Livro Texto - Unidade I
Livro Texto - Unidade I
Livro Texto - Unidade I
de Gestão da Educação
em Ambientes Escolares
e Não Escolares
Autor: Prof. Nonato Assis de Miranda
Colaboradora: Profa. Silmara Machado
Professor conteudista: Nonato Assis de Miranda
Natural da cidade de Sabinópolis, estado de Minas Gerais, é licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia e Letras
Professor José Augusto Vieira e em Pedagogia pelas Faculdades Integradas Campos Salles. É mestre em Administração
pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) e em Educação pela Universidade São Marcos. Obteve o
título de doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Atua na educação desde 1990 e desenvolve pesquisa na área de gestão e políticas públicas de educação. Foi
professor da educação básica e ministrava aulas de inglês em escolas públicas e privadas de 1990 a 1999, quando
passou a exercer a função de professor coordenador, o que durou até 2002. Em 2003 começou a atuar como diretor
de escola e, em 2008, tornou‑se titular de cargo, função que exerce até o momento. Iniciou sua carreira no Ensino
Superior em 2002 na Universidade Paulista – UNIP e, a partir de 2009, passou acumular as funções de docente e
coordenador, em um primeiro momento em nível local e, de 2010 em diante, como coordenador geral de Pedagogia
dessa mesma instituição.
CDU 371.11
U520.41 – 24
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Profa. Sandra Miessa
Reitora
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO APRENDENTE E LOCAL DE DESENVOLVIMENTO
DA PRÁTICA GESTORA........................................................................................................................................ 11
2 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO ESCOLAR....................................................................... 11
3 CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA: DO MODELO TRADICIONAL AO CONTEMPORÂNEO........... 14
4 OS PROPÓSITOS DA ADMINISTRAÇÃO.................................................................................................... 20
4.1 Evolução do conceito de administração: aplicações no contexto escolar.................... 22
4.2 Da administração à gestão escolar: um longo caminho percorrido................................ 27
Unidade II
5 PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA ATUALIDADE...................................... 40
5.1 O gestor da escola contemporânea............................................................................................... 40
5.2 Autoridade versus autoritarismo na gestão escolar............................................................... 43
6 LIDERANÇA: CONCEITOS E PRÁTICA NA GESTÃO ESCOLAR............................................................ 46
6.1 Motivação na gestão educacional................................................................................................. 47
6.2 Concepções de gestão educacional escolar............................................................................... 49
6.3 Gestão escolar democrática.............................................................................................................. 55
6.4 A gestão democrática no contexto da escola pública........................................................... 58
7 GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES............................................................ 62
7.1 Gestão da educação além dos muros da escola....................................................................... 63
7.2 Gestão do conhecimento nos ambientes não escolares....................................................... 68
7.2.1 O que deveria ser compartilhado?.................................................................................................... 70
7.2.2 Como ocorrerá o compartilhamento?............................................................................................. 70
7.2.3 Por que as pessoas deveriam participar do compartilhamento?......................................... 71
8 PEDAGOGIA EMPRESARIAL: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EMPRESA.................................. 72
8.1 A questão do aprendizado organizacional................................................................................. 76
8.1.1 As teorias da aprendizagem organizacional................................................................................. 78
8.2 Gênese do treinamento profissional no Brasil.......................................................................... 83
8.3 A importância do treinamento, desenvolvimento e educação para
as organizações............................................................................................................................................. 87
8.4 Educação corporativa.......................................................................................................................... 90
8.4.1 Principais conceitos e objetivos da Universidade Corporativa.............................................. 92
8.5 Estágio e prática de gestão da educação em ambientes escolares e
não escolares.................................................................................................................................................. 95
APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Tendo em conta a existência desses diferentes tipos de educação, os objetivos específicos dessa
disciplina intencionam levá‑lo a:
• desenvolver o compromisso com uma ideia de atuação profissional e com a organização
democrática da vida no contexto da sociedade moderna;
• conhecer a estrutura administrativa e didática da escola no contexto da atualidade;
• dominar subsídios teóricos que contribuam para formação de um gestor comprometido com a
melhoria da qualidade de ensino e em prol de uma escola cidadã;
• capacitar‑se para as funções administrativas e pedagógicas no contexto do sistema escolar
brasileiro e nos ambientes não escolares, por meio da aplicação de princípios à prática de gestão;
• conhecer os procedimentos relativos à organização da vida escolar do aluno;
• conhecer os procedimentos relativos à organização da vida funcional de professores e funcionários
dos estabelecimentos escolares;
• manipular documentos referentes à vida escolar e funcional, observando seu preenchimento
correto e a sua importância na organização escolar;
• reconhecer as diferentes áreas de atuação do pedagogo no contexto atual;
• analisar o papel do pedagogo na formação de recursos humanos em ambientes não escolares.
Por fim, pretendemos que, com o estudo dessa disciplina, você possa compreender que o pedagogo
é o profissional que, além de atuar preponderantemente na docência, dedica‑se também a atividades
de pesquisa, documentação, formação profissional, gestão de sistemas escolares e escolas, coordenação
pedagógica, animação sociocultural e formação continuada em ambientes escolares e não escolares.
7
INTRODUÇÃO
Nosso estudo com essa disciplina começa com uma discussão acerca da gestão da educação nos
ambientes escolares e não escolares. Contudo, isso não será uma tarefa fácil, dada a importância que a
educação tem no contexto social. Entendemos que essa complexidade ocorre em decorrência do fato
de que, como instituição socioeducativa, a escola vem sendo questionada sobre seu papel em face das
transformações econômicas, políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo (Libâneo; Oliveira;
Toschi, 2012).
Nesse sentido, este texto se propõe a contribuir, de forma crítica, com a formação de pedagogos e
pedagogas que, em um futuro não muito distante, poderão ser agentes de transformação social quando
estiverem no exercício da gestão da educação. Não importa se isso ocorrer em ambientes escolares ou não.
Esperamos que você entenda que a ampliação desse discurso se justifica por entendermos que o
campo educativo é bastante vasto, na medida em que a educação ocorre na família, no trabalho, na rua,
na fábrica, nos meios de comunicação, na política etc. (Libâneo, 2005).
Com isso, buscaremos discutir a gestão da educação numa perspectiva mais abrangente, pois o
conceito de educação atualmente não pode se restringir à que ocorre nos espaços institucionalizados.
Para tanto, organizamos o texto em unidades interligadas que abordam questões fundamentais aos
objetivos precípuos desta disciplina.
Abordaremos sobre a gestão da educação em ambientes não escolares. A intenção é tratar da gestão
do conhecimento além dos muros da escola. Mostraremos que o campo de atuação do pedagogo
transcende o ambiente escolar e adentra no mundo corporativo. É nesse momento que o pedagogo
assume papel preponderante para o desenvolvimento dos recursos humanos, por meio da formação
8
continuada que ocorre no ambiente de trabalho de empresas e organizações não governamentais
públicas e privadas.
Por fim, apresentaremos um texto que objetiva orientar os alunos e alunas a participar da gestão nos
ambientes escolares e não escolares, pela observação sistemática de atividades práticas de gestão. Trata‑se
do estágio supervisionado obrigatório, conforme determina a Resolução CNE/CP n. 1/2006 que institui as
Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Pedagogia.
Nunca é demais dizer que, com as mudanças aceleradas observadas nos últimos anos, em especial,
no século XX, a gestão tornou‑se essencial na condução da sociedade moderna e ela consiste em fazer
com que as coisas sejam realizadas da melhor forma, com o menor custo, com eficiência e eficácia. Esse
tem sido o caminho adotado por boa parte dos gestores contemporâneos.
9
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
Unidade I
1 A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO APRENDENTE E LOCAL DE
DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA GESTORA
Nesta unidade, apresentaremos a diferença entre educação em termos gerais e educação escolar.
Para demonstrarmos que a escola é uma organização aprendente e espaço onde a prática gestora
preponderantemente ocorre, fizemos uma incursão na literatura para resgatar as características dos modelos
de escola observados na história da educação. A ideia é mostrar ao estudante de Pedagogia que o papel do
gestor escolar tem sofrido modificações na mesma proporção em que a sociedade tem se transformado.
A intenção é sinalizar que a organização de uma escola é uma tarefa bastante complexa e que
o futuro pedagogo deve ter uma formação stricto sensu, conforme aponta Libâneo (2005). Deve
ser um profissional qualificado para atuar em vários campos educativos, para atender a demandas
socioeducativas de tipo formal, não formal e informal.
Entendemos que o estudo desta unidade não dará conta dessa proposta, mas deixará algumas pistas
para aqueles que pretendem enveredar pelos caminhos da gestão da educação.
No dia a dia, a palavra educação é empregada por todos nós com uma frequência tão grande que,
a priori, parece não haver tipo algum de dúvidas quanto ao seu significado. Dessa forma, julgamos
prudente conhecer sua etimologia para depois analisarmos as diferentes concepções que, em certa
medida, já estão cristalizadas entre nós no que se refere ao termo educação.
Segundo Amorim (2003), a etimologia da palavra educação, que foi dicionarizada em português no
século XVII, é latina: educatio, sinônimo da ação de criar ou de nutrir, cultura, cultivo. Depreende‑se,
portanto, que o vocábulo educação designa um ato ou um processo e, até mesmo, um efeito. Educação
também significa o ato ou processo de educar ou educar‑se, e o conhecimento e desenvolvimento
resultantes desse ato ou processo. Dessa forma, alguém que educa e alguém que é educado estão
unidos pela palavra educação, sendo que é possível a uma pessoa educar a si mesma, ou seja, ser
educador e educando de uma só vez, por exemplo, a partir da observação, da experiência da vida social.
Essa lógica nos remete à relação professor‑aluno, mas não em uma perspectiva tradicional de
educação, pelo contrário, de libertação e autonomia, tal como o grande mestre Paulo Freire ensinou.
Dizemos isso por concordarmos com o autor e sua tese de que “não há docência sem discência, as
11
Unidade I
duas (palavras – grifo nosso) explicam‑se e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não
se reduzem à condição de objeto, um do outro”. Portanto, é indiscutível que “quem ensina aprende ao
ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (Freire, 2006, p. 23).
Nesses termos, a escola, lugar destinado ao ensino, é um espaço muito importante quando falamos
em educação no contexto da atualidade. Temos uma evidência dessa importância quando pensamos
nos sujeitos que não a cursaram, já que ter frequentado ou não a escola – e, vamos dizer, a qualidade
dessa frequência – confirma identidade às pessoas (Amorim, 2003).
Observação
Uma vez compreendido o sentido etimológico da palavra educação, podemos tentar analisar suas
concepções até então difundidas entre nós.
Conforme Brandão (2004), a concepção de educação, segundo o conjunto de normas que regem
atualmente a educação brasileira, advoga que ela abrange todos os processos de formação do indivíduo.
Ademais, esses processos formativos podem se desenvolver nos mais diferentes ambientes sociais, como
no familiar, na convivência humana, nos locais de trabalho, nas instituições de ensino e de pesquisa, nos
movimentos sociais, nas organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Como se vê, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a escola não é o único espaço educativo
existente, os saberes escolares não são os únicos ensinados e aprendidos, nem os professores e os alunos
são os únicos que ensinam e aprendem.
Para ilustrar o exposto, recorremos a alguns versos da música Mulher rendeira, cuja autoria é um tanto
controversa, mas se encontra registrada no Ecad em nome de Alfredo Ricardo do Nascimento. Lopes (2002,
p. 53) ao analisar o trecho “Oié muié rendeira / oié muié rendá / tu me ensina a fazer renda / eu te ensino
a namorar” afirma que “ensinar pode ser qualquer coisa [...]”.
Amorim (2003) concorda com essa tese, mas acrescenta a ela a concepção de que ensinar pode ser
em qualquer lugar, por qualquer um a qualquer outro, até a si mesmo. Ainda sobre o mesmo assunto,
juntamente com Lopes e Galvão (2001, p. 24), a mesma autora afirma:
No que diz respeito à educação escolar, entende‑se que essa educação se desenvolve por meio
do ensino, predominantemente em instituições destinadas a esse fim, podendo ocorrer, em algumas
situações específicas, também fora da escola. Para Brandão (2004), a concepção de educação escolar é
pautada por duas diretrizes, ou seja, pela sua constante vinculação com o mundo do trabalho e com a
prática social, entendida, principalmente, como o exercício pleno da cidadania. Portanto,
13
Unidade I
Segundo Brandão (2004), ao definirmos como pilares conceituais dessa concepção de educação
as constantes vinculações da educação escolar com o mundo do trabalho e com as práticas sociais,
podemos afirmar que a educação escolar possui dois objetivos principais: o de preparar o estudante para
o trabalho (mundo do trabalho) e o de preparar o aluno, como cidadão, para o convívio (prática social
e exercício da cidadania).
É nesse contexto que a gestão da educação, na figura do diretor, assume a responsabilidade de dar
conta do cumprimento desses objetivos. Sobre esse assunto, Libâneo (2004) afirma que os estudos sobre
o sistema escolar e as políticas públicas educacionais têm‑se centrado na escola como unidade básica e
espaço de realização dos objetivos e metas do sistema educativo.
Lembrete
Sobre essa afirmação, Carlos Rodrigues Brandão (2004) acrescenta que os pássaros, por exemplo,
muito cedo expulsam os seus filhotes do ninho para que experimentem o processo de aprendizagem do
voo, que é um exercício fundamental para a continuidade da vida de sua espécie.
Assim também, nós, seres humanos, vivenciamos experiências de aprendizagem nos diversos setores:
em casa, na rua, igreja e na escola.
Para iniciarmos nossa conversa, propomos algumas indagações que poderão nortear o diálogo que
se propõe construir entre o autor e os leitores deste texto, tais como: para que serve a escola? Como a
escola se organiza no contexto atual? Se a escola está a serviço da sociedade, por que a participação
da comunidade na gestão da escola ainda é tão pequena? Por que a escola pública atual é tão criticada?
Dessa forma, acreditamos que, ao buscar respostas às indagações propostas no início desta conversa,
adentraremos em um campo bastante fecundo que diz respeito à gestão da educação, tanto nos espaços
escolares quanto nos não escolares.
14
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
Entretanto, neste primeiro momento, ateremo‑nos mais à gestão da educação nos ambientes
escolares, que são os mais conhecidos por todos, e mais à frente trataremos da gestão da educação em
ambientes não escolares.
Alonso (2003), ao tentar caracterizar a escola atual, mostra‑nos que por muito tempo ela esteve
estruturada sobre um modelo burocrático de concepção funcionalista, fayolista, com ênfase na produção,
entendida aqui como acumulação de “conhecimento” (informações/reproduções); era fechada para o
meio exterior e não estabelecia trocas com ele.
Essa arquitetura empregada nas escolas tradicionais foi inspirada na ideia defendida pelo engenheiro
Henry Fayol, segundo o qual, com previsão científica e métodos adequados de gerência, os resultados
desejados poderiam ser alcançados. Dessa forma, Fayol propôs que toda empresa fosse dividida em seis
grupos de funções, a saber:
4) Funções de segurança: relacionadas com a proteção e preservação dos bens e das pessoas.
6) Funções administrativas: relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco funções.
Fayol sugeriu que a função administrativa era a mais importante de todas e definiu cada um de seus
componentes da seguinte forma (Maximiano, 2006):
• Controle: cuidar para que tudo se realize de acordo com os planos e as ordens.
Depreende‑se, portanto, que nenhuma das cinco funções essenciais tem o encargo de formular o
programa geral da empresa, pois essa atribuição compete à sexta função administrativa, visto que é essa
função que constitui, propriamente, a administração.
15
Unidade I
Ademais, Fayol deixou claro em sua obra que a administração não se refere apenas ao topo da
organização, pois existe uma proporcionalidade da função administrativa, que não é privativa da alta
cúpula, mas, ao contrário, se distribui por todos os níveis hierárquicos. Ainda segundo o autor, tudo
em administração é questão de medida, de ponderação e de bom senso. Os princípios que regulam a
empresa devem ser flexíveis e maleáveis, e não rígidos.
Com a escola organizada nos moldes faiolistas, sabemos que os termos concepção e execução
constituem atividades distintas, requerendo competências também diferentes. Em decorrência
disso, alguns planejam, decidem, enquanto outros executam, obedecem. Dessa forma, as dimensões
administrativas e pedagógicas estão separadas, independentes, constituindo níveis de ação e de
autoridade distintas.
Segundo Alonso (2003), os fundamentos psicopedagógicos desse modelo podem ser assim definidos:
aprender é adquirir conhecimentos, de fora para dentro. Para tanto, o professor deve ser um bom
transmissor, deve dominar o conteúdo da matéria; a avaliação consiste na verificação de quanto o aluno
aprendeu, quantidade de noções (conhecimento); o aluno tem atitude passiva diante do conhecimento;
o professor é o transmissor, e valores e atitudes não constituem parte de suas intenções de ensino:
espera‑se que aconteçam como decorrência.
O papel do diretor da escola tradicional resume‑se em manter a ordem, cumprir a legislação, garantir
o cumprimento das obrigações estabelecidas oficialmente (papéis e funções), resolver problemas que
não podem ser solucionados pelo professor ou que envolvam outras instâncias, representar a escola
junto aos níveis superiores do sistema de ensino (no caso da escola da rede pública especialmente) e da
mantenedora (no caso da escolar particular).
16
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
Entretanto, esse modelo de escola ainda é aclamado por muitas pessoas. Para elas, “escola boa era a
escola de antigamente”. Em geral, essas pessoas dizem isso porque ainda têm uma concepção tradicional
de educação e não conseguem compreender a escola nos moldes atuais. Ou seja, a escola democrática,
inclusiva; a escola para todos e todas.
Observação
O quadro negro é uma tecnologia antiga que reforça a ideia de práticas de
ensino repetitivas da escola tradicional, ainda presente no ideário pedagógico.
Talvez isso aconteça porque tais pessoas não sabem que nos últimos trinta anos do século XX, no
Brasil, as transformações foram marcadas por um fenômeno de consequências profundas e múltiplas.
Nesse período, constatamos um acelerado processo de urbanização que acabou por transferir a maioria
absoluta de nossa população das áreas rurais para as cidades.
Os resultados do Censo Demográfico de 1940 revelaram que apenas 31,2% da população brasileira
na época, que era de 41.236.315 habitantes, residiam em áreas urbanas. Nas décadas seguintes, esse
percentual aumenta sistematicamente, observando‑se tendência crescente de urbanização, mas é
somente em 1970 que registrou‑se, para o país como um todo, uma população urbana superior à
rural (55,9%). O crescimento urbano até os dias de hoje determinou, segundo levantamento censitário,
um grau de urbanização de 81,2%, no ano 2000 (Brito; Hora; Amaral, s.d.).
Considerando‑se que, há cerca de trinta anos, pouco mais de 30% da população brasileira viviam
nas cidades, a demanda por serviços públicos nos setores de educação, saúde, habitação, infraestrutura
urbana, entre outros, ficava bastante restrita.
Por outro lado, com o modelo econômico implantado no país, a partir de 1964, privilegiou‑se
a organização de condições para a produção capitalista industrial e, assim, o poder político central
direcionou os investimentos públicos para grandes obras de infraestrutura: estradas, hidrelétricas, meios
de comunicação, entre outras (Cortella, 2002).
17
Unidade I
Para tornar a situação ainda mais complexa, observamos que, nesse mesmo período, não foram
identificados investimentos nos setores sociais que acompanhassem minimamente as novas necessidades
urbanas decorrentes do modelo econômico; disto, dois fatores emergiram: o colapso de serviços públicos
como educação e saúde e a sua progressiva ocupação pelo setor privado da economia.
No âmbito educacional, esse crescimento urbano desordenado gerou efeitos desastrosos. Conforme
sinaliza o educador e filósofo Mário Sérgio Cortella, tais efeitos são:
Conforme se observa, o sucateamento do sistema educacional brasileiro diante de uma demanda cada
vez maior por educação ajuda a explicar, pelo menos em partes, as críticas que a educação vem sofrendo nos
últimos anos, em detrimento do modelo de educação adotado nas décadas de 1950 e 1960 do século XX.
Para minimizar o problema, as políticas públicas de educação orientadas pelo ideário neoliberal têm
priorizado a garantia do acesso das camadas populares à educação escolar pública, o que tem gerado
muitas críticas por parte daqueles que entendem que a garantia de quantidade não é suficiente para a
solução dos problemas educacionais.
Por outro lado, não podemos pactuar com esse discurso. Ao contrário, entendemos que não basta
reafirmar que o aumento da quantidade de cidadãos na escola pública leva a uma queda da qualidade
de ensino (com as causas já apontadas). Concordamos com Cortella (2002, p. 13), para quem “é preciso
pensar uma nova qualidade para uma nova escola, em uma sociedade que começa, paulatinamente, a
erigir a educação como um direito objetivo de cidadania”.
Portanto, a escola que se pretende hoje e que Alonso (2003, p. 31‑32) chama de “renovada” é
uma escola que assume como ponto de partida as concepções psicopedagógicas provenientes do
socioconstrutivismo e requer uma base organizacional totalmente oposta àquela definida pelo modelo
burocrático, do qual se originou. Alguns aspectos socioconstrutivistas estão relacionados a seguir, de
modo a permitir um confronto com a situação anterior:
19
Unidade I
• A escola é hoje um local para onde afluem pessoas de todos os tipos, quanto à origem
socioeconômico‑cultural, bem como étnica, religiosa, política etc. Não há com ignorar essa diversidade
ou procurar reduzi‑la; é preciso encontrar formas de atenuar diferenças sociais e culturais promovendo
oportunidades variadas, trabalhando em equipes, socializando o conhecimento etc. Do ponto de vista
sociopolítico, a escola deverá visar à formação do cidadão, como ser atuante na sociedade, explorando
o desejo de participação e propiciando o desenvolvimento da autonomia intelectual.
Alonso (2003) adverte‑nos que todos esses pontos devem nos levar a refletir sobre as novas
responsabilidades sociais dos educadores em geral e da escola em particular, de tal modo que o trabalho
pedagógico seja pensado no contexto geral da escola, concebido e executado, antes de tudo, pela
comunidade escolar como equipe de trabalho e não somente como responsabilidade exclusivamente
de professores.
Portanto, é nesse contexto e dentro dessa perspectiva mais ampla de ação que a administração
escolar terá de ser repensada. Ademais, a função social da escola na sociedade atual ampliou‑se
muito, por força das novas exigências de formação, da omissão da família e de outras instituições no
desempenho de seus papéis sociais.
4 OS PROPÓSITOS DA ADMINISTRAÇÃO
Dada a importância que a administração tem na sociedade, observamos que inúmeros pesquisadores
dedicaram boa parte de seu tempo a estudar o fenômeno administrativo. Poderíamos fazer um inventário
de contribuições para ratificar essa informação, mas isso seria exaustivo e não temos tanta certeza se
esse procedimento contribuiria para a formação do gestor educacional.
Por outro lado, não podemos deixar de resgatar, pelos menos sucintamente, o pensamento de alguns
pesquisadores acerca do campo administrativo. Sabemos que vários autores e pesquisadores discutem o
assunto tendo em vista a importância da administração no contexto da sociedade capitalista. Entretanto,
optamos pelas contribuições de Peter Drucker, que é considerado o papa da administração no mundo
corporativo e, em certa medida, ajuda a compreender a gestão da educação nos espaços escolares e
não escolares.
• A administração trata dos seres humanos. Sua tarefa é capacitar as pessoas a funcionar
em conjunto, efetivar suas forças e tornar irrelevantes suas fraquezas. É disso que trata uma
organização, e esta é a razão pela qual a administração é um fator crítico e determinante. Hoje
em dia, praticamente todos nós somos empregados por instituições administradas, grandes
ou pequenas, empresariais ou não. Dependemos da administração para nossa sobrevivência. E
a nossa capacidade de contribuição à sociedade também depende tanto da administração das
organizações em que trabalhamos quanto de nossos próprios talentos, dedicação e esforço.
20
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
• Toda empresa requer compromisso com metas comuns e valores compartilhados. Sem esse
compromisso não há empresa, há somente uma turba. A empresa tem de ter objetivos simples,
claros e unificantes. A missão da empresa tem de ser suficientemente clara e grande para promover
uma visão comum. As metas que a incorporam devem ser claras, públicas e constantemente
reafirmadas. A primeira tarefa da administração é pensar, estabelecer e exemplificar esses objetivos,
valores e metas.
• Nem o nível de produção nem a “linha de resultados” são, por si sós, uma medição adequada
do desempenho da administração e da empresa. Posição no mercado, inovação, produtividade,
desenvolvimento do pessoal, qualidade, resultados financeiros, todos são cruciais ao desempenho de
uma organização e à sua sobrevivência. Também as instituições não lucrativas precisam de medições
em algumas áreas específicas às suas missões. Tanto quanto um ser humano, uma organização
também necessita de diversas medições para avaliar sua saúde e seu desempenho. O desempenho
tem de estar entranhado na empresa e na sua administração; precisa ser medido – ou ao menos
julgado – além de ser continuamente melhorado.
• Finalmente, a única e mais importante coisa a lembrar sobre qualquer empresa é que os resultados
existem apenas no exterior. O resultado de uma empresa é um cliente satisfeito. O resultado de
um hospital é um paciente curado. O resultado de uma escola é um aluno que aprendeu alguma
coisa e a coloca em funcionamento dez anos mais tarde. Dentro de uma empresa só há custos.
21
Unidade I
A administração, segundo Drucker (2001), é considerada como uma arte liberal. Mas por que isso?
É arte, porque é prática e aplicação, e é liberal, porque trata dos fundamentos do conhecimento,
autoconhecimento, sabedoria e liderança. Ademais, não podemos esquecer que origens do conhecimento e
das percepções estão nas ciências humanas e sociais, nas ciências físicas e na ética, que devem estar
focados sobre a eficiência e os resultados das organizações.
Saiba mais
Nota‑se, portanto que a administração, na concepção de Henri Fayol, é essencial em qualquer escala
de utilização de recursos para realizar objetivos que podem ser de natureza individual, familiar, grupal,
organizacional ou social.
Sabemos que existem vários sentidos para o termo organização, mas o que nos interessa, nesse momento,
é o que segue: organização é uma reunião de pessoas que agem juntas e de maneira estruturada para atingir
objetivos comuns. Na maioria das vezes, essa ação conjunta está voltada para um trabalho que visa à obtenção
de recursos fundamentais para as pessoas e a sociedade: alimentos, roupas, habitação, educação etc.
Para Maximiano (2006), o principal motivo para a existência das organizações é o fato de que certos
objetivos só podem ser alcançados por meio da ação coordenada de grupos de pessoas. Ademais, na
22
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
sociedade organizacional, muitos produtos e serviços essenciais para sobrevivência das pessoas somente
se tornam disponíveis quando há organizações empenhadas em realizá‑los.
Pensem, por exemplo, no fato de estarem aqui. Por trás de tudo isso, existe uma organização que
é a Universidade Paulista, pois, para que possamos proporcionar a vocês a formação de licenciados(as)
em Pedagogia, temos que dispor de uma série de recursos, tais como: humanos, materiais, financeiros.
E para vocês que optaram pela modalidade de ensino a distância, as tecnologias. Provavelmente, se não
houvesse essa ou outra organização, talvez a realidade fosse outra.
Podemos dizer ainda que a qualidade de vida depende das organizações em grande parte, uma vez
que serviços de saúde, fornecimento de energia, segurança pública, controle de poluição e, porque não
dizer, o controle do tráfego nas grandes cidades como São Paulo – que reflete na qualidade de vida dos
paulistanos–, tudo depende de alguma empresa ou organização pública.
Segundo Vieira (2003), desde os primeiros estudos realizados por Taylor e Fayol até o presente,
surgiram diversas concepções de organização, bem como suas respectivas abordagens para lidar com
vários aspectos relacionados com a gestão, tais como: informações, pessoas, processos, produtos,
planejamentos, interações com o meio externo, entre outros. Todos os diferentes conceitos apresentaram
reflexos significativos na forma de imaginar e organizar o trabalho escolar.
Na década de 1960, eram frequentes as metáforas e comparações da escola com a fábrica, sobretudo
entre aqueles que apoiavam modelos positivistas e tecnológicos de organização da administração
escolar. A linguagem refletia tal tendência, na medida em que termos referentes a conceitos e práticas
normalmente utilizados na indústria, como direção por objetivos, administração científica etc., passaram
a ser habituais nos trabalhos de pedagogia e nos programas de formação em administração escolar.
Para ilustrar o exposto, recorremos a Francesco Tonucci que, no ano de 1970, desenha seu cartum
A grande máquina escolar, que retratou uma antiga preocupação presente no âmbito escolar:
a adequação dos alunos para que apenas os ‘homogeneamente capacitados’ tivessem sucesso, o “resto”,
não adaptado ou fora do padrão ideal, sairia para o cano de descarte.
23
Unidade I
Conforme Vieira (2003), durante todo o século XX foi possível constatar que os sistemas educacionais
não permaneceram indiferentes ante as mudanças no modo de produção e gestão empresarial. O
aparelho escolar é inseparável do modo de produção capitalista, pois se apresenta como um instrumento
de reprodução das relações de trabalho e dominação existentes entre as classes sociais. Assim, é lógico
pensar que as soluções propugnadas pelo toyotismo na década de 1980 também tenham deixado sua
marca no sistema educacional.
Considerando o exposto, concordamos com Idalberto Chiavenato (2000), para quem, no mundo
moderno, a administração tornou‑se um fenômeno universal, na medida em que cada organização
e cada empresa requer a tomada de decisões, a coordenação de múltiplas atividades, a condução de
pessoas, a avaliação do desempenho dirigido a objetivos previamente determinados, a obtenção e
alocação de diferentes recursos etc. Ademais, numerosas atividades administrativas desempenhadas por
administradores, voltadas para os mais diversos tipos específicos de problemas e em diferentes áreas,
precisam ser realizadas em cada organização ou empresa.
Hoje, sabemos que independentemente da área de atuação, todo profissional, não importa se professor,
economista, cabeleireiro, médico etc., precisa, necessariamente, conhecer profundamente sua especialidade.
Todavia, segundo Chiavenato (2000), no momento em que é promovido em sua empresa a supervisor,
chefe, gerente, ou diretor, exatamente a partir desse momento, ele deve ser administrador. Precisa então se
dedicar a uma série de responsabilidades que lhe exigirão conhecimentos e posturas completamente novos
e diferentes, que a sua especialidade, talvez, não lhe tenha ensinado em momento algum.
Não obstante, no caso do administrador educacional, a situação é um pouco diferente, pois o curso
de Pedagogia proporciona aos alunos um conjunto de habilidades e competências que lhes deixa em
condições de assumir a direção de uma escola, seja ela pública ou particular.
Por outro lado, é prudente antecipar que, ao término do curso, o aluno não tem prática em gestão,
mas isso não é uma particularidade da Pedagogia, pois o mesmo acontece com outras áreas. Ademais, o
tempo de magistério é um pré‑requisito para assumir um cargo ou função de gestão pública, conforme
determina a legislação vigente de alguns municípios e do próprio Estado de São Paulo. No caso da
iniciativa privada, acreditamos que é pouco provável que alguma instituição contrate um diretor que
24
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
não tenha referência de sala de aula. Portanto, durante o período em que o professor estiver em sala de
aula passará a ter uma aproximação maior com a gestão que, embora seja em um primeiro momento,
de observação, certamente contribuirá para a prática do futuro administrador.
O administrador da escola do século XXI precisa estar atento aos eventos passados e presentes,
bem como às previsões futuras, pois seu horizonte deve ser mais amplo, já que ele é o responsável pela
direção de outras pessoas, principalmente professores, que seguem as suas ordens e orientação. Precisa
lidar com eventos internos (localizados dentro da escola) e externos (localizados no ambiente de tarefa
e no ambiente geral que envolve externamente as escolas); precisa ver mais longe que os outros, pois
deve estar ligado às metas que a escola pretende alcançar, por meio da atividade conjunta de todos, já
que atualmente não importa se as escolas são públicas ou particulares, pois todas têm metas a serem
cumpridas mediante reformas curriculares que privilegiam a meritocracia.
Embora respeitemos os diferentes pontos de vista sobre o assunto, a nosso ver, o diretor da escola
contemporânea não pode eximir‑se dessa responsabilidade, mas nem por isso deve escravizar‑se.
25
Unidade I
Entendemos que, embora alguns diretores pareçam ser heróis, pois conseguem obter excelentes
resultados, mesmo em situações muito adversas, isso não quer dizer que para ser um bom gestor
tenha‑se de ser um personagem de histórias em quadrinhos. Ao contrário, acreditamos que uma
boa formação contribui significativamente para a atuação do futuro gestor frente às exigências da
sociedade atual.
Por outro lado, não podemos deixar de enfatizar que o gestor escolar deve ser um agente de
mudança e de transformação das escolas, levando‑as a novos rumos, novos processos, novos objetivos,
novas estratégias, novas tecnologias. Segundo Chiavenato (2000), ele é um agente educador, pois, com
sua direção e orientação, modifica comportamento e atitudes das pessoas; ele é um agente cultural,
pois, com seu estilo de administração, modifica a cultura organizacional existente nas escolas. Mais do
que isso, o administrador deixa marcas profundas na vida das pessoas, pois lida com elas e com seus
destinos dentro das escolas.
O autor enfatiza também que a administração tornou‑se tão importante quanto o próprio trabalho a
ser executado, à medida que ele foi se especializando e a escala de operações crescendo assustadoramente.
Portanto, a administração não é um fim em si, mas os meios de fazer com que as coisas sejam realizadas
da melhor forma possível, como o menor custo e, claro, com a maior eficiência e eficácia.
Não obstante, concordamos com Vieira (2003), para quem, apesar da aparente evolução, podemos
perceber uma grande heterogeneidade nas concepções adotadas pelas próprias empresas, pois muitas
ainda espelham o paradigma da administração científica, principalmente quando relacionadas a ramos
de atividades econômicas com pouco investimento em tecnologia e automação. É o caso de pequenas
propriedades rurais, metalúrgicas artesanais, o pequeno varejista etc. O mesmo acontece na escola,
pois a grande maioria das instituições ainda está fortemente impregnada de ações e concepções do
racionalismo cientifico, adverte o autor.
Basta tomar como base as aulas de 50 minutos, o pensar e fazer dissociados, professores e
coordenação/direção não compartilhando os mesmos objetivos, as salas de carteiras enfileiradas, a
concepção de disciplina com classes em silêncio, as relações de troca e o individualismo entre professores,
ou seja, a estrutura organizacional da escola ainda é a mesma, ou melhor, mudou muito pouco na
tentativa de superar seu passado de reprodução acrítica das relações socioeconômicas.
Para ilustrar o exposto, recorremos a uma entrevista concedida pelo Professor de Educação
Internacional e diretor do Programa de Políticas Educacionais Internacionais da Universidade de Harvard,
Fernando Reimers, à Revista Nova Escola.
26
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
Como se observa, a escola não tem conseguido adequar‑se ao ritmo das mudanças de mercado e, na
tentativa de alcançar o ritmo dos programas e políticas educacionais, têm privilegiado a lógica de mercado.
Saiba mais
Em adição ao termo gestão, o adjetivo democrático passou a fazer parte do vocabulário escolar. O tema
gestão escolar democrática é discutido atualmente, pois se buscam soluções para uma transformação
no sistema atual de ensino e destacam‑se as mudanças que se direcionam à descentralização do poder,
à necessidade de um trabalho realizado com ampla participação de todos os segmentos da escola e da
comunidade, para envolver a sociedade como um todo.
27
Unidade I
Vale dizer que a gestão democrática tem respaldo legal no Artigo 206, Inciso VI da Constituição
Federal/88, no Artigo 3º, Inciso VIII, da LDB n. 9.394/96 e na Lei Orgânica dos Municípios.
Considera‑se que esse processo é de grande relevância e importância para o início de uma
transformação. É necessário que ele ocorra por etapas, proporcione um ambiente de trabalho que seja
favorável a essas inovações, busquem‑se pessoas preparadas e motivadas, que se envolvam, sujeitos que
participem direta ou indiretamente desse processo educacional.
É possível observar, nos discursos dos profissionais que vivenciam o cotidiano das escolas, dos
representantes dos órgãos de ensino e da literatura educacional, o uso do termo gestão em detrimento
do termo administração. Cumpre questionar se esta substituição foi apenas terminológica ou se de
fato houve, concomitantemente a ela, a execução de novas posturas e valores no ambiente escolar
(Calixto, 2008).
Não obstante, não é somente no âmbito educacional que isso ocorre, pelo contrário, é algo que se
disseminou na sociedade. Para Dias (2002), o uso da palavra gestão vem se intensificando no Brasil de
forma descontrolada. Para ilustrar o exposto, o autor chama atenção ao volume de obras publicadas
com essa expressão, que vem tomando conta das prateleiras de negócios em todas as livrarias há alguns
anos. Segundo esse autor, o uso indiscriminado de gestão fez com que o termo administração perdesse
seu status, cedendo parte de seu lugar para o primeiro termo.
Diante disso, Dias nos adverte quanto ao fato de que, quando se questionam as pessoas sobre o
que é um termo ou outro, surgem dificuldades de delimitação de ambos. Dessa forma, concorda‑se
com Dias (2002), para quem o que se vê é uma falta de concordância entre os marcos limítrofes desse
questionamento.
Assim como Dias, Lück (1997) afirma que o termo gestão tem sido utilizado de forma equivocada,
como se fosse simples substituição à administração. Comparando o que se propunha para a denominação
de administração e o que se propõe para gestão e, ainda, a alteração geral de orientações e posturas que
vêm ocorrendo em todos os âmbitos e que contextualizam as alterações no âmbito da educação e da
sua gestão, conclui‑se que a mudança é radical.
Observação
Consequentemente, não se deve entender que o que esteja ocorrendo seja uma mera substituição
de terminologia das antigas noções a respeito de como conduzir uma organização de ensino. Para
Lück, revitalizar a visão da administração da década de 1970, orientada pela ótica da administração
científica (Perel, 1977; Treckel, 1967 apud Lück, 1997) seria ineficaz e corresponderia a fazer mera
maquiagem modernizadora.
28
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
É provável que essa discussão possa parecer, a princípio, um tanto confusa, mas é em decorrência
disso que estamos tentando diferenciar os termos para minimizar o emprego inadequado de um ou
outro, tal como vem ocorrendo.
Entretanto, isso não tem sido uma tarefa fácil. Eulália Araújo Calixto, por exemplo, empreendeu, em
2008, uma pesquisa com o propósito de diferenciar os termos à luz da teoria e da concepção de alguns
gestores, e constatou que essas palavras são muito ambíguas.
Para Silva Junior (2002, p. 202), não é possível “[...] tentar estabelecer, na literatura especializada
em administração, diferenças substantivas entre esse conceito e o de gestão [...]”; entretanto, o autor
ressalta que é necessário “[...] refletir sobre as consequências práticas para administração escolar, no
Brasil e fora dele, do quase abandono do conceito de administração escolar em favor do conceito de
gestão escolar”. O autor esclarece que:
Esse ponto de vista está alicerçado na concepção de administração escolar de Ribeiro, para quem, a
exemplo do que ocorrera com o Estado e as empresas privadas na solução de suas dificuldades decorrentes
do progresso social – a adoção dos princípios da administração geral –, “a escola não precisou mais do
que inspirar‑se neles para resolver as suas [...], teve apenas de adaptá‑los a sua realidade” (Ribeiro,
1986, p. 60).
Como se vê, Ribeiro adentra na teoria da administração científica a partir de Taylor e, na teoria clássica,
a partir de Fayol, para buscar subsídios à teoria da administração escolar. Diante de tais elaborações,
Ribeiro (1986, p. 64) resume suas principais contribuições a respeito da administração. São elas:
• adotar esses elementos científicos na teoria e prática da administração escolar representava para
o contexto daquele período uma espécie de “antídoto” às tradicionais e conservadoras formas
29
Unidade I
de pensar e organizar a escola (Souza, 2006). Assim, a concordância com tais elementos da
administração científica leva Ribeiro (1986, p. 95) a defender que:
— a administração escolar é uma das aplicações da administração geral; ambas têm aspectos,
tipos, processos, meios e objetivos semelhantes;
— a administração escolar deve levar em consideração os estudos que se fazem nos outros
campos da administração e, por sua vez, pode oferecer contribuições próprias utilizáveis
pelos demais.
É importante notar que a noção de gestão educacional desenvolve‑se associada a outras ideias
globalizantes e dinâmicas em educação, como o destaque à sua dimensão política e social, ação para a
transformação, globalização, participação, práxis, cidadania etc.
Pela crescente complexidade das organizações e dos processos sociais que nelas ocorrem –
caracterizados pela diversificação e pluralidade de interesses que envolvem e a dinâmica das interações
no embate desses interesses – não se pode conceber que essas entidades sejam administradas pelo
antigo enfoque conceitual da administração científica, pelo qual tanto a organização como as pessoas
que nela atuam são consideradas como componentes de uma máquina manejada e controlada de fora
para dentro. Ainda segundo esse enfoque, os problemas recorrentes seriam sobretudo encarados como
carência de “input” ou insumos, em desconsideração ao seu processo e dinamização de energia social
para promovê‑lo (Lück, 2009).
[...] a escola é uma instituição social que apresenta unidade em seus objetivos
(sociopolíticos e pedagógicos), interdependência entre a necessária racionalidade
no uso dos recursos (materiais e conceituais) e a coordenação do esforço
humano coletivo.
Entretanto, para se chegar a essa concepção não foi tão simples e talvez nem todos compartilhassem
esse olhar sobre a gestão escolar.
Sabemos que ainda se observa, com grande frequência, resquícios da administração científica no
âmbito da gestão escolar.
30
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
Entende‑se que isso ocorre porque, há bem pouco tempo, dirigir uma escola era uma tarefa
considerada rotineira. Cabia ao diretor zelar pelo bom funcionamento da instituição, centralizando em
si todas as decisões, e administrar com prudência os eventuais imprevistos.
Nos últimos anos, essa situação mudou muito. As grandes e contínuas transformações sociais,
científicas e tecnológicas passaram a exigir um novo modelo de escola e, consequentemente, um novo
perfil de dirigente, com formação e conhecimentos específicos para o cargo e a função de diretor‑gestor
(Andrade, 2004).
Nesse contexto, passa‑se a utilizar o termo gestão de forma indiscriminada. Entretanto, é prudente
mencionar que a utilização da expressão gestão escolar em substituição à administração escolar não
pode ser vista como uma simples questão semântica.
Segundo Alonso (2003), a expressão gestão da educação ou gestão educacional tem suscitado
polêmicas nos meios educacionais, embora autores conceituados mostrem a adequação do conceito
às diversas realidades organizacionais e a conveniência de sua utilização frente aos desafios, colocados
para os administradores, decorrentes dos novos contextos sociais.
No âmbito escolar, a priori, o termo gestão é um conceito relativamente recente, mas de extrema
importância, pois, deseja‑se uma escola que atenda às atuais exigências da vida social, ou seja, que
forme cidadãos com habilidades e competências que se tornaram extremamente necessárias para a
inserção social das pessoas em um mercado cada vez mais competitivo.
De acordo com Lück (2009), a expressão gestão educacional, comumente utilizada para designar
a ação dos dirigentes, surge, por conseguinte, em substituição à administração educacional, para
representar não apenas novas ideias, mas, sim, um novo paradigma, que busca estabelecer na
instituição uma orientação transformadora, a partir da dinamização da rede de relações que ocorrem,
dialeticamente, no seu contexto interno e externo. Assim, como a mudança paradigmática está associada
à transformação de inúmeras dimensões educacionais, pela superação, pela dialética, pela mudança de
concepções dicotômicas que enfocam ora o diretivismo, ora o não diretivismo; ora a heteroavaliação,
ora a autoavaliação; ora a avaliação quantitativa, ora a qualitativa; ora a transmissão do conhecimento
construído, ora a sua construção, a partir de uma visão da realidade.
Nota‑se, portanto que não se trata, apenas, de simples substituição terminológica, baseada em
considerações semânticas. Trata‑se, sim, da proposição de um novo conceito de organização educacional.
A gestão não se propõe a depreciar a administração, mas, sim, a superar suas limitações de enfoque
31
Unidade I
Como resultado, a ótica da gestão não prescinde nem elimina a ótica da administração educacional.
Apenas a supera, dando a esta um novo significado, mais abrangente e de caráter potencialmente
transformador. Por isso, ações propriamente administrativas continuam a fazer parte do trabalho dos
dirigentes de organizações de ensino, como controle de recursos, de tempo etc.
Silva Junior (2002, p. 202) afirma que não é possível “[...] tentar estabelecer na literatura especializada
em administração diferenças substantivas entre esse conceito e o de gestão [...]”; entretanto, o autor
ressalta que é necessário “[...] refletir sobre as consequências práticas para a administração escolar no
Brasil e fora dele do quase abandono”.
Assim sendo, ao que parece, a utilização do termo administração torna‑se uma impropriedade
pelo equívoco de compreendê‑la como ultrapassada, o que não o é. Talvez isso ocorra pelo fato de
administração ser um conceito que carrega consigo algumas limitações e, em decorrência disso, os
educadores evitam seu emprego.
Lembrete
Lück (2009) afirma que a administração é vista como um processo racional de organização, de
influência estabelecida de fora para dentro das unidades de ação, bem como do emprego de pessoas
e de recursos, de forma racional e mecanicista, para que os objetivos organizacionais sejam realizados.
O ato de administrar corresponderia a comandar e controlar, mediante uma visão objetiva de quem atua
sobre a maneira distanciada e orientada por uma série de pressupostos, a saber:
• crise, ambiguidade e incerteza são encaradas como disfunção e como problemas a serem evitados
e não como oportunidades de crescimento e transformação;
• o sucesso, uma vez alcançado, mantém‑se por si mesmo e não demanda esforço de manutenção
e responsabilidade de maior desenvolvimento;
• modelos de administração que deram certo não devem ser mudados, correspondendo à ideia de
que “time que está ganhando não se muda”;
• a importação de modelos de ação que deram certo em outros contextos é importante, pois eles
podem funcionar perfeitamente, bastando para isso algumas adaptações;
• a objetividade garante bons resultados, sendo a técnica o elemento fundamental para a melhoria
do trabalho.
Pense nas limitações desse entendimento que, em certa época marcada pelo autoritarismo, pela
rigidez e reprodutividade, funcionaram aparentemente bem. Porém, apenas aparentemente, pois os
resultados do rendimento escolar nesse período foram sempre baixos, uma vez que a escola foi marcada
pela seleção e exclusão de alunos que escapavam a um modelo rígido de desempenho e, por conseguinte,
ela falhou em cumprir o seu papel social (Lück, 1997).
Saiba mais
33
Unidade I
Resumo
34
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
35
Unidade I
36
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
Exercícios
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: apesar de uma ótica universalista ser valorizada na concepção educacional atual, esta
não pode ser a única diretriz na construção do currículo, pois ficaria faltando a articulação com o
conhecimento sistematizado, que é função da escola transmitir.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: segundo a atual concepção educacional, a função do currículo não é valorizar um
enfoque prescritivo (que levaria a respostas prontas para as questões do conhecimento), além de não
valorizar o autorreferenciamento do conhecimento, mas a relação deste com a realidade e o contexto
social vivido.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: segundo a atual concepção educacional, a função do currículo não é apenas organizar,
mas articular, levar à reflexão e à discussão conteúdos, disciplinas, métodos, experiências e objetivos.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a afirmação é falsa na medida em que não é possível a classificação de identidades.
Do ponto de vista antropológico, as identidades possuem um valor em si e não existe a possibilidade
de hierarquizá-las ou discriminá-las com critérios objetivos, já que elas fazem parte do universo das
subjetividades.
37
Unidade I
E) Alternativa correta.
Questão 2. (Enade 2008) A Escola Municipal Maíra vem modificando as características de sua
gestão. Ampliou as ligações com a comunidade em seu entorno e fortaleceu o conselho escolar, que
tem acompanhado a frequência e o desempenho dos alunos. Quando surgem problemas, os membros
do conselho, formado por professores, alunos, pais, funcionários e representantes da comunidade,
conversam entre si, com os professores e a família do aluno. Além disso, o conselho participa das decisões
pedagógicas e administrativas, inclusive no que tange ao uso dos recursos financeiros da escola, seja
para obras de manutenção, para passeios educativos ou para a compra de materiais didáticos.
De acordo com a regulamentação municipal, haverá novas eleições para o conselho escolar no
próximo ano.
III – Em desacordo com a LDBEN 9.394/1996, pois permite que pessoas de fora da escola interfiram
em sua gestão.
IV – Em conformidade com a LDBEN 9.394/1996, pois tem um conselho escolar atuante, com
participação comunitária.
A) II.
B) III.
C) IV.
D) I e III.
E) II e IV.
38
ORIENTAÇÃO E PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a afirmação III é falsa. Segundo a LDBEN 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional) que discute o tema no Artigo 14, é um dos princípios da Gestão Democrática
no inciso II – “participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”.
Esses conselhos devem ser implementados para se ter uma gestão democrática pautada justamente na
Descentralização (a administração, as decisões, as ações devem ser elaboradas e executadas de forma
não hierarquizada), na Participação (todos os envolvidos no cotidiano escolar devem participar da
gestão: professores, estudantes, funcionários, pais ou responsáveis, pessoas que participam de projetos
na escola, e toda a comunidade ao redor da escola) e na Transparência (qualquer decisão e ação tomada
ou implantada na escola tem que ser de conhecimento de todos).
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a afirmação I diz que os alunos não devem ser envolvidos nas decisões pedagógicas e
administrativas da escola, quando o correto é justamente o contrário, segundo os princípios da gestão
democrática, e a afirmação III é falsa, como explicado anteriormente.
E) Alternativa correta.
39