste em analgesia,
mas que em associação com analgésicos potencializam seus
efeitos, podendo ser usados em todos os degraus da escala
analgésica da OMS. São especialmente utilizados e possuem
grande importância em pacientes com dor neuropática e dor
persistente, atuando em vias do controle inibitório descendente
de dor.
Antidepressivos
Atuam por meio do bloqueio da recaptação de noradrenalina
ou serotonina, tendo ação analgésica adjuvante independente da
ação no humor. Em idosos, são preferíveis antidepressivos duais
para esse fim, embora os tricíclicos também sejam efetivos. Têm
benefício bem estabelecido na dor neuropática (isolada ou
associada à dor nociceptiva), dor disfuncional (fibromialgia),
profilaxia da enxaqueca e dor persistente. Exercem ação
sedativa, ansiolítica e miorrelaxante, além de melhorar a
qualidade do sono e estabilizar o humor.
Os antidepressivos duais mais usados para o tratamento da
dor em idosos são venlafaxina e duloxetina. A duloxetina é
iniciada na dose de 30 mg/dia, podendo chegar a 120 mg/dia. Há
contraindicação formal em pacientes com clearance de
creatinina inferior a 30 mL/minuto, e é necessário ajuste em
pacientes com insuficiência hepática. A venlafaxina é iniciada na
dose de 37,5 mg/dia e pode chegar a 225 mg/dia. No uso de
antidepressivos duais, um dos principais efeitos colaterais a ser
observado é o aumento da pressão arterial.
Na indisponibilidade dos antidepressivos duais, os tricíclicos
podem ser utilizados com cautela, preferencialmente
nortriptilina (menor efeito anticolinérgico) ou amitriptilina. A
ação anticolinérgica, anti-histamínica e antialfa-1-adrenérgica os
tornam medicamentos com alto risco de efeitos colaterais para
idosos como: sonolência, confusão mental, declínio cognitivo,
boca seca, retenção urinária, constipação intestinal, quedas por
hipotensão ortostática e ganho de peso. Há contraindicação
formal em pacientes com glaucoma de ângulo fechado e
bloqueios de condução. A nortriptilina pode ser iniciada com 10
mg à noite, podendo atingir a dose máxima de 25-50 mg/dia. A
amitriptilina pode ser iniciada com 10 mg à noite, podendo
atingir a dose máxima de 25-50 mg/dia.
Anticonvulsivantes
Os principais representantes são gabapentinoides
(gabapentina e pregabalina), carbamazepina e oxcarbazepina.
Por seu efeito nos sistemas nervosos central e periférico, são
bastante utilizados em dores do tipo neuropática e persistente.
Gabapentinoides
Atuam modulando a proteína alfa-2-delta-1 do canal de cálcio
do tipo N. A gabapentina reduz os níveis de glutamato e aumenta
os níveis de ácido gama-aminobutírico (GABA) e serotonina no
SNC. Já a pregabalina tem efeitos indiretos nos canais de cálcio,
glutamato, noradrenalina e substância P. São consideradas
seguras e com pouca interação medicamentosa, porém é
necessário ajuste em pacientes com insuficiência renal. Os
efeitos adversos mais comuns são sonolência e tontura. A dose
inicial da gabapentina é 300 mg à noite (100 mg em idosos
frágeis), com dose teto de 1.200 mg, 3 vezes ao dia (3.600
mg/dia). A dose inicial de pregabalina é 75 mg à noite (50 mg em
idosos frágeis), com dose máxima de 300 mg a cada 12 horas.
Carbamazepina ou oxcarbazepina
A carbamazepina tem sua melhor indicação na neuralgia do
trigêmeo, mas pode ser usada em outras dores neuropáticas com
componente paroxístico. Possui ação anticolinérgica, o que
justifica a cautela em seu uso, além de controle periódico de
hemograma, função hepática e renal (iniciar com 100-200 mg, 1-
2 vezes ao dia, dose máxima de 1.200 mg/dia). A oxcarbazepina
deriva da carbamazepina, mas tem melhor tolerabilidade e
segurança (iniciar com 150-300 mg, 1-2 vezes/dia, com dose
máxima de 2.400 mg/dia). A dose de oxcarbazepina deve ser
reduzida pela metade em pacientes com clearance menor que 30
mL/minutos.
Relaxantes musculares
Indicados para dor de origem musculoesquelética,
especialmente espasmos agudos (lombalgia ou cervicalgia),
síndrome dolorosa miofascial, fibromialgia e espasmos de origem
central. Apresentam diversos mecanismos de ação (Quadro 4), e
por conta dos importantes e frequentes efeitos colaterais,
especialmente em idosos, sua utilização tornou-se bastante
restrita, sendo preferíveis os métodos físicos para alívio das
dores a que são destinados.
Agentes tópicos
Alguns medicamentos podem ser utilizados como agentes
tópicos no tratamento da dor. Os principais representantes são:
capsaicina, lidocaína, amitriptilina, AINE tópico e mentol.
A capsaicina, substância presente na pimenta, tem como
mecanismo de ação a dessensibilização de fibras C (via ação na
substância P) e encontra-se disponível a 0,025 e 0,075%, sendo
administrada 3-4 vezes ao dia. Está indicada na literatura para
tratamento de dor neuropática de diferentes etiologias
(neuralgia pós-herpética, neuropatia diabética, neuralgia do
trigêmeo), além de dor persistente por osteoartrose e disfunção
temporomandibular. Os efeitos adversos mais comuns são
queimação, hiperemia e edema no local da aplicação, que
tendem a desaparecer ao longo do tempo. A lidocaína é
particularmente útil na dor localizada, atuando em canais de
sódio e impedindo a transmissão do potencial de ação, podendo
ser usada em patch a 5% ou gel a 2%. A amitriptilina tópica, na
concentração de 2-4%, também é indicada para dor neuropática,
podendo ser combinada com lidocaína. Outras substâncias
utilizadas são AINE tópicos (indicados para afecções
musculoesqueléticas inflamatórias em pacientes com
intolerância ou contraindicação a AINE VO) e mentol (redução
da sensibilidade de fibras A-delta e C, utilizado na dor tipo
musculoesquelética).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dor é um sintoma altamente prevalente em idosos e para o
tratamento adequado é preciso um diagnóstico etiológico
correto e avaliação clínica detalhada. O tratamento multimodal,
multidimensional e interdisciplinar é sempre a melhor opção no
tratamento de dor em idosos.
BIBLIOGRAFIA
Abdulla A, Adams N, Bone M, Elliott AM, Gaffin J, Jones D, et al. Guidance on the
management of pain in older people. Age Ageing. 2013;42(Suppl 1):i1-57.
American Geriatrics Society Panel on Pharmacological Management of Persistent Pain
in Older Persons. Pharmacological management of persistent pain in older persons.
J Am Geriatric Soc. 2009;57(8):1331-46.
Bennett MI, Smith BH, Torrance N, Potter J. The S-LANSS score for identifying pain of
predominantly neuropathic origin: validation for use in clinical and postal research.
J Pain. 2005;6(3):149-58.
Bersani ALF, Moraes, NS. Tratamento farmacológico da dor crônica no idoso. In:
Bersani ALF, Barros BF, Moraes NS, Santos FC. Terapêutica da dor no idoso: guia
prático. Rio de Janeiro: Atheneu; 2018.
Bicket MC, Mao J. Chronic pain in older adults. Anesthesiol Clin. 2015;33(3):577-90.
Bouhassira D, Attal N, Alchaar H, Boureau F, Brochet B, Bruxelle J, et al. Comparison
of pain syndromes associated with nervous or somatic lesions and development of a
new neuropathic pain diagnostic questionnaire (DN4). Pain. 2005;114(1-2):29-36.
Galer BS, Jensen MP. Development and preliminary validation of a pain measure
specific to neuropathic pain: the Neuropathic Pain Scale. Neurology.
1997;48(2):332-8.
Gibson SJ, Farrell M. A review of age differences in the neurophysiology of nociception
and the perceptual experience of pain. Clin J Pain. 2004;20(4):227-39.
Hadjistavropoulos T, Herr K, Turk DC, Fine PG, Dworkin RH, Helme R, et al. An
interdisciplinary expert consensus statement on assessment of pain in older
persons. Clin J Pain. 2007;23(1 Suppl): S1-43.
Hämmerlein A, Derendorf H, Lowenthal DT. Pharmacokinetic and pharmacodynamic
changes in the elderly: clinical implications. Clin Pharmacokinet. 1998;35(1):49-64.
Helme RD, Meliala A, Gibson SJ. Methodologic factors which contribute to variations
in experimental pain threshold reported for older people. Neurosci Lett.
2004;361(1-3):144-6.
Jordan A, Hughes J, Pakresi M, Hepburn S, O’Brien JT. The utility of Painad in
assessing pain in a UK population with severe dementia. Int J Geriatr Psychiatry.
2009;26(2): 118-26.
Karp JF, Shega JW, Morone NE, Weiner DK. Advances in understanding the
mechanisms and management of persistent pain in older adults. Br J Anaesth.
2008;101(1): 111-20.
Keller S, Bann CM, Dodd SL, Schein J, Mendoza TR, Cleeland CS. Validity of the brief
pain inventory for use in documenting the outcomes of patients with noncancer
pain. Clin J Pain. 2004;20(5):309-18.
Krebs EE, Gravely A, Nugent S, Jensen AC, DeRonne B, Goldsmith ES, et al. Effect of
opioid vs nonopioid medications on pain-related function in patients with chronic
back pain or hip or knee osteoarthritis pain: the Space randomized clinical trial.
JAMA. 2018;319(9):872-82.
Lorenzet IC, Santos FC, Souza PM, Gambarro RC, Coelho S, Cendoroglo MS. Avaliação
da dor em idosos com demência: tradução e adaptação transcultural do
instrumento Pacslac para a língua portuguesa. Rev Bras Med. 2011; 68(4):129-33.
Melzack R, Katz J. Pain measurement in persons in pain. In: Wall PD, Melzack R.
Textbook of pain. 3rd ed. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1994. p.337-51.
Mense S. Pathophysiology of low back pain and the transition to the chronic state:
experimental data and new concepts [article in German]. Schmerz (Berlin,
Germany). 2001; 15(6):413-7.
Motta TS, Gambaro RC, Santos FC. Mensuração da dor em idosos: avaliação das
propriedades psicométricas da versão em português do Geriatric Pain Measure.
Rev Dor. 2015;16(2):136-41.
Pickering G, Marcoux M, Chapiro S, David L, Rat P, Michel M, et al. An algorithm for
neuropathic pain management in older people. Drugs Aging. 2016;33(8):575-83.
Pinto MCM, Minson FP, Lopes ACB, Laselva CR. Adaptação cultural e validação da
reprodutibilidade da versão em português (Brasil) da escala de dor Pain
Assessment in Advanced Dementia (Painad-Brasil) em pacientes adultos não
comunicantes. Einstein. 2015;13(1):14-9.
Posso IP, Grossmann E, da Fonseca PRB, Perissinotti DMN, de Oliveira Junior JO, de
Souza, JB, et al. Tratado de dor: publicação da Sociedade Brasileira para o Estudo
da Dor. 2 v. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017.
Santos, FC. Manejo da dor. In: Ramos LR, Cendoroglio MS. Geriatria e gerontologia.
Série Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da Unifesp-EPM. Barueri:
Manole; 2005.
Saraiva MD, Suzuki GS, Lin SM, de Andrade DC, Jacob-Filho W, Suemoto CK.
Persistent pain is a risk factor for frailty: a systematic review and meta-analysis
from prospective longitudinal studies. Age Ageing. 2018;47(6):785-93.
World Health Organization (WHO). Cancer pain relief and palliative care: report of a
WHO expert committee. Geneva: World Health Organization; 1990. Available:
https://apps.who.int/iris/handle/10665/39524 (acesso jan 2023).
Manejo de sintomas em cuidados paliativos: fadiga, 53
dispneia e sedação paliativa
INTRODUÇÃO
A maioria dos pacientes em cuidados paliativos (CP), sobretudo em
fase mais avançada da doença, apresentará sintomas físicos e emocionais
que podem impactar de maneira significativa sua qualidade de vida. A
avaliação criteriosa desses pacientes e o tratamento sintomático eficaz
podem aliviar ou até mesmo eliminar a maioria dos sintomas que trazem
desconforto e sofrimento ao paciente e seus familiares.
Alguns aspectos constituem um desafio no manejo de sintomas nos
pacientes em CP. Muitos pacientes apresentam sintomas múltiplos, e a
percepção de desconforto proporcionado por determinado sintoma é de
caráter individual e variável; ou seja, um sintoma pode causar desconforto
de intensidade diferente em cada indivíduo. Isso ocorre pela interferência
de aspectos de domínios físico, emocional, espiritual e social na percepção
de sofrimento causado por certo sintoma. Além disso, os pacientes em CP
comumente recebem polifarmácia, apresentam nível sérico de albumina
reduzido e disfunção renal, tendo, assim, maior suscetibilidade a
interação medicamentosa, iatrogenias e efeitos adversos de medicação
(sobretudo em sistema nervoso central – SNC – com maior ocorrência de
delirium e sedação).
A avaliação dos sintomas em CP deve ser realizada continuadamente,
podendo ser utilizadas escalas de avaliação sintomática. A escala utilizada
deve ser abrangente e prática, capaz de identificar e quantificar os
sintomas mais prevalentes e de monitorar resposta ao tratamento. A
escala mais comumente utilizada para esse fim é Escala de avaliação de
Edmonton (ESAS).
Os sintomas mais prevalentes em pacientes em CP são: dor, dispneia,
fadiga, delirium, sintomas emocionais (depressão, ansiedade, insônia) e
sintomas do trato gastrointestinal (náusea, constipação, diarreia), sendo a
fadiga o sintoma mais comum, conforme ilustrado na Tabela 1. A
prevalência desses sintomas pode variar de acordo com a doença de base
do paciente e a fase de evolução da doença.
Neste capítulo será abordado o manejo clínico da fadiga e da dispneia
e a abordagem terapêutica de controle de sintomas refratários em CP, por
meio da sedação paliativa.
FADIGA
A fadiga é o sintoma mais comum em cuidados paliativos e um dos
mais subdiagnosticados e subtratados, podendo ter um impacto negativo
na qualidade de vida dos pacientes. Sua prevalência varia em 36-78% em
estudos de pacientes com câncer em vários estágios da doença. É definida
como uma sensação subjetiva e persistente de cansaço e exaustão (física,
emocional e/ou cognitiva) relacionada à doença ou a seu tratamento,
desproporcional ao nível de atividade física recente, que não melhora com
repouso e sono e que interfere na capacidade funcional do indivíduo ou
em seu tratamento. É um sintoma complexo, multidimensional, bastante
influenciado por componente emocional e que pode ter múltiplos fatores
contribuintes ou agravantes, como os relacionados no Quadro 1.
TABELA 1 Prevalência de sintomas em doenças avançadas (câncer, aids, ICC, DPOC, IRC)
Aids: síndrome da imunodeficiência humana; DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica; IC:
insuficiência cardíaca congestiva; IRC: insuficiência renal crônica.
Fonte: Journal of Pain and Symptom Management, 2006.
Tratamento do câncer
Anemia
Transtornos do humor
Infecção
Descondicionamento
Hipóxia
Desidratação
Polifarmácia
Disfunção autonômica
Citocinas inflamatórias
Tratamento
Tratamento farmacológico
DISPNEIA
A dispneia é uma sensação ou experiência subjetiva, caracterizada pela
percepção desconfortável da respiração, que pode estar associada ou não
a hipoxemia, taquipneia ou ortopneia. Pode ser percebida e/ou descrita de
diversas formas pelo paciente: dificuldade de respirar, receio “de não
conseguir respirar”, sensação de avidez por ar: “fome de ar”, necessidade
de mais força para respirar, sensação de respiração rápida e incompleta,
sensação de sufocamento.
Assim como a fadiga, deve ser ativamente questionada. Mais de 70%
dos pacientes apresentam dispneia nos últimos dias de vida, e sua origem
com frequência é multifatorial. É um sintoma angustiante de ser
vivenciado e testemunhado, e seu manejo deve ser imediato, incluindo a
identificação de potenciais causas subjacentes e precipitantes e o
tratamento adequado, observando sempre a proporcionalidade deste.
Do ponto de vista fisiopatológico, a sensação de dispneia pode surgir
do aumento da demanda ventilatória, do comprometimento do processo
mecânico de ventilação ou de ambos (Figura 2). A percepção da dispneia
surge do córtex sensorial, que integra informações de múltiplas fontes,
incluindo quimiorreceptores periféricos e centrais, mecanorreceptores
(provenientes de grandes vias aéreas, parênquima pulmonar e parede
torácica) e centros motores respiratórios (tanto na medula como no córtex
motor).
Manejo farmacológico
Dimorf bolus 1-5 mg EV/SC + dose fixa 4/4 horas ou 6/6 horas + dose de resgate s/n.
Obs. 1. Se uso atual de opioide: dose de uso + 25-50%.
Obs. 2. Reduzir dose: na disfunção renal, DPOC (metade da dose).
Titular dose: incorporar doses de resgate utilizadas na dose diária ou aumentar a dose diária
em 25-50%.
Titular resgates: se sintomas não melhorarem após 2 resgates (separados por 15 minutos),
aumentar a dose.
Avaliar a necessidade de início de infusão contínua de 1 bolus/hora, durante 4 horas
consecutivas. Se escape sintomas/efeito de fim de dose com dose fixa intermitente (somatório
das doses fixa + resgate utilizadas).
Métodos diagnósticos: foram realizados todos os esforços diagnósticos para identificar potenciais
causas reversíveis do sintoma?
EV: endovenoso; SC: subcutâneo; SF: soro fisiológico; UTI: unidade de terapia intensiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos aspectos primordiais do cuidado paliativo consiste no manejo
sintomático efetivo, proporcionando alívio sintomático, além de auxílio no
estabelecimento do plano de cuidado e da meta terapêutica adequados
para cada etapa de evolução da doença. Nesse contexto, o
acompanhamento precoce do paciente pela equipe de CP é capaz de
promover tratamento clínico mais eficiente, reduzindo o sofrimento do
paciente e/ou familiares.
Nos casos de refratariedade terapêutica sintomática, deve ser lançado
o uso do recurso de sedação paliativa. Algumas considerações a respeito
da sedação paliativa são importantes. Deve ser bem distinguida da
eutanásia, que consiste na administração deliberada de uma droga letal
que tem como objetivo abreviar a vida e causar a morte; e do suicídio
assistido, no qual o médico provê os meios para o paciente cometer o
suicídio. Outra consideração importante é que não há evidências de que o
uso da sedação paliativa antecipe a morte.
O conhecimento desses conceitos é de fundamental importância para
que os pacientes que recebem assistência em cuidados paliativos possam
vivenciar o menor sofrimento possível na fase de finitude e terminalidade
de vida e possam ter uma morte digna.
BIBLIOGRAFIA
Association for Palliative Care (EAPC) recommended framework for the use of sedation in
palliative care. Palliat Med. 2009;23:581.
Bausewein C, Booth S, Gysels M, Higginson I. Non-pharmacological interventions for
breathlessness in advanced stages of malignant and non-malignant diseases. Cochrane
Database Syst Rev. 2008:CD005623.
Bower JE, Bak K, Berger A, Breitbart W, Escalante CP, Ganz PA, et al. Screening, assessment, and
management of fatigue in adult survivors of cancer: an American Society of Clinical oncology
clinical practice guideline adaptation. J Clin Oncol. 2014;32(17):1840.
Braun TC, Hagen NA, Clark TJ. Development of a clinical practice guideline for palliative sedation.
Palliat Med. 2003;6:345-50.
Bruera E, Yennurajalingam S. Challenge of managing cancer-related fatigue. J Clin Oncol.
2010;28:3671.
Chan KS, Tse DMW, Sham MK. Dyspnoea and other respiratory symptoms in palliative care. In:
Cherny N, Fallon M, Kaasa S, Portenoy R, Currow DC, editors. Oxford textbook of palliative
medicine. 5.ed. Oxford: Oxford University Press; 2015. p.421-34.
Clemens KE, Klaschik E. Dyspnoea associated with anxiety: symptomatic therapy with opioids in
combination with lorazepam and its effect on ventilation in palliative care patients. Support
Care Cancer. 2011;19:2027.
Cramp F, Byron Daniel J. Exercise for the management of cancer related fatigue in adults.
Cochrane Database of Systematic Reviews. 2012, Issue 11.
Cranston JM, Crockett A, Currow D. Oxygen therapy for dyspnoea in adults. Cochrane Database
Syst Rev. 2008; CD004769.
Dexmedetomidine: does it have a potential in palliative medicine? American Journal of Hospice e
Paliative Medicine. 2011;28(4)27.
Fainsinger R, Miller MJ, Bruera E, Hanson J, Maceachern T. Symptom control during the last week
of life on a palliative care unit. J Palliat Care. 1991;7: 5-11.
Hardy JR, Rees E, Ling J, Burman R, Feuer D, Broadley K, et al. A prospective survey of the use of
dexamethasone on a palliative care unit. Palliat Med. 2001;15:3.
Higgins PC, Altilio T. Palliative sedation: an essential place for clinical excellence. J Soc Work End
Life Palliat Care. 2007;3:3.
Isseki M, Tatsuya M, Takuhiro Y, Satoshi I, Masayuki I, Yoshihisa M, et al. Effect of continuous deep
sedation on survival in patients with advanced cancer. Lancet Oncol. 2016; 17:115-22.
Maltoni M, Scarpi E, Rosati M, Derni S, Fabbri L, Martini F, et al. Palliative sedation in end-of-life
care and survival: a systematic review. J Clin Oncol. 2012;30:1378-83.
Markowitz AJ, Rabow MW. Palliative management of fatigue at the close of life: “it feels like my
body is just worn out”. JAMA 2007;298(2):217.
Mercadante S, Aielli F, Adile C, Valle A, Fusco F, Ferrera P, et al. Epidemiology and characteristics
of episodic breathlessness in advanced cancer patients: an observational study. J Pain Symptom
Manage. 2016;51:17.
Morita T, Inoue S, Chihara SJ. Sedation for symptom control in Japan: the importance of
intermittent use and communication with family members. Pain Symptom Manage. 1996;12:32-
8.
Morita T, Tsuneto S, Shima Y. Definition of sedation for symptom relief: asystematic literature
review and a proposal of operational criteria. J Pain Symptom Manage. 2002;24: 447-53.
Mücke M, Mochamat, Cuhls H, Peuckmann-Post V, Minton O, Stone P, et al. Pharmacological
treatments for fatigue associated with palliative care: executive summary of a Cochrane
Collaboration systematic review. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2016;7:23.
Oncology clinical practice guidelines. Esmo clinical practice guidelines for the management of
refractory symptoms at end of life and the use of palliative sedation. Ann Oncol. 2014;25 (Suppl
3):iii143-iii152.
Respini D, Jacobsen PB, Thors C, Tralongo P, Balducci L. The prevalence and correlates of fatigue
in older cancer patients. Crit Rev Oncol Hematol. 2003;47:273.
Seow H, Barbera L, Sutradhar R, Howell D, Dudgeon D, Atzema C, et al. Trajectory of performance
status and symptom scores for patients with cancer during the last six months of life. J Clin
Oncol. 2011;29:1151.
Simon ST, Higginson IJ, Booth S, Harding R, Weingärtner V, Bausewein C. Benzodiazepines for the
relief of breathlessness in advanced malignant and non-malignant diseases in adults. Cochrane
Database Syst Rev. 2016;10:CD007354.
Solano JP, Gomes B, Higginson IJ. A comparison of symptom prevalence in far advanced cancer,
Aids, heart disease, chronic bstrutive pulmonary disease, and renal disease. J Pain Symptom
Manage. 2006;31(1):58-69.
Ventafridda V, Ripamonti C, De Conno F, Tamburini M, Cassileth BR. Symptom prevalence and
control during cancer patients’ last days of life. J Palliat Care 1990;6:7-11.
Viola R, Kiteley C, Lloyd NS, Mackay JA, Wilson J, Wong RKS, et al. The management of dyspnea in
cancer patients: a systematic review. Support Care Cancer. 2008; 16:329.
Yennurajalingam S, Bruera E. Fatigue and asthenia. In: Cherny N, Fallon M, Kaasa S, Portenoy R,
Currow DC, editors Oxford textbook of palliative medicine. 5.ed. Oxford: Oxford University
Press; 2015. p.409-20.
Yennurajalingam S, Palmer JL, Chacko R, Bruera E. Factors associated with response to
methylphenidate in advanced cancer patients. Oncologist. 2011;16:246.
Yennurajalingam S, Williams JL, Chisholm G, Bruera E. Effects of dexamethasone and placebo on
symptom clusters in advanced cancer patients: a preliminary report. Oncologist.
2016;21(3):384-90.
54 Sobrecarga do cuidador
INTRODUÇÃO
O aumento da expectativa de vida associado à elevação
da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis
(DNCT: cardiovasculares, neurodegenerativas, oncológicas)
contribuiu de forma relevante para o aumento do número
de idosos com algum grau de dependência. No Brasil, em
2018, as pessoas acima de 60 anos correspondiam a 15,4%
da população total, e estima-se que até o ano de 2060 esse
contingente populacional deverá atingir 30%,
evidenciando, assim, o fenômeno do envelhecimento.
As DCNT em pessoas idosas são a principal causa de
disfuncionalidade na maioria dos países sul-americanos,
incluindo o Brasil. A disfuncionalidade se refere a
deficiências, limitação de atividades ou restrição na
participação comunitária e social.
O grande desafio relacionado ao envelhecimento é
alcançá-lo sem apresentar uma ou mais doenças que
limitem a vida diária, acarretando dependência de outras
pessoas. Porém, quando a incapacidade funcional ocorre, a
família é quem assume, direta ou indiretamente (por
intermédio da figura do cuidador formal contratado), a
tarefa do cuidado diário ao idoso, muitas vezes sem a
preparação e o conhecimento adequados para
desempenhar tal papel.
Considera-se cuidador aquela pessoa que assume a
responsabilidade pelo cuidado do idoso ou de outro ser
humano com algum grau de incapacidade ou dependência,
podendo ser um membro da família ou não, que na maioria
das vezes desenvolve o trabalho sem formação específica
voltada para o cuidado de idosos dependentes e sem
remuneração.
Os primeiros estudos sobre cuidados de pessoas idosas
surgiram na década de 1960, no contexto de pacientes
psiquiátricos, sendo seguidos por pesquisas com o perfil de
cuidadores de “idosos frágeis” (década de 1980) e
posteriormente sobre cuidadores de “idosos com
demência”, com ênfase na doença de Alzheimer (década de
1990).
A partir dos anos 2000, a profissão de cuidador de idoso
vem ganhando destaque e importância no âmbito nacional.
De acordo com o Ministério da Saúde, a ocupação de
cuidador integra a Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO) sob o código 5162, definindo o cuidador como
alguém que “cuida a partir dos objetivos estabelecidos por
instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando
pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal,
educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida”.
A sobrecarga do cuidador está frequentemente
associada a depressão, ansiedade, fadiga física e mental,
estresse, falta de apoio social e pior qualidade de vida. No
âmbito do burnout do cuidador, principalmente no contexto
de assistência domiciliar na fase final de vida, observa-se
aumento no surgimento de atitudes paternalistas, abusos e
agressões à pessoa idosa.
Funcionalidade
JORNADA DE TEMPO
Para o cuidador informal, a tarefa de cuidar
frequentemente está associada ao abandono da profissão,
das atividades de lazer e do autocuidado. Os registros na
literatura relatam que 70% dos cuidadores dedicam-se 10
ou mais horas por dia e quase 2/3 deles não realizam
rodízio com outros membros do clã familiar.
ASPECTOS AMBIENTAIS
Residir com o paciente pode gerar um comportamento
dual entre “tensão” e “bem-estar”. Os núcleos familiares
que conseguem atender às demandas de seus familiares
relatam experiência positiva nesse contexto de cuidado. Por
outro lado, a insuficiência de recursos pode acarretar
tensão no contexto familiar, acarretando conflitos entre os
membros devido à falta de resolutividade e à não execução
das tarefas propostas. Em relação aos pacientes, a
preservação do vínculo familiar é vista de forma favorável,
uma vez que suas demandas podem ser atendidas de forma
ampla.
ASPECTOS FINANCEIROS
Em pesquisas realizadas nos meses que antecederam a
pandemia, 95% dos idosos contribuíam financeiramente
para seus lares, sendo 68% deles chefes de suas famílias. A
problemática financeira reside no fato de os proventos
serem inferiores a três salários-mínimos, associado ao
abandono total ou parcial das atividades laborais pelos
cuidadores e à presença de um lar multigeracional (três
gerações ou mais), sustentado por uma renda reduzida.
Funcionalidade.
Aspectos físicos e dor.
Estado geral de saúde e vitalidade.
Aspectos sociais.
Aspectos psicoemocionais.
PSICOEDUCAÇÃO
A psicoeducação, baseada na terapia cognitivo-
comportamental (TCC), tem contribuído para o manejo do
estresse do cuidador por ser uma modalidade de resultados
em curto prazo, que permite trabalhar desde pensamentos
automáticos até questões centrais do indivíduo, sempre
considerando os eventos desencadeadores dos sintomas.
Essas intervenções normalmente focam a modificação de
crenças relacionadas à doença e ao papel do cuidador,
encorajando-o no engajamento em atividades prazerosas e
envolvendo outros familiares nos cuidados.
ATIVIDADE FÍSICA
A prática de atividade física é outra importante
intervenção no estresse do cuidador. As atividades
aeróbicas (p. ex.: caminhada), que podem ser realizadas
inclusive com a participação dos pacientes, apresentaram
relação positiva na qualidade de vida e fortalecimento de
vínculos.
HOSPITALIZAÇÃO DO PACIENTE
Nos casos de sobrecarga importante, com riscos para o
paciente ou o cuidador, a hospitalização do paciente pode
ser uma opção, pois possibilita observar se há impacto
positivo no estado de saúde do cuidador. É importante que
seja feito um investimento junto à equipe multidisciplinar
da instituição com o objetivo de promover a transferência
de conhecimentos ao cuidador como parte do planejamento
da alta hospitalar do paciente.
INSTITUCIONALIZAÇÃO
A admissão em instituições de longa permanência (ILP)
é recomendada nos casos de risco de maus-tratos, estresse
incapacitante do cuidador e ausência de suporte social.
Observa-se redução no relato de sintomas depressivos
após a institucionalização dos pacientes, sugerindo que tais
acometimentos podem ser agravados com a prática do
cuidar. O reconhecimento e a intervenção precoce na
sobrecarga do cuidador podem evitar a entrada dos idosos
em instituições ou até memo promover sua retirada das ILP.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sobrecarga do cuidador é uma condição com potencial
para gerar muitos outros problemas desencadeadores de
comprometimento na qualidade de vida (aspectos físicos,
psicológicos e sociais). Por isso, é importante contar com
uma rede adequada de suporte profissional que possa ao
menos minimizar parte desse problema por meio de
intervenções mais eficazes e continuadas.
Afinal, um cuidador capacitado e em equilíbrio para
prover suporte poderá oferecer um cuidado de melhor
qualidade.
BIBLIOGRAFIA
Aboulafia-Brakha T, Suchecki D, Gouveia-Paulino F, Nitrini R, Ptak R. Cognitive-
behavioural group therapy improves a psychophysiological marker of stress
in caregivers of patients with Alzheimer’s disease. Aging & Mental Health.
2014;18(6):801-8.
Assenheimer A, Brum ZP. Dificuldades enfrentadas pelo cuidador de idoso
domiciliar. RICSB. 2019;3(2):3-12.
Bremenkamp MG, Rodrigues LR, Lage RR, Laks J, Cabral HWS, Morelato RM.
Sintomas neuropsiquiátricos na doença de Alzheimer: frequência, correlação
e ansiedade do cuidador. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
2014;17:763-73.
Cassis SVA, Karnakis T, Moraes TAD, Curiati JAÉ, Quadrante ACR, Magaldi RM.
Correlação entre o estresse do cuidador e as características clínicas do
paciente portador de demência. Revista da Associação Médica Brasileira.
2007;53:497-501.
Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a
língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de
qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol. 1999;39(3):143-
50.
Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM n. 2.217, de 27 de setembro de
2018. Aprova o Código de Ética Médica [Internet]. Diário Oficial da União.
Brasília, p. 179, 1º nov 2018. Seção 1. Disponível: https://bit.ly/2RyvAE8
(acesso jan 2023).
Cummings JL, Mega M, Gray K, Rosenberg-Thompson S, Carusi DA, Gornbein J.
The neuropsychiatric inventory: comprehensive assessment of
psychopathology in dementia. Neurology. 1994;44(12):2308.
Danhauer SC, McCann JJ, Gilley DW, Beckett LA, Bienias JL, Evans DA. Do
behavioral disturbances in persons with Alzheimer’s disease predict
caregiver depression over time? Psychology and Aging. 2004;19(1):198.
Delalibera M, Barbosa A, Leal I. Circunstâncias e consequências do cuidar:
caracterização do cuidador familiar em cuidados paliativos. Ciência & Saúde
Coletiva. 2018;23:1105-17.
Fernandes ARK, Araujo MT, Velloso ISC, Mattar e Silva TW. O papel do cuidador
formal de idosos: facilidades e dificuldades no exercício do cuidado J Nurs
Health. 2022;12(3):e2212321355.
Ferrara M, Langiano E, Di Brango T, Di Cioccio L, Bauco C, De Vito E.
Prevalence of stress, anxiety and depression in with Alzheimer caregivers.
Health and Quality of life Outcomes. 2006;6(1):1-5.
Figueiredo AEB, Ceccon RF, Figueiredo JHC. Doenças crônicas não
transmissíveis e suas implicações na vida de idosos dependentes. Ciência &
Saúde Coletiva. 2021; 26:77-88.
Gratão ACM, Brigola AG, Ottaviani AC, Luchesi BM, Souza ÉN, Rossetti ES, et
al. Brief version of Zarit Burden Interview (ZBI) for burden assessment in
older caregivers. Dementia & Neuropsychologia. 2019;13:122-9.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). PNAD Contínua –
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Outubro de 2022.
Available: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-
pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html?
=&t=resultados (acesso jan 2023).
Macedo AFA, dos Reis ACR, de Lima IM, de Almeida Gonçalves MTT, de
Almeida KVLR. Qualidade de vida de cuidadores de idosos: uma revisão de
literatura. Research, Society and Development.
2021;10(15):e282101523024-e282101523024.
Oliveira DCD, Carvalho GSFD, Stella F, Higa CMH, D’Elboux MJ. Qualidade de
vida e sobrecarga de trabalho em cuidadores de idosos em seguimento
ambulatorial. Texto & Contexto-Enfermagem. 2011;20:234-40.
Oliveira DC, D’Elboux MJ. Estudos nacionais sobre cuidadores familiares de
idosos: revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem. 2012;65:829-
38.
Press D. Management of patient with dementia. UpToDate, Waltham, MA.
2021;12(29):22.
Ribeiro MTDF, Ferreira RC, Ferreira EF, Magalhães CSD, Moreira AN. Perfil
dos cuidadores de idosos nas instituições de longa permanência de Belo
Horizonte, MG. Ciência & Saúde Coletiva. 2008;13:1285-92.
Scazufca M, Menezes PR, Vallada H, Araya R. (2009). Validity of the self
reporting questionnaire-20 in epidemiological studies with older adults.
Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology. 2009;44(3):247-54.
Skarupski KA, McCann J, Bienias JL, Evans DA. Race differences in emotional
adaptation of family caregivers. Aging & Mental Health. 2009;13(5):715-24.
Truzzi A, Ulstein I, Valente L, Engelhardt E, Coutinho ES, Laks J, et al. Patterns
of neuropsychiatric sub-syndromes in Brazilian and Norwegian patients with
dementia. Int Psychogeriatr. 2013;25(2):228-35.
Uesugui HM, Fagundes DS, Pinho DLM. Perfil e grau de dependência de idosos
e sobrecarga de seus cuidadores. Acta Paulista de Enfermagem.
2011;24:685-98.
Modalidades de assistência aos idosos e 55
soluções para o século XXI
INTRODUÇÃO
O processo de transição demográfica – quando ocorre
progressiva inversão da pirâmide etária (menos crianças e
mais idosos) – tornou-se fenômeno mundial e em rápido
crescimento desde a segunda metade do século passado.
Incluem-se nesse processo demográfico países como o
Brasil, onde a velocidade do envelhecimento populacional
observada nos últimos 40 anos aumentou o número de
idosos (idade igual ou maior a 60 anos) de 3 para mais de
14 milhões (acréscimo de aproximadamente 500%).
Criam-se assim dois desafios para a saúde pública
brasileira:
ATENDIMENTO DOMICILIÁRIO
A atenção domiciliária ao idoso está se tornando opção
estratégica para seus cuidados, notadamente pós-
hospitalização e a longo prazo. Equipes multiprofissionais –
devidamente treinadas e motivadas – apresentam potencial
de assistência domiciliária com a incorporação de insumos,
equipamentos e de orientação aos familiares dos pacientes.
Esse processo de desospitalização torna o idoso menos
vulnerável a iatrogenias sabidamente mais frequentes em
ambiente hospitalar. Provoca também o retorno a seu local
de moradia, permitindo melhor interação com a rotina
domiciliar e com os integrantes de sua família.
Merece menção o fato de que a alta hospitalar não
encerra o ciclo de atendimento aos pacientes em geral e
aos idosos em particular, ou seja, se não houver um
atendimento pós-hospitalização efetivo, o risco de
reinternações torna-se fato concreto e sobrecarrega os
sistemas público e o privado de saúde.
É necessário fazer referência à legislação vigente sobre
o atendimento domiciliar ao idoso. Portarias do Ministério
da Saúde (MS 2.527, de 27/10/2011, e MS 963, de
27/05/2013) contribuem para embasar a integração de
programas municipais e federais quanto aos recursos
financeiros e humanos para o atendimento a idosos
dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS). As Leis n.
10.741 (01/10/2003) e n. 12.896 (18/12/2013) contemplam
o idoso com o direito – no caso de impossibilidade de
locomoção – a atendimento domiciliar para atendimento
público e privado visando primariamente à emissão de
laudo de saúde para fins periciais do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), direitos sociais e isenção tributária.
Resumindo: equipes multiprofissionais motivadas e
habilitadas para manter ou reabilitar idosos em seus
domicílios reduzirão o custo dos cuidados de pacientes
nessa faixa etária e o estresse de seus familiares.
Colaborarão também para a manutenção de sua autonomia,
independência e dignidade.
CENTRO-DIA
A proposta básica sobre a necessidade de centros-dia
relaciona-se com a oferta de atenção social e cuidados
pessoais diferenciados aos idosos. Permite processos de
socialização e o desenvolvimento de atividades que
promovam o retorno da autoestima, reduzindo assim o
risco de institucionalização e de segregação – atualmente
denominado “etarismo” (da palavra inglesa ageism) – e
contribuindo para a reinclusão social e familiar dos idosos.
Exemplo comum ocorre com idosos cujos familiares
desenvolvem atividades laborativas durante o dia e
necessárias para a estabilidade financeira do núcleo
familiar. Há, porém – por parte da família –, disponibilidade
para cuidados noturnos e em fins de semana a seus
parentes de mais idade. O centro-dia não apenas permite
oferecer uma alternativa ao confinamento domiciliar como
reduz o estresse dos familiares sobre atividades diárias
relacionadas aos idosos, como refeições e consumo de
medicamentos nos horários preestabelecidos.
HOSPITAL-DIA
Acrescentando-se às duas modalidades anteriores de
assistência aos idosos, o hospital-dia visa ao
desenvolvimento ou à complementação de tratamentos
medicamentosos e/ou de reabilitação que exigiriam longa
permanência hospitalar em pacientes com doenças de
maior complexidade. Procura também a redução de
hospitalizações apenas para finalidades terapêuticas.
Obviamente necessita de equipe multiprofissional e de
planta física adequada para seus objetivos de assistência
aos pacientes dessa faixa etária.
Centros-dia são regulamentados pela Portaria do
Ministério da Saúde n. 2.414, de 23/03/1998.
AMBULATÓRIOS
Espera-se que, devido ao rápido crescimento da
população idosa, a rede de atenção básica desenvolva
modelos de atendimento diferenciado para esse segmento
etário. Merece especial atenção a identificação de grupos
de risco – como idosos frágeis ou os com disfunção
cognitiva grave – e o processo constante de equipes
multiprofissionais sobre a reabilitação de pacientes dessa
faixa de idade. Há igual prioridade sobre os idosos
saudáveis que devem ser contemplados com programas de
promoção e educação em saúde.
Sumarizando: ambulatórios – independentemente de sua
função ou especialidade – devem ter como objetivo atender
adequadamente a três segmentos diferenciados nessa faixa
etária:
ENFERMARIAS
Dificuldades de acesso regular ao sistema de saúde e a
rotatividade de membros de suas equipes colaboram com a
tendência de idosos procurarem serviços de emergência e
aumentarem suas taxas de hospitalização. Internações
prolongadas, além de expor pacientes desse segmento de
idade a iatrogenias, provocam efeitos deletérios à
capacidade funcional dos idosos. Deve-se, assim,
considerar a perspectiva de internação hospitalar em
situações de real gravidade ou de risco de morte,
programando-se a partir do primeiro dia intra-hospital de
um programa de desospitalização breve com
acompanhamento em outras modalidades de atendimento a
idosos.
Recomenda-se a leitura dos artigos de Hshieh et al.
(2018) e de Inouye et al. (2000 e 2006) sobre o Hospital
Elder Life Program (Help), no qual, por intermédio de
mínimas equipes multiprofissionais (médico, enfermeira e
assistente social) habilitadas aos cuidados com idosos,
foram obtidas reduções significativas nos quadros de
delirium e de quedas, no tempo de permanência hospitalar
e no custo total das internações
BIBLIOGRAFIA
Aliberti MJR, Apolinario A, Suemoto CK, Melo JA, Fortes-Filho SQ, Saraiva MD
et al. Targeted geriatric assessment for fast-paced healthcare settings:
development, validity, and reliability. J Am Geriatr Soc. 2018;66(4):748-54.
Benito LAO, Aquino EB. Modalidades assistenciais de atendimento ao idoso:
revisão da literatura. Universitas: Ciências da Saúde. 2016;14(2):141-52.
Campos GP. Brasil século 21: os desafios da saúde. Encontros Teológicos.
2012;27(1):43-56.
Carvalho-Filho ET, Saporetti L, Souza MAR, Arantes ACLQ, Vaz MYKC, Hojaiji
NHSL, et al. Iatrogenia em paciente idosos hospitalizados. Rev Saúde
Pública. 1998;32:36-42.
Gorzoni ML. Geriatria: medicina do século XXI? Medicina (Ribeirão Preto,
Online). 2017;50(3):144-9.
Gorzoni ML, Lima CA. Análise dos parâmetros clínicos de idosos internados em
enfermaria de clínica médica. Rev Assoc Med Bras. 1995;41(3):227-32.
Hshieh TT, Yang T, Gartaganis SL, Yue J, Inouye SK. Hospital Elder Life
Program: systematic review and meta-analysis of effectiveness. Am J Geriatr
Psychiatry. 2018;26(10): 1015-33.
Inouye SK, Baker DI, Fugal P, Bradley EH. Dissemination of the Hospital Elder
Life Program: implementation, adaptation, and successes. J Am Geriatr Soc.
2006;54(10): 1492-9.
Inouye SK, Bogardus ST, Baker DI, Leo-Summers L, Cooney LM. The Hospital
Elder Life Program: a model of care to prevent cognitive and functional
decline in older hospitalized patients. Hospital Elder Life Program. J Am
Geriatr Soc. 2000;48(12):1697-706.
Manso MEG. Envelhecimento, saúde do idoso e o setor de planos de saúde no
Brasil. Revista Kairós – Gerontologia. 2017;20(4):135-51.
Morosini S, Marques APO, Leal MCC, Marino JG, Melo HMA. Custo e tempo de
permanência hospitalar de idosos residentes em Recife-PE. Geriatria &
Gerontologia. 2011; 5(2):91-8.
Oliveira MR, Veras RP, Cordeiro HA, Pasinato MT. A mudança de modelo
assistencial de cuidado ao idoso na saúde suplementar: identificação de seus
pontos-chave e obstáculos para implementação Physis – Revista de Saúde
Coletiva. 2016;26(4):1383-94.
Peixoto SV, Afradique ME, Giatti L, Lima-Costa MF. Custo das internações
hospitalares entre idosos brasileiros no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2004;13(4):239-46.
Reis DA, Dias JMD, Silva DF, Moraes EN. Implementation of care plans for
elderlies in Belo Horizonte. Geriatr Gerontol Aging. 2013;7:99-107.
Rodrigues MM, Alvarez AM, Rauch KC. Tendência das internações e da
mortalidade de idosos por condições sensíveis à atenção primária. Rev Bras
Epidemiol. 2019;22:E190010.
São Paulo (Estado). Secretaria de Desenvolvimento Social Guia de Orientações
Técnicas Centro Dia do Idoso – “Centro Novo Dia” / Secretaria de
Desenvolvimento Social. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Social;
2014.
Saraiva MDC. Desempenho da avaliação geriátrica compacta de 10 minutos
(AGC-10) na predição de desfechos desfavoráveis em idosos ambulatoriais:
estudo de coorte prospectivo. [Tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, Programa de Ciências Médicas, Área de
Concentração: Educação e Saúde; 2021.
Schier J. Hospital-dia geriátrico: subsídios para conformação desse serviço no
sistema público de saúde brasileiro. [Tese]. Universidade Federal de Santa
Catarina; 2010.
Viana SSC, Arantes T, Ribeiro SCC. Intervenções do farmacêutico clínico em
uma unidade de cuidados intermediários com foco no paciente idoso.
Einstein. 2017;15(3): 283-8.
Apêndice
Escalas práticas para avaliação geriátrica
ORIENTAÇÃO TEMPORAL
Pergunte ao indivíduo: (dê um ponto para cada resposta correta)
□ Que dia é hoje?
□ Em que mês estamos?
□ Em que ano estamos?
□ Em que dia da semana estamos?
□ Qual a hora aproximada? 0,5 pontos ( )
ORIENTAÇÃO ESPACIAL
Pergunte ao indivíduo: (dê um ponto para cada resposta correta)
□ Em que local nós estamos? (consultório, dormitório, sala – apontando para o chão)
□ Que local é este aqui? (apontando ao redor num sentido mais amplo: hospital, casa de repouso, própria
casa)
□ Em que bairro nós estamos ou qual o nome de uma rua próxima?
□ Em que cidade nós estamos?
□ Em que Estado nós estamos? 0,5 pontos ( )
MEMÓRIA IMEDIATA
Eu vou dizer três palavras e você irá repeti-las a seguir:
PENTE, VASO, LARANJA
(dê 1 ponto para cada palavra repetida corretamente na 1ª vez, embora possa repeti-las até três vezes para o
aprendizado, se houver erro)
0,3 pontos ( )
ATENÇÃO E CÁLCULO
Subtração de setes seriadamente (100 – 7, 93 – 7, 86 – 7, 79 – 7, 72 – 7, 65).
Considere 1 ponto para cada resultado correto. Caso haja erro, corrija-o e prossiga.
Considere correto se o examinado espontaneamente se autocorrigir
Deve-se dizer: Quanto é 100 menos 7? E menos 7? E menos 7?
0,5 pontos ( )
EVOCAÇÃO DAS PALAVRAS
Pergunte quais as palavras que o sujeito acabara de repetir (1 ponto para cada).
□ PENTE □ VASO □ LARANJA
0,3 pontos ( )
NOMEAÇÃO
Apontar e solicitar que nomeie (1 ponto para cada).
□ CANETA □ RELÓGIO
0,2 pontos ( )
REPETIÇÃO
Preste atenção: vou lhe dizer uma frase e quero que você repita depois de mim:
“NEM AQUI, NEM ALI, NEM LÁ”
Considere apenas se a repetição for perfeita
0,1 ponto ( )
COMANDO
“Pegue o papel com a mão direita (1 ponto), dobre-o no meio (1 ponto) e coloque-o no chão (1 ponto)”
Total de 3 pontos. Se o sujeito pedir ajuda no meio da tarefa, não dê dicas.
0,3 pontos ( )
LEITURA
Mostre a frase escrita FECHE OS OLHOS e peça para o indivíduo fazer o que está sendo mandado (1 ponto).
Não auxilie se pedir ajuda ou se só ler a frase sem realizar o comando
0,1 ponto ( )
FRASE
Peça ao indivíduo para escrever uma frase. Se não compreender o significado, ajude com: alguma frase que
tenha começo, meio e fim; alguma coisa que aconteceu hoje; alguma coisa que queira dizer. Para a correção
não são considerados erros ortográficos ou gramaticais (1 ponto).
0,1 ponto ( )
CÓPIA DO DESENHO
Mostre o modelo e peça para fazer o melhor possível. Considere apenas se houver 2 pentágonos
interseccionados (10 ângulos) formando uma figura de quatro lados ou com dois ângulos (1 ponto).
LEITURA 0,1 ponto ( )
CÓPIA DO DESENHO
FECHE
OS OLHOS
Para pacientes com MEEM menor ou igual a 10, pode-se utilizar a escala
MEEM grave para acompanhamento. O MEEM grave tem escore total de 30
pontos e avalia conhecimento autobiográfico, função visuoespacial, função
executiva, linguagem, fluência verbal de animais e soletração.
MEEM GRAVE
Solicitar que o(a) paciente diga o seu nome: (Um ponto se a resposta for próxima
do correto; três pontos se a resposta por completamente correta).
Primeiro: ________________________________________ ( ) máximo 3 pontos
Último: __________________________________________ ( ) máximo 3 pontos (6) ________
(1) ________
Soletre a palavra: “BOI” (01 ponto para cada letra dita em ordem correta)
B=()
O=()
I=() (3) ________
ORIENTAÇÃO
APRENDIZADO
FLUÊNCIA VERBAL
EVOCAÇÃO
≥ 8 pontos: Normal
6-7 pontos: Comprometimento cognitivo possível
0-5 pontos: Comprometimento cognitivo provável
_______ (0-10)
MEMÓRIA IMEDIATA
(esperado ≥ 7)
Mostre as figuras novamente durante 30 segundos dizendo: “Olhe bem e procure memorizar estas figuras”
_______ (0-10)
APRENDIZADO
(esperado ≥ 7)
“Você deve falar todos os nomes de animais (qualquer bicho) de que se lembrar, no menor tempo possível.
Pode começar.” Anote o número de animais nomeados em 1 minuto. Considere “boi” e “vaca” como dois
animais, mas “gato” e “gata” como um só. Se disser “passarinho, canário e peixe”, conte como dois, ou seja,
a classe vale como nome se não houver outros nomes da mesma classe.
Animais ________
FLUÊNCIA VERBAL (esperado ≥ 13 ou 9
se analfabeto)
_______ (0-10)
RECONHECIMENTO
(esperado ≥ 9)
Anormal: abaixo de 9.
MINI-COG
REGISTRO DE 3 PALAVRAS
Obter a atenção do paciente e dizer: “Eu vou falar três palavras que eu gostaria que o(a) Sr(a). repetisse
agora para mim e tentasse lembrar. As três palavras são [selecionar grupo de palavras abaixo]. Por favor, me
diga as palavras agora”.
Se o paciente não for capaz de repetir as três palavras após três tentativas, prossiga com o desenho do
relógio.
DESENHAR RELÓGIO
Cronometre 3 minutos e diga: “A seguir, gostaria que o(a) Sr(a). desenhasse um relógio para mim. Primeiro
coloque todos os números em seus lugares”.
Quando estiver completo, diga: “Agora, coloque os dois ponteiros do relógio marcando 11 horas e 10
minutos”.
Repetir as instruções quantas vezes for necessário. Este passo não testa a memória.
Prosseguir para a evocação caso terminado ou caso não esteja completo em 3 minutos.
EVOCAÇÃO
Solicitar que o paciente se lembre das três palavras do registro.
Diga: “Quais foram as três palavras que eu pedi para o(a) Sr(a). se lembrar?”.
PONTUAÇÃO INTERPRETAÇÃO
3 palavras recordadas Negativo para déficit cognitivo.
1-2 palavras recordadas + desenho do relógio Negativo para déficit cognitivo.
normal* Positivo para déficit cognitivo.
1-2 palavras recordadas + desenho do relógio Positivo para déficit cognitivo.
anormal*
0 palavra recordada
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
50-59 ≤ –1,0 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
12 13 14 15 16 16 17 18 19 20 20 21 21 21 22 22 23 23 24 19 24
≤ 1,5 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
9 11 12 13 14 15 15 16 17 17 18 18 19 19 20 21 21 22 22 23 32
≤–2,0 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
7 9 10 11 12 13 13 14 15 15 16 17 17 17 18 19 20 20 21 21 22
≤ –1,5 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
8 10 11 12 13 14 14 15 16 16 17 17 18 19 19 20 20 21 21 22 22
≤ –2,0 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
6 8 9 10 11 12 12 13 14 14 15 16 16 17 18 18 19 19 20 20 21
70-79 ≤ –1,0 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤2 ≤ ≤ ≤
10 11 12 13 15 15 15 16 17 17 18 18 19 19 20 20 21 1 22 22 22
≤ –1,5 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
7 9 10 11 13 13 13 14 15 15 16 17 17 18 18 19 19 20 20 21 21
≤ –2,0 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤15 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
5 7 8 9 11 11 11 12 13 14 14 15 16 17 17 18 18 19 19 20
≥ 80 ≤ –1,0 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
9 10 11 12 13 14 14 15 16 16 17 17 18 18 18 19 19 20 20 21 21
≤ –1,5 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
7 8 9 10 11 12 12 13 14 14 15 16 16 17 17 18 18 19 19 20 20
≤ –2,0 ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ ≤
4 6 7 8 9 10 10 11 12 13 13 14 14 15 16 16 17 17 18 18 19
Pontos de corte para escore total do MoCA não incluindo o ponto adicional para baixa escolaridade. Sugerem-
se valores correspondentes a Z-escore ≤ –1,0 para rastreio que favoreça sensibilidade e os valores
correspondentes a Z-escore ≤ –1,5 para rastreio que privilegie especificidade. Indivíduos com
comprometimento cognitivo leve tipicamente pontuam na faixa de –1,0 a –2,0. Indivíduos com demência
usualmente pontual abaixo de –2,0.
Tabela extraída de Apolinario D et al. Normative data for the Montreal Cognitive Assessment (MoCA) and the
Memory Index Score (MoCA-MIS) in Brazil: adjusting the Nonlinear effects of education with fractional
polynomials. Int J Geriatr Psychiatry. 2018;1-7.
Agrião Verdura
Tartaruga Animal
“Esta é uma folha contendo 4 figuras para você aprender e memorizar. Cada figura faz parte de uma
categoria diferente. Diga-me por favor em voz alta o que você vê em cada figura”.
2. Em seguida, diga:
“Para ajudar o senhor(a) a entender, eu vou te dizer a categoria e gostaria que me dissesse qual figura
pertence a ela”. Por exemplo: “Qual dessas figuras é um item que dá luz?”. Caso o paciente dê uma
resposta errada, repita a categoria para que dê outra resposta.
Banana Fruta
ESTADIAMENTO DA DEMÊNCIA
A Escala de Estadiamento do Declínio Funcional em Pacientes com Demência
de Alzheimer (Functional Assessment Staging Test – FAST) é um instrumento
adequado para o seguimento longitudinal da evolução dos pacientes,
especialmente daqueles com demência de moderada a grave. O paciente é
classificado com base na observação do paciente e em informações do cuidador.
ESCALA FAST
6D Incontinência urinária
6E Incontinência fecal
Escala de Avaliação Clínica da Demência pela Soma das Caixas (CDR – Sum of Boxes)
Domínios 0 0,5 1 2 3
Memória Sem perda da Pequenos Perda moderada da Grave perda de Perda grave da
memória ou esquecimentos memória, mais memória; memória;
pequenos frequentes, acentuada quanto somente somente
esquecimentos recordação aos acontecimentos informações permanecem
ocasionais parcial de recentes; o bem aprendidas fragmentos
acontecimentos; problema interfere são retidas;
esquecimentos nas atividades do novas
não dia a dia informações são
significativos rapidamente
esquecidas
Orientação Totalmente Totalmente Dificuldade Grave Orientado(a)
orientado(a) orientado(a), moderada com as dificuldade com somente com
com exceção de inter-relações de as inter-relações relação a ele(a)
ligeira tempo; orientado(a) de tempo; mesmo(a)
dificuldade com para o local do geralmente
as inter-relações exame; pode ter desorientado(a)
de tempo uma desorientação com relação ao
geográfica em tempo e
lugares fora do frequentemente
local do exame a lugares
AVALIAÇÃO DE HUMOR
A seguir há duas escalas úteis para rastreio de depressão em idosos. Não
devem ser utilizadas de forma isolada para o diagnóstico de transtornos
depressivos, mas alertam para a existência de sintomas que poderão configurar
quadros psiquiátricos que cursam com humor depressivo, como episódio
depressivo maior. A Escala de Depressão Geriátrica de 15 itens (GDS-15)
possui o seguinte padrão estatístico segundo estudos: sensibilidade de 86,8%,
especificidade de 82,4%, valor preditivo positivo de 50,8%, valor preditivo
negativo de 96,8%, área sob a curva ROC de 0,91 (P < 0,001; 95% IC = 0,86-0,96)
para episódio depressivo maior segundo DSM-IV, ao se assumir o valor de corte de
4/5 (sem depressão/com depressão).
Já o Questionário de Saúde do Paciente (Patient Health Questionnaire –
PHQ) de dois itens (PHQ-2) consiste em dois parâmetros que mensuram a
frequência do humor deprimido e anedonia; suas respostas são pontuadas em uma
escala de Likert de 0 a 3, com pontuações totais de 0 a 6. No PHQ-2, os escores
elevados são indicadores de maior intensidade de sintomas depressivos. O PHQ-2
possui o seguinte padrão estatístico, segundo estudos: sensibilidade de 100%,
especificidade de 77%, área sob a curva ROC de 0,88 (P =0,0024; 95% IC = 0,87-
0,89) para episódio depressivo maior segundo o DSM-IV, ao se assumir o valor de
corte de 2/3 (sem depressão / com depressão).
1. De maneira geral, o(a) senhor(a) está basicamente satisfeito(a) com sua vida? 1 0
2. O(a) senhor(a) abandonou muitas das coisas que fazia ou gostava de fazer? 0 1
3. O(a) senhor(a) acha sua vida sem sentido atualmente? 0 1
4. O(a) senhor(a) está geralmente aborrecido? 0 1
5. O(a) senhor(a) está de bom humor a maior parte do tempo? 1 0
6. O(a) senhor(a) se sente inseguro, achando que alguma coisa ruim vai lhe acontecer? 0 1
7. De maneira geral, o(a) senhor(a) costuma se sentir feliz? 1 0
8. O(a) senhor(a) costuma se sentir desamparado(a)? 0 1
9. O(a) senhor(a) prefere ficar em casa em vez de sair e fazer alguma outra coisa? 0 1
10. O(a) senhor(a) tem mais dificuldades para se lembrar das coisas do que a maioria 0 1
das pessoas? 1 0
11. O(a) senhor(a) acha que vale a pena estar vivo hoje? 0 1
12. O(a) senhor(a) costuma se sentir menos útil com a idade que tem hoje? 1 0
13. O(a) senhor(a) se sente bem-disposto? 0 1
14. O(a) senhor(a) acha que sua situação não pode ser melhorada? 0 1
15. O(a) senhor(a) acha que a maioria das pessoas está em melhores condições que
o(a) senhor(a)?
Nas últimas duas semanas, com que Nenhuma vez Alguns dias Mais da Quase todos
frequência você foi incomodado(a) por metade dos os dias
qualquer um dos problemas abaixo? 0 1 dias 3
1. Pouco interesse ou pouco prazer em 0 1 2 3
fazer as coisas. 2
2. Se sentir “para baixo”, deprimido(a) ou
sem perspectiva.
Escore total 0 a 2 – normal Escore total (soma):
Escore total 3 a 6 – transtorno depressivo
provável
Se você assinalou qualquer um dos problemas, indique o grau de dificuldade para realizar seu trabalho, tomar
conta das coisas em casa ou para se relacionar com as pessoas.
As avaliações devem ser baseadas nos sinais e sintomas que ocorreram durante a semana anterior à
entrevista. Não se deve marcar ponto se o sintoma for resultado de uma incapacidade física ou de uma
doença.
Sistema de pontuação
a = não avaliável 0 = ausente
1 = leve ou intermitente 2 = grave
B. DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO
5. Agitação; inquietação; agitação constante das mãos; puxa cabelo.
6. Retardo; movimentos lentos; fala lenta; reação lenta.
7. Queixas físicas múltiplas (escore 0 se forem apenas sintomas intestinais).
8. Perda de interesse; menor envolvimento em atividades usuais (pontue
apenas se a alteração ocorrer agudamente em menos de 1 mês).
C. SINAIS FÍSICOS
9. Perda do apetite; come menos que o usual.
10. Perda de peso (marque 2 pontos se for maior que 2,5 kg em 1 mês).
11. Falta de energia; facilmente fatigado; incapaz de sustentar atividades.
D. FUNÇÕES CLÍNICAS
12. Variação diurna de humor; os sintomas são piores pela manhã.
13. Dificuldade para dormir; mais tarde que o usual para este indivíduo.
14. Desperta muitas vezes durante o sono.
15. Despertar precoce; mais cedo que o usual para este indivíduo.
E. DISTÚRBIOS DE IDEAÇÃO
16. Suicídio; sente que a vida não vale a pena.
17. Baixa autoestima; culpa-se; deprecia-se; sentimentos de fracasso.
18. Pessimismo; antecipa o pior.
19. Delírios congruentes com o humor; delírios de pobreza, doença ou
perda.
DELIRIUM
Selecionamos a ferramenta mais conhecida: Confusion Assessment Method
(CAM), em versão curta, traduzido para o português pelo grupo Hospital Elder
Life Program. O CAM possui sensibilidade de 94% (95% IC 91-97%) e
especificidade de 89% (95% IC 85-94%) para delirium. A fim de melhor avaliar o
paciente quanto a desatenção e pensamento desorganizado, sugere-se a aplicação
de algum teste de avaliação cognitiva, como o Mini-Cog ou alguns testes simples
como sugeridos a seguir.
AUSENTE PRESENTE
2. Déficit de atenção □
□
Não acompanha a conversa, alheio ao que se passa ou INTERROMPER SEM
Seguir adiante
dificuldade no teste de atenção DELIRIUM
4. Pensamento desorganizado
□
Apresenta ideias sem lógica, incoerentes, muda o tema da □
DELIRIUM
conversa de forma imprevisível ou comete erros nas questões SEM DELIRIUM
CONFIRMADO
avaliadas
O CAM é positivo quando alterações nos itens 1 E 2 estão presentes em adição ao item 3 OU 4.
Copyright (c) Adaptado de Inouye SK et al. Clarifying confusión: the Confusion Assessment Method. A new
method for detectation of delirium. Ann Intern Med. 1990;113:941-8. Copyright 2003, Hospital Elder Life
Program, LLC.
Incapaz de Diga ao paciente: “Eu vou dizer uma sequência de 10 letras. Toda vez que ouvir a
articular a fala letra A aperte a minha mão”. (C – A – S – A – B – L – A – N – C – A)
□ Finalizou com no máximo 2 erros.
AVALIAÇÃO DE FUNCIONALIDADE
A Escala de Katz avalia o grau de dependência para atividades básicas da vida
diária (ABVD), e as escalas de Lawton e de Pfeffer mensuram o grau de
dependência para as atividades instrumentais da vida diária (AIVD). A Escala de
Katz foi traduzida e validada para uso no Brasil. A concordância da tradução
corrigida para o acaso (kappa ponderado) foi de 0,91. O alfa de Cronbach variou
de 0,80 a 0,92. A seguir uma versão simplificada e prática da Escala de Katz.
ESCALA DE KATZ
Soma (0-6)
INDEPENDENTE – 6
DEPENDÊNCIA MODERADA – 4
MUITO DEPENDENTE – 2 ou menos
Procure recordar, em cada atividade a ser questionada, se o(a) sr(a). a faz sem ajuda, com algum auxílio ou
não a realiza de maneira alguma.
Telefone
Em relação ao uso do telefone...
( 3 ) capaz de ver os números, discar, receber e fazer ligações sem ajuda.
( 2 ) capaz de responder ao telefone, mas necessita de um telefone especial ou de ajuda para encontrar os
números ou para discar.
( 1 ) completamente incapaz de usar o telefone.
Viagens
Em relação às viagens…
( 3 ) capaz de dirigir seu próprio carro ou viajar sozinho de ônibus ou táxi.
( 2 ) capaz de viajar exclusivamente acompanhado.
( 1 ) completamente incapaz de viajar.
Compras
Em relação à realização de compras...
( 3 ) capaz de fazer compras, se fornecido transporte.
( 2 ) capaz de fazer compras, exclusivamente acompanhado.
( 1 ) completamente incapaz de fazer compras.
Preparo de refeições
Em relação ao preparo de refeições...
( 3 ) capaz de planejar e preparar refeições completas.
( 2 ) capaz de preparar pequenas refeições, mas incapaz de cozinhar refeições completas sozinho.
( 1 ) completamente incapaz de preparar qualquer refeição.
Trabalho doméstico
Em relação ao trabalho doméstico...
( 3 ) capaz de realizar trabalho doméstico pesado (p. ex., esfregar o chão).
( 2 ) capaz de realizar trabalho doméstico leve, mas necessita de ajuda nas tarefas pesadas.
( 1 ) completamente incapaz de realizar qualquer trabalho doméstico.
Medicações
Em relação ao uso de medicamentos...
( 3 ) capaz de tomar os remédios na dose certa e na hora certa.
( 2 ) capaz de tomar os remédios, mas necessita de lembretes ou de alguém que os prepare.
( 1 ) completamente incapaz de tomar remédios sozinho.
Dinheiro
Em relação ao manuseio do dinheiro...
( 3 ) capaz de administrar necessidades de compra, preencher cheques e pagar contas.
( 2 ) capaz de administrar compras menores, mas necessita de ajuda com cheques e o pagamento de contas.
( 1 ) completamente incapaz de administrar dinheiro.
Questionário de Pfeffer
Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. p.146-47.
Utilizar cadeira, de preferência com altura de 46 cm, com apoio de braços (altura 20 cm) e encosto a 90º.
O paciente poderá usar um auxílio de locomoção, como andador ou bengala, casa faça uso dele.
Orientar o paciente a se levantar logo após a palavra “vai”, a andar em um ritmo seguro e confortável, no
passo de seu dia a dia, até a linha marcada no chão ao final de 3 m, a virar e a sentar-se novamente.
Pode-se realizar um primeiro teste não cronometrado para aprendizagem, com descanso posterior de pelo
menos 1 minuto sentado.
Disparar o cronômetro (pelo avisador) após a palavra “vai” e interrompê-lo após o contato das nádegas do
idoso com o assento da cadeira.
Teste do sussurro
Passo 1: O teste do sussurro deve ser realizado em uma sala silenciosa, com o idoso sentado em uma cadeira.
O examinador deve orientar o idoso:
“O(a) sr(a). deve ficar de olhos fechados, e, a seu lado, vou sussurrar uma palavra e/ou uma frase. Se o(a)
sr(a). a ouvir, repita-a, por favor”.
Passo 2: O examinador deve posicionar-se a uma distância de aproximadamente 33 cm, na altura da orelha
testada do idoso, e, fora de seu campo visual, deve sussurrar a palavra “sapato” ou a frase “o ônibus está
atrasado” e aguardar a resposta. Na outra orelha, deve sussurrar a palavra “janela” ou a frase “parece que
vai chover” e aguardar a resposta.
Passo 3: Se o idoso repetir corretamente as palavras ou frases, considera-se que PASSOU no teste. Se o idoso
não conseguir repetir as palavras ou as frases corretamente, considera-se que FALHOU no teste.
Passo 4: Os idosos com falha no teste devem ter o conduto auditivo externo inspecionado e, em caso de rolha
de cerume, ser encaminhados para remoção dela e retestados. Os idosos com ausência de rolha de cerume
devem ser encaminhados para a realização da audiometria.
Teste de Snellen
A tabela representada (Figura 1), em caráter ilustrativo, é fixada a uma altura de 1,5 metro em parede clara e
bem iluminada, a uma distância de 5 metros do idoso avaliado (Figura 2), que deverá estar confortavelmente
sentado. Cada olho deverá ser testado com a cobertura do olho contralateral, sem comprimi-lo. Se possível,
utilizar instrumento próprio para cobertura (Figura 3). Realizar o teste com o auxílio das lentes corretivas
usuais do paciente (se ele fizer uso delas).
O idoso deverá ser capaz de enxergar mais da metade do total de figuras de cada linha. Por exemplo: em
linha com 6 figuras, o idoso deverá acertar, no mínimo, 4 delas.
Encaminhá-lo ao oftalmologista se acuidade ≤ 0,7 em pelo menos um dos olhos ou se houver diferença de 2
ou mais linhas em acuidade de um olho em relação ao outro.
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Teste de Amsler
A Figura 4 representa a tela de Amsler. Utilizar reproduções da tela em tamanho padronizado, que poderão ser
obtidas em lojas ou impressos da internet.
Testar cada olho com o auxílio de lentes corretivas usuais em ambiente claro.
A uma distância de cerca de 35 cm, solicitar que ele fixe sua visão no ponto central da tela e que diga se há
alguma distorção, desaparecimento de linhas, pontos embaçados ou escuros. Repita o processo com o outro
olho.
A Figura 5 ilustra o teste de Amsler visto por indivíduo com degeneração macular relacionada à idade.
Figura 4
Figura 5
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Dentre as ferramentas validadas para a avaliação nutricional do idoso, e
principalmente de risco nutricional, a Miniavaliação Nutricional (MAN) está
entre as mais conhecidas e validadas para uso em diferentes contextos. Trata-se
de avaliação simples e rápida de identificação de idosos com risco de desnutrição
ou que já estão desnutridos. Desenvolvida em parceria com a Nestlé, possui
correlação com morbidade e mortalidade.
AVALIAÇÃO DE FRAGILIDADE
Há mais de 50 escalas e ferramentas para avaliar a fragilidade. Selecionamos
algumas das mais importantes com validação nacional. Os critérios de Linda
Fried et al. para avaliação de fragilidade, também conhecida como fragilidade
física ou por fenótipo, configuram uma das formas mais conhecidas de avaliação. A
despeito de ser pouco prática para uso no dia a dia, dada sua importância, está
reproduzida a seguir. Pacientes classificados como frágeis segundo esses critérios
estão mais sujeitos a eventos adversos, como fratura de quadril, perda de
funcionalidade, hospitalização e morte, em uma média de seguimento de 5,9 anos.
Critérios Avaliação
Perda de peso Perda ponderal não intencional ≥ 4,5 kg ou ≥ 5% do peso corporal no último ano.
Fraqueza Média em kgf de três medidas consecutivas tomadas com dinamômetro hidráulico
manual. Pontua-se abaixo do 1º quintil da amostra do estudo original (corrigido para
sexo e índice de massa corpórea em kg/m2):
Homens Mulheres
≤ 24 ≤ 29 ≤ 23 ≤ 17
26,1-28 ≤ 31 26,1-29 ≤ 18
> 28 ≤ 32 > 29 ≤ 21
Exaustão e fadiga Fadiga indicada pelas respostas “sempre” ou “quase sempre” a, pelo menos, um dos
dois itens do Center for Epidemiological Study – Depression (CES-D) abaixo:
“Na última semana, o(a) sr(a). sentiu que teve que fazer esforço para cumprir suas
tarefas habituais?”
□ nenhum dia □ vários dias □ quase sempre □ sempre
“Na última semana, o(a) sr(a). sentiu que não conseguiu levar adiante suas coisas?”
□ nenhum dia □ dias □ quase sempre □ sempre
Lentidão Lentidão da marcha, quando a média de três medidas consecutivas do tempo (em
segundos) para percorrer 4,6 metros no plano, em passada usual, é superior ao
percentil 80 da amostra do estudo original (as médias são ajustadas por sexo e altura):
Homens Mulheres
≤ 173 ≥7 ≤ 159 ≥7
Baixo gasto Baixa taxa de gasto calórico semanal em exercícios físicos e em atividades domésticas
energético autorrelatados segundo Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire. Pontuam para
este critério aqueles cuja taxa de gasto calórico em kcal localiza-se abaixo do 1º quintil
da amostra (com ajuste por sexo):
Homens Mulheres
Índice de SOF
Escala FRAIL
1 MARCHA
SIM NÃO
No último mês, conseguiu andar por um quarteirão sem dificuldade?
2 FORÇA
SIM NÃO
No último mês, conseguiu subir um lance de escada sem dificuldade?
3 FADIGA
NÃO SIM
No último mês, sentiu-se cansado na maior parte do tempo?
4 PERDA PONDERAL
NÃO SIM
No último ano, perdeu peso? Quanto? (considerar ≥ 5% do peso)
5 MULTIMORBIDADE
NÃO SIM
Presença de cinco ou mais diagnósticos médicos (entre os 11 listados)*
* Hipertensão, diabetes, câncer (exceto de pele não melanoma), doença pulmonar crônica, doença arterial
coronariana ou infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, angina, asma, artrite, acidente vascular cerebral e
doença renal crônica.
9 DOENTE TERMINAL
evidência de fragilidade. (Muitas pessoas com doenças
terminais conseguem ainda se exercitar até momento
próximo da morte.). Ex.: pacientes com câncer de pâncreas
metastático.
O grau de fragilidade corresponde ao grau de demência. Sintomas comuns na demência leve incluem
esquecimento dos detalhes de um evento recentes, apesar da recordação do evento em sim, repetindo a
mesma pergunta/história, e afastamento de eventos sociais.
Na demência moderada, a memória recente está muito comprometida apesar de aparentemente lembrar bem
de fatos do passado. Quando solicitadas, elas são capazes de fazer o cuidado pessoal.
Na demência grave, elas não conseguem realizar cuidados pessoais sem ajuda.
Na demência muito grave, são geralmente acamados. Muitos são virtualmente mudos.
SARCOPENIA
O SARC-F é um instrumento de fácil aplicação, sem necessidade de outros
instrumentos ou exame físico para a detecção de sarcopenia. Atualmente é o
instrumento sugerido para a triagem de sarcopenia pelo European Working Group
on Sarcopenia in Older People (EWGSOP). Pode ser autoaplicado. Possui baixa
sensibilidade (25%), mas boa especificidade (81,4%), o que o torna instrumento
falho para triagem, porém popular, dadas a facilidade de aplicação e a tendência
de detectar os casos mais graves de sarcopenia. O SARC-F avalia a força muscular,
a capacidade de levantar-se de uma cadeira, a capacidade de subir escadas e a
frequência de quedas. Buscando melhorar a sensibilidade dessa escala,
acrescentou-se a ela o parâmetro de mensuração da circunferência da panturrilha
direita (média de duas medidas). Tal escala modificada mostrou-se melhor que o
SARC-F como instrumento de triagem, com área sob a curva ROC = 0,779, contra
0,592 obtida com a escala original.
SARC-F modificado
Muito ou incapaz = 2
Muito ou incapaz = 2
1 a 3 quedas = 1
SARC-F modificado
4 ou mais quedas = 2
Utilizar cadeira, de preferência, com altura de 46 cm, com apoio de braços (altura de 20 cm) e encosto a
90º.
Fazer marcação no chão a 3 metros da cadeira.
O paciente poderá usar um auxílio de locomoção, como andador ou bengala, caso faça uso dele.
Recorrer a calçado de uso habitual.
Orientar o paciente a se levantar logo após a palavra “vai”, a andar em um ritmo seguro e confortável, no
passo de seu dia a dia, até a linha marcada no chão ao final de três metros, a virar e a sentar-se
novamente.
Pode-se realizar um primeiro teste não cronometrado para aprendizagem, com descanso posterior de pelo
menos 1 minuto sentado.
Disparar o cronômetro (pelo avaliador) após a palavra “vai” e interrompê-lo após o contato das nádegas do
idoso no assento da cadeira.
INCONTINÊNCIA URINÁRIA
Dada a elevada prevalência, morbidade e subnotificação, recomenda-se o
rastreio ativo de incontinência urinária (IU) em todos as mulheres com idade ≥ 65
anos. A seguir há um método rápido para avaliação de IU e seu impacto na
qualidade de vida. O International Consultation on Incontinence
Questionnaire – Short Form (ICIQ-SF) poderá ser autoaplicado, em caso de
idosos alfabetizados, ou aplicado por um avaliador. Tal instrumento não só permite
identificar a presença e a intensidade das perdas como também aborda seu
impacto subjetivo em qualidade de vida e sugere o subtipo da IU: esforço, urgência
ou mista. Tal instrumento possui tradução e validação nacional, com alfa de
Cronbach satisfatório de 0,88. Embora o ICIQ Escore de 0-21 possua maior
importância para pesquisa, poderá ser utilizado como parâmetro para mensurar
resposta a tratamentos instituídos.
ESTRESSE DO CUIDADOR
Existem diversos instrumentos padronizados para avaliar a sobrecarga do
cuidador, sendo o mais utilizado em termos internacionais a Entrevista ou Escala
de Zarit de Sobrecarga do Cuidador (Zarit Burden Interview). Tal escala possui
tradução e validação nacional. Por essa escala, 22 itens são pontuados de 0 a 4,
com valor total que varia de 0 a 88. Quanto maior a pontuação, maior o grau de
estresse.
INSTRUÇÕES: A seguir, encontra-se uma lista de afirmativas que reflete como as pessoas algumas vezes se
sentem quando cuidam de outra pessoa. Depois de cada afirmativa, indique com que frequência o(a) sr(a). se
sente de determinada maneira (nunca = 0, raramente = 1, algumas vezes = 2, frequentemente = 3 ou
sempre = 4). Não existem respostas certas ou erradas.
*No texto, S refere-se a quem é cuidado pelo entrevistado. Durante a entrevista, o entrevistador usa o nome
dessa pessoa.
**Neste item, as respostas são: nem um pouco = 0, um pouco = 1, moderadamente = 2, muito = 3,
extremamente = 4.
FUNCIONALIDADE FAMILIAR
Dentro do contexto de instrumentos de triagem que investigam a rede de
suporte familiar do idoso, é apresentado a seguir o APGAR de Família,
desenvolvido por Smilkstein em 1978. Esse instrumento avalia cinco componentes
considerados básicos para a funcionalidade de qualquer família: adaptação,
companheirismo, desenvolvimento, afetividade e capacidade resolutiva. O
acrônimo APGAR, proveniente da língua inglesa, deriva de Adaptation (adaptação),
Partnership (companheirismo), Growth (desenvolvimento), Affection (afetividade) e
Resolve (capacidade resolutiva). No Brasil, a tradução e a adaptação do
instrumento foram realizadas com o objetivo de verificar as propriedades de
medida do Family APGAR quando aplicado com idosos independentes,
dependentes e seus cuidadores. A escala de respostas varia entre 0, que
corresponde a “nunca”, e 4, ou seja, “sempre”. A somatória dos valores obtidos
representa o escore que sugere a qualidade da funcionalidade familiar.
APGAR de Família
BIBLIOGRAFIA
Avaliação cognitiva
1. Apolinario D, Dos Santos MF, Sassaki E, Pegoraro F, Pedrini AVA, Cestari B, et al. Normative data for the
Montreal Cognitive Assessment (MoCA) and the Memory Index Score (MoCA-MIS) in Brazil: adjusting the
nonlinear effects of education with fractional polynomials. Int J Geriatr Psychiatry. 2018;33(7):893-9.
2. Apolinario D, Lichtenthaler DG, Magaldi RM, Soares AT, Busse AL, Amaral JRG, et al. Using temporal
orientation, category fluency, and word recall for detecting cognitive impairment: the 10-point cognitive
screener (10-CS). Int J Geriatr Psychiatry. 2016;31(1):4-12.
3. Borson S, Scanlan JM, Chen PJM, Ganguli M. The Mini-Cog as a screen for dementia: validation in a
population-based sample. J Am Geriatr Soc. 2003;51:1451-4.
4. Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli P, Bertolucci PHF, Okamoto IH. Sugestões para o uso do miniexame do
estado mental no Brasil. Arq Neuropsiquiatr. 2003;61(3-B):777-81.
5. Buschke H, Kuslansky G, Katz M, Stewart WF, Sliwinski MJ, Eckholdt HM, et al. Screening for dementia
with the memory impairment screen. Neurology. 1999;52(2):231-8.
6. Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. “Mini-Mental State”: a practical method for grading the cognitive
state of patients for the clinician. J Psychiat Res. 1975;12:189-98.
7. Julayanont P, Tangwongchai S, Hemrungrojn S, Tunvirachaisakul C, Phanthumchinda K, Hongsawat J, et al.
The Montreal Cognitive Assessment – Basic: a screening tool for mild cognitive impairment in illiterate
and low-educated elderly adults. J Am Geriatr Soc. 2015;63:2550-4.
8. Lourenço RA, Filho Ribeiro ST. The accuracy of the Mini-Cog in screening low-educated elderly for
dementia. J Am Geriatr Soc. 2006;54(2):376-7.
9. Memória CM, Yassuda MS, Nakano EY, Forlenza OV. Brief screening for mild cognitive impairment:
validation of the Brazilian version of the Montreal cognitive assessment. Int J Geriatr Psychiatry.
2013;28(1):34-40.
10. Nasreddine Z, Phillips N, Bédirian V, Charbonneau S, Whitehead V, Collin I, et al. The Montreal Cognitive
Assessment, MoCA: a brief screening tool for mild cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2005;53:695-9.
11. Nitrini R, Caramelli P, Porto CS, Charchat-Fichman H, Formigoni AP, Carthery-Goulart MT, Otero C, et. al.
Brief cognitive battery in the diagnosis of mild Alzheimer’s disease in subjects with medium and high
levels of education. Dement Neuropsychol. 2007;1(1):32-6.
12. Petrillo SL. Avaliação do desempenho do teste de rastreio “Memory Impairment Screen” para demência na
doença de Alzheimer [dissertação]. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2017.
13. Sarmento ALR. Apresentação e aplicabilidade da versão brasileira da MoCA (Montreal Cognitive
Assessment) para rastreio de comprometimento cognitivo leve. [Dissertation.] São Paulo: Universidade
Federal de São Paulo; 2009.
14. Verghese J, Noone ML, Johnson B, et al. Picture-based memory impairment screen for dementia. J Am
Geriatr Soc. 2012;60:2116-20.
15. Vitiello AP, Ciríaco JG, Takahashi DY, Nitrini R, Caramelli P. Avaliação cognitiva breve de pacientes
atendidos em ambulatórios de neurologia geral [Brief cognitive evaluation of patients attended in a
general neurological outpatient clinic]. Arq Neuropsiquiatr. 2007;65(2A):299-303. d
16. Wajman JR, Bertolucci PHF. Comparison between neuropsychological evaluation instruments for severe
dementia. Arquivos de Neuropsiquiatria. 2006;64(3b):736-40.
Estadiamento da demência
1. Lima PVA, Castilhos R, Chaves LFM. The use of the Clinical Dementia Rating Scale Sum of Boxes Scores
in detecting and staging cognitive impairment/dementia in Brazilian patients with low educational
attainment. Alzheimer Dis Assoc Disord. 2017;31(4):322-327.
2. Morris JC. The Clinical Dementia Rating (CDR): current version and scoring rules. Neurology.
1993;43:2412-4.
3. O’Bryant SE, Lacritz LH, Hall J, Waring SC, Chan W, Khodr ZG, et al. Validation of the new interpretive
guidelines for the clinical dementia rating scale sum of boxes score in the National Alzheimer’s
coordinating center database. Arch Neurol. 2010;67:746-9.
4. Sclan SG, Reisberg B. Functional assessment staging (fast) in Alzheimer’s disease: reliability, validity, and
ordinality. Int Psychogeriatr. 1992;4(Suppl 1):55-69.
Avaliação de humor
1. Alexopoulos GS, Abrams RC, Young RC, Shamoian CA. Cornell Scale for Depression in Dementia. Biol
Psychiatry. 1988;23(3):271-84.
2. Almeida OP, Almeida SA. Reliability of the Brazilian version of the Geriatric Depression Scale (GDS) short
form. Arquivos de Neuropsiquiatria. 1999;57:421-6.
3. Almeida OP, Almeida SA. Short versions of the geriatric depression scale: a study of their validity for the
diagnosis of a major depressive episode according to ICD-10 and DSM-IV. International Journal of
Geriatric Psychiatry. 1999;14:858-5.
4. Carthery-Goulart MT, Areza-Fegyveres R, Schultz RR, Okamoto I, Caramelli P, Bertolucci PH. Versão
brasileira da Escala Cornell de depressão em demência (Cornell depression scale in dementia) [Brazilian
version of the Cornell depression scale in dementia]. Arq Neuropsiquiatr. 2007;65(3B):912-5.
5. Castelo MS, Coelho-Filho JM, Carvalho AF, Lima JW, Noleto JC, Ribeiro KG, et al. Validity of the Brazilian
version of the Geriatric Depression Scale (GDS) among primary care patients. Int Psychogeriatr.
2010;22(1):109-13.
6. Kroenke K, Spitzer RL, Williams JBW. The Patient Health Questionnaire-2: validity of a two-item depression
screener. Medical Care. 2003;41(11):1284-92.
7. Li C, MM, Friedman B, Conwell Y, Fiscella K. Validity of the Patient Health Questionnaire 2 (PHQ-2) in
identifying major depression in older people. JAGS. 2007;55:596-602.
8. Osório FL, Mendes AV, Crippa JA, Loureiro SR. Study of the discriminative validity of the PHQ-9 and PHQ-
2 in a sample of Brazilian women in the context of primary health care. Perspectives in Psychiatric Care.
2009;45(3).
9. Spitzer RL, Kroenke K, Williams JB. Validation and utility of a self-report version of Prime-MD: The PHQ
primary care study. Primary Care Evaluation of Mental Disorders. Patient Health Questionnaire. JAMA.
1999;10(282):1737-44.
10. Tradução extraída da versão portuguesa do PHQ-9, em “Questionário sobre a saúde do paciente – (PHQ-
9)”, disponibilizado por Pfizer Inc. Available: https://www.phqscreeners.com.
Delirium
1. Inouye SK, van Dick CH, Alessi CA, Balkin S, Siegal AP, Horwitz RI. Clarifying confusion: the Confusion
Assessment Method: a new method for detection of delirium. Ann Intern Med. 1990;113:941-8.
Avaliação de funcionalidade
1. Assis LO, Assis MG, de Paula JJ, Malloy-Diniz LF. O Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer:
revisão integrativa da literatura brasileira. Estud Interdiscipl Envelhec (Porto Alegre). 2015;20(1):297-
324.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
3. Katz S, Akpom CA. A measure of primary sociobiological functions. Int J Health Serv. 1976;6:493-508.
4. Katz S, Ford A, Moskowitz RW, Jackson BA, Jaffe MW. Studies of illness in the aged. The index of ADL: a
standardized measure of biological and psychosocial function. JAMA. 1963;12:914-9.
5. Lawton MP, Brody EM. Assessment of older people: self-maintaining and instrumental activities of daily
living. Gerontologist. 1969;9:179-85.
6. Lino VT, Pereira SR, Camacho LA, Ribeiro Filho ST, Buksman S. Cross-cultural adaptation of the
Independence in Activities of Daily Living Index (Katz Index). Cad Saúde Pública. 2008;24(1):103-12.
7. Pfeffer RI, Kurosaki TT, Harrah CH, Chance JM, Filos S. Measurement of functional activities in older
adults in the community. Journal of Gerontology (Washington). 1982;37(3):323-9.
Avaliação sensorial
1. American Academy of Ophthalmology. Have AMD? Save your sight with an Amsler Grid. Available:
https://www.aao.org/eye-health/tips-prevention/facts-about-amsler-grid-daily-vision-test.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos
temáticos do PSE – Saúde Ocular. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
3. Labanca L, Guimarães FS, Costa-Guarisco LP, Couto EAB, Gonçalves DU. Triagem auditiva em idosos:
avaliação da acurácia e reprodutibilidade do teste do sussurro. Ciênc Saúde Coletiva. 2017;22(11):3589-8.
4. National Eye Institute (NIH). Facts about age-related macular degeneration. Disponível em:
https://nei.nih.gov/health/maculardegen/armd_facts.
5. Pelletier AL, Rojas-Roldan L, Coffin J. Vision loss in older adults. Am Fam Physician. 2016;94(3):219-26.
6. Tatum PE, Talebreza S, Ross JS. Geriatric assessment: an office-based approach. Am Fam Physician.
2018;97(12):776-84.
Avaliação nutricional
1. ©Nestlé, 1994, Revision 2006. N67200 12/99 10M. Société des Produits Nestlé®, S.A., Vevey, Switzerland,
Trademark Owners.
2. Guigoz Y. The Mini-Nutritional Assessment (MNA®) review of the literature: what does it tell us? J Nutr
Health Aging. 2006;10:466-87.
3. Rubenstein LZ, Harker JO, Salva A, Guigoz Y, Vellas B. Screening for undernutrition in geriatric practice:
developing the Short-Form Mini Nutritional Assessment (MNA-SF). J Geront. 2001;56A:M366-377.
4. Vellas B, Villars H, Abellan G, Soto ME, Rolland Y, Guigoz Y, et al. Overview of the MNA®: its history and
challenges. J Nut Health Aging. 2006;10:456-465.
Fragilidade
1. Aprahamian I, Castro Cezar NO, Izbicki R, Lin SM, Paulo DLV, Fattori A, et al. Screening for frailty with the
FRAIL Scale: a comparison with the phenotype criteria. JAMDA. 2017;18:592-96 (versão brasileira).
2. Bilotta C, Nicolini P, Case A, Pina G, Rossi S, Vergani C. Frailty syndrome diagnosed according to the Study
of Osteoporotic Fractures (SOF) criteria and adverse health outcomes among community-dwelling older
outpatients in Italy: a one-year prospective cohort study. Arch Gerontol Geriatr. 2012;54(2):e23-8.
3. Ensrud KE, Ewing SK, Taylor BC, Fink HA, Cawton PM, Stone KL, Hillier TA, et al. Comparison of 2 frailty
indexes for prediction of falls, disability, fractures, and death in older women. Arch Intern Med.
2008;168(4):382-9.
4. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence
for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56:M146-56.
5. Hyde Z, Flicker L, Almeida OP, Hankey GJ, McCaul KA, Chubb SAP, et al. Low free testosterone predicts
frailty in older men: the health in men study. J Clin Endocrinol Metab. 2010;95(7):3165-72.
6. Morley JE, Malmstrom TK, Miller DK. A Simple Frailty Questionnaire (FRAIL) predicts outcomes in middle
aged African Americans. J Nutr Health Aging. 2012 Jul;16(7):601-8 (versão original).
7. Rockwood K, Song X, MacKnight C, Bergman H, Hogan DB, McDowell I, et al. A global clinical measure of
fitness and frailty in elderly people. CMAJ. 2005;173(5):489-95.
8. Rodrigues MK, Nunes Rodrigues I, Vasconcelos Gomes da Silva DJ, Pinto JMS, Oliveira MF. Clinical Frailty
Scale: translation and cultural adaptation into the Brazilian portuguese language. J Frailty Aging.
2021;10:38-43.
9. Woods NF, LaCroix AZ, Gray SL, Aragaki A, Cochrane BB, Brunner RL, et al. Frailty: emergence and
consequences in women aged 65 and older in the Women’s Health Initiative Observational Study. J Am
Geriatr Soc. 2005;53:1321-30.
Sarcopenia
1. Bauer J, Morley JE, Schols AMWJ, Ferrucci L, Cruz-Jentoft AJ, Dent E, et al. Sarcopenia: a time for action.
an SCWD position paper. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2019;10(5):956-61.
2. Barbosa-Silva TG, Menezes AMB, Bielemann RM, Malmstrom TK, Gonzalez MC. Enhancing SARC-F:
improving sarcopenia screening in the clinical practice. JAMDA. 2016;17(12):1136-41.
3. Woo J, Leung J, Morley JE. Validating the SARC-F: a suitable community screening tool for sarcopenia? J
Am Med Dir Assoc. 2014;15:630-4.
Incontinência urinária
1. Kerry AJ, Donovan J, Peters TJ, Shaw C, Gotoh M, Abrams P. ICIQ: a brief and robust measure for
evaluating the symptoms and impact of urinary incontinence. Neurourol Urodyn. 2004;23:32-330.
2. Goode PS, Burgio KL, Richter HE, Markland AD. Incontinence in older women. JAMA. 2010;303(21):2172-
81.
3. Tamanini JTN, Damdros M, D’Ancora CAL, Palma PCR, Rodrigues Netto Jr N. Validação para o português
do International Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form (ICIQ-SF). Rev Saúde Pública.
2004;38(3):438-44.
Estresse do cuidador
1. Scazufca M. Brazilian version of the Burden Interview scale for the assessment of burden of care in carers
of people with mental illnesses. Brazilian Journal of Psychiatry. 2002;24(1).
2. Taub A, Andreoli SB, Bertolucci PH. Sobrecarga do cuidador de pacientes com demência: confiabilidade da
versão brasileira do inventário de sobre carga de Zarit. Cad Saúde Pública (Rio de Janeiro).
2004;20(2):372-76.
3. Zarit SH, Orr NK, Zarit JM. The hidden victims of Alzheimer’s disease; families under stress. New York:
New York University Press; 1985.
Funcionalidade familiar
Duarte YAO. Família: rede de suporte ou fator estressor. A ótica de idosos e cuidadores familiares [tese].
1.
São Paulo: Escola de Enfermagem/Universidade de São Paulo; 2001.
2. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília:
Ministério da Saúde, 2007. (Série Normas e Manuais – Cadernos de Atenção Básica, n. 19).
3. Smilkstein G. The Family APGAR: a proposal for a family function test and its use by physicians. The
Journal of Family Practice. 1978;6(6):1231-9.