Nas Águas Do Rio Negro - Drauzio Varella
Nas Águas Do Rio Negro - Drauzio Varella
Nas Águas Do Rio Negro - Drauzio Varella
Rio Negro
Perdido na mata
O relincho
A planta protetora
Os macacos
O rodamoinho
O encantamento
O mundo dos botos
A festa
A sumaúma
Tentei explicar para a mula, com palavras e gestos, que era necessário
achar uma casa e pedir emprestadas as ferramentas para rodar a cabeça, mas
ela não entendia. Mulas acham a linguagem dos homens muito difícil.
Quando estava quase desistindo, ela abaixou o corpo para que eu
montasse e disparou com a cabeça virada para mim. É muito estranho
galopar com os olhos de uma mula encarando os nossos.
Agora que me apoiava com mais firmeza, o galope ficou ainda mais
agradável. Uma infinidade de cipós e árvores altas e imponentes passava por
mim em câmera rápida.
Fomos parar numa praia do rio de areia tão fina que cantava nos cascos
do animal. Numa elevação do terreno ao longe, avistei uma casinha de
madeira coberta de palha de coqueiro.
A mula estancou, e a cabeça começou a relinchar, como se quisesse me
avisar de algum perigo. Fiz de tudo para seguirmos nosso caminho, mas as
mulas são teimosas: quando empacam, não há quem as tire do lugar.
Desci e caminhei na direção da casa. Os relinchos ficaram mais
repetitivos. Como não entendo a língua das mulas, segui em frente.
A casa parecia vazia. Bati palmas e gritei de longe. Ninguém apareceu.
Fui me aproximando da porta. Bem na entrada, havia uma planta com folhas
enormes, amareladas, cheias de manchas escuras.
Achei aquilo muito esquisito: uma planta com manchas escuras
obstruindo a passagem!
Um passo a mais, escutei um urro. Olhei ao redor, não vi nada. Olhei de
novo. Nada. Outro urro.
Eis, porém, que de repente a planta se transformou numa onça-pintada
que me encarou ameaçadora. Era a planta que protege as casas e vira uma
fera quando um estranho se aproxima.
Dei meia-volta e corri o mais rápido que pude. Ela avançou,
resfolegando, e disparou atrás de mim. Não havia como escapar, onças
correm muito mais do que gente.
O animal chegou tão perto que pude sentir o calor de sua respiração em
minhas costas. Achei que seria o fim. Quando ia me virar para enfrentá-la, vi
a mula vindo em meu socorro. De nada adiantaria, pensei, mulas não
vencem onças.
Para minha surpresa, entretanto, ao ver a cabeça da mula virada para trás,
a onça parou assustada, deu um urro comprido e fugiu a toda velocidade de
volta para casa.
OS MACACOS
Mesmo sem saber para onde ela me levava, voltei a montar na mula que
salvara a minha vida. Era melhor do que ficar sozinho outra vez, exposto
aos perigos da floresta.
Eis, porém, que de repente ouvimos uma gritaria ensurdecedora vinda da
copa de uma seringueira, a árvore de onde se extrai a seiva que dá origem à
borracha. A mula parou e olhou para cima, preocupada.
Um bando de macacos-prego saltou sobre nós. Um deles roubou meu
boné e fugiu pelos cipós, outro desamarrou minha bota enquanto um
terceiro tentava arrancar minha camiseta do São Paulo.
O que mais chamou a atenção da macacada, entretanto, foi a cabeça da
mula fora do lugar. Não adiantaram os relinchos dela nem os meus berros
para espantá-los. Em vez de sentir medo como a onça, eles acharam
engraçado: agarravam e puxavam o pescoço e a cabeça para todos os lados.
Ela corcoveava para derrubá-los, mas o único a cair fui eu. Os macacos
continuaram pulando em seu dorso na maior farra.
Nem bem consegui me levantar, assisti a uma cena que ficará para
sempre em minha memória: a algazarra dos macacos pendurados no
pescoço da mula foi tanta que eles acabaram por torcê-lo de um jeito que a
cabeça virou para a frente. A mula se encheu de alegria, e eu pude montar
nela de novo.
Seguimos pela floresta e, finalmente, chegamos ao rio. Ela curvou o
corpo para eu descer e fez sinal com a cabeça para que eu o atravessasse
numa canoa que estava amarrada na margem. Roçou o corpo em meu braço
— carinho que retribuí esfregando os dedos em sua crina —, relinchou,
levantou os olhos na direção das nuvens e foi embora passo a passo.
O RODAMOINHO
O boto fez igualzinho à mula sem cabeça: entrou no meio das minhas
pernas. Nadou pela superfície até o meio do rio; depois, afundamos.
Estávamos submersos, mas eu não sentia aflição nem falta de ar.
Deslizamos sob as águas escuras, em companhia de tambaquis,
curimatãs, surubins de mais de um metro, matrinxãs, tucunarés ferozes e
enormes pirarucus, um dos maiores peixes amazônicos. Passamos no meio
de tracajás — tartarugas que vivem nos rios — e vimos uma infinidade de
peixinhos coloridos que se afastavam ariscos.
Era tanta beleza que eu não sabia para que lado olhar. Nem me preocupei
em saber para onde meu companheiro me conduzia.
Eis, porém, que de repente, lá nas profundezas, surgiu uma luminosidade
que se intensificava cada vez mais. Achei aquilo muito esquisito: luz no
fundo do rio Negro!
Mais à frente, uma nuvem esbranquiçada, espessa como a neblina das
serras, encobria o que estava por trás dela. Demoramos para atravessá-la,
mas, quando pude enxergar com nitidez, tive a visão mais incrível que um
ser humano pode imaginar: a Cidade Encantada dos Botos.
Já tinha ouvido os indígenas falarem dela, mas não acreditei que
existisse. Agora, eu a via com meus próprios olhos.
As ruas eram revestidas de prata; as casas, construídas com ametistas,
topázios azuis e águas-marinhas verde-claro; os postes, feitos de ônix com
rubis luminescentes no topo. As árvores tinham folhas de esmeraldas de
todos os tamanhos e flores de diamantes cor-de-rosa. Os cipós eram colares
de pérolas que pendiam dos galhos. No fim da rua principal apareceu um
castelo de ouro com duas torres altas, cravejadas de brilhantes, que emitiam
raios com as cores do arco-íris.
Centenas de botos nadavam apressados pelas ruas, passeavam pelas
calçadas com os filhotes, conversavam nas esquinas, entravam e saíam das
casas. Mal nos viam, desviavam para abrir caminho.
Na porta de entrada do castelo havia um boto-guarda. O boto que me
levava emitiu um sinal sonoro. O outro digitou um número no celular e o
portão se abriu numa fração de segundo.
Atravessamos um pátio amplo, cruzamos uma roda de botos mais velhos
confabulando na parte central e entramos numa ala que levava a um corredor
com várias salas. Para um médico como eu, foi fácil reconhecer que se
tratava de um hospital.
Numa das salas havia uma maternidade com berçário, onde as fêmeas
amamentavam os filhotes recém-nascidos. Botos não são peixes, mas
mamíferos como nós. Noutra sala, enfermeiras davam comida na boca dos
doentes e dos velhinhos que mal conseguiam nadar.
No fim do corredor vi uma sala de operações. Sobre a mesa de cirurgia,
uma fêmea cor-de-rosa respirava com bastante dificuldade, rodeada por três
botos-médicos. Em seu peito, uma flecha espetada até a metade. Ferimento
grave.
Só então compreendi o encantamento da moça de vestido esvoaçante, na
beira do rio, e o olhar irresistível do boto que me trouxera para aquele lugar:
esperavam que eu tratasse da fêmea ferida. Sem um médico humano o
ferimento seria mortal, já que botos não têm mãos para puxar flechas
encravadas no corpo.
A paciente tinha perdido muito sangue. Pedi que a segurassem com
firmeza, agarrei a flecha com as duas mãos e puxei com todo o cuidado.
Assim que consegui retirá-la, despi minha camiseta do São Paulo e com ela
comprimi o local para estancar o sangramento. A fêmea estava tão fraca que
pouco reagiu, deu apenas um suspiro prolongado. Fiquei com medo de que
não sobrevivesse.
Nessa hora, um dos botos-médicos trouxe uma garrafa de cristal com um
remédio azul. Com delicadeza, introduziu-a na boca da paciente que,
devagar, conseguiu tomar o líquido. Quando terminou, seus olhos se
movimentaram e o calor voltou ao corpo cor-de-rosa. Estava salva.
A FESTA
Sou apaixonado pelo rio Negro, por suas águas escuras que refletem
como espelho o céu, as nuvens e o recorte das florestas mais preservadas da
Amazônia.
É o terceiro maior rio do mundo. O volume de suas águas é maior do que
o de todos os rios da Europa reunidos. No Brasil, perde apenas para o
Amazonas, formado por ele mesmo ao encontrar o rio Solimões, logo abaixo
da cidade de Manaus.
Em alguns pontos, você mal enxerga a margem oposta. São quilômetros
de largura e mais de mil ilhas agrupadas principalmente nos dois maiores
arquipélagos fluviais do mundo: Mariuá e Anavilhanas.
O Negro nasce na Colômbia e corta o estado do Amazonas. Em seu curso
percorre 1700 quilômetros, quase a distância de São Paulo a Salvador. Se
você viajasse numa canoa sem remo ao sabor da correnteza, da nascente à
foz, a viagem duraria um mês e meio.
Na longa jornada, as águas carregam folhas e outras matérias orgânicas
que as tingem de âmbar. O rio é um chá escuro que esconde mistérios em
suas profundezas.
ESCOLA DA NATUREZA
Crianças da comunidade Kambeba, que fica às margens do rio Cuieiras, afluente do rio Negro.
Preparação
VANESSA GONÇALVES
Revisão
VIVIANE T . MENDES
ANA LUIZA COUTO
Tratamento de imagem
M GALLEGO • STUDIO ARTES GRÁFICAS
ISBN 978-85-438-0887-1
A elefantinha Ellen quer muito dormir, mas sua casa fica do outro lado da
floresta mágica. Nesta história, as crianças vão acompanhá-la ao longo de
sua jornada e, junto com ela, encontrar finalmente o sono e o relaxamento.
Através de uma história simples, mas contada com as palavras e a
entonação certa, o sueco Carl-Johan Forssén Ehrlin's ajuda os adultos a
conduzirem as crianças a um estado de relaxamento que vai ajudá-las a
adormecer com tranquilidade - tanto de noite quanto na soneca diurna -,
transformando a hora de dormir em um momento prazeroso para toda a
família.
Malala Yousafzai quase perdeu a vida por querer ir para a escola. Ela
nasceu no vale do Swat, no Paquistão, uma região de extraordinária beleza,
cobiçada no passado por conquistadores como Gengis Khan e Alexandre, o
Grande, e protegida pelos bravos guerreiros pashtuns – os povos das
montanhas. Foi habitada por reis e rainhas, príncipes e princesas, como nos
contos de fadas.
Malala cresceu entre os corredores da escola de seu pai, Ziauddin
Yousafzai, e era uma das primeiras alunas da classe. Quando tinha dez anos
viu sua cidade ser controlada por um grupo extremista chamado Talibã.
Armados, eles vigiavam o vale noite e dia, e impuseram muitas regras.
Proibiram a música e a dança, baniram as mulheres das ruas e determinaram
que somente os meninos poderiam estudar.
Mas Malala foi ensinada desde pequena a defender aquilo em que
acreditava e lutou pelo direito de continuar estudando. Ela fez das palavras
sua arma. Em 9 de outubro de 2012, quando voltava de ônibus da escola,
sofreu um atentado a tiro. Poucos acreditaram que ela sobreviveria.
A jornalista Adriana Carranca visitou o vale do Swat dias depois do
atentado, hospedou-se com uma família local e conta neste livro tudo o que
viu e aprendeu por lá. Ela apresenta às crianças a história real dessa menina
que, além de ser a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da paz, é um
grande exemplo de como uma pessoa e um sonho podem mudar o mundo.
Esta história, sobre uma mãe coelho com dificuldade de fazer seu filho
dormir, tem o objetivo de ajudar os pais com a tão sofrida hora do sono.
Trazendo um método especial, é um comprovado sonífero em forma de
livro. Assim como acontece com muitas crianças, o coelho Roger está
cansado mas não consegue dormir. A mamãe coelho então resolve levar o
pequeno até o Senhor dos Bocejos, que sabe exatamente o que fazer para
resolver o problema. Por meio de uma história simples, mas contada com as
palavras e a entonação certa, o terapeuta sueco Carl-Johan Forssén Ehrlin
ajuda os adultos a conduzirem as crianças a um estado de relaxamento que
vai ajudá-las a adormecer com tranquilidade - tanto de noite quanto na
soneca diurna, transformando a hora de dormir em um momento prazeroso
para toda a família. Publicado inicialmente de forma independente, este
livro virou febre nos Estados Unidos e Inglaterra, alcançando o primeiro
lugar na lista da Amazon. Testado por milhares de pais e aprovado por seus
filhos, o método revolucionário de Ehrlin vai trazer um final feliz agora
também para o dia de muitos brasileiros.