Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

A Perspectiva Das Crianças-Corpo e Território Na Identidade Quilombola Infantil

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

187 Revista Humanidades e Inovação v.4, n.

3 - 2017

“A PERSPECTIVA DAS CRIANÇAS”:


CORPO E TERRITÓRIO NA IDENTIDADE QUILOMBOLA
INFANTIL

“THE CHILDREN´S PERSPECTIVE”:


BODY AND TERRITORY IN QUILOMBOLA INFANTIL IDENTITY
Marcia Lucia Anacleto de Souza
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
negramarsea@gmail.com

Resumo: Este artigo aborda a compreensão da identidade quilombola a partir da observação e escuta de um
grupo de crianças da comunidade remanescente de quilombo Brotas, localizada dentro da cidade de Itatiba/
SP. Dentre as experiências das crianças em torno da identidade e da relação com o território quilombola, abordo
o aspecto ligado ao corpo como lugar que informa quem é na relação com o Outro. Para compreender este
processo que informa a terra como lugar da identidade, primeiramente, apresento a história remota e recente
do Quilombo Brotas e, em seguida, um episódio da pesquisa em que as crianças dialogaram comigo sobre o
processo identitário que subjaz suas experiências infantis, e revelam a importância da escola como espaço de
educação e construção das identidades.
Palavras-chave: quilombos, criança quilombola, educação.

Abstract: This article discusses the understanding of the quilombola identity from the by observing and listening
to a group of children from the remaining community of quilombo Brotas, located within the city of Itatiba/
SP. Among the experiences of children around the identity and the relationship with the quilombola territory,
I approach the aspect linked to the body as a place that informs who it is in relation to the Other. In order to
understand this process that informs the earth as a place of identity, I first present the remote and recent history
of Quilombo Brotas and then an episode of the research in which the children dialogued with me about the
identity process that underlies their childhood experiences, and reveal the importance of the school as a space for
education and the construction of identities.
Key Words: quilombos, quilombola child, education.

Introdução
A “perspectiva das crianças” diz sobre “um modo de ver” o vivido por elas, a partir de
experiências com outras, de mesma idade e de idades diferentes, e com adultos, velhos, mulheres,
homens e jovens em diferentes lugares. Esta é uma “perspectiva” com a qual realizei a pesquisa
etnográfica junto às crianças do Quilombo Brotas1, uma comunidade remanescente de quilombo
situada no estado de São Paulo, e por meio da qual procurei entender a identidade do grupo e as
expressões infantis acerca do pertencimento étnico-racial.
Esta “perspectiva”, enquanto sinônimo de “ótica” ou “modo de ver”, tem sido também uma
abordagem teórico-metodológica que considera as crianças como sujeitos sociais e culturais que
muito podem nos dizer, a partir de diferentes linguagens, sobre onde vivem e como entendem
o universo social do qual são parte. Este artigo aborda a relação entre o território quilombola e a
identidade a ele referida – uma identidade quilombola em relação à identidade negra –, a partir
do olhar das crianças que dele fazem parte e nasceram durante o processo de reconhecimento
identitário do grupo.
Ao considerar as crianças como sujeitos “fidedignos” da pesquisa, como nos diz José de
Souza Martins, em O massacre dos inocentes: a criança sem infância no Brasil2, dialogo com os
estudos da infância e da criança realizados nas últimas duas décadas pelos campos da Antropologia
da Criança3, da Sociologia da Infância4 e da Pedagogia da Infância5, que entendem as crianças como

1 Pesquisa de doutorado concluída em 2015, a partir da imersão etnográfica realizada durante o ano de 2013, com as
crianças da comunidade. Contudo, adentrei na comunidade em 2006, durante a pesquisa de mestrado.
2 Ver Martins (1993).
3 Cohn (2005), Nunes (2002); Pires (2007).
4 Corsaro (2011), Sarmento (2005) e Delalande (2009).
5 Abramowicz, Oliveira (2011); Finco, Faria (2011); Gobbi (1997); Noal (2006); Oliveira (2004); Prado (2006); Santiago
(2014).
188 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

sujeitos sociais que participam a seu modo dos grupos e sociedades das quais são parte, e que
possibilitam novas perspectivas de compreensão das relações sociais e dos processos simbólicos
que as orientam. O que as crianças fazem, pensam ou falam torna-se importante para compreendê-
las, pensar sobre elas e as sociedades. As produções infantis são concebidas e valorizadas como
válidas para analisar grupos e a sociedade mais ampla, deixando o patamar de mera reprodução do
mundo adulto (FINCO, FARIA, 2011; PRADO, 1999; ROCHA, 2008).
Neste sentido, o que as crianças do Quilombo Brotas evidenciaram através de suas falas,
silêncios, brincadeiras, movimentos, durante a etnografia realizada com elas ao longo de um
ano, ampliou a compreensão da territorialidade e da identidade do grupo e, ao mesmo tempo,
explicitou aspectos da própria experiência infantil existente naquele contexto histórico, social,
político e cultural.
Dentre as experiências das crianças em torno da identidade e da relação com o território
quilombola há uma ligada diretamente ao corpo, enquanto criança negra de um lugar específico
– um quilombo –, na relação com uma sociedade que reproduz processos discriminatórios,
desigualdades e exclusão a partir do pertencimento étnico-racial. Para compreender este processo
que informa a terra como lugar da identidade, primeiramente, abordarei a história remota e recente
do Quilombo Brotas e, em seguida, um episódio da pesquisa em que as crianças dialogaram comigo
sobre o processo identitário que subjaz suas experiências infantis.

O Quilombo Brotas: história remota e recente do processo de


territorialização
O Quilombo Brotas localiza-se no bairro Jardim Santa Filomena II, na cidade de Itatiba-
SP. Nesse território moram 42 famílias negras, num total de 170 pessoas6 que descendem,
majoritariamente, de Emília Gomes de Lima e Isaac de Lima, os ancestrais fundadores.
Internamente, a nominação “quilombo” é recente e datada da época do processo de
reconhecimento do Sítio Brotas como Quilombo Brotas. Foi em 2003 que se iniciaram os trabalhos
de rememoração da condição quilombola da terra, e de ressignificação do termo quilombo para a
realidade histórica do grupo. Essa é a razão pela qual ouvi, frequentemente, a expressão Sítio Brotas
para dizer do Quilombo.
Os homens e as mulheres do Quilombo trabalham como assalariados em Itatiba. São
pedreiros, auxiliares de serviços gerais, pintores, empregados nas indústrias têxteis, domésticas,
faxineiras, cozinheiras. A terra quilombola é lugar de moradia, de plantio de hortaliças de
consumo familiar e de criação de animais, como galinhas. Diferentemente do imaginário social,
no Quilombo Brotas e em outras comunidades quilombolas e áreas rurais não há uma
correlação entre morar num território rural (ou quilombola) e a dependência da terra para o
sustento. Segundo os quilombolas, ali sempre houve alguém que procurasse trabalho fora do
Sítio, na cidade, para complementar a renda.
Do mesmo modo, todas as crianças e adolescentes frequentam as escolas e instituições de
educação infantil da cidade. Quando não estão nesses espaços, permanecem no Quilombo,
sob o cuidado de mães, tias ou irmãs e irmãos mais velhos. No período oposto ao da escola
brincam em casa ou no quintal. Nos dias de aula concentram as brincadeiras de grupo entre os
finais de tarde e as primeiras horas da noite. Os finais de semana são os dias em que podemos
vê-las e ouvi-las com mais frequência e intensidade pelo território. Nesses dias, reúnem-se
em grandes e pequenos grupos logo pela manhã, ocupando todo o Quilombo, correndo,
gargalhando, apanhando frutas, ocupadas em seus brinquedos e brincadeiras, em algum pedido
feito por adulto, na ida à padaria ou ao mercadinho do bairro.
As crianças e adultos têm acesso ao serviço público de saúde do município, e quando
necessário, são encaminhados a hospitais da região, como o Hospital das Clínicas da Universidade

6 Dado informado por Dona Ana Maria, presidente da Associação Quilombo de Brotas, em 07/12/2013. Vale ressaltar
que toda a pesquisa foi autorizada pelos sujeitos participantes e pela associação quilombola.
189 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

Estadual de Campinas – UNICAMP, em Campinas. Um exemplo foi o menino JO, de 12 anos7, que
até 2014 era levado pela família, duas vezes por semana, a este hospital para a realização de
hemodiálise.
No Quilombo, as casas estão localizadas conforme a proximidade de parentesco
entre filhos e irmãos. Exemplos dessa organização territorial são as casas das quatro filhas de Dona
Maria do Carmo (Amélia, Ana Tersília, Cristina e Sandra), bisneta de Emília e já falecida. Suas casas
são próximas uma da outra. Outro exemplo é de Ana Maria (tataraneta de Emília) cujas filhas
casadas, Patrícia e Paula, construíram suas casas próximas a da mãe.
Essas e as demais casas foram construídas em alvenaria, com salas mobiliadas com
sofás, estantes ou racks, televisão, aparelho de som, dvd. As cozinhas têm fogão, armários e mesa
com cadeiras e aparelhos eletrodomésticos, tais como liquidificador e batedeira. Nos quartos
há camas, guarda-roupas e cômodas. Todas as casas possuem banheiro, variando apenas os
acabamentos, de modo que, alguns têm piso frio no chão e nas paredes e outros não. Algumas
casas possuem teto em laje coberto por telhas de amianto ou cerâmica, e outras são
cobertas diretamente com telhas. Os quintais, geralmente, têm uma horta, muitas árvores
frutíferas, e plantas. Neles, há também indicações da existência de crianças na família,
pois conseguimos avistar seus brinquedos, balanços montados em galhos de árvores, bicicletas
encostadas, carrinhos ou bolas.
As moradias são separadas por cercas, que definem o quintal de cada família.
Outros espaços de convivência do grupo são as pracinhas, demarcadas por árvores suntuosas
e bancos. Além delas há as ruas, a “casinha”, o campinho, espaço ocupado nas festas e eventos
do Quilombo, e onde as crianças e adolescentes jogam futebol ou empinam pipas. Lugares como
o “riozinho”8 e a mata são importantes para as crianças, pois ali se escondem e transitam sem
terem, necessariamente, a presença de um adulto.
A “casinha” é um espaço de realização de diversas atividades pela comunidade. Durante
a pesquisa houve aulas de capoeira, de catecismo e de bordado, refeições para estudantes em
visitação, festas com apresentações de grupos de samba, rodas de conversa com estudantes,
reuniões com comunidades quilombolas e representantes institucionais. Nessas atividades e
fora delas sempre há crianças brincando de maneira livre ou restrita pela presença de adultos.
A ocupação das ruas e dos quintais do Quilombo pelas crianças, desde cedo até ao
anoitecer, tem as marcas do próprio processo de territorialização do Quilombo (ou Sítio)
ao longo dos últimos anos. A existência das três ruas terraplanadas e iluminadas evidenciam
as mudanças ocorridas no Sítio Brotas, desde os anos de 1990, em consonância com as
transformações vivenciadas pelas comunidades remanescentes de quilombo brasileiras nas duas
últimas décadas.
No Quilombo Brotas, as modificações territoriais recentes envolvem o último processo
de ameaça de perda das terras adquiridas por compra. Os quilombolas contam que foram
momentos difíceis, em que observavam, desde 2001, o avanço das obras do loteamento Nova
Itatiba II, que ladeia o território.
O empreendimento impunha um conjunto de mudanças que, desde a década de
1990 ocorria no entorno do Sítio, quando surgiram loteamentos que destruíram a mata
existente. Foi nessa mesma década que houve a terraplanagem no Sítio e a criação das três ruas
de terra principais: Rua Fabiano Barbosa, Rua Bento Barbosa e Rua Claro Barbosa.
O avanço nas obras desse novo loteamento, destinado a casas de alto padrão de luxo,
afetou diretamente os quilombolas, assoreando o córrego (“riozinho”) e diminuindo seu curso

7 Optei pela identificação das crianças a partir de duas letras contidas em seus nomes, buscando garantir-lhes o anonimato.
Ocultar seus nomes, apesar da autorização em Termo de Livre Consentimento Esclarecido, e da assertiva das crianças em
participarem da pesquisa, foi uma forma de não constranger as crianças em relação ao universo adulto. Como fez Paula
(2014), em pesquisa com crianças quilombolas da região Sul, “revelar seus nomes [das crianças] poderia, em certa medida
expô-las, já que falo delas e com elas, tanto nas comunidades onde moram, como também na instituição educativa. E
mais ainda: trago seus depoimentos e pontos de vistas sobre os contextos em que elas transitam” (p. 90, chaves nossas).
Já em relação aos adultos, mantive a descrição de seus nomes, como o fiz durante a pesquisa de mestrado, já que estes
estavam mais acostumados a reter seus depoimentos e ações em pesquisas acadêmicas, documentos institucionais e
livros sobre a história e memória do grupo.
8 Modo como as crianças se referem ao córrego que atravessa o território quilombola.
190 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

d’água. Os quilombolas relatam que o assoreamento causou a perda de água para o consumo nas
casas (poços) e a extinção dos peixes que havia nele. Além disso, o assoreamento também afetou
a prática religiosa da umbanda, que ocorria desde a década de 1950, liderada por Tia Lula (Maria
Emília Barbosa Gomes), neta de Emília. Segundo o relato de Tia Lula, no Relatório Técnico-Científico
(ITESP, 2004) de reconhecimento do Sítio como Quilombo, os danos ao córrego dificultaram a
realização dos trabalhos.
Os quilombolas observavam a construção do loteamento, mas não esperavam que
afetasse suas terras. Entretanto, em meio aos fatos descobriram que havia desde 1970 um projeto
municipal para a construção de um Sistema Viário cujas vias de tráfego atravessariam o Sítio, o que
afetaria a organização das famílias e até mesmo a permanência nas terras.
As ameaças externas mobilizaram os quilombolas a se organizarem em Associação e a
procurarem apoio de grupos políticos e institucionais. Nesse caminho, o grupo conheceu a ONG
Fórum Pró- Cidadania9, que diante dos fatos narrados e da história de formação do Sítio orientou que
solicitassem ao Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) o reconhecimento do território
como quilombola. A mesma organização também auxiliou os quilombolas no encaminhamento
de denúncias aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, referentes às irregularidades ambientais
promovidas pelo empreendimento imobiliário (ITESP, 2004).
Os processos jurídicos e institucionais instaurados em 2003 culminaram com a conquista,
em 2004, do reconhecimento do Sítio Brotas como Quilombo Brotas, e com o embargo das obras
iniciadas em torno do território. Do ponto de vista político, o reconhecimento fortaleceu o grupo
diante dos interesses capitalistas em suas terras e das ações municipais em planejamento. Foi uma
forma de dizerem à sociedade que ali residiam famílias negras que deveriam ser respeitadas
em sua história e identidade. Contudo, ao longo dos anos observamos que as construções no
loteamento seguem, ainda que lentamente, o que nos leva a indagar sobre a efetiva execução
das determinações judiciais e o respeito às terras do Quilombo Brotas.
Tais processos inseriram novos significados para a identidade do grupo, que agora
quilombola passou a compor um cenário mais amplo de lutas em defesa de terras quilombolas
e da melhoria de suas condições de vida. Além disso, a participação no movimento
quilombola introduziu no grupo processos de educação responsáveis pela releitura da história,
do significado da terra e, com isso, do significado do “ser quilombola” (SOUZA, 2009).
Tal aprendizado envolveu a reconstrução da memória da infância dos fatos vividos pelos
antepassados, histórias atreladas à terra hoje ocupada, e que se ampliam para a história de
outros lugares, como as cidades de Jundiaí, Campinas e São Paulo, além da própria cidade de
Itatiba. São fatos referentes a tempos remotos, que alcançam a escravidão e estão presentes
no universo das crianças, que os relatam a seu modo, mostrando a importância dos antigos na
atualidade. Estas são histórias ouvidas dos adultos, recontadas em desenhos, conversas, projetos
de teatro ou audiovisuais, mas também em forma de silêncio ou de risada diante de perguntas,
como: “O que seus colegas de escola pensam do Quilombo?”.
A narrativa da terra comprada é uma das histórias sempre presente na conversa com
um adulto. Do mesmo modo, ao pedir para uma criança que diga por que ali é um Quilombo,
sempre há em sua resposta a figura de vó Amélia e o dinheiro guardado num baú, para a compra
da terra. Para todos, é importante dizer da luta dos antepassados para a aquisição das terras onde
vivem e relatar a história de Amélia e de seus pais, Emília e Isaac. É uma forma de dizerem: eu
descendo deles e por isso estou aqui!

De Sítio a Quilombo: uma terra comprada por liberdade e


autonomia
A história dos primeiros moradores, Emília e Isaac, remonta ao início do século XIX,
quando Maria Emília Modesto e sua filha Emília Gomes foram trazidas do Rio de Janeiro para
o mercado de escravos de Santos. Naquele momento, elas foram compradas por fazendeiros
diferentes, o que causou a separação. Emília foi para a fazenda São Benedito, em Itatiba (Fazenda

9 A ONG Fórum Pró-Cidadania foi criada em 2002, situa-se em Itatiba-SP, e participa de atividades em torno da diversidade
étnico-racial e de gênero, além de desenvolver trabalhos sobre desenvolvimento sustentável.
191 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

São Benedito), onde conheceu Isaac de Lima (por volta de 1850). O casal teve vários filhos, dentre
eles, Amélia, nascida em 1876 (ITESP, 2004).
Quando o fazendeiro faleceu deixou em testamento a liberdade da família de Emília e
Isaac, que foram trabalhar numa fazenda cujos proprietários, Rita Rodrigues e José Francisco
Rodrigues, participavam do movimento abolicionista. Suas terras serviam de esconderijo de
escravizados da região. Os quilombolas relatam que eles “gostavam de negros”, por isso os
escondiam, receberam seus “avós”10 como trabalhadores e, entre 1878 e 1885, venderam parte
da fazenda para Emília e Isaac.
Em fins do século XIX, as terras do atual Quilombo Brotas perfaziam uma fazenda de abrigo
de escravizados fugidos e negros libertos. Com o trabalho nessa fazenda o casal de negros, Emília
e Isaac, adquire através da compra “uma ponta” da fazenda, expressão usada pelos quilombolas
para se referirem aos aproximados 12 hectares de terras que conformam o Quilombo. De
acordo com os quilombolas, o dinheiro da compra foi guardado num baú mantido até hoje na
casa de Tia Lula. Esse baú é uma das referências históricas e simbólicas da existência do grupo, e
representa o trabalho árduo dos antepassados em prol de uma terra para todos.
Dona Ana Maria, bisneta de Amélia, contou que após a compra do Sítio, Amélia reclamava
da dureza do trabalho de carpir a terra onde ia morar. Segundo ela:
Aí depois que minha vó veio, diz que era como mata
verde picadeiro, tinha a entrada da porteira que é lá
mesmo, subia até lá em cima. E ela chorava porque
tinha que devastar aqui, e não tinha lugar pra ela morar
e era a parte de cima que ela tinha que limpar. E ela
chorava, ela chorava! Aí meu vô falava pra ela. Por isso
que eu digo que meu avô era um homem de sabedoria
assim porque ele pensava em nós. Ele não sabia que nós
viríamos, mas ele falava: Amélia, não desanime, porque
isso daqui será usos e frutos de outros que virão!11
A fala de Amélia, rememorada de diferentes maneiras, em muitas conversas e por
todos os quilombolas, representa internamente a expressão da luta, do trabalho, travados por
seus “avós” na aquisição de um lugar de moradia e sustento para as gerações futuras. Luta
pela liberdade e autonomia que iniciou durante a escravidão, quando Emília e Isaac foram
vítimas do trabalho escravizado, e em seguida, como trabalhadores livres que adquiriram uma
terra pensada para si e para a descendência. Atualmente, seus netos e bisnetos traduzem nos
enfrentamentos políticos e institucionais de defesa do território quilombola, os anseios dos
antepassados, de trabalho por autonomia e liberdade, pensando nas crianças e naqueles
que virão.
Amélia é a filha que permanece nas terras dos pais, e por isso, é a sua história que
sustenta a territorialidade do grupo. Casou-se com Fabiano Barbosa e teve dez filhos, a quem
ensinou a importância das terras como sinônimo de autonomia e refúgio, e inclusive, de refúgio
temporário para amigos e parentes que enfrentassem dificuldades financeiras. Ela também
ensinou a importância da ajuda entre parentes e foi conhecida por cuidar de seus netos, bisnetos
e sobrinhos.
A dureza do trabalho dos “avós” também é retratada na forma como Amélia procurava
manter o sustento dos filhos. Tia Aninha (Ana Teresa, neta de Emília, 76 anos) contou que
vó Amélia foi para São Paulo com sua filha Sebastiana para trabalhar como ama-de-leite.
Ela relatou que após a morte de seu avô, Fabiano Barbosa, sua avó procurou trabalho num
sítio, para onde levou consigo alguns filhos. O trabalho era na roça, e vó Amélia o fazia “como um
homem”, de modo que, ao pedir as contas o patrão não aceitou, pois ela “deu mais dinheiro do que
um homem”. Amélia foi embora mesmo diante da recusa do fazendeiro, afirmando que “Se ele
não me deixar eu passar eu corto ele com a foice e vou embora” (relato de Tia Aninha).
10 Expressão usada pelos quilombolas para se referirem tanto aos avós maternos e paternos diretos, isto é, pais de seus
pais e mães, como a Vó Amélia, Emília e Isaac.
11 As falas das crianças e dos adultos quilombolas estão destacadas em itálico.
192 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

As histórias de trabalho, amparo e união de Amélia e seus filhos, representam para os


quilombolas a necessidade de solidariedade entre as famílias, de proteção da terra e manutenção
de valores, como: força, trabalho, autonomia e liberdade. Uniu-se a essas histórias, a primeira
ação de defesa da terra, diante de uma ameaça de desapropriação.
Na década 1960, Amélia e seus filhos foram alertados pela Prefeitura sobre um débito de
imposto territorial que gerara uma multa de alto valor. Caso eles não pagassem a dívida
perderiam suas terras. Diante do problema, os filhos de Amélia conseguiram um empréstimo
para o pagamento da dívida. Em seguida, todos se uniram para pagar o empréstimo,
plantando eucaliptos no Sítio e juntando suas economias. Esta união familiar em prol da defesa
da terra é parte da narrativa histórica do grupo, que dá sentido à identidade quilombola atual.
Na memória da infância dos adultos, há a lembrança da ajuda no plantio e na colheita dos
eucaliptos para o pagamento do imposto, sob o risco de perder a terra. As crianças que
ali estavam brincando de plantar, colher e carregar os eucaliptos, são hoje os adultos que
participam de ações em defesa da terra quilombola e afirmam a identidade do grupo.
As ações em defesa do território no Quilombo Brotas compõem um conjunto de diferentes
maneiras encontradas pelas comunidades quilombolas brasileiras para defenderem suas terras.
São ações empreendidas por grupos negros, que descendem de histórias atreladas aos
processos decorrentes da escravidão e fora dela; da propriedade territorial como sinônimo de
conquista da liberdade e do direito de viver segundo uma organização social específica.
As comunidades quilombolas são grupos organizados segundo regras próprias, por laços
de parentesco consanguíneo ou não, estabelecidas em terras de moradia e sustento material e
simbólico, que dão o sentido do pertencimento étnico- racial (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ANTROPOLOGIA, 1995).
No Quilombo Brotas, a terra simboliza a descendência de Amélia, uma mulher
batalhadora, guerreira, forte; e de seus pais, que pensaram em “todos os que virão”. A existência
da terra simboliza a autonomia diante da especulação imobiliária, a independência do aluguel, a
possibilidade de viver sem os perigos das ruas da cidade, e de saber que as crianças brincam
com segurança. Com isso, “morar no Quilombo é bom, porque você não paga aluguel”, e porque
“é nosso”, como dizem os adultos.
Transcorridos dez anos do reconhecimento do Sítio Brotas como comunidade
remanescente de quilombo, de acordo com o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
da Constituição Federal de 198812, o grupo está envolvido na valorização de sua história e na
busca de melhores condições de vida. A Associação Cultural Quilombo Brotas, criada em 2003,
para a defesa da terra e seu reconhecimento, mantem a participação em discussões e eventos
regionais, estaduais e nacionais de interesse das comunidades quilombolas. Mantém o diálogo
em defesa do território, acompanhando o processo de titulação da terra, etapa importante
do processo de reconhecimento quilombola, além de se atentarem para as preocupações e
necessidades das comunidades quilombolas vizinhas.
Os moradores do Quilombo Brotas visitam outras comunidades quilombolas, como
Cafundó (Salto de Pirapora-SP), Caçandoca (Ubatuba-SP) e Jaó (Itapeva-SP), em momentos de
festa ou em reuniões de discussão da situação fundiária das terras. Também organizam
o Quilombo para receber visitantes, como estudantes universitários e de educação básica.
Nessas visitas, realizam trilhas pelo Quilombo, contam as histórias dos lugares e dos ancestrais. As
mulheres organizam a alimentação, antes e durante as visitas, e as crianças observam ou ajudam
na venda de produtos e alimentos.
As mudanças ocorridas ao longo do reconhecimento quilombola inauguraram outros
processos de educação e de reflexão acerca da identidade do grupo, os quais revelam, como diz
Dona Ana Maria, que “ser quilombo é bom, mas não é nada fácil”. E, não é fácil, pois tornar-se
quilombola inaugurou novas formas de gestão do tempo e dos espaços pelas famílias, desde
então empenhadas em dizer de si aos interessados, e em participar dos espaços necessários
para o exercício da cidadania negada até o reconhecimento. Também “não é nada fácil”
porque, como disse a menina RL, de 8 anos, vivemos “divisa de terras”, o que significa que o

12 De acordo com esta legislação: Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos (BRASIL, 1997).
193 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

Sítio (Quilombo Brotas) é diferente dos outros sítios, das outras áreas rurais ou urbanas pobres.
A menina quilombola sabe que “a divisa de terras” aponta para uma nova linguagem, que
até então era restrita ao mundo do trabalho na cidade, da compra no supermercado, da ida ao
banco, da solicitação de uma consulta médica ou matrícula na escola, e que se ampliou a partir do
ingresso do grupo no campo jurídico, institucional e político do conflito fundiário, que é antigo,
amplo e complexo, mas que passou a ter novos moldes a partir da Constituição Federal.
Ser quilombola é difícil porque impõe o entendimento de quem se é no jogo de relações
sociais com uma cidade que não os reconhece nem valoriza. Com isso, “não é nada fácil”, pois
exige desconstruir a ideia colonizadora de quilombo como lugar remoto, onde negros escravizados
se refugiavam e, ao mesmo tempo, entender e participar do campo de luta pela titulação das
terras, e por direitos que eliminem as desigualdades sociais e raciais que vivenciam.
Em relação ao Quilombo Brotas, durante o processo de reconhecimento do território como
remanescente de quilombo houve um empreendimento interno na desconstrução da ideia
que o próprio grupo tinha acerca do significado do termo “quilombo”. Os moradores afirmam
ainda hoje que são quilombolas de terra comprada, e o fazem afirmando a compra como algo
legítimo, que de fato aconteceu, mas também para dizerem que não viveram a violência e a
perseguição relativa aos quilombos de fuga.
A ideia do quilombo como lugar de negros fugitivos da escravidão carrega no imaginário dos
quilombolas a afirmação de uma infração, de um crime, que seus antepassados não cometeram.
Quando se depararam com a identificação do então Sítio Brotas como um quilombo, os
quilombolas questionaram a definição que aprenderam e que ainda vigora no imaginário social
acerca do que são os territórios quilombolas. A concepção unívoca, definida pelo Conselho
Ultramarino no século XVIII como lugar de negros reunidos em fuga do trabalho escravizado,
e por isso, negros infratores e criminosos, era a que vigorava no grupo quando houve o processo
de identificação quilombola (LEITE, 2000). Uma concepção que não condizia com a história
da terra e do grupo, e cujo processo de ressignificação local intersecciona com outras realidades
quilombolas brasileiras.
Se a história do grupo, que não envolve a fuga, colocava em questão o significado do
quilombo, o que dizer de uma terra e de um grupo que não está isolado da sociedade envolvente?
Hoje o Quilombo Brotas está, geograficamente, situado dentro da cidade de Itatiba, num bairro
urbano, em meio a grandes empreendimentos imobiliários também urbanos. Seus moradores
trabalham em Itatiba, nas cidades vizinhas e em outras terras, desde os primeiros moradores,
elucidando que nunca houve isolamento do grupo. O que pode ser chamado de “isolamento”
no Quilombo Brotas ocorreu até os anos de 1980, quando o território, estabelecido como um
Sítio, ainda estava distante da cidade, que não tinha sofrido o crescimento urbano subsequente.
O crescimento urbano e suas influências no Quilombo Brotas evidenciam que a ideia
do isolamento das comunidades remanescentes de quilombo é um equívoco. A vida nesses
grupos está, historicamente, atrelada à sociedade que os cerca, às cidades e regiões onde
se situam, à economia que subjaz o cotidiano dos sujeitos desses municípios, que influencia
quilombolas e não-quilombolas.
No Quilombo Brotas, a expansão da cidade nas últimas três décadas levou bairros populares
e de alto padrão para suas cercas. A compra de alimentos, o acesso aos serviços de saúde e às
escolas era feito caminhando até a cidade. Essa distância não os impedia de visitar familiares no
centro de Itatiba, frequentar festas ou adquirir produtos no município. Se assim é no presente, não
foi diferente no passado.
A partir dos relatos dos quilombolas, contidos no Relatório Técnico- Científico (ITESP,
2004), evidencia-se como Amélia frequentava grupos da cidade, mantendo relações que
interligavam o Quilombo à cidade e vice-versa.
Maria do Carmo, neta de Amélia de Lima, conta que sua avó
era uma mulher muito católica que era responsável em
fazer a “reza do defunto”, provavelmente, fazia parte da
Irmandade de São Benedito. Amélia de Lima frequentava a
festa para São Benedito do Largo do Rosário (p. 47).
194 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

Segundo Gonçalves e Silva (2000), as irmandades eram organizações negras dentro do


“movimento de protesto dos negros” que se constituía no início do século XX. Essas organizações
desempenharam importantes papéis junto à população negra do período.
Já no início do século XX, o movimento criou suas próprias
organizações, conhecidas como entidades ou sociedades
negras, cujo objetivo era aumentar sua capacidade de
ação na sociedade para combater a discriminação racial e
criar mecanismos de valorização da raça negra (Ibid., p. 139).

A irmandade em que Amélia participava cuidava de enterros, dentre outras possíveis


atividades de apoio à população negra. Gonçalves e Silva (2000) apontam que as irmandades
também ofereciam educação aos negros no período pós-Abolição
Regina Pahim Pinto, em seu trabalho, nos chama a
atenção para o fato de que a primeira referência à atividade
educacional para os negros aparece, na cidade de São Paulo,
no jornal O Propugnador, em 6 de outurbo de 1907. O texto
informava sobre “aulas oferecidas, no curso diurno e noturno
da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário” (PINTO, 1994, p.
240, p. 142).

As irmandades foram criadas como uma forma de apoiar a população negra, frente
à exclusão de espaços sociais, políticos, religiosos e educacionais. A participação de Amélia
num grupo do “movimento de protesto dos negros” informa como ela transpunha os limites
geográficos do então Sítio Brotas, elucidando os equívocos presentes na ideia do isolamento
das comunidades quilombolas.
A presença de pessoas da cidade no Sítio, parentes ou não, era uma realidade
desde os tempos de Amélia. A memória da infância dos adultos traz pessoas que pediam moradia
temporária no Sítio, e de ônibus que chegavam repletos de pessoas de outras cidades para as
festas do terreiro de Umbanda de Tia Lula.
De acordo com o ITESP (2004):
Segundo os moradores do Quilombo Brotas, seus
antepassados tinham por tradição receber em seu sítio
todas as pessoas que tinham problemas financeiros e não
tinham um lugar para morar. D. Maria conta que sua avó
Amélia costumava ter casinhas de barrote vazias, mas sempre
bem cuidadas que ela emprestava para quem precisasse
morar. As pessoas ficavam um tempo e depois que ajeitavam
a vida elas iam embora (Dona Maria, p. 37).

As festas de terreiro mobilizavam todos os moradores do Sítio entre as décadas de


1960 e 1970. Segundo Tia Lula, “O Sítio ficava cheio de gente dos terreiros” (ITESP, 2004, p.
51). Esse trânsito no território é lembrado com contentamento pelos quilombolas, mostrando,
mais uma vez, como o Quilombo não esteve isolado da sociedade. Esta realidade, que vai
do não isolamento ao diálogo com o universo institucional e jurídico, é caracterizada pela
afirmação do território como quilombo; pela aprendizagem de quem se é e pelo domínio
de uma nova linguagem normativa e legal, que afetou e afeta a vida de todos: crianças e adultos.

Corpo e território na perspectiva das crianças: lugares da identidade


negra e quilombola
Durante a pesquisa sobre a identidade quilombola a partir da representação infantil,
acompanhava as crianças em diferentes espaços e em meio a suas brincadeiras, procurando
entender como representavam o Quilombo e a si mesmas. Numa tarde, reuni-me com quatro
meninas quilombolas: RL (8 anos), AB (12 anos), CT (12 anos) e GN (12 anos)13, na “casinha”, e

13 Idade em 2013.
195 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

conversamos sobre o que gostavam dentro e fora do Quilombo. Animadas, elas passaram a listar
pessoas das quais gostavam, como parentes e amigas da escola.
A menina RL (8 anos) listou primas e meninas da escola. Em meio a sua fala perguntei se
preferia que eu dissesse quilombo ou sítio. Ela afirmou que eu poderia falar sítio. AB exclamou:
“Tanto faz! Uma palavra bem fácil!”, ao que RL completou: “Pode ser QB!”.
Perguntei a ela se aquelas meninas da escola vinham no Quilombo, ao que respondeu
negativamente. Em seguida, indaguei onde dizia que morava, e uma de suas primas respondeu:
“Aposto que no Nações!” – referindo-se a um bairro próximo. Então perguntei se ela falava sítio,
quilombo ou QB, e ela respondeu: “Sítio!”, seguida de uma sequência de gargalhadas. Curiosa,
juntei-me ao coro interessado em saber por que ela ria tanto. RL nos disse, em meio às risadas: “É
que nós se suja muito!”.
Houve silêncio e falas indignadas das meninas. AB exclamou: “Ahhhhhh! Porque nós se suja
muito! Ahhh!” Eu perguntei: “Como assim?”. RL, já recuperada das risadas, foi assertiva: “Eu tenho
vergonha porque eu acho que eles pensam que eu sou muito suja!”.
A fala de RL engendrou um debate entre as meninas, permeado por minhas indagações:

Pesquisadora: Quem acha que você é muito suja? Seus amigos


da escola?
RL: Não, não sei também! (risadas)
CT: Aí, ela nem sabe!
Pesquisadora: Lá na sua escola não tem outras crianças daqui?
AB: Na minha sala tem. São insuportáveis!
CT: Na minha sala tem só uma pessoa.
Pesquisadora: Mas tem problema falar que é daqui do Sítio?
AB: Não. Algumas salas já vieram aqui.
RL: Porque nós se suja muito!
Pesquisadora: Por quê? As crianças que não moram aqui não
se sujam...?
AB: Se sujam!
CT: Parece mais sujo que nós!
Pesquisadora: ... seus amigos que não moram no Quilombo?
RL: Por que eles não vivem divisa de terra, né! Mentira, porque
eles moram... não na rua assim, porque eles têm uma casa...
CT: Nós não moramos debaixo da ponte!
GN: Nós não moramos na mata! Aí ia ser legal, né?!
RL: Tem gente que se não se suja muito quando está de férias
porque ele também... (interrompida pela fala seguinte)
AB: Tá! Entendemos tudo o que você falou!
RL: ... porque eles moram em rua, daí não tem terra na rua, né!
P: E aí eles não se sujam?
RL: ... (silêncio e hesitação para responder)
CT: RL, parece que eles são mais sujo do que a gente!
AB: Tá! Fala você GN!

A resposta de RL inseriu um assunto que foi ao encontro de algumas hipóteses que eu


construía durante a pesquisa, relacionadas aos elementos constitutivos da identidade quilombola
e negra das crianças e dos adultos. Notava entre as crianças um silêncio em relação às experiências
na escola e à referência ao Quilombo dentro dela. Até aquela conversa, poucas vezes as crianças
tinham explicitado a problemática de viver no Quilombo (ou Sítio) e as representações sociais
existentes a partir dele. Dentre as expressões de RL, ressaltei uma que evidenciasse o pensamento
infantil sobre si, o território quilombola e o modo como é representado pelos “Outros”. Por isso,
“Eles não vivem divisa de terras!” indica caminhos para compreender como a infância elabora as
identidades e o modo como a sociedade identifica os quilombolas.
De acordo com Bento (2011, p. 110):
A identificação é o mecanismo fundamental pelo qual se
constitui uma pessoa, ou melhor, um sujeito. Há várias
196 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

identificações simultâneas, que podem ser contraditórias


umas com as outras; identificações comuns a todos os
seres humanos, e específicas de certos grupos, assim como
identificações absolutamente individuais, que nos constituem
como pessoas singulares, únicas.

A expressão de RL apresenta um processo de identificação que traz a terra e os conflitos


fundiários em torno de sua propriedade, e o corpo como lugar que comunica os sujeitos. Em relação
ao Quilombo, a “divisa” indica uma fronteira, uma diferença entre a terra quilombola e outras,
já que “eles”, “os de fora” (não-quilombolas) e da escola, não estão envolvidos na defesa dessa
“divisa”, não são detentores da história que confere essa diferença, e nem da problemática política
e jurídica em torno dela. O termo “divisa” faz parte do universo adulto do Quilombo Brotas quando
conversam sobre a questão da terra ou a cerca que separa o território (comprado e mantido pelos
descendentes de Amélia) do condomínio vizinho e do asfalto. A divisa é uma delimitação geográfica
que já foi alvo de espoliação, e hoje informa sobre um território diferente na cidade, que não
obedece à lógica de compra e venda das outras terras, um território inalienável.
A “divisa” também coloca em questão uma identidade, que a criança quilombola apresenta
para diferenciar “eles” e “nós”. Esta expressão denota uma interação em que o pertencimento do
“Eu” se constrói em relação ao “Outro”, diferente e ao mesmo tempo igual, tendo em vista que,
participa de um campo de produção de representações para si e sobre o outro. Neste sentido,
como diz Gomes (2008, p. 20-21):
A ideia que um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, é
intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros em
decorrência de sua ação. Nenhuma identidade é construída
no isolamento. Ao contrário, é negociada duramente a vida
toda por meio do diálogo, parcialmente exterior, parcialmente
interior, com os outros.

A construção da identidade quilombola da criança envolve a terra e as pessoas de dentro e


fora dela. A terra comunica quem nela vive, constituindo-se como território, ou seja, um lugar que
transcende a dimensão geográfica. Nesta terra há moradias, ruas e pessoas, que RL aponta como
sendo diferentes. Não moram “debaixo da ponte”, mas “eles têm uma casa” que é diferente das
casas quilombolas. Então pergunto: Que diferença é essa, afinal?
A identidade quilombola está ligada à terra e à organização social construída nela através do
parentesco. É permeada por processos de exclusão, desde a escravidão até a atualidade, quando
os sujeitos se veem alijados do direito de permanecerem naqueles territórios secularmente
ocupados. Além disso, diversas comunidades quilombolas mostram que os processos identitários
em construção decorrem também da intervenção e do diálogo com o Estado e a legislação, que
protegem os territórios (GUSMÃO, 1996, SOUZA, 2009).
Assim, pertencer a uma comunidade quilombola é defender uma terra e uma história a
ela atrelada, fazendo parte de uma memória coletiva compartilhada no grupo, e de experiências
identitárias e territoriais vinculadas aos sentidos de ser negro, pobre e do mundo rural.
Nota-se que RL, embora dissesse do quilombo, evidenciou a problemática da identidade
negra ligada aos muitos sentidos do mundo rural. Essa abordagem é trazida por Gusmão (1993), em
pesquisa realizada com as crianças de Campinho da Independência (Paraty-RJ).
Naquela comunidade quilombola, como no Quilombo Brotas, as crianças trouxeram
representações de si construídas na relação com o Outro também presente no contexto escolar.
Por meio de desenhos e escrita, as crianças de Campinho mostraram os muitos sentidos de serem
negras e rurais, em relação ao Outro: branco e urbano. Naquele grupo, para entender os estigmas
e estereótipos construídos, a pesquisadora considerou
de central importância questionar de que forma encontrava-
se estruturado no universo simbólico da criança negra, que
pertence a um grupo possuidor de uma história singular como
grupo negro e camponês e de vivência racial intensa, a sua
percepção de mundo e a compreensão do “outro”: aquele que
197 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

com ele forma a comunidade de pretos e parentes; aquele


que, sendo branco e não pertencendo ao grupo, partilha
com ele a formação escolar básica, em escola da comunidade
(GUSMÃO, 1993, p. 49).

Quando RL relacionou uma visão de si e do quilombo ao que meninas da escola pensariam,


todo o grupo ali presente falava desse espaço educativo formal. Por isso, diante de sua hesitação
(“Não, não sei também!”) em razão de minha pergunta (“Quem acha que você é muito suja? Seus
amigos da escola?”) considero que, entre os sujeitos sociais que comunicam a RL uma forma de
estar no mundo, estão aqueles que convivem com ela no cotidiano escolar. Sentir “vergonha” do
Quilombo porque “eles” pensam que a criança desse lugar é “suja” coloca a problemática da escola
e seus agentes como interlocutores de um campo de comunicação que produz o Quilombo e seus
moradores enquanto sujeitos numa condição de sujidade.
Dessa maneira, como em Campinho da Independência, a escola frequentada pelas crianças
do Quilombo Brotas é um dos lugares em que ela se depara com a inferiorização de si e do território
a que pertence, em oposição ao “Outro”, branco e urbano. Essa realidade evidencia como esse
espaço de educação é fundamental na construção das identidades infantis e, infelizmente, lugar
de produção de preconceitos e estigmatização em relação ao quilombo e ao sujeito que nele vive.
Quando RL afirma: “Eu tenho vergonha porque eu acho que eles pensam que eu sou muito
suja!”, o lugar da sujeira é seu corpo. A sujeira a que ela se refere é a terra que leva para outros
espaços da cidade, como a instituição escolar, pois morar no Quilombo Brotas é transitar por suas
terras, é estar em relação com águas, barro, matas, que “marcam” os corpos.
O pensamento da menina revela a estreita relação entre corpo e território na construção
da identidade infantil, pois os sujeitos de um lugar não podem transitar na escola ou outros
espaços sem o próprio corpo. E, no caso da criança quilombola, trata-se de um corpo negro, cujos
agenciamentos sociais têm produzido estigmas, racismo e discriminação.
Em relação ao corpo negro, Gomes (2008, p. 235) afirma que ele
pode ser considerado como um signo que marca assimetrias
sociais e de desigualdade de distribuição de poder. É o mais
íntimo e mais importante dos signos, uma vez que nunca pode
ser desvinculado da pessoa a que pertence. Assim, a introjeção
de regras sociais, de normas de comportamento, de higiene,
enfim, aquilo que comumente chamamos de códigos de boas
maneiras muitas vezes expressa e difunde valores, modelos de
vida, de higiene e de comportamento de classes superiores
em detrimento das classes trabalhadoras. Em consequência,
gera naqueles que se veem diferentes e distantes de tal padrão
sentimentos e vergonha em relação ao seu próprio corpo, ao
seu estilo de vida e à sua classe em que, acrescentaria, ao seu
próprio grupo étnico/racial.

A menina RL apresenta a percepção que tem acerca de seu corpo negro e quilombola, diante
de padrões de limpeza aceitáveis na sociedade e presentes no universo da escola. Uma leitura
desconectada da realidade quilombola estudada, e da infância nela existente, poderia questionar
o sentido da relação entre o cuidado do corpo e o racismo. No entanto, como diz Gomes (2008, p.
141):
quando o cuidado é sempre vinculado aos sujeitos que
possuem uma aparência física específica, ligada a determinado
pertencimento étnico/racial, ele se torna preocupante.
Quando essa aparência física é vista a priori como suja e sem
higiene, a situação torna-se mais preocupante ainda.

Um corpo negro percebido como sujo pela criança que o possui evidencia uma consciência
corporal infantil, ou seja, a corporeidade em construção num determinado contexto histórico, social,
político e cultural. Apresenta o corpo como lugar de comunicação e com o qual se dão interações
sociais de aceitação ou rejeição (GOMES, 2008). Um corpo que é “simultaneamente vidente (eu
198 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

vejo e eu me vejo) e visível (sou visto)” (p. 232), que é “objeto e sujeito da natureza e da cultura”
(Idem), e nesse sentido, projeta e é percebido pelos sujeitos sociais em interação.
O corpo é um campo de significação onde pairam “as sensações, as pressões, os julgamentos”
(Idem, p. 230), que no caso dos negros, implica em processos históricos de inferiorização e rejeição.
O conjunto de representações sociais negativas em relação à população negra no Brasil decorre de
processos escravistas que, para sustentarem-se, disseminaram a ideia do negro como sujeito sem
alma, animalesco, imoral, promíscuo, sujo, atrasado.
Para Gomes (2008, p. 136):
Tais representações foram se metamorfoseando no decorrer
da história: de incapacidade moral à incapacidade física e
intelectual; de sexualidade exacerbada ao mito da “mulata”
sensual. Fazem parte, portanto, de uma ideologia da
escravidão que, a despeito do momento histórico em que
foi formulada, possui força duradoura e, no Brasil, tem sido
reforçada pela baixa condição social e econômica na qual se
encontra a maioria dos negros desde a abolição.

O corpo negro da criança quilombola é esse lugar que comunica de onde ela vem: uma
comunidade negra, cujas moradias estão em ruas de terra, e os moradores vivem em condições
sócio-econômicas baixas. Ela é uma criança que traz em seu corpo a terra, considerada como
sujeira, em oposição à limpeza e ao asfalto da cidade. Mas, o que de fato está em jogo nessa auto-
identificação é a conotação moral atribuída à limpeza e à sujeira, e a relação com os sujeitos sociais
negros.
De acordo com Gomes (2008), foi com a transformação das cidades, que o termo “limpo”
passou a significar ”distinção, elegância, ordem”, de modo que “A limpeza das coisas passa a ser um
indicador da limpeza da alma e crescentemente se admite que um povo limpo é também ordeiro e
disciplinado” (p. 140).
Para a autora, a sociedade higienizada produz hierarquias que resultam na associação sujeira-
poluição-imoralidade com um determinado grupo social e racial. Na pesquisa realizada sobre corpo
negro e cabelo crespo14, a autora reconheceu a existência de uma hierarquização no modo como
os sujeitos da pesquisa se identificavam, ressaltando a maior aceitação social de seus corpos, desde
que bem aparentados e limpos. Nesse sentido, ela afirma:
é impossível não lembrar de que a acusação de sujeira física,
moral e da “alma” tem sido historicamente imputada ao
corpo do negro e da negra em nossa sociedade. Muitas vezes,
essa leitura racista é introjetada pelo próprio negro. Uma
análise detalhada dessa situação revela-nos que a relação
negro = sujeira é a expressão de relações raciais e de poder
assimétricas. Aquele que acusa o outro de impureza, quer seja
social, quer seja racial, está reivindicando para si próprio a
ideia de superioridade (GOMES, 2008, p. 140).

Bento (2011), discutindo a construção da identidade da criança negra, problematiza a


construção de seu corpo a partir da relação com a sujeira, que leva à rejeição. Para a autora, a
identidade da criança negra está atrelada a uma imagem que ela constrói de si a partir de seu corpo.
Assim, se as experiências com ele implicam em discriminação, aprende-se a rejeitá-lo e a buscar o
corpo branco, que “vai sendo reforçado como norma, como belo, como corpo humano universal”
(p. 112).
Frente a uma sociedade que rejeita o corpo negro, pode-se inferir que a criança quilombola
se protege quando não traz suas colegas de escola para conhecer o território. Ela pensa seu corpo
na relação com os “Outros” e anuncia uma rejeição identitária recorrente em muitas relações
étnico-raciais brasileiras. Diz, de maneira implícita, que seu corpo negro não é aceitável pelos “de
fora”, os da escola, pois além de ser um corpo construído socialmente para ser rejeitado, possui as
marcas do mundo rural, concebido na sociedade moderna como oposto à cidade e ao asfalto.
14 Pesquisa realizada em salões de beleza de Belo Horizonte (MG), a partir de relatos de mulheres e homens negros.
199 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

Algumas considerações...
A partir do processo histórico e político de conquista e defesa das terras do Quilombo
Brotas, apresentei neste artigo a especificidade desse território e aspectos das relações sociais que
traduzem sua territorialidade e a identidade do grupo. O que dizem as crianças sobre o modo como
são percebidas pelos de fora, especificamente, da escola, revela um processo de negação do corpo
negro e do quilombo enquanto símbolo de atraso e em oposição ao desenvolvimento da cidade.
O modo como a criança reage a tal processo de exclusão e preconceito racial revela os
agenciamentos infantis diante das experiências vividas, de modo a evitar a exposição à negação
e à discriminação, revelados como pensa a si mesma na relação com o outro. Assim, ao “achar”
que é vista na perspectiva da sujidade, a criança aponta como seus olhos percebem a maneira
como é vista pelo outro, de fora e morador do asfalto da cidade, detentor de outra história, que
não passa pela escravização, a identidade negra, a história atrelada ao universo rural que afronta o
ideal de desenvolvimento. Afinal, o quilombo se opõe à propriedade privada, ao desenvolvimento
e progresso que representa.
Ao “achar” que seu corpo e o território onde mora são lugares da recusa, a criança mostra
como faz parte de uma sociedade que aloca negros e suas histórias à margem. Ao mesmo tempo,
na medida em que, a criança não convida este Outro ao quilombo por “achar” que ele é visto na
perspectiva negativa, ela revela como seleciona com quem compartilha sua história. Aquele é o
Outro com quem não se fala sobre si, mas há Outros com os quais compartilha com alegria e na
perspectiva afirmativa, a sua história, seus antepassados, suas brincadeiras, descobertas e saberes
sobre o Quilombo.
Assim, tanto RL como as crianças do Quilombo Brotas estão imersas em diferentes processos
educativos que informam sob abordagens diversas, quem são e quem é o Outro. Se de um lado,
a escola é o espaço da negação, da distorção histórica e do silenciamento acerca do negro e do
Quilombo, de outro, os espaços de militância quilombola, os grupos culturais, os visitantes e
pesquisadores, os jornalistas e diferentes estudiosos chegam para ouvi-las, para aprender com elas
e seus familiares, mostrando como são importantes sujeitos históricos.
Os caminhos pelos quais a pesquisa com as crianças do Quilombo Brotas me levaram
perpassaram também a importância da implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Escolar Quilombola, aprovadas em novembro de 201215. A partir da realidade do
Quilombo Brotas, lidas sob “a ótica” da criança, que nos diz como seu corpo é representado na
escola, urge implementar os ditames da legislação educacional voltada para estudantes quilombolas
e as escolas situadas dentro de seus territórios, uma vez que, o respeito e o diálogo entre saberes
escolares e saberes quilombolas são fundamentais para a garantia dos direitos dessas populações e
o reconhecimento de suas especificidades.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA. Terra de Quilombos. Rio de Janeiro: DECANIA CFCH/UFRJ,
Julho 1995.

BENTO, Maria Ap. S.. A identidade racial em crianças pequenas. IN: BENTO, Maria Aparecida S. (orgs.).
Educação Infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos políticos, jurídicos, conceituais. São Paulo:
CEERT, 2011, p. 98-117.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. 16. ed.
São Paulo: Saraiva, 1997.

COHN, Clarice. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

CORSARO, Willian A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

DELALANDE, Julie. Aprender entre crianças: o universo social e cultural do recreio. IN: LOPES, Jader J. M.,
MELLO, Marisol B. de. (orgs.). O jeito que nós crianças pensamos sobre certas coisas: dialogando com

15 Resolução CNE/CEB nº. 8, de 20 de novembro de 2012.


200 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

lógicas infantis. RJ: Rovelle, 2009, p. 23-41.

GOBBI, Márcia. Lápis vermelho é de mulherzinha: desenho infantil, relações de gênero e educação
infantil. 1997. Dissertação (Mestrado em Educação). Campinas: SP, Faculdade de Educação/UNICAMP,
1997.

GOMES, Nilma L. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.

GUSMÃO, Neusa M. M. de. Socialização e recalque: a criança negra no rural. Cadernos CEDES.
Campinas, n.32, 1993.

ITESP. Instituto de Terras do Estado de São Paulo. Relatório Técnico-Científicos sobre os Remanescentes
da Comunidade de Quilombo Brotas/Itatiba-SP. Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo
“José Gomes da Silva”. Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania. São Paulo, nov./2004.

FINCO, Daniela; FARIA, Ana Lúcia G. Sociologia da Infância Brasil. Campinas: SP, Autores Associados, 2011.

KUPER, Adam. Cultura, a visão dos antropólogos. Bauru, SP: EDUSC, 2002.

LEITE, Ilka B.. Os quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas. Textos e Debates. Florianópolis:
UFSC (Núcleo de Estudos sobre Identidade e Relações Interétnicas), n.° 07, 2000.

MARTINS, José de Souza. O Massacre dos Inocentes – a criança sem infância no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Hucitec, 1993.

NOAL, Miriam L. as crianças guarani/kaiowá – o mito reko na Aldeia Pirakuá/MS. 2006. Tese (Doutorado
em Educação). Campinas:SP, Faculdade de Educação/UNICAMP, 2006.

NUNES, Ângela. No tempo e no espaço: brincadeiras das crianças Aúwe Xavante. IN: SILVA, Aracy L. (org.).
Crianças indígenas: ensaios antropológicos. São Paulo: Global, 2002, p. 64-99.

OLIVEIRA, Fabiana. Um estudo sobre a creche: o que as práticas educativas produzem e revelam
sobre a questão racial? 2004. Dissertação (Mestrado em Educação). São Carlos: CECH/UFSCar, São
Carlos, 2004.

PAULA, Elaine de. “VEM BRINCAR NA RUA!” Entre o Quilombo e a Educação Infantil: capturando
expressões, experiências e conflitos de crianças quilombolas no entremeio desses contextos. 2014.
Tese (Doutorado em Educação). Florianópolis: Centro de Ciências da Educação/PPGE/UFSC, 2014.

PIRES, Flávia. Quem tem medo de mal-assombro? Religião e Infância no Semiárido Nordestino. 2007.
Tese (Doutorado em Antropologia Social). Rio de Janeiro. PPGAS – Museu Nacional/UFRJ, 2007.

PRADO, Patrícia D. Contrariando a idade: condição infantil e relações etárias entre crianças pequenas
da Educação Infantil. 2006. Doutorado. Campinas: SP, Faculdade de Educação/UNICAMP, 2006.

SARMENTO, Manuel J. Gerações e Alteridade: interrogações a partir da Sociologia da Infância. Educação


& Sociedade. Campinas: SP, vol. 26, n. 91, p. 61-378, Maio/Ago. 2005.

SOUZA, Márcia L. A. de., GUSMÃO, Neusa M. M. de. Identidade quilomvbola e processos educativos presentes
num quilombo urbano: o caso do Quilombo brotas. Educação & Linguagem, São Bernardo do Campo, v.1, n.
1 (1998), p. 75-93, 2010.

SOUZA, Márcia L. A. de. Educação e Identidade no Quilombo Brotas. 2009. Dissertação (Mestrado em
Educação). Campinas: SP, Faculdade de Educação/UNICAMP, 2009.

SANTIAGO, Flávio. O meu cabelo é assim... igualzinho o da bruxa, todo armado: hierarquização e racialização
201 Revista Humanidades e Inovação v.4, n. 3 - 2017

das crianças pequenininhas negras da educação infantil. 2014. Dissertação (Mestrado em Educação).
Campinas: SP, Faculdade de Educação/UNICAMP, 2014.

Recebido em 3 de julho de 2017.


Aceito em 21 de setembro de 2017.

Você também pode gostar