Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

A Geração de Energia No Contexto Da Sustentabilidade: José Antônio Perrella Balestieri

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 25

1.

A geração de energia no contexto da


sustentabilidade
José Antônio Perrella Balestieri

SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros

BALESTIERI, J. A. P. A geração de energia no contexto da


sustentabilidade. In: VILANOVA, M. R. N., and SHIINO, M. Y., eds.
Fronteiras da engenharia e ciências ambientais: perspectivas
multidisciplinares [online]. São Paulo: Editora UNESP, 2020, pp. 11-
34. ISBN: 978-65-5714-009-3.
https://doi.org/10.7476/9786557140093.0002.

All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed
under a Creative Commons Attribution 4.0 International license.
Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é
publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0.
Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está
bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0.
1
A geração de energia no contexto
da sustentabilidade

José Antônio Perrella Balestieri

Introdução

A geração termelétrica tem sido extensivamente empregada por


se sustentar em alguns dos pilares ditados pela economia: (1) a ele-
tricidade por ela produzida apresenta baixos custos, quando pautada
pela queima de combustíveis fósseis; (2) apresenta elevado ganho de
escala, quando as unidades de geração se encontram em patamares
próximos de 500 MW; e (3) opera na base do sistema de geração
elétrico, com elevado fator de capacidade.1 Entretanto, atualmente
se observa pressão (ambiental, por parte da mídia e da sociedade
esclarecida) por maior participação das fontes de energia renováveis
na matriz energética dos países, em detrimento de formas de geração
baseadas em fontes fósseis (como carvão mineral, óleo combustível
e gás natural) ou de origem termonuclear – é a chamada “transição
para a sociedade de baixo carbono” (Bridge et al., 2013).

1 O fator de capacidade de uma central de geração elétrica é a razão entre a energia


efetivamente gerada em um período de tempo e a energia que poderia ter sido
gerada, caso a central tivesse operado em sua plena capacidade durante 100%
desse período (calculada a partir do produto da capacidade total pelo intervalo
de tempo considerado).

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 11 05/09/2020 09:06:39


12 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

Em estudos de planejamento energético, alternativas tecnoló-


gicas devem ser consideradas nos estudos de expansão da capa-
cidade de geração de energia de um país em busca de maiores
eficiências de conversão energética, uma vez que seu consumo
está de alguma forma correlacionado, dentre outros fatores, ao au-
mento da população, ao desempenho da economia e à tendência de
eletrificação de processos. A adequada composição da capacidade
de geração de um país garante segurança energética para diferentes
contextos econômicos e ambientais.
Assim como a análise do planejamento energético não pode com-
portar preconceitos científicos (que levariam a rejeitar, por exemplo,
a análise prospectiva de termoelétricas nucleares ou a carvão a partir
do conhecimento atual dessas tecnologias, desconsiderando poten-
ciais aperfeiçoamentos tecnológicos que podem vir a se materializar
em futuro próximo), nenhuma forma de geração de energia pode
ser considerada plenamente isenta de consequências ambientais.
Assim, considerando-se o fato de que a geração termelétrica pode
ser baseada tanto em fontes de energia fóssil (como o carvão) quanto
em fontes renováveis em um amplo espectro de biomassas (de ori-
gem agroindustrial, florestal, resíduos sólidos urbanos, para citar
alguns), faz-se necessária uma análise mais aprofundada da questão,
para que o profissional da área ambiental possa fazer o devido juízo
de valor acerca dessas questões.
A geração de energia, no contexto da sustentabilidade, é de
grande interesse para o engenheiro ambiental, que deve possuir co-
nhecimentos relativos à geração de energia pelo fato de o ser humano
dela necessitar para sua sobrevivência – a própria existência humana
está associada a impactos ambientais, por exemplo, pela produção de
excrementos como urina e fezes, e resíduos da decomposição post-
-mortem –, bem como para a transformação de matérias-primas em
produtos de sua necessidade. Além disso, há fontes renováveis e não
renováveis de energia, e as últimas não deixarão de ser empregadas
em curto e médio prazos; por fim, é preciso que tais profissionais
dominem os principais conceitos acerca das tecnologias de geração

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 12 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  13

de energia, para que sejam capazes de propor e realizar intervenções


necessárias para o controle ambiental.
No presente texto são apresentadas, no contexto geral do se-
tor energético, as diversas fontes de energia presentes no balanço
energético do país, e apenas aquelas que apresentam relevância no
contexto da geração de energia contam com uma avaliação extensiva
acerca dos aspectos ambientais que devem ser considerados em sua
utilização. De igual modo, são apresentados parâmetros técnicos, eco-
nômicos e ambientais que permitam uma avaliação individual e com-
parativa entre as diferentes opções tecnológicas atualmente existentes.

Visão geral do setor energético

Para melhor compreensão acerca da geração de energia, é impor-


tante estabelecer o funcionamento do setor energético. O Balanço
Energético Nacional é um instrumento empregado por diferentes
nações (podendo ser replicado para os estados que as compõem) para
determinar as formas de geração de energia, sua disponibilidade e os
níveis de consumo da energia no contexto dos diferentes setores so-
cioeconômicos do país. No Brasil, o Ministério de Minas e Energia
elabora esse documento de referência (Empresa de Pesquisa Ener-
gética, 2016) anualmente, desde 1970; em nível estadual, pode-se
citar o Balanço Energético do Estado de São Paulo (São Paulo, 2015)
como exemplo das unidades da federação.
De modo geral, e embora haja alguma diferença metodológica,
podem-se identificar as fontes de energia primária nos balanços
energéticos dos países, que são aquelas tais como encontradas na
natureza (petróleo, gás natural, carvão mineral, urânio, energia hi-
dráulica, lenha, produtos da cana), que após passarem por centros
de transformação (como refinarias e centrais de geração elétrica,
por exemplo) dão origem às energias secundárias (óleo diesel, óleo
combustível, gasolina, gás liquefeito de petróleo, nafta, querosene,
gás de coqueria, coque de carvão mineral, urânio contido no UO2,
eletricidade, carvão vegetal, etanol anidro e hidratado, alcatrão) – tais

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 13 05/09/2020 09:06:39


14 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

exemplos são condizentes com a estrutura presente no Balanço Ener-


gético Nacional 2016 (Empresa de Pesquisa Energética, 2016). Do
centro de transformação, as diversas formas de energia secundária
são convertidas em energia de uso final quando destinadas ao consu-
mo final (diferentes setores da atividade socioeconômica que delas se
utilizam, computando-se o setor industrial, residencial, energético
e demais setores – público, agropecuário, comercial e transportes),
incluídas as perdas existentes na cadeia produtiva (na geração, no
transporte, distribuição e armazenamento da energia).
Um mapeamento constantemente atualizado da capacidade de
geração de cada uma das formas de energia empregadas no país para
a geração de eletricidade pode ser acompanhado no Banco de Infor-
mações de Geração (BIG) da Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel)2 – neste caso, a pesquisa online é recomendada por ser a mais
atualizada (Agência Nacional de Energia Elétrica, 2017).
A matriz elétrica brasileira baseia-se fortemente na geração cen-
tralizada, isto é, baseada em grandes centrais geradoras de energia
associadas a empreendimentos estatais ou a grandes conglomerados
econômicos, que geram em uma localidade e distribuem a energia
em todo o território nacional; entretanto, o mercado de energia,
tanto no Brasil quanto em outros países, apresenta um crescente
interesse pela geração distribuída, inclusive com marco regulatório
recente para sua difusão no país (Agência Nacional de Energia Elé-
trica, 2012a; b), sendo baseada em pequenos produtores de energia
elétrica, normalmente com baixa ou média capacidade de geração e
que a disponibilizam localmente.
Para apresentarem uma relação custo-benefício favorável, as
formas de geração centralizada são baseadas em instalações de ele-
vada capacidade (tais como a usina de Itaipu, com vinte turbinas
hidráulicas com capacidade individual de 700 MW, e termelétricas
a gás natural ou carvão com capacidades entre 400 MW e 600 MW,
essas últimas sem recuperação e aproveitamento do calor residual).

2 Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/


capacidadebrasil.cfm>.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 14 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  15

Centrais de geração distribuída são soluções de pequena capacidade


(abaixo de 1 MW de geração elétrica segundo Chicco e Mancarella
(2009)) que já alcançaram estágio comercial, tais como motores de
combustão interna e microturbinas a gás, além do promissor mer-
cado das células-combustível; além disso, trazem por vantagens,
dentre outras, o fato de não exigirem os vultosos investimentos das
unidades centralizadas e encontrarem-se fisicamente espalhadas em
milhares de localidades, reduzindo a vulnerabilidade do sistema elé-
trico e melhorando sua confiabilidade. Por outro lado, destacam-se
o fato de que o emprego de tal iniciativa pode contribuir para a pro-
dução local de emissões atmosféricas, o que pode ser preocupante
em áreas densamente povoadas, além de as empresas distribuidoras
deverem prover padrões que garantam a interconexão do gerador
descentralizado em condições de proteção adequadas para todo o
sistema (Chicco; Mancarella, 2009).
Se a capacidade das centrais geradoras de energia é importante
para balancear a relação entre a oferta e a demanda (ambas medidas
em unidade de potência, em Watt e seus múltiplos), instante a ins-
tante os consumidores de energia solicitam mais ou menos energia
(medida em Wh e seus múltiplos, no caso da forma elétrica), o que
no jargão do setor energético é referido como “carga” – as cargas
elétricas variam ao longo das horas do dia e das estações do ano
(no verão, por exemplo, há um maior número de aparelhos de ar
condicionado ligados entre 13 e 17 horas), possibilitando que sejam
estabelecidos padrões ou tendências aproximadas, através de mode-
los matemáticos especializados (Hall; Buckley, 2016). Mesmo o co-
nhecimento das curvas de carga típicas do sistema elétrico brasileiro,
associado ao uso desses modelos matemáticos, não evita eventuais
perturbações decorrentes de fatores adversos, tais como picos ex-
traordinários de carga e problemas em linhas de transmissão.
Quanto maior o sistema de transmissão e distribuição de energia,
maior é a necessidade de que uma entidade seja nomeada para geren-
ciar o despacho das cargas, isto é, definir quais centrais de geração
devem ser postas a operar para que as cargas sejam atendidas com a
qualidade desejada (no caso elétrico brasileiro, na frequência da rede

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 15 05/09/2020 09:06:39


16 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

de 60 Hz).3 As três categorias apresentadas na Figura 1 representam


as cargas que ocorrem ao longo de um dia típico.

Figura 1 – Curva de carga do sistema elétrico


Capacidade demandada (MW)

Cargas de pico

Cargas intermediárias

Cargas de base

00:00 06:00 12:00 18:00 24:00 (h)

Fonte: Elaborada pelo autor

As cargas de base estão presentes na programação ao longo de


todas as horas do dia, e devem ser supridas por centrais de geração
que apresentem economicidade tarifária, eficiência de conversão e
confiabilidade de geração, ficando as demais características (como a
rápida capacidade de partida ou parada das máquinas) em segundo
plano. Na maior parte dos países, cargas de base são supridas por
usinas hidrelétricas, centrais termelétricas nucleares ou a carvão.
As cargas intermediárias devem ser supridas por centrais de ge-
ração eficientes quando operadas por grande número de horas, e
também ágeis em relação aos processos de partida e parada, tais
como termelétricas por ciclos combinados a gás natural. As cargas

3 No caso do Brasil, a coordenação e o controle da operação das instalações de


geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN)
estão a cargo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), sob a super-
visão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O ONS é uma pessoa
jurídica de direito privado, constituído por empresas de geração, transmissão,
distribuição e consumidores livres de grande porte (Fonte: <http://www.ons.
org.br/home/>, Acesso em 3. jan. 2017).

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 16 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  17

de pico são as que ocorrem em poucas horas do dia, devendo ser


supridas por centrais de geração cujas partidas e paradas rápidas são
altamente desejáveis (as máquinas devem operar em plena carga em
questão de minutos), não sendo tão eficientes nem possuindo custos
reduzidos como os verificados nas demais categorias – são exemplos
dessas usinas as termelétricas equipadas com turbinas a gás em ciclo
simples e motores de combustão interna (queimando óleo diesel ou
gás natural).
Embora as formas de geração solar e eólica não sejam, em um
primeiro momento, contempladas dentre as alternativas para aten-
dimento de cargas de base, por sua condição de intermitência, alter-
nativas tecnológicas têm sido propostas para superar tal limitação,
mediante a combinação das centrais eólicas com unidades de ciclo
combinado a gás natural ou a centrais térmicas de estocagem de
ar comprimido (Compressed Air Energy Storage – Caes), nas quais
a eletricidade originada nos aerogeradores é usada para comprimir ar
em tanques subterrâneos para ser, no momento adequado, expandi-
do em uma turbina para geração de energia elétrica (Mason; Archer,
2012). O crescente aumento da participação eólica e solar na matriz
elétrica dos países têm imposto novos desafios aos planejadores da
operação do sistema elétrico, em especial aqueles relativos à quali-
dade da energia elétrica gerada com relação a harmônicos, variações
de frequência e flutuações de voltagem (Kaddah et al., 2016). É
importante destacar, ainda, o potencial pouco explorado das centrais
de acumulação por bombeamento. Tecnicamente, essa opção de
geração é uma variação da tecnologia hidrelétrica que opera de modo
dual, isto é, turbinando água do reservatório para gerar energia em
momentos favoráveis ao setor elétrico e posteriormente bombeando-
-a de volta ao reservatório. Sua presença nos sistemas de geração
elétrica representa um modo seguro de manter a confiabilidade de
geração elétrica em razão de sua elevada eficiência, entre 65% e 80%
(Kougias; Szabó, 2017).
Quando se faz referência a centrais termelétricas baseadas na
queima de combustíveis fósseis ou renováveis, é importante fa-
zer a distinção entre centrais de cogeração e centrais de geração

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 17 05/09/2020 09:06:39


18 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

puramente termelétrica. Toda central de cogeração é termelétrica,


porém nem toda central termelétrica é de cogeração. Define-se
cogeração a geração combinada de duas ou mais formas de energia
útil (como energia mecânica/elétrica e energia térmica na forma de
vapor, água ou ar quente ou resfriado) a partir de uma mesma fonte
de energia primária (Puig-Arnavat et al, 2014); a parcela térmica da
energia é obtida da recuperação parcial e aproveitamento do calor re-
sidual, que é eliminada para o ambiente no processo de geração pu-
ramente termelétrica. Dong et al. (2009) definem a cogeração inferior
a 15 kW elétrico como de micro escala, e de pequena escala nos casos
em que a capacidade é inferior a 100 kW elétrico; a média escala se
situa entre 100 kW e 5.000 kW (Jradi; Riffat, 2014), sendo, portanto,
a cogeração de larga escala aquela com potências elétricas superiores
5.000 kW, atingindo valores entre 100.000 kW e 300.000 kW (Agên-
cia Nacional de Energia Elétrica [s.d.]; Gupta e Shankar [s.d.]).
Na análise de ciclos térmicos, a busca pela eficiência do uso da
energia se faz a partir do conceito de rendimento térmico, definido
como a razão entre a potência líquida produzida pelo ciclo (elétrica
ou mecânica) e a potência térmica entregue pelo combustível (o
produto da vazão em massa de combustível pelo seu poder calorí-
fico, sendo no Brasil, tradicionalmente, utilizado o valor do poder
calorífico inferior).4 A Figura 2 ilustra as duas formas de geração
termelétrica supracitadas, e em ambas as configurações foi adotado
o ciclo a vapor (Rankine) como concepção tecnológica. Se um valor
de referência para o rendimento térmico da central de geração pura-
mente termelétrica é 30%, a maior parcela da energia do combustível
não convertida em energia elétrica no eixo da turbina a vapor (isto é,
70% da energia contida no combustível) é dissipada no condensador
e torre de resfriamento, na forma de calor liberado ao ambiente.

4 Poder calorífico de uma substância (como um alimento ou combustível) é


a quantidade de energia liberada em sua combustão por unidade de massa,
expresso no Sistema Internacional em kJ/kg. A diferença entre o poder calo-
rífico inferior e o superior é o calor latente de vaporização da água liberada na
combustão, sendo que o poder calorífico inferior desconta esse valor do poder
calorífico superior por considerar a evaporação da água.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 18 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  19

Além de constituir uma perda de energia, esse calor rejeitado para


o ambiente constitui-se, também, numa fonte de poluição térmica.
Em um ciclo de cogeração, ao invés de dissipar tal parcela de
energia para o ambiente, o vapor exaustado da turbina (na Figura 2,
em estado termodinâmico 4’, mais energético que 4) é enviado para
um processo consumidor, para o qual seria necessária a queima de
combustível para a produção de energia térmica na forma de vapor
(rejeitando-o em uma condição 1’, também superior a 1). Compara-
tivamente, nas mesmas condições de vazão, pressão e temperatura
de vapor na caldeira e mesmo consumo de combustível na caldeira,
a potência de eixo no ciclo termelétrico é superior ao de cogeração,
mas nesse último ciclo há o aproveitamento térmico do calor residual
para a produção de vapor para o processo, calor que no ciclo pura-
mente termelétrico é dissipado ao ambiente em torres de resfriamen-
to (quando não utilizado em um sistema de aquecimento distrital,
situação que também pode ser caracterizada como cogeração).

Figura 2 – Configurações de ciclo a vapor puramente termelétrico (a) e


cogeração (b)
(a) (b)
3 3’

Caldeira Turbina Caldeira Turbina

4 4’
2 2
Condensador Processo
consumidor

Bomba 1 Bomba 1’

Fonte: Elaborado pelo autor

A análise que segue se refere às fontes de energia e às centrais


geradoras de energia que lhes são compatíveis, buscando destacar
os aspectos técnicos e ambientais – em especial, as características
sustentáveis ou não que apresentam –, em termos da obtenção das
fontes de energia, da instalação e da operação das centrais gerado-
ras correspondentes. O conceito de sustentabilidade considerado
neste texto é derivado da definição clássica de desenvolvimento

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 19 05/09/2020 09:06:39


20 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

sustentável, apresentada no documento Our common future (The


United Nations, 1987). Segundo o documento, desenvolvimento
sustentável é aquele “que atende às necessidades da geração presen-
te, sem comprometer a possibilidade das futuras gerações de terem
atendidas suas próprias necessidades” (The United Nations, 1987).

Aspectos técnicos e ambientais das fontes de


energia convencionais

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (2016), a oferta in-


terna de energia elétrica se fez, em 2015, através da fonte de energia
hidráulica (65%), seguida pelo gás natural (12,9%), biomassa (8%),
derivados de petróleo (4,8%), carvão e derivados (4,5%), eólica
(3,5%), nuclear (2,4%) e solar (0,01%). Nesse sentido, serão tecidas
considerações acerca das formas de geração hidrelétrica, a geração ter-
melétrica pela queima do gás natural, diesel, biomassa e carvão, pela
geração termonuclear, além da geração elétrica de base eólica e solar.
Do ponto de vista técnico, a geração hidrelétrica apresenta di-
ferenciação segundo a escala de capacidade e área de reservatório.
No Brasil, são consideradas pequenas centrais hidrelétricas (PCH)
as usinas destinadas a autoprodução ou produção independente de
energia, e que possuem capacidade instalada entre 3 e 30 MW, e com
área de reservatório inferior a 13 km2 (Agência Nacional de Energia
Elétrica, 2015). A Resolução n.673/2015 da Agência Nacional de
Energia Elétrica (2015) apresenta condicionantes que permitem
que centrais com reservatórios com áreas superiores a 13 km2 sejam
enquadradas como PCH. Costuma-se atribuir o nome de Central
Geradora Hidrelétrica (CHG) às usinas que possuem capacidades
instaladas inferiores ao limite de enquadramento de como PCH.
A geração hidrelétrica, embora baseada em fonte de energia
renovável, apresenta diversos impactos sociais e ambientais, tal
como citado por Andrade e Santos (2015), a partir de trabalhos de
outros autores. Por conta da presença de barragens, observa-se a
perda de biodiversidade e extinção de espécies por inundação de

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 20 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  21

áreas de florestas plantadas e de vegetação nativa; destruição de


hábitats; perda de terras agrícolas; necessidade de deslocamento de
um grande número de pessoas, interferência em territórios indíge-
nas ou populações tradicionais; alterações no regime hidrológico e
morfologia dos corpos hídricos; impacto sobre a ictiofauna; durante
a construção do reservatório, ocorrem impactos sobre o ecossistema
aquático e sobre o regime de águas dos rios.
Outra questão ambiental muito importante em termos da ge-
ração hidrelétrica diz respeito às emissões de CO2 e outros gases
de efeito estufa (Greenhouse Gas – GHG,), bem como consumo
de água e uso de terra (Sheldon; Hadian; Zik, 2015). Essas duas
últimas questões se relacionam, respectivamente, às elevadas ta-
xas de evaporação decorrentes das grandes áreas de superfície dos
reservatórios, e às elevadas relações entre área utilizada/alagada e
capacidade instalada (m2.MW-1) dessa tecnologia em comparação
com outras formas de geração de energia. A questão das emissões
de CO2 e outros GHG é controversa: embora se tenha constatado
que reservatórios apresentam emissões por unidade de eletricidade
gerada comparáveis ou até maiores que outras formas de geração de
eletricidade, há pouca discordância sobre o fato de que as emissões
de gases de efeito estufa de reservatórios artificiais são substanciais
(Premalatha et al., 2014).
As formas de geração termelétrica, independentemente do com-
bustível empregado, apresentam impactos ambientais, e alguns de-
les contam com uma significativa taxa de rejeição (tanto por parte da
população quanto por certos gestores de políticas públicas) em razão
das elevadas taxas de emissões de gases poluentes e particulados (a
despeito do emprego de filtros e sistemas de limpeza de gases que,
como qualquer equipamento, apresentam eficiência inferior a 100%)
ou disposição final de resíduos sólidos contaminantes.
O carvão mineral, na forma sólida e de modo tradicional para a
geração centralizada, é empregado em ciclos a vapor sub e supercríti-
cos, isto é, com pressão do vapor de água em condições inferiores ou
superiores à pressão crítica desse vetor energético (22 MPa). Nakata
et al. (2011) definem as centrais térmicas a carvão supercríticas como

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 21 05/09/2020 09:06:39


22 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

aquelas que produzem vapor na pressão de 22 MPa e temperatura


entre 380 °C e 540 °C, com emissões médias de CO2 entre 0,75 t/
MWh e 0,83 t/MWh, ao passo que as ultrassupercríticas chegariam
a produzir vapor de 30,5 MPa a mais de 600 °C, com emissões mé-
dias de CO2 entre 0,73 t/MWh e 0,77 t/MWh. Aryanpur e Shafiei
(2015) reportam rendimentos de 35% para as centrais térmicas con-
vencionais a carvão, valor que se eleva para a faixa entre 46% e 50%
para as unidades avançadas supercríticas.
De acordo com Tang et al. (2015), as tecnologias de carvão limpo
(clean coal technologies) dizem respeito a instalações térmicas mais efi-
cientes do que as convencionais a carvão, operando com temperaturas
e pressões mais altas, ou ainda, com a captura e armazenamento
(Carbono Capture and Storage – CCS) do dióxido de carbono emiti-
do durante as operações; as instalações que reduzem poluentes como
óxidos de enxofre (SOx) e nitrogênio (NOx), além de material par-
ticulado e metais pesados (como o mercúrio) também podem ser in-
cluídos nessa classificação, embora não haja consenso nesse sentido.
A geração termelétrica com gás natural e com óleo diesel apresen-
ta restrições ambientais, embora em menor proporção em relação ao
uso do carvão mineral. As tecnologias para geração de energia com
esses dois combustíveis fósseis são os conjuntos a gás5 e os motores
de combustão interna. De acordo com Jradi e Riffat (2014), o ren-
dimento térmico dos motores de combustão interna se encontram
entre 25% e 45%, ao passo que de conjuntos a gás se situam entre 18%
e 36%. Contudo, tais valores dependem da capacidade de geração
de energia considerada; sendo assim, na análise de equipamentos
reais, como descrito pela Diesel & Gas Turbine Publications (2017),
um conjunto a gás operando de forma individual pode apresentar
rendimento térmico entre 24,5% e 43,5%, ao passo que, se estiver

5 Neste texto, adotou-se o termo “conjunto a gás” para a composição de com-


pressor, turbina a gás e câmara de combustão em um mesmo eixo – o ciclo
termodinâmico que lhe corresponde é o ciclo Brayton. Embora a tecnologia
seja popularmente conhecida como “turbina a gás”, tal denominação é aqui
julgada interessante para não se confundir o componente com o ciclo quando
de sua referência.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 22 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  23

integrado a um ciclo combinado (conjunto a gás acoplado a caldeira


de recuperação térmica e turbina a vapor), tais valores podem se
situar entre 49,5% e 60,9%.
A geração termelétrica queimando biomassa pode ser estrutu-
rada de acordo com diferentes fontes energéticas (sendo o bagaço
de cana, ao menos no Brasil, seu representante mais conhecido) e
diferentes tecnologias. Roberts et al. (2015) apresentam uma ampla
classificação das biomassas disponíveis para a geração de energia,
dividindo-as em dois grupos: derivadas de vegetais e derivadas de
animais. Em tal divisão, incluem-se no primeiro grupo os resíduos
agrícolas, florestais, industriais e os resíduos sólidos urbanos. Dan-
tas et al. (2013), citando Corrêa Neto e Ramon (2002), indicam que
270 kg de bagaço são gerados para cada tonelada de cana-de-açúcar
processada, o que representa uma significativa disponibilidade
energética para as usinas de açúcar e álcool.
Juntamente ao bagaço de cana-de-açúcar, a matriz elétrica brasi-
leira registra uma participação significativa de geração térmica (para
autoprodução de energia) a partir de licor negro (também conhecido
por lixívia), efluente do setor de papel e celulose (Ministério de Mi-
nas e Energia; Empresa de Pesquisa Energética, 2007). Propostas
tecnológicas de substituição do ciclo a vapor com suas caldeiras de
recuperação química (Tomlinson) de baixo rendimento por ciclos
combinados com gaseificação integrada do licor negro têm sido
apresentadas na literatura, até mesmo com a propositura da inclusão
de sistemas de captura e sequestro de carbono, de modo a melhorar
a atratividade econômica dessa mudança tecnológica (Ferreira; Ba-
lestieri, 2015).
Embora não venha sendo considerada, até o momento, uma
alternativa firme para a expansão da capacidade de geração térmica
do Brasil, o emprego de centrais térmicas baseadas na recuperação
energética de resíduos sólidos urbanos já é uma realidade em diver-
sos países. Balcazar et al. (2013) demonstraram que o emprego de
ciclos híbridos, utilizando conjuntos a gás (gás natural) integrados
a caldeiras de incineração (queimando resíduos sólidos urbanos),
é tecnicamente viável e pode ser economicamente atrativo. Essa

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 23 05/09/2020 09:06:39


24 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

atratividade varia de acordo com a capacidade da central térmica,


bem como com consideração de incentivos financeiros, por exem-
plo, o pagamento pela remoção/destinação do lixo urbano, por meio
de taxas específicas para esse fim.
É oportuno, neste ponto do capítulo, abordar a questão das taxas
ambientais: análises como a realizada por Fonseca Filho et al. (2016)
demonstram que a sua aplicação pode viabilizar a utilização de tec-
nologias avançadas de geração, incluindo aquelas que apresentam
balanço neutro de carbono (como o bagaço de cana, por exemplo),
quando se empregam sistemas de captura e sequestro de carbono
como atividade comercial de ordem ambiental. Balcazar et al. (2013)
demonstraram a atratividade técnica e econômica de centrais térmi-
cas integrando gás natural e resíduo sólido urbano para uma cidade
brasileira. Há que considerar, entretanto, que o caso específico
de recuperação energética de resíduos sólidos urbanos ocasiona a
eliminação para o ambiente, dentre outros, de emissões gasosas de
compostos orgânicos complexos (dioxinas e furanos). A despeito de
evidências de que sistemas bem projetados, com correto tratamento
dos gases e manutenção de condições adequadas de combustão,
possam reduzir significativamente a presença desses compostos or-
gânicos (Montejo et al., 2011; WSP Environmental, 2013), Wang et
al. (2016) julgam que essa questão ainda exige pesquisas mais apro-
fundadas, constituindo, portanto, um relevante objeto de estudo no
contexto da engenharia ambiental.
A geração termonuclear tem sido considerada uma das tecnologias
de geração centralizada que, juntamente com a geração hidrelétrica,
pode produzir quantidades significativas de eletricidade associadas a
uma baixa emissão de CO2 (Bazmi; Zahedi, 2011). Embora seja uma
tecnologia madura, e que atualmente conta com um significativo
grau de segurança na operação de seus reatores, não se pode deixar
de considerar que a questão envolvendo a disposição dos resíduos
radioativos gerados nas centrais termonucleares não se encontra devi-
damente equacionada, além de se observarem iniciativas de redução
ou abandono da tecnologia em alguns países, após o acidente de 2011
na central de Fukushima, Japão (Prasad; Bansal; Raturi, 2014).

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 24 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  25

Em relação ao aproveitamento da energia solar, as formas clássi-


cas são a fotovoltaica (para produção de energia elétrica) e a térmica
(para a produção de água quente); essa última, no entanto, inclui
formas de geração de eletricidade a partir da composição com outros
ciclos, como descrito na Figura 3, adaptada de Siva et al. (2013), nos
quais são consideradas capacidades da ordem de 50 MW. Os siste-
mas fotovoltaicos têm sido propostos como importante alternativa
de geração distribuída, em especial pela sua oportunidade de apli-
cação em larga escala em telhados de edificações, conforme Ghaffa-
rianHoseini et al. (2013). A aplicação térmica, mais tradicional em
uso residencial a partir de coletores solares (embora pouco difundida
até recentemente, em razão de elevados custos de instalação), tem se
expandido em termos de geração elétrica para sistemas solares assis-
tidos, como o ciclo combinado integrado ao sistema concentrador
solar, proposto por Adibhata e Kaushik (2017), e a central térmica
que integra torre solar concentradora a um ciclo Rankine a carvão,
estudado por Zhu et al. (2017). Exemplos como os citados represen-
tam uma forma importante de inserir fontes renováveis de energia
aos ciclos térmicos baseados em combustíveis fósseis, com reflexos
ambientais positivos.

Figura 3 – Esquema de formas de geração de potência por fonte solar


Geração de potência por fonte solar

Solar fotovoltaico Solar térmico

Solar assistido Somente solar

Central térmica a carvão Central térmica em ciclo combinado

Refletor linear Concentrador Prato concentrador Torre solar


Fresnel solar parabólico solar parabólico concentradora

Ciclo Ciclo Ciclo Ciclo Ciclo


Rankine Stirling Rankine Rankine Brayton
Fonte: Adaptado de Siva Reddy et al. (2013)

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 25 05/09/2020 09:06:39


26 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

A energia eólica tem sido bastante empregada em tempos


recentes, pelo aumento de sua competitividade econômica; esse
fato, segundo Williams et al. (2017), permite projetar que os cus-
tos futuros dessa tecnologia a tornarão competitiva em relação à
geração elétrica baseada em fontes fósseis. Kaldellis e Apostolou
(2017) sinalizam o fato de que a geração eólica em terra (onshore)
encontra-se bem estabelecida e contribui de forma significativa
com a produção de energia em nível mundial; entretanto, a geração
eólica em águas oceânicas (offshore) ainda é uma iniciativa emer-
gente, que apresenta inúmeros desafios, dentre eles a diferenciação
dos materiais empregados, os custos de operação e a manutenção
decorrente das atividades marítimas, como o transporte de traba-
lhadores em helicópteros.
Como qualquer tecnologia de geração de energia, a eólica não
está isenta de impactos adversos: enquanto Schilling e Esmundo
(2009) citam a intermitência na frequência de ventos e o fato de
os melhores locais para a instalação não se situarem próximos
às áreas urbanas (o que requer significativos investimentos em
sistemas de transmissão), Ahmad e Tahar (2014) citam a alteração
de rotas de voo de aves migratórias, a interferência eletromagnética
por sinais de rádio nas cercanias das grandes instalações, o ruído das
pás em seu movimento rotativo e o impacto sobre a paisagem como
problemas associados às centrais eólicas.

Parâmetros de análise de sistemas energéticos

Um engenheiro ambiental não poderá se posicionar em relação


às tecnologias de geração de energia sem entrar no mérito de seus
parâmetros técnicos, econômicos e relativos às emissões. Desse mo-
do, apresenta-se a seguir uma coletânea de parâmetros relevantes,
presentes na literatura técnica recente. A Tabela 1 é uma composição
de parâmetros técnicos baseadas em Aryanpur e Shafiei (2015) e na
Administração de Informações Energéticas do Governo dos Estados
Unidos (U. S. Energy Informtiion Adminstration – Useia) (2016),

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 26 05/09/2020 09:06:39


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  27

que não pretende ser exaustiva (outras informações podem ser en-
contradas nestas referências).
De acordo com a Useia (2016), os custos apresentados na Tabela
1 se referem ao projeto das referidas centrais térmicas nas seguin-
tes condições: (1) como se não se aplicassem juros durante a sua
construção; (2) cada tecnologia é representada por uma instalação
genérica, de dimensão e configuração específicas, cuja localização
não prevê requerimentos de infraestrutura ou restrições não usuais.
O que se pode observar em uma primeira análise dos valores econô-
micos da Tabela 1 é que há uma discrepância entre as bases de dados:
de acordo com a teoria econômica, o custo específico de investimento
representa o custo (em US$) de uma unidade de potência (kW), e esse
valor decresce à medida que a capacidade de referência é aumentada,
representando um ganho de escala. Ainda assim, mantiveram-se os
valores de custo específico de ambas as referências para ilustrar a difi-
culdade que em geral o projetista e o planejador de sistemas de geração
de energia enfrentam ao necessitar estimar, com alguma segurança, os
parâmetros de atratividade econômica de um empreendimento.
Para o estabelecimento de custos de empreendimento empregam-
-se o método do custo do ciclo de vida (Life Cycle Costing – LCC) e o
método da avaliação do ciclo de vida (Life Cycle Assessment – LCA).
No LCC avaliam-se todas as consequências econômicas e financeiras
de um empreendimento, enquanto no LCA o foco está nos aspectos
ambientais do ciclo de vida de um produto ou sistema; desse modo, os
estudos econômicos baseados em LCA buscam retratar os impactos
ambientais decorrentes das decisões envolvidas na seleção de um
produto ou sistema (Bierer et al., 2015). Os principais parâmetros
ambientais foram obtidos de Abate et al. (2015) e são apresentados
na Tabela 2. Os valores referentes aos gases de efeito estufa (Gree-
nhouse Gases – GHG) são apresentados na unidade gramas de
CO2-equivalente por kWh, pelo fato de que as emissões de tais gases
são compostas majoritariamente por dióxido de carbono (CO2), me-
tano (CH4) e óxido nitroso (N2O).
Os dados apresentados são baseados na análise de ciclo de vida
(LCA), método de análise ambiental que estabelece as fronteiras

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 27 05/09/2020 09:06:40


Tabela 1 – Características técnicas e econômicas de centrais de geração de energia (em anos)
28

Capacidade Custo de Fator de Tempo de Tempo de


Rendimento
Tecnologia em análise referência investimento capacidadea vida útil construção
térmico (%)
(MW) (US$/kW) (%) (anos) (anos)
Central a vapor convencional1 325 1100 41,2 75 30 5
... a carvão subcrítica1 650 1600 35,3 85 30 3
... a carvão supercrítica1 850 2200 46,0 85 40 4
... a carvão ultrassupercrítica2 650 3636 38,8 nd nd nd

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 28
... carvão, ultrassupercrítica, com CCS2 650 5084 35,0 nd nd nd
Central com conjunto a gás1 162 550 34,3 70 12 2
... com conjunto a gás avançada2 237 678 34,8 nd nd nd
Central de ciclo combinado gás natural1 480 760 50,0 80 30 5
... ciclo combinado gás natural2 702 978 51,7 nd nd nd
... gás natural avançado2 429 1104 54,2 nd nd nd
Central nuclear com urânio avançada2 2234 5945 nd nd nd nd
Central hidrelétrica grande porte1 nd 1500 nd 30 50 6
Pequena central hidrelétrica1 nd 2000 nd 50 40 4
Central eólica onshore2 100 1877 nd nd nd nd
... eólica onshore conectada à rede1 nd 1500 nd 30 20 2
Central fotovoltaica fixa2 20 2670 nd nd nd nd
... com acompanhamento solar2 20 2644 nd nd nd nd
MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

... com acompanhamento solar2 150 2534 nd nd nd nd

Notas: (1) (Aryanpur; Shafiei, 2015); (2) (Useia, 2016); (a) fator de capacidade é a razão entre a potência média gerada em relação à potência total instalada; (nd)
não disponível.

05/09/2020 09:06:40
Tabela 2 – Emissões produzidas por centrais de geração de energia baseado em análise de ciclo de vida (Abate et al., 2015)
GHG (g/ SO2 NOx NMVOC Particulado
Tecnologia em análise
kWh)1 (mg/kWh) (mg/kWh) (mg/kWh) (g/kWh)
Geração hidrelétrica 2-50 5-60 3-40 0 5

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 29
Geração eólica 5-120 20-90 15-50 0 5-35
Geração fotovoltaica 10-730 25-500 15-340 70 10-190
Combustão de resíduo florestal 15-200 15-150 700-2000 0 220-320
Gás natural/gás de xisto em ciclo 400-500 /
4-500 13-1500 72-164 1-10
combinado 800-1000
Óleo extrapesado, óleo de xisto, areia
700-1200 500-30000 500-5000 20-30 30-500
betuminosa
Carvão central moderna 800-1200 700-30000 700-5300 20-30 30-660

Notas: (1) em gramas de CO2 equivalente por kWh; GHG = gás de efeito estufa (greenhouse gas); NMVOC = compostos orgânicos voláteis não metano (non-
-methane volatile organic compounds).
FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  29

05/09/2020 09:06:40
30 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

do sistema (onde inicia e onde termina a análise). A apresentação do


modelo LCA para as centrais de geração permite uma avaliação com-
parativa de tecnologias que contempla toda a existência da unidade,
desde a sua origem até sua disposição final, isto é, “do berço ao
túmulo” (“from cradle to grave”), ou considerando que os compo-
nentes finais poderão ser decompostos ou reutilizados (from cradle
to cradle), ou limitados às fronteiras do sistema (from cradle to gate),
modelo esse que considera emissões atmosféricas e resíduos que
saem das fronteiras da unidade produtiva (Tan e Khoo, 2005).

Considerações finais

A humanidade talvez venha a sentir a necessidade de abrir


mão de diversos produtos e serviços com os quais convive na atuali-
dade – voluntariamente ou por decorrência da penúria resultante do
deplecionamento dos recursos naturais –, ou mesmo se ver obrigada
a reduzir seu consumo. Contudo, é inimaginável que possa deixar de
fazer uso da energia, e toda e qualquer forma de energia apresenta
custos elevados e consequências ambientais.
Simplificadamente, pode-se considerar que todo processo de
tomada de decisão envolve um momento de compreensão dos fatos
envolvidos, outro de coleta de informações e seu processamento,
período que pode se prolongar até o momento crucial (deadline) em
que uma posição deve ser assumida. A decisão será tão mais acertada
quanto melhores forem as informações coletadas, quanto mais bem
tratadas elas forem, e quanto mais profundamente forem discutidas
e amadurecidas as possíveis alternativas de solução. Nas questões
que envolvem a geração de energia e as consequentes intercorrências
ambientais delas resultantes, o conhecimento das limitações tecno-
lógicas das alternativas disponíveis, a mente aberta às possibilidades
aventadas e muita disposição para discuti-las exaustivamente com
os diversos agentes envolvidos no processo de tomada de decisão
são fundamentais para um resultado condizente com as melhores
práticas existentes.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 30 05/09/2020 09:06:40


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  31

Referências bibliográficas
ABATE, S. et al. The energy-chemistry nexus: A vision of the future from sus-
tainability perspective. Journal of Energy Chemistry, v.24, n.5, p.535-547,
2015.
ADIBHATLA, S.; KAUSHIK, S. C. Energy, exergy and economic (3E) analy-
sis of integrated solar direct steam generation combined cycle power plant.
Sustainable Energy Technologies and Assessments, v.20, p.88–97, 2017.
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Banco de informa-
ções de geração – Termelétricas com cogeração qualificada. [s.d.]. Dis-
ponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/
CoGeracao.cfm>. Acesso em: 14 mar. 2018.
_______. Resolução normativa n.482, de 17 de abril de 2012. Estabe-
lece as condições gerais para o acesso de microgeração e minigera-
ção distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica, o
sistema de compensação de energia elétrica, e dá outras providências.
Diário Oficial da União, 2012a. Disponível em: <http://www2.aneel.
gov.br/cedoc/ren2012482.pdf%0Ahttp://ebooks.cambridge.org/ref/id/
CBO9781107415324A009>
_______. Resolução normativa n.517, de 11 de dezembro de 2012. Altera a
Resolução Normativa n.482, de 17 de abril de 2012, e o Módulo 3 dos Pro-
cedimentos de Distribuição – PRODIST. Diário Oficial da União, 2012b.
Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012517.pdf>.
_______. Resolução normativa n.673, de 4 de agosto de 2015. Estabelece os
requisitos e procedimentos para a obtenção de outorga de autorização para
exploração de aproveitamento do potencial hidráulico com características
de Pequena Central Hidrelétrica – PCH. Brazil, 2015.
_______. Banco de Informações de Geração. Disponível em: <http://www2.
aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acesso
em: 11 jan. 2017.
AHMAD, S.; TAHAR, R. M. Selection of renewable energy sources for sustai-
nable development of electricity generation system using analytic hierarchy
process: A case of Malaysia. Renewable Energy, v.63, p.458-466, mar. 2014.
ANDRADE, A. D. L.; SANTOS, M. A. dos. Hydroelectric plants environ-
mental viability: Strategic environmental assessment application in Brazil.
Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.52, p.1413-1423, dez. 2015.
ARYANPUR, V.; SHAFIEI, E. Optimal deployment of renewable electricity
technologies in Iran and implications for emissions reductions. Energy,
v.91, p.882-893, nov. 2015.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 31 05/09/2020 09:06:40


32 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

BALCAZAR, J. G. C.; DIAS, R. A.; BALESTIERI, J. A. P. Analysis of hybrid


waste-to-energy for medium-sized cities. Energy, v.55, p.728-741, jun. 2013.
BAZMI, A. A.; ZAHEDI, G. Sustainable energy systems: Role of optimi-
zation modeling techniques in power generation and supply – A review.
Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.15, n.8, p.3480-3500, 2011.
BIERER, A. et al. Integrating life cycle costing and life cycle assessment using
extended material flow cost accounting. Journal of Cleaner Production,
v.108, p.1289-1301, 2015.
BRIDGE, G. et al. Geographies of energy transition: Space, place and the low-
-carbon economy. Energy Policy, v.53, p.331-340, 2013.
CHICCO, G.; MANCARELLA, P. Distributed multi-generation: A com-
prehensive view. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.13, n.3,
p.535-551, 2009.
CORRÊA NETO, V.; RAMON, D. Análise de opções tecnológicas para pro-
jetos de cogeração no setor sucroalcooleiro. SETAP – Sustainable Energy
Technology Assistance Program, Brasília, 2002. Disponível em: <http://
www.nuca.ie.ufrj.br/infosucro/biblioteca/bim_CorreaNeto_OpcoesCo-
geracao.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2017.
DANTAS, G. A.; LEGEY, L. F. L.; MAZZONE, A. Energy from sugarcane
bagasse in Brazil: An assessment of the productivity and cost of different
technological routes. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.21,
p.356-364, 2013.
DIESEL & GAS TURBINE PUBLICATIONS. Diesel & Gas Turbi-
ne Sourcing Guide. 2017. Disponível em: <https://dieselpub.com/
diesel-gas-turbine-sourcing-guide/>.
DONG, L.; LIU, H.; RIFFAT, S. Development of small-scale and micro-scale
biomass-fueled CHP systems – A literature review. Applied Thermal Engi-
neering, v.29, n.11-12, p.2119-2126, ago. 2009.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Balanço energético nacional
2016: Ano base 2015. Rio de Janeiro: EPE, 2016.
FERREIRA, E. T. de F.; BALESTIERI, J. A. P. Black liquor gasification com-
bined cycle with CO2 capture – Technical and economic analysis. Applied
Thermal Engineering, v.75, p.371-383, 2015.
FONSECA FILHO, V. F. da; MATELLI, J. A.; PERRELLA BALESTIERI,
J. A. Carbon exergy tax applied to biomass integrated gasification combi-
ned cycle in sugarcane industry. Energy, v.103, p.715-724, 2016.
GHAFFARIANHOSEINI, A. et al. Sustainable energy performances of green
buildings: A review of current theories, implementations and challenges.
Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.25, p.1-17, set. 2013.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 32 05/09/2020 09:06:40


FRONTEIRAS DA ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS  33

GUPTA, R.; SHANKAR, H. Global Energy Observatory. [s.d.] Disponível em:


<http://globalenergyobservatory.org/>.
HALL, L. M. H.; BUCKLEY, A. R. A review of energy systems models in the
UK: Prevalent usage and categorization. Applied Energy, v.169, p.607-628,
2016.
JRADI, M.; RIFFAT, S. Tri-generation systems: Energy policies, prime mo-
vers, cooling technologies, configurations and operation strategies. Rene-
wable and Sustainable Energy Reviews, v.32, p.396-415, abr. 2014.
KADDAH, S. S. et al. Probabilistic power quality indices for electric grids with
increased penetration level of wind power generation. International Journal
of Electrical Power and Energy Systems, v.77, p.50-58, 2016.
KALDELLIS, J. K.; APOSTOLOU, D. Life cycle energy and carbon foot-
print of offshore wind energy. Comparison with onshore counterpart.
Renewable Energy, v.108, p.72-84, 2017.
KOUGIAS, I.; SZABÓ, S. Pumped hydroelectric storage utilization assess-
ment: Forerunner of renewable energy integration or Trojan horse? Energy,
v.140, p.318-329, 2017.
MASON, J. E.; ARCHER, C. L. Baseload electricity from wind via compres-
sed air energy storage (CAES). Renewable and Sustainable Energy Reviews,
v.16, n.2, p.1099-1109, 2012.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA; EMPRESA DE PESQUISA
ENERGÉTICA. Matriz Energética Nacional 2030. Ministério de Minas e
Energia. Brasília: [s.n.], 2007. Disponível em: <http://medcontent.meta-
press.com/index/A65RM03P4874243N.pdf>.
MONTEJO, C. et al. Analysis and comparison of municipal solid waste and
reject fraction as fuels for incineration plants. Applied Thermal Engineering,
v.31, n.13, p.2135-2140, set. 2011.
NAKATA, T.; SILVA, D.; RODIONOV, M. Application of energy system
models for designing a low-carbon society. Progress in Energy and Combus-
tion Science, v.37, n.4, p.462-502, ago. 2011.
PRASAD, R. D.; BANSAL, R. C.; RATURI, A. Multi-faceted energy plan-
ning: A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.38, p.686-699,
2014.
PREMALATHA, M. et al. A critical view on the eco-friendliness of small
hydroelectric installations. Science of the Total Environment, v.481, n.1,
p.638-643, 2014.
PUIG-ARNAVAT, M.; BRUNO, J. C.; CORONAS, A. Modeling of trige-
neration configurations based on biomass gasification and comparison of
performance. Applied Energy, v.114, p.845-856, fev. 2014.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 33 05/09/2020 09:06:40


34 MATEUS RICARDO NOGUEIRA VILANOVA • MARCOS YUTAKA SHIINO

ROBERTS, J. J. et al. Assessment of dry residual biomass potential for use as


alternative energy source in the party of General Pueyrredón, Argentina.
Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.41, p.568-583, 2015.
SÃO PAULO. Balanço energético do Estado de São Paulo – 2015 (Ano base 2014).
270: [s.n.]. Disponível em: <http://ci.nii.ac.jp/naid/40020358184/>.
SCHILLING, M. A.; ESMUNDO, M. Technology S-curves in renewable
energy alternatives: Analysis and implications for industry and govern-
ment. Energy Policy, v.37, n.5, p.1767-1781, May 2009.
SHELDON, S.; HADIAN, S.; ZIK, O. Beyond carbon: Quantifying environ-
mental externalities as energy for hydroelectric and nuclear power. Energy,
v.84, p.36-44, 2015.
SIVA REDDY, V. et al. State-of-the-art of solar thermal power plants – A
review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.27, p.258-273, 2013.
TAN, R. B. H.; KHOO, H. H. An LCA study of a primary aluminum supply
chain. Journal of Cleaner Production, v.13, n.6, p.607-618, 2005.
TANG, X. et al. Clean coal use in China: Challenges and policy implications.
Energy Policy, v.87, p.517-523, 2015.
THE UNITED NATIONS. Our Common Future. Oslo: [s.n.], 1987.
USEIA – U. S. ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Capital
cost estimates for utility scale electricity generating plants. Washington: [s.n.],
2016. Disponível em: <http://www.eia.gov/forecasts/capitalcost/pdf/
updated_capcost.pdf>.
WANG, Y. et al. Characteristics and trends of research on waste-to-energy in-
cineration: A bibliometric analysis, 1999-2015. Renewable and Sustainable
Energy Reviews, v.66, p.95-104, 2016.
WILLIAMS, E. et al. Wind power costs expected to decrease due to technolo-
gical progress. Energy Policy, v.106, n. September 2015, p.427-435, 2017.
WSP ENVIRONMENTAL. An investigation into the performance (environ-
mental and health) of waste to energy technologies internationally. Perth:
[s.n.], 2013. Disponível em: <www.wspgroup.co.uk>.
ZHU, Y. et al. Annual performance of solar tower aided coal-fired power gene-
ration system. Energy, v.119, p.662-674, 2017.

Fronteiras_da_engenharia_(MIOLO_14x21)_Graf-v3.indd 34 05/09/2020 09:06:40

Você também pode gostar