Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

PETIÇÃO INICIAL vazamento de dados

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 11

AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE MANAUS – AM.

EDINELZA BRAGA CELESTINO, brasileira, casada, Vendedora, portadora


do CPF n. 522.100.492-53, RG 1678416-2, residente e domiciliada na Rua
Camarão Amarelo, n. 29, Lirio do Vale, Manaus – AM, Cep: 69038-001, whatsapp
92-99366-0580, por intermédio de seu procurador infra-assinado, para mover à
presente

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS

em desfavor da SERASA EXPERIAN, São Paulo, Av. das Nações Unidas,


14.401 - Torre Sucupira - 24ºandar - Chácara Santo Antônio, São Paulo/SP -
CEP:04794-000 - CNPJ 62.173.620/0001-80, pelos seguintes fatos e
fundamentos:

DOS FATOS

De acordo com um levantamento do Instituto Sigilo, milhares de cidadãos


foram prejudicados com o vazamento de dados sensíveis pela requerida. Os
dados pessoais foram divulgados de forma irregular, sem autorização das vítimas
afetadas.

Entre as informações vazadas estão o CPF, RG, endereço, telefone para


contato e renda dos cidadãos, entre outras. A suspeita é de que esses dados
tenham sido utilizados para realizar a oferta de empréstimos pessoais, além de
outras operações financeiras.
Até o presente momento não se tem notícias de eventual utilização indevida
dos dados por falsários, o que pode demorar para chegar ao conhecimento da
autora.

Fato é, que desde o vazamento dos daods sensíveis da parte autora,


bancos e instituições financeiras de crédito não param de imposturar, com
ligações sucessivas durante o dia e até altas horas da noite, atrapahando o
trabalho o sossego e o bem estar da pessoa.

De ser salientado que foi ajuizada ação civil pública contra a SERASA
sobre o vazamento dos dados, bem como foi estabelecido, pela Justiça, o
pagamento de indenização do Serasa deverá beneficiar milhares de cidadãos em
todo o país. De acordo com a determinação judicial, a entidade deverá pagar até
R$ 30 mil para cada pessoa afetada pelo vazamento de dados da instituição.

A medida acontece como uma punição pela divulgação de dados pessoais


de parte dos cidadãos que estão no cadastro. A irregularidade foi detectada pelo
Instituto Sigilo, que abriu uma ação contra a instituição.

O mesmo já aconteceu anteriormente com informações do Auxílio Brasil.


No caso anterior, a Justiça Federal determinou o pagamento de uma indenização
de R$ 15 mil para todos os prejudicados.

Portanto, perante o momento desagradável vivido pela parte Requerente,


esta não encontra outra solução senão a judicialização do pedido, a fim de ver a
indenização como mínimo consolo pelos males causados pela Ré, assim como
sirva de aprendizado a Demandada pelo erro causado.

Veja-se que a lei 13.709 prevê a medida cabível indenizatória, conforme se


extrai:

Art. 42. O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade de


tratamento de dados pessoais, causar a outrem dano patrimonial, moral, individual
ou coletivo, em violação à legislação de proteção de dados pessoais, é obrigado a
repará-lo.
§ 1º A fim de assegurar a efetiva indenização ao titular dos dados:
I - o operador responde solidariamente pelos danos causados pelo tratamento
quando descumprir as obrigações da legislação de proteção de dados ou quando
não tiver seguido as instruções lícitas do controlador, hipótese em que o operador
equipara-se ao controlador, salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta
Lei;

É a síntese do necessário.

DOS DANOS MORAIS:

A Carta Magna no artigo 5º, inciso V, prevê a obrigação de indenizar


aqueles que tenham sofrido dano material, moral ou à imagem. Denota a
Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;
A reparação por dano moral constitui garantia constitucional prevista no
artigo 5º - X, da Constituição Federal, onde está expresso:

"São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação".

O Código Civil também é convergente em relação à obrigação de indenizar


pelo dano sofrido:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

O artigo 186 do Códex Civil explica quando ocorre e o que é de fato um ato
ilícito:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

A indenização por danos morais no caso em tela deve ter o condão para
ser suficiente em atenuar as perdas e sofrimentos do Autor, visto as
consequências das ofensas aos bens jurídicos tutelados enfrentados por ele, não
significando, por outro lado, um enriquecimento sem causa, bem como deve ter o
efeito de punir o responsável de forma a dissuadi-lo da prática de nova conduta

Há o reconhecimento dos Tribunais de que o dano moral advindo de


situação como a do caso em tela, dilui-se a necessidade da prova efetiva do
prejuízo oriundo, ou seja, é totalmente presumível que alguém que foi engado por
instituição financeira, a qual garante sigilo total com seu cliente, venha a passar
informações pessoais do seu cliente sem o mínimo cuidado.

Além do mais, é objetiva a responsabilidade da instituição prestadora de


serviços públicos, comoa SERASA, decorrente de defeito do serviço, consistente
na falta de segurança, evidenciada pelas informações passadas para terceiros,
sem qualquer documento hábil permitindo a liberação de dados, previstas no art.
14, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor.

O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor trata da responsabilidade


objetiva do fornecedor de serviço. Funda-se está na teoria do risco do
empreendimento, segundo a qual todo aquele que se dispõe a exercer alguma
atividade no campo do fornecimento de bens e serviços têm o dever de responder
pelos fatos e vícios resultantes do empreendimento independentemente de culpa.

Essa responsabilidade objetiva decorre da Teoria do Risco do Negócio, em


que todo aquele que explora uma atividade econômica assume o risco de gerar
dano à terceiro. Nesse mesmo sentido, também é mister dispor o entendimento de
Sérgio Cavalieri Filho e Nelson Nery Júnior:

Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a


teoria do risco do negócio. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma
atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigado a repará-
lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. (FILHO, Sérgio Cavalieri. O
direito do consumidor no limiar século XXI. Revista de Direito do Consumidor.
Revista dos Tribunais, nº 35, jul/set. 2000, p. 1050.). (grifos próprios).
A norma estabelece a responsabilidade objetiva como sendo o sistema
geral da responsabilidade do CDC. Assim, toda indenização derivada de relação
de consumo, sujeita-se ao regime da responsabilidade objetiva, salvo quando o
Código expressamente disponha em contrário. Há responsabilidade objetiva do
fornecedor pelos danos causados ao consumidor, independentemente da
investigação de culpa. (JÚNIOR, Nelson Nery. Novo Código Civil e Legislação
extravagante anotados. São Paulo: RT, 2002, p. 725). (grifos próprios).

A indenização por dano moral tem caráter dúplice: serve de consolo


ao sofrimento experimentado pelo ofendido e tem cunho educativo ao
causador do dano, com a finalidade de que aja de modo a evitar novas
vítimas e ocorrências semelhantes. Não pode ser fonte de enriquecimento de
um, mas também não pode ser tão irrisória que não provoque qualquer
esforço ao devedor para adimpli-lo.

PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD

A lei nº 13.709/2018, versa sobre a proteção de dados pessoais, inclusive


nos meios digitais, por pessoa natural ou jurídica de direito público ou privado,
com objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e
o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.

Em seu artigo 2ª, informa que a disciplina de dados pessoais tem como
base os seguintes fundamentos:
Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como fundamentos:

I - o respeito à privacidade;

II - a autodeterminação informativa;

III - a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião;

IV - a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;

V - o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;

VI - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e

VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a


dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais.

Em sintonia com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (órgão do


governo):

II - zelar pela observância dos segredos comercial e industrial, observada a


proteção de dados pessoais e do sigilo das informações quando protegido
por lei ou quando a quebra do sigilo violar os fundamentos do art. 2º desta
Lei;

O pedido de danos morais formulado pelo Autor encontra respaldo na Carta


Magna, Código Civil, Lei de Proteção de Dados, Código de Defesa do Consumidor
e demais leis esparsas, todas cuidando da privacidade da pessoa, assegurando a
inviolabilidade a sua intimidade, assegurando também o direito a indenização
pelos danos decorrentes de sua violação.

Percebe-se que a consagração do direito à privacidade é tomada no


sentido amplo que pode abranger todas as manifestações da esfera íntima,
privada e da personalidade das pessoas.
Este é o entendimento do Desembargador Audaliphal Hildebrando da Silva:

DANO MORAL. DIREITO À IMAGEM, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. Nossa


Carta Maior prevê que a violação dos bens ou direitos da personalidade
enseja a reparação por danos materiais e morais, conforme disposto em seu
artigo 5º, X: "São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação". Para a responsabilização civil do ofensor
por danos morais, há que ser comprovada a ilicitude do ato, doloso ou
culposo, que por sua vez tem que ser suficiente à ocorrência do dano,
devendo haver entre um e outro um nexo de causalidade. Deferida a
indenização, deve-se observar a razoabilidade e proporcionalidade para
quantificação de seu valor. Recurso do reclamante conhecido e provido. (TRT-11
00006920130091100, Relator: Audaliphal Hildebrando da Silva)

A Lei de Proteção de Dados, expõe que em razão de atividades de


tratamentos de dados pessoais, o controlador ou operador que causar a outrem
dano patrimonial, moral, individual ou coletivo, em violação à legislação de
proteção de dados pessoais, é obrigado a repará-lo.

Art. 42. O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade


de tratamento de dados pessoais, causar a outrem dano patrimonial, moral,
individual ou coletivo, em violação à legislação de proteção de dados
pessoais, é obrigado a repará-lo.

Similarmente com o Código de Defesa do Consumidor é o ensinamento do


artigo 44 da Lei de Proteção de Dados, informando que será irregular o tratamento
de dados pessoais quando deixar de observar a legislação ou quando não
fornecer a segurança que o titular dele pode esperar, considerando as
circunstâncias relevantes:

Art. 44. O tratamento de dados pessoais será irregular quando deixar de


observar a legislação ou quando não fornecer a segurança que o titular dele
pode esperar, consideradas as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo pelo qual é realizado;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - as técnicas de tratamento de dados pessoais disponíveis à época em que


foi realizado.

Parágrafo único. Responde pelos danos decorrentes da violação da


segurança dos dados o controlador ou o operador que, ao deixar de adotar
as medidas de segurança previstas no art. 46 desta Lei, der causa ao dano.

A comercialização de dados pessoais por meio dos produtos


oferecidos pela ré é ilícita.

A partir do desenvolvimento tecnológico, da economia mais voltada ao


âmbito digital e das possibilidades concretas de tratamento de dados pessoais, é
evidente o relevo do valor econômico das informações sobre a coletividade, pois
relevantes para o objetivo institucional de várias instituições, públicas e privadas.

O tratamento e o compartilhamento dos referidos dados, na forma como é


feito pela ré, exigiria o consentimento claro e expresso do indivíduo retratado,
condição para viabilizar o fluxo informacional realizado, com caráter
manifestamente econômico. No caso dos autos, inexiste o indispensável
consentimento em relação à universalidade de pessoas catalogadas.
É exatamente por meio do consentimento inequívoco que o titular dos
dados consegue controlar o nível de proteção e os fluxos de seus dados,
permitindo ou não que suas informações sejam processadas, utilizadas e/ou
repassadas a terceiros.

Mesmo para os dados públicos, exige-se o propósito legítimo e específico,


a preservação dos direitos dos titulares e a observância das diretrizes básicas
da LGPD.

Portanto, nota-se a falha na prestação do serviço da Ré, ao não tomar os


devidos cuidados em relação a informações pessoais de seu cliente, cabendo,
desta maneira, a responsabilização de seus atos.

A lei não traz previsões inúteis.

PEDIDOS E REQUERIMENTOS

ANTE O EXPOSTO, requer-se:

a) o recebimento dá presente peça processual, com os documentos que a


acompanham;

b) a citação da requerida e sua intimação, para que compareça à audiência de


conciliação, a qual deseja seja realizada por meio virtual;
c) provar o alegado com todos os meios de prova em direito albergado,
notadamente, depoimento pessoal do Demandado;

d) a TOTAL PROCEDÊNCIA da presente ação indenizatória por danos morais, a


fim de condenar a Ré ao pagamento de indenização à títulos de danos morais no
valor mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais), diante das situações ilícitas e ilegais
apresentadas na ação;

Dá-se à causa, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Termo em que,

Pede e espera deferimento.

Manaus, 17 de janeiro de 2024.

Patrick Ferrão Custódio

OAB/RS 88.525

49-99104-2944 (patrickfc.adv@gmail.com)

Você também pode gostar