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leticia 4 HEPATITE A
Introdução
A infecção pelo vírus da hepatite A (HAV) provoca uma doença aguda autolimitada e não causa hepatite crônica.
Ocorre tanto de forma esporádica quanto epidêmica.
A distribuição é mundial, contudo, há grandes diferenças regionais. No mundo, encontram-se áreas de risco muito
alto, alto, intermediário e baixo. Por exemplo, áreas de risco muito alto compreendem a África subsaariana e sul da
Ásia; áreas de risco alto são América Latina, Ásia Central, norte da África e Oceania; áreas de risco intermediário
compreendem sudeste da Ásia, Leste Europeu, leste da Ásia e Caribe; e áreas de risco baixo, Ásia-Pacífico,
Austrália, Europa Ocidental e América do Norte.
luise 5 etiIologIa
O HAV é um enterovírus do tipo RNA com 27 nm de diâmetro e não possui envelope. É membro da família
Picornaviridae, gênero Hepatovirus.
ciclo de vIda
O HAV é estável em pH ácido e resistente ao calor moderado, permitindo ao vírus sobre- viver no meio ambiente.
Esse vírus, assim como outros picornavírus, é órgão-específico, apesar de ocorrerem raras manifestações
extra-hepáticas. Após a ingestão, as partículas virais alcançam o fígado pelo sistema portal e são leva- das aos
hepatócitos, onde se replicam e são secretadas para os canalículos biliares, dos quais passam para o ducto biliar e o
intestino delgado. Após alcançar o intestino, os vírus são eliminados nas fezes e sobrevivem nas mãos humanas e
fômites.
O ciclo êntero-hepático continua até os anticorpos neutralizarem os vírus e outros mecanismos imunes interromperem
o ciclo.
DIAGNÓSTICO:
Clínica e laboratorialmente, a infecção pelo HAV é indistinguível de outras formas de hepatite viral. O diagnóstico da
infecção aguda é sorológico, baseado na detecção de anti- corpos específicos no soro (anticorpo anti-HAV IgM), na
presença de doença sintomá- tica ictérica ou não, ou em assintomáticos com elevação de aminotransferases. Esse
teste tem altas sensibilidade e especificidade. O anti-HAV IgM é detectado em mais de 99% dos casos, 5 a 10 dias
após a exposição e declina em 12 (usualmente 6) meses (Figura 3.1). O antígeno do HAV pode ser detectado nas
fezes ainda no período de incubação da doença e permanece por cerca de 10 dias após o aparecimento do quadro
clínico, porém sua detecção não faz parte da rotina laboratorial.
Os níveis de aminotransferases aumentam rapidamente durante o período pro- drômico, usualmente acima de 500
UI/L. Como consequência, as aminontransferases diminuem aproximadamente em 75% em poucas semanas, após
o que o declínio é mais lento. As bilirrubinas séricas atingem seus valores máximos, usualmente menores que 10
mg/dL, após o pico de aminotransferases. Na sequência declinam, porém, menos rapi- damente que as
aminotransferases. Esse período de icterícia tende a ser curto, inferior a 2 semanas em 85% dos casos.
Os picos de anticorpos anti-HAV IgM são alcançados na fase aguda ou de convales- cença precoce e declinam logo
depois. Frequentemente desaparecem 3 a 4 meses após o início do quadro clínico, porém podem persistir por mais
de 6 meses (em menos de 25% dos casos). O anti-HAV IgG alcança seus picos durante a fase de convalesça e
usualmente permanece detectável com declínio lento por décadas.
Aproximadamente 66% evoluem com cura completa em 2 meses, 85% em 3 meses e quase todos em 6 meses.
Tratamento
• Não há tratamento específico;
•medicação sintomática pode ser prescrita: antieméticos, se vômitos e antitérmicos, se febre.
HEPATITE B
giovana 10 Introdução
A incidência da hepatite B aguda nos Estados Unidos diminuiu de 8,5 casos por 100.000 habitantes em 1990 para
1,5 casos por 100.000 habitantes em 2007 em todos os grupos etários, principalmente em menores de 15 anos,
como resultado da vacinação iniciada em 1991 e rastreamento de rotina nos doadores de sangue. As taxas de
hepatite B aguda continuam altas entre os adultos de 30 a 44 anos, o que reflete a necessidade de vacinar essa
faixa etária.
A maioria dos pacientes sintomáticos evolui para resolução espontânea, e o trata- mento não é necessário. A
hepatite B aguda pode apresentar-se de forma grave e progre- dir para insuficiência hepática em aproximadamente
1% dos casos. Quando há sinais de gravidade e disfunção hepática com necrose extensa, a taxa de mortalidade é
de apro- ximadamente 80%, e o tratamento é recomendado para diminuir o risco de progressão para insuficiência
hepática fulminante com indicação de transplante hepático.
raissa 11 Etiologia
A hepatite B é causada por um vírus do tipo DNA (vírus da hepatite B – HBV), pertence à família Hepadnaviridae,
com aproximadamente 42 nm de diâmetro. O genoma do HBV possui regiões que codificam a síntese de várias
proteínas: pré-S1, pré-S2 e S, que codificam a síntese do antígeno de superfície (HBsAg); região P, responsável
pela síntese da enzima DNA polimerase; região X, que codifica a proteína X, cuja função ainda não está bem
estabelecida; e regiões pré-C e C, responsáveis pela síntese dos antígenos e do vírus HBV (HBeAg) e core do HBV
(HBcAg), respectivamente. O organismo humano reage contra os diferentes antígenos do HBV por meio da
produção de anticorpos espe- cíficos: anti-HBs, anti-HBe e anti-HBc, este último das classes imunoglobulina M (IgM)
e imunoglobulina G (IgG).
leticia 4 Diagnóstico
Clínica e laboratorialmente, a hepatite B é indistinguível de outras formas de hepatite viral aguda. O diagnóstico da
infecção aguda é sorológico, baseado na detecção de antígenos e anticorpos específicos no soro. O diagnóstico de
infecção aguda pelo HBV baseia-se na positividade do HBsAg e do anticorpo contra o antígeno core do HBV (anti-
-HBc) da classe IgM, como demonstrado na Tabela 4.1 e na Figura 4.1.
Na fase inicial da hepatite B aguda, o primeiro marcador presente no soro é o HBsAg, seguido do HBeAg, que reflete
a intensa replicação viral dessa fase. Concomitantemente à instalação do quadro clínico, surge o primeiro anticorpo,
anti-HBc IgM, que perma- nece positivo por cerca de 4 a 6 meses. Nos casos que evoluem para cura, as amino
transferases normalizam, o HBeAg torna-se negativo, surge o anti-HBe e, finalmente, o anticorpo anti-HBs, que
confere imunidade à doença, passa a ser detectado após o 6o mês (Figura 4.1).
Entretanto, em cerca de 10% dos casos, a infecção pelo HBV evolui para a cronici- dade, com persistência do HBsAg
por um período superior a 6 meses (ver Capítulo 9 – Tratamento da hepatite B crônica).
mateus 6 lamivudina
A dose recomendada é de 100 a 150 mg/dia. Não apresenta efeitos colaterais signifi- cativos. O tratamento pode ser
suspenso após a negativação do HBsAg em dois testes consecutivos com intervalo de 4 semanas. Além da
lamivudina, são opções aceitáveis o entecavir 0,5 a 1 mg/dia e o tenofovir 300 mg/dia, sempre em esquemas de curta
duração e com atenção ao controle da função renal durante o uso do tenofovir. Não há estudos, até o momento,
comparando essas diferentes drogas na abordagem da hepatite B aguda grave, e todas as opções parecem ser
igualmente eficazes.
otavio 7 interferon
O interferon deve ser evitado, em razão do aumento do risco de necroinflamação hepá- tica e também está
contraindicado na insuficiência hepática.
victor 8 HEPATITE C
Introdução
Os principais fatores de risco para transmissão do vírus da hepatite C (HCV) estão virtualmente controlados, mas
novas infecções ainda ocorrem. Entre os mais frequentes modos de infecção atualmente observados, estão: o uso de
injeções não seguras por usuários de drogas ilícitas injetáveis e procedimentos invasivos hospitalares. Estudo
recentemente publicado identificou que estes últimos são os principais fatores associados a novas infecções pelo
HCV no Brasil.
Definição:
A hepatite aguda C é assintomática na maioria das vezes, e a ausência de um marcador de infecção aguda torna
ainda mais difícil seu diagnóstico. Tradicionalmente, define-se uma hepatite C como aguda quando: há soroconversão
documentada do anti-HCV; há positivação do HCV-RNA, a partir de 2 semanas da exposição; há uma hepatite aguda,
com anti-HCV e/ou HCV-RNA positivo, em que outras cau- sas tenham sido afastadas e haja fator de risco para a
aquisição da infecção.
giovana 10 Tratamento
Pode haver muitas diferenças entre eles, no que diz respeito a início, esquemas e tempo de tratamento, todos têm
demonstrado taxas de resposta virológica sustentada (RVS) bem superiores àquelas descritas para portadores
crônicos do vírus.
Um estudo clássico que incluiu 44 pacientes, com início do tratamento em torno de 90 dias após a infecção, utilizando
interferon-alfa (IFN-alfa) convencional em monoterapia, na dose de 5 MU/dia nas primeiras 4 semanas, seguidos da
mesma dose 3 vezes/semana por mais 20 semanas, obteve taxa de RVS de 98%. Esse tem sido o esquema
recomendado pelo Ministério da Saúde para tratamento da hepatite aguda pelo HCV.
A utilização do IFN peguilado (Peg-IFN) em monoterapia também apresenta taxas de RVS elevadas (68 a 94%), com
o diferencial da melhor comodidade posológica de injeções apenas 1 vez/semana. A associação com ribavirina não
mostrou acréscimos nas taxas de RVS, independentemente do tipo de IFN utilizado, desse modo não se justifica sua
utilização. Em casos em que houver dúvida se a infecção é crônica, indica-se a asso- ciação com ribavirina.
Em portadores de insuficiência renal crônica em diálise, os últimos estudos publi- cados têm demonstrado que o uso
de Peg-IFN alfa-2a (135 mcg/semana) ou alfa-2b (1 mcg/kg/semana) durante 24 semanas apresenta taxas de RVS de
40 a 89% em portadores de hepatite C aguda. Apesar de estudos com o uso de IFN convencional ter apresentado
taxas de RVS semelhantes, o uso de Peg-IFN é mais indicado por causa da comodidade posológica e pelo fato de ter
apresentado menos efeitos adversos quando comparado com IFN convencional.
Para os candidatos a transplante renal e com situações de contraindicação ao uso do IFN, o transplante deve ser
adiado por 12 meses, se possível, pois a imunossupressão pode levar a um desfecho desfavorável da hepatite C
aguda, com rápida progressão da doença.
Os esquemas para tratamento da hepatite C aguda em pacientes com e sem insuficiên- cia renal crônica estão
demonstrados na Tabela 5.1.
HEPATITE D ou delta
raissa 11 Introdução
Há mais de 30 anos, Mario Rizzetto et al. descreveram um novo antígeno no fígado de pacientes portadores do
vírus da hepatite B (HBV), chamado antígeno delta (HDAg). O agente foi identificado como mais um causador
de hepatite viral, compondo, com os vírus A, B, C e E, o conjunto dos vírus hepatotrópicos. Atualmente,
observa-se um inte- resse emergente em hepatite D por causa dos movimentos populacionais migratórios. A
doença causada pelo vírus da hepatite D (HDV) é possivelmente a mais grave das hepatites virais.
gabriel 1 epIdemIologIa
A infecção pelo HDV tem distribuição mundial, com áreas de maior endemicidade em alguns países da América
do Sul (Bacia Amazônica), do Mediterrâneo, na Romênia e determinadas partes da África do Sul e Central.
Estima-se que até 5% da população mundial, 350 milhões de pessoas, esteja infectada pelo HBV e
provavelmente 5% dos portadores do HBV têm superinfecção pelo HDV. Nas regiões de alta endemicidade, a
superinfecção pode ser encontrada em mais de 50% daqueles que procuram atendimen- to médico com
hepatopatia crônica pelo HBV. O HDV compartilha as mesmas vias detransmissão do HBV, por meio da
exposição parenteral, sexual e percutânea a sangue ou fluidos corporais. A transmissão perinatal do HDV é
rara. Vários guidelines sugerem que todo paciente positivo para o antígeno de superfície do vírus da hepatite B
(HBsAg) deve ser testado para anticorpos anti-HDV.
Têm sido descritos oito diferentes genótipos para o HDV, numerados de 1 a 8. Na Amazônia Brasileira foram
encontrados os genótipos 1 e 3. Os diferentes genótipos pare- cem influenciar na evolução da doença, por
exemplo, os genótipos 1 e 3 estão associados com formas mais graves da hepatite delta. Não há interação
específica entre os genóti- pos do HDV e HBV, a coinfecção reflete meramente os genótipos mais
frequentemente encontrados em determinada área geográfica. Entretanto, maior potencial patogênico pode
ocorrer entre associação de genótipos, como o descrito para a combinação dos genótipos HDV-3 e HBV-F,
relacionados com apresentação fulminante da hepatite delta na América do Sul.
amanda 2 patogênese do vírus da HepatIte delta Hdv
O HDV é um vírus defectivo, o qual precisa da ajuda do HBV para infecção e replicação viral. O mecanismo
patogênico do HDV não é muito bem compreendido. Na fase aguda da doença, o HDAg ou o HDV-RNA pode
ser diretamente citotóxico ao hepatócito. No estágio crônico, a detecção de células inflamatórias ao redor dos
hepatócitos infectados e o achado de vários autoanticorpos no soro desses pacientes, sugerem a possibilidade
de envolvimento da resposta imune na patogênese do HDV.
luise 5 Tratamento
A hepatite fulminante, o único tratamento é o transplante hepático.
A hepatite crônica D deve ser sempre tratada, e a terapia à base de interferon-alfa recombinante (IFN alfa)
representa a única opção de tratamento. Entretanto, algumas considerações precisam ser feitas: • há grande
limitação na interpretação dos estudos publicados, as amostras são peque- nas, geralmente sem
grupo-controle e sem uma análise do HDV-RNA padronizada;
• o tempo ideal de tratamento permanece indefinido, mas há consenso que o tempo mínimo de tratamento seja
de 1 ano;
• o tratamento só pode ser seguramente interrompido quando o HBsAg desaparece no soro; • o benefício do
IFN estende-se além do término da terapia, com aumento da sobrevida mesmo naqueles com cirrose
pré-tratamento;
• não se conhece a influência do genótipo do HDV sobre a resposta ao IFN;
• a terapia à base de IFN deve ser oferecida tão logo a fase aguda seja resolvida, dada a alta taxa de evolução
para cirrose;
• as taxas de resposta bioquímica, virológica e histológica têm sido proporcionais à dose do IFN, pacientes
tratados com 9 MU, 3 vezes/semana, respondem melhor que com 3 MU, 3 vezes/semana; • as taxas de
resposta virológica sustentada (RVS) variam entre 9 e 50%; • recaídas bioquímica e virológica são comuns
quando o IFN é reduzido ou suspenso, ocorrendo em 50 a 60% dos pacientes;
HEPATITE E
otavio 7 Introdução
A infecção pelo vírus da hepatite E (HEV) tipicamente causa hepatite aguda com recu- peração espontânea em
quase todos os casos. Poucos casos evoluem com insuficiência hepática aguda. A doença predomina em
países com climas tropicais e subtropicais, porque a transmissão é principalmente fecal-oral. Recentemente, foi
descrita infecção crônica pelo HEV, com evolução para cirrose ou doença hepática terminal, em situações
clínicas seletas, sendo que, em todos os casos, a imunodepressão é a característica predominante, como
ocorre nos casos de quimiotera- pia ou uso de imunossupressores, em transplantados, principalmente de
órgãos sólidos.
raissa 11 Tratamento
Não há tratamento específico para infecção aguda pelo HEV. Como o conhecimento da cronicidade desse
vírus é recente, ainda faltam dados para a terapêutica da infecção crô- nica. A eliminação viral depende do
desenvolvimento de imunidade humoral e celular, o que pode ser obtido mediante a diminuição das doses de
imunossupressores. Alguns estudos comprovam redução na carga viral com uso combinado de interferon
peguilado e ribavirina ou monoterapia com ribavirina.
O uso de interferon representa risco para rejeição do órgão transplantado, o que torna esse um medicamento
de segunda escolha nesse caso. Tal situação evidencia a necessidade de mais estudos na abordagem
terapêutica.