Mon. Rafaella Pereira
Mon. Rafaella Pereira
Mon. Rafaella Pereira
BACHARELADO EM DIREITO
CARUARU
2016
RAFAELLA PEREIRA ABREU
CARUARU
2016
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Presidente: Prof. Dr. Orlando Rabelo
_______________________________
Primeiro Avaliador: Prof. Alexandre Costa
_______________________________
Segundo Avaliador: Prof.
DEDICATÓRIA
A Deus, por ter me dado saúde е força para superar as dificuldades, por
me presentear com a vida do meu filho, família e amigos.
A esta instituição de ensino, pelo ambiente criativo е amigável qυе
proporciona.
Ao meu orientador professor Orlando Rabelo, pelas correções е
incentivos.
Aos meus pais, que com carinho e amor me proporcionaram um ambiente
de paz durante a elaboração deste trabalho, além do apoio e do incentivo.
E a todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte da minha formação, о
meu muito obrigada.
RESUMO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9
1. CARACTERIZAÇÃO DA DELINQUÊNCIA ......................................................... 11
1.1 Evolução histórica do Direito Penal .................................................................... 13
1.2 Características do jovem delinquente ................................................................. 19
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 45
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INTRODUÇÃO
1. CARACTERIZAÇÃO DA DELINQUÊNCIA
previsto do homem comum. A norma diz o que deve ser feito e essa é a conduta
esperada. Quando algo foge desta realidade, surge a transgressão.
A diferenciação dos termos de uma disciplina em relação à outra é essencial
para elucidar que muitas podem ser as causas para a condição da delinquência.
Dentre estas, existe um grupo de delinquentes que vão além da desviância, são
pacientes de um transtorno de personalidade, merecendo atenção singular.
Como já referido, delinquência não é um conceito psicopatológico, mas
jurídico. Ele surge da situação do menor em face da lei, embora muitos também
mereçam a característica de psiquiatricamente anômalos diante dos conflitos
internos que provocam sua conduta. O delito não é o principal elemento e nem o
mais importante, pois varia conforme as razões socioculturais e em decorrência das
mudanças históricas. (NUNES, 2013).
A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais que
compreensível que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à
agressão sofrida devia ser fatal, não havendo preocupações com a
proporção, nem mesmo com sua justiça. Em regra, os historiadores
consideram várias fases da pena: a vingança privada, a vingança divina, a
vingança pública e o período humanitário. Todavia deve advertir-se que
esses períodos não se sucedem integralmente, ou melhor, advindo um, nem
por isso o outro desaparece logo, ocorrendo, então, a existência
concomitante dos princípios característicos de cada um: uma fase penetra a
outra, e, durante tempos, está ainda permanece a seu lado. (NORONHA,
1980, p. 20).
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livre arbítrio não é real, pois são preceitos que variam constantemente conforme o
nível ético do modelo social. A escola positivista tem como um dos seus fiéis
representantes Cesare Lombroso, que evidenciou os seus pensamentos na obra O
homem delinquente. Ele acreditava que o conhecimento criminológico deveria ser
constituído de racionalidade, observação e especulação do mundo jurídico (GRECO,
2015).
Grande também foi a contribuição da Escola Neoclássica, que despertando
para o problema da responsabilidade penal, privou os loucos e os menores do rol
dos puníveis (PIMENTEL, 2012).
Os apontamentos de Lombroso (2010) sobre as causas biopsíquicas do crime
colaboraram indiscutivelmente no avanço da sociologia criminal, ressaltando os
elementos antropológicos. A partir disso, surgiram estudos diferenciados sobre as
causas do crime, alterando até mesmo os conceitos clássicos sobre a pena privativa
de liberdade. Além da teoria do homem nato, outra contribuição importante de
Lombroso foi incluir nas ciências criminais a observação do criminoso por meio do
estudo indutivo-experimental (BITENCOURT, 2012).
Quanto à acepção de proporcionalidade entre crime e castigo, foi Marques de
Beccaria quem colaborou de maneira mais efetiva. A preocupação dele era a
adequação da pena diante do crime cometido, principalmente com o fato de que
esta proporção tornava a punição mais eficaz. Ele ressaltou a necessidade de
políticas preventivas, devendo as leis serem claras e de fácil compreensão,
privilegiando a razão, na escolha pela liberdade.
Portanto, para Beccaria, a justiça deveria ter um bom funcionamento e ser
livre de corrupção, as sociedades deveriam melhorar as políticas públicas e valorizar
a educação. Desta forma, se utilizando da razão, ficaria a cargo do homem escolher
delinquir, e optando por esse viés, saber exatamente qual seria seu castigo
(NUNES, 2013).
Uma nova visão da criminalidade foi a desenvolvida pelo marxismo, que
considera a culpa pelo crime enquanto um resultado das estruturas econômicas, de
modo que o delinquente é uma vítima inocente e fragilizada daquelas condições. O
grande culpado é o corpo social, pois se cria um determinismo social e econômico
que exclui, descarta e elimina quem não se adequa a este padrão (SHECARIA,
2014).
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uma legislação específica para tratar do tema, que foi consagrado pela Lei 8.069 de
1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente.
O Estatuto é um documento “baseado nas convenções e declarações dos
direitos da criança da ONU e nas regras de Beijing, documento internacional que
estabeleceu regras para o tratamento do jovem em conflito com a lei” (MARTINS
FILHO, 2007, p. 46).
A sanção no Estatuto da Criança e do Adolescente tem natureza diversa da
penal, porque objetiva outras finalidades que vão além da punição. Assim, aos
menores de 18 anos são aplicadas medidas protetivas e socioeducativas. Mesmo
não tendo o caráter de sanções penais, visam a uma orientação ou repressão contra
o infrator. Deste modo, as medidas protetivas estão previstas no ECA, artigo 101, I a
VII, e podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente pelo Conselho Tutelar em
procedimento administrativo e tem natureza socioeducativa (PEREIRA, 2016).
As medidas socioeducativas que estão previstas no ECA, artigo 112, I a VII,
podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente pelo juiz mediante persecução
socioeducativa instaurada em juízo (sob segredo de justiça), possuindo natureza
pedagógica, retributiva e sancionatória. Vale ressaltar que o Estatuto da Criança e
do Adolescente protege a criança e o adolescente sob a égide dos princípios da
Proteção Integral, da Prioridade Absoluta, da Condição de Pessoa em
Desenvolvimento e da Participação Popular, constituindo dever da família, da
sociedade e do Estado agir conforme eles (CF, artigo 227). Serão aplicados
obrigatoriamente os princípios constitucionais do Contraditório e da Ampla Defesa
em favor das crianças, quando sujeitas ao procedimento administrativo. Às crianças
somente se aplicam as medidas protéticas, enquanto que ao adolescente poderão
aplicar-se também as medidas socioeducativas (PEREIRA, 2016).
A violência campeia e, pior, não só entre os desvalidos, mas cada vez mais
entre jovens teoricamente sem muitos problemas econômicos ou que estão
longe da miséria. A classe média jovem está partindo para a agressão. Por
quê? (MARTINS FILHO, 2007, p. 12).
Isto explica porque, às vezes, essas crianças têm tudo o que querem
materialmente, mas não têm amor, carinho, afeto. Infelizmente, muitas evidências
nos levam hoje a acreditar que, salvo exceções, tais crianças podem vir a se tornar
adultos como os que se tornarão, muito provavelmente, as crianças que advém de
lares caóticos e disfuncionais, pois essas crescem achando que são estorvos,
sentindo-se sem valor e não merecedoras de cuidado. É uma espécie de abandono
afetivo. Os pais suprem as necessidades materiais e delegam a função de criação a
outras pessoas que recebem por isso. Essa terceirização, que acontece já há algum
tempo, tem nos mostrado hoje - na realidade com a qual nos deparamos e que não
foi bem-sucedida - que os papéis e funções parentais não podem ser substituídos
por um estranho (MARTINS FILHO, 2007).
Os resultados desse abandono afetivo e terceirização, onde ninguém toma
para si a função de “criar”, são de cada vez mais crianças e adolescentes cheios de
si, sem educação social e respeito ao próximo, com altos graus de delinquência e
transtornos psicossociais.
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2. FAMÍLIA E JUVENTUDE
(...) tem que ser entendida enquanto uma unidade em movimento, sendo
constituída por um grupo de pessoas que, independente de seu tipo de
organização e de possuir ou não laços consanguíneos, busca atender: às
necessidades afetivo-emocionais de seus integrantes, através do
estabelecimento de vínculos afetivos, amor, afeto, aceitação, sentimento de
pertença, solidariedade, apego e outros; às necessidades de subsistência-
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Todos têm a liberdade de escolher o seu par, seja do sexo que for, bem
como o tipo de entidade que quiser para constituir sua família. A liberdade
floresceu na relação familiar e redimensionou o conteúdo da autoridade
parental ao consagrar os laços de solidariedade entre pais e filhos, bem
como a igualdade entre os cônjuges no exercício conjunto do poder familiar
voltada ao melhor interesse do filho. Em face do primado da liberdade, é
assegurado o direito de constituir uma relação conjugal, uma união estável
hétero ou homossexual. Há a liberdade de dissolver o casamento e extinguir
a união estável, bem como o direito de recompor novas estruturas ele
convívio. (DIAS, 2015, p. 46).
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A interação de figuras parentais e dos filhos ainda são um tabu para muitas
famílias. Falar sobre todos os assuntos, sentar e conversar, dedicar tempo e
atenção aos filhos está cada vez mais impossível, por conta da loucura do dia a dia.
A junção destes dois fatores desencadeia um abandono afetivo no jovem.
Diante da diversidade de composições familiares que temos hoje, é
imprescindível lembrar que no meio dessas relações - casais que não se respeitam,
violência doméstica, divórcios, alienação parental, adoção, etc. - existe um ser
humano em formação que tem necessidades físicas e emocionais, e que o não
suprimento de apenas uma dessas necessidades faz adoecer a outra metade.
Não estou, com isso, afirmando que a estrutura “pai-mãe-filho“ é a correta
para as famílias. A discussão vai além. Entender que, embora não se tenha esse
“padrão”, faz-se necessário que as funções de criar, educar e amar os filhos sejam
cumpridas, independentemente de qual será a formação do núcleo familiar e como é
a divisão e a hierarquia deste.
Do que adianta a família “tradicionalmente” estabelecida com valores bem
definidos e padrão de vida médio, que deixa seu adolescente/criança abandonada
aos cuidados de terceiros, com valores diferentes dos da casa, ou pior, sem ter a
possibilidade de percepção de valor? Porque esta é a realidade. Às vezes a criança
é exposta a tantas pessoas que não cumprem com as funções familiares, a tantos
contextos diferentes e quase não veem os pais, que não tem a possibilidade de se
adaptar aos valores morais, sociais e religiosos adotados por eles. Essa dificuldade
se perpetra na adolescência, gerando insegurança e rebeldia.
Nesse sentido, Osório (apud PRATTA, 2007) afirma que a família possui
funções primordiais no desenvolvimento desses indivíduos, dentre as estudadas por
ele, destacamos a função psicológica, que é agrupada em três categorias, dar afeto
ao recém-nascido, é aspecto fundamental para assegurar a sobrevivência emocional
do indivíduo, bem como, oferecer suporte e moderação para os anseios existenciais
dos seres humanos durante o seu desenvolvimento, apoiando-os na superação das
"crises vitais" que eles atravessam ao longo da existência.
Um bom exemplo é a fase da adolescência, na qual se proporcionar um
ambiente adequado, que permita experiências típicas do processo de aprendizagem,
que serão capazes de desenvolver a cognição do ser humano (OSÓRIO apud
PRATTA, 2007). Diante disso, mais importante que a estrutura, como já vimos, são
as funções desempenhadas pela família, o que vem fazendo com que a doutrina
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O apoio e a criação dos laços afetivos dentro do núcleo familiar são capazes
de superar as adversidades, que são características das mudanças típicas da
adolescência, criando um referencial para que os filhos possam tomar por base,
diante de decisões difíceis e situações de risco.
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REFERÊNCIAS
BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal - Parte Geral, 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
GRECO, R. Curso de Direito Penal - Parte Geral, v. 1, 17ª ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2015.