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Cesário Verde

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Cesário Verde

Nasceu em 1855 em Lisboa, 2 anos depois foge coma família para


Linda a Pastora( campo) por causa de peste. Anos mais tarde regressa
a Lisboa e trabalha na loja de ferragens do pai. Frequenta o curso
superior de letras, mas não conclui.
Os poemos surgem dispersos na imprensa a partir de 1873. São mal
recebidos, é acusado de ser influenciado por Baudelaire, francês
( flores do mal).
A forma como se refere às mulheres é tudo menos lírica, é brutal,
misógina (desprezo, preconceito). Não escrevia para agradar. Entrou
em rutura com o que era habitual, com o que as pessoas esperavam
ver na poesia.

1.Introdução – Cesário Verde

“Entre os poetas sensíveis à estética de intenção objetiva,


merece menção à parte José Joaquim Cesário Verde (Lisboa
1855.02.25 a 1886.07.19) uma juventude passada em
estudo no curso superior de letras, em viagens a Paris,
Londres, em aventuras tresnoitada e negócios paternos, e
cuja influencia se faz sentir a partir de edição póstuma- em
1901, das suas poesias, coligadas incompletamente pelo
seu amigo Silva Pinto no Livro de Cesário Verde.”

2. Introdução. Cesário Verde: inovador e realista

“ A ele se deve a expressão poética superior da pequena-.


burguesa lisboeta irreligiosa e republicana do tempo (…)
(O) poeta procura reagir desde novo contra a insinceridade
piegas […] acaba no entanto por descobrir o seu tom
natural, vencendo a tal alternativa ultrarromântica entre o
piegas e o cómico […]
Cesário Verde é o único poeta do grupo tido como realista
que consegue romper, de facto. Com a herança
romântica.”

3.Introdução. Cesário Verde: deambulação e objetividade


[….] Ele é o poeta cuja neurastenia se retrata e ironiza num
quadro real, à vista de dramas flagrantes dos vizinhos: que,
percetivelmente, deambula e namora em Lisboa, ou
examina o campo com o olhar objetivo do administrador
rural, Assim, tudo ganha volume: o sonho não diminui a
vida alimenta-se dela e a ela volta, a tonificar-se (ganhar
maior vigor) ( “Lavo, refresco, limpo os meus sentidos/ E
tangem.me excitados, sacudidos,/ O tato, a vista, o ouvido,
o gosto, o olfato”)

3, Introdução: Cesário Verde: estilo renovador


[…] Para exprimir este mundo, até então realmente
desconhecido da poesia […] Cesário renovou
completamente a estilística tradicional da nossa
poesia. Experimentou uma imaginária( imagens) por vezes
muito feliz, Introduziu no verso o processo queirosiano de
suprir pelo adjetivo ou pelo advérbio uma relação lógica
extensa de imediatizar, pela surpresa da reação verbal
( dupla adjetivação,), uma sugestão que morreria se
fraseologicamente se desdobrasse: “quando passas,
aromática e normal”; cheiro salutar e honesto do pão no
forno”;” eu tudo encontro alegremente exato”; “
amareladamente, os cães parecem lobos”-

“ Os sentimentos dum ocidental”; estrutura


I, Ave- Marias Poema dividido em 4
partes, organizadas
II,Noite fechada segundo uma gradação
temporal
III. Ao gás
IV. Horas mortas
Apresentação e descrição de Lisboa “ Triste
cidade”
Gradação começa:
 Seis da tarde
 Escuridão
 Iluminação a gás
 Noite profunda

I.Ave-Marias
Avé-Maria

Nas nossas ruas, ao anoitecer, - Localização do espaço


Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Título:designação do toque

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia dos cinos das 6


da tarde ( fim

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer . do dia de


trabalho, transição

para a noite)

O céu parece baixo e de neblina,


O gás extravasado enjoa-me, perturba; Apostrofe-“há tal”-
sombras.bulico

E os edifícios, com as chaminés, e a turba maresia-


despertam desejo de

Toldam-se duma cor monótona e londrina. Sofrer,


Ambiente pouco saudável. Melancolia, cansaço, náusea

Batem carros de aluguer, ao fundo, - Ociosidade burguesa:


cosmopolitismo. Burguesia endinheirada que se movimenta na
cidade

Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!


Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! gradação
O sujeito poético vibra em simpatia com toda uma cidade viva, por
vezes num “desejo absurdo de sofrer” , pouco saudável para se viver.

Semelham-se a gaiolas, com viveiros, Transfiguração do


real. Através de comparações “ semellam-se a gaiolas” - as casas

As edificações somente emadeiradas:


Como morcegos, ao cair das badaladas,
“morcegos” .compara os carpin-
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros . teirós a
morcegos que saltam de viga em viga

Voltam os calafates, aos magotes, - “Calafates” - operários


De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos, -
Deambulação

Ou erro pelos cais a que se atracam botes. pela cidade –


observação acidental que o sujeito poético faz do espaço da cidade,
tirando as suas impressões do espaço. Observação dos vários tipos
sociais que vivem na cidade

E evoco, então, as crónicas navais : Imaginário épico:


necessidade de evasão

Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! no tempo e no


espaço
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! Evocação do
tempo glorio-

Singram soberbas naus que eu não verei jamais! so dos


Lusiadas. Temos um certo tom de pessimismo.

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!. contraditorio;


inspira

De um couraçado inglês vogam os escaleres ; e incomoda #


E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar alguns hotéis da moda.
# “ Sente-se frequentemente o conflito entre a simpatia pelo povo
urbano ou rural explorado e o ditame naturalista de impassividade
descritiva, reforçado pela ideia de que os fracos (inaptos ou
decadentes) estão condenados a perecer”

Num trem de praça arengam dois dentistas; Varias


cituações, Espaços,

Um trôpego arlequim braceja numas andas; classes sociais


e tipos sociais

Os querubins do lar flutuam nas varandas; ( lojistas, arlequim)


Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas! Temos uma
impressão que o sujeito poético nos passa sobre as conclusões que
tira sobre o que vê ou seja o real.

Vazam-se os arsenais e as oficinas; Dinâmica do final do dia


na cidade

Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras; Classes


socias: varinas,

E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, obreiras.


Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Estes tipos sociais que correspondem aos mais desfavorecidos dentro
da cidade, vivem numa situação enfraquecida , desprivilegiada serão
os primeiros a desaparecer, sofrer.
# Vêm sacudindo as ancas opulentas- Pernas fortes das
varinas
Seus troncos varonis recordam-me pilastras; “ Varonis-
parecem de homens

E algumas, à cabeça, embalam nas canastras


Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Caracteristicas temáticas:
.Atenção aos trabalhadores revela uma consciência social;
. A observação impressionista e detalhada de espetos do real
quotidiano;
.A transfiguração do real presente nas comparações e metáforas;
. A deambulação pelo espaço da cidade.

Descalças! Nas descargas de carvão,


Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

Atividade

1 - Identifica as principais características da poesia de


Cesário Verde indicadas no poema “ Ao enterdecer,
debruçado pela janela,”de Alberto Caeiro
( heterónimo de Fernando Pessoa).
Retrato de Cesário Verde;
. Capacidade de observação;
.Capacidade de compreensão do real;
,Introspeção
.Caracter deambulante
.Espirito concentrado na capacidade de “olhar”;
.Marcado pela tristeza

Aula 52

“ A atual poesia portuguesa possui, portanto, equilibrando-


lhe a inigualada intensidade e profundeza espiritual, o
epigramatismo sanificador da poesia objetiva. – Segundo
característico da objetividade poética é aquilo a que
podemos chamar a plasticidade; e entendemos por
plasticidade a fixação expressiva do visto ou ouvido como
exterior, não como sensação, mas como visão ou audição.
Plástica neste sentido, foi toda a poesia grega e romana,
plástica(…) de novo modo, a de Cesário Verde. A perfeição
da poesia plástica consiste em dar a impressão exata e
nítida(…) do exterior como exterior, o que não impede de, ao
mesmo tempo, o dar como interior, como emocionado.”

Epigramatismo sanificador – poesia muito objetiva onde


realça uma intenção de repercutir algo saudável.

Plasticidade – remete-nos para a pintura, arte, aqui através


das palavras que nos remetem para uma determinada
situação, emoções que nos são dadas pelo sujeito poético
pela adjetivação. Importância que é dada ao sentido da
visão e audição , na poesia de Cesário e dada muito
importância ao sentido da visão e audição.

II- Noite Fechada

Toca-se às grades, nas cadeias. Som - Deambulação pela


cidade ao entardecer espaço confinado: cadeia de Aljube. Clausura e
solidão; desigualdades do sistema judicial
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças,
Bem raramente encerra uma mulher de <<dom>>!

E eu desconfio, até, de um aneurisma


Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes; O sujeito poético
reage ao que

À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes , vê,


morbidez,sofrimento: dimen

#Chora-me o coração que se enche e que se abisma . -são


lírica; perceção sensorial: audição (Som) e visão (Acender
das luzes) “ . ( os sentidos provocam no poeta morbidez e
sofrimento)
# solidão percecionada pelo poeta ao observar o que o
rodeia

A espaços, iluminam-se os andares,


E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos - enumeração
de espaços
Alastram em lençol os seus reflexos brancos; fechados
( sensação de clausura de cconfinamento)

E a Lua lembra o circo e os jogos malabares. - Sentido da


visão remete-nos para a cor. Modo como a lua se projeta no
espaço que é a cidade.
Descrição subjetiva do ambiente; metáfora e comparação,
a lua lembra o circo e os jogos malabaristas ( recursos
expressivos que permitem a transformação do real através
da observação do real).

Duas igrejas, num saudoso largo,


Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero: Intenção critica :
repressão
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo, - religiosa e politica
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.

Na parte que abateu no terremoto


Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas; -
Expressividade dos

Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas, verbos


E os sinos dum tanger monástico e devoto . Expressão do
estado de espirito do sujeito poético: doença e degradação da vida na
cidade.

Mas, num recinto público e vulgar,


Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar! - Estamos a falar de
Camões. Critica; Camões e a grandiosidade do passado em
oposição à vulgaridade do presente; vestígios épicos no
poema.
Anteposição e acumulação de adjetivos para realçar esse
brilho e grandiosidade.

E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,


Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;( estes
adjetivos remetem para a morte)

Inflama-se um palácio em face de um casebre . Intenção


critica: degradação social; face à desigualdade citadina
pressente-se a simpatia do sujeito poético pelos
desfavorecidos.

Partem patrulhas de cavalaria


Dos arcos dos quartéis que foram já conventos: temos
referencia a duas instituições, os militares e a igreja. Temos
um tom pessimista e de denuncia que poem em evidencia ação
repressiva destas instituições. Dos militares no presente e do clero no
passado.

Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,


Derramam-se por toda a capital, que esfria- expressividade
dos verbos, esta repressão espalha-se por toda a cidade.

Triste cidade! Eu temo que me avives (Apostrofe


personificação da cidade

Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes, que


desencadeia no sujeito

Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes, poético


sentimentos negativos)

Curvadas a sorrir às montras dos ourives.


Elementos caracterizados; espaço, tempo, personagens;
Subjetividade: impressão do Eu; sofrimento, mundo artificial, burguês.

E mais: as costureiras, as floristas


Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas. Ligadas á vida
noturna.
Temos a representação da cidade e dos tipos sociais: degradação
social e moral; denuncia.

E eu, de luneta de uma lente só, ( visão Parcial)


Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
O sujeito poético autocaracteriza-se e assume a sua parcialidade:
impressões pessoais de real observado na sua deambulação pela
cidade, noite dentro.

Entro na brasserie; às mesas de emigrados,


Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.

Síntese: II. Noite fechada


O eu lírico descreve a realidade através de uma
“luneta de uma lente só”, observador acidental

Visão pessoal e crítica dos ambientes e dos tipos sociais


urbanos

 Soldados sombrios e espectrais


 Oposição entre o palácio e o casebre ( desigualdades sociais)
 Contraste entre as elegantes que se curvam nas montras e as
que vivem do trabalho

Impressão do sujeito poético: “ Triste cidade!”

È na realidade que encontra assunto: “ Eu acho sempre assunto a


quadros r
revoltados “

Atividade

1. Associa os segmentos da coluna da esquerda


aos segmentos da coluna direita, de modo
aobteres afirmações corretas de acordo com “
Noite frechada”, de “Um sentimento dum
Ocidedental”.
1. A dimensão lírica do poema
2. A deambulação de sujeito poético pela
cidade
3. Em termos de observação do real, o sujeito
poético

A)Assume o papel de observador acidental.


focando pequenos episódios e
conduzindo a descrição com
rapidez___3____
B)Abre espaço ao imaginário épico do
poema, convocando a viagem marítima,
relacionando o Portugal da Expansão
com a Modernidade___2__
É evidente quer na subjetividade com que o eu
poético descreve o ambiente citadino, quer na
expressão do seu estado de espirito.____1______

Auta 53

O Sentimento dum Ocidental


III( encontramos o espaço (Lisboa), tempo(da amanhecer ate noite
dentro),tipos sociais que se movem na cidade e lhe dão vida,
contrastando entre si)

Ao gás ( Título: observação e análise do Eu é feito à


luz dos candeeiros a gás)
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos “ E saio” . esta relacionada com o poema
anterior, entrou na cafeta” ria e agora saiu.. “noite pesa e esmaga”- Metáfora:
efeito opressivo do ambiente doentio da cidade; critica. (modo como o poeta vê
a noite, desencadeia no interior do sujeito poético, sofrimento e peso
psicológico tb provem do gás dos candeeiros de iluminação.,)
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras. Ambiente de degradação social
( prostituição)
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arripia os ombros quase nus.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso - expressividade dos verbos –
percessão do espaço a partir do eu
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.
Pela deambulação pela cidade: O eu iniciou a sua digressão ao “entardecer”,
prolonga-se pela noite dentro; transfiguração do real( situação criada pela
imaginação do sujeito poético que permite a transformação do real)
condicionada pela fraca luminosidade.

As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos, - sensação auditiva
As freiras que os jejuns matavam de histerismo.
Critica às práticas do catolicismo, perceção sensorial: auditiva

Num cutileiro, de avental, ao torno,


Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
Tipos sociais: cutileiro (faz facas . para cortar o que vem do campo. O
campo representa o espaço da saúde, onde a vida é mais autentica e
saudável ) forjado ( trabalha o ferro), padeiro( quente que é algo
palpável e o cheiro saudável e honesto, pão que alimento é feito com
os cereais que vem do campo).
Tipos sociais: exaltação da produtividade e vitalidade de quem
trabalha; sinestesia( “quente”/ “cheiro” e a adjetivação: dicotomia
cidade/campo

E eu que medito um livro que exacerbe,


Quisera que o real e a análise mo dessem;
Representação da cidade; denuncia da degradação# social e
moral em contrate com o mundo luxuoso, burgues, urbano.
( representação do real)

Casas de confeções e modas resplandecem;


Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.(sem barba)#

Longas descidas! Não poder pintar


Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,( brilhos)
E a vossa palidez romântica e lunar!
Desejo do poeta de criar uma nova realidade: poesia adjetivação (grandiosa
(magistral), sã (salubre)e sincera. A poesia como uma verdade estética com
função social e moral (uma vertente que leva a algum encinamento).

Que grande cobra, a lúbrica pessoa (sedutora), - Metáfora: dimensão critica


Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo (desenho)!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

E aquela velha, de bandós! Por vezes,


A sua trai^ne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

Desdobram-se tecidos estrangeiros;


Plantas ornamentais secam nos mostradores; Enumeração; abundância do
mundo burguês
Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores ,( lojas)
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.(novo tipo social)
Síntese: descrição do espaço observado durante a deambulação do sujeito
poético pela cidade: lugares ligados à burguesia, altiva e materialista,
acompanhada por vendedores solícitos

Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes


Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes. Metafora “ mausoléu” .
ligado á morte ouse já as lojas que surgem como mortas depois de
desaparecer toda a luz
Representação da cidade e dos tipos sociais; sobressai o abatimento
e a solidão; o brilho da cidade apaga-se

“Dó da miséria!...Compaixão de mim!...


E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me esmola um homenzinho idoso,

Dimensão critica: a cidade mergulha na escuridão; insunua-se que o


mundo moderno despreza o saber, a cultura; valoriza o lucro e o luxo
“ Meu velho professor nas aulas de Latim!”
Oposição luz/sombra conduz à representação transfigurada do real

Síntese: III Ao gás

# a noite pesa, esmaga”

Acentua-se a ideia de aprisionamento/ clausura:” cercam-se as


lojas,tépidas”

A cidade está iluminada pela luz artificial dos candeeiros a gás


A cidade é descrita como um espaço impuro
- Espaço de doença – o hospital como metonímia - e até da
prostituição
. Espaço em que o espirito materialista

Impureza da cidade , em contraste com


. Honestidade do trabalho (representada no cheiro salutar e honesto
do pão)

“ E eu que medito um livro que exacerbe;


Quisera que o real e a análise mo dessem”
Síntese da intenção do eu lírico (conceção poética): Fazer uma poesia
de análise e critica à sociedade:
. Retrata espaços associados ao consumismo e à burguesia;
“Casas de confeções e modas”; “luxo (…) / que ao longo dos balções
de mogno se amontoa” .

“ Mas tudo cansa!”

Simboliza, no seio de uma sociedade onde o luxo se amontoa, a


desvalorização de cultura e do saber:
. Reencontra o velho professor de Latim:
“Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!”

Atividade

Aula 54
Reflexão ; Título

O Sentimento dum Ocidental -IV Horas


Mortas(momento mais profundo do dia
a noite)
O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras, Transfiguração do real; perceção
sensorial da realidade ( comparação)
Enleva-me a quimera azul de transmigrar. Mudar de corpo, transformar-se
Metáfora e comparação: ambiente doentio da cidade; Desejo de evasão
Perceção sensorial e a transfiguração do ambiente citadino: atenção ao
pormenor num apelo aos sentidos ( visão–“ lagrimas de luz”)

Por baixo, que portões! Que arruamentos! – Verbos conjugados sempre na


perceção , emoção do sujeito poético. Na transformação que o exterior provoca
no interior do poeta
Um parafuso cai nas lajes, às escuras: ( Audição)
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras, ( Audição)
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos # - .” Caleche” -carruagem
#Personificação; provoca um efeito de alucinação no sujeito poético,
Conjugação verbal.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta - ideia da deambulação do poeta


A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas , Comparação
As notas pastoris de uma longínqua flauta.
Comparação; alinhamento paralelo dos edifícios de luxo burguês; som bucólico
surge a dicotomia cidade/ campo “ notas pastoris…” campo e o ambiente
saudável.
Deambulação pela cidade: implica uma observação e análise do espaço.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente – desejo da eternidade,


mas vivida na perfeição, no amor.
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Exclamações manifestam o desejo de libertação da morte e de viver uma vida
baseada no amor

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis, - Apóstrofe ”nossos filhos” , invoca um


tempo futuro, filhos a geração seguinte
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas! – Dualidade presente/futuro , “ sonhos
ágeis” ,”nitidez às vidas”, o presente negativo observado pela visão do sujeito
poético e um futuro que se revelará incerto, mas esperançoso
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir, - raça do futuro


E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Interjeição” Ah” e comparação expressa a confiança num futuro de esperança e


de expansão. Espera que o futuro seja também glorioso como foi aquele
passado dos descobrimentos. Cruza o passado com o presente.

Mas se vivemos, os emparedados,


Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
Visão negativa do ambiente citadino de clausura, criminalidade,
embriaguez, ambiente sombrio e de seres marginais “emparedados”,
“muralhas”, “treva”, “gritos de socorro”,” ventres das tabernas”,
Tristes bebedores”

E nestes nebulosos corredores

Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas; - Personificação da


decadência humana

Na volta, com saudade, o os bordos sobre as pernas,

Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores

Transfiguração do real: Lisboa retratada nas perceções, sentimentos e


impressões do Eu (visão, audição)

Temos os tipos sociais, da marginalidade e noite profunda

Eu não receio, todavia, os roubos;


Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos. - hipálage

Transfiguração do real, adjetivação, advérbio; comparação, hipálage


Exploração do espaço feita em repetidas deambulações: noite
profunda, necessidade de policiamento para a vigilância da
marginalidade noturna

E os guardas, que revistam as escadas,


Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros, - remete para a
prostituição
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Visão negativa do ambiente citadino.


Representação da cidade e dos tipos sociais: o olhar do
sujeito poético assume diferentes planos e perspetivas:
dinâmica

Dimensão critica e consciência social: Lisboa, a cidade que se


vê, se ouve e quotidiana.

Sínteses do quotidiano num tempo circular:


Subtítulos alusivos a fases da tarde e da noite

Síntese: IV. Horas mortas


Dicotomia espaço / tempo

Realidade: presente – As “nossas ruas” Sonho: Futuro – A


vastidão
. O aprisionamento . A vastidão por
explorar
. A estagnação . O dinamismo e a
procura

Ideias que prevalecem na conclusão do poema: “triste cidade”

. onde vivem os “ emparedados”, “ sem arvores”, no “ vale das muralhas”

.violenta e decadente: onde “ amareladamente os cães parecem lobos”

A cidade é o espaço da “ dor humana”

Atividade

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